REVISTA AGIR UFF Ano IV - Número 4 - Julho 2014
IVSOBRE INOVAÇÃO CICLO DE SEMINÁRIOS
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SEMINÁRIO TECNOLOGIA ASSISTIVA
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SEMINÁRIO TECNOLOGIA VERDE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
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SEMINÁRIO DEFESA NACIONAL
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TENDA DA INOVAÇÃO:
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PREMIADOS AGENDA ACADÊMICA 2013 PIBITI & PIBInova
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SEMINÁRIO INDICADORES DE INOVAÇÃO
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PRÊMIO UFF-SANTANDER 2013
DESAFIO INOVAÇÃO
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Introdução
Por Fa bi a n a R . L e t a
D i re t or a d a Ag ê n c i a d e In ov a ç ã o
A
presentamos a quarta edição da Revista Agir, que traz os resultados do IV Ciclo de Seminários sobre Inovação realizado em 2013-2014, apoiado pelo CNPq e FAPERJ, consistindo em mais uma atividade da Agência de Inovação da UFF no intuito de disseminar a cultura da inovação e do empreendedorismo para a universidade e sociedade em geral. Nos anos 2010 e 2011 a AGIR promoveu o II Ciclo de Seminários sobre Inovação, expandindo seu escopo através da realização de atividades nos diversos campi da UFF em Niterói e nos Polos Universitários do interior do Estado do Rio de Janeiro. Na programação foram realizados os seguintes eventos: Workshops em Inovação, Tenda da Inovação, I Seminário de Iniciação à Inovação, Palestra “Driving or Driven?, Palestra Universidade Empreendedora, Inovação e Desenvolvimento Regional, Agir na Niterói Naval Offshore Expo and Conference, Simpósio Nacional de Estratégias do Governo para o Desenvolvimento e Aplicação da Biotecnologia no Brasil”, Seminário Universidade, Inovação e Desenvolvimento Regional – Polos Universitários; Rio das Ostras, Campos dos Goycates, Volta Redonda, Santo Antônio de Pádua além do Seminário “A Inovação e as Missões da Universidade” e do Curso: “Como se preparar para apresentar projetos para a FINEP e União Européia”.
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Em 2012 e 2013 a AGIR promoveu o III Ciclo de Seminários sobre Inovação, com o objetivo de estimular a parceria em projetos nas diferentes dimensões da Inovação e sua relação com o crescimento econômico e o desenvolvimento socialmente justo e sustentável, articulando sinergias, estabelecendo um processo dinâmico para o desenvolvimento de projetos inovadores envolvendo os setores público e privado. Na programação foram realizados os seguintes eventos: TEDXUFF, Tenda da Inovação, II Seminário de Iniciação à Inovação, Seminário Indicadores de Inovação, Workshop Cidades Inteligentes, Workshop Parques Tecnológicos, Participação na Innovation Race e o Programa Café Inovador. Nesta quarta edição, o ciclo de seminários apresenta como objetivos: Articular o sistema de inovação científica e tecnológica da universidade através das redes temáticas definidas pela Agência de Inovação, visando à construção de um modelo de desenvolvimento regional sustentável que contemple as demandas locais, considerando as três vertentes de hélice tríplice, Universidade, Setor Empresarial e Setor Governamental. Promover a popularização e apropriação pela sociedade desses conhecimentos, qualificando o debate sobre a importância da Ciência, Tecnologia e Inovação no mundo contemporâneo. Para atingir tais objetivos foram realizados diversos eventos, tais como: os Seminários Indicadores de Inovação, Tecnologias Assistivas, Tecnologia Verde e Desenvolvimento Sustentável e Defesa Nacional, o Prêmio de Inovação UFFSANTANDER como forma de estimular a geração de inovações apoiando pesquisas que visem o desenvolvimento de invenções passíveis de se transformarem em inovações, motivando o corpo discente e docente a desenvolverem novas tecnologias e soluções inovadoras, decorrentes das condições criadas pelo confronto direto com os problemas de pesquisa aplicada, cujos resultados demonstrem potencial efetivo de aplicação na sociedade, além do Desafio Inovação, atividade de estímulo à inovação realizada na Tenda da Inovação tendo como público alvo alunos dos mais diversos segmentos escolares. As contribuições valiosas dos palestrantes durante os seminários encontram-se nas páginas a seguir. Desejamos uma boa leitura!!
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inovação
Por A n d r é a L at g e
P ró - R e it or a d e Pe s q u i s a , Pó s - G r a du a ç ã o e In ov a ç ã o Já na posição de uma unidade consolidada da Universidade Federal Fluminense, a Agência de Inovação (AGIR), criada em 2009, vive hoje seu momento de crescimento pleno, sendo reconhecida internamente na comunidade acadêmico-científica e principalmente junto à vários setores da economia e da indústria do estado do Rio de Janeiro e do País. As ações ligadas à Inovação estão presentes em qualquer plataforma de desenvolvimento do conhecimento e sua aplicação, seja dentro das universidades e dos institutos de pesquisa, ou nos setores industriais e empresas de qualquer porte. Exemplo marcante deste processo evolutivo nas universidades pode ser visto com a introdução de bolsas de Iniciação Científica em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação, as chamadas bolsas PIBITI/ CNPq, para alunos de graduação, criadas pelo CNPq no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC). Essas bolsas têm como objetivo principal estimular alunos do ensino superior ao desenvolvimento e transferência de novas tecnologias e soluções inovadoras, incentivando a criação de um ambiente propício e adequado ao desenvolvimento da criatividade ligada a soluções de problemas de pesquisa aplicada. A Universidade Federal Fluminense, parceira deste novo empreendimento do CNPq, não apenas apoiou a iniciativa do órgão de fomento, como aprovou a concessão de bolsas internas de mesmo perfil, chamadas de Pibinova/ UFF. Essas bolsas são concedidas à projetos que revelem potencial em atividades de pesquisa voltadas para o desenvolvimento tecnológico e da inovação. É nesse contexto que a AGIR, mesmo enfrentando os desafios naturais de uma comunidade acadêmica, acostumada a produzir ciência sem se preocupar com a transformação deste conhecimento em tecnologia e negócios, consegue, ano após ano, crescer o número de pesquisadores e discentes envolvidos em projetos voltados à pesquisa tecnológica, preocupados com a difusão da cultura da propriedade intelectual, da inovação e do empreendedorismo. A história da Agência de Inovação da UFF vem sendo traçada por um conjunto de ações internas e externas, incentivadas e apoiadas sempre pela direção geral da Universidade e pelas diretorias técnicas da agência. Nestas ações se destaca a preocupação em promover, aumentar e viabilizar
a transferência e comercialização do conhecimento científico, tecnológico e cultural produzido dentro da Universidade para a comunidade. A quarta edição do Ciclo de Seminários sobre Inovação, cuja programação está detalhada neste fascículo da Revista AGIR, foi dedicada à discussão de vários temas relevantes como os indicadores de Inovação, as tecnologias assistivas, a tecnologia verde e o desenvolvimento sustentável e a defesa nacional. A Agir tem conseguido agregar representantes importantes dos vários segmentos institucionais e mais que tudo chamar a atenção da comunidade para os desafios que encontramos na busca de soluções inovadoras de problemas que beneficiem a sociedade com ganho na qualidade de vida. Entendemos como dever natural desta Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação e da Universidade Federal Fluminense promover o apoio necessário à consolidação destes objetivos, que traduzem a posição de uma Universidade moderna que busca caminhos de integralização da ciência, da tecnologia e da inovação como referência de uma sociedade cada vez mais igualitária e qualificada. www.proppi.uff.br/portalagir
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A agir e o desafio da transferência de conhecimento Por Fa bi a n a R . L e t a
D i re t or a d a Ag ê n c i a d e In ov a ç ã o
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necessidade de avançar no âmbito da inovação é notória para todas as ICTs como forma de possibilitar o desenvolvimento sustentável de nosso país. As universidades, através dos seus NITs (Núcleos de Inovação Tecnológica), vêm buscando transformar a ciência desenvolvida em tecnologias e negócios que impactem positivamente neste processo. O Relatório Formict de 2011, elaborado pelo MCTI, que visa divulgar o retrato das ICTs no que tange à propriedade intelectual, destaca que: “Apesar de apresentar crescimento significativo ano a ano, a implementação e a consolidação dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NIT) ainda permanecem como desafios nesse processo. Como estabelece a Lei da Inovação, os NIT devem estar presentes em todas as ICT, mas, em muitas instituições, eles ainda não estão implementados ou necessitam de melhorias estruturais e reconhecimento interno para execução de suas atividades, incluindo a ampliação de recursos humanos para operacionalizar as suas competências”. O Livro Azul, que sintetiza as principais contribuições da 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável, também aponta que “A inovação, tendo a educação como fundamento, é o principal motor do processo de desenvolvimento do País”. E ainda: “O País desenvolveu, nas últimas décadas, um competente sistema universitário de produção de conheci-
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mento e formação de recursos humanos. O desafio, agora, é criar condições para que atividades inovadoras atendam as demandas dos diferentes setores da sociedade e fortaleçam a competitividade internacional das empresas. Entre universidade, empresa e sociedade cabe criar camadas intermediárias, parques tecnológicos, centros de inovação, redes de extensão tecnológica, institutos tecnológicos, estimuladas por políticas públicas.” Cabe destacar que na UFF muito tem sido feito, com o apoio do PDI (Plano de Desenvolvimento Institucional) e de fomentos públicos externos (FAPERJ, CNPq, FINEP), mas é necessário acelerar este processo. Tivemos um crescimento significativo no número de pedidos de registros de propriedade industrial (PI), fruto da difusão que vem sendo realizada nos diversos Ciclos de Seminários sobre Inovação. Porém, não basta aumentar o número de registros de PI, a transferência do conhecimento desenvolvido na universidade continua sendo um grande desafio. A academia brasileira aprendeu gradativamente o processo de transferência do conhecimento por meio da publicação dos resultados das pesquisas desenvolvidas. Diante de uma política pública científica de longa data, onde a opção é publicar ou perecer, os indicadores de publicações internacionais de brasileiros vêm demonstrando um grande crescimento nos últimos anos. Porém a comparação inevitável quanto a indicadores de inovação considerando patentes ainda chama a atenção, embo-
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A agir e o desafio da transferência de conhecimento Por Fa bi a n a R . L e t a
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ra a análise não seja tão simples como pode parecer. Se desejamos avaliar o crescimento da inovação oriunda da academia, devemos analisar que a transferência do conhecimento protegido é essencial para se obter inovação. Deste modo, não basta proteger. Patente é apenas uma forma de proteger um conhecimento, oriundo de pesquisa, que tem perspectiva de se traduzir em tecnologias comercialmente viáveis. Ou seja, a pesquisa científica passa a ter um objetivo adicional que é obter resultados possíveis de serem transformados em tecnologias. O que cabe destacar é que nem toda pesquisa científica precisa atingir este objetivo. Além disto, pesquisas aplicadas podem gerar tecnologias que não são necessariamente patenteáveis. Muitos projetos realizados na universidade desenvolvem soluções inovadoras para a sociedade, sem, entretanto, configurarem em registros de patentes. Isto permite refletir sobre algumas questões que não podem ser analisadas de forma polarizada, tais como: pesquisa pura x pesquisa aplicada e publicação científica x patente. Estas são modalidades diferentes, seja de pesquisa ou de publicação, que têm funções distintas, podendo ser complementares. Assim, quando as análises sobre indicadores de inovação se baseiam exclusivamente em registros de PI, há de se ampliar a discussão e refletir sobre as inúmeras tecnologias desenvolvidas e transferidas para a sociedade, sem necessariamente terem sido patenteadas. Não
por esquecimento ou negligência, mas por não serem de fato passiveis de serem patentes. Isto não invalida sua importância para a sociedade. Talvez este processo seja mais natural e usual para a academia do que o tradicional indicador de inovação considerando patente. Entretanto. este não vem sendo devidamente quantificado e considerado. Na UFF, nossa ação através da Agir nesta direção, foi buscar através do Mapa UFF de Inovação identificar os projetos, tecnologias e serviços desenvolvidos nos laboratórios e núcleos de pesquisa da universidade. O Mapa UFF de Inovação foi idealizado, considerando entre seus objetivos a obtenção deste novo indicador de inovação na nossa universidade. Espera-se que com as informações obtidas e também cruzadas com os projetos cadastrados na fundação de apoio à universidade possamos dar visibilidade a esta outra forma de indicador de inovação, não restrito a registros de PI. O conhecimento transformado em tecnologia patenteada ou não deve ser de algum modo transferido e utilizado, para que possamos sim dizer que a universidade possibilita a inovação através de suas pesquisas. Este é o nosso desafio!
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Agenda Acadêmica 2013
Desafio Inovação: Ambientes sinérgicos criativos! Fa b i a n a R . L e t a
Tut or a d o P ro g r a m a d e E du c a ç ã o Tut or i a l e m E n g e n h a r i a Me c â n i c a D i re t or a d a Ag ê n c i a d e In ov a ç ã o
E
m 2008, como tutora do Programa de Educação Tutorial em Engenharia Mecânica da UFF (PETMEC), lancei uma proposta para os alunos do programa que consistia em desenvolver uma atividade que estimulasse alunos de graduação de Engenharia a criarem uma solução para um dado desafio, utilizando materiais simples e baratos. A proposta era que grupos de alunos participassem de uma espécie de oficina, que culminaria em uma competição, na qual a solução mais criativa e inventiva seria premiada. Assim, o então denominado Desafio Inovação foi elaborado pelo grupo PET-MEC, visando motivar os alunos a proporem novas soluções a pequenos problemas, possíveis de serem resolvidos de forma criativa em um curto período de tempo. Proposta aceita, nosso desafio passou a ser criar algo factível, considerando o tempo e o material disponível, e, que ainda fosse divertido, não apenas pelo aspecto lúdico da competição final. Depois de muitos “brainstormings” definimos o primeiro Desafio Inovação, que acompanhou o tema do Simpósio de Engenharia Mecânica (SEMEC) deste mesmo ano, que tratava da indústria naval. O desafio apresentado consistiu na fabricação de um pequeno barco de brinquedo a vela, que deveria transportar óleo em uma piscina sem derramá-lo. Para testar a viabilidade e selecionar o material a ser disponibilizado para os grupos desafiados, o PET-MEC construiu
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alguns protótipos e realizou ensaios. O material envolveu muito palito de sorvete e cola quente, além de outros materiais complementares. A pontuação estabelecida para este desafio considerou: tempo de percurso, não derramamento de óleo e estética. A competição, como não poderia deixar de ser, foi muito divertida. Instalamos uma piscina de criança e um ventilador em baixo de muita chuva ao lado do bloco D da Escola de Engenharia, atraindo curiosos e equipes para uma tarde repleta de surpresas, onde o barco vencedor foi o que apresentou a solução construtiva mais simples e mais eficiente. Desde então, o Desafio Inovação passou a ser uma atividade integrada à Agenda Acadêmica da Universidade Federal Fluminense. Sendo que em 2011 a atividade expandiu seu público para alunos de ensino médio e fundamental, participantes da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, através do apoio da Agência de Inovação da UFF - Agir. Em 2011 realiza-se, então, o primeiro Desafio Inovação - Ensino Médio, inspirado no Desafio Inovação 2008. Com a mudança do público-alvo, algumas adaptações foram necessárias. Os desafios passaram a contar com uma mini-palestra oferecida aos alunos, visando ensinar ou relembrar os conceitos físicos básicos envolvidos na realização do desafio. Foi ressaltada, portanto, a importância do equilíbrio entre massa e volume, de modo a possibilitar a flutuabilidade do barco. Também foram apresentadas imagens de barcos
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à vela para que pudessem observar a posição e função das velas, bem como alguns detalhes construtivos básicos de uma embarcação. Com o sucesso alcançado com a realização destes desafios, em parceria com a Agir, temos desde então organizado a atividade para os diferentes segmentos escolares na Tenda da Inovação, durante a Agenda Acadêmica da universidade. Desde então projetos de barquinhos, mecanismos de elevação de carga, robôs, catapultas, bairros sustentáveis, entre outros já foram brilhantemente desenvolvidos por alunos com grande imaginação e conhecimento básico, sem limites de ousar e criar. Assim, ao expormos estes alunos a desenvolverem e construírem soluções para pequenos desafios, de uma forma divertida e competitiva, geramos um ambiente sinérgico rico em criatividade e frescor no pensar e executar. A aproximação dos alunos de ensino médio e fundamental com o ambiente universitário estimula ainda a vontade destes de avançar nos estudos, visto que a universidade torna-se algo próximo, acolhedor e consequentemente tangível para todos. Para os alunos do grupo PET-MEC tem-se uma oportunidade especial de compartilhar o conhecimento com aqueles que um dia poderão ter a mesma oportunidade que eles, de estudarem em uma universidade pública e de qualidade. Assim, espera-se que um círculo virtuoso se estabeleça, permitindo formar cidadãos comprometidos com o bem estar social, capazes de criar e inovar!
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Tenda da Inovação Desafio Inovação Graduação
Desafio Inovação Ensino Médio
Desafio Inovação ensino fundamental
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Agenda Acadêmica 2013
Alunos Premiados no III Seminário de Iniciação à Inovação 2013 1º Lugar Desenvolvimento e avaliação de hidrogéis para o reparo tecidual de lesões tissulares Aluna: Isabelle Andrade Silveira Orientadora: Beatriz Guitton
2º Lugar Sistema de controle remoto via bluetooth para embarcações solares numa plataforma Android utilizando um Arduíno Aluno: Marcelo Silva Riveiro Orientador: Guilherme Sotelo
3º Lugar Simuff - PI - Simulação de sistemas de produção - Pecuária Leiteira Aluna: Gabriela Mafra Fortuna Orientador: Rodolpho de Almeida Torres Filho 10
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Agenda Acadêmica 2013
Alunos Premiados no III Seminário de Iniciação à Inovação 2013 1º Lugar Usuff - Utilização de sumários de touros leiteiros
Aluno: Bruno da Costa Perez Orientador: Rodolpho de Almeida Torres Filho
2º Lugar Interações parasita-vetor: como entender o que não vemos através de materiais didáticos inclusivos Aluna: Gabriela Cristina de Carvalho Silva Orientadora: Helena Carla Castro Cardoso de Almeida
3º Lugar Potencial biotecnológico e efeito acaricida de óleos essenciais em fases de vida livre do carrapato bovino Aluna: Camila Mattos de Oliveira Orientadora: Evelize Folly das Chagas www.proppi.uff.br/portalagir
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Agenda Acadêmica 2013
Comitê Externo III Seminário de Iniciação à Inovação 2013
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Seminário Indicadores de Inovação
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Mesa Redonda – Conceito e Indicadores de Tecnologia Social “O Seminário tem como objetivo principal discutir os indicadores de inovação abordando conceitos de tecnologia social e inovação tecnológica.” Escola de Engenharia 4 de Dezembro de 2012 Palestrante: Prof. Gonçalo Guimarães (Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares – ITCP/COOPE/ UFRJ)
Gostaria de realizar uma reflexão a cerca do que é Inovação Tecnológica, porque, no presente, apresentamos muito a Inovação e discutimos muito pouco o que é. Essa palavra de ordem faz um ministério, como o Ministério da Ciência e Tecnologia, mudar para Ministério da Inovação, sem explicar exatamente do que se trata. Logo, parabenizo, desde então, a iniciativa dessa discussão na UFF – Universidade Federal Fluminense, pois outras universidades com Agências de Inovação, por vezes, implementam tais Agências sem discutir ou sem dizer o que é essa tal da Inovação. 14
Trabalho há 17 anos em uma Incubadora de Cooperativas Populares, criada na COOPE, que tinha como foco principal a geração de trabalho e renda para quem estava ou desempregado, ou estruturalmente desempregado. A questão é que o Rio de Janeiro vive o pleno emprego. Causa-me estranhamento terem desempregados e explico por quê. Existe um desempregado estrutural nesse país, herdeiro do século XIX, que são os escravos e seus herdeiros que não entram no mercado formal de trabalho. Então, podemos botar todos os “indicadores de pleno emprego” e, aí, vamos encontrar a informalidade, tanto na economia quanto na sociedade. É o nosso modelo. Então, destacamos que existe uma Associação Nacional de Incubadora e Parque Tecnológico ANPROTEC (que eu estou lá a alguns anos) e tivemos a oportunidade de discutir dentro do que é chamado da “tecnologia de ponta ou das inovações de ponta” o que é esse outro lado, esse outro lado sustentável, que durante anos viemos discutindo e, hoje, a visão já mudou bastante. Mais especificamente, apresento sobre um foco da inovação, que é a questão da reciclagem. Quando eu comecei a discutir reciclagem, que é uma coisa que temos trabalhado muito, questionei o que é essa tal de inovação?
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Essa que é a discussão a meu ver, na verdade. É a inovação como um todo, mais em particular, nesse aspecto de como essa tecnologia, essa inovação interfere ou pode interferir, positivamente, no que eu denomino organização produtiva que tem na sociedade. Tem uma coisa que eu acho engraçada, quando dizem o seguinte: que 50% da população brasileira é informal, não é isso? Estão na informalidade. Quando focamos a cidade, dizem que 40 a 60% da população é informal. Então, pouco a pouco podemos juntar os dois dados, e a conclusão é que não tem economia informal, tem é cidadão informal. Quando você está na posição de informalidade o que você fizer será informal, e quando você estiver na posição de formalidade o que você fizer será formal. Exemplificando, se uma oficina mecânica é montada aqui no bairro de Icaraí, ela está na formalidade por princípio, seja pela titularidade, seja pelo acesso ao crédito e ao acesso à informação. De outro modo, se essa mesma oficina é montada na Favela do Alemão, ou se há um “gato” acolá, provavelmente, vai estar enquadrada na informalidade. Por quê? Bom, porque o solo não é regularizado, e, então, a questão da formalidade não é uma condição econômica e sim uma condição social da inserção dele na economia. É desse público que estou tratando. Então, não é
REVISTA AGIR Nº 4 • 2014 uma questão da informação. É nesse ponto que a questão da Inovação é relevante. Como podemos ver um pouco o que está acontecendo hoje: corta-se o IPI da linha branca, retira o IPI do carro e incentiva a produção. O que temos, hoje, é um processo de incentivo, e há aumento da produção tendo como indicador de desenvolvimento, o consumo. Atualmente, não se mede mais renda, se mede o consumo para saber do momento e, por ora, uma cidade que consome e que tem os padrões sociais de consumo. Agora, o que ocorre com os rejeitos ou resíduos dessa tal produção, eu só vejo dois caminhos: estão na cidade, por exemplo, ali em São Conrado - RJ, ou estão no meio ambiente, que são os lixões, por mais que se jure que, em 2014, irão acabar. Acabando o lixão ou não, esse resíduo vai para a natureza, sob ou sem con-
trole. Mas esse é o processo, é o ciclo de produção, é o ciclo desenvolvimento, é o ciclo do modelo que estamos implantando. Então, quanto mais se produz mais se consome, e esse será o destino. Agora, ninguém explica bem o que se fazer com os resíduos. Os números são escandalosos. Não apresento aqui, mas são muito altos os níveis da produção de resíduos. Também divido os resíduos em dois tipos: tem os resíduos da produção humana, e outro da produção tecnológica. São dois resíduos distintos, ou seja, a atividade humana produz resíduos, porém, a atividade tecnológica, hoje, também produz. O resíduo industrial... Por que ele é industrial? Ele não é um simples resíduo da sociedade no seu ato, contudo, é resultante de um modelo. Lembro-me na década de 1960, a opção do
ONE WAY. O que era isso? A embalagem descartável. Então, a opção tecnológica na década de 1960, de tirar o vidro e colocar a pet, gera um volume de resíduo, o excesso de embalagem, o uso único. E aí, ela vai gerando o quê? Desse modelo, podemos pegar mais dois exemplos: o alumínio e o eletroeletrônico. Eles são um processo de fruto ou resíduo desse modelo que nós colocamos no mundo. Então, estamos fazendo um novo resíduo, e não é da atividade humana como um só, ele é um fruto de um modelo. Logo, esse resíduo é colocado na sociedade. Se não imaginarmos isso como parte do ciclo da inovação e da produção, uma parcela vai produzir e outra vai ter que resolver. O que ocorre, hoje, no Brasil? A produção é ciência e tecnologia, e o lixo é urbano. Quem cuida, no município do Rio de Janeiro, da reciclagem? Pouca gente, porque isso é visto como resíduo e não matéria-prima, então, esse conceito do excedente gerado pelo nosso modelo industrial e tecnológico, gera um produto para a sociedade. Hoje, com a nova Lei dos Resíduos Sólidos, a responsabilidade do fabricante vai se intensificar. É neste ponto que devemos pensar. Quando eu olho a palavra, quando falamos na inovação, começo a observar que tem dois tipos de inovação. A primeira, eu denominaria como a inovação que visa à melhoria de qualidade de vida e gera o bem estar. Por exemplo, eu me lembro do que era cadeira de dentista na década de 1960, do que era um automóvel, do que era meio de transporte. Então, eu vejo que esse tipo de inovação, por exemplo, o trator com ar condiciona
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REVISTA AGIR Nº 4 • 2014 do (que é inovar para a melhoria), o resultante é o bem estar. Existem pessoas que acham que há mudança significativa que qualifica. Outro exemplo é a medicina, hoje, que eleva o número. Pode não ser tão boa como a gente quer, mas a gente vê avanços na sociedade, cuja a qualidade de vida é que está em questão. Penso que existe outra inovação, que não é bem parecida com os exemplos anteriores, e que é uma inovação para o consumo, que acabam por dar o mesmo nome. O que é essa inovação para o consumo? Ela não visa o bem estar, ela visa tornar inoperante, arcaico e obsoleto tudo que você tem. Então, qual é a grande inovação no celular? Dizer que um celular daqui a seis meses é inútil para termos que comprar outro. Então, eu não posso dizer que a melhoria do trator e o lançamento de um celular novo são a mesma coisa. Há inovações para o bem e outras, que eu não sei se são tão para o bem assim. Então, nessa inovação o que se gera é só consumo, o indicador de sucesso dessa inovação tecnológica é para o consumo e não para a melhoria: o celular a, b, c e d, não muda a qualidade de vida. Porém, o trator, o metrô e o ar condicionado mudam, e não, necessariamente, o novo “modelito” do celular. Já os avanços tecnológicos do carro têm como foco o mercado, e não necessariamente a qualidade. Não são itens de segurança que estão sendo colocados, são itens de design. O que ocorre com esse segundo modelo, o que ele gera é tudo que desenvolvi anteriormente, e falei inclusive de entulhos. Posto isso, é de grande importância para nós entendermos e não usarmos o mesmo conceito para coisas que tem visão distinta. Então, eu não posso desqualificar os avanços da medicina numa posição política e ideológica, porque eu sou contra a inovação, e também não posso aceitar que essa loucura que ocorre com o celular hoje é a coisa mais natural do mundo. O que aconteceu com nossos modelos do pósguerra para cá? Na indústria, o primeiro ponto era a disputa pela qualidade. O indicador de um produto era qualidade e durabilidade. Exemplificando, a marca chamada TELEFUNKEN tinha como slogan “para toda vida”, então, o indicador de sucesso do eletrodoméstico era o tempo de durabilidade, para toda a vida. Este slogan caiu, e o primeiro marco, na verdade, acho que foi quando o Henry Ford disse: “o meu empregado tem que ter dinheiro para comprar meu carro porque senão eu não gero mercado para meu produto”. Vou baixar o preço, e depois a qualidade, e logo começaram a 16
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fazer o quê? Quando todo brasileiro já tinha uma geladeira começaram a dizer “tenha duas”, e você tem, hoje, mais celular e geladeiras que domicílios, e mais televisão que, provavelmente, famílias. E o resultado foi um aumento, e o novo modelo que temos, hoje, em prática, que temos que pensar, é a durabilidade curta. Não é aumentar nem durabilidade, nem aumentar o número de consumidores, o que está em voga é o tempo de vida curto para que você compre ano que vem os mesmos produtos que você consumiu hoje. Comprar roupa é tão comum quanto comprar celular, trocar de carro é tão comum quanto os outros dois! Então, tem outro conceito que está por trás dos modelos, e esse conceito gera aquela primeira estampa que são os eletrodomésticos entulhados. Só na UFRJ a gente calcula oito toneladas, e por que isso? Porque todo mundo trocou de aparelhos. Outra coisa que eu acho importante na discussão sobre inovação. As pessoas dizem: - “Você trabalha com inovação social”. Não, eu trabalho com setor produtivo popular, não tem nada de social, não é um trabalho social. Trabalho com a base da pirâmide brasileira. Observo, também, que as políticas brasileiras trabalham de forma diferenciada. Eu olho a cadeia produtiva, (e eu gosto da “brincadeira”): quando se produz em Campos, chama-se álcool, mas já quando vai para o posto da Petrobrás se chama etanol. Isso porque quando olhamos o processo arcaico da produção, o trabalho exaustivo e quase mortal dos trabalhadores, vemos um “retrato” do século XVII e XIX, porém, quando olhamos o etanol estamos vendo o século XXI. Então, a inovação nas políticas inovadoras no Brasil foca muito na ponta da cadeira produtiva, mas não focam o processo produtivo, e o que ocorre no dado social, - social é a base da pirâmide - é o arcaico, inoperante e antigo e sem política de inovação. E isso, ao mesmo tempo em que a outra ponta trabalha com o novo e o moderno – ali é primeiro mundo e aqui é terceiro mundo – não tenho a menor dúvida. Eu fiz etanol, mas posso falar da agricultura familiar em um supermercado da zona sul, e posso falar do alumínio onde tem o catador de um lado e a toneleira/Donelisa do outro. Então, de como é vista essa inovação, percebemos muito pouco a reflexão dela como uma cadeia como um todo. Acho que podemos pensar de outra maneira: quando inova uma ponta da cadeia, onde começa aquela cadeia; onde está o trabalho escravo, infantil e a exploração do trabalho na informalidade, o básico. Essa é outra característica que eu
REVISTA AGIR Nº 4 • 2014 observo da política brasileira, foca a ponta, o produto, mas não o processo. Resulta que, daí, temos a Petrobrás e a Vale, por exemplo. Por outro lado, eu tenho uma mina de carvão que não merece “nenhuma foto”. Assim, são os dois pontos o problema, o de Campos do petróleo e o prédio da Petrobrás na Avenida Chile. São dois brasis aqui e agora na cadeia produtiva. Para entender esse processo, - e digo isso porque eu sou a favor da inovação -, eu quero saber como trago a inovação para outro ponto da cadeia. É esse que acho o desafio: temos que entender um pouco mais sobre uma reflexão que é outra coisa que ocorre no Brasil - denominar pobreza e informalidade como a mesma coisa. O que define exclusão no Brasil? Renda. Quem ganha menos de seis dólares/dia, não é isso? Agora, será que a renda é o indicador dessa informalidade? Porque se o for, se eu aumentar a renda, com certeza, pode resolver o problema da informalidade, e vamos observar que não. Um exemplo muito claro, de um mestre de obras e de um engenheiro, provavelmente da UFF, da COOPE-UFRJ. Os dois podem até ter remuneração igual. Provavelmente, o mestre de obras terá renda superior se ele for experiente e o engenheiro, se for recém-formado. Então, em nenhum caso ali,
Esses dois grupos, quando analisados, o de baixo é chamado social, e sempre cismam em fazer uma política social para esses, os informais, como se a questão da informalidade fosse uma questão de pobreza. E se formos, então, para o Complexo do Alemão, faço uma política social para o mestre de obras, que tem uma renda de oito mil reais? Então, o que acontece: para o circuito superior, que temos os engenheiros formados nas nossas
botando renda na pirâmide brasileira, eles estariam em exclusão ou seria fruto de políticas sociais. Porém, quando lanço um novo olhar a essas pessoas, onde moram, colocando-as no seu meio, vejo que o mestre de obras mora na Favela do Gado, enquanto que o outro mora em Icaraí, e vou observar que é o ambiente da informalidade com o ambiente da formalidade. É aí que observamos que a informalidade independe da renda, há pobres e classe média na informalidade. É muito comum: a primeira vez que a classe média vai à favela, se choca com o número de equipamentos que as pessoas têm, porque aquilo é consumo, aquilo não é patrimônio. Em compensação, não tem título de propriedade, é aí que se dá essa diferenciação, ela tem muito a ver com a cadeia produtiva. O Milton Santos analisava isso de duas formas: o ciclo superior da economia e o ciclo inferior da economia. O que é o ciclo superior? É quem está na dinâmica do crescimento, quem está na formalidade, quem está dentro dos circuitos e com direitos. Já quem está no circuito inferior é a pobreza. Ele coloca pobre e rico, eu chamo de informais. Quem são os informais? É essa parte da população que mora no terreno da informalidade, trabalha sem registro e às vezes não tem nem certidão de nascimento.
universidades, a classe média, eu tenho a política de desenvolvimento e a política tecnológica. Agora, o que eu tenho para o circuito inferior? Eu tenho política social e qualificação profissional. Não falamos de tecnologia nem de políticas tecnológicas para o pessoal que está na base da pirâmide, falamos de qualificação porque o melhor que eles podem ter é um emprego. Então, na realidade, essa diferença vai formando www.proppi.uff.br/portalagir
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o quê? Os outros pontos da cadeia produtiva, se eu pegar e analisar, eu vejo que o setor do circuito inferior gera trabalho, mão de obra, empregada doméstica. Ali está o pessoal da construção civil, agricultura familiar, o pessoal que trabalha em minas, e está toda a base produtiva. E o que gera o circuito superior? Os produtos. O circuito é esse. Tem outra política que acredito ser perversa que é a política de crédito. A política de créditos gera créditos produtivos para o circuito superior e crédito de consumo para o circuito inferior. Qualquer brasileiro, sem demonstração de renda, ou com uma demonstração muito frágil, consegue seis mil reais para comprar uma televisão ou quinze mil reais para comprar um carro. Contudo, esse mesmo cidadão não consegue seis mil para comprar uma máquina. Se ele vai ao BNDS e verifica o que eles pedem de títulos em comparação, por exemplo, para Casas Bahia, esse circuito perverso faz o que? Que esse modelo de inovação se reflita. Se demonstrarmos em um gráfico, da nossa área de reciclagem, o que eu observo? Catador intermediário e ferro velho saem do circuito inferior. Vamos, então, para o circuito superior, para fundição, embalagem e produtos. Olhando da cadeia produtiva, que é o olhar que muitas vezes falta na nossa política, trabalha-se com alta tecnologia (circuito superior indicado no slide), esse trabalha com a população fragilizada (circuito inferior indicado no slide), aqui estão os pequenos agricultores (circuito inferior indicado no slide), aqui estão os mercados zona sul (circuito superior indicado no slide), aqui estão as faccionistas (circuito inferior indicado no slide), e aqui estão as confecções (circuito superior indicado no slide) e assim vai a nossa divisão. O olhar da cadeia produtiva nos ajuda a entender que de um lado está o catador de papel e do outro lado está o Pabin, mas na cadeia produtiva é o mesmo, só que um tem política e formação e o outro está excluído de informação. O que penso que precisamos trabalhar? É a experiência que estamos fazendo com o lixo eletrônico (apontando para o slide). Qual a resposta que a gente está trabalhando? Se tivermos só a produção incentivada do consumo pelo consumo, e não tivermos uma resposta para o resíduo gerado, ou considerar que o celular é igual a lixo e não à matéria-prima, vamos estar em um processo de in-
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sustentabilidade absurdo. Agora, podemos manter outra visão para entender que aquilo que é chamado de lixo industrial é matéria-prima, e olhando de uma perspectiva - que não da Comlurb ou de limpeza urbana - científica e tecnológica e de política industrial, a reciclagem deve haver como um circuito produtivo e não como política social. Como é que vamos imaginar isso, tirando o catador? Não, entendendo que, aquilo é o lixo eletrônico que estamos trabalhando, domicílios e empresas. Você passa a ter uma central e aquele computador se transforma em plástico, placa, metal e vidro. Para termos uma ideia de viabilidade econômica, um computador ou um laptop custa R$0,60 centavos o quilo. Uma placa de um circuito custa R$12,00 reais, e se conseguir tirar o ouro dela, isso dispara o preço, porque as placas são formadas por ouro e todos os metais nobres. E sabem o que acontece no Brasil? Eles são tirados das placas e mandados para a China igual ao século XIX. Exportamos ouro. Voltamos a exportar ouro para a China. Enfim, o que conseguimos com a inovação? O primeiro ponto é ter bem definida de que inovação estamos falando. O segundo ponto é entender que a inovação é para a cadeia produtiva e não para o produto. O que tem que ser inovador é o processo e em todo processo. Não a ponta, que se chama marketing e design, mas temos que entender de onde ela surgiu. A outra coisa que tem de se entender é que o processo de inovação, hoje, em curso no Brasil, apoiado pelas políticas oficiais, diz-nos que temos que ser competitivos. Mas competir com quem? Temos que ser competitivos? Está bem, mas temos que ser sustentáveis e se a gente não tiver nesse indicador de inovação, os resíduos gerados por essa mesma inovação, terá um falso indicador. Eu quero um indicador de inovação que leve em consideração a cadeia produtiva e os resíduos gerados. Eu preciso saber em que medida a inovação desse celular, que é da Nokia, que vem da Noruega, está no circuito metal, e se nós não pensarmos nisso será um concurso de design, e não o nosso objetivo, que é entender o processo. Nessa perspectiva que a gente vê se que a inovação pode ser uma mola que nos movimenta, mas isso se levar em consideração toda a cadeia produtiva e o circuito de produção. Finalizando o papel, por exemplo, dos catadores
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no Rio de Janeiro. O que tem de reciclagem hoje no Rio? Eu diria que existe, porque existe o catador. É impressionante que não temos uma política consistente na segunda cidade do país, no segundo polo econômico produtivo, a cabeça pensante. Temos outros exemplos, o lixo eletrônico - cooperativas populares que fazem, catação em rua, aproveitamento daquele material, catadores de óleo de cozinha, o Programa Prove, e o lixão - quem estão lá são catadores reaproveitando de grandes espetáculos (escolas de samba e show de rock); cooperativas e ecobarreiras que é a tentativa de fingir que a Baía da Guanabara não é poluída. Quero dizer o seguinte, se não olharmos isso como base produtiva e como perspectivas industriais e de inovação, denominamos isso de política social ou de meio ambiente. Na minha concepção isso não é uma política social nem de meio ambiente. Essa base sócio-produtiva não é tecnologia social é parte da cadeia produtiva ou resultante do modelo tecnológico. Então, para nós, o entendimento é: como isso pode se transformar em uma política efetiva? Fazemos com a reciclagem, que é minha área, porém eu não teria dificuldade de fazer para a agricultura, para a construção civil e todas as áreas. A tecnologia de construção civil aqui no Brasil é de ponta. Agora a base, nem podemos começar o assunto, não é? Mais arcaico não existe. Não tem mais como, cimento e areia; areia clandestina... Então, é nessa perspectiva que nós entendemos a inovação. Obrigado!
