Ibmec adm fin de curto prazo

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CURSO ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DE CURTO PRAZO


Barbedo, Claudio B233a

Administração Financeira de Curto Prazo / Claudio Barbedo; Gustavo Araújo - São Paulo: Grupo Ibmec Educacional, 2012. 102p.; 20x26 cm Inclui bibliografia 1. Gestão de Capital de Giro 2. Dimensionamento do Capital de Giro 4. Gestão de Compras, Crédito e Estoque I. Araújo, Gustavo II. Ibmec Online III. Título CDD: 658.15

Grupo Ibmec Educacional 1ª Edição - 2012


Sumário ABERTURA DO CURSO .......................................................................

05

Carta ao aluno .........................................................................................

05

Currículo resumido dos professores-autores ..........................................

06

Introdução................................................................................................

07

Objetivos..................................................................................................

07

Diretrizes Pedagógicas............................................................................

07

MÓDULO 1: Introdução à Gestão de Capital de Giro Unidade 1 - Gestão de Capital de Giro ...................................................

12

Unidade 2 - Principais Relatórios da Empresa ........................................

16

Unidade 3 - Análise das Demonstrações Financeiras.............................

22

Unidade 4 - Análise das Demonstrações Financeiras através dos Índices

28

Resumo ...................................................................................................

38

MÓDULO 2: Dimensionamento do Capital de Giro Unidade 1 - Ciclos Operacional, Econômico e Financeiro ......................

41

Unidade 2 - Necessidade de Capital de Giro ..........................................

49

Unidade 3 - Orçamento de Caixa e Planejamento Financeiro de Curto Prazo .......................................................................................................

56

Unidade 4 - Gestão de Tesouraria ..........................................................

62

Resumo ...................................................................................................

69

MÓDULO 3: Gestão de Compras, Crédito e Estoque Unidade 1 - Políticas de Venda e Concessão de Crédito a Clientes .......

74

Unidade 2 - Gestão de Compras e Estoques ..........................................

83

Unidade 3 - Visão Integrada da Gestão de Curto e Longo Prazo ...........

93

Unidade 4 - Risco de Liquidez.................................................................

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Resumo ...................................................................................................

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 101 Copyright Ibmec


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Abertura do Curso Carta ao aluno Caro(a) aluno(a), Você inicia agora uma jornada para descobrir um dos instrumentos mais caros e complicados de gerenciamento nas empresas. Historicamente, o capital de giro tem sido um dos principais motivos para a alta taxa de empresas mal sucedidas no mercado brasileiro. Segundo pesquisa do SEBRAE, aproximadamente 50% das pequenas e médias empresas que quebram culpam o capital de giro como principal fator responsável. Portanto, entender como este instrumento pode ser gerenciado passou a ser parte integrante da atuação de todo gestor. Esperamos que este curso ajude você a entender melhor os conceitos básicos dos instrumentos que permitem mensurar e promover a base necessária para as operações financeiras da empresa. Lembre-se de aproveitar ao máximo os recursos oferecidos no material didático da disciplina e as interações que terá com seu professor online. Discuta com seus colegas os conceitos tratados em cada módulo e tente conectá-los à sua realidade. Seu engajamento é essencial para o seu sucesso nesta jornada Bons estudos!

Claudio Barbedo e Gustavo Araújo (Professores-autores)

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Currículo resumido dos professores-autores Gustavo Silva Araújo Formado em Engenharia pela PUC-Rio, mestre em Finanças pelo IAG/PUC-Rio e doutor em Economia pela EPGE/FGV. Atua como professor na FGV, PUC-Rio, Ibmec e BMF&BOVESPA. Possui trabalhos publicados em revistas e trabalhos apresentados em vários congressos acadêmicos no Brasil e no exterior. É funcionário do Banco Central do Brasil e um dos autores do livro Mercado de Derivativos no Brasil, da editora Record.

Claudio Henrique da Silveira Barbedo Formado pela Escola Naval, mestre e doutor pela UFRJ – Coppead na área de Finanças. Atua como professor da disciplina de Derivativos na FGV, PUC-MG, Ibmec, COPPEAD e várias entidades de classe, como Funenseg, IDEAS e ANBIMA. Possui trabalhos publicados em revistas e apresentados em vários congressos acadêmicos no Brasil e no exterior. É funcionário do Banco Central do Brasil e professor adjunto do Ibmec. Autor dos livros Mercado de Derivativos no Brasil, da editora Record, e Finanças Comportamentais, da editora Atlas.

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Introdução Administrar é o processo de tomar decisões e realizar ações que utilizam recursos para atingir objetivos. Embora seja importante em qualquer contexto de aplicação de recursos, até mesmo para nosso patrimônio, a principal razão para o estudo da administração é seu impacto sobre o desempenho das organizações. Nesse sentido, surge a administração Financeira, que se concentra na tarefa de administrar recursos financeiros. A administração de recursos de curto prazo compreende uma tarefa de extrema importância para a empresa. A grande maioria dos insucessos empresariais está associada à falta da habilidade gerencial de seus administradores neste campo. Estas empresas nascem normalmente de excelentes ideias de negócios, proposta por empresários que conhecem profundamente a função técnica a ser exercida, mas sem a noção adequada sobre o planejamento de curto prazo da parte financeira da empresa. A administração financeira de curto prazo é hoje uma das mais importantes ferramentas de gestão para garantir a sobrevivência da empresa.

Objetivos Após concluir o estudo da disciplina de Administração Financeira de Curto Prazo, você será capaz de: • Avaliar e aplicar procedimentos financeiros e contábeis de controle de curto prazo. • Conhecer índices e políticas para o ajuste e projeção dos resultados de curto prazo da empresa. • Conhecer as técnicas financeiras de gestão de compras e estoque e analisar as melhores formas de sua aplicação em cada situação. • Desenvolver uma visão integrada de gestão de ativos e passivos operacionais de curto prazo. • Atuar de forma estratégica no planejamento e desenvolvimento de recursos de curto prazo.

Diretrizes Pedagógicas Tenha sempre em mente que você é o principal agente de sua aprendizagem! Para um estudo eficaz, siga estas dicas: • Organize o seu tempo e escolha os melhores dias e horários para você estudar. • Consulte a bibliografia, o glossário e o material de apoio caso tenha alguma dúvida. • Releia o conteúdo sempre que achar necessário. • Leia as indicações de textos complementares e participe dos fóruns com o seu professor e colegas de turma. Copyright Ibmec

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MÓDULO 1 Introdução à Gestão de Capital de Giro

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Introdução Para compreendermos a estruturação da gestão de curto prazo de uma empresa, precisamos avaliar os instrumentos contábeis e financeiros disponíveis. Por isso, temos que conhecer os relatórios contábeis que fazem parte dos sistemas de informação contábil da empresa. Os relatórios financeiros são construídos através do ajuste de dados contábeis, de maneira a fornecer informações que são úteis para atrair capital e para monitorar e avaliar o desempenho gerencial. Após conceituar o que é a gestão do capital de giro, este módulo dará destaque à sua identificação nos relatórios contábeis e financeiros da empresa. O módulo apresenta, ainda, as principais métricas que envolvem este instrumento e os demais componentes que compõem os bens, direitos e obrigações da empresa.

Objetivos Ao completar este módulo de estudo, você estará apto a: • Definir capital de giro. • Identificar o capital de curto prazo nos demonstrativos contábeis. • Conhecer as métricas de capital de giro. • Entender como comparar o capital de giro entre empresas e setores.

Estrutura do Módulo Para melhor compreensão das questões que envolvem o capital de giro, este módulo está dividido em: Unidade 1: Gestão de Capital de Giro Unidade 2: Principais Relatórios da Empresa Unidade 3: Análise das Demonstrações Financeiras Unidade 4: Análise das Demonstrações Financeiras Através dos Índices

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Unidade 1 - Gestão de Capital de Giro A gestão do capital de giro compreende um processo de tomada de decisões voltadas para preservar a liquidez da empresa. Estas decisões envolvem basicamente compra e venda de ativos, além de atividades operacionais e financeiras decorrentes, como política de estocagem, reposição de estoques, produção, entrega de mercadorias e prazo de recebimento. A liquidez da empresa é definida por Hoji (2001, p.27) como “a capacidade de pagar compromissos de curto prazo”. Em sentido amplo, a liquidez é relacionada com as disponibilidades somadas aos direitos e bens realizáveis no curto prazo. Em sentido restrito, a liquidez é relacionada somente com as disponibilidades. A gerência do capital de giro abrange duas questões principais: 1. Quanto deveria ser investido nas contas do ativo circulante? 2. Como estes investimentos deveriam ser financiados?

As respostas implicam o entendimento das contas do caixa, das contas a receber, dos estoques e, para a segunda questão, do passivo circulante. Por esta razão, o capital de giro é conhecido também como capital circulante, e o capital de giro líquido é conhecido como capital circulante líquido. O maior problema no gerenciamento de capital de giro é a sincronização temporal entre os seus elementos constitutivos. Para a empresa produzir, são necessários recursos financeiros até que o produto da venda seja efetivamente recebido, salvo nos casos excepcionais de clientes que pagam adiantado. Com isso, em função da não sincronização entre produção, vendas e cobrança ou recebimento, surge a necessidade do gerenciamento de capital de giro.

Fatores determinantes, fontes e riscos do capital de giro O capital de giro está diretamente associado a outras fontes de recursos da empresa. Por exemplo, uma diminuição no capital de giro pode significar uma diminuição de empréstimos de curto prazo e uma redução de despesas com juros, o que permitiria à empresa usar os recursos adicionais disponíveis em novos investimentos. As empresas procuram vantagens competitivas, e cada real economizado no capital de giro pode contribuir para uma melhor rentabilidade do investimento. A determinação do capital de giro envolve:

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• Estoques – definir o aumento ou a redução de volumes. • Contas a Receber – definir o volume de vendas à vista e a prazo, e expandir ou reduzir prazos de recebimentos. • Caixa – definir um montante mínimo para manutenção do dia a dia das contas. As principais fontes de capital de giro são: • capital próprio; • empréstimos/financiamentos de curto e de longo prazo; • descontos de duplicatas e cheques; • crédito direto junto a fornecedores; • adiantamento de clientes; • lucros retidos da empresa. Considere a empresa com as contas abaixo: Aplicação dos recursos

Origem dos recursos

Caixa 500

Fornecedores 4.500

Bancos 2.500

Empréstimo Bancário 8.000

Contas a Receber 4.000

Folha de Pagamento 2.000

Estoques 6.000

Impostos a Recolher 500

Imobilizado 10.000

Capital Próprio 5.000 Lucros Acumulados 3.000

Total 23.000

Total 23.000

O capital de giro da empresa é de R$13.000,00 (caixa, bancos, contas a receber e estoques) e as origens se dividem em financeiras (empréstimo bancário), operacionais (fornecedores) e recursos próprios (capital próprio e lucros acumulados). Quando estamos lidando com o aspecto de liquidez, o ideal é que a diferença entre o ativo e o passivo circulante seja positiva. Um Capital Circulante Líquido (CCL) igual a zero submete a estrutura financeira da empresa a certo grau de risco. Por outro lado, um CCL negativo submete a empresa a um grau de risco elevado e diretamente proporcional à magnitude desta insuficiência. Portanto, o gerenciamento do capital de giro é um componente vital para a saúde da empresa e para o crescimento e continuidade das operações.

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O capital de giro está sujeito a diversos riscos, tais como: recebíveis, gerenciamento de estoques, gerenciamento da tesouraria e política de cobranças Cada um desses riscos apresenta desafios relacionados ao alcance da obtenção do processo mais eficiente para a manutenção da qualidade do capital de giro no balanço patrimonial.

Finalidades do monitoramento do fluxo de caixa Uma das finalidades da gestão do caixa é manter um saldo de caixa adequado às atividades da empresa, em função da incerteza associada aos fluxos de recebimentos e pagamentos. Se supusermos que os fluxos são 100% realizáveis nas datas previstas e há casamento de prazos entre ativo e passivo, não há a necessidade de se manter um saldo de caixa. Segundo Horne (1975), podemos definir: “(...) três motivos para manutenção de caixa: transação, precaução e especulação. O primeiro motivo envolve a necessidade de recursos monetários para a realização de pagamentos exigidos pelo andamento normal das operações da firma. Estes pagamentos incluem, entre outros: compras, salários, impostos e dividendos. O motivo precaução relaciona-se com a manutenção de margens de segurança contra exigências financeiras imprevistas. Quanto maior for a possibilidade de previsão dos fluxos de caixa da empresa, menores serão os fundos exigidos por esse motivo. A capacidade de obter empréstimos rapidamente também reduz os fundos retidos para fins de precaução. É importante assinalar que nem todos os saldos de caixa para fins de transação e precaução em uma firma assumem obrigatoriamente a forma monetária, na verdade, parte poderá ser conservada em títulos prontamente negociáveis, ou seja, em quase moeda.”

A especulação visa dar flexibilidade para a empresa tomar decisões em negócios que lhe favoreçam. Gitman (2001) apresenta os seguintes motivos para manter saldos de caixa: • Transação – tem por objetivo manter saldo de caixa para fazer pagamentos planejados. • Segurança – visa proteger a empresa contra a possibilidade de não ser capaz de satisfazer demandas inesperadas por caixa. • Especulação – objetiva habilitar a empresa a tirar vantagem rapidamente de oportunidades que possam aparecer.

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Observa-se, então, que o monitoramento dos fluxos de caixa é um ponto importante para a administração do capital de giro. Com a finalidade de dominarmos as ferramentas relacionadas às técnicas de gerenciamento, iremos estudar, nas próximas seções, as informações apresentadas nos demonstrativos financeiros, os índices de avaliação decorrentes destes demonstrativos e os ciclos operacional, econômico e financeiro da empresa.

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Unidade 2 - Principais Relatórios da Empresa Os relatórios contábeis fazem parte da informação contábil da empresa que tem como objetivo fornecer dados para as pessoas de dentro e de fora da empresa. A contabilidade financeira é responsável por tornar estes dados mais evidentes, de maneira a fornecer informações que são úteis para atrair capital e para monitorar e avaliar o desempenho gerencial. Nesta seção, iremos examinar os dois principais relatórios da empresa, balanço patrimonial e a demonstração do resultado, focando no aspecto financeiro da informação. Estes relatórios são a fonte básica de informações para a tomada de decisões na empresa. Por isso, examinaremos sucintamente tais demonstrativos e indicaremos suas características mais relevantes.

Balanço patrimonial O balanço patrimonial é uma “fotografia” da empresa em uma determinada data. É uma padronização das informações da empresa em bens e direitos (ativos) e obrigações (passivos ou exigíveis). A diferença entre os ativos e passivos é o que denominamos de patrimônio líquido, capital dos acionistas ou capital próprio. Por isso, a equação do balanço (ou identidade do balanço) é dada por:

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O conceito de liquidez refere-se à velocidade e facilidade com a qual um ativo pode ser convertido em dinheiro. Por exemplo, recursos em um banco são um ativo líquido; uma obra de arte, não. A liquidez de um ativo possui duas dimensões antagônicas: facilidade de conversão versus perda de valor. Quanto mais rapidamente o ativo é convertido em caixa, mais ele perde valor.

