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Redação Adriana Santana Cristiani Cardozo Ítalo Cerqueira Itamar Ferreira Marília Moura Vagner Campos
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Faculdade de Comunicação - Universidade Federal da Bahia Rua Barão de Geremoabo, s/n, Ondina. CEP 40170-115. Salvador - BA - Brasil.
Editorial: A Agenda Arte e Cultura da Universidade Federal da Bahia (Ufba) tem como objetivo divulgar os eventos, pesquisas culturais e científicas que nascem na universidade, fazendo isso de forma leve para tornar acessível a cultura para a comunidade interna e externa. As notícias são atualizadas diariamente no site www.agendartecultura.ufba.br e a versão impressa, com os destaques mensais, será divulgada em pdf no site e impressa. Este projeto associado à Agência de Notícias em Ciência e Cultura integra o Programa Agenda Arte, Cultura e Ciência da Ufba e pretende servir como um portal de comunicação entre as unidades da universidade, a sociedade, instituições culturais, pesquisadores e artistas. Com o slogan “você não pode dizer que não sabia” a Agenda Arte Cultura da Ufba pretende cobrir de forma abrangente o que acontece dentro e fora da universidade e que envolva as pesquisas da Ufba, a pesquisa não ocorre apenas dentro da universidade, ela perpassa os muros acadêmicos e invade a comunidade. Nesta edição preparamos matérias especiais sobre as pesquisas artísticas realizadas na Ufba, você vai encontrar temas que envolvem a reflexão sobre os estudos em artes cênicas, a relação entre palhaçaria e tradição indígena, dança e novas tecnologias, pesquisa sobre samba de roda no litoral norte da Bahia, vídeodança em stop motion, criação coreográfica com artistas especiais, game criado na Bahia inspirado em obra de Jorge Amado, pesquisa sobre etnografia virtual, musicalização infantil, reflexão sobre o ensino da composição musical, pesquisa e manejo de sítios arqueológicos, pesquisa sobre os ex-votos, intervenções artísticas do grupo GIA e um tour virtual na cidade de Cachoeira.
Teatro
Pesquisa indica novas perspectivas para o estudo de Artes Cênicas
Desenvolvida pela Escola de Teatro da Ufba, a pesquisa investiga o teatro como uma atividade político-econômica.
Por Adriana Santana*
Analisar a relação da criação e produção em artes cênicas com diferentes atores políticos e econômicos da sociedade é o objetivo da pesquisa Um certo olhar sobre a pré-encenação e a encenação: o espetáculo teatral como empreendimento político-econômico-social. Ela é coordenada pelo doutor em artes cênicas e professor da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (ETUfba), Gláucio Machado. Iniciada em julho de 2011, a pesquisa terá duração de dois anos. O objetivo é que as investigações realizadas sejam aplicadas na organização de novos conteúdos para o ensino superior de artes cênicas.
A proposta é estudar o teatro como uma atividade, assim como qualquer outra. “É importante, nesse sentido, olhar o teatro não como atividade cultural, mas como atividade. Pra ele acontecer, o que eu preciso? Preciso de ator, diretor, cenógrafo, figurinista, às vezes eu posso dispensar um ou outro, mas o que eu não posso dispensar? Alguém que consiga as coisas”, aponta Gláucio. A investigação é uma continuidade dos resultados da pesquisa anterior, intitulada Encenação: práticas de ensino e caminhos para a sustentabilidade. O pesquisador trabalha com noções de administração e gestão cultural para observar os eventos teatrais. “Parto do pressuposto de que se você quer realizar um espetáculo teatral, faz parte da natureza dessa realização buscar recursos físico-financeiros, seja num nível mais profissional, seja num núcleo familiar, por exemplo. Isso é do pilar das artes cênicas, mas a gente dentro de uma escola de artes é que insiste em perceber apenas determinados aspectos da atividade das artes cênicas”, afirma Gláucio.
Teatro Gláucio diz que os resultados da pesquisa anterior indicam que “a gente está ensinando artes cênicas de um jeito errado. A gente precisa trazer conteúdos de gestão para o curso de artes cênicas”. O professor afirma que é necessário haver um diálogo entre as faculdades dentro da Ufba, principalmente entre a Escola de Teatro e a Escola de Administração, pois “para o ator ou diretor seria importante que ele já tivesse feito discussões sobre gestão”. “Cursos superiores de interpretação e direção teatral, em geral, estão dentro de Institutos Superiores de Artes, logo, a sua volta, existem outras escolas de artes. O Brasil herdou uma tradição norte-americana e inglesa, de ter um curso de direção e interpretação na universidade. Isso é muito especial e a gente tem que saber aproveitar isso”, indica. Fazer com que o profissional de artes cênicas pense como um agente econômico-político-social é outra preocupação de Gláucio, pois, segundo ele, “historicamente, na mais profunda tradição das artes cênicas, o artista deve possuir um talento para conseguir produzir o que ele faz. O ator e o diretor que saem dessa Escola ainda é muito mais preparado para encontrar alguém que vá empregá-lo, do que batalhar pelo projeto que ele quer fazer. E ele não encontra alguém que vá empregá-lo em Salvador, então vai ter que ir para Rio de Janeiro ou São Paulo. Se eu consigo preparar essa pessoa para pensar como alguém que empreende no lugar onde está, eu consigo mudar a realidade teatral daquele lugar”, conclui Gláucio.
*Estudante de Produção Cultural da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom
agendartecultura.ufba.br Veja a entrevista com o professor de Teatro da Ufba, Gláucio Machado, sobre a pesquisa que aborda o teatro como empreendimento, sobre produção teatral e as principais dificuldades encontradas pelos grupos de teatro.
Foto: Felipe Camilo
Teatro
Pesquisador da Ufba relaciona palhaçaria com tradição indígena Estudo desenvolvido através de intercâmbio dá ênfase a tradição de riso dos Hotxuás, aspecto determinante da cultura Krahô.
Por Vagner Campos*
O Instituto de Humanidades da Universidade Federal da Bahia (Ihac/Ufba), desde sua concepção, se destacou pelo princípio da pluralidade e da diversidade. Nesse contexto, o pesquisador, palhaço e doutor em artes cênicas, Demian Reis, tem trabalhado um projeto que relaciona a palhaçaria com a tradição indígena. O foco do pesquisador se dá na tradição de riso dos Hotxuás, um dos aspectos que caracterizam a cultura Krahô, etnia indígena situada ao norte do estado de Tocantins. Para o estudo dessa tradição, Demian conviveu com um residente da aldeia Manoel Alves, município de Itacajá, Tocantins, Ismael Ahprac. No artigo O riso dos Hotxuás, publicado na Revista do LUME, o pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Ricardo Puccetti, faz uma análise sobre o papel dessa figura, que ultrapassa os limites da interpretação de um personagem, para realizar uma função social que apenas privilegiados podem exercer. Esta função é passada como herança familiar, pois na medida em que um recém-nascido recebe o nome dado por um hotxuá, a criança poderá exercer o papel, podendo na adolescência optar definitivamente pela condição.
Teatro Sempre através de intervenções cômicas, os hotxuás assumem papel relevante na participação do cotidiano em sua comunidade. Deste modo, eles podem interferir nas tarefas das outras pessoas, buscando toda e qualquer oportunidade para fazer as pessoas rirem. A maquiagem é feita com tinturas extraídas do urucum (vermelho), jenipapo (preto) e de pó de giz (branco), cores essas que também são as básicas nas maquiagens do palhaço ocidental. Por tudo isso, “Hotxuá é o palhaço em essência, com sua disponibilidade para o jogo e para o outro, seu prazer é a capacidade de brincar com e para as pessoas”, afirma Puccetti. A maior parte do trabalho de Reis esta no intercâmbio de experiências com Ahprac que, apesar de exercer inúmeras funções em sua aldeia, não deixa de lado a manutenção da tradição Hotxuá. No seu artigo sobre essa convivência, Demian Reis elucida o seu interesse na relação dessa tradição com a palhaçaria, à medida que explica que “aos olhos da nossa cultura ocidental reconhecemos nesta figura, em situação de apresentação cênica, o comportamento equivalente ao nosso palhaço, cuja principal técnica é se colocar como alvo do riso de suas plateias”, afirma. Dentre as consequências da pesquisa, foi criada uma exposição fotográfica Hotxuá e Palhaço: intercâmbios e interações. O material foi coletado a partir da visita-convivência de Reis com Ahprac. Outras fotos foram selecionadas da visita em campo de outro palhaço, Mário Cruz Filho, na mesma aldeia e no mesmo ano. Entre os fotógrafos estão Demian Reis, Felipe Camilo, Tharson Lopes, Antônio Krahô e Marcelo Xooco Krahô. Demian destaca a importância das diferenças culturais para o processo de criação de uma identidade múltipla, que não apague as diferenças,as que as celebrem. Ele tem como expectativa através de sua pesquisa incentivar outras parcerias interculturais e destaca a falta de interesse das políticas culturais para ensinar outras línguas presentes no território nacional. *Estudante de Produção em Comunicação e Cultura da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom
Dança
Grupo de pesquisa desenvolve experimentos que relacionam dança às novas tecnologias Grupo de Pesquisa em Ciberdança atua na Escola de Dança da Ufba (Elétrico) e desenvolve criações coreográficas digitalizadas e interativas.
Por Adriana Santana*
Desenvolver pesquisas que relacionem a dança contemporânea à linguagem das novas tecnologias digitais é o objetivo do Elétrico - Grupo de Pesquisa em Ciberdança, pertencente ao Laboratório de Pesquisa Avançadas do Corpo (Lapac), da Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia (Ufba). A qualidade de suas criações propiciou o Prêmio Public-Fapex 2010, oferecido pela Fundação de Apoio à Pesquisa e à Extensão (Fapex) e, recentemente, o Prêmio de Incentivo dos Salões de Artes Visuais da Bahia, pela Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb). O grupo Elétrico é coordenado pela professora da Escola de Dança da Ufba, Ludmila Pimentel, sendo composto ainda por alunos de graduação, mestrado e professores da Ufba e outras instituições. Ele visa “preencher uma lacuna existente na pesquisa e na graduação da Escola de Dança, inserindo e contextualizando a Escola no ambiente tecnológico e digitalizado em que vivemos. O grupo tem como finalidade a produção teórica, relacionada com questões relativas à cibercultura e ciberdança, e também a produção coreográfica sob forma de vídeos e espetáculos”, aponta Ludmila Pimentel. O trabalho desenvolvido pelo grupo é marcado pela coletividade, como indica a coordenadora, “nossas criações são coletivas, e todos nós podemos resignificar, reeditar e reutilizar materiais,
Dança vídeos, performances, imagens, fotos e programações que tenham sido gerados por algum dos integrantes do grupo. Eu mesma incentivo que façamos isso”, enfatiza. Entre 2009 e 2010, o grupo Elétrico desenvolveu sob coordenação da professora Ludmila Pimentel, a pesquisa Digitalização e Animação do Movimento com o software Lifeforms, no âmbito do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic). “O software Lifeforms nos permite experimentar sem necessitarmos do espaço físico real, nem mesmo de dançarinos reais, apenas com o computador e o software o coreógrafo pode explorar previamente os diversos intentos coreográficos dos bailarinos. Um dos nossos objetivos é experimentar previamente o trabalho dos dançarinos e com grande economia em relação aos custos tradicionais de montagem de espetáculos”, afirma Ludmila.
