A Origem do homem e seus deuses adriano Gambarini e Leandro Karnal
1ª Edição São Paulo 2016
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Então a vida é isto. Um emaranhado de sensações, experiências e encontros. Seguir seus passos nos caminhos que escolheu, e fazer deste gesto sua mais sagrada verdade. Então viajar é isto. Um passeio por um mundo fantástico e genuinamente belo, onde a felicidade flutua como a leve brisa do amanhecer, tocando todos como uma bênção. Então ser feliz é isto. Caminhar um dia após o outro, desfazendo o passado como quem desfia a lã, na incondicional busca de tecer, no presente e para o futuro, a esperança. Encontrar a luz que emana de todos os seres viventes e brilhar junto daqueles que acreditam neste bem maior. Então o tempo é isto. Ascender em direção ao Sol como uma Flor de Lótus, que calmamente segue seu destino com a crença de que algo melhor e iluminado a espera no próximo dia. Então viver é isto. Andar de mãos dadas com aqueles que lhe são essenciais, ter o tempo como um grande amigo e a felicidade como sua mais fiel companheira. Assim é a vida, a maior e mais importante de todas as viagens. Adriano Gambarini
CRÉDITOS Copyright 2016 Gamba Produções Artísticas e Imagens Direção Editorial Adriano Gambarini Fotografia e Texto Adriano Gambarini Texto Leandro Karnal Design Leticia Moura / CJ31 Diagramação João Carlos Heleno / CJ31 Revisão de Texto Regina Stocklen Pré-impressão Felipe Caetano Impressão e acabamento IPSIS Gráfica, São Paulo
a origem do homem e seus deuses
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leandro Karnal
O despertar da Terra
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adriano gambarini
ilha de Páscoa
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polinésia francesa
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PAPUA-NOVA GUINÉ
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Indonésia
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Mianmar
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Índia
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Jordânia
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Tanzânia
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África do Sul
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A Origem do Homem e seus Deuses Prof. Dr. Leandro Karnal
O herói grego Odisseu, conhecido entre nós como Ulisses, não queria sair de casa. Era feliz na Ilha de Ítaca com sua bela esposa Penélope e com seu filho Telêmaco. Rei sábio, jovem e forte, Ulisses não tinha o desejo de novos horizontes. Tinha construído, no seu palácio e no seu reino, o espaço da felicidade e, nesse espaço, desejava viver seus dias até o final. A guerra de Troia o retirou de sua zona de conforto. Todos os reis gregos tinham jurado defender a mulher de Menelau, o soberano de Esparta. Helena fora raptada por um troiano, e o juramento estava sendo cobrado em todas as cidades da Grécia. A honra dos helenos estava em jogo. Ulisses resistiu mais uma vez. Fingiu-se de louco para evitar uma luta que ele não considerava sua. Não funcionou. Contrariado, abandonou sua ilha e partiu para a guerra. O herói astucioso não imaginava que levaria vinte anos para voltar.
A guerra arrastou-se por uma década. Por sugestão do rei de Ítaca, foi encerrada com o estratagema de um cavalo, um falso presente dos gregos. Após dez longos anos, Ulisses retornaria para a fiel esposa, agora cercada de pretendentes que ela tentava ludibriar. Alguns deuses ficaram ofendidos com a destruição de Troia. O que ocorria no céu do Olimpo afetaria o mar dos homens. Ventos contrários, novos erros, gigantes, armadilhas e sereias seriam colocados no caminho do nosso rei-navegador. A década entre o fim da guerra e o retorno de Ulisses a Ítaca povoou de aventuras o trajeto do grego e o tornou um dos mais célebres navegadores da história. O herói de muitas faces não tinha desejado partir, mas agora que fora lançado ao mar, queria conhecer. As sereias enlouqueciam os homens com seu canto. Ulisses tapa os ouvidos dos seus marinheiros, mas se amarra ao mastro para ter a experiência. Ele assume o
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risco em nome de experimentar o novo. É um modelo do mundo grego: ousar saber. Curioso que, segundo a Odisseia de Homero, só existe um momento de tédio na vida atribulada do herói. Na ilha da ninfa Calipso, ele experimenta a vida tranquila e divina que aquele ambiente perfeito proporcionava. Depois de alguns anos, ele vai embora. A paz permanente, o clima perfeito e a existência plana e perfeita tinham sido excessivas para o marido de Penélope. Ulisses precisava seguir adiante. Era um viajante, mas já o consumia a saudade do lar. Ulisses criou um modelo. Viajar é sair de casa, abandonar o mundo confortável e familiar, enfrentar belezas e dificuldades, e se deixar transformar. A vontade de conhecer e ver, o desafio do novo e a transformação no trajeto são o tripé do viajante convicto. Por fim, retornar à casa, transformado, diferente, tendo ressignificado seus valores. Viajar é desafiar-se. De Ítaca para Troia, de Troia para a jornada e desta, de volta, para Ítaca. Casa-viagem-casa de novo: itinerário que imortalizou o grego e nos inspira até hoje. Mas vamos ampliar o sonho. Camões insinua que as viagens de Ulisses e a do príncipe Eneias tinham sido superadas pelos portugueses: Cessem do sábio Grego e do Troiano As navegações grandes que fizeram; Cale-se de Alexandro e de Trajano A fama das vitórias que tiveram; Que eu canto o peito ilustre Lusitano, A quem Neptuno e Marte obedeceram. Cesse tudo o que a Musa antiga canta, Que outro valor mais alto se alevanta.
