RECOMENDAÇÕES PARA A ABORDAGEM CLÍNICA DO DOENTE COM HIPERTENSÃO PULMONAR*
*Recomendações aprovadas pelas Sociedades Portuguesas de Cardiologia, Cardiologia Pediátrica, Medicina Interna e Pneumologia
Recomendações Para A Abordagem Clínica Do Doente Com Hipertensão Pulmonar*
I
Introdução
A Hipertensão Pulmonar (HP) era, até há bem
Atento a esta evolução e consciente dos be-
pouco tempo, uma entidade obscura, fre-
nefícios que estas orientações podem aduzir
quentemente não identificada, porque omissa
à qualidade assistencial e à organização da
nos processos comuns de diagnóstico e não
prestação dos cuidados no domínio da HP, o
considerada nas intenções de tratamento.
Núcleo de Estudos de Doença Vascular Pulmonar (NEDVP) da Sociedade Portuguesa de
Abílio Reis1,3, Nelson Rocha1 (Coordenadores) Rui Barros1, Alfredo Martins1, Filomena Oliveira5, António Nunes Diogo2, António Marinho da Silva2, Silvia Alvares4, Teresa Shiang2,3, Graça Castro2 e Ana Agapito2
1 – Núcleo de Estudos de Doença Vascular Pulmonar da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna 2 – Grupo de Estudos de Hipertensão Pulmonar da Sociedade Portuguesa de Cardiologia 3 –Sociedade Portuguesa de Pneumologia 4 – Sociedade Portuguesa de Cardiologia Pediátrica 5 – Cardiologista do CHP – HSA
Os anos mais recentes, fruto da evolução
Medicina Interna (SPMI) em conjunto com o
considerável no conhecimento da sua pato-
Grupo de Estudos de Hipertensão Pulmonar
génese e dos mecanismos básicos da lesão
(GEHTP) da Sociedade Portuguesa de Cardio-
vascular, testemunham um interesse cres-
logia, a direcção da Sociedade Portuguesa
cente da comunidade científica, em torno
de Pneumologia e a Sociedade Portuguesa
desta entidade, materializado em progres-
de Cardiologia Pediátrica, reuniram um grupo
sos sensíveis na sua caracterização clínica,
de trabalho interdisciplinar que, baseando-se
nas estratégias de diagnóstico e no desen-
na abundante documentação científica dispo-
volvimento de terapêuticas efectivas, tudo
nível e na própria experiência, produziu o pre-
convergindo para modificar favoravelmente
sente documento que agora se publica sob
o sombrio prognóstico a que os doentes es-
o título “Recomendações para a abordagem
tavam condenados.
clínica da Hipertensão Pulmonar”.
Uma tal evolução arrastou consigo a neces-
É propósito dos subscritores que este docu-
sidade de racionalizar a utilização dos meios
mento, e todas as iniciativas que se lhe asso-
disponíveis, reclamando organização dos cir-
ciem, sirvam a divulgação das boas práticas
cuitos assistenciais e definição de normas de
na abordagem clínica e terapêutica do doente
boa gestão clínica, aspectos que têm mereci-
com HP e constituam elementos de orienta-
do igual interesse da comunidade científica,
ção no processo de organização assistencial,
patente em abundante literatura de cariz clí-
que se afigura indispensável, tendo em vista
nico e organizativo e despertando a atenção
a utilização equilibrada e racional dos meios
das autoridades sanitárias para a introdução
disponíveis e a potenciação da qualidade de
de mecanismos de regulação.
cuidados prestados ao doente com HP.
3
Recomendações Para A Abordagem Clínica Do Doente Com Hipertensão Pulmonar*
Glossário
ACC – Antagonistas dos Canais de Cálcio ALK-1 – Actine-Receptor-Like Kinase 1 AP – Artéria Pulmonar ARE – Antagonistas dos Receptores da Endotelina AU – Ácido Úrico CCD – Cateterismo Cardíaco Direito CF – Classe Funcional CP – Cintigrafia Pulmonar CR – Centro de Referência DCC – Doença Cardíaca Congénita DLCO – Difusão pulmonar do monóxido de carbono DTC – Doença do Tecido Conjuntivo DVP – Doença Vascular Pulmonar EAP – Endarterectomia Pulmonar ECG – Electrocardiograma ECR – Estudos Controlados Randomizados ESAT – Excursão Sistólica do Anel Tricúspide ET1 – Endotelina 1 FE – Fracção de Ejecção FVD – Função Ventricular Direita FVE - Função Ventricular Esquerda GEHTP – Grupo de Estudo de Hipertensão Pulmonar HAP – Hipertensão Arterial Pulmonar HAPH - Hipertensão Arterial Pulmonar Hereditária HAPI – Hipertensão Arterial Pulmonar Idiopática HP – Hipertensão Pulmonar HTPP – Hipertensão Portopulmonar HPS – Hipertensão Pulmonar Secundária HPTEC – H ipertensão Pulmonar Tromboembólica Crónica HTPRN – Hipertensão Pulmonar Persistente do Recém-Nascido
II
IEVE – Í ndice de Excentricidade do Ventrículo Esquerdo
III
Definição, classificação e terminologia
Definição
A definição de HP com o exercício, como PAPm superior a 30 mmHg no CCD, não tem
IT – Insuficiência Tricúspide
A Hipertensão Pulmonar define-se, por con-
NEDVP – N úcleo de Estudos de Doença Vascular Pulmonar
senso, pela constatação de uma Pressão Arterial Pulmonar Média (PAPm) igual ou su-
OMS – Organização Mundial de Saúde
perior a 25mmHg em repouso, determina-
PAD – Pressão na Aurícula Direita
da por cateterismo cardíaco direito (CCD).
A Hipertensão Arterial Pulmonar (HAP) de-
PADm – Pressão Média da Aurícula Direita
Este valor de “cut-off” tem sido utilizado
fine-se pela presença de HP, sendo a Pres-
PAPd – Pressão Diastólica Arterial Pulmonar
na selecção de doentes para estudos con-
são de Encravamento Capilar Pulmonar
PAPm – Pressão Média Arterial Pulmonar
trolados randomizados (ECR) e assumido
(PECP) ≤ 15mmHg e a Resistência Vascu-
PAS – Pressão Arterial Sistémica
em todas as bases de registo de HP
.
lar Pulmonar (RVP) ≥240dynes/s/cm5 ou a
PECP – Pressão de Encravamento Capilar Pulmonar PFR – Provas Funcionais Respiratórias PSAP – Pressão Sistólica Arterial Pulmonar PVD – Pressão no Ventrículo Direito RVP – Resistência Vascular Pulmonar SIV – Septo Interventricular SPMI – Sociedade Portuguesa de Medicina Interna
1,2,3
suporte na literatura publicada já que há indivíduos normais que atingem valores superiores aos referidos durante o exercício4.
3mmHg/l/min (Unidades de Wood)5,6.
O valor normal da PAPm em repouso é 14±3.3 mmHg e o limite superior do nor-
Classificação clínica da HP - Etiologia
mal 20.6 mmHg; são necessários mais estudos epidemiológicos para que se possa
A HP pode ocorrer na forma isolada ou as-
definir o significado e a evolução de PAPm
sociada a diferentes entidades clínicas. Ori-
situadas no intervalo 21 a 24 mmHg.
ginalmente, a HP foi classificada como pri-
TCAR – Tomografia computorizada de Alta Resolução TE – Tromboembolismo Pulmonar TEV – Tromboembolismo Venoso TH – Transplante hepático THH – Telangiectasia Hemorrágica Hereditária TSMM – Teste Seis Minutos Marcha TVRA – Teste de Vasorreactividade Aguda ULS – Unidade Local de Saúde VCI – Veia Cava Inferior
Tabela 1: Definição de Hipertensão Pulmonar
PAPm
Normal
14
Limitesuperior
20
PECP
Grupo clínico*
Hipertensão Arterial (pré-capilar)
≥25
≤15
1, 3, 4 e 5
Pulmonar
≥25
≥15
2
Venosa (pós-capilar)
* de acordo com a tabela 2
VD – Ventrículo Direito VE – Ventrículo Esquerdo VLAT – Velocidade Lateral do Anel Tricúspide
l A definição de HP baseia-se em critérios hemodinâmicos
VNI – Ventilação Não Invasiva
l A definição de HAP implica confirmação de PECP normal por cateterismo direito excluindo assim hipertensão venosa pulmona
5
Recomendações Para A Abordagem Clínica Do Doente Com Hipertensão Pulmonar*
mária (HPP) ou secundária (HPS) conforme
dial de HP (Evian-França), foi proposta uma
se identificava ou não uma causa ou factor
classificação clínico-diagnóstica, identifican-
de risco. Em 1998, no 2º Symposium Mun-
do 5 grupos que partilhavam semelhanças
em termos patológicos, fisiopatológicos,
substituindo-o por HAP hereditária (HAPH).
expressão clínica e abordagem terapêutica .
Esta designação inclui os doentes com
7
Em 2003, no 3º Symposium Mundial de HP
mutações genéticas identificadas, sendo a
Tabela 2: Classificação Clínica da Hipertensão Pulmonar (Danna Point 2008)
(Veneza-Itália) foram feitos novos ajustamen-
mais conhecida a do BMPR2, e seus familia-
1. Hipertensão arterial pulmonar (HAP) 1.1 Idiopática (HAPI) 1.2 Hereditária (HAPF) 1.2.1 BMPR2 1.2.2 ALK-1, endoglina (com ou sem THH) 1.2.3 Desconhecida 1.3 Induzida por drogas e toxinas 1.4 Associada a 1.4.1 Doenças do Tecido Conjuntivo (DTC) 1.4.2 Infecção HIV 1.4.3 Hipertensão portal (HTPP) 1.4.4 Doenças cardíacas congénitas (DCC) 1.4.5 Shistosomíase 1.4.6 Anemia hemolítica crónica 1.5 Hipertensão pulmonar persistente do recém-nascido (HTPRN)
tos, nomeadamente o abandono da designa-
res com ou sem mutação identificada. Esta
ção HPP que foi substituída por Hipertensão
proposta não visa recomendar a realização
Arterial Pulmonar Idiopática (HAPI) e propos-
de estudo genético a todos os doentes com
ta uma classificação patológica-fisiopatoló-
HAPI ou HAPH, mas sim identificar um fac-
gica para os shunts sistémico-pulmonares
tor de risco específico para os membros da
congénitos . No 4º Symposium Mundial de
família. Tem-se observado que estas formas
HP, ocorrido em Fevereiro de 2008, em
hereditárias de HAP incluem um subgrupo
Danna Point-Califórnia, foi decidido manter a
de doentes com formas mais graves da do-
filosofia da classificação de Evian-Veneza e
ença. Ainda no Grupo 1, foi proposta uma
corrigir alguns tópicos específicos conside-
nova classificação clínica para as Doenças
rados imperfeitos e menos claros .
Cardíacas Congénitas (tabela 3). A Shistoso-
1’. Doença veno-oclusiva pulmonar e/ou Hemangiomatose capilar pulmonar 2. Hipertensão pulmonar devida a doença cardíaca esquerda 2.1 Disfunção sistólica do ventrículo esquerdo 2.2 Disfunção diastólica do ventrículo esquerdo 2.3 Doença valvular 3. Hipertensão pulmonar devida a doença pulmonar e/ou hipoxemia 3.1 Doença pulmonar obstrutiva crónica 3.2 Doença intersticial pulmonar 3.3 Outras doenças pulmonares com padrão misto obstrutivo e restritivo 3.4 Patologia respiratória do sono 3.5 Hipoventilação alveolar 3.6 Exposição crónica a alta altitude 3.7 Anomalias do desenvolvimento 4. Hipertensão pulmonar tromboembólica crónica 5. Hipertensão pulmonar por mecanismo multifactorial ou desconhecido 5.1 Doenças hematológicas: síndromes mieloproliferativos, esplenectomia 5.2 Doenças sistémicas, sarcoidose, histiocitose pulmonar de células de Langherans, linfangioleiomiomatose, neurofibromatose, vasculites 5.3 Doenças metabólicas: doença do armazenamento do glicogénio, doença de Gaucher, doenças da tiróide 5.4 Outras: obstrução tumoral, mediastinite fibrosante, insuficiência renal crónica em hemodiálise compressão dos vasos pulmonares (adenopatia, tumor) ALK-1: Activin receptor-like Kinase 1 gene, THH: telangiectasia hemorrágica hereditária
8
9
míase pulmonar foi introduzida neste grupo Na nova classificação (tabela 2), a altera-
e foram retiradas, para um subgrupo especí-
ção mais importante aconteceu no Grupo
fico designado 1´, a Doença Veno-oclusiva e
1, onde se abandonou o termo HAP familiar
a Hemangiomatose Capilar Pulmonar.
Tabela 3: Classificação clínica da HP associada a shunts sistémico-pulmonares congénitos Síndrome de Eisenmenger Doentes com shunts sistémico-pulmonares associados a grandes defeitos, a nível auricular, ventricular ou aorto-pulmonar, condicionando comunicação ampla entre a circulação sistémica e a circulação pulmonar e levando a um aumento marcado da RVP com a consequente inversão ou bi-direcionalidade do shunt. Apresentam cianose, eritrocitose secundária e envolvimento multiorgânico HAP associada a shunts sistémico-pulmonares Doentes com defeitos grandes a moderados em que o aumento da RVP é ligeiro a moderado, mantendo-se o shunt predominantemente sistémico-pulmonar e não apresentando cianose em repouso HAP com pequenos defeitos septais Doentes com pequenos defeitos septais (auriculares < 2cm e ventriculares < 1cm de maior diâmetro) em que o quadro clínico é muito semelhante ao da HAPI
7
Recomendações Para A Abordagem Clínica Do Doente Com Hipertensão Pulmonar* Tabela 4: Classificação clínica da HP e relação com estratégia terapêutica Classificação
Tratamento
Hipertensão Arterial Pulmonar
Terapêutica farmacológica específica
HP devida a doença cardíaca esquerda
Terapêutica médica da insuficiência cardíaca; Correcção cirúrgica de doença valvular, coronária ou pericárdica.
HP devida a doença pulmonar Oxigénio; VNI; Terapêutica dirigida à doença e/ ou hipoxemia pulmonar (ex. broncodilatadores); Terapêutica específica a ponderar quando a HP é desproporcional à esperada para a doença pulmonar*. HP tromboembólica crónica Endarterectomia pulmonar (EAP) se exequível; Terapêutica farmacológica específica na doença não operável ou persistência de HP pós EP*. HP por mecanismo multifactorial ou desconhecido
Terapêutica dirigida à doença de base
Tabela 5: Classificação Funcional da Hipertensão Pulmonar modificada (OMS 1998) Classe I: Doentes com HP, mas sem limitação da actividade física. A actividade física habitual não provoca dispneia, fadiga, dor torácica ou pré-sincope Classe II: Doentes com HP e limitação ligeira da actividade física. Confortáveis em repouso. A actividade física habitual causa dispneia, fadiga dor torácica ou pré-sincope. Classe III: Doentes com HP e limitação marcada da actividade física. Confortáveis em repouso. A mínima actividade física causa dispneia, fadiga, dor torácica ou pré-sincope. Classe IV: Doentes com HP e incapazes de executar qualquer actividade física sem sintomas. Podem apresentar dispneia e/ou fadiga mesmo em repouso. O desconforto aumenta com a mínima actividade física. Apresentam sinais de insuficiência cardíaca direita.
l A HP deve ser caracterizada quanto à etiologia ou doença associada, segundo a classificação de Evian-Veneza, revista em Danna Point em 2008 l Todos os doentes devem classificados funcionalmente segundo a classificação da NYHA/WHO
*definida e discutida em situações especiais
Os grupos 2 e 3 não sofreram alterações
O último grupo da classificação de Danna Point
4 classes funcionais, baseada na classifica-
funcional, por estar directamente relaciona-
substanciais.