Ativos de alta liquidez são os que podem ser vendidos rapidamente sem perda significativa de valor. Ativos ilíquidos não podem ser convertidos em caixa rapidamente sem que haja redução substancial do preço.

Os ativos e os passivos são divididos em contas. As principais contas são: ativo circulante e não circulante (antigo ativo permanente e ativo realizável a longo prazo), e passivo circulante e não circulante (antigo exigível em longo prazo).

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O balanço patrimonial , suas subdivisões e suas principais contas BALANÇO PATRIMONIAL Ativo Circulante

Passivo Circulante

• Disponibilidades

• Obrigações com fornecedores

• Contas a receber

• Obrigações financeiras

• Impostos a recuperar

• Obrigações fiscais

• Estoques

• Obrigações trabalhistas

• Despesas do exercício seguinte

• Provisões

Ativo não Circulante

Passivo não Circulante

• Realizável em longo prazo

• (Exigível em Longo Prazo)

• Contas a receber

• Obrigações com fornecedores

• Intangível

• Financiamentos bancários

• Investimentos

• Outras obrigações

• Imobilizado Patrimônio Líquido • Capital Social • Reservas • Lucros ou prejuízos acumulados

Demonstração do resultado A demonstração do resultado do exercício (DRE) mede o desempenho da empresa ao longo de um determinado período, geralmente um ano. É o resumo das operações realizadas pela empresa, durante o exercício social, elaborado de forma a destacar o resultado líquido do período. A equação básica da demonstração de resultados é:

Lucro = Receitas – Despesas

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As receitas são indicadores de benefícios econômicos gerados pela venda de produtos ou pelo fornecimento de serviços por um período de tempo. As despesas são indicadores de sacrifícios econômicos com a finalidade de obter “ganho” de receitas de um determinado período. Como exemplos de despesas, temos o custo do estoque vendido, salários dos funcionários, aluguel, luz e propaganda. A interligação da demonstração do resultado com o balanço é realizada de acordo com a figura abaixo:

A figura mostra que, após apurado, o lucro ou prejuízo do período irá compor a conta de patrimônio da empresa. O modelo básico de DRE apresenta as seguintes divisões:

DRE Receita Operacional • Custos Operacionais Lucro Operacional • Despesas Financeiras • Depreciação e Amortização Lucro Tributável • Imposto de renda Lucro Líquido

Depreciação, amortização e exaustão A depreciação é o processo contábil pelo qual se reconhece, gradativamente, a perda de utilidade do ativo imobilizado. Ela independe da influência administrativa e visa atender às exigências do Copyright Ibmec

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Fisco quanto à dedução do imposto sobre a renda das empresas em percentuais fixados. Não há saída efetiva de caixa. O motivo da depreciação de um bem é o uso, passagem do tempo ou obsolescência. A Receita Federal estabelece os critérios e os métodos aceitos para seu cálculo, que são: depreciação linear, depreciação acelerada e depreciação acelerada incentivada. A amortização consiste no reconhecimento da perda de valor de bens intangíveis. Além da depreciação e da amortização, outro método para se reconhecer a perda de valor de um ativo é a exaustão. A exaustão corresponde à perda do valor, decorrente da exploração de direitos cujo objeto seja recursos minerais ou florestais, ou bens aplicados nessa exploração. Os cálculos da depreciação, exaustão e amortização são semelhantes. Considere o exemplo a seguir para a empresa ABC, que adquire uma pedreira para exploração. Preço pago pela empresa ABC por uma pedreira

R$25.000

Valor estimado do terreno por ocasião da compra

R$5.000

Prazo estimado para o esgotamento total da pedreira, considerando a produção (extração) que será realizada

= 5 anos

Exaustão Anual = (25.000 – 5.000)/5

= R$4.000

O lucro líquido pode ser retido ou distribuído a sócios ou acionistas. No caso de empresa com capital aberto, pode-se apurar o lucro por ação (lucro líquido dividido pelo total de ações) e o dividendo por ação (dividendo distribuído dividido pelo total de ações). O exemplo a seguir apresenta uma empresa de capital aberto que retém parte dos lucros. A empresa Contando S.A. tem vendas de R$550.000, custo de R$390.000, despesa de depreciação de R$40.000, despesas de juros de R$10.000 e alíquota de impostos e contribuições de 34%. A empresa pretende distribuir 25% do lucro como dividendo aos acionistas. Na tabela a seguir, calculamos o lucro líquido da empresa.

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Vendas

550.000

Custo da mercadoria vendida

390.000

Depreciação

40.000

Lucro Antes de Juros e Impostos (LAJIR)

120.000

Despesas de Juros

10.000

Lucro Tributável

110.000

Impostos e Contribuições

37.400 Copyright Ibmec


Lucro Líquido

72.600

Dividendos

18.150

Lucros retidos

54.450

a. Qual é o acréscimo na conta lucros retidos? Resposta: R$54.450. b. Suponha que a empresa possua 100.000 ações ordinárias disponíveis. Qual é o lucro por ação e o dividendo por ação? Resposta: LPA = 72600/100000 = 7,26 e DPA = 18150/100000 = 1,815

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Unidade 3 - Análise das Demonstrações Financeiras A análise das demonstrações financeiras é um relevante instrumento de auxílio para a tomada de decisão, uma vez que o seu objetivo é transformar dados financeiros em informações de cunho gerencial. Portanto, as demonstrações financeiras, quando analisadas, são importantes insumos para o processo decisório, sobretudo quando: a. Se objetiva comparar os resultados de empresas de um mesmo setor. b. Se selecionam empresas visando à realização de investimentos. c. O analista está identificando as principais ações e estratégias implementadas pela concorrência. d. O analista está procurando identificar os riscos de créditos de clientes ou de fornecedores.

A ideia por trás da análise das demonstrações é tornar a informação relativa, de maneira a compreendermos a escala do número que estamos verificando no demonstrativo contábil.

A análise das demonstrações contábeis é um instrumento que possibilita conhecer melhor a evolução dos negócios na empresa e avaliar a estratégia adotada pela alta administração.

O objetivo da análise das demonstrações contábeis consiste em extrair informações compreensíveis para a tomada de decisões, mediante o emprego de técnicas específicas e do próprio sentimento do analista. A tarefa do analista inicia onde termina a atividade do contador. A análise é o processo de transformação de dados em informações. Dados são números ou descrições de objetos ou eventos que, isoladamente, não indicam nenhuma informação. Informações representam uma comunicação que pode produzir reação ou decisão. O processo de tomada de decisão, assim como a análise das demonstrações contábeis, seguem os passos abaixo: a. Estimação dos índices das demonstrações contábeis. Por exemplo, podemos compor um índice formado por uma conta do demonstrativo de resultados dividida por uma conta do balanço patrrimonial.

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b. Comparação dos índices calculados com índices considerados padrão. Este índice pode ser comparado com o mesmo índice da empresa líder do setor. c. Ponderação das informações. Devem-se considerar as diferenças de estratégias de negócios das empresas e das características envolvendo o produto final, fornecedores e compradores. d. Tomada de decisão. A partir desta análise inicial, a empresa pode, por exemplo, tomar uma decisão de expandir suas vendas ou diminuir sua margem de lucro.

Interpretação de resultados dos relatórios Nesta seção, vamos aprender a interpretar os resultados dos relatórios através da padronização das demonstrações financeiras, dos índices financeiros importantes e dos fatores determinantes da lucratividade da empresa.

1. Demonstrações Financeiras Padronizadas 1.1 Definição As demonstrações padronizadas refletem o valor das contas de balanço patrimonial como porcentagens do ativo e as contas das demonstrações de resultados como porcentagens das vendas ou de valores de anos anteriores. É o tipo mais básico de análise de uma empresa e permite a comparação dos valores obtidos em determinado período com aqueles levantados em períodos anteriores e o relacionamento desses valores com outros afins.

1.2 Balanço patrimonial de tamanho comum Considere os balanços patrimoniais de 2009 e 2010 da ABC Empreendimentos:

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ATIVO

2009

2010

PASSIVO

2009

2010

CIRCULANTE

142,00

184,00

CIRCULANTE

42,00

78,00

Disponibilidades

28,00

30,00

Fornecedores

9,00

12,00

Contas a receber de clientes

45,00

59,00

Contas a pagar

33,00

66,00

62,00

87,00

NÃO CIRCULANTE

136,00

173,00

7,00

8,00

PATRIMÔNIO

115,00

116,00

Capital social

60,00

60,00

Reservas

55,00

56,00

TOTAL

293,00

367,00

Estoques Outros créditos

LÍQUIDO

151,00

NÃO CIRCULANTE

183,00

293,00

TOTAL

367,00

1.2.1 Análise vertical Inicialmente, falaremos sobre a análise vertical, que é um processo de comparação que relaciona uma conta com um valor identificado no demonstrativo. Desta forma, dispondo-se dos valores na forma vertical, pode-se apurar facilmente a participação relativa de cada item contábil no ativo, no passivo ou na demonstração de resultados. Desta forma, podemos verificar a importância das contas de curto prazo no total da empresa. No balanço patrimonial, o valor na coluna AV é encontrado pela divisão do valor da conta pelo valor total do ativo. Desta forma temos: ATIVO

2009

AV

2010

AV

PASSIVO

2009

AV

2010

AV

CIRCULANTE

142,00

48%

184,00

50%

CIRCULANTE

42,00

14%

78,00

21%

Disponibilidades

28,00

10%

30,00

8%

Fornecedores

9,00

3%

12,00

3%

Contas a receber de

45,00

15%

16%

Contas a

33,00

11%

66,00

18%

136,00

46%

173,00

47%

115,00

39%

116,00

32%

Capital social

60,00

20%

60,00

16%

Reservas

55,00

19%

56,00

15%

TOTAL

293,00

100%

367,00

100%

clientes Estoques

Outros créditos NÃO CIRCULANTE

TOTAL DO ATIVO

24

62,00

7,00

151,00

293,00

21%

2%

51%

100%

59,00

87,00

8,00 183,00

367,00

pagar 24%

NÃO CIRCULANTE

2%

PATRIMÔNIO LÍQUIDO

50%

100%

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De acordo com esta análise, percebemos que os valores dos ativos de curto prazo são aproximadamente iguais aos de longo prazo, sendo que boa parte é de contas a receber e estoque. Isto pode ter colaborado para a redução percentual do ativo não circulante de 2009 a 2010. A empresa pode estar perdendo a capacidade de reinvestimento. Pelo lado do passivo, nota-se que o volume de dívida da empresa é maior que os recursos próprios. Porém, boa parte disso está concentrada em dívidas de longo prazo. A empresa captou novos recursos de terceiros em 2010 e, com isso, diluiu a participação do capital próprio de 39% para 32%. 1.2.2 Análise horizontal A análise horizontal é a comparação que se faz entre os valores de uma mesma conta em diferentes exercícios sociais. É basicamente um processo de análise temporal desenvolvido por meio de índices que refletem a mudança percentual do valor da conta em relação ao período anterior. ATIVO

2009

2010

AH

PASSIVO

2009

2010

AH

CIRCULANTE

142,00 184,00

30%

CIRCULANTE

42,00

78,00

86%

Disponibilidades

28,00

30,00

7%

Fornecedores

9,00

12,00

33%

Contas a receber de clientes

45,00

59,00

31%

Contas a pagar

33,00

66,00

100%

62,00

87,00

40%

NÃO CIRCULANTE

136,00

173,00

27%

7,00

8,00

14%

PATRIMÔNIO LÍQUIDO

115,00

116,00

1%

151,00

183,00

21%

Capital social

60,00

60,00

0%

Reservas

55,00

56,00

2%

TOTAL

293,00

367,00

25%

Estoques Outros créditos NÃO CIRCULANTE

TOTAL

293,00 367,00

25%

A análise horizontal chama atenção para variações das contas. Percebe-se, neste exemplo, um aumento significativo da dívida da empresa de um ano para outro. Em especial, de 100% no volume de contas a pagar. Do lado do ativo, verifica-se um aumento de contas a receber de curto e longo prazo, bem acima do percentual de crescimento do ativo. Isto pode significar que a empresa está com dificuldades de recebimento ou de vendas, devido ao aumento dos estoques.

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1.3. Demonstrativo de resultado de tamanho comum Assim como no balanço patrimonial de tamanho comum, o demonstrativo de resultado nesta análise reflete o valor das contas como porcentagens das vendas. Inicialmente, apresentamos a análise vertical do demonstrativo de resultado de 2009 e 2010 da ABC Empreendimentos. DRE

2009

AV

2010

AV

Vendas

693,00

100%

800,00

100%

Custo da mercadoria vendida

523,00

75%

630,00

79%

Depreciação

70,00

10%

80,00

10%

Lucro Antes de Juros e Impostos (LAJIR)

100,00

14%

90,00

11%

Despesa de juros

15,00

2%

17,00

2%

Lucro tributável

85,00

12%

73,00

9%

Impostos e contribuições

28,90

4%

24,82

3%

Lucro líquido

56,10

8%

48,18

6%

A análise vertical permite a percepção do aumento do custo da mercadoria vendida de 75% para 79% das vendas, o que provavelmente impactou o lucro antes de juros e impostos. Este lucro caiu de 14% para 11%, e o lucro líquido foi reduzido para 6% das vendas. Além disso, este relatório nos passa a percepção do que ocorre com cada real de receita de vendas. Por exemplo, em 2010, de cada um real de vendas, setenta e nove centavos foram para cobrir o custo da mercadoria vendida e apenas cinco centavos para juros e impostos (dois centavos para juros e três para impostos). Você diria que a despesa de juros desta empresa é alta ou que o pagamento de impostos é significativo? Com base nesta demonstração, as respostas a estas questões ficam mais claras. A tabela a seguir apresenta a análise horizontal para a Demonstração do Resultado. DRE

26

2009

2010

AH

Vendas

693,00

800,00

15%

Custo da mercadoria vendida

523,00

630,00

20%

Depreciação

70,00

80,00

14%

Lucro Antes de Juros e Impostos (LAJIR)

100,00

90,00

-10%

Despesa de juros

15,00

17,00

13%

Lucro tributável

85,00

73,00

-14%

Impostos e contribuições

28,90

24,82

-14%

Lucro líquido

56,10

48,18

-14%

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A análise horizontal confirma a redução de todos os lucros parciais e do lucro líquido, explicado pelo maior crescimento do custo de mercadoria vendida em relação ao volume de vendas. Notadamente, há uma parcela do aumento nas vendas que não é transferida para o lucro líquido da empresa. Isto pode ser explicado parte pelo aumento do custo de mercadoria e parte pelo aumento da depreciação. Outra maneira de avaliar uma empresa e possibilitar a comparação de empresas de características diferentes é através de índices financeiros. Esses índices consistem em ferramentas de investigação das relações entre diferentes informações financeiras.

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Unidade 4 - Análise das Demonstrações Financeiras Através dos Índices Como explicado anteriormente, a análise das demonstrações financeiras é um relevante instrumento de auxílio para a tomada de decisão. Os índices financeiros permitem a comparação entre as contas do balanço patrimonial e as contas de resultados. Existe um número relativamente grande de índices financeiros individuais. Usualmente, costuma-se agrupá-los em categorias principais. Groppelli e Nikbakht (2002) agrupam os principais índices em cinco categorias: • índices de liquidez; • índices de atividades; • índices de endividamento; • índices de rentabilidade; • índices de mercado de ações. Além dessas, vamos apresentar outra categoria importante para a avaliação da situação financeira da empresa: • índices de alavancagem.