Fotograma: Videodança Kitcubo
O software Lifeforms foi criado no Canadá por Thecla Schphorst e sua equipe, da Simon Fraser University. Alguns experimentos desenvolvidos pelo grupo utilizam softwares interativos, onde o público “deixa de ser mero espectador, podendo ser o cocriador da obra”, como afirma a estudante recém-formada em licenciatura em dança pela Ufba e membro do grupo Elétrico, Andréia Oliveira. “As ferramentas são inovadoras, mas a construção e labor artístico se mantêm. O fazer artístico é o mesmo, as ferramentas para chegarmos à construção da poética é que são inovadoras”, indica Ludmila Pimentel. As criações do grupo já foram apresentadas em diversos eventos nacionais e internacionais. Sobre o panorama da produção coreográfica tecnológica nos lugares visitados, Andréia Oliveira afirma que “criações em videodança estão se ampliando a cada dia que passa. No Brasil tem crescido o número de eventos que abordam o assunto. Temos como exemplo o respeitado Festival Dança em Foco”. Entre os festivais em que o grupo apresentou trabalhos, estão a I Mostra Internacional de Videodança (Amazônia), Festival Cuerpo Digital (Bolívia), Festival Internacional de Videodanza del Uruguay, Festival Internacional de Videodanza de Buenos Aires (Argentina) e Festival de Videodanza Interconexiones (onde os trabalhos selecionados foram projetados em várias cidades da Alemanha, Espanha e América do Sul).
Dança Uma das integrantes do grupo Elétrico, Andréia Oliveira, recebeu premiações referentes a alguns trabalhos desenvolvidos junto ao grupo. Ela foi uma das bolsistas responsáveis pela pesquisa Digitalização e Animação do Movimento com o software Lifeforms, tendo realizado o plano de trabalho Estudos Coreográficos Digitalizados com o mesmo software. Em 2010, Andréia Oliveira recebeu o Prêmio Public-Fapex 2010 referente a um dos experimentos coreográficos desenvolvidos durante a pesquisa, o Estudo um, primeiro tutorial do software Lifeforms em português. “O prêmio promoveu a visibilidade da pesquisa e das produções do grupo Elétrico e, além de favorecer os diálogos entre a dança e as artes visuais, ocasionou a participação em eventos nacionais e internacionais”, comemora a pesquisadora. O prêmio oferecido pela Fundação de Apoio à Pesquisa e à Extensão (Fapex) se destina a bolsistas, ex-bolsistas, voluntários e ex-voluntários dos Programas Institucionais de Bolsas da Ufba (Pibic, Pibiti e Pibic-Jr) que tenham se destacado. Em dezembro, Andréia Oliveira recebeu o Prêmio Incentivo na terceira da edição dos Salões Regionais de Artes Visuais da Bahia 2011, organizado pela Funceb. A premiação foi direcionada ao trabalho de videodança Experimentos, produto inserido dentro das ações do Elétrico e cuja concepção e edição são de Ludmila Pimentel. Apesar de a criação ter sido coletiva, o edital
Componentes do grupo Elétrico
Foto: Márciío Luís Andrade
Premiações
prevê que apenas o responsável pela inscrição receba o prêmio. Criado em 1992, o projeto dos Salões produz, a cada ano, três exposições diferentes, visando apresentar ao público a diversidade da atual produção baiana em artes visuais e divulgar o trabalho dos artistas. O Prêmio Incentivo ofereceu à Andréia Oliveira um apoio financeiro no valor de R$ 4 mil para, a sua escolha, realizar uma exposição individual ou uma viagem de intercâmbio, estudos ou residência artística. Com informações Fapex.
de
Funceb
e
*Estudante de Produção em Comunicação e Cultura da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom
Dança Samba de roda no litoral norte do estado é tema de pesquisa na Ufba Pesquisa concluiu a primeira fase do projeto que vislumbra dar maior visibilidade a manifestação cultural presente na Bahia.
Por Vagner Campos*
O samba de roda é uma das manifestações culturais mais ricas do estado, recebendo nomes diferentes a depender do local. Em Salvador predomina o samba corrido e as influências urbanas, sendo talvez o estilo mais conhecido no cenário cultural. No entanto, o samba corrido é apenas um dos variados sambas de roda presentes na cultura baiana. No litoral norte da Bahia, o forte mesmo é o samba chula, também chamado samba de viola e samba amarrado, presente na região que abrange Maracangalha, São Francisco do Conde, Terra Nova, Teodoro Sampaio, Saubara, Santiago do Iguape e principalmente Santo Amaro. As chulas são pequenas canções que tratam dos temas da vida, através de pequenos contos, relatam conflitos e as complicações da paixão, além de retratarem aspectos do dia-a-dia e definir regras e alertas para quem precisa ouvir. Os temas cantados estão relacionados ao amor, dando ênfase à visão do homem sobre a mulher, assim como sobre o próprio samba e a atuação da viola, por relacionar uma forte ligação entre os homens que tocam e as mulheres que sambam. Partindo do objetivo de criar um quadro no qual seria mapeada a prática do samba chula, a pesquisa Samba Chula: Mosaicos Mestiços no Corpo que Dança, do grupo de pesquisa Corpo Brincante – Estudos Contemporâneos das Danças Populares, coordenado pela professora doutora, Eloisa Leite Domenici, busca analisar os modos particulares sobre como ocorre e como se estrutura essa prática cultural no estado da Bahia. Segundo a pesquisadora, “o interesse surgiu pelo contato com o samba chula e percebendo que é um estilo menos conhecido e cheio de ricas particularidades expressivas. Ele é mais conhecido na região do Recôncavo, mas encontramos diversos grupos no litoral norte da Bahia”.
Dança A pesquisa se aprofunda nos conhecimentos sobre o samba de viola, identificando o mesmo como a principal forma de manifestação de samba na região. Partindo de seu caráter inovador, o projeto debate sobre as maneiras de ocorrência do samba de roda e de que forma elas se dão, além de suas ligações com o sagrado e com a cultura local, assim como as dificuldades que os grupos encontram para manter suas tradições. Manter as tradições inclusive é uma das maiores dificuldades encontradas pelos grupos de samba do litoral norte. Pressões para mudanças no jeito de fazer o samba por parte da influência da cultura globalizada, bem como forte pressão de igrejas evangélicas para afastarem os fiéis da prática do samba, são apenas alguns dos problemas. Outras peculiaridades importantes na maneira de se fazer o samba, tanto em relação ao ritmo quanto às dinâmicas corporais da dança, são aspectos que também merecem atenção. A professora Eloisa ainda destaca que as maiores dificuldades encontradas “decorreram da distância geográfica das localidades que estudamos. Nossa metodologia de pesquisa parte do convívio com os sujeitos que produzem o samba e isso demanda várias visitas. Muitas vezes as coisas ocorrem de maneira diferente do planejado, pela própria dinâmica das comunidades. Estivemos em localidades variadas e em diferentes situações, de festas públicas a festas restritas, que ocorrem no interior das casas, em
locais remotos. Foram várias viagens com muita poeira, estrada de chão, buracos… É diferente de pesquisar em um laboratório… Mas a riqueza que encontramos é muito grande, compensa o esforço”, relata Eloisa Domenici. O samba de roda da Bahia foi reconhecido como obra prima do patrimônio imaterial da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em 2005. Naquela ocasião, coordenados pelo professor doutor, Carlos Sandroni, uma equipe de pesquisadores realizou um mapeamento em cidades do Recôncavo baiano, que resultou na publicação de um dossiê de candidatura, que descreve o samba de roda, tais como instrumentos, música e coreografia. Esta é a publicação mais recente a respeito do samba de roda da Bahia, a ocorrência do samba de roda em outras regiões não foi ainda estudada, embora ela ocorra. Com caráter mais etnográfico, a primeira etapa da pesquisa Samba Chula: Mosaicos Mestiços no Corpo que Dança, obteve como resultados registro em vídeo de rodas de samba da região e de entrevistas com mestres e sambadores, descrição e análise das principais dinâmicas corporais, além da análise da ocorrência do samba de roda nas localidades supracitadas. Esse material recolhido é de importância fundamental para a próxima fase do projeto, a qual envolverá a articulação dos conhecimentos obtidos com a experimentação cênica.
Dança A professora Eloisa afirmou que os próximos planos para o projeto, “serão publicar os resultados e seguir apoiando esses grupos na medida do possível. Faz parte de nossa atuação tentar contribuir para a sustentabilidade dos grupos. Fizemos contatos deles com a Secretaria Estadual de Cultura e também entregamos a eles os registros em vídeo”, conclui a pesquisadora. *Estudante de Produção em Comunicação e Cultura da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom
agendartecultura.ufba.br
Veja links para os vídeos e o blog da pesquisa Samba Chula: Mosaicos Mestiços no Corpo que Dança, na editoria de dança em nosso site.
Dança Vídeodança em Stop Motion é objeto de pesquisa na Ufba A estudante de mestrado, Luna Dias utilizou a técnica cinematográfica do Stop Motion para possibilitar experimentações de ação do objeto cênico.
Por Ítalo Cerqueira*
Largamente conhecido como uma técnica cinematográfica para montar um longa-metragem de animação com personagens feitos de massinha, o stop motion requer que os objetos de um filme sejam fotografados quadro a quadro, os quais serão, em um momento posterior, editados e montados, para que o resultado dê uma sensação de um movimento fluído. Entretanto, o trabalho em questão não se utilizou de massinhas, mas sim da própria realidade, cujo propósito é o de observar como são as modificações das percepções do corpo circunscrito no mundo ao seu redor, quando neste é acrescido de artefatos culturais. O resultado disto tudo foi uma interessante videodança, desenvolvida pela mestranda da Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Luna Dias, como projeto para elaboração do trabalho de conclusão da disciplina Prática Solísta.
Dança Takatatá
Projeto
Em 2009, Luna Dias despertou seu interesse por trabalhar com videodança, momento em que ela filmou um projeto denominado Takatatá, o qual foi pensando juntamente com Karina Leiro como trabalho final da disciplina Laboratório de Criação II.
Os artefatos culturais são produzidos pelo homem, estes se caracterizam como portadores de informações sobre quem os usa e sobre quem os produziu.
Responsável por elaborar a proposta, baseada, principalmente, em suas inquietações sobre a dança flamenca e do seu levantamento feito por ela sobre o assunto iniciado desde 2005, Luna Dias lembra que Leiro disse que tais inquietações envolvem a questão de como ela pode atender à demanda de desenvolver uma pesquisa em dança “contemporânea” sendo bailarina de danças tradicionais e trazendo no corpo esses códigos dos quais não seria possível ela se dissociar, e como esses códigos poderiam servir de ferramenta para essa pesquisa em dança que ela desenvolveu. De acordo com Luna Dias sua participação na elaboração da videodança “foi, principalmente, na filmagem, onde tive contato direto com a direção de fotografia do vídeo. Por termos atingido um resultado reconhecido após a finalização do vídeo, percebi, em mim, um grande interesse em continuar pesquisando, produzindo e relacionando a dança com a tela”, diz. Foi a partir de então, que ela despertou o desejo de experimentar a dança aplicada à linguagem do vídeo.
