Design de Interiores e aspectos lúdicos em hospitais infantis

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INSTITUTOS SUPERIORES DE ENSINO DO CENSA Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Design de Interiores

Design de Interiores e aspectos lúdicos em hospitais infantis Um estudo de campo do Hospital Federal da Lagoa

Juliana Peixoto Rufino Gazem de Carvalho Paula Felix Araujo

Monografia apresentada ao Curso de PósGraduação Lato Sensu em Design de Interiores dos Institutos Superiores de Ensino do CENSA como requisito para obtenção da certificação de Especialista em Design de Interiores. Orientador: Alber Neto, M.Sc.

Campos dos Goytacazes 2015


É autorizada a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho em qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que os autores e orientador sejam devidamente citados e referenciados.

Como referenciar este trabalho:

CARVALHO, Juliana Peixoto Rufino Gazem de; ARAUJO; Paula Felix. Design de Interiores e aspectos lúdicos em hospitais infantis: um estudo de campo do Hospital Federal da Lagoa. 2015. 88 f. Monografia (Pós-Graduação Lato Sensu em Design de Interiores) - Institutos Superiores de Ensino do CENSA (ISECENSA), Campos dos Goytacazes, 2015. Orientador: Alber Neto.

Como contactar autores e orientador: Juliana Peixoto Rufino Gazem Carvalho julianarufino.arq@gmail.com Paula Felix Araujo paulaaraujo.arq@gmail.com Alber Neto alberneto@gmail.com

Catalogação na fonte pelos Institutos Superiores de Ensino do CENSA Carvalho, Juliana Peixoto Rufino Gazem de Design de Interiores e aspectos lúdicos em hospitais infantis: um estudo de campo do Hospital Federal da Lagoa / Juliana Peixoto Rufino Gazem de Carvalho; Paula Felix Araujo; orientador: Alber Neto. Campos dos Goytacazes, RJ, 2015. 88 f.: il. Monografia (Pós-Graduação Lato Sensu) – Institutos Superiores de Ensino do CENSA, Pós graduação Lato Sensu em Design de Interiores. 1. Design de Interiores. 2. Sala de quimioterapia. 3. Aspecto lúdico. 4. Hospital. 5. Pediatria. I. Neto, Alber. II. Institutos Superiores de Ensino do CENSA. III. Título.

CDD 729


JULIANA PEIXOTO RUFINO GAZEM DE CARVALHO PAULA FELIX ARAUJO

Design de Interiores e aspectos lúdicos em hospitais infantis Um estudo de campo do Hospital Federal da Lagoa

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção da certificação de Especialista em Design de Interiores no Curso de Pós Graduação Lato Sensu em Design de Interiores dos Institutos Superiores de Ensino do CENSA.

Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 5 de março de 2015.

ORIENTADOR

Prof. Alber Francisco dos Santos Neto, M.Sc. Institutos Superiores de Ensino do CENSA

BANCA EXAMINADORA

Prof. Alber Francisco dos Santos Neto, M.Sc. Institutos Superiores de Ensino do CENSA

Prof. Luciano Falcão da Silva, D.Sc. Instituto Federal Fluminense

Profa. Luiz Claudio Gonçalves Gomes, M.Sc. Instituto Federal Fluminense

Profa. Mariana Cristina Sala Oliveira Reis, Esp. Institutos Superiores de Ensino do CENSA


Dedicamos a todos os pequenos, que se tornaram gigantes diante de momentos de dor e sofrimento decorrentes de tratamentos oncológicos. E com garra não desistem de seus sonhos, dando-nos exemplo de superação e nos provando o quanto são fortes.


AGRADECIMENTOS

A Deus, pela vida, pela saúde e por ter permitido a realização deste trabalho. Às nossas famílias, pelo incentivo e motivação de sempre. Aos nossos companheiros por nos apoiarem em momentos de desespero. Ao corpo docente da Pós Graduação por nos ajudar a agregar conhecimentos, e em especial, ao nosso orientador, professor M.Sc. Alber Neto por toda ajuda e paciência. À equipe técnica do Hospital Federal da Lagoa, principalmente ao Alexandre Leite, pela visita guiada e à enfermeira chefe (L. B. L. M.) do Aquário Carioca pela entrevista concedida. À todos os membros da banca que aceitaram o convite para participar da conclusão desta nossa etapa. E a todos que, direta e indiretamente, contribuíram positivamente para a realização deste trabalho.


“AMANHÃ FICO TRISTE... AMANHÃ! HOJE NÃO... HOJE FICO ALEGRE! E TODOS OS DIAS, por mais amargos que sejam, eu digo: AMANHÃ FICO TRISTE, HOJE NÃO...” Angélica Silva (Vencedora contra o câncer)


RESUMO Tendo em vista o confinamento, mesmo que por algumas horas, vivenciado por crianças e adolescentes em hospitais, quando submetidos a tratamentos evasivos como a quimioterapia, e as consequências traumáticas para este tipo de público ao ser tratado de maneira incorreta, este trabalho possui o objetivo de apresentar um complemento arquitetônico que deve ser utilizado simultaneamente aos procedimentos médicos para a cura da doença. Isto consiste na compreensão lúdica de projeto de interior em ambiente hospitalar. Para isto, foi analisado através de estudo de campo, o projeto Aquário Carioca, implantado no Hospital Federal da Lagoa, no Rio de Janeiro/BR, cuja análise foi baseada nos principais aspectos arquitetônicos em conjunto com os elementos do Design de interiores como: iluminação, cor, som dentre outros. A ludicidade utilizada na sala de quimioterapia teve como objetivo amenizar os efeitos do confinamento ao longo do tratamento. São dispostos aos usuários jogos, televisão, livros, DVD’s e outros atrativos físicos que podem ser utilizados enquanto as medicações são aplicadas, além da possibilidade de conhecer e trocar experiências com outros pacientes de idades semelhantes. Após a realização do estudo de campo, caracterizado pela visita técnica, uma entrevista e observações diretas feitas pelas autoras, pode-se analisar que o Design proposto, em conjunto com o investimento em aspectos lúdicos propícios a divertir os enfermos e levá-los ao mundo da imaginação, são capazes de tornar o ambiente mais tranquilo e descontraído, inclusive para funcionários. Os pacientes, por sua vez, se permitem a uma fuga momentânea da realidade, gerando, por consequência, a diminuição do tédio e da tristeza de estarem confinados. Portanto, a principal conclusão deste trabalho refere-se ao modo de projetar um hospital infantil, que deve ser pensado principalmente de fora para dentro, provocando sensações lúdicas ao público alvo, desde o primeiro olhar para a fachada, devendo essa ludicidade ser tratada como “espinha dorsal” de um projeto de hospital pediátrico.

Palavras-chave: Design de Interiores, Sala de quimioterapia, aspecto lúdico, hospital, pediatria


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ABSTRACT Bearing in mind confinement, even for a few hours, experienced by children and teenagers in hospitals, when exposed to invasive treatments, such as chemotherapy, and traumatic consequences this kind of public suffers when being treated mistakenly, the present paper has the goal of presenting an architectonic complement that must be used simultaneously with medical procedures in order to help in the disease healing process. It consists of the playful comprehension of interior design projects in hospital environment. To accomplish that, the project Aquário Carioca (Carioca Aquarium), which was implemented at the Hospital Federal da Lagoa (Lagoon Federal Hospital), in Rio de Janeiro/BR, was analyzed through field study. Its analysis was based on the major architectural aspects together with interior design elements, such as: lighting, color, sound and so on. The playfulness used in the chemotherapy room had the objective to soften the confinement effects throughout the treatment. Gaming, television, books, DVDs and other attractive gadgets are available for the users; they all can be used while the medication is being applied. Besides, they have the opportunity to exchange experiences with and get to know other patients of the same average age. After completing the field study, which consisted of: a technical visit, an interview and direct observations made by the authors, it was possible to analyze that the design proposed, together with investments in playful elements that intended to amuse the sick and take them to the imagination world, are capable of making the ambient more peaceful and serene, casual and relaxed, even for the hospital staff. The patients, on their turn, let themselves escape momentarily from reality, consequently reducing the boredom and sadness of being confined. Therefore, the major conclusion of this study refers to the way of designing a children's hospital, which should be thought mainly from the outside in, what causes playful sensations to the target audience since their first look at the façade. This playfulness should be treated as the “backbone” of a children’s hospital project.

Keywords: Interior Design, Chemotherapy Room, Playful aspect, hospital, pediatrics.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Localização do hospital.....................................................................................48 Figura 2 – Hall de elevador ................................................................................................50 Figura 3 – Porta de um dos quartos.....................................................................................51 Figura 4 – Corredor do andar da pediatria..........................................................................51 Figura 5 - Sala de espera para pacientes e acompanhantes ................................................52 Figura 6 - Estante com brinquedos doados ........................................................................52 Figura 7 - Balcão de trabalho da equipe de enfermagem....................................................53 Figura 8 - Televisão com moldura em formato de peixe ...................................................53 Figura 9 - Cadeira para acompanhante e para o paciente receber a medicação .................54 Figura 10 - Maca para paciente receber a medicação ........................................................55 Figura 11 - Parede de um dos andares voltados para pacientes adultos..............................56 Figura 12 - Vista dos quartos do hospital. Imagem capturada da cobertura do edifício.....56 Figura 13 - Vista para o Cristo Redentor ...........................................................................57 Figura 14 - Vista para a Sociedade Hípica Brasileira ........................................................57 Figura 15 - Vista superior do jardim ..................................................................................58 Figura 16 - Vista de um dos caminhos existentes no jardim ..............................................58 Figura 17 - Fachada da Avenida Lineu de Paula Machado.................................................59 Figura 18 - Detalhe para o prédio principal........................................................................60 Figura 19 - Vista do anexo da fachada referente à rua Oliveira Rocha..............................60


Figura 20 - No prédio principal, sobre o pilotis, letras antigas identificando-o..................61 Figura 21 – Prédio principal................................................................................................62 Figura 22 – Sala de consultas..............................................................................................64 Figura 23 – Vista lateral esquerda do hospital....................................................................70 Figura 24 – Vista Lateral direita do Hospital......................................................................70 Figura 25 – Hospital iluminado durante a noite..................................................................71 Figura 26 – Hospital iluminado artisticamente...................................................................71 Figura 27 – Hospital em formato de Telófase.....................................................................72 Figura 28 – Implantação do hospital e as curvas dos sheds................................................73 Figura 29 – Vista interna do hospital..................................................................................73 Figura 30 – Vista interna de outro ponto do hospital..........................................................74 Figura 31 – Vista externa do auditório do hospital.............................................................74


LISTA DE APÊNDICES

APÊNDICE A – Transcrição da entrevista com L. B. L. M., enfermeira chefe.


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SUMÁRIO 1

INTRODUÇÃO ...................................................................................................14 1.1

Definição da situação problema ............................................................................14

1.2

Problema de pesquisa ............................................................................................16

1.3

Objetivos ...............................................................................................................16

1.4

Justificativa da relevância do trabalho ..................................................................16

1.5

Delimitação ...........................................................................................................17

1.6

Caracterização da pesquisa realizada ....................................................................17

1.6.1 Da natureza ..............................................................................................................17 1.6.2 Do problema ............................................................................................................18 1.6.3 Dos objetivos ...........................................................................................................18 1.6.4 Das técnicas .............................................................................................................19 2

REVISÃO DA LITERATURA PERTINENTE AO TRABALHO ................21 2.1

O Design ................................................................................................................21

2.2

O Design de interiores ...........................................................................................23

2.3

O Design em ambientes hospitalares ....................................................................25

2.3.1 Iluminação .............................................................................................................26 2.3.2 Cor .........................................................................................................................27 2.3.3 Som .......................................................................................................................28 2.3.4 Aroma ...................................................................................................................28 2.3.5 Textura ..................................................................................................................29 2.3.6 Forma ....................................................................................................................29 2.3.7 Controle e automação.............................................................................................29

3

2.4

Hospital enquanto Ambiente Confinado................................................................30

2.5

Público infantil ......................................................................................................35

2.6

Aspectos Lúdicos...................................................................................................40 DESENVOLVIMENTO: ESTUDO DE CAMPO DO HOSPITAL FEDERAL DA LAGOA (RIO DE JANEIRO, RJ) ..............................................................46

3.1 Metodologia .............................................................................................................46 3.2 Sobre o Hospital Federal da Lagoa .........................................................................47 3.3 O estudo de campo ..................................................................................................48 3.4 Considerações finais sobre o estudo de campo .......................................................62


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CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................67

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SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ............................................76 REFERÊNCIAS ..................................................................................................77 APÊNDICE...........................................................................................................82


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1. INTRODUÇÃO

1.1. Definição da situação problema

No Brasil, considerando as enfermidades mais graves, pode-se dizer que o câncer infantil é uma das primeiras causas de mortes em crianças de 1 a 18 anos, quando analisadas todas as regiões. Isso se dá por ser ocasionado por um crescimento desordenado de células que atingem órgãos e tecidos, podendo ser causados por fatores internos ou externos ao organismo. Sendo assim, pesquisas indicam que de 1% a 3% dos tumores malignos que acometem a população, ocorrem em faixa etária infanto-juvenil e, por ano, são estimados mais de 9 mil casos novos de câncer em crianças e adolescentes (INCA, 2014; SOBOPE, 2014). Segundo o INCA (2014), as formas de tratamento variam entre cirurgia, radioterapia, quimioterapia, transplante de medula óssea ou a combinação de dois ou mais tratamentos, sendo esses utilizados para pessoas de todas as faixas etárias, o que gera privação, confinamento e intensidade de dores iguais entre crianças, adolescentes e adultos. Porém, para esse público mais jovem, esses traumas durante todo o processo de descoberta e cura da doença são considerados mais delicados, por privarem a criança e adolescente a terem experiências propriamente infantis, como é bem explicado por Oliveira et al (2008):


