Augusto, Aurélio, Teotônio: Três Titãs

Page 1

MAIO

AL MA NA QUE

AUGUSTO, AURÉLIO, TEOTÔNIO: TRÊS TITÃS ALMANAQUE

MAIO 2017

1


AL MA NA QUE ALMANAQUE 200 é uma publicação da Secretaria de Estado da Comunicação especialmente feita para as comemorações de 200 anos de emancipação política de Alagoas. Ênio Lins SECRETÁRIO DE COMUNICAÇÃO Carlos Nealdo EDIÇÃO E PESQUISA Mayara Barros REDAÇÃO E PESQUISA Antonio Santos DIAGRAMAÇÃO Secom FOTOGRAFIAS Grafmarques IMPRESSÃO

ILUSTRADOR DE CAPA ADELMO CÂNDIDO 26, ilustrador profissional há 11 anos, teve seu primeiro emprego em uma gráfica aos 15, ilustrando pra livros de ensino fundamental e médio. Foi chargista na Gazeta de Alagoas de 2013 a 2015, em companhia de Leo Villanova, como também ilustrador de matérias e capas especiais. Hoje produz charges semanais para o jornal Extra.

2

ALMANAQUE

MAIO 2017

MAIO PARA A HISTÓRIA Entre as datas e nomes que merecem ser lembrados e comemorados pelos alagoanos no mês de maio, esta edição do ALmanaque 200 traz uma bela seleção para o leitor. Já na capa, um trio de grandes vultos que tem orgulhado o nosso povo por várias gerações ao longo do século 20 e neste início do 21: Augusto Malta, Aurélio Buarque de Holanda e Teotônio Vilela. Escolhemos os três, cada um atuante em uma área distinta dos outros, por terem, através de sua vida e obra, elevado o nome de Alagoas para muito além dos limites do Estado e do Brasil. Augusto Malta nasceu em Mata Grande, no dia 14 de maio de 1864. Em 1870, a vila mudou de nome, passando a se chamar Paulo Afonso, e assim ficou até 25 de maio de 1929, quando retornou à denominação anterior. Por esse motivo, os jornais cariocas, no período de maior celebridade de Malta, o identificavam como sendo natural de Paulo Afonso/AL. Migrando para o Rio de Janeiro, então Capital Federal, esse alagoano elegante e talentoso se transformou num dos fotógrafos mais importantes na história brasileira. Trabalhou até quase o fim de seus longos 93 anos de vida. Dos coqueirais à beira-mar no Passo de Camaragibe, Mestre Aurélio passou para a história como um dos mais importantes lexicógrafos em língua portuguesa de todos os tempos. Ainda em vida, viu o nome “Aurélio” ultrapassar os umbrais da filologia e se tornar íntimo nos nossos lares, virar adjetivo, substantivo, verbo e finalmente sinônimo de “dicionário” para todo o sempre. Teotônio Vilela, o Senador da Anistia, nosso venerado Menestrel das Alagoas, estaria completando seu centenário de nascimento se estivesse entre nós no dia 28 de maio passado. Teotônio vive e viverá, na memória e no coração do povo, como um gigante da luta pela democracia, do amor à liberdade e dos valores humanos; um brasileiro que se tornou símbolo da Política como forma mais civilizada de mediar conflitos. Além desses três nomes emblemáticos, o quinto mês do ano contém – e traz nestas páginas para você – muitas outras personalidades e fatos marcantes para a história de Alagoas e do Brasil. Desde o dia 1º, que marca o nascimento do cacique Alfredo Celestino, até o dia 31, quando o distrito de Salomé tornou-se emancipado e renomeado como cidade – deixamos para a sua curiosidade a descoberta do nome atual. Boa viagem em mais essa aventura pela memória de Alagoas! RENAN FILHO

GOVERNADOR DO ESTADO DE ALAGOAS

OBRAS CONSULTADAS NESTA EDIÇÃO ■ ARAÚJO, Vera Romariz Correia de. Só ou bem acompanhado? (Reflexões sobre literatura e cultura). Maceió: Edufal, 2007. ■ BARROS, Francisco Reinaldo Amorim de. ABC das Alagoas – Dicionário biobibliográfico, histórico e geográfico de Alagoas. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2005. ■ CANUTO, Ângela. Faculdade de medicina de Alagoas – história de luta e esperança. Maceió: Edufal, 2006. ■ DUARTE, Abelardo. História do Liceu Alagoano. Maceió: Departamento Estadual de Cultura, 1961. ■ GEIER, Vivian Kruger. Os templos evangélicos, suas configurações espaciais e seu valor para os usuários em Maceió, Alagoas. Maceió: Universidade Federal de Alagoas, 2012. ■ GRUSNPAN-JASMINE, Élise. Lampião: Senhor do Sertão: Vidas e Mortes de um Cangaceiro. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006. ■ IVO, Ledo. O ajudante de mentiroso: ensaios. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras/Editora Universitária Candido Mendes (Educam), 2009. ■ JÚNIOR, Félix Lima. Maceió de Outrora - Volume 1. Maceió: Imprensa Graciliano Ramos, 2014. ■ JÚNIOR, Félix Lima. Maceió de outrora – Volume 2. Maceió: Edufal, 2001. ■ RUBENS, Carlos. Pequena história das artes plásticas no Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1941. ■ SCHUMAHER, Schuma. Gogó de Emas - A participação das mulheres na história do estado de Alagoas. Rio de Janeiro: REDEH, 2004. ■ TENÓRIO, Douglas Apratto; CAMPOS, Rochana;

PÉRICLES, Cícero. Enciclopédia dos Municípios Alagoanos – revista e ampliada. Maceió: Instituto Arnon de Mello, 2006. SITES ■ Academia Brasileira de Letras – academia.org.br ■ Assembleia Legislativa de Minas Gerais – almg.gov.br ■ BBC – bbc.com ■ Brasiliana – brasiliana.com.br ■ Carlos Diegues – carlosdiegues.com.br ■ Departamento Nacional de Obras contra as Secas – dnocs.gov.br ■ Dicionário Aurélio – aureliopositivo.com.br ■ Enciclopédia Itaú Cultural – enciclopedia.itaucultural.org.br ■ Fundação Joaquim Nabuco – fundaj.gov.br ■ História de Alagoas – historiadealagoas.com.br ■ Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – ibge.gov.br ■ Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas – ihgal.al.org.br ■ Instituto Moreira Sales – ims.com.br ■ Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro – mis.rj.gov.br ■ Prefeitura de São Sebastião – saosebastiao.al.gov.br JORNAIS ■ Diário de Notícias ■ Folha de S. Paulo ■ Gazeta de Alagoas ■ Jornal do Brasil


DOUGLAS CARRARA

DIA

O LÍDER DOS XUKURU-KARIRI

Dança do toré em aldeia Xukuru-Kariri em Alagoas (2002)

Nasce, em Palmeira dos Índios, Alfredo Celestino, líder Indígena dos Wakonã Cariri, mais conhecidos como Xukuru-Kariri. Em 1935 reorganizou sua comunidade e buscou a oficialização e reconhecimen-

DIA

2

to junto aos orgãos oficiais indigenistas e governos municipais, estaduais e eclesiásticos, com o apoio do então Padre Dâmaso Pinto, clérigo alagoano que dirigia a província eclesiástica de Bom Conselho, em

Pernambuco. “Sempre pautou sua vida na luta pelos direitos e conquistas indígenas de forma ética, articulada e consensualizada”, destaca Graciliana Wakanã.

HISTÓRIA DA ARTE

Data de falecimento, no ano de 1946, no Rio de Janeiro, do jornalista e historiador de arte Carlos Rubens, pseudônimo de José Hermógenes Soares Costa. Natural de Maceió, onde nasceu no dia 19 de abril de 1890, trabalhou na imprensa alagoana – em periódicos como o Correio de Maceió e Jornal de Alagoas –, mas foi no Rio de Janeiro onde se destacou. Carlos Rubens colaborou em diversos jornais cariocas – assim que se mudou para a capital fluminense –, entre eles o suplemento artístico da Gazeta de Notícias, com um artigo sobre o poeta Sabino Romariz, o Jornal do Brasil, O Diário, Folha, A Lanterna, A Razão, bem como na revista Para Todos e na Revista da Academia Brasileira de Letras. Carlos Rubens é autor de Pequena história das artes plásticas no Brasil, considerada uma das primeiras obras abrangentes sobre o tema. O livro, lançado em 1941, trata das origens da arte no Brasil, da contribuição holandesa, do que denomina “escola fluminense” do século XVIII, da

Missão Francesa de 1816, da pintura no século XIX e primeiras décadas do século XX, do modernismo e da geração de Cândido Portinari. Contendo biografias dos principais pintores, aborda também a escultura, a arquitetura e as manifestações artísticas regionais.

de Pequena história das artes plásticas no Brasil: “Esta pequena história não ocupará, a meu juízo, lugar na bibliografia nacional, nem sequer tentará ser um esboço da atividade artística no Brasil de ontem ou de hoje. Tem muito de pretensão e vaidade no título”.

