UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE TECNOLOGIA FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
CONHECIMENTO CIENTÍFICO
BELÉM - 2014 -
CONHECIMENTO CIENTÍFICO
Trabalho apresentado no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará, como requisito parcial de avaliação na disciplina de Iniciação ao Conhecimento Científico. Orientadora: M.ª Cecília Basile
BELÉM - 2014 –
SUMÁRIO Contextualização histórica............................................................................................3 Conceituação.................................................................................................................7 Características...............................................................................................................9 Relação entre conhecimento científico e tecnológico.................................................11 Relação do conhecimento científico com a arquitetura .............................................14 Conclusão...................................................................................................................21 Referências.................................................................................................................22
1. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA No homem, em seus mais remotos ancestrais, surgiu a necessidade de dominar e explicar a natureza. A primeira necessidade resulta no processo civilizatório, já a segunda, simultaneamente à primeira, faz com que a ocorra a produção de conhecimentos sobre a natureza e a sociedade. Vale ressaltar que o conhecimento científico aplicado aos fenômenos na vida social apenas ocorreu mais concretamente após a formação da sociedade industrial. O conhecimento científico originou-se, no ocidente, na Grécia Antiga, nas colônias gregas do Mar Egeu ainda de forma embrionária. Foi a primeira vez que filósofos produziram explicações sobre o mundo sem utilizar como justificativa a magia e a superstição ou invocando os deuses. Alguns dos autores dessas primeiras explicações foram Tales de Mileto, nascido por volta de 624 a.C., o qual previu o eclipse total do sol e é considerado pai da matemática; Pitágoras de Santos (século VI a.C.), famoso por ter formulado grandes teorias que repercutem até os dias atuais como o teorema de Pitágoras e outras relações matemáticas. E Euclides de Alexandria (330 a.C.) também ofereceu grandes contribuições matemáticas.
Imagem 1: Aristóteles
3
Mas foi Aristóteles quem realmente inovou a ciência da antiguidade. Nascido em 384 a.C., inaugurou uma nova perspectiva para a filosofia e para a ciência a qual iria predominar até o século XVII. Sua contribuição de mais destaque para a ciência foi a lógica, no entanto ele também deixou registros que contribuíram para pontos no campo da Astronomia, da Matemática, da Biologia, da Embriologia e da classificação dos seres vivos. O ciclo das grandes figuras gregas é fechado com Ptolomeu com trabalhos situados no ramo da astronomia, tendo ele encontrado mais 14 estrelas no céu por volta dos anos 200 a.C. Grandes descobertas científicas também foram feitas na China, na índia e no mundo Árabe muitas vezes paralelamente a antiguidade grega. A ciência chinesa era desconhecida pelo ocidente, porém eles fizeram grandes avanços. Um grande exemplo foi a invenção do papel, em 202 a.C., na dinastia Han. Foi nessa dinastia que ocorreu desenvolvimento das atividades no campo da ciência e da tecnologia. Eles inventaram a pólvora no século X, durante a dinastia TANG, a qual foi usada na guerra até o ano de 919. Além disso, os chineses realizaram trabalhos científicos na área da botânica nos anos de 1400, na dinastia MIG tendo sido a sua provável maior realização a compilação de uma farmacopeia, com informações sobre mil plantas, mil animais e oito mil receitas neles baseados. Na índia existem ruínas das cidades de Mohenjo-Daro e Harappa localizadas na região do atual Paquistão, datando de 2300 a 1750 a.C., as quais mostram que houve planejamento urbano e conhecimento de engenharia bastante desenvolvidos coexistindo ainda com uma economia relativamente avançada. O grande influenciador para as pesquisas físicas desenvolvidas na Índia foi o Hinduísmo que pregava que o Universo terrestre e o homem são reflexo do universo mais amplo. Os hindus desenvolveram habilidade com o ferro e seus alquimistas fizeram pesquisas para descobrir substâncias que aliviassem as moléstias que afligiam a humanidade, sendo essa uma contribuição muito importante para a medicina da época. Já na Arábia, a ciência é majoritariamente a história da ciência no mundo muçulmano. Os conquistadores islâmicos assimilaram a cultura dos povos conquistados e, assim, a ciência do povo, como a dos gregos por exemplo. Portanto muito do que foi desenvolvido cientificamente na época foi a partir do contato com a ciência dos países dominados. A ciência arábica deixou como contribuição para a 4
ciência duas técnicas fundamentais para a matemática: a álgebra e a trigonometria.