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A doença impede a criança de desenvolver as atividades regulares de seu dia-a-dia e provoca, muitas vezes, sensações de dor, desconforto e malestar. A hospitalização leva a criança à necessidade de afastar-se do seu lar, sua escola, seus amigos, enfim, sua vida cotidiana, para ingressar em um ambiente completamente novo, com pessoas estranhas, imersas em uma rotina alheia ao seu modo de vida e um aparato terapêutico cuja finalidade é desconhecida para ela. (OLIVEIRA, 2008. p. 231)

Armond (1996) relata que ao encontrarem-se doentes, há uma desestruturação enorme no mundo da criança e do adolescente, justamente pelo afastamento do convívio escolar e atividades paralisadas. A vivência hospitalar é penosa e estranha para os jovens pacientes. Com o objetivo de amenizar essa experiência na vida de pessoas tão novas, existem evidências que aspectos lúdicos, quando trabalhados em hospitais, tendem a ajudar nesse período de dor vivenciado por eles. A presença de jogos, músicas, livros, aparelhos de televisão tendem a ser um complemento terapêutico que ajuda a dissipar os impactos dos procedimentos que são realizados. Os aspectos lúdicos em geral funcionam como um exercício de autocontrole que os tornam indispensável ao indivíduo. Podem ser também um escape para impulsos prejudiciais, bem como um restaurador de energia. Permitem a evasão da vida real e uma imersão em um mundo de fantasia, que proporciona a amenização da dor física e psicológica do paciente (ARMOND, 1996; SILVA, 2003; HUIZINGA, 2000). Portanto, em conformidade com esta situação problema, neste trabalho de conclusão de curso há a preocupação de evidenciar os meios como os aspectos lúdicos podem ser trabalhados em interiores de hospitais e influenciar os pacientes infantis. Para tanto desenvolve-se este trabalho utilizando o Hospital Federal da Lagoa, na cidade do Rio de Janeiro, como objeto de estudo.


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1.2. Problema de pesquisa

Em concordância com o supracitado, se apoiando nas evidências que apontam que ambiente lúdico auxilia no tratamento de crianças, endossa-se a discussão por meio da seguinte questão: Qual é a percepção dos públicos envolvidos sobre um hospital que possui aspectos lúdicos trabalhados em seu interior?

1.3. Objetivos

O objetivo geral deste trabalho é construir uma compreensão mais ampla da dimensão lúdica em ambientes hospitalares e como esta pode vir a contribuir na otimização do tratamento de pacientes infantis. Para tal, são objetivos específicos: Apesentar uma compreensão da dimensão lúdica em projetos de interiores; Analisar – por meio de estudo de campo – a interação e a percepção dos públicos do Hospital Federal da Lagoa quanto aos aspectos lúdicos do mesmo; Pontuar como um ambiente que trabalha aspectos lúdicos pode auxiliar a recuperação de pacientes infantis.

1.4. Justificativa da relevância do trabalho

A justificativa para o desenvolvimento esta fundamentada em três importantes argumentos: Tem aderência ao Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Design de Interiores: o trabalho aborda o conforto e a recuperação de pacientes infantis em


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hospitais. Para tanto, conduz esta abordagem a partir da dimensão lúdica em projetos de interiores; Dialoga com políticas públicas: o tema aqui discutido encontra-se em destaque no país, principalmente após o Ministério da Saúde ter elaborado o Plano Nacional de Humanização (PNH) chamado HumanizaSUS (2004), que visa nortear as práticas de atenção e gestão em todas as instâncias do SUS. Neste plano, foi destacada a importância de investir em financiamento de projetos para melhorar a ambientação de alguns setores do hospital como: salas de conversa, espaços de conforto, além de investir em mobília adequada, comunicação visual etc. Atua em oportunidades locais e possui desdobramento global: ao pensar na grande incidência de doenças que afetam as pessoas de modo geral, no Brasil e no mundo, tornam-se relevantes projetos que invistam em melhorar a qualidade de bem estar do paciente durante tratamentos traumáticos, como contra o câncer. E assim, mesmo um estudo conduzido a partir de um hospital localizado na cidade do Rio de Janeiro pode vir a auxiliar projetos futuros em outras cidades.

1.5. Delimitação

A pesar de abordar aspectos de saúde pública e recuperação de pacientes, este trabalho se restringe a discutir os temas exclusivamente por meio da contribuição dos aspectos lúdicos aplicados no interior de hospitais.

1.6. Caracterização da pesquisa realizada

1.6.1. Da natureza

Trata-se de uma pesquisa aplicada. Inicialmente, delimita-se uma condição e revela-se uma demanda de total relevância social; em seguida, com o desenvolvimento do


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trabalho tem-se como resultado um constructo conceitual que visa auxiliar projetos futuros que abordem a dimensão lúdica (MARCONI e LAKATOS, 2007).

1.6.2. Do problema

Lançou-se mão de uma abordagem qualitativa. Assim, considerando as características deste tipo de abordagem, (I) buscou-se a visitação de ambientes correlatos àquele da proposta de projeto e (II) considerou-se o comportamento dos indivíduos que se relacionam com esse tipo de ambiente (CRESWELL, 1994). Pode-se destacar ainda que abordagem qualitativa se relaciona estreitamente com a área de Design:

A [abordagem qualitativa] ajuda a revelar oportunidades sociais, políticas, econômicas e culturais das pessoas e permitir que descrevam os obstáculos com suas próprias palavras. Pesquisas qualitativas são valiosas para analisar e mapear a dinâmica do relacionamento entre pessoas, lugares, objetos e instituições. Isto é possível porque esses fenômenos do mundo social tendem a estar relacionados internamente (ou seja, são mutuamente dependentes e são partes uns dos outros). Ao examinar com profundidade um fenômeno, um universo inteiro de relações vem à tona, já que outros fatos tenderão a situar-se em algum ponto intermediário do mapa de relações. (IDEO, 2010, p. 22, grifo nosso)

1.6.3. Dos objetivos

Uma vez que este trabalho propicia maior familiaridade com um fenômeno repleto de variáveis, busca entendimento por meio de uma determinada ótica (Design de Interiores), considera as necessidades do comportamento humano, além de demandar análise de


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exemplos externos que estimulem a compreensão, tem-se uma pesquisa exploratória. Este tipo de pesquisa é, portanto, justificado pela complexidade do fenômeno, e pelo fato de não pretender ser um estudo definitivo, buscando revelar nuances e caminhos para o desenvolvimento de futuras pesquisas (GIL, 2002).

1.6.4. Das técnicas

O presente trabalho foi estruturado por meio de documentação indireta (MARCONI e LAKATOS, 2007). Assim, com pesquisa e análise de fontes secundárias (principalmente por meio de livros, artigos, dissertações, teses e websites oficiais que hospedem as obras perfiladas e/ou que abordem os temas centrais ou temas correlatos), situou-se o trabalho no tempo e espaço no item denominado definição da situação problema e construiu-se os alicerces conceituais na revisão de literatura pertinente à pesquisa. No item 3 deste trabalho, intitulado de desenvolvimento, versando com a natureza aplicada do trabalho, foi realizada documentação direta pela técnica de estudo de campo no Hospital Federal da Lagoa. Otani e Fialho (2011, p. 40) dizem que:

[Este] é elaborado em campo aberto, junto à natureza e à sociedade. Melhor será dizer que é feito no terreno, junto do objeto de estudo. Pode ser empregado em estudos que visam avaliar ações ou interferências realizadas no âmbito social. [...] Basicamente, a pesquisa e desenvolvida por meio da observação direta das atividades do grupo estudado e de entrevistas com possíveis informantes para levantar suas explicações e interpretações do que ocorre no [objeto de estudo].


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Serra (2006) diz que este tipo de estudo é comum na Arquitetura e no Design. Em vez de adotar métodos estatísticos, o pesquisador busca — por meio de critérios claramente definimos — extrair o máximo de um objeto de estudo. Assim, mostra-se as configurações deste objeto, como evoluiu e qual o seu desempenho. Pode-se complementar ainda com Marconi e Lakatos (2007) que versam que o estudo de campo visa — mais do que encontrar uma resposta definitiva — formalizar relações entre variáveis.


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2. REVISÃO DA LITERATURA PERTINENTE AO TRABALHO

2.1. O Design

As definições para o Design são empregadas de diversas formas em função dos diferentes contextos em que a área se encontra. Um dos principais fatores que contribuem para que o Design não tenha uma única definição é a multidisciplinaridade, que, mesmo concorrendo para o enriquecimento e solidez da área, favorece o surgimento de diversos pontos de vista. Pode-se afirmar que o Design é uma área complexa e que tem como principal papel beneficiar a sociedade (BONI et al, 2014). Embora tenha se originado na arte, o Design se fundamentou no surgimento das indústrias. No entanto, hoje deve ser entendido como um ato mais racional que artístico devido sua dimensão e sua função em prol do benefício humano (BONI et al, 2014). Conforme Martins (2004), o termo design não tem uma tradução definida para o português, mas está diretamente ligado à noção de projeto, em seu sentido mais amplo. Tem como característica processual o desenvolvimento ou redesenho de objetos e/ou mensagens, que atendam a fatores sociais, econômicos e estéticos de acordo com o projeto. Para Ascar (2008) o Design é uma atividade relativamente recente dentre os estudos científicos e tem como característica principal a interdisciplinaridade por estar sempre mediando campos aparentemente opostos. No entanto, ainda conforme sugere este autor, design possui muitas definições. Esta palavra é empregada muitas vezes como uma quali-


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dade particular de determinados conjuntos de objetos. Não há um conceito fechado do que seja o Design. O International Council of Societies of Industrial Design (ICSID), órgão internacional oficial da atividade, definiu em 1957, ano de fundação do órgão, o termo Design e divulgada, em 1959, no Primeiro Congresso em Estocolmo:

Um desenhista industrial é uma pessoa que se qualifica por sua formação, seus conhecimentos técnicos, suas experiências e sua sensibilidade visual no grau de determinar os materiais, a estrutura, os mecanismos, a forma, o tratamento superficial e a decoração de produtos fabricados em série por meio de procedimentos industriais. (ICSID, 2014)

Passados os anos de atividades do ICSID, a definição do termo em questão evoluiu e passou por algumas adaptações. As responsabilidades do profissional se ampliaram, agregando conceitos de sustentabilidade e ecologia, uma vez que o designer deve atentar a todo o ciclo de vida, não apenas do produto, mas de todo o sistema em que está inserido, com o objetivo de garantir a valorização da vida (DE ARRUDA et al, 2009). Para Schneider (2010), não é possível, atualmente, definir com precisão o conceito de Design, em função de diversos fatores, como a historicidade, aplicação e abrangência da área. Desde o Renascimento o ramo de atuação dos designers vem se alterando. Antes era restrito à concepção de formas aos objetos. Hoje, sua ampliação abrange áreas da informática, processos, serviços e outros. Vianna et al (2012), no livro Design Thinking traduz como principal função do designer promover bem-estar na vida das pessoas. Para isso, é preciso identificar os reais problemas e solucioná-los de maneira mais efetiva, ou seja, transformar ideias em soluções tangíveis. Deve, no entanto, abordá-los sob diversas perspectivas e ângulos, priorizar o trabalho colaborativo entre equipes multidisciplinares e através de olhares e interpretações diversificadas sobre a questão, encontrar soluções inovadoras.


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Os conceitos apresentados por diversos autores tornam‐se elementares para o entendimento do Design como um processo em (constante) transformação, que tem se adaptado às necessidades sociais e tecnológicas.

