“AMOR CIÚME CINZAS E LUME” CURSO DE PRODUÇÃO ARTÍSTICA
JOANA MATOS TEIXEIRA DE LIMA Nº16
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ESCOLA ARTÍSTICA SOARES DOS REIS 2011/2012 CURSO DE PRODUÇÃO ARTÍSTICA 11º ANO MÓDULO 1 OURIVESARIA
TEMA: Criação de um brinco tendo como ponto de partida os brincos de Viana do Castelo, segundo uma visão cubista.
JOANA MATOS TEIXEIRA DE LIMA,
Nº16,
11ºA1
PROFESSORES PROJECTO – M.ROSARIO TUDELA MEIOS DIGITAIS – PEDRO MARCOLINO OURIVESARIA – GRAÇA VENTURA
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ÍNDICE
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INTRODUÇÃO
Na disciplina de Projecto e Tecnologias, do curso de Produção Artística, teremos três módulos: Ourivesaria, Têxteis e RPE. Apresento este dossier correspondente ao 1º módulo, que no meu caso foi Ourivesaria.
Para começar, fizemos um teste diagonóstico onde tivemos de analisar um trabalho de produção artística que estava na exposição, tivemos uma aula introdutória onde abordámos por alto todos os movimentos da história da Arte do séc. XX. Também falámos sobre questões da arte contemporanêa, como “O que distingue um objecto artístico de um objecto comum?”, “Qual o papel do artista ao “fazer” arte?”, “Em que consiste a originalidade?”, etc. … No âmbito desta conversa, fomos em visita de estudo ver um espectáculo de dança contemporanêa “Terra Quente, Terra Fria”. Quando começámos a trabalhar no projecto, vimos na aula imagens de quadros cubistas e dos brincos de Viana, desconstruímos uma caixa de cartão e reconstruímos a partir de novas dobras e vimos uma apresentação sobre cotagem.
Foi-nos proposta a criação de um brinco, tendo como ponto de partida os brincos de Viana do Castelo, segundo uma visão cubista. Este módulo têm como principais objectivos a análise de conteúdos formais e semânticos do objecto artístico, conhecer a diversidade de metodologias utilizadas no projecto artístico tal como a compreenção do seu papel na concretização do mesmo, entender as práticas artísticas, o conhecimentos das práticas artísticas a nível tradicional e contemporêneo dentro das áreas de desenvolvimento do curso, a exploração dos significados e dos efeitos psicodinâmicos da cor, entender a investigação, o ensaio e a experimentação como formas de desenvolvimento pessoal e social, a exploração dos processos e técnicas específicas da área de desenvolvimento pessoal e social, a exploração dos processos e técnicas específicas da área de desenvolvimento seleccionada, entender a representação como um processo de construção da ideia/conceito, a utilização da terminologia adequada e o desenvolvimento das capacidades de análise e avaliação do trabalho produzido.
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O CUBISMO
O Cubismo é um movimento artístico que surgiu no século XX, tendo como principais fundadores Pablo Picasso e Georges Braque. O quadro "Les demoiselles d'Avignon", de Picasso, 1907, é conhecido como marco inicial do Cubismo. Nele ficam evidentes as referências a máscaras africanas, que inspiraram a fase inicial deste movimento, juntamente com a obra de Paul Cézanne. A representação do mundo passava a não ter nenhum compromisso com a aparência real das coisas. O pintor cubista tenta representar os objetos em três dimensões, numa superfície plana, sob formas geométricas, com o predomínio de linhas retas, e não representa apenas a imagem óptica desse objecto.
Apectos formais
Aspectos Conceptuais
•geometria •simplificação •rectas •colagem •fragmentos •ângulos •volumes •solidez •folhas de jornais (inclusão de letras) • etc...
• desestruturação •decomposição •simultaniedade •interelação •dinamismo •planificação •arte africana •não realista • etc...
EXERCÍCIO DE AULA Os cubistas representavam os objectos com todas as suas partes num mesmo plano. E numa aula de projecto, foi-nos proposto desconstruir um pacote de leite até ficar com uma superfície plana. Depois começámos do zero e construímos uma forma completamente diferente.