Imagem 2: Mona Lisa, Leonardo da Vinci, França, 1506
Foi ao final da era medieval - período em que surgiram a escolástica e as universidades - que, na Itália (séc. XIV), ocorreu a definitiva ruptura entre filosofia e ciência. Afetando
todos
os
campos
da
ciência,
o
renascimento
chegou
transformando as técnicas das pesquisas científicas e os objetivos dos cientistas para si mesmos e o fundamento da ciência para a filosofia e para a sociedade. Foi nesse período que foram elaboradas as cartas geográficas mais precisas permitindo que houvessem as grandes navegações, momento em que houve uma explosão geográfica e os limites do mar foram rompidos. Nesse período também ocorreu o desenvolvimento da ciência graças ao protestantismo criado na época. Essa doutrina encorajava o trabalho e por isso, inclusive, influenciou no desenvolvimento do capitalismo propiciando um ambiente favorável para o seguimento da pesquisa científica. Leonardo da Vinci (1452- 1519) é um dos destaques do período do renascimento. Artista, engenheiro e protocientista, desenvolveu inúmeros projetos de aparelhos mecânicos. Além dele, existiram outros influentes, como por exemplo Jerone Bock o qual mudou a botânica ocidental inovando ao descrever plantas e estabelecer uma ligação entre as diferentes espécies. A ciência chega na idade moderna no início do século XVII com a revolução provocada pelo heliocentrismo de Copérnico, período no qual ocorreu a Revolução Francesa e surgiu o positivismo. Além da nova visão de mundo, o desenvolvimento da fabricação de instrumentos científicos possibilitou uma investigação mais rigorosa e precisa do universo natural. 5
Grandes representantes desse novo período foi Galileu Galilei, primeiro físico a utilizar o telescópio para fins científicos e Isaac Newton, com um impacto estrondoso devido a sua obra Princípios Filosóficos da Philosofia Natural, onde ele descreve toda a ciência dos corpos e do movimento com uma precisão matemática incrível. Foi com Newton que a física se tornou universal, após afirmar a “Força da Gravitação”.
Imagem 3: Divalte Garcia Fiqueira. “História”. São Paulo: Ática, 2005. P. 193
Após alguns anos, surgiu a Revolução Industrial (XVII –XIX), grande marco da humanidade, quando a população começou a de fato se urbanizar e o novo método de produção chegou, alterando o estilo de vida da sociedade. Agora a mobilidade social havia crescido seguindo as mudanças na ordem social e econômica. Antes disso, a sociedade era estudada, na Grécia antiga por exemplo, de forma normativa e finalista. Eles a estudavam na procura de soluções para as crises da época, no entanto buscando apenas formas ideais de organização da população, não objetivando compreendê-la. E menos aprofundado ainda foi o estudo da sociedade no período feudal, no qual o conhecimento científico não obteve muito progresso, pois a sociedade estava fundada entre os princípios religiosos e eram os interesses da igreja os quais prevaleciam. Nesse período, os inquietos com as mudanças, no desejo de conter ou se aproveitar delas, desenvolveram as ciências humanas – ciência econômica; ciência 6
política; psicologia, entre outras – objetivando entender e intervir na ordem social da mesma forma que a ciência natural desejava dominar a natureza. Porém foi no século XX que essas ciências realmente se destacaram devido as revoluções na ordem política e econômica, além de elas virem intervir em acontecimentos como as guerras, as crises (como a de 30) e os confrontos ideológicos (Guerra Fria). Recentemente a ciência permitiu grandes avanços tecnológicos, o que facilitou o estudo de inúmeros outros campos. A tecnologia eletrônica tornou-se um dos principais destaques e o conhecimento científico continua a progredir, auxiliando o homem de maneiras positivas, porém, também negativas. 2. CONCEITUAÇÃO De modo geral, o conhecimento científico é o conhecimento racional, sistemático, exato e verificável da realidade. Sua origem está nos procedimentos de verificação baseados na metodologia científica. Como exemplo de conhecimento científico cita-se a área da Matemática.