é constituído por um conjunto heterogéneo de
ção da New York Heart Association para a
da com o prognóstico, constitui uma condi-
doenças que cursam com HP, cujo mecanismo
insuficiência cardíaca (tabela 5). A avaliação
ção determinante na decisão terapêutica.
Pelo contrário, o grupo 4 foi substancialmente alterado tendo sido abandonada a distinção
permanece obscuro ou é multifactorial.
entre tromboembolismo (TE) distal e proximal,
A classificação actual, tal como as anteriores,
adoptando-se a designação única de Hiperten-
agrupa as doenças por mecanismo fisiopatoló-
são Pulmonar Tromboembólica Crónica (HP-
gico, funcionando assim como guia orientador
TEC). De facto, a distinção entre TE proximal
para o tratamento (tabela 4).
e distal é arbitrária e subjectiva, e de escassa utilidade para a prática clínica. Os doentes com HPTEC suspeitada ou confirmada devem
Classificação funcional modificada da HP (OMS)
ser avaliados quanto à exequibilidade de en-
A HP deve ser caracterizada quanto às suas
darterectomia em centros médico-cirúrgicos
repercussões funcionais, em função da ex-
especializados, já que este procedimento
pressão sintomática e do impacto funcional. A
pode significar a cura da doença.
OMS propôs, em 1998, uma classificação em
9
Recomendações Para A Abordagem Clínica Do Doente Com Hipertensão Pulmonar*
Avaliação diagnóstica
IV
pide e um S3 ventricular direito. A cianose
crónica (enfisema ou fibrose pulmonar).
central só surge nas fases avançadas da Suspeita clínica - Identificação
de falência ventricular direita. A angina re-
Os sinais e sintomas da HP são inespecíficos, estão muitas vezes mascarados, sendo frequentemente interpretados como pertencendo ao quadro clínico da doença de base associada10. O diagnóstico exige, por isso, um baixo limiar de suspeita e uma abordagem
flecte hipoperfusão miocárdica causada por sobrecarga do ventrículo direito e aumento das necessidades de oxigénio. Em alguns casos, pode ser secundária a compressão dinâmica do tronco da coronária esquerda por uma artéria pulmonar dilatada, sobretu-
de sobrecarga e/ou hipertrofia ventricular
cardiograma (ECG) são anormais em 80-
direita e dilatação auricular direita (desvio di-
90% dos casos e podem reforçar a suspeita
reito do eixo, R>S em V1, bloqueio completo
clínica
.
Na HP devida a doença cardíaca ou pulmo-
passiva, por insuficiência ventricular direita,
dentes às artérias pulmonares centrais e a
nar (grupos 2 e 3), a clínica é dominada pela
pode causar anorexia e dor no hipocôndrio
atenuação da rede vascular periférica, resul-
patologia de base. Na HAP (grupo 1) a sus-
direito.
tando em campos pulmonares oligoémicos.
dispneia, aperto torácico, síncope ou présíncope com o esforço), sobretudo quando em contexto de doença potencialmente associada a HAP e na ausência de patologia cardíaca esquerda ou pulmonar que, por si mesmas, justifiquem a clínica. Na HPTEC (grupo 4), a história pessoal ou familiar de tromboembolismo venoso ou de factores de risco para o mesmo, é fundamental para a suspeita clínica.
intensidade do componente pulmonar do segundo som (S2p)13. Com o desenvolvimento de falência ventricular direita ou bloqueio de ramo direito, o desdobramento de S2 tornase progressivamente mais amplo. Pode aparecer um sopro de ejecção sistólico ou, na doença avançada, um sopro diastólico de regurgitação pulmonar. O aparecimento de um S4 ventricular direito e de lift paraesternal esquerdo ou sub-xifoideu, traduz o desenvolvimento de hipertrofia ventricular
Dispneia de esforço e fadiga estão presen-
direita. A falência ventricular direita leva a hi-
tes na maioria dos doentes, decorrendo da
pertensão venosa sistémica que se manifes-
incapacidade para responder ao esforço
ta por distensão venosa jugular patológica,
com aumento do débito cardíaco . Dor to-
hepatomegalia, pulsatilidade hepática, ede-
rácica relacionada com o esforço (angina) e
mas periféricos e ascite. Podem ainda estar
síncope aparecem com o desenvolvimento
presentes um sopro de regurgitação tricús-
11
ou incompleto de ramo direito e aumento da
11,12
são o alargamento das áreas correspon-
O sinal mais precoce de HP é o aumento da
mais frequentemente encontradas são sinais
A telerradiografia (Rx) do tórax e o electro-
é superior a 40mm. A congestão hepática
na conjugação de sinais e sintomas (fadiga,
como método de rastreio11. As alterações
precocemente.
Os sinais radiológicos mais comuns de HP
peita é eminentemente clínica e baseia-se
do ECG são insuficientes para o recomendar
sistémico-pulmonares, onde pode aparecer
do quando o diâmetro da artéria pulmonar
sistematizada das manifestações clínicas.
A sensibilidade (55%) e especificidade (70%)
doença, excepto na HP associada a shunts
amplitude da onda P em DII). A presença destas alterações obriga a despistar HP. Independentemente do seu baixo valor diagnóstico, o ECG pode ter valor prognóstico, a presença de sinais de dilatação auricular direita (P≥0.25mV) faz aumentar em 2.8 vezes o risco de morte
O alargamento do bordo direito da silhueta
aos 6 anos12.
cardíaca traduz dilatação da aurícula direita. Nas incidências de perfil, pode observar-se
Detecção
diminuição do espaço retrosternal por dila-
O ecocardiograma é o exame complementar
tação do ventrículo direito. As alterações
de diagnóstico de eleição para a detecção
radiológicas descritas, embora específicas,
de HP. É um exame não invasivo, de fácil
são pouco sensíveis. A sua ausência não ex-
realização, reprodutível e pouco incómodo
clui a presença de HP e a sua presença não
para o doente. Permite estimar a pressão
se correlaciona com gravidade ou prognós-
sistólica da artéria pulmonar, avaliar o ta-
tico14. O Rx de tórax pode, no entanto, aju-
manho das cavidades cardíacas, estudar a
dar a determinar a etiologia, quando mostra
função ventricular e caracterizar situações
alterações sugestivas de doença pulmonar
que cursam com elevação das pressões nas
l O diagnóstico de HP deve ser considerado em todos os doentes com sintomas sugestivos (dispneia, fadiga, dor torácica e síncope ou pré-sincope) sem doença cárdio-respiratória que os justifique l O ECG e o Rx do tórax são habitualmente anormais e podem reforçar a suspeita clínica; a sua normalidade não exclui, no entanto, a presença de HP
11
Recomendações Para A Abordagem Clínica Do Doente Com Hipertensão Pulmonar*
cavidades direitas (patologia valvular, do-
mensões das cavidades direitas, função ven-
ença miocárdica e pericárdica primárias, e
tricular direita e cálculo da PSAP e PAPm; es-
cardiopatias congénitas). Apesar de depen-
tudo do coração esquerdo que deve incluir
dente de limitações técnicas e da população
caracterização das estruturas valvulares,
estudada, é considerado um exame sensível
avaliação da espessura das paredes ventricu-
e específico para o diagnóstico, avaliação
lares, dimensões e morfologia das cavidades
da gravidade e prognóstico da HAP15.
e avaliação da função ventricular (sistólica e
Achados ecocardiográficos Pressões cronicamente elevadas na circulação pulmonar condicionam dilatação das cavidades direitas, hipertrofia ventricular direita e, posteriormente, disfunção ventricular direita. O septo interventricular (SIV) pode apresentar-se aplanado, com movimento anormal ou hipertrofiado, com uma relação SIV/parede posterior > 1. O ventrículo esquerdo (VE) adquire uma forma em D, com redução dos volumes diastólicos e sistólicos, mas com função sistólica global preservada. A presença de derrame pericárdico é consequência da deficiente drenagem linfática causada pelo aumento das pressões nas cavidades direitas. O prolapso da válvula mitral está relacionado com a redução do tamanho do VE. Os folhetos da válvula mitral podem apresentar alterações morfológicas (espessamento ou calcificação), na HP asso-
diastólica se possível); despiste de defeitos congénitos e doenças do pericárdio. Os shunts sistémico-pulmonares devem ser sistematicamente despistados, podendo ser útil complementar o exame com a administração de contraste endovenoso (soro fisiológico ou gelofusine agitados)16 e efectuar ecocardiograma transesofágico. Dimensões das Cavidades Direitas e Artéria Pulmonar
A câmara de saída do VD, o tronco e ramos
ção isovolumétrica + Tempo de relaxamento
principais da artéria pulmonar (AP) são ava-
isovolumétrico/Tempo de ejecção. Quando há
liados na janela para-esternal (eixo curto).
compromisso da FVD o tempo de ejecção está
Na presença de HP grave, o tronco da AP e
encurtado e o tempo de relaxamento isovolu-
seus ramos estão dilatados (diâmetro supe-
métrico aumenta. Um índice de TEI superior a
rior a 2.8cm).
0.40 indica FVD anormal.
Função Ventricular Direita
Pressão Sistólica da Artéria Pulmonar
Pelas características complexas da geome-
A pressão sistólica da artéria pulmonar (PSAP)
tria do ventrículo direito (VD), e ao contrário
é estimada através do jacto de insuficiência
do que acontece na avaliação da função ven-
tricúspide (IT), presente em cerca de 75% dos
tricular esquerda (FVE), os métodos padroni-
doentes com HP. Na ausência de estenose pul-
zados internacionais para a quantificação da
monar ou obstrução na câmara de saída do
função ventricular direita (FVD) estão menos
VD, a PSAP pode ser calculada pela equação
estabelecidos.
de Bernoulli: PSAP=Vmax2x4 + Pressão média
quada para a avaliação da FVD. O primeiro
necessário realizar múltiplas incidências,
passo na avaliação da FVD é a sua análise
nomeadamente para-esternal (eixo longo,
qualitativa em normal ou ligeira, moderada ou
curto, cavidades direitas), apical de quatro
gravemente comprometida.
As dimensões das cavidades direitas podem ser estimadas de forma qualitativa. Considera-se que há dilatação do VD quando, em para-esternal eixo longo, o seu diâmetro é
dade máxima do jacto de IT obtida por CW-Do-
pela regra de Simpson modificada não é ade-
Para uma visualização completa do VD é
cavidades e subcostal.
na Aurícula Direita (PADm)17. A Vmax é a veloci-
A determinação da fracção de ejecção (FE)
ppler e a PmAD é determinada indirectamente tendo em conta o diâmetro e variabilidade respiratória da veia cava inferior (VCI) (tabela 6). O limite superior normal da PSAP é de 37.2mmHg. PSAP superior a 40mmHg ocor-
O grau de Excursão Sistólica do Anel Tricús-
re em 6% da população com mais de 50
pide (ESAT) em direcção ao apex, permite
anos e 5% dos doentes com IMC superior
estimar a FVD, uma excursão inferior a 1.5
a 30Kg/m2. Há uma forte correlação entre
cm traduz compromisso da FVD.
a PSAP estimada por ecocardiografia e por
ciada a doença do tecido conectivo.
> 2/3 do VE e em apical quatro cavidades
A avaliação por eco-Doppler tecidular (TDI)
cateterismo direito. No entanto, o número
quando as cavidades direitas são iguais ou
permite calcular a Velocidade Lateral do Anel
significativo de falsos positivos obriga a
Metodologia do estudo
superiores às esquerdas (este principio é vá-
Tricúspide (VLAT), uma velocidade inferior a
confirmação do diagnóstico por cateterismo
ecocardiográfico
lido apenas quando as cavidades esquerdas
10cm/s indica FVD comprometida.
direito.
Pode ser sistematizada em três etapas se-
são de dimensões normais; quando estão
O Índice de Tei Ventricular Direito é outro parâ-
Avaliação do Coração esquerdo
quenciais: estudo do coração direito, que
dilatadas, a relação pode estar conservada
metro útil na avaliação da FVD e calcula-se atra-
O grau de distorção do VE provocado pela
consiste essencialmente na avaliação das di-
e as cavidades direitas estarem dilatadas).
vés da seguinte fórmula: Tempo de contrac-
dilatação do VD pode ser quantificado atra-
13
Recomendações Para A Abordagem Clínica Do Doente Com Hipertensão Pulmonar* Tabela 6: Estimativa da PADm
l O ecocardiograma é o meio auxiliar de diagnóstico de eleição para detecção de HP l Ajuda mas não assegura o diagnóstico diferencial entre HP e HAP
Diâmetro da VCI de 17-20 mm com colapso inspiratório ou redução >50% e cavidades direitas de dimensões normais
5mmHg
Diâmetro da VCI de 17-20 mm com colapso inspiratório ou redução >50% e cavidades direitas dilatadas
10mHg-15mmHg
Diâmetro da VCI > 20 ou <25 mm sem variabilidade respiratória do seu diâmetro
15mmHg
Diâmetro da VCI ≥ 25 mm sem variabilidade respiratória do seu diâmetro.
20 mmHg
vés do Índice de Excentricidade do VE (IEVE).
Na presença de dilatação do VD, o diâmetro
No eixo curto, o VE normal é redondo com
do VE perpendicular (D1) ao septo interven-
diâmetros transversais e longitudinais iguais.
tricular (SIV) é menor que o diâmetro parale-
l Deve ser complementado com injecção de contraste e com abordagem transesofágica para despiste de shunt sistémico-pulmonar l Permite avaliar função VD e obter parâmetros de gravidade e prognóstico l Deve integrar os exames de seguimento do doente com HAP
lo (D2). O IEVE representa a razão D2/D1,
aguda (TVRA) em todos os doentes com HP
sendo considerado anormal quando > 1.2.
e com PECP normal. Quando esta está aumentada ou há suspeita clínica de doença
Confirmação
veno-oclusiva ou de hemangiomatose capilar
O cateterismo cardíaco direito é obrigatório
pulmonar, deve ser bem ponderada a sua
para a confirmação de HP. Faculta, além disTabela 7: Parâmetros recomendados na avaliação ecocardiográfica 1. Avaliação global
a. Dimensões do VE b. Função sistólica e diastólica do VE c. Estruturas valvulares d. Presença de cardiopatia congénita (shunt sistémico-pulmonar) e. Presença e volume de derrame pericárdico
4. Determinação da PSAP
a. Velocidade do jacto de insuficiência tricuspide b. Exclusão de obstáculo entre o VD e a AP c. Diâmetro da veia cava inferior e presença de colapso inspiratório d. Estimativa da PSAP
(tabela 9). O iloprost inalado, embora menos
8)18. É ainda útil na identificação, caracteri-
referido na literatura, vem sendo cada vez
zação e decisão terapêutica dos shunts sis-
mais utilizado, nomeadamente nos países
témico-pulmonares. Em doentes com PSAP a realização de cateterismo direito deverá
a. Avaliação qualitativa da função ventricular direita b. Índice de excentricidade do ventrículo esquerdo (IEVE) c. Índice de Tei do ventrículo direito d. Excursão sistólica do anel tricúspide (ESAT)
e o epoprostenol e a adenosina intravenosos
do prognóstico e decisão terapêutica (tabela
utilizados no TVRA são o óxido nítrico inalado
gico, estratificação da gravidade, definição
≤50mmHg, estimada por ecocardiografia,
3. Função ventricular direita
edema agudo do pulmão. Os fármacos mais
cos indispensáveis para o diagnóstico etioló-
2. Avaliação estrutural do ventrículo direito e artéria pulmonar a.Dimensões da aurícula e ventrículo direitos b. Dimensões da artéria pulmonar e seus ramos principais
realização, pelo risco de desencadear um
so, um conjunto de parâmetros hemodinâmi-
germanófilos19 e será incluído na lista de fármacos recomendados para o TVRA nas orientações saídas do 4th World Symposium
ser ponderada consoante a idade, suspei-
on Pulmonary Hypertension9. O TVRA é con-
ta clínica e comorbilidades. Em nenhuma
siderado positivo quando há uma queda da
circunstância deve ser introduzido tra-
PAPm superior a 10 mmHg e para valores
tamento farmacológico específico para
absolutos inferiores a 40 mmHg, desde que
a HAP sem realização de cateterismo
não haja diminuição do débito cardíaco.
direito e teste de reactividade vascular aguda.
