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Marino, Luís (1959), Musa Insular(poesias da Madeira),

COMO REFERENCIAR ESTE TEXTO: Marino, Luís (1959), Musa Insular(poesias da Madeira), Funchal, CEHA-Biblioteca Digital, disponível em: http://www.madeira-edu.pt/Portals/31/CEHA/bdigital/literatura/-musa insular.pdf, data da visita: / /

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DO AUTOR : eRevoada de Sonhos)).Fuiichal, 1932. Poesia. (Esgotado) aCardos e Papoilas~.Funchal, 1944. Poesia (Esgotado). e 0 Cego)) (Conto em

verso). Funchal, 1944.

&OPobre e o Rico)) (Parbbola em verso). Funchal, 1950. (Meiiçiio Honrosa nos Jogos Florais da Madeira, promovidos pelo Ateiieu Coinercial do Funchal, em 1946).

vultos Bíblicos)). Poesia. Funchal, 1355. &Ilhados Amores.. Versos alegóricos d Madeira. <<MusaInsularn, Espicilégio de Poetas Madeireeiisses, desde o Século XV à actualidade, Funchal, 1959.

A PUBLICAR : <(Asas)). . . Versos. uPanorama Literário do Arquipélago da Madeira* (Dicionário Bio-Bibliográjico).


u M U S A INSULAR u - que isto se fixe bem - é u m Espicilégio Popular Madeirense, sem pretensões e sem erudição. falsa ou verdadeira. feito com o fim único de divulgar os Poetas da nossa terra. As Poesias que o constituem, de Poetas do Século XV a X X , alguns deles desconhecidos do público, não serao talvez. as mais perfeitas, as mais artísticas, porém sao, a nosso ver, das que rios foi possível obter. as que melhor se prestam para o fim a que se destina esta obra que, embora modesta. não desmerece de figurar em qualquer estante, pois é a mais completa rio género, até hoje publicada na Madeira, inserindo centenas de biografias e poesias, muitas delas inéditas. Para facilitar a leiiurn, tomamos a liberdade de actualizar a grafia dos Poetas arcaicos, sem adulterar a sua linguagem. Para a feitura deste trabalho, que iniciómos em 1942, como já haviamos anunciado no nosso livro, (Cardos e Papoilasr. [oram consultados. além de várias publicaç~es continentais. quase todos os jornais. revistas e almanaques madeirenses e os seguintes livros: sãlucidário Madeirense)), do P.e Fer~iandoA. da Silva e Carlos Azevedo de Menezes, a Dicionário Bibliográfico Português 9, a Diciunbrio Bibliográfico Luso-Brasileiro r , de Inocência Francisco da Silva, ((Grande Etlciclopédia Portuguesa e Brasileirn)), ((Quem é Alguém)), ((Poetas Palacianosu, de Teófilo Braga. aCaiicioneiro Geralu, de Garcin de Resende. Saudades da Terrua, de Gaspar Frutuoso, @Biblioteca Lusitana)>, de Diogo Barbi~sa Machado, ((Pela História da Madeira$, do P: Fernarido A. da Silva, Ary uivo Historico da Madeira)), alatálogo Bibliográfico do Arquipélago da Madeira)), de José /oaquim Rodrigues, ((Registo Genealúgico de Famílias que passaram d Madeira* do Eng. Lui; Peter Clode. etc.. A todos quantos se dignaram fornecer dados biográficos e poesias para este trabalho: ao seu prefaciador : ao director e funcioildrios da Biblioteca Municipal do Furichal. pelas facilidades concedidas; aos leitores e iiitekctuais madeireiises. que acolheram com interesse o aparecimento deste Espicilégio, assinando-o, e finalmente, d Editorial Eco do Funchal Ma., a quem a Literatura Madeirense já muito deve, que compreensivarneiite e com espírito de sacrificio o edita. os riossos mais efusivos agradecimentos. Funchal, 1959 O Autor ((


Composto e impresso nas oficinas gráficas d a Editorial Eco do Funchal, Lda.


Pretende a *Editorial Eco do Funchal, Lda.n dar à estampa em fascículos nas suas oficiuas gráficas um trabalho do Poeta madeírense Luís Marino, pseudónimo literário de Luis Gomes da Silva, no qual aparecerão, por ordem cronológica, todos aqueles que algum dia foram tentados a sacrificar no altar das Musas. e de cada um uma amostra do que levou ao sacrifício. Eu, que nunca me nego ao que me pedem por mais extemporâneo que seja o pedido, fui encarregado de apresentar ao público o resultado das pesquisas daquele Poeta, sem me dar sequer ao labor de inquirir quais as razões que levaram o Autor e os Editores a fiarem de mim tamanho encargo. É muito normal que uma obra desta envergadura seja apadrinhada por um nome consagrado nas letras, que já tenha dado provas cabais do seu valor literário, legando à posteridade alguma coisa que o acredite entre os expertos da sua geração. E porque nada de semelhante fiz ainda, nem espero mesmo vir a fazê-lo, bem me parece que o cometimento não foi entregue a quem de direito, e que, aceitando-o, estou a defraudar prosadores e poetas madeirenses aos quais era devido este obséquio. em vista das suas credenciais Não o pensaram assim o Autor e os Editores, e decerto também não pensaram quanto um nome grande nas letras poderia contribuir para valorizar a publicação de vulto que ora se inicia.

Neste segundo quartel do Século XX uma pléiade de madeirenses. espíritos cultos e dotados do sentido de investigação, têm dado à luz da publicidade uma série de trabalhos de carácter histórico e literário, que honram a parca bibliografia insular e revelam um acendrado amor a terra bem-fadada que lhes serviu de berço. Escusado será encarecer o que de benemérito encerram esses trabalhos em prol da nossa ilha e quanto honram os seus autores, que não se pouparam a esforqos e sacrifícios de toda a ordem para fixarem a história da Madeira, desde os brumosos tempos da sua descoberta. Muitos desses trabalhadores indefesos já desapareceram do tablado da vida. O


Padre Fernando Augusto da Silva, o Tenente-Coronel Artur Sarmento. o Major João dos Reis Gomes, Carlos Maria Santos e Eduardo Nunes ligaram para sempre o seu nome ao basalto que estrutura este rincão do Atlântico. E não citamos os nomes dos que felizmente ainda vivem comnosco-e alguns bem dignos de especial menção- para não alongar demasiadamente este prefácio, deixando a posteridade o cuidado de lhes erguer o pedestal a que têm jus os seus merecimentos. O uElucidário Madeirenseo. as *Ilhas de Zarcon e o <Arquipélago da MadeiraMaravilha Atlântica*, para citar apenas as três obras do maior fblego, são marcos miliários nos domínios da história insulana. Os problemas do descobrimento e da colonização, as fases do desenvolvimento insuIar, a genealogia das primeiras famílias que aqui se estabeleceram, os nossos usos e costumes, os nossos trajos regionais. o nosso folclore musical, o ciclo do açucar, da banana, do vinho e dos bordados têm prendido a atenção de muitos dos nossos escritores, podendo mesmo afirmar-se que poucas províncias de Portugal se podem gloriar de ter a sua história tão desbravada. Há porém um arpecto que até agora pouco tem chamado a atenção dos investigadores madeirenses: a história literária da nossa ilha. Não ignoro que numerosos artigos. em jornais e revistas. se têm ocupado isoladamente do assunto. A magnifica revista da Sociedade de Concertos *Das Artes e da História da Madeira~tem dado a lume, e devidos a nomes notáveis das nossas letras, estudos exaustivos acerca de alguns poetas e escritores, pondo em relevo o seu valor nos domínios da literatura. Ainda há bem pouco tempo publicou a *Voz da Madeira* uma magnífica separata, em que nos sáo apresentadas as *Rimas* do Camóes Pequeno, devidamente prefaciadas e cuidadosamente anotadas por um talentos0 jornalista. Creio mesmo que se prepara outro trabalho do mesmo género, referente ao poeta popular nortenho, chamado por antonomásia uo Feiticeiro do Norte*. Com todas estas achegas e com o fruto da sua investigação pessoal. preparou Luís Marino a obra que se apresenta com o título de uMusa Insulara e que faz desfilar diante dos nossos olhos uma procissão de mais de trezentos poetas, uns vivos e pujantes ainda, outros jazendo no pó dos séculos, que ele veio erguer do esquecimento a-que estavam votados. Ficará assim uma obra de conjunto da poesia madeirense, desde os tempos da descoberta até os nossos dias.

Trezentos poetas madeirenses?! Não serão poetas demais para uma terra tão pequena ? . .. perguntará o leitor. Pois não são e até acho poucos! Se Luís Marino pudesse ainda investigar os que escreveram mas não publicaram, os que pensaram e cantaram mas não escreveram e os que apenas pensaram sem cantar, então a *Musa Insular* entraria em meças com a vastidão do Oceano que nos rodeia. Os habitantes da ilha, como os da Grécia, são naturalmente poetas. Oriundos em boa parte dos algarvios e dos minhotos, os primeiros impregnados do saudosismo dos desertos da Arábia e os últimos embebidos no misticismo religioso da alma celta, transplantados depois para esta ilha de sonho, os madeirenses deviam sofrer da psicose da poesia. Junte-se a isto a influência do mar, umas vezes beijando as nossas falésias e enseadas e outras rugindo contra elas por não o deixarem alongar o seu abraço, os nossos

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poentes mágicos de outono, os nossos montes altaneiros e agressivos que parecem perder-se entre as nuvens, estes caminhos talhados na rocha onde em cada curva se nos depara um panorama diferente, as fainas campestres, as festas e as romarias. o cosmopolitismo tla cidade, o clima de eterna primavera que aqui se goza, e vejam se os incolas da ilha, vivendo a trabalhar, a amar e a cantar-os homens ousados e as mulheres apaixonadas, não haviam de sair poetas e sonhadores! Ainda há dias,num dos meus passeios da tarde pela Estrada Monumental, uma das mais belas da nossa ilha, vi um rapazinho solitário, de olhos no poente a contemplar o Sol. que nessa hora colorida, se preparava para mergulhar no seio das ondas, que lhe acenavam em reverberos de prata. Perto de meia hora depois. eu já de volta, ainda o rapazinho olhava embevecido para aquele quadro maravilhoso d o pôr do Sol. Eis um dos tais que não escrevem nem cantam os seus versos, e se os cantam, a melodia não Ihes sai das profundezas da alma! Mas Luis Marino sabe bem que nem todos os poetas que nos vai apresentar neste documentário o são no sentido técnico e artístico da palavra. Alguns não passam de simples metrificadores, que tentaram apenas leves ensaios. Se as amostras da produção destes vates, que ele traz a cola. fossem todas mimos literários. então o subtítulo da aMusa Insular)) seria 6Florilégio d e Poetas Madeirensesn. Mas não. O Autor, que também é poeta e que já tem à sua conta um bom número de poesias publicadas, que já recebeu prémios e menções honrosas em torneios poéticos. sabe discernir perfeitamente o trigo do joio. Por isso a reunião desses documentos deu ele o nome de aEspicilégion e na escolha deste nome mostrou o seu grande discernimento. ~Espicilégio)),se atendermos a sua constituição etimológica, deriva de duas palavras latinas aglutinadas : aspica$ que significa aespigan e alegium* que é equivalente de afeixen e portanto <<umfeixe de espigas0 ou aumarecolha de espigas*. Quando num vasto campo, depois de a seara estar madura se vão recolher as espigas, é natural q u e o respigador encontre algumas falidas. pois nem todo o trigo pode ser grado. Por isso nem todos os que vão comparecer a chamada foram verdadeiros poetas, na acepção que hoje se dá a este nome. Como tentaram Apolo, é justo que uma réstea de Sol vá iluminar. embora fugazmente, a tumba em que jazem esquecidos. A propósito de cada nome dá-nos o autor um pequeno esboço biográfico, uma que outra palavra sobre o conteúdo e o valor da sua obra e o género a que mais se aplicou. É Luis Marino u m rapaz modesto, um verdadeiro autodidacta que a si-mesmo deve todos os talentos poéticos e literários quo nos tem revelado. Mas nem sempre os modestos produzem obras modestas e disso é patente testemunho o trabalho que os leitores gostosamente hão-de manusear. Funchal, Março de 1959

Jaime Vieira Santos



João Gonçalves da Câmara (João Gonçalves, Capitão da Ilha)

Nasceu no Continente Português, por 1414 e faleceu, na antiga vila do Funchal, a 25 de Março de 1501. Era filho primogénito de João Gonçalves Zarco, (descobridor da Madeira) e de sua mulher D. Constança Rodrigues de Almeida. Foi o segundo Capitão-Donatário do Funchal e o fundador do Convento de Santa Clara, onde repousam os seus restos mortais. Combateu valorosamente em Àfrica, encontrando-se no cerco de Arzila, quando esta praça foi tomada por D. Afonso V e distinguiu-se, com seu irmão Rui Gonçalves da Câmara, na defesa de Ceuta. Diz o Dr. Gaspar Frutuoso. no seu livro. .Saudades da Terra*, que ele foi um Poeta engenhoso e guerreiro de grande valor. Figura no ucancioneiro Geral*. de Garcia de Resende, com três poesias, sob a rubrica de Joham Gonçalves. Capitão da Ilha. Os primeiros versos satiricos que reproduzimos, visam D. Francisco de Biveiro, poeta Palaciano, por causa dos uinsucessos amorosos* deste fidalgo, que foi casado com uma neta de João Gonçalves Zarco. Como faz parte dos poetas do Ciclo Poético da Ilha da Madeira, incluímo-lo neste Espicilégio.

Se se sofrer em verão eu vos tenho enculcada invenção, que vem cosida e talhada: Loba aberta alaranjada, qu'aqui fez um bom senhor, com que irá mui bem betada, e mais vestida de cor.

A ora ei por perdida que passo sem na olhar, vendo-a me custa a vida que m'outra na0 pode dar, nem tomar. Porque se não pode achar quem tanto poder tiver, se não em quem eu disser.


A meu ver não é culpado em ser cristão. nem erro porque bem no refertou. e mal em que lhe pesou. lh'o fizeram ser forçado. Dali lhe ficou tenção de ter mui grande cenreira a qualquer fiel cristão. e a derradeira bem sem trégua no perdão.


Tristão Teixeira (Tristão das Damas) ? - 1506

Nasceu no Continente Português e faleceu na vila de Machico. a 16 de Dezembro de 1506, estando sepultado na Capela de São João, da Igreja Paroquial. Era filho do primeiro Capitão-Donatário de Machico, Tristão Vaz (companheiro! de João Gonçalves Zarco). e de sua mulher D. Branca Teixeira. E conhecido pelo cognome de aTristão das Damasa, porque diz o Dr. Gaspar Frutuoso-ufoi cortezão. grande dizedor e fazia motes às damas e era muito eloquente no fa1ar.a

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Figura no ucancioneiro Geraln, de Garcia de Resende, com três cantigas, as quais

- diz o Dr. Ernesto Gongalves - *pertencem ao povo da Madeira - pelo seu significado lírico e pelo recuado parentesco consaoguineo do poeta. Elas devem ser das mais antigas da colectânea de Garcia de Resende. A sua linguagem é nitidamente arcaica, menos evoluída do que outras poesias do cancioneiro Geral*. Se o Trovador as produzlu na juventude ou na idade madura, devemos assinar-lhe, o mais tardar, a data de 1480. E, compostas na Madeira- na Vila de Machico, com o mar azul da baía aconchegada a encher os olhos do poeta? Assim devia ser.. . n Como faz parte dos poetas do Ciclo Poético da Ilha da Madeira, incluímo-lo neste Espicilégio.

Se ventura m'ordenasse que vos já mui cedo visse, como queria, posto' que me Deus matasse porque tal prazer sentisse, folgaria. Folgaria por cuidar de vos ver, como desejo, esperando d'escapar, ao meu mal, mortal sobejo. Que não sei que me causasse porque deste mal partisse só um dia, salvo se Deus ordenasse que vos cedo visse, como queria.


Folgo muito de vos ver. pesa-me quando vos vejo. Como pod' aquisto ser se ver-vos 6 rneu desejo ? Isto nam sei que o faz, nem donde tal mal me vem, sei bem que vos quero bem. com quanto dano me trás. Mas ist'é para descrer. ter. senhora, tam grã pejo. morrer muito por vos v e r . . Pesa-me quando vos vejo.

Da pena a mais pequena pero tarde m'acordei, meus olhos, tapar-vos-ei ! Ao menos nam sentirei o que vista mais m'orciena. De vos ver e nam vos vendo não sei certo qual quisesse porque tal prazer houve-se que não vivesse morrendo ; cá me vejo com tal pena. sem me poder remediar. que m'é forçado tapar os olhos, por nam olhar quem, vendo, mais mal m'ordena.


João Gomes (Joham Gomes da Ilha) ? - 1495

Nasceu em data que desconhecemos e faleceu por 1495. Não há a certeza se nasceu na Madeira ou se para cá veio, como um dos seus antigos donatários povoadores. Foi pagem do Infante D. Henrique. Casou, no Funchal, com D. Guiomar Ferreira, filha de Gonçalo Aires Ferreira, companheiro de João Gongalves Zarco, descobridor da Ilha da Madeira. Possuiu terras nas margens da Ribeira, que ainda hoje, conserva o seu nome de João Gomes. $Foi o mais fecundo dos Poetas do Ciclo Poético da Ilha da Madeira* anotou o Dr. Álvaro Rodrigues de Azevedo. Aléni dos versos incluídos na disputa de *O Cuidar e o Suspirar*, encontram-se no ucancioneiro Geralr. de Garcia de Resende, mais duas dezenas de composições poéticas, da sua lavra, subordinadas ao titulo de Joham Gomes da Ilha. Em diversos escritos, é citado com este nome e com o de Joham Gomes, o Trovador.

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Suspiros não podem ser sem ser cuidar, cuidados se podem ver sem suspirar. Assim que suspiros logo tem seu mal e o alheio, nem é meu cuidado cheio, se suspiros lhe revogo Cuidar se pode manter sem suspirar, mas suspiros nunca ser sem ser cuidar. Cantiga que dá em fim destas p o r parte do cuidado:

Cuidado depois que és, no coração, por certo cuidado és. suspiros não. Cuidado, tudo cuidado, contigo fazes penar, de sentimento forçado, que não deixa suspirar.


És tão feito o revés por condição, que sempre cuidado és, suspiros não. No coração, teu inferno, és assim como pecado, és perdido no eterno. és em coração tomado. Não tu inventuros és a solução. depois que cuidado és. no coração, Os amores conservando em aceso fogo vivo. maginas, desesperando, triste cuidado cativo. Depois que aceso és, no coração, ala fé, cuidado és, suspiros não.


Rui Dias de Sousa (Rui de Sousa) ?

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Floresceu no Século XV. Era filho de Rui Gomes da Chamusca segundo diz Teófilo Braga e de sua terceira mulher, D. Felícia de Andrade. Foi fidalgo da casa de D. João I1 e alcaide-mor do Marvão. Casou com D. Constança Cabral, filha de Diogo Cabral, e de D, Brites Gonçalves da Câmara, filha de João Goncalves Zarco, descobridor da Ilha da Madeira. AS suas poesias, encontram-se no cancioneiro Geral*, de Garcia cie Resende. Foi um poeta do Ciclo Poético da Ilha da Madeira. Eis uns versos da sua autoria, uapodando a Lobo de Sousa, aio do Duque de Bragariça. por causa da moda das grandes .carapuças de veludor.

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Não hei por cousa segura nenhum vosso bem que seja, e sei bem que nunca dura vosso mal, que muito seja. Conhecer esterro vosso é ser cousa mui geral,

não ser bem, nenhum bem vosso, nem ser mal, o vosso mal. Sobrinho, não vos pareça que estais em Valhadoly, cá não trazem na cabeça três varas d'azeitony.

Eu a vós perdoaria, mas foão não digo quem nem, quem não. Que aqui não seja defeso, a ninguém não aconteça, fiar de sua cabeça cousa de tamanho peso.

Antes m'aconselharia, porque não desse com tudo no chão.

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Se vedes com eu começo, já vos tenho respondido, que pois a morte já peço, menos mal é ser perdido.

Mas hei por glória penar, e por vida m'atarmela, antes que me ver amar d'outra cionzela.


João de Abreu

Floresceu no Século XV. Era genro do Poeta Palaciano, Tristão Teixeira, segundo Capitão-Donatário da vila de Machico, cognominado rTristão das Damas*. Foi um Poeta de merecimento, possuidor de espírito critico e de uma vasta cultura. Os seus versos são impregnados de uma ironia causticante. É citado pelos Drs. Gaspar Frutuoso e Álvaro Rodrigues de Azevedo, como um dos valores do seu tempo. Foi um Poeta do Ciclo Poético da Ilha da Madeira e as suas poesias encontram-se insertas no ecancioneiro Geral*, de Garcia de Resende.

Qu'eu nao seja para ver, tenho olhos com que vejo, que não pode ver prarer quem quer grande bem sobejo. Isto soube conhecer c'os olhos do coração. Senhora, qu'este fogo, quando entrou pelo terreiro, virieis todos correr, e polo Deus verdadeiro que queriam dar dinheiro polo ver. Porque além de vir porrym, o trazer tão más esperas, veio ihoras as melhores dlAlmeirim.


Eu não devo de tocar nada sobr'este rifão, porque quem não viu medrar. nem pode saber falar em padrão. Pelo seu irei a mão a quem tirara barreira, que lhe não dei em cabrão, pois é cristão, e seja quita primeiro.


Rui Gomes (Rui Gomes da Grã) ?-?

Floresceu no Século XV. Rui Gomes ou Rui Gomes da Grã, como também era conhecido, foi genro do segundo Capitão-Donatário do Funchal, João Conçalves da Câmara. Possuiu uma coutada importante que se prolongava desde a margem direita do Ribeiro Seco para além da Praia Formosa. Deste Poeta do Ciclo Poético da Ilha da Madeira, que uteve um mérito mais de Trovador do que pròpriamente Poetan-segundo a critica autorizada do falecido Historiador. Tenente-Coronel, Alberto Artur Sarmento. apenas existe no G Cancioneiro Geral B, de Garcia de Resende. estas coplas feitas aos servidores de D. Leonor de Mascarenhas, que ela despedira:

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Com grã dor, com grã cuidado, com mui sobeja tristeza. força fazer mandado de vossa grande crueza. A qual sempre obrarido contra nós, nos manda partir de vós. blasfemando.


Pedro Correia da Cunha (Pero Correia) ?-?

Floresceu no século XV. 4Pero Correia ou antes Pedro Correia. cooforme se lê em vários escritos que se ocupam das coisas da Madeira -diz-nos o uElucidário Madeirensen foi o segundo Capitao-Donatário da Ilha do Porto Santo, embora Gaspar Frutuoso não o considere como tal. Por morte do seu sogro, Bartolomeu Perestrelo, primeiro Donatário daquela Ilha, comprou Pero Correia a Capitania do Porto Santo, que administrou durante alguns anos. Atingindo o filho e herdeiro de Bartolomeu Perestrelo, a maioridade, impugnou a posse da Donataria. de que fora injustamente esbulhado, conseguindo reaver, por mandado do Monarca e entrar na posse dela. Pero Correia. foi Capitão-Donatário da Ilha Graciosa. que teve de abandonar, quando fixou residência no Porto Santo*. Em uns louvores de D. Diogo de Menezes a D. Filipa de Abreu, encontram-se estes versos de Pero Correia:

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Sois galante singular e dino de muita fama, pois em tam formosa dama vos soubestes empregar. Oxalá vos fosse eu, nam digais que vo-lo disse; que tam bem seria seu se m'o ela consentisse.


Rui Gil Moniz (Rui Moniz) ?-?

Floresceu no Século XV. Era filho de Gil Moniz. Foi Tesoureiro da Casa da Moeda. de Lisboa. u As suas poesias diz Teófilo Braga. no seu livro. uPoetas Palacianoss são as mais obsenas do u Cancioneiro Geral , de Garcia de Resende. É crive1 que Rui Moniz fosse rival de Álvaro Barreto, desde que D. Filipa de Almada (com quem mais tarde se consorciou). lhe escreveu. porque em versos de Rui Moniz, vem a rubrica unam estando bem com sua dama, por favorecer outros. D. Filipa de Almada foi Poetisa e os seus versos encontram-se insertos no 4Cancioneiro Geral*, de Garcia de Resende.

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Pois pesar-me razão é por serdes de tal linhagem. mais que por vossa menagem quebrardes nem vossa fé.

E se és de mim amada, assi és de mi seguida. que muito será culpada em me ser desconhecida.

Lembrar-te que te servi, e amei tam de verdade, depois que te conheci que nunca mudei vontade.

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Duarte de Brito Pestana (Duarte de Brito) ?- 1514

Nasceu na Madeira, em data que desconhecemss e faleceu em Julho de 1514. Segundo Henrique Henriques de Noronha. era filho de Duarte Pestana de Brito e de D. Leonor Homem de Sousa. Foi Poeta palaciano. da Casa de D. João 11. Casou com D. Joana Cabral, filha do Poeta Rui de Sousa e bisneta de João Gonçalves Zarco. Foi uo Poeta mais lírico e eligiaco - no dizer de Teófilo Braga -do *Cancioneiro Geral*. de Garcia de Resende; as suas composições são as únicas que acusam um certo conhecimento de Dante, pela forma da visão do ulnfernoo, em que ele observa uns namorados, como pelas continuas alegorias, que denotam uma influência poderosa da escola espanholan. Do dnferno dos enamora dos^, reproduzimos os seguintes trechos : Com vozes mui acordadas começou com tais primores estar cantando, como fazem às levadas d'espadas os jogadores começando, segui minha companhia por verdes damores quando perdidos sam. Com lágrimas de tristuras começamos Ibgo a andar por vales, montes, alturas, grandes boscos, espessuras, não cessando caminhar. Por lugares apartados desviados dos viventes sem medida, desertos, desabitados donde nunca foram gentes nesta vida. Por caminhos espantosos passámos tantos desertos, que nos vimos temerosos,


ser das vidas duvidosos e de nossas mortes certos. Onde tristes, alongados por longa estância de terras mui estranhas, nos vimos de nós roubados cansados nas altas serras e montanhas. . . . . . . . Como fazem por saberem as frotas por onde vão, que de noite, por se verem seguem. por se não perderem o farol do capitão: Assi nos por nossa sina seguimos, sem sentido em maneira, como quem a fogo atina, que de noite é perdido sem carreira. Vimos Friso com temor ir no velo pola mar, e a filha de Agenor, vi com Polus e Castor Pérseo Cancro matar, Leo em fogos acesos, vi Virgo desamparando os terreais, e vi Lyviras com seus pesos e méritos todos pesando dos mortais.

Vi o fero Escorpiam passal-as águas sem barco, com a filha d'Albaciam e o velho Teriam, Sagitário com seu arco, Capricórnio no outeiro na selva de Greta andar paqendo vi, e Acários ser copeiro, e Cupido vi tornar em peixe ali. Com coroa mui ufana nos altos céus colocada vi de Baço Adriana,


e a fria trasmontana dlApolo mui separada, e a filha de Lucano Cenesura, Calistona e Ouriam. tom as netas dlOceano; com seus filhos vi Latona em o lam. Por loguares tenebrosos aos humanos inotos, com meus males mui dorosos, ouvi gritos espantosos com mui grandes terremotos. De todo cuidei entam minha vida mui cruel, que acabava, olhando via Plutam, as chamas que Mongibel respirava.


João Rodrigues de Sá e Menezes (João Rodrigues de Sá) 1461- 1576

Não há certeza se nasceu na Madeira. Faleceu no Porto, onde era Alcaide-mor, em 1576, com a avançada idade de 115 anos. Era filho de Henrique de Sá e Menezes e de D. Brites de Menezes e marido de D. Camila, filha de D. Martinho de Castelo Branco, 1.0 Conde de Vila Nova de Portimão e neta de João Gonçalves Zarco. Foi Alcaide-mor do Porto, do Conselho del-rei, etc. uServiu com seu tio D. João de Menezes, em Azamor e Arzila-diz o @Dicionáriode Portugala-distinguindo-se muito nestas campanhas. Muito erudito, conhecia várias línguas e falava o latim e o grego correctamente. Foi embaixador del-rei D. Manuel, em 1516, a D. Fernando, o Católico de Espanha e, depois, em 1521, acompanhou a Sabóia, a Infanta D. Beatriz, quando casou o Duque Carlos 111. D. João I11 também o euviou como seu embaixador a Carlos V. Não foram porém, os seus feitos militares, nem as suas missões diplomáticas que lhe deram renome, mas sim o seu amor à poesia e as letras. Sá de Miranda, numa das suas cartas, dedica-lhe frases elogiosas e Damião de Gois, com quem ele manteve intimas relações e a quem escreveu duas cartas que e s a o insertas nas obras deste nosso Cronista, diz que ué homem a quem se pode dar inteira fé, pela muita e vária licão e doutrina que nele há nas artes liberais e filosofia. e experiência das coisas que de seu tempo aconteceram nestes reinos e noutros*. Dos seus trabalhos literários, apenas foram impressas as cartas que já citámos. uma poesia em latim e algumas poesias no ucancioneiro Geralr, de Garcia de Resender. Diz o dr. Álvaro Rodrigues de Azevedo, que ele faz parte dos Poetas Palacianos. com ligações com a Ilha da Madeira e por esse motivo. incluímo-lo neste Espicilégio. Os versos que reproduzimos deste poeta - no dizer de Teófilo Bragi-uexplicam o que significa a porfia com os serventes da cozinha, Vasco Martins Moniz, veador do Infante D. João, que foi rei de Chipre, e casou com D. Leonor de Lusinhão, o que fez dizer a João Rodrigues de Sá e Menezes, na declaraqão dos brazões das famílias:

Ambalas armas reais, de Chipre e Jerusalém, com armas misturas tem de Moniz; mas estes tais a um s6 deles convém: um só a quem com razão chamem-se de Lusinhão, seu pai lhe foi alcançar por se ajuntar e casar com tam alta geraqão.


Da banda que controu ful esta terra, antigamente, veio uma nobre gente com cinco em escudo azul, estrelas douro Iuzente. Pelo que destes se diz pouco digo, e pouco fiz ao que seu primor merece, segundo o que se parece dos feitos de Egas Moniz.


Luís da Silveira 1481-1534

D. Luís da Silveira. Conde de Sortelha, Alcaide-mor de Alenquer e Senhor de Goes, Guarda-mor del-Rei D. João 111, filho de Nuno Martins da Silveira e de D. Filipa de Vilhena-segundo Barbosa Machado,-e neto de D. Diogo da Silveira e de D. Filipa de Vilhena,-segundo Teófilo Braga - era casado com D. Maria de Noronha, descendente de João Gonçalves Zarco. oÉ este o poeta parnasiano mais consumado do Século XV1;-disse Teófilo Braga-criado na corte, adquiriu essa arte de se inocular no ânimo do monarca, e a Natureza dotou-o com todos os dotes para exercer uma irreflectida fascinaçãon. Diz o uNobiliárion de D. Luis Lobo da Silveira: uEra mui douto e grande poeta, muito distinto e galante e de grandes espíritos, que é cousa que mais faz odiar os homens^. Distinguiu-se na Armada em que D. João de Menezes, .em 1507, acometeu Azamor, sendo o primeiro que desembarcou. Os primeiros versos que reproduzimos do ucancioneiro Geral*, de Garcia de Resende. são um apodo que fez a Simão de Sousa, rporque veio ao Terreiro de Almeirim em uma mula com umas largar esporas de gineta, e com chapins*; os segundos mandou-os auma Armada em que foi, a uns amigos que andavam enamorados e, nos terceiros, <nos dez anos de Senau, alude aos costumes da corte francesa introduzidos em Portugal, depois da viagem de D. Afonso V, em 1477. É natural que a melhor parte das suas poesias se perdesse. Além das poesias várias insertas no uCancioneiror, verteu em português. o ~Ecclesiasten,de Salomão. É um poeta do Ciclo Poético da Ilha da Madeira. I Quando andaste c'o touro Parecias-me francês; E agora vinhas mouro Na cabeça e não nos pés.. .

Vivei bemaventurados Que a fortuna aparelhada Tendes já: Nós outros, somos chamados De uns fados em outros fados, Sem saber o que será.

Vossa pergunta me ordena Tanta confusão e cata, Que dera por João de Mena Ou por dez anos de Sena Até dez anos de prata.


Manuel de Noronha (O filho do Capitão da Ilha da Madeira) ? - 1535

Nasceu no Funchal em data que desconhecemos e faleceu por 1535. Era filho de João Gosçalves da Câmara, segundo Capitão-Donatário do Funchal. e de D. Maria de Noronha e tio de D. Manuel de Noronha, Bispo de Lamego. Foi Poeta palaciano. rAs antigas crónicas madeirenses-diz o P.c Fernando Augusto da Silva, no seu ~ElucidárioMadeirense* falam com grande encarecimento dos serviços que prestou no norte de África e da sua grande bravura, como militar, referindo-se, especialmente, a um encontro #em que, ii testa de cento e cincoenta cavaleiros, quase todos da ilha*, pratica prodígios de valorn. Teve da sesmaria o terreno que depois foi a Quinta das Padres da Companhia. Foi um dos vates mais notáveis do seu tempo, tendo-se. porém, perdido a maior parte das suas produções poéticas. Possuia uma grande inclinação para os motejos. Tem versos insertos no Kancioneiro Geral*, de Garcia de Resende. Foi um Poeta do Ciclo Poético da Ilha da Madeira.

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Se tivéssemos memórias para tudo nos lembrar, na dele, cem mil histórias, notáveis para contar.

E' de Cristo Cavaleiro, muitas vezes foi zombado, por gestos. trajos, coçado. Pero de Sousa Ribeiro.

(De Manuel de Noronha a D. António Valasco, sobre o rifão que lhe fez.)

Antes que de chamalote fizera desse rifão ceroilas para verão.


E mais das copras farei outra loba de que ria. que seja casi tão fria como curta do solia, que vos eu já perdoei. E assim escaparei nas copras. e no rifão das calmas deste verão.

Eu vi viuva anojada com outra tal invenção, mas com barba tão rapada nunca vi já corte~ão. De morrer desejaria. e seria grã razão pois que fez loba tão fria, tendo já feito o rifão.


Baltazar Dias

Consta vagamente, ter nascido na freguesia de SantlAna, nos fins do Século

XV e faleceu no Continente Português, em data que desconhecemos. Viveii os seus últimos anos na Beira, segundo diz nos seus versos, {(Conselhos para bem casarn. Teve grande nomeada, no seu tempo, como poeta e autor de autos que o povo lia com prazer e de que se fizeram muitas edições. uFoi um dos célebres poetas que floresceram no reinado del-rei D. Sebastiãodiz Diogo Barbosa Machado, na sua *Biblioteca Lusitana*- principalmente na composição de autos, com a circunstância de ser cego de nascimento$. Diz o ilustre escritor, Teófilo Braga que. uo infeliz cego, o Gil Vicente do tempo de D. Sebastião, era povo no seu estilo e cego como ele no mundo que por isso, o mesmo povo, o compreendeu como irmão e se comprazia e consolava com as fantasias que ele criava nos seus autos e apreciadas narrativas poéticas. E, referindo-se. particularmente, a um desses autos, informa-nos que foi a vara mágica de Garret que no seu uRomanceiron, salvou essa pérola perdida, passando do cordel e do papel pardo dos vendedores de feira. para as páginas da nossa literatura*. Deixou-nos os seguintes trabalhos : *Auto del-rei Salomãor, Evora, 1612 e Lisboa, 1613; uAuto da Paixão de Cristo*, metrificacio, Lisboa, 1613, com outras edições em 1617 e 1633; aAuto de Santo Aleixo, Lisboa, 1613 com outras edições em 1616, 1638, 1749 e 1791; @Autoda Feira da Ladra*. Lisboa, 1613: uAuto de Santa Catarina, virgem e mártir, Évora, 1616, com outras edições, em 1633, 1659, 1727 e 1786; uconselhos para bem casar*, Lisboa, 1633, com outras edições em 1659, e 1680; <Auto da Malícia das Mulheres, Lisboa, 1640 e 1793; uHistória da Imperatriz Porcina, mulher do Imperador Lodónio de Roma, em que se trata como o dito Imperador mandou matar a esta senhoras. Lisboa, 1660, com inúmeras edições, até 1790; @Autodo Nascimento de Cristo* Lisboa, 1665: uTragédia do Imperador Carlos Magno*; *Trovas de arte maior sobre a morte de D. João de Castro, Vice-Rei da India, dirigida a sua mulher D. Ana de Atayde*, sem data, e Tragédia do Marquez de Mântua, 1665, com diversas reimpressões, sendo uma de Évora, de 1686 e ultimamente incluida pelo Visconde de Almeida Garret, no tomo I11 do seu ~Romanceiro~. Salvé, Senhora benigna, Madre de misericórdia, paz da nossa gran discórdia, dos pecadores máezinha, vida, doçura e concórdia ! Se és nostra, a Ti invocamos, Salva-nos da escura treva, a Ti, Senhora, chamamos, desterrados filhos de Eva, a Ti, Virgem, suspiramos.


A Ti, gemendo e chorando, em agueste lacrimoso, vale, sem nenhum repôso, sempre Virgem. a Ti chamamos que és nosso prazer e goso.

Ora pois, nossa Advogada, amparo da Cristandade, volve os olhos de piedade a mim, Virgem consagrada, pois que 6s nossa liberdade. Dá-me, Senhora, virtudes contra todos meus inimigos, pois que és nossa saudade, eu te rogo que me ajudes nos temores e perigos.

Roga, Tu, por mim, Senhora, ó Santa Madre de Deus,

a quem minha alma adora, pois és Rainha dús Céus, e dos anjos Superiora.

O' Madre Je Deus benigno e fonte de piedade, Arca de Santa Trindade de onde o Verbo Divino trouxe essa humanidade!

O' Santa Domina mea, ó Virgem gratia plena em quem a alma recreia, dai remédio a minha pena pois que morro em terra alheia!


Troilo de Vasconcelos da Cunha

Nasceu no Funchal em 1654 e faleceu em Lisboa, a 4 de Agosto de 1729. Era filho do Governador e Capitão General da Ilha da Madeira e Porto Santo, Bartolomeu de Vasconcelos da Cunha, segundo refere Diogo Barbosa Machado na sua crBiblioteca Lusitana*. Foi fidalgo da Casa Real e Secretário da Junta dos Três Estados. Muito versado no idioma latino e no grego, transladou para vernáculo. o poema latino *Justino$, com o nome de aJustino Lusitano* e deixou muita composição inédita, em prosa e verso. Notabilizou-se com a publicação do seu poema sacro, intitulado: aEspelho do Invisiveln, obra escrita no curto espaço de três meses. Eis o X canto desse poema :

Primeiro Homem Na estátua imóvel inspirando vida, A aura vital do soberano alento, Ao barro a forma humana transferida Teve o corpo insensível movimento ; E o racional, por luz nalma infuida De quem lhe dera o ser conhecimento, Pois o eterno poder, que ao Mundo impera, Claramente entendeu que o ser lhe dera. Saíu Adão formado sem defeito, Da natureza assombro portentoso. Nas exteriores porpoções perfeito, Nas perfeições internas prodigioso. Influindo nos ânimos respeito Gesto severo, aspecto decoroso, Tanta era a majestade que exprimia, Que a fereza cios brutos o temia.

Todos foram buscá-lo ao Paraíso, Jardim que céu na terra se interpreta; Como se o bruto instinto fora aviso, Lhe tributaram sujeição discreta. A cada espécie o nome pôs preciso, Que a brutal propensão nunca indiscreta Guiou aos pastos, às nativas fontes, Aos bosques, grutas, valer, selvas, montes


Adão, como entendido, de enlevado Na alta contemplação da eterna essência, Da terra e céu no movimento e estado Se tranportou. por alta previdência. De suave Morfeu arrebatado, Infuso por divina inteligência, Se rendeu ao primeiro êxtasis forte Que a vida alenta, figurando a morte.


António de Carvalhal Esmeraldo ( Aónio ) 1662

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Nasceu na Madeira, por 1662 e faleceu em data que ignoramos. Era filho de Simão Gonçalves da Câmara e de D. Maria Carrea e pai do Frade Lucas de Carvalhal. Foram seus avós (5.0 e 3.0, respectivamente), Manuel Afonso Sanha, escudeiro do Infante D. Fernando, pai do Rei D. Manuel, e António de Carvalhal, afamado pela sua força e valentia, de quem nos fala Gaspar Frutuoso, nas @Saudadesda Terra*. uAntónio de Carvalhal Esmeraldo, natural da Madeira, e da qual nunca saiu, disse o Dr. António de Aragão Correia- o Aónio da uCithara de Aónio*, até aqui ignorado, que nasceu por 1662, como transparece num seu soneto, foi um perdido de amor, dum amor heróico, platónico, dum amor a época sem esperança, sem vaidade e sem temor*. uFoi bom poeta em tudon - disse Henrique Henriques de Noronha, ao falar de Aónio, poeta da Ilha perdida no Oceano, poeta que compôs com uelegâncian, poemas Heróicos, Elegíacos e Líricos, que eram com louvor aprovados, não só pelos naturais. mas ainda. pelos melhores Poetas Portugueses e Latinos, que passavam desta Corte para aquela Ilha%. O Frade Lucas de Carvalhal, filho do poeta, e que copiou, na cela do seu convento, os sonetos que constituem o precioso livro. intulado : ucithara de Aónio~,Poema erótico, dividido em seis descantes, com um longo prefácio do Frade Lucas de Carvalhal. Este manuscrito, foi salvo, pelo citado Frade, no terramoto de Lisboa, em 1 de Nove.mbro de 1755. A ~Citharade Aónio~,é propriedade do Dr. António de Aragão Correia, Poeta e Pintor de Arte, que gentilmente nos forneceu as notas biográficas e os versos que reproduzimos.

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Soneto Belo Naris para quem guarda intacta Arabia aromas, e Pancaya olores. Que eras nessa república de flores Marco de gelo em campos de escarlata: Emblema de jasmim, cifrada nata, Brinquinho de diamante, alvo de amores, Torre de Faro, ornada de esplendores, Em dous mares de rosa, isthmo de prata; Porém suspenda o rasgo a pluma errante, Que nenhum epiteto hoje se atreve Ser de tal perfeição cópia bastante.


Só quem cala, e te admira 6 que te escreve; Pois sobre um ponto de rubi flamante, És hua admiração de pura neve.

Soneto Pois me contento só de idolatrar-te, Oh, Belisa, permite o querer-te, Ou que não chegue ao menos a ofender-te, Pois que em nada hei podido contentar-te. De que podes por ora recear-te? E que posso eu fazer com pretender-te? Temes que venha acaso a merecer-te; Porque insisto penoso em venerar-te? Mas o muito que peno não me engana, Nada espero; bem que por ti padeço, Pois certamente em nada eras humana. Não tem para alcançar-te as penas peCo, Que como eras em tudo soberana, Desvario é cuidar que te mereço.


Francisco de Vasconcelos Coutinho 1665- 1729

Nasceu no Funchal por 1665 e faleceu a 22 de Abril de 1729. Era filho de Lourenço de Matos Coutinho e de D. Mariana dfOrnelas e Vasconcelos. Foi Bacharel, formado em Cânones, pela Universidade de Coimbra. $Não me parece que os versos deste poeta, sejam de todo destituidos de mérito, -diz Inocêncio F. da Silva--levando-lhe em conta o gosto d o tempo em que escreveu*. <Insigne Poeta -diz Diogo Barbosa Machado - cujo espitito se arrebatava ao cume do Parnaso, com tal elevação, que por voto dos maiores cultores da tão divina Arte, excedia o seu entusiasmo a mais penetrante compreensão, sendo os seus versos cadentes, discretos, elegantes e claros$. É autor dos livros: <Residência do Governador o Capitão- General da Ilha da Madeira, João Saldanha da Gamas, 1718, uFeudo do Parnaso e Vitima Numerosa, que as aras da Soberana Magestade do mui alto. e poderoso rei D. João Vn, Lisboa, 1729, aHecatombe Métrico, dedicado a Virgem)). Lisboa, 1773, aEfeitos de um arrependimento*, Lisboa, 1773, e a fábula cPolifemo e Galatea~. Fez, também, sonetos a morte de D. Pedro 11 e um elogio dramático em honra do Governador Capitão-General da Madeira, D. João Saldanha da Gama. Todas as suas poesias foram coligidas na uFenix Renascida*.

Soneto à morte de D. Pedro I1

Contempla nessa pedra. ó caminhante, Urna breve de Pedro, Rei Segundo, Que não bastando a magestade um mundo, Para morrer um Rei basta um instante.

O ser mais régio, o sábio mais brilhante, O maior ceptro, o culto mais fecundo. É efemera breve, horror profundo. Frágil cristal. relâmpago inconstante. Ó breve duração das divindades: A quem um sopro, um golpe, uma hora um dia. Leva o ceptro, a coroa, o culto, a medra.

Esconda amor na pedra as magestades, Para que com perpétua idolatria, Quando lhe falta Pedro, adore a pedra.


Fragilidade da vida humana Este baixe1 nas praias derrotado, Foi das ondas Narciso presumido: Esse farol nos céus escorecido, Foi do monte libré, gala do prado: Esse nacar em cinzas desatado, Foi vistoso pavão de Abril florido; Esse estio em Vesúvios acendido, Foi Zéfiro suave em doce agrado: Se a Nau, o Sol, a Rosa, a Primavera, Estrago, eclipse, cinza, amor cruel, Sentem nos auges de u m alento vago: Olha, cego mortal. e considera Que é Rosa, Primavera, Sol. Baixel, Para ser cinza, eclipse, incêndio, estrago.


Domingos de Sá Martins 1683 - ?

Nasceu no Funchal e foi baptisado na St. Catedral desta cidade, em Agosto dc 1683. Era filho de Baltazar Martins, natural do Continente, lavrador que passou a Madeira, como soldado e mais tarde foi mercador e faleceu captivo em Argel, e de D. Isabel de Aguiar, natural da Madeira, e pai do P: Pedro Lobo de Matos e do Dr. José Joaquim de Sá, Bacharel em Cânones e familiar do Santo Oficio. Frequenrou a Universidade de Coimbra, de 1706 a 1713, onde tirou o curso de Bacharel em Cânones. Foi um dos melhores Advogados. no seu tempo. nesta cidade. O Dr. Domingos de Sá Martins e sua mulher, demandaram criminalmente ao Dr. João Rodrigues de Oliva, e aos irmãos P.c Dr. Manuel Vogado Sotomaior e Sebastião Vogado, por causa de umas sátiras caluniosas que estes haviam feito, chamando-lhe judeu, mouro e falsário e a sua mulher cadela, e depois de justificarem a pureza de sangue, na Madeira e em Sambade, na Torre de Moncorvo, alcançaram sentença, a seu favor no juizo eclesiástico, proferida em 6 de Setembro de 1726. pelo Vigário Geral, Dr, Bernardo Rodrigues Nogueira. No livro : *Academias e Progressos dos Anónimos de Lisboa*, editado em Lisboa, em MDCCXLV, na oficina de Pedro Ferreira. Impressor da Augustissima Rainha N.S., figuram cinco composições poéticas deste vate : um soneto e décimas ao assunto, &horava uma dama por não poder tirar um sinal postico que tinha na cara., décimas a uChorava uma dama Lusiadaa e, finalmente, outra décima a uUma dama que não queria fazer versos, porque os poetas se coroavam de louro%. Para amostra do estro deste Poeta, reproduzimos as duas últimas composições citadas :

Bem pode o nosso Camões Sair pelo mundo afouto, Por quem tem tão bom Couto, Não teme as emulações: São as Armas, e os Varões Do seu poema a empresa ; E foi culpada fraqueza Procurar um Couto amigo, Se nos Varões tinha abrigo, Se nas Armas a defesa.


Nise. que é Poetisa boa. Deixou dos versos a treta, Por ver que o pobre Poeta Só com louro se coroa: Fê-lo Nise de possoa. Bem merecia um tesouro, Que se a cor6a fosse ouro, Versos faria e mui bem, Mas louro não; que ela tem Na cabeça melhor louro.


Cónego Joáo Rodrioues O de Oliva 1091- ?

Nasceu no Funchal, por 1691 e foi baptisado na SI Catedral desta cidade, a 13 de Setembro de 1691. Era filho de João Rodrigues de Oliva e de D. Maria losé Gomes de Oliva e bisneto do castelhano, Paulo de Oliva, soldado pago, do presidiu, onde servia quando da Aclamação de El-Rei D. João 1V e que foi o primeiro. deste apelido, que passou a Madeira. Foi Presbitero d o Hábito de São Pedro, Cónego da Sé do Funchal. Bacharel em Cânones (1716). Prégador, Confessor c Visitador Geral d o Bispado e Comissário do Santo Ofício. Pouco tempo depois de ele receber a sua provisão de Comissário do Santo Ofício, em 24 d e Outubro de 1732, queixava-se dele, aos Inquisidores, o Comissário, P.c Bartolomeu César de Andrade ; 6... apareceu aqui um sermão impresso, de um franciscano. com dois sonetos do Cónego João de Oliva, Comissário do Santo Ofício, que causou admiração de todos ... h . Já antes, em 1725. o Cónego de Oliva, fora, com outros, conderiado, por ter escrito umas sátiras injuriosas e caluniosas, contra o Advogado. Dr. Domingos de Sá Martins. Deste poeta satírico, reproduzimos uma composição poética, inserta no livro: *Academias e Progressos dos Anónimos de Lisboa)), obra composta na oficina de Pedro Ferreira, impressor da Augustissima Rainha N. S. Ano de MDCCXLV. Assunto: *Uma dama que vendo-se a uma fonte lhe turbou a água um jasmim que lhe caíu do toucado*.

Décima Para ver-se procurou Nas águas, Clori, a bonança, E no cabo da esperança Tempestades encontrou ; Mas se infortúnios achou (Pois é pensão de ser boa) Vejo que no lançar ela Um jasmim d o ornato seu, Se na água o rumo perdeu. Achou no jasmim a Éstrela.


Francisco Manuel de Oliveira Mayringk e Mendonça (Francisco Manuel de Oliveira)

Nasceu no Funchal, a 1 de Abril de 1741 e faleceu em 1818. Era filho de António 1)ionisio de Oliveira e de D. Micaela Jerónima Mayringk e irmão do Escritor, Manuel Teocioro de Oliveira Mayringk e pai do Poeta, João Nepomuceno de Oliveira. Foi norneado Professor de Filosofia Racional. nesta cidade, quando em 1772 se criou a Aula Pública de Filosofia, cargo que exerceu durante muitos anos, tendo sido jubilado, por portaria de 3 de Abril de 1799. Foi também Professor do Seminário do Funchal, tendo proferido um discurso na Abertura das Aulas, em 1786. uGosou no seu tempo de certa nomeada como poeta-diz o aElucidário Madeirense, do P.c Fernando A . da Silva-sendo hoje um nome inteiramente esquecido. Inocêncio classifica-o como poeta de segunda ordem, dizendo que as suas composições não eram de todo más. e que se lhe devia a obrigação de tornar conhecidas em Portugal as primeiras amostras de um género até então de todo ignorado. Refere-se o autor do uDicionário Bibliográfico Portuguêsn, a tradução que fez Oliveira, valendo-se do texto inglês. de várias poesias, escritas nalgumas línguas orientais da Indian. Publicou os seguintes livros: ((Escolha de Poesias Orientais$, Lisboa, 1793; 40lecção Poética*, Lisboa, 1794; $Ensaio Poético sobre a harmonia do Mundo.. .n, Lisboa, 1805; uPrincipios Elementares da Língua Inglesa . . .o. Lisboa, 1809; uQuadrar Glosadasn. Lisboa. 1824 (póstumo). etc.

Soneto Genetliaco De impávido leão. águia ligeira, Tímido corso, vil aivão não nasce; Nem se diria que a geração tirasse De lince perspicaz, cega toupeira. Humilde arbusto da triunfal palmeira Jamais, jamais se viu que rebentasse; Ou que espinhoso cardo pululasse Do fértil gomo em genital parreira.

O verão forte, varões fortes cria ; Do tronco segue o ramo a natureza; Nada na sua espécie se desvia. Assim o tenro infante co'a nobreza De seus ilustres pais herdar devia O forte coração, dalma a grandeza.


Idílio (Primeiras estrofes da colecção Poetica*) Já d o fresco regaqo As púrpuras boninas espalhava Pelo cerúleo espaço. Que de liquido aljofrar borrifava, Sobre o flexível ramo Da vinha, que se abraça ao verde olmeiro.

Com suave reclamo

Da manhã o canoro pregueiro Convidava a consorte matizada Para o hino entoar da madrugada.

O lanigero velo Dos orvalhos da noite sacudindo. C'o filial desvelo, Que lhes vai natureza sugerindo, Após das mães baliam os cordeiros. Acordando na choça os pegueiros. As pastoras da Aldeia, Mentirosos espelhos escutando, Na cristalina veia As douradas madeixas aiiastrando, Estavam sobre as fontes debruçadas, Vendo-se lá no fundo retratadas, Quando o Pastor Fileno, Que sempre mais que os outos madrugava, Descendo ao vale ameno, Onde o nédio rebanho apascentava, Admirado de ver a Aldeia junta, Qual seja a causa desta acção. pergunta? Da bela Juliana (Uma delas alegre lhe responde) Essa gentil serrana Que ao patrio Tejo a nossa Aldeia esconde: Da modéstia exemplar. d o sexo inveja, O fausto natalício lhe deseja.


João Pedro de Freitas Pereira Drumond 1760- 1825

Nasceu em Câmara de Lobos, em 1760 e faleceu em Março de 1825. Era filho do Capitão José Luis de Freitas Silva Nunes e de D. Ana Inácia Caetano Drumond. Bacharel em leis e Presidente da ((SociedadePatriótica Funchalensen. <<Eraconhecido pelo alcunha de Doutor Piolho, - diz o ~ElucidárioMadeirensen - proveniente da sua pequena estatura. Foi um distinto Advogado que gosou de muita consideração e prestígio nesta cidade*. Escreveu em 1820. apontamentos Históricos sobre a Madeira*, que se conserva inédito e cujo manuscrito foi oferecido a Câmara Municipal do Funchal, por Pau10,Pereatrelo da Câmara. Deixou outros manuscritos de que não há indicação perfeita e fidedigna. Da ~ C o l e c ~ ãde o Manuscritos* que Joaquim Pedro Cardoso Casado Geraldes deixou ii Academia de Ciências de Lisboa, de que era sócio correspondente, reproduzimos esta poesia de Pereira Drumond:

Ode Dedicada a D. Emilia fdenriqueta Pinto, Viscondessa de Torre Bela. FIO seu aniversário natalício.

Musa minha renasce, o Clarim toma; De atrós Saturno, que não foi domado, O curso fugaz doma : De Emília o nome torne a ser cantado. Pára, ó dia! permite que os humanos, Enquanto duras, fujam aos desgostos; Contigo morram danos ; Paz e alegria lhes assome aos rostos.

E tu, astro da luz, que na quadriga Sanhudo bates o fogoso açoite, Descanga da fadiga; Deixa dormir mais largo espaço a noite. Ilha feliz, que o mar zeloso prende, E te enfeitas de núvens e arvoredos, A minha voz atende; Tu a repete aos côncavos rochedos.


Pause o vento: as plantas não se embalem, O mar as vagas prenda. a face alise : Sussurros, vozes calern ; E só dos Céus a calma se divise.

A ti peço favor, Santa Verdade: A boca vem tocar de puro lume: Publique sã vontade Das prendas, das virtudes o cardume. Sobre seu corpo entornou natura

A graça com alinho e gentileza, O mimo, a formosura: Outra nunca formou de mor beleza. Nasceu no cimo de alta fidalguia De heróis que a Portugal feriram glória : E que de dia em dia, Durando vão na Lusitana bistóría. Tu, Balsemão, do Trono segurança : Tu, Catrina, credora de respeito, Lhes destes por heranca Os dotes raro:. de que se orna o peito. Quando os brincos os dins arrebatam, Sérios empregos e lição severa. Seus anos ternos atam, E o sólido prazer em tempo espera. Apenas tem de Esposa o autorizo: A modéstia, a decência, e a ternura, E da franqueza o riso Vêm juntos habitar sua alma pura. Nos p'rigos mostra sempre segurança ; Nos males, que provém à Humanidade, É paciente, é mansa ; No trato amigo guarda lealdade. Como os filhos educa, a Mãe estima! O caro Esposo trata com ternura! E, generosa, anima Aqueles, que persegue a desventura !


Religião Sagrada, és tu. que formas A base do carácter venerando: Com tuas doces normas Vive feliz no seio de Fernando.


Manuel Caetano Pimenta de Aguiar 1765- 1832

Nasceu no Funchal a 16 de Maio de 1765 e faleceu em Lisboa a 19 de Fevereiro de 1832. Era filho de Bartolomeu Luis Pimenta de Aguiar e de D. Maria Felicia de Carvalho. Foi Deputado pela Madeira e Capitão do Exército Francês. Alistou-se, em França, nos Exércitos Revolucionários e foi condecorado com a Cruz da Legião de Honra, por ter demonstrado galhardia de ânimo guerreiro. aÉ um nome pouco menos do que desconhecido entre nós, -diz o 6Elucidário Madeirenser-todavia, Pimenta de Aguiar. sem ser um desses escritores que assinalam uma época ou ficam imorredoros nos anais da literatura dum povo, deixou, no entretanto, um nome bastante distinto, nas páginas da nossa história literária. sendo até considerado por alguns como o verdadeiro precursor de Almeida Garrett, na criação do teatro nacional. Sem possuir a prodigiosa e maleavel talento do autor do uFrei Luis de Sousa*, a beleza inimitável da sua linguagem e as suas raras e excepciona~squalidades de dramaturgo, teve, contudo, a intuição de que entre nós não havia um verdadeiro teatro e tentou, seguindo principalmente a orientação dos trágicos franceses, despertar o gosto por este género de literatura, escrevendo muitas tragédias, que no seu. tempo tiveram grande voga e que eram reveladoras das suas notáveis aptidões como escritor dramáticon. É autor das tragédias : rvirginia*; 40s Dois Irmãos Inimigos)),e das peças : aD. Sebastião em África*; 4Conquista d o Perúr; aEndóxia Licianao: 4Morte de Sócratesa; ucarácter dos Lusitanosn: $Destruição de Jerusaléma; .Teatro Trágico Portuguêsr e &Arria*.

{Os Dois Irmãos Inimigos» (Excerto) CENA I

ACTO I

POLYNICES Não instes mais, o pérfido Eteocles. Longe de ouvir a voz da Natureza. Quer arriscar à sorte das batalhas De Thebas o destino. Tu conheces, Que meu Pai expirando resolvera Do trono a sucessão, mas o perverso Pisando apenas os degraus do sólio, Os meus justos direitos atropela. Só quer reinar. impávido, e soberbo, Arrasta as leis que um sábio Pai ditara.


Companheiros fieis do meu destino, Essas muralhas que Amphion famoso Edificou, da lira ao som suave, Nossos invictos, valorosos braços Por terra hão-de prostar : trema o tirano. Que a Pátria insulta fomentando a guerra. Enfadado de tramas, de delongas. Nada mais quero ouvir; só da vingança A voz escuto, que furor me inflama.

HEMON Prudente um pouco mais, Senhor. pondera, Que essa mesma Cidade que detestas, E que proclamas a fatal ruina, É tua pátria: que reinar tu deves Sobre o misero povo consternado. E queres ver as hórridas falanges Escalando as muralhas portentosas, A cinzas reduzir essa Cidade? Thebanos são teus férvidos Soldados; Pátria, parentes. filhos, as esposas, Tudo lhe grita aos corações piedade. Os meus interesses são aos teus ligados: Tu conheces que desde a tenra infância Antigone adorei. que só por ela Mil vidas arriscar seria pouco : Que teu bárbaro irmão me nega a posse Desse tesouro de virtudes belas, Para a entregar nas mãos sanguinolentas Desse monstro cruel, que o negro abismo Vomitara, das hórridas entranhas ; Creon, o nome só nalma me ferve! Cruel Creon, os Deuses vingativos Teus crimes punirão com mão severa! Mas não esperes. Principe adorado, Que da lisonja o bafo contamine Meu coração: atento espera; Que o tempo adoce os ânimos guerreiros: Eteocles talvez que se arrependa, Que o povo por fugir ao mal horrendo, Que a guerra arrasta, o - teu partido tome. E que as portas abrindo da Cidade, Te convide a reinar. sem ferro e fogo.


Francisco de Paula Medina e Vasconcelos 1768

- 1824

Nasceu no Funchal, a 20 de Novembro de 1768 e faleceu, no desterro, na cidade da Praia, Ilha de São Tiago, de Cabo Verde, a 16 de Julho de 1824. Era filho do Capitão Teodoro Félix de Medina e Vasconcelos e de D. Ana Joaquina Rosa de Vasconcelos e pai do Escritor e Jornalista, General Sérvulo de Paula Medina e Vasconcelos, autor dos livros, $Amor e Pátria)) e d m Filho Chorado$. Matriculou-se na Universidade de Coimbra, mas, em consequência das suas actividades políticas e do seu revolucionarismo, foi preso, em 1790 e dezoito meses mais tarde, expulso da Universidade, tendo de sair, para sempre, de Coimbra. Em 1792, regressou ao Funchal e passou a desempenhar. nesta cidade, o cargo de Tabelião de Notas. Como voltasse às actividadas revolucionárias, foi de novo preso e condenado a oito anos de degredo, em Cabo Verde. Notabilisou-se, especialmente, como Poeta Lírico. uComo Poeta Lírico - diz Inccêncio Francisco da Silva, no seu $Dicionário Bibliográfico Luso-Brasileiro* pertence a escola francesa ; os seus versos são em geral, sonoros e bem fabricados e de certo não lhe faltava naturalidade*. É autor das obras; aEpísto1as em verso. Dirigidas ao Reitor da Únivrrsidade D. Francisco Rafael de Cast~on.1790. Inédito; ~Noutetriste a que deu assunto a morte da Exma. Sra. D. Carlota Margarida, filha do Exmo. Sr. Duque de Lafõesn. Lisboa. 1792; $Poesias Líricas*. Lisboa, 1797; usextinas Elegíacas ao sempre memorável estrago da cidade do Funchal, Ilha da Madeira, na calamitosa aluvião do dia 9 de Outubro de 1783%. Lisboa, 1805 ; *Noites tristes de Fileno na ausência de Marilian. Lisboa, 1805 ; {~Zargueidar, Descobrimento da Madeira. (Poema heróico). Lisboa, 1806 ; $Elegia á deplorável morte do grande e incomparável Manuel Maria Barbosa du Bocage*. Lisboa, 1805 : 4Georgeidar, (Poema narrativo). Londres. 1819; $Prazeres de Lisia~.manuscrito, etc.

