As crianças de 0 a 8 anos e o HIV

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Apoio à acção comunitária contra o SIDA em países em vias de desenvolvimento

As crianças do amanhã Notas temáticas na África vasta

As crianças de 0 a 8 anos e o HIV Fortalecendo a família e o apoio comunitário


AS CRIANÇAS DE 0 A 8 ANOS E O HIV

Agradecimentos

O que é a International HIV/AIDS Alliance?

A Aliança gostaria de agradecer a todos aqueles que contribuiram para esta publicação, incluindo:

Fundada em 1993, a International HIV/AIDS Alliance (a Aliança) é uma parceria global de organizações de base comunitária que trabalha para apoiar a acção comunitária contra o SIDA. A nossa missão é reduzir a propagação do HIV e minimizar o impacto do SIDA.

Christoforos Mallouris, UNESCO, França; Cynthia Curtis, Alliance Nationale contre le SIDA en Côte d’Ivoire (ANS-CI), Costa do Marfim; Faith Mmola, REPSSI, África do Sul; Geoff Foster, Zimbabué; Grace Njeru, Kenya AIDS NGOs Consortium (KANCO), Quénia; Jonathan Morgan, REPSSI, África do Sul; Mark Rabudi, KANCO, Quénia; Dr Ngagne Mbaye, Synergie pour l’enfance, Senegal; Paul Roux, África do Sul; Robert Gass, UNICEF, Estados Unidos; Siobhan Crowley, WHO, Suíça; Stefan Germann, World Vision, África do Sul; Tapfuma Murove, World Vision, Quénia; Timothy Ahimbisibwe, Save the Children UK, Uganda; Tom Ellman, MSF, Reino Unido; Achiro Joyce Stella, Health Alert Ouganda (HAU), Uganda, Obutu Francis (HAU), Uganda, Ochora Michael (HAU), Uganda, Dr. George Openytho (HAU/Gulu Regional Referral Hospital), Uganda, Kertho Edmound, Save the Children in Uganda, Uganda; Clotaire Ouedraogo, AXIOS, Burkina Faso, Alimata Konaté, Initiative Privée et Communautaire (IPC), Burkina Faso, Konan Amenan Lucile, L’Alliance Nationale contre le SIDA (ANS-CI), Costa do Marfim, Alioune Fall, Hope for the African Child Initiative (HACI), Senegal, Marie Cissé Thioye, Association d'Assistance aux Enfants en Situation Difficile (AASED), Senegal, Léopold Gaston Boissy, Centre Hospitalier National Psychiatrique, (CHN), Senegal, Maty Diouf Sakho, Synergie pour l'Enfance, Senegal, Charles Becker, Centre National de Recherche au Sénégal (CNRS), Senegal, Amadou Seck, UNICEF, Senegal, Ndeye Astou Diop Coulibaly, And Bokk Yakaar (ABOYA), Senegal, Doroteia J Balane, Associação Reencontro, Moçambique, Felismina Chiziane, Reencontro, Moçambique, Elvira de Jesus, Reencontro, Moçambique, Sonia Romão, UNICEF, Moçambique, Adriano Afonso Pelembe, Associação Tinhena, Moçambique, Filomena João, Alliance Moçambique, Clara Chinaca, Kubatsirana, Moçambique, Elisa Mazivila, MMAS, Moçambique, Conceição Valls, ASIDH, Centro de Saúde Polana Caniço, Moçambique, Ana Paula Ferreira, MMAS - DANS, Moçambique, Nelia Vera Taimo, consultora local, Moçambique, Ernest Maswera, HACI, Moçambique, Celso Mabunda, HACI, Moçambique, e ainda funcionários e consultores da Aliança Internacional contra o HIV/SIDA.

Até hoje, a Aliança já canalizou cerca de $140 milhões para mais de 40 países em vias de desenvolvimento e apoiou mais de 3000 projectos, chegando a algumas das comunidades mais pobres e vulneráveis com programas de prevenção do HIV, prestação de cuidados e apoio e proporcionando um melhor acesso a tratamento. Para mais informação acerca do trabalho da Alliance visite o nosso site em www.aidsalliance.org © Copyright texto: International HIV/AIDS Alliance, 2006 © Copyright ilustrações: Dandi Palmer, 2006 As informações e ilustrações desta publicação podem ser reproduzidas livremente, publicadas ou usadas de qualquer outra maneira sem permissão da International HIV/AIDS Alliance. Contudo, a International HIV/AIDS Alliance pede para ser citada como sendo a fonte da informação.

Esta publicação foi possível graças às contribuições financeiras de Bernard van Leer Foundation e UNICEF. Contudo, as opiniões expressadas nesta publicação não reflectem necessariamente as suas políticas e visões.


AS CRIANÇAS DE 0 A 8 ANOS E O HIV

Índice Agradecimentos Introdução

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SECÇÃO 1:

Como atender às necessidades do desenvolvimento das crianças 03 infectadas e afectadas pelo HIV

Questões 1

Porque é que as crianças pequenas precisam de atenção especial? 03

2

Porque é preciso ir de encontro às necessidades do desenvolvimento das crianças?

03

3

Como é que o HIV afecta o desenvolvimento das crianças?

03

Princípios e estratégias 1

Promover a acção familiar e comunitária

05

2

Ajudar as crianças a aprender

08

3

Satisfazer as necessidades emocionais e sociais das crianças

09

4

Comunicar com as crianças e ajudá-las a enfrentar as suas circunstâncias

11

5

Desenvolver resiliência

16

6

Promover a participação das crianças

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Cuidados e tratamentos para as crianças pequenas com HIV

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SECÇÃO 2: Questões 1

Como é que as crianças são infectadas pelo HIV?

21

2

Como se faz o diagnóstico do HIV nas crianças pequenas?

22

3

Como é que a infecção pelo HIV afecta a saúde das crianças?

22

4

O que se pode fazer para ajudar as crianças infectadas pelo HIV?

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Princípios e estratégias 1

Promover o teste do HIV para todas as mulheres grávidas

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2

Aconselhar as mães grávidas sobre a prevenção da transmissão do HIV da mãe para a criança

24

3

Detectar a infecção do HIV o mais cedo possível

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4

Promover o acesso ao tratamento e ajudar as crianças a tomarem os medicamentos antiretrovirais

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5

Ajudar as crianças a manterem-se saudáveis

32

6

Providenciar boa nutrição

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7

Cuidar das doenças comuns

40

8

Providenciar cuidados e apoio para crianças que estejam gravemente doentes ou próximo da morte

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9

Ajudar os provedores de cuidados a enfrentar o medo e as preocupações com a morte

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Conclusão

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Referéncias

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Fontes Bibliográficas

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AS CRIANÇAS DE 0 A 8 ANOS E O HIV

Introdução Esta brochura fornece conselhos práticos para ir ao encontro das necessidades do desenvolvimento das crianças afectadas pelo HIV, e para organizar os cuidados e tratamentos necessários para as crianças infectadas pelo HIV, com particular incidência nas crianças menores de 8 anos de idade. O objectivo da brochura é assistir as organizações locais e os provedores de serviços a reforçar o seu apoio às famílias e às comunidades que cuidam dessas crianças. A brochura é organizada da seguinte maneira: •

A Secção 1 descreve o impacto do HIV no desenvolvimento intelectual, emocional, psicológico e social das crianças e fornece sugestões sobre o que as organizações podem fazer para ajudar as famílias e comunidades a responder às necessidades de desenvolvimento dessas crianças.

A Secção 2 descreve o impacto da infecção do HIV na saúde física das crianças e fornece sugestões às organizações para apoiarem as famílias e comunidades a providenciar bons cuidados e tratamentos às crianças infectadas pelo HIV. A preparação desta brochura foi liderada por um comité consultivo internacional e inclui comentários e estudos de casos fornecidos por organizações que trabalham com crianças vulneráveis em vários países africanos, assim como estudos de casos apresentados em encontros consultivos realizados no Quénia, Uganda, Senegal e Moçambique. Informações sobre os estudos de casos encontram-se na secção das referências. Estas e mais referências estão disponíveis no CD-Rom Orphans and Vulnerable Children Toolkit, e na internet, na página www.ovcsupport.net. Esta brochura faz parte duma série de recursos práticos desenvolvidos pela International HIV/AIDS Alliance (Aliança Internacional contra o HIV/SIDA) sobre as crianças afectadas pelo HIV. Faz parte da colecção As crianças do Amanhã: Notas Temáticas na África Vasta, que abrange os seguintes sete tópicos: • • • • • • •

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Educação Saúde e nutrição Apoio psicossocial Inclusão social, Reforço económico Apoio aos idosos provedores de cuidados Crianças pequenas e HIV


Como atender às necessidades do desenvolvimento das crianças infectadas e afectadas pelo HIV

SECÇÃO 1

Questões Impacto do HIV no desenvolvimento das crianças • Falta de atenção e estímulos. Pais doentes, avós idosos e irmãos mais velhos podem não ter tempo e energia suficiente para dar às crianças a atenção e os estímulos de que elas precisam. • Falta de consistência dos provedores de cuidados e no ambiente familiar. Mudanças repentinas ou frequentes de provedores de cuidados e no ambiente doméstico podem afectar o desenvolvimento emocional e social das crianças. As crianças que são enviadas para viver com outros familiares perdem a sua casa e às vezes o contacto com seus irmãos, o que pode ser causa de grande perturbação. • Falta de cuidados de boa qualidade. As crianças negligenciadas ou abusadas sofrem danos psicológicos e emocionais e não se desenvolvem bem do ponto de vista físico. Mesmo quando alimentadas adequadamente, crianças infelizes não se desenvolvem tão bem quanto as outras crianças. • Falta de tempo e energia para as actividades normais da infância. Crianças que cuidam de pais doentes ou de irmãos mais novos, ou que têm HIV elas próprias, podem não ter o tempo ou a energia para actividades como brincar com seus amigos. O estigma e a discriminação limitam as oportunidades para actividades sociais e para a criança fazer e manter boas amizades. O sentirse só e isolado afecta a confiança, a auto-estima e as habilidades sociais das crianças.

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PORQUE É QUE AS CRIANÇAS PEQUENAS PRECISAM DE ATENÇÃO ESPECIAL? As crianças desenvolvem-se mais rapidamente nos primeiros anos de vida. Esta fase é a mais importante para o seu desenvolvimento intelectual, emocional e social. Experiências negativas e positivas na primeira infância têm efeitos a longo prazo.

Desenvolvimento intelectual Estímulos atenção na primeira infância são essenciais para ajudar as crianças a aprender sobre o mundo à sua volta, entender e usar as palavras e desenvolver a capacidade de tomar decisões e resolver problemas.

Desenvolvimento emocional Amor, carinho e atenção constante por parte de um ou dois provedores de cuidados na primeira infância são essenciais para as crianças se sentirem seguras e felizes e para que elas se tornem capazes de desenvolver boas relações com outras pessoas durante seu crescimento.

Desenvolvimento social Bons cuidados e oportunidades de brincar e tomar parte em actividades sociais na primeira infância são essenciais para ajudar as crianças mais novas a desenvolver habilidades sociais e habilidades de viver e trabalhar com outros membros da comunidade.

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PORQUE É PRECISO IR DE ENCONTRO ÀS NECESSIDADES DO DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS? As necessidades intelectuais, emocionais e sociais das crianças são tão importantes quanto suas necessidades físicas. As crianças de idades diferentes enfrentam etapas de crescimento diferentes e têm necessidades de desenvolvimento diferentes.

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COMO É QUE O HIV AFECTA O DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS? O impacto do HIV nas famílias tem efeitos negativos no desenvolvimento intelectual, emocional e social das crianças.

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SECÇÃO 1

Questões IDADES E FASES DE DESENVOLVIMENTO 0-1 ano consistência e continuidade Nesta fase as crianças aprendem sobre o mundo mediante os seus sentidos. Elas respondem às expressões dos rostos, às vozes e às cores vivas, descobrem suas próprias mãos e seus pés, sorriem, começam a entender e pronunciar algumas palavras, sentam-se, gatinham, ficam de pé e começam a explorar e brincar com objectos. Elas precisam de: • Provedores de cuidados que cuidem delas de uma maneira sensível e que estejam atentos às suas necessidades físicas e psicológicas. • Afeição física, como serem abraçadas e acarinhadas, para se sentirem seguras

• Conversas e contos • Coisas para observar, tocar, ouvir e brincar • Protecção física e ambientes que possam explorar com segurança.

1-3 anos encorajamento, entusiasmo e independência Nesta fase as crianças aprendem a andar e correr, a entender e falar algumas palavras, a comunicar suas ideias e a alimentarem-se. Elas tornam-se mais independentes, mas preferem ter à sua volta rostos familiares. Gostam de ajudar, conseguem resolver alguns problemas simples, gostam de desenvolver novas habilidades e orgulham-se de seus sucessos, mas ficam frustradas quando não conseguem fazer algo. Desenvolvem amizades e começam a simular, imitando o que acontece ao seu redor. As crianças podem sentir-se envergonhadas e duvidar de si próprias se forem criticadas pelos provedores de cuidados. Elas precisam de: • Oportunidades de brincar com outras crianças e desenvolver sua independência • Encorajamento e elogios

• Ajuda para aprenderem a cuidarem de si próprias e controlarem seu comportamento • Alguém que as escute e converse com elas.

3-5 anos iniciativa e inspiração Nesta fase as crianças falam bastante, fazem perguntas, gostam de brincar com amigos, aprendem a compartilhar, zangam-se ou sentem-se culpadas se acreditam ter fracassado e tornam-se competitivas, especialmente com seus irmãos e amiguinhos. Elas tornam-se também mais aventureiras e começam a imitar os adultos. Estas crianças precisam de: • Oportunidades de participar em actividades, explorar e escolher • Ajuda para aprenderem a usar bem a linguagem, através de leituras, conversas e canções

• Elogios quando conseguem fazer algo de novo e quando fazem algo bem.

6-8 anos curiosidade e aprendizagem Nesta fase as crianças demonstram um aumento de interesse pelo mundo, por pessoas, letras e números, tornam-se mais confiantes do ponto de vista físico, começam a assumir responsabilidades, brincam em grupo, desenvolvem relações de confiança com amigos e utilizam palavras para expressar seus sentimentos. Estas crianças precisam de: • Apoio para desenvolverem habilidades adicionais nas áreas da linguagem, do pensamento e na área física • Encorajamento com os trabalhos escolares

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• Oportunidades para aprenderem a colaborar com outros e praticarem auto controle, tomarem responsabilidades e cumprirem tarefas.


SECÇÃO 1

Princípios e estratégias Quais os sinais que indicam que uma criança precisa de ajuda? • Não brincar com outras crianças, não demonstrar interesse no que acontece ao seu redor • Tristeza, medo, introversão, não falar • Falar excessivamente, agressividade, hiperactividade, repetição constante da mesma actividade • Chorar, irritar-se e zangar-se facilmente • Sono agitado, alterações da micção (como fazer xixi na cama) Media in Education Trust.

Esta secção descreve os princípios e as estratégias com eles relacionadas, que as organizações podem utilizar para apoiarem as comunidades e as famílias (nestas brochuras por ‘família’ entende-se os pais e outros provedores de cuidados) a irem ao encontro das necessidades do desenvolvimento das crianças pequenas com HIV e das crianças pequenas afectadas pelo HIV. Princípios • Promover a acção familiar e comunitária • Ajudar as crianças a aprender • Satisfazer as necessidades emocionais e sociais das crianças • Comunicar com as crianças e ajudá-las a enfrentar as suas circunstâncias • Desenvolver resiliência • Promover a participação das crianças

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PROMOVER A ACÇÃO FAMILIAR E COMUNITÁRIA Consciencializar as comunidades e as famílias As famílias e as comunidades precisam ter conhecimentos sobre o desenvolvimento das crianças e as necessidades especiais das crianças mais novas.

Para isso é preciso: Promover o diálogo na comunidade e educar as famílias sobre as necessidades de desenvolvimento das crianças pequenas, e sobre o impacto do HIV no desenvolvimento das crianças.

