De olho no retrovisor

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De olho no retrovisor

anĂĄlises para compreender as mĂ­dias digitais em 2013


De olho no retrovisor 2013 foi o ano em que você passou a acompanhar os principais acontecimentos do mundo digital numa das seções mais tradicionais do Scup Ideas, O Monitor. Durante 47 semanas, você conheceu tendências como o marketing em tempo real, a explosão dos vídeos curtos na publicidade e a integração entre TV e internet. Leu análises únicas sobre as manifestações que tomaram as ruas do país com a ajuda das mídias sociais, a decisão das Organizações Globo de tirar seus links do Facebook e a invasão das respostas automáticas no SAC feito pelo Twitter. Entendeu ainda cada movimentação da maior plataforma social da atualidade no intrincado - e ao mesmo tempo fascinante - mundo dos negócios digitais, a retomada dos blogs e os desafios de empresas jornalísticas e agências para sobreviver na era da internet. Viu o renascimento do Yahoo, a queda da Blackberry, as esperanças da Microsoft nos dispositivos móveis, a ascensão do Tumblr e a veneração ao Big Data. Nesta retrospectiva, você poderá lembrar de tudo isso - e muito mais - numa seleção especial de 33 textos escritos ao longo do ano por nossa talentosa equipe. Também terá a oportunidade de se preparar para 2014 com um artigo inédito com previsões e tendências feitas por profissionais e estudiosos das mídias sociais. Que venham os desafios do ano que chega!

Por eliseu barreira junior

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Realização : Claudia Gasparini , Eliseu Barreira Junior, Lucas Moschione e Thayane Veiga Imagens: Shutterstock e Wikimedia Commons

Expediente


Sumário

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Impulsionadas pelo boom do setor, jovens empresas oferecem soluções para produtores e distribuidores de conteúdo. Que categorias de startups mais têm atraído o interesse dos investidores?

frases do ano 8 yahoo: vida além do facebook? 14 as marcas estão prontas para anunciar no instagram?

18

por que o twitter é tão popular entre os políticos? arianna huffington: o que ela quer com o brasil?

21

para onde vão os investimentos em marketing de conteúdo?

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o 11 de setembro inaugurou a era do big data?

29

como a crise econômica afetará o marketing brasileiro?

33

microsoft: as lições da renúncia de steve ballmer

35

por que o facebook quer levar internet para todos?

37

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Sumário

54

Aplicativos que permitem a gravação e o compartilhamento de pequenos filmes são a mais nova aposta do Facebook e outros gigantes da internet.

linkedIn: recrutam-se adolescentes 40 a nova indústria da TV 42 facebook: a caminho da transparência? 45 a invasão das respostas automáticas no twitter

48

a nova chance dos blogs 51 a explosão dos vídeos curtos 54 já pensou se a moda pega? 57 do facebook para as ruas: por que as mídias sociais mobilizaram o brasil

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Sumário

80

O que está por trás da decisão da Globo de tirar seus links do Facebook?

o “fim” da playboy e o futuro do jornalismo

62

analista de redes sociais precisa ser bom em matemática?

65

futebol e redes sociais: um gol de placa?

67

candy crush: a saga de uma obsessão 69 qual é o segredo das campanhas de sucesso no facebook?

71

a tv vai salvar o twitter ou o twitter vai salvar a tv?

74

a reinvenção da publicidade na era do facebook

77

facebook: uma ameaça global? 80

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Sumário

83 Inspiradas na viralização de uma imagem, marcas decidem declarar apoio ao casamento gay em suas páginas no Facebook. Como lidar com os riscos e oportunidades trazidos pelo marketing social?

as empresas devem apoiar causas nas redes sociais?

83

o que o futuro reserva ao facebook? 85 lições do marketing em tempo real no oscar

88

como “curtir” algo no facebook revela muito sobre você

90

os desafios do próximo papa nas redes sociais 93 o crescimento do twitter em 2012 95 uso de mídias sociais no trabalho 97 a busca social do facebook 99 perspectiva: o que 2014 reserva para as mídias sociais?

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Frases do ano


Retrospectiva 2013

Frases do ano

“Estou disposto a fazer esse investimento apenas porque acredito que será bom para o mundo” Mark Zuckerberg, criador do Facebook, sobre o seu projeto “Internet.org“, destinado a conectar países em desenvolvimetno à rede mundial de computadores.

“Nós percebemos uma redução no número de usuários diários. Especificamente os mais jovens” David Ebersman, diretor financeiro do Facebook, sugerindo que os adolescentes não estão acessando o site como antes.

“Nós não competimos com o Facebook” Jack Dorsey, criador do Twitter. Ele acha que sua rede social tem pouco espaço para o relacionamento pessoal, principal foco do Facebook.

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Retrospectiva 2013

Frases do ano

“Eu espiono” Barack Obama, presidente dos EUA, fazendo piada no Twitter no auge do escândalo de espionagem que abalou seu governo em julho de 2013.

“Meus esforços estão focados em garantir que o meu povo tenha acesso global a qualquer tipo de informação, como é de seu #direito” Hassan Rouhani, presidente do Irã respondendo ao tuíte de um dos criadores do Twitter, que o questionou sobre o uso de mídias sociais em território iraniano.

“As redes sociais libertarão a China” Eric Schmidt, presidente do Google, prevendo o impacto que as mídias digitiais terão sobre a ditadura do país asiático.

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Retrospectiva 2013

Frases do ano

“O Governo Federal tem interesse em popularizar ainda mais a internet” Dilma Rousseff, que discutiu o papel da web no Brasil em sua coluna semanal “Conversa com a Presidenta“.

“Não há cultura de internet maior do que a do Brasil” Ben Smith, editor do Buzzfeed, site de entretenimento que ganhou em outubro de 2013 uma versão tupiniquim.

“Vamos esquecer toda essa confusão” Pelé, querendo colocar panos quentes a discussão sobre os protestos que tomaram o territ;ório brasileiro em junho de 2013.

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Retrospectiva 2013

Frases do ano

“A privacidade talvez seja uma aberração” Vint Cerf, vice-presidente do Google, falando sobre o futuro da internet e como as inovações tecnologicas impactarão nossas vidas.

“Veneramos os dados e tentamos aprender com eles, mas não devemos segui-los cegamente”

“A compra do Washington Post pelo dono da Amazon entrará para a história como ‘O dia em que a imprensa virou mídia’”

Kenneth Cukier, editor de dados da revista The Economist, sobre a importância de encarar o Big Data com responsabilidade.

Alberto Dines, jornalista e escritor brasileiro, sobre o siginificado da aquisição do jornal americano por Jeff Bezos.

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Retrospectiva 2013


Retrospectiva 2013

Yahoo: vida além do Facebook? A multinacional que brilhou nos anos 90 deu uma guinada, ultrapassou o Google em visitas e chegou a 800 milhões de usuários. Como o Yahoo voltou ao jogo? Por Claudia gasparini 18 de outubro de 2013

Redesenho do logotipo e da página inicial do site. Novos formatos e modelos de anúncios. Vinte startups compradas em um ano. Nos últimos tempos, o Yahoo não para. Prestes a completar duas décadas de existência, a empresa parece ter recobrado as forças que perdeu nos últimos tempos. O Yahoo quer voltar ao jogo – e mostrar que existe vida além do Facebook. Em pouco tempo, a multinacional passou de um nome desgastado no mercado de tecnologia a um player revitalizado, capaz de ultrapassar o Google em número de visitas únicas, em julho de 2013, nos Estados Unidos. Os números provam uma realidade de grande carga simbólica: o Google foi um dos principais responsáveis pela perda de fôlego do Yahoo no início dos anos 2000. Depois de dois anos de queda, a audiência do site cresceu e, pela primeira vez, atingiu a marca global de 800 milhões de usuários. Mas qual é o motivo de um retorno tão intenso? Para a perplexidade dos analistas, não há dados consistentes que justifiquem os picos de visitas aos sites da organização desde o fim do ano passado. Nem mesmo

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Retrospectiva 2013 a tão noticiada aquisição do Tumblr pela empresa, em maio de 2013, poderia explicar o crescimento: os estudos realizados não contam as visitas ao microblog como parte do tráfego nos domínios do Yahoo. Assim, as razões continuam obscuras. Na dúvida, podem culpar Marissa Mayer. Excolaboradora do Google, a incansável executiva de 38 anos assumiu a presidência do Yahoo em julho de 2012 e, desde então, não para de efetuar mudanças radicais na estrutura de gestão da empresa. Abraçando um desafio que à época repelia a maior parte dos executivos, ela providenciou a cura de antigos males que abatiam o negócio e o distanciavam cada vez mais da inovação e da competitividade. O primeiro passo de Marissa foi tentar renovar a imagem da marca. Percebido por muitos como antigo e ultrapassado, o Yahoo perdia tanto na quantidade de usuários quanto na qualidade dos candidatos a trabalhar na empresa. Para mudar o cenário, a jovem CEO apostou em ações de branding e aquisições estratégicas como a do Tumblr, rede social popular entre adolescentes. O velho Yahoo, nascido em 1994 como o jurássico site “Jerry’s Guide to the World Wide Web”, não existe mais – e Marissa quer deixar isso bem claro. Até o logotipo da empresa, nunca alterado desde a sua fundação, foi descartado e substituído. Outra estratégia importante posta em prática nessa nova fase do Yahoo tem sido a aquisição frequente de startups. Foram vinte, desde outubro de 2012. Além do Tumblr, destacam-se as compras do Summly, aplicativo que sumariza notícias criado por um adolescente de 17 anos, e da startup de área móvel Stamped. Ao atrair jovens empresas, o Yahoo não pensa apenas em agregar seus produtos e soluções ao portfólio da empresa. Marissa quer as pessoas, as mentes por trás dos empreendimentos que adquire. Muitos talentos se tornaram colaboradores do Yahoo após venderem à multinacional os negócios que criaram. Para o Yahoo, foi a chance de arejar seus quadros de funcionários e incrementar seu time de desenvolvedores.

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Retrospectiva 2013 Além das formas de contratação e aquisição de talentos, as políticas internas da empresa também sofreram alterações importantes. Uma das mais polêmicas e notórias foi a extinção do home office: a presidente exigiu que os funcionários que trabalhavam remotamente voltassem a comparecer presencialmente à sede da empresa em Sunnyvale, na Califórnia. Entre outros objetivos, Marissa queria ampliar a integração e otimizar as decisões tomadas em equipe. Ainda que aparentemente impopular, a medida vingou – e não manchou a imagem da líder. No segundo trimestre de 2013, Marissa era aprovada por 84% dos funcionários – a melhor avaliação de todos os CEOs do Yahoo em 5 anos. As muitas realizações notáveis da jovem executiva podem ser o ingrediente secreto por trás da nova fase do Yahoo. No entanto, se os resultados atingidos até agora são grandes, maiores ainda serão os desafios a seguir. As conquistas em termos de reputação e imagem são inegáveis, mas muito pode ser esperado em ganhos financeiros. O Yahoo tem crescido muito menos do que o resto da indústria, e a sua principal fonte de lucro, os anúncios multimídia, continua caindo. Na semana passada, a empresa divulgou uma ligeira queda de receitas e um lucro 91% menor no terceiro trimestre de 2013. Sem dúvida, o Yahoo precisa recuperar o prestígio no mercado publicitário e transformar a sua crescente base usuária em dinheiro. Em 2013, a participação do Yahoo no negócio de anúncios do tipo display deve cair para 7,7% (ante 8,6% no ano passado), enquanto Google e Facebook aumentarão suas fatias para 41,1% (ante 40.9%) e 7,1% (ante 5,9%), respectivamente. Marissa quer virar o jogo se reaproximando dos publicitários. Durante muito tempo, o setor a viu como uma pessoa que não se importava com publicidade, tendo escolhido dar atenção apenas ao desenvolvimento de novos produtos. Agora, a líder promove uma série de encontros com executivos de agências e montou uma estratégia para criar oportunidades de negócio junto a eles. Muito ainda pode – e precisa – ser feito. O ponto positivo é que não falta energia para a tarefa. Marissa dorme

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Retrospectiva 2013 de 4 a 6 horas por noite, decidiu ficar apenas algumas semanas de licença-maternidade quando teve seu primeiro filho e já declarou que suas prioridades na vida são “Deus, a família e o Yahoo – nessa ordem”. A batalha continua – e seus desdobramentos poderão mudar o destino dos investimentos em marketing e publicidade nos próximos anos.

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Retrospectiva 2013

As marcas estão prontas para anunciar no Instagram? Mídia social comprada pelo Facebook libera espaço para peças publicitárias. O que o Instagram espera dos anunciantes? Agora é oficial: o Instagram passará a exibir anúncios

por Eliseu Barreira Junior em breve. Comprada pelo Facebook por quase 1 bilhão 11 DE OUTUBRO DE 2013

de dólares em 2012, essa é a primeira tentativa de Mark Zuckerberg de fazer dinheiro com a popular plataforma social de fotos e vídeos. Mais do que qualquer outra companhia de internet em busca de um modelo de negócios sustentável, o Instagram terá o desafio de introduzir propagandas que preservem seu principal ativo: o apelo emocional de conteúdos imagéticos. Para não colocar em risco a experiência com o serviço – e afastar usuários –, a empresa prometeu que mostrará apenas anúncios que sejam “divertidos, belos e criativos”. A maior dificuldade será conciliar alta qualidade com escala. As marcas estão prontas para atuar nesse cenário? O Instagram aposta que sim. Segundo analistas, a empresa deverá lucrar 400 milhões de dólares com publicidade dentro de três ou quatro anos. Com mais de 150 milhões

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Retrospectiva 2013 de usuários, a plataforma tem uma audiência significativa para oferecer aos anunciantes, superando o Pinterest (70 milhões de usuários), que começou a testar uma estratégia de promoção de posts recentemente, e o Tumblr (50 milhões de usuários). Hoje, o Instagram possui um público três vezes maior que o Twitter tinha quando começou a vender anúncios, em outubro de 2010. Considerada uma mina de ouro, essa audiência pode colocar em xeque os planos do Instagram. Meses atrás, a atualização dos termos de uso da empresa provocou uma gritaria entre usuários. As mudanças previam o uso de dados dos perfis, como nome, “curtidas” e fotos, em publicidades e promoções. Depois de muitas reclamações, a companhia veio a público e anunciou que reescreveria o documento. Para evitar que a introdução de anúncios na mídia social provoque uma nova polêmica, a empresa tem dado passos calculados. Um deles foi a inclusão de um recurso para a produção de vídeos curtos de 15 segundos – uma unidade padrão de publicidade no mundo da TV. Sucesso de público, a iniciativa permitiu que diversas marcas realizassem ações de marketing no Instagram. Os usuários começaram assim a conviver com formatos publicitários em seus feeds. A empresa não recebeu nada por isso, mas conseguiu colocar sua audiência diante dessa nova possibilidade. Outro passo importante foi a escolha do momento para anunciar a exibição de peças publicitárias no Instagram. Enquanto o mundo estava distraído com a notícia do IPO do Twitter, um post no blog da empresa apresentou a novidade. Ocupados em discutir o negócio do site dos 140 caracteres, analistas de tecnologia e blogueiros especializados fizeram registros mais breves do movimento do Instagram. Por fim, o modelo de publicidade adotado buscou levar em consideração a relação passional que os usuários têm com a plataforma. Inicialmente restrito aos Estados Unidos, o sistema de anúncios do Instagram está calcado em algumas premissas: - As peças publicitárias deverão ser tão naturais quanto as fotos e vídeos das marcas que as pessoas já seguem; - A mídia social fornecerá ferramentas para que os anúncios sejam ocultados e os usuários expliquem por que não quiseram vê-los; e - Para não poluir as timelines, será mostrado um número baixo de fotos e vídeos apenas de marcas com uma grande presença no serviço.

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Retrospectiva 2013 O sucesso desse modelo está, principalmente, nas mãos das marcas. Nas palavras de Kevin Systrom, CEO do Instagram, a publicidade deve ser tão “saborosa” quanto o conteúdo. Numa entrevista, ele citou a experiência proporcionada por anúncios da revista de moda Vogue como um bom exemplo a ser seguido. De acordo com o líder, há estudos que mostram que a satisfação das pessoas diminui quando as propagandas são tiradas de publicações como essa. Systrom espera que o mesmo aconteça com a mídia social. Essa afirmação mostra que apenas marcas com equipes de produção de conteúdo acima da média devem triunfar no Instagram. Criatividade, alto investimento e imaginação serão pré-requisitos para quem deseja anunciar lá. Os publicitários deverão seduzir por imagens, deixando de lado o apoio do texto e do discurso comercial. A aposta do Instagram é alta. Ao mesmo tempo em que precisa gerar dinheiro, a empresa quer continuar a brindar o público com experiências únicas. Parece difícil conciliar esse idealismo com as demandas dos investidores. Afinal de contas, nenhuma mídia social foi criada para ser uma máquina de ads. Três anos depois de sua criação, o Instagram precisa encarar a idade adulta. Infelizmente, não é possível manter a pureza da infância para sempre.