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Em branda relva o corpo reclinando Cupido triste, um dia suspirava, E, à força de suspiros, que espalhava, Corria o pranto, as flores ensopando. Eis chega Márcia ; e as tranqas arredando Do semblante de Amor, terua e beijava, -*Quem te ofendeu ? a Ninfa perguntava E Amor lhe respondia soluçando. Nisto a Pastora, sem prever sou dano, Chega o menino ao peito delicado Porque não conhecida Amor tirano:


Então batendo as asas, o Vendado Dentre os braços lhe escapa. com engano. Depois de haver-lhe o peito traspassado.

Entrada de Averno (Pérolas soltas) Já se avistam as torres abrasadas

Do Plutónio palácio ardente e feio, E as muralhas créis, incendiadas, Que o cercam e o prendem no seu seio: Sobem aos ares núvens carregadas De sulfúrio vapor, e em quanto cheio Caminha Pan, de assombro, os olhos langa Aos campos infernais que vista alcança. Se te assombras (lhe diz o Horror) de veres O tenebroso tártaro infinito, Que assombro sentirás quando souberes Tormentos que há por todo esse Cocito! É tempo agora, aqui. de conheceres A punição que tem qualquer delito: Aqui pagam os miseros mundanos Os seus crimes fatais, crimes insanos. Aquele que tu vês já macilento A cujas plantas corre o rio astuto, É Tântalo infeliz, sanguinolento, A quem da mão mirrada foge o fruto: De sêde e fome, em hórrido tormento, Punido, assim se vê, do crime bruto De haver com despiedada tirania Feito do filho bárbara iguaria. Aquelas que tu vês, em vão roubando Ao triste rio, as verde-negras águas, São as filhas de Dánas miserando Que assim pagam do seu crime as frágoas: Seus peitos homicidas retalhando Buidos gumes d'aguçadas mágoas, Expiam as traidoras, impias mortes, Dos malfadados, míseros consortes. Aquele cujo fígado devora Negro abutre, carnívoro faminto,


E que aos morsos da fera tragadora Ver não consegue o seu martírio extinto, É vício, que a 1.ascivia sedutora Lançou, da eterna dor, no labirinto; Por pretender violar Latona bela. Entre as garras da Dor. de dor anela. Vês aquele infeliz, que em vão procura Subir do monte à elevação sublime. E que pretende pôr na mor altura O penedo falaz que o dorso oprime; É Sifido cruel, que em pena dura Paga em roubador o torpe crime Que lhe rouba o penedo! eis vem buscá-lo?. . Lá torna o desgragado a carregá-lo! Outros muitos que vês em seus suplícios. Por eternos tormentos laceridos, São os que em lodo de execrandos vícios Viveram, noutros tempos. atolados: Agora nos seus hórridos exicios Expiam os delitos seus malvados. ristes aqueles que se atolam inda Em vícios, sem temer a pena infinda!


Inácio José Correia Drumond (I nácio Correia Drumond) 1768-1830

*Nasceu no Funchal, por 1768 e faleceu em 1830-diz o ~ElucidárioMadeireme>)-, foi nesta cidade escrivão da Correição e esteve no Rio de Janeiro, de 1818 a 1821, tendo desempenhado ai. por algum tempo, o cargo de procurador da Câmara Municipal*. Escreveu e publicou, no Rio de Janeiro, quatro opúsculos, intitulados: <(Sonetos em aplauso ao feliz succsso da completa regeneração da nação portuguesan, Rio de Janeiro, 1821; (Sonetos recitados no Real Teatro de S. João. na noite de 5 de Junho de 1821~; Rio de Janeiro, 1821; eContinuação dos Sonetos em aplauso ao feliz sucesso da completa regeneração da nação portuguesa*, Rio de Janeiro, 1821; continuação dos sonetos em aplauso ao feliz sucesso da conipleta regeneração da nação portuguesan, Rio de Janeiro, 1821. Desta última obra, há uma edição de Lisboa. 1822, com o nome de, <(Continuaçãodos sonetos constitucionais . . . B O s sonetos que transcrevemos. pertencem ao livro: *Continuação dos sonetos em aplauso ao feliz sucesso da completa regeneração da nação portuguesan, existente na Biblioteca Nacional Brasileira e foi-nos gentilmente enviados, por nossa solicitação, para este Espicilégio, pelo Director Geral daquela Biblioteca, o distinto Escritor, Eugénio Gomes.

A Sublime Nação Portuguesa Se à causa da Razão sempre ligada Briosos sentimentos Te animarem Embora essas Nações, que te odiarem Levantem contra .Ti sanguínea espada; Tua glória será mais exaltada Se contra o Teu valor se conspirarem; Se vencer-Te em Campanha projectarem Reduzidos serão, por Ti, ao nada. Para o crime punir, o crime rude D o negro Despotismo, aos maus ligado, Tua grande constância nunca mude. Seja sempre, por Ti. aos Céus levado O facho da Razáo, e da Virtude, Que o Tirano quer ver sempre apagado.


Soneto Ao Ilirstrissi~~ioSeiihor ,Morgado iic~ Carvalhal Esmernldo Reiteticowrt Sa klnchnlio elti cotist.qlreticia de O tereni posto a frc~itcdos hal~iiatites da Cidade do Firtichal da Ilha da ,Madeirn rto fausto dia 28 de Jaiiciro de I821 o firti de sei jurada a Cotistitiricfio qire /izcrntti as Cortt.h de Portitgal

Um Membro da Nação. Nobre e potente. Amante da Justiça. e da Equidade. Dá provas d e firmeza e lealdade A favor da Nação, do Rei clemente. Para o fogo aplacar da Guerra ardente. E manter a feli7 tranquilidade, Ele inspira, no Povo. a Heroicidade, Põe-se o grande Lecor da Tropa a frente. Dos vivas a Naqão, ao Soberano, É Botelho (1) quem solta a voz primeira, O sábio ~ e n e r a l prudente. , humano. Eis se remonta então Águia ligeira. Credora do aplauso Lusitano, A mais firme coluna da Madeira.

(1) O Ilustríssimo e Exceleiitíssimo Senhor Sebastião Xavier Botelho, Governador e Capitão General da Ilha da Madeira, em cujo governo tem dado sobejas provas dos muitos desejos, que tem de fazer a felicidade dos habitantes dela.


Francisco Álvares de Nóbrega (Camões Pequeno) 1772-1806

Nasceu na vila de Machico, sítio da Torre, a 30 de Novembro de 1772 e suicidou-se, em Lisboa. em Dezembro de 1806. Era filho de Domingos de Nóbrega Barreto. sapateiro, natural do Funchal, e de D. Ana Rita de Sampaio. Este notável, quão desventurado Poeta. conhecido pela antonomásia de Camóes pequeno, que <(nossonetos houve poucos, entre nós, que o igualassem, e menos que o excedessem, não o próprio Bocage, que neste género de composição jàmais conheceu rival$,-segundo diz Inocêncio Francisco da Silva-esteve preso, por duas vezes, devido ao fanatismo dominante, tendo na última obtido a liberdade, devido nos famosos sonetos, em número de quinze, com que soube tocar o ânimo do Illonarca. a quem Joram dirigidos>). E autor dos livros: <<Rimasde Francisco Álvares de Nóbrega, natural da Ilha da Madeira*, Lisboa, 1801-1802 (4 folhetos): uAlgore e Ainora*. Novela de Funclhiron (Tradução) Lisboa, 1804; aRiirias oferecidas, em sinal de reconhecimento, ao sr Manuel José Moreira Pinto Baptista, Lisboa, 1804. com 2.a edição, no Funchal, em 1850, feita pelo seu sobrinho, o Poeta, Januário Justiniano de Nóbrega, que a prefaciou, e 3 . a edição, também no Funchal, feica pelo semanário $Voz da Madeiras, em 1958, com prefácio e notas do Escritor e Jornalista, Alberto Figueira Gomes, e uQuadras Glosadas, por Francisco Álvares de Nóbregaa, Lisboa, 1818. (Póstumo). Deixou várias obras manuscritas, entre elas a tragédia uEpominan, que foram destruidas, após o seu suicídio, pelos familiares do Santo Ofício.

Moral De que te serve, ó abastado, ó nobre, Essa pompa, esse fausto de que abundas. Se não podes sarar as chagas fundas, Que o teu perverso coração encobre. Quanto mais feliz é aquele pobre, Que se limita a sensações jucundas, Isento de paixões torpes, imundas, De que é origem sempre o aúreo cobre, Se agora estás em júbilo desfeito, Cedo o teu coração verás que sente Do punhal do remorso, o negro efeito. Por mais razões que o artifício invente, Não me mostres um rico satisfeito, Como eu hei-de mastrar-te um indigente.


Amor Se acaso Amor o Mundo abandonasse, E para o Céu, donde baixara fosse. Quem acharia a existência doce? Quem ornaria do Universo a face? Ele faz com que a flor à flor se enlace, Que o Germen brote, a criação engrosse. Ele nos dá de etéreos bens a posse. Debaixo de seus pés, o gosto nasce. Ao moço estulto em seu limite encerra, Das cãs ao velho aformosea a neve, Ódios, rancores. opressões desterra.

O jugo que ele impõe, e brando, é leve. O seu abuso é que desola a Terra, O seu abuso exterminar-se deve.

A Ilha da Madeira Do vasto Oceano flor, gentil Madeira, Que de murta viçoso o cimo enlaças, Sóbria a teu seio amamentando as Graças Co' o vítreo .suco da imortal Parreira. Daquele. que em ti viu a luz primeira. Se acaso é crive1 que inda apreço faças, Entre o prazer das brincadoras taças, Recolhe a minha produçáo rasteira. É donativo escasso, eu bem conheço; Mas o desejo, que acompanha a of'renda. Lhe avulta a estima, lhe engrandece o preço.

Deixa que a roda o meu Destino prenda;

Em cessando estes males, que padeço, Talvez entao mais altos dons te renda.


José Anselmo Correia Henriques

Nasceu na freguesia da Ribeira Brava, por 1777 e faleceu. em Lisboa, por 1831. Era filho natural de António João Correia Bettencourt Henriques. pai do 1.0Conde do Seixal e irmão de Feriiando José Correia Brandão Bettencourt Henriques, 1.0 Visconde de Torre Bela e Ministro de Portugal na Prussia e na Suécia. Seguiu a Carreira Diplomática. Muitas das suas produções literárias foram publicadas em várias cidades europeias, inferindo-se, por esta circunstância, que tivesse tido residência, em alguma delas, como membro do Corpo Diplomático e fizesse parte da Legação de Portugal, em diversas Cortes estrangeiras, como Londres, Paris, Veneza e Cristiania. Esteve no Rio de Janeiro, quando a Corte e o Govêrno Português se estabeleceu nessa cidade, desempenhando ai alguns cargos importantes, junto do Principe D. João. Foi dotado de rara cultura intelectual e publicou, em Londres, em 1821, um jornal, intitulado: v 0 Zorrador das Cortes Novas*. Publicou: <Obras Poéticasa; {(A Padeira de Aljubarrota~;uperodanan: revolução em Portugal*; <Escola do Escândalon: (<Arte da Guerra9 (Tradução) e uO Charlatianismo ou o Congresso Abolidon. poema heróico em verso solto. (Manuscrito achado num canto d o Palácio das Necessidades, depois das Cortes serem abolidas. em 5 de Junho de 1823). donde reproduzimos um excerto do I Canto: Já a'Alcobaça parte a Comitiva Precedendo o Cortejo a populaça: E Manuel Doutor Tomaz Fernandes O pendão da Reforma trás na frente; Qual porco do Alentejo em pé sustido Pedia vénias, deslocava frases, Dando, de graça, aquilo que não tinha, Quer alto, e baixo a todos senhoria. Em Palaquim de chumbo bem pesado, Com doce1 de Gualdrapas guarnecido, Aos ombros de Patetas e caturras, Vem recostado a Deus Charlatanismo; Segue o Cortejo logo, a passo grave, O génio Botu abaixo da Reforma: Bota abaixo é seu nome, e sem emprego Tem por oficio ser no Ministério Da vif Estupidez o Conselheiro: Mais prontos a destruir o que está feito, Do que manter em pe o começado. É seu maior talento, e qualidade, Milhões de planos inventar por dia. Mas outros tantos desmanchar à noite.


Na esquerda não trazia a picareta; Na direita o machado trás alçado; Já pronto a demolir o que está feito. Tal atrás do Cortejo vem airoso. Em cavalo rabáo de raça inglesa. Medindo o seu terreno. palmo a palmo: Qual o gageiro na Semana Santa. Sai de Sam Roque ao som das apoupadas. Da corja brejeira1 de mil garotos; Tal pois se apresentou neste Cortejo O génio dos papalvos Bota abaixo. Segue depois o Moura, com seu bando; Borges Carneiro, falador eterno; Alves do Rio, com Ferreira Borges; A récua matuta pertendente Da muita milagrosa moeda d'oiro. O Coronel Sepúlveda, com Cabreira, As armas apresentam sem demora; E vivas dão tambores e soldados; Sem saberem a quem as vivas davam. Nas tascas do caminho, e das aldeias, A continua algazarra retenia; Mil hinos Bacanais a liberdade Soam em ecos muito além dos mares.


Luís António Jardim

Nasceu no Funchal, por 1780 e faleceu nesta mesma cidade, a 14 de Fevereiro de 1825. Era Bacharel formado na Faculdade de Leis, da Universidade de Coimbra e exerceu a advocacia no Funchal. Foi sócio da usociedade Funchalense dos Amigos das Ciências e das Artesn e Deputado, por esta Ilha, às primeiras Cortes Constituintes, em 1822. Cultivou a poesia, sendo um poeta de mérito, autor de dois livros que são hoje muito raros, intitulados: *.Parabéns Poético-Políticos, à grandiosa Regeneração Portuguesa, na coogratulante Aderência da Ilha da Madeira, em 28 de Janeiro de 1821, no Teatro Grande do Funchalo. Funchal, 1822 e .Colecção Poéticao. Funchal, 1822. Tem uma poesia inserta no livro flores da Madeirao, colectânea de poesias de vários Poetas madeirenses, da autoria do Cónego Alfredo César de Oliveira e Dr. José Leite Montriro, publicada em 1871-1872.

Décimas Menos perco em te perder Do que tu em me deixar; Perco quem sabe ofender, Tu perdes quem sabe amar.

Quem chega a ver resgatado O bem que perdido teve Só perdido julgar deve O tempo mal empregado. Minh'alma tinhas roubado, Resgatada a chego a ver: Perdi só tempo em te ter Consagrado um amor louco; Se em te amar perdi pouco, Menos perco em te perder.

Teu injusto, ingrato peito, Onde reina a tirania, Fez já tarde o que devia Há muito tempo ter feito: Eu me dou por satisfeito De te ver assim chorar;


Nem m e resta alguin pesar, Antes mais gosto senti Em me ver livre de ti Do que tu em me deixar.

Como jámais conheceste O justo preço do amor, Mal conheces o valor Da perda que em mim tiveste; Sabe ingrata que perdeste Da vida o maior prazer: Tu perdeste em me perder Quem sabe amar com fé pura: Eu em perder-te.. . oh ventura! Perco, quem sabe ofender.

Se uso não fiz da razão, Quando a amar-te comecei. Agora dela usarei Sobre a tua ingratidão; Em feminil coração Fé jàmais pretendo achar; Pois me chegaste a enganar Com aparências de grata: Mas eu perdi uma ingrata. Tu perdes quem sabe amar.


João Nepomuceno de Oliveira (Jonino) 1785-1846

Nasceu nesta cidade, a 15 de Maio de 1785 e faleceu na freguesia do Campanário, a 17 de Setembro de 1846.

Era filho do Poeta e Escritor, Francisco Manuel de Oliveira Mayringk e Mendonça e de D. Joana Rosa de Me10 e sobrinho do Escritor Manuel Teodoro de Oliveira Mayringk e Mendonça. Exerceu, no Funchzl, os ofícios de Juiz da Balança e Contador Geral da Junta da Real Fazenda. uJoão Nepomuceno de Oliveira-diz o uArquivo Histórico da Madeiras -pertence literàriamente, ainda ao Século XVIII, a época das arcádias, dos poetas mascarados de pastores. Ele próprio. em certo lugar do seu livro, se intitula bucòlicamente Jonino. palavra com feição de anagrama, e que lhe serviria para poetar nalguma academia insular. se mais cedo tivera nascido. Seus trabalhos líricos são por, consequência, muito inspirados nos corifeus da escola francesa. e a sua preferência por Bocage, denuncia-se num verso deste, intercalado com os próprios,> Publicou um livro de versos, i n titulado: uPoesias Ternas e Amorosas, Oferecidas a uma Senhoras. Lisboa, 1824-1825, e traduziu e publicou a novela de Gabriel de Legouvé, uBranca e Isabel ou as Duas Amigas*. Funchal, 1841 e o romance pastoril de João Pedro de Florian, uEstela~.Funchal, 1842.

Idílio Se em lugar de carinhosa Tu foras, Marília, altiva; Se por arte, e não por génio Te mostrasses compassiva; Oh quanto. Marilia bela, Fora feliz minha estrela! Teu agrado me encantou, Quanto se engana o mortal! Eu julguei-o privativo, Mas teu agrado é geral: Oh quanto. Marilia! oh quanto Me alucinou esse encanto! Seasivel por condição Todos tratas com doçura, E eis porque sem reserva Me trataste com ternura; Quanto fui alucinado Em julgar-me exceptuado!


Como não era comum A bondade que em ti via. Julguei que o teu coração Só por mim se enternecia; Caro agora pagarei O tempo que me enganei. Sabes porque de vergonha Não cubro, ó Marilia, a cara? É porque no meu lugar Qualquer outro s'enganara; É preciso conhecer-te Para justiça fazer-te! Em fim,Marília, o meu erro Merece a tua desculpa, Porém se eu sou criminoso Anibos nós temos a culpa: Eu por ser mui excessivo, E tu por certo motivo.. .


Lília Amada

Nasceu na Madeira. e m data que desconhecemos. Lilia Amada é o pseudónimo de uma distinta Poetisa, cujos dados biográficos ignoramos. Escreveu um pequeno volume de poesias. datadas de 1834, que ainda se encontra inédito. Viveu no tempo das lutas miguelistas. Foi uma convicta liberal, segundo transparece, em muitos dos seus versos. Pcdro e Maria. eram os dois heróis, a quem no seu peito levantara um altar. O seu livro intimo, foi talvez escrito em horas tristes e amargas ou em horas de contentamento. Lilia foi uma Poetisa de pensamento alevantado e os seus versos, na sua maior parte amorosos. possuem harmonia e sentimento. Eis quatro sonetos da sua autoria: Amarga e tristemente o Funchal jazia Preso. vilipendiado, agonizante, Lamentava seus filhos ver distante Da Pátria desditosa que a dor pungia! Despotismo feroz! Dores de agonia Sua f'rida laceravam penetrante! Exausto já, perdido e delirante, A face lacrimosa cora mão cobria! Surge enfim uma aurora suspirada! Gosa lindo Funchal os bens que avulta Desse Pedro Imortal a dextra armada? Pedro desfaz o manto que te enluta! Há vitória que o segue acrisolada O tirano baqueia, Funchal exulta! Parte aos lares, suspiro meu, ditosos Do meu Bem que severo esconde o fado: Entrega-lhe de Lilia um ai cançado Nos seus lábios expira carinhosos! Vem querido alegrar olhos saudosos! Teus encantos gosando o Bem Amado, Só da morte fatal o rijo brado De Lília os dias fizera desditosos!


Teu peito, doce império da ternura Onde as graças mimosas têm morada D e Lilia abrandar pode a sorte dura!

Ah! Se um dia por tua mão fosse afagada! Outro bem não quizera, outra ventura Q u e ser do meu Querido. sempre amada. Pode o meu coração de ti distante Suportar da saudade mau rigor, Meu peito não sucumbe ao susto. à dor Se da esp'rança me olhar meigo semblatite. Mas ah! se Lilia fiel, Lília constante Laborar visse teu peito outro ardor! Se tu perjuro fosses ao amor Com que soube adorar-te Lilia amante.. Q u e penoso tormento, que ansiedade Lília triste sofrera, sem ventura, Perdendo, por um falso, a liberdade! Mas não: teu peito não sente a impostura. És grato a minha fé. minha amisade, Lilia desce feliz à sepultura. . .

A Celeste mansão dum Deus morada Onde a pura virtude tem assento, Chegue dum terno peito o sentimento Se dos mortais lá tem a dor entrada! Jónio, colhida flor na madrugada! . . . De quem choro o fatal apartamento, No fido córaçáo pesa o tormento Da saudade que sofro amargurada!

Da morte sucumbido.. . à foice dura Contigo me levas-te a doce esp'rança De um amigo possuir! Que desventura! Ah! Se através das sombras, Jónio alcança! Veja que Lilia s6 na sepultura Do Amigo perdera terna lembrança.


Emília Acciaioly Rego Sénior

Nasceu na Madeira em data que desconhecemos e faleceu, por 1877. Era filha do Coronel Filipe Acciaioly ajudante de Ordens do Capitão-General da Madeira José Lúcio Travassos Valdês, depois Conde de Bonfim, Governador da Madeira, em 1827, e de D. Ana Goleta de Freitas Acciaioly e irmã do Tenente-Coronel Filipe Joaquim Acciaioly, Conselheiro da Perfeitura da Madeira e esposa d c Capitão António Francisco Rego e mãe da Poetisa D. Emilia Acciaioly Rego e avó da Professora de Coreografia e Poetisa D. Maria Eugénia Rego Pereira. $Era esta senhora-diz o Escritor Alberto F. Gomes-muito distinta e culta, dada as musas. Todavia são pouco conhecidas as suas produções poéticas. Do que está publicado. adivinha-se um espírito delicado e sensível, que particularmente se comprazia diante das manifestações d~ natureza*. Deixou um livro de versos. cujo título ignoramos e tem uma poesia inserta na Colectânea *Flores da Madeiran. publicada, nesta cidade, em 1871, pelo Cónego Alfredo César de Oliveira e Dr. José Leite Monteiro.

Arco - Íris Géitesis, 12, 13.

Formoso arco celeste, Que. nos céus, te vais curvando, E o alto firmameato De mil cores matizando! Aquele que com seu sopro Tão acima te elevou, E com variadas tintas Sabiamente te pintou,

Aquele que te sustenta Com tanto brilho e beleza, Foi coberto em sua vida Com o manto da pobreza. Aquele que te curvou De modo mais magestoso. Foi condenado a morrer Como um facinoroso.


Com o seu sangue inocente O seu rosto foi manchadoEsse precioso sangue Que por nós foi derramado. Todo, o calix daflição Sobre ele se esgotou; E para nos libertar Em torrnen tos expirou.


José António Monteiro Teixeira (Jereboão Pancrácio dlEscarcanho) 1795 -1876

Nasceu no Funchal a 27 de Dezembro de 1795 e faleceu nesta mesma cidade, a 31 de Maio de 1876. Era filho de José António Teixeira e de D. Ana dos Anjos Teixeira. Estudou num afamado colégio da cidade de Pau (França). desde 1808 a 1814. Foi vereador da Câmara Municipal do Funchai e exerceu, nesta Ilha, o cargo de Consul da França. Recusou todas as honrarias, com que pretenderam distingui-lo, tendo, por esse motivo. o Govertio Francês, mandado cunhar uma medalha especial, de ouro, com que o agraciou. pelos serviços prestados e alto apreço pelas suas qualidades pessoais. Foi amigo de Chateaubriand, Béranger, Mery, Barthelemy e Castilho. cultivou especialmente e género epigramático-diz o ~ElucidárioMadeirense* -e nos volumes de poesia escritos em língua portuguesa, quase que não se encontram composições estranhas a este género. Foi um distinto discípulo de Nicolau Tolentino, rivalizando muitos dos seus versos com as melhores composições d o Mestre*. Usou os pseudónimos de Ierebofio Pniicrácio d'Escarcanho, Barão das Caramelas e \oito Fernandes de Camarmellas. Publicou: uO Monte e a Água de Lourdesn. Funchal, 1844; uManual dos Romeiros da Novena de N . Senhora do Monte*. Funchal, 1845; uA Água de Lourdes*. Gibraltar. (Sob o pseusónimo de Jereboão Pancrácio drEscarcanho, Barão das Caramelas); uA Feira de São Pedron. Folhetim publicado n' $0Clamor Público*, de 9 de Julho d e 1855, sob o pseudónimo de João Fernandes de Camarmellas; <Obras Poéticaso. 1848 e 1849; uOvres Poétiquesn, 1861: eNeuveau Récueil de Poésies en Françaisn. 1871.

Soneto O Padre Nosso da Donzela. anciosa por depor a coroa virginal.

Padre Nosso. que estás no Céu sentado, Tendo ao lado a Santíssima Maria, Por todo o mundo, em coros de harmonia Seja sempre o teu nome abe~çoado!.. . Tua vontade cor espontâneo agrado, Seja feita na terra. co' alma pia; E, dos anjos. no Céu a Confraria, P'ra amar-te mostre um zelo acrisolado!. . .

O pão de cada dia. nãd te peço; Nem, do perdão de meus pecados velhos, Te pretendo fazer hoje o pedido:


Não: isso, porque tanto me iiiteresso. Isso, por que imploro, a q u i . de joelhos. É que me dês, quanto antes, u m . . . marido!!!

Apólogo A BOLOTA, E O COGUMELO

Do mais alto de um carvalho Uma bolota caíu, E com seu peso e dureza Um cogumelo feriu. Brada-lhe este:-uBem

podias

Já cair aí além:

Sabes que entre companheiros São atenções que se tem.-* Chamas-me a mim companheira! -Torna-lhe o fruto orgulhoso:4A mim, filha deste tronco Nobre. antigo. e magestoso? ! * &Vilplebeu ! . . . que em tiia inópia Nem sequer sabes o que és! o Que brptaste de entre os vermes Que nasceram a meus pés ! . . . o

O cogumelo replica:

- e Sou de incógnita ascendência,

Bem o sei. mas eu figuro Nos banquetes da opulência:

E a despeito de nobreza De teu pai, de teu avô. É só p'ra os dentes dos porcos Que a floresta te criou-~ Quantos parvos, cujos pais Foram da pátria ornamentos !. . . Quantos homens imortais Veem de escuro nascimento!. . .


Eduardo Ernesto de Carvalho

Nasceu na Madeira. em data que ignoramos e faleceu por 1879. Eduardo Ernesto de Carvalho foi um Poeta de boa cultura literária, muito versado em mitologia. O s seus versos são bem fabricados, harmoniosos e emotivos, com tendências parnasianas. Foi amigo do Poeta, Escritor e Professor, Marceliano Ribeiro de Mendonça, tendo. quando este faleceu, dedicado-] he uma sentida poesia, intitulada, uUma Lágrimas. Colaborou na imprensa do Funchal, nomeadamente n' <O Jornal do Comércios, correio do Funchal*. (<Diáriode Noticias*. uImprensa Livre$, uO Direito* e tem versos insertos no AI b u m Poético e C haradístico~e <A1bum Madeirense*, de Francisco Vieira, publicado nesta cidade. em 1884. O

Praia Pousava já na areia a forte calma ardente, pesada estupidez dum prolongado agosto, e passava-me nalma a sombra dum desgosto; -se o sono a prenderia em repousar dormente ...quando ela apareceu! nuvem resplandecente, rasgada pelo olhar que lhe ilumina o rosto! A luz crepuscular dum raio do sol-posto mais pálida não é que essa visão dolente. Ó Deus. dois mundos tens à sombra dessa cruz; um tem a tempestade, o outro tem a lur: refulge o mundo dela. e brame o largo mar.

Como este é grande, aquele. imenso e magestoso, -Senhor, qual é mais vasto. e fundo, e caprichoso, o abismo do oceano, ou a luz daquele olhar?


Arsénia de Bettencourt Miranda ?

- 1880

Nasceu na Madeira, em data que ignoramos e faleceu em Junho de 1880. Era filha do Genealogista. Felisberto de Betencourt Miranda e de D. Arsénia de Sousa Miranda e irmã do Comendador, Luís de Betencourt Miranda. O Poeta Luis de Ornelas Pinto Coelho. no final da sua poesia, intitulada: *Na prematura morte da ilustre Poetisa D. Arsénia de Beteucourt Mirandar, composta em 8 d e Junho de 1880 e inserta no seti livro uHarpa Madeirenseo, diz: Foi modesta e gentil, qual violeta: todo o brilho celeste do talento na fronte lhe sorria; teve na alma os sonhos do poeta. traduz-lhe a vida inteira um pensamento: -Virtude e poesia. Os seus versos são. em geral. um pouco extensos, mas leem-se com gosto, por possuirem vibratilidade e fugirem ao banalismo piegas do seu tempo. É autora do folhetim em verso, <Aos Pessimistasn e colaborou no uDiário de Notíciasr. em 1876 e tem 4 poemas insertos no uAlbum Madeirenser, de Francisco VieiIa. publicado nesta cidade, em 1884.

O Espelho Vidro puro. tão lustroso. Brilhante. liso, polido. Quantos olhos te namoram! Como és cuidado e querido! Ama-te a doida criança, Ama-te a alegre donzela; E ;i mulher lânguida. triste. Rica, pobre, feia ou bela: Janota vivo, elegante, Homem grave, sério, velho. Todos,-com pena ou vaidade,Todos te miram.-espelho!

E mesmo que feio sejas Sempre tens adoração: Será escondida magia Que te dá essa atracção?


Ou tenhas moldura custosa, doirada, Bonita, lavrada com graça e primor; Ou seja uma tira de simples madeira Que vá bem ligeira, cingir-te em redor; O s olhos divagam por ela, anciosos. Depois, curiosos se volvem p'ra o centro; Em breve se esquecem da tua moldura Por essa figura que surge lá dentro.

E tu. franco sempre, só dizes verdades; Lisonjas, vaidades, não nascem ai: Fotógrafo exímio, tu és sempre exacto. No vivo retrato, que mostras em ti. Refletes, as vezes, um rosto animado, Brilhando inspirado, damor e candura: Uns lábios rosados, uns olhos brilhantes, Feições radiantes de graça e frescura! Porém, outras vezes, oh Deus de Bondade! Muita fealdade retrata, o h sim! Um rosto grosseiro, uns olhos sem vida. A boca esquecida, disforme,-sem fim!-

E todos,-mas todos,-bonitos e feios, Nos mesmos anceios te vão consultar; E, amam-te sempre,-embora a vaidade D'alguns, com verdade, se sinta humilhar. Possues grande encanto, pois todos fascinas; E tudo dominas. com o mesmo poder Do orác'lo, que outrora, também consultado Podia. inspirado, verdades dizer. Agora, entre os homens, - se algum com rudeza Da grande fraqueza, defeitos notar Num outro a quem fale;-já fere a vaidade E pode aoamizade no ódio trocar! Já se vê que tu podes

(Por encanto ou por magia) Adquirir simpatia Sendo franco;-mas talvez, Que o mesmo fim consigamos Se tratarmos com desvelo, De tomar-te por modelo Na franqueza e polidez.


Miguel Manuel de Ornelas e Vasconcelos

Nasceu na Madeira, em data que desconhecemos e faleceu no Funchal. a 3 de Outubro de 1889. Exerceu o cargo de solicitador na Comarca do Funchal. tendo-se reformado em 1889. Publicou, nesta cidade. em 1887. um opúsculo de dez páginas, intitulado: ~ O r i gem da Ilha da Madeira*, cujo argumento vem inserto no 4Elucidário Madeirense~,para se avaliar o merecimento dessa obra. Em 1888, publicou, tambtm nesta cidade, outro opúsculo. intitula.lo: ((0Múcio Português, ou a rápida história do imortal Roque Antunes. primeiro mártir da Guerra da Restauração, dedicado à briosa Mocidade da Naqão Portuguesa)). Eis um trecho desse poemeto épico:

Argumento do canto único Rein~ramesses Filipes, pouco importa. Deles nada nos diz a história; que direis? Vamos à resurreição da pátria morta, Às mães dos heróis, viva a Raínba, vereis, João Pinto Ribeiro que o brado solta Ígneo sinal da luta dos parceis,' Morra o traidor que a pátria escravisa Aos pés da chorosa Duqueza Mantuísa.

Canto único Tinham os leais vassalos procurado Que o Duque sisudo de Braganga Desse vida à Nação, já libertado, Se considerava o povo ser na confiança Com que falava. porém, Ele não era apressado Em fazer reinar a casa esperança. Mas a consorte que o sonha um azinha Prepara- se para sempre ser rainha.

Quando a Excelsa D. Luiza adivinhou

O que já surdamente bramia, fuzilava,


Trata de mostrar-se tal que encantou Do esposo o coração, com nova traça. Os amores pondo revoltos o incitou. Mais gentil Vénus. Ele a beija. abraça. E com o seu chegando, o rosto querido Foi o fogo redobrado acendido

Querido Duque, esposo meu. a gloria De ser Rainha, ainda que um só instinte Me faz louca de alegria, mui vaidosa Não temendo dano algum por bastante Que seja o perigo. não sou já receiosa. Jubiloso amor te mostro mui contente. Dá-me palavra de fazer o que te peço. Da liberdade rica ao povo opresso.


Francisco João Henriques Moniz (F. H. Moniz) ?-1884?

Nasceu na Madeira, em data que desconhecemos e faleceu, no Rio de Janeiro, por 1884 ? Era pai do P . c Patricio Moniz, ilustrado Sacerdote Madeirense. Representou a Madeira. nas primeiras Cortes Constituintes. de 1821 a 1822. Foi escriturário e depois contador da Junta da Real Fazenda, tendo embarcado para o Brasil, em 1828, para fugir as perseguiqões Miguelistas. pois professava ideias liberais. Desempenhou o cargo de Vice-Consul de Portugal. no Rio de Janeiro e foi um dos benfeitores da Beneficência Portuguesa. da mesma cidade. Foi um dos Autores do livro uA Antoneidah. no qual colaboraram João José Vieira. Luiz de Bettencourt Miranda. Afonso Dias de Va~concelos.João Silvestre Moniz e Pedro Cândido da Silveira. Pertenceu à @Sociedadeda Primeira Gente do Mundoh. que se reunia numa propriedade, no sitio do Desterro. freguesia do Monte. pertencente ao falecido naturalista, Joáo Maria Moniz. Colaborou n' o 0 Defensor da Liberdaden. em 9 de Junho de 1827.

Soneto As boas notícias que trouxe o último paquete, tendentes à CONSTITUIÇAO, e as melhoras da Sereníssima Senhora Infanta Regente.

Embora tramas mil urdam insanos, Que os rasteiros grilhões em si desejam; Embora Boazos vis. baixos, protejam, Quem anela fazer os nossos danos; Pois tem dfAfonso o Deus lá dos arcanos Da Lisia as ditas, que entre nós adejam. Não sucumbe ISABEL. como forcejam, Sob a CONSTITUIÇÃO bramem titamos. Defender a Liberdade é cousa justa; Ela aos homes convém, pois Deus lhfa dado; Manter o próprio bem a ninguém custa. Se é um Rei. que seu Povo há libertado; Se é PEDRO que tiranos hoje assusta. Dele após seja o Mundo frenteado.


Soneto Ao E x i t i o . Sr

1. I.. 'fr~rnvnssosL'nldcis. hoje Go-

ixcrtiador P Capit~o-Generaldesta Prov~ticia.

Não te assustes, Madeira. Pátria amada, Dos bastardos co'as vozes cavilosas; De suas invectivas não p'rigosas, Só te cumpre zombar louri c'roada. Jamais tu podes ser agrilhoada: De PEDRO hão de existir nas Mãos Poderosas, De teu governo as rédeas gloriosas. Quer seja Lisia escrava, ou libertada. Quem seguir a Valdês, é digno Luso: Ele a Pátria fiel, ao Rei sujeito, Jamais o mandará tirano intruso!!!

Sim, Pátria! de Valdês tu lês no Peito Aquilo que dizer-te eu julgo escuso: És livre com Valdês, por força ou geito!


Maria Amélia de Oliveira Pais (Maria Amélia Pais)

?-I890

Nasceu na Madeira em data que desconhecemos e faleceu no Brasil, assim como seu marido, o Poeta madeirense, Manuel Gomes Pais, vitima da febre amarela. Era filha de José Pereira de Oliveira e irmã do Poeta José Pereira de Oliveira Júnior. Colaborou no Almanaque de Lembran~asLuso Brasileiro* e tem versos insertos na 4Revista Literária*, de 1902.

novo

Afectos:. . . A minha filha Elisa .41,ielin I'nis

(Ai! flor de neve com doirada coma! Que alvor! Que aroma! Se não perde aqui! Ai! rosa minha de matiz vestida; Que amor! que vida! que sonhei por ti!

T. RIBEIRO.

Glosa Tu és na vida a minha esp'rança bela, Tu és a estrela que no céu assoma, Tu és no pranto meu, conforto breve! Ai flor de neve com doirada coma! Tu és um riso no sacrário dalma, Tu és a palma que damor colhi!... Se um dia a sorte te roubar em suma! Que alvor! que aroma! Se não perde aqui: Tu és o lírio da mimosa pola, Tu és a rola descantando a vida. Tu és a imagem que meu peito aninha. Ai, rosa minha, de matiz vestida! T u és a nota que murmura: E1isa;Tu és a brisa que meu seio hauri !... Rosa dlAbril entre flores nascida; Que amor! que vida! que sonhei por ti!


Manuel Gomes Pais (Gomes Pais) ?-I890

Nasceu na Madeira, em data que desconhecemos e faleceu. no Brasil, vitima de febre amarela. Foi Poeta e Prosador de merecimento. Almanaque de Lembrangas Luso-Brasileiron, uAlbum PoéColaborou no &NOVO tico e Charadisticon. de 1883 <Almanaque da Madeira*, de 1884, donde reproduzimos esta sua poesia e uAlbum Literárion, de 1885.

Flor do Oceano (A. Joaquim Pestana)

Pérola encantada! Ilha formosa! Raínha destes céus e destes mares! Ingrata para os teus!... mãe carinhosa Dos louros filhos das nagões polares ... Que, deixando um pais nubloso ... escuro Buscando veem paragens mais amenas. Até que em teu seio generoso e puro Encontrem lenitivo ãs suas penas! Hospitaleira mãe do viajante. O qual, dum a outro polo o mar sulcando. Aqui te encontra ... qual bondosa amante, P'ra o desejado esposo caminhando! Estância venturosa! pátria amada D e ilustrados varões, cuja memória Será eternamente respeitada Por quem ler. sem paixão a tua história. Tiveste outrora a glória que inebria ... Eras pod'rosa e bela! eras contente! Hoje? uns longes, uns vivos dalegria Mostrando o teu sofrer interminente! Como todas as mães, filhos ingratos Abriga teu seio de mimosa fada! Que, sem pudor te olvidam, te dão tratos, Como se foras mãe desnaturada!


Que em lutas pueris passando a vida O u na orgia, no jogo e lupanares Dissipam a fortuna já esvaida Privando de calor os próprios lares! Mas vendo-se a final do abismo a beira E o horizonte da vida a escurecer, Da sua desventura a história inteira A estranhas regiões vão esconder! Lá, nessas tristes e crueis paragens, Ingrata e dura terra arroteando. Junto coros escravos e selvagens. Vão os erros passados lamentando!

Se má estrela persegue e acompanha O miserando e pobre aventureiro, Não há p'ra o desditoso terra estranha. É sua pátria adoptiva o mundo inteiro!... Mas trocar pela campa a estância pura. Deixar, dos seus, afectos e carinhos... E ir a uma plaga inóspita e dura Chorar saudades do paterno ninho ... É excessa ambição! é desatino, Expor-se da fortuna, aos vis azares!... Mas o argonauta após o velodno Morrer não teme ... vai sulcando os mares!

Ícaro na prisão cora vida incerta As asas exp'rimenta ... e presunçoso Do negro labirinto se liberta, E noutro vai cair..; mais desastroso. Tal o desventurado a quem a sorte Por toda a parte perseguindo vai: Ancioso almeja a fortuna ... ou a morte Até que descrido, no abismo cai!

Nobre Flor do Oceano! essa beleza ... Os teus atractivos. .. teus encantos Oferceu-tos a sábia natureza Digna doutros louvores, doutros cantos.


José Pereira de Oliveira Júnior (José de Oliveira)

Nasceu na Madeira, em data que desconhecemos. Era filho de José Pereira d'Oliveira e cunhado do Poeta. Manuel Gomes Pais. Colaborou no ~ A l b u mPoético e Charadistico*, publicado nesta cidade, em 1883, ~ A l b u mLiterário*, publicado, tambem nesta cidade, em 1885 e noutras pubIicações locais.

O mês de Maria i\'

tninhn sobrinha Maria Bela Pais.

Ei-10. entre fulgores. corre. voa em mil adejos. vem entre aromas e flores surgindo em aureos cortejos! O s bosques têm mais verdura, tem a rosa mais candura. o coração mais ventura; pleno o peito de desejos! Vamos, todos meus irmãos, orar a Virgem dos céus. É mês de graças e bençãos, vinde, vinde filhos meus à Mãe que tanto nos ama!... que sobre a terra derrama, do seu amor terna chama, no seio dos filhos seus!... Ontem. pendida d o chão, pobre florinha inocente! açoutada do tufão! crestada do sol ardente! Hoje, na haste formosa, já saúda pressurosa a Virgem! Mãe carinhosa! que mitiga a dor pungente! Corre, corre, meli anjinho. as matisadas campinas; colhe também um raminho, das flores mais peregrinas;


vai com respeito e fervor, aos pés da Virgem depôr, cantar-lhe um hino de amor, ao som das harpas divinas! P'ra que o nome de Maria, se grave em teu coração, brilhe em teu rosto alegria, no fundo dalma o perdão; e floresqa no teu peito, este puro amor-perfeito, todos os dias no leito faze-lhe esta oração: -40' doce Mãe de Jesus, refúgio da humanidade: ó mensageira da cruz. ó farol da eternidade, guiai-me no mar da vida. onde vagueio perdida entre escolhos envolvida, ai guiai-me, por piedade!*


Sérvulo Drumond de Menezes

Nasceu no Funchal, a 23 de Dezembro de 1802 e faleceu, nesta mesma cidade, a 13 de Janeiro de 1897. Era filho de João Nepomuceno Correia Drumond e de D. Maria Isidora de Menezes Brito e sobrinho do Poeta Inácio José Correia Drumond. Foi nomeado, em 1826, Escrivão do judicial, e, mais tarde, depois de proclamada a Constituição, Advogado Provisionista. Foi. rambém Presidente da Câmara Municipal d o Funchal: Procurador a Junta Geral: Secretário Geral do Govêrno Civil: Governador Civil interino e Redactor do jornal <Flor do Oceano*. publicado em 1828. Colaborou n' o 0 Regedor$, i A Ordem)>e noutros periódicos madeirenses. Publicou a ~ C o l e c ~ ãde o Documentos relativos ao Asilo de Mendicidade d o Funchal~.Funchal, 1848; a ucolecção de Documentos relativos a Crise da Fomen. Funchal, 1848; a ~Colecçãode Documentos relativos a construção da Ponte do Ribeiro Seco». Funchal, 1848 e os volumes 1.0 e 2.' da obra intitulada, uUma Época Administrativa da Madeira e Porto Santon. Funchal, 1849 e 1850. Deixou várias peç-as de direitr administrativo e civil, umas inéditas, outras irnpressas a vulso. Foi cavaleiro da Ordem de Nossa Senhora da Conceição. Cultivou as Musas, na mocidade, tendo algumas poesias insertas na colecção de d'algumas obras poéticas oferecidas ao 111.1110 e Ex.ilio Sr. Sebastião Xavier Botelhon. Funchal, 1821 e na Golecção de Manuscritos que Joaquim Pedro Cardoso Casado Giraldes legou a Academia de Ciências de Lisboa, donde reproduzimos este soneto:

Da feia ingratidão o vil delito Conquanto ingrato, em prazer banhado O s dias passo, cheios de doçura, Vai-me conduzindo, à fria sepultura, Mortíferas Zedas, que me has cansado: Meu coração triste, e desgraçado, Pouco a pouco vai perdendo a ternura. Com que. então. a minha feliz ventura A teus desejos tinha-a já ligado. Assim mesmo minha alma ainda persiste Em amar-te, cruel, té o infinito, Para dobrar a justiça que me assiste; E ao muncio mostrar (que me olha fito) Que em mim existe Amor. em ti existe Da feia ingratidão. o vil delito.


Germano Francisco de Barros Henriques (Germano Francisco Dee)

Nasceu na freguesia do Estreito de Câmara de Lobos. em 1805 e faleceu, em 1856, vítima do cólera morbus. Era filho de Francisco Policarpo de Barros Henriques, Amanuense e Professor público em Câmara de Lobos, e de D. Luiza de Barros Henriques. Foi Escrivão, Professor público, Escritor e Poeta de mérito. Distinguiu-se, também. como poliglota, falando correctamente vários idiomas. entre eles francês, inglês, espanhol e latim. uEra dotado de génio poético,-disse o Poeta Joaquim Pestana, no *Novo Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiron-compondo versos com rara facilidade. A sua predilecção era o soneto, mas pendia quase sempre para a escola de Filinto~. Escreveu um livro intitulado: lições de Arte Poética>)e colaborou n' uA Discussão* e *Novo Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro$.

Ao Suicídio Pôde a sábia mão Omnipotente Formar da massa rude esta grandeza, Com taqtas perfeições, tanta beleza, Que aos olhos dos mortais é pasmo ingente. Pôde o barro animar, e de repente Mudar-lhe a velha em nova natureza; Sem que, das obras suas na certeza O homem reconhece este presente. Debalde o homem, frágil criatura, Ostenta no composto a imagem sua, Quando um Deus imitar em vão procura. Quem fez os céus, a terra, o sol e a lua? -Deus!-E o homem que faz?-Com mão impura Dá na própria existência morte crua!

Soneto Ao Faustíssimo Dia 16 de Setembro de 1855, Aniversário Natalício e de Coroacão de Sua Majestade Fidelíssima, o Senhor D. Pedro V.

De Júbilo se veste hoje a Madeira Ornada com emblemas da Vitória; Fauste recordação de Pedro, e Glória, Que aos males da Nagão vai pôr barreira.


Herói, Fruto de Heróis, segue a carreira, Que lhe apontaram Lusos Reis na História; Seu nome eternizar, fama e memória Vai Pedro. Jóvem Rei, Delícia inteira Progénie Excelsa vive! aclama o povo; Para aplacar as Cinzas tão Queridas Dessa Árvore Real, de que és Renovo! Viva! e lembrem-se os falsos Regicidas, Que se demos um Sceptro a Pedro Novo. Outro Pedro o ganhou com sangue e vidas!


Lino Nicolau de Atouguia (Lino de Atouguia) ?-?

Nasceu na Madeira no 1." Quartel do Século XIX. O morgado Lino Nicolau de Atouguia, foi um Poeta de mérito, que gosou de muito prestígio, no Funchal. As suas poesias encontram-se insertas na iColecção de algumas obras poéticas$, aferecida ao E x . m o Sr. Sebastião Xavier Botelho, em 1821 e no periódico, uO Progressista*.

O Poeta Mal que nasce no Oriente. Aurora fresca. e dourada, Eis que salto em continente. D o leito: onde repousava. A poesia na mente, Acordou sobresaltada, Ai! poeta o teu fadário É ser pobre; e escrevinhar. Chamam caminho de. flores A viagem d o poeta: Dizem que entre louvores Vai chegando a sua meta: Chamam-lhe o cantor de amores, Provindo em linha directa, De Apolo, e das Musas belas. Porção das claras estrelas. Chamam-lhe Ente afortunado Que do Aganipe na veia Bebeu do licor sagrado Que o estro lhe aformosea: E num êxtase elevado Em chama que mais se ateia, As acções dignas de glória. Põem no templo da memória. Dizem que tanto os inspira Aquelas águas divinas, Que tangendo a maga lira Sobre as cordas argentinas,


Amante infeliz, que delira Damor em âncias mofinas, Da lira ao som adormece, Quando acorda, a ingrata esquece. Dizem mais, que a poesia É dom sobre-natural, Que se náo dá, nem se cria,

Em concepção animal: Que o poeta é alegria Do estado social, Do vicio castigador. Da virtude o defensor: Que houve um cantor tão famoso Que as terras crueis domara, Que outro cantor mais ditoso N o cocyto penetrara: Soltando a voz maviosa, Que Plutão s e descuidara, Do férreo Sceptro da morte, Dando a esposa ao seu consorte. Que o poeta imortaliza O seu nome e outros mais, Que é tão doce como a brisa Que afugenta os temporais, Oh! como errado ajuiza Quem concebe ideias tais, Poeta foi sorte minha, Vivo assim, vida mesquinha. Poeta! é um Ente humano, Nada tem de Ser divino, Se lhe não chamam profano, É porque teve o destino De ser das Musas ufano, De ter de Apolo o ensino. *Também o padre é sagrado, #Vive sujeito ao pecado.


Matilde Isabel de Santana e Vasconcelos Moniz e Bettencourt (Viscondessa das Nogueiras) 1805 - 1888

Nasceu no Funchal, a 14 de Março de 1805 e faleceu, nesta mesma cidade, a 23 d e Dezembro de 1888. Era filha de José Joaquim de Vasconcelos e de D. Francisca Emilia Teles de Menezes e esposa de Jacinto de Santana e Vasconcelos Moniz de Bettencourt, l: Visconde das Nogueiras, e mãe de Jacinto Augusto de Santana e Vasconcelos Moniz de Bettençourt, Ministro de Portugal nos Estados Unidos da América do Norte e avó de D. Celina e D. Matilde Sauvaire da Câmara. Cedo começou o seu contacto com as Belas Letras, que foi um dos maiores enlevos do seti espírito, e em que revelou um privilegiado talento. Conhecia profundamente as línguas inglesa e francesa e nos últimos anos da sua vida, sofrendo algumas enfermidades que a obrigavam a uma inacção forçada, aproveitou o tempo, dedicando-se a tradução e composição das suas obras. Dedicou-se a poesia, tendo publicado, em 1879, no Porto. um livro. intitulado: uA Senhora de Lourdesh (Prodígio). Publicou, também, os romances: uAs Castelãs de Roussilonr, de Madame Eugénie de La Rochere (tradução). Lisboa, 1851; oGenovevan, de Larnartine, (tradução); a 0 Soldado d e Aljubarrota~,Lisboa, 1857; *Diálogo entre uma Avó e sua Netan (a sua obra prima, que constitue, ainda hoje uma glória literária) aprovada pelo Conselho Geral de Instrução Pública. Lisboa, 1862; *História de Santa Mónican, do Abade de Bougoud, Vigário Geral de Orleans, Lisboa, 1885 (tradução). A famosa <Nota ao mês de Maior, que vem com os uFastos de Ovídior, pelo Visconde de Castilho, é também tradução sua e traduziu, para o francês, o célebre romance histórico, de Alexandre Herculano, rEurico, o Presbiteron, com o título de: uEnrico de La P r ê t e ~ .Esta obra foi publicada, em Paris, em 1888, a expensas do Duque de Luchtenberg. Colaborou na imprensa portuguesa e em Revistas Literárias do estrangeiro e tem versos insertos nas Colectaneas, @Floresda Madeira*, ~ A l b u mMadeirensen e no livro de J. Ramos Coelho, *Prelúdios Poéticos*.

O Rouxinol Tu calas-te em quanto Febo Dispensa com fasto o dia, E só confias das sombras A tua melancolia. ALCIPE

O mago cantor da noite Inspirou-me a frouxa mente,


Nessa hora em que gorgeia Seus amores docemente. Como ele, desdenho o coro Que celebra o sol. o dia, E canto do rouxinol A singular melodia. Quando os extremos murmúrios D o dia vão acabar, E da noite coro silêncio Já começam a lutar, Sobre as colinas, nos vales, Do rio à margem. no monte: Quando se cala a floresta E apenas se escuta a fonte; Quando nem suspira a folha, Quando a lua esmalta os céus, Quando o homem se repousa. O rouxinol louva a Deus. Ferindo o eco Teu doce canto Já prazer gera, Já excita o pranto.Notas que soltas Já graves são, Já vão agudas Ao coração.Torna-se vivo, Torna-se lento, E nalma imprime Doce tormento. É um hino alegre Sua canção; Revela o j'úbilo De um coração, Que damor geme, Que amor domina, Que damor sofre Carga ferina. Mas de repente A voz descai, Muda o acento,


Parece um ai!... Lânguido é o canto: Que melodia! E que suave Monotonia! Chora os filhinhos Que já perdeu, E assim mitiga O pesar seu: Parece as vezes Sua saudade, Pedir auxilio Por piedade. E o som que agora É som de dor, J á entoou Feliz amor!. .. Tal é o canto, em todo o tempo, Expressão do sentimento! Canta o homem na ventura, Canta se geme em tomento. E o rouxinol, Como o cristão, Pref'rindo ao mundo A solidão, Bemdiz cantando Divino amor, E as maravilhas D o Criador!


Marceliano Ribeiro de Mendonça 2805

-1866

Nasceu no Funchal, a 18 de Abril de 1805 e faleceu nesta mesma cidade a 5 d e Agosto de 1866. Era filho de Jerónimo Ribeiro dos Santos e de D. Juliana Rita de Mendonça. e pai de Luis A. Alexandre Ribeiro de Mendonça. Barão de Usel. Foi professor e Reitor do Liceu d o Funchal e Presidente da Câmara Municipal d o Funchal. *Se houvesse vivido noutro meio, que não os acanhados limites da esfera do Funchal-diz o xElucidário Madeirensen-e alargado mais a esfera dos seus vastos conhecimentos. certamente que a sua lúcida inteligência e notáveis aptidões literárias, se teriam estadeado com maior hrilhantisnio e deixaria provas mais incuncusas d o seu grande talento e ilustração>>. Teve larga e valiosa colaboração em muitos periódicos madeirenses e deixou algumas obras manuscritas. publicando os ((Princípios da Gramática geral aplicados a Lingua Latiria)); o romance histórico. ((Gaspar Borger~,etc.

A grandeza do homem Que novos céus. que estranhas cenas aro! Surda. estéril soidão se alonga a terra; Inda homem, não respiras; Sobre a urna dos séculos Em profundo letargo inda repoisa Da morte precursor, lôbrego espectro! Mas um vagido rompe! um ai expira! De confusa mudez surde harmonia! O cáos a delir-se! Frouxo tempo a erguer-se! Esta pouca de argila a condensar-se! Move-se! vive! - És tu, mortal, nasceste! ...

Mal sobre a terra, inerme, a terra é tua; Curva-te aos pés. anoso tronco, a fronte De b3gas ad'reçada, Hórrida espelunca, Que o tigre cede espavorido e foge, É do rei do universo o primo alcacer. Ordem, beleza os passos te assinalam: A tua mão recuam brenhas, fragas,


Desertos se povoam. E toda ufana a terra Da grada espiga que lhe doira o seio, Com larga paz responde a teu desvelo. Alheado, em torno a ri volvendo os olhos. Quem és? ao tronco, a fraga, aos céus perguntas; Soltas, no espaço a mente, Sonda-te o engenho abismos E, a flux dos lábios hinos te desatam, Que ao Ser Ignoto o coração te elevam. Por quaisquer meios pródigo em prodígios, Dás corpo a frase, ao pensamento vida; Aprendes do passado, Futuros iluminas, E vai por eras mil teu nome ilustre Dar vivo abalo em generosos peitos. Aqui, onde eram pântanos, levantas A topetar co'as núvens, rnagestosa, Torreada metrópole; Teu poder invencivel, Tão fogosas paixões, tão desvairadas, Em remansado abrigo as acalenta. De um polo a outro, após ganâncias corres: Ruge-te aos pés, cérulea fronte abate Orgulhoso oceano: Polo norte descrido, Trémulo iman os passos te alumia No perdido estirão do cego abismo. Por longos mares separados mundos Um doutro achegas, dambos te enriqueces; Os Aquilões sofreas Na vaga vela ondeante; E lendo nas estrelas que devassas, Firmas o pé por onde os céus te guiam.

De impenetrais segredos tão ciosa, Tu forças a natura a revelar-tos; Num tubo o ar sopezas, Sobre os Euros viajas. E dessa luz, que mundos cento anima, Audacioso prisma os raios conta.


Do ignipotente Jove o punho alçado. Que cavalgados montes soterrára. Aos pés te cai submisso: Arrancas de atra núvem, Corrido porque desce a teu mandato, Precoce inda o trovão que estala e tomba. Ó prodígio maior, virtude augusta, De humanos corações mais nobre esmalte, E posso eu esquecer-te? Benigna confortando Esta alma que em deliquios se debate. Teu liminar sagrado lhe franqueia.

Eu vos adoro, sombras venerandas, Esposas, pais, amigas virtuosas, Vivos lumes da pátria, Cujos nomes. feituras Nas páginas da história fulgurando, São norte ao peito que demanda a glória. Aqui um povo em pasmo, em pranto amigos! Geme, verdade, é Sócrates que expira. Tu lhe deste a cicuta! Acolá vejo Roma. . . Vejo Catão que a ferida despedaça Por onde uma alma livre aos céus remonta! Que virgem rasga a noite de oco abismo, Onde em ferros o pai a míngua estala? Dos lábios se lhe achega, Jorra-lhe o peito a vida. Do próprio pai e mãe, e a natureza Sorrindo-se bendiz erro tão doce. Entre buídos ferros entalado. Esse Galo que faz?-oh transe! oh glória!Salva-lhe a pátria Lim grito? Custa-lhe um grito a vida? Ondear não sabe ancipede na escolha;E brada, e morre. e salva ao jugo a pátria! Áurea chave na mão.. . um Luso absorto.. . A lagem sepulcral de um rei tombando!. .. Aquela os tenros filhos Armando desvelada,


Por que vão resgatar. da vida a preço, A pátria, a glória, o nome de outras eras! . . .

Oh! destas, de outras cento que ali fulgem. Homem. qual és a conhecer-te aprende: Respeitando-te, exaltas A mão que te lavrou, E só de ingrato olvido de ti mesmo. Após teus crimes, manam teus desastres. Mundos. mundos sem fim que esparge e roda No vácuo imenso, um Deus. um Deus proclamam: Mas de sua grandeza. Humano, generoso. Calem-se mundos, céus, terra emudeçam, Que, mais nobre padrão nalma te avulta.


Francisco de Andrade

Nasceu nesta cidade. a 6 de Junho de 1806 e faleceu a 23 de Fevereiro de 1881. Era filho de Francisco de Andrade. Tendo cursado, no Liceu do Funchal, todos os estudos que se faziam, nesse tempo, nesta Ilha, foi nomeado Professor proprietário da Cadeira de Gramática Portuguesa e Latina e Clássicos Portugueses e Latinos, por Decreto de 4 de Setembro de 1838, do Liceu Nacional desta cidade. Exerceu, este mesmo cargo, antes, interinamente, em virtude da carta do Conselho Provincial de Instrução Pública, de 23 de Março de 1838. Foi, também, Reitor do Liceu e Vereador da Câmara Municipal do Funchal. Escreveu os seguintes livros: uPrincipios de Gramática Portuguesa*. Funchal, 1844: *Gramática Portuguesa das Escolas Primáriasn (com cinco edições, a primeira em 1849 e a última, em 1879): uRelatório sobre as escholas municipais de instrução primária do Concelho do Funchaln. Funchal, 1849. Consta que deixou alguns trabalhos manuscritos. Da *Selecta de Poesias Infantisn, compiladas e anotadas por Henrique Freire e editada por Abraham Adida, nesta cidade, em 1875, reproduzimos esta sua poesia:

O Messias Vinde cheios de santo respeito a Deus vinde, meninos cantar, a Deus um hino, um hino d'amor, que nos quis de nosso erro salvar. Qual Deus ser, nossos pais pretenderam, na ciência do bem e do mal. Quem, oh Deus, poderá em ciência elevar-se a Vós, ser Vosso igual?! Tanto orgulho, tão louco, munido logo foi com o jugo do erro, que em vileza imergiu o rebelde feito abismo de torpe desterro! Mas logo um enviado do céu, que nos salve, nos é prometido; Moisés vê-o, Jacob o pressente Deus o quer dlAbrahão procedido.


O reinado na terra anunciam da justiça e da paz recobrada. os profetas versases videntes da promessa de Deus irnutada. Ei-10, enfim, chega o tão desejado! Glória a Deus pela sua bondade. Paz à terra, anunciam os anjos, vinde aos homens, de boa vontade. Em Bethlém quiz nascer pobrezinho. num presépio entre duras palhinhas, para santa fazer a pobreza. para si despresou louçainhas. Não teve onde pousar a cabeça o que um reino viera fundar, novo reino que o mundo corrupto vinha em tudo de novo crear. De Deus Ele era o Verbo incriado da substância do Padre gerado. tomando do homem a forma culpada para a Deus o homem dar resgatado.

A luz Ele era, a só verdadeira que do mundo nas trevas brilhou; mas as trevas o não compreenderam nem o orgulho a ciência humilhou. Dos humildes também, dos pequenos conhecido é e sempre adorado. aos aflitos refugiu seguro, faro (1) o sábio que é do erro ilibado. N o principio verdade gerada de Deus, no íntimo, bem inefável, pura ideia, de todo o creado, sem pi-Eterno modelo imutável. Fonte do ser todo dimana, somos n'Ele e por Ele vivemos. nada sem Ele foi do que existe, nada sem Ele nunca entendemos. (1) Farol.


Entre i ~ ó sEle esteve; ensinou-nos um amor a nós não conhecido. fraternal caridade, esmola feita a Deus a quem dela é car'cido. Como lei nó-la impô; no Cenáculo. quando os pés aos-discípulos lavou: -do que o exemplo vos hei dado - disse novo agora preceito vos dou-. -Como sempre eu amado-vos tenho, uns aos outros assim vos amai; de vós faça e de mim um amor, como somos um, Eu e meu pai!União grandiosa, sublime. do creado, com seu Creador, unidade que só gerar pode o poder com que enlaça o amor! Na verdade, onde impera a lei Sua. reina a paz, a justiça, a verdade, como reina, perpétua. no céu, do Senhor Santo. a santa vontade. Este o reino que à terra nos trouxe. este o reino que quer deprequemos, nem só liberdade de haver pode, a este só quer que nos aspirenios. Por isso Ele de Deus tendo a forma, abateu-se de servo a figura. sujeitando-se à morte submisso, da cruz, morte afrontosa, árdua e dura!