Por isso, dois artefatos culturais foram escolhidos para a execução do vídeo: os óculos e o salto alto, cuja escolha se deu por conta destes serem encarados por Luna como prolongamentos do corpo, tal característica se deve ao seu uso direto na estrutura física corporal. Em relação aos óculos, lentes de diferentes cores e graus foram colocadas em frente à câmera, com o intuito de modificar a imagem capturada pelas lentes durante a realização de um movimento. Com o salto alto, foram usadas imagens de pés com e sem o salto em solos de diferentes naturezas, como a grama, areia e cimento. Desta forma, é possível analisar o comportamento corpóreo e como ele consegue se equilibrar ao usar o salto alto.
screenshot da vídeodança Só no sapatinho
Dança Stop motion
Futuro
Técnica cinematográfica, que consiste em fotografar e montar sequências fotográficas de uma determinada cena. São necessários 24 fotogramas por segundo para se criar a ilusão de que o objeto em cena esteja em movimento.
Projetos posteriores na área de videodança estão dentro dos planos da carreira de Luna Dias como dançarina. Ela tem buscado aperfeiçoamento na área com participações em oficinas de vídeo e cinema, com isso ela pretende se familiarizar ainda mais com a linguagem e equipamentos do vídeo.
Luna Dias conta o porquê da escolha desta técnica cinematográfica para compor sua pesquisa em videodança. De acordo com ela: “a técnica do stop motion foi uma escolha, uma maneira de realizar a ideia para a videodança. A escolha dessa técnica se deu pelo fato de possibilitar experimentações de ação do objeto cênico (sapato), de modo que ele tenha o foco das movimentações nas cenas da videodança”. Além disso, Dias revela o quão trabalhoso é produzir um vídeo em stop motion, para ela o trabalho é árduo “tanto para quem está tirando as fotos quanto para quem está na cena. Exige cálculo de distância e controle corporal, pois a movimentação é sempre fragmentada. Além do mais, o vídeo tem 2 minutos e cerca de 700 fotos, porém quando fazemos o que gostamos, o trabalho é prazeroso”, afirma. Tanto Só no Sapatinho quanto Takatatá já participaram de mostras de videodança em diversos estados.
“Recentemente fui selecionada para uma residência artística de videodança em Brasília onde, em conjunto, foi produzido uma videodança no prazo de uma semana de atividade, sob a organização da diretora e dançarina do grupo de dança Margaridas, Laura Virgínia”, conclui. *Estudante de Produção em Comunicação e Cultura da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom
screenshot da vídeodança Só no sapatinho
agendartecultura.ufba.br Veja link para o vídeo da videodança intitulada Só no Sapatinho, na editoria de dança em nosso site.
Dança Grupo X investe no improviso e no acolhimento das diferenças
espetáculo O canto de Cada Um. Foto: Clarisse Miranda
Trabalho desenvolvido pelo grupo visa explorar a criação coreográfica com cantores, dançarinos, atores e artistas especiais nas múltiplas linguagens de performance.
Por Adriana Santana*
Tratar de questões ligadas à acessibilidade e apresentar uma produção artística em torno de processos colaborativos em improvisação, estes são os objetivos do Grupo X de Improvisação em Dança. O coletivo é parte integrante das ações do Grupo de Pesquisa Poética da Diferença, vinculado ao Programa de Pós-Graduação da Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia (PPGDança/Ufba). O trabalho desenvolvido visa explorar a criação coreográfica com cantores, dançarinos, atores e artistas especiais nas múltiplas linguagens de performance.
-O Grupo X de Improvisação em Dança foi fundado em 1998 através de trabalhos de extensão de professores da Escola de Dança. Hoje, o grupo é formado pela professora do Programa de Pós-graduação da Escola de Dança (PPGDança/Ufba), Fátima Daltro, que assume a direção artística, o professor do Programa de Pós-graduação da Escola de Música (PPGMus/Ufba), Ricardo Bordini, pelos mestres em dança (PPGDança/Ufba), Hugo Leonardo e Iara Cerqueira, pelo arteterapeuta e dançarino, Eduardo Oliveira, pelo vídeo maker, Victor Venas, pela professora licenciada em dança, Viviane Fontoura e por estudantes de graduação e de pós-graduação da Ufba. O Grupo de Pesquisa Poética da Diferença está inserido nas políticas de atenção às pessoas com deficiência e referencia seu trabalho na compreensão do corpo como resultado transitório das suas relações com o meio (corpomídia), apto a construir conhecimentos e dialogar com os acontecimentos do mundo. “Refletimos sobre as capacidades que cada corpo apresenta, suas singularidades e competências, nos distanciando da ideia comum e hegemônica do corpo ideal para dança, de que o corpo dessas pessoas são improdutivos e inoperantes”, afirma Fátima Daltro. O dançarino, cadeirante e membro do Grupo X de Improvisação em
Dança Dança desde 1999, Eduardo Oliveira, diz que “foi no trabalho com este grupo que realmente me profissionalizei e desenvolvi o meu potencial criador. Somos um grupo onde pensamos em tudo: coreografia, cenário, figurino, produção, divulgação, escrita de projetos. Com isso temos uma visão muito ampla de todas as etapas do processo criativo, o que eu pude levar para minhas criações fora do Grupo X. Mesmo nos meus trabalhos independentes, há um traço inevitável da estética do grupo”. Ele diz que considera como traço mais importante no trabalho do grupo “a riqueza de possibilidades que são trabalhadas, o acolhimento das diferenças de forma natural, porque é assim mesmo. E isso é uma coisa que levamos para a vida, favorecendo a autonomia, aumento da auto-estima, senso de responsabilidade e também o senso estético”. Intercâmbios O Grupo X de Improvisação em Dança viajou para Portugal em 2004 para apresentar o espetáculo O Canto de Cada Um. O grupo vem realizando ainda, entre 2004 e 2011, o projeto Euphorico, em parceria com o grupo francês Cia Artmacadam. O projeto de intercâmbio é realizado a cada ano alternadamente no Brasil, em Salvador, e na França, na cidade de La Seyne-sur-Mer, com o objetivo de promover trocas culturais e ampliar o campo de ação dos artistas envolvidos no âmbito internacional.
As ações do projeto Euphorico oferecem oficinas, apresentações, ensaios abertos, performances em espaços urbanos e bate-papos, realizadas durante o período de quinze dias consecutivos. “Cada ano e cada projeto é diferente um do outro, mas tendo sempre a improvisação como ponto principal”, reconhece Eduardo Oliveira. A edição deste ano, a oitava versão do projeto, foi realizada em Salvador, sob o título Euphorico: Je t’aime. “Realizamos um estudo investigativo relacionado às relações afetivas, aos encontros, às distâncias, às aproximações e ausências, os je t’aime que cada um traz no corpo”, sintetiza Fátima Daltro. As três oficinas de criação em dança realizadas no Espaço Xisto contaram com a participação de quarenta inscrições, entre professores, estudantes da Escola de Dança e comunidade externa. Segundo Eduardo Oliveira, o grupo tem sido bem recebido por onde passa. “A receptividade sempre é muito boa, o público é acolhedor, atento e curioso sobre o nosso trabalho, sobre a dança no Brasil”, afirma o dançarino. “Os apoios, como aqui no Brasil são difíceis, porém não são inviáveis, há um espaço de acolhimento e de reverberação neste ambiente que o torna acessível”, acrescenta Fátima Daltro. Relação com a comunidade O Grupo X desenvolve oficinas de improvisação destinadas ao público interno e externo à universidade, incluindo estudantes de graduação e mestrado e pessoas com deficiência atendidas pelo Instituto Bahiano
Dança de Reabilitação (IBR), Centro de Prevenção e Reabilitação do Portador de Deficiência (Cepred) e Instituto Pestalozzi da Bahia. As oficinas são realizadas às sextas-feiras, de 13h30 às 15h, seguidas pelo ensaio do Grupo X, que acontece de 15h as 18h. Fátima Daltro aponta que as oficinas visam valorizar os talentos e potencialidades específicas de cada corpo-sujeito e não se pautam em formas discriminatórias de assistencialismo. “Em relação às pessoas encaminhadas pelas instituições, as ações do projeto se voltam para propor oficinas de dança que buscam situá-los no mundo atual, oferecendo possibilidades de construírem conhecimentos em dança a partir de seus interesses e desejos, estimulando-os a construírem diálogos com os mundos que se lhe apresentam”, acrescenta. Com informações do Grupo Improvisação e, Monólogos da Madrugada.
*Estudante de Produção em Comunicação e Cultura da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom
Foto Alessandra Nohvais
Cena do espetáculo Os 3 Audíveis - Ana, Judit e Priscila
Livro e Leitura Game criado na Bahia é inspirado em obra de Jorge Amado Muitas produtoras de games utilizam algumas narrativas inspiradas em filmes e gêneros literários, já que os games são muito aptos para absorver tais gêneros. Esse processo é conhecido como transmídia.
Por Vagner Campos*
Alguns cientistas culturais têm dedicado as suas pesquisas aos estudos dos games. Dentre todas as mídias, eles são hoje os que possuem o ritmo de desenvolvimento mais acelerado em relação aos seus pares. Dessa forma, os games constituem-se, de fato, em um campo que se transforma sem deixar se agarrar em classificações fixas, uma vez que é um campo movido pela inovação tecnológica.
Livro e Leitura Muitas produtoras de games utilizam algumas narrativas inspiradas em filmes e gêneros literários, já que os games são muito aptos para absorver tais gêneros. Esse processo é conhecido como transmídia. No entanto, diferente do cinema, os aspectos mais caracterizadores dos games encontram-se, sem dúvida, na imersão, interatividade e espacialidade navegável que eles propiciam. O jogo foi criado a partir da iniciativa dos produtores Solange Souza Lima e Rafael Raña e dos game designers Luiz Adolfo Andrade, Paolo Bruni e Yupanqui Muñoz, que desenvolveram o game com sete jogos baseados no livro de Jorge Amado, Capitães da Areia, com base no projeto Capitães da Areia: Projeto de Comunicação Transmídia com ênfase em jogos eletrônicos. Aprovado pelo Fazcultura e patrocinado pela operadora de telefonia Vivo por meio do programa Vivo Lab, o projeto é composto por sete jogos sendo um de realidade alternativa, um jogo social no Facebook e cinco jogos casuais que podem ser jogados no site do projeto. Alinhado com a tendência dos jogos sociais, o projeto ainda possui um jogo com o mesmo nome do livro, Capitães da Areia, ambientado inteiramente no Facebook. Nesse jogo, o jogador faz parte de uma gangue em Salvador que tem como objetivo sobreviver aos problemas da cidade. O jogo é muito bem desenhado e o jogador pode interpretar quatro tipos de personagem, podendo escolher inclusive a aparência do mesmo. As classes possíveis estão bem caracterizadas com o cenário soteropolitano e trazem
características próprias em cada um. Os coitados são os dissimulados que se fazem de bobo, os sabidos são os intelectuais, já os malandros sobrevivem a partir da engenhosidade, e por fim os focados, que são batalhadores pautados no trabalho duro. Segundo Luiz Adolfo, “o Brasil ainda está num cenário iniciante na produção de games, ainda assim, algumas inovações como o desenvolvedor de social games no Facebook, tem ajudado bastante na criação de novos games, fora das plataformas console, que exigem gastos exorbitantes para a realidade brasileira”. Ainda segundo o professor da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e doutorando em Comunicação e Cultura Contempoâneas da Universidade Federal da Bahia (Ufba), o custo desse tipo de jogo permeia os 100 mil reais, um gasto baixo quando analisado o setor. O desenvolvedor de games afirma ainda que o principal objetivo do projeto é “conscientizar as empresas e escolas de que vale a
Livro e Leitura pena investir nesse tipo de mídia. É necessário que as empresas entendam claramente como suas marcas estarão representadas e às escolas que esse é um ramo de pesquisa que pode trazer muitos frutos, principalmente em função do processo de gameficação que tem sido fontes de muitas investigações e correlações com nossa sociedade”, concluiu o professor. *Estudante de Produção em Comunicação e Cultura da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom
Livro e Leitura
agendartecultura.ufba.br Para conhecer e jogar os games acesse o site: www.jogoscapitaesdaareia. com.br.
