ARTE / CULTURA / ESTILO DE VIDA edição 1 ano 1 R$ 25,00
brasília e 01/ arredores águas escondidas
conheça a Lagoa Azul, o paraíso de àguas cristalinas visitado pelo público brasiliense
escabrosos escombros
entenda os segredos das Ruínas da Unb e porque o poder público abandonou as construções
as cores do sincretismo
descubra curiosidades sobre esta comunidade religiosa que tem se tornado cada dia mais forte
latitude 01/brasília e arredores novembro de 2014 www.latitude.com.br
distribuição pubicação trimestral ISSN 1809-5534
críticas e sugestões info@latitude.com.br
assinaturas www.latitude.com.br/loja +55 61 3340-010 +55 61 3590-312
pontos de venda www.latitude.com.br/ onde_encontrar editora-chefe eduarda trivelli diretor executivo rainer barbosa diretora de arte akemi kanegusuku diretor criativo kaiam oliveira redatores akemi kanegusuku, eduarda trivelli, kaiam oliveira, rainer barbosa conselho editorial rogério câmara colaboradores luanda pacheco, carolina jaborandy, ana cecília schettino agradecimentos rogério câmara, andré maya, fátima aparecida dos santos, bia saffi, thales fernando, cibele varão, marina suassuna, andré leal, guilherme vargas, ana cecília schettino, isabella brandalise, paula macedo, fabio pedrosa, jorge marino, sandra trivelli
publicidade publi@latitude.com.br +55 61 3340-010 escritório brasília Conjunto Cultural da República, Setor Cultural Sul, Asa Sul, Brasília – DF, CEP: 70310-000 Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião da revista. É proibida a reprodução total ou parcial de textos, fotos, e ilustrações por qualquer meio sem prévia autorização dos artistas ou do editor da revista. latitude é Marca Registrada ® Todos os direitos reservados.
editorial latitude é um periódico que vai apresentar diferentes partes do Brasil ao leitor de forma inovadora e singular. É um dossiê cultural e informativo que e tem como objetivo levar os leitores a experimentarem regiões e espaços do país de forma nunca por eles exploradas. Aqui serão apresentados aspectos comportamentais, culturais, históricos e artísticos de diferentes pontos do território brasileiro, bem como as particularidades de residentes de cada um destes pontos. Cada edição tratará de um lugar diferente. Em sua primeira edição, a revista latitude apresenta Brasília e seus arredores de maneira nunca antes vista pelo leitor. Foram explorados não só novos aspectos culturais, religiosos, arquitetônicos e gastronômicos da região, como também foram estudados os impactos que acontecimentos passados causaram no Distrito Federal que se conhece hoje. A equipe latitude espera proporcionar uma experiência agradável de leitura e que o conteúdo da revista desperte no leitor, cada vez mais, o envolvimento com os tantos povos e culturas que estão espalhados por este país. Boa leitura!
sumário 12 ESTILO DE VIDA 14 ao ar livre 22 sabor candango 28 águas escondidas 38 as cores do sincretismo 52 ARTE & CULTURA 54 athos bulcão 68 música da capital 76 cineminha federal 82 escabrosos escombros 88 PERFIL 90 aqui em bsb 94 pau-brasília 96 pomb 98 brasília fab lab 100 enfeltrados 104 AGENDA
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estilo de vida INSTITUTO RIO BRANCO/DIVULGAÇÃO
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ESTILO DE VIDA
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kaiam oliveira
ao ar livre
TEXTO EDUARDA TRIVELLI FOTOGRAFIA KAIAM OLIVEIRA
Conheça o evento que oferece música, moda e gastronomia aos jovens e famílias brasilienses
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SHAKE IT/DIVULGAÇÃO
47°83’34” W
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ão é de hoje que o Picnik tornou-se o ponto de encontro de muitos jovens brasilienses. Arte, moda, música e comidas deliciosas se reúnem neste evento, que oferece atividades ao ar livre, passeios de pedalinhos, caiaques e uma programação divertida para todos aqueles que querem curtir a tarde com muita tranquilidade e descontração. O evento acontece periodicamente em Brasília (geralmente, uma vez a cada mês). Cada edição acontece em um cenário diferente, mas o contato com a natureza, a exposição ao ar livre e a chance de apreciar um belo pôr-do-sol
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é fundamental. O local atual no qual o Picnik ocorre é o Jardim Botânico, mas o evento já passou pela Ermida Dom Bosco e pelo Calçadão da Asa Norte. O evento conta com DJs residentes, além de Djs convidados a cada edição. São eles que tomam conta do som e garentem a harmonização musical do ambiente. Na programação, estão inclusas oficinas artísticas de xilogravura, serigrafia, ponto de costura e customização, stencil, desenho e pintura para crianças e encadernação. Aulas de dança do ventre, yoga, meditação coletiva e Tai Chi Chuan são lecionadas.
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Para Camila, dona da barraca de doces mais famosa do festival, o evento é uma grande oportunidade para divulgar seu trabalho
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“O evento consegue se adequar a diversos públicos e espaços, é uma expriência única e muito agradável” LUANDA PACHECO, ESTUDANTE
SHAKE IT/DIVULGAÇÃO
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A feira que ocorre no Picnik dá oportunidade a talentos criativos locais, e mistura várias manifestações culturais brasilienses em um só lugar. A diversidade é um ponto forte do mercadinho encontrado no evento. Muita qualidade e criatividade são pontos marcantes do trabalho dos artistas expositores, que dão ao evento a cara de Brasília e dos brasilienses. O Picnik é gratuito, começa as 14h e, apesar de ser altamente frequentado por jovens, é indicado para todas as idades. O ambiente cria uma ótima oportunidade de se fazer um passeio familiar, diferente de tudo antes já criado. Levar animais de estimação para passear também é muito indicado. O evento é o lugar perfeiro para se encontrar com amigos, namorados, colegas há tempos não. Quem quiser se divertir e entrar no clima de piquenique, pode levar sua cestinha de palha, toalhas quatriculadas e comidas à vontade. Na programação, estão inclusas oficinas artísticas de xilogravura, serigrafia, ponto de costura e customização, stencil, desenho e pintura para crianças. Só não pode esquecer do protetor e da sombrinha para se proteger do sol. Isso tudo e muito mais faz parte desse evento que reflete a necessidade brasiliense de compartilhar uma tarde cheia de beleza e tranquilidade. ℓ
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O evento conta com oficinas e inúmeras apresentações e atrações para o público infantil e adulto
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sabor candango TEXTO eduarda trivelli FOTOGRAFIA akemi kanegusuku
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Se você mora em Brasília, provavemente já ouviu falar do famoso churros do parque da cidade. Transformamos uma das paixões gastronômicas brasilienses em bolo e ensinamos você a fazer na sua casa.
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INGREDIENTES
MASSA
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300 gramas de manteiga / 280 gramas de açúcar refinado / 4 ovos grandes / 160 ml de leite morno integral / 500 gramas de farinha peneirada 2 colheres de chá de sal / 4 colheres de chá de fermento / 2 colheres de sopa de canela / 2 colheres de sopa de essência de baunilha doce de leite / açúcar cristal / canela
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COMO FAZ?
PREPARANDO A MASSA
1.1 bata a manteiga sem sal e o açúcar refinado na batedeira em alta potência até atingir a consistência de um creme fofinho esbranquiçado. 1.2 adicione os ovos um a um enquanto continua batendo.
120 min
1.3 misture todos os ingredientes secos peneirados em um recipiente separado. Reserve. 1.4 aqueça o leite até uma temperatura morna. 1.5 adicione os ingredientes secos à mistura de manteiga, açúcar e ovos, intercalando com o leite morno.
180 graus
1.6 adicione o extrato de baunilha à mistura.
10 porções
LEVANDO AO FORNO
2.1 distribua a massa igualmente entra as formas untadas. 2.2 pré-aqueça o forno à 180 graus por 25 minutos . 2.3 leve ao forno por um período entre 25 a 40 minutos. 2.4 deixe o bolo esfriar por 20 minutos
MONTANDO O BOLO
3.1 desenforme os bolos em temperatura ambiente. Muito cuidado, pois a massa é um pouco quebradiça. 3.2 em um prato, misture o açúcar cristal com a canela 3.3 gire a lateral do bolo sobre a mistura de açúcar e canela cobrindo uniformemente a superfície. 3.4 posicione um dos bolos em uma travessa e recheie com doce de leite à gosto. Em seguida, coloque o outro bolo por cima e confeite com o doce de leite.
