Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

Page 1



BUARQUE, Virgínia Albuquerque de Castro PINHEIRO, Cleverson Francisco da Silva SANTOS, Júlio César

DIOCESE DE ITABIRA - CORONEL FABRICIANO - 50 ANOS DE HISTÓRIA -

Belo Horizonte Diocese de Itabira 2015




Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano - 50 anos de História Belo Horizonte : Diocese de Itabira, 2015. 228 p. Capa e Diagramação: Alan Gomes Barros ISBN: 978-85-69342-00-7 1. Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano. 2. Igreja Católica. 3. História Religiosa. I. Buarque,Virgínia Albuquerque de Castro, org. II. Pinheiro, Cleverson Francisco da Silva. III. Santos, Júlio César. IV. Título CDD – 272(851.1)


Beato Paulo VI O Papa responsável pela criação da Diocese de Itabira 14 de junho de 1965



Agradecimentos A Dom Lelis Lara e a Dom Odilon Guimarães Moreira, bispos eméritos da Diocese; À Marciana Adelaide Ferreira, pela assessoria consultiva ao livro; À Cúria Diocesana, na pessoa de Diolina Vicentina Teixeira; A Otacílio Fernandes Ávila; Ao Irmão Robert Charles Dixon (“Irmão Bob”), CICM; À equipe do Secretariado de Pastoral (Selma Lúcia Coura Damasceno, Marleny Gonçalves Bonifácio, Paulo Sérgio de Vasconcelos, Vicente Bueno Garcia e ao padre Hideraldo Veríssimo Vieira), pelo material informativo cedido; Ao Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana, nas pessoas de Monsenhor Flávio Carneiro Rodrigues, Luciana Viana Assunção, Adelma dos Santos e Fabiane Borges Maia Moreira; Aos padres Elinei Eustáquio Gomes, Sérgio Henrique Gonçalves e Ronaldo Silva Tôrre; Às leigas: Nelly Castro de Souza, Márcia Alves Ferreira, Terezinha de Assis Bretas e Maria Aparecida de Oliveira, pelas entrevistas concedidas; Ao seminarista Marco Túlio Bones, pela reprodução fotográfica da imagem de Nossa Senhora do Rosário; À Márcia Alves Ferreira e à Marilza Castro, pela leitura minuciosa dos textos; À Maria do Rosário de Souza Rosa, pela revisão dos textos; À Cáritas Diocesana de Itabira, pela disponibilização de seu acervo documental.

50 Anos

9 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano



Apresentação Prezado leitor, O livro dos cinquenta anos da Diocese de Itabira-Cel. Fabriciano chega até nós no momento oportuno, nas celebrações jubilares desta Igreja Particular. Sinto-me lisonjeado em apresentar esta obra rara, fruto de pesquisas para além de nossas fronteiras. Nele está a história não apenas de uma instituição, mas de pessoas que no decorrer dos anos experimentaram e, ainda, experimentam as alegrias e as tristezas, as angústias e as esperanças, dos discípulos de Jesus. No primeiro capítulo, observei a preparação da criação da Diocese. Uma fé tricentenária que está ligada às capelas que se encontravam nesta região no século XVIII. Muito antes de Itabira se tornar Diocese, já havia manifestação de fé nas comunidades anteriores à fundação da Diocese. O segundo e terceiro capítulos irão mencionar o antes, o durante e o depois da criação da Diocese. Quais foram os anseios e fatores determinantes que colaboraram para o desmembramento do novo território eclesiástico das arquidioceses de Mariana e Diamantina. Os articuladores desse processo, bispos, presbíteros e leigos que se empenharam no processo de criação e instalação da Diocese. No quarto e quinto capítulos, veremos a participação do clero, dos religiosos e do laicato nos anos posteriores à criação e instalação da Diocese. As orientações emergentes do Concílio Vaticano II tiveram um papel fundamental no andamento das atividades pastorais. Um destaque para o Plano de Pastoral de Conjunto. Uma novidade atrás da outra. Uma Diocese que nascia em pleno desenvolvimento do Concílio. É notado um espírito de renovação latente e, por conseguinte, a inserção direta dos leigos nos organismos e pastorais. O último capítulo vai tratar da formação e espiritualidade. Além de uma pastoral ativa e preocupada com a ação missionária e evangelizadora, também houve na Diocese um interesse em priorizar a formação em todos os níveis. As escolas e faculdades católicas, o seminário diocesano, as escolas 50 Anos

11 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


de teologia para leigos, os agentes de pastorais envolvidos nas paróquias são marcas da dimensão formativa desta caminhada cinquentenária. Ainda neste capítulo, veremos a espiritualidade que transformou corações. Ao fazer a leitura dos capítulos percebi que houve empenho e dedicação nas articulações dos textos. Não tem como não se encantar com esta belíssima história marcada por sonhos, lutas e conquistas; à medida que o leitor avança na leitura, fica o desejo pela leitura da página seguinte. Impressionante! Eu também me sinto feliz por fazer parte desta história. Ao ser nomeado bispo desta Igreja Particular, nos dois últimos anos que antecederam ao Jubileu, confesso que desconhecia esta história. E o que os registros apresentavam isoladamente, não eram suficientes para entender como que esta Igreja nasceu, cresceu e realizou a sua caminhada de fé até aqui. Acredito que com esse material os novos membros desta Igreja poderão utilizar da série de compilações para se situarem neste contexto histórico e, dessa forma, desempenhar o seu trabalho pastoral com um espírito de entrega ainda maior. Este livro não é apenas um memorial, mas uma tentativa de encontrar, no ato da comemoração dos cinquenta anos, uma identidade diocesana. Aos poucos, prezado leitor, você vai se envolver com o conteúdo produzido com um pouco da nossa história e permanecerá o desejo de tornarem vivos os fatos e acontecimentos que deram origem a esta caminhada de fé. Embora este livro não tenha a pretensão de esgotar a história da nossa diocese, Deus queira que os esforços dos pesquisadores e organizadores desta obra sejam valorizados e partilhados pelos quatro cantos da nossa Diocese, quiçá, do Brasil e do mundo. Desejo a você uma excelente leitura e estudo, pois este livro é um relato minucioso da história da diocese. Em Jesus e Maria, Dom Marco Aurélio Gubiotti Bispo Diocesano

12 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos




Sumário Introdução........................................................................................................17 Capítulo I: Uma fé tricentenária.........................................................................08 1.1. Nas trilhas do ouro das rotas mercantis, erguem-se igrejas...............................23 1.2. A novidade da extração do ferro e da produção têxtil......................................30 1.3. Uma nova fase da metalurgia..........................................................................39 Capítulo II: Fundação da Diocese, entre modernidade e tradição........................46 2.1. O apoio das lideranças eclesiásticas...............................................................49 2.2. A conjugação de forças locais..........................................................................56 2.3. Criação.........................................................................................................68 Capítulo III: O desafio de ser plural, sem deixar de ser unida..........................75 3.1. A contribuição dos bispos...............................................................................77 3.2. A Co-catedral de Coronel Fabriciano e a Festa da Diocese.............................96 Capítulo IV: Agentes de nossa história.............................................................109 4.1. O secretariado Diocesano, regiões pastorais e paróquias.................................111 4.2. Dos grupos de Reflexão e CEBs às Assembleias...........................................116 4.3. Vida consagrada feminina e masculina.........................................................125 4.4. Leigos e leigas engajados...............................................................................133 Capítulo V: Uma pastoral atenta às questões sociais........................................137 5.1. O COPAI Centro de Orientação Pastoral de Itabira e as pastorais sociais............................140 5.2. A consciência Política da Igreja de Itabira-Fabriciano....................................103 5.3. A dimensão missionária................................................................................154 Capítulo VI: Formação e espiritualidade, no anseio de fidelidade criativa.........159 6.1. Da Universidade doTrabalho à Unileste..........................................................163 6.2. O Seminário e o curso de leigos........................................................................175 Conclusão........................................................................................................193 Bispos da Diocese.............................................................................................197 Bibliografia.....................................................................................................205 50 Anos

15 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano



Introdução A elaboração deste livro nos foi proposta por ocasião das comemorações pelos 49 anos de fundação da Diocese de Itabira–Coronel Fabriciano, ao final do primeiro semestre de 2014. Bastante motivada, a comissão organizadora do cinquentenário do Bispado, a ser celebrado em junho de 2015, cogitou a possibilidade de escrita de uma síntese histórica da Diocese. Afinal, trata-se de uma data marcante, um “tempo de memória”, em que os festejos geralmente são acompanhados por retrospectivas e balanços, visando-se um aprimoramento de tudo que foi positivamente vivenciado e uma transformação dos aspectos que se mostraram dolorosos ou equivocados. Tínhamos ciência, ao aceitarmos o desafio, de que o prazo era muito estreito, pois teríamos apenas nove meses, iniciados em julho de 2014, devendo a entrega dos originais à Editora ser impreterivelmente realizada em março de 2015 – uma verdadeira gestação! Mas nossas maiores cautelas associavam-se à delicadeza da tarefa – a de traçar a identidade de uma comunidade de fé. Ora, nada mais controverso do que esboçar uma identidade, pois sabemos – muitas vezes por experiência própria ser a condição humana, individual e coletiva, tão cindida e contraditória! Ademais, não nos cansamos em avaliar e refazer nossos caminhos. Logo, quem disse que escrever uma história é algo simples, mesmo em formato diminuto, como nesse livro? Todavia, é tão apaixonante! Isso porque toda história é construída por pessoas que, em suas relações, tornam a vida possível, para elas e para os outros. Contar uma história consiste, assim, em tentar mergulhar no sentido da vida para aqueles que a tornaram possível, partilhar com eles seus sonhos, medos, desilusões, redescobertas, novas utopias. Nosso empenho nos últimos meses tornou-se, então, o de proceder ao cruzamento da documentação, dos depoimentos, das pesquisas sobre a Igreja no Brasil e no mundo, a fim de tentar compreender o sentido da vida, a partir do ato de crer em Jesus Cristo, para a Diocese de Itabira– Fabriciano.

50 Anos

17 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


Que sentido pudemos discernir como crucial para essa Igreja local? Note-se que dois autores já mantinham fortes vínculos com a Diocese: enquanto o seminarista Júlio César Santos é nascido e criado em Itabira, padre Cleverson Francisco da Silva Pinheiro, natural de Guarapari-ES, veio residir no Bispado, sendo aí ordenado. Já a terceira autora, Virgínia Buarque, é carioca, professora no Departamento de História da Universidade Federal de Ouro Preto, participa de pastorais na Arquidiocese de Mariana, mas nunca tinha visitado a região englobada pelo Bispado, até o convite para a escrita do livro lhe ter sido feito. Ao longo do processo de composição do livro, fez-se possível vislumbrar o que para nós traduz a resposta singular da Diocese à atualização de Cristo no tempo presente: sua coragem em assumir sua pluralidade constitutiva, sem hierarquizá-la a partir de um único centro. Se, no âmbito dos discursos, tal postura é geralmente louvada, na prática é de implementação tão complicada! Estamos acostumados com um modelo de Igreja mais vertical e, por vezes, até com vozes em uníssono. Como configurar um novo estilo eclesial – digamos, uma nova identidade -, sem perder referenciais comuns, que permitem a cada fiel reconhecer-se como católico e diocesano? Mais: como superar os ciúmes e as competições, como elaborar um projeto suficientemente mobilizador das diferenças, que permita articulá-las sem anulá-las? Ao longo de cinquenta anos, a Diocese de Itabira–Fabriciano foi buscando responder a estes e outros tantos questionamentos e, com isso, propiciou à Igreja do Brasil uma experiência sumamente preciosa. Essa pluralidade da Diocese apresenta-se não somente em sua estruturação institucional, traduzida por sua titulação - Itabira-Coronel Fabriciano – e suas duas catedrais – do Rosário e de São Sebastião mas também no esforço em combinar-se um forte comprometimento das pastorais sociopolíticas e missionárias com atenção à formação e à espiritualidade. Cabe, portanto, dizer que, na contemporaneidade, a Diocese vem percebendo que o maior desafio para o fortalecimento de sua “identidade” não esteja tanto na organização canônica da Igreja local, com suas diferentes instâncias, calendários e fóruns, mas sobretudo na redescoberta do que significa ser cristão no mundo de hoje, no estado de Minas, no Vale do Aço, na porta de nossas casas, onde vigoram tanto 18 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


sofrimento, tanto vazio, tanta angústia, nas mais diferentes facetas. Na Carta Apostólica que enviou à Diocese em janeiro de 2015, congratulandose com ela pelos seus 50 anos, o papa Francisco comentou: “Peço a todos os fiéis cristãos de Itabira-Coronel Fabriciano que sejam, cada um segundo a sua vocação particular, ‘sal da terra e luz do mundo’ (Mt 5, 13-14), para que assim todos possam viver a nova ‘saída’ missionária. [...] Não podemos ficar encerrados na nossa instituição paroquial [...] ou na nossa instituição diocesana, quando há tanta gente esperando o Evangelho! Mas sair... enviados. Não se trata simplesmente de abrir a porta para que venham, para acolher, mas de sair porta fora, para procurar e encontrar”.1 Aproveitamos para agradecer a tantas pessoas que tornaram este livro possível. A cada um que contribuiu, seja com entrevistas, disponibilização de documentos e fotografias, com sua leitura crítica, nosso sincero muito obrigado. Expressamos também nosso reconhecimento ao CNPq, pelo financiamento da bolsa de pesquisa de iniciação científica a Júlio César Santos, sob orientação da professora Virgínia Buarque, bem como à Universidade Federal de Ouro Preto, em especial à Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-graduação ao Curso de História, pela intermediação para obtenção da bolsa de pesquisa e cessão de equipamentos eletrônicos. Por fim, à cinquentenária Diocese de Itabira-Fabriciano, registramos nossos “parabéns”, e também nossos votos de vários outros 50 anos a serem comemorados e terem suas instigantes histórias interpretadas. Os Autores.

1  Papa Francisco envia Carta e Bênção Apostólica à Diocese de Itabira-Cel. Fabriciano. 8 jan. 2015. Disponível em <http://dioceseitabira.org.br/noticiasdiocese/papa-francisco-envia-carta-e-bencao-apostolica-a-diocesede-itabira-cel-fabriciano/>. Acesso em 12 jan. 2015. As citações aqui transcritas trazem trechos da homilia proferida pelo papa na Jornada Mundial da Juventude, ocorrida em 2013 no Rio de Janeiro, e a seguir retomado na Carta Apostólica. 50 Anos

19 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano



I

Uma Fé Tricentanária



1.1. Nas trilhas do ouro das rotas mercantis, erguem-se igrejas A diocese de Itabira-Coronel Fabriciano abrange atualmente 24 municípios,2 nos quais reside uma população de mais de 800.000 habitantes. Mas a ocupação da região pelos sertanistas e primeiros exploradores das pepitas de ouro, junto ao pico do Cauê, que contava com 1.600 metros de altitude, retrocede ao início do século XVIII. Neste processo histórico, a Igreja Católica foi instância tanto religiosa como social: a ereção do povoado de Itabira, nas cercanias da freguesia3 de Santa Bárbara do Mato Dentro,4 ocorrida em 1705, é comumente atribuída aos padres Manuel do Rosário e João Teixeira Ramos, que ali levantaram uma capelinha dedicada a Nossa Senhora do Rosário.5 Os termos tupi ita (pedra) e byra (levantar-se) conferem significado à palavra Itabira: “pedra levantada” ou “pedra aguda”, em uma alusão ao pico do Cauê. 6Numa interpretação distinta, “a palavra Itabira é [considerada] de origem indígena (ita: pedra; bira: brilha), mas se desconhece de qual grupo provém”.7 Uma terceira versão para o sentido do nome da diocese aparece no projeto eclesiástico de sua fundação: “O nome indígena de 2  Alvinópolis, Antônio Dias, Bela Vista de Minas, Belo Oriente, Bom Jesus do Amparo, Coronel Fabriciano, Dionísio, Ipatinga, Itabira, Itambé, Jaguaraçu, João Monlevade, Marliéria, Mesquita, Nova Era, Passabém, Rio Piracicaba, Santa Maria de Itabira, São Domingos do Prata, São Gonçalo do Rio Abaixo, São José do Goiabal, São Sebastião do Rio Preto, Santana do Paraíso, Timóteo. 3  “Freguesia” é um termo derivado da expressão latina filiusecclesiae. Na América Portuguesa do século XVIII, representava a unidade administrativo-territorial da diocese, sendo criada pelo bispo e posta a cargo de um pároco encomendado (cujos proventos eram pagos pela Igreja), enquanto “paróquia” era uma circunscrição eclesiástica constituída pelo Império Português, a cargo de um pároco colado, remunerado pela Coroa. 4  Em 1724, a freguesia de Santa Bárbara do Mato Dentro foi alçada à categoria de paróquia colada. 5  Atual Ermida de Nossa Senhora do Rosário, pertencente à paróquia Nossa Senhora do Rosário- Catedral, município de Itabira. Ver: TRINDADE, Raimundo, cônego. Instituições de igrejas no bispado de Mariana. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, 1945. p .123. 6  ENGRACIA, Julio. Chorografia Mineira. In: Revista do Arquivo Público Mineiro. Ouro Preto, v. 3, 1989. p. 25. “Atualmente, o Pico não existe. A partir de 1942, com a ação exploratória do minério de ferro pela Companhia Vale do Rio Doce, o Pico, que guardava grandes reservas de minério de ferro, foi completamente eliminado”, cf. MAGALHÃES, Cristiane Maria. Mundos do Capital e do Trabalho: a construção da paisagem fabril itabirana (1874-1930). Dissertação (Mestrado em História). Belo Horizonte, UFMG, 2006. p. 48. 7  PRESAS, Carolina Soledad. Instituições e desenvolvimento em municípios de base mineira: os casos de Parauapebas-PA e Itabira-MG. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Sustentável). Brasília-DF. Universidade de Brasília. Maio de 2012. p. 74.

50 Anos

23 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


Itabira significa “pedra dura”, ou seja, pedra de ferro, porque a riqueza da região provém da presença do mineral com altíssima porcentagem destemetal”.8 Cogita-se, por sua vez, que o nome “Cauê”, atribuído ao ponto culminante da região, “em língua africana signifi [que] ‘irmãos’.”9

Fig. 1 – Itabira. Vista parcial, com pico do Cauê ao fundo. Início do século XX.10

Em 1718, a localidade do “campo da Itabira” já era conhecida como “covil de ladrões e negros fugidos que infestavam os caminhos circunvizinhos dos quais se tinham desviado os passageiros pelos roubos e hostilidades que padeciam, e depois [...] lhe queimavam os ranchos e quilombos... pondo os caminhos desimpedidos”. 11Pouco depois, em torno de 1720, paulistas liderados por Salvador e Francisco de Faria Albernaz já se encontravam estabelecidos nas minas do Itambé, ao norte de Itabira. 12 Esta data também é tida, nos documentos de criação da diocese, como 8 ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Projeto para constituição da Diocese de Itabira. s.d [após 1960]. Mimeo. p. 2. 9 ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Ofício 1/2002, enviado pela Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano à Secretaria de Assuntos Urbanísticos do Município de Itabira. 10 Disponível em <http://static.recantodasletras.com.br/users/2164/fotos/671694.jpg>.Acesso em 26 set. 2014. 11 CARRARA, Ângelo. Contribuição à História Agrária de Minas Gerais. Mariana: Ed. UFOP, 1999. p.31. 12 A reconstituição histórica do surgimento do arraial de Itabira ainda é controversa. Para Francisco Ignácio Ferreira, a descoberta das minas de Itabira ocorreu em 1698; segundo o cônego Raimundo Trindade, tal achado se deu em 1705, com os sacerdotes acima mencionados; já César de Oliveira Faria, organizador 24 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


marco da cronologia fundadora da localidade: “Itabira surgiu em 1720, fundada pelos mineradores Francisco e Salvador Faria de Albernaz, com o nome de Nossa Senhora do Rosário de Itabira, após a descoberta do ouro”. 13 O viajante francês Augustin Saint-Hilaire, 14por sua vez, relatou o início do povoamento de Itabira do Mato Dentro, da seguinte forma: “Francisco Maria Albernaz e seus irmãos, paulistas de espírito arrojado, já estavam estabelecidos nas minas de Itambé, ao norte de Itabira; atravessaram dez léguas de florestas, sem outra bússola além do cume piramidal dessa montanha. Costeando a cadeia, chegaram pela garganta do Pissarão à base do morro sobre o qual está edificada atualmente a povoação de Itabira. Tendo feito aproximadamente o círculo do morro, encontraram em uma nascente que denominaram Fonte de Prata, grande quantidade de ouro, de coloração argentina, e levantaram nesse local uma casa, e uma pequena capela coberta de colmo. Tal foi a origem da povoação de Itabira.15 Aos dois irmãos Albernaz também é atribuída a construção, “no fundo da Penha, uma capelinha tosca, coberta com esteira de taquara, em cujo trono colocaram a imagem da Santíssima Virgem do Rosário que haviam trazido”. 16Esta primeira construção cedeu lugar ao novo edifício da “Igreja do Rosário da Irmandade dos Pretos, que foi inaugurada em 25 de junho de 1775, sendo o construtor Francisco da Costa Lage”. 17A estrutura e a ornamentação desse templo foram descritas, em registros memoriais, como sendo mais “trabalhadas e minuciosas, consistindo em pilastras lisas da Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, indica que os presbíteros passaram a atuar na região em 1764. 13  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Projeto para constituição da Diocese de Itabira. s.d. [após 1960]. Mimeo. p. 2. 14  Nascido na França em 1779, Augustin de Saint-Hilaire, naturalista e botânico, viajou à América em missão proposta pelo duque de Luxemburgo, voltada à posse da Guiana. Veio ao Brasil, percorrendo os estados de Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, deixando valiosos relatos de viagem e registros de plantas medicinais. Retornou à França em 1822 e faleceu em 1853, com 74 anos. 15  SAINT-HILAIRE, August de. Jornada de Itabira à Vila do Príncipe. In: Viagem pelas Províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. São Paulo: Itatiaia, 1975. p. 121. 16  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Paróquia Nossa Senhora do Rosário. Itabira do Mato Dentro. s. d. Mimeo. p. 1. 17  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Paróquia Nossa Senhora do Rosário. Itabira do Mato Dentro. s. d. Mimeo. p. 1. A provisão para edificação desta igreja data de 8 de janeiro de 1770, cf. ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Ofício 1/2002, enviado pela Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano à Secretaria de Assuntos Urbanísticos do Município de Itabira.

50 Anos

25 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


mediadas por dois nichos e encimadas por entablamento com coroamento em arco pleno. A composição é simétrica, tendo como ornamentação relevos e pinturas. Nestas, o elemento dominante é a rocalha, ladeada de guirlandas. Por sua vez, os altares do cruzeiro denotam um distanciamento do rococó, pois são muito mais simples e estruturais. Consistem também em arco pleno sustentado por pilastras simétricas ladeadas de nichos. Entretanto, o relevo e a pintura de caráter ornamental estão ausentes, dando aos altares do cruzeiro uma natureza mais arquitetônica do que escultórica”.18 Já a “pintura do teto da capela-mor é de caráter rococó. Pilastras encimadas por entablamentos fingem arquitetura, sustentando uma moldura composta de concheados e enrolamentos que tem no centro a visão celestial: Nossa Senhora do Rosário, ladeada por uma profusão de anjos e nuvens. Carlos del Negro demonstra que o pintor de tal obra é o mesmo que realizou a pintura em São Francisco de Caeté e também há influência de Ataíde na trama arquitetônica. Já a pintura do teto da nave é extremamente simples. Consiste numa composição de vinte painéis retangulares ornamentados nas extremidades por ramos de flores. Não é de autoria do artista que realizou o teto da capela-mor”.19

18  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Ofício 1/2002, enviado pela Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano à Secretaria de Assuntos Urbanísticos do Município de Itabira. 19  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Ofício 1/2002, enviado pela Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano à Secretaria de Assuntos Urbanísticos do Município de Itabira. 26 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


Fig. 2 – Escultura de Nossa Senhora do Rosário. Acervo da Catedral de Itabira.20

Um pouco antes, mais precisamente em 1757, a antiga ermida de Nossa Senhora do Rosário obteve o direito de possuir pia batismal; em 1770, foi elevada a capela; por fim, em 1825, tornou-se paróquia desmembrada de Santa Bárbara, por alvará imperial.21 Efetivamente a devoção a Nossa Senhora do Rosário espalhava-se pela localidade: já em 1745, uma outra capela fora erguida e dedicada a Nossa Senhora do Rosário, construída na Fazenda do Peixe pelo capitão Paulo Moreira da Silva. 22Embora tivesse 20 Fotografia produzida pelo seminarista Marco Túlio Bones, em 16 out. 2014. 21 TRINDADE, Raimundo, cônego. Op. Cit. p. 45; 122-123; 296-297. Um ano depois quando a antiga ermida do Rosário tornou-se paróquia este pequeno templo voltou à condição de capela. 22 Atual paróquia de Nossa Senhora do Rosário, município de Alvinópolis (antigo Paulo Moreira). Esta capela foi instituída canonicamente entre os anos de 1832-1833. BARBOSA, Waldemar da Cunha. Dicionário Histórico-Geográfico de Minas Gerais. Belo Horizonte, 1971. p. 32.

50 Anos

27 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


surgido sob a condição de “curada”,23 houve novos registros a seu respeito, indicando constituição de patrimônio em seu favor, nos anos de 1754 e 1775.

Fig. 3 - Ermida de Nossa Senhora do Rosário de Itabira.24

E com o incremento da extração do ouro, outras capelas existentes foram sendo alçadas à condição de paróquias, como ocorreu com São Miguel do Piracicaba25, cujo templo havia sido construído em 1717. O prédio deveria ter alguma representatividade, porque possuía inclusive 23 O antigo direito canônico compreendida por “capela curada” aquelas igrejas que não eram mantidas nem pela Coroa nem pelo bispado, e sim pelos recursos da própria população (“benesses de pé do altar”). 24 Disponível em <http://cineabertocidadesdigitais.blogspot.com.br/2008_09_01_archive.html>. Acesso 26 set. 2014. 25 Atual paróquia São Miguel, município de Rio Piracicaba. 28 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


um sino, intitulado “Das Almas”, com inscrição de 1727. 26Essa capela tornou-se freguesia eclesiástica em 1748 e, dois anos depois, foi posta sob aporte da Coroa, como paróquia colada, logo sendo dotada de outras duas capelas, São Domingos do Prata e Santo Antônio do Poço. 27De forma concomitante, em torno de meados do século XVIII, a capela de Nossa Senhora de Nazaré de Antônio Dias também foi instituída como freguesia, sendo desmembrada de São Miguel. Já a capela de São Domingos do Prata, da nova paróquia de São Miguel do Rio Piracicaba, foi autorizada em 1766, tendo sido benta em 1768; tempos depois, em 1843-1844, ela própria se torna paróquia. 28 Mas a capela dedicada a São Domingos do Prata já portava certo renome desde o Setecentos, por ter sido a localidade escolhida pelo famoso escultor sacro Vieira Servas para passar seus últimos anos de vida. Em companhia de Juliana Maria d’Assumpção, ele aí constituiu patrimônio de “roça situada no córrego de São Nicolau [...] [e] roça com seu engenho de bois no Ribeirão do Ferreiro, da Freguesia de São Miguel, hoje Rio Piracicaba, com outros escravos além de José Angola, oficial de entalhador e Antônio Macuco, mencionados em seu testamento para receber carta de liberdade após o seu falecimento”. Foi sepultado justamente “dentro da Capella de Sam Domingos da Prata do Arco cruzeiro para cima, e teve acompanhamento//O Coadj.orM.el Roiz Souto//”.29 De forma simultânea ao crescimento dos espaços de culto, a exploração das jazidas do metal precioso perdurou ao longo de todo o século XVIII. Assim, existem registros de que em 1781, a extração do ouro tinha como principais mandatários João Francisco de Andrade e Francisco da Costa Lage, cuja riqueza advinha do trabalho escravo nas serras de Conceição, Itabira e Santana, onde a mineração mostrava-se mais expressiva. 30Desta 26  Ver: BARBOSA, Waldemar Cunha. Op. Cit. p. 410-411: “O antigo sino serviu até 1792, quando foi substituído por outro, denominado Sacramento, que se fendeu em 1862. A matriz foi concluída em 1876. Em 1911, criou-se o município de Rio Piracicaba”. 27  Atual paróquia São Domingos de Gusmão, município de São Domingos do Prata. 28  TRINDADE, Raimundo, cônego. Op. Cit. p. 217; 284 e 285. 29  Disponível em <http://www.saodomingosdoprata.mg.gov.br/upload/imgOrig/%7BDBDECACD2A1E-EADB-A241-E06AA82ACC0C%7D.jpg>.Acesso em 26 set. 2014. 30  PRESAS, Carolina Soledad. Op. Cit. p. 75.

50 Anos

29 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


maneira, em 1814, “Eschwege31 apresentou uma relação estatística de todas as lavras de ouro da Província de Minas Gerais, e somente no povoado de Itabira estavam cinco lavras, que empregavam 283 escravos, com uma produção de 13.746 oitavas de ouro. Esse número representava 6% do total de ouro extraído em toda Província naquele ano”. 32Nessa mesma ocasião, “ao lado da exploração de riquezas minerais, levada a efeito com métodos rudimentares da época, surgia uma economia local agrícola, favorecida pela fertilidade do terreno, que produz[ia] arroz, café, milho, legumes e fumo, [e] pela abundância de madeira de lei nas suas enormes florestas”.33 A região de Itabira, que adentrara o século XIX ainda voltada ao passado minerador e colonial, foi assim descrita pelo poeta Carlos Drummond de Andrade, nascido na cidade: “[...] a primeira Itabira, a Itabira do ouro, essa não tinha outra forma se não a que lhe traçavam, com a ponta do pé, os desbravadores sequiosos, na sua ‘exploração insensata e ruidosa das lavras’, de que fala Eschewege. As leis vinham de Vila Nova da Rainha, para onde ia o trabalho e o suor dos mineiros, convertidos em impostos; as bênçãos e as proibições morais vinham de Santa Bárbara, onde a igreja assentara a sua freguesia. Na encosta áspera, os pretos mergulhavam os pés na água escassa e barrenta”.34 1.2. A novidade da extração do ferro e da produção têxtil Nas primeiras décadas do século XIX, a região de Itabira conhecia certa prosperidade, o que permitiu a Dom Frei José da Santíssima Trindade, 31  MAGALHÃES, Cristiane Maria. Op. Cit.: “O Barão Guilherme Luís de Eschewege publicou, em Alemão, o livro Pluto Brasilienses, e realizou uma descrição detalhada da Província de Minas Gerais no século XIX. O livro foi traduzido para o português e publicado pela Revista do Arquivo Público Mineiro, em edições de 1897 e 1898. Eschewege era engenheiro militar a serviço da coroa portuguesa no Brasil, exerceu as funções de cartógrafo, escritor, geólogo, mineralogista e foi autor de vários livros e mapas sobre Minas Gerais”. 32  Ibidem; GUIMARÃES, Alisson Pereira. Itabira: a Cidade e o Minério. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1961 (tese de doutorado). p. 44. 33  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Projeto para constituição da Diocese de Itabira. s.d. [após 1960]. Mimeo. p. 2. 34  ANDRADE, Carlos Drummond. Vila de Utopia. In: Confissões de Minas. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002. p. 561. 30 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


bispo de Mariana, em visita pastoral à região, no ano de 1821, descrever a existência de algumas capelas recém-eretas. Isto porque, em 1818, havia sido erguida a capela de Nossa Senhora de Oliveira de Itambé,35 filial da paróquia Nossa Senhora da Conceição do Mato Dentro. 36Mantendo-se como um importante centro de mineração desde o século XVIII, a capela foi elevada à paróquia em 1841, mas não conseguiu-se manter por muito tempo: entre 1842 e 1859, retornou à condição de capela, mas a partir daí tornou-se paróquia novamente.37 Em 1820, também foi ereta a capela de Nossa Senhora do Rosário, na paróquia de São Miguel do Piracicaba, “a pedido dos pretos, por provisão da Mesa da Consciência e Ordens de 13 de junho de 1820”.38 Havia ainda novas capelas próximas à região de Itabira, a de Matozinhos e de Santo Antônio, hoje desaparecidas, bem como outras que ainda perduram, e que na ocasião que eram canonicamente consideradas “curadas”; também foram edificadas as igrejas dedicadas a São Gonçalo do Rio Abaixo39, São José da Lagoa40 e Nossa Senhora de Nazaré.41 Em paralelo, pequenas ermidas começaram a surgir, como as construídas pelo padre Floriano José Ribeiro e pelo capitão Manuel Martins da Costa. Já outras construções sacras não resistiram ao tempo, como as capelas de Santana do Alfié42 e de Santo Antônio.43 Diante desse crescimento, em 20 de dezembro de 1825, Itabira foi elevada à categoria de arraial, pertencente à Vila Nova da Rainha (hoje Caeté/MG); logo a seguir, tornou-se freguesia, por desmembramento 35  Atual paróquia de Nossa Senhora das Oliveiras, município de Itambé. Cf. Ibidem. p. 123. 36  Ibidem. p. 266-267. Esta paróquia Nossa Senhora da Conceição do Mato Dentro não integrou a diocese de Itabira-Coronel Fabriciano. Atualmente pertence à diocese de Guanhães. 37  BARBOSA, Waldemar da Cunha. Op. Cit. p. 231. 38  Ibidem. p. 260. 39  A Capela de São Gonçalo do Rio Abaixo foi elevada à paróquia em 1850, cf. BARBOSA, Waldemar Cunha da. Op. Cit. p. 453.Atual paróquia de São Gonçalo, município de São Gonçalo do Rio Abaixo. 40  São José da Lagoa era um núcleo minerador surgido no século XVIII. O povoamento inicial é atribuído a João Correia da Silva, que teria fundado a fazenda Rio do Peixe, cf. BARBOSA, Waldemar da Cunha. Op. Cit. p 319-320. Atual paróquia São José da Lagoa, município de Nova Era. 41  Atual paróquia Nossa Senhora de Nazaré, município de Antônio Dias. 42  A capela inicial de Santana do Alfié foi ereta em 1751, por iniciativa de Francisco Ribeiro da Silva e Francisco Leite de Barros. Tornou-se freguesia em 1840. O local é distrito de São Domingos do Prata, cf. BARBOSA, Waldemar Cunha da. Op. Cit. p. 433. 43  TRINDADE, Raimundo, cônego. Op. Cit. p. 296 e 297.

50 Anos

31 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


da paróquia de Santa Bárbara, com a denominação de Nossa Senhora do Rosário de Itabira. Na ocasião, “o povoado tomara consistência, estendendo-se para os lados do córrego da Penha, e já tendo início os arruamentos do Santana, do Rosário e dos Padres”.44 A antiga capela do Rosário transformou-se, assim, em igreja matriz da nova paróquia em 6 de abril de 1826: “A carta do imperador Dom Pedro apresentava como vigário o padre Manoel José Dias de Souza, provisor e vigário geral de todo bispado de Mariana, sentenciou em nome de Dom Frei José da Santíssima Trindade, em 7 de abril de 1827”.45 Tal promoção viu-se sustentada, mais do que pela atividade aurífera propriamente dita, que começara a escassear em torno de 1815, pela extração do ferro, também majoritariamente produzida com mão de obra escrava. 46A exploração do ferro em forjas na América Portuguesa, numa metalurgia de contornos ainda incipientes, havia sido autorizada em função da chegada da Corte, em 1808. Segundo os registros de Eschwege, foi em Itabira que pela primeira vez adotou-se o molho hidráulico como processo de fabricação de ferro. E em 1817, já se destacavam as forjas da Fábrica de Ferro do Girau, a qual recebeu tal denominação devido ao rio de onde era obtida força motriz. Na descrição de Saint-Hilaire, as forjas “[...] davam trabalho a cerca de 25 operários, cuja metade se compunha de escravos. Os outros, livres, e quase todos brancos, recebiam alimentação e cerca de meia pataca de salário”.47 Entretanto, não apenas de minérios vivia a região de Itabira. Desenvolvia-se ali um ativo comércio, com lojas, vendas e tabernas, existindo, portanto, uma população com condições de adquirir tais produtos. Afinal, a localidade também se apresentava como rota de passagem entre as vilas mineradoras, como Vila Rica e Mariana, e o norte de Minas Gerais, onde 44 ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Ofício 1/2002, enviado pela Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano à Secretaria de Assuntos Urbanísticos do Município de Itabira. 45  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Paróquia Nossa Senhora do Rosário. Itabira do Mato Dentro. s. d. Mimeo. p. 1. 46  PRESAS, Carolina Soledad. Op. Cit. p. 75. 47  SAINT-HILAIRE, August de. Jornada de Itabira à Vila do Príncipe. In: Viagem pelas Províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. São Paulo: Itatiaia, 1975. p. 128. 32 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


a extração diamantífera no Tijuco e a lavoura algodoeira em Minas Novas estão em pleno desenvolvimento durante o Oitocentos.48 Ao longo dos séculos XVIII e XIX, o catolicismo foi se amalgamando à vida social da localidade, sobretudo através das associações, uma vez que a presença de congregações religiosas fora proibida nas terras mineiras pela Coroa Portuguesa. Em Itabira, foram fundadas as irmandades do Santíssimo Sacramento, de Nossa Senhora das Dores, de Nossa Senhora do Rosário e a Ordem Terceira de São Francisco de Assis. Por sua vez, em termos da administração civil, Itabira foi constituída como vila, desmembrando-se de Caeté, em 30 de junho de 1833. Sua primeira Câmara reuniu-se em 30 de outubro desse mesmo ano. Pouco depois, em 9 de outubro de 1848, pela Lei Provincial 374, Itabira foi alçada à categoria de cidade, compreendendo os distritos de: Antônio Dias, Joanésia, Santana do Alfié, Santa Maria de Itabira, São Domingos do Prata, São Gonçalo do Rio Abaixo, São José da Lagoa, São Miguel e Cuieté.49 Data desse mesmo ano de 1848, a inauguração do novo templo da igreja matriz de Nossa Senhora do Rosário de Itabira, por monsenhor José Felicíssimo do Nascimento: 50“Era um espécime raro da arte daquele tempo, [...] com duas torres,relógio e bons sinos, destacando-se o sino do Santíssimo Sacramento, decantado em toda a redondeza. Era um templo majestoso, ainda que construído de adobo”.51

48  BRITTO, Maura Silveira Gonçalves de. Com luz de ferreiro: práticas de ofício nas minas de ferro escravistas, século XIX. Dissertação (Mestrado em História). Mariana: UFOP, 2011. p. 11. 49  BRITTO, Maura Silveira Gonçalves de. Op. Cit. p. 21. 50  DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Folheto de celebração. Ano VIII. N. 453-454. 29 dez. 1985. 51  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. História da atual catedral diocesana. s.d.Mimeo.

50 Anos

33 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


Fig. 4 - Antigo edifício da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, posteriormente alçado a Catedral.52

Naquela ocasião, Itabira possuía como capelas Nossa Senhora do Carmo da Cacunda53 e Santa Maria do Sacramento, 54além da ermida de São Sebastião da Joanésia.55 A capela de Nossa Senhora do Carmo era uma modesta igrejinha, construída na chamada Fazenda das Cobras.56 Dessa maneira a sedimentação da organização política do novo município foi sendo acompanhada pelo incremento religioso, que se 52 Disponível em: <http://www.vivaitabira.com.br/viva-turismo- lazer/VisualizaConteudo.php?IdConteudo=172>. Acesso 26 set. 2014. 53 Atual Capela de Nossa Senhora do Carmo, (distrito Senhora do Carmo) município de Itabira. 54 Não mais pertence à diocese de Itabira-Coronel Fabriciano. 55 Não mais pertence à diocese de Itabira-Coronel Fabriciano. TRINDADE, Raimundo, cônego. Op. Cit. p. 264-265; 294-295. 56 BARBOSA, Waldemar da Cunha. Op. Cit. p. 487. 34 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


estendeu, inclusive, a outras áreas da futura diocese. Assim, já em 1832, por decreto da Regência Imperial, o curato de Paulo Moreira, com suas capelas filiais, tornou-se paróquia. Em 1891, a freguesia de Nossa Senhora do Rosário de Paulo Moreira foi elevada à categoria de município, desmembrando-se da cidade de Mariana. Em 1892, a vila de Alvinópolis tornou-se cidade,57 e nesse mesmo ano o curato de Nossa Senhora de Nazaré de Antônio Dias tornou-se paróquia, tendo como capelas São José da Lagoa e Santana do Alfié.58 Mas as mudanças no estatuto canônico desses centros de devoção – e, sobretudo, na vida religiosa da população – não pararam por aí: a capela de São José da Lagoa foi elevada a curada logo em seguida, também em 1832, tornando-se freguesia em 1848 e município em 193859; Santana de Ferros, por sua vez, tornou-se freguesia em 1832. A localidade surgira no final do século XVIII, com a mineração, inicialmente liderada por Pedro Fernandes Alves e José Ferreira Santiago, sendo elevada a município em 1884.60 De forma similar em 1850, a capela de São Gonçalo do Rio Abaixo tornou-se freguesia, e em 1852 era a vez de Joanésia, que por algum tempo teve sua sede no arraial das Queixadas, sob a denominação de Paraíba do Mato Dentro.61 Dois anos depois, em 1854, surgiu a capela de Dionísio62 que, dedicada ao Santíssimo Sacramento, tornou-se freguesia em 1882, tendo o nome de seu padroeiro alterado para São Sebastião em 1897. 63Em 1858, foi reconhecida a freguesia de Bom Jesus do Rio São João,64 e em 1870, a antiga 57  BARBOSA, Waldemar da Cunha. Op. Cit. p. 33. O topônimo Alvinópolis foi criado em homenagem a José Cesário de Faria Alvim, presidente do estado de Minas, que assinou a elevação da região à condição de vila, em 1891. 58  TRINDADE, Raimundo, cônego. Op. Cit. p. 344 e 352. O município de Antônio Dias surgiu em 1911, cf. BARBOSA, Waldemar da Cunha. Op. Cit. p. 38. 59  Foi quando sua denominação foi alterada para Presidente Vargas. BARBOSA, Waldemar da Cunha. Op. Cit. 319-320. Voltou a chamar-se Nova Era em 1942. 60  BARBOSA, Waldemar da Cunha. Op. Cit. p. 190. 61  BARBOSA, Waldemar da Cunha. Op. Cit. p. 251. Apenas em 1881 esta paróquia foi denominada Joanésia, e em 1953, tornou-se município, atualmente não pertence a diocese de Itabira-Coronel Fabriciano. 62  Atual paróquia de São Sebastião, município de Dionísio. 63  BARBOSA, Waldemar da Cunha. Op. Cit. p. 164.O município de Dionísio foi criado em 1948. 64  Atual paróquia do Bom Jesus, município de Bom Jesus do Amparo.

50 Anos

35 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


Capela de Nossa Senhora do Carmo da Cacunda tornou-se freguesia,65 assim como a capela de Santa Maria de Itabira, com a denominação de Nossa Senhora do Rosário.66 Novas alterações ocorreram na década seguinte: em 1882, a freguesia de Vargem Alegre67 substituiu antiga capela de Santo Antônio dos Berrantes, que era filial de Paulo Moreira. Em 1887, o capitão João Antônio Monlevade obteve o direito de erigir capela com pia batismal.68 Foi justamente a partir da década de 1880, que o setor têxtil passou a assegurar a rentabilidade local, através das fábricas Companhia União Itabirana (Gabiroba), fundada em 1887, e a Fábrica de Tecidos da Pedreira, surgida em 1904.69 Essas empresas ocupavam mão-de-obra basicamente feminina. Em 1907, foi criado o Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil, para proceder ao levantamento das reservas de minério do país. Suas pesquisas identificaram que as jazidas de ferro de Itabira estavam entre as mais ricas do mundo. Com isso, engenheiros ingleses constituíram a empresa Brasilian Hematite Syndicate e, através dela, adquiriram a posse das principais jazidas de ferro de Itabira, uma área de 6,8 milhões de m2, com mais de um bilhão de toneladas de minério. Esta companhia inglesa, tendo acumulado prejuízos, foi substituída pela Itabira Iron Ore Co, que começa a funcionar em 1911, em troca de investimentos para a construção da Estrada de Ferro Vitória-Minas, destinada ao escoamento da produção. Em 1919, a empresa é vendida ao norte-americano Percival Farquhar, num negócio de alta rentabilidade, pois a metalurgia manteve-se florescente pela década de 1920.70 Assim, “as modestas aldeias que surgiram no passado estão se tornando cidades populosas e prósperas. Itabira, por exemplo, 65  BARBOSA, Waldemar da Cunha. Op. Cit. p. 427. 66  Atual paróquia de Nossa Senhora do Rosário, município de Santa Maria de Itabira. O município foi criado em 1943. 67  Atual paróquia Santo Antônio de Pádua, município de Vargem Linda. 68  TRINDADE, Raimundo, cônego Op. Cit. p. 58-59; 82; 106, 127; 207; 288; 316; BARBOSA, Waldemar da Cunha. Op. Cit. p. 532. 69  FRANÇA, Jussara. Itabira: um perfil de sua história. In: No Tempo do Mato Dentro. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1988; MAGALHÃES, Cristiane Maria. Mundos do capital e do trabalho: a construção da paisagem fabril itabirana (1874-1930). Dissertação (Mestrado em História). Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2006. PRESAS, Carolina Soledad. Op. Cit. p. 76. 70  PRESAS, Carolina Soledad. Op. Cit. p. 76-77. 36 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


ocupa o terceiro lugar na lista dos municípios do Estado que forneceram maior arrecadação ao erário. Os centros desse desenvolvimento se localizam ao longo dos vales dos rios Piracicaba e Doce, de onde o minério é extraído e depois levado ao porto natural, na cidade de Vitória, capital do estado do Espírito Santo”.71 E no dizer de Carlos Drummond de Andrade, o itabirano constituíra-se então uma pessoa “triste, orgulhoso, de ferro [...] noventa por cento de ferro nas calçadas. Oitenta por centro de ferro nas almas”.72

Fig. 5 - Retirada de Minério de ferro do pico do Cauê, primeira metade do século XX.73

Não casualmente, em 1923, o arcebispo de Mariana, Dom Helvécio de Oliveira, criou novas comarcas forâneas, entre as quais a de São Domingos do Prata,74 ratificando a importância da Igreja na rica região. Neste mesmo ano, foi criada a paróquia de Sete Cachoeiras,75 enquanto um pouco antes, 71 ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Projeto para constituição da Diocese de Itabira. s.d [após 1960]. Mimeo. p. 2. 72 ANDRADE, Carlos Drummond. Confidência de Itabirano. In: Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002. P. 53. 73 Disponível em <http://3.bp.blogspot.com/_b2XP1-bDvU0/SNpucEYOW9I/ AAAAAAAAADY/1GY1GZwXYqU/s320/drumond+006.jpg> Acesso em 26 set. 2014. 74 Foram também criadas nesta ocasião as comarcas forâneas de Abre Campo, Alto do Rio Doce, Ferros, Mar de Espanha, Palmira e Rio Branco. 75 Atual paróquia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no município de Cachoeira Escura (que recebeu a denominação de Belo Oriente em 1962), Cf. TRINDADE, Raimundo, cônego. Arquidiocese de Mariana: subsídios para sua história. 2ª. ed. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1955. Vol. II. 1955. p. 334-

50 Anos

37 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


em 1922, uma capela filial de Alfié, situada na localidade de Babilônia,76 hoje Marliéria, foi elevada a freguesia e, posteriormente, a paróquia.77 Também em 1922, foi criada a paróquia São José, em Jaguaruçu. Algumas mudanças significativas se processaram na década de 1930: se ao final dessa época, o estado de Minas Gerais produzia 90% do ferrogusa do país, 60% do aço e 50 % dos laminados,78 a chegada de Getúlio Vargas ao poder, com seu programa nacionalista, levou Farquhar a associarse a empresários brasileiros, com a Itabira Iron transformando-se em duas empresas nacionais: a Companhia Brasileira de Mineração e Siderurgia e a Companhia Itabira de Mineração.79 E, além do ferro, foram descobertas em Itabira “consideráveis jazidas de cobre, zinco, alumínio, urânio e tório”.80 A vitalização socioeconômica e religiosa, por sua vez, desdobrou-se em termos político-administrativos. A região foi adquirindo contornos bastante complexos, face ao contínuo desmembramento de municípios e elevação de distritos à condição de cidade. Assim, por exemplo, o distrito de Antônio Dias Abaixo tornou-se vila de Itabira em 1911 e, sete anos depois, conseguiu sua emancipação, vindo, por sua vez, a anexar os distritos de Melo Viana (futura Coronel Fabriciano) e Hematita81 em 1923.82 Em 1938, Melo Viana assume o nome de Coronel Fabriciano e, uma década depois, anexou Timóteo, na tentativa de desmembrar-se como município, no que não obteve êxito, já que não possuía o número de habitantes exigido por lei. Em 1953, Coronel Fabriciano anexou Ipatinga e desmembrou335; BARBOSA, Waldemar Cunha. Op. Cit. p. 68. Sete Cachoeiras, distrito de município de Ferros, criado em 1876. Elevado a paróquia em 1877. Em 1900, retroagiu a curato, tornando-se paróquia novamente apenas em 1923, cf. BARBOSA, Waldemar da Cunha de. Op. Cit. p. 495-196. 76  Babilônia era o nome da localidade que, no município de São Domingos do Prata, foi elevada a distrito em 1891. Em 1923, o distrito passou a chamar-se Marliéria. O município foi criado em 1953. BARBOSA, Waldemar da Cunha. Op Cit. p. 280-281. 77  Atual paróquia Nossa Senhora das Dores, no município de Marliéria, cf. TRINDADE, Raimundo, cônego. Instituições de igrejas no bispado de Mariana. Op. Cit. p. 51. 78  PRESAS, Carolina Soledad. Op. Cit. p. 76-77. 79  Ibidem. p. 77. 80  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Projeto para constituição da Diocese de Itabira. s.d [após 1960]. Mimeo. p. 2. 81  O distrito de Timóteo surgiu em 1938, com território desmembrado do município de São Domingos do Prata. Em 1948, foi anexado a Coronel Fabriciano. Município criado em 1962. BARBOSA, Waldemar de. Op. Cit. p. 509-510. 82  BARBOSA, Waldemar da Cunha. Op. Cit. p. 213 38 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


se de Antônio Dias. Ipatinga, em seguimento, tornou-se município em 1962.83 Mostra-se incessante, portanto, o redesenho desses territórios.84 As localidades (e lideranças regionais) concorriam, simultaneamente, para se apropriarem dos polos mais dinâmicos da economia. 1.3. Uma nova fase da metalurgia No decorrer da II Guerra Mundial, o governo brasileiro expropriou as Companhia Brasileira de Mineração e Siderurgia e a Companhia Itabira de Mineração, não apenas pelo não cumprimento dos acordos bilaterais, mas principalmente pelo interesse estatal na demanda de ferro para a indústria bélica dos aliados. Assim, em 2 de junho de 1942, foi firmada parceria entre Washington, Londres e Brasil, criando-se a Companhia Vale do Rio Doce, tendo Israel Pinheiro como presidente.85 A ingerência do poder estatal na localidade era tanta que, poucos dias depois da criação da Companhia Vale do Rio Doce, o governador Valadares assinava o Decreto-Lei 838, que mudava a denominação de Itabira do Mato Dentro para Presidente Vargas, em homenagem ao presidente da República. O decreto só foi revogado em 1947, em parte pela pressão exercida pelos moradores da cidade.86 Logo em seguida, em 1944, a Companhia Aços Especiais Itabira (ACESITA), hoje Aperam South America, instalou-se em Coronel Fabriciano – e, novamente, não por acaso –, poucos anos depois, a vila consegue alçar-se à categoria de município.87 O escoamento do minério e do aço fora viabilizado desde 1943, quando os trilhos da Estrada de Ferro Vitória-Minas chegaram a Itabira. Em 1951, foi a vez da Companhia Vale do Rio Doce começar a extrair minério de ferro no Monte Cauê. Esta empresa tornou-se tão importante na região que, segundo Dom 83  BARBOSA, Waldemar da Cunha. Op. Cit. p. 222. 84  GENOVEZ, Patrícia Falco; VALADARES, Vagner Bravos. A formação territorial de Coronel Fabriciano (sede) e de Ipatinga (distrito) entre as décadas de 1920 e 1960: afinal, quem são os Estabelecidos e os Outsiders? Revista de História Regional, n. 18, v. 2, p. 363-388, 2013. p. 387. BARBOSA, Waldemar da Cunha. Op. Cit. p. 146. 85  PRESAS, Carolina Soledad. Op. Cit. p.77. 86  Ibidem. p. 79. 87  GENOVEZ, Patrícia Falco; VALADARES, Vagner Bravos. Op. Cit. p. 373-374.