De Pablo Picasso 8
BRINCOS DE VIANA
Os brincos de viana, ou à rainha, ou à vianesa, eram à moda da rainha, da mulher fidalga ou da burguesa rica. O coração de viana foi oferta de D. Maria I como ex-voto ao Coração de Jesus para ter um filho varão. Coração com que D. Maria I mandou timbrar as grandes condecorações nacionais: as Ordens de Cristo, Avis e Santiago. Coração que completa o traje à vienense e demonstra bom gosto e bem trajar. Existem outras formas para além desta, todas unidas por uma técnica especial: a filigrana. Coração de Viana
A filigrana é um trabalho ornamental feito de fios muito finos e pequeninas bolas de metal, soldadas de forma a compor um desenho. Se observarmos com atenção uma peça de filigrana, custa a crer, ser possível o seu fabrico por processos à primeira vista tão rudimentares. Foi preciso chegar a um primor elevadíssimo de técnica, transmitida de geração em geração para que fios tão finos como cabelos, estejam todos soldados uns aos outros, sem que se tivessem fundido ou deformado nessa operação. Nesta técnica, o metal é geralmente ouro ou prata, mas o bronze e outros metais também são usados. A filigrana é utilizada na joalharia desde a Antiguidade greco-romana. Actualmente, as peças de Filigrana podem ser encontradas com enorme visibilidade na Região Norte de Portugal, usadas frequentemente no conjunto do vestido de noiva tradicional e, ainda, no traje feminino dos ranchos folclóricos do Minho.
Brinco à Rainha 9
A história da extraordinária ourivesaria minhota confunde-se com a de Travassos, perto da Póvoa do Lanhoso, uma “aldeia-oficina”na qual todas as famílias estão ou estiveram ligadas à actividade da ourivesaria e onde se afirma, com base num saber contado, que aqui “nasceu a ourivesaria em Portugal”.
Apesar da crescente industrialização do trabalho do ouro, persistem ainda cerca de 40 oficinas tradicionais: os brincos de bambolina, as argolas de requife, as contas olho de perdiz, as laças, as borboletas, as ingénuas medalhas de dizeres e, claro, os típicos e opulentos corações de filigrana. Não esquecendo o soberbo trancelim de lantejoulas de ouro, há 2.000 anos assim fabricado em Portugal.
: Outras formas …
Arrecada de viana também em filigrana
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PROJECTO IDEIAS INICIAIS Inicialmente, peguei nas diferentes formas dos brincos e esbocei muito livremente, quase sem pensar. Semicerrava os olhos e simplificava de maneira a obter as linhas mais importantes. Geometrizei todas as linhas curvas, criando triangulos, quadrados, losangos, etc, onde estes estavam longe de existir.
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Fiz colagens, porque dessa forma pude mexer e brincar com os diferentes elementos que recortei e texturei, o que me ajudou a visualizar melhor as ideias.
ESBOÇOS Optei pelo coração de Viana por ser a forma mais representativa, aquela que mais gente conhece. Experimentei pegar em quadrados, e a partir deles, formar um coração. Gostei da ideia e foi desse ponto que desenvolvi o projecto.
MAQUETA Fiz maquetas para algumas das ideias que tive para poder visualizá-las melhor. E através delas, apercebi-me que alguns projectos seriam impossíveis de realizar.
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A ideia final:
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DESENHOS NORMALIZADOS
Tive imensas dificuldades em fazer uma representação objectiva da peça. Tentei de várias formas mas nunca ficou exactamente como nos desenhos à mão livre. Aqui, fiz os quadrados a partir das suas diagonais para obter os angulos correctos:
Desenho cotado:
Sei que não cotei segundo as regras, mas seria uma grande confusão. Achei muito mais legível desta forma.
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ILUSTRAÇÃO
Pastel seco
Lápis de cor
Pastel de Óleo 15
MEMÓRIA DESCRITIVA
O desafio deste módulo era criar um brinco, tendo como ponto de partida os brincos de Viana, segundo uma visão cubista. Logo, inspirar-nos numa coisa que faz parte da nossa tradição, da nossa cultura e transformá-la de forma a ficar mais actual, contemporanêa. Neste caso, que tenha influências do famoso movimento, do Cubismo. Inspirações em relação à tradição/contemporaneidade:
A marca Yanastasia apresentou uma colecção com tecidos de padrões muito similares aos tradicionais lenços de Viana, recém recuperados por alguns designers como objecto de moda.
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Mais exemplos da tradição presente na moda:
Minhota
Minhota moderna
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Quadro cubista que me inspirou, por causa das formas, e da maneira como o verde seduz apesar da imponência dos vermelhos, amarelos e laranjas, daí a escolha do verde e da oxidação no meu brinco.
O núcleo “Coração Independente” de Joana Vasconcelos. Os corações são feitos de talheres de plástico.São exibidos ao som de fados de Amália Rodrigues. Por coincidência, estava a ouvir Amália durante a execução do dossier, mesmo na parte em que comecei a pensar no nome para a peça. E visto que gosto tanto e é tão português, tal como o coração de Viana, decidi pensar nesse sentido.Mas desisti da ideia pelo fado, para mim, estar muito ligado a Lisboa e não tanto à zona do Minho. Até saber que os corações de Joana Vasconcelos são exibidos ao som desta fadista intemporal.