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Retrospectiva 2013

Por que o Twitter é tão popular entre os políticos? Volta da presidente brasileira ao microblog reacende a pergunta: qual é o valor da rede dos 140 caracteres para quem governa – ou quer governar? por Claudia Gasparini 4 DE OUTUBRO DE 2013

Dilma Rousseff está de volta ao Twitter. A retomada da conta oficial no microblog da presidente, inativa há quase três anos, faz parte de uma estratégia para melhorar a comunicação digital do governo federal. O objetivo é, a um só tempo, fazer-se mais presente na rede – uma necessidade sentida sobretudo após as manifestações de junho – e preparar-se para as eleições de 2014. O microblog não é a única mídia social em que Dilma está investindo. Recentemente, tuítes da governante também anunciaram uma reformulação de sua página oficial no Facebook, uma conta do Palácio do Planalto no Instagram e um novo portal para comunicação com o governo federal. Mas é inegável a importância central do perfil no Twitter para a estratégia de comunicação da presidente. Importância essa que está longe de passar despercebida por outras figuras políticas brasileiras. Comparada a Barack Obama, a ex-senadora Marina Silva articulou habilmente sua presença nas mídias sociais para conquistar projeção

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Retrospectiva 2013 nas eleições presidenciais de 2010, com ênfase no Twitter. Mesmo fora do poder, Marina segue recorrendo ao microblog para mobilizar adeptos e realizar movimentos políticos. Para citar o exemplo mais recente, a ex-senadora convocou esta semana um “tuitaço” para pressionar o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) a aprovar o registro do seu partido, o Rede Sustentabilidade. Essa tendência pode ser generalizada. Sem exagero, é válido afirmar que o Twitter é a mídia social favorita dos políticos do continente americano: dos 15 políticos mais seguidos do planeta, 10 são provenientes das Américas. O presidente dos Estados Unidos e autor do tuíte mais compartilhado de todos os tempos, Barack Obama, é o governante mais acompanhado no microblog, com mais de 37 milhões de seguidores. O perfil de Hugo Chávez, expresidente da Venezuela, é o 3º mais popular do mundo, mantendo sua base de 4,2 milhões de seguidores mesmo após a morte do político em março de 2013. Os presidentes latino-americanos Cristina Kirchner, da Argentina, Enrique Peña Nieto, do México, e Juan Manuel Santos, da Colômbia, também figuram na lista dos 15 políticos mais seguidos no Twitter. Dilma Rousseff aparece em 13º lugar, acompanhada por 1,9 milhões de pessoas. Mas o que explica a popularidade das mídias sociais, e em particular do Twitter, entre os políticos das Américas? Antes de tudo, a resposta passa pelo fato de que aqui predominam tanto populações jovens – as mais familiarizadas com as novas tecnologias – quanto regimes democráticos. Entre outras explicações possíveis, essa combinação certamente contribui para a criação de um ambiente favorável à intersecção entre política e mídias sociais de forma geral. A partir desse ponto, também podemos refletir sobre oportunidades especificamente trazidas pelo Twitter para quem está – ou quer estar – no poder. Uma conta no microblog – obrigatoriamente pessoal, com o nome e o rosto do político, e jamais do seu “Palácio” ou “Prefeitura” – é um espaço de exercício de personalidade. Isso é extremamente importante em tempos de internet. Com a rede e as mídias sociais, começou-se a esperar algo que nunca foi tão cobrado das figuras públicas: a sensação da sua presença. Os tuítes de um governante são uma representação por excelência da sua proximidade no dia a dia das pessoas.

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Retrospectiva 2013 Superamos há muito tempo a fase de mandar cartas para algum órgão de comunicação oficial, torcendo para obter alguma resposta. Hoje queremos sentir que conhecemos pessoalmente nossos representantes, a ponto de os chamarmos pelo nome, de cobrá-los e elogiá-los diretamente. É aí que cabe a pergunta: quantas outras formas de comunicação são tão naturais e intimistas quanto um tuíte? A cerca de um ano das eleições presidenciais, os políticos brasileiros começam a se aquecer para a disputa. A proporção direta entre menções no Twitter e sucesso nas eleições foi demonstrada por estudos recentes. Já tendo testemunhado a contribuição das mídias sociais para a ascensão de Marina Silva em 2010, essa correlação chega a ser quase intuitiva para os brasileiros. O Twitter pode servir como um palanque com capacidade infinita de espectadores. Qualquer que seja o resultado das eleições, 2014 será um ano de vitória para quem souber trabalhar sua estratégia nesse ambiente, ganhando a confiança dos eleitores e reforçando sua presença na esfera pública aos poucos, de tuíte em tuíte.

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Retrospectiva 2013

Arianna Huffington: o que ela quer com o Brasil? Três anos depois de divulgar a intenção de expandir seus negócios para a América Latina, Arianna Huffington anuncia a chegada de seu site ao Brasil. Na galeria dos grandes empreendedores do

por Eliseu Barreira Junior mundo digital, destaca-se o nome da grega Arianna 4 de outubro de 2013

Huffington. Natural de Atenas, formada em economia pela Universidade de Cambridge e voz influente entre os democratas norte-americanos, Arianna criou em 2005 um dos sites de notícia e opinião mais prestigiados do mundo: o Huffington Post. Num contexto em que as empresas jornalísticas estão lutando para sobreviver na era da internet, ela desenvolveu uma publicação digital lucrativa, que só perde em audiência para o poderoso The New York Times e vale mais de 300 milhões de dólares. Na semana passada, veio à tona a notícia de que o HuffPost finalmente terá uma edição no Brasil. Três anos depois de divulgar a intenção de expandir seus negócios para a América Latina, Arianna anunciou uma parceria com o Grupo Abril que colocará o site em seu nono país e quinto continente.

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Retrospectiva 2013 O crescente acesso à internet e o fortalecimento de nossa economia nos últimos anos chamaram a atenção da jornalista. “Estou particularmente animada com a parceria que vai possibilitar o uso de vários recursos para dar ainda mais voz ao Brasil por meio de uma nova plataforma”, disse Arianna. Especula-se que o HuffPost Brasil entrará no ar em dezembro. Como já ocorre em outros países, a edição nacional deverá combinar agregação de conteúdo, reportagens exclusivas e muitos blogueiros. Além disso, o material produzido aqui poderá ser traduzido e publicado nas versões internacionais do site. Para os jornalistas brasileiros, essa será uma chance ímpar de lidar com uma nova mentalidade de monetização de conteúdo digital. No HuffPost, as receitas não vêm apenas de banners. O dinheiro chega através de parcerias, anúncios vinculados a conteúdos específicos, blogs patrocinados e ações que conectam a imagem de marcas com causas sociais. “O jornalismo não precisa ser salvo, mas precisa de novos e criativos modelos de receita”, afirmou certa vez a criadora do HuffPost. Chegou a hora de trazer para o Brasil as lições que colocaram o site – e o nome de Arianna – no panteão da internet. Não podemos desperdiçar essa oportunidade.

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Retrospectiva 2013

Para onde vão os investimentos em marketing de conteúdo? Como jovens empresas que oferecem soluções para produtores e distribuidores de conteúdo têm atraído o interesse de investidores. por Claudia Gasparini 26 DE SETEMBRO DE 2013

Novos negócios e oportunidades estão transformando o ecossistema do marketing de conteúdo. É verdade que, com algumas exceções, os investimentos na área tendem a ser modestos: raramente chegam a mais de 10 milhões de dólares. Mas cresce o interesse em se injetar capital nesse jovem mercado. Afinal, precisamos cada vez mais de soluções para otimizar e acelerar processos de compra, venda, produção e distribuição de conteúdo online – e essa necessidade só tende a aumentar. Nick Gregg, executivo da StrategyEye, analisou as categorias de startups ligadas ao universo do marketing de conteúdo que, nos últimos anos, têm recebido as maiores fatias de investimento de capital de risco. O resultado da reflexão é um painel de tendências: as áreas que recebem mais apostas financeiras provavelmente também serão aquelas com potencial de “dar o tom” do setor nos próximos anos.

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Retrospectiva 2013 A primeira área de atração de capital é a que envolve a amplificação do conteúdo. Trata-se de um serviço de intermediação tecnológica entre produtores de conteúdo na web e canais de publicação de grande alcance. A ideia é permitir a exposição de um conteúdo de marca numa rede de alta visibilidade, como USA Today, The New York Times e CNN – que inclusive fazem uso de tal serviço. Empresas que atuam como agentes dessa troca recebem de cada cliente pequenas taxas de CPC (Cost Per Click). Em larga escala, porém, a soma desses ganhos minúsculos garante a rentabilidade do modelo. Tanto é que startups da categoria têm recebido investimentos da ordem de 15 milhões de dólares, como a Taboola. Outra tendência que não tem passado despercebida pelos investidores é a publicidade nativa. De forma alternativa aos anúncios convencionais, esse tipo de solução não apresenta uma mensagem de venda explícita. A premissa é a seguinte: a marca cria uma peça de conteúdo que será divulgada por um publisher na qualidade de conteúdo editorial patrocinado. O anunciante define a temática, o público e o ambiente em que deseja estar, num modelo híbrido que tem “borrado” a fronteira entre conteúdo e publicidade. Um bom exemplo é a presença de uma seção patrocinada pela IBM no site da prestigiada revista Forbes. No último semestre, investimentos milionários têm sido injetados em jovens empresas que oferecem soluções para distribuição de publicidade nativa em grandes publishers: as startups Sharethrough e Genesis Media, por exemplo, receberam aportes financeiros de 11 milhões e 3 milhões de dólares, respectivamente. Uma terceira área em evidência é o real-time bidding, isto é, a compra em tempo real de anúncios on-line com base em informações contextuais do usuário, como idade, gênero, localização e etc. Startups que transitam por esse universo têm recebido altos investimentos de venture capital, sobretudo aquelas que prestam serviços dentro do contexto mobile ou das mídias sociais. Um investimento de 9 milhões de dólares foi destinado à Apsalar, que oferece serviços de real-time bidding com foco em mensuração de resultados para campanhas em dispositivos móveis. Paralelamente, a atenção dos investidores têm sido atraída por startups que desenvolvem soluções para a produção, publicação e curadoria de conteúdo. É o caso de empresas como o HubSpot, que busca cobrir todo o processo de produção e distribuição de artigos e outros materiais para

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Retrospectiva 2013 marcas – e recebeu um incentivo de 35 milhões de dólares no ano passado. Além disso, existe no mercado uma miríade de ferramentas que ajudam a curar conteúdo, ou seja, o trabalho de selecionar e disseminar conteúdos já existentes. A aquisição do Tumblr, uma mídia social fortemente sustentada por essa atividade, por 1 bilhão de dólares pelo Yahoo! é um exemplo da atratividade de empreendimentos que se baseiam em curadoria. Em linhas gerais, é possível perceber que o foco das apostas tem sido predominantemente negócios que dão escala à produção e à distribuição do conteúdo nas mídias digitais. Essas soluções têm importância crítica, e faz sentido que atraiam incentivos financeiros. No entanto, também é válido afirmar que, dentro de pouco tempo, ganharão (mais) relevo negócios que facilitem o estabelecimento de relações com o público por meio do conteúdo. Em breve, conquistar eficiência e alcance da mensagem não será mais o bastante. De que adianta conseguir falar a um consumidor se ele vê a sua proposta com desconfiança e ceticismo? Soluções para construir relacionamentos com base na confiança da audiência provavelmente serão a próxima fase do mercado e, claro, o próximo pote de ouro dos investidores.

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Retrospectiva 2013

O 11 de setembro inaugurou a era do Big Data? Doze anos depois dos atentados às Torres Gêmeas, a análise de grandes volumes de dados se tornou uma poderosa arma de guerra. Como os atentados de 11 de setembro de 2001

por Eliseu Barreira Junior mudaram o mundo? Doze anos depois de presenciarmos 13 DE SETEMBRO DE 2013

mais de 3 mil vidas serem ceifadas por fanáticos religiosos nos Estados Unidos, essa pergunta está longe de receber uma resposta definitiva. Não há dúvidas de que o mundo nunca mais foi o mesmo. Mas é impreciso determinar de que maneira o maior ataque terrorista já visto pela humanidade alterou – ou determinou – o percurso da História. Que o ataque às Torres Gêmeas do World Trade Center gerou mais dilemas do que transformações, é difícil discordar. Ainda não sabemos como lidar com a ameaça terrorista sem ferir a soberania de países e os direitos civis. Ainda não sabemos como julgar, condenar e prender pessoas dispostas a matar por uma causa. Ainda não sabemos como superar o preconceito e a intolerância contra seguidores do Islã. Ainda não sabemos como diminuir o fosso que separa o Ocidente do Oriente.

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Retrospectiva 2013 Em meio a tantas incertezas, porém, é possível apontar com clareza uma profunda mudança trazida pelo 11 de setembro: o mundo passou a dar valor aos segredos do Big Data. Definido originalmente nos anos 2000 por um analista da Gartner, o termo é usado para descrever a análise de gigantescos volumes de dados que geramos quando fazemos ligações telefônicas, trocamos e-mails, realizamos uma busca na internet, compartilhamos um post numa rede social ou compramos algo numa loja. Graças à inteligência gerada a partir desses rastros, é possível prever comportamentos, identificar padrões e descobrir o porquê de muitas coisas. Antes restrito a um círculo de nerds do mundo da computação, o Big Data se tornou mainstream. Também pudera. Capa de revista de circulação nacional, descrito como o novo petróleo do século XXI e equiparado ao ouro no Fórum Econômico Mundial de Davos, ele já movimenta 70 bilhões de dólares, valor que deve crescer 40% ao ano até 2015. Um estudo do McKinsey’s Business Technology Office apontou cinco benefícios do Big Data. Primeiro, ele dá transparência à informação e torna seu uso muito mais frequente. Segundo, permite a coleta e o armazenamento de informações detalhadas sobre absolutamente quase tudo. Terceiro, ajuda as empresas a oferecer para seus clientes o que eles realmente precisam. Quarto, possibilita análises sofisticadas que podem melhorar substancialmente a tomada de decisão. Quinto, pode ser usado para melhorar o desenvolvimento de uma nova geração de produtos e serviços. No mundo pós-11 de setembro, o Big Data também se converteu numa poderosa arma de guerra. É falacioso dizer que ele não seria um fenômeno tão amplo sem os atentados que destruíram as Torres Gêmeas. Mas o papel central da ameaça terrorista nessa revolução dos dados não deve ser ignorado. Em busca de formas mais certeiras para caçar homensbomba e evitar novos atentados, a inteligência do governo dos EUA começou a investir pesado na indústria de software e formar alianças com empresas de tecnologia para monitorar as atividades de qualquer pessoa ao redor do planeta sem precisar enviar espiões a campo. Segundo o Biometrics Research Group, o departamento de Defesa dos EUA, é responsável por grande parte dos gastos com pesquisa em Big Data atualmente. Dos 30 projetos conduzidos pelos militares, 9 estão focados na melhoria de algoritmos, espionagem e vigilância. Só em 2012, agências

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Retrospectiva 2013 federais do país gastaram 5 bilhões de dólares com pesquisas em Big Data – o investimento deve chegar a 8 bilhões de dólares em 2017. Esses gastos têm permitido ao governo norte-americano processar dados sobre habitantes de qualquer região do globo – inclusive da presidente Dilma Rousseff. Um documento da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês), vazado pelo ex-agente do órgão Edward Snowden, mostrou que, em março de 2013, havia 97 bilhões de informações recolhidas de redes no mundo todo. Para analistas, tal aparato de vigilância não seria tão forte sem a cooperação de empresas de Big Data, como Google e Facebook. “Ao pedir – e, em vários casos, coagir – o Vale do Silício a fornecer portas de entrada para seus bancos de dados e servidores, a agência teve acesso a quase todos os cantos da web”, disse a revista Foreign Policy. Após as revelações de que colaboraram com a NSA, tais sites garantiram que a privacidade de seus usuários não está em xeque e que apenas informações solicitadas judicialmente são liberadas. Sem dúvida, a ameaça à privacidade e naturalidade das decisões do cidadão-consumidor é um dos principais desdobramentos da era do Big Data. Os dados de que uma empresa dispõe podem ser repassados para terceiros, mesmo que para evitar crimes? Não seremos privados de fazer escolhas “fora da caixa” caso o algoritmo de um software passe a influenciar nossos hábitos de consumo? Especialistas têm apontado diferentes caminhos para a sociedade lidar com questões desse tipo. Há quem defenda a criação de uma legislação específica para regular o uso do Big Data, a redefinição do que se entende por privacidade ou até que o bom senso seja colocado de lado em nome da veneração cega aos dados. Para evitar que a humanidade assista a um novo 11 de setembro, tem muita gente disposta a levar a devoção ao Big Data adiante. Doze anos depois daquela terça-feira sombria, ficou certamente mais fácil tomar ações preventivas e identificar potenciais terroristas por causa da captura e do processamento de enormes volumes de dados. O grande problema é que vivemos num mundo em que governos não precisam mais descobrir a razão para que terroristas se tornem terroristas, alerta Evgeny Morozov em artigo para a Slate. Basta recolher dados sobre absolutamente tudo, relacioná-los e se concentrar em prever

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Retrospectiva 2013 quando isso acontecerá para que alguma medida seja tomada. “Em outras palavras, não precisamos perguntar por que as coisas são como são, desde que possamos influenciá-las para que sejam o que desejamos que sejam. E isso é triste. O abandono da compreensão como um objetivo útil de política pública poderia tornar impossíveis as reformas políticas sérias”, escreveu Morozov. O Big Data pode ser útil para afastar a ameaça terrorista, mas não eliminará o risco de que um 11 de setembro se repita caso seu agente causador não seja atacado. Enquanto não investigarmos as raízes do problema, o mundo continuará refém do medo. Infelizmente, os dados pouco nos ajudarão com isso.