E por isso lhe deu Deus u m nome. magestoso, exalçado, su perno. ao qual todo o joelho dobre em os céus e na terra e no inferno. Toda a língua confesse convicto que Jesus Cristo, Nosso Senhor. para a glória subiu do Padre, d o resgate nosso alto penhor.

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Augusto Carlos Escórcio

Nasceu na Madeira, em data que desconhecemos e faleceu na segunda metade do Século XIX. Este inspirado Poeta, cujos dados biográficos não nos foi possível obter, colaborou no &Diáriode Notícias* e tem uma poesia composta em 1850, inserta na colectânea, *Flores da Madeira,. publicada nesta cidade em 1871 e 1872, pelo Cónego Alfredo César de Oliveira e Dr. José Leite Monteiro.

Resolução Em um Alburn

Não posso!... não devo vê-la, Porque sinto Eu não minto Que poderia perdê-la. Meu amor bem descuidado Que tem sido Perseguido Neste mundo condenado.

E ela pobre inocente, Sem parar, A matar Quem por ela tanto sente! Saberá? Não sabe não; Inocente Nada sente Por mim, em seu coração.

Nem devera anjo formoso Para amar Escutar Meu amor tão criminoso.


Deixá-la o mundo gosar. Sem perder, Sem saber O que tem no mundo a 'sperar. Deixá-la livre correr, Meu amor Linda flor Que não me atrevo a colher. Deixá-la, não quero vê-la Porque sinto, Eu não minto, Que poderia perdê-la.


Diogo Berenguer de França Neto (Diogo Berenguer Júnior)

Nasceu no Funchal, a 8 de Abril de 1812 e faleceu no último Quartel do Século XIX. Era filho de Mírgado Diogo Berenguer de França Neto, Fidalgo da Casa Real. senhor de vários vínculos, e de sua mulher, D. Ana Anastácia de Ornelas e Vasconcelos. Casou em 1835, com D. Matilde Leopoldina Correia Henriques, de quem teve geração. Foi o 1.0 Visconde de São João, titulo com que foi agraciado, por Docreto de 3 de Maio de 1871. Foi Fidalgo da Casa Bezi, grande proprietário na Calheta e no Funchal, tendo falecido, quase na miséria, por ter esbanjado a sua grande fortuna em festas principescas. Dedicou-se à poesia, tendo versos insertos na ucolectâneaa, *Flores da Madeira*, publicada nesta cidade, pelo Cónego Alfredo César de Oliveira e Dr. José Leite Monteiro, em 1871 e 1872.

No album do meu amigo Jacob Abudram. U m livro inda em branco! que ideia desperta Fagueiras na mente crestada, e sem flor, Q u e fonte suave na plaga deserta! Dos tempos passados a história compor! A. DE SERPA.

Estas folhas, virgens, puras, Que duras penas me dão!. . . Podem ser praptos d'arcanjo, Ou d'anjo alegre canção! Quem sabe ler no porvir?! Sorrir quem pode ao destino?! Quem há-de ao album dizer: -Vais ter um condão divino!? Estas folhas, tão singelas E belas no seu alvor, Devem só colher p'ra alma, A palma de eterno amor.


Corre mundo, vai além, Que bem sabes se tens sorte! Deus te fade, bom livrinho, Carinho te d ê a sorte! Eu não tenho lira d'ouro, Tesouro que vale tanto! Não sei tanger alaúde, É rude meu pobre canto! Mas assim mesmo lá vai Esse ai dum peito a gemer: Sinto não ter melhor prenda, Of'renda que te oferecer!

Funchal, 1863.


Emília Acciaioly Rego

Nasceu na Madeira, no primeiro Quartel do Seculo XIX e faleceu, em data que desconhecemos. Era filha da Poetisa, D. Emilia Acciaioly Rego Sénior e do Capitão António Francisco Rego e sobrinha do Conselheiro da Perfei tura da Madeira. Tenen te-Coronel, Filipe Joaquim Acciaioly e tia da Poetisa e Professora de Coreografia, D. Maria Eugénia Rego Pereira. Cursou o Liceu do Funchal, tendo colaborado n' GORecreio*, orgáo dos alunos deste estabelecimento de ensino, em 1863, donde reproduzimos esta sua poesia:

Medi taçáo Vim procurar o abrigo Deste carvalho frondoso, Fugindo aos raios brilhantes Do Sol de Abril, tão formoso Sou como a planta rasteira. Das tempestades batida, Crestada dos vendavais E quase no chão pendida. Mas quantos dons me concede A bondade do Senhor! Goso da vista, do olfato, De quanto tenho em redor. Goso do prado a frescura. Das violetas o cheiro, Goso do prazer suave D o murmúrio do ribeiro.

A borboleta mimosa Me agrada vê-la girar: Tocando em todas as flores, Por sobre a relva pairar.


Esta riqueza dos campos, O lindo azul destes céus, O canto alegre das aves Me dizem coisas de Deus.

Um particular estudo De quanto natura tem. Não só me deleita a alma Mas a enebrece também.

Ou nas obras mais sublimes, Ou nas de menos valor, Há razão para louvarmos O Divino Criador!


Luís da Costa Pereira 1818-1893

Nasceu no Funchal, a 17 de Agosto de 1818 e faleceu, em Lisboa. pobre e na mais completa obscuridade, a 18 de Janeiro de 1893. uO seu nome - diz o aElucidário Madeirensen era citado a par do Teixeira de Vasconcelos, João de Lemos, Barbosa du Bocage, Casal Ribeiro, Couto Monteiro, Gonçalves Lima, Xavier Monteiro. etc. seus contemporâneos na Universidade e com os quais ombreou no cultivo das ciências e das letras. Dedicou-se, durante muitos anos. a coisas teatrais, para que tinha uma decidida vocação, e onde revelou as brilhantes faculdades do seu extraordinário talento. como actor e autor, ensaiador. director técnico e comissário régio do Teatro D. Maria, e professor de declamação e de arte de representar, no Real Conservatório, de Lisboan. Disse Camilo Castelo Branco - aeste é aquele Luís da Costa, que foi na minha mocidade o símbolo. o mestre da cena: neste cérebro pulsou todos os talentos criadores das implaváveis paixões da tragédia; do peito deste homem explodiram os brados que levantaram as plateias em delírio de triunfon. Cultivou a poesia, na mocidade, com grande sucesso, tendo colaborado na revista a 0 Trovador*, onde teve por colegas João de Lemos e outros de igual categoria. Traduziu e adaptou a cena portuguesa, algumas peças de teatro estrangeiro e escreveu os livros; aRudimentos de Arte Dramática*; 4Mistérios de Almas* e <Reflexos%e tem versos insertos nas colectâneas. vLísia Poética ou Colecção de Poesias de Autores Portugueses*. publicada no Rio de Janeiro, em 1848. por José Ferreira Monteiro (Tomo 2.0) e ~AlbumMadeirense. . . R, de Francisco Vieira, publicado no Funchal, em 1884.

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Recordação Ciei ! que me reste-t'il

d'un si charrnant ?

Un souvenir affreux qui fait tout mon tourment. Vós brilhantes engastados Nessa infinita safira, Magas estrelas luzentes, Vinde ouvir a minha lira. Correi, correi mansamente, Doces águas do Mondego. Escutai tristes queixumes Do meu penar, sem socego


Não agites os salgueiros. Asa importuna do vento, Deixa ecoar pela margem A canção do meu tormento.

E tu. ó brisa das noites, Borrifa com teu frescor Minha fronte abrazeada Pelos requintes da dor.

Do cabelo escuras tranças Pelos ombros lh'ondeavam, E no pulido alabastro Travessas se deslisavam Pensativos, quais da lua

Na floresta os raios belos, Fulgiam dentre as pestanas Os olhos cor dos cabelos. Suave arcma, que exala Da boca rósea. que 'esconde Os dentes de puro esmalte, Virá dalma, ou donde, donde 2 Esse aroma que embriaga. Que embevece os meus sentidos, Oh! quem poderá sorvê-lo Naqueles lábios queridos. Os dois pombinhos de neve. Origem dos meus tormentos, No seio dela namoram Lascivos dedos sedentos. E eu amei-lhe as iiegras tranças. Amei-lhe o seio de neve, Amei-lhe os lânguidos olhos, Amei-lhe a boca tão breve: Amei-lhe os doces requebros. Palavras, pranto, sorriso. Era a vida desta vida, De minh'alma o paraíso.


E tudo sonho, mentira, E tudo, tudo ilusão, Tudo engano lisongeiro D'inexperto coração. Deslisai por minhas faces. Lágrimas de desesperanqa. Corre, corre pranto amargo, Talvez me tragas bonança.


Matilde Leopoldina Correia Henriques Neto (Viscondessa de São João)

Nasceu na Madeira, em data que ignoramos e faleceu. quase na miséria, no Funchal, por 1894. Era filha de João Ferreira Correia Henriques e de D. Ana Isabel de Mendonça e Vasconcelos. Casou. em 1835, com Diogo Berenguer de França Neto. Visconde de São João. proprietário na Calheta e no Funchal, que esbanjou a sua grande fortuna, em festas principescas, reali-das em Paris e na Madeira, na sua <Quinta de São João*. 1)edicou-se à poesia, tendo versos insertos num Album pertencente a D. Lucinda A. da Silva, esposa do General Miguel Gomes da Silva, actualmente propriedade do Escritor e Jornalista. Alberto Figueira Gomes. que gentilmente nos forneceu cópia dos versos que reproduzimos.

Primavera Recua, gélido o inverno. vou chegar, o teu contacto destroi os meus encantos. Deixa passar o cortejo que me segue que é de florinhas. de risos e de cantos. Raros perfumes em meu regaço trago e verdejantes roupagens mui formosas: quero vestir as montanhas regeladas, quero dar aroma aos cravos e às rosas. Espargir perfumes e dar vida as fontes. encher o ar puro de trinados mil, pois os passarinhos vendo tudo em gala. cantam doces árias, neste mês de Abril. Quero ver sorrisos. quero ouvir um hino da natureza em júbilos p'ra o Senhor! Quero tudo em gosos, ver festejos doidos e que, em ternos corações, surja o Amor! Inédito 21-4-1891.


Pe. Patrício Moniz (Cleúmenes Messeide) 1820

- 1898

Nasceu na freguesia de Santa Maria Maior. a 2 de Abril de 1820 e faleceu, em Lisboa. a 28 de Fevereiro de 1898. Era filho de Francisco João Moniz e de D. Ana Foster Moniz.

foi sem dúvida o dr, Patrício Moniz - diz o uElucidário Madeirense.) - a mais privilegiada inteligência da nossa terra no Século XIX. A pujança do seu talento, que se revelava eloquentemente numa notável cultura filosófica, e a sua vastissim~ilustração que o tornava um verdadeiro sábio, em toda a extensão do termo, não desmentem em nada a nossa, talvez para muitos, arrojada afirmativa.

O dr. Patricio Moniz foi um dos mais notáveis oradores sagrados do nosso pais e incontestavelmente ninguém -o excedia nas ciências teológicas e no conhecimento profundo que tinha de todas as fontes de oratória sacra>. Fez os seus estudos secundários no Brasil, para onde foi com 8 anos de idade, em companhia de seu pai. Dedicou-se ao cultivo da poesia. adotando, como arcade romano, o nome de Cledmenes Messeide. Aos 18 e 19 anos, publicou os livros de poesia: *Meditações Nocturnasa. Rio de Janeiro, 1838 e aComposições Poéticas oferecidas ao seu querido Pai, Francisco João Moniz~.Rio de Janeiro, 1839. Compostos e impressos na Tipografia Imparcial. Doutorou-se em Leis, na Universidade de Paris e em Teologia, na Universidade Pontifícia. Foi Jornalista e Polemista de rija têmpera, afirmando brilhantemente as suas distintas qualidades de Escritor erudito, n' uA Religião)>,uTribuna Católicao, ulresn e noutros jornais, de que foi Redactor ou em que colaborou. Exerceu o magistério no Rio de Janeiro, onde era conhecido. pela sua eloquência, como o sucessor de Mont'Alverne. Exerceu, também, o magistério no Funchal, tendo regido no Seminário desta cidade, as cadeiras, de Teologia, Filosofia e outras disciplinas. Em 1878, partiu para o Continente Português, onde exerceu vários cargos eclesiásticos e depois foi nomeado Pároco de Aveiras de Baixo, ond c viveu quase na miséria e na mais completa obscuridade. Publicou o livro de filosofia: aTeoria da Afirmação Pura$ e os opusculos; uRefleções sobre a carta do sr. Alexandre Herculano~;*Oração a S. M. El-Rei D. Pedro V*. Rio de Janeiro, 1862; *Oraç%o fúnebre nas exéquias do Senhor D. Miguel de Bragançan. Rio de Janeiro, 1867; uOração fúnebre recitada nas exéquias . . . celebradas na Igreja de Santa Clara do Funchal . . . por alma de Pio 1x9. Funchal, 1878.


Soneto A irioi.fr do sr. /os2 &)~iifácio de rindradu e Silvu Por que triste, oh Brasil ! te vejo agora. Quando há pouco exultavas de contente? Que perda tão fatal, que dor pungente Teu terno coração talha e devora? Mas ah! . . . que triste vos consumidora Me punge o coração?. . . me espanta a mente? uO Brasil já deixou p'ra eternamente. <Foi Andrada gosar o Deu< que adora. Entre a dor e o prazer, contraste horrendo! Aqui choro uma vida a Pátria dada, Exulto, ali no Céu Andrada vendo. Mas ah! . . . vejo ante mim a dor c'roada! Sim, falece a razão à dor vencendo! Pranto, pranto oh Brasil ! E' morto Andrada !

Soneto Aos anos de meu querido pai, festejados em S. Cristóvão Que glória acidental hoje abrilhanta O s verdes campos, os floridos prados? Aumenta-se o prazer. nascem agrados, Tudo, quanto se vê, atrai, encanta! A amirade aparece pura e santa Trazendo em doces laços coligados. Ninfas, varões. que adornam transportados Dias, que a natureza adora, e canta!

A causa pois qual é destes arcanos? Quem produz entre nós tanta alegria? Oh prazer filial! . . . meu Pai faz anos! Brindai, priscos amigos, este dia, E com esmalte dado por humanos Mostrai, campos, insólita magia!


Manuel Luís Viana de Freitas 1820 - 1861

Nasceu no Funchal. a 28 de Maio de 1820 e faleceu, nesta mesma cidade. a 29 de Maio de 1861. Foi porteiro do Governo Civil do Funchal. Dedicou-se ao teatro, com paixão e tanto se esmerou na arte de Talma. que foi considerado uma autoridade em assuntos teatrais, no seu tempo.. Foi Sócio Correspondente do <<InstitutoDramático de Coimbran. na Madeira. Dedicou-se. também. à poesia. tendo colaborado na imprensa da nossa terra e tendo versos insertos nas colectâneas: flores da Madeira*, do Cónego Alfredo César de Oliveira e Dr. José Leite Monteiro, publicada nesta cidade. em 1871-1872 e uAlbum Madeirense de Poesias.. .*, de Francisco Vieira, publicado nesta cidade. em 1884. Escreveu uma peça dramática, intitulacia: uD. Luis de Atayden.

O botão de rosa Se de espinhoso rosa1 Foi ela quem te apanhou,

E por momentos contigo O níveo seio erifeitou; Se ali não desabrochaste, Bem como planta viçosa. Abre agora com meus beijos. Mimoso botão de rosa. Vem. neste peito, onde pulsa Um coração que é só dela. Vem desfolhar-te e morrer, Florinha inocente e bela.

Verdade amarga -Dou-te. Laura, o emboras Pela nova que corre na cidade. Diz-se que hoje às seis horas Te esposará um Taful. - Oh! nessa idade. Laura, quem diria Que havias de tirar em preto a sorte?


Só com foro de Tia Contavas ver o rosto a dura Morte.-Como se engana, amigo. É certo que não sou jóvem. nem bela: Mas não corria p'rigo De ir p'ra cova de palma e capela. Meu rico, esse é o destino, Da moçoila que só tiver por dote Rosto mais que divino. E virtude extrema que rebole, Audácias de Janota; Mas quem tem boas louras como eu tenho. Que opulência arrota Não mete para marido, empenho, Que humildes, reverentes E prontos a aturar nossas espigas Fervem mais pretendentes Do que a torrão de açucar formigas.


Júlio da Silva Carvalho

Nasceu no Funchal, a 16 de Outubro de 1821 e faleceu, nesta mesma cidade, a 9 de Julho de 1903. Toda a Madeira o venerou. porque toda ela o conheceu, como o protótipo mais perfeito dos Professores, pela competêiicia , solicitude, prudência, abnegação e sacrifício, que o tornou um verdadeiro mártir da instrucão, durante cinquenta e tantos anos. Cursou o Liceu do Funchal e fundou a sua Escola Primária, na Rua do Aljube, em 2 de Abril de 1845. tendo como companheiro Augusto Correia de Sampaio. que desejou ajudá-lo. Pertenceu 3 Câmara Municipal do Funchal, à Comissão Distrital e i ~Sociedade Agricolar . Como Poeta, foi um dos mais do convívio das Musas, sendo lido com muito agrado; como Músico, compôs inúmeras valsas. polkas e quadrilhas. No Violino era primorosa a sua execução. Como Jornalista, escreveu muitos artigos abordando vários assuntos. Merecem referência especial, o publicado em 1851 n ' <OEstudo>>.sob o titulo:-Exceliiicia da poesia sobre todas as belas artes, e outros, no mesmo periódico, intitulados: Vocação e Reflexão sobre o estudo das línguas. Com prefácio seu. pub~icou,em 1867, a obra do Poeta Januário Justiniano de Nóbrega: uVisita de S. M. a Imperatriz do Brasil. viuva. Duqueza de Bragança, à Ilha da Madeira, e fundação do Hospício da Serenissima Princesa D. Amélian. Colaborcu n' uO Estudon. *A Ordem*, uDiário de Noticiasn, e noutras publicações e tem, versos insertos n o uAlbum Madeirense de Poesiasn, de Francisco Vieira, publicado nesta cidade em 1884.

receio Olha o sol como desponta Tão brando em seu fulgurar! Mas altivo lá se vai Remontando pelo ar. E talvez dardeje em pouco. Raios de luz de abrasar! Olha como o mar se esconde Pela encosta sussurrando: Mas quem sabe se, distante, As vagas que veem rolando Virão logo contra a praia Debater-se rebramando?


Olha a aragem, nem murmura: Preguiçosa, sem alento, Lá entre as flores suspira Aljofradas do relento: Mas das auras mentirosas Como crer no movimento.

Olha o céu como é sereno, Como é pura a sua cor. Só povoa a imensidade A luz do sol criador; Mas quem fé terá no tempo Inconstante. enganador?

Se os mares e o sol contemplo. Se contemplo o céu e a aragem. Um triste preságio leio.. . Morre-me nalma a coragem:

D u m receio que m e mata, Creio neles ver a imagem.

É que na mudança. o h virgem, Eni tudo se me afigura; Não sei se ilusão eu sonho, Se anúncios de desventura; É isto que o pensamento De contínuo me tortura.

Oh não sei que seja. oh virgem! Mas- por quem ninh'alma sente! Não me engana a fantasia: Esses receios que a mente Vê no mar, no céu e em tudo São por ti, por ti sòmente!

A ,anota sein dei1fe.s

N o vasto salão polkava Velha janota garrida. E para campar de moça Pulava mui delam bida!


Mancebo esperto. seu primo, Vendo aquela anomalia, Co' uma rija gargalhada Quase a velha enlouquecia.

<<Ris-tede mim, malcriado$? -Quê! de ti? tal não motivas! uEu já como pão com dentesa. -Não. priminha, é com ar gengivas.


Antonio Alves da Silva 1822-1854

Nasceu no Funchal, a 13 de Setembro de 1822 e faleceu, nesta cidade, vítima da tuberculose, a 19 de Janeiro de 1854. Era formado em Medicina, pela Faculdade de Coimbra e Doutorado pela Universidade de Paris. Foi nomeado Lente da Escola Médico-Cirúrgica do Funchal, em 1850. O Doutor António Alves da Silvz, uem Paris obteve gratuitamente o grau de Doutor, em Dezembro de 1848. como demonstração de apreço devido ao seu grande talento, que ali manifestara)). Foi sócio correspondente da academia de Ciências)) e fez notáveis conferências públicas, revelando-se eloquente orador. Publicou, em Paris, em 1848, uma tese. intitulada: uLa fièvre typhoide est une maladie inflamatoire dans Ia primiè période, septiémique dans la seconden. Colaborou na oRevista Académicaa, de Coimbra, n' 4 0 Médicos e noutras publicações científicas. Também se dedicou a poesia, tendo duas composições insertas no livro, uF1ores da Madeira)), colectânea de poesias de Vates Madeirenses, publicada, nesta cidade, em 1871/72, pelo Cónego Alfredo César de Oliveira e Dr. José Leite Monteiro.

Imitação -Dum Lied d' Uh2and.Minha mãe, que sons tão doces ! . . .

Oh ! que noite de luar ! . . .

Escuta bem - tu não ouves ? Que tão estranho cantar?

-Súcega, filha, socega: Pobre doente, coitada ! A tal hora ninguém canta. Dorme, dorme socegada. -Minha mãe, eu tenho frio: Olha. sentes? 'stou gelada. Mãos e pés, já nem os sinto.. -Dorme. dorme socegada. Dormir; pois sim, no teu seio, Chega-te bem para mim, Aperta-me entre os teus braços. E' tão bom dormir assim


-Que tens. filha, que sentiste? Que estás tu a qu'rer ouvir? Porque me apertas tão forte ? Tens medo. não quer's dormir?

- Este som . . . não é da terra: Esta v o z . . . vem lá dos céus. Minha mãe. só mais um beijo; Chamam-me os anjos. adeus.

E a fronte caíu. sem forças, no leito Da morte envolvida. no pálido véu; Tremeu-lhe, entre os lábios, convulso, um sorriso E foi para os anjos, que a esp'ravam. no céu.


Januário Justiniano de Nóbrega 1824 - 1866

Nasceu no Funchal, a 25 de Fevereiro de 1824 o faleceu, nesta mesma cidade, a 28 de Julho de 1866. Era sobrinho do poeta Francisco Álvares de Nóbrega, conhecido pela antonomásia de uCamões Pequeno*. e avo do Jornalista João Marinho de Nóbrega. Tinha pronta uma colecção de inéditos e não inéditos para dar a estampa, mas destrui-os pouco antes de ser assaltado por um ataque de alienação mental que o levou ao suicídio, despenhando-se por uma rocha, à beira-mar. Escreveu uma obra de caracter histórico -estatística sobre o Arquipélago da Madeira. de que o autógrafo foi entregue ao antigo Governador da Madeira, Coiiselheiro José Silvestre Ribeiro e cujo paradeiro desconhecemos. Escreveu também a visita de S. Magestade a Imperatriz do Brasil, Viuva, Duqueza de Bragança. a Ilha da Madeira e fundação do Hospício da Serenissima Princesa D. Maria Amélia*. Obra póstuma, publicada no Funchal, em 1867 pelo Professor Júlio da Silva Carvalho, com prefácio seu. Colaborou em uO Funchalense)), @AFolha$, {Semanário Oficial*, $Flor do Oceanon, campo Neutron, oEstudon. etc. e tem versos insertos nas %Flores da Madeira* e u ~ l b u mMadeirense. . . n

Apelido de Zargo crescerá mais a fidalguia que começa em obras prbprias, para os seus descendentes, do que a que só se jacta da dos descendentes. já alheia*. CORDEIRO-«História Insulana*. Junto às traqueiras do Tanger Gritam centos de infieis, Feros imigos da Cruz. Rebeldes de Cristo as leis; Acodem lusos soldados, A' lei de Cristo fieis Gigante moiro a cavalo Dos seus à frente saíu, E diz, enristando a lança, Que tantos mil já feriu; -Nazarenos ! raça vil ! Um por um vos desafio. -Capitão ! d'aquele moiro Quero a audácia castigar;


Cobardia o desafio Fora em mim não aceitar Diz ao chafe um nazareno, Já no ginete a montar. Trava-se crua peleja Entre os dois -moiro e cristãoO moiro ao cristão encr?va A lança no coração, Em borbotões salta o sangue. Cai morto o bravo no chão!

-Aquele perro infiel Matá-lo já, ou morrer; Perder a vida ou no peito Lhe a espada inteita embeber ! Outro nazareno brada Já para o moiro a correr. Trava-se novo combate Feroz, cruel, carniceiro, O moiro é mais arrojado. Muito mais desrro guerreiro: O segundo nazareno Cai morto como o primeiro ! Mas entre cristão e moiro Já outros golpes se dão: Se aquele parece um tigre Este inda é mais que um leão; Como os dois que o precederam Morre terceiro cristão ! -Ao moiro infame eu agora, Eu, -grita infante soldado - Ninguém agora ! lhe brada O capitáo contristado; Já três por terra!... Um vil moiro!... Estou como alucinado !

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-Capitão ! -prossegue o moço,Não tenho nome nem fama, Obscuro soldado sou, Meu valor ninguém aclama. Que perdes se 9 infiel Meu sangue também derrama !


-Jovem ! é de mau agoiro De mau agoiro este dia; Mortos são já três guerreiros De provada valentia. Dar ao moiro u m prazer mais !. . . Na verdade, isto injuria ! . . . -Capitão ! disseste bem. E' dia de mau agoiro; Mas não é- deshonra, não, Cair morto aos pés dum moiro; E' Jeshonra fraquejar, Ser cobarde é que é desdoiro !-

O Capitão imudece; O jovem já tem partido; Em menos de um credo volta No seu ginete garrido, Trazendo pelos cabelos Cativo o moiro e ferido! Soam entre os nazarenos Atabales de alegria; Nos arraiais dos cristãos O folguedo principia; Esgotam-se imensos copos A vitória desse dia.

Dom Henrique. nobre infante, Cavaleiro o moço armou; Chamava-se Zargo o moiro Que o mancebo cativou, Zargo também desde então Este bravo se chamou. E foi quem quebrou o encanto

A minha pátria querida; Quem deu cota per'la dos mares, Esta terra tão florida; Quem descobriu a Madeira, Vergel de aroma e de vida.


Jacinto Augusto de Sant'Ana e Vasconcelos Moniz de Bettencourt 1824 -1888

Nasceu no Funchal, a 24 de Abril de 1824 e faleceu a 2 4 de Janeiro de 1888. em Washinton. Era filho de Jacinto de SantrAna e Vasconcelos Moniz de Bettencourt e de D. Matilde Isabel de Sant'Ana e Vasconcelos Moniz de Bettencourt. Segundo diz o ~ElucidárioMadeirenser, o 2.0 Visconde das Nogueiras utornou-se muito conhecido e ainda o é entre nós, por ter sido o principal protagonista dos graves acontecimentos que se deram na praia desta cidade, no dia 8 de Março de 1868, e no Continente mais conhecido se tornou entre os seus contemporâneos, pelos actos de coragem e valentia qee praticou, sendo o herói de aventurosas façanhas, que no tempo tiveram estrondosa retumbância. Eram da época e seus companheiros de estúrdia, o Marquês de Niza, o diplomata Soto Maior e outros. Ramalho Ortigão, nas uFarpaso, Bulhão Pato. nas suas GMemóriaso, Augusto Forjaz, no ulivre das Feras*, Luiz Palmeirim e ainda autros autores, fazem largas referências a SantrAna e Vasconcelos. No entanto, poucos talvez sabem, nesta Ilha, que Jacinto de Sant'Ana teve lugar proeminente na política, como brilhante Jornalista e distinto Poeta, que, como funcionário do ~ i n i s t e r i oda Fazenda, publicou três notabilissimos trabalhos sobre questões económicas e que, como Diplomata, representou Portugal nos Estados Unidos da América, ocupando um lugar de destaque entre os Ministros estrangeiros acreditados em Washintonn. Publicou dois livros de poesias, intitulados: <Grito do Povon e uPátria e Amoro, este último com um prólogo de Latino Coelho, e traduziu o romance francês: ~Talismans~. Colaborou na uRevoluqáo de Setembroo, GOPortuguêsn e noutros jornais e tem versos insertos no 2." vol. da tlísia Poética*, colecção de Poesias Modernas de Autores Portugueses, publicada por José Ferreira Monteiro, no Rio de Janeiro, em 1848.

Fugiste?!

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Vem, oh musa da tristeza, Sobre a minha harpa poisar. Que nos cantos da oatureza Meus hinos quero casar; Deixa que um discorde grito 'Té as raias do infinito Possa livre reboar! Deslizem minhas endeixas Na coma dos arvoredos; Ouve, 6 musa, as minhas queixas, Meus lamentos. meus segredos: Deixa a lira inda elevar-se


Antes que venha quebrar-se Da vida pelos rochedos. Minha fada vem dizer-me Se eu devo viver, se não; Vem, ó musa, esclarecer-me Mistérios do coração; Vem contar-me se um sorriso É na terra o paraíso Ou se é engano e traição. Vem, oh vem, sombra divina Doirar-me a vida de esp'rança, Vem quebrar-me a triste sina. Vem dar-me repoiso e bonança, Vem ceder-me uma parcela Da luz que a mínima estrela Às águas. aos montes lanqa!

Veni dizer-me se a ventura Nos olhos se pode ler; Vem abrir-me a sepultura Ou rósea c'roa tecer; Oh! mas vem. . . corre. . . depressa Que a minha alma jáz opressa Pela dor, pelo descrer!

Fugiste! . . . foi-se-me a vida Presa as orlas do teu manto. Solte minha alma descrida Um gemido em vez dum canto. .. E a lira, a pobre lira Como a rola que suspira Transborde. transborde em pranto.


João Francisco de Sousa

Nasceu no sitio do Tanque. freguesia de Santo Antonio, desta cidade, a 13 de Junho de 1824 e faleceu no Funchal, depois de 1880. Era filho de Francisco Alexandre de Sousa e de D. Ludovina de Sousa. proprietários em Santo Amaro, freguesia de Santo António. Foi um distinto funcionário aduaneiro e dedicou-se à poesia, tendo sido amigo íntimo do Poeta Francisco Vieira. Residiu na Rua de João Tavira. por 1874. Deixou um livro de poesias. manuscrito, intitulado: *Nas Horas Vagasn, hoje propriedade do Poeta Rebelo de Quintal. Colaborou em alguns jornais Fuochalenses e tem versos insertos no uAlbum Madeirense de Poesias de diversos autoresn. publicado. nesta cidade, por Francisco Vieira, em 1884.

Esperança No dia de São joão, 24 de Jitnlto de 1872. (o pedido de um amigo).

Entre a fé e a caridade reside a doce Esperançaalívio da humanidade, de infelizes a bonança! -Mimosa filha dos céus, pura dádiva de Deus, companheira do amor, esteio que ampara o pranto! aceita singelo canto que humilde venho depor!

Tu. Esperariça divina. Não abandones ninguém: de todos segues a sina neste mundo e dele além!. . . És meu presente e futuro, o apoio, mais seguro dos que sabem esperar!crentes que sofrem tormentos. todos te miram atentos no céu, na terra e no mar!

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É ~ - ~ u a berço l vacilanteonde os povos embalados. num sofrer quase incessante, por ti os vejo amparados: teu influxo os alimenta se a má sorte os atormenta ou a sentem junto a si! afastados dos prazeres. que seria, pois, dos serrsdesamparados... sem ti?!.. .

Sem teres fixa morada. inseparável do crente, és por todos adoradaseja rico ou indigente: desde o palácio à choupana onde vive a raça humana confiam no teu poder; existes em toda a parte, buscam todos abraçar-te porque nus vens proteger!

Na vidacheia de azares, de revezes, amarguras.suavisas mil pesares, da sorte as tristes agruras: da infância a decrepitude, onde escassea a saúde, tu mitigas muita dor!. . . Sabe Deus por que motivo.a Esperança e lenitivo só dos que Lhe têm amor!


José Marciano da Silveira 1826-1887

Nasceu na freguesia da Camacha. por 1826 e faleceu no Funchal, a 8 de Julho de 1887. Era genro do Jornalista João Augusto d'ornelas. *Exerceu o professorado primário em Machico-diz o ((Elucidário Madeireme.-e a data da sua morte era Amanuense da Administração do Concelho do Funchal. Dirigiu durante muitos anos *A Voz do Povon. em que a verrina e a diatribe eram por vezes os principais argumentos das suas polémicas e campanhas jornalisticas. Manejava com extrema facilidade e verso chocarreiro da gazetilha. ferindo e achincalhando por este meio os seus adversários e antagonistasa. É autor da novela: uO Ferfeiro~, colaborou na <<RevistaSemanal» e tem versos insertos nas «Flores da Madeiran.

A morte de um filhinho do Sr. António Leite hilorzteiro

Quando a flor logo ao nascer É pelo vento esfolhada, Inda assim deixa saudade Em nosso peito gravada.

Tu não vês no ardente estio Mariposa inocentinba Alçar o voo e ir morrer Pousando sobre a florinha?

Tudo verga ao grande peso D o braço da desventura: Felizes os que do berço Caminham p'ra a sepultura.

Não se choram ofertas a Deus! Dí-10 a paz de qualquer mausoleu: É desgraça ter jóias na terra, É riqueza ter prendas no céu.


Apólogo A TENTILHOA E A ARARA Certa tentilhoa, um dia, Encontrou-se cor uma arara, E consta, não sei onde, Que desta sorte falara: -$Minha dona, como és bela! Quem me dera ser assim. Reparte essa tua gkaça, Tem ao menos dó de mimn. Com este elogio a arara Encheu-se de soberbia, E a pobre tentilhoa Não falou durante o dia. Eis que vem rijo aquilão Que céu e terra abalou E da arara, num instante, Todas as penas levou. Fica nua e perde a graça,

E começa a exclamar: -@Mais qu'ria ser tentilhoa Do que assim no mundo andar. até agora fui ditosa, Pois que tinha formosura; Hoje sou uma triste feia P'ra pagar minha impostura*. Nirlguérn deve ter (irgulho, Netn seguir i> vicio rude; Porque as flores da beleza 'stão sòmente na virtude.

Quantas feias vejo eu, Sem vaidade e presunção. Sendo muito mais formosas Que aquelas que lindas são!


Ninguém há que seja feio Tendo da honra os brazões; O que nos torna bonitos São sempre as boas acções. Mulher feia e virtuosa, És a flor mimosa e rara, Mulher formosa e sem brio Olha p'rás penas da arara.


João Fortunato de Oliveira 1828-1878

Nasceu do Funchal, a 26 de Março de 1828 e faleceu, a 6 de Abril de 1878. Esteve, durante alguns anos, no estrangeiro, onde se aperfeiçoou no conhecimento dos idiomas inglês e francês. Em 1863. foi nomeado Professor de Francês e Inglês, no Liceu desta cidade. Foi Prosador e Poeta de mérito, tendo colaborado em vários jornais Madeirenses e publicou, em 1860, nesta cidade, u m livro de poesias, intitulado: &FloresAgrestes*. Tem duas poesias insertas n o ~ A l b u mMadeirense de Poesiasn, de Francisco Vieira e várias poesias na colectânea. @Floresda Madeiran, do Cónego Alfredo César de Oliveira e Dr. José Leite Monteiro e publicou no jornal, a 0 Funchalenser, em Agosto de 1858, um foihetim em verso, intitulado: <Nossa Senhora do Monte*.

No pico ruivo (Excertos) Salvé! Salvé! penhasco alteroso. Salvé! monte de núvens c'roado, Que contemplas ufano, orgulhoso, Fundo abismo nas penhas cortado! Qual madeixa, que a fronte rugosa, Rara cinge d'altivo ancião, Fresca rama te cerca viçosa, De urze adusta que afronta o tufão. Deste cimo, que se ergue gigante, Como apraz longas vistas lançar! Ver os raios do sol deslumbrante, Ao surgirem, as águas doirar! Branca núvem, qual froco de prata, Ver libar-se na espalda do monte; E o Oceano, que um circ'lo retrata Vir a terra abraçar no horizonte. Sobranceiro às selvas e prados, Sobranceiro às cristas erguidas, Aos penhascos p'ra os céus eriçados, Às encostas de fetos vestidas.


Como a alma se sente abrasada, Como se ergue o altivo pensar. ~ b r a ç a n d oco' a vista enlevada. Céu, ribeiras, colinas, e mar!

Madeira! ó terra de viçoso encanto! Que lindo manto, que verdor. que aromas! D e frescas águas que saudosas fontes! Que altivos montes! que frondosas comas! Madeira! ó terra d e suave clima, Que o céu anima com fulgor, com vida; Que o pobre enfermo com teu ar alentas, E lhe acalentas uma esprrança qu'rida! Drhomens ignaros inda hoje os erros Contam os cerros d'escalvado pico: Mas teus jardins e teus vergeis donosos Dizem radiosos quanto o solo é rico! Por onde outrora se ostentavam matas, Hoje retratas inquieto o mar, De loiras messes na ondulante espiga, Próvida amiga de campónio lar! D'estranhos climas, regiões distantes, Contas bastantes no teu seio filhas, Que em ti vicejam e florecem belas: E tu com elas orgulhosa brilhas! Madeira! 6 pátria! quando além dos mares, Longe dos ares d o torrão que é meu. Tu me apar'cias na saudade, ó fada, Meiga, adornada d e visões do céu; Então da lira me inspiraste os cantos, Por ti meus prantos eu senti correr; Que mágoa intensa que por ti gemia, E aos céus pedia de inda aqui volver ! . . . Volvi!-e agora neste altar erguido, Eis-me atrevido compulsando a lira: Aceita, ó pátria, as derradeiras flores,Quantos amores o teu solo inspira!


Manuel João Onofre

Nasceu na freguesia do Porto do Moniz, em data que desconhecemos. Foi um Poeta satírico. de merecimento, cujos dados biográficos, não nos foi possível obter. Colaborou na uGazeta da Madeira., em 1866, donde reproduzimos este seu interessante soneto, em resposta a outro do Poeta J. B. Vensano, estrangeiro há muito tempo residente nesta Ilha.

Soneto Ao Sr. I. B. Vensano, acerca do seu Soneto, publicado a 25 do corrente Parmentier, que cantara e propagara Na sua terra o uso da batata, De prémio recebeu, da França grata. A honra de uma estátua bela e cara ! . . . Ao génio transcendente que inventara A maquina imortal, que nos retrata. Sabe-se que vai ser, de fina prata. A efígie que o Universo lhe prepara! . . . Mas, tu cantas assunto ainda mais belo : O Açucar ! que nos gera o Rebuçado, O divino Alfenim. e o Caramelo!. . .

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Por isso, a nossa Ilha, e o Luso Estado, Vão levantar-te, c'o maior disvelo, Nobre Estíítua do açucnr mascavado ! . . .


João da Câmara Leme Homem de Vasconcelos (João da Câmara Leme) 1829 1902

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Nasceu no Funchal, a 22 de Junho de 1829 e faleceu, nesta cidade, a 13 de Fevereiro de 1902. Era filho do Morgado António Francisco da Câmara Leme Homem de Vasconcelos e de D. Carolina Moniz de Ornelas Barreto Cabral. Foi o 1.0 Visconde e o 1.0 Conde de Carvalhal. Concluidos os seus estudos no Funchal, matriculou-se na Universidade de Montpellier, onde recebeu o grau de Bacharel em ciências, em 1852 e o de Doutor em Medicina, em 1857, e fez repitiçáo de actos na Escola Médica de Lisboa. e em 1860, fui nomeado demonstrador de anatomia da Escola Médico-Cicúrgica do Funchal, e em 1867, Professor e Proprietário. Grande parte da sua existência foi absorvida pela política que o levou a polémicas. em folhetos e jornais. Foi Governador Civil da Madeira, em 1884 e fundou a companhia Fabril de Assucar Madeirense*, em 1873. *A sua pasmosa actividade, diz o 4Elucidário Madeirensen - que foi até à morte uma das características do seu espírito, permitiu-lhe que ainda como estudante, tanto na Madeira como em França, se dedicasse a diversos trabalhos literários e ciêntificos, de que são prova eloquente a sua assídua colaboração em várias revistas e jornais, a tradução do drama de Alexandre Dumas, a 0 Conde de Herman~,e os uEtudes sur les onibellifères vèneneuseso, que mereceu alcançar parecer favorável da Academia das Ciências e Letras de Montpellier e o lugar de membro da mesma Academia*. E' autor de uma vastissima bibliografia e tem versos insertos nas colectâneas, i *Flores da Madeira* e oAlbum Madeirense de Poesia. . .n, assinando as suas composições, com a rúbrica de Conde de Canavial.

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Adeus a Pátria . . . adeus !. . . Terrível amargo adeus é este. . .

Eu parto. Força é deixar-te, Pátria minha idolatrada. Eu vou por outra trocar-te, Terra doutras invejada : Mas, se partir resolvi, Tornar-me digno de ti Só quero, mãe adorada. Se deixo o clima saudoso Que possues tão criador ;


O teu ar delicioso, Perfumado, animador ; O teu céu de azul escuro, Tão lindo sempre. o mais puro Que deu ao mundo o Senhor: O sol vivo e radiante Que te desperta e dá vida: A clara lua brilhante, Raro em núvens envolvida Bem como as brancas estrelas, Que lá fulguram tão belas Em distância desmedida; Os montes teus magestosos, Altivos. alevantados, Por frescos vales viçosos Uns dos outros separados. Par'cendo medonhos mares Que a tormenta ergueu aos ares E foram petrificados: As tuas belas campinas. Verdejantes. esmaltadas: As águas tão cristalinas De tuas fontes nevadas; Tudo quanto a natureza Te ofertou com mais beleza Do que às terras mais prendadas:

E, oh céus ! como dizê-lo! Um anjo arrebatador. Que é o meu pensar. meu anelo, Que me enlouquece de amor; Anjo que e& tudo diviso, O sol deste paraíso Que é d o atlântico a flor; Se tudo deixo e me ausento, Se estranhas terras procuro, Não só buscar eu intento Porvir mais certo e seguro; Nutro no peito outra esp'rança: E' maior a confiança Que ora tenho no futuro.


A voz que pede riqueza Mal a ouve um coração, Onde alto brada a pureza De filial gratidão; Se a pátria ser proveitoso Eu poder, serei ditoso; É essa a minha ambição. Tão puro, ardente desejo, Possa-o eu cumprido ver; Possa sem corar de pejo Aos lares pátrios volver! Se for neles acolhido, Como é sempre um filho qu'rido. É completo o meu prazer.

Terra onde nasci E que me geraste; Berço que na infância Meigo me embalaste: Formoso jardim, Aonde em folguedos Passei da poerícia O s dias tão ledos; Teatro aprazível, Que ora à juventude Me mostraste encantos, Que fugir não pude, E assim me prendeste Em maga ilusão, Escravo tornando O meu coração: Adeus. Sei que longa Será minha ausência; Se, porém, eterna, Sabe a providência. Mas antes que eu deixe Teu doce regaco. Oh! não me recuses Um estreito abraço. E tu, que inspiraste, Ó virgem, meus cantos, Recebe um adeus, Meus ais e meus prantos.


Eu parto. Força é deixar-te, Pátria minha idolatrada. Eu vou por outra trocar-te, Terra de outras invejada; Mas se partir resolvi, Tornar-me digno de ti Só quero, mãe adorada.


João Severino de Bettencourt Jardim (J. B. Jardim) ?-?

Nasceu na Madeira, em data que desconhecemos, e faleceu em princípios d o Século XX. Diz-nos a ilustre Escritora D. Maria de Cabedo Cardoso, no +Novo Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro*, que o Comendador João Severino de Bettencourt Jardim, Barão do Jardim e Torre, ufoi um Poeta mavioso. mas como Poeta, passou ignorado entre os seus conterrâneos. Quer em prosa. quer em verso. ele era artista, mas a maior parte das suas produções ficaram inéditasn. Possuia uma boa cultura literária, conhecia vários idiomas, escrevia com muita facilidade e era versado em estudos heráldicos e genealógicos. Deixou um volume de versos, cujo título desconhecemos e colaborou no ~ D i á rio de Notícias*, desta cidade. donde reproduzimos as duas primeiras poesias:

Desejo Quem me dera agora vê-la. Poder sentar-me ao pé dela. Poder-lhe as mãos apertar: Estreitá-la entre os meus braços Em frenéticos abraços, E suas faces beijar. Chamar-lhe minha, só minha, E desta alma raínha,Chamar-lhe anjo, querubim; E quedar-me embevecido Num êxtase indefinido, Êxtase damor sem fim.

E depois, vê-la, corando, O s negros olhos baixando A fitar então os meus; E repetir-me outra vez O juramento que fez D'amar-me como ao seu Deus. Poder abraçá-la ainda, Chamar-lhe mil vezes linda,Vê-la de gosto sorrir:


E, unindo o meu ao seu rosto, Morrermos ambos de gosto. Sem mesmo a morte sentir!

Uns sapatinhos Que adoráveis sapatinhos, tão lindin hos, que tão lindos não há mais! Eram cor da fina rosa, linda rosa, dos mais lindos roseirais! Foram-se neles meus olhos, que os meus olhos, não viram outros iguais. Quem beijá-los conseguisse, e subisse em êxtase ate o céu?!

Ai depois, depois morrer. sim morrer no enlevo de quem morreu.. .

Quadras Poesia inédita.

São apenas cinco as letras. Com que o teu nome é feito. Tantas letras, quantas folhas Tem o lindo amor-perfeito. São também cinco as folhas, Da violeta singela, Tantas folhas, quantas letras Tem o teu nome, donzela. Por cada folha, uma letra Do teu nome idolatrado E que eu tenho tantas vezes Em segredo soletrado. É que tu. a violeta E mais o perfeito-amor, São três flores resumidas, Numa só e linda flor.


João de Nóbrega Soares

Nasceu no Funchal, a I1 de Junho de 1831 e faleceu. nesta cidade, a 22 de Setembro de 1890. Cursou alguns anos o nosso Liceu e empreendeu uma viagem pela África e pela América do Norte, donde regressou, em 1855. Foi Professor de Instrução Primária, Escrivão da Santa Casa da Misericórdia do Funchal e empregado da fiscalização ilos tabacos. uDedicou-se activamente ao cultivo das letras-diz o ~ElucidárioMadeirense,+ tendo uma larguíssima colaboraçáo, em muitos periódicos, especialmente em assuntos de carácter essêncialmente literários. Publicou os seguintes livros: ulntrodução a Geografia*. 1859: uPrimeiras Noções de Moral*. 1861 e 1862; uQual dos Dois?*. 1862; uUm Quarto com Duas Camass. 1862; ~Chorografia da Madeira*. 1862: &Cenase Comédias>).1865; uContos e Viagens*. 1867: acenas e Fantasias*. 1868 e «Gramática da Língua Portuguesa*. 1884 e deixou muitos trabalhos inéditos. Foi Director e Redactor da <Revista Semanal*, «Semanário Oficial* e «Flor do Oceano* e colaborou n' uA Pátria$, uA Imprensa Livre*, «O Funchalensen, uDiário de Notícias*, etc.

Retrato É ver teus cabelos doiro Ver tua alma, tua ideia. És como o bago de areia, Que envolve em si um tesoiro. Tens damor a magestade, Símbolo da imensidade. É ver teus cabelos doiro. É ouvir tua voz suave, Doces estos de harmonia. Inocente como a ave, Tens da ave a melodia. Tu encantas, como encanta O dizer da Bíblia Santa, É ouvir tua voz suave. É ver teus olhos, donzela, Fonte de luz e de vida. Nesse ambiente envolvida, És tu a imagem da estátua. Em .ti se contém um mundo, Abismo vasto, profundo, É ver teus olhos, donzela.


João Augusto de Ornelas

Nasceu na freguesia do Estreito de Câmara de Lobos, a 26 de Junho de 1883 e faleceu no Funchal, a 11 de Julho de 1886. Era genro do Professor Primário, Poeta e Jornalista, José Marciano da Silveira, redactor de uA VOZ do Povon. Foi aprendiz de tipógrafo. Cursou, depois, o Liceu desta cidade. Estreiou-se n' a 0 Estudo*, o uO Baratíssimo* e colaborou em vários jornais madeirenses e continentais e foi Redactor Principal e depois Director de ((0Direito.. Desempenhou os cargos de Procurador à Junta Geral do Distrito e de Vogal da Comissão Administrativa do Asilo de Mendicidade. Foi atacado de paralisia nos membros locomotores. tendo, por esse motivo, muita dificuldade em escrever. Foi Escritor, Poeta e Jornalista de grande envergadura. Escreveu os seguintes romances que foram publicados em folhetim n' uO Direito»: ((Virtude o Crime*, oA Madrasta*, u@ Aristocrata e o artista*, uAmor e Sacerdócio», uO Ingrato*, uFrei João ou Uma Época da regência de D. Pedro IV*, uUm Beneficio*, e espinhos e Rosas* e publicou, em volume. as seguintes obras: uA Arrependida*. Funchal, 1871; $A coroa de oiro. . .a. Funchai, 1871; *Maria)>.Lisboa. 1874; uA Mão de Sangue*. Lisboa, 1874: &AJustiça de Deus*. 1876; &A Companhia Fabril de Açúcar Madeirenser. Funchal. 1879; uA Vitima de um Lazaristan. uPorto, 1879; uA Fábrica de São João*. Funchal. 1879: uA Madeira e as Canáriasn. Funchal. 1884; o 0 Engeitado* Porto, 1886. Tem versos insertos nas colectân,eas <Flores da Madeira» e uAlbum Madeirense de Poesias. . . H Foi Cavaleiro da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, sócio-correspondente do Instituto de Coimbra e da Real Associação dos Arquitectos e Arqueólogos Portugueses, etc.

A Morte Do meii verdadeiro e jàinais esquecido amigo. o SR. CONSELHEIRO DR. ANTONIO DA LUZ PITA.

Descança lá no céu eternamente

E viva ou cá na terra sempre rrisre. CA MÕES. O pranto que há muito meus olhos não viam, Nas faces me corre! Bendito, meu Deus! Ao menos nest'hora de pena tão funda Tu balsamo ao triste mandaste dos céus!


A dor, a amargura. retalham meu peito. Ao ver esse corpo.. . a terra baixar! Meu pranto, não pares nest'hora d'angustia, Não deixes meu peito de mágoa estalar!

Amigo! Fugiu-te o meigo sorriso, Que, sempre em teu rosto. bondoso encontrei! A mão tens gelada que tu me of'recias, Teus olhos fechaste-os, jàmais os verei!

Morreste! Ai, morreste e aqui me deixaste Tão triste, sòzinho, sem mais protecção! Na casa dos mortos não podes ouvir-me, Inerte e gelado o leal coração!

Morreste! Não poisa já, atento, a meu lado, Quem vezes infindas a vida m e deu! Ah! quem tantas vezes co'a luz da ciência Em meu pobre espírito a luz acendeu.

Amigo! Partiste p'ra o muudo dos justos

E assim me deixaste por ti a chorar! Do sólio divino p'ra onde foste Não deixes, ai. nunca, por mim de velar !

A lívida morte não poupa a ciência, Os nobres ataca, não poupa a virtude! Decepa a beleza, tão cheia de encantos, Ao pó cans arroja e louçã juventude.

São altos desígnios do Deus poderoso, Que o verme impotente jàmais compreendeu! Senhor, eu me prosto a teus santos mandatos, Bendito é o teu nome na terra e no céu!!. ..

Amigo, ai morreste! Sem ti neste mundo Bem pobre me deixas d'afectos d'amigo, Mas sinto em meu peito pulsar-me a esperanga, De após esta vida ser ainda contigo!


O pranto que há muito meus olhos não viam Das faces me corre -orvalho dos céus ! Ao menos nest'hora de pena tão funda Achei lenitivo ! Mil graças, meu Deus ! Amigo, descança das penas do mundo, E acolhe o meu canto de flores despido. E' pobre tributo duma alma saudosa. Singela homenagem dum peito dorido.


António Policarpo dos Passos e Sousa (Passos e Sousa) 1836- 2875

Nasceu na freguesia da Madalena do Mar, a 26 de Janeiro de 1836 e faleceu a 26 de Maio de 1875, na freguesia da Ponta do Sol. Era filho de Francisco Gomes de Sousa e de D. Francisca dos Passos e Sousa. uEra Médico-cirurgião pela Escola do Funchal-diz o uElucidário Madeirensen-e secretario da administração do concelho da Ponta do Sol. Segundo o testemunho dos seus contemporâneos, possuia um prodigioso talento, que o infortúnio não deixou manifestar-se com pujança e brilhantismo que muito seria para desejar. Colaborou em alguns jornais e foi considerado no seu tempo. como um inspirado Poeta, tendo muita voga as suas composições em verso*. Tem versos insertos nos livros: *Flores da Madeiran, <Selecta de Poesias Infantisr e aAlbum Madeirensen e publicou n' uO Direiton. os folhetins em verso: eVozes da Natureza*, O Mendigo*, uA Noite do Trovadorn, u A Minha Aldeia*, uMorreur, uO Homem e o Pecado*, ~ArpejosReligiososn e *O Sepulcro do Senhor, nab Ponta do Solr, etc.

Lamento No album de Francisco A. Belo de Carvalho. P'ra que pedes ao sol posto Ledos sorrisos de aurora? Uma nota, uma harmonia Ao triste que geme e chora?! Como esperas tu do outono As flores da primavera?! Rosas belas, purpurinas P'ra que as pedes tu à hera?! A hera pobre. enlaçada Nas ruinas do passado, Que ocultam tantas venturas E tanto conho dourado! Não da flor o tronco anoso, Que o negro tufáo prostrou! Não tem viço a tenra planta. Que um sol ardente queimou! Náo tem gorgeios as aves Longe dos paternos ninhos, Nem perfume a florinha, Que desabrocha entre espinhos!


Como há-de a rola cativa Soltar arrulhos damor?! Não pode voar a alma Se a prende o grilhão da dor!

Como é triste em saudosa miragem Ver fugir para semprea ventura! Ver a estrela fão bela. tão pura A perder-se no espaqo sem fim!. . . Ver as rosas da infância pendidas!. . . Naufragar sobre o mar dos escolhos!. . . Caminhar sobre um horto de abrolhos, Sem poder encontrar um jardim!

E os dias felizes que eu tive!. . . Oh! que auroras do mago esplendor! Que perfumes no cáliz da flor! Que murmúrios nas limpidas fontes! E nas asas da brisa fagueira, Que concertos suaves, divinos! O h que céus! que arreboes purpurinos A dourarem as faldas dos montes! Como é bela e risonha a existência, Deslizando qual rio sereno, Sobre um prado florido e ameno, Onde as aves descantam amores! Lá no fundo mil per'las brilhantes. Beni no seio o fulgir Jas estrelas, E mil ninfas mais lindas d o que elas Sobre a face espargindo-lhes flores! . . . Quem. do tempo na barca ligeira, Virá ainda essas margens douradas, Onde acenam risonhas as fadas Ao infeliz. que não pode voltar!. . . Quem me dera. ao sabor da corrente, Ouvir inda em concertos aéreos, Es: as vozes, que encerram mistérios, Que de goso nos fazem cismar! . . .

Mas os meus dias felizes Nunca mais hão-de voltar! Flor, que pousa sobre a campa,


Não pode mais vicejar!. . . Branca alcyon embalada Sobre o dorso azul das vagas Deixou seu ninho damores. Foi demandar outras plagas! Outrora tanta ventura, Tanto aroma, tanta luz! Hoje a rua da amargura, Além-o calvário, a cruz! Volta a página poeta. Não ouças este lamento! Minhas mágoas e suspiros Despreza-os-sol ta-os ao vento!

Tu nasceste p'ra ventura Eu nasci p'ra soltar ais! Deixo-te aqui uma data. Uin suspiro, e nada mais


João César Coutinho Gorjão

Nasceu na Madeira. em data que desconhecemos e faleceu no último Quartel do Século XIX. Foi Poeta e Jornalista de merecimento. Dirigiu o periódico ucomércio do Funchaln, e m 1866 e colaborou em diversos jornais. nomeadamente n' uO Académicoa, em 1886 e tem versos insertos na uSeleeta de Poesias Infantis*, coordenada por Henrique Freire e .editada, nesta cidade, em 1875, por Abrahão Adida, e nas colectâneas: 4Flores da Madeirao, do Cónego Alfredo César de Òliveira e uAlburn Madeirense de Poesias.. .a, de Francisco Vieira, publicadas, também, nesta cidade, respectivamente, em 1871-72 e 1884.

Lem branca (28 de Novembro)

Que prazer e que ventura Tu vens, oh! dia lembrar! Quando darnor, meiga jura Duns lábios ouvi soltar; Quando uma face mimosa, Purpurina como a rosa. EU senti, mas receosa, Meus tristes lábios tocar! . .

Oh! que mistérios encerra Este dia de prazer; Quando o sol doirava a terra Indo-se ao longe esconder, Nesse horizonte infinito Ecoou suave o grito Do teu coração aflito: -(<Serei tua até morrer*. Essas palavras singelas Prenderam-me o coração, E eu, cativo por elas, Rendi-te minha afeição. Nessa jura verdadeira Que tu fizeste fagueira Eu senti que a vida inteira Me davas, casta visão!


Mas ai! eu não quero tanto, Mimosa, cândida flor; Eu só quero, puro e santo. Que me dês o teu amor; É só isto o que eu desejo. Quanto na vida eu almejo. É de quando em quando um beijo Dá-me, oh! anjo do Senhor! Deixa abrazar-me na chama De teus lábios de carmim . . . Quando é doce ter quem ama. Ao seu lado, um anjo assim! Sempre sorrindo contente, Trazendo esp'rança ao descrente.. . Só quem não ama, não sente Tanta ventura sem fim! Cinges-me u colo co'um braço, Que tanta magia tem: Pendida no teu regaço Descanço a fronte também: E assim nesta alegria. Nesta doce poesia Eu vejo sumir-se o dia Nos horizontes d'além. Como se pode na vida Tanta delícia esquecer?! Só quando a fronte pendida Se vá na campa esconder. . . No frio da sepultura Não há gosos nem ventura, Não se ouve damor a jura Que nos deu tanto prazer! Do cipreste a sombra triste Tudo, tudo ali findou; A morte ninguém resiste. Ninguém ousado a fitou; Mas enquanto eu tiver vida Tu não serás esquecida. Que o meu amor. pomba qu'rida. Jamais meu peito olvidou.


Pedro Maria Gonçalves de Freitas (Visconde de Gonçalves de Freitas) 1836 - 1915

Nasceu na Madeira, a 17 de Março de 1836 e faleceu, no Funchal, a 6 de Julho de 1915. Era filho do Capitão António Joaquim Gonçalves de Freitas e de D. Eulália Cândida Gonçalves de Freitas, irmão do Conselheiro, Dr. António Gonçalves de Freitas e tio do Poeta, Dr. Luis António Gonçalves de Freitas e padrinho do Dr. Pedro Maria Gonçalves Preto. acedo se dedicou, como advogado provisionista, a carreira de foro diz o Pe. Fernando Augusto da Silva -e nela veio a conquistar os créditos de um distinto e brilhante causidico. Foi Advogado de algumas causas que ficaram célebres, revelando sempre a pujança do seu extraordinário talento. a argúcia do seu espirito, a engenhosa dialética, da sua argumentação, de par com uma linguagem fácil, imaginosa e cheia de calor e entusiasmo, que impre~sionavaprofundamente os auditórios. Como político, teve entre nós um extraordinário prestígio e houve tempo em que foi o maior influente partidário de todo o arquipélago. Representou a Madeira em cortes. como deputado, nas legislaturas de 1884 a 1887 e 1894 a 1895. e como par do reino electivo, na sessão legislativa de 1887 a 1889. Também foi deputado pela Arquipélago de Cabo Verde, onde residiu alguns anos, exercendo ali a aavocacia.9 Foi funcionário superior das Alfandegas e desempenhou os cargos de Director da Alfândega do Funchal e Governador Civil do Distrito. Foi Redactor do extinto periódico uO Direito* e colaborou em muitos jornais madeirenses, onde se revelou um brilhante Jornalista. Também, se dedicou à poesia. Foi agraciado com o titulo de Visconde de Gonqalves de Freitas. Publicou 12 folhetins. em verso. n' 6 0 Direito*, entre eles os seguintes; $Carta do Padre Capata ao seu compadre do Pauls, em 4 de Novembro de 1857; uA Promessa*, l 1859 e $Carta de Pantalião em 11 de Novembro de 1857; uA Orfã~;em 28 de ~ b r i de Brás, do Arco da Calheta, ao Director d' uO Ilireiton, em 14 de Maio de 1859.

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Folhetim (Excerto)

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Arreda, arreda - p'ra fora Se tens fome aí vai comer; Mas peste p'ras nossas prais, Náo nos venhas cá trazer, Preferimos ser arrasados, Do que da peste morrer.


Quando o cdlera nos matava. Quem nos vinha visitar? Não passavam lá bem longe, Sem p'ra nós sequer olhar? Com juizo procediam? Não nos devem condenar. Está dito; que não há Quem lhe ponha contradita. A coragem e decisão A qualquer povo acredita. É caminhar caladinho . . . Agarrado sempre ao Pita. Que depois dele passar As ordens. p'ra o Guarda Mor. Contra elas ninguém vai, Que não há força maior; É marchar por este lado, Que não vejo outro melhor. Apesar de toda a fúria. Do vice esquio inglês, Lá foram para o Brasil. (P'ra outra parte talvez. . .) Esses muitos passageiros, D o Paquete deste mês.

E que importa a trevoada. Que há-de chover sobre nós? Isso são contos mais largos, Quem têm sens contras e prós, Sempre alguém há-de escapar. Que a chuva não é de mós. C'á sumitiga da peste. Sempre deu grande massada, Mas na crise em que nos vemos, Deve-me ser perdoada: Vou dizer mais uma cousa, Dar um adeus e mais nada.

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Do alto cofre das graças, Não tarda aqui a chegar. Um saco de medalhinhas, Que os serviços vem pagar,


A quem no tempo do cólera. Esteve exposto a espichar. Vem p'ra o Cunha, para o Moura, P'ra o Santos, e Perdigão. E também p'ra o Moniz. Secretário sabichão Que naquele tempo andava C'os calções sempre na mão.

O Cunha, Moura. e o Santos, Merecem - que trabalharam;

E m dificeis comissões, A sua vida arriscaram, Lá por essas freguesias Muito cólera enxutaram.

