Franquias. Parece que esse é o nome que se tornou sinônimo do “sonho do Eldorado” para a classe média que deseja empreender um negócio. A franquia tem sido uma estratégia muito utilizada em diferentes segmentos dos setores do comércio e de serviços, para diversos portes de empreendimentos. No entanto, é no porte das chamadas micro franquias que se revela o maior crescimento. De um modo geral, segundo o sítio da Associação Brasileira de Franchising (ABF – www.portaldofranchising.com.br), a evolução da franquia no Brasil é significativa, desde 2002, conforme mostram os gráficos abaixo, tanto sob a ótica do faturamento, como sob o número de redes que aderiram à estratégia.
Em especial, o gráfico do número de redes demonstra que muitas empresas optaram pela franquia como forma de expansão de seus negócios, haja vista que de 2002 a 2012 o número de franqueadores cresceu 273,23%. O segmento que mais cresceu em 2012 em faturamento foi o de Hotelaria e Turismo (97,8%), seguido por Limpeza e Conservação (44,5%) e Informática e Eletrônicos (32,5%). Na distribuição geográfica, a região sudeste detém a grande maioria das empresas franqueadoras no Brasil (70,7%), onde o estado de São Paulo é responsável por 51,5% do total de franqueadores do país.
Um estudo da ABF mostra ainda que o crescimento das chamadas micro franquias (investimento até R$ 50 mil; a partir de 2013 será até R$ 80 mil, segundo a ABF) foi de 20% de 2012 em relação a 2011, revelando uma expansão significativa dos negócios em franquia. O faturamento das micro franquias gira em torno de R$ 4,5 bilhões no Brasil e o número de marcas franqueadoras para o segmento subiu de 213 para 336 em 2011 e 368 em 2012. Segundo a ex-presidente da ABF Rio, Fátima Rocha, é possível estabelecer que o perfil dos micro empreendedores é formado, em sua maioria, por jovens, mulheres e idosos, da classe C. 2
Localização das Sedes das Empresas Franqueadoras por UF – 2012:
Porque a franquia tem sido uma estratégia tão procurada? Sabe-se que para se abrir uma franquia incorre-se em custos relacionados com a cessão do “know-how” do franqueador. Isso inclui, eventualmente, o pagamento de uma taxa de franquia, os “royalties“ e as taxas de propaganda, dependendo da estratégia de cada franqueador. A taxa de franquia é um valor fixo pago uma única vez, quando a franquia é contratada, podendo representar, em média, 20% do valor total do investimento no negócio. O “royalty” é um percentual do faturamento que se paga mensalmente ao franqueador, o mesmo ocorrendo com a taxa de propaganda, que faz com que o franqueado seja obrigado a participar do rateio dos custos com a comunicação, ressaltando-se que nem todo franqueador cobra tais taxas de seus franqueados. Se um micro empreendedor decide abrir o seu próprio negócio, ele deixa de incorrer em todos esses custos. Então, por que existe uma procura cada vez maior por franquias? A resposta está baseada nos seguintes fatores: • A segurança de trabalhar com uma marca consolidada no mercado, que exige um esforço menor de marketing e comunicação; • O apoio e a orientação oferecidos pelo franqueador, pois grande parte dos micro empreendedores tem elevadas dificuldades na gestão de negócios; • A baixa taxa de mortalidade das franquias que, segundo a ABF, gira em torno de 5% durante os três primeiros anos de negócio, ao longo da última década.