Escola de Engenharia 4 de Dezembro de 2012 Palestrante: Jorge Luiz Barbosa (Coordenação do Observatório de Favelas/ Instituto de Geociências –UFF
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gradeço imensamente, em meu nome e em nome do Observatório de Favelas, a oportunidades de estar aqui e parabenizar aos organizadores desse evento de importância, e à própria Universidade Federal
Fluminense. Reunirmos-nos e trocarmos ideias sobre inovação, tecnologia social, já é um grande momento para a universidade. Importante é, também, ter companheiros de outras universidades aqui presentes para que possamos trocar essas experiências. Gostaria de enunciar meu lugar de fala, porque quando não enunciamos nosso lugar de fala, acabamos não provocando uma conversa mais sincera e mais aberta. Então, começo enunciando uma concepção de tecnologia social, que não é um conceito fechado, não é um conceito amarrado. É uma concepção que nós entendemos: o que é uma tecnologia social? Na verdade, tecnologia social, para nós, é sistema aberto e dinâmico que envolve múltiplos atores, agentes e territórios. Ela teria cinco pilares básicos de construção que são seus qualificadores, talvez até nem sejam seus qualificadores... Porém, seriam eles: Primeiro – A produção compartilhada do conhe-
cimento; segundo - A difusão de metodologias; terceiro – A mobilização social envolvendo sujeitos, agentes, atores e movimentos sociais; quarto – Articulação política para arranjos institucionais, e esses arranjos funcionais não são, exclusivamente, de órgãos e de agente do estado, mas de entidades da sociedade civil; e por fim, o quinto – Ação pública no território. Esses seriam os cinco pilares que não são, necessariamente, hierárquicos, ou seja, a tecnologia social pode emergir da produção compartilhada do conhecimento, como pode emergir da ação do território. E também ser de um arranjo político institucional, ou seja, esses cinco pilares, ao mesmo tempo, são cinco qualificadores. Nós preferimos trabalhar com o qualificador à com o indicador, embora os indicadores sejam importantes. No entanto, os indicadores tendem muito a se quantificar a partir
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REVISTA AGIR Nº 4 • 2014 de metas, e as metas que são sempre quantitativas, não podem responder pela mudança qualitativa da sociedade, tal como o Gonçalo aqui levantou, creio eu. O que todo mundo chama de qualidade de vida, precisa ser transformada, essa qualitativa da sociedade. Podemos discutir o que é qualidade de vida. Mas enfim, eu apresento para vocês um programa que nós desenvolvemos, no qual trabalhamos com esses cinco pilares e com essa concepção em geral. Eu o trouxe pelo tema que nós entendemos que é um tema fundamental para a sociedade brasileira. O Gonçalo trouxe a questão dos resíduos tecnológicos, do lixo. Nós ainda estamos falando de pessoas que são tratadas como resíduos; jovens, negros, pobres de favelas e periferias, que são seres humanos, que são ativos, criativos, mas tratados como resíduos. Inclusive, lhes são dada a condição de fora da humanidade, justificando todo o tipo de violência contra eles. Vocês sabem que morrem mais jovens no Brasil do que nos quase 70 anos de ocupação da terra dos meus avós, na Palestina. Então, temos uma ordem de 65 mil jovens que morrem por ano no nosso país, na maioria jovens, negros, do sexo masculino e residentes em favelas ou periferias, e que a maioria deles jamais teve uma passagem pela polícia. Então, estamos diante de um processo de extermínio. Para superá-lo, entendemos que é preciso tecnologia social. Então, nós instituímos esse programa de redução da violência letal contra adolescentes e jovens e tivemos uma parceria com o laboratório de Estudo da Violência da UERJ, com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e também com a Unicef, ou seja, um arranjo institucional necessário para essa ação. Bom, qual é a origem desse projeto? Ele saiu de um projeto anterior chamado Programa Rota de Fuga, no qual nós fizemos um acompanhamento longitudinal de 260 jovens empregados no tráfico de drogas de diferentes facções do Rio de Janeiro. Fizemos um acompanhamento de 2005, 2006 e 2007, e chegamos a uma conclusão de que 60% desses jovens, que nós entrevistamos, foram mortos. A partir daí, nós começamos a trabalhar com algumas questões muito fortes. Primeiro, era a questão da confiabilidade dos dados sobre a mortalidade de jovens; segundo, era grande a desarticulação e a fragmentação de ações inexistentes, em termos de proteção e de prevenção da violência contra os jovens; a outra era a dificuldade de replicação e de sustentabilidade de programas e de projetos locais, ou seja, as ações eram muito pontuais e fragmenta20
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das e não tinham impactos maiores, no sentido da prevenção, da garantia da vida e do baixo impacto da redução da violência, ou seja, nós partimos dessas condições. Então, nós precisamos apressar esse programa a partir da mobilização da articulação da sociedade em torno do tempo - era muito importante construir uma mobilização da sociedade em torno do tempo, sensibilizar em torno do tempo - ou seja, chamar a atenção para o extermínio de jovens, negros, pobres e das periferias, e colocar a questão fundamental, que é o direito à vida. Gonçalo colocou o direito a qualidade de vida, mas para determinados grupos sociais temos que chegar ao ponto de lutar pelo direito à vida. Construir instrumentos, mecanismos que pudessem monitorar e identificar não só as causas, mas onde elas acontecem. Dramaticamente, a maior parte desses jovens morre a três ou quatro quilômetros das suas casas, das suas residências. Isto mostra que a restrição da mobilidade desses jovens na cidade - sabemos que a mobilidade é fundamental para o acesso a serviço, bens e exemplos quais forem - enquanto cidadãos é fundamental, porque os direitos estão desigualmente repartidos na cidade. Observem, esses jovens até para morrerem, eles morrem perto das suas casas, o que mostra a restrição da mobilidade social que tem na cidade, ou seja, quanto mais o jovem tem uma vida, uma mobilidade restrita, mais a sua experiência de tempo-espaço é diminuta, ou seja, esse jovem vivo perde a capacidade de ter o poder de sonhar. Outra questão era de como poderíamos identificar metodologias que já estavam sendo construídas por outras instituições, outros parceiros, outros movimentos, analisar essas metodologias, e convocar esses parceiros para construir metodologias inovadoras, e, junto com eles, trabalhar na direção da prevenção da violência, sobretudo, na administração da letalidade. Nós entendemos, também, que esse programa não poderia só ficar restrito a uma favela, porque a questão não era entender que a favela é um espaço da violência. As favelas são os espaços mais vulneráveis à violência urbana, era essa a concepção. Por conta de quê? Da perda da soberania do Estado nesses territórios, que abriu mão dessa soberania pelo tráfico de drogas e por uma ação militarizada e antes da polícia, ou seja, essas comunidades foram abandonadas pelo Estado. Foi uma política de sitiamento e de potencial da violência dentro dessas comunidades, tornando-as mais vulneráveis à
REVISTA AGIR Nº 4 • 2014 violência urbana. E, aí, nós pedimos que não poderia ser um projeto que se vinculasse a uma, a duas favelas ou a três favelas, e que nem seria um projeto de mediação de conflito. Não queríamos ensinar nenhum jovem a trocar com o povo. Na verdade, entendíamos que esse projeto tinha que ter uma escala nacional, porque são nas regiões metropolitanas que estão os espaços de maior vulnerabilidade dos jovens na sociedade brasileira, ou seja, as regiões metropolitanas são as regiões mais violentas, e nós entendíamos que uma ação na região metropolitana era fundamental. Precisávamos de um trabalho coordenado que envolvesse esses espaços mais violentos. As nossas cidades são muito violentas, são máquinas de reprodução de violência, então, daí entendemos que nós precisávamos ter escala nesse projeto. Então, trabalhamos com dezesseis regiões metropolitanas. Repare a tamanha brutalidade, o tamanho, a dimensão da letalidade desses jovens e como era necessário um projeto, um programa de escala nacional. É claro respeitando as especificidades de cada metrópole, mas entendendo que esse vem sendo um programa de caráter nacional, daí que nossos parceiros fundamentais, além da Unicef, a Secretaria dos Direitos Humanos da República, entendendo que a questão era maior, que a questão da redução da violência era a garantia dos direitos humanos. Trabalhar, também, o território de dentro dessas regiões metropolitanas que tivessem altas vítimas de sífilis entre adolescentes e jovens. O período de desenvolvimento desse trabalho foi feito de 2008 a 2011. Para isso, nós tentamos trabalhar a parceria com a Unicef, nessa articulação do marco da agenda social da criança e do adolescente, ou seja, para isso era necessário uma articulação política, para que não se tornasse uma coisa qualquer dentro de um determinado território, mas para que chegássemos a esses territórios mais marcados pela violência urbana. O desenvolvimento é muito importante dentro da tecnologia que a gente desenvolveu, são as estratégias de comunicação. Como é que a gente comunica isso? Como é que a gente sensibiliza? Como é que a gente mobiliza? Ou seja, isso só vai se constituir enquanto uma política que se enraíze no território, se ela garantir o processo de comunicação de troca entre agentes, apoios e sujeitos que já tenham alguma intervenção no território, na proteção, na garantia dos direitos, dentre eles, a questão da vida
que tange a contribuição para que as instituições, e também esses agentes, apoios e sujeitos pudessem se inserir numa política de redução da letalidade. Outra questão foi a partida de um conjunto de oficinas com adolescentes e jovens dessas dezesseis regiões metropolitanas para que eles se tornassem multiplicadores na questão dos direitos humanos e do direito à vida, e isso envolveu grupos de hip hop e grafite, ou seja, vários modos de sensibilizar e trazer esse debate para a sociedade civil, para que essa se tornasse protagonista do processo, e tivesse nesse protagonismo os jovens. É isso que é importante também, ou seja, não é uma coisa que possa ser construída de forma hierárquica. Se você não sensibilizar, mobilizar, acolher esse jovem, que é vítima ou está exposto a esta situação, dificilmente nós vamos garantir o sucesso da política pública, porque é necessário que os direitos estejam em ação na prática, e não formalmente estabelecidos numa legislação. Então, a ideia é que esses jovens possam ser os protagonistas desse processo, inclusive, se tornarem aquelas pessoas que possam, não na “prática denuncista”, mas numa prática política de intervir dentro dos seus territórios e construir redes colaborativas de levantamentos de dados, de sensibilização de instituições, inclusive culturais, para a temática e para a política, porque a cultura produzida na periferia não é só como bem de serviço, não é uma cultura produzida como uma mercadoria, não é um mero show, não é um mero filme, não é um mero vídeo, ou seja, há uma preocupação clara, artística e estética, na produção cultural da periferia. Ela, sobretudo, é uma cultura de mobilização social, de direitos e de prática política. E, aí, entendemos que esses grupos vinculados à produção da cultura e da arte na periferia, seriam importantes nesse processo de mobilização, e sensibilização e também de produção do conhecimento. Isso foi importante para nós, porque passamos a construir algo que foi fundamental, o índice de homicídios na adolescência para todos os municípios com mais de 100 mil habitantes. Criamos um índice para ser monitorado, mas não monitorado só pela Secretaria, mas pela Associação de Moradoras, pelo Sindicato, pelo Clube dos Funks, pelo Clube de Hip Hop e pelo Clube de Pagode, então ele pode ser monitorado pela própria sociedade civil, para saber como esse índice tem aumentado ou diminuído dentro do seu território, do seu bairro, do seu município. Esse índice foi baseado no risco relativo em função da idade, do gênero, da raça e www.proppi.uff.br/portalagir
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REVISTA AGIR Nº 4 • 2014 do território em que a vítima habita, ou seja, englobamos todas as variáveis para demonstrar que o jovem negro, pobre, de baixa escolaridade, de baixa empregabilidade e morador da favela tem um risco relativo muito maior do que qualquer jovem branco que mora em outros territórios da cidade. O monitoramento e a análise de como a redução da violência letal ou ampliação é, em cada território, bairro, município ou região metropolitana, é uma forma da sociedade civil se apoderar e cobrar das autoridades, da polícia, do governador, do diretor da escola e do diretor do posto de saúde e dos Estados de operadores de sistema das chamadas políticas públicas, porque essas elas não podem ser fragmentadas e setorizadas - os operadores de sistema também têm uma responsabilidade em relação a isso, o diretor da escola, o médico do posto de saúde, o assistente social, e não só o presidente da associação de moradores. Assim, fica claro como a evolução está correlacionando uma coisa a outra, ou seja, o que está se tentando tecer é uma política pública de redução da violência letal. Então, com essas metodologias de intervenção, fizemos um levantamento e uma análise das políticas públicas, programas e projetos que tinham, como foco, a prevenção e a redução da violência. Nós vimos que infelizmente não havia programas de prevenção e nem de redução, havia programas de constatação e projetos genéricos, mas que não continham ferramentas conceituais e metodológicas para atuar, e que era necessário que construíssemos esse programa de redução e de prevenção. O objetivo é que a gente possa identificar, e, com essa identificação, orientar a população no fortalecimento de políticas públicas que envolva não só a Secretaria de Direitos Humanos, que poucos municípios têm, mas que envolva uma intersetoriedade com o serviço social, com a saúde, e que a questão da redução e da prevenção da violência não fosse única e exclusivamente uma atividade do setor de segurança. Em verdade, é triste o país que tem que precisar do setor de segurança como garantidor da cidadania, então nosso país é bastante triste. Então, nós fizemos a aplicação de questão-análise em Secretarias Estaduais e Municipais, e um acompanhamento qualitativo desses programas e projetos, e por fim resultou um conjunto de publicações de livros, de análises e estudos. O mais importante, que eu trouxe para vocês aqui, é o “Guia municipal de prevenção da violência letal contra adolescentes e jovens”. Esse guia, na verdade, tem os itens de que 22
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falei no início, os nossos pilares da tecnologia social. Ele é um guia para os gestores municipais, para o Presidente da Associação de Moradores, para o grupo de hip hop entre outros, que mostram como nós podemos fazer uma “política consertada”, ou seja, uma “consertação democrática na política”, envolvendo diferentes atores e agentes, instituições públicas e instituições da sociedade civil, e construindo uma política baseada em uma tecnologia social que visa o direito à cidade. E em nossas conclusões, já entendemos que a redução da violência letal só vai ser possível com direito à cidade, e isso passa pelo projeto de uma cidade mais generosa que visa o futuro das novas gerações.
Foto ilustrativa: “Guia municipal de prevenção da violência letal contra adolescentes e jovens”
Edição da transcrição do áudio da palestra para publicação: Philipe Costa – Bacharel e Licenciado em Ciências Sociais - UFF, Licenciado em Artes Plásticas - UFRJ, especializado em Design de Interiores – Instituto Bramante de Arquitetura e Design .
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Gerando impacto social através de sua atividade principal: o contexto da Incubadora Tecnológica e Social da USP Leste - HabITS Profª Drª Luciane Meneguin Ortega - E-mail: luciane.ortega@usp.br
1. A INCUBADORA, A USP LESTE E A SOCIEDADE. Uma das motivações para a criação da Incubadora Tecnológica e Social da Universidade de São Paulo, hoje denominada HabITS – Habitat de Inovação Tecnológica e Social/Incubadora-Escola, foi pensar numa forma de explorar o universo de conhecimento presente dentro da instituição de ensino, de modo aplicado à sociedade e voltado, principalmente, para a Zona Leste de São Paulo. A Zona leste de São Paulo é uma região que abriga hoje mais de quatro milhões de habitantes, e é considerada uma região
“dormitório” da capital paulista. Esse termo se deve ao fato de que as pessoas trabalham em outras localidades da cidade e somente utilizam suas casas para dormir. Há inúmeras tentativas de melhorar as condições de vida de tal população, mas quando o campus da USP foi criado nesta região, idealizou-se exatamente isto: trazer para o local um acesso a conhecimentos antes distantes. Com quatro anos atuando como docente da unidade, torna-se notável o fato de que a instalação em tal região da capital paulista realmente tem sido um marco: trouxe a comunidade para dentro da universidade por meio de diversos projetos de pesquisa, de ensino e de extensão. Entretanto, há muito que ser feito. Para que haja um retorno escalável, há necessidade de que inúmeras iniciativas ocorram concomitantemente. Neste sentido, é que o projeto de se ter uma incubadora voltada para inovações tecnológicas, em termos de inovações sociais, despontou-se. Este projeto integra os diversos públicos da comunidade da USP e da Zona Leste. De um lado, o grupo docente e discente da USP Leste, que, por suas características inovadoras, é voltada, fortemente, para ações de inovação tanto em termos sociais como tecnológicos. Por outro lado, o ambiente social, onde o campus está instalado, representa uma
fonte de inspiração natural para a busca de soluções que melhorem a qualidade de vida da sociedade que orbita em torno dessa fonte de desenvolvimento do conhecimento. Dessa forma, a incubadora busca transformar ideias em ações concretas que possam ser empreendidas e que, assim, se tornem efetivas as inovações que contribuam para todos os públicos sociais, empresariais e governamentais, não restritas às universidades. Ou seja, a incubadora busca desenvolver empreendimentos inovadores para ampliar o índice de sobrevivência e a competitividade de empresas, visando o crescimento da economia brasileira, e o aumento da geração de empregos qualificados e de melhores resultados na balança comercial brasileira. Também visa a criação e a realização de tecnologias avançadas nacionais, o que pode reduzir muito os custos, favorecendo o desenvolvimento do país. E ainda, visa a formação de equipes de professores e de alunos para dar apoio às diversas atividades do empreendedorismo e da inovação na USP Leste. Mas para que isso continue a ocorrer, aponta-se o importante apoio que a universidade recebe constantemente da comunidade local. Há total apoio das comunidades para esta inserção, e isto se torna essencial para que qualquer benefício possa ser instalado na região. As comunidades
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REVISTA AGIR Nº 4 • 2014 locais aceitam todos os trabalhos que a USP Leste vem oferecendo de forma bastante efetiva e agradável, o que estimula ainda mais uma aplicação, na região, de ideias que tragam benefícios para a região. 2. CONCEITOS INTRÍNSECOS A fim de se entender o significado de instituir uma incubadora com características sociais, realizou-se pesquisas e visitas à inúmeras instituições. Dentre os resultados, adotou-se o conceito de que inovações sociais são semelhantes aos chamados negócios sociais. O conceito dos negócios sociais traz consigo diferentes opiniões sobre sua definição. No caso da incubadora da USP Leste, acredita-se que são negócios economicamente rentáveis e que, por meio da sua atividade principal, buscam soluções para problemas sociais, utilizando mecanismos de mercado. Geram impacto social por meio de atender às necessidades básicas, possibilitar acesso a produtos e serviços que melhoram a produtividade ou reduzem os custos de transação e/ou, incluem pessoas marginalizadas do mercado na cadeia de valor. Inserida nesse contexto, considera-se tecnologia social todo produto, método, processo, metodologia ou técnica, criados para solucionar algum problema social e representar soluções para o desenvolvimento social e melhoria das condições de vida da população, trazendo abrangência e impacto social em escala considerável. Outra característica extremamente importante é o fato de se constatar que há dois tipos de inovações que geram qualidade de vida e bem social, pelas quais se tem a inovação com o objetivo de trazer melhorias para a sociedade e inovações geradas para consumo. No caso da incubadora da USP Leste, os projetos selecionados visam trazer o primeiro tipo de inovação, ou seja, são projetos que geram qualidade de vida e bem social, objetivando melhorias para a sociedade. Portanto, utilizando-se destes conceitos e características apresentados para classificação de um negócio social, a incubadora da USP Leste considera tecnologia social algo que gere impacto social através da atividade principal, alcance a Sustentabilidade Financeira embutida no Modelo de Negócios e traga inclusão da base da pirâmide ou de grupos desfavorecidos. Além disso, é essencial que esses negócios tenham métricas de acompanhamento sobre os impactos e que elas façam parte da gestão cotidiana do negó24
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cio, para que não fique um discurso ou uma ação inicial sem continuidade. O modelo de negócio dos negócios sociais deve viabilizar sua autossuficiência financeira, ou seja, as receitas geradas devem ser suficientes, pelo menos, para cobrir todos os custos e investimentos associados à operação do negócio. Portanto, a incubadora apoia negócios sociais com figura jurídica de empresas que busquem, mediante a modelos economicamente viáveis, impactar e transformar a vida das pessoas contribuindo para um mundo melhor. 3. HISTÓRICO: SURGIMENTO DA INICIATIVA DA INCUBADORA E PROJETOS INCUBADOS A Incubadora Tecnológica e Social da USP Leste teve o começo de suas atividades no dia 8 de fevereiro de 2012, quando seis equipes selecionadas seguiram um cronograma estabelecido pela Comissão Assessora da Direção composta por três docentes: Profª Drª Luciane Meneguin Ortega; Profª Drª Jane Marques e Profº Drº Francisco Alvarez. A comissão conta também com o apoio de diversos docentes e professores inseridos nos dez cursos do campus e com parceiros formais e informais, que muito têm auxiliado e feito diferença no processo, tais como: a Agência USP de Inovação - AUSPIn, SEBRAE SP, o Núcleo de Empresas Juniores da USP Leste, o Instituto ENDEAVOR Brasil, e a Incubadora AGENDE Guarulhos. A incubadora da USP Leste está em concordância jurídica e respaldada pela reitoria da Universidade de São Paulo e pela Agência USP de Inovação. Entretanto, em termos de unidade, a incubadora está diretamente ligada à direção da Escola. Quanto ao seu modo de gestão, ela é operada no modelo denominado de SoftOpenning, para qual se tem oito meses para ajustar todos os processos internos e, assim, abrir um novo edital para novos projetos inovadores. A cada incubado é atrelado um “anjo” com o papel de supervisão dos negócios, sendo que esse poderá ser um docente ou um empresário, dependendo das características do projeto. Entretanto, cada projeto tem sua própria equipe e está responsável por ela em todos os sentidos. Nesta fase de SoftOpenning, além da infraestrutura física básica, todos o incubados têm oportunidade de fazerem cursos de formação básica, de aperfeiçoamento e de preparo do seu produto (proposto no projeto), para expô-lo a possíveis investidores. Após os oito meses, cada projeto passa por nova
REVISTA AGIR Nº 4 • 2014 análise e se enquadra em novo modelo de governança que a Comissão desenha. Há seis projetos incubados nas seguintes áreas: Processos de Aprendizagem Virtual; Socialização e Comunidade de Idosos; Comunidade de Aprendizagem em Libras; Desenvolvimento de Banco Social; Reuso Têxtil; e, Projetos de Sustentabilidade. São eles: 1. Empresa CoomprAtiva. Objetivo: Desenvolver a economia das regiões dos bancos comunitários e revitalizar a receita do banco, reforçando seu capital de investimento para gerar mais projetos e iniciativas de desenvolvimento local. 2. Empresa Língua Brasileira de Sinais (Libras): um universo silencioso. Objetivo: Confeccionar materiais didáticos em LIBRAS, cujos conteúdos estejam voltados para a disciplina escolar de ciências com vídeo aulas + material impresso + material online. 3. Empresa OPA! Orientação Particular e Acompanhada. Objetivo: Transformar o contato virtual entre idosos e empresas, em uma relação de cuidado e comprometimento; 4. Empresa Quanti.ca - Desenvolvimento de ambientes de aprendizado virtual com foco em usabilidade e acessibilidade. Objetivo: Processos de Aprendizagem Virtual.
5. Empresa Reciclagem e reuso de Têxteis. Objetivo: Desenvolvimento de novos produtos por meio de reciclagem e reuso de têxteis. 6. Empresa EcoDesempenho. Objetivo: Oferecer consultoria em gestão ambiental para promover o desempenho ambiental das organizações, a partir de soluções e inovações tecnológicas para os produtos e os processos produtivos. 4. CONSIDERAÇÕES Considera-se a Incubadora Tecnológica e Social da USP Leste como um modelo híbrido de gestão que insere preceitos de inovação tecnológica e de inovação social dentro da universidade brasileira, fazendo desse ambiente um cenário capaz de atrelar os conhecimentos gerados na universidade à sociedade. Essa aplicação é realizada por ações conjuntas, tanto em termos de disciplinas voltadas para o empreendedorismo e para a inovação, visando fortalecer o conceito de incubadora-escola e dos projetos incubados, mas também no próprio ambiente de empreendedorismo que vem sendo disseminado no campus por meio de ações diretas com a comunidade. Sendo assim, acredita-se que a expansão para outras regiões ou cidades paulistanas possa ser possível, desde que haja, localmente, interesse social, econômico e político para o projeto caminhar.
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A Importância do Capital Social na Conservação do Meio-Ambiente e na Melhora do Bem-Estar Social
Emmanoel de Oliveira Boff Professor Adjunto Faculdade de Economia – UFF
O trabalho realizado em parceria com a ONG Água Doce Serviços Populares em Suruí, Magé, faz parte de um dos muitos projetos que são desenvolvidos dentro do CEDE (Centro de Estudos sobre Desenvolvimento e Desigualdade). Este centro reúne professores de diferentes departamentos da UFF, visando a geração de pesquisas e de debates públicos nas diversas áreas relacionadas a questões econômicas e sociais. Uma das preocupações dos membros do CEDE é entender como um conjunto organizado e estável de relações sociais – incorporadas nos mais diversos tipos de instituições – pode gerar 26
bem-estar tanto para os membros dessas instituições quanto para a sociedade como um todo. Este bem-estar, não se reduz à renda monetária, mas também compreende níveis menores de violência e de miséria e o acesso mais amplo a bens públicos básicos, como educação e saúde de qualidade. De forma bastante geral, todo o estudo relacionado a estas instituições (como escolas, hospitais, associações, redes de ajuda mútua, cooperativas e mercados) envolve a possibilidade de aplicação de tecnologias sociais. Ou seja, envolve estudar como os modos diversos de relações possíveis entre os agentes destas instituições e os recursos de que eles dispõem e usam, podem ser úteis no aumento do bem-estar social. Se pudermos propor modos novos de relações entre os agentes e estes recursos disponíveis, poderemos criar uma inovação social. Em termos práticos, o resultado das inovações sociais é o aumento do bem-estar social. Evidentemente, as tecnologias e as inovações sociais não possuem a mesma natureza das tecnologias e inovações físicas. Em primeiro lugar, não é possível realizar experimentos com relações pessoais da mesma forma que se faz com objetos brutos. Consequentemente, e em segundo lugar, também não se pode dispor de um modelo de inovação feito para economia
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física (como a tripla-hélice, a linear etc.) para gerar inovação social. Por fim, o patenteamento de uma inovação social também não é simples de ser realizado – como impedir que os métodos organizacionais bem sucedidos de uma instituição não sejam imitados pelas demais? E não seria, de fato, positivo que tais métodos fossem, de fato, imitados, pelo seu impacto no bem-estar social? Estas dúvidas apontam para a necessidade de criação de índices de inovação social, que permitam aferir seu impacto em termos de bem-estar. É dentro desse contexto que a pesquisa em Suruí foi realizada. A preocupação que norteou a pesquisa foi a possibilidade de mudanças climáticas e o aumento do “déficit ecológico” global. Eles apontam para a necessidade de uma mudança na relação das atividades humanas com o meio-ambiente. Essas mudanças envolvem tanto a necessidade de diminuir o “transumo” (throughput) per capita, quanto a necessidade de manejar recursos naturais com menor impacto, em termos de geração de poluentes e degradação de recursos. De que forma as relações que as pessoas cultivam entre si e as instituições de que participam podem intervir nesta mudança? De que forma políticas públicas, que incentivem a formação de certos tipos de relações interpessoais e instituições, podem auxiliar neste processo
REVISTA AGIR Nº 4 • 2014 de mudança? O trabalho desenvolvido no distrito de Suruí, em Magé, durante o ano de 2011, visa lançar alguma luz sobre as questões acima. E, como se pode ver, ele também está relacionado à preocupação de como relações sociais podem interferir no difícil processo de mudança nos padrões de produção e de consumo que devem ocorrer nas próximas décadas. A hipótese que balizou a pesquisa é de que a rede de relações e de instituições com que as pessoas participam pode ter impacto positivo na conservação/restauração de bens ambientais. Para comprovar esta hipótese, foi realizado um trabalho empírico no entorno do rio Suruí, em Magé, região da Baixada Fluminense. Por meio de questionários semiabertos, seiscentos moradores foram entrevistados com o objetivo de mensurar a frequência e o tipo de atividade social que realizavam, bem como sua escolaridade, emprego, renda e o fato de ser morador da região de Suruí. De posse destes dados, dois objetivos foram cumpridos: 1. Medir o capital social da comunidade que vive no entorno e utiliza o rio Suruí, em Magé; e 2. Por meio de uma regressão linear múltipla, verificar a correlação do capital social, da renda e do fato de ser morador de Suruí, na valoração monetária que a população local e frequentadores fazem do rio Suruí. O método utilizado foram os mínimos quadrados ordinários (MQO). O fundamento para testar a hipótese de que o capital social teria algum impacto sobre a disposição em conservar o rio Suruí, dá-se pelo fato de os bens ambientais terem caráter público. Desta forma, uma comunidade, onde as relações sociais sejam variadas e densas, pode influir na decisão dos indivíduos com relação à conservação do bem ambiental. Os mecanismos por meio dos quais esta influência pode ser transmitida são: 1.a partilha de informações; 2. diminuição nos custos de transação e 3. a redução de dilemas de ação coletiva. (Isham, 2002). Os resultados da pesquisa apontam que o capital social em Suruí é baixo (um valor de cerca de dez em um máximo de trinta e dois) e que há, sim, uma correlação entre as relações interpessoais entre os moradores de Suruí e a disposição em pagar (DAP) para conservá-lo. Embora o valor individual médio desta disposição seja baixo, deve-se levar em conta que, ao multiplicarmos o valor por toda a população de Suruí, chegaremos a uma DAP total elevada. Ao mesmo tempo, pode-se extrapolar a questão da pesquisa fazendo a pergunta: e se o capital social da população de Suruí fosse mais elevado, qual seria a
nova DAP da população? Ou seja, qual o impacto destas relações sociais na disposição para conservar o rio Suruí? Ainda no prosseguimento desta pesquisa, deve-se desenvolver um modelo teórico preciso que preveja como o capital social, por meio dos mecanismos acima, pode impactar, causalmente, a DAP dos agentes. Este modelo teórico ainda não foi elaborado, já que o próprio conceito de capital social é controverso na literatura. O mesmo se sucede com o conceito de desenvolvimento sustentável. Dessa forma, optou-se, nesse trabalho, por se realizar um estudo exclusivamente empírico. Os eventuais resultados empíricos positivos podem basear a formulação de um instrumental teórico específico, que mostre como o capital social (entendido dentro do arcabouço de uma teoria das redes) pode aumentar a disposição dos indivíduos a pagar para conservar um determinado bem público ou ambiental. Dentro do CEDE, há diversos trabalhos que tratam, de alguma forma, com inovações sociais, e não apenas no nível microeconômico, como é o caso do nosso trabalho. Por exemplo, o próprio Estado de Bem-Estar social é uma grande inovação social que se espalhou por grande parte do mundo no pós-guerra e elevou o bem-estar das populações de diversos países. Quais são as mudanças por que ele passa na contemporaneidade? Já podemos dizer que existe um Estado de Bem -Estar social no Brasil? Questões de caráter macro, como essas, são desenvolvidas pelos demais membros do CEDE - http://www.proac.uff.br/ cede/.
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Desafios para mensuração estatística da inovação em serviços Alessandro Maia Pinheiro
Gerente da Pesquisa Oficial de Inovação (PINTEC/IBGE); Professor Colaborador do Instituto de Economia (IE/UFRJ). “O IBGE está isento de qualquer responsabilidade pelas opiniões, informações, dados e conceitos emitidos neste artigo, que são de exclusiva responsabilidade do autor”.
1. Importância dos serviços A inovação do século XXI está associada a um crescente grau de complexidade, dado que envolve participação de novos protagonistas, ferramentas digitais, arranjos organizacionais e práticas gerenciais, que podem se integrar para gerar novos processos, bens e serviços. Entre os protagonistas, destacam-se firmas de serviço, que vêm respondendo pela maior fatia do Produto Interno Bruto (PIB) no conjunto dos países desenvolvidos, e seu desempenho econômico tem levado à conclusão de que o setor deveria merecer maior atenção por parte da literatura especializada e de policy-makers. Igualmente, vem se consolidando a percepção de que este segmento – no passado consi28
derado improdutivo pelos fundadores da Economia Política – pode fornecer importantes soluções, tanto para as manufaturas, quanto para suas próprias atividades e, portanto, aumentar a produtividade e a capacidade de inovação da economia como um todo. Os chamados Serviços Empresariais Intensivos em Conhecimento (Knowledge-Intensive Business Services - KIBS) vêm sendo considerados como economicamente estratégicos por razões tais como seu potencial de disseminar e habilitar inovações no tecido produtivo, empregar pessoal relativamente mais qualificado e ser ao mesmo tempo principal produtor, comprador e usuário de TIC. Isto tem justificado a priorização de setores, como o de software e serviços de TI, por parte de governos de vários países. O resultado destas intervenções, todavia, depende da melhor compreensão da dinâmica de desenvolvimento desta indústria, incluindo características de seu processo de inovação. No entanto, como lidar, do ponto de vista da mensuração estatística, com características como intangibilidade, alta interatividade das firmas com outros atores do sistema de inovação (principalmente clientes) e simultaneidade entre produto, processo e consumo? Como mapear aquilo que não se vê claramente? 2. Premissas sobre os serviços Um produto de serviço (service product) constitui um con-
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junto de funções que representam os principais (não únicos) produtos fornecidos por determinado segmento de serviços. Na produção de um serviço, o foco principal não é fornecer um bem (material), mas organizar uma solução para um problema, colocando à disposição de um cliente uma cesta de capacitações e competências (não apenas tecnológicas, mas também humanas e organizacionais). Intangibilidade, interatividade e simultaneidade concorrem para dificultar, em muitas situações, a diferenciação entre inovação de produto e de processo. Adicionalmente, o modo, predominantemente, não formal de organização limita, mas não impede, a emergência de inovações radicais. Os serviços, normalmente, apresentam uma grande proporção (maior que na manufatura) de empresas pequenas, e isso produz efeitos sobre a organização da inovação: firmas grandes são mais propensas a desenvolver inovações dentro de estruturas mais organizadas e formais, envolvendo grupos funcionais especializados. A inovação de serviço, por seu turno, raramente se restringe às características do produto em si, dado que coincide com novas formas de distribuição do produto, de interface com o cliente, de controle de qualidade e segurança, entre outras. Uma proposta, bem recebida no meio acadêmico, procura entender a inovação de serviço a partir de quatro dimensões de novidade: (i) um novo conceito de servi-
REVISTA AGIR Nº 4 • 2014 ço (ex: implantação de um módulo/função nova de finanças incorporada a um software); (ii) mudanças nas opções tecnológicas (ex: adoção, por parte de uma empresa de arquitetura, de uma nova ferramenta de software utilizada para design de ambientes); (iii) mudanças no sistema de distribuição, ou seja, no modo como os trabalhadores se organizam para distribuir o serviço (ex: adoção de entrega on line
de conteúdo, como games, filmes, etc); e (iv) mudanças na interface com o cliente, ou seja, novos ou significativamente aperfeiçoados modos de envolvimento do cliente nas atividades de design, produção ou consumo do serviço (ex: adoção de uma ferramenta de videoconferência, que permite design interativo de um serviço). O esquema a seguir sintetiza a ideia:
Fonte: elaboração própria. Diferentemente das propostas de assimilação (aplicação automática do arcabouço conceitual do Manual de Inovação da OCDE aos serviços, o chamado Manual de Oslo) e de ruptura total com o Manual, a ideia acima pode ser considerada como uma proposta de síntese, uma vez que permite correspondências entre suas categorias de inovação e as do Manual. A inovação de conceito seria o mais próximo da inovação de produto, e as inovações, em termos de opções tecnológicas e sistemas de distribuição, seriam compatíveis com as inovações de processo do Manual de Oslo. Inovações na interface com o cliente constituiriam uma categoria à parte. 3. Estágio atual da mensuração oficial da inovação em serviços A última edição do Manual da OCDE sublinha peculiaridades do processo de mudança em serviços, tais como a grande importância de inovações incrementais e de conteúdo não tecnológico, a relevância de atividades menos formalizadas e as di-
ficuldades para estabelecer, entre outros aspectos, distinção entre inovação de produto e processo, e entre produto novo e aperfeiçoado. Todavia, ante o reconhecimento do incipiente estágio de compreensão das características da inovação nesse setor, a OCDE acaba optando por uma postura de assimilação dos serviços dentro dos moldes pensados para retratar atividades de inovação nas manufaturas, o que acaba fazendo com que dimensões importantes de mudança fiquem obscurecidas pelos surveys convencionais. Contribuições recentes de autores-referência na área orientam no sentido de abordar os produtos de serviço como um conjunto de funções capazes de transformar o estado de determinadas entidades (pessoas, artefatos, símbolos, etc.). Dependendo do tipo de transformação operada, determinados conhecimentos são requeridos e isso tende a influenciar a estrutura e a condução da inovação. Os serviços de TI, por exemplo, ao se concentrarem na modificação de símbolos (de informação), por meio do uso intenso de TIC, costumam demandar conhecimentos especializados (traba www.proppi.uff.br/portalagir
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REVISTA AGIR Nº 4 • 2014 lhadores qualificados) para lidar com problemas, relativamente, mais complexos, o que, por seu turno, requer adicionalmente estruturas flexíveis e interatividade com outros agentes no processo de inovação. 4. Os serviços na Pesquisa Oficial Brasileira de Inovação (PINTEC/IBGE) Seguindo a tendência internacional, os serviços vêm gradualmente sendo incorporados na PINTEC. A edição de 2005 marca sua introdução, mais precisamente dos KIBS: Tecnologia de Informação, Telecomunicações e P&D. Em 2008, houve um remanejamento das atividades de edição e gravação, e edição de música da indústria para os serviços, por conta da adoção da nova Classificação de Atividades Econômicas (a CNAE 2.0). A edição atual (PINTEC 2011), em fase de coleta, está encampando, pela primeira vez, os serviços de arquitetura, engenhando testes e análises técnicas, atendendo ao apelo de segmentos interessados em conhecer a inovação nessas atividades e algumas similitudes de sua dinâmica inovativa em relação aos KIBS, a exemplo de sua intensidade no uso das Tecnologias de Informação e Comunicação. No campo operacional da pesquisa, o IBGE, ponderando algumas premissas citadas anteriormente, está procurando explicitar melhor ao informante o que vem a ser uma inovação de serviço. A pergunta continua sendo a mesma regida pelo Manual de Oslo, para resguardar a comparabilidade internacional, todavia, os agentes de pesquisa explicitam
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aos respondentes que um serviço novo ou, substancialmente, aprimorado pode estar associado a um conceito, ideia, proposição ou solução para um problema, que adicione valor para a empresa, e que sejam novos ou, significativamente, aperfeiçoados, pelo menos para a própria organização. À luz da hipótese de que uma das principais características dos serviços é a sua alta interatividade com os clientes no processo de inovação, uma nova questão foi adicionada apenas para empresas de serviços, mas somente a título de experiência-piloto, no intuito de avaliar a qualidade das respostas: pergunta-se se, pelo menos, uma inovação de produto ou de processo, introduzida pela empresa, envolveu novas ou, significativamente, aprimoradas interfaces com o cliente. Um exemplo pode ser o primeiro uso de uma ferramenta de Electronic Data Interchange (EDI), que automatiza parcialmente uma ampla gama de interações, incluindo elementos de design, ordens de compra e faturamento. Confirmando-se como uma experiência positiva, a questão poderá ter seus resultados divulgados a partir das próximas edições. O acompanhamento das informações sobre inovações nos setores de serviços abordados pela PINTEC tem ratificado o acerto da decisão de investigar esses segmentos, os quais têm revelado sua importância, tal como constatado em outros países, em termos, por exemplo, de alta incidência de empresas inovadoras e elevada intensidade daqueles esforços inovativos mais robustos, a exemplo das atividades de Pesquisa e Desenvolvimento.