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águas escondidas TEXTO Eduarda Trivelli FOTOGRAFIA Akemi kanegusuku
Descrita por brasilienses como “um paraíso de águas cristalinas”, a Lagoa Azul oferece aos visitantes a oportunidade de entrar em contato com a flora e a fauna do cerrado sem precisar ir muito longe. Confira a seguir um ensaio fotográfico realizado no local, um verdadeiro espetáculo oferecido pela natureza aos moradores de Brasília e região.
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As águas azuis da Lagoa são o principal atrativo do local, visitado por centenas de brasilienses toda semana
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A vegetação do local é composta por espécies típicas do cerrado
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as cores do sincretismo TEXTO AKEMI KANEGUSUKU FOTOGRAFIA KAIAM OLIVEIRA
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Considerada por antropólogos e historiadores a primeira manifestação religiosa nascida com a capital, a prática da doutrina do Vale do Amanhecer agrega símbolos de diversas religiões e extrapola o quadrilátero do Distrito Federal.
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pós cinco décadas de criação, a doutrina hoje tem cerca de 700 templos ativos em todo o Brasil e em outros sete países. Seis deles idênticos à sede, em Planaltina, com vários espaços abertos e fechados, lagos, cascatas, cores e imagens. Estruturas mantidas por cerca de 150 mil médiuns, homens e mulheres integrantes de uma complicada estrutura hierárquica, baseada em referências cristãs, espíritas, maias e até orientais. A doutrina surgiu em 1959, com uma comunidade de espiritualistas, no Núcleo Bandeirante, fundada por Neiva Chaves Zelaya, mais conhecida como Tia Neiva, viúva caminhoneira que se dizia reencarnação de Cleópatra e Nefertiti. A médium fundou nos primeiros anos do Distrito Federal o Vale do Amanhecer, doutrina que mistura espiritualismo, cristianismo, crenças africanas e referências aos maias, espartanos e ciganos, além dos moais da ilha de Páscoa. Construído 10 anos depois, sob o Morro da Capelinha, em Planaltina, o templo-mãe, como chamam seus seguidores, logo atraiu milhares de fiéis e curiosos, transformando-se também em ponto turístico. A líder passou a designar seguidores para erguer outros locais de cura espiritual. O segundo Vale do Amanhecer foi construído em Unaí (MG), a 170km de Brasília, e o terceiro, em Alvorada do Norte (GO), a 260km da capital. Distante 70km do DF, Formosa (GO) recebeu o quarto Vale. Inaugurado em 1977 por um casal de médiuns proveniente de Bonfinópolis (MG), ele é todo revestido de pedra, como o de
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Planaltina. “Por aqui, já passaram uns 7 mil médiuns. Hoje, uns mil fiéis frequentam esse templo regularmente”, conta o presidente do Vale do Amanhecer na cidade goiana, Pedro Cardoso, 57 anos. O sobrenatural e o simbólico estão na cidade desde antes de sua fundação. No marketing para transferir a capital para o Planalto Central foi muito utilizada a história de um sonho do religioso italiano Dom Bosco no século 19 que teria antevisto entre os paralelos 15 e 20 surgir a terra prometida ao lado de um lago que verteria “leite e mel”. A capital surgia do cruzamento de dois eixos, uma cruz urbanística, mas também cristã. Em Brasília, a utopia modernista desenvolvimentista ganhou o reforço teológico. Os monumentos no cerrado pareciam miragens. O traço de Oscar Niemeyer car-
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O sincretismo está em toda parte. A cruz cristã, a judaica estrela de Davi e a lua crescente muçulmana estão juntas com imagens de entidades do candomblé, conceitos espíritas e pirâmides egípcias. RODRIGO BERTOLLO, ANTROPÓLOGO
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naiara azevedo/flickr
Detalhes da arquitetura e indumentĂĄria mostram as diversas referĂŞncias do culto brasiliense.
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Rituais e celebrações coloridas caracterizam o culto.
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regava em futurismos – não por nada, o russo Yuri Gagarin, o primeiro homem a ficar em órbita, disse se sentir em outro planeta ao aportar no DF. Há uma contabilidade de 2.500 locais místicos na capital e seu entorno. Um dos mais chamativos é a Cidade Eclética, cravada desde 1956 em Santo Antonio do Descoberto (cidade goiana próxima ao DF) e fundada por um aviador médium. O sincretismo é a tônica principal. E no Vale do Amanhecer ele está em toda parte. A cruz cristã, a judaica estrela de Davi e a lua crescente muçulmana estão juntas com imagens de entidades do candomblé, conceitos espíritas e pirâmides egípcias. Mas o que chama primeiro a atenção são as vestimentas e a arquitetura do refúgio que virou um bairro hoje com 15 mil habitantes no caminho entre Brasília e Planaltina. Os homens, chamados de “jaguares”, usam capas que mais parecem saídas de um filme de vampiro. A cor, contudo, é o marrom dos franciscanos. A roupa é tão cheia de símbolos que lembra a indumentária dos cangaceiros. Já as “ninfas”, como são chamadas as mulheres, portam batas multicoloridas, onde o amarelo signifi-
ca sabedoria e o lilás simboliza a cura. Por vezes, elas carregam lanças e ornamentam a cabeça com uma grinalda com tantas cores como o arco-íris. “Estou aqui há 35 anos e precisaria de mais 35 para entender tudo o que tia Neiva ensinou”, afirma Domingos Pereira, que recepciona quem chega ao templo nas proximidades de cidade-satélite Planaltina. O local é ocupado na maior parte pela “mesa evangélica”. Nela, os médiuns estalam os dedos, dão passe nos “irmãos sofredores” e proferem a cada instante a frase: “Obatalá, entrego neste instante mais esta ovelha para seu redil.” “Somos medianeiros entre o céu e a terra. Manipulamos energia para salvar os desastrosos, os vingativos, os impregnados de ódio, os que têm um cascão de espíritos da escuridão sobre eles. Esse novo serviço é um desenvolvimento que não tem pressa. Ele vem com o merecimento de quem segue a lei do auxílio e os três pilares: tolerância, humildade e amor”, afirma Pereira. O pintor de paredes Joaquim Antonio aparece como segundo guia nos corredores escuros do templo e me conta seu currículo espiritual: “Já tive 19 encarnações. Na última, fui um
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Uma das inúmeras salas destinadas aos rituais da doutrina
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“Cerca de 150 mil médiuns compõem uma complexa estrutura hierárquica baseada em referências cristãs, espíritas, maias e até orientais” RODRIGO BERTOLLO, ANTROPÓLOGO
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senhor de engenho que só fez maldade. Voltei para resgatar meus débitos e pagar as dívidas. Esta é uma encarnação expiatória neste planeta de transição que é Terra.” Logo, Joaquim começa s tirar conclusões. “Hoje, existe o celular, mas antes nos comunicávamos por telepatia. Hoje, tem avião, mas antes havia teletransporte. A matéria é uma prisão. Quanto mais tecnologia mais o homem se parece com uma minhoca dentro da terra”, busca me convencer. Mas seus argumentos caem por terra após apresentar suas teorias históricas. “Os mortos na Segunda Guerra Mundial [1939-1945] tinham que sofrer. Eles estavam pagando o que fizeram em outras encarnações. Os atingidos no último terremoto do Haiti também. Fazem muita coisa ruim por lá.” Ele fica diante de um altar com imagens dos faraós Tutancâmon e Akenaton. “As pirâmides não foram feitas pelos egípcios. Foi outra civilização, anterior e superior”, dispara Joaquim. Diante da imagem de um índio sentado que ergue uma lança com as duas mãos, ele explica: “É nosso pai: Seta Branca. Ele rege o planeta terrestre.” Pereira faz o mesmo diante do retrato de uma senhora de traços severos e maquiagem pesada. “É nossa mãe: tia Neiva. Ela nasceu em Propriá, no Sergipe, e criou aqui isso tudo que o senhor está vendo”, se maravilha. Ela morreu aos 60 anos em 1985, deixando uma legião de seguidores e um dos filhos na liderança da crença, com dezenas de templos pelo país. ℓ
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arte & cultura
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TEXTO KAIAM OLIVEIRA FOTOGRAFIA FUNDATHOS
Athos Bulcão Não tem como passar batido. Se você algum dia já passou por Brasília, a probabilidade de já ter passado por alguma obra de Athos Bulcão é imensa. Se é morador, provavelmente você sabe quem é, mesmo que não se lembre do nome. Afinal, que brasiliense nunca ouviu falar do grande artista por trás dos azulejos da Igrejinha? Conheça o artista que moldou os espaços de vivência brasilienses e a Fundação que trabalha para manter sua obra viva.
