O príncipe dos poetas

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O PRÍNCIPE DOS POETAS 23 ABRIL DE 1893: EM UNIÃO DOS PALMARES, NASCIA JORGE DE LIMA, UM DOS MAIORES POETAS BRASILEIROS, TAMBÉM ROMANCISTA, ARTISTA PLÁSTICO, ENSAÍSTA, MÉDICO E POLÍTICO

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AL MA NA QUE ALMANAQUE 200 é uma publicação da Secretaria de Estado da Comunicação especialmente feita para as comemorações de 200 anos de emancipação política de Alagoas. Ênio Lins SECRETÁRIO DE COMUNICAÇÃO Carlos Nealdo EDIÇÃO E PESQUISA Mayara Barros REDAÇÃO E PESQUISA Antonio Santos DIAGRAMAÇÃO Secom FOTOGRAFIAS

FOTO: ANDRÉ PALMEIRA/SECOM

Grafmarques IMPRESSÃO

ILUSTRADOR DE CAPA LUCAS PEREIRA Estudante da Escola Estadual Constança de Goes Monteiro, no município de Major Izidoro, artista autodidata, é o autor do desenho de Jorge de Lima, executado especialmente para esta edição.

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O BRILHO DE ABRIL Nesta edição de abril, o ALmanaque 200 traz, como tema de capa, um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos: Jorge de Lima, nascido em União dos Palmares em 23 de abril (dia de São Jorge) do ano de 1893. A importância de tantos outros acontecimentos e personagens marcantes em abril conduz o ALmanaque 200 deste mês a um conteúdo mais centrado, em função da necessidade de maior aprofundamento editorial. Conforme o calendário anunciado no lançamento da Agenda do Bicentenário da Emancipação Política de Alagoas, teremos eventos todos os meses, ininterruptamente, ao longo de 2017. Desta forma confirmamos o caráter perene, e não eventual, do sentimento da alagoanidade. Em outras palavras, vamos aproveitar, da forma mais positiva possível, a oportunidade de estarmos vivendo o momento histórico dos duzentos anos da assinatura da certidão de nascimento de Alagoas. E a melhor maneira, para início de conversa, é lembrar que o nosso pedaço do Brasil não é de hoje nem de ontem; ele é de bem antes do 16 de setembro de 1817. Alagoas tem uma vida muito mais longa, complexa e marcante. Ela remonta aos primórdios da exploração do pau-brasil que florescia na costa, de norte a sul, e por isso o colonizador usou o nome da árvore para batizar a terra dos povos nativos – guaranis, tupinambás, tamoios, dos nossos ancestrais caetés que povoavam estas matas e as mais belas de todas as praias. Essa história rica e fascinante precisa ser contada, revelada e assimilada pelo Brasil – a começar por nós mesmos. Os alagoanos são muito maiores do que pensamos, esta é a verdade. A cada mês, aqui no ALmanaque, lembraremos um ou mais personagens alagoanos como forma de nortear a discussão e evitar que os eventos se limitem a um ponto especifico. Lendo esta edição, veremos com facilidade o quanto temos de grandes acontecimentos e personagens fabulosos para lembrar e reverenciar em abril, além do imenso Jorge de Lima. Alagoas é assim, um caleidoscópio de cores e luzes; palavras, fatos e nomes; ritmos, sons e até sabores marcantes para a vida brasileira ao longo do tempo, antes e depois do marco de 1817. Aqui está para você, nestas 16 páginas, um resumo daquilo que, apenas no mês de abril, desponta com mais brilho na memória de Alagoas. Repito, selecionamos somente os principais destaques, como – por exemplo – o Barão de Penedo, Paula Leite, Virgilio Mauricio, Goulart de Andrade, Luiz Mesquita, Pontes de Miranda, Miriam Lima, Floriano Peixoto. Datas municipais dignas de nota, como as de Palmeira dos Índios, Paulo Jacinto, Penedo e Matriz de Camaragibe. Eventos que precisam ser lembrados, como a inauguração do serviço de telegrafia na Capital alagoana e a primeira exibição do filme “Casamento é Negócio?”, dirigido por Guilherme Rogato, em grande estilo, no dia 3 de abril de 1933. E assim por diante. Tem muito mais, não deixe de ler tudo. Como já foi dito, as edições do ALmanaque são colecionáveis e completarão, ao fim e ao cabo, os 12 meses do ano. A ideia é que seja uma série útil como fonte de consulta, para muito além de 2017. Boa leitura e até o próximo mês!

RENAN FILHO

GOVERNADOR DO ESTADO DE ALAGOAS OBRAS CONSULTADAS NESTA EDIÇÃO ■ BARROS, Elinaldo. A Aventura do sonho das imagens em Alagoas. Maceió: Seculte, 1993. ■ BARROS, Elinaldo. Panorama do cinema alagoano. 2ª Edição revista e ampliada. Maceió: Edufal, 2010. ■ BLAKE, Augusto Victorino Alves Sacramento. Diccionario bibliographico brasileiro. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1893. ■ DUARTE, Aberlado. Dom Pedro II e Dona Teresa Cristina nas Alagoas – a viagem realizada ao Penedo e outras cidades sanfranciscanas, à Cachoeira de Paulo Afonso, Maceió, Zona Lacustre e região norte da Província (1859/1860). Maceió: Imprensa Oficial Graciliano Ramos; Cepal, 2010. ■ JÚNIOR, Félix Lima. Maceió de Outrora – Volume 2. Maceió: Edufal, 2001. LIMA, Jorge de. Poesia completa - volume único. Organização: Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997. ■ LIMA, Jorge de. O mundo do menino impossível. Maceió: Sergasa, 1993. (fac-símile) ■ MENDONÇA, Renato. Um diplomata na corte da Inglaterra: o Barão de Penedo e sua época. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2006. ■ NASCIMENTO, Ana Paula. As esquecidas produções pictóricas e críticas de Virgílio Maurício. Brasília: Universidade de Brasília, 2012. ■ RIBEIRO, Bianca Cristina de Carvalho. O simbolismo na poesia de Jorge de Lima. Araraquara: Universidade Estadual Paulista, 2012. ■ ROCHA, José Maria Tenório. Subsídios à História da Cinematografia em Alagoas. Maceió: Seculte, 1974. ■ ROSA e SILVA, Enaura Quixabeira; BONFIM, Edilma Acioli. Dicionário Mulheres de Alagoas Ontem e Hoje. Maceió: EDUFAL, 2007. SAES, Guillaume Azevedo Marques. A República e a espada: a primeira década republicana e o florianismo. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2005. ■ SANT’ANA, Moacir Medeiros de. Efemérides Alagoanas. Maceió: Instituto Arnon de Mello, 1992.

■ SANTOS, José Maria dos. Bernardino de Campos e o Partido Republicano Paulista. Rio de Janeiro: José Olympio, 1960. ■ SCHUMAHER, Schuma. Gogó de Emas - A participação das Mulheres na história do estado de Alagoas. Rio de Janeiro: REDEH, 2004. ■ SILVA, Mauro Costa e. A telegrafia elétrica no Brasil Império – ciência e política na expansão da comunicação. Revista Brasileira de História da Ciência. Rio de Janeiro, v. 4, n. 1, p. 49-65, jan | jun 2011. ■ TENÓRIO, Douglas Apratto; CAMPOS, Rochana; PÉRICLES, Cícero. Enciclopédia dos Municípios Alagoanos – revista e ampliada. Maceió: Instituto Arnon de Mello, 2006. ■ TIGRE, Bastos. Reminiscência - A alegre roda da Colombo e algumas figuras de antigamente. Brasília: Thesaurus, 1992. SITES ■ Academia Brasileira de Letras: academia.org.br ■ Biblioteca Brasiliana: brasiliana.usp.br ■ Biblioteca Digital Luso-Brasileira: bdlb.bn.gov.br ■ Cinemateca Brasileira: cinemateca.gov.br ■ Comitê Brasileiro de História da Arte: cbha.art.br ■ Enciclopédia Itaú Cultural: enciclopedia. itaucultural.org.br ■ Estações Ferroviária do Brasil: estacoesferroviarias.com.br ■ IBGE: www.ibge.gov.br ■ História de Alagoas: historiadealagoas.com.br ■ Povos Indígenas no Brasil: pibsocioambiental.org ■ Secretaria do Estado da Cultura: cultura.al.gov.br ■ Mais História: maishistoria.com.br JORNAIS ■ A Escola ■ Diário de Maceió ■ Jornal de Alagoas ■ O Cruzeiro ■ O Globo


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O BARÃO DE PENEDO

Falece no Rio de Janeiro, em 1906, o diplomata, deputado e advogado alagoano Francisco Ignácio de Carvalho Moreira, o Barão de Penedo. Formado pela Faculdade de Direito de São Paulo em 1839, Carvalho Moreira elegeu-se deputado provincial por Alagoas em 1848. Assumiu em 1852 o posto de ministro do Brasil em Washington, nomeado por D. Pedro II. Em sua passagem pelos Estados Unidos, atuou contra as pressões que se avolumavam para a abertura do rio Amazonas à navegação internacional. “Foi como enviado extraordinário e ministro plenipotenciário na Legação do Brasil em Londres, contudo, que Carvalho Moreira efetivamente se destacou”, lembraria o então ministro das Relações Exteriores Celso Amorim. O caráter estratégico da missão que lhe confiara o Imperador foi assinalado pelo Visconde de Abaeté, quando o felicitou por sua nomeação para a Corte da Rainha Vitória: “A Legação é a mais importante que temos, não só pelas questões políticas que ali ocorrem, como pelos imensos objetos de administração que estão a seu cargo.”