O DESCRENTE Incrédulo sobre a obra que acabara de lançar, Carlos Rubens chegaria a dizer, no prefácio

PARA SABER MAIS | RUBENS, Carlos. Pequena história das artes plásticas no Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1941.

Você sabia? Carlos Rubens foi bibliotecário da Associação Brasileira de Imprensa e diretor e redator-chefe da revista Alagoas, que surge no Rio de Janeiro, em 1936. Além disso, pertencia à Academia Carioca de Letras desde 1931, ao Instituto Histórico da Bahia e à Sociedade de Belas Artes.

ALMANAQUE

MAIO 2017

3


Ao lado, Uma folia de negros – um carnaval em Santa Luzia do Norte; abaixo, O vendedor de mel

DIA

3

MESTRE ZUMBA

Nascido em Santa Luzia do Norte, no dia 3 de maio de 1920, o artista plástico José Zumba tem uma história de luta e superação. Aos dez anos, perdeu o pai, Manuel Zumba, e passou privações. “Sofri muito, passei fome, dormi à toa. Fui para Recife empregando-me ali numa vacaria”, diria, muitos anos depois, em entrevista à imprensa alagoana. Aos doze anos, ingressou na Escola de Belas Artes do Recife, onde estudou Artes Plásticas. Começou a pintar para sustentar a família, oferecendo seus quadros pelas ruas de Maceió. As exposições vieram com o tempo e, aos poucos, foi sendo reconhecido pelo público.

REFERÊNCIAS

“Sua pintura remete às raízes africanas ao retratar Zumbi, pretos velhos e mães de santo e ganha uma dimensão antropológica e sociológica quando nos apresenta os saberes e fazeres alagoanos, em especial as manifestações folclóricas e usos e costumes, como o não mais existente vendedor de mel”, destaca o ex-secretário de Cultura de Alagoas, Osvaldo Viégas, em artigo publicado na Gazeta de Alagoas. “Entre os artistas plásticos de Alagoas, José Zumba se destaca pela marca pessoal que conseguiu 4

ALMANAQUE

MAIO 2017

imprimir à sua vasta obra, cuja produção se estendeu por cinco décadas”, completa a pesquisadora Carmem Lúcia Dantas.

NO BRASIL E NO MUNDO

José Zumba realizou individuais no Teatro Deodoro, em 1951 e 1952; em Londrina-PA, 1953;

Curitiba-PA, São Paulo e Recife, 1957. Participou ainda de diversas coletivas e mostras. Alguns dos seus trabalhos estão em acervos de museus da França, Itália, Rússia e Argentina. Falecido no dia 30 de outubro de 1996, José Zumba deixou uma vasta obra espalhada em prédios públicos, museus e em residências de colecionadores.


DIA

3

AURÉLIO BUARQUE DE HOLANDA

O HOMEM DAS PALAVRAS Nasce, no ano de 1910, em Passo do Camaragibe, o ensaísta, filólogo e lexicógrafo Aurélio Buarque de Holanda. Filho do comerciante Manuel Hermelindo Ferreira e de Maria Buarque Cavalcanti Ferreira, passou parte da infância em Porto de Pedras, e estudou as primeiras letras em Maceió. Fez os preparatórios no Liceu Alagoano. Aos 15 anos ingressou no magistério e passou a se interessar pela língua e literatura portuguesas. Diplomou-se em Direito pela Faculdade do Recife, em 1936. Em 1930 fez parte de um grupo de intelectuais que exerceria forte influência literária no Nordeste, entre eles Valdemar Cavalcanti, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Raul Lima e Raquel de Queirós. Em 1936 e 1937 foi professor de Português, Literatura e Francês no Colégio Estadual de Alagoas, e em 1937 e 1938, diretor da Biblioteca Municipal de Maceió.

O PROFESSOR

A partir de 1939, já residindo no Rio de Janeiro, Aurélio Buarque foi professor de Português e Literatura Brasileira no Colégio Anglo -Americano; professor de Português no Colégio Pedro II, de 1940 a 1969, e professor de Ensino Médio do Estado do Rio de Janeiro, de 1949 a 1980. Contratado pelo Ministério das Relações Exteriores, assumiu a cadeira de Estudos Brasileiros na Universidade Autônoma do México, de junho de 1954 a dezembro de 1955.

O DICIONARISTA

Em 1941, Aurélio Buarque de Holanda foi convidado para executar, pela primeira vez, um trabalho lexicográfico, como colaborador do Pequeno dicionário da língua portuguesa. Iniciava ali, a atividade que o iria absorver a vida inteira e que, de certa forma, iria suplantar o Au-

rélio escritor: o Aurélio dicionarista. A preocupação com a língua portuguesa, a paixão pelas palavras levou-o à imensa tarefa de elaborar o próprio dicionário, e esse trabalho lexicográfico ocupou-o durante muitos anos. Finalmente, em 1975, surgiria o Novo dicionário da língua portuguesa, conhecido por todos como o Dicionário Aurélio.

O ACADÊMICO

Aurélio Buarque de Holanda ocupou a cadeira nº 30 da Academia Brasileira de Letras, eleito em 4 de maio de 1961, na sucessão de Antônio Austregésilo. Recebeu a notícia, em casa, dos acadêmicos Cassiano Ricardo, Jorge Amado e Rodrigo Otávio Filho, e foi recebido na ABL pelo Acadêmico Rodrigo Octavio Filho em 18 de dezembro de 1961

SONETO Amar-te-não por gozo da vaidade, Não movido de orgulho ou de ambição, Não à procura da felicidade, Não por divertimento à solidão. Amar-te-não por tua mocidade - Risos, cores e luzes de verão E menos por fugir à ociosidade, Como exercício para o coração. Amar-te por amar-te: sem agora: Sem ontem, sem futuro, sem mesquinha Esperança de amor sem causa ou rumo Trazer-te incorporada vida fora, Carne de minha carne, filha minha, Viver do fogo em que ardo e me consumo.

O GOSTO PELA LEITURA

Aos sete anos, Aurélio descobriu o gosto pela leitura, graças a um livro de Felisberto de Carvalho. O primeiro contato com um dicionário aconteceu no cartório de Porto Calvo - era para lá que o pequeno Aurélio corria “quando queria decifrar o sentido de alguma palavra”. “A mim, o mar (‘Oceano terrível, mar imenso’, amedrontava-me Gonçalves Dias, nas páginas do Quarto Livro de Leitura, de Felisberto de Carvalho), o mar me sugeria menos as terras longínquas, alongadas, os ‘outros mundos, do que o outro mundo’ – céu. O céu era fronteira do oceano, por mais que, porta-voz dos geógrafos, me asseverasse o contrário a minha professora. Mais certa, para mim, a geografia de um colega de classe”, relembraria ele, no discurso de posse na Academia Brasileira de Letras.

ALMANAQUE

MAIO 2017

5


DIA

4

EM NOME DA LEI

Neste dia, no ano de 1862, nascia, em Maceió, o médico Luiz Joaquim da Costa Leite, que também seria deputado estadual (na legislatura 1895-96) e secretário de estado dos Negócios do Interior no governo do vice-presidente em exercício José Vieira Peixoto (1895). Diplomado pela Faculdade de Medicina da Bahia, exerceu a Medicina em Maceió, onde também foi inspetor de Saúde dos Portos. Costa Leite chegou a se eleger, em 1897, à Câmara Federal, mas não teve o mandato reconhecido. Faleceu em Maceió, no dia 6 de junho de 1923. SECRETÁRIO PERPÉTUO Luiz Joaquim da Costa Leite é secretário perpétuo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IGHAL), cargo que assumiu entre os anos de 1885 a 1923, sucedendo a João Francisco Dias Cabral, que ocupou a cadeira entre os anos de 1869 a 1885.

Anote aí!

“A 15 de novembro de 1889, seriam 4 horas da tarde, saímos eu e meus amigos João Palmeira – morto já hoje – e seu irmão, Dr. Miguel Palmeira, da casa em que morava à Rua da Boa Vista, nº 21, onde se achavam aboletados ambos eles, em satisfação ao convite de um amigo nosso para jantar em sua casa, quando vimos na tipografia do Gutenberg um telegrama em grandes letras brancas sobre quadro-negro noticiando a proclamação da República pelo Exército e Armada tendo à sua frente o Marechal Deodoro. Propagou-se a notícia, transunto de realidade enchendo de acontecimento a população do Estado, fácil em explosões de júbilo e de aplausos ao vencedor como a todos os outros. O Comandante da guarnição tomou posse do Governo, constituindo uma junta provisória com o Dr. Manoel Menezes e o cidadão Ricar-

O Gutenberg, onde Luiz Joaquim da Costa Leite leu sobre proclamação da República, foi um jornal alagoano fundado em 8 de janeiro de 1881, em Maceió, por Antônio Alves. Durante determinado período, foi o mais importante jornal político do estado. Fez a campanha abolicionista quando Eusébio de Andrade, republicano entusiasta, assumiu sua direção e passou a liderar a propaganda republicana. Inicialmente, sua comissão diretora era composta de Pedro Nolasco Maciel, Carlos Rodrigues e Antônio Alves.

do Brennand Monteiro até que pelo Governo Central fosse nomeado o Governador. O Presidente, nomeado pela situação liberal, decaída então, foi obrigado a embarcar em um vapor que se achava no porto e o povo invadiu o Palácio do Governo”.