Considerações especiais
O cateterismo direito deve ser complemen-
Estudo hemodinâmico com o exercício
tado com um teste de vasoreactividade
- é controversa a sua realização e interpre-
15
Recomendações Para A Abordagem Clínica Do Doente Com Hipertensão Pulmonar* Tabela 8: Parâmetros necessários no Cateterismo Cardíaco Direito 1. Medidas de pressão a. Pressão Arterial Sistémica (PAS) b. Pressão média Aurícula Direita (PADm) c. Pressão Ventrículo Direito (PVD) d. Pressão Arterial Pulmonar i. Sistólica (PSAP) ii. Média (PAPm) iii. Diastólica (PAPd) e. Pressão de Encravamento Capilar Pulmonar (PECP)* f. Pressão Aurícular Esquerda (se detectado foramen oval patente ou defeito do septo auricular)
2. Amostras de sangue para oximetria a. Arterial Sistémica b. Aurícula esquerda se abordada c. Arterial Pulmonar (mistura venosa) d. Veia cava superior e inferior** e. Aurícula e ventrículo direitos**
**quando indicadas (suspeita de shunt sistémico-pulmonar)
Shunts sistémico-pulmonares – devem
modalidades e protocolos de exercício. Pode
ser sempre considerados na programação
ser útil no estudo de doentes com HP “border-
do estudo hemodinâmico, especialmente
line” e em populações em risco .
se não foi realizado ecocardiograma trans-
Avaliação da PECP – o valor da PECP é um
torácico com contraste ou transesofágico.
dos parâmetros mais importantes a obter no
A avaliação hemodinâmica deve incluir co-
cateterismo direito, porque permite distinguir
lheitas de sangue para estudo da SatO2 nos
entre hipertensão arterial e venosa pulmonar.
vários locais referidos na tabela 7.
Razões várias, de ordem técnica ou clínica,
O cateterismo direito, quando realizado em
podem levar a resultados incorrectos. As
centros experientes, tem morbilidade e mor-
razões de natureza técnica mais frequentes
talidade muito baixas, 0.3% e 0.05% respec-
são a insuficiente ou excessiva progressão
tivamente19.
18
*ou pressão telediastólica do VE se encravamento não conseguido ou duvidoso
tação, pela ausência de consenso quanto às
do cateter, com obtenção de PECP falsa-
Investigação etiológica
mente elevada. Deve ser prestada especial atenção à configuração da curva de pressão
Detectada e confirmada a HP, a avaliação
durante o encravamento; no caso de dúvida
subsequente tem por objectivos definir a
3. Variáveis calculadas
deve ser retirada amostra de sangue para
classe clínica e a etiologia. A caracterização
comparação com os valores do sangue ar-
etiológica irá determinar o tratamento apro-
terial. Na impossibilidade de obter uma PECP
priado.
fiável deve ser avaliada a pressão telediastó-
O ecocardiograma, decisivo na detecção
lica do VE por cateterismo esquerdo .
da HP, permite documentar a presença de
Nos doentes com disfunção VE e suspeita de
doença cardíaca esquerda, patologia val-
HP venosa por patologia do coração esquer-
vular ou pericárdica. A HP, neste contexto,
do, nomeadamente nos já medicados e con-
deve-se a um processo passivo de aumento
trolados, com PECP no limite do normal, deve
de pressões nas câmaras esquerdas com
ser feito teste de sobrecarga hídrica com
subsequente aumento da pressão venosa e
soro salino (500cc) e reavaliação da PECP.
arterial pulmonares. O estudo da circulação
a. Débito e Índice Cardíaco b. Resistências Vasculares Sistémicas e Pulmonares c. Gradiente transpulmonar (diferença entre PAPm e PECP)
4. Outros
18
a. Teste de vasoreactividade aguda com reavaliação das variáveis referidas anteriormente (excepto situações referidas no texto)
Tabela 9: Fármacos utilizados no teste de vasoreactividade aguda Fármaco
Via
Dose
Aumento
Duração
Epoprostenol
Intravenosa 3min
Semi-vida
2-12 ng/Kg/min
2 ng/Kg/min
10 min
Adenosina
Intravenosa 5-10 seg
50-350 ug/Kg/min 50 ug/Kg/min 2 min
l A confirmação de HP exige a realização de cateterismo direito
a
b
c
Oxido Nítrico
Inalatória
15-30seg
10-20 ppm
-
5 min
l A afirmação de HAP obriga à exclusão de PECP elevada
Iloprost
Inalatória
20 – 30 min
20ug
Dose única
10 min
l O TVRA é indispensável para a decisão terapêutica
aDose inicial e máxima sugerida; bAumento sequencial da dose; cDuração da administração em cada passo
17
Recomendações Para A Abordagem Clínica Do Doente Com Hipertensão Pulmonar*
l N os doentes com HP o ecocardiograma deve avaliar sinais de doença cardíaca esquerda (incluindo função sistólica e diastólica), doença valvular e pericárdica
Nos doentes com doença respiratória crónica
A cintigrafia pulmonar (CP) de ventilação/per-
l O ecocardiograma com contraste (transtorácico e/ou transesofágico) deve ser realizado a todos os doentes com HP
que apresentem HP desproporcionada à do-
fusão tem sensibilidade e especificidade ele-
ença subjacente (PSAP superior a 55mmHg),
vadas (> 90%) para o diagnóstico de HPTEC e
deve ser equacionada outra causa adicional
um exame normal exclui o diagnóstico. Com
para a HP. Não há evidência de qualquer be-
CP sugestiva ou quando subsiste alta suspei-
nefício em tratar a HP devida a doença res-
ta clínica de TEP crónico, deve ser realizada
piratória crónica com fármacos específicos.
Angio-TAC para melhor definição anatómica
Um trabalho recentemente publicado mos-
e avaliação da extensão da doença. Apesar
trou que a terapêutica específica pode ser
dos avanços técnicos conseguidos com a to-
prejudicial neste grupo de doentes .
mografia axial computorizada, continua a ser
pulmonar por cateterismo direito permite
imagem (Rx de tórax, complementado se ne-
determinar o gradiente transpulmonar, pres-
cessário por TAC) e estudo funcional respi-
sões de encravamento capilar pulmonar e da
ratório (PFR) com gasometria do sangue ar-
aurícula direita, ajudando assim a excluir HP
terial e capacidade de difusão do CO (DL∞).
secundária a doença cardíaca esquerda. A
Na HP sem doença pulmonar subjacente, as
disfunção diastólica do VE é frequentemen-
PFRs revelam volumes estáticos e dinâmicos
A HP devida a tromboembolismo pulmonar
te sub-avaliada no ecocardiograma e muitas
normais e caracteristicamente diminuição
crónico (HPTEC) é uma situação frequente
vezes só é documentada com a avaliação da
da DL∞. Em 20% dos casos pode haver um
e potencialmente curável pelo que deve ser
PECP, durante o cateterismo direito, e por
síndrome restritivo ligeiro. A TAC torácica
considerada em todos os doentes com HP.
vezes, nos doentes compensados, só com
permite caracterizar não só o parênquima
O risco de HPTEC após embolia pulmonar
Na HPTEC por TEV idiopático deve ser feito
recurso a teste de sobrecarga hídrica ou de
pulmonar mas também as dimensões das
documentada é de cerca de 3.8% aos 2
despiste de trombofília que deve incluir an-
esforço. O tratamento nestas situações é di-
artérias pulmonares e das câmaras cardía-
anos
. Por este motivo está recomenda-
ticorpos anti-cardiolipina, anti-fosfolipidos e
rigido à doença subjacente.
cas, nomeadamente do ventrículo direito. Na
da reavaliação ecocardiográfica 6 a 12 se-
suspeita de doença do interstício pulmonar a
manas após o evento inicial, nos casos de
A HAP é frequente na Esclerodermia, com
TAC deve ser realizada com técnica de alta
embolia pulmonar com HP na apresentação.
uma incidência de 0.61/100 doentes/ano23,
O ecocardiograma deve ser complementado com injecção de contraste para despiste de shunts sistémico-pulmonares. Na maioria
20
recomendado estudo com angiografia pulmonar clássica nos doentes com HPTEC, para uma boa caracterização anatómica, decisão de operabilidade e estratégia cirúrgica.
21,22
anticoagulante lúpico.
resolução (TCAR).
das situações, é necessário realizar o eco
Os doentes com suspeita de síndromes de
transesofágico para melhor caracterização
hipoventilação alveolar devem ser submeti-
do defeito intracardíaco. Na presença de
dos a estudo polissonográfico. A HP asso-
shunt, a caracterização hemodinâmica é
ciada a estes síndromes é habitualmente
também fundamental para melhor definição
ligeira, não ultrapassando os 50mmHg de
do shunt e avaliação das pressões e resis-
PSAP e melhora com a correcção/tratamen-
tências, dados necessários para definir a
to do distúrbio do sono.
l Todos os doentes com HP devem efectuar PFR com espirometria, volumes estáticos e dinâmicos, difusão de CO e gasometria arterial. l A todos os doentes com HP deve ser realizado estudo de imagem pulmonar (Rx de tórax, complementado por TAC se necessário) na avaliação inicial para exclusão de doença pulmonar associada. l A TAC torácica permite caracterizar melhor o parênquima pulmonar, as dimensões das artérias pulmonares e ventrículo direito e deve incluir técnica de alta resolução na suspeita de doença do interstício pulmonar.
doentes com HP pelo que todos os doentes
l O estudo do sono não está recomendado em todos os doentes com HP. Deve ser realizado somente quando há suspeita clínica de HP associada a síndromes de hipoventilação alveolar (apneia do sono / obesidade com hipoventilação).
A exclusão de HP associada a doença pul-
devem fazer estudo da saturação de O2 du-
l A todos os doentes com HP deve ser avaliada a saturação de O2 durante o sono
monar e/ou hipoxemia implica estudo por
rante o sono11.
atitude terapêutica, nomeadamente a oportunidade para cirurgia de correcção.
A hipoxemia durante o sono é frequente nos
19
Recomendações Para A Abordagem Clínica Do Doente Com Hipertensão Pulmonar*
l A avaliação analítica inicial do doente com HAP deve incluir: hemograma, bioquímica, função tiroideia, estudo imunológico (complemento, auto-anticorpos - ANA’s, anti-Scl70, anti–centrómero, U1-RNP e U3-RNP) e serologias para o VIH.
l Todos os doentes com hipertensão portal e cirrose hepática, candidatos a transplante hepático, devem ser avaliados para despiste de HP. l N os doentes com HP de causa não esclarecida e suspeita de doença hepática crónica, a ecografia abdominal e/ou documentação de hipertensão portal deve levantar a suspeita de hipertensão portopulmonar
ença do coração esquerdo, particularmente
Capacidade para o esforço
no idoso e no doente com factores de risco
O Teste dos Seis Minutos de Marcha (TSMM)
vascular, seguida da doença respiratória e
tem um valor bem estabelecido na avaliação
tromboembólica crónicas. Quanto aos meios
dos doentes com HP. Os valores basais do
auxiliares para o diagnóstico, nomeadamen-
teste correlacionam-se com a classe fun-
te quanto aos métodos invasivos e técnicas
cional, os parâmetros hemodinâmicos e a
que exigem equipamentos adequados e ex-
sobrevida29. A avaliação seriada é útil no
periência de execução e interpretação, deve
seguimento e determinação da resposta ao
sempre ser ponderada a sua realização em
tratamento5. O valor prognóstico preditivo
centros adequadamente equipados e com
do teste baseia-se na distância absoluta al-
experiência comprovada. O algoritmo de in-
cançada e não do aumento da distância per-
sobretudo na forma cutânea limitada com
cial do doente, sempre perante um contexto
vestigação recomendado na tabela 10 tem
anticorpos anti-centrómero, na forma difusa
clínico apropriado.
corrida28. Nos doentes em classe funcional
em conta estes pressupostos.
com U3-RNP e na doença mista do tecido
III e IV, um TSMM ≤250 mts pré tratamento
A prevalência da HP nos doentes com doen-
conjuntivo com anticorpos U1-RNP24. Na
ou <380 mts após 3 meses de tratamento
ça hepática crónica submetidos a transplan-
Estratificação da gravidade
Esclerodermia a HP pode resultar de várias
te hepático ronda os 4% . A história clínica
causas, nomeadamente de doença cardía-
e a ecografia abdominal são importantes
ca esquerda e doença intersticial pulmonar,
para a confirmação da doença hepática e da
pelo que devem ser seleccionados os exa-
hipertensão portal. O eco-doppler abdominal
mes adequados para a sua caracterização
pode ajudar na diferenciação entre hiperten-
(cateterismo direito, estudo de imagem e
são portal passiva, secundária a falência car-
função respiratória). A associação de HP
díaca direita, e hipertensão portal associada
com outras doenças do tecido conjuntivo é
a cirrose hepática ou trombose portal.
possível, mas menos frequente.