2.2. Design de Interiores

A humanização de ambientes busca promover aos usuários conforto físico e psicológico. A Associação Brasileira de Designers de Interiores (ABD, 2014) defende que muitas variáveis influenciam em um projeto de interiores na busca de soluções criativas e dentre elas a mais importante refere-se à natureza da utilização do espaço. Considera que existem, ainda, fatores práticos a serem observados como acessibilidade, iluminação, acústica, conforto térmico, armazenamento de materiais e adornos, entre outros. E, ainda acrescenta que fundamentais são as questões associadas à saúde, conforto, segurança, durabilidade e certas necessidades especiais inerentes a cada Cliente. A forma básica de um espaço, os elementos arquitetônicos presentes, a cor, os revestimentos, os móveis etc. sempre vão interferir no resultado final de um projeto. “Design não é simplesmente desenho: é o resultado de um processo de criação”. Gurgel (2008) concluiu que há design em tudo aquilo que, para ser projetado, criado, necessitou, em seu processo criativo, da utilização, de modo consciente, de determinadas ferramentas de projeto. Estas ferramentas, pode-se dizer são os elementos de design (GURGEL, 2008). Dentre os conceitos que rodeiam o design, existe um no livro da mesma autora, Projetando Espaços (2005), que se encaixa perfeitamente a este projeto:

Chamamos de design a arte de combinar formas, linhas, texturas, luzes e cores para criar um espaço ou objeto que satisfaça três pontos fundamentais: a função, as necessidades objetivas dos usuários e a utilização coerente e harmônica dos materiais. (GURGEL, 2005, p.25)


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É comum confundir decorador, designer de interiores e arquiteto. Garibaldi Rizzo faz alguns esclarecimentos quanto às definições, atribuições legais e responsabilidade civil, de cada profissional, que tem levado a graves problemas. No entanto, há uma delimitação importante entre os profissionais, notadamente quanto à atribuição legal e responsabilidade técnica (RIZZO 2013). O decorador é aquele profissional formado (ou não) em um curso de curta duração ou é um autodidata. Suas atribuições são muito restritas, pois seu conhecimento sobre vários componentes de uma obra é nulo. Sua função restringe-se à escolha de acessórios, móveis ou cores sem que altere fisicamente a obra. Não pode interferir no ambiente nem mesmo no detalhamento de mobiliários cuja atribuição é do designer de interiores (RIZZO 2013). O designer de interiores, além das atribuições do decorador tem a função de elaborar o espaço coerentemente, seguindo normas técnicas de ergonomia, acústica, térmico e luminotécnica além de ser um profissional capaz de captar as reais necessidades dos clientes e concretiza-las através de projetos específicos. Porém seu trabalho restringe-se a ambientes internos, é o profissional habilitado para atuar em projetos de interiores, auxiliando o arquiteto a resolver os espaços da edificação de forma a atender melhor as necessidades do cliente, para complementar o fechamento da obra (RIZZO 2013). O arquiteto e sua formação se dão através dos cursos de arquitetura e urbanismo a qual permite que atue em várias áreas como: estudo e planejamento de projetos, execução de desenho técnico, elaboração de orçamento, padronização, mensuração e controle de qualidade, execução de obra e serviços técnicos (RIZZO 2013). De acordo Gurgel (2005), o projeto de interiores envolve um profundo estudo sobre o perfil da empresa e da imagem que ela pretende transmitir, além de ter como uma de suas prioridades a viabilização da praticidade, da funcionalidade e do conforto na execução das tarefas, tanto para o bom desempenho dos profissionais que ali trabalham como para a satisfação dos visitantes, que neste caso em questão são os pacientes hospitalares e familiares. Uma das primeiras propostas de criação de um modelo conceitual da influência do ambiente nas respostas emocionais dos clientes foi apresentada por Russell e Mehrabian, psicólogos ambientais que reconheceram que estímulos físicos, presentes em um determi-


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nado ambiente, conjuntamente com a personalidade dos consumidores, influenciam diretamente estados emocionais de um indivíduo e, por consequência, no seu comportamento. Posteriormente, estudos aprofundaram essas questões trazendo o conceito de "cenários de serviços” que possuía quatro dimensões ambientais que interferem na qualidade percebida do serviço que pode ser resumida no seguinte modelo simplificado: as características físicas dos ambientes influenciam algum estado interno do consumidor, que, por sua vez, influencia o seu comportamento dentro do cenário. Funcionários e clientes reagem às dimensões físicas do seu entorno físico de modo cognitivo, emocional e psicológico, de maneira claramente interdependente (SANZI, 2006).

2.3. O Design em Ambientes Hospitalares

Hospital tema deste trabalho está entre as mais complexas edificações da sociedade contemporânea. Além dos aspectos físicos comuns as outras construções, esta tem sua relevância, pois se trata de um ambiente de recuperação, onde ocorrem muitos procedimentos. O estresse físico e psicólogo são presentes e podem ser fortemente prejudicados se, por exemplo, alguns fatores dentro da Arquitetura e Design de Interiores não forem bem resolvidos (RANGEL, 2011). Pode-se perceber que devido à evolução científica e tecnológica, os ambientes hospitalares vêm sofrendo grandes alterações. Segundo Mezzomo, apud, Horevicz et al (2007) “De vinte anos para cá, assistimos a um trabalho de total renovação e transformação no campo da arquitetura hospitalar no sentido de responder às necessidades do homem atual”. Desta forma percebe-se que administradores da saúde estão, a cada dia, se preocupado mais com o paciente, na busca de proporcionar ambientes agradáveis para estes e seus familiares. A imagem clássica de hospital com ambientes frios está se modificando. Dentre as formas como a humanização do espaço hospitalar tem se expressado recentemente, pode-se citar a busca por uma ambiência interna e externa o menos ‘institucional’ possível, a fim de se aproximar o máximo de “residências”. Atualmente é comum observar edifícios com aparência de hotéis, residenciais e temáticas (na maioria quando se trata de alas pediátricas) (CAVALCANTI et al, 2007).


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Ao imaginar um ambiente hospitalar logo é associado a um local frio, com cheiro de éter, com estressante barulho de aparelhos e ruídos de macas circulando e médicos e enfermeiros conversando ao redor do paciente. Geralmente esta é a sensação que a maioria das pessoas tem de um hospital, o que se pode dizer é que essa imagem é traumatizante para qualquer ser humano (VASCONCELOS, 2004). Diante estas informações o Design de Interiores pode se fazer notado, em ambientes hospitalares, a partir de alguns elementos como:

2.3.1 Iluminação

A iluminação e a cor estão constantemente presente nos ambientes. Em ambientes hospitalares, seus usos corretos fazem com que funcionários, pacientes e familiares se sintam mais confortáveis. A iluminação, natural e artificial, é determinante em ambientes hospitalares, cada uma com objetivos específicos a fim de auxiliar tanto nos procedimentos médicos, quanto aos pacientes fornecendo conforto visual, que pode interferir diretamente nas respostas emoções dos usuários (PECCIN, 2012). A luz natural – proveniente do sol – tem total relevância quando os pacientes ficam internados e/ou período do dia confinado a esse ambiente, com pouco contato com exterior do hospital, pois dentre seus principais objetivos, está a sincronia dos mecanismos fisiológicos dos usuários. Além disso, a visão do exterior representa o elo com o mundo, orienta quanto ao tempo, horas e estações. Vale ressaltar que a presença de raios solares (não a exposição) é de extrema importância em tratamentos de saúde, principalmente no que tange a absorção de Vitamina D (PECCIN, 2012). Tanto a iluminação natural quanto a artificial– proporcionada por luminárias dispostas no ambiente – têm suas importâncias para a qualificação de espaços hospitalares, principalmente quando o estado fragilizado dos pacientes e sua longa permanência na instituição são considerados. A combinação da iluminação natural com a artificial é considerada ideal, de forma a satisfazer tanto os aspectos normativos, que estabelecem as iluminâncias mínimas, quanto aos aspectos qualitativos, que visam o bem estar dos pacientes (VASCONCELOS, 2004).


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No entanto, é preciso ter cuidado ao elaborar um projeto de iluminação, principalmente quanto à intensidade, tamanho e posicionamento. Esses fatores são indispensáveis para um bom funcionamento. É necessário também considerar o modelo das luminárias, pois tratando de um hospital, o recomendado é optar pelas que obtiver melhores condições de assepsia. Levando em conta esses fatores, ter-se-á um ambiente bem projetado, corretamente iluminado, o qual auxiliará o trabalho dos profissionais e a recuperação dos pacientes (KOTH, 2013). Existe, no Brasil recomendações segundo a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), através da NBR 5413 – Iluminância de interiores, no item 5.3.28 – Hospitais, que direciona os projetistas no momento da elaboração dos projetos nestes segmentos.

2.3.2 Cor

Conforme já citado, cor e luz são elementos do ambiente que estão intimamente ligados. A intensidade da luz pode afetar substancialmente o resultado da cor. A preferência e escolha da cor dependem principalmente da localização geográfica do edifício em questão, da incidência de luz natural, da cultura regional, do tamanho do espaço, das atividades que serão realizadas e da idade dos usuários. Além disso, o conforto térmico pode ser afetado pela cor. Podemos observar pessoas com sensação de frio em ambientes que possuem tonalidades frias e de calor em ambientes de tonalidades quentes, embora a temperatura seja a mesma (VASCONCELOS, 2004). A iluminação, as cores e a humanização no ambiente hospitalar são considerados determinantes para o sucesso e o bom funcionamento dos estabelecimentos de saúde, haja vista contribuírem para melhora do paciente. Portanto, sempre que bem projetado um hospital ele poderá estar ajudando na reabilitação dos pacientes, fazendo com que o espaço seja agradável e confortável (KOTH, 2013).


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2.3.3 Som

A permanência em ambientes com ruído constante é um perigo para a saúde de qualquer pessoa, pois causa irritação, frustação e causa mau humor. Também diminui a capacidade de aprendizado e reduz o limiar da dor. A melhora acústica dos ambientes pode ser proporcionada pela escolha certa de revestimentos das superfícies e móveis que não refletem ou amplificam as ondas sonoras. Carpetes, tecidos, madeira e painéis acústicos também podem proporcionar ambientes quietos e tranquilos (VASCONCELOS, 2004). Sons naturais, como os causados pela água, além de ter efeito calmante e relaxante, ajudam a diminuir a intensidade de outros sons indesejáveis. O uso de fontes de água e de jardins internos em hospitais tem dado resultados consideráveis na recuperação de pacientes por causa dos efeitos visuais e sonoros que causam (VASCONCELOS, 2004).

2.3.4 Aroma

O aroma, tanto quanto o som, pode ser positivo ou negativo. É, na verdade, uma persuasão silenciosa que influencia a mente, o corpo e a saúde. O cheiro é o mais evocativo dos sentidos, tem uma relação muito íntima com o lado emocional, estimula o resgate de memórias (GAPPEL, 1991 apud VASCONCELOS, 2004). Enquanto os aromas desagradáveis aceleram a respiração e o batimento cardíaco, os cheiros agradáveis reduzem o estresse. É necessária muita cautela ao se definir o aroma de um ambiente de saúde. O cheiro de medicamentos e material de esterilização pode estimular a ansiedade, o medo e o estresse dos pacientes, enquanto os aromas agradáveis podem reduzir a percepção da dor. As plantas além de exalar bons aromas, podem purificar o ar interno absorvendo toxinas, alegrando o ambiente, tornando-o mais próximo da natureza, é uma boa opção para este tipo de ambiente (JONES 1996, apud VASCONCELOS, 2004).


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2.3.5 Textura

Cada material apresenta diferentes características e propriedades de textura que permitem várias combinações e diferentes resultados. A escolha personaliza o projeto e os materiais empregados devem conter características compatíveis com as necessidades de cada ambiente. Portanto, considerar e avaliar as características dos materiais como durabilidade, resistência, manutenção, aspectos térmicos, acústicos e antiderrapantes são fundamentais para um correto funcionamento do ambiente (HOREVICZ et al, 2007).

2.3.6 Forma

A forma do espaço físico pode vir a interferir no processo de tratamento dos pacientes hospitalares, ajudando ou inibindo o seu desenvolvimento. Alguns indivíduos requerem privacidade para seus momentos de tensão e alterações comportamentais, por isso quartos individuais são importantes. Outro aspecto a considerar é o uso de formas variadas num mesmo espaço, provocando estimulação sensorial e criando distração positiva no ambiente. As formas podem ser destacadas pelo uso de cores (HOREVICZ et al, 2007).

2.3.7 Controle e automação

Algumas soluções arquitetônicas, segundo Malkin ,apud, Horevicz et al (2007) podem proporcionar ao paciente a sensação de controle do ambiente, tais como a existência de controladores de interfone, luz, telefone, televisão à fácil alcance do paciente, tanto nos quartos como nas salas de visitas, aumentam a sensação de segurança e aperfeiçoam o trabalho da equipe. O mesmo autor através de pesquisas pode comprovar que o controle do ambiente reduz o estresse do indivíduo. Somente o fato de este saber da existência de uma opção,


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por mais desprezível que seja já gera um sentimento mais favorável e de bem-estar, as consequências para os ambientes de saúde enormes. Pacientes que podem controlar a temperatura e a iluminação do seu próprio quarto demonstram menor estresse e apresentam recuperação mais rápida.

2.4. Hospital Enquanto Ambiente Confinado

Para introduzir este tema, primeiramente, é necessário entender melhor a história e evolução do hospital. Para isso, faz-se necessário a compreensão do termo, que é explicado pelo Ministério da Saúde (1994), no livro História e evolução dos hospitais como:

A palavra hospital é de raiz latina (Hospitalis) e de origem relativamente recente. Vem de hospes – hóspedes, porque antigamente nessas casas de assistência eram recebidos peregrinos, pobres e enfermos. O termo hospital tem hoje a mesma acepção de nosocomium, de fonte grega, cuja significação é – tratar os doentes – como nosodochium quer dizer – receber os doentes. Outros vocábulos constituíram-se para corresponder aos vários aspectos da obra de assistência: ptochodochium, ptochotrophium, asilo para os pobres; poedotrophium, asilo para as crianças; orphanotrophium, orfanato; gynetrophium, hospital para mulheres; zenodochium, xenotrophium, refúgio para viajantes e estrangeiros; gerontokomium, asilo para velhos; arginaria, para os incuráveis. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1994. p. 8)

Portanto, segundo o mesmo autor, hospital é oriundo de épocas remotas, anteriores ao cristianismo e foi desenvolvido por organizações religiosas. Com os anos, foi convertido em instituição social como obrigação do Estado de criá-los e mantê-los. Sua definição antiga e atual permanece a mesma, como o local, ou a casa reservada para o tratamento temporário das pessoas doentes.


