Rev Agr Acad v1 n3 2018 106p

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018)

Revista Agrária Acadêmica Agrarian Academic Journal Volume 1 – Número 3 – Set/Out (2018) SUMÁRIO Erosão e valoração econômica de reposição nutricional em solo cultivado com cana queimada e não queimada em Campos dos Goytacazes – RJ. Niraldo José Ponciano, Ana Carolina Guzzo Monteiro, Sérgio Gomes Tosto, Paulo Marcelo de Souza, Cláudio Roberto Marciano

6 - 15

Sanidade, germinação e vigor de sementes de feijão crioulo submetidas a tratamento químico e biológico. Diego Trentin, Daiani Brandler, Silvionei Webber, Maurício Albertoni Scariot, Paola Mendes Milanesi

16 - 25

Enxertia de tomateiro em solanáceas silvestres no controle da murcha bacteriana. Bruno dos Santos Fernandes, Jânia Lília da Silva Bentes

26 - 32

Avaliação do desempenho e das características da carcaça de suínos, utilizando rações com ractopamina na fase de terminação. Joselaine do Amaral Barberato, Antônio Carlos de Laurentiz, Otto Mack Junqueira, Lúcio Francelino Araujo, Rosemeire da Silva Filardi, Alan Peres Ferraz de Melo, Marília Oliveira Ferreira Silva, Affonso dos Santos Marcos

33 - 40

Adequação do tratamento pré-germinativo para sementes de Tamarindus indica L. Anne Kelly da Silva, José Maria Gomes Neves, Wagner Rogério Leocádio Soares Pessoa, Sebastião Pereira do Nascimento, Marcondes Araújo da Silva, Paula Aparecida dos Santos

41 - 48

Ocorrência da Brucelose Bovina em Alagoas. Rafael Cunha Amancio, Emerson Israel Mendes, José de Melo Lima Filho

49 - 55

Monitoramento de grãos de soja (Glycine max L. Merril) armazenados em silos metálicos. Leticia Almeida Sorano, Rienni de Paula Queiroz, Guilherme Araújo Brustolin

56 - 64

Qualidade fisiológica e fitossanitária de sementes tratadas de Eugenia dysenterica DC. durante armazenamento. Évelin Cristiane de Castro Silva, José Carlos Moraes Rufini, Nádia Nardely Lacerda Durães Parrella, Wânia dos Santos Neves

65 - 75

Manejo alimentar de carpa comum (Cyprinus carpio): frequência alimentar e porcentagem de arraçoamento. Adilson Reidel, Anderson Coldebella, Cezar Fonseca, Jakeline Marcela Azambuja de Freitas, Arcangelo Augusto Signor

76 - 83

Lipídios para vacas leiteiras – desempenho e composição do leite. Dhemerson da Silva Gonçalves, Rogério Mendes Murta, Camila Marques Oliveira, Hélio Oliveira Neves, Antônio Eustáquio Filho, Thiago Carlos e Silva

84 - 91

Avaliação ergonômica em atividades de supressão vegetal: uma revisão sistemática. Bruno Machado Araújo, Gustavo Costa de Oliveira, Paulo Henrique Catunda

92 - 105

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A Revista Agrária Acadêmica é um periódico científico publicado bimensalmente destinada a divulgação de trabalhos técnico-científicos nas áreas de Agronomia, Medicina Veterinária, Zootecnia, Engenharia Florestal, Ambiental, Pesca e áreas afins. Poderão ser submetidos trabalhos regionais, nacionais e internacionais (Artigos de Revisão, Artigos Científicos, Educação Continuada, Relatos de Caso, Nota Prévia e Comunicação) ainda não publicados, nem encaminhados a outras revistas para o mesmo fim. Os manuscritos devem ser enviados para o e-mail agrariacad@gmail.com. A iniciativa visa contribuir na atualização técnico-científica dos profissionais nas universidades, instituições de pesquisa, agências de fomento e extensão, bem como na iniciativa privada. Objetiva também tornar a informação mais acessível aos profissionais de campo. A revista permite acesso livre a todo seu conteúdo, para que a pesquisa seja acessível ao público e para um melhor intercâmbio de conhecimento. Assim, acredita no maior número de leitores e maior citação de trabalhos dos autores. O título abreviado da Revista é Rev. Agr. Acad., forma que deve ser usada em bibliografias, notas de rodapé, referências e legendas bibliográficas. O endereço para correspondência da Revista é Rua Rio Grande do Norte, 1342, Sala 3, Mercado, Imperatriz – MA, Brasil, CEP 65901-280. Todos os artigos e relatos dessa publicação são de inteira responsabilidade de seus autores não cabendo nenhuma responsabilidade legal sobre o conteúdo à Revista ou à Editora. Foi adotada a formatação em coluna única, o que facilita a leitura on-line. Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida, desde que citada a fonte. A Revista agradece o apoio permanente dos membros do Conselho Editorial e do Comitê Científico. Agradece também aos autores pelo envio dos trabalhos. ISSN 2595-3125 DOI 10.32406

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CONSELHO EDITORIAL

EDITORES Jailson Honorato – Doutorado em Ciência Animal – UI / USA Luiz André Rodrigues de Lima – Doutorado em Biociência Animal – UFRPE CONSELHO EDITORIAL Alexander Stein de Luca (IFMT) – Doutorado em Ciências Biológicas – UFSCAR Ana Maria Quessada (UNIPAR) – Doutorado em Medicina Veterinária – UNESP André da Cruz França Lema (IFSULDEMINAS) – Doutorado em Zootecnia (Produção Animal) – UNESP Bruno Gomes Cunha (INCRA) – Doutorando em Agronomia (Solos e Nutrição de Plantas) – UFS Carlos Frederico de Souza Castro (IFGOIANO) – Doutorado em Química – UnB Cícero Soares dos Santos (SENAR) – Doutorado em Ciência Animal – UFPI Clauber Rosanova (IFTO) – Doutorando em Ciências do Ambiente – UFT Claudia Marinovic (FESAR) – Doutorado em Anatomia Animal – USP / Pós-Doutorado em Patologia Animal – UFT Claudio Belmino Maia (UEMA) – Doutorado em Fitopatologia – UFV Cristy Handson Pereira dos Santos (UNISULMA) – Mestrado em Tecnologia Ambiental – UFLA Daniel Sá Freire Lamarca (ESALQ-USP) – Doutorando em Engenharia de Sistemas Agrícolas (ESALQ-USP) Déborah Nava Soratto (UFMS) – Doutoranda em Ciência Florestal – UFV Deyse Naira Mascarenhas Costa (UNITINS) – Doutorado em Ciência Animal – UFPI Edineia Goedert (UFPE) – Mestrado em Bioquímica e Fisiologia – UFPE Elton Lima Santos (UFAL) – Doutorado em Zootecnia (Nutrição Animal) – UFRPE Erasto Viana Silva Gama (IFBAIANO) – Doutorado em Ciências Agrárias – UFRB Fábio Adriano Santos e Silva (IFGOIANO) – Doutorando em Ciências Agrárias – (IFGOIANO) Fábio Janoni Carvalho (IFTM) – Doutorando em Agronomia (Fitotecnia) – (UFU) Florisval Protásio da Silva Filho (IFMA) – Doutorado em Zootecnia (Produção Animal) – UFRPE Gabriela Braga de Sá (UFCG) – Mestranda em Ciências Florestais – UFCG Givago Coutinho (UFLA) – Doutorado em Agronomia (Fitotecnia) – (UFLA) Hébelys Ibiapina da Trindade (IFMA) – Doutorado em Ciência Animal (UFPI) Itamara Gomes de França (UFMA) – Doutoranda em Biotecnologia – BIONORTE – UFMA Izidro dos Santos de Lima Junior (IFMS) – Doutorado em Agronomia – UFGD Luzimary de Jesus Ferreira Godinho Rocha (IFMA) – Doutorado em Engenharia e Ciência de Alimentos – UNESP Norivaldo Lima Santos (EMDAGRO) – Doutorado em Zootecnia (Produção Animal) – UFPB Rosana Leo de Santana (UFRPE) – Doutorado em Ciência Veterinária – UFRPE Sarah Jacqueline Cavalcanti da Silva (UFAL) – Doutorado em Fitopatologia – UFRPE Silvia Cristina Vieira (COATER) – Mestrado em Agronegócio e Desenvolvimento – UNESP Yamê Fabres Robaina Sancler da Silva (UFV) – Doutorado em Ciência Veterinária – UK / USA

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CHAMADA PÚBLICA 04/2018 – SUBMISSÃO DE ARTIGOS – Novembro/Dezembro 2018

A Revista Agrária Acadêmica está recebendo artigos para a edição de Novembro/Dezembro 2018. Os autores interessados em submeter artigos para publicação devem encaminhar seus trabalhos para o email agrariacad@gmail.com. Para essa edição, o prazo para submissão de trabalhos é até a data de 24 de Outubro de 2018. Mais informações estão disponíveis em normas para publicação.

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Revista Agrária Acadêmica Agrarian Academic Journal Volume 1 – Número 3 – Set/Out (2018) ___________________________________________________________________________________ doi: 10.32406/v1n32018/6-15/agrariacad

Erosão e valoração econômica de reposição nutricional em solo cultivado com cana queimada e não queimada em Campos dos Goytacazes – RJ Erosion and economic valuation of nutritional supplementation in cultivated soil with burned and nonburned sugarcane in Campos dos Goytacazes – RJ Niraldo José Ponciano1, Ana Carolina Guzzo Monteiro2, Sérgio Gomes Tosto3, Paulo Marcelo de Souza4, Cláudio Roberto Marciano5 1

- Professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense, Campos dos Goytacazes, RJ. E-mail: njponciano@gmail.com - Doutoranda em Produção Vegetal – UENF, Campos dos Goytacazes, RJ. E-mail: carolgmz@yahoo.com.br 3 - Pesquisador Doutor da Embrapa Monitoramento por Satélite, Campinas, SP. E-mail: sgtosto@gmail.com 4 - Professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense, Campos dos Goytacazes, RJ. E-mail: pmsouza@gmail.com 5 - Professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense, Campos dos Goytacazes, RJ. E-mail: marciano@uenf.br 2

___________________________________________________________________________________ Resumo É inquestionável a eficiência do Brasil na produção de açúcar e de etanol, no entanto, ainda persiste os desafios do manejo da queima da palhada na pré-colheita da cana-de-açúcar que tem gerado externalidades negativas. A erosão hídrica é uma das formas mais agressivas de degradação ambiental e que causa prejuízos econômicos. Este trabalho foi realizado no município de Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil, com o objetivo de estimar as perdas de erosão do solo em uma área plantada com cana-de-açúcar sob dois tipos de manejo. A Equação Universal de Perda de Solo (EUPS) foi usada para obter as taxas de erosão e o Método de Custo de Reposição (MCR) para efetuar a valoração econômica do serviço ecossistêmico. Os resultados mostram que a taxa de perda de solo da cana-de-açúcar queimada foi quatro vezes maior quando comparada à taxa para a cana-de-açúcar colhida crua para ambas as áreas estudadas. O custo de reposição dos nutrientes perdidos no cultivo da cana-de-açúcar sob sistema de colheita com queima prévia foi de R$ 6,73 e R$ 15,91 por hectare de baixada e tabuleiro, respectivamente, enquanto no sistema de colheita da cana crua o custo por hectare foi de R$ 1,66 para a baixada e de R$ 7,56 para o tabuleiro. Conclui-se que o sistema de manejo da colheita influencia ambientalmente na preservação da fertilidade do solo e no custo de adubação da cultura. Palavras-chave: Saccharum officinarum L., valoração ambiental, perda de nutrientes, sistema colheita de cana, conservação de solo Abstract The efficiency of Brazil in the production of sugar and ethanol is unquestionable, however, the challenges still remain for the management of the burning of the straw in the pre-harvest of sugarcane, which has generated negative externalities. Water erosion is one of the most aggressive forms of environmental degradation and which has caused huge losses. This work was carried out in the municipality of Campos dos Goytacazes, RJ, Brazil, in order to estimate soil erosion losses in an area planted with sugarcane under two types of crop management. The Universal Soil Loss Equation (EUPS) was used to obtain the erosion rates and the Replacement Cost Method (MCR) to carry out the economic valuation of the ecosystem service.The results show that the rate of soil loss from sugarcane burned was four times greater when compared to the rate for sugarcane harvested raw for both areas studied. The replacement cost of lost nutrients in the cultivation of sugarcane under harvesting system with previous burning was R$6.73 and R$15.91 per hectare of lowland and coastal tableland, respectively, while in the sugarcane harvesting unburned system the cost per hectare was R$ 1.66 for the lowland and R$ 7.56 per hectare for the coastal tableland. It is concluded that the crop management system influences environmentally the preservation of soil fertility and the cost of fertilization of the crop. Keywords: Saccharum officinarum L., environmental valuation, loss of nutrients, sugarcane harvesting system, soil conservation

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018)

Introdução O Brasil é o principal produtor mundial de cana-de-açúcar, nas últimas dez safras (no período de 2009 a 2018) produziu uma média anual de 618,5 milhões de toneladas de cana em 9,6 milhões de hectares. Essa cana foi processada gerando anualmente uma média de 26,8 milhões de metros cúbicos de etanol total e 36,1 milhões de toneladas de açúcar (UNICA, 2018). Não se questiona a eficiência do Brasil na produção de açúcar e de etanol, que é o País com maior produtividade do planeta. Apesar deste progresso, ainda persiste alguns desafios no que se refere ao manejo de colheita da cana-deaçúcar, tradicionalmente realizada após a queima da palha e que tem sido gradativamente substituída pela colheita sem uso do fogo, reduzindo a emissão de gases e promovendo o aumento do estoque de carbono no solo. Os trabalhos de Canellas et al. (2003), Luca et al. (2008), Galdos et al. (2010) e Azevedo et al. (2015) evidenciaram que a colheita da cana-de-açúcar sem queima da palhada aumenta a quantidade de C no solo. O carbono armazenado no solo encontra-se principalmente na forma de compostos orgânicos, englobando resíduos frescos ou em diferentes estádios de decomposição, compostos humificados e materiais carbonizados que podem estar associados à fração mineral e à fauna (ROSCOE, MACHADO, 2002). Prado et al. (2015) enfatizaram que as pressões antrópicas sobre os ecossistemas tem causado degradação dos recursos naturais, redução da biodiversidade e redução do bem estar humano. Alterações climáticas tem afetado os componentes econômicos, sociais e ambientais. Os estudos de serviços ecossistêmicos e ambientais tem sido relevantes para a agricultura brasileira. Entre outros, podem ser considerados como serviços ecossistêmicos: controle da erosão, retenção e formação de solo, regulação de nutrientes, oferta de água, polinização e controle biológico (COSTANZA, 1994; COSTANZA et al., 1997; de GROOT et al., 2002). Em se tratando de erosão do solo no Brasil, a erosão hídrica é considerada a mais importante e tem causado graves prejuízos, tanto em áreas agrícolas quanto nas cidades. O fenômeno da erosão caracteriza-se pelo desprendimento e arraste de partículas de solo, decorrentes da ação das chuvas, sendo que vários pesquisadores tem trabalhado neste tema. Barreto et al. (2009) verificaram que dois terços das publicações geradas sobre erosão em cinco décadas, entre 1950 e 2000, referiam-se à tema sobre a Equação Universal de Perda de Solo e, também, à comparações de manejos agrícolas relacionados à erosão de solo. É oportuno enfatizar que embora o cálculo da taxa de perdas de solo por erosão seja um ponto relevante nos estudos ambientais, a valoração econômica dessas perdas devem ser considerada igualmente importante, principalmente quando se verifica que há escassez de estudos com este fim. A valoração econômica de serviços ecossistêmicos se constitui numa importante ferramenta, não só na organização de informações como também no fornecimento de métricas referentes à perdas ambientais e econômicas, que são fundamentais para ações de planejamento e gestão sustentáveis dos recursos naturais, assim como as tomadas de decisão. Neste contexto, o principal objetivo do trabalho foi estimar as perdas de solo por erosão nos sistemas de colheita de cana-de-açúcar com e sem queima da palha e avaliar economicamente essas perdas nos dois tipos de manejos na cultura da cana-de-açúcar. Material e métodos

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) Os talhões com cana colhida crua têm sido cultivadas por 18 anos consecutivos utilizando esse manejo e os talhões que utilizam a queima antes da colheita de cana tem sido cultivadas com este manejo por 20 anos consecutivos. A área de estudo, ilustrada na Figura 1, localiza-se no Município de Campos dos Goytacazes, RJ, incluindo talhões agrícolas cultivados com cana-de-açúcar, inseridos tanto no ecossistema da Baixada Campista (de relevo plano e solos de textura argilo-siltosa, geralmente classificados como Cambissolos Háplicos) quanto no ecossistema dos Tabuleiros Costeiros (de relevo suave ondulado a ondulado e com solos de textura média/argilosa, geralmente Argissolos Amarelos e Latossolos Amarelos).

Figura 1. Talhões cultivados com cana-de-açúcar na área de estudo (imagem de satélite de alta resolução - Quick Bird, pixel 0,6 m por 0,6 m) Segundo Lumbreras et al. (2003), o clima da Região Norte Fluminense é, de acordo com a classificação de Koppen, do tipo Aw, quente e úmido, com período seco bem definido nos meses de maio a agosto, com ocorrência frequente de veranicos nos meses de janeiro e fevereiro. A temperatura média anual varia de 24-25 ºC. A precipitação média anual é de 1.080 mm, concentrando-se no período de outubro a janeiro (OMETTO, 1981). Utilizou-se no presente trabalho o Método do Custo de Reposição (MCR), que se caracteriza pelos cálculos das perdas de solo, transformadas em perdas de nutrientes que devem ser proporcionalmente repostos por meio de adubação com fertilizantes comerciais (Tôsto et al., 2009). Foram avaliados as taxas de erosão do solo (determinada a partir da EUPS - Equação Universal de Perda de Solo), dados de produção e de perda de nutrientes e de atributos edáficos da região. Para Souza Lima (2004) deve se internalizar as externalidades pelo estabelecimento de preços do mercado. Nesse sentido, a partir das perdas físicas de solo expressas em t/ha/ano, calculou-se as perdas de nutrientes, utilizando os dados sobre o teor dos nutrientes: N, P, K, Ca e Mg para o cálculo, 8


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) tendo por base os dados sugeridos por Bellinazzi Jr. et al. (1981). O total da perda dos nutrientes foi transformado em fertilizantes por meio de coeficientes técnicos da cultura na região. A equação do custo de reposição permitiu estimar o valor econômico das perdas de nutrientes do solo: CR =∑ Pn ∗ Qn +Caf n CR = Custo de Reposição, em R$/Mg Pn = Preço dos Fertilizantes, em R$/Mg Qn = Quantidade de fertilizante, em Mg Cafn = Custo da aplicação de fertilizantes, em R$/Mg É importante destacar que a compreensão dos resultados obtidos a partir do cálculo da valoração econômica deve ser interpretada com os devidos cuidados, parte dos resultados da aplicação prática das técnicas de valoração ambiental pode não refletir um único valor que represente o ecossistema como um todo. Nesse sentido, atribuíram valores monetários a determinados serviços ambientais, colaborando na análise das motivações econômicas que levam à decisão do melhor uso das diferentes formas de sistema de manejo do solo. Estimou-se a taxa de erosão do solo por meio da equação universal da perda de solo, na qual a perda média anual de solo foi obtida pelo produto de seis fatores determinantes, de acordo com a equação abaixo: A= R*K*L*S*C*P A= Perda anual de solo, em Mg/ha.ano R= Fator erosividade da precipitação e da enxurrada, em MJ.mm/ha.h.ano K= Fator erodibilidade do solo, em Mg/ha (MJ/ha.mm/ha) L= Fator de comprimento da encosta, (adimensional) S= Fator grau de declividade, (adimensional) C= Fator de cobertura e manejo da cultura, (adimensional) P= Fator prática de controle de erosão, (adimensional) Os fatores R, K, L e S dependem das condições naturais do clima, do solo e do relevo, e definem em conjunto o potencial natural de erosão. Utilizou-se os fatores L e S combinados, já que estão diretamente vinculados à topografia. Os fatores C e P são antrópicos e se relacionam com as formas de ocupação e manejo das terras. Os dados necessários para o cálculo do custo de reposição foram os seguintes: a área total ocupada com cana-de-açúcar colhida crua e queimada, as taxas de erosão do solo (determinada a partir da EUPS - Equação Universal de Perda de Solo), a composição do solo em termos de nutrientes, o montante de fertilizantes utilizados pelos sistemas de produção, os preços pagos na aquisição de fertilizantes e o preço pago para aplicação destes fertilizantes. As cotações dos insumos e da mão de obra foram para o ano de 2015, no Município de Campos dos Goytacazes, RJ. Resultados e discussão Os resultados deste trabalho podem contribuir não apenas no acervo de conhecimento de áreas de pesquisa, mas também servir de parâmetros para tomadas de decisão com vistas à adoção de práticas conservacionistas e subsidiar planos de uso sustentáveis em propriedades agrícolas. Estimou-se a taxa de erosão nas áreas de baixada e de tabuleiros dos talhões cultivados com cana-de-açúcar nos sistemas de colheita de cana crua e queimada. Para área de baixada, as estimativas 9


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) da taxa de erosão hídrica do solo para o uso com cana crua foi de 2,08 t ha -1 ano-1 e para o uso com cana queimada foi de 8,34 t ha-1 ano-1. Para área de tabuleiro esta taxa foi maior para ambos os sistemas de colheita, devido principalmente a maior declividade do terreno. As taxas para cana crua e queimada foram respectivamente de 3,94 t ha-1ano-1 e 15,76 t ha-1 ano-1. Utilizando a EUPS foi encontrada uma diferença significativa para a taxa de perda de solo para os dois sistemas de colheita da cana em ambas as áreas. Os fatores que mais contribuíram para esta diferença são os antrópicos, o fator C que corresponde ao fator uso e manejo do solo e o fator P que representa as práticas conservacionistas. São fatores importantes na comparação da mesma cultura com sistemas de manejos distintos. O emprego dessas práticas de manejo que preserva o ambiente minimiza o impacto da erosão hídrica no solo. Tôsto et al. (2009), utilizando a EUPS e o método do custo de reposição de nutrientes, no Município de Araras – SP, estimaram que a taxa de perda de solo para o cultivo da cana mecanizada e queimada foram 3,90 t ha-1 ano-1 e 14,90 t ha-1 ano-1, respectivamente. Nota-se que estes valores foram relativamente próximos ao da pesquisa em Campos dos Goytacazes e evidencia a confirmação de que a forma de manejo influencia as taxas de erosão e perda de solo no sistema de colheita de cana. Os resultados da pesquisa estão de acordo com os analisados por Canellas et al. (2007), que observaram melhora na qualidade da matéria orgânica em áreas de cana crua, que pode ser atribuída a um aumento significativo na quantidade de carbono de compostos aromáticos, e que está relacionado com o processo de humificação e estabilização da matéria orgânica do solo. Wang et al. (2006) apontaram benefícios potenciais associados às lavouras sob manejo conservacionista, como sequestro de carbono, disponibilidade de nutrientes e resposta da produção. Canellas et al. (2003) revelaram que os nutrientes são mais facilmente assimiláveis pela cultura da cana-de-açúcar, o que pode reduzir a aplicação de fertilizantes químicos, além de aumentar o tempo de renovação da lavoura. As tabelas 1 e 2 apresentam os resultados da mensuração de perdas totais de solos e nutrientes, nos manejos que adotam colheita de cana-de-açúcar crua e de queima na pré-colheita, em áreas de baixada e de tabuleiro no Município de Campos dos Goytacazes. A área de cana colhida crua no município é menos de 20% da área total. Comparou-se a perda por hectare e verificou maior perda de nutrientes na área do sistema de colheita da cana queimada. Tabela 1. Perda média anual de solo e de nutrientes em área de um hectare de baixada Perda solo e nutrientes Perda de solo

Cana crua (kg ha-1 ano-1)

Cana queimada (kg ha-1 ano-1)

2.080,000

8.340,000

Perda de N

0,269

1,084

Perda de P

0,067

0,275

Perda de K

0,233

0,942

Perda de Ca + Mg

1,683

6,755 10


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018)

A região de baixada é constituída principalmente da classe de solo cambissolo, que apresenta uma percentagem média no teor de nutrientes superior ao tipo de solo da região caracterizada como tabuleiro, onde as classes de solo predominante são os argissolos e latossolos. A maior taxa de perda de solo para região de tabuleiro pode ser atribuída às maiores erodibilidade, declividade e comprimento de rampa. Enquanto que as áreas de baixada cultivadas com cana possuem declividades mais amenas, entre 0 e 3% de declive. Essa é a principal razão de menores movimentações de solos nas áreas de baixada, e consequentemente menores perdas de solos e de nutrientes. Tabela 2. Perda média anual de solo e de nutrientes em área de um hectare de tabuleiro Perda solo e nutrientes Perda de solo

Cana crua (kg ha-1 ano-1)

Cana queimada(kg ha-1 ano-1)

3.940,000

15.760,000

Perda de N

1,024

4,097

Perda de P

0,050

0,205

Perda de K

1,717

2,049

Perda de Ca + Mg

4,798

10,874

Andrade et al. (2011) verificaram impactos técnico e econômico das perdas de solo e de nutrientes por erosão no cultivo da cana-de-açúcar no Município de Catanduva, SP, em dois sistemas de colheita de cana crua e queimada. Os resultados foram semelhantes inclusive com valores relativamente superiores em perda de fósforo, de cálcio e de magnésio em relação aos valores do presente trabalho. Os valores mais elevados de perdas de cálcio e de magnésio, em Catanduva, SP, podem ser atribuídos ao relevo relativamente mais inclinado. Pugliesi et al. (2011) estimaram as perdas de nutrientes do solo sob diferentes formas de cultivo de milho em seis safras, no período de 1990 a 1996. Observou que os tratamentos denominados conservacionistas obtiveram as menores perdas de nutrientes em relação aos tratamentos convencionais de manejo do solo. O valor da perda total de nitrogênio por hectare no tratamento conservacionista foi de 9,39 kg ha-1, enquanto que no tratamento convencional foi de 44,26 kg ha-1. Esses valores foram superiores aos resultados encontrados no presente trabalho, mas com semelhança na proporção, no qual constata perda de nutrientes inferiores nas áreas com práticas conservacionistas. As tabelas 3 e 4 apresentam os resultados das quantidades necessárias de fertilizantes químicos para reposição da fertilidade do solo perdida no processo de erosão nos dois sistemas de colheita da cana para as duas áreas estudadas. A quantidade de fertilizante utilizada para repor os nutrientes perdidos em ambas as áreas nos fornece um indicativo monetário, que permite inferir em relação aos processos antrópicos que têm causado erosão na região estudada.

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) Tabela 3. Quantidade média de fertilizantes para reposição dos nutrientes perdidos por erosão nos cultivos de cana, em kilograma por hectare na baixada Reposição de nutrientes

Colheita cana crua (kg)

Colheita cana queimada (kg)

Sulfato de amônia (45% N)

0,598

2,409

Superfosfato simples (18% P2O5)

0,372

1,528

Cloreto de potássio (60% K2O)

0,388

1,571

Calcário dolomítico (28% CaO + 16% MgO)

3,825

15,353

Tabela 4. Quantidade média de fertilizantes para reposição dos nutrientes perdidos por erosão nos cultivos de cana, em kilograma por hectare no tabuleiro Reposição de nutrientes

Colheita cana crua (kg)

Colheita cana queimada (kg)

Sulfato de amônia (45% N)

2,276

9,105

Superfosfato simples (18% P2O5)

0,278

1,138

Cloreto de potássio (60% K2O)

2,862

3,414

10,905

24,713

Calcário dolomítico (28% CaO + 16% MgO)

Os resultados indicam que os produtores locais continuam adotando práticas rudimentares como a utilização de fogo na colheita da cana. A adoção da modernização da colheita da cana adicionada com a utilização de práticas conservacionista diminuiria a taxa de perda de solo, resultando em uma economia em longo prazo. Bertol et al. (2007) analisaram as perdas de nutrientes e calcularam o custo financeiro do superfosfato triplo (P), cloreto de potássio (K) e de calcário (Ca e Mg), perdidos na erosão hídrica, em três sistemas de manejo do solo. No preparo convencional perderam-se US$ 24,94 por ano em cada hectare. No sistema de preparo mínimo, a perda foi de US$ 16,33 e no sistema semeadura direta, as perdas foram de US$ 14,83 por hectare por ano. Utilizou-se o preço médio dos fertilizantes, sulfato de amônia, superfosfato simples, cloreto de potássio e do calcário dolomítico, para o ano de 2015, cotado no comércio de Campos dos Goytacazes. Para efeitos comparativos, calculou-se o custo de reposição dos nutrientes por hectare de área cultivada com cana colhida crua e queimada para as regiões de baixada e tabuleiro, utilizando a média dos preços 12


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) juntamente com a adição do custo de aplicação dos fertilizantes e do calcário. A tabela 5 apresenta a estimativa do custo de reposição de nutrientes incluindo o custo da aplicação dos mesmos, por hectare e por tipo de uso de solo na região. Tabela 5. Estimativa do custo médio de reposição de nutrientes em área de um hectare de acordo com o sistema de colheita de cana, em Campos dos Goytacazes - RJ. Sistema de uso do solo e manejo

Custo de reposição de nutrientes (R$ * ha-1)

Cana crua - Baixada

1,66

Cana queimada - Baixada

6,73

Cana crua - Tabuleiro

7,56

Cana queimada - Tabuleiro

15,91

Observa-se que o custo de reposição de nutrientes no cultivo da cana queimada é de cerca de 75% maior quando comparado ao sistema de colheita da cana crua, nas áreas de baixadas e em torno de 53% nas áreas de tabuleiros. Verifica-se gasto quatro vezes maiores para reposição dos nutrientes perdidos em função da queima da palha que protege a camada superficial do solo. Os resultados evidenciaram argumentos favoráveis à modernização da colheita da cana e ao manejo conservacionista do solo. Dessa forma, constata a importância de pesquisas que utilizam o método de valoração econômica na estimativa de parâmetros responsáveis pela adoção de manejo racional, objetivando à sustentabilidade econômica, social e ambiental da cultura. Rodrigues et al. (2009) verificaram, por meio do MCR, os custos ambientais ocasionados pelas externalidades negativas da expansão da produção de soja em áreas de cerrados. Os custos ambientais anuais no sistema de plantio convencional foram de R$ 169.415,50, sendo que por hectare este custo foi de R$ 4,58. Por outro lado, aplicando-se o sistema de plantio direto, o valor global diminui para R$ 4.294,37 ao ano, correspondendo a um custo médio por hectare de R$ 0,12. Signor et al. (2016) avaliaram atributos químicos do solo em sistemas de colheita de cana-deaçúcar com ou sem queima. Observaram que o estoque de carbono a 0,0–0,3 m de profundidade, na área queimada, foi 22% menor do que na área sem queima, aos 6 anos, e 43% menor, aos 12 anos. Os maiores graus de humificação ocorreram na área sem queima por 19 anos. Constataram-se que a fertilidade do solo aumentou em áreas de cana-de-açúcar sem queima, em razão da matéria orgânica do solo mais humificada e da maior quantidade de grupamentos carboxílicos e fenólicos. Luca et al (2008) também encontraram resultados semelhantes, no qual o manejo sem queima da cana-de-açúcar resultou em melhorias nas propriedades dos solos com aumento do sequestro de carbono e de nitrogênio na cobertura e nas camadas superficiais dos solos. A queima pré-colheita da cana-de-açúcar ainda é uma prática utilizada pela grande maioria dos produtores da Região Norte Fluminense, com o intuito de facilitar e agilizar a colheita. Contudo esta prática ocasiona diversos impactos negativos, promovendo o empobrecimento do solo, prejudicando a 13


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) ciclagem e a disponibilidade dos nutrientes. Há que se mencionar, ainda, que perdas de nutrientes por volatilização durante a queima não foram contabilizados no presente trabalho, o que concorreria para uma vantagem financeira ainda maior em favor da cana colhida crua. Essa prática tem provocado maior utilização de agrotóxicos (inseticidas e herbicidas) para o controle de pragas e de plantas invasoras que colonizam o solo rapidamente por não necessitarem de grande disponibilidade nutricional, afetando a própria sustentabilidade da cultura. Por outro lado, tem ocorrido pressão de alguns membros do Ministério Público por meio de ações judiciais, pela ação das comunidades preocupadas com os efeitos negativos sobre a saúde, a segurança e o meio ambiente. Conclusões Constatou-se maior taxa de erosão do solo e perda mais elevada de nutrientes no sistema de colheita de cana queimada. Da mesma forma, ocorreu maior taxa de perda de solo para as áreas de tabuleiro em comparação com as áreas de baixada, o mesmo ocorreu para os nutrientes nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio e magnésio. Para as áreas de baixada, o custo para reposição dos nutrientes sob sistema de colheita com queima prévia foi quatro vezes maior do que no sistema de colheita da cana crua. Para as áreas de tabuleiro o custo de reposição ainda foi maior em comparação com baixada. A limitação do trabalho passa pela utilização de métodos reducionistas de economia ambiental. A valoração de nutrientes perdidos não reflete a totalidade de serviços ecossistêmicos ofertados pelo solo, pois outros benefícios relacionados a estruturação e a indicadores biológicos e ecológicos não foram totalmente captados pelo método de reposição. Para pesquisas futuras, sugere-se avaliar os principais fatores técnicos que afetam a implantação do sistema de colheita mecanizada da cana crua na região. Analisar possíveis externalidades negativas relacionadas ao meio ambiente em conjunto com os fatores de competitividade que possa contribuir para a viabilidade econômica da cultura acompanhada dos benefícios sociais e ambientais. Referências bibliográficas ANDRADE, N.S.F.; MARTINS FILHO, M.; TORRES, J.L.R.; PEREIRA, G.T.E.; MARQUES JÚNIOR, J. Impacto técnico e econômico das perdas de solo e nutrientes por erosão no cultivo da cana-de-açúcar. Engenharia Agrícola v.31, p.539-550, 2011. <http://dx.doi.org/10.1590/S0100-69162011000300014> AZEVEDO, L.C.B.; MORAES, M.; LAMBAIS, M.R. Early Changes in Soil Metabolic Diversity and Bacterial Community Structure in Sugarcane under Two Harvest Management Systems. Revista Brasileira Ciência de Solo. v.39, n.3, Viçosa, May/June, 2015. http://dx.doi.org/10.1590/01000683rbcs20140426 BARRETTO, A.G.O.P.; LINO, J.S.; SPAROVEK G. Bibliometria da pesquisa brasileira em erosão acelerada do solo: instituições, temas, espaço e cronologia. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.33, p. 1845-1854, 2009. BERTOL, I.; COGO, N.P.; SCHICK, J.; GUDAGNIN, J.C.; AMARAL, A.J. Aspectos financeiros relacionados às perdas de nutrientes por erosão hídrica em diferentes sistemas de manejo do solo. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.31, p.133142, 2007. BERTONI, J.; LOMBARDI NETO, F.; BENATTI JÚNIOR, R. Equação de perdas de solo. Campinas: Instituto Agronômico, 25p. Boletim Técnico, 21, 1975.