Música Muito além do clique: professor utiliza etnografia virtual para analisar vídeos na internet Pesquisa pioneira no Brasil é resultado da tese de doutorado na Ufba do professor Luciano Caroso, intitulada Etnomusicologia no ciberespaço: processos criativos e de disseminação em videoclipes amadores, ele trabalhou com processos criativos e de disseminação em videoclipes amadores postados no You Tube.
Por Marília Moura*
Em um evento oficial uma conhecida cantora brasileira canta o hino nacional de um modo inusitado. O vídeo que registrou o fato é postado no You Tube, milhares de pessoas o assistem e em pouco tempo ele se torna um dos mais acessados desse site. Depois começam a aparecer diversas versões desse vídeo, as pessoas modificam a música de fundo, utilizam imagens para ilustrar a versão irreverente do hino nacional, outros, inspirados pelo vídeo, cantam também suas próprias versões. Este é apenas um exemplo de como acontece a disseminação de vídeos na internet, no entanto, quem ao assistir a um desses vídeos virais imaginou que eles poderiam ser tema de uma tese de doutorado? O professor do Departamento de Letras e Artes da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), Luciano Caroso, visualizou a possibilidade de fazer um estudo acadêmico sobre essas produções, em sua tese de doutorado da Universidade Federal da Bahia (Ufba), intitulada Etnomusicologia no ciberespaço: processos criativos e de disseminação em videoclipes amadores, e trabalhou com videoclipes amadores postados no You Tube. Embora tenha pesquisado em outros sites do gênero, o You Tube foi seu grande campo de pesquisa. O trabalho resultante de sua tese de doutorado é uma iniciativa inédita no âmbito da etnomusicologia brasileira, pois, em sua revisão bibliográfica o professor constatou que não havia estudos etnomusicológicos feitos no Brasil sobre práticas musicais no ciberespaço.
Música Prof. Luciano Cardoso. Foto: Arquivo Pessoal
Percurso
Música e Antropologia Luciano Caroso explica que a etnomusicologia seria uma interface entre o estudo da música – Musicologia – e o estudo do homem – Antropologia. Essa linha da ciência musicológica surgiu no fim do século XIX, na Alemanha, e depois chegou aos demais países do mundo ocidental. Os Estados Unidos se tornaram uma grande força geradora de conhecimento nessa área. No Brasil, a etnomusicologia é uma disciplina em nível de pós-graduação que recentemente vem sendo incorporada à grade curricular da graduação. No curso de licenciatura em música da Uefs, por exemplo, o professor Luciano leciona a disciplina Elementos de Etnomusicologia. Sobre a etnomusicologia no ciberespaço, o professor declara que ela pode ser entendida como “o olhar etnomusicológico para as práticas musicais ou audiovisuais e todo seu contexto no ciberespaço”.
A tese de doutorado sobre etnomusicologia no ciberespaço foi iniciada e concluída na Universidade Federal da Bahia (Ufba), no entanto, essa não era a temática inicial com a qual Luciano Caroso pretendia trabalhar. Ele iniciou seu doutorado com a intenção de estudar a área de musicologia histórica, observando processos criativos e de disseminação num contexto que pode ser considerado como o início da música popular brasileira, entre a segunda metade do século XIX e início do século XX. Embora se trate da mesma questão (processos criativos e de disseminação), o contexto da pesquisa passou por uma grande alteração. Para o professor, essa mudança pode ser explicada por seu interesse por assuntos relacionados à internet, “fui um dos primeiros alunos da Ufba a ter uma página na internet, sempre tive uma relação muito próxima com a informática e a internet. Pensei em unir esse gosto pessoal com a minha produção científica”, afirmou. Após participar de um seminário, no qual falou sobre a relação entre música e internet, uma professora e alguns colegas sugeriram que ele escrevesse um trabalho sobre o tema. Ele escreveu, submeteu o trabalho a um congresso internacional e foi apresentá-lo na Espanha. “Percebi que havia um interesse fora do normal, vi que o tema tinha expressividade na Espanha. Com o tempo fui vendo que era algo realmente interessante e importante”, declarou o professor. O trabalho de pesquisa iniciado em 2007 foi concluído em agosto de 2010.
Música Processo Metodológico Na construção da tese, a etnografia virtual foi utilizada para analisar vídeos postados no You Tube. Caroso ressalta que a etnomusicologia se apropria de alguns conceitos e processos metodológicos da antropologia, a exemplo da etnografia. No caso da pesquisa do professor, foi empregada a etnografia virtual, pois, praticamente todo o trabalho de análise dos vídeos foi feito basicamente na frente do computador, com exceção de alguns encontros presenciais com algumas pessoas com as quais o autor da tese estava se comunicando para desenvolver o estudo. Por se tratar de uma iniciativa inédita no âmbito da pesquisa acadêmica em etnomusicologia no Brasil, o professor explica que teve de realizar uma revisão bibliográfica que vai além da musicologia. “A antropologia e a comunicação social pensam a questão da cibercultura desde a década de 1970, mas isso só começa a ser preocupação da etnomusicologia a partir da metade da década de 1990”, destaca. Caroso analisou dois tipos de prática no You Tube, a primeira é a que ele denominou de videofunk, na qual o usuário do site agrega batidas eletrônicas do funk carioca a vídeos bizarros e engraçados que fizeram sucesso na internet. A outra prática analisada diz respeito a utilização de fotos, gifs animados, ilustrações e outros elementos, na composição de um videoclipe amador, a partir de músicas do cancioneiro popular. Em ambos os tipos de práticas, o professor observou principalmente
os processos criativos (prática que ele denomina de samplertropofagia) e de disseminação (processo conhecido como viralidade). Caroso explica os processos analisados citando o vídeo de Jeremias, “O que acontece é o seguinte: Jeremias é preso, uma emissora filma a sua prisão e registra frases hilárias ditas por ele. Isso é postado no You Tube e se torna um vídeo famoso, depois um grupo de DJs transforma esse vídeo em um produto audiovisual, o Funk do Jeremias”. Nesse produto audiovisual Luciano Caroso destaca a “samplertropofagia” (neologismo resultante da junção do termo sampler – dispositivo que grava e reproduz amostras de som – e da palavra antropofagia, numa referência à bagagem artística e cultural do Movimento Antropofágico de Oswald de Andrade e a todo tipo de apropriação no contexto dos vídeos analisados), uma espécie de reciclagem digital ou remixagem. O professor afirma que a samplertropofagia é uma característica do comportamento contemporâneo, “as pessoas pegam tudo, reformulam e colocam na internet novamente, como um novo produto”. A outra característica observada, a viralidade, diz respeito aos modos de propagação desses vídeos nos quais a música desempenha um papel importante. Caroso observou alguns tipos de repercussão causada pelos vídeos virais (vídeos que ficam famosos por sua grande quantidade de acessos). “Fiz o monitoramento do vídeo de Vanusa, por exemplo, encontrei 85 cópias que foram
Música reproduzidas e 67 tipos de apropriações, como montagens, paródias, como a de um sujeito cantando Parabéns para você como se fosse Vanusa e um idoso que canta o hino nacional de maneira errada e afirma que foi ele que ensinou a cantora. No entanto, esses números representam apenas uma parte do que podia ser encontrado no You Tube, eu não tive (e nem seria possível) a intenção de cobrir a totalidade. A criatividade das pessoas vai a mil. Cria-se todo um contexto criativo e de disseminação da informação”, acrescenta o professor. Outros aspectos que não passaram despercebidos na tese de Caroso foram as relações de músicos e artistas com as novas formas de subsistir a partir do uso das novas tecnologias. O professor percebeu que por se tratar de uma interface que permite grande repercussão, o You Tube gera oportunidades de contatos e trabalhos para artistas de diversos gêneros, desde os DJs do grupo Furagato 5000, que fazem funks para diversos vídeos famosos no You Tube, até Joe Penna, o brasileiro conhecido como MysteryGuitarMan, que na época em que foi entrevistado por Caroso, afirmou que ganhava até 120 mil dólares pela utilização de alguma marca em seus vídeos. Por exemplo, se em um de seus vídeos aparece a marca de determinado produto, ele ganhava por isso. Joe Penna também ganha do Youtube por cliques dados na publicidade vinculada a seus vídeos. Para o professor, trata-se de uma geração de músicos e artistas que se comportam de uma maneira diferente, “a música muda, o
relacionamento com o público muda, há uma interatividade muito maior com o público”, ressalta. Caroso observou que existe um perfil de bandas e artistas que subsistem através dos meios digitais: “jovens, inseridos nessa cultura, gente que produz seu material independente, que não tem necessariamente, a princípio, vínculo com uma gravadora ou com o mercado fonográfico tradicional e que dissemina seu trabalho através da internet”, descreve. Além da internet Luciano Caroso observou que a importância da apropriação tecnológica consiste no modo como esse processo acontece. As pessoas se apropriam dos dispositivos e criam conteúdos, mas para além da música e da comunicação, tal apropriação também gera mudanças comportamentais nos indivíduos, pois, para ele se trata de algo “que está se incorporando fortemente à cultura contemporânea”, observa. Atualmente, Caroso trabalha com uma rede social de compositores chamada Clube Caiubí de Compositores. *Estudante de Produção em Comunicação e Cultura da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom
agendartecultura.ufba.br
Veja o link para a tese de doutorado e o endereço do site do professor Caroso em nosso site
Música Projeto de Musicalização Infantil da Ufba promove o desenvolvimento cognitivo de crianças O projeto atende crianças entre idade de 0 a 6 anos. O objetivo é promover a transmissão de conhecimentos musicais que envolve não somente a criança, mas também toda sua família.