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No passado, os recursos dos hospitais eram escassos, ou seja, apresentavam precárias condições de conforto e higiene aos seus pacientes. Isto fazia com que somente as pessoas desprovidas de meios de subsistência frequentassem esse ambiente. “O hospital servia somente aos pobres”. Quem possuía mais condição financeira, trava-se em sua própria residência. Os próprios cirurgiões preferiam operar nas casas dos pacientes, devido a ausência de recursos dos hospitais (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1994). No Brasil, numa época não muito distante, os mais favorecidos não procuravam os hospitais para ter filhos, por exemplo. As maternidades só eram utilizadas pelos mais pobres. Com o passar do tempo, conforme os aparelhos e instalações hospitalares foram se aperfeiçoando, os médicos e cirurgiões começaram a perceber a necessidade de internação dos pacientes para melhor tratamento. A partir deste momento, cresceu também a preocupação com a contaminação dos enfermos, o que levou a descentralização do hospital, que até então era concentrado. Surgiu o conceito de hospital/jardim, subdividido em pavilhões e distribuídos em uma ampla área. Porém, mesmo assim, a contaminação era muito frequente devido à existência de moscas e poeira que favoreciam o contágio dos pacientes devido o acesso fácil. A alternativa adotada foi distanciar cada vez mais os pavimentos, até que a arquitetura progrediu, encontrando uma solução mais eficaz (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1994). O Ministério da Saúde (1994) explica que a partir de então, começaram a surgir construções metálicas e de concreto armado que permitiam edificações mais baratas de prédios com muitos pavimentos, os chamados “arranha-céus”. Iniciou-se a popularização dos elevadores, que foram incrementados. O conceito geral agora era a ideia de simplificar e economizar com o transporte vertical, dessa forma o pessoal de serviço e o tempo precioso dos técnicos poderia ser poupado. Ainda segundo o Ministério da Saúde (1994), começaram a surgir os hospitais com o estilo chamado monobloco, com muitos pavimentos. Estes eram defendidos por algumas razões, como as descritas abaixo, que contribuíram para dar a esse conjunto hospitalar grande eficiência e economia de funcionamento.


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1) Economia de construção e manutenção. 2) Facilidade dos transportes e portanto no movimento do hospital, tanto do pessoal como do material. 3) Concentração das tubulações hidráulicas, térmicas, de esgoto, eletricidade, etc. 4) Possibilidade de bons serviços operatórios, de raios X, radium, de fisioterapia e fisiodiagnóstico, de laboratórios, etc. 5) Possibilidade de ter na direção de cada serviço um técnico de grande valor, bem remunerado, o que não seria possível em serviços multiplicados. 6) Melhor disciplina interna e de vigilância. 7) Melhores condições de isolamento por pavimento do que em pavilhões dispersos. 8) Maior afastamento do ruído, da poeira e da môsca, o que faz nos hotéis serem preferidos, apesar de mais caros, os pavimentos mais elevados. 9) Mais íntimo contacto e cooperação do pessoal técnico. 10) Facilidade de administração. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1994. p. 52)

Há também, outros benefícios citados pelo Ministério da Saúde (1994) que fazem acreditar que o tipo de hospital “em altura” é também o preferido entre os arquitetos, são eles:

A redução da área total, que simplifica e torna mais econômica a construção; A área de terreno necessária para os grandes hospitais é enormemente reduzida; O arejamento é tanto mais perfeito quanto mais alto é o pavimento; Varandas floridas e solitárias permitirão aos doentes contato com o exterior.


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Conforme dados do autor supracitado, no Brasil, os primeiros hospitais em estilo monobloco que imprimem os conceitos citados a cima foram: Hospital Escola da Faculdade de Medicina, da Universidade de São Paulo, o Hospital Escola da Faculdade de Medicina da Bahia, o Hospital Escola da Faculdade de Medicina de Porto Alegre, o Hospital Escola da Escola Paulista de Medicina, o Hospital da Santa Casa de Misericórdia da Escola Paulista de Medicina, o Hospital da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte. Segundo Ekstein, citados pelo livro do Ministério da Saúde (1994), os hospitais pediátricos são aqueles que possuem função educativa e social das mais acentuadas dentre os tipos existentes de hospitais e devem possuir algumas características principais, como:

I – O hospital de crianças toma uma posição particular, pelo fato de ter responsabilidade especial relativa ao doente. A criança separada da família, é submetida a tratamento, sem poder julgar por si; sua idade a predispõe a numerosas moléstias, cujos riscos aumentam com a permanência no hospital. II – Há necessidade de ser dirigido por pediatra, sendo que pode contribuir eficazmente para a formação de médicos e enfermeiras especializadas, assim como não deve ser descurada a assistência médico pedagógica. III – É sempre onerosa a administração hospitalar para crianças, pois necessita-se de um médico para 35 a 40 lactentes enfermos, sendo que nos serviço de cirurgia deve ser maior ainda o número de facultativos. Uma enfermeira para 4 lactentes ou 6 crianças maiores. IV – O hospital só pode empregar enfermeiras especializadas e onde há crianças em tratamento demorado, torna-se indispensável uma professôra versada em métodos especiais de brinquedos, por exemplo, para evitar o “hospitalismo”. V – O tratamento eficaz das crianças e lactentes só é possível, quando se pode dispor de um bom número de enfermeiras inclusive para o período da noite. Sendo reduzido êsse número de esforços terapêuticos feitos durante o dia, poderiam tornar-se nulos. VII – São indispensáveis seções especiais para tratamento e criação de recém-nascidos prematuros, dos quais depende a luta contra a mortalidade precoce. O resultado favorável, obtido com a alimentação de leite de mulher, induz a todo hospital poder dispor de um certo número de amas. VIII – Tais amas são admitidas, com seus respectivos filhos, que se criam em seções especiais. Pode-se nos grandes hospitais armazenar leite humano para os recém-nascidos.


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IX – A alimentação infantil exige o estabelecimento de cozinha dietética especial e de lactário. X – Todos os adultos de semelhantes hospitais, deveriam submeter-se periódicamente a exames médicos, sobretudo à verificação de não serem portadores de germes. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1994. p. 265)

A respeito da internação das crianças é importante lembrar-se das consequências que isso causa para todos os envolvidos: crianças, família e toda equipe de saúde. São muitas as mudanças no contexto pessoal, familiar e social. O diagnóstico de uma doença grave nelas representa o início, muito sofrido, permeado por sentimentos ambivalentes de incertezas, medo, angústias, reações de incredulidade, esperanças e desesperança, dúvidas e muitos questionamentos (LEITE et al, 2012; PERINA, 2010; GONZAGA et al, 1998). Leite et al (2012) afirma que dependendo da fase em que a criança se encontra, essa descoberta leva-a a pensar que sua doença e/ou hospitalização é uma punição por mau comportamento ou algum erro cometido. Isso porque seu pensamento fantasioso e egocêntrico dificulta o entendimento dos fatos e das situações vivenciadas. Para Perina (2010), o processo de assimilação, integração e aceitação da nova realidade infantil é lento e gradual, ocorre de acordo com a personalidade de cada pessoa, da dinâmica da família e da rede de apoio social. As reações das crianças à doença e ao tratamento são diversificadas, dependendo da idade, do diagnóstico, do estágio de desenvolvimento cognitivo e emocional e podem ser demonstradas através de manifestações afetivas como raiva, tristeza, frustação, hostilidade e depressão. O medo de morrer gera ansiedade, desespero e pânico. Sendo assim, pode-se dizer que: “É um novo momento na vida de todos” (PERINA, 2010 p. 6). Todo o trabalho implica no cuidado da família e no conhecimento da dinâmica de funcionamento familiar e das reações diante da dor e do sofrimento. Todos os envolvidos sofrem com a desordem da família decorrente do adoecimento, mas aos poucos, o grupo vai se reorganizando, estabelecendo prioridades, assumindo novos papéis, recuperando o equilíbrio que havia sido perdido (PERINA, 2010).


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Uma das maiores dificuldades das crianças em enfrentar os dias de internação é a rotina hospitalar. Geralmente os cuidados com a recuperação da doença são programados, assim como os horários de banho e alimentação, que são rígidos e pré-estabelecidos pela instituição, na maioria das vezes, sem levar em conta as necessidades e a rotina que era vivenciada pela criança. Sem contar as mudanças, a cada turno, de trabalhadores que nem sempre são os mesmos para cada pessoa, o que dificulta, ainda mais, o vínculo e a estadia no hospital (LEITE et al, 2012). Ainda o mesmo autor lembra a necessidade do cuidado com os acompanhantes e familiares durante a permanência no hospital. São procedimentos básicos como fornecimento de alimentação e acomodação adequada. É preciso de empenho ao máximo dos hospitais para tentar satisfazê-las. A hospitalização possui muitas restrições, controles e cuidados intensivos, que acarretam limitações na liberdade e autonomia, na estruturação das atividades, do tempo e do espaço. Tudo isso pode causar sensação de aprisionamento e impotência do paciente diante de tantos cercamentos e impossibilidades. Por consequência, reações depressivas, com manifestações de choro, tristeza, raiva e agressividade podem ser desenvolvidas. Estas reações acarretam prejuízos que podem ser momentâneos ou podem permanecer após a alta do paciente. Quando mantido após a liberação do hospital, faz com que seja entendido como uma doença também e precisa ser tratado de forma adequada, para que a criança não sofra danos permanentes em sua saúde mental (LEITE et al, 2012; PERINA, 2010).

2.5. Público Infantil

Para melhor entendimento deste texto, é importante conhecer o significado de público-alvo, que foi bem definido por Brito (2012) como:

Público-alvo, também chamado de Prospect ou Target, é o grupo de pessoas que você escolhe como clientes principais, são aquelas pessoas para


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quem você dedica sua prática e as ações de comunicação e marketing da clínica. Ao definir esse público, que vai depender de critérios pessoais ou de um estudo de mercado, a clínica deve se esforçar ao máximo para criar um ambiente semelhante e atender todas as suas necessidades. (BRITO, 2012. s/n)

Ou seja, é para este público que estará voltada toda a estrutura da clínica ou hospital. Ainda segundo o mesmo autor, é interessante que ele seja definido com base a alguns critérios que devem ser bem definidos, como: faixa etária, região, classe social, poder de compra, comportamento ou preferências. A partir dessas informações, torna-se fácil criar o perfil deste público e o plano para atender as suas necessidades (BRITO, 2012). A proposta deste trabalho é trabalhar com o público alvo infantil, mas para isso, é necessário compreender que público é este. Segundo a UNICEF (1990), Criança é definido como “todo o ser humano menor de dezoito anos, salvo se, nos termos da lei, for aplicável, atingir a maioridade mais cedo”, diferentemente da Lei nº 8.069 (1990) que consideram como criança para os efeitos da lei, “a pessoa até doze anos de idade incompletos”, a partir desta idade, a pessoa é considerada adolescente até atingir dezoito anos de idade. Ainda de acordo com a Lei nº 8.069 (1990) e UNICEF (1990), é direito da criança e do adolescente o direito a proteção à vida e à saúde e o Estado tem obrigação de assegurar a sobrevivência e o desenvolvimento das crianças. É previsto na cartilha da UNICEF (1990) que:

A criança tem direito a gozar do melhor estado de saúde possível e beneficiar de serviços médicos. Os Estados devem dar especial atenção aos cuidados de saúde primários e às medidas de prevenção, à educação em termos de saúde pública e à diminuição da mortalidade infantil. Nesse sentido, os Estados encorajam a cooperação internacional e esforçam-se


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por assegurar que nenhuma criança seja privada do direito de acesso a serviços de saúde eficazes. (UNICEF, 1990. p. 17)

Neste contexto, quando trata-se de ambiente hospitalar, o hospital deverá obedecer algumas regras previstas na Lei nº 8.069 (1990), como:

Proceder a exames visando ao diagnóstico e terapêutica de anormalidades no metabolismo do recém-nascido, bem como prestar orientação aos pais; Manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato a permanência junto à mãe; É assegurado atendimento integral à saúde da criança e do adolescente, por intermédio do Sistema Único de Saúde, garantido o acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde; A criança e o adolescente portadores de deficiência receberão atendimento especializado; Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente àqueles que necessitarem os medicamentos, próteses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação; Os estabelecimentos de atendimento à saúde deverão proporcionar condições para a permanência em tempo integral de um dos pais ou responsável, nos casos de internação de criança ou adolescente.

Sobre o Direito à liberdade, ao Respeito e à Dignidade, encontra-se na Lei nº 8.069 (1990) o direito da criança a “brincar, praticar esportes e divertir-se”, assunto esse que será amplamente discutido no tópico 2.4 deste trabalho, referente a Aspectos Lúdicos.