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Retrospectiva 2013

Como a crise econômica afetará o marketing brasileiro? Alta do dólar e inflação abalam a confiança na economia do país. O que norteará os investimentos na publicidade em tempos difíceis? por Claudia Gasparini 30 DE AGOSTO DE 2013

Confiança é tudo. A economia de um país pode ir mal, mas, quando começa a ser alvo de desânimo por parte de consumidores e empresários, é hora de se preocupar de verdade. O descrédito com o cenário econômico do Brasil em 2013 já é uma realidade. Segundo uma sondagem da Fundação Getúlio Vargas, o sentimento de confiança na economia do país chegou este ano a níveis tão baixos que chega a ser comparável ao registrado na época da crise mundial de 2008 e 2009. O sentimento de desânimo vem a bordo de uma onda de índices econômicos preocupantes, como alta do dólar, desvalorização do real, inflação e projeções frustrantes para o PIB deste ano. O mais grave é que existe uma lógica de retroalimentação nesse mecanismo: quanto mais se acredita que a situação está ruim, pior ela fica.

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Retrospectiva 2013 Por isso, confiança é tudo. Num cenário em que ela falseia, certos investimentos naturalmente tendem a se retrair. Um estudo coordenado pelo Projeto Inter-Meios apontou que o crescimento na injeção de capital em mídia para o primeiro semestre foi bem abaixo do esperado, atingindo 2,4% em relação ao período anterior. Os meios em que o faturamento com anúncios mais caiu foram guias e listas (-28,6%), revistas (-8,7%) e jornais (-4,6%). A pesquisa aponta que a internet também perdeu investimentos (-15,1%), mas considerou somente publicidade em displays ou banners. A queda provavelmente não seria reportada se houvesse sido incluída a participação de players como Google e Facebook, que permanecem em franca expansão. Do ponto de vista do anunciante, quanto mais preciso, barato e objetivo for o “tiro”, mais favorecido será o canal – ainda mais em tempos de incertezas. Assim, é natural que sejam privilegiadas mídias que aceitem investimentos de todos os tamanhos, em formatos que acomodem métricas ligadas diretamente aos objetivos do negócio. Também é muito bem-vinda a possibilidade de segmentar anúncios de acordo com interesses e características do público-alvo. Em tempos de “cinto apertado”, o mercado navega seguindo dois faróis: a eficiência no aproveitamento de recursos e a retenção dos clientes já conquistados. O primeiro ponto é intuitivo: para manter o negócio de pé, é melhor injetar dinheiro em alternativas eficientes e certeiras, que assegurem o maior retorno possível com o menor custo necessário. O segundo fator que norteia a decisão das empresas é a necessidade de preservar a base de clientes que elas já possuem. Já que conseguir novos compradores em tempos de crise pode ser um desafio, a palavra de ordem é reter. Assim, áreas como atendimento e relacionamento com o cliente passam a ser especialmente valiosas para as empresas. Confiança, de fato, é tudo: confiança de que os investimentos trarão um retorno certo, confiança de que as fontes de receita já conquistadas não se dissiparão. Toda crise é alimentada pela insegurança da maioria. E é para a minoria que souber oferecer garantias que ela se revelará menos amarga.

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Retrospectiva 2013

Microsoft: as lições da renúncia de Steve Ballmer Sucessor de Bill Gates não resistiu à pressão e anunciou sua renúncia ao cargo de CEO da Microsoft. O que é possível aprender com o acontecimento? Quando Steve Ballmer assumiu a presidência executiva

por Eliseu Barreira Junior da Microsoft em janeiro de 2000, a empresa dominava 30 DE AGOSTO DE 2013

o setor de computação. Naquela época, a vasta maioria dos computadores de mesa e laptops usava o sistema operacional Windows. O grande desafio do sucessor de Bill Gates era manter a empresa no topo e buscar novas fontes de receita. Desde então, Ballmer apostou no lançamento de novos produtos, como o MSN Messenger, o Bing, o Xbox e o Kinect. Apesar de bem-sucedidas, nenhuma dessas iniciativas foi capaz de manter a influência absoluta da Microsoft no mundo da tecnologia. A empresa mostrou dificuldades para se adaptar à era da computação móvel e viu gigantes como Apple e Google emergirem como protagonistas da revolução dos tablets e smartphones. Na semana passada, Ballmer não resistiu à pressão e anunciou sua renúncia ao cargo de CEO da Microsoft. Embora tenha feito um bom trabalho para manter o

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Retrospectiva 2013 lucrativo negócio da Microsoft na computação convencional, Ballmer vacilou em aproveitar o entusiasmo dos consumidores por aparelhos equipados com telas de toque – um mercado que ainda está em disputa. “Não há chance de que o iPhone conquiste fatia de mercado significativa”, previu erroneamente o executivo em 2007. A mudança de comando na empresa de Bill Gates acontece num momento delicado. A fatia da Apple no mercado de computação deve superar a da Microsoft até o fim do ano. Já o Windows 8, principal aposta de Ballmer para virar o jogo, acumula críticas tanto de usuários de tablets quanto de PCs. As dificuldades da Microsoft deixam uma lição importante para empresas de todos os segmentos, segundo análise de Paul Krugman. O prêmio Nobel de Economia classifica a Microsoft como “uma companhia que se saiu tão bem com seu monopólio sobre os sistemas operacionais que perdeu o foco, enquanto a Apple – ainda vagueando pelo deserto depois de tantos anos – estava alerta a novas oportunidades”. Para ele, viver de um monopólio impede uma empresa de inovar: “A destruição criativa significa que monopólios não duram para sempre, mas não que sejam inofensivos enquanto duram. Isso valia para a Microsoft ontem; pode valer para a Apple, o Google, ou uma empresa que ainda não está em nosso radar, amanhã”.

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Retrospectiva 2013

Por que o Facebook quer levar internet para todos? Empresas de tecnologia como Google e Facebook querem levar internet para todo o planeta. O que está por trás dessa iniciativa ambiciosa? Não faltam motivos para acreditar que a internet é

por Eliseu Barreira Junior um direito humano. A internet transforma a socialização. 23 DE AGOSTO DE 2013

Como nos conectaríamos com amigos e familiares virtualmente sem ela? A internet alimenta mobilizações populares. O que seria dos protestos que tomaram conta das ruas do Brasil em junho sem ela? A internet permite o surgimento de novos empreendedores. Quantos empregos deixariam de ser gerados sem ela? A internet torna as relações entre empresas e clientes mais transparentes. O que seria do atendimento ao consumidor sem ela? A internet aumenta o acesso à informação. Como saberíamos que a nossa privacidade é violada por governos sem ela? A internet ajuda a derrubar ditadores. O que seria da Primavera Árabe sem ela? Em nome desse direito, defendido pela ONU, gigantes do mundo da tecnologia têm investido pesado em iniciativas que pretendem tornar o mundo mais conectado. Depois de o Google lançar um projeto que leva internet para áreas

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Retrospectiva 2013 remotas do planeta por meio de balões, chegou a vez do Facebook. Na semana passada, Mark Zuckerberg, criador da maior mídia social da atualidade, anunciou o projeto Internet.org, em parceria com empresas como Nokia, Qualcomm, Samsung e Ericsson. O objetivo principal: reduzir os custos do acesso à rede em nações em desenvolvimento. “Atualmente, dois terços da população mundial não têm acesso à internet. Imagine um mundo onde todos nós podemos estar conectados”, disse Zuckerberg. Essas boas intenções, porém, despertam algumas dúvidas. Além da crença de que a internet é um direito humano, o que motiva as empresas de tecnologia a promover iniciativas do tipo? A principal razão é a busca por novos mercados. Não é de hoje que essas organizações, obrigadas a prestar contas aos investidores de Wall Street, estão sendo pressionadas a aumentar suas bases de usuários fora de mercados saturados como Estados Unidos e Europa. Ingressar com força em países da Ásia, África e América Latina é o próximo passo obrigatório que Zuckerberg e companhia devem tomar para crescer. Antes disso, é preciso levar internet a esses lugares. O novo Internet.org pretende fazê-lo investindo em ferramentas que aprimorem a transmissão e reduzam o custo do fornecimento de dados. A segunda dúvida trazida por tais ações está relacionada ao papel da internet no desenvolvimento de uma comunidade carente. O acesso universal à web é realmente o melhor caminho para melhorar a vida de nações pobres? Uma das alegações de Zuckerberg para lançar o Internet.org é a de que a rede promove o desenvolvimento econômico. Essa crença está baseada num estudo da consultoria McKinsey que apontou um crescimento de 21% no PIB de países desenvolvidos nos últimos cinco anos por causa da internet. Bill Gates, fundador da Microsoft, parece discordar: “Quando uma criança tem diarreia, não há nenhum site no mundo que a alivie”, disse em entrevista à Bloomberg Businessweek. Para ele, antes de conectar as pessoas, é preciso garantir outros direitos básicos, como o atendimento de saúde de qualidade. Sem precisar recorrer a estudos, Gates fala com conhecimento de causa. À frente de uma fundação que ajuda crianças e adultos carentes, ele já investiu mais de três bilhões de dólares para o tratamento de portadores de Aids, tuberculose e malária. Isso nos leva a um terceiro questionamento: a internet é

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Retrospectiva 2013 realmente um direito humano, como o direito à saúde, educação, moradia, informação e expressão? Para Vint Cerf, considerado um dos pais da internet e vice-presidente do Google, não. Em artigo publicado no The New York Times, em janeiro de 2012, Cerf defende que existe um critério mais elevado para que alguma coisa seja considerada um direito humano. “Em sentido amplo, ela deve ser uma daquelas coisas das quais nós, seres humanos, precisamos a fim de poder levar uma vida saudável, dotada de sentido, como uma existência sem tortura ou liberdade de consciência. É um erro colocar determinada tecnologia nessa categoria”, escreveu. Segundo Cerf, a internet é apenas um meio transitório para que direitos básicos como o de expressão e acesso à informação sejam praticados. Por fim, é possível questionar a extensão do papel da iniciativa privada na promoção do acesso à web ao redor do mundo. Google, Facebook e outras empresas de tecnologia não estariam tomando a dianteira num processo que deveria ser de responsabilidade do Estado? A verdade é que, em muitas nações pobres, governantes corruptos não investem em internet com medo de fortalecer seus dissidentes. Sem a ajuda da iniciativa privada, dificilmente seriam criados instrumentos mínimos para garantir a liberdade de expressão. Por outro lado, a força de algumas corporações poderia criar uma dependência perigosa para a população, apontam analistas mais radicais. Para eles, um país desconectado e dominado por um tirano é tão ruim quanto uma nação conectada com a ajuda do Google. Apesar de todas essas dúvidas, é inegável que a internet trará benefícios para as comunidades afetadas por ações de empresas de tecnologia. Sim, existem interesses mercadológicos por trás das ações. Sim, existem medidas humanitárias mais urgentes do que o acesso à rede. Sim, existe o risco de a iniciativa privada tomar para si um papel que deveria ser do Estado. Mas não faltam motivos para acreditar que vale a pena correr esses riscos para garantir o direito de nos comunicarmos, lutarmos por uma causa e vivermos num mundo mais aberto.

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Retrospectiva 2013

LinkedIn: recrutam-se adolescentes A rede profissional mais conhecida do planeta passou a aceitar o cadastro de adolescentes. Qual é o significado da novidade para o mercado? por Claudia Gasparini 23 DE AGOSTO DE 2013

O LinkedIn deixou de ser coisa de gente grande: a rede profissional mais conhecida do planeta passou a aceitar o cadastro de adolescentes. Nos EUA, 14 anos passou a ser a idade mínima para você se cadastrar no site. Até agora, apenas maiores de 18 eram admitidos. Além disso, haverá páginas e seções destinadas a ajudar estudantes a pesquisar e escolher carreiras e instituições de ensino. Com a novidade, faculdades e universidades poderão ter páginas no LinkedIn, alimentando uma espécie de “vitrine” da escola, com a possibilidade de publicar posts, responder dúvidas e destacar informações sobre ex-alunos que conduzem carreiras bem-sucedidas. Páginas de instituições de ensino e de empresas comuns serão muito parecidas – afinal, qual será a diferença entre um egresso de sucesso e um consumidor satisfeito, por exemplo? A notícia chama a atenção porque demonstra o interesse do LinkedIn em incluir em sua base de usuários os jovens, um público em expansão que anda muito disputado, como bem sabe o Facebook. A novidade provavelmente não trará retornos financeiros imediatos para o LinkedIn, mas é certo que o investimento compensará no longo prazo: espera-se

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Retrospectiva 2013 que os jovens se transformem com o tempo em clientes de serviços pagos, e que as instituições de ensino e recrutadores se interessem em comprar funcionalidades premium do site. Hoje, o LinkedIn tem cerca de 30 milhões de estudantes universitários e profissionais recém-graduados, o que representa 13% do total de pessoas que estão no site. A maioria dos usuários desse grupo são dos Estados Unidos, Índia, Brasil, Reino Unido e Canadá. A estratégia do LinkedIn tem sido recebida por alguns com desconfiança e pessimismo, sobretudo no que se refere à privacidade dos jovens usuários. A rede social também foi alvo de críticas por quem vê na proposta uma forma de pressão sobre adolescentes já estressados com o vestibular e outras dificuldades próprias da faixa etária.

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Retrospectiva 2013

A nova indústria da TV Longe de ser vilã, a internet ajudará a manter a televisão mais viva do que nunca. O que isso significa para produtores de conteúdo, anunciantes e espectadores? por Claudia Gasparini e Eliseu Barreira Junior 16 DE AGOSTO DE 2013

Se você vê TV regularmente, já está acostumado. Não há meio de comunicação que mais goste de explorar finais inesperados, reviravoltas no enredo e outras inversões da expectativa do telespectador para provocar emoções. Pois finalmente chegou a vez de a própria indústria da televisão – bem como seus anunciantes – se depararem com um plot twist digno de último capítulo de novela das 8. Passemos logo à revelação: a internet, reconhecida por muitos como a grande vilã do meio audiovisual, na verdade é uma personagem “do bem” na história da televisão. Como um cordeiro na pele de lobo, a web está longe de aniquilar a TV. É ela que vai salvar a velha mídia do século XX da obsolência e do esquecimento. Não é o que previam (ou ainda preveem) alguns especialistas na história recente da mídia. O pesadelo descrito por eles quase sempre gira em torno das seguintes linhas: o público abandonaria a TV por preferir vídeos na internet, cada vez mais acessíveis de qualquer lugar por dispositivos móveis, computadores e laptops. Afinal, quem vai ficar esperando o dia e o horário do programa se existe uma abundância de downloads e streamings à disposição na web? Os anunciantes não

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Retrospectiva 2013 pensariam duas vezes, e o descaso do público com a televisão os afastaria terminantemente. Falências e a ruína geral da indústria se seguiriam. O drama não para por aí. Para aumentar ainda mais o desconforto das emissoras tradicionais, fala-se muito sobre o ingresso de novos tipos de players no mercado, que se especializaram em difundir séries, filmes e outros conteúdos audiovisuais pela internet. A Netflix, um dos exemplos mais lembrados da categoria, tem mais assinantes nos Estados Unidos do que qualquer outra empresa de TV a cabo, inclusive a poderosa HBO. No Brasil, a empresa vai pelo mesmo caminho. Em meio a tanto pânico, um alento: a desconfiança da televisão frente à web não tem fundamentos convincentes. A queda na audiência pode ser explicada por vários outros fatores, como o aumento do número de canais disponibilizados pela TV a cabo, responsável por um incremento na concorrência interna por espectadores. Porém, perceber isso não é o bastante. Mais que parar de ter medo da internet, a TV deveria enxergar na rede seu potencial como aliada estratégica. Comecemos pelo fator audiência. Uma pesquisa anual da Deloitte deste ano demonstrou que a oferta de mais plataformas para se ver conteúdo em vídeo – como tablets, laptops e outros aparelhos – na verdade pode estar intensificando o consumo de TV em geral. Assim, a Netflix e outras supostas “substitutas” da televisão apenas apresentam mais uma maneira para pessoas apaixonadas pela telinha assistirem aos seus programas favoritos. A lógica é fácil de entender: mais telas, mais espectadores. A TV, numa acepção ampla, ganha muito nesse contexto. Isso faz sentido se entendermos televisão não como o aparelho tradicional – aquela caixa luminosa que obedece a um controle remoto – , mas sim como um nome genérico para a oferta de conteúdos audiovisuais orientados para a informação e para o entretenimento. Outro elemento da internet que dá força à TV é o fenômeno da segunda tela. De acordo com uma pesquisa da comScore, 73% dos usuários de internet brasileiros navegam em sites e mídias sociais por meio de laptops, smartphones ou tablets enquanto acompanham seus programas prediletos. Esse cenário revela duas grandes oportunidades para publicitários e produtores de conteúdo. Primeira, é possível apostar no engajamento do telespectador, que não se

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Retrospectiva 2013 incomoda em dividir a atenção com outro aparelho. Segunda, graças ao hábito do público de comentar o que está vendo, as emissoras podem prever comportamentos e mudar o rumo de suas atrações mais facilmente. A importância do monitoramento das conversas ligadas à programação da TV já chama a atenção de gigantes como a Nielsen. A empresa desenvolveu uma métrica em parceria com o Twitter que mostra a influência das postagens na rede social sobre a audiência de uma atração. No Brasil, já existem startups, como Tuilux, Qual Canal e TV Square, que prometem oferecer o “ibope social” de um programa. A expectativa é que os índices de audiência das mídias sociais passem a influenciar a venda de espaços comerciais durante os programas. Além disso, o monitoramento deve permitir a criação de propagandas mais relevantes e certeiras. Os negócios promissores no mercado de TV estão na mira de titãs do mundo digital. O Google teria feito contato com emissoras de televisão paga para discutir a possibilidade de sua programação ser transmitida pela internet, segundo reportagem do The Wall Street Journal. A Apple tem seu próprio projeto nessa linha: criar uma oferta premium de TV sem anúncios. A Intel está desenvolvendo um serviço para o consumo de programas sob demanda. Já Netflix, Amazon e outros distribuidores on-line reservaram 750 milhões de dólares para produzir conteúdos exclusivos e se diferenciar da TV a cabo em 2013. As emissoras sabem dos riscos dessa movimentação. A Globo já oferece seu conteúdo no portal Globo.TV+ e monitora o que falam de seus programas nas mídias sociais. Disney, 21st Century Fox e NBCUniversal decidiram manter o comando do site Hulu, grande concorrente do Netflix, depois de colocá-lo à venda. A disputa pelo controle remoto está só começando. De um lado, observamos empresas de mídia tradicionais buscando se adaptar aos novos hábitos dos telespectadores. De outro, companhias de internet e tecnologia tentando conquistar seu espaço numa indústria em transição. Ainda é cedo para dizer quem será o vencedor. Até agora, temos apenas uma certeza: a televisão está mais viva do que nunca.