2.1 O que é ciência? “Conjunto de Conhecimentos racionais, certos ou prováveis, obtidos metodicamente sistematizados e verificáveis que se referem a objetos de uma mesma natureza.” (ANDER-EGG, 1978). “Ciência é um conjunto de descrições, interpretações, teorias, leis, modelos, etc, visando ao conhecimento de uma parcela da realidade, em continua ampliação e renovação, que resulta da aplicação deliberada de uma metodologia especial (metodologia científica).” (NEWTON FREIRE-MAIA, 1990) Como se pode observar existem vários conceitos sobre a ciência, pois cada estudioso a interpreta e a define de acordo com seu entendimento. Porém, o conceito considerado mais preciso é o de Trujillo, no qual ele afirma: “A ciência é todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz de ser submetido à verificação” (TRUJILLO, 1974). Desse modo, pode-se partir do ponto de que a ciência apresenta-se como um pensamento racional, objetivo, lógico e confiável, mas falível, pois deve submeter o objeto de estudo a experimentações para verificar e 7
comprovar seus enunciados e hipóteses. 2.2 Método Científico: O método científico
é
uma pesquisa baseada
na
observação e
experimentação, com o objetivo de tentar explicar a realidade de uma forma racional e lógica. Assim como o conceito de ciência, a realização do método e as etapas a serem seguidas dependem de cada cientista. Mas, geralmente, ele engloba cinco etapas: a observação, a formulação de uma hipótese, a experimentação, a interpretação dos resultados e a conclusão. Porém não precisa, necessariamente, cumprir todas as etapas e não existe um tempo pré-determinado para que se faça cada uma.
Existem vários tipos de método, dos quais dois serão citados aqui: 2.2.1 Método Indutivo: Esse método prevê que pela indução experimental o pesquisador pode chegar a uma lei geral por meio da observação de certos casos particulares sobre o objeto observado. O método indutivo parte de premissas particulares para chegar a uma geral, que pode ser verdadeira, mas não necessariamente. Ele realiza-se em três etapas: a) observação dos fenômenos - nessa etapa observamos os fatos ou fenômenos e os analisamos, com a finalidade de descobrir as causas de sua manifestação; 8
b) descoberta da relação entre eles - na segunda etapa procuramos por intermédio da comparação, aproximar os fatos ou fenômenos, com a finalidade de descobrir a relação constante existente entre eles; c) generalização da relação - nessa última etapa generalizamos a relação encontrada na precedente, entre os fenômenos e fatos semelhantes. Ex.: “Todos os cães que foram observados tinham um coração. Logo, todos os cães têm um coração” (Lakatos; Marconi. 2000, p. 63) 2.2.2 Método Dedutivo: O método dedutivo parte das teorias e leis consideradas gerais e universais buscando explicar a ocorrência de fenômenos particulares. O método de dedução parte de enunciados gerais que supostos constituem as premissas do pensamento racional e deduzidas chegam a conclusões. Ex.: “Todo mamífero tem um coração. Ora, todos os cães são mamíferos. Logo, todos os cães têm um coração.” (Lakatos; Marconi. 2000, p. 63) 3. CARACTERÍSTICAS O conhecimento científico possui diversas especificidades: Ele é primeiramente racional, formado por raciocínios, conceitos. Suas ideias são dispostas e organizadas em sistemas – conjuntos ordenados de hipóteses, teorias. E por verificar se essas teorias se adequam aos fatos, o conhecimento também é objetivo. Para isso, utiliza da experimentação e da observação. “A logicidade da ciência reside na observação racional e sistemática e no controle dos fatos, nas suas experimentação e explicação metódica” (SANTOS, Ezequias Estevam dos. Manual de Métodos e Pesquisa Científica. 2011. p. 49) O conhecimento científico é explicativo, o que o confere ser também comunicável. Sua linguagem deve ser abrangente a todos os que são capazes de compreendê-la. “O conhecimento exige que a situação vivida seja devidamente explicada,
que
o
fenômeno
seja
entendido”
(SANTOS,
Ezequias. Textos
Selecionados de Métodos e Técnicas de Pesquisa Científica. 2012. p.40). 9