Fernando Pessoa volta à dupla Ulisses-Eneias e garante que o acanhado Mediterrâneo seria dos clássicos, mas o Oceano vasto seria lusitano: E ao imenso e possível oceano Ensinam estas quinas, que aqui vês,
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Que o mar com fim será grego ou romano: O mar sem fim é português.
Há um detalhe curioso: para a antiga tradição, Ulisses fundou Lisboa. Por isso, quem nasce na capital portuguesa é chamado, também, de olisiponense, aquele que nasceu na cidade de Ulisses. Vamos passar de Ítaca para Lisboa.
Viajar é preciso Deus quer, o homem sonha, a obra nasce. Deus quis que a terra fosse toda uma, Que o mar unisse, já não separasse. Sagrou-te, e foste desvendando a espuma, E a orla branca foi de ilha em continente, Clareou, correndo, até o fim do mundo, E viu-se a terra inteira, de repente, Surgir, redonda, do azul profundo.
Assim Fernando Pessoa descreve parte da epopeia portuguesa de desvendar o orbe. A primeira volta ao mundo foi liderada por um português, Fernão de Magalhães. Ele não completou a viagem, mas o sonho de partir para oeste e retornar ao mesmo ponto estava lançado. Os portugueses deram o mundo ao mundo. O efeito das viagens pioneiras dos lusitanos foi imenso. Seguidos por espanhóis, o Atlântico virou um caminho usual entre a Europa e o Novo Mundo. O Índico e o Pacífico foram sendo incorporados ao longo da Idade Moderna. O mundo encolheu. A economia tornou-se mundial. A Europa espalhou-se pelo planeta com seus valores, tropas e missionários. Iniciava-se a primeira globalização. O homem surgiu na África. No Crescente Fértil formado pelos rios Nilo, Tigre e Eufrates, desenvolveram-se as primeiras civilizações do Egito e Mesopotâmia. A escrita brotou ao sul do atual Iraque. Os
povos do Vale do Indo e da China cresceram com força extraordinária no mundo antigo. Porém, o pêndulo da força e da criação inclinava-se, cada vez mais, para o Ocidente Europeu, a partir da Idade Moderna. Para o bem e para o mal, o mundo seria europeizado a partir das grandes navegações. As viagens foram de ida e de volta. Das áreas novas descobertas, entraram para os mercados europeus plantas revolucionárias como a batata, o tabaco e o milho. Pelos navios, chegaram ao Novo Mundo açúcar, gado e cavalos. A expansão ultramarina também colocou em contato as áreas incorporadas aos impérios coloniais. As mangas da Índia chegaram ao Brasil e aqui se aclimataram tanto que as mangueiras erguem seus galhos frondosos no nosso país como se sempre tivessem estado aqui. Quem, olhando para canaviais intermináveis no Brasil, suporia que essa planta não é daqui? Houve séculos de trocas. Palavras, mercadorias, seres humanos, ideias: as áreas integradas pelas navegações nunca mais foram as mesmas. A descoberta dos novos territórios para a consciência europeia criou uma nova cultura. De tempos em tempos, uma mania de consumo explodiu no chamado Velho Mundo, a partir de produtos que aportavam. Foi o caso da seda chinesa, que antecedeu as próprias navegações. Foram as tulipas que holandeses trouxeram do império turco-otomano. Foram lacas, biombos, pedras preciosas e animais. A humilde cochonilha, que infestava plantas no México, tornou-se um corante valioso na Europa. A simples galinha revolucionou a América. Já na idade contemporânea, novas ondas de produtos e costumes entravam no cardápio europeu. A descoberta da pintura japonesa influenciou Van Gogh de maneira direta. Havia gravuras japonesas na propriedade de Monet, em Giverny. A cor e o calor do Taiti mudaram Gauguin para sempre. O romance Coração das trevas, de J. Conrad, fala do risco da própria identidade europeia em perigo no coração equatorial do Congo. A partir de 1851, com as exposições universais, Londres e as grandes capitais europeias começavam
a organizar esses “jardins zoológicos da cultura”. Era uma maneira de ver o mundo a partir da Europa. A história passou a ser vista como uma evolução lenta e milenar, que culminou nas maravilhas do Ocidente. O mundo europeu seria o apogeu da humanidade e, pelo menos até a Belle Époque, dominou um otimismo imenso nos centros urbanos industrializados. No Palácio de Cristal em Londres ou ao redor da torre Eiffel em Paris, milhões de pessoas admiraram produtos de todos os cantos e pensaram na sorte de serem europeus naquele século abençoado de progresso técnico e prosperidade material.