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Retrospectiva 2013

Facebook: a caminho da transparência? Rede social de Mark Zuckerberg decide explicar alguns dos segredos do News Feed. Estamos diante de uma empresa mais transparente com seus usuários? por Claudia Gasparini 9 DE AGOSTO DE 2013

O Facebook anunciou mudanças que podem tirar a razão, pelo menos em parte, daqueles que o criticam por “esconder a sete chaves” as regras de funcionamento do seu algoritmo. Na última terça-feira, a maior rede social da atualidade explicou alguns dos segredos que determinam o ranking de posts no News Feed, isto é, os fatores determinantes da ordem dos updates que você recebe quando entra no site. As informações foram divulgadas num post do “Facebook for Business”, blog oficial do Facebook para comunicações com empresas e indivíduos que usam o site para fins profissionais. Segundo o site, a publicação desta semana foi apenas a primeira de uma série (chamada “News Feed FYI”) que se destinará a notificar, esclarecer e justificar as principais atualizações feitas no algoritmo do Facebook. Assinado por Lars Backstrom, responsável pela engenharia do News Feed, o texto justificou a “retomada” das atualizações no blog e as informações sobre o algoritmo

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Retrospectiva 2013 como uma resposta a demandas de clientes. Eis um trecho do que Backstrom escreveu: “Estamos continuamente trabalhando para melhorar o News Feed e, de tempos em tempos, atualizamos o algoritmo que determina quais histórias vão aparecer primeiro. Ouvimos de nossos usuários e proprietários de páginas que precisamos melhorar a comunicação desses updates. A partir de hoje, vamos tentar mudar isso.” De caráter introdutório, o post esclareceu apenas parcialmente algumas regras, não mudando o fato de que grande parte do funcionamento do sistema permanece obscura. Ainda assim, para alguns analistas, a novidade pode representar um passo em direção a uma relação mais transparente entre o Facebook e as empresas que o exploram como plataforma para fazer marketing. Além de prometer o aperfeiçoamento de sua comunicação com as empresas, a rede social também adiantou algumas das atualizações operadas em seu News Feed. As novidades foram apresentadas em um evento para a imprensa que ocorreu na Califórnia no início da semana. Vamos aos updates, reportados pelo TechCrunch: “Story Bumping”: já implementada, esta atualização “joga para cima” atualizações um pouco mais antigas que você não ainda viu. A ideia é dar uma nova chance a conteúdos relevantes que seriam perdidos se o critério de ordenação no News Feed fosse meramente cronológico. “Last Actor”: também já presente no sistema, o mecanismo prioriza as atualizações das pessoas com quem você mais interagiu recentemente ou cujos perfis você visualizou mais vezes. “Chronological By Actor”: ainda em fase de testes, a mudança determinaria quais posts de uma determinada pessoa são sobre um evento em tempo real (como comentários ao vivo sobre uma partida de futebol, por exemplo) e os colocaria na ordem cronológica, com o mais recente no topo. Não por acaso, o sistema lembra muito o Twitter. Já tendo incorporado as hashtags, típicas do microblog, o Facebook pretende desferir outro golpe no concorrente ao criar uma alternativa a uma de suas entregas mais valiosas: as atualizações em real time. Outra flecha lançada contra o Twitter são os experimentos que o site de Zuckerberg está fazendo com a possibilidade de ter seus próprios Trending Topics.

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Retrospectiva 2013 As novidades vêm numa época de “vacas gordas” para o Facebook. Como já informamos na edição passada d’O Monitor, as ações da empresa alcançaram o recorde de 38 dólares na Nasdaq, graças aos bons resultados em suas vendas de anúncios para dispositivos móveis. Como se não bastasse, com esse novo marco na bolsa o Facebook se tornou a 10ª empresa de tecnologia mais valiosa do mundo.

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Retrospectiva 2013

A invasão das respostas automáticas no Twitter Por que o uso de respostas automáticas está se tornando cada vez mais comum no SAC 2.0? por Claudia Gasparini 2 DE AGOSTO DE 2013

Uma nova e lamentável tendência está se instalando no uso profissional do Twitter: a invasão dos robôs. Em busca de escala e redução do tempo de atendimento, muitas empresas estão apostando em respostas e tweets programados. O resultado dessa automatização? Um consumidor indisposto com a marca – e mais insatisfeito do que nunca. Nos Estados Unidos, a onda de interações “robóticas” geradas por grandes marcas já vem chamando a atenção dos analistas há algum tempo. Recentemente, o Bank of America protagonizou uma cena nada lisonjeira diante de seus milhares de seguidores no Twitter. O @BofA_Help, perfil corporativo destinado a sanar dúvidas e ajudar clientes do banco, começou a responder automaticamente a uma série de críticas com a seguinte mensagem, repetida incessantemente: “Por favor nos avise se precisar de ajuda”.

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Retrospectiva 2013 O episódio, comentado por uma reportagem recente da NBC News, expôs publicamente o banco a uma espiral de piadas e críticas. O perfil @OccupyLA escreveu: “Vocês podem ajudar parando de roubar as casas das pessoas!!”. A resposta do robô da empresa caiu como uma luva para o fracasso: “Será um prazer analisar sua conta”. Receber respostas automáticas de uma marca pode ser a última gota para quem está bravo com algum serviço ou produto – o que é normalmente o caso de quem procura SAC pelo Twitter. Por esse motivo, Frank Eliason, um dos profissionais de SAC mais conhecidos e respeitados do mundo (veja a entrevista exclusiva que fizemos com Frank), vê os recentes “shows de vergonha” no Twitter com grande preocupação. Frank foi a estrela da ação “ComcastCares”, um programa de atendimento ao cliente que virou case justamente ao humanizar o SAC feito no Twitter pela Comcast, empresa de TV a cabo, internet e telefone dos Estados Unidos. A Comcast tinha um histórico difícil de relacionamento com o consumidor, chegando a ser escolhida como “a pior empresa dos EUA” em 2010. Mas Frank virou o jogo, pilotando um perfil no Twitter que não apenas tirava as dúvidas dos clientes da Comcast, como também compartilhava fotos e mensagens pessoais como qualquer outro usuário. Nada pode ser mais contrário ao ideal de Frank, hoje diretor no CitiGroup, quanto as máquinas que têm sido programadas para “atender” consumidores na web. O que aconteceu nesse meio tempo para chegarmos a tal situação? O Twitter foi, até recentemente, o canal ideal para o desenvolvimento de uma relação pessoal, informal e “calorosa” entre marcas e consumidores. Ficaram famosos casos de empresas que fizeram surpresas ou agrados especiais a clientes que manifestaram sua insatisfação ou fizeram pedidos a marcas no microblog. A rede de restaurantes Morton’s, por exemplo, surpreendeu o executivo Peter Shankman no aeroporto com a entrega de um prato que ele mencionou no Twitter durante um voo. Hoje, o Twitter já não é uma grande novidade quando se fala em SAC. Se, antes, o microblog atendia bem a um grupo pequeno de usuários adeptos à tecnologia, atualmente ele está sendo usado por mais pessoas, muitas em busca de “atendimentos VIP”, como o recebido por Peter Shankman. Para atender mais gente gastando menos, a opção de muitas empresas foi criar mecanismos de automação.

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Retrospectiva 2013 O velho trade-off entre escala e qualidade aparece, mais uma vez, no centro do problema. Se as empresas querem reduzir o custo e o tempo necessários para um bom atendimento nas mídias sociais, elas terão que encarar as consequências – nada encorajadoras. Mas, se a ideia é manter um relacionamento consistente com o cliente, precisarão assumir o investimento necessário para fazer isso acontecer. O que sai mais caro, afinal?

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Retrospectiva 2013

A nova chance dos blogs Ao contrário do que diziam as previsões, as empresas mais lucrativas do mundo estão blogando mais em 2013. O que isso significa? por Claudia Gasparini 26 DE JULHO DE 2013

Em 2008, a respeitadíssima revista de tecnologia Wired anunciou que os blogs estavam sendo varridos pela tempestade avassaladora trazida por sites como Twitter, Facebook e Flickr. “Está pensando em lançar o seu próprio blog? Aqui está um conselho de amigo: não faça isso”, recomendava o artigo. Na semana passada, um relatório divulgado pela University of Massachusetts Dartmouth revelou que nem todo mundo levou esse conselho tão a sério. Segundo o estudo, nos últimos cinco anos, houve um aumento de 100% em relação ao uso de blogs pelo grupo Fortune 500, formado pelas empresas mais rentáveis do planeta. Os comportamentos e escolhas dessas organizações refletem uma tendência que merece ser observada de perto: ao contrário do que diziam previsões, os blogs continuam vivos e importantes no ecossistema digital. Hoje, 34% das organizações que se classificam nesse seleto grupo estão ativas na blogosfera. O número em si não é tão grande, mas representa mais que o dobro da estatística de 2008, quando as empresas blogueiras eram apenas 16%. Além disso, consolida o aumento estável no emprego dessas plataformas no decorrer de meia década.

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Retrospectiva 2013 Hoje, essas ferramentas são usadas por 171 empresas entre as Fortune 500 –entre elas, Walmart e Exxon, que ocupam respectivamente o 1º e o 2º lugar da lista. É importante frisar que não se trata de um uso meramente “burocrático” dessas ferramentas. A pesquisa apurou o nível de interatividade dos blogs: se aceitavam comentários, se disponibilizavam “assinaturas” por e-mail ou RSS e se mantinham as postagens atualizadas. Em 2013, 79% das empresas que blogam são impecáveis em todos esses quesitos. Quem decidiu blogar está blogando direito. Segundo os próprios pesquisadores que elaboraram o estudo, a adoção dessa ferramenta mais madura de publicação pode significar o retorno do on-line ao diálogo de profundidade, à liderança de ideias (thought leadership) e à produção de conteúdo original pelas marcas. Foram justamente esses os princípios que orientaram o trabalho das primeiras grandes empresas a adotarem o blog, como a IBM e a Ford. Não para nossa surpresa, as mídias sociais são mais populares do que os blogs entre as Fortune 500. Em 2013, 77% delas usam Twitter, 70% estão no Facebook e 69% podem ser encontradas no YouTube, por exemplo. Mas o que é notável no estudo deste ano, como frisa um artigo na Marketing Land, é que o sucesso das plataformas sociais não enterrou o blog como um todo, como insistiam muitas previsões na imprensa nacional e internacional. É verdade que cada vez menos gente bloga por hobby. A popularidade daqueles sites que atualizávamos à maneira de um diário no início dos anos 2000 sofreu um nocaute pelas plataformas que surgiram mais recentemente. Não é de causar espanto. Experimente escrever um post de blog sobre os assuntos de que você fala diariamente no Facebook ou no Twitter. Reclamações sobre filas no supermercado, comentários sobre o último capítulo da novela e fotos da última receita que você fez com Nutella, por exemplo, até podem provocar reações como likes e RTs. Mas nada disso seria suficiente para gerar audiência para um blog comum. Sem público para ouvir o que você tem a dizer, para que continuar ali? “Facebook, Twitter e Tumblr fazem blogs parecerem tão 2004”, dizia o artigo da Wired que citei no início deste texto. O declínio do blog pessoal, porém, não pode ser confundido com a derrocada desse tipo de formato de modo geral.

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Retrospectiva 2013 O blog corporativo vai muito bem, obrigado. Longe da decadência, o que o tempo traça nos gráficos é uma linha moderada, porém constante de crescimento do uso dessa ferramenta pelas organizações mais influentes do mundo. Quando se fala em marketing de conteúdo, o reinado absoluto e exclusivo das mídias sociais mais “jovens” não passa de uma ilusão desgastada. Longa vida aos veteranos.

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Retrospectiva 2013

A explosão dos vídeos curtos Aplicativos que permitem a gravação e o compartilhamento de pequenos filmes são a mais nova aposta do Facebook e outros gigantes da internet. por Claudia Gasparini 5 DE JULHO DE 2013

Vídeos de poucos segundos são o futuro da memória. Foi com essa afirmação pouco modesta que Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, e Kevin Systrom, executivo-chefe do Instagram, apresentaram, há algumas semanas, um novo recurso do popular aplicativo de fotos. Agora, o Instagram também permite o registro e o compartilhamento de pequenos filmes – quase “tweets audiovisuais”. A tendência em direção a esse tipo de conteúdo é mais que evidente. Comprado pelo Twitter, o aplicativo Vine foi um dos primeiros a oferecer ao usuário ferramentas simples para produzir e compartilhar vídeos nas mídias sociais, com duração de 6 segundos. Aos poucos, o aplicativo se tornou um dos mais baixados da iOS App Store e recentemente foi lançada sua versão para Android. Sem perder tempo, Zuckerberg e Systrom anunciaram que o Instagram passaria a incluir entre seus recursos a produção de filmes curtos (a diferença é que, em vez de 6, eles duram 15 segundos). O sucesso foi estrondoso. Menos de 24 horas depois do lançamento, o aplicativo já contava com 5 milhões de vídeos publicados.

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Retrospectiva 2013 Demorou só um pouco mais do que 6 segundos para que o Vine sentisse o peso da chegada do concorrente: o número de links postados no microblog caiu em quase meio milhão no dia seguinte ao anúncio do Instagram. Até o Yahoo! entrou para a corrida. Há alguns dias a empresa anunciou a compra do Qwiki, aplicativo para iPhone que permite fazer e compartilhar vídeos de pequena duração. O tamanho da aposta? Entre 40 e 50 milhões de dólares. O sucesso é merecido. Microfilmes são um espaço extremamente maleável para se produzir conteúdo, principalmente se você deseja imprimir uma veia cômica ou excêntrica à sua narrativa, como tem sido feito por muitos usuários até agora. Herdeiro dos gifs, o microvídeo tem a seu favor três características muito importantes: É uma imagem. Todos nós estamos cansados de saber que conteúdos imagéticos são incrivelmente populares no meio digital. Assim, os filminhos feitos com smartphones, por mais simples e amadores que sejam, têm um grande apelo por serem visuais. Os filtros e efeitos, no caso do Instagram, permitem incrementar ainda mais a estética do conteúdo. Se mexe. Por mais que fotos, infográficos e outras imagens estáticas também sejam valorizados, é inegável o apelo exercido por conteúdos em movimento. Veja, por exemplo, o sucesso dos gifs animados ou a grande audiência de sites de compartilhamento de vídeos, como o YouTube. A proximidade com a “vida real” é um grande atrativo. É breve. Para muita gente, falta disposição, concentração ou mesmo paciência para se fixar em uma única peça de conteúdo por algum tempo. Vídeos de poucos segundos se concluem rapidamente e transmitem uma mensagem instantânea. É o sonho dos ansiosos: basta se deter um pouco na imagem e, pronto, já se entendeu a mensagem e – principalmente – já se pode rolar a tela para o conteúdo seguinte. É certo dizer que os filminhos que podemos fazer com esse tipo de aplicativo combinam muito bem com o comportamento típico ou talvez estereotipado de um usuário de internet. Mas é indispensável fazer duas considerações. A primeira é lembrar que esse formato não é unânime. Fotos fixas são e sempre serão populares nas mídias sociais (há gente que até se decepcionou com a novidade dos vídeos no

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Retrospectiva 2013 Instagram, como esta blogueira do The New York Times). Da mesma forma, vídeos mais longos também têm seu objetivo e seu público, e conteúdos escritos, como este que você está lendo, possuem espaço cativo nas telas de muita gente. A segunda observação é que esse conteúdo tão atraente e fácil de digerir não precisa ser necessariamente raso. Mesmo dentro do limite de poucos segundos, os pequenos filmes podem ser desenvolvidos de forma excepcionalmente criativa – por usuários comuns, figuras públicas, influenciadores e, claro, marcas. Não por acaso, são cada vez mais numerosas as empresas que estão estabelecendo perfis nesses aplicativos, tentando se adiantar à concorrência. Sendo early-adopters, as marcas que já estão no Vine, por exemplo, ganham experiência com o formato antes das outras, aperfeiçoando seu uso da tecnologia e aprendendo a criar narrativas cada vez mais inteligentes e originais. Explorar as funções de vídeo do Instagram, por exemplo, pode “mudar o jogo” para as empresas, segundo a Fast Company. A oportunidade está aí e implora para ser explorada. Não apenas anúncios, mas também vídeos institucionais, promoções, clipes, trailers e praticamente qualquer conteúdo pode estar contido nos segundos de um microfilme. Com pouco tempo, muito pode ser feito. E quem começar antes provavelmente fará mais.