Trabalhar com as comunidades na identificação das crianças que precisam de ajuda, e de maneiras de ir ao encontro das suas necessidades de desenvolvimento, incluindo abordagens baseadas em métodos tradicionais de transmissão de conhecimentos e habilidades duma geração para outra.

Encorajar os comités para Crianças Órfãs e Vulneráveis (COV) a considerar tanto as necessidades materiais como as necessidades de desenvolvimento intelectual, social e emocional das crianças infectadas e afectadas pelo HIV e a identificar as que precisam de ajuda.

Encorajar as organizações comunitárias e religiosas a procurar satisfazer as necessidades das crianças mais novas através das suas actividades.

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SECÇÃO 1

Princípios e estratégias No Quénia, o projecto Speak for the Child (Fale pela Criança) pesquisou as crenças locais sobre os efeitos nas crianças de ter pais com HIV, sobre as razões dos problemas comportamentais das crianças e sobre os efeitos do luto e do pesar nas crianças. Os resultados foram utilizados para desenvolver intervenções comunitárias adequadas para apoiar as crianças afectadas. Training and Resources in Early Education (Formação e Recursos em Educação Infantil - TREE), uma ONG sul-africana, treina mulheres na avaliação das necessidades das crianças pequenas, no aconselhamento e na identificação de recursos para ajuda a nível da comunidade. TREE também encoraja as famílias a brincar com as crianças utilizando brinquedos e jogos tradicionais.

Apoiar os provedores de cuidados As famílias (incluindo os avós e/ou irmãos mais velhos) são os principais provedores de cuidados para as crianças infectadas e afectadas pelo HIV. Apoiar esses provedores a cuidar devidamente das crianças é essencial.

Seria recomendável: Identificar voluntários nas comunidades que ajudem as famílias a cuidar das crianças, especialmente para as famílias que enfrentam problemas de pobreza e doença.

Encorajar os membros da comunidade a visitar as famílias afectadas para lhes oferecer apoio emocional e reduzir seu isolamento social.

Estabelecer grupos de apoio para os que cuidam das crianças.

Promover a organização de cuidados colectivos, como centros comunitários ou creches.

Providenciar aconselhamento e formação sobre desenvolvimento infantil e maneiras correctas de cuidar das crianças.

Em Moçambique, activistas da organização “Reencontro” utilizam desenhos e brincadeiras para identificar as necessidades psicossociais das crianças. A maneira como as crianças se expressam através dos desenhos e brincadeiras demonstra os problemas que elas têm e ajuda os activistas a encontrarem formas de ajudar a criança a superar as suas dificuldades. Em Moçambique, a ONG “Dores Sem Fronteiras” apoia o Centro de Reabilitação Infantil de Chokwe, situado na Cidade de Chokwe (CRIC), onde são oferecidas oportunidades de recreio e lazer, e de atendimento e reabilitação às crianças com diferentes tipos de dificuldades. As crianças são referidas ao CRIC pelo Centro de Saúde, pela escola ou pelos próprios pais. O centro conta com cinco educadores que receberam um treino básico para observar e fazer uma breve avaliação do desenvolvimento geral dessas crianças.

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Figura 1: Encorajar os membros da comunidade a visitar as famílias afectadas


SECÇÃO 1

Princípios e estratégias Os casos que precisam de atenção especial são encaminhados aos psicólogos clínicos, que fazem a supervisão regular dos educadores e treinam os pais. A mesma ONG oferece diversos cursos aos líderes comunitários, às OCBs, aos professores, e a voluntários e familiares no sentido de encorajar um melhor atendimento e cuidados às crianças em situação de maior vulnerabilidade no seio da família e de prevenir que mais crianças fiquem doentes (em particular com as doenças mais comuns naquela província: malária cerebral, epilepsia e HIV/SIDA). ‘Compreendendo e Desafiando o Estigma do HIV’ é um kit prático, que inclui uma actividade que leva os adultos a considerar como suas atitudes e comportamento afectam a vida das crianças. A cada participante é entregue um papel com uma frase, e ele deve dizer se a afirmação é verdadeira ou falsa (exemplos incluem: ‘as crianças podem tomar conta de si próprias’, ‘as crianças deveriam sempre fazer o que os adultos dizem’, ‘as crianças deveriam ser encorajadas a serem o mais independentes possível’), e justificar porque pensa assim. Isso gera uma discussão sobre a dependência das crianças em relação aos adultos e como algumas percepções sobre as crianças influenciam a maneira como os adultos as tratam, e por consequência influenciam o desenvolvimento das crianças. Kidd and Clay, 2003. Neste documento “Aconselhamento” significa o processo de ajudar a pessoa a processar as suas dificuldades, ouvindo-a e reflectindo juntos sobre a situação e as opções disponíveis e apoiando a pessoa a tomar as suas próprias decisões ( sem dar conselhos nem fazer julgamentos). “Conselheiro” é a pessoa que ajuda neste processo.

Na Suazilândia, grupos de mulheres da organização Valley Charity fazem visitas semanais a famílias afectadas dando apoio espiritual e emocional principalmente, mas também contribuindo com alimentos e propinas escolares no caso de famílias mais necessitadas. O projecto Likhaya Lemphilo Lensha (Lares para crianças órfãs) tem sessões semanais de formação para as suas mães; estas sessões provaram tão úteis que outros provedores de cuidados pediram para serem incluídos periodicamente; este projecto realiza agora, duas vezes por ano, workshops abertos a outros provedores de cuidados, não só para formação em assuntos específicos e muito práticos, mas também para troca de experiências e encorajamento. Em Moçambique o Ministério da Mulher e Acção Social tem assistentes sociais que visitam as famílias afectadas e tentam, na medida possível, encaminhá-las para os serviços públicos apropriados. O facto de a família receber a visita de alguém que representa um organismo do Estado tem um impacto positivo, e fá-la sentir que alguém se interessa por ela. No Uganda, o programa domiciliário Mildmay’s Jajja Home Children’s Programme administra programas rurais de cuidados de dia e clubes de actividades para as crianças. Estes oferecem apoio psicossocial para crianças infectadas pelo HIV e seus provedores de cuidados, e trabalham com as comunidades locais para que sejam capazes de apoiar famílias chefiadas por crianças. (www.mildmay.org). A Speak for the Child organiza visitas domiciliárias de conselheiros treinados, forma grupos de apoio a provedores de cuidados e cria ligações entre as famílias e os grupos comunitários de apoio. Os encontros de apoio têm ajudado os provedores de cuidados a resolver problemas e a melhorar a maneira como cuidam das crianças. No Uganda, Action for Children (Acção pelas Crianças) organiza Grandmothers Action Support (Acção de Apoio às Avós), que desenvolve a capacidade das avós de cuidarem de crianças infectadas ou afectadas pelo HIV. Prolongar a vida dos pais e dos provedores de cuidados Prolongando a vida dos pais e provedores de cuidados prolongamos também o relacionamento entre criança e pais, um elemento importante no desenvolvimento da personalidade e maturidade da criança. A morte de um dos pais ou de uma pessoa próxima é a experiência mais traumática que pode ocorrer na vida de uma criança. Mesmo as crianças mais novas experimentam grande angústia durante a doença e a separação ou a morte de um dos pais

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SECÇÃO 1

Princípios e estratégias A Speak for the Child observou que as habilidades sociais das crianças melhoram quando estas começam a frequentar a pré-escola. As famílias explicaram que as crianças aprenderam a brincar e cooperar com outras crianças e a cumprimentar as visitas. A nutrição das crianças também melhorou porque as famílias tinham mais tempo para ir trabalhar nos campos e preparar as refeições. Em Moçambique, na Província de Gaza, com o apoio da Save the Children USA, os membros da comunidade organizaram uma escolinha para crianças pequenas. A escolinha oferece condições para as crianças brincarem e assegura que as crianças tenham pelo menos uma boa refeição por dia. Para isso, a comunidade contribui com produtos da machamba, como milho e amendoim. Na Zâmbia, um dos parceiros da Christian Aid, o Centro de Cuidados de Dia de Kondwa, oferece cuidados para crianças afectadas pelo HIV até aos sete anos de idade. Os serviços oferecidos incluem aconselhamento e apoio emocional para ajudar as crianças a fazer face à doença e à morte de seus pais, e a prepararem-se para a escola primária.

ou pessoa querida, seja qual for a doença. Portanto o acesso ao tratamento, particularmente para pais vivendo com HIV, não é somente a melhor maneira de reduzir o número de órfãos, mas também de assegurar uma vida familiar estável e de qualidade. 2

AJUDAR AS CRIANÇAS A APRENDER Manter as crianças em boa saúde As crianças bem alimentadas e descansadas são mais saudáveis e aprendem melhor que crianças com fome, cansadas ou doentes.

Conselhos práticos para as famílias incluem: Assegurar que as crianças tenham descanso suficiente e comida de boa qualidade (ver página 36 Providenciar boa nutrição), pois isso ajuda o seu cérebro a crescer e a desenvolver.

Providenciar bons cuidados no lar para as crianças doentes ou levá-las ao posto de saúde quando estiverem muito doentes (ver página 40 Cuidar das doenças comuns). Oferecer estímulos e atenção As crianças precisam de atenção e dum ambiente estimulante que as ajude a aprender. Sugestões práticas para as famílias incluem:

Dedicar tempo à conversa, às histórias, às canções e às danças com as crianças.

Permitir que as crianças brinquem, pois isso favorece sua aprendizagem e o desenvolvimento das habilidades necessárias para resolver problemas.

Apoiar artistas/artesãos locais na criação de brinquedos simples para as crianças ou organizar uma área para brincar na creche local ou na sede do centro aberto para as crianças. Promover o acesso aos cuidados pré-escolares A pré-escola e os centros abertos, ou de dia, podem beneficiar o desenvolvimento intelectual e social das crianças.

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Seria recomendável: Apoiar as famílias a matricular e enviar as crianças para a escolinha, se houver uma na comunidade.

Ajudar a comunidade a estabelecer escolinhas ou centros abertos para as crianças e a recrutar professores ou voluntários comunitários.

Encorajar as escolas primárias a oferecer serviços pré-escolares para as crianças pequenas.


SECÇÃO 1

Princípios e estratégias A Speak for the Child notou que o apoio dos conselheiros comunitários ajuda os provedores de cuidados a mudarem a forma como cuidam das crianças. Visitas regulares ajudaram os provedores de cuidados a sentirem-se menos stressados, isolados e deprimidos. Uma abordagem virada para a solução conjunta de problemas ajuda os provedores de cuidados a sentirem-se mais confiantes e respeitados e tem impacto positivo na qualidade dos cuidados. Os provedores de cuidados explicaram que, com a ajuda dos conselheiros, eles pararam de bater nas crianças para as disciplinarem e passam agora mais tempo falando com os pequenos e respondendo às suas perguntas. Eles também passaram a dedicar mais tempo a escutar as crianças, e falam com elas com gentileza em vez de gritarem.

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SATISFAZER AS NECESSIDADES EMOCIONAIS E SOCIAIS DAS CRIANÇAS Dar amor e carinho às crianças Receber amor e carinho é muitas vezes mais importante para as crianças infectadas pelo HIV do que o conforto material.

Seria recomendável: Explicar às famílias que amor e carinho ajudam as crianças a crescer e a recuperar-se quando doentes, assim como a desenvolver-se intelectual, emocional e socialmente. Tomar o género em consideração Em certos contextos culturais, o género de uma criança pode expô-la a riscos particulares, por exemplo, os meninos são frequentemente alvos de tráfico para trabalho na agricultura, ou podem acabar a pedir esmolas ou viver nas ruas. As meninas podem ser exploradas em trabalhos domésticos pesados, desistir da escola ou ficar expostas ao abuso sexual. Envolver as crianças nas actividades sociais As crianças infectadas ou afectadas pelo HIV precisam sentir que fazem parte de suas famílias e suas comunidades, fazem as mesmas coisas que as outras crianças de sua idade, e têm amigos. Tomar parte nas actividades sociais é essencial para o desenvolvimento emocional e social das crianças, pois isso ajuda a aprender mais sobre si próprias e a estabelecer relações com os outros. Brincar com outras crianças da mesma idade ajuda-as a aprender sobre cooperação, ter confiança e compartilhar, assim como a desenvolver habilidades sociais.

No Uganda, a Health Alert notou que crianças infectadas pelo HIV que recebem amor e carinho dos adultos que cuidam delas são mais saudáveis e respondem melhor ao tratamento do HIV do que as que não têm amor e carinho.

Por isso, seria recomendável: Organizar actividades recreativas e desportivas para todas as crianças da comunidade.

Aconselhar as famílias sobre maneiras de envolver crianças doentes nas actividades diárias para que se sintam incluídas na vida da família em vez de as deixarem sozinhas num quarto escuro.

Encorajar outras crianças a envolver as crianças doentes, identificando jogos a que as crianças doentes possam assistir ou em que possam tomar parte.

Oferecer oportunidades para que as crianças infectadas ou afectadas pelo HIV possam expressar seus sentimentos e trocar ideias com outras crianças na mesma situação.

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SECÇÃO 1

Princípios e estratégias Para promover atitudes de compaixão e carinho a nível da comunidade, uma ONG da Namíbia chamada CAFO encoraja os líderes religiosos a integrar em seus sermões histórias de crianças afectadas pelo HIV. A CAFO ajuda os líderes religiosos a seleccionar um assunto mensalmente, com leituras da Bíblia e exemplos tirados da vida real das crianças, e fornecidos pelos comités de apoio às crianças. Building Blocks Development Group.

Figura 2: Crianças alegres que brincam juntas

No manual Prático HIV positive: A book for caregivers (HIV Positivo: um livro para provedores de cuidados) encontra-se uma história que pode ser utilizada para estimular as crianças a pensar sobre assuntos como as atitudes da comunidade para com as pessoas com HIV, os sentimentos das outras pessoas e a possibilidade de escolher entre um comportamento caridoso ou um comportamento cruel. “Nandi e seus amigos estavam brincando no parque. Buhle estava sentada sozinha. Nandi disse às suas amigas: “Vamos convidar a Buhle para brincar connosco”. Mas as suas amigas não queriam brincar com a Buhle. Uma delas respondeu: “Não, ela é HIV positiva e vai nos dar SIDA. Tenho medo de brincar com ela”. Assim, a Buhle foi deixada sozinha. No caminho da escola para casa a Nandi caiu e magoou-se no braço. A Buhle ia a passar perto e viu o que aconteceu. Ela perguntou: “O que se passa? Posso te ajudar?”. Ela ajudou a Nandi a chegar a casa e a mãe da Nandi ficou-lhe muito agradecida. A seguir, a mãe levou a Nandi para o posto de saúde, para verificar se havia lesões graves no braço. Durante a consulta a Nandi perguntou ao Médico sobre o HIV. No dia seguinte a Nandi e a Buhle andaram juntas a caminho da escola. As amigas da Nandi estavam chocadas. Elas

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No Zimbabué, os Clubes das Crianças organizam actividades desportivas e artísticas para ajudar as crianças a desenvolver relações com outras crianças nas mesmas faixas etárias. Além disso, os clubes envolvem a comunidade, para despertar a atenção para o papel da recreação no desenvolvimento emocional e social das crianças. Em Moçambique, a organização “Kubatsirana” promove retiros e passeios com as crianças para que possam estar em contacto com a natureza e brincar com outras crianças em situações semelhantes. Os activistas verificam que esta actividade tem um impacto positivo pois crianças que antes eram tristes tornam-se mais alegres e passam a expressar seus sentimentos com mais facilidade. Enfrentar o estigma e a discriminação As crianças infectadas pelo HIV e as crianças cujas famílias são afectadas pelo HIV muitas vezes são estigmatizadas e discriminadas. Isto limita as suas oportunidades de fazerem amizades e torna-as solitárias e tristes. Para enfrentar o estigma e a discriminação é recomendável: •

Discutir com os membros da comunidade por que razão e de que forma as crianças são estigmatizadas, e os efeitos que isso tem sobre as crianças.