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) CANELLAS, L.P.; VELLOSO, A.C.X.; MARCIANO, C.R.; RAMALHO, J.F.G.P.; RUMJANEK, V.M.; REZENDE, C.E.; SANTOS, G.A. Propriedades químicas de um Cambissolo cultivado com cana-de-açúcar, com preservação do palhiço e adição de vinhaça por longo tempo. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.27, p.935-944, 2003. CANELLAS, L.P.; BALDOTTO, M.A.; BUSATO, I.G.; MARCIANO, C.R.; MENEZES, S.C.; SILVA, N.M.; RUMJANEK, V.M.; VELLOSO, A.C.X.; SIMÕES, M.L.; MARTIN-NETO, L. Estoque e qualidade da matéria orgânica de um solo cultivado com cana-de-açúcar por longo tempo. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.31, p.331-340. 2007. COSTANZA, R. Economia ecológica: uma agenda de pesquisa. In: MAY, P.M.; MOTTA, R.S. (org.). Valorando a natureza: Análise econômica para o desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: Campus, Cap. 7, p.111-44, 1994. COSTANZA, R.; D’ARGE, R.; DE GROOT, R.S.; FARBER, S.; GRASSO, M.; HANNON, B.; LIMBURG, K.; NAEEM, S.; O’NEILL, R.V.; PARUELO, J.; RASKIN, R.G.; SUTTON, P.; VAN DEN BELT, M. The value of the world’s ecosystem. Nature, v.387, p.253-260, 1997. DE GROOT, R.S.; WILSON, M.A.; BOUMANS, R.M.J. A typology for the classification, description, and valuation of ecosystem functions, goods and services. Ecological Economics, v.41, p.393-408, 2002. GALDOS, M.V.; CERRI, C.C.; LAL, R., BERNOUX, M.; FEIGL, B.J.; CERRI, C.E.P . Net greenhouse gases fluxes in Brazilian ethanol production systems. GCB Bioenergy. 2:37-44, 2010. LUCA, E.F. DE; FELLER, C.; CERRI, C.C.; BARTHES, B.; CHAPLOT, V.; CAMPOS, D.C.E; MANECHINI, C. Avaliação de atributos físicos e estoques de carbono e nitrogênio em solos com queima e sem queima de canavial. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.32, n.2, Viçosa, mar./abr., 2008. <http://dx.doi.org/10.1590/S0100-06832008000200033> LUMBRERAS, J.F.; NAIME, U.J.; CARVALHO FILHO, A. et al. Zoneamento agroecológico do Estado do Rio de Janeiro. Embrapa Solos. Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, n.33, Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2003. 113p. OMETTO, J.C. Bioclimatologia vegetal. São Paulo: Agronômica Ceres, 1981. 440p. PRADO, R.B.; FIDALGO, E.C.C.; FERREIRA, J.N.; CAMPANHA, M.M; VARGAS, L.M.P.; PEDREIRA, B.C.C.G.; MONTEIRO, J.M.G.H.L.C.; TURETTA, A.P.D; MARTINS, A.L.S; DONAGEMMA, G.K.; COUTINHO, H.L.C. Pesquisas em serviços ecossistêmicos e ambientais na paisagem rural do Brasil. Revista Brasileira de Geografia Física, v.8, n.IV SMUD, p.610-622, 2015. PUGLIESI, A.C.V.; MARINHO, M.A.; MARQUES, J.F.; LUCARELLI, J.R.F. Valoração econômica do efeito da erosão em sistemas de manejo do solo empregando o método custo de reposição. Bragantia, v.70, p.113-121, 2011. RODRIGUES, W.; BARBOSA, G.F.; ALMEIDA, A. Análise custo/benefício ambiental da produção de soja em área de expansão recente nos cerrados brasileiros: O caso de Pedro Afonso – TO. Custos e Agronegocios on line, v.5, n.2, p.59-80, 2009. <http://www.custoseagronegocioonline.com.br/numero2v5/custo%20beneficio%20soja.pdf> SIGNOR, D.; CZYCZA, R.V.; MILORI, D.M.B.P.; CUNHA, T.J.F.; CERRI, C.E.P. Atributos químicos e qualidade da matéria orgânica do solo em sistemas de colheita de cana-de-açúcar. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.51, n.9, p.1438-1448, set. 2016. DOI: 10.1590/S0100-204X2016000900042 UNICA – União da Indústria de Cana-de-Açúcar, acessado em 14 de <http://www.unicadata.com.br/historico-de-producao-e-moagem.php?idMn=32&tipoHistorico=4>

junho

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TÔSTO, S.G.; SOBRINHO, R.P.; ANDRADE, D.C. Valoração ambiental da perda de solo na cultura da cana-deaçúcar sob colheita queimada e mecanizada no município de Araras, SP, 2009. <http://www.sober.org.br/palestra/15/529.pdf> WANG, X.B.; CAI, D.X.; HOOGMED, W.B.; OENEMA, O.; PERDOK, U.D. Potential effect of conservation tillage on sustainable land use: A review of global long-term studies. Pedosphere, v.16, p.587-595, 2006.

Recebido em 23/08/2018 Aceito em 10/09/2018

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018)

Revista Agrária Acadêmica Agrarian Academic Journal Volume 1 – Número 3 – Set/Out (2018) ___________________________________________________________________________________ doi: 10.32406/v1n32018/16-25/agrariacad

Sanidade, germinação e vigor de sementes de feijão crioulo submetidas a tratamento químico e biológico Sanity, germination and vigor of creole bean seeds submitted to chemical and biological treatment Diego Trentin1, Daiani Brandler2, Silvionei Webber1, Maurício Albertoni Scariot3, Paola Mendes Milanesi4 1

- Bacharel em Agronomia; Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Campus Erechim, RS, Brasil. E-mail: diegotrentin99@hotmail.com; webbersiolvio@hotmail.com 2 - Mestranda em Ciência e Tecnologia Ambiental (UFFS), Campus Erechim, RS, Brasil. E-mail: daianibrandler@hotmail.com 3 - Doutorando em Fitotecnia; Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: mauricioalbertoniscariot@gmail.com 4 - Professora Adjunta, Laboratório de Fitopatologia (UFFS), Campus Erechim, RS, Brasil. Autor correspondente: paola.milanesi@uffs.edu.br

___________________________________________________________________________________ Resumo Variedades crioulas são importantes para a sobrevivência da agricultura familiar e por se tratar de uma produção de baixo investimento tecnológico, sendo a semente um potencial dispersor de patógenos, objetivou-se avaliar a microbiolização com Trichoderma harzianum, comparado ao tratamento químico, sobre a sanidade, germinação e vigor de sementes de variedades crioulas de feijão “Cavalo” e “Chumbinho” (grupo tipo carioca e preto, respectivamente). Estas foram recobertas com: T1) tratamento químico; T2) tratamento biológico; e T3) testemunha. O tratamento biológico (T2) reduziu a incidência dos fungos associados às sementes das variedades estudadas. Todavia, na dose de 200 mL de produto comercial houve redução no percentual germinativo e aumento de plântulas anormais. Palavras-chave: Microbiolização, qualidade fisiológica, Trichoderma harzianum, variedades crioulas Abstract Creole varieties are important for the survival of family farms and because it is a low technology investment, being the seed a potential dispersant of pathogens, the objective was to evaluate the microbiolization with Trichoderma harzianum, compared to the chemical treatment, sanity, germination and vigor of seeds of creole bean varieties "Cavalo" and "Chumbinho" (group type carioca and black, respectively). These were covered with: T1) chemical treatment; T2) biological treatment; and T3) control. The biological treatment (T2) reduced the incidence of fungi associated with the seeds of the studied varieties. However, at the dose of 200 mL of commercial product there was reduction in germination percentage and increase of abnormal seedlings. Keywords: Microbiolization, physiological quality, Trichoderma harzianum, creole varieties

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) Introdução As variedades tradicionais, caseiras, landraces (raças da terra) ou crioulas são importantes para a sobrevivência do agricultor familiar, haja vista que estas irão gerar a sua própria alimentação, das criações, a manutenção de tradições, cultura e costumes, além de ser uma fonte de renda (PELWING et al., 2008; ANTONELLO et al., 2009). Quando utilizadas pelos agricultores, oriundas de safras anteriores e sucessivamente selecionadas, podem ser caracterizadas como sementes crioulas (COELHO et al., 2010). Como vantagens, o uso destas sementes pode trazer sustentabilidade de produção, maior resistência a doenças e pragas e podem ser armazenadas para safras seguintes, diminuindo os custos de produção (CARPENTIERI-PÍCOLO et al., 2010), além de serem importantes para a conservação da diversidade genética intraespecífica. Contudo, existem dúvidas sobre a utilização de sementes crioulas com relação a sua qualidade, o que pode refletir em baixa germinação e prejuízos ao estabelecimento da cultura, afetando sua produtividade (MICHELS et al., 2014). Por se tratar de uma produção familiar, que usufrui de poucos recursos tecnológicos, pode ocorrer maior propensão à disseminação de patógenos através destas sementes, visto que ainda pouco se conhece sobre sua qualidade sanitária e fisiológica (CATÃO et al., 2013). As sementes podem atuar como agentes dispersores de fitopatógenos, introduzindo doenças em áreas isentas e acarretando consequências epidemiológicas (JUNGES et al., 2014). Com isso, um dos métodos que pode ser empregado para minimizar a disseminação de patógenos é o tratamento de sementes, que se torna muito importante porque assegura a manutenção da qualidade fisiológica e do vigor. A utilização de fungicidas no tratamento de sementes é uma prática bem difundida e já estabelecida, mas pelo elevado custo desse tratamento convencional e o crescente consumo de alimentos orgânicos em busca de sustentabilidade, há necessidade de estudos que avaliem outros produtos que possam ser empregados para o tratamento de sementes (FLÁVIO et al., 2014). Assim, a aplicação de bioprotetores formulados a partir de agentes de controle biológico (microbiolização) em tratamento de sementes pode ser um método atrativo (GAVA; PINTO, 2016), haja vista que estes produtos surgiram visando à redução do uso de agrotóxicos, diminuição dos riscos aos agricultores e impactos ambientais (HENNING et al., 2009). A microbiolização é uma técnica cujo princípio é a aplicação de micro-organismos benéficos sobre as sementes, a fim de efetuar o controle de fitopatógenos e, adicionalmente promover o crescimento de plântulas (MELLO, 1996). Neste sentido, o emprego de Trichoderma spp. através dessa técnica vem apresentando resultados promissores na promoção e crescimento de plântulas de milho, com redução do uso de agrotóxicos (JUNGES et al., 2014). Sendo assim, objetivou-se avaliar a microbiolização com Trichoderma harzianum comparado ao tratamento químico sobre a sanidade, germinação e vigor de sementes de variedades crioulas de feijão. Material e métodos O experimento foi conduzido em Erechim, RS (27° 37’ 50” S, 52° 14’ 11” O; altitude: 753 m), na safra 2015/16. O clima do local é do tipo Cfa (clima temperado úmido com verão quente) conforme classificação estabelecida por Köeppen, nos quais as chuvas são bem distribuídas ao longo do ano (CEMETRS, 2012). O solo é do tipo Latossolo Vermelho Alumino férrico húmico (Oxisol) 17


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) (EMBRAPA, 2013) e, conforme análise (profundidade 0,00-0,10 m), apresentou a seguinte caracterização química: pH: 5,4; matéria orgânica (MO): 3,6%; P: 5,7 mg dm -3; K: 89 cmolc dm-3; Al: 0,2 cmolc dm3; Ca: 5,6 cmolc dm-3; Mg: 2,8 cmolc dm-3; e CTC: 14,2 cmolc dm-3. Foram utilizadas sementes de feijão crioulo, variedades “Cavalo” e “Chumbinho” (tipo carioca, ciclo de 55 dias e tipo preto, ciclo de 70 dias, respectivamente), adquiridas de uma propriedade familiar localizada na Linha Napoleão, município de Severiano de Almeida, RS, no ano de 2015. Os tratamentos de sementes avaliados foram: T1) tratamento químico (fungicidas piraclostrobina e metil tiofanato + inseticida fipronil); T2) tratamento biológico (produto à base de Trichoderma harzianum); e T3) testemunha (sem recobrimento), em esquema fatorial 3 x 2 (tratamentos de sementes x variedades). Para o tratamento químico (T1) foi utilizada a dose de 200 mL p.c./100 kg (100 mL i.a./100 kg) de sementes de feijão e, com relação à aplicação do tratamento à base de Trichoderma harzianum (T2) foi considerada a quantidade de 200 mL p.c./100 kg de sementes. As doses utilizadas seguiram a recomendação da bula dos produtos, No tratamento testemunha, foi feita apenas a adição de água destilada e esterilizada, considerando-se o mesmo volume aplicado em T1 e T2. Para a aplicação dos tratamentos químico e biológico, as sementes foram acondicionadas em sacos plásticos e após a adição dos respectivos tratamentos, foram agitadas para a mistura dos mesmos até a completa cobertura das sementes. Antes da aplicação de cada tratamento, as sementes passaram por uma assepsia superficial, utilizando-se uma solução de álcool (70%) por 1 min, seguida por hipoclorito de sódio (1%) por 1 min e, na sequência, enxágue em água destilada e esterilizada (1 min). Para avaliação do desempenho dos tratamentos sobre as sementes de variedades crioulas de feijão, os seguintes testes foram realizados em duplicata: Teste de sanidade: conforme metodologia adaptada do Manual para Análise Sanitária de Sementes (BRASIL, 2009a), com oito repetições de 25 sementes de cada variedade. As sementes foram colocadas em caixas “gerbox”, previamente desinfestadas com álcool (70%) e hipoclorito de sódio (1%), contendo duas folhas de papel germitest esterilizado. Após este procedimento, as sementes foram incubadas a 20 ± 2º C, com fotoperíodo de 12 h, durante sete dias e analisadas, com o auxílio de microscópio estereoscópico e ótico. As estruturas morfológicas dos fungos foram observadas e identificadas em nível de gênero, com o auxílio de bibliografia especializada (BARNETT; HUNTER, 1999; BRASIL, 2009a), determinando-se o percentual de incidência de cada gênero fúngico por tratamento. Teste de germinação: oito repetições de 25 sementes para a variedade “Cavalo” e quatro repetições de 50 sementes para a variedade “Chumbinho”, foram semeadas sobre duas folhas de papel germitest esterilizado e umedecido com água destilada e esterilizada na proporção de 2,5 vezes o peso seco do papel, conforme metodologia adaptada das Regras para Análise de Sementes - RAS (BRASIL, 2009b). Em seguida, foram confeccionados rolos, contendo as sementes, que foram dispostos em incubadora a 25 ± 2º C e fotoperíodo de 12 h, sendo realizadas contagens aos cinco e aos nove dias (BRASIL, 2009b). Na primeira contagem foram contabilizadas todas as sementes germinadas e que deram origem a plântulas normais. Na segunda contagem, as plântulas foram classificadas em normais, anormais e sementes não germinadas (duras e mortas), para ambas as variedades avaliadas (BRASIL, 2009b). Comprimento de plântulas: foram semeadas em papel germistest, no terço superior da folha, quatro repetições de 20 sementes cada para ambas as variedades de feijão crioulo. As amostras foram mantidas em câmara incubadora a 25 ± 2° C e fotoperíodo de 12 h e, no quinto dia, foram medidas, 18


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) aleatoriamente, 10 plântulas normais por repetição. A mensuração foi feita com auxílio de régua graduada em centímetros (cm) (NAKAGAWA, 1999). Teste de emergência sob condições controladas: em bandejas plásticas (capacidade: 5 L) foi feita a semeadura em areia esterilizada, cuja umidade foi ajustada para 60% da sua capacidade de retenção de água. Foram utilizadas 4 repetições de 50 sementes por tratamento para a variedade “Chumbinho” e 8 repetições de 25 sementes para a variedade “Cavalo”. Após a semeadura, as bandejas foram mantidas em incubadora, com temperatura de 25 ± 2º C e fotoperíodo de 12 h. A partir do início da emergência foram realizadas avaliações diárias, computando-se o número de plântulas emergidas até a estabilização (nenhuma plântula emergida após 2 dias). Para o cálculo do Índice de Velocidade de Emergência (IVE), utilizou-se a equação proposta por Maguire (1962). Teste de emergência sob condições de campo: em canteiros, foram semeadas quatro repetições de 40 sementes, distribuídas em sulcos longitudinais de 2 cm de profundidade e distanciados 20 cm entre si. A avaliação foi realizada aos 21 dias após a semeadura, computando-se o percentual (%) de plântulas emergidas, o comprimento de plântulas e a massa fresca e seca de parte aérea, conforme metodologia adaptada de Nakagawa (1999). Para todos os testes descritos foi utilizado o delineamento experimental inteiramente casualizado (DIC), sendo os dados submetidos à análise de variância, por meio do teste F (p ≤ 0,05) e, quando significativos, à comparação de médias pelo teste de Tukey (p ≤ 0,05), por meio do software estatístico Assistat 7.7 beta (SILVA; AZEVEDO, 2009). Resultados e discussão No teste de sanidade de sementes de feijão crioulo observou-se a incidência de quatro gêneros fúngicos (Tabela 1), sendo que os tratamentos utilizados foram eficientes na redução da incidência destes. Na variedade “Cavalo”, o tratamento com Trichoderma harzianum suprimiu a incidência de Penicillium spp. (0,3%) e Fusarium spp. (0,6%), em relação ao tratamento químico. O tratamento biológico foi eficiente na redução de Aspergillus spp. (13,3%), em relação a testemunha. Ademais, nas sementes dessa variedade, o tratamento químico ocasionou aumento na incidência de Penicillium spp. (2,5%) e Fusarium spp. (9,6%). Tabela 1. Incidência (%) de fungos em sementes de feijão crioulo variedades “Cavalo” e “Chumbinho”, submetidas a tratamento químico (fungicida/inseticida) e biológico (Trichoderma harzianum) Tratamento de Incidência (%) C.V. (%) Fungos Cavalo Chumbinho Sementes Químico 9,6 aB1 22,8 bA Biológico 0,6 bB 12,5 cA Fusarium spp. 25,88 Testemunha 6,6 aB 49,6 aA Químico 2,5 bA 0,9 bA Biológico 0,3 bA 1,4 bA Penicillium spp. 17,95 Testemunha 51,0 aA 40,0 aB Químico 10,4 cA 0,8 bB Biológico 13,3 bA 2,0 bB Aspergillus spp. 18,58 Testemunha 24,0 aA 25,3 aA Químico 0,3 ns 0,1 ns 12,48 Biológico 83,4 87,0 Trichoderma spp. Testemunha 0,3 0,3 19


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Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha não apresentam diferença estatística significativa pelo teste de Tukey (p ≤ 0,05). ns não significativo. Carvalho et al. (2011) verificaram que o tratamento químico a base de Vitavax®-Thiram foi eficiente no controle de Fusarium oxysporum f. sp. phaseoli em sementes de feijão, chegando a uma redução de 73% na incidência do patógeno. Em sementes de variedades crioulas de milho, a diversidade de micro-organismos a elas associados, não necessariamente pode prejudicar a qualidade fisiológica, mas o tratamento antes da semeadura constitui uma etapa essencial para o adequado estabelecimento da cultura (CATÃO et al., 2013). O tratamento de sementes de soja com bioprotetor (Agrotrich ® - Trichoderma spp.) e/ou fungicida (Vitavax®-Thiram), foi eficiente no controle de Rhizopus spp., Aspergillus spp., Fusarium spp., Cladosporium spp., Rhizoctonia spp., Trichoderma spp. e Penicillium spp. quando aplicados de forma isolada ou combinada. Entretanto o tratamento com fungicida apresentou melhores resultados (BRAND et al., 2009). Quanto à germinação, a variedade “Cavalo”, obteve os maiores percentuais em comparação com a variedade “Chumbinho” (Tabela 2). Entretanto, não houve diferença entre a testemunha (65,0%) e o tratamento químico (65,0%), ocorrendo uma redução para o tratamento biológico (36,5%). No controle de Fusarium oxysporum f. sp. phaseoli, in vitro, em sementes de feijão comum “Jalo precoce”, Carvalho et al. (2011) utilizaram diferentes isolados de Trichoderma harzianum em uma proporção de 2 mL (2,5 x 108 conídios mL-1) para 100 g-1 de sementes. Os autores verificaram que não houve sintomas de toxidez ou prejuízo na germinação, sendo que os isolados CEN238, CEN240 e CEN241 e um produto comercial à base de T. harzianum, proporcionaram percentual de plântulas normais superiores as sementes não tratadas. Contrariamente uma redução na taxa de germinação foi verificada por Marini et al. (2011), avaliando a qualidade fisiológica de sementes de trigo submetidos ao fungicida Carboxin+Thiram, sendo que para o genótipo CD108, houve redução da taxa de germinação com doses reduzidas do fungicida a partir da recomendada (270 mg L-1). Na variedade “Chumbinho” o tratamento químico mostrou-se mais eficaz, proporcionando um melhor percentual de germinação (48,5%,) seguido pela testemunha (31,5%) e tratamento biológico (17,8%). A utilização de fungicida e bioprotetor aplicados de forma isolada em aveia preta demonstraram que o percentual de germinação, para o tratamento fungicida proporcionou uma qualidade fisiológica superior (HENNING et al., 2009). Para a variável plântulas anormais (Tabela 2), na variedade “Cavalo”, o tratamento biológico apresentou maiores percentuais (51,3%), seguido pelo tratamento químico (27,3%) e testemunha (26,8%), que não diferiram entre si. Fato semelhante ocorreu na variedade “Chumbinho”, porém observou-se que o tratamento biológico nesta variedade, teve a maior média (54,0%) seguido pela testemunha (35,0%) e tratamento químico (26,0%). Isto pode estar relacionado ao fato de que o fungo colonizou totalmente as sementes avaliadas, provocando sua deterioração e, consequentemente, aumentando o percentual de plântulas anormais, bem como de sementes não germinadas (mortas e duras). A colonização de sementes de milho por Trichoderma spp., obtida pela microbiolização com o uso de restrição hídrica, pode ter sido a provável causa na redução da germinação e vigor das plântulas (JUNGES et al., 2014). Contrariando estes resultados, Brand et al. (2009) verificaram que o percentual de plântulas anormais e sementes mortas não diferiram entre os tratamentos (combinações entre o 20


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) fungicida comercial Vitavax-Thiram® 200 SC e o bioprotetor Agrotrich ®), embora a porcentagem de plântulas anormais tenha sido reduzida em doze pontos percentuais no tratamento utilizando Agrotrich ® 50% + Vitavax-Thiram® 50%. Tabela 2. Germinação (G, %), plântulas normais de primeira contagem (PN 1ª cont., %), plântulas anormais (PA, %), sementes não germinadas (SNG, %), comprimento de plântulas (CP, cm) e Índice de Velocidade de Emergência (IVE) para sementes das variedades de feijão crioulo “Cavalo” e “Chumbinho”, submetidas a tratamento químico (fungicida/inseticida) e biológico (Trichoderma harzianum) Tratamento de Variedades Variáveis CV (%) Cavalo Chumbinho sementes Químico 65,0 aA 48,5 aB Biológico 36,5 bA 17,8 cB G (%) 9,6 Testemunha 65,0 aA 31,5 bB Químico 48,3 aA1 41,3 aB Biológico 14,0 bA 14,8 cA PN 1ª cont. (%) 13,4 Testemunha 52,0 aA 29,5 bB Químico 27,3 bA 26,0 cA Biológico 51,3 aA 54,0 aA PA (%) 5,7 Testemunha 26,6 bB 35,0 bA Químico 7,8 ns 25,5 ns 21,4 Biológico 12,3 28,3 SNG (%) Testemunha 8,3 33,5 ns Químico 18,2 16,8 ns Biológico 14,9 14,0 3,7 CP (cm) Testemunha 17,6 16,4 ns Químico 2,4 7,0 ns 12,6 Biológico 2,8 6,7 IVE Testemunha 2,5 6,4 1 Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha não apresentam diferença estatística significativa pelo teste de Tukey (p ≤ 0,05). ns não significativo. Quanto às sementes não germinadas não houve diferença significativa, porém observou-se que na variedade “Cavalo” o tratamento biológico apresentou um maior valor percentual (12,3%). Isso também ocorreu para o comprimento de plântulas, tanto para os tratamentos quanto na comparação entre as variedades. Numericamente, porém, observou-se que as médias do tratamento biológico foram inferiores aos demais. Resultado semelhante foi obtido em um estudo sobre o tratamento de sementes com fungicidas e inseticidas em sementes de girassol, em que os tratamentos não tiveram diferença para as variáveis de crescimento de parte aérea e radicular em plântulas (GRISI et al., 2009). Para o Índice de Velocidade de Emergência (IVE), os resultados obtidos no estudo não foram significativos pelo teste de Tukey (p ≤ 0,05). Com relação ao percentual de plântulas normais em primeira contagem (Tabela 2), na variedade “Cavalo” observou-se uma diminuição no percentual redução no tratamento biológico (14,0%), fato que poderia estar atrelado à dose de Trichoderma harzianum utilizada. Tais resultados divergem de Grisi et al. (2009) que verificaram que não houve efeito do tratamento químico sobre a emergência de sementes de girassol. No entanto, em sementes de aveia 21


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) preta tratadas com fungicida, Henning et al. (2009) observaram maior vigor em comparação com sementes tratadas com bioprotetor e a testemunha. Singh et al. (2016) enfatizaram a escassez de resultados sobre efeitos positivos e/ou negativos de doses de Trichoderma spp., em função da concentração de esporos do fungo, ressaltando a importância de elucidar a dose adequada de produtos biológicos, a fim de não prejudicar o crescimento e o desenvolvimento de plântulas. Em sementes de girassol, tratadas com fungicidas e inseticidas, Grisi et al. (2009) verificaram que não houve diferença significativa entre os tratamentos para a porcentagem de plântulas normais (fortes). Para a variedade “Chumbinho”, o tratamento químico apresentou o melhor resultado (41,3%) seguido da testemunha (29,5%), enquanto que o tratamento biológico (14,8%) reduziu o vigor das sementes. Os processos de perda de vigor e deterioração podem estar relacionados com a forma de condução da lavoura, escolhida pelo agricultor, sendo que o processo de secagem das sementes ocorreu na própria planta, estando as sementes sob influência direta das condições climáticas, fato comum na agricultura familiar. Posteriormente a sua debulha as sementes foram acondicionados em sacos de polipropileno (ráfia). Tais condições podem ter propiciado a diminuição da qualidade final das sementes. Avaliando a qualidade fisiológica de três lotes de sementes de milho crioulo, Stefanello et al. (2015) verificaram que estes sofreram efeito negativo sobre a germinação e o vigor durante os meses e as formas de armazenamento testados (saco de papel a 10º C e embalagem plástica a temperatura ambiente). Além disso, a incidência de fungos dos gêneros Aspergillus, Penicillium e Fusarium tornaram mais rápida a deterioração e redução da qualidade fisiológica das sementes. No teste de emergência a campo aos 21 dias (Tabela 3), observou-se que o percentual de plântulas emergidas para a variedade “Cavalo” no tratamento químico foi mais elevado (76,7%), porém não diferiu estatisticamente da testemunha (75,0%). Tabela 3. Percentual de plântulas emergidas (PE, %), massa fresca (MF, g -1), massa seca (MS, g-1) e comprimento de planta (CP, cm), para sementes das variedades de feijão crioulo “Cavalo” e “Chumbinho”, submetidas a tratamento químico (fungicida) e biológico (Trichoderma harzianum), em teste de emergência a campo, aos 21 dias. Tratamento Variedades CV (%) Variáveis Cavalo Chumbinho de sementes Químico 76,7 aA1 58,3 aB 2,94 Biológico 69,4 bA 57,1 aB PE (%) Testemunha 75,0 aA 55,0 aB ns Químico 0,152 0,067 ns 9,23 -1 Biológico 0,171 0,069 MF (g ) Testemunha 0,160 0,071 ns Químico 0,019 0,008 ns 6,15 -1 Biológico 0,020 0,009 MS (g ) Testemunha 0,019 0,009 Químico 23,5 bA 18,9 aB 2,59 Biológico 24,6 aA 18,9 aB CP (cm) Testemunha 23,3 bA 19,3 aB 1 Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha não apresentam diferença estatística significativa pelo teste de Tukey (p ≤ 0,05). ns não significativo. 22


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Entretanto, tais percentuais foram superiores ao obtido pelas sementes submetidas ao tratamento biológico (69,4%), apresentando uma diferença de 7,3% em comparação ao tratamento químico. A capacidade que o Trichoderma spp. possui para incrementar o crescimento e o desenvolvimento de plântulas está relacionado com a sua competência de estabelecimento na rizosfera. Nesse sentido, Hoyos-Carvajal et al. (2009), verificaram que entre 101 isolados de Trichoderma spp. obtidos na Colômbia, apenas sete melhoraram o crescimento de plântulas de feijão. Para a variedade “Chumbinho” não houve diferença estatística entre os tratamentos, no entanto o incremento da emergência foi inferior (3,3%). Resultado semelhante foi observado para a emergência a campo em sementes de soja tratadas com bioprotetor e fungicida, nos quais não houve diferença significativa entre os tratamentos, embora a combinação entre o produto a base de Trichoderma spp. (Agrotrich®), na dose de 50%, e o fungicida Vitavax®-Thiram na mesma dose, tenha-se mostrado superior em relação aos demais tratamentos (BRAND et al., 2009). Fato semelhante foi verificado por Grisi et al. (2009), em que o tratamento químico não afetou a porcentagem de plântulas de girassol emergidas em experimento conduzido em casa de vegetação. Para as variáveis massa fresca e massa seca, os resultados não foram significativos, pois a variação entre os tratamentos e variedades foi inexpressiva. Quanto ao comprimento de plântulas (Tabela 3), constatou-se que no tratamento biológico os valores foram superiores na variedade “Cavalo”, seguido pelo tratamento químico e testemunha, que não diferiram. A variedade “Cavalo” também apresentou as maiores médias para esta variável, entretanto para a variedade “Chumbinho”, os tratamentos não diferiram entre si. Couto et al. (2011) constataram que a altura de plantas de feijão, medida aos 21 dias após a semeadura, aumentou nas parcelas tratadas com fungicida e inseticida, em relação as não tratadas. Os resultados obtidos nesse trabalho direcionam para a necessidade de maiores estudos relacionados à dose de Trichoderma harzianum, a fim de que este seja eficiente tanto sobre o controle de patógenos associados às sementes, quanto ao estímulo à germinação de sementes e emergência de plântulas de feijão crioulo. A microbiolização constitui uma alternativa para produção agroecológica, assim como pode ser empregada no sistema de produção convencional para o controle de diversos patógenos transmitidos por sementes. Além disso, o controle biológico e o emprego de variedades crioulas podem proporcionar maior autonomia ao agricultor, mas é necessário conhecer mais sobre a dinâmica de disseminação de patógenos associados a sementes crioulas, assim como o seu impacto sobre a qualidade fisiológica dessas sementes. Conclusões O tratamento biológico, a base de Trichoderma harzianum reduz a incidência dos fungos associados às sementes em ambas as variedades estudadas, atingindo percentuais de controle superiores aos do tratamento químico. A dose de Trichoderma harzianum utilizada (200 mL/100 kg de sementes), reduz o percentual germinativo das sementes de feijão crioulo (var. ‘Cavalo’ e ‘Chumbinho’) e prejudica o desenvolvimento de plântulas normais. Referências bibliográficas ANTONELLO, L.M.; MUNIZ, M.F.B.; BRAND, S.C.; RODRIGUES, J.; MENEZES, N.L. de; KULCZYNSKI, S.M. Influência do tipo de embalagem na qualidade fisiológica de sementes de milho crioulo. Revista Brasileira de Sementes, v.31, n.4, p.75-86, 2009.