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Indicadores Complementares de Inovação Ione Egler - Centro de Gestão Estudos Estratégicos iegler@cgee.org.br
O que é Inovação? É a criação e a IMPLANTAÇÃO, com sucesso, de uma nova ideia, que GERE VALOR real para a sociedade.
Por que Inovar? Para permitir que empresas/empreendimentos sobrevivam e cresçam em ambiente de constante mudança ... tal como representa o gráfico abaixo.
Indicadores servem É a criação e a IMPLANTAÇÃO, com sucesso, de uma nova ideia, que GERE VALOR real para a sociedade.
• Para fixar e verificar alcance de metas; • Para acompanhar tendências; • Para construir séries históricas, comparar desempenho; • Para acompanhar a evolução de processos; • Outras finalidades ...
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Inovação para a Sustentabilidade: Uma nova cultura para uma nova era!
Inovação para a Sustentabilidade: Uma nova cultura para uma nova era!
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Para acompanhar tendências Dispêndios nacionais em pesquisa e desenvolvimento (P&D) de países selecionados, 2000-2010
Fonte(s): Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD), Main Science and Technology Indicators, 2011/2 e Brasil: Coordenação-Geral de Indicadores (CGIN) - ASCAV/SEXEC - Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Elaboração: Coordenação-Geral de Indicadores (CGIN) - ASCAV/SEXEC - Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Nota(s): 1) PPC - Paridade do poder de compra.
Para construir séries históricas, comparar desempenho ...
Fonte: United State Patent and Trademark Office (USPTO) http://www.uspto.gov/web/offices/ac/ido/oeip/taf/cst_all.htm, extraído em 05/12/2011 Elaboração: Coordenação-Geral de Indicadores (CGIN) - ASCAV/SEXEC - Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) Notas: 1) Apenas patentes de utilidade ; 2) Nos anos de 1980 e 1990 foram somados os números da Alemanha Ocidental e Oriental; 3) Números da República Popular da China ; 4) Nos anos de 1980 e 1990 os números referem-se a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS)
Pedidos de patentes de invenção (1) depositados no escritório de marcas e patentes dos Estados Unidos da América - alguns países 1980/2010
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Para acompanhar a evolução de processos (e.g. em cadeira de valor da inovação)
Fonte: Hansen e Birkinshaw (2007)
O Brasil não vai bem em inovação
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Razões para o baixo desempenho inovativo É possível construir indicadores para acompanhar diferentes perspectivas da questão
Inovações ocultas (não capturadas nem medidas)
Fonte: Nesta (2012)
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Adequação da organização do ambiente interno das empresas As empresas têm baixas eficiências em gerar ideias e convertê-las em projetos e, no Brasil, essa questão parece ser mais acentuada
Modelo Pentathlon: 5 partes interconectadas contendo um funil onde ocorre o processo de inovação
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Fase do Funil de Inovação
Pensamento Estratégico É ter clareza sobre qual inovação, crescimento e mercado se tem como meta.
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Gestão de Portfólio e Métrica É prover a estrutura e a diretriz necessárias para que o processo de inovação, nas fases seguintes do funil, tenham as melhores chances de ocorrer.
Pesquisa É definir um modelo conceitual que expresse o conhecimento da empresa sobre as tecnologias emergentes, as mudanças sociais e os valores de clientes.
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Visão É criar uma visão factível, a respeito das oportunidades de inovação, a partir da convergência das ideias geradas com as possibilidades tecnológicas, a percepção do consumidor e o conhecimento de mercado.
Mira / Foco
Desenvolvimento da Inovação É a definição de o quê e como fazer para que os protótipos cheguem às inovações completas e prontas para o mercado/sociedade.
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Desenvolvimento de Mercado É entendido como as inovações que mercado/sociedade realmente quer, e que o mercado/sociedade conheça essas inovações.
Considerações Finais Os indicadores apresentados, para cada estágio do funil de inovação, não representam, necessariamente, o conjunto de indicadores que deve ser utilizado por todo empreendimento/empresa.
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A cultura brasileira é reativa ao erro
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Desafios da Eco-inovação Liz-Rejane Issberner - Pesquisadora Titular IBICT - Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência da Informação lirismail@gmail.com
Por que eco-inovações ? Crise ecológica: • Gases estufa/mudança climática • Escassez de recursos naturais • Resíduos da produção/consumo x absorção pela natureza • Poluição x saúde humana • Destruição de ecossistemas: - diminuição da biodiversidade - ameaça a culturas tradicionais - refugiados do clima - oferta de água - terras agricultáveis, etc.
Temperaturas médias globais
Diante disto, que pressupostos políticos para enfrentar a crise? Positivista/dogmático: • Liberais - A tecnologia irá encontrar meios de resolver todos os problemas. O mercado dará sinais apropriados • Intervencionistas - O Estado irá adotar políticas adequadas. A ciência pública dará respostas para atender as demandas da sociedade • “Negacionistas” – Não está acontecendo nada!
Como é o atual paradigma produtivo/inovativo? • Ganhos de produtividade do capital e do salário (recursos naturais?) • Obsolescência programada x uso/descarte recursos naturais • Globalização da produção e do consumo x emissões • Gerência de produção: custo de estoques x número de deslocamentos da frota e emissões • Impactos ambientais negativos podem surgir em qualquer fase do ciclo de vida: extração, produção, consumo ou pós-consumo
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Paradigma do baixo carbono: baseado no uso de energias renováveis, novos produtos e processos que visam o aumento da eficiência no uso de recursos naturais. Eco-inovações incrementais e radicais são chave • Comissão Europeia: “a produção, assimilação ou exploração de um produto, processo de produção, serviço ou gestão ou método de negócio que são novidade para a organização (que desenvolve ou que adota) e que resultam, durante todo seu ciclo de vida, em uma redução do risco ambiental, da poluição e de outros impactos negativos do uso dos recursos (inclusive uso de energia comparados a alternativas relevantes.” Vantagem dessa definição: compatível com o Manual de Oslo (OECD, 2005), onde a inovação não tem que ser nova no mercado; somente tem que ser nova para a organização que desenvolve ou que adota. Desde 2010 a Community Innovation Survey* (CIS 2008) criou um módulo especial para coletar dados sobre inovações com benefícios ambientais. Inovações com benefícios ambientais podem ocorrer durante a produção de um bem ou serviço, ou durante o uso pós-venda de um bem ou serviço pelo usuário final. * O CIS é uma pesquisa de atividades da inovação das empresas em estados de membro da EU. Coleta informação sobre inovação de produto e de processo assim como de inovações organizacionais e de marketing, além de outras variáveis chaves durante o período de 20062008.
Métodos para medir eco-inovação
Fontes: KEMP (2009). Baseado em OCDE (2009) e ARUNDEL E KEMP (2008)
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Fonte: Viola Peter at ECO-DRIVE – apresentação de workshop
Tipos de Eco-inovadores
Alternativas para medir eco-inovações* Entender as implicações das eco-inovações implica levar em conta, de forma sistêmica, as consequencias de suas aplicações. De fato, eco-inovações precisam ser analisadas em três níveis: micro (produto, serviço, processo, empresa); meso (setor, cadeia de suprimento, região, sistema produto/serviço); e macro (nações, blocos economicos , economia global).
* Europe Innova – Innovation Watch - Systematic
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O que políticas precisam levar em conta • Que objetivos se busca atingir? medidas físicas x monetárias • Que estímulos fornecer? • A lógica global e os acordos internacionais? • A “pegada ecológica” ideal por pessoa é de 1.2 hectares => Mas se a população continuar crescendo... • As medidas de eficiência no uso dos recursos tende a baixar => Mas se aumentar a quantidade de produtos produzida a maior eficiência pode não se refletir nos números absolutos do uso de recursos naturais ou emissões.
Conclusões
Considerando que a técnica não é « neutra », que ela se desenvolve em uma sociedade que a orienta em função de suas finalidades, é ilusório pensar que uma sociedade « produtivista », dominada pela busca do lucro, possa desenvolver inovações que permitam reorientar seu desenvolvimento levando em conta a questão ecológica. Até agora, a técnica vem participando da aceleração do processo de degradação que precipitou o mundo numa trajetória cada vez mais perigosa. • A inovação hoje é parte do problema ambiental, pois não considera a variável ambiental, mas também parte da solução • As eco-inovações podem não ser condição suficiente para o enfrentamento da crise ecológica, mas são uma condição necessária • Avançar no desenvolvimento das bases conceituais para a elaboração de indicadores de eco-inovacões • Avançar na regulamentação de uma legislação ambiental mais responsável • Políticas específicas para o apoio à energias renováveis e outras eco-inovações • Concretização dos compromissos de transferência de “tecnologia verdes” entre países desenvolvidos e em desenvolvimento (Rio +20)
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Prêmio de Inovação UFF Santander
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Prêmio de Inovação UFF Santander
universidade pública brasileira tem atualmente um conjunto de desafios de grande magnitude a enfrentar relativos à transferência e aplicação do conhecimento nela produzido. Cabelhe, entre suas funções precípuas, a produção bem como a difusão do conhecimento capaz de gerar riqueza e bem estar
social. Na Universidade Federal Fluminense, a Agência de Inovação foi criada visando responder a estes desafios, tendo como missão promover a gestão da inovação tecnológica, principalmente, no que se refere ao estímulo de desenvolvimento de pesquisas inovadoras, à proteção e à transferência dos ativos intelectuais da comunidade acadêmica, atendendo às demandas dos diversos segmentos da sociedade, estabelecendo parcerias e participando proativamente das discussões geradas nos cenários local, regional e nacional.
Programação O Banco Santander (Brasil) S.A. possui um programa voltado para fomentar ações e/ou projetos que objetivem o aprimoramento do ensino e pesquisa científica, denominado SANTANDER UNIVERSIDADES, em linha com sua política de Responsabilidade Social Corporativa. Com a criação de segmento SANTANDER UNIVERSIDADES, o Banco, dentro de sua área de ação, apoia variadas ações e/ou projetos que tenham por principal escopo propiciar condições para que estudantes, professores e pesquisadores possam ter disponibilizados importantes instrumentos voltados para o desenvolvimento do ensino. Em consonância com esta proposta, a UFF através da Agência de Inovação da Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação, criou o Prêmio de Inovação UFF - Santander, como forma de estimular a geração de inovações apoiando pesquisas que
VAÇÃODEINOVAÇÃO PRÊMIO UFFSANTANDER R
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SANTANDER
visem o desenvolvimento de invenções passíveis de se transformarem em inovações, motivando o corpo discente e docente a desenvolverem novas tecnologias e soluções inovadoras, considerando a união entre o pensar tecnológico e a criatividade, decorrentes das condições criadas pelo confronto direto com os problemas de pesquisa aplicada, cujos resultados demonstrem potencial efetivo de aplicação na sociedade. O Prêmio de Inovação UFF Santander foi implementado através de Edital específico, oferecendo duas modalidades de premiação, individual e em equipe. Em sua primeira edição o Prêmio de Inovação UFF - Santander vem coroar com grande sucesso a parceria entre a Universidade Federal Fluminense e o SANTANDER UNIVERSIDADES.
Universidade Universidade Federal Federal Fluminense Fluminense www.proppi.uff.br/portalagir
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PRÊMIODEINOVAÇÃO UFFSANTANDER
UNIVERSIDADE ERAL FLUMINENSE
SANTANDER UNIVERSIDADES
Reitor oberto de Souza Salles
Vice-Reitor ney Luiz de Matos Mello
Reitor de Pesquisa, Pósraduação e Inovação tonio Claudio Lucas da Nóbrega
Agência de Inovação abiana Rodrigues Leta
ório de Transferência do Conhecimento - Etco a Helena Teixeira da Silva Gomes 48
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Prêmio de Inovação UFF Santander
Comitê de Avaliação Universidade
PRÊMIODEINOVAÇÃO UFFSANTANDER UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE Reitor Roberto de Souza Salles Vice-Reitor Sidney Luiz de Matos Mello
SANTANDER UNIVERSIDADES
Ruy garcia marques
Rozangela curi Federal pedrosa Fluminense
Diretora do Departamento de Inovação Tecnológica da Universidade Federal de Santa Catarina.
marli elizabeth ritter dos santos
Pró-Reitor dePresidente Pesquisa,da PósFundação Carlos Chagas Filho Graduação e Inovação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de JaAntonio Claudio Lucas da neiro - FAPERJ. Nóbrega Agência de Inovação Fabiana Rodrigues Leta
Diretora do Escritório de Transferência de Tecnologia da Pontífica Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Escritório de Transferência do Conhecimento - Etco Maria Helena Teixeira da Silva Gomes
Marleny Elizabeth DivisãoMárquez de Incubadora de de Martinez Empresas Francisco José Batista de Sousa Gerbi
Pedro Guatimosim vidigal
Divisão de Articulação Acadêmica Marilena Juncá Trindade Membro da Diretoria do Núcleo de Inovação
Tecnolõgica da Universidade de Pernambuco. Divisão de Capacitação e Difusão Patrícia Dias White
PRÊMIODEINO UFFSANTANDE
Diretor da Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica e Coordenador da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Universidade Federal de Minas Gerais.
Universidade Federal Fluminense
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Prêmio de Inovação UFF Santander
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2013 Prêmio de Inovação
A Cerimônia de Premiação do Prêmio de Inovação UFF Santander realizou-se no dia 20 de dezembro de 2013, às 9 horas, no Salão de Convenções do Hotel Solar do Amanhecer, em Charitas, Niterói - Rio de Janeiro. Nesta ocasião, os pesquisadores e alunos foram premiados por suas pesquisas inovadoras, gerando novos produtos, processos ou serviços.
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Uff Santander
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Seminรกrio Tecnologias Assistivas
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Tecnologia Assistiva
Agência de Inovação da UFF, vinculada à PROPPI, organizou o Seminário sobre Tecnologias Assistivas, como parte do IV Ciclo de Seminários sobre Inovação, com apoio do CNPq. O evento foi realizado no dia 28 de março, das 8h às 18h, no “H Niterói Hotel”, na Rua Doutor Paulo Alves 14, Ingá, Niterói - Rio de Janeiro nos salões “São Francisco e Piratininga”. Para o evento foram convidados alunos e professores da UFF a apresentarem trabalhos acadêmicos relacionados ao tema sob a forma de pôster. O objetivo é propiciar a interação dos autores com os participantes do seminário.
Programação
Horário
Atividades
8h 9h
Credenciamento Abertura Oficial
9h30 às 11h30
Mesa Redonda: Políticas para Apoio à Tecnologia Assistiva Mediadora: Fabiana Rodrigues Leta (UFF) • FINEP - Área de Tecnologia para o Desenvolvimento Social – ATDS: Maurício França • Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência: Fernando Antonio M. C. Ribeiro • FORTEC – Fórum Nacional de Gestores de Inovação e Transferência de Tecnologia – Oswaldo Massambani
11h30 às 12h
Painel Experiências da UFF – Núcleo de Acessibilidade e Inclusão – Sensibiliza UFF: Lucília Machado
12h às 13h30
Intervalo para almoço
13h30 às 16h30
16h30
Mesa Redonda Tecnologias e Inovações no Atendimento de Necessidades Especiais Mediadora: Cristina Maria Carvalho Delou (UFF) • Núcleo de Tecnologia Assistiva do Instituto Nacional de Tecnologia – INT: Júlio Cesar Augusto da Silva • Núcleo de Acessibilidade da Universidade Federal do Maranhão – UFMA: Evandro Guimarães • Centro Nacional de Referência em Tecnologia Assistiva – CNRTA: Vanessa Vargas Ferreira Encerramento com coffee break e Exposição de trabalhos acadêmicos na área de Tecnologias Assistivas
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Tecnologia Assistiva
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Mesa redonda: Políticas para apoio à tecnologia assistiva Me d i a d or a : Fa bi a n a R o d r i g u e s L e t a
Tecnologia Assistiva: Direitos e Desafios
Palestrante: Maurício França FINEP Área de Tecnologia para o Desenvolvimento Social, ATDS A Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU), foi ratificada pelo Brasil em 2008 com equivalência de emenda constitucional. Esse marco legal trouxe conceitos universalmente aceitos e se constitui em um instrumento de promoção dos direitos humanos com explícita dimensão de desenvolvimento social. Torna-se pilar para a construção de uma política pública que garanta às pessoas com deficiência a oportunidade de alcançarem a autonomia e independência em todos os aspectos das suas vidas – educação, trabalho, cultura, comunicação, informação, lazer, vida em família e na comunidade.
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O acesso a essas oportunidades, em mesma base que as demais pessoas, depende da eliminação de barreiras e obstáculos, possibilitando a participação plena e efetiva da pessoa com deficiência no ambiente social. A deficiência, somada à mobilidade reduzida, seja de caráter permanente ou temporário, é fator relevante na vida de mais da metade da população brasileira. A relevância demográfica desses números, associada à busca pela plena democracia e pelo caráter formador da cidadania, conduziu o Estado brasileiro a formular o Plano Nacional de Direitos da Pessoa com Deficiência - Viver sem Limite, política pública que converge ações e programas para garantir a democratização de acesso a bens e serviços que garantam os direitos das pessoas com deficiência. Nesse sentido, a Tecnologia Assistiva é um meio para a superação de obstáculos, visando igualar o acesso a oportunidades no cotidiano de um expressivo contingente da população brasileira, congregando um conjunto de produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços. Foi nesse contexto que a Finep, ainda em 2005, destacou o apoio a projetos de pesquisa e desenvolvimento em tecnologia assistiva como uma de suas prioridades, e em junho de 2011, lançou o Programa de Inovação em Tecnologia Assistiva, organizando seu fomento no sentido de integrar instrumentos financeiros – recursos não reembolsáveis, projetos cooperativos com empresas, subvenção econômica à inovação e crédito às empresas. Além do foco no desenvolvimento de produtos assistivos, o apoio também está orientado a ações de prevenção da ocorrência de deficiências, sua redução ou eliminação, bem como a busca pela concepção de
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produtos que atendam simultaneamente às pessoas com e sem deficiência – premissa do conceito de desenho universal. A atuação da Finep neste setor se insere também no contexto de criação de um ambiente institucional que forneça a base industrial produtiva para possibilitar o fortalecimento da estrutura empresarial do setor, que hoje é fragmentado e formado por empresas com pequena capacidade de investimento em capital físico, com baixo investimento em inovação e afastadas da fronteira tecnológica, essencialmente estruturado por empresas comerciais importadoras, dependente de importação ou de insumos importados, com elevado grau de desinformação do usuário privado e institucional, com prática de preços elevados - puxados por baixa demanda e baixa escala de produção – e papel destacado do Estado nas vendas do setor. Do esforço de P,D&I financiado pela Finep destaca-se o desenvolvimento de órteses dinâmicas, de implantes poliméricos bioabsorvíveis, de cadeiras de rodas com materiais de alto desempenho, softwares para comunicação, tradutores para Libras, bengala eletrônica, sistemas de interface cérebro-máquina para restauração da mobilidade, impressora Braille, dentre vários outros sistemas e produtos assistivos. Apesar do grande avanço científico e tecnológico obtido por empresas e instituições de pesquisa científica e tecnológica, com a incorporação de conhecimento baseado em microeletrônica, nanotecnologia, novos materiais, robótica, computação, desenho industrial e neurociência, muitos desses produtos não chegaram ainda ao mercado ou ao usuário final, ora por falta de estrutura física e de capital das empresas envolvidas, ora pela estrutura de mercado de nicho e ainda incipiente deste setor, marcado pela sazonalidade das compras públicas. Como exemplo do potencial econômico deste setor, analisemos os dados do Censo 2010 do IBGE em relação à deficiência visual, que aponta a existência de 506.337 pessoas na condição de não con-
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seguir enxergar de modo algum, resultando em uma prevalência à cegueira no Brasil de 0,27%. Embora bem situado em relação a este indicador, que segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) varia de 1% na África a 0,2% na Europa Ocidental e Estados Unidos, o acesso de boa parte dos brasileiros nessa condição aos produtos assistivos que permitam sua inclusão na escola ou no trabalho ainda parece distante da realidade, apesar dos esforços do governo em viabilizar compras públicas de produtos assistivos importados. Neste caso, como em outros associados aos demais tipos de deficiências, a falta de autonomia tecnológica do país coloca a política pública da pessoa com deficiência em risco de vulnerabilidade – sem autonomia tecnológica o custo para a ampliação do acesso a produtos assistivos fica demasiadamente pesado para o Estado. Para dinamizar o setor temos a nosso favor um acúmulo de competências científicas com potencial para inovar, o potencial de nacionalização de produtos, o potencial de domínio tecnológico e da engenharia nacional, bem como a possibilidade de articulação do poder de compra do Estado com o incentivo à inovação, que pode se dar por dois mecanismos já existentes, porém pouco utilizados: (1) uso de margens de preferência nas licitações para aquisições de produtos assistivos, escalonadas segundo interesse estratégico e intensidade tecnológica; e (2) transferência de tecnologia com a utilização do mecanismo das Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs), cujo conceito poderia ser estendido da área de saúde para os demais produtos assistivos relacionados ao trabalho, educação, comunicação, esporte e lazer. Esse caminho certamente propiciará uma convergência de ações para a criação e fortalecimento de um espaço econômico e social gerador de investimento, consumo, inovação, trabalho, renda e desenvolvimento inclusivo.
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Tecnologia Assistiva
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Mesa redonda: Políticas para apoio à tecnologia assistiva Pa l e s t r a n te : Fe r n a n d o A n tôn i o Me d e i r o s d e C a m p o s Ribeiro
As s e s s or d a S e c re t a r i a Na c i on a l d o s D i re it o s d a Pe s s o a c om D e f i c i ê n c i a , S e c re t a r i a d e D i re it o s Hu m a n o s d a P re s i d ê n c i a d a R e pú b l i c a A reflexão acerca do que é Tecnologia Assistiva na perspectiva estabelecida pela Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência permite identificar que o foco ali consagrado remete ao cumprimento da função de “possibilitar às pessoas com deficiência viver de forma independente e participar plenamente de todos os aspectos da vida”, inclusive no auxílio à eliminação de obstáculos e barreiras à acessibilidade. Marco Referencial No que diz respeito ao melhor entendimento sobre essa temática, a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência - CDPD, ratificada pelo Brasil com equivalência de emenda constitucional (Decreto Legislativo nº 186/2008 e Decreto nº 6.949/2009), estabelece as seguintes referências: a) Definição de “Pessoa com Deficiência” como sendo “aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir
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sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas” (Propósito, artigo 1); b) Definição de “Comunicação” como sendo “as línguas, a visualização de textos, o braille, a comunicação tátil, os caracteres ampliados, os dispositivos de multimídia acessível, assim como a linguagem simples, escrita e oral, os sistemas auditivos e os meios de voz digitalizada e os modos, meios e formatos aumentativos e alternativos de comunicação, inclusive a tecnologia da informação e comunicação acessíveis” (Definições,
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artigo 2); c) Definição de “Discriminação por motivo de deficiência” como sendo “qualquer diferenciação, exclusão ou restrição baseada em deficiência, com o propósito ou efeito de impedir ou impossibilitar o reconhecimento, o desfrute ou o exercício, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais nos âmbitos político, econômico, social, cultural, civil ou qualquer outro” (Definições, artigo 2); d) Definição de “Desenho Universal” como sendo “a concep-
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ção de produtos, ambientes, programas e serviços a serem usados, na maior medida possível, por todas as pessoas, sem necessidade de adaptação ou projeto específico. O “desenho universal” não excluirá as ajudas técnicas para grupos específicos de pessoas com deficiência, quando necessárias.” (Definições, artigo 2); e) Indicação da Acessibilidade como um de seus princípios (Princípios Gerais, artigo 3); f) Obrigação de “realizar ou promover a pesquisa e o desenvolvimento de produtos, serviços, equipamentos e instalações com desenho universal, conforme definidos no Artigo 2 da Convenção, que exijam o mínimo possível de adaptação e cujo custo seja o mínimo possível, destinados a atender às necessidades específicas de pessoas com deficiência, a promover sua disponibilidade e seu uso e a promover o desenho universal quando da elaboração de normas e diretrizes” (Obrigações Gerais, artigo 4); g) Obrigação de “realizar ou promover a pesquisa e o desenvolvimento, bem como a disponibilidade e o emprego de novas tecnologias, inclusive as tec-
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nologias da informação e comunicação, ajudas técnicas para locomoção, dispositivos e tecnologias assistivas, adequados a pessoas com deficiência, dando prioridade a tecnologias de custo acessível” (Obrigações Gerais, artigo 4); h) Obrigação de “propiciar informação acessível para as pessoas com deficiência a respeito de ajudas técnicas para locomoção, dispositivos e tecnologias assistivas, incluindo novas tecnologias bem como outras formas de assistência, serviços de apoio e instalações” (Obrigações Gerais, artigo 4); e i) Obrigação de “tomar as medidas apropriadas para assegurar às pessoas com deficiência o acesso, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, ao meio físico, ao transporte, à informação e comunicação, inclusive aos sistemas e tecnologias da informação e comunicação, bem como a outros serviços e instalações abertos ao público ou de uso público, tanto na zona urbana como na rural” (Acessibilidade, artigo 9).
O Conceito de Tecnologia Assistiva
“Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação, de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social” (conceito definido pelo Comitê de Tecnologia Assistiva/Ajudas Técnicas – CAT, da Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos Humanos da Presidência da República, em 2008).
Políticas públicas
A maioria das pessoas pode pensar que TA seja um tema afeto à ciência e tecnologia, à saúde, à indústria, à educação, etc. Na verdade é um conceito muito mais amplo, um elemento chave para a promoção dos Direitos Humanos, pelo qual as pessoas com deficiência têm a oportunidade de alcançarem sua autonomia e independência em todos os aspectos de suas vidas. Para isso é necessário que ocorra a adoção de medidas que assegurem seu acesso, em bases iguais com as demais pessoas. É preciso que obstáculos e barreiras à acessibilidade sejam identificados e eliminados, de acordo com a nova conceituação de deficiência. Ao tratar da questão da acessibilidade, é importante destacar que há de se incluir nessa soma o número de pessoas com deficiência, de idosos, gestantes, lactantes e outras pessoas com “mobilidade reduzida”, seja ela em caráter permanente ou temporário. Nesse escopo, levando-se em conta o Censo 2010, trata-se de mais de 50% da população brasileira. Ao englobar as famílias e outras pessoas no seu cuidado e acompanhamento, pode-se perceber que essa cifra tem impacto sobre a totalidade da população nacional. O desenvolvimento de recursos e outros elementos de Tecnologia Assistiva têm propiciado a valorização, integração e inclusão dessas pessoas, promovendo seus direitos humanos. Por essa razão, o tema tem assumido um espaço importante nas ações desenvolvidas pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. www.proppi.uff.br/portalagir
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Com a entrada em vigor em 2008 da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, o mais recente tratado de direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), ficou evidente a determinação da comunidade internacional em colocar o tema das pessoas com deficiência na agenda global na perspectiva dos Direitos Humanos, orientando e cobrando dos governos nacionais ações que transformem suas vidas com o processo de inclusão à sociedade. Nesse contexto, o Plano “Viver sem Limites” foi uma resposta concreta do Governo brasileiro ao desafio que se apresenta. No eixo acessibilidade do plano foram estabelecidas as seguintes ações voltadas para a Tecnologia Assistiva: a) Estabelecimento de centros tecnológicos para formar treinadores e instrutores de cães-guia; b) Instituição do Programa Nacional de Tecnologia Assistiva; c) A implantação do Centro Nacional de Referência em Tecnologia Assistiva (CNRTA) para orientar uma rede composta hoje por 77 núcleos de pesquisa em universidades públicas e privadas, a ser consolidada até 2014 (4 em 2011, 6 em 2012, 7 núcleos em 2013, e mais 69 em 2014), para estabelecer diretrizes e coordenar ações de desenvolvimento em tecnologia assistiva, bem como articular a atuação dos centros de produção científica e tecnológica do país; d) Criação de linha de crédito para aquisição de tecnologia assistiva; e e) Desoneração de produtos de tecnologia assistiva (COFINS e PIS) por meio da Lei Nº 12.649, de 17 de maio de 2012. Considerando as iniciativas governamentais postas em marcha a partir da adoção do Viver sem Limite, podemos destacar as seguintes ações:
fim, foram destinados os seguintes recursos para o financiamento de pesquisas para o desenvolvimento tecnológico: • Linha de crédito não reembolsável disponibilizada para universidades, institutos de pesquisas e empresas que desenvolvam projetos de alto risco tecnológico associados a oportunidades de mercado (20 milhões); • Linha de crédito disponibilizada a empresas como crédito reembolsável subvencionado para desenvolver produtos e serviços inovadores que aumentem a autonomia de pessoas com deficiência, com mobilidade reduzida ou idosos (90 milhões); • Linha de crédito não reembolsável disponibilizada a empresas brasileiras de qualquer porte para desenvolver equipamentos de esporte paraolímpicos (10 milhões). c) Microcrédito: R$ 100 milhões contratados em 17.200 operações para aquisição de bens e serviços (cadeiras de rodas, impressoras em Braille, adaptações de veículos, andadores e mobiliário acessível, entre outros). Essas ações não esgotam o horizonte do que o Governo Federal pode fazer. Com a criação do Comitê Interministerial de Tecnologia Assistiva, sob a coordenação do MCTI, englobando as pastas gestoras das políticas públicas de fomento ao desenvolvimento e inovação tecnológica e à pesquisa acadêmica, juntamente com aquelas que são gestoras dos serviços públicos e dos procedimentos governamentais em que se aplicam a tecnologia assistiva no atendimento ao cidadão, novas ações serão concebidas e implementadas.
a) Centros tecnológicos para formar treinadores e instrutores de cães-guia: criação de cinco centros tecnológicos que oferecerão cursos para formar profissionais certificados aptos ao treinamento dos cães-guia e à formação de duplas de pessoa com deficiência visual e cão-guia. O primeiro curso foi inaugurado no segundo semestre de 2012 b) O Programa Nacional de Tecnologia Assistiva visa apoiar o desenvolvimento de produtos, metodologias, estratégias, práticas e serviços inovadores que aumentem a autonomia, o bem-estar e a qualidade de vida de pessoas com deficiência. Para esse 60
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Tecnologia Assistiva
“A finalidade da Tecnologia Assistiva é via-
bilizar a autonomia da pessoa com deficiência em todos os aspectos de sua vida”
Conclusão Há de se considerar que os desafios são muitos. No que diz respeito ao entendimento e apropriação do conceito, muita confusão ainda se faz a partir da influência da conceituação proveniente da concepção tradicionalmente apoiada no entendimento de a deficiência é fundamentalmente uma questão relacionada à saúde e às capacidades funcionais individuais da pessoa com deficiência, sem considerar as dimensões sociais e interdisciplinares que envolvem essa temática. Essa visão relaciona TA somente aos recursos da área da saúde, ou necessariamente atrelada a uma prescrição médica - se resumindo praticamente apenas a recursos como órteses, próteses e dispositivos para a locomoção, como as cadeiras de rodas. Ora, a perspectiva que se orienta pelos direitos das pessoas
com deficiência e a necessidade da sua inclusão social, presente na Convenção, torna evidente o caráter interdisciplinar da TA, em contraposição a concepção tradicional, preconizadora do “monopólio” da TA pela área da saúde. Finalizando, dentre os muitos desafios a superar, cabe mencionar a TA no campo educacional, onde muitas vezes se confunde “tecnologia educacional e estratégia pedagógica, para o estudante... como Tecnologia Assistiva”. “O que deve ser considerado para definir e caracterizar um recurso como sendo ou não um recurso de TA, não são apenas as características particulares do recurso (“o que”). Nem, tampouco, apenas as características do usuário (“para quem”). Porém, também, a finalidade para a qual se está utilizando o referido recurso (“para
que”)” ¹. Diante desse novo desafio, nossa reflexão torna ao começo: a finalidade da Tecnologia Assistiva é viabilizar a autonomia da pessoa com deficiência em todos os aspectos de sua vida. Por conseguinte, a finalidade da política pública com foco nos direitos da pessoa com deficiência, no que diz respeito à Tecnologia Assistiva, deverá ser o fomento ao acesso e ao desenvolvimento e inovação tecnológica - com um olhar centrado nos interesses e nas necessidades das pessoas com deficiência que usufruirão de seus benefícios em todas as dimensões de suas existências, para que possam vivenciar uma cidadania plena, sem obstáculos ou barreiras, em igualdade de oportunidade com as demais pessoas.
1 Ver GALVÃO FILHO, T. A. A construção do conceito de Tecnologia Assistiva: alguns novos interrogantes e desafios. In: Revista Entreideias: Educação, Cultura e Sociedade, Salvador: Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia - FACED/UFBA, v. 2, n. 1, p. 25-42, jan./jun. 2013.
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Mesa redonda: Políticas para apoio à tecnologia assistiva Pa l e s t r a n te : Pr ofe s s or O s w a l d o M a s s a m b a n i Vi c e - P re s i d e nt e d o F O RT E C
Tirando da Bancada e Levando para as Pessoas INOVAÇÃO é a introdução de novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo ou social que resulte em novos produtos, processos ou serviços (Lei 10.973/2004). INOVAÇÕES devem, necessariamente, estar disponibilizadas para as Pessoas, no Mercado, aplicadas nas Organizações ou transferidas para
a Sociedade. A INOVAÇÃO pode apresentar escala Local, Regional, Nacional ou Global. Pode ser Incremental ou Radical. O FORTEC, Fórum Nacional de Gestores de Inovação e Transferência de Tecnologia é um órgão de representação dos responsáveis pelo gestão das políticas de inovação e
Objetivos do fortec
TECNOLOGIA ASSISTIVA desenvolvidas nas Instituições de Ciência e Tecnologia Brasileiras
1. Disseminar a cultura da inovação, da propriedade intelectual e da transferência de tecnologia; 2. Potencializar e difundir o papel das universidades e das instituições de pesquisa nas atividades de cooperação com os setores público e privado; 3. Auxiliar na criação e na institucionalização dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) nas Instituições Científicas e Tecnológicas (ICTs); 4. Estimular a capacitação profissional dos que atuam nos NITs; 5. Estabelecer, promover e difundir as melhores práticas nos NITs;
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das atividades relacionadas à propriedade intelectual e à transferência de tecnologia nas ICTs brasileiras, incluindo-se, neste conceito, os núcleos, agências, escritórios e congêneres. Foi criado em 1º de Maio de 2006 e em 2011 tornou-se Associação Civil de Direito Privado sem fins lucrativos.