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O Artista ascido no Catete, Rio de Janeiro, em 2 de julho de 1918, Athos passou sua infância em uma casa ampla em Teresópolis. Perdeu a mãe, Maria Antonieta da Fonseca Bulcão, de enfisema pulmonar antes dos cinco anos e foi criado com seu pai, Fortunato Bulcão, entusiasta da siderurgia, amigo e sócio de Monteiro Lobato, com o irmão Jayme, 11 anos mais velho, e com suas irmãs adolescentes Mariazinha e Dalila, que substituíram a mãe. Enquanto crescia, passava muito tempo dentro de casa e, por ser muito tímido, misturava fantasia e realidade. Na família havia um interesse pela arte e suas irmãs o levavam freqüentemente ao teatro, ao Salão de Artes, aos espetáculos das companhias estrangeiras, à ópera e à Comédia Francesa. Athos aos quatro anos ouvia Caruso no gramofone, e ensaiava desenhos sem, no entanto, chamar a atenção da família. Chegou às artes graças a uma série de acidentais e providenciais lances do acaso. Athos foi amigo de alguns dos mais importantes artistas brasileiros modernos, os maiores responsáveis por sua formação. Carlos Scliar, Jorge Amado, Pancetti, Enrico Bianco - que o apresentou a Burle Marx -, Milton Dacosta, Vinicius de Moraes, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Ceschiatti, Manuel Bandeira entre outros. Aos 21 anos, os amigos o apresentaram a Portinari, com quem trabalhou como assistente no Mural de São Francisco de Assis na
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Pampulha e aprendeu muitas lições importantes sobre desenhos e cores. Antes de pintar, planejava as cores que usaria e acredita fervorosamente que o artista tem de saber o que quer fazer. Athos não acredita em inspiração. Para ele, o que existe é o talento e muito trabalho. “Arte é cosa mentale”, diz, citando Leonardo da Vinci. Em 1948 obteve bolsa de estudos do governo da França. Seguiu para Paris, onde frequentou cursos de desenho na Académie de la Grande Chaumière e de litografia no ateliê de Jean Pons. Seu trabalho concentra desde colagens, capas e ilustrações para revistas até trabalhos de arquitetura de interiores e parcerias com o grande arquiteto Oscar Niemeyer. A trajetória artística de Athos Bulcão é especialmente consagrada ao público em geral. Não ao que freqüenta museus e galerias, mas ao que entra acidentalmente em contato com sua obra, quando passa para ir ao trabalho, à escola ou simplesmente passeia pela cidade, impregnada pela sua obra, que “realça” o concreto da arquitetura de Brasília. Seu apego a Brasília é confirmado em uma de suas máximas mais conhecidas. “Artista eu era. Pioneiro eu fiz-me. Devo a Brasília esse sofrido privilégio. Realmente um privilégio: ser pioneiro. Dureza que gera espírito. Um prêmio moral”. Em 1963 passou a lecionar no Instituto Central de Artes da Universidade de Brasília, a convite de Darcy Ribeiro, e depois disso sua importância no meio acadêmico só cresceu.
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Artista aos 81 anos em BrasĂlia
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Como diria o arquiteto e amigo pessoal, João Filgueiras Lima, o Lelé, “como pensar o Teatro Nacional sem os relevos admiráveis que revestem as duas empenas do edifício, ou o espaço magnífico do salão do Itamaraty sem suas treliças coloridas?”, difícil imaginar. Athos é o artista de Brasília. As obras que aqui realizou foram feitas para o convívio com a população e carregam a consideração por esta cidade e seus habitantes. Athos era um artista completo. Sua obra contempla pinturas, colaborações arquitetônicas, fotomontagens, desenhos, capas, esculturas, máscaras e figurinos, além de estudos na área da arte. Athos Bulcão estava em tratamento contra o Mal de Parkinson desde 1991 no Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília. Faleceu após uma parada cardiorespiratória no dia 31 de julho de 2008, aos 90 anos. Mas sua influência foi além da morte, e até hoje artistas usam sua obra como inspiração para seus trabalhos ou até releituras da sua arte em novas plataformas. Um exemplo é Ronaldo Fraga, estilista que escolheu Athos Bulcão como tema da coleção para desfile de sua marca no São Paulo Fashion Week em 2011. “Pesquisei a produção de Athos dos anos 50, quando atuou em parceria com Oscar Niemeyer, até os desenhos que fez quando passou a sofrer do Mal de Parkinson”, conta o estilista, que acabou descobrindo trabalhos inéditos do artista plástico, principalmente de seus últimos anos de vida. Ele olhou para a cultura brasileira desenhando-a de uma forma abstrata e concreta, ilustrando a
arquitetura de Niemeyer com os arlequins e colombinas do carnaval carioca”, diz Ronaldo. Para ele, a generosidade de Athos é digna de admiração, já que o artista sempre optou por expor sua arte no espaço público, “sem nenhum pudor de colocar sua arte nos hospitais, nas escolas”. Na coleção “Athos do início ao fim” estão o laranja, que o estilista chama de tangerina, o azul, o concreto, o preto e, principalmente, o “olhar de criança que Athos imprime no concreto modernista”. Uma das atrações do desfile é o jacquard reproduzido a partir de uma foto de 1918 do carnaval carioca, que representa as “lembranças de infância de Athos Bulcão”, segundo Fraga. A Fundação Presidida atualmente por Terezinha Ludovico de Almeida, a Fundação Athos Bulcão, criada em 18 de dezembro de 1992, é uma entidade de direito privado, sem fins lucrativos, declarada de utilidade pública distrital, qualificada como Organização da Sociedade Civil do Interesse Público - OSCIP e certificada pelos Direitos da Criança e do Adolescente do Distrito Federal. Criada para preservar e divulgar a obra do artista plástico Athos Bulcão, desenvolve diversos projetos visando contribuir com a formação de nossos jovens e tornar a educação, a arte e a cultura acessíveis a toda a comunidade, assim como as obras do próprio artista. Colagem do artista inspirou vestido da coleção de Ronaldo Fraga
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“Artista eu era. Pioneiro eu fiz-me. Devo a Brasília esse sofrido privilégio. Dureza que gera espírito. Um prêmio moral muito agradável” ATHOS BULCÃO
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A Fundathos, como é apelidada, reune, preserva, documenta, promove e divulga pesquisas e estudos sobre a trajetória e a obra de Athos Bulcão. Desenvolve tecnologias de intervenção social junto a jovens e adolescentes por meio da arte, cultura e comunicação. Há tambem incentivos a estudos e pesquisas na área das artes contemporâneas, promovendo projetos e ações que visem seu desenvolvimento conceitual e técnico. A missão da Fundathos é preservar e difundir a obra do artista plástico Athos Bulcão e contribuir para a formação social, cognitiva e produtiva de jovens e adolescentes. Promover, por meio da arte, cultura e comunicação, o desenvolvimento pessoal, social, cognitivo e produtivo do ser humano. Constituir-se em um centro de intercâmbio e discussão da produção da arte entre pensadores, artistas, professores e críticos, entre outros é a visão da Fundação. Ser referência no desenvolvimento de projetos educativos, mediados pela arte, cultura, comunicação e participação social. Como exemplos de projetos da Fundathos temos o Calendário Ilustrado, Festival de Teatro Na Escola, Jornal Radcal, o Fórum Brasília de Artes Visuais. O objetivo do projeto do Calendário Ilustrado - Obras de Athos Bulcão, editado anualmente é o de dar continuidade à divulgação do trabalho deste artista plástico que escolheu Brasília para viver e presentear com a beleza de sua obra, proporcionando ao público em geral a possibilidade de colecionar imagens do trabalho do artista. O Festival de Teatro na Esco-