Neste negócio, o Ministro, Mesmo contra si andou, Igualar quem nada fez. Com quem tanto trabalhou.. . Perdoe-nos Sua Excelência... Isto cá não agradou ....................... Charo mio, adeus, adeus! ... Olha Iá como te ageitas: Terno abraço, um doce beijo De c'erto que nãc regeitas Deste que tanto te adora, Pedro Gonçalves de Freitas.


Gabriel António Franco de Castro 1836

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Nasceu na Madeira, a 2 3 de Dezembro de 1836 e faleceu. em data que ignoramos. Era filho de Gabriel António Franco de Castro, natural de Caminha, Distrito de Viana do Castelo, e de D. Maria Luiza de Freitas, natural desta ilha, consorciada na freguesia do Monte, em 1834, e irmão do P.c José Franco de Castro e primo do Poeta. Dr. António Feliciano Rodrigues (Castilho). Foi Médico pela Escola Médico-Cirúrgica do Funchal, Tenente-Médico da Armada e Poeta e Prosador de merecimento, tendo colaborado n' &O Crepúsculo*, GORec r e i o ~e noutros jornais locais. Tem versos insertos no 4Album Madeirensen. de Francisco Vieira, donde reproduzimos o seguinte poema:

Poesia Ao meu amigo Maurício C. Castelo Branco.

Fadou-te Deus um poeta, Viva fé, crença te deu, Possues no mundo a ventura Segue o caminho do céu; Canta a alta magestade D o grande Deus a Verdade: Exalta o mártir da cruz, Aos írnpios que o céu renegam Que ao mundo venal se entregam, Mostra a verdadeira luz!

E das belas os sorrisos, Tão falsos, como elas são; As meigas falas que mentem Desmentindo o coração; O s prantos sempre fingidos, O s juramentos traídos Esquece p'ra sempre já:Não vás frocar a ventura, Que te ofrece Deus, tão pura, Por isso que o mundo dá! Da mulher fazes um anjo, De mil dons celestiais, Dás-lhe amor, dás-lhe inocência


Em teus versos divinais; E em tua mente exaltada D'ilusões tão povoada, Uma ideia julgo haver: , A mulher. crenças e lira, Legue o vare que suspira, E pode a campa descer!*

Poeta. varre da mente Tão fantástica ilusão; Não creias a mulher anjo, Não lhe dês amor, oh, não! Mente a mulher quando adora! Mente, quando triste chora! Sorrindo, mente também! Mente. jurando ao amante Eterno amor delirante! Mente sempre, e com desdém!

E a tua lira dourada, Tuas crenças, teu amor, Queres nesse teu delírio Da mulher aos pés depor?! Vás em troca da mentira Dar um peito que suspira Nas regiões da verdade?! Vás esquecer que um poeta Da fé denodado atleta Passeia na imensidade?! Nunca, oh nunca: - segue altivo A senda que te apontei: Esquece do mundo as galas; Canta da natura o rei: E verás correr a vida De mil delícias seguida, Cercada de imenso amor; E nem de leve a tristura Turbará tua ventura, Vivendo assim p'ra o Senhor!

Talvez que te desagradem Estas falas que te dou, Talvez sim, porque te lembras -145-


Que muito moço ainda sou: Que mal entrado no mundo. Conhecer não posso a fundo Quanto de mau ele tem: Mas sabe q u e o Franco sente Quanto aqui deixa patente Porque já provou também.


César Augusto Mourão Pita

Nasceu em Lisboa, a 21 de Marco de 1837 e faleceu, no Funchal, a 22 de Maio de 1906. Era filho de Miguel Pinto da Silva Mourão e de D. Joana Marques. Tinha apenas três mêses de idade, quando o Dr. Antón~oda Luz Pita o adoptou como filho. na ocasião em que. passando pela Madeira, acompanhado de seu pai (que ia cumprir pena maior. em África) e de sua mãe, que fora acometida de doença repentina. e veio a falecer no Hospital de Santa Isabel. desta cidade, deixando-o desamparado. O Dr. António da Luz Pita, médico e Director do Hospital, educou-o e mais tarde, mandou-o estudar medicina, para a Universidade de Montpelier, onde se formou, defendendo a tese uDu Climat de Madère.. .n que publicou, em Montpelier, em 1859, num volume de 262 páginas. Foi durante muitos anos Consul da França, nesta Ilha; Médico Militar, alcançando o posto de Cirúrgião de Brigada; Procurador à Junta Geral: Director clínico do Hospício da Princesa D. Amélia, etc. Usou o apelido de Pita, em homenagem e reconhecimento ao seu pai adoptivo. Além da sua tese de doutoramento, publicou mais os seguintes livros: uO Conflito entre o Governador Civil e a Delegação do Conselho de Saude do Reino*, Funchal, 1865. aMadère, Station Medicale Fixe*, Paris, 1889. Também se dedicou à poesia, tendo versos insertos n' uO Patriota)), número único publicado nesta cidade, a 14 de Fevereiro de 1890. Como a Madeira foi a sua pátria adoptiva, julgamos ser de justiça inclui-lo neste Espiciiégio.

Soneto Quem tem alma, o sentimento nobre, Dum brado altissonante levantar Contra a opressão a Pátria. que hoje é pobre. De oiro sim, mas.. . rica no pensar.

E Portugal que, pobre mas ousado, Desdobra ao mundo a história da honradez Numa única voz, num valente brado, E faz reinar a insólita altivez.

E eu, teu filho, humilde, bem o sei, Uno a minha voz à valente grei! Co'a força desta alma, que é tua, o sinto. Saudando em ti, teu povo generoso, Quanto valente, nobre e grandioso, É o grande herói, o nobre Serpa Pinto.


Alípio Augusto Ferreira

Nasceu na freguesia de Santa Cruz, a 27 de Dezembro de 1837 e faleceu. na cidade de New-York, na miséria e na maior obscuridade. a 3 de Agosto de 1915. Foi Professor de Instrução Primária e Redactor Principal do jornal uA Pátria*. Teve uma valiosa colaboraçáo. em prosa e verso, em muitos periódicos, desta cidade. nomeadamente na *Gazeta da Madeiran e escreveu as novelas: r u m Sacrilégio* e <Romance em seis capítulos*, que não foram publicados em volume. saindo apenas alguns excertos, em alguns jornais. Tem várias poesias insertas nos livros: uFlores da Madeiras, do Cónego Alfredo César de Oliveira e uAlbum Madeirense de Poesias.. .B, de Francisco Vieira:

Ela Ver uns cabelos castanhos, Uns olhos da mesma cor, Encarar a tez de jaspe. Um sorriso sedutor. Uma boca que só diz Expressões puras damor. Uns lábios por onde passam Suspiros do coração. Um seio tão palpitante, Lindo braço, breve mão, Quem poderá contemplá-los Sem nutrir uma paixão? Não eu que meu peito, ao ver-te. Escravo teu se tornou, Do homem o coração O bom Deus assim formou; Viu as graças da beleza. . . Logo rendido ficou. E quem seria na terra Que desejasse viver, Quem acharia prazer Nas coisas que o mundo encerra. Quem afrontaria a guerra,


Quem na luta vida dera E glória quem. a quizera Se na alma apaixonada. Da mulher idolatrada A imagem não a tivera? Sabe, pois, anjo querido, D'entusiasmo os furores Só sinto desde que amores Tenho no peito nutrido. O mago acento sentido Da tua doce expressão. Foi quem ao meu coração Existência nova deu, O nobre peito que é teu Não manches dringratidão.

A El-Rei o Senhor D. Luiz no aniversário natalício de Sua Mugestade

Ainda ha pouco pululavam lágrimas: O povo viu da desgraça o cúmulo: Um rei modelo de virtudes cívicas Descera, jóvem, à mudez do túmulo.

E lá na campa não'findou. tirânica. O amor que o anjo conquistou simpático: Por Ti, oh Rei. nos corações magnânimos Renasce o afecto. cordeal enfático. Sulcaste o dorso do Oceano túmido

Em lenho frágil, de perigos ávido: Das turvas ondas da letal política. Nos salve agora. Palimuro impávido! Tu és a estrela que fulgura. vivida. Dos portugueses lá no sólio régio; E's o santelmo. és a luz poética De nós querida, Soberano egrégio. Espera o povo que será aurífero

O teu reinado de tão belo auspicio: E os portugueses, cum fervor patriótico. Saudamos, ledos, o teu natalício.


Luís Augusto Alexandre Ribeiro de Mendonça (Barão de Usel)

Nasceu no Funchal. por 1839 e faleceu, nesta cidade, a I de Junho de 1903. Era filho do Professor, Escritor e Poeta, Marceliano Ribeiro de Mendonça. Foi Professor da cadeira de francês. do Liceu do Funchal. Conhecia. profundamente, as línguas francesa e inglesa, tendo na primeira, deixado inéditas, algumas composições. em prosa e verso. Como Professor, honrou o ensino de Iiistrução Secundária, afirmando sempre as belas qualidades da sua inteligência. Exerceu o cargo de 1.0 oficial do Governo Civil e por diversas vezes, o de Secretário Geral do Distrito. Foi, também, actor-amador de muito talento, sendo sempre bastante aplaudido e festejado pelas plateias, tendo tomado parte. entre outras, na peça teatral de Jaime Câmara, cJúnias levada à cena no ((Teatro D. Maria Pia)), ensaiada pelo Visconde da Ribeira Brava, e na comédia, de D. Matilde Sauvayre da Câmara. <<O Morto i Forçaa. levada a cena no {(Teatro D. Maria Pian, na noite de 22 de Junho de 1901, a quando da visita, a esta Ilha, dos Reis de Portugal. D. Carlos I e da Kainha D. Maria Amélia. Além do título de Barão de Usel, era cotidecorado com os hábitos de Cristo e Conceição e as Comendas da Ordem de S. Estanislau, da Rússia. e tinha a patente de Tenente do extinto Batalhão de Artelharia Auxiliar. Colaborou nalguns jornais madeirenses nomeadamente na revista da Semana? e n o <Almanaque de Lembranças Madeirense)>. e tem versos insertos nas colactâneas, ((Flores da Madeiras e aAlbum Madeirense de Poesias. . . B

O pobre Sou pobre, mas posso, Formar um desejo: Sou pobre. quizera Ter tudo o que vejo! Sou pobre, quizera Palácios sem par, Quizera castelos A beira do mar:

E montes e vales, E terras sem fim; Quizera ver templos Alçados a mim.


Sou pobre, mas posso Formar um desejo: Sou pobre quizera Ter tudo o que vejo! Ter tudo o que vejo!. Tudo quanto vês: Quizera este mundo Submisso a teus pés. Quizera senti-lo Gemer e chorar, Qual geme, qual' chora. Nas rochas o mar.

E depois lançado De rojo a teus pés. Dizer-te oh! meu anjo. É teu quanto vês.

AS terras, o mar, O mundo é meu; E eu oh! meu anjo Quizera ser teu.

Desejo à minha cunhada (em J k s Palmas).

Eu quizera o comprimento Dos meus braços igualar

A grandeza do afecto Que nalma sinto pulsar.

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Para. a vocês. todas quatro, Numa explosão de alegria, Ir levar meus parabéns, Num abraço, neste dia!. . .

-


Cónego Alfredo César de Oliveira

Nasceu na freguesia de Santa Cruz a 22 de Maio de 1840 e faleceu, em Évora. a 19 de Abril de 1908. Era filho de Augusto César de Oliveira. Foi Escritor, Poeta e Jornalista. Como escritor poucos o rastearam e nenhum o excedeu nas lutas do jornalismo. nas quais a sua pena inexgotável e a um tempo, humorística e severa. se destacára sempre com um explendor característico, pessoal. único e inconfundive1. Como Poeta foi insigne, escrevendo várias poesias líricas que andam dispersas por diversos jornais. nomeadamente no rDiário de Notícias*. de que foi fundador e director. uA Lâmpada*, de que foi também fundador e Redactor Principal, *Imprensa Livre*, revista Semanal*, uAurora do Domingo%e uA Crença*. co-auror das uFlores da madeira^, colectânea de poesias de Poetas Madeirenses, publicada em 1871, e escreveu, os romances: uUma noite num hotel* e @OsMistérios do Funchaln.

A El-rei o Sr. D. Pedro V De Deus no trono. já te uniste àqueles A quem do peito tributaste amor; Na terra ingrata só sofreste angústias, Acerbas mágoas e pungente dor.

A mãe que soube, como poucas, sê-10, Sem dó roubou-ta a famulenta morte; Choraste a falta que ninguém suprira.. . Provaste cedo do rigor da sorte. Depois amaste.. . mulher não.. . foi anjo

A quem no templo do Senhor te uniste; Mas ai! seus alhos, que formosos foram. Também cerrados para sempre os viste. Corre-te o pranto sem matar saudades, Que só no gelo do sepulcro expiram; Mas não sucumbes; que outra vida aguardas Onde há prazeres p'ra os que dor sentiram. Teu povo .aflige assoladora peste; Inda mancebo, foste pai zeloso:


O enfermo buscas que se volve em palhas, E a dextra augusta tu lha dás bondoso!

E lá de Espanha quando a baixa inveja Sedentos olhos para nós volvia, Leal o povo <Liberdade ou morten! Em ti fiado, com fervor dizia.

Oh! o voto escuta da briosa gente, E a Deus implora, na celeste corte, Conserve livre esta nação de heróis, Senão... não prive nem a um da morte. Rei impunhaste do martírio a palma Depós um ceptro que não tem labeu; Envolta em luto esta nação fiel Por ti envia oracões ao céu.

Saudades Suspiros voai além Aos campos onde eu vivia, A terra de minha mãe, Berço de minha alegria. A risonha primavera, Tão linda como ela era, Se eu gosá-la ali pudera, Mágoas mil esqueceria! Nem oiço do canarinho Leda canção namorada, Nem a do terno papinho De saudade repassada. Nem a insonte mariposa, Prra poisar na branca rosa, Vejo voar apressada;

Nem vejo o sol luminoso,

A erguer-se lá do mar, Tão soberbo e magestoso Raios de luz derramar; E desse almo criador Que estua e treme alva flor No tenro calix, de amor Lânguido beijo libar;


Nem vejo a abelha em segredo Entre flores a zumbir, Leve tangindo-as a medo. @ doce suco extrair, Nem. qual virgem que se esquiva Rubra cor amostra viva, Contrair-se a sensitiva Se brando a aragem sentir; Nem vejo a fonte de prata Limpida. fresca. luzente, Que da penha se desata. E no prado molemente Murmura frase entendida Pela flor estremecida Que assume graças e vida Dobrada sobre a corrente. . .

Que saudade o peito meu Tem da terra onde nasci. Onde vi primeiro o céu E a amar a Deus aprendi!

O que saudades me acalma Sãc suspiros que vêm dalma Que em verso traduzo aqui. Suspiros, voai além. Aos campos onde eu vivia, A terra de minha mãe, Terra de amor e poesia.


Joaquim Pestana

Nasceu na vila de Câmara de Lobos, a 24 de Dezembro de 1840 e faleceu, no Funchal. na freguesia de São Martinho, a 6 de Fevereiro de 1909. @Consideradodentro da época literária em que viveu-a do romantismo-Joaquim Pestana-disse o P.e Eduardo C. N. Pereira-foi um dos mais distintos Poetas líricos da Madeira. Poeta de género ultra-romântico, seguiu a escola do seu fundador A. A. Soares de Passos. filiando-se na corrente dos Poetas do uNovo Trovadorn, cujas composições se inspiravam no sentimento e na natureza, e eram repassadas dum lirismo melancólico e doentio. A sua vasta colaboração em revistas. jornais e almanaques portugueses e brasileiros, tornou Joaquim Pestana conhecido e admirado em todo o pais e no Brasil inteiro, criando-se em volta do seu nome uma auréola de fama, como ainda não a obteve em vida nenhum Poeta ilhéu. A sua colaboração era disputada, sobretudo pelas revistas de caracter católico e foi através do <Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro*, ao tempo uma das mais distintas publica~õesliterárias, pela selecção dos seus colaboradores, que tão laureado Poeta madeirense conquistou, desde 1870, as maiores simpatias e palmas de glória, nos dois países irmãos*. Deixou um livro inèdito intitulado: *Espinhos e Floresn e tem versos insertos nas colectâneas #Flores da Madeira*, rAlbum Madeirensen e colaborou nas seguintes publicações: uAlmanaque de Lembranças Luso-Brasileiron, <Almanaquede Senhoras*, oAlmanaque Literário e Charadísticon, alman na que Insulanon, uAlmanaque Literário Alagoano das Senhoras*, &Almanaque da Madeiran, uAlmanaque Ilustrado, Literário e Charadisticos, uAlmanaque D. Luís*, *Almanaque do Diário de Anúncios*, *Album Literários, revista uRamalhete do Cristão*, aDiário de Notícias*, <Diário da Madeira*, e 0 Direito*, *Diário do Comércios, uA Lâmpadas, <Diário da Manhãn, GA Violetan, progresso Católicon e *Diário de Anúncios da Ilha de São Migueln.

As crianças A Joaquim Teixeira

Nas margens do Jordão, na antiga Palestina, Jesus lá fez surgir o sol da Redenção! E tudo se alegrou co'a paz da luz divina, A lei que assim nos diz:-uamai o vosso irmão!* E todos, num cismar de ignotas harmonias, Falavam, entre si, da lei do seu Messias!

E as mães em doce voz, diziam com ternura: -uSenhor! abençoai os nossos querubins; Oh! dai-lhes o vigor, a graça, a formosura,


Que sejam sempre bons, que sigam doces fins!. Jesus, num meigo olhar, sorria as esperanças Daqueles corações, tão puros, de crianças.

E os servos do Senhor, de inveja corroídos  paz daquele amor. co'os lírios inocentes. Repelem, com desdém, os braços condoidos O s anjos do porvir nas rosas florescentes: Jesus, em doce voz, e aos brilhos purpurinos. Responde:-uOh; vinde a mim, oh viiide pequeninos!*

Canção do Marinheiro Minha barca, meu tesouro, fende os mares, vai além!. . . Vejo sempre o astro d'ouro a dizer-me: ufilho, vem!. . . » Minha barca, meu tesouro, fende os mares, vai além!. . . Não invejo os bens da terra que só trazem desventura! Sobre o mar o peito encerra mil segredos de ternura!. . . Não invejo os bens da terra que só trazem desventura! Eu não temo a vaga altiva. nem das ondas o furor; sua vista me cativa que é sublime o seu amor. Eu não temo a vaga altiva, nem das ondas o furor. Tenho noites d'almo goso vendo a barca a velejar! É mais livre este repouso sobre as águas dalto mar. Tenho noites d'almo goso vendo a barca a velejar! Quando surge a meiga aurora sinto n'alma a voz de Deus; minha fronte não descora ante a luz, e o mar, e os céus!


Quando surge a meiga aurora sinto n'alma a voz de Deus! Minha barca, meu tesouro, fende os mares, vai além!. . . Vejo sempre o astro d'ouro a dizer-me: ((filhovem! . . Minha barca, meu tesouro, fende os mares, vai além! . . . .))

Camões Alma minha gentil que te partiste.

CAMÕES Na gruta de Macau, pensando estava Camões. o grande vate lusitano: de longe. ii'essa aragem do oceano, lhe vinha o meigo som de quem chorava. Era d'ela essa voz, celeste e boa, que lhe vinha dizer:-osuspiro e choro. porque vivo sem ti meu bem, que adoro.. . ah! que vida cruel.. . adeus.. . perdoa!

Eu presinto da morte, em lábio triste, esse beijo fatal. . .o Camões chorava e dizia:- uMeu sol que eu tanto amava, alma minha gentil que te partiste,!


Maurício José de Castelo Branco Manuel

Nasceu no Funchal, em data que desconhecemos e faleceu, repentinamente, na sua Quinta, próximo de Santo António, do Funchal, em 1900. Era filho do Dr. Juiz, José Fernando da Costa de Castelo Branco Manuel, natural da Vila de Valezim, Continente, e de D. Josefa Mendes de Castelo Branco Manuel, natural desta Ilha, e pai do Merechal, José de Freitas Teixeira Spinola de Castelo Branco e do Poeta, Maurício Carlos de Castelo Branco Manuel. Frequentou o Liceu desta cidade e o de Coimbra e desempenhou, por alguns anos, o cargo de Escriturário de Fazenda, no Funchal. Colaborou n' 6 0 Direito*, uO Recreio*, uO Crepúsculon e *O Diário Popular)). Tem duas poesias insertas no aAlbum Madeirensen, de Francisco Vieira, donde reproduzimos a seguinte:

Antes morrer De que serve, anjo. eu amar-te Se minha não podes ser? Se prejuizos do mundo, Aos quais voto ódio profundo Mandam morte ou. . . esquecer?! Esquecer-te. virgem, como? Vive acaso a pobre flor Sem orvalho que a sustente? Soltará trino cadente Ave que não tenha amor? Esquecer-te! Acaso a estrela Brilharia lá nos céus, Rugiria o vento solto, Andaria o mar revolto Sem o mandato de Deus?! Esquecer-te? O filho esquece O amor da boa mãe? Porventura o navegante Esquece a pátria distante Nos tormentos que o mar tem?


Esquecer-te! Acaso o peito Pulsará sem vida aqui? Pode haver um só momento Que sem dar-te o pensamento Eu possa dizer: - vivi ! ? Impossivel ! Nunca, virgem ! Meu amor há-de aqui ser Sempre o mesmo. santo e puro. Esquecer-te!? Nu nca-juroAntes, Lucinda, morrer ! Além da vida na terra Outra Deus nos prometeu. . . Já que o mundo com fereza Impõe leis a Natureza, Tu serás minha no céu.


Georgina Dias de Almeida

Nasceu e faleceu nesta Ilha, no Século XIX. Não conseguimos obter os seus dados biográficos. Dedicou-se a poesia, tendo versos insertos no uAlbum Madeirense de Poesias. . .B. de Francisco Vieira, publicado nesta cidade, em 1881. Eis uma poesia da sua autoria:

Poesia Na 3 . a página do Album da minha amiga c prima, D. Leolinda Dias de Almeida. Se eu fora poetisa, no teu album em branco, Versos aos teus anos, saudosa, escreveria, Recordando leda. brinquedos dessa infância Que foram nosso enlevo, sol que nos sorria! Lembras-te? era eu jóvem e tu gentil criança, Brincavamos adorando o seixo, o escarcéu. .. Tudo era nesse tempo, o quê ?-um mar de esp'rança ! Mas.. . crescemos ambas. .. toldou-se o nosso céu!

Se poetisa eu fora. sim, da minha lira Soltaria um cântico a ti, ó Leolinda! Afectos desse tempo, em verso escreveria, Deixando-te no album uma saudade infinda!


Leolinda M. Jardim Vieira

Nasceu na Madeira, em data que ignoramos e faleceu, no Funchal, na segunda metade do século XIX. Era filha de João Caetano Jardim e de D. Maria Florinda Gonçalves e esposa do Poeta João José Vieira, co-Autor da aGuianeidan. Residiu no seu solar, situado a Rua da Conceição, desta cidade, onde hoje está instalado o Colégio do Professor Luis Eduardo de Castro Júnior. Dedicou-se ao canto, à música e a poesia. Colaborou no uAlmanaque de Lembranças Luso-Brasileiron e ((Gazeta da Madeira*, em 1866 e tem poesias incertas na colectânea, *Flores da Madeiran, do Cónego Alfredo César de Oliveira e Dr. José Leite Monteiro. publicada nesta cidade, em 1871 e 1872.

Sobre a Campa DA MINHA PRESADA IRMÁ ISABEL C. JARDIM Florinha sentida, tão triste e tão bela, Pois não tens vaidade De viver na campa de rosa singela . . . Funérea Saudade ? !

Um Goivo sinistro, que luto ele encerra, Que mágoas e ais ! . . . Revela tristezas colhidas na terra, Tristezas não mais ! . . . Tristezas exprime do anjo finado, Que a terra escondeu,E o orgulho da lousa por ter encerrado Um anjo do céu . . . Tão cedo no leito da morte repousas, De cinzas cercada ! Roubou-te os encantos da face de rosas A tumba gelada . . . Descansa, meu anjo, que à vida no mundo Preside esta lei; Descança, que um dia, da campa no fundo, Contigo eu serei !


Maurício Carlos de Castelo Branco Manuel 1842- 1910

Nasceu na Madeira, por 1842 e faleceu. em Santo António do Funchal, a 6 de Outubro de 1910. Era filho de Maurício José de Castelo Branco Manuel, Escriturário de Fazenda, nesta cidade, e de D. Dionisia de Freitas e Abreu Castelo Branco Manuel e irmão do Marechal. José de Freitas Teixeira Spinola de Castelo Branco e pai do Pintor de Arte e Escultor. Gastão de Castelo Branco e de D. Gabriela Castelo Branco Machado, esposa do Dr. Vicente Cândido Machado. Colaborou n' 4 0 Crepúsculon, $Diário Popular*, $0 Recreior, uO Direito* e noutros jornais madeirenses e tem versos incertos nas colectâneas: $Flores da Madeira* e uAlbum Madeircnser. . .

Revivi Nasce entre as frágoas de escarpado serro Cheia de aromas e virente a flor; E vive e cresce, desabrocha o seio Sem ter na vida conhecido a dor.

E eis que um raio do estio ardente Trazer a flor o desalento vem, Já nem a noite dá conforto a triste, E a brisa corre sem perfume além. Mas quase morta, já sem forças, exausta, Quase perdida a purpurina cor, Se lhe cai junto cristalina gota Kevive a planta com maior vigor. Assim, oh virgem, como a flor agreste Outr'ora tive doiro sonhes mil, Desejos, crenças, mas voaram todas Qual fogo etéreo que passou subtil. Voaram todas! Só mirrado e frio Ficou meu pobre coração aqui, Foram-se os sonhos que meu berço ornavam, Esp'ranças, crenças e amor perdi.


Perdi ! Mas hoje qual celeste gota. Que branca núvcm sobre a flor verteu, Revivem belos os passados tempos, Achei a vida num sorriso teu !


Luís de Ornelas Pinto Coelho 1843-1920

Nasceu no Funchal, a 21 de Fevereiro de 1843 e faleceu, nesta cidade, a 17 de Março de 1920. Era filho de Joaquim Pinto Coelho e de D. Maria Carlota de Ornelas Linhares Pinto Coelho, neto paterno do Tenente-Coronel Joaquim Pinto Coelho e materno do Morgado Aires de Ornelas de Linhares e irmão dos Jornalistas, Frederico e Jacinto Pinto Coelho. Julgamos que não possuía diploma algum literário - diz o uElucidário Madeirenseh 2 ainda mesmo o da instrução primária, mas soube suprir com perseverante amor a leitura e ao estudo, aquela deficiência. chegando a ter entre nós uma verdadeira supremacia no campo literário e jornalistico. Teve uma vasta colaboração em muitos jornais madeirenses, nomeadamente no *Diário de Notícias*, podendo afirmar-se que neste periódico. como seu redactor, no período de algumas dezenas de anos, publicou mu,itos centenares de artigos, que dariam uma dúzia de grossos volumes. Raramente enviava-para o jornal qualquer escrito que não fosse o artigo de fundo ou de polémica. tendo a sua prosa uma fúrma elegante e correcta. que despertava especial agrado. Teve entre nós o primado da poesia. Enibora dum lirismo um pouco antiquado e talvez fora da época, é certo que ninguém o excedeu na cadência harmoniosa do verso e na beleza impecável da forma. Era, sem contestação, um inspirado e distinto poetas. Desempenhou, por muitos anos, o lugar de Chefe do Corpo da Policia Civil. deste Distrito, Foi Redactor, durante algumas dezenas de anos. do Diário de Noticias*, e colaborou no uAlmanaque de Lembranças Madeirensea, <Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiros, a 0 Direiton, Imprensa Livres, uVoz do Povon, %Estrela Literária* e noutros jornais desta cidade, e no Brasil, onde esteve no tempo da Guerra do Paraguay, publicou várias poesias no <Diário do Grão Pará~.

Crença Imovel, reclinado sobre o leito, como guerreiro na batalha exangue, vejo dos lábios gotejar-me o sangue. sinto convulso o coração no peito, Nesta longa agonia que me oprime. de dia e noite, inexoravelmente, encaro a morte, como um dom clemente que a morte é o anjo bom que nos redime.


Dos tormentos da vida libertado, vou dormir o meu sono socegado, entre os ciprestes. sob o azul dos céus. Da natureza no cadinho imenso, vou decompor-me! Mas eu sinto e penso que existes, alma, porque existe Deus!

Morta ( Na virivez do meu presado amigo Dr. Atiti,nio Feliciano Rodrigues).

Como pende no caule o delicado lírio se passa junto dele o desabrido norte, aquela que na vida amaste com delírio, a luz dos olhos teus, a cruz do teu martírio, a pomba imaculada, adormeceu na morte! Era bela e gentil. a rosa alvinitente, teu enlevo e orgulho, e teu maior prazer; botão que no teu seio abriu docemente ao sol, de puro amor. . . e tomba de repente ... meu Deus, era tão cedo ainda p'ra morrer!

O seu vulto distinto, esbelto, insinuante, redoma da su'alma, eleita. dealbada, deixou, como no espaço a estrela fulgurante, o sulco luminoso, etério, edificante dum grande amor de mãe, de esposa dedicada. Como núvem que passa, além, no firmamento dourado do arrebol, num poente indeciso: como o aroma da flor, levado pelo vento, e como sobe a Deus o nosso pensamento, ela voou também, ave do paraíso.

E tu ficaste só na enlutada estância, no templo solitário, onde o altar caiu. Oh! malogrado afecto, oh ! desolada infância, a que foi para vós o mimo e a fragância, do ninho maternal, desapareceu, fugiu !


.Mas enxugai a face. em lágrimas banhada, ninguém transgride a lei e a morte é lei suprema, já da esposa e da mãe, por vós idolatrada, o espírito gentil, liberto do seu nada, recebe da virtude o imortal diaderna.

Esperando a morte Ao Padre Fernando A. da Silva

Ergue-se núvem negra á borda do meu horto. e o sol empalidece, a resvalar da altura: caminho e, sem a ver, presinto a sepultura, trazendo, vivo ainda, o coração já morto. Viver de condenado, esperando a cada hora a segure do algoz, sinistro, formidável, que vai rojar-lhe a fronte ao antro miserável dos vermes sem amor, das trevas sem aurora! No meio desta dor, em que a razão delira, deste inferno do Dante, eu peço, ó minha lira, no derradeiro harpejo os cânticos d'Orfeu. Vou repousar, emfim ! Mas, ao findar a liga, soldado democrata, a lanqa da Justiça s6 a rendo a Jesus . . . que nunca se rendeu!


Matias Figueira da Silva 1843 - ?

Nasceu no Funchal, por 1843 e faleceu nos Estados Unidos da América do Norte, depois de 1921. Era filho de José Figueira da Silva. Frequentou o Liceu do Funchal, em 1864 e as Faculdades de Matemática e Filosofia da Universidade de Coimbra. mas por motivo de doença. regressou a Madeira, só voltando a Coimbra, u m ano depois, para se matricular na Faculdade de Direito, cujo curso também não concluiu, por se ter agravado os seus padecimentos pulmonares. Fez depois uma viagem aos Estados Unidos da América do Norte, onde*possuia um tio, com alguns meios de fortuna e matriculou-se, passados alguns tempos, numa escola de medicina, cujo curso concluiu. com distinção. Exerceu durante muitos anos a sua profissão, na cidade de Brooklyn, onde foi muito considerado, pelo seu saber, tendo abandonado a clinica, por 1917. Em quanto residiu na Madeira, colaborou n' uO Recreio*, uO Direiton, uImprensa Livre%,GAFusão* e <<Gazetada Madeira$ e, em New York, em revistas de medicina. Foi um dos autores da aGuianeida~,poema herói-cómico que nunca chegou a ser publicado, nias de que existem cópias, em poder de várias pessoas. Colaboraram nesta obra, cujo tema era a emigração madeirense, para a Guiana Inglesa, os Poetas: Maurícis Carlos de Castelo Branco Manuel. João José Vieira, P.e Carlos Acciaioly Ferraz de Noronha, Francisco Clementino de Sousa, Gabriel António Franco de Castro e José Marciano da Silveira.

Deixa que eu cante! No album da E x m a . Sra. D. , . . .. . .. . Vai a núvem nos ares com encanto, Com seu manto a estrelinha esconder, Por momentos lhe tolda a beleza, A lindeza quer louca exceder. Vem a onda na praia. formosa. A mimosa conchinha beijar, E com lábios de espuma tão pura, Com candura vem erguê-la no ar. Já o sol desponta no monte.

No horisonte já surge o clarão, Logo a gota de orvalho sem vida, Cai pendida da folha no chão.


Já o inverno com'manto gelado,

Embuçado começa a surgir, Logo a tenra florinha isolada, Cai murchada em seu mago existir. Mar a gota, a flor, a conchinha, A estrelinha de triste viver, Não lhes foge a beleza. a candura. Inda dura seu almo poder. Que lhe importa que nuvem ligeira. Passageira lhe tolde o fulgor, Se depois de passar a penumbra. Mais deslumbra seu terno candor ! Deixa, pois, que descante na lira, Que suspira por trovas de amor. O s encantos fadados por Deus, Que dos céus só em ti soube pôr.

Versos Dedicados d Atriz Maria José hendonça, na noite do seu benejício, em 12 de Dezembro de 1866 e publicados na uGazeta da Madeirac, em 15 de Dezembro de 2866. Nos céus astro fulgente que cintila Em todo o brilhar seu, seu fogo incerto Que formoso não é ! Mas a meiga estrelinha tremulando Na imensidão do espaço, lá perdida, Encantos também tem ! Larga torrente, eu amo, magestosa Que socegada passa na campina: Serena em seu poder Mas inquieta voa que cantando Da serra desce em fitas dalva espuma Ai ! fala ao coração ! Por sobre as outras flores se ergue a rosa,. E sua fronte linda ao sol baloiça, Contente porque a vêm: Mas sobre a folha esconde-se a violeta, E a formosa açucena a hástea inclina P'ra fonte onde se vê.


Assim tu. pura virgem, meiga e linda A quem dedico as notas sem encanto Desta singela voz: Não voas como a águia altiva e nobre Que simbolisa o génio, e sem esforço Até ao céu lá vai. És como avesinha que pousada . Seu mago canto solta da balseira De tarde, ao pôr do sol. Com tua meiga voz falar não podes A áspera língua das paixões ardentes, Onde fogo reluz ! . . . Mas damor virginal dizer sereno, Onde alma cândida transluz formosa, Quem como tu dirá? De filial amor alrnos carinhos, E graças infantis tão inocentes, Quem os traduz assim? Tudo o que é puro e nobre e santo e meigo Expressar tudo sabes, para tudo, Acento tens na voz, És como pura fonte inexgotável, Onda nova de prata a cada instante Brotando sem cessar. És como o som da lira que tangida, Quando uma nota ao longe vai perder-se Outra de novo soa. Aceita pois esta sincera prova De amor e de afeição, não tem encantos, Mas sai do coração! Na c'roa que hoje colhes tão virente. Doutras rosas aumente o vivo brilho, Pobresa desta flor. Outra voz ouvir podes mais sonora, De maior harmonia e mais encanto, De mais verdade não !

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Maria Luiza da Costa Pereira

Nasceu na Madeira, a 25 de Maio de 18442 e faleceu em data que ignoramos. Nas colectâneas (<Floresda Madeira)) e eAlbum Madeirense de Poesias., e em vários jornais desta cidade, apareceram poesias firmadas com os nomes de Maria da Costa Pereira e Luiza Maria da Costa Pereira. Supomos que estes nomes são desdobramentos da mesma Poetisa, a Dra. Maria Luiza da Costa Pereira. Colaborou nas colectâneas acima citadas e em muitos jornais funchalenses.

Sexta-feira da Paixão De joelhos, Cristãos! de joelhos! Face em terra prostrai, recolhidos! Neste dia. que envolve misterios, Sejam preces os nossos gemidos

De joelhos, Cristãos! nosso pranto Do imo d o peito na terra soltemos! E de longas, remotas idades. D'ora~õesum só eco invoquemos:

D'olhos cerrados, ouçamos A sacra memoração Que desprende, neste dia A humana veneração.

Bebamos todos contritos, Este nectar que dá luz; Esta fé, que nos repassa, Vendo e m luto imersa a cruz!

E o templo santo ostentando Sempre este culto fiel.. . Que tão doce alento mana. Na vital veia de fel!


E flores, e frutos d'almas, E pranto. e fé elevamos A pomba casta, que chora! Com ela também choremos!

Choremos, sim,à memória Da Morte do Redentor, Co'a Virgem pura que chora, Casta Mãe, pranto d'amor!


Afonso de Almeida Fernandes

Nasceu na Madeira, a 7 de Julho de 1844 e faleceu. em Lisboa, a 15 de Junho de 1925. Formou-se, em Direito, em 1868. na Universidade de Coimbra. Exerceu os cargos de Juiz de Direito, nas Cornarcas da Ponta do Sol e do Funchal e, depois, em Idenha-a-Nova. Évora e nas relações de Lisboa, Porto e Açores. Tomou pòsse do cargo de Juiz da Comarca da Ponta do Sol, em 28 de Julho de 1881, tendo sido o 4.0 Juiz dessa Comarca. É autor da interessante poesia, que abaixo reproduzimos, intitulada: uO Cristão no Circo de Roma*, publicada na extinta uRevista da Semanan e coleccionada. depois, nas uFlores da Madeira*, pelo Cónego Alfredo César de Oliveira e Dr. José Leite Monteiro, em 1871.

O Cristão no circo de Roma Dolorem et tribulationem inveni, et nonlem Domini invocati.

Folgai oh grandes da terra! Desse fel que o mundo encerra Não bebeis um trago só ? ! . . . Folgai, é vossa a riqueza, Calcai aos pés a pobreza, Manchai-lhe a fronte no pó.

Que vos importa um gemido, Para vós, vago zumbido De verme que roja o chão? Uma lágrima sentida. Gota no mundo perdida, Não vos inquiete em vão!

Despresai a voz da fome, Eco que o vento consome E não perturba o festim! Se anelais cândidas rosas. . . Sugai as flores mimosas, Cuspi-lhes deshonra assim! . . .


Também tu, povo maldito. Abafa da morte o grito Com gargalhada infernal! Se vos apraz só ver tinto Com meu sangue este recinto, Folgareis, povo brutal ! Folgareis, porque esta vida, De robusta fé munida, Se vai desprender aqui! Não temo fauces de fera, Que só no meu peito impera Chania que nele acendi.

O fogo que me devora É crime que nesta hora Me condena como réu ! Que m'importa pois vingança, Se a eterna, rica herança, Hei-de eu encontrar no céu! Neste pélago profundo, Caos a que chamam mundo, Não conheci senão dor! Abracei a crença pura: Reneguei falaz ventura, Pela fé do Redentor. Cristão sou! Erguendo a fronte, Como o cedro lá no monte, Encarneço do tufão! Não me derruba o martírio, Como à bonina e ao lírio Dobra o vento para o chão! Quero a taça da amargura Sustentar com mão segura, Esgotá-la sem tremer! Sem tremer! porque o meu Deus, Resgatando os filhos s.eus, Ensinou-me a bem morrer. Entre tormentos ferinos, <Perdão para os assassinos* Balbuciava Jesus!


E a fronte lhe pendia, E o sangue lhe corria Pelo madeiro da cruz! Era a voz da divindade, Murmuraiido caridade No derradeiro anciar ! Foi um exemplo eterno De sublime amor fraterno Que se não deve olvidar.. . Escuta, Senhor, a prece, Que do peito se esvaiece, Como o perfume da flor. Ouve u m voto derradeiro: &Perdoao erro grosseiro, Da luz ao pagão, Senhor!*


Frederico da Silva Barreto ?

- 1925

Nasceu nesta Ilha, a 2 de Abril de 1 8 . . e faleceu, em Santo Amaro, freguesia de Santo António do Funchal, a 19 de Fevereiro de 1925. Pertencia a uma das mais antigas e distintas famílias da Madeira, tendo mantido sempre as nobres e honrosas tradições dos seus antepassados. Era filho do Consul Geral de Portugal nas cidades anseáticas, João Crisóstomo da Silva Barreto e de D. Matilde Augusta de Aragão Barreto e irmão do Dr. António Alfredo Àlvares da Silva Barreto. A sua muita modéstia, ainda mais fazia sobressair os raros dotes cio seu espírito e inteligência, da sua educação esmerada e da sua instrução, que era variadissima. Era particularmente versado nas línguas francesa e inglesa, que falava e escrevia correctamente. Viveu sempre num sa,lutar e tranquilo isolamento, alheio a todas as paixões e interesses políticos ou pessoais. Frequentes vezes, durante os verões, isolava-se ainda mais da sociedade, percorrendo a pé as mais remotas freguesias desta Ilha, para se entregar aos exercícios da caça, pelos quais tinha decidida e irresistivel predilecção. Colaborou no aAlbum Literário>),publicado nesta cidade, em 1885, donde reproduzimos esta sua poesia:

Adeus a pátria Adeus. brisa que gemes Nos frondosos ramais, Adeus noites de paz, De saudoso luar. Adeus, hinos d'amor, Que desprende o papinho, Lá junto do seu ninho Dalvorada ao raiar. Adeus trovas cadentes, Adeus fadas d'amores, Adeus campos e flores. Adeus terra.. . adeus mar. Adeus ilha d'encantos, Adeus terra ditosa, Pátria minha saudosa, O meu berço. . . o meu lar.


p deus, ó minha estrela, Adeus luz tão querida Que afagou minha vida, O meu triste sonhar.

Pois tens nos teus enleios Tão vivo sentimento ; Levo no pensamento Teu doce cintilar. Teus lumes adoçavam Do meu fado o rigor, Mas é lei do Senhor De ti me separar. Levo fundo em minh'alma Segredos que dizias, Quando meiga sorrias N o teu mago cismar. És tão bela e formosa Qual fada idolatrada, Tu és luz d'alvorada, És rosa d'encantar. És o anjo dos anjos, O perfume das flores. E és sonho d'amores, És pérola sem par. Mas talvez, que algum dia, Acalentes bondosa Minha alma desditosa, O meu triste penar;

E que eu veja fulgir De teus raios a luz, Na senda que conduz Por sobre o vasto mar. Adeus flor tão mimosa D e Ieda primavera; Oh! meu Deus, quem me dera Poder a ti voar. Adeus, rosa d o céu, Adeus, minha alegria, Adeus sinas que eu lia Em teu mago brilhar.


João José Vieira (João Longipede) 1844-1928

Nasceu nesta cidade, a 10 de Outubro de 1844 e faleceu, na casa de sua residência, a rua Correia Herédia. vitima rle caquexia senil, a 2 8 de Setembro de 1928. Era filho de Manuel José Vieira e de D. Josefa Carolina do Nascimento Vieira, e irmão do Conselheiro, Manuel José Vieira e do Jornalista Augusto José Vieira. «Cursou o liceu do Funchal- diz o uElucidário Madeirenseh-e a Escola Médico-Cirúrgica, não chegando porém a concluir os estudos do 1.0 ano deste último estabelecimento de instruqão. Foi amanuense e depois secretário da Administração do Concelho do Funchal. e desde muito novo que se dedicou ao jornalismo, tendo colaborado. quando ainda estudante, no uRecreioa e no ucrepúsculon, e depois na uFusãor, dmprensa Livren, uPovo*, uDiário Popularn, etc. É bom poeta, mas as suas poesias, ou se acham dispersas pelos antigos periódicos do Funchal, ou nunca foram dadas i estampa, sendo apenas conhecidas de alguns amigos*. Foi, também. Tesoureiro e mais tarde Presidente da Junta Geral do Distrito e Director do uDiário Popular*. cargo que exerceu durante muitos anos. Não obstante estar a frente dum jornal político. órgão do Partido Progressista, foi sempre respeitado pelos seus adversários, pela sua irrepreensível conduta. Manejava a prosa com muita correcção e brilho e foi um Poeta de reconhecido niérito, tendo publicado numerosas gazetilhas que se encontram dispersas pelos jornais. Publicou um folheto de versos humorísticos, intitulado: aExtractos das Burundangasa, sob o pseudónimo de João Longipede e foi u m dos autores da ~Antoneidan, publicada, nesta cidade em 1879 e do poema herói-cómico aGuianeida~,que se encontra ainda inédito. Dos periódicos «O crepúsculo^ e 4A Gazeta da Madeira*, reproduzimos os seguintes versos :

No album d a Exma. Sra, D. C . d1Oliveira Antaral

Muito excelente senhora Dona Cândida Oliveira, Quer por força que neste album Também lhe escreva o Vieira ? ! . . . Vou-lhe o provérbio lembrar : Quem não tem não pode dar. Sabe que mais. Isto d' albuns É praga de há muito usada Para os miolos dum homem Ficarem numa salada.. . E com esta brincadeira Quís-me o sol pAr na moleira!


Ai estão, pois, duas estrofes Bem ou mal alinhavadas, Pondo porém muito em dúvida Que sejam bem hospedadas. E como diz um ditado, Não sou a mais obrigado.

Acróstico À actriz Maria José i\.letidoriça

Maga estrela da aventura, Actriz d'alma e coração! Rosa d'amor e candura ! Ingénua d'inspiração. A uma cena de tristura.. . Juncado de flores O palco terás. . . Sinceras louvores Eternos.. . verás.


Pe. Carlos Acciaioly Ferraz de Noronha J

(Carlos Acciaioly)

Nasceu na freguesia de Santana, a 15 de Fevereiro de 1845 e faleceu a 1 de Fevereiro de 1924. Era filho do Morgado da nobre família dos Acciaiolys, cunhado do Major Guilherme Quintino Prado e do Dr. Filipe Joaquim Acciaioly e tio cia Poetisa, D. Maria Gertrudes Acciaioly de Sampaio. exerceu as funções paroquiais em algumas freguesias desta Ilha-diz o GEIucidário Madeireme$-e foi durante bastantes anos, Professor do Seminário Diocesano, havendo-se distinguido como um iiotável orador sagrado. Cultivou com brilho a prosa e a poesia. especialmente no g6nero jocoso e satírico, sendo os seus escritos lidos com o maior apreço. Tornou-se muito conhecido entre nós e bastante lembrado pelos seus contemporâneos, particularmente pelos seus ditos de espírito, em que alcanqou uma verdadeira celebridade, reproduzindo-se ainda hoje com bastante frequência os casos e as anedotas em que sobressaiam as frases cheias da mais espontânea e cintilanre graça.. Usou o pseudónimo de Pertinaz Curioso e colaborou em vários jornais desta cidade, nomeadamente no uDiário da Madeira%e tem versos insertos no ~Album Madeirense de Poesias.. .*, de Francisco Vieira.

A uma flor N o album de minha prima, a Exma. Sra. D. Iosefina d'Ornelas Castelo Branco.

Poesia, encanto. amor, melancolia Encerras meiga flor! Inspiração suave dás e harmonia Ao pobre trovador! Na lira eu já quizera argênteas cordas Pra um hino te elevar, Que em mim, bela florinha, tu acordas, Sentimentos sem par ! De meus sentidos na manhã da vida As flores logo amei. Só com elas comparo a imagem qu'rida Que uma vez sonhei ! Poesia, encanto, amor, melancolia Encerras meiga flor ! Inspiração suave dás e harmonia Ao pobre trovador!


Francisco Clemen tino de Sousa (Faustino Brazão) 1846 - 1896

Nasceu no Funchal, a 26 de Fevereiro de 1846 e faleceu. nesta cidade, a 24 de Julho de 1896. Era filho do Farmacêutico, Francisco Xavier de So~isae de D. Virginia Medina de Sousa e pai do Professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Francisco Luís Pereira de Sousa. Matriculou-se na Escola Médico-Cirúrgica do Funchal, tendo concluido o seu curso, em 1868. Regeu, interinamente, por duas vezes, uma cadeira, neste estabelecimento de instrução, em 1870 e nos anos seguintes. Foi Tesoureiro do antigo uBanco Comercial da Madeira* e exerceu o cargo, durante muitos anos, de Fiscal Sanitário do Matadouro, desta cidade. uA feiqiio característica dos escritos de Francisco Clementino de Sousa-diz o ~ElucidárioMadeirensea-era a sátira e a ironia. manejadas com rara habilidade, com excepcional talento e com uma graça inimitável. As suas composições eram lidas com a maior avidez e causavam sempre extraordinária sensação no nosso meio literário. Não há exagero em afirmar-se que muitas das suas composições rivalizavam com as de Tolentino e com as de outros poetas que, no géuero satírico, deixaram nome aureolado na nossa literatura. Se tivesse vivido noutro meio, teria facilmente alcançado uma grande celebridade$. Colaborou, em prosa e verso, no antigo jornal uO Direito*, *Diário de Notícias*, *Comércio do Funchaln e noutros periódicos madeirenses e tem versos insertos nas colectâneas, <rAlbumMadeirense de '~oesias...n de Francisco Vieira e #Flores da Madeira*, do Cónego Alfredo César de Oliveira. Assinou muitos dos seus trabalhos literários com o pseudónimo de Faustino Brazão e as letras VVVU e F. B., iniciais do seu pseudónimo. Em defesa de seu pai e em discussão com o Conde de Canavial, publicou um folheto, que saiu anónimo, intitulado: uA questão entre o Dr. Joáo da Câmara Leme.. . e o pharmacêutico Francisco Xavier de Sousa, secretário da Escola Médico-Cirúrgica da mesma cidadea. Funchal, 1865.

Casos D'acordo . . . Palmira escreveu a Elmano na véspera do casamento uma carta triste e séria, toda amor e sentimento. uVou casar-me!. . . sim.. . meu anjo!. . . vítima de uma traição!. . . assim o querem meus pais! ! !


mas não morre, não, jàrnais; . . . de meu peito esta paixão. . . meu corpo será de Pedro mas só teu, meu coração! ! ! Elmano, louco de raiva, corre a Pedro e iracundo, mostrando a terna missiva lhe diz, em baixo profundo:

-&Vê, tirano!. . . infame! . . . oh bruto ! que crime vais cometer!. . . condenar dois ternos peitos ao mais negro padecer!. . . Suspende, infame, esse passo. não vês Ò que vais fazer?. . .o ,

-D1acordo, filho.. . socega.. . D'acordo.. . tu tens razão. . . mas temos um meio simples de acabar esta questão.. . Eu fico, Elmano, com o corpo. tu ficas.. . com o coração! !

Teu pé é breve e lindo e arqueado, como o pé duma fada ou de rainha!. . . É pena que o escondas na botinha: E mo tragas à vista confiscado. .,

Oh! quem me dera te-o pendurado

na fita do relógio, oh! prenda minha!. . . para beijá-lo a sós, e a noitinha guardá-lo na gaveta empacotado. . . Será, talvez cruel, será loucura, este meu cego e único desejo de ter inda na terra esta ventura. Que queres? outra maneira eu ja não vejo de sem cócegas teres.. . tal ternura mostrar-te num sentido e longo beijo!. ..


O termo do baptismo Era Lucas um sujeito todo negócio e dinheiro, de transações e de cifras era um poço verdadeiro.

Um dia a mulher de Lucas teve um robusto menino ; o homem ficou contente e sorriu ao pequenino. Passados dias, foi Lucas o menino baptisar, e o termo do baptismo deu-lhe o cura p'ra assinar.

O homem todo negócios num acesso de alegria, no livro dos baptisados pôs:-Lucas b Companhia !

Caridade Salvé! Santa caridade! Flor do jardim dos Céus! És p'ra triste humanidade Uma carícia de Deus! Salvé! Pomba imaculada, Estrela de eterna luz. Casta filha idolatrada D o meigo e doce Jesus!

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Se fulges -sol de bonanca N o tugúrio da indigência, Doiras co'os raios da esperança A velhice e a inocência, E as pobres criancinhas Ao sentir o teu calor, P'ra o Céu erguendo as mãozinhas Invocam o Deus d o amor.


Se brilhas na sombra escura De frio despido ninho. Dás-lhe sorrisos, ventura, Doce mãe do pobresinho! Pois a teus pés crescem rosas Em grinaldas festivais E tuas falas maviosas Mudam em hinos os ais ! . . . Na fronte trazes a Es'prança, No peito a Fé, tua irmã. O teu amor nunca cansa Pois é de Deus que ela vem: E a cada consolação Com que mitigas a dor Um hino de gratidão Sobe aos pés do Criador.


Maria Helena Jervis de Atouguia e Almeida (Berta de Atayde) 1847-1928

Nasceu nesta cidade, a 6 de Maio de 1847 e faleceu, em Lisboa, a 7 de Maio de 1928. Era filha de Jacinto Alisio Jervis de Atouguia e de D. Maria Macedo Jervis de Atouguia e esposa de Cristóvão Guilherme de Ameida. Foi a rDecana das Poetisas Portuguesass, como lhe chamou a distinta Poetisa, Dona Branca de Conta Colaço, filha do consagrado Poeta, Tomaz Ribeiro. Ficou órfã, de pai, aos nove anos de idade, indo morar para a freguesia do Monte, onde compôs os seus primeiros versos. Depois embarcou para o Brasil, onde se demorou uns trinta e tantos anos, mas mesmo longe, o nome da sua terra natal, era para ela símbolos de imensas recordações. No regresso à Madeira, compôs uma linda poesia, cheia de saudade, que intitulou: *Num dia chuvoso*. Em 1907, reuniu e publicou algumas das suas poesias, num volume de 114 páginas, intitulado: uMosaicos~.sob o pseudónimo de Berta de Aiayde, e prefaciado pelo ilustre Escritor. Padre Sena Freitas, sendo reeditado em 1909. No livro uPoetisas Portuguesasr, publicado em 1917, onde se encontram algumas composi~ões desta Poetisa, diz que em breve deve aparecer a 3 . a edição dos mos ai coso. .

O Remeiro Nasci, criei-me nas ondas, por pátria só tenho o mar, Só conheço as harmonias das ondinas a cantar. São formosas as ondinas, donairosas, ondolantes, cabelos à brisa soltos coroados de diamantes. Escondem aéreas formas nas espumas transparentes, os lábios são de coral, pérolas finas os seus dentes.

Na minha barca de limos tentei fazê-las entrar, mas elas.. . a rir fugiram. quedei-me triste a remar.


Tive um sonho em que vi terras e vastos jardins em flor: e brancas fadas cativas ao jugo do vil amor. Minha barca, meu tesouro, eia, vamos, rumo certo. Vamos ver se dessas fadas uma ao menos eu liberto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Eis a visão d o meu sonho, a terra e jardins que vi, mas não troco a minha pátria leito azul onde nasci. Mas.. . onde estão essas fadas que libertar eu desejo? Ocultam-se em seu palácio envoltas em véu de pejo?. ..

,Minha barca de esmeralda, como o Sol te come a cor! Vamos caminho da pátria sentir da brisa o frescor; e ouvir cantar as ondinas os salmos de etéreo amor.


José Joaquim de Freitas

Nasceu na vila de Machico, a 17 de Seteinbro de 1847 e faleceu, no f:u~ici~al, a 9 de Março de 1936. Era filho de Manuel Martins de Freitas Rato e neto do Professor. João José Areas e tio do Dr. António Aurélio da Costa Ferreira, antigo Ministro da Fazenda e de Instrugáo Pública e autor de uma vasta e importante obra científica, sobre Antropologia. Foi formado em Medicina, pela extinta Escola Médico-Cirúrgica do Funchal. cujo curso concluiu em 7 de Junho de 1870. Dedicou-se 5 poesia, rendo composto. por essa ocasião, os versos que abaixo reproduzimos. Foi nomeado Enfermeiro-Mor d o Banco do I-Iospital da Santa Casa de Misericórdia do Funchal. em 8 de Agosto de 1883, cargo que exerceu durante muitos anos. Desempenhou várias comissões de serviço público, tendo sido Vereador da Câmara Municipal do Funchal, em 1891. Foi o fundador do auxilio Maternal* e da 1.8 Corporação de Bombeiros Voluntários e o criador do antigo Posto Médico Municipal, desta cidade. Em 1927, quando completou 80 anos de idade, foi-lhe prestada uma manifestação de simpatia e. em 8 de Fevereiro de 1933, a Câmara Municipal d o Funchal, conferiu-lhe o titulo de *Cidadão Benemérito do Funchaln, e foi-lhe prestada pelo povo, uma significativa homenagem de alto apreço. Publicou um plano sobre o Cemitério das Angústias. cujo titulo ignoramos e, em 1892. um <Projecto de organização do serviço de limpeza da cidade do Funchaln e tem versos insertos num album, pertencente a Rui de Ornelas Gonçalves, Director da Biblioteca Municipal do Funchal. Colaborou na imprensa local. Amigos, findaram os dias felizes, D e festas, folguedos, de imenso sorrir, E quadra mais triste, talvez mais penosa, Se antolha, sombria, ao nosso porvir! Mudamos de vida, deiuamos as aulas, Que imensas saudades que havemos de ter! Que gratas lembranças! que acerbas torturas, Podemos ainda da vida sofrer! Mas se nesta vida nós temos martírios, Espinhos e mágoas, há também prazer, Se ao pobre que jaz em seu leito de dor. D o túmulo, à vida, o vamos volver!

Se vemos, em roda de nós, consternada Esposa, pedindo vida para o seu Bem,


Se nós o sal\~amos.que paz, que ventura, Que esta nossa viLfa,muitas vezes tem! Se meigos filhinhos, em torno do leito Dos pais. a saude, em pranto, imploram, Se nós os salvamos, que risos. que festas. Que \.amos levar àqueles que clioram! Se vemos no leito, do filho estremoso, A mãe esgotando o cálix da agonia. Se mão salvadora. ali lhe apareceu. Se o filho revive. que imensa alegria! São estas as rosas colhidas na senda Escabrosa da vida que vamos trilhar. Porém tem espinhos que também nos ralam, Tem dores, tem migoas de infindo penar!


Jacinto Pinto Coelho

Nasceu no Funchal, na freguesia de São Pedro. a i de Outubro de 1847 e faleceu, nesta cidade, na sua residência, a Rua do 1)r. Chaves, a 6 de Março de 1927. Era filho de Joaquim Pinto Coelho e de D. Maria Carlota de Ornelas Lirihares Pinto Coelho e irmão do Poeta Luis de C>rnelas Pinto Coelho e do Jornalista Frederico Pinto Coelho e pai de D. Amélia Pinto Coelho. Professora de Instrução Primária e de Jacinto Pinto Coelho Júnior e Augusto Pinto Coelho. Director de Finanças. no Distrito do Funchal. Foi durante muito tempo Professor particular de Instrução Primaria e Suh-Inspector da ~ l f â n d e g ado Funchal. Colaborou no ((Diário de Noticias e noutros jornais madeirenses e tem versos nsertos no uAlbum Madeirense*. . ., de Francisco Vieira, publicado nesta cidade, em 1884.

Saudades <<Nãosei se me voou, se m'a levaram Nem saiba eu nunca a minha desventura Contar aos que inda em vida não choraram.

joAo DE DEUS Inunda-se de lânguida tristeza E pende e desfalece pela tarde Dos vales a flor, Quando as aves enviam dos retiros Seus adeuses banhados de suspiros Aos pálidos reflexos do sol-por. Assim foi em min'alma a flor da esp'rança Ah! quando já do céu me não brilhava A minha luz tão bela! Quando voou aquela imagem pura. Me fugiram os scnhos da ventura Nos olhos da famosa Graziela! . . . P'ra que foi que me deste A visão que eu adoro, A flor de mil desvelos, Senhor! por quem eu choro?


P'ra qiie mostraste um dia, Aquela imagem linda. Como do céu os anjos Nem sonharam ainda? S e n h ~ r !Serihor! Mediste o abismo Da minha dor! Volve os teus olhos Aos meus abrolhos, Volve-os, Senhor!

Eu teiiho sede Daquele olhar. Traga-me a aragem Daquela imagem O brando arfar. Traga um suspiro, Traga u m lamento Ao meu retiro. Meu sofrimento.

Ah! bela! das mais belas Entre as flores! Eu morro, bem o sinto, Destas mágoas! Chorarei no sepulcro Meus amores!

Se tu tens piedade E és mulher, A minha dor tão crua Dá-me uma lágrima rua. Consola-me sequer.

Se soubesses a mágoa Que me devora. Como a minh'alma existe, Como a minh'alma é triste Quando adora; Bem sei que terias pena Da minha dor, E em paga deste martírio Tu davas, meu casto lírio, O teu amor.


Pe. Manuel Nunes 1848-1892

Nasceu na freguesia do Paul do Mar, a 10 de Dezembro de 1848 e faleceu na freguesia de São Gonçalo, donde era Pároco, a 28 de Dezembro de 1892. Era filho de Tomás Nunes, do Jardim do Mar e de D. Maria Joaquina, natural do Paul. Foi Baptisado a 22 de Dezembro de 1848, pelo Pe. Francisco Plácido da Silva. Vigário do Paul &Foium dos nossos mais distintos oradores sagrados, -diz o ~ElucidárioMadeirenseh- sendo notáveis os seus discursos, pela elegância da forma e correcção da linguagem. Cultivou com brilho a poesia, principalmente o género satírico, em que se tornou muito conhecido entre nós, tendo composições que ombream com as do nosso Nicolau Tolentinon. Foi, também, um Músico e Barítono de merecimento. Colaborou no diário de Noticias* e noutros jornais locais e tem versos insertos no livro: #Paróquia de Santo Antónion, do Pe. Fernando A. da Silva.

Hino da Sociedade Artístico Musical que se organizou, nesta cidade, para compôr a orquestra do novo teatro D. MARIA PIA.

Em gorgeios, a luz da alvorada, Quebra a ave o silêncio do val: Tem seus hinos a vaga empolada, Canta a rocha a quebrar seu cristal. As estrelas do Céu, nas alturas, Também cantam seu hino de luz; Brame rijo tufão nas planuras, E o bramido é cantar que seduz.

CORO Tudo brilha com hinos e cantos, Onde há vida resoa canções, Déssa luz de sublimes encantos Fuljam. pois, em nossa alma, os clarões. Entre seixos murmura fontinhas,

E são hinos o seu murmurar; Pelas praias. beijando as conchinhas,

Têm seus cantos as ondas do mar.


Ruge o velho leão na floresta, Zune a abelha no cálix da fi.,r, Tem a selva o seu canto de festa, Diz a abelha o seu hino de amor.

Tudo brilha cotn hiilos c calitos. 011de 116 vida I-esoa caticces, Déssn luz de srrblit?~esencnnios, F~iljam,pois, em tiossa aliiin, os clar~es.