Anote aí! Francisco Ignácio de Carvalho Moreira recebeu o título de Barão de Penedo do imperador D. Pedro II, no dia 29 de julho de 1864, pelos serviços prestados ao Brasil no âmbito da política internacional.

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A VOLTA DO IMPERADOR Francisco Inácio de Carvalho Moreira tinha esperança de ver a monarquia restaurada no Brasil e quando, em novembro de 1891, Deodoro da Fonseca instaurou a República, realizou, em Paris, uma reunião com D. Pedro II, Gaspar da Silveira Martins e Alfredo d’Escragnolle Taunay, pedindo para retornar imediatamente ao Brasil e assumir o controle da situação. Entretanto, o velho imperador não acatou a ideia, justificando que estava com problemas de saúde devido à idade avançada. A QUESTÃO CHRISTIE Ao agravar-se a desinteligência provocada

MENINO DE ENGENHO

Nasce em 1853, no Engenho Mundaú, no município de Santa Luzia do Norte, o professor, deputado provincial e federal, senador e advogado Francisco de Paula Leite e Oliveira. Diplomado pela Faculdade de Direito do Recife em 1872, com 19 anos, regressou a Alagoas e tornou-se promotor público da comarca de Anadia. Foi também deputado provincial na legislatura 1874-1875. Passou em seguida um período em Oliveira (MG) como juiz municipal, mas regres-

sou a Maceió em 1884. Em 15 de setembro de 1890 foi eleito deputado por Alagoas ao Congresso Nacional Constituinte, e tomou posse em 15 de novembro. Após a promulgação da Constituição, em 24 de fevereiro de 1891, passou, em junho, a ocupar uma cadeira na Câmara dos Deputados, com mandato até dezembro de 1893. Eleito senador na vaga de na vaga de Floriano Peixoto, que em novembro de 1893 assumiu a

por William Dougal Christie, ministro britânico no Rio de Janeiro, o Governo imperial tomou a decisão de se entender diretamente com o Gabinete britânico, por intermédio da Legação brasileira em Londres. Em troca de notas com o Foreign Office, Carvalho Moreira defendeu a dignidade do Império contra os “atos de guerra” protagonizados pela esquadra britânica nos primeiros dias de 1863: o bloqueio do porto do Rio e o apresamento de cinco navios mercantes. “A superioridade de forças não deverá constituir um privilégio acima do Direito da Justiça”, registrou. Não sendo atendida a solicitação brasileira de retratação pelo ocorrido, Carvalho Moreira pediu seus passaportes, ficando interrompidas as relações entre o Brasil e a Grã-Bretanha. O episódio ficaria conhecido como A Questão Christie. ROMA Em 1873, Francisco Inácio de Carvalho Moreira foi enviado em missão especial a Roma, para tratar com o Vaticano do polêmico caso envolvendo os bispos de Olinda e de Belém. Suas gestões foram insuficientes para desfazer o mal-estar entre a Monarquia e a Santa Sé. O RETORNO Em 1900, ele regressou ao Rio de Janeiro. Conservador e monárquico convencido, passou seus últimos anos afastado da vida pública. Foi sócio do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) e integrou a Academia Penedense de Letras, Artes, Cultura e Ciências. Escreveu diversos livros, entre eles Do Supremo Tribunal de Justiça (1848), Constituição Política do Império do Brasil (1855), Relatórios sobre a Exposição Internacional (1862) e Missão Especial de Roma (1873).

presidência da República, exerceu o mandato de maio de 1894 até janeiro de 1900 e participou da Comissão de Finanças do Senado. Faleceu no Rio de Janeiro no dia 15 de julho de 1927. PRECURSOR Francisco de Paula Leite e Oliveira foi o precursor da psiquiatria em Alagoas. Em 1886, quando foi nomeado chefe de polícia pelo presidente da província José Moreira Alves da Silva, lançou campanha para a criação de um asilo, na tentativa de parar com a prática de recolhimento dos presos à cadeia pública, onde viviam em condições desumanas. O lugar – batizado de Asyllo de Alienados – seria inaugurado em 27 de março de 1887 sob sua direção. A partir dele, o governador Aristides Augusto Milton Asilo de Santa convida Paula Leite para Leopoldina, a construção do que viem Maceió ria a ser o Asilo de Santa Leopoldina, inaugurado no dia 10 de fevereiro de 1889.

Você sabia? Francisco de Paula Leite e Oliveira foi professor catedrático de alemão no Liceu Alagoano e professor no Liceu de Artes e Ofícios, no Rio de Janeiro. Foi também sócio do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IGHAL) e o quinto presidente da instituição, entre dezembro de 1922 até falecer.

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IRA SILE A R B CA ATE M E CIN OS: FOT


Às 15h30 do dia 03 de abril de 1933, era exibido pela primeira, no Cine Capitólio, em Maceió, o filme Casamento é Negócio?, dirigido por Guilherme Rogato. A sessão, exclusiva para a imprensa, seria documentada à época pelo Jornal de Alagoas: “A impressão deixada por este filme, trabalhando com amadores conhecidos no nosso meio e em cenários locais é lisonjeira para a vitoriosa fábrica alagoana, cuja produção representa o resultado de um grande esforço, digno de incentivo”. O filme, que estrearia oficialmente quatro dias depois, conta a história de Moacyr, que se apaixona por Morena depois de lhe dar uma carona. Depois de marcar um encontro com ela, Moacyr chega atrasado à refeição na casa dos pais, desculpando-se e incriminando os negócios que lhe tomam o tempo. Entusiasmado, fala da descoberta de petróleo em Riacho Doce, mas recebe do pai apenas um sinal de descrença. Quando sai, o pai reclama da armação de mais um “conto do vigário”. Na saída da missa, Morena retorna à sua casa acompanhada de Moacyr, que a pede em casamento. Ela recusa, chamando-o de pobretão e demonstrando possuir ambições na vida. A esperança do jovem é a exploração de petróleo feita pela Companhia de Petróleo Nacional. Moacyr sugere aos pais a venda da casa para a compra de ações, mas a mãe recomenda cautela. Ele, então, vai afoito à casa de Morena, onde a vê saindo com outro rapaz. Para procurar na distância o abrandamento de sua dor, Moacyr resolve abandonar a cidade. Despede-se dos pais e parte. Na varanda da casa, sua mãe chora e o pai a consola perguntando se, afinal, “hoje em dia casamento é negócio”. CRÍTICA Apesar de realizado com poucos recursos, Casamento é Negócio? foi bem recebido pela crítica da época que, embora reconhecendo as falhas, aponta as qualidades da película. “A nossa observação rigorosa de jornalista não escapou, porém, a alguma carência de uma melhor técnica para a maior perfeição de direção e filmagem, o que não desmerece de modo algum o valor da película em apreço, desde que a sua realização representa para o cinema alagoano um atestado de esforço e competência, não só por parte do artista Rogato, como pelos demais elementos indispensáveis à sua confecção”, ressalta o Diário de Maceió. As deficiências técnicas do filme são destacadas pelo próprio Rogato, nos créditos iniciais de Casamento é Negócio?. “Tecnicamente, deve haver falhas a que não poderíamos fugir, mas fizemos tudo o que estava em nossas forças e talvez tenhamos realizado alguma cousa”, ressaltam os créditos escritos pelo escritor alagoano Carlos Paurílio. O HOMEM DAS ESTRELAS Guilherme Rogato nasceu no dia 7 de dezembro de 1898, em San Marco Argentano, comunidade italiana da região da Calábria, província de Cosenza. Em 16 de setembro de 1910, aos 12 anos, desembarcou no Porto de Santos (SP) com a família, que buscava novas oportunidades no Brasil. “Por uma dessas coincidências que só o cinema sabe ajustar, a data da chegada dos Rogato no Brasil é a justa combinação com a data da emancipação política de Alagoas”, lembra o crítico de cinema Elinaldo Barros. Em São Paulo, descobriu a fotografia, ofício com que se destacaria, antes mesmos de se casar com Maria Rosa Greco, uma descendente de italianos com quem teve duas filhas: Ada Rogato, pioneira da aviação brasileira, e Flávia Rogato, médica conceituada na capital alagoana. Em 1918, Rogato desembarcaria na Ponte do Desembarque, em Jaraguá, com o colega argentino Ramon Spá, para a exposição Fotografia em Esmalte, que aconteceria em janeiro do ano seguinte, no Teatro Cinema Floriano. “Das lindas fotografias exibidas destacam-se as do Drs. Fernando Lima, Firmino Vasconcelos e Leonino Corrêa,