26
A investigação etiológica da HP deve ter
Cerca de 0.5% dos doentes com infecção
sempre em consideração o quadro clínico
pelo VIH desenvolvem HAP25. Devem ser
do doente, a frequência das patologias asso-
consideradas, no entanto, outras causas de
ciadas, a disponibilidade dos exames reco-
HP frequentemente presentes neste grupo
é indicador de pior prognóstico. Para distân-
O prognóstico da HP difere conforme a
cias percorridas superiores a 450m o teste
classe clínica, sendo pior na HAPI e na HAP
perde sensibilidade e é, por este motivo,
associada a DTC, nomeadamente Esclero-
de menor utilidade em doentes em classe
dermia, e melhor na HAP devida a shunts
funcional I ou II. O TSMM deve ser realizado
sistémico-pulmonares congénitos. Além da
segundo normas padronizadas30 e incluindo
classe, há um conjunto de variáveis clínicas
avaliação e registo da frequência cardíaca e
e laboratoriais (tabela 11) que se correlacio-
saturação de O2 mínimas e máximas, bem
nam com a gravidade e o prognóstico da
como da fadiga e dispneia pré e pós teste,
HP. A avaliação conjunta da classe clínica e
segundo as escalas aconselhadas (Borg).
dessas múltiplas variáveis tem um valor pre-
Os resultados devem ser interpretados em
ditivo maior que cada um dos parâmetros
função dos valores teóricos para o doente,
isoladamente27 (tabela 11).
tendo em atenção a idade, o peso e a altu-
mendados e a experiência na sua execução
Classificação Funcional
ra31. Para efeitos de monitorização da eficá-
de doentes (doença respiratória crónica e
e interpretação. Devem ser sempre pesqui-
A classe funcional basal da OMS (tabela 5)
cia terapêutica, devem ser efectuados 2 a 3
tromboembolismo pulmonar).
sados e valorizados os sinais e sintomas de
possui um valor prognóstico preditivo bem
testes basais e seleccionado o melhor deles
Outras causas raras de HP (doença tiroideia,
doenças potencialmente associadas a HP,
definido. A presença de falência ventricular
para comparação futura.
hepática, sarcoidose) devem ser equaciona-
que devem servir de guia para a investiga-
direita, antes do início da terapêutica, tem
A Prova de Esforço Cardiopulmonar (PEC) é
das na avaliação clínica e complementar ini-
ção. A causa mais frequente de HP é a do-
valor prognóstico preditivo negativo1,28.
tecnicamente mais complexa. Pode ser útil em
21
Recomendações Para A Abordagem Clínica Do Doente Com Hipertensão Pulmonar*
Tabela 10: Algoritmo de investigação etiológica
doentes em classe I ou II em que o TSMM não
cular direita e, quando conjugados com os
é tão informativo. Um VO2 máximo <10.4ml/
dados clínicos, podem evitar o uso de testes
Kg/min associa-se a pior prognóstico .
mais complexos e dispendiosos33.
Parâmetros ecocardiográficos
O ácido úrico (AU) é um produto final da
A função sistólica do ventrículo direito, dimen-
degradação das purinas e o seu nível tra-
5
Doença Cardíaca esquerda Doença valvular Cardiopatia congénita / shunt sistémico-pulonar
ECG Ecocardiograma (Contrastado e /ou trans-esofágico)
duz o grau de alteração do metabolismo
sões da aurícula direita (área da AD > 27cm2),
oxidativo nos tecidos periféricos sujeitos a
índice de excentricidade do ventrículo esquer-
Doença Pulmonar crónica e/ou hipoxemia
Imagem Pulmonar PFR Gasometria Arterial
isquemia. Níveis elevados de AU no doente
do (> 1.2), Índice Tei (> 0.83) e a presença de
com HP correlacionam-se com sobrevidas
derrame pericárdico têm implicações prog-
curtas. Porém, a sua concentração reflecte,
nósticas27. A PSAP não é considerada factor
também, alterações na função renal e uso
preditivo independente do prognóstico.
Apneia do sono Obesidade / Hipoventilação
de diuréticos, situações que prejudicam a
Parâmetros hemodinâmicos Estudo do sono
sua utilidade como marcador de gravidade
Uma PAD > 12mmHg e um índice cardíaco
da doença.
< 2 l/min/m2 associam-se de forma consis-
O “Brain Natriuretic Peptide” (BNP) e a
tente com pior prognóstico1,11. Deve ser rea-
Hipertensão Pulmonar Tromboembolica crónica
Cintigrafia Pulmonar (ventilação / perfusão) (Angio-TAC / Angiografia)
sua pró-hormona NT-proBNP, são factores
lizada reavaliação hemodinâmica após 3 a 6
independentes de prognóstico de mortalida-
meses de tratamento para avaliação da res-
de e correlacionam-se com progressão da
posta, ajuste terapêutico e definição do prog-
doença e resposta ao tratamento34. Valores
nóstico. Reduções da RVP inferiores a 30%,
de BNP < 180pg/ml associam-se a um cla-
após 3 meses de tratamento, associam-se
Doença do Tecido Conjuntivo VIH
Estudo Imunológico Serologia VIH
ro aumento da sobrevida6. Os níveis de am-
a pior prognóstico29. A heterogeneidade dos
bos os biomarcadores são dependentes da
diferentes estudos não permite estabelecer
idade, sexo, taxa de filtração glomerular e
limiares ou recomendações acerca do valor
obesidade.
prognóstico destes parâmetros, de forma
Hipertensão Portopulmonar
Função hepática Evidência de Hipertensão Portal Ecografia Abdominal
Outros marcadores de lesão miocárdica têm
generalizada. Um teste de vasoreactividade
sido estudados na HP e TEP de alto risco
positivo é um indicador de excelente prognós-
(troponina, heart-type fatty acids binding pro-
tico e identifica os candidatos a tratamento
tein e growth-differentiation factor-15) mas a
com altas doses de antagonistas do cálcio32.
sua indicação e importância ainda não estão
Biomarcadores
Hipertensão Arterial Pulmonar Idiopática
Investigação negativa
estabelecidas.
Os biomarcadores humorais associados à HP, são um importante instrumento de avaliação e monitorização da disfunção ventri-
23
Recomendações Para A Abordagem Clínica Do Doente Com Hipertensão Pulmonar* Tabela 11: Parâmetros de avaliação prognóstica 1. 1. Parâmetros Clínicos
a. Classe funcional basal
2. Capacidade para o esforço
a. TSMM basal
b. TSMM após tratamento
c. VO2 máximo
3. Parâmetros ecocardiográficos
a. Derrame pericardico
b. Dimensão da Aurícula direita
c. Índice de excentricidade do ventrículo esquerdo
d. Índice de Tei ventrícular direito
4. Parâmetros hemodinâmicos
Tabela 12: Estratificação da gravidade e prognóstico Bom prognóstico
Determinantes do prognóstico
Mau prognóstico
Não
Evidência clínica de insuficiência cardíaca direita
Sim
Lenta
Deterioração clínica
Rápida
Não
Síncope
Sim
I ou II
CF WHO
III ou IV
> 400 mts
TSMM (conforme o teórico)
< 250 mts
Normal ou quase normal
BNP/NT-proBNP
Elevado ou a subir
Sem derrame pericárdico Dados ecocardiográficos Sem disfunção VD
Com derrame pericárdico Com difunção VD PAD > 12 mmHg ou IC ≤2.0 L/min/m2
a. Pressão na aurícula direita (PAD)
PAD < 8 mmHg e Dados hemodinâmicos IC ≥ 2.5 L/min/m2
b. Índice Cardíaco
Adaptado de McLaughlin & McGoon35
c. Saturação de O2 na artéria pulmonar (saturação venosa mista)
d. Teste de vasorreactividade aguda
Avaliação prognóstica e definição do
ser feita no mesmo momento mas deve ser
e. Redução da RVP após 3 meses de tratamento
estado do doente
realizada ao longo do seguimento para que
No seguimento do doente com HP devem ser
a cada momento se possa fazer uma avalia-
seleccionados e avaliados regularmente os
ção prognóstica do doente e os consequen-
parâmetros estratificadores de gravidade com
tes ajustes terapêuticos.
5.Biomarcadores
a. BNP / NT-proBNP l O prognóstico da HP correlaciona-se com a etiologia e com múltiplas variáveis clínicas e laboratoriais l A classe funcional, apesar da subjectividade, permanece ainda como um bom indicador de prognóstico l A avaliação da capacidade de exercício pelo TSMM é um bom marcador nos doentes em CF III e IV; os doentes em CF I e II devem ser avaliados com prova de esforço cardio-pulmonar l A PSAP não se correlaciona com o prognóstico l A dilatação da AD, a disfunção ventricular direita avaliada pelo índice de Tei, um aumento do índice de excentricidade do VE e a presença de derrame pericárdico são indicadores de mau prognóstico
valor prognóstico estabelecido (tabela 12).
As decisões terapêuticas devem ter em con-
As variáveis assinaladas devem ser interpre-
ta o estado inicial do doente e a resposta
tadas em conjunto e sempre no contexto
ao tratamento sendo tomadas em função do
clínico. A sua avaliação não necessita de
estado/gravidade do doente (tabela 13).
Tabela 13: Estado, gravidade e atitudes Estado
Parâmetros
Atitudes
l A PAD e o índice cardíaco têm valor prognóstico
Estável e satisfatório
Sinais de bom prognóstico
Manter terapêutica
l Um TVRA positivo é indicador de bom prognóstico
Estável e não satisfatório
Embora estável não atingiu os objectivos de bom prognóstico
Aumentar terapêutica
l O BNP / NT-proBNP correlaciona-se com o prognóstico e é um bom indicador da evolução da doença
Instável e em deterioração Sinais de mau prognóstico
25
Atenção imediata e aumento da terapêutica
Recomendações Para A Abordagem Clínica Do Doente Com Hipertensão Pulmonar*
Os doentes instáveis e em deterioração
reforço dos diuréticos; aparecimento de
clínica exigem atitudes terapêuticas pron-
novo ou aumento da frequência/gravida-
tas e devem ser orientados de imediato
de de episódios de angina; ocorrência de
para um centro de referência em HP, com
novo ou aumento da frequência de episó-
experiência no uso de todos os fármacos
dios sincopais.
para a HP, incluindo prostanóides endove-
O doente estável mas em estado não satis-
nosos. Os sinais de deterioração clínica
fatório deve ser referenciado o mais rapida-
são: aparecimento ou agravamento de
mente possível para uma consulta especiali-
edemas dos membros inferiores, exigindo
zada de HP.
V
Rastreio
Genético
PSAP > 50mmHg. Em doentes com PSAP >
A frequência mínima estimada da HAP Fami-
35mmHg e ≤50mmHg a decisão de realizar
liar é de 5 a 10%. O risco de HAPF é de-
cateterismo direito deverá deve ser individu-
terminado por mutações na superfamília
alizada e ter em conta outros factores (sinto-
dos receptores TGFβ , principalmente no
mas, idade, biótipo e comorbilidades).
gene codificador do receptor tipo II, BMPRII.
Doença do Tecido Conjuntivo (DTC)
As mutações do receptor tipo I, ALK-1, são
A HAP é uma complicação frequente da
raras e encontram-se em doentes com ma-
Esclerodermia pelo que alguns autores re-
nifestações clínicas do síndrome de telan-
comendam o rastreio anual com ecocardio-
giectasia hemorrágica hereditária. Têm sido
grama e provas funcionais respiratórias com
encontradas alterações genéticas em casos
difusão de CO (DLCO). Nas outras doenças
esporádicos de HAPI. Os testes genéticos
do tecido conjuntivo o rastreio só está reco-
podem estar indicados na HAPF, após acon-
mendado na presença de sintomas27.
selhamento genético, para determinação do risco individual e planeamento familiar. Está
Hipertensão Portopulmonar (HTPP)
indicada monitorização clínica dos familiares
A prevalência de HTPP em doentes candida-
em risco para detecção e tratamento pre-
tos a transplante hepático é de cerca de 4%,
coces27.
pelo que deve ser feito rastreio com ecocar-
Aos familiares de primeiro grau de doentes
diograma a todos os doentes com cirrose
com HAPI deve ser fornecida informação
hepática e hipertensão portal candidatos a
acerca da base genética da doença e do bai-
transplante hepático26.
xo risco (<5%) de a virem a desenvolver . 27
Anemias hemolíticas
HAP associada
A HAP vem sendo referida cada vez mais
Nas doenças em que HAP é uma complica-
frequentemente como doença associada a
ção conhecida (HAP associada), a avaliação
anemias hemolíticas congénitas, drepanoci-
clínica regular deve incluir pesquisa de sinais
tose e talassémias. Não há ainda evidência
e sintomas sugestivos de HP. Nalgumas,
que suporte o rastreio de HAP neste grupo
pelo alto risco, está indicado o rastreio
de doentes. Deve ser ponderado o despiste
com ETT e PFR com DLCO. Deve ser reali-
com ecocardiograma e provas funcionais
zado cateterismo direito, para confirmação,
respiratórias com difusão de CO (DLCO) nos
quando se detecta por ecocardiografia uma
doentes sintomáticos.
27
Recomendações Para A Abordagem Clínica Do Doente Com Hipertensão Pulmonar*
VI
Infecção VIH
Tromboembolismo pulmonar crónico
A HAP é uma complicação rara nos doentes
A hipertensão pulmonar tromboembólica
infectados com o VIH (0.5%)36 pelo que não
crónica (HPTEC) é uma complicação relativa-
Medidas gerais
o feto, programada cesariana electiva e se-
está indicado o rastreio no doente assinto-
mente frequente do tromboembolismo veno-
Estão identificadas várias circunstâncias
guimento conjunto pela equipa obstétrica e
mático. Na presença de sintomas sugesti-
so (3.8% aos 2 anos) . O risco é maior na
e agentes externos que podem influenciar
de HP. Os contraceptivos que contêm estro-
vos deve ser realizado ecocardiograma e
embolia pulmonar aguda com hipertensão
negativamente o prognóstico dos doentes
génios aumentam o risco de TEV. Os méto-
provas funcionais respiratórias com difusão
pulmonar. Estes doentes devem repetir eco-
com HAP. As medidas gerais do tratamento
dos de barreira não são completamente se-
de CO (DLCO).
cardiograma 6 a 12 semanas após o evento
da HAP contemplam estratégias que visam
guros, por isso não devem ser usados como
inicial, complementado com cintigrafia e an-
diminuir o impacto nocivo desses factores
único método anticoncepcional. A colocação
gioTAC pulmonar quando há persistência de
externos na evolução da doença.
de dispositivos intra-uterinos pode despertar
21
sintomas ou HP .
Tratamento
crises vaso-vagais, geralmente mal toleradas
22
1. Actividade Física
pela doente com HP. As preparações conten-
A actividade física, necessária à promoção
do unicamente progesterona são seguras e
da saúde cardiovascular, pode agravar a
não têm os inconvenientes dos estrogénios.
HAP e provocar sintomas graves como dor
Não há evidência para avaliar a segurança
torácica e síncope. Deve ser evitada toda l Não está indicado o rastreio genético aos familiares de doentes com HAPI ou HAPF
da terapêutica hormonal de substituição na
a actividade física ou outras situações que
mulher pós-menopausica. Nos casos de sin-
l N as doenças com risco para HAP devem ser pesquisados activamente sinais e sintomas sugestivos de HP e só nesse caso se deve prosseguir o despiste com ecocardiograma e PFR com DLco
agravem a sintomatologia (viagens para
tomas intoleráveis pode ponderar-se o seu
grandes altitudes, temperaturas muito eleva-
tratamento, desde que em conjunto com a
das). Está contra-indicada a actividade físi-
anticoagulação oral.
l A os doentes com história de TEP agudo com HP deve ser efectuada reavaliação com ETT 6 a 12 semanas após o evento inicial
ca que possa aumentar de forma abrupta a
l D eve ser feito rastreio de HP aos doentes com doença hepática crónica com indicação para transplante hepático
pressão intra-torácica ou o trabalho cardía-
l É controverso o rastreio de HP nos doentes com DTC assintomáticos
pesados.