Hino do 7.0 Centencírio do Nascimento de Sto. Antitnio. composto expressamente e cantado por um coro de crianças, na lgrela d o Colégio, na ocasino da bençáo da imagent dc Sto António, pelo D ~ n oe governador d o Bispado, Dr. Joaquim Pitito, tio dia 1 1 de Agosto de 1895.

Glória a Deus que dos Céus manifesta Nos seus Santos poder sem igual! E lá dessa mansão sempre em festa Nos inflama em amor divinal.

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ESTRIBILHO Salvé, SaZvé. meu bom Sa~zto António! Taiirnaturgo de fama imortal, Luz do mundo, nobreza de Pádua, I-loiira e glória do meu Portugal!. . .

Dos antigos leais portugueses Amostremos as crenças da fé: Pois cantando de António as virtudes, Celebremos as glórias da fé.

Grande Santo de língua bendita Vão-lhe os peixes o verbo escutar!. . . E na tumba um cadaver se agita Quando o pai vem da morte salvar.


Entre o povo criacio e nascido. Pelo povo a lidar n o Senhor, É do povo exaltado e querido Com extremos de afecto e de amor.

Eia, pois, portugueses, avante ! . . . Seja a festa uma excelsa cangão Pelo Santo que é glória da Pátria, Por António que é nosso irmão.

Repique do bap tisado Sou um velho sacristão, Bom ratão, aqui tem a minha mão. Sempre foi do meu agrado, Com grande satisfação ) Bis Repicar num baptisado )

ESTRIBILHO Telim, telim, telim Telim, telim, telim, telão, Vira, pois, meu sacristão, Dá-lhe certo e compassado, Forte e bem repenicado, Braço firme e leve a mão. Telim, telim , telim, ) Bis Telim, telim. telim, telão. )

A criança é tão galante, Fascinante, Por detrás e por diante, Que à senhora mãe parece E o papá, todo chimbante, ) Sempre o repique agradece. ) A madrinha, fresca e bela -Tem sovelad Tenha ou não tenha é lá com ela. De pésinho tic tac, Formosa, gentil donzela, ) Bis Não se esqueça do repique. )


O padrinho que é fadista, Haja vista, Não é borga nem chupista A madrinha faz afagos, Vendo um repique de artista, ) Bis Sempre escorrega os seus bagos. )

O Vigário também paga -E repagaBom e a tempo não estraga. Na dispensa, atrás da porta, Pois sempre as ventas me alaga ) Bis Com um copinho lá da horta. )

Inédito


Francisco Vieira 1849-1889

Nasceu a 30 de Janeiro de 1849. Foi acometido de loucura, poucos anos antes da sua morte. ocorrida no Asilo de Mendicidade, onde se encontrava internado, a 13 de Novembro de 1889. Colaborou nalguns jornais, especialmente no periódico @AVerdader. É autor dos livros: tPétalas*, Funchal, 1887 e prelúdios Poeticosn, Funchal, 1887 e coordenador do ~AlbumMadeirenser-colecção de poesias de vários poetas Madeirenses, Funchal, 1884 e tem versos insertos nas colectâneas: UFlores da Madeira* do Cónego Alfredo César de Oliveira e @Selectade Poesias Infantis*, de Henrique Freire, publicados nesta cidade, respectivamente em 1871 e 1875. Patenteia-nos, nesta sua encantadora poesia. dum romântico e enternecedor lirirmo, um sensível temperamento de verdadeiro Poeta.

Lembras-te ? Talvez te lembres, Helena, D'aqueles dias tão ledos. D'aqueles puros segredos, Que nunca os pude olvidar; D'aquelas noites de lua. D'aquelas horas serenas, D'aquelas tardes amenas Passadas à beira-mar! Talvez te lembres, talvez. D'aqueles sítios fagueiros, D'aqueles beijos primeiros, Do nosso primeiro ,amor; D'aquelas falas a medo, D'aqueles doces afagos, o D'aqueles cantos t ~ magos, Do teu tão mago cantar: D'aqueles sonhos doirados, D'aquelas brandas delícias De um amor todo carícias, Cheio d'enlevos, d'onelos; D'aqueles castos sorrisos, D'aquelas loucas esp'ranças Ao beijar as lindas tranças Dos teus tão loiros cabelos!


De quanto a fronte ansiosa, No teu colo eu repousava, E breves sonhos sonhava, E tu velavas meu bem! E de quanto, ao despertar, Ao ver-te banhada em pranto, Eu triste.. . chorava tanto De ver-te chorar também ! Talvez te lembres ainda Quando nas Avé-Marias Eu ia todos os dias Contigo à praia falar; Ver as vagas. ver o espaço, Das estrelas a fulgir, E ver a lua surgir, Doirando as ondas do mar ! Lembras-te. Helena, quem sabe, Talvez da mente apagados Tenhas os tempos passados, Tem~osde tanta ilusão! Em quanto negras saudades Fazem de dor enlutar-me, Apenas posso lembrar-me Dos tempos que já lá vzo! L

Talvez te lembres, Helena, D'aqueles dias tão ledos, D'aqueles puros segredos, Que nunca os pude olvidar! D'aquelas noites de lua D'aquelas horas serenas, D'aquelas tardes amenas Passadas à beira-mar!


Carlos Olavo Correia de Azevedo

Nasceu nesta Ilha, em meados do século XIX e supomos ter falecido nos princípios do século XX. Era neto do Conselheiro Dr. Domingos Olavo Correia de Azevedo, que foi Governador da Madeira, em 1841, e pai do Dr. Carlos Olavo Correia de Azevedo, Major Arnérico Olavo Correia de Azevedo, assassinado em Lisboa. em trágicas circunstâncias, na revolta política de 8 de Fevereiro de 1927, e do Coronel Mauro Olavo Correia de Azevedo. Dedicou-se à poesia. tendo colaborado no uDiário de Notícias>, desta cidade, em 1886. Eis uma amostra do seu estro poético:

Idílio Tu tens no rosto a palidez do lírio E no teu colo a alvura perfumada Da rosa branca, triste e aljofrada De cristalino orvalho do Ernpireo. Tu tens nos olhos a melancolia Eterna, imensa, duma noite calma! Monotonia infinita que da alma Nos teus lábios em ais se traduzia. Ó vaporosa e meiga borboleta. Assetinada musa dos meus sonhos! Vejo-te a adejar, em idílios risonhos, Sobre o massiço das minhas violetas.

Quando alta noite, a sonhar em delírio Sinto bafejos d'aroma de flores, Eu vejo no altar dos meus amores Da tua face a palidez do lirio. Contempla assim minh'alma enamorada Um tímido seio. de brando arfar! E vão meus lábios de leve a roçar Desse teu colo a alvura perfumada:


E da tez fina, cândida, nevada, Como da alvorada a estrela esplendente, Respiro também o suave ambiente Da rosa branca, triste e aljofrada.

Tens no sorrir a núvem do martírio! E o pranto rola, em baga diamantina, A humedecer-te a face alabastrina De cristalino orvalho do Empireo.

A Francisco Vieira Cantas a natureza toda inteira, Cantas o júbilo, também a dor, Cantas a aura que corre ligeira, Nela respiras perfumes de flor. Amas do mar, quando calmo e sereno. A onda mansinha de terno vagar, Amas da praia o murmúrio ameno, Nele ouves um canto de mago toar.

Tu cantas da aurora o fausto raiar, Do Sol o clar80, da selva o verdor, E o canto das aves cedo a trinar É p'ra ti, poeta, concerto d'amor.

Se a lua divaga em noite tranquila N o manto do céu a luz a espargir, N o teu íntimo também ela brilha E lá a poesia se vai descobrir! Se o oceano ruge fulo, escumante E de refrega zumbe o orgáo, Ao contemplar a cena crepitante Em ti nasce mais uma inspiração. Se a núvem densa o Sol escurece

E a abóboda d'anil triste se torna, É novo estro que p'ra ti se tece E mais um verso tua arena adorna.


Se a noite chorosa oculta as safiras

E o astro de prata resta escondido, O pélago de ninbus que alto miras. Tu o retratas em canto dorido. Admira, poeta, a tua inspiração, A tu'aria sentida, a melodia, Do teu pensamento, essa elevação. É ideal de tamanha fantasia. Funchal, 11-3-86.


João Augusto Nunes Diabinho (D. Hobinia)

Nasceu na freguesia de São Pedro, desta cidade, a 16 de Março de 1850 e faleceu, na casa da sua residência, a Rua de Serpa Pinto, a 11 de Janeiro de 1927. Era filho de Octaviano João Nunes e de D. Emília Augusta de Sousa Nunes e pai dos Poetas Abel e Adão de Abreu Nunes c da Poetisa, D. Eulália Agueda de Abreu Nunes Paquete. Foi funcionário dos Correios e Telégrafos, nos Serviços electro-semafóricos, cargo em que se reformou. Dotado de extrema habilidade e inteligência, inventou e construiu diversos aparelhos eléctricos, entre os quais um, que denominou uDespertador-Translatorn, ao qual largamente se referiram os periódicos do Pais e a nossa imprensa local, tendo merecido, do Governo, um honroso elogio e um prémio pecuniário. (1894-1896). Estudou os acordes para instrumentos de corda e publicou, nesta cidade, em 1872, três pequenos volumes, intitulados uAcordess para Viola, Rajão e Braguinha respectivamente. Colaborou no *Trabalho e Uniãon, ~AlmanaqueBertrandn, alman na que Luso-Brasileiron, uAlbum Literárion, <<OVigilante* e em muitos outros periódicos. Foi considerado pelos charadistas portugueses e brasileiros, como o primeiro entre os primeiros, em trabalhos deste género que bateram o record, tanto em originalidade, como em mestria. D' a 0 Vigilante*, reproduzimos uns versos de sabor humorístico, relacionados com a política de então e mais duas quadras soltas que conseguimos colher, sob o pseudónimo de D. Hobinia, palavra composta com as letras do nome Diabinho.

Nunos Infinitos Sem surdirem arrelias, Aqui se vai hospedando, Com todas as regalias. De trauliteiros um bando. . . Vejam que caso nefando! De trauliteiros um bando. . . Com todas as regalias, Aqui se vai hospedando, Sem surdirem arrelias. Não tem susto de morrer, De freima não se consome, Quem tem pouco que comer, Visto que aqui não há fome.. . Nao te rales, Zobis-home!


Visto que aqui não há fome.. . Quem tem pouco q u e comer, De freima não se consome, Não tem susto de morrer.

Quadras soltas Enquanto, como a gaivota, Não pudermos viajar, A vida vai sempre torta Neste mundo, sobre o mar.

O mor mal que nos ataca, q u e ao seu pé nada se logra, E o demónio duma sogra Quando tende a ser velhaca.. .


Manuel Alexandre de Sousa 1856

- 1908

Nasceu no F ~ ~ n c h a al , 2 de Fevereiro de 1856 e faleceu, em Lisboa, em 1908. Supomos ser filho de Francisco Alexandre de Sousa e de D. Ludovina de Sousa e irmão do Poeta. João Francisco de Sousa. funcionário da Alfândega do Funchal. e de Luís Alexandre de Sousa. Foi Major de infantaria e fiscal técnico da Companhia do Caminho de Ferro do Monte e Director da Cadeia do Limoeiro. Sustentou uma larga polémica na imprensa, com o Engenheiro Adriano Augusto Trigo. Tem versos insertos no livro: ~ A l b u mMadeirense*. . . de Francisco Vieira, publicado nesta cidade, em 1884 e colaborou no aDiário de Notícias,.

Gratidão 1 Eu não temo do mundo desgraças, Já desgraças bastantes provei; Sou feliz: já não lembro o passado, Em que o cálix amargo esgotei. Quis a sorte que eu visse toldada Minha es'prança, meu caro porvir; Quis provar-me que o mundo é u m engano, Quis dizer-me o que vale o existir. Via o mundo com formas horrendas Quando a luz de meus olhos fugia, Quando a febre meu peito escaldava, Quando a dor a min'alma pungia. Hoje a vida renasce; bem sinto O meu peito votar-se ao prazer; Já não sei essas mágoas doutrora, Já não sei provações d o sofrer. Já não temo do mundo as desgraças, Já desgraças bastantes provei ; Sou feliz: já não lembro o passado

Em que o cálix amargo esgotei.


E não morri porque um anjo, Com sentir. por mim orou; As doces preces dos anjos Sempre Deus as escutou. Tive fé, e a doce esp'rança. Volvi ao mundo outra vez; Troquei por goso a mudez Da campa que me cerrou. Nas sombras do sofrimento A imagem dum anjo via: Era o meu anjo da guarda, Que de mim nunca fugia. Que lindo anjo! cingido Das roupas de maior gala. Que talismã era a fala! Que amor, que vida sorria! Eras tu, Maria, o anjo Que eu divisava na mente. Que era belo, que era puro. Tão bondoso e tão clemente. Foste t u que deste vida Ao desgraçado. ao mesquinho. Ao triste, pobre, sòsinho. Por ti lembrado sòmente!

A Madeira Minha pátria, tu és bela, É belo teu puro céu, É de fada o sorrir teu, És linda, não tens rival; Foste de Deus escolhida! Por tuas verdes campinas. Pelas ridentes colinas És c'roa de uportugaln!

Em minha alma tenho orgulho Por teres sido meu berço; Em prazer vive-se imerso Nesta plaga assaz fagueira.


Amo teus relvosos prados. luas rosas campezinas, Os teus jardins, as boriinas. O S teus encantos, *Madeira*!

I

Fulge, oh pátria. rainha da terra, Entre os outros excelso torrão; Branca fada, vaidosa dencantos, Penhor caro do meti coração!

A teus filhos mil graças consagras Do teu seio fadado por Deus; E os suaves perfumes que exalas Entre núvens, se elevam aos céus.

Esta plaga que todas mais bela Me deleita, me fala d'amores; E a saudade desata-se em cantos Ao lembrar-me os jardins e as flores! Como é doce viver em teu seio; Ouvir sempre o trinar destas aves Que só fazem passar em delirio Uma vida de crenças suaves!

Ver além o pastor vagaroso A descer pela encosta do monte, Ver ali alguns cedros frondentcs. Acolá ver na rocha u m a fonte,

Ver a espalda do monte dourada Pelos raios do sol mais formoso; E no bosque o cantor matutino O s seus hinos soltar descuidoso!

Que meigo encanto, tão ledo, Que doce arfar tem a brisa. Como o arroio deslisa, Além no'val', no rochedo! Tu és a rosa mais bela, És a florinha singela, És meiga. casta donzela, A falar brando, em segredo.


Recordo sempre saudoso AS tardes ternas, amenas, As noites puras, serenas, Do teu céu dazul formoso; Aceita o voto constante Que te faz um filho amante Que no horizonte distante. Te busca sempre afanoso.


Jorge Luís de Nóbrega

Nasceu a 9 de Maio de 1856 e faleceu no último Quartel do Século XIX. Exerceu o Magistério Primário. em Sant'Ana, donde, ao que parece, era natural. Colaborou no jornal ((A Lâmpada*, diário de Noticias*, etc. e tem versos insertos no *Albem Madeirensea, de Francisco Vieira. publicado. nesta cidade, em 1884.

Ilusão A João Maria Jardini

Vejo sempre, em toda a parte, A cândida imagem dela, Às vézes, triste, chorando. Às vezes. sorrindo bela. Ouço-lhe a voz sonora $Não te esqueço: Qual eu sou, sê tu constanye, Eis. em fim. o que te peço!%

A dizer-me:

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Meditabundo vagueio Dos campos pela soidão ! É opresso pela tristeza Meu inquieto coração ! . . . Quando sonho a realidade, A ilusão desponta após!. . . Que de enganos temos a vida Mesquinha, nefanda. atrós ! Sinto arder aqui, no peito, Viva chama que o devora; Sòmente extingui-lo pode Quem minh'alma tanto adora. É sua a minha existência, Meu porvir dela dimana.. . E só suavisar-me pode A sorte cruenta, insana! . ..


Mas, quem prescruta o futuro? O doido iludido amante; O mártir de paixão crua. Esse incerto caminhante ? ! ! !

Que sina. Deus. concedestes Ao infeli;! trovador, Que, sem ter esp'rança, breve Talvez se fine d'amor ! . . .

Vejo-a sempre em toda a parte. 4No céu, na terra, no mar» !

E, ai de mim, que não posso Da mente a virgem riscar!. . .

Adeus ! ( A minha Mãe)

Oh mãe que adoro, carinhosa amiga, Que triste ouviste de teu filho os. ais ; Cedo me deixas neste pobre leito, Em dor envolto e para longe vais! Tu, companheira qtie sem par hei tido, E que a chorar-me tantas vezes vi, Olha que e u fico sem o teu auxilio, Os teus afagos recordando aqui.. .

Ai! esta ausência tão cruel, aflito Vou lamentar, em amargos0 pranto : Serei sòzinho no Funchal, doente, Não 'stando a sombra d o materno manto.

E se amanhã os males meus crescerem, Quem com meiguice se dirige a mim?! Quem vem dizer-me com ternura: - ufilhoh, Tem paciência?!*-Nenhum ser, enfim! ...


Quanto me custa despedir-me. quanto, D e ti. que vives em atrós lidar! Neste momento d e aflições intensas. Sinto mais forte meu infeliz penar.

Quando, em Sant'Ana, /á de mim distante. Tu meditares nos martírios meus. Também recorda q u e te dei. com lágrimas Ternas, sinceras, contristado Adeus !. . .


Joana A. da Piedade Velosa de Castelo Branco (Joana de Castelo Branco) 1856

-1920

Nasceu a 23 de Junho de 1856, na freguesia do Faia1 e faleceu, no Continente, a 3 de Novembro de 1920. Era filha de Caetano Velosa de Ornelas Castelo Branco e de D. Maria Rosa de Freitas. <<Foiuma das mais distintas poetisas madeirensesr -diz o P.c Fernando Augusto da Silva, -no seu ~ElucidárioMadeireme». Colaborou n' GA Liita~.<<RevistaLiterária*, @Diáriode noticias^, uDiário Popular* e em vários jornais e revistas madeirenses e continentais. Tem versos insertos no ~AlbumMadeireme)). . ., de Francisco Vieira e G A ~ bum Literárion, de 1885 e publicou os livros: <As Minhas Floresa. (Lisboa, 1905) c aFluctuaçõesr. (Lisboa, 1910). Foi funcionária superior dos Correios e Telégrafos. na Capital, onde residiu durante muitos anos.

Brilhos ideais Como à luz que no espaço reverbera, se desata o botão da Slor agreste, assim ao santo afecto que me deste. acordou de minh' alma a primavera ; Mil vidas eu daria, se as tivera, pela chama divina que acendeste e nos laços d'amor, que est' alma veste, ao mundo fulgiria se eu pudera. Renasce na mulher nova existência quando sendo vestida a adolescência deste amor sacrosanto, inextinguivel. e transmuda o mistério impenetrável num afecto ideal, puro, inefável. quando a sorte lhe aponta o impossível.

Eu vivia feliz em tenra idade, como em seu ninho a ave ainda implume se alegra ao ver raiar vivido lume do astro da manhã, na imensidade.


E iouçã, como a flor na soledade, que as brisas embriaga em seu perfume, aos mistérios que a alma em si resume. eu gosava prazer, felicidade. Mas um dia sonhando, descuidada, no ridente brilhar da minha aurora, eu vi sorrir a estrela idolatrada.

E no oceano d'amor que me enamora quem me deixou p'ra sempre mergulhada foste tu, oh! miragem seductora! 1

O teu retrato Dizem: *Que lindo está o teu retrato agora!n (É sempre o marulhar da adoraqáo suprema). Oh! não-o teu retrato agora é o dilema da vida que escurece anuviando a aurora. Apagado o fulgor, em torno da pupila, dum circulo de luz vivaz, alegre e quente. Triste!. . . Contrai-se o riso, o olhar desce dormente.. . Sonho feito matéria-idilio feito argila. . . Num intimo cismar há dor que se concentra, indefinida, vaga. aonde a luz não entra prescrutando o futuro.. . e apagou-se a ilusão! Brilho que se fez fumo em sufocada chama: mito que se perdeu, realidade em lama, a revelar o pó de tanto sonho vão.


Luís António Gonçalves de Freitas 1858

-1904

Nasceu a 23 de Fevereiro de 1858 e faleceu, em Lisboa, vitima de uma congestão cerebral, a 29 de Outubro de 1904. Era filho do Conselheiro António Gonçalves de Freitas e de D. Júlia de Abreu Gonçalves de Freitas e sobrinho de Pedro Maria Gonçalves de Freitas, Visconde de Gonçalves de Freitas. Formou-se na Universidade de Coimbra, em 1880. Na carreira administrativa, que seguiu, foi Administrador do Concelho e Secretário do Governo Civil de Lisboa e Deputado pela Madeira, de 1882 a 1884. *Foi muito produtivo,-diz o uElucidário Madeireme*-tanto em prosa como em verso. Depois de ter dado a estampa vários volumes, empreendeu a publicação de todas as suas obras, com o titulo de 4Obras Completas de Luis António Gonçalvesr, a qual ficou incompleta, devido a sua morter. Este distinto Escritor, Poeta e Dramaturgo, além de várias peças teatrais em prosa e verso e de outras obras não citadas, legou-nos as seguintes publicações: ((Biografias, bibliografias, e versóesn. fantasias*, uA Pupila de Beltrãon. <Discursos e Trabalhos Parlamentares*. uMescla de Assuntosr, aMadalenan, ~Reminiscênciaso.<Expansões*,uRespigas~, uRaquel*, <Horas de Paz* e uNoite de Núpcias*. Colaborou em vários jornais e foi Redactor do jornal uA Pátrias.

No Rabaçal (Ilha da Madeira) Deslumbras. como o brilho resplendente Dum fantástico céu; Da natureza altiva e imponente Levantas-nos o véu. Jorra do coração dos teus rochedos, A água. em mil borbotões: Desenrolas uns mágicos segredos De ignotas regiões.

Ao ver-te, colhe a alma, em mudo anseio, Deliciosos pomos; Tu vens. como um gigante, sem receio, Mostrar o que nós somos.


Junto a ti. nós sentimos germinar Forcas, que nos transportam Ao fundo, onde, entre jubilo sem par, Mágoas crueis abortam.

A prata, que refulge em tuas águas. Puras como cristal, Irradia também nas nossas mágoas Uns brilhos sem igual. Ao ver tantas belezas, mergulhamos Num êxtase profundo; Num sublime cismar tudo olvidamos, Esquecemos o mundo.

O Nazareno (Fragmento de um canto) Havia nesse tempo um vulto que assombrava A bela Galilea; um pensador profundo Que, com o resplendor da ideia que prégava, Formava o pedestal de um novo e belo mundo. Jesus, o Nazareno, era um cantor suave, Que emanava de si a mágica poesia, Pura e cheia de amor como um gorgeio de ave. Doce como um perdão e bela como o dia. Era o divino amigo e pai dos desgraçados! Tirava da cegueira o nebuloso véu! Falava com magia, em termos inspirados E aos míseros dizia, Mostrando-lhes o céu : oFelizes, vós, os pobres ! Vosso viver é: santo; Felizes os que ignoram ! As lágrimas são nobres: Bendito seja o pranto ! Felizes os que choram!# Quem, como tu, foi poeta?! Quem, como tu, tanto amou? ! Que luz sobre ti projecta


A ideia que te sagrou! Quem. como tu, foi poeta ? ! Quem. como tu, tanto amou?! Nazareno ! Nazareno ! A tua ideia venceu ! Foi um verbo tão ameno O teu verbo. ó Galileu! Dulcificaste o veneno Dum mundo descrente e ateu. Nazareno ! Nazareno ! Oh! poeta Galileu ! Por isso hoje ainda recordo, chorando.

Teu grande martírio; por isso, Jesus. Eu vejo o teu corpo, por nós derramando O sa,ngue divino, nos braços da cruz! Por isso eu te adoro, firmando a oração

Na fé que me resta, nas crenças que a infância Firmou na minha alma, com cego contlão. Fixando-as n o peito, prendendo-as com ância. Essas divinas crenças Bebi-as com pureza N o berço; e esta certeza Que eu tenho em Deus, n o bem, Frutificou-se na alma E dela já não sai: Legou-a o meu bom pai, Ditou-a minha mãe !


Joaquim A. de Sá ?-?

Nasceu na Madeira, em data que desconhecemos. Não conseguimos colher dados biográficos deste inspirado Poeta do Século XIX. Colaborou no uAlbum Poético e. Charadisticon e uAlbum Literárion. publicados. nesta cidade, em 1883 e 1885. respectivamente.

A minha pátria Ao meu yarticiiIar amigo. Maliitel Gomes Pais,

Minha pátria, teus encantos, São tão mimosos e tantos, Que não os posso exaltar ! Tens em ti. meu berço querido. Tanto dom enriquecido ! Que me não pode lembrar! Sou teu filho; orgulho tenho, Neste peito em que desdenho. Tuas quadras tão gentis! Por ti, ó mãe carinhosa! Junto a ti, pátria ditosa, Vivo pobre, mas feliz. Amo o teu céu azulado, De mil encantos ornado, Amo-te ó pátria. meu lar: Quando em noites serenas Te contemplo horas amenas, A pura luz do luar. Amo pela madrugada Essa estrela d'alvorada, Que me desponta d'além: Amo a brisa que em segredo. Me trás suspiros a medo. Que nela me envia alguém.


Amo teus montes gigantes Com seus arbustos infantes, Amo sim, tuas campinas; Amo d'aldeia o pastor. Onde tudo diz amor, Por entre lindas florin has. Amo o regato, amo a fonte, Amo as águas que do monte, Caem puras, cristalinas; Amo os hinos.. . o trinar, Que d'alvorada ao raiar Soltam livre as avesinhas Teu clima tão ditoso, Tão sublime e saudoso, Julgo não, não ter rival! Es a pérola que reluz, Que mais fascina e seduz Na corôa de Portugal!! Do estrangeiro invejada, És por muitos procurada, Flor querida do oceano: No teu seio encontra a vida, Aquele que já perdida, Trás na fronte o desengano.

És minha pátria Madeira, Bela terra, hospitaleira, Meus encantos, meus amores; Só por ti na lira eu quis, Soltar meu canto infeliz, Grinalda de ricas flores.


Manuel Gonçalves de Freitas (Feiticeiro do Norte) 1858 - 1927

Nasceu na freguesia do Arco de São Jorge, a 14 de Outubro de 1858 e faleceu nessa mesma freguesia. a 19 de Março de 1927. Era filho de João Gonçalves de Freitas e de D. Maria Júlia Gonçalves e avô do Rev. P e Elias Gonçalves Vieira, Pároco da freguesia do Caniçal. rÉ um camponez analfabeto e sem grau algum de cultura,-diz o aElucidário Madeirense*-que, aproximadamente aos quarenta anos de idade, começou a revelar uma extraordinária aptidão para a composição e improvisaqão de trovas e cantigas populares, que logo alcançaram uma grande nomeada entre a gente dos campos desta Ilha. Ao som dum rajão, numa melopeia monótona, cantava o Feiticeiro os seus versos, que, pela sua originalidade e pitoresco, e. sobretudo, pelo interesse que o assunto despertava, eram àvidamente escutados e constituiam um dos grandes actractivos nos diversos arraiais da Madeira. De pequenas trovas e de ligeiros recitativos, passou a mais desenvolvidas composições, muitas das quais foram impressas em folhetos avulsos, e entre estes podemos citar: uA Cidade do Funchaln. uA chegada de Suas Magestadesn, o 0 Lavrador*, $0meu Galo Preton, 4As Raparigas dos Bordados*, uO Santo Antónion, uAs inundações de 1 8 9 5 ~ . uA Emigração da Madeiran, a 0 Boin, uAs Bordadeirasn, «Empregados do Governo*. uA Fruta do Verãon, uA cana d'açucarn, r 0 Gungunhana*, uA vida do Feiticeiro do Nortes, uA Ilha da Madeiran, +Oferta do Feiticeiro do Nortes, uA antiguidade de meu pai* e a +Peste no Funchalo. Manuel Gonçalves, animado pelo êxito das suas composições, foi ao Brasil, onde se demorou algum tempo, e entre os folhetos que ali imprimiu, conta-se um intitulado oPedro Alvares Cabral~. Em 1959, editado pelo semanário uVoz da Madeira*, foi publicado, nesta cidade. uma colectânea de todos os versos da sua autoria, com o título de: «Versos de Manuel Gonçalves, o &Feiticeirodo Norten, com um judicioso Prefácio e Notas do Escritor e Jornalista Alberto Figueira Gomes. Alguns dos seus versos foram publicados no uDiário Popularr e ucorreio do Funchaln.

A cidade do Funchal (Excerto)

E ainda não falamos Num jardim de maravilha, Que é a floresta do Monte, A Cintra da nossa ilha; O Monte está num jardim, Tem ali belos recreios Com calçadinhas bem feitas,


Com bancadas e passeios. Até o largo da Fonte, Onde está Nossa Senhora, Foi transformado de novo, Ficando mais belo agora. Mas a esta freguesia O que lhe dá maior valor É a simpática companhia Do Com boio-Elevador Meus senhores, na verdade, Aquilo é um grande invento! Estar a gente na cidade E ir ao Monte num momento, Foi p'ra nossa ilha inteira Um grande melhoramento! Tem toda a nossa Madeira Muito encanto e boniteza, Tanto em muitas obras de arte Como nas da Natureza. Medida pelos antigos. Por gente de entendimento: Tem nove léguas de largo. Dezoito de comprimento. Eu quero já explicar, O s senhores notem bem; Freguesias quarenta e oito Que a nossa Madeira tem; Todas as quarenta e oito Por elas eu já passei. O Norte apenas tem doze E o Sul tem trinta e seis. O mais alto desta ilha E a montanha mui forte, É o alto Pico Ruivo Que divide o Sul d o Norte. Agora vou terminar Que julgo não ser preciso Dizer mais, p'ra demonstrar, Que a Madeira é um Paraíso.


Sabino Joaquim Rodrigues 1859 - 1917

Nasceu na freguesia do Estreito de Câmara de Lobos, a 11 de Julho de 1859 e faleceu no Funchal, a 24 de Novembro de 1917. Era irmão do Eng. Cândido Joaquim Rodrigues e pai de Sabino Casa Branca Rodrigues. Dedicou-se à poesia e ao jornalismo. Foi um dos primeiros filiados do Partido Republicano, na Madeira; proprietário e Director do jornal uO Democratan; coordenador do uAlmanaque Madeirensen, para 1905; comerciante e funcionário da Agência do Banco de Portugal, nesta Ilba. Eis duas poesias da sua autoria, reproduzidas do (<Almanaquede Lembranças Madeirensen, para 1905 :

A minha filha Como era feliz o dia Filha, que hoje tanto choro ! Todo ele era alegria, De galas se revestia. E a ventura que sentia, Tudo desfeito eu deploro. As florinhas adoradas. Por quem as vezes choravas, Acham-se aqui desfolhadas E já não as queres ver ! Ai ! como as campas pesadas Transformam tudo em ossadas Tudo fazem esquecer !

No coração de teu pai Já não existe prazer;

Para lenitivo - um ai Para descanso o morrer !

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Saudades da infância Ó que saudades dos campos Aonde a infância passei, Gosando prazeres tantos Que jamais esquecerei.


Que recordações fagueiras A minha mente ora vem, Das sombras dessas videiras Das terras de minha màe! De tudo quanto na intincia Com almo prazer gosei. Desses campos, dessa estincia. Que jamais esquecerei. Desses passeios, a tarde. Que nesses campos eu dei. Dos dias de felicidade Que jamais esquecerei. Das raparigas formosas. Que nesses campos achei, Com as faces cor das rosas, Que jamais esquecerei. Ò que saudades dos campos Aonde a infância passei, Fruindo prazeres tantos Que jamais esquecerei.


Simáo Figueira de Sousa 1860

- 1928

Nasceu na freguesia de Câmara de Lobos, a 28 d e Outubro de 1860 e faleceu a 1 de Junho de 1928. Era filho de António Figueira de Sousa e de D. Maria Balbina de Sousa e tio da Professora D. Armida Figueira de Sousa. Foi empregado na secção de máquinas, do ((Bazar d o Povoa, tendo sido o inventor do aparelho condutor do dinheiro para o caixa. existente ainda naquele estabelecimento comercial. Foi conhecido pelo alcunha de Simão das Máquinas. Foi um auto-didata. Dedicou-se a poesia e ao charadismo, tendo sido um Poeta e um Édipo de merecimento. Embarcou para Demerara. em 1894, regressando à ~ a d e i r a ,em 1900. Colaborou no <<DiárioPopular*, uDiário de Noticias*, <<Almanaquede Lernbrangas Madeirensea, uNovo Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiron e noutras publicações e deixou um livro de poesias xianuscrito.

MULHERES Uma solteira

Com ares de quem estava apaixonada Dizia-me sempre a gentil Maria: -use este nosso amor acabar um dia, Deixo de comer 'té findar mirrada!

E quando essa esperanca me sorria Como a vívida luz duma alvorada, Fui despresado pela minha amada Acabando p'ra mim toda a alegria!. . . Sua habitação não mais foi aberta, Não mais pude ver, minha doce houri.. . Deixou-se finar-a coisa foi certa!

.............................. Quase meio ano, já lá ia ao cabo, Quando num arraial mui alegre a vi, De boa saúde -gorda como u m nabo !!!


Uma casada

Paulo Escórcio e Ilcla Rafael Acabaram de casar-são dois pombinhos, Um dia lhe diz ela com carinhos: -<<Pfra nós não findará a lua de mel!. . .» Neste lar de alegria e de socêgo Hei-de viver feliz sempre a teu lado. Toda a vida serás por mim amado. Meu velhinho! .. . oh meu tudo!. . . oh meu conchego!. . . Apenas quatro mêses são passados Quando eu soube. estavam separados ! (Sonhadores vejam lá o que são mulheres!) Ela atraiçoando o pobre Escórcio, Ainda contra ele requer divórcio E por causa de quê ?-dum primo alferes!

Uma viuva

O h meu marido! oh meu tão bom amigo! P'ra que deixaste a minha companhia ? . . . Eu quero morrer ! . . . eu quero ir contigo. P'ra a mesma campa, horripilante e fria ! ! ! Pois sem ter quem me guie, quem me conforte. Neste mundo só de espinhos e abrolhos. Que lenitivo espero? a negra morte! A vir pôr termo ao pranto dos meus olhos! ! ! -Mas alguém lhe diz:-$Tenha paciência! Nunca seca uma fonte a Providência. Que não faça verter logo umas três*. O h meu Deus! já não choro se isso é certo! Porque devem andar por aqui perto. Uns dois ou três maridos duma vez!. . .


Tristezas ( j u n t o d o mar)

A minha mãe.

De io~igc,iir7ssii nrtigc~rn do ocearto, Ilie i~iiiltoo tiiei;go som de yirem clioraizi. JOAQUIM PESTANA Eu quero estar aqui. a ouvir gemer o mar, Que lenitivo d á as minhas grandes mágoas!. . . Oh! deixem-me aqui só. mirando as turvas águas.. . Bebendo a viração que vem lá do meu lar. Mas que sentidos sons, m e chegam aos ouvidos!. . . Alguém chora por mim; ó brisa mensageira, D e quem colheste os ais, q u e trazes da Madeira? Por piedade me diz: quem solta estes gemidos?

Há muito q u e deixei o meu torrão amado. E aqui sempre infeliz, d e todos olvidado. Quem lá por mim suspira ? Oh brisa diz-me-quem?! ..................................... A noite baixa triste ! eu olho o firmamento, E no gemer d o mar. no soluçar do vento, Distintamente eu ouço, a voz de minha mãe!

Demerara. 1 de Jaiieiro de 1898.

De volta a casa paterna (à mitiha sobrinha Arniida, depois da sim loiiga doeliça.)

Depois de procelosa tempestade. Nocturna sombra e sibilhante vento, Trcís a ríianhd serena claridade, Esperança de porto e salvamento: ..........................

cAMÕES - (tLuziadas),

Tu trns sido uma mártir, na verdade, Em dez meses de tanto sofrimento.. . Longe dos teus, o espinho da saudade Aumentou, ainda mais, o teu tormento!


Mas a esp'rança, qual luz na escuridade. Jamais te abandonou u m só momento: E no horror da tua enfermidade Não se apossou de ti o desalento!. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Voltaste, qual náufrago. a terra amada, Ou qual morta. agora resuscitada, Triunfando da tua atrós doença! . . .

Pois neste para nós tão feliz dia, Usufrue os eflúvios da alegria: Do muito que sofreste-a recompensa! Inédito.

Câmara de Lobos, 9 de lulho de 1914.


Pe. Alfredo de Paula Sardinha (Mário António) 1861-1 897

Nasceu no Funchal. a 2 de Abril de 1861 e faleceu. na freguesia do Arco da Calheta, a 23 de Maio de 1897. Era filho de João Sardinha e de D. Maria Luiza de Sousa Sardinha e irmão do Pc. Augusto Sardinha e Dr. Manuel Sardinha. Foi Pároco colado do Arco da Calheca. $Revelara uma decidida vocação para as letras, - diz o ~ElucidárioMadeirensen tanto em prosa como em verso, mas o infortúnio e as doenças não o deixaram, infelizmente, dedicar-se a aturados labores literários. Pelos jornais, deixou dispersos vários escritos. especialmente o' uA verdades, de que foi Redactor. Escreveu muitas poesias, algumas das quais tiveram grande voga e ainda hoje são recitadas e cantadas por alguns dos seus contemporâneos. Tinha notáveis qualidades de orador e publicou em 1884 o folheto, uDiscurso recitado na sala da Associação Católica do Funchal, no dia 2 de Fevereiro de 1 8 8 4 . ~ Funchal, 1884. Tem uma poesia inserta no ~ A l b u mMadeirensen, de Francisco Vieira, publicado em 1884.

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Ecos dum deserto d'África (Fragmento)

Já fui livre. agora vivo

Neste deserto africano, Onde o leão todo ufano Me preodeu, me trás cativo: Se ao rei das selvas me esquivo Dou com o tigre, o elefante, Eu. enfim, vejo diante Cruel morte a par da vida: Sempre vejo a pátria qu'rida Mas sinto-a sempre distante ! Corre-me o pranto dos olhos Já sem brilho, amortecidos. E meus pés já tão feridos A pisarem sempre abrolhos! Minha vida é mar de escolhos Onde o nauta em noite escura Se olha.. . só ouve o vento,


Tem na morte o pensamento E aos pés a sepultura. Minha terra olha este choro Que pelas faces m e corre! São lágrimas de quem morre Pelo seu maior tesouro! Ao rico que importa o ouro Se sente a morte bem perto?! Se o seu destino é incerto, Como o dos astros errante?! Como o pobre viajante Morre a sede num deserto?!

A canção dum cego Ser cego, não ver a luz Que o sol. ao longe, irradia; Não discernir o que é dia Do que são sombrios véus; Será tremenda desgraça? ! Vós o sabeis. oh meu Deus!.

Os esforços tão viris Dedicação e ternura De meu pai, que, em noite escura Me vendõ. seentristeceu.. . Não vi; mas ouvi-lhe os rogos Que, em mágoas, levava ao Céu! Que existem vastos jardins

O pobre cego presume. Pois que aprazivel perfume Lhe envia hastes em flor.. . Da criação nas belezas Tambem comungo, Senhor ! Às vezes vergam 'té o chão Nodosos ramos de arbusto Que nos convida a, sem custo, Seus frutos saborear. . . Sáo tantos.. . grandes, pequenos, De diverso paladar !


De minha tão querida mãe. Não vi fulgurar o rosto, quando em seu colo posto, Sentia-lhe o coração . . Mas sempre ela me banhava Duma suprema afeição. Ouvir hinos, orações; Haurir sopros perfumados ; Provar o fruto dos prados : E sobretudo Jesus! De mãe, dormir junto ao seio ! . . . Deixar ser cego.. . scm luz!. . . Inédito.


Manuel César Rodrigues Tranquada (Tranquada) 1863-1947

Nasceu na freguesia de São Pedro. a 10 de Agosto de 1863 e faleceu, repentinamente, na sua residência, ao Beco das Portadas, desta cidade, a 1 de Dezembro de lQ-17. Era filho de Manuel Rodrigues Tranquada e de D. Maria Carolina Rodrigues Tranquada e irmão de Júlio César Rodrigues Tranquada, proprietário e tio de Manuel Rodrigues Tranquada, guarda livros da Casa Leacok e de Alberto Rodrigues Tranquada, sargento de Infantaria 19. Foi empregado, durante muitos anos, da Casa Winton. encontrando-se aposentado, a data da sua morte. Foi, também. Administrador do extinto <<Diário da Madeiran, desde 1 de Janeiro de 1911 até a extinção deste jornal. Colaborou no oDiário de Notíciasr, em 1916, donde reproduzimos os seguintes versos:

A vingança dos melros (Cruz Baptista Santos e Juvenal de Araújo) N o alçapão de junco os melros esvoaçam.

E quando ao lusco-fusco os viandantes passam, Ouvem o seu piar fender o Azul sereno, -Voz falsa de bufões, voz ébria de veneno. Imaginam crueis intentos de vingança, E Baptista a muleta afeiçoada em ianga. Juvenal o colminho atrós dos jesuitas, Com sábias precauções, com manhas infinitas. Dispõem-se a fugir, em fenos de jangada, Para sangrar de noite, e a sós, o Tranquada. Não me perdoam nunca a cândida altivez. De me firmar na liga, em plena claridade, E dizer lealmente, e rijo, e de uma vez, Apenas a verdade. Supuram o ódio, e o fel, de quem jàmais esquece, Empenham-se em lançar-me as ilusões do Nada Onde jazem, há muito, as jóias da Kermesse.. . (Sem rosca na assadura, à fé de Tranquada!) Piedosos aivenéis do «Waltern - Pavilhão, Em que ao frio Luar há sonhos metafísicos, Devaneios febris da Alma Exalta~ão, Noivados outonais do coração dos tísicos, -Assentam em linchar-me, em uma noite escura.. . ( E bondade de Deus, sem rasca na assadura!


Mas antes de linchar-me. aventa o Juvenal Um flautim de pau santo: um cascavel-demónio Kraal, -Que seria melhor-uConselhon-no Onde alumia o verbo, audaz, do Tio António, E expede, em velino, o oficio circular.. . Nas lombas adormece a face d o Luar, E sobe do Oceano o amargo ritornelo, Quando cheirando a urse, em crista montanhosa. E unido ao flabelo, Surge o perfil-unção de Ezequiel Velosa. Aparecem depois, na linha dos alqueives. (Tudo isto em meu cérebro e coração memoro!) O beiço interjectivo, e com razão, do Teives. E o raposinho azul. de casa, o Teodoro. Veem também de longe, em burra mansa e andor. Obtusos foliões de pingues conezias, -A alma em raiva acesa e a boca em beija-flor. O esquilo beatão e o grou das sacristias. E fechando o cortejo. e após os prebendados. Arfa um casal pagão, de sua lenda ufano, E a quem oiço chamar, nos arcos ogivados. -O Boi A'pis do Egito e o Búfalo Cristiano. E todos, Deus do Céu, embora impenitentes Botam, a luz da Lua, encarvoadas châncas, (Risivel procissão de coxos e dementes) Esgrimem seu florete e calçam luvas brancas! . . . Peróra o Tio António, e a voz do Juvenal Afecta-se e sibila em vibrações irosas, E em vez de revestir a nudez do Kraal De braçadas de rosas, Suplica dos augustais severa punição.. . E eu penso, com terror:-vão exercer em mim, Seu escudo-defesa, e sem consolação, A vingança viril dos golpes de faim. Não diviso um olhar, uma luz, um esteio, E mais enfraquecida. e fóssil, das amarras. -A direita e à esquerda (e caramba!) no meio, Vejo bicos hostis e esporões e garras ! O melodrama vence a minha valentia. E ao Velosa, o Bijou de quantos ali são, Na incerteza de ver o sol do novo dia Eu peço que me absolva e reze em cantochão. É tempo. O s augustais elevam seus bramidos, E feros aleijões, em um cara vansará, Matam-me o bicho-conta e o bicho dos ouvidos: Tranquada, ai de ti. se não bebeste chá! (Meu coração esfria: é a neve da velhice.. .) E Juvenal a trémpe. e Baptista a chaleira,


O n d e fumega o cliá de Inépcia e Sabujice. Que bebe o camaleão c diário da Madeira*, Arregaçam a manga, e melros- do-alto-lá Rebramem: ai d e ti, se não bebeste o chá.

E finda o aranzel e o outro os vilancetes. (De valor em fugir decerto não há ninguém.. . )

E o meu olhar d e lince, agora, os seus Iloretes São a muleta em farpa e exaltaqões de língua. Uma corda de estopa e o rico talabarte.

E permitam-me ver, a escabujar no chão, Baptista, a sua Arte. -1uvenal de Araújo, a sua Educação. . . Eu esperò, resignado, o bote da vingança. -Que importa sucumbir (morre a Saudade em mim) Ao veneno e à muleta, afeiçoada em lança, E a dureza viril dos golpes de faim? . . . Mas os melros já estão repêsos da Aventura. Desistem de linchar-me em uma noite escura.. . E froixos. e baixando a cauda empenachada, (Em volta da cintura há larguesa de cós.. . ) Ciciam: -anjo-bom, ó flor. ó Tranquada, Não te fizemos mal, tem compaixão de nós! Eu porém, não me fio. Ali não há humildade. Esquivaram-se, um dia. à punição dos xelros ! Fogem de mim. bufóes, mas deixam sujidade. . . É esta, e sempre foi, a vingança dos melros! Funchal, 20-2-1916.


Mardónio CArnara ( Manuel Ribeiro) 1861- 1950

Nasceu em Lisboa. a 31 de Agosto de 1861 e faleceu, no Funchal. a 4 de Dezembro de 1950. Foi funcionário 'ia Junta Geral do Distrito do Funchal. Foi u m Poeta de cultura filosófica, possuidor duma técnica segura, que se rcvelou. sobretudo no soneto,-gknero e m que atingiu, por vezes, um elevado grau de perfeição. As suas poesias. impregnadas de uin acendrado amor a Humanidade, são verdadeiros hinos a Paz, ao Bem e à Verdade. São versos emotivos e palpitantes que despertam a sensibilidade e oferecem um grato prazer espiritual. É autor dos seguintes livros- flores Agrestes*. Funchal. 1903, de 67 págs.; aPirilampos.. Funchal, 1905, de 56 págs.: ~(Outonaisn.Funchal. 1910, de 6 0 págs.; ~Poentesn. Funchal, 1913, de 96 págs.; <Rimas do Ocason. Funchal, 1917, de 79 págs.: ganância C. Ca.. . Funchal. 1918, de 32 págs.; (Crepuscularesn. Funchal. 1932. de 62 págs.: <Vozes da Almaw. Funchal. 1939, de 6 2 págs. e oMales de Sempre*. Funchal, 1944. de 68 págs. Colaborou em vários jornais madeirenses. nomeadamente no diário de Noticias* e <Diário da Madeira,>. Como viveu nesta Ilha, desde crianca e como seu filho adoptivo, é justiça que o nclua mos neste Espicilégio. i

Soneto Vil avarento, os olhos teus levanta do pó da terra ao sideral clarão. o negro abutre da ambição suplanta, desterra dalma essa feroz paixão.

Vês essa lu2 CUJO fulgor encanta. que o prado enflora e doura a messr. o pão? Luz tão formosa. tão benigna e santa, fê-la p'ra todos providente mão.

Não exceptua a luz de Deus ninguém, a todos cobre esse lençol do céu, portanto. aprende a ter amor tambem. Faz de teu ouro um exercício nobre, lembrando o exemplo que Jesus nos deu, consola o triste, o pequenino, o pobre.


Conhece-te primeiro Homem, que és tu neste oceano imenso. de sirtes cheio, onde a razão vacila, mais do que vil e miseranda argila perdida, envolta em nevoeiro denso ? ! Que vale o orgulho desmedido, louco,mísero cego a tactear errante,de investigar e tudo ver distante, quanto a ti mesmo te conheces pouco?!

Na vida escassa e de ilusões formada, debalde aspira o ser que pensa e sente achar o Bem, que é um ideal sòmente, romper a bruma que lhe envolve o nada. Homem. reflecte na estultícia tua, e menos fátuo, olhos erguendo ao céu, certo hás-de crer nesta verdade nua : que é lama ignobil o c o n j ~ n t oteu.

A Ilha da Madeira (Século XV) Reinava D. João, nobre Mestre de Aviz,. heróico vencedor das hostes de Castela, quando se dilatou o império d o país a lusa História dando uma página bela. Corria o mês de Julho. Airosa caravela, panos soltos ao ar, garbos de imperatriz, singra as ondas veloz a salvo da procela, o Atlântico transpõe com êxito feliz. Trás nos mastros a Cruz, da Liberdade marco, e ao leme a firme Fé revela-se altaneira no grande herói do mar-João Gonçalves Zarco.

Um quadro surge, então, de ingénita beleza : É a presenga gentil da Ilha da Madeira, a pérola sem par da pátria portuguesa.

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Maria Alda da Câmara Leme Escórcio Drumond de Gouveia 1862 - 1927

Nasceu na freguesia de São Pedro. desta cidade, a 13 de Novembro de 1862 e faleceu, em Machico. a 11 de Julho de 1927. Era filha de João Escórcio Drumonci da Câmara e de D. Cândida de Menezes Esmeraldo da Câmara Leme e avó materna do Poeta e Contista Carlos Cristóvão da Câmara Leme Escórcio de Bettencourt, um dos Autores da Colectânea ~Arquipélagone dos livros: *As Ondas e o Vale)) e &Olivro de São Cristóvão)). Eis uma amostra do seu estro poético :

A minha filha Em minha alma vai, enfim, aparecendo Uma esperança. e com ela vivo enlevada ! Vieste p'ra mim, o h ! formosa alvorada ! Acendeste a luz que fraca ia morrendo!. . . Quantas vezes, em teu berço debruçada, Quando em tua face vislumbro um sorriso, Eu goso contigo um belo paraíso.. . Oh! Bendita sejas tu, filha adorada ! Alma pura, mais branca que o branco arminho, Onde eu leio como em livro aberto o fundo, Entras tão alegre e serena no mundo Qual no aconchegado ninho o passarinho. Eu era como esse dia que fenece, Terá para mim a vida um fim agora: Afastar as núvens negras desta aurora E ver raiar este dia que amanhece.


Pe. Caetano António de França (António de França) 1863

Nasceu na freguesia de São Vicente, a 15 de Setembro de 1863. É filho de Caetano António de Fraoça e de D. Maria Leopoldina Machado de França e irmão do Dr. Juiz, Manuel Maria de França e tio do Visconde da Casa Branca. Alexandre de Vasconcelos Bettencourt Mimoso de França. É um Poeta de mérito, autor de um interessante livro de poesias, simples e harmoniosas, intitulado uTrovas*. publicado nesta cidade. em 1935. uDesde os tempos de estudante se mostrou sempre iim espírito muito inteligente e culto com vistas contemplativas, imaginoso e de delicada ironia,-disse o Major João dos Reis Gomes-tudo indicando uma mente de artista, sem passar, embora. a manifestações exteriores. Todos o supunham entregue, apenas, a cogitações subjectivas, sem tendência para se fixarem por um processo estético. dessas que para sempre se amortalham na alma em que uma vez floresceram : espécie de crisálida que nunca há-de soltar asas e vir a ser borboleta. Pois todos se enganaram : o casulo rompeu-se e aí temos o Poeta cuja imaginação adeja em cerca de duzentas páginas, onde se encontram, entre versos despreocupados e algumas repetições de ideias, conceitos nitidamente condensados em belas fórmulas poéticas. Preferiu a quadra de recorte popular, a qualquer outra estância ou métrica; mas dá-nos também alguns sonetilhos de muito interesse literário. Daí o título de uTrovasn que modestamente pôs ao livro, ainda que este género, a dentro da genuína poesia. não seja. como julgam muitos, fácil de cultivar: justamente, pelos estreitos limites que os quatro versos impõem à clara expressão duma ideia. Conservando o sabor popular, estas quadras têm nas parelhas finais, excelentemente condensada e em imagens felizes, a razão do estabelecido pelos dois primeiros versos. E, em muitas, essas imagens apresentam iinia originalidade que nos lembra qualquer cousa de poder simbólico, mas fortemente expressivo. dos mais dotados e espontâneos trovadores. Nem todas as trovas de António de França são pérolas do mesmo oriente: mas em geral, revelam-nos dotes muito para louvar num bom Poeta lírico.% Para que a boca de alguém Lhe fique sabendo a mel, Basta sòmente que ele Profira a palavra mãe.

O ! meu Deus, como ligeiros Da vida os dias fizeste, Junto ao berço da criança Vê-se a sombra do cipreste.


Nesta vida que é tão curta, Ajuntar bens é loucura, Pois que é só o nosso corpo Que cabe na sepultura. Deixa-me ir assim a vida, A passo, devagarinho : Com uma das pedras parada Móe-se o trigo no moinho. Corre tanto a nossa vida Que a acho bem comparada A roda que gira tanto Que parece estar parada.

A mulher é inconstante Assim como o malmequer; Chora e ri a cada instante, Ninguém sabe o que ela quer. Não te envergonhe a pobreza Que a virtude ela encobre. E Jesus era bem pobre E encheu-nos de riqueza.


(Augusto Bertoldo Machado (Augusto Machado Bertoldo) ? - 1942

Nasceu no Funchal e faleceu nesta mesma cidade, a 20 de Outubro de 1042 Era descendente de José de Jesus Bertoldo e de Caroliiia Amélia Machado \'eiltura e pai d o Professor, Dr. João Franco Machado e da Escritora, D. Maria Franco Machado do Nascimento, esposa do Poeta João Cabra1 do Nascimento e cunhado do Escultor Francisco Franco de Sousa e do Pintor de Arte, Henrique Franco de Sousa. Cursou o Liceu do Funchal e lecionou Escrituração e Arithmética Prática, a Rua da Carreira n.0 182. Foi também Guarda-livros das Firmas uLuiz Gomes da Conceição e GF. M. Sardinha t.3 Ca.n Falava várias línguas estrangeiras e dedicou-se à literatura. tendo colaborado na imprensa do Funchal, nomeadamente, no uDiário de Noticias*, ((Diário da Madeira)). Revista esperança)) e alman na que de Lembraiiqas Madeirense e colaborou, também iio 6Almanaque Bertrandn. em 1927. Usou, em alguns dos seus trabalhos literários, o pseudónimo de Odlotreb, que é o seu nome escrito ao contrário Do #Diário da Madeira>, de 13 de Outubro de 1913, reproduzimos os seguintes versos, compostos em 1906 :

A memória de minha mãe Num cemitério, não longe da aldeia, Ex~steuma campa coberta de rosas, As aves contentes lhe entoam hinos, E pousam-lhe, aos bandos, gentis mariposas.

A noite o luar, de meiga docura. Banhando as campinas de mágica luz, Envia, mui triste, seus raios a campa, A aragem que passa s ó mágoa traduz. Um ente repousa das lidas da vida. Não sofre jamais martírio nem dor, -Adeus! disse um dia, eu parto p'ra longe! -Adeus! lhe disse eu, mir?ha mãe, meu amor! Funchal, 1906.


Pe. Fernando Augusto da Silva 1863 - 1049

Nasceu no Funchal, a 2 de Outubro de 1863 e faleceu, nesta cidade, a 18 de Dezembro de 19-49. Era filho de Fernando Augusto da Silva, carpinteiro, e de D. Joana Augusta de Freitas Silva. Foi Procurador a Junta Geral do Funchal: Presidente da Câmara Municipal e da Comissão da Misericórdia do Funchal; Professor da Escola Industrial e Comercial de «António Augusto de Aguiarn: Pároco de várias freguesias desta Ilha; Investigador da História Madeirense e Escritor e Jornalista de grande mérito. Foi Sócio-correspondente da uAcademia Portuguesa de História>; da <Associação dos Arqueólogos Portugueses e 90 (<Instituto de Arqueologia, História e Etnografian e foi agraciado, pelo Governo Português, com o Oficialato da Ordem de São Tiago, em 8 de Setembro de 1926. Colaborou largamente na imprensa Madeirense, nomeadamente n' ((0Jornal$. uDiário da Madeiran, uDiário de Notíciasn. ~Heraldoda Madeira*, ({Eco do Funchalb, etc. e publicou as seguintes obras: uElucidário Madeirensen. Funchal, 1921, 1940 e 1946; uParóquia de Santo António da Ilha da Madeirao. Funchal. 1929, ((A Lombada dos Esmeraldos na Ilha da Madeiran. Funchal, 1933; dicionário Corográfico do Arquipélago da <Madeira~.Funchal, 1934; uCamões e a Madeiran. Funchal, 1934; uA Sé Catedral do Funchaln. Funchal, 1936; uO Arquipélago da Madeira na Legislação Portuguesa*. Funchal, 1941; ~Diocesedo Funchaln. Funchal. 1945; uAntiga Escola Médico-Cirúrgica do Funchal~.Funchal, 1945; usubsidios para a História da Diocese do Funchaln. Funchal, 1945; revestimento Florestal da Madeiran. Funchal, 1946; colégio e Igreja de São João Evangelista do Funchalh. Funchal, 1947; <Pela História da Madeira*. Funchal, 1947; cJoáo Gonçalves Zarcon. Funchal, 1948 e «Vocábulos Madeirenses*. Funchal, 1950. Na descrição das festas realizadas na freguesia dos Canhas, por ocasião da Visita Pastoral, em 1942, o correspondente d' 4 0 ~orialn,caiu na vaidadezinha de dizer que o Rev. Pároco saudara o Ex.mo Prelado, revestido de rica capa e de nova sobrepeliz. Não se fez esperar o merecido castigo, expresso nos versos que abaixo reproduzimos, da autoria de F. *Este colega irnazelado-diz o correspondente d' < OJornaln-nosso muito ilustre amigo, que sabiamos ser um prosador distinto, entre os mais distintos, da Madeira, revela-se-nos igualmente, um exímio cultor das Musas. Que para maior gloria de Deus e do Clero Funchalense, viva ainda ad multos anusn. Maravilha de arte Sacran

De inigualável beleza, Que excede um áureo manto Da mais excelsa Princesa. Dos céus vieram os Anjos Fabricá-lo com primor : Um talisrnã sacrosanto Que inspira Divino Amor.


No arcar da sacristia Vai ser posta uma redoma. Para guardar a Relíquia, Como se viesse de Roma. Que o tempo voraz respeite O seu *branco» imaculado, São os ardentes anelos De um colega irnazelado.

A flor escondida Ao nieu querido amigo, Júlic-, \', Dias.

Viste um belo dia uma linda flor No cume dum alto monte escondida. Andaste à sua procura toda a vida, Porque ficaste abrasado de amor. Começaste a procurá-la, com ardor. Não. pensando ser muito desmedida. Nesse tempo, tua alma era perdida, Atrás dela, sempre ia, o Bom Pastor. Passaste por veredas, sem firmeza. Procurando aquela flor bemfazeja. Por não ser nunca flor da Natureza. Agora tem tua alma o que deseja. Já alcançaste bom fruto da tua proeza. É esta flor: uA Verdadeira Igreja*!


Vitorino José dos Santos (Vitorino dos Santos) 1863

-1928

Nasceu na freguesia de São Pedro, a 29 de Dezembro de 1863 e faleceu nesta. cidade, a 1 de Outubro de 1928. Era filho de Augusto César dos Santos e de D. Isabel de Ornelas Santos Foi Engenheiro Civil e fez os seus estudos nas antigas escolas Politécnicas e do Exército, em Lisboa. Foi Director das Obras Públicas Municipais de Luanda e Engenheiro-chefe da secção das Obras Públicas da Provincia de Angola e depois de regressar de África, exerceu o cargo de Administrador do Concelho do Funchal e Comissário de Policia deste Distrito. Foi Director e Professor da Escola Industrial ~AntónioAugusto de Aguiarn e Chefe da 6.2 Circunscrição dos Serviços Técnicos da Indústria, no Funchal e Vogal da Junta Geral do Distrito. Militou no extinto Partido Franquista, tendo feito parte da sua Comissão Distrital. Colaborou no uDiário da Madeira*, e noutros jornais e escreveu vários relltórios que foram publicados no <Boletim do Trabalho Industrial*, de 1907 a 1913, alguns dos quais, como os que dizem respeito a instituições de beneficência e associação de classe, bordados. artefactos. obras de verga e embutidos, são trabalhos coinpletos e valiosos. Publicou, também, um livro de versos, originado pela perda da sua filha idolatrada, D. Marieta Santos, intitulado ulágrimasn, de que fez duas edições, a primeira no Funchal, em 1916 e a segunda, aumentada, em Coimbra, em 1918, <<Lágrimas>>,-dizo P.c Eduardo Pereira-é a obra de um poeta de alma, que se revelou amadurecido na inteligência, pela filosofia da vida, e sangrando no coração, pelos espinhos crucia~itesda dor; é a alma desvelada de um pai, atravessada pela mais impiedosa seta da desventura: é a saudade pungente do mais acerbo espinho, que feriu desoladoramente o coração carinhoso do melhor amigo. São desanove sonetos,-desanove vozes sibilinas, onde, dentro do ritmo melodioso do verso, canta a voz estrangulada da Dor, geme a saudade inconsolável d o Amor e ora a resignação piedosa da Fé*.

Recordando Longe, tão longe já, mas vejo ainda Como em sonho com imagem predilecta. Surgindo da saudade nunca finda, Uma avó dando o braço a querida neta. Não lembra ao meu olhar coisa mais linda! A avó desvanecida, alma repleta Da graça que do Céu seria vinda ? ! A julgar que a ventura era completa!


A Morte cubiçou esta alegria, A tanto olhar amigo que seguia O grupo da Vèlhinha e seu Amor: Não deixou que jimais alguém o veja : Do encanto desta neta teve inveja, Desfez o doce grupo e fez a Dor!

A cor dos teus olhos A ~niiikofilho.

O lindo azul do Céu que o mar espelha. Sublime integração de toda a luz. -Foi a cor que Deus pôs numa centelha Dada ao mundo nos olhos de Jesus.Também, o teu olhar se assemelha Ao bem que a cor do Céu em mim produz: -Santo enlevo que suave me aconselha A sofrer, resignado, a minha cruz.