Treinar os trabalhadores comunitários para identificarem sinais de estigmatização no núcleo familiar e discutir o assunto com a família ou enviá-la para os serviços de aconselhamento e apoio.

Encorajar os líderes comunitários e religiosos, professores e outros adultos a dar o bom exemplo e envolver as crianças infectadas e afectadas pelo HIV nos eventos comunitários, como cerimónias, festivais e actividades recreativas, como jogos e desportos.


SECÇÃO 1

Princípios e estratégias disseram: “O que estás a fazer na companhia dessa menina? Como podes ser amiga dela? Ela vai te fazer adoecer”. A Nandi respondeu: “A Buhle é uma boa amiga. Ela ajudou-me quando magoei o meu braço. Ser amigas não transmite SIDA. O médico já me explicou. Ele disse que não é possível transmitir SIDA comendo juntos, abraçando ou brincando juntos”. Depois de contar a história, o facilitador pode perguntar às crianças como elas acham que a Buhle se sentia quando ninguém falava com ela e como as próprias crianças se sentiriam no lugar da Buhle. Poderá também perguntar o que será que o médico disse sobre ser amigos de alguém com HIV. No Zimbabué, como parte de seus serviços ao domicílio, o Island Hospice fornece aconselhamento e explora com a família as opções existentes para as crianças após a morte dos pais. As crianças participam em sessões de aconselhamento antes e depois da morte dos pais, e o serviço organiza também sessões regulares para grupos de crianças enlutadas. UNAIDS, 2001. No Quénia um projecto da World Vision treina os voluntários nas comunidades a facilitar grupos de terapia interpessoal, ou ‘conversas comunitárias’, com crianças afectadas pelo HIV. A abordagem leva em conta as práticas culturais locais e as crenças sobre o HIV, e promove a busca de soluções locais. Estas conversas comunitárias têm ajudado as crianças a se apoiarem mutuamente e melhorado a comunicação entre provedores de cuidados e crianças necessitadas. Building Blocks Development Group.

Trabalhar com pais e professores para enfrentar a estigmatização e a discriminação pelas outras crianças, pois elas muitas vezes adquirem as atitudes negativas dos adultos.

Envolver crianças na identificação de crianças excluídas e procurar em conjunto as razões da exclusão. Para o efeito, podem utilizar-se métodos criativos, como marionetas e teatro, que ajudem as crianças a entender as razões do estigma e da discriminação e a trabalharem conjuntamente para identificar formas de incluir as crianças doentes e afectadas.

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COMUNICAR COM AS CRIANÇAS E AJUDÁ-LAS A ENFRENTAR AS SUAS CIRCUNSTÂNCIAS Providenciar aconselhamento para as crianças O aconselhamento pode ser extremamente útil para as crianças infectadas e afectadas pelo HIV. O aconselhamento de boa qualidade ajuda a criança a contar as suas histórias, a fazer escolhas, a identificar as suas habilidades, a desenvolver uma atitude positiva sobre a vida e a enfrentar os seus problemas. Pode também ajudá-la a lidar com medo e ansiedade sobre a sua doença ou doença e morte no âmbito familiar.

Seria recomendável: Advogar a favor da criação de serviços de aconselhamento para crianças, incluindo o aconselhamento de crianças antes e depois da morte dos pais.

Desenvolver a capacidade para o aconselhamento das crianças a nível local, através do treinamento de professores, líderes das igrejas e voluntários da comunidade

Encorajar os programas para crianças órfãs e vulneráveis e os programas de cuidados domiciliários a treinarem voluntários no aconselhamento das crianças e a envolvê-las nas sessões de aconselhamento familiar.

Reforçar as formas tradicionais de aconselhamento que já existem na comunidade e que não precisam de intervenção de profissionais e agentes externos.

Promover abordagens como as de educação de pares e clubes que vão ao encontro das necessidades de todas as crianças nas comunidades afectadas pelo HIV.

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SECÇÃO 1

Princípios e estratégias Pontos a considerar ao falar com as crianças pequenas • Escolha um lugar para conversar onde a criança se sinta à vontade e segura. • Use palavras simples. As crianças pequenas precisam ser informadas que algo não está bem, mas não precisam de detalhes ou de informação específica sobre o HIV. Deixe que a criança absorva a informação aos poucos. Para começar poderia dizer-lhe que o pai ou a mãe não estão bem e deixar que a criança faça as suas perguntas. Depois fale sobre a gravidade da doença do pai ou da mãe num outro momento. • Se uma criança não quiser falar, sugira que a conversa possa ocorrer numa outra altura, ou que a criança possa falar com outra pessoa. Deixe claro que ela não tem de conversar se não quiser. • Escute e fale à criança quando a oportunidade se apresentar. Às vezes as crianças fazem perguntas quando estão executando uma tarefa com alguém, como por exemplo, buscar água. • Preste atenção ao que a criança diz e encoraje-a a expressar-se à sua maneira. • Responda às perguntas honestamente. Tente identificar com antecedência uma forma de lidar com perguntas difíceis. • Não demonstre tensão ou aborrecimento caso a criança reaja duma forma inesperada, por exemplo, se parecer despreocupada com a notícia ou se demonstrar aborrecimento contra a pessoa doente.

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Assuntos a serem considerados no aconselhamento e na comunicação com crianças • Nalguns casos, para além das sessões individuais com a criança, poderá ser necessário estabelecer contacto com um dos pais ou provedor de cuidados para o aconselhar sobre como melhor satisfazer as necessidades da criança. • Ajude a criança a sentir-se segura e à vontade. Procure conhecer a criança, não somente os problemas que ela tem. Faça perguntas sobre suas actividades diárias e sobre o que ela gosta de fazer. • Lembre-se que as crianças expressam seus sentimentos através de seu comportamento e não somente com suas palavras. Os conselheiros podem aprender muito através da observação da linguagem corporal, das expressões do rosto e das brincadeiras duma criança; as crianças muitas vezes representam seus sentimentos ou situações vividas quando brincam. • Considere a idade da criança, sua forma de entender e seu estado emocional, e tente ver a situação do ponto de vista dela. • Tenha consciência de que poderá necessitar de uma abordagem diferente para o aconselhamento e a comunicação com crianças com necessidades especiais, inclusive com as crianças que tenham dificuldades de aprendizagem, de vista e de audição. • Aceite os sentimentos das crianças e deixe que elas se expressem como quiserem. Não tente apressar ou interromper. As crianças podem sentir vergonha e levar tempo para desenvolver confiança no conselheiro. • Escute o que a criança tem a dizer, leve-a a sério e dê-lhe toda a atenção. • Use métodos apropriados para as crianças mais novas. Brincar com bonecas, desenhar, fazer jogos, contar histórias e usar marionetas são maneiras eficazes de ajudar a criança a expressar seus sentimentos, por exemplo: - A criança pode identificar-se nas personagens duma história sem ter que se sentir exposta directamente. - Peça à criança para contar uma história, por exemplo sobre uma criança muito doente ou triste, porque pode ajudar a falar de como a própria criança se sente. - Use brinquedos como as marionetas para ajudar a explorar assuntos difíceis, pois a criança pode utilizar o brinquedo ou a marioneta para contar sua própria história. - Respeite as capacidades das crianças de resolverem os seus problemas.


SECÇÃO 1

Princípios e estratégias Conversar com as crianças sobre doença e morte na família É importante falar com as crianças sobre as doenças que afectam a família. As crianças podem estar preocupadas que um dos pais esteja para morrer, porque já viram outros adultos na comunidade morrer com a mesma doença. Se um adulto estiver em tratamento antiretroviral, a sua situação deveria melhorar e será importante ajudar as crianças a enfrentarem seus medos e tranquilizá-las que seu pai ou sua mãe irá melhorar. Foi observado na prática que as crianças são capazes de ajudar os pais a lembrarem-se de tomar os seus medicamentos. É importante preparar as crianças e os adultos para a doença e a morte. Os adultos podem pensar que, não contando o que está acontecendo, estão a proteger a criança, mas mesmo crianças muito pequenas têm a capacidade de entender que algo estranho está ocorrendo. A falta de informação pode criar ansiedade e perturbação. Seria recomendável: •

Explicar aos pais porque é importante preparar as crianças com antecedência e responder às perguntas que elas colocam.

Preparar as crianças antes das suas visitas a um pai ou mãe que esteja internado no hospital por doença grave ou perto da morte, pois a experiência pode ser chocante. Não se deve forçar a criança a permanecer no hospital se estiver angustiada.

Porque preparar a criança para a morte de um dos pais? • Falar com as crianças com antecedência ajuda-as a acostumarem-se à ideia e a enfrentar melhor a morte e o pesar. • As crianças dão valor à oportunidade de fazer perguntas sobre como organizar suas vidas futuras e ouvir os últimos conselhos de seus pais. • Ter a oportunidade de se despedir é muito importante. Trocar desejos e bênções pode evitar que mais tarde a criança se sinta culpada pela morte do pai ou da mãe.

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SECÇÃO 1

Princípios e estratégias Como é que as crianças reagem à morte dum dos pais?

Planear o futuro A preparação para a morte deveria incluir um plano para as crianças, pois as crianças muitas vezes preocupam-se sobre o que lhes vai acontecer após a morte de um dos pais.

Reacções comuns incluem: • Medo, confusão e insegurança (por exemplo, agarrar-se a algo ou alguém, medo de ir dormir, pesadelos, fazer xixi na cama). • Tristeza, depressão e isolamento. • Zanga, agressão e birras. • Sentido de culpa (por exemplo, a criança sente-se culpada pela morte). • Negociação e negação (por exemplo, “Se eu for bom a mamã vai voltar”). • Regressão (por exemplo, falar como um bebé ou esperar ser alimentada em vez de se alimentar sozinha). • Sintomas físicos (por exemplo, sentirse doente). As reacções dependem da idade da criança: • Até aos 6 meses de idade, os bebés agarram-se, choram, e podem recusar serem confortados por outras pessoas. • As crianças de 6 meses a 3 anos apresentam sinais físicos, como problemas alimentares ou distúrbios do sono, regressão (por exemplo, parar de andar quando já o faziam), hábitos de conforto como chupar o dedo, chorar e se agarrar. Podem também ser demasiado tristes ou quietas. • As crianças acima dos 3 anos demonstram o seu pesar através de sentimentos (por exemplo, sentido de culpa, medo), comportamentos (por exemplo, sendo agressivos ou malandros) e também fisicamente.

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Seria recomendável: •

Ajudar os pais a preparar um livro ou uma caixa de memórias para as crianças.

Encorajar os pais a identificar alguém que possa cuidar das crianças após a sua morte e envolvê-las na escolha de seus futuros tutores.

Ajudar os pais a escrever os seus testamentos para que as crianças não percam a sua herança e indicando a quem as crianças vão ser confiadas.

Aconselhar os pais a tratar de todos os documentos importantes de que as crianças possam vir a precisar, como as certidões de nascimento, o testamento e outros papéis legais, incluindo declarações das estruturas de bairro. As crianças deverão saber onde se encontram tais documentos e ter acesso aos mesmos. Sugestões práticas para as famílias incluem:


SECÇÃO 1

Princípios e estratégias A capacidade das crianças de entender a morte também depende de sua idade e capacidade de compreensão:

Caixas ou livros de memórias ajudam os pais a discutir a sua morte com as crianças e a preservar informações sobre a família e lembranças da infância. Os pais podem escrever as suas recordações mais queridas sobre a criança, desenhar a árvore genealógica, dar informações sobre os familiares, as tradições seguidas pela família e os acontecimentos importantes; podem escrever uma carta descrevendo seus desejos especiais e sentimentos pelos filhos e incluir fotografias ou desenhos que a criança fez. Preparar uma caixa ou um livro de recordações com uma criança estimula a criança a perguntar sobre seu passado e sobre os planos para o futuro. Estes instrumentos são especialmente valiosos para as crianças cujos pais morrem quando elas são ainda muito novas, pois fornecem informações sobre os pais de que elas não se poderão lembrar e ajudam-nas a ter um sentido de identidade.

• Crianças de idade inferior aos 2 anos não entendem o conceito de morte ou o que aconteceu. • Crianças de 3-5 anos podem ter episódios breves, frequentes e intensos de pesar, embora nos intervalos entre estes momentos aparentem não terem sido afectadas. Elas podem não entender que a morte não tem volta e muitas vezes esperam o retorno do pai ou da mãe que faleceu. Elas podem repetir a mesma pergunta milhares de vezes. • As crianças acima dos 5 anos de idade podem aceitar a ideia que um dos pais morreu e procurar uma forma de guardar a pessoa querida em sua memória (por exemplo, pensando que o pai ou a mãe estão no céu ou velando de longe pela criança).

Em Moçambique, uma associação chamada “Vukoxa”, que trabalha no distrito do Chokwe com pessoas idosas, encoraja as famílias a terem um livro de memórias onde ficam registadas as principais tradições da família, como regras de casamento e de falecimento e os bens que a família dispõe e os últimos desejos dos pais. Nesta região é costume os homens irem trabalhar nas minas da África do Sul. Muitas vezes voltam doentes e a viúva e as crianças acabam por ver os seus bens espoliados pela família do marido. Os activistas e paralegais da “Vukoxa” têm verificado que, com a existência do livro de memórias, reduziram-se os casos de famílias que sofreram abusos por parte dos familiares do marido, e assim os direitos das crianças foram protegidos.

Ajudar as crianças na perda dos pais ou outras pessoas queridas As familias precisam de saber que o sofrimento afecta as crianças, e como as ajudar. As crianças são afectadas pela doença e morte e podem sentir ansiedade, angústia e sofrimento. Sem ajuda, a doença e a morte dum dos pais podem causar problemas emocionais e comportamentais durante muito tempo.

Figura 3: Envolver as crianças nos rituais familiares, como plantar uma árvore em memória dum ente querido

Falar com as crianças sobre a perda dum membro da família e explicar que os adultos na família também estão tristes, mas que vai ser preciso aceitar a realidade e buscar formas de aguentar a dor.

Explicar que a morte ocorreu por causa duma doença e tranquilizar a criança assegurando que ela não tem nenhuma culpa do que aconteceu.

Manter uma rotina o mais normal possível, pois isso ajuda a criança a sentir-se mais segura. Tentar não transferir as crianças para um novo ambiente.

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SECÇÃO 1

Princípios e estratégias No Zimbabué, o Masiye Camp da Salvation Army (Exército da Salvação) organiza acampamentos para crianças afectadas menores de 5 anos e para seus provedores de cuidados. Usam actividades recreativas e teatro para ajudar as crianças a expressar seus sentimentos e desenvolver habilidades sociais. O aconselhamento, as discussões em grupo e o ensino (por ex., sobre os efeitos do abuso da criança, sobre viver positivamente com HIV, como cuidar de crianças doentes, como reforçar as habilidades de pai/mãe/tutor, e sobre como preparar um livro de memórias) ajudam os provedores de cuidados a entender as necessidades das crianças e fornecer cuidados e apoio apropriado para crianças infectadas pelo HIV (UNAIDS, 2001). Também no Zimbabué, a iniciativa Young People We Care (Somos Jovens Provedores de Cuidados) encoraja os jovens da comunidade a dar apoio prático e emocional às crianças pequenas, inclusive ajuda com os trabalhos escolares e com actividades recreativas. JSI UK Zimbabué.

Assegurar que a criança se sinta segura e amada, cuidando dela, dando-lhe atenção e carinho duma forma constante.

Envolver as crianças nas cerimónias familiares – pois isso ajuda-as a sentir que não estão sozinhas no seu pesar – mas não obrigar as crianças a tomar parte nos funerais se não quiserem ou se tiverem medo. As crianças poderiam ser encorajadas a terem sua própria cerimónia para o membro da família que morreu, ou a plantar uma árvore, ou a fazer um jardim em memória da pessoa.