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O MODELO DE NEGOCIO CANVAS
Uma ferramenta de Transferência de Tecnologia Apresentando o Modelo de Negócio CANVAS, construído a partir da PROPRIEDADE INTELECTUAL gerada por pesquisadores da ICT, o NIT passa a disponibilizar um conteúdo de informações que dialoga diretamente com Empreendedores, Empresas, Empresários, Investidores, Aceleradoras de Startups, Incubadoras de Empresas, Centros de Inovação e Parques Tecnológicos, tornando ainda mais eficaz o seu processo de Transferência de Tecnologia para a sociedade.
Estrutura da Tela (o CANVAS) para a geração do Modelo de Negócios
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PROPOSTA E VALOR • Que valor estamos oferecendo aos clientes ? Um produto, um serviço…?...descreva-o precisamente. • Liste quais as expectativas são atendidas pelo seu produto • Quais problemas reais estamos nos propondo a resolver? • que pacotes de produtos e serviços estamos oferecendo a cada segmento ? • Que necessidades de clientes estamos satisfazendo ? • Qual é o Produto Mínimo Viável que se está oferecendo ?
Segmentos de clientes • Para quem estamos criando valor ? • Quem são nossos clientes mais importantes ? • Quais são os arquétipos de clientes ?
Canais de Distribuição • Quais canais de comunicação, distribuição e venda utilizaremos para entregar nossa proposta de valor aos clientes? • Como são os clientes hoje abordados por outras empresas? • Quais funcionam melhor? • Quais têm a melhor relação custo-benefício? • De que maneira estão sendo integrados às rotinas de clientes?
Relacionamento com o Cliente • Como será feita a interação com os clientes ? • Como conquistamos, mantemos e espandimos o número de clientes ? • Que tipo de relacionamento queremos estabelecer com os clientes ? • Como que este relacionamento está integrado ao Modelo de Negócios ? • Qual seu custo ?
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Fontes de Receitas • Que valor estamos oferecendo aos clientes ? Um produto, um serviço…?...descreva-o precisamente. • Liste quais as expectativas são atendidas pelo seu produto • Quais problemas reais estamos nos propondo a resolver? • que pacotes de produtos e serviços estamos oferecendo a cada segmento ? • Que necessidades de clientes estamos satisfazendo ? • Qual é o Produto Mínimo Viável que se está oferecendo ?
Recursos Principais • Quais recursos são necessários para fazer o modelo de negócio funcionar ? • Quais os Recursos Humanos necessários ? • Qual é a Infraestrutura necessária ? • Há Propriedade intelectual envolvida ?
atividades principais • Quais são as atividades necessárias e as mais importantes para fazer funcionar o modelo de negócios ?
parceriais principais • Quais são as parcerias necessárias para criar e entregar a nossa proposta de valor ? • Quem são os nossos principais fornecedores ? • Que recursos essenciais estamos adquirindo de nossos parceiros ? • Quais atividades essenciais nossos parceiros executam ?
Estruturas de Custo • Criar e entregar valor e manter relacionamento com os clientes e gerar receita…todos geram custos. • Quais são os custos envolvidos na operação do modelo de negócio ? • Dentre os principais recursos quais são os mais caros ? • Dentre as principais atividades quais são as mais caras ?
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A tela CANVAS do Modelo de Negócio • Essa TELA que contém os 9 blocos fundamentais é o SCORECARD usado para a MODELAGEM DE NEGÓCIO de uma Lean Startup. • Cada uma dessas componentes do modelo de negócios traz uma série de hipóteses a serem TESTADAS e VALIDADAS....ANTES de leva-la para sua EXECUÇÃO no mercado.
A Construção.... É um ambiente virtual para desenvolvimento de Modelos de Negócios voltados a reduzir a incerteza e aumentar a chance de sucesso no planejamento e implementação de novos negócios a partir da Propriedade Intelectual gerada nas ICTs Brasileiras. 66
A estratégia Construir ambiente favorável para o desenvolvimento da Inovação e do Empreendedorismo & Startups. Estimular a criação de Empresas de Base Tecnológica.
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O Conceito “Lean Startup”: Uma Startup Enxuta
“Startup” é uma organização temporária estruturada para desenvolver um Modelo de Negócio que possa ser reproduzido e ampliado.
“Lean” = Enxuta
Lean Startup é uma abordagem que permite que organizações modelarem seus produtos ou serviços de modo a atender necessidades dos clientes, sem financiamento inicial e custos desnecessários.
O Foco é o Cliente
Construa os atributos de produtos e serviços que de fato são determinantes para serem aceitos pelos clientes.
a síntese
A ferramenta utilizada para esta metodologia é a TELA – o CANVAS, para a geração do Modelo de Negócios. A equipe que deseja formar uma LEAN STARTUP sintetiza suas hipóteses nesse CANVAS e faz as necessárias validações. Isso significa que a equipe tem que PROCURAR e OUVIR o potencial CLIENTE, pedir a potenciais usuários, compradores e parceiros suas opiniões sobre todos os elementos de seu Modelo de Negócios. Com base nos subsídios colhidos, é necessário PIVOTAR = revêr as hipóteses e reiniciar novamente o ciclo, testanto versões reformuladas e fazendo pequenos ajustes em componentes que podem ser aprimoradas… isto é ”validar um MPV e com alto potencial de execução.”
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Painel de experiências da uff Apr e s e n t a d o p or L u c í l i a M a c h a d o
Nú c l e o d e Ac e s s i bi l i d a d e e In c lu s ã o – S e n s i bi l i z a U F F
A
UFF a caminho da acessibilidade
Universidade Federal Fluminense não possuía até recentemente uma política institucional voltada para as pessoas com deficiência, ainda que muitas ações isoladas viessem sendo conduzidas pela comunidade acadêmica - professores, estudantes e funcionários, sensibilizados com a questão. O grande passo foi dado em 2009, com a inauguração do Núcleo de Acessibilidade e Inclusão – Sensibiliza UFF (NAIS), fruto de um projeto de extensão, coordenado pela profa. Luiza Moreira da Costa, acolhido em 2005 pela então Pró-Reitoria de Assuntos Acadêmicos (PROAC). Em 2010 com as reformas implantadas pela administração da universidade, o núcleo passou a ser ligado à Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PROAES). Com a reestruturação em 2012, ganhou status e foi promovido a Divisão de Acessibilidade e Inclusão, com o desafio de fomentar a implantação e consolidação de políticas inclusivas para alunos, docentes e técnico-administrativos com deficiência física, sensorial (visual, auditiva e múltipla) intelectual, e também com e dislexia e outros transtornos, través da eliminação de barreiras arquitetônicas, urbanísticas, metodológicas, programáticas e atitudinais. A acessibilidade na UFF, como na maioria dos espaços públicos, ainda está longe do ideal. Heran-
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ça de um tempo em que não se pensava nas pessoas com deficiência como usuários de todos os lugares e nem produtores de conhecimento científico e cultural. A situação não muda de um dia para outro. Gradualmente a organização vai acertando os passos em direção à inclusão, abrindo espaços para que as pessoas com deficiência possam estudar e trabalhar com dignidade e comodidade.
O trabalho que vem sendo desenvolvido pelo SENSIBILIZA é fundamental para tornar a UFF uma instituição inclusiva e que atende a sua comunidade de forma cidadã. A partir da suas ações a universidade obteve grandes avanços na área de inclusão, acessibilidade e cidadania. O esforço coletivo rumo à inclusão tem o reconhecimento do MEC, tanto que em 2013, a UFF foi a quarta universidade federal a receber mais recursos
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do Programa de Acessibilidade na Educação Superior (Incluir), ligado à Secretaria de Educação Superior (Sesu) e à Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI). A acessibilidade na UFF também ganhou destaque no Plano de desenvolvimento Institucional (PDI), modelo de gestão acadêmico-financeiro democrático e participativo, que desde 2008 incluiu uma verba específica para programas de acessibilidade e inclusão. Neste ano de 2014 foi contemplada com recursos para execução dos projetos UFF ACESSÍVEL, em parceria com a Superintendência de Arquitetura e Engenharia (SAEN) - que trata da acessibilidade física e BIBLIOTECAS ACESSÍVEIS, em conjunto com a Superintendência de Documentação (SDC), com o objetivo de disponibilizar recursos tecnológicos e infraestrutura que possibilitem a acessibilidade nas bibliotecas, com instalações adequadas e acesso aos diferentes acervos, através de recursos de tecnologias assistivas, voltadas para a comunidade com deficiência. clusão social para todos.
ACESSIBILIDADE INSTRUMENTAL Partindo do princípio de que “todos os tipos e sistemas de tecnologia, tais como tecnologias assistivas, tecnologias digitais, tecnologias de informação e comunicação, devem permear as seis dimensões da acessibilidade como suportes à realização de todos os direitos das pessoas com deficiência¹“, conforme também prega a Convenção Internacional Sobre os Direitos das Pessoas Com Deficiência (ONU, 2006) e a Constituição Federal de 1988 ². A UFF também vem trabalhando para diminuir e/ou eliminar barreiras instrumentais no campo da educação, através da adaptação de materiais de estudo, como lápis, caneta, teclado de computador, materiais pedagógicos e outros objetos normalmente utilizados em salas de aula, bibliotecas, laboratórios etc. A Carta para o Terceiro Milênio (1999) rege que “No século 21, nós precisamos estender este acesso – que poucos têm – para muitos, eliminando todas as barreiras ambientais, eletrônicas e atitudinais que se anteponham à plena inclusão deles na vida comunitária”. Citação de mais de 3 linhas recuo para a direita. Dentro desse contexto alguns setores da comunidade acadêmica, antenados com a temática, desenvolvem projetos de tecnologias Assistivas, com a criação de recursos e serviços que contribuam para autonomia de pessoas com deficiência, em tarefas cotidianas, como a produção de equipamentos e ferramentas inclusivas, a partir de material ecologicamente e correto e de baixo custo. Na Universidade Federal Fluminense, professores têm se dedicado a pesquisar e a produzir equipamentos de Tecnologia Assistiva para atender aos alunos com necessidades especiais, visando a autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão 1. 2.
social para todos. No Instituto de Física, protótipos são desenvolvidos por alunos e técnicos, sob a supervisão da Profa. Susana Planas. Até o presente, a equipe já produziu peças/produtos como os óculos eletrônicos, que emitem sinais que ajudam a evitar o choque com objetos que não são percebidos pela bengala. Produziram também semáforo para cegos e daltônicos, prisma para deficientes visuais, mão biônica, porta bengala, mão mecânica, robô que desvia de obstáculos, suporte para caneta, som e luz, porta-livro com prendedor de folha para quem não tem força nas mãos, sensor de presença para surdos, lixeira falante, teclado para descansar as mãos, campainha para surdos que funciona a distância. Tem a música do silêncio que é um alto-falante muito especial, chuveiro ao alcance da mão, com controle progressivo da temperatura e a vassoura magnética.
Inclusão: Acessibilidade no lazer, trabalho e educaçãoArtigo publicado na Revista Nacional de Reabilitação (Reação), São Paulo, Ano XII, mar./abr. 2009. Autor: Romeu Kazumi Sassaki “E materiais necessários [acessibilidade instrumental].” (Resolução CNE/CEB nº 2, de 11/9/01, art. 12)
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Antes
Paralelamente a UFF também vem investindo na aquisição de softwares, tecnologia assistiva, material pedagógico acessível, mobiliário, computadores, notebooks e tablets para distribuição aos alunos com deficiência. As Bibliotecas dos Campi do Gragoatá, Valonguinho, Campos dos Goytacazes e Volta Redonda, locais onde existem alunos com deficiência visual, estão sendo equipadas com computadores e softwares leitores de tela (sintetizadores de voz como o Jaws, Virtual Vision e DOSVOX). Há também scanners que transformam documentos em arquivos digitais para posterior leitura com síntese e voz ou impressos em Braille. Possuímos ampliador de tela para pessoas com baixa visão, que também contam com lupa digital acoplada a uma TV tela plana, além de lupas manuais. No pólo de Campos dos Goytacazes, no interior do Estado do Rio de Janeiro, foi implantado o Laboratório de produção de material adaptado para atendimento de alunos com deficiência visual. Em breve, também será criado um núcleo de atendimento e um laboratório de produção 70
de material didático especializado no Polo de Volta Redonda. Uma parceria com o Núcleo de Tecnologia Assistiva e Bioengenharia (NITA), da Escola de Engenharia da UFF, será mais um desafio para o SENSIBILIZA para a efetivação do Programa de Desenvolvimento de Tecnologias Assistivas Inovadoras. Nos últimos anos, a tecnologia tem avançado no desenvolvimento equipamentos, serviços e plataformas que facilitam a inclusão no meio social de pessoas com deficiência O projeto visa contribuir para o desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação do País, através do desenvolvimento de produtos e serviços que facilitem o desempenho das tarefas no cotidiano dos estudantes com deficiencia, criando alternativas para garantir não só o acesso, mas também a permanecia na universidade.
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Depois
Conclusão No momento em que a Câmara dos Deputados aprova em primeiro turno¹, a proposta de Emenda à Constituição (PEC) que acrescenta o termo inovação no capítulo da Constituição destinado à Ciência e Tecnologia, “com o objetivo de ampliar as políticas públicas e a concessão de estímulos da União e dos estados e municípios para essas áreas, a UFF sai na frente trazendo a possibilidade de uso de recursos públicos para fortalecer empresas inovadoras e polos tecnológicos, através de iniciativas como este Seminário, alavancado pela AGIR, e a criação do NITA. 1.
Substitutivo da comissão especial, de autoria do deputado Izalci (PSDB-DF) aprovado no dia 25/03/2014, que ainda precisa ser votado em segundo turno. A proposta também inclui na Constituição a necessidade de efetivação do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, em regime de colaboração entre os setores público e privado e com funcionamento a ser regulado em lei federal.
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Mesa redonda: Tecnologias e inovações no atendimento de necessidades especiais Me d i a d or a : C r i s t i n a Ma r i a C a r v a l h o D e l ou
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Pesquisa para Desenvolvimento de Cadeira de Rodas Direitos e Desafios Palestrante: Júlio Cesar Augusto da Silva Núcleo de Tecnologia Assistiva do Instituto Nacional de Tecnologia - INT
Este artigo apresenta o resultado de uma pesquisa para definir as características que cadeiras de rodas devem ter para atender as necessidades de segurança, conforto, funcionalidade, durabilidade, estética, manutenção e custos para cada uso especifico. O foco desta primeira pesquisa foram cadeiras de uso hospitalar. As cadeiras de rodas usualmente empregadas em hospitais são modelos domésticos ou adaptações destes, inadequadas para as necessidades do ambiente hospitalar. Como resultado desta inadequação, os usuários do equipamento, pacientes e profissionais de saúde, estão sujeitos a riscos de acidentes e problemas de saúde.
Palavras-chave Cadeira Hospitalar
transferência de pacientes
Cadeira de rodas
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1. INTRODUÇÃO
Neste trabalho foi conduzida uma serie de pesquisas para levantar os parâmetros projetuais que uma cadeira deve seguir para ser adequada às tarefas que devem cumprir no ambiente hospitalar. O que se observou na maioria dos hospitais visitados, especialmente os públicos, é o emprego de cadeiras que não foram desenvolvidas pensando no uso hospitalar, provocando diversos transtornos nos pacientes e nos profissionais de saúde encarregados de auxiliar sua movimentação. Uma cadeira de rodas planejada para as tarefas e necessidades do uso hospitalar facilitará o trabalho dos profissionais de saúde e reduzirá riscos e desconforto para os pacientes. Desta forma, contribuirá para humanização do ambiente hospitalar. O trabalho foi desenvolvido ao longo do ano de 2013 e contou com apoio financeiro da FAPERJ.
Tecnologia assistiva 2. PROBLEMA
Os pacientes em hospitais empregam cadeiras de rodas em diversos momentos durante sua internação. Há uma série de atividades que não podem ser executadas no leito, tais como determinados exames, procedimentos médicos, higiene, fisioterapia, atividades físicas e recreação. Nesses momentos é necessário o translado dos pacientes dos seus quartos para outros ambientes. Para esses deslocamentos costumam ser empregadas cadeiras de rodas, salvo nos raros casos de pacientes em boas condições, que podem se deslocar pelo hospital caminhando, ou pacientes excessivamente debilitados, que necessitam de maca. As necessidades das cadeiras de rodas empregadas em hospitais diferem em muito das observadas nas cadeiras domésticas. As hospitalares tem uso coletivo, e transportam usuários com necessidades diferenciadas. No entanto, o que se observa na grande maioria dos hospitais é o emprego de cadeiras de rodas de uso doméstico, ou adaptações destas, não adequadas, portanto, à realidade hospitalar. Como conseqüência dessa inadequação, observa-se diversos transtornos, tais como: risco de quedas, desconforto e constrangimentos para o paciente; esforços exagerados e lesões para os profissionais de saúde; baixa durabilidade e aumento de custos para os hospitais; falhas na assepsia. 74
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3. MÉTODO DE PESQUISA APLICADO A pesquisa foi realizada em três frentes: pesquisa bibliográfica, levantamento do estado da arte e pesquisa em campo. A primeira etapa do trabalho foi o levantamento de dados na bibliografia e no mercado para compreensão do problema e identificação das características que o produto deve ter para melhor atender às populações envolvidas. Já a pesquisa em campo foi realizada junto à profissionais do ambiente hospitalar de alguma forma envolvidos com a cadeira de rodas. Foram abordados enfermeiros, maqueiros, diretores, chefe de clínicas, fisioterapeutas, encarregado de compras e técnicos de manutenção. O instrumentos de pesquisa selecionado foi a entrevista, pela a flexibilidade que oferece graças à interação direta entre pesquisador e entrevistado. O modelo de entrevista empregado foi o Semi-Estruturado, caracterizado por uma série de perguntas abertas feitas verbalmente em ordem prevista, mas na qual o entrevistador pode intervir ao longo da aplicação realizando alterações de última hora. LAVILLE (1999) e GIL (1999) apontam os aspectos positivos deste modelo de entrevista, que permite que o entrevistador acrescente perguntas, altere a ordem ou mesmo reformule as questões durante o
contato com o entrevistado, de forma a melhor explorar seus conhecimentos e informações que pode fornecer. O objetivo da pesquisa foi conhecer a realidade das tarefas de translado de pacientes em ambiente hospitalar e aspectos técnicos da cadeira. A pesquisa foi realizada em cinco visitas técnicas a hospitais públicos e privados no Rio de Janeiro, entre janeiro e maio de 2013. Foram analisados os procedimentos relacionados ao translado dos pacientes: como é realizado o translado, quem são os responsáveis, quais técnicas de transferência¹ são empregadas, existência de equipamentos para auxiliar a transferência, riscos e formas de mitigá-los etc. Também foram levantadas informações sobre o processo de manutenção: durabilidade das cadeiras, que componentes apresentam maior índice de quebras, onde e como é realizada a manutenção preventiva e corretiva. Por fim, foram observadas características dos ambientes, como largura de corredores, portas, espaço disponível para armazenamento, áreas de manobra, condições do piso, rampas, existência de barreiras arquitetônicas à movimentação, etc.
Projeto Rúgbi - Criação de cadeira de rodas para crianças e adolescentes - 2011
Neste artigo está sendo empregado o termo “transferência”, para designar a operação de passagem do paciente do leito para a cadeira de rodas e vice versa, onde o profissional de saúde deve amparar ou carregar o paciente. Para a movimentação do paciente entre os ambientes hospitalares, já sentado na cadeira de rodas, está sendo empregado o termo “translado”.
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4. RESULTADOS
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A pesquisa realizada apontou que o principal problema do translado de pacientes em hospitais é a transferência de pacientes que não conseguem ficar de pé. Este resultado também foi encontrado nas pesquisas de ROSSI (2001), GALLASCH (2003), ALEXANDRE (2000) e COMÉLIO (2005). Os enfermeiros realizam a transferência erguendo os pacientes pelas axilas e pernas, técnica também descrita em ALEXANDRE (op. Cit.). Este procedimento, embora seja o mais adequado quando não há elevadores para a transferência do paciente, não é isento de limitações. Mesmo quando bem executado, o procedimento pode provocar dores, constrangimentos e riscos de quedas, especialmente em pacientes idosos, recém operados ou doloridos. Os enfermeiros também sofrem com essa manobra. Como muitos dos pacientes têm sobrepeso, este procedimento, mesmo quando executado com a técnica correta, representa esforço excessivo, risco para a coluna e articulações do profissional de saúde, sendo o principal responsável por doenças ocupacionais nesta classe de trabalhadores, segundo ROSSI (op. Cit.) e COMÉLIO (op. Cit.). O procedimento de transferência dos pacientes não é a única fonte de dores e doenças ocupacionais para os profissionais de saúde. Os elementos de controle das cadeiras mal dimensionados e posicionados também provocam constrangimentos. A situação se agrava quando é preciso conduzir cadeiras em aclives. O problema também foi apontado por GALLASCH (2003) e COMÉLIO (2005). A ergonomia das cadeiras de rodas empregadas em hospitais também se mostra inadequada para o paciente, e fonte de riscos. Em ambiente hospitalar ocorre por vezes a necessidade de transladar pacientes debilitados ou com dificuldade de manter a postura sentada. A movimentação destes pacientes em cadeira de rodas apresenta o risco de quedas, especialmente quando a cadeira passa por um declive ou degrau, pois o paciente pode tombar para frente.
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Há ainda outro problema ergonômico provocado pela falta de regulagens de rápida operação. As pernas de alguns usuários, por exemplo, não se apóiam adequadamente no apoio do pé, ficando penduradas ou muito dobradas. Além dos problemas ergonômicos e antropométricos, outro transtorno que as cadeiras provocam no ambiente hospitalar é o espaço ocupado na recepção e corredores, freqüentemente superlotados, onde várias unidades precisam ficar estacionadas à disposição dos usuários. Muitas das cadeiras empregadas em hospitais têm uma solução de compactação para reduzir o espaço ocupado quando estacionadas. O sistema de empregado normalmente é pantográfico, onde uma articulação na estrutura aproxima as duas laterais da cadeira reduzindo pela metade o espaço ocupado. Este sistema é amplamente empregado em cadeiras de rodas domésticas, mas apresenta inconvenientes quando aplicado em cadeiras destinadas ao ambiente hospitalar. Esta solução fragiliza a estrutura da cadeira, o que provoca freqüentes quebras devido ao uso coletivo e intenso no hospital. Desta forma, a durabilidade das cadeiras fica muito reduzida. Outro inconveniente da solução pantográfica, quando empregado em cadeiras de uso hospitalar, é facilitar o furto. Como a cadeira dobrada cabe em porta-malas de automóveis, é comum o furto quando o paciente recebe alta e é conduzido, pelo acompanhante, até o seu veículo ou taxi. Por fim, a solução pantográfica tende a aumentar o peso e os custos das cadeiras. Por fim, outra característica que apontada na pesquisa como mal resolvida é a aparência. A cadeira de rodas tradicional é considerada um dos componentes que concorre para o aspecto negativo que se observa neste ambiente. Geralmente há excesso de metal aparente, uso intensivo de aço inoxidável, formas retas, cores cromadas ou pretas. Esses elementos costumam estar associados ao ambiente cirúrgico, odontológico ou ainda à dramas como doenças ou acidentes.
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5. CONCLUSÃO Os resultados desta pesquisa foram aplicados, posteriormente, no desenvolvimento de um novo modelo de cadeira de rodas hospitalar. Neste modelo, se aplicou soluções técnicas que facilitassem a transferência, bem como se posicionou e dimensionou os elementos de controle segundo dados antropométricos das populações brasileiras, para conforto e segurança no uso. Este modelo proposto foi validado em situações reais de uso, e recebeu quatro patentes e dois prêmios de design. Com produtos desenvolvidos especificamente para a situação a que se destinam é possível contribuir para melhoria da qualidade de vida dos pacientes durante a internação, melhora das condições de trabalho das equipes de saúde, e redução dos custos para os
hospitais. A melhora na qualidade de vida do paciente ocorrerá pelo aumento do conforto e segurança proporcionada por uma cadeira pensada para o translado de pessoas debilitadas, com soluções e componentes que aumentem a segurança nestes casos específicos. As condições de atendimento serão aprimoradas também pela adoção de medidas projetuais que permitam higienização mais rigorosa, tendo em vista a presença eventual de fluidos corporais. A melhora nas condições de trabalho dos enfermeiros será proporcionada pela adoção de soluções que levem em conta as tarefas realizadas para movimentação do paciente. A redução de custos será alcançada por cadeira pensada para o uso coletivo e intenso,
que tenha manutenção simplificada, com componentes facilmente intercambiáveis. Indiretamente a redução de custos com atendimento hospitalar ocorrerá também pelo aumento da produtividade dos enfermeiros e maqueiros. Dado as limitações de um projeto desta natureza, a presente pesquisa não se aprofundou em necessidades especificas de determinados setores hospitalares, como ortopedia, pediatria, cardiologia e queimados. Também não abordou necessidades sanitárias e banho, mas tão somente as necessidades relacionadas à transferência e translado. Os demais temas, igualmente mal resolvidos nas cadeiras empregadas atualmente, são, portanto, bons objetos para futuras pesquisas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALEXANDRE, Neusa Maria; ROGANTE, Maria Marilene. Movimentação e transferência de pacientes: aspectos posturais e ergonômicos. In Revista da Escola de enfermagem da USP. 2000 jun, V. 35, n 2, p. 165,73. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR ISO 7176-1 Cadeira de rodas Parte 1: Determinação de estabilidade estática. Rio de Janeiro, 2009 Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR ISO 7176-7 Cadeira de rodas Parte 7: Medição de dimensões de assentos e rodas. Rio de Janeiro, 2009 Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 9050 Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro, 2004 COMÉLIO, M. E.; ALEXANDRE, N. M. C. Avaliação de uma cadeira de banho utilizada em ambiente hospitalar: uma abordagem ergonômica. In Revista Pesquisa Brasileira de Enfermagem. 2005 jul-ago; 58(4):405-10. GALLASCH, Cristiane Helena; ALEXANDRE, Neusa Maria Costa. Avaliação dos riscos ergonômicos durante a movimentação e transporte de pacientes em diferentes unidades hospitalares. In Revista de Enfermagem da UERJ. 2003, 11:252-60. GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999. ISO 7176-8 Wheelchairs Part 8: Requirements and test methods for static, impact and fatigue strengths. 1998. LAVILLE, Cristian, DIONE, Jean. A construção do Saber. Belo Horizonte: Ed. UFMG,1999. ROSSI, C. G; ROCHA R. M; ALEXANDRE N. M.C. Aspectos ergonômicos na transferência de pacientes: um estudo realizado com trabalhadores de uma central de um hospital universitário. In Revista da Escola de Enfermagem da USP 2001; 35(3):249-56.
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Nú c l e o d e Ac e s s i bi l i d a d e d a Un i v e r s i d a d e Fe d e r a l d o Ma r a n h ã o
Relação Emocional do Usuário com o Artefato de Tecnologia Assistiva O desenvolvimento tecnológico da humanidade só foi e é possível pelo uso de artefatos e ferramentas desde a pré-história. Todo artefato sempre é desenvolvido com uma finalidade definida, com um ou mais objetivos claros na busca de uma situação desejada. No âmbito da tecnologia assistiva não é diferente. Artefatos e equipamentos de tecnologia assistiva são desenvolvidos com o objetivo de devolver ao usuário habilidades que foram perdidas ou para ampliar habilidades que foram reduzidas, por malformações congênitas, patologias, por guerras, acidentes de trabalho, acidentes de transito, e em consequência de violência. Mann e Lane, (1991) propõem que tecnologia assistiva deve ser vista como uma ferramenta.
“Tecnologia Assistiva precisa ser vista como uma ferramenta, pois utilizando ferramentas o ser humano possui força de Super Homem. Com as ferramentas certas, podemos voar, sobreviver no fundo do mar, dobrar o aço, enxergar através da matéria e ir ao espaço”. - Mann e Lane, 1991 A proposta procede e é precisa, pois é necessário que equipamentos realmente sejam altamente eficientes, sobretudo em sua função, tais quais as ferramentas desenvolvidas com qualidade, para que se entregue ao usuário o artefato certo para desempenhar a tarefa certa e com excelente desempenho. Os aspectos tangíveis do artefato no desenvolvimento de produtos de maneira geral são normalmente os mais evidentes. Por isso, muitas vezes o objeto é freqüente78
mente concebido com ênfase na função e grande racionalidade, ao passo que os aspectos abstratos relativos ao conceito, à percepção e emoção do usuário acabam ficando em segundo plano sendo muitas vezes aplicado de forma cosmética. A relação e identificação do usuário com o artefato são menos aparentes e por isso, mais difíceis de serem explorados e inseridos no processo de desenvolvimento do produto desde sua concepção. Esses aspectos abstratos podem ser negligenciados nos mais diversos produtos incluindo os equipamentos assistivos. Ainda nos dias de hoje é possível se encontrar equipamentos de tecnologia assistiva concebidos sem apresentar uma agenda dedicada aos aspectos intangíveis do artefato, em especial quanto às relações emocionais do usuário com o objeto, com sua ferramenta para alcançar autonomia. Por muitos anos os equipamentos de tecnologia assistiva tiveram aparência hospitalar, de “aparelhos estigmatizantes” com tendências a comunicar incapacidade e vulnerabilidade e com potencial para criar em seu usuário uma aura de piedade. Isso ainda acontece atualmente, justamente por falta de análises mais profundas das relações aqui citadas. Assim, ainda são criados equipamentos de aparências extremamente robustas, deixando o usuário em segundo plano, com acabamentos questionáveis, como os niquelados, cromados remetendo o observador, a referências de
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hospitais, de centros cirúrgicos e doenças. Alguns exemplos que podem ser citados como estigmatizantes são as cadeiras de rodas cromadas, as órteses pretas, brancas, com fivelas enormes e coisas assim. Outros exemplos típicos, mas em nível bidimensional são; o símbolo internacional da pessoa com deficiência e o símbolo da pessoa idosa que expressam a imagem de pessoa incapaz, ou estática, com bengala, ou imóvel em uma cadeira de rodas expressando uma imagem estigmatizante. Felizmente já existem propostas para modificações em ambos os símbolos com nova linguagem iconográfica representando a figura humana com postura mais ativa, sendo o idoso sem bengala e o cadeirante impulsionando a cadeira de rodas com vigor. Mesmo a área de design de produtos de forma geral demorou muito tempo para inserir em sua agenda de desenvolvimento, os aspectos emocionais relativos ao objeto final como já vinha sendo feito em outras áreas que trabalham diretamente com a emoção do ser humano.
As artes se constituem como as mais proeminentes nessa abordagem, que já veem desenvolvendo objetos e estratégias para tocar na emoção humana desde a antiguidade. É evidente que o teatro, cinema, dança, e artes plásticas nada seriam se não trabalhassem voltadas para a emoção humana. A publicidade também, assim como todas as áreas das artes, desde sua utilização na grande mídia tem lançado mão do aspecto emocional como ferramenta para vender serviços e produtos, oferecendo a usuários e consumidores meios para manifestar identidade, estilo e sofisticação. Parâmetros para projetar objetos e edificações que levem em consideração a emoção são muito antigos. Strickland, (2003) nota que já no sec.I a.C., Marcos Vitrúvio Polião (em latim, Marcus Vitruvius Pollio) já propunha um conceito de beleza baseado nas proporções do corpo humano. Vitrúvio defendia que edifícios deveriam seguir seus padrões de proporções e os seus princípios conceituais - “utilitas” (utilidade), “venustas” (beleza) e
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“firmitas” (solidez), parâmetros inerentes à concepção do artefato de tecnologia assistiva, sendo que beleza e equilíbrio estético muitas vezes estão ausentes. É comum o foco desproporcional em características de solidez e utilidade. O processo de concepção e desenvolvimento de tecnologia assistiva tem muitas interfaces com a concepção de outras categorias de artefatos no que diz respeito a materiais, processos de fabricação, coletas de dados e avaliação, mas difere em outros aspectos. A diferença principal está na insubstituível participação do usuário em todo o processo, desde a geração das primeiras idéias e conceitos propostos, até a as avaliações finais, sendo o usuário elemento central do processo da criação e conceituação do novo. O usuário é o agente fundamental que vai direcionar as decisões quanto a todos os atributos do produto, incluindo conceitos relativos aos aspectos abstratos e a relação emocional usuário/artefato. Autores dedicados à pesquisa em design e sua aplicação na 79
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prática têm publicado trabalhos e livros relativos à emoção do usuário em uma área de design que tem sido denominada como design emocional em tradução livre. Os mais proeminentes autores dessa área de design são atualmente Donald Norman e Patrick Jordan. Norman, (2007) apresenta em seus livros, artigos e palestras a parte mais teórica desse contexto, derivando teorias de antropologia, sociologia, mas com grande ênfase em psicologia, para serem interpretadas à luz da interação do ser humano com artefatos, serviços e ambientes e os aspectos emocionais decorrentes dessa relação, ser humano-artefato. Jordan, (2002) no mesmo contexto de design e emoção apresenta em seus livros, artigos e palestras a aplicação dessas teorias no desenvolvimento de produtos serviços e ambientes apresentando casos do mundo real e oferecendo estratégias e métodos para se desenvolver produtos com olhar profundo para a emoção do ser humano. Jordan, (2002) tem oferecido consultoria para grandes empresas no desenvolvimento de novos produtos que têm sido sucessos de mercado muito graças ao design feito a rigor, concebido para encantar e surpreender o usuário. Sua ênfase é posta na relação de prazer com o produto. Pela extensão do assunto, será oferecida nesse artigo apenas a referência bibliográfica de Jordan e exploração de design emocional através das propostas de Norman, (2007). Norman, (2007) propõe três níveis do design que se relacionam com as emoções do ser humano. A análise desses níveis pode contribuir em muito para o desenvolvimento de equipamentos assistivos quanto à sua forma, função e estética além da qualidade e relação com o usuário. Norman, (2007) define assim os três níveis de design que são: • Design Visceral • Design Comportamental • Design Reflexivo
Design Visceral
É o que a natureza faz, pois para coexistirmos, para vivermos em nosso ambiente e com fenômenos naturais, somos automaticamente movidos de forma peculiar a reagir ao mundo que nos cerca em nível psicológico e fisiológico, em nível das vísceras. Reagimos espontaneamente e involuntariamente ao vermos belas frutas, ao cheiro de comida, aroma de flores, ao sexo oposto, às formas, às cores, ao tato e muitos outros elementos, muitas vezes com reações verbalizadas de maneira espontânea. É nesse nível de design que se encontra o famoso “fator uau”, uma reação espontânea que 80
pode ser identificada pela observação de artefatos que agradam ou não o usuário, sendo que aparência, e primeira impressão são fundamentais. O “fator uau” deriva de uma expressão americana de surpresa positiva que em português se manifesta com outras expressões como “nossa!” ou então “caramba!”, “caracas!” e assim por diante. Muitas vezes a reação pode ser negativa também expressada com outros termos, nesse caso com conotações negativas. Já é possível nos dias de hoje se observar reações viscerais com o design de alguns equipamentos assistivos.
Design Comportamental
Nesse nível está a relação do usuário com o objeto no que diz respeito à sua utilização, sua aplicação. Aparência não importa nesse nível, mas desempenho é o centro da observação e avaliação. Segundo Norman, o que importa nesse nível são quatro componentes; função, compreensão, usabilidade e percepção física e algumas vezes este último componente é a característica principal do objeto. De maneira geral esses quatro elementos vão caracterizar o nível de desempenho do objeto, do produto. Aspectos como simplicidade, peso, contato tátil, manobrabilidade são alguns aspectos que promovem qualidade de design comportamental em tecnologia assistiva. A reação do usuário ao ter contato com o artefato pode gerar reações viscerais tanto através de sua visualização quanto em seu manuseio.
Design Reflexivo
Esse nível é bastante amplo e interfere em muitas áreas pois envolve mensagem, cultura e significado. Através da reflexão o usuário avalia com mais tempo, diferentemente do design visceral que é automático. Aqui são avaliados os aspectos que comunicam ao usuário os significados que são comuns à características de sua identidade, estilo, faixa etária, habilidades e cultura. É o nível de design que faz o usuário avaliar se determinado objeto se adequa à sua personalidade, ao seu estilo. Forma, cor, estilo e linguagem desempenham papéis fundamentais na satisfação do usuário na busca de um produto que se adeque à suas expectativas de manifestação de sua autoimagem. A variedade de designs de equipamentos assistivos envolvendo diferentes cores, materiais e formas já pode ser observada, seguindo inclusive tendências de moda e estilo.
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Considerações Finais Os argumentos aqui apresentados devem ser empregados no desenvolvimento de tecnologia assistiva em qualquer área de aplicabilidade de produto, serviço ou ambiente, seja no desempenho das tarefas da vida diária, esporte, lazer, educação ou qualquer outra atividade. A qualidade da relação do usuário com o equipamento assistivo influencia até em sua autoestima e saúde. Portanto, é fundamental que todo equipamento seja desenvolvido sob a luz da emoção e participação do usuário, respeitando sua individualidade, personalidade e identidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Referências: JORDAN, P. GREEN, W. S. Pleasure with Products: Beyond Usability. Taylor and Francis, 2002 MANN, W.C.; LANE, J.P. Assistive Technology for Persons with Disabilities – The Role of Occupational Therapy. Maryland: AOTA, 1991 NORMAN, Donald. Design Emocional. São Paulo: Rocco, 2007. STRICKLAND, Carol; Arquitetura comentada: uma breve viagem pela história da arquitetura; São Paulo: Ediouro; 2003 Fotos de produtos assistivos que contém os três níveis de design emocional.