E sofro tanto, ó filha!-o meu penar, Só encontrou o alento desse olhar! -Que Deus te dê o bem que tu me deste! Fez-te.-ó anjo damok que me confortas! -Luz bendita por entre esp'ranças mortas, Brilhando em doce olhar da cor celeste!-


Francisco Joaquim da Costa Feireira (Costa Ferreira)

Nasceu na Madeira. em data que desconliecernos. Era pai do Dr. Ant6nio Aurélio da Costa Ferreira, Fundador e Director da <Casa Pia* e Professor de Psicologia Experimental. Pedagogia Geral e H i s t ~ r i ada Educação. na Escola Normal de Lisboa, falecido e m Lourenço Marques, em 1922 e cunhado d o Dr. José Joaquim de Freitas, Fundador do <(AuxilioMaternal*, desta cidade. Foi empregado superior dos Correios e Telégrafos. Colaborou no <<Diáriode Noticias*. em 1896, donde reproduzimos a seguinte poesia:

Via dolorosa Eu sendo eu, nem mesmo me compreendo

E nunca bem me posso conhecer, Sei, as vezes, ser eu em me não vendo Mas não sei o que sou. só de me ver. Este não viver vou eu vivendo. Odiando a Vida e a morrer sem querer. Amando a Morte e a não querer morrer Quando melhor me sinto ir morrendo.

Entre ser e não ser vou caminhando E em vão já me cancei a perguntar P'ra que é que vivo? Em vão vim perguntando. Para que sofro, p'ra que hei-de assim chorar? E p'ra adoçar a Dor que vou palpando Vou hoje no sonho a Vida procurar.

O sonho tudo faz, sabendo nós sonhar!


João da Câmara Leme

Nasceu no Funchal, em 1865 e desempenhou o cargo de porteiro do Governo Civil. Com a idade de 22 anos, publicou. em 1887, um livro de versos, de 83 páginas, intitulado uAmor e Pátria*, onde patenteava apreciáveis qualidades poéticas. Os Zoilos da nossa terra atacaram-no impiedosameute, acusando-o de ter plagiado diversos Poetas portugueses, em especial, o Visconde de Almeida Garret. Eis uns versos do seu livro amor c Pátria$.

Amor e pátria (Excerto) Meia noite! que mistérios Esta palavra não diz? Hora de gosos etéreos, De magas visões subtis? Hora em que voam as fadas. Soltando as tranças doiradas, Nas campinas perfumadas Por sobre o florido matiz? Quem é que à noite não sonha, Poemas de ignoto amor? Quem não decifra mistérios No cálice de cada flor ? Nos beijos de cada brisa, Em cada estrela o fulgor? Quem não vê dentre carícias. Formoso anjo sorrir ? Quem não vê doiradas sombras N o seu sonhado porvir? Quem não divisa sonhando Essas deidades formosas ? Do céu. . . dos astros. . . do mar ? Quem não as vê reclinadas Em cadeiras de cristal? Suas frontes transparentes, Quais diamantes luzentes. Dum brilho celestial ?


Francisco Gomes da Silva ( Thadeu ) 1865-1933

Nasceu no Funchal, a 30 de Março de 1865 e faleceu, nesta mesma cidade, a 7 de Novembro de 1933. Era filho de Manuel Gomes da Silva e de D. Maria de Jesus Gomes da Silva e pai do Poeta Francisco Gomes da Silva (Francisco Silva) autor do livro .Céu de Núvens~, e tio do compilador deste Espicilégio. Foi funcionário da Secretaria do Governo Civil deste Distrito. Dedicou-se à poesia, assinando algumas das suas composições poéticas com os pseudónimos de Thadeu e Silva Thadeu. Colaborou n' GOCongresso*, uDiário de Noticias* e @Diárioda Madeira*.

Laura Vi formosa borboleta Num jardim a esvoaçar, Segui-a, para ver onde Iria, a louca, poisar.

E vi-a voar.. . voar.. . Por sobre as flores do prado, Buscando beber no cálix Da rosa, o nectar guardado. Porém quando, arrependida, Voltou, de novo, ao vergel, Já outra que ali passara Da rosa libara o mel. Como aquela borboleta, Laurinha, és tu, minha flor. Talvez que ao ver-me, algum dia, Não encontres meu amor.

Soneto A tristeza de mim se apoderou ! Qual misantropo, sempre pensativo, Pareço morto, embora esteja vivo. .. A Esperança também se evaporou !


Sempre a pensar, pensar num ente amado, Sem lenitivo ter a minha Dor, Vós bem sabeis, meu Deus, Nosso Senhor, Quantas lágrimas tenho derramado. Qual Judeu errante, a caminhar. Sempre pensando, sem nunca cessar. Na0 sei quando esta vida acabará. Assim terminarei meu árduo trilho Sem que jamais te veja, querido filho?! .. . Uma injustiça, Deus nunca fará.

Mote : Tu és um beijo materno, Tu és um riso infantil. Sol entre núvens d'inverno, Rosa entre Ilores d'abril. joÃo DE DEUS Eu deixei um doce beijo Nesse teu rosto risonho; Ao ver-te (parece um sonho) Nasceu enfim o desejo De morrer, se não te vejo ! Sou teu; um amor eterno, A ti hei-de pertencer. Isto tem razão de ser. &-Tu és um beijo materno.*

A ti, ó minha adorada. Amo tanto, como a Deus, Porque esses olhinhos teus Trazem minh'alma enlevada; Só penso em ti e mais nada, Minha pequena gentil. Hei-de dar-te beijos mil Nesse teu rosto rnui belo, Tu és todo o meu desvelo, a-Tu és um riso infantil !H Até o dia em que te vi Eu muito triste vivia,


Mas desde esse feliz dia Me alegro, pensando em ti. Crê que nunca conheci Um rostinho assim tão terno; És obra do Deus eterno; -Desse bom Deus de MoisésE também sei que tu és, <<-Sol entre núvens de inverno.$ Crê que nunca esquecerei Aquela noite saudosa, Em que na face mimosa Um beijo damor te dei; Não és ingrata, bem sei, Meu coração juvenil, E por isso beijos mil Hás-de dar-me, minha flor, Pois és todo o meu amor, a-Rosa entre as flores d'Abril.9


Manuel Sardinha 1865-1946

Nasceu na freguesia de Santa Luzia. a 20 de Setembro de 1865 e faleceu no Hospital da Santa Casa da Misericórdia, do Funchal, a 12 de Dezembro de 1946. Era filho de João Sardinha e de D. Maria Luiza de Sousa e irmão dos Padres Alfredo de Paula Sardinha e Augusto Sardinha. Foi Médico-Cirúrgião, pela Escola Médico-Cirúrgica do Funchal, onde se licenciou, em 1888. Exerceu, durante alguns anos, o lugar de Médico Municipal da Ribeira Brava, Calheta e Ponta do Sol. Mais tarde foi nomeado Administrador do Posto de Desinfecção Terrestre. Também foi Professor particular do Ensino Secundário e regeu, durante muito tempo, no Seminário. algumas cadeiras, como a de Matemática. Foi Director de a 0 Jornaln (desde 1 de Maio de 1932 a 30 de Abril de 1939) e do <<Correioda Madeira* e Redactor do uDiário de Noticias}). Colaborou n' NO Académicon, alman na que de Lembranças Luso-Brasileiros e alman na que Bertrandn, (neste último, como solucionador de problemas matemáticos) e na publicação, <(VCentenário da Descoberta da Madeira)). É autor dos livros: uA Canção do Mêsn. Funchal. 1946: @LiraFrágil)) (1885-1904) Inédito; uAlguns apontamentos metemáticos e algébricosn. Inédito; a 0 Livro do Riso$, (publicado em parte n' uO Jornaln) e uEmpôlas e Gôtas*. Inédito.

Impressões de viagem (A F. G. de Gouileia Jítnior)

Pediste-mas?!!! Aqui tens. Crua, crua de expressão. Mui simples recordaçáo. Singela como as cecéns. Escuta ! É verdade, eu fui Lesto, o campo visitar, Mas não ouvi o troar Da tempestade que rue. Não vi, não vi inundações

E coisas tétricas mais; Por isso não sou capaz De mostrar-te uns quadros bons.

Gostei do campo: gostei D o ar que s'aspira lá: Daquele ar que forças dá E vida e amor.. . Eu sei!


Um desejo então nutri. Enquanto estive no vale; Anceio puro, sem igual D'ir viver um dia ali.. . Nas primaveras, a flor; A sombra amena no v'rão; N o inverno, a cerração; N o outono, seja o que fôr.. .

Tudo me sabe agradar; Em tudo encontro afeição; A tudo o meu coração.. . Mas amigo. . . Au reijoir !

Insistindo Perdoar qualquer injúria É da ciêncía divina, A mais divina lição. Oh! que a nossa alma murmure-a! Melhor, a cante e a defina, Sendo em braza o coração!

Boca d'oiro o disse Numas ondas densas, P'ra que hoje o repetisse A nossa argila vã.. . Guerra a chama altiva Dos ódios e ofensas!

Em perdão sempre viva A nossa alma cristã. (Do livro inédito: uErnpdlas e GUtasr.


Quirino Avelino de Jesus (Q. A. de Jesus) 1865-1935

Nasceu no Funchal, a 10 de Novembro de 1865 e faleceu, em Lisboa, a 3 d e Abril de 1935. Era filho de Manuel de Jesus e de D. Quirina Augusta de Jesus e pai do Dr. Domíngos Menezes de Jesus. Matriculou-se no Seminário do Funchal e depois de ter concluído o 2.0 ano do Curso Teológico, matriculou-se, em 1887, na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, onde se formou em 1892. Estabeleceu-se em Lisboa, onde se dedicou ao Jornalismo e à Advocacia e ao estudo de questões sociais. Foi chefe da Caixa Geral dos Depósitos, em 1890 e Deputado pelo Distrito de Braga e da Madeira. Militou no Partido Regenerador e depois, no Partido Nacionalista, do qual, em breve, se retirou, por divergências suscitadas com os dirigentes deste Partido. uColaborou em vários jornais-diz o uElucidário Madeirense-tornando-se muito conhecida a série de artigos que escreveu acerca da situação económica da Madeira, que logo revelara as suas futuras qualidades de escritor e jornalista*. Foi Director d o oCorreio Nacionala, colaborador e depois, Redactor de uA Tarde* e Director do <rEconomirtaPortuguês, e da Revista uportugalem África*. Publicou 4As Ordens Religiosas e as Missões Ultramarinas*, em 1893 e um poema épico, intitulado, uLusa Epopeia*. Sustentou campanhas na imprensa, que ficaram assinaladas nas crónicas do jornalismo nacional, sendo vasta a sua colaboração em muitos jornais e revistas. D o uAImanaque de Lembranças, Madeirense~,reproduzimos esta sua poesia.

Adeus ! Para que foges estrela formosa Entre as núvens de escuro horisonte, Se um momento brilhou tua fronte Nos refúlgios plainos dos ceus? ! Porque foges, meu anjo saudoso, sem-deixares celeste harmonia, Se por mim ao passares um dia Me enlevastes, num raio dos teus?! Ao silêncio, à noite dum ermo Me arrojaste, onde vago sem norte, Onde espero o desfecho da sorte, Sem ventura, sem pátria, sem céu!


Porque é triste viver sem esperança Quando um raio d'ardor nos inflama, Sentir nalma damor uma chama Sem dizer-se a um anjo-és meu! Ai, é triste, dum mar gemebundo Ver num astro fugida ternura; Ver na lua eterna1 formosura Avivando cruel meu pezar! N o martírio. no pranto e no luto Ver fugir uma luz do Calvário Sem que venha adoçar-me o fadário, Sem que venha minhalma alegrar? Já que a sorte fatal e maldita

Me separa de tanta ventura. Dum arcanjo a serena ternura Dizer venho, tremendo, um-Adeus ! Sou qual monge na Arábia deserta O u num ehno da velha Bethsaida, Solitárb d'antiga Thebaida Sejam cinzas os sonhos só meus.


José Venâncio Correia (Periquito)

Nasceu nas Areias, sitio da Azinhaga do Tremoço, Ilha do Porto Santo, a 18 de Março de 1867. É conhecido pelas alcunhas de Formiga e Periquito. É um digno rival do nosso conhecido feiticeiro do Norten. É caseiro, desde os 2 4 anos de idade, dos vastos terrenos de Jorge Brum do Canto, realizador do filme <Canção da Terras. Exibiu-se duas vezes em público, a 1.a em 1938, na Festa da Vindima, na Quinta uVigia*. de conjunto com o rancho folclórico d o Porto Santo e a 2 . a . em 1947, no Porto Santo. em palco improvisado, na Fábrica de cimento. para artistas profissionais e amadores de teatro declamado e variedades. #José Venâncio, que é completamente analfabeto - diz o jornalista Mota de Vasconcelos e não sentou praça devido a insuficiência de craveira militar, arquitectava o enredo de várias cantigas, na leitura ouvida de acontecimentos referidos nos jornais e era, então, nos silêncios bucólicos das pastagens e na molenguice de certas fainas campesinas, que o poeta fazia a tessitura historiativa de seus versos, depois batidos e rebatidos na mente, até adquirirem a desejada, fácil, lúcida e surpreendente correnteza d e dicção.$ Eis algumas das suas 4 9 cantigas:

-

Meninas da Madeira ....................... Das três horas p'ro futuro Vão p'ra praia passear,

O que a areia não diria Se ela soubesse falar.. .

O Senhor Administrador (Referente ao Tenente Joaquim Pinto Pinheiro

.......................... Da beira do mar a praça Está tudo bem arranjado, Que a norte tem o açougue E a meio fica o mercado.

.......................... Fazia-se o orçamcn to P'ra fazer qualquer estrada,


Ainda bem não estava em meio Já o dinheiro se acabava.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Agora fontes e ruas Tudo se vai arranjando E agora p'ra tudo dá E os cofres vão aumentando. Não sei se o dinheiro é mais, Se é de quem está governando.

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S

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.,.......

Do Penedo a Calheta, É uma estrada especial Por ser a primeira rua Das ilhas de Portugal.

..........................

O Largo do Pelourinho Foi calçado a pressunção. É bonito p'ra quem chega, É recreio p'ra os que estão.

.......................... Anda o nosso Delegado Satisfeito e contente. Segundo é administrador, Terceiro é presidente.


Amália Colares Mendes Rocha de Gouveia (Amália Rocha de Gouveia) 1867-1945

Nasceu na Madeira. a 1 de Maio de 1867 e faleceu. nesta cidade. a 3 de Janeiro .de 1945. Era filha de João Joaquim Mendes e de D. Maria Colares Mendes e esposa de Abel Rocha de Gouveia, funcionário da Associação de Socorros Mútuos 44 de Setembro de 1862n e mãe de Henrique Rocha de Gouveia, (coordenador e editor do alman na que do Anunciadorn) e Carlos Rocha de Gouveia e avó da Poetisa. Maria Lise Rocha de Gouveia e Abel Gabriel Rocha de Gouveia. Foi Professora de piano e música, muito competente e dotada de talento artistico. Interveiu na educação de muitas senhoras, das melhores famílias desta Ilha, algumas das quais mostraram, em espectáculos de amadores e saráus musicais, a excelência dos processos de ensino adoptados por esta distinta Professora. Na sua residência, realizou, há muitos anos, reuniões musicais, com assistência de alunos mais classificados, que resultaram acontecimentos marcantes. no nosso meio artistico. Em Junho de 1925. reali~ouum Concerto, com fins de beneficência, no nosso primeiro Teatro. Colaborou em alguns jornais Continentais e deixou algumas poesias inéditas.

Adeus, Madeira Adeus, minha terra lindaJardim das mais belas flores. Eu jamais olvidarei Teus encantos, teus primores. Adeus campos da Madeira. Onde meu amor cantei, Adeus brisa perfumada. Adeus tudo quanto amei. Quanta vez em teu regaço, Repousando sobre flores. Eu via uma ilusão, A visão dos meus amores! Sacrário dos meus segredos. Tudo. tudo eu deixo em ti, Sepulcro dos meus amores, A minha alma paira ai.


Maria Isabel Camacho de Andrade (Maria Isabel de Andrade) 1867

Nasceu na freguesia de São Martinho. desta cidade, a 1 de Dezembro de 1867 E' filha de Agostinho Camacho e de D. ~ d e l a i d eCamacho. e mãe do Revdo. Pe. Manuel Severino de Andrade, Pároco da vila de Machico, e de Augusto Assunção de Andrade, António Firmino de Andrade e José Lino de Andrade, proprietário no Funchal. Colaborou n' r 0 Jornal da Madeira*, em Novembro de 1954, donde reproduzimos os seguintes versos:

Ao meu querido filho Pe. Manuel Severino de Andrade (No seu 51 aniversário natalício)

Cincoenta anos o que são? Que são mesmo oitenta ou cem? Quase nada, comparados Ao do avô Mathusalém. Novecentos e sessenta E mais nove anos de idade! Mas tudo isso é pouco ou nada Comparado à eternidade. Não peço p'ra ti os anos Do velho Mathusalém: Peço só que ames a Deus E pratiques sempre o bem,

E sorri sempre feliz, Feliz como um serafim. Se Deus te der um só ano Mas que jamais tenha fim. . .

Um Domingo sem ocaso, Um jardim sempre a florir, E uma mãe carinhosa Ao filho sempre a sorrir. . .

E as carícias inocentes De flores sempre viçosas: Matilde e suas irmãs, Uma rosa, entre outras rosas.. .


Teu pai. irmãos e sobrinhos E teus amigos leais. Em eternas alelúias, Jóvens, gentis, imortais. Que mais eu posso pedir? Que mais posso eu desejar? Os meus e os teus desejos Que Deus se digne escutar! Machico. 7-11-1954.


Cândido Álvaro Câmara (Cândido Câmara)

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1867 1945

Nasceu na Ilha do Porto Santo, por 1867 e faleceu. no Continente, a 19 de Julho de 1945. Foi Poeta e Prosador de índole humorística. Possuiu boa cultura literária e escreveu sobre o Folclore Madeirense e assuntos regionais. Foi Capitão do Regimento de Infantaria. n.0 27 e era Coronel, à data da sua morte. Colaborou no diário da Madeira», uDiário de Notícias*, uDiário do Comércio* e uRevista Madeirense*, onde publicou a sua tradução do drama de Henrik Ibsen, uA Casa da Boneca*, em 14 de Abril de 1901. A primeira poesia que reproduzímos. foi publicada no *Diário do Comércion, quando o autor era Tenente do Regimento de Infantaria n.O 27, a segunda e terceira no «Diário da Madeira,» em 1932 e 1920, respectivamente.

A Ilha da Madeira ri idha-girarda, amiga

Um dia Jehová, o velho Deus dos crentes, A Alma do Talniúd da triste Palestina, Ouvindo o ciciar de frémitos dolentes, Relanceou o Azul. A Divina Retina, Gravou-lhe o quer que fosse. alado, vaporoso, Gemas de brilho astral, de traça leve e fina;

E estranhando a forma, o todo gracioso, Como que desprendido, errante, fugitivo, De espírito já morto, o sopro radioso, Quedou-se a Meditar. O acto reflexivo. Cavou na vastidão da Testa Soberana, Um sulco inquiridor, um quase nada altivo. Num ápice ou num século? A luz não engana, Brorou da Mente Augusta, a Fonte da Certeza, Correndo o Infinito em triunfal Hosana.

E descobriu, então. que a essência da Pureza, Do anjo revoltado. o réprobo Lusbel, Crisálida do Bem. gemia de tristeza,


Por esse tempo. já o povo de Israel. Matara. numa cruz, o meigo Galileu, E Roma o sucessor do Justo e Bom Donzel: Pedro, disse o Senhor, ao velho e santo hebreu, Esparge sobre o mar. a graça que anda além. Dispersa sem missão.-E Pedro entristeceu. Senhor!-Im plorou o santo.-olhai Jerusalém, Sudário da desdita, infecta, escravisada, Outrora tão feliz, risonha qual cecém; Deixai que eu lance ali. na terra bem amada, Do povo de Judá, o vosso povo eleito, O pólen da Beleza, os risos da alvorada. É cedo! Clamou Deus. p'ra a expiaçgo dum feito.. De hediondez sem par. É além que vai baixar, E a seguir marcou, ao longe, o velho leito.

Ia cumprir-se a lei. Ao fero bravejar, D o mar enlouquecido, em sanha desordeira, A falma e mansa paz tomava o seu lugar:

Mas Pedro, o executor, supondo a mão certeira. Não vê que ela cansou na vinha de Jesus, E a graça enlaça a terra;-a terra era a Madeira, E eis porque ela tem:- Beleza, Aroma e Luz.

O meu coração é sol e sombra Ilha de amor e sonho! Avassalou-me o peito. A tua imagem bela. o teu encantamento, Em noites de espertina, a arebolar* no leito. Como gato rnaltq, com ucion turbulento.

Mas porque sinto agora,-oh! meu amor-perfeito,Aqui, bem junto a ti, acerbo sofrimento. -Não sei se saudosismo, o ancestral defeito,Inoculando a dor, no meu contentamento.


Será por te deixar, ao silvo da sereia. O u reacção da tripa ao ver que, volta e meia, Tem que engordar o mar, durante a travessia?

Não sei dizer, não sei, - oh! terra bem querida: Porque senti, cá dentro, a mágoa indefinida, Daquele mal-estar. em horas de alegria.

A mulher portuguesa A' luz do Meio-Dia, hinário triunfal, Ungiu-te, talvez, a santa tutelar Da arte divina1 de Verdi e de Mosart, No signo redentor da culpa original:

-

-O rosto amorenado, o corpo escultural, A graça e a beleza, o duo, a eleluiar, Esse poema-mor, revolto como o mar,

De lágrimas e riso:-a ode passional. Talvez, que a Virgem-Mãe, quando a fecunda luz Te alvoroçava a Carne, em franca puberdade. Cantasse, i tua alma, os salmos de Jesus, Mas, como cristal luso, a irradiar bondade Velada de tristeza, o teu olhar traduz A ária que é só tua:-uo sonho da Saudade*.


João Edwiges Rodrigues (Zé da Ilha) ?-I946

Nasceu na Madeira, em data que ignoramos e faleceu, no Funchal, a 27 de Janeiro de 1946. Foi artista gráfico do uDiário de Noticiasn, desta cidade, Poeta e Jornalista-qualidades que os novos talvez desconheçam, e que muitos dos seus contemporâneos fingem ignorar-deixou produções de real valor, que a sua modéstia prejudicou-num simples pseudónimo, o popular Zé da Ilha, de há 4 0 anos, de 4 0 Operário*, 6 0 Povow, trabalho e União* e de outros jornais de feição democrática, pois era um republicano convicto, desde os velhos tempos da propaganda. O s seus versos são. por vezes, causticantes, sem contudo serem mordazes.

Ritmos dfAmor Só a mulher tem a dita D'ingressar nos corações. . É ela a artéria bendita Que fecunda as gerações!

Um supérfluo de canduras Difundidas no frescor.. . Esse album de formosuras Que imortalisa o amor!

O meu querer já não trilha! Nem à vossa luz se brilha A minha prece cançada.. . Vem a mim, que sou amigo!. . . Fazei a esmola ao mendigo!. . . Não te esqueças, minha amada!. . . --em--

OLHA. . . Se tornares um dia a confissão, Não reveles ao padre esta paixão!


João dos Reis Gomes (J. Reis Gomes)

a Nasceu na freguesia de São Pedro, a 5 de Janeiro de 1869 e faleceu, na ~ Q u i n t d o Esmeraldon, sua residência, na freguesia de São Martinho. a 21 de Janeiro de 1950. Era filho de João Gomes Bento. funcionário dos Correios e de D. Maria Gertrudes Castro Gomes e pai do Dr. Álvaro de Menezes Reis Gomes, Professor d o Ensino Técnico e Jornalista de mérito. Alistou-se. como voluntário no Exército, no Regimento de Caçadores 12, d o Funchal, em Outubro de 1886, quando ainda estudante liceal. Em 1887, seguiu para Lisboa, para se matricular na Escola Politécnica, no curso preparathrio para oficiais de Artilharia, transitando, depois, para a Escola do Exército. onde tirou o curso da Arma da Artilharia pesada e o diploma de Engenheiro Industrial, tendc sido despachado Alferes, em 2 9 de Dezembro de 1892. Prestou serviço militar e m diversos pontos do Continente e passou a reserva. no posto de Major, em 31 de Março de 1937, mas por determinação superior continuou em comissões de serviço activo, como Inspector do Material de Guerra, nesta Ilha e Comandante da Bataria n.0 3 de Artilharia da Guarnição da Madeira. até 2 4 de Junho de 1919. Foi nomeado Professor provisório do Liceu de Jaime Moniz, em Outubro de 1900, tendo deixado este cargo, em 1928, por incompatibilidade legal com o de Professor efectivo do Ensino Técnico. Foi nomeado Professor provisório da Escola Industrial de uAntónio Augusto de Aguiar~,desta cidade, em 4 de Dezembro de 1913, cargo que exerceu durante muitos anos, tendo sido nomeado Professor efectivo, em Outubro de 1925 e Director deste mesmo estabelecimento de ensirio, desde 7 de Janeiro de 1929, até 6 de Janeiro de 1939. Em 20 de Março de 1907, foi condecorado com o grau de oficial da Ordem de São Tiago. Em 9 de Julho de 1914, foi eleito Vogal do Conselho de Arte e Arqueologia. s. 5 Em 26 de Março de 1919, foi distinguido. pela França, com -as ~ a l m a s ' ~ c a d é m i c a Em de Junho de 1920, foi agraciado com a Comenda da Ordem de São Tiago da Espada. Em 8 de Novembro de 1921. foi eleito Correspondente da Academia das Ciências de Portugal. Em 3 de Janeiro de 1922. enviou a esta Academia uma extensa lista de vocábulos madeirenses, considerada como um <(trabalho de inquestionável valor^. colaborando deste modo no inquérito académico para enriquecimento da Língua Portuguesa. Em Dezembro de 1922, promoveu e orientou as Festas do 5: Centenário d o Descobrirncnto da Madeira, tendo-se representado, novamente, por essa ocasião. no Teatro Municipal, a peca histórica, da sua autoria, guiom mar Teixeira.~. Em 14 de Fevereiro de 1924, foi eleito sócio da Academia das Ciências das Lisboa. Em Outubro de 1927, organizou a Delegação no Funchal. da Sociedade Histórica da Independência de Portugal. Em 6 de Janeiro de 1940, foi agraciado com o grau de Comendadnr da Ordem da Instrução Pública c em 3 de Maio de 1941. foi eleito membro de honra da Federação das Academias de Letras do Brasil. Foi Director do aHeraldo da Madeira* e do <Diário da Madeirau e colaborou largamente na imprensa madeirense e continental. *Não seria certamente um poeta-disse Teodoro Correia-pelo cultivo permanente das Musas. Mas as suas faculdades de sensibilidade c emotividade, manifestadas em várias interessantes passagens de alguns dos seus livros,


nomeadamente em uGuiomar Teixeiran, <(Histórias Simples* e *A Filha de Tristão das Damas* e noutras ainda, são bem reveladores de emoção e sentimento que o autor soube revestí-las. Para ninguém oferece dúvidas de que no seu proclaro e culto espírito, existiam. em alto grau, os três requesitos essenciais a um poeta:-talento, poder criador e sensibilidade.>> E' autor das seguintes obras: uNo Laboratório. Psicologia e Patologia Cerebral*. Funchal, 1899 (J. Regniard): ((0Teatro e o Autorn, Funchal, 1905 e Lisboa, 1916: ~ H i s tórias Simples.> Lisboa, 1907; .A Filha de Tristão das Damas.. Funchal, 1909 e 1946: @GuiomarTeixeira*. Funchal, 1912 e 1914 e Lisboa, 1032; ú A Música e o Teatro,). Lisboa, 1919; uAcústica Fisiológicao. Lisboa, 1922; <(Portugal-Brasil*.Funchal, 1922; *Forças Psiquicas*. Lisboa. 1925: uO Belo Natural e Artísticon. Lisboa. 1928: *Figuras de Teatro*. Funchal, 1928; uAtravés da França, Suiça e Itália*. Funchal. 1928: uTrês Capitais de Espanhar. Funchal, 1931; uO Anel do Imperadors. Lisboa, 1934: &Natais.. Funchal, 1935; Vinbo da Madeira,. Funchal, 1937; *Casas Madeirensesn. Funchal, 1937; uO Cavaleiro de Santa Catarinao. Funchal, 1941 e Lisboa, 1944; eDe Bom humor*. Funchal, 1942: uCasos de Tecnologian. Lisboa, 1944; ucomemoração do Dia de Camões no Teatro Municipal do Funchal~.Funchal, 1944; uA Lenda de Loreley contada por um latinon. Funchal, 1948 e uAtravés da Alemanha*. Lisboa, 1949.

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Num Album Tema dado: Simpatia

O autor precende mostrar, não sem certo humorismo, que a simpatia é uma modalidade de atracçdo universal e que se manifesta

tanto no mundo cósmico, como nas marés e na química, como na psicologia humana. Simpatia. Terno laço, Que impõe ao universo as leis. No cingir dbm seu abraço, Cedem-lhe os mundos, no espaço. NO mundo, as c'roas dos reis. No seio vago de eter, Louca, em arroubos de amor. . . Haurindo, ao sol, o calor, Roda a terra, dia a dia Como a doida mariposa Quem a atrai e prende i luz? Quem, pelo espaço a conduz? Essa força: a simpatia.

Se o mar está mudo e sereno, No fundo, o peito gelado, Da lua, o sorriso ameno. Do seio lhe arranca um treno, Lhe põe o dorso agitado.


Aos palmares do deserto Quem as frentes aproxima? Que força os caules inclina Querendo a distância encurtar ? Ainda é o mesmo afecto: O simum lhes troca os beijos; E as mágoas, - trémulos harpejos. Dum ao outro vai contar. Mistérios do impond'ravel, Que deixam nossa alma extática. Dois átomos - é admirável ! Querem-se : e a união amavel Faz-se pela acçdo simpática. Dum quinto andar se detruqa Uma bela, enamorada Duma figura pasmada, Presa a rua, noite e dia: Passam trens, vêm automóveis, Rolam carroças de carga, E o galã dali não larga. . . Quem o prende ?-A simpatia.

E quereis saber, Senhora, Qual a razão porque escrevo N o vosso album, e assim me atrevo A arcar com a vossa ironia ? . . . Di-la-ei bem francamente, A ver se redimo a culpa: Este efeito, inda resulta Dessa força: a simpatia.

Amo a Noite N o album da minha amiga M. de LM.C.

Eu amo a noite! se formosa a lua, Meu olhar fluctua no azul do céu,

Ou quando núvem transparente, bela, Passa sobre ela, qual ligeiro véu.

Eu amo a noite, se no espaço a brisa Branda deslisa, bafejando a flor; Amo as estrelas, se formosas, lindas, Brilham infindas com tremendo alvor.


Eu amo a noite, se vaidosa a lua A imagem sua vem rever n o mar; Eu amo a noite, se mansinha a vaga Vem junto a plaga, aos parceis brincar Eu amo a noite, se na selva escuto, Como que a furto, o rouxinol cantor, Quando entre a rama do carvalho anoso, Carpe saudoso seu saudoso amor. Eu amo a noite, se o ribeiro manso, Vai no remanso a murmurar fagueiro, Ora embalando a preguiçosa ervinha, Ora a florinha a borrifar ligeiro. Eu amo a noite, se ao mortal lampejo Da lua vejo a terra. mar e céus: Todo o silêncio, toda a luz ou festa, Tudo me atesta de que existe um Deus.

O como o vate madeirense, eu creio Que quando leio no céu, terra e mar. São mil segredos dum sentir sublime Que o poeta exprime, na palavra amar.

Adeus ao Funchal Versos feitos a pedido, na despedida de uma Companhia de Zarzuela que actuou no Teatro Municipal, em 1902 e publicados tio Diário de Notícias. Com o adeus de despedida Vos venho hoje saudar! Filhos duma terra querida De que me vou apartar. Que o vosso coracão nobre Aceite o meu canto pobre Já passado de saudade, Como justo e leal preito, Que rende o meu grato peito, A esta nobre cidade. Vossas palmas conservadas Ficarão, como penhor. Tenho-as cá dentro guardadas N o cofre do meu amor.


Adeus flores, adeus serras, Que o destino a outras terras Me leva, a ver novos céus... Mas minh' alma, ao vosso lado Fica, ao soltar este brado! Adeus. oh Funchal, adeus!

Última tarde I

(Nos Jardins da uVigiah) A Ex.ma Sr.a D. Berta C: Pinto Camelo, em vésperas da sua partida para Lisboa.

Que tarde, meu Deus! Que eflúvios De sons, de aromas, de luz! Que doce melancolia: Que vaga, estranha magia, Aqui me prende. e seduz.

Tudo me fala! Até as flores Com o ar triste de quem sente Findarem termos afectos, Volvem olhos inquietos Quando eu passo tristemente.

Lá na faixa do horisonte

De rosa e oiro tingida, O Sol dum rubro pizado. Lanqa-me um olhar magoado,-Um olhar de despedida.

Ouvem-se notas dolentes N u m terno adeus a vibrar; O h ! Ilusão doce e santa ! Não sei se é Schubert que canta, Ou se é a minh' alma a chorar.

Funchal! Eu talvez não mais Te veja,-terra de encantos! -Mas as auras hão de vir Aqui sempre repetir Meus tristes, saudosos cantos.


Pe. Jacinto da Conceição Nunes 1869 - 1954

Nasceu na freguesia de São Pedro, desta cidade, a 4 de Dezembro de !869 e faleceu, nesta mesma cidade, a 8 de Maio de 1954. Era filho de Jacinto Nunes e de D. Carolina Jacinta Nunes. Matriculou-se no Seminário Diocesano do Funchal, a I de Outubro de 1879, tendo concluido o seu curso, com elevadas notas, em 1889, tendo neste mesmo ano recebido as cinco Ordens Menores. Foi ordenado de Presbítero, a 25 de Fevereiro de 1892; Capelão da Sé Catedral, a 2 de Maio de 1892; Vice-Vigário do Curral das Freiras. a 2 3 de Setembro de 1893; Vice-Vigário de Santa Luzia. a 19 de Maio de 1895; Cura de Santa Luzia, a 2 de Maio de 1895; Coadjutor da Sé Catedral e Capelão, a 1 de Fevereiro de 1897; Vigário de Machico, a 18 de Maio de 1899, onde sucedeu ao saudoso Mgr. Paiva e onde construiu a casa paroquial, que não existia. junto a Capela dos Milzgres; Pároco da Sé Catedral, a 4 de Julho de 1905, onde foi colado a 2 4 de Julho do mesmo ano. Foi, também, Capelão da Cadeia de São Lázaro e Professor de fancês. no Colégio do Professor Alfredo Bettencourt da Câmara. até 1893 e fez parte da Redacção d o <Diário do Comércio*, em colaboração com Manuel Pinheiro Taborda e Octaviano Soares. Estava reformado a data da sua morte. Foi um jornalista eximia e um Poeta místico, de elevada inspiração, como o demonstra estes seus belos versos. Colaborou no *Correio do Funchal~,$Correio da Tarde*, $0Jornaln, $Diário de Noticiasn, *Diário da Madeiran, Revista esperança*, Almanaque de Lembranças Madeirenren, etc., assinando muitos dos seus escritos com as letras P. J.

A Imaculada Conceição (As súplicas dos seus devotos)

Mãe de Jesus, Vós çois Imaculada, Tendes da lua o sempiterno encanto, De estrelas é bordado o Vosso manto, Para Mãe de Deus Vós fostes destinada.

A onda truculenta do pecado Que inunda todo o homem, de amargura, Não maculou jamais a Virgem Pura -Privilégio eterna1 a Ela dado ! Seu Coraçao escuta enternecido As preces do que pede, compungido, Para os males da vida um grande amor! Cai então. sobre o peito do que chora O brilho carinhoso de uma aurora. As graças abundantes do Senhor.


A murteira do meu quintal Minha murteira verde, meu enlevo Nas tardes sonolentas do verão, As tuas flores brancas são um mimo Dos mais apreciáveis da Estação! Tão alvas como a neve da montanha, Tão puras como os anjos d o Senhor. Essas florinhas simples, inocentes, Clamam p'ra vós enternecido amor! Minha murteira, encanto dos meus olhos, Que estás sempre a mirar a sevadilha Que perfuma o quintal de Cunha Rosa, De todos o mais belo e que mais brilha. Minha murteira e sevadilha linda, Deus vos conserve o viço e a frescura, P'ra darem aos meus olhos já cançados Uma réstea de cor e de ventura! Então eu bemdirei o Infinito Que em cada flor nos deu uma delícia E os males suavisa d'esta vida, Dando a cada amargura uma carícia!


An tónio Vieira 1869

- 1909

Nasceu na Madeira, por 1869 e faleceu a 11 de Maio de 1909. Era filho do Poeta Francisco Vieira, compilador do eAlt>um Madeirense de Poesias.. .n e autor dos livros. *Prelúdios Poéticos~e uPétalash, este último consagrado a seu filho António Vieira, que, segundo diz o autor. no prefácio deste livro, também se dedicava a poesia. Colaborou n' <<O Direito)>,donde reproduzimos estes versos:

Trovas Não me julgues mais feliz, Se me vês sorrir de mais: Quantas vezes num sorriso Se escondem prantos e ais. Estranhando o teu silêncio, Quantas noites não dormi: A cismar nas horas doces Que passei junto de ti ! Foi bater ao teu portão. P'ra mim sempre está fechado: E' como o teu coração, Que aos meus ais ficou cerrado! Se te busco sem esp'ran~a, P'ra contar-te algum segredo, Foges-me, linda criança, Como se eu causasse medo!


António Feliciano Rodrigues (Castilho) 1870-1925

Nasceu na freguesia de Santa Maria Maior. a 9 de de Junho de 1870 e faleceu, nesta mesma freguesia, a 4 de Fevereiro de 1925. Era filho de Joaquim Rodrigues e de D. Luzia Ludovina Madeira Rodrigues e pai d a 1.0 Tenente da Armada, Augusto César Blaise de Oliveira e Castro Rodrigues e de D. Maria da Conceição Blaise de Oliveira e Castro Rodrigues, já falecidos. Os seus companheiros do Liceu chamavam-no Castilho, pela analogia do nome com o do grande Poeta, António Feliciano Castilho, e ainda por compor versos, nome que perdurou e que o próprio Dr. António F. Rodrigues, por vezes adotou, como pseudónimo. Concluiu a sua formatura na Universidade de Coimbra, em 12 de Junho de 1897 e abriu banca de Advogado, no Funchal e nesta cidade exerceu o cargo de Delegado Interino, do Procurador da Republica. Foi, também, Professor de Português e Francês e chefe da Secretaria do Liceu de Jaime Moniz e 1.0 oficial da Secretaria da Junta Geral do Distrito. Além de colaboração em diversos jornais, foi co-Director do &Almanaquede Lembranças Madeirensen e publicou os poemetos, uA Escolan, Coimbra, 1893; e uA Consciência*. Funchal 1897 e os livros de versos: <Versos da Mocidade*. Funchal, 1903; &Versos para meus filhos*. Funchal, 1910; uColar de Vidrilhosn. Funchal, 1911; &Cançãodas Lágrimas~;asonetosn. Lisboa, 1916 e uúltimas Folhas)) etc. e os romances, *O Cirurgiáo de Marinha* e uMartim de Freitas*, tendo este último aparecido no uHeraldo da Madeira*.

Conto A pé plra aldeia, Jorge conduzia Seis burros muito iguais, Houvera feira e aproveitando o dia, Comprara os animais. Mas a aldeia era longe inda um bocado E, antes que cansasse, Lembrou-se que não era tão pesado, Que um burro o não levasse. Montou. . . Numa ladeira volta a cara E. . . coitado do aldeão ! Vê, que da meia dúzia que comprara, Lhe falta um garanhão. Conta três vezes e outra vez começa, Esquecendo o que monta; E deste modo fica-lhe a cabeça Completamente tonta.


Volta atrás; interroga toda a gente, Mas do asno nem sinal! Farto de procurá-lo. inutilmente. Segue para o casal. Chega e á cara metade narra o caso. Sem descer do jumento. c ( . . . Não sabe como foi, vinha em atraso, Sumiu-se num momento. . .n

A mulher mais esperta que o marido Vê o engano onde está.

E deita a rir, deixando-o confundido, Mais do que estava já. Por fim, diz-lhe ao ouvido, em ar de brinco -Mas que zanga lhe mete! olha, meu tolo, tu só contas cinco, Eu, porém, conto sete!*

Dilema N ã o quero mal a nobre viscondessa Que por vaidosa me despresa a mim. E não lhe quero mal porque ela. enfim, Só compaixão eu julgo que mereca. Quando jovem, meteram-lhe em cabeça, Que seus nobres avós ou coisa assim Não provinham de Adão-tronco ruimAonde a plebe, a vil ralé começa. -Mas atenda, senhora viscondessa, Se não provém. como eu, do pai Adão, Se não provém, como eu, dessa ralé, -Embora

o caro estranho lhe pareça-

Há-de por força descender-perdão-

Dalgum disforme, antigo Chimpanzé.


Ernesto Vanceslau de bousa (E. Tarolo) 1870 - 1913

Nasceu iio Futichal. a 28 de Setembro de 1870 e faleceu, no *Hospício da Princesa D. Améliah, a 25 de Dezembro de 1913. Exerceu :i arte tipográfica. Escreveu o poema Anti-púnicon. Funchal, 1904 e colaborou n' 4 0 Operárion. uA Esperanca*, uA Cruz*, alman na que de Lembranças Madeirense*. etc. Usou o pseudónimo de E. Tarolo.

Ao partir 0' terra de meus pais. da minha infância berço! 0' minha querida terra! Adeus. que eu vou partir! Partir! como soluça esta alma com saudade, E como ela receia os tempos que hão-de vir!...

Eu vou por esse mar. fugindo ao teu carinho, Qual ave agreste e esquiva à bemfazeja mão. Talvez não mais te veja; errante pelo mundo, Talvez um dia chore a minha ingratidão! Porém, seja qual for a lei do crú Destino. Quer eu cá volte ou não, jamais te olvidarei: Porque eu te devo a vida, amor, família. tudo, A' luz desse teu sol foi que eu cresci e amei. Não levo nada, excepto a dor da despedida. Confio-te o que tenho: os bens d o coracão. A minha mãe que adoro e uma donzela que amo, Eis os meus bens que entrego a tua protecção.

Oh! guarda-os! que se acaso, após infindos anos, Saudades bem cruéis me façam cá voltar, O que será de mim se triste. estranho e pobre, Eu já náo puder ver os que hoje vou deixar?... Despeço-me de ti, dos teus alegres campos, Dos teus jardins em flor, d o brilho de teus céus, Adeus, meu caro ninho! eterno amor te juro, Adeus, adeus, Madeira! ... inda uma vez, adeus!...


Revelação Nada te digo nem direi ... Mas penso Que o meu olhar, quando em teus olhos pousa. Te revela, em segredo. alguma cousa, Alguma cousa deste amor imenso ... Minha boca -bem vês -como uma lousa E' muda. embora num desejo intenso Arda meu coração, como um incenso, Envolto no mistério em que repousa ... Que outros proclamem seu amor em frases De fogo, alçando a voz enternecida, Cheios de gestos e expressões falazes... Eu não ... Nada te disse nem te digo ... Mas sabes que este amor é a minha vida E que em silêncio morrerá comigo ...

Deus As meigas flores que as campinas ornam, Da branda brisa o mágico cicio; Os astros que o celeste azul adornam, Das fontes, da cascata o murmurio; O s rugidos d o mar, fero, bravio, Que, de terror, a mente nos transtornam; O pipilar das aves e o rocio Que, ao sol nascente, as pétalas entornam.

O amor materno, o riso da criança, A virtude, a caridade, a esperança. O céu e a terra-enfim a natureza; Tudo nos diz há Deus, que Deus existe! Que na bondade -o seu poder consiste. Que reside no -amor -sua grandeza!

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Francisco António Ferreira (Campo Verde) 1870

- 1912

Nasceu nesta cidade, a 25 de Novembro de 1870 e faleceu, em 24 de Outubro de 1912, vítima da tuberculose. Era filho de Francisco António Ferreira e d e D. Maria Cândida Ferreira. começara por ser compositor tipográfico - diz o ~ElucidárioMadeirensen-c a sua habilitação literária oficial. era apenas a d o exame de instrução primária. Conquanto ele próprio se lamentasse das deficiências de uma mais larga e sólida instrução. é todavia certo que na vida jornalistica, soube suprir essa falta originária, com a exuberância dum privilegiado talento e com a superficial e fugidia leitura de alguns prosadores e poetas contemporâneos, de par com o estudo ligeiro de poucos livros didacticos. Em diversos jornais, e nomeadamente no aDiário do Comércios, de que durante alguns anos foi o redactor principal, revelou a sua notável aptidão para as letras e as suas acentuadas qualidades de jornalista. A feição característica dos seus escritos, em que sempre punha uma nota inconfundível, era a ironia mordaz, a sátira causticante e o motejo irreverente, em que a graça, o talento, a arte, o sabor literário. a perfeição da métrica e o conceituoso da frase, sobejamente redimiam as demasias do pensamento e as intenções, nem sempre mais puras e louváveis do seu autor. O seu temperamento impulsivo, voluvel e irrequieto, levaram-no, por vezes, a lamentáveis excessos. que ele era o primeiro a reconhecer, quando a reflexão e a calma substituiam os entusiasmos d o seu feitio combativo e ardente. Na gazetilha, pode afirmar-se que Francisco António foi inexcedível, e noutro meio teria adquirido uma justificada celebridade.)> Desempenhou o cargo de amanuense da Junta Geral d o Distrito e costumava firmar as suas poesias. com os pseudónimos de Campo Verde e Rairnundo Dias. Colaborou no uDiário de Noticiasn, a 0 Direiton, GALutan e uAlmanaque de Lembranças Madeirensen.

Retribuição Ao simpático Poeta Manuel Rebeiro.

Sempre, sempre te vejo a divagar, errante. Mais triste do que um ai dum peito agonizante, Sòzinho a meditar, Carpindo, loucamente, a perda dum filhinho Que a morte dura e má roubara ao teu carinho. Da vida ao despontar. O h ! sim, eu compreendo a tua dor tamanha, A dor que não se apaga, a dor que mais se assanha, A grande dor dum pai, A dor que dilacera a pouco e pouco a alma, Que fere o coração, a dor que não se acalma. A dor que não se esvai.


é triste ver fugir a loira criancinha alegre nos sorri, qual cândida avezinha, Da beira do seu berço, Para vê-la cair inerte, inanimada No chão da sepultura e resvalar no nada, Que é triste: - bem conheço !

Mas lancemos um véu na noite já passada. Noite feita de treva, de prantos orvalhada, Noite de sombras más; Que não te quero ver imerso em funda mágoa. Envolto na tristeza, e d'olhos rasos d'água, Da sepultura atrás.

O h ! lança no olvido os tristes pensamentos Que habitam tua mente, envolta num mistério: Não penses na criança, - uns pobres fragmentos Que dormem em silêncio, além, no cemitério. Expulsa, para sempre, as lúbricas visões, As horas de terror, a sombra vaporosa Que crias a sonhar em alucinações, Quando a noite caminha a passos, vagarosa. Deixa piar o mocho e tremer o cipreste,

O vento murmurar, a lua vagar triste, Deixa dormir na campa a florinha agreste, Deixa gemer a lousa onde a florinha existe,

E volta, novamente, aos dias de Eonança, Dias de tanta luz. dias de tanta esp'ranqa.

Expulsa, para sempre, as lúbricas visões, Fantasmas sepulcrais, bailando em praça pública, E vem num ideal das novas ascenções Um brado levantar em honra da República.

(de .A Luta?)

O omnisciente A poderosa luz que o cer'bro lhe alumia Ofusca e tolda o sol que brilha ao meio dia! Quando Deus o formou. a sua mão bendita, Num rasgo excepcional de graça omnipotente,


Toda a luz que encontrou na órbita infinita No cer'bro derramou do nosso omnisciente! Ninguém se iguala em génio à sábia criatura: Foi ele quem achou do circ'lo a quadratura, Quem pôde resolver do ang'lo a trisecção, Queni produziu a chuva a força do canhão, Quem descobriu a polv'ra, o rádio, a dinamite, O torpedo, a couraça, o fósforo, a milinite.. . Na conquista do ar, nas lutas do balão, Foi ele quem logrou o X da direcção. . . O sistema, sem igual, da transmissão sem fio, Foi ele. mais ninguém, leitor, quem descobriu. A bússola. o vapor, os barcos corta-gelos, O elixir que evita a queda dos cabelos, O soro salutar que cura a difteria.. . Tudo ele sondou no seio da matéria! Na arte de cantar.. . a sua voz espanta! São partidos cristais as notas da garganta.. . No timbre excepcional, no seu volume estranho. A sua extensa voz emudeceu Tamagno, O tenor génial que o mundo celebrou, O astro cuja luz há pouco se apagou. Nunca foi a Paris, a Londres, a Alemanha, Desatar a ribalta a sua voz estranha, Colher nas ovações os louros mil da glória, Fixar-se, como um sol, na órbita da História; Mas no velho castel' à beira-mar erguido Seu canto divina1 já foi mui aplaudido Pela gente patrícia, atenta, subjugada, E pela multidão. cá fora, desvairada! Jamais tenor algum a sua voz imita No Spirito Gentil da triste ~Favoritan.. . A voz de Santo António os peixes acorreram, Ao canto do artista, as pedras se mecheram.. . Como comediante. . . é ele uma excepção, Na arte de dizer, no gesto, na expressão.. . O grande Coquelin, o actor sublimado, O astro que ilumina a cena. o tablado, É u m artista vulgar. sem mérito, rem génio, Que passa, que se move a boca do proscénio, Ao lado deste actor.. . que canta e representa, Que das artes o ceptro em sua fronte ostenta! Já foi vitoriado em cena muita vez Em grotescos papéis de bobo e de estremez ! . . .


Supremo, génial, na arte de pintar. . . Ninguém inda excedeu na tela o seu pincel! Foi um pobre aprendiz, um simples borrador, Comparado com ele, o grande Rafael! Tem um quadro soberbo o génio a assinalar, Que há anos vem exposto ao olhar da multidão: O santo de cordeiro, o louro do altar, Pintado em pano crú, a ocre e a rarcão. . . Como critico d'arte. . . embebe a pena jota

E lança com tortura ao branco linguado As ideias que lê, que fixa, que recorta, O mat'rial que tem, alheio, armazenado. Vai em pouco assombrar o mundo em toda a parte, Ditando novas leis a crítica da arte ! . . .

Quando vires passar, leitor, no teu caminho,

Um homem aloirado, a cor alvinitente, O chapéu numa mão, a juba em desalinho, Curvai-vos respeitoso: é ele o omnisciente ! Como o grande cantor, dirá quem isto escreve: aOh que pátria ditosa a que tal filho teve !n . . .

Nota: Esta poesia foi publicada, primeiramente, n o *Diário de Notícias*, com o pseudónimo de Raimundo Dias e depois, n o *Almanaque de Lembranças Madeirense*, com o próprio nome do autor.


José de Oliveira Jardim

Ignoramos os dados biográficos deste Poeta Madeirense. Sabemos, apenas, que publicou, nesta cidade, em 1888, um volume de versos, de 31 págs. intitulado: uSonho Soluçoso~. Deste poeta, d i ~ i a em , 1912, o extinto 4Diário da Madeira*. asente-se bem a revolução nas rimas do novo poeta, reconhece-se que é de cabelo' na venta e lume na face, um todo nada padeira dlAljubarrota, a rabiosa inspiradora de versos, como estes:% Essa casta de microbistas, Que se apoderaram da Nação. Parasitas desalmados, Sem fé, nem religião: E o povo sempre tolo. Fazendo-lhes ovação, Quando em jaulas deviam estar. Pondo-os em exposição, A república a dar-lhe o ai! Chorai povo. povo, chorai ! Há mais generais e oficiais que soldados, Mais almirantes que navios, Há mais microbistas, que micróbios, Mais ministros que pavios, E o povo. sempre à espera. Das promessas dos Tubarões, Dessa Súcia de Comilhões, Que os trazem acorrentados, Por agências e comandita Por essa raça maldita!


Matilde Olímpia Sauvavre da Câmara j

1871- 1957

Nasceu na freguesia de São Pedro, desta cidade, no solar dos Viscondes das Nogueiras, seus avós maternos. situado a Rua da Mouraria, a 7 de Março de 1871 e faleceu, nesta cidade, a 11 de Dezembro de 1957. Era filha mais nova do Morgado João Sauvayre da Câmara e Vasconcelos e de D. Matilde Lúcia de Sant' Ana e Vasconcelos Moniz de Bettencourt e irmã da falecida Escritora, D. Maria Celina Sauvayre da Câmara. Foi 5 . a neta de Honorato Sauvayre. filho de Taussain Sauvayre e de D. Ana Boaf, natural de Marselha, que veio para a Madeira, em 1660 e foi nomeado Consul da França (o primeiro na Madeira) e que casou, nesta Ilha, ~a Calheiros, filha do Capitão em 5 de Abril de 1677, com D. Joana de ~ e n d o n Figueiredo Domingos de Fiqueiredo Calheiros. almoxarife do Funchal, e de D. Lourença de Abreu. D. Matilde Sauvayre da Câmara, viveu eni Paris e falava correctamente o francês e inglês. Dedicou-se a poesia, à música. ao charadismo e ao teatro. Compôs os seguintes trabalhos: uO meu testamento*, (versos); uAs últimas flores* (canqão): a 0 último dia do ano* (versos); uBarcarolaa (canção): uRisos, cantos. saudadesa (canção); cOraçãon (versos): ~ S a u d a d e s(canção): ~ uA avó^ (versos). Estas canções foram musicadas pela autora. Levou à cena no Teatro D. Maria Pia (hoje Teatro Municipal) algumas operetas, entre elas, uDois dias em Paris)). Na noite de 22 de Junho de 1901, a quando da visita de Suas Magestades, o Rei D. Carlos I e da Rainha Dona Amélia, a Madeira, organizou uma Festa de Gala, em honra dos Soberaiios, tendo levado à cena as peças de sua autoria, intituladas, <<Mortoa força* e <Arraial Madeirensen. Neste espectáculo, cantou, com grande sucesso, as cançonetas, com música e letra da sua autoria, intituladas: <(L'aversen, ~Bluette C' est jeuns sièclen, atleporter jtune sièclen, uLa Rage de marché~e <(Serenadan. Em sinal de gratidão pelo grande êxito obtido na Récita de Gala, o Rei e a Rainha. ofereceram-lhe as suas fotografias, que ela conservou na sua sala. A homenagem a Sua Magestade a Rainha)),que reproduzimos, iiiteressante poesia com que fechou o ((Arraial Madeirensen, que foi cantada em coro com música regional, por um grupo, com os seus trajes característicos, vem inserta no livro de Ciríaco de Brito Nóbrega, intitulado, uA Visita de Suas Majestadesa e os restantes versos humaristicos, foram escritos, em Lisboa, em 1957, meses antes da sua morte.

Homenagem a Sua Magestade a Rainha Neste canteiro de flores, L)esprovido de riqueza. Matisado de mil cores Pela rica natureza; A' Raínha mais formosa Que podemos ofertar? Que prenda assaz valiosa P'ra seus dotes igualar?


Despir de flor's as campinas. Dar-lhe os raios de luar, Os matises das colinas E das fontes o cantar, Os sorrisos das crianças E duma nação inteira, Votos, saudades, esp'ranças, Quando deixar a Madeira.

uma senhora de certa idade Nove gatos numa cama Onde repousa uma dama Qiie aparenta uma certa idade, Mas que presa a virgindade, E' caso bem singular E que me faz matutar ... São quatro casais de gatos Que o amor de noite inflama E a lua de mel têm passado Entre os lençóis dessa dama. Entre miaus desesperados E gemidos das gatinhas, Passa as noites, a senhora, Sempre a fazer-lhes festinhas. Mas diabo! o nono é gato Que fica sem companheira! Vou prevenir a senhora. Pois pode dar em asneira.. .

Inédito

A mesma senhora Intrigada com o caso Da senhora que requer Que à cama, o pequeno almoço, Só lhe leve uma mulher. . .


Indaguei, e sei que usa Camisas longas, franzidas. Que tapam todo o pescoço E com as mangas compridas. Portanto tanto pudor Não percebo porque seja ! . . . O que será que ela mostra, Mas que não quer, que se veja? Inédito


Vasco Taumaturgo Teixeira Dória (Vasco Dória)

Nasceu na Madeira, por 1875 e faleceu no Funchal, a 9 de Outubro de 1948. Era descendente dos Morgados Teixeira Dória e pai de João Drolhe Teixeira Dória Foi co-proprietário de uma Casa de Bordados e exirceu funções no Hospital dos Marmeleiros. Foi um fervoroso católico praticante. Calaborou no aDiário de Noticias*, desta cidade, donde reproduzimos os seguintes versos, do seu numero de 25 de Maio de 1898.

Desven cura (A.

.. c ao meu colega Maximiano Sumares.)

Eu queria longe. sem que tu sonhasses, Chorar a mágoa que meu peito sente, Embora a vida num sofrer atroz Talvez vivesse muito mais contente.

Oh ! triste sorte vem a ser a minha E o meu futuro já também maldigo; Deixo-te, oh anjo, que meu peito adora Sem que ao menos vá morrer contigo.. .

Tu és a ingrata em que sòmente eu cri E eu sou o amante que jamais olvido, Tuas promessas nessas noites belas Com juramentos que jamais os digo.

Mas muito triste é viver assim E desgraçado do que nada sente. Eu vivo triste e aborreço a vicia, Tu és feliz e viverás contente?

-


João Maximiano dtAbreu Noronha (Tito Lívio) 1875

Nasceu na freguesia de São Pedro. desta cidade, a 21 de Fevereiro de 1875. É filho de Tibúrcio Câmara Noronha e de D. Antónia de Abreu Noronha e irmão do Dr. António Filipe de Noronha e avô da Dra. D. Maria do Carmo Noronha Pereira. É comerciante e dedicou-se a poesia e ao teatro. Tem um livro de versos. inédito, intitulado, <Antíteses$ e escreveu para o teatro as seguintes peças : aBasta que sim!*. Revista em 2 actos e 8 quadros, levada à cena no Teatro Municipal. Teatro Circo e Pavilhão Paris, e nos Açores; uOra Bolas!?. <Revista em 2 actos e 8 quadros, levada a cena no Teatro Municipal, Teatro Circo e Pavilhão Paris%;uDe pernas para o ar*. Revista em 2 actos e 8 quadros. levada à cena nestes mesmos teatros; acoração de Criança>).Drama em 1 acto, alusivo à Guerra de 1914-1918, em verso alexandrino (o original desta peça encontra-se em Lisboa, em poder do actor José Dubini); (Alma de Portugal*. Episódio patriótico, em 1 acto, também escrito durante a Guerra de 1914-1918 e levado a cena no Teatro Municipal, Teatro Circo e Pavilhão Paris. (Este episódio serviu mais tarde para fazer um quadro de revista); 6Já vi tudo*. Revista em 2 actos e 8 quadros e uNa Luan. Revista também em 2 Actos e 8 quadros. Estas duas últimas nunca foram levadas a cena. Foi crítico teatral do &Diário de Notícias. 4 0 Povo>>.<Trabalho e União,) e uA Verdade*. Usou nos seus escritos o pseudónimo de Tito Lívio e Ernêne. Eis três poesias da sua autoria. A primeira inédita e a segunda reproduzida do uDiário de Noticias~,tendo sido recitada no Teatro Municipal, na inauguração da lápide em homenagem à grande artista Adelina Abranches, pelo actor Jorge Grave, em 1919 e a terceira, recitada pela actriz Dora Vieira, no extinto Teatro Circo. na noite da festa artística de José Dubini, em 19 de Dezembro de 1933:

O opulento És rico. . . Tens abundância no teu solar! A miséria não conheces, E tu oh! potentado Trazes tudo acorrentado E fazes do teu oiro um altar ! . . . Julgas ser senhor do mundo, 'Té mesmo do mar profundo, Zombas, como um truão ! Pois bem, zomba, Vai zombando, Faz-te forte. Quem há-de zombar de ti ! . . . É a morte.


Poesia Recitada no Teatro Municipal, pelo actor Jorge Grave Murmura a água clara dos regatos, Serpeando entre os seixos e rochedos; O melro trina seus gorgeios suaves Por entre os ramos flébeis dos arvoredos.

O sol doira as campinas verdejantes, A brisa ondula, branda, os salgueirais; E a andorinha ligeira vem pousar, Trinando seus gorgeios nos beirais. Cintilam as estrelas radiantes, Sorri a lua branca, suavemente. E a doce rosa espalha seu perfume, Prestando, a ti, -mulher ! um culto ardente. Toda a Natureza em festa te sauda, Rende-te excelso preito e gratidão; A ti, Grandiosa actriz - Génio sublime A quem rendemos nobre saudação.

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Salvé ! mais esta noite de triunfo : Noite de galas e febril memória, A ti, oh! Génio, as nossas vivas palmas: Elo sem par de inolvidável Glória!

Quem és tu?... uA abnegação é o mais nobre dos sentimentos.*

joÃo DE DEUS Dédicado 2 briosa Corporacão dos Bombeiros Municipais, na noite da festa artística de José Dubini, n o Teatro Circo e recitada pela distinta actriz. Dora Vieira.

Quem és tu que tanto te sacrificas ! ? . . . Que expões a tua vida, sem vaidade ! . . . Quem és tu que corres persuroso A cumprir o teu dever com lealdade?!. ..


Quem és tu.. . que ao vento, a chuva, ao frio, Com coragem altiva, destemida, Segues sempre a cumprir 8 teu dever. ~ u tens e por lema, Vida por Vida!?. . . É grande, bem grande teu puro nome! É como raio de luz que o sol tece!

Trazes sempre na fronte sorridente A fama dos heróis que não fenece. É bem nobre, altiva a tua missão! Para ti, não há pátria, nem fronteira! Tens apenas por lema o sumo bem! Por guia, verde e rubra bandeira.

Bemdito sejas tu! mas quem és!? Que de fronte erguida.. . altaneiro! Não vacilas ante o perigo! qual o teu nome? Quereis saber ! Senhor's.. . é o BOMBEIRO !