Por Ítalo Cerqueira*
Você sabia que na Universidade Federal da Bahia (Ufba) existe um projeto que permite o desenvolvimento musical de crianças? Este projeto de extensão universitária é conhecido como Musicalização Infantil, cujo objetivo é o de promover a transmissão de conhecimentos musicais que envolvem não somente a criança, mas também toda sua família. Na Escola da Música da Ufba (Emus/Ufba), Canela, os pequenos irão, através das atividades musicais, desenvolver sua percepção musical por meio do canto, do movimento, criação, improvisação e até execução musical. História A Emus já oferece cursos de extensão desde que a escola foi fundada. A doutoranda Angelita Broock, atual coordenadora do projeto, lembra que Alda Oliveira já dizia que o propósito dos cursos básicos é oferecer um atendimento de cunho musical para a população, o qual possibilitará a aplicação de técnicas e pesquisas dos professores e alunos de graduação e pós-graduação, além de preparar alunos que tenham potencial de ingressar nos cursos universitários de música. “Desde a criação do curso de licenciatura em música, no início sob a supervisão do professor Ernest Widmer, os alunos da graduação são envolvidos diretamente nos cursos de extensão, através da prática de ensino. Ou seja, além de proporcionar o ensino de música à comunidade soteropolitana, os cursos de extensão visam o aperfeiçoamento da prática de ensino dos licenciados em música, articulando diretamente o ensino e a extensão, além criar um espaço para a prática e aplicação de pesquisas na área de música”, rememora Angelita. Surgido na década de 60, o curso já se configura como um dos mais tradicionais da universidade. No seu início, o foco estava voltado exclusivamente para crianças de 05 e 06 anos, entretanto, no ano de 2006, a faixa de idade foi expandida de 0 a 06 anos. Angelita Broock explicou o
Música porquê da ampliação da faixa etária. Em Curitiba, ela já desenvolvia um trabalho de musicalização com bebês na Universidade Federal do Paraná, em sua mudança para Salvador, no ano de 2006, ela sentiu que na Universidade Federal da Bahia precisava de tal prática com músicas direcionadas para bebês, assim ela sugeriu que fosse criado um projeto de extensão para Escola de Música (Emus).
cantigas de rodas, canções de ninar, rimas, parlendas (versos acompanhados por algum movimento corporal), brincos, cantigas do folclore, além de músicas instrumentais e eruditas das mais diversas partes do planeta. É claro que as crianças dispõem, para realização das atividades, instrumentos de percussão, como: caxixis, ovinhos de plásticos, pandeirinhos, metalofones, maracás.
Em seguida, “fui acolhida pela professora Dr.ª Leila Dias, que inicialmente coordenava o projeto. Mais tarde, em 2008, passei a coordenar o projeto e juntamos o curso de bebês com o curso de musicalização infantil já existente. Sendo assim, o projeto passou a atender crianças de 0 a 06 anos”, explica Broock.
As aulas são diferenciadas de acordo com a idade das crianças. Até 03 anos de idade, elas são acompanhadas por um adulto e suas aulas duram 45 minutos. Com 03 e até completar 04 anos, a criança dispõe de maior independência, as aulas são de 1 hora de duração e o adulto responsável só participa nos 15 minutos finais. Com 04 e 06 anos completos, as aulas são de 1 hora e com uma aula aberta ao público durante o semestre, para que os responsáveis tenham a oportunidade de acompanhar o desenvolvimento de seus filhos.
As aulas Seguindo métodos e metodologia baseados na educação musical, as aulas têm um padrão estabelecido, no qual o momento inicial e o de despedida são marcados por canções. Quando as crianças estão com seus pais, ou algum acompanhante, há momentos direcionados e livres, estes últimos têm o objetivo de promover a interação e socialização entre pais e filhos. Nos instantes finais sempre há execução de exercícios de relaxamento. O repertório utilizado é bastante variado e a seleção sempre está de acordo com o objetivo que cada atividade é direcionada, desta forma são utilizadas músicas de
Angelita comenta que os pais relatam o comportamento das crianças em seu ambiente familiar e isto é atribuído às aulas de música, “podemos citar alguns diretamente relacionados às aulas, como cantar o repertório utilizado em sala, realizar as atividades com os materiais que possuem em casa e até mesmo, crianças que imitam a professora, realizando atividades com brinquedos ou outras crianças. Os pais identificam os conceitos musicais trabalhados nas aulas, além de comportamentos extra-
Música
Musicalização no Hospital Uma vez a cada mês, os professores integrantes do Musicalização Infantil promovem o Musicalização no Hospital, um projeto que surgiu em 2009 em parceria com a Emus e o Hospital Universitário Professor Edgar Santos (HUPES). O trabalho é voltado para crianças que estão internadas na ala infantil do hospital. Todos reunidos na enfermaria, eles ouvem histórias musicadas pelos professores e são estimulados a participar da dinâmica. “Percebemos que as crianças ficam felizes ao final de cada história. A maior resposta é quando as crianças perguntam quando voltaremos ao hospital”, conta Broock. O grupo mantém um repertório da apresentação não somente de músicas infantis, mas, de acordo com a coordenadora, “neste trabalho sempre nos preocupamos em como as crianças poderão participar de cada música executada, ou seja, através de palmas, movimentos corporais, e até mesmo, cantando junto com a gente”, frisa. Angelita Broock ainda conta como é participar de um grupo que busca um desenvolvimento social e cognitivo de crianças, o Canela Fina, além do
além do Musicalização Infantil. “Este trabalho me dá um retorno pessoal muito significativo. Realmente gosto muito de fazer o que faço e sinto muito prazer ao realizar este trabalho. O abraço de uma criança ao final de uma aula ou de um show, e o brilho no olhar dos pais e das crianças é realmente impagável. É uma troca de energia muito intensa e renovadora. Dividir isso com meus colegas torna tudo ainda mais especial. Acreditamos que estamos plantando muitas sementinhas e que as crianças poderão colher seus próprios frutos”, conclui. Grupo de Professores do Projeto Musicalização Infantil
Foto: Acervo
musicais, como socialização, atenção, entre outros. Além do retorno dos pais, muitos destes comportamentos são visíveis nas aulas, e os professores procuram trabalhar as individualidades e desenvolvimento musical através do trabalho em grupo”, enfatiza.
*Estudante de Produção em Comunicação e Cultura da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom
Música Aspectos pedagógicos para o ensino da composição musical é tema de grupo de pesquisa da Emus O grupo de pesquisa da Escola de Música da Universidade Federal da Bahia (Emus-Ufba) Aspectos Pedagógicos e Metodológicos para o Ensino da Composição Musical em Nível Superior, criado pelo professor Dr. Wellington Gomes da Silva, propõe transformar as problemáticas pedagógicas e metodológicas da graduação em música.
Por Itamar Ferreira*
Aspectos Pedagógicos e Metodológicos para o Ensino da Composição Musical em Nível Superior é um grupo de pesquisa da Escola de Música (Emus) da Universidade Federal da Bahia (Ufba). Segundo o criador do grupo e professor, Wellington Gomes, dois motivos foram essenciais para a iniciativa, a necessidade de se abrir um grupo de pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Música (PPGMUS/Ufba) relacionando a orientação do professor e a carência desse tipo de abordagem na literatura da área. Gomes possui uma experiência de praticamente vinte anos como docente em composição na Emus. O grupo se dedica especificamente a investigar os aspectos pedagógicos e metodológicos para o ensino da composição musical em nível superior. Para tanto, observa a progressão e interação entre vertentes estratégicas que podem auxiliar o professor na condução do ensino, bem como na compreensão do processo de aprendizagem do aluno, elencando as problemáticas musicais e extra-musicais inerentes a um curso desta natureza. “O que nos interessa, em primeira instância, é a postura e o planejamento do professor diante das problemáticas surgidas um curso de graduação em composição envolvendo a compreensão do potencial e capacidade do aluno em seus diferentes níveis, bem como a filosofia e planejamento de conteúdo baseados nesses níveis”, explica Gomes. Um dos resultados das pesquisas desenvolvidas pelo grupo é o artigo Duas vertentes estratégicas no ensino da Composição Musical em nível superior, publicado nos Anais do XX Congresso Anual da Associação Brasileira de Educação Musical (ABEM), realizado pela Associação Brasileira de Educação Musical, em 2011, em Vitória, Espírito Santo.
Música A proposta do artigo se constitui em um estudo entre duas vertentes estratégicas, uma que lida com os aspectos da expressão poética e outra relacionada às questões técnico-analíticas, que auxiliam o professor na condução do ensino da composição musical, em nível superior, bem como na compreensão do processo de aprendizagem do aluno. Para esse estudo, será desenvolvida uma comparação das problemáticas metodológicas do grupo com os trabalhos da professora de educação musical, teatro e dança na Oakland University, Jackie Wiggins, do professor de educação musical e tecnologia Northwestern University, Peter Webster, do professor de Música e educação musical na Aberdeen University, Jonathan Stefhens e a professora de Música na Arizona State University, Sandra Stauffer, relacionados ao ensino da composição. “Atualmente, há um bom número de cursos superiores em composição no Brasil, assim como a necessidade de se refletir sobre uma filosofia de ensino baseada nas condições contemporâneas, observando os novos meios e sistemas provenientes da nova ambiência tecnológica surgida nos últimos anos”, acrescenta Gomes. Além professor, Dr. Wellington Gomes da Silva, o grupo conta com a participação do pesquisador e professor, Dr. Paulo Costa Lima e dos estudantes Luiz Pereira de Moraes Filho, doutorando, Daniel Escudeiro, mestrando, do Programa de Pós-Graduação em Música da Ufba. Os integrantes
deste projeto já vêm desenvolvendo pesquisas na área de composição, com artigos editados, livros, comunicações e palestras, bem como uma grande experiência na área artística da composição. Em breve, o doutorando Cleisson de Castro Melo e os mestrandos Emanuel Lima Cordeiro e Ricardo Augusto Moreira Alves irão ingressar no grupo. Wellington Gomes. Professor e Pesquisador do Grupo
Linhas de Pesquisa do grupo Dentre os objetivos gerais do grupo, estão investigar: a postura e o planejamento do professor diante das problemáticas surgidas, envolvendo a compreensão do potencial e capacidade do aluno em seus diferentes níveis; a filosofia e planejamento de conteúdo como vertentes estratégicas que podem auxiliar o professor na condução do ensino; a compreensão do processo de aprendizagem do aluno e as problemáticas inerentes a um curso desta natureza. *Estudante de Produção em Comunicação e Cultura da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom
Patrimônio Pesquisa e Manejo de Sítios Arqueológicos é resultado de parceria entre Ufba e Ipac Primeiro projeto no qual um órgão do Estado é parceiro da Ufba.
Por Marília Moura*
O Programa de Pesquisa e Manejo de Sítios de Arte Rupestre da Chapada Diamantina foi iniciado em 2010, pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) em parceria com a Universidade Federal da Bahia (Ufba). O trabalho de pesquisa e mapeamento dos sítios é coordenado pelo professor do departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FFCH), Carlos Etchevarne. Este é o primeiro projeto no qual um órgão do Estado é parceiro da Ufba com o intuito de trabalhar a temática dos sítios arqueológicos. O trabalho realizado resultou na elaboração de roteiros de visitação que incluem sítios rupestres e outros bens patrimoniais. Movido pelo objetivo de promover o desenvolvimento sustentável das localidades envolvidas através do reconhecimento e valorização do patrimônio cultural da região, o Programa de Pesquisa e Manejo de Sítios Arqueológicos foi realizado em três etapas. Inicialmente foi feita a identificação dos sítios, buscando conhecer o estilo gráfico e o nível de conservação das pinturas rupestres e verificando a possibilidade de inclusão no roteiro turístico da região. Em seguida, a equipe do Programa iniciou a identificação de lideranças locais a fim de estabelecer parcerias que viabilizassem ações para transformar a percepção das comunidades sobre esse patrimônio. Por fim, foi elaborado um planejamento para dinamizar a economia local, fazendo com que os Circuitos Arqueológicos operem de modo sustentável e sejam incluídos na rota do turismo cultural na Bahia.