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la é um projeto de educação não-formal que atende escolas públicas do Distrito Federal. O objetivo é oferecer uma experiência artística significativa aos jovens que participam e valorizar o ensino do teatro na escola. Desde sua primeira edição em 2000, foram envolvidos mais de 2.813 jovens, 144 professores e 121 escolas que resultaram na produção de 130 peças, leituras dramáticas e perfomances com um público estimado em 87.500 mil espectadores. Em 2009, o projeto foi contemplado pelo Prêmio Itaú/UNICEF – Educação e Participação como Vencedor Regional. Os recursos advindos do prêmio viabilizaram a publicação do livro “Teatro na Escola: experiências e olhares”, que é um registro dos sonhos e dos espaços abertos para o teatro na escola ao longo desses 10 anos de intensa atuação. o Jornal Radcal é um tablóide colorido distribuído pela Fundação Athos Bulcão, gratuitamente, a 97 mil estudantes do Ensino Médio da Rede Pública de Ensino do Distrito Federal e a 3 mil formadores de opinião em todo o Brasil. Sua premissa maior é a participação na formação das ideias de nossos jovens a partir de uma leitura crítica da realidade no que diz respeito a uma mentalidade ampla, humanista, solidária e democrática. Os estudantes participam da elaboração do Jornal por meio do Conselho Editorial Jovem, produzindo uma linguagem “de jovem para jovem”. Atualmente veiculam uma campanha chamada “Athos de Amor” para conseguir viabilizar a nova sede da fundação. ℓ
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música da capital TEXTO Eduarda Trivelli Fotografia Equipe de Comunicação Circula
Conheça o projeto de apoio e incentivo à música e a cultura que vem ajudando a promover e agenciar bandas independentes no DF e entorno, trazendo às mesmas a oportunidade de serem agenciadas profissionalmente e tornarem o sonho da banda própria em realidade
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número de bandas independentes na capital tem crescido consideravelmente nos últimos anos. A partir da necessidade de acompanhamento profissional por parte dessas bandas, surgiu a CIRCULA, um projeto de promoção, agenciamento e divulgação local e nacional do rock e de música independente produzidos no Distrito Federal e Entorno, unindo bandas, produtores culturais e agentes culturais locais e nacionais à profissionais que estão iniciando sua carreira. Conversamos com Carolina Jaborandy, agente de comunicação da CIRCULA e ela nos contou um pouco mais sobre o projeto. Como surgiu a ideia de criar a Circula? A ideia do projeto surgiu por acreditarmos no sonho de que é possível fazer música autoral e viver do próprio trabalho, mas para isso é necessária a profissionalização de todo esse processo e é ai que entra a CIRCULA. Auxiliamos os artistas da capital em assuntos sobre os quais eles não entendem muito, mas são necessários na hora de se apresentar pro mundo e alavancar a sua carreira. Vocês têm planos de expandir a agência pra outras cidades? Não. Nossa ideia, por enquanto, é continuar atendemos Distrito Federal (Brasília e entorno). Temos uma meta de conseguir ajudar 110 bandas até o final do projeto em fevereiro de 2015. Passamos de mais da metade desse numero prestando diversos serviços a todas a essas bandas. Vocês trabalham fazendo parceria com eventos e estabelecimentos em Brasília? Como tem sido essa experiência? Sim. Já trabalhamos com Expotattoo, Porão do Rock e temos uma parceria com a Endossa (o lançamento da agência foi lá!).
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Bandas agenciadas pela CIRCULA se apresentando no Porão do Rock
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É importante que as bandas nos procurem, porque sabemos que tem muita gente cheia de talento. mas que não tem o apoio necessário pra crescer e chegar onde merece.
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Breno Galtier Photography e elisa souza
carolina jaborandy agente de comunicação da circula
A CIRCULA participa de vários eventos em apoio às bandas agenciadas. O projeto faz parceria com a loja Endossa, onde vende produtos relacionados às bandas e à agência.
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A experiência tem sido gratificante pois conseguimos trocar experiências e eles nos ajudaram muito divulgando nosso trabalho. É muito legal o tipo de relação que se estabelece entre a CIRCULA e o público durante esses eventos, também.
Quais são os planos pra agência daqui pra frente? A intenção é que o projeto se expanda a partir do próximo ano e possa abranger outras áreas, como projetos independente que envolverartes visuais e cinema, desenvolvendo ainda mais o mercado cultural na região e divulgando os trabalhos por todo o país. ℓ
eliza souza
Costumam receber feedback das bandas sobre o trabalho de vocês? Sim. Constantemente vimos as bandas divulgando nosso trabalho, falando de nós para outras bandas do Brasil inteiro! Sempre recebemos feedback diretamente para a agência e é muito gratificante poder estar em contato com as bandas. Quanto melhor nós conhecermos os nossos agenciados, mais fácil e natural é o processo de promoção e divulgação. É importante entender as necessidades de cada banda individualmente.
Como uma banda entra em contato com vocês caso queira ser agenciada? Costumamos entrar em contato primeiramente por e-mail. Caso uma banda do DF queira ser agenciada, é só mandar um e-mail para contato@agenciacircula.com.br com o material da banda (música, release, fotos), se apresentar, contar um pouco sobre a história da banda e as necessidades. Vamos conversar e fazer de tudo para ajudá-los. A CIRCULA faz o que faz porque realmente acredita no talento das bandas agenciadas. Por isso é importante que as bandas nos procurem, porque sabemos que tem muita gente cheia de talento. mas não tem o apoio necessário pra crescer e chegar onde merece.
Participação da CIRCULA no evento Picnik
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cineminha federal TEXTO rainer barbosa FOTOGRAFIA Junior Aragão
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Primeira sala de cinema do Plano Piloto é, hoje, sede de um dos principais festivais de cinema do país.
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história do Cine Brasília está definitivamente ligada à de Brasília. Sua inauguração estava no roteiro dos festejos da transferência da capital do país para o Centro-Oeste. Em 22 de abril de 1960 o cinema abriu as portas no coração da Asa Sul, bem perto da 108 Sul, a primeira quadra construida no bairro, tornando-se a primeira sala de cinema do Plano Piloto de Brasília. Até então, o Distrito Federal contava apenas com duas salas de cinema na antiga Cidade Livre, atual Núcleo Bandeirante. O cinema, desde então, incorporou-se ao lazer dos pioneiros, oferecendo maior conforto e novas oportunidades de entretenimento. Por isso, frequentemente os 1,2 mil lugares estavam ocupados por uma platéia participativa que manifestava, com vaias e aplausos, a sua opinião sobre os filmes exibidos. De início, as estréias dos filmes eram exibidas para um público selecionado, que comparecia à sala do cinema em trajes de gala. Era um evento de puro status e ostentação. Só então, no dia seguinte, os filmes eram reprisados para o público em geral. Com a inauguração da sala, Brasília passou a fazer parte do circuito de festivais de cinema do pais. Em 1965, o Cine Brasília passa a receber a Semana do Cinema Brasileiro. Ideia de Jean Claude Bernadet, Vladimir Carvalho e Paulo Sales Gomes, inspirados pelo surgimento do Cinema Novo e pelo projeto de Darcy Ribeiro de deixar o academicismo de lado. Na primeira edição, a, hoje grande atriz brasileira, Fernanda Montenegro recebeu seu primeiro premio de Melhor Atriz em seu filme de estreia no cinema, ‘A Falecida’. Dois anos mais tarde passaria a se chamar Festival de Brasília do Cinema Brasileiro – com direito a estatueta e tudo mais, uma elegância só. Devido à censura imposta pelo Regime Militar da época, as edições de 1972, 1972 e 1974 foram canceladas. Em 1975, o prédio sofreu sua primeira reforma. Muitas melhorias foram realizadas a fim de trazer mais segurança e conforto, alem de melhorar a experiência dos espectadores enquanto assistiam aos filmes. Em 7 de julho de 1976 a sala foi reaberta com duas estréias nacionais de grande importância. Em 2012, houve outra reestruturação do local, a fim de agregar mais tecnologia e conforto. Melhorias de acessibilidade e segurança também foram incorporadas ao projeto. Com a adesão de novas normas de segurança, a quantidade de assentos na sala caiu praticamente pela metade, porem os espectadores foram compensados com um novo sistema acústico e novo aparato de climatização do local. A sala foi reaberta em 2013, em setembro, na premiére do Festival de Brasília de Cinema.
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Fachada do tradicional cinema brasiliense.