Índices de liquidez Os índices de liquidez, em sua essência, medem o grau de solvência da empresa no curto prazo, isto é, a capacidade que esta tem de pagar o que deve, quando se compara contas de liquidação imediata. Os índices de liquidez mais conhecidos e utilizados são:

1. Capital circulante líquido ou capital de giro líquido (CCL ou CGL) O capital circulante líquido de uma empresa é calculado através da diferença entre o ativo circulante e passivo circulante. Quando o valor do ativo circulante supera o do passivo circulante, significa que a empresa possui CGL positivo. Nessa situação, o CGL representa a parcela dos ativos circulantes da empresa financiada com recursos em longo prazo (soma do passivo não circulante com patrimônio líquido), os quais excedem as necessidades de financiamento dos ativos permanentes.

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Quando o valor do ativo circulante é menor que o do passivo circulante, a empresa possui CGL negativo. Nessa situação, o CGL é a parcela dos ativos permanentes da empresa que está sendo financiada com passivos circulantes, ou seja, com capitais de curto prazo. Isto denota um quadro de risco. De forma geral, a maior parte das empresas não concilia com precisão as entradas e saídas de caixa. Por isso, a gestão é feita de modo que os ativos circulantes excedam os passivos circulantes. Isto porque se entende que, quanto maior for o CGL de uma empresa, menor será o seu risco de curto prazo, pois sua liquidez reduz a probabilidade de que ela se torne tecnicamente insolvente. Tal premissa, entretanto, pode não ser completamente correta, dado que um CGL muito alto significa que expressivos fundos de longo prazo estão financiando parte dos ativos circulantes. Como os custos desses fundos são, em geral, mais elevados que os de curto prazo, a empresa poderá vir a enfrentar problemas financeiros.

2. Índice de liquidez corrente (ILC) O índice de liquidez corrente é a razão entre o ativo circulante e o passivo circulante. Como esse índice considera todos os valores do ativo circulante, não há diferenciação sobre a qualidade dos componentes. Isso significa que o índice atribui aos estoques a mesma liquidez de disponibilidades (caixa, bancos e aplicações financeiras de curto prazo). Esta premissa pode não ser verdadeira, pois há casos em que os estoques não podem ser prontamente transformados em dinheiro. A unidade menos o inverso do ILC da empresa é a percentagem pela qual o ativo circulante pode ser diminuído, sem tornar impossível para a empresa cobrir seu passivo circulante.

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Por exemplo:

3. Índice de liquidez seca (ILS) O índice de liquidez seca é semelhante ao índice de liquidez corrente, com a única diferença que os estoques são excluídos dos ativos circulantes da empresa. A suposição básica do índice de liquidez seca é que os estoques geralmente constituem o ativo circulante menos líquido e, portanto, não devem ser considerados.

ILS = (ATIVO CIRCULANTE – ESTOQUES)/PASSIVO CIRCULANTE

Como acontece com outros índices de liquidez, o valor ideal desse índice depende do setor em que a empresa atua e de suas características operacionais. Por exemplo: uma empresa com forte sazonalidade em suas vendas terá um índice de liquidez seca baixo no período em que precisa carregar altos volumes de estoques, sem que isso represente um sinal de ameaça para seu quadro financeiro.

4. Índice de liquidez geral (ILG) É a solidez financeira da empresa em longo prazo, considerando tudo o que a empresa converterá em dinheiro (em curto e longo prazos) e relacionando com tudo o que a empresa já assumiu como obrigações ou dívida (em curto e longo prazos).

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ILG = (Ativo Circulante + Ativo Realizável em Longo Prazo) / (Passivo Circulante + Passivo não Circulante).

5. Participação das disponibilidades (PD) Indica a representatividade das disponibilidades financeiras (caixa, bancos, aplicações financeiras de curto prazo) na estrutura do capital de giro. O valor ideal desse índice depende do setor em que a empresa atua e de suas características operacionais. Por exemplo, em empresas que recebem os valores de suas vendas antes do pagamento de suas compras, a exemplo do setor varejista, esse índice tende a ser elevado.

PD = Disponibilidades/Ativo Circulante

6. Participação das contas a receber (PCR) Denota a participação da carteira de contas a receber da empresa sobre o total do capital de giro. Quando é muito alto, pode significar que a empresa está adotando uma política agressiva de concessão de crédito ou que ela enfrenta problemas de altos índices de inadimplência por parte dos clientes.

PCR = Contas a Receber/Ativo Circulante

7. Participação dos estoques (PE) Representa o peso dos estoques em relação ao capital de giro. Um índice elevado pode significar excessivo investimento em estoques, o que pode acarretar problemas no capital de giro.

PE = Estoques/Ativo Circulante

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8. Índice de financiamento (IF) Representa o percentual do capital de giro que está suportado por empréstimos bancários e financiamentos. Um índice baixo pode indicar que a empresa utiliza financiamento dos fornecedores em lugar de linhas de crédito bancário. Também pode refletir uso normal de financiamento de fornecedores, ao lado de uma boa situação de caixa que lhe permite dispensar os financiamentos bancários.

IF = (Empréstimos + Financiamentos + Encargos Fin.)/Ativo Circulante

8.1 Índices de atividades Os índices de atividades refletem a rapidez com que a empresa pode transformar os seus estoques e as suas contas a receber em caixa ou ainda a rapidez com que a empresa paga aos seus fornecedores (contas a pagar). a. Giro de contas a receber = vendas/ contas a receber. b. Giro do estoque = CMV/Estoque médio, onde o estoque médio é definido pela média entre a conta estoque de dois anos sucessivos. c. Giro de contas a pagar = compras/ fornecedor.

8.2 Índices de dívida da empresa Os índices de dívida da empresa visam fornecer uma posição sobre o montante de capital de terceiros em relação às contas da empresa. Gitman (2004) esclarece que “a posição de endividamento da empresa indica o montante do dinheiro de terceiros que está sendo usado, na tentativa de gerar lucros”. a. Índice de endividamento (IE) Este índice indica, em termos percentuais, a relação existente entre os capitais de terceiros e os ativos totais da empresa. Em outras palavras, fornece a percentagem em que os ativos totais são financiados por capital de terceiros.

IE = Exigível Total / Ativo Total

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b. Índice de participação de capital de terceiros (IPCT) Gitman (2004) afirma que “este índice indica a relação entre os recursos em longo prazo fornecidos por credores e os recursos fornecidos pelos proprietários da empresa”.

IPCT = Exigível em Longo Prazo / Patrimônio Líquido

c. Índice de cobertura de juros (ICJ) Objetiva detectar a capacidade de a empresa honrar seus encargos financeiros anuais. Assim, este índice mede quantas vezes o lucro operacional (LAJIR) é capaz de cobrir o pagamento dos juros.

ICJ = Lucro operacional (LAJIR) / Despesa Anual de Juros

8.3 Índices de rentabilidade Estes índices estão associados ao retorno gerado pelo emprego dos ativos da empresa. a. Margem de lucro bruto (MLB) O índice mostra a eficiência da administração no que diz respeito à utilização de materiais e mão de obra no processo de produção.

MLB = (VENDAS – CUSTOS DOS PRODUTOS VENDIDOS) / VENDAS

b. Margem de lucro operacional (MO) ou margem de atividade A margem de atividade revela a intensidade do sucesso da administração da empresa ao gerar o seu lucro da atividade principal.

MO = LAJIR (Lucro operacional) / Vendas

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c. Margem de lucro líquido A margem de lucro líquido é aquela gerada por todas as fases de um negócio e indica o quanto de lucro líquido é gerado para cada R$ 1,00 de vendas.

Margem de Lucro Líquido = Lucro Líquido (LL) / Vendas

d. Retorno sobre o patrimônio líquido (ROE – Return on Equity) O índice de retorno sobre o patrimônio líquido interessa, especialmente, aos analistas de mercado de capitais, bem como aos acionistas, pois consiste numa forma de avaliar a rentabilidade e a taxa de retorno da empresa.

Retorno sobre o PL (ROE) = LL / PL

e. Retorno sobre o ativo total (ROA - Return on Assets) Mensura a eficiência global da empresa em gerar lucros com seus ativos disponíveis, também é chamado de retorno sobre o investimento.

ROA = LL / Ativo Total

8.4 Índices do mercado de ações Ajudam a quantificar a qualidade das empresas com base em preços definidos pelos mercados financeiros. a. Lucro por ação (LPA) Compreende o montante ganho em unidades monetárias por cada ação emitida. LPA = Lucro Total/Nº de Ações

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b. Dividendo por ação (DPA) O índice indica a monta, em unidades monetárias, distribuída a cada acionista.

DPA = Dividendo Total/Nº de Ações

c. Índice preço-lucro (P/L) O índice mede o quanto o valor de cada ação é superior ao lucro por ação ou o número de anos necessários para se recuperar o investimento da compra de ações, sem considerar o valor do dinheiro no tempo.

P/L = Preço por Ação/ Lucro por Ação Índices P/L mais elevados geralmente são vistos como associados a empresas que possuem ótimas perspectivas de crescimento futuro, as chamadas ações de crescimento.

d. Índice preço / valor patrimonial Indica quantas vezes o preço da ação é maior que seu valor patrimonial. Valores inferiores a 1 significam que a empresa não tem sido bem sucedida em criar valor para os acionistas.

P/VP = Preço por Ação/Valor Patrimonial das Ações

O valor patrimonial da ação é igual ao patrimônio líquido dividido pelo número total de ações.

8.5 Índices de alavancagem Alavancagem é o uso de ativos ou recursos que apresentam custo fixo e que objetivam aumentar os retornos dos proprietários da empresa. Este conceito está associado à ideia de alavanca, instrumento que, na física, possibilita multiplicar a força utilizada. a. Grau de alavancagem total (GAT) Indica o uso potencial de custos fixos, tanto operacionais como financeiros, para aumentar o efeito de variações nas vendas sobre o lucro líquido ou, em outras palavras, indica uma medida do Copyright Ibmec

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impacto total dos custos fixos na estrutura operacional e financeira da empresa. Pode ser obtido pela divisão da variação percentual do LL sobre variação percentual de vendas.

GAT = Variação percentual LL/ Variação percentual Vendas

b. Grau de alavancagem operacional (GAO) Indica o uso potencial de custos operacionais fixos para aumentar os efeitos das mudanças nas vendas sobre o LAJIR. Pode ser obtido pela variação do lucro antes dos juros e impostos (LAJIR) sobre variação de vendas.

GAO = Variação percentual LAJIR/ Variação percentual Vendas

c. Grau de alavancagem financeira (GAF) Mede a capacidade da empresa para usar encargos financeiros fixos a fim de maximizar os efeitos de variações no LAJIR sobre o lucro líquido (ou lucro por ação).

GAF = Variação percentual LL/ Variação percentual LAJIR ↓ Apesar de não ter o mesmo grau de importância dos demais índices, a alavancagem financeira, a identidade Dupont e o EBITDA auxiliam no entendimento da estratégia da empresa.

O GAF também pode ser definido como LAJIR/LAIR.

d. Identidade Dupont A identidade Dupont é um meio de decompor o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) em seus componentes. A medida sugere que o ROE seja função de decisões que impactam a lucratividade, a utilização de ativos e os graus de alavancagens.

Retorno sobre o PL (ROE) = LL / PL.

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Podemos decompor o ROE em:

ROE =

LL

x

Vendas

Vendas Ativo

x

Ativo PL

Ou seja, a rentabilidade da empresa para o acionista depende da margem de lucro líquido (LL/ Vendas), do giro do ativo (Vendas/Ativo) e da alavancagem da empresa em relação ao capital próprio (Ativo/PL). A decomposição do ROE é uma das maneiras convenientes de abordar sistematicamente a análise financeira. Se o ROE é insatisfatório, a identidade Dupont fornece pistas por onde a empresa deve começar a investigar.

e. EBITDA EBITDA é a sigla em inglês para earnings before interest, taxes, depreciation and amortization, que, traduzido literalmente para o português, significa: “lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização” (LAJIDA).

EBITDA = lucro bruto - despesas operacionais.

Com o EBITDA é possível avaliar o lucro referente apenas ao negócio, descontando qualquer ganho/perda financeira (derivativos, alugueis ou outras rendas que a empresa possa ter gerado no período). O indicador é capaz de retirar, também, distorções referentes à maior ou menor incidência de impostos, decorrentes de incentivos ou majorações fiscais, razão pela qual é muito utilizado para comparar empresas de setores ou portes distintos, ou ainda aquelas que residem em países diferentes, cuja carga tributária possa divergir bastante. Por eliminar os efeitos dos financiamentos, sua utilização pode fornecer uma boa análise comparativa, pois mede a produtividade e a eficiência do negócio. Se dividirmos o EBITDA pelo percentual de vendas, este índice pode ser utilizado para identificar empresas que sejam mais eficientes dentro de um segmento de mercado. Além disso, o EBITDA tem como função determinar a capacidade de geração de caixa da empresa.

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Resumo No primeiro módulo desta disciplina, você pôde identificar, definir e conhecer as métricas de capital de giro. Você pôde notar, também, que estes instrumentos fazem parte de um processo de tomada de decisões voltadas para preservar a liquidez da empresa e, por isso, são muito importantes. Vimos, ainda, que o controle do capital de giro é uma atividade cotidiana que assegura que os recursos sejam suficientes para que a empresa continue suas operações. Na sequência, foi abordado o processo de comparação entre diferentes métricas de curto e longo prazo.

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MĂ“DULO 2 Dimensionamento do Capital de Giro

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Introdução Em tempos de economia com recursos caros e escassos, as grandes empresas perceberam que falta de profissionalismo e improviso não são compatíveis com suas rotinas. Com isso, cada vez mais se faz necessária a aplicação do conceito de dimensionamento do capital de giro. No mundo de negócios, considerando a velocidade das mudanças e os diversos instrumentos financeiros disponíveis, este planejamento dedica extrema atenção ao curto prazo, sobretudo à correta delimitação da necessidade de caixa. Após apresentar os conceitos de ciclo operacional e financeiro, este módulo dará destaque ao cálculo da necessidade de capital de giro e à construção de um orçamento de caixa. O módulo apresenta, ainda, as boas práticas de gestão de tesouraria de uma empresa.

Objetivos Ao completar este módulo de estudo, você estará apto a: • Diferenciar ciclo operacional e financeiro. • Estimar a necessidade de capital de giro. • Definir um planejamento de curto prazo. • Entender e aplicar as práticas de tesouraria.