O VINHO DA JUVENTUDE Como membro da Sociedade Nacional de Agricultura, Luiz Joaquim da Costa Leite teve contatos com empresários que pretendiam estabelecer em Alagoas uma indústria de vinho a partir do caldo de cana. Essa possibilidade foi defendida por ele em setembro de 1903, no Congresso das Aplicações Industriais do Álcool, realizado no Rio de Janeiro. Ele chegou a fundar a Empresa Vinícola do Brasil, com sede no Engenho Satuba, da qual se afasta logo no início das atividades.

O MENSAGEIRO Luiz Joaquim da Costa Leite mantinha um diário onde registrava os acontecimentos sociais de Maceió. Em uma dessas anotações, o médico registrou a respeito da proclamação da República:

IBGE

DIA

5

EDUCAÇÃO DE QUALIDADE

Era criado, em Maceió, por meio da Lei nº 106, de 05/05/1849 – sancionada pelo presidente da Província de Alagoas, coronel Antônio Nunes de Aguiar –, o Liceu Provincial das Alagoas, como objetivo de legalizar o ensino secundário, que até então era desenvolvido de forma precária, por meio de aulas avulsas. Teve como seu primeiro diretor Fernando Afonso de Melo e iniciou as atividades com oito cadeiras: gramática nacional e análise dos clássicos portugueses, latim, álgebra e geometria, geografia, cronologia e história, retórica e poética, inglês, aritmética, filosofia racional e moral. PRIMÓRDIOS O desejo de se criar um Liceu em Alagoas surgiria muito antes de 1849. Quase quinze anos antes, no dia 17 de maio de 1835, o deputado provincial Silvestre Domingues da Silva apresentou na Assembleia Legislativa Provincial um projeto mandando fundar um Liceu na cidade das Alagoas, um estabelecimento que se criasse “para reunião das Aulas Públicas – Primeiras letras, gramática latina, francês, retórica, geometria e filosofia”. O projeto, no entanto, seria engavetado em segunda discussão. MUDANÇAS Durante toda a sua existência, o Liceu foi transferido de domicílio por várias vezes. Em 1873, mudou-se para uma casa térrea de aluguel, situada na rua da Imperatriz, número 18, e ali ficou até o ano de 1877. No ano seguinte, transferiu-se para o prédio onde funcionava o Quartel de Polícia (atual Praça Visconde de Sinimbu); em 1898, para um palacete situado à rua do Livramento (atual Senador Mendonça), edificação posteriormente adquirida, por compra, dando ao Liceu morada própria, embora não definitiva. No início dos anos 1960, passou para um prédio à rua Barão de Maceió; até se transferir definitivamente para a Cônego Machado, no bairro do Farol. O Liceu também possuiu outros nomes ao 6

ALMANAQUE

MAIO 2017

Você sabia? longo de sua existência, entre eles Liceu deste Estado, Liceu da Capital, Liceu Alagoano e Colégio Alagoano. O decreto de nº 11.948, de 17 de março de 1943, deu ao Liceu a autonomia de funcionar como Colégio, o que forçou uma nova substituição de nome, passando então a ser chamado de Colégio Estadual de Alagoas. PIONEIRISMO A Lei nº 281, de 30/04/1855, determinou que a Secretaria do Liceu ocupasse o lugar da Diretoria Geral de Instrução Pública, ou seja, que passasse a ser a mentora do ensino secundário na província, que em certo sentido era a primeira Secretaria da Educação de Alagoas. CURSOS Os cursos administrados no Liceu foram Curso Geral, Curso Preparatório, Curso Normal, Curso Comercial, Curso Complementar, Curso de Agrimensura, Curso de Ciências Letras. O

Em 1855, o Liceu Alagoano chegou a registrar mais de 200 alunos. O número seria reduzido para 144, em 1859, devido a epidemia de cólera morbus que devastou a Província, abatendo parte da população. Naquele ano, as aulas começariam no dia dez de março.

curso preparatório planejado com a finalidade de “habilitar à matrícula dos cursos superiores da República” com as seguintes disciplinas: Português, Francês, Inglês ou Alemão, Latim, Aritmética e Álgebra Elementar, Geometria e Trigonometria, Física e Química, História Natural, Geografia Geral e Corografia do Brasil, especialmente do Estado de Alagoas, História Universal e Particular do Brasil


DIA

9

UMA POESIA NO MEIO DO CAMINHO

Morre, no município de Penedo, em 1913, o poeta alagoano Sabino Romariz, por excelência um provinciano, enraizado no burgo nativo que, na foz do rio São Francisco, ainda hoje guarda as marcas de seu passado colonial. Além de poeta, foi jornalista, professor e funcionário público. Em Penedo, sua terra natal, passou a infância, sob a tutela dos avós maternos, Sabino Alves Feitosa e Ana Senhorinha Feitosa, pois muito cedo perdeu os pais - João de Almeida Romariz e Maria d’Assunção Romariz. O HOMEM E SEU TEMPO A poesia de Sabino Romariz repercute os movimentos da época em que viveu. O Romantismo tinge muitos dos seus poemas. O Parnasianismo é a marca dominante. Victor Hugo está presente nas suas antíteses e apóstrofes: a esta influência se soma a de Guerra Junqueiro, que, com o seu lirismo indignado e declamatório, tanto contagiou a poesia brasileira daquela época. E ainda sobressai, na torrente lírica de Sabino Romariz, um límpido veio simbolista. POETA DE ESCOLAS Sabino Romariz é autor de O Lírio, de nítido e doído cunho simbolista, na opinião do também alagoano Ledo Ivo. “Contudo, a avaliação inicial dessa obra esquecida e dispersa [...], mostrará que Sabino Romariz não foi um poeta de escola, senão de escolas. São várias as tendências e vertentes que confluem e até se chocam em seus livros de versos – desde o Romantismo, identificável nas licenças métricas e gramaticais, até o Parnasianismo e o Simbolismo, este presente tanto no glossário evasivo e evanescente como nos tropos e imagens que sustentam a sua dicção”, conclui o autor de Ninho de Cobras.

O LÍRIO O lírio era uma flor imaculada, Casta como um sorriso de Maria; Flor de uma alvura tal que parecia Ter sido feita de hóstia consagrada. Em Getsêmani, a face ensanguentada, Jesus tragava o cálix da agonia E uma gota de sangue luzidia Sobre um lírio caiu cristalizada. E nisto a flor, sem mancha concebida, Foi-se tornando como que dorida Tomando aquele tom violáceo, frouxo… E de como era outrora alvinitente O lírio da Judeia, finalmente Crepuscular ficou, tornou-se roxo.

MEMÓRIA AFETIVA Como lembra sua neta Vera Romariz Correia de Araújo, Sabino Romariz nasceu em meio a mudanças culturais e tecnológicas de um país imerso na industrialização e urbanização. Produziu poemas, textos de teatro e inúmeros ma-

teriais que se perderam parcialmente ao longo do tempo. “Erudito, latinista, professor de português, latim, inglês, francês e desenho figurado, atuou em Lisboa, contemporâneo de autores como Olavo Bilac”, lembra Vera. LÉO VILLANOVA

DIA

9

Guerreiro, uma das principais manifestações folclóricas de Alagoas

INCENTIVO AO FOLCLORE

Instalada, em 1949, a Comissão Alagoana de Folclore, sociedade civil composta por 60 representantes que tem como objetivo incentivar e coordenar as pesquisas, os estudos, a promoção, a defesa e a divulgação do folclore no âmbito do Estado.

Em pouco tempo de fundação, passaria a ter atuação articulada e coordenada com a Comissão Nacional do Folclore e com as demais Comissões Estaduais de Folclore. Teve como presidentes Théo Brandão (1948 a 1982), José Maria Tenório Rocha (1982 a

1999) e Pedro Teixeira de Vasconcelos (1999 a 2000). Estiveram presentes, na reunião de fundação: Abelardo Duarte, Aloísio Vilela, Hélio Machado, Joaquim Diegues, José Maria de Melo, Lages Filho, Ledo Ivo, Manoel Diegues Júnior, Mário Marroquim e Ulysses Braga Júnior. ALMANAQUE

MAIO 2017

7


O CÔNEGO 11 HONORÁRIO

DIA

Nasce, em Traipu, no ano de 1855, Teotônio Ribeiro e Silva. Cônego honorário do Cabido Metropolitano da Sé de Olinda, foi um dos primeiros brasileiros a doutorar-se em Cânones pela Universidade Gregoriana de Roma (1873). Ao retornar ao Brasil, fixa-se em Penedo como vigário da Igreja de Santo Antônio de Bar-

ro Vermelho. Conhecia latim, grego e hebraico. Faleceu em Penedo, no dia 19 de junho de 1929. Em 1915, Teotônio Ribeiro e Silva escreveu para O Semeador – diário católico vespertino publicado em Maceió desde o dia 2 de março de 1913 – uma série de artigos intitulados Vo-