Logo, deve ser geral e preciso, para que possa ser propriedade de toda humanidade – afinal, quando divulgado, ele é responsável pelo progresso da ciência. Suas hipóteses o diferenciam do conhecimento comum, pois são capazes de explicar a realidade e seus fenômenos, não somente absorvê-la. O conhecimento científico é universal. Em razão disso, ele se torna acumulativo e transcendente aos fatos. Os conhecimentos anteriores adicionam-se aos recentes seletivamente, de modo a incorporar grupos de teorias confirmadas. Baseando-se em conhecimentos anteriores comprovados, ele é dependente da investigação metódica. Ele não somente descreve as experiências, como compara seu conteúdo (sintetizado) com o que já é existente e conhecido. “A ciência soma suas conquistas e progride; está em constante reconstrução e avança à medida que novas descobertas são incorporadas aos seus domínios” (RUIZ, João Alvaro. Metodologia científica: guia para eficiência nos estudos. 1977. p.114). Dessa forma, descobre correlações e as explica por meio das hipóteses; com a comprovação das mesmas, o conhecimento científico as transforma em leis gerais e sistemas de teorias. O conhecimento científico organiza-se sistematicamente, ordenando-se através da lógica e formando um sistema de teorias, nunca com seus conhecimentos aglomerados, sem nenhuma conexão entre si. Com o tempo e o grande armazenamento de experiências, ele se torna preditivo, capaz de predizer seguramente
os
eventos
futuros
e
possibilitando
mudar
o
sentido
dos
acontecimentos e gerar avanços em diversas pesquisas. “O conhecimento científico estabelece leis válidas para todos os casos da mesma espécie que venham a ocorrer nas mesmas condições, e, por isso, está menos sujeito ao erro nas deduções e prognósticos.” (RUIZ, João Alvaro. Metodologia científica: guia para eficiência nos estudos. 1977. p.97) Contudo,
esse
conhecimento
tem
como
principal
característica
a
verificabilidade (já que só é comprovado ao passar pela prova da experiência). Está no experimento a etapa inicial do conhecimento científico; o método científico é experimental. A ciência é o conhecimento sistemático dos fenômenos da natureza, obtido pelo raciocínio e pela experimentação intensiva – assim, as teorias que não 10
conseguem comprovação não fazem parte do âmbito da ciência. “Constitui um conhecimento contingente, pois suas proposições ou hipóteses têm a sua veracidade ou falsidade conhecida através da experimentação, e não apenas pela razão” (MARKONI, Marina de Andrade. LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos da Metodologia Científica. 2003. p.17). Todavia, essas teorias não são absolutas ou definitivas. A ciência é formada pelo conhecimento racional, sistemático, exato, verificável e, por conseguinte, falível. Ao avançar, ela gera consecutivos questionamentos e críticas, sugerindo novas teorias. “A ciência não se constitui de verdades e certezas absolutas e eternas. Ela é certa e provável e está sempre pronta a ser questionada. O que importa é o fato de resistir ou não à prova” (SANTOS, Ezequias Estevam dos. Manual de Métodos e Pesquisa Científica. 2011. p. 50). Assim, o conhecimento científico - verificável por essência - desenvolve novas proposições e técnicas que podem modificar as hipóteses preexistentes. 4. RELAÇÃO ENTRE O CONHECIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO A palavra tecnologia deriva do vocabulário “techne” que significa arte ou habilidade. A tecnologia tem como meta produzir algo novo por meio do aperfeiçoamento de materiais e técnicas a fim de aumentar a eficiência das atividades humanas, tendo em vista a produção do bem comum. Ela também tem como foco a eficiência e eficácia de seus inventos tais como, máquinas e aparelhos utilizados para otimizar a relação homem-natureza. Para que todas essas invenções sejam possíveis, a tecnologia se utiliza dos conhecimentos e leis cientificas para criar seus instrumentos. Enquanto a ciência busca a verdade por meio de seus procedimentos metodológicos, a tecnologia emprega o conhecimento gerado pela ciência para inovar, aperfeiçoar e transformar aparelhos que facilitem o domínio do homem sob a natureza. “Pré-requisito importantíssimo na produção de tecnologia são as pesquisas básicas que precisam ser incentivadas para que, no momento adequado, sejam usados como elementos na produção de respostas para a tecnologia ser finalmente reproduzida. Para isso, indispensável é trazer essas pesquisas, ou os seus resultados, do campo teórico para o campo pratico, transformando-a em pesquisa aplicada.”