3. Viagens Não há estudos que ajudem a determinar a
co, como levantar pesos e arrastar objectos
necessidade de suplementos de O2 durante as viagens longas de avião em doentes com
2. Gravidez, contracepção e terapêutica
HP. Os efeitos fisiológicos conhecidos da
hormonal de substituição
hipóxia aconselham a que se faça suplemen-
O risco de morte materna em grávidas com
tação aos doentes em CF III e IV e naqueles
HAP é de 30 a 50% e alguns dos fármacos
com saturação basal < 92%. Um fluxo de
utilizados no tratamento da HAP podem ser
2 l/min será suficiente para colocar a FiO2
teratogéneos . Em caso de gravidez, a do-
nos valores observados ao nível do mar. Do
ente deve ser informada dos riscos e dis-
mesmo modo estes doentes não devem
cutida a interrupção voluntária da gravidez.
viajar sem suplemento de O2 para altitudes
Se a decisão for de prosseguir, devem ser
acima dos 1500 a 2000 metros. Os doentes
usadas as terapêuticas menos tóxicas para
devem viajar com informação escrita porme-
38
29
Recomendações Para A Abordagem Clínica Do Doente Com Hipertensão Pulmonar*
norizada da sua doença, medicação, cuida-
tiverem a via digestiva disponível. As inter-
dos especiais e informação dos centros a
venções devem ser efectuadas em centros
contactar em caso de necessidade.
e por equipas com experiência nesta área.
4. Suporte psicológico
lico pode ter efeitos devastadores. Estes
da SatO2. A hipoxemia nocturna é frequen-
doentes apresentam um risco tromboembó-
te nos doentes com HAP, sobretudo nos
7. Medicações concomitantes
lico elevado devido à dilatação das câmaras
que apresentam disfunção ventricular direi-
A maioria dos doentes com HP desenvolve
Há um risco potencial de interacções me-
cardíacas direitas, à eritrocitose secundária
ta mais grave, e não tem necessariamente
síndromes ansiosos e/ou depressivos agra-
dicamentosas nos doentes com HP. Os ini-
à hipoxemia, à diminuição da actividade fí-
relação com a dessaturação de esforço. A
vando a sua qualidade de vida. Sempre que
bidores do citocromo CYP3A4, tais como
sica global e à implantação de cateteres
suplementação com O2 não deve interferir
se justifique, devem ser orientados para
o ketoconazol e a ciclosporina, aumentam
vasculares. Está demonstrado o benefício
de forma negativa nas actividades do doente
apoio psicológico/psiquiátrico especializa-
os níveis plasmáticos dos antagonistas dos
da hipocoagulação crónica na sobrevida dos
pelo que devem ser fornecidas fontes mó-
do. A informação a fornecer ao doente com
receptores da endotelina (ARE), bosentan e
doentes com HAPI40,41 sendo aconselhável
veis de oxigénio (O2 líquido) quando neces-
HP envolve múltiplos aspectos, muitos deles
sitaxsentan, estando por isso containdicada
a hipocoagulação crónica, na ausência de
sária suplementação durante o exercício.
não médicos, pelo que é de toda a utilidade
a administração conjunta destas drogas. A
orientar o doente para grupos/associações
co-adminitração de bosentan e gliburide, um
de doentes organizados.
antidiabético oral, está também contrain-
5. Infecções
dicada. O sitaxsentan inibe o CYP2C9 pelo
Não existe informação sobre o risco específico das infecções em doentes com HAP. Esta doença cursa com compromisso da função cardíaca e respiratória, sendo por isso de prever um risco semelhante ao dos doentes com insuficiência cardíaca esquerda ou doença pulmonar. Na prevenção das infecções, deve seguir-se o recomendado para estas situações, incluindo vacinação anti-gripal e anti-pneumocócica.
que a co-administração com varfarina obriga a uma redução na dose do anticoagulante. O sildenafil é um substracto para o CYP3A4
contra-indicação formal. O INR recomendado
da 5-fosfodiaterase. A administração conjunta de fármacos específicos para a HAP e de
ta42; a sua eficácia quando administrada a
bose ou história de HPTEC, a hipocoagula-
longo prazo não está estudada. Poderá es-
ção com heparinas de baixo peso molecular
2. Diuréticos
dos nos doentes medicados com inibidores
doente com HP e disfunção ventricular direi-
nos doentes com risco aumentado de trom-
co-administrado com inibidores daquele en-
e saquinovir). Os nitratos estão contraindica-
com a administração aguda de digoxina no
cedimento invasivo, estando recomendado
durante o período de suspensão dos ACO.
os inibidores das proteases do VIH ritanovir
Há evidência de melhoria do débito cardíaco
suspensa cinco dias antes de qualquer pro-
e os seus níveis estão aumentados quando zima (eritromicina, ketoconazol, cimetidina e
4. Digoxina
é de 1.5 a 2.5. A hipocoagulação deve ser
tar indicada nos doentes com taquiarritmias supraventriculares, pelo seu efeito cronotrópico negativo.
Os sintomas e sinais de insuficiência cardía-
5. Reabilitação supervisionada
ca direita devem ser controlados com diuré-
Um trabalho recentemente publicado de-
ticos, evitando reduções demasiado rápidas
monstrou uma melhoria da capacidade
ou exageradas da volémia. Deve ser feito
para o exercício em doentes com HAP que
um controle regular do peso do doente, da
frequentaram um programa de reabilitação
função renal e do ionograma.
6. Cirurgia electiva
drogas anti-hipertensoras, como os bloque-
A cirurgia electiva tem um risco aumentado
adores beta e IECAs, deve ser muito bem
3. Oxigénio
rios mais estudos para que se possa fazer
nos doentes com HP. A hipotensão e a hipo-
ponderada pelos riscos de hipotensão.
A hipoxemia é um potente vasoconstritor pul-
uma recomendação formal nesta área, mas
monar que pode agravar a HP. A saturação
há cada vez mais evidência de que estes
de oxigénio no sangue arterial deve ser man-
doentes perdem a massa muscular com a
volémia são mal toleradas e a escolha da técnica anestésica deve ter em conta este
Terapêutica de suporte
muscular supervisionada43. São necessá-
facto. Os doentes controlados com terapêu-
1. Anticoagulação oral
tida em valores iguais ou superiores a 90%
progressão da doença o que pode ser evita-
tica oral podem ter necessidade de passar
Devido à baixa reserva cardíaca dos doentes
em repouso e durante o esforço ou outras
do com programas de reabilitação muscular
à via intravenosa ou inalatória, enquanto não
com HP, um pequeno evento tromboembó-
situações que possam determinar redução
apropriados.
31
Recomendações Para A Abordagem Clínica Do Doente Com Hipertensão Pulmonar*
Recomenda-se em todos os doentes com HAP:
esforço físico, 3. aumento da sobrevida
no TVRA, atingindo uma PAPm de 33±8
l Evitar esforços e situações que provoquem sintomas
e 4. melhoria da qualidade de vida. A
mmHg. O Diltiazem (240 a 720 mg por dia),
l Q uando controlado, fazer exercício físico aeróbico regular e progressivo, limitado pelos sintomas
terapêutica disponível para o tratamento da
a Nifedipina (120 a 240 mg por dia) e a
HAP compreende dois grupos distintos de
Amlodipina (até 20 mg por dia) têm sido os
l Vacinação anti-pneumocócica e anti-influenza
fármacos: 1. Inibidores dos canais de cálcio
ACC mais utilizados. O Verapamil não está
l Uso de diuréticos para controlo dos sinais e sintomas de insuficiência cardíaca direita
e 2. Fármacos vasoactivos específicos.
recomendado devido ao seu potencial efeito inotrópico negativo. A selecção do ACC
l Estudo de oximetria de esforço e nocturna l OLD quando saturação de oxigénio no sangue arterial inferior a 90%.
1. Inibidores dos canais de cálcio
deve ter em conta a frequência cardíaca,
l S uplemento de O2 durante as viagens de avião aos doentes com SatO2 no limite do normal e aumento da FiO2 nos em OLD
O tratamento a longo prazo com altas do-
diltiazem nos doentes com taquicardia e
ses de antagonistas dos canais de cálcio
nifedipina ou amlodipina nos doentes com
l Hipocoagulação se não houver contra-indicações (INR recomendado: 1.5-2.5)
(ACC) parece ser eficaz num pequeno grupo
tendência à bradicardia. Deve iniciar-se o
de doentes com HAPI. Numa análise retros-
tratamento pelas doses mais baixas e subir
pectiva de 557 doentes, Sitbon e colabora-
gradualmente até à dose máxima tolera-
, encontraram 70 (12.6%) doentes
da. A hipotensão e os edemas periféricos
que responderam positivamente ao TVRA;
são os efeitos laterais mais frequentes e
destes só 38 (6.8%) mantiveram resposta
limitantes da dose. Os ACC só devem ser
sustentada aos 12 meses de tratamento
introduzidos após TVRA e apenas quando
com ACC. Foi considerada resposta susten-
este é positivo. O doente deve ser seguido
Na mulher com HAP em idade fértil e sexualmente activa recomenda-se: l Frequência de consulta especializada de planeamento familiar l Contracepção eficaz sem estrogénios l Interrupção da gravidez durante o primeiro trimestre
dores
46,47
Tratamento Específico
dos e à definição de objectivos do tratamen-
tada a melhoria clínica, passagem para CF
regularmente e avaliada a resposta à tera-
A HAP é uma doença crónica, progressiva e
to, bem como monitorização apertada dos
I ou II, hemodinâmica e a manutenção dos
pêutica, incluindo hemodinâmica, aos 3 a 6
incurável. Nos últimos 10 anos verificou-se
seus resultados. Os doentes com HAP que
valores conseguidos no TVRA, sem neces-
meses. Se não são atingidos os objectivos
contudo uma grande evolução na compre-
não recebem a terapêutica adequada têm
sidade de associação de terapêutica espe-
do tratamento, CF I ou II e melhoria hemodi-
ensão dos mecanismos da lesão vascular
uma má qualidade de vida e mortalidade
cífica. Este grupo de doentes tinha apresen-
nâmica significativa, devem ser acrescenta-
pulmonar e descoberta de fármacos que
elevada, comparáveis às provocadas pelas
tado a resposta positiva mais pronunciada
dos fármacos vasoactivos específicos.
vieram permitir melhorar significativamente
neoplasias malignas. Os doentes com HAP,
o prognóstico da doença. Recomendações
tal como qualquer outro grupo de doentes,
baseadas na evidência, elaboradas por
devem ter acesso em tempo útil a cuidados
várias sociedades científicas internacio-
de saúde diferenciados e às terapêuticas re-
nais, definem hoje o tratamento padrão da
comendadas, desde que prescritas segundo
HAP9,27,44,45. Essas recomendações aconse-
as recomendações aprovadas.
lham ainda ao investimento na detecção e
O tratamento da HAP com fármacos vaso-
início da terapêutica precoces, ao tratamen-
activos tem como objectivos: 1. alivio dos
to destes doentes em centros especializa-
sintomas, 2. melhoria da tolerância ao
l Os ACC devem ser utilizados unicamente nos doentes que foram submetidos a cateterismo direito e apresentem um TRVA positivo l Deve ser confirmada a resposta aos ACC em reavaliação clínica e hemodinâmica aos 3 a 6 meses de tratamento l Só os doentes que apresentem resposta clínica e hemodinâmica sustentada devem manter a monoterapia com ACC
33
Recomendações Para A Abordagem Clínica Do Doente Com Hipertensão Pulmonar*
Os ACC só estão indicados na HAPI, Familiar
Os estudos comparativos disponíveis, entre
ou associada ao uso de anorexiantes. Nas
fármacos ou classes de fármacos, são pou-
outras classes clínicas, nomeadamente nas
cos e com pequeno número de doentes. Tal
DTC48 e DCC, mesmo com TVRA positivo,
como nas outras doenças raras, os centros
não há evidência de benefício e podem ser
especializados no tratamento da HAP traba-
mal tolerados.
lham no desenvolvimento de novos fármacos e terapêuticas, promovendo e participando
1. Indicado – Indicação estabelecida nas
vascular (lesões plexiformes). A prostacicli-
recomendações internacionais e aprovada
na é um dos mediadores envolvidos neste
pelas agências reguladoras;
processo e o seu deficite parece estar asso-
2. Aceitável – Considerados pelos peritos
ciado a vasoconstrição, trombose e prolife-
como adequado, com base num pequeno nú-
ração vascular.
mero de casos publicados, mas com neces-
O epoprostenol, iloprost e treprostinil são
sidade de se produzirem mais referências;
análogos da prostaciclina e podem ser
3. Experimental – Indicação não reconheci-
administrados em perfusão endovenosa
da nem validada pela comunidade científica,
contínua, por nebulização ou por via sub-
podendo ser considerada em ensaios clíni-
cutânea. O epoprostenol é o único pros-
cos bem desenhados e aprovados;
tanoide que demonstrou melhorar signifi-
2. Fármacos vasoactivos específicos
em estudos com endpoints bem definidos,
A sobrevida dos doentes com HAP está di-
e, nos dias de hoje, testando sobretudo os
rectamente relacionada com a classe funcio-
efeitos das associações dos fármacos dis-
nal da OMS, capacidade para o esforço físi-
poníveis, terapêutica combinada.
co e parâmetros hemodinâmicos. A maioria
Seguindo as recomendações de peritos
dos fármacos vasoactivos específicos para
publicadas9,27,44,45 e suportados nos estu-
a HAP (a tabela 14 mostra os disponíveis em
dos randomizados controlados duplamente
Portugal e os seus custos médios diários,
cegos e em estudos abertos de análise de
calculados para um adulto com peso de
sobrevida publicados até à data, decidimos
60Kg), quando usados em monoterapia, tem
estabelecer quatro níveis de recomenda-
2.1. Prostanoides
eficácia demonstrada, naqueles parâmetros,
ções de utilização dos fármacos disponíveis
em estudos randomizados e controlados.
A prostaciclina é um potente vasodilatador
em Portugal.
mais doentes tratados nos EUA e na Euro-
com propriedades antitrombóticas, antipro-
pa, mas não está disponível em Portugal.
liferativas e anti-inflamatórias49. A lesão vas-
Em solução é quimicamente instável e tem
cular da HAP é provocada pela proliferação
semivida curta, ao contrário dos restantes
da célula endotelial e muscular lisa dos pe-
prostanoides que são quimicamente está-
quenos vasos pulmonares e caracteriza-se
veis e apresentam semividas plasmáticas
por vasoconstrição, trombose e proliferação
mais longas (tabela 15).