50 Anos

39 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


Mário Teixeira Gurgel, falecido bispo de Itabira, “Era mais importante ser superintendente da Vale do que ser prefeito da cidade”.88 A mudança no cotidiano da cidade de Itabira foi expressiva, despertando muitas resistências, inclusive simbólicas, como a do poeta Carlos Drummond de Andrade, que nascido em uma das famílias tradicionais de Itabira, explicitava seu estranhamento em versos.89 O maior trem do mundo Leva minha terra para Alemanha leva a minha terra para o Canadá leva a minha terra para o Japão. O maior trem do mundo puxado por cinco locomotivas a óleo diesel engatadas geminadas desembestadas leva o meu tempo, minha infância, minha vida triturada em 163 vagões de minério e destruição. O maior trem do mundo transporta a coisa mínima do mundo meu coração itabirano. Lá vai o maior trem do mundo Vai serpenteando, vai sumindo E um dia, eu sei, não voltará Pois nem terra, nem coração existem mais.90

88  Apud: PRESAS, Carolina Soledad. Op. Cit. p. 81. 89  Ibidem. p. 78-79. 90  ANDRADE, Carlos Drummond de. O maior trem do mundo. 1984. Disponível em <http:// outrosolharessobre.blogspot.com.br/2010/04/o-maior-trem-do-mundo-de-carlos.html> . Acesso em 26 set. 2014. 40 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


A instalação da Companhia Vale do Rio Doce suscitou também o enfraquecimento da limitada, mas diversificada, economia local, baseada principalmente na fabricação de arreios, confecção de tecidos de algodão, na agricultura e na pecuária. Outro problema, obviamente, foi o ecológico: o pico do Cauê, um símbolo da cidade, foi praticamente aterrado, enquanto importantes fontes de água foram eliminadas.91 O que aconteceu com a Igreja católica na região neste período? A política de criação de novas paróquias teve continuidade, numa estratégia de fortalecimento do catolicismo na localidade. Assim, em 1941, a antiga capela de Caratinga de Joanésia foi elevada a freguesia, dedicada a Santo Antônio.92 Em 1945, a capela de João Monlevade93 torna-se paróquia. 94 Tratava-se de uma comunidade criada pela Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, com o estabelecimento de sua usina, então no município de Rio Piracicaba. Ela situava-se a poucos quilômetros, de onde fica o povoado de Carneirinhos, surgido no final do século XIX, cuja principal atividade econômica, como o nome já indica, era a pecuária. Em 1948, a mudança promovida foi de cunho administrativo, instituindo-se o distrito de João Monlevade, tornado município em 1962.95 Em 1958, foi sugerida a criação de paróquias em Goiabal96 e em Carneirinhos,97 área integrante da paróquia de João Monlevade. Em 1959, a paróquia de Goiabal foi efetivamente instituída, juntamente com a de São José de Acesita. Visava-se, ainda, fundar uma paróquia amovível na Usiminas.98 91  PRESAS, Carolina Soledad. Op. Cit. p. 81. 92  Atual paróquia de Santo Antônio, município de Mesquita. Cf. TRINDADE, Raimundo, cônego. Instituições de igrejas no bispado de Mariana. Op. Cit. p. 207. 93  Atual paróquia de São José Operário, município de João Monlevade. 94  TRINDADE, Raimundo, cônego. Arquidiocese de Mariana: subsídios para sua história. Op. Cit. p. 335. 95  BARBOSA, Waldemar da Cunha. Op. Cit. p. 251. 96  Atual paróquia de São José, no município de São José do Goiabal. Em 1929, São José do Goiabal tornou-se sede do distrito de Juiraçu, antigo Santa Isabel. Em 1938, o distrito assumiu o nome de Goiabal. Em 1953, tornando-se município, passou a chamar-se São José do Goiabal, cf. BARBOSA, Waldemar da Cunha. Op. Cit. p. 467. 97  Atual paróquia de Nossa Senhora da Conceição, no município de João Monlevade. 98  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA ARQUIDIOCESE DE MARIANA. Carta de Dom Oscar de Oliveira, arcebispo de Mariana, ao Cabido Metropolitano de 1 ago. 1960, acerca da possibilidade de criação de paróquia amovível na Usiminas.

50 Anos

41 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


De forma concomitante, as relações de alguns dos sacerdotes da região com o Arcebispado de Mariana eram muito positivas. Em 1951, o pároco de São Gonçalo do Rio Abaixo, padre João José Marques Guimarães, foi nomeado cônego honorário da Catedral.99 Através dessa reconstituição da tricentenária experiência de fé das muitas comunidades que hoje compõem a diocese de Itabira-Coronel Fabriciano, foi sendo possível vislumbrar a especificidade da história religiosa desse bispado. Para além das fundações administrativo-eclesiais de ermidas, capelas, freguesias, paróquias, foranias; para além das interrelações entre as práticas econômicas, em especial a mineração, e a vida social da população, majoritariamente católica, dois aspectos emergem. O primeiro deles, vigente ao longo do século XVIII e primeira metade do século XIX, refere-se ao protagonismo inicial dos leigos empobrecidos, particularmente dos escravos e forros, africanos e seus descendentes. Já o segundo, implementado a partir do final do século XIX e desdobrado até a instituição da diocese, vincula-se ao perfil do clero atuante na localidade, voltado à dinamização das atividades produtivas, à garantia de uma educação básica, aos cuidados com a saúde, enfim, com a promoção de um ideal civilizatório nos rincões das Gerais. Quanto ao primeiro aspecto, mostra-se importante assinalar que a devoção à padroeira da cidade de Itabira e atual sede da diocese, Nossa Senhora do Rosário, adveio de um ato de resistência, em grande parte viabilizado pela fé, à iniquidade do sistema escravista na América Portuguesa, mantido pelo Império Brasileiro. Os contornos étnicos dessa piedade marial foram assim justificados por Julita Scarano: “Segundo Frei Agostinho de Santa Maria, foi uma imagem de Nossa Senhora resgatada de Argel [atual capital da Argélia, África] que deu início ao culto, levando os negros a escolherem essa invocação, erigindo-a em padroeira. Vai além este religioso, dizendo ter sido a própria Mãe de Deus quem os escolheu ‘para confusão dos brancos’. Explica que estes abandonaram a devoção quase que completamente, quando ela passou a ser adotada pelos pretos. [...] Temos 99  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA ARQUIDIOCESE DE MARIANA. Comunicado de uma sessão capitular, 28 out. 1951, com a presença de Dom Helvécio Gomes de Oliveira, nomeando o pároco de São Gonçalo do Rio Abaixo, padre João José Marques Guimarães, como cônego honorário. 42 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


a impressão de que a irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos pretos surgiu em Portugal de uma transformação gradativa, nascendo realmente das irmandades de brancos que já tinham a mesma invocação. É possível que, a princípio, tivessem os dominicanos atraído os elementos de cor para as associações de seus conventos e, posteriormente, se tenham estes tornado tão numerosos que acabaram criando agrupamentos autônomos”.100 Observa-se, portanto, que a devoção a Nossa Senhora do Rosário porta uma longa tradição, sendo a Virgem assim cultuada reconhecida como protetora dos cativos, pois preferira que sua imagem fosse recolhida à ermida por eles construída, ao invés de abrigada em suntuosa igreja edificada pelos ricos e potentados.101 Segundo relatos seculares, Nossa Senhora, compadecendo-se com os sofrimentos dos escravos da América Portuguesa, teria vindo até as senzalas, e aí não conteve as lágrimas, que logo transformavam-se em pétalas de rosa – tão similares às rosas ou contas do rosário... Ao perceber a presença da Virgem, os senhores decidiram construir uma capela, e nela colocar uma réplica da figura de Maria Santíssima vista pelos cativos. No entanto, a cada tentativa de ali dispor a imagem da Santa, esta voltava para junto dos escravos, até que estes, cantando e dançando, levaram-na para a capela que eles próprios haviam construído, onde ela permaneceu definitivamente.102 De tal devoção, desdobraram-se também os festejos do Reinado ou Congado, cujas danças e trajeto reconstituem a saga dos escravos em cuidar da imagem da Virgem: os participantes a levam até o templo, onde é celebrada uma missa e Maria é coroada; em paralelo, é também promovida a coroação dos reis e rainhas negros, além da outorga de símbolos identitários aos demais integrantes do séquito da Senhora do Rosário, que passarão a ladeá-la no Congado do ano vindouro. Ademais, como a missa geralmente é celebrada ao som de tambores e atabaques, ela passou a ser denominada 100  SCARANO, Julita. Devoção e escravidão: a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos pretos no Distrito Diamantino no século XVIII. 2º ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1978. p. 40. 101  MEGALE, Nilza Botelho. Cento e sete invocações da Virgem Maria no Brasil. História, iconografia, folclore. Petrópolis: Vozes, 1980. p. 336. 102  CARVALHO, José Geraldo Vidigal de, cônego. A Igreja e a Escravidão. As Irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Trabalho apresentado no dia da posse no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1988. Mimeo. MEGALE, Nilza Botelho. Cento e Sete Invocações da Virgem Maria no Brasil. História, iconografia, folclore. Petrópolis: Vozes, 1980. p. 336.

50 Anos

43 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


“missa conga”.103 Até a atualidade, marcam presença no município de Itabira a Associação das Congadas, juntamente com vários grupos que se apresentam em eventos culturais e religiosos. Trata-se, portanto, de um processo criativo, embora não pouco tensional, de incorporação e legitimação de expressões e valores da cultura afrodescendente no âmbito da fé cristã, que perdura até a contemporaneidade: “No último mês de julho, a Associação Cultural do Congado de Laranjeiras e a Guarda de Congado Nossa Senhora do Rosário e São João Evangelista, em João Monlevade, passaram a fazer parte, formalmente, do patrimônio histórico da cidade. Por meio de registro os dois grupos foram reconhecidos como “bens imateriais culturais” do município. Em 2010, a Guarda de Marujos Nossa Senhora do Rosário já havia recebido o título. Segundo os decretos, os registros justificam-se pelos valores histórico, antropológico, sociológico e cultural que os congados representam. [...] Em Nova Era, duas guardas de Congo, desmembradas da mesma guarda, de Nossa Senhora do Rosário, irão se tornar bens imateriais: uma de raízes tradicionais, do bairro Estação, e outra surgida na Vila Santa Rosa — essa última emancipada em 6 de outubro de 1985, quando coroou seus próprios Rei e Rainha Conga. [...] Em Itabira, o grupo de marujos de Nossa Senhora do Rosário, do Bairro Água Fresca, também tem buscado o mesmo reconhecimento. De acordo com Antônio Marcos Beato, 72 anos, presidente da Associação das Congadas da cidade, existe um forte movimento para que o grupo seja tombado como bem imaterial”.104 O protagonismo dos leigos empobrecidos, inspirado pela devoção a Nossa Senhora do Rosário, viu-se sucedido, por sua vez, pela atuação comprometida do clero, então considerada uma ação civilizatória cristã. Tal projeto de atuação eclesiástica adveio, sobretudo, da releitura da figura do “pastor de almas”, numa resposta à perspectiva laicizante disseminada com o Iluminismo, no final do século XVIII. Dessa maneira, a figura do 103  Segundo a pesquisadora Silvia Hunold Lara, os termos “reinado” e “congado” reportam-se a experiências socioreligiosas muito similares, especialmente em Minas Gerais, cf. LARA, Silvia Hunold. Significados cruzados: um Reinado de congos na Bahia setecentista. In: CUNHA, Maria Clementina Pereira (org). Carnavais e outras frestas: ensaios de história social da cultura. Campinas: Ed. Unicamp; Cecult, 2002. 104  EMILIANO, Patrícia. Valor reconhecido. De Fato On-Line. 2 set. 2012. Disponível em <http://www. defatoonline.com.br/noticias/ultimas/02-09-2012/valor-reconhecido>. Acesso em 2 out. 2014. 44 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


“bom pastor” deixa de ser novidade no século XVIII: de autores espirituais a filósofos, ela dominou a literatura religiosa. Emergem personagens ficcionais emblemáticos: Teótimo, terapeuta de almas, bom sacerdote de Voltaire, é um preceptor moral, atento à prosperidade e à ordem públicas; o vigário de Rousseau concentra-se apenas nos dogmas ‘úteis’ à vida dos fiéis. Logo, as verdades teológicas a serem ensinadas subordinam-se ao resultado obtido pela administração das práticas religiosas: os padres são os educadores, funcionários da moral, e até mesmo responsáveis, juntamente com os policiais, de garantir a paz nas aldeias e a concórdia nas famílias.105 Daí porque, na paróquia de São Domingos do Prata, final do século XIX, a comunidade local, liderada pelo padre Antônio Cordeiro Abrantes, mantinha ousada aspiração: “era sua preocupação constante a fundação de um hospital; esta obra era o cuidado de sua vida [...] fazendo nas práticas [pregações] de domingo a apologia da caridade e solicitando donativos... afinal comprou casa para o hospital [...] faleceu em 1896”.106 Em paralelo, o clero teve grande importância no incremento da produção de tecidos na região: “O grande benfeitor do lugar [freguesia de Nossa Senhora do Rosário de Paulo Moreira] foi o vigário, padre José Marciano de Aguiar, homem de extraordinária ilustração, que falava correntemente inglês e francês, amigo do progresso, notável também por suas virtudes. Introduziu na sua paróquia a indústria da tecelagem, para o quê mandou vir da Europa todo o maquinário necessário. Padre José Marciano dirigiu a paróquia por mais de trinta anos, vindo a falecer santamente a 12 de novembro de 1919. Mais tarde, a Companhia fabril Mascarenhas substituiu a antiga empresa fundada pelo vigário”.107 Na busca de novos caminhos para o apostolado, a espiritualidade do bom pastor veio a ser explicitamente apoiada pela Santa Sé e pelos bispos das mais diversas dioceses no mundo, inclusive de Mariana, instituída como Arquidiocese em 1906. As paróquias da futura diocese de Itabira105  JULIA, Dominique. O sacerdote. In: VOVELLE, Michel (dir.). O Homem do Iluminismo. Lisboa: Presença, 1997, 106  BARBOSA, Waldemar Cunha da. Op. Cit. p. 448-449. São Domingos do Prata foi elevado à condição de vila em 1890 e no ano seguinte à de cidade. Em 1923, fixou-se a denominação de São Domingos do Prata, pois anteriormente a localidade era intitulada apenas São Domingos. 107  BARBOSA, Waldemar de Almeida. Op. Cit. p. 33.

50 Anos

45 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


Coronel Fabriciano vinculavam-se, assim, a um duplo postulado – da missão civilizadora da Igreja e da liderança eclesiástica -, que tinha na figura do cura d’Ars o seu maior representante, como descrito pelo Boletim Eclesiástico:“[...] não estamos depreciando os talentos naturais, nem a atividade humana de homens, nem desejamos paralisar os seus esforços e arrancar do Padre a ação social e o amor à cultura das ciências, a cujo progresso não pode ficar alheio. Se a vida admirável do cura d’Ars era um prodígio de graças, não era menos afanoso o seu trabalho pelo estudo. [...] Os sacerdotes terão grande influência sobre as almas e farão imensos bens no mundo à proporção que trabalharem, no púlpito e no confessionário, conforme o seu modo de agir no exercício das sagradas funções e sobretudo se o seu proceder dentro e fora da Igreja tiver o cunho do sobrenatural”.108

108  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA ARQUIDIOCESE DE MARIANA (AEAM). O Cura d’Ars. Boletim Eclesiástico da Diocese de Mariana. 1905. 46 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


II

Fundação da Diocese, entre Modernidade e Tradição



2.1. O apoio das lideranças eclesiásticas No início da década de 1960, a criação da diocese de Itabira apresentavase como um projeto de efetivação praticamente assegurada, pois contava com explícita aprovação de Dom Oscar de Oliveira, arcebispo de Mariana, assim como de Dom Armando Lombardi, então núncio apostólico109. Desta forma, relatava Dom Oscar em manuscrito de sua autoria: Em setembro de 1961, escrevendo ao Exmo. Sr. Núncio Apostólico, manifestei a Sua Excia. a conveniência de se fundar uma Diocese com sede nesta piedosa e tradicional cidade de Itabira. Em abril de 1962, na reunião dos bispos do Brasil, no Rio de Janeiro, o Exmo. Núncio, Sr. Armando Lombardi, tornou pública ante o episcopado a intenção da criação da Diocese. Era meu intento no ano passado, antes de ir a Roma para o Concílio Ecumênico Vaticano II, vir a Itabira para dar os primeiros passos relativos à criação da Diocese. Nosso Senhor, porém, não o permitiu, pois tendo sido eu acidentado gravemente, em carro, a 4 de agosto, fui levado em avião no mesmo dia para um hospital de Belo Horizonte, onde fui operado no dia 8 de janeiro do corrente ano, indo visitar-me, gentilmente, em Mariana, o querido cônego José Lopes de Magalhães. Entreguei-lhe uma carta em que nomeava três sacerdotes aqui residentes para a Comissão da futura Diocese Itabirana, delegando-os a escolherem, em meu nome, pessoas leigas para integrar a mesma comissão, o que cumpriram fielmente. Naquele 8 de janeiro, prometi ao cônego Magalhães que iria a Itabira no dia 2 de fevereiro com o objetivo da Diocese de Itabira. Ainda dessa vez não me permitiu o Senhor, pois nesse mesmo mês de fevereiro, devi submeterme a nova intervenção cirúrgica num hospital de Belo Horizonte.110

109  Representante diplomático da Santa Sé em um Estado e nas respectivas dioceses daquele país. Cargo similar ao de um embaixador. 110  OLIVEIRA, Oscar de. Texto autógrafo. Itabira, Casa Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Saúde, Itabira, set. 1963. p. 1-2. Sob a guarda do Arquivo Eclesiástico da Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano.

50 Anos

49 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


A cessão de parte expressiva da Igreja local não parecia um problema a Dom Oscar de Oliveira, pois Mariana, “tornada diocese em 1745 e Arquidiocese em 1906”, a despeito das divisões anteriormente promovidas, como as da criação da arquidiocese de Belo Horizonte, em 1921, Juiz de Fora, em 1924, Leopoldina, em 1942, e São João del Rey em 1960, mantinha-se como uma “[...] vasta circunscrição de 32.734 km2, com mais de um milhão de habitantes, católicos em sua quase totalidade. Território e população constituem um peso muito grave para um Pastor de almas na zona montanhosa de Minas Gerais. Por isso, o arcebispo de Mariana não só consente na divisão, mas tornou-se o seu promotor, e tem-no repetidamente insistido”.111 Já no caso da Arquidiocese de Diamantina, o desmembramento de uma “pequena parte do território de Diamantina foi sugerido por [...] motivos de ordem prática, já que as paróquias que se deveriam atribuir a Itabira são mais acessíveis a esta sede. Mesmo neste caso, o arcebispo consente”.112 Ao que tudo indica, a concordância de Diamantina foi sendo obtida mediante sucessivas negociações entre os eclesiásticos, fazendo-se o arcebispo Dom Geraldo de Proença Sigaud113 representar na posse do bispo de Itabira por seu vigário-geral, monsenhor João Tavares de Souza.114 E a postura aparentemente reticente da diocese de Diamantina, com Dom Sigaud à frente, desdobrou-se em franca oposição a partir da eclosão do regime civil-militar, em 1964: “Dom Sigaud delatou, acusou padres, bispos, não é? Dom Casaldaglia foi acusado por ele decomunista. E muitos padres também delatavam. Eu também fui... um padre de Itabira saiu 111  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Carta. 28 abr. 1965. p. 1. 112 Ibidem. 113  Geraldo Proença Sigaud nasceu em Belo Horizonte em 16 de setembro de 1909 e foi ordenado em 1932. Foi sagrado bispo para a cidade de Jacarezinho (PR) em 1947, na qual cumpriu seu exercício até 1961, ano em que se tornou Arcebispo Metropolitano de Diamantina (MG). Escreveu a Pastoral sobre a seita comunista e um pequeno livro intitulado Catecismo anticomunista. Junto com D. Antônio de Castro Mayer, foi um dos bispos brasileiros que mais defendeu posições conservadoras no Concílio Vaticano II, cf. CALDEIRA, Rodrigo Coppe. Bispos conservadores brasileiros no Concílio Vaticano II (1962-1965): D. Geraldo de Proença Sigaud e D. Antônio de Castro Mayer. Horizonte, Belo Horizonte, v. 9, n. 24, p. 1010-1029, dez. 2011. 114  Instalou-se a Diocese de Itabira e tomou posse seu bispo. O Arquidiocesano: órgão oficial da Diocese de Mariana. Mariana, 9 jan. 1966. 50 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


daqui e foi para Juiz de Fora denunciar como comunista. Então, houve uns oito casos de Inquérito Policial-Militar contra padres”.115 Todavia, Dom Carlos Carmelo de Vasconcellos Motta, então cardeal de São Paulo e, a partir de 1964, de Aparecida, mas que iniciara sua trajetória episcopal como bispo-auxiliar de Diamantina, em 1932, aí permanecendo até 1935, apoiava decididamente a criação da Diocese. Para o cardeal, a instauração implicaria um estímulo ao desenvolvimento tanto social quanto religioso da região, a exemplo do que estaria simultaneamente ocorrendo na área central do país, com a construção de Brasília.116 Era também facilmente perceptível o apoio da Nunciatura Apostólica à criação da Diocese, a despeito das “oportunas instruções dos superiores no sentido de diminuir o ritmo das inovações na geografia eclesiástica brasileira. [...] Ao apresentar o seu projeto [para criação da diocese de São João del Rey] (conforme Ofício n. 19.950, de 25 de abril de 1960), Dom Lombardi117 já previa a possível ereção de uma nova diocese na região norte da Arquidiocese”.118 Ao ser nomeado Núncio Apostólico no Brasil, em 1954, Dom Armando Lombardi atuava havia onze anos na Secretaria do Estado do Vaticano, sendo responsável pelo Setor da América Latina. Nos dez anos em que permaneceu à frente da Nunciatura, até seu falecimento em maio de 1964, mostrou-se um grande incentivador da renovação interna da Igreja no Brasil, implementada de forma decisiva com a criação da Conferência Nacional dos Bispos, em 1952. Ratificando explicitamente a fundação da CNBB e sua orientação sócio pastoral, Dom Lombardi, ao visitar praticamente todas as dioceses brasileiras, buscava neutralizar a reação contrária de alguns prelados a essa nova entidade, ao mesmo tempo em que dava aval à profunda renovação na hierarquia eclesiástica brasileira, 115  Entrevista de D. Marcos Noronha a Sérgio da Mata em 17 jan. 1995. Projeto integrado: memória e história: visões de Minas. Belo Horizonte. UFMG. Disponível em <http://www.marcosnoronha.com.br/ clippings/pdfs/Entrevista%20Marcos%20Noronha.pdf> Acesso em 25 out. 2014. 116  BEOZZO, José Oscar. Padres conciliares brasileiros no Vaticano II: participação e prosopografia (19591965). Tese (Doutorado em História). São Paulo: USP, 2001. p. 122. 117  Trata-se de D. Armando Lombardi, nomeado Núncio em 1954 e falecido em 4 de maio de 1964, pouco mais de um ano antes da criação da diocese de Itabira. 118  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Carta. 28 abr. 1965. p. 1.

50 Anos

51 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


estimulando a nomeação de 109 bispos e 24 arcebispos, bem como a criação de 16 prelazias, 48 bispados e 11 arcebispados.119 As motivações de Dom Oscar e de Dom Armando Lombardi para a criação de mais um bispado em Minas Gerais buscavam responder a alguns desafios considerados impreteríveis para a Igreja nesse estado. Por um lado, as condições socioeconômicas da diocese cuja fundação estava sendo sugerida tinham características inteiramente diversas de suas igrejas-mães, Mariana e Diamantina: “O surto econômico e a rápida industrialização devido à presença da mineração e das siderurgias determinou uma situação tão complexa e uma fisionomia tão distinta que já não se poderiam integrar nas dioceses de origem”.120 Assim, “Enquanto a zona em volta de Mariana segue em ritmo de desenvolvimento normal e mesmo lento, a região de Itabira está em rápido progresso econômico e industrial pela criação do minério de ferro, e a população adulta aumenta cada dia com a imigração interna”.121 Efetivamente, uma nova área de dinamização econômica consolidavase em torno da década de 1960 no chamado “Vale do Aço”, segunda aglomeração urbana de Minas Gerais, estruturada em torno de duas grandes siderúrgicas, Acesita e Usiminas, bem como da fábrica de celulose Cenibra.122 Nas entrelinhas de escritos deixados por Dom Oscar de Oliveira, arcebispo de Mariana, a atenção ao florescimento econômico-industrial do Vale do Aço como instigador à criação da nova diocese não deixa de transparecer: “Faço votos a Deus que em futuro não remoto se concretize 119  LUNA, Luis Henrique de Oliveira e. As Relações entre o Núncio Apostólico no Brasil e o Arcebispo de Olinda e Recife, durante os Primeiros Anos do Regime Militar (1964-1969). Anais da Associação Brasileira de História das Religiões. Disponível em <http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:G9GsBqMVazkJ:www. abhr.org.br/wp-content/uploads/2013/09/19.-As-Rela%25C3%25A7%25C3%25B5es-entre-oN%25C3%25BAncio-Apost%25C3%25B3lico-no-Brasil-e-o-Arcebispo-de-Olinda-e-Recife-Durante-os-. htm+&cd=9&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br> Acesso 25 out. 2014. 120  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Vigésimo aniversário da diocese de Itabira – Coronel Fabriciano.Mimeo. p. 1. 121  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Carta. 28 abr. 1965. p. 1. 122  COSTA, Geraldo M.; COSTA, Heloisa S. M. Novas e velhas diferenças: desafios à gestão metropolitana no Vale do Aço. Disponível em <http://www.abep.nepo.unicamp.br/docs/anais/pdf/2000/ Todos/migt11_2.pdf>. Acesso em 28 out. 2014. 52 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


o desejo de todos nós: a criação da Diocese de Itabira, que irá trazer incalculável benefício a esta zona siderúrgica, principalmente a esta querida cidade”.123 Afinal, como na região em torno de Itabira, se “[...] apresenta[m] todos os problemas ligados ao fenômeno de uma acelerada industrialização: a presença aí do bispo teria a inegável vantagem de maior prontidão em identificar e resolver os problemas mais urgentes [...]. Deste modo, ao lado do desenvolvimento econômico, intensificar-se-á a presença operante da Igreja”.124 Urgia também, considerava a liderança eclesiástica, prover da devida orientação os costumes sociais, que vinham passando por intensas mudanças: a nova diocese auxiliaria a melhor “[...] organizar a vida católica e as forças do laicato para o apostolado religioso e social. Serviria ainda para atrair para a região novos missionários e novas famílias religiosas”.125 Os prelados mostravam-se atentos, por exemplo, às novas facetas dos relacionamentos afetivos: “Nos primeiros carnavais da Vale do Rio Doce, começou a chegar uma leva muito grande de engenheiros, e em Itabira tinha muitas moças casadoiras. Então eu me fantasiei de engenheiro e pus uma placa nas costas: “Engenheiro da praça à disposição”.126 Para alguns moradores, as transformações chegavam a adquirir verdadeiros tons dramáticos: “Foi praticamente o fim da cultura itabirana. Tudo destruído, sepultado, o verdadeiro desligamento do passado de glórias, do passado culto. [...] O ponto forte foi a chegada dos candangos, que fizeram um corte, trouxeram ‘raças estranhas’. Em consequência, Itabira foi perdendo os seus pianos, os pianistas, escritores e perdeu a própria alma”.127 Outro fator para o apoio da Arquidiocese de Mariana e da Nunciatura Apostólica à criação da Diocese de Itabira era o temor velado do 123  OLIVEIRA, Oscar de. Texto autógrafo. Itabira, Casa Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Saúde, Itabira, set. 1963. p. 2. ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. 124  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Carta. 28 abr. 1965. p. 1 e 2. 125 Ibidem. 126  Depoimento de ex-professor,78 anos. Apud: BASTOS, Elaine Viza. Itabira e a Companhia Vale do Rio Doce: interações e identidade no tempo da modernidade. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais). Belo Horizonte: PUC-MG, 2008. p. 100. 127  DE CAUX, Emília. Uma enciclopédia da história. De Fato, Itabira, p. 6-8 (Entrevista), out.1996 p.7 e 8. Apud: Ibidem. p.102.

50 Anos

53 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


crescimento do protestantismo no estado de Minas Gerais.128 Durante o Segundo Reinado, o protestantismo, professado principalmente por imigrantes ingleses e germânicos e seus descendentes, havia priorizado a preservação de sua identidade étnica, obtendo, no campo jurídico, o reconhecimento público de seus templos, o registro do casamento entre evangélicos e o enterro de pessoas não-católicas em cemitérios próprios. Já ao final do século XIX, despontou um grupo distinto, composto por missionários sobretudo de procedência norte-americana, com práticas explicitamente proselitistas. Eles receberam boa acolhida entre segmentos da classe média urbana, destacadamente junto àqueles alinhados com o pensamento liberal, que passavam a considerar o protestantismo como uma religião incentivadora do trabalho e da promoção social, ou seja, um fator propiciador da transição do Brasil para a modernidade. Assim, famílias que ensejavam, para seus filhos, uma educação menos humanística e mais voltada à instrução científica e técnica, deram preferência a colégios dessas denominações confessionais.129 Em Itabira, a presença do protestantismo começou a se tornar visível em torno dos anos 1950, estando em parte associada à vinda de trabalhadores de outras áreas do país: “Aí foi crescendo o número de forasteiros com novas religiões [...] e aí foi aquela efervescência de religiões e tudo, sabe!”.130 Nesta ocasião, foi edificado o primeiro templo evangélico, pertencente à confissão metodista. Muitos fiéis católicos, por vezes insuflados pelo clero, alimentavam certo antagonismo perante denominações religiosas distintas do catolicismo, incluindo-se aí também os espíritas, como indicado pelo depoimento de um dos moradores:“A discriminação religiosa era muito grande. Eram três espíritas em Itabira: meu pai, um tio dele e um amigo dele. E eles eram discriminados. Teve um padre lá que, quando chegava na hora da missa, ele falava assim: Não dêem serviço aos espíritas!”.131 Até os agnósticos eram 128  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Carta. 28 abr. 1965. p. 1 e 2. 129  SANTOS, Lyndon de Araújo.O protestantismo no advento da República no Brasil: discursos, estratégias e conflitos.Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH, Ano III, n. 8, Set. 2010. 130  Depoimento de ex-professora, 88 anos. Apud: BASTOS, Elaine Viza. p. 99. 131  Depoimento de ex-professora, 78 anos. Apud: Ibidem. p. 63. 54 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


vistos com desconfiança: “No cemitério havia separação mesmo, sabe? E muitas vezes as pessoas que não tinham religião eram mesmo muito marcadas na cidade. Isso mesmo aconteceu com minha família, porque nós somos agnósticos. E muitas pessoas, quando meu pai pôs um comércio aqui, nem passavam perto inicialmente”.132 O tom das missivas enviadas ao bispo de Mariana, antes da criação da diocese, mantinha animosidade semelhante: “A região siderúrgica de Usiminas, que vai crescendo, diaa-dia, com operários advindos de várias partes, e ainda com infiltrações protestantes, está a exigir se erija logo em Paróquia, como reconhecem e insistem os párocos de Coronel Fabriciano e Acesita”.133 Mas um importante diferencial imiscuiu-se favoravelmente “[...] na determinação da fisionomia própria desta Diocese [de Itabira]. É que ela surgia em plena realização do Concílio Vaticano II”.134 Dom Geraldo Lyrio Rocha, atual arcebispo de Mariana, que no início dos anos 1960 era estudante de Teologia em Roma, relatou: “Eu era seminarista e estudava em Roma quando eu ouvi a conversa do arcebispo de Vitória – [estado do Espírito Santo] com o arcebispo de Mariana, sobre a criação da futura diocese de Itabira, hoje diocese de Itabira – Coronel Fabriciano. [...] a diocese de Itabira nasceu durante o Concílio Vaticano II e ela já nasceu com as marcas do Concílio [...]”.135 Pode-se considerar que o Vaticano II (1962-1965) figurou como um campo de lutas simbólico-políticas entre posturas distintas em sua concepção de Igreja: enquanto parte do episcopado compreendia ser necessário dialogar com a modernidade, outros segmentos refutavam o que lhes parecia ser um retraimento dos princípios católicos, pois vislumbravam nos valores e práticas consideradas “modernas” graves desvios da ortodoxia moral e religiosa. Simultaneamente, a Igreja brasileira deparou-se, em 1964, com a implantação do regime civil-militar, que repercutiu diretamente na 132  Ex-vereador, 86 anos. Apud: Ibidem. p. 63. 133  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA ARQUIDIOCESE DE MARIANA. Carta do Arcebispo Dom Oscar de Oliveira ao Cabido Metropolitano, 01/08/1960. 134  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Vigésimo aniversário da diocese de Itabira – Coronel Fabriciano.Mimeo. p. 1. 135  CÚRIA DIOCESANA DE ITABIRA – CORONEL FABRICIANO. Rumo aos 50 Anos. Diocese de Itabira Coronel Fabriciano. 1965-2015. Edição Especial Elo Diocesano. Ipatinga: Gálatas Comunicação Católica, 2014. p. 5.

50 Anos

55 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


orientação pastoral das dioceses. Daí ter Dom Marcos Noronha, primeiro bispo de Itabira, assim se pronunciado: “Então, a minha visão geral de Igreja em Minas Gerais, ou na diocese de Itabira, como você quer, foi isso. Uma diocese, ou um tempo de luta de pastoral marcada por dois eventos - Concílio Vaticano II e o golpe de 64. Eu acho que não se pode fazer a história da pastoral em nenhuma diocese de Minas, ou a história da Igreja em Minas na década de 60, sem levar em conta esses dois fatores, que são de primeira importância, a primeira marca.136 Era fácil perceber que a constituição do novo bispado nem de longe seria uma tarefa simples, pois “Itabira era dominada pela tradição: Padre Lopão e Padre Lopinho ditavam as regras. Tudo tradicional. Igreja hierarquizada, institucionalizada, sacralizada. Distante do povo...”.137 As resistências logo se fizeram sentir, como rapidamente constatado por Dom Marcos Noronha: “Claro que havia sempre vozes contrárias. Era uma diocese tradicionalista. Tinha vindo da diocese de Mariana e da diocese de Diamantina, e, portanto, tinha uma marca de TFP [Tradição, Família, Propriedade], de conservação. Mas foi feito com coragem!”.138 2.2. A conjugação de forças locais O apoio do clero local mostrou-se também imprescindível, com destaque à figura do cônego José Lopes de Magalhães, que em 8 de abril de 1963 escrevia ao arcebispo Dom Oscar de Oliveira, dem onstrando-se ansioso pela criação da nova diocese: [...] Sr. Arcebispo, quanto ao trabalho para a criação da nossa Diocese, tenha a dizer que não temos permanecidos ociosos. Estou aproveitando o movimento da nossa Semana Santa para intensificar a propaganda. Envio a V. Excia. um numero do Cometa - Órgão dos Estudantes de 136  Entrevista de Dom Marcos Noronha a Sérgio da Mata em 17 jan. 1995. Projeto integrado: memória e história: visões de Minas. Belo Horizonte. UFMG. Disponível em <http://www.marcosnoronha.com.br/ clippings/pdfs/Entrevista%20Marcos%20Noronha.pdf> Acesso em 25 out. 2014. 137  Depoimento impresso do Sr. Otacílio Fernandes Ávila, gentilmente cedido pelo autor. Sem data. Mimeo. 138  Entrevista de Dom Marcos Noronha a Sérgio da Mata em 17 jan. 1995. Op. Cit. 56 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


Itabira, onde está um artigo referente ao assunto, embora com certos desvios ou imperfeições. Mando também uns folhetos que estou espalhando pelo povo que frequenta nossa matriz. Desejo [ilegível] como ser o primeiro abrir a Caderneta da nova Diocese com uma entrada de Cr$ 100.000,00. Sobre a minha desejada transferência para a nova Paróquia, esperarei com paciência, não fazendo mesmo questão de permanecer ainda aqui durante o mês de maio. Digo isto, porque sei ser difícil afastar um padre de uma paroquia para a outra, a não ser o caso que V. Excia. queira melhorar as condições de algum Colega do interior. Respeitosamente beijo o Sagrado Anel. De. V. Excia. Subdito e amigo Con. José Lopes de Magalhães139 Um mês depois, ele remetia nova missiva ao prelado, descrevendo seu empenho na campanha para a fundação do bispado: [...] Informando sobre o andamento “Pro Diocese” quero dizer a V. Excia. Que estamos empenhados ardorosamente nesta campanha. Depois que V.Excia. permitiu trabalhar cada Vigário nas suas respectivas Paróquias, ficou muito melhor para nós. Estamos correndo toda paróquia, incluindo a Nova e começamos com a Campanha de Contribuições com os homens de Cr$ 10.000,00 para cima. Deu resultado, porque já devemos ter atualmente uns 400 inscritos. Já houve ofertas de Cr$ 100.000,00. A Campanha com as Senhoras e moças também está dando certo; ainda ontem, uma oferece Cr$ 15.000,00. Pedi também ao Nosso Superintendente escrevesse ao presidente da Companhia, solicitando uma resposta. Como vê V.Excia. estamos agindo; o que depender de mim não medirei esforços e sacrifícios para dar cumprimento as suas preciosas ordens. V. Excia. já tem candidato para Nossa Saúde? Aguardando, 139  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA ARQUIDIOCESE DE MARIANA. Carta do Con. José Lopes Magalhães a Dom Oscar. Ansioso para a criação da diocese de Itabira, 08/04/1963. Ortografia atualizada

50 Anos

57 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


suas sabias determinações. Beijo reverentemente o precioso anel. DeV. Excia Revma. Humilde súbdito e amigo Con. José Lopes de Magalhães.140 Em 20 de julho de 1963, Dom Oscar de Oliveira, tendo recuperado parcialmente a saúde - “troquei as muletas pela bengala” -, decidiu finalmente promover visita pastoral em Itabira, a fim de dinamizar as condições necessárias à criação da diocese. Assim, “No dia 4 de setembro, à noite, na Casa Paroquial desta Paróquia [de Nossa Senhora da Saúde de Itabira], orientei a Comissão Pró-Diocese sobre importantes passos”.141 Através da documentação disponível, ainda que fragmentária, pode-se reconstituir algumas das então orientações promovidas pelo arcebispo de Mariana. Território A primeira delas refere-se à importância da ampliação do número de paróquias, as quais dariam suporte à futura atuação pastoral em âmbito diocesano. Assim, em agosto de 1960, era cogitada a fundação de uma paróquia amovível142 na Usiminas,143 sendo também constituída a paróquia Nossa Senhora da Esperança, em Ipatinga. Nos anos 1962-63, houve sugestão de fundação de mais duas paróquias: São Sebastião, desmembrada da paróquia São José, em Timóteo e, Santo Antônio, em Melo Viana, a qual se autonomizou da paróquia Nossa Senhora da Esperança, vinculada à Usiminas. Em 1963, o padre Geraldo Barreto Trindade conclamava a Dom Oscar de Oliveira que criasse uma paróquia em Itauninha, de forma 140  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA ARQUIDIOCESE DE MARIANA. Carta do Com. José Lopes Magalhães a Dom Oscar. Empenho na campanha para a nova Diocese, 13/05/1963. 141  OLIVEIRA, Oscar de. Texto autógrafo. Op. Cit. p. 2. 142  O termo amovível é canonicamente empregado para referir-se a um ofício ou benefício eclesiástico que não é perpétuo e cujo titular pode ser destituído, desempossado ou privado, a arbítrio do superior. 143  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA ARQUIDIOCESE DE MARIANA. Carta do Arcebispo Dom Oscar de Oliveira ao Cabido Metropolitano, 01/08/1960. 58 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


anexada a Hematita.144 Neste mesmo ano, Dom Oscar fundou as paróquias de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, em Itabira,145 e de Cristo Rei, em Ipatinga. Simultaneamente, a paróquia de Coronel Fabriciano passou a ter expressivo crescimento, com a anexação das capelas de Boachá, Ipaba, Perpétuo Socorro e Tamanduá, desmembradas da paróquia da Usiminas.146 É interessante observar que todas essas capelas situavam-se no município de Mesquita, mas mesmo assim foram integradas à paróquia de outra cidade. Houve ainda a sugestão para criação da paróquia de Sant’Ana do Paraíso, a ser desmembrada da paróquia de Mesquita, bem como a instalação de novas paróquias amovíveis: Belo Oriente e Paraíso.147 Assim, paulatinamente, ia se concretizando o projeto de fundação de uma nova diocese: “Desde algum tempo, trabalha-se [...] ela poderá iniciar a sua vida própria com um bom número de paróquias e de sacerdotes”.148 Ao ser constituída, no final de 1965, a nova diocese encontrava-se dividida em 39 paróquias, cada uma com uma igreja matriz e numerosas capelas rurais. De forma concomitante, ainda em 22 de janeiro de 1961, o cônego José Lopes de Magalhães propõe à Arquidiocese de Mariana a criação da Forania de Itabira: “Sede Itabira com as seguintes paróquias: N. S. do Rosário e N. S. Saúde (em Itabira) Santa Maria de Itabira, Sant’Ana de Ferros, N. S. do Carmo, Bom Jesus do Amparo e São Gonçalo do Rio Abaixo”.149 Até então, Itabira integrava a forania de Santa Bárbara. Dessa 144  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA ARQUIDIOCESE DE MARIANA. Carta do Padre Geraldo Barreto Trindade a Dom Oscar, 07/02/1963 Pedido de criação de uma paróquia em Itauninha (unindo com Hematita). 145  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA ARQUIDIOCESE DE MARIANA.11/02/1963- Ereção da Paróquia de Cristo Rei de Ipatinga, pelo decreto “O Reino de Deus”. 11/02/1963- Carta de Dom Oscar. Decreto da criação da Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Fátima em Itabira. 03/03/1963- Solenidade da ereção canônica da Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Fátima em Itabira. A paróquia de Nossa Senhora de Fátima foi conduzida à condição de comunidade em 2001. 146  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA ARQUIDIOCESE DE MARIANA. Carta do Pe. Joaquim Santana de Castro a Dom Oscar,16/03/1963. 147  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA ARQUIDIOCESE DE MARIANA. Ata-Sessão Extraordinária19/03/1963. 148  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Carta. 28 abr. 1965. p. 2. 149  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA ARQUIDIOCESE DE MARIANA. Carta do Cônego José Lopes de Magalhães a Mariana, 22 jan. 1961.