Um dos maiores temores de quem vai abrir uma micro empresa é o risco associado ao empreendimento. Normalmente, as pessoas que decidem alçar este voo solo utilizam toda a poupança que fizeram na vida ou precisam recorrer a financiamentos. É o sentimento de um caçador que tem um leão à sua frente e apenas uma bala no rifle. Por esta razão, os três fatores acima citados significam tanto no processo de decisão dos empreendedores, que preferem pagar tais custos e lucrar menos, do que incorrer em riscos de insolvência elevados e prematuros. A lei 8955/94 que regula o sistema de franquias no Brasil obriga o franqueador a fornecer ao franqueado um plano de negócios e um plano de marketing, contida em um documento denominado de Circular de Oferta de Franquia (COF). O desenvolvimento prévio de um plano de negócios e de marketing poupa ao franqueado um trabalho que, via de regra, ele não sabe fazer e que lhe obrigaria a contratar um especialista, aumentando a sua necessidade de investimento no negócio. Por isso, a segurança de uma franquia é tão atrativa ao empreendedor, pois ele troca a possibilidade de um lucro maior pela estabilidade do negócio. Além dos fatores acima, existem outras grandes vantagens que as micro franquias vem recebendo nos últimos anos: • Maior oferta de crédito para esse segmento; • Redução das taxas de juros e da burocracia para a concretização da franquia; • Redução de impostos com o advento do “SuperSimples”; • Maior consciência dos franqueadores de que eles precisam atuar mais em parceria com os pequenos empreendedores, principalmente quanto à estruturação do negócio e a capacitação do seu pessoal. 3
Franquia é sempre sinônima de sucesso? Por outro lado, é importante para aqueles que ainda vão investir em franquias que este caminho não leva ao sucesso em qualquer circunstância. Existem algumas questões críticas que precisam ser respondidas antes da tomada de decisão. As principais questões são as seguintes:
1. Há uma total identificação com o tipo de negócio? Antes de iniciar um negócio, o empreendedor precisa se perguntar qual é a sua afinidade e, porque não dizer, o conhecimento prévio que ele tem do negócio. Não são poucos os casos de pessoas que abrem, por exemplo, um negócio no comércio, que exige uma dedicação do dono praticamente durante quase todos os dias do ano e se frustra pelo excesso de dedicação ao negócio. É preciso gostar do que vai fazer e, acima de tudo, estar disposto a estar a frente do negócio. Nesse caso, se aplica muito bem a conhecida expressão: “o olho do dono é que engorda o porco”.
2. O investimento necessário para montar o negócio deixará uma reserva suficiente para a subsistência enquanto não houver retorno do capital ou condições para retirada de pró-labore para os sócios? Outro erro capital é entrar no negócio sem reservas para a subsistência enquanto não é possível fazer retiradas de pró-labore para os sócios ou de lucro advindo do retorno do investimento. Se o empreendedor, para sobreviver, precisar fazer elevadas retiradas do faturamento, isto pode ser um fator de risco à sua sustentabilidade. Por isto, recomenda-se que o empreendedor tenha uma reserva pessoal para financiar sua subsistência, pelo menos no primeiro ano de abertura da empresa.
3. Foi realizada uma investigação sobre a marca que se deseja representar, buscando conhecer bem o seu negócio? Assegurar que o franqueador é uma empresa sólida, que será capaz de dar o apoio necessário para impulsionar o negócio do franqueado, é uma medida bastante recomendável. Por isto, a pergunta seguinte também assume relevante papel na tomada de decisão.
4. Procurou entrar em contato com outros franqueados e ex-franqueados para conhecer as suas experiências? Conversar com outros franqueados e até mesmo ex-franqueados, visando extrair deles informações críticas sobre a gestão do negócio e a relação com o franqueador, é muito importante, no sentido de obter dados que comprovem as reais chances de sucesso e entender quais serão os pontos de atenção. Cabe ressaltar que os franqueadores são obrigados por lei a manter as informações sobre seus franqueados relativas ao últimos 12 meses no COF.
5. A marca a ser representada apresenta bons diferenciais competitivos em relação à concorrência? Ser franqueado de uma marca que, por si só, não tenha diferenciais competitivos de mercado não é uma boa decisão. A marca a ser representada precisa ter algo que a diferencie da concorrência, pois esse é um dos principais fatores de sucesso nos negócios.
6. O empreendedor se preocupou em conhecer as regras do negócio? Nunca se deve assinar um contrato sem conhecer as nuances e minúcias de suas cláusulas, pois as grandes e desagradáveis surpresas vem exatamente daí. Saber com precisão o quanto vai ter que investir, quanto vai repassar para o franqueador, quais são as normas a serem respeitadas, etc., são fatores essenciais para evitar problemas futuros que podem até inviabilizar o negócio.