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Mesa redonda: Tecnologias e inovações no atendimento de necessidades especiais Pa l e s t r a n te : Va n e s s a Va r g a s Fe r r e i r a
C e nt ro Na c i on a l d e R e f e rê n c i a e m Te c n o l o g i a As s i s t i v a - C N RTA
Experiências do Centro Nacional de Referência em Tecnologia Assistiva Renato Archer O Centro de Tecnologia da Informação (CTI) Renato Archer, inaugurado em 1982 em Campinas no Estado de São Paulo, é uma unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) com atuação especializada em tecnologia da informação (TI). Atuando como suporte na formulação e execução de políticas públicas na área de TI, o CTI Renato Archer possui ações nas áreas de software, displays, microeletrônica, robótica, segurança da informação, impressão 3D (manufatura aditiva), tecnologia social, entre outras. Desde 2012, o CTI Renato Archer sedia o Centro Nacional de Referência em Tecnologia Assistiva (CNRTA), ação da Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social (SECIS) do MCTI para o Plano Viver sem Limite – Plano Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência. O CNRTA foi instituído por meio da Portaria nº 139 do MCTI, de 23 de fevereiro de 2012. AdemaiExs, a atuação do CTI Renato Archer em Tecnologia Assistiva (TA) permeia os mais diversos laboratórios da instituição, de modo que são criadas soluções voltadas à TA a partir de conceitos multi e interdisciplinares, reunindo as competências adquiridas na área de TI em prol da independência e autonomia das pessoas com deficiência, mobilidade reduzida e idosas. Este artigo tem como objetivo expor as experiências em Tecnologia Assistiva do CTI Renato Archer, sem ter a pretensão de esgotar as tecnologias e inovações em TA desenvolvidas na instituição. 82
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auxilis,
uma solução para acesso ao computador O sistema Auxilis é desenvolvido no CTI Renato Archer com o objetivo de auxiliar pessoas com deficiência motora grave a ampliar sua participação social pelo uso do computador, potencializando a comunicação, aprendizagem, lazer, entre outras experiências virtuais. O sistema Auxilis é composto de hardware, software e sensores para promover o acesso ao computador. O componente de hardware possibilita o acoplamento de diversos dispositivos eletrônicos, como sensores de pressão, de som, de sucção, de movimento, mioelétrico, dentro outros acionadores variados, de forma a permitir que a pessoa utilize suas capacidades funcionais preservadas de modo fidedigno e seguro para interagir com o software Mouse Gui, que oferece ao usuário o intercâmbio com o computador dispensando as entradas convencionais, como o teclado e o mouse (ZULIAN; DAMIANO, 2010). Além de contribuir para a inclusão social e digital desses indivíduos e para a melhoria na qualidade de vida dos mesmos, o Auxilis pode ser utilizado como ferramenta por terapeutas, médicos e professores na sua atuação profissional.
Dispositivos para auxílio de pessoas com deficiência visual O CTI Renato Archer desenvolveu nos últimos anos três dispositivos destinados a auxiliar pessoas com deficiência visual em atividades de vida diária e prática, denominados BRAilliX,
SoundLux e FourPod. O BRAilliX é uma matriz de células braile de seis pontos que possui várias aplicações, como escrita de textos e cálculos matemáticos, jogos, reprodução em papel de textos em braile e outras aplicações. O protótipo é operado manualmente, de modo que o usuário utiliza pequenos pontos esféricos com extremidades alongadas para formar os caracteres braile. Atualmente estão em desenvolvimento acessórios para aplicações específicas, como peças encaixáveis para jogos (CUNHA, 2013). O SoundLux é um dispositivo eletrônico portátil destinado a identificar a luminosidade ambiente, utilizando alarmes sonoros de variadas frequências para indicar a intensidade e a direção de fontes de luz. O SoundLux pode ser utilizado para identificar cores, a localização da saída para um ambiente externo, se a luz de um cômodo está acesa, entre outros fins (CUNHA; FIGUEIREDO; BONILHA, 2012). O dispositivo FourPod é uma plataforma que tem como objetivo principal auxiliar a fotografia de precisão por celulares tipo smartphones. Constituído por um suporte dobrável, o FourPod permite que a pessoa fotografe e digitalize documentos impressos, possibilitando a utilização de aplicativos OCR (Optical Character Recognition) de reconhecimento automático de palavras com mais precisão. Sua utilização, em conjunto com leitores de tela, proporciona a leitura de textos impressos por pessoas com deficiência visual (ARAUJO; PERESSINOTTO; CUNHA, 2013).
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Avatar 3d para libras O CTI Renato Archer também é especializado em sistemas de interação homem-máquina e vem desenvolvendo um avatar 3D (animação de personagem tridimensional) sinalizador de Libras – Língua Brasileira de Sinais. Utilizando técnicas de captura do movimento humano para a animação do avatar, o CTI Renato Archer participa da construção de um banco de dados extensivo com a descrição tridimensional dinâmica de gestos, configurações e orientações de mãos, bem como de expressões faciais utilizadas na língua de sinais. Esse banco de dados possibilitará, por exemplo, a interação em tempo real de tradutores de textos em Português para Libras (LIMA et al., 2013).
Impressão 3D em prol da TA
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Dentre outros temas, o CTI Renato Archer dedica-se à pesquisa, desenvolvimento e aplicação da impressão 3D, também conhecida como manufatura rápida, desde 1997, fornecendo apoio na impressão 3D de dispositivos de Tecnologia Assistiva para trabalhos acadêmicos e empresas, como órteses, próteses, maquetes táteis e placas em braile. Ainda na área da TA, está em desenvolvimento uma impressora 3D que gerará caracteres braile, além de figuras em alto relevo, sejam estas planas ou tridimensionais. A Fab@CTI-Braille foi patenteada no final de 2013 com o intuito de ampliar o acesso às pessoas com deficiência visual (INFORÇATTI NETO; SILVA; MAIA, 2013). 83
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Seminário tecnologias assistivas
Considerações Finais Com a implantação do CNRTA em 2012, a missão do CTI Renato Archer foi ampliada pela inclusão da Tecnologia Assistiva como missão institucional para a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação na área. Como resultado do encontro da Tecnologia Assistiva com a Tecnologia da Informação, estão em andamento no CTI Renato Archer, além das experiências aqui apresentadas, diversas pesquisas que resultarão em benefícios para pessoas com deficiência, dentre elas ações em robótica, acessibilidade na web e educação.
Participação das pessoas com deficiência nos projetos de TA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAUJO, A.A.A.; PERESSINOTTO, J.; CUNHA, S.P. Dispositivo para cópia de documentos utilizando aparelhos portáteis dotados de câmera fotográfica embarcada. PI201329551, 18 nov. 2013. CUNHA, S.P. Dispositivo de aprendizagem da linguaguem braille. PI10201302, 30 set. 2013. CUNHA, S.P; FIGUEIREDO, D.; BONILHA, F.G. Dispositivo e método de detecção de intensidade, cor e direção de fonte luminosa. PI0291053, 14 nov. 2012. INFORÇATTI NETO, P.; SILVA, J.V.L.; MAIA, I.A. Método de Impressão em Braille com impressoras 3D. PI201302986, 22 de Nov. 2013 LIMA, T; ROCHA, M.S.; SANTOS, T.A.; BENETTI, A; SOARES, E.; OLIVEIRA, H.S. Innovation in Learning – The Use of Avatar for Sign Language. Human-Computer Interaction, Applications and Services: Lecture Notes in Computer Science. V. 8005, p. 428-433, 2013. ZULIAN, M.A.R.; DAMIANO, F. Um olhar para a usabilidade e aplicabilidade do sistema Auxilis na interface homemmáquina. Revista Nacional de Tecnologia Assistiva, v. 2, p. 45-53, 2010.
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Seminรกrio Tecnologia Verde e Desenvolvimento Sustentรกvel
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Agência de Inovação da UFF, vinculada a PROPPI, organizou o “Seminário sobre Tecnologia Verde e Desenvolvimento Sustentável”, como parte do IV Ciclo de Seminários sobre Inovação, com apoio do CNPq. O evento foi realizado no dia 29 de abril, das 9:30 às 17:00, no “H Niterói Hotel”, Rua Dr. Paulo Alves, 14 - Ingá, Niterói - Rio de Janeiro nos salões “São Francisco + Piratininga”. O Seminário teve por objetivo abordar conceitos da Tecnologia Verde, trazendo informações sobre iniciativas, práticas, ações e serviços de caráter inovador e sustentável, promovendo debate entre pesquisadores, alunos e profissionais de diversas áreas do conhecimento, atuantes na área. O momento atual é de investimento em soluções usando novas tecnologias, ecologicamente corretas, verdes, que visam o desenvolvimento sustentável do planeta, proporcionando novas oportunidades às pessoas e organizações.
Programação
Horário
Atividades
09:30
Credenciamento
10:00
Abertura Oficial Mesa Redonda Patentes Verdes Mediadora: Maria Helena Teixeira Gomes - Diretora do Escritório de Transferência de Conhecimento -
10:30 às 12:30
AGIR UFF INPI - Patrícia Carvalho dos Reis - Gerente do Projeto Patentes Verdes do INPI CNI - Diana Jungmam - Coordenadora do Programa de Propriedade Intelectual da Confederação Nacional da Indústria (CNI)
12:30 às 14:00
Intervalo para almoço Mesa Redonda Tecnologias Aplicadas ao Desenvolvimento Sustentável Mediador: Kenny Tanizaki Fonseca - coordenador do curso de Ciência Ambiental da UFF EMBRAPA/RJ - Ana Cristina Garofolo - Chefe Adjunta de Transferência de Tecnologia e Cristhiane
14:00 às 16:00 Oliveira da Graça Amâncio - Centro Nacional de Pesquisa de Agrobiologia - CNPAB Subsecretário de Urbanismo Regional Metropolitano da Secretaria de Estado de Obras do Rio de Janeiro - Vicente de Paula Loureiro UFF - Dario Prata Filho - Departamento de Engenharia Agrícola e Ambiental da Escola de Engenharia
16:00 às 16:50
Painel Experiências da UFF: Taillany Rodrigues Portugal - Agrha Consultoria - Empresa Jr UFF
16:50
Encerramento com coffee break e Exposição de trabalhos acadêmicos com a temática Tecnologia e Sustentabilidade Ambiental
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Mesa redonda: patentes verdes Me d i a d or a : Ma r i a He l e n a Te i x e i r a G om e s
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Palestrante: Patrícia Carvalho dos Reis Gerente do Projeto Patentes Verdes do INPI
patentes verdes no brasil
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s Patentes Verdes conceitualmente são patentes que contemplam e incorporam conceitos das tecnologias “verdes” e tecnologias “limpas”, que tem o potencial de ser trazer benefícios ao meio ambiente ao tratar, mitigar, reduzir, ou impedir a deterioração ambiental.
As patentes verdes aparecem como uma parte de medidas para combater a mudança climática,
pois maximiza o apoio a invenções que poderiam ter um impacto significativo no combate às alterações climáticas. O princípio que rege o objetivo das patentes “verdes” é o de oferecer às empresas inovadoras em tecnologias “verdes” a chance de obter direitos de patente de alta qualidade em menos tempo. Apesar de todos os esforços despendidos sobre o tema patentes verdes, não há, no momento, definição unânime para tecnologias “verdes” ou tecnologias ambientalmente amigáveis (EST). A definição baseada na Agenda 21, que surgiua partir da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), define EST’s como as tecnologias que: (a) protegem o meio ambiente; (b) são menos poluentes; (c) utilizam todos os recursos de uma forma mais sustentável; (d) reciclam seus resíduos e produtos; e, (e) tratam os dejetos residuais de uma maneira mais aceitável do que as tecnologias que substituem. Várias definições foram adotadas por vários países no intuito de definir as tecnologias verdes. Em 2010, a OMPI (Organização Mundial de Propriedade Intelectual) utilizando da Classificação Internacional de Patentes (IPC) para indexação de documentos patentários, criou um inventário “verde” baseado nas classificações internacional de patentes, para facilitar a procura por informações sobre patentes relacionadas às chamadas tecnologias ambientalmente saudáveis. As EST’s estão atualmente espalhadas por todo o IPC emvários domínios técnicos. O inventário permite coletar todos os EST’s em um só lugar, divididos em: (i) produção de energia alternativa; (ii) transporte; (iii) conservação de energia; (iv) gestão de resíduos; (v) agricultura; (vi) energia nuclear; e, (vii) administrativo. Avaliando as patentes verdes no mundo, é possível identificar dois tipos de aplicação de Programas de Patentes “Verdes” no mundo: 1° Como in strumento de identificação das tecnologias verdes; e, 2° atuando na aceleração de exame para a s tecnologias verdes. Países tais como: Alemanha; Austrália; Canadá; Estados Unidos; França; Reino Unido; Japão; Coreia do Sul e Israel; já vêm implementando regulamentações sobre o tema das patentes verdes. Mais recentemente, após o Brasil, a China deu início ao seu programa nacional das patentes verdes (Bradley, 2012).
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programa piloto
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om o objetivo de contribuir para o combate às mudanças climáticas globais, o INPI incluiu no seu portfólio de projetos prioritário do INPI para redução do “Backlog”, o projeto específico designado “Implementação do Programa de Exames de Patentes Verdes”. O projeto teve seu início em abril de 2011 e os objetivos do projeto de patentes verdes foram alcançados e se concluiu ser possível implantar Patentes Verdes no Brasil. Adotando-se como definição de tecnologias verdes uma lista de tecnologias baseada na definição da OMPI (green inventory) adaptada a LPI: (i) produção de energia alternativa; (ii) transporte; (iii) conservação de energia; (iv) gestão de resíduos; (v) agricultura. Primeiramente para não causar impacto no andamento do INPI, foram adotados critérios para se trabalhar com um pequeno universo de pedidos “verdes”. Os critérios adotados para os participantes foram: pedidos de patentes de invenção que não sofreram exame técnico; pedidos nacionais, depositados por residentes ou não-residentes (via CUP) relacionados a tecnologias verdes, pedidos depositados a partir de janeiro de 2011 e pedidos com no máximo 15 reivindicações.
1ª Fase
2ª Fase
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O INPI deu início em 17 de abril de 2012, ao Programa Piloto de Patentes Verdes. O programa tanto visou acelerar o exame dos pedidos de patentes verdes, bem como permitir a identificação das tecnologias verdes requisitadas, buscando assim não apenas acelerar decisões em matéria de pedidos de patentes de invenção, como também possibilitar a identificação de novas tecnologias que possam ser rapidamente usadas pela sociedade, buscando estimular o seu licenciamento e incentivar a inovação no país. Apósum ano, foi observado que a procura foi abaixo do esperado para o Grupo de Patentes Verdes, mas emcomparação com dados divulgados pelos outros programas do mundo, a procura pelo “Fast Track” do INPI foi considerada normal.
Como as vagas não foram preenchidas, ocorreu um aumento do universo antes delimitado para o Programa Piloto de Patentes Verdes, sem limite para a data de depósito. Ao longo da 2ª fase do Programa Piloto de Patentes Verdes, se fez uma nova ampliação de critérios, permitindo agora a participação de pedidos de patente de modelo de utilidade. Esta ampliação se deu pela alta procura (e-mail’s e contatos telefônicos) de requerentes questionando o porquê da exclusão.
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Atualmente, o Programa Piloto se encontra na 3ª fase, com término previsto para 16 de abril de 2015. A ampliação se dá no ingresso no programa para pedidos PCT( Tratado de Cooperação de Patentes), em que, neste caso, os candidatos podem procurar simultaneamente a proteção de uma invenção em 148 países em todo o mundo.
3ª Fase
PROGRAMA PILOTO DE PATENTES VERDES No Programa Piloto de Patentes Verdes, o requerentedeve solicitar sua participação através de formulário próprio. Após a solicitação, o requerente deve aguardar as publicações na RPI dos Despachos 27.1 (Notificação da Solicitação para Programa de Patentes Verdes). Após a publica-
ção do pedido (3.1/3.2), este prossegue para comissão técnica, composta por pesquisadores em propriedade industrial do próprio INPI, que analisao atendimento aos critérios do Programa. Após a análise desta Comissão, no caso da solicitação for concedida, o pedido segue para a área técnica para
a realização do exame técnico substantivo. Em resposta negativa, tem-se que estes pedidos retornam aos trâmites ordinários ao exame de patentes, i.e., perdem a prerrogativa de prioridade de exame de patentes verdes e estando sujeitos ao trâmite processual normal de pedidos de patentes.
DADOS DO PROGRAMA PILOTO DE PATENTES VERDES Até o dia 16 de abril de 2014, foram protocolados 227 pedidos, sendo 90 pedidos na 1ª fase e 137 pedidos na 2ª fase, com um crescimento de 52%. 115 pedidos passaram pela comissão técnica, 106 aptos e 9 não aptos. Os 106 pedidos aptos foramencaminhados para divisão técnica, 64 pedidos ainda estão em exame e 36 já tiveram sua decisão (19 deferimentos e 17 indeferimentos). Como a proposta do programa de patente verde é que um pedido “verde” tenha a sua decisão em até dois anos, temos como positivo o desempenho do Programa Piloto de Patentes Verdes.
Figura 1 - Solicitações dos pedidos verdes
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patentes verdes (número de solicitações)
Figura 2 - Acompanhamento dos pedidos verdes
Os dados apresentados são baseados nas informações divulgadas no sítio de patentes verdes (http://www.inpi.gov.br/portal/artigo/patentes_verdes). O acompanhamento dos pedidos ”verdes” e as Patentes Verdes deferidas são atualizados quinzenalmente após a publicação na Revista de Propriedade Industrial (RPI) que ocorre nas terças-feiras. A Figura 1 mostra as solicitações dos pedidos verdes e na Figura 2 o acompanhamento dos pedidos do Programa Piloto de Patentes Verdes.
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Fluxograma para o Programa Piloto Patentes Verdes
As patentes verdes servem como guias para orientação para o desenvolvimento da indústria nacional; incentivo ao desenvolvimento, à transferência de tecnologia e à comercialização de Tecnologias Verdes no Brasil; estímulo à pesquisa e ao desenvolvimento científico doméstico das tecnologias verdes; e, meio de segurança jurídica ao Depositante. As perspectivas futuras, relacionadas a Patentes Verdes no INPI são: a criação de um banco de dados de documentos patentários verdes; que as Patentes Verdes possam orientar para o desenvolvimento da indústria nacional; que sejam incentivos ao desenvolvimento, à transferência de tecnologia e à comercialização de Tecnologias Verdes no Brasil; e, que sejam estímulo à pesquisa e ao desenvolvimento científico doméstico das TecnologiasVerdes. Quanto ao Programa Piloto de Patentes Verdes do Brasil, não foi observado grande procura por parte de pedidos relacionados a tecnologias alternativas. Espera-se que ocorra um aumento na procura do, visto que, das 38 decisões do exame de pedidos de patentes verdes já proferidas, houve aceleração do exame, com tempo de decisão inferior a 2 anos.
conclusão
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Mesa redonda: patentes verdes Pa l e s t r a n te : D i a n a Ju n g m a m
C o ord e n a d or a d o P ro g r a m a d e P ropr i e d a d e Int e l e c t u a l d a C on f e d e r a ç ã o Na c i on a l d a In dú s t r i a - C N I
Fonte: WIPO Magazine, June 2013
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Lógica do Programa
Fonte: WIPO Magazine, June 2013
Participantes do Programa
Fonte: WIPO Magazine, June 2013
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Critérios Gerais do Programa
Fonte: WIPO Magazine, June 2013
Vantagens do Programa
Fonte: WIPO Magazine, June 2013
Desvantagens do Programa
Fonte: WIPO Magazine, June 2013
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Perfil dos Usuários do Programa
Fonte: WIPO Magazine, June 2013
Terceira Revolução Industrial: Conceitos
Mudanças da Linguagem de “Programação”
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Mesa redonda: tecnologias verdes aplicadas ao desenvolvimento sustentável Me d i a d or a : Ke n ny Ta n i z a k i Fon s e c a
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Pa l e s t r a n te : A n a C r i s t i n a Si e w e r t G a r a fo l o C h e f e Adju nt a d e Tr a n s f e rê n c i a d e Te c n o l o g i a
Pa l e s t r a n te : C r i s t h i a n e d e O l i v e i r a d a G r a ç a Amancio C e nt ro Na c i on a l d e Pe s q u i s a d e Ag ro bi o l o g i a - C N PA B
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embrapa/rj A
A CONTRIBUIÇÃO DA EMBRAPA PARA A SUSTENTABILIDADE DA AGRICULTURA BRASILEIRA
Embrapa é uma empresa vinculada ao Ministério de Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) destacando-se pelo desenvolvimento de pesquisas básicas e aplicadas no campo da agropecuária. Criada em 07 de dezembro de 1972 por meio da Lei n.º 5851, que veio a ser instituída pelo Decreto n.º 72.020 de 28 de março de 1973, tinha por objetivo “Proporcionar conhecimentos que visem aumentar a eficiência econômica e social na realização do processo produtivo na agricultura. Durante os 41 anos de sua existência a Embrapa presenciou mudanças internas e externas a ela, consolidadas por um discurso pautado no desenvolvimento sustentável . Assim sendo dentro do pressuposto atual, para que a produção agrícola possa continuar a crescer sem sacrifício para o meio ambiente, impactos do processo produtivo precisam ser reduzidos por unidade de produto ou por unidade de atividade. Maior eficiência ambiental nas práticas do campo asseguram segundo Neumann et al., (2002) a compatibilidade entre o crescimento econômico e a sustentabilidade ambiental. Neste propósito a missão da Embrapa consolida-se em “viabilizar soluções de pesquisa, desenvolvimento e inovação, entendidas como a introdução de novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo ou social, que resultem em novos produtos, processos ou serviços”. Assim sendo, a Embrapa, como instituição de pesquisa nacional, tem por missão atuar como fonte de conhecimentos e de tecnologias voltadas para o avanço do conhecimento em diferentes áreas. Entretanto a aplicação das tecnologias geradas relaciona-se as condições do campo quer sejam elas sociais, educacionais, de acesso ao credito, de impacto no mercado entre outras, acarretando um tempo variável entre a geração e a adoção destas. O Centro Nacional de Pesquisa de Agrobiologia - Embrapa Agrobiologia, localizado em Seropé-
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dica/RJ, é uma instituição de pesquisa, reconhecida nacional e internacionalmente, por sua atuação na área de pesquisa em FBN - Fixação Biológica de Nitrogênio e por ser a primeira Unidade da Embrapa a preconizar o uso de insumos biológicos e de práticas ecológicas aplicadas na agricultura orgânica no Brasil. É uma das 45 unidades descentralizadas da Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Governo Federal. Foi criado em 1989, contudo sua origem está intimamente relacionada à chegada da pesquisadora Dra. Johanna Döbereiner ao km 47, em 1951. Desta forma ao longo dessa trajetória o uso da tecnologia da FBN mostrou resultados incontestáveis para o agronegócio brasileiro como no caso da soja onde a inoculação das sementes com bactérias diazotróficas permite obter uma economia anual de cerca de R$10 bilhões em fertilizantes nitrogenados. No momento em que o mundo vive uma grave crise energética e os preços do petróleo atingem níveis que tornam seus derivados empregados na agricultura um fator limitante ao crescimento da produção de alimentos ou reduzindo os ganhos dos países produtores, como no caso do Brasil, a FBN e os outros insumos biológicos, desenvolvidos a partir de microrganismos benéficos às plantas, se apresentam como uma das possíveis soluções para reduzir custos e sustentar ganhos de produtividade do setor agrícola. Para estimular a geração de novas tecnologias e sua transferência para o desenvolvimento das comunidades de agricultores familiares e de assentamentos de reforma agrária foi criado o Sistema Integrado de Produção Agroecológica (SIPA). O SIPA conhecido como “Fazendinha Agroecológica Km 47” é resultado de uma parceria entre a Embrapa (Agrobiologia e Solos), a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (PESAGRO-RIO), funcionando como um espaço motivador tanto de pesquisas quanto do exercício da agroecologia.
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embrapa/rj A CONTRIBUIÇÃO DA EMBRAPA PARA A SUSTENTABILIDADE DA AGRICULTURA BRASILEIRA Desde 1993, acumula experiência em sistemas orgânicos de produção com ações de pesquisa, ensino e capacitação, abrangendo estudantes, técnicos, pesquisadores e agricultores interessados nas questões relacionadas ao manejo agroecológico. A “Fazendinha Agroecológica Km 47” representa, assim, um pólo para o desenvolvimento e socialização do conhecimento sobre bases tecnológicas da agricultura orgânica, diversificados, pecuária e sistemas agroflorestais.
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E AGRICULTURA FAMILIAR
Durante as últimas décadas do século XX grandes mudanças puderam ser observadas em diferentes setores culturais da civilização ocidental, o que provocou uma série de alterações na relação entre os seres humanos e entre estes e a natureza. A busca pela produção de mais alimentos impulsionou a abertura de novas fronteiras agrícolas criando um modelo baseado na excessiva especialização dos sistemas produtivos, dependente de insumos externos de custo elevado e de alto impacto socioambiental. Isto acarretou a eliminação das atividades de produção para auto-consumo os quais aliado ao processo de industrialização da agricultura e a busca de novas matrizes energéticas levou a um esgotamento de recursos naturais. Como resposta ao mover deflagrado pelo apelo à sustentabilidade, a Agenda 21, acordo internacional com a característica de ser um plano de ação para ser adotado global, nacional e localmente, tem o Capítulo 32 dedicado ao fortalecimento do papel dos agricultores, peça chave para alcançar a sustentabilidade no campo. O aumento da renda de quem vive da produção rural é dependente da implantação de práticas técnico-gerenciais adequadas. Tais práticas possibilitam uma melhor organização e aproveitamento da atividade produtiva, as quais ao diminuir custos,
aumentam produtividade, agregam valores à produção e colaboram para a preservação e melhoria do ambiente produtivo. (DOMIT et al., 2008). Assim sendo informação, conhecimento e tecnologia tornam-se aspectos importantes para todos os segmentos sociais em especial para o homem do campo, que historicamente foi excluído do processo formal de produção de conhecimento. (BERNARDES e TORRES, 2010). Tem-se hoje como grande desafio uma agricultura sustentável a qual preconiza comunicação, técnicas, saberes dos diferentes atores sociais envolvidos além de conhecimentos dos diferentes espaços e ambientes de produção. A comunicação em um espaço dialógico promovendo relação entre ensino e aprendizagem precisa interagir com a produção e o modo de vida do agricultor.
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TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS ADUBAÇÃO VERDE bIOFERTILIZANTE bARRAGEM SUBTERRÂNEA COMPOSTO ORGÂNICO 100% VEGETAL
Soluções Tecnológicas são o conjunto de conhecimentos técnicos testados e validados que assumem o sentido de utilidade para a sociedade. Abrange o conjunto de Produtos, Processos e Serviços da Embrapa em atendimento às demandas produtivas e tecnológicas da população ou público a que se destinam. Algumas soluções são apresentadas a seguir: a) Adubação verde com guandu1: O guandu é uma leguminosa semiperene que forma associação simbiótica com bactérias fixadoras de nitrogênio do ar, conhecidas como rizóbios. Seu cultivo é aproveitado na alimentação humana e animal, além de ser muito utilizado para adubação verde, quando visa suprir o nitrogênio para culturas de importância econômica. b) Adubação verde para hortaliças2: A adubação verde tem por objetivo adicionar matéria orgânica, reciclar nutrientes e fixar nitrogênio biologicamente no solo. As espécies destinadas à adubação verde podem ser plantadas isoladamente ou em consórcio, podendo ser incorporadas ou mantidas sobre a superfície do solo. Uma das formas de consórcio é o “coquetel” de adubos verdes que corresponde à mistura das seguintes sementes: Crolataria juncea, mucuna- preta, sorgo forrageiro, guandu-anão e milheto. c) Fabricação de biofertilizante3: é um adubo orgânico líquido feito com materiais fáceis de ser encontrados e fica pronto em um tempo relativamente curto. É aplicado em pulverizações foliares ou junto com a água de irrigação. Fornece nutrientes essenciais para as plantas e auxiliam no controle de doenças e insetos. Propicia uma resposta mais rápida que os fertilizantes de solo. Utilizase na concentração de 2% para mudas e 5% para plantas no campo. A parte sólida do biofertilizante também pode ser utilizada para adubação de covas, ou empregada como inóculo para nova compostagem. d) Arborização de pastagens com ênfase no modelo de plantio disperso de leguminosas arbóreas inoculadas e micorrizadas4: O modelo de plantio disperso de árvores na pastagem, utilizando as leguminosas arbóreas fixadoras de nitrogênio inoculadas com fungos micorrizicos, proporciona benefícios para a produtividade da pastagem e o conforto dos animais em dias de calor intenso. Estes benefícios advêm da transferência de nitrogênio pelos resíduos da parte aérea e das raízes destas árvores. e) Barragem Subterrânea5: é uma tecnologia que vem sendo implementada em vários estados do Nordeste que consiste, essen-
sistema integrado para a produção de mudas de hortaliças (SIPM): cialmente, na utilização de uma lona plástica que desce no solo a profundidades de 3 a 5 metros, em valas que são cavadas pelos próprios trabalhadores em regiões declivosas de suas plantações. Desta forma, como a água não escorre para o lado a jusante da barragem por ficar retida (‘barrada’) na lona, o solo a montante da barragem fica umedecido durante todo o ano, tornando-se apto para o cultivo. f) Inoculante (rizóbio) para feijão-caupi6: A inoculação de estirpes de rizóbio em leguminosas pode suprir em parte ou totalmente a necessidade de nitrogênio (N) da cultura através do processo de fixação biológica de nitrogênio (FBN). Os incrementos de N alcançaram patamares de até 40% em condição experimentais de campo e de até 52% nas áreas de agricultores experimentadores. g) Composto orgânico 100% vegetal7: uso de matéria -prima 100% vegetal, a partir da compostagem de mistura de torta-de-mamona com bagaço de cana-de-açúcar ou palhada de capim-elefante (Pennisetum purpureum). A qualidade desses insumos é superior àquela de produtos similares, pois o composto é isento de contaminação biológica, não utiliza adubos minerais e tem baixo custo. Além disso o desempenho é excelente e o composto pode ser certificado como produto orgânico bem como os adubos e substratos orgânicos podem ser produzidos em pequenas propriedades rurais e, também, em grande escala, em nível industrial, pois utilizam processo simples de fabricação, não necessitando de grandes investimentos em infraestrutura além da matéria-prima ser renovável e abundante. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
https://www.embrapa.br/busca-de-produtos-processos-e-servicos/-/produto-servico/763/adubacao-verde-com-guandu-arranjo-populacional-de-plantio-e-espacamento -para-otimizacao-da-producao-de-biomassa acesso em 28/04/2014 https://www.embrapa.br/busca-de-produtos-processos-e-servicos/-/produto-servico/798/adubacao-verde-para-hortalicas acesso em 28/04/2014 https://www.embrapa.br/busca-de-produtos-processos-e-servicos/-/produto-servico/804/fabricacao-de-biofertilizante acesso em 28/04/2014 https://www.embrapa.br/busca-de-produtos-processos-e-servicos/-/produto-servico/635/arborizacao-de-pastagens-com-enfase-no-modelo-de-plantio-disperso-de-leguminosas-arboreas-inoculadas-e-micorrizadas acesso em 28/04/2014 https://www.embrapa.br/busca-de-produtos-processos-e-servicos/-/produto-servico/1246/barragem-subterranea-uma-opcao-de-sustentabilidade-para-o-semiarido-donordeste acesso em 28/04/2014 https://www.embrapa.br/busca-de-produtos-processos-e-servicos/-/produto-servico/555/inoculante-rizobio-para-feijao-caupi acesso em 28/04/2014 https://www.embrapa.br/busca-de-produtos-processos-e-servicos/-/produto-servico/91/composto-organico-100-vegetal acesso em 28/04/2014
tecnologias para o fortalecimento da agricultura familiar fluminense A produção e a comercialização de hortaliças orgânicas no Rio de Janeiro ainda é limitada, em grande parte, pela carência de bases tecnológicas regionais. A Embrapa Agrobiologia tem ocupado destaque no Estado do Rio de Janeiro por desenvolver pesquisas voltadas para a sustentabilidade do meio rural. Juntamente com instituições parceiras como a UFRRJ e a Pesagro - Rio tem envidado esforços para ampliação da oferta de tecnologias apropriadas ao sistema de produção orgânico. Tais como substratos mais adequados às demandas do, com ênfase nas unidades de produção de base familiar. Com o propósito de levar estas informações para a realidade da produção agrícola do Estado, a Embrapa Agrobiologia e instituições parceiras, através de uma rede de pesquisa e extensão consolidada pela Fazendinha Agroecológica km 47, propõe socializar um modelo para um sistema de produção de mudas de hortaliças preconizando o uso de tecnologias sociais e tecnologias apropriadas com vistas á ampliar a oferta de mudas com padrão de qualidade, o processo de transição agroecológica não só para atender a demanda do processo produtivo da agricultura familiar mas, sobretudo, preocupandonos com a inclusão deste segmento da sociedade.
Tecnologia Verde
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Espera-se com isso promover o modelo em regiões do Estado do Rio de Janeiro, dependente de mudas de hortaliças e capacitar tanto agricultores quanto técnicos da ATER para a adoção das tecnologias propostas. Acredita-se que por meio destra estratégia serão ampliadas não só a capacidade produtiva quanto a melhoria das relações de ajuda mútua, vínculos solidários e participação social, já que o modelo proposto busca estimular a produção coletiva. Desta forma, conferir alta qualidade às mudas geradas pelo segmento de orgânicos, com ênfase na agricultura familiar é um grande
desafio, dado ao restrito acesso, a tecnologias apropriadas a sua realidade. Pensando nisto, está sendo proposto aqui, reunir, pela primeira vez, várias tecnologias sociais ou apropriadas à realidade da agricultura familiar, que permitam a obtenção de mudas necessárias para abastecer sistemas de produção locais e também promover a solidariedade, fortalecendo os laços de confiança e ajuda mútua entre os participantes do projeto. Este modelo tecnológico denominado de “sistema integrado para a produção de mudas de hortaliças” (SIPM) consistem em:
Uma estufa de baixo custo disponibilizada pela PESAGRO-Rio
Uma cisterna de placas de concreto disponibilizada pela Articulação Semi Árido Brasileiro (ASA)
Um sistema de irrigação baseado no uso energia solar (célula fotovoltaica) disponibilizada pela UFRRJ
Um substrato orgânico formado a base de vermicomposto e fino de carvão vegetal, disponibilizado pela Embrapa Agrobiologia e UFRRJ.
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Como ganho direto há a ampliação da oferta de mudas de hortaliças com qualidade em diferentes regiões do Estado. Os ganhos socioeconômicos podem ser representados pela possibilidade de geração de renda a partir de um processo de produção de mudas de hortaliças em um sistema de baixo custo. Somam-se a isso ganhos socioambientais, pelo uso de tecnologias ambientalmente adequadas e promotoras de atividades coletivas pelo fortalecimento da participação social. Ganhos quanto a formação de recursos humanos da ATER (pública e privada) garantindo a melhoria na qualidade do serviço prestado para a agricultura familiar contribuindo para o almejado desenvolvimento rural sustentável.
ana cristina garofolo
cristhiane da graça amancio
O grande desafio para a agricultura sustentável está no uso de tecnologias que articulem a comunicação, as técnicas, os saberes e conhecimentos dos diferentes espaços e ambientes de produção e de sobrevivência. Assim sendo precisam interagir com a produção, a produtividade, a sustentabilidade, os usos e os modos de apropriação da natureza.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERNARDES, R. M.; TORRES, T. Z. Tecnologias Sociais, TICs e Educação: pilares para a construção da Tecnopedia Social Rural – TeSoRu. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO, 21. 2010, João Pessoa. Anais ... [S.1.: s.n.], 2010. Não paginado. SBIE 2010. DOMIT,L.A.; DALBOSCO, SANTOS, M., R.M.S.; GUIMARÃES, M.F. Transferência de tecnologia para a cultura da soja – a experiência da COPACOL. Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 29, n. 2, p. 255-264, abr./jun. 2008 EMBRAPA AGROBIOLOGIA. IV Plano Diretor Embrapa Agrobiologia: 2008-2011/ Embrapa Agrobiologia. Seropédica, RJ, 2008. 29p. NEUMANN, P.S.; LOCH,C. Legislação Ambiental, Desenvolvimento Rural e Práticas Agrícolas. Ciencia Rural, Santa Maria, vol.32, n.2, 2002,pp.243-249.