50 Anos

59 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


maneira, paulatinamente, a região de Itabira ia se autonomizando de Mariana, sem que, todavia, os laços eclesiástico-administrativos fossem de todo rompidos, pelo contrário: quando de sua criação, “Itabira [tornouse] a terceira diocese sufragânea de Mariana, juntamente com Caratinga e Governador Valadares”.150 Mas qual seria a sede da nova diocese? Em relatório eclesiástico, é mencionado que: Três cidades estavam em luta [...]: Itabira, Coronel Fabriciano e Nova Era, mas a escolha recaiu sobre a primeira, pela sua importância histórica, sendo no plano econômico igual às outras duas. Itabira é uma cidade tradicionalmente católica, com uma população mais estável, e prevalecentemente de operários, técnicos e funcionários da Companhia Vale do Rio Doce, que tem sede na cidade. Conta com 16.571 habitantes no centro e 37.387 no município. Está subdividida em três paróquias; há dois hospitais, dois ginásios, duas escolas normais, um colégio comercial, quatro grupos escolares, cinco bibliotecas, uma livraria e uma tipografia.151 Neste processo de escolha, a Companhia Vale do Rio Doce, ao que tudo indica, deu significativo parecer, conforme declarou seu presidente, Oscar de Oliveira, em almoço solene, logo após a investidura canônica do primeiro bispo, em 1965: Quando o saudoso Núncio Apostólico, Dom Armando Lombardi, consultou o arcebispo de Mariana qual cidade conviria para sede episcopal da região do Vale do Rio Doce, respondeu-lhe, por escrito, que, sem dúvida, a melhor indicada seria Itabira. E apresentávamos a D. Lombardi ponderados arrazoados para tal primazia: sua gloriosa antiguidade, seu constante progresso, sua profunda religiosidade, sedimentada na tradição de suas famílias. Itabira! Itabira est nomen ejus! 150  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Carta. 28 abr. 1965. p. 7. 151  Ibidem. p. 6. 60 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


E o Sr. Núncio confiou-nos preparássemos, quando nos fosse possível, os caminhos para essa concretização. Constituímos uma comissão, e de nossa parte, fizemos o que estava em nossas mãos.152 Mas a despeito da configuração territorial (e, por conseguinte, política) ser um aspecto crucial na constituição da nova diocese, o primeiro prelado, Dom Marcos Noronha, fez questão de frisar, já na sua homilia de posse, o significado diferenciado que atribuía a tais questões, no espírito do Vaticano II: Tudo está aqui. Em primeiro lugar, um território, delimitando a ação e permitindo um centro. Um território que deve ser a casa de família, com todos os recantos que a casa tem, a serviço do homem. Um território que se divide e se une através das paróquias e das outras comunidades chamadas de base. Cada pedaço está ligado, Evangelho e Eucaristia, para que aí esteja viva a Igreja de Deus. Comunidades que se reúnem no lar, no trabalho, nas fábricas, no campo, no lazer, no estudo, no sofrimento, na luta pela vida, na procura de Deus e do irmão. [...] Paróquias unindo-se para formar a Diocese, aquela porção do povo de Deus. Território para marcar um trabalho de família, unido, mas nunca uma ilha dentro da Igreja universal. Aberto a não mais poder à pastoral de conjunto, aos anseios e pensamentos dentro do universal. 153

152  Discurso de saudação a D. Marcos, proferido pelo Sr. Dr. Oscar de Oliveira, presidente da Cia. Vale do Rio Doce, em 29 dez. 1965. Instalou-se a Diocese de Itabira e tomou posse seu bispo [Continuação da primeira página]. O Arquidiocesano: órgão oficial da Diocese de Mariana. Mariana, 9 jan. 1966. p. 1; 4. 153  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Primeiras palavras do Sr. Bispo na Catedral, 29 dez. 1965. Manuscrito. Grifos do autor.

50 Anos

61 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


Integrantes Quando a diocese de Itabira foi criada, em 1965, havia apenas 32 sacerdotes do clero secular e 13 religiosos (três redentoristas, três salesianos, quatro jesuítas e quatro sacerdotes da Congregação Aumoniers Du Travail, fundada pelo padre Ryen), além de 13 seminaristas (quantitativo em 1967), para responder pelos 28 municípios e centenas de comunidades. Atuavam também três irmãos leigos (2 jesuítas e 1 salesiano). As congregações masculinas distribuíam-se pelos municípios de Coronel Fabriciano e de Senador Melo Viana, a cargo dos padres do Santíssimo Redentor, e de Ipatinga, onde fazia-se presente a Companhia de Jesus. Sobre a missão que aguardava esses presbíteros na diocese, assim pronunciou-se o primeiro bispo: “[...] hora da visão positiva do padre, sem angelicismo e sem naturalismo, sem a exigência incômoda de que cada um possa ter todos os carismas e inerrabilidade. Sentados, como todos os outros que peregrinam na caravana de Deus, presente na pastoral com tudo o que tem, tratado como adulto e presente como adulto no presbitério; santificando o seu povo e sendo por ele santificado; amando e sendo por ele amado. Felizes de nós padres, se tivermos a amizade calorosa do povo de Deus!”. 154 O apostolado feminino, por sua vez, fazia-se representar por três congregações, um instituto secular de direito diocesano e uma Pia União. As143 religiosas dedicavam-se a atividades educativas (9 escolas católicas, primárias e secundárias, masculinas e femininas), hospitais e orfanatos. Já quanto às organizações de leigos, que foram contabilizados pelo censo de 1970 em aproximadamente 300.000 católicos, podem ser citados “[...] Adoração Perpétua, Cruzada Eucarística, Apostolado da Oração, Congregações Marianas, Legião de Maria, Filhas de Maria e Vicentinos”.155 No projeto de constituição da diocese, conferia-se especial importância à “[...] organização da Ação Católica e dos sindicatos católicos dos operários e empregados”.156 154 Ibidem. 155  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Carta. 28 abr. 1965. p. 6. 156 Ibidem. 62 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


Novamente, durante a sua posse, Dom Marcos Noronha não deixou de citar o novo papel atribuído ao laicato; para ele, era chegada a hora “não mais de distribuição de poderes e atribuições, mas de responsabilidade dos fiéis, com a capacidade que receberam de seu Batismo, que os fez membros vivos. O Concílio fez com que fosse despertada essa consciência”.157 E, prossegue Dom Marcos, a despeito de uma composição tão plural dos integrantes da nova diocese, todos esses agentes eram convidados a participar de um projeto comum, que traduzisse um novo jeito de ser Igreja, em tempos pós-conciliares: Esse território existe assim marcado por causa das pessoas. São elas que possibilitam e exigem a presença do Evangelho e da Eucaristia. Bispos, sacerdotes, diáconos, religiosos e religiosas, catequistas e os chefes das comunidades, e todos os que, de qualquer forma, anunciam o Evangelho. Se é família a Diocese, ninguém pode dizer-se inútil e sem responsabilidade. Numa dependência mútua, todos têm sua função insubstituível na casa. Essas pessoas, nesse território, tornam presente a Igreja, [...] cada uma a seu modo, fazendo a descentralização e a centralização. Por isso, nenhum de nós pode ver sozinho os frutos plantados, e nenhum pode trabalhar sem os outros.158 Ação episcopal Como o prelado viria a interagir com todos esses elementos? Antes de tudo, fazia-se necessário dotá-lo do aporte de uma Cúria, que articulasse a operacionalidade das paróquias e demais espaços e práticas institucionais e litúrgicas, cuidasse do movimento financeiro e da administração do pessoal... Foi então decidido que, “Aguardando melhor organização”, a Cúria funcionaria “no plano térreo da Casa paroquial anexa à Catedral 157  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Primeiras palavras do Sr. Bispo na Catedral, 29 dez. 1965. Manuscrito. 158  Ibidem. Grifo do autor.

50 Anos

63 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


provisória; a construção é ampla e permite a independência dos escritórios da Cúria, da residência do pároco e de seu escritório”.159 Mas pouco depois “uma casa grande foi cedida à Rua dos Padres, em frente à casa do Sr. Ninico, pai de Marciana e Natércia, que já trabalhavam na Diocese. Pintamos a casa e nela instalamos o Secretariado Diocesano”.160 Já no que dizia respeito à catedral, determinou-se que “será provisoriamente a Matriz de Nossa Senhora do Rosário”.161 Urgia, como disposto na Bula de criação da Diocese, dar a “esse templo, como convém os devidos direitos, honras e privilégios, como também impondo-se o bispo os deveres convenientes a sua ordem”.162 Considerava-se, porém esta igreja demasiadamente pequena para as funções de catedral, cogitando-se em “construir no futuro a nova catedral, que seria dedicada a Nossa Senhora Aparecida”.163 E como se tratava de uma diocese recém-criada, optouse por não constituir Cabido, havendo apenas nomeação de consultores diocesanos.164 No tocante ao Seminário, na ausência de um edifício e de uma estrutura de formação que viabilizasse seu funcionamento, foi apontada uma dupla opção: “os 20 seminaristas menores e maiores de Itabira ratione originis poderão continuar frequentando os seminários em que estudam atualmente ou poderão ser recebidos no Seminário de Mariana”.165 Foi mesmo aventada a possiblidade de que, dentre os lotes de terreno que passariam a compor o patrimônio da Diocese, se viesse a “escolher o mais adaptado para a construção eventual do Seminário”.166 Aliás, em termos de patrimônio, Itabira parecia bem dotada: 159  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Carta. 28 abr. 1965. p. 7. 160  Depoimento impresso do Dr. Otacílio Fernandes Ávila, gentilmente cedido pelo autor. Sem data. Mimeo. 161  OLIVEIRA, Oscar de. Texto autógrafo. Itabira, Casa Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Saúde, Itabira, set. 1963. p. 1-2. Sob a guarda do ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. 162  Bula de Criação da Diocese de Itabira. Apud: CÚRIA DIOCESANA DE ITABIRA – CORONEL FABRICIANO. Rumo aos 50 Anos. Diocese de Itabira Coronel Fabriciano. 1965-2015. p. 8. 163  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Carta. 28 abr. 1965. p. 6. 164  Ibidem. p. 7. 165  Ibidem. p. 7. 166  Ibidem. p. 7. 64 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


Levando em conta a situação é bastante considerável, e é constituído pela residência do bispo, emolumentos de estola e da cúria de fundos monetários. Já em 1964, foram arrecadados 8 500 00 cruzeiros pela comissão organizadora e entregues ao Arcebispo de Mariana. As coletas são contínuas e pode se dizer que já chegue a C$ 10 000 000 a disponibilidade líquida da nova diocese. Das Arquidioceses de Mariana e Diamantina, a diocese de Itabira recebe todos os terrenos de propriedade daquelas mitras episcopais situadas no seu território. Particularmente considerável é uma fazenda legada por Dom Prudêncio, antigo bispo de Goiás, nascido em Itabira, à Arquidiocese de Mariana e que passará a fazer parte do patrimônio de Itabira com a morte dos dois irmãos octogenários do testador. O Arcebispo de Marina pede que uma segunda fazenda situada no município de Coronel Fabriciano, adquirida pelo seu predecessor com as esmolas do Santuário de Congonhas e cujos lucros são destinados à obra das vocações sacerdotais de Mariana, continue a fazer parte da Arquidiocese, porque com esta renda pretende construir o novo Seminário Menor. Parece-me justo atender a este desejo.167 A composição do patrimônio mostrou-se, efetivamente, uma das principais preocupações de Dom Oscar de Oliveira: “Pude então verificar o interesse e a boa vontade de todos, cujos trabalhos não têm parado, e já conseguida importante verba, que ainda está longe da necessária para a instalação da Diocese e constituição de um patrimônio inicial”.168 O cônego José Lopes de Magalhães então solicitou ao diretor da Companhia Vale do Rio Doce, Dr. Oscar de Oliveira, contribuições para o futuro bispado, como comentara em carta com o arcebispo de Mariana: “Quanto ao movimento da Diocese, vai muito bem por aqui; vamos começar agora a recolher. Escrevi também ao Dr. Oscar de Oliveira da 167  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Carta. 28 abr. 1965. p. 7. 168  OLIVEIRA, Oscar de. Texto autógrafo. Itabira, Casa Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Saúde, Itabira, set. 1963. p. 1-2. Sob a guarda do ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO.

50 Anos

65 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


Companhia, solicitando uma resposta”.169 Em resposta, a Vale afiançou estar disposta a fazer a doação de uma casa: Sr. Arcebispo, ainda ha pouco escrevi a V. Excia. informando que havia escrito ao Diretor da Companhia V.R.D., solicitando sua interferência para o despacho do nosso requerimento. Ontem o atual Presidente, Sr. Evaldo Gomes, dignou responder que nosso pedido está sendo “cuidadosa e carinhosamente estudado”. A Companhia está disposta a fazer doação de uma boa casa e arranjar uma verba que talvez possa atingir a soma de vinte e cinco milhões de cruzeiros, doados parceladamente. Tudo dependerá da resolução da Assembléia dos acionistas, uma vez que trata-se de doações. O assunto já está portanto sendo estudado com urgência na Presidência. Logo, Sr. Arcebispo, vamos aguardar com otimismo. [...]170 Assim, “A Companhia Vale do Rio Doce ofereceu a residência para o bispo: uma construção digna, em perfeito estado de conservação e suficientemente ampla”.171 Mas as resistências se fizeram sentir a esta interpenetração Igreja-mineradoras: Em abril [de 1966], o padre Joaquim [Santana de Castro, nomeado vigário da paróquia da Saúde] pediu-me carona para Itabira, acompanhado de sua mãe. Fomos para Itabira. À noite, na casa do bispo, como sempre, cheia. Havia apenas um quarto disponível. Padre Joaquim e sua mãe ficaram neste quarto. Eu poderia ter ido para alguma casa paroquial, para um hotel... Mas achei que não ficava bem. Preferi passar o resto da noite em uma cadeira na varanda da casa do bispo. Via, ao longe, os faróis dos enormes caminhões e escavadeiras 169  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA ARQUIDIOCESE DE MARIANA. Carta do Com. José Lopes Magalhães a Dom Oscar. Comunicando pedido de ajuda ao diretor da Companhia Vale do Rio Doce, doutor Oscar de Oliveira, com contribuições para a futura diocese, 29/05/1963. 170  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA ARQUIDIOCESE DE MARIANA. A Companhia Vale do Rio Doce está disposta a fazer doação de uma casa para a futura diocese, 31 maio 1963. 171  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Carta. 28 abr. 1965. p. 7. 66 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


da Cia. Vale do Rio Doce, cortando e transportando o minério. Vinha da roça, onde só se trabalhava de dia. Fiquei imaginando como os operadores dos maquinários se acostumavam a trabalhar durante toda a noite. Assim passei a primeira noite do novo trabalho [na Cúria]. Poderia imaginar que um dia seria empregado da Companhia Vale do Rio Doce?172 A despeito das dificuldades, a residência episcopal desempenhou importante função religiosa e social: “Em Itabira, a casa de Dom Marcos [primeiro bispo], sempre foi uma casa cheia. Todos o procuravam: intelectuais, bispos e padres de outras dioceses. Marcos a todos recebia muito bem. Era dotado de um coração, igual nunca vi”.173 As doações das mineradoras não pararam por aí: “Resolveu-se que me alojaria na casa paroquial da Saúde, onde o padre Joaquim já tomara posse. Voltei a Marliéria para buscar minha mudança, que coube na metade da carroceria de uma F 1000, caminhonete que conseguira de doação da Usiminas para a Paróquia”.174 Outro presente da Usiminas foi um “carro cinza, pouco usado”, entregue ao padre De Man, “para que ele o vendesse e com o dinheiro melhorasse um pouco as obras sociais que promovia e que estavam passando por grandes dificuldades. Percorremos toda a diocese, ora em Kombi, ora em fusca, ora em rural”.175 A Prefeitura de Itabira também colaborou, doando à Diocese “o carro mais luxuoso da época – um Aero Willys Itamarati, cinza”.176 Todavia... Na primeira viagem que fizemos com o carro, antes de chagarmos a João Monlevade, havia uma pedra no meio do asfalto. Não houve tempo de desviar, e a pedra foi de encontro à transmissão, entortou-a, quebrou o diferencial, enfim, uma lástima... Fiquei desconcertado, 172 Depoimento impresso do Sr. Otacílio Fernandes Ávila, gentilmente cedido pelo autor. Sem data. Mimeo. 173 Ibidem.  174 Ibidem. 175 Ibidem. 176 Ibidem.

50 Anos

67 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


pois eu estava dirigindo. Ficamos na estrada e o Marcos [Dom Marcos Noronha] falando: - Isto acontece, você não teve culpa! Nunca o vi reclamando.177 Mais uma vez, Dom Marcos, em sua cerimônia de posse, não deixou de se manifestar quanto ao sentido e ao papel dos recursos e da ação administrativa da Diocese: É por causa do Evangelho e da Eucaristia, para possibilitar sua chegada a cada pedaço do território, orgânica e planejada[mente], é que existe Cúria, Conselhos, Comissões. É por causa do Evangelho e da Eucaristia que se tiram meios à técnica de administração, à divisão de responsabilidades, ao trabalho da equipe para que a Igreja esteja viva em cada pedaço e o Evangelho possa chegar ao povo onde quer que ele esteja.178 2.3. Criação A diocese de Itabira foi oficialmente criada no dia 14 de junho de 1965 através da Bula Haud Inani do Papa Paulo VI. Dela faziam parte os 28 seguintes municípios, sendo seis desmembrados da Arquidiocese de Diamantina – Braúnas, Itambé do Mato Dentro, Morro do Pilar, Passabém, Santo Antônio do Rio Abaixo e São Sebastião do Rio Preto – vinte e dois da Arquidiocese de Mariana: Alvinópolis, Antônio Dias, Bela Vista de Minas, Belo Oriente, Bom Jesus do Amparo, Coronel Fabriciano, Dionísio, Ferros, Itabira, Ipatinga, Jaguaraçu, Joanésia, João Monlevade, Marliéria, Mesquita, Nova Era, Rio Piracicaba, Santa Maria do Itabira, São Domingos do Prata, São Gonçalo do Rio Abaixo, São José do Goiabal, Timóteo.

177 Ibidem. 178  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Primeiras palavras do Sr. Bispo na Catedral, 29 dez. 1965. Manuscrito. 68 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


Fig. 1 - Diocese de Itabira.179

Em 7 de julho de 1965, Marcos Noronha, cura da catedral e vigáriogeral da diocese de Guaxupé, foi nomeado bispo de Itabira. Em 24 de agosto, ocorreu sua sagração episcopal por Dom José Almeida Batista Pereira, bispo de Guaxupé. Estavam presentes Dom Hermínio Malzone Hugo, bispo de Governador Valadares, e Dom Gerardo Ferreira Reis, bispo de Leopoldina. “Radicados na caridade”, foi o lema por ele escolhido, retirado da Carta de São Paulo aos Efésios: “Eu quis dizer a mim mesmo que é inútil tudo aquilo que não estiver fortemente enraizado no Amor de Deus, manifestado no Cristo Jesus, assim como é inútil plantar sem confiar ao solo a fecundação, sem colocar as raízes no coração da terra”.180 Segundo o teólogo Fernando Altemayer Júnior, durante o período do Concílio Vaticano II, o episcopado do país era extremamente jovem. Em 1965, por 179  Disponível em <http://www.rccipatinga.com.br/site/images/mapa.png>. Acesso em 24 out. 2014. 180  Programa de D. Marcos é servir à Igreja. O Diário. 29 ago. 1965.

50 Anos

69 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


exemplo, 60% dos bispos tinham menos de 60 anos”.181

Fig. 2 - Sagração episcopal de Dom Marcos Noronha em Guaxupé.182

Em 2 de setembro de 1965, Dom Marcos Noronha viajou para Roma, a fim de participar do encerramento do Concílio Ecumênico Vaticano II e, ao mesmo tempo, da 7ª Assembleia Geral Extraordinária da CNBB, na qual os Bispos do Brasil debatem um Plano de Pastoral de Conjunto (PPC).183 Em 8 de dezembro de 1965, retornou ao Brasil, chegando a Itabira em 28 de dezembro. A partir daí, uma sequência de celebrações solenes oficializou-o na posse canônica da nova diocese. No dia 28 de dezembro, às 17h.30, Dom Marcos Antônio Noronha, acompanhado do Sr. Bispo de Guaxupé, D. José de Almeida, foi solenemente recebido em Itabira. Em meio de enorme multidão, foi o primeiro bispo de Itabira saudado pelo arcebispo de Mariana e pelo prefeito municipal de Itabira, Sr. José Machado Rosa. No dia 29, às 10 horas, em companhia do Sr. Arcebispo-coadjutor 181 Entrevista concedida à Folha de São Paulo. 25 maio 2007. Disponível em <http://www1.folha.uol. com.br/folha/bbc/ult272u62305.shtml>. Acesso em: 20 out. 2014. 182 Disponível em <http://www.marcosnoronha.com.br/BISPO_WEB/FOTOS/images/foto29.jpg>. Acesso em: 22 out. 2014. 183 MOREIRA, Odilon Guimarães. Livro da caminhada. Itabira: Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano, 2007. p.7. 70 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


de Belo Horizonte, D. João Resende Costa, de seu bispo-auxiliar, D. Serafim Fernandes Araújo, do Sr. Bispo de Governador Valadares, D. Hermínio Malzone Hugo, de alguns sacerdotes e autoridades civis, chegava a Itabira o Exmo. Sr. Núncio Apostólico D. Sebastião Baggio. Num palanque ao lado da Catedral, foi o representante do Santo Padre saudado pelo Sr. prefeito José Machado Rosa, em nome do município, seguindo-se o Revmo. padre Tarcísio dos Santos Nogueira, em nome do clero da nova Diocese.184 E, é claro, o cumprimento de extenso cerimonial deveria ser atendido... O coro da Paróquia executou inicialmente o Hino Pontifício, enquanto as autoridades eclesiásticas e o povo iam se dirigindo para o templo – Dom Sebastião Baggio pediu então que se fizesse a leitura da Bula, através da qual, em 14 de junho do corrente ano, o Santo Padre erigia a Diocese de Itabira no Brasil. [...] Em seguida, perante os bispos, o clero e o povo cristão que se encontravam na Catedral, o Sr. Núncio Apostólico deu posse solene a Dom Marcos e o entronizou no trono que ficava ao lado do altar. Após essas cerimônias, já como Pastor da Diocese, o jovem bispo iniciou a Missa Pontifical, que foi cantada em latim, porém com a leitura da Epistola e do Evangelho já em língua vernácula. Foi nesta oportunidade, isto é, logo após o Evangelho, que Dom Marcos fez sua primeira homilia ou pregação ao povo.185 Itabira estava empolgada: até mesmo um hino foi composto em celebração ao novo Bispado e em homenagem a Dom Marcos: Alvorada no céu da cidade, que se envolve no claro da luz. Preludia o fulgor de uma data entre os braços do amor de Jesus Realidade querida e sonhada, nossa terra em Bispado é sagrada Corações enlevados de júbilo, de alegria vibrante e sem par. 184  Instalou-se a Diocese de Itabira e tomou posse seu bispo. O Arquidiocesano: órgão oficial da Diocese de Mariana. Mariana, 9 jan. 1966. p. 1. 185  CÚRIA DIOCESANA DE ITABIRA – CORONEL FABRICIANO. Rumo aos 50 Anos. Diocese de Itabira Coronel Fabriciano. 1965-2015. p. 11.

50 Anos

71 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


Cantaremos na glória da prece, a grandeza da vida exemplar. E no altar deste templo sem véu, nossas almas se encontram no céu. Deus eterno, infinito esplendor, abençoe nosso amado pastor Mais se expande o universo em beleza, neste azul de esperança e de lida Mais se encanta o mistério divino, na imortal contingência da vida E no espinho da cruz que redime, alvorece o Evangelho sublime. Recebemos de braços abertos, como filhos que o amor pressentira, Nosso Bispo sagrado em D. Marcos, o primeiro Pastor de Itabira. Nossas almas fiéis entregamos, entre as bênçãos do anel que beijamos.186

Os eventos, assim, foram rodeados de significativa pompa, face à importância política e eclesiástica do surgimento do Bispado: Juntamente com o Sr. Núncio Apostólico, estavam presentes ainda as seguintes autoridades eclesiásticas: Dom Oscar Oliveira, arcebispo de Mariana; Dom João Resende Costa, Arcebispo coadjutor de Belo Horizonte; Dom José de Almeida Batista Pereira, bispo de Guaxupé; Dom Hermínio Malzone Hugo, bispo de Governador Valadares; Dom Serafim Fernandes de Araújo, bispo auxiliar de Belo Horizonte. Inúmeros sacerdotes da nova Diocese, bem como vários outros de Mariana, Belo Horizonte, Guaxupé e diversos outros pontos do Estado, ali também estavam para assistir à posse de Dom Marcos Noronha e levar ao jovem Pastor os melhores votos de um fecundo apostolado em seu campo atual de trabalho. Do mesmo modo se achavam presentes o prefeito de Itabira, José Machado Rosa, o prefeito de Guaxupé, Dr. Benedito Felipe da Silva, várias outras autoridades civis e ainda o presidente da Companhia Vale do Rio Doce, Dr. Oscar de Oliveira.187 186  Hino a D. Marcos. Letra: Amarílio Damasceno Reis. Música: Antônio Lisboa Ferreira. Hino composto especialmente para chegada do Bispo, em dezembro de 1965. Gentilmente cedido por Marciana Adelaide Ferreira. 187  Ibidem. p. 11. 72 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


O extenso programa prosseguiu pelo resto do dia: Às 14 h., foi oferecido ao Sr. Núncio e a D. Marcos um almoço festivo, ocasião em que o padre Otacílio Fernandes Ávila saudou a D. Marcos. O Sr. Dr. Oscar de Oliveira, presidente da Cia. Vale do Rio Doce, discursou em homenagem a D. Sebastião Baggio, e o Sr. cônego José Lopes de Magalhães, levantou o brinde de honra ao Santo Padre Paulo VI. Num delicado gesto extra-programa, proferiu um discurso de saudação a D. Marcos o Sr. prefeito de Guaxupé, Dr. Benedito Felipe da Silva, e o embaixador Camilo de Oliveira, filho de Itabira, agradeceu, em nome de seus conterrâneos, ao arcebispo de Mariana pelos passos que dera para a criação da Diocese. D. Oscar, D. Marcos e D. Baggio expressaram seus agradecimentos. Às 19h.30, o bispo de Itabira oficiou solene Te Deum na Catedral. Esteve presente na instalação da Diocese e na posse do Sr. Bispo o governador do Estado, Dr. José de Magalhães Pinto, além de vários prefeitos da nova Diocese, bem como delegações de fiéis de todos os seus quadrantes e da Diocese de Guaxupé. Também elevado número de sacerdotes da Diocese de Itabira, das Arquidioceses de Mariana, de Diamantina, de Belo Horizonte [...].188 Iniciava-se, assim, a trajetória canônica da Diocese de Itabira, então vinculada à Província Eclesiástica de Mariana, já composta pela Arquidiocese de Mariana, na condição de sé metropolita, e pelas Dioceses de Caratinga e Governador Valadares. Mas logo o bispado de Itabira distinguiu-se de suas co-irmãs ao ser associado, como procedeu, por exemplo, o pesquisador norte-americano Thomas Bruneau, em 1974,189 à chamada Igreja “renovada” ou “progressista”. Este historiador, ao selecionar quatro dioceses bastante expressivas dessa configuração eclesial, elenca três que “são nordestinas (Olinda e Recife, em Pernambuco; Crateús, no Ceará e Salvador, na Bahia), completando o grupo a Diocese de Itabira, então 188  Instalou-se a Diocese de Itabira e tomou posse seu bispo [Continuação da primeira página]. O Arquidiocesano: órgão oficial da Diocese de Mariana. Mariana, 9 jan. 1966. Pag. 1; 4. 189  BRUNEAU, Thomas. O catolicismo brasileiro em época de transição. São Paulo: Loyola, 1974. p.198200.

50 Anos

73 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


dirigida por Dom Marcos Antônio de Noronha”. 190

190  COSTA, Iraneidson Santos. Os bispos nordestinos e a criação da CNBB. Interações– Cultura e comunidade, Belo Horizonte, Brasil, V. 9 N. 15, p. 109-143, jan./jun.2014. p. 117-118. 74 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


III

O Desafio de ser Plural, sem Deixar de ser Unida



Que fundamentos eclesiais deram suporte à diocese de Itabira, posteriormente Itabira-Coronel Fabriciano, em seus cinquenta anos de história? Através dos depoimentos de vários protagonistas desta trajetória – eclesiásticos e leigos, homens e mulheres -, foi possível elencar uma tríade de fatores tida como prioritária à estruturação da vida religiosa no Bispado: a liderança episcopal, a combinatória entre pluralidade e unidade, a articulação entre clero e agentes de pastoral. Assim, de forma bastante espontânea, a leiga Maria Aparecida de Oliveira, da paróquia Nossa Senhora da Conceição, de João Monlevade, entrecruza esses três elementos ao comentar que: [...] se não tivesse a Diocese, nós seríamos uma ovelha sem rumo. Sem rumo, sem apoio, sem lugar pra ficar. Porque a ovelha não precisa só de capim..., ela precisa de capim (que é o pasto, né?) com qualidade, ela precisa de bons pastores [...] Por exemplo, dez ovelhas precisam de um padre, um padre orientado pelos documentos da Igreja, prática, prática, prática, prática... Como o nosso famoso papa fala pra sair da Igreja e fazer lá, lá a gente [deve] ir.191 3.1. A contribuição dos bispos Como indicado no capítulo anterior, o primeiro bispo da recém-criada diocese de Itabira foi Dom Marcos Antônio Noronha.192 Mineiro, nascido 191  Entrevista concedida a Júlio César Santos em 8 jun. 2014, na Festa da Diocese, no município de Santana do Paraíso. 192  Dom Marcos Antônio Noronha nasceu no dia 18 de setembro de 1924 em Areado, Minas Gerais, filho de Joaquim Noronha e de Maria Laura Noronha. Ingressou no Seminário de Guaxupé em 1936, sendo transferido em 1939 para o Seminário do Coração Eucarístico de Belo Horizonte, devido ao fechamento provisório do Seminário onde iniciara seus estudos. Após concluir os cursos de Humanidades, de Filosofia e de Teologia, foi ordenado diácono em 15 de dezembro de 1945 e presbítero em 7 de dezembro de 1947. Logo em seguida, foi indicado para professor do Seminário de Guaxupé. Em 1950, recebeu o título de cônego honorário, sendo também nomeado chanceler do Bispado. Em 1952, foi constituído cônego catedrático do Cabido. Em 1957, tornou-se pároco da Catedral, em Guaxupé. No ano de 1961, Dom João Inácio Dal Monte, bispo de Guaxupé, nomeou-o seu vigário geral, sendo confirmado no cargo em 1963 pelo novo bispo, Dom José Batista de Almeida Pereira. No dia 1 de janeiro de 1965, o papa Paulo VI conferiu-lhe a dignidade de prelado doméstico e em 7 de julho o nomeou bispo. Dom Marcos renunciou ao bispado em 2 de novembro de 1970, falecendo em 16 de fevereiro de 1998. Informações biográficas retiradas do site da diocese de Itabira-Coronel Fabriciano, disponíveis em <http://dioceseitabira.org.br/bispos/dom-marcos-antonio-noronha/> Acesso 3 jan. 2015.

50 Anos

77 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


na cidade de Areado, Marcos Noronha tornou-se padre aos 23 anos, em 1947, e foi sagrado bispo com a idade de 41, em 1965, quando o Vaticano II chegava à sua conclusão. Logo após sua indicação como prelado, viajou a Roma para participar por quatro meses da etapa final do Concílio, entre setembro e dezembro de 1965, percebendo-se em grande afinidade com a configuração de uma Igreja então denominada “progressista”, porque bastante sensibilizada e comprometida com as agruras e esperanças da maioria da população latino-americana, em grave situação de miséria e repressão política. O Concílio Vaticano II (1962-1965) consistiu em um dos principais acontecimentos históricos recentes, em suas interfaces entre fé, cultura e política. Uma das grandes problemáticas enfrentadas pela Igreja nos últimos tempos foi a de como manter a plausibilidade da mensagem cristã em um mundo marcado por transformações profundas e velozes. Como a Igreja deveria organizar-se para responder às perguntas do homem moderno, ou seja, como constituir-se pastoralmente? Distintas respostas chocaram-se durante toda a primeira metade do século XX. Por um lado, tentativas de aproximação com o contemporâneo através dos novos métodos histórico-críticos eram vistos com vasta desconfiança, numa reação aos setores da modernidade que entreviam a Igreja como uma instituição bastante arcaica, em termos morais e ideológicos. Em paralelo, desenvolveu-se um catolicismo liberal e progressista, que propunha certa transigência com a modernidade, cabendo à Igreja adequar-se, disciplinar e doutrinariamente, às exigências da consciência moderna. Essa corrente galgou muitos espaços através de vários movimentos, como o litúrgico, o bíblico, o leigo e o catolicismo social.O desenrolar dos debates e a própria preparação do Concílio (1959-1962) foram caracterizados por fortes discussões entre essas duas vertentes, mas os documentos finais delinearam a adoção de um pluralismo contraditório. Assim, os textos conciliares traziam como resultado a vitória da maioria embalada pelos movimentos de abertura, mas matizada pelas tentativas de contenção da aguerrida minoria antimoderna.193 193  CALDEIRA, Rodrigo Coppe. Reflexões acerca da continuidade e descontinuidade no Vaticano II: possibilidades de análise.Revista eletrônica: Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção. Jan. 2009.

78 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


Contudo, na América Latina, prevaleceu, em geral, a corrente progressista, sobretudo a partir da Conferência Episcopal LatinoAmericana realizada em Medellín, Colômbia, em 1968, quando emergiu no continente uma concepção de Igreja alicerçada no que ficou conhecida como “Teologia da Libertação”. O teólogo espanhol José Ramos Regidor afirma que a originalidade da Teologia da Libertação não seria a opção pelos pobres (afinal, ele lembra que isso é uma característica da tradição católica), mas, sim, o reconhecimento das classes populares como sujeitos históricos em uma dupla dimensão: no protagonismo da luta pela sua própria libertação, mas também no interior da Igreja, na produção da evangelização e da teologia.194 Durante sua estada no Vaticano, Dom Marcos também participou dos debates e votações promovidos pelos bispos brasileiros em torno da elaboração de uma Pastoral de Conjunto, os quais culminaram no documento aprovado pela Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em novembro de 1965. E do final da década de 1960 ao longo da década seguinte, a liderança progressista da CNBB, ex-membros da Ação Católica Brasileira e outros militantes fortaleceram no país uma Igreja de viés progressista, através da criação de vários programas pastorais, como a Comissão Pastoral da Terra, que se defrontou com o regime militar na luta pela reforma agrária, e o CIMI (Conselho Indigenista Missionário).195 Mas não era fácil, nesse imediato contexto pós-conciliar, introduzir mudanças tão profundas no cotidiano católico da diocese de Itabira, secularmente tradicional, ao mesmo tempo em que se buscava responder, a partir da fé cristã, às contradições decorrentes do acelerado processo de industrialização propiciado pela atividade mineradora e siderúrgica da região. Havia ainda a necessidade de posicionamento diante das pressões pelo regime civil-militar instaurado no Brasil em 1964, que mantinha sob censura e repressão a atuação de religiosos e leigos mais envolvidos com os grupos populares. Assim, segundo Edson Dias Leite, colunista de um 194  ZACHARIADHES, Grimaldo Carneiro. Que fez São Tomás de Aquino diante de Karl Marx. Lua Nova, n.78, p. 77-108, 2009.. 195  SERBIN, Kenneth P. Padres, celibato e conflito social. Uma história da Igreja Católica no Brasil. São Paulo: Cia. Das Letras, 2008. p. 166.

50 Anos

79 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


periódico de Guaxupé, Marcos e outros religiosos renovadores frequentaram as listas de vigiados políticos daditadura. Por outro lado, boa parte do clero olhava com desconfiança a atuação desses pastores voltados para os pobres e humildes, que pregavam o reino dos céus, mas igualmente uma vida digna na terra. Sua atuação à frente da diocese de Itabira seguia nessa linha e, por certo, contrariou interesses.196 Logo, a segunda metade da década de 1960 mostrou-se particularmente nebulosa para inúmeros integrantes da Igreja Católica no Brasil, como descrito em entrevista concedida por Dom Lelis Lara: Quando comecei no meu sacerdócio e fui reitor de seminário, a gente tinha que vestir batina até para sair do quarto e chegar ao banheiro, no final do corredor, onde morava. Após o Concílio Vaticano II, as coisas mudaram tanto que, ao final do meu mandato como reitor, os seminaristas estavam, até, arranjando namoradas [risos]. Agora você imagina o que aconteceu apenas num período de quatro anos! [...] A mudança foi tão brusca que muitos não conseguiram assimilá-la. Quanto à relação com o governo militar, no Brasil, também tive minhas dificuldades. Minhas pregações eram censuradas e por muito tempo fui observado. Certa vez, me comunicaram que eu estava sendo vigiado. Eu tinha um amigo que sempre me alertava dizendo que eu estava na mira da censura. Sempre tive um posicionamento social baseado no Evangelho, mas por causa disso, muitas vezes, fui mal entendido pela censura. E olhe que eu apanhei dos dois lados. Uma parte do clero me via como alguém em cima do muro, que não se posicionava. Então sofri bastante em meados de 69 a 71.197

196  Disponível em<http://iceliasjose.blogspot.com.br/2009/11/icej-realizara-documentario-sobre-vida. html>. Acesso em 4 jan. 2015. 197  Entrevista com Dom Lélis Lara, Bispo emérito de Itabira e Coronel Fabriciano. 30 ago. 2012. Disponível em <http://www.santacruzam.com/igreja/noticia/4494/360> Acesso em 4 jan. 2015. 80 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


A despeito dos entraves, Dom Marcos Noronha desenvolveu, ao longo de cinco anos (1965-1970), um episcopado baseado na reconfiguração da Igreja a partir das bases eclesiais,198 como ele próprio relatou: Eu dizia que era preciso, fundamentalmente, para se conhecer a realidade de Itabira, conhecê-la à luz do Evangelho; ir diretamente àquele que é o agente, que era todo o povo. Ninguém leva mensagens ao homem abstrato, ao homem da lua, e sim ao ‘Manoel’, ao ‘José’, ao ‘Antônio’ – homens concretos que vivem a realidade de todo dia. Então, eu me conscientizei que a mensagem evangélica a ser levada deveria bater com a realidade concreta. Daí, nasceram o Secretariado e os Grupos de Reflexão. [...] os Grupos, todo mundo participando, jovens, mães de família...199 Contudo, paulatinamente, Dom Marcos percebeu-se questionando vários posicionamentos que regiam a conduta da Igreja no tempo presente, considerando-a demasiadamente conciliadora diante de tantas desigualdades e sofrimentos. O desdobramento de tal postura existencial mostrou-se dramático, conduzindo-o a renunciar ao episcopado: Eu escrevi uma carta ao papa em que colocava minhas discordâncias em relação aos princípios que nutriam a Igreja de Roma. Discordei honestamente: dos dogmas, da moral, da Igreja, do Direito Canônico. Eu não podia pregar, pensar e exigir do clero e do povo algo de que eu próprio discordava, não é mesmo? Então, para ser coerente, eu tive que assumir minhas ideias e sair da Diocese. Foi exclusivamente 198  Cf. GRACINDO JÚNIOR, Paulo. Religião e Sistemas Sociais: uma análise do panorama religioso mineiro a partir da teoria dos sistemas de Niklas Luhmann.Nures, N. 18, p. 11-38, maio-ago. 2011. p. 24: “[a] Diocese de Itabira, criada em 1965, vai nascer sob a jurisdição eclesiástica de um bispo identificado com a ala progressista da Igreja, que se engajou francamente no Concílio do Vaticano II. Dom Marcos Noronha, primeiro bispo da Diocese de Itabira, participou do Concílio do Vaticano II [...]Dom Marcos, por exemplo, enfatizava em seus pronunciamentos públicos a distribuição de renda, a reforma agrária e melhoria de vida da classe trabalhadora, numa região composta majoritariamente por operários. No entanto, a repressão política e ideológica do Regime Militar, somada à parte do clero ainda ligada a uma visão romana, fez com que a prelazia literalmente se dividisse”. 199  NORONHA, Marcos de. “Itabira é a Rua de Ontem”. O Cometa Itabirano. N. 11. Dez. 1980.

50 Anos

81 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


este o motivo de minha saída de Itabira. Eu discordei da Igreja de Roma, pura e simplesmente. [...] Inclusive, foi-me oferecida uma outra Diocese e eu não aceitei, porque não era a Diocese de Itabira o pivô da minha renúncia, e sim minhas discordâncias.200 Mas as desconfianças eram mútuas: já no final de 1967, o núncio apostólico Dom Umberto Mosconi encontrou-se com Dom Noronha em Três Corações, Minas Gerais, e indagou-o sobre uma denúncia encaminhada à Secretaria de Estado do Vaticano, segundo a qual, após a Assembleia da CNBB, no estado de São Paulo, no decorrer de um encontro com lideranças pastorais e operárias, Dom Marcos teria tido relacionamento sexual com duas freiras e uma moça. O bispo, indignado, teria respondido ao Núncio que nada mais esperava da Igreja de Roma, diante de uma acusação tão infamante e injusta. Só mais tarde descobriu-se que a calúnia fora provocada por “um erro de nomes e de alguma vingança política”.201 Mas as rupturas já se tinham instaurado: “Certa vez, saindo de Belo Horizonte, corria um boato em Itabira a meu respeito em matéria de moral – lembro-me que fiquei tão abalado que quase morri na estrada de tanto nervosismo ao dirigir o carro, dentro do impacto da notícia. Aquilo não batia com a realidade e com a minha consciência. Eu fui fiel até o último instante. Naquele tempo, isso se avolumou de tal forma que ficou parecendo para mim que era toda Itabira que me caluniava”.202 Tal crise, que já era pública em 1969, culminou com a renúncia de Dom Marcos em 2 de novembro de 1970. Nesta data, ele dirigiu à Igreja de Itabira uma mensagem de despedida: A todo esse povo bom e humilde que descobriu sua vocação e sua responsabilidade, que viu, que participa ativamente, que se empenha na descoberta dos valores e sentido da vida, que não cansa de se reunir... Aos que se entregam de verdade a qualquer trabalho de promoção do homem todo e de todos os homens... Aos que procuram traduzir, 200 Ibidem. 201 Ibidem. 202 Ibidem. 82 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


segundo as exigências de hoje, na sua vida, o Evangelho do Senhor Jesus... Aos que vivem o mistério da Igreja para lá de uma simples manifestação costumeira e a constroem penosamente cada dia. Aos que, em comunidade, a seu modo, são o segredo da caminhada... A todos eu peço que continuem cada vez mais fiéis. Não haverá hiato na obra salvadora de Deus.203 Tempos depois, apesar da intensidade da dor da renúncia, Dom Marcos afirmou estar convicto sobre a validade da decisão que tomara: Nunca me arrependi um só momento de ter deixado de ser bispo. Itabira fez este grande ‘corte’ em minha vida, pois abriu esse horizonte novo, e por isso Itabira jamais vai sair do meu coração. Itabira é um quadro de afetos, uma moldura, uma circunferência que me envolve por dentro até hoje. Esses cinco anos que vivi em Itabira foram os anos de extrema significação para mim, coisa que ninguém entenderá a não ser que esteja dentro de mim, sentindo o que eu sinto: uma pessoa que um dia questionou as coisas da Igreja de Roma, surgindo um horizonte novo, que teve forças para enfrentar essa realidade nova. Se não tivesse ido para Itabira, eu seria esse vigário burguês, eu não seria um homem realizado.204 Após a renúncia de Dom Marcos, desempenhou importante papel o vigário capitular padre Antônio Sebastião Ferreira Barros, eleito a 11 de novembro de 1970, para o período de sede vacante. Paralelamente, Marcos Noronha tornou-se professor e diretor da Faculdade de Ciências e Letras de Guaxupé. Em 1976, mudou-se para Belo Horizonte, onde se casou com Zélia Fróes e exerceu cargos importantes na Fundação João Pinheiro, na Secretaria de Educação e na Secretaria de Planejamento do Estado de Minas Gerais. Escreveu o livro Marcos Noronha e a Igreja, publicado pela Editora Vozes em 2001, três anos após sua morte, além de outras obras: O 203  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Texto cedido por Antônio Teixeira. Mimeo. Sem data. p. 2. 204  NORONHA, Marcos de. “Itabira é a Rua de Ontem”. O Cometa Itabirano. Op. Cit.

50 Anos

83 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


Hoje na Rua do Povo; Ninguém, João; Outono em Vertical;Semente de Gente; A Igreja que Nasce Hoje. Em 2010, foi produzido documentário Em Nome do Povo, sobre sua trajetória biográfica e eclesial. E em novembro de 2014 foi lançado a biografia Do Chão aos Sonhos, de autoria do jornalista Bernardo Fróes Bicalho, sobrinho de Dom Marcos. Em paralelo, a prefeitura de Guaxupé instituiu a medalha “Marcos Noronha”, máxima distinção concedida a um cidadão pelo município. * Em 18 de junho de 1971, com 51 anos, o religioso salvatoriano Dom Mário Teixeira Gurgel,205 bispo-auxiliar na Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, tomou posse na diocese de Itabira, para a qual foi nomeado por bula do papa Paulo VI, em 26 de abril do mesmo ano, adotando como lema “Sicutqui ministrat– como aquele que serve”. O prelado “foi recebido com festa, mas também, com a desconfiança mineira. Encontrou uma Diocese dividida, padres pouco receptivos, desconfiados, [alguns] preconceituosos, e, ainda, a cidade estava passando por um tríplice abalo: o prefeito se suicidara, a catedral ruíra e a Diocese estava ainda abalada pela renúncia de seu saudoso bispo, Dom Marcos Antônio Noronha”.206

205  Dom Mário Teixeira Gurgel nasceu em Iguatu, Ceará, em 22 de outubro de 1921, sendo filho de Mário Gurgel Guedes e Ana Alda Teixeira Guedes. Tornou-se religioso da Congregação Salvatoriana em 2 de fevereiro de 1938, sendo ordenado sacerdote em 29 de junho de 1944. Atuou em várias paróquias, seminários, escolas e na Faculdade de Filosofia de Crato, Ceará;de forma concomitante, coordenou movimentos de leigos católicos, dentre os quais a Legião de Maria.Ocupou o cargo de subsecretário geral da CNBB em 1966, no Rio de Janeiro. Foi sagrado bispo-auxiliar do Rio de Janeiro em 1967, sendo nomeado bispo de Itabira em 1971. Durante o pontificado do Papa Paulo VI, foi membro da Congregação para a Propagação da Fé, do Secretariado para União dos Cristãos, do Secretariado dos Não-Cristãos e da Comissão Internacional de Catequese.Na CNBB Leste II, foi responsável pelo Ensino Religioso e Catequese. Presidente do Regional Leste II da CNBB; diretor espiritual do Senatus de Belo Horizonte no período de setembro de 1996 a janeiro de 1998.Dom Mário faleceu no dia 16 de setembro de 2006.Informações biográficas retiradas do site da diocese de Itabira-Coronel Fabriciano, disponíveis em <http://dioceseitabira.org.br/bispos/ dom-mario-teixeira-gurgel-sds/>. Acesso em 4 jan. 2015. 206  LIMA, José Carlos Fernandes. Tributo a D. Mário Teixeira Gurgel.Mimeo. Sem data. 84 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


Entre 1971 e 1996, Dom Mário Teixeira Gurgel dirigiu a caminhada da Diocese: À frente da Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano, trabalhou de forma incansável. Com a participação dos fiéis, realizou um enorme trabalho em mutirão para que a nova catedral representasse realmente a unidade. Construiu a sede do Seminário Diocesano. Obteve recursos financeiros de entidades estrangeiras e conseguiu melhorar a qualidade de vida de muitas comunidades carentes, construiu centros comunitários em bairros menos favorecidos, fortaleceu os trabalhos dos Clubes de Mães, incentivou o surgimento das associações de moradores de bairros; implantou a Legião de Maria em várias cidades; criou o Dia da Diocese, Boletim Litúrgico, Missa da Unidade e o retiro do clero. Com alta capacidade de catalisar, aglutinar e dialogar, conseguiu com a criação da Fundação Comunitária de Ensino Superior de Itabira, FUNCESI, em 5 de outubro de 1993, dar um novo alento ao ensino superior e desenvolvê-lo no município de Itabira. Presidiu o Conselho Curador por dois mandatos e foi também Presidente do Conselho Executivo. Considerava a FUNCESI, o seu “gol de placa”.207 Duas prioridades, portanto, podem ser identificadas em meio a tal pluralidade de ações episcopais. Por um lado, a tentativa de viabilização de uma educação de perfil transformador, que propiciasse uma sociedade mais justa, como o próprio Dom Mário declarou em 2001: Embora sejam os alunos o sentido da existência da FUNCESI, seu objetivo último, como fundação comunitária tem que ser a própria comunidade. Não pretende a FUNCESI transformar seus alunos num grupo de elite, segregado de seu povo, que torne mais gritante a distância entre os privilegiados que tiveram oportunidade de estudar e a grande massa que não tem acesso ao conhecimento. Deseja dar-lhes a melhor formação, sim. Mas não para que essa formação seja moeda 207 Ibidem.