Caminhos pelo mundo A expansão marítima europeia moderna deu continuidade, em escala maior, a longas viagens medievais, como a de Marco Polo. O que viajantes imaginários e reais do mundo feudal tinham realizado de forma única e irrepetível, os estados nacionais e a moderna burguesia europeia tornariam um projeto contínuo. Por séculos, a maioria absoluta dos europeus conheceu uma área de poucos quilômetros ao redor do local do seu nascimento. Os mapas eram simbólicos na Idade Média, colocando Jerusalém ao centro, na forma de uma letra T ou na forma de uma flor com pétalas e os três continentes parcialmente conhecidos. Noé tivera filhos e era justo que Sem, Cam e Jafet ocupassem, cada um a seu turno, os espaços disponíveis. O contato com sociedades numerosas e complexas, como a inca e a asteca, traria, aos descobridores europeus, problemas inteiramente novos. De onde tinham vindo aqueles seres e suas pirâmides? Eram uma tribo perdida de Israel? Seriam, de fato, humanos? O jogo de sedução e repulsa misturava-se a um dos maiores genocídios da história: a redução drástica das populações ameríndias pela violência direta, pelo esgotamento nas minas e pelas novas doenças trazidas para esse extremo Ocidente.
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Falamos antes de uma hierarquia de civilizações que chegou ao apogeu a partir do século XIX. Porém, não menos importante é o crescimento do racismo como uma resposta às diferenças humanas analisadas e classificadas pelos europeus. O preconceito é um fato milenar. O racismo, a tentativa de buscar uma explicação “científica” para a desigualdade de pessoas e povos, é típico do século XIX. Um britânico nascido na Índia, R. Kipling traduziu esse sentimento no célebre poema “O fardo do homem branco”. Era, na visão do britânico, a missão pesada que a Providência tinha dado aos europeus: civilizarem negros, asiáticos e indígenas. O poema mistura um pouco de piedosa superioridade com o sentido de missão, a partir de uma base racista. Kipling ganhou o prêmio Nobel de literatura. Trecho de “The White Man’s Burden” (1899)
Take up the White Man’s burden, Send forth the best ye breed
Go bind your sons to exile, to serve your captives’ need;
To wait in heavy harness, On fluttered folk and wild—
Your new-caught, sullen peoples, Half-devil and half-child.
Os passos europeus Afinal, por que os europeus passaram a viajar? O primeiro impulso aparece nos trechos anteriores: interesses comerciais, religiosos e geopolíticos que constituíram impérios coloniais dos séculos XVI ao XX. O tema é vasto e produziria centenas de volumes de análises. Vamos focar em outro ponto. A partir da Idade Moderna, especialmente entre a elite das ilhas britânicas, fazer uma viagem até a Itália passou a ser parte do processo formativo. Era o grand tour, e nenhum jovem rico ou nobre poderia ocupar funções de destaque social, se não tivesse passado pela viagem até a península itálica. A viagem, que terminava em Roma ou nas ruínas de Herculano e Pompeia redescobertas no século XVIII,
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era um aprendizado e uma experiência política. O grand tour fez surgir o guia culto de viagem: o tutor que, utilizando textos clássicos, organizava e explicava aos jovens rebentos da elite britânica o que estavam vendo. Na volta, além dos diários e lembranças, era frequente a compra de quadros com cenas locais, ou seja, paisagens de Veneza e outras para decorar as casas britânicas. Isso explica, até hoje, tantos Canalettos existentes em castelos e museus britânicos, testemunhas do “vedutismo” virtuosístico de detalhes fotográficos e efeito pictórico. O que distinguia a elite inglesa do cidadão comum era que, enquanto a jeunesse dorée tinha visto lugares únicos e entrado no cosmopolitismo, as pessoas simples comiam, falavam e viviam sua realidade local. Viajar era um aprendizado e uma afirmação social. Apenas ingleses? Não. Goethe e Freud, de muitas formas, repetiram esse esforço de descer ao mundo mediterrânico e aprender na Itália. Em uma cena que mudaria sua vida e aprofundaria seu imenso ressentimento, Emma Bovary ouviu de nobres franceses a descrição de que o luar próximo ao Vesúvio era algo extraordinário e sentiu-se imensamente diminuída por nunca ter saído do tacanho círculo do norte da França, com seu igualmente limitado marido Charles. Assim Flaubert, em pleno século XIX, mostrava a dor de quem não viajava. Os vapores cada vez mais rápidos, as estradas de ferro do século XIX e, principalmente, a fotografia redefiniram a ideia de viagens. Sair de um lugar para outro não era mais um gesto épico que implicava testamento e confissão preparatória para os riscos imensos que os pioneiros enfrentaram. Bastava ir a uma estação de trem e se cruzaria a Europa. Depois, num porto, poderia ser obtida uma cabina proporcional a sua renda e, de forma cada vez mais confortável, os oceanos seriam atravessados. Do gesto que durou quase toda uma vida com Marco Polo e levou à morte Fernão de Magalhães, as viagens longas passaram a ser vividas em lua de mel.