chamando também muito a atenção do público aquele jovial sorriso de uma criancinha, filha do sr. Mário Guimarães”, publicaria, no dia 12 de janeiro de 1919, o Jornal de Alagoas. Encantado com a cidade e vendo o potencial local para o seu trabalho, Guilherme Rogato fixa residência em Maceió, na Rua 15 de Novembro (atual Rua do Sol). Contratado como fotógrafo oficial do governo do Estado, inaugura o estúdio Rogato Film, onde passa a oferecer serviços fotográficos e cinematográficos. Guilherme Rogato faleceu no dia 9 de setembro de 1966. FILMOGRAFIA Antes de realizar Casamento é Negócio?, Guilherme Rogato dirigiu três documentários em curta-metragem: O Carnaval de Maceió, Inauguração da Ponte em Vitória e Homenagem ao Governador Fernandes Lima, todos de 1921. “A história da cinematografia em Alagoas é a própria história de Guilherme Rogato e sua vida nesse Estado”, registrou o professor e folclorista José Maria Tenório Rocha, em seu livro Subsídios à História da Cinematografia em Alagoas. PARA SABER MAIS | BARROS, Elinaldo. A Aventura do sonho das imagens em Alagoas. Maceió; Seculte, 1993. ■ ROCHA, José Maria Tenório. “Subsídios à História da Cinematografia em Alagoas”. Maceió; Seculte, 1974. ■ www.cinemateca.gov.br

Jorge de Lima emprestou sua casa, localizada na Praça Sinimbu, para o filme. Ela serviu de residência da personagem Morena Mendonça. O poeta também emprestaria seu automóvel, que no filme é usado pelo personagem interpretado por Luiz Girard. As locações ainda incluem a Praça Deodoro, Sítio Leopoldis (Maceió), Praça D. Pedro II e Lagoa Manguaba.

Guilherme Rogato, diretor de Casamento é Negócio?

AINDA EM 3 DE ABRIL BOAS NOVAS Surge, em 1892, o periódico A Troça, jornal de circulação semanal em Maceió que trazia teor crítico, literário e noticioso. Impresso na Tipografia Mercantil, pertencia a Geraldino Calheiros e Pedro Carlos.

PROFISSÃO DE FÉ

CASAMENTO É NEGÓCIO? PODE SER VISTO NO YOUTUBE

Você sabia? Apesar de muitos considerem Casamento é Negócio? como o primeiro filme genuinamente alagoano, o título cabe a O Bravo do Nordeste, dirigido pelo pernambucano Edson Chagas e rodado inteiramente em União dos Palmares. O filme – exibido no dia 8 de maio de 1931, no Cine Capitólio – se perdeu, não existindo mais nenhum registro sobre ele.

Morre em Maceió o historiador e professor Nicodemos de Souza Moreira Jobim. Natural de Anadia, onde nasceu em 29 de novembro de 1836, foi professor público primário durante 28 anos, tendo se aposentado quando dava aulas em Maceió. Exerceu também a advocacia na qualidade de rábula e foi membro correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IGHAL), onde foi patrono da cadeira 49. Foi ainda colaborador do Diário de Alagoas em sua primeira fase, iniciada no dia primeiro de março de 1858. Nicodemos de Souza é autor de História de Anadia, lançado em Maceió pela Typographia Social de Amintas & Filho, em 1881. Nela, o autor traz descrição topográfica, nomes de todos os funcionários públicos, biografia de alguns de seus representantes, anais da igreja e genealogia das principais famílias da província.

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FOTO: ISABELLA MATHEUS (2011)/REPRODUÇÃO

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MEMÓRIAS DO ESQUECIMENTO

Em 1892, nascia, em Lagoa da Canoa, então pertencente ao município de Arapiraca, o médico, artista plástico e crítico de arte Virgílio Maurício da Rocha. Filho de Antônio Maurício da Rocha e Maria José de Mello Rocha, iniciou a carreira artística aos quinze anos com o pintor alagoano Rosalvo Ribeiro (1865-1915), a quem muito admirou por toda a vida, em especial pelos ensinamentos relacionados às normas do desenho. Pouco conhecido em Alagoas, viaja para Paris em setembro de 1912 – depois de ter exposto algumas vezes no Brasil –, a fim de continuar os estudos. “Uma parcela da produção artística nacional realizada entre o final do século 19 e as duas primeiras décadas do século 20 permaneceu praticamente obscurecida durante grande parte do século passado”, informa Ana Paula Nascimento, do Comitê Brasileiro de História da Arte da Pinacoteca de São Paulo. “Entre os artistas que podemos enquadrar nesse segmento situa-se Virgílio Maurício da Rocha, que além da produção artística, teve obliterada toda a sua criação literária ligada à crítica de arte”, acrescenta. Em Paris, produz obras que se tornaram referências de sua arte, entre elas Après le rêve (Depois do sonho), que conquistou a terceira medalha no Salon de la Société Nationale des Artistes Français, 1913, primeiro ano em que expõe na França; e L’heure du goûter [A hora da merenda], que participaria do mesmo Salon no ano seguinte, recebendo críticas positivas e tem a imagem reproduzida no livro Le nu au Salon, de Georges Normandy, publicado em 1914. BOATOS No retorno ao Brasil, Virgílio Maurício realiza, em 1916, no salão nobre do Teatro Santa Isabel, uma exposição no Recife com obras de 6

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L’heure du goûter (1914) óleo sobre tela, de Virgílio Maurício. Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo.

sua autoria e de seus alunos. Na ocasião, surge na imprensa a denúncia de que o principal quadro da mostra, L’heure du goûter, não era de sua autoria. A boataria espalhou-se, com partidários do artista e contrários. Enquanto isso, no Rio de Janeiro, corria o comentário de que as obras expostas no Recife haviam sido encomendadas em Paris a hábeis

pintores, cabendo a Virgílio Maurício apenas assinar. Foi então desafiado pelo também pintor Guttmann Bicho (1888-1955) a executar uma pintura em público, o que poria um ponto final na discussão. Indignado, Virgílio Maurício recusou a proposta, que no seu entender equivaleria a uma humilhação. O AUGE Pintor de gênero, de figuras e de paisagens, Virgílio Maurício se destaca por suas pinturas em nus femininos, alguns deles expostos em salões franceses. Atualmente, duas de suas obras fazem parte do acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo.

OBRAS DOADAS Après le rêve e L’heure du goûter, as duas obras de Virgílio Maurício que fazem parte do acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, foram doadas ao Museu entre 1974 e 1975, em nome da família do professor Miguel Maurício da Rocha, irmão do artista. “Para os da família, isto representa muito, dada a promoção artística que poderá advir à obra artística de Virgílio Maurício viajou diversas vezes Virgílio Maurício, basà Europa e residiu em muitas cidatante desconhecida da des brasileiras, como Recife, Rio de geração atual. [...] De Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, certa maneira, isto sigonde faleceu em 13 de dezembro de nifica também cultuar a 1937, ano em que organizara e particimemória do artista”, espara da exposição do Grupo Almeida creveu a viúva de Miguel Júnior, na capital Paulista. Maurício, Maria Cecília Maurício da Rocha para Alfredo Gomes, por ocasião da doação, em 18 de agosto de 1975.

Você sabia?