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Retrospectiva 2013

Já pensou se a moda pega? Autoridades dos EUA mandam prender jovem que brincou com a morte do presidente Barack Obama nas redes sociais. A decisão fere a liberdade de expressão? Ameaçar o presidente dos EUA, Barack Obama, pelo

por Eliseu Barreira Junior Twitter pode dar cadeia. Segundo reportagem do The New 5 DE JULHO DE 2013

York Times, um morador do Alabama foi preso depois de postar no microblog, mais de uma vez, que mataria Obama. Agentes do Serviço Secreto americano repreenderam o jovem de 26 anos, mas ele prosseguiu com as postagens. Mês passado, foi condenado a um ano de prisão. Para alguns advogados, a decisão fere a liberdade de expressão nas redes sociais. Eles dizem que plataformas como o Twitter facilitam a publicação de coisas que não devem ser levadas a sério ou ao pé da letra. As autoridades dos EUA discordam. Além do rapaz do Alabama, pelo menos outras três pessoas se viram encrencadas com a Justiça do país por causa de “brincadeiras” do tipo. Aqui no Brasil, circularam notícias de que o governo monitora ameaças à presidente Dilma Rousseff nas redes sociais, mas não se sabe se alguém já foi punido por isso. O fato é que hoje absolutamente tudo que postamos no mundo digital pode ser usado contra nós. Até aquelas piadas de mau gosto que muita gente poderia guardar para si.

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Retrospectiva 2013

Do Facebook para as ruas: por que as mídias sociais mobilizaram o Brasil O que seria dos protestos que sacudiram o país sem plataformas como o Twitter e o Facebook? por Claudia Gasparini e Eliseu Barreira Junior 21 DE JUNHO DE 2013

É curioso – e raro – ter a consciência de que os dias que estamos vivendo serão lembrados e descritos, em detalhes, pela História. Contrariando um dos lugarescomuns favoritos da nossa cultura, protestar mudou sim alguma coisa. E não falamos aqui somente da decisão oficial de ceder às exigências dos manifestantes e revogar o aumento na tarifa do transporte. Falamos de uma experiência nova na nossa relação com o poder público. Falamos da recuperação, ainda que imperfeita, do debate sobre causas coletivas. Que o brasileiro tem motivos múltiplos para estar insatisfeito, é difícil discordar. Uma jovem participante das manifestações do dia 13 de junho, em São Paulo, declarou emblematicamente à reportagem da TV Folha que não via razões para não estar lá. O folclórico brasileiro alegre e festeiro não viu muita graça na Copa das Confederações e discutiu política por dias a fio, do nascer ao pôr do sol. Mas, já que os nossos problemas são antigos e crônicos, por que saímos às ruas só agora?

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Retrospectiva 2013 Entre as respostas, é impossível não incluir as mídias sociais. O papel da internet como catalisadora de manifestações, que nos rendeu comparações com outros cenários como a Primavera Árabe e o movimento Occupy Wall Street, tem sido tão importante e evidente que poucos não o admitiram. Também, pudera: entre 13 e 21 de junho, os protestos foram o tema de cerca de 2.000.000 de menções em plataformas como Facebook, Twitter e YouTube, de acordo com o monitoramento das manifestações que fizemos com o Scup (aberto ao público de acordo com estas instruções). Por dia, no período considerado, 132.000.000 de pessoas foram potencialmente atingidas pelas mensagens, o equivalente a 70% da população brasileira. Toda essa multidão fiel a seus feeds e timelines fez com que os veículos de comunicação tradicionais assumissem um papel secundário para a difusão e interpretação dos acontecimentos. Mais que isso, relatos, vídeos e fotos sobre o protesto postados nas mídias sociais transformaram de tal forma a compreensão do que estava se passando que a própria imprensa teve eventualmente que adaptar seu discurso para acompanhar o movimento da opinião pública. Sem as mídias sociais, temos muitos motivos para acreditar que a manifestação teria sido menos conhecida e reconhecida. Suas lideranças provavelmente teriam permanecido únicas e bem delimitadas. O movimento teria pauta e foco muito claros. Muito provavelmente, a opinião predominante sobre o assunto seria alinhada à da imprensa. Talvez não tivéssemos visto milhares de pessoas tomarem as ruas nem suspendido nossas rotinas para refletir e rever (confirmando ou não) nossas posições políticas. Com as mídias sociais, o que testemunhamos foi a eclosão de um fenômeno mainstream, foco de atenção nacional e internacional, virando tema obrigatório de praticamente todas as conversas. Pessoas que nunca falam de política começaram a opinar apaixonadamente sobre o tema. Mesmo públicos a quem o assunto supostamente não interessaria foram envolvidos (veja como exemplo o teste “Quais causas te mobilizam?” no site da revista “Capricho”). Tomando cidades em quase todas as regiões do país, e não apenas capitais, uma grande onda “contra tudo” borrou os limites entre lideranças, opiniões e motivações para exigir mudanças. Como o impacto das mídias sociais pode ter sido tão decisivo? Um estudo da Universidade de Oxford sobre as manifestações massivas que tomaram a Espanha em maio de 2011 pode nos ajudar a entender a explosão dos protestos brasileiros. Os pesquisadores analisaram quase 582 mil mensagens postadas por 88 mil ativistas no Twitter

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Retrospectiva 2013 durante 30 dias e concluíram que o movimento ganhou força no país europeu por meio de dois processos paralelos: o recrutamento de usuários, iniciado aleatoriamente pelos primeiros participantes, e a difusão de informações. Como os espanhóis, a grande maioria dos manifestantes brasileiros foi exposta a inúmeras mensagens pedindo participação e engajamento num curtíssimo espaço de tempo. Para muitos, era impossível ficar alheio aos acontecimentos. O gigantesco volume de postagens acabou tornando urgente, aos olhos de muitos usuários das mídias sociais, a adesão às manifestações. Num contexto assim, o recrutamento aos protestos atinge um efeito cascata em resposta ao comportamento coletivo, dizem os pesquisadores de Oxford. Isso porque a tendência é sermos fortemente influenciados por quem nos rodeia. Uma análise publicada pela pesquisadora brasileira Raquel Recuero no começo da semana vai ao encontro dessa tese. “Os inúmeros relatos, vídeos, fotografias e mensagens acabaram sendo a faísca que faltava para criar uma mobilização de grandes proporções”, escreveu Raquel. “Quanto piores os relatos que chegam dos protestos, mais material sobre eles se encontra na rede”. Ela mostra que, num primeiro momento, as postagens em torno da hashtag #passelivre no Twitter formavam uma rede em que havia um único centro de indivíduos participantes. Quando o termo chegou aos Trending Topics não existia mais um único grupo, mas vários atores falando do assunto. Em outras palavras, o que se viu foi uma escalada na conversação entre comunidades diferentes daquela inicial. Os protestos não teriam chegado às ruas, porém, sem a disposição das pessoas em receber as mensagens compartilhadas. Conforme disse à Folha o sociólogo espanhol Manuel Castells, autor de “A galáxia da internet”, “não basta um manifesto no Facebook para mobilizar milhares de pessoas”. Para ele, isso depende do nível de descontentamento popular e da capacidade de mobilização de imagens e palavras. Um exemplo de causa que não “pegou” nas mídias digitais é a doação de dinheiro para a UNICEF, fundo da ONU para a infância. Os mais de 200 mil likes na página da instituição dificilmente se convertiam em colaborações financeiras. Em abril, a entidade decidiu lançar uma campanha no Facebook ironizando o engajamento estritamente virtual das pessoas com a causa. Dizia a mensagem: “Curtir não salva vidas”. Com tantas discussões ocorrendo simultaneamente, sobram dúvidas sobre o futuro do movimento brasileiro. A verdade é que o cenário atual mistura sentimentos controversos. Mas é

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Retrospectiva 2013 bom que as pessoas estejam podendo falar sobre o assunto – dentro e fora das mídias sociais. Afinal de contas, isso é um sinal de vitalidade democrática. De qualquer modo, ainda é cedo para avaliar as consequências dos protestos. Estamos testemunhando um momento em que o debate público emergente tem a oportunidade de reverberar numa escala sem precedentes e desafiar as relações de poder de um modo imprevisível. A conferir nos livros de História do futuro.

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Retrospectiva 2013

O “fim” da Playboy e o futuro do jornalismo Demissões e extinção de revistas revelam que a crise chegou às redações do país. Por que a salvação dos jornalistas pode estar no marketing de conteúdo? Trabalhei quase dois anos como repórter na

por Eliseu Barreira Junior redação da revista Época, da editora Globo. Lá, tive a 14 DE JUNHO DE 2013

oportunidade de aprender sobre o ofício com alguns dos principais jornalistas do país. Gente que me ensinou a fazer grandes matérias, entrevistas e infográficos dos quais me orgulho até hoje. Vivi a emoção do fechamento, participei da cobertura de acontecimentos históricos como a morte de Osama bin Laden e conheci pessoas extraordinárias. Durante essa experiência, percebi que nunca fui um jornalista romântico, tomado pela síndrome de Clark Kent. Jamais acreditei que mudaria o mundo ou seria um arauto da verdade. Sempre vi com desconfiança a ideia de que editores são juízes do que o público deve ler. Jornais e revistas têm o papel de consolidar fatos, informar e transmitir visões de mundo, mas não possuem o direito de controlar os desejos de suas audiências. Com o surgimento de novas tecnologias, os veículos de comunicação tiveram de encarar essa realidade. Os leitores

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Retrospectiva 2013 que até então consumiam passivamente a informação ganharam poder. Poder para atropelar os jornalistas, questionar, produzir e consumir seu próprio conteúdo. Um poder transformador fascinante que colocou em xeque não só o modelo de negócio das empresas de mídia, como também trouxe à tona a dificuldade de reação dessas organizações diante das mudanças – e de um público que perdeu o status de mero observador. Foi nesse contexto que decidi sair da revista Época em setembro de 2011. Sentia que o jornalismo tradicional não estava preparado para a necessidade de se reinventar, de reconhecer as diferenças entre o mundo off-line e o on-line, entre o mundo que um dia se preocupou com o que saía na capa da Time e o que passou a se informar pelos posts de 140 caracteres do Twitter. Eu queria viver essa mudança e ajudar a impulsioná-la. Nos últimos dois anos, acompanhei de longe as diferentes estratégias adotadas pelas empresas jornalísticas do Brasil e do exterior para se manterem vivas em sociedades cada vez mais conectadas. Infelizmente, nada de muito animador aconteceu. Na prática, vi a tentativa de ajustar modelos antigos às novas plataformas digitais, a extinção de vários jornais e revistas, a demissão de dezenas de colegas e o encolhimento de publicações. As notícias mais recentes são tristes. O Jornal da Tarde acabou em outubro passado. O Estadão extinguiu diversos cadernos. A Folha cortou postos e anunciou que seu produto impresso ficará mais enxuto. A editora Abril reduziu o número de suas unidades de negócios e pode fechar pelo menos 10 revistas. Caso se confirmem os boatos que circularam na semana que passou, títulos como Playboy, Contigo! e Capricho sairão das bancas em breve (depois do barulho em torno do assunto, a empresa desmentiu a história). Sem dúvida, a crise está batendo à porta das redações do país. Ao mesmo tempo em que representa o fim de uma era, ela pode marcar o início de um caminho promissor para jornalistas profissionais. Isso porque sabemos contar boas histórias, criar interesse em torno de temas à primeira vista desinteressantes, vender ideias e dar forma a diferentes tipos de conteúdo. No mundo das redes sociais, esse conhecimento é essencial para marcas e empresas que desejam construir comunidades, criar vínculos genuínos com diferentes públicos e ser reconhecidas não só pelo valor de seus produtos e serviços, mas também pelo conhecimento que compartilham. O chamado branded content, ou conteúdo de marca, tem ganhado força dentro de empresas não midiáticas e criado ambientes favoráveis

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Retrospectiva 2013 para a atuação de jornalistas. Os números não mentem. Em 2012, empresas norteamericanas gastaram 44 bilhões de dólares com produção e distribuição de conteúdo, um aumento de 9% em relação ao ano anterior, segundo o Custom Content Council. Se considerarmos o orçamento de marketing, publicidade e comunicação das organizações, veremos que 39% dos investimentos ocorreram em marketing de conteúdo. No mundo das empresas B2B (Business-to-Business), a importância do branded content é enorme: 91% usam ebooks, blogs, vídeos e webinários como parte de sua estratégia de comunicação, contra 86% das empresas B2C (Business-to-Consumer). Atraídos por esse cenário, diversos jornalistas já têm ajudado a construir a credibilidade de marcas e empresas como Intel, Oracle, American Express e Kraft Foods. Nas palavras de um ex-colunista de tecnologia do jornal USA Today, a mídia tradicional é cada vez mais um lugar ruim para um bom jornalista trabalhar. O fato é que em tempos de redes sociais o produtor de conteúdo tem a possibilidade de dividir conhecimento numa escala sem precedentes. Se antes só existiam alguns grupos dominando o compartilhamento da informação, agora mais pessoas e empresas podem se transformar em narradoras de histórias. Hoje, sou um jornalista desse novo mundo. Descobri que nele é possível ser um entusiasta da abertura, da liberdade e da divisão do conhecimento, três pilares que sempre estiveram por trás do que considero bom jornalismo. A crise nas empresas tradicionais de mídia não matará esse ideal. Como disse Dan Lyons, que passou por títulos como Forbes e Newsweek e atualmente trabalha com marketing de conteúdo no Hubspot, na era da internet, não importa onde você estará atuando, mas sobre o que você estará escrevendo. No fim das contas, o valor do trabalho de um jornalista residirá na missão que ele busca cumprir.

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Retrospectiva 2013

Analista de redes sociais precisa ser bom em matemática? Ter habilidade com números não é tudo na vida de quem trabalha com dados.

por Claudia Gasparini 7 DE JUNHO DE 2013

Ouvi de um amigo que a planilha é o símbolo máximo da modernidade. De fato, talvez existam poucas coisas tão representativas do nosso tempo quanto longas e intrincadas tabelas de dados sobre o mundo. Se você não usa diariamente o Excel no seu trabalho, pelo menos deve ser íntimo das famigeradas spreadsheets do Google Docs. Essa necessidade de organização e tabulação é mais do que justificada. Com a web e as redes sociais, nós criamos um mundo que gera um fluxo incessante de dados desestruturados sobre si mesmo o tempo todo. Não sem razão, portanto, é que a gestão do chamado big data é uma das principais tendências do mundo da tecnologia e dos negócios atualmente. Na semana que passou, um executivo da IBM afirmou que o analista de dados é o profissional do futuro. Mas qual é o perfil desse indivíduo? Que habilidades são importantes para realizar a entrega que se espera tão avidamente dele?

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Retrospectiva 2013 É comum que gestores acreditem que a facilidade para “mexer com números” seja preponderante na hora de arrumar uma grande bagunça de dados. Raciocínio lógico, capacidade de interpretar dados numéricos, domínio de métodos estatísticos e muitas outras competências ligadas ao universo da matemática são, efetivamente, muito importantes – e, em geral, muito mais lembradas do que quaisquer outras. Mas, com o perdão do trocadilho, nem tudo nessa conta são números. Quando se fala em redes sociais, também é imprescindível o olhar crítico da psicologia, da comunicação, da antropologia e da sociologia, que acrescentam à análise dos dados um ingrediente sine qua non para qualquer análise que se pretenda confiável: o contexto. Todo mundo sabe que, além de um ponto no gráfico e uma linha na tabela, o usuário do Facebook que escreveu um comentário no mural da sua marca também é um ser humano inserido num lugar, numa época e numa sociedade com certas características que influenciam sua atitude. Consequentemente, sem a interpretação das nuances da linguagem, sem a composição de cenários netnográficos, sem a inclusão da cultura e mesmo da política no processo de discussão dos dados trazidos pelas redes sociais, nada fará sentido de verdade. Além disso, saber interpretar não apenas números, mas também textos e imagens, é um componente essencial da capacidade de enxergar “o grande quadro”, como alerta este texto do blog da Harvard Business Review. Mas não se engane: ser íntimo dos números continua sendo (muito) importante. Ninguém irá a lugar algum na análise de dados sem a benção de Pitágoras. Só não podemos esquecer que há capacidades essenciais para uma compreensão embasada e acertada da realidade que não têm nada a ver com raciocínio matemático. Em um mundo realmente produtivo, tira-se proveito da colaboração equilibrada de todos os ângulos de visão do problema para resolvê-lo. É só esse tipo de olhar que vai ajudar o “profissional do futuro” a transformar dados em valor – e caos em descoberta.