Música Patrim ônio Exposição Circuitos Arqueológicos Dessas atividades de educação patrimonial resultou a exposição Circuitos Arqueológicos, que apresenta o resultado de 15 meses de trabalho das equipes da Ufba e do Ipac. O acervo da mostra é formado por fotos dos participantes da oficina de fotografia, objetos conservados na oficina de conservação de objetos antigos, painéis com fotos dos bens que integram os circuitos, como pinturas rupestres e exemplares arquitetônicos dos municípios, além dos roteiros turísticos que foram elaborados. Durante a visitação, também é possível conferir além dos vídeos sobre trabalhos arqueológicos, os vídeos sobre a Chapada Diamantina (cedidos pelo Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia - Irdeb) e os vídeos produzidos pelo Ipac. Circuitos
rupestres, o visitante pode passar por um povoado com arquitetura do século XIX, por uma igreja do período da mineração, uma cachoeira ou um alambique tradicional”, declarou o arqueólogo Carlos Etchevarne. Construção O professor e coordenador do Programa explicou que a elaboração dos circuitos envolveu pessoas do grupo de pesquisa Bahia Arqueológica, registrado no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), estudantes de graduação da Ufba e da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), que participaram das visitas de identificação e caracterização, assim como das aulas de educação patrimonial que o grupo realiza permanentemente nas comunidades. Em relação a esse intercâmbio local, Etchevarne declarou que “um dos princípios deste trabalho é o envolvimento dos membros das comunidades em todas as etapas do Programa. Nada foi realizado sem a intervenção deles”, afirmou. Para alcançar essa meta foram realizados seminários intensivos de capacitação, visitas de experiência de campo, entre outras ações que visavam formar agentes patrimoniais.
Foram mapeados 57 sítios e desenvolvidos roteiros de visitação em seis municípios da Chapada Diamantina: Lençóis, Palmeiras, Iraquara, Wagner, Seabra e Morro do Chapéu. Em cada cidade foi elaborado um circuito de visitação, com exceção de Morro do Chapéu, que possui dois roteiros. Embora o foco do Programa seja a identificação e preservação do patrimônio arqueológico, os circuitos incluem atributos naturais, culturais e arquitetônicos desses lugares, identificados através de um levantamento dos bens da região. “Nos circuitos foram considerados elementos que pudessem enriquecer a visita, A implementação dos sítios ainda que o objetivo principal seja arqueológicos à rota turística conhecer um sítio com pinturas acontece por meio da análise de seu
Música Patrim ônio potencial turístico, são considerados fatores como seu grau de conservação, a acessibilidade e a segurança. Outros elementos relevantes são “as características dos painéis de pinturas rupestres enquanto motivo de interesse, ou seja, grau de impacto visual, informações arqueológicas inferidas, dimensões, entre outros”, destacou o professor. O último passo do processo de elaboração dos circuitos é o estudo das vias de comunicação com outros locais que sejam interessantes do ponto de vista natural, histórico, religioso e gastronômico e a verificação das possibilidades de reuni-los em um único itinerário. Segundo Carlos Etchevarne, durante esse processo o principal desafio é “sensibilizar o staff administrativo municipal e convencê-los que conservar, pesquisar e bem gerir os sítios arqueológicos de pinturas e gravuras é importante para o município por várias razões, incluindo as econômicas”. O professor ainda destaca que essa parceria entre a Ufba e Ipac é “um passo a frente para valorização dos sítios arqueológicos, não somente como documentos históricos das populações anteriores à chegada dos portugueses, mas também para a autoestima dos grupos contemporâneos por se descobrirem habitantes de um espaço com um passado histórico digno e particular. Afinal as pinturas rupestres são códigos gráficos de grande difusão e que serviam muito eficazmente para as populações se comunicarem entre si”.
Conhecimento A idade das pinturas rupestres é uma das habituais perguntas feitas pelos visitantes dos sítios arqueológicos. No entanto, Etchevarne esclarece que datar essas pinturas é uma atividade difícil, pelo fato de elas serem, em sua maioria, feitas de pigmentos minerais, materiais que ainda hoje não são datáveis. Segundo ele, para estimar o período de criação das pinturas é necessário escavar nos locais com pinturas, onde isso é possível, para obter materiais datáveis como o carvão, por exemplo. No município de Morro do Chapéu, na Toca da Figura, a equipe do Programa encontrou, durante uma escavação, uma fogueira com blocos de hematitas usadas para produzir tinta. “Como o painel tem vários estilos gráficos, temos que efetuar análises químicas entre o bloco de hematita e as pinturas para saber a qual delas o bloco corresponde. A professora Conceição Lage da Universidade Federal do Piauí (UFPI), virá com um equipamento especial que faz leitura química in loco”, explicou o professor. Educar para preservar O Programa de Pesquisa e Manejo de Sítios de Arte Rupestre buscou envolver os membros das comunidades que fazem parte dos Circuitos Arqueológicos em todas as fases do processo. Segundo a coordenadora de ações educativas do Ipac, Ednalva Queiroz, a ação preservadora do Estado deve ter caráter formador, orientador e regulador e a ação
Música Patrim ônio educativa deve ser contínua, permanente e voltada para a comunidade. Desse modo, seria possível disseminar a ideia de que a preservação do patrimônio também é responsabilidade dos cidadãos. As atividades de educação patrimonial desenvolvidas no Programa visavam formar agentes patrimoniais e multiplicadores da noção de preservação. Por isso, foram realizadas ações de mobilização e sensibilização como palestras, oficina informativa sobre arqueologia e pintura rupestre, oficina de conservação curativa de objetos e Papéis, entre outras ações. Próximos passos – Segundo o professor Etchevarne, as próximas ações do Programa de Pesquisa e Manejo de Sítios de Arte Rupestre são as de implementação dos circuitos. Serão desenvolvidas ações para criar as condições físicas de visitação como a sinalização dos locais que estão inclusos no roteiro, melhoramento da circulação, criação de centro de acolhimento, preparação de guias para atuar nas rotas, entre outros aspectos. Por enquanto, apenas o circuito de Lençóis, na Serra das Paridas, está razoavelmente equipado e já pode ser visitado. *Estudante de Produção em Comunicação e Cultura da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom Foto: Acervo IPAC
Foto: Acervo IPAC
Foto: Acervo IPAC
Música Patrim ônio Núcleo de Pesquisa dos Ex-votos fará pesquisa no exterior
Foto: Genivalda Cândido
O grupo já visitou e mapeou lugares como os santuários de Círio de Nazaré, Candeias, Iguape e de São Lázaro.
Por Ítalo Cerqueira*
De origem milenar, o ex-voto é uma tradição baseada no oferecimento de pinturas, estatuetas ou diversos objetos como forma de agradecimento por um pedido atendido. A oferta é entregue em um local que seja consagrado para o padroeiro que concedeu a graça. Para o coordenador do Núcleo de Pesquisa dos Ex-votos (NPE), José Cláudio de Oliveira, o projeto é tratado “sob uma perspectiva folkcomunicacional, e é estudado como mídia de uma cultura popular pelo Núcleo, no sentido de que tal tradição desenvolve um processo comunicacional nos espaços onde a tradição se manifesta: salas de milagres, cemitérios e cruzeiros”, destaca o professor. O professor José Cláudio, disse que seu interesse pelo tema começou no ano de 1990, com os estudos dos ex-votos do Bomfim, em seguida no mestrado, com os ex-votos em Bom Jesus da Lapa, e por fim, em 2006, pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com os Ex-votos do Brasil. O grupo já visitou e mapeou lugares como os santuários de Círio de Nazaré, Candeias, Iguape e de São Lázaro. Sobre a identificação e mapeamento o professor explica que “é feita nas salas de milagres e nos museus de
Música Patrim ônio
Em breve estará on-line, pelo portal da Universidade Federal da Bahia (Ufba), o Museu Digital dos Ex-votos (MDE), cuja finalidade será a de ser um repositório de todo material produzido pelo grupo, assim toda população poderá ter acesso a imagens, vídeos e textos em PDF que ao longo do projeto foram produzidos e, a partir de então, poderão ser acessados e compartilhados por todos. O coordenador do Núcleo de Pesquisa dos Ex-votos, José Cláudio de Oliveira, antecipa que ainda nesse mês, será iniciada uma nova etapa, o Projeto Ex-votos das Américas, “estaremos nos EUA, México, Nicarágua, Guatemala, El Salvador, Costa Rica e Porto Rico, mapeando lugares que possuem ex-votos com a mesma metodologia trabalhada na etapa Brasil”. O professor José Cláudio de Oliveira explica os planos para o grupo: “O Ex-votos da Américas é o futuro. Iniciamos a parte teórica e bibliográfica, pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC-Ufba).
Aguardamos o aval do CNPq para iniciarmos as viagens e o Banco de Dados, o que fomentará mais ainda o MDE. A perspectiva da pesquisa é para 4 anos a partir de dezembro próximo. Pretende-se também o incremento do MDE, do NPE e da articulação com a extensão, ou seja, continuidade da Inclusão Social e Digital dos moradores e trabalhadores circunvizinhos a santuários, inclusive no exterior”, ressalta o professor.
*Estudante de Produção em Comunicação e Cultura da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom
Foto: Genivalda Cândido
forma iconográfica, gramatical, artística e tipologicamente, já o mapeamento é feito através da ajuda de um GPS. Toda documentação é digital”. É válido ressaltar que além de todo este trabalho de identificação e mapeamento, o grupo também realiza a inclusão social e capacitação digital para os moradores circunvizinhos a 12 santuários do Brasil, ou seja, o projeto prevê um intercâmbio de conhecimentos entre o grupo e as comunidades visitadas, proposta que enriquece ainda mais a experiência.
Patrimônio
Centro de pesquisa baiano alia tecnologia a patrimônio histórico Tour virtual da cidade de Cachoeira e Website do acervo de Rio de Contas são algumas das pesquisas desenvolvidas no Laboratório de Computação Gráfica Aplicada à Arquitetura e ao Desenho (LCAD).