Quando tiverem de sair de casa por algum tempo, os adultos devem explicar às crianças aonde vão e o que vão fazer, e deixar as crianças com alguém que elas já conheçam bem.

Aceitar as reacções e os comportamentos das crianças. Tentar ser paciente e não se aborrecer se uma criança não obedecer, fizer birras, fizer xixi na cama ou se comportar como um bebé.

Confortar a criança quando ela for para a cama ou acordar no meio da noite.

Deixar que a criança expresse seus sentimentos. Falar com ela sobre a perda e sobre a pessoa que morreu. Ajudar a criança a guardar recordações dos momentos felizes que passou com os pais. Responder a quaisquer perguntas que ela tenha sobre os pais falecidos.

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DESENVOLVER RESILIÊNCIA Por resiliência entende-se a capacidade de enfrentar e superar as dificuldades da vida de forma a sair fortalecido pela experiência adquirida. Uma criança resiliente acredita que pode lidar com um

O que torna uma criança resiliente? • O que a criança tem – ‘Eu tenho’ – a criança tem mais probabilidades de ser resiliente se tiver por perto pessoas que a amam e que estabeleçam limites para prevenir que a criança se ponha em perigo ou em situações problemáticas; que lhe dão o exemplo de bom comportamento, que a encorajam a tornar-se independente e a elogiam ao demonstrar iniciativa; e que a apoiam quando precisa de acesso aos serviços públicos e sociais. • Quem a criança é –‘Eu sou’ – a criança tem mais probabilidades de ser resiliente se tiver um sentido de quem ela é, se sentir que os outros podem gostar dela e amá-la; se puder fazer algo para os outros; se se sentir orgulhosa de si mesma; se tomar responsabilidade por suas acções e se pensar que no futuro as coisas vão correr bem. • O que a criança pode fazer ‘Eu posso’ – uma criança tem mais possibilidade de ser resiliente se puder conversar com os outros sobre suas preocupações e se puder resolver seus problemas; se controlar seus sentimentos, entender como os outros se sentem e estabelecer relações: e se encontrar alguém que a ajude quando ela precisar.

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SECÇÃO 1

Princípios e estratégias Na Tanzânia, a HUMULIZA treina ONGs e professores na identificação dos problemas e na comunicação com as crianças; também organiza o aconselhamento entre pares para permitir que as crianças compartilhem suas experiências e se apoiem mutuamente. Sessões semanais em grupo ajudam as crianças a sentir que não estão sozinhas com seus problemas e a enfrentar melhor seus sentimentos de isolamento. As sessões começam pedindo a cada criança que conte algo importante que lhe aconteceu durante a semana. São usados teatro e marionetas para ajudar as crianças a falarem de seus problemas. Jogos, canções e actividades são utilizados para desenvolver a autoestima.

acontecimento difícil porque tem algum poder sobre sua vida. Uma família carinhosa oferece o melhor ambiente para o desenvolvimento de resiliência na criança. O apoio emocional e social da família, das outras crianças e dos vizinhos é de importância vital para que a criança aprenda a lidar com as adversidades.

O Mothers Support Group (Grupo de Apoio das Mães) na Nigéria organiza clubes e acampamentos para as crianças. Nestes lugares seguros as crianças podem pensar nos seus problemas e elaborar soluções, com o apoio de adultos carinhosos. www.healthlink.org.uk

Os projectos da CCATH (Child-Centred Approaches to HIV and AIDS) no Quénia e Uganda desenvolvem a resiliência das crianças através do desenvolvimento de suas capacidades de enfrentar as dificuldades, facilitando a comunicação entre pais e filhos, promovendo a elaboração de livros de memórias, estabelecendo clubes de crianças e apoiando crianças mais crescidas a dar apoio emocional às crianças mais novas.

No Ruanda, a CARE International apoia a Nkundabana Initiative for Psychosocial Support (Iniciativa da Nkundabana para o Apoio Psicossocial), no treinamento de 600 tutores (Nkundabana) na tarefa de substitutos dos pais para 3000 famílias chefiadas por crianças. O seu objectivo é ir ao encontro das necessidades emocionais e psicossociais dessas crianças. Os tutores seleccionados a nível da comunidade devem ser aprovados pelas crianças. REPSSI.

Por isso, as organizações locais precisam trabalhar também com toda a comunidade no desenvolvimento da resiliência das crianças. Fazer um livro do herói, onde a criança escreve e faz desenhos e onde ela própria é a personagem principal, é um processo que tem por objectivo reforçar a resiliência da criança. A criança conta sua história com palavras e desenhos e, no papel de ‘herói’, é ajudada a sentir que ela própria tem algum controle dos problemas e dos desafios da sua vida. Porém, resolver problemas não é somente responsabilidade da criança e os livros de heróis salientam a necessidade de sensibilizar a comunidade no apoio às crianças. Morgan, 2004.

O manual prático HIV positive: A book for caregivers inclui jogos e actividades para desenvolver a autoconfiança das crianças. No Jogo de Roda, o facilitador pede que as crianças se sentem num círculo e a seguir que cada criança diga algo de bom sobre si própria. A seguir, as crianças devem dizer algo de bom sobre a criança ao seu lado. Isto leva a uma discussão sobre o facto de que cada pessoa tem potenciais e qualidades, todas são diferentes, mas todas são igualmente valiosas. Media in Education Trust.

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PROMOVER A PARTICIPAÇÃO DAS CRIANÇAS Por muito nova que seja a criança, é importante descobrir o que ela pensa e o que é importante para ela, antes de se decidir como a ajudar. Somente a própria criança pode descrever sua situação e dizer como se sente. A participação das crianças poderá não só assegurar que as actividades sejam apropriadas às suas necessidades, mas também melhorar o seu bem-estar psicossocial e desenvolver a sua resiliência.

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SECÇÃO 1

Princípios e estratégias Porque é importante a participação das crianças? • A participação envolve as crianças na tomada de decisões sobre assuntos que as afectam. • Participação significa trabalhar com as crianças em vez de trabalhar para elas. • A participação reconhece os conhecimentos e as habilidades das crianças e constrói a partir dessa base. • A participação desenvolve as habilidades e a confiança das crianças. • A participação ajuda as crianças a aprenderem sobre cooperação e responsabilidade social. • A participação ajuda as crianças a obterem apoio de seus pares. Para trabalhar com crianças é preciso: • Aprender a escutar as crianças, dar tempo para as conhecer e ganhar sua confiança. • Utilizar actividades divertidas, fazer vários tipos de jogos para as envolver. • Descobrir o que é importante para as crianças em vez de impor o plano dos adultos. • Assegurar-se que a criança saiba o que o envolvimento dela significa. • Ser realístico sobre a quantidade de tempo que a criança tem para participar. • Proteger a confidencialidade das crianças infectadas pelo HIV. • Estimular as crianças a participarem em grupos de apoio de pares como os clubes.

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No Malawi, o programa STEPS efectuou uma pesquisa que indica que as crianças pequenas infectadas e as crianças afectadas pelo HIV tinham ideias muito claras sobre quem elas preferiam que cuidasse delas após a morte dum dos pais. As mesmas crianças queriam fazer novas amizades e conviver com outras crianças, mas não tinham oportunidades para o fazer e achavam que os adultos não entendiam a importância da amizade entre crianças. As ferramentas participativas utilizadas pela CCATH para investigar a situação das crianças incluem: • Mapas de comunicação – as crianças desenham-se a si próprias e desenham as pessoas importantes nas suas vidas. Dependendo do grau de importância de cada pessoa, a criança pode desenhar até três linhas de ligação entre si própria e a pessoa, e explicar quais são os assuntos de conversa com esta pessoa. Este jogo permite identificar as relações significativas das crianças, quem lhes dá apoio e a quem elas apoiam. • O rio da vida – as crianças desenham um rio e dentro dele suas vidas, desde o nascimento até cinco anos no futuro. O rio corre para cima quando as coisas correm bem e para baixo em tempos de dificuldade. Isto fornece indicações sobre os problemas das crianças. • Feliz e triste – as crianças desenham o que as torna felizes e o que as entristece. Isso fornece indicações quanto ao ambiente social da criança, inclusive sobre a exclusão das crianças afectadas ou positivas, e sobre os comportamentos dos adultos para com as crianças. • Árvore da vida – as crianças desenham uma árvore que representa vários aspectos de suas vidas: terra – lugar de origem; raízes – antepassados, informação sobre antecedentes culturais ou étnicos; tronco – pessoas, lugares e acontecimentos que influenciaram suas vidas quando mais novas; ramos – pessoas, lugares e acontecimentos que influenciam actualmente as suas vidas; frutas – o que torna suas vidas bonitas presentemente; insectos/pragas – problemas e desafios; folhas no chão – perdas e dificuldades em suas vidas. Isto ajuda as crianças a entenderem-se a si próprias e a entenderem mais especificamente suas forças e fraquezas.


SECÇÃO 1

Princípios e estratégias • irmão

amiga

Figura 4: Mapa de Comunicaçâo

mãe

irmã

Seria recomendável: Compartilhar com a comunidade as informações (adquiridas através destas actividades) sobre as necessidades e as prioridades das crianças.

Sensibilizar os líderes e os comités da comunidade sobre o valor da participação das crianças e encorajá-los a envolverem as crianças duma forma significativa.

Desenvolver a confiança e as habilidades das crianças para que elas tomem parte nas discussões dos adultos, ou facilitar encontros separados para crianças, onde elas possam expressar suas ideias e identificar alguém que possa apresentar essas ideias aos líderes da comunidade. Assegurar uma protecção reforçada para as crianças Em muitas comunidades, a infecção pelo HIV continua a ser percebida como uma doença que traz vergonha e mesmo como uma punição infligida a um indivíduo ou família. Os seus modos de transmissão ainda insuficientemente conhecidos provocam medos injustificados de ser contaminado ao ter contacto com pessoas seropositivas. Assim, as crianças com HIV/SIDA ou afectadas podem ser rejeitadas ou isoladas e por consequência terem os seus direitos essenciais violados, por ex., o direito à vida, ao registo, à educação, à saúde e a participação nas decisões que as afectam. Embora o espírito de várias convenções e declarações incluam a protecção das crianças vivendo com HIV ou afectadas, estas nem sempre são respeitadas, mesmo nos países onde estão ratificadas há muito tempo. Uma vez que estas não são conhecidas pelas comunidades, a falta de uma tradição de recorrer à justiça pública, a precariedade social das famílias afectadas pelo HIV e o medo da quebra do segredo da seropositividade impedem as crianças e suas famílias de beneficiar realmente da protecção teoricamente garantida pelos textos legislativos. Por isso o respeito aos Direitos Humanos tem que ser uma preocupação sistemática dentro de todas as intervenções que dizem respeito às crianças vivendo com HIV ou afectadas. As seguintes estratégias podem contribuir muito: Promover um quadro favorável ao apoio jurídico, tanto ao nível institucional como comunitário: os textos legislativos têm de ser divulgados dentro de formatos acessíveis e culturalmente aceitáveis para as comunidades; as estruturas de base comunitárias, os líderes religiosos e temporais, as escolas e as instituições que lutam localmente para a protecção dos Direitos Humanos têm que jogar um papel importante.

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SECÇÃO 1

Princípios e estratégias

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Fornecer um apoio às famílias mais pobres e vulneráveis, e não somente às que são afectadas pelo HIV: os programas de apoio têm de ser dirigidos às crianças consideradas mais vulneráveis pela comunidade, e que precisam de uma atenção prioritária. Este tipo de abordagem valida o apoio às crianças dentro das famílias afectadas pelo HIV, mas também assegura a protecção de todas as crianças vulneráveis e ajuda a prevenção da estigmatização.

Ajudar as famílias e as crianças a fazerem face à estigmatização e à discriminação: dar apoio aos pares, ao envolvimento dos lideres de opinião na advocacia pelo respeito dos Direitos das Crianças e se for necessário apoio jurídico.

Estabelecer alianças e contactos formais entre estruturas responsáveis pelo apoio médico e social às crianças vivendo com HIV ou afectadas e as estruturas públicas ou associativas de protecção aos Direitos Humanos.


Cuidados e tratamentos para crianças pequenas com HIV

SECÇÃO 2

Questões A maior parte das crianças infectadas pelo HIV são infectadas mediante transmissão de mãe para filho. As maneiras mais eficazes para prevenir essa transmissão são: prevenir a infecção nas mulheres e assegurar que as mulheres que são HIV positivo tenham acesso a intervenções que previnem a transmissão de mãe para criança (PTMC). É importante também assegurar que os pais de crianças infectadas pelo HIV recebam cuidados e tratamento adequado, pois as probabilidades de as crianças serem bem cuidadas aumentam quando os pais estão em condições de cuidar delas.

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COMO É QUE AS CRIANÇAS SÃO INFECTADAS PELO HIV? Os bebés e as crianças pequenas podem ser infectados pelo HIV de três formas principais: mediante transmissão do vírus da mãe infectada para o bebé durante a gravidez, o nascimento ou a amamentação; através de transfusões de sangue infectado, ou mediante o uso de agulhas e seringas não esterilizadas; e ainda se a criança for abusada sexualmente por uma pessoa infectada.

Numa clínica em Moçambique, uma médica deparou-se com o seguinte caso: “Desde o primeiro ano de vida, um paciente mostrou sinais e sintomas que me fizeram pensar numa tuberculose pulmonar, e depois de ver os resultados dos exames radiológicos e hematológicos, ele foi assim diagnosticado. Os pais procuraram uma segunda opinião médica, que infelizmente não considerou tratar-se desta patologia, e a criança fez apenas tratamento antibiótico. Como continuou piorando, voltou à nossa consulta um ano depois, e iniciámos imediatamente o tratamento específico para Tuberculose. Mas a criança não mostrava a melhoria que seria de desejar. Supusemos que uma das causas fosse a demora no início do tratamento. Como sabíamos que ambos os pais eram HIV negativos, a ideia de a criança ser seropositiva estava em princípio fora de questão. Mas, por o estado da saúde da criança continuar a piorar apesar do tratamento adequado que estava a receber, decidimos fazer o teste do HIV, e deu positivo. Voltámos a repetir o teste do HIV dos pais e eles eram definitivamente negativos. Tentámos então fazer uma análise retrospectiva dos primeiros anos do paciente, e observámos dos factos que poderiam explicar a infecção iatrogénica que, na altura do nascimento, teve que passar umas horas no berçário por problemas perinatais, e que noutra ocasião foi ao Hospital por um quadro respiratório obstrutivo, durante o qual recebeu soro com medicamentos broncodilatadores. Não podemos saber ao certo quando o miúdo foi infectado, mas sabemos que a infecção pelo HIV lhe foi inoculada por algum procedimento clínico feito nos primeiros meses de vida.

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SECÇÃO 2

Questões 2

COMO SE FAZ O DIAGNÓSTICO DO HIV NAS CRIANÇAS PEQUENAS? Até há pouco tempo tempo atrás era difícil reconhecer ou diagnosticar a presença do HIV em bebés muito novos. O teste diagnóstico mais usado em África não era de confiança nas crianças abaixo dos 18 meses, porque detectava a presença de anticorpos contra o HIV e não o próprio vírus. As crianças até essa idade porém podiam ter anticorpos contra o vírus, transmitidos da mãe para o bebé, mas não estar infectadas pelo HIV. Esta situação está mudando e muitos países estão promovendo e difundindo a utilização de testes que detectam o próprio vírus ou seus componentes, e que permitem fazer-se o diagnóstico imediato dos bebés.

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COMO É QUE A INFECÇÃO PELO HIV AFECTA A SAÚDE DAS CRIANÇAS? As crianças infectadas pelo HIV podem adoecer das doenças comuns que afectam qualquer criança, mas no seu caso estas doenças são muitas vezes mais graves e podem não responder bem ao tratamento convencional. A pneumonia, a malária e a falta de crescimento são problemas sérios nas crianças infectadas pelo HIV. As crianças infectadas pelo HIV estão também expostas às infecções oportunistas, pois o HIV reduz a capacidade do organismo de lutar contra as infecções, e o risco de contrair a tuberculose (TB) é muito elevado. As crianças que vivem em casas onde haja um adulto com TB – doença que frequentemente afecta os indivíduos positivos ao HIV – estão em risco de contrair a TB. Sem tratamento, a taxa de mortalidade por TB é muito elevada nas crianças pequenas.