Assim,
podemos
ressaltar
que,
atualmente,
há
uma
relação
de
interdependência entre as duas formas de conhecimento. Tanto a tecnologia 11
depende dos conhecimentos gerados pelas pesquisas científicas, quando a ciência precisa dos instrumentos e aparelhos construídos pelos conhecimentos tecnológicos para facilitar e dar com precisão resultados para futuras inovações e descobertas. Podemos citar, ainda como exemplo dessa reciprocidade, as tecnologias criadas no setor de transporte. O automóvel de hoje é o resultado de uma longa e lenta evolução de conhecimento e aperfeiçoamento de técnicas.
Com o
aperfeiçoamento da máquina a vapor o engenheiro francês Nicolas-Joseph Cugnot concebeu, em 1769, a carruagem movida a vapor. Essa que foi feita para transportar equipamentos do exército francês, suportava até quatro pessoas e tinha velocidade máxima de 3 km/h. Essa foi uma das primeiras versões do hoje conhecemos como automóvel.
Imagem
4:
Carruagem a vapor
Com o avanço da ciência, as pesquisas sobre as formas de otimizar os automóveis da época, surgiu uma nova tecnologia a partir da teoria do motor de explosão. Étienne Lenoir elaborou um motor que usava gás como combustível para a explosão, este que mais tarde foi aperfeiçoado pelo alemão Nikolaus Otto, contribuindo para a evolução do automóvel.
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Imagem 5: Karlr Benz e seu carro com motor a combustão
Apesar de o desenvolvimento tecnológico estar estreitamente ligado ao progresso das pesquisas científicas, podemos dizer que nem sempre foi assim. Essa relação é recente, pois até pelo menos 100 anos atrás ciência e tecnologia desenvolveram - se de forma independente. Um grande exemplo de que a elaboração de novas tecnologias nem sempre esteve ligado a ciência, mas sim ao conhecimento empírico e intuitivo é a invenção da roda. Essa é uma questão muito discutida, ainda, entre grandes historiadores, pois muitos consideram a teoria de que o homem teria criado a roda observando o movimento do Sol.
Imagem 6: Evolução da roda
Segundo Hugo de Saint- Victor, “comumente a tecnologia é definida tãosomente com uma ciência aplicada, o que não significa que ela seja sempre certa, 13
pois a tecnologia, embora na maioria das vezes use o conhecimento das ciências, pode gerar invenções que tragam benefícios, sem que tenham por base experiências científicas.”
5. RELAÇÃO ENTRE O CONHECIMENTO CIENTÍFICO E A ARQUITETURA Desde a pré-história, os conhecimentos passados através de gerações - no âmbito das habitações e da formação das cidades – servem de base para as teorias adotadas na arquitetura e no urbanismo. Coube aos cientistas assimilar esses conhecimentos em conteúdo escrito e conservá-lo para estudos futuros, analisandoos e aperfeiçoando seu contingente. Quando relacionado à arquitetura e ao urbanismo, o conhecimento científico é referência na produção de novos projetos. Afinal, através dele, o conteúdo histórico e as vastas teorias criadas por grandes pensadores são armazenados e disponibilizados à revisões e estudos dos arquitetos e urbanistas da atualidade. Para isso, o uso do método científico é recomendado, a fim de testar e comprovar a eficiência das teorias vigentes. Dentre os inúmeros teóricos contribuintes no conhecimento científico da área, três serão destacados ao longo do texto. Seu trabalho é amplo e reconhecido pelos demais profissionais, sendo base na formação e no repertório dos arquitetos e urbanistas, além de influenciar em muitas outras áreas do conhecimento.