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Recebido em 23/08/2018 Aceito em 10/09/2018

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018)

Revista Agrária Acadêmica Agrarian Academic Journal Volume 1 – Número 3 – Set/Out (2018) ___________________________________________________________________________________ doi: 10.32406/v1n32018/26-32/agrariacad

Enxertia de tomateiro em solanáceas silvestres no controle da murcha bacteriana Tomato grafting in wild solanaceae to control bacterial wilt Bruno dos Santos Fernandes1, Jânia Lília da Silva Bentes1* 1*

- Programa de Pós-Graduação em Agronomia Tropica/Faculdade de Ciências Agrárias/Universidade Federal do Amazonas – UFAM, Manaus, AM, Brasil. E-mail: jlbentes@ufam.edu.br

___________________________________________________________________________________ Resumo A Ralstonia solanacearum é um dos principais patógenos de solo na cultura do tomateiro no Norte do Brasil. O controle é dificultado devido não existirem cultivares resistentes no mercado nem produtos químicos eficientes. Neste trabalho foi avaliado o uso de Solanáceas silvestres, cubiu (Solanum sessiliflorum), jurubeba (Solanum viarum) e a cultivar de tomateiro Yoshimatsu, como porta-enxertos para o controle da murcha bacteriana. A cv. Santa Cruz Kada Gigante, (SCKG) suscetível à murcha bacteriana, foi usada como porta-enxerto, nas seguintes combinações: SCKG/cubiu, ‘SCKG/jurubeba, SCKG/Yoshimatsu, SCKG/auto-enxerto e SCKG pé-franco. Foi quantificada a incidência da doença e desenvolvimento dos sintomas, altura e diâmetro das plantas, números de flores e de frutos por planta. Plantas enxertadas em cubiu não desenvolveram sintomas. A enxertia com a cv. Yoshimatsu apresentou resistência parcial, maior crescimento e produtividade. Palavras-chave: Porta-enxertos, Ralstonia solanacerum, resistência Abstract The Ralstonia solanacearum is one of the main root pathogens of the tomato in North of Brazil. The control is dificult instead, there are no resistant cultivars and no efficient chemicals control. In this study, the use of wild Solanaceas, cubiu (Solanum sessiliflorum), jurubeba (Solanum viarum) and tomato cultivar Yoshimatsu as rootstockswere evaluated. The cv. Santa Cruz Kada Gigante (SCKG), susceptible to bacterial wilt, were used in the graft and rootstock combinations: SCKG/cubiu, SCKG/jurubeba, SCKG/Yoshimatsu, SCKG/autograft and SCKG ungrafted. Were quantified the incidence and symptom development, height and diameter of plants, numbers of flowers and fruits per plant. Plants grafted on cubiu did not develop symptoms of the disease. Yoshimatsu showed partial resistance and increased growth and productivity in grafted plants. Keywords: Rootstocks, Ralstonia solanacearum, resistance

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) Introdução O tomate (Solanum lycopersicum L.) é produzido em praticamente todas as regiões do Brasil destacando-se como a segunda hortaliça mais cultivada no país, sendo superada apenas pela batata (Solanum tuberosum L.) (IBGE, 2015). No Estado do Amazonas a murcha bacteriana causada por Ralstonia solanacearum ocorre em diversas hortaliças de forma endêmica (COELHO NETO et al., 2004) incluindo o tomateiro, contribuindo para a redução da oferta e elevação dos preços do produto. É uma das doenças mais importantes da cultura e ocorre praticamente em todo país. A bactéria habitante do solo, é disseminada pela água e implementos agrícolas, e atua no sistema vascular causando a interrupção do transporte de água e minerais absorvidos pelas raízes, resultando no sintoma de murcha. É favorecida por altas temperaturas (26-37 ⁰C) e umidade elevada. O controle é feito basicamente com a rotação de culturas, já que o controle químico é ineficiente. (LOPES, REISFSCHNEIDER, 1999; BEDENDO, 2018). A enxertia surge como alternativa, para controle da doença, onde o porta-enxerto resistente se mantém sadio, assumindo a função de absorver água e nutrientes do solo, ao mesmo tempo em que isola a cultivar suscetível do patógeno presente no solo (PEIL, 2003; GOLSDSCHMIDT, 2014). A enxertia na olericultura é uma técnica empregada para plantas das Famílias Solanaceae e Cucurbitaceae, e objetiva conferir resistência às mudas. Desta forma, possibilita o cultivo em áreas contaminadas por patógenos de solo ou confere habilidades em relação a determinadas condições edafoclimáticas (resistência à baixa temperatura, a seca, ao excesso de umidade e aumento da capacidade de absorção de nutrientes). O principal objetivo da enxertia em hortaliças é obter resistência a patógenos que habitam o solo (PEIL, 2003). O uso da enxertia em cultivo de tomate, usando como porta-enxerto espécies adaptadas às condições edafoclimáticas da região Norte e com resistência à bactéria, como, o cubiu (Solanum sessiliflorum Dunal), jurubeba (Solanum viarum Dunal) e da cultivar de tomate Yoshimatsu, pode ser uma alternativa de controle da doença. Este trabalho teve como objetivo avaliar o uso de cubiu, jurubeba e da cultivar de tomate Yoshimatsu como porta-enxerto do tomateiro para o controle de murcha bacteriana. Material e métodos Obtenção de Ralstonia solanacearum Os isolados de R. solaneacrum raça 1 biovar 1 utilizados neste estudo, foram cedidos pelo Laboratório de Microbiologia e Fitopatologia da Faculdade de Ciências Agrárias da UFAM, e foram previamente caracterizados por Demosthenes; Bentes (2011, p.436). Preliminarmente foi realizado um testes de agressividade com dez isolados visando selecionar os mais agressivos para os experimentos posteriores (dados não apresentados). Preparo das mudas, enxertia e inoculação Foram utilizadas como porta-enxerto mudas de cubiu, de jurubeba e da cultivar de tomate Yoshimatsu, resistente à murcha bacteriana. Para o enxerto foram utilizadas mudas de tomateiro da cultivar comercial Santa Cruz Kada Gigante (SCKG) (Feltrin®), suscetível à doença. As mudas foram produzidas em bandejas de poliestireno expandido com 128 células, preenchidas com o substrato Basaplant®. Por apresentarem desenvolvimento mais lento, o cubiu e a jurubeba foram semeados 30 dias antes do tomate SCKG e o tomate Yoshimatsu foi semeado 10 dias antes do enxerto. 27


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) A enxertia foi realizada quando as mudas estavam com 10 cm de altura. O método utilizado foi o de fenda simples (GOTO et al. 2003). Após a enxertia as mudas foram mantidas à sombra em casa de vegetação durante quatro dias, com irrigação diária. Após o pegamento da enxertia, as mudas foram transplantadas para vasos de plásticos com capacidade e 10 kg contendo o substrato Basaplant ®. Foi realizada adubação de plantio com 50 g de NPK na formulação 10-10-10, 4g de FTE e 20g calcário dolomítico (PRNT = 91%, CaO = 32% e MgO = 15%) por vaso. Quando as mudas apresentavam cinco folhas definitivas, foram inoculadas com um isolado de R. solanacerum raça 1 biovar 1, previamente selecionado com base na agressividade, usando 10 mL de suspensão bacteriana na concentração de 108 ufc.mL-1 depositada no substrato ao redor do colo da planta, mediante ferimento das raízes feitos uma lâmina de bisturi. Experimento em casa de vegetação O delineamento experimental foi inteiramente ao acaso, com cinco tratamentos (1. SCKG/cubiu, 2. SCKG/jurubeba, 3. SCKG/Yoshimatsu, 4. SCKG/ auto-enxerto e 5. SCKG pé-franco), com sete repetições, sendo cada planta uma repetição. A testemunha constou de plantas de cada combinação de enxerto/porta-enxerto tratadas com água destilada esterilizada. O experimento foi repetido duas vezes. Foi avaliada a incidência da murcha (% de plantas com sintomas) e o desenvolvimento dos sintomas foi avaliado utilizando a escala de notas de Winstead; Kelman (1952, p. 629). As avaliações foram diariamente, durante 30 dias. Com as notas obtidas foi calculada a área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) de acordo com Campbell; Madden (1990, p.193). Os dados da AACPD foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5%, utilizando o programa estatístico ASSISTAT versão 7.7. Foi avaliado o diâmetro do caule (mm) na altura do colo, diâmetro do caule 2 cm acima do ponto de enxertia e a altura das plantas do colo ao ponteiro (cm), a cada sete dias utilizando paquímetro digital e trena, respectivamente. Foram quantificados os números de flores e de frutos por planta, início da floração, início da frutificação e capação das plantas acima da oitava inflorescência, em semanas após a enxertia. Experimento de campo As mudas foram produzidas conforme descrito anteriormente e aos 10 dias após a enxertia foram e transplantadas para o campo, no setor de olericultura da Faculdade de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Amazonas, em Manaus-AM, onde o solo é naturalmente infestado com R. solanacearum. O plantio foi feito em canteiros com espaçamento de 100 cm entre linhas e 40 cm entre plantas. As plantas foram conduzidas em duas hastes, tutorada verticalmente com varas e fita de ráfia e o amarrio foi feito com fitilho. As brotações laterais foram retiradas à medida que surgiram. Foi feita a adubação do solo mediante resultado da análise do solo e a recomendação de adubação para a cultura. O solo apresentou as seguintes características químicas: pH = 5,5; H + Al = 1,6 cmolc/dm3; P = 667 mg/dm3; K = 94 mg/dm3; Ca = 6,3 cmolc/dm3; Mg = 2,1 cmolc/dm3; MO = 2,9 g/kg; t = 8,64 cmolc/dm3; T = 10,24 cmolc/dm3; SB = 84,38%. A irrigação foi feita diariamente. O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso com cinco tratamentos (1. SCKG/cubiu, 2. SCKG/jurubeba, 3. SCKG/Yoshimatsu, 4. SCKG/ auto-enxerto e 5. SCKG - pé-franco) e cinco repetições, sendo a parcela experimental composta de quatro plantas. 28


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) A avaliação do desenvolvimento dos sintomas, o cálculo da AACPD, a análise de variância e os fatores avaliados seguiram a mesma metodologia do experimento em casa de vegetação. Ao fim do experimento foi feito o reisolamento do patógeno a partir das plantas que manifestaram sintomas da doença para confirmação da presença da bactéria. Resultados e discussão Avaliação da murcha bacteriana As plantas de SCKG - pé franco, SCKG - auto-enxerto e SCKG enxertada em jurubeba, apresentaram sintomas e murcha aos três dias após a inoculação (d.a.i). No oitavo d.a.i, os dois primeiros tratamentos já apresentavam 100% de incidência da doença. No tratamento SCKG enxertado em jurubeba apresentou 85% de incidência de murcha ao final da avaliação. Plantas enxertadas em cubiu e na cv. Yoshimatsu não apresentaram sintomas da doença, indicando o potencial destes portaenxerto no controle da murcha bacteriana em casa de vegetação (Tabela 1).

Temperatura entre 25 e 35° C favorecem o desenvolvimento da doença. Segundo Inmet (2016), a temperatura máxima média em Manaus durante a execução do experimento foi de 35º C e a temperatura mínima média de 26º C, com umidade relativa média do ar de 68%, tendo ambiente favorável para doença (TAKATSU; LOPES, 1997). No experimento em campo, o sintoma de murcha bacteriana iniciou 15 dias após o transplantio (d.a.t.) em plantas do tratamento SCKG - auto-enxerto, e aos 16 dias no tratamento SCKG - pé franco. Em ambos os tratamentos as plantas apresentaram 100% de incidência aos 25 d.a.t. Os tomateiros enxertados na jurubeba apresentaram sintomas da doença a partir do 18º d.a.t., atingindo 40% de plantas mortas ao final do experimento. Plantas deste tratamento que sobreviveram no campo, apresentaram nanismo e amarelecimento de folhas murchas. 29


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) A cv. Yoshimatsu proporcionou resistência parcial em plantas enxertadas, com 35% de plantas mortas ao final do experimento. A cultivar Yoshimatsu possui resistência horizontal ou poligênica (NODA, 2007) o que explica a menor incidência de plantas mortas ao final do experimento. Plantas de tomate enxertadas em cubiu não desenvolveram sintomas de murcha bacteriana em campo. È possível que esta resposta esteja relacionada com mecanismos de defesa físico como espessamento das membranas no tecido do xilema (NAKAHO et al., 2004) ou tiloses (GRIMAULT et al., 1994), criando uma barreira física que pode impedir o movimento bacteriano, ou por meio de mecanismos bioquímicos de aumento de atividade enzimática e compostos fenólicos (VANITHA et al., 2009). Crescimento e produção No experimento em casa de vegetação as plantas foram avaliadas durante três semanas após o transplantio quanto a altura, diâmetro do colo e o diâmetro do caule 2 cm acima do ponto de enxertia. Não houve diferença significativa (Tukey 5%) para a altura das plantas e diâmetro do colo, entre os tratamentos, com exceção às mudas de SCKG-auto-enxerto, que apresentaram crescimento mais lento que os demais tratamentos, possivelmente devido ao rompimento dos vasos condutores, que pode ocasionar o desenvolvimento mais lento das plantas (SIMÕES et al., 2014). A testemunha SCKG-péfranco, não inoculada, foi a que apresentou o maior crescimento em altura, devido à ausência da doença e da enxertia (Tabela 2). Os resultados de altura e diâmetro de colo das plantas se repetiram no experimento em campo. Os porta-enxertos cubiu e jurubeba foram os que proporcionaram o maior desenvolvimento do diâmetro do caule acima do ponto de enxertia para ambos os experimentos (Tabela 2). Foi observado que nos tomateiros enxertados em cubiu e em jurubeba houve a formação de calo no ponto de enxertia, enquanto nos tratamentos que consistiam na enxertia de tomateiro sobre tomateiro, a cicatrização foi imperceptível.

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) Todos os tratamentos apresentaram a emissão da primeira inflorescência entre 4 e 4,5 semanas após o transplantio, em casa de vegetação. O início da frutificação ocorreu entre 5,5 e 6,5 semanas. Não houve diferença significativa entre os tratamentos para o número de flores por planta. Os tratamentos SCKG - auto-enxerto inoculado e SCKG - pé-franco inoculado não apresentaram produção de flores e frutos devido à morte das plantas causada pela doença, em campo e em casa de vegetação. No experimento em campo a emissão da primeira inflorescência ocorreu entre 4 e 4,5 semanas após o transplantio e a frutificação a partir da 7ª semana. O tratamento SCKG-jurubeba iniciou a floração a partir da 5ª semana e a frutificação após nove semanas. O tratamento SCKG-Yoshimatsu foi o que apresentou o maior número de flores por planta, porém não diferiu estatisticamente do SCKGcubiu. Plantas enxertadas em jurubeba foram as que apresentaram menor número de flores (Tabela 1). Quanto ao número de frutos por planta, o tratamento SCKG-Yoshimatsu foi o que apresentou o maior número de frutos por planta, seguido do SCKG-cubiu. O tratamento SCKG-jurubeba não produziu frutos (Tabela 1). Este resultado pode estar diretamente relacionado com a incidência da murcha bacteriana, que inviabilizou a produção de frutos em plantas enxertadas em jurubeba. Conclusões A jurubeba não apresentou potencial para uso como porta-enxerto de tomateiro. Plantas enxertadas no Yoshimatsu apresentaram resistência parcial à murcha bacteriana, podendo ser usada dentro de um programa de manejo da doença em cultivo de tomateiro. Tomateiros enxertados em cubiu não desenvolveram sintomas de murcha bacteriana, tendo potencial para uso como porta-enxerto para produção de mudas e plantio em áreas contaminadas com R. solanacearum. Agradecimento Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq pela bolsa de estudos. Referências bibliográficas BUDDENHAGEN, I.; KELMAN, A. Biological and physiological aspects of bacterial wilt caused by Pseudomonas solanacearum. Annual Review of Phytopathology, v. 2, p. 203-230, 1964. CAMPBELL, C.L.; MADDEN, L.V. Introduction to plant disease epidemiology. John Wiley & Sons: New York. p. 532. 1990. GOTO, R.; SANTOS, H.S.; CANIZARES, K.A.L. Enxertia em hortaliças. São Paulo: UNESP. 2003. 85 p. GRIMAULT, V.; GÉLIE, B.; LEMATTRE, M.; PRIOR, P.; SCHMIT, J. Comparative histology of resistant and susceptible tomato cultivars by Pseudomonas solanacearum. Physiological and Molecular Plant Pathology, v. 44, p. 105-123, 1994. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Levantamento sistemático da produção agrícola. Rio de Janeiro, 2015. Disponível em: <ftp://ftp.ibge.gov.br/Producao_Agricola/Levantamento_Sistematico_da_Producao_Agricola_ %5Bmensal%5D/Fasciculo/lspa_201 501.pdf>. Acesso em 21 de fevereiro de 2016. INMET – Instituto Nacional de Meteorologia. Banco de Dados Meteorológicos para Ensino e Pesquisa, Brasília. 2016. Disponível em: <http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r= bdmep/bdmep>. Acesso em 22 de fevereiro de 2016. LOPES, C.A.; REIFSCHNEIDER, F.J.B. Manejo integrado das doenças da batata. Informe Agropecuário, v. 20, p. 56-60, 1999. NAKAHO, K.; INOUE, H.; TAKAYAMA, T.; MIYAGAWA, H. Distribution and multiplication of Ralstonia solanacearum in tomato with resistance derived from different origins. Journal of Genetics Plant Pathology, v. 70, n. 2, p. 115-119, 2004.

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) NODA, H. Melhoramento de hortaliças em climas desfavoráveis: o desafio do desenvolvimento de cultivares adaptadas à Amazônia. Melhoramento do Tomateiro para o Trópico Úmido Brasileiro. In: Congresso Brasileiro de Olericultura, 25. Resumos... Porto Seguro: SOB (CD-ROM). 2007. PEIL, R.M. Enxertia na produção de mudas de hortaliças. Ciência Rural, v. 33, n. 6, p. 1169-1177. 2003. SIMÕES, A.C.; ALVES, G.E.B.; FERREIRA, R.L.F.; NETO, S.E.A.; ROCHA, J.F. Compatibilidade de tomateiro sob diferentes porta-enxertos e métodos de enxertia em sistema orgânico. Enciclopédia Biosfera, Centro Científico Conhecer Goiânia, v.10, n.18, p. 961, 2014. TAKATSU, A.; LOPES, C.A. Murcha-bacteriana em hortaliças: avanços científicos e perspectivas futuras de controle. Horticultura Brasileira, v.15, n.1, p.170-177, 1997. VANITHA, S.C.; NIRANJANA, S.R.; UMESHA, S. Role of phenylalanine ammonia lyase and polyphenol oxidase in host resistance to bacterial wilt of tomato. Journal of Phytopathol., v. 157, p. 552-557, 2009. WINSTEAD, N.N.; KELMAN, A. Inoculation techniques for evaluating resistance to Pseudomonas solanacearum. Phytopatology, v. 42, p. 628-635,1952.

Recebido em 24/08/2018 Aceito em 10/09/2018

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018)

Revista Agrária Acadêmica Agrarian Academic Journal Volume 1 – Número 3 – Set/Out (2018) ___________________________________________________________________________________ doi: 10.32406/v1n32018/33-40/agrariacad

Avaliação do desempenho e das características da carcaça de suínos, utilizando rações com ractopamina na fase de terminação Evaluation of performance and characteristics of pork carces, using ractopamine rations in the termination phase Joselaine do Amaral Barberato1*, Antônio Carlos de Laurentiz2, Otto Mack Junqueira3, Lúcio Francelino Araujo4, Rosemeire da Silva Filardi5, Alan Peres Ferraz de Melo6, Marília Oliveira Ferreira Silva7, Affonso dos Santos Marcos8 1*

- Universidade Estadual Paulista, Ilha Solteira, São Paulo, Brasil - jadoamaral@hotmail.com Departamento Biologia e Zootecnia, Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira, Universidade Estadual Paulista – UNESP – Ilha Solteira/SP – Brasil. sta@adm.feis.unesp.br 2 - Universidade Estadual Paulista, Ilha Solteira, São Paulo, Brasil 3 - Universidade Estadual Paulista, Ilha Solteira, São Paulo, Brasil 4 - FZEA - USP Pirassununga 5 - Universidade Estadual Paulista, Ilha Solteira, São Paulo, Brasil 6 - Universidade Estadual Paulista, Ilha Solteira, São Paulo, Brasil 7 - Universidade Estadual Paulista, Ilha Solteira, São Paulo, Brasil 8 - Universidade Estadual Paulista, Ilha Solteira, São Paulo, Brasil

___________________________________________________________________________________ Resumo O objetivo foi avaliar o efeito da adição de diferentes marcas comerciais de cloridrato de ractopamina sobre dietas para suínos em terminação, avaliando desempenho e características de carcaça. Trinta e seis suínos da linhagem comercial Dalland, peso inicial de 98,74 ± 0,68 kg foram utilizados. Delineamento experimental em blocos ao acaso, com três tratamentos e seis repetições por tratamento, dois animais por parcela experimental. Amostras de carne – controle - ou suplementadas com 10ppm de ractopamina de dois laboratórios foram avaliadas com 2 de cloridrato de ractopamina. Verificou-se que a suplementação de 10 mg / kg de ractopamina 28 antes do abate melhorou a conversão alimentar e as características de carcaça. Palavras-chave: beta-antagonista, desempenho, nutrição, tecido adiposo Abstract The objective was to evaluate the effect of the addition of different commercial brands of ractopamine hydrochloride on diets for finishing pigs, evaluating performance and carcass characteristics. Thirty-six pigs of the commercial strain Dalland, initial weight of 98.74 ± 0.68 kg were used. Experimental design in randomized blocks with three treatments and six replicates per treatment, two animals per experimental plot. Meat samples - control - or supplemented with 10ppm ractopamine from two laboratories were evaluated with 2 ractopamine hydrochloride. Supplementation of 10 mg / kg ractopamine 28 prior to slaughter was found to have improved feed conversion and carcass characteristics Keywords: beta-antagonist, performance, nutrition, adipose tissue

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018)

Introdução Nos últimos anos, houve uma rápida modernização e profissionalização na cadeia de produção dos suínos, destacando a genética, nutrição e o manejo como fatores importantes para o aumento dos índices de produtividade da suinocultura brasileira e do mundo. O peso de abate dos suínos pode variar de 60 a 160 kg de peso vivo, essa variação vai depender do mercado consumidor, no Brasil tradicionalmente são abatidos suínos de 90 a 120 kg de peso vivo. Este maior peso ao abate possibilita algumas vantagens como melhor rendimento dos cortes e uma economia na diluição dos custos gerais de produção, como abate e processamento sobre o maior peso do produto final para ser comercializado (ELLIS; BERTOL, 2001). Com o aumento da idade de abate dos suínos, também aumenta proporcionalmente a quantidade de gordura na carcaça, diferente da fase de crescimento onde os nutrientes de uma dieta balanceada através do metabolismo do animal são direcionados principalmente para regeneração dos tecidos e deposição de massa muscular e com a maturidade do crescimento o suprimento dos nutrientes torna-se igual às necessidades oxidativas e de regeneração dos tecidos, aumentando assim a deposição do tecido adiposo. Uma maneira de alterar a repartição dos nutrientes da dieta na fase final dos suínos antes do abate é o uso de ractopamina que é um agonista beta-adrenérgico, classificado como promotor de crescimento que atua como modificador de carcaça (STEELE et al., 1990), agindo como modificadores do metabolismo do animal, melhorando o desempenho e a qualidade da carcaça aumentando a porcentagem de carne magra na carcaça (SCHINCKEL et al., 2001). Os efeitos atribuídos a ractopamina são os aumentos da atividade lipolítica e inibição da lipogênese (LIU et al., 1989; MILLS; LIU, 1990; PETERLA; SCANES, 1990). Segundo Mills, Liu (1990) a ractopamina inibe a ligação da insulina no receptor adrenérgico dos adipócitos, e assim, antagoniza a ação da insulina diminuindo a síntese e deposição de gordura nos suínos. No metabolismo proteico há um aumento da síntese proteica (BERGEN et al., 1989), principalmente da actina e miosina (ANDERSON et al., 1989; ADEOLA et al., 1989), e como consequência dessas alterações metabólicas, há uma melhora da qualidade das carcaças dos animais submetidos à ação da ractopamina. Os primeiros trabalhos realizados descrevendo o efeito do uso da ractopamina na produção animal, são os de Ricks et al., (1984) e Baker et al., (1984), respectivamente, com novilhos e ovelhas. Numa revisão sobre o assunto (RAMOS; SILVEIRA, 2002) comentam que os suínos caracterizam-se como os animais que mais respondem ao uso de agonistas beta-adrenérgicos, verificando-se que na maioria dos estudos o ganho médio de peso não é significativamente alterado o efeito principal ocorre na redução da gordura da carcaça e consequentemente aumento da percentagem de carne magra, sendo que o seu efeito é mais observado na gordura subcutânea e intermuscular do que na intramuscular (ENGESETH et al., 1992). No desenvolvimento de produtos cárneos, produzir carcaças de animais com menor gordura, tem sido o objetivo de pesquisa de vários profissionais relacionados ao setor, onde o produtor e o consumidor, são os grandes beneficiários. O produtor que ao produzir um animal com melhores índices de conversão alimentar, que pode ser explicada em função do direcionamento dos nutrientes para a deposição de tecido muscular, onde a síntese de tecido magro requer menos nutrientes do que a síntese de gordura e para o consumidor pela aquisição de um produto com menor teor de gordura saturada, responsável direta pela incidência de doenças coronárias (ETHERTON, 1988).

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) Os resultados obtidos por (BARK et al., 1992; ENGESETH et al., 1992 e STOLLER et al., 2003) indicam que a adição de ractopamina à dieta de suínos, melhora a conversão alimentar e as características da carcaça, especialmente se os suínos forem selecionados para produção de carne magra, e os níveis de proteína bruta das dietas também são fatores importantes. Bellaver et al. (1991), concluíram que dietas com 13% de PB e 20 ppm de ractopamina proporcionaram menor disponibilidade de energia metabolizável e menor nitrogênio retido do que dietas com 16% PB, o que indica que animais submetidos a dietas com ractopamina requerem níveis proteicos superiores. A maior parte dos resultados, quanto ao uso de ractopamina nas dietas para maximizarem a deposição de carne magra e conversão alimentar, são obtidos com níveis de 10 a 20 ppm de ractopamina nas dietas (SCHINCKEL, et al., 2001; ARMSTRONG et al., 2004). Trabalhos realizados por STOLLER et al., (2003), SEE et al., (2004), MIMBS et al., (2005) e CARR et al., (2005), observaram que o uso de ractopamina nas dietas de suínos na fase de terminação, aumenta a deposição muscular, reduz a deposição de gordura da carcaça, aumenta a porcentagem de carne magra da carcaça e melhoria na conversão alimentar, sem afetar a qualidade da carne suína, como pH inicial, cor, capacidade de retenção de água e frequência de PSE. Considerando-se esses aspectos, o presente estudo teve como objetivo avaliar o efeito da adição de diferentes marcas comerciais de (cloridrato de ractopamina) nas dietas de suínos em terminação, avaliando as características de desempenho e da carcaça. Material e métodos O experimento foi realizado no Setor de Suinocultura da FAZEA, USP, Campus de Pirassununga – SP, durante os meses de março e abril de 2007. Foram utilizados 36 suínos (18 machos castrados e 18 fêmeas) da linhagem comercial Dalland com peso inicial de 98,74 ± 0,68 kg, dois animais por baia sendo um macho e uma fêmea, foram mantidos em baias (4,80 m 2) com piso cimentado, bebedouro tipo chupeta e comedouros semiautomático. As características de desempenho e da carcaça dos animais foram avaliadas após 28 dias. A distribuição dos animais nos tratamentos foi com base no peso vivo e sexo. Os tratamentos consistiram de uma dieta basal a base de milho e farelo de soja (0 ppm de ractopamina – tratamento controle – T1) e duas dietas com inclusão de (10 ppm de Cloridrato de Ractopamina) de dois diferentes laboratórios: T2 – ractopamina do Laboratório Veterinário Vansil (T2 – Rac – V) e T3 – ractopamina Elanco Saúde Animal (T3 – Rac – B), ambos produtos contém 2% de Ractopamina (Cloridrato). As dietas experimentais fareladas foram formuladas baseadas na composição dos ingredientes e nas recomendações nutricionais mínimas para a fase de acordo com Rostagno et al. (2005) e são apresentadas na Tabela 1. A dieta e a água, foram fornecidas à vontade durante todo o período experimental. No final da fase experimental de 28 dias os parâmetros de desempenho: ganho de peso médio diário (GMD), consumo de ração médio diário (CRD) e conversão alimentar (CA) foram calculados. Ao término do experimento os suínos foram submetidos ao processo de abate, iniciando com jejum alimentar (12 horas) e líquido (6 horas). Com os animais devidamente identificados com brincos numerados, teve início o processo: pesagem após jejum, atordoamento, sangria, higienização, evisceração, toalete, divisão em duas metades por um corte longitudinal na linha dorso-lombar, e depois pesagem da carcaça quente, tipificação eletrônica e resfriamento da carcaça em câmara fria com temperatura de 3 a 5 0C por 24 horas para o estabelecimento do rigor mortis, como preconizado pela

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS, 1973). Por convenção, a cauda permaneceu na meia-carcaça esquerda. Logo após todos os procedimentos de abate, as meias carcaças foram pesadas para obtenção do rendimento de carcaça quente e foi realizada à tipificação eletrônica da carcaça, obtida através da pistola automática Hennessy GP4/BP4 Didai®, esse equipamento possui um sensor óptico acoplado a ponta perfurante e a medição de espessuras dos tecidos ocorre através da percepção de reflexão de luz do sensor óptico. A pistola automática foi introduzida entre 6 e 8 cm da linha média, acima da última costela da carcaça esquerda de cada suíno devidamente identificado, analisando assim as características de espessura de toucinho (mm), espessura do músculo (mm), porcentagem de carne magra (%) e coloração do músculo, as informações foram transmitidas, processadas e armazenadas em um coletor de dados com um software especifico. Após 24 horas de refrigeração, as meias carcaças foram pesadas para a para calcular o rendimento (%) da carcaça à frio, foi mensurado em (cm) o comprimento interno das carcaças através da distância máxima entre a borda cranial mediana até a sínfise pubiana, com uma fita métrica metálica. Na dissecação da carcaça o pernil e o lombo foram pesados para avaliar seus respectivos rendimentos. Durante o período experimental as baias foram lavadas diariamente e a ração fornecida duas vezes ao dia para evitar o desperdício. Para a coleta dos dejetos dos animais, foi realizada a seguinte metodologia, no meio do período experimental foi realizada a coleta dos dejetos de cada baia referente ao período de 24 horas. Após este intervalo o volume total de dejetos foi quantificado, tomando-se o cuidado de evitar a coleta de ração próximo ao comedouro. Depois da quantificação do volume total por parcela, uma amostra foi retirada, acondicionada em sacos plásticos, identificadas por repetição e congeladas. Ao término do período experimental, as amostras de cada parcela foram homogeneização e depois levadas à estufa de ventilação forçada a 55C, por 72 horas, a fim de proceder a pré-secagem, para determinar a amostra seca ao ar. A seguir as amostras foram moídas em moinho tipo faca, com peneira de 1 mm e enviadas ao laboratório, junto com as amostras das dietas, para determinação dos teores de matéria seca, nitrogênio e fósforo, de acordo com a metodologia descrita por Silva (2002). O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados, com três tratamentos e seis repetições por tratamento, com dois animais por parcela experimental. As análises estatísticas dos resultados obtidos foram realizadas pelo programa estatístico SAEG, versão 7.1 (UFV, 1999), procedimento ANOVA e as médias comparadas pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade. Tabela 1. Composição percentual e exigências nutricionais da dieta experimental. Ingredientes

%

Milho

75.62

Farelo de soja

21.00

Suimix® 1

3.00

L-Lisina HCL (78%)

0.28

DL-Metionina (98%)

0.05

Inerte* 2

0.05

Total

100,00 36


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) Exigências Nutricionais Energia metabolizável (kcal/kg)

3.200

Proteína bruta (%)

16

Cálcio (%)

0,63

Fósforo disponível (%)

0,33

Sódio (%)

0,15

Lisina total (%)

1,00

Metionina total (%)

0,37

1

Níveis de garantia por kg do produto: Vit. A – 180.000 U.I.; Vit. D 3 – 30.000U.I.; Vit. E – 900 mg; Vit. K – 45 mg; Vit. B – 30 mg; Vit. B 12 – 480 mcg; Pantotenato de Cálcio – 400 mg; Ácido fólico – 400 mg; Biotina – 3 mg; Colina – 6000 mg; Metionina – 20g; Iodo – 45 mg; Selênio – 5 mg; Manganês – 2000mg; Cobre – 750mg; Ferro – 2000mg; Zinco – 2604 mg; Lisina – 50g; Promotor de crescimento – 1000 mg; Cálcio – 180 g; Fósforo – 63 g; Sódio – 39g, Cloro – 60 g; Antioxidante – 250mg. 2 O cloridrato de ractopamina foi incluído na dieta em substituição ao inerte (caulim), de acordo com a recomendação do fabricante 0,500kg do produto comercial por tonelada de ração, garantindo 10ppm de ractopamina. Resultados Os resultados de desempenho, para consumo de ração médio diário (CRD) em gramas, ganho de peso médio diário (GMD) em gramas e a conversão alimentar (CA), encontram-se na Tabela 2. Houve efeito significativo (p<0,01, somente para a conversão alimentar, onde o tratamento controle (T1) sem inclusão de ractopamina, proporcionou o pior resultado. Tabela 2. Médias dos parâmetros de desempenho: consumo de ração médio diário (CRD), ganho de peso médio diário (GMD) e conversão alimentar (CA), para suínos na fase de terminação (período total de 28 dias) Tratamentos

CRD (g)

GMD (g)

CA

T1 – Controle

4.100

960

4,30 b

T2 – Rac. V

4.030

1.080

3,73 a

T3 – Rac. B

4.070

1.000

4,07 a

CV (%)

8,63

9,96

8,16

NS

NS

**

Letras diferentes na mesma coluna diferem significativamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

37


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) A melhor conversão alimentar obtida para os tratamentos T2 e T3 (dietas com inclusão de ractopamina), independente da fonte ractopamina, em relação ao tratamento controle T1, ocorreu possivelmente pela menor quantidade de energia necessária para produzir o tecido magro em relação ao tecido adiposo (MOSER et al., 1986). Dados semelhantes foram obtidos por Stoller et al., (2003), Armstrong et al., (2004), See et al., (2004), Carr et al., (2005) e Mimbs et al., (2005) onde verificaram diferença significativa para conversão alimentar, melhorando a conversão alimentar quando adicionaram ractopamina nas dietas, entretanto, para consumo de ração e ganho de peso os resultados são contraditórios. Na Tabela 3 são apresentados os resultados para as características das carcaças, espessura de toucinho (ET) mm, as porcentagens de rendimentos de: carcaça (% RC); carne magra (% CM); pernil (%P) e lombo (%L) e comprimento da carcaça em cm (Comp.). Para as características das carcaças os diferentes tratamentos afetaram significativamente (p<0,01), a espessura do toucinho e a porcentagem de carne magra, onde os tratamentos T2 e T3 (com inclusão de ractopamina independente da fonte) proporcionaram os melhores resultados, ao comparar com o tratamento controle T1, reduzindo a espessura do toucinho em 10,5% e aumentando em 8,6% a porcentagem de carne magra na carcaça, resultados semelhantes foram obtidos por (CARR et al., 2005). Tabela 3. Médias para as características das carcaças: espessura do toucinho (ET) mm, as porcentagens de rendimentos de: carcaça (% RC); carne magra (% CM); pernil (%P) e lombo (%L) e comprimento da carcaça em cm (Comp.), ao final do período experimental. Tratamentos

ET mm

% RC

% CM

%P

%L

Comp.