FOTO: IBGE

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A GRANDE FEIRA

Em 1954, a vila de Feira Grande, formada por Francisco José Gonçalves, foi emancipada politicamente e, até o fim do mês, seria desmembrada de São Brás, recebendo o status de município pelo governador Arnon de Mello. Antes de se chamar Feira Grande, o local receberia o nome de Mocambo. No entanto, a feira de rua da região cresceu com a chegada dos operários que trabalhavam na construção do ramal da Rede Ferroviária do Nordeste, que ligava Palmeira dos Índios a Porto Real do Colégio. A

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grande feira então impulsionou a economia local e deu origem ao nome da cidade. OS NEGROS O primeiro nome do povoado faz referência às comunidades quilombolas – chamadas de mocambos – de escravos fugidos das fazendas na região do São Francisco. Apesar de não existir registro de um possível ajuntamento de escravos na região, além do famoso Quilombo de Palmares, sabe-se que houve resistência negra

ESSENCIALMENTE POÉTICO

Nascia, no bairro do Jaraguá, em 1881, o poeta José Maria Goulart de Andrade. Precoce, escreveria os primeiros versos aos 16 anos – quando já morava no Rio de Janeiro. Esperançoso, enviou a produção – um conjunto de 12 sonetos – para o irmão Eusébio, em Maceió, com a intenção de vê-los publicados no jornal O Gutemberg. Na época, apenas Colo foi aceito. Companheiro de boemia de Olavo Bilac, Emílio de Menezes e de seu conterrâneo Guimarães Passos, Goulart de Andrade escrevia em antigas formas, como o rondó, o canto real, a balada e o vilancete. Por isso, é considerado um dos últimos representantes do parnasianismo brasileiro. Mas não por unanimidade. Sobre isso, Carlos Moliterno transcreveu, em artigo, a opinião de Fernando Góes, afirmando que Goulart não era parnasiano, mas sim um pré-modernista. Sobre a questão, Alberto de Oliveira falou ao próprio Goulart de Andrade, no seu discurso de recepção à Academia Brasileira de Letras, onde ocupou a cadeira de numero 6. “Não sois propriamente um parnasiano, porque este nome mal vos cabe ou a qualquer de nós. Sois um poeta de boa educação literária. Do gosto pelas regras da arte e bom-senso, vosso livro de estreia deunos desde logo sobejas provas”.

Tigre, Gregório da Fonseca, Oswald de Andrade, Guimarães Passos e outros intelectuais da época na Confeitaria Colombo, no Centro do Rio de Janeiro. O grupo de boêmios parnasianos era bem recebido pelo dono da confeitaria, Manuel José Lebrão, que oferecia de bom grado as mesinhas de chá para os homens que enriqueceriam a literatura brasileira no século 20. Em 1914, reunidos na Colombo, os escritores tiveram a ideia de uma associação em defesa dos direitos autorais. Fundaram então a Sociedade Brasileira dos Homens de Letra, com o objetivo de defender seus interesses, já que jornais e revistas não remuneravam colaborações literárias. Naquela época, os editores faziam o

em diversas partes. OS ÍNDIOS Os Tingui-Botó, grupo indígena reconhecido em 1980, habitam o povoado de Olho d’Água do Meio, em Feira Grande. A comunidade teve a identidade étnica resgatada pelo professor Clovis Antunes, da Universidade Federal de Alagoas, que enviou documentação à Fundação Nacional do Índio (Funai). Os Tingui-Botó são identificados como Kariri. O nome foi dado por João Botó, que se instalou no povoado em meados de 1940. Tingui tem origem numa árvore com este nome, usada no acampamento construído em Olho d’Água do Meio. A língua falada é o “dzubukuá”. PRESERVAÇÃO Em 1983, a Funai instalou um posto indígena na área e, até o final da década, comprou 121,1 hectares para preservar o segredo do Ouricuri, um ritual que deve ser protegido das populações não indígenas. Atualmente, a tribo tem 500 índios, que sobrevivem da caça, da pecuária e da agricultura, baseada principalmente na batatadoce.

Você sabia? Na aldeia do Tigui-Botó só é permito residir índios. Portanto, quando há casamento entre branco e índio, o branco tem que residir fora da aldeia.

“favor” de publicar os livros e dar alguns exemplares de presente para o autor. BILAC VÊ ESTRELAS A sede da sociedade funcionaria no quinto andar de um edifício na Rua Gonçalves Dias, onde podia se encontrar infalível, das 16h às 19 horas, o poeta Olavo Bilac. Para financiar a mudança de sede – os recursos financeiros eram escassos, na época – Bilac pensou numa festa da arte e escolheu a peça Os Deuses de Casaca, de Machado de Assis, para encenar com seus colegas poetas. Goulart de Andrade seria Mercúrio; Bilac, o Prólogo; Coelho Neto, o Epílogo; Emílio de Menezes, Júpiter. Apesar do afinco e dedicação de seu idealizador, que chamou o ator João Barbosa para ensaiar o elenco, o espetáculo não chegou a acontecer. Olavo Bilac se afastou da Sociedade depois da trágica morte do amigo Aníbal Teófilo, assassinado pelo escritor Gilberto Amado.

AS PRIMEIRAS LETRAS O filho de Manuel Cândido Rocha de Andrade e Leopoldina Pimentel Goulart de Andrade aprendeu as primeiras letras com o professor Ângelo Barbosa e um tio. Com o professor Adriano Augusto de Araújo Jorge, cursou humanidade em Maceió. Aos 16 anos entrou para a Escola Naval, no Rio de Janeiro. Mas por ter sido hóspede de Floriano Peixoto, foi perseguido e abandonou a Marinha. Cursou Engenharia na Escola Politécnica e exerceu a profissão na Prefeitura do Distrito Federal. Depois, trabalhou como redator de debates da Câmara dos Deputados e diretor do Ginásio Pio Americano. BOÊMIOS DA COLOMBO Nos fins de tarde, Goulart de Andrade se juntava a Olavo Bilac, Emílio de Menezes, Bastos

Roda de intelectuais na Confeitaria Colombo – Goulart de andrade é o terceiro da direita para a esquerda ALMANAQUE

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A EDUCAÇÃO COMO BANDEIRA

O Poeta, professor e cronista Ulysses Batinga nasce em 1889, na cidade de Penedo. Formado em direito no Recife, foi desembargador do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul e teve participação ativa na educação e imprensa penedenses. Faleceu em Maceió, no dia 01 de novembro de 1918. LITERÁRIO E RECREATIVO Ulysses Batinga foi diretor de A Escola, periódico do Externato José Batinga, instituição de ensino dirigida por ele. Lançado em Penedo em 15 de junho de 1910, o jornal – que trazia o subtítulo de “Literário e recreativo” – contava com colaboração de Osmar Gomes, Rodrigo Lyra, Mario Rêgo, José Octacilio, José Melchiades de Lima, Aureliano Lessa, Luis Gama, Murilo Silva, Luis Martins, Americo Medeiros e Julio de Sant’Anna. Com quatro páginas, o periódico trazia diagramação em três colunas, utilizando fios e alguns ornamentos que funcionam como recurso para a orientação da leitura. A última página era montada em duas colunas, também separadas por um fio, onde podiam ser encontradas várias propagandas de colégios e externatos da região, proporcionando ao leitor, tomar conhecimento

das disponibilidades pertinentes a cada um. ENSINO INTUITIVO Entre os anúncios veiculados em A Escola, aparecia a propaganda do próprio Externato José Batinga, que se situava na Rua do Rosário, 23. Entre as vantagens da escola estava listada o uso do método americano de ensino intuitivo, elaborado por Norman A. Calkins para o ensino da leitura. Entre uma das vantagens do método ressaltava que a sua tradução para a língua portuguesa era atribuída a Rui Barbosa em 1881. ESCRIVÃO DE POLÍCIA Em sua edição de 27 de agosto de 1909, o jornal O Cruzeiro – periódico penedense dirigido por Aguiar Brandão – dizia que Ulysses Batinga era um dos mais brilhantes talentos da terra. “Exímio burilador do verso, tem produzido trabalhos dignos de figurar entre as mais finas gemas do Parnaso brasileiro, já tendo dado à estampa um livro de poemas”, enaltecia a publicação, referindo-se a Nardos, obra lançada naquele mesmo ano. “(O autor) É professor e escrivão de policia, o que, apesar dos pesares, não afugenta as musas que não receiam seus autos de flagrante”, acrescentava o jornal.