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Origem do Homem, Origem dos Deuses Seguindo no encalço dos deuses e dos homens, da gênese dupla que envolveu a humanização e sua produção simbólica, encontram-se as crenças. A espécie humana surgiu na África, segundo tudo o que sabemos até hoje. Em algum momento, há milhões de anos, espécies de símios se dividiram. Um ramo originou nossos primos-irmãos: gorilas, chimpanzés, orangotangos etc. O código genético destes macacos é imensamente semelhante ao nosso. O outro ramo originou os hominídeos na África. Diversos grupos “homo” dos quais, hoje, apenas um sobrevive: o Homo sapiens. Nossos parentes do mesmo ramo, como neandertais, por exemplo, foram menos felizes na sobrevivência, ainda que seus genes sejam teimosamente presentes em cada pessoa sapiens do mundo do século XXI. Há 70 mil anos tivemos a chamada “Revolução Cognitiva”. Foi um salto no campo da comunicação. A linguagem tornou-se complexa e capaz de matizes. Em graus variados, todas as espécies vivas se comunicam. O ser humano, o homo sapiens, deu um passo além. É capaz de expressar dor como qualquer irmão símio ou primo réptil, mas é capaz de graduar essa dor em conceitos como melancolia, saudades, desespero, vaga tristeza ou agudo desespero. Mais: somos capazes de interpor teorias e práticas entre o impulso forte e a reação. Um leão é um majestoso animal selvagem. Se você pisar na cauda dele com força, provavelmente, a reação leonina ao estímulo doloroso será muito previsível. Não existem muitos filtros culturais entre o leão e seu impulso, entre o leão e seu desejo, entre o leão e sua fome. Os animais não domesticados, ou seja, não dependentes e adestrados para as necessidades humanas, reagem de forma “animal”. A Revolução Cognitiva acentuou algo mais antigo entre os homens. Fomos sendo educados dentro de sociedades que normatizaram a natureza, criaram códigos e etiquetas, e tornaram adequados ou inaceitáveis impulsos fisiológicos ou reações instintivas.
Humanos estabeleceram alimentos éticos ou não éticos, hábitos para ingeri-los, horários adequados em cada cultura, métodos de preparo, alimentos-tabu, campanhas veganas, abates ditos humanizados, restrições religiosas, orações antes das refeições e sazonalidades alimentares. Humanos fizeram o que nenhum animal na natureza fez: quais os sons corporais e momentos adequados para que eles existam. Normatizamos o sexo e estabelecemos como ele deve ocorrer, com quem, em quais momentos e a partir de quais rituais prévios e posteriores ele é válido e possível. Quem escapa das regras socialmente criadas passa a ser classificado como patológico, anormal, imoral, marginal e, em resumo, um verdadeiro “animal”. A rigor, o xingamento é verdadeiro, porque quem age fora da norma social é, de fato, um animal e segue seu instinto. Regras alimentares, de vestuário, de sexualidade, de corporalidade, de erotismo, de sacrifícios válidos e inválidos, de violências consentidas e proibidas, de tabus e incentivos, de comportamentos variados e de desvios aceitáveis são, em resumo, o que chamamos de civilização. Quanto mais você incorporar tais regras, mais estará apto à vida normal, honesta, produtiva e familiar. Quanto mais se afastar dos códigos, mais será alguém intratável e inadequado ao mundo dos seus semelhantes. A busca do Homem e seus Deuses trouxe à tona dois processos: a hominização como processo técnico na elaboração de ferramentas e, também, como comunicação mais sofisticada, e o processo de civilização. Ao elaborar respostas culturais para suas relações com a natureza, consigo e com seus semelhantes, os homens elaboraram religiões. Todos os grupos humanos incluíram deuses no chamado “pacote civilizacional”. Os deuses consagram uma ordem superior que protege, dá sentido, elabora origens e determina fins. Funcionam como um plano metafísico sobre o mundo físico, ainda que possam estar presentes na natureza ou até diluídos nela. Civilizações criam atritos. Não é fácil viver em grupo e nem todos estão dispostos aos sacrifícios impostos por
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elas. Para reforçar a harmonia ou adestrar dissidentes, os deuses colaboram enormemente. Sim, meu vizinho poderia duvidar da necessidade de contribuir com impostos para o templo. Mas, e se tais impostos estivessem num texto sagrado e fosse garantido, por séculos, que os pagando rigorosamente, você terá recompensas inimagináveis no além? Isso é um imenso reforço. Tradição histórica e peso religioso são quase incontornáveis. Se as religiões fossem constituídas, exclusivamente, de opressão e adequação social, teriam tido uma vida mais curta nas sociedades humanas. Discursos e práticas religiosas podem confortar, de fato. Também podem ser base de contestação aos poderes constituídos. O campo religioso é bem mais vasto. Na Ilha de Páscoa, há moais gigantescos com imagens de ancestrais. A técnica de extração das pedras, da condução das imensas estátuas, do abate de árvores para servirem de rolamento e do aumento da proporção de imagens diante de dificuldades é um desafio para o olhar racional. Como já foi perguntado muitas vezes, o que pensou a pessoa que cortou a última árvore da ilha? Em Bagan, Mianmar, milhares de tijolos e pessoas foram empenhados na multiplicação de pagodas que, hoje, admiramos, extasiados. É um esforço social e religioso gigantesco. As construções birmanesas e os moais da Ilha de Páscoa testemunham como crenças podem adquirir um imenso significado nas sociedades desse curioso animal que desceu das árvores há tão pouco tempo. Há um outro traço fundamental para avaliar as sociedades: o tempo. O arquipélago da Indonésia tinha crenças chamadas animistas e a presença do hinduísmo. Missionários e comerciantes budistas trouxeram os pensamentos que tinham se originado entre o atual Nepal e a Índia. O sucesso do budismo em Java foi imenso. Prova tal êxito a gigantesca marca da arquitetura de Borobudur. O tempo passa, os impérios se sucedem e as sociedades mudam. O que tinha sido hindu e animista agora