T1 – Contr.

26,01 b

79,62

48,73 b

24,72

12,92

89,16

T2 – Rac. V

23,02 a

81,25

53,10 a

25,64

12,70

90,83

T3 – Rac. B

23,52 a

81,11

52,80 a

25,55

12,85

90,50

CV (%)

5,77

2,21

5,23

5,51

8,25

1,74

**

NS

**

NS

NS

NS

Letras diferentes na mesma coluna diferem significativamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Esta alteração na carcaça de suínos alimentados com dietas contendo ractopamina, onde se verifica uma maior deposição de tecido muscular, deve-se à maior retenção de nitrogênio proporcionada por este agonista beta-adrenérgico, o qual aumenta a relação músculo/gordura, direcionando a energia consumida mais para o crescimento do tecido magro do que para o tecido adiposo (WILLIAN, 1994; RUTZ; XAVIER, 1999). Conclusão A adição de ractopamina nas dietas de suínos 28 dias antes do abate proporcionou melhora na conversão alimentar e nas características da carcaça, independentemente das fontes utilizadas. Referências bibliográficas 38


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) ADEOLA, O.; BALL, R.O.; YOUNG, L.G. Ractopamine stimulates porcine muofibrilar protein synthesis. Journal Animal Science, 67(1), p.191-208, 1989 (Supl.1). ANDERSON, D.B.; PAXTON, R.E.; MOWREX, D.H. The effect of dietary protein on the additivity of ractopamine and porcine somatotropin on nitrogen metabolism of finishing pigs. Journal of Animal Science, 67(1), p.221-234, 1989 (Supl.1). ARMSTRONG, T.A.; IVERS, D.J.; WAGNER, J.R. et al. The effect of dietary ractopamine concentration and duration of feeding on growth performance, carcass characteristics, and meat quality of finishing pigs. Journal Animal Science, 82, p.3245-3253, 2004. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE SUÍNOS. Método Brasileiro de Classificação de Carcaças. Estrela: 1973. 17p. (Publicação Técnica n. 2). BAKER, P.K.; DALRYMPLE, R.H.; INGLE, D.L. et al. Use of a beta-adrenergic agonist to alter and muscle deposition in labs. Journal Animal Science, 59(5), p.1256-1261, 1984. BARK, L.J.; STAHLY, T.S.; CROMWELL, G.L. et al. Influence of genetic capacity for lean tissue growth on rate and efficiency of tissue accretion in pigs fed ractopamine. Journal Animal Science, (70), p.3391-3400, 1992. BELLAVER, C.; FIALHO, E.T.; FÁVERO, J. et al. Níveis de ractopamina na dieta e efeitos sobre o desempenho e características de carcaça de suínos em terminação. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, DF., 26(10): p.1795-1802, 1991. BERGEN, W.G.; JOHNSON, S.E.; SKJAER-LUND, D.M. et al. Muscle protein metabolism in finishing pigs fed ractopamine. Journal of Animal Science, 67(9), p.2255-2262, 1989. CARR, S.N.; IVERS, D.J.; ANDERSON, D.B. et al. The effects of ractopamine hydrochloride on lean carcass yields and pork quality characteristics. Journal Animal Science, (83), p.2886-2893, 2005. ELLIS, M.; BERTOL T.M. Efeitos do peso de abate sobre a qualidade da carne suína e da gordura. In: II Conferência Internacional Virtual sobre Qualidade de Carne Suína – 05 de novembro a 06 de dezembro de 2001. EMBRAPA/CNPSA. ENGESETH, N.J.; LEE, K.O.; BERGEN, W.G. et al. Fatty acid profiles of lipid depots and cholesterol concentration in muscle tissue of finishing pigs fed ractopamine. Journal Food Science, (57), p.1060-1062, 1992. ETHERTON, T.J. Anabolic effects of porcine somatotropin on pig growth. In: Designing foods. Washington, DC.: National Academic Press, p.194-199, 1988. FIALHO, E.T.; BARBOSA, H.P. Alimentos alternativos para suínos. Lavras: FAEPE/UFLA, 2001. 196p. LIU, C.Y.; BOYER, J.L.; MILLS, S.E. Acute effects of beta-adrenergic agonists on porcine adiposity metabolism in vitro. Journal of Animal Science, 67(11), p.2930-2936, 1989. MILLS, S.E.; LIU, C.Y. Sensitivity of lipolysis and lipogenesis to dibutyry – cAMP and beta-adrenergic agonists in swine adipocytes in vitro. Journal of Animal Science, 68(4), p.1017-1023, 1990. MIMBS, K.J.; PRINGLE, T.D.; AZAIN, M.J. et al. Effects of ractopamine on performance and composition of pigs phenotypically sorted into fat and lean groups. Journal Animal Science, (83), p.1361-1369, 2005. MOSER, R.L. Effect of Cimaterol (CL 263.780) as a repartitioning agent in the diet for finishing pigs. Journal Animal Science, 62(1), p.21-26, 1986. PETERLA, T.A.; SCANES, C.G. Effects of beta-adrenergic agonists on lipolysis and lipogenesis by porcine adipose tissue in vitro. Journal of Animal Science, 68(4), p.1024-1029, 1990. RAMOS, F.; SILVEIRA, M.I.N. Agonistas adrenérgicos e produção animal: III – Efeitos zootécnicos e qualidade da carne. Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias, 97(542), p.51-62, 2002. RICKS, C.A.; DALRYMPLE, R.A.; BAKER, P.K. et al. Use of a beta-agonist to alter fat and muscle deposition in steers. Journal Animal Science, 59(5), p.147-155, 1984. ROSTAGNO, H.S.; ALBINO, L.F.T.; DONZELE, J.L.; et al. Composição de alimentos e exigências nutricionais (Tabelas Brasileiras para aves e suínos). Viçosa: UFV, 2005, CD.

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) RUTZ, F.; XAVIER, E.G. Agentes repartidores de energia para aves e suínos. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA. Anais.... Botucatu – São Paulo, 1999. SCHINCKEL, A.P.; RICHERT, B.T.; HERR, C.T. et al. Efeitos da ractopamina sobre o crescimento , a composição da carcaça e a qualidade dos suínos. In: II Conferência Internacional Virtual sobre Qualidade de Carne Suína – 05 de novembro a 06 de dezembro de 2001. EMBRAPA/CNPSA. SEE, M.T.; ARMSTRONG, T.A.; WELDON, W.C. Effect of a ractopamine feeding program on growth performance and carcass composition in finishing pigs. Journal Animal Science, (82), p.2472-2480, 2004. SILVA, D.J. Análise de alimentos: métodos químicos e biológicos. 2.ed. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, 2002. 235p. STEELE, N.C., CAMPBELL, R.G. CARPENA, T.J. Proceedings: Georgia Nutrition Conference, 1990, p.9-18, 1990. STOLLER, G.M.; ZERBY, H.N.; MOELLER, S.J. et al. The affect of feeding ractopamine (Paylean) on muscle quality and sensory characteristics in three diverse genetic lines of swine. Journal Animal Science, (81), p.1508-1516, 2003. UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV. Sistema para Análises Estatísticas e Genética - SAEG, Viçosa-MG: Universidade Federal de Viçosa. (Versão 8.0) 1999. WILLIAMS, N.H. The impact of ractopamine, energy intake, and dietary fat on finisher pig growth performance and carcass merit. Journal Animal Science, 72, p. 3152-3162, 1994.

Recebido em 23/08/2018 Aceito em 10/09/2018

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018)

Revista Agrária Acadêmica Agrarian Academic Journal Volume 1 – Número 3 – Set/Out (2018) ___________________________________________________________________________________ doi: 10.32406/v1n32018/41/48/agrariacad

Adequação do tratamento pré-germinativo para sementes de Tamarindus indica L. Adequacy of pre-germinative treatment for seed Tamarindus indica L. Anne Kelly da Silva1, José Maria Gomes Neves 2, Wagner Rogério Leocádio Soares Pessoa3, Sebastião Pereira do Nascimento4, Marcondes Araújo da Silva5, Paula Aparecida dos Santos6 1

- Especialista, Departamento de Agricultura, Instituto Federal do Piauí (IFPI), Oeiras, PI, Brasil - Doutor, Setor de Sementes, Professor do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG), Almenara, MG, Brasil. Email: jose.neves@ifnmg.edu.br 3 - Doutor, Departamento de Agricultura, Professor da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Picos, PI, Brasil 4 - Mestre, Departamento de Agricultura, Professor do Instituto Federal do Piauí (IFPI), Oeiras, PI, Brasil 5 - Doutor, Departamento de Agricultura, Professor do Instituto Federal do Piauí (IFPI), Oeiras, PI, Brasil 6 - Graduanda em Biologia, Universidade Federal de Viçosa (UFV), Viçosa, MG, Brasil 2

___________________________________________________________________________________ Resumo Objetivou-se com esse trabalho testar os métodos para a superação de dormência, bem como identificar o melhor tempo de imersão de sementes de tamarindo em ácido sulfúrico concentrado. O máximo potencial de emergência é obtido quando se emprega a imersão em ácido sulfúrico concentrado por 30 minutos ou cortes nos tegumentos. Para obtenção de mudas mais vigorosas o método por imersão em ácido sulfúrico concentrado por 30 minutos é o mais eficiente. O tempo de imersão das sementes de tamarindo em ácido sulfúrico deve ser de 36,6 minutos para obter a maior emergência e vigor. Palavras-chave: Tamarindo, Germinação, Dormência, Acido sulfúrico Abstract The objective of this work was to test the methods for overcoming dormancy, as well as to identify the best time for immersion of tamarind seeds in concentrated sulfuric acid. The maximum potential for emergence is obtained by immersion in concentrated sulfuric acid for 30 minutes or cuts in the integuments. To obtain more vigorous seedlings the immersion method in concentrated sulfuric acid for 30 minutes is the most efficient. The immersion time of tamarind seeds in sulfuric acid should be 36.6 minutes for the greatest emergence and vigor. Keywords: Tamarind, Germination, Dormancy, Sulfuric Acid

___________________________________________________________________________________

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) Introdução O tamarindeiro, conhecido também como tamarineiro, pertence à classe Dicotyledoneae, família Fabaceae e seu nome científico é Tamarindus indica L. (GÓES et al., 2011). Originário da África do Sul Tropical, contudo levado para Índia onde é cultivado extensivamente. O tamarindeiro é uma espécie cultivada em locais de clima quente, revelar-se ser uma árvore ideal para regiões semiáridas, tolerando de cinco a seis meses de condições de deficit hídrico (PEREIRA et al., 2007). Além de ser considerada uma cultura de múltiplos usos, sendo empregadas como fonte de frutas, sementes, polpas para sucos, extratos medicinais, potenciais componentes industriais e de madeira (SOUSA, 2008). O processo de germinação da semente de tamarindo é do tipo epígea e ocorre entre 13º ao 45º dias após a semeadura (EL-SIDDIG et al., 2001), mostrando ser uma germinação lenta e desuniforme. O provável motivo para esta desuniformidade seria a semente de tamarindo possuir o tegumento impermeável desta forma resistente a absorção de água sendo que este tipo de resistência é conhecido como dormência exógena física (HILHORST, 2007). A dormência é um fenômeno pelo qual as sementes de determinada espécie, mesmo viáveis e tendo todas as condições ambientais favoráveis a germinação, deixam de germinar (GOUDEL et al., 2013). Há nesses casos, a necessidade da utilização de tratamentos pré-germinativos com o objetivo de promover a superação da dormência com intuito de acelerar e uniformizar a germinação. Entre os métodos mais utilizados para superação da dormência destacam-se a escarificação mecânica e química (imersão em substâncias ácidas) e a imersão das sementes em água (AZEREDO et al., 2010; DEWIR et al., 2011). Esses métodos facilitam o processo de embebição das sementes constituindo este a etapa inicial do processo de germinação. De acordo com Eira et al. (1993), todos estes tratamentos apresentaram vantagens e desvantagens, de modo que cada um deles devem ser estudado, levando-se em conta, também o custo efetivo e sua facilidade de execução. Além disso, para um mesmo lote pode haver sementes com diferentes níveis de dormência. Sendo assim, o método empregado deve ser efetivo na superação da dormência, sem prejudicar as sementes com níveis inferiores, ou seja, que apresentam o menor grau de dormência. Embora seja uma cultura de grande potencialidade econômica, existem poucos estudos na literatura a respeito da superação de dormência de sementes de tamarindo. Assim, esse trabalho objetivou-se testar métodos para a superação de dormência, bem como identificar o melhor tempo de imersão de sementes de tamarindo em ácido sulfúrico concentrado. Material e métodos O experimento foi conduzido na Unidade de Aulas Práticas e Pesquisas (07º01’30”S, 42º07’51”W) do Departamento de Agricultura e no Laboratório de Biologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí, Campus Oeiras. O clima da cidade é tropical semiárido, este clima tem condição seca por apresentar índices pluviométricos médios anuais de 400 mm até 800 mm, com distribuição de precipitações concentradas em três ou quatro meses do ano. O período seco prolonga por oito ou nove meses do ano (IBGE, 2018). Para obtenção das sementes de tamarindos, foram utilizados frutos maduros obtidos de uma feira livre localizada no Município de Oeiras – PI. Após a aquisição, os frutos foram transportados para o Laboratório de Biologia, onde procedeu ao processo de despolpa manual, lavadas em água corrente até a extração total do endocarpo, e colocadas para secar a sombra por 24 h, em seguida foi realizada uma pré-seleção com objetivo de retirar as sementes que apresentavam algum tipo de má formação. Depois as sementes de tamarindo foram armazenadas em garrafas pet e mantidas à temperatura de 5º C. 42


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) O experimento foi dividido em dois ensaios independentes: 1º ensaio: Tratamentos pré-germinativos em sementes de tamarindos. Antes da instalação dos testes para a superação da dormência das sementes, foi realizada a determinação do teor de água das sementes, pelo método da estufa a 105º C durante 24 h, com quatro repetições de 10 sementes, sendo os resultados expressos em percentagem de base úmida (% b.u.) (BRASIL, 2009). Após o beneficiamento, as sementes de tamarindo foram submetidas aos seguintes tratamentos pré-germinativos. T1: testemunha; T2: imersão em água por 24 h sem aeração; T 3: imersão em água por 24 h com areação; T4: imersão em ácido sulfúrico por 20 minutos; T5: imersão em ácido sulfúrico por 30 minutos; T6: corte no tegumento apenas em um lateral ao embrião e T 7: corte no tegumento nas duas laterais ao embrião. O experimento foi realizado em delineamento inteiramente casualizado com quatro repetições de 50 sementes para cada tratamento. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância pelo teste F e as médias comparadas pelo teste de média Scott–Knott a 5% de probabilidade. Todas as análises foram realizadas com o auxílio do software estatístico SISVAR, versão 5.3 (FERREIRA, 2010). 2º ensaio: Adequação do tempo de imersão das sementes tamarindo em ácido sulfúrico. Para o tratamento de superação de dormência por escarificação química, as sementes foram retiradas da refrigeração, após um mês de armazenamento para realização do teste de identificação do melhor tempo de imersão das sementes em H2SO4 concentrado (98%) por períodos de 0, 10, 20, 30, 40 e 60 minutos (FIGURA 1). Posteriormente as sementes tratadas, assim como a testemunha, foram lavadas em água corrente por cinco minutos.

Figura 1 – Tempo de imersão das sementes de tamarindo em ácido sulfúrico. Os dados foram submetidos às análises de variância e de regressão, processadas pelo Programa Sisvar (FERREIRA, 2000). Para as interações significativas dos tratamentos, procedeu-se ao ajuste de equações de regressão com os coeficientes significativos a 1 e 5% para os modelos de maior R2. Nos ensaios 1 e 2 o teste de emergência foi realizado com quatro repetições de 50 sementes por tratamentos. As sementes foram semeados em um canteiro dentro da casa de vegetação, com sombrite 43


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) 50% e dimensões de 3 m x 1,5 m, contendo como substrato área lavada, na profundidade de cinco cm. Os canteiros foram irrigados três vezes ao dia utilizando o sistema de irrigação por microaspersão. As avaliações foram diárias a fim de verificar o número de sementes emergidas. Foram avaliados a porcentagem de emergência de plântulas (% E); índice de velocidade de emergência (IVE), em que foram realizadas contagens diárias, considerando a emergência de plântulas quando os cotilédones estavam acima de 0,5 cm do substrato e calculado de acordo com Maguire (1962); altura de plântula (AP), para medir a altura das plântulas úteis foi utilizada uma régua graduada em centímetros. A altura foi estabelecida da base das plântulas de tamarindo até o ápice; diâmetro do caule (DC), ao final do período de contagens, o diâmetro do colo das plântulas normais foi mensurado com auxílio de um paquímetro e os resultados expressos em mm plântula -1; número de folhas (NF), obtido pela contagem das folhas desenvolvidas e expresso em número de folhas plântula -1; comprimento da parte área (CPA) e da raiz (CR), as plântulas normais foram separadas em parte área e raiz por corte na inserção do colo, obtendo o comprimento com auxílio de régua graduada em milímetros; massa seca da parte aérea (MSPA) e da raiz (MSR). As plântulas foram acondicionadas em sacos de papel e submetidas à secagem em estufa de circulação forçada de ar a 65°C por 72 h até atingir massa constante e, em seguida, a massa seca foi verificada em balança de precisão de 0,001g e os resultados expressos em g plântula-1. Resultados e discussão As sementes de tamarindo empregadas nos tratamentos apresentavam o teor de água em torno de 7,8%. Conforme a aplicação dos tratamentos pré-germinativos pode-se observar que a escarificação com ácido sulfúrico durante 30 minutos foi eficiente para promover o maior índice de velocidade de emergência (IVE) e massa seca de plântulas (TABELA 1). Em contrapartida, as sementes de tamarindos que não recebeu nenhum tratamento (testemunhas) apresentaram pior IVE e sua emergência foi igual a 10%. Desta forma, existe a necessidade de algum método de superação de dormência para que haja a germinação de um número adequado de sementes de tamarindo. A escarificação com ácido sulfúrico (98%) por 10 minutos foi o tratamento que proporcionou a superação da dormência das sementes de Leucaena leucocephala, cv. Cunningham, atingindo altos valores de germinação (OLIVEIRA, 2009). Já em sementes de tamarindo, Silva et al. (2011) encontraram os melhores resultados que favoreceram a germinação quando aplicaram o tratamento com ácido sulfúrico por 15 minutos. As sementes de Cochlospermum vitifolium (Willd.) que ficaram emersas em ácido por 20 minutos, proporcionaram tanto a maior porcentagem de germinação e IVE (SILVA et al., 2014). Os tratamentos pré-germinativos em imersão em água com e sem aeração não foi eficiente para aumentar o percentual de emergência e demais variáveis de vigor. Já o procedimento de cortes na lateral do tegumento favoreceu percentual de emergência superior a 90%. No segundo ensaio conforme as equações ajustadas ao modelo quadrático foram possíveis observar que o tempo de exposição do ácido sulfúrico apresentou efeito sobre as características de emergência e vigor das sementes de tamarindo. Os resultados obtidos na figura 2 verificam-se que o tempo estimado para o máximo percentual de emergência, IVE, altura de plântulas (AP), número de folhas (NF), volume de raiz (CR) e massa seca total (MST) foram de 36,7; 36,6; 33; 32; 34 e 37,5 min. respectivamente, obtendo 100% de emergência; índice 3,15; 14 cm de AP; 3,95 de NF; 8,94 ml de VR e 15,20 g de MST de plântulas de 44


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) tamarindo. Ao comparar com a testemunha (Tempo 0) constatou-se que houve um incremento de 82,9% na emergência, 88% no IVE, 38,9% AP, 54,2% NF, 50,4% VR e 75,2% da MST. Resultados semelhantes foram encontrados em Santos et al., (2014) que trabalhando com sementes de surucucu (Piptadenia viridiflora (Kunth) Benth) verificou o valor máximo de 98,19 % na germinação no período de imersão de 35 minutos e o Índice de Velocidade de Germinação (IVG) com valor máximo de 35,5, quando as sementes foram submetidas ao ácido sulfúrico durante 39 minutos. Tabela 1. Resultados da emergência (E%), índice de velocidade de emergência (IVE), altura de plântulas (AP), número de folhas (NF), comprimento de raiz (CR) e massa seca total (MST) para os diferentes tratamentos pré-germinativos em sementes de tamarindo Tratamentos E% IVE AP NF CR MS T1 - Testemunha

10 C

0,7 E

8,2 B

0,7 B

6,6 B

1,2 C

T2 - Imersão em H2O sem aeração - 24 h

18 C

1,4 D

5,6 B

1,1 B

8,0 B

2,0 C

T3 - Imersão em H2O com aeração - 24 h

18 C

1,7 D

8,2 B

1,2 B

10,6 A

2,5 C

T4 - Imersão em H2SO4 - 20 min.

73 B

9,5 C

10,3 A

2,9 A

11,3 A

7,5 B

T5 - Imersão em H2SO4 - 30 min.

94 A

12,1 A

12,4 A

3,3 A

14,0 A

10,4 A

T6 - 1 Corte no tegumento

94 A

9,5 C

11,7 A

2,9 A

13,8 A

8,0 B

T7 - 2 Cortes no tegumento

94 A

10,7 B

11,5 A

3,1 A

13,5 A

8,2 B

CV(%)

24,1

12,2

18,6

18,6

12,6

15,1

As médias seguidas da mesma letra maiúscula na coluna não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Scott-Knott, a 5% de probabilidade.

45


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018)

Figura 2 - % Emergência (a), Índice de velocidade de emergência (IVG) (b), altura de plantas (AP) (c), número de folhas (NF) (d), volume de raiz (VR) (e) e massa seca total (MST) (f) de plântulas de tamarindo obtidas por meio de sementes submetidas a tratamentos prévio à semeadura, definido por diferentes tempos de exposição ao H2SO4. A variável altura de plântulas é uma análise de crescimento fundamental importância na fisiologia de produção, uma vez que reflete a resposta da planta às condições ambientais (GONZAGA NETO et al., 1982). Nesse sentido, observa-se que na figura 2 (c), o tempo de máxima eficiência de imersão do H2SO4 foi de 33 minutos sobre a variável altura de plântulas de tamarindo, demonstrando que o maior tempo empregado não foi a que proporcionou o maior aumento crescimento das plântulas. Após as plantas terem atingido o comprimento máximo, verificou-se redução da altura à medida que se aumentou o tempo de imersão das sementes ao H2SO4. Concordando com Alves et al. (2009), que trabalhando com superação de dormência em sementes de pau ferro (Caesalpinea ferrea Mart.ex Tu. var. leiostachya Benth.), verificaram que as sementes tratadas com H2SO4 deram origem a plântulas com maior altura. Os dados de massa seca das plântulas ajustaram-se melhor ao modelo quadrático (Figura 1e), cujos maiores valores 75,2 g foram obtidos quando as sementes foram imersas no ácido por 37,5 min. e, após esse período, houve redução nos valores de massa seca das plântulas. Corroborando com Silva 46


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) (2011) verificou que a massa seca da parte aérea obteve maior valor quando embebido em ácido sulfúrico para sementes de Tamarindus indica L. Conclusões O máximo potencial de emergência é obtido quando se emprega a imersão em ácido sulfúrico concentrado por 30 minutos ou cortes nos tegumentos. Para obtenção de mudas mais vigorosas o método por imersão em ácido sulfúrico concentrado por 30 minutos é o mais eficiente. O tempo de imersão das sementes de tamarindo em ácido sulfúrico deve ser de 36,6 minutos para obter a maior emergência e vigor. Referencias bibliográficas ALVES, E.U.; BRUNO, R.L.A.; OLIVEIRA, A.P.; ALVES, A.U.; ALVES, A.U. Escarificação ácida na superação de dormência de sementes de pau ferro (Caesalpinia ferrea Mart. ex. Tu. var. leiostachya Benth.). Revista Caatinga, v.22, n.1, p.37-47, 2009. AZEREDO, G.A.; PAULA, R.C.; VALERI, S.V.; Valeri, S.V. Moro, F.V. Superação de dormência de sementes de Piptadenia moniliformis Benth. Revista Brasileira de Sementes, v.32, n.2, p.49-58, 2010. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Regras para análise de sementes. Brasília: MAPA/ACS, 2009. 395 p. DEWIR, Y.H.; EL-MAHROUK, M.E.S.; NAIDOO, Y. Effects of some mechanical and chemical treatments on seed germination of Sabal palmetto and Thrinax morrisii palms. Australian Journal of Crop Science, v.5, n.3, p.248-253, 2011. EIRA, M.T.S.; FREITAS, R.W.A.; MELLO, C.M.C. Superação da dormência de sementes de Enterolobium contortisiquum (Vell.) Morong - Leguminosae. Revista Brasileira de Sementes, v.15, n.2, p.177-181, 1993. El-SIDDIG, K.; EBERT, G.; LUDDERS, P. A comparison of pretreatment methods for scarification and germination of Tamarindus indica L. seeds. Seed Science and Technology, v.29, n.1, p.271-274, 2001. FERREIRA, D. F. SISVAR- Sistema de análise de variância. Versão 5.3. Lavras: 33 UFLA, 2010. GÓES, G. B.; DANTAS, D. J; ARAÚJO, W. B. M.; MELO, I. G. C.; MENDONÇA, V. Utilização de húmus de minhoca como substrato na produção de mudas de 2 tamarindeiro. Revista Verde, v.6, n.4, p. 125-131, 2011. GOUDEL, F.; SHIBATA, M.; COELHO, C.M.M. et al. Fruit biometry and seed germination of Syagrus romanzoffi ana (Cham.) Glassm. Acta Botânica Brasílica, v.27, n.1, p.147-154, 2013. GONZAGA NETO, L.; ANDERSEN, O.; PINHEIRO, R.V.R.; SILVA, F.C.C. da; CONDE, A.R. Estudos de métodos de produção de porta-enxerto e enxertia da goiabeira. III - Análises de crescimento em porta-enxertos. Revista Brasileira de Fruticultura, v.4, n.único, p.59-66, 1982. HILHORST, H. W. M. Definitions and hypotheses of seed dormancy. In: K. J. Bradford; H. Nonogaki (Eds.); Seed Development, Dormancy and Germination, p.367, 2007. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. http://www.ibge.gov.br/estadosat/temas.php? sigla=rs&tema=lavourapermanente2014. Acesso em 20/01/2017. MAGUIRE, J. D. Speed of germination aid in selection and evaluation for seedling emergence and vigor. Crop Science, v.2, n.2, p.176-177, 1962. OLIVEIRA, A. B. Influência de tratamentos pré-germinativos, temperatura e luminosidade na germinação de sementes e leucena (Leucaena leucocephala (Lam.) de wit.), cv. Cunningham. Revista Caatinga, v.22, n.2, p.132-138, 2009. PEREIRA, E. W. L. RIBEIRO, M.C.C.; SOUZA, J. O.; LINHARES, P.C.F.; NUNES, G.H.S. Superação de dormência em sementes de jitirana (Merremia aegyptia ). Revista Caatinga. v.20, n.2, p.59-62, 2007.

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Recebido em 08/08/2018 Aceito em 28/08/2018

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018)

Revista Agrária Acadêmica Agrarian Academic Journal Volume 1 – Número 3 – Set/Out (2018) ___________________________________________________________________________________ doi: 10.32406/v1n32018/49-55/agrariacad

Ocorrência da brucelose bovina em alagoas Occurrence of bovine brucellosis in Alagoas Rafael Cunha Amancio1, Emerson Israel Mendes2, José de Melo Lima Filho3 1

- Agência de Defesa e Inspeção Agropecuária do Estado de Alagoas – ADEAL – São Luiz do Quitunde, AL, Brasil. E-mail: amancioequus@hotmail.com 2 - Faculdade Pio Décimo – Aracaju, SE, Brasil. E-mail: emerson@piodecimo.edu.br 3 - Professor Doutor – Recife, PE, Brasil. E-mail: josedemelo@gmail.com

___________________________________________________________________________________ Resumo A brucelose bovina é uma doença reprodutiva. Sua predileção por grupos ocupacionais faz com que a zoonose requeira atuação dos órgãos da esfera da saúde pública. Avaliou-se a ocorrência, de sorte a subsidiar o Programa Estadual de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose em Alagoas. Procedeu-se a um levantamento epidemiológico para verificar a ocorrência da brucelose bovina no Estado, referentes aos anos 2011 e 2012. Na análise estatística foi utilizado o teste Z para comparação de duas proporções, com nível de significância α=0,05. Os estudos demonstraram baixas ocorrências da brucelose em Alagoas com 0,41% (89 casos) em 2011 e 0,12% (19 casos) em 2012, com diferença significativa. Palavras-chave: bovino, AAT, zoonose, defesa sanitária, exame sorológico Abstract Bovine brucellosis is a disease of the reproductive nature. Its preferences for occupational groups cause consequently zoonosis demand for public health organs. Based in that scenery it was measured an occurrence seropositive of animal, as a result, it was subsidized the Program of Estate Control and Eradication of Brucellosis and Tuberculosis of Alagoas. It was started an epidemiological research to estimate the occurrence of bovine brucellosis of state, those databases were referring of 2011 and 2012 years. For the statistical evaluation, Z test method used to analyze for compare two proportion. With level of significance α=0,05. The test revealed that there was a low prevalence of Brucellosis in Alagoas with 0,47% (89) in 2011 and 0,14% (19) in 2012. There was significant difference. Keywords: bovine, AAT, zoonosis, sanitary defense, serological test

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) Introdução Alagoas tem um rebanho bovídeo de aproximadamente de 1.290.000 animais (ALAGOAS, 2012). O Estado de Alagoas tem força econômica pautada nas atividades açucareira e pecuária, tem uma população de 3.120.992 pessoas, distribuída em 102 municípios. Localizado no nordeste brasileiro, entre os paralelos S 80 48’ 47” e 100 30’ 09” e meridianos W 350 09’ 09” e 380 14’ 27”, é o segundo menor Estado brasileiro em dimensões territoriais. Limita-se ao norte com o Estado de Pernambuco, ao sul com Sergipe, ao leste com o oceano Atlântico e a oeste com Pernambuco e Bahia (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA, 2011). As unidades federativas do Brasil são responsáveis pela promoção da sanidade animal e vegetal no âmbito de sua competência (BRASIL, 2009). Com exceção dos Estados de Sergipe e Bahia, que são reconhecidos internacionalmente como zona livre de febre aftosa com vacinação, os demais Estados do Nordeste vêm desenvolvendo políticas de defesa sanitária, alcançando esse status sanitário no âmbito nacional (BRASIL, 2013). A brucelose é considerada uma zoonose, com predileção por grupos ocupacionais, afetando profissionais em plena fase laborativa. Causa sinais clínicos de insônia, constipação, impotência sexual, anorexia, cefalalgia, artralgia, podendo atacar o sistema nervoso, o que pode deixar o paciente com irritação, nervosismo e depressão (ACHA; SZYFRES, 2001). No Brasil, no Centro Médico de Campinas, foi relatado um caso de endocardite por brucelose, de um trabalhador rural (DRAGOSAVAC et al., 2007) e num matadouro de Salvador encontrou-se prevalência de 10,58% entre os funcionários (SPINOLA; COSTA, 1972). Viana et al. (2010) demonstraram fatores complicadores porque em um matadouro no Tocantins, com fiscalização federal, encontraram prevalência de 16,8% (142/845) nos animais e estes não apresentaram lesões ante ou post mortem nem as vacas tinham registro de vacinação, dificultando um diagnóstico presumível. O Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal (PNCEBT) aprovou o regulamento técnico em 2004 diante da necessidade de padronizar as ações sanitárias em relação às espécies bovina e bubalina no combate da Brucelose e Tuberculose (BRASIL, 2009). Diante da importância econômica e social desta zoonose, procurou-se estimar a ocorrência de animais soropositivos, de sorte a subsidiar o Programa Estadual de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose (PECEBT) em Alagoas. Material e métodos O estudo da ocorrência da brucelose bovina foi realizado por meio de levantamentos epidemiológicos dos informes mensais da ADEAL, nos anos de 2011 e 2012, e analisados em 2013. Esses informes foram elaborados a partir dos dados apresentados pelos médicos veterinários habilitados pelo MAPA e cadastrados na ADEAL. ESTRUTURAÇÕES DOS DADOS EPIDEMIOLÓGICOS Os dados epidemiológicos foram agrupados conforme a estruturação organizacional do Estado. A Agência de Defesa e Inspeção Agropecuária de Alagoas, nesta ocasião, possuía 15 (quinze) Unidades Locais de Sanidade Animal e Vegetal (ULSAV), distribuídas em 3 regionais, cujas sedes estavam em Santana do Ipanema, Arapiraca e União dos Palmares. Essas regionais representavam, de forma aproximada, as mesorregiões Sertão, Agreste e Leste Alagoano (Zona da Mata) (Fig. 1) 50


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA, 2011).