“Educar a alma da mocidade penedense, prepará-la para os fortes embates da vida, para as supremas conquistas da Luz; temperar-lhe o caráter; emancipála de toda a sorte de preconceitos perniciosos e obsoletos; falarlhe de uma sociedade melhor, a do futuro, assentada sobre bases sólidas, seguras, escorreita dessas monstruosidades que as sociedades hodiernas abortam; incutir-lhe no coração o amor abnegado e sincero da Justiça e da Verdade; abrir-lhe, enfim, todos os pórticos que dão para a vida comum, para que ela possa seguir, senão perfeita, pelo menos, já a passos largos e firmes na ampla estrada da Perfeição”. ULYSSES BATINGA, POETA, PROFESSOR E CRONISTA

A TERRA 10 DOS XUCURUS

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A origem de Palmeira dos Índios, seja pela história ou pela mitologia, remete aos seus primeiros habitantes, os Xucurus. Pelos registros, esses indígenas foram os primeiros a se estabelecer nas serras cheias de palmeiras da região. Mas a cultura popular fala também do casal de índios Tilixi e Tixiliá. A lenda conta que Tixiliá estava prometida ao cacique Etafé, mas apaixonada pelo primo Tilixi. Depois de um beijo proibido, o índio foi condenado à morte por inanição. E Tixiliá, ao visitar o amado, foi atingida por uma flecha de Etafé, morrendo ao lado de Tixili. Uma palmeira nasceu no local e passou a simbolizar o amor do casal Xucuru. POVOAMENTO Os índios Cariris chegaram ao lugar depois e conviveram pacificamente com os Xucurus, preservando sua identidade cultural. Mas com o tempo, os dois povos indígenas foram se miscigenando e deram origem à nova etnia Xucurucariri. A aldeia começou a tomar forma de cidade com a chegada do missionário franciscano Frei Domingos de São José. O religioso conseguiu a doação de meia légua – cerca de 2,5 km – e convenceu os índios a se transferirem para o sopé da serra, onde foi construída uma nova capela e o povoado se desenvolveu ao redor. A antiga freguesia conquistou sua emancipação política em 10 de abril de 1835, quando foi desmembrada de Atalaia. Mas, por causa da violência política, Palmeira dos Índios perdeu o status de vila em 1853. Só foi elevada à cidade em 20 de agosto de 1889. RASTRO DE ÓDIO A tumultuada e sangrenta vida política de Palmeira dos Índios interferiu tanto na geografia 8

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quanto na economia da cidade, a começar pela rixa entre o juiz de paz José Daniel Carneiro e o vigário José Caetano de Morais. Por causa do clima tenso entre eles, o presidente da Província Agostinho da Silva Neves mandou ao município, em missão de paz, o major Manuel Mendes da Fonseca. A promessa de paz estabelecida entre ele acabou quando o juiz de Direito de Anadia, Fonseca Lessa, foi assassinado. Sabendo da rixa desse com Caetano de Morais, Daniel Carneiro acusou o padre e seu sobrinho, o tenente-coronel Tavares Bastos, do crime. Para se vingar de Daniel Carneiro, o padre José Caetano de Morais, com sua influência política, conseguiu aprovar a Lei nº 7, de 11 de julho de 1839, que separava Palmeira dos Índios de Flexeiras, Caldeirões de Baixo, Lages e Gravatá-Assu, incorporando essas regiões a Viçosa. Assim, Daniel Carneiro e seus aliados saíram do munícipio. As tensões políticas, no entanto, não acaba-

ram. Em 1844, durante a rebelião dos Lisos e Cabeludos, José Caetano de Morais foi assassinado num conflito com seus rivais, os cabeludos. O Major Cobra tinha recebido ordens para levar o vigário preso à capital, mas Caetano de Morais foi morto no tiroteio. Em consequência, várias famílias deixaram a região e Palmeira dos Índios voltou à condição de povoado, desta vez anexado a Anadia. O BARÃO SEM TÍTULO Paulo Jacinto Tenório era coronel comandante da Guarda Nacional em Palmeira dos Índios e foi agraciado com o título de Barão em 28 de agosto de 1889, mas não chegou a receber o título porque, logo após a proclamação da república, todos foram extintos. O município de Paulo Jacinto passou a ter esse nome por sugestão da direção da empresa ferroviária inglesa Great Western em homenagem a Paulo Jacinto Tenório, que doou as terras para a passagem da ferrovia.


Você sabia?

UMA OUTRA 12 ESTAÇÃO

Nas primeiras transmissões em Maceió, segundo o historiador alagoano Moacyr Medeiros de Sant’Ana, foram usados dois aparelhos Siemens Others.

DIA

A Estação Telegráfica de Maceió começa a funcionar em 1873, no bairro de Jaraguá, 21 anos depois de a primeira linha ser inaugurada no País, no dia 11 de maio de 1852. A primeira experiência partia do Palácio de São Cristóvão para o Quartel Central do Campo da Aclamação – atual Campo de Santana, no Rio de Janeiro. Sem inauguração oficial, a Estação Telegráfica de Maceió era ligada à estação de Itapemirim, que possibilitou a solução de continuidade para o município alagoano. No mesmo ano de 1873, foram entregues 218 quilômetros de tráfego que ligariam a estação alagoana a do Recife, em Pernambuco.

“A linha que interligou as províncias do Rio de Janeiro e de Pernambuco foi construída por partes, com trechos distintos ao longo do trajeto, que foram progressivamente sendo interligados”, explica o historiador Mauro Costa e Silva. PRIMEIROS TEMPOS Os primeiros ensaios para a introdução do telégrafo elétrico no Brasil datam de 1851, e contaram com o incentivo do Ministro da Justiça, Eusébio de Queiroz Coutinho Mattoso Câmara (1812-1868), e o apoio de um personagem central no desenvolvimento da tele-

grafia no país, Guilherme Schüch de Capanema (1824-1909), lente de física da Escola Central. Nos primeiros tempos após a implantação da primeira linha telegráfica, em 1852, pouco ou quase nada se fez quanto à construção de novas linhas. Em 1854, foi elaborado um projeto para construção das primeiras estações telegráficas na Corte do Rio de Janeiro. PARA SABER MAIS | SILVA, Mauro Costa e. A telegrafia elétrica no Brasil Império – ciência e política na expansão da comunicação. Revista Brasileira de História da Ciência. Rio de Janeiro, v. 4, n. 1, p. 49-65, jan | jun 2011.

UM ÓRGÃO 14 CONSERVADOR

DIA

Surge em Maceió, no dia 14 de abril de 1912, o jornal O Alagoas, que se denominava órgão conservador. Dirigido por Antônio Nunes Leite, o periódico contou com a colaboração de nomes como Jayme de Altavila, Delorizano Moraes e Fernando de Mendonça. Editado pela Typographia T. de Menezes, era publicado as quartas, sextas e domingo. O ATENTADO No dia 07 de dezembro de 1914, Antônio Nunes Leite seria espancando aparentemente por desconhecidos. Dois dias depois do ocorrido, publicou no jornal um boletim relatando os fatos e informando da suspensão da publicação “por falta de garantias”. Desta forma, O Alagoas deixaria de ser publicado definitivamente no início de 1915. ANTOLOGIA O jornalista, professor e veterinário Delorizano Morais (1895-1946), um dos colaboradores de O Alagoas, foi diretor da Defesa Sanitária Animal no Ceará e em Alagoas. Além disso, contribuiu para periódicos como a Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro, e deixou esparsas várias publicações em periódicos brasileiros. Com o soneto Fá, de sua autoria, Adalberto Marroquim encerrou a antologia dos poetas alagoanos no Álbum Terra das Alagoas. ALMANAQUE

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GLÓRIA À TERRA 14 DE ALAGOAS

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Em 1861 nascia, em Maceió, Luiz Mesquita, bacharel em direito, jornalista e poeta. Na magistratura, foi promotor das comarcas Porto Calvo, Alagoas (atual Marechal Deodoro) e Pilar. Na Política, foi deputado federal entre 1913 e 1917. Como jornalista, contribuiu com o Diário da Manhã, Gazeta de Alagoas, Gazeta de Notícias, O Momento, O Gutenberg, A Tribuna e Jornal de Alagoas, sempre com um dos seus pseudônimos: Mr. Louis, Yann ou Xisto. Em 27 de março de 1894 ganhou a disputa para a escolha do Hino Oficial do Estado, escrito por ele e musicado por Benedito Raimundo da Silva (o Benedito Piston). Concorreram também Misal Domingues, com o Primeiro Hino do Estado de Alagoas, Pedro Adolfo Diniz Macedo, Tito Rodrigues Fróes, José Barbosa de Araújo Pereira e José Alves da Silva.

ESTRELA RADIOSA Em sua letra, o hino oficial de Alagoas exalta os heróis e os filhos da terra: Alagoas, estrela radiosa, Que refulge ao sorrir das manhãs, Da República és filha donosa, Maga Estrela entre estrelas irmãs. A alma pulcra de nossos avós, Como benção de amor e de paz, Hoje paira, a fulgir, sobre nós, E maiores, mais fortes nos faz. Tu, liberdade formosa, Gloriosa hosana entoas: - Salve, ó terra vitoriosa, - Glória à terra de Alagoas! Esta terra que há que idolatre-a Mais que os filhos que filhos lhe são? Nós beijamos o solo da Pátria, Como outrora o romano varão! Nesta terra de sonhos ardentes Só palpitam, como almas de sóes, Corações, corações de valentes, Almas grandes de grandes heróis! Tu, liberdade formosa, Triunfal hosana entoas: - Salve, ó terra gloriosa, - Berço de heróis! Alagoas!