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SECÇÃO 2

Questões 4

O QUE SE PODE FAZER PARA AJUDAR AS CRIANÇAS INFECTADAS PELO HIV? As crianças infectadas pelo HIV podem continuar saudáveis e viver por muitos anos se a infecção do HIV for detectada cedo e se receberem bons cuidados, tratamento e apoio. O tratamento com medicamentos antiretrovirais (TARV) previne doenças e morte das crianças e permite que estas tenham uma vida saudável e feliz. Mas é importante salientar que o tratamento antiretroviral por si só não é suficiente para tal, se as condições de saneamento e nutrição e o ambiente geral em casa não forem adequados.

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SECÇÃO 2

Princípios e estratégias Princípios • Promover o teste de HIV para todas as mulheres grávidas • Aconselhar mulheres grávidas sobre prevenção da transmissão do HIV de mãe para criança (PTMC) • Detectar a infecção do HIV tão cedo quanto possível • Promover o acesso ao tratamento e ajudar as crianças a tomarem os medicamentos antiretrovirais • Ajudar as crianças a manterem-se saudáveis • Providenciar boa nutrição • Cuidar das doenças comuns • Providenciar cuidados e apoio para as crianças que estejam gravemente doentes e próximo da morte • Ajudar os provedores de cuidados a enfrentar o medo e as preocupações com a morte

Esta secção descreve os princípios e as estratégias que as organizações podem usar para apoiar as comunidades e as famílias a ajudar as crianças infectadas pelo HIV a permanecerem saudáveis. 1

PROMOVER O TESTE DE HIV PARA TODAS AS MULHERES GRÁVIDAS Identificar o estado serológico das mulheres grávidas permite, nos casos positivos, fazer um tratamento que pode salvar a vida da criança. Se não se conhecer o estado serológico com antecedência a criança poderá morrer ou passar grande parte de sua vida doente.

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ACONSELHAR AS MULHERES GRÁVIDAS SOBRE A PREVENÇÃO DA TRANSMISSÃO DO HIV DE MÃE PARA CRIANÇA Sem intervenção preventiva da transmissão do HIV de mãe para criança (PTMC), um em cada três bebés de mães positivas será infectado. Existem porém intervenções que podem reduzir duma forma significativa o risco de transmissão de mãe para filho. Estas intervenções incluem: a profilaxia (tomar um medicamento para evitar a ocorrência duma infecção) com medicamentos antiretrovirais (TARV) para a mãe durante a gravidez e para o bebé ao nascer; a cirurgia cesariana evitando o parto natural; e a alimentação artificial para o bebé, evitando a amamentação. Os bebés só poderão beneficiar da profilaxia antiretroviral caso as mães conheçam o seu estado de HIV e tenham acesso a serviços que administrem antiretrovirais. As cesarianas e a alimentação artificial não são acessíveis à maioria das mães nos países mais pobres, por causa de seus custos e pelos riscos para a mãe e a criança (veja abaixo Providenciar boa nutrição para mais informações sobre alimentação dos bebés). Os tratamentos e cuidados de PTMC por si sós não são suficientes. Também é importante providenciar terapia ARV a prazo ilimitado para as mães, para que elas continuem saudáveis e possam cuidar de seus bebés e de suas crianças. Os serviços que oferecem profilaxia TARV deveriam também oferecer terapia ARV a longo prazo para as mães positivas ou enviá-las para serviços que ofereçam este tipo de tratamento. Seria também recomendável:

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Educar as comunidades sobre a prevenção da infecção pelo HIV nas mulheres durante a gravidez.


SECÇÃO 2

Princípios e estratégias •

Oferecer às comunidades informações básicas sobre a importância dos testes para detectar o HIV nas mulheres grávidas e seus parceiros, e indicar onde os casais possam encontrar serviços de aconselhamento e testagem voluntária.

Promover a consciencialização das comunidades sobre as intervenções que podem prevenir a transmissão do HIV de mãe para criança, especialmente a profilaxia TARV, e informar a comunidade sobre a existência de programas e centros que oferecem serviços de PTMC.

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DETECTAR A INFECÇÃO DO HIV O MAIS CEDO POSSÍVEL Melhorar o diagnóstico de crianças infectadas pelo HIV É importante diagnosticar as crianças infectadas pelo HIV para que elas possam receber os cuidados apropriados e passem a beneficiar do tratamento antiretroviral que poderá salvar as suas vidas. Seria recomendável:

Dar informações simples e claras às comunidades sobre a importância do diagnóstico das crianças infectadas pelo HIV e sobre os cuidados e o tratamento apropriados para estas crianças.

Treinar os responsáveis e os voluntários dos programas para crianças órfãs e vulneráveis em cuidados domiciliários e de TB, na identificação de crianças em risco da infecção por HIV (por exemplo, crianças em famílias onde existe um adulto seropositivo ou com TB), e de crianças que apresentam sinais e sintomas de infecção por HIV.

Assegurar que os trabalhadores comunitários saibam aconselhar as famílias sobre a importância de procurar o diagnóstico e indicar onde a criança possa fazer o teste do HIV. Apoiar as famílias na decisão de fazer o teste de HIV nas suas crianças Descobrir que uma criança tem HIV ajudará a família a receber aconselhamento sobre como manter a criança saudável, sobre o acesso aos serviços de tratamento e sobre a possibilidade de receber apoio de outras pessoas que se encontram na mesma situação. Seria recomendável:

Advogar a favor de serviços de aconselhamento familiar e serviços de testagem adequados a crianças, que ofereçam aconselhamento antes e

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SECÇÃO 2

Princípios e estratégias As histórias são uma forma apropriada de lidar com o medo que as crianças têm das análises de sangue. Esta história foi adaptada de HIV positive: A book for caregivers. Siyabonga precisa fazer uma análise de sangue na clínica. Ele tem muito medo. A enfermeira explica o que vai fazer para lhe tirar o medo. Siyabonga: Tenho medo. Enfermeira: Todos têm medo de coisas novas mas não é preciso preocupar-se por uma análise de sangue. Eu já fiz muitas destas análises e sei que tudo vai correr bem. Siyabonga: O que é que a senhora enfermeira está a fazer agora? Enfermeira: Estou a limpar um pedacinho da tua pele para não permitir que os germes entrem. Vou enfiar esta agulhinha na tua veia. Poderás sentir uma picadela. Aqui está o sangue na seringa. Agora tenho o sangue que precisamos. Não foi tão mau, foi? Siyabonga: Foi mais ou menos. Só senti uma picadela, mas agora já não sinto nada. Como é que o sangue vai parar? Enfermeira: Vou por um pouco de algodão no ponto onde piquei e este adesivo para segurar o algodão. Quando chegares a casa podes tirar o adesivo e o sangue já terá parado de sair. Siyabonga: Posso mostrar a picada aos meus amigos?

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depois dos testes, e ajudem a família a tomar uma decisão ponderada e entender as implicações da testagem duma criança. Os factores que a família precisa considerar são: • Se o resultado for positivo, haverá possibilidade de a criança ter acesso à profilaxia com cotrimoxazol (ver página 32 Dar profilaxia com cotrimoxazol) e à terapia antiretroviral? • Os pais conhecem o seu próprio estado quanto ao HIV? Se forem positivos, querem falar sobre isso? Se não o conhecem, estão preparados para serem testados? • Se o diagnóstico for positivo, há risco de a criança ser negligenciada ou discriminada ou de a família ser objecto de estigma e discriminação? •

Dar conselhos práticos à família sobre o que é oportuno dizer à criança que vai fazer o teste. As crianças que tenham idade suficiente para entender precisam ser informadas com antecedência que um pouco de sangue será tirado e que isso poderá doer um pouco (um exemplo é apresentado no quadro à esquerda).

Explicar que um dos pais ou o tutor deverão dar seu consentimento antes que a criança faça o teste e que seria importante obter o consentimento da própria criança, se ela tiver idade para entender o que está acontecendo.

Ajudar as famílias a entrar em contacto com grupos de apoio onde seja possível discutir as suas ansiedades sobre o teste e sobre a forma de revelar os resultados a outras pessoas, e trocar ideias sobre suas experiências. Ajudar as famílias a decidir quando e como contar a uma criança Se o resultado do teste da criança pequena for positivo, a família deverá decidir quando e como lhe contar. Tal informação nunca deveria ser dada forçosamente a uma criança que não esteja pronta para recebê-la. Não existe uma idade ideal para uma criança vir a conhecer o seu estado quanto ao HIV. O momento certo depende da idade da criança, da sua maturidade e da sua capacidade de entender as coisas. O revelar à criança que ela é HIV positivo deveria ocorrer progressivamente. As crianças pequenas podem ser informadas usando palavras muito simples, explicando que elas têm uma doença crónica, mas sem mencionar o HIV. Com o passar do tempo, quando a criança desenvolver a faculdade de entender melhor e de encarar as consequências da sua situação, ela poderá receber mais informações. Seria recomendável:


SECÇÃO 2

Princípios e estratégias Enfermeira: Claro. Deixa o algodãozinho e o adesivo até à hora de mostrares aos teus amigos. Foste um menino muito bom e corajoso. Parabéns. Logo que chegou a casa, Siyabonga correu para mostrar a picadela aos seus amigos. Ele contou que a enfermeira disse que ele foi um menino muito mas muito corajoso. Ele sentiu-se muito orgulhoso. Media in Education Trust. Em Moçambique a associação de pessoas vivendo com HIV, “Tinhena”, utiliza 15 cartazes elaborados pelos Médicos Sem Fronteiras de Luxemburgo, que ajudam a comunicar melhor com a criança e de uma forma lúdica e assim facilita a compreensão sobre a transmissão e o desenvolvimento da doença. A maioria dos cartazes tem ilustrações que mostram como o sistema imunológico do corpo humano funciona, e assim as crianças podem entender melhor a importância de tomar o medicamento na dose e hora correcta.

Explicar à família que seria melhor que fosse um dos pais ou alguém em quem a criança confie a dar-lhe a informação, e aconselhar esta pessoa sobre a maneira de informar a criança com muito cuidado e sensibilidade.

Enviar a família para o serviço de aconselhamento ou para um grupo de apoio onde ela possa ter conselhos sobre o que dizer e quando informar a criança.

Encorajar a pessoa a falar com a criança a dar toda a informação necessária da forma mais honesta possível.

Enviar a criança para o aconselhamento, se esse serviço existir, ou organizar grupos de apoio de pares ou clubes onde ela possa compartilhar seus sentimentos e problemas com outras crianças na mesma situação.

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PROMOVER O ACESSO AO TRATAMENTO E AJUDAR AS CRIANÇAS A TOMAREM OS MEDICAMENTOS ANTIRETROVIRAIS Difundir a informação e sensibilizar as famílias sobre o tratamento As famílias precisam saber que a terapia ARV pode prevenir a morte e as doenças relacionadas com o HIV nas crianças. As crianças infectadas pelo HIV deveriam ter acesso aos medicamentos ARV como parte dum pacote de serviços de saúde e nutrição. Seria recomendável:

Informar as famílias, a escola, os líderes e as organizações comunitárias sobre o tratamento, os serviços que oferecem tratamento e a importância de iniciar o TARV o quanto antes.

Apoiar as famílias, a escola, os líderes e as organizações comunitárias a fazer advocacia por um maior acesso aos medicamentos TARV para crianças infectadas pelo HIV.

Promover os contactos entre as famílias, a escola, os líderes e as organizações comunitárias e os serviços que oferecem TARV. Os comités específicos para HIV/SIDA e crianças, os programas de cuidados domiciliários e os comités para crianças órfãs e vulneráveis podem desempenhar um papel importante no encaminhamento das crianças infectadas pelo HIV para os serviços de tratamento.

Explicar às famílias quando e porque o tratamento deve começar e explicar quais os medicamentos utilizados.

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SECÇÃO 2

Princípios e estratégias Segundo um estudo efectuado na África do Sul, os factores que mais dificultam o cumprimento do tratamento nas crianças são os seguintes: o pessoal de saúde dar informação incorrecta ou inadequada às famílias; o número elevado ou troca frequente de provedores de cuidados; os problemas com o sistema de refrigeração; as dificuldades na leitura dos rótulos dos medicamentos, na abertura das cápsulas e de misturar os medicamentos na comida ou na água; o deixar cair as garrafas e derramar seus conteúdos, e compartilhar os medicamentos entre diferentes pessoas na família. Population Council and UCT, 2005. No Malawi, os provedores de cuidados tiveram problemas semelhantes. Por exemplo, as avós disseram que tinham dificuldades em abrir e esmagar os comprimidos dos adultos para poder dar as doses correctas às crianças. MSF, 2005. Em Moçambique, as organizações “Tinhena”, “Kubatsirana” e o Centro de Saúde do Polana Caniço encontram problemas semelhantes e verificam maior dificuldade quando os provedores são avós que precisam de cuidados elas mesmas e/ou não sabem ler e escrever. Para tentar ultrapassar este problema a “Tinhena” realiza encontros semestrais com os chamados “confidentes”, que são as pessoas encarregadas de ajudar a pessoa em tratamento a cumprir com ele. Em Moçambique, educadores e psicólogos afectos ao Centro de Reabilitação Infantil do Chokwe (CRIC), e apoiados pela ONG “Dor Sem Fronteiras”, atendem regularmente as crianças que estão em tratamento com antiretrovirais providenciados pelo Hospital Carmelo e que frequentam diariamente aquele Centro aberto. Aqui

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Avisar as famílias que outros medicamentos das farmácias, das lojas ou dos médicos tradicionais podem interferir com os medicamentos antiretrovirais; por isso, antes de dar outros medicamentos às crianças é importante consultar os profissionais de saúde para saber se é aconselhável tomar esse medicamento adicional.

Alertar as famílias para que nunca partilhem os medicamentos antiretrovirais dos adultos com as crianças. Ajudar as crianças a cumprirem o seu tratamento Cumprir o tratamento significa tomar os medicamentos como indicado, isto é: da forma correcta, na dose correcta e à hora certa. As famílias precisam saber que a eficácia dos antiretrovirais depende da criança tomar seu medicamento na quantidade certa e à hora certa. Dar o medicamento em dose menor que a dose indicada não vai sortir efeito e vai criar resistência ao medicamento. Dar mais que o necessário vai fazer mal à criança. É importante salientar que a dose deveria ser tomada no máximo dentro de 30 minutos da hora marcada – e nunca se deveria esquecer de tomar nenhuma dose. As famílias precisam de informação e apoio para superar os problemas que podem surgir na administração dos medicamentos, como por exemplo o número de comprimidos que devem ser tomados, o sabor amargo do remédio e seus efeitos colaterais. Os provedores de cuidados podem incentivar as crianças a cumprir com o tratamento tomando a responsabilidade de supervisar e encorajar as crianças sempre que elas tenham que tomar o remédio. Sugestões práticas incluem: Dar à criança uma explicação clara e apropriada para sua idade e esclarecer porque é preciso que ela tome o medicamento todos os dias e à mesma hora. Organizar os horários de tomar os medicamentos de forma compatível com as actividades diárias do provedor de cuidados e da criança. As crianças acham mais simples ter uma rotina que permita tomar os medicamentos à mesma hora e da mesma forma todos os dias. Identificar formas de se lembrar do horário de tomar o medicamento. Por exemplo, colocar um calendário ou uma lista num lugar visível e depois da criança ter tomado o medicamento fazer um sinal na lista para confirmar que já se cumpriu com a dose nesse dia. Usar um despertador ou um marcador de tempo para não se esquecer e não atrasar com a administração do medicamento.