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Retrospectiva 2013

Futebol e redes sociais: um gol de placa? Craques como Neymar usam as redes sociais para estimular a indústria do esporte favorito dos brasileiros. Quando mais gente vai entrar em campo? por Claudia Gasparini 29 DE MAIO DE 2013

Brasileiro, diz o ditado, já nasce com uma bola no pé. Também é verdade que nós já nascemos com um dedo no botão “curtir”: já fomos chamados de “capital universal das redes sociais” pelo The Wall Street Journal e marcamos presença entre as nações que mais usam Facebook, Twitter, YouTube e muitas outras plataformas. Mas qual é a relação entre redes sociais e futebol, essas duas intensas paixões nacionais que se refletem e se completam? Para começar, um fato evidente: se amamos futebol e amamos redes sociais, é uma decorrência lógica que o esporte seja um dos assuntos que mais “bombam” nesses espaços. Para citar um exemplo recente, basta ver a larga repercussão no Twitter do anúncio da saída de Neymar do Santos no último fim de semana. Com o Scup, a A2 Comunicação já monitorou o impacto de assuntos relacionados ao esporte nas redes sociais e os resultados reforçam a popularidade do tema nesses espaços (veja os estudos a respeito da volta de

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Retrospectiva 2013 Felipão para a seleção brasileira e sobre a participação do Corinthians no Mundial de Clubes da Fifa em 2012 no Japão). Mas, com tanta gente ligada em futebol nas redes sociais, será que atletas e clubes estão sabendo usar esses espaços de forma inteligente para injetar mais combustível social em um esporte que já é, em sua essência, feito de encontros entre as pessoas? Afinal, o futebol é uma grande festa, um rito social, que passa pela ida ao estádio, a conversa no bar, o encontro com os amigos ao redor da televisão. Ver o jogo é apenas mais uma etapa de um processo que se completa com as interações sociais que ocorrem antes, durante e depois da partida. O que as mídias sociais fazem é permitir ao torcedor uma experiência ampliada de troca, participação e encontro em torno do futebol. Com quase 7 milhões de seguidores no Twitter, Neymar é um exemplo emblemático da atração exercida pelo esporte e seus ídolos nas redes sociais. Ele é também, sobretudo, alguém que faz um uso quase sempre produtivo desse poder. Apesar de alguns deslizes eventuais, o craque em geral consegue dominar o espaço com habilidade para se aproximar de seus fãs, dar notícias e fazer menções pagas a marcas e patrocinadores. Foi pelo Instagram que Neymar anunciou em primeira mão no sábado que ingressará no Barcelona após dar adeus ao Santos. A paixão pela bola e a afinidade com as redes sociais fazem do brasileiro um indivíduo altamente capaz de estimular em rede a indústria do futebol no país. Essa oportunidade é atrativa tanto para grandes clubes que desejam consolidar sua marca quanto para times menores e jogadores iniciantes que pretendem projetar sua presença e ganhar espaço nas discussões sobre o esporte.

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Retrospectiva 2013

Candy Crush: A saga de uma obsessão Por que Candy Crush Saga é o jogo mais popular do Facebook – e por que você vai esquecê-lo em breve. Por Claudia Gasparini 17 DE MAIO DE 2013

Talvez você nunca tenha jogado Candy Crush Saga, mas com certeza não conseguiu passar totalmente imune a essa febre. Mesmo sem jamais ter arrastado o dedo por fileiras de docinhos, você é perseguido diariamente por eles nos celulares de outros passageiros do metrô, nas atualizações do seus amigos no Facebook ou nos iPads de pessoas em restaurantes, aeroportos e salas de espera. A sensação é a de que por toda parte há telas com balinhas multicoloridas explodindo freneticamente em cascata. Exagero? Alucinação? Infelizmente, nenhum dos dois. Lançado no Facebook no fim do ano passado, o Candy Crush Saga já é o jogo mais popular da rede social, com 45,6 milhões de usuários mensais. Mais um número da epidemia: se somarmos todo o tempo que já foi gasto no Candy Crush por jogadores ao redor do mundo, o resultado ultrapassa 100 mil anos, de acordo com a King, empresa britânica que produz o game. A receita gerada por tamanha coqueluche não é divulgada publicamente, mas com os dados anteriores não é difícil imaginar o seu volume. A popularidade assombrosa de Candy Crush é tributária de alguns fatores comuns à maioria dos jogos do tipo.

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Retrospectiva 2013 Um sistema de recompensas associado a regras facilmente compreensíveis tanto para um jogador inveterado quanto para o indivíduo inexperiente no mundo dos games, tudo são algarismos na somatória que leva à compulsão. Acrescente-se a isso a natureza social do game. No Facebook, os usuários são instigados a superar seus amigos, compartilhar sucessos em sua timeline e pedir a ajuda de seus contatos para avançar no jogo. A disposição em rede dos usuários serve como um catalisador para o fenômeno. A comparação do Candy Crush com jogos de azar ou mesmo com alimentos tidos como “viciantes”, como a Coca-Cola, talvez seja inevitável. De fato, o game já tem tomado tanto tempo das pessoas que já não parece tão absurdo para alguns entender o fenômeno como um problema de saúde pública. Entretanto, ainda que tenha um impacto tremendo sobre a rotina e a produtividade das pessoas, o jogo das balinhas provavelmente vai minguar em pouco tempo, como a maioria das grandes obsessões coletivas. Tome o exemplo da FarmVille, que costumava ocupar o posto de game mais popular do Facebook. O jogo da “fazendinha” e outros da série Ville, produzidos pela já não tão forte Zynga, conheceram um declínio dramático em um período de 6 meses. Dá para entender: as variações limitadas de um jogo tão simples acabam levando à saturação. E esse também deverá ser o caminho do Candy Crush Saga. Se você é um usuário aficionado pelo jogo (leia esta carta escrita por uma jogadora ao Candy Crush para “discutir a relação”), talvez a perspectiva de se livrar da saga das balinhas pareça alentadora. Mas nem tudo é tão doce. O grande apelo dos games indica que, tão logo Candy Crush perca fôlego, saltarão em nossas telas outros títulos, cenários e mecânicas altamente capazes de conquistar o tempo e os bolsos de cada vez mais gente. Afinal, se esse mercado é tão volátil e instável para as empresas que estão nele, não há nada mais certo e garantido do que o apetite dos consumidores por distrações do gênero. Talvez a sedução cruel de games como Candy Crush esteja justamente na brevidade de sua vida: se ele vai ser esquecido e substituído tão logo, é melhor explodir o maior número de doces ainda hoje.

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Retrospectiva 2013

Qual é o segredo das campanhas de sucesso no Facebook? Desvendamos os segredos das melhores ações realizadas recentemente na rede social de Mark Zuckerberg. Por Claudia Gasparini 3 DE MAIO DE 2013

Para prestigiar as iniciativas mais criativas de marketing dentro da rede social – e também para bajular seus anunciantes, nas palavras da revista Time – a empresa de Mark Zuckerberg criou há um ano os Facebook Studio Awards. O prêmio recompensa anualmente as campanhas que, na opinião do júri, devem servir de exemplo para todo profissional de marketing de mídias sociais. Nesta semana, foram anunciados os ganhadores do prêmio de 2013. A grande vencedora foi a Oreo, a tradicional fabricante de biscoitos que tem se tornado a “queridinha da mídia” graças aos seus frequentes êxitos no mundo do marketing on-line. Mas o que a Oreo fez de tão interessante? Como traduzir as características de sua ação em lições de marketing? A campanha, elaborada pelas agências da DraftFCB e da 360i, foi concebida para celebrar o aniversário de 100 anos da marca. A ideia era fazer uma releitura visual “à la Oreo”

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Retrospectiva 2013 de diversos ícones da cultura pop e acontecimentos recentes. O projeto ganhou vida numa série de 100 conteúdos que foram publicados durante 100 dias. Para o 100º e derradeiro conteúdo, a marca pediu a ajuda da sua comunidade nas mídias sociais. As pessoas sugeriram o tema e votaram na criação vencedora, que foi desenhada e publicada “ao vivo” por publicitários dentro de um aquário de vidro na Times Square, em Nova York. Por que a campanha da Oreo, que resultou em um aumento de 280% nos compartilhamentos e de 150% no alcance da marca no Facebook, foi tão bem-sucedida? Três pontos podem ser considerados: 1. O conteúdo é simples, imediato e fácil de entender. Imagens têm um forte apelo no Facebook porque geralmente requerem pouco tempo do usuário para serem “absorvidas”, ao contrário de um texto ou mesmo de um vídeo, por mais curto que ele seja. 2. A campanha escolheu ícones pop e eventos recentes para brincar com a identidade visual de seu produto. Falar sobre referências que são comuns à maioria das pessoas é uma estratégia que dá certo (veja os doodles do Google). Isso porque, como no item anterior, elas exigem pouco tempo de fixação do usuário para reconhecimento e compreensão da mensagem. 3. Há consistência e regularidade na campanha. A marca se comprometeu a postar um conteúdo criativo e divertido por dia durante mais de três meses – sem que tivesse sido possível deixá-los todos prontos antes do início da campanha, já que muitas vezes as postagens acompanhavam acontecimentos mais ou menos imprevisíveis. É a lógica da novela: a periodicidade cria vínculo e alimenta expectativa. Não surpreende que a grande ação envolvida na produção da última imagem da série tenha gerado tanto buzz: se as pessoas estavam ansiosas pelo 100º post é porque haviam acompanhado durante meses os outros 99. De forma geral, as marcas vencedoras na edição de 2013 do Facebook Studio Awards buscaram soluções diferentes das que predominaram na edição do ano passado. Premiada na categoria bronze em 2012, a campanha “Corrida SP-Rio 211”, da LiveAD para a Nike, apostava em um dispositivo tecnológico que conectava o corpo do atleta à sua conta no Facebook. O resultado eram postagens compartilhadas com seus amigos mostrando os melhores momentos da corrida.

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Retrospectiva 2013 Já na edição de 2013, o trabalho da Pereira & O’Dell para a Intel + Toshiba, “The beauty inside”, arrebatou a medalha de prata indo numa direção completamente distinta. O investimento foi em um “filme social”: a história em capítulos de um personagem chamado Alex, que acorda todos os dias no corpo de uma pessoa diferente. O problema começa quando ele se apaixona. A narrativa foi acompanhada por milhões de usuários, que também participaram dela e gravaram suas próprias participações na trama. Segundo Mark D’Arcy, head de Global Creative Solutions do Facebook, ao passo que, na edição de 2012, as marcas se mostraram mais interessadas em explorar soluções “tecnológicas” para atingir seus clientes, em 2013 elas se preocuparam com uma boa execução de storytelling para engajar. A mudança é vista como uma evolução por D’Arcy.

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Retrospectiva 2013

A TV vai salvar o Twitter ou o Twitter vai salvar a TV? Por que o hábito de assistir à televisão na companhia das redes sociais desafia o marketing de novas e velhas mídias? Por Claudia Gasparini 26 DE ABRIL DE 2013

Quem diria? O Twitter, uma rede social que não pode contar nem 10 anos de existência, e a televisão, a velha mídia do século XX, são novos amigos de infância. Tão diferentes, esses dois canais têm algo muito importante em comum. A TV está passando por uma reformulação ampla e profunda, engatilhada pelo impacto da internet nos negócios e pelo uso intenso das mídias sociais. A rede dos 140 caracteres também atravessa uma fase de redefinições. O Twitter hoje busca o seu público e o seu modelo de negócio. O microblog tenta descobrir o espaço que ocupa entre as mídias sociais, sobretudo diante da hegemonia do Facebook. Com tudo isso em conta, um comportamento cada vez mais disseminado pode salvar, a um só passo, a televisão e o Twitter das suas respectivas incertezas: o hábito

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Retrospectiva 2013 moderno de assistir à programação da telinha com um smartphone, tablet ou computador a tiracolo. Um em cada seis brasileiros costuma navegar na internet enquanto vê novelas, séries, competições esportivas e outras atrações, comentou a Folha nesta semana. Instantâneo e conciso, o Twitter é a “praça” preferida por esses telespectadores sociais para compartilharem suas impressões sobre a programação. Torna-se então necessário fazer alianças para satisfazer esse público novo que, nas palavras de Marcelo Tas em recente artigo para a Folha de S. Paulo, “acordou para nos dizer o que espera da telinha”. A relação é de mútua cooperação. A TV precisa do Twitter para estimular o interesse pela sua programação, anunciar diretamente para o seu público e até garantir pontos de audiência. Por outro lado, o Twitter também depende da parceria com a TV para conquistar mais usuários e gerar receita: o microblog tem fechado inúmeras parcerias para hospedar clipes da TV e vender publicidade para os canais dentro do site. Uma executiva do Twitter disse à Folha de S. Paulo que a simbiose entre o microblog e as emissoras é crucial para a empresa. A situação de interdependência é clara, mas fica a questão: a TV depende mais do Twitter ou o Twitter, da TV? Quem aplica mais força nesse aperto de mão? Se ainda é difícil dizer “quem salva quem”, pelo menos é certo que o Twitter descobriu uma vocação que não é só sua. Há outras redes sociais que já nasceram dedicadas ao nicho da chamada Social TV, como a americana Get Glue, que tem mais de 3 milhões de usuários, e a nacional TV Square, que pretende seguir os seus passos e conquistar adeptos no Brasil, país em que 43% das pessoas navegam na internet enquanto assistem à televisão, segundo o Ibope. As emissoras de TV estão descobrindo, com o Twitter, um novo mundo de possibilidades de interação e de geração de renda a partir do social, mas nada garante que elas devam manter sua fidelidade à empresa. Se hoje o Twitter é o protagonista da TV social, nada garante sua permanência. Já a TV tem, a seu favor, um tempo maior de existência e uma presença mais consolidada na cultura de conteúdo das pessoas. O Twitter é uma empresa; a TV, uma instituição.

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Retrospectiva 2013 Isso não significa, porém, que ela esteja a salvo: alternativas às emissoras tradicionais experimentam um sucesso estrondoso, como YouTube, Hulu e a poderosa Netflix, que anunciou ter quase 30 milhões de assinantes, ultrapassando a HBO. Num cenário tão dinâmico e imprevisível, formar alianças e acordos estratégicos é a melhor (ou única) opção para velhas e novas mídias. Os dias de reinado solitário na sala de estar já estão no passado da TV – para ela e para suas (futuras) parceiras, todo sucesso será agora compartilhado.

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Retrospectiva 2013

A reinvenção da publicidade na era do Facebook Por que as redes sociais estão mudando o perfil dos anunciantes e colocando as pequenas empresas como protagonistas da publicidade na internet? Por Thiago Costa e Eliseu Barreira Junior 19 DE ABRIL DE 2013

A notícia de que as Organizações Globo decidiram tirar seus links do Facebook despertou a atenção não só por seu caráter aparentemente contraditório. O gesto do maior grupo de mídia do país expôs também as consequências de um movimento que a passos largos está exigindo uma postura diferente de todo mercado: a reinvenção da publicidade na era das redes sociais. Depois de o Google se firmar como um gigante dos anúncios na internet com o Adwords, o Facebook começa a se colocar como um grande player na disputa pela verba publicitária. As inúmeras informações sobre gostos e hábitos que compartilhamos na rede social de Mark Zuckerberg fazem os olhos dos anunciantes brilharem, mas principalmente desafiam empresas de todos os portes a lidar com novos conceitos e paradigmas. A reinvenção da publicidade num mundo cada vez mais conectado e social traz uma série de impactos. Primeiro, revela a dificuldade de empresas tradicionais de continuar gerando receita com modelos de anúncio ultrapassados.

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Retrospectiva 2013 Segundo, impõe aos profissionais a necessidade de obter novos conhecimentos técnicos e habilidades para uma boa comunicação digital. Quem nunca viu um publicitário que sempre atuou com planejamento e criação ter de reconsiderar o sentido de seu trabalho? Por fim, esse novo momento permite – principalmente – que pequenos e médios empresários possam vender seus produtos e serviços sem precisar gastar muito. Um resultado disso foi a recente decisão do Facebook de lançar uma série de ações para aumentar seus ganhos com esse público. Conforme revelou uma reportagem do site de VEJA, “o Facebook quer convencer as pequenas empresas – no Brasil e no mundo – de que o investimento em posts pagos, histórias patrocinadas e anúncios direcionados a um público-alvo bem delineado pode fazer com que suas vendas deslanchem e, em alguns casos, as transformem em médias ou até grandes companhias”. Hoje, há mais de dois bilhões de conexões entre pessoas e pequenas empresas na rede social que geram 645 milhões de visualizações e 13 milhões de comentários por semana. Sustentado pelos anunciantes mais endinheirados, o Facebook criou um programa que busca qualificar gestores de negócios menores e prometeu implantar mudanças que facilitarão o uso de suas ferramentas de ads. Segundo o TechCrunch, os investimentos de empresas de porte maior no Facebook são superiores porque elas podem se dar ao luxo de ter equipes de marketing que têm a chance de aprender os meandros de plataformas consideradas complicadas. Já donos de pequenas empresas geralmente têm recursos e tempo limitados para descobrir as melhores maneiras de tirar proveito das redes sociais, de acordo com o The Wall Street Journal. Uma pesquisa feita pela publicação mostrou que apenas quatro em cada dez proprietários norteamericanos têm funcionários dedicados para campanhas em redes sociais. Quase a metade deles gasta entre uma e cinco horas por semana na atividade e um terço não gasta tempo algum. O Twitter também tem ampliado as possibilidades de uso da rede social por pequenas empresas. Semanas atrás, o microblog relançou o Twitter for Business (Twitter para negócios), um serviço on-line que ensina como as companhias podem melhorar seus esforços de marketing em 140 caracteres. Além de apresentar dicas e cases, o espaço mostra como usar o Twitter Ads. A empresa baixou ainda o preço de publicidades direcionadas e começou a permitir que os anunciantes enviem mensagens para qualquer um dos seus mais de 200 milhões de usuários.