Brasão de armas do Estado de Alagoas em 1894

Ide, algemas que o pulso prendias D’esta Pátria, outros pulsos prender! Nestes céus, nas azuis serranias, Nós, só livres, podemos viver... E se a luta voltar, hão-de os bravos Ter a imagem da Pátria por fé! Que Alagoas não procria escravos: Vence ou morre!... Mas sempre de pé!

LIBERDADE FORMOSA

Tu, liberdade formosa, Ridentes hinos entoas: - Salve, ó terra grandiosa, - De luz, de paz, Alagoas!

Luiz Mesquita também é autor do Hino Abolicionista, que foi entoado em coro em 28 de setembro de 1881 - quando se comemorava o 10º aniversário da Lei do Ventre Livre –, durante a instalação, no Teatro Maceioense, na Rua da Imperatriz (atual Rua do Sol), da Sociedade Libertadora Alagoana, cujo autor era um dos sócios da organização. Com música do maestro Joaquim Antônio de Almeida Crispim, os versos do hino abolicionista ressaltavam:

Salve, ó terra que entrando no templo, Calma e ovante, da Indústria te vás; Dando às tuas irmãs este exemplo, De trabalho e progresso na paz!

Parabéns! Estranha aurora Vem brotando em céu de anil! É a ideia redentora Do futuro do Brasil!

Resgatemos os hilotas Ao fugir da abolição, Para chegarmos, patriotas, Ao porvir a à Redenção!

Sús! os hinos de glórias já troam!... A teus pés os rosais vêm florir!... Os clarins e as fanfarras ressoam, Te levando em triunfo ao porvir!

Voluntários sacrossantos! Tiradentes redivivos! Todo o pranto, em nossos mantos, Enxuguemos dos cativos!

Tu, liberdade formosa, Ao trabalho hosana entoas! - Salve, ó terra futurosa, - Glória à terra de Alagoas!

Hasteemos a bandeira Que nos há de redimir! E à sombra hospitaleira Toquemos a reunir!

Coro: Eia! A luta, falange de bravos Que’ssa é luta é justiça e dever. Quem cair defendendo os escravos Tornará pela glória d’erguer!

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À MARGEM ESQUERDA 18 DO SÃO FRANCISCO

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Penedo foi elevada à cidade no dia 18 de abril de 1842, mas sua posição estratégica à margem do São Francisco, a 44 km da foz do rio, lhe concedeu importância política desde as primeiras décadas de Brasil, precisamente em 9 de março de 1535, quando o primeiro donatário, Duarte Coelho, deu início ao povoado. Já com o status de vila, Penedo foi invadida por Maurício de Nassau em 1637. Perseguindo tropas portuguesas em fuga para Salvador, o holandês percebeu a importância estratégica do local, que passou a se chamar Maurícia. O holandês construiu um forte e deixou 1600 homens comandando a região. A vila de Penedo d0 Rio São Francisco só foi retomada em 1645, depois da partida de Nassau. A posição geográfica continuou garantindo o desenvolvimento socioeconômico da cidade durante o século seguinte. Enquanto o transporte por via terrestre era precário, a navegação fluvial fez de Penedo ponto de convergência comercial da região. Só depois das estradas de ferro e, principalmente, com a conclusão da ponte que ligava Porto Real do Colégio à cidade de Propriá, em Sergipe, é que o tradicional município foi perdendo sua importância e prestígio. VISITA DO IMPERADOR Ainda em sua fase áurea, Penedo recebeu o visitante mais ilustre de sua história. Às 5 horas da tarde do dia 13 de outubro de 1859, chegou à cidade ribeirinha o Imperador Dom Pedro II, vindo da Bahia a caminho da Cachoeira de Paulo Afonso. Foi recebido pelos presidentes das Províncias de Alagoas e Sergipe, presidente da Câmara Municipal e o Juiz de Direito do Penedo. Sem desembarcar, D. Pedro II partiu para uma visita a Piaçabuçu na manhã seguinte. À uma hora da tarde já estava de volta a Penedo. Desembarcou no cais dos comerciantes e seguiu

a cavalo até o Paço Imperial. O Imperador visitou igrejas, prédios públicos, fábricas, o hospital e a Cadeia. Sobre a cidade, D. Pedro II escreveu: “O local é muito bonito, e creio que deveria estar aqui a Capital da Província”. Em 16 de outubro embarcou novamente e deu continuidade às visitas pelas cidades ribeirinhas até chegar a Paulo Afonso, no dia 20. Depois de receber uma carta da Imperatriz, D. Pedro II volta o quanto antes a Bahia, onde estava Dona Teresa Cristina. Fazendo caminho de volta, às 9 horas do dia 24, já estava novamente em Penedo. Depois das homenagens no cais, seguiu para o Paço Imperial, almoçou com as autoridades e às 2h já estava voltando para o navio. O PAÇO IMPERIAL Para receber D. Pedro II, foi escolhida a propriedade da viúva de Luiz José da Silva Lemos, e seus filhos ficaram encarregados de preparar a residência para receber o Imperador. “As três salas da frente, esteiradas e mobiliadas com gosto, sendo a do meio dourada, estavam lindíssimas. Na última sala, havia o quarto de dormir de Sua Majestade, com uma bonita cama francesa, com cortinado de lindo bordado, lavatório de mogno, com pedra mármore, e o quarto todo tapetizado; passando-se depois para um pequeno quarto, onde se preparou um bonito ‘toilete’, arranjado com arte e com gosto”, descrever-se-ia à época. O RESGATE CULTURAL Na tentativa de resgatar a relevância de Penedo, impactada pela inauguração da ponte ligando Alagoas a Sergipe, o Departamento de Assuntos Culturais da Secretaria de Educação e Cultura de Alagoas criou o Festival do Cinema Brasileiro de Penedo. A estratégia deu certo e o evento teve oito edições consecutivas, com

filmes em Super-8, 16 mm e 35mm na sua programação. A 9º e última edição do festival foi realizada em 2013. O I Festival foi realizado entre 9 e 12 de janeiro de 1975 e seis filmes disputaram a mostra competitiva em Super-8: Crise, de Joaquim Alvez; Encontro com Pierre Chalita, de Júlio Simon; Palmeira em Foco, de Edson Silva; Festa de Bravos – Vaquejada, de Denício Calixto, A Maldição de Klemenn, de Mário Jorge Feijó e Reflexos, de Celso Brandão. Os vencedores, sem ordem de classificação, foram Crise, A Maldição de Klemenn e Reflexos. O festival fomentou a produção cinematográfica em Alagoas, especialmente em Super-8. No encerramento da oitava edição, o crítico de cinema Manuel Miranda Júnior, do Jornal de Alagoas, assinalou a criação de um Núcleo de Produção Cinematográfica em Alagoas e pediu o apoio dos órgãos culturais do Estado. O projeto, no entanto, não foi adiante. Em dezembro de 1982, quando se organizava a nona edição do evento, a Comissão Executiva decidiu não realizar o Festival de Cinema Brasileiro no ano seguinte porque faltava infraestrutura à cidade. UM NOVO COMEÇO Em 2016, Penedo voltaria a abrigar mais uma edição do Festival Brasileiro de Cinema. Realizado entre os dias 29 de novembro e 3 de dezembro, o evento recebeu artistas renomadas, entre elas a atriz Alice Braga, que tem no currículo filmes como Ensaio Sobre a Cegueira, Cidade Baixa e Elysium. Além dela, estiveram no evento a atriz Bianca Comparato, que estrelou 3%, a primeira série brasileira do Netflix. PARA SABER MAIS | BARROS, Elinaldo. Panorama do cinema alagoano. 2ª edição revista e ampliada. Maceió: Edufal, 2010. ALMANAQUE

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JORGE 23 DE LIMA DIA

“Há poetas que fazem da poesia um acontecimento lógico, um exercício escolar, uma atividade dialética. Para mim a Poesia será sempre uma revelação de Deus, dom, gratuidade, transcendência, vocação”. JORGE DE LIMA

O MUNDO DO MENINO IMPOSSÍVEL Num dia comum de 1893, no município de União dos Palmares – berço de Zumbi, o rei negro do Quilombo – nascia Jorge Mateus de Lima, uma criança incomum, que seria considerada, mais tarde, um dos maiores poetas e romancistas brasileiros. Não por acaso, receberia, em 1921, o título de Príncipe dos Poetas. Artista plástico, ensaísta, médico e político, Jorge de Lima construiu uma obra literária que passou por algumas transformações estéticas, 12 ALMANAQUE

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demonstrando uma consciência de leitura e afinada com os diversos meios de expressão artística, tanto literários, em seus modos narrativos e poéticos, como plásticos. Fez o ginásio e o segundo grau em Maceió e com apenas 15 anos, matriculou-se na Faculdade de Medicina da Bahia, curso que concluiria no Rio de Janeiro, em 1914. Na década de 1920, enquanto trabalha como professor de história natural e depois de litera-

Na imagem, Jorge de Lima é retratado por Cândido Portinari (1937)

tura brasileira em colégios de Maceió, envolvese com a política e ocupa os cargos de deputado e vereador. Em 1931, muda-se para a cidade do Rio de Janeiro, onde exerce a medicina em seu próprio consultório - que também funcionava como ateliê e local de reunião de artistas e intelectuais. Em 1939, aprimora-se em pintura frequentando o ateliê da artista Sylvia Meyer (1889 1955).