Apesar de ter sido criado para exibições de filmes, o Cine Brasília já foi usado como palco de exposições, seminários, cursos e palestras. Além do grande e já famoso festival realizado no local, eventos de animação e filmes curta-metragem também são apresentados. Curta Brasília é um festival que, em 2014, está na sua terceira edição. Os filmes apresentados seguem um regulamento proposto pela organização do evento e as vagas são bastante concorridas. Há, também, uma premiação para os melhores curtas do festival – escolhidos através de juri popular –, pela qual competem filmes nas categorias ‘local’ e ‘nacional’.Os filmes que, por alguma razão, não forem selecionados para a competição, têm a chance de participarem da mostra paralela que acontece durante o festival. O evento promove a realização de oficinas e debates sobre cinema, além de atender à criançada com a mostra infantil. Mesmo fora do circuito comercial de cinema da cidade, o Cine Brasília segue sendo um ícone cult da capital, que atrai milhares de pessoas de todo o mundo para seus mais diversos festivais e mostras e tem seu público cativo. Ele é mais um pedacinho da história desta cidade criada para ser a nova capital décadas atrás. Vale muito a pena conferir. ℓ
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escabrosos escombros TEXTO E FOTOGRAFIA RAINER BARBOSA COLABORAÇÃO ANA SCHETTINO
Localizada em área nobre e cobiçada do centro de Brasília, uma edificação atrai curiosidade e é vista como um mistério ARTE & CULTURA
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Brasília é uma cidade sabidamente mística. Lendas, estórias e conspirações pairam na atmosfera da Capital Federal. Essas, diz-se, vêm desde antes das construções da cidade, como a de quando Juscelino Kubitschek percebeu ser uma reencarnação de um faraó egípcio. Boatos à parte, há uma construção pra lá de misteriosa que mexe com o imaginário da população brasiliense. São as chamadas ‘Ruínas da UnB’. O local recebeu esse nome porque também fica perto do centro de esportes da universidade. Uma enorme construção, próxima ao centro olímpico da universidade, e em um local de difícil acesso às margens do lago Paranoá. Foi projetada durante o período da Ditadura Militar e viria a ser a sede da Escola Nacional de Guerra. Os trabalhos de construção foram aprovados em 1973 pelo então presidente General Emílio Médici e só no ano seguinte teve as obras iniciadas sob a responsabilidade do escritório do arquiteto Sérgio Bernardes – responsável pelo projeto do Mastro da Bandeira da Praça dos Três Poderes e pelo projeto original do Centro de Convenções Ulysses Guimaraes. Boatos – mais uma vez eles – tratam o rompimento das obras como uma ação do governo militar ao saber que o projeto estava sendo feito em parceria com os alunos de arqui-
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tetura da UnB. Mas, oficialmente, o governo disse ter verba curta para concluir esta edificação – além da grande quantidade de gente do Rio de Janeiro que deve ter chiado com a ideia de mudar a sede da carioca Urca para a deserta Asa Norte. Vista do chão, a obra exibe um aspecto intrigante e, até, assustador. As grossas paredes com poucas portas e sem janelas avançam até o lago Paranoá. Escadas sem uso descem para o subsolo parcialmente alagado. O cerrado invade os escombros. Agora só são vistos restos, pedaços de concreto e armações, mato e muito lixo, localizados em um dos locais mais nobres de Brasília. É um lugar que se esconde, mas se mostra interessante. Há uma estória de que o local sera revitalizado por estar incluído no programa ‘Brasília Cidade-Parque’ do governo do Distrito Federal. O futuro desta obra curiosa e bastante destoante do restante da arquitetura da cidade, que está – a cada dia mais – ruindo, só o tempo, aquele que a ergueu e a ruiu, dirá. ℓ
Ruínas vistas por imagem de satélite
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perfil
aqui em bsb ana cecília schettino TEXTO E FOTOGRAFIA KAIAM OLIVEIRA E DIVULGAção
Batemos um papo com essa brasiliense de raízes mineiras que acaba de voltar de uma temporada na Itália e que, reunindo o gosto por postais com duas amigas do curso de Design da UnB, Isabella Brandalise e Paula Macedo, criaram o projeto Aqui em BSB, que roda as feiras e mostras regionais do Distrito Federal. Como surgiu o Aqui em BSB? O grupo surgiu de maneira bem despretensiosa e espontânea, mas veio da nossa (eu, Isa e Paula) vontade de investigar, compreender e interpretar Brasília sob um olhar contemporâneo. Há um ano e meio tiramos as primeiras fotos analógicas e até agora já fizemos seis coleções. Você tem o hábito de trocar postais? Sim! Postais e cartas! Pra você, porque a troca de postais é melhor (se for) que a troca de mensagens via web? Uma não substitui a outra. Estou muito acostumada a ter contato com amigos e familiares pela internet e esse tipo de conexão é mais corriqueira. Você consegue diminuir a distância, manter as novidades atualizadas e compartilhar seus sentimentos momentâneos instantaneamente, isso é incrível! Depois de poder contar com essa facilidade, não teria a paciência necessária para esperar uma carta ou um postal, caso
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esse fosse meu único canal de comunicação. Contudo, vejo nos meios físicos características especiais e de preciosidade, tanto pela ansiedade da partida (para quem envia) quanto pela surpresa da chegada (pra quem recebe). Acho que os correios por aí estão cheios de carinho. Como você acha que os postais podem alterar uma cidade ou o comportamento dos habitantes? Não sei se alteram o comportamento, como atitude ou resposta, mas com certeza mexem com alguma coisa. Cada um tem sua maneira de lidar com lembranças, mas eu espero que as pessoas que se importam com isso tentem enxergar a cidade de uma maneira mais positiva, mais querida e menos fria. Eu tenho um apreço enorme pelos meus postais e cartas, tanto os que compro quanto os que recebo, isso é reflexo (ou é refletido?) na cidade por onde passei e na pessoa que me enviou a carta ou o postal.
“É de encher os pulmões pensar que o mundo é enorme e repleto de meios, suportes, iniciativas e oportunidades” ana cecília schettino
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Como funcionam as coleções (como tem as idéias; de quanto em quanto tempo criam uma nova)? Decidimos fazer os postais por coleções pela possibilidade de explorar a cidade de maneira múltipla, trazendo questões do cotidiano da cidade ou abordando temas que não são recorrentes nesse tipo de suporte. Como somos um grupo independente, temos liberdade em relação ao tema a ser explorado, a periodicidade de lançamento de coleções, a produção e distribuição dos postais. Não temos nenhuma regra estabelecida, tudo depende de como estamos e sobre o que gostaríamos de falar. Vocês têm planos pro futuro do Aqui em BSB? Exatamente por não termos nenhuma regra ou obrigação estabelecida, todos os nossos planos e vontades são espontâneos. Por agora estamos reimprimindo algumas coleções e nos dedicando à distribuição, mas isso pode mudar assim que surgir uma boa ideia e tivermos disponibilidade para concretizá-la. O que mais tem te inspirado ultimamente? Acho que o que mais me inspira são as possibilidades, de qualquer coisa, que seja… É de encher os pulmões pensar que o mundo é enorme e repleto de meios e suportes e iniciativas e oportunidades. Que não preciso me conformar com coisas com as quais não concordo, e que existem meios para realizar mudanças, por menores que elas sejam. Que a permanência nem sempre é essencial e a efemeridade é cheia de beleza.