50 Anos

85 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


de corrupção e manipulação, mas para que se possibilite reenviá-los ao povo a que pertencem como líderes fermentadores de uma nova sociedade.208 Por outro lado, urgia, segundo Dom Mário, assumir uma ativa preocupação com a cidadania, uma vez que, segundo o bispo,“Estamos longe de uma democracia razoável, porque enquanto não se cumprir o que determina a Constituição de que todos são iguais perante a lei, enquanto houver alguns que são mais iguais do que os outros, a democracia é impraticável”.209 Daí a mobilização de Dom Mário em prol de práticas voltadas à promoção social, sendo espantoso seu empenho nesta área, podendo-se citar o recebimento de medicamentos através da Salvatorian Mission e da Misereor da Alemanha, a fundação da Merendinha Irmã Clara, da Fazenda da Bethânia, ou ainda a construção ou reforma de mais de 200 casas em vários bairros de Itabira. Foram também instituídos vários centros comunitários em Itabira (João XXIII, Nossa Senhora das Oliveiras, Vila Paciência, Vila Betânia), São Domingos da Prata (Santa Isabel), Coronel Fabriciano (Caladinho) e Ipatinga (Iguaçu). Foi também fornecido auxílio financeiro ao Hospital Nossa Senhora das Dores de Itabira (lavanderia, caldeira, bloco cirúrgico), à Associação de Proteção à Maternidade e à Infância de Itabira (APMII) e APAE, todas sediadas em Itabira, além do Ambulatório de Braúnas. O esforço de Dom Mário em prover pastoralmente a intensa demanda social buscava responder, de forma bastante criativa, a uma tensão implícita vivida pela diocese de Itabira. Por um lado, os grupos de base reivindicavam um compromisso explícito com as causas populares, o que implicava numa atitude combativa da Igreja perante sistemas de perfil excludente, fossem públicos ou privados. De forma concomitante, o pontificado de João Paulo II, iniciado ao final de 1978, demarcou uma abordagem diferenciada da presença da Igreja junto aos reclames sociais, buscando o que fosse considerado uma excessiva politização da fé. Dotado de grande carisma e forte piedade, João Paulo II logo caiu no agrado dos 208  Apud: LIMA, José Carlos Fernandes. Op. Cit. 209  Tribuna de Itabira, junho de 1992.Apud: LIMA, José Carlos Fernandes. Op. Cit. 86 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


fiéis. Capitalizando tal condição, o projeto de reafirmação do catolicismo em âmbito mundial passou a contar com forte divulgação midiática e com uma religiosidade de perfil tendente ao miraculoso e ao carismático, ainda mais fortalecida por um grande número de beatificações e canonizações.210 A aura hagiográfica veio, por fim, a recobrir o próprio pontífice: tendo encerrado seu mandato numa longa agonia, suas exéquias, realizadas em 8 de abril de 2005, foram acompanhadas pela maior concentração humana jamais vista na história de Roma recente.211 Paralelamente, grande parte dos bispos e teólogos católicos aderiu a este realinhamento teológico e pastoral, que passava a considerar a atuação da Igreja na esfera secular mediada pela dimensão “sociopolítica”. Tal ajuste, amparado na doutrina social da Igreja, não se reconhecia nem sob o ideário assistencialista ou filantrópico, nem sob o de cunho “libertador” ou revolucionário, fundamentando-se, antes de tudo, na escatologia e na ética. Essa era a postura de Dom Mário Gurgel, que também ficou conhecido como o “bispo piadoso”: “sempre muito alegre, ilustrava todas as conversas, suas palestras e homilias com anedotas adequadas”.212 Assim o retratou Dom Lelis, que o conhecia bem, pois a fim de levar adiante tantas atividades, Dom Mário solicitara sua nomeação como bispo auxiliar em 1976, obtendo ainda, em 1995, sua indicação como coadjutor, com direito à sucessão. Dom Mário foi autor de vários livros como: Refletindo para Viver, Reflexões sobre as Parábolas, Ética e a Ação Política, Por um Brasil Melhor. Com grande devoção à Virgem e exercendo por vários anos o cargo de assessor da Legião de Maria, inclusive em âmbito nacional, Dom Gurgel também publicou: Florilégio Legionário, O Tripé do Sistema Legionário, El Decreto del Apostolado de los Seglares y el Manual de la Legión de Maria. Seu último lançamento, em 2004, a obra Só Rindo, teve sua renda revertida para o Hospital Nossa Senhora das Dores e construção da Igreja Nossa 210  O pontificado de João Paulo II contabilizou 1220 beatos e 500 novos santos. 211  LIBÂNIO, J. B. Plausibilidade do cristianismo histórico nos dias atuais. Horizonte, Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 9-25, 1º sem. 1997. 212  Depoimento concedido por D. Lélis Lara, em 3 de novembro de 2014. Disponível em <http:// dioceseitabira.soprodiocesano.com.br/wp-content/uploads/sites/8/2014/11/Homilia-Dom-Lelis-Lara. pdf>. Acesso em 3 jan. 2015.

50 Anos

87 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


Senhora das Graças, no bairro da Pedreira, em Itabira. Faleceu em 16 de setembro de 2006, justamente nesse Hospital. Sobre Dom Mário, afirmou Dom Marcos Noronha: Quando foi eleito, D. Mário foi a Guaxupé me fazer uma visita, uma visita silenciosa, quase de homenagem, então eu tive a impressão assim: ‘Poxa, que homem esquisito, calado, será que vai dar certo em Itabira?’. D. Mário fez Itabira caminhar e Itabira fez D. Mário caminhar. É um dos principais bispos do Brasil. Certa vez me disseram: ‘Olha, D. Mário está sendo mais popular do que você foi. Eu levei um susto naquela hora; hoje, eu acho isso uma realidade.213

Fig. 1 - Dom Marcos Noronha e Dom Mário Gurgel. 214

* Após o falecimento de Dom Mário, Dom Lelis Lara,215 integrante 213 NORONHA, Marcos de. “Itabira é a Rua de Ontem”. O Cometa Itabirano. Op. Cit. 214 Disponível em <http://www.euamoipatinga.com.br/linha_tempo/images/3000%20-%20Lateral%20da%203000%20-%20Co-Sede%20da%20Docese%20-%20Catedral%20de%20S%C3%A3o%20 Sebasti%C3%A3o,%20Coronel%20Fabriciano.JPG>. Acesso em 3 jan. 2015. 215 Dom Lelis Lara nasceu em Divinópolis–MG, em 19 de dezembro de 1925, filho de Joaquim Martins Lara e Maria José Lara. Em 1938, ingressou no Seminário da Congregação Redentorista em CongonhasMG, onde cursou o 2º grau. Em 1945, transferiu-se para Juiz de Fora-MG, no Seminário da Floresta, onde realizou a Profissão Religiosa em 2 de fevereiro de 1946 e deu prosseguimento aos estudos, graduando-se 88 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


da Congregação do Santíssimo Redentor (ou redentoristas), assumiu a Diocese nos anos de 1996 a 2003, dispondo da experiência de 19 anos como bispo auxiliar. Ele viera atuar no Bispado em 1971, para exercer a função de pároco da Paróquia de São Sebastião, em Coronel Fabriciano, onde foi responsável por reformas na Igreja Matriz e pela construção do Santuário Nossa Senhora da Piedade, consagrado em 1998; desenvolveu vários projetos sociais, como a Fundação Comunitária Fabricianense FUNCELFA, oferecendo serviços de assistência social a crianças e cursos profissionalizantes a adolescentes, e inaugurou a Cidade do Menor, no bairro Caladinho, que promove serviços de creche e abrigo de crianças e adolescentes. Em 19 de março de 1974, foi nomeado vigário Episcopal do Vicariato III, integrando a equipe de coordenação pastoral diocesana. Até 1976, foi vigário episcopal e pároco da Paróquia São Sebastião de Coronel Fabriciano. Nesse período, lecionou no Colégio Imaculada, dos Redentoristas, e, posteriormente, no Seminário de Mariana e Seminário Diocesano. No dia 6 de dezembro de 1976, foi nomeado bispo auxiliar da diocese de Itabira e, sendo canonista, ajudou Dom Mário a estruturar o Bispado segundo as normas exigidas pela Santa Sé. Em 6 de dezembro de 1995, por solicitação direta de Dom Mário ao Papa, através do cardeal Baggio, prefeito da Sagrada Congregação para os Bispos,216 foi designado bispo-coadjutor e, em 22 de maio de 1996, tornou-se o terceiro bispo da Diocese. Mas foram apenas seis anos à frente da diocese na condição de prelado, pois “Ao completar 75 anos de idade, em Filosofia e Teologia (1946-1952). A 28 de janeiro de 1951, foi ordenado diácono e em 2 de fevereiro desse mesmo ano, presbítero. Foi professor em Congonhas-MG de 1952 a 1954. Em 1954, Dom Lara iniciou seus estudos nas Universidades Gregoriana e Angelicum, onde diplomou-se em Direito Canônico, Espiritualidade e Música. Doutorou-se em Direito Canônico, no ano de 1958. De volta ao Brasil, ainda em 1958, passou um ano em Missões e em 1959, Dom Lara assumiu a Cátedra de Direito Canônico, Liturgia e Espiritualidade no Seminário Maior Redentorista de Juiz de Fora, onde foi diretor espiritual e reitor do Seminário, permanecendo até 1970. Em 14 de janeiro de 1971, Dom Lara uniu-se à Comunidade Redentorista de Coronel Fabriciano-MG. Em 1977, Dom Lara integrou-se à Comunidade Episcopal do Regional Leste II da CNBB. Em 1998, foi nomeado Moderador do Tribunal Eclesiástico do Regional Leste II, da CNBB, sediado em Belo Horizonte. Foi assessor Jurídico da CNBB. Informações biográficas retiradas do site da Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano, disponíveis em <http://dioceseitabira.org.br/bispos/domlelis-lara-c-ss-r-2/>. Acesso em 3 jan. 2015. 216 DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL-FABRICIANO. Livro da Caminhada. p. 15. Disponível em <http://www.ipascomnet.com/paroquia/inc.download/21112013054000LIVRO_DA_CAMINHADA. PDF>. Acesso em 2 jan. 2015.

50 Anos

89 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


imediatamente apresentei à Santa Sé renúncia ao ofício de Bispo Diocesano, como solicita o cânon401, §1. A Santa Sé pediu que eu aguardasse. Aguardei dois anos. E no dia 30 de marçode 2003, Dom Odilon Guimarães Moreira toma posse como 4º Bispo Diocesano de Itabira-Fabriciano, transferido de Vitória (ES) onde era Bispo Auxiliar”.217 Como bispo emérito, Dom Lelis tem mantido programas na TV e rádios em Itabira e Coronel Fabriciano, onde reside atualmente. É presidente da Sociedade Dom Bosco de Comunicação de Coronel Fabriciano, entidade mantenedora da TV UNI do Vale do Aço. Também é membro da Diretoria da União Brasileira de Educação e Cultura – UBEC, entidade mantenedora do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – UNILESTE, e da Universidade Católica de Brasília e Faculdades Católicas de Palmas, no estado de Tocantins. Simultaneamente, preside a Cáritas Diocesana. Apaixonado pela música, apresenta programa de peças eruditas na rádio Educadora de Coronel Fabriciano. De acordo com Dom Lara, “Agora estou aposentado, mas continuo trabalhando por toda parte. Perdi a Diocese e ganhei o Brasil inteiro. Depois que me aposentei, estou trabalhando quatro vezes mais. Quando estava na Diocese, minhas funções estavam definidas. Hoje sou franco atirador, por isso tudo sobra para mim...”.218 E, tido como bom contador de histórias, narra que: [...] Meus casos nascem da vida. Certa vez, tomei o ônibus em Aracaju, em direção a Minas, com escala em Salvador. Um senhor sentouse ao meu lado e do nada perguntou sobre mim. Foi logo puxando conversa. Seu nome era Valdemar, conhecido por ‘Pernambuco’. Faleilhe que eu era de Minas Gerais. A partir de então, ele começou a me chamar somente de ‘Mineiro’ e nem perguntou meu nome. Disparou a contar-me suas histórias, cheias de aventuras amorosas. Falou-me de seu bom desempenho com as mulheres, de suas preferências sexuais, 217  Depoimento concedido por D. Lélis Lara, em 3 de novembro de 2014. Disponível em <http:// dioceseitabira.soprodiocesano.com.br/wp-content/uploads/sites/8/2014/11/Homilia-Dom-Lelis-Lara. pdf>. Acesso em 3 jan. 2015. 218  Entrevista com Dom Lélis Lara, bispo emérito de Itabira e Coronel Fabriciano. 29 ago. 2012. Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora. Disponível em <http://www.paroquiaauxiliadora.com.br/noticias/ noticia/125>. Acesso em 3 jan. 2015. 90 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


etc. Convidou-me para conhecer Teresina, segundo ele, uma ‘cidade quente’, onde havia uma mulher para cada homem. E a prosa foi rolando. Ao final de nossa conversa, ele quase teve um infarto quando soube que eu era padre. Mas depois deu tudo certo e nos tornamos amigos.219 Ao ser indagado de como gostaria de ser lembrado, assim respondeu: “Como uma pessoa simples, sem nada de especial, que procurou fazer o bem. Como um pobre mortal (risos). Quem ouvir ou vier a ler essa entrevista peço que reze por mim. Quero deixar, finalmente, uma sugestão: - Sejam contempladores da natureza e procurem cultivar o gosto pelas artes, sobretudo, pela música. Todas essas realidades podem nos falar de Deus”.220 A atuação de Dom Lara, inicialmente em parceria com Dom Mário, e depois como liderança específica, conferiu contornos de comprometimento social ainda maiores à Diocese. O legado de Dom Marcos Noronha era continuamente atualizado e refeito, a partir das necessidades e negociações possíveis no tempo presente. E isso com muita acuidade para que a Diocese não se dividisse entre setores supostamente mais críticos e conscientes e, portanto, mais engajados nas mobilizações sociais, políticas, grupos e movimentos mais voltados à esfera religiosa propriamente dita. Pelo contrário, o empenho era entrecruzar essas duas perspectivas, fortalecendoas mutuamente, o que só seria conseguido se ambas fossem respeitadas e valorizadas, o que efetivamente parece ter ocorrido. Ao longo das décadas de 1970 a 1990, o Bispado evidenciou sua pluralidade e seus múltiplos envolvimentos, sem desunir-se. *

219 Ibidem. 220 Ibidem.

50 Anos

91 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


Dom Odilon Guimarães Moreira221 foi nomeado bispo da Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano no dia 22 de janeiro de 2003, sendo empossado em 30 de março de 2003. Teve como lema Ita Pater (Sim, ó Pai) e governou a Diocese de 2003 a 2013, dedicando-se sobretudo à assessoria do Círculo de Operários Cristãos e da Dimensão Pastoral Sócio transformadora. Atuou junto à Pastoral Carcerária, tendo celebrado a eucaristia em presídios de Caratinga, Carangola, Ipanema e Vitória. Valorizou bastante os Conselhos Pastorais e os Grupos de Reflexão, além de empenhar-se pelo Serviço de Animação Vocacional e formação dos seminaristas. Buscando sintetizar o episcopado de Dom Odilon, Dom Lelis assim o descreveu: Dom Odilon em dez anos visitou três vezes quase todas as paróquias da Diocese. São numerosíssimas as realizações que Dom Odilon iniciou, ou apoiou, ou incrementou na Diocese. Difícil enumerar todas neste curto espaço. Cito algumas apenas: transferência em 2003 do Seminário Diocesano para Belo Horizonte, instalado em prédio próprio; organização de Grupos de Reflexão, em 2003; transladação dos restos mortais de Dom Marcos Noronha, para a cripta da Catedral de Itabira, em 29 de dezembro de 2005, aniversário de 40 anos da 221 Dom Odilon Guimarães Moreira nasceu no dia 9 de janeiro de 1939, em Presidente Bernardes-MG. Filho de José Emereciano Moreira e Minervina Guimarães Moreira, sendo o terceiro entre quinze irmãos. Ingressando no Seminário de Mariana em 1962, cursou Filosofia e Teologia. No ano de 1967, foi para Belo Horizonte, concluir os dois últimos anos de Teologia, residindo no Seminário Maior do Coração Eucarístico de Jesus. Sua ordenação diaconal foi realizada no dia 24 de dezembro de 1967, em Caratinga. Foi ordenado sacerdote em São João do Oriente-MG, no dia 23 de janeiro de 1969, por Dom José Eugênio Correia, Bispo de Caratinga. Em 1971, convalidou seu diploma de Filosofia na Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras de São João Del Rei. Em 1975, obteve a Licenciatura em Matemática, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras em Caratinga-MG. De 1969 a 1970, atuou como pároco em Sobrália, São João do Oriente e Iapu. De 1970 a 1971, foi vigário paroquial na Paróquia Nossa Senhora da Conceição, em Caratinga. De 1972 a 1986, assumiu o cargo de pároco na Paróquia Nossa Senhora da Conceição, em Caratinga. Foi professor de Matemática durante vários anos em Caratinga. Neste mesmo tempo, exerceu funções de vigário ecônomo em Santa Bárbara do Leste; professor e diretor espiritual do Seminário Nossa Senhora do Rosário em Caratinga; coordenador de Pastoral na Diocese de Caratinga. Em seguida, tornou-se pároco na Paróquia de Santo Antônio em Ipanema, de 1986 a 1994. Foi coordenador diocesano de Pastoral da Diocese de Caratinga. Pároco em Carangola e administrador paroquial em Farias Lemos, de 1994 a 1999. Em 4 de agosto de 1999, foi nomeado bispo auxiliar da Arquidiocese de Vitória-ES. Na CNBB, foi presidente do COMIRE LII – Conselho Missionário Regional e também membro da Comissão a Serviço da Justiça, da Caridade e da Paz da CNBB – LII, eleito na Assembleia dos Bispos de 2011, ficando até junho/2013.Informações biográficas retiradas do site da Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano, disponíveis em <http://dioceseitabira.org.br/bispos/dom-odilon-guimaraes-moreira-2/>. Acesso em 3 jan. 2015. 92 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


Diocese; inauguração da 1ª ala do Carmelo em 15 de outubro de 2006 e da 2ª ala em 2009; reestruturou o Secretariado de Pastoral, desmembrando em três secretarias, uma em cada Regional, com uma pessoa responsável; realizou duas Assembleias Diocesanas, a 17ª em 2006 e a 18ª em 2010; deu prosseguimento ao 11º Intereclesial. Dom Odilon nunca tomava decisão sozinho. Ao Conselho Presbiteral, que por sua natureza é um órgão consultivo, Dom Odilon atribuía poder decisório. Dom Odilon criou seis paróquias e ordenou dezesseis presbíteros e um diácono. Instituiu a Escola Diaconal, introduzindo assim de fato na Diocese o Diaconato Permanente. Dom Odilon demonstrou sempre grande amor pelos padres e seminaristas, valorizou o Seminário Diocesano e a Pastoral Vocacional.222 Em 21 de fevereiro de 2013, Dom Odilon renunciou à função episcopal, passando a administrador apostólico da Diocese até 15 de junho do mesmo ano. A renúncia de Dom Odilon foi surpreendente, pois coincidiu com o mês do anúncio da inesperada renúncia do Papa Bento XVI. Na época, Dom Odilon contava com 74 anos, e justificou o pedido por razões de saúde, explicando como suas intensas dores de coluna e insônia dificultavam o exercício do pastoreio. Em função disso, já em 2012 enviara solicitação à Nunciatura Apostólica para sua substituição: “Como aconteceu com a notícia do papa, num primeiro momento minha decisão pode gerar algum choque, mas não há motivos para preocupações. As pessoas são limitadas, mas a Igreja não é dirigida por pessoas e sim pela vontade do Espírito Santo”, declarou.223 Efetivamente, o episcopado de Dom Odilon apresentou-se não apenas concomitante, em termos de cronologia, ao pontificado de Bento XVI, como compartilhou muitas similaridades com a regência universal da Igreja. Assim, é facilmente observável que ambos assumiram uma atitude de extrema coragem ao renunciarem a seus cargos, sem se aferrarem ao 222  Depoimento concedido por D. Lélis Lara, em 3 de novembro de 2014. Disponível em <http://dioceseitabira.soprodiocesano.com.br/wp-content/uploads/sites/8/2014/11/Homilia-Dom-Lelis-Lara.pdf>. Acesso em 3 jan. 2015. 223  “Dom Odilon Guimarães renuncia aos 74 anos”. JVA-Online, 22 fev. 2013. Disponível em <http:// www.jvaonline.com.br/ler_noticia.php?id=103087>. Acesso em 3 jan. 2015.

50 Anos

93 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


poder e às glórias deles auferidas. Por outro lado, essas renúncias apontam para as muitas dificuldades que oneram as lideranças de uma administração político-religiosa. Após tornar-se emérito, Dom Odilon passou a atuar, desde 8 de agosto de 2013, como administrador paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Esperança, em Ipatinga. E quaisquer agruras que porventura tenha passado em seu governo pastoral parece lhe terem reforçado ainda mais a fé e a disposição de colaborar com a Igreja, em especial com a juventude, favorecendo a criação de “[...] espaços, projetos e políticas públicas para que o jovem possa organizar a própria vida a partir de escolhas fundamentais e de uma construção sólida do projeto pessoal. Para eles se perceberem como força de transformação social e que possam desenvolver o seu potencial comunicativo em vista da ética e do bem de todos”.224 * Dom Marco Aurélio Gubiotti225 foi ordenado bispo em 26 de maio de 2013, em Ouro Fino, sua cidade natal, tomando posse como bispo de 224  “Dom Odilon: internet torna as pessoas mais solitárias”. Diário de Itabira. 18 fev. 2013. Disponível em: <http://www.diariodeitabira.com.br/materia/10504/dom-odilon-internet-torna-as-pessoas-mais-solitarias>. Acesso em 3 fev. 2015. 225  D. Marco Aurélio Gubiotti nasceu em 21 de outubro de 1963, em Ouro Fino-MG. Filho de Benedito Gubiotti e Natalina Gubiotti. De 1982 a 1984, cursou Filosofia no Seminário Arquidiocesano de Pouso Alegre. De 1985 a 1988, cursou Teologia, no Instituto Teológico Sagrado Coração de Jesus, em Taubaté–SP. Em 19 de dezembro de 1987, foi ordenado diácono e em 14 de janeiro de 1989, foi ordenado presbítero. De 1989 a 1991, exerceu o cargo de vigário paroquial, na paróquia São Caetano, em Brasópolis- MG. Em 1993, foi vigário paroquial na paróquia Santo Antônio, em Jacutinga-MG, tornando-se pároco desta mesma paróquia entre 1993 e 1996. Entre 1997 e 1999, fez curso de Mestrado na Pontifícia Faculdade Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo, diplomando-se em 2000 como Mestre em Estudos Bíblicos. Entre 2000 e 2005 foi formador da Comunidade Teológica do Seminário Arquidiocesano de Pouso Alegre e Diretor do ITISJ (Instituto Teológico Interdiocesano São José), desenvolvendo, neste mesmo período, trabalhos pastorais nas paróquias Nossa Senhora Aparecida, em Tocos de Mogi-MG, bem como São João Batista e São Cristóvão, em Pouso Alegre. De 2000 a 2013 foi professor na área de Sagrada Escritura do Curso de Teologia, no Instituto Interdiocesano São José e na FACAPA (Faculdade Católica de Pouso Alegre). Entre 2006 a 2009, foi diretor geral da FACAPA e administrador paroquial da paróquia São Sebastião, em São Sebastião da Bela Vista-MG. De fevereiro a agosto de 2010, exerceu as funções de pároco da paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Santa Rita do Sapucaí-MG, e entre setembro de 2010 a maio de 2013, de pároco da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Pouso Alegre. Informações biográficas retiradas do site da Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano, disponíveis em <http://www.ultimanoticia.com.br/ultimanoticia/ Portugues/detNoticia.php?cod=10766>. Acesso em 4 jan. 2015. 94 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


Itabira – Coronel Fabriciano em 16 de junho do mesmo ano. Comentando como recebeu a notícia de que seria indicado bispo, Dom Marco declarou: Atendi ao telefone e depois de algum tempo de conversa me fizeram a proposta. Não consegui acompanhar mais o diálogo. Tive que pedir que repetissem o nome da diocese, porque eu perdi essa parte”, contou, sorridente. “Era Quarta-feira de Cinzas quando veio o convite. Eu pedi um tempo para discernir, aí só me deram um dia. Eu tinha um dia para decidir e esse dia era justamente a Quarta de Cinzas, quando a Igreja está repleta de atividades.226 Como descrever um bispo em pleno exercício de seu ministério episcopal? Até a presente data, a receptividade tem sido bem positiva, como indicado pela moção de aplauso que lhe foi entregue pela Câmara Municipal de Itabira em março de 2014. Mas talvez ninguém melhor do que o próprio Dom Marco para proceder a esta revisão preliminar e, simultaneamente, projetar rumos futuros: Existe uma vitalidade nessa diocese que é fundamental para a existência de uma Igreja particular. Minha chegada coincidiu com o processo de preparação para a19a Assembleia Diocesana de Pastoral. Os trabalhos estão sendo organizados sob a minha coordenação e executados pela equipe responsável e tem surtido efeitos satisfatórios. Além disso, terei a grande responsabilidade de preparar a festa do cinquentenário da diocese. [...] Os cinquentenários são o nosso orgulho. Nestes cinquenta anos do encerramento do Concílio e a criação da Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano, aumenta ainda mais o nosso desejo de nos firmarmos como uma igreja que caminha em comunhão com a Igreja do Brasil e do mundo, trazendo as marcas indeléveis da pastoral sonhada por São João XXIII.227 226 Disponível em <http://www.cnbb.org.br/regionais/leste-2/12198-dom-odilon-apresenta-dommarco-aurelio-gubiotti-novo-bispo-da-diocese-itabira-coronel-fabriciano-mg>. Acesso em 3 jan. 2015. 227  DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Rumos aos 50 anos. 1965-2015. Edição Especial Elo Diocesano. Ipatinga: Gálatas, 2014. p. 3.

50 Anos

95 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


Simultaneamente, verifica-se não somente uma proximidade cronológica entre o episcopado de Dom Marco e o pontificado do papa Francisco, mas, sobretudo, uma grande afinidade de projetos pastorais e de concepção de Igreja: “O papa Francisco é latino-americano e está fazendo um bem enorme para a Igreja Católica. Uma Igreja que é capaz de se renovar, repensar os temas atuais, sem renunciar ao Evangelho e àquilo em que ela acredita, pois ela vai manter seus princípios”.228

Fig. 2 - Dom Marco Aurélio ao centro, Dom Odilon à esquerda, Dom Lelis Lara à direita.229

3.2. A co-catedral de Coronel Fabriciano e a Festa da Unidade Dom Lelis Lara foi um dos maiores incentivadores à constituição conjugada da diocese como Itabira-Coronel Fabriciano, o que veio a ocorrer em 1979. Desde 1971, atuava como presbítero na região de Fabriciano, junto com outros sacerdotes da Congregação do Santíssimo Redentor aí chegados em 1948. Na região, os redentoristas tornaram-se afamados por apoiarem os projetos de promoção social, sobretudo após a criação da diocese de Itabira, em 1965, e sua reorganização pastoral: “Na sua caminhada [...], Dom Lara [teve] ativa participação nas questões mais prementes e conflitantes da Região do Vale do Aço, agindo sempre em 228 “Dom Gubiotti reúne mais de 3 mil pessoas na região”. Jornal Vale do Aço, 25 jun. 2013. Disponível em <http://www.jornalvaledoaco.com.br/ler_noticia.php?id=104985>. Acesso em 3 fev. 2015. 229 Disponível em <http://dioceseitabira.org.br/palavrabispo/>. Acesso em 4 jan. 2015. 96 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


favor dos direitos humanos”.230 Desde a primeira metade do século XX, a região em torno de Coronel Fabriciano conhecia um franco desenvolvimento. No início do século XX, essa área integrava a paróquia de Antônio Dias, que conheceu expressivo crescimento populacional a partir de meados da década de 1910, em função da continuidade dos trabalhos da Estrada de Ferro Vitória-Minas, que interrompida durante a I Guerra Mundial (1914-1918), foi inaugurada em 1922. A maioria das famílias migrantes residia em Cachoeira Escura, atual Perpétuo Socorro, distrito de Belo Oriente. Logo foi fundado o povoado de Santo Antônio, denominado Melo Viana a partir de 1923. É nesse período que mais se destaca a figura de Fabriciano Felisberto de Carvalho Brito, conhecido como Coronel Fabriciano. Foi ele quem pleiteou a emancipação política da Vila de Antônio Dias. O Coronel era líder local e político influente na região, além de importante representante dos estabelecidos locais. Ao perceber que a extensão territorial da Vila não era suficiente e que seria necessário alargar suas fronteiras, o Coronel aproveitou-se da posição que seu filho, dr. Carvalho de Brito, ocupava no governo estadual (Deputado e membro da comissão responsável pela divisão administrativa de Minas Gerais), solicitando dele o desmembramento do povoado de Melo Viana em relação ao Município de Ferros, com sua imediata anexação ao de Antônio Dias.231 Um ano depois, em 1924, foram promovidas obras de extensão da ferrovia com inauguração da Estação do Calado. O projeto previa que as vias alcançassem São José das Alagoas, onde seus trilhos seriam ligados aos da Estrada de Ferro Central do Brasil, ficando assim em comunicação direta com as capitais de Minas e do Espírito Santo”. Esses mesmos trabalhadores ajudaram a edificar a primeira igreja da localidade, dedicada a São Sebastião. 230  Disponível em <http://dioceseitabira.org.br/bispos/dom-lelis-lara-c-ss-r-2/>. Acesso 22 out. 2014. 231  GENOVEZ, Patrícia Falco; VALADARES, Vagner Bravos. A formação territorial de Coronel Fabriciano (sede) e de Ipatinga (distrito) entre as décadas de 1920 e 1960: afinal, quem são os Estabelecidos e os Outsiders? Revista de História Regional. v. 18,n. 2, p.363-388, 2013.

50 Anos

97 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


Fig. 3 - Igreja São Sebastião em Coronel Fabriciano.232

Aos poucos, o distrito do Calado passou a concentrar importantes atividades civis e econômicas. Em 1933, o cartório de Melo Viana foi para ali transferido; em 1936, foi a vez do escritório da Companhia Siderúrgica Belgo Mineira. A empresa voltava suas atividades para extração da madeira e do carvão, matéria-prima para os fornos da siderúrgica que operava em João Monlevade. Nova leva de trabalhadores dirigiu-se então para a região, havendo, em decorrência, abertura de novas ruas e construções de residências. A empresa também construiu no distrito um hospital, no intuito de assistir seus funcionários, face as incidências epidêmicas da febre amarela. Em 1938, o distrito teve seu nome alterado para Coronel Fabriciano, por acordos políticos: [...] através de decreto-lei do prefeito Valdemir de Castro, de Antônio Dias, a mudança do nome da localidade para Coronel Fabriciano, 232 Imagem disponível em <http://www.diariopopularmg.com.br/vis_noticia.aspx?id=4285> Acesso em 26 out. 2014. 98 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


em homenagem ao centenário de nascimento de um antigo político de sua cidade, Coronel Fabriciano Felisberto de Brito [...] Na mesma época é inaugurado o Hospital Siderúrgica, para assistência a carvoeiros e madeireiros da Belgo-Mineira, vítimas, principalmente da malária. A instalação do Hospital Siderúrgica é de vital importância para o crescimento e saúde do lugar. O Hospital Siderúrgica tornase referência na área de saúde para moradores desde Governador Valadares até Itabira.O comerciante Sílvio Pereira instala máquinas para beneficiamento de grãos e funcionamento de uma pequena usina termoelétrica, inaugurando a iluminação pública da região.233 Todo esse incremento foi acelerado, em 1944, com a instalação da Companhia de Aços Especiais Itabira (Acesita) na região. Em 1948, o curato de São Sebastião foi elevado à categoria de paróquia, a primeira do Vale do Aço, e, no ano seguinte, seu novo templo foi inaugurado. As obras para a nova matriz foram iniciadas em 1946, tendo o local, as dimensões e o estilo sido definidos por Dom Helvécio, arcebispo de Mariana na ocasião. Após a criação da paróquia, sua administração foi assumida pelos redentoristas André Vander Arendt e o padre José Gonçalves da Costa. Estes mesmos religiosos fundaram, em 1968, sistema de transmissão radiofônica da Rádio Educadora.234

233  História Global de Coronel Fabriciano - Uma História em permanente construção/reconstrução. 13 nov. 2013. Disponível em <http://betosoutoblog.blogspot.com.br/2013/11/historia-global-de-celfabriciano.html> Acesso em 26 out. 2014. 234  A cidade que nasceu junto com a ferrovia. Diário Popular. 19 jan. 2013. Disponível em <http://www. diariopopularmg.com.br/vis_noticia.aspx?id=4285>. Acesso em 26 out. 2014.

50 Anos

99 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


Fig. 4 - Igreja de São Sebastião – Coronel Fabriciano235

Também em 1948, Coronel Fabriciano tornou-se município, após acirradas contendas políticas com o poder estadual, nas quais a Igreja Católica desempenhou relevante função: [...] dr. Rubem Siqueira Maia, um prestigiado médico da região, [...] recorre ao seu velho amigo e então deputado estadual Tancredo Neves para pleitear a emancipação política de Coronel Fabriciano, com a justificativa de promover o desenvolvimento da região. Mesmo assim, a Lei Estadual no 28, de 1947, em seu artigo 05, previa os critérios 235 Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Igreja_Matriz_de_S%C3%A3o_ Sebasti%C3%A3o_ap%C3%B3s_reformas_com_a_torre_em_destaque,_Coronel_Fabriciano_MG.JPG 100 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


necessários para a instalação de qualquer município mineiro:para a emancipação, deveria haver no mínimo 10 mil habitantes e Coronel Fabriciano, nesse momento, possuía apenas 5 mil. O governo de Minas não aprovou a instalação do município. diante dessa negativa o grupo do dr. Rubem adota a sugestão do deputado Tancredo Neves para que o padre Deolindo Coelho fosse envolvido e fornecesse os registros de batismo para que fossem acrescentados ao censo de habitantes, feito precariamente por Antônio Dias. Com esse procedimento, o número de habitantes excedia os 10 mil exigidos por lei. [...] diante de uma segunda negativa do Estado, a Companhia Acesita entrou no processo, reformulou a documentação, gerou um extenso memorial e o enviou novamente à Assembleia no dia 25 de fevereiro de 1948. Em 8 de outubro do mesmo ano, os deputados emitiram opinião favorável e, com uma grande contribuição do governador Milton Campos, no dia 27 de dezembro de 1948, em conformidade com a Lei 336/48, o distrito de Coronel Fabriciano, mediante a incorporação do arraial de Ipatinga, é emancipado.236 Pouco depois, em 1962, após cinco anos de construções, a Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais S/A – USIMINAS, fundada em parceria entre o governo brasileiro e industriais japoneses, instalou-se no distrito de Ipatinga, município de Coronel Fabriciano. A região parecia perfeita aos intentos da empresa: “[...] já possuía a Estrada de Ferro Vitória-Minas, além da Usina Hidroelétrica de Salto Grande a uma distância de apenas 50 km da região e uma área plana, com água à vontade do Rio Piracicaba, quase na junção do Rio Piracicaba com o Rio Doce – era uma situação ideal. Tinha também um solo com 35 metros de profundidade de areia compacta, o que favorecia uma fundação formidável e de fácil execução”. Contudo, a atuação da Usiminas perpassou-se de contornos trágicos: Neste dia 7 de outubro [de 1963], um número até hoje incontável de trabalhadores e pessoas diversas morreram baleadas pela polícia. Os operários queriam a melhoria das condições de vida, ou seja, 236  GENOVEZ, Patrícia Falco; VALADARES, Vagner Bravos. Op. Cit.

50 Anos

101 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


alimentação, transporte e alojamento que eram muito deficientes no início da implantação da USIMINAS, gerando constantes críticas dos trabalhadores. [...] em 1964, os militares assumem o poder. Por isso, esse episódio passa a ser contado apenas por pessoas que presenciaram os fatos, já que não há registro oficial nenhum do que realmente aconteceu naquele momento: o cemitério não possui dados daquela época, os cartórios registram apenas duas mortes entre 7 e 10 de outubro daquele ano, o inquérito militar e as investigações iniciadas pela Assembleia Legislativa do Estado nunca chegaram ao fim. O que se sabe é que os hospitais e Casas de Saúde de Ipatinga e Coronel Fabriciano ficara lotados de mortos e feridos conforme depoimentos de pessoas da época.237 Um dos desdobramentos dessa tragédia social foi a emancipação político-administrativa, em 1964, dos municípios de Timóteo e Ipatinga. A situação na região era bastante tensa, novos conflitos poderiam eclodir a qualquer momento, e diante desse quadro, os redentoristas buscaram oferecer alternativas de promoção social, culminando com a reconfiguração dual da Diocese em Itabira e Coronel Fabriciano. Os esforços foram intensos neste sentido, como demonstrado pelo depoimento de um dos redentoristas sobre as missões na cidade de Timóteo, no início da década de 1980: “principalmente consideramos falho no sistema não ter contemplado com uma Pastoral adequada e especial o mundo operário que caracteriza nossa Diocese e, muito especificamente, esse nosso Vale do Aço”.238 A reversão deste quadro incluiu, dessa forma, a instituição da co-Diocese e, em decorrência, a elevação da matriz de São Sebastião, em Coronel Fabriciano, à condição de co-catedral, no ano de 1979:

237  História Global de Coronel Fabriciano - Uma História em permanente construção/reconstrução. Op. Cit. 238 APRJ. Trabalho Missionário – Província do Rio de Janeiro (vol.I), 1981. Fundo 01, D Missões, cx 04. p. 9. Apud: SCHIAVO, Reinaldo Azevedo. Os redentoristas em tempos de aggiornamento: um estudo sobre a pastoral missionária da província do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo entre as décadas de 19601980.Dissertação (Mestrado em História).Mariana: Universidade Federal de Ouro Preto, 2011. p. 126. 102 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


Lido o Evangelho pelo Exmo. Sr. Bispo Diocesano, D. Mário Teixeira Gurgel, o Exmo. Sr. Arcebispo D. Oscar de Oliveira pediu-lhe que lesse o Decreto da Santa Sé, instituindo a con-Catedral, o que se fez traduzindo todo o documento do original latino para o vernáculo. Em seguida, D. Oscar de Oliveira a instalou solenemente nestes termos lidos aos numerosos presentes: ‘A nosso Exmo. e Revmo. Sr. Núncio Apostólico Dom Carmine Rocco, delegado pela Sagrada Congregação dos Bispos, para executar o Decreto da mesma Sagrada Congregação (n. 400/79), datado de 11 de junho do corrente ano, pela qual ela se dignou a elevar a Igreja Paroquial de Coronel Fabriciano, dedicada a São Sebastião, à dignidade de con-Catedral, e acrescentar ao nome da Diocese de Itabira também o de Coronel Fabriciano, ficando assim denominada Itabira – Coronel Fabriciano.239 Durante alguns anos, a matriz de Coronel Fabriciano atuou como efetivo espaço litúrgico episcopal, pois desde novembro de 1970, poucos dias depois da renúncia de Dom Marcos Noronha, o prédio da Sé de Itabira, na antiga Igreja de Nossa Senhora do Rosário, desabara fragorosamente: Hoje, na praça do Centenário, onde os fieis de Itabira assistiam suas missas dominicais, e se concentravam para atos religiosos, só existem ruínas. A catedral – igreja mais antiga da cidade – desabou por não resistir em sua construção de barro cru à infiltração da água ocasionada pelas fortes chuvas que vem caindo naquela região. A Igreja de Nossa Senhora do Rosário, de 150 anos, desabou em duas etapas: a primeira com a queda de seu teto e de duas paredes laterais; a segunda, já com auxílio do Corpo de Bombeiros e da equipe de Segurança da Companhia Vale do Rio Doce, caindo a fachada principal com suas torres e mais duas paredes laterais. Tão logo ocorreu na cidade a notícia do desabamento da igreja, a população ficou preocupada, ligando o fato à renúncia do bispo, Marcos Noronha, que foi embora de Itabira e confirmou seu afastamento dois 239  CÚRIA DIOCESANA DE ITABIRA – CORONEL FABRICIANO. Rumo aos 50 Anos. Diocese de Itabira Coronel Fabriciano. 1965-2015. p. 23.

50 Anos

103 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


dias antes do desabamento... O povo acredita que êste é mais um ‘acontecimento maldito’ que ocorre na cidade, pois eles vêm se sucedendo com certa frequência, o que deixa todos preocupados. O próprio cônego José Lopes dos Santos, vigário da igreja destruída, quando olhou para os escombros chegou a pensar que ‘aquilo fôsse um castigo divino’. Tão logo o cônego José Lopes dos Santos ouviu o estrondo do desabamento, saiu correndo de casa – localizada ao lado da igreja [...] – e conseguiu salvar muita coisa. O que o padre tirou primeiro foi o Santíssimo e logo depois debaixo de chuva e correndo o perigo de novos desabamentos, conseguiu tirar vários objetos da sacristia, como paramentos, cálices e vasos, todos de grande valor, por serem de arte de século passado. [...] Não restou nada da catedral, a não ser montes de tijolos de barro cru e madeira podre.240 Mas, no ano de comemoração dos 20 anos da Diocese, mais precisamente em 29 de dezembro de 1985,foi promovida a sagração do novo prédio da Sé da sede primaz: Foi uma grande festa a consagração da Catedral de Nossa Senhora do Rosário, em Itabira. Desde 1970, quando o teto e as paredes do antigo prédio ruíram, a população da Diocese vem trabalhando para a construção da nova Catedral. A inauguração, em 29 de dezembro, foi no dia em que eram comemorados os 20 anos da instalação canônica da Diocese. [...] O bispo auxiliar, D. Lélis Lara, explicou alguns símbolos da cerimônia, entre elas as quatro cruzes das paredes laterais que foram feitas com aço da própria cidade.241 Em 29 de dezembro de 2004, por ocasião das comemorações dos 40 anos de constituição da Diocese, houve a inauguração da cripta na Catedral de Itabira, com sepultamento dos restos mortais de Dom Marcos 240  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. A queda da Catedral, o fim? Diário de Minas. Belo Horizonte, 11/11/1970. 241  Itabira inaugura Catedral nos 20 anos da Diocese. Católico. 6 a 12 jan. 1986. 104 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


Noronha, transladados de Guaxupé.

Fig. 5 - Catedral Nossa Senhora do Rosário – Itabira.242

Em 4 de julho de 1993, foi a vez da co-catedral de São Sebastião, em Coronel Fabriciano: um novo edifício foi sagrado, tendo sido edificado em tempo recorde pelo pároco redentorista padre Élio da Silva Athayde: “em 1993 iniciou-se a construção da Catedral de São Sebastião, uma obra que chamou a atenção pelo arrojo da arquitetura. A estrutura metálica foi doada pela USIMINAS. A co-catedral abriga o único órgão de tubo da região e uma estátua de São Sebastião de 1,5 toneladas, esculpida pelo renomado escultor Leo Santana”.243

242 Disponível em < http://www.panoramio.com/user/895733/tags/Itabira 243 História Global de Coronel Fabriciano - Uma História em permanente construção/reconstrução. Op. Cit.

50 Anos

105 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


Fig. 6 - Fachada da Co-catedral São Sebastião.244

Quase simultaneamente à configuração dual da Diocese, em 1978, foi criado o Dia da Diocese, também conhecido como Festa da Unidade, pois tem o objetivo de celebrar a Unidade Diocesana. Segundo Dom Odilon Guimarães Moreira: Já é tradicional a nossa Igreja Particular de Itabira-Coronel Fabriciano celebrar o Dia da Diocese. Foi uma criatividade de Dom Mário Gurgel. A origem foi a celebração do Ano Santo de l975, por meio de uma bela peregrinação da Diocese à Serra da Piedade. Ela começou a acontecer no domingo que precede a festa de São Pedro e São Paulo, dia do Papa. Mês de Junho além de ser o mês do Papa é o mês da instituição da diocese. Parece-me que a primeira preocupação de Dom Mário era despertar e motivar o povo para a unidade diocesana. Além de regiões diversificadas, com situações sociais diferentes, a diocese era possuidora de um clero das mais diversas origens. Era necessário e urgente firmar uma unidade na diversidade.245

244 Bens Inventariados no Município de Coronel Fabriciano. Coronel Fabriciano: Secretaria Municipal de Educação e Cultura, 2012. 245 Disponível em <http://www.psfipatinga.com.br/igreja/diocese-de-itabiracel-fabriciano-celebra-47anos-de-instituicao>. Acesso em 8 jan. 2015. 106 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


Daí que, assevera Dom Odilon, “Dom Mário percebeu esta necessidade de trabalhar um pouco a unidade da igreja diocesana. Qual o objetivo dessa festa da diocese? É estabelecer um vínculo, união, fraternidade, encontro, amizade, de aproximação”.246 E foi durante uma das Festas da Unidade, dia 27 de junho de 2010, na cidade de Timóteo, que foi lançada oficialmente a logomarca da Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano, atualizada em 28 de dezembro de 2014, em função do ano jubilar. Destacam-se, como símbolos privilegiados, a figura estilizada de Nossa Senhora Aparecida, proposta como padroeira já no projeto de criação da Diocese, o tríduo de cores247 representando as três regiões pastorais e o número 50, indicativo do Jubileu.

Fig. 7- Primeiro logotipo da Diocese.248

Fig. 8 – Atual logotipo da Diocese.249

Outra expressão da comunhão diocesana foi promovida em dezembro de 1999, como marco de transição para o Terceiro Milênio: a “abertura das portas” das duas Catedrais. E em 11 de abril de 2006, foi 246  Entrevista concedida por Odilon Guimarães Moreira (bispo emérito) a Júlio César Santos, em 8 jun. 2014, durante a Festa da Diocese, município de Santana do Paraíso. 247  O Regional I é representado pela cor azul, o Regional 2, pela vermelha e o Regional 3 pela amarela. 248  Disponível em <http://4.bp.blogspot.com/-XRx7YYNLlAg/TuXjddGPz1I/AAAAAAAABa4/2zGA7noSJMA/s320/itabira.png> Acesso em 6 jan. 2015. 249 Disponível em <http://dioceseitabira.org.br/noticiasdiocese/ano-jubilar-diocese-lancara-novalogomarca-no-fim-do-ano/>. Acesso 6 jan. 2015.

50 Anos

107 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


celebrada, pela primeira vez, a Missa da Unidade (dos Santos Óleos, de Quinta-Feira Santa) na co-catedral de Coronel Fabriciano, pois “Assim que assumiu a Diocese, uma das primeiras medidas de dom Odilon foi tornar a Missa dos Santos Óleos itinerante. Até então realizada tradicionalmente em Itabira, a celebração – uma das principais da Semana Santa – passou a acontecer também em Coronel Fabriciano – um ano em cada cidade”.250 Daí que, no dizer de Dom Marco Aurélio: “Temos uma igreja muito viva, muito vibrante em suas pastorais, no compromisso dos presbíteros em estar perto da comunidade e uma diversidade muito grande de realidades, mas uma unidade na fé e na busca de se conduzir a Igreja da melhor maneira possível”.251

250  “Dom Odilon completa nove anos em Itabira”. 31 mar. 2012. Disponível em <http://www.ultimanoticia.com.br/ultimanoticia/Portugues/detNoticia.php?cod=10766>. Acesso em 6 jan. 2015. 251  ARQUIDIOCESE DE POUSO ALEGRE-MG. “Cerca de 20 mil pessoas participam da posse de d. Marco Aurélio”. Disponível em <http://arquidiocese-pa.org.br/wordpress/2013/06/cerca-de-20-milpessoas-participam-da-posse-de-dom-marco-aurelio/>. Acesso 6 jan. 2015. 108 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


IV

Agentes da Nossa Hist贸ria



4.1. O Secretariado Diocesano, regiões pastorais e paróquias Juntamente com a criação da diocese de Itabira, foi organizado o Secretariado Diocesano. Nas palavras de Dom Marcos Noronha, Ao lado da Igreja tradicional, que tinha sua estrutura numa Cúria, com seu chanceler, houve uma mudança: geralmente a chancelaria do bispado era assumida por um monsenhor, um padre, não é? Em Itabira, foi escolhido um leigo para este cargo: foi o Sr. Antônio Lisboa, [de apelido] Sr. Ninico Amâncio. Foi por votação também, consultei uma porção de gente e todo mundo indicou logo o Sr. Ninico para ser o chanceler do Bispado. Foi um dos maiores acertos que eu fiz na minha vida, pois ele cumpriu a sua missão integralmente e não foi só o chanceler, mas foi, vamos dizer assim, o pai do bispo, o conselheiro, o amigo de todas as horas.252

Fig. 1 – Sr. Ninico Amâncio, secretário, com Dom Mário Teixeira Gurgel.253 252 NORONHA, Marcos de. “Itabira é a Rua de Ontem”. O Cometa Itabirano. Op. Cit. 253 Fotografia gentilmente cedida pelo Secretariado de Pastoral da Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano.