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é marcado pelo Buda. Em poucos séculos, a força de missionários islâmicos tornou o imenso complexo de Borobudur uma ruína histórica de beleza silenciosa. As crenças mudam e as pedras testemunham a metamorfose. Não foi apenas na Indonésia que a nova religião islâmica transformou o cenário. Na cultura milenar da Índia, os governantes mongóis ergueram novas mesquitas e o imponente monumento funerário do Taj Mahal. A memória do amor do imperador pela sua esposa transformou-se num dos prédios mais icônicos do planeta desde o século XVII. Shah Jahan amava Mumtaz Mahal, e ambos colaboraram para tornar Agra um foco de peregrinações turísticas. Deuses e homens estão na base do furor arquitetônico. Rotas comerciais criaram edifícios na rocha em Petra. A mudança das rotas esvaziou o poder nabateu e deixou, na Jordânia, mais um monumento do patrimônio mundial. Os grupos humanos que encontramos em Papua-Nova Guiné estavam mais próximos do homem original do que nós. Tribos e pessoas com valores de muitos séculos, valorizando a batata-doce e o abate de porcos, enfeitando-se com plumas de aves do paraíso e conchas. Impossível não perguntar o que ganhamos e perdemos com a vida urbana dita “civilizada”. Quais valores foram perdidos e quais metas artificiais cada grande cidade ocidental cria para estabelecer a felicidade que ali, nas montanhas do interior de Papua-Nova Guiné, encontram outras respostas? Na África, tem-se o início de tudo. Lá, no impressionante ecossistema do Serengeti, encontra-se o local no qual nossos ancestrais disputaram espaço com os grandes animais. Leões, zebras, antílopes, búfalos, leopardos, elefantes, girafas, hienas e hipopótamos entre tantos seres, mostram, em pleno século XXI, o que existia no horizonte dos nossos primeiros pais. Aquela era a paisagem que o primeiro Adão e a primeira Eva contemplaram. Os mesmos adões e evas que, a custo, imenso, ergueriam o Taj, as estupas, os templos hindus, islâmicos e budistas agora espalhados pelo mun-
do. E, na ponta desse mesmo continente, divisando os dois oceanos no cabo da Boa Esperança, recupera-se a visão completa da imensa aventura do que veio a se chamar humanidade.
Registro de um tempo Por que a fotografia? A veduta italiana tinha dado o ponto de partida. Trazidos pelos viajantes, os quadros reforçavam as narrativas. Ao indicar a bela cena do Grande Canal de Veneza, o narrador faria de sua aventura numa gôndola (e reviveria ou inventaria) uma peripécia a seu público setentrional. A partir do século XIX, o que antes era reforçado por quadros a óleo, passou a ser realizado pela fotografia. O que dominava não era, como hoje, fazer fotos nos locais visitados, mas comprar fotografias dos pontos tradicionais. A fotografia e o cartão-postal eram partes importantes das malas na volta. D. Pedro II, ao visitar o Egito, fez uma clássica foto com a comitiva junto às pirâmides. Ele era um entusiasta da novidade e foi um dos pioneiros fotográficos do Brasil. Mas, o mais importante, ele comprou milhares de fotografias nas suas viagens que, até hoje, fazem parte de acervos importantes brasileiros, como a coleção Teresa Cristina, no Rio de Janeiro. Nosso culto imperador era vanguarda excepcional no Brasil, mas a prática do cartão-postal e das fotografias era norma na Europa. Na prática, o grand tour britânico expandiu-se muito. Houve uma egiptomania e uma mania indiana no século XIX. Os turistas passaram a inundar pontos cada vez mais distantes. Ao lado de exploradores que buscavam as nascentes do Nilo ou os lugares sagrados da Índia e do Oriente Médio (como Richard Burton), havia o homem comum que queria conhecer o Louvre ou o Museu Britânico. Viajar, a partir da fotografia, passou a ser encontrar aquilo que já era conhecido por fotografias vendidas por todo lado. Viajar era mais confirmar que descobrir: sim, lá estão
as pirâmides do Egito, como sempre imaginamos que estariam, exatamente como nas fotografias. A fotografia não parou de crescer. Foi colorida manualmente por fotógrafos que, com frequência, eram artistas plásticos. A máquina de fotografia tornou-se tão fundamental como o passaporte. Viajar era fotografar. O surgimento da foto digital imediatamente compartilhada em redes sociais passou a ser fundamental. Viajo para registrar e para compartilhar. Meus olhos deslocam-se, no mundo líquido, para o que envio. A experiência da viagem é compartilhar fotografias mais que ver; compartilhadas e enviadas a muitas pessoas, acompanhadas de exclamações de felicidade absoluta (obrigatória no mundo líquido) o grand tour tornou-se global.