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E que ajudam ao desenvolvimento físico e mental infantil, como o previsto pela UNICEF (1990) quando lembra que os Estados “reconhecem à criança o direito a um nível de vida suficiente, de forma a permitir o seu desenvolvimento físico, mental, espiritual, moral e social.” (UNICEF, 1990. p. 7) As leis existentes no país são claras a respeito das crianças, porém Sulzbach (2000), em seu documentário “A invenção da infância” prova que na maioria das vezes, todos esses direitos legais impostos pelo Estado, não são respeitados e que o mundo trata as crianças de forma muito diferente do jeito que deveriam ser tratadas perante a lei. As autoras (SULZBACH, 2000) fazem uma reflexão baseada na frase impactante: “Ser criança não significa ter infância”. Mostram que no mundo contemporâneo, o termo infância é basicamente ligado à decisão de deixá-las a brincar, ir à escola, ou seja, ser criança, porém esse não seria a real intenção do termo. Ainda conforme defendido pelas autoras supracitadas, a definição da palavra criança foi introduzida no século XVIII por um dicionário francês que utilizava este termo como cordial, que era empregado com pessoas de qualquer idade, com intenção de saudar, agradar alguém ou leva-la a fazer alguma coisa, após um pedido. Já o termo infância, teria sido criado pela modernidade, para designar uma idade de ouro, quando fala-se que a vida é perfeita, protegida e tranquila, antes de ser tomada pelas exigências do trabalho. Ou seja, a infância seria uma época ideal da vida, em que ser criança seria não ter qualquer outro compromisso que valem do gozo puro e simples de sua inocência (SULZBACH, 2000). Já Sayão (2013) considera que ser criança é um fato biológico, mas o modo como ela vive essa etapa da vida, que vai até a adolescência, depende de muitos e complexos fatores, entre eles o modo social de pensar a criança. Outro pensamento importante é que infância é um termo que, hoje, acaba sendo considerado obsoleto, devido aos muitos compromissos diários que os pais designam para as crianças. Muitas vezes para compensar a falta de tempo deles, já que durante a maior parte do dia, eles estão ocupados com trabalho e não com os filhos. A ponto de não criar tempo livre para as crianças realmente desfrutem desta “idade de ouro” da vida. Neste texto, utiliza-se o termo criança ligado diretamente ao termo infância, ou seja, considera-se que as crianças possuem a infância ideal.


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Segundo afirmação de Montigneaux (2003), o imaginário povoa o interior da criança, que o toma como realidade das coisas. Ou seja, ela é dominada por suas emoções e seu egocentrismo, que a torna incapaz de racionalizar por dedução, já que sua visão de mundo é parcial e subjetiva. Com o passar dos primeiros anos de sua vida, a criança abandona aos poucos a ilusão do poder absoluto. Todos os dias vivem novas experiências e algumas das quais poderão se tornar inevitavelmente em “frustrações e angústias, como, por exemplo o medo de ser abandonada por seus pais, o medo da morte e a necessidade de ser amada” (MONTIGNEAUX, 2003. p. 54). Ainda segundo o mesmo autor, é a partir do encontro com as provocações ou dificuldades, que a criança irá encontrar o imaginário. Esse por sua vez, muitas vezes, desempenha verdadeiras funções terapêuticas, ou seja, a criança é capaz de criar, em seu mundo interior, imagens para suportar alguma frustração. O imaginário, então, torna-se uma válvula de escape, sendo mecanismo para alívio de suas angústias e tensões acumuladas.

As aventuras extraordinárias de heróis vencedores de dragões ou de monstros apavorantes falam bem melhor à sua imaginação. A distância favorecida por um cenário de sonho lhe permite suportar situações dramáticas e se deixar relaxar diante de mensagens que ensinam a dar sentido à sua vida. Quanto mais os elementos da história são irreais (castelo assombrado, tapete voador...), mais facilmente a criança se reencontrará em seu mundo real. (MONTIGNEAUX, 2003. p. 56)

O autor supracitado ainda afirma que é importante saber que a representação da realidade de forma esquemática e simplificada é absolutamente necessária para as crianças, pois isso permite organizar o caos existente no seu interior e classificar para si mesma, os sentimentos complexos, ambivalentes e contraditórios que sente, de forma mais fácil.


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2.6. Aspectos Lúdicos

A palavra lúdico, segundo Silva (2003), vem do latim inludere, inlusio, que possui como significado, ilusão. Embora Almeida (2003) afirme que essa mesma palavra, em latim é ludus e quer dizer jogo. Ao pesquisar em dicionários brasileiros, outros significados, muitas vezes semelhantes, são encontrados, como nos casos abaixo:

Dicionário Michaelis – Lúdico se refere a jogos e brinquedos ou aos jogos públicos antigos. Dicionário Aurélio e Priberam – Lúdico é relativo a jogo ou divertimento. Que serve para divertir ou dar prazer.

Essa palavra tem sido discutida por várias áreas do conhecimento como a sociologia, filosofia, educação, psicologia entre outras. Além de ser utilizada de modo indiscriminado indicando muitas vezes situações e episódios da vida cotidiana que envolvem o prazer, a descontração, o relaxamento, a estética, a liberdade, a criatividade dentre outros aspectos (BONETTI, 2006; BEUTER et al, 2010). De modo geral, o lúdico pode manifestarse por meio do brinquedo (objeto) ou pela ação de brincar, “pelo jogo (como elemento da cultura), como divertimento (gerando sentimentos de alegria, prazer, satisfação...), pelas atividades de lazer (ir ao cinema, teatro, passear). Desta forma, torna-se comum a utilização dos termos jogo, brinquedo, brincadeira, brincar, festa e lazer para substituir a palavra lúdico (BEUTER, 2010). Para o autor Bonetti (2006), por trás de todos os significados, há uma crença de que a palavra “lúdico” restringe-se a fase da vida chamada infância. Podendo gerar um entendimento equivocado de que outras faixas etárias, como adultos e idosos, ou seja, pessoas, teoricamente mais maduras, que são mais preocupadas com as coisas “sérias”, não


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podem se entregar a “atividades lúdicas”. Essas, muitas vezes, mal entendidas também como inúteis e improdutivas. De acordo com Almeida (2003), quando ligado a criança, o termo “lúdico” nem sempre está relacionado simplesmente a uma concepção, muitas vezes ingênua de passatempo, diversão superficial ou brincadeira vulgar. Este termo é também referente a educação lúdica, com significado muito mais profundo e que certamente estará presente em todos os segmentos da vida. Ainda segundo o autor:

Por exemplo, uma criança que joga bolinha de gude ou brinca de boneca com seus companheiros não está simplesmente brincando e se divertindo; está desenvolvendo e operando inúmeras funções cognitivas e sociais; ocorre o mesmo com uma mãe que acaricia e se entretém com a criança, com um professor que se relaciona bem com seus alunos ou mesmo com um cientista que prepara prazerosamente sua tese ou teoria. (ALMEIDA, 2003. p.14)

Sobre o exemplo citado acima, diz-se que fazem parte da educação lúdica a partir do momento que combinam e integram as relações funcionais ao prazer de se adquirir conhecimento e a expressão de felicidade que é manifestada na integração com os semelhantes (ALMEIDA, 2003). Quando relacionado ao jogo, sentido literal da palavra, na realidade, esse proporciona a criança uma evasão da realidade e a leva a uma imersão no “mundo do faz-deconta”. O ato de jogar é capaz de absorver inteiramente o jogador (SILVA, 2003). Atualmente é comum que os pais estejam sobrecarregados com trabalhos diários e preocupações, deixando de proporcionar a seus filhos um ambiente familiar com uma vivência de alegria, de participação e de comunicação afetiva. Sem forças e/ou coragem de estar ao lado dos filhos, brincar ou proporcionar formas de divertimento sadio. Criando


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vácuo familiar que pode ser o principal motivo de muitas crianças encontrarem no jogo a fuga do mundo real (ALMEIDA, 2003). Sobre o significado de jogo, ligado ao termo lúdico, Huizinga (2000) diz:

Há uma extraordinária divergência entre as numerosas tentativas de definição da função biológica do jogo. Umas definem as origens e fundamento do jogo em termos de descarga da energia vital superabundante, outras como satisfação de um certo "instinto de imitação", ou ainda simplesmente como uma "necessidade" de distensão. Segundo uma teoria, o jogo constitui uma preparação do jovem para as tarefas sérias que mais tarde a vida dele exigirá, segundo outra, trata-se de um exercício de autocontrole indispensável ao indivíduo. Outras vêem o princípio do jogo como um impulso inato para exercer uma certa faculdade, ou como desejo de dominar ou competir. Teorias há, ainda, que o consideram uma "ab-reação", um escape para impulsos prejudiciais, um restaurador da energia dispendida por uma atividade unilateral, ou "realização do desejo", ou uma ficção destinada a preservar o sentimento do valor pessoal etc. (HUIZINGA, 2000. p.5)

O autor relata ainda que a semelhança entre todas as hipóteses consiste todas partirem do pressuposto que deve haver alguma espécie de finalidade biológica para o jogo, não sendo exatamente o próprio jogo. Na verdade, as teorias tendem a se complementar, sendo de fácil aceitação, sem que gerasse grande confusão de pensamento. Garcia (2004) explica que é através de brincadeiras que as crianças comunicam-se até que aprendam a linguagem oral e escrita. Após esse aprendizado, ela diminui a capacidade de simbolizar, como fazia anteriormente através da arte e brincadeiras. Ao ocorrer essa mudança, pode haver uma grande perda e bloqueio do crivo racional, já que é através do lúdico que a criança se manifesta. Durante as atividades lúdicas, elas são capazes de simbolizar e expressar aquilo que sente, além de questionar o mundo e lidar melhor com o conflito, sendo capaz de resolvê-lo.


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O lúdico, muitas vezes ligado à arte, é capaz de ajudar as crianças a se expressarem espontaneamente perante a realidade. É conhecendo novos objetos, ambientes, experimentando coisas novas, ou seja, “fazendo arte” que elas conseguem começar a resolver pequenos problemas, fato importante ligado diretamente ao seu desenvolvimento psíquico, mental e físico (GARCIA, 2004). É através dessa capacidade de desenvolvimento dita anteriormente que as crianças tornam-se capazes de adaptar-se ao desconhecido e com o seu amadurecimento, ser capaz de enfrentar a realidade e enfrentar situações que demandem a capacidade de “ser suscetível ao estresse e às mudanças, ser flexível, ter relacionamentos interpessoais etc” (GARCIA, 2004. p.12). A arte e o lúdico, representado pelo jogo, são capazes de facilitar a expressão de sentimentos através de outros tipos de expressões que não sejam palavras. Aspectos lúdicos como desenhos, pinturas, modelagens, utilização de cores e materiais diferentes podem ser utilizados de modo a ajudar a expressão e transposição de um sentimento. Deste modo é possível dizer que os aspectos lúdicos também circunscrevem a expressão humana e podem ser captados pelos sentimentos humanos como: algo a ser visto, ouvido, tocado, cheirado, saboreado etc (BEUTER et al, 2010; GARCIA, 2004). Trazendo essas análises para o território hospitalar, Moura et al (2011) lembra do quanto pacientes hospitalizados tornam-se vulneráveis ao desenvolvimento de problemas psicológicos que englobam a depressão, a ansiedade e as tensões sofridas por eles. E lembra ainda da importância de se inserir atividades lúdicas no processo de humanização como forma de cuidado, para que auxilie a minimizar a ansiedade, sofrimento e dor decorrente à hospitalização. Beuter et al (2010) demonstra o seu pensamento sobre aspectos lúdicos em:

[...] o lúdico pode manifestar-se na expressão subjetiva do cuidado de enfermagem através do sorriso, do carinho, da atenção, do toque afetivo, do olhar empático, da conversa atenciosa. Em outras palavras, quando a enfermeira utiliza o seu corpo para interagir e cuidar do cliente. Ademais, o lúdico também pode expressar-se na utilização de suportes materiais, com


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os efeitos terapêuticos proporcionados por sua ação lúdica: revistas, jornais, aparelho de televisão, rádio e outros. Consideramos, assim, que o lúdico tanto tem sua materialidade em um objeto, como jogo, aparelho de televisão, rádio ou som, quanto é manifestado através do sorriso, do toque, do diálogo das pessoas em interação. Em ambas as situações, ele se territorializa no contexto do cuidado de enfermagem, uma vez que sua essência transcende a qualquer meio material, limitação de tempo ou espaço. (BEUTER et al, 2010. p. 568)

Sob a ótica do cuidado, Beuter et al (2010) afirma que o lúdico configura-se como restaurador da saúde do paciente hospitalizado, por facilitar a interação, através de desenvolvimento intra e interpessoal, o que promove a socialização e a comunicação, além de valorizar a criatividade e o culto à sensibilidade do enfermo. Ainda sobre o ambiente hospitalar, Duarte (2012) mostra que reduzir fatores desconhecidos para as crianças pode ser uma estratégia eficaz de humanizar o tratamento das crianças internadas, ou seja, pequenas atitudes lúdicas podem diminuir o temor e ajudá-las a superar o estresse hospitalar. Dentre as formas, uma delas é a permissão da presença dos pais durante o tempo de tratamento, porém como nem sempre isso é possível, uma boa alternativa é deixar a disposição das crianças os seus objetos preferidos, como cobertores, mamadeiras, brinquedos etc. Em casos de cirurgias, é interessante uma boa preparação psicológica como atividades lúdicas terapêuticas capazes de simular procedimentos cirúrgicos para diminuir a ansiedade dos jovens pacientes (DUARTE, 2012). Ainda segundo o autor, as atividades lúdicas e a presença do brinquedo durante a internação são capazes de funcionar como válvula de escape para a situação vivenciada pela criança. Analisando sob a ótica do Design de Interiores, Lewis, apud, Duarte (2012) aconselha a criar painéis próximos à cama do paciente com desenhos e fotos da família da criança, para elas manterem as ligações sociais da representação das pessoas com quem não podem conviver durante o período de confinamento. Quanto mais personalizado o quarto do hospital, mais distante será o limite entre a casa e o ambiente de tratamento, pois o


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quarto se tornará extensão do quarto de casa. Além dessa função para o painel, ele possui outras como: integrar o paciente ao hospital, fortalecer a identidade, manter conexões com as pessoas e lugares queridos, etc. Em unidades de tratamento intensivo, LIRA (2011) aconselha algumas medidas básicas para humanizar os ambientes, mas é importante lembrar que esses aconselhamentos também devem ser seguidos para outras áreas hospitalares. Dentre as medidas estão: 1) Revisar o espaço físico destinado a UTI, verificando possibilidade de torná-lo mais agradável, funcional, com iluminação natural, climatização adequada. Dotar a unidade de equipe multiprofissional, com o recurso de psicólogos, assistentes sociais, terapeutas entre outros, para atender pacientes, familiares e equipe que também necessita de apoio; 2) Instituir reuniões com os pais / equipe; 3) Ter uma sala de espera adequada para os familiares; 4) Um profissional de referência a quem o paciente ou familiar possa recorrer.