A CORTE 12 ALAGOANA

DIA

É sancionada, em 1892, pelo governador Gabino Besouro, a Lei Estadual nº 7, que organizou a Justiça do Estado de Alagoas. Regulamentada pelo decreto nº 77, de 7 de junho de 1892, a lei estabelecia critérios para a Justiça alagoana, como por exemplo, a substituição do presidente do Tribunal pelo desembargador mais idoso, conforme previsto no artigo nº 24 da legislação. O órgão foi solenemente instalado no dia 10 de julho de 1892, com a denominação de Tribunal Superior. 8

ALMANAQUE

MAIO 2017

TENTATIVA A primeira tentativa de criação do Tribunal de Justiça de Alagoas ocorreu no governo de Pedro Paulino da Fonseca, que assinou o Decreto nº 1, de 13 de junho de 1891, instituindo a corte. Como não existia Lei Orgânica, o decreto foi considerado sem efeito pelo decreto nº 29, de 30 de novembro de 1891, no governo do Barão de Traipu. ENDEREÇOS Antes de ocupar o atual prédio na Praça De-

cábulos e frases em uso no estado de Alagoas. A obra ocupou os números 97 a 151 do jornal. Além dela, ele escreveu, em 1917, Escorço Biográfico do Missionário Apostólico Dr. Francisco José Corrêa de Albuquerque, Presbítero Secular do Hábito de São Pedro, vulgarmente Conhecido por Santo Padre Francisco.

Tribunal de Justiça na Praça Deodoro, anos 1930

odoro, a Justiça de Alagoas teve como primeira sede o Palácio Velho, localizado onde hoje é a Praça dos Palmares. Na época, o edifício já abrigava o governo, a Secretaria do Interior e o Senado Estadual. Em 1895, o Tribunal Superior de Justiça mudou-se para o prédio da Praça Deodoro, que hoje abriga a Academia Alagoana de Letras e onde também funcionou a Casa Escolar e o Grupo Escolar D. Pedro II. Deste prédio, o Tribunal saiu em 1912 para a sua atual sede, projetada pelo arquiteto italiano Luiz Lucarini e construída no governo de Euclydes Malta.


EM NOME 13 DA FÉ

DIA

Em 1923, era inaugurado, em Maceió, o templo da primeira igreja Batista de Alagoas – a terceira fundada no Brasil. Até então, ela funcionava em lugares diferentes desde a sua implantação no estado, no dia 17 de maio de 1885. O edifício, localizado na esquina da Rua 16 de Setembro com a Rua Formosa, no bairro da Levada, trazia traços ecléticos, característica em alta na arquitetura brasileira da época. O ato de inauguração do templo foi dirigido pelo missionário norte-americano John Mein.

cial. Atualmente, o bairro é região central de Maceió, apesar de menos valorizado do que anteriormente.

O MISSIONÁRIO John Mein chegou ao Brasil com a mulher, Elizabeth, em 1915, designado para servir na Casa Publicadora Batista da Convenção Batista Brasileira (CBB). Mein demonstrou interesse em trabalhar em Alagoas depois de saber da carência de obreiros no estado, que era assistido, DIFICULDADES na maior parte do tempo, pelos missioDevido à intolerância religiosa nos tempos do nários sediados no Recife (PE), que tiBrasil Império, dificilmente os evangélicos teriam nham grande dificuldades decorrentes da liberdade para construir distância entre as duas seus templos em zonas cidades. Na época, o centrais da cidade, estatrem da ferrovia inbelecidas pelo catolicisglesa gastava dois dias mo. Muitos dos templos do Recife para Maceió, de igrejas evangélicas do pernoitando em União A organização na capital alagoana século XIX instalaram-se dos Palmares. da primeira Igreja Batista se deveu em zonas de crescimento ao emprenho de Antônio Teixeira urbano que se tornaram, COLÉGIO BATISTA de Albuquerque, ex-padre alagodécadas depois, zonas John Mein chegou em Maano que chegara a Maceió, vindo centrais, como no caso da ceió no dia 26 de agosto de da Bahia, visando a difusão da Primeira Igreja Batista de 1920. Seu ministério no esreligião protestante no estado. Maceió, a primeira igreja tado durou dez anos, com um evangélica a fixar-se em pequeno intervalo em 1926, solo alagoano. Na época, o quando o missionário se mubairro da Levada se apresentava como zona com dou com a família para Saltendência de crescimento residencial e comervador (BA). Ele foi o fundador

Você sabia?

de uma escola anexa à Primeira Igreja Batista de Maceió, que viria a ser o Colégio Batista Alagoano. PARA SABER MAIS | GEIER, Vivian Kruger. Os templos evangélicos, suas configurações espaciais e seu valor para os usuários em Maceió, Alagoas. Maceió: Universidade Federal de Alagoas, 2012.

PEDRO, 14 O ESTATÍSTICO

DIA

Nasce, em 1902, no município de Viçosa, o jornalista e estatístico Pedro Barreto Falcão, responsável por reorganizar os serviços estatísticos regionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Rio Grande do Sul, a pedido do interventor federal naquele estado,

coronel Cordeiro de Farias. Sua contribuição trouxe benefícios para o setor, que atingiria uma extraordinária eficiência técnica. Pedro Barreto Falcão foi chefe de seção do Departamento Estadual de Estatística até 1939, quando foi requisitado pelo IBGE e nomea-

do diretor de Estatística do Rio Grande do Sul, tendo chefiado naquele estado os trabalhos do recenseamento de 1940. Voltando para Alagoas organizou e dirigiu o Departamento das Municipalidades. Faleceu no dia 5 de setembro de 1945, em Maceió. ALMANAQUE

MAIO 2017

9


EVERSON FONSECA

A GRANDE 14 DAMA

DIA

Nasce em Maceió, em 1895, Linda Mascarenhas, considerada a Dama do Teatro alagoano. Estudou latim com o cônego Teófanes de Barros, grego com Dom Adelmo Machado, e alemão com Ludwig Duchen. Mas foi como professora pública, atividade que exerceu até a idade de 51 anos, que Linda Mascarenhas sustentou-se e pôde levar uma vida independente. Lecionou francês, inglês, português e veio a se apresentar como Professora Catedrática da cadeira de inglês na Escola Normal de Maceió. Em 1944, o movimento de teatro amador, que vinha crescendo nacionalmente, chega a Alagoas de maneira mais estruturada, com o nascimento do Teatro Amador de Maceió (TAM). Linda Mascarenhas fazia parte do grupo fundador e chegou a presidir a entidade. Onze anos depois, em 1955, foi fundada a Associação Teatral de Alagoas (ATA). Linda não só estava entre seus criadores, como foi presidente da Associação, até falecer aos 96 anos, no dia 9 de junho de 1991. PALCO ILUMINADO A ATA incorporou setores jovens que estimularam a revitalização do teatro local, encenando peças mais contemporâneas e de cunho sociológico. Em 1956, aos 61 anos, Linda realizou o sonho de pisar no palco, atuando pela primeira vez no papel de Lizaveta, em uma adaptação cênica de Léo Vítor do romance O idiota, de Dostoievski. CARREIRA Linda Mascarenhas atuou em diversas montagens, ganhando um prêmio pelo papel-título na peça Dona Xepa, de Pedro Bloch, com a qual percorreu várias capitais nordestinas. Em 1958 recebeu o prêmio de melhor atriz com a peça Mulheres feias, de Aquille Asitta, montada no Teatro Deodoro. Nesta fase, montou e dirigiu ao todo 20 peças.

FEDERAÇÃO ALAGOANA PARA O PROGRESSO FEMININO Linha Mascarenhas foi uma das fundadas da Federação Alagoana para o Progresso Feminino, instituição instalada no dia 13 de maio de 1932, em solenidade realizada no Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. A grande dama 10 ALMANAQUE

MAIO 2017

do teatro alagoano ocupou o cargo de primeirasecretária. Em 1935, a deputada Lilly Lages, então presidente da entidade, optou por se afastar do cargo e das atividades cotidianas da FAPF para

se dedicar mais à sua carreira científica. Linda Mascarenhas passou a comandar o desenvolvimento das ações locais, buscando atrair mulheres de diferentes classes sociais e de outros municípios.


AUGUSTO 14 MALTA

“Eu, no entanto, continuei a vender fazendas a pé. Quanto à máquina, tomei gosto pela fotografia e, aos domingos, em companhia de um amigo, também amador da arte, tirava vistas da cidade, grupos de amigos etc. Confesso que sentia grande sensação quando via surgirem no papel as belas e surpreendentes imagens que o sal de prata revelava e o hipossulfito fixava a meus olhos, na câmara escura improvisada em minha casa”.