Sobre o FOTÓGRAFO O livro que você tem em mãos contém o testemunho privilegiado do olhar de Adriano Gambarini. Fotógrafo experiente e criativo, ele lançou sua objetiva ao longo do globo. Surge aos olhos do leitor/observador o olhar de Gambarini. Uma fotografia é um dado técnico, em primeiro lugar. O uso de uma lente, o clique exato, a luz, a máquina adequada, o tratamento da foto, o ângulo e o enquadramento. Tudo isso revela técnica e, a rigor, pode ser ensinado a muitas pessoas. Porém, em segundo lugar, uma fotografia é o resultado de uma sensibilidade da alma, e essa habilidade é mais complexa de ser transmitida. O resultado de uma boa técnica com uma sensibilidade aguçada é o que o leitor tem em mãos. É a chance de viajar ao redor do mundo com o olhar do fotógrafo. Sente, relaxe, dirija o olhar livre e aproveite. O livro é um monumento ao olhar e à inteligência do Adriano. Vai começar sua viagem. Aproveite!
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O despertar da Terra adriano gambarini
Águas do Pacífico Do alto do céu, encoberto por densas nuvens, um pedaço de terra parece flutuar sobre o imenso oceano azul anil. Impassível, aquela grande ilha é ainda maior quando sua história original, construída nos confins da Terra, vem à tona. Desenhada por falésias abruptas que rompem um mar revolto, a superfície plana é entremeada por pequenos morrotes, testemunhos de intensos processos geológicos. Seu passado está ligado não apenas ao mistério de uma desaparecida civilização, mas também ao testemunho vivo da dinâmica que rege este planeta. A Ilha de Páscoa é de origem vulcânica e, juntamente com duas outras pequenas ilhas, Motu Nui e Motu Iti, formam o cume de uma grande e submersa cadeia de montanhas que surge há mais de 2 mil metros de profundidade no Oceano Pacífico, próximo à costa chilena da América do Sul. É formada basicamente por
três vulcões extintos: Terevaka é o maior de todos; dois outros vulcões menores, Poike e Rano Kau, formam as cabeceiras leste e sul, e dão à ilha seu formato relativamente triangular. A história da Ilha de Páscoa foi construída sobre mistérios e desconcertantes constatações. À medida que se caminha pelos campos secos, outrora cobertos por uma vegetação exuberante, novas dúvidas surgem a cada passo, a cada olhar enigmático dos moais, esculturas fenomenais de pedra vulcânica que parecem transpor o tempo, alheias a tudo e a todos. Esculpidas nos paredões de uma pequena montanha, eram carregadas para diferentes pontos da ilha e curiosamente erguidas de costas para o mar; ilha esta que por um descuido da natureza se tornou tão linda quanto frágil, à mercê dos conflitos espirituais de uma antiga e extinta civilização. Já no outro extremo do Oceano Pacífico encontram-se milhares de ilhotas igualmente de origem vulcâni-
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ca, mas a grande maioria cercada por anéis de recifes de corais e que constituem a chamada Polinésia Francesa. As muitas tonalidades de azul do mar contrastam o pico rochoso e encostas verdejantes na paradisíaca Bora Bora. As águas rasas, quentes, e a fertilidade dos recifes permitem uma exuberante vida marinha. E, ao contrário da Ilha de Páscoa, que está localizada numa região de águas frias e profundas, impedindo a formação de recifes de corais, estes atóis são de extrema importância para a formação da rica biodiversidade dessa região do Pacífico. Contudo, o processo de formação dessas ilhas vulcânicas se diferencia do anterior por estarem localizadas nos chamados Hotspots, pontos fixos na crosta terrestre onde ocorre uma permanente erupção de material vulcânico a partir do assoalho oceânico. Com a movimentação constante da placa tectônica do Pacífico sobre esses pontos fixos, gradativamente se forma um lineamento de ilhotas, retilíneo ou circular, possibilitando ainda a formação dos recifes coralíneos ao redor. Localizada entre os Trópicos de Câncer e Capricórnio, a Polinésia Francesa pertence à Oceania, o menor dos continentes e onde está localizado um dos mais misteriosos e ainda desconhecidos países do mundo, a Papua-Nova Guiné. A Papua-Nova Guiné, por conta de seu isolamento natural, possui uma biodiversidade pouco conhecida para a ciência, com suas exuberantes aves do paraíso. Encontradas na floresta tropical que cobre grande parte do país, são reconhecidas por suas longas e belíssimas caudas e penachos. Por conta disso, muitas espécies ficaram à beira da extinção no início do século XX, quando suas penas eram usadas como adornos de vestuários após a descoberta dessas ilhas por exploradores e naturalistas europeus. Mas a imponência dessas aves, a simpatia de uma população percebida em sorrisos receptivos ou as tradições culturais mantidas por etnias como os Huli, com suas perucas feitas de cabelo natural e rostos amarelos, não desfazem uma sensação angustiante ao observar um desmatamento iminente nas muitas clareiras deixadas na floresta ou as pilhas de troncos
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na beira das estradas: a de que este país possa estar seguindo o mesmo curso de muitos outros que não possuem uma gestão dos recursos naturais, tal como foi na Ilha de Páscoa. Os motivos foram outros, mas o destino pode ser o mesmo. Aliás, o destino de toda a humanidade dependerá exclusivamente de quanto ela for capaz de conservar o meio ambiente.