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3. DESENVOLVIMENTO: ESTUDO DE CAMPO DO HOSPITAL FEDERAL DA LAGOA (RIO DE JANEIRO, RJ)

3.1. Metodologia

Ao iniciar o planejamento e a pesquisa deste trabalho, havia grande interesse em se efetuar o estudo de campo no Hospital Municipal Jesus, localizado em Vila Isabel, na cidade do Rio de Janeiro. Neste hospital está implantado o projeto Submarino Carioca, ou seja, um espaço destinado ao exame que utiliza o Tomógrafo, ambiente este cujo design remete ao fundo do Oceano. O contato para tentar agendar uma visita técnica foi efetuado através de mensagem privada na página oficial do hospital em um site de relacionamento no dia 05 de Julho deste ano, onde foi informado que este tipo de agendamento deveria ser feito através de e-mail para uma pessoa específica. Apesar de enviado, este e-mail nunca foi respondido, o que levou a novas tentativas fracassadas. Sendo assim, novas pesquisas foram feitas até se descobrir o Aquário Carioca, implantado no Hospital Federal da Lagoa, também no Rio de Janeiro. O projeto buscou reformar a sala de quimioterapia pediátrica, transformando-a em um ambiente lúdico, com design de interior que remete ao fundo do mar. O objetivo era proporcionar uma alteração no clima hospitalar, para amenizar os impactos do tratamento, não só para os pacientes, mas também para os familiares e funcionários do hospital. Enquanto os pacientes recebem as medicações, podem interagir entre eles, jogar, assistir televisão, ler etc.


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O contato via telefone foi efetuado na data 14 de Outubro, quando foi informado que a visita poderia ocorrer todos os dias entre as 8h e as 13h ou a partir das 17h, sendo necessária uma declaração da instituição de ensino solicitando a visita técnica. De posse da declaração, a visita guiada aconteceu no dia 05 de Novembro, na parte da manhã, às 9h 30min, com duração de aproximadamente 1h 30min, sob a supervisão e acompanhamento do chefe do setor de hotelaria do hospital que será identificado neste trabalho como A. B. L.. Apesar da visita ter ocorrido percorrendo os principais pontos do hospital, foi aplicada uma entrevista no Aquário Carioca à enfermeira chefe L. B. L. M. Esta entrevista na íntegra está disponível como apêndice (página 82) a este trabalho. É importante relatar que uma vez que não houve submissão de um projeto de pesquisa junto ao Comitê de Ética da Instituição de Ensino Superior, e mesmo considerando os objetivos deste Trabalho de Conclusão de Curso, não houve interação e coleta de informações de nenhuma espécie com crianças.

3.2. Sobre o Hospital Federal da Lagoa

O terreno do Hospital Federal da Lagoa está localizado na região onde, nos anos 50, era habitado pela Favela Hípica. Para a construção do hospital, cerca de mil pessoas tiveram que ser despejadas do local para o início da construção em 1951. A criação do hospital foi idealizada pelo Instituto Larragoiti e teve seus projetos assinados por ícones da arquitetura, como Oscar Niemeyer e Hélio Uchoa e projeto de urbanização do paisagista Burle Marx. Em estilo monobloco, a construção foi disposta no centro do terreno, que é rodeado pelas ruas: Jardim Botânico, José Joaquim Seabra, Oliveira Rocha e Avenida Lineu de Paula Machado, como pode ser visto na Figura1, a seguir. O prédio principal foi projetado com 15.000m divididos em 10 pavimentos, além do subsolo e anexos nas laterais, totalizando 22.000m construídos. Sua obra foi concluída em 1958 e em 1967 recebeu o nome de Hospital da Lagoa. (LEITE, 2014).


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Figura 1. Localização do Hospital da Lagoa. Fonte: Google Earth 2000 modificada.

Atualmente, o hospital é público, ou seja, atende ao Sistema Único de Saúde (SUS) e conta com 243 leitos instalados e atende especialidades de média e alta complexidade, com destaque para atendimentos pediátricos, neonatal, oncológicos dentre outros.

3.3. O estudo de campo

Para chegar ao hospital, percorreu-se a Avenida Lineu de Paula Machado e logo após a rua Oliveira Rocha onde localiza-se a portaria de acesso geral. Desde então, é pos-


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sível observar o entorno, com muros pichados e sujos, contrapondo à beleza das árvores que encontram-se na calçada do objeto de estudo. No setor de pediatria do hospital, encontra-se a sala de quimioterapia, ou seja, local onde a criança, entendida como pessoa com faixa etária entre 0 a 18anos, com doença oncológica receberá a medicação durante um longo período de tempo durante o dia. Por se tratar de um ambiente relacionado com muita dor e confinamento do paciente, foi implantado em 2010, pelo Instituto Desiderata, baseado na Política Nacional de Humanização do Ministério da Saúde (HumanizaSUS), o projeto Aquário Carioca. O objetivo deste projeto é amenizar o impacto do tratamento não só para as crianças que utilizam o Aquário, mas também para familiares e profissionais de saúde. Ele consiste em um cenário, desenvolvido pelo designer Gringo Cardia que representa o fundo do mar. Com isso, o ambiente que antes era motivo de medo e pavor para muitas crianças, transforma-se em um espaço lúdico e acolhedor, como Rouxinol (2014) afirma.

As crianças em tratamento ficam até oito horas por dia no hospital. Dessa forma, é importante ter um espaço mais lúdico onde possam se divertir e receber um atendimento integral, transformando a ida ao hospital em um momento de menos dor, para pacientes e familiares. O investimento no Aquário possibilita a unificação do atendimento oncopediátrico dos hospitais públicos. (ROUXINOL, 2014. s/n)

Portanto, acrescenta-se às informações supracitadas, descrições a partir de observações durante a visita, que serão relatadas abaixo em ordem de visitação: Portaria geral – É possível identifica-la facilmente devido a acumulação de pessoas e ambulantes que vendem lanches e guloseimas. Neste local, pedestres e automóveis têm acesso ao interior do terreno. Desde então é possível observar alguma organização. Os funcionários são uniformizados com terno e gravata, além de muito educados. Logo fazem uma rápida triagem, guiando o visitante para a recepção desejada.


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Recepção do prédio principal – Com aparência um grande lobby de hotel, a recepção possui uma funcionária, além de seguranças, que indicam o melhor caminho para a área desejada. É composta de sofás e puffs, formando um lounge. Neste ambiente visualiza-se em primeiro plano os dois elevadores existentes e logo atrás, a caixa de escada por onde tem-se o acesso aos 10 andares. Almoxarifado – Local organizado com funcionários dispostos a dar informações e ajudar aos visitantes em visitas guiadas. Andar da Pediatria – Ao chegar neste pavimento, logo identifica-se qual o público-alvo ao qual se destina. Trata-se de um ambiente com paredes e portas identificadas com pinturas infantis que remetem a um zoológico. Nas fotos abaixo são apresentadas imagens feitas no local. Na Figura 2, mostra-se a parede do hall do elevador, a Figura 3 refere-se a uma das portas dos quartos para internação dos pacientes e a Figura 4 retrata o corredor deste andar, com desenhos pelo caminho.

Figura 2. Hall de elevador. Fonte: Acervo das autoras


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Figura 3. Porta de um dos quartos para internação de pacientes. Fonte: Acervo das autoras

Figura 4. Corredor do andar da pediatria. Ao fundo, a porta do Centro de Tratamento Intensivo (CTI) PediĂĄtrico. Fonte: Acervo das autoras


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Aquário Carioca (Sala de quimioterapia) – Como o próprio nome já diz, o design do interior deste local faz referência a um grande aquário. É um ambiente muito colorido, com tons fortes de azul, verde, amarelo e vermelho. A forma do mobiliário convencional da sala de espera foi modificada e recebeu tecido com cor forte em amarelo e textura própria para facilitar a limpeza. Tudo isso para valorizar o aspecto lúdico do local. Nas imagens a seguir são vistas a sala de espera, com o sofá em destaque (Figura 5), a estante de jogos e brinquedos (Figura 6), balcão da equipe de enfermagem (Figura 7), televisão com moldura de peixe (Figura 8), cadeira para paciente e acompanhante (Figura 9) e maca para paciente (Figura 10)

Figura 5. Sala de espera para pacientes e acompanhantes Fonte: Acervo das autoras

Figura 6. Estante com brinquedos doados. Fonte: Acervo das autoras


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Figura 7. Balcão de trabalho da equipe de enfermagem, com referência ao fundo do oceano. Fonte: Acervo das autoras

Figura 8. Televisão com moldura em formato de peixe Fonte: Acervo das autoras


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Figura 9. Cadeira para acompanhante e para o paciente receber a medicação. Fonte: Acervo das autoras


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Figura 10. Maca para paciente receber a medicação. Fonte: Acervo das autoras

Demais pavimentos do hospital – Ao contrário do pavimento da pediatria, os outros pavimentos do hospital, apesar de bem cuidados, não possuem design de interior personalizado. Encontram-se com rodameio em madeira na cor bege e revestimento em pintura, aparentemente, recente na cor verde e quadros que retratam a área verde do terreno, como visto na Figura 11.


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Figura 11. Parede de um dos andares voltados para pacientes adultos. É possível visualizar a cor verde da parede, o rodameio bege e os quadros que mostram o jardim do hospital. Fonte: Acervo das autoras

Cobertura (Último pavimento) – Deste local é possível visualizar o rico entorno cujo hospital está inserido. Em um dos lados (vista para Avenida Lineu de Paula Machado) encontra-se a Lagoa Rodrigo de Freitas (Figura 12). Esta é a vista que todos os quartos possuem, pois estes estão voltados para este lado da construção. Do outro lado, (vista para rua Oliveira Rocha) é possível ver a paisagem do Cristo Redentor (Figura 13) e da Sociedade Hípica Brasileira (Figura 14).

Figura 12. Lagoa Rodrigo de Freitas, vista dos quartos do hospital. Imagem capturada da cobertura do edifício. Fonte: Acervo das autoras


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Figura 13. Vista para o Cristo Redentor. Fonte: Acervo das autoras

Figura 14. Vista para a Sociedade HĂ­pica Brasileira. Fonte: Acervo das autoras


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Jardim do hospital – O jardim é um clássico de Burle Marx, com muita vegetação, predominando o tom de verde escuro. Da cobertura, foi possível tirar uma fotografia mostrando a vista superior de uma pequena parte do jardim, que inclui um pequeno lago. (Figura 15). Na Figura 16, é possível visualizar um dos caminhos que existe no jardim, cercado de folhagem e árvores gerando sombra para quem circula.

Figura 15. Vista superior do jardim. Fonte: Acervo das autoras

Figura 16. Vista de um dos caminhos existentes no jardim. Fonte: Acervo das autoras


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Fachada da Avenida Lineu de Paula Machado – Esta fachada, Figura 17, que fica de frente para a lagoa Rodrigo de Freitas, é imponente contém as árvores e grande parte do jardim de Burle Marx, bem como a construção com cobertura curva, que é um anexo ao prédio principal onde está localizado o café e biblioteca. Ao fundo, encontra-se o edifício principal, os vidros azuis demarcam salas e principalmente os quartos para internação de pacientes. Na Figura 18, este prédio é visto em detalhe.

Figura 17. Fachada da Avenida Lineu de Paula Machado. Fonte: Acervo das autoras


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Figura 18. Detalhe para o prédio principal. Fonte: Acervo das autoras

Fachada da rua Oliveira Rocha – Esta vista (Figura 19) é a que primeira ao entrar pela portaria geral. Logo em frente ao portão de acesso, é possível observar o anexo existente ao prédio principal, que contém uma placa grande informando o nome do hospital. Ainda nesta fachada, é possível observar no prédio principal, letras antigas que identificam a construção (Figura 20).