O que mais te fascina em Brasília? Percebo a cidade e tento compreender suas qualidades e defeitos, tanto que muitas coisas me encantam, mas nem tudo me atrai. Uma característica que muito me intriga em Brasília é a paisagem: a cidade vista do alto da torre, a praça do museu e seu contraste com a escala residencial, seu jeitinho largo e achatado. Citaria muitas outras, mas acho que o que realmente me fascina é a possibilidade de sair pra desbravar esse mundão tendo como referência natal um lugar tão particular, como nunca encontrei antes. Com isso sigo comparando seus adjetivos e entendendo quais são as minhas
afinidades com modelos de urbanismo e arquitetura. O que você acha desse boom de eventos que buscam ocupar os espaços da cidade? Acho ótimo! Viver a cidade é um direito! A maioria deles têm características muito democráticas, seja em relação a não cobrança de ingressos, seja pela facilidade de acesso e horário. Muitas vezes o lazer é possível sem que envolva dinheiro, o que na minha opinião é fantástico. Vários deles dão espaço e visibilidade aos artistas e produtores locais. Esse movimento promove a ocupação e pode inspirar outras boas práticas. ℓ +info xinstagram.com/aquiembsb pinterest.com/aquiembsb
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pau-brasília bia saffi TEXTO E FOTOGRAFIA KAIAM OLIVEIRA E DIVULGAção
Bia acabou de sair da faculdade, mas com sorte, seu caminho acadêmico a levou a um projeto que continua tocando fora da sala de aula. Conheça o Pau-Brasília, uma linha de jóias feitas em madeira e inspiradas nas várias nuances de Brasília. O que te fez escolher o design como profissão/curso? Na verdade eu não sei exatamente o que me fez querer entrar no curso. Eu sempre gostei muito de criar e acho que isso foi meu impulso inicial, mas eu não sabia que o design era muito mais do que isso. Eu não tinha a real idéia do que era. Quer dizer, eu sabia, mas não sabia que o design abrangia tanta coisa! Isso foi uma surpresa boa para mim. Como surgiu o Pau-Brasilia? O Pau-Brasília surgiu durante a disciplina Projeto de Produto 2. Devíamos trabalhar com alguém que já tivesse pelo menos alguma experiência de mercado. Eu escolhi trabalhar com a madeira reciclada, pois já tinha afinidade com o material, e com acessório, pois era um “terreno” novo para mim e que eu tinha interesse em explorar. Fui atrás de um artesão que trabalhasse com esse material na feira da torre e encontrei o Ni Batista, que é quem executa as peças para mim atualmente. Após a disciplina, começaram a encomenda por parte das amigas, e depois das amigas das amigas e assim foi indo, até abrir uma lojinha no
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facebook, começar a expor em feiras e vender na loja Endossa. Como surgiu a escolha do material do projeto? Eu sempre gostei muito de madeira. Tive a oportunidade de trabalhar com o material em outras disciplinas durante o curso, e também tenho um avô que é marceneiro. Já tinha visto madeira rosa, roxa, amarela, de várias cores, e queria explorar a variedade de formas que ela podia assumir. Eu conhecia acessórios de madeira, mas sempre com aquela cara meio “hippie” demais, e eu queria trazer uma cara nova pra esse tipo de acessório. Você pretende seguir a carreira com design de jóias ou tem outra área que te interesse? É difícil responder essa. Ainda mais nesse momento em que eu tô me formando no curso e começo a me perguntar “e agora, o que vou fazer da vida?”. Existem muitas áreas dentro do design que me agradam, principalmente dentro da parte de produto. Eu queria poder explorar um pouquinho de cada uma que a oportunidade aparecesse, e até
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Primeiro o que me inspirava eram os clichês, e depois com esse olhar mais atento eu começo a prestar atenção em todas as particularidades da nossa cidade.
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bia saffi
mesmo dentro da área de design de jóias. Talvez trabalhar com metais, pedras... O que você mais gosta de fazer em Brasília? Eu gosto muito de programas ao ar livre, do lago, de feiras, de andar de bicicleta. Gosto de shows abertos, de quando tem festa no museu...Gosto de tudo que fuja da rotina da semana e de andar de carro todo dia. Acho que fugir da rotina de vez em quando faz bem pra nossa mente. O que tem te inspirado? O que tem me inspirado pra construir peças pra Pau-Brasília são
cada vez mais coisas. Eu procuro sempre alguma inspiração pra fazer uma peça nova, e isso me faz ficar mais atenta nos detalhes da cidade no meu dia-a-dia. Primeiro o que me inspirava eram os clichés, e depois com esse olhar mais atento eu começo a prestar atenção em todas as particularidades da nossa cidade. Árvores, formas, céu, clima, cores, tudo! Tem algum outro projeto que queira compartilhar conosco? Atualmente não, mas espero ter em um futuro não tão distante. ℓ +info xinstagram.com/paubrasilia facebook.com/paubrasiliacessorios
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pomb thales fernando TEXTO E FOTOGRAFIA KAIAM OLIVEIRA E DIVULGAção
Mesmo não sendo tão cinza quanto São Paulo, devido ao famoso céu baixo e de cores fortes, Brasília é uma capital cheia de concreto. É preenchendo esse insistente cinza com muita expressividade que Thales Fernando conduz a vida do seu ego artístico, Pomb. Você sempre desenhou? Lembra da primeira vez ou quando foi marcante que o desenho era uma parte importante da sua vida? Sempre desenhei desde criança, a diferença foi que nunca parei com esse costume! Minha tia é artista plástica (nas horas vagas), então ela sempre me influenciou e incentivou bastante, comprando materiais e dando dicas em geral. Como ou quando você se identificou com o graffiti e começou a utilizar essa técnica? Acho que foi por volta de 2002, tinha uma revista nacional direcionada ao graffiti, na época eu pixava, mas desenhava bastante já nos cadernos, quando eu descobri que podia tirar dos papéis e jogar pros muros, isso me fascinou! Que outros suportes você gosta de usar? Eu não gosto de limitar estilos, superfícies ou materiais, sou adepto de experimentar tudo, e acho que isso só enriquece, gosto muito de aquarela, e tenho trabalhado bastante com gravura em madeira (xilogravura) no momento estou trabalhando também com acrílica em tela. Tenho muita interesse em escultura também, logo menos deve sair algo! O que você acha da cultura de graffiti no DF? Acho que tem muita gente boa aqui no DF, a cena não é tão forte como em SP ou RJ, pois
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são poucas pessoas que estão pintando constantemente na rua, no entanto o nível é alto! Você tem algum critério de escolha de lugares para grafitar ou é algo mais intuitivo? Prefiro lugares meio esquecidos, sujos de difícil acesso.. colocar um trabalho num local desses acho que traz uma atenção nova, as pessoas que antes nem se davam conta desse espaço começam a ter outra percepção do mesmo! O graffiti tem esse poder! Como foi a experiência de poder grafitar na Europa? Foi do caralho, ter contato com Barcelona, praticamente a capital do graffiti na Europa foi demais, poder conhecer artistas locais e ver como é a cena lá foi muito bacana mesmo! E também o lance da cidade ser muito rica em cultura, vários ateliês e galerias espalhados pela cidade, dá um gás diferente, você começa a ver que pode produzir um trabalho com um outro nível, e direcionado pra uma outra galera que não seja só do meio do graffiti. Tem algum plano profissional ou pessoal para o futuro? O plano é estar produzindo sempre, e ver o que a vida vai reservado pra tudo isso! Viver de pintar, pintar pra viver! ℓ +info xinstagram.com/pomb_ facebook.com/pomb.thales
“O plano é estar produzindo sempre, e ver o que a vida vai reservando pra tudo isso! Viver de pintar, pintar pra viver!” THALES FERNANDO, POMB
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brasília fablab marina suassuna TEXTO E FOTOGRAFIA KAIAM OLIVEIRA E DIVULGAção
De quem surgiu a ideia de abrir o FabLab em Brasília? Bom, na verdade foi por causa de uma série de ideias, eu, o André Dias Leal e o Guilherme Vargas tinhamos passado o ultimo ano nos estudando nos Estados Unidos, e lá a gente teve contato com esse tipo de espaço de fabricação digital e acabamos trazendo uma impressora 3D para o Brasil. Quando chegamos aqui começamos a fazer a matéria de Introdução à atividade empresarial. Aí uma coisa levou a outra. Nos juntamos com mais dois sócios, o Bruno Guilherme Amui (engenheiro elétrico) e o George Brindeiro (engenheiro mecatrônico). Com essa equipe multidisciplinar é possível desenvolver muito mais coisas dentro do FabLab; Todos nós sentíamos falta de um espaço como esse em Brasilia, e olha que cada um queria desenvolver projetos diferentes. Assim percebemos que a demanda era enorme e resolvemos abrir. Como funciona? Qualquer pessoa tem acesso? Os Fablabs pelo mundo tem planos de negócios diferentes. O nosso é denominado fablab profissional. Atualmente trabalhamos com 3 modalidades. Temos dentro do Brasília FabLab o que chamamos de Estúdio FabLab, é uma vertente profissional do espaço. Funciona como um estúdio de design de produto, onde atendemos demandas específicas de alguém que quer um projeto do incio ao fim desenvolvido pela nossa equipe. Também temos um espaço de coworking, as pessoas podem vir usar o espaço para desenvolver projetos próprios.