XIV ALEXANDRINOS

Até a sua morte, no dia 15 de novembro de 1953, Jorge de Lima publicou uma obra poética vasta, que começa em sua infância, e que tem como marco inicial os XIV Alexandrinos, de 1914, nos quais ainda demonstra a formação parnasiana. “Dessa obra, ficou famoso o soneto O acendedor de lampiões, poema de cunho social que chamou atenção da crítica”, ressalta Bianca Cristina de Carvalho Ribeiro, mestra em Estudos Literários da Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista de Araraquara. Sua obra se caracteriza pela grande variedade de gêneros, temas, formas e estilo, o que justifica a divisão de sua poesia em fases: a parnasiana, a regional ou afro-nordestina; a católica; e a órfica ou hermética. “A audácia experimentativa que Jorge de Lima apresentou em suas obras é paralela à de sua vida. O alagoano foi em vida tão multifacetado quanto em sua obra”, lembra Bianca Cristina.

LUXO E RARIDADE

Os Poemas Negros foram publicados esparsamente no fim dos anos 1929 e reunidos em livro somente em 1947 – numa edição de luxo com prefácio de Gilberto Freyre e ilustrações de Lasar Segall. Na obra, o poeta insere elementos da cultura africana em sua poesia, resgatando a expressão regional e folclórica. Ele se consagraria novamente com Essa Nêga Fulô, poema conhecido pela musicalidade. O mundo do menino impossível, de 1927, é considerado atualmente uma raridade. A obra foi inicialmente publicada em edição autônoma de 300 exemplares, pelas Edições Casa Trigueiros. Com capa e ilustrações do próprio autor, o livro teve os desenhos coloridos pelo irmão de Jorge de Lima, Hildebrando de Lima. Com a obra, Jorge de Lima inaugura uma nova linguagem poética, em concordância com as inovações proclamadas pelo modernismo, tais como o uso do verso livre e a inserção de elementos coloquiais nos poemas. “A pequena tiragem da edição príncipe desse poema, cuja composição gráfica foi terminada no dia 10 de junho de 1927, aliada à circunstância de haver sido impressa em papel poroso, papel bufã, com o passar dos anos tornado quebradiço, certamente explica o motivo da tal raridade, contribuindo para torná-la desconhecida da maioria dos nossos historiadores e críticos literários, muitos dos quais registraram a obra como impressa no ano de 1925”, ressalta o historiador Moacir Medeiros de Sant’Ana.

TEATRO E CINEMA

O grande circo místico, um dos poemas de Jorge de Lima presentes em A túnica inconsútil, de 1938, foi adaptado para o teatro por Naum Alves de Souza no início da década de 1980. Com trilha sonora de Chico Buarque e Edu Lobo, o espetáculo – que mescla balé, ópera, circo, teatro e poesia – estreou no dia 17 de março de 1983. O poema também foi adaptado para o cinema pelo cineasta alagoano Cacá Diegues, em 2017. Rodado em Portugal – onde a presença de animais em circo é permitida – a obra traz no elenco Jesuíta Barbosa, Bruna Linzmeyer, Antônio Fagundes, Juliano Cazarré, Vincent Cassel e Mariana Ximenes, entre outros.

JORGE NO SAMBA

No carnaval de 1975, a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira fez uma homenagem ao poeta com o tema “Imagens poéticas de Jorge de Lima”, samba-enredo escrito por Tolito, Mozart e Delson e puxado por Jamelão. Naquele ano, a Mangueira conquistaria o segundo lugar no desfile: IMAGENS POÉTICAS DE JORGE DE LIMA Na epopeia triunfal Que a literatura conquistou Em síntese de um sonho O poeta tão risonho Assim se consagrou ô ô ô Ôôôôô Esta é a Nêga Fulô Uma obra fascinante Que o poeta tão brilhante O povo admirou Jorge de Lima em Alagoas nasceu Ouviu tudo dos antigos O que aconteceu Com os escravos na senzala E no Quilombo dos Palmares Foi um sábio que seguiu as tradições Com seus versos poemas e canções Boneca de pano a joia rara Calabar e o acendedor de lampiões Zumbi, Floriano e Padre Cícero Lampião, é o pampa, é o amor.

O ACENDEDOR DE LAMPIÕES Lá vem o acendedor de lampiões da rua! Este mesmo que vem infatigavelmente, Parodiar o sol e associar-se à lua Quando a sombra da noite enegrece o poente! Um, dois, três lampiões, acende e continua Outros mais a acender imperturbavelmente, À medida que a noite aos poucos se acentua E a palidez da lua apenas se pressente. Triste ironia atroz que o senso humano irrita: – Ele que doira a noite e ilumina a cidade, Talvez não tenha luz na choupana em que habita. Tanta gente também nos outros insinua Crenças, religiões, amor, felicidade, Como este acendedor de lampiões da rua!

A PINTURA EM PÂNICO FOTOMONTAGENS DE JORGE DE LIMA

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OLHOS DE QUEM 23 QUER VIVER DIA

Rosa Cavalcanti Pontes de Miranda tinha menos seis meses de gestação quando deu a luz, em 23 de abril de 1892, a Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, em São Luiz do Quitunde. Sua Tia Francisca, que acompanhou o parto e cuidou dele, dizia: “Francisquinho tem olhos de quem quer viver e vai viver muitos anos”. Tornou-se diplomata, ensaísta e um dos principais juristas do país. Morreu em dezembro de 1979, aos 87 anos. O pai, Manoel Pontes de Miranda, e o avô, Joaquim Pontes de Miranda, foram os responsáveis pelos primeiros estudos de Francisco. Os dois eram bacharéis em matemática e aos 16 anos, o mais jovem Pontes de Miranda continuaria a tradição familiar indo estudar matemática e física em Oxford, na Inglaterra. Mas, mais uma vez, sua Tia Francisca exerceria um papel decisivo em sua vida, convencendo-o a não ir para a universidade inglesa e iniciar o curso de Direito. Francisco entrou para a Faculdade de Direito do Recife em 1907 e, em 1911, aos dezenove anos, se tornou bacharel em Direito e Ciências Sociais. Ao voltar para Maceió, novamente frustrou os desejos de sua família ao recusar o cargo de diretor do banco Caixa Mercantil. Decidiu ir para o Rio de Janeiro e advogar. Lá, contribuiu para o Jornal do Comércio e lhe foi cedido pelo diretor um escritório no prédio para que pudesse exercer a profissão de advogado. A OBRA Ainda no segundo ano do curso de Direito, no Recife, Pontes de Miranda iniciou, à mão, seu primeiro livro, À Margem do Direito, seguido de A Moral do Futuro. Sua bibliografia, no total, soma 29 títulos que se alongam em 144 volumes. Desses, 128 são sobre Direito, mas também escreveu sobre sociologia, filosofia, psicologia, política e poesia. Em 1923, o então Presidente da República Artur Bernardes, impressionado pelo livro Sistema de Ciência Positiva do Direito, o nomeou conselheiro da delegação brasileira na V Conferência Internacional Americana, no Chile. Depois, Pontes de Miranda foi convidado para ser embaixador da Tchecoslováquia, mas não aceitou por não saber a língua daquele país. Foi nomeado então Juiz de Testamento e, em seguida, desembargador. UM JURISTA NA ACADEMIA Suas publicações lhe renderam não só uma prestigiada carreira jurídica como também o prêmio concedido pela Academia Brasileira de Letras por A Sabedoria dos Instintos e a láurea da erudição por Introdução a Sociologia Geral. Pontes de Miranda foi o sexto ocupante da cadeira 7 da Academia Brasileira de Letras, onde tomou posse no dia 8 de março de 1979. MATEMÁTICA E EINSTEIN Os estudos em matemática, incentivados pelo pai e o avô, continuaram presentes na vida de Pontes de Miranda, mesmo depois de optar pela carreira jurídica. Em 1924, com 32 anos, ele escreveu uma correção à Teoria da Relatividade de Einstein e a enviou ao Congresso de Filosofia de Nápoles, em 1925. Devido o Brasil não estar inscrito no evento, teve que enviar o trabalho pela entidade científica Kaiser Wilhelm Stiftung, de Berlim, o que colocava Pontes de Miranda no mesmo patamar de Albert Einstein, que leu, aceitou e agradeceu a crítica do brasileiro. 14 ALMANAQUE

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Você sabia? Em 1939, Getúlio Vargas convidou Pontes de Miranda para ser embaixador na Alemanha. Mesmo tendo afinidade com o país, recusou por ser a Alemanha de Hitler. No entanto, iniciou sua carreira como embaixador na Colômbia e, de lá, nos Estados Unidos.