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Mesa redonda: tecnologias verdes aplicadas ao desenvolvimento sustentável Pa l e s t r a n te : Vi c e n te d e Pau l a L o r e i r o
Su b s e c re t á r i o d e Ur b a n i s m o R e g i on a l Me t rop o l it a n o d a S e c re t a r i a d e E s t a d o d e O br a s d o R i o d e Ja n e i ro
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Secretaria de Estado de Obras do Rio de Janeiro tem dispensado atenção especial ao monitoramento dos impactos ambientais que as obras rodoviárias podem ocasionar durante sua construção, pavimentação, duplicação ou manutenção, incluindo cuidados para sua fase de operação, trazendo o conceito de sustentabilidade para estas. No presente artigo, trataremos de três obras específicas onde estes conceitos já vem sendo aplicados, a saber: a Estrada-parque Visconde de Mauá (RJ-163 / RJ-151), a Estrada-parque Paraty-Cunha (RJ-165) e o Arco Metropolitano do Rio de Janeiro (BR-493/RJ), subtrecho entre a BR-040/116B e a BR-101. Pri-
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meiramente, vale destacar que, em relação ao custo das obras rodoviárias, os investimentos ambientais decorrentes desses empreendimentos rodoviários refletem o montante de 53% para a Estrada-parque Visconde de Mauá, 9% para a Estrada-parque Paraty-Cunha e 8% para o Arco Metropolitano do Rio de Janeiro, todos superiores aos 0,5% habituais. Um novo conceito em rodovias ganhou, nestes últimos anos, espaço significativo no Estado do Rio de Janeiro: as Estradas-parque, vias implantadas com cuidados ambientais especiais, evitando impactos em áreas ambientalmente sensíveis. Essas Estradas, por força do Decreto Estadual nº 40.979
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de 15/10/2007, devem estar inseridas, no todo ou em parte, em unidade de conservação da natureza e ser implantadas compatibilizando sua utilização com a preservação dos ecossistemas locais, valorizando a paisagem e os valores culturais, fomentando a educação ambiental, o turismo consciente, o lazer e o desenvolvimento socioeconômico da região onde está inserida. Dentre outras características estruturantes, vale destacar que a) uma Estrada-parque deve ter o traçado menos impactante possível, reduzindo ao máximo as interferências no meio físico; b) a pavimentação deve compatibilizar as necessidades de tráfego às especificidades físicas locais, priorizando a utilização de
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materiais menos poluentes; c) ciclovias e via para pedestres devem ser previstas e unidas a pontos de parada e mirantes naturais, em trechos que visem à interpretação natural e histórica; d) as ocupações lindeiras, quando inevitáveis, devem ser limitadas a trechos já alterados pela ação antrópica, privilegiando atividades voltadas ao turismo ecológico e rural, lazer e valorização ambiental do entorno; e) zoopassagens devem ser construídas permitindo a passagem da fauna, em segurança, sob ou sobre a via, garantindo o fluxo gênico e a integridade física da mesma; f) pórticos/guaritas devem ser implantados na entrada e saída do trecho, para controlar/ limitar o acesso de veículos; g) Centro de Visitantes deve ser implantado a fim de disponibilizar informações sobre os atrativos da região, a mata atlântica em geral e outros temas pertinentes; h) podem ser instalados redutores de velocidade e além da sinalização rodoviária normal deve haver sinalização interpretativa acerca dos atrativos da região. A Estrada-parque poderá ter ainda um Conselho
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Gestor de caráter consultivo, formado por membros dos órgãos envolvidos, da sociedade civil e da iniciativa privada. A pioneira das Estradas-parque do Estado do Rio de Janeiro, a rodovia RJ-163 / RJ-151, Estrada-parque Visconde de Mauá, teve seu trecho entre as localidades de Capelinha e Vila de Mauá (RJ-163) inaugurado em 2011. Posteriormente, o trecho da RJ-151, entre as Vilas de Maromba - Itatiaia e Ponte dos Cachorros – Resende, foi pavimentado com asfalto-borracha. As principais características dessa rodovia foram: a) o respeito ao traçado existente, objetivando reafirmar o caráter turístico da estrada e a preservação do ambiente; b) a redução do movimento de terra, minimizando custos e impactos com o meio-ambiente; c) a opção pela utilização de cortinas de contenção nas partes baixas da estrada e nas demais, sempre que possível, por técnicas de menor impacto visual; d) sinalização com preocupação nas indicações turísticas e educativas.
estrada-parque
Junto com as obras rodoviárias, que reativaram a economia e o potencial turístico da região de Visconde de Mauá, o Governo do Estado do Rio de Janeiro tem investimentos ambientais na área de influências dessas vias, voltados à adequação ambiental, tais como a implantação de 08 zoopassagens subterrâneas, 06 zoopassagens aéreas, 01 pórtico e 04 mirantes; a urbanização das Vilas de Maromba, Maringa, Visconde Mauá e Lote 10; a implantação do Centro de Atendimento ao Turista; a execução das obras de implantação de redes coletoras, interligações domiciliares e estações de tratamento de esgoto; tudo isso acompanhado da execução de um Plano Básico Ambiental – PBA1 das obras rodoviárias, de um Plano Estratégico de Desenvolvimento Sustentável da Região, assim como, do Ordenamento Turístico e Formulação de Documentação Técnica e Projetos do Parque Estadual da Pedra Selada. A mais nova Estrada-parque em implantação no Estado do Rio de Janeiro é a RJ-165 que liga as cidades de Paraty (RJ) à Cunha (SP) e atravessa em 9,4Km o Parque Nacional da Serra da Bocaina. Nessa obra o traçado do leito original foi absolutamente respeitado, de modo a evitar excessivo movimento de terra e supressão vegetal, embora do ponto de vista rodoviário, pudesse ter sido melhorado face às declividades e curvas existentes. Algumas outras soluções de engenharia foram adotadas face às questões ambientais, por exemplo, a pavimentação com blocos intertravados em substituição ao pavimento asfáltico para melhorar a drenagem, reduzir a velocidade do tráfego e aumentar o ruído, afugentando assim a fauna. Foi adotada ainda a técnica de desmonte de rocha com uso de massa expansiva frente a explosivos, reduzindo o nível de ruído e, consequentemente, o impacto sobre a fauna. Também foram adotadas soluções para contenção de encostas com muros de gabião em substituição a cortinas atirantadas, visando diminuir o impacto visual e a movimentação de materiais de construção agressivos. Além disso, tanto durante a execução de muros de gabião quanto de cortinas atirantadas, foram realizadas adaptações de projeto visando evitar ao máximo as supressões vegetais. 1.
A Gestão Ambiental e Social dos empreendimentos é norteada pelo Plano Básico Ambiental (PBA) elaborado durante o processo de licenciamento das obras, que descreve o processo metodológico utilizado para avaliar, mitigar e compensar os impactos ambientais decorrentes das mesmas. Além disso, durante a execução das obras, quando necessárias, são realizadas adaptações de projeto visando a sustentabilidade.
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Zoopassagens Subterrâneas
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té o momento, na execução do Programa de Monitoramento de Fauna da Estrada-parque Paraty-Cunha, previsto no Plano Básico Ambiental, foram registrados 245 espécies de aves (destas 123 são consideradas endêmicas de Mata Atlântica, 49 estão incluídas em alguma categoria de ameaça de extinção e 46 encontram-se listadas como em perigo de extinção); 76 espécies de mamíferos (sendo, destas, 35 consideradas ameaçadas); 44 espécies de anfíbios e répteis (sendo 97% de anuros, 2% de lagartos e 1% de serpentes); e 14 espécies de peixes. Ressalta-se que ao longo da Estrada-parque, para garantir o fluxo gênico e travessia segura da fauna, estão sendo construídas quatro zoopassagens aéreas, nove zoopassagens subterrâneas e duas zoopassagens mistas sob pontes. Registra-se que as sementes coletadas na execução do Programa de Resgate de Germoplasma, previsto no Plano Básico Ambiental da Estrada-parque Paraty-Cunha, são embaladas e acondicionadas em câmara fria para pos-
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teriormente serem entregues no Banco Estadual de Sementes Florestais do INEA. Em relação aos bens públicos representados pelo Patrimônio Histórico, Cultural e Arqueológico, presentes nas áreas de intervenção do empreendimento, buscou-se manter sua integridade através de um Programa de Monitoramento Arqueológico e de Educação Patrimonial, facilitando o seu conhecimento e as investigações de possíveis áreas / objetos de interesse à matéria, em conformidade com as Portaria 07/88 e 08/09 do IPHAN. Também são executados na área de influencia do empreendimento, programas de compensação voltados ao ambiente socioeconômico local, tais como, Educação Ambiental nas cidades de Paraty e de Cunha; Plano Estratégico de Ordenamento Urbano; e constante Programa de Comunicação Social e Educomunicação com a população afetada pelas obras. Além dos programas já citados, a gestão e supervisão ambiental das obras da Estrada-parque Paraty-Cunha envolvem no Plano www.proppi.uff.br/portalagir
Ambiental de Construção a recuperação de áreas degradadas, a segurança e saúde do trabalhador e da população vinculada à obra, a preservação e controle de processos erosivos, o gerenciamento de resíduos sólidos e efluentes líquidos, a educação ambiental do trabalhador, os controles de ruído e de poluição atmosférica. No Programa de Monitoramento Ambiental estão abrangidos ainda o controle de qualidade da água, os monitoramentos de ruído, da flora e da fauna, ações estas fundamentais à eficácia do projeto. Destaca-se ainda entre os Programas de Apoio e de Compensação Ambiental o ordenamento urbano, o plantio compensatório e o programa de operação da rodovia, somados ao investimento ambiental fruto das obras em questão destaca-se, por fim, a implantação da guarita e equipamentos da sede do Parque Nacional Serra da Bocaina. O Arco Metropolitano do Rio de Janeiro ainda que não enquadrado no conceito de Estrada -parque não deixou a desejar nos cuidados ambientais. A Rodovia
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de 145Km de extensão ligará o município de Itaboraí ao Porto de Itaguaí, atravessando os municípios de Guapimirim, Magé, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Japeri, Seropédica e Itaguaí. O trecho em construção pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, com 70,9Km, vai do entroncamento da BR-040 (Rio - Juiz de Fora), em Duque de Caxias, ao acesso ao Porto de Itaguaí na BR-101, cortando as rodovias BR-040, BR-465 (antiga Rio - São Paulo), BR-116 (Via Dutra) e BR-101 (Rio - Santos). Em paralelo a execução das obras rodoviárias foram implantados programas voltados ao monitoramento e resgate da fauna, através dos quais foram encontrados e registrados na Floresta Nacional (FLONA) Mario Xavier espécies como: cachorro-do-mato, colhereiro, paca, capivara, tatugalinha e jacaré do papo amarelo. Implantou-se amplo monitoramento da qualidade das águas e sedimentos dos principais rios cortados pelo empreendimento, com ênfase no rio Guandu e na região do Pôlder Cidade dos Meninos, além do monitoramento da qualidade do ar para medição de gases, material particulado e material particulado fino. Assim como, realizou-se o cadastro, monitoramento e proteção de áreas sensíveis, permitindo estabelecer estratégias para garantir a integridade das áreas consideradas sensíveis, remanescentes e/ ou testemunhos do Patrimônio Natural, Histórico, Cultural e Arqueológico da região do empreendimento. A tudo isso somando-se as ações de comunicação e educação ambiental; salvamento de germoplasma na flora; monitoramento da supressão de vegetação. Durante a execução das obras do Arco Metropolitano foi identificada a ocorrência de duas espécies reconhecidas oficialmente como ameaçadas de extinção: a rã Physalaemus soaresi e o Notholebias mininus (peixe das nuvens), consequentemente as obras desta rodovia foram paralisadas no trecho de incidência durante o início do monitoramento das espécies em questão. Por meio de busca ativa e auditiva realizada no monitoramento da rã pode-se identificar as populações existentes e suas áreas de uso dentro dos limites da unidade de conservação e entorno, concluindo-se que as obras afetariam diretamente uma das quatro áreas com registro da espécie P. soaresi, de terreno alagadiço (habitate típico do peixe das nuvens - Notholebias mininus), caracterizada por ser um dos sítios de reprodução da espécie, e uma área de floresta, habitate típico dos adultos.
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A primeira solução para a preservação das espécies contemplou a manutenção de poças temporárias onde ocorre o ciclo biológico do Peixe das Nuvens; a garantia do regime hídrico na planície aluvional do Córrego das Louças; a manutenção do fluxo gênico entre a área alagada utilizada por P. soaresi para sua reprodução e o habitate terrestre no folhiço da floresta localizado a leste, permitindo que essa área conservasse adequadamente a sua funcionalidade, preservando os ecossistemas locais. Posteriormente, visando a preservação de parte do alagado mais perene e a garantia da maior extensão de interligação entre as áreas leste e oeste da rodovia, foi construído um viaduto sobre área alagada, atendendo de forma satisfatória a preservação dos habitates preferenciais de ambas espécies - além disto, foram implantadas mais 03 zoopassagens adaptadas aos hábitos da rã, para interligar seus habitates. O citado viaduto tem 52m de extensão e altura aproximada de 4m em relação ao terreno natural, mantendo as condições de circulação originais da fauna, a iluminação natural e incidência de sol no local. Quanto aos processos construtivos, optou pela utilização de peças prémoldadas, exceto nas fundações, minimizando os efeitos decorrentes de vibração e ruído, pouco interferindo no local. Em outubro de 2011, durante o acompanhamento da execução de serviços de terraplenagem das obras do Arco Metropolitano, a supervisão ambiental identificou a existência de um ninho de coruja-buraqueira (Athene cunicularia). O ninho foi preservado e o local foi monitorado, pelo período de três meses subseqüentes, até os filhotes saírem do ninho, quando então o trecho foi liberado para continuidade das obras. Como o Arco Metropolitano do Rio de Janeiro passa próximo ao atual Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS) localizado na Floresta Nacional Mário Xavier, por força do Licenciamento Ambiental das obras, será implantado um novo Centro em local mais afastado da rodovia. As obras, com orçamento estimado em cerca de R$ 4,5 milhões, terão aproximadamente 3.000m² de área construída, englobando blocos para mamíferos, quarentenário, aves, veterinária, alojamento e administração. Desta forma o Estado do Rio de Janeiro, através da Secretaria de Estado de Obras, vem buscando adequar suas metodologias nas fases de planejamento e implantação das obras, introduzindo os conceitos de sustentabilidade, não só nas obras, mas em sua relação com os meios e seres por elas afetados.
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Mesa redonda: tecnologias verdes aplicadas ao desenvolvimento sustentável Pa l e s t r a n te : D a r i o Pr at a F i l h o
P rof e s s or d a E s c o l a d e E n g e n h a r i a d a U F F ; C o ord e n a d or d o L a b or at ór i o d e D re n a g e m , Ir r i g a ç ã o e S a n e a m e nt o A m bi e nt a l – L a D I S a n / T E R- U F F
Inovação sócio-ambiental: caminhos para a sustentabilidade Resumo
Em países desenvolvidos consumidores já recusam produtos por razões éticas, e de algum modo também por inadequações no grau de sustentabilidade alcançada nos seus processos produtivos. Com a crescente conscientização ambiental da sociedade, há estímulos para maior preocupação com a dimensão ambiental da atividade econômica, isso tem fomentado a busca pelas, assim chamadas, inovações verdes por parte das empresas. Como comentam ANDRÉ e ABREU (2006), de outro lado, a sociedade tem necessidades que não podem ser atendidas pelo mercado; tem exclusão social; e a necessidade de capacitar os excluídos para saírem dessa condição; são esses elementos que compõem o conceito de inovação social. Este texto é uma revisão da literatura sobre inovações ligadas ao tema da sustentabilidade ambiental na produção de bens de consumo, as inovações verdes. Ao se conciliar os conceitos de inovações verdes e inovações sociais, ambos se ampliam para o conceito de inovação sustentável, pois agregam a dimensão social. O artigo pretende estimular a discussão sobre estes temas, mostrando sua importância para a economia e a sustentabilidade sócio-ambiental.
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Palavras-chave inovação social
Inovação verde
A
sustentabilidade
Introdução
premissa de que o crescimento econômico deverá ser limitado pela escassez dos recursos naturais, leva à idéia de que é preciso compatibilizá-lo com a preservação ambiental. De um lado a tecnologia deverá ser capaz de estabelecer processos produtivos sustentáveis, e isso pode aumentar o crescimento econômico. De outro lado, no sistema capitalista, há dificuldades em se compatibilizar o crescimento da economia e preservação ambiental, pois o crescente consumo de bens e serviços aumenta a demanda de recursos naturais e energia. A questão é até que limite os processos produtivos limpos podem garantir a preservação ambiental (LUSTOSA, 2011). Pesquisas mostram que consumidores já se recusam a comprar produtos por razões éticas, em parte devido a inadequações no grau de sustentabilidade alcançada no processo produtivo. Isso é sinal da conscientização ambiental da sociedade, que vem acontecendo após a Conferência sobre Ambiente e Desenvolvimento, realizada em 1992 (RIO-92). Essa conscientização tem estimulado maior atenção das empresas com a dimensão ambiental da atividade econômica. É preciso que se estabeleça uma conexão de pensamentos com os aspectos sociais, econômicos, e também os técnicos, legais e políticos, quando se leva em consideração as questões de sustentabilidade ambiental. Se não houver métodos produtivos mais limpos e, além disso, padrões de consumo mais sustentáveis e responsáveis, será impossível uma economia sustentável com redução do aquecimento global. No ritmo em que se dá atualmente o impacto das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEEs) na economia mundial, causará perdas de 5 a 20% do PIB mundial, enquanto os investimentos para minimizar estes custos e riscos, serão cerca de 1 a 2% do PIB mundial. Mas isso se estes investimentos em mitigação iniciarem imediatamente, e desde que sejam alocados em setores como energia, transportes, cons-
trução e agricultura (STERN, 2007). Para ser sustentável uma sociedade deve reduzir seus padrões de consumo de produtos, serviços e energia, isso só é alcançado com informação, cumprimento de leis e uma sociedade participativa e consciente. Muito pela conquista de novos mercados, isso tudo tem fomentado no setor industrial, as chamadas inovações verdes. A sociedade tem necessidades que não podem ser atendidas pelo mercado; tem exclusão social; e é preciso capacitar os excluídos para saírem dessa condição, esses são os elementos fundamentais do conceito de inovação social, conforme ANDRÉ e ABREU (2006). O presente texto é uma revisão da literatura sobre a adoção de inovações ligadas à sustentabilidade ambiental, as inovações verdes. Estudos sobre a inovação verde têm recebido atenção tanto no campo empresarial e econômico quanto no acadêmico, porém os conceitos transitam entre as noções de “inovação verde”, “inovação ecológica ou eco inovação” e “inovação ambiental”, utilizados como sinônimos. O termo “inovação sustentável” permite uma ampliação no conceito básico agregando a dimensão social. Este trabalho pretende estimular a discussão sobre esta área de estudo mostrando sua importância tanto no campo econômico quanto no campo da sustentabilidade sócio-ambiental. O artigo está organizado de forma seqüencial apresentando uma introdução, o método de elaboração e os objetivos gerais do texto; o desenvolvimento de bases conceituais e teóricas sobre as interações entre sociedade, ambiente e economia; os conceitos, as características e importância atual das inovações verdes e das inovações sociais; as discussões pertinentes e também algumas considerações finais sobre os temas abordados.
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INTERAÇÕES ENTRE SOCIEDADE-AMBIENTE-ECONOMIA
desenvolvimento sustentável é tão importante para a preservação da civilização humana no planeta, que deveria ser visto como um código de ética para o progresso da humanidade. É algo que deve ser considerado igualmente como a democracia, a liberdade e os direitos humanos. (LAFFERTY e LANGHELLE, 1999). Estudos atuais sobre o desenvolvimento sustentável têm centrado principalmente na gestão ambiental, especialmente quando se trata da responsabilidade social das empresas. São levantadas diversas questões sociais e éticas, tais como direitos humanos, condições de trabalho e ajuda humanitária. O princípio social de justiça e inclusão, embutidos no conceito de desenvolvimento sustentável entrou na agenda corporativa ou de investigação de forma muito limitada, mesmo entre as empresas que fazem esforços ambientais promissores em uma escala global. (SHARMA e RUUD, 2003). GIDDINGS, et. al. (2002), defendem que as relações entre o ambiente, a economia e a sociedade não podem ser vistas na forma dos “três anéis” iguais ligados por uma interconexão simétrica e parcialmente separados como na Fig.01a. Pois assim se supõe uma separação e até mesmo certa autonomia da economia, da sociedade e do ambiente na relação de cada um com os demais, o que, em verdade não ocorre. Os autores propõem uma representação 112
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b
Fig. 01. Representações do desenvolvimento sustentável, em três anéis com conexão parcial (a), e, em três anéis aninhados (b), conforme GIDDINGS, et. al.(2002)
mais precisa destas relações, mostrando círculos concêntricos ou “aninhados” nos quais possa se perceber que a economia deve estar aninhada no seio da sociedade, que por sua vez estará aninhada no ambiente, como na Fig.01b. A economia no centro não deve ser vista como a mais importante, ou o eixo em torno do qual os outros dois girariam, mas sim um subconjunto dependente deles. A sociedade depende do ambiente, pois este continuaria sem ela. A economia depende da sociedade e do ambiente, embora a sociedade em www.proppi.uff.br/portalagir
muitos casos exista sem a economia. A questão-chave para o desenvolvimento sustentável é a integração das diferentes ações e setores, mantendo-se uma visão holística que supere as barreiras entre os diferentes elementos. A representação dessas interações em “círculos aninhados” em vez do modelo em “três anéis” encoraja uma perspectiva conceitual simpática à integração e ao equilíbrio sustentável. Promover o desenvolvimento sustentável exige que os governos incorporem esses princípios na elaboração de políticas holísticas que motivam e permitam às empresas desenvolver estratégias mais sustentáveis. O desenvolvimento sustentável requer mais do que mudanças de ordem tecnológica, ou inovações que permitam se fabricar produtos mais limpos, ou melhorias nas relações benefícios-custos, é necessário aprimorar a acuidade com que os seres humanos vêem seu mundo, que é de todos. Os seres humanos são parte de uma vasta rede de conexões chamada de ambiente, sociedade e economia. Não podemos separar os impactos de nossas ações em compartimentos distintos, precisamos superar as barreiras de uma forma interdisciplinar ou mesmo trans-disciplinar de ver o mundo. Desenvolvimento sustentável para ter significado de longo prazo deverá ser baseado em uma perspectiva integrada entre a vida humana e o mundo em que esta pretende existir como tal.
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As Inovações Verdes
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conomia verde é definida pelo Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas como “aquela que resulta na melhoria do bem-estar humano e da igualdade social, ao mesmo tempo em que reduz significativamente os riscos ambientais e das limitações ecológicas”; o que significa ser uma economia de baixas emissões de GEE´s, eficiente no uso de recursos naturais e socialmente inclusiva (UNEP, 2011). A economia verde visa dinamizar os efeitos composição e tecnológico para conciliar “crescimento econômico” com “qualidade ambiental” mais “inclusão social”, e buscando desconectar “crescimento econômico”, “depleção de recursos naturais” e “degradação ambiental” como preconiza a Curva de Kuznets Ambiental, definida em CARVALHO e ALMEIDA, (2010). O efeito composição são as mudanças na estrutura produtiva, tais como investimentos no setor serviços, em relação aos primário e industrial, que tendem a reduzir impactos ambientais. Efeito tecnológico é a introdução de novas tecnologias ambientais, para maior eficiência no uso de recursos naturais e redução da poluição por unidade de produto (GROSSMAN e KRUEGER, 1991). SCHIEDERIG, et. al. (2011), apresentam ampla revisão a respeito dos conceitos relacionados às novas tecnologias ambientais, mostrando que essas têm sido denominadas de eco-inovações, inovações ambientais, inovações sustentáveis e inovações verdes, sendo que de modo geral são entendidas como inovações que consistem em processos novos ou modificados, práticas, sistemas e produtos que contribuem com a sustentabilidade ambiental. Resumindo, nos quatro enfoques conceituais acima mencionados, os quais mostram pequenas diferenças entre si, foram identificados seis aspectos importantes nas diferentes defi-
nições: 1. O objetivo da Inovação é: o produto, o processo, o serviço, o método; 2. Orientação para o mercado: satisfazer as necessidades, ser competitivo; 3. Aspecto ambiental: Reduzir o impacto negativo, melhor seria impacto zero; 4. Fase: ciclo de vida integral deve ser considerado, para redução de fluxo de materiais; 5. Estímulo: Intenção para a redução pode ser econômico ou ecológico-ambiental; 6. Nível: Definir uma nova inovação/padrão verde para a empresa. Quanto às características que têm fundamentado os conceitos de inovações verdes, vale comentar que os dois primeiros têm caráter geral, se aplicam a quase todas as definições, afirmam que o objeto da inovação é um produto, processo, serviço ou método. A inovação deve satisfazer uma necessidade do usuário ou resolver um problema, deve ser competitiva no mercado. No aspecto ambiental todas concordam que a os impactos negativos devem ser reduzidos ou nulos. O quarto aspecto ocupa-se com a análise do ciclo de vida do produto e do fluxo de matéria e energia, visando reduzir consumo de recursos. O quinto aspecto enfatiza que a intenção para a inovação pode ser econômica ou ecológica, e que, menor uso de material no desenvolvimento de um produto tem diferentes causas. O sexto aspecto refere-se à ao conceito de conceito de “inovação” e do “ambientalmente favorável”, como duas noções relativas e sem valor absoluto, pois qualquer tipo de inovação pode ser nova para o mundo, a indústria ou a empresa.
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As Inovações Sociais
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ignetti (2011) define inovação social como o resultado do conhecimento aplicado a necessidades sociais através da participação e da cooperação de todos os atores envolvidos, gerando soluções novas e duradouras para grupos sociais, comunidades ou para a sociedade em geral, o autor apresenta a evolução do conceito de inovação social, conforme Tab.01. As inovações sociais, diferentemente das inovações tecnológicas, têm por objetivos a solução de problemas sociais, normalmente deixados à margem pelas políticas públicas e pelas ações dos componentes da sociedade em geral. Estudos do CRISES - Centre de Recherche sur les Innovations Sociales, analisaram a inovação social sob três eixos complementares: “território”, “condições de vida e trabalho”, e, “emprego”. Em relação à inovação social e território analisam o papel dos atores sociais e as práticas inovadoras de âmbito local. Quanto à inovação social e qualidade de vida o foco é a melhoria das condições de emprego, renda, saúde, educação, segurança e moradia. Estudos sobre trabalho e emprego consideram dimensões organizacionais e institucionais relacionadas a regulação, a governança, ao emprego e a organização do trabalho, conforme CRISES, citado por Bignetti (2011). Uma análise proposta por BIGNETTI (2011), citando vários autores, entende que as inovações sociais se originam de focos distintos que são: “indivíduos”, “organizações” e “movimentos”. O primeiro foco se refere às mudanças sociais geradas pelo indivíduo. São resultantes de iniciativas pessoais, realizadas por indivíduos motivados por uma missão, ambiciosos, estratégicos, talentosos, voltados para resultados e com o desejo de fazerem a diferença. O empreendedorismo social é o principal elemento sob esta ótica. Um segundo foco viável se liga à organização, a qual tomada no conceito mais amplo significa “um sistema de atividades ou forças conscientemente coordenadas de duas ou mais pessoas”. A organização é ainda vista como um arranjo cooperativo formal em que os propósitos individuais se alinham aos propósitos coletivos. Ampliado, esse conceito abrange empresas privadas, empresas sociais, instituições públicas e privadas, governos e outras modalidades formais de organização. O terceiro foco possível são os movimentos. Histo-
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ricamente os grandes movimentos, como o feminismo e o ambientalismo, surgiram como agentes de mudança social radical, os quais possuem uma acepção ampla, incluindo tanto relações sociais não institucionalizadas, ou relações fluidas não consolidadas como os movimentos sociais de nível local. Conforme comenta Baumgarten citada por Baumgarten (2005), vale salientar que tecnologias convencionais, em sua grande maioria visam atender necessidades e demandas empresariais das camadas de alta renda. Visam o aumento de lucro e a redução da demanda por mão-de-obra, afetando o conjunto emprego-trabalho-renda. Por outra ótica é possível relacionar os conceitos de tecnologia e de inovação com a idéia de necessidades e carências humanas, buscando suas possibilidades para a inclusão social. Uma questão primordial para a sustentabilidade econômica e social do país é a articulação entre produção de conhecimento, no seio da academia, institutos de pesquisas e universidades, e, a inovação social. Redes de pesquisadores e outros atores ligados a produção de conhecimento são fundamentais para o aprofundamento das relações entre comunidade científica e sociedade no Brasil, possibilitando o desenvolvimento de tecnologias e inovações sociais.
considerações finais
Cada vez mais vem se tornando necessária a inclusão da inovação no debate sobre a sustentabilidade ambiental. Parecem ultrapassadas as visões tradicionais sobre as relações ambiente e tecnologia, pois o quadro atual da degradação ambiental, não tem precedentes na história da civilização. A visão do ambientalismo tradicional em relação às práticas tecnológicas se atém mais à regulação e aos incentivos econômicos, e menos às alternativas de organização, a difusão de experiências ou à renovação das instituições. (FREEMAN, 1996 e RUTTAN, 1996). Nas relações entre sociedade-ambiente-economia, uma visão mais lúcida e holística, deve ser a representação dessas interações em “círculos aninhados” em vez do modelo tradicional em “três anéis”, pois isso facilita uma visão conceitual que considera a integração e o equilíbrio sustentável. Para alcançarmos uma sociedade sustentável há
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que se reduzir ao mínimo consumo de produtos, serviços e energia, para tanto é preciso uma sociedade consciente e bem informada, atenta ao cumprimento das leis e sempre ser participativa e atenta aos seus direitos e deveres. Esse é o pano de fundo que fomenta no setor industrial as chamadas inovações verdes. As inovações sociais estão fundamentadas na solução de problemas sociais, que afetam a qualidade de vida. Isso pode ser visto em três eixos: território, condições de vida e trabalho, e, emprego.
Tecnologia Verde
Sob outro aspecto, as inovações sociais se originam de focos distintos que são: indivíduos, organizações e movimentos. Por fim, a questão fundamental é não ser mais aceitável separar os impactos de nossas ações em compartimentos distintos, precisamos superar as barreiras que nos impedem de fazer o mundo sustentável. Precisamos almejar uma sociedade em que as atitudes interpessoais, interinstitucionais e ambientais, não sejam centradas no fato de que os ganhos de um, sejam uma função da perda do outro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRÉ, I. e ABREU, A. (2006). Dimensões e espaço da inovação social. Finisterra, XLI, 81, pp. 121-141. Em: < http://www.ceg.ul.pt/finisterra/numeros/2006-81/81_06.pdf> visita em 21/04/2014. BIGNETTI, L. P. (2011). As inovações sociais: uma incursão por idéias, tendências e focos de pesquisa. Ciências Sociais Unisinos, 47(1), 3-14. Acesso em 01 Ago, 2014.Em:<http://coloquioepistemologia.com.br/site/wp-content/uploads/2014/03/ARTIGO.pdf> BAUMGARTEN, M.(2006). Tecnologias sociais e inovação social. CATTANI, A. D; HOLZMANN, L. Dicionário de trabalho e tecnologia. Porto Alegre: UFRGS. CARVALHO, T. e ALMEIDA, E. (2010). A hipótese da curva de Kuznets ambiental global: uma perspectiva econométrico-espacial. Estud. Econ., São Paulo , v. 40, n. 3, Sept. 2010 . Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-41612010000300004&lng=en&nrm=iso>. access on 01 Aug. 2014. http://dx.doi.org/10.1590/S0101-41612010000300004. FREEMAN, C. (1996). The greening of technology and models of innovation. Technological forecasting and social change, v. 53, n. 01, sep. GIDDINGS, B., HOPWOOD, B. and O’BRIEN, G. (2002), Environment, economy and society: fitting them together into sustainable development. Sust. Dev., 10: 187–196. doi: 10.1002/sd.199. GROSSMAN, G. M.; KRUEGER, A. B. (1991). Environmental impacts of a North American Free Trade Agreement. Working Paper, n.3914. National Bureau of Economic Research. Cambridge, MA, nov. LAFFERTTY, W. M. e LANGHELLE, O.(1999). Sustainable development as concept and norm. In: W. M. Lafferty e Oluf Langhelle (orgs.). Towards Sustainable Development. On the Goals of Development – and the Conditions of Sustainability.Londres: Macmillan Press LUSTOSA, M. C. J. (2011). Inovação e tecnologia para uma economia verde: questões fundamentais. Política Ambiental.Economia verde: Desafios e Oportunidades, Belo Horizonte, n.8, p.111-22, jun. RUTTAN, V. (1996). Induced innovation and path-dependence: a reassessment with respect to agricultural development and the environment. Technological forecasting and social change, v. 53, n. 01, september. SCHIEDERIG, T.; TIETZE, F.; HERSTATT, C. (2011). What is Green Innovation? A quantitative literature review. Working Papers/Technologie-und Innovationsmanagement, Technische Universität Hamburg-Harburg. SHARMA, S. and RUUD, A. (2003). On the path to sustainability: integrating social dimensions into the research and practice of environmental management. Bus. Strat. Env., 12: 205–214. doi: 10.1002/bse.366 STERN, N. (2007). The Economics of Climate Change: The Stern Review. Cambridge University. Disponível em: 01 Ago. 2014. <http://mudancasclimaticas.cptec.inpe.br/~rmclima/pdfs/destaques/sternreview_report_complete.pdf> UNEP – United Nations Environment Programme. (2011). Towards a green economy: pathways to sustainable development and poverty eradication. Nairobi: Unep.
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Painel de experiências da uff Apr e s e n t a d o p or Ta i l l a ny Por tu g a l
D i re t or a P re s i d e nt e d a Ag r h a C on s u lt or i a - E mpre s a Jú n i or d e C on s u lt or i a Ag r í c o l a e A m bi e nt a l U F F
A Agrha Consultoria agradece o convite de compor o corpo de representantes do IV Ciclo de Seminários sobre Inovação, no Seminário “Tecnologia Verde e Desenvolvimento Sustentável”, que foi realizado no dia 29 de abril de 2014 pela Agência de Inovação da UFF – AGIR.
Somos uma Empresa Júnior, que se caracteriza por ser uma associação civil sem fins lucrativos, constituída e gerida exclusivamente por alunos da graduação de Engenharia Agrícola e Ambiental e de Engenharia de Recursos Hídricos e do Meio Ambiente da Universidade Federal Fluminense. Tendo como uma das principais finalidades complementar, com as práticas de mercado, a formação acadêmica dos seus membros. Nossa atividade inclui prestar serviços e desenvolver projetos para diversos setores da sociedade, empresas e entidades, sendo o preço dos serviços oferecidos menores que os do mercado. Além disso, para o sucesso dos projetos, contamos com o respaldo de professores orientadores e profissionais especializados com grandes experiências no mercado, provendo todo o auxílio necessário para que os projetos sejam em um alto nível de qualidade. 116
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REVISTA AGIR Nº 4 • 2014 As Empresas Juniores possibilitam aos estudantes a oportunidade de aprimoramento técnico através de trabalhos realizados e que eles adquiram uma visão real, possibilitando-lhes a resolução de problemas práticos e o aprimoramento pessoal através do engajamento em uma organização que esteja preocupada com o desenvolvimento das pessoas como indivíduos. Esta também possui o papel de auxiliar e assistir aos clientes na melhoria de seu desempenho, nos aspectos de eficiência, tecnologia e no aprimoramento das relações interpessoais. A Agrha Consultoria foi fundada no dia 04 de abril de 2011, devido à vontade dos alunos graduando da Universidade Federal Fluminense, em criar uma empresa júnior que alcançasse a área de consultoria em Engenharia Agrícola e Engenharia Ambiental. Hoje, aos três anos, a Agrha Consultoria é composta por 25 membros que estão presentes
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nas diretorias Administrativa-Financeira, Marketing, Gestão de Pessoas, Projetos, Assessoria de Qualidade e Presidência. Temos como objetivos principais a capacitação de seus membros, aproximação destes com o mercado de trabalho e o desenvolvimento de empresas e da sociedade.
MISSÃO: “Ser um cenário de criação que desenvolve pessoas inovadoras capazes de mudar o mundo”. VISÃO: “Em 2017 seremos a empresa júnior de referência para o país na área ambiental e agrícola”. VALORES: Orgulho de ser Agrha; Consciência socioambiental; Sinergia; Espírito empreendedor; Profissionalismo; Transparência; Excelência operacional; Apoio aos membros.
Com essas premissas conseguimos impactar e transformar a vida dos Membros, dos Clientes, da UFF, do MEJ (Movimento de Empresas Juniores), dos Parceiros, dos Alunos e, consequentemente, das nossas Famílias. A Agrha Consultoria, sempre esteve totalmente ligada a Sustentabilidade e, sempre que possível, a aplicabilidade de Tecnologia Verde em seus Projetos. Visamos um mundo com menos poluição, desastres naturais, mais sustentável e preocupado com o futuro.
Nossa CARTA DE SERVICOS consiste em: Sistema de Captação de Água de Chuva para Reaproveitamento no prédio da Escola de Engenharia da UFF.
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rojeto de reaproveitamento da água da chuva para o Bloco D localizado no campus da Engenharia da Universidade Federal Fluminense, no qual, houve a elaboração e dimensionamento de um sistema de calhas instaladas sob as telhas já existentes na cobertura do prédio, que seria parte de uma área de captação da água provenientes das chuvas. O objetivo principal deste projeto era que a água fosse coletada e direcionada para dois reservatórios
subterrâneos (cisternas) localizados nas duas extremidades do edifício, passando por um dispositivo de descarte de resíduos sólidos e outro para descarte das águas das primeiras chuvas. Foi dimensionado um sistema de
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bombas e tanques de pressão, que bombeiam a água armazenada para torneiras localizadas pelo prédio (duas por pavimento). A água captada em por finalidade o uso para limpeza do edifício, irrigação de jardins, podendo o projeto serem adaptado para o abastecimento da estufa de cultivo hidropônico presente no campus. Este projeto foi arquivado para posterior construção nas instalações da escola de engenharia da UFF. 117
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Projeto Piloto Poste de Luz Solar com Placa Fotovoltaica para o campus da Universidade Federal Fluminense.
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projeto da Agrha Consultoria com a Escola de Engenharia da UFF foi da criação e aplicação de novas fontes de energia para o meio ambiente através de um projeto piloto de um Poste de Luz com Placa Fotovoltaica. A proposta do poste é que além da funcionalidade e do uso de energias alternativas, possa ter um utilidade extra que integre e oriente os alunos que frequentam o campus. A iluminação do
poste é apenas noturna através de uma lâmpada de LED visando um consumo menor de energia e no restante do dia a energia armazenada no poste é
utilizada para carregar celulares. Para isso foi projetado uma bancada com tomadas acopladas ao poste, onde as pessoas possam conectar seus celulares, além disso, o poste pode ser utilizado como atrativo para divulgação e informação sobre a sua metodologia de funcionamento, gasto de energia, etc. Este projeto esta arquivado aguardando financiamento para sua execução.