50 Anos

111 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


O senhor Ninico Amâncio desempenhou papel fundamental na estruturação da nova diocese, dando suporte institucional e pessoal aos prelados: Sem conhecer ninguém, Dom Mário [Gurgel], cearense de nascimento, sem exagero algum, passou por um período difícil nessas plagas no início de seu bispado. [...] o senhor Ninico Amâncio que percebendo o isolamento do povo que havia sido apanhado de surpresa, logo, logo passou a frequentar sua casa, com isso, conquistando sua amizade, conhecimento de um para com o outro e confiança mútua, assim, tornando-se amigos. Durante vários anos foi seu elemento de confiança e companheiro de jornada, inclusive o primeiro secretário diocesano.254 Já as atividades de perfil pastoral associadas ao Secretariado foram confiadas, por votação, a“Otacílio Fernandes [na ocasião, presbítero], que hoje mora em Itabira. Criou-se, então, um organismo que centralizaria esse tipo de trabalho, nascendo o Secretariado...”. Em depoimento, Otacílio descreve que: Fui incumbido de criar o Secretariado Diocesano. Agrupamos muitos rapazes e moças porque, através deles, deveríamos deslanchar o processo de ‘Reflexão’ na cidade de Itabira e em todas as paróquias e distritos da Diocese. [...] No mundo todo, a Igreja iria passar por uma grande transformação. Assim pensavam os idealistas. [...] Não era fácil a tarefa. Uma casa grande foi cedida, à Rua dos Padres, em frente à casa do Sr. Ninico, pai de Marciana e Natércia, que já trabalhavam na Diocese. Pintamos a casa e nela instalamos o Secretariado Diocesano.255 Muitas das atividades desenvolvidas pelo Secretariado eram promovidas por voluntariado de leigos e leigas, “reunidos conscientemente 254  “Oito anos de saudades”. Itafatos. 15 set. 2014. Disponível em <http://www.itafatos.com. br/?p=29455>. Acesso em 6 jan. 2015. 255  Depoimento impresso do Sr. Otacílio Fernandes, gentilmente cedido pelo autor. Sem data. 112 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


para um trabalho estafante”. Segundo Dom Marcos Noronha, “Foi um passo importante, e como todo passo importante, foi crucificante e sobretudo questionador. Isso questionou a velha Itabira, acostumada com os tradicionalismos, não é?” [...] Começaram, então, a surgir os boatos [...] Certo dia, telefonaram lá para casa e perguntaram: - A que horas ia abrir a boate?”.256

Fig.2 - Casa em que inicialmente funcionou o Secretariado Diocesano em Itabira.257

As tarefas eram exaustivas, mas também havia a empolgação dos envolvidos: “Foi um tempo de muito trabalho. Conseguimos carros, através de rifas, para a locomoção das pessoas que trabalhavam no Secretariado Diocesano e que se dirigiam aos bairros, para a instalação de novos grupos. Como trabalho paroquial e diocesano, foi realmente novo, com muita participação e entusiasmo”.258 No segundo semestre de 1972, com verba concedida pelos salvatorianos da Alemanha e mão-de-obra da Companhia Vale do Rio Doce, Dom Mário Teixeira Gurgel construiu, ao lado esquerdo de sua residência, um prédio simples, destinado ao funcionamento do Centro Diocesano: Cúria, 256 257 258

NORONHA, Marcos de. “Itabira é a Rua de Ontem”. O Cometa Itabirano. Op. Cit. Fotografia gentilmente cedida pelo Secretariado de Pastoral da Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano. Depoimento impresso do Sr. Otacílio Fernandes, gentilmente cedido pelo autor. Sem data.

50 Anos

113 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


Contabilidade, COPAI – Centro de Orientação Pastoral de Itabira.259 Gradualmente, também passavam a ficar mais claros os critérios, estruturas e instrumentos para o pastoreio diocesano. Enfatizou-se adescentralização e, em 1983, foram criados os vicariatos episcopais, depois conhecidos como “regiões pastorais”. Atualmente, a primeira delas, Região Pastoral I, de Itabira, abrange as cidades de Bom Jesus do Amparo, Itabira, Itambé do Mato Dentro, Passabém, Santa Maria de Itabira, São Sebastião do Rio Preto. A Região Pastoral II, de João Monlevade, conta com os municípios: Alvinópolis, Bela Vista de Minas, Dionísio, João Monlevade, Nova Era, Rio Piracicaba, São Domingos do Prata, São Gonçalo do Rio Abaixo, São José do Goiabal. A Região Pastoral III, de Coronel Fabriciano, é composta por Antônio Dias, Belo Oriente, Coronel Fabriciano, Ipatinga, Jaguaraçu, Marliéria, Mesquita, Timóteo. De acordo com Dom Odilon, De fato, a Diocese tem uma diversidade muito grande, nós sabemos que a Diocese é dividida em três regionais, cada regional tem uma característica diferente. Os dois regionais, o primeiro e o segundo, são bem parecidos, bem próximos, mas o terceiro é bem diferente [...]. E não só em essa questão de regionais, mas também em mentalidades, ideias de Diocese, muito desafio.260 Em 1987, o prédio do Secretariado foi substituído por uma nova construção, de perfil “amplo, bonito e funcional”.261 Mas mudança ainda mais importante foi realizada por Dom Lelis Lara, que em 1 de setembro de 1999 reorganizou o Secretariado em quatro setores de Evangelização: Serviço, Testemunho, Anúncio e Diálogo,262 em sintonia com o documento emitido em Assembleia da CNBB de 1996, que previa tais dimensões como cruciais à preparação para o Jubileu do ano 2000, numa profunda dinamização da atuação da Igreja no mundo contemporâneo. Em 1 de 259  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Síntese de 1971-1985. Sem data. Rubricado por D. Mário Gurgel. 260  Entrevista concedida por Odilon Guimarães Moreira (bispo emérito) a Júlio César Santos, em 8 jun. 2014, durante a Festa da Diocese, município de Santana do Paraíso. 261  DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Livro da Caminhada. Op. Cit. p.14 262  Ibidem. p. 16. 114 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


fevereiro de 1999,o Secretariado Diocesano de Pastoral adotou uma coordenação colegiada, com os padres Elson Vital dos Reis, José Miranda e Élio da Silva Athayde acompanhando e articulando os trabalhos pastorais dos três setores: Pastorais Específicas, Pastorais Sociais, Movimentos e Serviços. Em janeiro de 2003, o Secretariado Diocesano de Pastoral foi transferido de Itabira para João Monlevade e, em outubro de 2007, foram instalados os Secretariados de Pastoral nas regionais I e II, o mesmo ocorrendo em fevereiro de 2008 no Regional III.263 As regiões pastorais, por sua vez, buscam manter uma articulação efetiva com as paróquias da Diocese, cujo número foi ampliado ao longo dos cinquenta anos da constituição do bispado. Mas, em contrapartida, em 1986, alguns municípios passaram a integrar o espaço geográfico da recém-criada Diocese de Guanhães, diminuindo para 24 o número de municípios vinculados a Itabira- Coronel Fabriciano.264 Desde a fundação da Diocese, foram sucessivamente instituídas novas paróquias: já em 1965, a do Sagrado Coração de Jesus, em Ipatinga; em 1966, a de Nossa Senhora de Fátima, em João Monlevade; em 1968, a de São Sebastião, em Bela Vista de Minas; em 1973, a de Nossa Senhora da Penha;em 1982, de Nossa Senhora da Piedade, ambas em Itabira; a de Nossa Senhora da Piedade, em Belo Oriente, datada de 1977 em 1989, a Cristo Libertador, em Ipatinga; em 1993, a de São Luis de Monfort, em João Monlevade. Após alguns poucos anos de interrupção, seguiramse novas fundações: em 1999, paróquia de Nossa Senhora Aparecida, em Ipatinga. Já no ano de 2001, foram eretas as paróquias de Nossa Senhora da Conceição, em Ipoema; de São José, em Passabém;265 de São Sebastião, em São Sebastião do Rio Preto,266 e de Santo Antônio, em Itabira. Logo em 263  Ibidem. p.18. 264  DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Livro da Caminhada. Op. Cit. p.14 265  Em 1876, Passabém constituía-se em arraial, pertencente à recém-criada paróquia de São Sebastião. Segundo o padre Raul Mello, “o arraial de São José do Passabém [que] possui uma bôa capela, padroeiro São José, a 9 quilômetros da sede”. (Extraído do Livro de Tombo da Paróquia São Sebastião). Em 1965, a Capela de São José de Passabém foi elevada à condição de paróquia, mas sem recursos, retornou à dimensão de capela em 1978. Em 2001, assumiu novamente a autonomia paroquial. 266  A localidade de São Sebastião do Rio Preto tornou-se um pólo da vida religiosa a partir de 1814, quando João da Silva Maia mandou construir um cemitério na extremidade de sua fazenda (situada em lugarejo conhecido como “Cachoeira Alegre”). Desta data até 1830 começaram a surgir as primeiras casas, ocasião em que foi erguida uma capela dedicada a São Sebastião, também padroeiro da Freguesia. O pequeno

50 Anos

115 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


seguida, em 2002, foram criadas as paróquias Nossa Senhora da Conceição Aparecida,267 em Itabira, e Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, na localidade conhecida como Cachoeira Escura, município de Belo Oriente. Por fim, no episcopado de Dom Odilon, foram fundadas sete paróquias: em 2004, São Geraldo; em 2007, Cristo Redentor; em 2008, Sagrada Família; em 2009, São Pedro e Divino Espírito Santo, a qual, a partir de dezembro de 2014, recebeu a denominação de Senhor do Bonfim, todas elas em Ipatinga; em 2010, Santo Antônio, em Vargem Linda, município de São Domingos do Prata; em 2011, São Francisco Xavier, em Coronel Fabriciano; em 2012, Sagrado Coração de Jesus, em Itabira. Assim, em 2012, a Diocese de Itabira-Fabriciano contabilizava 49 paróquias. 4.2. Dos Grupos de Reflexão e CEBs às Assembleias Desde o episcopado de D. Marcos Noronha, iniciado em 1965, a atuação pastoral da Diocese foi remetida aos movimentos de base: “Eu acreditava lá no fundo que não se podia fazer absolutamente nada sem consultar o povo. O povo deveria ser o agente dessa ação!” Por isso, seu intento era “[...] fazer o povo refletir e participar, despertar e formar lideranças, criar uma nova imagem de Igreja”.268 Na operacionalização desta proposta, mostrou-se fundamental a constituição dos Grupos de Reflexão: A reflexão era o ponto central para o trabalho a ser desenvolvido. [...] Criamos uma série de mecanismos que variavam dentro da Diocese inteira, mas o fundamental foram os Grupos de Reflexão. [...] Eu me lembro que eu participava dos grupos de Vila Amélia, lá no Campestre havia vários grupos de reflexão, em toda periferia havia. [...] Atuavam da seguinte maneira: pegavam a realidade e colocavam a seguinte templo recebeu as bênçãos de Dom Frei José da Santíssima Trindade, enviada por carta pastoral. A Capela foi canonicamente elevada à paróquia em 1876. Posteriormente, no ano de 1978, retornou à condição de capela, e só em 2001 obteve novamente o status paroquial. 267  A paróquia Nossa Senhora Aparecida surgiu do núcleo católico da Vila Conceição, a qual foi fundada em 1959. Posteriormente, a paróquia retornou à condição de Comunidade, integrante da paróquia Nossa Senhora da Saúde. 268  NORONHA, Marcos de. “Itabira é a Rua de Ontem”. O Cometa Itabirano. N. 11. Dez. 1980. 116 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


pergunta: ‘Isso corresponde ao ideal do que deve ser feito, ou não?’ Esse bater constante entre o ideal e a realidade concreta, tirando a conclusão do que fazer, daqui pra frente.269

Fig. 2 – Grupo de reflexão em Itabira, 1968.270

De acordo com Otacílio Fernandes, então padre que coordenava o Secretariado de Pastoral da Diocese: Confeccionamos o livreto chamado Tempo de Reflexão, cuja capa tinha uma interrogação, desenhada como a sugerir os questionamentos que seriam necessários, para colocar nas reuniões de reuniões de reflexão para a mudança. Propunha-se verdadeira mudança, verdadeira transformação. [...] Participavam das reuniões os jovens, que após passarem pelo processo, iriam repassá-lo aos grupos organizados nas paróquias da diocese e nos bairros de Itabira. É bom lembrar que os leigos, nesta época, de nada participavam nas paróquias. Eram passivos. Pelo novo processo, eles seriam a ‘força viva’, atuantes. Teriam vez e voz!271

269 270 271

Ibidem. Fotografia gentilmente cedida pelo Secretariado de Pastoral da Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano. Depoimento impresso do Sr. Otacílio Fernandes, gentilmente cedido pelo autor. Sem data.

50 Anos

117 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


As resistências, contudo, não deixaram de ser sentidas, de forma simultânea às transformações obtidas: No bairro da Água Fresca, não havia escola. Fomos com o grupo de reflexão ao pároco, que acabara de construir a igreja. O grupo solicitou que a nave da igreja fosse usada como sala de aula. O padre se opôs, dizendo que ali era a casa de Deus... Fomos ao prefeito, Daniel de Grisolia, e ele cedeu uma escola de madeira que havia sido desativada. O grupo desmontou esta escola e a levou para o bairro da Água Fresca. Também neste bairro, o local de reunião era em casa de família e próximo a esta havia uma placa com os dizeres: ‘O caminhão da CVRD só virá pegar os empregados residentes no bairro no dia em que não chover. Nos dias de chuva, o caminhão virá até a estação ferroviária. Chamamos o Dr. Schetino, maior autoridade da CVRD em Itabira a uma reunião do grupo e mostramos que os empregados precisavam da condução justamente quando chovia. Dr. Schetino ouviu e na semana seguinte a CVRD encascalhou toda a estrada e os caminhões, mesmo com chuva, passaram a ir até o bairro.272

Fig. 3 – Grupos de Reflexão em 1968.273 272 273

Ibidem. Fotografias gentilmente cedidas pelo Secretariado de Pastoral da Diocese de Itabira - Coronel Fabri-

118 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


Simultaneamente aos Grupos de Reflexão, foram constituídas, desde o episcopado de Dom Marcos Noronha, Comunidades Eclesiais de Base, que também receberam apoio dos bispos subsequentes, seja em sua atuação, seja em seu ideário, como indicado por Dom Mário: “[...] a Igreja deve agir em dois campos. Primeiro, deve formar a consciência crítica do povo, conscientizá-lo de que ele deve participar ativamente da vida comunitária. Segundo, a Igreja tem a obrigação de denunciar tudo aquilo que vai contra os interesses da comunidade”.274 Assim, as CEBs apresentam-se como uma opção pastoral fundamental na história da Diocese, e foi nessa perspectiva que Dom Lelis Lara apoiou a realização no Bispado do 11º Intereclesial das CEBs, encontro que veio a ser concretizado por Dom Odilon Guimarães Moreira, de 19 a 23 de julho de 2005, na cidade de Ipatinga.

Fig. 4- 11º Encontro Intereclesial das CEBs, em 2005.275

Este Intereclesial das CEBs congregou em torno de 4.000 delegados de 269 dioceses do Brasil, sendo 420 religiosos, 380 padres e 50 bispos, juntamente com 70 convidados de outros países; a representação das populações indígenas compareceu com 80 membros. Foi notável a presença de diversas denominações evangélicas, em espírito de ecumenismo. A ciano. 274 Tribuna de Itabira, junho de 1992, p. 3. Apud: LIMA, José Carlos Fernandes. Tributo a D. Mário Teixeira Gurgel.Mimeo. Sem data. 275 Disponível em <http://www.cantareira.org/wp-content/uploads/2013/03/interna_ed_71.jpg>. Acesso em 8 jan. 2015.

50 Anos

119 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


coordenação do Intereclesial distribuiu os participantes em seis blocos temáticos de 600 membros cada um, abrangendo seis áreas de trabalho, num total de 36 mini plenários, com suporte de 112 assessores: [...] Seguindo o método ‘ver, julgar, agir’, [os subtemas] relacionam a dura realidade da exclusão social com a dignidade da pessoa e a promoção da cidadania, visando a formação de sujeitos atuantes na construção de um “outro mundo possível”, com especial atenção à ecologia e à questão do uso da terra e da água e educação libertadora. A excelente organização foi assegurada pela diocese de Itabira, tendo à frente a comissão central, com dom Odilon Moreira e padre Nelito Dorneles, e a colaboração de 2.000 voluntários em 14 áreas de serviço. As famílias das cidades de Ipatinga, Coronel Fabriciano e Timóteo garantiram em seus lares a hospedagem dos visitantes. As 13 mil refeições diárias são fruto da generosa doação das CEBs do Brasil. Marcou todo o encontro a dimensão orante, com cantos, celebração do ofício divino, devoção mariana, ato penitencial e liturgia eucarística, renovando em todos a alegria da comunhão fraterna e da confiança em Deus. Dezenas de milhares de membros das paróquias locais participaram dos eventos de abertura e outras celebrações, transformando o 11º Intereclesial das CEBs numa festa de solidariedade para todo o vale do Aço, sinal de esperança para o Brasil.276 O 11º Intereclesial foi precedido pelo IV Encontro Mineiro de CEBs, ocorrido em Ipatinga de 10 a 16 de junho de 2004, bem como pelo Encontro Latino-Americano de CEBs, realizado no México de 8 a 20 de setembro de 2004, com participação de Dom Odilon e padre Nelito. Toda essa mobilização é também indicativa do esforço, promovido pelos integrantes das CEBs, em manter o dinamismo incitador da transformação da vida social a partir da fé, enorme desafio numa sociedade cada vez mais voltada para a competitividade e para a satisfação dos desejos individuais como configuradores da realização humana: 276  ALMEIDA, Luciano Mendes de. Comunidades Eclesiais de Base. Folha de São Paulo, 23 jun. 2005. 120 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


Olha, nós lutamos muito, mas vai perdendo um pouco este contato dos primeiros momentos da história da nossa Diocese. Nós temos que voltar mais, estamos perdendo o foco da CEBs, onde se volta mais para a questão social, e sairmos um pouco da questão mais voltada para a Igreja [auto-referencial], voltar para a origem que a Diocese foi criada. Origem do momento forte, na virada do Vaticano II, que é para o povo.277 Mas nem todos os leigos e padres da Diocese compartilhavam a visão de uma Evangelização diretamente comprometida com a mudança social. Sobretudo nos primeiros anos, as resistências foram intensas: Quantos [padres] aderiram realmente? E as incertezas, inseguranças? [...] Implantamos um processo, que, julgávamos, iria quebrar a resistência do clero às mudanças propostas pelo Concílio. Trouxemos de São Paulo um psicólogo e um psiquiatra, que montaram o seu QG na Casa de Retiros São José, em Belo Horizonte. Toda semana, grupos formados por 10 padres se revezavam, nas sessões de terapia, para que se enxergassem e convertessem. Houve sessões memoráveis, com choros, ‘lastimações’ [....].278 De forma praticamente inevitável, as polarizações eclodiram: Começaram a aparecer jovens revolucionários, questionando: - Por que o povo vive tão miseravelmente? Por que a Igreja não entra na fase de denúncias, por que está ao lado dos poderosos? Por que só a classe rica pode educar seus filhos em colégios de padres e freiras, internatos para rapazes e moças, que sendo os únicos formados, o eram para ajudarem a manter privilégios? Todos esses questionamentos eram escritos. Quando me mudei para a casa do Padre Pessoa, em Vila Amélia, levei estas anotações e ele, apavorado, mandou queimar tudo.279 277  Entrevista concedida pelo padre Elinei Eustáquio Gomes a Júlio César Santos em 8 jun. 2014, durante a Festa da Diocese, realizada no município de Santana do Paraíso. 278  Depoimento impresso do Sr. Otacílio Fernandes, gentilmente cedido pelo autor. Sem data. 279 Ibidem.

50 Anos

121 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


O quê fazer? Dom Mário Gurgel, assumindo a Diocese após a renúncia de Dom Marcos Noronha, sobretudo após contar com o apoio de Dom Lelis Lara como bispo auxiliar, buscou aproximar a relação entre o clero e o laicato, centrada no protagonismo das decisões colegiadas comunitárias e paroquiais, expressas em suas Assembleias e sistematizadas nos Planos de Pastoral. Assim, desde o episcopado de Dom Mário, a culminar na atual gestão de Dom Marco Aurélio, houve um esforço para valorizar e preservar a dinâmica de uma pastoral de base trazida por Dom Marcos Noronha, mas de forma a concatená-la com a especificidade do ministério a ser exercido por párocos e vigários, religiosos e religiosas, eclesiásticos e leigos, numa perspectiva de articulação entre pluralidade e unidade da Igreja, como indicado por Dom Odilon: A unidade, eu acho, é um dos desafios maiores da diocese, que vem e está no nosso tempo, é exatamente a unidade na diversidade. Unidade na diversidade, não tem jeito de colocar todo mundo na mesma panelinha, não tem jeito né, temos que respeitar mesmo a diversidade. Aliás, hoje dia de pentecostes, dia do Espírito Santo, falase muito nisso, Igreja diversa é uma, com aquela leitura [...] de São Paulo aos Coríntios, dos diversos dons, da unidade, de um só Senhor, um só Deus, um só Espírito Santo, diversos dons, diversos carismas..., [assegurando-se] a unidade do corpo e as diversidades dos membros né. A Igreja de Cristo é assim, o corpo cuja a cabeça é Jesus Cristo e uma diversidade muito grande de membros e tem que respeitar esta diversidade e trabalhar com a unidade, claro, se não estamos fadados ao fracasso.280 Para suscitar essa unidade na diversidade, a Diocese de ItabiraFabriciano, desde sua criação, já convocou as comunidades e paróquias por dezenove vezes, para realização de Assembleias Diocesanas de Pastoral. Num breve histórico, verifica-se que, a primeira delas, ocorrida em 1970, foi promovida como um Encontro Diocesano, no qual foi criado o COPAI 280  Entrevista concedida por Dom Odilon Guimarães Moreira a Júlio César Santos em 8 jun. 2014, durante a Festa da Diocese, realizada no município de Santana do Paraíso. 122 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


(Centro de Orientação Pastoral de Itabira). A segunda Assembleia, de 1972, elaborou o Primeiro Plano de Pastoral, destacando, como prioridades, “unidade, promoção, catequese e juventude”. A terceira Assembleia, ocorrida logo em 1973, teve como propósito uma revisão da trajetória diocesana, estabelecendo-se, como metas, a “unidade, evangelização, promoção”. Em 1976, foi realizada a quarta Assembleia, que objetivou preparar a Campanha da Fraternidade e, a partir daí, realçar a importância dessa mobilização da Igreja. De 1976 a 1982, as Assembleias cederam lugar a uma dupla forma de participação: confraternização geral no Dia da Diocese e reunião do Conselho Pastoral Diocesano. A partir de 1977, as Assembleias passaram a ser realizadas anualmente, mas mantendo-se a periodicidade quadrienal para revisão dos Planos de Pastoral. Houve, assim, Assembleias em 1977 (a quinta, no Santuário do Caraça), 1978 (a sexta, no Colégio Nossa Senhora das Dores, em Itabira), 1979, especialmente dedicada ao estudo do Documento de Puebla (a sétima, em Coronel Fabriciano), 1980 (a oitava, em João Monlevade) e 1981, dedicada à formulação do Plano Pastoral da Diocese, tendo adotado como temática “Pastoral numa região de macro-indústria em tempo de consumo” (a nona, realizada no Ginásio do Valério, em Itabira). Em 1982, foi promovida a décima Assembleia, em Ipatinga; em 1983, a décima primeira, tendo como tema “Modelo de Igreja – Igreja em Itabira”. Dois anos depois, em 1985, procedeu-se a décima segunda Assembleia, dedicada à temática “Por uma Pastoral Integrada, Libertadora e Missionária”. Em 1986, a décima terceira Assembleia, dedicada à reflexão “Por uma nova Ordem Constitucional”, em plena saída do regime civilmilitar, ocorreu em Ipatinga. Apenas em 1992 ocorreu a décima quarta Assembleia, ponto culminante das atividades voltadas aos 25 anos da criação da Diocese. Essa Assembleia adotou como tema “A Caminho do Reino Definitivo”, elencando três prioridades: formação integral e permanente, juventude e transformação social/direitos humanos. As duas assembleias seguintes passaram a ser realizadas a cada quatro anos. A décima quinta, de 1996, teve como tema “Diocese de Itabira-Fabriciano, Rumo ao Terceiro Milênio”, conferindo enfoque especial à formação em todos os níveis, transformação 50 Anos

123 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


social e espiritualidade. A décima sexta, promovida em 2000, escolheu como tema “Reafirmando a nossa Esperança no Limiar do Século XXI”, mantendo a tríplice meta delineada pela Assembleia anterior. Já a décima sétima Assembleia, realizada em 2006 no Recanto das Mangueiras, em Melo Viana, norteou-se pela proposta “Ser Igreja é Participar”, elegendo como alvos de atuação pastoral a formação, a missão e as pastorais sociais. A décima oitava Assembleia, em 2010, sugeriu a continuidade das prioridades da Diocese encampadas no quadriênio anterior. Em 2014 foi realizada a décima nona Assembleia, a qual, segundo Dom Marco Aurélio, suscitou [...]uma grande movimentação desde as pequenas Comunidades, tanto rurais quanto urbanas, nas assembleias comunitárias; uma movimentação maior envolvendo as lideranças da paróquia; depois as Assembleias Regionais que tentaram consolidar os resultados de todas as Assembleias Comunitárias e Paroquiais e, por último, a Assembleia Diocesana, após oito anos sem havê-la. Percebeu-se a renovação de pessoas, muitas participando pela primeira vez. Graças a Deus, o resultado de trabalho, de participação e de empenho, seja dos fiéis leigos, seja dos padres, foi muito bom. Isso fez com que tenhamos caminhos apontados para os próximos cinco anos. [...] No ano que vem [2015], começaremos a elaborar e empreender o novo Plano de Pastoral Diocesano para que as paróquias possam ir assimilando os resultados da Assembleia. Foram colocados pela Assembleia, soberanamente, duas prioridades, Missão e Família; e cinco objetivos. Nós precisamos interpretar a vontade do povo manifestada pelos seus representantes na Assembleia, e agora executar isso com um bom Plano de Pastoral, e dar continuidade do processo de planejamento e execução.281

281  Disponível em <http://dioceseitabira.org.br/noticiasdiocese/dom-marco-aurelio-avalia-a-caminhada-diocesana-em-2014/>. Acesso em 6 jan. 2014. 124 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


Fig. 5 – Símbolo da 19ª Assembleia Diocesana de Pastoral.282

4.3. Vida consagrada feminina e masculina Desde sua fundação, a diocese de Itabira contou com a colaboração das religiosas no serviço pastoral: “Dom Marcos encontrou nove Congregações existentes na Diocese, sendo oito delas femininas. Essas congregações realizavam um trabalho, cada uma de acordo como o seu carisma, em onze Instituições: seis de caráter hospitalar, três de nível educacional, um orfanato e uma específica de promoção humana”.283 Por isso, não casualmente, já 282 Disponível em <http://www.cnbbleste2.org.br/index.php?pagina=grupo_noticia&tela=10&vw=309>. Acesso em 14 fev. 2015. 283 “IRMÃO BOB”. Síntese manuscrita sobre vida religiosa na Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano, gentilmente cedido pelo autor. 19 dez. 2014.

50 Anos

125 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


no ano de 1966, “quando não tinha ainda cinco meses como bispo da nova Diocese de Itabira, Dom Marcos Antônio de Noronha convocou a primeira Assembleia das Religiosas de sua Diocese”.284 As religiosas de vida ativa passaram a atuar nas terras mineiras a partir de meados do século XIX, ainda durante o Império, intensificando sua ação apostólica no início do período republicano. Sua vinda articulavase aos esforços da Igreja Católica para se manter como referência social e mesmo política face a um Estado cada vez mais laicizado, mas do qual provinham importantes subsídios financeiros e concordatas jurídicas, bem como consistia em efetiva contraposição às atividades sociais promovidas por denominações protestantes e espíritas. Assim, as congregações religiosas femininas tiveram papel relevante na prestação de serviços educacionais, de saúde, de atendimento aos idosos e à infância, além das práticas diretamente ligadas à esfera religiosa, como a catequese e a liturgia.285 Por ocasião da instalação da diocese de Itabira, aí já atuavam a Congregação das Religiosas Missionárias Nossa Senhora das Dores,286 as Irmãs Franciscanas Alcantarinas,287 as Irmãs Carmelitas da Divina Providência288 e as Irmãs da Beneficência Popular.289 É preciso considerar, entretanto, que essas mulheres não incorporaram passivamente as funções que lhes eram destinadas pela hierarquia eclesiástica à frente de suas congregações, eram as religiosas que administravam os recursos financeiros e elaboravam planejamentos institucionais, ficando também responsáveis por sua execução; no exercício de seus cargos e tarefas cotidianas, elas emergem como agentes dinâmicas e, muitas vezes, inovadoras.290 284 Ibidem. 285  Ver também: BEOZZO, José Oscar. Decadência e morte, restauração e multiplicação das ordens e congregações religiosas no Brasil. 1870-1930. In: AZZI, Riolando (org.). A vida religiosa no Brasil: enfoques históricos. São Paulo: Paulinas, 1983; RUPERT, Arlindo. A Igreja no Brasil. Santa Maria: Pallotti, 1993. V. 4; LIMA, Maurílio César de, mons. Breve História da Igreja no Brasil. Rio de Janeiro: Restauro, 2001. 286  Em missão nos municípios de Itabira e São Domingos de Prata. Ibidem. 287  Na Diocese até 1984, em missão nos municípios de Itabira e Nova Era. Ibidem. 288  Em missão nos municípios de Coronel Fabriciano e Morro do Pilar. Ibidem. 289  Em missão nos municípios de Alvinópolis, Antônio Dias, Bom Jesus do Amparo, Itabira, São Domingos do Prata, Timóteo. Ibidem. 290  AZZI, Riolando. A participação da mulher na vida da Igreja do Brasil (1870-1930). In: MARCÍLIO, Maria Luíza. A mulher pobre na história da Igreja latino-americana. São Paulo: Paulinas, 1984. 126 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


A vida consagrada feminina na Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano passou por profundas alterações na sua estrutura e atuação a partir do Concílio Vaticano II e das Conferências Episcopais Latino-Americanas de Medellín, em 1968, e Puebla, de 1979. Antigos hábitos foram substituídos por roupas do dia-a-dia, alguns prédios conventuais deram lugar a pequenas residências, atitudes mais ascéticas do cotidiano religioso, como o silêncio ou as práticas penitenciais, foram flexibilizadas, substituídas ou até abolidas, em nome de outras condutas, mais engajadas na realidade histórico-social.291 Assim, nos cinco anos de episcopado de Dom Marcos Noronha, justamente no contexto do pós-Vaticano II e de Medellín, somaramse as Missionárias de Jesus Crucificado292 e a Congregação Romana de São Domingos.293 Com Dom Mário Gurgel, instalaram-se na Diocese as Congregações das Religiosas do Sagrado Coração de Jesus,294 as Irmãs Filhas do Sagrado Coração de Jesus: (Filhas do Sagrado Coração),295 as Irmãs Missionárias do Imaculado Coração de Maria,296 a Companhia das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo de Gysegem297 e as Franciscanas Cinzentas.298 Posteriormente, estabeleceram-se no Bispado a Companhia das Filhas de Caridade de São Vicente de Paulo,299 bem como as Congregações das Irmãs do Divino Salvador (as Irmãs Salvatorianas),300 as Irmãs de Caridade Dominicanas da Apresentação da Santíssima Virgem,301 as Irmãs da 291  NUNES, Maria José Rosado. Vida religiosa nos meios populares. Petrópolis: Vozes, 1985; GROSSI, Miriam Pillar. Jeito de freira: estudo antropológico sobre a vocação religiosa feminina. Cadernos de Pesquisa, n.73, 48-58, 1990. 292  Em missão nos municípios de Coronel Fabriciano, Ipatinga e Itabira. Ibidem. 293  Em missão nos municípios de Bela Vista de Minas, Itabira, João Monlevade, Rio Piracicaba e São Domingos do Prata. Ibidem. 294  Em missão nos municípios de Coronel Fabriciano e Itabira. Ibidem. 295  Em missão nos municípios de Marliéria, João Monlevade, Ipatinga, Coronel Fabriciano e Santa Maria de Itabira. Ibidem. 296  Em missão no município de João Monlevade até 1980. Ibidem. 297  Na Diocese até 1974, em missão no município de Itambé. Ibidem. 298  Em missão nos municípios de Itabira e João Monlevade até 1982. Ibidem. 299  Em missão nos municípios de Itabira, João Monlevade e Rio Piracicaba. Ibidem. 300  Em missão nos municípios de Braúnas, Coronel Fabriciano, Itabira, Joanésia. Ibidem. 301  Em missão no município de Itabira. Ibidem.

50 Anos

127 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


Providencia de Santo André,302 as Irmãs de Jesus na Eucaristia,303 as Filhas de Jesus,304 as Filhas de Nossa Senhora de Fátima305 e as Filhas de Jesus.306 Exercem também seu apostolado as Irmãs Missionárias de Nossa Senhora de Fátima,307 as Irmãs da Beatíssima Virgem,308 as Irmãs de São Camilo, 309 as Irmãs Franciscanas no Senhor310 e o Instituto das Missionárias de Nossa Senhora das Graças.311 São 24 as congregações femininas de vida ativa que já atuaram e outras que atuam na diocese de Itabira - Coronel Fabriciano,312 com desempenho bastante meritório junto às paróquias e comunidades, a exemplo do relato a seguir: Preocupado com a situação de restrição econômica e financeira pela qual passavam os produtores rurais da região do Prata, Padre Antônio, com o apoio da Legião Brasileira de Assistência (LBA) e da Diocese de Itabira, bem como das Irmãs Dominicanas, organizou um ‘Movimento Comunitário’ no sentido de conhecer e identificar os principais problemas vivenciados pelos pequenos e médios produtores rurais. Diante dos problemas identificados, foram organizados na segunda metade do decênio de 1960, pequenos grupos com pessoas das áreas urbana e rural, denominadas ‘Células Comunitárias’. As Células Comunitárias se configuraram como uma tentativa em se organizar a comunidade, dando-lhes participação e voz – tal como acontecia nas CEBs (Comunidades Eclesiais de Base) [...].313

302  Em missão no município de Coronel Fabriciano. Ibidem. 303  Em missão nos municípios de Santana de Paraíso e Ipatinga. Ibidem. 304  Em missão no município de Itabira. Ibidem. 305  Em missão no município de Ipatinga. Ibidem. 306  Em missão no município de Belo Oriente. Ibidem. 307  Em missão no município de Nova Era. Ibidem. 308  Em missão nos municípios de Belo Oriente e Ipatinga. Ibidem. 309  Em missão no município de Itabira. Ibidem. 310  Em missão no município de Coronel Fabriciano. Ibidem. 311  Em missão no município de Ipatinga. Ibidem. 312 Ibidem. 313  SILVA, Edson Arlindo; PEREIRA, José Roberto Pereira; BOTELHO, Maria Izabel Vieira. O papel do líder carismático em um contexto político-religioso. CSOnline – Revista Eletrônica de Ciências Sociais da UFJF, Edição 2, Novembro de 2008. p. 193. 128 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


Já no tocante ao carisma contemplativo, menciona-se a presença da Ordem da Bem Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo,314 com dois mosteiros femininos, um inaugurado em 19 de março de 2000, em Melo Viana, e outro com sua primeira ala concluída em 15 de outubro de 2006, em Coronel Fabriciano, dedicada à Santíssima Trindade e à Beata Elizabeth da Trindade. Recentemente, em setembro de 2014, mais uma monja, Irmã Maria Luísa, professou votos no Carmelo de Coronel Fabriciano, em cerimônia presidida por Dom Marco Aurélio. Nessa ocasião, o bispo presidiu o rito de renovação de votos de cinco carmelitas da Ordem Secular e a admissão de mais oito novos membros. Aos domingos, nesses Carmelos, a missa é aberta à comunidade local, que também pode ser atendida para aconselhamentos e orações. Segundo Madre Ângela Maria, do Carmelo da Santíssima Trindade, “Às vezes as pessoas se assustam com as grades, mas aqui, mesmo com as grades, nós somos muito felizes porque essa é uma opção, é um mistério de Deus; é um chamado de Deus e elas [grades] apenas nos ajudam a manter o nosso estilo de vida e não nos separar, pelo contrário, elas nos unem ainda mais”.315

Fig. 6 - Madre Ângela, do Carmelo da Santíssima Trindade, de Coronel Fabriciano.316

314 Na diocese desde 2006, em Coronel Fabriciano. Ibidem. 315 “Vida enclausurada em nome da fé”. Diário do Aço, 19 jan. 2014. Disponível em <http://diariodoaco. com.br/noticias.aspx?cd=78027>. Acesso em 5 fev. 2015. 316 Ibidem.

50 Anos

129 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


Registre-se também a atuação do Instituto Secular Unitas, integrado por leigas consagradas, inicialmente vindas da Holanda.317 As leigas consagradas diferem-se das religiosas, em termos práticos, por não residirem em conventos, não usarem hábitos e não manterem uma estrutura administrativa hierárquica com superioras e etapas de vida religiosa como postulantado, noviciado e juniorato. Proferem os três votos canônicos (pobreza, castidade e obediência), mas muitas habitam com seus familiares e todas assumem funções remuneradas, atuando na vanguarda do mundo do trabalho, da política e da ação social e cultural, onde a Igreja em formato mais institucional tem dificuldades em penetrar. O Instituto Unitas teve atuação decisiva na fundação da Unilabor, cooperativa de trabalho que até hoje opera no ramo de confecção, bem como na criação da Escola Profissional Santa Marta e dos Clubes de Mães. Sua atuação mais destacada encontra-se na fundação da ARPAS – Associação Regional de Promoção e Ação Social – que vem funcionando há 30 anos como Centro de Formação Pastoral, acolhendo pessoas e entidades para treinamentos, encontros, cursos, seminários, congressos, retiros espirituais e atividades afins. Posteriormente, o Instituto colocou à disposição da pastoral diocesana o prédio da ARPAS, em João Monlevade.318

Fig. 7 - Leiga consagrada Maria José van Leeuwen, do Instituto Unitas, década de 1960.319 317 Atuante em Itabira, João Monlevade, Passabém e São Sebastião do Rio Preto. “Irmão Bob”. Op. Cit. 318 DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Livro da caminhada. Itabira: Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano, 2007. 319 Disponível em: <http://blogdoleunam.com/2011/07/18/morre-dona-maria-jose-do-arpas/>. Acesso em 3 fev. 2015. 130 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


Rumo aos seus 50 anos, a Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano continua a contar com ajuda das religiosas que veem desenvolvendo os seus trabalhos na evangelização, na missão, na catequese, etc. A Diocese acolhe algumas comunidades de Religiosas que desejam trabalhar mais perto do povo. A vida nessas casas é pura alegria, apesar do intenso trabalho, do cansaço e das dificuldades em vários graus de intensidade. As irmãs ajudam, muitíssimo, o povo a refletir, a batalhar por melhores condições de saúde, higiene, estudo e lazer, a lutar por mais vida!320 Paralelamente, a Diocese tem recebido em seu território a presença de congregações masculinas, que vêm dar um suporte à ação pastoral em paróquias e movimentos: Eu vejo que tem bastante aceitação, que tem várias congregações que exercem seu trabalho missionário na diocese e cada um colabora com a missão, porque o carisma das congregações é da Igreja, da congregação, então a Diocese é igreja particular. Então todos aqueles que vêm para somar, para ajudar nesse processo de evangelização da Igreja são sempre bem-vindos e sempre muito bem acolhidos.321 Vários carismas masculinos atuaram no Bispado. Na época da fundação, encontrava-se presente a Congregação do Santíssimo Redentor (os Redentoristas),322 e logo na década seguinte instalou-se a Congregação do Imaculado Coração de Maria.323 Nos anos 1980, chegou a Pia Sociedade 320  DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Identidade e vivência pastoral. Equipe redatora: Selma Lúcia Coura Damasceno, Marleny Gonçalves Bonifácio, Paulo Sérgio de Vasconcelos, Marciana Adelaide Ferreira, Vicente Bueno Garcia e Pe. Hideraldo Verissimo Vieira. Mimeo. s. d. p. 4. 321  Entrevista concedida por padre Sérgio Henrique Gonçalves, administrador da Paróquia São Sebastião- Timóteo, a Júlio César Santos, em 8 jun. 2014, durante a Festa da Diocese, município de Santana do Paraíso. 322  Em missão nos municípios de Antônio Dias, Belo Oriente, Cel. Fabriciano, Dionísio, Itabira, Jaguaraçu, Joanésia, Marliéria, Mesquita, Nova Era, Rio Piracicaba, Santa Maria de Itabira, Santana do Paraíso, São José de Goiabal e Timóteo. Artigo de DIXON, Robert Charles(“Irmão Bob”, cicm), gentilmente cedido pelo autor. 19 dez. 2014. 323  Em missão nos municípios de Alvinópolis, Bela Vista de Minas, Bom Jesus do Amparo, Coronel

50 Anos

131 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


de São Francisco Xavier para as Missões Estrangeiras (os Xaverianos).324 Posteriormente, passaram a atuar na Diocese as Ordens dos Clérigos Regulares (os Teatinos),325 dos Frades Menores (Franciscanos e também Capuchinhos),326 dos Irmãos da Bem Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo (os Carmelitas);327 as Congregações dos Frateres de Nossa Senhora, Mãe de Misericórdia (os Frateres de Misericórdia),328 do Espírito Santo,329 das Missões,330 do Santíssimo Sacramento (os Sacramentinos);331 as Sociedades do Divino Salvador (os Salvatorianos)332 e de São Francisco de Sales;333 a Companhias de Jesus (os Jesuítas)334 e a de Maria de São Luiz Maria Grignion de Montfort (os Montfortinos).335 Há também a participação dos Missionários dos Operários (Os Padres do Trabalho).336 Muitas vezes atuando em conjunto, religiosas e religiosos da Diocese dão continuidade aos seus esforços de serem sinais da Boa Nova cristã no tempo presente: Celebrando o mês vocacional, nós, os Religiosos e Religiosas da Diocese de Itabira/Coronel Fabriciano, nos reunimos dia 19, no Recanto das Mangueiras para um retiro e convívio fraterno. Pe. Eugênio Lima (Teatino) e Ir. Teresa Squiavenato (FSCJ) nos ajudaram na reflexão sobre uma parte da carta do Papa: “ALEGRAI-VOS”. Alegria nasce no coração e da intimidade com Jesus; no vigor em segui-lo servindo-O na pessoa necessitada. A alegria é consequência, mas é também causa Fabriciano, Ipatinga, Itabira, João Monlevade, Rio Piracicaba e São Domingos de Prata. Ibidem. 324  Em missão nos municípios de Coronel Fabriciano, Dionísio, Nova Era, São Gonçalo do Rio Abaixo e São José de Goiabal. Ibidem. 325  Em missão nos municípios de Nova Era, Rio Piracicaba e São Domingos de Prata. Ibidem. 326  Em missão nos municípios de Bela Vista de Minas, Ipatinga e João Monlevade. Ibidem. 327  Em missão no município de Itabira. Ibidem. 328  Em missão nos municípios de Coronel Fabriciano, Ipatinga e Itabira. Ibidem. 329  Em missão nos municípios de Belo Oriente, Joanésia e Mesquita. Ibidem. 330  Em missão nos municípios de Dionísio e Timóteo. Ibidem. 331  Em missão nos municípios de Coronel Fabriciano, Dionísio, Marliéria e São José de Goiabal. Ibidem. 332  Em missão no município de Itabira. Ibidem. 333  Em missão nos municípios de Alvinópolis e Coronel Fabriciano. Ibidem. 334  Em missão nos municípios de Coronel Fabriciano e Ipatinga. Ibidem. 335  Os primeiros em missão no município de João Monlevade, e os segundos no município de Coronel Fabriciano. Ibidem. 336 Ibidem. 132 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


de nosso ser Consagrado PARA. Acreditamos na missão e somos impelidos constantemente a sermos audazes no zelo e no amor ao Reino de Deus. Aproveitamos também para pensar o nosso jubileu na diocese, revimos nossa contribuição para a Assembleia diocesana de Pastoral.337 4.5. Leigos e leigas engajados A diocese de Itabira-Coronel Fabriciano conta continuamente com uma participação ativa dos leigos: No contexto atual da evangelização, os leigos estão engajados em diversas pastorais como: Terço dos Homens, Ministros da Palavra e Eucaristia, Diáconos, Revisão Matrimonial, Catequese (Batismo, Iniciação, Crisma, Matrimonial), Afro-Brasileira, Carcerária, da Criança,da Mulher Marginalizada, da Saúde, do Menor, da Comunicação, do Dízimo, da Sobriedade, Litúrgica, Universitária, Vocacional e outras. [...] Percebendo a forte atuação dos leigos na Igreja, a cada dia tenho refletido e questionado com o que fazer; como fazer para garantir a permanência destes e favorecer a inserção de outros nas diversas pastorais. Nós sabemos que os números de presbíteros nas nossas Igrejas são bem reduzidos, por isto devemos incentivar e preparar mais leigos para auxiliarem e caminharem lado a lado em prol da evangelização.”338 Mesmo a Igreja sendo marcada pela presença do homem, a mulher, principalmente quando assume cargos importantes dentro da hierarquia dessa instituição, tem se destacado cada vez mais dentro dos trabalhos pastorais:

337  REDE VERZERI. Informativo Semanal. Edição 586, 22 ago. 2014. Disponível em <www.redeverzeri. org.br/download/586.doc>. Acesso em 3 fev. 2015. 338  Depoimento de Márcia Alves Ferreira, 26 jan. 2015.

50 Anos

133 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


É muito importante o papel da mulher na Igreja. Vejo que hoje é, já que uma vez a mulher era sempre colocada ao lado, ela servia para fazer a limpeza da igreja e trabalhar nos serviços gerais, hoje eu vejo as mulheres bastante atuantes, como ministra da palavra, ministra da comunhão. Então a mulher tem um papel muito importante na igreja, até porque as mulheres elas são assim, bem mais dedicadas né. Então eu vejo que a nossa diocese é, particularmente na paróquia, eu vejo a ação da mulher que assume com bastante afinco, bastante responsabilidade seu papel, seu lugar na igreja de Jesus Cristo.339 Portanto, “é necessário valorizar, motivar, respeitar e amar verdadeiramente quem está nessa missão de atuar e interagir dentro e fora da Igreja. Os leigos não são apenas números e mais um na multidão e sim, pessoas que querem, disponibilizam, acreditam, atuam para alcançarem o Reino de Deus e para amenizarem algumas mazelas existentes em nosso entorno. O leigo tem um grau de importância que ele mesmo não imagina e nem entende, por que será?”340 A Diocese consta com um Conselho de Leigos. Em 2011, ocorreu a segunda Assembleia dos Conselhos de Leigos, que teve como tema “Missão do Cristão Hoje”. Atualmente, os leigos da Diocese participam periodicamente de encontros de formação e deliberação. Assim, em setembro de 2014, representantes do Conselho Diocesano de Leigos estiveram presentes na reunião da Província Eclesiástica de Mariana, ocorrida em Caratinga, e que versou sobre o papel do leigo na Igreja e na Sociedade. A presidente deste Conselho, Maria Imaculada de Oliveira, assim manifestou-se sobre o estudo então realizado, sobre o documento da CNBB de n. 107, Cristãos leigos e leigas na Igreja e na sociedade – Sal da Terra e Luz do Mundo: “A esperança é que as pessoas consigam entender a proposta de estudar o documento em pequenos grupos e que os padres e bispos nos auxiliem incentivando as pastorais para que todos entendam 339  Entrevista concedida por padre Sérgio Henrique Gonçalves, administrador da Paróquia São Sebastião- Timóteo, a Júlio César Santos, em 8 jun. 2014, durante a Festa da Diocese, município de Santana do Paraíso. 340  Depoimento de Márcia Alves Ferreira, 26 jan. 2015. 134 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


que é preciso estudar e contribuir para a Igreja neste momento”.341 Em novembro de 2014, na cidade de Belo Horizonte, leigos da Diocese reuniram-se novamente na Assembleia Regional de Pastoral da CNBB – Leste 2, que congrega os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, para debater a “Presença viva de leigos e leigas animando as Comunidades”.