Estrutura do Módulo Para melhor compreensão das questões que envolvem o dimensionamento do capital de giro, este módulo está dividido em: Unidade 1 - Ciclos Operacional, Econômico e Financeiro Unidade 2 - Necessidade de Capital de Giro Unidade 3 - Orçamento de Caixa e Planejamento Financeiro de Curto Prazo Unidade 4 - Gestão de Tesouraria

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Unidade 1 - Ciclos Operacional, Econômico e Financeiro Nesta seção, iremos definir os ciclos envolvendo recursos da empresa. Os ciclos operacional, econômico e financeiro são medidas importantes para a avaliação da situação de curto prazo, isto é, da solvência da empresa. Hoji (2001) define o ciclo operacional através de dois momentos no tempo. Segundo o autor, ele se inicia com a compra de matéria-prima e se encerra com o recebimento da venda e, durante esse período, pode coincidir com os ciclos econômico e financeiro. Assaf Neto e Silva (1995) afirmam que, na gestão do capital de giro, é nítida a presença de um fluxo contínuo e permanente de recursos entre seus vários elementos, estabelecendo forte interrelação no grupo e tornando seus valores bastante mutáveis. O fluxo de caixa (ou disponível), por exemplo, é destinado a compras de estoques. Os estoques são convertidos em vendas e, caso estas sejam à vista, temos uma nova elevação do caixa; caso sejam a prazo, a conta de valores a receber é modificada e será futuramente transformada em caixa quando for paga .

O ciclo econômico é o período entre a compra da matéria-prima e a venda do produto final. O ciclo financeiro se inicia com o primeiro desembolso e termina com o recebimento da venda.

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A administração do capital de giro envolve alta rotação (giro) das contas do ativo circulante, tornando dinâmico o fluxo de operações da empresa. Esse giro de atividade proporciona menor necessidade de imobilização de capital circulante e consequente aumento de rentabilidade. Enquanto as operações se processam de forma contínua, o balanço patrimonial não retrata a dinâmica do patrimônio de uma empresa. O balanço da empresa representa sua situação patrimonial como se fosse uma fotografia, ou seja, a situação estática, sem refletir sua mobilidade ou dinamismo. Para mensurar essa dinâmica, a administração financeira utiliza indicadores de prazos médios que medem a eficiência da gestão dos recursos alocados ao ativo operacional da empresa.

Indicadores de prazos médios Os indicadores de prazos médios são também conhecidos como indicadores de atividade, pois permitem conhecer a política de compra e venda da empresa. Esses indicadores constatam a eficiência com que os recursos alocados estão sendo administrados, contribuindo também para a gestão da liquidez e rentabilidade da empresa. Vale notar que a interpretação dos índices deve ser feita de forma conjunta, pois, isoladamente, eles não refletem a situação real da empresa. Os indicadores de prazos médios mais utilizados são o prazo médio de rotação de estoques, o prazo médio de recebimentos e o prazo médio de pagamentos.

1. Prazo médio de rotação de estoques (PMRE) A administração dos estoques tem uma importância especial na administração financeira, conforme conceitua BRAGA (1995), “podemos dizer que a administração dos estoques busca o equilíbrio entre os aspectos operacionais e financeiros e isto também pode significar a constante solução de conflitos de interesses entre área financeira e as demais áreas envolvidas”. Os conflitos retratados pelo autor envolvem as áreas de produção que têm seu foco na manutenção de estoques de matérias-primas em níveis de segurança, contra a área financeira que foca na manutenção de níveis de estoques de produtos que lhe permita atender todos os pedidos dos seus clientes, mas que não acarrete muitos custos para a empresa. Na administração dos estoques, devem ser levados em conta os fatores: • Custos de capital, que se referem ao volume de recursos investidos nos materiais e produtos estocados, nas instalações e nos equipamentos necessários para a movimentação física e armazenagem.

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• Custos das instalações, que são os custos de aluguéis, impostos, taxas, manutenção, limpeza, refrigeração, seguro e depreciações. • Custos dos serviços, que compreendem os gastos com mão de obra utilizada na recepção, movimentação e controles administrativos dos estoques. • Riscos de estocagem, relativos a furtos, deterioração, obsolescência, conjunturas de mercado e fraudes. O administrador financeiro deve controlar a rotatividade do estoque e interpretar o índice (PMRE) e seus reflexos na liquidez e rentabilidade da empresa. Dessa forma, o indicador de prazo médio de rotação de estoques exprime o número de dias, em média, em que os estoques ficam armazenados na empresa antes de serem vendidos, ou, ainda, o número de dias em que os estoques são renovados (ou vendidos). Quanto menor o prazo, melhor. O índice é obtido pela seguinte fórmula:

PMRE = Saldo Médio de Estoques x 360/ Custo das Mercadorias Vendidas

A multiplicação por 360 ocorre para que o índice dê o prazo médio de rotação de estoques em dias, uma vez que a conta Custo das Mercadorias Vendidas fornece o custo por ano. Por exemplo: o estoque médio da empresa XYZ é de 2.000 e o custo das mercadorias vendidas é de 16.000; logo, o prazo médio de renovação de estoque é de 45 dias.

2. Prazo médio de recebimentos (PMR) As vendas a prazo de uma companhia seguem uma política de crédito que teoricamente é adequada ao perfil da atividade. Conceder crédito significa assumir custos e riscos inexistentes na modalidade de vendas à vista. Por outro lado, a concessão de crédito propicia a ampliação dos níveis operacionais e ganho de escala, além do favorecimento do escoamento da produção, aumento do giro dos estoques e a ampliação das atividades das empresas prestadoras de serviços. A conta clientes (ou contas a receber) geralmente tem valor relevante no ativo circulante das empresas, representando custos de produção e vendas, impostos sobre vendas e lucro bruto ainda não realizados. O processo de venda, neste caso, implica a conversão de estoques em créditos a receber, o que significa que as empresas continuam financiando os seus referidos custos. O indicador de prazo médio de recebimento indica o tempo decorrido, em média, entre a venda de seus produtos e o efetivo ingresso de recursos. O ideal é que o recebimento das vendas se efetue no menor prazo possível. Copyright Ibmec

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O cálculo do prazo médio de recebimento é efetuado pela fórmula abaixo, onde o saldo médio reflete a média de conta de clientes ou contas a receber de dois anos consecutivos:

PMR = Saldo Médio da conta Clientes x 360/ Vendas

Exemplo: o saldo médio da conta clientes de uma empresa é 2.000 e a conta vendas é 6.000. Logo, o prazo de recebimentos é de 120 dias.

3. Prazo médio de pagamentos (PMP) O saldo de fornecedores (ou duplicatas a pagar) representa uma fonte de recursos para a empresa, dado que permite um alívio no processo de financiamento da empresa. Dessa forma, a administração financeira deve mantê-lo nos valores máximos possíveis. O prazo médio de pagamentos representa o prazo, em média, que a empresa vem obtendo de seus fornecedores para pagamento das compras de matérias-primas e/ou mercadorias. Quanto maior o prazo, melhor. A fórmula é a seguinte:

PMP = Saldo Médio de Fornecedores x 360/ Compras

Exemplo: o saldo médio da conta fornecedores de uma empresa é 2.000 e da conta compras é 24.000. Logo, o prazo de médio de pagamentos é de 30 dias. De um modo geral, o valor de compras é dado pela fórmula abaixo, onde CMV é o custo de mercadoria vendida:

CMV = EI (estoque inicial) + C (compras) - EF (estoque final)

Esses três indicadores de prazos médios constituem a base para determinar o ciclo operacional e financeiro de uma determinada empresa, indicadores muito importantes para o controle da eficiência da gestão do capital de giro.

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As figuras 1 e 2 a seguir retratam a importância destes índices.

Figura 1

A figura 1 retrata o ciclo operacional de uma empresa. O ciclo econômico é o tempo em que a mercadoria permanece em estoque e compreende desde a aquisição dos produtos até a venda (sem levar em consideração o recebimento das mesmas). O ciclo de caixa ou financeiro compreende o período de tempo em que os recursos da empresa foram utilizados para o pagamento dos bens e/ ou matérias-primas até o recebimento pela venda do produto acabado resultante.

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Figura 2

Exemplo: considere uma empresa em que as mercadorias permaneçam 40 dias em estoque, tenha uma média de recebimento de clientes igual a 62 dias, sendo o pagamento a fornecedores em 30 dias. Como exemplo, teremos os seguintes valores para o cálculo dos ciclos: • Prazo Médio de Rotação de Estoques (PMRE) = 40 dias. • Prazo Médio de Contas a Receber (PMCR) = 62 dias. • Prazo Médio de Pagamento a Fornecedores (PMPF) = 30 dias. Logo: • Ciclo econômico = 40 dias. • Ciclo operacional = 40 dias + 62 dias = 102 dias. • Ciclo financeiro = 102 dias - 30 dias = 72 dias. Esta empresa deve buscar alternativas que resultem em ciclos financeiros menores, se possível. Com ciclos menores, temos o aumento do giro de negócios, proporcionando maior retorno do investimento. O ciclo financeiro de 72 dias significa que, em 360 dias, a empresa gira 5 vezes (=360/72). Observe que, após o pagamento a fornecedores, a empresa provavelmente deve financiar suas atividades com seu próprio capital de giro, pois seu prazo médio de contas a receber é de 62 dias. O capital de giro representa os recursos de que a empresa necessita para financiar suas operações, que vão desde a aquisição de matérias-primas até o recebimento pela venda do produto acabado. O capital de giro é importante, pois há uma defasagem de tempo entre o desembolso de gastos e o recebimento das receitas das empresas.

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Veja os dois exemplos abaixo: • Para produzir, é necessário dispor dos materiais que vão ser utilizados no processo de produção, o que representa gasto anterior ao recebimento da receita relativa ao produto final. • Há um tempo mínimo necessário para transformação da matéria-prima em produto acabado.

A gestão do período de estoque é objeto de estudo da logística. A utilização adequada das técnicas de gestão de estoques pode reduzir o ciclo operacional e de caixa da empresa.

Vamos a um exemplo em que calcularemos os ciclos operacional, econômico e financeiro. Considere a empresa com os seguintes eventos econômicos e financeiros. Dia Eventos econômicos

0

15

Compra de matéria-prima

Salários

500 Eventos financeiros

30

45

60

75

90

Venda 1000 Tributos 200 200 Pagamento Pagamento Pagamento Recebimento de matéria- de salários de tributos de vendas prima 500 200 200 1000

A venda no valor de R$ 1.000 ocorre no dia 60, e o recebimento, no dia 90. Logo, o prazo médio de recebimento é de 30 dias. O prazo médio ponderado de pagamentos é calculado multiplicando-se o valor de cada pagamento pelo respectivo prazo e dividindo-se pelo total pago.

(500 x 45 + 200 x 15 + 200 x 45) / (500 + 200 + 200) = 38 dias.

• O ciclo financeiro é de 60 dias, com início no “dia 45” e término no “dia 90”. • O prazo médio ponderado de pagamentos é de 38 dias. • O prazo médio de recebimentos de vendas é de 30 dias.

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Além disso, os valores envolvidos são diferentes, visto que, enquanto os pagamentos totalizam R$ 900, o recebimento é no valor de R$ 1.000. Portanto, em termos financeiros, um aumento de um dia no prazo médio de pagamento não corresponde à redução de um dia no prazo médio de recebimento. Considere outra empresa com os dados a seguir. Dia

0 Compra de

Eventos

matéria-prima

econômicos 300

15

30

45

60

75

90

Venda 650 Salários

Despesas

180

50

Tributos 120 Pagamento

Eventos

Pagamento de

financeiros

salários 180

Pagamento

de tributos

Recebimento

de matéria-

120 e

de vendas

prima 300

despesas

650

50

A venda no valor de R$ 650 ocorre no dia 60, e o recebimento, no dia 90. Logo, o prazo médio de recebimento é de 30 dias. O prazo médio ponderado de pagamentos é calculado multiplicando-se o valor de cada pagamento pelo respectivo prazo e dividindo-se pelo total pago.

(300 x 45 + 120 x 15 + 180 x 15 + 50 x 30)/ (300 + 120 + 180 +50) = 30 dias.

• O ciclo financeiro é de 60 dias, com início no “dia 30” e término no “dia 90”. • O prazo médio ponderado de pagamentos é de 30 dias. • O prazo médio de recebimentos de vendas é de 30 dias. Isso significa que a empresa recebe as vendas no mesmo prazo do que efetua seus pagamentos. Como os valores envolvidos são iguais (pagamentos e recebimentos totalizam R$ 650), um aumento de um dia no prazo médio de pagamento corresponde à redução de um dia no prazo médio de recebimento e vice versa.

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Unidade 2 - Necessidade de Capital de Giro O dimensionamento correto da necessidade de capital de giro é um desafio do administrador financeiro. O volume elevado de capital de giro pode desviar recursos financeiros que poderiam ser aplicados em outras áreas da empresa. Por outro lado, um volume muito reduzido pode restringir a capacidade de operação e de vendas da empresa. A necessidade de capital de giro pode ser estimada com base no ciclo financeiro ou via balanço patrimonial.

Cálculo com base no ciclo financeiro Este método é aplicável a empresas que estão em fase de implantação. A necessidade de capital de giro corresponde ao caixa operacional, ou seja, ao montante mínimo de recursos financeiros necessários para garantir a operacionalidade da empresa. O método pressupõe que as despesas projetadas anuais são uniformemente distribuídas ao longo do ano.

Cálculo com base no balanço patrimonial Como tradicionalmente conhecido, o capital de giro líquido (CGL) é definido como a diferença entre o ativo circulante e o passivo circulante. Porém, nem todo o valor do CGL representa efetiva necessidade de investimento. Como ambos - ativo circulante e passivo circulante - contêm contas transitórias (caixa, bancos, aplicações financeiras de curto prazo e empréstimos e financiamentos de curto prazo), essas contas não estão relacionadas à necessidade de investimento em capital de giro. Para se calcular a necessidade de capital de giro de uma empresa com base em seu balanço patrimonial, é preciso que sejam reclassificadas algumas contas. O balanço patrimonial com a reclassificação é representado da seguinte maneira:

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Formado pelos itens de longo prazo do ativo. Ativo não Circulante (AnC) Seu valor é igual à soma dos itens: realizável em longo prazo, investimento, imobilizado e intangível. Representa os recursos utilizados nas operações da empresa que Ativo Operacional (AO)

dependem das características de seu ciclo operacional. É composto por duplicatas a receber, estoques e outros valores a receber que possuem natureza permanente.

Ativo Flutuante (AF)

Corresponde aos itens de curtíssimo prazo do ativo circulante que possuem natureza transitória como caixa, bancos e aplicações financeiras de curto prazo.

Exigibilidade (Exg)

É formado pelas contas de longo prazo do passivo e representa a fonte permanente de recursos financeiros da empresa. É igual à soma do passivo não circulante com o patrimônio líquido

Passivo Operacional (PO)

Representa as contas do passivo vinculadas ao ciclo operacional da empresa, tais como fornecedores, salários, encargos, impostos, taxas e outras contas a pagar.

Passivo Flutuante (PF)

Corresponde aos itens de curtíssimo prazo do passivo circulante que não têm vinculação direta com as operações da empresa, como empréstimos, financiamentos e outras obrigações financeiras de curto prazo.

O cálculo da necessidade de capital de giro (NCG) é dado pela diferença entre o Ativo Operacional e o Passivo Operacional.

NCG = AO - PO

O capital de giro líquido (CGL) calculado com base nessa reclassificação de contas será a diferença entre a Exigibilidade e Ativo não Circulante.

CGL = Exg - AnC

Repare que esta fórmula é exatamente igual ao conceito anterior (CGL = Ativo Circulante – Passivo Circulante), pois a exigibilidade é igual a passivo total menos passivo circulante e ativo não circulante é igual a ativo total menos ativo circulante.