SECÇÃO 2

Princípios e estratégias os educadores reforçam com actividades lúdicas e ocupacionais a socialização dessas crianças com outras que espontaneamente vêm brincar no CRIC, a aprendizagem de habilidades práticas e de conhecimentos escolares e incentivam as manifestações dos seus sentimentos através do teatro e de contos de histórias. Este trabalho tem tido como resultados positivos a reconquista da auto-estima e auto-valorização, a perda gradual do negativismo. Faz parte das visitas ensinar as crianças a partir dos sete anos a tomar os medicamentos na hora certa e na dose certa. Formas simples de auto-controle da toma dos medicamentos são ensinadas individualmente e em grupo, de modo a estimular a ajuda mútua e a solidariedade entre as crianças. Por exemplo, amarrando no pulso um cordão de cor semelhante ao do medicamento que costuma ser mais esquecido, ou a hora de tomar medicamento mais esquecida, para lembrar que tem de tomar determinado remédio numa certa hora; e ensinam a dosagem correcta através de jogos tradicionais com pedrinhas. Para assegurar que o tratamento seja cumprido de maneira correcta, a Clínica Pediátrica Baylor, na Suazilândia, que atende crianças infectadas pelo HIV, exige nas sessões de aconselhamento a presença de uma pessoa capaz de fazer o acompanhamento do tratamento da criança, para o caso de o provedor de cuidados não ser capaz de o fazer.

Com o apoio da Save the Children, a ONG Health Alert trabalha no distrito de Gulu, no norte do Uganda, para promover o acesso aos cuidados e ao tratamento das crianças infectadas pelo HIV e para promover o apoio às crianças que já recebem tratamento TARV e profilaxia com cotrimoxazol. As actividades específicas incluem: estabelecer contactos entre as comunidades e os serviços de saúde; despertar atenção quanto à importância das crianças fazerem o teste de HIV e de tratar as crianças que precisam; informar as famílias sobre os medicamentos TARVs e sua administração para as crianças e como lidar com os efeitos colaterais; treinar as crianças como educadoras de pares para adesão ao tratamento; apoiar as crianças infectadas pelo HIV a comunicar suas necessidades a um público mais vasto através de programas na rádio e estabelecer grupos de apoio de pares e clubes de crianças sem que sejam necessariamente HIV positivas; Este projecto tem mostrado que aumentar o acesso ao tratamento e tratar as crianças com TARV em casa são ambas actividades possíveis em situações pobres em recursos. As comunidades compreenderam melhor a importância da testagem e do tratamento para as crianças, e os pais e as crianças ganharam consciência da importância de tomarem os medicamentos. Os grupos de apoio de pares têm sido muito eficazes em ajudar os pais a contarem a seus filhos que têm HIV, em estimular as crianças a cumprirem com seu tratamento e em reduzir o nível de estigma que afectava as crianças infectadas pelo HIV. Building Blocks Development Group. •

Colocar medicamentos diferentes em frascos de cores diferentes para evitar confundi-los.

Utilizar uma chávena marcada ou uma colher de medidas para medir a quantidade certa de xarope.

Separar os medicamentos em doses semanais para poder controlar no fim de cada semana se todas as doses foram tomadas.

Dizer à criança com antecedência que o medicamento poderá ter mau sabor, mas explicar que o sabor não vai permanecer muito tempo na boca e que o remédio vai ajudá-la a manter-se saudável.

Inventar uma história ou uma canção para a hora do remédio para distrair a criança do mau sabor.

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SECÇÃO 2

Princípios e estratégias Na África do Sul, os conselheiros infantis usam adesivos para ajudar as crianças a entender porque precisam tomar os medicamentos. “Vuli, tens um germe no teu sangue. Se tomares os medicamentos cada dia na dose certa vais te sentir bem. Vamos utilizar estes adesivos coloridos para te mostrar o que acontece: • Os adesivos vermelhos são o sangue (pôr muitos adesivos vermelhos na mesa limpa). O teu sangue tem soldados que te protegem das doenças. • O germe quer atacar os soldados e enfraquecê-los. Os adesivos pretos são o germe (pôr alguns adesivos pretos na mesa. Pode acrescentar mais para mostrar que o vírus se reproduz). • O remédio ajuda os soldados do teu corpo a tornarem-se mais fortes (pôr alguns adesivos verdes na mesa). • Quando tomas o teu remédio, ajudas os soldados a lutar contra o germe (tirar os adesivos pretos aos poucos). • Quando esqueces de tomar o teu remédio os adesivos pretos atacam rapidamente os soldados no teu sangue e começas a sentir-te doente (tirar adesivos verdes e acrescentar mais adesivos pretos)”. Durante esta explicação a criança pode fazer perguntas e o conselheiro explicará à criança e provedores de cuidados como se podem lembrar da hora certa para tomar os remédios. Building Blocks Development Group.

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Dar um pedacinho de gelo para a criança chupar antes de tomar o remédio. O gelo ajuda a adormecer a boca e normalmente as crianças gostam de gelo. Pode ser gelo simples ou “gelinho” (receita caseira em vários sabores, vendida nos bairros por muitas famílias para aumentar o rendimento familiar e muito apreciado pelas crianças).

Misturar o medicamento com pequenas quantidades de leite ou sumo, se a criança se recusar a tomar sua dose, e a seguir dar algo que possa tirar o sabor rapidamente.

Dar água, leite ou sumo para ajudar a criança a engolir os comprimidos e as cápsulas.

Assegurar-se que a criança engoliu a sua dose, e envolver as crianças mais velhas na administração do seu próprio tratamento, de forma a responsabilizá-las sobre a gestão da sua doença.

Dar sumo de limão ou chá de gengibre se o remédio causar náusea, ou uma dose de paracetamol se causar dor de cabeça (ver abaixo os efeitos colaterais).

Elogiar a criança por ter tomado o remédio cada vez que isso acontecer.

Conversar com outras famílias sobre as estratégias que utilizam para ajudar as suas crianças a tomarem os medicamentos e se possível verificar se há outras crianças tomando os mesmos medicamentos. Às vezes pode ser útil que uma criança veja outras tomando os remédios e dando o bom exemplo.

Figura 5: Uso da colher de medida para dar o medicamento na dose certa


SECÇÃO 2

Princípios e estratégias Algumas das ferramentas desenvolvidas pela MSF na Tailândia para ajudar a cumprir com o tratamento nas crianças incluem: histórias de fadas e bonecos utilizados para explicar como o vírus se desenvolve no corpo e como tomando o remédio esse desenvolvimento pode ser travado; um calendário de parede com o plano semanal dos horários dos remédios com as várias doses por cada manhã e cada noite preparadas em saquinhos presos no lugar do dia e da hora certa; uma caixinha de remédios com forma dum pequeno prédio e os medicamentos de cada dia num andar diferente; e um cartão com vários adesivos que explica quando deve tomar os medicamentos, e onde cada medicamento é representado por um adesivo diferente. A MSF convida as crianças e seus provedores de cuidados a participar nas reuniões a cada 3 meses para conversar com outras pessoas sobre seus problemas (Ponnet, 2002). No Malawi, a MSF utiliza diários, calendários e histórias de saúde para ajudar as crianças infectadas pelo HIV a tomarem seus medicamentos. MSF, 2005.

Monitorar o progresso e procurar os sinais dos efeitos colaterais Os profissionais de saúde podem monitorar a resposta à TARV controlando as mudanças de peso e altura das crianças e a frequência das infecções. Os provedores de cuidados deveriam: •

Registar se a criança come bem e com que frequência ela adoece.

Perguntar aos profissionais de saúde sobre os efeitos colaterais e como enfrentá-los. Efeitos colaterais da terapia TARV Os efeitos colaterais são os efeitos indesejáveis dos medicamentos. A maior parte das crianças que fazem TARV apresenta pequenos efeitos colaterais, mas estes são apenas temporários. Os efeitos colaterais mais comuns incluem: náusea, diarreia, dor de cabeça, alergias e distúrbios do sono. Mais raramente as crianças podem ter efeitos colaterais sérios. Estes incluem: dor aguda do estômago, anemia, olhos amarelos, irritação da pele, cansaço e falta de ar. Embora raro, um efeito colateral perigoso é uma doença chamada de Stevens-Johnson e neste caso a criança deve parar o tratamento imediatamente pois corre sério risco de morte. Stevens-Johnson é uma forma grave de erupção cutânea e pode provocar bolhas grandes na boca, na garganta, na pele, em volta do ânus ou órgãos genitais e até nos olhos. Estas bolhas podem rachar e provocar muita dor. A inflamação dos olhos pode deixar cicatrizes e até provocar cegueira. As crianças que têm qualquer um destes últimos sintomas devem ser levadas para o hospital ou posto de saúde imediatamente.

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SECÇÃO 2

Princípios e estratégias A profilaxia com cotrimoxazol para as crianças infectadas pelo HIV Segundo uma pesquisa na Zâmbia, a profilaxia com cotrimoxazol nas crianças infectadas pelo HIV reduziu as mortes em 43% e os internamentos no hospital em 23%. Outras pesquisas na África indicam que a profilaxia com cotrimoxazol pode reduzir as mortes entre 25% e 46% e reduzir os episódios de diarreia e malária nas crianças infectadas pelo HIV. Chintu et al, 2004; Mermin et al, 2004; 2005.

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Fazer a profilaxia com cotrimoxazol O cotrimoxazol é um medicamento barato e fácil de se encontrar. A palavra profilaxia significa dar um medicamento para prevenir uma doença. A profilaxia com cotrimoxazol ajuda as crianças infectadas pelo HIV a manterem-se saudáveis. Uma dose diária de cotrimoxazol previne as infecções como a malária e a diarreia e a pneumonia pneumocystis carinii (PCP), que é uma forma grave de pneumonia que provoca muitas mortes nas crianças infectadas pelo HIV. Seria recomendável: •

Consciencializar a comunidade sobre os benefícios da profilaxia com cotrimoxazol para as crianças infectadas pelo HIV.

Encorajar os programas de cuidados domiciliários a identificar crianças que poderiam beneficiar da profilaxia com cotrimoxazol.

Pressionar os serviços de saúde para que as crianças tenham acesso gratuito à profilaxia com cotrimoxazol.

Aconselhar as famílias dando informações básicas sobre as doses certas diárias para suas crianças.

A profilaxia com cotrimoxazol deveria ser administrada a: • Todos os bebés de mães HIV positivas a partir de 6 semanas de idade até se poder confirmar que a criança não esteja infectada (15-18 meses após seu nascimento) e quando não houver mais risco de infecção (a criança já não seja amamentada pela mãe). • Todos bebés e crianças confirmados como HIV positivos, com ou sem os sintomas da doença.

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AJUDAR AS CRIANÇAS A MANTEREM-SE SAUDÁVEIS

Assegurar que as crianças infectadas pelo HIV sejam vacinadas As vacinas protegem as crianças das doenças da infância que podem ser prevenidas. Nas crianças infectadas pelo HIV as vacinas são mais importantes ainda, pois estas crianças são mais vulneráveis às infecções do que as outras crianças. Por isso seria recomendável: •

Explicar às famílias a importância das vacinas para as crianças infectadas pelo HIV.

Visitar os postos de saúde na área e pedir informações sobre os dias em que as crianças são vacinadas; encorajar as famílias a levarem as crianças infectadas pelo HIV e as crianças em risco de contrair o HIV para serem vacinadas.


SECÇÃO 2

Princípios e estratégias Vacinas para as crianças infectadas pelo HIV As recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) são: • As crianças com suspeita de infecção pelo HIV, ou com HIV mas sem sintomas, deveriam ser vacinadas como todas as outras crianças. • As crianças com suspeita de infecção pelo HIV, ou com HIV e com sintomas de doenças relacionadas com o HIV, deveriam receber todas as vacinas da infância, a não ser a vacina da febre amarela, e deveriam ser vacinadas com a forma injectável da vacina da poliomielite e não com as gotinhas orais. • Todos os bebés HIV positivos ou expostos à infecção pelo HIV (filhos de mães positivas, mas cujo estado quanto ao HIV não é conhecido), com ou sem sintomas do HIV, deveriam ser vacinados contra o sarampo aos 6 meses de idade, além da dose normal dessa vacina aos 9 meses de idade.

Aconselhar as famílias a manterem os cartões de vacinas das crianças num lugar seguro e encorajar os pais no estágio avançado da doença a passar os cartões de vacina à pessoa que vai tomar conta das crianças após sua morte.

Assegurar que os trabalhadores de saúde conheçam as vantagens da vacinação para as crianças infectadas pelo HIV (veja quadro à esquerda). Dar suplementos de vitamina A Os suplementos de vitamina A reduzem o risco de doenças e morte em todas as crianças, e também nas crianças infectadas pelo HIV. A vitamina A protege contra a diarreia e as infecções respiratórias, previne as doenças graves da vista e a cegueira e ajuda o crescimento das crianças. Por isso seria recomendável:

Dar às famílias informações simples sobre a importância dos suplementos de vitamina A para as crianças infectadas pelo HIV e ajudá-las a ter acesso aos serviços que ofereçam os suplementos vitamínicos.

Pressionar os serviços de saúde para oferecerem suplementos de vitamina A para as crianças pequenas.

As recomendações para a vacina BCG (que previne a tuberculose) dependem da prevalência da TB num país (e também das políticas nacionais): • Em países onde a prevalência de TB é elevada (onde os benefícios da vacina são maiores do que seus riscos), a vacina BCG deveria ser aplicada a todas as crianças (inclusive as crianças infectadas pelo HIV) a não ser as crianças com sintomas de doenças relacionadas com o HIV. • Nos países onde a prevalência de TB é baixa, a vacina BCG deve ser aplicada a todas as crianças, a não ser as crianças infectadas pelo HIV e com sintomas de doenças relacionadas com o HIV.

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SECÇÃO 2

Princípios e estratégias Em Moçambique, a organização “Kubatsirana” distribui redes mosquiteiras para crianças órfãs e vulneráveis. A rede mosquiteira já vem incluída no projecto de construção de casa para crianças órfãs e vulneráveis. O Centro de Saúde do Polana Caniço, em conjunto com a Comunidade de Santo Egídio, distribui redes mosquiteiras para as mulheres grávidas e crianças menores de 5 anos.

Proteger as crianças da malária e da tuberculose As crianças infectadas pelo HIV correm mais riscos de contrair a malária. É muito importante proteger as crianças infectadas pelo HIV das picadas de mosquito. Dormir debaixo da rede mosquiteira tratada com insecticida reduz para a metade a probabilidade duma criança ter malária. As crianças infectadas pelo HIV correm um risco maior de ter TB se viverem numa casa onde haja um adulto com TB. É recomendável: •

Aconselhar a família para que todas as crianças durmam protegidas por uma rede mosquiteira tratada com insecticida, e procurar saber onde as famílias podem obter redes tratadas gratuitas ou subsidiadas. Normalmente estas redes são distribuídas pelos programas nacionais de malária.

Estabelecer contactos entre a família e os programas de tuberculose na comunidade e assegurar que os serviços de diagnóstico, prevenção e tratamento da tuberculose sejam oferecidos a crianças e adultos.

Figura 6: Dormir debaixo da rede mosquiteira tratada com insecticida ajuda a prevenir a malária

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SECÇÃO 2

Princípios e estratégias Boas práticas de higiene Para prevenir a diarreia: • As crianças devem lavar as mãos com sabão, areia ou cinzas depois de irem à casa de banho e antes de comer ou de preparar comida. • Os adultos também devem lavar as mãos com sabão, areia ou cinzas antes de preparar a comida e depois de utilizar a casa de banho, de trocar lençóis, roupas ou fraldas. • Manter as unhas das crianças curtas e limpas. • Manter as áreas onde as crianças brincam livres de fezes de animais. • Conservar a comida em recipientes limpos e cobertos • Reaquecer bem a comida para matar todos os germes e evitar conservar a comida já preparada por mais de 24 horas. • Despejar as fezes do bebé na latrina porque são muito contagiosas. Para prevenir as infecções da pele, dos olhos e da boca: • Dar banho às crianças todos os dias. • Lavar regularmente as roupas, os lençóis e os cobertores. • Limpar regularmente as camas, os colchões e os ambientes onde as crianças dormem. • Ajudar as crianças pequenas com a higiene da boca e mostrar às crianças mais velhas como manter a boca e os dentes limpos.