Figura 1 – Mapa das mesorregiões do Estado de Alagoas Fonte: http://www.baixarmapas.com.br/mapa-de-alagoas-mesorregioes/

A distribuição dos dados foi feita conforme as áreas de abrangência das três regionais, que foram representadas pelas letras: A, como a de Santana do Ipanema; B, como a de Arapiraca e C, como a de União dos Palmares. Análise estatística Para consolidação e interpretação dos resultados foram considerados todos os exames solicitados (casos positivos e negativos). O resultado do exame em estudo é uma variável nominal dicotômica para cada animal. Considerando a realização de exames em n animais e supondo x desses animais com resultado positivo para brucelose, esses têm distribuição binomial com parâmetros n, p, sendo ^p=x /n. A variável ^p é o estimador de máxima verossimilhança para p e tem distribuição amostral aproximadamente normal p ( 1− p ) ^p N p , n

(

)

Para realização do teste para comparação de duas proporções com aproximação Normal considera-se a hipótese nula p1= p2. Assim, sob a hipótese nula, tem distribuição normal com média μ = 0 e desvio padrão

onde p = p1 = p2 e n1, n2 são os tamanhos das respectivas amostras. A estimativa do valor p é a média ponderada de

e

:

Este é o valor utilizado em lugar de p para o cálculo de σ. Portanto, o valor observado de Z é obtido por 51


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) Z=

^p 1− ^p 2 ^p ( 1− ^p ) ^p ( 1− ^p ) + n1 n2

O teste de hipótese é concluído com o cálculo de ZObs, a verificação de Z tabelado para o nível de significância de α=0,05 e verificando se ZObs está localizado ou não na região de aceitação. Em caso afirmativo aceita-se a hipótese nula, caso contrário ela é rejeitada (MOOD et al., 1974; SAMPAIO, 2002; ARANGO, 2009). Resultados e discussão Os resultados do levantamento epidemiológico quanto à sorologia para a brucelose bovina, nas diferentes regionais, nos anos de 2011 e 2012, no Estado de Alagoas, estão apresentados na tabela 1. Durante os anos estudados houve solicitação de exames sorológicos em todas as regionais. A estruturação dos dados epidemiológicos para análise fora realizada conforme trabalho desenvolvido por CHATE et al. (2009). Tabela 1 – Resultados sorológicos para brucelose bovina, nos anos 2011 e 2012, em Alagoas e analisados em 2013. Ano 2011 2012 Regional Examinados Positivos % Examinados Positivo % s A 8.479 65 0,767 5.665 3 0,053 B 10.288 24 0,233 8.172 16 0,196 C 2.937 0 0 1.425 0 0 Total 21.704 89 0,41 15.262 19 0,124 Fonte: dados dos levantamentos epidemiológicos dos informes mensais da ADEAL.

O diagnóstico da brucelose foi feito a partir de amostras de soro sanguíneo submetidas ao teste antígeno acidificado tamponado (AAT). Os exames sorológicos foram realizados mediante solicitação dos proprietários, conforme as suas necessidades (FIGUEIREDO et al., 2011). Nesses levantamentos houve a possibilidade de um animal ser submetido mais de uma vez ao exame de AAT durante o ano. A ausência de animais positivos na regional C, possivelmente foi devido a um menor número de exames realizados (Tab. 1), bem como ao fato de possuir um menor número de animais, 268.818, quando comparado com A (400.837) e com B (644.403), na média dos dois anos, tendo como parâmetro: a média das estratificações de rebanho das etapas de vacinação contra febre aftosa dos referidos anos (ALAGOAS, 2011-2012). Essa regional, também, sedia a capital alagoana, concentra uma maior área de produção álcool-açucareira do Estado e apresenta outros setores de desenvolvimento econômico. Essas características geopolíticas e econômicas, ora diminui a concentração de animais ora demandam extensas áreas de terra (ALAGOAS, 2012). Ao contrário uma maior densidade de animais favorece o ingresso da doença (GONÇALVES et al., 2009b). Resultados com prevalência baixa, também, foram encontrados em Minas Gerais (1,1% 226/20.643) (GONÇALVES et al., 2009b) e no Distrito Federal (0,16% - 7/2.019) (GONÇALVES et al., 2009a), porém esses estudos foram realizados com delineamentos experimentais e testes confirmatórios. No primeiro estudo, creditaram essa baixa prevalência ao programa estadual de vacinação, utilizando a vacina B19 em bezerras de 3 a 8 meses de idade, que teve início na década de 52


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) 90, antes mesmo da adoção do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose (BRASIL, 2009). No segundo, disseram que, possivelmente, o baixo contingente animal (98.740) tenha influenciado o resultado. Nos dois trabalhos foram sugeridos a continuação do PNCEBT que é a certificação de propriedades livres de brucelose. Em outros Estados da União, pesquisas com delineamento estatístico, foram realizadas e encontradas prevalências maiores. No Estado do Mato Grosso do Sul obteve-se prevalência aparente de 6,6% (157/2.376) e real de 5,6% (MONTEIRO et al., 2006) e São Paulo apresentou prevalência aparente de 3,8% (187/8.761) (DIAS et al., 2009). É importante salientar que o rebanho da época era de 24,9 milhões e 12,8 milhões de bovinos, respectivamente. No Mato Grosso do Sul a prevalência maior foi em rebanhos de corte, mas não houve correlação com o trânsito de animais, porém em São Paulo essa variável foi considerada. Olascoaga (1976) ressaltou que para o Programa de brucelose ser efetivo seria necessário o uso de mais de um teste de diagnóstico por animal. O PNCEBT sugere o uso do antígeno acidificado tamponado como teste de triagem e os 2-mercaptoetanol (2-ME) e o fixação de complemento como testes confirmatórios (BRASIL, 2009). Em Alagoas, a comunicação à ADEAL, quanto à sorologia para diagnóstico da brucelose, era realizada com o exame do antígeno acidificado tamponado, pelos médicos veterinários habilitados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e cadastrados na ADEAL. Os resultados estatísticos demonstraram haver diferença significativa de ocorrências entre as regionais A e B nos anos avaliados quanto aos animais soropositivos. Em 2011 na regional A (0,77) foi maior que na B (0,23), porém no ano seguinte houve a inversão dos resultados, na B (0,20) enquanto na A (0,05). Em 2011 o Zobs foi igual a 5,30 e em 2012 o Zobs foi igual a -2,23. Quando comparadas as taxas de ocorrências regionalmente nos dois anos, observou-se que houve diferença significativa na regional A (0,77 em 2011 contra 0,05 em 2012), porém na regional B não houve diferença significativa (0,23 em 2011 e 0,20 em 2012). Na regional A o Zobs foi igual a 6,01 e na B, Zobs foi igual a 1,04×10-6. Resultados próximos, também, foram encontrados na Paraíba em estudo com delineamento amostral e testes confirmatórios, com prevalência de 0,34% (8/2 343) (LEITE et al., 2003). Estes autores encontraram pelo menos um animal positivo por região estudada e consideraram que a doença estava disseminada em todo o Estado. Como o presente trabalho foi pautado em levantamentos epidemiológicos e não houve um delineamento amostral, seria precipitado aferir que a regional C estivesse isenta de animais com brucelose. No levantamento epidemiológico, deste trabalho, dentre os animais positivos apenas um foi macho, fato ocorrido em 2011, na regional A. Reduzidos números de machos positivos também foram encontrados por Minervino et al. (2011), 3,5% (21/596) contra 10,8% (768/7.136) de fêmeas, no Estado do Pará, e por Figueiredo et al. (2011), que encontraram 0,04% (5/14.076) contra 0,47% (194/41.615), no Estado da Paraíba. Os primeiros alegaram que, por serem reprodutores de propriedades, esses seriam submetidos a testes prévios, os outros disseram que comparativamente as fêmeas apresentavam maior pré-disposição à doença, especialmente quando prenhas. Olascoaga (1976) citou que os touros, geralmente, apresentavam títulos baixos nos exames sorológicos, tendo que recorrer ao exame do plasma seminal, espermoaglutinação e ou bacteriológico. Por causa dessa informação e devido aos baixos índices encontrados por outros pesquisadores, anteriormente citados, optou-se por agrupar todos os resultados independentemente do gênero.

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) Na oportunidade foi feito o levantamento epidemiológico de dois anos consecutivos, com ocorrências de p= 0,41 no ano de 2011 e p= 0,12 no ano 2012 e questionado se houve diferença significativa de positivos nestes dois anos. Então, foi feita a comparação dessas duas ocorrências ao nível de significância de α= 0,05. Foi obtido Zobs= 5,01, concluiu-se que houve diferença significativa. No ano de 2012 teve menos casos positivos que em 2011 em relação ao diagnóstico de animais com brucelose. Experimentos, citados nesse trabalho, foram realizados no Mato Grosso do Sul e Paraíba em mais de uma oportunidade. O primeiro Estado obteve prevalência de 4,5% (259/5.754), em 1998 (CHATE et al., 2009) e de 6,6% (157/2.376), em 2003-2004 (MONTEIRO et al., 2006) e o segundo Estado as prevalências foram de 0,34% (8/2.343), em 2000 (LEITE et al., 2003) e de 0,36% (199/55 691), no período de 2008-2009 (FIGUEIREDO et al., 2011), porém nesses trabalhos não foram realizadas comparações entre as prevalências. Talvez por considerarem trabalhos distintos e com os delineamentos estatísticos diferentes, no entanto esses demonstraram a presença da brucelose em seus respectivos Estados e consequentes proposições. Conclusões Os resultados demonstraram que o território alagoano teve baixas ocorrências em relação à brucelose, tendo o segundo ano estudado menos casos positivos. Os dados coligidos permitem a Alagoas realizar outros estudos com delineamentos experimentais para certificar esses baixos índices, bem como análise de fatores de risco para caracterização da enfermidade no Estado e seguir na progressão do programa de controle e habilitar-se para a erradicação da doença. As baixas ocorrências encontradas e o fato do rebanho alagoano ser vacinado contra brucelose, possibilitam diagnósticos falsos positivos. Portanto, seria interessante que o Estado estimulasse a realização de exames confirmatórios para os animais positivos. Como o trabalho foi feito através de levantamentos epidemiológicos, é recomendável a continuidade do programa de vacinação, pois essa medida preventiva é primordial para impedir futuras infecções. Referências bibiográficas ACHA, P.N.; SZYFRES, B. Zoonosis y Enfermidades transmisibles comunes al hombre y los animales:Bacteriosis y Micosis. Washington: OPS, 3 ed. v.3, 2001. Publicación cientifica e técnica no 580. 398p. ALAGOAS. Agência de Defesa e Inspeção Agropecuária. Sistema de defesa agropecuária. 2011-2012. Disponível em: <http://www.sidagroconsulta.itec.al.gov.br/sidagro/relatorios/vacinacao/acompanhamentoetapa/>. Acesso em:19 jun. 2013. ______. Secretária de Estado do Planejamento e do Desenvolvimento Econômico. Agropecuária dos Municípios Alagoanos 2009 a 2010. Maceió: SEPLANDE, v. 8, 2012. ARANGO, H. G. Bioestatística: teórica e computacional. 3.ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan. 2009. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa n o 33 de 19 de agosto de 2013. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 20 ago. 2013. Seção 1. ______. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Manual de Legislação Programas Nacionais de Saúde Animal do Brasil. Brasília: MAPA/SDA/DAS, 2009. 440p. CHATE, S.C. et al. Situação epidemiológica da brucelose bovina no Estado do Mato Grosso do Sul. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, v. 61, p. 46-55, 2009. Suplemento 1. DIAS, R.A. et al. Situação epidemiológica da brucelose bovina no Estado de São Paulo. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, v. 61, p. 118-125, 2009. Suplemento 1.

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Recebido em 26/06/2018 Aceito em 19/07/2018

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018)

Revista Agrária Acadêmica Agrarian Academic Journal Volume 1 – Número 3 – Set/Out (2018) ___________________________________________________________________________________ doi: 10.32406/v1n32018/56-64/agrariacad

Monitoramento de grãos de soja (Glycine max L. Merril) armazenados em silos metálicos Monitoring of soybean grains (Glycine max L. Merril) stored in metal silos Letícia Almeida Sorano¹*, Rienni de Paula Queiroz², Guilherme Araújo Brustolin³ 1*

- Tecnóloga em produção de grãos e estudante de Agronomia; Instituto Federal do Mato Grosso do Sul; Nova Andradina, MS; leticia.sorano@gmail.com 2 - Orientadora; Instituto Federal do Mato Grosso do Sul; Nova Andradina, MS 3 - Co-Orientador; Coopergrãos – Cooperativa Agropecuária Regional dos Produtores de Grãos; Nova Andradina, MS

___________________________________________________________________________________ Resumo A principal preocupação pós-colheita é com o beneficiamento e a armazenagem, que tem papel fundamental, pois procuram garantir a qualidade do produto que vem do campo. O processo da armazenagem é a atividade que estoca e conserva os grãos, visando garantir a qualidade do produto independente do tempo que este seja mantido em armazenamento (BROOKER, 1992 apud LIMA, 2013). O trabalho tem por objetivo monitorar a classificação, temperatura e umidade dos grãos de soja na Cooperativa Coopergrãos, situada em Nova Andradina – MS e como essas variáveis interferem na qualidade e longevidade dos grãos armazenados em silos metálicos. As temperaturas foram obtidas através da termometria realizada com o aparelho Termo Coletor MOD. V5 FOCKINK, onde semanalmente, durante os meses de maio, junho e julho eram monitorados as temperaturas correspondentes a cada cabo e seus respectivos sensores. Durante esse período de monitoramento, foram coletadas duas amostras de grãos de soja em diferentes dias no mês de junho para aferir a umidade. As amostras foram retiradas com o intervalo de 20 minutos para expressar representativamente o material presente no silo, e foram coletadas no fim da correia transportadora. Não houve proliferação de microrganismos nem de insetos-praga, onde a massa de grãos não apresentava umidade favorável e a temperatura estava abaixo do ótimo para sua proliferação. Na classificação, encontramos o total de avariados acima do permitido para soja, porém foi enquadrado como Fora de Tipo o que não impede a venda de grãos para outros usos na comercialização. Palavras-chave: Glycine max (L) Merril, Armazenagem, Qualidade de grãos Abstract The main post-harvest concern is with the processing and storage, which plays a fundamental role, since they seek to guarantee the quality of the product that comes from the field. The storage process is the activity that stores and conserves the grains, aiming to guarantee the quality of the product regardless of the time it is kept in storage (BROOKER, 1992 apud LIMA, 2013). The objective of this work is to monitor the classification, temperature and humidity of soybeans at the Coopergrãos Cooperative, located in Nova Andradina – MS, and how these variables interfere with the quality and longevity of grains stored in silos. The temperatures were obtained through thermometry performed with the Thermo Collector MOD. V5 FOCKINK, where weekly temperatures during the months of May, June and July were monitored for each cable and its respective sensors. During this monitoring period, two samples of soybean grains were collected on different days in June to gauge moisture. The samples were withdrawn with the interval of 20 minutes to representatively express the material present in the silo, and were collected at the end of the conveyor belt. There was no proliferation of microorganisms or insect pests, where the grain mass did not present favorable humidity and the temperature was below the optimum for its proliferation. In the classification, we found the total number of defects above the allowed for soybean, but it was framed as Out of Type which does not prevent the sale of grains for other uses in the commercialization. Keywords: Glycine max (L) Merril, Storage, Grain quality

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) Introdução No Brasil a safra de soja 2016/2017 apresentou um crescimento na área plantada de 1,9%, comparado com o observado na safra anterior, e obteve uma produção de 113,9 milhões de toneladas até o momento (CONAB, 2017). Para garantir o sucesso dessa produção a pós-colheita tem grande relevância, pois é a forma de armazenagem que garante a qualidade e longevidade dos grãos, em função do tempo de armazenamento. A armazenagem impacta diretamente na conservação e longevidade dos grãos, estas associadas à deterioração, pois diversas variáveis interferem na qualidade dos grãos, as variáveis físicas (temperatura e umidade) e as externas (microrganismos, insetos, etc) são as que mais causam danos aos grãos (FARONI, 1998). Mantendo os aspectos qualitativos e quantitativos dos grãos, proporcionando condições desfavoráveis ao desenvolvimento de insetos, roedores e microrganismos. Para que os grãos estejam aptos a serem estocados no silo deve-se passar por todos os processos necessários de armazenagem, que segundo Elias (2003), é o processo de guardar o produto, associada a uma sequência de operações, tais como: limpeza, secagem, tratamento fitossanitário, transporte, classificação, dentre outros, com o intuito de preservar as qualidades físicas e químicas da colheita, até o abastecimento. Considerando as variáveis físicas são realizadas medidas de temperatura para avaliar e detectar a deterioração dos grãos, pois por possuir baixa condutividade térmica, a deterioração começa em pequenos focos localizados, podendo aumentar a temperatura somente onde está acontecendo o processo de degradação. Para Sinha (1973) citado por Faroni (1998), o grau de deterioração depende da taxa de aumento destas variáveis que, por sua vez, são principalmente afetadas pela interação da temperatura e umidade e secundariamente pela inter-relação deles com o grão, entre eles, e com a estrutura do silo. Uma vez que, a umidade influencia no aparecimento de microrganismos e insetos que também provocam a deterioração do grão, degradando o material de interesse, que é a sua massa. Quando não ocorre o manejo correto para evitar os insetos e microrganismos, os principais insetos primários que surgem são, Rhyzopertha dominica, Sitophilus oryzae e S. zeamais e Plodia interpunctella, as secundárias que podem aparecer são, Cryptolestes ferrugineus, Oryzaephilus surinamensis e Tribolium castaneum (LORINI, 2008 citado por LORINI, 2015). Os microrganismos mais frequentes são Aspergillus restrictus, A. glaucus (Eurotium), A. candidus, A. ochraceus, A. flavus. E. Penicillium. Material e métodos O trabalho foi desenvolvido na Cooperativa Coopergrãos – Cooperativa Agropecuária Regional dos Produtores de Grãos, localizada na Rodovia MS 376 em Nova Andradina – MS, durante os meses de maio a julho de 2017. A área possui latitude 22°15’58.19”S e longitude 53°21’53.94”O. Nesse estudo foi avaliada a influência de temperatura e umidade dos grãos de soja armazenados em silos metálicos. As temperaturas foram obtidas através da termometria realizada com o aparelho Termo Coletor MOD. V5 FOCKINK, onde semanalmente, durante os meses de maio, junho e julho foram monitoradas as temperaturas correspondentes a cada cabo e seus respectivos sensores, como observado na Figura 1. Durante esse período de monitoramento, foram coletadas no mês de junho duas amostras de grãos de soja em diferentes dias que seriam necessários para aferir a umidade. Os critérios 57


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) estabelecidos para a retirada das amostras foram: coletar os grãos no fim da correia transportadora, com o intervalo de retirada dos grãos de 20 minutos para expressar representativamente a massa de grãos no silo e que posteriormente seria levado ao embarque. Em seguida, essas amostras foram encaminhadas à sala de classificação, onde ocorreu a homogeneização da amostra e separados 250g de grãos que passaram pelas peneiras de 0,5 e 0,3mm para a retirada das impurezas e matérias estranhas (pedra, insetos mortos, palha, etc). Os grãos livres de impurezas foram colocadas no Medidor de Umidade MOTOMCO Modelo 999-ES para obter valores precisos de umidade (11,8%) e pH (0,684g/hL), representando como estariam armazenados os grãos dentro do silo. Figura 1 – Ilustração do silo metálico para mensuração de temperatura matutina e vespertina.

l Fonte: Coopergrãos (2017). Para medir o pH, usamos a balança de peso Hectolitro e em seguida a amostra foi colocada no medidor de umidade citado acima. Essas amostras foram separadas em 250g e classificadas de acordo com a Instrução Normativa Nº 11, de 15 de maio de 2007, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (BRASIL, 2007) onde puderam ser observadas as características físicas e qualidade dos grãos (fermentados, esverdeados, picados de percevejo, entre outros). Resultados e discussão No Gráfico 1, verifica-se a classificação das amostras de grãos de soja, em avariados (fermentados, danificados e imaturos), esverdeados e matéria estranha e impurezas (palhas, pedras, insetos mortos e fragmentos de vagens) coletados e analisados em junho de 2017, na Coopergrãos unidade de Nova Andradina – MS. Esses grãos pertencem ao Grupo II, que são destinadas a outros usos (óleo, farelo, entre outros) e não para consumo in natura (BRASIL, 2007). Conforme os dados abaixo, segundo a classificação observou-se que o total de avariados (fermentados, danificados e imaturos) está acima do limite permitido estipulado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) que é de 8%. 58


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) Na Instrução Normativa 11, de 15 de maio de 2007, com a IN 37, de 27 de julho de 2007, Art. 08, diz que grãos de outros usos com defeitos graves permitem-se até 40% para comercialização, assim, foi enquadrada como Fora de Tipo. Podendo ser: rebeneficiada, desdobrada ou recomposta para efeito de enquadramento em tipo II. Já, os esverdeados, matérias estranhas e impurezas estão bem inferiores ao limite permitido, praticamente nulo.

Dentro desses avariados, o maior percentual é de grãos fermentados (25%), seguido dos grãos picados de percevejo (5,2%) e os imaturos (1%). Os grãos picados de percevejo favorecem o ataque de fungos e insetos secundários, por deixarem canais abertos no grão, o que facilita a fermentação e perda de massa. Os grãos que já estão no estágio de fermentação perdem qualidade, pois o seu material de reserva encontra-se deteriorado. Elias (2003) observou que os fungos estão entre as principais causas de deterioração dos grãos armazenados. Em consonância Márcia e Lázzari (1998), ressaltam que os fungos provocam grandes perdas na qualidade e quantidade de sementes e grãos de soja, consomem gordura, proteína e carboidratos, aumento o teor de acidez do óleo e consumem matéria seca reduzindo o peso do grão. Para Queiroz et al., (2009), matéria estranha e impurezas podem ser fragmentos de insetos, vidros, pedras e materiais estranhos. Esse material pode retardar o processo de secagem, acelerar o surgimento e desenvolvimento de microrganismos e facilitar a proliferação de insetos (REGINATO et al., 2014). O produto contendo impurezas e matérias estranhas são portadores de maior quantidade de microrganismos e apresentam condições que aceleram sua deterioração, pois matérias estranhas apresentam teores de umidade mais elevados que o produto quando sob mesmas condições (FARONI; SILVA, 2008). E como o nível da matéria estranha e impureza estão bem abaixo do permitido pode-se afirmar que a pré-limpeza realizada na Cooperativa é eficiente. A pré-limpeza, antes do armazenamento, 59


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) diminui os riscos de deterioração e reduz o uso indevido de espaço útil do silo (MANDARINO; HIRAKURI; ROESSING, 2015). Os grãos esverdeados são grãos ou pedaços de grãos com desenvolvimento fisiológico completo que apresentam coloração totalmente esverdeada no cotilédone (BRASIL, 2007). Como os grãos avaliados são usados pelas indústrias, os grãos esverdeados trazem problemas de perdas, porque o óleo com elevado teor de clorofila, proveniente da extração de grãos verdes, sofre redução em sua estabilidade oxidativa, levando o produto ao processo de rancificação e, consequentemente, reduzindo a vida útil de prateleira. Além disso, confere coloração indesejável (mais escura), e comercialmente inadequada e diminui o processo de hidrogenação. A remoção dos pigmentos verdes por adsorção em agentes clarificantes eleva o custo de refinação (ENDO et al., 1984; USUKI et al., 1984; WARD et al., 1992 e 1995; JALINK et al., 1999; SINNECKER, 2002 citado por ZORATO, 2003). No acompanhamento realizado entre maio e julho obteve-se valores médios correspondentes à temperatura dos grãos que encontra-se em contato com os sensores localizados em pontos distintos do silo (Gráfico 2) e valores da umidade relativa do ar, encontradas no INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) (Gráfico 3). De acordo com Faroni e Silva (2008) o surgimento de fungos e de insetos-praga depende de variáveis como temperatura e umidade relativa do ar. Em concordância, Soares Júnior et al. (2008) e Elias et al. (2010) citado por Coradi (2015), acreditam que o efeito combinado da umidade relativa do ar intergranular e da temperatura de armazenamento determinam a atividade de todos os componentes bióticos do sistema, que levam a um armazenamento seguro ou a perdas de produto.

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) Segundo o Gráfico 2, as temperaturas encontradas nos pontos dentro do silo estão abaixo do valor médio considerado como ótimo (30°C) para o seu desenvolvimento. Conforme Faroni e Silva (2008) os limites de sobrevivência de fungos são de -2 a 55° C e para os insetos são de 8 a 41°C. A temperatura média ótima para o desenvolvimento dos fungos de grãos armazenados se situa entre 30º C. As condições que possibilitam o desenvolvimento dos fungos de armazenamento de grãos são: a umidade; a temperatura; a integridade física; as condições de armazenamento; a quantidade de impurezas na massa de grãos e a presença de organismos estranhos. E os principais danos causados, nos grãos, por fungos, são: aquecimento e emboloramento; alterações na coloração e aparecimento de manchas; alterações no odor e no sabor; alterações da composição química; perdas de matéria seca; diminuição do poder germinativo e produção de toxinas (REGINATO et al., 2014). Temperaturas muito altas e muito baixas inibem o desenvolvimento para a maioria dos fungos (FARONI, 1998). A temperatura é capaz de interferir na qualidade dos grãos durante o armazenamento visto que acelera as reações bioquímicas e metabólicas dos mesmos, pelas quais reservas armazenadas no tecido de sustentação são desdobradas, transportadas e ressintetizadas no eixo embrionário (CAMARGO et al., 2014; ROCKENBACH et al., 2014). Para as condições brasileiras, o teor de umidade ideal para a armazenagem de grãos e sementes é de 13%. Este valor foi estipulado por estabilizar a atividade aquosa do produto (Aa) e assim inviabilizar, principalmente, o desenvolvimento de fungos e bactérias (REGINATO et al., 2014; SILVA, 2005). E na cooperativa eles estão armazenados a 11,8%, portanto, esses grãos tendem a sofrer menos ataques por estarem mais secos.

¹ As informações tiveram como parâmetro de comparação dados extraídos do site do INMET (Estação A709 – Ivinhema, 2003). 61


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Os fungos necessitam um mínimo e um ótimo de umidade relativa e de temperatura para se desenvolverem. Já a Umidade Relativa (UR%) nos dias 31 de maio (81%), 06 de junho (87%) e 14 de julho (89%) estavam acima da capacidade ótima e dentro da taxa de sobrevivência dos fungos, e nos demais dias estavam abaixo do considerado ótimo para a sua proliferação, respectivamente, 76%, 50% e 43%. Quanto aos insetos, nas quatro primeiras leituras a UR% estava à cima do considerado ótimo para a sua proliferação (81%, 87%, 89% e 76%) e nas duas últimas as leituras abaixo do ótimo (50% e 43%), mas estava dentro do seu limite de sobrevivência. Mesmo com as taxas variáveis a favor da sobrevivência dos insetos e fungos, não houve nenhum indício de ataque de pragas, e nem de fungos ao longo do processo de armazenamento no silo. Os fungos poderiam estar presentes, porém não se desenvolveram, mostrando a eficiência e controle de T e umidade dos grãos dentro do silo na Cooperativa, onde a mesma efetua a limpeza do silo na entressafra com Deltametrina. Deltametrina é um inseticida piretróide, concentrado emulsionável, indicado para o controle preventivo de insetos. Após a limpeza total das instalações onde os grãos serão armazenados, aplica-se o inseticida preventivo nas paredes, chão, teto, cantos, etc., com um pulverizador costal ou estacionário, manual ou motorizado dotado de mangueira de extensão e pistola (K-OBIOL, 2002). Para Fontes et al. (2003) as perdas causadas pelos insetos-praga, durante o armazenamento dos grãos, podem equivaler ou mesmo superar aquelas provocadas pelas pragas que atacam a cultura no campo. Considerações finais O manejo do silo metálico no período avaliado demonstrou-se de forma coerente não havendo focos de proliferação de insetos e fungos no armazenamento; A umidade no silo está abaixo do permitido para grãos estocados, considerado seco, não proporcionando ambiente favorável aos agentes deteriorantes; Quanto à temperatura no silo, considera-se abaixo do valor ótimo para o desenvolvimento dos insetos-pragas e fungos; A Umidade Relativa do ar que apresentavam elevação em alguns dias não influenciaram no ataque aos grãos, e; As variáveis analisadas não interferiram na qualidade dos grãos proporcionando longevidade no armazenamento em silos metálicos. Referências bibliográficas BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução normativa n. 11, de 15 de maio de 2007. Disponível em:<http://sistemasweb.agricultura.gov.br/sislegis/action/detalhaAto.do? method=visualizarAtoPortalMapa&chave=1194426968> Acesso em: 15 jun. 2017. CAMARGO, C.M. et. al. Efeitos da temperatura de armazenamento na qualidade industrial de grãos de milho. In: CONFERÊNCIA BRASILEIRA DE PÓS-COLHEITA, 6., 2014, Maringá. Anais... Maringá: ABRAPOS, 2014. Disponível em: <http://eventos.abrapos.org.br/anais/paperfile/110_20142111_01-29-49_4464.pdf> Acesso em: 07 jul. 2017. CONAB. Décimo levantamento: safra 2016/17. Acompanhamento da safra Brasileira de grãos, Brasília, v.4, n.10, jul. 2017. 170 p. Disponível em:

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Recebido em 25/06/2018 Aceito em 19/07/2018

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Revista Agrária Acadêmica Agrarian Academic Journal Volume 1 – Número 3 – Set/Out (2018) ___________________________________________________________________________________ doi: 10.32406/v1n32018/65-75/agrariacad

Qualidade fisiológica e fitossanitária de sementes tratadas de Eugenia dysenterica DC. durante armazenamento Physiological and phytosanitary quality of treated seeds of Eugenia dysenterica DC. during storage Évelin Cristiane Castro Silva¹, José Carlos Moraes Rufini², Nádia Nardely Lacerda Durães Parrella³, Wânia dos Santos Neves4 1

- Programa de Pós-graduação em Ciências Agrárias – PPGCA/ Universidade Federal de São João del Rei UFSJ – Sete Lagoas, MG, Brasil. E-mail: evelinfloresta@gmail.com 2 - Fruticultura/ Universidade Federal de São João del Rei UFSJ – Sete Lagoas, MG, Brasil. E-mail: rufini@ufsj.edu.br 3 - Produção e Tecnologia de Sementes/ Universidade Federal de São João del Rei UFSJ – Sete Lagoas, MG, Brasil. E-mail: nadia@ufsj.edu.br 4 - Fitopatologia/Nematologia/ Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais – EPAMIG/ Unidade Regional CentroOeste, MG, Brasil. E-mail: wanianeves@epamig.br

___________________________________________________________________________________ Resumo Este trabalho analisou a qualidade fisiológica e fitossanitária nas sementes de Eugenia dysenterica DC. Os tratamentos utilizados foram testemunha, secagem, fungicida Cercobin® e termoterapia. Foram identificados os gêneros Aspergillus, Fusarium, Penicillium e Rhizopus associadas às sementes no tratamento usado como testemunha. A secagem não foi eficiente no controle fitossanitário e causou danos na qualidade fisiológica das sementes. A aplicação de fungicida foi mais eficiente nas sementes antes do armazenamento. O tratamento com termoterapia anulou a presença dos gêneros Aspergillus e Rhizopus aos 100 dias de armazenamento e não causou perdas significativas na qualidade fisiológica das sementes quando comparadas com a aplicação de fungicida e à testemunha. Palavras-chave: Cagaiteira, fungicida, termoterapia Abstract This study analyzed the physiological quality and plant in Eugenia dysenterica DC seeds. The treatments were control, drying, fungicide Cercobin® and thermotherapy. It was identified the genus Aspergillus, Fusarium, Penicillium and Rhizopus associated with seed treatment used as a witness. Drying was not an effective phytosanitary control and caused damage to the physiological quality of seeds. The fungicide was more efficient in the seeds prior to storage. Treatment with thermotherapy annulled the presence of Aspergillus and Rhizopus after 100 days of storage and did not cause significant losses in seed quality when compared with fungicide and witness. Keywords: cagaiteira, fungicide, thermotherapy

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Introdução Devido à intensa degradação ambiental do bioma Cerrado, cada vez mais são escassas as áreas de preservação nativa. Espera-se que em um futuro breve a demanda por sementes de espécies florestais nativas do Cerrado seja ainda mais elevada, visando a atender os programas de compensação florestal. A cagaiteira, Eugenia dysenterica DC, é uma espécie nativa do Cerrado brasileiro. Possui frutos saborosos, que são utilizados na culinária pela população local. Sua cor amarelada e abundante frutificação tornam-se atrativos para insetos e animais. Por ser típica do Cerrado, é resistente a condições de estresse ambiental e possui germinação relativamente rápida. Suas mudas desenvolvem-se melhor em áreas de pleno sol (SANO et al., 1995), possuem preferência por substratos à base de areia e argila (NIETSCHE et al., 2004), tem crescimento em altura e diâmetro lento (SOUSA et al., 2002) e possuem características interessantes na seleção de espécies usadas em programas de recuperação ambiental. Porém, suas sementes têm caráter recalcitrante (ANDRADE et al., 2003), o que torna difícil o armazenamento. Estas necessitam de técnicas de armazenamento apropriadas, pois são sensíveis à dessecação e a baixas temperaturas (BARBEDO; MARCOS FILHO, 1998). A qualidade das sementes é determinada por fatores genéticos, físicos, fisiológicos e sanitários (MARCOS FILHO, 2005). O armazenamento visa a manter ao máximo a qualidade fisiológica das sementes, de modo que ainda tenha um bom desempenho no campo, após o armazenamento (CARVALHO; NAKAGAWA, 2000). Porém condições inapropriadas de armazenagem, como alta umidade relativa do ar e temperatura favorecem a proliferação de patógenos nas sementes. Entre os microrganismos encontrados associados às sementes, os fungos representam o maior grupo e podem interferir negativamente na germinação das sementes e na qualidade final das mudas (MACHADO, 1988). Esses patógenos normalmente causam a deterioração, o que leva a perda de vigor e queda na germinação da semente. Além disso, tornam a semente um eficiente veículo de disseminação de patógenos para diferentes regiões. A falta de fungicidas registrados para as espécies florestais requer estudos sobre métodos de controles fitossanitários alternativos. O mercado de produção de mudas nativas encontra-se em plena expansão. A crescente necessidade de mudas, para fins de recuperação de áreas degradadas, encontra sérias dificuldades devido à falta de sementes de espécies florestais nativas. Aliado a isso, existe a insegurança sobre a qualidade fisiológica e sanitária dos lotes de sementes florestais, o que prejudica o bom desenvolvimento da cadeia de produção de mudas. São importantes estudos que avaliem a qualidade sanitária e fisiológica das sementes de espécies florestais nativas, durante o armazenamento, bem como o comportamento dessas, diante de tratamentos alternativos de patógenos. Os principais gêneros de fungos encontrados associados às sementes de espécies florestais são Aspergillus, Penicillium e Fusarium (GALLO et al., 2013; NASCIMENTO et al., 2006; OLIVEIRA et al., 2009; SANTOS et al., 2001; SILVA et al., 2011). Os fungos Aspergillus sp. e Penicillium sp. são fungos de armazenamento, xerofíticos e não se desenvolvem no campo, pois perdem na competição por outros fungos que atacam as sementes com altos teores de umidade. Eles podem causar o enfraquecimento e morte do embrião, descoloração da semente, bolor e apodrecimento, o que leva a perda da viabilidade das sementes (DHINGRA, 1985). Embora existam na literatura trabalhos sobre a eficiência dos diferentes métodos de controle fitossanitário, faltam evidências dos efeitos de cada técnica em relação a alterações fisiológicas nas sementes. Aliado a isso, não existem informações sobre o emprego do tratamento de secagem e 66