Projeto Condomínio Sustentável
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rojeto solicitado para a elaboração de cartilhas contendo informações que ofereçam meios de diminuição dos gastos, como também métodos de incentivo à redução de resíduos, através da coleta seletiva, por exemplo. Além das cartilhas, serão elaborados textos explicativos, distribuídos aos moradores e irão abordar
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os tópicos: Como reduzir custos com água e luz; Criação de uma composteira coletiva e manual para coleta seletiva; Como captar água da chuva para irrigação do jardim; Além do uso de energias alternativas e o estudo de sua viabilidade. Portanto, como diz o nosso Hino Nacional “Gigante pela própria natureza” porque não
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sermos gigantes potências na área de sustentabilidade? Porque não sermos gigantes na redução da poluição? Porque não sermos gigantes em tecnologias que impacte menos o meio ambiente? Tudo depende das nossas ações perante o meio ambiente. São pequenas atitudes que mudam um mundo.
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Portanto, como diz o nosso Hino Nacional “Gigante pela própria natureza” porque não sermos gigantes potências na área de sustentabilidade? Porque não sermos gigantes na redução da poluição? Porque não sermos gigantes em tecnologias que impacte menos o meio ambiente? Tudo depende das nossas ações perante o meio ambiente. São pequenas atitudes que mudam um mundo.
Rennan Miranda, Lucas Rachid, Lorena Fernandes, Taillany Portugal, Ramon Vilhena, Priscilla Almeida, Gabriel Sgura, Aline Soares, Lydia Santos.
“Você deve ser a mudança que gostaria de ver no mundo.” Mahatma Gandhi CONTATO Agrha Consultoria - Empresa Júnior de Consultoria Agrícola e Ambiental Universidade Federal Fluminense Rua Passos da Pátria, 156 - São Domingos - Niterói, RJ – Bloco D, Sala 331-A Telefone: (21) 2629 -5434 Email: agrhaconsultoria@agrha.com Site: www.agrhaconsultoria.wix.com/agrha www.proppi.uff.br/portalagir
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Seminรกrio Defesa Nacional
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Agência de Inovação da UFF, vinculada a PROPPI, organiza o “Seminário Defesa Nacional”, como parte do IV Ciclo de Seminários sobre Inovação, com apoio do CNPq. O evento foi realizado no dia 29 de maio, das 08:00 às 16:50, no “NAB UFF”, Núcleo de Estudos em Gerenciamento de Água e Biomassa, localizado no endereço: Campus da Praia Vermelha, Boa Viagem, Niterói. O Seminário teve como objetivo abordar a importância da inovação tecnológica para a área de defesa nacional, trazendo informações sobre iniciativas, práticas, ações e serviços de caráter inovador realizados neste contexto, promovendo ainda o debate entre pesquisadores, alunos e profissionais de diversas áreas do conhecimento, atuantes na área.
Programação
Horário
Atividades
08:00 09:00
Credenciamento Abertura Oficial Mesa Redonda “Fortalecimento da Base Institucional de Defesa” Mediador: Professora Fabiana Leta – Diretora da Agência de Inovação
09:30 – 11:30
Agência Espacial Brasileira – Carlos Alberto Gurgel Veras – Diretor de Satélites, Aplicações e Desenvolvimento da Agência Espacial Brasileira IME – Coronel Armando Morado Ferreira – Gerente da Nova Família de Blindados Guarani INEST – Professor José Carlos Albano do Amarante
11:30 – 12:30 12:30 – 14:30
Painel: “Tecnologia e Inovação no Setor de Defesa: Uma Perspectiva Sistêmica” Núcleo de Estudos Estratégicos – Comandante William de Sousa Moreira
Intervalo para Almoço Mesa Redonda “Desenvolvimento de Tecnologias de Uso Dual”
14:30 – 16:30 Mediador: Professor Luiz Pedone – Instituto de Estudos Estratégicos da UFF Marinha – Centro de Análise de Sistemas Navais - Comandante Gustavo Benttenmüller – Assessor de Ciência e Tecnologia Exército – Departamento de Ciência e Tecnologia – Coronel Mauro Guedes Mosqueira
16:30 – 17:00
Coffee Break Painel: “Experiência do Núcleo de Estudos de Tecnologias Avançadas da UFF” – NETAv
17:00
Professor Julio Dal Bello – Escola de Engenharia da UFF Professor Eduardo Rodrigues Vale – Coordenador Científico do NETAv
www.proppi.uff.br/portalagir NAB UFF: Núcleo de Estudos em Gerenciamento de Água e Biomassa
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Mesa redonda: fortalecimento da base institucional de defesa
Me d i a d or a : Fa bi a n a R o d r i g u e s L e t a
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Palestrante: Carlos Alberto Gurgel Veras Diretor de Satélites, Aplicações e Desenvolvimento da Agência Espacial Brasileira
Política Nacional de C,T&I
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Necessários avanços no padrão de política de C,T&I do país... Torna-se importante:
Nesse sentido, nos últimos anos, emergiu um conjunto amplo de novas tendências nas políticas nacionais (diversos países) de C,T&I, a saber:
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Desafios Nacionais
Grandes linhas da política de C,T&I 1. Formação e capacitação de recursos humanos para P&D 2. Infraestrutura para P&D 3. Áreas estratégicas prioritárias 4. Atuação transversal do MCTI 5. Biodiversidade/desenvolvimento regional 6. Investimentos 7. Plano Inova Empresa www.proppi.uff.br/portalagir
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Estrutura de produção de C,T&I
Projetos Estratégicos
Inovação e desenvolvimento econômico Investimento em inovação para elevar a produtividade e a competitividade da economia brasileira: • Ampliação do patamar de investimentos • Maior apoio para projetos de risco tecnológico • Fortalecimento das relações entre empresas, ICTs e setor público • Definição de áreas estratégicas
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concepção 1. Fomento a planos de inovação empresariais. 2. Descentralização do crédito e da subvenção econômica para médias e pequenas empresas. 3. Novo modelo de fomento à inovação: Articulação de programas de diversas instituições públicas Uso coordenado dos instrumentos: crédito, subvenção, renda variável e não-reembolsável Gestão integrada (Sala de Inovação) para todas as modalidades de participação no programa Redução de prazos e simplificação administrativa
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EMBRAPII
EMBRAPII - Principais Objetivos »» Promover estratégias de inovação decorrente das demandas empresariais, fortalecendo a produtividade e a competitividade da indústria »» Estimular instituições de PD&I a realizar prospecção de projetos empresariais e arranjos cooperativos para inovação »» Estabelecer um ambiente favorável à formação e capacitação de recursos humanos por meio da implantação dos Polos de Inovação
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Mesa redonda: fortalecimento da base institucional de defesa Pa l e s t r a n te : A r m a n d o Mor a d o Fe r r e i r a , C o r o n e l E n g e n h e i r o M i l i t a r, P h D
Sup e r v i s or d o P roj e t o P & D d a Fa m í l i a d e B l i n d a d o s Gu a r a n i , In s t itut o M i l it a r d e E n g e n h a r i a
“INOVAÇÃO E FORTALECIMENTO DA BID NO DESENVOLVIMENTO DA FAMÍLIA DE BLINDADOS GUARANI” “O Projeto de P&D da Família de Blindados Guarani é exemplo de inovação em parceria com a indústria: atendimento às demandas estratégicas e operacionais; excelência técnica; e viabilidade comercial.”
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Antecedentes históricos
O Exército Brasileiro (EB) almejou obter viaturas blindadas desde a introdução desse meio na 1ª Guerra Mundial. Houve impulso efetivo durante a 2ª Guerra Mundial, com grande quantidade de blindados norte-americanos adquiridos para uso no País e participação no Teatro de Operações Europeu. A este esforço se somou o estabelecimento de centros de instrução e tecnologia, que culminou com a Escola de Material Bélico (EsMB); um centro de engenharia e manutenção, o Parque Central de Motomecanização (PqCMM); e uma graduação em Engenharia Mecânica e de Automóvel no Instituto Militar de Engenharia, tudo em um contexto em que se engatinhava na industrialização, o que obrigou a engenharia a apoiar a implantação da indústria ao mesmo tempo que cuidava da frota importada e experimentava com protótipos. Na segunda metade da década de 1960, a experiência inicial levou a Engenharia Militar, representada por um Grupo de Trabalho constituído no Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2), ao desenvolvimento de um protótipo autóctone de sucesso, a Viatura Blindada Brasileira, inicialmente 4x4, que logo foi sucedido por um mais bem assimilado 6x6, de cuja linhagem descendem os blindados EE-9 Cascavel e EE-11 Urutu e toda uma família deles derivados, fabricados pela Engenheiros Especializados SA – ENGESA,
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com ampla e indissociável contribuição do Sistema de C&T do Exército (SCTEx), e de indiscutível sucesso em sua categoria. A efervescência que se seguiu foi marcada por muitos desenvolvimentos, pontificados pelo EE-T1 Osório, carro de combate à frente de seu tempo, mas que não teve oportunidade de lograr desempenho comercial por fatores conjunturais que levaram à derrocada da ENGESA e à interrupção fabricação de blindados no País em 1993. Face à necessidade de substituir a Família Urutu e Cascavel, o Exército estabeleceu, em 1998, condicionantes e requisitos para uma Nova Família de Blindados de Rodas (NFBR). Somente em 2006 decidiu-se pela obtenção por P&D da Viatura Blindada de Transporte de Pessoal, Média de Rodas (VBTP-MR), que posteriormente recebeu a denominação de Guarani. Tal medida tinha ainda como objetivo o fortalecimento da Base Industrial de Defesa, por intermédio da retomada da fabricação de blindados no País.
Cerimônia Militar com Viatura Guarani ao lado de Viatura Urutu
Premissas do Projeto da Viatura Guarani
Em processo decisório formal, o Exército Brasileiro decidiu obter a VBTP-MR por desenvolvimento pelo SCTEx em parceria com empresa nacional, valendo-se de dispensa de licitação. Além disso, tendo em vista a obtenção de uma Nova Família de Blindados que preservasse características do sucesso da Família Urutu e Cascavel e que também mitigasse alguns dos óbices verificados no passado, o Projeto de P&D da VBTP-MR assumiu ainda as seguintes premissas principais: baixo custo; simplicidade; efetivo ganho operacional; maior utilização possível de peças de prateleira, comerciais e militares; índice de nacionalização de 60%; domínio do Pacote de Dados Técnicos pelo EB; propriedade intelectual do EB; e fortalecimento da Base Industrial de Defesa (BID).
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projeto
Preliminar, Modelo de Inovação e Seleção da Empresa Parceira
Houve-se por bem criar uma estrutura ad hoc para a Gerência do Projeto Especial de P&D da NFBR, cabendo a esta elaborar o conceito da VBTP-MR, consolidado no Projeto Preliminar, agregando extenso e intenso trabalho de engenharia e incorporando ao design as características essenciais que propiciariam condições para que fossem atendidas todas as diretrizes e premissas, inclusive assegurando que a futura empresa parceira tivesse uma firme expressão do conceito da VBTP-MR formulado pelo EB. Ressalta-se que a equipe da Gerência mesclou engenheiros militares experientes nos projetos que se desenrolaram desde a segunda metade da década de 1960 com os da nova geração, fórmula que resultou em balanço entre lições aprendidas e novas oportunidades. Ainda nesta fase, a Gerência detalhou o modelo de inovação a ser seguido, combinando a possibilidade de fomento pela FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), por meio de ação conjunta dos Ministérios da Defesa e da Ciência e Tecnologia, para o desenvolvimento do Protótipo, de maior risco; com uma contrapartida do EB que se estendia até a produção de um Lote Piloto, proporcionando um mínimo de entrega para o EB e a viabilidade econômica da empreitada para a empresa parceira. Destaca-se que esse arranjo, com aportes da FINEP e do EB, foi pioneiro naquele momento, encontrando semelhanças no contemporâneo Projeto do Radar Saber M60. Do ponto de vista técnico, o modelo de inovação elaborado reservava ao EB o conceito da viatura, a ser revisado e detalhado pela empresa parceira, que se encarregaria de incorporar as soluções de mercado e à qual caberia a fabricação, sob acompanhamento cerrado do EB por uma Equipe de Absorção de Conhecimentos e de Transferência de Tecnologia residente na empresa e diretamente ligada à Gerência Técnica. Realizado o Protótipo, o mesmo seria submetido às avaliações técnica e operacional pelo Centro de Avaliações do Exército (CAEx), órgão do SCTEx, com suporte da empresa, propiciando assim outra fase de protagonismo do EB na crítica aferição dos requisitos operacionais da Força. Concluindo o ciclo do modelo de inovação, o EB receberia o Pacote de Dados Técnicos, com todas as informações de produto, processo de fabricação – incluindo um conjunto do ferramental, garantia da qualidade, suporte logístico e a propriedade intelectual gerada, ao que se seguiria o licenciamento para fabricação com pagamento de royalties ao EB, além deste manter o controle técnico das evoluções do projeto. A seleção da empresa parceira era de importância central para o sucesso do modelo de inovação do Projeto de P&D da VBTP-MR, tendo se valido de um mecanismo novo à época, a dispensa de licitação por alta complexidade tecnológica e interesse da Defesa Nacional, introduzido na Lei de Licitações e Contratos como inciso XXVIII (originalmente XXVII) do Art. 24. O processo, em si inovador, culminou com a seleção da proposta mais vantajosa da Fiat SA, que designou a sua divisão IVECO para a execução do contrato, também em si inovador por refletir o modelo de inovação elaborado, e cuja confecção igualmente contou com o aporte de diversas áreas do EB.
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Desenvolvimento da Viatura Guarani
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desenvolvimento do protótipo se deu em um período de seis anos, de janeiro de 2008 a dezembro de 2013, abrangendo: elaboração do plano de gestão do projeto; revisão do projeto preliminar; projeto executivo do produto e do processo de fabricação; fabricação do protótipo; testes de engenharia; avaliação técnica e operacional; e elaboração do Pacote de Dados Técnicos. Cumpre destacar a atuação do Centro de Avaliações do Exército (CAEx) na rigorosa observância da conformidade aos requisitos e na aplicação de técnica esmerada na
Viatura Guarani em teste de embarque em aeronave KC-390
condução do processo de avaliação, contribuindo sobremaneira para a evolução do produto e levando a um ainda mais minucioso conhecimento. Ao longo desse processo, a viatura recebeu as características que permitem o pleno atendimento dos requisitos operacionais e, mais do que isso, permitem cumprir o preconizado nas diretrizes estratégicas do projeto. Em 24 de março de 2014 ocorreu a entrega de uma primeira subunidade, 13 (treze) viaturas, ao 33º Batalhão de Infantaria Mecanizado, ao que se seguirão entregas ao longo de 2014.
Fábrica de Blindados Guarani
P
or sua iniciativa, em consonância com os objetivos
traçados, a IVECO decidiu implantar uma fábrica dedicada aos blindados Guarani, assunto que foi tratado em recente edição da Revista Verde Oliva (Abril de 2014), cujo preâmbulo sintetiza o feito:
Linha de Montagem na Fábrica da Iveco em Sete Lagoas, MG
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“A inauguração da fábrica IVECO, em Sete Lagoas (MG), torna realidade o sonho do Exército Brasileiro de desenvolver e produzir uma nova família de blindados de rodas, com todas as suas versões, o que leva, cada vez mais, à maior adequação ao Processo de Transformação da Força Terrestre e contribui para o crescimento da indústria nacional de defesa.”.
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Nesta moderna fábrica serão produzidas 128 viaturas experimentais e, em breve, face à inclusão do Projeto Estratégico Guarani no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), deve se iniciar a produção seriada. Com capacidade instalada que pode chegar a 140 viaturas por ano, a nova fábrica gerará royalties e divisas ao atender também às Forças Armadas de Nações Amigas, tendo-se como exemplo o interesse manifestado pelo Ministério da Defesa da República Argentina e considerando-se também a repercussão positiva que a VBTP-MR Guarani encontrou em feiras internacionais, ocasiões em que foram prontamente reconhecidas as características de simplicidade, baixo custo e capacidade operacional. Além da Iveco, diversas empresas do parque automotivo nacional são fornecedoras de peças para a viatura Guarani e está em curso um processo de fomento para novos fornecedores de itens estratégicos, destacandose a área de proteção balística.
Novos Desenvolvimentos da Família de Blindados Guarani A Subfamília Média da Família de Blindados Guarani prevê outras configurações além da VBTP-MR, a serem desenvolvidas conforme planos do EstadoMaior do Exército (EME): Reconhecimento; Morteiro; Central Diretora de Tiro; Socorro; Oficina; Comunicações; Posto de Comando; Ambulância; Engenharia; Desminagem; Lançadora de Pontes; Defesa Antiaérea; Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear; e Escola. Atualmente, está em curso o desenvolvimento da Viatura Blindada de Reconhecimento, Média de Rodas (VBR-MR), em configuração 8x8, a partir da plataforma base da VBTP-MR, com previsão de receber sistema de armas de calibre 105mm, e seguindo o mesmo modelo de inovação com sucesso comprovado.
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Mesa redonda: fortalecimento da base institucional de defesa • •
Pa l e s t r a n te : Pr ofe s s or Jo s é C a r l o s A l b a n o d o A m a r a n te M a r c í l i o B o av i s t a d a C u n h a In s t it ut o d e E s t u d o s E s t r at é g i c o s I N E ST - U F F
FORTALECIMENTO DA BASE INDUSTRIAL DE DEFESA INTRODUÇÃO A Política de Defesa Nacional (PDN) (BRASIL, 2005) preconiza o desejo do Estado e a Estratégia Nacional de Defesa (END) (BRASIL, 2008) as formas a serem empregadas para atingir o objetivo nacional. Uma condição torna-se absoluta. Não há como assegurar o sucesso nessa empreitada se o Estado não possuir forças combatentes modernas e bem preparadas, sob uma estrutura de defesa, racionalmente montada. A sociedade brasileira precisa estar consciente que a defesa é dever de todos. O nosso imenso patrimônio requer a proteção de garras cobiçosas e perigosas. O Brasil precisa ter a condição de dizer “não” sempre que quiser. É por isso que se o Brasil quiser ocupar a posição que lhe cabe no Mundo deve se fortalecer.
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Necessidade do Fortalecimento das Forças Armadas e da Base Industrial de Defesa O Brasil precisa preparar o seu Poder Nacional para usá-lo em sua defesa. Empregar Forças Armadas pressupõe a capacidade de usar a violência para garantir o interesse brasileiro, como a Amazônia Azul (VIDIGAL et al., 2006). A construção de uma sólida Base Industrial de Defesa (BID) (AMARANTE, 2004), constituída por uma base logística, industrial, tecnológica e científica é indispensável para qualquer país desenvolvido ou emergente. A eficácia das Forças Armadas depende da existência de uma confiável base industrial de defesa. Esta, por sua vez, sustenta-se na riqueza e diversidade da base nacional. O atendimento das necessidades de meios das forças combatentes deve receber adequado suporte econômico e apoiar-se em tecnologias sob domínio nacional, como atesta o bloqueio sofrido pela Argentina, nas Malvinas (VIDIGAL, 1981). A obtenção de material no exterior deve ser evitada, por apresentar conhecidas desvantagens, e considerada ingenuidade política (CUNHA, 2005). O patrimônio nacional é motivo de cobiça, devendo por isso ser protegido (AMARANTE, 2010). Este trabalho aborda esses temas com o apoio de visualização da “Pirâmide de Defesa” (figura 2) e aprofunda a discussão sobre o setor menos compreendido da defesa, o da base industrial de defesa, mais conhecido pela sigla simplificada BID. Apresenta, para tal fim, na figura 1 o “Iceberg da BID”, também se constituindo em apoio de visualização do fenômeno.
A Ciência, Tecnologia & Inovação
A tecnologia de base eletrônica vem dominando o cenário da arte da guerra contemporânea, por adotar, cada vez mais, duas tecnologias na preparação de meios de combate. Embora incipientes, essas duas formas estão sendo empregadas em guerras contemporâneas, sendo também
promissoras para o futuro: robótica e automação. As guerras contemporâneas e futuras estão convergindo para o uso intensivo da inovação dual e o emprego operacional cada vez mais frequente de três formas de combate: a Guerra Eletromagnética, a Guerra Sistêmica e a Guerra Cibernética (AMARANTE, 2013).
o iceberg da bid
Note-se que a BID é composta por uma base científica, tecnológica, industrial e logística, sinalizando que não é um elemento simples da estrutura de defesa. Fazendo jus ao longo nome, trata-se de uma estrutura complexa e multidisciplinar composta de várias instituições e empresas, com diferentes especializações e de difícil relacionamento, que precisariam operar de forma harmoniosa para produzir os meios necessários às forças combatentes. Esta base congrega organizações governamentais, não governamentais, atuando como universidades, institutos de pesquisa, empresas produtivas e empresas logísticas. Uma maneira simplificada de representar a estruturação da BID é utilizando um iceberg mostrado na figura 1. Tem sido estudada a dificuldade associada à construção dessa base, a sua administração e sua posterior manutenção. O primeiro passo para a identificação da composição estrutural da BID é reconhecer, em cada nível do iceberg, qual será o produto preparado e que tipo de instituição será responsável por ele. Outra sensível dificuldade reside em diferentes atitudes e comportamentos culturais das populações que habitam cada tipo de base. Por exemplo: povoando a base científica, um professor se sente valorizado quando as pessoas reconhecem a excelência de seus conhecimentos. Por outro lado, ao engenheiro que trabalha numa base logística a sua satisfação é proporcional ao volume de dinheiro que enche os seus bolsos.
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Iceberg da BID Observando o iceberg, acima da linha d’água está o que é visível para os usuários leigos, isto é, os meios militares disponibilizados para a Defesa. Abaixo da linha d’água está a BID, representada pelas instituições e empresas que a integram. Na base do iceberg está o setor do conhecimento científico: a universidade. Nela realizam-se o ensino e a pesquisa básica. O papel quase exclusivo da universidade não impede que nos seus laboratórios se realize alguma pesquisa aplicada, na busca de soluções objetivas para problemas previamente definidos. No Brasil, os institutos militares de engenharia ocupam um lugar de destaque neste setor. Sobreposto à universidade encontra-se o centro de pesquisa e desenvolvimento que, como o próprio nome indica, se dedica, preferencialmente, à pesquisa aplicada e ao desenvolvimento experimental. O ensino, praticamente, não se realiza em centros de pesquisa, só ocorrendo essa atividade quando necessária devido à especificidade. Assim, ele se vale de conhecimentos adquiridos nas universidades para emprestar-lhes uma roupagem aplicada, visando à obtenção de “ferramentas de combate” a serem disponibilizadas para a realização das guerras. No centro de pesquisa e desenvolvimento realiza-se um trab138
Figura 1 - Iceberg da BID
alho sistemático com a tecnologia militar, objetivando tanto o desenvolvimento de novos produtos quanto o estabelecimento de novos processos, quanto o melhoramento técnico ou operacional daqueles já existentes. Subindo os degraus do iceberg, nos deparamos com as empresas industriais, responsáveis pela fabricação de todos os meios, sistemas, equipamentos e materiais de defesa. Elas são as fábricas das “ferramentas de combate” do homem
contemporâneo e, nesse nível, atuam de forma conjunta as empresas privadas e as públicas. Evidentemente, aí termina aí a BID, pois, uma vez que o produto ou o serviço esteja disponível, é necessário colocá-lo em serviço e disponibilizá-lo para o emprego na defesa. Surge, então, o órgão de serviço, que cuida da distribuição, da utilização e da manutenção de produtos. Em resumo, as empresas de serviço provêm o apoio logístico.
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A PIRAMIDE DE DEFESA A pirâmide (figura 2) vem sendo utilizada pelos autores deste trabalho preocupados com o fortalecimento da indústria brasileira de material de defesa, um dos três eixos estruturantes da Estratégia Nacional de Defesa. A “pirâmide de defesa” tem uma de suas faces mostrada na figura 2. Na pirâmide, o bloco mais elevado corresponde à sociedade consciente da defesa. O segundo bloco concentra as Forças Armadas para o emprego da força. O terceiro bloco apresenta a BID, suporte
das forças combatentes em termos de conhecimentos, sistemas, equipamentos, materiais, serviços e tecnologia. O quarto bloco representa a “base nacional”, sustento de toda a estrutura de defesa, provedora dos recursos básicos, tanto humanos como tecnológicos e indústrias de base (siderurgia, metalurgia, bens de capital, mecânica, eletrônica, material de transporte, química, telecomunicações, ou seja, a infra-estrutura nacional). Os setores nacionais envolvidos com a defesa,
Figura 2 - Pirâmide de Defesa
com as forças combat- estar preparado para deentes e com as bases da fender-se. BID devem trabalhar em Considere-se como conjunto e harmonia, de outras ingenuidades : forma interdependente pensar que o País pode de modo que as necessidades de cada setor se- ser defendido somente jam consideradas pelos nas mesas de negodemais para orientar suas ciação (tipo Rui Barpróprias atividades. A bosa); acreditar que pirâmide tem sido usada nossas Forças Armacomo um alerta à ingenu- das poderão manter idade nacional, como um o combate com meios sinal de fraqueza. Podemcedidos ou adquiridos os considerar o primeiro bloco como um aviso da no exterior; e, imaginar primeira das grandes in- que uma BID adequada genuidades a serem evita- pode ser construída sodas: crer que o Brasil não bre uma “base naciotem ameaças e não precisa nal” enfraquecida.
Figura 3 - Fragmentação da Pirâmide
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Choque de realidade
No bloco 1: a estrutura de defesa ainda está em formação, situação típica de países em desenvolvimento. No bloco 2: somos um país emergente, urge a estruturação de nossa defesa. Por exemplo: são poucas as instituições públicas (executivo e legislativo) que tratam do tema e o orçamento militar é descontínuo e insuficiente. Na figura 3: o afastamento e a fragmentação entre os blocos, indicando falta de integração. Por exemplo: alguns setores públicos evitam assuntos militares e alguns setores das forças armadas importam meios militares.
O Iceberg da BID: Distorções e Ingenuidades
O iceberg da BID é uma simplificação teórica e a realidade difere da teoria em vários aspectos. Como a estrutura da base ainda está em formação, uma breve análise da realidade nacional nos sinaliza algumas distorções. Os blocos formadores da BID ainda são pequenos quando comparados às necessidades do país. Por exemplo: são poucas 140
as universidades que tratam de assuntos de defesa. A Marinha não dispõe de um instituto naval de engenharia. Não
existe
uma
agência dedicada a promover a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação, na área militar (como a norte-a-
O afastamento entre os blocos é preocupante, uma vez que: • A desconfiança entre os setores acadêmicos e os industriais é histórica; • O entrosamento entre os cientistas e os tecnólogos precisa ser aperfeiçoado; • Daí se depreende falta de conjunto e a dificuldade de relacionamento; • Os centros de pesquisa e de desenvolvimento pouco se comunicam; • As empresas industriais têm enorme dificuldade de atuar em conjunto.
mericana DARPA). www.proppi.uff.br/portalagir
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Fazendo um alerta à ingenuidade nacional, evitando ideias inconsistentes tais como: • Pensar que hoje é possível desenvolver tecnologia sem base científica; • Construir indústria autônoma baseada em projetos e componentes importados; • Operar e manter cm eficácia um meio, sistema ou equipamento obsoleto, obtido por oportunidade no exterior.
Concluindo, é fundamental que seja estabelecida a política de fortalecimento da Defesa Nacional, com base no crescimento da capacitação técnico-administrativa brasileira.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. AMARANTE, José C. Albano. O Voo da Humanidade: e 101 tecnologias que muda- ram a face da terra. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 2009 2. ___________, José C. Albano. The Patrimony of the Nation, Passagens, Revista Internacional de História Política e Cultura Jurídica, vol. 2, n. 3, janeiro 2010 3. ___________, José C. Albano. Indústria Brasileira de Defesa: uma Questão de Soberania e de Autodeterminação, capítulo em As Forças Armadas e o desenvolvimento científico e tecnológico do País/organizadores: J.R.de Almeida Pinto, A.J. Ramalho da Rocha e R.D. Pinho da Silva – Brasília, Ministério da Defesa, 2004 4. ___________, José C. Albano, Instituto Militar de Engenharia: uma ponte para o futuro. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 2013 5. BRASIL, Decreto n. 5.484, de 30 de junho de 2005. Aprova a Política de Defesa Na- cional. Brasília: Casa Civil da Presidência da República. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil03/_Ato2004-2006> 6. _______. Decreto n. 6.703, de 18 de dezembro de 2008. Aprova a Estratégia Nacional de Defesa. Brasília: Casa Civil da Presidência da República. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil03/_Ato2007-2010.> 7.______. Decreto n. 7.438, de 11 de fevereiro de 2011. Estabelece princípios e diretrizes para criação e elaboração do Livro Branco de Defesa Nacional. Brasília: Casa Civil da Presidência da República. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil03/ _Ato2011-2014>. 8. CUNHA, M. Boavista. Indústria Brasileira de Material de defesa. Rio de Janeiro: Clube Naval, 2005. 9. VIDIGAL, Armando A. Ferreira, et. al. Amazônia Azul: o mar que nos pertence. Rio de Janeiro: Editora Record, 2006. 10. _________. Projeto de Nacionalização para o Setor Militar. Rio de Janeiro: Centro de Instrução Almirante Graça Aranha, 1981.
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Painel “tecnologia e inovação no setor de defesa: uma perspectiva sistêmica” •
Pa l e s t r a n te : Wa l d i m i r Pi r r ó e L on g o P rof e s s or E m é r it o d a Un i v e r s i d a d e Fe d e r a l F lu m i n e n s e
•
Wi l l i a m d e S o u s a Mor e i r a
P rof e s s or d o P ro g r a m a d e Pó s - G r a du a ç ã o e m E s t u d o s Ma r ít i m o s , d a E s c o l a d e Gu e r r a Nav a l ( P P G E M - E G N ) , R i o d e Ja n e i ro - R J
SISTEMAS DE INOVAÇÃO E DEMANDAS SETORIAIS DA DEFESA
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I n t r o d u ç ã o
Sistemas setoriais e inovação
s transformações políticas, sociais e econômicas ocorridas no Brasil e no mundo nos últimos lustros tiveram reflexos significativos no pensamento estratégico nacional. Houve o aumento da participação da sociedade nos debates sobre defesa e, por meio de suas instâncias de representação, novas políticas e estratégias foram formuladas. Uma delas, a Estratégia Nacional de Defesa (END), lançou ao País um desafio de grande magnitude, ao estipular metas ambiciosas de redução da dependência tecnológica externa na produção de materiais de uso militar, empregados pelas Forças Armadas (FA) brasileiras. Paralelamente, um plano de articulação e equipamento para as FA foi elaborado, projetando demandas de plataformas e sistemas de combate que requerem capacitação industrial substantiva, para que se alcance o pretendido grau de conteúdo nacional. A amplitude e o alcance das encomendas tecnológicas colocadas por intermédio de compras governamentais, como no caso do submarino de propulsão nuclear, indicam a conveniência de se ampliar o conhecimento sobre o setor produtivo nacional capaz de recepcioná-las. Esta pesquisa se volta a esse mister, a partir de ferramental teóricometodológico originado nos estudos setoriais, que se desenvolveram na segunda metade do século XX. O propósito é melhor compreender a dinâmica do setor industrial de defesa, comumente referenciado como base industrial de defesa (BID), seus principais óbices e desafios.
Os estudos setoriais se revelaram úteis à compreensão da dinâmica dos processos de inovação e de produção e se tornaram uma importante área de pesquisa em economia industrial. A literatura produzida a partir dos anos 1980 permitiu o estabelecimento de considerável base conceitual e metodológica. Entre as tradições de pesquisas desenvolvidas, a perspectiva sistêmica adotada por Franco Malerba1 fornece base para a identificação e a análise dos diversos atores e agentes que compõem setores produtivos da economia, com características e especificidades próprias. A partir dessa base, um setor pode ser entendido como um amplo conjunto de atividades e processos relacionados a grupos de produtos que buscam atender a uma demanda, existente ou potencial. Os nomes e limites do setor são estabelecidos geralmente de forma intencionalmente flexível, como “farmacêutico”, “químico”, “máquinas”, “telecomunicações” etc., admitindo-se a existência de subsetores. Sistemas setoriais possuem uma base de conhecimento, tecnologias, “inputs” e uma demanda, real ou potencial. Os agentes são indivíduos e organizações com vários níveis de integração, com processos específicos de aprendizado, competências, estruturas organizacionais, crenças e posturas. Nas palavras de Malerba, “eles interagem por meio de processos de comunicações, troca, cooperação, competição e liderança, e suas interações são moldadas pelas ´institutions´2. Um sistema setorial gera mudanças e transformações por meio da coevolução de seus vários elementos” (MALERBA, 2003, 2007). Nessa perspectiva, as empresas nativas são, fundamentais para a geração de riquezas e o desenvolvimento econômico. Participam do sistema de inovação, no qual outros agentes também desempenham papéis centrais: governo, educação, instituições financeiras, “fábricas de tecnologias”3, universidades, entre outros. Esses sistemas diferem de setor para setor da economia, conforme peculiaridades e especificidades, dando origem à ideia de sistema setorial de inovação. A abordagem sistêmica permite colocar ou variar o foco nos componentes fundamentais para a inovação, como as empresas, as capacitações e os processos de aprendizado. Permite, também, atentar para as bases do conhecimento setorial e outros atores relevantes, como consumidores, fornecedores, usuários, redes de cooperação entre atores, bem como os processos de competição e coevolução. Assim, percebe-se o sistema como interconectado, dinâmico e em constante transformação. Como exemplos de setores pesquisados pelo autor em tela no âmbito da União Europeia, podem-se citar: farmacêutico, químico, máquinas, software e telecomunicações (Internet fixa e móvel). As pesquisas se estenderam para alguns casos de países emergentes, entre eles o setor aeronáutico brasileiro (MALERBA; MANI, 2009). Com a aplicação do modelo de sistema setorial de inovação compreendido a partir da interação entre base de conhecimento, atores e agentes e “institutions”, pode-se jogar luzes sobre o setor de produtos de defesa, seus atores, inter-relações, especificidades, peculiaridades e desafios.
A
1. 2. 3.
Professor de Economia Industrial na Universidade de Bocconi, em Milão – Itália. O conceito de “Institutions”, de difícil tradução para o português, indica o conjunto de normas, regras, rotinas, hábitos comuns, práticas estabelecidas, leis, padrões etc., que moldam a cognição e a ação dos agentes (cultura...). “Fábrica de tecnologias” foi a expressão usada por Prof. Jorge Sábato para se referir aos departamentos de pesquisa e produção das empresas e às ICTs em geral.
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O setor de defesa sob a perspectiva sistêmica: óbices e desafios no caso brasileiro Um sistema setorial de inovação em defesa compreende, entre outros: universidades e centros de pesquisa; institutos de apoio, de tecnologia industrial básica; redes cooperativas de pesquisa; bancos, agências de financiamento e fomento à pesquisa, fundos de risco, investidores; geradores de demandas; usuários, clientes, intermediários e compradores; associações profissionais e sindicatos; marco regulatório e base legal; controle externo. Observa-se que vários agentes pertencem ou são vinculados diretamente ao Estado, como o Ministério da Defesa, demais ministérios e órgãos que participam do processo decisório relativo ao equipamento das FA. O Congresso Nacional participa por intermédio de suas comissões especializadas, como a CREDN. Pelas características do mercado de defesa, que o aproximam de um monopsônio, o Governo é o comprador por excelência, tendo diversos agentes do setor sob sua esfera de controle ou influência, entre eles: os principais centros de pesquisa, produção de conhecimento e formação de mão-de-obra qualificada (ICTs, universidades e escolas técnicas), as agências de fomento (CNPq, FINEP, CAPES e FAPs), o banco de desenvolvimento (BNDES) e as instituições que lidam com a tecnologia industrial básica (INMETRO, INPI). Geralmente, observa-se que, na esfera burocrática estatal, tendem a ser mais lentas as múltiplas interações e inter-relações transversais entre agentes. A presente pesquisa leva em conta a experiência internacio4.
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nal registrada na literatura e nas informações trocadas em foros acadêmicos de discussão. Entre os principais óbices relatados ou identificados, estão as relações de (des)confiança entre: “órgãos do governo – empresas (indústrias) – defesa (FA)”, cada qual com suas razões. Historicamente, num mercado em que é o comprador relevante, o Governo não logra assegurar a demanda continuada de produtos estratégicos, sendo limitada a garantia de estabilidade orçamentária em projetos de longo prazo. As empresas lamentam os baixos níveis de investimentos no equipamento das FA e, principalmente, a falta de demanda continuada; clamam pelo aprimoramento do marco regulatório que favoreça a competitividade da indústria nativa; sentem falta de um sistema de planejamento e aquisições de defesa que lhes facilite a interlocução e lhes proporcione a previsibilidade necessária a investimentos próprios em P&D e infraestrutura; e lamentam o recurso às compras de oportunidade no exterior. No setor de Defesa, as FA, como usuários finais de produtos intensivos em tecnologia, ressentem-se das dificuldades das empresas no que tange ao cumprimento de metas, prazos e especificações de projeto. Outros óbices merecem atenção, como as limitações do sistema de aquisições de defesa, que é de fundamental importância para a geração de encomendas tecnológicas consistentes e para o uso eficaz do poder de compra governamental; a falta de um fundo extra-orçamentário para fomento específico, capaz de efetivamente
apoiar a geração de inovações no setor de defesa; e, ainda, a ausência de uma agência de fomento especializada, voltada aos projetos estratégicos em longo prazo. Convém reconhecer os recentes esforços do Estado brasileiro em avançar nos estímulos ao empreendedorismo nativo, por meio de novas leis e incentivos, entre as quais se destacam o regime tributário diferenciado, os incentivos às empresas estratégicas de defesa e as alterações na lei de licitações, que poderão gerar, ao longo do tempo, resultados auspiciosos4. Não obstante, percebe-se um sistema setorial de inovação em defesa ainda em formação, com muitos componentes em fase de transição. Assim, os principais óbices identificados representam desafios aos formuladores de políticas públicas, pois a combinação deles constitui um obstáculo para o desenvolvimento de um sistema setorial capaz de gerar produtos inovadores e atender às demandas estratégicas para o setor de defesa. As diferentes experiências nacionais acumulam conhecimentos que permitem gerar soluções específicas para cada país. O desafio maior está em melhor conhecer o sistema setorial de inovação para defesa, sua dinâmica e as interações entre agentes, para, a partir de diagnósticos consistentes, conceber e implementar políticas públicas capazes de reverter ou compensar os efeitos dos citados óbices. Prioritariamente, faz-se necessário estimular a confiança entre os principais atores do sistema.