Tabela 14: Fármacos vasoactivos específicos disponíveis em Portugal Classificação
Via de Administração
Custo Médio Diário*
Prostanoides Iloprost Treprostinil
inalatória endovenosa subcutânea e endovenosa
157.5 euros 380 euros (3ng/Kg/min) 320 euros (25ng/Kg/min)
Antagonistas dos receptores da endotelina
oral oral oral oral oral
96,9 euros 99,4 euros 99,4 euros 94,5 euros 189 euros
Inibidores da 5’ fosfodiesterase
Nome
Bosentan 62,5mg Bosentan 125mg Sitaxsentan 100mg Ambrisentan 5mg Ambrisentan 10mg Sildenafil 60 a 240mg
oral
*preços fornecidos pelos Serviços Farmacêuticos de um Hospital do SNS em Julho de 2009
17.7 – 70.7 euros
cativamente a sobrevida de doentes com
4. Não recomendado – Indicação não re-
HAPI num estudo prospectivo randomizado
conhecida nem validada pela comunidade
e a sua eficácia em tratamentos longos foi
científica pelo que é considerada má prática.
demonstrada em dois estudos observacionais recentes50,51. É o prostanoide com
Tabela 15: Diferenças entre alguns prostanoides
Nome Via de administração Estabilidade comercial
Semivida Plasmática
Epoprostenol Não disponível Perfusão contínua ev
12 a 24 horas < 3 a 5 minutos
Iloprost
Nebulização Perfusão contínua ev
Estável Estável
~ 30 minutos
Perfusão contínua sc ou ev
Estável
≤ 4,5 horas
Ventavis® Ilomedin®
Treprostinil Remodulin ®
35
Recomendações Para A Abordagem Clínica Do Doente Com Hipertensão Pulmonar*
A eficácia do Iloprost administrado de forma
dispositivos da perfusão contínua. Nos doen-
intermitente por via inalatória no tratamento
tes com catéter venoso central existe risco
da HAP ficou demonstrada num estudo multi-
de infecção local e sépsis. Além do critério
cêntrico randomizado controlado duplamen-
clínico, pesam na decisão sobre a forma
te cego52. Sendo um prostanoide com maior
de administração dos prostanoides, a com-
estabilidade que o epoprostenol, o que evita
plexidade dos sistemas de administração,
a necessidade de preparação diária da solu-
aceitabilidade do doente e a sua condição
ção, e maior semivida, passou a ser utilizado
sócio-familiar.
em perfusão contínua havendo hoje evidên-
O aumento gradual, ao longo de semanas,
cia suficiente para a sua recomendação em doentes em classe IV 53.
2.2. Antagonistas dos receptores da
a remoção da ET-1 da circulação e podem
endotelina 1
favorecer a vasodilatação. O Bosentan, antagonista não selectivo dos receptores A e B
A endotelina 1 (ET-1) é um potente vaso-
da ET-1, o Sitaxsentan, antagonista selectivo
constritor que induz proliferação das células
dos receptores A da ET-1, e o Ambrisentan,
endoteliais e musculares lisas da parede vas-
antagonista com selectividade preferencial
cular pulmonar. Os doentes com HAP apre-
para os receptores A da ET-1, são os ARE
sentam níveis aumentados de ET-1 e quanto
disponíveis em Portugal. Os três fármacos
da dose dos prostanoides administrados por
mais elevados forem esses níveis, maior é
são administrados por via oral e demonstra-
via endovenosa ou subcutânea, favorece as
a gravidade da doença e menor a sobrevi-
ram ser eficazes no tratamento da HAP em
A eficácia do treprostinil ficou demonstra-
alterações individuais adaptativas com van-
da . São conhecidos dois tipos de recep-
vários estudos randomizados e não rando-
da no maior estudo multricêntrico rando-
tagens hemodinâmicas e melhor controle
tores da ET-1: os receptores A (ETA), os
mizados com endpoints clínicos e hemodi-
mizado, duplamente cego realizado nesta
dos efeitos secundários sistémicos. Reco-
principais responsáveis pela vasoconstrição,
nâmicos. O Bosentan foi o primeiro fármaco
área54. Estudos observacionais e rectros-
mendam-se as dosagens seguintes:
e os receptores B (ETB), que promovem
deste grupo e é o que tem maior número
pectivos recentes sugerem melhoria clínica e vantagem na sobrevida com administração
⇒ Iloprost inalado – 20 µg - 6 a 9 inalações por dia
de treprostinil por via subcutânea55,56. Estão
⇒ Iloprost endovenoso – Dose inicial de
a decorrer estudos de avaliação de eficácia
0,5 ng/Kg/min. Titular a dose ao lon-
e segurança do treprostinil em perfusão en-
go de semanas conforme os objecti-
dovenosa, por inalação e por via oral. Está
vos clínicos e os efeitos secundários
disponível para administração em perfusão
até à dose mínima eficaz (geralmente
contínua por via subcutânea ou endovenosa.
≈ 3 ng/Kg/min)
57
Recomendação Tabela 16: Indicações dos prostanoides no tratamento da HAP em Portugal Nível Iloprost e.v. recomendação
Treprostinil s.c. (ou e.v.)
Iloprost inalado
Indicado
HAPI; HAPF; HAPDTC; HAP associada a fármacos ou tóxicos CF III ou IV
HAPI; HAPF; HAPDTC; HAP associada a fármacos ou tóxicos CF III ou IV
HAPI; HAPF; HAPDTC; HAP associada a fármacos ou tóxicos CF III
HAP em cardiopatias congénitas e VIH; HPTEC não cirúrgica ou c/ HP residual após cirurgia; HTPP em candidatos a TH CF III ou IV
HAP em cardiopatias congénitas e VIH; HPTEC não cirúrgica ou c/ HP residual após cirurgia; HTPP em candidatos a TH CF III ou IV
HAP em cardiopatias congénitas e VIH; HPTEC não cirúrgica ou c/ HP residual após cirurgia; CF III Qualquer HAP em CF IV HTPP
As doses de prostanoides devem ser regu-
⇒ Treprostinil subcutâneo (ou endove-
ladas em crescendo. Não existe um limite
noso) – Dose inicial de 1,25 ng/Kg/
superior de dose bem definido, sendo esta
min (se efeitos secundários sistémicos
para cada doente limitada pelos efeitos
reduzir para 0,65 ng/Kg/min.); nas pri-
secundários (cefaleias, náuseas, vómitos,
meiras 4 semanas aumentar < 1,25
dores mandibulares e nos membros inferio-
ng/Kg/min.; depois aumentar 2,5 ng/
Aceitável
res). Os doentes têm que ser capazes de
Kg/min. Existe pouca experiência com
Experimental
lidar com nebulizações frequentes e com os
doses superiores a 40 ng/Kg/min.
Não recomendado
Doença veno-oclusiva e hemangiomatose capilar pulmonara Qualquer HP em CF I e II HP associada a cardiopatia esquerda HP associada a doenças respiratórias
aApenas em centros especializados e enquanto aguarda transplante pulmonar. Risco de edema agudo do pulmão.
37
Recomendações Para A Abordagem Clínica Do Doente Com Hipertensão Pulmonar*
de estudos e de doentes tratados. É o único
pelo que estão contra-indicados na gravidez,
com estudos de segurança a longo prazo
58
devendo esta ser excluída antes do início do
e tem estudos dirigidos e comprovando efi-
tratamento. O Sitaxsentan interfere com o
cácia em vários subgrupos de HAP do Gru-
metabolismo dos anticoagulantes orais pro-
e em todas as idades,
vocando alongamento dos tempos de coagu-
incluindo crianças. É o único aprovado em
lação, obrigando a redução significativa das
pediatria65. É ainda o único ARE com ECR
doses do anticoagulante e controle apertado
comprovando a eficácia em doentes em CF
do INR nos primeiros meses de tratamento.
po 1 e 4
II
66.
59,60,61,62,63,64
O Sitaxsentan
67,68
e o Ambrisentan
69,70
O Bosentan é administrado por via oral, no
foram também estudados em ECR que com-
primeiro mês na dose de 62,5 mg de 12 em
provaram eficácia mantida a longo prazo em
12 horas, passando a 125 mg de 12 em 12
doentes com HAPI e HAP associada a DTC.
horas se não surgir alteração da bioquímica
Nos estudos com o Sitaxsentan foram ainda
hepática. A dose recomendada para o Sitax-
incluídos um pequeno número de doentes
sentan e Ambrisentan é de 100 e 5 mg, res-
com DCC e nos do Ambrisentan foi incluído
pectivamente, por dia em toma única diária,
um pequeno número de doentes com HAP
ambos administrados por via oral.
associada à infecção pelo VIH. Está em curso a avaliação do perfil de segurança de am-
2.3. Inibidores da 5’ fosfodiesterase
Recomendações Tabela 17: Indicações dos ARE no tratamento da HAP em Portugal Nível recomendação
Bosentan oral (Tracleer®)
Indicado
HAPI; HAPF; HAP HAPI; HAPF; HAP associada: associada: a fármacos ou tóxicos; a fármacos ou tóxicos; Doença do Tecido Doença do Tecido Conjuntivo; Conjuntivo sem úlceras Cardiopatias congénitas; cutâneas; Infecção VIH; CF III HPTEC CF II ou III
Aceitável Qualquer HAP em CF IV
Sitaxsentan oral (Thelin®)
HAPI; HAPF; HAP associada: a fármacos ou tóxicos; Doença do Tecido Conjuntivo sem úlceras cutâneas; CF II HAPI; HAPF; HAP associada: a fármacos ou tóxicos; Doença do Tecido Conjuntivo sem úlceras cutâneas; CF IV
Ambrisentan oral (Volibris®) HAPI; HAPF; HAP associada: a fármacos ou tóxicos; Doença do Tecido Conjuntivo sem úlceras cutâneas; CF II ou III
HAPI; HAPF; HAP associada: a fármacos ou tóxicos; Doença do Tecido Conjuntivo sem úlceras cutâneas; CF IV
bos. Naqueles estudos houve uma menor in-
As fosfodiesterases são enzimas que inacti-
cidência de hepatotoxicidade de ambos em
vam a guanosina monofosfato cíclica (cGMP)
relação ao Bosentan, contudo todos eles po-
que serve de segundo mensageiro do óxido
dem ter toxicidade hepática pelo que estão
nítrico. Os inibidores selectivos da fosfo-
contra-indicados em doentes com doença
diesterase do tipo 5 aumentam os níveis de
hepática moderada a grave. É recomendada
cGMP, promovendo a vasodilatação mediada
vigilância da função hepática e doseamento
pelo óxido nítrico. A eficácia do Sildenafil foi
das transaminases mensalmente durante o
confirmada num estudo randomizado71, ten-
tratamento com os ARE, devendo ser redu-
do-se verificado, num estudo observacional
zida a dose ou interrompido o tratamento no
aberto, a manutenção da sua eficácia a lon-
caso de surgirem alterações. As elevações
go prazo72. As doses utilizadas no primeiro
das transaminases até três vezes o normal
estudo foram de 20, 40 e 80 mg, tendo-se
(8% dos casos) são reversíveis. O risco de
verificado melhoria da capacidade para o
hepatoxicidade está aumentado quando
exercício com todas as dosagens, mas só
usados associados à glibenclamida. Intera-
a dose de 80 mg foi eficaz na melhoria dos
gem com os contraceptivos orais, reduzindo
parâmetros hemodinâmicos. É um fármaco
Não recomendado Qualquer HAP em CF I HP associada a cardiopatia esquerda HP associada a doenças respiratórias c/ PAPm < 40 mmHg HTPP Child C
a sua eficácia, e têm efeitos teratogéneos
bem tolerado e que não obriga a monitoriza-
aApenas em centros especializados e enquanto aguarda transplante pulmonar. Risco de edema agudo do pulmão.
Experimental
Doença veno-oclusiva e hemangiomatose capilar pulmonara HTPP Child A e B HP desproporcionada (PAPm>40 mmHg) na fibrose pulmonar HP associada a cardiopatia esquerda, viabilidade p/ transplante cardíaco e peri-operatório de cirurgia cardíaca Qualquer HAP em CF I HP associada a cardiopatia esquerda HP associada a doenças respiratórias c/ PAPm < 40 mmHg HTPP Child C
39
Qualquer HAP em CF I HP associada a cardiopatia esquerda HP associada a doenças respiratórias c/ PAPm < 40 mmHg HTPP Child C
Recomendações Para A Abordagem Clínica Do Doente Com Hipertensão Pulmonar*
ção de dados laboratoriais, sendo os efeitos
sociação ao tratamento com nitratos pode
secundários mais frequentes as cefaleias e
provocar hipotensão grave.
a dispepsia e mais raramente hipotensão e alterações da visão e percepção da cor,
A dose inicial recomendada é de 20 mg de 8
quando administrado em doses altas. A as-
em 8 horas por via oral.
Recomendações Tabela 18: Indicações dos inibidores da 5’ fosfodiesterase no tratamento da HAP em Portugal Nível recomendação
Sildenafil oral (Revatio®)
Indicado
HAPI; HAPF; HAP associada: a fármacos ou tóxicos; Doença do Tecido Conjuntivo sem úlceras cutâneas; em CF III
Aceitável
HAPI; HAPF; HAP associada: a fármacos ou tóxicos; Doença do Tecido Conjuntivo sem úlceras cutâneas; CF II HAP em VIH; HPTEC não cirúrgica ou c/ HP residual após cirurgia em CF II e III Qualquer HP em CF IV
Experimental
Doença veno-oclusiva e hemangiomatose capilar pulmonara HTPP HP desproporcionada (PAPm > 40 mmHg) na fibrose pulmonar e DPOC HP secundária a cardiopatia esquerda, viabilidade p/ transplante cardíaco e peri-operatório de cirurgia cardíaca
Não recomendado Qualquer HP em CF I HP associada a doenças respiratórias c/ PmAP < 40 mmHg aApenas em centros especializados e enquanto aguarda transplante pulmonar. Risco de edema agudo do pulmão.
VII
Seguimento
Os doentes com HAP devem ter uma vigilân-
Após o início do tratamento, o plano de se-
cia apertada pela equipa de saúde da sua
guimento dos doentes no centro de referên-
área de residência, no Centro de Saúde ou
cia de HP depende do tipo de HP, da situa-
no Hospital, e pela equipa de um centro de
ção clínica do doente, do tipo de terapêutica
referência de HAP. A vigilância efectuada
instituída e da resposta à mesma. A vigilân-
pela equipa de saúde da área de residência
cia efectuada no centro de referência tem os
deve cumprir os objectivos seguintes:
seguintes objectivos:
1. Garantir o cumprimento das medidas ge-
1. Avaliar a resposta à terapêutica
rais recomendadas, contactando o centro
2. Prevenir e tratar complicações da doença
de referência sempre que considerado
e do tratamento
adequado
3. Detectar precocemente o agravamento
2. Quando necessário e se por qualquer mo-
clínico
tivo o doente não o possa fazer, estabele-
4. Alterar a terapêutica de acordo com a
cer a ligação com o centro de referência
evolução
Tabela 19: Seguimento no centro de referência de HAP Actos
Periodicidade
Sintomas (classe funcional) Exame Físico
Aos 3 meses e depois de 3 em 3 ou de 6 em 6 meses
Teste de 6 minutos de marcha
Aos 3 meses e depois de 3 em 3 ou de 6 em 6 meses
Radiografia de tórax e ECG
6 em 6 meses
Hemograma e bioquímica do sangue c/ pró-BNP
6 em 6 meses
Enzimas hepáticas nos doentes medicados c/ ARE
Mensalmente
Ecocardiograma
6 em 6 ou 12 em 12 meses
Estudo hemodinâmico (cateterismo direito) Inicial, aos 3 a 6 meses e depois anualmente Prova de esforço cardiopulmonar em doentes nas classes funcionais I e II, ou c/ distância percorrida no TSMM > 450 metros ou > 80% do esperado
6 em 6 ou 12 em 12 meses
41
Recomendações Para A Abordagem Clínica Do Doente Com Hipertensão Pulmonar*
Recomenda-se que a primeira avaliação após
a longo prazo. As visitas seguintes devem
o início ou a modificação da terapêutica se
ser definidas de acordo com o estado clínico
faça aos três meses, já que está provado,
do doente e com a sua evolução. As reco-
para a maioria dos fármacos utilizados, que
mendações da tabela 19 servem apenas de
a resposta observada nos primeiros três me-
orientação.
ses de tratamento é preditiva da evolução
VIII
Tratamento por objectivos e terapêutica combinada
Estão identificados os valores de algumas
rapêutica e minimize os riscos de toxicida-
variáveis clínicas pré-tratamento (classe
de por aumento da dose individual. Existem
funcional da OMS, distância percorrida no
quatro combinações possíveis:
TSMM, consumo máximo de oxigénio e TA
1. ARE e prostanoide
sistólica máxima no exercício cardio-respi-
2. ARE e inibidor da 5’ fosfodiesterase
ratório) e de resposta hemodinâmicas aos
3. Inibidor da 5’ fosfodiesterase e prostanoide
três meses de tratamento, como fortes pre-
4. Combinação de três fármacos de grupos
dictores de prognóstico. Contudo, não estão
diferentes
definidos os cut-offs desses valores e dos parâmetros de avaliação de resposta ao tra-
Havendo já alguma evidência que demonstra
tamento da HAP, não sendo por isso possí-
vantagem no recurso à terapêutica combina-
vel determinar com objectividade uma boa
da73, ela não é ainda suficiente para permitir
resposta, uma resposta satisfatória ou uma
que se estabeleçam recomendações especí-
resposta insuficiente. Deve entender-se por
ficas orientadoras da prática clínica para as
não resposta uma situação em que se verifi-
situações em que a monoterapia falhou.
que agravamento clínico progressivo após o
Assim e mediante a utilização de protocolos
início do tratamento.
de tratamento ou de investigação bem de-
Em caso de não resposta ou de resposta
senhados, com end points bem definidos,
considerada não satisfatória a terapêutica
os centros de referência podem recorrer a
deve ser alterada, por decisão do centro
terapêuticas combinadas de dois ou mais
de referência, de acordo com as recomen-
fármacos para o tratamento da HAP, ten-
dações estabelecidas e com o estado do
do em conta a gravidade clínica, a evolu-
conhecimento científico actual.