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Retrospectiva 2013 No centro desse cenário, está a capacitação de quem cuida do investimento em publicidade nas empresas. O conhecimento técnico caminha lado a lado com um novo jeito de fazer negócios. Na lista de mudanças, destacam-se os seguintes aspectos: 1) No mundo das redes sociais, os valores humanos devem ser maximizados, e não só os financeiros. O problema não é aumentar as vendas. Trata-se principalmente de reconhecer uma verdadeira necessidade social e desenvolver uma solução para ela; 2) Ao que tudo indica, passou-se o tempo em que a principal preocupação das empresas eram objetivos de curto e médio prazos. Focar em objetivos realmente grandes pode representar uma atuação mais relevante; 3) A opinião dos clientes se tornou essencial para o desenvolvimento de produtos úteis e significativos; 4) Formatos tradicionais de publicidade perderam força num contexto de segmentação; e 5) É preciso ser capaz de reunir informações das mais diversas origens sobre o público e transformá-las em insights para ações de marketing. Apesar das dificuldades, a publicidade nas redes sociais já coleciona clientes felizes. Gente que antes delas talvez não tivesse condições de falar com seu público. Segundo a pesquisa do The Wall Street Journal, seis de cada dez donos de pequenas empresas nos Estados Unidos dizem acreditar que as redes sociais são valiosas para o crescimento do negócio. Já uma pesquisa da Borrell Associates revelou que 99% das pequenas e médias empresas americanas têm fan pages no Facebook – e 29% planejam investir em anúncios na rede em 2013. O principal desafio para esses novos consumidores de publicidade é mensurar resultados, como cliques em anúncios e vendas diretas, e entender que é preciso diversificar as mensagens na internet. A nova publicidade on-line ainda tem muito a ensinar a eles.

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Retrospectiva 2013

Facebook: uma ameaça global? O que está por trás da decisão da Globo de tirar seus links do Facebook? Um dos aspectos mais fascinantes das redes sociais

Por Eliseu Barreira Junior é seu poder transformador. Um poder capaz de derrubar 12 DE ABRIL DE 2013

ditadores. Um poder capaz de deixar mais transparentes as relações entre empresas e consumidores. Um poder capaz de impulsionar a eleição de um presidente negro numa nação historicamente dividida. Um poder capaz de colocar em xeque certezas incontestáveis. Nesta semana, a notícia de que as Organizações Globo, o maior grupo de mídia do país, decidiu enfrentar a força do Facebook abandonando a prática de postar links de conteúdos em suas fan pages mostrou que o poder transformador das redes sociais não poupa ninguém de tomar decisões arriscadas, rápidas e contraditórias. O primeiro capítulo do que parece ser uma guerra entre dois impérios de um mundo cada vez mais conectado tem muito a nos ensinar. Como era esperado, a decisão da Globo dividiu opiniões entre os profissionais do mercado. Segundo o site do Meio & Mensagem, a empresa detectou que o Facebook é o principal motivo pela queda de audiência de suas plataformas digitais, como Globo.com, G1 e os sites das revistas da editora Globo. O fato de os usuários do Facebook apenas lerem as chamadas e não clicarem nos links seria o responsável pela baixa nos acessos. Ao

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Retrospectiva 2013 eliminar as URLs, o leitor se veria obrigado a acessar o site para conferir o conteúdo. De acordo com essa lógica, porém, os sites não recuperariam necessariamente visitas, mas receberiam um público com o potencial de ser mais qualificado. Assim, a Globo teria um argumento para convencer os anunciantes a colocar suas verbas de publicidade em seus sites – e não no Facebook. Se a rede social de Mark Zuckerberg faz os olhos dos publicitários brilharem com a imensa quantidade de informações sobre gostos e hábitos que detém, os Marinho ofertariam – muito provavelmente a um preço maior – a atenção de consumidores “melhores”. Mesmo tirando audiência dos sites da Globo, como foi noticiado, é inegável que o Facebook gera tráfego para eles. É parte desse público que a Globo vende para o mercado. E é essa mesma audiência que os anunciantes podem alcançar investindo nos ads do Facebook por muito menos. Entre falar com essas pessoas através de um intermediário, no caso a Globo, e falar diretamente com elas por meio da rede social, os anunciantes estariam ficando com o Facebook. Para mostrar que sua audiência é diferente e não desvalorizar seus espaços publicitários, faria sentido para a Globo buscar a alternativa da qualificação. Esse conceito de “poucos, mas bons” pode ser um tiro no pé, dizem especialistas. Em primeiro lugar, porque o tempo das pessoas está cada vez mais escasso e vivemos numa realidade em que tudo é para ontem. Com a imensa quantidade de “distrações” que as redes sociais oferecem, considerar que os leitores terão o trabalho de procurar por um conteúdo de seu interesse nos sites é pouco provável. Em segundo lugar, ainda vivemos num contexto em que o mercado publicitário compra mídia baseado no volume de visitas dos sites. Como mudar esse padrão é um ponto em aberto. Num contexto de redes sociais, outras métricas e fatores deveriam determinar isso. Em terceiro lugar, é preciso avaliar se o conteúdo oferecido, seja lá de que maneira, está conseguindo atender aos anseios do público. A linha editorial de muitos sites pode não estar adaptada aos interesses do leitor 2.0. Por último, a solução adotada contraria a forma como as pessoas consomem conteúdo hoje em dia na internet. As redes sociais se tornaram as principais distribuidoras de informação, e deixar de contar com elas parece ser arriscado.

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Retrospectiva 2013 Um estudo divulgado nos Estados Unidos recentemente revelou que o Facebook é a mídia social mais importante para o compartilhamento de notícias, sendo responsável por 9% do tráfego dos principais sites de informação do país. Mais que apontar as dúvidas em torno da decisão da Globo, é preciso entender o que está por trás dela. Nos últimos anos, as empresas de mídia tradicional têm enfrentado grandes dificuldades para encontrar novas maneiras de gerar receita, conter a queda no número de leitores e segurar anunciantes. Apegadas muitas vezes a estratégias do passado, elas têm dado respostas pouco consistentes para enfrentar os desafios trazidos pela era digital. O que se vê é uma enxurrada de jornais e revistas sendo fechados ou passando por mudanças, como as anunciadas pel’O Estado de São Paulo. A publicação extinguirá cadernos, demitirá funcionários e se focará numa cobertura otimizada, “em direção a um mundo mais veloz”. Nesse mundo, Google e Facebook se tornaram protagonistas de uma revolução que as organizações jornalísticas vacilaram em aproveitar. Além disso, elas passaram a sofrer com a concorrência dos próprios anunciantes, que deixaram de comprar espaços publicitários para se tornarem canais de mídia por meio de estratégias de marketing de conteúdo. Apesar desse cenário, já existem iniciativas que podem não só ajudar o jornalismo, mas também trazer novas oportunidades para as marcas se comunicarem com seus públicos. Elas indicam possibilidades que liberam os anunciantes da obrigação de enxergar o Facebook como a única opção viável para conversar com os consumidores, como parece estar acontecendo atualmente. Uma reportagem publicada no site AdWeek revelou que há um importante movimento na direção de anúncios mais relevantes e em formatos diferenciados: a distribuição de materiais jornalísticos pelas marcas e a produção de conteúdos patrocinados. A Forbes, por exemplo, publica textos com o selo de algumas marcas, como Oracle. No Brasil, a agência JWT, o banco HSBC e a revista Exame estão trabalhando num projeto parecido. A decisão anunciada pela Globo vai de encontro a esse momento. Com tanto poder em jogo, é possível afirmar que o Facebook já está impactando os negócios das empresas jornalísticas, mas também redefinindo a forma como o mercado enxerga o anúncio na internet. O desafio é saber se Mark Zuckerberg desbancará um modelo que durante anos “garantiu” a receita de muitos sites ou se surgirão ideias inovadoras com o potencial de criar um ambiente mais equilibrado. Caberá ao poder transformador das redes sociais apontar um caminho.

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Retrospectiva 2013

As empresas devem apoiar causas nas redes sociais? Marcas decidem declarar apoio ao casamento gay em seus perfis sociais. Como lidar com os riscos e oportunidades trazidos pelo marketing social? Por Claudia Gasparini e Thiago Costa 5 DE ABRIL DE 2013

O que o seu avô esperava de uma empresa quando era jovem? Provavelmente, que ela oferecesse um bom produto ou serviço a um preço acessível. Você não. Você espera que a marca que está na etiqueta da sua calça ou no rótulo do seu refrigerante seja mais do que uma fornecedora de um bem, mais do que uma logomarca. Afinal, empresas não têm mais fachadas, elas têm rostos. Elas precisam representar uma ideia, advogar por uma causa, empunhar uma bandeira. Em grande parte, isso é responsabilidade da internet e, claro, das redes sociais. O universo digital – com sua lógica de likes, fãs e seguidores – nos condicionou a afirmar mais publicamente aquilo com que nos identificamos. Inevitavelmente, a necessidade de se posicionar se estendeu também às marcas. Quando e como declarar apoio a uma causa? Responder a essa pergunta é um enorme desafio que já faz parte do dia a dia dos profissionais que pilotam perfis de empresas no Facebook, Twitter e Google+.

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Retrospectiva 2013 Os exemplos de alinhamento a causas sociais começam a brotar nas redes. Recentemente, ganharam destaque ações de empresas em prol dos gays. Inspiradas na viralização da imagem de um sinal de igual (imagem acima), marcas como Ponto Frio, Coca-Cola e Walmart divulgaram o símbolo em suas páginas no Facebook para declarar apoio à união de pessoas do mesmo sexo. Já o hotel Mercure se colocou a favor da diversidade sexual depois que a cantora Daniela Mercury assumiu ter um relacionamento com outra mulher e foi alvo de piada do humorista Rafinha Bastos. As ações despertaram uma série de questionamentos. Se os consumidores têm a expectativa de saber de que lado estão as empresas, isso não significa que eles vejam esse processo com ingenuidade. Na realidade, o alinhamento a uma causa sempre corre o risco de ser entendido como uma simples jogada de marketing (o que não é mentira, em muitos casos). Como proceder, então? Tudo começa com uma comunicação de excelência, é claro. Mas isso ainda não será suficiente se a empresa oferecer um apoio puramente simbólico a uma causa. O apoio precisa estar refletido no dia a dia da organização e nos projetos que desenvolve. A marca que for ousada o suficiente para se envolver concretamente com uma ideia e agir a favor dela – bancando sua decisão e enfrentando os seus possíveis detratores – será aquela que, em uma sociedade conectada e crítica, irá triunfar.

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Retrospectiva 2013

O que o futuro reserva ao Facebook? O novo News Feed anunciado na última quinta-feira tem muito a mostrar sobre os possíveis destinos do império de Zuckerberg. Por Claudia Gasparini 8 DE MARÇO DE 2013

Não adianta: constante alvo de crítica, desconfiança e até repúdio, a despeito de tudo o Facebook não para de nos fascinar. Como um foguete, a plataforma social lançada em 2004 cumpriu uma trajetória fulgurante ao longo de quase uma década até se tornar um dos espaços mais magnéticos e povoados da internet. Porém, adquirida a notoriedade, a influência e a assombrosa soma de mais de um bilhão de usuários, a solidez e a seriedade da empresa foram colocadas em xeque em diversas ocasiões nos últimos anos. O filme “A rede social” (foto), de 2010, resume a imagem pouco confiável que o site inspira mesmo em seus usuários mais fiéis. A semana que passou trouxe evidências de que o Facebook está passando por um momento decisivo em sua turbulenta relação conosco. Isso porque a sua promessa de ser um organizador de conteúdo adaptado às preferências do usuário está sendo posta em dúvida.

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Retrospectiva 2013 Na última quinta-feira (7), a empresa anunciou o tão esperado redesenho da área que reúne o conteúdo que você visualiza: o News Feed. Entre as mudanças, o Mashable destaca três: Imagens maiores; Múltiplos feeds; Mais consistência para mobile. O sucesso de propostas como o Instagram e o Pinterest revela claramente o apetite dos usuários por conteúdos visuais, o que justifica a opção por fotos grandes no feed. Por sua vez, a adaptação do site para mobile reflete outra tendência: os usuários estão usando o Facebook mais no celular do que no computador, como já noticiou a CNN. As duas decisões são estratégicas: o próprio Facebook já admitiu que os jovens estão “cansados” do site e passam cada vez mais tempo em redes mais descoladas como Tumblr e Snapchat. Responder às demandas por uma experiência mais atraente adquire, assim, importância redobrada. Mas a novidade mais suculenta – e digna de análise – é a oferta dos múltiplos feeds. No novo modelo, o usuário poderá escolher entre várias opções de feeds: só atualizações de amigos próximos, só fotos, só vídeos, só games, entre outras alternativas. Segundo o Mashable, “não está claro como esses novos feeds irão afetar posts promovidos, nem o impacto a longo prazo que terão em marcas e páginas”. É justamente esse o ponto mais sensível para o Facebook e seus usuários neste momento. A confidencialidade sobre o funcionamento do algoritmo que define as publicações presentes no feed, justificada oficialmente como recurso para preservar a competitividade do produto, tem sido acusada de favorecer práticas pouco transparentes por parte da empresa. Na terça-feira, Nick Bilton compartilhou sua exasperação no blog Bits, do The New York Times. Segundo o jornalista, os conteúdos que ele posta na rede tem tido um nível de engajamento extremamente baixo, a não ser que ele pague para promovê-los – uma queixa também registrada por outros repórteres, blogueiros e proprietários de páginas no Facebook. Anthony Kosner, da Forbes, engrossa a fileira dos insatisfeitos. Na quarta-feira, ele chamou o Facebook de “império da opacidade” e sugeriu que a empresa pode estar suprimindo posts não-promovidos para favorecer a visibilidade do conteúdo pago: uma clara tentativa, na opinião de Kosner, de forçar cada vez mais pessoas e empresas a

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Retrospectiva 2013 pagarem para que suas publicações não sejam invisíveis. No Brasil, as práticas de venda de mídia pela empresa foram alvo de denúncia. Segundo reportagem da IstoÉ Dinheiro da última quarta-feira, analistas de mídias sociais têm reclamado que o Facebook não emite nota fiscal para compras de anúncios publicitários abaixo de R$ 20 mil. A empresa se posicionou de forma inconsistente sobre a queixa. Com tanto poder em jogo, é possível ver nitidamente que o Facebook vive hoje uma fase crítica de sua história. O novo News Feed anunciado na quinta-feira foi apresentado como um incremento no poder de escolha do usuário sobre o que ele quer ver, uma promessa de que a relevância é que ditará a visibilidade. Será que isso representa um passo em direção à construção de uma empresa mais transparente e comprometida com aqueles que viabilizam o seu negócio? O mundo está ansioso pela resposta.

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Retrospectiva 2013

Lições do marketing em tempo real no Oscar Enquanto o planeta não parava de falar dos vencedores das estatuetas de ouro, a comunidade interessada em marketing digital estava absorta em outra conversa. Por Claudia Gasparini 1 DE MARÇO DE 2013

Poucos eventos são tão midiáticos quanto o Oscar. Faz muito sentido, portanto, que a edição de 2013 da cerimônia tenha sido uma oportunidade para as marcas exercitarem um uso cada vez mais proeminente das mídias sociais para fazer comunicação: o RTM (Real-Time Marketing) no Twitter. Inspiradas – ou acossadas – pelo estrondoso impacto da ação da Oreo durante o famoso Super Bowl, assunto do Monitor de algumas semanas atrás, algumas empresas decidiram correr atrás do rastro de sucesso da marca de biscoito, investindo em suas próprias postagens em tempo real no microblog. Foi o caso de marcas como Kellog’s, Stella Artois, Visa, American Express e muitas outras. A performance das marcas que se aventuraram a participar da noite do Oscar pela tela de seus seguidores foi motivo de grande discussão e controvérsia. A despeito de algumas respostas simpáticas aos esforços demonstrados pelas marcas, como lemos no blog do Hubspot, houve

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Retrospectiva 2013 uma grande onda de desaprovação ao desempenho apresentado pela maioria. Jay Baer foi um dos críticos mais veementes. Em post no Convince & Convert, listou uma série de iniciativas que considerou “falidas” em termos de pertinência e eficácia. A marca Stella Artois, por exemplo, tweetou uma imagem de um copo de cerveja com o nome de um dos ganhadores do Oscar, um conteúdo de relevância questionável para o consumidor e para a marca. Já o Special K, um cereal da Kellog’s, tentou viralizar um tweet pedindo para que as pessoas dessem RT caso concordassem que o filme “Os Miseráveis” seria premiado – um esforço frustrado pela ocorrência de meros 7 retweets. Augie Ray escreveu em seu blog “Experience” que, no feed do Twitter no último dia 24, o que se viu foram “posts préplanejados, sem graça, feitos com a mão pesada e centrados nas marcas”, que produziram um RTM “à antiga” e banal. Em reação à dura resposta da comunidade de profissionais de marketing na internet, David Armano, diretor da Edelman Digital, postou em seu site no dia seguinte ao evento:“Se ninguém tenta, ninguém perde e ninguém ganha”. Envolvido com uma das marcas ativas no Twitter durante a premiação, Armano lembrou que as “aventuras” das empresas com o real-time marketing ainda estão em fase experimental e que só tentativas e erros levam ao aperfeiçoamento. Paralelamente, a performance da própria equipe responsável pela comunicação dos Academy Awards foi alvo de comentários negativos. Jeremiah Owyang, analista do Altimeter Group, apontou que os spots publicitários do Oscar 2013 para a TV perderam a oportunidade de se integrar com o social. A partir de uma análise de 58 comerciais, Owyang percebeu que a esmagadora maioria que fazia alguma referência à web promoveu a URL da página oficial da premiação – uma escolha discutível dado o hábito geral de se procurar sites pela ferramenta de busca do Google. A oportunidade oferecida pela chamada “segunda tela” (dispositivos móveis que cada vez mais pessoas manuseiam enquanto veem TV) foi, assim, gravemente desperdiçada. Fato é que a reverberação do Oscar nas mídias sociais cresceu em quase 200% em relação à última edição, de acordo com o Mashable. Registrado em 14 milhões de comentários na rede, a cerimônia entra para a lista dos eventos televisivos mais “sociais” do mundo. Não é difícil perceber que a cobrança por melhores resultados em mídias digitais está apenas começando.