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) termoterapia quanto à qualidade fisiológica e sanitária de sementes de E. dysenterica. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar a eficiência de diferentes tratamentos fitossanitários na qualidade fisiológica das sementes de E. dysenterica durante o armazenamento. Material e Métodos Frutos maduros de E. dysenterica foram coletados no chão no campus da Universidade Federal de São João Del Rei no município de Sete Lagoas - MG (UFSJ/CSL), localizada a 761 m de altitude e coordenadas geográficas de 19° 27’ 57” de latitude e 44° 14’ 48” de longitude. A coleta ocorreu durante o mês de outubro de 2014. O clima da região é do tipo Cwa (mesotérmico úmido) segundo classificação de Köppen. A precipitação média anual é de 1.367 mm. O período chuvoso tem início em outubro e o seco em abril. A temperatura média anual é de 21°C (PANOSO et al., 2002). Após coleta dos frutos, as sementes foram extraídas manualmente com auxílio de peneira e água corrente, e armazenadas em câmara fria a 10±2°C até o início dos experimentos, não excedendo sete dias. As sementes foram divididas em quatro sublotes utilizando-se quatro tratamentos para controle fitossanitário. Os tratamentos foram: Testemunha (sementes não tratadas); Secagem (sementes secas durante 40 horas a 40±2°C em estufa de ventilação forçada); Fungicida (sementes imersas em calda fúngica de Cercobin®, na concentração de 5% por um período de 10 minutos). Como não há fungicidas recomendados para espécies florestais, foi utilizada a concentração de fungicida recomendada por Gomide et al. (1994); e Termoterapia (sementes acondicionadas em um béquer com água aquecida à temperatura de 60° C imersas por 20 minutos em banho maria (OLIVEIRA et al., 2011). Os sublotes foram armazenados durante 120 dias em câmara fria e seca (7±1°C e 45 ± 7% UR). As sementes foram mantidas em sacos plásticos de polietileno (espessura 2 mm) perfurados (10 furos de, aproximadamente, 1 mm) e fechados. Aos 0, 60, 80, 100 e 120 dias foram realizados avaliações da qualidade fisiológica das sementes (adaptado de BARBEDO et al., 1998). Os testes de germinação foram realizados no Laboratório de Análises de Sementes da UFSJ/CSL. Estes foram conduzidos em rolos de papel previamente umedecidos até a saturação, com duas folhas de papel de germinação na base e uma de cobertura, em estufa incubadora BOD, no escuro e na temperatura de 24±1°C (ANDRADE et al., 2003). Utilizaram-se cinco repetições de 20 sementes, por tratamento. As leituras da germinação foram realizadas a cada dois dias no período de 30 dias. O critério utilizado para germinação foi a emergência do epicótilo (DUARTE et al., 2006). Os dados foram utilizados para cálculo da porcentagem (%) e do tempo médio de germinação (TMG) mediante fórmula: ∑niti)/∑ni, onde ni = número de sementes germinadas por dia, e ti = tempo de incubação (dias). O cálculo de primeira contagem de germinação foi realizado com o número de plântulas normais obtidos aos 30 dias e da porcentagem final de germinação aos 50 dias. Após este período, foram medidos o comprimento da parte aérea e raiz das plântulas, com o auxílio de um paquímetro digital. Para o teste de fitossanidade, amostras de cada tratamento foram levadas antes e após 100 dias de armazenamento, para o Laboratório de Fitopatologia da Unidade Regional EPAMIG Centro – Oeste, na Fazenda Experimental de Santa Rita, localizada na cidade de Prudente de Moraes – MG. O método aplicado para análise foi o de incubação em substrato de papel filtro (Blotter Test). Para a realização desse teste foi utilizado, como substrato, uma folha de papel filtro previamente esterilizada. As sementes foram acondicionadas em caixas de acrílico tipo “gerbox”, previamente desinfestadas com álcool 70%, distribuídas uniformemente sobre o substrato de papel, em quatro repetições sendo cada 67


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) repetição representada por uma caixa com 25 sementes, totalizando 100 sementes sem desinfestação superficial. As sementes foram submetidas à lavagem com água destilada esterilizada e semeadas sobre papel filtro. Após a semeadura, as caixas de acrílico foram tampadas e distribuídas, aleatoriamente, na câmara de incubação com temperatura de 20 ± 2°C e mantidas por sete dias sob regime alternado de 12 h de luz e 12 h de escuro. Após esse período, foram realizadas as avaliações examinando individualmente as sementes ao microscópio estereoscópico, para identificação morfológica de estruturas fúngicas em nível de gênero. O resultado foi expresso em porcentagem de sementes infectadas para cada tempo de armazenamento. O delineamento experimental utilizado em ambos os experimentos foi o inteiramente casualizado. Para avaliação da qualidade fisiológica, foi utilizado esquema fatorial associando-se tratamento fitossanitário e o armazenamento (4 x 5). Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e análise de regressão polinominal. Para avaliação dos tratamentos fitossanitários, foi utilizado esquema fatorial associando-se tratamento, os gêneros de fungos e os tempos de armazenamento (4x4x2). Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas entre si pelo teste de Scott Knott. Para ambos os experimentos, utilizou-se nível de 5% de probabilidade de erro e o software Sisvar versão 5.3 para a realização das análises (FERREIRA, 2010). Resultados e Discussão A análise de variância demonstrou efeitos significativos dos diferentes tratamentos fitossanitários na qualidade fisiológica das sementes de E. dysenterica para todas as variáveis analisadas (Tabela 1). Aparentemente as porcentagens de incidência do fungo Aspergillus sp. e do fungo Penicillium sp., não prejudicaram o vigor das sementes ao longo do tempo no tratamento testemunha. A porcentagem de germinação e de primeira contagem de germinação, o tempo médio de germinação, e os comprimentos da parte aérea e raiz das plântulas, sofreram leves alterações ao longo dos 120 dias de armazenamento para esse tratamento (Figura 1). Foram identificados os gêneros Aspergillus, Fusarium, Penicillium e Rhizopus associadas às sementes de cagaiteira no tratamento usado como testemunha (Tabela 2). A secagem das sementes de E. dysenterica causou prejuízos significativos em sua qualidade fisiológica. Foi observada uma queda constante nas curvas de germinação, primeira contagem de germinação, e comprimento da parte aérea e raiz das plântulas, bem como o aumento do tempo médio de germinação dessas sementes (Figura 1). Houve semelhança nos valores de incidência de fungos entre a testemunha e a secagem (Tabela 2). O que indica ineficiência deste tratamento no controle fitossanitário das sementes. Com a aplicação de fungicida, foi observada queda na porcentagem de germinação e no vigor nas sementes após os 60 dias de armazenamento, medido pelo teste de primeira contagem de germinação e pelos valores dos comprimentos da parte aérea e raiz das plântulas (Figura 1). A aplicação de fungicida foi mais eficiente no controle dos fungos Aspergillus sp. e Penicillium sp. antes do armazenamento das sementes. Na análise aos 100 dias o fungo Fusarium sp. apresentou incidência estatisticamente igual aos fungo Asperillus sp. e não foi observada a presença do fungo Rhizopus sp. (Tabela 2). No tratamento com termoterapia foi observada uma melhora na germinação e qualidade fisiológica das sementes após os 60 dias de armazenamento, sendo que o valor de porcentagem de germinação foi muito próximo ao valor encontrado na testemunha, ao final de 120 dias de armazenamento (Figura 1). O que mostra que a termoterapia, com imersão das sementes de E. 68


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) dysenterica em água quente a 60°C durante 20 minutos, não causou prejuízos à qualidade fisiológica destas sementes ao final de 120 dias de armazenamento. A termoterapia não promoveu diferenças na porcentagem de incidência entre os gêneros de fungos ao zero dia de armazenamento, contrário aos resultados de 100 dias, em que houve aumento da incidência do gênero Penicillium e o gênero Fusarium manteve incidência próxima às iniciais. Esse tratamento foi eficiente no controle dos gêneros Aspergillus e Rhizopus, os quais não foram encontrados nas sementes de E. dysenterica aos 100 dias de armazenamento (Tabela 2). Os resultados sugerem que as condições de armazenamento das sementes de E. dysenterica (7°C e 45%UR) foram eficientes em manter a qualidade fisiológica dessas sementes durante o armazenamento. De acordo com resultados encontrados por Neto et al. (1991), a melhor forma para o armazenamento de sementes de E. dysenterica é em câmara fria a 10°C/60% UR, porém foi observada queda acentuada na germinação e vigor das sementes nos primeiros 100 dias, chegando ao final destes com apenas 30% de germinação. Andrade et al. (2003) armazenaram sementes de E. dysenterica no estado hidratado (45% UR), e observaram que houve perda da viabilidade após 150 dias, independente da temperatura durante o armazenamento. Resultados fitossanitários divergentes ao deste trabalho foram encontrados por Gomide et al. (1994) em sementes de E. dysenterica, nos quais os gêneros Alternaria, Aspergillus, Cladosporium, Curvularia, Helmintosporium, Mucor, Nigrospora, Penicillium e Rhizopus foram identificados pelo método de incubação das sementes em meio BDA, após 50 dias de armazenamento em câmara fria. É possível que a maior quantidade de gêneros encontrados por Gomide et al.(1994), comparada com este trabalho, seja devido à diferença entre os métodos de identificação utilizados. A competição entre fungos também é uma possível explicação. A incidência de fungos secundários e saprófitos podem ter inibido o desenvolvimento de outros fungos e assim, mascarado os resultados neste trabalho. A coleta dos frutos de E. dysenterica do solo, como recomendado por Duarte et al. (2006), pode ter favorecido a contaminação das sementes. Não foi relatado por Gomide et al. (1994) o modo como as sementes foram coletadas. Sementes de acácia negra (Acacia mearnsii), oriundas de coleta do solo tiveram maior contaminação por fungos, quando comparada a outros tipos de colheita (SANTOS et al., 2001). Sugerem-se estudos que comparem diferentes métodos de identificação dos fungos associados às sementes de E. dysenterica, bem como, sobre a qualidade sanitária destas sementes oriundas de frutos em diferentes estágios de maturação, o que pode permitir a coleta dos frutos na árvore. Isso minimizaria as chances de infecção inicial por fungos de armazenamento, que estão altamente relacionados com a perda de viabilidade das sementes (DHINGRA, 1985). Os resultados da secagem foram semelhantes aos encontrados em sementes de Eugenia brasiliensis, quando submetidas à secagem durante 40 horas a 36°C em estufa. Estas diminuíram seu teor de água inicial de 48,9% para 35%, e tiveram elevada queda de vigor, medido pela primeira contagem de germinação (KOHAMA et al., 2006). Não houve alterações na sensibilidade a dessecação dos diásporos de Eugenia involucrata submetidas à secagem controlada de 30 ou 40°C (MALUF et al., 2003), o que indica que provavelmente a temperatura elevada em si não influenciou a queda na qualidade fisiológica de sementes de E. dysenterica, mas sim o tempo em que estas ficaram submetidas às elevadas temperaturas. Percebe-se que a secagem das sementes de E. dysenterica em estufa de ventilação forçada a 40°C durante 40 horas não foi eficaz no controle dos fungos. Lopes et al. (2004), observou a ineficiência do tratamento térmico para eliminar patógenos em sementes de tomate expostas a 70°C 69


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) durante 48 horas em estufa de ventilação forçada, além de ter causado danos na germinação das sementes de algumas cultivares. Porém o controle de patógenos em sementes de cedro (Cedrela fissilis) via calor seco a 70°C durante 48 horas é recomendado e não causou danos na germinação (LAZAROTTO et al., 2009). Provavelmente a temperatura de 40°C não foi suficiente para causar a morte significativa dos fungos. Carvalho e Nakagawa (2000) comentam que os tratamentos fitossanitários que usam calor seco encontram maior dificuldade para entrar em contato com os tecidos mais internos das sementes. Isso ocorre devido à má condutividade térmica desses tecidos que exige maiores valores de energia do calor seco quando comparado com a mesma temperatura, porém oriunda de calor úmido. Pode-se sugerir que nos tecidos mais internos existam fungos que não são afetados pelo calor seco. Dhingra (1985) corrobora com essa hipótese, ao afirmar que os fungos das espécies de Aspergillus são os principais fungos de armazenamento, e que estes atacam preferencialmente o embrião. Contrário aos resultados da aplicação de fungicida deste trabalho, Gomide et al. (1994) observou que sementes de E. dysenterica armazenadas durante 50 dias em câmara fria apresentaram melhores índices de germinação, vigor e controle dos fungos, através do tratamento com solução de fungicida Benomil® na concentração de 5% durante dez minutos, quando comparados à aplicação de outros tipos de fungicida e à aplicação de hipoclorito de sódio. Para fins de comparação, o fungicida Cercobin®, utilizado neste trabalho apresenta a mesma natureza química (Benzimidazol) do fungicida Benomil®. Apesar da comprovada eficiência da aplicação de fungicidas, o uso contínuo pode desencadear o surgimento de formas resistentes de patógenos. Além disso, o efeito residual de alguns fungicidas pode provocar alterações fisiológicas nas sementes. Deuner et al. (2014) mostraram que a redução da germinação e do vigor de sementes de milho, condicionada por inseticidas e fungicida utilizados no tratamento das sementes, variou em função do produto e do tempo em que as sementes permaneceram armazenadas. A resposta ao tratamento com fungicida também pode variar de acordo com a espécie florestal, como o que ocorreu com as sementes de Jacarandá-da-Bahia (Dalbergia nigra) e Ipê-roxo (Tabebuia heptaphylla) que responderam melhor ao tratamento com fungicidas do que as espécies de Angico Vermelho (Anadenanthera macrocarpa) e Cássia-do-sultão (Senna siamea), relatado por Silva et al. (2011). Sementes de Peroba-mica (Aspidosperma desmanthum) tiveram baixos índices de germinação, o que foi justificado devido à fitotoxidade dos fungicidas utilizados (GALLO et al., 2013). Pode-se deduzir que o fungicida possui maior eficiência no controle dos fungos antes do armazenamento. Resultados semelhantes foram encontrados em sementes de espécies florestais da Mata Atlântica nas quais foram detectados os gêneros Fusarium, Aspergillus e Penicillium nas sementes tratadas com diferentes fungicidas, sendo que o gênero Aspergillus foi o que apresentou menor incidência (SILVA et al., 2011). O tratamento de termoterapia pode ser interessante do ponto de vista econômico, pois além de não causar grandes prejuízos à qualidade fisiológica das sementes, apresenta simplicidade de operação, baixo custo e não causa danos ambientais. O tratamento térmico com imersão de sementes de Eugenia brasiliensis (grumixameira), E. pyriformis (uvaieira) e E. uniflora (pitangueira), em água quente a 65°C durante 30 minutos não afetou a germinação dessas sementes, porém também ocorreu o aumento na incidência do fungos do gênero Penicillium (OLIVEIRA et al., 2011). Sementes de mulungu (Erytrina velutina), espécie florestal nativa do semi-árido, submetidas à 70


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) imersão em água quente a 60°C durante 20 minutos, não tiveram bons resultados, pois houve redução na germinação e primeira contagem de germinação (OLIVEIRA et al., 2009). A termoterapia com a imersão de sementes em água quente a 60°C durante 20 minutos foram eficientes em sementes de milho, porém causaram danos na qualidade fisiológica dessas sementes, devido a possíveis danos no sistema de suas membranas (COUTINHO et al., 2007). A termoterapia com a imersão das sementes de pinhão manso, em água quente nas temperaturas de 45°C, 50°C e 55°C durante 15 minutos, após 0, 90, 180, 270 e 360 dias de armazenamento em câmara fria, contribuiu para a conservação do vigor destas sementes. Nessas temperaturas houve o controle do fungo Penicillium sp. e na temperatura de 55°C o controle do fungo Aspergillus sp. nos períodos de armazenamento de 180 e 270 dias (SCHNEIDER et al., 2015). Sugerem-se novos estudos com tratamentos térmicos em sementes de E. dysenterica, com reaplicação da termoterapia durante o armazenamento, já que esse tratamento não possui efeito residual como o tratamento com fungicida. Tabela 1. Análise de variância para porcentagem de germinação (% G), porcentagem da primeira contagem de germinação (% PC), tempo médio de germinação em dias (TMG), tamanho da parte aérea das plântulas em centímetros – PA (cm), e tamanho da raiz das plântulas em centímetros – R (cm) de sementes de E. dysenterica, submetidas a quatro tratamentos fitossanitários e a cinco tempos de armazenamento. FV

GL %G 3890,2** 769,4** 995,0** 57,2

Quadrado Médio % PC TMG PA (cm) 7376,3** 335,7** 36,8** 1119,0** 174,9** 6,7** 1303,8** 29,4** 11,2** 61,25 1,63 0,3

R (cm) 43,1** 15,2** 16,5** 0,4

11,17 11,4

9,2 7,12

Tratamento 3 Tempo 4 Tratamento*Tempo 12 Erro 80 Total 99 CV(%) 8,77 9,70 Média Geral 86,2 80,7 ** Significativo a 5% de probabilidade pelo teste de F

11,44 4,7

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Figura 1. Equações representativas das modificações ocorridas durante 120 dias de armazenamento das sementes de E. dysenterica. Porcentagem de germinação (%G), porcentagem de primeira contagem de germinação (%PC), tempo médio de germinação em dias (TMG (dias)), comprimento em centímetros da parte aérea (PA(cm)) e raiz (R (cm)) das plântulas de cagaiteira após 50 dias de semeio.

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) Tabela 2. Porcentagem de incidência aos 0 e 100 dias de armazenamento, por diferentes gêneros de fungos em sementes de E. dysenterica, submetidas a quatro tratamentos fitossanitários (Testemunha, secagem, fungicida e termoterapia). DIAS

0 Aspergilus Testemunha 97 a A Secagem 98 a A Fungicida 0 c B Termoterapia 64 b A Fusarium Testemunha 23 b A Secagem 18 b A Fungicida 13 b A Termoterapia 52 a A Penicillium Testemunha 93 a A Secagem 98 a A Fungicida 10 c B Termoterapia 44 b B Rhizopus Testemunha 14 b A Secagem 0 b A Fungicida 1 b A Termoterapia 47 a A

100 98 100 42 0

a a b c

A A A B

34 30 24 50

a a a a

A A A A

98 100 98 96

a a a a

A A A A

0 0 0 0

a a a a

A A A B

0 Testemunha Aspergillus sp. 97 a Fusarium sp. 23 b Penicillium sp. 93 a Rhizopus sp. 14 b Secagem Aspergillus sp. 98 a Fusarium sp. 18 b Penicillium sp. 98 a Rhizopus sp. 0 b Fungicida Aspergillus sp. 0 a Fusarium sp. 13 a Penicillium sp. 10 a Rhizopus sp. 1 a Termoterapia Aspergillus sp. 64 a Fusarium sp. 52 a Penicillium sp. 44 a Rhizopus sp. 47 a

100 98 34 98 0

a b a c

100 30 100 0

a b a c

42 24 98 0

b b a c

0 50 96 0

c b a c

Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha não diferem entre si pelo Teste de Scott Knott, ao nível de significância 5%.

Considerações finais A secagem não é eficiente no controle fitossanitário e causa danos na qualidade fisiológica das sementes de cagaiteira. A aplicação de fungicida é mais eficiente no controle fitossanitário das sementes antes do armazenamento. O tratamento de termoterapia anula a presença dos gêneros Aspergillus e Rhizopus aos 100 dias de armazenamento e não causa perdas significativas na qualidade fisiológica das sementes, quando comparadas com a aplicação de fungicida e à testemunha.

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Recebido em 04/06/2018 Aceito em 25/06/2018

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018)

Revista Agrária Acadêmica Agrarian Academic Journal Volume 1 – Número 3 – Set/Out (2018) ___________________________________________________________________________________ doi: 10.32406/v1n32018/76-83/agrariacad

Manejo alimentar de carpa comum (Cyprinus carpio): frequência alimentar e porcentagem de arraçoamento Common carp food management (Cyprinus carpio): food frequency and weighting percentage Adilson Reidel1, Anderson Coldebella1, Cezar Fonseca1, Jakeline Marcela Azambuja de Freitas2, Arcangelo Augusto Signor1 1 2

- Instituto Federal do Paraná – Departamento de Aquicultura, Av. Araucária, 780, Foz do Iguaçu. adilson.reidel@ifpr.edu.br - Copacol Cooperativa Agroindustrial Consolata, Nova Aurora.

___________________________________________________________________________________ Resumo O objetivo do presente trabalho foi avaliar o efeito da frequência alimentar e da porcentagem de arraçoamento sobre o desempenho zootécnico de juvenis de carpa comum (Cyprinus carpio). 192 juvenis foram alimentados com rações extrusadas, em esquema fatorial (2 x 4 x 4): sendo duas frequências alimentares (uma e duas vezes ao dia), quatro porcentagens de arraçoamento (1, 2, 3 e 4%) e quatro repetições. Recomenda-se para juvenis de carpa comum, 4% de arraçoamento em duas frequências alimentares diárias, em função do melhor ganho de peso. Palavras-chave: Arraçoamento, manejo alimentar, piscicultura Abstract The objective of the present work was to evaluate the effect of feeding frequency and percentage of feeding on the zootechnical performance of common carp juveniles (Cyprinus carpio). 192 juveniles were fed extruded rations in a factorial scheme (2 x 4 x 4): two feed frequencies (one and two times a day), four percentages of nutrition (1, 2, 3 and 4%) and four replications. It is recommended for juveniles of common carp, 4% of feeding in two daily food frequencies, due to the best gain of weight. Keywords: Feeding, feed management, fish farming

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) Introdução Na piscicultura a frequência e o percentual de arraçoamento são aspectos fundamentais para definir a melhor manejo alimentar a ser adotado, que maximize o retorno econômico ao produtor (SIGNOR et al., 2018). Alimentação insuficiente ou em excesso afetam o crescimento e a qualidade da água e elevam o custo de produção em função das sobras de rações. A frequência alimentar representa o número de alimentações diárias, variando conforme a espécie, idade, qualidade da água e temperatura (HAYASHI et al., 2004), além de, condicionar o peixe a buscar alimentos em momentos prédeterminados, reduzindo o índice de conversão alimentar aparente em função de reduzir o desperdício das rações (DIETERICH et al., 2013). Neste sentido, a ração não consumida em contado com a água, lixiviará seus nutrientes reduzindo a qualidade da água (ROCHA LOURES et al., 2001). O fornecimento diário de alimentos varia com o estágio de desenvolvimento dos peixes (DENG et al., 2003), sendo que larvas e alevinos necessitam maior frequência alimentar, em virtude da maior atividade metabólica comparado a peixes adultos (MURAI & ANDREWS, 1976), e estes percentuais variam diretamente com a temperatura da água (HAYASHI et al., 2004), necessitando constantes ajustes no fornecimento de rações aos animais (SALARO et al., 2008). A porcentagem de alimentação ideal é aquela que proporciona o melhor ganho de peso, com menor índice de conversão alimentar aparente (SIGNOR et al., 2018). A porcentagem de arraçoamento influência no crescimento (NG et al., 2000; QIAN et al., 2001; VAN HAM et al., 2003), e na conversão alimentar aparente (MARQUES et al., 2004; MEURER et al., 2005), que normalmente apresentam melhores resultados nestes parâmetros quando alimentados mais de uma vez ao dia (LEE et al., 2000a; LEE et al., 2000b; DWYER et al., 2002; BITTENCOURT et al., 2013; SOUZA e SILVA et al., 2014, SANTOS et al., 2015). O objetivo do presente trabalho foi avaliar o percentual de arraçoamento e a frequência alimentar para a carpa comum (Cyprinus carpio). Material e Métodos O experimento foi desenvolvido no Laboratório de Aquicultura e Desempenho Zootécnico do Instituto Federal do Paraná, Campus Foz do Iguaçu, por período de 74 dias. Foram utilizados 192 juvenis, com peso inicial de 44,35±0,37 g, distribuídos aleatoriamente em 24 aquários de 250 L, com sistema de recirculação da água. Os peixes foram arraçoados com uma ração comercial de 32% de proteína bruta, e submetidos a oito manejos alimentares (duas frequências (9 e 17 horas) e quatro percentuais de alimentação (1, 2, 3, e 4% do peso vivo) (Tabela 1). Tabela 1. Distribuição dos manejos alimentares Porcentagem de arraçoamento (% Manejo alimentar peso vivo) 1%1X 1 1%2X 1 2%1X 2 2%2X 2 3%1X 3 3%2X 3 4%1X 4 4%2X 4

Horários de alimentação 9h 17h X X X X X X X X X X X X

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) A correção da quantidade de ração fornecida aos peixes foi realizada a cada 14 dias, com pesagem total dos peixes de cada unidade experimental. Os parâmetros físico-químicos como pH, condutividade elétrica (μS/cm) e oxigênio dissolvido (mg/L) foram mensurados semanalmente, enquanto que a temperatura (º C) foi monitorada diariamente antes da primeira e última alimentação. Os valores médios de 8,94±0,54 mg/L para oxigênio dissolvido, 6,78±0,05 para o pH e 132,92±36,12 µS/cm para a condutividade elétrica. As médias de temperaturas foram de 18,52±2,30º C pela manhã e 19,19±2,31º C à tarde. A cada 14 dias e ao final do período experimental os peixes foram mantidos em jejum por 12 horas para o esvaziamento do trato digestório, capturados, anestesiados em benzocaína (60 mg/L) (GOMES et al., 2001), posteriormente pesados, possibilitando calcular o ganho de peso e a conversão alimentar aparente. Ao final os animais foram capturados, anestesiados em benzocaína (60 mg/L) (GOMES et al., 2001), contados e medidos individualmente, permitindo realizar os cálculos de comprimento final e fator de condição, além da sobrevivência. Os dados foram submetidos a análise de variância (ANOVA) bifatorial ao nível de 5% de significância e, em caso de diferenças significativas aplicou-se o teste de comparação de médias de Tukey. As análises foram realizadas utilizando-se o software Statistic 7.0 (StatSoft, 2004). Resultados Os parâmetros como ganho em peso e conversão alimentar aparente avaliados em cada biometria, demonstra que o porcentual de arraçoamento influencia nos primeiros dias do arraçoamento, em função da falta de alimento para crescimento, em contrapartida, apresenta melhor aproveitamento dos nutrientes, culminando com menor índice de conversão alimentar aparente. De maneira geral aqueles que receberam 4% de ração, sempre apresentaram os melhores resultados, porém, após os 42 dias de cultivo este tratamento se sobressai (P<0,001) em relação aos demais (Tabela 2). Com relação a conversão alimentar aparente, aqueles arraçoados com 1% de ração apresentaram os melhores resultados aos 28 e 54 dias, não diferindo (P<0,001) dos que receberam 2%, porém, diferente dos outros percentuais de rações adotado. No entanto, aos 74 dias, o melhor índice de conversão alimentar foi observado para aqueles alimentados com 1% de ração, diferindo (P<0,05) dos outros percentuais adotados. A frequência alimentar, influencia no ganho de peso a partir dos 42 dias e na conversão alimentar aos 54 dias, ambos com melhores resultados para aqueles alimentados 2 vezes ao dia. Observou-se interação entre o percentual de arraçoamento e frequência alimentar para o ganho em peso aos 42, 56 e 74 dias e para a conversão alimentar aos 56 e 74 dias de cultivo (Tabela 2). O desdobramento da interação demonstra que os melhores resultados foram obtidos para aqueles que receberam 4%2X ao dia, aos 56 e 74 dias, porém, aos 42 dias, o tratamento com 4%2X não difere daqueles alimentados com 3%2X, porém, difere (P>0,001) dos outros percentuais de ração adotados. Para a conversão alimentar aparente, os melhores resultados foram observados para aqueles alimentados com 1%1X e 1%2X, porém, não diferem (P>0,001) daqueles alimentados com 2%1X, 2%2X e 3%2X, diferindo (P>0,001) dos outros tratamentos.

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) Tabela 2. Valores médios dos efeitos das diferentes biometrias para as variáveis ganho em peso (GP), conversão alimentar aparente (CA) e desdobramento da interação Biometrias 14 dias 28 dias 42 dias 54 dias 74 dias - final GP CA GP CA GP CA GP CA GP CA Arraçoamento (%) 1 9,17b 0,99 16,67c 0,92a 19,87c 1,56 23,04d 1,41a 26,65d 1,65c 2 15,92ab 0,96 25,83b 1,22ab 31,67b 1,57 43,58c 1,64a 50,25c 2,09b 3 18,50a 1,25 30,37ab 1,62bc 38,67b 1,86 52,83b 2,26b 70,08b 2,42b 4 20,58a 1,4 35,58a 1,91c 49,42a 1,98 65,42a 2,55b 84,21a 2,96a Frequência alimentar 1X 15,79 1,15 25,4 1,51 31,46b 1,93 39,27b 2,19a 46,75b 2,58a 2X 16,29 1,14 28,83 1,33 38,35a 1,55 53,17a 1,73b 68,83a 1,97b SEM 1,22 0,07 1,78 0,09 2,71 0,11 3,9 0,12 5,94 0,13 Probabilidade Arç. <0,01 0,069 <0,001 <0,001 <0,001 0,322 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 Freq. 0,770 0,957 0,088 0,097 <0,01 0,059 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 Arç.*Freq. 0,160 0,084 0,090 0,127 <0,01 0,159 <0,001 <0,001 <0,001 <0,01 Desdobramento da interação 1%1X 22,83de 23,67e 1,42a 27,58de 1,65a 1%2X 16,92e 22,42e 1,41a 25,67e 1,66a 2%1X 31,33cde 42,83c 1,65ab 53,14c 2,33abc 2%2X 32,00bcd 44,33c 1,63ab 55,92c 1,85ab 3%1X 30,75cde 39,67c 2,73c 53,67c 2,81b 3%2X 46,58ab 66,00b 1,79ab 86,50b 2,02ab 4%1X 40,92bc 50,92c 2,98c 61,17c 3,54c 4%2X 57,92a 79,92a 2,11b 107,25a 2,37bc Arç: porcentagem de arraçoamento; Freq.: frequência alimentar; 1%1X: 1% de ração em função do peso vivo e alimentados uma vez ao dia; 1%2X: 1% de ração em função do peso vivo e alimentados duas vezes ao dia; 2%1X: 2% de ração em função do peso vivo e alimentados uma vez ao dia; 2%2X: 2% de ração em função do peso vivo e alimentados duas vezes ao dia; 3%1X: 3% de ração em função do peso vivo e alimentados uma vez ao dia; 3%2X: 3% de ração em função do peso vivo e alimentados duas vezes ao dia; 4%1X: 4% de ração em função do peso vivo e alimentados uma vez ao dia; 4%2X: 4% de ração em função do peso vivo e alimentados duas vezes ao dia; Médias seguidas de letras por letras distintas na coluna indicam diferença significativa (P<0,05) pelo teste de Tukey. SEM: Erro padrão da média Com relação a influência da porcentagem de arraçoamento sobre o peso final, ganho em peso diário, comprimento final e fator de condição, observou-se melhores resultados para aqueles que receberam 4% de arraçoamento (Tabela 3). Porém, a sobrevivência e rendimento de carcaça não foram influenciados. Com relação a frequência alimentar os melhores resultados para o peso final, ganho em peso diário e comprimento foram observados para peixes alimentados 2X ao dia (Tabela 3). Ocorreu interação entre os manejos alimentares adotados para o peso final, ganho em peso diário e comprimento

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) final, porém, o desdobramento da interação, demonstrou melhores resultados para aqueles alimentados 4%2X ao dia diferindo (P<0,01) dos demais manejos alimentares adotados. Tabela 3. Desempenho produtivo, probabilidade e desdobramento da interação para as carpas alimentadas com diferentes frequências alimentares e percentual de arraçoamento PI PF GP GPd CAA CF FC SO RC Arraçoamento 1% 45,25 71,87d 26,65d 0,36d 1,65c 16,54c 1,59c 100,00 85,24 2% 44,75 99,28c 50,25c 0,74c 2,09b 17,85b 1,74b 95,83 85,34 3% 44,79 114,87b 70,08b 0,95b 2,42b 18,38ab 1,84ab 100,00 86,92 4% 44,62 128,83a 84,21a 1,14a 2,96a 18,78a 1,92a 100,00 85,48 Frequência alimentar 1X 44,75 93,64b 46,75b 0,66b 2,58a 17,53b 1,73 97,92 84,82 2X 44,96 113,79a 68,83a 0,93a 1,97b 18,25a 1,82 100,00 86,66 SEM 0,16 5,39 5,94 0,07 0,13 0,21 0,03 1,04 0,89 Probabilidade Arraçoamento 0,617 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 0,418 0,902 Frequência 0,559 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 0,015 0,332 0,327 Arç. * Freq. 0,628 <0,001 <0,001 <0,001 <0,01 <0,001 0,095 0,418 0,257 Desdobramento da interação 1%1X 72,67d 27,58de 0,37d 1,65a 16,52c 1%2X 71,08d 25,67e 0,35d 1,66a 16,56c 2%1X 97,64c 53,14c 0,72c 2,33abc 17,87b 2%2X 100,92c 55,92c 0,76c 1,85ab 17,83b 3%1X 97,75c 53,67c 0,72c 2,81b 17,82b 3%2X 131,00b 86,50b 1,17b 2,02ab 18,94a 4%1X 105,50c 61,17c 0,83c 3,54c 17,90b 4%2X 152,17a 107,25a 1,45a 2,37bc 19,67a PI: peso inicial; GPd: ganho de peso diário ((Peso final – peso inicial/dias de cultivo)); CF: Comprimento final; FC: Fator de condição ((Peso final/comprimento final 3)*100); SO: Sobrevivência ((número final/número inicial)*100); RC: Rendimento de carcaça ((peso da carcaça/peso final)*100); Arç: porcentagem de arraçoamento; Freq.: frequência alimentar; 1%1X: 1% de ração em função do peso vivo e alimentados uma vez ao dia; 1%2X: 1% de ração em função do peso vivo e alimentados duas vezes ao dia; 2%1X: 2% de ração em função do peso vivo e alimentados uma vez ao dia; 2%2X: 2% de ração em função do peso vivo e alimentados duas vezes ao dia; 3%1X: 3% de ração em função do peso vivo e alimentados uma vez ao dia; 3%2X: 3% de ração em função do peso vivo e alimentados duas vezes ao dia; 4%1X: 4% de ração em função do peso vivo e alimentados uma vez ao dia; 4%2X: 4% de ração em função do peso vivo e alimentados duas vezes ao dia; Médias seguidas de letras por letras distintas na coluna indicam diferença significativa (P<0,05) pelo teste de Tukey. SEM: Erro padrão da média Discussão Os resultados observados no presente trabalho, seguem um padrão lógico no que tange o metabolismo animal, os peixes que receberam 4% de arraçoamento apresentam os melhores resultados de peso final, ganho de peso, ganho de peso diário e conversão alimentar aparente, pois receberam mais ração e este maior crescimento e esperado. Por outro lado, observou-se maiores índices de conversão alimentar aparente, para aqueles peixes que receberam maiores percentuais de ração, demonstrando que 80