De Georges Braque
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“Coração independente, Coração que não comando: Vive perdido entre a gente, Teimosamente sangrando, Coração independente.” (Amália Rodrigues – Estranha forma de vida) Decidi “baptizar” então a minha peça da mesma forma que esta artista portuguesa. “Almas vencidas Noites perdidas Sombras bizarras Na Mouraria Canta um rufia Choram guitarras Amor ciúme Cinzas e lume Dor e pecado Tudo isto existe Tudo isto é triste Tudo isto é fado” (Amália Rodrigues – Tudo isto é fado) O nome que dei ao meu projecto foi: Amor ciúme cinzas e lume
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O meu brinco foi feito a pensar numa mulher, dos 18 aos 80, sofisticada, moderna, com gosto especial por peças únicas e que guardaria este brinco com carinho. Isso não quer dizer que tem de ser aquela peça que fica numa caixinha no cofre durantes anos, porque imagino-a a usar tanto para trabalhar como para ir a uma festa formal, porque penso que resulta tanto com uma camisa branca e uns jeans, como com um vestido de gala. Trata-se de um brinco com uma simbologia especial, dado o seu desenho ter sido inspirado nas peças de filigrana de Viana do Castelo,cuja tradição faz parte da cultura portuguesa.
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O projecto é composto por quadrados de vários tamanhos, desde 1,1 cm a 2,5 cm. 4 deles em chapa para serem oxidados, 5 em fio quadrado para dar banho de prata, e um em forma de “caixinha” para levar esmalte.Foi tudo feito em latão. Para concretizar o brinco, fiz de todas as técnicas: serrar, trefilar, laminar, embitolar, soldar, etc… A que foi uma novidade para mim foi cravar. Tive que cravar a peça porque não é possível soldar um elemento oxidado com um prateado. Infelizmente, o brinco ainda não está concluído. Falta unir os diferentes elementos e colocar o esmalte.
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TECNOLOGIA EXERCÍCIOS
Nas primeiras aulas nas oficinas, fizemos um pendente ao nosso gosto. Foi um exercício para rever algumas técnicas e para aprender a embitolar. Visto que sempre quis uma peça com a forma de um pavão, desenhei um de maneira a incorporar esta técnica no pendente. Texturei o latão que utilizei para representar as penas da cauda, e
Este pendente pode ser usado nos dois sentidos, parecendo um
fiz o corpo e o bico do pavão em cobre.
coração na segunda imagem. A ideia surgiu porque a professora de Ourivesaria pensou que a peça fosse ao contrário do que era
Este exercício durou duas aulas.
suposto, devido às suas parecenças com a imagem gráfica da capital
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da
cultura
europeia
2012,
Guimarães.
Eu a desenhar na chapa com o riscador.
A cortar o fio.
A enrolar o fio na bitola.
A fechar as pontas do elos com os alicates 23
Embitolar: Usa-se uma bitola com o tamanho apropriado dos elos que pretendemos. Fixa-se no torno de modo a que fique horizontal. Aperta-se o torno de maneira a apanhar juntamente com a bitola a ponta do fio e de seguida vai-se enrolando o fio em volta da bitola, de modo que este fique bem esticado e que cada volta se adapte perfeitamente à anterior, até ao final do fio. Retira-se do torno. Cortar através da fita o fio numa direcção levemente diagonal. Retirar a fita.
Para fechar as pontas dos elos usámos em cada mão um alicate de
Enrolar fita adesiva à volta do fio enquanto este ainda se encontra
bicos chatos. Segura-se o elo com um dos alicates e com o outro
na bitola.
ajusta-se a outra extremidade com um movimento de torção, de modo a unir as extremidades.
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Fizemos um segundo exercício que consistiu em serrar dois círculos
Em seguida, cravámos as duas peças, para futuramente, fazer delas
perfeitos, numa chapa de latão. Num deles, tivemos que serrar um
um alfinete. Fizemos 4 furos.
círculo mais pequeno, de forma a ficar apenas com a parte de fora. Cravar: esta técnica consiste em perfurar uma peça e soldar fio na outra. Esse fio passará através dos furos e assim fica fixa. Corta-se o fio rente de forma a não se notar.
E oxidámos o outro:
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CONCRETIZAÇÃO DO PROJECTO Este foi um processo muito demorado porque o fio partia facilmente no momento de dobrar até ao ângulo certo e era dificil fazer com que as arestas batessem certo umas com as outras.