ção da doença e o bom conhecimento dos
Explorando as interacções moleculares dos
fármacos quanto à sua acção terapêutica,
três grupos de fármacos disponíveis para o
tipo de sinergia e efeitos secundários. As
tratamento da HAP, é previsível que exista
decisões terapêuticas devem ser tomadas
uma acção sinérgica entre eles. É possível
e reajustadas de acordo com objectivos
que a sua associação melhore a eficácia te-
pré-definidos.
43
Recomendações Para A Abordagem Clínica Do Doente Com Hipertensão Pulmonar*
Septostomia auricular
IX
X
Transplante pulmonar
Uma fracção de doentes com HAPI que pode
a centros de transplantação pulmonar, logo
chegar aos 25%, não responde à terapêutica.
que cumpram as recomendações internacio-
A constatação de que os doentes com HAP
do débito cardíaco. Os doentes com pressão
O prognóstico dos doentes em classe funcio-
nais publicadas. O tratamento preferido é o
com foramen oval patente apresentam maior
média na aurícula direita > 20 mmHg e sa-
nal III e IV que não respondem ao tratamento
transplante bipulmonar, havendo em alguns
sobrevida, suporta o conceito da septostomia
turação periférica de oxigénio em repouso
médico é mau sendo pequena a janela de
casos necessidade de transplante cardiopul-
no tratamento da HAP. A criação dum shunt
e a respirar ar < 80%, apresentam um risco
oportunidade pelo devem ser referenciados
monar ou transplante unipulmonar.
auricular direito-esquerdo permite a descom-
elevado de mortalidade com a realização da
pressão do ventrículo direito, o aumento da
septostomia.
pré-carga do ventrículo esquerdo e o aumento
l Todos os doentes com HAP em CF II a IV devem ser tratados com fármacos vasoactivos específicos conforme as indicações das tabelas 14, 15 e 16 l A terapêutica combinada deve ser considerada nos doentes que não atinjam os objectivos do tratamento l A terapêutica combinada deve ser considerada em 1ª linha nos doentes instáveis em CF IV l A septostomia auricular deve ser considerada nos doentes graves como ponte para o transplante pulmonar l O transplante pulmonar deve ser considerado como terapêutica de fim de linha e só depois de esgotadas todas as opções terapêuticas que incluem os prostanoides intravenosos e a terapêutica combinada l Todos os doentes devem ter um seguimento protocolado que deve incluir os parâmetros de estratificação da gravidade e prognóstico
45
Recomendações Para A Abordagem Clínica Do Doente Com Hipertensão Pulmonar*
Situações especiais
XI
XII
Transplante pulmonar
l Deve ser efectuada reavaliação ecocardiográfica 12 semanas após embolia pulmonar aguda com HP
Hipertensão Pulmonar Tromboembólica
ocorrência de HPTEC sem evidência trombo-
Crónica (HPTEC)
embólica segmentar proximal.
A incidência cumulativa de HPTEC sinto-
O tratamento de escolha da HPTEC sintomá-
mática após um episódio documentado de
tica é a EAP, mas nem todos os doentes são
embolia pulmonar é de 1.0% aos 6 meses,
candidatos cirúrgicos. São bons candidatos
3.1% aos 12 meses e 3.8% aos 2 anos21. A
os doentes com grande área de obliteração
presença de HP 12 semanas após embolia
vascular proximal e redução estimada da RVP
pulmonar, apesar de hipocoagulação eficaz,
> 50% pós EAP. Os doentes com doença dis-
define HPTEC. Os doentes com HP residual
tal e RVP desproporcionalmente elevada em
(PSAP entre 35 e 50mmHg) encontram-se
relação à obstrução segmentar têm baixa
em risco de desenvolver HP grave e devem
probabilidade de resolução com EAP. A mor-
manter seguimento com avaliação clínica e
talidade operatória é de 5% a 15% nos cen-
ecocardiográfica regular. Quando a PSAP é
tros com maior experiência. O risco cirúrgico
> 50mmHg às 12 semanas, o prognóstico
depende da EAP e da gravidade da HP. Os
mostraram benefícios destes fármacos. Nos
póxica e agravar o compromisso de trocas
é sombrio com uma sobrevida inferior a 20%
procedimentos acessórios, por vezes neces-
casos de HPTEC inoperável devem ser adop-
gasosas com consequente deterioração
aos 2 anos. Nestes doentes há habitualmen-
sários (ex: substituição valvular, revasculariza-
tadas as recomendações para o tratamento
clínica20,37.
te uma melhoria sintomática transitória inicial
ção), não contribuem significativamente com
da HAPI.
correspondente à resolução da embolia agu-
risco adicional. Há poucas contra-indicações
Quando a HP é desproporcional à doença res-
da, seguida de agravamento, com aumento
absolutas para o procedimento e a idade não
Hipertensão Pulmonar devida a doença
piratória de base (PSAP > 60mmg) deve-se
progressivo da HP22. O cateterismo direito
é considerada impeditiva da cirurgia. A deci-
pulmonar e/ou hipoxemia crónica
considerar a possibilidade de causa concomi-
está indicado, para confirmação de HAP,
são de operabilidade deve ser determinada
A HP devida a doença respiratória crónica
tante para a elevação da PAP. Neste caso a
quando a PSAP é > 50mmHg, devendo estes
através de uma avaliação multidisciplinar
é habitualmente ligeira a moderada (PAPm
avaliação deve ser complementada com estu-
doentes prosseguir avaliação para endarte-
em centros de referência com experiência
< 35mmHg). Ao contrário do que acontece
do hemodinâmico para confirmação do diag-
rectomia pulmonar (EAP).
documentada. Dependendo dos parâmetros
na HAP idiopática a falência ventricular di-
nóstico. Nos doentes com PAPm > 40mmHg
reita por baixo débito é rara e normalmente
não explicável pela doença respiratória sub-
não é um factor determinante da mortalida-
jacente, deve ser considerada terapêutica
de nestes doentes. O tratamento da HP é
específica. Em qualquer caso, a intervenção
A HPTEC deve-se em parte à obliteração
hemodinâmicos, idade e comorbilidades, o
l A presença de sintomas, no seguimento do doente com embolia pulmonar, sobretudo nos dois primeiros anos após o evento inicial, obriga à exclusão de HPTEC através da realização de cintigrafia de ventilação/perfusão l Todos os doentes com HPTEC devem ser considerados candidatos a EAP e devem ser avaliados com essa finalidade. A EAP é um procedimento com mortalidade operatória considerável pelo que só deve efectuado por centros com experiência neste tipo de ciirurgia l Nos doentes com HPTEC inoperável ou residual pós-EAP deve ser considerada a terapêutica farmacológica específica de acordo com o algoritmo de tratamento da HAPI l Os doentes com HPTEC, independentemente da abordagem médica ou cirúrgica, devem manter hipocoagulação por tempo indefinido
trombótica ou embólica do lúmen arterial. Ao
transplante pulmonar pode ser uma opção.
evento tromboembólico inicial segue-se um
Nos casos não operáveis ou na HPTEC resi-
dirigido à optimização da terapêutica para
com terapêutica específica é considerada
processo de “remodeling” vascular nas áre-
dual pós-EAP, deve ser considerada a tera-
a doença respiratória de base. A terapêu-
experimental e só deve ser efectuada em
as poupadas, semelhante ao que acontece
pêutica farmacológica específica. Estudos
tica específica com fármacos vasoactivos
centros de referência, com experiência no
na HAP idiopática. Este mecanismo explica a
não controlados com bosentan e sildenafil
pulmonares pode inibir a vasoconstrição hi-
tratamento de HAP.
47
Recomendações Para A Abordagem Clínica Do Doente Com Hipertensão Pulmonar*
l N a HP devida a doença pulmonar e/ou hipoxemia crónica a abordagem consiste na optimização da terapêutica para a doença de base. O uso de fármacos vasoactivos pulmonares pode conduzir a deterioração das trocas gasosas. l N os doentes com HP desproporcional à doença respiratória (PSAP > 60mmHg) pode ser equacionado o uso de terapêutica específica, após confirmação com estudo hemodinâmico (PAPm > 40mmHg) em centros com experiência no tratamento de HAP.
Hipertensão Portopulmonar
35mmHg, contraindica-o. A terapêutica far-
A hipertensão portal, com ou sem cirrose, é
macológica específica pode ser considerada
condição necessária para o desenvolvimen-
nos doentes em Child A ou B e nos candidatos
to de hipertensão portopulmonar (HTPP). O
a transplante hepático, mas com HP grave,
tratamento é difícil e ainda mal estabelecido.
na tentativa de melhoria hemodinâmica capaz
Medidas gerais incluem oxigénio para obter
de permitir o transplante. O epoprostenol é o
saturação> 90% e diuréticos para controlo da
fármaco mais estudado. Os ARE devem ser
sobrecarga de volume. A hipocoagulação não
evitados pelo risco de hepatoxicidade. A HP
deve ser introduzida em doentes com altera-
pode regredir no pós-transplante, sobretudo
ções da coagulação e/ou trombocitopenia
nos casos com alto débito cardíaco pré-trans-
associada. Na HP ligeira a moderada, e na
plante.
ausência de um débito cardíaco marcadamente elevado, o teste de vasoreactividade
Hipertensão Pulmonar na criança
é útil para definir os doentes que beneficiam
Embora contemplada nas sucessivas pro-
com antagonistas dos canais de cálcio. A HP
postas de classificação, desde Evian até
aumenta o risco de complicações associadas
Veneza, a doença vascular pulmonar na
ao transplante hepático e, se a PAPm é >
criança tem particularidades resultantes da
l Na criança, exceptuando o recém-nascido e o lactente, a HP é definida por uma PAPm ≥ 25 mmHg em repouso. l A HAP é mais frequente que a HP venosa, na criança
diferenciação etária, com consequências fi-
20mmHg de PAPm, com 3UW/m2 de RVP
siopatológicas, diagnósticas, de seguimento
e uma PECP 13mmHg constituíam a tríade
e terapêuticas, distintas do adulto. A PAPm
hemodinâmica discriminativa de hipertensão
normal é variável com a idade, sendo algo
arterial pulmonar.
mais elevada no recém-nascido, mas nunca
Causas de Hipertensão Pulmonar na
ultrapassando os 20mmHg. A PECP é, em média, de 8mmHg, com um limite máximo
criança
do normal de 13mmHg. Tal como no adulto,
A HP na criança apresenta-se, quase sem-
o limite do normal para a RVP é de 3 unida-
pre, como hipertensão arterial pulmonar
des Wood (UW). Contudo, no adulto, o peso
(HAP). A HAPI, rara na criança, apresenta-se
e a estatura é mais constante e, por isso, a
de forma mais agressiva e a sobrevivência
RVP não é corrigida para a área corporal.
média, na ausência de tratamento, ronda
Ao invés, na criança, dada a grande varia-
os 10 meses. Tal como no adulto, a HAPF
bilidade de tamanhos, a RVP é geralmente
acompanha-se frequentemente de mutações
calculada com base no índice cardíaco, logo
e delecções genéticas75.
em função da superfície corporal. De modo
As vasculites ou colagenoses associadas
que importa ter esta diferença em conta na
a HP são raras na criança pequena, assim
eventual comparação de valores de RVP en-
como o é a doença veno-oclusiva pulmonar
tre adultos e crianças .
ou a hemangiomatose capilar pulmonar.
É previsível que com o melhor conhecimento
A HAP associada a doença hepática cróni-
da doença e a disponibilização de novas te-
ca é rara na criança e pode influenciar o
rapêuticas venha a haver evolução nos crité-
“timing” do transplante hepático.
rios de definição da doença e que na criança
A DCC com shunt esquerdo-direito é a maior
em idade pré-escolar e escolar o valor de
causa de HP na criança (tabela 20 e 21).
74
l O tratamento específico deve ser considerado na HTPP sintomática, classe III/IV, em doentes Child A ou B e na tentativa de optimização hemodinâmica nos doentes candidatos a transplante pulmonar
49
Recomendações Para A Abordagem Clínica Do Doente Com Hipertensão Pulmonar*
A HP shunt dependente pode acompanhar-se
vascular pulmonar, sendo variável a idade de
de remodelagem vascular pulmonar preco-
estabelecimento das lesões vasculares irre-
ce, persistindo uma resistência elevada ao
versíveis. Os doentes com CIV ou PCA, em
fluxo pulmonar. A descida desta para um
regra, não desenvolvem HP antes dos 12
décimo da resistência sistémica, esperada
meses. As crianças com síndrome de Down
durante o primeiro mês de idade, não se ve-
têm maior risco de desenvolver HP preco-
rifica e, paulatinamente, instala-se a doença
cemente. A correcção cirúrgica atempada
Tabela 20: Cardiopatias congénitas associadas a HP 1. Shunt esquerdo - direito
CIV DSAV PCA CIA Janela aorto-pulmonar
2. Aumento da pressão venosa pulmonar Cardiomiopatia Coartação da aorta (disfunção diastólica do VE) VE hipoplásico Complexo de Shone Estenose mitral Membrana supravalvular mitral Cor tritriatum Estenose das veias pulmonares/doença veno-oclusiva Drenagem venosa Pulmonar anómala total 3. Cardiopatias cianóticas TGA Truncus arteriosus Atresia Pulmonar com CIV Coração univentricular (sem obstáculo pulmonar/CIA não restritiva) 4. Anomalias das artérias pulmonares ou veias pulmonares Origem anómala da AP da Aorta “Ausência” unilateral de uma das artérias pulmonares Síndrome da Cimitarra 5. Anastomoses sistémico-pulmonares Anastomose de Waterston Anastomose de Potts Anastomose de Blalock-Taussig Adapatado de Rashid A76
Tabela 21: Incidência de HP nas cardiopatias congénitas Tipo de Cardiopatia Congénita
Incidência de HAP
CIV de qualquer tamanho
10%
CIA de qualquer tamanho
4-6%
Canal Arterial largo
16%
CIV largo
50%
CIA largo
10%
Truncus Arteriosus
100%
Defeito Septal Auriculo-ventricular Completo
100%
da CC geralmente interrompe este processo
(HPPRN “idiopática”). A displasia alvéolo
patológico. E, por isso, graças ao progresso
capilar, anomalia rara do desenvolvimento
no seu diagnóstico e tratamento precoces,
vascular pulmonar, com HP e hipoxémia re-
as situações de síndrome de Eisenmenger
fractária de inicio tardio – após 12 horas de
tendem a rarear neste grupo etário.
vida - é uma entidade distinta.