DIA

AUGUSTO MALTA

RIO DE JANEIRO SOB O OLHAR ALAGOANO Nasce, no ano de 1864, em Mata Grande, o fotógrafo Augusto César Malta de Campos, considerado o principal fotógrafo da evolução urbana do Rio de Janeiro nas primeiras décadas do século XX, período de acelerada modernização. Radicado na cidade desde 1888, ano da Proclamação da República, trabalhou inicialmente como comerciante de tecidos, até dar seus primeiros passos como fotógrafo amador na virada do século. Antes de se dedicar à fotografia, Augusto Malta foi auxiliar de escrita, depois guarda-livros, trabalhou ainda em loja de secos e molhados e, por fim, passou a oferecer tecidos com uma bicicleta pelas ruas da cidade. Em 1903, foi contratado por Pereira Passos como fotógrafo oficial da Diretoria Geral de

Obras e Viação da Prefeitura do Distrito Federal, cargo criado especialmente para ele. Malta teve como missão inicial registrar imagens de todas as ruas que teriam seu traçado modificado pelo gigantesco projeto urbanístico do prefeito Pereira Passos, no período conhecido como “bota-abaixo”.

MUDANÇAS

No período entre 1903 e 1936, documentou grandes transformações urbanísticas e arquitetônicas ocorridas na cidade do Rio de Janeiro, acompanhando as grandes remodelações de seu tempo, como o desmonte do Morro do Castelo, a abertura da Avenida Central, a Exposição Nacional de 1908 e a Exposição Internacional de

1922, em comemoração ao Centenário da Independência do Brasil.

HISTÓRIA

Aposentou-se em 1936, após servir às administrações de Pereira Passos, Sousa Aguiar, Carlos Sampaio, Prado Júnior, Alaor Prata e Pedro Ernesto. Até meados da década de 1940, continuou atuando como fotógrafo, eternizando os carnavais do Rio, os corsos e as batalhas de flores, flagrantes do momento, as personalidades de época, bem como aspectos sociais, como, por exemplo, o surgimento das favelas, em obra de inestimável valor histórico para a preservação da memória da cidade. Faleceu aos 93 anos, no dia 30 de junho de 1957. FOTOS: AUGUSTO MALTA/REPRODUÇÃO

Demolição do Convento dos Capuchinhos no Monte Castelo (1922)

Praia de Copacabana vista do pátio do Copacabana Palace Hotel (sem data) ALMANAQUE

MAIO 2017

11


IBGE

rezar a missa de Ano Novo em Passagem, um povoado próximo a Quebrangulo. Mas, por causa de fortes chuvas, que fizeram todos os rios da região transbordarem, se viu impossibilitado de seguir viagem. Por isso, à margem de um riacho entre o de Gurungumba e o de Limoeiro, montou o altar e rezou a missa ali mesmo para as pessoas que o acompanhavam. Desde então, a cruz fincada no local atraia romeiros e a povoação começou quando alguns deles resolveram se firmar. No dia 13 de outubro de 1831 ganhou status de vila com nome de Assembleia, devido ao costume dos habitantes de se reunirem nas calçadas para tratar de assuntos do cotidiano da comunidade. Em 1890, por decreto, passou a se chamar Viçosa.

DIA

16

VIÇOSA Índios, negros e fazendeiros de várias partes da província exploraram as terras férteis de Viçosa, elevada à cidade no dia 16 de maio de 1892, também pela Lei Estadual nº14. Os primeiros nativos da tribo Caambembes disputaram o território com os Cariri. Os negros

fugidos reconheceram nas matas ricas em palmeiras e caça barreiras naturais que dificultavam o acesso e garantiam subsistência. Os fazendeiros introduziram a cultura do algodão e do açúcar e prosperaram economicamente. ORIGEM A tradição oral conta que todo final de ano um padre saia de sua paróquia, em Atalaia, para

CÓLERA-MORBUS No fim de 1855, a cólera chegou a Alagoas e fez mais de vinte mil vítimas no período de seis meses. Na antiga vila de Assembleia, o primeiro caso foi registrado em janeiro de 1856. A vítima foi a mulher do escrivão Manoel Freitas. Os recursos insuficientes enviados pelo governo provincial, a falta de médicos e a ignorância dos hábitos de higiene e profilaxia contribuíram para que a doença assumisse sua forma fulminante em pouco tempo. Por não ter cemitérios, os corpos eram levados para a igreja Matriz. Logo o local ficou cheio e foi preciso construir, às pressas, um cemitério de paliçada na Rua do Juazeiro. Meses depois, a epidemia começou a diminuir e cessou em setembro do mesmo ano.

AS CIDADES E AS LEIS No dia 16 de maio de 1892, por meio das Leis nº 14 e 15, as vilas de Traipu, Viçosa, Coruripe, Maragogi, Murici, São Luiz do Quitunde e Triunfo (atual Igreja Nova) foram elevadas à cidade. O autor desses atos administrativos foi o Governador Gabino Besouro. Ele assumiu a presidência da Província em 02 de março de 1892 e governou até 16 de julho 1894, quando foi deposto por um movimento armado.

FLÁVIO LÊVISSON/TRP FILMES

MARAGOGI Antes de se tornar cidade com o nome de Maragogi, o povoado da região se chamava Gamela. Em 1875, passou a se chamar Isabel, em homenagem à princesa, mas se consolidou como município com o nome mais prezado por seus habitantes. O nome Maragogi seria uma corruptela portuguesa de sua origem tupi, ma-ra-ú-hy, que significa “rio dos maracujás”. O surgimento de canaviais e o desembarque contínuo de escravos nos seus portos naturais de Barra Grande e São Bento desenvolveram economicamente a região, que em maio de 1892 foi elevada a município. OS HOLANDESES As batalhas contra os holandeses eram frequentes na região porque a produção agrícola pernambucana escoava pela cidade de Porto Calvo. Então, a tropas que vinham de Olinda e Recife encontravam resistência ao passar pelo povoado.

TRAIPU O povoado teve origem em um morgado de Pedro Gomes, assentado sobre uma pequena colina às margens do rio São Francisco, entre as lagoas do Carlo e da Igreja e em frente à Serra da Tabanga, que para os nativos marca o início do Sertão. Em abril de 1835, foi desmembrado de Penedo e elevado à condição de vila com a denominação de Porto da Folha, e só passou se chamar Traipu em 1870. 12 ALMANAQUE

MAIO 2017

CURIOSIDADE O nome Traipu é uma corruptela de ytira ypu, de origem Tupi, que quer dizer “fonte do monte” ou “olho d’água do monte”. BARÃO DE TRAIPU Manoel Gomes Ribeiro, o Barão de Traipu, foi senador, deputado Provincial, chefe do Partido Conservador no Império e ocupou o cargo de governado duas vezes como Vice-Presidente da Província. Inclusive, foi eleito vice com Gabino Besouro.

A CABANADA A Guerra dos Cabanos, uma revolta popular que defendia a volta de D. Pedro I ao poder, teve como um dos seus líderes João Batista de Araújo, que ficava à frente das hostilidades em Barra Grande, hoje povoado de Maragogi. Em 1832, no início do movimento, Araújo foi preso em sua casa pelo Almirante Tamandaré. Depois da captura de João Batista, Vicente de Paula assume a liderança e muda o propósito do movimento. Índios, negros e mestiços passam a defender suas terras na floresta comandados por De Paula.


MURICI A cultura popular conta que foi Frei Domingos quem fundou Murici, que conquistou a condição de cidade em maio de 1892. Segundo a tradição, ele plantou na região do povoado um muricizeiro bravo, que atraia viajantes com sua sombra.

CORURIPE As primeiras atividades do povoado de Coruripe, elevado à cidade também em 16 de maio 1892, datam do século XVIII. Seu primeiro colonizador, Antônio do Moura Castro, explorou o pau-brasil num terreno entre os rios São Miguel e Coruripe, cedido pelo rei de Portugal. O comércio da madeira teve início depois do extermínio dos índios Caetés, em represália à morte do primeiro bispo do Brasil, Pero Fernandes Sardinha. A região, aliás, tornou-se famosa pelos naufrágios tanto da nau Nossa Senhora da Ajuda, que conduzia Sardinha, quanto da navegação do espanhol Dom Rodrigo de Albaña. Depois da exploração do pau-brasil, com os

terrenos limpos, o plantio de cana-de-açúcar e a construção de vários engenhos impulsionaram o crescimento econômico do povoado, que se tornou vila em 1866. TERRA À VISTA Para Jayme de Altavila, Coruripe teria sido o primeiro lugar avistado por Pedro Álvares Cabral, e não o Monte Pascoal, na Bahia. Outros historiadores, como João de Barros e Fernandes Gama, afirmam que o descobrimento do Brasil, no dia 21 de abril de 1500, se fez aos 10º de latitude sul, ao invés de aos 17º de latitude meridional. Portanto, teriam sido as barreiras brancas e vermelhas de Jequiá a primeira paisagem vista pelos portugueses, e o ancoradouro da esquadra teria ido à enseada do Rio Coruripe.