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CGL = AC - PC

Efeito tesoura (ET) ou Saldo de tesouraria (ST) é o valor do capital de giro líquido que excede a necessidade de capital de giro calculada na forma acima. Se positivo, corresponde a uma sobra de capital de giro da empresa. Tal valor corresponde, ainda, à diferença entre o ativo flutuante (AF) e o passivo flutuante (PF).

ET = AF – PF ou ST = AF – PF

Exemplo: calcular a necessidade de capital de giro, o capital de giro líquido e o efeito tesoura com base no balanço patrimonial da empresa hipotética abaixo. Valores em Milhares de Reais ATIVO

PASSIVO

Caixa

500 Fornecedores

Bancos

500 Salários a pagar

2.500

Aplic. financeiras

2.000 Encargos a pagar

1.000

Contas a receber

3.000 Impostos e taxas

1.000

Estoques

4.000 Empréstimos

2.000

Dívidas de longo prazo

500

4.000

Realizável a longo prazo

1.000 Capital

6.500

Investimentos

1.000 Reservas

2.000

Imobilizado

7.500 Lucros acumulados

Intangível TOTAL DO ATIVO

500

500 20.000 TOTAL DO PASSIVO

20.000

A seguir, temos o balanço patrimonial da empresa hipotética com a reclassificação para se calcular a necessidade de capital de giro:

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Valores em Milhares de Reais ATIVO

PASSIVO

Caixa

500 Fornecedores

500

Bancos

500 Salários a pagar

2.500

Aplic. financeiras

2.000 Encargos a pagar

1.000

Ativo flutuante

3.000 Impostos e taxas

1.000

Passivo operacional Contas a receber

3.000

Estoques

4.000 Empréstimos ATIVO

Ativo operacional

2.000 PASSIVO

7.000 Passivo flutuante Dívidas de longo prazo

2.000 4.000

Realizável a longo prazo

1.000 Capital

6.500

Investimentos

1.000 Reservas

2.000

Imobilizado

7.500 Lucros acumulados

Intangível

500 Exigível

Ativo não circulante

10.000

TOTAL DO ATIVO

20.000 TOTAL DO PASSIVO

a. Cálculo da necessidade de capital de giro (NCG):

NCG =

AO – PO

NCG = 7.000 – 5.000 = 2.000

b. Cálculo do capital de giro líquido (CGL):

CGL =

Exg

– AnC

CGL = 13.000 – 10.000 = 3.000 OU CGL =

AC

– PC

CGL = 10.000 – 7.000 = 3.000

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5.000

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500 13.000 20.000


c.

Cálculo do efeito tesoura (ET): ET = CGL – NCG ET = 3.000 – 2.000 = 1.000

OU ET = AF – PF ET = 3.000 – 2.000 = 1.000

O exemplo a seguir é baseado em Hoji (2001) e apresenta uma situação bem detalhada de uma empresa. Considere o seguinte Balanço Patrimonial: Balanço Patrimonial Encerrado em:

31-12-X6

31-12-X7

31-12-X8

Ativo circulante Operacional Duplicatas a receber

161.183

381.006

419.128

Saques de exportação

15.325

-

30.000

(-) Provisão para devedores duvidosos

(4.377)

(5.641)

(9.201)

-

15.006

-

326.892

408.171

620.412

6.859

4.649

6.932

505.882

803.191

1.067.271

25.883

35.883

45.685

Aplicação de liquidez imediata

280.928

190.925

128.942

Títulos e valores mobiliários

150.659

104.009

144.190

12.005

25.877

24.890

Encargos financeiros a apropriar

2.906

4.015

15.884

Total do ativo não operacional

472.381

360.709

359.591

Total do ativo circulante

978.623

1.163.900

1.426.682

Impostos a recuperar Estoques Prêmios de seguros a apropriar Total do ativo operacional Não operacional Caixa e bancos

Outras contas a receber

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Passivo circulante Operacional Fornecedores

329.632

189.110

232.338

Salários e encargos sociais

54.001

68.112

86.018

Obrigações fiscais

68.952

25.189

92.067

Adiantamento de clientes

15.098

15.098

10.684

Provisão para férias e 13º salário

17.984

18.911

35.506

485.667

316.420

454.613

Empréstimos e financiamentos

84.023

100.850

198.948

Duplicatas descontadas

12.458

57.157

115.751

5.963

-

10.000

Imposto de renda e contribuição social

-

28.866

59.468

Dividendos propostos

-

-

25.454

21.549

28.215

18.658

Total do passivo não operacional

123.993

215.088

428.279

Total do passivo circulante

609.660

531.508

882.892

1,60

2,19

1,62

368.603

632.392

543.970

20.215

486.771

612.658

348.388

145.621

(68.688)

Total do passivo operacional Não operacional

Saques descontados

Outras contas a pagar

Indicadores de Liquidez Índice de Liquidez Corrente (ILC) Capital Circulante Líquido (CCL) Necessidade Líquida de Capital de Giro (NLCG) Saldo de Tesouraria (ST)

• Os índices de liquidez corrente (ILCs) positivos nos três exercícios indicam que a companhia tem capacidade de honrar seus compromissos financeiros de curto prazo, o que pode ser ratificado pelo CCL positivo. • Os dados de 19X6 mostram que foram aplicados R$20.215,00 em operações e R$348.388,00 em atividades de natureza financeira. • Os indicadores de liquidez de 19X8 indicam uma situação financeira folgada, com ILC de 1,62 e CCL de R$ 543.970,00. Entretanto, a NCG (ou NLCG) aumentou substancialmente e o ST negativo mostra que a situação financeira piorou em relação aos anos anteriores.

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Se o investimento em CCL diminuiu em relação a 19X7, deveria diminuir também a NLCG, mas isso não ocorreu, porque o aumento das fontes de capital de giro (Passivo Operacional) não foi suficiente para suprir o aumento dos investimentos em operações (Ativo Operacional). Através desse conceito, Hoji mostra que é possível determinar o ciclo financeiro, calculado de acordo com a seguinte equação:

CF = NLCG x N/RB Onde: CF = ciclo financeiro. N = número de dias do período (365 dias). RB = receita bruta deduzida das vendas canceladas. Considerem-se as seguintes informações:

Receita Bruta

31-12-X6

31-12-X7

31-12-X8

1.363.566

1.892.353

2.186.687

20.215

486.771

612.658

5,4

93,9

102,3

NLCG Ciclo financeiro (dias)

O aumento do ciclo financeiro indica que a empresa passou a depender significativamente do capital de giro, pois, quanto menor o ciclo financeiro, melhor para a empresa. Suponha que a empresa deseja aumentar a receita bruta em 20% no próximo exercício, mantendo o ciclo financeiro de 102,3 dias. Desta forma, ela terá a seguinte necessidade de capital de giro:

CF = NCG x N/RB 102,3 = NCG x 365/(2.186.687 x 1,20) NCG = 753.446 A NCG deverá aumentar de R$612.658 para R$735.446 para o próximo exercício.

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Unidade 3 - Orçamento de Caixa e Planejamento Financeiro de Curto Prazo O capital de giro é fortemente influenciado pelas incertezas inerentes à atividade empresarial. Por esse motivo, a empresa deve manter uma reserva financeira para enfrentar os eventuais problemas que podem surgir. Quanto maior o capital de giro, menores serão as possibilidades de crises financeiras, ou seja, menor será o risco de a empresa deixar de honrar seus compromissos financeiros em curto prazo. Entretanto, a empresa não pode deixar o recurso parado, e a rentabilidade obtida pela reserva de capital de giro aplicada no mercado financeiro não constitui a atividade-fim das empresas não financeiras. Além disso, a aplicação provavelmente rende taxas menores que o custo de capital da empresa. O administrador financeiro deve buscar, portanto, um equilíbrio entre o volume necessário à manutenção da reserva de capital de giro e o valor a ser aplicado no ativo não circulante da empresa.

Regras para administração de caixa No intuito de administrar eficientemente o caixa, as empresas seguem algumas regras, dentre as quais podemos destacar: 1. Aumentar o giro dos estoques de matérias-primas e produtos acabados A programação da produção e coordenação com as previsões de vendas contribuem para a utilização racional de matérias-primas. Quanto mais confiável a programação, maior compatibilização entre o fluxo de pedidos e estoque, com consequente redução do estoque. Com isso, menor o fluxo de caixa. 2. Aproveitar os descontos Descontos oferecidos pelos credores, além de constituírem redução na pressão por recursos no caixa, contribuem para a redução do ciclo de caixa, uma vez que seu aproveitamento diminui o tempo dos valores pagos aos credores. 3. Incentivar a diminuição do ciclo de produção A introdução de novos layouts de produção e o racionamento de procedimentos favorecem a redução do tempo do produto na linha de produção, reduzindo o período entre o pagamento de insumos e o recebimento do produto vendido.

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4. Diminuir o prazo de recebimento de valores Crédito é ferramenta propulsora das vendas. Entretanto, este tipo de venda demanda recursos financeiros para financiá-la. Portanto, a redução do prazo médio de recebimento melhora as condições de capital de giro. 5. Aumentar o prazo dos pagamentos Negociar os prazos no momento da compra é uma ferramenta útil para a empresa. Contudo, o pagamento fora dos prazos pactuados é extremamente desaconselhável, dados os custos elevados decorrentes. 6. Antecipar recebimentos Recursos antecipados significam folga financeira. Uma observação rigorosa nos prazos de recebimento, com providências saneadoras, favorece esta antecipação. Um exemplo de política de gestão, neste caso, é a concessão de descontos por antecipação. 7. Otimizar a forma de cobrança A empresa deve analisar qual é a melhor forma de cobrança, como duplicatas, cheque pré-datado, boleto bancário, carnês, cobrança em carteira, cobrança bancária, cobrança por cobrador, débito automático, ordem de pagamento, transferências eletrônicas ou cartões de crédito. 8. Relacionamento bancário Estabelecer relacionamento com os bancos é um elemento importante para uma efetiva administração de caixa. Os bancos têm vários tipos de serviços e pacotes inovadores, como linhas de empréstimo de Stand by, Hot Money e Cheque Especial. Além disso, possuem programas sofisticados de informática relacionados à contabilidade básica e orçamentos, destinados a auxiliar os administradores financeiros a maximizar a disponibilidade diária de caixa e facilitar aplicações em curto prazo. 9. Fazer aplicações financeiras Os títulos são instrumentos financeiros de curto prazo, classificados como ativos líquidos da empresa, pois rendem juros e podem ser facilmente convertidos em dinheiro. Os títulos mais comuns nas carteiras de títulos negociáveis das empresas são divididos em dois grupos: emissões governamentais (títulos públicos) e emissões privadas, como Certificados de Depósito Bancário – CDB, Commercial Papers, Aceites Bancários e quotas de fundos mútuos.

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Modelos de administração de caixa Os modelos de administração de caixa objetivam determinar o montante que uma empresa deverá estabelecer em caixa. Estes modelos auxiliam o administrador financeiro na rotina do caixa. Um dos modelos mais simples é o caixa mínimo operacional. Trata-se de um método de obtenção de um padrão de investimento em caixa e é o resultado da divisão do montante de desembolsos previstos pelo seu giro de caixa. O giro de caixa é igual à divisão de 360 (base em dias) pelo ciclo de caixa e corresponde ao período que abrange desde o pagamento da compra de matéria-prima até o recebimento das vendas.

Modelo Assaf Neto e Silva Vamos utilizar o exemplo de Assaf Neto e Silva (1995): suponhamos que uma empresa, no seu fluxo de caixa projetado, tenha previsto desembolsos de R$ 2,7 milhões. Sabe-se que seu ciclo de caixa é de 24 dias, ou seja, somente no 25º dia é que ocorre na empresa o ingresso de recursos. Assim, teríamos um giro de caixa de 15 vezes (GC = 360/24 = 15). A partir do conhecimento do giro de caixa, é possível deduzir o caixa mínimo operacional:

Caixa mínimo operacional = R$2.700.000/15 = R$180.000

Este valor representa o volume mínimo de recursos financeiros que uma empresa necessita para financiar suas atividades operacionais.

Modelo Miller e Orr O segundo modelo tem sua validade para fluxos de caixas aleatórios ou não conhecidos, portanto, sua natureza é claramente probabilística, ao contrário do modelo de caixa mínimo operacional, que é determinístico. O modelo de Miller e Orr parte da existência de dois ativos, caixa e investimento, com relação dinâmica de interdependência, devido ao esquema de mútuas transferências. A partir daí, o modelo estabelece um saldo mínimo e máximo de caixa. Quando os recursos de caixa estiverem esgotados, com tendência a um limite inferior, é necessário efetuar um resgate, transferindo-se recursos das aplicações para o caixa e restabelecendo-se a liquidez. Em situação inversa, se o caixa estiver acima do limite superior, faz-se uma transferência para as aplicações de recursos, com o objetivo de evitar excesso de liquidez e perda de remuneração das aplicações.

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Com isso, há uma transferência permanente de recursos entre o caixa e as aplicações, fazendo com que o caixa varie dentro de um intervalo determinado pelo modelo. O modelo chega, então, ao conceito de ponto de retorno. O ponto de retorno ao qual a empresa deve voltar toda vez que o caixa estiver acima ou abaixo dos limites de controle pode ser obtido pela fórmula:

• O limite máximo é H = m + 3Z • O saldo de caixa deve oscilar aleatoriamente dentro do intervalo que vai de um saldo mínimo (m) a H. • Quando o saldo de caixa da empresa atingir H, a empresa deverá comprar (ou investir) H – Z (em unidades monetárias), com o objetivo de atingir o ponto Z desejado. • Da mesma forma, quando o saldo cair ao nível mínimo (m), a empresa venderá Z – [nível mínimo] títulos (ou resgatará o investimento), elevando seu caixa até atingir Z novamente.

O modelo relaciona o caixa e a variância dos valores do caixa. Quanto maior for a dispersão, maior será o risco e, consequentemente, maiores os investimentos em caixa. Menor dispersão significa maior previsibilidade, implicando, assim, menores valores em caixa.