Promover o uso de água potável e a higiene As crianças infectadas pelo HIV correm mais riscos de ter diarreia do que as outras crianças. O uso de água potável e uma boa higiene ajudam a proteger estas crianças dos germes que causam a diarreia. Por isso é recomendável: •

Aconselhar a família a utilizar água potável para beber e preparar alimentos; a conservar água em recipientes limpos e cobertos; a ferver a água para beber e preparar alimentos caso não haja uma fonte de água potável perto de casa; ou a usar métodos simples de purificação da água se não for possível fervê-la. Um método simples para purificação da água utilizado pelas organizações comunitárias, é o de colocar bidões ou garrafas transparentes limpas, com água filtrada, ao sol durante 24 horas, ou então utilizar filtros de areia.

Dar informações básicas à família sobre as boas práticas higiénicas que podem prevenir a diarreia e outras infecções (veja quadro à esquerda).

Apoiar os esforços da comunidade para melhorar o acesso à água limpa, também pressionando o governo local e entrando em contacto com os programas de água. Levar as crianças para controlos regulares Os controlos regulares para as crianças infectadas pelo HIV deveriam incluir controlar o peso, ver se o cartão de vacinas está em dia, avaliar o estado nutricional e verificar se elas receberam suplementos de vitamina A. Os profissionais de saúde deveriam também controlar os marcos de desenvolvimento das crianças e controlar a sua vista e audição. Seria recomendável:

Encorajar a família a levar as crianças infectadas pelo HIV para controlos frequentes.

Verificar que os trabalhadores de saúde tenham conhecimento das medidas preventivas para ajudar as crianças infectadas pelo HIV a manter-se em boa saúde.

Encorajar os serviços de saúde a criar ambientes de tratamento que sejam agradáveis e adequados para as crianças.

Identificar voluntários na comunidade que levem as crianças infectadas pelo HIV para o controle quando os pais estiverem demasiado doentes para se deslocarem às consultas, e treinar estes voluntários para que seu apoio seja eficaz e de boa qualidade.

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SECÇÃO 2

Princípios e estratégias As mulheres com HIV e a alimentação dos bebés

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Promover a alimentação segura para os bebés As famílias e as mulheres com HIV precisam saber como alimentar os bebés de maneira a reduzir o risco de transmissão do HIV e assegurar que as crianças tenham a melhor nutrição possível. No quadro à esquerda estão resumidas as recomendações da Política de Alimentação Infantil em Moçambique.

Recomenda-se: • A prática do aleitamento materno exclusivo (leite materno apenas, sem dar outros líquidos nem alimentos, nem mesmo água ou sumo) nos primeiros 6 meses de vida, e uma rápida transição para alimentação substituta. Isto caso a alimentação substituta não seja aceitável, viável, possível de pagar, sustentável e segura (AVASS). Desta forma, o bebé recebe os benefícios da amamentação. A amamentação exclusiva tem menor risco de transmissão do HIV que a alimentação mista. • A alimentação substituta (com fórmula ou leite animal), em vez da amamentação, se ela for aceitável, viável, possível de pagar, sustentável e segura (AVASS). Este método de alimentar não tem o risco de transmissão do HIV, mas também não oferece os benefícios protectores da amamentação. • Não dar alimentação mista, isto é, não combinar a amamentação com nenhum outro alimento, pois o risco da transmissão do HIV, da malnutrição e da diarreia é muito maior do que praticando a amamentação exclusiva. • Aos 6 meses, cessar a amamentação completamente (ver quadro à esquerda). Introduzir então um a um os diferentes alimentos da família, começando com as papinhas e purés. A partir dos 9 meses o bebé já pode comer a maioria dos alimentos e aos 12 meses a maioria das crianças é capaz de comer os mesmos alimentos que o resto da família. OMS, UNICEF e ONUSIDA, 2005.

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PROVIDENCIAR BOA NUTRIÇÃO

Seria recomendável: •

Dar informações práticas às famílias sobre o HIV e a alimentação dos bebés.

Encaminhar as mulheres positivas para o Programa de Transmissão Vertical (PTV).

Encorajar as mulheres positivas que estejam amamentando seus bebés a cuidar bem dos seus seios e a procurar ajuda caso os mamilos se rachem, pois isso aumenta o risco de transmissão do HIV.

Dar apoio às mães positivas quanto à alimentação segura para seus bebés, qualquer que seja a opção alimentar que elas escolherem.

Como cessar completamente a amamentação em apenas alguns dias • No 1º dia, ensine o seu bebé a beber o leite extraído do seio de uma chávena. • No 2º dia, poderá substituir uma das mamadas pela chávena. No 3º dia substitua mais uma mamada pela chávena. Repita até que o bebé tome todas as mamadas da chávena ao fim de uns dias. • Gradualmente substitua o leite materno por leite animal modificado ou fórmula. • Pare de pôr o bebé no seio logo que ele se tenha acostumado a beber pela chávena. • Continue a extrair leite do seio para evitar o inchaço e deite-o fora. • Não recomece a amamentar uma vez que tenha parado. Adaptado dos panfletos da OMS sobre conselhos para a alimentação do bebé.


SECÇÃO 2

Princípios e estratégias Consciencializar sobre a subnutrição e sua prevenção As crianças pequenas com HIV correm alto risco de subnutrição. Embora a subnutrição nas crianças infectadas pelo HIV possa ser tratada com bons cuidados e alimentação no hospital ou mesmo em casa, estas crianças levam mais tempo para se recuperar do que as crianças não infectadas.

Porque é que o risco de subnutrição é mais elevado nas crianças infectadas pelo HIV? • As crianças infectadas pelo HIV precisam de mais comida do que as crianças da mesma idade não infectadas porque seu corpo precisa de mais energia para lutar contra a infecção. • As crianças infectadas pelo HIV podem não receber comida suficiente porque seus pais são demasiado pobres ou doentes para comprar ou cultivar alimentos ou não têm o tempo e a energia necessários para preparar a comida e dar de comer às crianças. • As crianças muito pequenas que não são ajudadas durante as refeições, ou que têm que competir com outras crianças pela mesma comida, podem acabar não se alimentando suficientemente. • As doenças relacionadas com o HIV, como a diarreia e as feridas/úlceras na boca, causam perda de apetite e dificultam a alimentação. • As crianças pequenas precisam de vegetais e de frutas que contêm substâncias importantes como o zinco e a vitamina A, mas certas crianças são alimentadas somente com papinhas de arroz ou pão, que não têm essas substâncias (micro nutrientes).

Figura 7: Assegurar que as crianças pequenas sejam bem alimentadas

Seria recomendável: •

Aconselhar sobre uma boa alimentação para as crianças infectadas pelo HIV.

Encorajar a família a ajudar as crianças mais novas a alimentarem-se e a supervisá-las durante as refeições para assegurar que elas comam.

Dar conselhos práticos sobre a alimentação das crianças doentes (ver página 38).

Aconselhar a família sobre os cuidados a ter com crianças que tenham feridas na boca e a procurar ajuda para crianças que não se alimentem bem ou apresentem sinais de mal nutrição.

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SECÇÃO 2

Princípios e estratégias • Comidas energéticas – milho, arroz, amendoim, coco, papinhas de cereais, mandioca, inhame, batata doce, banana e pão. As gorduras animais e os óleos vegetais são fontes de energia concentrada. • Comidas que constroem o corpo – leite, feijão, peixe, castanhas, galinha e outras carnes, fígado e ervilhas. • Comidas protectoras – os vegetais, principalmente os de cor verde escura, e as frutas amarelas ou cor de laranja como tomate, cenoura e manga. Os bebés não precisam receber todos estes alimentos ao mesmo tempo, mas devem receber cada dia alguns alimentos com energia, alguns que ajudem no crescimento e alguns que tenham vitaminas para os ajudarem a crescer saudáveis.

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Encorajar as famílias a alimentarem as crianças frequentemente, com alimentos ricos em substâncias energéticas e nutritivas para tratar a subnutrição. As crianças devem ser levadas frequentemente ao controle médico.

Apoiar os programas de alimentação nas escolinhas ou nos centros para crianças organizados pela comunidade. Aconselhar sobre boa nutrição A boa nutrição ajuda a criança infectada pelo HIV a crescer e a manter-se saudável. As crianças bem alimentadas têm menos infecções e têm menos probabilidades de contraírem doenças relacionadas com o HIV. Elas precisam duma dieta que inclua comidas energéticas, comidas que constroem o corpo e que protegem contras as doenças. Estas crianças precisam de maior quantidades de comida do que as crianças que não têm HIV. Por isso seria recomendável:

Explicar à família como escolher uma boa dieta para as crianças pequenas com HIV, baseada em alimentos que sejam disponíveis localmente. A partir dos 6 meses e até aos dois anos, as crianças devem ser alimentadas com comidas complementares: além do leite animal e das papinhas de milho, batata-doce, arroz e outros cereais, deve introduzir-se a mesma comida que a família come. Aos dois anos as crianças já deverão comer todos os alimentos da família.

Indicar formas de tornar mais nutritivas as comidas complementares e as comidas que a família come. Acrescentar óleo ou margarina dará energia, adicionar ovos, leite, feijão passado ou amendoim dará proteínas para construir o corpo da criança, e acrescentar vegetais de folha verde ou frutas passadas dará vitaminas e minerais.

Explicar que as crianças infectadas pelo HIV precisam comer uma variedade de comidas e comer mais frequentemente que as outras crianças e os adultos. Dê somente conselhos que sejam práticos e que a família possa implementar. Aconselhar que ofereçam comida às crianças mesmo fora do horário das refeições, como por exemplo bananas, que não precisam ser cozinhadas.

Encorajar a família a utilizar comidas locais, baratas e fáceis de preparar, e apoiar as famílias e as comunidades a cultivar uma variedade de produtos nutritivos.

Encaminhar as famílias mais necessitadas para os programas de assistência alimentar.


SECÇÃO 2

Princípios e estratégias Prestar atenção especial à alimentação das crianças doentes Assegurar que as crianças comam, mesmo quando estão doentes ou perderam o apetite, ajuda a prevenir a subnutrição e facilita a recuperação mais rápida da saúde. Por isso é recomendável aconselhar as famílias que:

Papa de Farinha de Milho Fermentada (para uma criança) Ingredientes: /2 chávena de farinha de milho 1 a 2 colheres de açúcar (mel, fruta ou cana doce) 1 colherinha de óleo 1

Modo de Preparar • Misturar a farinha de milho com um pouco de água limpa, deixar durante 1 a 2 dias a temperatura ambiente, num recipiente com tampa. • Depois cozinhar a farinha durante uns 5 minutos. • Uma vez cozida, juntar açúcar, mel ou banana à papa. Também se pode juntar a esta papa 2 colheres de amendoim ou castanha torrada e pilada, ou feijão cozido e passado, com um pouco de óleo. A Speak for the Child organizou um curso para tutores que têm ajudado os provedores de cuidados a identificar maneiras práticas de melhorar a nutrição das crianças. Isso inclui por exemplo: servir a comida das crianças pequenas em pratos individuais, para que elas não precisem competir com as outras crianças para comer, alimentar as crianças mais frequentemente e plantar hortaliças entre os pés de milho para ter uma dieta mais variada. AED e USAID.

Continuem a alimentar uma criança doente e a encorajá-la a comer.

Sejam pacientes, pois alimentar uma criança doente leva tempo.

Dêem de comer quantidades pequenas, mas frequentemente, e escolham alimentos de que a criança goste e que sejam fáceis de comer.

Dêem sumo de limão ou chá de gengibre diluído se a criança estiver com náusea, e iogurte e papinha fermentada se a criança tiver feridas na boca.

Segurem a criança em posição adequada para comer caso ela esteja fraca demais para se sentar sozinha, e usem uma chávena ou colher para a alimentar se ela não conseguir alimentar-se sozinha.

Evitem dar alimentos muito temperados ou gordurosos, pois estes provocam náusea.

Depois de a doença passar, tentem dar pelo menos uma refeição a mais por dia, para ajudar a criança a se recuperar e a recuperar peso.

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SECÇÃO 2

Princípios e estratégias Na Suazilândia os voluntários das comunidades cuidam das crianças em idade pré-escolar nos ‘Centros de cuidados da área’. O seu objectivo é melhorar a saúde e a nutrição, dar apoio psicológico e dar possibilidade às outras crianças na família de irem à escola. A UNICEF fornece panelas e o Programa Mundial de Alimentação fornece uma mistura de milho e soja. UNICEF, 2003 A CCATH utiliza a abordagem da criança-para-criança para melhorar a nutrição. As crianças aprendem sobre a importância duma boa nutrição para as pessoas com doenças relacionadas com o HIV, e sobre comidas locais que fazem bem às pessoas doentes e que ajudam as crianças pequenas a comer (site Internet da Healthlink Worldwide). Em Moçambique, a associação “Reencontro” tem actividades de geração de rendimento como criação de frangos e produção de ovos. Uma parte da produção dos ovos é distribuída para as famílias com crianças doentes. A “Kubatsirana” promove hortas familiares e plantio de árvores de fruto para que cada família tenha acesso a hortícolas e frutas em seu próprio quintal. “Kubatsirana” apoia as famílias distribuindo sementes, instrumentos agrícolas e ensinando técnicas de plantio. A organização “Tinhena” tem obtido sucesso na recuperação de doentes com a papinha fermentada de milho, utilizando frutas disponíveis localmente como banana, manga e papaia. Ver no quadro abaixo uma receita de papa fermentada.

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CUIDAR DAS DOENÇAS COMUNS Como cuidar bem das crianças em casa As famílias precisam saber o que podem fazer em casa para cuidar das crianças infectadas pelo HIV quando elas estiverem doentes. Alguns conselhos práticos para cuidar em casa das doenças mais comuns incluem: Febre - Dar muitos líquidos para beber (por exemplo, água ou sumos de fruta) para prevenir a desidratação, e paracetamol para baixar a febre. Diarreia - Dar muitos líquidos para beber e prevenir a desidratação. Líquidos apropriados são: soro de rehidratação oral (SRO), água de arroz e sopa de cenoura. Os líquidos devem ser dados devagar, com um copinho ou uma colher. Dar também alimentos ricos em potássio, como espinafre, banana e água de coco. Os remédios da farmácia não são adequados para tratar a maior parte das diarreias nas crianças. Constipação - Dar líquidos mornos para aliviar a dor de garganta. Limpar o nariz bloqueado com um paninho embebido em água salgada para amolecer as secreções. O pano e a água devem estar bem limpos. Problemas da pele - Verificar se há áreas irritadas, inflamações da pele, bolhas ou abcessos doloridos, tinha, que são mais frequentes nas crianças infectadas pelo HIV. Tentar evitar que a criança se coce, pois isso pode levar a infecção. Manter a pele limpa dando banho à criança uma vez por dia com água morna e sabão. Manter a pele seca durante o dia. Se a pele estiver muito seca, lavar a criança com menos frequência e aplicar vaselina ou óleo de coco. Evitar óleos perfumados ou sabonetes, pois estes irritam a pele. Tratar as áreas com herpes (irritação dolorosa com bolhas pequenas) com loção de calamina (loção que pode ser comprada sem receita médica nas farmácias) duas vezes ao dia para acalmar as irritações, e dar paracetamol para tratar a dor.


SECÇÃO 2

Princípios e estratégias Em Moçambique, a “Kubatsirana” promove hortas medicinais familiares o que ajuda as famílias a terem seus próprios medicamentos no quintal e ajuda a melhorar a ligação entre as gerações pois nesta actividade as pessoas mais velhas e as crianças colaboram intimamente. Os mais velhos transmitem o conhecimento acumulado sobre as plantas e as crianças aprendem as técnicas de plantio e a utilidade de cada planta.