Por Vagner Campos*
O Laboratório de Computação Gráfica Aplicada à Arquitetura e ao Desenho (LCAD), centro de pesquisas que integra o Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPG-AU) da Universidade Federal da Bahia (Ufba). Foi criado em 1989 e efetivamente implantado em 1992, com o objetivo de introduzir e difundir as tecnologias da computação gráfica aplicada e capacitar-se como centro de pesquisa. Desde então atua na pesquisa, extensão, ensino de graduação e pós-graduação, constituindo-se como um dos primeiros laboratórios implantados nas escolas brasileiras de arquitetura. Um dos aspectos mais importantes para a manutenção da cultura de um povo está na conservação do patrimônio arquitetônico local. Essa não é uma tarefa fácil, principalmente quando consideramos a ação do tempo e do próprio homem. No entanto, a tecnologia tem se mostrado uma grande aliada da manutenção do patrimônio histórico. Se até recentemente as tecnologias disponíveis para documentação de centros históricos das cidades, eram o cadastramento através do registro em croquis ou através de fotografias aéreas e terrestres, novas técnicas têm surgido, se apropriando das mais antigas e, ao mesmo tempo, acrescentando fatores originais. Centros de pesquisa especializados também são cada vez mais frequentes, desenvolvendo ainda mais os avanços na conservação da cultura. O professor doutor da Faculdade de Arquitetura da Ufba, Arivaldo Leão de Amorim, remete às origens do laboratório, enfatizando a necessidade que havia de uma iniciativa como essa. O pesquisador e desenvolvedor do LCAD, ressalta que “o emprego das tecnologias digitais na
Patrimônio
documentação do patrimônio arquitetônico da Bahia foi um passo natural na expansão das atividades do LCAD, que hoje é uma referência nacional quanto se trata de questões relacionadas ao uso das tecnologias digitais na arquitetura, e, especialmente, na documentação arquitetônica e de sítios urbanos de importância históricocultural”, destaca. Tour virtual da Cachoeira – BA
cidade
de
Entre os projetos do LCAD está o tour virtual da cidade de Cachoeira, localizada na região do Recôncavo Baiano, a aproximadamente 120 quilômetros de Salvador. O tour virtual, que é um projeto de iniciação científica realizado pela estudante da faculdade de arquitetura, Taís de Souza Santos, se apodera de diversos recursos tecnológicos, como a possibilidade de visualizar os principais pontos da cidade através de uma visão de 360 graus. O professor Arivaldo Leão de Amorim defende que o objetivo dessa iniciativa é o de “documentar, divulgar e valorizar o patrimônio arquitetônico do estado da Bahia, como uma forma de proteção
desses locais e monumentos, através da educação patrimonial”. defende como ponto forte do projeto, a fácil veiculação desse recurso na internet. Segundo ele, “por serem arquivos de tamanho reduzido, estes panoramas fotográficos podem ser facilmente veiculados na web, além do que, pela sua interatividade e forma lúdica de navegação, possui um grande potencial para a divulgação e valorização do patrimônio arquitetônico da Bahia. Na medida em que as pessoas conhecem com mais detalhes a sua cultura, passam a respeitá-la, valorizá-la e protegê-la”. Website do acervo de Rio de Contas – BA Consequência de uma pesquisa de mestrado, desenvolvida pelo arquiteto Fabiano Mikalauskas de Souza Nogueira, o website Acervo Rio de Contas constitui-se como um dos maiores projetos do LCAD sobre a documentação do patrimônio arquitetônico da Bahia com o uso das tecnologias digitais. O site tem como objetivo armazenar divulgar e disponibilizar uma enorme gama de dados multimídia, que começaram a ser produzidos em agosto de 2008.
Patrimônio
Entretanto, o professor Arivaldo ressalta que o projeto ainda está em andamento. Ele enfatiza que “é importante esclarecer que nem todos os dados que foram coletados foram processados, de modo que as informações correspondentes possam estar disponíveis. Este é um trabalho árduo que vem sendo feito lentamente”, avisa. Projetos futuros O LCAD não cessa sua produção acadêmica. Entre os próximos trabalhos, destacam-se o Projeto Lençóis, o 3D Virtual Pelourinho, além do aperfeiçoamento dos projetos Rio de Contas e Cachoeira. Sobre os projetos do LCAD o professor Arivaldo avisa que “o próximo passo envolvendo todos estes projetos compreende a junção dos mesmos e os dados deles decorrentes, em um grande portal de documentação arquitetônica do estado da Bahia, com a consolidação de um sistema de informações georreferenciadas, constituindo o que vem sendo chamando na literatura internacional de Heritage Information System (HIS)”, conclui.
Outra iniciativa em desenvolvimento está relacionada ao restauro e reconstituição virtual de edificações que foram danificadas por diferentes agentes, ou mesmo completamente destruídas. Segundo Arivaldo, “para que estas edificações possam ser reconstituídas ou restauradas em formato digital, é necessário que existam informações confiáveis sobre as mesmas. A ideia é estar sempre usando tecnologias mais atuais e que possam facilitar e potencializar o trabalho de documentação que vem sendo realizado, além de reduzir os custos do processo de pesquisa”, finalizou o pesquisador. *Estudante de Produção em Comunicação e Cultura da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom
agendartecultura.ufba.br
Confira o Tuor Virtual da Cidade de Cachoeira no site: www.lcad.ufba.br/cach oeira/
Artes Visuais Intervenções artísticas do GIA utilizam a interação para provocar fagulhas de reflexão As intervenções idealizadas e realizadas pelo GIA pretendem levar a arte para novos circuitos, criando novas vivências.
Foto: Acervo Gia
Por Marília Moura*
Pense na seguinte cena: você está em um ponto de ônibus da Rótula do Abacaxi ou está passando de carro pela região e avista um grupo de pessoas fazendo um churrasco embaixo de um dos muitos viadutos que foram (e continuam) sendo construídos ali. Talvez você nem note, mas o grupo está reunido perto do único coqueiro que não foi derrubado pela construção, solitário embaixo daquele mundo de concreto, o coqueiro insiste em existir. Esta cena aconteceu de verdade, fruto de uma ação realizada recentemente pelo Grupo de Interferência Ambiental (GIA) e pelo OPAVIVARÁ!, coletivo de arte do Rio de Janeiro que esteve em Salvador para fazer uma residência artística em parceria com o GIA. A ação começou com um cortejo que foi do Santo Antônio até a Rótula do Abacaxi, com o intuito de homenagear o coqueiro, ocupar aquele espaço público e chamar a atenção para o modo como as coisas
Artes Visuais acontecem na cidade, com o crescimento acelerado de obras e o cotidiano automatizado que leva as pessoas a passarem despercebidas pelas pequenas coisas. Essa é uma das ações que o GIA realiza para “gerar uma faísca de reflexão, no cotidiano das pessoas”, como afirma uma das integrantes do grupo, Ludmila Britto. O coletivo artístico que surgiu em 2002, na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (EBA/Ufba), é formado pelo diretor de arte Luis Parras, a produtora e artista plástica, Cristina Llanos, os designers Tiago Ribeiro e Everton Marco, o fotógrafo Mark Dayves e os artistas visuais e arte-educadores, Ludmila Britto e Cristiano Piton que também é professor da Escola de Belas Artes (EBA/Ufba). O coletivo foi criado a partir do vínculo de amizade dos integrantes, todos estudaram na EBA, e de um ideal conjunto: a vontade de produzir uma arte voltada para o espaço público e, assim, sair um pouco do circuito institucional da arte. Inter-ações Um flutuador construído com garrafas pet reutilizadas que se transforma em um espaço de interação e convivência no mar, um degrau de madeira utilizado para auxiliar passageiros a subirem nos ônibus, uma estrutura simples montada com uma lona plástica amarela (denominada pelo grupo de “Caramujo”) que se transforma em um ponto de ônibus improvisado.
O que ações tão distintas entre si têm em comum? O fato de serem práticas artísticas inspiradas numa arte urbana, conceitual e processual. “Os trabalhos do GIA se caracterizam por não serem objetos prontos, mas sim processos de vivência”, explica Ludmila Britto, membro do coletivo desde 2004. As ações do grupo estão baseadas em uma estética relacional, são trabalhos nos quais relações humanas são estabelecidas. “Trata-se de um trabalho desmaterializado, não existe um objeto que você possa comprar para colocar em casa como obra do GIA, existe uma vivência, com performances no espaço público e momentos de convivência e de troca de ideias, essa é a base do nosso trabalho”, destaca Ludmila. A arte-educadora ressalta que todos os elementos materiais utilizados nas intervenções estão relacionados à estética urbana, são materiais de baixo custo, a exemplo de panfletos, cartazes e plástico. Estes materiais dialogam com a dinâmica urbana e devido a seu caráter de efemeridade e de baixo custo, acabam sendo resquícios das ações do GIA, não representam em si o trabalho do grupo e não constituem um objeto mercadológico.
Artes Visuais Razões para existir As intervenções idealizadas e realizadas pelo GIA pretendem levar a arte para novos circuitos, criando novas vivências, dessa forma pretende mostrar que as propostas artísticas podem partir de um âmbito relacional e processual. “A gente não precisa sempre estar vinculado a instituições que vão legitimar o que a gente está fazendo, a arte não é necessariamente contemplação, ela também pode ser reflexão e interação”, observa Ludmila. Sobre a repercussão das ações do coletivo, Ludmila afirma que não é possível indicar as que mais repercutiram, segundo ela, existem ações que são mais acessíveis, como o Flutuador, que foi realizado recentemente no Rio Paraguaçú, na cidade de Cachoeira, e é uma intervenção que cria um espaço interessante de convivência no mar. Outras ações que estão mais presentes são o Samba e a Cerveja GIA. O Samba GIA é um evento gratuito no qual os integrantes do coletivo expõem, através da música, as ações realizadas pelo grupo. “O samba aglutina as pessoas, mas elas acabam conhecendo um pouco do trabalho do GIA sem sentir, desse modo o samba é um registro expandido, uma nova forma de registrar a intervenção urbana”, relatou a artista visual. Ludmila contou que os integrantes do grupo brincam que a Cerveja GIA é o patrocinador deles. Essa cerveja é uma bebida peculiar e um tanto misteriosa, que está sempre presente nos eventos do GIA, os membros afirmam que se trata de uma cerveja produzida pelo grupo, e mais, ela seria feita
com água da Cachoeira da Fumaça e cada garrafa teria um sabor diferente. Receptividade As reações do público são diversas. Ludmila afirma que as reações vão desde pessoas que são indiferentes, até aquelas que entram completamente na ação. Outras ficam curiosas, perguntam do que se trata, mas não se permitem viver aquela experiência. No entanto, ela observa que cada lugar tem uma receptividade diferente. “Cada região tem sua especificidade, por exemplo, São Paulo, que é conhecida como a cidade do trabalho e onde não se pode perder tempo, a depender do bairro, as pessoas podem reagir com uma indiferença maior”, salienta. Já em cidades como Recife e Salvador, existe uma interação muito maior. “Se você for para a Europa, algumas pessoas vão se sentir incomodadas porque você está fazendo a intervenção perto delas, porque existe essa questão de respeitar o espaço do outro. Então dependendo do lugar, você vai ter as mais diferentes reações”, observa. Entretanto, para Ludmila, as diversas reações são um sinal positivo. “Se tudo acontecesse de maneira harmônica não haveria razão para acontecer, a ideia é justamente incomodar, questionar. Temos consciência de que quando vamos para a rua damos a cara a tapa, mas na grande maioria das vezes conseguimos contornar as dificuldades que surgem e também existe a licença poética, quando as pessoas entendem que é arte, elas respeitam”, esclarece.