LISOS E CABELUDOS Murici foi palco da violência entre os integrantes do Partido Conservador e do Partido Liberal, popularmente conhecidos como Lisos e Cabeludos. No dia 4 de outubro de 1844, os Lisos se rebelaram contra o presidente da Província, Bernardo de Souza Franco, e ocuparam a capital. Por ser amigo do líder dos Lisos, Visconde de Sinimbu, o presidente Souza Franco demitiu os opositores do Partido Conservador de postos-chave do governo. Por isso, os Cabeludos resolveram partir para o embate em Bebedouro e obrigaram o governador a aceitar suas imposições. Com reforços de Pernambuco, os Cabeludos expulsaram os revoltosos para o interior, que se concentraram em Murici. A cidade foi cercada na batalha de contra-ataque, quando os Lisos foram completamente derrotados. IBGE

SÃO LUIZ DO QUITUNDE O município teve sua origem numa pequena povoação próximo a um afluente do Rio Santo Antônio, no Engenho Castanha Grande. Em 1780, no entanto, os primeiros habitantes foram transferidos para o Engenho Quitunde por iniciativa do proprietário, Joaquim Machado da Cunha Cavalcanti. No novo local, foram criados quatro trapiches para recebimento de açúcar, e o povoado cresceu em número de habitantes e economicamente. Foi elevado à vila em 1879 e à condição de cidade em 1892. São Luiz do Quitunde foi a primeira cidade planejada de Alagoas. Joaquim Machado, antes de transferir a população para o seu engenho, pediu ao engenheiro alemão Carlos Baltenstern que fizesse o traçado da nova povoação. M8/REPRODUÇÃO

IGREJA NOVA A origem do então município de Triunfo, atual Igreja Nova, está ligada à história de Penedo. Pescadores da principal cidade região, explorando novas áreas de pesca no rio São Francisco, fundaram o povoado chamado Ponta das Pedras. Depois o local recebeu o nome de Oitizeiro, referência a uma árvore frondosa da região. Em 1890, desmembrado de Água Branca e elevado à condição de vila, passou a se chamar Triunfo. Em maio de 1892, tornou-se cidade, mas três anos depois, o município foi extinto e o território voltou a pertencer a Penedo. Triunfo só conquistou a emancipação definitiva em 1897, e recebeu o nome de Igreja Nova em 30 de junho de 1928. No início do povoado, quando ainda era chamando de Oitizeiro, existia uma pequena capela em homenagem a São João. Fortes chuvas destruíram o templo. Então, frades alemães se juntaram à população e construíram uma das mais belas igrejas católicas de Alagoas, e o município passou a se chamar Igreja Nova. As badaladas do sino da nova igreja podiam ser ouvidas a uma distância de seis quilômetros. ALMANAQUE

MAIO 2017 13


100% 17 ALGODÃO

DIA

Ouro Branco, no sertão alagoano, ganhou status de município em 17 de maio de 1962. Seu território foi desmembrado de Santana do Ipanema, e José Soares Silva foi nomeado administrador da cidade. O povoado teve origem por volta de 1830, mas o lugar só começou a prosperar quando o mineiro Domingos Gomes implantou sua fazenda nas antigas terras da família Paranhos e novas residências foram construídas. Domingos denominou o povoado de Olho d’Água do Cajueiro por existir uma cacimba debaixo de um cajueiro no local. Depois de voltar para Minas Gerais e deixar seu filho Francisco Gomes, a localidade passou a se chamar Olho d’Água do Chicão. A cidade só se chamaria Ouro Branco nas primeiras décadas do século XX, quando Antônio Jiló de Campos, impressionado com as plantações de algodão, deu o atual nome ao município. RASTRO DE LAMPIÃO No início do século XX, quando Ouro Branco ainda fazia parte de Santana do Ipanema, os bandos de Lampião e Antônio Purcino atacaram o local. Em perseguição aos líderes cangaceiros, por lá também passou o coronel Lucena Maranhão. PARA SABER MAIS | GRUSNPAN-JASMINE, Élise. Lampião: Senhor do Sertão: Vidas e Mortes de um Cangaceiro. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006.

Você sabia?

PARAÍSO DAS 17 JARAMATAIAS

DIA

O município de Jaramataia foi criado em 17 de maio de 1962, por iniciativa dos líderes locais Olavo Barbosa de oliveira, José Maria Cavalcante, Aureliano Barbosa César, José Barbosa e José Azarias Barbosa. A cidade foi desmembrada de Batalha e instalada oficialmente em julho do mesmo ano. A influência da família Barbosa vem da origem do povoado, desbravado por Manoel Barbosa Farias, em 1882. O fazendeiro foi o primeiro a 14 ALMANAQUE

MAIO 2017

O nome Jaramataia foi dado por causa da grande quantidade desse tipo de árvore na região. A planta tem origem africana, da região do delta do rio Níger.

se instalar no local, na Fazenda Jaramataia. O MAIOR AÇUDE DE ALAGOAS Com capacidade para 19 milhões de metros cúbicos de água, o açude construído pelo Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs) é o maior de Alagoas. Atualmente, a barragem serve à piscicultura e à população como uma “prainha”.

MINA DE AMIANTO A exploração de amianto foi uma das principais atividades econômicas de Jaramataia até a década de 1980. Com a baixa procura pelo produto, a mineradora Mibasa (Mineração Barreto S/A) passou a engarrafar água mineral da região e construiu um spa que utilizava produtos à base de minerais.


O PEDIATRA 18 HUMANISTA

DIA

Nasce, no ano de 1900, em Maceió, o médico Abelardo Duarte, fundador da Faculdade de Medicina de Alagoas e um dos mais destacados representantes do pensamento no Estado. Professor emérito da Universidade Federal de Alagoas, secretário perpétuo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas e sócio honorário do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, Abelardo Duarte era também escritor. Além de artigos médicos, escreveu sobre teatro, educação e cultura, tornando-se em pouco tempo, um dos nomes mais expressivos da capital alagoana. Faleceu no dia 7 de março de 1992, em Maceió.

DEFESA

Em 30 de outubro de 1926, Abelardo Duarte apresentou sua tese à Faculdade de Medicina da Bahia. Com o título de Contribuição ao estudo dos grupos sanguíneos na Bahia, o trabalho foi defendido no dia 22 de dezembro daquele ano.

SANTA CASA

Em 1927, já formado, iniciou sua vida profissional em Maceió, trabalhando como médico pediatra na Santa Casa de Misericórdia, sem a percepção de qualquer vantagem pecuniária. Abelardo Duarte foi chefe de Clínica Pediátrica do Hospital Infantil da Santa Casa e diretor-médico do Instituto de Assistência e Proteção à Infância de Alagoas. Abelardo Duarte foi o primeiro médico a praticar a pediatria com exclusividade em Alagoas, numa épo-

ca em que a cidade de Maceió não possuía nenhum pediatra nem enfermarias para crianças. “Não foi apenas o pediatra humanista, mas, também, o professor que inovava didaticamente, quando naquele tempo defendia a associação de mais aulas práticas, contrariando o espírito da época que privilegiava a retórica em prolongadas aulas expositivas”, ressalta Ângela Canuto, em Faculdade de medicina de Alagoas – história de luta e esperança.

O ACADÊMICO

Abelardo Duarte ocupou a cadeira nº 5 da Academia Alagoana de Letras – cujo patrono é José Alexandre Passos –, sucedendo ao professor Aurino Maceió. Em sua posse, o folclorista Théo Brandão o saudou, enfatizando semelhanças e diferenças entre a personalidade do novo acadêmico e a sua. “Realmente quis o destino que temperamentos tão díspares que somos: vós calmo, ponderado e metódico; eu-inquieto, arrebatado e nervoso, tivéssemos abraçado não só as mesmas especialidades profissionais: a pediatria e puericultura, mas até escolhido para íntimo recreio intelectual idênticas e matérias e estudos: a etnografia, a antropologia, a geografia humana e as ciências correlatas”.

LITERATURA

Abelardo Duarte foi autor de obras importantes na literatura brasileira, entre elas Dom Pedro II e Dona Teresa Cristina nas Alagoas – A viagem reali-

zada ao Penedo e outras cidades sanfranciscanas, à Cachoeira de Paulo Afonso, Maceió, Zona Lacustre e Região norte da Província (1859-1860). “Além de oferecer o conhecimento da nossa história e a valorização do Estado, especialmente dos locais visitados, esta obra contribui para ressaltar a importância da estruturação de rotas turísticas e até inusitadas, agregando cultura e história ao tradicional binômio sol e mar”, destaca a apresentação da edição facsimilar do livro, lançado pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos em 2010. IBGE

REZA A 18 LENDA

DIA

A Lei Provincial que criou a freguesia de São Brás, à margem do Rio São Francisco, é de 19 de maio de 1875. Diz a lenda que foi encontrada uma imagem do santo que dá nome à cidade numa ilha próxima à comunidade. Impressionada, a população construiu uma capela para São Brás e se desenvolveu ao seu entorno, como era tradição na formação das cidades alagoanas. PROTETOR DA GARGANTA São Brás foi um bispo da Igreja Católica que se tornou santo protetor da garganta depois de salvar uma criança engasgada com uma espinha de peixe. Conta a história que uma mãe levou até o bispo a criança com espinho encravado na garganta. São Brás olhou para o céu, orou e fez o sinal da cruz na garganta do menino e imediatamente ele foi curado. Na município alagoano, quadrinhas populares como estas são repetidas toda vez que alguém se engasga: “Por minha garganta, São Brás, interceda por mim junto ao meu Pai” ou “São Brás do Mato, São Brás do Mato, desengasga ele e meu gato”.