Vai depender do tipo de uso de cada pessoa. Nossa equipe está sempre aqui orientando qual o melhor meio de fabricação para cada tipo de projeto mas, para quem quer se aprofundar em alguma técnica, vão ser oferecidos workshops direcionados para cada máquina. O terceiro, "Birô de impressão". Percebemos que nem todos querem ou precisam se envolver tanto com um projeto. Então também recebemos
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É tudo muito novo aqui, a identidade e a cultura da cidade ainda estão se formando. É muito bom sentir que podemos contribuir
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marina suassuna
os arquivos e imprimimos ou cortamos. O fablab é aberto para todos, independente da maneira que queiram utilizar o espaço. Quantos membros vocês tem? De que área eles são? Como não abrimos oficialmente ainda não temos membros ou usuários utilizando o espaço de coworking. Já temos demanda para pequenos projetos, a maioria das pessoas são designers e engenheiros. Mas nos chamou atenção a quantidade de hobbistas. De que estruturas vocês dispõem? Atualmente as máquinas que
temos são impressoras 3d, fresadora cnc, cortadora de vinil e corte a laser. Fora isso temos uma mini-marcenaria com maquinas de mão como furadeira de bancada, serra circular, policorte, esmeril e ferramentas menores como martelos, chaves-de-fenda, lixadeiras, etc. Temos também uma bancada de eletrônica com vários componentes de prototipagem e microcontroladores como arduino e rasberry pi. Está nos nossos planos um espaço para serigrafia e uma maquina cnc de grande porte. Como é sua rotina de trabalho? Como falei ainda não estamos abertos "oficialmente", queremos finalizar todo o espaço para oferecer o melhor. Mesmo assim estamos aqui todos os dias e temos o maior prazer em atender quem vem conhecer o espaço. A rotina de trabalho tem sido bem corrida, estamos com vários projetos do estudio fablab, o que tem sido muito motivador. Tem algum projeto pro futuro do Fablab que queira compartilhar? Queremos nos tornar referência desse tipo de espaço aqui em Brasília. Sabemos que é tudo muito novo e que as pessoas tem um certo receio de mexer nas máquinas ou de colocar a mão na massa! Queremos mudar isso. O que você mais gosta em Brasília? Acho que o que eu mais gosto é que é tudo muito novo aqui. A identidade e a cultura da cidade ainda estão se formando. É muito bom sentir que podemos contribuir com isso. ℓ +info xinstagram.com/bsbfablab facebook.com/brasiliafablab
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enfeltrados cibele varão TEXTO E FOTOGRAFIA KAIAM OLIVEIRA E DIVULGAção
Um hobby que virou um projeto sério, Cibele nos conta sobre sua paixão (e também trabalho): seus bonequinhos e objetos feitos de feltro que roda as feiras de arte, artesanato e design de Brasília. Você se lembra de quando tomou gosto pela costura? Então, desde que me entendo por gente minha mãe sempre costurou e mexeu com trabalhos manuais, então acho que foi meio natural eu acabar me interessando por essas áreas. Já mais velha, com 19 anos e muito tempo livre (férias) decidi tentar reproduzir bichinhos que vi na internet. Já tendo materiais a disposição pedi que minha mãe me ensinasse e assim foi surgindo vários bichinhos e um maior interesse na costura manual. Isso foi em meados de 2008. Quando surgiu o Enfeltrados? Já os Enfeltrados de fato surgiu em 2013, durante esse meio tempo eu recebia encomendas esporádicas e fiz meu projeto de conclusão de curso em design de produto relacionando os bichos de feltro com o movimento toy
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art. Já estando formada resolvi levar esse, até então hobby, mais a sério e ver no que ia dar. Criei uma identidade, fiz fotografias, projetei bichos e dei início a marca em uma feira de design brasiliense (liga-pontos). Como funciona? São coleções ou só sobre demanda? Os Enfeltrados funcionam basicamente de duas formas: pronta-entrega e encomendas. Crio meus próprios personagens, mas também reproduzo personagens existentes, adicionando sempre um pouco do meu jeito Sempre tenho alguns trecos disponíveis, mas os clientes podem entrar em contato e solicitar produtos que nunca desenvolvi, daí negociamos a viabilidade/orçamento. A escolha do material foi levando em consideração o fato de que a costura é manual, com isso a maior parte dos tecidos desfiam
e o feltro não, além de ser um tecido relativamente barato e que proporciona a criação de produtos mais em conta. Como é sua rotina de trabalho? Não tenho exatamente uma rotina, mas o processo em si é: pego a lista de prioridades de encomendas, faço os moldes, recorto todos os tecidos e a partir disso vou costurando e finalizando um a um. Por enquanto tenho dedicado em torno de 3 dias por semana aos Enfeltrados, mas com o aumento das encomendas pretendo dedicar mais dias. Qual o perfil da sua clientela? Nossa, a variedade de clientes é imensa, mas em comum sempre tem vínculo emocional por trecos fofos! Tem a vertente dos mais “nerds” que se interessam pelos trecos de desenhos animados, as senhoras que valorizam produtos manuais e querem presentear seus familiares, ou as mães e futuras mães que querem algo personalizado para as festividades de seus filhotes. Você tem algum outro hobby ou algum outro projeto? Ainda hoje encaro o Enfeltrados como hobby! E acho que isso é o que mais me motiva a criar mais. Por enquanto sigo só com projetos dentro do Enfeltrados, como o Desafio 50 em 1 (criação de 50 novos e exclusivos personagens ao longo de 1 ano). Também gosto bastante de desenhar. ℓ +info xinstagram.com/cibsvarao facebook.com/trecos.enfeltrados
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PEQUENINA, PORÉM PROFISSIONAL
agenda
BRINDAR
bsb mix O BSB Mix Mercado Alternativo foi criado em 1996 e desde então traz o que há de melhor e mais autêntico no mundo da moda, design, lazer e entretenimento cultural, inovando e mostrando a vanguarda existente no underground criativo do mundo fashion para diversos públicos. onde fica itinerante + info bsbmix.com.br
Parque da cidade Sarah Kubitschek Com mais de quatro mil quilômetros quadrados, o maior parque urbano da América Latina tem espaço para a prática de esportes, além do parque de diversões Nicolândia Center Park, que funciona desde 1967, com atrações para todas as idades. onde fica entre Asa Sul e Sudoeste + info facebook.com/ParqueDaCidadew
COMPRAR
mARVIN Uma das primeiras hamburguerias de Brasília com a proposta de servir sanduíches gourmets no estilo americano, também resultou em um dos mais bem-sucedidos negócios do mercado gastronômico da capital. Parte do grupo Marietta, o Marvin contabiliza dez lojas em operação, do Lago Norte a Águas Claras. Seus discos de carne com 140 gramas, temperados somente com sal, vêm suculentos do char broiler (grelha a gás) para compor mais de vinte combinações. Lançado na virada do ano, o estreante porteño reproduz um churrasco argentino e ganha a escolta de um equilibrado molho chimichurri. onde fica 103 Sul, bloco A - loja 6 + info marvin.com.br
taypá
VISITAR
O Taypá Sabores del Peru, primeiro restaurante genuinamente autêntico de comida peruana de Brasília, e que em fevereiro de 2011 foi escolhido pelo governo do Peru como o melhor restaurante peruano no Brasil. Localizado na comercial da QI 17 do Lago Sul, o restaurante reúne grandes nomes da gastronomia local e internacional, como Ivone Espiñeira, Antônio Carvalho, Madalena e Albano Ribeiro, do tradicional
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AGENDA
BierFass, do Pontão do Lago Sul, além do chef peruano Marco Espinoza. Este último deixou o comando do renomado restaurante Bardot, em Buenos Aires, para assinar o cardápio e a consultoria do espaço gastronômico. O espaço já foi ganhador de prêmios renomados da culinária regional. onde fica SHIS QI 17 Bloco G + info taypa.com.br
Daniel Briand pâtissier & chocolatier
andanças pelo interior do Brasil, mensalmente ele põe uma opção inédita no cardápio, a exemplo do pão dos pais que leva farinha de centeio, vinho branco, uva-passa branca e queijo gruyère. Entre os clássicos, uma boa dica é experimentar os folhados: croissant, pão de chocolate e rosca com uva-passa. À parte, o cliente pode solicitar geleia de morango. Não deixe de levar para casa, também, a tradicional baguete. É um ponto que não pode passar batido por visitantes amantes de confeitaria. onde fica 306 sul bloco B + info laboulangerie.com.br
Viçosa
Na vitrine da loja, bombons de chocolate e alguns dos mais clássicos doces franceses, que conferem o título de uma das melhores docerias de Brasília. Entre as tortas, permanecem irreparáveis a ópera, com camadas de ganache, massa de amêndoa e creme de café, e a framboesini. A última traz uma delicada combinação de pão de ló com amêndoa, creme inglês e geleia de framboesa. Na vitrine, os macarons reluzem nas versões baunilha, café ou o tradicional éclair.