Na hora de executar o meu projecto na oficina, comecei por desenhar os quadrados numa chapa de latão utilizando o riscador e
Para fazer a caixinha, solda-se uma chapa (a base) ao quadrado em
a régua. Em seguida serrei-os.
fio (que forma as bordas que não deixam fugir o esmalte). Para os quadrados de fio, trefilei o fio de latão para que ficasse fino e quadrado. Cortei-o segundo as medidas que tinha definido para cada um. Para fazerem-se quadrados com fios, é necessário limar a parte interior ao vértice, e aí dobrar o fio para que fique com um ângulo de 90º, tal como acontece num passepartout ou numa moldura, por exemplo. Depois soldar os cantos para ter a certeza que não se irão partir mais tarde, tendo em conta que os vértices ficam muito frágeis.
Todos estes diferentes elementos foram limados, e limpos sempre que necessário no branqueador.
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Em seguida,uni todas as chapas e soldei-as.
Escova de polir, borracha e abrasivo (de cima para baixo):
Antes do branqueamento:
Que encaixam no punho de ligação ao motor de suspenção: Depois do branqueamento, e depois de aperfeiçoar com o abrasivo, com a borracha e com a escova de polir (de feltro):
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Depois uni também os quadrados de fio:
Não é possível soldar as duas partes da minha peça por uma ser banhada em prata e a outra ser latão oxidado. Logo, a solução é cravar. Dei os aperfeiçoamentos finais às duas com a ajuda do abrasivo e das limas para eliminar a acumulação de solda, as sujidades e os riscos. Soldei uma argola na parte dos fios e coloquei um gancho. Levei essa parte à “Giarte”, onde lhe deram o banho de prata e a parte dos quadrados de chapa foi oxidada na oficina.
Peça depois do banho de prata
Agora, falta-me colocar o esmalte e cravar os dois elementos.
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Algumas técnicas: Serragem de latão: Esta técnica é muito utilizada em ourivesaria,
Branqueamento: O branqueamento é um processo de limpeza do
nomeadamente
na
metal à base de uma solução sulfurosa, após a peça de prata ou
manipulação das serras, que chegam quase a atingir a espessura de
outro metal não ferroso ter sido submetido à soldadura com solda
um cabelo.
de prata ou apenas ao recozimento. Este é o processo que permite o
em
joalharia,
exige
um
grande
rigor
metal ser limpo de oxidações e liberto de quaisquer resíduos de É um processo muito simples mas que
sujidade inerentes ao processo de soldadura.
requer muita precisão e destreza manual. O corte de superfície metálica deve ser executado de forma que a lâmina esteja
Laminagem/Trefilagem: Para se preparar diferentes espessuras de
colocada a 90º da superfície a ser cortada.
chapas utiliza-se o laminador, máquina essencial neste processo. O
As oscilações da armação e respectiva serra
laminador conforma dois tipos de perfil: a chapa e o pré-perfil
enquanto o processo devem ser verticais e
quadrado, constituindo este último um passo prévio e imprescindível
completas, ou seja a lâmina deve ser toda
para trefilar o fio.
utilizada passando na sua totalidade na superfície metálica a ser cortada.
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O funcionamento do laminador de fio é simples. Os cilindros devem
temperatura atinge mais rapidamente o ponto que se aproxima ao
estar encostados, de seguida vemos em qual canal é que passa o fio,
grau de fusão da solda.
de seguida ligamos o laminador e vamos fazendo passar o fio pelos canais até à medida que pretendemos, sem esquecer de passar duas vezes em cada canal, para que o fio fique com as arestas perfeitas. Estes são os quatro perfis básicos de uma fieira e também os mais utilizados: o perfil redondo, o quadrado, o de meia cana e o rectangular. A fieira mais utilizada é, talvez, a redonda.
Soldadura: A solda desloca-se com o calor para os pequenos orifícios existentes nas junções metálicas que se pretende unir. A solda “deslizará” inteligentemente para as zonas onde a
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CONCLUSÃO
Tenho pena que este módulo tenha chegado ao fim. Sempre foi um enorme prazer estar na oficina de ourivesaria. E fico feliz por ter confirmado que escolhi o curso certo. Recriar partindo da nossa tradição é uma proposta muito interessante. Fiquei a saber mais sobre a nossa cultura, mas também sobre toda a arte do séc. XX, especialmente sobre o cubismo. Pensei que iria acabar a peça rápido, mas enganei-me redondamente. Não tinha noção das técnicas e de tudo o que ia precisar de fazer. Tenho pena de não ter o projecto acabado aqui no dossier, mas sei que aproveitei as aulas ao máximo, nunca deixei que os minutos dissipassem. Gosto da minha criação, apesar de saber que tecnicamente está muito longe de estar perfeita. Mas estou satisfeita porque sei que se repetisse agora, ficaria melhor executada, logo, aprendi.
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