Excluindo as cardiopatias congénitas, a hi-
Os obstáculos circulatórios ao coração es-
pertensão pulmonar persistente do recém-
querdo são a causa mais comum de hiper-
nascido (HPPRN) é a forma mais prevalente
tensão pulmonar venosa, passiva. Ao con-
de HAP no período neonatal - nos primeiros
trário do verificado no adulto a disfunção
minutos após o nascimento a pressão pul-
ventricular esquerda por miocardiopatia é
monar deve cair para metade dos valores
menos prevalente, sendo a coarctação aór-
da pressão sistémica, o que não aconte-
tica, as lesões críticas da válvula aórtica e
ce na HPPRN . O síndrome de aspiração
as anomalias no retorno e no esvaziamento
meconial (cerca de 50%) e a sépsis/pneu-
da aurícula esquerda, muito mais frequen-
monia (cerca de 20%) são as associações
tes. A coexistência, relativamente comum,
mais frequentemente encontradas naquela
de shunt esquerdo-direito em muitas destas
entidade. O síndrome de dificuldade respi-
anomalias, pode complicar a situação - HP
ratória, de várias causas, e a asfixia peri-
mista, arterial e venosa – e obrigar a abor-
natal contribuem com 10% para a HPPRN.
dagem terapêutica mais complexa.
Contudo, em cerca de 20% dos casos não
A HP associada a displasia ou doença pul-
é possível identificar qualquer associação
monar obstrutiva crónica, hipoventilação,
77
51
Recomendações Para A Abordagem Clínica Do Doente Com Hipertensão Pulmonar*
bronquiolite obliterante, anomalias do de-
tações com o esforço, relacionáveis com
senvolvimento ou hérnia diafragmática,
isquemia ventricular direita. O intervalo en-
bem como, com doenças do interstício e
tre o inicio dos sintomas e o diagnóstico é
o doseamento do peptídeo natriurético au-
arterial média e resistências pulmonares
fibrose pulmonar, excepcionalmente atinge
geralmente mais curto, que no adulto. No
ricular tipo B (BNP ou NT pró BNP) e da
basais, ou então, uma redução de 10mmHg
graus de grande gravidade.O tratamento é
Síndrome de Eisenmenger a cianose é mais
troponina I, úteis na avaliação da gravidade
ou menos na pressão média da artéria pul-
essencialmente dirigido à situação de base.
marcada que nas outras situações de HP.
e seguimento da doença. Nos lactentes e
monar, para valores absolutos inferiores a
A doença tromboembólica pulmonar cróni-
No exame físico, o reforço do componen-
crianças muito pequenas, os meios habitu-
40mmHg, desde que o débito cardíaco se
ca, podendo surgir na adolescência é, no
te pulmonar do 2º som, um sopro sistóli-
almente disponíveis para o seguimento são
mantenha ou aumente. Embora não se dis-
entanto, muito rara na criança.
co de regurgitação tricúspide ou diastólico
a clínica, o eco-Doppler e o BNP/NT-próB-
ponha ainda de variáveis predictoras de uma
de insuficiência pulmonar, na auscultação,
NP, já que o TSMM e os estudos invasivos
resposta, aceita-se que a positividade é tan-
ou um lift para-esternal esquerdo ou sub-
não são possíveis de executar.
to mais provável, quanto mais jovem for a
Suspeita clínica - identificação
xifoideu indicam pressões direitas eleva-
Cateterismo cardíaco
criança. Nesta eventualidade, algumas crian-
É fundamental ter um diagnóstico etiológico
das. Ao contrário do adulto, a presença de
É imprescindível a realização de um cate-
antes da instituição de qualquer terapêuti-
hepatomegália, precede o aparecimento de
terismo direito e esquerdo com angiografia
ca. Deve fazer-se uma pesquisa sistemáti-
edema dos membros inferiores ou do en-
dedicada, para estabelecer o diagnóstico,
ca de possíveis anomalias no decurso da
gurgitamento jugular.
grau de gravidade e prognóstico da HP in-
gravidez e período neonatal, se o parto foi
Investigação
fantil. Sendo fundamental e indispensável
prematuro, se houve atraso de crescimento
Embora o electrocardiograma e radiografia
permite ainda seleccionar o eventual trata-
torácica sejam anormais na maioria dos do-
mento, em função do teste de vasoreacti-
entes, o eco-Doppler cardíaco transtorácico
vidade aguda –“respondedor” versus “não-
A sintomatologia de apresentação da HP é
é o exame fundamental para o diagnóstico
respondedor”.
muito variável. No lactente, são sinais de
e seguimento da criança com HP. Sempre
O teste de vasorreactividade aguda, a ser
alerta: a falta de apetite com má progres-
que possivel, devem realizar-se provas fun-
realizado durante o cateterismo diagnóstico,
são ponderal, taquicardia e taquipneia com
cionais respiratórias e TAC de alta resolu-
recorria classicamente à inalação de 100%
hipersudorese e irritabilidade, ocasional-
ção para exclusão de doença pulmonar e
de oxigénio durante 10 minutos. Este, deve
mente, há choro com espasmo e cianose.
cintigrafia pulmonar de ventilação perfusão
ser substituído pelo uso concomitante de
Em crianças mais velhas, na ausência de
e angio-TAC para excluir doença tromboem-
vasodilatadores de curta duração de acção
cardiopatia ou doença conhecida ab initio,
bólica pulmonar. O TSMM, exequível habitu-
como o NO inalado, adenosina ou epopros-
deve suspeitar-se de HP na presença de
almente em crianças a partir dos 6 anos,
tenol (PGI2 sintética) intravenosos78. Por difi-
palivizumab.
cansaço fácil para esforços anteriormente
é preferível à prova de esforço cárdio-pul-
culdades logísticas (não há epoprostenol dis-
A anestesia para qualquer procedimento
bem tolerados, síncopes ou dispneia rela-
monar. Para além das rotinas laboratoriais
ponível em Portugal) o uso de iloprost, quer
cirúrgico ou dentário requer particular pre-
cionados com a actividade física. Na puber-
(hematologia e bioquímica) devem ser des-
inalado quer endovenoso, é uma alternativa
caução.
dade e adolescência, pode ocorrer síncope
pistadas coagulopatias, colagenoses ou ou-
aceitável. É considerado positivo se for con-
Nos doentes com Síndrome de Eisenmenger
(50% dos casos), dor anginosa e/ou palpi-
tras doenças associadas a HAP, bem como
seguida uma redução de 20% na pressão
é comum a carência em ferro e deve ser in-
Avaliação diagnóstica
intra-uterino e despistar hérnia diafragmática congénita ou doença pulmonar crónica.
ças, apesar de sintomáticas há anos manifestam uma quase completa reversibilidade da sua doença com o uso crónico de antagonistas dos canais do cálcio (ACC), enquanto outras com um curso sintomatológico curto, aparentam ter doença irreversível78,79.O uso empírico de ACC deve contudo, ser evitado, pelo risco de agravamento que comporta. Tratamento da Hipertensão Pulmonar na Criança Medidas de suporte O plano nacional de vacinação deve ser mantido, e nas crianças até aos dois anos de idade deve fazer-se a profilaxia da infecção para o vírus sincicial respiratório com
53
Recomendações Para A Abordagem Clínica Do Doente Com Hipertensão Pulmonar*
troduzida medicação no sentido de assegurar
existente com adultos. Embora os dados
uma hematopoiese e eritrocitose adequada ao
obtidos nos grandes ensaios clínicos sejam
grau de cianose. As flebotomias exacerbam a
fundamentais, os “end points” definidos para
deficiência em ferro e aumentam o risco de
os adultos nem sempre podem ser extrapo-
trombose, pelo que devem ser evitadas.
lados para as crianças. A classe funcional da
Relativamente à hipocoagulação, utiliza-se a
NYHA/OMS não é aplicável ao lactente mas,
Fármaco
aspirina nas crianças mais jovens e nos mais
uma classificação em 4 graus (1-ausente;
velhos a varfarina. A dose óptima de anticoagu-
2-ligeira; 3-moderada; 4-severa) usada para
Nifedipina Vasodilatador
lante (varfarina) não está encontrada na crian-
a insuficiência cardíaca, tendo em considera-
ça. Na ausência de doença tromboembólica,
ção parâmetros clínicos como a progressão
um valor de INR situado entre 1.5 e 2 parece
ponderal, o cansaço com as mamadas, a
ser adequado, embora em doentes com risco
sudorese excessiva, a frequência cardiaca, o
hemorrágico se possam aceitar valores inferio-
padrão e frequência respiratória, a perfusão
res a 1.5. O INR deve ser monitorizado de for-
periférica, a presença e gravidade de hepato-
ma apertada, particularmente nos doentes a fa-
megalia, podem ser úteis para o estadiamen-
zer antagonistas dos receptores da endotelina.
to dos doentes81.
Na presença de insuficiência cardíaca direita,
O TSMM e os parâmetros derivados da hemo-
o uso de diuréticos e digoxina estão formal-
dinâmca invasiva podem ser pouca ajuda, por
mente indicados. Relativamente aos diuréti-
dificuldades técnicas associadas à sua realiza-
cos, a dosagem deve ter em conta o risco de
ção. Por outro lado, a escassez de estudos de
Nos respondedores, o tratamento básico
te, precisar de terapia vasodilatadora de outro
desidratação, que pode precipitar hipervisco-
longo prazo em crianças, versando a sobrevi-
assenta nos ACC - nifedipina, amlodipina, dil-
tipo, quase sempre o bosentan ou o sildenafil.
sidade e hipotensão.
vência, a qualidade de vida segundo padrões
tiazem - nas doses máximas toleradas. Uma
O iloprost inalado cada 3-4 horas, é impraticá-
adaptados às diferentes idades, ou a classe
resposta favorável é esperada em cerca de
vel em lactentes ou crianças pequenas e nada
funcional, obrigam a uma individualização te-
40% destas crianças, contra menos de 10%
fácil de implementar em crianças mais velhas.
rapêutica no que respeita à sua sequência,
para os adultos
duração e combinação no tempo, das diver-
A única droga testada contra placebo em
mal tolerado e o iloprost intravenoso dá os
sas drogas disponíveis actualmente. As difi-
crianças com HP, o epoprostenol82, não está
primeiros passos em adultos e adolescentes.
culdades práticas encontradas no tratamento
disponível em Portugal pelo que somente os
da criança, nomeadamente a idade, nível de
outros análogos da prostaciclina, iloprost e
compreensão, tamanho e em alguns casos
treprostinil, poderão ser usados. O apareci-
a presença de outras anomalias influenciam
mento de drogas vasodilatadoras pulmona-
Terapêutica específica
a estratégia terapêutica. Na tabela 22 estão
res, actuando por via oral, foi crucial na abor-
Os princípios terapêuticos para crianças com
referidas as principais drogas disponíveis no
dagem desta doença em crianças. A grande
HP são, quase todos, derivados da prática
nosso país e as doses recomendadas.
maioria das crianças com HP vai, seguramen-
A septostomia auricular é efectuada na HAPI ou na HP pós operatória em presença de sincope e/ ou insuficiência cardíaca severa80. Quando, apesar de uma terapêutica médica combinada optimizada, a situação clínica se agrava (HP refractária sintomática) é mandatório a referenciação do doente para um centro de transplante.
Tabela 22: Fármacos disponíveis para o tratamento da HAP na criança Mecanismo de acção Dose terapêutica 0.5-3 mg/Kg/dia cefaleias
Efeitos secundários Hipotensão, edemas,
Amlodipina Vasodilatador 0.1 mg/Kg/dia
Hipotensão, edemas, cefaleias
NO inalado Vasodilatador
Efeito dose-dependente (10-80 ppm)
Metahemoglobinemia
Sildenafil
Inibidor da PDE5 Vasodilatador
0.5-2 mg/Kg/dose tid ou qid
Cefaleias, obstrucção nasal, rubor
Bosentan
ARE Vasodilatador
2-4 mg/Kg/dose bid
Anemia, hepatite
Iloprost inalado
Vasodilatador análogo 2.5-5 mcg x 6-9/dia da prostaciclina
Tosse, cefaleias, rubor, hipotensão, hemoptises
Iloprost ev
Vasodilatador análogo 2 – 8 mcg/Kg/dia da prostaciclina
cefaleias, rubor, hipotensão
.
Do mesmo modo o treprostinil sub-cutâneo é
78,79
Visitas de seguimento Dependendo da situação clínica, as crianças e os adolescentes deverão ser observados cada 3 a 6 meses, sem imposição rígida de datas, de modo a respeitar as actividades de recreio e escolares. A observação clínica con-
55
Recomendações Para A Abordagem Clínica Do Doente Com Hipertensão Pulmonar*
templa a avaliação da classe funcional, sinais
que deverá ser mais alargada que no adulto:
de hiperviscosidade, episódios hemorrágicos
uma estimativa seriada do débito cardíaco
ou trombóticos, de sincope ou pré-sincope e
e da pressão média da artéria pulmonar,
infecções. O exame físico deve incluir a avalia-
do índice de colapso veno-caval e da área
ção nutricional, a presença de cianose, sinais
auricular direita por exemplo, podem forne-
de insuficiência cardíaca e os sinais vitais. A
cer informação que compensará a ausência
saturação transcutanea de oxigénio deve ser
do cateterismo direito que, ao contrário do
medida após 1 minuto de repouso. O TSMM
adulto, deverá ser mais espaçado no tempo.
deve ser feito periodicamente. Nos lactentes
O impacto da doença na vida social e esco-
e crianças pequenas em que aquele teste é
lar deverá ser avaliado anualmente do mes-
inviável, deve-se privilegiar a avaliação labora-
mo modo que os inquéritos sobre qualidade
torial, incluindo doseamentos do BNP / NT pró
de vida83,84,85,86. Na tabela 23 apontam-se al-
BNP, uricemia e troponina I. Nestes, assume
guns parâmetros laboratoriais de sobrevida
grande relevância a ecocardiografia-Doppler
em crianças com HP.
Tabela 23: Indicadores de gravidade / sobrevida diminuída se TSMM < 380 mts Queda > 10% na SatO2 durante o exercício Hipotensão com o exercício BNP > 180 Troponina aumentada Derrame pericárdico Índice de TEI do VD aumentado (>0.8)
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Recomendações Para A Abordagem Clínica Do Doente Com Hipertensão Pulmonar*
XIII
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*Recomendações aprovadas pelas Sociedades Portuguesas de Cardiologia, Cardiologia Pediátrica, Medicina Interna e Pneumologia