341  Disponível em <http://dioceseitabira.org.br/noticiasdiocese/provincia-eclesiastica-aprofundadiscussao-sobre-o-leigo-na-igreja-catolica/>. Acesso em 3 fev. 2015.

50 Anos

135 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano



V

Uma Pastoral Atenta às Questões Sociais



A vida pastoral de Itabira-Fabriciano mostrou-se, desde a criação da Diocese, comprometida com uma concepção de Igreja provinda do Vaticano II e das Conferências Episcopais Latino-Americanas. Nesse sentido, dois aspectos foram ressaltados: o compromisso com a transformação das condições de vida social da maioria da população dos 28 municípios então abrangidos pela Diocese e a mobilização política que assegure os direitos de cidadania e a co-responsabilidade do Estado (nas instâncias federal, estadual e municipal). Afinal, na Diocese, perdura um diagnóstico de pobreza e miséria, como indicada em pesquisa divulgada no início de 2014: [...] os dados da pesquisa são do levantamento do Censo de 2010 juntamente com o Relatório de Metas e Coberturas da Pastoral da Criança de 2013. De acordo com o relatório, há 63.464 crianças menores de seis anos vivendo no setor de cobertura da Diocese, e dessas, 30.622 sobrevivem com renda inferior a meio salário mínimo, ou seja 48% (quase a metade) das crianças menores de seis anos nas cidades que compõem a Diocese Itabira/Coronel Fabriciano vivem na miséria. O município de Antônio Dias é a cidade que possui o maior índice de crianças pobres (79%), seguido por Itambé do Mato Dentro e Santa Maria de Itabira (ambos com 73%). São José do Goiabal tem 72% das crianças na miséria e Alvinópolis e Dionísio têm 71%, cada uma. O menor índice de crianças sobrevivendo com renda inferior a meio salário mínimo é em Ipatinga (39%). Em João Monlevade, das 5.427 crianças menores de seis anos, 2.525 estão sobrevivendo com renda inferior a meio salário mínimo, o que corresponde a 46,5%. De acordo com a pesquisa, Monlevade possui o quarto menor índice de crianças pobres.342 Diante desse quadro, a prioridade, sem dúvida, é o fortalecimento de uma Igreja que, fazendo memória da trajetória eclesial já percorrida, 342  “Quase metade das crianças com menos de 6 anos é pobre”. A Notícia, 21 jan. 2014. Disponível em <http://www.jornalanoticia.net/noticia/6651/Quase-metade-das-criancas-com-menos-de-6-anos-e-pobre. html>. Acesso em 8 jan. 2015.

50 Anos

139 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


compreende que a Evangelização é indissociável da promoção humana, conforme o depoimento do padre Elinei Eustáquio Gomes, quando atuava como pároco da Paróquia Nossa Senhora de Nazaré, município de Antônio Dias: Olha, a nossa Diocese, [...] ano que vem [2015], completará 50 anos de criação. A trajetória foi marcada pela luta social. Então nós nascemos na sessão do Concílio do Vaticano II em [19]65 e fomos formados na questão social, no meio do povo, na luta pelos pobres, numa terra do aço, da cultura. E a nossa trajetória desses 50 anos é voltada para a luta dos mais necessitados.343 Nesse contexto, emergiu como documento iluminador a encíclica Populorum Progressio, consciência humanista em escala transnacional.344 5.1. O COPAI Centro de Orientação Pastoral de Itabira e as pastorais sociais Outra iniciativa de Dom Marcos Noronha foi a criação de um Centro de Treinamento Catequético-Pastoral, fundado com recursos obtidos por ele – 100 mil marcos – em doação da Misereor, instituição católica alemã: “Havia um treinamento para os operários, para quem quisesse, de manhã, à tarde, conforme os turnos da Vale”.345 Paralelamente, Dom Marcos pediu suporte a assessores da CNBB: “Tivemos que convocar pessoas de planejamento da Conferência Nacional dos Bispos, que nos deram uma ajuda muito grande em Itabira [...] fazer cursos de planejamento para o clero e para o povo”.346 Quem respondia pela articulação pastoral era o então padre Otacílio Fernandes Ávila, pároco de Marliéria, com suporte de Maria do Carmo Noronha que assumiu o posto de orientadora. Mas, 343  Entrevista concedida a Júlio César Santos em 8 jun. 2014, durante a Festa da Diocese, realizada no município de Santana do Paraíso. 344  CHACON, Vamireh.A identidade católica em Alceu Amoroso Lima. Síntese Nova Fase. V. 20 N. 63, 589-594, 1993. p. 594. 345  Depoimento impresso do Sr. Otacílio Fernandes, gentilmente cedido pelo autor. Sem data. 346  NORONHA, Marcos de. “Itabira é a Rua de Ontem”. O Cometa Itabirano. 140 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


por falta de verba, Dom Mário Gurgel viu-se forçado a fechar o Centro de Treinamento. No segundo semestre de 1970, Dom Marcos Noronha nomeia o frei carmelita Vital Wilderink (mais tarde, Bispo de Itaguaí, no Rio de Janeiro), Coordenador de Pastoral da Diocese, incumbindo-o de proceder à criação de um Centro de Orientação Pastoral da Diocese. Surgiu assim o COPAI (Centro de Orientação Pastoral de Itabira), órgão que deveria dar sustentação ao Centro de Treinamento. Ao tomar posse na Diocese, Dom Mário confirmou Frei Vital na função de Coordenador de Pastoral, dando grande apoio ao Centro de Orientação Pastoral. Dentro de uma linha de descentralização crescente na Diocese, adotou-se uma coordenação de pastoral em equipe, nomeando-se um coordenador de pastoral para cada Regional. Em face do pluralismo tão acentuado e da vantagem que já se notava no novo sistema de coordenação, Dom Mário propôs que os coordenadores dos Regionais fossem nomeados Vigários Episcopais, a fim de possibilitar uma solução mais imediata dos problemas locais.347 A cada Regional compete a iniciativa, a criatividade o compromisso de suas próprias necessidades pastorais, cabendo ao COPAI a assessoria. Houve a constituição do Conselho de Pastoral Diocesano, com o enfoque na Pastoral de Conjunto, exigindo Unidade e Pluralismo. No segundo semestre de 1984, com verba concedida pelos Salvatorianos da Alemanha e mão-de-obra da Companhia Vale do Rio Doce, Dom Mário construiu um segundo andar no prédio da COPAI: uma sala para arquivo e uma sala para reuniões, essa com as instalações necessárias para poder servir, eventualmente, de dormitório. Tanto no antigo prédio, quanto nas novas dependências, o COPAI reconhecia nas pastorais sociais uma grande prioridade. Atualmente, a Diocese comporta dez pastorais de explícito perfil social: a Carcerária, a da Criança, a Operária, a do Menor, a da Saúde, a da Pessoa Idosa, a da Esperança, da Sobriedade, do Imigrante, Afro, além das Pastorais da Juventude e Familiar, que desenvolvem ou participam de várias atividades de promoção da pessoa humana. Atualmente, o maior desafio encontrado por essas pastorais sociais, conforme indicado pela agente de pastoral Nelly Castro de Souza, da 347  Livro de Relatórios Geral das Assembleias Diocesanas de 1972/1985.

50 Anos

141 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


Paróquia Cristo Libertador, município de Ipatinga, [...] é encontrar pessoas comprometidas com o evangelho de Jesus Cristo. Porque nós rezamos todos os domingos: ‘Enviai Senhor muitos trabalhadores para a messe, pois a messe é grande e os trabalhadores são poucos’. Mas só que isso aí está muito da boca pra fora, o agir mesmo, nós temos muita dificuldade de achar voluntários para estar fazendo esse trabalho. [...] Dentro das pastorais eu acho que a gente precisa mais de comprometimento, mais compromisso com as pastorais e maior engajamento do clero com as pastorais. Principalmente as pastorais sociais.348 Há que aprimorar uma espiritualidade mais comprometida e libertadora da vida, endossa Maria Aparecida de Oliveira, coordenadora da Pastoral da Criança da paróquia Nossa Senhora da Conceição, de João Monlevade: “Ainda [participamos] muito timidamente do Grito dos Excluídos, das caravanas da água, [da] romaria da terra, [com] esse pessoal aí que tá na gestão de riscos, que tão preocupados com a água”.349 Mas, inegavelmente, foram muitos os avanços e maiores ainda as esperanças, vindas justamente de segmentos sociais que historicamente marginalizados, redescobrem cotidianamente seu potencial de efetivar os valores evangélicos na vida social, como indicado pela própria Maria Aparecida – e, nesse processo, os presbíteros não apenas percebem-se convocados a participar, mas muitos assumem sua liderança específica: Com tudo isso, nós estamos ainda sendo protagonistas. Por quê? Qualquer cidade a maioria é a mulher. A maioria é a mulher, na minha cidade mesmo, João Monlevade, cinco mil mulheres a mais, então nós decidimos muita coisa, mas nós estamos ainda com o ranço do patriarcalismo, com o domínio ferrenho de padre, a submissão sem consciência e isso atrapalha muito... Pra mim não, porque eu 348  Entrevista concedida por Nelly Castro de Souza, a Júlio César Santos em 8 jun. 2014, durante a Festa da Diocese, realizada no município de Santana do Paraíso. 349  Entrevista concedida por Maria Aparecida de Oliveira a Júlio César Santos em 8 jun. 2014, durante a Festa da Diocese, realizada no município de Santana do Paraíso. 142 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


sei que qualquer lugar é meu e eu disputo ele, eu vou atrás. Eu vou atrás, com 62 anos, poder público, caminhada, passeata, greve, concentrações, mobilizações para o direito do povo, eu estou nele. Tanto é que eu participo do Conselho da Saúde, Conselho da Criança e sou coordenadora do Conselho da Mulher na minha cidade. [...] ainda fiquei feliz, na minha paróquia, de padre Jorge ter abraçado a cobrança do Projeto de Lei da Iniciativa Popular [mais conhecida como Lei da Ficha Limpa], foi cobrado de nós as assinaturas, levou material para a comunidade, o coordenador pegou e os coordenadores de pastorais, nós tivemos obrigação de buscar as assinaturas, é um ponto muito alto da Diocese, pelo menos para minha paróquia.350 No processo de fortalecimento das pastorais sociais em Itabira-Coronel Fabriciano, duas instituições ganharam destaque na Diocese: a Cidade dos Meninos e a Cáritas Diocesana. A Cidade dos Meninos, antes Cidade do Menor, foi criada na década de 1970, na cidade de Coronel Fabriciano, por iniciativa do então padre Lelis Lara. Ela é mantida legalmente pela Fundação Comunitária Fabricianense (FUNCELFA) desde 6 de maio de 1971, funcionando efetivamente a partir 1977. Naquela época, os menores desamparados já se apresentavam como uma ‘situação-problema’. Para enfrentar esse quadro social, a FUNCELFA comprou um sítio (uma pequena propriedade agrícola afastada do centro da cidade) com a ajuda do Lions clube de Coronel Fabriciano e da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) para ser destinado à Cidade do Menor, que se dedicaria principalmente ao atendimento do menor abandonado/desamparado. Outros parceiros nesse projeto tiveram grande importância, como as irmãs do Colégio Angélica de Coronel Fabriciano, que ajudavam a cozinhar, cuidavam das roupas e de outras pequenas coisas. Nesse período, além de doações, a instituição se mantinha através da renda obtida com uma granja e com uma pecuária em pequena escala.351 350 Ibidem. 351  OLIVEIRA, Leoneci Ermelinda Silva Storck de; VIEIRA, Rudson Carlos; GOMES, Suelen Cristine;

50 Anos

143 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


A contribuição da Usiminas também foi fundamental para a estruturação da Cidade do Menor, tendo a siderúrgica fornecido o levantamento topográfico, arruamento e construções, bem como o sistema de abastecimento de água. Posteriormente, a granja e a pecuária da Cidade foram desativadas, concentrando-se sua assistência no acolhimento de crianças e adolescentes em pequenas unidades conhecidas como “Casas Lares”. Inicialmente, os menores encaminhados para a instituição eram infratores, e agora são aqueles em situação de risco social, face aos maus tratos ou às exposições ao álcool, a drogas e à criminalidade, indicados pelo Conselho Tutelar. Segundo a pedagoga Raquel de Ávila Pereira, [...] a rotina dos internos é semelhante à de uma casa familiar: ‘A intenção é que eles vivam o mais próximo possível da realidade de uma casa’, explica. As ‘Casas Lares’, como são chamadas, abrigam de 8 a 10 crianças sob o cuidado de um casal denominado pais sociais. Atualmente [em 2011], a Cidade do Menor possui em média 26 internos, a idade varia de recém-nascidos até 17 anos. Dentro da Cidade do Menor ainda funciona uma creche e uma escola municipal.352

Fig. 4 – Cidade do Menor.353 RESENDE, Fernando Antônio; OLIVEIRA, Dorotéo Émerson Storck de. Na cidade do menor a geografia e a comunicação social como suportes para a constituição do espaço público e a construção do cotidiano. Disponível em <http://www.unilestemg.br/revistaonline/volumes/02/downloads/artigo_02.pdf>. Acesso 8 jan. 2015. 352 Cidade do Menor completa 40 anos. Diário do Aço. 9 out. 2011. Disponível em <http://www.diariodoaco.com.br/noticias.aspx?cd=58271>. Acesso em 8 jan. 2015. 353 Disponível em <http://www.cidadedosmeninos.com.br/fotos_eventos/foto_0010.JPG>. Acesso em 9 jan. 2015. 144 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


A Cidade do Menor foi dirigida, durante vários anos, pelo irmão Theodorus Joahannes Adms, holandês que vive no Brasil desde 1984.354 Segundo ele, são vários os desafios a serem enfrentados, como os traumas emocionais da primeira infância, que tornam-se um obstáculo à concentração e ao bom rendimento escolar, e a inexistência de adoções ou de uma reestruturação da família de origem, o que inviabiliza a política de abrigamento em vigor no Brasil, segundo a qual cada criança não deve ficar mais de dois anos em instituição de acolhida.355 Mas apesar de tantos entraves, a Cidade do Menor apresenta-se como mediação possível para transformação de várias biografias, como a de Cristiane Batista Martins: Aos 12 anos Cristiane Batista Martins foi morar na Cidade do Menor. [...] foi a saída para não continuar sofrendo mais maus tratos do pai. [...] Ela conta que o processo de adoção era muito burocrático, mas ela sonhava com isso. Porém o fato de ser adolescente dificultou a adoção. ‘Eu me via no direito de ter uma família’, relembra. Até os 16 anos Cristiane trabalhava ajudando no refeitório da Cidade do Menor, após essa idade conseguiu um estágio na Associação Comercial. A idade de sair do abrigo estava próxima e Cristiane começou a se preparar para isso. [...] Com o dinheiro recebido no estágio Cristiane criou uma poupança [...] Ao completar 18 anos, as economias proporcionaram os primeiros passos para uma vida independente. Hoje com sua kitnet mobiliada e recém formada na faculdade, Cristiane espera pelo seu primeiro emprego na área de Psicologia. A escolha pelo curso foi por tudo que viveu ainda no início da sua vida. ‘As pessoas falam que para fazer Psicologia você tem que ter uma boa estrutura, mas apesar de tudo que vivi eu consegui suportar e vencer’, concluiu.356 Já a Cáritas é uma entidade filantrópica vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e à Rede Caritas Internationalis, de atuação social composta por 162 organizações presentes em 200 países e territórios, 354  Atualmente, ela é dirigida pelo Irmão João Damasceno. 355  Disponível em <http://www.cidadedosmeninos.com.br/fotos_eventos/foto_0010.JPG>. Acesso em 9 jan. 2015. 356 Ibidem.

50 Anos

145 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


com sede em Roma. Seu intento é testemunhar e anunciar “o evangelho de Jesus Cristo, defendendo a vida, promovendo e animando a solidariedade libertadora, participando da construção e animando nova sociedade com as pessoas em situação de exclusão social, a caminho do reino de Deus”.357 Na Diocese de Itabira, foi criada por Dom Marcos Noronha em 1966 e oficialmente constituída em 2 de setembro de 1967. Nas décadas de 1970 e 1980, operava de forma articulada à Associação Regional de Promoção e Ação Social – ARPAS, em João Monlevade: A Cáritas Diocesana como parte social da diocese foi uma boa parceria nos projetos aqui desenvolvidos, principalmente no clubes de Mães que chegaram ao número de vinte e sete. Esses clubes foram responsáveis por grandes trabalhos em prol da mulher, através de orientações pedagógicas e práticas artesanais e em nossa região constituíram celeiro para lideranças comunitárias e pastorais. O grande incentivo partiu primeiramente de Dom Mário Teixeira Gurgel, as irmãs Douraci e Hena que sem dúvida foram grandes entusiastas junto à Cáritas e incentivadoras dos Clubes de Mães. Esta parceria culminou com a doação da Sede da ARPAS à Diocese através da Cáritas Diocesana, já que as fundadoras tinham como objetivo construir, fazer funcionar em prol da comunidade e após anos entregá-la à comunidade.358 A Cáritas mostrou-se decisiva na promoção de uma pastoral de cunho social na Diocese de Itabira-Fabriciano, o que suscitou, como descreveu Dom Lelis Lara, que fosse identificada como “o rosto social da Diocese!”.359 Atualmente, a Cáritas de Itabira-Fabriciano encontra-se organizada em quatro comissões. A primeira, da Criança e Adolescente, desenvolve atualmente os projetos Arte e Vida (em João Monlevade, Bela Vista de Minas e Itabira); Casa Lar (em Itabira e São Gonçalo). Outra comissão, de Economia Popular Solidária, mantém um fundo rotativo solidário, além 357  Disponível em <http://dioceseitabira.org.br/pastoraisemovimentos/caritas-diocesana/>. Acesso em 9 jan. 2015. 358  Depoimento de Georgeta dos Santos. Apud: Caritas na trajetória dos 50 anos da Diocese. Jul. 2014. Mimeo. 359 Apud: Caritas na trajetória dos 50 anos da Diocese. Jul. 2014. Mimeo. 146 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


de financiar e assessorar projetos diferenciados, tais como: confecção de roupas, executada pela Pastoral Operária em Ipatinga; desenvolvimento de trabalhos artesanais, empreendidos pelo Clube de Mães em Itabira e de João Monlevade; Fórum da Economia Solidária do Vale do Aço e Médio Piracicaba. Já a comissão de Gestão de Risco (Justiça Ambiental) mantém campanha permanente contra o uso abusivo de agrotóxicos, capacita grupos de produção agroecológica, de segurança alimentar e nutricional, de economia popular solidária e de educação popular, além de estimular a produção cooperativada. Opera ainda a comissão de Políticas Públicas, com projetos de geração de renda subsidiados pelo Fundo Nacional de Solidariedade, procedendo a parcerias com associações e grupos, a exemplo dos Artesãos de Antônio Dias (confecção de chapéu de palha e outras produções locais), Comunidade Quilombola do Barro Preto e Indaiá em Santa Maria de Itabira e Antônio Dias (beneficiamento da mandioca), Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Dionísio (apicultura e geração de renda para manter o jovem no campo), Pequenos Produtores de Timóteo (horta comunitária mantida por mulheres). Em 1 de junho de 2003, passou a integrar o Conselho Regional da CARITAS-MG, na pessoa de Marinete Silva Morais.360 Para Maria Aparecida de Oliveira, Um fato muito importante para nós, pastorais sociais, é o grande avanço da Cáritas Diocesana, porque a Cáritas Diocesana abraça os trabalhos sociais, convênios com a prefeitura, que é uma polêmica muito grande da igreja com o poder público nas três esferas, nós ficamos muito isolados esperando as esmolas. E o poder público tá aí, e através da Cáritas nós estamos fomentando os conselhos municipais né, as comissões, porque o dinheiro e o povo tá lá e nós tamos com quem? A necessidade do povo tá lá.361

360  DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL-FABRICIANO. Livro da Caminhada. p. 17. Disponível em <http://www.ipascomnet.com/paroquia/inc.download/21112013054000LIVRO_DA_CAMINHADA. PDF>. Acesso em 2 jan. 2015. 361  Entrevista concedida por Maria Aparecida de Oliveira a Júlio César Santos em 8 jun. 2014, durante a Festa da Diocese, realizada no município de Santana do Paraíso.

50 Anos

147 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


Fig. 5- Delegação da Diocese e Cáritas no Encontro de Fé e Política em Brasília, em 19 nov. 2013.362

A Cáritas e as Pastorais Sociais atuam muitas vezes de forma articulada, promovendo encontros conjuntos, muitos dos quais acontecem na Associação Regional de Promoção e Ação Social (ARPAS), em João Monlevade. 5.2. A consciência política da Igreja de Itabira-Fabriciano Desde o episcopado de Dom Marcos Noronha, a Diocese de Itabira posiciona-se de forma crítica, embora também colaborativa, no tocante à ação do Estado e suas políticas públicas no Brasil. Durante o regime civilmilitar, um problema gravíssimo foi o Inquérito Policial Militar contra oito padres da Baixada da Diocese de Itabira, [...] fruto não de problemas políticos propriamente ditos, mas fruto da incompreensão de um padre em relação a todo um Plano de Pastoral de 362 Disponível em <http://4.bp.blogspot.com/-pGGLN7D7btU/UouM8ToYNDI/ AAAAAAAABBk/4P807B_VfvU/s1600/1426614_550740268352658_1831587551_n.jpg>. Acesso em 9 jan. 2015>. Acesso em 5 fev. 2015. 148 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


Conjunto; esse padre foi questionado na parte econômica da Diocese, foi percebido que houve uma denúncia de que ele teria passado um terreno da Igreja a seu irmão. Esse assunto foi ventilado numa reunião do clero, aí esse padre denunciou o bispo e padres como ‘subversivos’, quando a questão era bem outra. Ele não aceitava a Pastoral colocada pela diocese. Inclusive, essa acusação foi julgada em Juiz de Fora e todos os padres foram absolvidos por absoluta falta de provas!363 Também Dom Mário Gurgel, através de jornais, como Folha de São Paulo, Estado de Minas e Jornal do Brasil, denunciou “a atitude de policiais que procuraram vários padres de sua diocese, pedindo-lhes que preenchessem fichas onde deveriam indicar a orientação adotada pela diocese, nomes dos bispos e se eram conservadores, moderados ou progressistas”.364 Segundo Dom Mário, tratava-se de “uma ingerência indébita das autoridades policiais nos assuntos da Igreja e uma arma que as autoridades usam para jogar os padres contra os bispos”.365 Foi nesse contexto que Dom Mário promoveu a criação do Centro de Defesa dos Direitos Humanos. Comissão de Justiça e Paz Em 2000, foi promovida a criação da Comissão de Justiça e Paz, iniciativa de Dom Lelis Lara. Através dos missionários da Congregação do Imaculado Coração de Maria, padres Daniel Orpilla e Justino Munduala, ele veio a conhecer o trabalho desenvolvido pela Diocese de Nova Iguaçu (Baixada Fluminense, estado do Rio de Janeiro) na linha dos Direitos Humanos-Justiça e Paz Integridade da Criação – JPIC. Surgiu então a proposta de implantação de uma instância similar na Diocese mineira, tarefa assumida pelo Centro Diocesano de Estudos e Ação, que se baseou, para estruturação da Comissão, na Carta de Princípios da CNBB, e em diálogo com a Comissão Pontifícia Justiça e Paz – Seção Brasileira.

363  NORONHA, Marcos de. “Itabira é a Rua de Ontem”. O Cometa Itabirano. Op. Cit. 364  LIMA, José Carlos Fernandes. Tributo a D. Mário Teixeira Gurgel.Mimeo. Sem data. 365  Jornal do Brasil, 1º caderno, 18/10/1980. Apud: LIMA, José Carlos Fernandes. Op. Cit.

50 Anos

149 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


A Comissão de Direitos Humanos da Diocese de Itabira-Fabriciano é vinculada ao Conselho Pastoral Diocesano – COPADI.366 Tem atuado em frentes bastante diferenciadas, como mobilizações, conscientização, intervenções, cultura da paz, fé e política, acompanhamento das atividades legislativas, campanhas em defesa da cidadania, abaixo assinados, coletas de assinaturas (Lei 9840/99, Lei Ficha Limpa, Reforma Política), apoio a manifestações pacíficas, Campanhas da Fraternidade.367

Fig. 6- Reunião da Comissão de Justiça e Paz da Diocese de Itabira-Fabriciano, em 2011.368

366  A Comissão de Justiça e Paz de Itabira-Coronel Fabriciano organiza-se por núcleos nas regiões pastorais: Região I- Sede no município de Itabira, Estado de Minas Gerais, Rua Santinho Linhares, 71, Bairro Hamilton, CEP: 35.900-383, abrangência nos municípios- Itabira, Distritos de Senhora do Carmo e Ipoema, Bom Jesus do Amparo, Itambé do Mato Dentro, Passabém, Santa Maria de Itabira, São Sebastião do Rio Preto. Região Pastoral II- Com endereço de referência no Município de João Monlevade, estado de Minas Gerais, Rua Pe. Hidelbrando de Freitas, 135, Vila Tanque, CEP: 35930-439. Com abrangência nos municípios- João Monlevade, Alvinópolis, Bela Vista de Minas, Dionísio, Nova Era, Rio Piracicaba, São Domingos do Prata, São José do Goiabal e São Gonçalo do Rio Abaixo. Região Pastoral III- Com endereço de referência no município de Ipatinga, Estado de Minas Gerais, na Rua Quebec, 226, Bairro Bethânia, Ipatinga, CEP: 35164101. Com abrangência nos municípios-Ipatinga, Coronel Fabriciano, Timóteo, Antônio Dias, Jaguaraçu, Marliéria, Belo Oriente, Mesquita, Santana do Paraíso. Disponível em <http:// dioceseitabira.org.br/pastoraisemovimentos/comissao-de-justica-e-paz/>. Acesso em 9 jan. 2015. 367  DIOCESE DE ITABIRA – CORONEL FABRICIANO. Histórico da Comissão de Justiça e Paz da Diocese de Itabira – Coronel Fabriciano. Mimeo. Sem data. 368  Disponível em <http://wwwjustpazitabira.blogspot.com.br/>. Acesso em 9 jan. 2015.

150 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


Em 2011, por ocasião dos 10 anos de sua criação, a Comissão reuniuse em João Monlevade em 10 de dezembro, dia consagrado aos Direitos Humanos, com [...] significativa participação e presença de Dom Odilon, bispo diocesano, presidente de honra da Comissão Justiça e Paz, presidente da Comissão Episcopal para o Serviço da Justiça, da Caridade e da Paz do Regional Leste 2 – Minas e Espírito Santo, recentemente eleito, além do Pe. Daniel Rillera Orpilla, secretário executivo da Comissão Justiça e Paz, diretor provincial de Justiça e Paz Integridade da Criação – JPIC_MG, Congregação do Imaculado Coração de Maria – CICM, também presentes os membros efetivos, os voluntários e os futuros integrantes dos núcleos de Justiça e Paz dos regionais, Itabira(I), João Monlevade(II) e Ipatinga(III).369 Movimento Fé e Política Desde Dom Marcos Noronha, a atuação pastoral da Igreja na sociedade implicou também a dimensão política. Dois objetivos destacaram-se ao longo das cinco décadas da história da Diocese: a conscientização dos cidadãos para superação da apatia e efetiva atuação na esfera pública, bem como a ética na política, com combate à corrupção e à impunidade. Assim, em março de 1993, Dom Mário Gurgel publicou o Decálogo do Representante do Poder Público. 1 - Que se considere servidor do povo e nunca seu senhor; 2 - Que seja honesto e incorruptível; 3 - Que seja transparente em todas as suas atividades; 4 - Que saiba conciliar independência e colaboração com os outros poderes, com os partidos e com as demais instâncias políticas e sociais; 5 - Que seja devotado unicamente ao bem comum; 6 - Que saiba dar prioridade às reais necessidades do povo; 7 - Que saiba dividir e cobrar responsabilidades; 369 Ibidem.

50 Anos

151 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


8 - Que seja aberto às opiniões alheias, inclusive às críticas construtivas; 9 - Que fomente uma atuação participativa da comunidade; 10 - Que privilegie os que não têm vez nem voz.370 Dois anos depois, em 1995, o bispo publicava no Jornal Metabase: 1- Educação para a Ética. É necessário trabalhar por uma educação para a ética individual e social que privilegie o bem comum e se acentue a obrigação de respeitar o direito e a justiça. A “lei de Gerson” precisa ser banida do imaginário coletivo. 2- O exemplo dos dirigentes: não adianta falar em ética, se os que deveriam cuidar do bem comum, por dever de ofício, são os primeiros a dar o mau exemplo de uma conduta imoral e pautada por princípios egoístas e antiéticos. Corruptio otimi péssima. (A pior corrupção é a do melhor)... Daí a importância da ética na política.371 Entre 28 e 29 de novembro de 2009, a Diocese sediou o 7º Encontro Nacional de Fé e Política, em Ipatinga.372 Surgido na década de 1980, o Movimento Fé e Política se rege por uma Carta de Princípios, que lhe assegura o caráter ecumênico, não partidário, e reúne cristãos engajados na política à luz da fé cristã. Participam vereadores, prefeitos, deputados e militantes de vários partidos políticos. O primeiro Encontro Nacional de Fé e Política aconteceu no ano de 2000, na cidade de Santo André, estado de São Paulo. Em 2009, os principais temas debatidos foram: impasses e perspectivas do movimento sindical; novos caminhos da América Latina e Caribe; espiritualidade e profetismo; consciência planetária; ética e transformação social das instituições; poder popular e democracia participativa. Além de vários representantes do Legislativo e do Executivo municipais e estadual, o ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome na ocasião, Patrus Ananias, um dos fundadores do movimento, também esteve no 370  Apud: LIMA, José Carlos Fernandes. Op. Cit. 371 Ibidem. 372  DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL-FABRICIANO. Livro da Caminhada. p. 17. Disponível em <http://www.ipascomnet.com/paroquia/inc.download/21112013054000LIVRO_DA_CAMINHADA. PDF>. Acesso em 2 jan. 2015. 152 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


encontro. Os organizadores estimaram em 3.600 pessoas o número de participantes. Dom Odilon Moreira, na abertura do Encontro, afirmou que: “O Movimento favorece ao cristão crescer na consciência de uma sociedade mais justa e digna. Sem a fé e a política, o ser humano vegetaria numa vida sem sentido, sem utopia”.373

Fig. 7- Celebração ecumênica no 7º Encontro de Fé e Política.374

Todavia, segundo o professor e assistente social Vasconcelos Ferreira Lagares, membro da Paróquia Cristo Redentor, em Ipatinga, é preciso intensificar a participação da Igreja Católica de Itabira-Fabriciano no Movimento Fé e Política, pois “Existem articuladores isolados em algumas cidades. Mas não há grupos. É preciso nos articularmos mais, pois o Movimento Fé e Política seria importante para envolver e capacitar as pessoas para um debate amplo sobre política. Inclusive um debate ecumênico, pluripartidário”.375 E Maria Aparecida de Oliveira complementa: Um movimento organizado de uma união da Igreja que pra mim precisava ser mais aproveitado. Igual nós estamos vivendo esse momento das eleições limpas e eu não tô vendo nenhuma faixa, queria que tivesse uma faixa orientando o povo, porque esse assunto 373 Disponível em <http://www.cnbb.org.br/imprensa-1/noticias/947-movimento-fe-e-politica-reunemais-de-3-mil-em-ipatinga-1>. Acesso em 7 jan. 2015. 374 Disponível em <http://plox.com.br/fotos/feepolitica/71.jpg>. Acesso em 7 jan. 2015. 375 Igreja também se faz com política. Diário do Aço. 20 nov. 2010. Disponível em <http://www. diariodoaco.com.br/noticias.aspx?cd=50590>. Acesso em 8 jan. 2015.

50 Anos

153 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


está desde o lançamento da Campanha da Fraternidade. E eu não tô vendo nenhuma faixa, uma faixa alusiva, explicativa, justificativa e um momento oportuno e grande onde o povão da nossa Diocese está e eu tô sentindo falta disso.376 5.3. A dimensão missionária Desde 2008, a Diocese de Itabira-Fabriciano vem promovendo Missões Populares. Segundo padre Sérgio, Um fato muito importante pra mim, que aconteceu na minha paróquia, foram as Santas Missões Populares, onde, de fato, os leigos, os próprios leigos, discípulos e missionários de Cristo, ajudam a Igreja a ser uma igreja evangelizadora, uma Igreja em constante missão na propagação do bem e fazendo que o bem e Jesus Cristo possa crescer cada vez mais. Então, pra mim, é muito marcante a participação do leigo, que nos ajuda, como padres. Nós sabemos que os padres são poucos e os trabalhos são muitos e nós podemos contar com a ação do leigo nas paróquias, na Diocese.377 A Assembleia Diocesana de 2014 elegeu a dimensão missionária como crucial ao Plano de Pastoral para o próximo quinquênio (2015-2019), juntamente com atenção à questão familiar, assunto de interesse da Igreja nos últimos anos e que, em função do Sínodo dos Bispos de 2014, adquiriu realce ainda maior. Mas a dimensão missionária não se restringe às fronteiras do Bispado. Em 1978, a Diocese de Itabira-Fabriciano aproximou-se da então Prelazia do Alto Solimões, visando desenvolver um projeto missionário. Essa Prelazia, situada no extremo-oeste do estado do Amazonas, pertente à Província Eclesiástica de Manaus e ao Conselho Episcopal Norte I da CNBB, sendo sufragânea da Arquidiocese de Manaus. A sé episcopal 376  Entrevista concedida por Maria Aparecida de Oliveira a Júlio Cesar Santos em 8 jun. 2014, durante a Festa da Diocese, realizada no município de Santana do Paraíso. 377  Entrevista concedida padre Sérgio Henrique Gonçalves a Júlio César Santos em 8 jun. 2014, durante a Festa da Diocese, realizada no município de Santana do Paraíso. 154 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


está na Catedral Santos Anjos da Guarda, em Tabatinga, possuindo uma co-catedral dedicada a São Paulo Apóstolo, na cidade de São Paulo de Olivença. A Igreja do Alto Solimões foi erigida como Prefeitura Apostólica em 23 de maio de 1910, desmembrando-se da Diocese do Amazonas. Ela possui oito paróquias, sendo que uma é exclusiva para os povos indígenas Tipunas, com aproximadamente quarenta mil integrantes. Em 11 de agosto de 1950, foi alçada à condição de Prelazia.378 Dom Mário Gurgel, por duas vezes, esteve em visita à região, bem como Dom Lelis Lara e padre Rafael Dhondt, CICM; por sua vez, seminaristas daquela Prelazia foram enviados para formação em Belo Horizonte, aos cuidados da Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano. Simultaneamente, missionários da Diocese atuaram temporariamente na região, convocado por Dom Alcimar Caldas Magalhães, atual bispo da localidade: “Foram parceiros de grande valia. Na época, construímos parcerias, tivemos a presença de catequistas e realizamos bons projetos juntos”.379 Alguns anos depois, a CNBB alocou o Alto Solimões na Região Leste I, extinguindo-se com isso a parceria com Itabira-Coronel Fabriciano.380 Na gestão de Dom Lara, intensificou-se outro projeto missionário, desenvolvido com a Igreja-Irmã da Prelazia de Marajó. Essa Igreja abrange a maior parte da Ilha do Marajó e parte do Arquipélago Amazônico, integrando a Província Eclesiástica de Belém do Pará e o Conselho Episcopal Regional Norte II, da CNBB, sendo sufragânea da Arquidiocese de Belém do Pará. A sé episcopal está na Catedral de Nossa Senhora da Consolação, Paróquia Menino Deus, na cidade de Soure, no Estado do Pará. A Prelazia de Marajó foi erigida em 14 de abril de 1928, com território desmembrado da Arquidiocese de Belém. Foi confiada pela Santa Sé à Ordem dos Agostinianos Recoletos.381 378  Em 14 de agosto de 1991, foi elevada à dignidade de Diocese, compreendendo sete municípios: Amaturá, Atalaia do Norte, Benjamin Constant, Santo Antônio do Içá, São Paulo de Olivença, Tabatinga e Tonantins. 379  COSTA, Fúlvio. Desafios da Missão no Amazonas. 25 jul. 2011. Disponível em <http://pom.org.br/ index.php?option=com_content&view=article&id=59:desafios-da-missao-no-amazonas&catid=16:nacionais&Itemid=8>. Acesso em 5 jan. 2015. 380  Depoimento concedido pela Sra. Marciana Adelaide Ferreira em 20 fev. 2015, em Itabira. 381  O território da Prelazia é de 86.477,12 km², organizado em dez paróquias, abrangendo os seguintes municípios: Soure-Paróquia Menino Deus (Sé prelatícia), Breves - Paróquias de Sant’ana, São José Operário

50 Anos

155 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


Em 2000, ano jubilar, Dom Lelis Lara enviou à localidade o padre Renato de Menezes Cruz e o leigo Geraldo Evangelista de Araújo, visando a dinamização do intercâmbio missionário. Neste mesmo ano, um grupo de jovens missionários de Ipatinga, integrantes do Ministério “Voz do Coração”, gravou o CD Disposto a Tudo, cuja renda seria destinada às atividades missionárias desenvolvidas pela Diocese na Prelazia. Tudo começou com a proposta do missionário Avelino, de Ipatinga/ MG, em gravar um CD, onde toda a sua renda fosse destinada à Igreja-irmã da Diocese de Itabira/ Coronel Fabriciano/MG, a Prelazia de Marajó no Pará/PA, tendo como Bispo Dom José Luiz Ascona. O que moveu os jovens Fabrício, Rosângela, Rosane, Rosemeire, Ney e Vinícius, foi o desejo de doar seus talentos [...]. Esse CD é composto por 10 canções, sendo a canção de n. 7, de autoria da Ir. Eufrásia Amélia da Silva Lima, irmã missionária na Ilha de Marajó, o tema do CD, música Disposto a Tudo[...].382 Em 2003, o padre Jean Marie Lemaire foi nomeado intermediador da Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano com a Prelazia.383 Entre 11 e 19 de julho de 2004, foi a vez do próprio Dom Odilon visitar a Prelazia, que contava, na ocasião, com uma população aproximada de 260.000 habitantes, com 88,5% de católicos. A maioria dos moradores concentravase nas paróquias de Breves, com 95.000 habitantes. No ano seguinte, nos dias 18 a 20 de fevereiro de 2005, houve um encontro de representantes das Igrejas de Itabira-Fabriciano e da Prelazia de Marajó na Centro de Animação Missionária e Vocacional Recanto das Mangueiras (em Melo Viana, município de Coronel Fabriciano). Entre 27 de setembro e 3 de outubro deste mesmo ano, Dom José Luiz Azcona Hermoso, bispo da Prelazia desde 1987, visitou a Diocese de Itabirae Santa Terezinha do Menino Jesus, Afuá - Paróquia Nossa Senhora da Conceição, Chaves - Paróquia Santo Antônio, Anajás - Paróquia Menino Deus, Portel - Paróquia Nossa Senhora da Luz, Melgaço - Paróquia São Miguel Arcanjo e Bagre - Paróquia Santa Maria, Salvaterra - Paróquia Nossa Senhora da Conceição. 382  Disponível em <http://www.flogao.com.br/carismashow2006/blog/1712876> Acesso 5 jan. 2015. 383  DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL-FABRICIANO. Livro da Caminhada. Op. Cit. p. 17. 156 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


Fabriciano.384 Em 2012, a Diocese de Itabira-Fabriciano enviou o padre Dirceu Pacífico, que esteve na Prelazia por um ano e, em 2013, o padre Marco José Almeida, que lá permaneceu até o final de 2014. Em novembro de 2013, Dom Marco Aurélio incentivou o padre Hideraldo Veríssimo Vieira, secretário diocesano de pastoral, a visitar a Igreja-Irmã de Marajó. 2

1

3

Fig. 8 - 1- No barco: Pe. Hideraldo Veríssimo Vieira. 2- Lado Esq. Pe. Hideraldo, centro Dom José Luiz Azcona Hermoso, lado direito Pe. Marco José. 3- Pe. Hideraldo385

Em uma síntese da caminhada pastoral da Diocese, Nelly conclui: “nós já temos uma caminhada libertadora desde o início. Nós já iniciamos nessa caminhada libertadora. O povo que põe o pé mesmo e sai, que vai, vai e faz”.386 384  Ibidem. p.17. 385  Disponível em <http://www.iparoquia.com/Site.Noticias/modelo1/index. php?id=4EzM&codNot===gNxQTO>. Acesso em 5 jan. 2015. 386  Entrevista concedida por Nelly Castro de Souza, a Júlio César Santos em 8 jun. 2014, durante a Festa da Diocese, realizada no município de Santana do Paraíso.

50 Anos

157 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano



VI

Formação e Espiritualidade, no Anseio de Fidelidade Criativa



A Igreja Católica atua decididamente na formação religiosa e cultural na Diocese de Itabira. Desde o episcopado de Dom Marcos Noronha, mais precisamente em 1967, foram criados em “Itabira, João Monlevade e Coronel Fabriciano, cursos de Licenciatura Polivalente da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, através da UCMG, Universidade Católica de Minas Gerais. Essas faculdades formaram professores de todas as cidades da Diocese e de outras cidades”.387 De acordo com a leiga Terezinha de Assis Bretas, Com a criação [...] nos três regionais, jovens daquela época e outros, nem tão jovens, tiveram a oportunidade de realizar um desejo, que para eles era quase um sonho. Somente no regional I, dez cidades enviaram alunos que se tornaram professores, atendendo a centenas de escolas, antes sem professores qualificados. Para os primeiros anos de funcionamento das faculdades, vieram professores de várias universidades do país. Podemos citar o primeiro diretor da faculdade de Itabira, Romar, que veio do Rio Grande do Sul. Como professora de Literatura, veio do Rio de Janeiro a Marilena. Com Marilena, veio seu esposo, o professor de Matemática. E assim, vários outros professores, bem qualificados, iam formando o corpo docente das faculdades. Depois, muitos alunos já formados na FACHI, Faculdade de Ciências Humanas de Itabira, fizeram o PREPES, preparando-se para assumir um cargo na FACHI. Assim, aconteceu. Os professores eram exalunos da faculdade. Mais tarde, muitos deles fizeram mestrado e doutorado.388 Simultaneamente, mostrava-se necessário prover a formação cultural e profissional de muitos trabalhadores que deixavam a área rural, em busca de trabalho nas siderúrgicas Belgo Mineira e Acesita, às quais somou-se a Usiminas, inaugurada em 1962. Além disso, o Vale do Rio Doce constituía, 387  DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Livro da caminhada. Itabira: Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano, 2010. p. 10. 388  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Depoimento de Terezinha de Assis Bretas. 2015. Mimeo.

50 Anos

161 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


naquela ocasião, uma área de fronteira agrícola em franco conflito, com violentas e indiscriminadas expulsões de posseiros de suas terras, para dar lugar às plantações de eucaliptos utilizados nos fornos das siderúrgicas. A migração acelerada levou à intensa ocupação das periferias dos municípios de Coronel Fabriciano, Timóteo e Ipatinga, em condições de vida bastante precárias.389 Tratava-se de um modelo de desenvolvimento implantado na América Latina e reconhecido pelo clero, sendo trazido para Itabira com a criação da Diocese: O problema da América Latina, ou o problema de subdesenvolvimento (conforme uma visão pessimista ou otimista da questão) encontra-se condensado, mas com toda sua miséria, no Vale do Rio Doce [...]. Uma multidão de pessoas não qualificadas vem instalar-se na região na esperança de encontrar trabalho e nem sempre encontra, vivendo então forçosamente, miseravelmente. A emigração da população rural para as cidades ou para os centros industriais, tão típicas no Brasil, se faz do mesmo modo sentir no Vale do Rio Doce, com as nefastas consequências que tal movimento sempre provoca.390 Tal reflexão foi promovida por um dos integrantes da Congregação dos Padres do Trabalho, que passou a atuar na região desde outubro de 1963, pouco antes da criação da Diocese:391 Éramos 4 Padres da Congregação dos Padres do Trabalho. Três vieram em 1963, eu cheguei em setembro de 1964. Já estava em andamento uma pesquisa sócio-econômico-religiosa que se estendia por toda a diocese de Itabira. Foi um trabalho de vários anos, porque precisava organizar e preparar em todos os lugares equipes para fazer a visita da 389  MOREIRA, Nathalie de Castro. A cultura organizacional fundadora do Unileste: a matriz cristã e operária. Unileste: cultura organizacional e identidade. Dissertação (Mestrado em Administração): Pedro Leopoldo: Faculdades Integradas de Pedro Leopoldo, 2008. p. 57-58. 390  DE MAN, José Maria. Os Padres do Trabalho: Plano de Apostolado. Coronel Fabriciano, 1964. p. 7. 391  A Congregação dos Padres do Trabalho foi fundada em 1894, na Bélgica, sob a inspiração da encíclica Rerum Novarum, publicada três anos antes por Leão XIII, e que dedicava especial atenção aos dilemas sociais e ao mundo o trabalho. 162 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


pesquisa em todas as casas.392 Atuando junto aos agentes de pastoral, os Padres do Trabalho realizaram um levantamento sócioeconômico da região que possibilitou a elaboração de seu Plano de Apostolado: “A maioria das estradas na região eram de chão e traziam bastante imprevistos principalmente na época de chuvas. Terminando a pesquisa e apuração, iniciou-se em 10 cidades da região o Movimento operário cristão (MOC) com a preparação das visitadoras sociais. Eram moças que receberam uma formação para fazer visitas nas casas”.393 Assim, em 1965, era fundada a Associação Civil Movimento Operário Cristão (MOC), que teve atuação marcante em obras sociais, como a construção de casas populares por mutirão e o prédio do Colégio Técnico de Coronel Fabriciano, concluído em 1968. 6.1. Da Universidade do Trabalho à Unileste Um dos sacerdotes da Congregação dos Padres do Trabalho era Joseph Cornelius Marie de Man. Nascido em 1927, teve papel árduo na criação da primeira “Universidade do Trabalho” do Brasil, que também surgia como primeira instituição de ensino superior na região do Vale do Aço. Sua intensa trajetória de mobilização social e cultural foi assim descrita por Dom Marcos Noronha: Ele trazia geneticamente uma marca: era judeu. Seus pais foram mortos pelo nazismo, viveu por mais de um ano escondido em um porão durante a infância. Era holandês e filho de escritor, mas quando foi para a Bélgica [...] foi destacado para integrar um grupo de Padres do Trabalho [...]. Então ele veio para um trabalho operário em Ipatinga, juntamente com seis Padres do Trabalho, foi o primeiro a aprender o português. [...] Até a Usina Siderúrgica de Minas Gerais S.A. (USIMINAS) doou sucata para ele trabalhar em favor dos pobres. 392  Padre Leo Verheyen, 50 anos de sacerdócio. Disponível em <http://www.parsantacruz.org.br/ padreleo50/coronel-fabriciano-mg/>. Acesso em 18 nov. 2014. 393 Ibidem.