Eugénia Rego Pereira 1875 - 1947

Nasceu no Funchal, a 1 de Maio de 1875 e faleceu, nesta mesma cidade, a 27 de Agosto de 1947. Era filha de Carlos Acciaioly Rego e de D. Juliana de Afonseca e neta do Capitão António Francisco Rego e da Poetisa, D, Emilia Acciaioly Rego e esposa do 1: Tenente da Armada, João Higino Pereira e mãe de Carlos Rego Pereira. Foi Professora de coreografia, das mais competentes, Poetisa de rara sensibilidade e Escritora Teatral. Publicou um livro de poesias, intitulado, @FolhasPerdidas*, em 1929, ilustrado com desenhos de Henrique Franco e escreveu as seguintes peças teatrais, que foram levadas a cena. no Teatro Municipal do Funchal: %Gente do Mar$. (Opereta em 2 actos, com música de Dario Flores), 3 vozes. Em Junho e Julho de 1927 e 2 vezes, em Fevereiro de 1929; uso1 e Gelo%.(Fantasia em 4 actos, com música de César Gonçalves). 5 vezes. em Maio e Junho de 1932; <De Norte a Sul.. (Fantasia em 1 prólogo e 2 actos, com música de Dario Flores). 4 vezes. em Abril de 1937; .Asas Misteriosas*. (Fantasia em 1 prólogo e 2 actos, com música adaptada). 5 vezes, em Maio e Junho de 1941; uFeitiço Quebrado*. (Opereta cm 1 prólogo e 2 actos, com música adaptada). 6 vezes. em Maio e Junho de 1942; @Espumade Champanhe*. (aFeérier, em 2 actos, com música adaptada). 6 vezes. de Maio a Junho de 1943: .Ana Maria*. (Drama em 1 acto), de colaboração com Teodoro Silva, 6 vezes, em Maio e Junho de 1943 e uNo Hotel do Descançon. (Comédia em 1 acto). 2 vezes, em Maio e Junho de 1943. . . . *durante uma vintena de anos-disse o Escritor e Jornalista Alberto Figueira Gomes-esse espírito de mulher fora o centro irradiador das mais vultosas manifestações de arte dramática, levadas a efeito entre nós. E não só criara para o tablado, com cuidados de artista, pegas que escrevera e realizara, mas deixaria largamente testemunhado, na imprensa do Funchal, o fulgor do seu estro, em poesias que refletem. na sua simplicidade, uma vincada inspiração, requintadamente feminil.,> Colaborou no uDiário de Notícias$, <Diário da Madeira>>,$Eco do Funchal*, uO Jornalu, uRevista Insular de Turismo*, de Lisboa, ullustração Portuguesa*, de Lisboa, %RevistaPortuguesa. de Lisboa. @MagazineInstante*. Revista aEvao, etc.

Tu o disseste! Tu o disseste!-Jesus assim responde A turba que pergunta: -És tu o Rei ?E ante essa resposta, não se esconde A fúria, o ódio vil de toda a grei.


Depois, quando na Cruz-quem há que sonde A angústia enorme (que eu dizer não sei) De Jesus, ao ouvir: Onde está?-Onde?O teu grande poder. a tua lei?

E Ele. que nos ombros desnudados. Só tinha em vez da Cruz, nossos pecados. Levantando a cabeça, o Céu fitou. Perdoa-lhes, oh Pai!-Eles não sabem Que dentro da minh'alma, todos cabem ! E de tristeza e mágoa. então chorou!

Morrer Morre-se a toda a hora, -Em cada dia, Se morre um pouco mesmo sem pensar. Vamos na vida sempre a caminhar Na estrada, ora com luz, ora sombria. Sentindo a saudade, a nostalgia De algum bem que se foi, pra não voltar. Como o fumo subtil vai pelo ar, Se dissipa apagada fantasia. Morrer-é uma candeia que se apaga. É onda que se vai quebrar na plaga, É eco que se perde no sertáo.

Se a vida não é mais que uma quimera, Passará como passa a Primavera. Morrer é o despertar duma ilusão.

A Hera *Dá vida a quem lhe deu vida, Força a quem lhe deu vigor.* (D. Jaime). Tomaz Ribeiro. Porque é que a hera se prende, Vive, cresce e se suspende Ao tronco a que se enroscou?-Foi-lhe esteio-e com ventura


Paga-lhe agora a ternura. Ampara a quem a amparou.

O amor, é como a hera, Nasce, cresce e só espera, Viver pra quem o prendeu. E na pessoa querida, Encontra uma nova vida Em troca da que lhe deu.

Enamorada (Fiinchal, cidade de sonho)

Qual princesa enamorada, Num varandim debruçada Ela olha o mar. E as ondas. uma por uma. Franjadas de branca espuma O s seus pés vêm beijar, Num murmúrio sussurrante.

E ela, sempre anelante, Cheia de mimo, adormece A sombra do arvoredo, Que em segredo Quase murmura uma prece. Sonha, cidade bendita ! E que uma paz infinita Te possa sempre embalar, Qual princesa enamorada Num varandim debruçada Ouvindo o canto do mar


João Alves de Freitas (Alves de Freitas) ?-1952?

Residiu nas Azenhas do Mar, onde era proprietário. *Não conheciamos o Poeta madeirense João Alves de Freitas. - diz o periódico uRe-nhau-nbaun,-cujo livro de versos póstumo, foi publicado pela sua viuva, s ~D.. Cris~ tiana Augusta de Freitas. Faleceu este Poeta com mais de 80 anos de idade e, os seus versos, revelam-nos uma alma simples e boa. aberta a beleza das coisas singelas, enormado de beleza. E não se esquece o Poeta das belezas da sua terra. dedicando a ela alguns dos seus melhores cantares. Neste livro, revela-se João Alves de Freitas, um Poeta satírico de bastante merecimento. oHorisontes de Luar%,possui uma capa bastante sugestiva. devido ao lápis do artista incomparável que é Stuart Carvalhaeis.~ ecolaborou no &Diário da Madeira, em 1933 e 1937 e no %Diáriode Notícias*, em 1935.

Sete alfaiates. . . Em grupo, sete alfaiates -dos de obra de fancariada sua arte a melhoria buscam, por entre debates. De mil par'cer's nos embates resultou em tal congresso ser condenado o processo de fabricos no tear *por impedir o avançar das tesouras no Progresso*.

Subindo à sua trapeira, foram estudos fazer na peça que ia tecer a pernalta tecedeira. Com seus fios de babeira, obrava o insecto papudo num filamento felpudo, horrendo e até quase abjecto, suspenso ao canto do recto -viram eles, nesse estudo.


Por unânime sanção, foi a teia condenada e. logo a seguir. rasgada com grande abominação. Depois. houve-afirmação da vingança mais estranhavoz de <<Fogo$.uma façanha do contra-mestre Ramiro : E cada um dá um tiro ....................... para matar uma aranha ! . . .

Terra do meu berço Flor das águas da Atlântida submersa. flor de fogo de um páramo vulcânico. paraíso terreal. eden botânico, maravilha floral d o Oceano emersa. Pelas tuas entranhas vive abstersa a forte infiltração de adubo oceânico, que te dá sempre em germina1 titânico, encantos da natura mais diversa. Ó Terra do meu berço, onde cresci : meio século há. quase, que parti para bem longe dos afagos teus:

Venho rever-te. E parto. Como outrora. agitarei meu lenço. mas agora, para dizer-te o derradeiro adeus !


An tónio Gonçalves Sancana 1875

- 1954

Nasceu na freguesia do Paul do Mar, a 20 de Agosto de 1875 e faleceu, na sua residência, ao Caminho da Torrinha, desta cidade, a 5 de Novembro de 1954. Era filho de Arsénio Gonçalves Santana e de D. Raquel Rosa Gonçalves Santana e casado com D. Maria Fausta Maciel Santana e pai de D. Arlete Maciel Santana Pimenta, D. Angelina Maciel Santana Brito, D. Gilda Fiel Maciel Santana, Visitadora Sanitária, D. Celeste Maciel Santana, Professora Oficial do Ensino Primário e de Verdi Eleutério Maciel Santana, ajudante de despachante da Alfândega do Funchal, Vasco Maciel Santana e Hugo Maciel Santana, ausente no Brasil e cunhado de Jaime José Alves, ex-ajudante de Despachante da Alfândega, desta cidade e tio da Poetisa Odete Alves e parente do Padre Manuel Santana. Foi Professor do Ensino Primário, sendo nomeado Professor Interino da Ponta do Pargo, em 3 de Junho de 1904, estando aposentado à data do seu falecimento. Dedicou-se à música e a poesia, tendo composto uma Marcha que foi executada por uma filarmónica local, a quando dos festejos na Madeira, da Implantação da República.

A minha aldeia Saudades tenho d'aldeia

De meus pais, onde nasci, Embora eu ausente esteja Jàmais me esquece de ti.

O teu ar iodotado, Da beira mar refrescante, É para os males do peito Tónico dulcificante. As rochas que te sombreiam, As ondas vêm saudar; Vêm branda e docemente A tua orla beijar.. . Que belas as serenatas

Em noites do teu luar, Quando em horas pacatas

Na praia à beira-mar.


Aldeia de pescadores :

Em barquinhos eles vão Por esse longo mar fora Na luta diária do pão.

Na praia, pelo mar dentro, Crianças a pai Adão, Semelham patos marrecos. Borbulhas d'água em cachão.

A tua igreja patrona Altaneira, em frente ao mar, Em noites de lua cheia Põe-se vaidosa, a mirar. O Santo Orago é vèlhinho. De seu cajado na mão, Vê-se cercado, de ctra P'los milagres que se dão. Vai evitando o desabe Das rochas em ameaça, Onde o povo vai vivendo Debaixo da sua graça. Vive esta gente de esperança Na ida da terra ao mar, Vai festejando o patrono P'ra não os abandonar. Tardinha: do mar p'ra terra, Como asas de gaivotas, Deslizam barcos a vela Em directrizes às costas. Revivo horas saudosas Na minha vida a findar, Pois não me esqueço de ti Terra d'hélio a beira-mar. Da casa onde vivi Estou-me hoje a recordar, Caminhos que percorri.. . Adeus ! meu Paul do Mar! . . . Inédito.


Pe. Augusto de Menezes 1877

Nasceu na freguesia da Ponta do Sol. a 27 de Abril de 1877. É filho de Rufino Augusto de Menezes e de D. Carolina de Jesus. Foi em novo para Angola, em companhia de seu pai, que para lá foi como colono e recebeu lições dos Padres do Espirito Santo, no Seminário da Huila. De volta a sua terra, matriculou-se no Seminário Diocesano do Funchal, tendo recebido a sua consagração sacerdotal, das mãos do Senhor D. Manuel Agostinho Barreto, na antiga Capela do Paço Episcopal, no dia 21 de Dezembro de 1901 e ascendeu os degraus do altar da Igreja de Nossa Senhora da Luz, na Ponta do Sol, no dia de Natal de 1901. Foi nomeado Pároco do Caniçal, a 22 de Fevereiro de 1902 e Cura de Machico, a 20 de Fevereiro de 1904. Com a morte do P.e Jordão do Espirito Santo, Vigário de Água de Pena, foi nomeado, a 4 de Julho de 1905, Pároco daquela freguesia. Em 27 de Julho de 1924, foi nomeado Cura de Machico e é, actualmente, Pároco aposentado da freguesia de Água de Pena. Profundamente humilde tem declinado os convites do seu Prelado, para paroquiar outras freguesias mais populosas, o que aliás lhe dava jus a sua cultura e zelo apostólico. Dedica-se à poesia, manejando com facilidade o verso satírico. Publicou dois livros de versos, intitulados. uVersosr e a uVisita da Imagem de Nossa Senhora de Fátima (Virgem Peregrina) à Madeira, em 7 de Abril de 194%. Funchal, 1950. Colaborou n' $0Jornaln, assinando algumas das suas produções poéticas com a letra C .

As abelhas .. . uO mel das nossas defuntas abelhas*. Ao bom amígo Pe. Abel M. de S. Branco

Louvai comigo abelhinhas

E bendizei o Senhor, Que fez de vós um primor Nas obras da Criação, Que num corpo pequenino Engenho tão grande encerra. Que os grandes sábios da terra Faz pasmar de admiração. De Solon e de Lycurco, Sem estudardes as leis, Em ordem e paz viveis Sem castigos nem prisões. Cada uma em seu lugar Com febril actividade Em pról da Comunidade Exerceis vossas funções.


A abelha-mãe, num só dia, 'Três mil ovos pode pôr, Que r-ós com vosso calor Em massa haveis de chocar, E depois em mil bercinhos Nada a nova geração, iros incumbe a obrigagão De nutrir e embalar. Dos deuses o alimento, A celestial ambrosia Que era pura fantasia De grosseiros ideais, Em vós é realidade. Que haverá na verdade De sabor mais delicado, Mais suave e perfumado, De que o mel que fabricais? Fortifica e refrigera,

E' remédio nas lesões, Catarros, constipações, E outros achaques mais. E' por todos procurado, Por toda a classe de gente, Pelo rico e indigente E por pessoas reais. Procurais nosso alimento Sem encargos p'ra ninguém: Se o nectar da flor vos vem Sem paga não \-ai ficar Porque deixais no seu seio D'alguma flor mais distante, O yolen, pó fecundante, Que o fruto fará vingar. Que mestre \.os ensinou O s favos a construir? Como pode sem cair O mel ai se aguentar? Donde essa cera dourada Fostes vós desencantar, Rival dos anjos dos Céus Que a seu modo adora a Deus, Ardendo sobre o altar?


Mesmo depois de defuntas Sois úteis a humana gente, Que toma. com aguardente Nas afecções catarrais O mel que vós fabricais. Oh! que exemplo e que lição Para nós, gente ociosa! A abelha laboriosa, Tão activa e engenhosa E' vossa condenação. Entre as obras geniais Da divina criação, Abelhinhas, ocupais Um lugar de distinção. Louvai pois comigo a Deus E cora sua protecção. Não deixeis de fabricar Cera para o seu altar E bom mel p'ra os filhos seus.

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Nota importante O nome completo do autor destes versos, é P.e Kufino Augusto de Menezes e não Augusto de Meneses, como por lapso de revisão vem na pag. 288.


Othílio de Sousa

Nasceu na Madeira, em data que desconhecemos. Foi um Édipo e um Poeta de merecimento. Colaborou no diário Popularn, *Diário de Noticias*, *Almanaque de Lembranças Madeirensen, uRevista Literária*, etc.

Sorrisos e Lágrimas Eu já senti pela vida Verdadeira idolatria; O h ! já me foi tão querida, Como a luz bela do dia! Vivendo entre magas flores Ah! eu, então, me julgava; Em amarguras, em dores, Nem um momento pensava ! Ante um viver tão ditoso, Tudo a atenção me prendia: - O mar, quando revoltoso, Tragar a terra par'cia, O u calmo, sem vagalhões, A praia amiga beijando. Talvez perdão lhe rogando Das suas ingratidões. . , Nessas noites estivais, Dos céus os astros brilhantes Iluminando os casais, As campinas verdejantes. Ou, então, nas de procela, A chuva a potes caindo; O azul sem uma estrela, A ventania bramindo.. . Das aves encantadoras O chilrear delirante; Das florinhas sedutoras, O aroma inebriante.


Agora.. . ai! de mim! agora Eu nada disso aprecio! Já não canto, como oiitrora. Como ria, já não riu.

E' que. na vala siiigela. Minha esposa baqueou: Minha alegria, com ela. Para sempre me deixou.


P.' César Martinho Fernandes 1878-1920

Nasceii na freguesia do Monte. desta cidade. no sitio do Desterro. a 2 0 de Março de 1878 e faleceu na freguesia do Jardim do Mar. a 1 de Novembro de 1920. Era filho de Manuel Fernancles e de D. Luiza Fernandes e irmão de Manuel Higino Fernancles, Irispector Escolar. Foi ordenado de Presbitero. em 1900 e celebrou a sua primeira Missa, a 5 de Agosto de 1900. Foi Pároco de São Roque do Faia], em 1901 e Perfeito e Professor de Latim, Física, Química e Inglês. do Seminário do Funchal, em 1902. Foi auxiliar do P.c Ernesto Schmitz, na instalação de um Museu de História Natural. neste Seminário. Serviu de Cura, nas freguesias do Monte e do Caniço. Paroquiou, também. a freguesia do Jardim do Mar. em 1906 tendo sido o edificador do novo Templo. de Nossa Senhora do Rosário, daquela freguesia. benzido solenemente pelo Bispo D. Manuel Agostinho Barreto, a 19 de Outubro de 1907. Eiisaioii e pôs em execução. por um processo da sua autoria. a telegrafia sem fios, invento ainda ~iesconheciciolia nossa Ilha. nesse tempo. Dedicou-se a poesia e a música, tocando violino com perfeição. Eis um poema da sua autoria: Eu amo um Deus Imenso, Poderoso, Eu amo um Pai querido. Redentor. Eu amo um Deus Amigo e meu Esposo, Eu amo um Santo Deus, meu Salvador! Repousarei p'ra sempre aos pés divinos Do meu Jesus que eu amo ternamente Levantarei ao Céu. suaves hinos Em chamas crivas d'esse amor ardente! Mas . . . quem sou eu que falo assim ousado ? Um anjo acaso que do céu desci ? Não. não mil vezes, que a Jesus Amado, Traidor ingrato. eu Seu amor feri ! Feri pecando o meu Jesus querido? Arrependido estou co' imensa dor: Morrer desejo aos vossos pés sentido. Chorando expiro aos Vossos pés. Senhor!


Alberto Artur Sarmento (Alberto Artur) 1878-1953

Nasceu no Funchal, a 7 de Julho de 1878 e faleceu, nesta cidade, a 23 de Março de 1953. Era filho de Artur Adolfo Sarmento e de D. Margarida Henriques Sarmento. Frequentou as antigas Escolas Politécnica e do Exercito e foi despachado Alferes de Infantaria, a 25 de Outubro de 1900. Fez parte do Regimento de Infantaria n.O 27 e faleceu no posto de Tenente-Coronel. Foi uma autoridade em assuntos respeitantes a História, Genealogia, Mineralogia e Botânica Madeirenses, tendo publicado muitos trabalhos sobre estas matérias. Possuia, em sua casa, um museu de espécies botânicas e mineralógicas, sendo, também, de muito valor a sua documentação e apontamentos sobre questões de História e Literatura. Foi Professor do Liceu do Funchal. Tomou parte, com o Major João dos Reis Gomes e outros, na representação da peça uGuiomar Teixeiran, nas Festas do V Centenário do Descobrimento da Madeira, no Teatro Dr, Manuel de Arriaga, nos dias 29 e 31 de Dezembro de 1922. Fez parte da Comissão Executiva destas Festas e colaborou no livro, uV Centenário do Descobrimento da Madeiran. Também se dedicou à poesia, tendo além de outros versos, como ulitania do Mar*, &PelaRibeiran e uNatal do Redentorn, composto, na Ilha do Porto Santo, uma uBaladao, que foi musicada por João Abel e cantada no Teatro Dr. Manuel de Arriaga. Foi um Escritor elegante e imaginoso, tendo publicado as seguintes obras: uAs Desertas*. Funchal, 1903; uAs Selvagens*. Funchal, 1908; uO Funchaln. Funchal. 1908; 40s alicerces para a História Militar da Madeiran. Funchal, 1908, 1909 e 1910, 3 folhetos; *Ascendência, naturalidade b Mudança de nome de João Fernandes Vieiras. Funchal, 1911; uMigalhaso. Funchal, 1911, 2.a edição 1912; uHistória Militar da Madeira\). Funchal, 1912; ucorografia elementar do Arquipélago da Madeiran. Funchal, 1912; %Umponto de História Pátrias. Funchal, 1914; *Homenagem a João Fernandes Vieiran. Funchal, 1928; uUm Auto na Achada*. Funchal, 1928; uMadeira 1801-1802-1807-1814>. Funchal, 1930; uNotícia Histórico-Militar sobre a Ilha do Porto Santon. Funchal, 1930 e 1933; uPonta do Sols. Funchal, 1930; aFreguesias da Madeiran. Funchal, 1930-1931 (2.1 edição 1953); <Santo António de Lisboa Bosquejado na Madeiran. Funchal, 1931: %Calheta>.Funchal, 1931; uA Madeira nas Praças de African. Funchal, 1932; aEcos da Maria da Fonte na Madeira)>,Funchal, 1932; uMoedas, selos, papel selado e medalhas na Madeiran. Funchal, 1933; uOs peixes dos mares da Madeiran. Funchal, 1934; uFasquias da Madeiran. Funchal, 1935; <ASaves do Arquipélago da Madeiran. Funchal, 1936; uMamiferos do Arquipélago da Madeiran, Funchal, 1936; Subsidio para o estudo das formigas da Madeiran. Funchal, 1937; 6 0 s Escravos da Madeiran; Funchal, 1937; uLenda de Pedran. Funchal, 1938; Ensaios Históricos da Minha Terran. Funchal, 1939 e 1946; %Ripasda Madeiran. Funchal, 1940; documentos 6 notas sobre a época de D. João IV na Madeiran. Funchal, 1940; uRépteis e Batráquiosn. Funchal. 1940; uPequenas Indústrias da Madeiran. Funchal, 1941; oNossa Senhora da Esperanp, na Ilha da Madeiras. Funchal, 1942; &Redemoinhode Folhasn, Funchal, 1943; «A Princesa do Reino Unido, Portugal-Brasil, na Ilha da Madeiran. Funchal, 1943; .Santo António Prègador, Santo António Militarn. Funchal, 1943.

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&Quadros sem aro*. Funchal. 1944; uVila e Freguesia de São Vicente, Ilha da Madeira*. Funchal, 1944; $A propósito do Grande Broteron. Funchal, 1944; ~Broterodá parecer sobre a estufa de Banger. na Ilha da Madeira*. Funchal, 1944: A sobre mesa. Três frutos exóticos. A anona. o abacate e a inangan. Funchal. 1945; rvertebrados da Madeiraa. Funchal, 1948 e ~Fasquiase Ripas da Madeira)). Funchal. 1951. Foi Redactor do uHeraldo da Madeiras e colaborou n o ((Elucidário Madeirenseh. do P.e Fernando A. da Silva e nas seguintes publicações: <<Diárioda Madeira*. uDiário de Noticiasn, Revista esperança^, <\Comércio do Funchaln. uAlmaiiaque da madeira^, <<AlmanaqueIlustrado do Diário da Madeira>),*Almanaque de Lembranças Madeirensen, rEco do Funchaln. o 0 Jornal*, Revista uDas Artes e da História da madeira^, uPortugal Ilustrado*, ullustração Madeirense*, etc. Foi Sócio correspondente da Sociedade de Geografia de Lisboa e de outras Sociedades científicas e literárias, nacionais e estrangeiras: Membro auxiliar da antiga Sociedade de Geografia de Mans (França) : Vogal auxiliar da Comissão de História Militar; Presidente da Direcçáo do instituto Cultural da Madeira; Cavaleiro da Ordem de São Tiago e da Ordem de Avis e possuia as Medalhas da Vitória. de Comportamento Exemplar e das Campanhas do Exército Português. Do diário de Noticias, de 2 de Julho de 1920, reproduzimos a seguinte poesia:

Pela Ribeira Água dos montes, de pedra em pedra, cantando vem. Salta penedos, tomba de riba. escuma além. Água dormente, d o m e acordada, pela ribeira. Canta nos poços, escava a rocha numa canceira. Há lavandeiras por sobre os limos a saltitar. São passarinhos, vêm dos silvados a esvoaçar.

As lavandeiras, saltando pedras, cantando vão. Lavar as roupas, lavar as mágoas do coração.


Correm a os ninhos as avezinhas, as lava~ideiras. Ai quem tem filhos. tem alegrias e mais canceiras. Lá vão voando,

levam no bico fios de estôpa. As lavandeiras, essas lá ficam lavando a roupa.


Francisco Xavier Carrega1 da Silva Passos (Francisco da Silva Passos) (1878-1931)

Nasceu na Madeira, a 26 de Ianeiro de 1878 e faleceu, em Lisboa, a 1 de Outubro de 1931. Era filho de Manuel Antóiiio da Silva Passos e de D. Maria Teresa Bastos Carregal da Silva Passos. Foi Consul de Portugal eni Dakar. Tinha o curso de Regente Agricola. Vibra nos seus versos uma alma ardente de mocidade, generosa e apaixonada, e evidencia-se um teinperamen to estético. $Silva Passos - diz o jornal continental e A Situaçãon - Poeta e Jornalista de requintada sensibilidade. da orgulhosa e elegante escola intelectual de João Chagas que. tendo embora transigido. por ideal, com a multidão, soube guardar sempre intacta e soberana. a sua superioridade mental, é um dos mais estranhos e vigorosos espíritos da geração que hoje pontifica em Portugal. Prosador e Poeta, Jornalista vigoroso e Cronista cintilante. Francisco da Silva Passos não é, literariamente, um nome que reboa aos nossos ouvidos, consagrado e impotente. Todos o conhecemos. todos lhe dedicamos uma afeição yrofuníla e fraterna.\) Teve larga colaboração em jornais e revistas continentais e madeirenses, tais como. n' o 0 Povon, uHeraldo da Madeira.), «Diário de Noticias>)e <\Diárioda Madeiran. e editou a uFeira da Ladran, de que sairam alguns números. Publicou três livros intitulados: uA Pobre Doida*, *A Verdadeira Lein e 6Evangelho Novon. Publicou, também, dois folhetos, intitulados, uA Tangenten e o aEscapelos.

Vilancete Eu corisidero iiest'l~ora, Ser benz tristc a níiriha vida.

Por ter sido nlcii tivida.

Voltas Não vos admireis, agora, Que eu nunca tenha alegria, Sempre chore e nunca ria: Não vos importeis, senhora. Ride alegre embora, Triste choro a minha vida, Por ter sido mal vivida. É bem fútil pensamento Q'rer saber qual o meu mal, Pois conhecê-lo, afinal,


Não m e livra do tormento, Que vem do conhecimento. Que eu tenho da minha vida. Triste vida mal vivida. Se coração me não mente, A tristeza acaba em breve, Pois que a vida, fumo leve, Acabará brevemente ; E eu morrerei contente De ver terminar a vida, Que sempre foi mal vivida.

Canção

Camin heiro

As minhas ilusões davam-me a ideia

Da mais sã e real felicidade. Pairando sobre a vida toda cheia De amor e de bondade.. As minhas ilusões. porém feridas Pela grosseira imperfeição do mundo. Jazem hoje caídas, Banhada a terra num pesar profundo! Nunca a dor é tão negra como quando Vem após o prazer, porisso. agora, Apenas pela vida vou achando Um pesado desgosto em cada hora. Mas cada mal. que encontro na estrada Abre-me o coração e ergue-me o braço: Beijo o que sofre. e atiro a chicotada Ao déspota devasso !


António Pimenta de França (A. Pimenta de França) 2

Nasceu na freguesia da Calheta. em data que desconhecemos. Cursou o Líceu do Funchal e formou-se. em Medicina, na extinta Escola Médico-Cirúrgica, desta mesma cidade. em 1899. Vive quase sempre em Lisboa, onde publicou um livro, intitulado, uA Pérola Atlântica do Oceano*. Poema. (Com prólogo em verso), Madeira, 1944. De 63 páginas. Colaborou n o *Diário Popularn, de Lisboa, onde publicou um artigo de propaganda da Madeira. intitulado. *Belezas da Madeiran, que foi reproduzido no ucomércio do Funchaln, de 14 de Agosto de 1955.

A Cordilheira Central e Pico Ruivo (Excerto) Após surgir das ondas; - a Madeira Montes e serras lutaram p'la altura, Na ânsia de grandeza, de formosura P'ra de beleza ser ela a primeira.

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Pícaros, serras, cómoros, outeiros, ost ta dos nas ribas. presos às fragas, Das lombas fizeram soberbas dragas Para elevar picos e cavar desfiladeiros!

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Dentre os altos picos o Pico Ruivo Conseguiu na labuta a primazia, Elevando-se orgulhoso e altivo, Ancho da vitória e da valentia!

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Logo as serras formaram uma cordilheira P'ra sua defesa- de Levante ao Poente. E, nessa luta de grandeza, tal, fremente, Constituiram o arcaboiço da Madeira !

Da crista, formaram a coluna vertebral! De cada monte ou serrania : -uma costela, De cada espaço costa1 : -um vale ou ribeira,


Dos lombos: - planaltos -Paul da Serra e Faia1 ! E, assim. ergueram a formosa cordilheira. Desde o Pico Ruivo a Ribeira da Janela!

O Pico Ruivo forma-lhe a alta cabeqa, Cravada nos largos ombros das serranias. Que seguram nos braços o Ribeiro Frio Acalentando-o. . . - dos vales - a melhor peça. Enquanto ele canta.. . . místicas ineloclias Ao Pico Ruivo. exaltando-lh'o poderio !


José Jorge Rodrigues dos Santos (Jorge Santos)

Nasceu iio Funchai a 23 de Abril de 1879 e faleceu, em Lisboa, a 5 de Dezembro de 1958. Era irmão do Tenente-Coronel médico, Dr. António da Cruz Rodrigues dos Santos, que foi Governador do Funchal em 1921, Dr. Carmo Santos. médico em Lisboa e Luis Portugal R. dos Santos. comerciante. e pai do Dr. Francisco dos Santos, Capitão Alexandre Baia dos Santos e António R. dos Santos, e genro do falecido Marechal António Oscar Fragoso Carmona. antigo Presidente da República Portuguesa. Foi Bacharel, formado em Letras. pela Universidade de Lisboa. Esteve na Índia, como Administrador Geral dos Bens Nacionais e foi Comissário do Governo, junto da Companhia de Mossâmedes. Ingressou na Carreira Diplomática, em 1911, como 3.0 Secretário. sendo um ano depois, promovido a Consul de 2.a classe e colocado em Manáus, donde foi transferido. como 2.0 secretario, para Pequim. e depois para Madrid e Londres. Exerceu as funções de encarregado de negócios em Tóquio, Estocolmo, Cristiania, Elsingfors e Madrid. sendo. em 1922. promovido a 1.0 secretário em Londres e recebeu. em 1923, o titulo e honras do Conselheiro de Embaixada. Nesta categoria esteve em Madrid e de novo em Londres, de onde regressou ao Ministèrio. e, então, promovido por mérito comprovacio pelo Conselho de P~omoções,a Chefe de missão de 2.. classe. Em 1 de Abril de 1927. foi colocado na Direcção Geral de Negócios Políticos, e Diplomáticos, como Chefe do protocolo e do pessoal diplomático, cargo que exerceu até 1929. data em que foi colocado, como enviado extraordinário e Ministro plenipotenciário de Portugal, na Argentina. donde, em 1934, foi transferido para Estocolmo. Em 1935. foi promovido a Ministro de 2.a classe, e colocado em Berna, onde acumulou essas funções, com as de Delegado de Portugal junto da Sociedade das Nações. Em 1945. foi transferido. como Ministro Plenipotenciário, para Roma-Quirinal, permanecendo neste posto até a proclamação da República Italiana, neste mesmo ano. Dedicou-se a Literatura. especialmente a Poesia a ao Teatro, tendo colaborado em várias Revistas e publicado os seguintes livros : ucaravelan (poesias): $Rosa Enamorada~:Mar de Lágrimas* (de colaboração com João de Gouveia); &Festade Actriz* e *Crime de Amor*. -Peças dramáticas que foram levadas a cena, em Lisboa, no'Teatro Nacional. *Falando dos novos da nossa terra, posso dizer sem assombro-disse o Poeta João de Gouveia -que Jorge Santos deu saltos de vara, enquanto que os outros deram saltos mortais: isto é, esboçaram rimas que por falta de assunto foram para a doce-brisa ou a brisa-doce que é a mesma coisa. O rendilhado do nosso poeta tem alguma coisa de transcendente que nos faz entrever um mundo melhor, que nos esconde a vista esse látego caprichoso e que se chama Dor ainda mesmo quando fala da própria dor*. Possuia as seguintes condecorações : Grã-cruz da Ordem Militar de Cristo, grande oficial da Ordem de Leopoldo da Bélgica. Comendador de Isabel a Católica de Espanha, Comendador da Ordem de Saiito Olavo da Noruega.

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Os velhos corações, os corações sombrios Não podem já cantar baladas imortais, Petrificou-os o tempo e fez deles cristais, Que a dor vai derretendo em negros arrepios ! . O s velhos corações, os corações sombrios.. .

Os velhos corações dos pálidos poetas Que já não teem fé. viuvos das esperanças, Não teem na sua alma os risos das crianças São pombas sem ter par, Romeus sem Julietas! O s velhos corações dos pálidos poetas!

Oh! velhos coraçóes das ilusões perdidas Fradinhos que ao luar rezais Avé-Marias! Da vossa alma arrancai as santas alegrias Fazei-as despertar das cousas esquecidas ! Oh ! velhos corações das ilusões perdidas !

Caravela (Trecho) Vogai, oh! pobre caravela Sobre as lágrimas do luar ! . . . Ide dizer bem longe aquela estrela Aquela que me faz cantar Amargo cantochão, baladas de tristeza Que o seu sorrir espalhe sobre o meu olhar. Ide pedir à minha amada - Hóstia Santa Que no meu coração fez um altar. Que esparja sobre ti tanta luz, quanta Esparge o seu olhar ! . . .


João da Mata Camacho Pina de Gouveia (João de Gouveia)

Nasceu no Funchal, a 8 de Fevereiro de 1880 e faleceu, em Lisboa. onde há muito fixara residência. vitima de pleuresia, a 21 de Abril de 1947. Era filho do Coronel José Maria de Gouveia e de D. Elisa Camacho de Gouveia. Foi conhecido pela antonomásia de João Zarco, seu pseudónimo. Frequentou o Curso Superior de Letras e a Escola Politécnica. <Vê-se que a musa do jovem Poeta -disse o Poeta Luis Pinto Coelho -coroada de rosas e de lírios, traja com elegância a túnica perfumada e alvinitente da poesia lírica e cristã. que sem deixar de ser moderna pela forma. é antiga pelo ideal da beleza e da verdade, eterno como o próprio Deus. de quem dimanay~. Ainda muito novo dedicou-se a poesia. mas abandonou a carreira das Letras. por motivos desconhecidos. Dedicou-se. depois. a estudos de mecânica. especialmente a construção de um aeroplano. de que foi o inventor e de que a imprensa do Pais se ocupou, tecendo os maiores elogios a este invento, que não se concretizou, por terem surgido insuperáveis dificuldades para a sua construção. Dedicou-se. também. a rádio, tendo inventado um aparelho de onda curta, a que deu o nome de iAladino~e à construção de um aparelho avicola. que despertou muito interesse a todos os que se dedicam a criação de galinácios. Publicou as seguintes obras: <<Breviárion.Funchal, 1900 : ~ A t l a n t e tLisboa, 1903 : acedo Amanheceu*: uMar de Lágrimasn. Drama em 3 actos. (De colaboração com José Jorge Rodrigues dos Santos). Lisboa, S. d.; uAlmas de Outro Mundo*. S. d. e rõngano de alma*. S. d. Colaborou no uHeraldo da Madeiran. <<ODireito*, aAlmanaque de Lembranças Luso-Brasileiron, uDiário de Noticiasn. onde piiblicou em 13 de Novembro de 1903, o folhetim intitulado uceguinhos*, e uDiário da Madeira*. onde publicou o uA. B. C. da T. S. F.9, sob o pseudónimo de João Zarco, a 12 de Fevereiro de 1933.

A Coimbra A Coirnbra lendária das batinas Que no meu sonho antigo floresceu, Tinha por sobre as carnações divinas: Por batina o choupal. por capa o céu. Cioso do Mondego. e das campinas. Deixava soltar voo a um sonho meu; E fugia do mar, e das colinas. Do mar que tanta vez me adormeceu.


Eu invejava a sorte dos doutores.. A capa ! . . . como havia de adorar. . . Mas o Oceano ouvindo estes louvores,

Um dia uivou-me assim: -Mais de vagar: Se o Mondego dá génios e dá flores.. . Muitos Mondegos correm para o mar.

Mãe Bate de novo as asas sobre o mar, E vai, meu doido coração, que é a hora De consolar quem ama e sofre, e embora Ninguém te possa as mágoas consolar. Vai ter com essa que te sabe amar Como ninguém te amou a t e agora. Se ela chorar, chora com ela, chora, Porque te há-de fazer bem o chorar

Sê piedoso e bom por amor dela: Não tenhas ódios, meu leão sombrio, Torna-te manso, enrosca-te a meus pés,

E dorme socegado ao pé daquela Que te beijou primeiro, e que te viu Chorar e rir pela primeira vez.

Amar.. . (Trecho) Amar não é sentir os lábios quentes, Nem elevar a braza dos desejos Entre os lábios trémulos, ardentes, A' tua boca túmida de beijos. Amar é ser dos mais, viver errante

A' busca aalmas, doido e desgraçado: Amar é ter um coração gigante Nas mãos dos pigmeus despedaçado. Amar é não ser seu; é não ter nada Que nos pretença, é ter unicamente Uma continua lágrima suspensa Numa súplica eterna, eternamente. Amar é ser Santa Isabel na guerra; Ser homem tendo u m coração de mãe; Amar, mulher, é espalhar na terra O bem sem estar à espera de outro bem.


Maria Pulquéria S. Pestana (1880)

Nasceu na vila de Câmara de Lobos, a 7 de Julho de 1880. E' filha de Sebastião Pestana e de D. Constantina Angélica Pestana e tia de Jaime Ferdinando Pestana, funcionário da Junta Geral do Distrito e dos Drs. Eduardo Antonino Pestana, Advogado e Professor do Liceu de Pedro Nunes, de Lisboa, e Sebastião Pestana, Prafessor de Filologia do ulolégio Olissiponensen e funcionário superior do Ministério da Educação Nacional. *Ela ajudou-nos a criar a todos - disse o Dr. Sebastião Pestana-e. apesar de infante, sempre lhe reconheci notabilissimas capacidades de inteligência e muita vocação para as Letras. E posso dizer que em Poesia, tem produções não de todo deficientes. E se nos lembrarmos de que as suas habilitações literárias são quase nulas (suponho que mal terá feito a 3 . a classe- segundo a moda do tempo)- mais a admiraremos*. Reside na casa onde viveu o Poeta Joaquim Pestana. Colaborou no extinto uDiário da Madeira*, e $Almanaque de Lembranças Madeirensen.

Sábado Santo Ao nieu caro sobrinho Eduardo Alitonino Pestana

Há dias não via, do alto da torre Com voz gemebunda o sino a tocar; Só via de crepes a Igreja vestida, Só ouvia soluços, amargo chorar.

Findaram os prantos; há risos nos lares Resoam nos ares anúncios de festa Porfiam os, sinos tocando Trindades; Que lindos festejos, as horas da sesta !

Os campos toucam de flóreos matizes; A lua no empireo já surge mais pura; As flores exalam perfumes suaves, E o canto das aves nos diz: há ventura !

Jâ veste de galas a Máe carinhosa, A Ela os filhiohos já correm sem pranto; Por toda a Natura se ouve: ualelúiar, Só reina alegria no Sdbudo Santo.


Sonetilho Sentada à beira-mar, Meditava em solidão. Sentindo no coração Uma tristeza sem par.

A onda falar-me vinha Num plangente soluqar . . . Já não via, pelo ar, As asas duma andorinha. A tristeza que eu sentia

E no mar se reflectia, E' que iam terminar Tardes de tanta magia. Noites de tanta alegria, Passadas a beira-mar ! Inédito

Saudades Saudades fundas eu tenho Fechadas no peito meu: -Tenho saudades da lua Tenho saudades do Céu. De quando. a tarde, ao crepúsculo, Ao balcão me ia sentar. Contemplando o Céu de anil E a branca espuma do mar. Então suave se ouvia, Da ermida o sino tanger. Dizendo a todos os vivos Que ia o dia a fenecer.

O h tardes de primavera, Quem não te aspira gozar, Num jardim, por entre flores, Ou na praia à beira-mar?!. ..

As horas magas da tarde, São para mim de amargura, Lembra;me os pobres, vivendo, E os que estão na sepultura. Saudades fundas eu tenho Fechadas no peito meu; -Tenho saudades da lua, Tenho saudades do Céu !


João Augusto de Vasconcelos e Sá (Vasconcelos e Çá)

Nasceu na freguesia de Santa Maria Maior. no Forte de São Tiago, a 9 de Julho de 1880 e faleceu, em Évora, vitima de cancro nos pulmões, a 18 de Março de 1944, cerca das duas horas da manhã, Era filho do Oficial-General e notável colonialista, Luís de Vasconcelos e Sá, antigo Comandante da Bataria de Artilharia aquartelada no Forte de São Tiago, e de D. Maria Algeraz de Vasconcelos e Sá e pai do Escritor e Jornalista José Augusto de Vasconcelos e Sá, (Peter Craft), autor dos livros: $Perdoa, Pedron, u...E Venceram a Morte*, u510ln, etc. Cursou o Colégio Militar de 1890 a 1897 e a Escola Politécnica de 1898 a 1900. Foi Oficial de Cavalaria. Praticava, com perícia, os desportos do seu tempo. Montava a cavalo e jogava o tennis: cultivava a literatura e a música, cantava muito bem e conversava com interesse e graça espontânea. Esteve preso várias vezes, devido as circunstâncias políticas e as suas convicções monárquicas. Foi mandando de castigo para o Alentejo; de Extremoz transitou para Évora, tendo sido preso pouco depois, sob a acusação de ter ido a Elvas conspirar, tendo sido julgado e absolvido. Em 1919, foi preso de novo, por se ter batido em Monsanto, no movimento monárquico. Esteve alguns dias no Furte de Monsanto, com Azevedo Coutinho, Aires de Ornelas, Conde de Sucena, Conde de Arrocheia, Visconde de Siqueira e outros, tendo sido depois deportado para o Funchal, fazendo parte dos 289 políticos que estiveram detidos no ulazareto de Gonçalo Airesn, tendo mais tarde concluido a sua pena, com um ano na Penitenciária de Lisboa. Voltando à liberdade e tendo deixado o exércicito, consagrou-se a vida de família, a literatura e à pintura de aguarelas e à música, tendo por 1898, composto a letra e a música da célebre canção, à moda do Minho, $Margarida vai a Fonte*, que obteve um extraordinário sucesso, em todo o País-e ainda hoje é cantada em França, Bélgica e Itália, tendo dado aos herdeiros, em dois anos, cerca de 25.000$00, o que é importante. se atendermos que a canção tem mais de 60 anos. Vasconcelos e Sá que foi conhecido pelo &Margaridas,devido a esta canção, dedicou-se também ao teatro, tendo-se estreiado com a peqd teatral intitulada uBia, de colaboração coni Vitoriano Braga e escreveu a revista <Palhas e Moinhos*, levada a cena em* Extremoz e mais tarde. em 1939. no Teatro Garcia de Resende, em Évora, todo o Alentejo e no Teatro Ginásio, em Lisboa. Nesta revista que foi ensaiada pelo autor, de colaboraçáo com o médico Dr. Angelo Moreno e com o advogado Dr. Raul Cordeiro Ramos, tomaram parte os filhos e filhas e sobrinhas do autor. Colaborou, também, com Vitoriano Braga, Coronel Pereira Coelho. Gustavo Matos Siqueira. e Cristovão Aires, nas revistas @Bolade Nevea e uFogo de Vlstasn. representadas em Lisboa, com grande sucesso. É autor das seguintes obras; &Margaridavai ii Fontea. Lisboa, 1898; &Um livro* (Poesias de Vasconcelos e Sá), Lisboa; S. d. (Com prólogo de Fernandes Costa, 'datado de 1901); $Rimas pobres*. Lisboa, 1907; uAntão era Pastor*, Lisboa, 1930 (Com desenhos de Eduardo Malta) Ediçáo quase toda vendida no Brasil pelo Barão de Saavedra* amigo do autor; uO Castanheiror (Fado), inédito: *Nunca mais*, (Fado). inédito; *Duas órbitas*, (Fado). inédito; a 0 teu olhar*, (Fado), inédito e &Poesias*,Lisboa, 1959. Obra psstuma, editado por seu filho, com prefácio da Poetisa Maria de Carvalho. A sua obra


poética ficou quase toda inédita. Os seus fados são actualmente cantados pelas cantadeiras Fernanda Peres, Maria Teresa de Noronha e Amália Rodrigues. Colaborou no uDiário de Noticias*. uHeraldo da Madeira)), +Almanaque de Lembranças Madeirenses. $Almanaque Bertrandr e noutras publicações madeirenses e continentais, tendo nalgumas publicado gazetilhas de mordaz ironia, sob o 'pseudónimo de D. Trancredo. Foi um dos nossos mais apreciados Poetas. sendo os seus versos inspirados e harmoniosos. repassados, por vezes, de uma ironia magoada e subtil. uA personalidade de Vasconcelos e Sá disse a Poetisa Maria de Carvalho destacava-se pelo espírito vivissimo e de uma graça inconfundível. pela veia poética e fácil, a que ele n2o dava importância. pois a sua maneira de ser conciliava ironia e modéstia 4quase inconsciência do próprio valor que prodigalizava sem contan.

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Noviça (Soneto feito aos 19 anos de idade, em Braga)

Não poder eu chamar-te aos sonhos desta vida E caindo-te aos pés num êxtase de crente Acordar no teu peito a pomba adormecida. Rivalizar com Deus dentro de ti sòmente!. . .

O teu primeiro amor. contradições enormes, Esse pecado ideal, esse ideal anseio. Seria o despertar do sono que tu dormes. Feito de sombra e. luz, com rosas de permeio. Mas. não acordes, náo

- que nunca mais descansas;

E' feita de oiro e paz a alma das crianças E é bom viver em paz; é bom viver assim. Dorme, noçiva. dorme - 6 singular contraste ! Bemdita sejas tu que o mundo abandonaste Porque ele é para os maus.. . o mundo é para mim. Inédito.

Não creio Eu já não creio em vós. belezas triunfantes, Impuras tentações nascidas da matéria ; Tendes o riso vil-o riso das bacantes, E o orgulho venal-o orgulho da miséria. Vós arrastais ao crime, à perdição. ao nada. Os nossos corações, os corações leais; Sois a alma da luta, a luta mascarada, Que definha no ódio o peito dos rivais.

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Sobge vós cairá inexoravelmente, Como chuva de fogo, a eterna maldição. E o vosso olhar fatal, que atrai como a serpente, Não ousareis jamais alevantar do chão. Vossas bocas serão rasgadas e cuspidas, Vossas formas ideais de esplendida nudez Rebentarão no inferno e, ao serem destruídas, Até Deus negará que vos criou e fez! Inédito.

Estas mágoas Estas mágoas sentidas dia a dia, Sofridas em silêncio e longe dela, Todo este mal oculto se revela Numa existência mórbida e sombria. Esta minha expressão, sem alegria, Esta atitude, esta mudez singela, Este meu riso até-que a dor modela Porque sempre a tristeza o contraria, Nasceram da saudade e da amargura.. . Mas vós todos, poetas sem ventura Que sabeis inspirar alheio dó, Não podereis medir tamanha dor. Em vós morre um amor, nasce outro amor E eu não soube esquecer!. . . eu tive um só!

Sugestão Ambos compreendendo, ambos sonhando, Passámos longas horas conversando Num divagar alheio dos sentidos. Não tratámos de nós; e todavia Uma causa invisível atraia 0 s nossos corações desconhecidos. Não tratámos de nós. Serviu de assunto Todo esse vasto. esse imortal conjunto Do mar, do céu, da terra.. . mas, depois,


Quando ela se afastou num passo lento.. Julguei que o mar, a terra, o firmamento Tinham sido formados por nós dois.

A invasão dos bárbaros Athenas vacilou ; e devastada Viu por entre sinistras claridades Lamber a mesma chama avermelhada As estátuas. os templos, as cidades. Céres tombou ; Neptuno. Vénus, Marte, Rolaram pelo chão, também em pó : E dessas grandes maravilhas de arte. Restava apenas uma estátua só !

O guerreiro mais velho e mais ousado Dissera. ao contemplar-lhe o ped&stal: ~Respeitaieste Deus, irmãos, cuidado : .Que é este o que nos pode fazer mal.+

-Eentre as ruinas todas, finda a guerra, Numa expressão fatal de vencedor, Ficou de pé, senhor de toda a terra, Um pequenino Deus, o Deus do Amor.

O sorriso da Marqueza (século XV)

Queira sorrir, Marqueza! Apenas um sorriso!. .. Suplicava o pintor, com toda a gentileza. tentando retocar num traço mais preciso, o perfil da Marqueza.

A Marqueza, porém, serena. intrasigente. nem os lábios movia ; e, de cabeca erguida, olhando altivamente, mantinha uma expressão severa em demasia.

Em vão, o bom pintor, curvado sobre a tela buscava descobrir uma curva ideal, franzindo os lábios dela na gnça de sorrir.


Mas, na quarta sessão desvendou-se o mistério: O orgulhoso Marquês entrando pela sala. aspecto grave e sério, falou por sua vez: *A Marqueza não ri! Convém que o seu retrato traçando-lhe o perfil, ateste a quem o vir, o sentimento exacto de uma nobre expressão, austera e senhoril.

E se passar, um dia. em frente dessa tela. um mísero plebeu, jámais se gabará de ver o riso dela. porque esse privilégio unicamente é meu!* Mas então.... sublinhando a derradeira frase que o Marquês proferiu num tom indefinido, imperceptível quase, a Marqueza sorriu. .. .

Duas quadras inéditas Conduz-me tu que já não tens vergonha Nem prestas grande culto ao Preconceito. Poisa, filha. a cabeça no meu peito. Conduz-me tu; deixa sonhar quem sonha. As misérias do mundo, estremecida, Não são para nós que em nada cremos. Quem compra as decepções no fim da vida Não as tem pelo preço que as vendemos.. .


Fernando Augusto Câmara (Auro)

Nasceu na Madeira, a 11 de Julho de 1880 e faleceu no Funchal, a 30 de Junho de 1949. Era filho de João Urbano Câmara e de D. Luiza Câmara e irmão de João Urbano Câmara Júnior e de Luis Câmara, estabelecidos nos Açores, há mais de 50 anos e tio-avô do grande caricaturista açoriano. Vitor Câmara, que esteve na Madeira, no Natal de 1947. Foi Apontador de 1.a classe da Direcção das Obras Públicas da Junta Geral do Distrito do Funchal e consagrou-se como um exímio artista decorador Foi, também. Poeta, Charadista e Jornalista de merecimento. Deixou dispersa uma obra que atesta os seus talentos, especialmente como desenhador. Entusiásta da educação física, foi um dos mais antigos dirigentes do movimento desportivo da Madeira, a que prestou relevantes serviços. Pertenceu a Direcção do oClub Sport ma ri ti mo^ em vários exercícios e dirigiu a secçáo de Crucivérbios, do *Diário de Noticiasn. uColaborou no uAlmanaque de Lembranças Luso-Brasileiroa, tAlmanaque de Lembranças Madeirensen, *Almanaque da Madeira*, ~AlmanaqueIlustrado do Diário da Madeira$, <Diário Popularn. uEco do Funchaln e noutros jornais locais. Eis um soneto acróstico e uma balada da sua autoria:

Ilha dos Amores Por mais que tanjam lituos clangorosos E cantem alelúias Musas dinas, Rimando às Divindades peregrinas Os teus celsos enfeites tão mimosos; Louvando sem cessar, em sonorosos Acordes, tuas linfas cristalinas De argênteo parecer, verdes colinas, Os prados, os matises mais custosos, Os magos esplendores, tua lenda; Cantando não exalçam os bens teus E nem traduzir podem igual prenda.

As tuas maravilhas vêm dos Céus, Não há ninguém na terra que as entenda; O teu louvor só pode fazer Deus.


Balada Trovador, trovador, Sempiterno sonhador, Não cales teu bandolim ! Afoga a mágoa em prazeres ! Tu não sabes que as mulheres, São todas, todas assim? Abandonou-te e fugiu ?

O.teu amor iludiu ? Mas a vida é sempre assim! Uma folha que esvoaça Ao vendaval da desgraça. E desaparece em fim! Solta, pois, teu meigo canto. Cheio de enlevo e d'encanto ; Despresa penas d'amor ! O Mundo ri, escarnece De quem sofre e quem padece! Não sonhes mais, trovador!

Funchal, 1904.


João Marinho de Nóbrega (Marinho de Nóbregal 1880

-1954

Nasceu na freguesia de Santa Maria Maior, a 18 de Julho de 1880 e faleceu, na sua residência, ao Caminho de Santo António, desta cidade, a 8 de Março de 1954. Era filho de Januário Justiniano de Nóbrega Júnior e de D. Maria Virginia Pereira de Nóbrega e neto do Poeta, Januário Justiniano de Nóbrega e descendente do Poeta Francisco Álvares de Nóbrega. conhecido pela antonomásia de Cam~es,Dequeno. Cursou o Liceu do Funchal e frequentou a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, até o 3.0 ano, tendo desistido, por motivo de doença. Fez parte da Câmara Municipal do Funchal, no curto e agitado período de Sidónio Pais e foi admitido auxiliar da Conservatória do Registo Predial do Funchal. Foi também Químico-Analista, tendo feito um estudo da especialidade, em Paris. Era a data da sua morte, Director do Laboratório Químico da Fábrica do Torreão. Entrevistou o P.e Cruz, em 1943 e publicou um folheto, nesta cidade, intitulado, *Urna Entrevista*. Colaborou no uHeraldo da Madeiras, uO Jornaln, revista *Os Nossos Filhos*, *A Vozs, *Diário da Madeira*, uDiário de Noticiasr, *Almanaque Ilustrado do @Diárioda Madeira*, .Almanaque de Lembranços Madeirense*, revista ~Esperançan,&Revista Portuguesar, *Diário Popularr. *Eco do Funchal*. *Comércio do Funchaln, etc. Subscrito com a letra X e com os pseudónimos de Jodo Luso e José Manuel, publicou, durante muito tempo, umas crónicas, no @Diáriode Noticiasr. *Diário da Madei-, ra* e e 0 Jornab, iatituladas : oApostilhas~,acomentários~,eCroniquetas*, ucoisas Minhas, *Pinceladas*, uRéstea de Sol*, cCom os Meus Botõesn, uUm Pouco de Tudo*, &Notasdo Dias e *Garatujas*. Usou, também, os pseudónimos de Azul e Branco, Jodo Craca. Oh~iiram,Ilhéu Marcos Diniz. Décio Braga e lodo Lopes.

Despertando Por onde andaste tu. meu pensamento. Que bem dentro de mim eu sinto agora, A falta que me faz o teu tormento, Que me visita sempre, a toda a hora.

A padecer, por ti, acostumado, Tanto estou, que às vezes me parece Um prazer, a dor qze me tens dado, Que ter a dor constante me apetece. Desabafa comigo os teus anceios, A tua negra mágoa, e a alegria Dos teus ledos, fagueiros devaneios.


Já não me fazem mal as tuas queixas, As novas que me trazes dia a dia,

Só me causas pezar, quando me deixas.

Outono Já o azul do céu empalidece,

A noite é feia, é mais gelada a lua, --É o turbado outono que aparece Sem tornar-me dif' rente a imagem tua. De cada ramo as folhas vão caindo, De cada folha brota uma saudade, Tudo vai de saudades se cobrindo, Só não vem para mim a soledade. Estremecida alegria abençoada. Vivam sempre comigo esp'ranças minhas Mais puras do que a neve irnaculada.

Oh! não me abandoneis, visão querida, Como partem agora as andorinhas, Não parteis também vós da minha vida ! . . .

Líricas Se eu chegar a ser velhinho, Sabe-o Deus de quantos anos, Hei--de ter muita saudade Tecida com desenganos. Olhos meus, olhos escuros, Olhos noites sem luar, Olhos tristes de saudades, Olhos cegos de chorar. O meu amor por ser grande, Que pezar que ele me faz, De tanto te amar anceio Amar-te mais, muito mais. Eu sei que choras de pena Quando só mágoas te escrevo, E eu nem ao menos sei Quantas lágrimas te devo.


Luís dos Anjos de Gouveia (Anjos de Gouveia) 1880- 1958

Nasceu na freguesia de Santa Maria Maior, desta cidade, a 2 de Outubro de 1880 e faleceu a 22 de Julho de 1958. Era filho de João Augusto de Gouveia e de D. Antónia de Abreu Gouveia e pai de Carlos Maurício de Gouveia, funcionário público, Poeta e amador teatral e de Luís dos Anjos Gouveia. Foi funcionário da Justiça (oficial de diligências), encontrando-se aposentado ii hora da sua morte. Foi também editor e proprietário de alguns semanários, divulgando vários trabalhos de poesia e prosa, na sua época. Assinava as suas composições literárias com a rubrica de Anjos de Gouveia. Eis duas poesias da sua autoria, a primeira das quais composta em 1899 e publicada na &RevistaLiterária,, de 21 de Dezembro de 1902.

Um sonho Sonhei, meu anjo, meu bem Amor que és todo ventura Que a luz que teu olhar tem Me fitava com ternura. Sonhei, também. que orculava Teus lábios meigos, singelos, Descuidado e'ntão gosava A ilusão dos teus desvelos. No meu colo te embalava, Como a vaga sobre o mar, Feliz, então. me julgava, Por viver a te embalar. Sonhei que teus ternos braços Me apertavam, docemente, Que firmava eternos laços Em um só beijo fremente. Mas tal sonho de ventura Breve se tornou em pó. Acordei, vi noite escura, Procurei-te, achei-me só.


Adeus, Pátria Não mais te verei, Oh Pátria tão qu'rida Onde a doce vida Contente gozei. Não mais na campina Saudarei a brisa Que a folha matisa Da rosa e bonina. Não mais ouvirei Das aves o canto, Da musa o encanto Já só sonharei, Da praia formosa Da ilha tão bela, Da onda singela Que espraia ditosa, Do pálido luar Em noites serenas, De tardes amenas Que eu qu'ria gozar. Mas levo na alma A Ieda saudade De ir nesta idade Colher doce palma. Não mais te verei,

Oh Pátria querida. Onde doce vida Contente gozei.


Jordão Maurício Henriques 1880

- 1952

Nasceu no Funchal. a 15 de Outubro de 1880 e faleceli. no Brasil, por 1952. Era filho de António Maria Henriques. Frequentou o Liceu e o Curso Superior de Letras. Foi Professor da Escola Primária Superior e Professor interino do Liceu desta cidade. Também foi Escrivão interprete da Estação de Saúde e Redactor do antigo rDiário Populars, tendo colaborado no *Diário da Madeira*. *Diário de noticias^, *Almanaque de Lembranças Madeirenseo e noutros periódicos madeirenses. Seguiu a carreira diplomática, tendo prestado serviço no Ministério dos Negócios Estrangeiros e foi ùltimamente. ~ o n s u Geral l de Portugal, na cidade do Rio de Janeiro. Publicou, em 1922, um livro intitulado, 4Da Pátria e da Escolas. Dedicou-se, também, à poesia, na mocidade, tendo composto aos 18 anos a seguinte poesia que reproduzimos do ulhário de Notíciasn, desta cidade, de 24 de Julho de 1898:

As viuvas Ó figuras de triste estatuária,

Pálidas c benditas, colossais ; Que-aos túmulos a dor gesticulais E em ais de saudade tumultuária; Entre as constelações de fulvos soes Almas em voo, no céu azul da crença, Sois coroadas na eterna sentença De dor infinda, luminosa, atroz. . .

A Virtude na terra do pecado, Vos ergue do pó : bendiz e redime Para os futuros destinos do Criado;

O mármore da vossa dor sublime, Num gesto de pedra, divinisado ;

Um esplendor. invoca que ilumine. . .


Augusto Correia de Gouveia (A. Correia de Gouveia) 1880

Nasceu na freguesia da Fajã da Ovelha, a 7 de Novembro de 1880. É filho de João Correia de Gouvcia e de D. Rosa Correia de Gouveia e irmão do Professor, Dr. João Augusto Correia de Gouveia e do Dr. Cícero Correia de Gouveia, funcionário do Governo Civil do Funchal. Tem o 4.0 ano secundário do Seminário Diocesano desta cidade. Esteve em Paris, Londres e nas Ilhas Canarias. Embarcou, em 1913, para Joanesburgo, África do Sul (Uniáo Sul Africana), onde foi funcionário da Curadoria dos Indígenas Portugueses, na União da África do Sul. Esta Curadoria foi criada e é mantida pelo Governo da Província de Moçambique, que colabora com os indígenas Sul-Africanos, como reforço. Foi reformado em 1943. É Poeta e Jornalista, tendo sido em Joanesburgo, correspondente do extinto uDiário da Madeira*, onde colaborau. em prosa e verso, em 1912 e 1913, sob a rubrica A. Correia de Gouveia: Colaborou, também, no <Almanaque de Lembranças Madeirense..

Aniversário (Na aldeia) Onde vais, oh rouxinol, Manhãsinha, pressuroso ? Onde vais, oh triste rola Com teu canto vagaroso? Onde vais, oh mariposa. Saltitando p'los rosais ? Onde vais, oh passarinho Com teus ternos madrigais? Onde vais, oh pomba mansa, Com pressa cortando os ares? Onde vais, melro saudoso, Que assim deixas os pomares? Onde vais, pastor alegre, Que abandonas o rebanho? Onde vais, nh cachopinha, Depressa. com tanto empenho?


Onde vais, oh leiteirinha Prazenteira, jovial ? Onde vais, oh borboleta, Correndo pelo trigal ? Onde vais, oh noiva linda, Tão çheiínha de flores? Onde ides, todas alegres, Raparigas, meus amores. . . ?

-Vamos todos jubilosos Saudar os anos da Estela: Dar-lhe os nossos parabens E pedir ao Céu por ela.

Fuja da Ovelha. 20 de Agosto de 1912.