RIO DOS CURRAIS O ciclo catequizador e a economia de pastoreio foram decisivos para o crescimento da freguesia de São Brás. Os colonos de Porto Real do Colégio se instalaram ente as lagoas Tapuio e do Santo, numa elevação à margem do São Francisco. E, porque

NASCE 18 BRANQUINHA

DIA

O município de Branquinha foi desmembrado de Murici e conquistou autonomia política em 18 de maio do 1962. O povoado teve origem por volta de 1870, quando moradores de outras regiões se instalaram em pequenos sítios à margem esquerda do Rio Mundaú. O crescimento da região na década de 1950 foi impulsionado por lideranças políticas, como o deputado Pedro Timóteo Filho, Manoel Gomes Peixoto e Emílio Elizeu Maia de Omena.

SEM LENÇO, SEM DOCUMENTO A cidade ribeirinha perdeu os registros de sua origem também no mês de maio, em 1949, na primeira grande enchente do Rio Mundaú. A Prefeitura de Murici, onde eram guardados os documentos, ficou destruída pelas águas. Branquinha ainda sofreu com outras enchentes em 1962, 1969, 2000 e 2010. A última foi a mais devastadora. Em junho de 2010 o nível do Rio Mundaú subiu em pouco mais de uma hora,

esses fazendeiros precisavam de vaqueiros para cuidar dos animais, os índios que sobreviviam aos ataques dos bandeirantes não eram mais enviados a Colégio, mas ficavam para servir aos proprietários daquelas terras. São Brás foi elevada à vila em 28 de junho de 1889 e conquistou autonomia como município em 1947.

Você sabia? O nome Branquinha faz referência às águas claras do rio Mundaú, ainda sem poluição na época.

por causa de fortes chuvas na nascente do Rio Mundaú, em Garanhuns-PE. O prédio da prefeitura, todas as escolas, o cartório e o único posto de saúde da cidade foram destruídos. ALMANAQUE

MAIO 2017 15


VIDA DE 19 CINEMA

DIA

Carlos Diegues – carinhosamente chamado de Cacá Diegues – nasce, em 1940, na capital alagoana. Mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, ainda pequeno. Durante o curso de direito, realizado na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, foi presidente do diretório estudantil. Nessa ocasião, fundou um cineclube, iniciando suas atividades de cineasta amador. Ainda estudante, integrou-se ao Centro Popular de Cultura (CPC), fundado pela União Nacional dos Estudantes em 1962. Esses dois núcleos de atuação do qual fazia parte – o cineclube da PUC e o CPC – foram pontos de partida do que se convencionou chamar de Cinema Novo. ESTREIA No CPC, Diegues dirige seu primeiro filme profissional, em 35mm, Escola de Samba Alegria de Viver, episódio do longa-metragem Cinco Vezes Favela (os outros episódios são dirigidos por Joaquim Pedro de Andrade, Leon Hirszman, Marcos Farias e Miguel Borges). Seus três primeiros longas-metragens – Ganga Zumba (1964), A Grande Cidade (1966) e Os Herdeiros (1969) – são filmes típicos daquele período voluntarista e cheio de sonhos, inspirados em utopias para o cinema, para o Brasil e para a própria humanidade. Polemista inquieto, ele continua a trabalhar como jornalista e a escrever críticas, ensaios e manifestos cinematográficos, em diferentes publicações, no Brasil e no exterior. GRANDES FESTIVAIS A maioria dos filmes de Cacá Diegues foi

Antonio Pitanga e Anecy Rocha em cena de A Grande Cidade, um dos primeiros filmes do cineasta alagoano

selecionada por grandes festivais internacionais, como Cannes, Veneza, Berlim, Nova York e Toronto, e exibida comercialmente na Europa, Estados Unidos e América Latina. Seus longas já arremataram diversos prêmios nacionais e internacionais, e em 1981, ele integrou o júri no Festival de Cannes. TEMÁTICA Um dos destaques da sua obra é a abordagem da questão negra, o que aparece em longas

José Wilker em Bye Bye Brasil, uma das obras mais importantes de Cacá Diegues

16 ALMANAQUE

MAIO 2017

como Ganga Zumba, Quilombo (1984) e Orfeu (1999). O cineasta também se preocupa com as transformações da sociedade brasileira, que ele investiga em filmes como Os Herdeiros, Bye Bye Brasil (1979) e o recente O Grande Circo Místico (2017). RETOMADA Seus filmes Tieta do Agreste (1996), Orfeu e Deus é Brasileiro (2002), adaptados de grandes obras da literatura e do teatro nacionais, figuram entre os filmes brasileiros de maior público na chamada fase da “retomada” da produção, propiciada pela Lei do Audiovisual.

Sonia Braga na adaptação para o cinema de Tieta do Agreste


IBGE

O SENHOR 20 DAS LETRAS DIA

Nasce, em Penedo, no ano de 1915, o médico Deraldo de Souza Campos, que foi secretário estadual de Educação e Cultura entre 31 de janeiro de 1961 e 11 de fevereiro de 1966, durante o governo do general Luiz de Souza Cavalcante. Em sua gestão, foi criado e instalado – pela Lei nº 2.428, a 30 de dezembro de 1961 – o Arquivo Público de Alagoas, que tinha a finalidade de se preservarem os documentos de valor legal, administrativo ou histórico sobre Alagoas. O órgão passou a funcionar no Palacete Barão de Jaraguá, situado na Praça Dom Pedro II, nº 57, Centro de Maceió. Para dirigir o Arquivo Público Estadual, o secretário de Educação e Cultura Deraldo de Souza Campos convidou o então acadêmico de Direito Moacir Medeiros de Sant’Ana, que assumiria o cargo no dia 20 de fevereiro de 1962, aos 29 anos de idade.

Palacete Barão de Jaraguá, à esquerda, na Praça D. Pedro II: primeira sede do Arquivo Público de Alagoas

O MESTRE Deraldo Campos se formou em medicina pela Faculdade de Medicina do Recife, em 1938. Ainda acadêmico, atuou no município de Anadia, na profilaxia da varíola e no combate à esquistossomose. Como educador, foi professor e diretor, em 1960, do Colégio Estadual de Alagoas e professor da Faculdade de Medicina de Alagoas. O ECLÉTICO Deraldo de Souza Campos foi também diretor da Caixa Comercial de Maceió, que funcionou no n0 422 da Rua do Comércio, no Centro de Maceió. Em sua gestão, a instituição foi transformada em Banco Agro-Mercantil. O educador também foi sócio-fundador do jornal Correio de Maceió e sócio do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IGHAL). O médico faleceu no dia 5 de maio de 1969.

CULTURA À 21 MESA

DIA

Em 1942, o folclorista Théo Brandão funda, em sua casa, localizada no bairro do Farol, em Maceió – “em torno de uma mesa gostosamente nordestina: cuscuz, sequilhos, pamonhas, doce de coco e outras coisas a mais”, como lembraria o também folclorista e antropólogo Manuel Diegues Junior –, a Sociedade Alagoana de Folclore, que teve José Maria de Melo como presidente. Durante o tempo em que esteve ativa, a entidade promoveu conferências, apresentações de cantadores, entre elas a de dois cantadores de viola – os ceguinhos Octávio e Limeira –, que aconteceu no salão nobre do Palácio do Governo.

Aurélio Buarque de Holanda ao lado de Théo Brandão: os fundadores da Sociedade Alagoana de Folclore ALMANAQUE

MAIO 2017 17


À SOMBRA 22 DO CAJUEIRO DIA

O distrito de Cajueiro foi elevado à cidade em 22 de maio de 1958, pelo Governador Muniz Falcão. Antes da Lei nº 2.096, que instituía definitivamente a emancipação e desmembramento do território de Capela, Cajueiro já tinha sido município durante o governo de Euclides Malta. Em 10 de junho de 1904 o então governador transfere a sede de Capela para Cajueiro e muda a denominação do local para Euclides Malta. O ato administrativo, no entanto, é anulado em 1912, pelo Governador Clodoaldo da Fonseca, por meio de decreto estadual. A sede então volta a ser Capela, agora com a denominação de Paraíba. Em 1957, alguns vereadores lideram o movimento para devolver o status de cidade a Cajueiro, entre ele Antônio Palmery Soriano Melo. Enfim, em 1958 o distrito é desmembrado e o município é oficialmente instalado em 1º de fevereiro do ano seguinte.

Você sabia? A origem do nome da cidade vem de um frondoso cajueiro da região, onde viajantes e seus animais paravam para descansar à sua sombra.

REGISTRO DE 26 EMPRESAS DIA

Nesta data, era criada, em 1893, a Junta Comercial do Estado de Alagoas, por meio da lei nº 28, de 26 de maio de 1893. A lei, apresentada pelo então deputado estadual José Fernandes de Barros Lima e sancionada pelo governador Gabino de Araújo Besouro, definia a composição do órgão, formado por presidente, vice-presidente, secretário geral, quatro deputados comerciantes e três suplentes. Em 18 de agosto do mesmo ano, o português José Antônio Teixeira de Barros seria nomeado como primeiro presidente da instituição.