50 Anos

163 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


Tinha um grande veio econômico de transformar tudo em dinheiro. Ele tinha essa potencialidade. Trabalhava, fazia muita amizade com todos os grupos de dirigentes na área do município. Era por princípio um contestador. Sua liderança inclusive lhe trouxe problemas durante a ditadura. Neste período respondeu inquérito e foi acusado. Essa perseguição durou dois anos, até o julgamento em Juiz de Fora sem condenação. Houve absolvição unânime, por absoluta falta de provas.394 Chegando a Marliéria em 1963, padre de Man começou a participar dos movimentos sociais, principalmente através do Movimento de Educação de Base (MEB), ligado à CNBB, que atuava nas zonas rurais, promovendo a alfabetização e a promoção social dos trabalhadores. Meses depois, ele foi residir em Coronel Fabriciano e atuou decisivamente no Movimento Operário Cristão. Um dos maiores problemas apontados pelos agentes atuantes no MOC era a falta de formação especializada para os jovens e adultos que buscavam trabalho.395 Daí o propósito de padre De Man de fundar um Colégio Técnico em Coronel Fabriciano, obra que iniciou em 1965, vindo a inaugurá-la em 1967. Mas seu projeto era mais auspicioso: O ensino técnico secundário e secundário superior ou engenheiro técnico não existem nessa região de Minas Gerais. Assim como os das mesmas categorias sobre o ponto de vista florestal e agrário. Há somente o ensino profissional de poucas especialidades. A criação eventual da Universidade do Trabalho constituiria uma experiência auspiciosa, as indústrias encontram grandes dificuldades em vista de ressentir-se da falta de uma classe técnica ‘Média’. Explorando este setor, os Padres do Trabalho, sem dúvida, prestarão um grande serviço à região e ao país, e poderão influenciar profundamente no espírito cristão dentro da indústria.396 394  PRUEDA, Lenira (Coord.) Homens em série: a história de Ipatinga contada por seus próprios personagens. v.1 História de Vida – Ipatinga; v2 História Oral – Ipatinga; v3 Memória Histórica. Prefeitura Municipal de Ipatinga, 1992., v. 2, p. 74-75. 395  DE MAN, José Maria. Op. Cit. p. 4. 396  Ibidem. p. 40. 164 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


A proposta de uma formação técnica dentro de uma matriz cristã preponderou: “1) A influência espiritual de tal estabelecimento não pode ser senão profunda e impregnada de espírito cristão; 2) A vida sacramentária regular, ensinada aos alunos produzirá seus frutos longe, além dos umbrais da Escola”.397 Para viabilizar o projeto, buscaram-se recursos junto a organismos internacionais católicos, bem como às siderúrgicas em operação na região: “É evidente poder encontrar a inteira simpatia para esta criação por parte das indústrias estabelecidas na região, não somente em vista dos subsídios eventuais, mas também para gozar de sua influência nas esferas oficiais”.398 Em 1968, foram iniciados os cursos de Letras e Estudos Sociais, destinados à formação de professores do ensino básico. A ênfase era por uma formação plena e humana. Em 1 de abril de 1969, foi inaugurada a Escola de Engenharia, com o nome de Universidade do Trabalho. O projeto foi questionado pelo Conselho Federal de Educação, por não se enquadrar na carga horária prevista para os cursos propostos. O CFE apontou ainda sua inadequação às grades curriculares nacionais. Questionou-se a legitimidade dos recursos financeiros trazidos do exterior. Os estatutos tiveram então que ser alterados e, em 15 de maio de 1972, padre de Man criou a Sociedade Educacional União e Técnica, na tentativa de atender aos ajustes indicados pelo CFE. A entidade mantenedora passou de Fundação “Populorum Progressio”, para “Sociedade Educacional União e Técnica”. Com isso, o curso de engenharia de operação iniciou suas atividades em 7 de julho de 1972, como primeira iniciativa da Universidade do Trabalho. Aos poucos, terrenos foram cedidos pela diocese de Itabira; máquinas e equipamentos foram doados por organizações da Holanda, França, Japão e, sobretudo, da Misereor da Alemanha. A proposta da instituição está materializada no símbolo da escola. Assim: “Forma: U = Universidade, universal, universo. / T = Trabalho, tenacidade. Linha: U = O HOMEM, agente no universo, em pé, carregando de braços abertos, a massa do trabalho, da vida. / T = O HOMEM, só se realiza verticalmente, só será pessoa, se houver interferência horizontal, no 397  Ibidem. p. 40. 398  Ibidem. p. 40.

50 Anos

165 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


meio de seus pares, os demais HOMENS. DIREÇÃO: DEUS não está na vertical, e sim horizontalmente ao HOMEM, através dos HOMENS”.

Fig. 1- Emblema Universidade do Trabalho (UT)/ SEUT.399

Este emblema estava presente nos primeiros prédios da UT e especialmente onde funciona ainda hoje o Colégio Técnico do Unileste (acima e à esquerda do ponto mais alto) e na parede lateral da Escola de Engenharia.

Fig. 2 - Prédio com o emblema da Universidade do Trabalho (UT) / SEUT.400

A tentativa de criação de Universidades do Trabalho fez-se presente ao longo da primeira metade do século XX, quando surgiram, em nível 399 CTCF. Revista de formatura da primeira turma de técnicos do CTCF Padre de Man. Diretoria e Coordenação Pedagógica do CTCF Padre de Man, 1995.p. 29. 400 Ibidem. p. 50. 166 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


internacional, propostas educativas que objetivavam dirigir a formação média e superior às necessidades específicas de formação técnico-profissional. Assim, foram projetadas universidades com esse perfil na Bélgica (Université Du Travail, em 1902), no Brasil (1934-1954), no Uruguai (Universidad Del Trabajo, 1942), na Argentina (Universidad Obrera Nacional, 1948), na Espanha (Universidad Laboral, 1952). Iniciativas semelhantes foram promovidas no Chile, Colômbia e Venezuela. No decorrer dos anos 1940 e 1950, as novas universidades pressupunham uma reorientação curricular (passagem dos estudos humanísticos aos técnico-tecnológicos) e de destinatários sociais (com incorporação dos trabalhadores). No Brasil, durante a Era Vargas, ainda que não viessem a ser institucionalizadas, existiram, entre 1930 e 1955, seis propostas de criação de Universidades do Trabalho. Até o fim do século XX, foram dez os projetos apresentados ao Ministério da Educação, sendo que nenhum deles foi aprovado com esta formatação e nominação.401 Nos anos 60, as resistências do Conselho Federal de Educação também exigiram essa mudança de foco da instituição criada pelo padre De Man. Ademais, a suspeição política pairou fortemente sua figura, como descreve Dom Marcos Noronha: Em 1964, após a revolução houve 8 IPMs contra os padres de lá... De repente aparece um capitão lá em casa, avisando que haveria um IPM contra os padres Abdala e De Man. Eram acusados de subversão, comunismo, agitação e incitação do povo. Os dois tinham uma liderança muito grande no clero e foi De Man quem criou a Universidade do Trabalho (UT) em Coronel Fabriciano. Então ele veio para um trabalho operário em Ipatinga [...] Ele trabalhava muito e fazia muita amizade com os grupos dirigentes na área do município. Era por princípio um contestador. Começou um trabalho com o MOC – Movimento Operário Cristão – e, com isso o De Man começou a se tornar uma liderança em Ipatinga, na baixada toda, e isso machucava algumas pessoas como o capitão Fassheber que desejava o cargo de interventor político em Ipatinga [...] De Man e mais 8 padres 401  PRONKO, Marcela Alejandra. Crônica de um fracasso: Uma história dos projetos de criação de Universidades do Trabalho no Brasil. Educação & Sociedade, n. 66, Abr.1999.

50 Anos

167 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


responderam inquérito e foram acusados. O IPM durou dois anos e os agentes da opressão perguntavam às pessoas da baixada sobre a vida dos padres. Um ano foi só de interrogatórios aos padres e mais um para julgamento, em Juiz de Fora. Não houve condenação. Houve absolvição unânime, mas a tensão continuava, passamos a trabalhar intranquilos, não sabíamos que estávamos sendo vigiados e de repente a gente descobriu que estava. Então o trabalho acabou. Ficou só uma chama de reflexão que continua até hoje.402 No interrogatório a que foi submetido, perguntaram ao padre De Man qual o melhor regime para o Brasil: o capitalismo, o neocapitalismo, o comunismo ou o socialismo, ao que respondeu: [...] nenhum deles, pois o mundo atual com todos os seus erros é fruto do regime Capitalista e que, por isso não é ele o melhor; que ainda dentro desse mesmo regime há uma tentativa para melhoria, mas ela é interna e não radical e por isso com as mesmas mazelas. Que o socialismo, seja ele do Estado ou coletivista, como se vê não tem dado resultado. Que assim resta ainda uma última opção, uma que consta das apostilas que são distribuídas na Universidade que é a Visão Cristã, que gostaria de acrescentar que [...] tem notado, de sete anos para cá, uma flagrante melhora no nível cultural daqueles que frequentam a escola técnica e a universidade; que a comunidade na região tem pessoas do mais alto gabarito de cultura, como também pessoas de baixo nível cultural. Juntamente à tensão política, outros problemas ameaçavam o futuro da instituição educacional. Um deles referia-se à carência de um corpo docente qualificado. Padre de Man buscava professores por todo o país: Padre de Man foi ao norte buscar professores em função dos bons cursos que existiam na Escola Federal de lá. Ele pretendia trazer uns vinte com Mestrado que deveriam dar tempo integral e dedicação exclusiva 402  Apud: MOREIRA, Nathalie de Castro. Op. Cit. p. 68. 168 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


à Escola. Quando retornou, promoveu uma reunião, anunciando o sucesso de sua empreitada e determinando que eu fosse receber os professores no aeroporto da Pampulha em BH. No dia seguinte, pediram-me para guiá-los numa visita de reconhecimento à cidade de Coronel Fabriciano. A falta de estrutura e a qualidade do ensino para os seus filhos e o alto custo de vida deixaram esses professores muito mal impressionados. No outro dia, reunimos e todos eles foram embora. Mas o Padre de Man não se abateu e, para a minha surpresa, decidiu que eu deveria fazer uma viagem ao Norte com os mesmos propósitos.403 Uma segunda tentativa implementada pela Universidade do Trabalho (UT) foi contratar professores solteiros e sem mestrado. Nessa também não houve grande sucesso: “Agi com autonomia e optei por contratar professores solteiros e sem mestrado. Consegui uns 10 que trabalharam na Escola apenas um ano. Desta feita, a razão da renúncia ao emprego era a concorrência das Siderúrgicas. Tais professores passavam nos concursos da Usina Siderúrgica de Minas Gerais S.A. (USIMINAS) ou da Companhia Aços Especiais de Itabira S.A. (ACESITA) e preferiam prestar serviços para essas indústrias”.404 A inadimplência dos alunos também pesava negativamente e novos investimentos ficaram inviáveis. Simultaneamente à cobrança dos débitos, os estudantes passaram a cobrar o reconhecimento oficial do curso. Em 1973, diante dos impasses financeiros e burocráticos que se agravavam, o diretor de ensino comunicou seu afastamento. O padre de Man pediu-lhe que ficasse, pois a sua saída estava certa: Ao mais tardar, isso ocorrerá no mês de agosto de 74. A minha vocação é esta. Cheguei em vista disso. Optei, não voltarei atrás, nem me darei prazo maior, adiando a data marcada... Cada um deve obedecer ao seu íntimo: é uma questão de consciência. [...] E se precisar (mas isso em ultíssima análise), assumirei a direção pessoalmente (quando não 403  Apud: MOREIRA, Nathalie de Castro. Op. Cit. p. 72. 404  Ibidem. p. 73.

50 Anos

169 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


encontro, nem eu, nem os demais, ninguém) a partir da data fixada. Neste caso, teria um prazo maior para descobrir alguém, mas de forma alguma, indo além de agosto de 74. Em mesmo tempo, encontrarei e prepararei a fórmula mais adequada quanto à continuação da obra (seja na mão do poder público), visando apenas o bem-estar e a segurança daqueles que nos honraram com a sua confiança. Após a minha saída, quando não haverá mais ninguém dos Padres do Trabalho; em agosto de 1974, você será o homem ao qual tenho a coragem de confiar o sinal vivo do meu e nosso ideal.405 Mas em meados de 1976, padre de Man ainda não conseguira formar uma equipe a quem pudesse confiar a direção da Universidade nem estabelecer o equilíbrio financeiro. Foi então que padre De Man procurou a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC – MG) como alternativa a garantir a continuidade de sua obra. Iniciou seus contatos com Dom João Rezende Costa, presidente da Sociedade Mineira de Cultura (SMC) mantenedora da PUC-MG, e com Dom Serafim Fernandes de Araújo, seu Reitor. O prestígio nacional da PUC poderia assegurar a continuidade da Universidade, ao mesmo tempo que a formação católica e uma gestão comprometida com o social. Os contatos com a PUC foram bem sucedidos e em 1976 padre De Man fez doação da Sociedade Educacional União e Técnica à Sociedade Mineira de Cultura, sua mantenedora. Todo patrimônio foi passado à PUC em escritura pública. Professores e funcionários mantiveram seus cargos. Na época, o Colégio Técnico de Coronel Fabriciano (CTCF) ministrava, em âmbito de 2º Grau, os cursos de Eletrônica, Eletrotécnica, Mecânica e Química, estando o curso de Desenho Industrial em vias de regularização; a Faculdade de Ciências Humanas graduava em Licenciatura, em Ciências, Estudos Sociais e Letras; a Escola de Engenheiros de Operação do Vale do Aço, por sua vez, graduava em Eletrônica Industrial, Eletrotécnica, Mecânica de Manutenção e Siderurgia, sendo esse último o único existente no país, todos em regular funcionamento. Havia ainda diversos cursos intensivos e/ 405  DE MAN. Cartas e Documentos pessoais de Padre de Man. Museu do Unileste: Coronel Fabriciano. [entre 1968-1976]. Não publicados. 170 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


ou de curta duração para preparação de mão-de- obra qualificada, tanto na área industrial quanto de ensino. O complexo educativo possuía em torno de 3.500 alunos e um patrimônio de 75 milhões de cruzeiros. Logo em seguida, padre De Man deixou a Diocese para instalar-se em Contagem, onde desenvolveu novas obras sociais, que culminaram com a criação das oficinas e prédios do Colégio Técnico da cidade. Atuou nas paróquias de Monte Castelo e Riacho Novo, com grande destaque, tendo recebido o título de cidadão honorário de Coronel Fabriciano e de Conselheiro Lafaiete e a Medalha da Inconfidência, do Governo Mineiro, em 21 de abril de 1975. Faleceu em Contagem em 29 de junho de 1981. A gestão da Universidade pela PUC-MG estendeu-se até 1990, período de aproximadamente 15 anos, em que o Vale do Aço passou por profundas transformações. A sociedade diversificava-se e mostrava-se mais concorrencial, com o aparecimento de novas instituições de ensino superior, com cursos como Direito em Ipatinga. Em paralelo, os vários planos econômicos estabelecidos pelo governo federal na segunda metade da década de 80 afetaram diretamente a gestão financeira das IFEs. Assim, o Plano Cruzado, em 1986, determinou o congelamento das mensalidades ou só permitiu reajustes controlados pelos Conselhos Estaduais; em 1987, o plano Bresser permitiu acordos entre alunos e instituição, desde que homologados pelos Conselhos Estaduais; em 1989, o Plano Verão impôs novo congelamento geral de preços, exigindo que as IES elaborassem e divulgassem suas planilhas de custo. Simultaneamente, a comunidade universitária reclamava do distanciamento das lideranças da PUC, concentradas em Belo Horizonte, dos problemas financeiros e do impacto negativo no custo de vida dos professores e funcionários. Queixavam-se da falta de investimentos e de respostas mais adequadas aos problemas administrativos enfrentados pelo Campus Vale do Aço. Outro ponto negativo era o sentimento de estagnação. Havia expectativas de se criarem novos cursos, pois os que eram oferecidos buscavam atender à demanda das empresas siderúrgicas, mas de forma insuficiente. Além disto, não existiam, por parte da PUC Campus Vale do Aço, atividades de pesquisa voltadas ao atendimento da realidade regional, nem havia maiores preocupações em desenvolver programas de extensão que atendessem à comunidade. 50 Anos

171 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


O ano de 1990 iniciou-se de forma bastante crítica e, para piorar, em16 de outubro de 1990, a instituição recebeu um ultimato da Sociedade Mineira de Cultura (SMC), responsável à época pela sua manutenção: “Comunicamos que, a partir do próximo ano letivo de1991, serão encerradas as atividades do Campus de Coronel Fabriciano”. A comunidade, que já vinha se mobilizando em congresso realizado para reativação da Universidade em conjunto ao movimento por ela deslanchado com o título de SOS PUC MG, reagiu imediatamente. Estudantes e professores promoveram passeatas pelas ruas de Coronel Fabriciano e organizaram uma caravana a Belo Horizonte para participar de uma audiência marcada com Dom Serafim, presidente da Sociedade Mineira de Cultura. A decisão foi devolver o Campus Vale do Aço para ser administrado por uma instituição da região, que foi presidida por Dom Lelis Lara: Quando saímos da conversa com Dom Serafim, antes de entrar no ônibus fomos até um restaurante. Estavam juntos José Edélcio, Otton Fava, José Horta e outros. Naquela hora, como eu havia sido incumbido por Dom Serafim a assumir a Escola, constando em documento que, se a Diocese de Itabira se retirasse tudo voltaria automaticamente para a PUC, assumi a responsabilidade e me dirigi ao grupo dizendo que tínhamos que formar um Conselho Deliberativo e imediatamente convidei o Dr. José Edélcio para assumir a presidência do Conselho. Todo mundo estava ali com a intenção de não deixar a Escola fechar e os que já pertenciam ao quadro administrativo continuariam em seus cargos.406 Esta iniciativa inaugurou o retorno da autonomia à instituição, que a partir daí passou a chamar-se Instituto Católico de Minas Gerais, tendo como mantenedora, novamente, a Sociedade Educacional União e Técnica. Dom Lelis Lara então delegou a atribuição da gestão da Escola a uma pessoa de sua inteira confiança e amigo de longa data, o advogado e empresário, José Edélcio Drumond Alves, filho de família tradicional da região, católico, advogado bem sucedido e membro atuante da sociedade, 406  Apud: MOREIRA, Nathalie de Castro. Op. Cit. p. 141. 172 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


José Edélcio destacou-se na comunidade principalmente como Governador Distrital do Rotary Clube. Durante sua gestão, a Universidade vivenciou o maior crescimento da sua história, elevando-se de 6 para 28 o número de cursos de graduação ofertados. Houve também expansão em sua estrutura física com novos investimentos nos campi de Timóteo e de Ipatinga. Mesmo assim, o período de 1990 a 1995 foi uma época de grande instabilidade para o então denominado Instituto Católico de Minas Gerais (ICMG), persistindo os seus problemas financeiros e aumentando seus conflitos internos. O valor das mensalidades caiu em média 52%, porque utilizava como base de cálculo valores em cruzeiros enquanto os salários de professores e funcionários eram pagos pela média da Unidade Real de Valor – URV. A melhoria da situação foi sendo paulatinamente conquistada a partir de 1996, tendo D. Lara enunciado, em 1999, que Nossa Escola – o Instituto Católico de Minas Gerais (ICMG), por sua natureza de escola cristã e por força de seu estatuto e de sua missão, deve procurar sempre melhor qualidade na realização de seus objetivos. Na conjuntura atual, em que a sociedade já não tem clara hierarquia de valores [...], em que o individualismo extremo e a fragmentação do comportamento são sinais de que o próprio tecido social está desgastado, incumbe-nos o dever de discernir, com precisão, qual contribuição nossa Escola deverá prestar no processo de resgate da nossa cultura, oprimida e desrespeitada. Cultura aqui é uma dimensão da realidade social, que caracteriza tudo o que é humano: a maneira de tornar o mundo habitável, de estruturar as relações sociais, de conhecer a realidade e o seu sentido [...]. Creio que a nossa missão específica consiste em nos empenhar seriamente na missão de educar e no uso dos meios de comunicação social, pois na luta pela democracia e pelo real desenvolvimento, a Educação e Comunicação Social têm papel decisivo.407

407  Revista ICMG, p. 2, fev. 1999.

50 Anos

173 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


Em 5 de junho de 2000, o Ministério de Educação e Cultura (MEC) reconheceu que o Instituto Católico de Minas Gerais (ICMG) reunia condições favoráveis à sua transformação em Unileste - Universidade do Leste de Minas Gerais. Mudara, porém, a filosofia norteadora da instituição, agora pautada na visão empresarial. A escola que havia sido criada no ano de 1965, seguindo os preceitos da Congregação Padres do Trabalho, com objetivo de contribuir para o desenvolvimento espiritual e social dos trabalhadores, ainda buscava proporcionar uma formação plena – mas sem necessariamente se envolver nas questões econômicas, políticas e sociais que impactam o crescente desemprego – demonstrando claramente que o compromisso da escola é somente com a formação profissional e a empregabilidade de seus alunos. Mas quando o reitor José Edélcio retirou-se da administração, D. Lara buscou uma nova direção. Fez contato com os jesuítas, que não puderam atender por falta de pessoal. Também os maristas, salesianos e outras congregações tiveram dificuldades em acolher a solicitação de Dom Lara. A solução foi então encaminhada pelo antigo reitor: “Quem acabou fazendo um contato decisivo foi o Dr. José Edélcio, quando num encontro com o Padre Duílio, que é Salesiano e natural da vizinha cidade de Marliéria, propôs repassar o Unileste para a União Brasiliense de Educação e Cultura UBEC. Padre Duílio demonstrou grande interesse pela ideia e começaram as articulações para essa união que se consolidou em 2006. Então, ao final de 2005, Dr. José Edélcio afastou-se e durante esse período o professor Otton Fava foi por um ano Reitor Interino, até a chegada do Dr. Genésio Zeferino, o Reitor nomeado pela União Brasiliense de Educação e Cultura (UBEC), que veio de Brasília para o Vale do Aço”. A integração do Unileste à União Brasiliense de Educação e Cultura (UBEC) foi anunciada ainda em 2004: [...] a União Brasiliense de Educação e Cultura (UBEC) dará continuidade à filosofia do Unileste, sob o ponto de vista cristão, com uma formação ética, plena e integral da pessoa humana, zelando pela qualidade técnica, pelo relacionamento e compromisso social. Essa é a grande missão da União Brasiliense de Educação e Cultura (UBEC). 174 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


À nova mantenedora coube arrumar a casa recém construída, planejar, ouvir e democratizar. Consolidar o processo de crescimento da Escola e cortar custos em nome da sobrevivência da Instituição. Constituída como Associação Civil, confessional de caráter assistencial, educacional, filantrópica e sem fins lucrativos, a União Brasiliense de Educação e Cultura (UBEC) é integrada pela união de cinco Províncias Religiosas e uma Diocese. Fazem parte da UBEC: a Província dos Lassalistas; a Província São José da Congregação dos Sagrados Estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo – Padres e Irmãos Estigmatinos; a Província Marista do Centro Norte do Brasil – Irmãos Maristas; a Inspetoria São João Bosco; a Inspetoria Madre Mazzarello – Irmãs Salesianas e a Diocese de Itabira/Coronel Fabriciano. 6.2. O Seminário e os cursos de leigos Na segunda metade da década de 1960, os seminaristas da recémcriada Diocese de Itabira eram formados na Arquidiocese de Mariana. Todavia, em desdobramento às tensões para implantação das mudanças promovidas pelo Vaticano II, os padres da Congregação da Missão foram substituídos na direção do Seminário de Mariana por presbíteros diocesanos. Paralelamente, o também famoso Colégio do Caraça, onde estudavam leigos e vocacionados sob a orientação da Congregação da Missão, havia sofrido grave incêndio e encerrado suas atividades. Nesse contexto, [...] para abrigar 19 remanescentes seminaristas, que já estavam no curso superior, como Newton Araújo, de Dionísio, o Lima, do Prata, o Nelson Fróes, de Ferros e outros, aluguei [o padre Otacílio Oliveira Fernandes, coordenador de pastoral de Itabira] uma casa grande no Bairro Floresta, em Belo Horizonte. Os jovens do Secretariado, para equiparem a casa, doaram camas, talheres, cadeiras, mesa etc. Nessa casa moravam os seminaristas que tiveram que enfrentar provas na Universidade Católica e Federal, fazerem cursos juntos aos alunos já 50 Anos

175 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


existentes nas Universidades de Belo Horizonte [...] Deveriam viver do mesmo modo que todos viviam e, após os cursos comuns, se quisessem ser padres, fariam uma complementação Teológico/Litúrgica. Só então se ordenariam padres. De 15 em 15 dias, lhes prestava alguma assistência religiosa.408 Mas apesar da formação muito qualificada, inclusive em termos de conscientização do papel do cristão no mundo contemporâneo, a função primordial do Seminário não conseguia ser cumprida nesse modelo: “Desses, que eram 19, nenhum se ordenou padre. São hoje médicos, psicólogos, professores”.409 Em dezembro de 1978, diante das prementes necessidades de formação presbiteral, Dom Mário Teixeira Gurgel criou o Seminário Diocesano de Itabira - Coronel Fabriciano, que iniciou os seus trabalhos sob responsabilidade dos Fráteres da Mãe da Misericórdia. O primeiro seminarista da diocese foi Elder Luiz da Silva, da cidade de Itabira.410 Para ingressar neste Seminário e tornar-se padre, era preciso ter vocação para o sacerdócio, condição indispensável, mas não a única. Além disso, fazia-se necessário ter concluído o antigo segundo grau, a fim de iniciar um longo percurso de formação, incluindo-se três anos de graduação em Filosofia e quatro em Teologia. A aparente demora na constituição de um seminário na diocese de Itabira - Coronel Fabriciano - mais de 10 anos após a instalação do Bispado - poderia causar algum estranhamento, mas é facilmente compreensível diante da crise vivenciada pelos seminários logo após a promulgação do Vaticano II. O decreto Optatam Totius, promulgado em 28 de outubro de 1965, no âmbito do Concílio Vaticano II, previa que cada país tivesse sua própria Ratio Institutionis Sacerdotalis, ou seja, um regulamento da formação sacerdotal local, permitindo ainda configurações diferenciadas, que inovavam em relação ao modelo tradicional de Seminário. Sobretudo em torno dos anos 1966-1970, foram promovidas variadas e inovadoras 408  Depoimento impresso do Sr. Otacílio Fernandes, gentilmente cedido pelo autor. Sem data. 409  Depoimento impresso do Sr. Otacílio Fernandes, gentilmente cedido pelo autor. Sem data. 410  DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Livro da caminhada. Itabira: Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano, 2007. p.26. 176 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


experiências, muitas das quais, porém, passaram por um processo de radicalização e rápido desgaste, culminando em seu encerramento. Durante algum tempo, o Secretariado da CNBB para os Seminários buscou formular uma Ratio brasileira, mas sem uma efetiva participação dos episcopados, acabou por vigorar o projeto romano Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis, divulgado pela Santa Sé em janeiro de 1970. Coube então à CNBB elaborar breves normas de aplicação dessa Ratio romana ao Brasil, aprovadas em maio de 1970, e pela Santa Sé em 28 de abril de 1971. Evidenciava-se, no período, uma crise na vida presbiteral, com alto número de saídas entre os anos 1970-1975, ainda mais agravada pela dureza do regime civil-militar e sua desconfiança quanto a segmentos mais engajados da Igreja, principalmente no período 1969-1974. Aos poucos, instaurou-se entre sacerdotes e seminaristas um clima de resignação e mesmo de pessimismo. Muitos seminários foram fechados, sobretudo os menores. Apenas em 1978 o ritmo de crescimento das fundações seminarísticas voltou a crescer, em torno de 15% ao ano, viabilizando a superação, em 1982, do número de seminaristas maiores àquele vigente em 1960: 4,2 por 100.000 habitantes. Apenas em maio de 1984, tais normas provisórias foram substituídas por “Diretrizes básicas”, mais consistentes e encarnadas na realidade brasileira, mas o contexto de formação sacerdotal, então, já era bastante distinto da década anterior, e bem mais otimista. Sucederam-se mudanças na diocese de Itabira-Coronel Fabriciano: em 1987, o Seminário teve sua sede instalada em João Monlevade, sendo reitor o padre José Miranda.411 Em 1994, dois anos após as orientações da exortação pós-sinodal Pastores Dado Vobis, do papa João Paulo II, a CNBB empreendeu a revisão e atualização das Diretrizes Básicas da Formação dos Presbíteros da Igreja no Brasil, também aprovado pela Congregação para a Educação Católica, em 1995. Também em 1992, a Congregação para a Educação Católica, a pedido do Sínodo dos Bispos de 1990, enviou uma carta circular às Representações Pontifícias, pedindo-lhes que recolhessem informações sobre eventuais deficiências e lacunas na formação dos seminários, a partir das quais foi elaborado, em 1998, um documento com indicativo de um 411 Ibidem.

50 Anos

177 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


período pré-seminário para a formação do vocacionado. Data deste contexto a criação do Seminário Propedêutico Cura d’Ars, da diocese de Itabira-Coronel Fabriciano, que funcionou primeiramente em Itabira. “Propedêutico” é uma palavra de origem grega, com sentido de “formação preparatória, instrução”, consistindo, no caso dos seminários católicos, na promoção de formação humanística e espiritual, pelo período de cerca de um ano, capacitando o jovem para o ingresso na Filosofia. Em 14 de fevereiro de 2001 foi transferido para João Monlevade, ao mesmo tempo que o Instituto Teológico deslocou-se dessa cidade para Itabira, sob a reitoria de padre Nelito Nonato Dornelas. A Filosofia continuou no Seminário São José em João Monlevade, sendo o primeiro ano cursado na Unileste, sob a reitoria do padre Francisco Neto Guerra.412

Fig. 3 – Atual Seminário Propedêutico da diocese de Itabira-Coronel Fabriciano, em Itabira.413

Era um contexto em que os padres diocesanos brasileiros haviam aumentado seu quantitativo em 82%, considerando-se o período 1970412 413

Ibidem. p. 26; p. 16. em <http://dioceseitabira.org.br/seminarios/propedeutico/>. Acesso 14 dez. 2014.

178 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


2000. Já os religiosos perduravam em situação delicada, contanto 6% a menos que em 1970, em parte pelo regresso ao país de origem de muitos missionários, paralela à diminuição da chegada de padres vindos do exterior em porcentagem de 40%: “O número de habitantes por padre cresceu nos anos ’70 e ’80, mas se estabilizou nos últimos 10 anos. De fato, os padres eram 14.419 em 1991; cresceram desde então 16,3%, ou seja, com o mesmo ritmo de crescimento da população (15,5%). Em resumo, pode-se dizer que o clero no Brasil se tornou, nos últimos 30 anos, mais diocesano, mais brasileiro (sobretudo entre os religiosos) e mais jovem (sobretudo entre os diocesanos), mas também menos numeroso relativamente à população”.414 Em 2002 os estudos de Filosofia foram transferidos para a cidade de Coronel Fabriciano e a Teologia para Belo Horizonte. Inicialmente os alunos de Teologia moravam no bairro Minas Brasil e estudavam no ISTAInstituto São Tomás de Aquino.415 Em 2008, o Seminário de Filosofia e Teologia passou a funcionar em nova casa, situada no bairro Dom Cabral, em Belo Horizonte, com os estudos sendo seguidos na PUC-Minas.416 Assim, descreve padre Elinei: Olha, a nossa diocese com Dom Lara como os demais bispos que tivemos e que nós temos hoje, tem uma preocupação muito grande com a formação dos novos presbíteros. Então, Dom Lara quando chegou, ele teve essa preocupação enviando seminaristas para estudar em Belo Horizonte. Criou o seminário na Vila Tanque [João Monlevade]. Hoje a nossa formação está novamente em Belo Horizonte, estudando na PUC, tanto a filosofia [quanto] a teologia e temos também o propedêutico em Itabira. Então a formação ela tem que ser constante. [...] o Dom Lara teve essa preocupação, também o Dom Odilon, agora o Dom Marco tem essa preocupação muito grande com o futuro presbítero na nossa Diocese.417 414  ANTONIAZZI, Alberto. A fundação da OSIB e suas principais atividades.Disponível em <http:// www.osib.org.br/osib-nacional/87-um-historico-da-osib-e-os-desafios-atuais-da-formacao.html> Acesso em 7 dez. 2014. 415  DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Livro da caminhada. Op. Cit. p. 26. 416  Ibidem. p. 26. 417  Entrevista concedida pelo padre Elinei Eustáquio Gomes a Júlio César Santos em 8 jun. 2014,

50 Anos

179 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


Nos últimos anos, o contingente de sacerdotes católicos cresceu 7,6% em todo o país, conforme o Censo da Igreja Católica no Brasil, que tem como data base o ano de 2010. Entre 1990 e 2010, enquanto o número de brasileiros aumentou em quase um terço, a quantidade de presbíteros saltou 55% e alcançou a marca de 22.119 ordenados, a maioria advinda do Nordeste. Os estudiosos apontam, como motivações para o aumento das vocações ao norte do país, o perfil mais tradicional do catolicismo, menor urbanização e força de movimentos como a Renovação Carismática, além do acesso a condições de vida mais favoráveis em regiões muito pobres.418 [...] perceber-se-á que a crise social, principalmente o desemprego e suas consequências, na década de 90 e na década de 2000, contribuíram para desencadear tais mudanças no campo das vocações sacerdotais. [...] Segundo dados do censo anual da Igreja Católica (CERIS, 2005), sobre o perfil do clero brasileiro, os padres vindos de famílias abastadas eram em quantidade bem menor se comparados com outros tempos. O reflexo mais acentuado dessa mudança está nos seminários, que mudaram a composição de seus quadros quanto à origem social dos seminaristas. Segundo o CERIS, a maioria das vocações sacerdotais era nesse período proveniente da zona rural (56%), seguida da zona centro - urbana (30%) e da periferia urbana (13%) [...].419 No início de 2015, o Seminário contava com sete estudantes no Propedêutico, oito no curso de Filosofia e dois em Teologia. Em paralelo, três seminaristas –Anderson Ferreira Teixeira, Edson Vander Fernandes Gonçalves e Ueliton Neves da Silva - concluíram a Teologia em 2014 e estão em processo de ordenação para o diaconato. Os jovens seminaristas mostram-se bastante engajados em seus propósitos de vida:

durante a Festa da Diocese, realizada no município de Santana do Paraíso. 418  GONZATTO, Marcelo. Número de padres está em crescimento no Brasil. Zero Hora, 05 abr. 2012. 419  CERIS – Centro de Estatísticas Religiosas e Investigações Sociais. Censo Anual da Igreja Católica no Brasil – CAIC-Br. Análise sociológica da evolução numérica da presença da Igreja no Brasil 2010. Disponível em <http://www.ceris.org.br/antigo/pdfs/analise_censo_igreja_2011.pdf>. Acesso em 7 dez. 2014. p. 8. 180 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


O [...] Seminário Filosófico e Teológico São José da Diocese de Itabira-Cel. Fabriciano está caminhando para uma nova etapa em sua vida missionária, a articulação do Conselho Missionário do Seminário (COMISE), que tem como objetivo fomentar a reflexão e organizar algumas ações missionárias articuladas pelos próprios seminaristas. Assim, a dimensão missionária ganha maior destaque em nossa casa de formação, proporcionando uma maior sensibilização sobre essa ação proposta pela Igreja. [...]Peçamos a intercessão de Santa Terezinha do Menino Jesus, padroeira das Missões, para que possamos testemunhar Jesus Cristo através das nossas vidas, pois só n’Ele poderemos alcançar a verdadeira felicidade.420

Fig.4 – Seminaristas do Seminário Diocesano São José, março 2015.421

Uma vez ordenados, os presbíteros passam também a integrar a Associação do Clero da Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano, criada no dia 05 de junho de 1998 e constituída em 22 de junho de 1999.422 Um dos projetos importantes da ASSOCIF foi destinar a casa onde funcionou o seminário diocesano, em João Monlevade, para encontros do clero, bem como para hospedagem de padres idosos e daqueles em breve estada na 420 Seminário em Missão. Disponível em <http://dioceseitabira.org.br/noticiasdiocese/seminario-em-missao/> Acesso em 7 dez. 2014. 421 Ibidem. 422 DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Livro da caminhada. Itabira: Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano, 2010. p. 15.

50 Anos

181 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


Diocese. A proposta, apesar das dificuldades, parece estar dando certo: “Esta é um auxílio para a Pastoral Presbiteral. Precisamos abraçar de modo corajoso e grande empenho a Associação do clero. Não podemos esquecernos do nosso encontro mensal: toda última segunda-feira de cada mês, na casa do clero, em João Monlevade”.423 E ainda sob a perspectiva da formação para o ministério ordenado, a diocese de Itabira-Coronel Fabriciano inaugurou, em fevereiro de 2012, a Escola Diaconal, destinada à preparação de Diáconos Permanentes. O Concílio Vaticano II restaurou o diaconato como grau próprio e permanente da condição eclesiástica, e essa opção vem crescendo na Igreja contemporânea. No Brasil, existem atualmente mais de 1250 diáconos permanentes, tendo a primeira ordenação na Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano ocorrido em 9 de junho de 1994. Posteriormente, Luzardo da Fonseca Teixeira, o diácono assim ordenado, tornou-se padre em 1999, vindo a falecer em 2013.424 Quanto aos leigos, desde meados dos anos 1970, a Diocese apoiou a promoção dos Cursilhos da Cristandade: “Em 1976, a garage sob o Centro de Pastoral foi transformada numa sala e cedida ao Secretariado do Movimento dos Cursilhos, abrindo-se uma escada interna de comunicação com o andar do Centro”.425 Foram também promovidos cursos de extensão da Pontifícia Universidade Católica para Itabira e Coronel Fabriciano.A partir de 1993, foram também promovidos Cursos de Teologia para Leigos.426 423  Reunião do Conselho Presbiteral,24 de julho de 2014. Apud: ARQUIVO ECLESIÁTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Informações sobre a ASSOCIF - Associação do Clero de Itabira-Fabriciano. Extraídas do Livro do Tombo da Diocese – 2009 a 2014. 2015. Mimeo. 424  DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Nota de pesar. Disponível em <http:// oanunciador.com/2012/02/07/diocese-de-itabirafabriciano-divulga-nota-de-pesar-pelo-falecimento-dope-luzardo-da-fonseca-teixeira/>. Acesso em 7 fev. 2015: “Pe. Luzardo nasceu em 20/12/1930 em Bom Jesus do Amparo. Foi ordenado diácono em 9 de junho de 1994, foi o primeiro diácono permanente pela imposição das mãos de Dom Mário Teixeira Gurgel. Em 23/10/1999 recebeu a sagrada Ordem do Presbiterato pela imposição das mãos de Dom Lelis Lara, C.Ss.R. Atendeu nas paróquias de Ipoema, São Gonçalo do Rio Abaixo, Itambé do Mato Dentro, Senhora do Carmo, Passabém, São Sebastião e Bom Jesus do Amparo. Foi Capelão no Hospital Nossa Senhora das Dores, em Itabira”. 425  Depoimento impresso do Dr. Otacílio Fernandes Ávila, gentilmente cedido pelo autor. Sem data. Mimeo. 426  Sínteses- Junho de 1971/ Junho de 1985. Documento cedido pela Cúria Diocesana de Itabira-Cel. Fabriciano. 182 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


Outro aspecto importante na formação religiosa promovida pela Diocese é a Catequese. No início de 1973, duas religiosas da Sociedade do Sagrado Coração de Jesus- Irmãs Elisabeth Aracy Rondon Amarante, conhecida como Beth, e Maria Helena Pinheiro, vieram ajudar na Pastoral Diocesana, passando a assumir a parte executiva do Centro de Pastoral e direção geral da casa do Bispo. Dentro da Pastoral Diocesana, as duas Irmãs assumiram de modo especial o setor de Catequese e Ensino Religioso. Durante o ano de 1973, participava Irmã Maria Thereza B. Latgé, (Teresa) também da Sociedade do Sagrado Coração de Jesus, que vinha todos os meses passar 10 dias na comunidade. Participava igualmente Maria das Graças Nunes, então pertencente à Congregação da Irmãs da Nossa Senhora das Dores (Irmã Paulina). E estava intimamente ligada ao grupo a holandesa Guilhermina Hunsch, do Instituto Secular UNITAS que desde o início da Diocese fizera parte da equipe de Catequese e estava começando a assumir o serviço de Contabilidade diocesana.427 Periodicamente, são realizados encontros diocesanos de catequese, tendo como objetivo avaliar e melhorar os trabalhos dessa linha pastoral. No tempo presente, a pastoral catequética da Diocese está estruturada em equipes em âmbito comunitário, paroquial, regional e diocesano.428 Os trabalhos desenvolvidos pelos catequistas foram reconhecidos pelo assessor diocesano de catequese, padre Ronaldo Tôrre: Tem crescido bastante, graças a Deus. Assessorando a catequese diocesana, tenho observado que os três regionais têm dado passos importantes, que graças a Deus a gente tem um apoio enorme de dom Marco Aurélio. Que a gente tem visto o crescimento nesse aspecto, principalmente nesta unidade. O regional III da nossa região pastoral, 427 Ibidem. 428  Equipe Comunitária de Animação Catequética (ECAC), desenvolvida nas comunidades; Equipe Paroquial de Animação Catequética (EPAC), atuante nas paróquias; Equipe Regional de Animação Catequética (ERAC), nas esferas regionais; Equipe Diocesana de Animação Catequética (EDAC), em âmbito diocesano.

50 Anos

183 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


sempre celebrou o dia de Ação de Graças, e nesse ano vamos ter no regional I e regional II dia também de Ação de Graças dos catequistas. É um momento oportuno, onde os catequistas podem se encontrar e que trocam experiência no momento de diversão, de lazer, de encontro, de amizade, de reforçar os laços de amizade dos nossos catequistas.429 Pensando na formação permanente, a Diocese envia alguns catequistas para participarem do IRPAC (Instituto Regional de Pastoral Catequética).430 E também do encontro do Leste II, que é o Encontro Regional de Coordenadores Diocesanos de Catequese do Leste II, “que acontece em Belo Horizonte, na Casa de Retiros São José. Além da atualização, o encontro tem por objetivo a partilha de experiências e análise da realidade da catequese nas dioceses”.431 Nesse intuito, a catequese diocesana dispõese a enfrentar com confiança e dedicação os novos desafios: “A gente não pode perder [..], a expectativa, o objetivo principal né, esse catequizar. Esse ir ao encontro do outro, essa espiritualidade forte através de meditar a busca do Cristo né. Acho que isso é importante, essa identidade com Cristo, esse Cristo vivo, que nós devemos buscar”.432

429  Entrevista concedida pelo padre Ronaldo Silva Tôrre a Júlio César Santos em 8 jun. 2014, durante a Festa da Diocese, realizada no município de Santana do Paraíso. 430  O Instituto Regional de Pastoral Catequética- IRPAC nasceu em 1987, tendo como intuito a formação de coordenadores diocesanos de catequese do Regional Leste II (Minas e Espírito Santo), época D. Mário Gurgel era responsável pela dimensão bíblico-catequética do Leste II: “Ao longo dos anos, o IRPAC foi crescendo, hoje é uma grande e madura experiência de formação Bíblico-Catequética do Regional Leste II. A partir de janeiro de 2013 passa a ser Especialização em Catequética pela PUC-Minas. O Curso de Especialização em Catequética é uma iniciativa da PUC-Minas, em parceria com o Regional Leste II da CNBB. O curso quer preparar formadores de catequistas, pessoas que possam orientar e melhorar a formação de catequistas e o processo de Iniciação à Vida Cristã que é feito nas paróquias e dioceses. A especialização em Catequética quer propor uma catequese que reflita, de modo novo, as grandes questões da vida cristã no mundo de hoje. Tendo como inspiração o Diretório Nacional de Catequese, leva a sério as novas sensibilidades e expectativas dos catequistas e catequizandos, sobretudo na cultura urbana, que exige novos métodos, nova linguagem, novo jeito de apresentar a mensagem cristã. DIOCESE DE ITABIRACORONEL FABRICIANO. Pastoral catequética. Diretrizes diocesanas de catequese 2013-2016. Dom Odilon Guimarães Moreira. p. 26-27. 431  Ibidem. p. 27. 432  Entrevista concedida pelo padre Ronaldo Silva Tôrre a Júlio César Santos em 8 jun. 2014, durante a Festa da Diocese, realizada no município de Santana do Paraíso. 184 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


O setor de comunicação também foi alvo de atenção episcopal desde a fundação da Diocese: Através da boa vontade de minha irmã, que achava que não devia apenas cuidar das roupas do irmão-bispo... Sendo uma moça culta, cheia de ideal, a Maria do Carmo resolveu dar sua contribuição no trabalho da Pastoral. [...] Ela mesma se encarregou de entrar em contato com a mocidade e despertar neles a necessidade de uma ajuda mais eficiente por parte dos moços e moças de Itabira. Começaram, então, a se reunir ali na casa cedida por Dona Neném Bethônico, na rua dos Padres, nascendo ali o primeiro Secretariado, simples, humilde, mas bastante dinâmico. Ali era publicado o Boletim Semanal da Diocese [...] Esses boletins transformaram-se em livro, com o nome A Igreja que nasce hoje, já com duas edições esgotadas... “Acho isso uma beleza de coisa, a juventude reunida ali, para trabalhar, atravessando os domingos, rodando os boletins para serem distribuídos em toda a Diocese.433 Assim, já no primeiro episcopado, foram criados o Boletim Diocesano e a Gráfica Diocesana: “No primeiro semestre de 1978, o Secretariado transferiu-se para outra sede e sua sala foi utilizada para o funcionamento dos serviços gráficos da Diocese, que nessa época dispunham apenas de uma gravadora de estênceis eletrônicos e dois mimeógrafos”.434 Em 1987, com a construção do novo prédio da Cúria, a Gráfica também recebeu instalações e equipamentos próprios.435 Para manter a unidade litúrgica, criou-se o Boletim Litúrgico. Em março de 2013, surgiu a revista Gálatas, editada em parceria com a Pastoral da Comunicação (PASCOM): “A publicação aborda temas atuais, além de material de formação e curiosidades, contribuindo assim para o fortalecimento espiritual e cultural dos fiéis. A princípio a revista seria veiculada a cada dois meses, mas a meta é de que a produção seja mensal, para que haja 433  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Síntese de 1971-1985. Sem data. Rubricado por D. Mário Gurgel. 434 Ibidem. 435  DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Livro da caminhada. Op. Cit. p. 14

50 Anos

185 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


melhor abordagem dos temas e acontecimentos relacionados”.436 Em paralelo, em 1988 foi instalada a TV Universitária, canal 34 UHF de Coronel Fabriciano, com missa presidida por Dom Lara na Co-catedral de São Sebastião, de Coronel Fabriciano. No ano de 2001 foi inaugurado o Espaço Cultural da Diocese, com as subdivisões: - Arquivo Dom Marcos Noronha. – Sala de Multimeios Dom Mário Gurgel. – Biblioteca Dom Lelis Lara. A espiritualidade Há uma grande vitalidade religiosa na Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano, mantida por pastorais, associações e movimentos, como o Apostolado da Oração, o Apostolado de Schoenstatt (Mãe Rainha), a Congregação Mariana, a Legião de Maria, a Renovação Carismática Católica. Recentemente, foi fundada a Comunidade Católica Amigos de Jesus, em Ipatinga. Mas a diocese conta também com outras duas novas comunidades: Deus Existe e Cordeiro de Deus. Por sua vez, o cuidado com os sacramentos é assegurado pela Pastoral do Batismo, Catequese de iniciação, de adultos, de Crisma e Matrimonial. Em termos diocesanos, destaca-se a devoção à Virgem. Em 15 de setembro de 1996, realizou-se a primeira romaria oficial da Diocese ao Santuário Nacional de Aparecida, reafirmando assim a presença da Diocese no cenário mariano nacional. Recorde-se que o projeto inicial de constituição da Diocese incluía o patronato da Virgem Aparecida. Em 21 de junho de 1998, na festa do Dia da Diocese, que ocorreu em São Domingos do Prata, foi apresentado o estandarte do Jubileu 2000 e a imagem de Nossa Senhora Aparecida, que percorreram todas as paróquias da Diocese a partir daquela data. E no decorrer de 2000, foi realizada nova romaria, conduzida por DomLelis Lara, no bojo das comemorações do Ano Santo. Também Dom Marco Aurélio celebrou seu jubileu de prata sacerdotal com uma missa no Santuário Nacional de Aparecida:

436 “Editorial”. Gálatas. N. 1. Mar./abr. 2013. p. 3. 186 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


É uma grande ação de graças, uma grande alegria. Escolhemos celebrar juntos aqui. Somos devotos de Nossa Senhora e contamos com Sua intercessão. Chegamos aqui pela graça de Deus, que nos conservou firmes e perseverantes no nosso Ministério. [...] Minha diocese é dedicada a Ela. Tenho certeza de que ela protege todos nós da Diocese de Itabira.437 A Diocese mantém também grande devoção a Nossa Senhora da Piedade: em 18 de outubro de 1998, Dom Lelis Lara instituiu, como Santuário Diocesano, o templo construído em honra dela, na paróquia de Santo Antônio, em Coronel Fabriciano. Em paralelo, tem crescido na Diocese o culto a são Geraldo Majela, religioso redentorista nascido em Muro Lucano, próxima a Nápoles, sul da Itália, em 6 abril de 1726 e falecido bem jovem, em 16 de outubro de 1755, no convento de Caposele, aos vinte e nove anos de idade. Foi beatificado por Leão XIII em 1903 e canonizado por Pio X em 11 de dezembro de 1904. Um dos símbolos de sua devoção é um lencinho com sua estampa: Um dia, em Oliveto, hospedado na casa dos Salvarote, foi visitar a família Pirofalo. Dias depois, uma filha dos Pirofalo o procurou, para entregar-lhe um lenço que deixara em sua casa, possivelmente caído do bolso furado de sua velha batina. Gerardo olhou para a moça e disse: ‘Fique com o lenço.Você pode um dia precisar dele’. Depois de anos esta moça casou-se e estava passando por dificuldades no parto, quando lembraram do lenço pediram que o levasse para a gestante. Apenas lhe puseram o lenço em cima da barriga, saltou-lhe um menino vigoroso nas mãos da parteira espantada.438 Por sua trajetória biográfica, são Geraldo Majella é considerado o santo padroeiro dos alfaiates (atividade que desempenhou no início de sua vida), das gestantes e dos falsamente acusados (ele próprio tendo sido vítima de 437  Disponível em <http://www.a12.com/santuario-nacional/noticias/detalhes/no-santuario-nacionaldom-marco-aurelio-celebra-missa-de-jubileu-de-prata>. Acesso em 7 fev. 2015. 438  LIGÓRIO, Afonso Maria de. Escola de perfeição cristã para seculares e religiosos. Obra completa dos escritos de santo Afonso Maria de Ligório.Petrópolis: Vozes, 1955 [1745]. V. 1, p. 199-200.

