Vamos falar de acessibilidade revista cei 81

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Vamos falar de acessibilidade “Zé Pimpão, o acelera”, a obra de José Jorge Letria e André Letria, foi o ponto de partida para um trabalho realizado nas aulas de apoio educativo, sendo sempre por si só um tema que a todos diz respeito: a acessibilidade. De acordo com a definição de acessibilidade, facilmente encontrada num simples dicionário, é “o conjunto das condições de acesso a serviços, equipamentos ou edifícios destinadas a pessoas com mobilidade reduzida ou com necessidades especiais”, podemos facilmente discuti-la com crianças, porque facilmente a compreendem e se sensibilizam para a mesma. No entanto, e de acordo com uma definição mais elaborada “acessibilidade significa não apenas permitir que pessoas com deficiências participem de actividades que incluem o uso de produtos, serviços e informação, mas a inclusão e extensão do uso destes por todas as parcelas presentes em uma determinada população”, sendo esta o motivo que me leva, enquanto professor, mas sobretudo enquanto cidadão, a trabalhar nas minhas práticas pedagógicas, de forma a contribuir para a inclusão e extensão do uso de todas as tais parcelas, por todas as crianças e principalmente, porque também é esse o papel do professor actual, a incutir nas outras crianças a aceitação de todos como iguais, porque o somos, mas também que pelas diferenças, porque também o somos, todos crescemos e aprendemos ainda mais. Assim, em conjunto com as crianças, começámos por tentar descodificar o conceito “acessibilidade”, que foi entendido por outras palavras, pelas crianças, como algo que ver com a facilidade (ou não) em chegar a determinados locais (a uma escola, correios, estação de comboios, biblioteca,...). Depois colocámos os alunos em situações reais, de forma a perceberem e repararem que, para quem se desloca numa cadeira de rodas, usa canadianas ou transporta um bebé num carrinho, pode ser muito difícil subir um passeio ou entrar num autocarro. Deste modo, perceberam que a esses obstáculos chamamos de barreiras arquitectónicas e o grande objectivo é acabar com todas as que possam existir. Desde logo, todos pensaram que seria fantástico que em cada escola, pelo menos, pudessem existir as rampas de acesso, que facilitariam muito a tarefa a quem tem de deslocar-se numa cadeira de rodas. No seguimento desta actividade, facilmente qualquer criança cai na tentação de levantar logo a questão dos “porquês”, seja, porque não há na nossa escola? Porque é que eu nunca vi? Porque não fazemos? Para depois entrarem na questão dos “comos”, seja, como é que os meninos conseguem vir para a escola, como é que eles conseguem viver contentes, como é que se podem ajudá-los? Neste sentido, senti que a minha função tinha em parte surtido efeito, já que a reflexão sobre um tema é


um grande passo para a construção de conhecimento e neste caso para se sensibilizarem para o assunto. Contudo, no apoio educativo, todas as crianças ouviram a história do Zé Pimpão, tendo ficado a saber o que é uma barreira arquitectónica e foram sensibilizados a prestar auxilio para que a sua inexistência possa ser minimizada com a ajuda e compreensão de todos nós. Além do mais foi-lhes proposto um desafio, imaginar as dificuldades que teriam, caso estivessem no papel da personagem da história e que medidas tomariam se pudessem eles próprios ter esse papel decisivo. Após a leitura, partimos para a construção de diversos cartazes ilustrativos da história, outros de acordo com medidas que poderiam ser tomadas por um presidente de câmara do nosso país, já que os alunos tentaram colocar-se nesse papel e sem limites financeiros, tinham apenas o objectivo de dar o seu melhor em prol de uma melhor sociedade, uma melhor convivência social e uma melhor forma de vida a todos aqueles que hoje vão sentindo dificuldades. O Zé Pimpão olhado por nós... (alunos do apoio educativo, EB1 de Queluz n.º2) O Zé Maria Pimpão era bastante convencido, por isso lhe chamavam Pimpão. O Zé Pimpão era condutor que não respeitava as regras de trânsito e depois de alguns excessos com o álcool, provocou um acidente, atingindo duas crianças. A história termina com ele todo engessado e mais tarde a usar uma cadeira de rodas. Ele ao não poder mais conduzir um carro, como tanto gostava, a única coisa que podia conduzir daí em diante era a cadeira de rodas, porque os médicos deram-lhe essa triste notícia, ele nunca mais poderia voltar a andar. A partir daquele dia as dificuldades seriam muitas. Afinal o Zé morava num prédio em Queluz, era um 3.º andar sem elevador, o que lhe criava dificuldades sempre que saia ou chegava a casa, porque tinha que pedir ajuda para o levarem ao colo, estava sempre dependente da boa vontade e amizade dos seus amigos. O Zé Pimpão mostrou-se muito arrependido de todos os erros que cometeu, a sua má condução, a má educação ao volante e falta de responsabilidade. A primeira atitude digna foi quando ele pediu desculpa aos pais das crianças que atropelou, mas isso não lhe chegava. Lembrou-se então de falar com os responsáveis pelas decisões na Freguesia de Queluz e decidiu fazer um pedido para que se quebrassem todas as barreiras arquitectónicas da cidade. Quando se deslocou ao banco para tratar de assuntos deparou-se com um primeiro problema, não conseguia subir aqueles degraus, contou com a ajuda de alguém que


percebeu a sua dificuldade. Mas, logo a seguir quando tentou falar junto ao balcão, para ser atendido, não chegava ao balcão, porque estava muito alto para ele... estava decidido a pedir que todos aqueles erros fossem corrigidos, porque ele percebeu que os médicos não tinham razão quando lhe disseram que tudo seria difícil, afinal pode ser fácil se quem constrói e manda construir lembrar-se de pessoas como o Pimpão... A verdade é que depois de falar com o presidente da freguesia, ele logo acedeu ao pedido do Pimpão e todas as barreiras foram destruídas e o Pimpão passou a viver bem melhor...ah claro, sempre nos limites de velocidade... Em suma, a sensibilização das crianças deve passar por actividades em que as próprias experimentem um pouco, afinal o conhecimento e a aprendizagem passa pela experimentação, todavia se esta for acompanhada por actividades construtivas, motivadoras e criativas, o mundo de amanhã será, por certo mais inclusivo, não de forma demagógica, mas de forma tão natural que nem se fará notar. Esta será sempre a normalidade que pretendemos.

Marco Alexandre Carvalho Bento Professor do 1.º Ciclo do Ensino Básico

“Zé Pimpão, o acelera” José Jorge Letria & André Letria Terramar


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