O PORTUGUÊS José Antonio Teixeira Basto nasceu no dia 26 de abril de 1857, em Cabeceiras de Basto, vila portuguesa no Distrito de Braga. Morou no Brasil durante meio século, 33 deles na capi-

tal alagoana. Foi um dos fundadores e um dos principais acionistas da fábrica de Cachoeira, de Rio Largo, e da Companhia Progresso Alagoano, responsável pela fiar e tecer algodão de cores e prontos de malha.

O DONO 26 DA HISTÓRIA DIA

18 ALMANAQUE

MAIO 2017

Nasce, no ano de 1846, em Maceió, o historiador, jornalista e professor Adriano Augusto de Araújo Jorge, filho de Silvério Fernandes de Araújo Jorge e Maria Vitória de Pontes Araújo Jorge. Foi o terceiro presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IGHAL), assumindo o cargo em dois de dezembro de 1896 até sua morte, no dia 3 de abril de 1901. Durante seu mandato à frente do IGHAL, Adriano Jorge foi o responsável pelo lançamento, em 1901, da segunda fase da revista da instituição, cuja publicação estava interrompida desde 1888.

atividade, não chegou a concluir, sendo apenas divulgada, em parte, pela Revista do Instituto Histórico do Estado. O PAI Silvério Fernandes de Araújo Jorge, pai de Adriano Jorge, foi um dos sócios fundadores do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL), instalado no dia 2 de dezembro de 1869, sob a iniciativa do presidente da Província do Estado de Alagoas, José Bento da Cunha Figueiredo Júnior.

MISSÃO Segundo especialistas, com sua capacidade de trabalho, Adriano Jorge poderia ter escrito a mais completa História de Alagoas. Designado pelo governo da Província José Bento da Cunha Figueiredo Junior para empreender essa

O PROFESSOR Habilitado em pedagogia, Adriano Augusto de Araújo Jorge foi professor de inglês, a partir de 1870, do Liceu Alagoano, além de ter dirigido instituições de ensino como o colégio Sete de Setembro e Oito de Janeiro.


TEOTÔNIO 28 VILELA DIA

O TROVADOR ANDANTE

Nasce, em 1917, no município de Viçosa, Teotônio Brandão Vilela, filho do proprietário agrícola Elias Brandão Vilela e de Isabel Brandão Vilela. Fez os primeiros estudos em sua cidade natal, cursando o secundário no Colégio Nóbrega, dos jesuítas, no Recife. Frequentou em seguida as faculdades de Engenharia e de Direito, respectivamente no Recife e no Rio de Janeiro, então Distrito Federal. Chegou também a prestar exames na Escola Militar do Realengo, mas jamais concluiu nenhum curso universitário, tornando-se autodidata e leitor assíduo do filósofo francês Jean-Jacques Rousseau. Após Estado Novo, implantado em 10 de novembro de 1937, deixou definitivamente os estudos, retornando à sua terra natal onde passou a trabalhar com o pai.

A POLÍTICA

Foi na condição de usineiro que Teotônio ingressou na política, ao ser eleito, em 1954, pela União Democrática Nacional (UDN), para a Assembleia Legislativa de Alagoas. Derrotado em sua pretensão de ser reeleito, conquistou, seis anos depois, em 1960, o cargo de vice-governador na chapa encabeçada por Luiz Cavalcante. Em 1964, Teotônio apoiou o movimento militar que derrubou o governo constitucional de João Goulart. Foi, no entanto, ameaçado de cassação em virtude das relações de amizade que mantinha com os dois mais notórios comunistas de Alagoas.

Vilela divulgou o Projeto Brasil, documento que propunha, entre outras medidas ousadas para a época, eleições diretas para presidente da República, fim da censura à imprensa, além de liberdade e organização para os movimentos estudantis, partidos políticos e sindicatos.

O BOM COMBATENTE

Uma das maiores lutas de Teotônio Vilela foi pela anistia aos presos políticos da ditadura miliar. Par isso, viajou pelo país fazendo discursos memoráveis em defesa da democracia. Nessas andanças, visitou todos os presos políticos encarcerados pelo Brasil a fora e denunciou as torturas as quais eles eram submetidos.

O SOM DAS RUAS

A canção O menestrel das Alagoas, composta por Milton Nascimento e Fernando Brant em homenagem ao ex-senador Teotônio Vilela, foi lançada em setembro de 1983. Na voz de Fafá de Belém, se transformaria, ao lado de Coração de estudante, em um dos hinos da campanha das Diretas Já, que tomou conta das principais cidades do país nos primeiros meses de 1984.

POR TRÁS DA CANÇÃO

Em março de 1983, Fafá de Belém recebeu a música Menestrel das Alagoas, de Milton Nascimento e Fernando Brant, e convidou Wagner Tiso para fazer o arranjo da canção, sem jamais imaginar que estaria ajudando a escrever uma página rumo à democratização do Brasil. Em agosto daquele mesmo ano, Teotônio Vilela soube da gravação e quis ouvi-la. “Ele chegou muito abatido, com Miro Teixeira e João Araújo, ao estúdio da Som Livre”, relembra a cantora. Teotônio estava chegando de Pouso Alegre (MG), de mais uma visita ao paranormal Thomas Green Morton e de uma nova tentativa para deter um câncer avassalador, que o acabaria matando. “Ensimesmado, o senador pediu para dizer algumas palavras. E foram essas palavras que conduziram o Brasil rumo à democracia”, conta Fafá de Belém.

A PARTIDA

Teotônio Bandão Vilela morreu em casa, em Maceió, às 16h40 do dia 27 de novembro de 1983, com a janela do quarto aberta e ouvindo o canto de um canário que tinha sido de sua mulher Helena.

O SENADOR

Nas eleições de novembro de 1966, marcadas pela recém extinção dos partidos até então existentes e pela introdução do bipartidarismo, Teotônio conseguiu, pela Arena, seu primeiro mandato senatorial. Em 1978, em plena ditadura miliar, Teotônio

Você sabia? Teotônio Brandão Vilela é irmão de Dom Avelar Brandão Vilela, que foi cardeal primaz do Brasil, função em que tomou no dia 30 de maio de 1971.

Voz, inspiração e composição de Menestrel das Alagoas: Fafá de Belém, Teotônio Vilela e Fernando Brant ALMANAQUE

MAIO 2017 19


PLANÍCIES 31 FARTAS

DIA

Fazenda de criação de gado nelore localizada no município de Campo Grande

Você sabia?

Em 31 de maio de 1960, a vila de Campo Grande é elevada à cidade. O movimento por seu desmembramento de São Brás foi impulsionado pelo crescimento econômico vivido entre 1955 e 1962, com o crescimento da produção de cereais. Porém, a cultura foi diminuindo e dando lugar à criação bovina.

ESTRADA DE FERRO

A população da região cresceu durante a construção da estrada de ferro, com a chegada dos trabalhadores para as obras. O movimento comercial também aumentou e as famílias Leandro, Mandus e Pinheiro foram os pioneiros no comércio local.

O nome Campo Grande faz referência à planície onde está instalada a cidade, com campos de grandes dimensões, ideais para a agropecuária.

Você sabia? Ilustração de Léia Oliver, feita a partir de fotos antigas de São Sebastião-AL

REGADA A 31 SAL E MEL

A Lei Estadual nº 2.229, que instituiu o município, também mudou sua denominação de Salomé para São Sebastião. A troca de nome foi uma homenagem ao governador da época, Sebastião Marinho Muniz Falcão, que apoiou o movimento de emancipação.

DIA

O município de São Sebastião foi criado em 31 de maio de 1960. O povoado, no entanto, surgiu com o nome de Salomé, por causa dos dois produtos mais populares trazidos pelos tropeiros que passavam por lá: o sal e o mel. E foi pela iniciativa de um deles, que decidiu se instalar no local, que a região começou a se desenvolver. José Luiz abriu uma pequena hospedaria para receber os viajantes e uma casa de comércio. A parada para descanso dos mercadores era estratégica, já que ficava próximo à divisa com Sergipe e a cidades desenvolvidas como Penedo e Palmeira dos Índios. Por muito tempo José Luiz e sua família eram os únicos na região. Só depois de algum tempo, mais três comerciantes se instalaram no local. Na cultura popular, só os apelidos deles ficaram registrados: Timba, Tuim e João Gordo. O sucesso dos quatro e as terras férteis da região para criação e agricultura atraíram fazendeiros. 20 ALMANAQUE

MAIO 2017

OS NEGROS DE SALOMÉ

A principal atividade do povoado era a criação de gado e, assim como nos currais do rio São Francisco, não existia a dura disciplina dos engenhos em relação aos escravos. Por serem vaqueiros nas fazendas, era necessária certa liberdade para a função. Por isso, a relação com os senhores era diferente e os negros cantavam e tocavam viola, berimbau e rabeca nas festividades da região. Ficaram conhecido por suas artes os escravos Caetano, Padre, Manoel Correia, Manoel Panela, Manoel Jandaia, Belo e Manoel Dionísio.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.