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Sermão 7 | Sobre como a vida pode ser mais doce
Thiarlles Boeker SOBRE[VIVER]
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Sobre como a vida pode ser mais doce
“Então, Moisés clamou ao Senhor, e o Senhor lhe mostrou uma árvore; lançou-a Moisés nas águas, e as águas se tornaram doces. Deu-lhes ali estatutos e uma ordenação, e ali os provou,” Êxodo 15:25
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INTRODUÇÃO
Vizinho da igreja durante anos, o senhor Josivaldo ouvia o culto apenas através da janela. Isso era triste, pois 40 anos antes aquela grande congregação havia começado em sua casa. Por muito tempo ele foi um dos líderes daquela comunidade, mas um descontentamento o fez evitar a comunhão junto aos irmãos. A esposa estava sempre sozinha nos bancos da igreja e clamava por ajuda, pois queria ver a família unida na casa de Deus.
Durante uma visita pastoral, depois de uma longa conversa, o coração machucado de Josivaldo se abriu para perdoar e ser perdoado. Isso só foi possível quando o foco se deslocou dos motivos elencados no debate para a profunda razão, ou seja, a mágoa.
O mais triste é que em alguns casos as divergências que provocaram a desavença alimentam um sentimento destrutivo. A princípio, as tensões são mais fáceis de resolver. O grande problema é que, por mais simples que seja uma situação, se existe amargura, especialmente a amargura acumulada, o embate passa a ser rígido, mais por conta do orgulho do que pelas questões. Mas não pense apenas em discussões acaloradas porque existem corações amargurados sem nenhum embate.
Certa ocasião, um marido elogiou o vestido azul da esposa, dizendo: “Que vestido lindo! Ficou tão bem em você! É novo?” Então, ela respondeu: “Não! É o mesmo que usei há dois anos na primeira vez que saímos, quando ainda éramos namorados”. Claro que a história fala de um homem desatento, mas também não deixa de revelar algo que foi guardado por muito tempo. Isso estava fazendo mal para ele, mas sobretudo para ela.
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A vida pode ser mais doce. Deus não deseja que um coração amargo aflija a vida de seus filhos. Por menores que sejam as amarguras, se acumuladas, elas podem trazer um mal silencioso e profundamente destrutivo. As amarguras nos impedem de ver o melhor das pessoas e, especialmente, o melhor de Deus.
Vamos estudar um pouco mais sobre isso para percebermos como podemos responder a esse sentimento e, em especial, o que Deus pode fazer com as amarguras que aparecem no caminho.
DESENVOLVIMENTO
1. Arranque esta raiz e veja algo diferente
A frase “guardar ressentimento é como tomar veneno esperando que a outra pessoa morra” é atribuída a mais de dois indivíduos. Sem tentar definir autor, vamos pensar quanto desse pensamento soa como verdadeiro? Em sua pescaria solitária, no meio de uma grande lagoa, um homem teve problemas com o motor da pequena embarcação. Ao contar a história sobre o incidente que lhe rendeu horas remando, alguém questionou sobre seus sentimentos. Ele respondeu: “A primeira coisa que me veio à cabeça foi a vontade de reclamar e colocar a culpa em alguém; e a segunda foi uma dolorosa frustação por não ter ninguém com quem reclamar”.
A amargura é como uma semente. Ela brota e, se cultivada, cria raízes ao longo do tempo. Um bom conselho é que não “[...]haja alguma raiz de amargura que, brotando, vos perturbe, e, por meio dela, muitos sejam contaminados;” (Hb 12:15).
Para o povo de Deus no deserto, a lembrança do lugar chamado Mara ocorre mais pela decepção passa-
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geira do que pelo grande milagre realizado. A amargura precisa ser arrancada do coração, e isso começa quando conseguimos esquivar os olhos dos problemas, encontrando as clareiras de oportunidades.
Para toda provação proveu Deus auxílio. Quando Israel, no deserto, chegou às águas amargas de Mara, Moisés clamou ao Senhor. Este não proveu nenhum remédio novo; chamou a atenção para o que lhes estava ao alcance. Um arbusto por Ele criado devia ser lançado na fonte para tornar a água pura e doce. Isto feito, o povo bebeu dela e refrigerou-se. Em toda provação, se O buscarmos, Cristo nos dará auxílio. Nossos olhos se abrirão para discernir as restauradoras promessas registradas em Sua Palavra. O Espírito Santo nos ensinará a apoderar-nos de toda bênção, que servirá de antídoto para o desgosto. Para toda amarga experiência havemos de encontrar um ramo restaurador. — A Ciência do Bom Viver, p. 248
A solução pode estar mais próxima do que imaginamos. Outro olhar pode fazer a diferença, trazendo luz para nossa vida (Mt 6:22, 23). A maneira como enxergamos as coisas fala muito sobre como está nosso coração. Deus deseja que nossa vida seja mais doce. Que tal permitir esse olhar diferente para as pessoas, a vida e nosso Deus? É possível que Ele já esteja apontando para algo fora de nosso campo de visão poluído, indicando exatamente o que e onde podemos mudar.
2. A melhor resposta para as amarguras da vida
Já passava das 22h e passos foram percebidos do lado de fora da casa de Danilo. Ele tinha apenas 10 anos quando ouviu o vizinho chamar e comunicar sobre um
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acidente automobilístico que havia sido fatal para seu primo.
Os pais de Danilo foram ao hospital e, sozinho, sem ter com quem reclamar ou dividir os medos, ele dobrou os joelhos para orar.