Exemplo: considere uma empresa com m igual a R$1.000,00, custo de resgate de R$100,00, taxa de juros de 0,05% ao dia, o que significa uma taxa anual de 13,42%, e desvio-padrão de R$50,00 por dia no caixa. O cálculo da taxa anual efetiva foi feita com base em um ano com 252 dias úteis. O ponto de retorno é:

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Z = 1000 +

3

√ 0,75 x 100 x (50)2 / 0,05% = 1721,12

• O ponto de máximo caixa (dado por H = 1000 + 3 x 1721,12) é 6.163,36. • Quando o saldo de caixa da empresa atingir este valor, a empresa deverá investir R$4442,24. • Quando o saldo cair para R$1.000,00, a empresa resgatará R$721,12, elevando seu caixa. Outro modelo relativamente simples é o do dia da semana, que se traduz a partir de um padrão observado para prever o futuro comportamento de caixa. O modelo busca detectar o componente sazonal de cada dia do mês e da semana, e, partindo-se da previsão do saldo final para o último dia do mês, faz a projeção para o fluxo de caixa diário, observando-se os ajustamentos específicos e o fator sazonalidade. Por exemplo: suponha que uma companhia realize 25% de seu fluxo de caixa semanal na segundafeira, 15% na terça, 17% na quarta, 21% na quinta e 22% na sexta-feira, totalizando, assim, 100%. Se não houvesse sazonalidade, o fluxo seria de 20% (100% dividido pelo número de dias úteis da semana). Para se obter o desvio entre a participação de cada dia da semana e a média, basta realizar a subtração a seguir e, a partir daí, tem-se uma visão mais aproximada da realidade. Dia

Participação

Dia

Segunda

0,25

0,25 – 0,20 = 0,05

Terça

0,15

0,15 – 0,20 = -0,05

Quarta

0,17

0,17 – 0,20 = -0,03

Quinta

0,21

0,21 – 0,20 = 0,01

Sexta

0,22

0,22 – 0,20 = 0,02

TOTAL

1,00

Conhecer as variações de valor nos investimentos ou financiamentos permite que o administrador tome decisões com grau de segurança e previsibilidade. Com isso, evitam-se desperdício de recursos ou imprevisibilidades, que tanto desorganizam as finanças de empresas. O modelo de Baumol apresenta a seguinte fórmula para calcular o saldo mínimo: Saldo mínimo =

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2 x CC x NR CO

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Onde: CC = Custos de conversão NR = Necessidade de recursos CO = Custo de oportunidade

Para exemplificar, se a necessidade de recursos para transação é de R$1.000.000,00; se o rendimento dos títulos de alta liquidez é de 10% ao ano e, se para cada resgate de um título são gastos R$100,00, a necessidade mínima de caixa seria: Saldo mínimo =

2 x 100 x 1.000.000,00 0,10

= R$ 44.721,36

Na prática, costuma-se usar modelos mais simples, como o percentual sobre vendas previstas. Considere que uma empresa determine o saldo mínimo de caixa igual a 5% de suas vendas anuais previstas. Se, por exemplo, suas vendas anuais previstas forem de R$4.000.000,00, o saldo mínimo de caixa será R$200.000,00.

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Unidade 4 - Gestão de Tesouraria A gestão de tesouraria trata de operações necessárias à eficácia dos processos e dos produtos bancários à disposição da empresa. Com isso, ela é mais genérica do que a administração do caixa, pois trata de ativos e passivos circulantes. Uma importante decisão da empresa é como usar os passivos circulantes para financiar os ativos circulantes. Os credores concedem empréstimos de curto prazo para permitir que a empresa financie aumentos sazonais de estoque ou duplicatas a receber. Esses recursos não devem servir para aplicações de longo prazo. As necessidades de financiamento da empresa podem ser divididas em permanentes e sazonais. A necessidade permanente, que consiste no ativo não circulante mais a parcela permanente dos ativos circulantes da empresa, permanece inalterada ao longo do ano. Já a necessidade sazonal, que se pode atribuir à existência de certos ativos circulantes temporários, varia ao longo do ano, conforme podemos ver no diagrama abaixo:

A estratégia agressiva significa menos capital de giro e mais risco, com probabilidade de mais lucro. A estratégia conservadora significa muito capital de giro e menos risco, com probabilidade de menos lucro.

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A administração de capital de giro envolve este processo contínuo de tomada de decisões voltadas principalmente para a preservação da liquidez da empresa, mas que também afetam a rentabilidade. Quando verificamos que determinada empresa tornou-se insolvente, em geral isto significa que recursos foram desviados para outra finalidade que não o financiamento do capital de giro ou então que os investimentos novos não levaram em conta as necessidades adicionais de recursos para financiar o giro das operações. • Enquanto os ativos fixos geram produtos cujas vendas propiciam a rentabilidade, os ativos circulantes constituem aplicações de baixa rentabilidade, mas necessárias à sustentação das atividades operacionais da empresa. • A necessidade permanente de fundos é a parcela de recursos necessária para financiar necessidades contínuas da empresa. Esse valor é estimado tomando-se por base o valor anual necessário para manter o imobilizado da empresa no nível de produção pretendida. • A necessidade complementar de fundos é a parcela que é acrescida à necessidade mínima e é estimada tomando-se por base a sazonalidade dos insumos. • A necessidade mínima permanente de fundos é o valor encontrado na menor soma mensal das necessidades permanente com a complementar. Para um melhor entendimento, vejamos o seguinte exemplo: Ativo circulante

Ativo não circulante

Ativo total

Mínimo permanente

Complementar

Janeiro

4.000

8.000

12.000

8.800

3.200

Fevereiro

3.000

8.000

11.000

8.800

2.200

Março

2.000

8.000

10.000

8.800

1.200

Abril

1.000

8.000

9.000

8.800

200

Maio

800

8.000

8.800

8.800

0

Junho

1.500

8.000

9.500

8.800

700

Julho

3.000

8.000

11.000

8.800

2.200

Agosto

3.700

8.000

11.700

8.800

2.900

Setembro

4.000

8.000

12.000

8.800

3.200

Outubro

5.000

8.000

13.000

8.800

4.200

Novembro

3.000

8.000

11.000

8.800

2.200

Dezembro

2.000

8.000

10.000

8.800

1.200

10.750

8.800

1.950

Mês

Média Mensal

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O gráfico a seguir retrata a situação descrita na Tabela anterior:

• Caso a empresa seja conservadora, pode manter em caixa um volume de dinheiro suficiente para cobrir todas as necessidades por todo o ano, ou seja, R$13.000,00 (valor de outubro). Isto oferece tranquilidade ao administrador, mas onera a empresa. • Caso seja agressiva, irá manter o nível mínimo de R$8.800,00. Isto minimizará os custos, porém, qualquer imprevisto poderá causar sérios transtornos financeiros. • Se ficar na média, R$10.750,00, onerará menos que a conservadora e ficará com menos riscos de sobressaltos que a agressiva. Vamos supor que uma empresa tenha as opções de financiamento definidas de 12% ao ano para capital de curto prazo e 18% ao ano para capital de longo prazo. Dado um volume de recursos financeiros necessários para a operação da empresa (ativo não circulante) de R$600, o volume de ativos de curto prazo pode assumir três cenários, conforme o quadro abaixo.

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Estratégia Balanço patrimonial

AGRESSIVA

NORMAL

CONSERVADORA

Ativo circulante

400

600

800

Ativo não circulante

600

600

600

1.000

1.200

1.400

Passivo circulante (25%)

250

300

350

Passivo não circulante (30%)

300

360

420

Patrimônio líquido (45%)

450

540

630

1.000

1.200

1.400

TOTAL DO ATIVO

TOTAL DO PASSIVO

Se supusermos um mesmo Lucro Operacional de R$200,00 para as três situações, a demonstração de resultados das três estratégias é: Estratégia Demonstração de Resultados

AGRESSIVA

NORMAL

CONSERVADORA

Lucro operacional

200,00

200,00

200,00

Despesas financeiras

84,00

100,80

117,60

Circulante (custo de 12%)

30,00

36,00

42,00

Não circulante (custo de 18%)

54,00

64,80

75,60

Lucro antes do IR

116,00

99,20

82,40

Imposto de renda (34%)

39,44

33,73

28,02

Lucro líquido

76,56

65,47

54,38

0,17

0,12

0,09

Retorno sobre o PL

A abordagem agressiva é a que gera maior retorno sobre o patrimônio líquido, porém, é a de maior risco, devido a um valor pequeno de capital de curto prazo. A partir dos demonstrativos, podemos também analisar a necessidade de investimento em capital de giro. Considere a empresa com o balanço abaixo.

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Balanço Patrimonial

AGRESSIVA

Ativo circulante

400

Caixa

40

Contas a receber

200

Estoques

160

Ativo não circulante

600

TOTAL DO ATIVO

1.000

Passivo circulante (25%)

250

Passivo não circulante (30%)

300

Patrimônio líquido (45%)

450

TOTAL DO PASSIVO

1.000

CCL = AC – PC = 400 – 250 = 150

Aparentemente, isto pode significar que R$150,00 do passivo não circulante e patrimônio líquido estão financiando as atividades do ativo circulante, o que induz a sensação de uma posição confortável da empresa. Entretanto, acrescente a esta empresa as seguintes informações: • Volume de vendas = R$800,00 por mês • Vendas à vista = 75% • Vendas a prazo = 25% • Prazo médio de recebimento = 18 dias • Prazo médio de estoque = 15 dias • Custo / receitas = 40% • Caixa mínimo = R$ 30 Então, se o caixa apresentado no balanço é R$40,00 e a necessidade mínima é de R$30,00, temos que R$10,00 é a necessidade sazonal.

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O valor de vendas a prazo é de 25% do total do volume de vendas. Os valores a receber são iguais às vendas a prazo, multiplicado pelo período de crédito, ou seja, 25% x 800 x

18

= 120. 30 Dessa forma, R$120,00 é a necessidade mínima. Como o Balanço apresenta saldo de contas a receber de R$200,00, então, temos R$80,00 de necessidade sazonal. O total do custo dos estoques representa 40% das vendas. Como o prazo médio é de 15 dias, o custo total é representado por 0,4 x 800 x

15 30

= 160. Como o valor é exatamente igual ao

do Balanço, não há necessidade sazonal. Com essas informações, compomos o seguinte quadro: ATIVO CIRCULANTE Conta

Necessidade Mínimo

Sazonal

Total

Caixa

30

10

40

Valores a receber

120

80

200

Estoques

160

0

160

Total

310

90

400

Os dados sugerem que o R$150,00 de CCL inicialmente calculado, financiado pelo passivo não circulante e patrimônio líquido, na realidade estão financiando necessidades de R$310,00 do circulante. Portanto, na realidade, verificamos uma insuficiência de recursos no valor de R$160,00 (R$310,00 – R$150,00), o que pode apontar um risco para a empresa. Por outro lado, temos que considerar que o passivo circulante também tem fontes constantes e fontes sazonais. A conta salários a pagar, por exemplo, pode ser considerada uma fonte constante e a conta fornecedores seria sazonal. Com isso, a Necessidade de Investimento em Giro (NIG) pode ser apresentada da seguinte forma:

NIG = Necessidades constantes do AC – Fontes Constantes do PC.

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Suponha que as fontes constantes do passivo circulante sejam R$100,00, por exemplo. Então:

NIG = R$ 310,00 – R$ 100,00 = R$ 210,00. Se o CCL cobrisse esta necessidade, não haveria necessidade de mais recursos de longo prazo.

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Resumo No segundo módulo desta disciplina, você pôde identificar, definir e conhecer os ciclos de gestão do capital de giro. Aqui foram descritos conceitos como o ciclo caixa, operacional e econômico. Você pôde notar também que esses instrumentos fazem parte de um processo voltado para o cálculo da necessidade de capital de giro. Em seguida, vimos que o capital de giro é fortemente influenciado pelas incertezas inerentes à atividade empresarial e, por conta disso, apresentamos as regras de comportamento das empresas para gestão deste importante elemento. Por fim, vimos os modelos de administração de caixa e as regras para uma administração adequada. Na sequência, foi abordado o processo de gestão da tesouraria, dividindo as necessidades de financiamento em permanentes e sazonais e apresentando diferentes tipos de estratégias para a empresa.

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MÓDULO 3 Gestão de Compras, Crédito e Estoque

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Introdução A necessidade de sobrevivência e a intensa competitividade têm feito com que as empresas facilitem a concessão de crédito aos clientes sem a correspondente preocupação com o seu crédito junto ao fornecedor. Com isso, este eventual desequilíbrio pode gerar custos que a empresa não seja capaz de suportar. Nesse contexto, o gerenciamento eficaz da política de crédito e da política de compra assume uma enorme importância no dia a dia de qualquer empresa. Este módulo visa apresentar esta relação. Além disso, busca interligar essas gestões com os componentes de longo prazo da empresa.

Objetivos Ao completar este módulo de estudo, você estará apto a: • Entender o processo de análise de condições de crédito do cliente. • Estimar os efeitos da política de crédito. • Entender o processo de gestão de estoques. • Entender o processo de gestão de compras.

Estrutura do Módulo Para melhor compreensão das questões que envolvem a gestão de compras, estoque e crédito, este módulo está dividido em: Unidade 1 - Políticas de Venda e Concessão de Crédito a Clientes Unidade 2 - Gestão de Compras e Estoques Unidade 3 - Visão Integrada da Gestão de Curto e Longo Prazo Unidade 4 - Risco de Liquidez

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Unidade 1 - Políticas de Venda e Concessão de Crédito a Clientes O valor a receber apresenta um grande risco e este é o principal componente da análise de crédito. A concessão de crédito é o processo de análise das condições de pagamento de pessoas físicas e jurídicas. O objetivo da concessão de crédito é o aumento das vendas. Maiores prazos ou menores valores nas prestações estimulam a compra. O crédito pode ser definido como a vontade de alguém em ceder, temporariamente, parte de seu patrimônio a um terceiro, com a expectativa que esta parcela volte à sua posse integralmente, depois de decorrido o tempo estipulado. De um modo geral, dividimos a concessão de crédito em grandes e pequenas compras. A tabela a seguir apresenta as fases na concessão de crédito a clientes com pequenas e grandes compras. Fases

Pequenas compras

Grandes compras

1) Histórico do cliente

Sim

Sim

2) Informações bancárias do cliente

Sim

Sim

3) Informações de outros fornecedores sobre o cliente

Sim

Sim

4) Informações de empresas especializadas sobre o cliente

Não

Sim

5) Análise das demonstrações financeiras do cliente

Não

Sim

O processo de análise de crédito possui as seguintes fases: • A primeira fase compreende a análise do histórico do cliente, no qual se verificam os dados cadastrais, sócios, gestores, produção e vendas, e ainda se o cliente já comprou artigos e se pagou em dia. • A segunda fase implica a análise das informações bancárias e informações junto aos órgãos de informações bancárias (como o SERASA). • A terceira fase implica a avaliação de informações junto a outros fornecedores, através de cadastros de maus pagadores. • A quarta fase compreende a análise de informações junto a empresas especializadas e informações do governo, como o CADIN – Cadastro Informativo de Créditos não Quitados do Setor Público e a SRF – Secretaria da Receita Federal e a Central de Riscos do Banco Central. • A quinta fase compreende a análise das demonstrações financeiras do cliente.

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As garantias oferecidas pelo tomador de recursos podem ser pessoais ou reais. Exemplificamos no quadro a seguir: Garantias Pessoais

Garantias Reais

• Aval – Estabelece a obrigação do avalista pelo • Alienação fiduciária – O devedor tem a posse, valor do documento avalizado e este responde mas não a propriedade do bem. com todos os seus bens, exceto os denominados • Hipoteca – Bens imóveis oferecidos em garantia, bens de família. É concedido sobre títulos de exceto os bens de família. crédito. • Penhor – Bens móveis suficientes para garantir • Fiança – Estabelece obrigações do fiador sobre uma dívida. Os bens penhorados devem ficar o objeto afiançado. É concedida sobre contratos. sob a guarda do devedor, que será seu fiel depositário.

Seleção de Crédito Dentre os principais critérios utilizados para selecionar clientes, destacamos três deles, a saber: escore, método dos 5 Cs e termômetro de insolvência. a. Escore Neste tipo de seleção, a empresa distribui pesos e notas e, através de critérios predefinidos, avalia os clientes, conforme exemplo abaixo: Cliente: PESO

NOTA

TOTAL

Informações cadastrais

0,2

7

1,4

Últimas compras

0,2

6

1,2

Informações comerciais

0,15

10

1,5

Informações bancárias

0,15

10

1,5

Garantias apresentadas

0,3

8

2,4 8,00

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Exemplo de critérios adotados: • De 0 a 5 – evitar vendas; • De 5 a 7 – vender com mais garantias; • cima de 7 – facilitar vendas.

b. Método dos 5 Cs Brigham e Weston citam a análise de risco através do método dos cinco Cs :

Caráter

O histórico do solicitante quanto ao cumprimento de suas obrigações financeiras, contratuais e morais. Os dados históricos de pagamentos seriam utilizados na avaliação do seu caráter.