50 Anos

187 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


calúnias quanto à sua conduta). A piedade a São Geraldo chegou ao Brasil no final do século XIX, mais propriamente em novembro de 1893, quando os padres redentoristas holandeses Matias Tulkens e Francisco Lohmeyer, depois dedesembarcarem no Rio de Janeiro, foram recebidos por Dom Silvério Gomes Pimenta, auxiliar do bispo de Mariana, Dom Antônio Maria Correia de Sá e Benevides, que lhes solicitara para atuar na Diocese. Após permanecerem alguns meses no Seminário de Mariana, para aprimorarem seu domínio do idioma português,439 os dois padres dirigiram-se em 1894para a cidade de Juiz de Fora, onde fundaram a primeira Casa dos redentoristas no país. Tal lugar fora estrategicamente escolhido em função da presença da linha férrea e de seu desenvolvimento econômico-social, pois a atuação missionária da Congregação recomendava que o deslocamento dos sacerdotes fosse o mais ágil possível, a fim de que as “Santas Missões” pudessem atingir o maior número de localidades e pessoas: De proveniência holandesa, esses redentoristas tornaram-se grandes parceiros do bispado local [de Mariana], contribuindo com a organização da Igreja e a evangelização popular. A manutenção dos dogmas católicos, o fortalecimento da doutrina da Igreja e a obediência ao sumo pontífice foram elementos condicionantes nas missões redentoristas em defesa de uma Igreja tridentina reafirmada no Concílio Vaticano I.440 Poucos meses depois, desembarcava no Brasil uma segunda leva de redentoristas, oriunda da Baviera, região da atual Alemanha, os quais se dirigiram para a atual cidade de Aparecida, estado de São Paulo, e para Goiás. Enquanto isso, o núcleo de Juiz de Fora também recebia mais confrades, o que viabilizou a fundação de novas comunidades nos municípios de Belo 439  MISSIONÁRIOS REDENTORISTAS. Província de São Paulo. Disponível em <http://www.secretariadovocacional.com.br/ondeestamos.htm> Acesso em 23 jan. 2015. 440  SCHIAVO, Reinaldo Azevedo. Um novo projeto missionário: objetivos e metodologia das missões redentoristas nas décadas de 1960-70. Anais do Simpósio Modernidade, Instituições e Historiografia Religiosa no Brasil. Ouro Preto, Universidade Federal de Ouro Preto, 2008. p. 4.Disponível em <http://www.ichs. ufop.br/ner/images/stories/Reinaldo_Azevedo_Schiavo.pdf> Acesso em 23 jan. 2015. 188 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


Horizonte, Coronel Fabriciano e Curvelo, em Minas Gerais, bem como no Rio de Janeiro e Campos, no estado do Rio. Com isso, já nos primeiros anos do século XX, os redentoristas passaram a promover as Santas Missões Populares, [...] executadas sob uma metodologia que visava, primordialmente, a conversão dos fiéis ao catolicismo romanizado, em contraposição àquele catolicismo popular muito comum entre os leigos brasileiros. Com grandes pregações de massa, sermões moralistas e uma afinada ação evangelizadora, as missões redentoristas mantiveram majoritariamente seu perfil tridentino até a década de 1960, quando um novo modelo missionário começou a ser executado pela congregação.441 E como 1904 foi proclamada a canonização de São Geraldo, a construção de um novo templo em Curvelo, sede da Casa dos redentoristas na localidade, foi dedicada a este padroeiro.442 Uma novena, realizada entre 6 e 15 de outubro de 1906, preparou a primeira festa de São Geraldo e, em 22 de março de 1912, foi dado início à construção do santuário, cujo projeto já obtivera importante divulgação através da revista O santuário de São Geraldo, publicada desde 1911. Essa edificação foi acompanhada pela instituição de uma nova paróquia, conduzida pelos redentoristas, e pela fundação de um orfanato, dirigido pelas Irmãs Franciscanas. A nova igreja foi concluída em 1919, mas em 1938, por causa do aumento de fiéis, mostrou-se necessário proceder a obras de ampliação. Este templo, que fora consagrado em 3 de junho de 1932 por Dom Joaquim Silvério de Souza, arcebispo de Diamantina, veio a receber o título de basílica menor, conferido por Paulo VI, em 30 de abril de 1966. Aos poucos, a devoção a são Geraldo também chegou a várias cidades mineiras, destacando-se a de

441  SCHIAVO, Reinaldo Azevedo. Um novo projeto missionário: objetivos e metodologia das missões redentoristas nas décadas de 1960-70. Op. Cit. p. 5. 442  CONGREGAÇÃO DO SANTÍSSIMO REDENTOR. Disponível em <http://www.redentoristas. com.br/redent_brasil.htm> Acesso em 23 jan. 2015. Ver também FREITAS, Luiz Henrique. Congregação Redentorista, 60 anos da Província do Rio. 5 de julho de 2011. Disponível em <http://www.histedbr.fae. unicamp.br/acer_histedbr/seminario/seminario8/_files/J46vMVbP.pdf> Acesso em 23 jan. 2015.

50 Anos

189 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


Itabira:443 A presença geraldina na cidade de Itabira é notada por meio de quadros e imagens do santo nas casas e estabelecimentos comerciais da cidade e região. Existem registros históricos nos quais é detectada uma forte devoção a São Geraldo passada de pai para filho. Na década de 1970, teve início a construção da Igreja dedicada a São Geraldo Majela no Bairro Major Lage de Baixo possibilitando um espaço dedicado a devoção. No início da década de 1980, um grupo de pessoas começou a realizar caravanas para Curvelo a fim de manter contato com o Santuário e Basílica de São Geraldo, trazendo de lá o desejo de que a devoção se fortalecesse.444 Ao final do século XX, emergiu a ousada proposta de construção de um santuário dedicado a são Geraldo no município-sede da Diocese: No ano 2000, o Padre Taumaturgo de Assis Oliveira, até então pároco da paróquia Nossa Senhora da Penha, percebendo a grande devoção ao santo redentorista, idealizou um Santuário para acolher os fiéis de Itabira e região. Em julho de 2003, a Revista DeFato de Itabira, publicou uma matéria dedicada ao projeto de construção do Santuário. Na matéria, havia uma pesquisa realizada pelo Instituto DeFato de janeiro de 2003 para saber qual santo tinha mais devoto em Itabira. São Geraldo atingiu um percentual surpreendente, 16,2%, deixando outras oito indicações de santos para trás. [...] Muitas iniciativas foram tomadas: aquisição do terreno e da relíquia do santo; criação do extinto Jubileu de são Geraldo; criação da novena e missa perpétua na Igreja de São Geraldo transmitida pela rádio. Apesar das intempéries da vida, o projeto se manteve vivo no coração das pessoas e na oração dos devotos que nunca perderam a esperança. No dia 3 de setembro de 2009, sob a administração do atual pároco 443  MOURÃO, Gerardo Mello. O bêbado de Deus: vida e milagres de São Gerardo Majella. 2.a ed. São Paulo: Green Forest do Brasil, 2002. 444  PINHEIRO, Cleverson F. S. A devoção a são Geraldo Majela em Itabira-MG. Mimeo. s. d. 190 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


da Paróquia Nossa Senhora da Penha, iniciou-se a execução do projeto no terreno do Bairro Esplanada da Estação. Mesmo em fase de acabamento, o Santuário já tem uma agenda para manter os fiéis alimentados em sua devoção: novena, ladainha, terço e missa de são Geraldo; no mês de julho, Oitavário de são Geraldo; em outubro, Novena e Festa de são Geraldo; todo dia 16 de cada mês, missa devocional; e o grupo da Irmandade de São Geraldo.445 É interessante perceber que os devotos de são Geraldo compartilham, assim, em seu cotidiano, o espírito das missões populares difundida pelos redentoristas, mas já numa perspectiva pós Concílio Vaticano II. Tal afinidade valoriza a promoção das práticas devocionais familiares e o protagonismo nos leigos na dinamização da vida religiosa local, mas articulados de forma solidária com os anseios, necessidades e esperanças da população. Nesta mesma perspectiva, observa-se que, além do culto a são Geraldo, a piedade mariana e as demais devoções mantidas na Diocese possuem um ponto em comum – o foco na busca de um jeito próprio de seguir Jesus Cristo. Desta forma, quer de uma maneira mais arraigada na cultura secular mineira, bastante disseminada nas cidades dos Regionais 1 e 2, quer de forma mais militante, junto às pastorais populares, como no Regional 3, o Bispado de Itabira-Coronel Fabriciano continuamente reitera, em suas assembleias e liturgias, a necessidade do primado de Cristo, que se fez servidor dos mais frágeis e sofridos, nas vidas dos fiéis diocesanos: Nos umbrais da celebração do cinquentenário de criação da Diocese de Itabira-Cel. Fabriciano nota-se a sustentação de uma Igreja discípula missionária. Mesmo com as vicissitudes dos tempos, durante essas cinco décadas, a missão continua a ser a chama que aquece e ilumina a vida de nossas comunidades. A nossa Diocese sempre foi marcada pelo renovado ardor missionário dos seus bispos, presbíteros, religiosos (as) e leigos (as) que se dedicaram e ainda se empenham no trabalho árduo em prol do Reino de Deus nesta Igreja Particular.Uma Igreja que 445 Ibidem.

50 Anos

191 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


segue o mandato do Mestre e está em constante saída com objetivos claros; afinal, qual é a função do missionário? O missionário precisa ter a consciência de que a transformação começa de dentro para fora, saber acolher na oração a alegria do Evangelho e levar, através do testemunho, a palavra confortadora e libertadora de Jesus.446

446  GUBIOTTI, Marco Aurélio. A Igreja nasce de um mandato missionário: ‘Ide e evangelizai’ (Mc 16,15). Disponível em <http://dioceseitabira.org.br/palavrabispo/>. Acesso em 21 fev. 2015. 192 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


Conclus達o



Este livro foi pensado como um memorial dos 50 anos da diocese de Itabira-Coronel Fabriciano, buscando-se destacar a valiosa contribuição dessa Igreja particular à vida das pessoas que residem nos municípios por ela abrangidos e ao catolicismo no Brasil. Dom Marcos Noronha, quando se despedia da Diocese em 1970, afirmou: “Não deixo relatório de atividades pastorais. Deixo uma comunidade apenas convocada para viver. Deixo uma vírgula e não um ponto final no primeiro capítulo da história da Diocese”.447 Aqui estamos, comemorando o cinquentenário e relembrando aqueles que tiveram um papel nessa trajetória de constituição institucional e humana de uma Diocese, tão belamente traduzida, na poesia de Pedro Casaldáliga: TUA MITRA será um chapéu de palha sertanejo; o sol e o luar; a chuva e o sereno; o olhar dos pobres com quem caminhas, e o olhar glorioso de Cristo, o Senhor. TEU BÁCULO será a Verdade do Evangelho e a confiança do teu povo em ti. O TEU ANEL será a fidelidade à Nova Aliança do Deus Libertador e a fidelidade ao povo desta terra. Não terás outro ESCUDO que a força da Esperança e a liberdade dos filhos de Deus Nem usarás outras LUVAS que o serviço do Amor.448 447  ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. CartaDespedida de D. Marcos Antônio Noronha. 2 de novembro de 1970. Mimeo. 448  TU MITRA será unsombrero de pajasartanejos; el sol y laluna; lalluvia y el sereno; el pisar de los

50 Anos

195 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


A despeito do curto tempo para elaboração desta obra e da ausência de sistematizações anteriores provindas da área das ciências humanas, o que implicou em que traçássemos a primeira síntese historiográfica do tema (com as lacunas que possam daí advir), permanecemos esperançosos de que este livro possa suscitar, inclusive pelos limites nele contidos, outras tantas pesquisas sobre a Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano. Mais ainda, embora este livro seja uma produção pautada em pressupostos teóricos e metodológicos da pesquisa histórica, não podemos nos furtar a expressar nosso sincero desejo de que esta Diocese, “pela graça de Deus” (1 Cor 15,10), conforme o lema episcopal do atual bispo, Dom Marco Aurélio Gubiotti, protagonize sempre mais experiências de profunda transformação humana, a partir das virtudes evangélicas que a mobilizam. Ontem um menino que brincava me falou que hoje é semente do amanhã... Para não ter medo que este tempo vai passar... Não se desespere não, nem pare de sonhar Nunca se entregue, nasça sempre com as manhãs... Deixe a luz do sol brilhar no céu do seu olhar! Fé na vida Fé no homem, fé no que virá! nós podemos tudo, Nós podemos mais Vamos lá fazer o que será...449

pobres conquien caminas y elpisar glorioso de Cristo, elSeñor. / TU BÁCULO será laverdaddelEvangelio y laconfianza de tu puebloen ti. / TU ANILLO será lafidelidad a la Nueva AlianzadelDios Liberador y lafidelidad al pueblo de esta tierra. / No tendrásotro ESCUDO que lafuerza de laEsperanza y laliberdad de loshijos de Dios. / No usarás otros GUANTES que elserviciodel Amor. Cf. CASALDÁLIGA, Pedro. Mis insigniasepiscopales. Disponível em <http://www.prelaziasaofelixdoaraguaia.org.br/poesias_pedro.htm>. Acesso em 15 fev. 2015. 449 GONZAGUINHA. Semente do Amanhã. Disponível em <http://letras.mus.br/ gonzaguinha/280650/>. Acesso em 15 fev. 2015. 196 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


Bispos da Diocese



Dom Marcos Ant么nio Noronha 1965 - 1970


Dom Mario Teixeira Gurgel 1971 - 1996


Dom Lelis Lara, C.Ss.R 1996 - 2003


Dom Odilon Guimar達es Moreira 2003 - 2013


Dom Marco AurĂŠlio Gubiotti Atual bispo diocesano



Bibliografia



Fontes primárias: ARQUIDIOCESE DE POUSO ALEGRE-MG. “Certa de 20 mil pessoas participam da posse de d. Marco Aurélio”. Disponível em <http:// arquidiocese-pa.org.br/wordpress/2013/06/cerca-de-20-mil-pessoasparticipam-da-posse-de-dom-marco-aurelio/>. Acesso 6 jan. 2015. ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA ARQUIDIOCESE DE MARIANA. A Companhia Vale do Rio Doce está disposta a fazer doação de uma casa para a futura diocese, 31 mai. 1963. ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA ARQUIDIOCESE DE MARIANA. Ata - Sessão Extraordinária, 19 mar. 1963. ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA ARQUIDIOCESE DE MARIANA. O Cura d’Ars. Boletim Eclesiástico da Diocese de Mariana. 1905. ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA ARQUIDIOCESE DE MARIANA. Carta do Con. José Lopes de Magalhães a Dom Oscar. Ansioso para a criação da diocese de Itabira, 08 abr. 1963. Ortografia atualizada ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA ARQUIDIOCESE DE MARIANA. Carta do Con.. José Lopes de Magalhães Dom Oscar. Empenho na campanha para a nova Diocese, 13 mai. 1963. ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA ARQUIDIOCESE DE MARIANA. Carta do Arcebispo Dom Oscar de Oliveira ao Cabido Metropolitano, 01ago. 1960. ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA ARQUIDIOCESE DE MARIANA. Carta do Arcebispo Dom Oscar de Oliveira ao Cabido Metropolitano, 01 ago. 1960. ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA ARQUIDIOCESE DE MARIANA. Carta do Con. José Lopesde Magalhães a Dom Oscar. Comunicando pedido 50 Anos

207 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


de ajuda ao diretor da Companhia Vale do Rio Doce, doutor Oscar de Oliveira, com contribuições para a futura diocese, 29 mai. 1963. ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA ARQUIDIOCESE DE MARIANA. Carta do Cônego José Lopes de Magalhães a Mariana, 22 jan. 1961. ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA ARQUIDIOCESE DE MARIANA. Carta de Dom Oscar de Oliveira, arcebispo de Mariana, ao Cabido Metropolitano, datada de 1 ago. 1960, acerca da possibilidade de criação de paróquia amovível na Usiminas. ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA ARQUIDIOCESE DE MARIANA. Carta de Dom Oscar. Decreto da criação da Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Fátima em Itabira e Solenidade da ereção canônica da Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Fátima em Itabira, 03 mar.1963. ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA ARQUIDIOCESE DE MARIANA. Carta do Padre Geraldo Barreto Trindade a Dom Oscar, 07 fev. 1963. Pedido de criação de uma paróquia em Itauninha (unindo com Hematita). ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA ARQUIDIOCESE DE MARIANA. Carta do Pe. Joaquim Santana de Castro a Dom Oscar,16 mar. 1963. ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA ARQUIDIOCESE DE MARIANA. Comunicado de uma sessão capitularnomeando o pároco de São Gonçalo do Rio Abaixo, padre João José Marques Guimarães, como cônego honorário, 28 out. 1951, com a presença de Dom Helvécio Gomes de Oliveira. ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA ARQUIDIOCESE DE MARIANA. Ereção da Paróquia de Cristo Rei de Ipatinga, pelo decreto “O Reino de Deus”. 11 fev. 1963. ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRACORONEL FABRICIANO. Carta. 28 abr. 1965.

208 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRACORONEL FABRICIANO. Carta-Despedida de D. Marcos Antônio Noronha. 2 de novembro de 1970. Mimeo. ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRACORONEL FABRICIANO. Depoimento de Terezinha de Assis Bretas. 2015. Mimeo. ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRACORONEL FABRICIANO. Folheto de celebração. Ano VIII. N. 453-454. 29 dez. 1985. ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRACORONEL FABRICIANO. História da atual catedral diocesana. s.d. Mimeo. ARQUIVO ECLESIÁTICO DA DIOCESE DE ITABIRACORONEL FABRICIANO. Informações sobre a ASSOCIF - Associação do Clero de Itabira-Fabriciano. Extraídas do Livro do Tombo da Diocese – 2009 a 2014. 2015. Mimeo. ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRACORONEL FABRICIANO. Informes sobre a Diocese. Parte II. ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRACORONEL FABRICIANO. Livro de Relatórios Geral das Assembleias Diocesanas de 1972/1985. ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRACORONEL FABRICIANO. Ofício 1/2002, enviado pela Diocese de ItabiraCoronel Fabriciano à Secretaria de Assuntos Urbanísticos do Município de Itabira. 2002. ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRACORONEL FABRICIANO. Paróquia Nossa Senhora do Rosário. Itabira do 50 Anos

209 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


Mato Dentro. s. d. Mimeo. ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRACORONEL FABRICIANO. Primeiras palavras do Sr. Bispo na Catedral, 29 dez. 1965. Manuscrito. ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRACORONEL FABRICIANO. Projeto para constituição da Diocese de Itabira. s.d [após 1960]. Mimeo. ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRACORONEL FABRICIANO. Síntese de 1971-1985. Sem data. Rubricado por D. Mário Gurgel. ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA DIOCESE DE ITABIRACORONEL FABRICIANO. Vigésimo aniversário da diocese de Itabira – Coronel Fabriciano.Mimeo. ÁVILA, Otacílio Fernandes. Depoimentos.Mimeo. s.d. Bula de Criação da Diocese de Itabira. Apud: CÚRIA DIOCESANA DE ITABIRA – CORONEL FABRICIANO. Rumo aos 50 Anos. Diocese de Itabira Coronel Fabriciano. 1965-2015. Bens Inventariados no Município de Coronel Fabriciano. Coronel Fabriciano: Secretaria Municipal de Educação e Cultura, 2012. CTCF. Revista de formatura da primeira turma de técnicos do CTCF Padre de Man. Diretoria e Coordenação Pedagógica do CTCF Padre de Man, 1995. CÚRIA DIOCESANA DE ITABIRA – CORONEL FABRICIANO. Rumo aos 50 Anos. Diocese de Itabira Coronel Fabriciano. 1965-2015. Edição Especial Elo Diocesano. Ipatinga: Gálatas Comunicação Católica, 2014.

210 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


DE MAN, José Maria. Os Padres do Trabalho: Plano de Apostolado. Coronel Fabriciano, 1964. DE MAN. Cartas e Documentos pessoais de Padre de Man. Museu do Unileste: Coronel Fabriciano. [entre 1968-1976]. Não publicados. DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Livro da caminhada. Itabira: Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano, 2007. DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. “Editorial”. Gálatas. N. 1. Mar./abr. 2013. DIOCESE DE ITABIRA–CORONEL FABRICIANO. Histórico da Comissão de Justiça e Paz da Diocese de Itabira – Coronel Fabriciano. Mimeo. Sem data. DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO. Pastoral catequética. Diretrizes diocesanas de catequese 2013-2016. DIXON, Robert Charles (“Irmão Bob”, cicm). Síntese manuscrita sobre vida religiosa na Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano, gentilmente cedido pelo autor. 19 dez. 2014. “Itabira inaugura Catedral nos 20 anos da Diocese”. Católico. 6 a 12 jan. 1986. Hino a D. Marcos. Letra: Amarílio Damasceno Reis. Música: Antônio Lisboa Ferreira. Hino composto especialmente para chegada do Bispo, em dezembro de 1965. LIMA, José Carlos Fernandes. Tributo a D. Mário Teixeira Gurgel. Mimeo. Sem data. O Arquidiocesano: órgão oficial da Diocese de Mariana. Mariana, 9 jan. 1966. 50 Anos

211 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


OLIVEIRA, Oscar de. Texto autógrafo. Itabira, Casa Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Saúde, Itabira, set. 1963. (Sob a guarda do Arquivo Eclesiástico da Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano). Revista ICMG, p. 2, fev. 1999. Entrevistas: Entrevista concedida por D. Odilon Guimarães Moreira (bispo emérito) a Júlio César Santos, em 8 jun. 2014, durante a Festa da Diocese , município de Santana do Paraíso. Entrevista de D. Marcos Noronha a Sérgio da Mata em 17 jan. 1995. Projeto integrado: memória e história: visões de Minas. Belo Horizonte. UFMG. Entrevista concedida por Dom Lelis Lara, em 3 de novembro de 2014. Disponível em <http://dioceseitabira.soprodiocesano.com.br/wp-content/ uploads/sites/8/2014/11/Homilia-Dom-Lelis-Lara.pdf>. Acesso em 3 jan. 2015. Entrevista com Dom Lelis Lara, Bispo emérito de Itabira e Coronel Fabriciano. 30 ago. 2012. Disponível em <http://www.santacruzam.com/ igreja/noticia/4494/360> Acesso em 4 jan. 2015. NORONHA, Marcos. “Itabira é a Rua de Ontem”. O Cometa Itabirano. N. 11. Dez. 1980. NORONHA, Marcos (entrevista) Programa de D. Marcos é servir à Igreja. O Diário. 29 ago. 1965. Entrevista concedida à Folha de São Paulo. 25 maio 2007. Entrevista com Dom Lelis Lara, bispo emérito de Itabira e Coronel Fabriciano. 29 ago. 2012. Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora. Disponível em <http://www.paroquiaauxiliadora.com.br/noticias/noticia/125>. Acesso em 3 jan. 2015. 212 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


Entrevista concedida por Nelly Castro de Souza, a Júlio César Santos em 8 jun. 2014, durante a Festa da Diocese, realizada no município de Santana do Paraíso. Entrevista concedida pelo padre Elinei Eustáquio Gomes a Júlio César Santos em 8 jun. 2014, durante a Festa da Diocese, realizada no município de Santana do Paraíso. Entrevista concedida por Maria Aparecida de Oliveira a Júlio César Santos em 8 jun. 2014, durante a Festa da Diocese, realizada no município de Santana do Paraíso. Entrevista concedida padre Sérgio Henrique Gonçalves a Júlio César Santos em 8 jun. 2014, durante a Festa da Diocese, realizada no município de Santana do Paraíso. Entrevista concedida pelo padre Ronaldo Silva Tôrre a Júlio César Santos em 8 jun. 2014, durante a Festa da Diocese, realizada no município de Santana do Paraíso. Entrevista concedida por Márcia Alves Ferreira a Júlio César Santos em 26 jan. 2015, em Itabira. Obras gerais: ALMEIDA, Luciano Mendes de. Comunidades Eclesiais de Base. Folha de São Paulo, 23 jun. 2005. ANDRADE, Carlos Drummond. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002. ANTONIAZZI, Alberto. A fundação da OSIB e suas principais atividades. Disponível em <http://www.osib.org.br/osib-nacional/87-umhistorico-da-osib-e-os-desafios-atuais-da-formacao.html> Acesso em 7 dez. 2014. 50 Anos

213 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


A queda da Catedral, o fim? Diário de Minas. Belo Horizonte, 11 nov. 1970. AZZI, Riolando. A participação da mulher na vida da Igreja do Brasil (1870-1930). In: MARCÍLIO, Maria Luíza. A mulher pobre na história da Igreja latino-americana. São Paulo: Paulinas, 1984. BARBOSA, Waldemar da Cunha. Dicionário Histórico-Geográfico de Minas Gerais. Belo Horizonte, 1971. BASTOS, Elaine Viza. Itabira e a Companhia Vale do Rio Doce: interações e identidade no tempo da modernidade. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais). Belo Horizonte: PUC-MG, 2008. BEOZZO, José Oscar. Padres conciliares brasileiros no Vaticano II: participação e prosopografia (1959-1965). Tese (Doutorado em História). São Paulo: USP, 2001. BEOZZO, José Oscar. Decadência e morte, restauração e multiplicação das ordens e congregações religiosas no Brasil. 1870-1930. In: AZZI, Riolando (org.). A vida religiosa no Brasil: enfoques históricos. São Paulo: Paulinas, 1983. BRITTO, Maura Silveira Gonçalves de. Com luz de ferreiro: práticas de ofício nas minas de ferro escravistas, século XIX. Dissertação (Mestrado em História). Mariana: UFOP, 2011. BRUNEAU, Thomas. O catolicismo brasileiro em época de transição.São Paulo: Loyola, 1974. CALDEIRA, Rodrigo Coppe. Bispos conservadores brasileiros no Concílio Vaticano II (1962-1965): D. Geraldo de Proença Sigaud e D. Antônio de Castro Mayer. Horizonte, Belo Horizonte, v. 9, n. 24, p. 10101029, dez. 2011.

214 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


CALDEIRA, Rodrigo Coppe. Reflexões acerca da continuidade e descontinuidade no Vaticano II: possibilidades de análise. Revista eletrônica: Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção. Jan. 2009. CARRARA, Ângelo. Contribuição à História Agrária de Minas Gerais. Mariana: EdUFOP, 1999. CARVALHO, José Geraldo Vidigal de, cônego. A Igreja e a Escravidão. As Irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Trabalho apresentado no dia da posse no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1988. Mimeo. CERIS – Centro de Estatísticas Religiosas e Investigações Sociais. Censo Anual da Igreja Católica no Brasil – CAIC-Br. Análise sociológica da evolução numérica da presença da Igreja no Brasil 2010. Disponível em <http://www.ceris.org.br/antigo/pdfs/analise_censo_igreja_2011.pdf>. Acesso em 7 dez. 2014. CHACON, Vamireh. A identidade católica em Alceu Amoroso Lima. Síntese Nova Fase. V. 20 N. 63, 589-594, 1993. Cidade do Menor completa 40 anos. Diário do Aço. 9 out. 2011. Disponível em <http://www.diariodoaco.com.br/noticias.aspx?cd=58271>. Acesso em 8 jan. 2015. COSTA, Geraldo M.; COSTA, Heloisa S. M. Novas e velhas diferenças: desafios à gestão metropolitana no Vale do Aço. Disponível em <http:// www.abep.nepo.unicamp.br/docs/anais/pdf/2000/Todos/migt11_2.pdf>. Acesso em 28 out. 2014. COSTA, Iraneidson Santos. Os bispos nordestinos e a criação da CNBB. Interações– Cultura e comunidade, Belo Horizonte, Brasil, V. 9 N. 15, p. 109-143, jan./jun.2014. DE CAUX, Emília. Uma enciclopédia da história. De Fato, Itabira, out.1996. 50 Anos

215 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


ENGRACIA, Julio. Chorografia Mineira. In: Revista do Arquivo Público Mineiro. Ouro Preto, v. 3, 1989. FRANÇA, Jussara. Itabira: um perfil de sua história. In: No Tempo do Mato Dentro. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1988. GENOVEZ, Patrícia Falco; VALADARES, Vagner Bravos. A formação territorial de Coronel Fabriciano (sede) e de Ipatinga (distrito) entre as décadas de 1920 e 1960: afinal, quem são os Estabelecidos e os Outsiders? Revista de História Regional, n. 18, v. 2, p. 363-388, 2013. GONZATTO, Marcelo. Número de padres está em crescimento no Brasil. Zero Hora, 05 abr. 2012. GRACINDO JÚNIOR, Paulo. Religião e Sistemas Sociais: uma análise do panorama religioso mineiro a partir da teoria dos sistemas de NiklasLuhmann. Nures, N. 18, p. 11-38, maio-ago. 2011. GROSSI, Miriam Pillar. Jeito de freira: estudo antropológico sobre a vocação religiosa feminina. Cadernos de Pesquisa, n.73, 48-58, 1990. GUIMARÃES, Alisson Pereira. Itabira: a Cidade e o Minério. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1961 (Tese de Doutorado). JULIA, Dominique. O sacerdote. In: VOVELLE, Michel (dir.). O Homem do Iluminismo. Lisboa: Presença, 1997. LARA, Silvia Hunold. Significados cruzados: um Reinado de congos na Bahia setecentista. In: CUNHA, Maria Clementina Pereira (org). Carnavais e outras frestas: ensaios de história social da cultura. Campinas: Ed. Unicamp; Cecult, 2002. LIBÂNIO, J. B. Plausibilidade do cristianismo histórico nos dias atuais. Horizonte, Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 9-25, 1º sem. 1997.

216 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


LIGÓRIO, Afonso Maria de. Escola de perfeição cristã para seculares e religiosos. Obra completa dos escritos de santo Afonso Maria de Ligório. Petrópolis: Vozes, 1955 [1745]. V. 1. LIMA, Maurílio César de, mons. Breve História da Igreja no Brasil. Rio de Janeiro: Restauro, 2001. LUNA, Luis Henrique de Oliveira e. As Relações entre o Núncio Apostólico no Brasil e o Arcebispo de Olinda e Recife, durante os Primeiros Anos do Regime Militar (1964-1969). Anais da Associação Brasileira de História das Religiões. São Luiz/MA, 2006. MAGALHÃES, Cristiane Maria. Mundos do capital e do trabalho: a construção da paisagem fabril itabirana (1874-1930). Dissertação (Mestrado em História). Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2006. MEGALE, Nilza Botelho. Cento e sete invocações da Virgem Maria no Brasil. História, iconografia, folclore. Petrópolis: Vozes, 1980. MOREIRA, Nathalie de Castro. A cultura organizacional fundadora do Unileste: a matriz cristã e operária. Unileste: cultura organizacional e identidade. Dissertação (Mestrado em Administração): Pedro Leopoldo: Faculdades Integradas de Pedro Leopoldo, 2008. MOURÃO, Gerardo Mello. O bêbado de Deus: vida e milagres de São Geraldo Majella. 2.a ed. São Paulo: Green Forest do Brasil, 2002. NUNES, Maria José Rosado. Vida religiosa nos meios populares. Petrópolis: Vozes, 1985. OLIVEIRA, LeoneciErmelinda Silva Storck de; VIEIRA, Rudson Carlos; GOMES, Suelen Cristine; RESENDE, Fernando Antônio; OLIVEIRA, Dorotéo Émerson Storck de. Na cidade do menor a geografia e a comunicação social como suportes para a constituição do espaço público e a construção do cotidiano. Disponível em <http://www.unilestemg.br/ 50 Anos

217 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


revistaonline/volumes/02/downloads/artigo_02.pdf>. Acesso 8 jan. 2015. PEREIRA, Mabel Salgado. Dom Helvécio Gomes de Oliveira, um salesiano no episcopado: artífice da Neocristandade (1888-1952).Tese (Doutorado em História). Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2010. PINHEIRO, Cleverson F. S. A devoção a são Geraldo Majela em ItabiraMG. Mimeo. s. d. PRESAS, Carolina Soledad. Instituições e desenvolvimento em municípios de base mineira: os casos de Parauapebas-PA e Itabira-MG. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Sustentável). Brasília-DF. Universidade de Brasília. Maio de 2012. PRONKO, Marcela Alejandra. Crônica de um fracasso: Uma história dos projetos de criação de Universidades do Trabalho no Brasil. Educação & Sociedade, n. 66, Abr.1999. RUEDA, Lenira (Coord.) Homens em série: a história de Ipatinga contada por seus próprios personagens. v.1 História de Vida – Ipatinga; v2 História Oral – Ipatinga; v3 Memória Histórica. Prefeitura Municipal de Ipatinga, 1992., v. 2. RUPERT, Arlindo. A Igreja no Brasil. Santa Maria: Pallotti, 1993. V. 4. SAINT-HILAIRE, August de. Jornada de Itabira à Vila do Príncipe. In: Viagem pelas Províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. São Paulo: Itatiaia, 1975. SANTOS, Lyndon de Araújo. O protestantismo no advento da República no Brasil: discursos, estratégias e conflitos. Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH, Ano III, n. 8, Set. 2010.

218 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


SCARANO, Julita. Devoção e escravidão: a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos pretos no Distrito Diamantino no século XVIII. 2º ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1978. SERBIN, Kenneth P. Padres, celibato e conflito social. Uma história da Igreja Católica no Brasil. São Paulo: Cia. Das Letras, 2008. SCHIAVO, Reinaldo Azevedo. Os redentoristas em tempos de aggiornamento: um estudo sobre a pastoral missionária da província do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo entre as décadas de 1960-1980. Dissertação (Mestrado em História).Mariana: Universidade Federal de Ouro Preto, 2011. SCHIAVO, Reinaldo Azevedo. Um novo projeto missionário: objetivos e metodologia das missões redentoristas nas décadas de 1960-70. Anais do Simpósio Modernidade, Instituições e Historiografia Religiosa no Brasil. Ouro Preto, Universidade Federal de Ouro Preto, 2008. TRINDADE, Raimundo, cônego. Instituições de igrejas no bispado de Mariana. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, 1945. TRINDADE, Raimundo, cônego. Arquidiocese de Mariana: subsídios para sua história. 2ª. ed. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1955. Vol. II. 1955. ZACHARIADHES, Grimaldo Carneiro. Que fez São Tomás de Aquino diante de Karl Marx. Lua Nova, n.78, p. 77-108, 2009.

50 Anos

219 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


Sites: A cidade que nasceu junto com a ferrovia. Diário Popular. 19 jan. 2013. Disponível em <http://www.diariopopularmg.com.br/vis_noticia. aspx?id=4285>. Acesso em 26 out. 2014. Carta aberta do Padre José Geraldo de Melo de Itabira, 25 jul. 2011. Disponível em <http://passapalavra.info/2011/07/43104>. Acesso 15 fev. 2015. CASALDÁLIGA, Pedro. Mis insigniasepiscopales. Disponível em <http://www.prelaziasaofelixdoaraguaia.org.br/poesias_pedro.htm>. Acesso em 15 fev. 2015. CONGREGAÇÃO DO SANTÍSSIMO REDENTOR. Disponível em <http://www.redentoristas.com.br/redent_brasil.htm> Acesso em 23 jan. 2015. “Cerca de 300 famílias são despejadas em Itabira (MG)”. Disponível em:<https://pelamoradia.wordpress.com/2011/08/15/cerca-de-300familias-sao-despejadas-em-itabira-mg/>. Acesso em 15 fev. 2015. COSTA, Fúlvio. Desafios da Missão no Amazonas. 25 jul. 2011. Disponível em <http://pom.org.br/index.php?option=com_content&view =article&id=59:desafios-da-missao-no-amazonas&catid=16:nacionais&Ite mid=8>. Acesso em 5 jan. 2015. “Dom Odilon completa nove anos em Itabira”. 31 mar. 2012. Disponível em <http://www.ultimanoticia.com.br/ultimanoticia/ Portugues/detNoticia.php?cod=10766>. Acesso em 6 jan. 2015. “Dom Odilon Guimarães renuncia aos 74 anos”. JVA-Online, 22 fev. 2013. Disponível em <http://www.jvaonline.com.br/ler_noticia. php?id=103087>. Acesso em 3 jan. 2015. 220 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


FREITAS, Luiz Henrique. Congregação Redentorista, 60 anos da Província do Rio. 5 de julho de 2011. Disponível em <http://www.histedbr. fae.unicamp.br/acer_histedbr/seminario/seminario8/_files/J46vMVbP. pdf> Acesso em 23 jan. 2015. GONZAGUINHA. Semente do Amanhã. Disponível em <http://letras. mus.br/gonzaguinha/280650/>. Acesso em 15 fev. 2015. GUBIOTTI, Marco Aurélio. A Igreja nasce de um mandato missionário: ‘Ide e evangelizai’ (Mc 16,15). Disponível em <http://dioceseitabira.org.br/ palavrabispo/>. Acesso em 21 fev. 2015. História Global de Coronel Fabriciano - Uma História em permanente construção/reconstrução. 13 nov. 2013. Disponível em <http:// betosoutoblog.blogspot.com.br/2013/11/historia-global-de-cel-fabriciano. html> Acesso em 26 out. 2014. Igreja também se faz com política. Diário do Aço. 20 nov. 2010. Disponível em <http://www.diariodoaco.com.br/noticias.aspx?cd=50590>. Acesso em 8 jan. 2015. MISSIONÁRIOS REDENTORISTAS. Província de São Paulo. Disponível em <http://www.secretariadovocacional.com.br/ondeestamos. htm> Acesso em 23 jan. 2015. Oito anos de saudades”. Itafatos. 15 set. 2014. Disponível em <http:// www.itafatos.com.br/?p=29455>. Acesso em 6 jan. 2015. Papa Francisco envia Carta e Bênção Apostólica à Diocese de ItabiraCel. Fabriciano. 8 jan. 2015. Disponível em <http://dioceseitabira.org.br/ noticiasdiocese/papa-francisco-envia-carta-e-bencao-apostolica-a-diocesede-itabira-cel-fabriciano/>. Acesso em 12 jan. 2015. “Quase metade das crianças com menos de 6 anos é pobre”. A Notícia, 21 jan. 2014. Disponível em <http://www.jornalanoticia.net/noticia/6651/ 50 Anos

221 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano


Quase-metade-das-criancas-com-menos-de-6-anos-e-pobre.html>. Acesso em 8 jan. 2015. Seminário em Missão. Disponível em <http://dioceseitabira.org.br/ noticiasdiocese/seminario-em-missao/> Acesso em 7 dez. 2014. Disponível em: <http://cineabertocidadesdigitais.blogspot.com. br/2008_09_01_archive.html>. Acesso 26 set. 2014. Disponível em<http://www.saodomingosdoprata.mg.gov.br/upload/ imgOrig/%7BDBDECACD-2A1E-EADB-A241-E06AA82ACC0C%7D. jpg>.Acesso em 26 set. 2014. Disponível em<http://www.vivaitabira.com.br/viva-turismo- lazer/ VisualizaConteudo.php?IdConteudo=172>. Acesso 26 set. 2014. Disponível em<http://3.bp.blogspot.com/_b2XP1-bDvU0/ S N p u c E Y OW 9 I / A A A A A A A A A D Y / 1 G Y 1 G Z w X Yq U / s 3 2 0 / drumond+006.jpg> Acesso em 26 set. 2014. Disponível em<http://outrosolharessobre.blogspot.com.br/2010/04/ o-maior-trem-do-mundo-de-carlos.html> . Acesso em 26 set. 2014. Disponível em<http://www.defatoonline.com.br/noticias/ ultimas/02-09-2012/valor-reconhecido>. Acesso em 2 out. 2014. Disponível em<http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ ult272u62305.shtml>. Acesso em: 20 out. 2014. Disponível em<http://www.marcosnoronha.com.br/clippings/pdfs/ Entrevista%20Marcos%20Noronha.pdf> Acesso em 25 out. 2014. Disponível em<http://www.marcosnoronha.com.br/clippings/pdfs/ Entrevista%20Marcos%20Noronha.pdf> Acesso em 25 out. 2014.

222 | Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano

50 Anos


Disponível em<http://www.rccipatinga.com.br/site/images/mapa. png>. Acesso em 24 out. 2014. Disponível em<http://4.bp.blogspot.com/-XRx7YYNLlAg/ TuXjddGPz1I/AAAAAAAABa4/2zGA7noSJMA/s320/itabira.png> Acesso em 6 jan. 2015. Disponível em<http://dioceseitabira.org.br/noticiasdiocese/anojubilar-diocese-lancara-nova-logomarca-no-fim-do-ano/>. Acesso 6 jan. 2015. Disponível em<http://www.psfipatinga.com.br/igreja/diocese-deitabiracel-fabriciano-celebra-47-anos-de-instituicao>. Acesso em 8 jan. 2015. Disponível em<http://dioceseitabira.org.br/bispos/dom-marcosantonio-noronha/> Acesso 3 jan. 2015. Disponível em<http://www.euamoipatinga.com.br/linha_tempo/ images/3000%20-%20Lateral%20da%203000%20-%20Co-Sede%20 d a % 2 0 Do c e s e % 2 0 - % 2 0 C a t e d r a l % 2 0 d e % 2 0 S % C 3 % A 3 o % 2 0 Sebasti%C3%A3o,%20Coronel%20Fabriciano.JPG>. Acesso em 3 jan. 2015. Disponível em<http://dioceseitabira.org.br/bispos/dom-odilonguimaraes-moreira-2/>. Acesso em 3 jan. 2015. Disponível em<http://iceliasjose.blogspot.com.br/2009/11/icejrealizara-documentario-sobre-vida.html>. Acesso em 4 jan. 2015. Disponível em<http://dioceseitabira.org.br/bispos/dom-lelis-lara-css-r-2/>. Acesso em 3 jan. 2015. Disponível em<http://dioceseitabira.org.br/bispos/dom-marioteixeira-gurgel-sds/>. Acesso em 4 jan. 2015.


Disponível em<http://www.ultimanoticia.com.br/ultimanoticia/ Portugues/detNoticia.php?cod=10766>. Acesso em 4 jan. 2015. Disponível em<https://c2.staticflickr.com/6/5031/7081873153_ e3d6760748_z.jpg>. Acesso 24 out. 2014. Disponível em<http://www.diariopopularmg.com.br/vis_noticia. aspx?id=4285> Acesso em 26 out. 2014. Disponível em<http://www.cnbb.org.br/regionais/leste-2/12198dom-odilon-apresenta-dom-marco-aurelio-gubiotti-novo-bispo-dadiocese-itabira-coronel-fabriciano-mg>. Acesso em 3 jan. 2015. Disponível em<http://dioceseitabira.org.br/palavrabispo/>. Acesso em 4 jan. 2015. Disponível em<http://dioceseitabira.org.br/bispos/dom-lelis-lara-css-r-2/>. Acesso 22 out. 2014. Disponível em<http://www.a12.com/santuario-nacional/noticias/ detalhes/no-santuario-nacional-dom-marco-aurelio-celebra-missa-dejubileu-de-prata> Acesso em 7 fev. 2015. Disponível em<http://dioceseitabira.org.br/noticiasdiocese/novamonja-e-admitida-na-ordem-das-carmelitas-descalcas/> Acesso em 12 jan. 2015. Disponível em<https://www.facebook.com/photo. 073741825.100005648323445&type=1&theater>. Acesso 7 dez. 2014. Disponível em<http://www.flogao.com.br/carismashow2006/ blog/1712876> Acesso 5 jan. 2015. Disponível em<http://www.iparoquia.com/Site.Noticias/modelo1/ index.php?id=4EzM&codNot===gNxQTO>. Acesso em 5 jan. 2015.


Disponível em<http://wwwjustpazitabira.blogspot.com.br/>. Acesso em 9 jan. 2015. Disponível em<http://www.cnbb.org.br/imprensa-1/noticias/947movimento-fe-e-politica-reune-mais-de-3-mil-em-ipatinga-1>. Acesso em 7 jan. 2015. Disponível em<http://plox.com.br/fotos/feepolitica/71.jpg>. Acesso em 7 jan. 2015. Disponível em<http://www.cantareira.org/wp-content/ uploads/2013/03/interna_ed_71.jpg>. Acesso em 8 jan. 2015. Disponível em <http://dioceseitabira.org.br/pastoraisemovimentos/ comissao-de-justica-e-paz/>. Acesso em 9 jan. 2015. Disponível em <http://dioceseitabira.org.br/pastoraisemovimentos/>. Acesso em 8 jan. 2015. Disponível em <http://www.cidadedosmeninos.com.br/fotos_eventos/ foto_0010.JPG>. Acesso em 9 jan. 2015. Disponível em <http://dioceseitabira.org.br/pastoraisemovimentos/ caritas-diocesana/>. Acesso em 9 jan. 2015. Disponível em <http://www.ipascomnet.com/paroquia/inc. download/21112013054000LIVRO_DA_CAMINHADA.PDF>. Acesso em 2 jan. 2015. Disponível em <http://4.bp.blogspot.com/-pGGLN7D7btU/ UouM8ToYNDI/AAAAAAAABBk/4P807B_VfvU/s1600/1426614_5507 40268352658_1831587551_n.jpg>. Acesso em 9 jan. 2015.


Disponível em <http://dioceseitabira.org.br/noticiasdiocese/dommarco-aurelio-avalia-a-caminhada-diocesana-em-2014/>. Acesso em 6 jan. 2014. Disponível em <http://www.xaverianos.org.br/catequese-emfabriciano-mg/>. Acesso em 14 fev. 2015. Disponível em <http://www.ecodebate.com.br/2011/06/21/mgconflito-social-em-itabira-se-acirra/>. Acesso em 14 fev. 2014. Disponível em: <http://static.recantodasletras.com.br/users/2164/ fotos/671694.jpg>.Acesso em 26 set. 2014.





MAIS INFORMAÇÕES SOBRE A OBRA: Cúria Diocesana Diocese de Itabira - Coronel Fabriciano - MG Telefone: (31) 3831-3614 E-mail: diocese@dioceseitabira.org.br decom@dioceseitabira.org.br




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.