Figura 19. Vista do anexo da fachada referente a rua Oliveira Rocha. Fonte: Acervo das autoras


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Figura 20. No prédio principal, sobre o pilotis, letras antigas identificando o Hospital da Lagoa. Fonte: Acervo das autoras

Fachada da rua Jardim Botânico – Nesta fachada, que recebe a incidência solar poente, o arquiteto Oscar Niemeyer optou por utilizar brise-soleil para quebrar o sol recebido nos ambientes nela posicionados. Além de utilizar outro símbolo arquitetônico como o cobogó. Em destaque, no primeiro pavimento, azulejos azuis na parede, atrás de um grande pilar em formato de “V”. Esta imponente fachada é vista logo ao acessar o edifício pela portaria geral.


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Figura 21. Prédio principal do Hospital da Lagoa. Fonte: Acervo das autoras

3.4. Considerações finais sobre o estudo de campo

Certamente, a visita técnica realizada foi de grande valia para este trabalho de conclusão de curso. Ao acessar a construção pela portaria geral, o visitante logo se depara com uma fachada não convencional para um hospital. Entretanto, esta não reflete a mesma atenção com a dimensão lúdica trabalhada em seu interior. O atendimento dos funcionários desde o primeiro acesso foi muito cordial. É relevante ressaltar que ao observar o prédio principal, as linhas arquitetônicas e o típico jardim de Burle Marx, identificado de longe, gera uma sensação de paz e tranquilidade. Ou seja, é possível que o paciente ou acompanhante já inicie sua jornada de uma forma mais leve, sem o aspecto obscuro que muitos hospitais possuem.


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Para encontrar a recepção do prédio principal é preciso passear por pilotis de pilares imponentes que aparentam sustentar sozinhos toda a construção. O lobby em si lembra facilmente um grande hotel. Tanto os funcionários da recepção quanto do almoxarifado, que ajudam aos estudantes e visitantes a realizarem visitas técnicas, refletem uma grande satisfação em trabalhar em uma construção bem cuidada e aonde profissionais de saúde lutam pela vida da população. No andar da internação pediátrica, além dos quartos, é sabida a existência de brinquedoteca, aonde crianças com problemas semelhantes e não contagiantes podem se distrair em um ambiente lúdico. Este pavimento não transmite dor a quem o visita, muito pelo contrário, suas cores e alegria expostas pelo design das portas e pinturas, ajudam a criar um pensamento de esperança. Decerto, o piso dedicado a adultos também transmite essa sensação, porém de uma maneira mais séria. Isto provavelmente se deve ao fato de que adultos possuem mais facilidade de entender e lidar com momentos de dor e confinamento, ao contrário do público infantil. Nesta ala, o ambiente que mais se destaca é o denominado Aquário Carioca. Sabe-se que comumente seria um clima pesado, pois trata-se de uma sala para um dos principais tratamentos contra o câncer, a quimioterapia. Ao pensar em visitar este local, as autoras não imaginavam que encontrariam um ambiente muito diferente do comum, mesmo sabendo do design inovador criado para este público determinado. De fato é surpreendente. No momento em que se cruza a porta de vidro para acessar o interior do Aquário logo é possível ver a quantidade de brinquedos e cores disponíveis a visão. Já na sala de espera a criança encontra facilmente um ambiente com o aspecto totalmente lúdico, com a presença de computadores com acesso a internet, uma estante de brinquedos, baú com livros, DVDs e etc. O sofá encontra-se em um canto totalmente claro - devido a grande janela que permite a iluminação natural - e alegre, sensação causada pela cor do estofado, em tom de amarelo. Vale ressaltar que o forro utilizado para revestir o mobiliário exposto aos pacientes, possui uma textura de couro, que facilita a limpeza e permite a existência de um ambiente com aroma sempre agradável aos usuários e visitantes. O som que escuta-se neste ambiente traduz a alegria de desenhos animados e jogos divertidos que distraem o público infantil presente naquele local. Isto ameniza a dor e o sofrimento da criança e do acompanhante em estar naquele local a espera de mais uma seção de tratamento. Tratamento este que altera


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não só física e mentalmente a saúde do paciente, como também o cotidiano da criança, que necessita sofrer privações e cuidados especiais ao terminar o procedimento. A sala de espera dá acesso a dois ambientes distintos. Um deles constitui-se das salas de consultas (Figura 22), aonde médicos examinam e avaliam os pacientes. Nestes consultórios, não há um design muito descontraído, apesar da tentativa ser notada nas pinturas das paredes em um tom de azul mais claro. Podem até ser vistos alguns objetos em formato de animais coloridos pendurados no teto, mas foi neste local, de design diferente do resto do aquário, que a sensação de tristeza pode ser sentida em maior intensidade.

Figura 22. Salas de consultas. Fonte: Acervo das autoras

O outro ambiente cuja sala de espera dá acesso é a sala de quimioterapia, ou melhor, o Aquário propriamente dito. Ao passar pela porta e entrar neste cômodo, o clima é um misto de sensações. Para quem imagina a angústia que uma criança pode sentir ao passar até oito horas em tratamento alí, até se surpreende ao encontrar um local claro e vibrante, como é. Realmente a sensação é como estar dentro do mar. O mobiliário do balcão de


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enfermagem em forma de algas e plantas marítimas coloridas distraem os pensamentos ruins. Grandes janelas permitem a integração do ambiente interno e externo devido a luz natural. Durante o recebimento da medicação, as crianças podem executar atividades lúdicas como ver televisão, jogar vídeo game, ler livros, brincar com algum brinquedo e até mesmo relacionarem entre si. Este último, inclusive, é uma das atividades preferidas de alguns pacientes, como foi relatado pela enfermeira chefe entrevistada L.B.L.M. (2014).

Assim, quando os amigos estão aqui... eles são muito solidários uns com os outros. Aí vai puncionar um, o outro vai junto para ver, dar força. As vezes a mãe fica e a criança vai com o amigo. Então, muitas vezes, eles querem esperar o amigo para ir embora. Eles têm todo um relacionamento e eles querem brincar. Tipo, teve uma época que eu tive muito adolescente. Aí os adolescentes pediam para marcar mais adolescentes juntos, para não ter as crianças. Então eles faziam essa separação. Aí era o horário do grupinho dos adolescentes. Porque aqui (sala de medicação) só pode vir quando inicia a droga, mas aí ficavam alí cinco/seis jogando vídeo game. Alguns até interagem com as crianças, mas outros não. Então eles gostam de ficar em grupo. É claro que quando estão sozinhos é um tédio! Aí tem a tv, muitos dormem e tal. (L.B.L.M., 2014)

É possível perceber o quanto o design ousado do Aquário Carioca interfere até mesmo nos profissionais que atuam no local. É um ambiente mais leve e descontraído. Os funcionários conseguem interagir melhor com os pacientes e entre si, o que não faz transparecer para quem visita que aquelas horas de confinamento vividas pelas crianças são tão ruins quanto poderiam ser se não houvesse tanto aspecto lúdico envolvido no ambiente. Ainda durante a visita à sala de quimioterapia, é possível se questionar como e o porquê desta eficiente tipologia de design de interiores não ser padronizados em todos os hospitais que trabalham com quimioterapia pediátrica. Sabe-se que este hospital somente atende ao Sistema Único de Saúde, o que alivia o sentimento, pois, pelo menos nele, crianças que dependem do sistema público, poderão desfrutar de tal ambiente que distancia, na medida do possível, a dor da realidade vivida por eles.


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O aspecto lúdico do hospital não é visto somente no design de interior, mas também no agradável jardim com árvores altas e vegetação com cores predominantemente verdes. Nesta área aberta, bem próxima ao lago existente, a Sociedade Hípica Brasileira desenvolve trabalhos com as crianças internadas e que podem se deslocar até o local. São levados cavalos até o hospital e os pequenos pacientes podem interagir com os mesmos e, ao mesmo tempo, desfrutar de momentos de luz natural, necessária para a saúde humana, bem como do aroma das plantas e do som da água do lago que existe no jardim. Antes de finalizar a visita, foi possível conhecer a cobertura do hospital. Neste local pode-se perceber a bela vista para a lagoa Rodrigo de Freitas, privilégio dos quartos de internação. Do outro lado, emocionantemente, vê-se o Cristo Redentor, que sem dúvidas, abençoa todos os enfermos que necessitam da ajuda do Hospital Federal da Lagoa para viver.


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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para finalizar este trabalho de conclusão de curso, destaca-se que as definições e conceitos citados ao longo da revisão de literatura mostraram-se fundamentais para definir critérios de observação e analise durante o estudo de campo realizado no Hospital Federal da Lagoa. Sobre a área de Design, confirma-se sua complexidade e sua propensão de beneficiar a sociedade quando de um projeto focado no usuário. Isto ocorre devido a sua interdisciplinaridade, ou seja, a capacidade de mediar campos aparentemente opostos, a partir de um projeto que visa atender uma necessidade e/ou passar uma mensagem específica para atender algum fator sociocultural, econômico, ambiental e/ou estético. Por esta característica, o ramo de atuação em Design tornou-se amplo, e não somente restrito a concepção de formas de objetos como no passado. Atualmente é possível que ele seja inserido em várias áreas distintas, inclusive na Arquitetura. Ao se tratar de design de interiores, afirma-se que este deve ser pensado desde o início da etapa de projeto, quando deve ser previsto o uso de elementos arquitetônicos em conjunto com escolhas adequadas de cores, revestimentos, móveis, texturas de tecidos dentre outros, com o objetivo de promover o conforto físico e psicológico do usuário. Destacase que, legalmente, o arquiteto é o profissional que deve desenvolver projetos que elaborem ou alterem o design estrutural de uma construção. No que tange o design de interiores em ambientes hospitalares, observou-se que ausência do design nestes ambientes trazem prejuízos físicos e psicológicos para os usuá-


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rios. Atualmente, há um incentivo de institutos que buscam alterar este pensamento e promover mudanças para proporcionar ambientes agradáveis para os pacientes e seus familiares. Durante anos os hospitais eram vistos como locais apenas para tratamento temporário de pessoas. A visão traumatizante de lugar frio, com cheiro de éter e barulhos estressantes, causavam efeitos psicológicos graves aos pacientes, o que dificultava ainda mais o sucesso do tratamento. Atualmente os edifícios hospitalares modernos possuem aparência de hotéis, residências, ganham propostas temáticas e incluem os aspectos lúdicos não somente no seu interior, como também no exterior, em suas fachadas. Os hospitais passaram a ter um estilo monobloco, ou seja, com construções de vários pavimentos, interligados por elevadores, diminuindo o risco de contaminações e o tempo de deslocamento entre os setores. Esses aspectos foram encontrados também no Hospital Federal da Lagoa, objeto deste trabalho. Durante o estudo de campo, constatou-se que no local estudado, considera-se como conceito de criança o mesmo descrito pela UNICEF (1990), apresentado no capítulo 2 deste trabalho. Além de constatar também como a rotina rígida do hospital causa mudanças no contexto pessoal, familiar e social do paciente. Com o objetivo de minimizar os efeitos do confinamento, afirma-se que os aspectos lúdicos, quando entendidos como ilusão, jogo, brincadeira, diversão, possuem também significados educativos e auxiliam a criança a aprender a lidar com as situações diversas do cotidiano. Após a visita, reafirma-se que o lúdico tanto pode ser o contato interpessoal quanto podem expressar-se através de suportes materiais como televisão, jogos, revistas, vídeo-games etc. Durante a vivência lúdica, a criança é capaz de evadir da realidade e entrar no mundo do faz-de-conta, auxiliando-o a minimizar a ansiedade, o sofrimento e a dor decorrentes da hospitalização. O projeto Aquário Carioca apresentou muitos dos conceitos descritos na revisão bibliográfica desta monografia, e a realização da visita técnica fez-se necessária para responder o problema de pesquisa, devido a fácil percepção e compreensão do amplo valor e significado que o design de interior do Aquário provoca na percepção do público sobre o espaço. É certo que a criança não tem em mente a definição exata da gravidade de sua doença e também do seu tratamento, mas sabe definir exatamente o local aonde irá se tratar,


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pois a imagem do ambiente, repleto de jogos, mobiliário em forma de peixes, algas, acesso a televisão, leitura, e contato interpessoal, é de forte assimilação e aceitação. Observou-se que a ida ao hospital e o encontro com o ambiente lúdico facilita o processo de tratamento, além de causar benefícios psicológicos ao paciente. as observações de campo retrataram os sentimentos dos pacientes e funcionários em utilizarem um ambiente ludicamente modificado. Uma das características percebidas que pode ser atribuída a uma consequência positiva do ambiente lúdico é a amenização da dor. Desta forma, enumerando os fatores positivos da ludicidade no tratamento de crianças, sugere-se que esta deve ser trabalhada em todo o projeto de um hospital. É possível citar alguns projetos que já possuem e corroboram com este pensamento. São eles: White Sails Hospital and Spa – Este hospital foi projetado por Vasily Klyuin e foi pensado para ser um hospital diferenciado e agradável. Seu formato será de um barco a velas e no seu interior, a intenção é que os médicos e enfermeiros vistam-se com uniformes da Marinha com o objetivo de que o paciente sinta-se em um passeio de cruzeiro. Será implantado na Tunísia Economic City e pode ser observado nas Figuras 23 a 26.