Feridas na boca • Limpar a boca delicadamente com água morna salgada e com um paninho limpo ou com algodão depois das refeições ou pelo menos quatro vezes ao dia (dissolver meia colherzinha de sal num copo de água fervida e deixar arrefecer). • Mostrar às crianças mais crescidas como bochechar com a água salgada. • Dar líquidos, como leite, iogurte e sumos de fruta e comidas passadas ou moles, que sejam fáceis de mastigar e engolir. • Evitar comidas muito temperadas ou salgadas e frutas ácidas como laranja e limão, que podem piorar a situação. • Confortar a criança, pois ter feridas na boca é doloroso e angustiante. • Se a criança tem cândida (manchinhas brancas) e feridas, escovar a língua e as mucosas da boca com uma escovinha macia várias vezes ao dia e lavar com água salgada. • Passar vaselina líquida, para as feridas não secarem e racharem, o que causa muita dor. Saber quando é preciso levar a criança à consulta médica Aconselhe a família a levar a criança imediatamente para a consulta caso ela esteja com um ou mais destes sintomas: • Febre durante mais de 3 dias. • Rigidez do pescoço ou convulsões (crises como de epilepsia). • Tonturas (dificuldade de se manter acordada) ou irritabilidade. • Dificuldade de respirar ou respiração mais frequente do normal. • Problemas para engolir ou beber. • Cuspo com sangue ou que cheira mal. • Diarreia persistente muito grave ou sangue nas fezes. • Sarampo. • Infecção do ouvido ou pus a sair pelo ouvido.

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SECÇÃO 2

Princípios e estratégias Aprender a dar os remédios às crianças As crianças infectadas pelo HIV precisam tomar correctamente os medicamentos receitados. Alguns conselhos práticos para ajudar as crianças a tomar seus medicamentos são:

Quais são os sinais de dor nas crianças? • • • • • • • • • •

Colocar os remédios líquidos na boca da criança com um conta-gotas ou usando uma colher e dando o remédio lentamente.

Esmagar os comprimidos e mistura-los com mel de abelha ou um pouco de papinha para que seja mais fácil tomá-los.

Avisar a criança que o remédio não tem bom sabor.

Manter a calma se a criança cuspir o remédio ou vomitar. Se isso acontecer dentro de 20 minutos depois de dar o remédio, esperar um pouco e tentar dar de novo e na mesma dosagem.

Elogiar a criança após esta ter tomado o remédio.

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PROVIDENCIAR CUIDADOS E APOIO PARA CRIANÇAS QUE ESTEJAM GRAVEMENTE DOENTES OU PRÓXIMO DA MORTE

Choro Irritabilidade Distúrbios do sono Testa franzida Agitação e recusa a ficar parada Apatia Falta de apetite Falta de interesse em brincar Revirar os olhos Esfregar partes do corpo

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Aliviar a dor A dor é um sintoma comum nas crianças infectadas pelo HIV que estejam muito doentes ou próximo da morte e provoca muita angústia nas crianças e nas pessoas que cuidam delas. Nenhuma criança deveria sofrer com dor e as famílias precisam de ajuda na identificação e no tratamento da dor. É importante: •

Acreditar na criança quando ela se queixar de dor, e perguntar onde é que ela sente dor.

Procurar sinais de dor numa criança pequena que não saiba explicar sozinha.

Usar uma Escala com Rostos (veja quadro à esquerda) para quantificar a dor, pois muitas crianças não sabem explicar com suas palavras a intensidade da dor.

Dar remédios para aliviar e controlar a dor.


SECÇÃO 2

Princípios e estratégias Qual é a intensidade da dor? A Escala dos Rostos de Wong-Baker apresenta seis rostos diferentes. O rosto 0 é um rosto feliz e significa que não há dor. O rosto 6 é muito triste e significa que a dor é terrível. A intensidade da dor entre o rosto feliz e o rosto muito triste é representada pelos rostos de 1 a 5, em escala de menor para maior dor. Este instrumento é utilizado para crianças de 3 anos em diante. Para utilizar a escala, indicar os rostos e explicar o que cada um deles significa. A seguir perguntar à criança qual dos rostos indica melhor como a criança se sente. A Escala de Expressões de Wong-Baker

0

Sem dor

1

Só dói um bocadinho

2

Dói um pouco

3

Dói um pouco mais

4 5

Se a criança estiver com uma dor de intensidade média Dê paracetamol ou ibuprofen (analgésicos). É importante dar a dose certa de analgésico à criança. Nunca dê aspirina porque nas crianças pequenas ela pode provocar efeitos colaterais sérios (chamados Sindroma de Reye). Os analgésicos deveriam ser dados antes da dor se tornar insuportável, na frequência que o pessoal de saúde receitar (paracetamol de 4 em 4 horas e ibuprofen cada 6-8 horas), e até a dor desaparecer. Se a dor não melhorar ou for aguda Leve a criança ao posto de saúde, pois é possível que ela esteja a precisar de analgésicos mais fortes. Não administre doses maiores ou mais doses de paracetamol ou ibuprofen. Alguns conselhos práticos para ajudar as crianças com dores incluem: •

Permanecer com a criança, pois estar sozinho ou amedrontado torna a dor mais difícil de aguentar.

Segurar ou embalar a criança, acarinhá-la ou massajá-la levemente.

Aplicar pachos frios na zona dolorida.

Falar com a criança e pedir para que ela imagine o seu lugar preferido ou algo que a faça feliz.

Encorajar a criança a respirar profundamente.

Dói muito Ajudar as crianças a encarar a doença e o internamento no hospital As crianças que sabem que têm HIV podem ficar muito preocupadas quando adoecem e precisam de apoio para enfrentar a sua doença. Mesmo que não tenham sido informadas que têm HIV, as crianças podem se aperceber que são de alguma forma diferentes de outras crianças. As crianças que estejam muito doentes podem precisar de ser internadas no hospital, o que pode ser uma experiência traumática, especialmente se tiverem que ficar separadas dos seus familiares mais próximos.

Dói muito mesmo

Em: Wong, DL, Hockenberry-Eaton M, Wison D, Wilkinstein ML, Schwartz P: Wong’s Essentials of Pediatric Nursing, ed. 6, St Louis, 2001, p.1301. Copyrighted by Mosby, Inc. Publicado com autorização.

É recomendável: •

Aconselhar as crianças infectadas pelo HIV e ajudá-las a desenvolver a sua resiliência.

Ajudar as crianças a enfrentar o internamento hospitalar.

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SECÇÃO 2

Princípios e estratégias Como ajudar as crianças a enfrentar o internamento • Preparar a criança antes de a levar ao hospital e explicar o que vai acontecer. • Levar um objecto preferido da criança, um brinquedo ou uma capulana, para seu conforto. • Ficar com a criança. Se isso não for possível, assegurar que todos os dias a criança possa receber a visita de alguém que ela conheça bem, e dizer-lhe quando é que ela vai receber visitas. • Elogiar a criança depois de ela enfrentar testes ou tratamentos dolorosos. • Conversar com a criança depois de cada experiência e responder às suas perguntas.

Figura 8: Levar um objecto preferido da criança, um brinquedo ou uma capulana, para seu conforto

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Prevenir e cuidar das escaras Nas crianças que passam a maior parte do tempo na cama, ou que não possam movimentar-se normalmente, podem aparecer escaras. Isso acontece com maior intensidade nas partes do corpo onde há mais pressão, por exemplo as partes mais ossudas que apoiam no colchão ou na esteira. Conselhos práticos para prevenir e enfrentar este problema podem ser: •

Prevenir as escaras - Ajude a criança a levantar-se e a movimentarse o mais possível. Troque a posição da criança pelo menos de duas em duas horas. Um profissional de saúde precisará mostrar à família como movimentar a criança sem provocar dor. Coloque almofadas abaixo da área afectada, para diminuir a pressão.

Cuidar das escaras - Previna o desenvolvimento das infecções lavando as úlceras três vezes ao dia com água limpa e salgada. Limpe as escaras infectadas com uma solução anti-séptica como o permanganato de potássio. Dar o maior conforto possível à criança A família pode ajudar a aliviar os sintomas mais angustiantes e dar o maior conforto possível à criança providenciando os seguintes cuidados: • Cuidando da boca da criança (ver página 41). • Dando líquidos para prevenir a desidratação e manter a boca húmida. • Encorajando a criança a comer pouco e frequentemente • Procurando ajuda se a criança desenvolver problemas respiratórios.


SECÇÃO 2

Princípios e estratégias Em Moçambique, a organização “Tinhena” tem formado os activistas, as familias e os líderes comunitários em bio-segurança. Nesses cursos, as pessoas aprendem a diminuir os riscos de contágio, esterilizando as roupas com água fervida ou lixívia e utilizando luvas para lavar e tocar as feridas dos doentes. Cada activista é responsável pela transmissão deste conhecimento para 10 famílias. A experiência tem demonstrado que esta iniciativa ajuda as famílias a não isolarem o doente por receio de contágio.

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AJUDAR OS PROVEDORES DE CUIDADOS A ENFRENTAR O MEDO E AS PREOCUPAÇÕES COM A MORTE Uma família que tenha uma criança muito doente pode preocupar-se com a transmissão da infecção do HIV aos outros membros do núcleo familiar. È preciso portanto fornecer informações básicas sobre a transmissão do HIV, assim como dar apoio prático adequado para a situação.

Assegurar-se que a família tenha conhecimentos claros sobre como o HIV se transmite e como não se transmite.

Explicar que o risco de infecção é pequeno para as pessoas que cuidam duma criança doente, e que os familiares se podem proteger da seguinte forma: limitando o contacto com o sangue e com os líquidos corpóreos, cobrindo cortes e feridas, tomando cuidado na utilização de instrumentos cortantes e enxaguando o sangue e as fezes nos lençóis e nas roupas antes de lava-los com água quente e sabão.

Fornecer à família alguns produtos básicos, como o sabão, e encorajar os programas de cuidados domiciliários a darem conselhos práticos e apoio para cuidados de enfermagem. Dar apoio emocional às crianças e às suas famílias na fase final da vida As famílias precisam de apoio emocional quando uma criança está morrendo, e de ajuda para decidir quando é oportuno parar com os esforços de prolongar a vida da criança (por exemplo, quando inserir uma sonda para alimentação artificial se torna muito doloroso). As crianças que estão em fase terminal também precisam de apoio emocional. É muito importante:

Oferecer aconselhamento ou encaminhar as famílias para os serviços de aconselhamento ou grupos de apoio como associações de pessoas vivendo com HIV.

Pôr as famílias em contacto com grupos religiosos que possam oferecer apoio espiritual.

Ajudar a aproximação entre as famílias e os trabalhadores de saúde, dos programas de cuidados domiciliários e da comunidade.

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AS CRIANÇAS DE 0 A 8 ANOS E O H I V

Conclusão As crianças menores de 8 anos são as mais vulneráveis aos efeitos negativos do HIV, especialmente a longo prazo, mas com bons cuidados, estes efeitos podem ser reduzidos. A transmissão de mãe para filho também pode ser reduzida especialmente se o estado HIV positivo das mães grávidas for conhecido o mais cedo possível. Com boa nutrição, água limpa, um ambiente saudável, bons cuidados médicos e apoio psicosocial é possível proteger as crianças infectadas e afectadas pelo HIV.

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Referências Douleurs Sans Frontières, Chokwe. 2006. A Resiliência e o Atendimento de Crianças Órfãs e Vulneráveis – Manual de Treino. AED and USAID (data de publicação desconhecida). Speak for the child: A programme guide with tools. Supporting families and communities to improve the care and development of young orphans and vulnerable children. AED (data de publicação desconhecida). Ready to Learn Centre. Speak for the Child case study. Wonna Sanana. 2006. Análise da Situação da Criança nas Comunidades – Manual de Capacitação. Wonna Sanana. Novembro de 2006. Apoio Social e Emocional às crianças órfãs e vulneráveis. Wonna Sanana. 2006. Aprender para a Saúde, Higiene Pessoal. Wonna Sanana. 2006. Aprender para a Saúde, HIV/SIDA. Wonna Sanana. 2006. Aprender para a Saúde, Manual do Ambiente. Bartlett, K. and Zimanyi, L. 2002. Coordinators notebook: An international resource for early childhood development HIV and AIDS and early childhood, Consultative Group on Early Childhood Care and Development. Boubli, M. 2001. Psicopatologia da Criança. Lisboa, Portugal: Climepsi Editores. Catholic AIDS Action Namibia. 2003. Building Resilience in Children Affected by HIV/AIDS. 2nd ed. Cape Town, RSA: Maskew Miller Longman. Chantry, N. 2002. Como escutar na Relação de Ajuda. Maputo, Moçambique Rede da Criança. Chintu C et al. 2004. Cotrimoxazole as prophylaxis against opportunistic infections in HIVinfected Zambian children: A double-blind randomised placebo-controlled trial. Lancet 364: 1865-71. Cuidados Domiciliários. 2002. Manual de Formação de Voluntários. Prevenção e Alívio do HIV/SIDA. Programa Nacional de Controle DTS/SIDA. Ministério da Saúde – Moçambique. Dunn, A. 2005. HIV and AIDS: What about very young children? Early Childhood Development Working Paper No. 35, Bernard van Leer Foundation. FHI. 2004. Telling our stories: Children deal with loss, grief and transition. Granich, R. and Mermin, J. 2006. HIV, health and your community: A guide for action (revised), Hesperian Foundation. Grotberg, E. 1995. A guide to promoting resilience in children: Strengthening the human spirit, Bernard van Leer Foundation. Healthlink Worldwide (data de publicação desconhecida). Child-centred approaches to HIV/AIDS (CCATH) project, www.healthlink.org.uk

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Fontes Bibliográficas Recursos adicionais REPSSI. 2005. The Journey of life. Community workshops to support children, www.repssi.org Republic of Uganda (data de publicação desconhecida). Nutritional care and support for people living with HIV and AIDS in Uganda: Guidelines for service providers. SAT. 2003. Guidelines for counselling children who are infected with HIV or who are affected by HIV and AIDS. SAT. 2003. Guidelines on how to counsel children and communicate with them about HIV and AIDS. SAT and SafAIDS. 2001. Guidelines for counselling: Child sexual abuse. SC UK Southern Africa. 2004. Children’s participation in OVC programming: A resource kit of materials for increasing children’s participation. Sinosizo Home Based Care. 1999/2000. Training of Trainers for Home Based Care. Training Manual. Durban, RSA: Archidioese of Durban. Sinosizo Home Based Care. 2000. Training Manual for Sensitising Volunteers to the Psychosocial Needs of Children. Durban, RSA: Archdiocese of Durban. Tindyebwa, D. et al. (eds). 2004. Handbook on paediatric AIDS in Africa, African Network for the Care of Children Affected by AIDS. Training and Resources in Early Education (data de publicação desconhecida). www.tree-ecd.co.za UNAIDS. 2001. Investing in our future: Psychosocial support for children affected by AIDS. A case study in Tanzania and Zimbabwe. UNAIDS, UNICEF and USAID. 2004. Children on the brink: A joint report of new orphan estimates and a framework for action. UNICEF. 2003. Neighbourhood care points: An advocacy and action strategy for realising the rights of orphans and vulnerable children in Swaziland. UNICEF, UNAIDS and PEPFAR. 2006. Africa’s orphaned and vulnerable generations: Children affected by AIDS. Wagt, A. et al. 2006. Health services for children affected by HIV and AIDS in resource constrained settings, Background paper, Global Partners Forum: Children affected by HIV and AIDS, 9–10 February. Welbourn, A. 2002. Caminhando de Mãos Dadas. Manual de Formação sobre HIV/SIDA. Técnicas de Comunicação e de Gestão de Relações Humanas. Action Aid Moçambique. WHO. 2005. Guiding principles for feeding non-breastfed children 6–24 months of age. WHO. 2005. HIV and infant feeding counselling job aids. World Bank. 2001. Child needs assessment toolkit: A tool to assess the needs of young children (0–8 years) in AIDS-affected communities.

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Publicado Setembro 2007


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