Entre outras iniciativas, merece destaque a Lei 12.598/2012, que dispõe sobre normas especiais para compras de produtos de defesa.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS LONGO, W. P.; MOREIRA, William. S. Políticas de C&T e Sistema Setorial de Inovação para a Defesa. Trabalho apresentado no VI Encontro Nacional da Associação Brasileira de Estudos de Defesa - ABED. São Paulo – SP, 7 ago. 2012. LUNDVALL, Bengt-Ake. National Innovation Systems – Analytical Concept and Development Tool. DRUID Conference, Copenhagen, 2005. MALERBA, F.; BRUSONI, S. Perspectives on Innovation. 1 ed. New York: Cambridge University Press, April 16, 2007. ______. Sectoral Systems and Innovation and Technology Policy. FINEP, Revista Brasileira de Inovação, v.2, n. 2, Julho / Dezembro, 2003. MALERBA, F.; MANI, Sunil. Sectoral Systems of Innovation and Production in Developing Countries: Actors, Structure and Evolution. Cheltenhan: Edward Elgar Pub, 2009.
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Mesa redonda: desenvolvimento de tecnologias de uso dual Me d i a d or : P rof e s s or Lu i z Pe d on e
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Palestrante: Capitão-de-Mar-e-Guerra (Ref) Gustavo Benttenmüller Medeiros Pereira Marinha do Brasil - Assessor de Ciência e Tecnologia do Centro de Análise de Sistemas Navais
Introdução
Esse artigo retrata uma síntese da apresentação realizada no Seminário de Defesa Nacional, em 29 de maio de 2014, na UFF, no Núcleo de Estudos em Biomassa e Gerenciamento de Água (NAB), com o tema “tecnologias duais”, coordenado pela AGIR. A apresentação abordou os seguintes temas: uma base conceitual; ciência, tecnologia e poder político; tecnologias de defesa; tecnologias duais brasileiras e operacionalização das tecnologias.
Base Conceitual
(Ref.: Professor Emérito Waldimir Pirró e Longo, Ph.D e Professor William Moreira, DSc) Compreende os seguintes conceitos para melhor entendimento do problema. »» Ciência – é o conjunto organizado dos conhecimentos relativos ao Universo, envolvendo seus fenômenos naturais, ambientais e comportamentais. »» Tecnologia – é o conjunto organizado de todos os conhecimentos científicos, empíricos ou intuitivos empregados na produção e comercialização de bens e serviços. Portanto tecnologia é o emprego dos conhecimentos científicos ou empíricos.
»» Inovação – é a introdução de novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo ou social que resulte em novos produtos processos ou serviços. »» Conhecimento Científico – é acervo público, sem fronteiras, com livre acesso. Podemos transferir ou vender permanecendo em nosso poder simultaneamente. Seu estoque dobra no mundo a cada dois anos. »» Tecnologias Centrais – são aquelas priorizadas atualmente pelos países mais poderosos: Microeletrônica, eletrônica digital, informática, telecomunicações, automação, robótica, biotecnologia e nanotecnologia. »» Tecnologias periféricas – são derivadas e desenvolvem-se a partir das tecnologias centrais. As tecnologias em geral são interdependentes. Tecnologia em economia é fator de Produção, agregada à matéria prima, capital e trabalho. Tecnologia tem preço. Pode ter uso simultâneo em várias aplicações. Não é exaurível. Perde relevância com o tempo ate atingir a obsolescência. Exige aplicação rápida e intensa. »» Tecnologia de defesa e segurança – é o conjunto de conhecimentos científicos e empíricos, de habilidades, experiências e organização requeridas para produzir e disponibilizar bens e Serviços destinados à consecução dos objetivos colimados pela Defesa e/ou segurança. »» Tecnologia de uso dual (ou duplo) – é a que pode ser utilizada para produzir ou melhorar bens ou serviços de uso civil ou militar. »» Gênese da Tecnologia Militar – em geral uma nova tecnologia militar surge de necessidades estratégicas, operacionais, da evolução da doutrina ou do emprego dos meios, ou ainda quando ocorrem falhas nos produtos militares.
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defesa nacional ciência
tecnologia
poder político
Historicamente, até o Século XIX, a ciência e tecnologia não possuíam articulação sistêmica com o poder. Só o fizeram a partir da segunda guerra mundial e os Estados Unidos foram os pioneiros. De 1965 a 2000 ocorre 80% do progresso tecnológico. No Século XXI o conhecimento duplica a cada 10 a 15 anos, entretanto descobertas significativas só ocorrem a cada 30 anos. Em 10 anos usaremos 50% de produtos ainda não inventados, teremos mais mudanças tecnológicas que todo o século XX e os governantes serão incapazes de acompanhá-las. As revoluções quântica, informática e biomolecular manipularão a Matéria, a Vida e a Mente, que são os pilares da Ciência Contemporânea e comandarão os avanços do Século XXI. A inserção da Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) no poder efetivou-se quando as universidades forneceram seus pesquisadores para atuar junto à indústria de defesa e atender as necessidades do Poder Militar. A partir dessas atividades pode-se dizer que a guerra assumiu nova feição: a denominada guerra tecnológica. Consiste na comparação dos poderes tecnológicos dos antagonistas para identificar fatores de força e fraqueza e elaborar um plano estratégico com objetivos e metas de forma a superar o poder tecnológico da ameaça. O Poder Tecnológico é gerado pela integração da Base Industrial de Defesa, com os recursos humanos qualificados da Universidade e com os desafios da Defesa,
Distribuição Mundial do Poder Tecnológico
apresentados como problemas para criação de produtos, apoiados por recursos orçamentários. Essa integração é chamada de Triangulo de Sabato ou de Tríplice Hélice. Esse processo de geração de tecnologia e de produtos tecnológicos, simbolizado pela hélice, gera maior quantidade de tecnologia, na medida que a interação das partes do triângulo de Sabato é mais intensa. Quanto maior é o Poder Tecnológico de um país maior é o Poder Econômico, o Poder Militar e o Poder Psicossocial. Maior é o Poder Econômico porque tecnologias mais sofisticadas agregam maior valor aos produtos e a tecnologia é fator de produção, como já relatado. Maior é o Poder Militar porque seus meios agregam tecnologias superiores. Maior é o Poder Psicossocial porque os recursos humanos com maior capacitação e por consequência com maiores salários têm maior poder aquisitivo. Maior Poder Tecnológico conduz a maior Poder Militar. Os Poderes Militar, Econômico e Psicossocial por sua vez convergem e compõem o Poder Político e este se situa no topo da pirâmide do poder. As nações com maior Poder Político são aquelas que dominam o processo decisório no contexto das nações.
Segundo Jeffrey Sachs, do Centro de Desenvolvimento Internacional da Universidade de Harvard, só 15% da população mundial encontra-se nos países de alto poder tecnológico, tais como os Estados Unidos (EUA), Alemanha, França, Reino Unido, Japão e Canadá. Cinquenta por cento da população mundial habita em países aptos a receber e aplicar a tecnologia dos mais poderosos e 35% da população mundial encontra-se marginalizada tecnologicamente. Considerando-se o total de investimentos mundial em Ciência e Tecnologia (C&T), 39% fica na América do Norte, 28% na Ásia, 27% na Europa, 2,5% na América do Sul e Caribe, 1,2% na Oceania e 0,6% na África. Pelos níveis de investimento em C&T é fácil verificar que a América do Norte detém a liderança de Poder Tecnológico do mundo. (Ref: “Science and engineering indicators”, National Science Foundation-NSF, Washington D.C., 2006). Considerando-se ainda o nível do investimento em C&T, observa-se que os EUA aplicam 56.6% em Defesa e 43,4% na sociedade civil. O Brasil aplica 98,8% na sociedade civil e 1,2% na Defesa. A França aplica 77% na sociedade civil e 23% na Defesa, o Reino Unido aplica 68% no segmento civil e 32% na Defesa. Pode-se observar como o Brasil está distante de possuir um poder militar suficiente para respaldar seus interesses no processo decisório do contexto das nações. (Fonte: OECD: Main S&T Indicators, 2003. Brasil: SIAFI e SERPRO).
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tecnologia de defesa A Estratégia Nacional de Defesa (END), criada pelo Decreto nº. 6.703/2008 define como setores de importância estratégica: o espacial, o cibernético e o nuclear. O setor espacial é da responsabilidade da Força Aérea, o cibernético é atribuição Exercito e o nuclear é tem como responsável a Marinha. A END preconiza que a defesa é inseparável do desenvolvimento econômico, ou seja o poder militar fornece o escudo para o poder econômico, ambos reforçam-se mutuamente e alimentam o poder político, para capacitar o Brasil a dizer não no fórum internacional, na defesa de seus interesses. A END define como princípio de um projeto forte de desenvolvimento econômico a independência nacional alcançada pela capacitação tecnológica autônoma, inclusive nos setores estratégicos citados. Não é independente quem não tem o domínio das tecnologias sensíveis, tanto para a defesa, como para a economia. O Brasil precisa garantir o equilíbrio e a versatilidade da sua matriz energética e avançar na agricultura e na saúde, que podem se beneficiar da tecnologia da energia nuclear. Precisa ainda impor a deterrência, com o projeto do submarino de propulsão nuclear, que por sua vez exige independência tecnológica. Capacitar a Base Industrial de Defesa é um imperativo para que conquiste autonomia em tecnologias indispensáveis à defesa. A Base Industrial de Defesa será incentivada a competir em mercados externos para aumentar a sua escala de produção e a usar as tecnologias de duplo emprego para alcançar sustentabilidade diante das possíveis flutuações orçamentárias. A END priorizou para a MB, entre as tarefas básicas de sua responsabilidade, a negação do uso do mar, sem hierarquização dos seguintes objetivos e de acordo com as circunstâncias: (a) defesa proativa das plataformas petrolíferas; (b) defesa proativa das instalações navais e por-
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tuárias, dos arquipélagos e das ilhas oceânicas nas águas jurisdicionais brasileiras; (c) prontidão para responder a qualquer ameaça, por Estado ou por forças não convencionais ou criminosas, às vias marítimas de comércio; e (d) capacidade de participar de operações internacionais de paz, fora do território e das águas jurisdicionais brasileiras, sob a égide das Nações Unidas ou de organismos multilaterais da região. Os meios navais necessários ao desenvolvimento dessas ações envolvem tecnologias de duplo emprego em geral.
A END explicita que para assegurar a negação do uso do mar manterá e desenvolverá sua capacidade de projetar e de fabricar tanto submarinos de propulsão convencional, como de propulsão nuclear. Armará os submarinos com mísseis e desenvolverá capacitações para projetá-los e fabricá-los. Cuidará de ganhar autonomia nas tecnologias cibernéticas que guiem os submarinos e seus sistemas de armas, e que lhes possibilitem atuar em rede com as outras forças navais, terrestres e aéreas. Para assegurar sua capacidade de projeção de poder, a Marinha possuirá, ainda, meios de Fuzileiros Navais, em permanente condição de pronto emprego, essenciais para a defesa das instalações navais e portuárias, dos arquipélagos e das ilhas oceânicas nas águas jurisdicionais brasileiras e para atuar em operações internacionais de paz e em operações humanitárias, em qualquer lugar do mundo.
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tecnologia de defesa »» As principais ações, produtos e respectivas tecnologias envolvidas de interesse da MB para atender à modernização dos meios navais são: »» Guerra Centrada em Rede – computação alto desempenho, bancos de dados, redes, criptografia, rádio definido por software; »» Comando e controle (C4I) – Sensoriamento, Computação de alto desempenho, Fusão de Dados, Interoperabilidade, multimídia e mineração de dados; »» Pesquisa Operacional – Apoio a decisão, otimização, modelagem, simulação, avaliação operacional, logística; »» Guerra Cibernética (GC) – criptografia, segurança de informações, ferramentas de GC; »» Sistemas de Armas – robótica, sistemas inerciais, Vant, minas, misseis, torpedos; »» Plataformas – arquitetura naval de cascos de alto desempenho, tecnologias de ocultação à detecção radar (stealth), controle e automação, mitigação de assinaturas acústica, magnética e infravermelha; »» Guerra Acústica – comunicação submarina, sistemas de combate de submarinos, sonares, torpedos, minas, cascos de alta resistência, misseis, soldagem especial, sistemas inerciais, sistemas de purificação de ar, reatores nucleares e redução de assinatura acústica.
tecnologia de duplo emprego
A tecnologia em si é neutra, não fazendo sentido identificá-la como militar ou civil. O que se diferencia é o seu emprego, saindo portanto do âmbito da C&T para o da engenharia. Em geral quase sempre seu emprego é duplo, entretanto o que assegura sua sustentabilidade no campo militar é a sua comercialização em segmentos civis, considerando a instabilidade dos orçamentos militares nos países emergentes como o Brasil. Entre outras tecnologias, já em desenvolvimento pela MB, e algumas em parceria com a UFF po-
demos citar: giroscópios, acelerômetros, unidades inerciais, substâncias bioativas para produção de tintas de proteção de cascos, sistemas acústicos para detecção e localização por métodos passivos, sistemas de controle e monitoração de máquinas propulsoras e auxiliares, sistemas de controle de avarias e de incêndio, telessaúde com emprego de imagens holográficas para diagnose médica, simuladores de navegação, tecnologias para mitigação de risco aviário, comunicação submarina etc.
Operacionalização da Produção Tecnológica O modelo escolhido pela Marinha para inovação tecnológica foi aquele da implantação de Escritórios de Integração Científica e Tecnológica nas Universidades (NuEsc CTI), há cerca de três anos, por feliz iniciativa e privilegiada visão estratégica do Vice-Almirante Ilques Barbosa Junior, quando Secretário de Ciência, Tenologia e Inovação da Marinha. Cita-se o NuEsc CTI UFF/MB, implantado pelo Vice-Almirante Antônio Reginaldo Pontes Lima Junior, na época, Diretor do CASNAV, como caso de sucesso, evoluindo em sua organização de forma adaptativa e hoje atuando em três dimensões: produção tecnológica, produção industrial e política e estratégica. Esse instrumento é na realidade amplamente usado pelos países centrais integrando as ICT do governo, com a Academia e a Base Industrial de Defesa. Constitui-se o grande gerador de Poder Tecnológico dos países de maior Poder Político do mundo.
Conclusão Se o Brasil pretender ser um dos atores com poder para atuar efetivamente no processo decisório das nações precisa investir muito mais em P&D, de forma sustentável, desenvolver sua Base Industrial de Defesa e adotar mecanismos de integração científica do tipo NuEsc CTI MB/Universidade para alcançar sua autonomia tecnológica.
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Mesa redonda: desenvolvimento de tecnologias de uso dual •
Pa l e s t r a n te : M au r o G . F. Mo s qu e i r a G om e s , D. S c . E x é rc it o B r a s i l e i ro - D e p a r t a m e nt o d e C i ê n c i a e Te c n o l o g i a
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Fe r n a n d a Vi l e l a Fe r r e i r a , M . S c . e M BA In s t it ut o M i l it a r d e E n g e n h a r i a
Pensar Simultaneamente a Inovação Tecnológica e a Inovação do Modelo de Negócio como Diferencial Competitivo: Um Clássico Desafio das Engenharias de Natureza Civil e Militar Este artigo apresenta uma abordagem do processo de inovação com base no “pensar simultaneamente a inovação tecnológica e a inovação do modelo de negócio”, em contraste ao processo tradicional no qual o pensar a inovação do modelo do negócio tira proveito de processos de inovação tecnológica maturados anteriormente, numa clássica abordagem linear. O texto ressalta a importância da educação do engenheiro, civil ou militar, para o cumprimento do seu papel: ser o elo que liga a inovação tecnológica à inovação do modelo de negócio (engenharias tradicionais), ou o elo que liga a inovação tecnológica a uma nova “forma de guerrear” (no caso mais específico da engenharia militar). Neste particular, reafirma a importância do caráter universal do conhecimento e defende que não faz sentido a classificação da tecnologia, um fenômeno social, por tipo “civil”, “militar” ou dual (de uso civil ou militar). 152
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UMA ABORDAGEM EVOLUCIONISTA
A
partir da década de 80, as abordagens evolucionistas1 consideram a inovação como um “processo” por meio do qual o conhecimento e a tecnologia são desenvolvidos com base na interação entre vários atores e fatores. Segundo Nelson e Winter, a demanda de mercado e as oportunidades de comercialização influenciam nas tecnologias que devem ser desenvolvidas e nos produtos que serão bem sucedidos2. No contexto da abordagem evolucionista, em seu livro “Gestão Estratégica da Inovação Tecnológica”3, Schilling ressalta que o valor de qualquer inovação tecnológica é apenas parcialmente determinado por ‘o que’ a tecnologia pode fazer. De acordo com a autora, uma grande parte do valor de uma inovação é de-
terminada pelo grau em que as pessoas podem entendê-la, acessá-la e integrá-la em suas vidas. O que significa que muitas tecnologias tornam-se valiosas para uma ampla gama de potenciais usuários somente após um conjunto de recursos complementares serem desenvolvidos. Por exemplo, quando a primeira “luz elétrica” foi inventada em 1809 por Humphry Davy, um químico Inglês, ela não se tornou prática até o desenvolvimento de bulbos, dentro do qual o arco de luz iria ser envolto (demonstrado pela primeira vez por James Bowman Lindsay em 1835), e bombas de vácuo para criar um vácuo dentro do bulbo (a bomba de mercúrio foi inventada por Herman Sprengel em 1875). Thomas Alva Edison construiu sobre o trabalho destes invento-
res anteriores quando, em 1880, inventou filamentos que permitiriam a luz queimar durante 1.200 horas. Um estudo4, que combinou dados de estudos prévios sobre taxas de sucesso de inovações com dados de patentes, de fundos de capital de risco e questionários, revela que são necessárias em torno de 3000 ideias para se conseguir chegar a um produto significativamente novo e bem sucedido comercialmente. Tal resultado ressalta em números a importância da afirmativa de Schilling: “o processo de desenvolvimento de um novo produto deveria maximizar a probabilidade dos projetos serem ao mesmo tempo técnica e comercialmente bem sucedidos”.
ENGENHARIA - O ELO ENTRE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E INOVAÇÃO NO MODELO DE NEGÓCIO
Uma boa ideia gerada pela intuição ou por conhecimento produzido por pesquisa pode exigir diferentes graus de elaboração para chegar ao mercado como um bem (tecnologia de produto), como serviço ou para ser empregada numa unidade produtiva (tecnologia de processo). Essa elaboração exige serviços especializados de engenharia, responsáveis pelo desenvolvimento experimental, concepção da produção do bem ou do serviço, estudo de sua viabilidade técnica e econômica, projeto, implantação das instalações físicas e, conforme o caso, pela operação, produção, manutenção e assistência técnica. Em outras palavras, para que os conhecimentos, teóricos, empíricos ou intuitivos, gerados pelas empresas, indivíduos, universidades, institutos e outras organizações tenham resultado concreto no setor produtivo, sob a forma de inovação tecnológica, há que se cuidar do desenvolvimento de alta competência em “engenheirar”. Isso porque a engenharia faz a ponte entre a pesquisa e a produção, entre a invenção e a inovação.5 A Figura 1 ilustra o caminho percorrido pela ciência, passando pela tecnologia, para chegar a um produto e/ou serviço inovador que seja um sucesso de mercado, destacando o papel do Engenheiro na intersecção dos processos de inovação científico-tecnológica e de inovação no modelo de negócio.
1. 2. 3. 4. 5.
Nelson R. R. e Winter S. “An Evolutionary Theory of Economic Change”. Cambrige. Mass.: Belknap Press of Harvard University Press (1982) Meirelles, J.L.F. “Inovação Tecnológica na Indústria Brasileira: investimento, financiamento e incentivo governamental. São Carlos: USP (2008) 256p. Tese de Doutorado Schilling, M. A. “Strategic Management of Technological Innovation”. (2013) pp 53 G. Stevens and J. Burley. 3000 Raw ideas Equals 1 Commercial Success! Research technology Management 40, n 3 (1997), pp. 16-27. Longo, W. P. e Moreira, W. S. Acesso a tecnologias sensíveis. Publicado em Tensões Mundiais, v. 5, n. 9, p. 79-98, Fortaleza/CE (2009)
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Defesa Nacional Em seu livro “Advanced Public Procurement as industrial Policy”6, no qual aborda aspectos macroeconômicos das externalidades positivas e “spillovers” industriais da produção de tecnologias avançadas, Gunnar Eliasson reforça o papel da Engenharia de preencher o “gap” entre a criação e a adoção da tecnologia. No caso das Engenharias tradicionais, o Engenheiro de natu-
REVISTA AGIR Nº 4 • 2014 reza “civil” assume tal papel com máximo aproveitamento ao ser o elo que liga a inovação tecnológica à inovação do modelo de negócios. Já o Engenheiro militar, assume um papel similar no contexto que lhe é peculiar: ser o elo que liga a inovação tecnológica a uma nova “forma de guerrear”. A importância da Engenharia Militar é ressaltada por Kennedy em seu livro “Engenheiros da
Vitória”7. Ao contrário das Histórias Clássicas da II Guerra Mundial que privilegiam os líderes políticos e militares, o autor procura iluminar o esforço daqueles que chama de “solucionadores de problemas”: cientistas, engenheiros, soldados, e homens de negócios, responsáveis por tornar possível a grande estratégia estabelecida em Casablanca.
Figura 1 - O Engenheiro como o elo entre inovação tecnológica e inovação no modelo de negócio
TECNOLOGIA, FENÔMENO SOCIAL SEMPRE DUAL
Desde o fim da II Guerra Mundial, os países líderes no desenvolvimento científico e tecnológico têm cerceado o acesso de terceiros às tecnologias e produtos que consideram sensíveis. Os mecanismos de controle de tecnologias visam impedir a aplicação das mesmas pela engenharia militar, independentemente de terem sido desenvolvidas em programas civis ou militares. Neste contexto, os norte-americanos cunharam o nome de tecnologia de uso dual ou duplo (“dual use technologies”), entendida como aquela que pode ser utilizada para produzir ou melhorar bens ou serviços de uso civil ou militar.8 Na outra direção, inúmeras tecnologias de produtos, de processos ou de serviços desenvolvidas especificamente para atender necessidades militares, acabam, mais cedo ou mais tarde, sendo utilizadas na produção bens e serviços de largo e bem sucedido uso civil. Quando isso ocorre diz-se que houve um spin off da tecnologia militar. Um exemplo marcante é a INTERNET, originalmente desenvolvida pela Advanced Research Priojects Agency - ARPA (hoje Defense Advanced Research Priojects Agency - DARPA) do Departamento de Defesa dos EUA com o nome de ARPANET. Outro exemplo é o Global Positioning System, o conhecido GPS.9 6. 7. 8. 9.
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Eliason G. “Advanced Public Procurement as industrial Policy”. The Aircraft Industry as a Technical university. Editora Springer (2010) Kennedy, P. “Engenheiros da Vitória”. Companhia das Letras. (2014) Longo, W. P. Conceitos básicos sobre ciência, tecnologia e inovação. rev. ago. (2007). Disponível em: www.waldimir.longo.nom.br/publicações.html. Longo, W. P. Tecnologia Militar. www.waldimir.longo.nom.br/artigos/T9.doc
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Em contraposição ao uso do termo “dual”, em seu artigo “Conceitos básicos sobre ciência, tecnologia e inovação”, Longo afirma que:
“ ... é difícil rotular o que é civil e o que é militar na produção de conhecimentos. ” (Longo, 2007)
Tal afirmação encontra argumentos no caráter universal da ciência/conhecimento. A ciência enquanto conhecimento público, gerada em ambiente acadêmico livre, faz-se desprovida de quaisquer rótulos. Ratificando essa idéia, aplicada aqui ao entendimento de tecnologia, Cowan e Foray10 afirmam que: “O conceito de dualidade de uma tecnologia obviamente não está vinculado à tecnologia propriamente dita. Tecnologias não são a priori militares ou civis ou ambas. A característica da dualidade depende da rede social em que são desenvolvidas ou aplicadas as tecnologias. Portanto a dualidade pode desaparecer ou aparecer ao longo do tempo, em função do desenvolvimento e da evolução da rede social em que a tecnologia está contida e é aplicada.” (Cowan e Foray, 2007) Em síntese, numerosas tecnologias de uso civil são incorporadas ou dão origem a produtos bélicos e por outro lado numerosas tecnologias de uso militar são incorporadas ou dão origem a produtos civis. Cabe ao engenheiro, oportunista e inovador, usar as tecnologias necessárias ao seu empreendimento, independente se foram desenvolvidas em ambiente militar ou civil. Não faz qualquer sentido que as agências de fomento à inovação restrinjam ou limitem financiamentos de projetos de pesquisa e desenvolvimento de instituições de ciência e tecnologia militares, rotulando previamente as tecnologias a serem desenvolvidas como civis ou militares. Fazer isso é ignorar por completo a dinâmica do contexto social e temporal da aplicação da tecnologia que é o fator que determina sua dualidade ou não.
Conclusão Com base na teoria evolucionista, para que um produto ou serviço inovador venha a se tornar um sucesso de mercado, faz-se necessário que a Inovação Científico-Tecnológica e Inovação no modelo de negócio sejam pensadas e trabalhadas simultaneamente. Além disso, todo engenheiro, civil ou militar, deve ser capaz de perceber que as tecnologias são potencialmente duais por definição, e não perder tempo com esta tipologia, que nada agrega, e que foi criada ao fim da II Guerra Mundial com a finalidade única de impedir o acesso a tecnologias potencialmente militares por parte da engenharia militar de países potencialmente hostis. Sem engenharia competente, o esforço inventivo e o esforço despendido em pesquisa não resultarão em produtos, processos ou serviços úteis para a sociedade. A exemplo de Thomas Edson que “engenheirou” muitos inventos, o engenheiro deve ser o elo entre a Inovação Científico-Tecnológica e a Inovação no modelo de negócios. Por fim, engenheiros devem ser mais conscientes do papel singular que desempenham no processo de inovação, fundamental para o desenvolvimento nacional. As escolas de engenharia por sua vez deveriam incluir obrigatoriamente disciplinas de gestão da inovação em seus currículos de graduação e pós-graduação. 10. Cowan R. & Foray D. 1995 “Quandaries in the economics of dual technologies and spillovers from military to civilian research and development”, Research Policy 24/1995 (p. 851-868)
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Painel “experiência do Núcleo de Estudos de Tecnologias avançadas da uff - NETAv” Apr e s e n t a d o p or : Pr ofe s s or D r. Ju l i o C e s a r R . D a l B e l l o C o ord e n a d or G e r a l d o N E TAv
Pr ofe s s or D r. E d u a r d o R . Va l e C o ord e n a d or C i e nt í f i c o d o N E TAv
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Netav Em 18 de março de 2011, a Universidade Federal Fluminense assinou com a Marinha do Brasil (MB), através de sua Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (SecCTM), um Acordo de Cooperação Acadêmica, Técnica e Científica visando o apoio para as atividades de capacitação, pesquisa, prospecção tecnológica e o fortalecimento das possibilidades de captação de recursos extra orçamentários junto às agências de fomento. Desde o seu nascimento, o Acordo UFF-MB conta com total apoio da Reitoria e da Direção da Escola de Engenharia da UFF, e também da Fundação Euclides da Cunha de Apoio Institucional à UFF (FEC). Para fins de acompanhamento, pela UFF, da execução do Acordo, foi instituído o Grupo de Trabalho UFF (Portaria GAR 43.763 de 14 de janeiro de 2010). A gênese do Acordo UFF-MB data de 30 de julho de 2010 quando o então Diretor da Escola de Engenharia da UFF decidiu pela aproximação desta com a Marinha, o que foi feito através de proposta apresentada diretamente ao Secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação da MB, que foi imediatamente aceita e ampliada para envolver toda a universidade. O Centro de Análises de Sistemas Navais (CASNAv) ficou encarregado de coordenar as ações do Escritório da MB na UFF com as suas Instituições de Ciência e Tecnologia (ICT), compostas pelo Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM) e pelo Instituto de Pesquisas da Marinha (IPqM). Hoje, outras ICT estão sendo alcançadas pelo Acordo. O Acordo em questão é operacionalizado de forma compartilhada pelo NETAv, que é vinculado à Escola de Engenharia da UFF, e pelo NuEscCTI-MB/UFF (conhecido como escritório da Marinha), que foi instalado no 2º andar do prédio da Escola de Engenharia. O NETAv foi criado pela UFF em 13 de março de 2012, através da Norma de Serviço GAR nº 625, com a finalidade de disseminar e coordenar as atividades da universidade no âmbito
da Marinha do Brasil, especialmente aquelas de natureza científica, e está localizado ao lado do escritório da Marinha para facilitar a coordenação das ações conjuntas UFF-MB. O NETAv tem por missão prospectar e integrar competências profissionais e institucionais de todas as áreas do conhecimento, e por visão ser reconhecido como um centro de excelência na realização dos projetos de ensino, extensão, pesquisa, desenvolvimento e inovação. O NETAv tem uma estrutura autossustentável, flexível e dinâmica, e atualmente conta com um Coordenador Geral, um Coordenador Científico, um Gerente Executivo e um Assistente Administrativo. Para execução de determinado Projeto é elaborado um TAD (Termo Aditivo ao Acordo de Cooperação) de comum acordo entre os partícipes, que contém um Plano de Trabalho a ser rigorosamente seguido. Até o presente momento, através do NETAv, a UFF e a Marinha dispõem da seguinte carteira de projetos em parceria (Tabela 1). O Projeto de maior duração e que envolve a maior quantidade de recursos humanos e materiais é o Otimização dos Sistemas Acústicos de Comunicação Submarina (CSub). Iniciado em janeiro de 2013 e previsto para durar 24 meses, este projeto conta com a participação de quatro professores doutores da Escola de Engenharia e de seis alunos de mestrado da UFF, além de diversos pesquisadores do IEAPM. Seu objetivo maior é a pesquisa para desenvolvimento de tecnologia nacional que permita a transmissão de informação no meio submarino a partir de sinais acústicos. A aplicabilidade desta tecnologia é extensa, abrangendo tanto a comunicação com submarinos como o controle de ROV (Remotely Operated Underwater Vehicle) para apoio, por exemplo, à exploração de petróleo em águas profundas. A foto a seguir mostra as equipes da UFF e do IEAPM que executaram medições no mar com apoio de navio da Marinha, na região de Arraial do Cabo – RJ.
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Tabela 1 - Projetos em parceria UFF-MB
Figura 1 - Equipes da UFF e do IEAPM que executaram medições no mar com apoio de navio da Marinha, na região de Arraial do Cabo – RJ
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Projeto mitigação do perigo aviário O Projeto Mitigação do Perigo Aviário, de extrema importância para a segurança dos voos, está previsto para ser executado em 24 meses e conta com a cooperação da Diretoria de Aeronáutica da Marinha, da Força Aeronaval e da Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia, que proporcionaram sobrevoos aos pesquisadores na Região dos Lagos, para identificação do problema. Por ser um projeto multidisciplinar, na UFF estão envolvidos a Faculdade de Veterinária, a Escola de Engenharia, o Instituto de Matemática e Estatística e o Instituto de Geociências. Como decorrência da abundância de aves na região de determinados aeroportos e da grande quantidade de pousos e decolagens, as chances de co-
Figura 2
lisão de aves com aeronaves aumentam, podendo vir a causar prejuízos operacionais e financeiros, ou mesmo a perda de vidas humanas. Tais acidentes evidenciam desequilíbrios ecológicos nas regiões em que ocorrem. As fotos abaixo mostram professores e alunos da UFF em visita à Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia para voo de observação do problema e os danos causados pela colisão de uma ave com um helicóptero. As autoridades vinculadas à defesa nacional têm considerado a Mitigação do Perigo Aviário como sendo de alta prioridade, estando este projeto na Relação de Projetos de Interesse da Defesa (REPID), do Ministério da Defesa. Figura 3
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Projeto telessaúde
Figura 4 - Professoras do CRASI-HUAP realizam a supervisão, na Câmara Holográfica, de uma consulta à distância, em tempo real
empresas Star One e Scopus Harmonic. As fotos abaixo mostram uma das simulações executadas, onde foi realizada a supervisão, em tempo real, de uma consulta neuropsicológica à distância a partir de imagens holográficas. Como resultado dos experimentos finais a serem realizados em breve na Câmara Holográfica que está em fase de instalação no CRASI-HUAP (Mequinho), com verba de fomento da FAPERJ, o atendimento de pacientes à distância poderá ser extrapolado para diversas áreas da saúde, qualquer que seja a localização do paciente, uma vez que a interligação do Consultório Remoto com a Câmara Holográfica será realizada via satélite ou por fibra óptica. 160
O Projeto Telessaúde, que a UFF pretende lançar em curto prazo através do Centro de Referência em Assistência à Saúde do Idoso do Hospital Universitário Antonio Pedro (CRASI-HUAP) e da Escola de Engenharia, em cooperação com a Marinha do Brasil (Instituto Biomédico do Hospital Naval Marcilio Dias), é caracterizado pela inclusão social do idoso e pela inovação tecnológica através da telepresença em tempo real, utilizando a tecnologia da holografia. Os experimentos, objetivando a validação da holografia para atendimento, diagnóstico, supervisão e capacitação de profissionais a distância foram exaustivamente realizados na câmara holográfica da Eyemotion-SP, com a colaboração das
Figura 5 - Imagem holográfica da paciente (à esquerda) sendo atendida por neuropsicóloga no Consultório Remoto
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Concluindo, o grande diferencial do Acordo de Cooperação da UFF com a Marinha do Brasil é a integração de duas organizações de excelência, com culturas diversas, que tiveram a competência de apresentar expressivos resultados em apenas três anos de vigência do Acordo. Para fins de registro histórico, os autores ressaltam que o sucesso do Acordo de Cooperação devese ao apoio irrestrito das seguintes autoridades e pessoas:
Da UFF: • Prof. Roberto de Souza Salles, Reitor, e toda sua equipe da Reitoria; • Prof. Hermano José de Oliveira Cavalcante, ex-Diretor da Escola de Engenharia; • Prof. Fernando Benedicto Mainier, Diretor da Escola de Engenharia, e toda sua equipe de direção; • Professora Miriam Assunção de Souza Lepsch, presidente da FEC; • Professores Fabiana Leta e Geraldo Tavares, membros do Grupo de Trabalho UFF-Marinha; • Prof. Marcio Zamboti Fortes, primeiro coordenador do NETAv, e sua Assistente, Aleça Paiva Soares. Da Marinha: • Almirante-de-Esquadra Wilson Barbosa Guerra e Vice-Almirante Ilques Barbosa Junior, ex-Secretários de Ciência, Tecnologia e Inovação; • Vice-Almirante Antonio Reginaldo Pontes Lima Junior, ex-Diretor do CASNAv; • Comandante Gustavo Benttenmüller Pereira, Assessor de Ciência e Tecnologia do CASNAv. www.proppi.uff.br/portalagir
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ta, Daniel trícia White, Fabiana Le Pa a: eit dir ra pa a rd ue Da esq drade Antonio Nery e Carlos An Almeida, Marilena Juncá,
hite, Fabiana arilena Juncá, Patrícia W M a: eit dir ra pa a rd ue Da esq lcanti s Andrade, Marcelo Cava Leta, Antonio Nery, Carlo
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No mesmo dia do Seminário de Tecnologia Assistiva, a AGIR completou seus cinco anos de existência. A criação da Agência de Inovação da UFF visa atender às exigências da Lei 10.973, de 2 de dezembro de 2004, denominada “Lei da Inovação”, que prevê a criação de uma unidade, em cada Instituição Científica e Tecnológica Federal (ICT), com a incumbência de executar a lei no âmbito da entidade. Como posto em seu artigo 16, “A ICT deverá dispor de núcleo de inovação tecnológica, próprio ou em associação com outras ICTs, com a finalidade de gerir sua política de inovação”.A AGIR se vincula à Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação da UFF, tendo por finalidade coordenar, articular e propor a política e ações de estímulo à inovação da Universidade Federal Fluminense.
Reitor Roberto de Souza Salles Vice-Reitor Sidney Luiz de Matos Mello Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação Andréa Latge Agência de Inovação Fabiana Rodrigues Leta Escritório de Transferência do Conhecimento Maria Helena Teixeira da Silva Gomes Incubadora de Empresas Francisco José Batista de Sousa Articulação Acadêmica Marilena Juncá Trindade Capacitação e Difusão Patrícia Dias White Equipe Agir Antonio Nery Cupolillo Carlos Frederico de Andrade Daniel Pereira de Almeida Guilherme de Souza Marcelo Cavalcanti Marcelle Cordeiro de Mesquita Projeto Gráfico Daniel Almeida
Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-graduação e Inovação
Apoio:
Universidade Federal Fluminense