Inaugurada em 1957, antes mesmo da fundação oficial da cidade, esta pastelaria está entre as casas mais tradicionais de Brasília. Seus pastéis são batizados com nomes de referências locais. O mané garrincha, por exemplo, traz carne, cebola, azeitona e catupiry (R$ 7,90). No gilberto salomão, há frango e catupiry (R$ 7,10). O capital da república tem lombinho defumado, mussarela, cebola, azeitona e orégano (R$ 8,50). Como sobremesa, o concha acústica reúne queijo de minas com rapadura (R$ 7,10).
onde fica 104 Norte bloco A + info cafedanielbriand.com
onde fica 704 Norte bloco C + info pastelariavicosa.com.br
BEBER
Não foi do dia para a noite que o francês radicado em Brasília Guillaume Petitgas se tornou um exímio padeiro - ou, para fazer jus ao título original, chef boulanger. Petitgas põe a mão na massa desde a adolescência. Em 2007, com sua mulher, Thaís Melo, formou sociedade para abrir a primeira legítima padaria francesa do Distrito Federal. Com filas diárias na porta, a La Boulangerie se transformou em um fenômeno da gastronomia local. Petitgas busca incessantemente articular as receitas europeias com produtos regionais. Resultado de suas
APRECIAR
la boulangerie
PRAÇA DOS CRISTAIS
COMER
O nome faz referência às esculturas de concreto em formato de cristais, que simbolizam as riquezas minerais do Planalto Central. A praça foi projetada pelo paisagista Roberto Burle Marx e é um belo local para se fazer um passeio romântico ou até mesmo em família. onde fica Setor Militar Urbano
AGENDA
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beirute A relação afetuosa entre garçons e clientes, marcada pela reciprocidade, certamente contribuiu para o reconhecimento do endereço. Praticamente inalterado desde sua inauguração, o cardápio vigente nas duas unidades tem, entre as suas estrelas, o kibeirute, quibe recheado com queijo prato,
e o filé-mignon à parmegiana, servido na própria panela do preparo. O acompanhamento comum desse e de outros comes não poderia ser outro: Beira Bier, a cerveja de grife própria, elaborada na cidade goiana de Trindade.
cobogó
pinella
O Mercado de Objetos, opera em um formato de loja e café, fruto da experiência de seus idealizadores, Mariana Dap e PH Caovilla, que, ao longo dos últimos 15 anos desenvolveram eventos de artigos artesanais e design, sempre primando pelo conceito e exclusividade. Seja em peças vintage ou em artigos contemporâneos, essa é a essência do Cobogó.
A grande demanda de clientes impulsionou a compra de uma nova loja para o Pinella ampliar sua cozinha. A expansão provocou mudanças no cardápio da casa. O novo menu traz agora uma seleção de 35 opções, entre saladas, entradas, sobremesas, salgados e caldos. Na lista de novatos, encontram-se, entre outros, a gorethi, polenta frita servida com geleia picante de tomate e molho funghi, e a marta, petisco de picanha
onde fica 705 Norte bloco E + info mercadocobogo.com.br
paradiso cine bar Dois irmãos, um amigo e uma boa ideia. Com essa fórmula, Octávio Basso, José Augusto Basso Júnior e João Manuel Paz pensaram, durante um ano e meio, em como deveria ser o Paradiso Cine Bar. O resultado do longo estudo trouxe a atmosfera cinematográfica com que eles tanto sonhavam. Na casa, dividida em três ambientes, respira-se a sétima arte no cardápio e na decoração. As bebidas têm apresentações primorosas e um feliz equilíbrio de ingredientes. Criada e supervisionada pelo mixologista Victor Quaranta, a carta reúne cerca de quarenta itens. onde fica 306 Sul bloco B + info paradisocinebar.com.br
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onde fica 109 Sul bloco A + info facebook.com/barbeirute
grelhada ao molho chimichurri. Para adocicar a boca, a torta de chocolate bárbara, campeã de vendas, ganhou a companhia da valéria, uma torta de limão desconstruída que chega à mesa dentro de uma taça. As bebidas também foram contempladas nessa nova fase, com a inclusão de mais rótulos de cervejas especiais e de quatro drinques. onde fica 408 Norte Bloco B + info pinella.com.br
universal diner
Vale da lua
O Universal Diner chegou em Brasília em 1997, com um conceito que conquistou a capital. São três ambientes que unem toda a descontração da chef Mara Alcamim à sofisticação do cardápio mais conhecido e desejado da cidade.
O Vale da Lua é frequentado por jovens universitários e tem como petiscos mais pedidos carne-desol e batatas fritas, que podem ser acompanhados por cerveja ou chope. Há ainda a opção de pizzas e uma famosa coxinha.
onde fica 210 Sul bloco C + info restauranteuniversal.com.br
onde fica 408 Norte bloco B + info quondeasanorte.com.br
torre de tv Com 75 metros de altura, permite visão privilegiada do centro. De um lado está a Feira da Torre, rica em gastronomia e artesanato. Do outro, a Fonte Luminosa exibe um conjunto de chafarizes que realizam um balé de cores e sons. Projetada por Lúcio Costa, a Torre da TV é um dos poucos edifícios importantes de Brasília que não são uma criação de Oscar Niemeyer . É a terceira estrutura mais alta do Brasil. Localizado no
centro da capital e em uma localização privilegiada para observar a capital, a Torre de TV aproveitou e construiu um mirante a 75 metros de altura e com capacidade para 150 pessoas. O mirante foi inaugurado em 1965, dois anos antes da da inauguração da torre. Um dos maiores símbolos da capital, a feira da torre começou na década de 70. onde fica Eixo Monumental + info feiradatorredf.com.br
ccbb Os Centros Culturais Banco do Brasil (CCBBs) – localizados em Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo – são espaços multidisciplinares com programação regular, nas áreas de artes cênicas, cinema, exposição, ideias entre palestras, debates, seminários, música e programas educativos. Em aproximadamente 25 anos de atuação, os CCBBs receberam mais de 60 milhões visitantes com a realização de 3.500 projetos e 12.000 eventos, consolidando-se como um dos principais centros culturais no cenário cultural brasileiro e internacional. onde fica SCES Trecho 2, Lote 22 + info culturabancodobrasil.com.br
AGENDA
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objeto encontrado
nAÇÃO HOTDOG
A casa também é muito famosa pela galeria de arte que mantém aberta para visitação no subsolo da loja, durante o período de funcionamento da cafeteria. No cardápio, segue irretocável a cheesecake com calda de framboesa ou da fruta da estação. O doce pode ser acompanhado por uma xícara de expresso extraído da máquina La Marzocco ou pelo cappuccino italiano, as bebidas mais requisitadas pelos clientes.
Aqui, o cliente personaliza seu cachorro-quente escolhendo o tipo de pão (baguete, integral ou de leite) e um dos molhos (bolonhesa, chili, mostarda mais mel, rosé, tomate e vinagrete). Das oito modalidades do lanche, a mais requisitada leva duas salsichas, milho, ervilha, maionese e queijo cheddar. Para petiscar, a porção de batatas fritas vai à mesa com qualquer um dos molhos do hotdog, à escolha do cliente.
onde fica 102 Norte bloco B + info objetoencontrado.com.br
onde fica 108 Sul bloco C + info nacaohotdog.com.br
Picnik
Mangai
Com edições geralmente no calçadão da Asa Norte, o Picnik reune arte, moda, música, comida, com clima de muita festa e descontração. Durante a tarde, à beira do Lago Paranoá, a programação inclui pedalinhos e caiaques, além de uma programação alternativa diversas.
Filial brasiliense da marca paraibana, homenageia o sertão nordestino da decoração (com um jipe estacionado em meio a cactus dentro do salão) ao extenso bufê, com 180 receitas típicas, que inclui baião de dois, arroz de queijo de coalho, creme de jerimum com carne-seca e carneiro assado.
onde fica itinerante + info facebook.com/PicnikNoCalcadao
onde fica SCES, trecho 2 conjunto 41 + info mangai.com.br
balaio café Ponto de encontro de grupos ligados a diferentes manifestações artísticas, este animado bar recebe mostras de cinema, exposições, encontros poéticos e apresentações de dança, música e performances no decorrer da semana. Para petiscar, a cozinha prepara maria bonita (mandioca e queijo coalho fritos) ou frida (salgado Gergeliko acompanhado por guacamole e feijão apimentado). A casa abre cedo e serve almoço e café da manhã, de segunda a sábado. onde fica 201 Norte bloco B + info balaiocafe.com.br
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