Artes Visuais Expectativas Segundo Ludmila, o GIA não tem planos concretos para o futuro. Eles pretendem continuar realizando as ações artísticas, sem maiores expectativas, “a gente não quer mudar o mundo, queremos criar mais ações e quem sabe um dia viver disso, não ter que ter um trabalho paralelo”. Atualmente os trabalhos do grupo são financiados com recursos dos próprios integrantes, quando são convidados para participar de eventos, as intervenções são financiadas pela verba de produção. Às vezes, o grupo também se inscreve em editais como o Fundo de Cultura e os certames da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb). *Estudante de Produção em Comunicação e Cultura da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom
Os Gias Reunidos
Foto: Acervo Gia
Artes Visuais Qualificar fotógrafos e entender o universo da fotografia contemporânea norteiam as atividades do Labfoto Compreender os aspectos da fotografia contemporânea e qualificar profissionais são os principais objetivos das atividades realizadas pelo Labfoto
Por Cristiani Cardozo*
Auxiliar na formação qualificada de profissionais e discutir e compreender os aspectos da fotografia contemporânea, envolvendo jornalistas, produtores culturais ou pesquisadores. Esses são os principais objetivos das atividades realizadas pelo Laboratório de Fotografia (Labfoto) da Faculdade de Comunicação da Ufba (Facom) que realiza atividades de ensino, pesquisa e extensão no campo da fotografia. Coordenado pelos professores José Mamede e Rodrigo Rossoni, o Labfoto conta com o trabalho de dois funcionários, dois estagiários e 10 monitores. Além da atividade acadêmica, o Labfoto disponibiliza serviços fotográficos, como assessorias e realização de fotos externas e estúdio, e promove eventos, cursos, seminários, palestras e mostras de fotografia. De acordo com José Mamede, a cobertura de eventos pode ser solicitada por qualquer instituição, pessoa física ou jurídica. “Qualquer instituição, seja da Ufba ou não pode solicitar a cobertura do Labfoto para seus eventos, sendo gratuito o serviço e condicionando apenas o atendimento a disponibilidade de fotógrafo e equipamento”, afirma. Foto: Julien Karl
Artes Visuais Entre os cursos oferecidos pelo Labfoto, o Curso de Fotografia Digital Básica fornece aos alunos iniciantes subsídios necessários para a melhor utilização de suas câmeras, seus usos e aplicações, apresentando noções de composição da imagem, edição e armazenamento de arquivos auxiliando assim, no registro de fotos com qualidade. Ensino O Labfoto atende às demandas de apoio a prática fotográfica das disciplinas obrigatórias e optativas da Facom. Atualmente, seis disciplinas das habilitações em Jornalismo e Produção Cultural incluem a fotografia nas suas atividades: Comunicação Audiovisual, Iniciação à Fotografia, Oficina de Fotografia, Trabalho de Conclusão de Curso em Comunicação e as Oficinas de Jornalismo que produzem publicações para as mídias impressa e digital. Durante a realização do módulo de fotografia da disciplina de Oficina de Comunicação Audiovisual, os alunos produzem ensaios fotográficos que ao final de cada semestre são expostos na Facom e publicados no site do Labfoto (www.labfoto.ufba.br). A maior parte dos ensaios foram produzidos em equipamento analógico, ampliadas em papel fotográfico e digitalizadas em scanner plano. Para os alunos que entram como monitores do Labfoto, a seleção para as vagas ocorrem semestralmente. Durante seis meses, os novos monitores recebem treinamento e após esse período, iniciam um plano de formação fotográfica de dois anos.
Os monitores têm por principais atividades oferecer suporte técnico aos alunos, em trabalhos de campo e laboratoriais, e auxiliar na gestão e manutenção do LabFoto e na cobertura de eventos. Pesquisa O grupo de pesquisa em fotografia, atualmente, esta estudando as relações da fotografia com o campo da arte e do jornalismo. A proposta da pesquisa e pensar a fotografia tendo uma interface com as diversas áreas do conhecimento, como sociologia, estética, história, arte e antropologia. Projetos No primeiro semestre de 2010, o Labfoto realizou a primeira edição do Café Fotográfico. O projeto tem como principal objetivo criar um espaço de discussão, promover o intercâmbio cultural e interações profissionais em torno da fotografia contemporânea. O debate reúne fotógrafos e pesquisadores que compartilham experiências vivenciadas no cenário da fotografia, em diálogo com a comunidade de fotógrafos baianos e com outros profissionais afinados com a temática. O Café Fotográfico ocorre semestralmente e é realizado no Ciranda Café, no Rio Vermelho. Na primeira edição do projeto, realizada em dezembro de 2010, tiveram como palestrantes o professor e pesquisador, Milton Guran e o fotógrafo, Cristhian Cravo, que traçaram um panorama da fotografia jornalística contemporânea. Já na segunda edição, em junho de 2011, o Café Fotográfico trouxe Maurício Lissovsky e Adenor Gondim, que falaram sobre
Artes Visuais
Com intuito de liberar a criatividade de fotógrafos amadores e profissionais são realizadas mensalmente as projeções fotográficas Olhos da Rua, que fazem uma discussão sobre temáticas urbanas. Para o mês de abril, o projeto apresenta o tema Alegria, que será exposto dia 24 de abril, às 19h, no Platô Bar e Restaurante. Para participar das projeções, os interessados podem enviar os arquivos até quinta-feira, dia 19, pelo e-mail labfoto@ufba.br, com cópia para contato.olhosdarua@gmail.com. O fotógrafo deve enviar uma série de no máximo 10 imagens, em arquivo JPG, qualidade máxima (mínima compressão), dimensão de 1024 pixels no maior lado, 72ppi, sem marca d'água. A exposição esta sendo realizada em parceria com a Casa da Photografia e Nomenklatura Alternative DJS. No mês de março, a exposição realizada no Bar do Ulisses, no bairro de Santo Antônio, reuniu o trabalho de 15 fotógrafos com o tema Salvador. O tema ofereceu para os fotógrafos uma grande possibilidade de explorar Salvador nos seus mais diversos aspectos como tradições
religiosas, festas populares, manifestações culturais, no cotidiano do seu povo, as belezas naturais e seus problemas estruturais. no Bar do Ulisses, no bairro de Santo Antônio, reuniu o trabalho de 15 fotógrafos com o tema Salvador. O tema ofereceu para os fotógrafos uma grande possibilidade de explorar Salvador nos seus mais diversos aspectos como tradições religiosas, festas populares, manifestações culturais, no cotidiano do seu povo, as belezas naturais e seus problemas estruturais. Alem do Café Fotográfico e do Olhos da Rua, o Labfoto produz, em parceria com diversos teatros de Salvador, os anuários de Teatro, no qual reúne imagens produzidas durante os espetáculos. No final do ano são transformados em livros e publicados online. Em 2010, o primeiro anuário produzido fotografou peças do Teatro Vilha Velha e do Teatro Martin Gonçalves, pertencente a Escola de Teatro da Ufba. Já em 2011, o Teatro Gamboa e novamente o Teatro da Escola de Teatro da Ufba produziram o catálogo. Para 2012, foram firmadas parcerias com o Teatro Sesi e o Teatro Martim Gonçalves.
Foto: Julien Karl
a análise e a produção da fotografia documental. Na terceira edição do Café Fotográfico trouxe para a mesa de debate a fotógrafa Isabel Gouvêa e o professor Rodrigo Rossoni que fizeram uma reflexão sobre a fotografia com relação a trabalhos comunitários. Para o primeiro semestre de 2012, ainda não foi definida a data para realização da quarta edição. “O Café Fotográfico é um espaço de discussão sobre fotografia que aborda assuntos da fotografia contemporânea”, conclui.
Artes Visuais História O Labfoto foi criado em 1986, após a separação da Facom da antiga Faculdade de Biblioteconomia e Documentação da Ufba. Nesse período, o Labfoto era apenas utilizado para revelação de fotos e armazenamento de equipamentos. Segundo José Mamede, em 1994 que o Labfoto “se transforma em um lugar de produção de imagem, agência e pesquisa sobre fotografia”, afirma. As primeiras atividades desenvolvidas pelo Labfoto foram realizadas coberturas fotográficas das peças teatrais do Teatro Martin Gonçalves, parceria criada entre o laboratório e a Escola de Teatro da Ufba. *Estudante de jornalismo da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom
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Foto: Selma Santos
Foto: Barbara Copque
Teatro “Estamira - Beira do Mundo”, espetáculo sucesso de crítica e público, se apresenta gratuitamente em Salvador O que: Espetáculo Estamira - Beira do Mundo Quando: dias 6 e 7 de abril, às 20h, e 8 de abril, às 19h Onde: Teatro Martim Gonçalves (Rua Araújo Pinho, Canela) Quanto: Grátis
“A Mulher de Roxo” estreia no Teatro Martim Gonçalves em abril O que: Espetáculo Estamira - Beira do Mundo Quando: dias 6 e 7 de abril, às 20h, e 8 de abril, às 19h Onde: Teatro Martim Gonçalves (Rua Araújo Pinho, Canela) Quanto: Grátis
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Dança
Corpocidade 3 - Encontro realizado pela Escola de Dança da UFBA da tem como temática central as possibilidades de experiência corporal da cidade e seus modos de compartilhamento e transmissão.
Foto: Selma Santos
O que: CORPOCIDADE 3 Quando: 23 a 27 de abril. Horário no site www.corpocidade.dan.ufba.br/2012/ Onde: Oficinas (Ruas de Salvador) / Seminário de articulação (Auditório Mastaba – Faculdade de Arquitetura) / Seminário público (Teatro da UNEB) Quanto: Grátis
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Livro e Leitura Livro sobre teatro de cordel será lançado no dia 17 de abril O que: lançamento do livro “Teatro de cordel: peças e ensaios”, de Armindo Bião. Quando: 17 de abril, às 19h. Onde: Cultura Ciranda Café (Rua Fonte do Boi, 131, Rio Vermelho). Quanto: sob consulta.
EDUFBA e ICBA convidam para o lançamento do livro “Memoráveis paixões transculturais: euroafromeríndia”, de Roland Schaffner O que: Lançamento de Memoráveis paixões transculturais, de Roland Schaffner. Quando: 24 de abril, terça-feira, 19h Onde: Biblioteca do Goethe-Institut (ICBA), Corredor da Vitória Quanto: Preço do livro R$ 45,00
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Música Camará lança o projeto “Concertos- SESC Partituras” em Salvador O que: Lançamento nacional do “Concertos- SESC Partituras” Quando: 14 de abril (sábado), às19h Onde: Teatro do IRDEB- Rua Pedro Gama, 413, Federação Quanto: Entrada Franca
Escola de Música da Ufba promove 1º Colóquio para Clarinetistas Foto: Selma Santos
O que: 1º Colóquio para Clarinetistas- Performance, Pedagogia e Pesquisa Quando: De 25 a 27 de abril Onde: Espaço Cultural da Barroquinha, Escola de Música da Ufba, Palácio da Reitoria da Ufba Quanto: Inscrição R$ 10,00
Informações e Programação: http://coloquiodeclarinetas.blogspot.com.br
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Patrimônio III Encontro Baiano de Estudos em Cultura será realizado em abril em Cachoeira O que: III Encontro Baiano de Estudos em Cultura – EBECULT Quando: dias 18, 19 e 20 de abril Onde: Centro de Artes, Humanidades e Letras da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, em Cachoeira Quanto: Quanto: R$30 (estudantes de graduação, gestores, dirigentes e agentes culturais), R$40 (estudantes de pós-graduação) e R$80 (profissionais)
Mais informações no site www.ufrb.edu.br/ebecult/
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