5.1
Marco Vitrúvio: Considerado o percursor da estética da arquitetura, Marco Vitrúvio Polião foi
um arquiteto pesquisador romano de grande notoriedade no período Clássico. Viveu no século I, porém seu legado é estável até a atualidade. Possui autoria da obra mais importante da arquitetura clássica, o tratado De Architetura. Dedicado ao imperador romano Augustus, é base para os estudos de diversas áreas, como engenharia, mecânica, hidrologia e principalmente a arquitetura e urbanismo.
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Imagem 7: Vitruvius (Sebastian Le Clerk – 1684). A obra mostra o pesquisador apresentando sua obra ao Imperador.
Nos dez volumes de seu tratado, ele aborda inicialmente os conhecimentos que considerava essenciais ao arquiteto da época, dentre eles matemática, geometria e história; assim como música, astronomia e medicina – conteúdos que diferem muito da formação atual do profissional. Vitrúvio acreditava que o arquiteto deveria ter conhecimento abrangente a diversas áreas do conhecimento humano, sendo um profissional referencial para a organização da sociedade. Seu trabalho é baseado em princípios: “utilitas” (utilidade/função), “firmitaz” (solidez), “decorum” (tradição clássica) e “venustas” (estética). A aplicação desses princípios era visível na valorização da ordem e proporção, sendo interpretada por muitos pensadores da Renascença, como Leonardo Da Vinci. Sua obra “Homem Vitruviano” adapta as ideias de proporção, simetria e estética do teórico clássico e as sintetiza na representação da figura humana. Essa obra é associada a arquitetura como fundamento de projeto.
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Imagem 8: Homem Vitruviano (Leonardo Da Vinci)
Sabe-se que o conhecimento de Marco Vitrúvio não se perde com o tempo. Além disso, a importância histórica de seus estudos está comprovada por gerações de artistas, engenheiros e arquitetos que, inspirados por suas teorias, inovaram em seus projetos. O legado de Vitrúvio permanece em atividade por séculos, pois seu trabalho é a base dos conhecimentos fundamentais a formação do arquiteto. 16
5.2
Le Corbusier
Imagem 9: Arquiteto francês Le Corbusier com um modelo de arquitetura de sua Villa Savoye, que foi construído em um subúrbio perto de Paris – 1935
Charles Edouard Jeanneret-Gris, arquiteto, pintor e teórico, mais conhecido como Le Corbusier, nasceu na Suíça em 6 de outubro de 1887, é considerado a figura mais importante da arquitetura moderna. Publicou numerosos artigos com suas teorias arquitetônicas, na revista francesa "L'Esprit Nouveau" (O espírito novo) a qual divulgou as suas ideias revolucionárias sobre a forma pura, portadora de uma estética nova e racional. Além de ter publicado o livro, que teve grande influência nos arquitetos posteriores, “Vers une Architecture” (Por uma Arquitetura), onde pode-se perceber várias de suas declarações que identificam sua forma de ver a arquitetura, tais como: “uma casa é uma máquina para viver” e “uma rua curva é uma pista de burro. Uma rua reta, uma estrada para os homens”.
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Imagens 10 e 11: A esquerda, Capa do livro Vers une Architectura (1923), de Le Corbusier. E a direita, Jornal francês L’Esprit Nouveau, fundado por Le Corbusier e Amedee Ozenfant.
Influenciado pela racionalização das obras gregas, ele introduziu outro olhar na habitação e despertou o prazer de desfrutar do espaço arquitetônico, propôs uma arquitetura
funcional,
racional
e
simples.