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) houve alimentação além do necessário para os animais. Os resultados observados para o ganho de peso, são similares aos relatados por Marques et al. (2004) avaliando níveis de arraçoamento para carpa capim, onde recomendam 6% de ração para alevinos de uma grama. Por outro lado, Chagas et al. (2007) avaliando o percentual de ração para o tambaqui em tanques-rede recomendam 1% do peso vivo para peixes acima de 200g e Salaro et al. (2008) recomendam 4% do peso vivo para juvenis de trairão. As variações nas respostas de crescimento observadas, variam em função da fase de crescimento do peixe (DENG et al., 2003) o que explica as diferentes porcentagens de arraçoamento. A determinação do manejo alimentar independente da espécie de peixes a ser cultivada, é fundamental para a obtenção de uma produção eficiente, pois a necessidade nutricional é diretamente influenciada pela disponibilidade alimentar (SALARO et al., 2008), sendo fundamental estabelecer a quantidade de ração e a frequência a ser fornecida. A porcentagem de alimentação influencia no crescimento (NG et al., 2000; QIAN et al., 2001; VAN HAM et al., 2003) na conversão alimentar aparente (MARQUES et al., 2004; MEURER et al., 2005), na qualidade de água, tornando os peixes suscetíveis a doenças (MEURER et al., 2005), sendo que este parâmetro é influenciado pela temperatura da água (HIDALGO et al., 1987; SANTIAGO et al., 1987) e qualidade de água. A frequência de alimentação influenciou positivamente no desempenho de várias espécies de peixes, de maneira geral os melhores resultados são observados para aqueles peixes que recebem maiores parcelas diárias de ração, pois o intervalo entre os arraçoamentos reduz, conforme observado para a carpa, que apresentam maior desempenho para aqueles que receberam duas alimentações diárias. Porém, vários autores relatam melhorias no desempenho, quando o intervalo entre o fornecimento de ração é mais próximo, ou seja, mais arraçoamentos diários. Bittencourt et al. (2013) relatam que a carpa comum apresenta melhor peso final e consequentemente ganho em peso para aqueles alimentados quatro vezes ao dia. Marques et al. (2008) recomenda no mínimo quatro arraçoamentos diários para alevinos de carpa capim. Zaminham et al. (2011) recomendam quatro alimentações diárias para alevinos de piapara. Canton et al. (2007) para juvenis de jundiá recomendam 2 vezes ao dia. Estes resultados demonstram a importância de dividir os arraçoamentos em maiores parcelas diárias, pois aliado ao fornecimento de ração, existe o custo com o manejo da alimentação com mão de obra que aumenta conforme aumenta a frequência alimentar. Outra característica que deve ser observada e que influencia é o hábito alimentar dos peixes, pois peixes com estômago pequeno necessitam maiores parcelas de alimentação comparados a peixes com hábitos carnívoros, que possuem estômago grande. O aumento na frequência de fornecimento do alimento permite maior contato visual do produtor com o peixe, possibilitando melhor acompanhamento do estado de saúde dos animais, no entanto, salienta que haverá aumento nos custos referentes à mão de obra que devem ser considerados (CARNEIRO; MIKOS, 2005). Conhecendo-se o efeito do percentual de arraçoamento em função do peso vivo, é possível estabelecer tabelas de referência para a espécie em questão, porém, o percentual por si só não significa um efeito positivo no desempenho, pois a forma frequência de fornecimento influirá nos resultados. Fato este observado no atual trabalho, pois os peixes que receberam 4%2X ao dia, apresentam ganho em peso superior (174,92%) e conversão alimentar aparente inferior (33,05%) comparado aqueles peixes que receberam 4%1X ao dia, demonstrando a importância não só da quantidade de ração, mas também do número de parcelas diárias. Outro fator interessante é que a maior frequência alimentar reduz a disparidade do peso final dos peixes, facilitando os manejos e a comercialização (HAYASHI et al., 2004), fator este que não sofreu influência de uma ou duas alimentações diárias. 81


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Conclusão Para juvenis de carpa comum (Cyprinus carpio), recomenda-se o fornecimento de alimentação 4% de arraçoamento duas vezes ao dia, por proporcionar melhor ganho em peso dos peixes, porém, o melhor índice de conversão alimentar aparente ocorre quando alimentados com 1% de ração alimentado uma ou duas vezes ao dia. Referência Bibliográfica BITTENCOURT, F.; NEU, D.H.; POZZER, R.; LUI, T.A.; FEIDEN, A.; BOSCOLO, W.R. Frequência de arraçoamento para alevinos de carpa comum. Boletim do Instituto de Pesca, v.39, n.2, p.149-156, 2013. CANTON, R.; WEINGARTNER, M.; FRACALOSSI, D.M.; ZANIBONI FILHO, E. Influência da frequência alimentar no desempenho de juvenis de jundiá. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36 n.4, p. 749-753, 2007. CARNEIRO, P.C.F.; MIKOS, J.D. Frequência alimentar e crescimento de alevinos de jundiá, Rhamdia quelen. Ciência Rural, v.35, n.1, p.87-91, 2005. CHAGAS, E.C.; GOMES, L.C.; JÚNIOR, H.M.; ROUBACH, R. Produtividade de tambaqui criado em tanque-rede com diferentes taxas de alimentação. Ciência Rural, v.37, n.4, p.1109-1115, 2007. DENG, D.F.; KOSHIO, S.; YOKOYAMA, S.; BAI, S.C.; SHAO, Q.; CUI, Y.; HUNG, S.S.O. Effects of feeding rate on growth performance of white sturgeon (Acipenser transmontanus) larvae. Aquaculture, v.217, p.589-598, 2003. DIETERICH, T.G.; POTRICH, F.R.; LORENZ, E.K.; SIGNOR, A.A.; FEIDEN, A.; BOSCOLO, W.R. Parâmetros zootécnicos de juvenis de pacu alimentados a diferentes frequências de arraçoamento em tanques-rede. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.48, n.8, p.1043-1048, 2013. DWYER, K.S.; BROWN, J.B.; PARRISH, C.; LALL, S.P. Feeding frequency affects food consumption, feeding pattern and growth of juvenile yellowtail flounder, Limanda ferruginea. Aquaculture, v.213, n.1-4, p.279-292, 2002. GOMES, L.C.; ADRIANA R. CHIPPARI-GOMES, A.R.; LOPES, N.P.; ROUBACH, R. ARAÚJO-LIMA, C.A.R.M. Efficacy of benzocaine as an anesthetic in juvenile tambaqui Colossoma macropomum. Journal of the World Aquaculture Society, v.32, n.4, p.426-431, 2001. HAYASHI, C.; MEURER, F.; BOSCOLO, W.R.; LACERDA, C.H.F.; KAVATA, L.C.B. Frequência de arraçoamento para alevinos de lambari do rabo-amarelo (Astyanax bimaculatus). Revista Brasileira de Zootecnia, v.33, n.1, p.21-26, 2004. HIDALGO, F.; ALLIOT, F.E.; THEBAULT, H. Influence of water temperature on food intake, food efficiency and Gross composition of juvenile sea bass, Dicentrarchus labrax. Aquaculture, v.64, p.199-207, 1987. LEE, S.M.; CHO, S.H.; KIM, D.J. Effects of feeding frequency and dietary energy level on growth and body composition of juvenile flounder, Paralichthys olivaceus (Temminck & Schlegel). Aquaculture Research, v.31, n.12, p. 917-921, 2000a. LEE, S.M.; HWANGB, U.G.; CHOCET, S.H. Effects of feeding frequency and dietary moisture content on growth and body composition and gastric evacuation of juvenile korean rockfish (Sebastes schlegeli). Aquaculture, v.187, n.4, p.399409, 2000b. MARQUES, N.R.; HAYASHI, C.; GALDIOLI, E.M.; SOARES, T.; FERNANDES, C.E.B. Frequência de alimentação diária para alevinos de carpa-capim (Ctenopharyngodon idella, V.). Boletim Instituto de Pesca, São Paulo, v.34, n.2, p.311317, 2008.

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) MARQUES, N.R.; HAYASHI, C.; SOUZA, S.R.; SOARES, T. Efeito de diferentes níveis de arraçoamento para alevinos de carpa-capim (Ctenopharyngodon idella) em condições experimentais. Boletim do Instituto de Pesca, v.30, n.1, p.51-56, 2004. MEURER, F.; HAYASHI, C.; BOSCOLO, W.R.; KAVATA, L.B.; LACERDA, C.H.F. Nível de arraçoamento para alevinos de lambari-do-rabo-amarelo (Astyanax bimaculatus). Revista Brasileira de Zootecnia, v.34, n.6, p.1835-1840, 2005. MURAI, T.; ANDREWS, J.W. Effect of frequency of feeding on growth and food conversion of channel catfish fry. Bulletim of Japanese Society on Science of Fisheries, v.42, p.159-161, 1976. NG, W.K.; LU, K.S.; HASHIM, R.; ALI, A. Effctes of feeding rate on growth, feed utilization and body composition of a tropical bagrid catfish. Aquaculture International, v.8, p.19-29, 2000. QIAN, X.; CUI, Y.; XIONG, B.; XIE, S.; ZHU, X.; YANG, Y. Spontaneous activity was unaffected by ration size in Nile tilapia and gibel carp. Journal of Fish Biology, v.58, p.594-598, 2001. ROCHA LOURES, B. T.R.R.; RIBEIRO, R.P.; VARGAS, L.; MOREIRA, H.L.M.; SUSSEL, F.R.; CAVICHIOLO, J.A.P. Manejo alimentar de alevinos de tilápia do Nilo, Oreochromis niloticus (L.), associado às variáveis físicas, químicas e biológicas do ambiente. Acta Scientiarum, v.23, n.4, p.877-883, 2001. SALARO, A.L.; LUZ, R.K.; SAKABE, R.; KASAI, R.Y.D.; LAMBERTUCCI, D.M. Níveis de arraçoamento para juvenis de trairão (Hoplias lacerdae). Revista Brasileira de Zootecnia, v.37, p.967-970, 2008. SANTIAGO, C.B.; ALDABA, M.B.; REYES, O.S. Influence of feeding rate and diet from on growth and survival of Nile tilapia (Oreochromis niloticus) fry. Aquaculture, v.64, p.277-282, 1987. SANTOS, M.M.; CALUMBY, J.A.; COELHO FILHO, P.A.; SOARES, E.C.; GENTELINI, A.L. Nível de arraçoamento e frequência alimentar no desempenho de alevinos de tilápia-do-Nilo. Boletim do Instituto de Pesca, v.41, n.2, p.387-395, 2015. SIGNOR, A.A.; SIGNOR, F.R.P.; NERVIS, J.A.L.; WATANABE, A.L.; BOSCOLO, W.R. Feed management of pacu juveniles cultivated in net cages. Boletim do Instituto de Pesca, 2018, No Prelo. SOUZA E SILVA, W.; CORDEIRO, N.I.S.; COSTA, D.C.; TAKATA, R.; LUZ, R.K. Frequência alimentar e taxa de arraçoamento durante o condicionamento alimentar de juvenis de pacamã. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.49, n.8, p.648-651, 2014. VAN HAM, E.H.; BERNTSSEN, M.H.G.; IMSLAND, A.K.; PARPOURA, A.C.; BONGAA, S.E.W.; STEFANSSONE, S.O. The influence of temperature and ration on growth, feed conversion, body composition and nutrient retention of juvenile turbot (Scophthalmus maximus). Aquaculture, v.217, p.547-558, 2003. ZAMINHAN, M.; REIS, E.S.; FREITAS, J.M.A.; FEIDEN, A.; BOSCOLO, W.R.; FINKLER, J.K. Freqüência de arraçoamento para alevinos de piaparas Leporinus elongatus. Revista Cultivando o Saber, v.4, p.187-192, 2011.

Recebido em 25/06/2018 Aceito em 19/07/2018

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Revista Agrária Acadêmica Agrarian Academic Journal Volume 1 – Número 3 – Set/Out (2018) ___________________________________________________________________________________ doi: 10.32406/v1n32018/84-91/agrariacad

Lipídios para vacas leiteiras – desempenho e composição do leite Lipids for dairy cows – performance and milk composition Dhemerson da Silva Gonçalves1*, Rogério Mendes Murta2, Camila Marques Oliveira3, Hélio Oliveira Neves4, Antônio Eustáquio Filho2, Thiago Carlos e Silva3 1*

- Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Norte de Minas Gerais – IFNMG – Januária, MG, Brasil. E-mail: dhemerson75@gmail.com 2 - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Norte de Minas Gerais – IFNMG – Salinas, MG, Brasil. 3 - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Norte de Minas Gerais – IFNMG – Januária, MG, Brasil. 4 - Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes – Janaúba, MG, Brasil.

___________________________________________________________________________________ Resumo O objetivo desta revisão é estudar e comparar os efeitos da utilização de diferentes níveis e fontes lipídicas na produção e composição do leite em vacas leiteiras. Usar lipídios visa aumentar o desempenho produtivo por animal e a concentração energética da dieta para suprir o déficit de energia no início da lactação e obter maior eficiência de produção de leite. Diversas fontes são usadas, como caroço de algodão, soja, girassol, óleos vegetais e sais de cálcio de ácidos graxos de cadeia longa. Trabalho recente sugere maior porcentagem de gordura na dieta variando de 8-9%. A utilização de gorduras na dieta, no início da lactação traz benefícios no desempenho dos animais. Palavras-chave: Dieta, Ruminantes, Bovinos, Gordura Abstract The objective of this revision is to study and compare the effects of the use of different levels and lipid sources in the production and composition of milk in dairy cows. Using lipids aims to increase the productive performance per animal and the energy concentration of the diet to supply the energy deficit at the beginning of lactation and to obtain greater efficiency of milk production. Several sources are used, such as lump of cotton, soybeans, sunflower, vegetable oils and calcium salts of long-chain fatty acids. Recent work suggests higher percentage of fat in the diet ranging from 8-9%. The use of fats in the diet at the beginning of lactation brings benefits in the performance of animals. Keywords: Diet, Ruminants, Bovine, Fat

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) Introdução A inclusão de fontes de gordura na dieta de vacas leiteiras tem despertado interesse nos últimos anos. A despeito dos benefícios não-calóricos (melhora no desempenho reprodutivo e alteração no perfil de ácidos graxos no leite), o motivo da suplementação com gordura tem sido a possibilidade de aumentar a produção de leite por vaca e a necessidade de aumentar a concentração energética da dieta, especialmente durante a fase inicial da lactação, quando o consumo de matéria seca (MS) não atende as exigências de produção de vacas de alto mérito genético (MACHADO, 2012, p. 27). Após o parto, a produção de leite e o consumo de alimentos aumentam consideravelmente. O animal busca em suas reservas corporais, suprir essa deficiência (BARBOSA et al., 2016, p. 5). Retiradas incessantes das reservas corporais podem ocasionar desordem no metabolismo, como acetonemia e fígado adiposo (SCHEIN, 2012, p. 2). Para suprir esses nutrientes, é necessário que eleve o consumo de alimentos de boa qualidade e de alta densidade energética. Para aumentar a densidade energética da dieta pode-se elevar a proporção de alimentos concentrados. Contudo, o fornecimento máximo de concentrado deve ser limitado, respeitando a necessidade de um mínimo de fibra para o funcionamento ideal do ambiente ruminal e a manutenção dos teores de gordura no leite. Usar gordura na suplementação de vacas leiteiras é uma alternativa para elevar o teor energético da dieta (SARTORI; GUARDIEIRO; 2010, p. 426). Lipídios (óleo ou gordura) têm sido utilizados para aumentar a densidade energética das dietas. O uso de óleo de soja em pequenas quantidades na dieta reduz o consumo de alimento, tornando mais eficiente a produção de leite. Usar óleo de soja modificará a composição do leite, inclusive a concentração de gordura (SILVA et al., 2010, p. 52). A adição de fontes de lipídeos em dietas de vacas leiteiras é uma alternativa utilizada, pois aumenta a capacidade de absorção de vitaminas lipossolúveis; fornece ácidos graxos essenciais, os quais atuam como componentes das membranas celulares e precursores das moléculas regulatórias; e aumenta a eficiência de deposição de gordura no leite, levando a um aumento parcial da eficiência de produção do leite. O uso de lipídeos em rações apresenta efeitos desejáveis, como inibição da produção de metano (MACHADO et al., 2011, p. 35), redução da concentração de NH 3 ruminal (MESSANA et al., 2013, p. 209), e aumento de ácido linoleico conjugado (CLA) (OLIVEIRA et al., 2012, p. 34), no entanto, sem influenciar a síntese de proteína microbiana (D’ANGELO, 2009, p. 80). Por outro lado, reduz a digestibilidade da matéria seca (MS) e redução na relação acetato:propionato com consequente diminuição da gordura do leite (MORAIS et al., 2012, p. 9). Existem várias fontes de lipídios que podem ser adicionadas na dieta, buscando aumentar a ingestão de energia pelo aumento da densidade energética da dieta sem reduzir o conteúdo de fibras. Sementes de oleaginosas como caroço de algodão, soja, girassol, entre outras podem ser usadas como suplementos lipídicos. Também podem ser utilizadas na dieta os óleos vegetais e os sais de cálcio de ácidos graxos de cadeia longa (MEDEIROS et al., 2015, p. 74 e 75). Em vacas leiteiras em lactação, aumentar a densidade energética da dieta através da suplementação lipídica é uma prática utilizada, para suprir o deficit de energia no início da lactação e obter maior eficiência de produção de leite. Suplementação de gordura deve levar em consideração a quantidade e fonte de lipídios para que haja um efeito mínimo na fermentação ruminal, já que as gorduras insaturadas possuem efeitos inibitórios sobre os microrganismos celulolíticos (ANGELI, 2014, p. 6). Segundo o NRC (2001, p. 30), as respostas produtivas à suplementação de gordura nas dietas de vacas em lactação dependem da dieta basal, do estágio de lactação, do balanço energético, da composição e quantidade da fonte de gordura utilizada. 85


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) Objetivou-se com esta revisão estudar os efeitos da utilização de diferentes níveis e fontes lipídicas sobre a produção e composição do leite em vacas leiteiras. Desenvolvimento Desempenho de vacas leiteiras alimentadas com diferentes fontes lipídicas A suplementação de gordura tem elevado a produção de leite, alguns estudos, entretanto, as respostas têm sido variáveis. Algumas das variações talvez sejam devidas à redução na ingestão de alimento devido a aspectos ligados à motilidade intestinal, aceitabilidade das dietas suplementadas com gordura, liberação de hormônios intestinais e oxidação das gorduras pelo fígado (ARAUJO et al., 2010, p. 4124). Ao efetuar a inclusão de uma fonte de lipídio, deve-se reformular a dieta, inclusive para o teor de proteína não degradável no rúmen, pois poderá haver redução da síntese de proteína microbiana. Tal fato se deve à redução na quantidade de carboidratos não fibrosos, fonte de energia rapidamente utilizável pelas bactérias, e porque lipídeos não são fontes de energia para crescimento microbiano. A quantidade recomendada de adição de gordura, na dieta de vacas lactantes de alta produção, é interessante que seja menos de 5% do conteúdo de MS, aproximadamente 50 gramas de gordura por dia para cada quilograma de matéria seca, devendo-se cuidar para que o conteúdo máximo de gordura na ração não exceda 6% do conteúdo de MS desta (MEDEIROS et al., 2015, p. 67, 68 e 75). Outro trabalho sugere maior porcentagem de gordura na dieta, conforme Ferreira et al. (2009, p. 3), vacas de alta produção necessitam de níveis maiores de energia na matéria seca da dieta, variando de 8-9%. Altas concentrações de gordura podem causar efeito tóxico de ácidos graxos de cadeia longa sobre as bactérias ruminais, fundamentalmente sobre as metanogênicas e celulolíticas (BASSI et al., 2012, p. 354), quando os níveis de gordura disponível no rúmen são superiores a 6% da MS da dieta, sob a forma de gorduras não-protegidas (BASSI et al., 2012, p. 354). A toxidez ocorre em função da possibilidade de formar uma capa sobre as partículas dos alimentos, interferindo, na aderência dos microrganismos, com consequente redução da digestão microbiana da fibra (DEVENDRA; LEWIS, 1974, p. 68). Portanto, uma fonte ideal de gordura para vacas em lactação é aquela que não interfere na digestibilidade dos demais nutrientes, mas que apresenta elevada digestibilidade intestinal. Também não modifique o pH ruminal, pois assim interfere na absorção dos nutrientes que compõem a dieta (NRC, 2001, p. 31). A primeira razão para o aumento de produção é a melhor eficiência de utilização da gordura dietética, onde as perdas energéticas durante o metabolismo são menores em relação à utilização de grãos comumente utilizados em concentrados e em volumosos. Para Dijkstra et al. (2014, p. 1) O uso de óleo vegetal na alimentação de vacas leiteiras proporciona aumento na densidade energética das rações devido à presença dos extratos secos totais. Sendo assim, usar gordura vegetal pode ser uma boa alternativa para reduzir o balanço energético negativo no período inicial da lactação e aumenta o desempenho de produção e reprodução após o parto, tendo cuidado para não exceder as quantidades recomendadas de lipídios na dieta (DIAS, 2015, p. 17). Efeito dos Lipídios nas diferentes fases de lactação É preciso enfatizar que as diferentes fases de lactação podem influenciar o aproveitamento de energia devido ao balanço de energia em que o animal se encontra. Fornecer ração, adicionadas de fontes de gordura para vacas leiteiras no início da lactação, aumenta positivamente a digestão da 86


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) matéria seca, a absorção de nutrientes, melhora o balanço energético e maior desempenho de produtividade (D'ANGELO, 2009, p. 80). A maior produção de leite durante os primeiros 65 dias de lactação, quando se usa gordura protegida na dieta (SILVEIRA et al., 2014, p. 813). Efeitos dos Lipídios na composição do leite Com relação a variações na composição do leite, o teor de gordura e proteína do leite são as frações que estão sujeitas as maiores alterações durante a suplementação com gordura nas dietas. O processo de biohidrogenação ruminal pode causar indiretamente variações no teor de gordura do leite (MACHADO, 2012, p. 24). Segundo Machado (2012, p. 15), o processo de biohidrogenação é mais intenso, sendo maior de 90%, quando se fornece óleos nas rações. Esse processo pode ser realizado por rota alternativa, produzindo ácidos graxos específicos cis-9, trans-11- CLA e o trans-10, cis-12 CLA. Estudos demonstraram que o isômero trans-10, cis -12 CLA produzido durante o processo de biohidrogenação têm efeito inibidor sobre a síntese da gordura do leite na glândula mamária (HARVATINE et al., 2009, p. 43). Onetti e Grummer (2003, p. 2956) verificaram que sais de cálcio de ácidos graxos em dietas com média de 3,6% de extrato etéreo tem menor impacto sobre a população microbiana no rúmen e consequentemente, não são esperadas reduções na síntese de gordura do leite. Entretanto, o processo de biohidrogenação é mais intenso com suplementos de gordura altamente insaturadas no rúmen como óleos vegetais (COSTA; FONTES, 2010, p. 16). Ocorre redução nos níveis de gordura no leite (D'ANGELO, 2009, p. 80). O uso de fontes de gordura nas rações de vacas leiteiras pode também promover redução no teor de proteína do leite. Mudanças nas frações proteicas, como a concentração de caseína, ou nas variações nas concentrações de alguns hormônios que podem promover mudanças fisiológicas que afetam a síntese de proteína do leite (DEITOS et al., 2010, p. 27). A hipótese mais aceita envolve o aumento no fornecimento de energia, consiste no suprimento de aminoácidos, onde este último não consegue atender a demanda para síntese de proteína na mesma intensidade na qual ocorre aumento do consumo de energia (SWANEPOEL et al., 2010, p. 92). Onetti e Grummer (2004, p. 74) utilizaram fontes de gordura e observaram baixa concentração de N-NH 3 ruminal como consequência de dietas com alta quantidade de silagem de milho e presença de ácidos graxos insaturados, que pode reduzir o crescimento microbiano e consequentemente o aproveitamento de aminoácidos disponíveis para a glândula mamária e para síntese de proteína. Estes autores verificaram redução no teor de proteína do leite para os animais suplementados com gordura. Discussão Diversos trabalhos têm avaliado o uso de lipídios na suplementação de vacas leiteiras, avaliando o desempenho produtivo, também a digestibilidade e a composição do leite, usando dietas enriquecidas com fontes de lipídios. Murta (2012, p. 50) testou diferentes dietas lipídicas com caroço de algodão, óleo de soja e óleo de soja de fritura, corrigidas para atender as exigências de mantença e produção de 15 kg/leite/dia, com 3,5% de gordura. O uso de dietas lipídicas ocasionou redução da digestibilidade aparente de MS, sem diferenças significativas entre os tratamentos, não alterando o consumo de MS e a produção de leite. De acordo com Onetti e Grummer (2004, p. 66), a resposta positiva à suplementação de gordura dietética deve ser esperada, em virtude da maior disponibilidade de energia líquida, desde que não ocorra redução no consumo de matéria seca. Santos et al. (2009, p. 1371) concluíram que a utilização 87


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) de óleo de soja em rações para vacas no período de transição não influencia o consumo nem o desempenho produtivo, mas aumenta a ingestão de energia e melhora o balanço de nutrientes durante o início da lactação. Murta (2012, p. 52) observou que o fornecimento de diferentes fontes lipídicas não influenciou na produção de leite, quando utilizado na quantidade de 5,5% da dieta. Pesquisas demonstram que os ácidos graxos a ser suplementada na ração de vacas leiteiras devem ser equivalentes à quantidade de ácidos graxos contida no leite. Cerca de 60% dos ácidos graxos dietéticos são diretamente incorporados na gordura do leite, isso levando em consideração uma digestibilidade média de 80% para os ácidos graxos, e uma absorção de 75%. A quantidade de suplementação lipídica pode ser calculada através da fórmula: % gordura suplementar = _____6 x % FDA______ % total de AGI na gordura suplementar Deve-se atentar ao fato de que a suplementação não pode ser feita de forma excessiva com fontes de lipídeos ricas em ácidos graxos insaturados, pois pode ocorrer inibição dos microrganismos que degradam a fibra e comprometer a biohidrogenação (PALMQUIST; MATTOS, 2006, p. 287-310). A suplementação lipídica deve ser adotada para vacas de alta produção até aproximadamente 120 dias após o parto. Deve-se dar prioridade a alimentos como caroço de algodão, e sementes de soja, girassol ou canola. É necessário que a suplementação lipídica seja adotada de forma gradativa em 10 a 15 dias (MEDEIROS et al., 2015, p. 75). A resposta produtiva da utilização de gordura dietética suplementar para vacas em lactação pode resultar em acréscimos na produção de leite de até 1,32 kg/vaca/dia, condicionando estes resultados a adaptação dos animais às dietas contendo gordura e ao tempo suficiente de avaliação para responderem as dietas ricas em energia (NORNBERG et al., 2006, p. 1435). A pesquisa tem demonstrado que a depressão da gordura do leite é uma realidade quando se fala em suplementação lipídica. O alto consumo de ácidos graxos insaturados e o baixo pH ruminal levam a formação do isômero CLA trans-10 cis-12 18:2 que é provavelmente um poderoso inibidor da síntese de gordura do leite. Por isso, deve-se ter muita atenção nas fontes lipídicas utilizadas na suplementação. Fontes ricas em ácidos graxos insaturados não devem ser fornecidas em excesso, pois podem causar a depressão da gordura do leite. Por outro lado, fontes ricas em ácidos graxos saturados ou mais inertes no rúmen podem aumentar a gordura do leite (OLIVEIRA et al., 2004, p. 77). A depressão da gordura do leite também está associada ao fornecimento de dietas com baixo teor de fibra em detergente neutro, alto teor de amido e, a animais excessivamente gordos e com laminite (RODRIGUES, 2014, p. 17). Santos et al. (2009, p. 1369) observaram que o teor de gordura no leite diferiu entre vacas submetidas a dietas com 2,5 e 5,5% de EE no período de transição (quatro semanas pré-parto até nove semanas pós-parto) e foi significativo a partir da quarta semana de lactação, quando a diferença na produção total de leite se tornou expressiva. O aumento da absorção dos ácidos graxos trans no sangue induz à diminuição do teor de gordura do leite. A utilização de óleo de soja degomado (7% EE na MS da dieta) aumenta o teor de CLA na gordura do leite, em comparação aos teores encontrados em dietas com grão de soja com o mesmo nível de inclusão e controle (3% EE na MS da dieta) (SANTOS et al., 2001, p. 1937). Considerações finais

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) Considerando-se os elevados custos dos alimentos concentrados, especialmente milho e sorgo, a substituição parcial ou total destes alimentos por produtos de menores custos pode aumentar a eficiência do sistema de produção de leite em regiões onde não se tem a produção destes grãos. A utilização de fontes de gorduras na dieta de vacas lactantes, principalmente no início da lactação traz benefícios no desempenho dos animais. É preciso ter atenção nos níveis e fontes lipídicas para que não ocorram efeitos negativos na digestão da fibra e composição do leite. Referências bibliográficas ANGELI, N.C. Metabolismo de lipídeos em ruminantes. Seminário apresentado na disciplina Bioquímica do Tecido Animal, Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2014. 6 p. ARAUJO, D.B.; COOKE, R.F.; HANSEN, G.R. et al. Effects of rumen-protected polyunsaturated fatty acid supplementation on performance and physicological response of growing cattle after transportation and feedlot entry. Journal of Animal Science, v.88, p.4120-4132, 2010. BARBOSA, L.P.; RODRIGUES, M.T.; GUIMARÃES, J.D. et al. Influência da condição corporal ao parto no balanço energético e desempenho reprodutivo de cabras leiteiras no pós-parto. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária de Zootecnia, v.68, n.5, p.1-10, 2016. BASSI, M.S.; LADEIRA, M.M.; CHIZZOTTI, M.L. et al. Grãos de oleaginosas na alimentação de novilhos zebuínos: consumo, digestibilidade e desempenho. Revista Brasileira de Zootecnia, v.41, n.2, p.353-359, 2012. COSTA, R.L.D.; FONTES, R.S. Ácidos graxos na nutrição e reprodução de ruminantes. PUBVET, v.4, n.24, p.1-39, 2010. D'ANGELO, L.S. Fontes de gordura na alimentação de vacas leiteiras no período de transição e início de lactação. 2009. 91 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, Pirassununga, 2009. DEITOS, A.C.; MAGGIONI, D.; ROMERO, E.A. Produção e qualidade de leite de vacas de diferentes grupos genéticos. Campo Digital, v.5, n.1, p.26-33, 2010. DEVENDRA, C.; LEWIS, D. The interaction between dietary lipids and fibre in the sheep. Animal Production, v.19,n.1, p.67-76, 1974. DIAS, A.P. Estratégias nutricionais para minimizar o balanço energético negativo em vacas leiteiras durante o período de transição. 2015. 58 f. TCC (Graduação) - Curso de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2015. DIJKSTRA, D.; NETO, R.F.; OLIVEIRA JUNIOR, A.R. de, et al. Efeito da suplementação lipídica na produção e composição do leite de vacas leiteiras. Caderno de Ciências Agrárias, v.1, n.1, p.1-9, 2014. FERREIRA, C.B.; SANTOS, L.A. dos; AGUIAR, V.A. et al. Utilização de gordura inerte na dieta de ruminantes. II Semana de Ciência e Tecnologia do IFMG campus Bambuí II Jornada Científica, 2009. HARVATINE, K.J.; BOISCLAIR, Y.R.; BAUMAN, D.E. Recent advances in the regulation of milk fat synthesis. Animal, v.3, n.1, p.40-54, 2009. MACHADO, F.S.; PEREIRA, L.G.R.; GUIMARÃES JÚNIOR, R. et al. Emissões de metano na pecuária: conceitos, métodos de avaliação e estratégias de mitigação. Embrapa Gado de Leite-Documentos, Juiz de Fora, 2011.

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) SILVEIRA, M.F.; RESTLE, J.; ALVES FILHO, D.C. et al. Suplementação com gordura protegida para vacas de corte desmamadas precocemente mantidas em pastagem natural. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.66, n.3, p.809-817, 2014.