Capacidade

O potencial do cliente para quitar o crédito solicitado. Análises dos demonstrativos financeiros, com ênfase especial nos índices de liquidez e endividamento, são geralmente utilizadas para avaliar a capacidade do solicitante de crédito.

Capital

A solidez financeira do solicitante, conforme indicada pelo patrimônio líquido da empresa. O total de exigíveis e os índices de lucratividade são frequentemente usados para avaliar o capital demandante de crédito.

Garantia (Collateral)

O montante de ativos colocados à disposição pelo solicitante para garantir o crédito. Maior o montante, maior a probabilidade de se recuperar o valor creditado, no caso de inadimplência.

Condição

As condições econômicas e empresariais vigentes, bem como circunstâncias particulares que possam afetar qualquer uma das partes envolvidas na negociação.

Além destes 5 Cs, alguns autores acrescentaram um sexto: Conglomerado. Este item implica a avaliação da participação da empresa dentro de um grupo. A empresa por si só pode não reunir condições de crédito, mas com o aval do grupo este problema pode ser sanado.

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Para saber mais sobre a análise de risco pelo método dos 5 Cs, leia Eugene F.; WESTON, J. Fred. Fundamentos da administração financeira. 10ª ed. São Paulo: Makron Books, 2000. p. 441.

c. Termômetro de insolvência Stephen Kanitz (1976) desenvolveu um método para determinar o grau de liquidez das empresas e a capacidade de saldar débitos. Kanitz determinou pesos sobre valores contábeis, conforme descrito abaixo: Peso

Item

0,05

Retorno sobre o Patrimônio Líquido

1,65

Liquidez Geral

3,55

Liquidez Seca

1,06

Liquidez Corrente

0,33

Exigibilidades/Patrimônio Líquido

A fórmula do FATOR DE INSOLVÊNCIA é dada por:

FI = 0,05 X ROE + 1,65 X ILG + 3,55 X ILS – 1,06 X ILC – 0,33 X Exigibilidades/PL

Desta forma, cada item tem um peso diferente e o resultado destes itens ponderado pelos pesos nos fornece parâmetros para classificar a empresa em níveis de risco: Parâmetro (soma ponderada)

Denominação

Riscos

> 0 até 7

Área de solvência

Aceitáveis

0 até -3

Área de penumbra

Cuidados especiais

< -3 até -7

Área de insolvência

Grandes; perigo de quebra

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Exemplo: considere a empresa ABC LTDA com os seguintes índices financeiros: retorno sobre o patrimônio líquido = 20%; liquidez geral = 0,80; liquidez seca = 0,10; liquidez corrente = 1,60 e exigível total sobre o patrimônio líquido = 2,60. O cálculo do fator de insolvência é feito da seguinte maneira: FI = 0,20 X 0,05 + 0,80 X 1,65 + 0,10 X 3,55 - 1,60 X 1,06 - 2,60 X 0,33 = - 0,869 Esse resultado coloca a empresa na faixa de penumbra, bem próximo da insolvência, o que indica cuidados especiais na análise de crédito e investimento. O cálculo acima ilustra que o modelo é claramente destinado à indústria e comércio, não devendo ser aplicado a bancos ou empresas de serviço; as demonstrações financeiras devem refletir a realidade financeira da empresa, sob pena de encontrarmos resultados contrários à real situação e o modelo não deve ser considerado de maneira isolada. Portanto, outros indicadores também deverão ser analisados.

Efeitos da política de crédito A seguir, dispomos de dois exemplos, baseados em Gitman (2001), que podem esclarecer quais são os procedimentos de cálculo que as empresas devem adotar para determinar se a política de crédito é viável. Exemplo 1 Vamos analisar o comportamento de uma empresa ao conceder crédito frente a alterações no lucro, no investimento, no prazo médio de recebimento e na conta devedores duvidosos. • Uma empresa fabricante de ferramentas de moldagem negocia um produto com preço unitário de R$10,00. • As vendas a crédito no último ano foram de 60.000 unidades. • O custo unitário variável é de R$6,00 e os custos fixos são de R$120.000,00. Após reunião com o departamento de vendas e de produção, chegou-se à conclusão que, caso relaxassem os padrões de crédito, isto aumentaria as vendas em 5%. Porém, o prazo médio de recebimento passaria de 30 para 45 dias e as perdas com clientes cresceriam de 1% para 2%. O custo de capital é de 15% ao ano. 1. Calcula-se o quanto o relaxamento de crédito contribui para aumento do lucro operacional. • Aumento das vendas = 0,05 x 60.000 = 3.000 unidades. • Margem de contribuição unitária = 10 – 6 = R$4,00. • Contribuição adicional = 3.000 x 4 = R$12.000,00.

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2. Calcula-se o custo do investimento marginal em duplicatas a receber. Como esta preocupação se restringe aos custos desembolsados, o custo relevante é o custo variável. Plano atual: R$ 6 x 60.000

x 30 = R$ 30.000

360 Plano proposto: R$ 6 x 60.000

x 30 = R$ 30.000

360

Acréscimo = 47.250 – 30.000 = 17.250

3. Calcula-se o retorno exigido (custo de capital).

17.250 x 0,15 = 2.588,00 (custo do recebimento do dinheiro, que está sendo postecipado).

4. Calcula-se o custo marginal dos devedores duvidosos Plano atual

Plano proposto

Custo atual 0,01 x 600.000 = 6.000

0,02 x 630.000 = 12.600

Aumento dos custos = 12.600 – 6.000 = R$6.600,00

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5. Tomada de decisão: Valores favoráveis à empresa Contribuição adicional ao lucro

R$ 12.000,00

Valores desfavoráveis à empresa Custo do investimento marginal

R$ 2.588,00

Custo marginal de devedores duvidosos

R$ 6.600,00

Resultado = 12.000 – 9.188,00 = R$2.812,00

Como o resultado deu positivo, a empresa pode seguir adiante com esta nova política de crédito.

Exemplo 2 • Uma empresa tem prazo médio de recebimento de 30 dias. • Seu giro anual de duplicatas a receber é de 12 (= 360/30). • Suas vendas a crédito somam 60.000 unidades, cujo preço unitário é de R$10,00. • O custo unitário variável é de R$6,00. Após análise de sua diretoria, a empresa deseja tomar as seguintes decisões: 1. Introduzir desconto financeiro de 2% para pagamento até o 10º dia. Com isso, espera que 60% das vendas sejam utilizadas com o desconto e que as vendas aumentem 5%. 2. O prazo médio de cobrança deve cair para 15 dias. Com isso, o giro de duplicatas a receber, consequentemente, subirá para 24 (360/15). 3. A participação dos devedores duvidosos cairá de 1% para 0,5%.

Suponha que o custo de capital é de 15% ao ano. Verifique os efeitos dessas decisões. 1. Contribuição adicional ao lucro. • Aumento de vendas = 0,05 x 60.000 = 3.000 unidades. • Margem unitária de contribuição = 10 – 6 = 4. • Contribuição adicional ao lucro = 3.000 x 4 = R$12.000,00.

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2. Custo do investimento marginal. Plano atual: R$ 6 x 60.000

x 30 = R$ 30.000

360 Plano Proposto: R$ 6 x 63.000

x 15 = R$ 15.750

360

Redução = 30.000 – 15.750 = 14.250.

3. Aplicação do capital. 0,15 x 14.250 = R$2.137,50.

4. Custo marginal dos devedores duvidosos: Plano atual

Plano proposto

0,01 x 600.000 = 6.000

0,005 x 630.000 = 3.150

Redução do custo de devedores duvidosos = 6.000-3.150 = R$2.850,00 5. Custo do desconto financeiro. 0,02 x 0,60 x 630.000 = R$ 7.560,00

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6. Tomada de decisão: Valores favoráveis à empresa Aumento da margem de contribuição

12.000,00

Redução do custo de devedores duvidosos

2.850,00

Redução no custo do investimento marginal

2.137,50

Total

16.987,50

Valores desfavoráveis à empresa Custo do desconto financeiro

7.560,00

Total

7.560,00

Resultado

16.987,50 – 7.560 = R$9.427,50

Como o resultado foi positivo, a empresa pode conceder o desconto financeiro, nestas condições.

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Unidade 2 - Gestão de Compras e Estoques Os estoques existem para permitir que as companhias atendam às necessidades do cliente. Os estoques amenizam o fluxo de mercadorias ao longo do processo de produção, especialmente para núcleos de trabalho dependentes, e diminuem as incertezas dos fornecedores. Dentre os principais motivos para a manutenção de um estoque, destacam-se: • Características particulares do setor onde a empresa atua. • Sazonalidade dos produtos. • Expectativa de aumento nos preços das matérias-primas. • Política de vendas do fornecedor (como descontos para compras maiores). Como são itens que ficam parados na empresa até serem utilizados, seu dimensionamento e controle é muito importante em todas as empresas que os detêm. Para auxílio dos administradores, a tecnologia de informação tem contribuído de maneira decisiva, facilitando a obtenção de dados em tempo real, como a automação dos pontos de venda e a utilização da tecnologia EDI – Eletronic Data Interchange, que permite a informação em tempo real das vendas de cada produto do varejista para o fabricante.

Os principais tipos de estoque são: • Matérias-primas, que consistem no principal componente do produto final a ser vendido. • Produtos em elaboração, que se referem aos custos inseridos no produto (materiais diretos, mão de obra e gastos indiretos) após o início de sua produção até a chegada ao estoque de produtos acabados ou elaborados. • Produtos acabados, que são os produtos prontos para serem comercializados. Sob o enfoque estritamente financeiro, os estoques devem ser mantidos em níveis mínimos, pois só assim as perdas financeiras com imobilização de recursos em estocagem são minimizadas. Entretanto, as teorias de Marketing e a área de Produção defendem a ideia de que os estoques devem ser mantidos em níveis altos, para que as vendas não sofram descontinuidade por fatores não controlados pela empresa. Por sua vez, do ponto de vista do departamento de compras, os estoques devem variar de acordo com as condições de compra, sendo altos em condições favoráveis, como, por exemplo, no momento em que há descontos.

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Para entendermos quem tem razão, devemos olhar para os custos do estoque. Os custos vinculados aos estoques estão classificados em: • Custos de manutenção, geralmente variáveis, associados às decisões de se manterem determinados itens estocados. Estão incluídos todos os gastos incorridos pela empresa no armazenamento de seus produtos e mercadorias durante determinado período de tempo, e também o custo de oportunidade do investimento em estoques, como armazenagem, transferência, impostos, seguros, perdas por obsolescência, deterioração, furtos, quebras, limite de validade e controle. • Custos de administração, vinculados à compra ou reposição dos produtos em estoque. Esses custos são importantes, pois influenciam a definição dos níveis de estoques. Este custo é representado por um valor fixo por pedido, não se alterando diante de variações na quantidade de estoque solicitada. Quanto maiores forem as quantidades solicitadas, de modo geral, menor o número de pedidos. Os principais componentes deste custo são: preparação e emissão de pedidos, acompanhamento de pedidos, negociação com fornecedores de bens e serviços, recepção e conferência dos produtos comprados e devoluções e retornos ocasionais. • Custos de ausência, relacionados à falta de mercadorias. A falta de estoques pode trazer consequências negativas, como a perda de venda atual e futura. Também pode haver consequências para a imagem da empresa e maiores custos de compra através de processos não rotineiros ou urgentes de compras. Entender e determinar os níveis de estoque envolve entender e determinar os custos associados. Exemplo: suponha uma operação em que uma empresa realiza as seguintes metas: 1. Aumenta os lotes de produção, para evitar os altos custos de preparação. Com isso, reduz custos em R$20.000,00. 2. Aumenta estoques em R$100.000,00.

Dado um custo de capital de 25% ao ano, avalie o resultado destas alterações. • O investimento marginal em estoques é de R$100.000,00. • Portanto, seu custo marginal é de 0,25 x 100.000 = R$25.000,00. • Haverá uma redução estimada de custos em R$20.000,00. • Logo, o resultado é desfavorável para a empresa em R$5.000,00.

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Alteração de condições de crédito Os custos dos estoques e o custo das contas a receber interagem e, muitas vezes, é necessário saber qual desses dois custos é mais importante para a política de vendas da empresa. Por exemplo, suponha uma empresa com os seguintes dados: • Para manter R$1,00 em estoque, uma empresa gasta por ano R$ 0,20. • Para manter R$1,00 em contas a receber, gasta por ano R$0,12. • A empresa tem estoque médio de R$300.000,00. • A empresa tem investimento médio em contas a receber de R$200.000,00. As metas desta empresa são: 1. Alterar as condições de crédito e, com isso, espera que os clientes comprem mais. 2. Com o aumento de vendas, reduzir o estoque médio para R$150.000,00. 3. Aumentar o investimento em contas a receber para R$350.000,00.

Com estes dados, deveria a empresa alterar as condições de crédito?

Atual Custo/

Investimento

Proposto Custo

Médio

Investimento

Custo

Médio

Investimento em estoque médio

20%

300.000,00

60.000,00

150.000,00

30.000,00

Investimento em duplicatas a receber

12%

200.000,00

24.000,00

350.000,00

42.000,00

Total

84.000,00

72.000,00

Como se pode verificar, os custos totais cairiam de R$84.000,00 para R$72.000,00; logo, a empresa deve alterar as condições de crédito.

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Uma técnica interessante é a adoção do método do Lote Econômico. Este método determina a quantidade ótima de compra que minimiza os custos totais de estocagem. Foi constituído com a premissa básica de que os custos de manutenção elevam-se com o aumento dos estoques, enquanto que os de administração declinam. No entanto, ele tem algumas suposições restritivas, como o conceito de que as vendas são distribuídas igualmente durante todo o ano, além de serem previsíveis e imutáveis. As hipóteses básicas consideradas no modelo de lote econômico são: a. O volume do pedido não exerce influência sobre o custo unitário, mantendo-se constante, qualquer que seja a quantidade solicitada. b. A demanda do estoque se processa de maneira uniforme. c. O modelo é desenvolvido em condições de certeza. Não há risco de falta de estoque. d. Não há necessidade de estoque de segurança. Os recebimentos se processam de acordo com o prazo do pedido. e. Não ocorrem limitações financeiras para aplicações em estoques.

O gráfico a seguir mostra os custos de manutenção, de emissão e o total em relação à quantidade por pedido. Como o custo de manutenção aumenta linearmente com a quantidade e o custo de emissão diminui cada vez a quantidades menores quando aumenta a quantidade por pedido, o menor custo total ocorre na quantidade em que o custo de manutenção é igual ao de emissão.