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Retrospectiva 2013

Como “curtir” algo no Facebook revela muito sobre você Estudo mostra o poder da estatística na hora de decifrar quem somos a partir do que curtimos na maior rede social do mundo. Por Thiago Costa 15 DE MARÇO DE 2013

Cientistas da Universidade de Cambridge, na GrãBretanha, e da Microsoft Research, divisão de pesquisas da gigante americana de software, desenvolveram um algoritmo que analisa o perfil dos likes que distribuímos pelo Facebook para desvendar a nossa personalidade. O ruim é que isso pode acabar revelando detalhes íntimos demais sobre nossas vidas. A pesquisa, publicada nesta semana, analisou os “likes” de mais de 58 mil usuários do Facebook com o objetivo de estabelecer estimativas sobre informações pessoais que normalmente não divulgamos, como nossa idade, inteligência (QI), preferências sexuais, estabilidade emocional, timidez e até “abertura para o novo”. As descobertas despertaram o interesse de todos os curiosos de plantão e, mais do que isso, de milhares de marqueteiros que buscam formas cada vez mais sofisticadas para alcançar os mais de um bilhão de consumidores que têm conta no Facebook. Os modelos matemáticos usados acertaram em 88% dos casos a sexualidade dos homens e em 75% a das

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Retrospectiva 2013 mulheres. Foi possível prever com 95% de sucesso a distinção entre brancos e afrodescendentes nos Estados Unidos. Cristãos e muçulmanos também foram identificados em 82% dos casos. Em relação às preferências políticas, os likes correspondiam à realidade em 85% dos murais analisados. Nem mesmo o status de relacionamento e uso de drogas (lícitas e ilícitas) escapou da perspicácia do algoritmo: em 65% dos casos, o status foi identificado corretamente; o uso de drogas, em 73% das situações. Naturalmente, a pesquisa não teria o impacto que teve se o indicador da sexualidade de alguém fosse ter dado like na comunidade “A favor do casamento gay” ou se a inclinação política fosse identificada por seguir Barack Obama. Na maior parte dos casos, o que levou a inferir sobre o perfil dos usuários do Facebook foram “likes” que aparentavam pouca conexão com as características analisadas. A precisão das previsões estava basicamante ancorada em inferências feitas a partir de likes em músicas e programas de televisão. Extrovertidos geralmente curtiam a a cantora Jennifer Lopez, enquanto os introvertidos demostraram preferência pelo filme “Batman: o Cavaleiro das Trevas”. Aqueles que se disseram “liberais e artísticos” curtiram o cantor Leonard Cohen e o escritor Oscar Wilde, enquanto os conservadores preferiram o filme de comédia “A Sogra”. “Estou feliz que a maior parte das descobertas parece ser intuitivas”, disse o coautor da pesquisa Michal Kosinski, que estudou psicologia na Universidade de Cambridge. Tudo bem que a linha que separa as intuições dos preconceitos costuma ser bem tênue, mas Kosinski rebateu o argumento falando que os computadores não têm preconceitos, apenas quem os programa. E é verdade. De acordo com os autores do estudo, perfis similares poderiam ser produzidos usando outros dados digitais como histórico de navegações, buscas e compras. Ou seja, praticamente tudo o que fazemos na internet. E considerando a quantidade cada vez maior de vestígios digitais deixados no mundo virtual, será cada vez mais difícil controlar a privacidade na rede. Mas não é só isso. A pesquisa abre espaço num território cada vez mais promissor: o big data. A possibilidade de criar padrões para analisar o volume sem precedentes de informações que geramos todos os dias promete revolucionar a forma como todos os setores da sociedade se organizam para realizar suas atividades. No campo da psicologia, por exemplo, a pesquisa representa uma das tentativas mais bem-sucedidas de

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Retrospectiva 2013 estudar o comportamento humano por meio de métodos computacionais. No fim das contas, os likes do Facebook podem ser tão úteis para entender nossas vidas quanto questionários e análises de personalidade.

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Retrospectiva 2013

Os desafios do próximo papa nas redes sociais Bento XVI deixou uma herança inédita a seu sucessor: uma multidão de mais de 2,5 milhões de seguidores no Twitter. O que fazer com essa oportunidade? Por Claudia Gasparini 15 DE FEVEREIRO DE 2013

O papa Bento XVI surpreendeu o mundo nesta segunda-feira, 11, ao anunciar sua renúncia ao cargo de pontífice – acontecimento registrado pela última vez há quase 600 anos. No entanto, ele já havia feito história antes disso. Quando inaugurou sua conta no Twitter em 12 de dezembro do ano passado, Joseph Ratzinger deu um impulso na presença da Igreja Católica nas redes sociais, inaugurando uma importante e necessária ponte da instituição romana com a modernidade. Com a transição iminente, muito se discute sobre o legado do papa alemão. Além da posição de chefe da Igreja, Bento XVI deixará uma herança inédita a seu sucessor, bem lembrada neste artigo da Forbes: uma multidão de mais de 2,5 milhões de seguidores no Twitter e a sinalização de um vasto potencial a ser explorado nas redes sociais. O momento de eleger uma nova liderança sem dúvida carrega uma gama de escolhas. Uma delas será precisamente a trazida por Bento XVI: como avançar na

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Retrospectiva 2013 direção das novas tecnologias de comunicação para conectar a antiga instituição a um mundo que parece se movimentar cada vez mais sem ela? Criar o perfil @Pontifex não foi uma decisão fácil, como informa a Forbes. Bento XVI assumiu a postura de levar adiante a ideia da conta no Twitter a despeito do desencorajamento de parte do Vaticano, que temia as críticas que mais tarde de fato vieram. Assim, por meio da hashtag #askpontifex, Ratzinger começou a responder a perguntas de usuários, uma tentativa marcada por algumas falhas técnicas, mas com alvo certo: constituir-se como uma voz da doutrina – endossada pela autoridade da instituição – em um oceano de outras referências, informações e pontos de vista à disposição na internet. É preciso lembrar que a conta no Twitter não é a única iniciativa da Igreja Católica para tentar se ligar à sua comunidade usando redes digitais. Mas, se seus esforços ainda são relativamente incipientes, isso só reforça a importância decisiva da postura do novo papa a respeito desse universo. Se o próximo pontífice saberá reconhecer nas redes sociais uma robusta oportunidade para engajar fiéis e (re)conquistar seguidores, por enquanto é difícil saber. Mas o caso já serve como exemplo a ser acompanhado por quaisquer outras instituições que ainda estão avaliando os caminhos que deverão trilhar no espaço digital. Qualquer que seja a decisão, só é certo que ela precisará ser rápida.

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Retrospectiva 2013

O crescimento do Twitter em 2012 O microblog viu seu número de usuários ativos crescer 40% em todo mundo no ano passado – o maior crescimento entre as redes sociais em 2012. por Thiago Costa 31 DE JANEIRO DE 2013

Um relatório divulgado pela consultoria GlobalWebIndex nesta semana mostrou que o Twitter está longe de perder sua importância no mercado de redes sociais. O microblog viu seu número de usuários ativos crescer 40% em todo mundo no ano passado – o maior crescimento entre as redes sociais em 2012. Nada menos que 21% dos internautas do mundo usam o Twitter pelo menos uma vez por mês. No total, a GWI apontou que existem 288 milhões de usuários ativos no microblog. Ao comentar o assunto, a revista Forbes ressaltou que, de 2009 até agora, o crescimento de usuários da rede foi de 714%. A publicação listou três motivos para isso: o aumento da quantidade de dispositivos móveis no mundo, a entrada de pessoas com mais de 50 anos no microblog (que não eram o perfil inicial dos usuários da rede social) e a integração cada vez maior do Twitter com outras mídias. Apesar dos números, o Google+ ficou à frente do Twitter e se tornou a segunda maior rede social do mundo, atrás do Facebook. Até o ano passado, a situação era inversa e a segunda posição era ocupada pelo microblog. O GlobalWebIndex contabilizou 343 milhões de usuários na rede social do Google. O primeiro lugar continua sendo ocupado pelo Facebook, com 903 milhões de contas ativas.

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Retrospectiva 2013 Ao mesmo tempo em que a base do Twitter cresceu, houve um aumento de 20% no número de pedidos judiciais por informações privadas de usuários do microblog no último semestre de 2012. Na segunda-feira, 28, vários países celebraram o dia da privacidade de informações (Data Privacy Day), e o Twitter aproveitou a data para divulgar o seu relatório de transparência. O documento revela como os usuários dos serviços do microblog estão realmente no anonimato perante governos e instituições oficiais. Os pedidos de quebra de sigilo encaminhados ao Twitter no último semestre do ano passado foram provenientes de mais de 30 países e estavam ligados a investigações criminais. Os Estados Unidos foram responsáveis por 69% das intimações encaminhadas ao microblog. O jornal britânico The Guardian divulgou as declarações que Jeremy Kessel, diretor de políticas do Twitter, fez sobre os números do relatório. “O crescimento do número de pedidos de quebra de sigilo de usuários pode ter um efeito negativo sobre a liberdade de expressão, além de apresentar em alguns casos implicações reais contra a privacidade das pessoas”, comentou Kessel.

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Retrospectiva 2013

Uso de mídias sociais no trabalho Aumenta a pressão contra restrições ao uso de mídias sociais no trabalho.

Por Claudia Gasparini e Eliseu Barreira Junior 24 DE JANEIRO DE 2013

O que você pode publicar no Facebook sobre a sua empresa? Nos EUA, a relação entre empregadores e empregados na era digital ficou mais agitada nesta semana. De acordo com o jornal The New York Times, certas restrições feitas por empresas a seus funcionários em mídias sociais foram declaradas ilegais pelo Conselho Nacional de Relações de Trabalho (National Labor Relations Board). A tese dos reguladores norte-americanos é a de que as pessoas têm direito de debater suas condições de trabalho livremente em qualquer espaço – tanto off-line quanto online. A regulamentação do uso das mídias sociais no ambiente de trabalho divide opiniões. Para alguns, as empresas têm o direito de vigiar o comportamento dos funcionários porque a imagem delas pode ser gravemente prejudicada por determinadas posturas. Por outro lado, há quem defenda que qualquer prática que coloque em risco a liberdade de expressão dos empregados é condenável. Nesse cenário, as organizações têm preferido seguir o caminho da regulamentação. Um

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Retrospectiva 2013 estudo de 2012 da Sociedade para Gestão de Recursos Humanos (Society for Human Resource Management) mostrou que 40% das empresas dos EUA pesquisadas possuem uma política formal de uso das mídias sociais no ambiente de trabalho. Entre as grandes organizações (com mais de 25 mil empregados) o número é um pouco maior: 55%. Segundo a SGRH, a tendência é de crescimento. A atitude de muitas empresas quanto ao que um funcionário pode ou não pode dizer nas mídias sociais tem sido motivo de polêmica nos últimos anos. O apetite por controle levou alguns empregadores a pedir até mesmo a senha de acesso ao Facebook de seus funcionários, como comenta um artigo da Forbes. Mas o movimento conduzido pelo Conselho Nacional de Relações de Trabalho, inclusive contra gigantes como a General Motors, marca o início de uma reação a essas restrições. É o começo de um enfrentamento que deve se tornar uma preocupação cada vez mais frequente no ambiente corporativo. O que está se passando hoje nos EUA provavelmente será a realidade em outros países em breve, inclusive no Brasil, uma das nações mais conectadas às mídias sociais no mundo.

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Retrospectiva 2013

A busca social do Facebook Além do Google, o movimento do Facebook em direção ao mundo das buscas pode prejudicar outros negócios digitais, como Amazon, Yelp e LinkedIn. Por Claudia Gasparini 17 DE JANEIRO DE 2013

O império de Mark Zuckerberg revelou à imprensa em janeiro a novidade ao redor da qual vinha fazendo tanto suspense: a nova busca social do Facebook. O serviço permitirá ao usuário fazer buscas complexas relacionadas aos perfis de seus amigos e descobrir novos contatos a partir de seus interesses e preferências. Você poderá fazer pesquisas como “restaurantes japoneses em São Paulo visitados pelos meus amigos”, “pessoas que curtem vôlei e que são da minha cidade natal”. O novo motor de busca ainda está em versão beta e, por enquanto, disponível apenas para o público de língua inglesa. Após anos coletando dados e fotos de seus milhões de usuários, a plataforma se aventura no desafio que o Google já havia tentando superar com o lançamento do Google+. Dominando mais de 66% das buscas de acordo com a comScore, o Google é o líder absoluto do mercado. No entanto, como destaca um post de The Next Web, não possui acesso à imensa base de dados sociais de que o Facebook dispõe.

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Retrospectiva 2013 Consequentemente, a nova empreitada do Facebook coloca os dois grandes “titãs” do mundo digital em situação de competição ainda mais acirrada. De acordo com o The Wall Street Journal, a disputa entre Google e Facebook agora é pela posição de “porta de entrada principal da Internet”. A intenção de Zuckerberg é atacar o Google na sua principal força (a busca), tentando mostrar para as pessoas que elas não precisam usar o Google necessariamente para encontrar a informação que procuram. Se você está procurando um filme para assistir no fim de semana, o Google fornecerá uma longa lista de resenhas feitas por estranhos; já o Facebook poderia indicar os filmes de que os seus amigos gostaram e dos quais consequentemente você poderia gostar também. Esse é o grande appeal da busca social do Facebook para os investidores, diz o The New York Times. Além de evidentemente mirar o Google, o movimento do Facebook em direção ao mundo das buscas pode prejudicar outros negócios digitais, como Amazon, Yelp e LinkedIn, espaços onde as pessoas costumam buscar produtos, lugares e conexões profissionais. Zuckerberg destacou que a novidade preserva a privacidade dos usuários: você só pode encontrar conteúdo que já foi compartilhado com você. Quando questionado sobre a liberação da API da nova busca social para desenvolvedores, ele disse que levará um tempo para isso ocorrer e que agora “o serviço estará focado em pessoas, fotos e interesses”.

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Perspectiva 2014


Retrospectiva 2013

O que 2014 reserva para as mídias sociais? por thayane veiga

O anuário especial do Scup Ideas trouxe análises que refletem fatos marcantes no mundo das mídias sociais em 2013. Além de fazer pensar sobre o que passou, tal retrospectiva estimula diferentes formulações sobre o que o futuro reserva a esse universo tão dinâmico. Como não acreditamos em futurologia nem em gurus, elegemos 50 profissionais renomados para compartilhar opiniões qualificadas sobre o que podemos esperar de 2014 no mercado de mídias sociais. Seguem algumas conclusões: Copa do Mundo: o mundial de futebol no Brasil trará toda a atenção do mundo para o país, e também para o comportamento das marcas nas mídias sociais durante o evento. Segundo Pedro Ivo Resende, diretor executivo da agência Riot, são esperadas muitas interações e geração de conteúdo nesse período. Além disso, as marcas terão uma boa chance de pôr em prática o chamado marketing em tempo real. Eleições: outro grande destaque de 2014 são as eleições brasileiras. Sobretudo após o intenso engajamento nas mídias sociais durante as manifestações de junho de 2013,

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Retrospectiva 2013 veremos os políticos cada vez mais inseridos no mundo digital. Mas a mera presença dos candidatos nas redes sociais não garantirá votos, de acordo com o jornalista e consultor Gilberto Musto. Para ele, “a comunicação com os eleitores pelas mídias sociais deve ter gestão de conteúdo, relacionamento e permanente monitoramento, tudo elaborado e gerido por uma equipe especialmente treinada, para que o político possa ter importante participação e se mostrar relevante”. Crescimento do mobile: até o fim de 2013, estima-se que serão vendidos mais de 1 bilhão de aparelhos celulares e cerca de 180 milhões de tablets. Para Sérgio Lüdtke, jornalista e coordenador no IICS, o mobile será a principal ou única forma de acesso às mídias sociais. Com o crescimento da mobilidade do consumidor, as empresa devem se adaptar e traçar estratégias específicas para esses aparelhos. Segundo Beth Saad, professora da ECA-USP, “em 2014, o desafio das marcas será buscar uma presença nesses ambientes que não seja intrusiva, que promova uma relação de proximidade e que tenha adequação e oportunidade ao momento, ao dispositivo e à proposta de comunicação”. Longevidade do Facebook: será que a maior mídia social do mundo está com seus dias contados? Ana Brambila, editora de mídias sociais da Editora Globo, aposta que o site perderá forças no país em 2014. Ela acredita que a quantidade excessiva de anúncios, a “superlotação” do Facebook e o surgimento de outras plataformas (Whatsapp, Instagram e MySpace) são alguns dos fatores que deixarão o usuário cansado da mídia social e disposto a buscar outros espaços. Diego Monteiro, cofundador do Scup, também apontou a possível diminuição de investimentos publicitários no site, já que em 2013 a hegemonia e a efetividade do Facebook foram muito contestadas. Os pontos apresentados indicam transformações e tendências que confirmam um fato: para organizações de todos os tipos, a presença no meio digital deixa de ser uma oportunidade de negócio, e se torna uma questão de sobrevivência. Quem não está nesse ambiente perderá espaço por não manter uma relação direta com o consumidor - que se mostra cada vez mais exigente e difícil de conquistar. Marcas e empresas terão de se reinventar constantemente para manter um relacionamento perene, saudável e produtivo com seus públicos estratégicos. Que venham os desafios de 2014!

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As melhores ideias sobre m铆dias sociais. Em 2014, s贸 no Scup Ideas.

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