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018)

Revista Agrária Acadêmica Agrarian Academic Journal Volume 1 – Número 3 – Set/Out (2018) ___________________________________________________________________________________ doi: 10.32406/v1n32018/92-105/agrariacad

Avaliação ergonômica em atividades de supressão vegetal: uma revisão sistemática Ergonomic evaluation in plant suppression activities: a systematic review Bruno Machado Araújo1*, Gustavo Costa de Oliveira2, Paulo Henrique Catunda3 1*

- Programa de Pós-graduação em Agricultura e Ambiente/Centro de Estudos Superiores de Balsas – CESBA/Universidade Estadual do Maranhão – UEMA – Endereço: Praça Gonçalves Dias, s/n – Balsas, MA, CEP: 65.800-000. ambiental.bruno@hotmail.com 2 - Programa de Pós-graduação em Agricultura e Ambiente/Centro de Estudos Superiores de Balsas – CESBA/Universidade Estadual do Maranhão – UEMA 3 - Centro de Ciências Agrárias – CCA, Universidade Estadual do Maranhão – UEMA, São Luís, MA

___________________________________________________________________________________ Resumo O presente trabalho teve como objetivo a elaboração de uma revisão bibliográfica sistemática de artigos referentes à avaliação ergonômica em atividades de supressão vegetal e discussão dos fatores de risco. A identificação dos artigos e inclusão dos mesmos ocorreu no período de agosto a dezembro de 2016. As bases de dados eletrônicas utilizadas foram: SciELO; PubMed; PLOS ONE e Google Acadêmico. As buscas foram conduzidas através de descritores catalogados no Descritor em Ciências da Saúde (DeCS). Diante da complexidade e da importância das atividades de supressão vegetal ser avaliadas ergonomicamente, destaca-se aqui a extrema necessidade de desenvolvimento e publicação de mais trabalhos na área em questão. Palavras-chave: Ergonomia, Supressão vegetal, Riscos Abstract The present work had as objective the elaboration of a systematic bibliographical revision of articles referring to the ergonomic evaluation in activities of vegetal suppression and discussion of the risk factors. The identification of articles and their inclusion occurred in the period from August to December 2016. The electronic databases used were: SciELO; PubMed; PLOS ONE and Google academic. The searches were conducted through descriptors cataloged in the Descriptor in Health Sciences (DeCS). In view of the complexity and importance of the plant suppression activities being evaluated ergonomically, the extreme need to develop and publish more works in the area in question is highlighted here. Keywords: Ergonomics, Vegetal supression, Scratchs

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) Introdução A Norma Regulamentadora (NR-17) visa a estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. As condições de trabalho incluem aspectos relacionados ao levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos e às condições ambientais do posto de trabalho, e à própria organização do trabalho. Para avaliar a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, cabe ao empregador realizar a análise ergonômica do trabalho, devendo a mesma abordar, no mínimo, as condições de trabalho, conforme estabelecido nesta Norma Regulamentadora (NR 17, 2009). As pesquisas da Ergonomia da Atividade fizeram surgir três níveis de trabalho: o teórico, o prescrito e o realizado. O primeiro é definido como aquele existente nas representações sociais, com base no cidadão comum, no trabalhador ou nos conceptores de prescrições. Já o segundo, o prescrito, é aquele definido por normas, por regras, por documentos, nas organizações de trabalho. Por sua vez, o realizado é conceituado como aquele que o trabalhador efetivamente realiza de acordo com as prescrições que são dadas (MUNIZ-OLIVEIRA, 2010; TEIGER, 1993). Para o estabelecimento das atividades humanas faz-se necessário intervenções no meio natural com uso ou retirada dos recursos naturais. Várias atividades são inerentes ao processo deste estabelecimento, seja através da exploração mineral, uso do solo, uso de recursos florestais dentre outros. Em áreas nativas vários são os conceitos para este estabelecimento inicial da atividade humana também conhecida como antropização, sendo geralmente associados a danos ao meio ambiente. Na atividade florestal, em especial na exploração florestal, principalmente nas atividades referentes ao corte (derrubada) da madeira, o conceito de Segurança do Trabalho foi considerado por muito tempo como não sendo pertencente a esta atividade, o que levou ao desconhecimento de tal conceito por parte dos operadores de motosserra (SILVA, 2013). A modernização das operações de colheita florestal teve início na década de 1970, quando a indústria nacional começou a produzir maquinário de portes leve e médio. Neste período surgiram as motosserras profissionais, os skidders e os autocarregáveis (FREITAS, 2008). Todavia, com a abertura das importações em 1994, o aumento no custo da mão de obra, a necessidade de executar o trabalho de forma mais ergonômica, de se ter maior eficiência e diminuição dos custos de produção, muitas empresas iniciaram a mecanização da colheita de forma mais intensiva (MACHADO; LOPES, 2008). O procedimento correto para as intervenções do homem no meio ambiente é denominado supressão autorizada, no qual o órgão ambiental dá a anuência prévia para início do corte de indivíduos arbóreos com procedimentos pré-definidos e acompanhamento por profissionais habilitados. Os termos utilizados apesar da terminologia para o mesmo processo divergem eventualmente sendo chamado de supressão vegetal, desflorestamento, desmatamento, sendo que todos se referem a retirada continua da vegetação superficial de uma determinada área para estabelecimento de atividades humanas. Para as atividades de desflorestamento fazem necessárias várias atividades que dependem de esforço físico e posturas inadequadas. Caso a atividade seja semi-mecanizada com uso de tratores e máquinas pesadas o corte inicial dos indivíduos arbóreos leva menos esforço por parte dos trabalhadores, mas após esta primeira atividade há ainda o destopo e traçamento do material de supressão vegetal, que exigem cuidado quanto aos requisitos ergonômicos e monitoramento de fadiga. Nesse contexto, o presente trabalho teve como objetivo a elaboração de uma revisão bibliográfica sistemática de artigos referentes à avaliação ergonômica em atividades de supressão vegetal e discutir sobre os aspectos dos riscos ao trabalhador em cada estudo. 93


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Material e métodos Desenho do estudo Estudo de revisão bibliográfica sistemática em diferentes bases de dados eletrônicas científicas, através de descritores referentes à avaliação ergonômica em atividades de supressão vegetal. A identificação dos artigos e inclusão dos mesmos ocorreu no período de agosto a dezembro de 2016. Bases de dados eletrônicas A pesquisa bibliográfica foi conduzida nas seguintes bases de dados eletrônicas: (1) Scientific Electronic Library Online (SciELO); (2) U.S. National Library of Medicine (PubMed); (3) Public Library Of Science (PLOS ONE); (4) Google Acadêmico. Informações complementares foram obtidas a partir de pesquisas em sites da Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO), International Ergonomics Association (IEA), relatórios do Ministério do Trabalho e Emprego (MET), da Organização Mundial da Saúde (OMS) e Ministério da Saúde (MS). Realizou-se também busca manual com base nas referências listadas nos artigos inclusos na revisão. Estratégia de busca As buscas foram conduzidas através de descritores catalogados no Descritor em Ciências da Saúde (DeCS), em português e em inglês contidos no título ou nos resumos dos estudos. Utilizou-se o operador booleano “AND” e “OR”, além da utilização das aspas a fim de facilitar a busca aos manuscritos. A combinação de termos utilizados juntos ou separados nas respectivas bases de dados (SciELO, PubMed, PLOS e Google Acadêmico) foram:  “Ergonomy (ergonomia)”;  “Deforestation (desmatamento)”. Seleção e análise das publicações Para a seleção dos artigos construiu-se um formulário com as seguintes informações: autor e ano, título, período de desenvolvimento do estudo, unidade federativa, cidade e área da pesquisa, desenho do estudo, descritor utilizado para localizar a publicação, método de análise estatística, objetivo e principais resultados. Utilizou-se como critério de inclusão artigos do tipo original, publicados em periódicos internacionais ou nacionais, nos idiomas inglês ou português, publicados entre 2010 e 2016, indexados em uma das bases anteriormente citadas. Foram selecionados para revisão somente os artigos que relacionavam com transtornos de estresse em profissionais de saúde de sistemas médicos de emergência. Amostragem Foram identificados inicialmente 214.312 artigos científicos sobre avaliação ergonômica em atividades de supressão vegetal no Brasil e no mundo, pesquisados nas bases de dados e com os descritores anteriormente citados, desses artigos iniciais, muitos foram removidos por não ter haver 94


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) com o tema pesquisado, por não terem sido publicados entre os anos de 2010 e 2016, ou por estarem indexados em mais de uma base de dados. Assim, 07 trabalhos foram selecionados para a presente revisão de literatura sistemática. Resultados e discussão Os resultados obtidos com a aplicação da estratégia de busca descrita estão apresentados no quadro lógico do estudo (Figura 1). Publicações científicas sobre avaliação ergonômica em atividades de supressão vegetal publicados entre 2010 e 2016 Artigos publicados (n=214.312): .“Ergonomy (ergonomia)”;

.“Deforestation (desmatamento)”.

Quantidade de artigos nas bases de dados eletrônicas: (1) SciELO (284); (2) PubMed (80.322); (3) PLOS ONE (17.306); (4) Google Acadêmico (116.400).

Artigos publicados entre os anos de 2010 e 2016 selecionados para a presente revisão sistemática (n=07)

Figura 1. Quadro lógico da revisão sistemática, estudos sobre avaliação ergonômica em atividades de supressão vegetal entre os anos de 2010 a 2016. Grande parte da produção científica sobre saúde do trabalhador, ergonomia e supressão vegetal não são divulgadas em revistas indexadas, sendo necessário inserir também teses e dissertações para auxiliar na discussão do tema em questão. Percebe-se que é extenso o número de trabalhos encontrados inicialmente sobre o tema de avaliação ergonômica em atividades de supressão vegetal. Porém, com o estudo em específico de cada artigo, percebeu-se que muitos não se tratavam do tema em questão. Tal problemática deve-se ao fato de grande abertura das áreas definidas pelas bases de dados pesquisadas. Com a metodologia aplicada foi possível escolher os trabalhos que realmente se tratavam do tema. Segue abaixo a Tabela com a apresentação dos trabalhos escolhidos para a presente revisão, descrevendo os objetivos, os principais resultados e conclusões.

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Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) Tabela 1. Estudos sobre avaliação 2010 a 2016. Nº Referência 1 GEMMA, S. F. B.; TERESO, M. J. A.; ABRAHÃO, R. F. Ergonomia e complexidade: o trabalho do gestor na agricultura orgânica na região de Campinas – SP. Ciência Rural, v.40, n.2, fev, 2010.

ergonômica em atividades de supressão vegetal entre os anos de

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Na análise do ruído, é importante verificar a intensidade desse agente de risco, ao qual os trabalhadores ficam expostos ao longo da sua jornada de trabalho, caracterizada como dose diária. Objetivou-se, nesse trabalho, avaliar a exposição ao ruído intermitente, ao qual os trabalhadores de fábricas de móveis estão sujeitos. Esta pesquisa foi realizada em 14 fábricas de móveis, sendo 8 no polo moveleiro de Cruzília e 6 em Lavras,

FILIPE, A. P.; SILVA, J. R. M.; TRUGILHO, P. F.; FIEDLER, N. C.; RABELO, G. F.; BOTREL, D. A. Avaliação de ruído em fábricas de móveis. CERNE, v. 20 n. 4, p. 551556, 2014.

Objetivos A pesquisa de campo permitiu investigar o trabalho dos gestores em Unidades de Produção Agrícola Orgânica (UPAO) do interior de São Paulo, por meio da adaptação do método da Análise Ergonômica do Trabalho (AET) e de entrevistas estruturadas.

Principais resultados/conclusões O trabalho executado pelos gestores é caracterizado pela diversidade de atividades que precisam ser realizadas e integradas dentro do macrossistema, em associação com os determinantes do processo de certificação num contexto de falta de tecnologia adequada e de cenários incertos e variados. Cabe ao gestor incorporar e transformar em práticas de trabalho os preceitos ecológicos, econômicos e sociais de sustentabilidade, que podem ser contraditórios entre si, integrar essas múltiplas dimensões, por meio do desenvolvimento e da conexão de variados saberes e competências, e elaborar estratégias para superar as diversas dificuldades relacionadas com os aspectos tecnológicos, financeiros e humanos na agricultura orgânica. A dose de exposição aos ruídos contínuos em todas as fábricas de móveis foram maiores que a estabelecida pelo Anexo 1 da NR15 (Brasil, 2008), exigindo ação corretiva como o isolamento das fontes de ruído. Constatou-se que 78,9% das máquinas das fábricas de móveis avaliadas apresentaram valores de ruídos contínuos superiores ao limite de tolerância de 85 dB(A), estabelecido pelo Anexo 1 da NR 15, para uma jornada de trabalho de 8 horas. O risco de ruído ocupacional é grave e eminente, sendo obrigatória a utilização de proteção auditiva para todos os trabalhadores durante a execução de suas tarefas. 96


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PONTES, J. C.; FILHO, J. L. R.; SILVA, J. A. L.; MEDEIROS, M. C. S.; LIMA, V. L. A. Desmonte de rocha com técnicas de produção mais limpa: uma contribuição para a saúde do trabalhador. Estudos Geológicos, v. 22(2), 2012.

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SILVA, J. L. Identificação dos Riscos Associados ao Corte Semimecanizado na Conversão de Áreas, para Implantação de Florestas Comercias. 2013. 45. Monografia Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho - Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2013.

ambos situados na região Sul, de Minas Gerais. Analisar como a aplicação da Produção mais Limpa na atividade do desmonte de rocha pode contribuir para melhorar a saúde do trabalhador. Com a realização desse estudo espera-se obter como resultado os indicadores que levarão a uma Produção mais Limpa aplicada no desmonte de rocha, os quais contribuirão para uma melhor gestão integrada e participativa nesta atividade. Identificar a existência de riscos aos operadores de motosserras em atividade de supressão de vegetação na conversão de áreas para implantação de reflorestamentos no Município de Imperatriz/ MA. Avaliar a aplicação de medidas de proteção e utilização dos Equipamentos de Proteção Individual na atividade de uso de motosserras; apontar, de acordo com a abordagem das Normas Regulamentadoras, os riscos associados ao uso de motosserras; Levantar os riscos físicos, químicos, ergonômicos e de acidentes aos quais

A aplicação da Produção mais Limpa é de fundamental importância para minimizar os impactos ambientais e sensibilizar a sociedade para melhor aproveitar os recursos naturais existentes, pois visa reduzir custos operacionais, além de buscar soluções economicamente viáveis para a redução da geração dos resíduos, ou até mesmo a não geração de “sobras” nas etapas ao longo do processo. Portanto, a aplicação dessa ferramenta de gestão ambiental contribuirá para a geração de uma gestão integrada e participativa nesta atividade, oportunizando melhor contribuição para a saúde do trabalhador. A realização deste estudo mostrou que a atividade de operador de motosserra envolve uma gama extensa de riscos, entre eles na operação de corte, mesmo com acompanhamento e com treinamento, os acidentes são presentes, entre os trabalhadores. Os principais riscos que os operadores de motosserra estão expostos são: Riscos físicos (ruído, vibração); Riscos químicos (poeiras); Riscos ergonômicos (postura inadequada, esforço físico); além de Riscos de acidente (queda de galhos, rebote, corte com a corrente da motosserra). Observou-se que o posto de trabalho é desfavorável em relação à segurança dos operadores, devido ao fato de haver no local exploração florestal em parte mecanizada e em outras semi97


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) estão expostos os operadores de motosserras; qualificar e quantificar os acidentes associados aos operadores de motosserra e a segurança do trabalho na atividade de extração de madeira utilizando motosserras.

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ANDRADE, L. S. Avaliação de operações de supressão em florestas nativas licenciadas. 2014. 59f. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Viçosa. Minas Gerais, 2014.

Avaliar as operações de supressão em florestas nativas licenciadas, localizadas nos municípios de Alvorada de Minas e Conceição do Mato Dentro (MG). Analisar a forma como é executada e os principais problemas decorrentes da supressão de florestas nativas licenciadas, junto a uma empresa do setor de mineração; Analisar o Plano de Desmate da empresa e averiguar se os procedimentos mencionados estão sendo cumpridos quando da execução da supressão; Avaliar os sistemas de supressão e as máquinas utilizadas; Analisar se existe alguma situação ou comportamento de risco durante a execução das operações de supressão florestal; Analisar o destino final da madeira

mecanizada. Ainda assim o número de acidentes relatados está abaixo do observado em trabalhos semelhantes. Porém, a caracterização desses acidentes segue uma tendência nacional, sendo que, em maior porcentagem os acidentes ocorreram nos membros inferiores. Por fim, observou-se que o nível de conscientização quanto a importância e o uso regular dos EPIs é alto, e isso possivelmente se deve ao porte da cadeia produtiva envolvida. Todas as etapas da supressão estão interligadas, e caso uma etapa apresente falhas durante a sua execução, irá refletir na execução da etapa posterior; o sistema de supressão utilizado é o de toras curtas, sendo as árvores de pequenos diâmetros; a motosserra foi a máquina utilizada nas operações de abate e processamento, enquanto para a cubagem e a extração utilizou-se um carregador florestal e um trator agrícola adaptado com guincho arrastador; os principais problemas da atividade de supressão estão relacionados ao não cumprimento dos procedimentos apresentados no Plano de Desmate; um dos principais problemas observados é a limpeza da área onde está sendo executada cada atividade. Em todas as etapas avaliadas, o trabalhador precisou complementar a limpeza; A etapa do empilhamento foi a que apresentou maiores problemas, principalmente por ser uma atividade executada por tarefa, sendo esta a principal reclamação 98


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) oriunda da supressão vegetal na empresa estudada; Avaliar se existe maximização na utilização da madeira, de acordo com as exigências e legais; Avaliar o rendimento operacional das seguintes etapas da supressão florestal: abate, processamento e empilhamento. No caso do empilhamento, avaliar ainda se houve diferença significativa entre o rendimento da atividade realizado por duplas ou individualmente.

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LIMA, A. S.; SANTOS, K. P. P.; CASTRO, A. A. J. F. Aspectos socioambientais da produção de carvão vegetal de origem nativa em uma área de cerrado em Jerumenha, Piauí/Brasil. Espacios. V. 37 (03), 2016, p.18.

Considerando a expressiva produção de carvão vegetal no Estado do Piauí através do aproveitamento lenhoso de áreas desmatadas no Cerrado, e que estudos sobre a caracterização da atividade bem como o processo de trabalho nas carvoarias são inexistentes, o objetivo deste artigo consiste em verificar a atividade de carvoejamento em três carvoarias pertencentes ao município de

dos trabalhadores e deve ser reavaliada. Não houve diferença significativa entre o rendimento do empilhamento, realizado por duplas ou individualmente; ainda relacionado à etapa de empilhamento, a medição da pilha deve seguir a Portaria INMETRO nº 130 de 07 de dezembro de 1999, sendo medidas as três dimensões de cada pilha: altura, largura e comprimento; o rendimento operacional do abate sofreu influência das árvores que encontravam presas a cipós; As toras que possuem diâmetros iguais ou maiores a 20 cm de diâmetro são doadas para a restauração do patrimônio histórico, as de diâmetros menores a este valor fixado pela empresa que realiza a supressão geralmente são convertidas em lenha; Foram observadas diversas situações ou comportamentos de risco, sendo necessária a criação de procedimentos. Tratando-se da caracterização dos profissionais presentes nas carvoarias estudadas em Jerumenha (PI), constatou-se que a maior parte é do sexo masculino, casado, com faixa etária de 19 a 29 anos, oriundos do Maranhão. A opção pela atividade ocorreu devido a maior remuneração e as garantias salariais. Entretanto, existe uma alta rotatividade de funcionários, devido os trabalhadores considerarem a atividade extenuante. O Piauí é um dos poucos estados que autoriza a atividade através de licenciamento específico, sendo este condicionado a um projeto de uso alternativo do 99


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REIS, A. D. C. Análise da atividade cognitiva do operador de sala de controle da produção de controle da produção de petróleo on-shore: uma abordagem da ergonomia para a gestão das restrições do sistema sociotécnico. 2015. 177f. Dissertação (Mestrado em

Jerumenha (PI), bem como caracterizar os aspectos socioambientais envolvidos no processo de produção de carvão.

solo. A atividade envolve um grande número de trabalhadores, com funções específicas para cada cargo a ser desempenhado. Apesar da maior parte dos carvoeiros considerarem sua saúde boa, existem problemas de saúde inerentes à atividade que devem ser investigados, como a fumaça inalada durante o período de carbonização e carga de trabalho, a fim de se fornecer informações sobre o estado de saúde e assim propor medidas que auxiliam no processo de reabilitação destes. Os produtores de carvão alegam que uma das grandes dificuldades seria o preconceito e a falta de conhecimento, por parte da população e proprietários de terra por acreditarem que a atividade é marginalizada e ilegal. Considerando que o Estado do Piauí ocupa posição de destaque na produção de carvão vegetal no Nordeste, estudos sobre a atividade de origem nativa em outras regiões faz-se necessário a fim de se caracterizar a atividade bem como os impactos decorrentes desta atividade na população envolvida direta e indiretamente nesta.

Analisar a atividade dos operadores de uma sala de controle da produção on-shore de petróleo, com foco nas restrições ao curso da ação dos operadores, nos processos de cognição e de tomada de decisão e nas estratégias (individual e coletiva) para regular e

Os resultados evidenciaram que a atividade de supervisão e controle do processo de injeção de vapor superaquecido representa o contexto de maior complexidade, pelas demandas de maior atenção, concentração, cálculos, comparações, análise de tendências e tomada de decisão. A atividade é construída coletivamente entre o operador da sala de controle, o 100


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) Engenharia de Produção) Centro de Tecnologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2015.

manter a ação requerida e operador de campo e a empresa a segurança desse sistema fornecedora de vapor. A pesquisa sociotécnico. evidenciou que os processos de comunicação e colaboração entre o operador da sala de controle, os operadores de campo e as equipes de apoio são elementos estruturantes dessa atividade. O estudo evidenciou que os operadores dispõem da autonomia e dos elementos necessários ao trabalho; que existe permanente investimento para melhoria da tecnologia utilizada; e que os operadores relatam distúrbios de sono em decorrência da exposição crônica ao trabalho noturno. O estudo contribuiu com propostas de transformação dessa atividade no tocante à instalação de uma área de apoio às refeições na Sala de Controle; à atualização das telas dos supervisórios para a condição operacional atual; às visitas periódicas dos operadores da sala no campo; à padronização de relatórios de produção; ao desenvolvimento de sistemas de ajuda; e à padronização das nomenclaturas das estações controladoras de vapor, visando melhorar tanto as condições de realização da atividade, como a qualidade dos produtos produzidos pelos operadores, além de contribuir para reduzir a possibilidade de lapsos ou desvios na atividade.

A Análise Ergonômica do Trabalho (AET) é oriunda da escola franco-belga de ergonomia e se fundamenta na análise das situações reais de trabalho, o que possibilita sua compreensão e transformação (GUÉRIN et al., 2001). Esse método é composto de três fases principais: a análise da demanda, a análise da tarefa e a análise da atividade. A análise da demanda consiste em analisar o problema inicialmente proposto pelos demandantes, delimitar o objeto de estudo e esclarecer suas 101


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) finalidades. A análise da tarefa corresponde ao levantamento dos dados referentes aos objetivos e resultados esperados do trabalho e os meios disponíveis para realizá-lo. A análise da atividade consiste em compreender o trabalho que é efetivamente realizado, as dificuldades encontradas e as estratégias utilizadas para superá-las. No final, os dados levantados permitem formular hipóteses de trabalho que delineiam os rumos a serem seguidos, para que, ao final da análise, seja possível elaborar um diagnóstico e fornecer recomendações ergonômicas (GEMMA; TERESO; ABRAHÃO, 2010). Tais recomendações são de extrema importância e complexidade para os gestores de agricultura orgânica. A legislação brasileira, por meio da Norma Regulamentadora NR-15, determina que o ambiente de trabalho seja adaptado aos funcionários, para minimizar os riscos biológicos, ergonômicos, físicos, químicos e de acidentes (FILIPE et al., 2014). Nesse contexto, faz-se de grande importância verificar a intensidade do ruído como agente de risco. Quando se trata de risco para a saúde do trabalhador, pode-se constatar diversos riscos para a saúde, dentre eles: físicos, químicos, biológicos, mecânicos e ergonômicos. Os riscos físicos são efeitos gerados por máquinas, equipamentos e condições físicas características do local de trabalho, que podem causar danos à saúde do trabalhador. Os riscos químicos são representados pelas substâncias químicas que se encontram nas formas líquida, sólida e gasosa. Os riscos biológicos são causados por microrganismos invisíveis a olho nu, como bactérias, fungos, vírus e bacilos. Os riscos mecânicos ocorrem em função das condições físicas do ambiente do trabalho e tecnologias impróprias, capazes de colocar em perigo a integridade física do trabalhador. E finalmente, os riscos ergonômicos são contrários às técnicas de ergonomia, que propõem que os ambientes de trabalho devem adaptar ao homem, propiciando bem estar físico e psicológico (PONTES et al., 2012). Dentre os riscos físicos, destaca-se o uso de motosserras. Apesar do baixo índice de acidentes com motosserras, faz-se importante destacar os cuidados que os operadores devem ter. E com o intuito de diminuir o risco de acidentes e de lesões no trabalho com motosserra, os EPI`s foram desenvolvidos com as seguintes características (SILVA, 2013): • Capacete com viseira e protetor auricular: deve ser confeccionado com material de alta resistência para proteger a cabeça do operador contra o impacto de galhos e mesmo de árvores, os olhos e a face de partículas de madeira e, o ouvido do excesso de ruído que, na maioria das vezes, chega a mais de 100 dBA. Cabe salientar que o máximo permitido pela Legislação brasileira para 8 horas de trabalho é de 85 dBA. • Blusa: vestimenta geralmente de manga comprida de algodão (absorver o suor) e com cores que facilitam a visualização do trabalhador no interior da área florestal. • Luvas: confeccionada em vaqueta e nylon, palma 100% de vaqueta e, dorso e punho em poliamida e sobre forro de jersey. Vestimenta para proteção das mãos contra cortes e perfurações. • Calça especial: calça com diversas camadas de nylon, com proteção interna na frente e panturrilha em camadas de malha e poliésteres, permitindo boa ventilação e alta resistência. Assim, quando a corrente pega na calça, enrola no nylon e não atinge o operador. • Caneleira: confeccionada em fibra de vidro ou couro, cuja função é proteger as pernas do operador. • Coturno: calçado em couro com biqueira de aço para resistir ao impacto da corrente, acolchoado internamente com uma camada de espuma e solado anti-derrapante. Visa proteger os pés do operador contra cortes e perfurações. Outro risco para a saúde do trabalhador são as operações de supressão vegetal. Por se tratar de uma atividade complexa, as operações da colheita de madeira possuem a influência de inúmeros fatores, sejam eles técnicos, econômicos, ambientais e ergonômicos. Por isso, é essencial ter 102


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) conhecimento e controle sobre os mesmos, possibilitando a realização otimizada do trabalho e de suas estratégias (MACHADO; LOPES, 2008). Os mesmos autores citam alguns fatores que influenciam nos rendimentos: floresta, terreno, finalidade da madeira, demanda de madeira, estradas, manutenção mecânica, custos operacionais, condições climáticas, capacidade de suporte do terreno e grau de mecanização, entre outros (ANDRADE, 2014). Quanto aos fatores ambientais e ergonômicos, os principais problemas da atividade de supressão estão relacionados ao não cumprimento dos procedimentos apresentados no Plano de Desmate, bem como a realização de diversas situações ou comportamentos de riscos. Uma atividade oriunda da supressão vegetal é a produção de carvão que também gera riscos à saúde do trabalhador. A produção de carvão é realizada do mesmo modo que era no século passado, através da combustão incompleta da madeira. Neste processo, a lenha é carbonizada em espaço fechado, durante três dias, com pequena ou com quantidade controlada de oxigênio, em temperaturas que ultrapassam 300º C, ocorrendo o desprendimento de gases não condensáveis, líquidos orgânicos e por fim como resíduo originado sobra o carvão (CASTRO et al., 2007; SANTOS; HATAKEYAMA, 2012). Esse processo rudimentar, dependente da mão-de-obra humana, expõe os carvoeiros ao contato permanente com a fumaça oriunda dos fornos, duras jornadas de trabalho, condições insalubres, sendo considerada como uma atividade desumana (DUBOC et al. 2008; SOUZA et al., 2010). Quanto à saúde do trabalhador, pode-se observar que a atividade de produção de carvão era desenvolvida por carvoeiros de idades que variaram de 19 a 53 anos, com média de 31,68 anos. Este valor, se aproxima do encontrado por Pimenta et al., 2006), analisando a ação ergonômica de trabalhadores de carvoarias em Buritizeiro, Minas Gerais, com média de 32 anos. A faixa etária de maior número de indivíduos foi de 19 a 29 anos, com 44% dos entrevistados, este fato pode ser explicado pela rotina de trabalho na carvoaria, exigindo assim trabalhadores mais jovens. Trabalhos que envolvem agropecuária e colheita florestal caracterizam por atividades que dependem de grande esforço físico por parte do trabalhador (SILVA et al., 2010). A manipulação do petróleo também gera riscos à saúde do trabalhador. A atividade em foco no trabalho avaliado envolveu a supervisão e o controle da produção de milhares de barris/dia de petróleo em uma complexa e dispersa estrutura de produção construída numa extensão de 80 km. Esse contexto operacional evidencia a importância da atividade dos operadores da sala de controle no cumprimento das metas locais e corporativas de integridade, de eficiência, de segurança e de respeito ao meio ambiente e saúde. A pesquisa teve natureza qualitativa, abordagem exploratória e descritiva, utilizando a metodologia da Análise Ergonômica do Trabalho, técnicas observacionais e interacionais. A população do estudo foi formada pelos operadores da sala de controle de uma empresa de petróleo brasileira (REIS, 2015). Faz-se necessário a realização de mais estudos para comprovar e buscar melhorias para o problema relatado pelos operadores quanto aos distúrbios de sono em decorrência da exposição crônica ao trabalho noturno. Considerações finais A maior parte da produção científica em saúde do trabalhador não é objeto de divulgação em revistas indexadas ou material de fácil acesso. Assim sendo, a realização de uma síntese desse conhecimento permite, além da compreensão de tendências gerais, melhor divulgação desse importante produto da pesquisa. Após a análise e discussões dos resultados obtidos, pode-se concluir que é diminuto o número de trabalhos sobre avaliação ergonômica em atividades de supressão vegetal contemplando cada fase 103


Rev. Agr. Acad., v.1, n.3, Set/Out (2018) do processo avaliando o âmbito ergonômico associado à saúde do trabalhador que realizada atividades de supressão vegetal publicados entre os anos de 2010 e 2016 no Brasil e no mundo. Diante a complexidade e da importância das atividades de supressão vegetal ser avaliadas ergonomicamente, destaca-se aqui a extrema necessidade de desenvolvimento e publicação de mais trabalhos na área em questão. Através de novos estudos e análises aplicadas a cada processo da atividade de supressão vegetal pode-se melhorar às condições de trabalho e desenvolvimento de EPI’s adequados ergonomicamente, havendo também melhorias na normatização vigente (NR 17). Referências bibliográficas ANDRADE, L.S. Avaliação de operações de supressão em florestas nativas licenciadas. 2014. 59f. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Viçosa. Minas Gerais, 2014. Disponível em: http://locus.ufv.br/handle/123456789/3165 Acesso em: 05 de outubro de 2016. CASTRO, R.R.; SILVA, M.L.; LEITE, H.G.; OLIVEIRA, M.L.R. Rentabilidade Econômica e Risco na produção de carvão vegetal. Cerne, v.13, n.4, p.353-359, 2007. DUBOC, E. O Cerrado e o Setor Florestal. Documentos 218. 1ª edição. Planaltina, DF: Embrapa Cerrados, 2008. 42 p. FILIPE, A.P.; SILVA, J.R.M.; TRUGILHO, P.F.; FIEDLER, N.C.; RABELO, G.F.; BOTREL, D.A. Avaliação de ruído em fábricas de móveis. Cerne, v.20, n.4, p.551-556, 2014. FREITAS, L. C. de. Avaliação de impactos ambientais da inovação tecnológica na colheita florestal. Viçosa-MG: UFV. Tese de Doutorado. Universidade Federal de Viçosa, 2008. 118 p. Disponível em: http://www.locus.ufv.br/bitstream/handle/ 123456789/526/texto%20completo.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 9 de outubro de 2016. GEMMA, S.F.B.; TERESO, M.J.A.; ABRAHÃO, R.F. Ergonomia e complexidade: o trabalho do gestor na agricultura orgânica na região de Campinas – SP. Ciência Rural, v.40, n.2, 2010. GUÉRIN, F. Compreender o trabalho para transformá-lo: a prática da ergonomia. São Paulo: Edgard Blucher, 2001. 201p. LIMA, A.S.; SANTOS, K.P.P.; CASTRO, A.A.J.F. Aspectos socioambientais da produção de carvão vegetal de origem nativa em uma área de cerrado em Jerumenha, Piauí/Brasil. Espacios. v.37, n.3, 2016. MACHADO, C.C.; LOPES, E.S. Planejamento. In: MACHADO, C. C. (Ed.) Colheita florestal. 2ª edição. Viçosa, MG: UFV. 2008. 501 p. MUNIZ-OLIVEIRA, S. Um estudo sobre o trabalho de elaboração de parecer do professor de pós-graduação. D.E.L.T.A., v.26, n.2, p.289-317. 2010. NR, Norma Regulamentadora Ministério do Trabalho e Emprego. NR-17 - Ergonomia. 2009. Disponível em: http://trabalho.gov.br/images/Documentos/SST/NR/NR17.pdf Acesso em: 10 de outubro de 2016. PIMENTA, A.S. Avaliação do perfil de trabalhadores e de condições ergonômicas na atividade de produção de carvão vegetal em bateria de fornos de superfície do tipo"rabo-quente". Revista Árvore, v.30, n.5, p.779-785, 2006. PONTES, J.C.; FILHO, J.L.R.; SILVA, J.A.L.; MEDEIROS, M.C.S.; LIMA, V.L.A. Desmonte de rocha com técnicas de produção mais limpa: uma contribuição para a saúde do trabalhador. Estudos Geológicos, v.22, n.2, 2012. SANTOS, S.F.O.M.; HATAKEYAMA, K. Processo sustentável de produção de carvão vegetal quanto aos aspectos: ambiental, econômico, social e cultural. Produção, v.22, n.2, p.309-321, 2012. SILVA, E.P. Diagnóstico das condições de saúde de trabalhadores envolvidos na atividade em extração manual de madeira''. Revista Árvore, v.34, n.3, p.561-565, 2010. SILVA, J.L. Identificação dos Riscos Associados ao Corte Semimecanizado na Conversão de Áreas, para Implantação de Florestas Comercias. 2013. 45f. Monografia Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho - Universidade

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Recebido em 24/06/2018 Aceito em 19/07/2018

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