Nos caminhos da paz A Indonésia, país localizado ao norte da Oceania e sul da Ásia, é considerada o maior arquipélago do mundo, constituída por milhares de ilhas de origem vulcânica. Situada no contato entre importantes placas tectônicas, é uma região instável geologicamente, onde há ocorrência frequente de atividades vulcânicas e abalos sísmicos. Se, por um lado, os processos vulcânicos marcam catastroficamente a região, como o caso de Krakatoa, um dos mais famosos e arrasadores vulcões de que a história humana tem registro, por outro lado, possibilitam a formação de rochas como andesito, existente em toda a construção do templo de Borobudur, na Ilha de Java. Considerado o maior templo budista do mundo, é marcado por idolatria e abandono, com as frequentes mudanças religiosas que a ilha sofreu ao longo de sua ocupação. Apesar de a história da construção desse templo não estar ainda totalmente desvendada, cada degrau transpassado é uma verdadeira imersão em um mistério milenar. Deslizar os dedos sobre os entalhes das paredes que relatam o dia a dia de reis e súditos é como sentir nas mãos a vida que outrora andou naqueles corredores. Olhar cada imagem de Buda, cada estupa cuidadosamente construída, pedra sobre pedra; perceber o Sol esquentando aos poucos aquela construção piramidal e ouvir o silêncio do vento, testemunho inabalável de uma civilização. Não muito longe dali, um outro país guarda ainda grandes mistérios, principalmente para o mundo oci-
dental. Mianmar é o maior país do sudeste da Ásia e, até poucos anos atrás, era conhecido como Birmânia. A crescente influência budista possibilitou a construção de milhares de templos espalhados pelas planícies inundáveis, campos que ora revelam pastores de cabras, ora amarelam o horizonte com grandes plantações de arroz. Assim como dezenas de outros países que vivem a influência do budismo, as centenas de estupas douradas de Mianmar delatam, novamente, a necessidade humana de eternizar suas crenças. Caminhar por corredores ornamentados por milhares de pinturas que descrevem a ascensão iluminada do Buda; observar e ser visto por seus olhos no alto de gigantes esculturas cobertas por folhas de ouro; acender uma vela a seus pés e tocar seu corpo em posição de lótus. Todos estes passos pelos caminhos da fé parecem óbvios e, ao mesmo tempo, necessários, não só para si mesmo, mas também para o bem-estar coletivo das sociedades e do próprio mundo. A paz que reina ao sobrevoar os templos de Mianmar, o silêncio inebriante do amanhecer e as feições puras de um povo acolhedor parecem desconstruir qualquer conceito de certo ou errado. Tudo parece trazer mais sentido à vida quando focado pelo olhar da simplicidade. No mesmo continente, encontra-se a Índia. A terra dos contrastes. O país onde a religiosidade é vista ao se andar nas ruas. Onde as vacas são sagradas. Onde o Himalaia, a mais alta cadeia de montanhas do mundo, é também uma das mais jovens. Resultado de uma mera colisão entre um grande maciço de terra e o continente asiático, evidências da dinâmica geológica que condiciona todas as movimentações tectônicas do planeta. Na Índia tudo é intenso, atemporal, enigmático. Taj Mahal, o amor incondicional em forma de palácio é, efetivamente, um mausoléu. Uma verdadeira obra-prima arquitetônica, construído com dezenas de tipos de mármores de diversos tons de branco, que mudam de cor com a incidência do Sol ao longo do dia. Na outra curva do Rio Yamuna, repousa uma imponente construção com séculos de existência, o Forte de Agra. Uma mistura de
diferentes arenitos avermelhados com salões brancos de mármore fartamente ornamentados, cuja arquitetura e riqueza de detalhes transpõem qualquer questionamento sobre os limites do homem. Ali, corredores, paredes e jardins se transmutam a cada minuto, a cada raio de luz criando sombras, formas e contrastes.