Figura 23. Vista lateral esquerda do hospital. Fonte: http://designsiteinc.com


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Figura 24. Vista Lateral direita do Hospital. Fonte: http://designsiteinc.com

Figura 25. Hospital iluminado durante a noite. Fonte: http://designsiteinc.com


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Figura 26. Hospital iluminado artisticamente. Fonte: http://designsiteinc.com

Isto corrobora as afirmações de que o designer e o arquiteto devem estudar e entender os usuários para quem projetam. Devem entender suas necessidades e seus anseios. Desta maneira consegue-se encontrar necessidades funcionais e um universo simbólico a ser referenciado. Deve-se pensar na fachada, no interior e nas atividades e fluxos dos usuários: o que remete também ao Design de Serviços. Suzhou Children’s Hospital – O conceito deste hospital chinês infantil, que é apresentado na Figura 27, é inspirado no corpo humano. A concepção projetual remete a forma da Telófase, ou seja, uma fase da mitose em que as células se juntam, assim como acontece em um hospital, que reúne profissionais que ajudam aos pacientes a se curarem e recuperarem. Além da forma, o projeto contempla belos jardins tradicionalmente chineses, de modo a aproveitar ao máximo a iluminação e ventilação natural, o que certamente ajudará ao paciente a ter uma rápida recuperação.


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Figura 27. Hospital em formato de Telófase. Fonte: http://designsiteinc.com

Hospital Sarah Kubistcheck – No Brasil o Hospital da rede Sarah, projetado por José Filgueiras Lima (Lelé) situado na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, é uma forte referência de arquitetura hospitalar que permite fluir a imaginação ao ser observado. O hospital, inaugurado em 2009, foi implantado no terreno no sentido leste/oeste, justamente para receber o sol nascente e poente. Possui sheds, Figura 28, para iluminação natural em todas as áreas do hospital, com exceção do Centro Cirúrgico. Esses sheds remetem a ondas e revelam um aspecto leve a construção. Além deste elemento arquitetônico que incentiva o imaginário lúdico, vários outros podem ser vistos implantados nesta construção, principalmente em seu interior, com linhas curvas e jardins internos, como são apresentados nas Figuras 29 e 30. Na Figura 31 é possível observar o auditório do hospital que possui cobertura ondulada que pode ser relacionado tanto a uma oca indígena quanto a lona de um circo e que se abre para o céu como uma flor. Este ambiente foi projetado para amenizar a dor e estimularem o restabelecimento dos pacientes.


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Figura 28. Implantação do hospital e as curvas dos sheds. Fonte: http://opovo.com.br

Figura 29. Vista interna do hospital Fonte: https://deborabonetto.wordpress.com/


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Figura 30. Vista interna de outro ponto do hospital Fonte: https://deborabonetto.wordpress.com/

Figura 31. Vista externa do audit贸rio do hospital Fonte: https://deborabonetto.wordpress.com/


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Assim, corrobora-se a afirmação de que o design de interior deve ser tratado como um componente de um projeto arquitetônico, inclusive em um hospital. Por sua vez, quando de um hospital infantil, o aspecto lúdico deve ser trabalhado – desde o início – em todas as dimensões do projeto. Quando internada, a criança mantida em confinamento acaba por ser distanciada – e mesmo privada – de sua infância. Entende-se, após este trabalho, que a ludicidade deve ser tratada como a espinha dorsal de um projeto cujo resultado seja um hospital para tratamento oncológico em crianças. Isso porque buscar permitir a infância a uma criança que amadurece prematuramente pode vir a mudar a vida daquele ser, favorecer a resposta ao tratamento e incentivar a vontade de viver.


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5. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Ampliar o estudo sobre o design em fachadas hospitalares; Pesquisa aprofundada sobre as formas possíveis de integrar o design de interior com a parte externa da construção; Proposta de projeto de design de interiores para a ala de internação pediátrica, incluindo proposta de projeto; Analisar a possibilidade de aplicação de design de interior em Unidades de Tratamento Intensivo; Analisar se as brinquedotecas existentes em hospitais são consideradas acessíveis aos pacientes com necessidades especiais; Estudar a internação entre Design de Interior e Design de Serviços.


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REFERÊNCIAS

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APÊNDICE


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APÊNDICE A

Transcrição da entrevista com L. B. L. M., enfermeira chefe do Aquário Carioca, realizada no dia 05 de Novembro, na parte da manhã, às 9h 30min, com duração de aproximadamente 1h 30min.

1. Este projeto existe em outros hospitais? Em 3 hospitais federais. É aqui, no dos Servidores e agora estão implantando no HemoRio. Aí, este ambiente é todo padronizado, tipo assim, algumas coisas a gente não ganhou, tipo aquela mesinha, essas coisas são coisas do hospital. Mas as macas, as cadeiras... Olha, você vê que aqui é uma TV. Tudo dentro do padrão que eles pedem. Então assim, não pode mudar a coloração da tinta, esse ano a gente teve que pintar e tem que ser exatamente a tinta deles. 2. E os desenhos na parede também são padronizados? Tudo! As algas e talz... Eles mudam assim, pouca coisa de acordo, tipo assim: Se tem um ambiente maior, aí eles aumentam um pouco a escala dos desenhos. Mas replicam praticamente a mesma coisa. Se você for nos Servidores, é mais ou menos isso, né. E no HemoRio também. 3. E esses ambientes decorados são os ambientes que as crianças demoram mais tempo neles? São! Aqui, por exemplo que elas tomam quimioterapia, tomam sangue ou alguma medicação especial, entendeu? Elas ficam aqui. 4. Vocês sentem alguma melhora? Assim, eles adoram e assim, para o profissional em si, eu até tava lendo um artigo sobre o aquário e falava sobre o relato da experiência de uma enfermeira que trabalha. E assim, para a gente... para mim, eu sinto que é um ambiente mais alegre de se trabalhar, entendeu? Embora a gente trabalhe com muito sofrimento, que é a oncologia infantil, mas


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é um ambiente mais agradável. Não sei se você reparou... mas não tem aquele cheiro forte de hospital, é mais clean assim. 5. E a criança chega em um ambiente mais calmo, para lidar com tanta dor, né? É! Eles adoram! Tanto que eles ficam aqui olha... para esperar! A sala de espera é aqui, então tem jogo. A maioria é doação! As pessoas vem, do próprio hospital, médicos, enfermeiros... profissionais trazem dos filhos e a gente coloca aí. Alguns (brinquedos) eles pedem para levar e a gente deixa, outros levam sem pedir. 6. E as crianças demoram muito tempo nesses tratamentos? Em média dois anos de tratamento, efetivos e depois mais dois anos de manutenção. Tem uns que levam a vida inteira. Até fazer dezoito anos. Depende da patologia, né! 7. E é todo dia? Não! É programado. 8. Tem criança que fica internada aqui? Sim, mas aí já vai para a pediatria, que é lá do outro lado. 9. E lá também é decorado? Não... assim... é decorado mas não igual aqui, porque projeto Aquário Carioca é para ambulatório, não é para enfermaria. Então assim, se você for lá na enfermaria depois, a enfermaria é pintada, tal, bonitinha, mas não é igual aqui. Entendeu? Tem os bichinhos também, mas não é igual. 10. E aqui é tudo decorado, até o chão é amarelo... É, mas por exemplo, os consultórios já são padronizados não tem muita decoração não. Olha! Só que aí, tudo segue a linha... tem uns bichinhos pendurados no teto mas não tem nada de relevante! Olha (aponta para livros e brinquedos)... isso aqui foi tudo doação que a gente ganhou! Aí a psicóloga usa muito. 11. E eles podem usar esses brinquedos durante o tratamento?


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Sim!!! 12. E quanto tempo eles levam recebendo medicamentos ou em máquinas? Depende! Ela hoje (aponta para uma paciente recebendo medicação) recebe uma medicação especial. Vai ficar seis horas. Aí a gente deixa andar e tal. Mas por exemplo, a medicação dela exige cuidado, ou seja, não pode sair dalí. Mas tem outras medicações que as crianças podem. Tem medicação que a gente aplica e a criança fica três horas aqui em observação. 13. Então ela pode ficar a vontade? Não é aquele ambiente de confinamento? Fica! Dependendo não é confinamento. Mas ela(criança que está recebendo medicamento), vai ficar confinada hoje aí seis horas, mas no geral, eles não precisam ficar tanto tempo não. 14. Mas não é um ambiente tão agressivo, né? Não! Eles assistem TV, dormem. De vez em quando eu fico até com inveja (brinca...) porque eles esticam essa cadeira e começam a dormir (rs...) 15. E vocês tem equipe que reveza aqui? Eu sou enfermeira chefe aqui e venho todos os dias. E as meninas revezam. Elas têm um horário de 7:30h da manhã até as 19:30h da noite. Só que aqui terminou, terminou, não tem o que fazer. 16. E você trabalha ou já trabalhou em outros hospitais? Já! Já trabalhei na rede D’or no copa e era todo decoradinho também. Até depois eu fui lá de novo, voltei lá para ver minhas amigas e já tinha uma outra decoração. 17. Você acha que a decoração do local influencia no tempo de duração do tratamento? Isso eu acho que não. No tempo não. Mas na aceitação na dor. Mas no tempo não... bem, interfere sim, se o local tiver infecção, o ambiente que é favorável para algumas coisas que eles podem ter. Porque essas crianças são muito lábeis então qualquer coisa eles podem afundar, entendeu? Mas, no geral, eles ficam super bem. Eles adoram vir para


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o aquário. E eles sabem que quando eles estão internados eles não podem vir para cá, aí eles ficam doidos para vir. Porque são coisas diferentes e aumenta o risco de infecção. 18. E aqui atende só o SUS ou particular também? Não. Só o SUS. E aí é aquilo, né... tem aqueles que tem plano de saúde mas que não contempla o tratamento oncológico, aí vem para cá. Mas aí vem pelo SUS, não é atendimento particular de jeito nenhum. 19. E as crianças comem também aqui? Comem. Recebem lanchinho. O lanche é específico para quem faz alguma coisa, para os tratamentos em si. Eu faço uma listinha todos os dias de manhã, peço e eles trazem. 20. Qual é a faixa etária que pode usar o Aquário? De zero a dezoito anos com doença hematológica. 21. O que você acha que as crianças mais gostam aqui? Dos jogos, do ambiente, no caso da decoração em si, o que chama mais atenção deles? Eu acho que é a estrutura. O jogo, a TV que é disponível para eles, que eles podem mexer. 22. Alí na sala de espera tem computador, eles podem mexer a vontade? Sim! Também tinha Playstation, mas sumiu! Tem também uma caixa de DVD para eles verem, tudo doado, que a gente consegue doação para isso. 23. Já teve caso de criança não querer ir embora e querer ficar aqui brincando? Assim, quando os amigos estão aqui... eles são muito solidários uns com os outros. Aí vai puncionar um, o outro vai junto para ver, dar força. As vezes a mãe fica e a criança vai com o amigo. Então, muitas vezes, eles querem esperar o amigo para ir embora. Eles têm todo um relacionamento e eles querem brincar. Tipo, teve uma época que eu tive muito adolescente. Aí os adolescentes pediam para marcar mais adolescentes juntos, para não ter as crianças. Então eles faziam essa separação. Aí era o horário do grupinho dos adolescentes. Porque aqui (sala de medicação) só pode vir quando inicia a droga, mas aí


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ficavam alí cinco/seis jogando vídeo game. Alguns até interagem com as crianças, mas outros não. Então eles gostam de ficar em grupo. É claro que quando estão sozinhos é um tédio! Aí tem a tv, muitos dormem e tal. 24. E esses amigos se conheceram aqui praticamente, né? Sim! Aqui! E ficam dois anos ou mais juntos! Tem criança que frequenta aqui desde bebê. 25. Aqui vocês já tiveram caso de perda de paciente? Sim! 26. E eles devem sentir muito também a perda do amigo... Sim! E eles falam... perguntam para a gente... Um dia foi até difícil porque um adolescente chegou aqui e os pais não tinham falado para ele e ele olhou para mim e falou: “Fala para mim, L., me fala o que está acontecendo?”. E o amigo tinha morrido no dia anterior e aí eu pergunte: “Você já conversou com sua mãe? Com seu pai?” e os pais não tiveram coragem de falar. E aí eu chamei a psicóloga e a gente sentou com ele e conversou. Olha, foi isso mesmo. Teve também o caso do P. que foram mais de quatro anos. Ele conhecia o hospital inteiro. O pessoal deu a ele um jaleco, com estetoscópio e escrito “Doutor P.” porque ele falava que ia ser médico de velhinho. Aí a gente falava: “Nossa, que bom, você vai cuidar da gente, quando a gente ficar velhinha!”. Aí quando ele faleceu foi sofrido. Todo mundo sofreu. 27. E ele tinha quantos anos na época? P. tinha 8! 28. E nesses casos os pais não voltam mais? Para visitar? Não! Normalmente não voltam. Alguns, por exemplo, teve até um adolescente nosso, que eu achei super bonitinho, que já está na manutenção, vem muito de vez em quando... outros de vez “em nunca” (Rs...)


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29. E o projeto já está funcionando aqui há quanto tempo? Desde 2011. 30. E você trabalha há quanto tempo aqui? Três anos! 31. L. Gostaria de te agradecer. Obrigada pela atenção! E parabéns pelo trabalho de vocês. Imagina! Por nada! Que seja um bom trabalho aí!


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