Le
Corbusier
preocupava-se,
principalmente com o aproveitamento dos espaços. Ele introduziu, baseado em suas teorias, os cinco Princípios Arquitetônicos. São eles: 1. Planta livre – consiste numa planta sem predefinição de espaços, onde só são projetados os pilares; 2. Teto-terraço – consiste na criação de uma laje que se estrutura e possibilita o aproveitamento do terraço como área livre para jardins; 3. Pilotis – subida da estrutura da casa, apoiando-a nos pilares e conformando o espaço do pilotis; 4. Esquadrias livres – passam a ocupar as fachadas de fora a fora da parede, podem ser na horizontal possibilitando ver toda a paisagem; 5. Grandes aberturas – para melhor aproveitamento da luz natural em função
grandes aberturas de vidro.
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Imagem 12: Um exemplo da aplicação dos Princípios Arquitetônicos. ”Villa Savoye – Poissy, França. Le Corbusier.”
Para ele, a arquitetura deveria basear-se no modo de produção fabril do século XX, por isso, imaginou casas pré-fabricadas, imitando o conceito de linha de montagem de fabricação de carros, por exemplo. A “Maison Citrohan” exibe as características pelas quais o arquiteto viria a definir a arquitetura moderna: pilares de sustentação que elevam a casa acima do solo, um terraço, um piso plano aberto, uma fachada sem ornamentação e janelas horizontais em tiras para o máximo de luz natural. O interior contou com o contraste espacial típico entre espaço aberto e quartos semelhantes a células.
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Imagem 13: Casa Citrohan - Stuttgart, Alemanha. Le Corbusier.
Baseando-se nesses princípios e em suas teorias, Le Corbusier fez muitas obras com valores importantes para a arquitetura moderna, influenciando muitos arquitetos posteriores, o que o fez ser muito reconhecido e prestigiado, sendo considerado um dos arquitetos mais importantes da modernidade.
5.3 Elvan Silva Elvan Silva é outro grande exemplo de teórico da arquitetura. É Formado em arquitetura na UFRGS e pesquisador de Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ele contribuiu para a revolução no modo de ensino de projeto nas universidades com suas publicações. Exemplos de suas obras, as quais são muito influentes no campo da arquitetura, são “Uma introdução ao Projeto Arquitetônico” e “Matéria, Ideia e Forma”. Em suas publicações ele afirma que o projeto de arquitetura, de diversas formas, comporta-se como interpretação do mundo e que o arquiteto realiza um ato de “interpretação da sociedade”, assim como um historiador no que se refere à escolha de um objeto e ao tratamento que lhe é dado. Somado a isso, Elvan demonstra em seu livro “Uma introdução ao Projeto Arquitetônico” que há um sistema completo para ser seguido no processo projetual. No momento de projetar, existe um passo a passo, com um estudo aprofundado da problemática em questão, propostas e experimentações para chegar até a solução final. Essa metodologia foi aceita e repercute nas universidades do país, sendo a sua obra considerada importante desde sua popularização, sendo um grande exemplo de que a arquitetura é uma ciência. Elvan afirma ainda que a arquitetura não é algo instintivo, as pessoas não nascem com o gene que irá dar talento para a arquitetura, ele afirma: “Na realidade, como é fácil de se perceber, não há nada de instintivo na prática edificatória: ela é, rigorosamente, resultado de um processo evolutivo, sendo um comportamento nitidamente cultural, aprendido com o acúmulo da experiência humana.” (SILVA, 1994, p.103). Dessa forma, o teórico mostra que a arquitetura está ligada ao conhecimento científico, pois é através dos estudos e observações do que já foi produzido no 20