Em palavras inocentes e infantis, ele suplicou: “Senhor, que não tenha ocorrido o pior. Que tenha acontecido uma confusão e a notícia não seja de morte”. Antes de terminar a oração, Danilo ouviu novamente o som de passos. Era o vizinho voltando para avisar que o acidente aconteceu, mas sem morte.
A oração continua sendo uma das mais poderosas e disponíveis ferramentas para os corações aflitos, preocupados ou angustiados. Paulo usa a figura de um soldado e sua armadura para nos ajudar a identificar os elementos apropriados diante dos embates neste Grande Conflito (Ef 6:13-17). É importante destacar que a oração não é representada por um elemento único, mas, após a descrição, a oração é posta como algo que passa por todos eles. Ela fortalece as fibras da justiça, devolve a paz em nossa caminhada, faz com que nos concentremos na Salvação e nos ajuda a lembrar as respostas de Deus em Sua palavra. É por esse motivo que o apóstolo insiste: “[...]orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e súplica [...]” (Ef 6:18).
A oração é a respiração da alma. É o segredo do poder espiritual. Nenhum outro recurso da graça pode substituí-la, e a saúde da alma ser conservada. A oração coloca a pessoa em contato imediato com a Fonte da vida, e fortalece os nervos e músculos da experiência religiosa. Se o exercício da oração, quando for desprezado ou ela for feita ocasionalmente, conveniente, você perderá a firmeza em Deus. As facul-
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dades espirituais perdem a vitalidade, a experiência religiosa não tem saúde e vigor. — Mensagens aos Jovens, p. 249.
As maiores vitórias da igreja de Cristo, ou do cristão em particular, não são as que são ganhas pelo talento ou educação, pela riqueza ou favor dos homens. São as vitórias ganhas na sala de audiência de Deus, quando uma fé cheia de ardor e agonia lança mão do braço forte da oração. — Patriarcas e Profetas, p. 203.
A resposta para o que ocorreu no deserto, em Mara, veio depois da oração. Então, a oração não deve ser nosso último recurso, mas a oxigenação de nossa vida. Devemos orar continuamente (1Ts 5:17), ou seja, em casa em seus momentos de devoção, no caminho para o trabalho e diante das encruzilhadas da jornada. De joelhos ou até em pé no ônibus, quando não há mais banco para sentar; com os olhos fechados, em momentos solenes e propícios, ou abertos, fixos na estrada no caminho de volta para casa. O importante é estar em diálogo constante com Deus.
3. Apesar dos desafios, a vida pode ser mais doce.
Parecia ser mais uma viagem normal. O avião decolou rumo a Vitória, ES. Quando faltavam apenas 15 minutos para o pouso, o piloto avisou que todos deveriam afivelar o cinto porque haveria turbulência, já que estavam atravessando nuvens de tempestade. O avião começou a balançar, fortes rajadas de vento o deslocavam do alinhamento com a pista e, de repente, o piloto fez a manobra e arremeteu, a fim de fazer uma tentativa de pouso mais segura. Muitos começaram a ficar agitados e passaram a expressar sua fé de diversas formas. Porém, um passagei-
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ro olhou calmamente pela janela buscando o infinito, deu um sorriso e voltou a ler sua Bíblia.
Nossos encontros com Deus podem não evitar as turbulências na vida, mas certamente nos darão outro espírito diante delas. Para Jesus, esses encontros eram essenciais. “Tendo-se levantado alta madrugada, saiu, foi para um lugar deserto e ali orava” (Mc 1:35).
Os versos 32 a 34 desse mesmo capítulo evidenciam que o dia anterior de Jesus havia sido extremante cansativo. “Enquanto o último enfermo não foi curado, Jesus não cessou de trabalhar” (O Desejado de Todas as Nações, p. 175). O verso 38 mostra que a agenda de Jesus para o dia seguinte permaneceu lotada e que Sua atitude diante de uma vida cheia de ocupações revelava que nada poderia roubar o momento Dele com Deus.
Calmamente, mas com fervor, busca a Deus. Suave e permanente será a influência que emana dAquele que vê o secreto, e cujo ouvido está aberto para ouvir a prece que vem do coração. Pela fé calma e singela a alma entretém comunhão com Deus e absorve raios de luz divina que a devem fortalecer e suster no conflito contra Satanás. Deus é nossa fortaleza.” — Caminho a Cristo, p. 98.
Uma das grandes responsabilidades desta vida encontra-se sublinhada no privilégio de sermos chamados de cristãos, ou seja, aqueles que seguem a Cristo. Algo evidente no ministério do Salvador junto aos discípulos era a capacidade de lidar com embates que para os discípulos, às vezes, pareciam insolúveis.
Uma das abençoadas lições deixadas por Jesus é que a vida pode negar felicidade plena aqui, mas quem estiver na presença de Deus terá paz na tempestade (Jo 14:27; 17:15) e mais condições de lidar com o inesperado.
Que não tenhamos dúvidas, porque a vida pode ser mais doce na presença de Deus.
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CONCLUSÃO
A conclusão não é que as dificuldades deixarão de existir ou muito menos que os problemas não provocam ou provocarão sofrimentos. Não podemos diminuir o tamanho das dores dos outros nem das nossas, mas precisamos evidenciar o poder de Deus diante dos desafios. O cristão também chora e sofre, mas não “[...]como os demais, que não têm esperança” (1Ts 4:13). Existe uma Pessoa, com P maiúsculo, que nos ajuda a encontrar o sorriso perdido em algum lugar deste deserto injusto. Ele é o maravilhoso Deus que pode transformar um momento amargo em algo doce. Que tal buscarmos juntos por essa vida mais feliz? Vamos hoje mesmo permitir, através do Senhor, um olhar diferente, transformado e capaz de encontrar a solução proposta pelo Céu para cada um de nossos problemas?