7. Observou a operação de um franqueado no seu dia a dia, para avaliar se está em condições de gerir o negócio? Por fim, não custa nada gastar um dia observando o funcionamento de um franqueado, para saber se está em condições de gerir o negócio. Conversar com um franqueado, mostrando as suas intenções e pedindo permissão para conhecer mais a fundo a ope4
ração permitirá que o futuro empreendedor tenha mais segurança para a tomada de decisão final. É sempre importante lembrar a situação do caçador que tem um rifle e apenas uma bala para matar o leão. Por isto, nunca é demais investir no estudo do negócio antes de empreendê-lo.
E para quem precisa de capital, o que fazer? O financiamento para abrir uma franquia, via de regra, possui custos e condições diferenciadas em relação aos demais negócios, especialmente pelo fato de que a análise da instituição financeira leva em consideração o franqueador, normalmente já conhecido e conveniado com o banco, o que minimiza o risco do ponto de vista de quem está emprestando os recursos financeiros. Nessa linha, no segmento de micro franquias o caminho tem sido o mesmo para facilitar o acesso ao crédito, já que tanto as instituições financeiras públicas como as privadas, enxergam neste mercado uma grande oportunidade de desenvolvimento econômico e por isto procuram incentivar a abertura de novos negócios. Neste sentido, alguns movimentos merecem destaque, como por exemplo os convênios firmados pela ABF com o banco Bradesco e parcerias com a Caixa Econômica Federal, Itaú, HSBC, Santander e Banco do Nordeste, visando facilitar a vida de seus associados. Além disso, outras instituições financeiras públicas e privadas têm políticas específicas para apoiar o segmento. Mais recentemente, o BNDES aprovou operação inédita para o setor de franquias, na qual utiliza o franqueador, que atuará como empresa-âncora, para repassar recursos de longo prazo aos franqueados nas mesmas condições de financiamento oferecidas a micro, pequenas e médias empresas. Os recursos poderão ser utilizados para investir na abertura de novas lojas e em novas operações de franquia e a expectativa do BNDES é de que outros franqueadores utilizem esse modelo de financiamento do banco, fortalecendo assim a cadeia de distribuição. Este foi o caso do Boticário, que recebeu uma linha de financiamento de R$ 21,8 milhões para investir na abertura de novas lojas e em novas operações de franquia no nordeste brasileiro. A estimativa é que os recursos sejam utilizados na abertura de pelo menos 148 unidades da rede. Maiores informações sobre os financiamentos podem ser obtidas em http://www.portaldofranchising.com.br/site/content/interna/index.asp?codA=96&codAf=45&origem =servicos . O importante que o empreendedor entenda é que o relacionamento que ele, eventualmente, tenha com alguma instituição financiadora pode ajudar no aspecto negocial, pois todos os processos passam por análises financeiras de risco. E se ele já tem um relacionamento prévio com a instituição, isso pode ajudar a obter o financiamento.
Bibliografia • Artigo “Nova classe média vira patroa com franquias que custam até R$ 50 mil”, em http://www.portaldofranchising.com.br/ site/content/interna/index.asp?codA=459&codAf=593&codC=9&origem=noticias; • Artigo “Investimento possível nas micro franquias” em http://oglobo.globo.com/emprego/investimento-possivel-nas-microfranquias-7811878; • Portal do Franchising em www.portaldofranchising.com.br ; • Publicação do Sebrae “Como adquirir uma franquia”; • Publicação do Sebrae “Como tornar sua empresa uma franquia”; • Artigo com notícia sobre linha de financiamento do BNDES para o Boticário para abertura de franquias no nordeste em “http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/Sala_de_Imprensa/Noticias/2013/Industria/20130411_ boticario.html”.
5
BOLETIM DE OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS é uma publicação da Unidade de Acesso a Mercados e Serviços Financeiros SEBRAE –Serviço Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas Presidente do Conselho Deliberativo Nacional: Roberto Simões Diretor-Presidente: Luiz Barretto Diretor-Técnico: Carlos Alberto dos Santos Diretor de Administração e Finanças: José Claudio dos Santos UAMSF -NIM -Núcleo de Inteligência de Mercados Consultor Conteudista: Marcos Rabstein Diagramação: Renan Carvalho Endereço: SGAS 604/605, módulos 30 e 31, Asa Sul, Brasília/DF, CEP: 70.200-645
6