passado que é possível existir a prática da arquitetura e urbanismo. CONCLUSÃO O homem sempre teve a necessidade de conhecer e dominar a ambiente que vivia e de forma empírica desenvolvia objetos e técnicas que lhe possibilitavam ter o domínio da natureza. Ao longo da história ele sempre buscou adaptar-se ao lugar que vivi e transformá-lo de acordo com suas necessidades primeiras: protegerse e alimentar-se. Hoje, com a evolução do conhecimento científico podemos observar a transformação da natureza de acordo com as novas necessidades do homem e consequentemente a evolução da arquitetura, pois, atualmente, a necessidade de abrigar-se passa muito além da necessidade de proteger-se da chuva, do frio e do sol para uma necessidade de sentir-se bem no espaço em que se vive e com funcionalidade e conforto. Entendemos que o conhecimento científico transformou nosso modo de viver juntamente com outras formas de conhecimento e que esses são de extrema importância para nossa evolução enquanto profissionais, pois para buscarmos soluções e termos repertório para desenvolver projetos hoje, precisamos buscar no passado conhecimentos. De fato, necessitamos sempre estar atentos e respeitar as mais diversas formas de conhecimento, já que no futuro, não muito distante teremos novas necessidades, novos espaços e diferentes modos de transformá-los e adaptálos de acordo com o conhecimento produzido.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS • Site da revista Mundo Estranho http://mundoestranho.abril.com.br/materia/como-foi-inventado-o-automovel • Artigo publicado na Revista eletrônica de Ciências na USP São Carlos e escrito por Alberto Cury Nassour http://www.cdcc.sc.usp.br/ciencia/artigos/art_19/roda.html • Site de arqueologia Arqueo http://arqueo.org/romano/vitruvio.html • Site do Instituto Federal de São Paulo http://www2.ifsp.edu.br/edu/davila/Arquitetura/Historia_arquitetura_aula_ 02.pdf • Site da Unifra http://www.unifra.br/professores/13970/aula/Aula%201%20RESUMO.pdf • Site da Unicamp http://www.unicamp.br/~chibeni/textosdidaticos/ciencia.pdf • Site da Faculdade de Arquitetura da USP http://www.fau.usp.br/disciplinas/tfg/tfg_online/tr/112/a030.html • Livro: Fundamentos de Metodologia Científica. Maria de Andrade Marconi; Eva Maria Lakatos. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2003. • Livro: Manual de Métodos e pesquisa Científica. Ezequias Estevam dos Santos. 2011. • Livro: Metodologia científica: guia para eficiência nos estudos. João Álvaro Ruiz. 1977. • Livro: SANTOS, Ezequias. Textos Selecionados de Métodos e Técnicas de Pesquisa Científica. 2012. • Livro: Marcellino – Nelson (org) – Introdução às Ciências Sociais. Pag 19-28 (Ciências Sociais e o Processo Histórico) • Livro: Christian Leville e Jean Dionne – A Construção do Saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências humanadas – Capítulo 3: Ciências Humanas e Sociedade
IMAGENS 1. http://www.percepolegatto.com.br/wpcontent/uploads/2012/09/Arist %C3%B3teles-1.jpg 2. http://comunicacaoeartes20122.files.wordpress.com/2012/12/5-da vinci.jpg? w=487 3. http://vestenem.files.wordpress.com/2013/02/3.jpg 4. http://www.sinaldetransito.com.br/img/curiosidades/primeiro_acidente.jpg 5. http://www1.mercedes-benz.com.br/historia/biografia/karl/karl_desfile.jpg 6. https://lh4.googleusercontent.com/WD3a1hnHIT4/TWpfb6uyuFI/AAAAAAAAACc/ RCLVmw8mfXA/s1600/roda.JPG 7. http://architectureau.com/articles/the-knowledge-problem/ 8. http://pt.wikipedia.org/wiki/Homem_vitruviano#mediaviewer/File:Da_Vinci_Vitruve _Luc_Viatour.jpg 9. http://42ndblackwatch1881.files.wordpress.com/2009/04/corbu.jpg 10. http://exhibits.slpl.org/scanned/pixel/ste00989.jpg 11. http://lightgraphite.files.wordpress.com/2011/12/l_espirit-nouveau-journal-and-itstheories-on-purism-is-founded-in-france-by-amedee-ozenfant-and-lecorbusier.jpg?w=300&h=221 22
12. http://vidaobralecorbusier.no.sapo.pt/villa_savoye.htm 13. http://www.cdv.fapyd.unr.edu.ar/Citrohan/citrohan.jpg
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