As Areias de Petra Se, por um lado, esses destinos trazem a história da humanidade, com seus deuses e mitos definindo as diferentes culturas ao longo dos séculos, também trazem a evolução e história da Terra. Os desertos áridos do Oriente Médio ironicamente guardam, em seu subsolo, a fartura do ouro negro. Para a geologia, nada mais é que o resultado de antigos processos sedimentares de matéria orgânica que, durante milhares de anos, foram depositados em fundos de lagos e mares. Para a humanidade, o petróleo é o bem econômico que condiciona a dominação entre povos, guerra e paz, política e religião. Toda essa região constitui uma única Placa Tectônica, conhecida como Placa Arábica. Circundada pelo Mar Mediterrâneo, Mar Vermelho, Golfo Pérsico e Mar Arábico, é uma área geologicamente instável, dada ao encontro de placas e recorrentes movimentações sísmicas. Um dos países que compõem o Oriente Médio é a Jordânia, localizada na margem leste do Rio Jordão e que guarda um dos mais fantásticos Patrimônios da Humanidade: as Ruínas de Petra. Outrora conhecida por ser um importante entreposto comercial, hoje guarda a história não contada de uma civilização. Geologicamente, os sedimentos que formaram o arenito da região vieram prioritariamente de depósitos sedimentares de mares internos, há milhões de anos. A variação das cores à medida que muda de altitude é resultado da sedimentação da rocha, criando tons de cinza claro nas encostas mais altas das montanhas, a tons vermelho-sangue nos estreitos desfiladeiros e vales que escondem os mais importantes templos. As diferentes
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tonalidades de vermelho são causadas pela infiltração de águas termais, com óxidos de ferro e manganês dissolvidos. A porosidade do arenito permite que esses óxidos se infiltrem e deem os tons avermelhados encontrados nas grutas e paredes dos templos. Aliás, foi a maciez da rocha um dos fatores que motivou os antigos habitantes, os nabateus, a permanecerem nessa área e esculpirem seus palácios. No entanto, os mesmos fatores que contribuíram para a formação dos cânions e vales de Petra também colaboram para a degradação dos templos: erosão pela água, vento e atividade humana são as principais ameaças. Apesar do intenso movimento turístico da região, algo parece ter parado no tempo. A poucas dezenas de quilômetros dali, no deserto de Wadi Rum, grupos de beduínos pastoreiam suas ovelhas, vivendo nômades como seus antepassados. E, por fim, esquecidos nas paredes das encostas de pedra, dezenas de petróglifos enigmáticos guardam uma história ainda mais antiga e desconhecida.
Origem da Vida África, o berço da humanidade. O início e fim das jornadas. Na ponta deste velho continente, um penhasco rochoso que separa dois oceanos. Um cabo cujo nome é o alento para os antigos e novos exploradores: Boa Esperança. Mas navegar ali é para poucos. Mares revoltos, rochas submersas em águas frias e traiçoeiras, que durante séculos separaram mundos
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desconhecidos. E num outro período, ainda mais remoto, estes mesmos penhascos faziam parte de um único continente, juntando África, Américas e Eurásia. Pangea era seu nome. Na Tanzânia e nos campos savânicos do Serengeti, a fauna pulsa em busca da água e do alimento. O famoso Great Rift Valley, uma importante formação geológica resultante do encontro das placas tectônicas da África e Arábia, está diretamente relacionado também com a formação da calha do Rio Jordão e do Mar Morto. Outrora responsável por intensas atividades vulcânicas que formaram, entre outros, a cratera de Ngorongoro, essas atividades geológicas possibilitaram também a formação de uma complexa rede hídrica de rios e lagos que se formam ao longo do ano, condicionando a movimentação de milhares de animais num processo permanente de migração. O mistério da noite é palco das atividades que condicionam a sobrevivência de algumas espécies até o raiar do dia, quando presa e predador, agora na busca de lugares protegidos, vão, gradativamente, dando lugar a um silêncio que paira nas savanas agora dominadas pelo Sol escaldante. Com a chegada do próximo entardecer, as revoadas de aves buscam seus ninhais, enquanto manadas de mamíferos diurnos buscam agora seus abrigos. E, assim, a dinâmica da natureza é continuamente despertada para a perpetuação de um bem maior, a evolução do mais fascinante princípio que rege a história da Terra desde o início dos tempos: a vida.
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oceano pacífico
oceano atlântico
polinésia francesa Brasil ilha de Páscoa
oceano pacífico Jordânia
Mianmar ÍNDIA
Indonésia
Tanzânia
África do Sul
oceano índico
PAPUA-NOVA GUINÉ
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