As variáveis para o cálculo do lote econômico são: S = Procura de unidades por período O = Custo de emissão por lote

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C = Custo de manutenção por lote Q = Quantidade por lote Desta forma, temos que: S/Q = Número de pedidos Q/2 = Estoque médio A fórmula para o cálculo do lote econômico é S/Q x O = Q/2 x C Rearrumando, temos que:

Q=

2xSxO C

Exemplo: qual seria o lote ideal de compra de uma empresa que utiliza 1.600 unidades de determinado item de estoque por ano se, para emitir um novo pedido, ela calcula que gastará R$50,00, e, para manter este item em estoque, gastará, por ano, R$1,00? LEC =

2 x 1.600 x 50 1

= 400

Outro processo bem simples é definir um estoque mínimo (EM) ou estoque de proteção, que representa a quantidade mínima necessária para garantir as atividades da empresa sem qualquer interrupção por falta de material. Sua fórmula é:

EM = C x F

Onde: EM = estoque mínimo. C = consumo médio mensal. F = número de dias exigido pela empresa como fator de segurança.

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Gestão de compras A gestão de compras envolve mais do que saber comprar o item certo ou saber comprar na época certa. Ela envolve, principalmente, três grandes componentes: • a compra com vantagem financeira; • a determinação da quantidade ideal; • a avaliação da rentabilidade quando se compara prazos de compra e de recebimento. Uma das principais dificuldades no controle de estoques é saber comprar com vantagem financeira. A tabela a seguir mostra os dados da possibilidade de compra de um produto de três fornecedores diferentes.

Dados

Fornecedores 1

2

3

120

110

120

28 dias

21 dias

35 dias

18%

12%

18%

5%a.m.

5%a.m.

5%a.m.

0

3

1

120

110

120

0

3

1

(=)

120

113

121

(-) ICMS

21,6

13,56

21,78

(=)

98,4

99,4

99,22

(-) Encargos financeiros

4,58

3,45

5,81

93,82

95,95

93,41

Preços unitários sem IPI Prazo de pagamento Alíquota de ICMS Encargo financeiro Frete por unidade Preços unitários sem IPI (+) frete

(=)

O valor do ICMS é sua alíquota (18%) multiplicada pelo preço unitário somado ao frete. Já os encargos financeiros são calculados pela taxa de encargo financeiro efetiva do período multiplicada pelo preço unitário somado ao frete líquido do ICMS. Por exemplo, para o fornecedor 1, temos que:

Valor do Encargo Financeiro = (1+0,05)(28/30)-1]x 98,40 = 4,58

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Ao exclui-los do cálculo, encontramos um preço de referência do produto que permite a comparação. Isto é importante, pois os prazos de pagamento dos fornecedores e o crédito de ICMS gerado pelos fornecedores são diferentes. Note que o ICMS mais alto pode ser bom para a empresa, pois ela terá um crédito que será compensado na venda posterior do produto. Com isso, chega-se a preços e prazos de pagamento bem diferentes. Apesar de, inicialmente, a melhor opção ser do fornecedor 2 (R$110,00), ao efetuarmos os cálculos, verificamos que a opção a ser escolhida deve ser a do fornecedor 3, que tem o menor preço final. A determinação da quantidade a ser comprada é feita pelo consumo em cada etapa. Por exemplo: Unidades Matéria-prima A

1º trimestre

2º trimestre

3º trimestre

4º trimestre

Estoque final

3.000

3.000

3.000

3.000

(+) consumo

4.500

5.500

6.000

5.000

(-) Estoque inicial

3.000

3.000

3.000

3.000

(=) compras

4.500

5.500

6.000

5.000

R$ 0,25

R$ 0,25

R$ 0,25

R$ 0,25

1.125

1.375

1.500

1.250

Custo unitário Compras em R$

Em relação à rentabilidade final da operação, devemos analisar políticas de compra em relação à política de vendas. Exemplo: com base nos dados abaixo, calcule a taxa de equilíbrio para comercialização. 1. Compra à vista e venda à vista.

Onde: C = compras. Copyright Ibmec

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PC = pagamento das compras. V = vendas. RV = recebimento das vendas. PME = prazo médio de estocagem.

Neste caso, a condição de equilíbrio é dada de forma que o total do recebimento de vendas cubra o valor pago das compras corrigido pelo custo do dinheiro durante o prazo médio de estocagem. Perceba que esta relação é similar a ideia da matemática financeira de que o valor futuro é equivalente ao valor presente corrigido pelos juros do período. RV = PC (1+i)PME Considere que o preço de aquisição da mercadoria foi R$4.000, o preço de venda R$6.000 e o prazo médio de estocagem foi de 12 meses. A empresa deseja uma taxa de remuneração de 5% ao mês. Verifique se a empresa está atingindo seu objetivo. 6.000 = 4.000 (1+i)12 i = 3,44% ao mês.

A empresa não está atingindo seu objetivo. Na realidade, o que a empresa lucrou não foi R$2.000,00 (6.000,00 – 4.000,00). Se considerarmos o custo do dinheiro com 2% a.m., o lucro foi de 6.000 – 4.000 (1 + 0,02)12 = 927,03.

2. Compra a prazo e venda à vista.

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Onde: PMP (Período médio de pagamento) = 2 meses e PME (Período médio de estoques) = 3 meses. Condição de equilíbrio financeiro neste caso: V = C (1+i)PME-PMR 6.000 = 4.000 (1 + i)3-2 i = 50% a.m.

Isto significa que, se taxa de juros desejada pela empresa for inferior a 50% a.m., a operação será vantajosa.

3. Compra à vista e venda a prazo.

Onde: PMR (Prazo médio de recebimento) = 1 mês. Condição de equilíbrio financeiro neste caso: RV = PC (1 + i)PME + PMR 6.000 = 4.000 (1 + i)3+1 i = 10,67% a.m.

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Se a taxa de juros requerida pela empresa for inferior a 10,67% a.m., a operação será vantajosa.

4. Compra a prazo e venda a prazo.

Onde: PMR - período médio de recebimento (ou de cobrança) de 1 mês. Condição de equilíbrio financeiro neste caso: RV = PC (1+i)PMR+PME-PMP 6.000 = 4.000 (1+i)1+3-2 i = 22,47%

Se a taxa de juros requerida pela empresa for inferior a 22,47% a.m., a operação será vantajosa, pois os R$6.000,00 recebidos com a venda serão mais que suficientes para cobrir o pagamento e o custo do dinheiro no período.

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Unidade 3 - Visão Integrada da Gestão de Curto e Longo Prazo Os primeiros modelos de análise dinâmica do capital de giro foram desenvolvidos no final dos anos 70 e forneceram novos parâmetros na avaliação de desempenho de curto prazo das organizações, até então estruturada com base nos indicadores convencionais de liquidez e estrutura extraídos do balanço. Nesses modelos, inicialmente desmembram-se os elementos de curto prazo em seus componentes financeiro e operacional (cíclico). As contas operacionais ou cíclicas, como, por exemplo, contas a receber, impostos a recuperar, estoques, adiantamentos a empregados e fornecedores, despesas antecipadas (todas pertencentes ao ativo), fornecedores, salários e encargos sociais, possuem uma relação diretamente proporcional ao nível de atividade realizado.

Com isso, dividimos os elementos cíclicos em ativo circulante operacional (ACO), e passivo circulante operacional (PCO).

• O ativo circulante financeiro (ACF) compõe-se dos itens disponibilidades, títulos e valores mobiliários, créditos não decorrentes das operações contínuas, inclusive juros e dividendos a receber. • Já o passivo circulante financeiro (PCF) abrange as duplicatas descontadas, adiantamentos de contratos de câmbio, empréstimos e financiamentos, imposto de renda e contribuição social a recolher, e dívidas não provenientes das atividades normais do empreendimento. Após essa divisão, deve-se estimar o investimento operacional em giro (IOG), que representa o montante do investimento líquido corrente em contas operacionais necessário à manutenção do atual nível de atividade. Se houver uma expansão das vendas, existirá a necessidade de um IOG mais elevado, ao passo que uma contração exigirá um IOG menor.

O investimento operacional em giro significa a medida de crescimento da empresa e envolve decisões adequadas quanto ao seu financiamento.

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A última medida consiste no saldo de tesouraria (T), a diferença entre os ativos e passivos financeiros (não cíclicos). Essa medida sinaliza o quanto de recursos onerosos de curto prazo foi utilizado para financiamento do investimento operacional em giro. Caso T seja positivo, há recursos próprios da empresa usados nas operações correntes, enquanto que, se negativo, expressa um endividamento, dado que há recursos de terceiros financiando o nível de atividade. As medidas conjuntas fornecem informações úteis. Por exemplo, uma situação bastante comum é a elevação não planejada das atividades de uma empresa e, assim, do investimento operacional em giro, não acompanhada na mesma proporção pelo aumento das fontes de financiamento de longo prazo (CLP). Essa circunstância pode configurar o denominado efeito-tesoura, o qual se caracteriza pela elevação rápida e contínua da procura por fontes onerosas de curto prazo para seu financiamento. O comportamento verificado para as três medidas (CLP, IOG e T) permite o aparecimento de tipos específicos de estruturas financeiras, cada qual envolvendo determinado nível de risco intrínseco, analisados por Fleuriet et al. (1980). A tabela a seguir mostra esses tipos específicos. Tipo

CLP

IOG

T

Situação

I

Positivo

Negativo

Positivo

Excelente

II

Positivo

Positivo

Positivo

Sólida

III

Positivo

Positivo

Negativo

Insatisfatória

IV

Negativo

Positivo

Negativo

Péssima

V

Negativo

Negativo

Negativo

Ruim

VI

Negativo

Negativo

Positivo

Arriscada

Estrutura financeira do tipo I É típica de supermercados: o investimento em giro, em geral, é negativo, pois o passivo cíclico (fornecedores) supera o ativo cíclico (clientes e estoques), na medida em que as vendas são predominantemente à vista. Em adição, o período médio de estocagem é menor que o prazo médio de pagamento aos fornecedores. Estrutura financeira do tipo II É a mais frequente, que requer algum investimento em giro. Na medida em que o IOG é positivo, há necessidade de recursos para seu financiamento e, se CLP e T são também positivos, há sobras de recursos de curto e longo prazos para seu financiamento. Essa estrutura denota uma situação financeira sólida.

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Estrutura financeira do tipo III Há necessidade de investimentos operacionais, porém o CLP, ainda que positivo, não é suficiente para seu financiamento, o que requer o uso de fontes de curto prazo, geralmente mais onerosas. Estrutura financeira do tipo IV Há necessidade de investimento operacional (IOG positivo), contudo não existem fontes de longo prazo disponíveis para seu financiamento (CLP negativo), o que gera uma sobrecarga às fontes onerosas de curto prazo (T negativo). Estrutura financeira do tipo V Embora não haja necessidade por investimentos nas operações correntes, também não se dispõem de sobras de recursos de curto ou longo prazo, o que conduz à existência de T e CLP negativos. Estrutura financeira do tipo VI Não há investimento em giro (negativo) e nem fontes de longo prazo (CLP negativo), mas existem fontes próprias de curto prazo (T positivo). Essa situação de desequilíbrio, em princípio, não se sustenta por muitos períodos.

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Unidade 4 - Risco de Liquidez O risco de liquidez é uma forma de risco extremamente importante, Segundo Jorion (2004), pode se apresentar de duas maneiras: • O risco de liquidez dos ativos ocorre quando uma transação pode não ser efetuada aos preços de mercado prevalescentes (em razão do alto volume transacionado). • O risco de liquidez de financiamento, nosso objeto de estudo, também conhecido como risco de fluxo de caixa, refere-se à incapacidade de honrar pagamentos devido ao imediatismo de um ou mais fluxos. Nesta seção, vamos mostrar um exemplo simples de como uma empresa pode se tornar insolvente, mesmo que ela esteja dando lucro. Apesar de a empresa estar em uma boa situação em longo prazo, ela não gerenciou bem seus fluxos de caixa de curto prazo. Exemplo: o senhor José montou uma loja de material de construção. No primeiro dia de funcionamento de sua loja, comprou e recebeu R$200.000,00 de mercadorias para pagar em trinta dias. Fato 1: A empresa recebe R$ 200.000,00 de mercadorias hoje e vai ter que pagar em 30 dias Para promover sua loja, no seu segundo dia, José permitiu a venda por cartão de crédito ou cheque pré-datado para 30 dias. Todos os clientes pagaram por uma ou outra modalidade acima. Após este dia, José fez as contas e verificou que havia vendido R$150.000,00 de mercadorias que lhe custaram R$120.000,00. Fato 2: Saída de R$ 120.000,00 de mercadorias e entrada de R$ 150.000,00 após 30 dias Devido ao grande sucesso, ele resolveu fechar a loja por trinta dias e tirar férias. Durante as férias, a loja não comprou nem vendeu qualquer mercadoria nem pagou ou recebeu qualquer quantia. Ao final de suas férias, José reabre a loja e seu primeiro encontro foi com o contador: - A loja está em ótima situação, disse o contador. No primeiro mês de funcionamento, a loja deu lucro de R$30.000,00, pois a receita foi R$150.000,00 e o custo da mercadoria vendida foi R$120.000,00! O segundo encontro foi com seu tesoureiro: – A loja está em péssima situação, disse o tesoureiro. Hoje a loja precisa pagar R$200.000,00 ao fornecedor das mercadorias e só tem para receber R$150.000,00 relativos aos cartões de crédito e aos cheques pré-datados que estavam vencendo!

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Isto quer dizer que, mesmo que todos os seus recebimentos fossem pagos, ainda faltariam R$50.000,00 para a loja honrar seus compromissos. Caso José não coloque mais dinheiro no negócio ou, então, arranje garantias para fazer um empréstimo, sua loja pode ser declarada insolvente.

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Resumo Nesse módulo, você pôde definir e conhecer políticas de venda e concessão de crédito a clientes. Inicialmente, identificamos as fases da seleção de crédito e os critérios Escore, 5Cs e o Termômetro de Insolvência. Em seguida, avaliamos os efeitos da política de crédito e detalhamos políticas de compra e a relação com o crédito. A partir daí, definimos taxas de equilíbrio de maneira a sustentarmos políticas de compra e venda em diferentes situações. Vimos, ainda, a interligação entre a gestão de curto e longo prazo de uma empresa, através de três medidas: financiamento de longo prazo, investimento operacional em giro e saldo de tesouraria. Por fim, através de um estudo de caso, verificamos como uma empresa pode tornar-se insolvente, mesmo apresentando lucro.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ASSAF NETO, A.; SILVA, César A. T. Administração do capital de giro. São Paulo: Atlas, 1995. BRIGHAM, Eugene F.; WESTON, J. Fred. Fundamentos da administração financeira. 10ª ed. São Paulo: Makron Books, 2000. FLEURIET, M.; KEHDY, R.; BLANC, G. A Dinâmica Financeira das Empresas Brasileiras. 2ª ed. Fundação Dom Cabral, 1980. GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira: essencial. 2ª. ed. Porto Alegre: Bookman, 2004. GROPPELLI, A.; NIKBAKHT, E. Administração Financeira. 2ª. ed. 2002. HOJI, M. Administração financeira: uma abordagem prática. São Paulo: Atlas, 2001. HORNE, J. C. V. Política e administração financeira. Rio de Janeiro: RTC, 1975. JORION, P. Value At Risk. 2ª ed. São Paulo. BM&F, 2004. KANITZ, S. Indicadores contábeis e financeiros de previsão de insolvência. Tese FEA-USP, 1976.

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