A FORÇA QUE 23 NUNCA SECA DIA

No dia de 23 de abril de 1892 nascia Miriam Falcão Lima, filha do deputado federal e estadual, senador e Governador de Alagoas José Fernandes de Barros Lima e Olímpia Falcão de Barros Lima. Estudou em escola pública em Passo de Camaragibe, onde nasceu, e no Colégio Santíssimo Sacramento, em Maceió. Foi uma das primeiras alagoanas a ganhar projeção nacional como pintora, participando do XI Salão Nacional de Belas Artes, em 1935, e expondo suas obras no Liceu de Artes e Ofícios no mesmo ano, no Rio Janeiro. Expôs também em São Paulo e no Uruguai. BRILHO PRÓPRIO Embora filha de um político influente em Alagoas, Miriam trilhou o próprio caminho nas artes e educação no Estado. Em 1915 foi nomeada professora de Desenho da Escola Normal, na vaga deixada pelo falecimento de Rosalvo Ribeiro, conceituado pintor alagoano. Participou, em 1933, da I Feira de Amostras de Alagoas (foto abaixo), onde expôs 80 obras, entre elas, pinturas com temáticas regionais

como Descascando o coco e Virando Melaço. No ano seguinte, fundou a Escola de Belas Artes, em Maceió. Morreu em 28 de março de 1945, no Recife. FEMINISTA SIM, SENHOR Miriam Lima foi integrante da diretoria da Federação Alagoana pelo Progresso Feminino (FAPF), fundada em cerimônia solene no dia 13 de maio de 1932, no Salão Nobre do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IGHAL). Nesta sessão, Lilly Lages foi eleita presidente da organização, que tinha ainda Noêmia Lício como presidente de honra, Francisquinha Acioly (vice-presidente) e Linda Mascarenhas (primeirasecretária). PARA SABER MAIS | ROSA e SILVA, Enaura Quixabeira; BONFIM, Edilma Acioli. Dicionário Mulheres de Alagoas Ontem e Hoje. Maceió: EDUFAL, 2007. ■ SCHUMAHER, Schuma. Gogó de Emas - A participação das Mulheres na história do estado de Alagoas. Rio de Janeiro : REDEH, 2004.

Você sabia? Miriam Lima teve participação no movimento que desencadeou a renovação dos padrões estéticos na arte brasileira, a Semana de Arte Moderna, ocorrida entre os dias 11 e 18 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo.

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FOTO: VICENTE A. QUEIROZ

A PRINCESA 24 DO NORTE DIA

Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus, em Matriz de Camaragibe

Em 24 de abril 1958, Matriz de Camaragibe foi desmembrada de Passo de Camaragibe e se tornou município. O nome da cidade vem da forte influência religiosa de sua origem, quando José de Barros Pimentel, dono do Engenho de Bom Jesus, cedeu parte de suas terras para que fosse construída a nova Igreja de Bom Jesus, já que a primeira tinha desaparecido. À IMAGEM DE BOM JESUS Enviado pelo governador da Capitania de Pernambuco D. João de Sousa, em expedição militar contra o quilombo dos Palmares, o capitão-mor Fernão Carrilho passou pelo povoado de Matriz do Camaragibe em 1677. Na ocasião, assistiu a uma missa votiva em homenagem ao Senhor Bom Jesus e pediu aos padres para levar a imagem do santo consigo até o local da batalha. Muitos negros morreram e 200 foram aprisionados, incluindo a rainha e os filhos do rei Ganga Zumba. Na volta, Carrilho devolveu a estátua.

Você sabia?

A 257 KM DE DISTÂNCIA

A povoação de Camaragibe é tão antiga quanto às de Marechal Deodoro, Penedo e Porto Calvo, as primeiras cidades alagoanas. A primeira Igreja de Bom Jesus teria sido construída no início dos anos de 1700.

Neste mesmo dia, no Sertão alagoano, o antigo povoado de Capim era elevado à condição de cidade, agora com o nome de Olivença, em referência aos dois maiores fazendeiros da região, Manoel Vieira de Oliveira e Belarmino Vieira de Oliveira. As duas famílias vieram da Lagoa da Canoa em 1898 e se dedicaram a agropecuária, desenvolvendo a economia do pequeno povoado pertencente a Santana do Ipanema.

CONSOLIDADOR 30 DA REPÚBLICA DIA

Floriano Vieira Peixoto, o primeiro vice-presidente do Brasil durante o governo de Marechal Deodoro da Fonseca e o segundo presidente do país, depois da renúncia de Deodoro, nasceu no 30 de abril de 1839, no engenho Riacho Grande, de propriedade de seu pai, situado no distrito de Ipioca, litoral da então Província das Alagoas. Quinto filho de uma prole de dez, Floriano foi criado pelo tio – e futuro sogro –, o coronel José Vieira de Araújo Peixoto. Entrou para o Exército em 1857, aos dezoito de anos de idade, e cursou a Escola Central e a Escola Militar, as duas escolas que o Exército possuía na Corte, e onde já tomaria posições a favor da abolição da escravidão e da modernização do país. Em fins de 1863 seria promovido a 1º Tenente de Artilharia. Lutou na Guerra do Paraguai (1865-1870), tendo tomado parte no combate aos invasores paraguaios no Sul do Brasil e, já em território inimigo, em combates como Estero Bellaco, Tuiuti, Laurelles, Timbó e Avaí, na tomada de Assunção (janeiro de 1869) e na Campanha da Cordilheira (1869-1870), voltando para casa com a patente de Tenente-Coronel. Promovido a General em 1883, Floriano é nomeado no ano seguinte residente e Comandante das Armas da Província de Mato Grosso, posto no qual ficaria até outubro de 1884 e onde se destacaria por sua aliança com os grupos abolicionistas locais, pela violenta repressão às tribos indígenas hostis e por uma política de incentivo à indústria extrativa da erva-mate. O GOVERNO O governo presidencial do Marechal Floriano Peixoto durou de 23 de novembro de 1891 a 15 de novembro de 1894 e se caracterizou pelo seu aspecto nacionalista. “Sua política desenvolvimentista se voltaria para a modernização 16 ALMANAQUE

ABRIL 2017

do país: fornecimento de crédito ao setor industrial, planos para a construção de uma nova capital federal no Planalto Central e para obras de infraestrutura (obras portuárias, prolongamento de ferrovias, estímulo às empresas de navegação, construção de poços artesianos, açudes e represas de rios etc.), e esforços no aperfeiçoamento da instrução pública”, lembra o historiador Guillaume Azevedo Marques Saes. O POPULISTA Marques Saes lembra ainda que Floriano conseguiria apoio nas camadas populares do Rio de Janeiro através de medidas como a redução dos preços dos aluguéis e de artigos no comércio, mas os seus seguidores mais fervorosos no mundo civil serão os jacobinos, grupo constituído por membros das baixas camadas médias cariocas e que se caracterizava por um nacionalismo e um republicanismo fervorosos. “O apoio a Floriano nesses meios ‘plebeus’ excluídos do jogo político tradicional, se deveria a nosso ver, em parte, à postura cesarista do Marechal, que ao se colocar acima dos partidos, das instituições e dos notáveis, estaria fazendo, assim como as lideranças bonapartistas, a ligação direta do poder com as massas”, lembra Marques Saes, mestre em história social pela USP. FLORIANISMO Ao receber o apoio político de São Paulo, Floriano Peixoto teria a função de preparar a ascensão do Partido Republicano Paulista (PRP) em nível federal. “Sem o Marechal Floriano Peixoto o PRP estava morto”, ressalta José Maria dos Santos, na obra “Bernardino de Campos e o Partido Republicano Paulista”. Com a vitória política e militar sobre seus oponentes, o Florianismo assegurava, contra a

própria vontade, o triunfo da ordem republicana que viria a ser dominada pelo PRP e seus aliados até 1930. SAÚDE ABALADA Ainda no poder, Floriano Peixoto já tinha a saúde em estado muito precário. Tão logo terminou seu governo, mudou-se para uma fazenda no distrito de Divisa, em Barra Mansa (RJ), onde morreu, no dia 29 de junho de 1895. PARA SABER MAIS | SAES, Guillaume Azevedo Marques. A República e a espada: a primeira década republicana e o florianismo. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2005. ■ SANTOS, José Maria dos. Bernardino de Campos e o Partido Republicano Paulista. Rio de Janeiro: José Olympio, 1960.


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