Cónego Manuel Gomes Jardim

-

1881 1949

Nasceu na freguesia do Porto do Moniz, a 9 de Janeiro de 1881 e faleceu no Hospital dos Marmeleiros, a 12 de Fevereiro de 1949. Era filho de Manuel Gomes Jardim e de D. Delfina Esmeralda Câmara Jardim. Cursou o Seminário Diocesano do Funchal, tendo-se ordenado de Presbítero, em 1904 e licenciou-se na Pontificia Universidade Gregoriana, de Roma. Foi nomeado Cónego da Sé do Funchal, em 1921 e foi Professor do Seminário e da Escola Industrial e Comercial, desta cidade e Director da uVida Diocesanan, cuja publicação se iniciou a 4 de Julho de 1921. Foi considerado como um dos maiores Teólogos Portugueses. Sofria de uma profunda neurastenia, tendo estado algum tempo internado na Casa de Saúde do Trapiche. Colaborou no rDiário de Noticiasn, $Diário da Madeira*, ufornal .da Madeiran, uEco do Funchaln, revista ~Esperançan,<Almanaque da Madeira*, etc. Publicou as seguintes obras : <Sermão do Santissimo Sacramento*, Funchal, 1912 ; uOra~ãoFúnebre nas exéquias de S. Pontífice Pio X, proferida na Catedral do Funchal, em 2 de Dezembro de 1914~.Lisboa 1915; uRegra da Ordem Terceira de N o l a Senhora do Carmon. Funchal, 1918 (Tradução); uOficio Pequeno de Nossa Senhoras. Funchal, 1921. (Tradução); uA Legalidade do Decreto 12.514~.Funchal, 1928; *Sobre a Santíssima Virgemn. Funchal, 1931; <As Razões do Protestantismo*. Funchal, 1931, 1.0 vol,; *A Aurora da ~edençãon.Funchal, 1931; uA Existência de Deus à Luz da Razáo e da Ciência*. Funchal, 1934; uOfício Pequeno da Santíssima Virgem Maria. Funchal, 1935; +A Igreja e o Protestantismo~.Funchal, 1940, 1.0 vol. Funchal, 1944, 2.0 vol. e +Jesus Cristo e os Seus Inimigoen. Funchal, 1947 e proferiu as seguintes conferências: +As Igrejas e as ciencias naturais*; aA História do Culto de Nossa Senhora na Madeira* e +Teorias e elevação do amor*, proferidas, respectivamente, nas aAssociaqões Católicas do Funchal, a 25 de Maio de 1925, idem a 2 5 de Março de 1942 e no tAteneu Comercial d o Funchaln, a 29 de Julho de 1943. Estas conferências não foram dadas a estampa.

A Senhora de Fátima Se eu tivesse a pipilar O génio da poes'ia, Parece-me que seria Qual avezinha dos prados, Que enche dos seus trinados O céu, a terra e o dia; Assih me consagraria A cantar a toda a gente, Qual passarinho contente, Os louvores de Maria.


Mas génio suficiente Haverá na terra e céus, Que bem saiba poetar A glória da Mãe de Deus?! Do Pai é a Filha niais bela,. E é digna Mãe do seu Filho ; Tão humilde e casta era Ela, De tal mimo, graça e encanto. Que veio pedir-lhe a mão O Divino Espírito Santo.

Oh flor tão linda de amor, Com as raizes em Deus ! Ela, a escrava do Senhor, Excede os anjos dos céus! Pois fê-la o céu tão mimosa, De Deus Mãe, Filha e Esposa, Assim três vezes divina Cheia de tanta beleza, Que só lhe faltava ser Divina por natureza.

Toda a perfeiçáo de Maria Espelha-se em seu amor; Não tem defeito essa flama ; A Deus e aos homens Ela ama Co'o mais fino e puro ardor. Nela é só dedicação A vida do coração. É nobre, santo e puríssimo, A Deus todo consagrado, Coração i maculado.

A nossa Cova da Iria Há poucos anos desceu, E falando português Avisos, lições nos deu. Escolheu a Portugal, Moribundo então em fé, P'ra junto da Santa Sé. Dizer que Jesus queria Todo o mundo consagrado Ao Coração de Maria.


Já outrora o céu te armou,

Oh meu Portugal ditoso, P'ra Cavaleiro da Cruz. Vencendo, da Fé, a Luz, O mouro voluptuoso. Quiz-te, ainda, p'ra levares A fé a gentes distantes, Navegando ignotos mares, Descobrindo novas estrelas, Nas asas das tuas velas.

Nova honra e ufania Tens agora, ó Pátria minha, Pois tua antiga Rainha Nova missão te confia. Na Fátima, já famosa, Esperando em teu valor, Convidou-te, o seu amor, Imerecida honraria ! P'ra seres missionário Do Coração de Maria.

Ergue-te, ó velho guerreiro. Faz-te na fé instruido, Da Virgem o mensageiro; E ensina áo mundo perdido, Já não segredos dos mares. Já não os rumos dos ares, Mas profunda teologia, O imenso amor de Maria, O Evangelho tão mal visto. .. Conquista o mundo p'ra Cristo.

Poema Em tudo que alvorece há um sorriso d'esprança, Candura imaculada ! !...

E quer seja na flor, quer seja na criança Sente-se a madrugada. Quando, como um aroma, o hálito da infância Passa nos lábios meus, Vejo distintamente encurtar-se a distância Entre a minha'alma e Deus!


Jaime, Sanches Câmara (Jayme Câmara)

Nasceu no Funchal, a 13 de Março de 1881 e faleceu a 24 de 1)ezcmbro de 1946. Era filho de José António da Câmara e de D. Helena Celisa Gomes Câmara e irmão do Poeta Abel Câmara, funcionário da extinta $Junta Agrícola da Madeiran, também já falecido. Foi ajudante do Conservador do *Registo Predial do Funchal* e Poeta de requintada inspiração. Cantou as lendas e as belezas da nossa terra, em imagens plenas de colorido, de ritmo e de expressão. As poesias que reproduzimos, seriam suficientes para consagrarem o seu autor, se Jaime Câmara. uo suave cantor dos Evangelhosn-como lhe chamou o Poeta Feliciano Rodrigues-náo fosse já, de facto, um dos nossos Poetas consagrados. Foi co-Director do *Almanaque de Lembranças Madeirenses, e publicou os seguintes livros de prosa e verso: $Poema Antigos. Lisboa, 1907; cisátiran (O Funeral do Ciriaco). Funchal, 1910; 4 0 Ruço*. Lisboa, 1914; @CantoPagão$; aJúnia~Episódio de tragédia), Lisboa, 1918; uFrutos*. Funchal, 1920; *Carta em Prosan. Funchal, 1921; uAuto dos Vilões,, Funchal, 1926 e 1927; qEstela9. Funchal, 1926; csPoemetos da Ilhas. Funchal. 1929; $Ensaios Etnográficosr. Coimbra, 1931: uDe San Lourenqon. Funchal. 1932: uSenhora da LUZ*.Funchal, 1938. etc. e deixou algumas obras inéditas, entre elas rNovos Poemetosr e 4 0 Codicilo~(ao testamento da velha). Peça teatral em verso levada à cena no Teatro Funchalense, na Festa da uMicaremea, a beneficio da uAssociação dos Estudantes Pobres,. a 22 de Março de 1911. Colaborou, largamente, na imprensa local, nomeadamente no *Diário da Madeira*, uDiário de Noticias*. $Almanaque da Madeiran, *Almanaque Lembranças Madeirenseo, e no Continente, na ilustração Portuguesa*, revista ~Renascençan,~AlrnanaqueBertrandn, etc. Foi agraciado com o grau de oficial da Ordem de S. Tiago, como galardão aos seus reconhecidos méritos literários.

A Columbrina <Fé$ Poesia dita na festa oferecida pela «Crusada das Mulheves Portuguesas» d Guarnição Militar da Madeira.

Barbacã medieval. A colubrinas: Fén, Subposto o aguião à paz das calmarias, Féz da alma cansada e velha, como é, -Um ninho onde amanhece a voz das cotovias. Vira, no alto mar, as naus santificadas, Quando Islam desferia a asa de falcão! -Cruz de malta sangrando em velas enfunadas,


-Adagas reluzindo ao fundo do porão. E hoje vive ali, numa estreita aliança De luz glorificante e àtamos de pó. -Freme se lhe tocou a mão de uma criança, -Reflecte a mansidão de condoída avó.

Pela montanha estruge. ecoa pelo vale, O toque do clarim, (a citara guerreira.. .) Nasce o dia: há clarões de aurora boreal De novo alumiando as dobras da Bandeira. Desfêz-se, esfarrapada, a núvem de Kibir . . Inflorece a brancura, alpina. das cecens. Alinham-se esquadrões: soldados vão partir.. . Chora, devagarinho. o coração das mães.

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-

A colubrina uFé,>, na esconsa barbacã, Tenta, baldamente. um gesto de surpresa. Que haverá?. . . O clarim acorda ante-manhã A perfumada flor da ulma portuguesa. - Faisca dos pelotões aciitilado gume -Há na voz (acerada) iiiflexões de metal. Um revérbero de glória, aceso vagalume, Bruscamente ilumina o céu de Portugal.. . E então a colubrina, há muito embrandecida, Flagela como o deus de uma invencivel xátria. .. - Arremessa o pelouro, a esfera incandescida, Em defesa da Pátria!

-

Na Vinda de Sua Excelência, o Senhor Presidente da Raptiblida, Dr. António José de Almeida.

Oirescências de Luz. Fanfarra em que se adestra A voz do sabiá nos trilos da Paixão. Revérberos de Sol. . . Há matutina orquestra Da Cidade aos confins umbrosos do sertão. Como outrora tupis. ornados de cocar, Em doce placidez. em candura infantil. Nas portuguesas naus dormiam sobre o Mar, Descança Portugal nos braços do Brasil.


Clangoroso retine o som das charamelas, Sob o alísio vento arfa e canta a Auriflan~a. -Desfere Portugal de novo as suas velas. -Tocam tubas de prata o haleli da Fama.

A Guanabara azul é lago de bonança Nos morros da Manhã tem edénico brilho,

E Portugal sorri e velho avô descansa Como descansa o Pai no coração do Filho. n Amor, dedicação divina da c e g ~ha, Sob o vivo raiar dos lumes do Cru~eiro..

O Portugal da Fé, devagarinho sonha, Sobre a alma fiel do povo brasileiro. Uma noite, partiu., . O sabiá sequestra A melodia de oiro. os trilos da paixão. Elegias, luar.. . Cala-se infim a orquestra Da Cidade aos confíns umbrosos do sertão.

E Portugal voltou, em seu triunfo alado, Fendendo o alto Mar em longa singradura.

E' sempre o mesmo herói, marinheiro e soldado. Aliando a Ciência aos estos da Bravura !

Em sua rota cinge a Ilha da Madeira Nas cadeias subtis de um amplexo leal.

E ela, a mais louçã e mais branca roseira,

-Beijando-Vos. Senhor, -

Oscula Portugal !


Teodorico Augusto Campos 1881- 1922 Nasceu na freguesia da Ponta do Sol, por 1881, e faleceu no Funchal, a 1 de Julho de 1922. Era filho do Dr. António Augusto Freire Ribeiro de Campos que, em 28 de Abril de 1876, inaugurou a Comarca da Ponta do Sol, e de D. Teodora da Conceição Campos, e pai de Vasco Florentino Mendes Campos, antigo sub-chefe da Corporação dos Bombeiros Madeirenses, e proprietário da {(Alfaiataria Campos*, desta cidade, e co-Director do periódico $0Bombeiron e autor dum livro intitulado, uO Bombeiro Madeirense e a sua História*. Funchal, 1960. Foi compositor tipográfico do *Diário do Comércioa, <.Diário Popular* e editor e redactor do extinto uHeraldo da Madeira*, tendo colaborado nestes jornais e na *Revista Literária*. Também se dedicou à poesia. Da *Revista Literária*, de 21 de Dezembro de 1902, reproduzimos os seguintes versos:

A uma criança Porque ris, loura criança ? Porque vives tão contente ? E' porque só tens bonança Na tua vida inocente? Por certo; pois se soubesses Neste mundo com certeza Encontrar nele tristeza, Talvez viver não quizesses ! Oh ! como tu és ditosa No teu viver inocente! E's tão feliz como a rosa Que sai do ramo pendente. Tu vives sempre cantando A tua infância querida; Eu vivo sempre chorando Desventuroso na vida.


Amadeu Bettencourt Mimoso (Amadeu Mimoso) 1881

Nasceu na freguesia de São Pedro, desta cidade, a 1 de Junho de 1881, E' filho de João José de Bettencourt Mimoso e de D. Maria Benvinda Pereira, e irmão do falecido Poeta e Jornalista Vasco de Bettencourt Mimoso. Frequentou até o 4.0 ano o Liceu Nacional do Funchal. Encontra-se. actualmente, no Continente. Desde muito novo que começou a colaborar em vários jornais desta cidade. tais como: aDiário da madeira^, uDiário de Notícias* e uTrabalho e União$. No Continente colaborou no *Portugal Continental, Ultramarino. Comercial e Industrial*, uTemplos, Cruzeiros e Alminhas*, etc. Publicou um livro, intitulado : $Na Ilha dos Sonhosn. Lisboa, 1954, e tem inédito os seguintes livros: uRosário de Opalaso. uRaios de LUZ*,uExaltação à Madeira*, uFlores da Alman (Prosa e verso), aOndas Bravasn e <<Almasde Lama*. E' autor do uHino Exaltação à Madeira, Canção de Saudade e Amorn, que foi executado pela primeira vez na &asa da Madeiran, em Lisboa e do Soneto uFiat LUZ$,composto no *Solar do Alferes*, Fontes, Santo António do Funchal e publicado n' 6 0 Jornal*, em 24 de Novembro de 1935, que a baixo reproduzimos:

Fiat Lux Rasgou-se o véu que me encobria a luz Da vastidão de Deus --grande, infinita ! Não mais duvidarás minha alma aflita Da Sempiterna Mão que te conduz ! . . .

Adora alma imortal. Cristo -Jesus Que veio difundir a luz bendita De novo, te convida, impele, incita A Cruzada da Paz, do Bem e da Luz!

Amparai-me Senhor ! Dai-me energia, Inspiração à minha pobre mente, Animai esta voz velada e ftia!

-

Meu Pastor : Creio em Deus Justo e Clemente ! Peço-lhe Paz, Amor, Santa Harmonia! E p'ra a Madeira a Graça eternamente.

-


Exaltação à Madeira (Hino de Amor e Saudade) I Orgulhas os madeirenses Querida Ilha da Madeira. A todos nós tu pertences. 0' minha terra fagueira, O estrangeiro te visita Com afeição sacrosanta. E como te acha bonita O oceano te fita Com amor que tudo encanta. 111 Numa lenda tu nos dizes Que dois jovens sedutores, (*) No amor foram felizes, Na tua fonte de amores.

IV Formosa em todo o sentido Tu és e tens singeleza ! O Jardim mais bem florido Criado p'la Natureza,

v Por seres noiva do mar O teu véu tem luzimento; Quando aparece o luar Mais te vem embelezar C) teu lindo firmattiento. VI E's filha de Portugal. De todas és a primeira. -Erguida num pedestal Minha adorada Madeira. ESTRIBILHO (Bis) Querida Madeira Contens encanto Hospitaleira E's sem rival. 0' minha Ilha Por isso te adoro tanto ! E's uma estrela que brilha Neste lindo Portugal. (') Roberto Machim e Ana de Arfet.


Alberto Figueira Jardim 1882

Nasceu no Funchal, a 10 de Abril de 1882. E' filho do Dr. Nuno Ferreira Jardim e de D. Isabel Longston Figueira Jardim e pai do Dr. Miguel Ferreira Jardim, Alberto Nascimento Jardim e do Escritor Ricardo do Nascimento Jardim, (Ricardo de Pontever). E' formado em Direito e Letras, pela Universidade de Coimbra. Foi Professor efectivo do Liceu do Funchal, encontrando-se, actualmente, aposentado. Desempenhou várias comissões de serviço público, tais como: Vogal da Junta Geral do Distrito; Presidente da Comissão Executiva da mesma Junta; membro da Câmara Municipal do Funchal; Juiz Substituto desta Comarca, etc, e foi Presidente do Juri dos Jogos Florais da Madeira, de 1946. E' um distinto literato, autor do opúsculo, em língua inglesa, publicado em Lisboa, em 1914, com uma introdução do General J. 1 de Brito Rebelo, intitulado uMadeira. the of the Atlanticn e do livro de poesias, intitulado ~Amostrasn, publicado no Funchal, em 1915. Referindo-se a esta obra poética, disse a Critica: ré uma preciosa colecção de poesias, em diferentes géneros, em que a forma sui géneris sobreleva, por vezes, as regras mais apertadas da arte poética. Alguris versos, todos eles acusando um certo cunho literário, que faz o encanto do leitor-são repassados da mais fina, da mais leve ironia.. .5 Publicou mais os seguintes livros:eGdlatean. Fibula trágica, em 2 actos. Funchal. 1920; *O Poema de Ornar Khayyamn. Coimbra, 1932; uThe Climat of Madeiran, 1938: aMandólian Resumo histórico-descritivo do Jogo de Guerra Mandolense. Funchal, 1956: %Estudossobre Literatura Inglesa. Funchal, 1958, (1.0 vol.). Funchal, 1960 (2.0 vol.) e #As Artes Modernas e o Conceito do Belon. Funchal, 1960, e tem inédita, uma peça teatral, em 2 actos, intitulada uHonran. Colaborou no <<Diárioda Madeira$, &Diáriode Notíciasn, Paris-Notícias, Revista Esperança, Revista Labor, eAlmanaque do Diário da Madeira*, &Almanaque de Lembranças Madeirensen, 4Revista Biblos~e no livro, rIn Memorian do Dr. João Francisco de Almada*. Funchal, 1943. Figura na #Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira%e faz parte da #Sociedade Portuguesa de Escritoresn.

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Alvorada Clássica Um v60 de pombas em redor do columbário, Estremecimento alvo d'asas na manhã, Proclamam na colina onde almeja o santuário A aurora já desfeita em palidez louçã. Nos loureiros sacros do bosque solitário O vento vem silvando uma canção pagã, E as águias pairam sobre o monte legendário Que sepultou outrora o infeliz Titan.


Como um feixe luminoso que a onda apaga, Mergulha no abismo a sirena noctivaga, Enquanto Febo doira o mar engazador,

E na praia escura, entre os mastros e as querenas Há abafadas vozes, surdas cantilenas, E invocações aos numes do navegador.. .

Gala tea (Excerto) Não blasfemos ! Receia a cólera da Parca ! Meu coração anda como uma frágil barca, Lastrada de cuidados, sobre um mar de sustos.. . Aqui mesmo, inda há pouco, entre os troncos adustos Destas grandes árvores, todas tão silentes, E graves, com seu ar de velhas confidentes, Conhecendo coisas dos tempos já fugidos E do meu futuro os segredos escondidosAinda a pouco, ouvindo, no esquecimento calmo Do sagrado ritual; que a distância diluia, Julguei estar ouvindo (inexplicável dor !) Cantada para nós. a fúnebre elegia Do nosso próprio amor ! . . .

Moldura Olhámos o mar que adormecia, lento.. . Nem um sopro no a r . . . Suspensas as derrotas Que singravam no azul, as núvens eram frotas Ancoradas num porto imenso, o firmamento . . . Passavam sobre nós, aos bandos, as gaivotas, -Asas que o sol doirava apenas um momento Nos seus gritos de dor, que fundo desalento, Que saudades, talvez. ou que mágoas ignotas ! . . .

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Era de âmbar o céu, e de velho marfim, E o sol tornava o oceano um lago carmezim.. . E a beleza da tarde era um milagre vivo.. .

Mas todo este esplendor, tão cheio de doçura, Não era para mim senão uma moldura Do teu rosto ideal.. . e triste.. . e pensativo.. .


Uma Voz Hoje o céu é soturno e triste e o mar sombrio Como um vastíssimo e tristíssimo paul Ao anoitecer; sopra um vento agreste e frio, O vento bravo, o vento trágico do Sul.

Que naufrágios trará na alma? Que arrepio De desespero faz que tão sinistro ulule. A luz do sol mortiço. irreal e doentio Como há-de ser o sol fantástico de Thule?.. . Esta voz vinda de longe.. . Oh, enquanto a escuto Sei o que diz o seu gemido ininterrupto Uma palavra só, sempre uma só : jamais ! . . .

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Por isso sei que vem do país dos sonhos mortos, E a saudade que põe os olhos teus absortos E' dessa Thule donde nunca voltam mais. Inédito.


Noé Lucas Gomes 1882-1956

Nasceu na freguesia de São Pedro, desta cidade, a 18 de Outubro de 1882 e faleceu a 1 de Janeiro de 1956, no uAsilo dos Velhinhos Dr. João Abel de Freitasn, instalado no aLazareto de Gonçalo Airesn, onde se encontrava internado. ~hfilho de 'José Gomes Arnaro e de D. Augusta Catarina Gomes. Foi proprietário de uma tabacaria, situada na Rua de João Tavira. Dedicou-se ao Charadismo e à Poesia. tendo escrito um volume, com cerca de 900 quadras populares, na sua maioria, sobre motivos madeirenses. Escreveu, também, um grosso volume, de versos, em que se ocupou de tudo: história, costumes, política, factos, acontecimentos, religião, etc. uA sua cultura-disse S. X., autor de uma secção de 4 0 Jornal,, intitulada uO meu cantinhon limita-se, apenas, à instrução primária. Mas leu todos os livros, jornais e revistas que poude alcançar. Escreveu os seus poemas sem o auxilio, sequer, de um dicionário. que não possuia, ignorando o significado de certos termos, empregou-os por intuição às vezes sem propriedade,, De uO Jornal*, de 3 de Setembro de 1950, reproduzimos os seguintes versos:

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O Mundo E' esfera andante Nesse berço embalante Em seu giro no espaço, A rodar num engano Todo o género humano Em seu confiante falso.

E' mundo falaraz Que não vê o mal que faz Lavrando sentença, Remexendo múmias, Levantando calúnias Na maior indiferença. M.entir é seu agente, Ralos, mostram os dentes, Sempre a dar a volta à tranca. E num vesgo sabujo Só notam o mais sujo Na roupa que é mais branca.


E' um mundo que estiola Em má laia de graçola De maldoso e requintes. Sem terem de proveito Não olham ao seu defeito, Da razão não são ouvintes. Neste mundo, pombal De gente tão mortal, Na morte e já sem luzes, Levam flores de lenda Por não haver i venda Capelas de virtudes.


Vasco Colaço de Bettencourt Mimoso (Vasco Mimoso)

Nasceu na freguesia de São Gonçalo. a 27 de Dezembro de 1882 e faleceu na casa de sua residência, situada ao Caminho da Rochinha, freguesia de Santa Maria Maior, a 21 de Julho de 1952. Era filho de João José de Bettencourt Mimoso e de D. Maria Bemvinda Pereira e irmão do Poeta e Escritor Amadeu de Bettencourt Mimoso e neto do Comendador, General Alexandre César Mimoso, 1.0 Visconde da Casa Branca. Frequentou o Liceu desta cidade e a extinta uEscola Médico-Cirúrgica do Funchaln. Foi funcionário da extinta <Junta Agrícola da Madeiran e era, à hora da sua morte, funcionário aposentado da @JuntaGeral do Distrito do Funchal*. Foi formado em ciências psicológicas, pelo *Instituto Nacional de Ciênciasn, de Londres e foi discípulo de La Quadra e Cervera. Lecionou Desenho e Pintura e executou retratos a óleo, pastel e crayon. Foi Presidente da usociedade de Camões*, aa Madeira e Director do jornal uA Regeneração)) e do jornal humorístico uA Chacota*. Colaborou, em prosa e verso, nos jornais: uUiário da Madeira}),oDiário de Noticiasn, uO Progressoa, uO Povon, uO Jornaln, aA Tribuna$, *Correio da Noitew, <<Novidadesn,aPortugaln, rLuz e Verdade* etc. Usou diversos pseudónimos. Publicou os seguintes livros: *Esperança e Luz& Funchal, 1911, uCarta do Cora$80 da Madeiran, uO Céu (onde está Ele?)$ Funchal, 1949; *Das profeciasn. Funchal, S. d. e deixou inéditos os seguintes livros : uliência Actual e. Futura*, uDa Vida à Eternidade*, ucaridaden (teatro), <<AMadeira Sentimentals, uNúvensn e ucardos*, estes dois últimos d e poesia.

Santo olhar Para o Rev.0 Padre Eduardo Pereira. distinto literato, poeta e orador sagrado.

Ó Maria bemdita! Ó virginal criatura! -Alma feita de luz no cálix duma florEu te venero, Mãe, imaculada e pura, Toda cheia de graca aos olhos do Senhor!

Eu te venero, Mãe, ó lirial candura, Na gruta de Belém, irradiando amor.. . Mas amo muito, e muito mais fulgura Teu vulto aos pés da cruz, trespassado de dor.

Tu, Virgem Santa, com o coração ferido Da angústia mais atroz, vendo o filho querido Morrer por ensinar Evangelhos de Luz, Não tiveste maldições para a bárbara gente: -Dos olhos maternais, o mesmo olhar clemente Jorrou. -como no dia em que nasceu Jesus !


A Morte Versos em que o autor diz e que pensa da morte. Fechar os olhos ao mundo Num sono calmo, profundo. Dormir um momento só, Depois despertar mais leve Deixando o corpo que em breve Se vai desfazer em pó. Sentir-se livre da terra Que dores sòmente encerra Como um presídio de horror, Voar ligeiro no espaço Jàmais sentindo cansaço Nem triste sombra de dor.

E' isto a morte. E o humern Que as dores rudes consomem Entre as agruras da sorte, Prefere viver chorando A ser liberto, voando, Ao sono calmo .da morte. E dizer que a morte é triste! No entanto tudo o que existe A morte tem de chegar. Porque temê-la? E' bem certa ! E' a porta da campa aberta Que p'ra Deus nos faz voar!

Deixai-vos de v20 receio, Que a morte conduz no seio A fonte eterna da Vida. Morrer é dormir apenas.. . A alma como as falenas, Encontra no Céu guarida!


Joáo Higiilo de Barros (fiigino de Barros) 1883 - 1941

Nasceu na freguesia d o Estreito de t â m a r a de Lobos, a 11 de Janeiro de 1883 e faleceu, na sua residência, na Rua do Coronel Cunha, a 11 de Maio de 1941. Era filho de Francisco de Barros t. irmão do Escritor Ricardo F. de Barros, autor do livro %ATentação)), e cunhado do Tenente-Coronel, Abel Magno de Vasconcelos. Veio para o Funchal, ainda novo, onde iniciou a sua vida profissional, como funcionário público, desempenhando, durante niuitos aiios. o lugar de fiscal dos produtos agrícolas, passando. em seguida. a situacão de empregado da Firma <(A.Giorgi b Ca.*. onde veio a ocupar um lugar de destaque. Foi sócio-gerente da (Sociedade Mercantil Insular, Leia.)). Fez parte da Câmara Municipal do Funchal, na situação de Sidónio Pais e prestou assinalados serviços a aBanda Municipal do Funchaln (Artistas Funchalenses), como seu Presidente, durante muitos anos, tendo-a tornado. de colaboração com o Capitão Gustavo Coelho, que então a regia, uma das primeiras Bandas d o Pais. Foi durante a sua administração que esta Banda fez uma excursão aos Açores. Quando deixou a Direcção da &anda Municipal d o Funchaln, em 1931, escreveu uin opúsculo, intitulado, uDez anos nos ar tis tas^. Dedicou-se, na mocidade. à Literatura, t e n t o feito parte da Redacção do *Diário Popularn. Foi Director do uDiário do Comércio* e colaborou no <Diário da Madeira)) e $Aimanaque Ilustrado)) do *Diário da Madeira*, e escreveu, de colaboração, o romance: %UmaTragédia na Madeira*. em 1910.

Duas Marias. . . Afaria de face linda Niio me bordes ao mirante; Não tens namorado .ainda, Mos eu jd tenho uma amante.. .

Borda aonde te aprouver, Mas não bordes ao balcão, Porque tu andas, mulher. A bordar-me o coração.. .

Culpa não tens, eu convenho, Das fraquezas dum visinho . . . Mas, bem sabes, eu não tenho Ao alcance, outro caminho.. .


Eu tento sempre passar Sem olhar para o mirante, Mas ainda bem distante, Já nele venho a pensar.. . Maria, faz-me o favor, Não me bordes ao balcão, Que bordas u rp coraqão D e que já não sou senhor. Bem sei que, longe de ti, Só lembro a outra Maria. . . Mas amar também a ti, Isso é coisa qu'eu não qu'ria . . . Maria por Jesus Cristo, Não me bordes na varanda.. . Maria, acaba com isto, Vai bordar pr'a outra banda.. . Qu'eu, Maria. não te veja, N o teu balcão a bordar. . . Meu coração não deseja O da outra atraiçoar. . .

Há uos teus olhos, bonita, Qualquer coisa de profundo . . . Ao fitá-los, acredita, Eu esqueço todo o mundo.. . Como vês, isto, mulher, Não vai bem, desta maneira.. . Se ainda ninguém te quer Eu já tenho quem me queira.. . Pelos círios do altar, Por tudo o que tu mais queres, Não m e faças adorar. Duma vez, duas mulheres.. . Pelos santos ou por Cristo. Não me bordes na varanda.. . MaRa, acaba com isto, Vai bordar p'ra outra banda. . .

Bem sei que. longe de ti. Só lembro a outra Maria. . . Mas, amar também a ti, Isso é coisa qu'eu não qu'ria.. .


Abel Rocha de Gouveia (Rocha de Gouveia) 1883-1948

Nasceu na freguesia do Arco da Calheta, a 6 de Julho de 1883 e faleceu, no Funchal, a 16 de Junho de 1948. Era filho de Manuel Rocha de Gouveia, Professor oficial e de D. Maria Augusta Soares Rocha de Gouveia, sobrinho e afilhado do Rev.0 P.e Rocha de Gouveia, Vigário da freguesia dos Canhas e irmão do Alferes Miliciano, Gabriel Rocha de Gouveia, falecido em França, na Batalha de La Lis e pai de Carlos e Henrique Rocha de Gouveia e marido da Poetisa e Professora de piano, Amália Colares Mendes Rocha de Gouveia e avô da Poetisa Maria Lise Rocha de Gouveia e Abel Gabriel Rocha de Gouveia. . Foi despachante da &asa Coryn, na Alfândega do Funchal e depois, durante longo tempo, funcionário da Associação de Socorros Mutuos u4 de Setembro de 1862%. Na mocidade dedicou-se ao teatro, tendo tomado parte na revista teatral, uCiência Nova$, levada a cena no @TeatroD. Maria Pian, em Outubro de 1909. A propósito da sua actuação nessa revista, disse então, o @Diáriodo Cornércioa: rRocha de Gouveia evidenciou aptidão muito aproveitável para a cena: Aquele Vilao a três quartos de bebedeira, com pretenções a sobressair no bailado da romaria (que talvez passasse despercebido) foi um verdadeiro primor, não sendo possível copiar com mais integridade um tipo assim tão curiosamente singular, e que. apesar de inconfundível, nem sempre é fácil de descobrir nos ranchos de viloada que se diverte cantando, bailando e bebericandon. Escreveu para o teatro e foi um dos autores do romance, <Uma tragédia na Madeira, publicado em 1910. nesta cidade. Dedicou-se também, à floricultura. Colaborou nos extintos %Diárioda Madeira e «Trabalho e União$, assinando os seus trabalhos literár'ios com a rubrica de Rocha de Gouveia. Deixou algumas produções poéticas inéditas, das quais reproduzimos as seguintes

Todos falam d'amor, mas quando eu ouço Dele falar, atribui-lo a alguém, Tenho a impressão de que sòmente eu posso Saber o que é o amor,-e mais ninguém.

Lânguidas horas, tépidos momentos, Aqueles que passei contigo, quando Sonhávamos vi ver sempre sonhando No céu azul dos nossos juramentos.


Montanha de Suplícios Montanha de Suplícios, escalvada. Cada fragiia lima dor, eii vcu em meio O h viagem tornieiitosa e igiioradn ! Onde ides, minha vicia, e m cioido anceioJ Montanha de Suplicios, neura fada Me espera iio teu cume. ~ ' a Morre. Etu leio No falso olhar a ância angiistiada De me abrigar bem cedo no $eu seio. Montanha de Suplicios, quando um dia Chegar ao alto cimo da Agonia, Que os meus olhos repousem de mansinho, Nos olhos do meu anjo, o meu amor. Para que eu sinta ainda algum calor Quando a minha alma me deixar sòsinho.

Soneto Eu bem sei, eu bem sei que não devia Render-me à tua graça. Eu bem conheço Quantos remorsos hão-de ser o preço Destas horas supremas de alegria. Mas a vida, afinal, é sempre o dia Que vai passar. E o bem que eu desconheço, Se fosse o que desejo. o que estremeço, Nem o sonho maior o sonharia.

De tão eterno, igualaria a morte ! . . . Por isso eu quero, em meu abraço forte. Ter a ilusão que foge, e que me encanta ...

-Que me importa, depois, que venha a dor? Bastam as cinzas quentes deste amor Para abafar os gritos da garganta !


Raquel B m v i n d a Correia de Aguiar 1883

Nasceu na freguesia do C a n i ~ o a, 7 de Julho de 1883. E' filha de Angusto de Ni~brega de Aguiar e de D. Júlia Adelaide Correia de Aguiar e cunhada de João Firmino Fernandes, Pintor de Arte e restaurador de Igrejas e de Jose Nicolau Pereira, inspector. na Madeira e Açores. da Casa uSingerh e prima do Poeta Rogerio Correia. Desde os cinco anos de idade. separada de seus pais, que a internaram no extinto &Colégio Cabedon, profunda melancolia se apoderou da sua alma, traduzindo-a em poesia, segundo nos confessou. Reside. actualmente, em Lisboa, em companhia de sua sobrinha, D. Antonieta Pereira. Professora de piano, diplomada pelo Conservatório de Música de Lisboa. Colaborou no extinto uDiário da Madeira*. Eis uns versos inéditos da sua autoria. que teve a gentileza de nos enviar.

Evocação Ao nmigo losé Teixeira Iútiior.

Igreja de Santa Clara. Teus sinos são melodias. Com deleite os escutava Ao toque dlAvé-Marias. Toda-vestida de branco, Envolta pelo luar, Parece noiva de lenda Subindo para o altar. Sua torre magestosa Olha sempre o horizonte. DOS sinos, se a voz ecoa, O Nauta descobre a fronte. Mãos de freiras piedosas, Tangeram, na solidão, A Legenda da saudade Que trago no coraçáo. Longe do berço da infância Da minha Ilha ridente, Inda ecoa a voz dos sinos Na minh'alma, ternamente.


A Moleirinha Enquanto a moleira canta Ternas canções ao luar, Lá vão as mós do moinho A girar, sempre a girar, E as aguas prateadas, Na levada, a deslizar. Quantos segredos lhe diz, Gratos ao seu coração, A água que faz andar O moinho em turbilhão, Que no seu girar constante Reduz em farinha o grão. Enquanto o moinho gira, Ela dá por terminado, Numa toalha de linho, Um artístico bordado Com que cobrirá a mesa, No dia do seu noivado. Em que pensa a moleirinha? O que a faz divagar? -Vê-se vestida de branco, Sobe os degraus do altar. Para o seu bouquet de noiva, À Virgem ir ofertar.

A sua gentil cabeça Ostenta um belo toucado, Que deixa ver o seu rosto Finamente emoldurado. Tal e qual a moleirinha O tinha delineado. Quem me dera ser moleira, Andar sempre enfarlnhada, Ouvindo, constantemente, Os murmúrios da levada E p'las frinchas do postigo Ver surgir a madrugada.


Manuel da Costa Dias (Costa Dias)

Nasceu na freguesia da Ponta do Pargo. a 18 de Outubro de 1883 e faleceu em Lisboa, no Hospital da Estrela, a 26 de Julho de 1930, vitima de bronco-pneumonia, no posto de Major da Administração Militar. Era filho de António da Costa Dias e de D. Maria Izabel da Costa Dias e irmão de D. Maria Isabel da Costa Dias, Professora oficial aposentada. Começou os seus estudos no Seminário do Funchal e embarcou, depois, para o Brasil. onde esteve algum tempo. Regressou à Madeira e matriculou-se no Liceu Nacional desta cidade, onde concluiu o respectivo curso, em 11 de Julho de 1900, matriculando-se, depois, no ulnstituto Industrial e Comercial do Porto%,onde concluiu o respectivo curso. Em seguida foi admitido na Escola do Exército que frequentou com a maior aplicação. Concluidos os seus estudos militares, prestou valiosos serviços em África, tendo, depois, representado a Madeira, no Parlamento, na Sessão Legislativa de 1915 e 1917. Foi promovido a Alferes em 15 de Novembro de 1909, a Tenente, em 1 de Dezembro de 1910 e a Capitão em 23 de Setembro de 1916. Em 1917, partiu para os campos de batalha de França. Foi, depois, Lente da Escola de Guerra, lugar que desempenhou com a maior competência. Foi condecorado com as Medalhas de Campanha em África e Flandres, de Bom Comportamento, de Bons Serviços, dos Aliados, de Solidariedade, do Panamá, Cruz de Guerra, sendo, também, Comendador das Ordens de São Tiago, Avis e Cristo. Escreveu os seguintes livros: <Campanha contra Soulte, em 1809%;uAs subsistências do Exército aliado Anglo-Luso* Lisboa, 1909; uColonizaçáo dos Planaltos de Angola%, Lisboa, 1913; <Guerra Peninsular. 1808-1811%:<AdministraçãoMilitar*,Lisboa, 1918 e uFlandres*, 1920. Quando estudante do Liceu do Funchal, redigiu o jornal, uO Democratar e colaborou no «Almanaque da Madeira*, <Revista Militar%,*Revista Literária*, uDiário da Madeira*, <Almanaque de Lembranças Madeirenseh, etc. Também se dedicou a poesia. Da *Revista Literárias, de 14 de Dezembro de 1902, reproduzimos o seguin.te soneto :

Ninhos vastos D'andorinhas os bandos tão cerrados Ontem passaram, da janela eu vi-os; Correndo iam, fugindo aos invernios, Da primavera eternos namorados.


Além, ficando vão abanclonados 0 s ninhos esquecidos. tso vasios Que nos infunde ci6 vê-los aos frios E vendavais, expostos nos te1Lados. Quando vos vejo nléni, no céu passai~do De revoada, em vi\?a confusão. Logo o pranto m' acode soluçaiiclo

Pelos amores meus, doce ilusão. . Partiram como vós, assim deixan~io Um ninho em mim deserto-o coração. Poriia do Purgo -1901.


Alfredo de França (Abel Moreno)

Nasceu na freguesia do Faial, a 14 de Delembro de 1883. É filho de Alfredo Abel de Franca. Cursou o Liceu do Funchal e a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, não chegando, porém, a tomar o grau de Bacharel. É funcionário do Ministério das Colónias, Redactor dos jornais r 0 Séculor e u A Manhã%e colaborou n' uA Rèpublica*, uHeraldo da Madeirao, *Diário da Madeira,, asempre Fixen, uDiário de Notícias*, do Funchal. #Almanaque de Lembranças Madeirensen, uRevista Literária*, etc. Usa o pseudónimo de Abel Moreno. É Poeta de reconhecido mérito. Publicou os livros: uPoema Rubro*. Funchal, 1903; uCaimn (Poema). Funchal, 1905: uA Imagem*. Coimbra, 1906 (Episódio em verso, levado a cena, pela primeira vez, em o Teatro Príncipe Real, de Coimbra, na noite de 15 de Dezembro de 1906, obtendo o merecidíssimo aplauso do ilustrado público daquela cidade); uO Pagemn. (Versos recitados por Araújo Pereira, na festa artística, na noite de 26 de Janeiro de 1907). Coimbra, 1967; upaneleidaa. Lisboa. (Poema Herói-Cómico, acerca dos paineis de São Vicente de Fora). S. d. e tem inéditos : a 0 Cofre*, uMusa Gaiatar e usaudades das Saudades*.

O Lenço da Yá-yá Tem um lenço de seda com matizes Na sua mão calçada de brilhantes, Confidentes d'amor, drhoras felizes Em que a Yá-Yá recebe os seus amantes. É unb lenço de valor que sabe histórias I[)'amantes, de rivais, e de barões, Sabe coisas d'amor bem ilusórias E contos de duelos e paixões!

É um lenço sem rival que tem ouvido AS noites de luar mais sonolentas, Serenatas reais d'El-rei Cupido E pelo boudoir passadas lentas. Acompanha a senhora em seus passeios Prra onde quer que vá, Ou no calor suave dos seus seios, Ou na mão faiscante da Yá-Yá.


Tem uma cor azul de tal finura Que faz lembrar a cor d'aquelas veias Que lhe sulcam da perna a doce alvura E se vêm atravéz das finas meias. É um lenço de tal cor, de tal beleza, E tão fino e gracioso o seu matiz. Que ofusca o brilho e cor duma turqueza E as opalas reais da Imperatriz.

É um lenço tão feliz, que suavemente, Quando chora a Yá-Yá Sorve o seu pranto amargo e unicamente, Pode chegar-se lá !

Ouve a Yá-Yá falar dos amores, D'aventuras felizes e amarguras, Das suas alegrias, suas dores E de todos os bens e desventuras. Tem-na visto no leito tanta vez, Serenamente ali a arfar, a arfar, Naquela linda e morna languidez Depois dum sono bom ou a sonhar.

E o lenço anda com ela eternamente Porque a Yá-Yá o não pode abandonar ... Foi do primeiro amor, foi dum doente Que também se lá foi a arfar.. . a arfar!


Cónego Fernando Carlos de Menezes Vaz (Carlos de Agrela)

Nasceu na freguesia de Sant'ana, a 1 de Fevereiro de 1884 e foi baptisado na vila de Santa Cruz, pelo que as duas freguesias disputam a sua naturalidade, e faleceu, no Funchal. a 26 de Maio de 1954,110 Hospital dos Marmeleiros, de onde foi Capelão. Era filho do Poeta António Joaquim da Cruz Vaz. natural de Valença do Minho, antigo Secretário da Câmara Municipal de SantrAna, e de D. Maria Matilde Pereira de Menezes Vaz, natural da vila de Santa Cruz, e irmão da freira Maria da Eucarestia, no século, Maria Amélia de Menezes Vaz, ex-Directora do uColégio da Apresentação de Maria* e bisneto materno do Genealogista. Morgado João Agostinho Pereira de Agrela e Câmara. Cursou o seminário do Bom Despacho* e foi ordenado de Presbitero, em 1 de Janeiro de 1909 e, no mesmo ano, foi nomeado Cura de Sáo Gonqalo e Pároco do Caniçal, onde paroquiou treze mezes. Em 1 de Abril de 1910, foi-lhe passada carta de Cura do Porto da Cruz e quatro anos depois, em 1914, foi-lhe passada carta de Pároco da mesma freguesia e foi nomeado sub-chantre da Sé Catedral, em. 1925 e Cónego Capitular, em De~embrode 1929 e apossado em 1 de Janeiro de 1930. Foi Compositor de trechos sacros. Muitos dos seus trabalhos são executados em vários templos da Madeira. Dedicou-se, também, a pesquizas históricas e estudos genealogicos, que foram publicados em revistas e jornais, tais como: e 0 Jornal*. uDiário da Madeiran, &Diário de Notícias*, revista uDas Artes e da História da Madeiran. *Arquivo Histórico da Madeira. e ucorreio da Madeira*. Foi o descobridor do assento de nascimento do ilustre Madeirense Joqo Fcrnandes Vieira. no arquivo paroquial do Faial, sendo. antes disso, desconhecida a freguesia da sua naturalidade, apesar das aturadas investigações que nesse sentido foram feitas. Pertenceu à $Sociedade dos Arqueólogos Portugueses,n à usociedade Histórica da Independência de Portugal* e foi Sócio Honorário do dnstituto Genealógico Brasileiro). Eis uns versos da sua autoria:

A Virgem das dores Virgem Mãe. as tuas mágoas Refluxam como as águas Dum mar amargo, profundo, Pois nasceram dos pecados De míseros desterrados Que tropeçam neste mundo. Ó Mãe minha, essas espadas Duras. negras, aceradas, Cortando o teu Coraqão,


Senhora. cravei-as, quando Cai na vida pecando, Cedendo a tentação. Mas não olhes, Mãe dorida, Para a minha triste vida, P'ra o que fiz quando pequei ! Empresta-me a tua dor. Quero chorar, com horror. O estado em que fiquei.

Mãe do pranto, Mãe das Dores. Se a culpa dos pecadores Te levaram junto a Cru7, Tem compaixão de teus filhos. Mostra-lhes do Céu os trilhos, Congraçai-os com Jesus.

Ávante ! (Musicado para o hino duma Tunu) Ávante nobres rapazes Cheios d'ardente esperança. Na tormenta e na,bonança Olhos postos no porvir, Uni-vos sempre na luta Por laços d'amor forjados. Quais guerreiros esforçados P'rá vitória conseguir. Seja a Fé o vosso lema Em todo o vosso viver, Guardando até morrer

Tão santo e puro ideal. Sirvamos a nossa Pátria Com filial devoção, Seja escrinio o coraçáo D'amor ao bom Portugal. Pátria, Deus e Família, Que nomes tão sedutores ! . .. Sejam eles os amores Da nossa alma juvenil : Por eles lutemos sempre, Alma cheia d'alegria.


A paga virá um dia Com bênçãos do Céu a mil. Amor aos nossos irmãos Que trabalham e mourejam Pelos trigais que lourejam E nos oferecem o pão. Amor aos filhos do povo Que hoje, como em outrora, Pedem a Nossa Senhora Proteja a lusa Nação. Que as graças de Deus não faltem A vós jóvens e valentes. Que 5 luta votais contentes A mocidade fagueira. E à frente levai bem alto, Em mão que não fraqueje, Pendão que s'espaneje Ao sopro d'aura ligeira.

Inédito.


Rui Eleutero Silva (Rui S!lva) 1884 -1931

Nasceu no Funchal, a 20 de Fevereiro de 1884 e faleceu, repentinamente, nesta cidade, a 28 de Agosto de 1931, vitima de uangina pectoresa. Era filho de João Frederico Silva, chefe da Estáção Telégrafo-Postal, desta cidade, e de D. Silvana Fausta de Freitas Silva. Foi um apreciado cultor da poesia. tendo colaborado na *Alma Académican, uA Cruz*, oDiário Popular*, uHeraldo da Madeira., uDiário da Madeirao, m diário de Noticiasn, .NOVOAlmanaque de Lembranças Madeirensen, etc. Foi empregado na firma *Farra 6 Marghab*, onde exercia a profissão de debuxador de bordados da Madeira.

1 rovas @Mariasacode a saia. #Maria levanta o broco, 4Maria dá-me um beijinho. @Mariadá-me um abraço.

mari ia sacode a saian Das silvas que te prenderam; Por conselhos e promessas Vê já quantas se perderam ! uMaria levanta o braço Mostra ao mundo que és liberta. Amor com amor se paga, É preciso ser esperta.. . uMaria dá-me um beijinhoo, NHOé coisa que recuses: Um beijo a ninguém faz mal, Mas com outro não abuses! uMaria dá-me um abraço*, Estreita teu peito ao meu : Vem comigo e não te prendas A quem nunca te mer'ceu.. .


An tónio Isidro Gonçalves (Isidro Gonçalves) 1884 - 1931

Nasceu na freguesia do Estreito de Câmara de Lobos. a 21 de Abril de 1884 e faleceu, no Brasil, a 4 de Junho de 1931. Fundou, em 1870. a Firma que tem o seu nome. Esteve, primitivamente estabelecido na chamada &asa dos Cônsules, à Rua da Conceição. transferindo. depois, a sua Firma, para o Castelo Olímpico, a Rua 5 de Outubro, onde hoje se encontra instalada a rcompanhia Vinícola da Madeira*. Os seus vinhos foram premiados em diversas Exposições e Certames. Esteve no Brasil, para onde exportou, de preferência os seus vinhos. De regresso a Madeira, fez interessantes anúncios dos seus vinhos. em vários jornais brasileiros e portugueses e bateu-se pela criação, no Funchal, de uma Linha Eléctrica, tendo, por este motivo, publicado no uDiário de Notícias*, artigos e versos e ainda. publicado um folheto de 10 páginas, intitulado, uA Linha Eléctrica-para a qual anceia cooperar*. Funcbal, 1909. Em idade avançada, afastou-se da actividade comercial e retirou-se para o Brasil. onde possuia vastas propriedades. Eis uns versos da sua autoria:

Nossos ideais Além, dessa vasta e futurosa região! Cujo brilho natural me há deslumbrado!!! E por testemunha como a deusa Estrea, Ao exarar esta trova, ou rude verso. Bem do íntimo d'alma. ou coraç30, Minha humilde existência hei esgotado Na defesa da mais linda epopea! ! ! Que a Natura criou no universo! ! ! Aqui, neste ameno e lindo fragmento! Que por Minerva parece arquitectado ! ! Onde as flores e os pomos sáo constantes !! ! Não perco do meu ser um só momento, Em que deixe de pensar no meio alado. Que me empenho em facultar aos habitantes. Mas a ideia que sobe a certa altura. Em todo ou qualquer meio social, Enquanto jaz nos campos abstratos. Só a alcançou os seres a que a Natura Há prestado atenção mais cordeal: P'ra que as ideias não confundam nem os factos.


A modéstia é arma que não falha! Nos campos da afeição ou da amisade : Mas, a modéstia, em cívica batalha! É uma arma de grande inanidade! ! Eis porque luto com tal severidade! Que não temo nenhum adversário ! ! Que se porte com justiça e lealdade: Porque às leis da razão nãu sou contrário.

E. se após tanta lide, a vitória Coroasse a luta que tenho sustentado. ~ ã i modesto s não citára a humana história! Desde que a história humana bá começado.

E,se vaidoso a alguém tiver parecido Que me cite clara e livremente : Para que eu me torne corrigido! Dessa falta vulgar.. . irreverente ! ! Funchal, 29 de Outubro de 1918.


Manuel Carlos Figueira (Carlos Figueira)

Nasceu na Madeira, por 1884. É Poeta, Charadista e Pintor de Arte. Predestinado para a pintura, ingressou. muito jóvcm. na Escola Industrial de uAntónio Augusto de Aguiarn, onde estudou desenho, mas ràpidamente, tanto para os Professores. como para os seus colegas, tornou-se. pela sua grande habilidade, um modelo de perfeição, na dificil arte do desenho. Depois de completar os estudos nesta escola, seguiu para Munich, onde cursou as Belas Artes e onde fez exposições das suas aguarelas, um género de pintura que exige precisão de traço, a justa tonalidade da cor e o perfeito equilíbrio na perspectiva. Voltando a sua terra, já senhor dos conhecimentos técnicos, produziu muitos trabalhos inspirados nas belezas da nossa terra, tendo sido um dos primeiros a fazer a planta da cidade do Funchal. Foi um dos introdutores do futebol, nesta Ilha, juntamente com Humberto dos Passos Freitas e António Coelho. Colaborou no uAlmanaque de Lembranças Madeirense*, *Diário da Madeiran e noutras publicações, com artigos, desenhos. charadas e poesias. Tinha um livro de poesias, em preparação, intitulado: <Longe da Terran. Encontra-se há muitos anos no Brasil.

<<Vivernos corações, e não morrer, Dedicado ao meu ex-professor, sr. engenheiro Vitorino dos Santos, desolado pai da malograda menina. D. Marieta Santos.

Tarde gélida: laivos de tristeza,

De nuance barrenta, prateada; No cemitério. junto i lage reza Minh'alma, com a dela amortalhada.

Oh! deixem-m'a com lágrimas rezar, Sim; deixem-m'a cobrir toda de goivos, Pois foi ali, oh Deus. . . seu sacro altar, - Sua campa -a capela dos seus noivos. Repouza nesse céu, todo mistério. -Adeus! ate a o Além, na eternidade.. . .. . Foi-se todo o meu sonho vão, aéreo.

-Essa, que me matou pela paixão, -Essa, que me definha de saudade. . . .Morreu ! .. . mas vive aqui,-no coração.


António Camilo Jardim Câmara (Camilo Câmara)

Nasceu em Georgetown, Guiana Britânica, a 6 de Julho de 1884. É filho de Lúcio José Jardim Câmara e D. Maria Joana de Santana Jardim Câmara. Veio para a Madeira, em 1886, em companhia de seus pais que fixaram residência no Porto do Moniz, onde seu pai foi Secretário da Câmara Municipal, durante muitos anos. Embora não seja nado na Madeira, mas por ser filho de Madeirenses e ter vivido nesta Ilha, sua pátria adoptiva, cerca de vinte anos, achamos que é de justiça, inclui-lo neste Espicilégio. Nos seus tempos de estudante. colaborou na uVoz da Madeira* e 4 0 Direitor. Foi aspirante interino de finanças no Porto do Moniz. Embarcou para os E. U. da América do Norte, em 1906. Pouco depois da sua chegada a Fall River. assumiu a direcção do semanário uAs Novidades*, que dirigiu até 1912, data em que foi nomeado Vice-Consul de Portugal em Boston. Em 1924, foi transferido para Nova York; nomeado Consul em Galveston (Texas) em 1928, e Consul em Filadélfia, em 1930, cargo que desempenhou até 1947. data em que se retirou do serviço consular. após 35 anos consecutivos. Tem colaborado em quase todos os jornais dos núcleos portugueses, nos E. U.; foi Director do dndependente*. de New Bedford, 'e há doze anos que mantém uma secção, &Notase Comentários*. no uDiário de Noticias*, de Bedford, em cujo jornal colabora. assiduamente, com outros artigos. Colaborou, também, no uDiário de Notícias*, do Funchal, em 1932. Em 1951, foi escolhido pelo Departamento dos Estrangeiros, de Washinton, para fazer parte da delegação americana, como tradutor, na Nona Conferência Pan-Americana. que teve lugar naquela cidade. E em 1954, foi novamente escolhido, como revisor de traduções para a língua portuguesa, na Conferência da Organização das Nações Americanas. que teve lugar em Caracas, Venezuela. Reside actualmente em Oak Bluffs, Massachusetts, terra da naturalidade de sua esposa. Eis uma poesia da sua lavra:

Olhar Olha-me assim. . . que o teu olhar parece Uma suave prece que se diz por mim; Santa meiguice que m'enleva a alma, A doce calma dum olhar assim ! Olha-me assim.. . que o teu olhar de santa. Paixões levanta em marmóreo peito. Etéreo brilho que s'espraia rindo Como caindo d'algum sol desfeito ! . ..


Olha-me assim.. . que o teu olhar celeste Meu ser reveste de ledos ideais! Que eu sonho a vida envolta nesse encanto, Em que penso tanto e m'enlouquece mais. Olha-me assim. . . Na luz dos olhos teus, Brilha de Deus um raio de ternura ! Que eu vejo nesse olhar que me fascina A expressão divina de tu'alma pura.

Nem tu sabes o mal que me fizeste, Quando em mim puzeste o teu divino olhar; Mas eu bendigo a luz que me cegou.-embora! ... Sinto que agora só me resta amar.


Pe. João Vieira Caetano (Frei Jogo Sem Memória) 1884

Nasceu na vila de Santa Cruz, a 11 de Dezembro de 1884. É filho de JOHO Caetano e de D. Maria Vieira Caetano. Cursou o 8eminário de Nossa Sqnhora do Bom Despacho*, tendo-se ordenada de Presbftero. a 9 de Junho de 1906. Foi Cura da freguesia da Ponta do Sol, desde 1913 e é Pároco desta mesma freguesia. desde 6 de Janeiro de 1930. É um Sacerdote cultíssimo, Escritor, Poeta e Jornalista de reais e inconfundiveis méritos, possuídor de uma linguagem fluente e acessível a todos. uA personalidade do padre Vieira Caetano disse o *Eco do Funchaln -não é s6 conhecida e admirada no restrito âmbito da sua paróquia. Toda a Madeira conhece o Padre que foi soldaáo, o Padre que é Poeta dos mais inspirados, o Padre que é Jornalista, que figura no número daqueles que o sabem ser. pela beleza do estilo e pelo profundo conhecimento dos assuntos que aborda. Mestre no Jornalismo lhe chamamos nós com toda a Justiça, não só pelo critério. bom senso e elevaç~odos seus artigos. como pelo desassombro das suas atitudes e apreciações*. Tem uma larga e valiosa colaboracao em diversos jornais e revistas. -nomeadamente n' o 0 Jornrlr, *Correio da Tarde,. $Revista Esperançar e *Brado de Oesteo, de que foi Redactor Principal e onde publicou, em folhetins, o seu romance histórico: uDa Choça ao Solar*, cujo eatrecho se desenrola nesta Ilha. na freguesia da Ponta do Sol e publicada, também, em folhetim, na Revista esperança^, com o título, uUm casamento romãntico no século XVIIII, obra esta que foi reeditada pela uEditoria1 Eco do Funchal Lda,r. com prefácio do P.e Joaquim Plácido Pereira, em 1957. Eis uma amostra da sua musa :

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Poesia composta pelo Rev. Pe. Vieira Caetano. para o Congresso de Machico e recitada na sessão solene, pela menina Angela Leal Fernandes.

A primeira missa Armada de Zarco de brancas velas Já dobra a ponta do mártir de Roma,

Desvendando o mistério do negrume Rumo à baia de Machico toma.

O vale é deleitoso e altos muros O guardam a Levante e a Ocidente. Está descoberta a Ilha da Madeira, Por um dia de Julho calmo ardente !


A fresca sombra do denso arvoredo, Gorgeio de aves, rumor da ribeira, Tudo convida os marujos das naus A pisar o seu solo a veL primeira.

Sorri a terra virginal e fresca Dos marinheiros ao fresco sorriso, Que deixam as naves alvoroçadas Para entrar nos áditos dum paraíso. Os marujos e os frades Do pobrezinho de Assis, Desembarcam, desta terra, Nesse momento feliz. Linda Pérola do mar, Clamam, terra sem rival ! Nos reserva o Bom Deus, Para o Rei de Portugal. Junte-se ao rumo da vaga E ao perfume da flor Aos cantos das avezinhas Um hino do nosso amor.

E foi levantada a Cruz, Foi levantado um altar, Para neste vale rideate Uma missa se rezar. Salvé momento bemdito, Em que o nosso bom Deus quis Brilhar no sol eucarístico, Neste recanto feliz. A Cru7 de Cristo nas velas,

Em terra a Cruz de madeira. Salvé Vila de Machico Que ouviste a Missa primeira. Cinco séculos volvidos, Como no primeiro dia. Esta Vila de Tristão Adora a Eucarestia.


Este Congresso Eucaristico, Segue a rutilante esteira De adorar a Jesus-Hóstia. Como na Missa primeira, Celebrada por um frade. Nesta Vila da Madeira. Peçamos hoje ao Senhor, Misericórdia p'ra o mundo, Nas amarguras da guerra. . . É um martírio profundo ! . . . Rei do amor. Senhor Jesus Dos milagres divinais, Acalmai a dura guerra, Dai o milagre da Paz.


Gertrudes Cogomilho Acciaioly de Sampaio (Gertrudcs Acciaioly)

Nasceu na freguesia de Santa Maria Maior, a 23 de Janeiro de 1885 e faleceu, na sua residência. a Rua do Dr. Juvenal n.O 47, freguesia de São Gonçalo. a 15 de Junho de 1952. Era filha do Capitão Guilherme Quintino de Sampaio e de D. Sebastiana Acciaioly e sobrinha do P.e Carlos Acciaioly Ferraz de Noronha. Como seu tio, também se dedicou ao Charadismo, à Poesia e ao Teatro, tendo representado na Escola do-Sr. Bispo, algumas peças teatrais que as suas tias escreveram e interpretou. com verdes anos, há mais de meio século, em companhia de sua mãe, num teatrinho improvisado na Escola Particular, da Rua de Santa Maria Maior, uma comédia política, original do seu tio, o .P.e Carlos Acciaioly, intitulada: uUma apreciação das grandes obras do progresso ou -uma comédia de sádio regionalismoo. Assistiu a esta representação, que se repetiu, durante várias semanas, a fidalguia e fina nata da Sociedade Funchalense. Foi muito religiosa e legou a <Escola de Artes e Ofíciosn, todos os seus bens. Colaborou na revista ~Esperançaoe n'uO Jornal*, donde reproduzimos os seguin.tes versos:

São Francisco Assis Cidade d'encanto. Porque o Santo, -De nome O Serafim, Lá nasceu.

E teve amor tão ardente Que Jesus O Padecente O Seu Braço desprendeu. Para mostrar a S. Francisco, O seu carinho e amor, Quis dar-lhe, naquela hora, Estigmas da Sua dor!

-E ele reconhecido, Dando a Deus graças sem fim. Confiou-lhe o seu rebanho. Transformado num jardim ! Francisco dlAssis E' a flor-de-Liz, -E' a flor-de-Liz Francisco de Assis ! 1946



Adão de Abreu Nunes (Adão Nunes) 1885

- 1958

Nasceu na freguesia de São Pedro, desta cidade, a 5 de Agosto de 1885 e faleceu, na casa de sua residência, a Rua da Conceição. a 15 de Dezembro de 1958. Era filho do notável chz radista João Augusto Nunes Diabinho e de D. Carolina Adelaide de Abreu Nunes. Foi 3.0 oficial da Junta Geral do Distrito do Funchal, cargo que sempre exerceu com elevada competência. Perito em assuntos ictiológicos e assíduo cultor da pesca desportiva, forneceu ao M u v u Municipal do Funchal, grande número de espécies pertencentes à fauna marítima, muitas das quais de grande raridade, assim como aos Museus de Nova York, Londres, Hamburgo, Porto e Red-Lands-Califórnia. Através da imprensa, foi quem mais, calorosamente, defendeu a ideia da criação dum Aquário, nesta cidade. Publicou um livro intitulado, @Peixesda Madeiran, prefaciado pelo distinto naturalista Gunther E. Maul, editado pela Junta Geral do Distrito do Funchal. em 1953. Esta obra é considerada como sendo um esplendido guia. principalmente no que se refere aos métodos como a pesca deve ser eficazmente exercida. Colaborou com o distinto Professor de Zoologia, Doutor Augusto Nobre, já falecido, sobre o estudo de diversas espécies marinhas madeirenses, que o cita nalguns dos seus livros científicos. Dedicou-se, também, ao charadismo, ao teatro, ao jornalismo e à poesia. Possuidor duma peculiar ironia, Adão Nunes foi um dos melhores humoristas da nossa terra e o festejado autor de algumas revistas teatrais, de invulgar sucesso, levadas à cena no Teatro Municipal. Teatro Circo, etc, tais como: usemilha e Alfacen, em 1917, uÁgua Vai!*, em 1919; aGolpe de Vistan, em 1920; uDe*Arromban,em 1921, etc. Colaborou, em prosa e verso, em muitos dos principais periódicos do Funchal, nomeadamente no @Diárioda Madeiran e *Diário de Notíciasn, de cujo n.O de 19 de Julho de 1904, reproduzimos esta primeira poesia.

Deus Nos seres todos que este mundo encerra, Tanto na terra, como lá nos céus, Em tudo, tudo quanto nós miramos, Bem respeitamos o poder de Deus. Volvendo os olhos pelos altos montes Que brotam fontes, pelos vales seus, Ficamos sempre, como que pasmados. Sempre assombrados com o poder de Deus.


Se ver quizerdes o que é a grandeza, Da natureza levantai os véus, Clamai, depois, em um altivo grito : Seja bendito o grã poder de Deus!

aExtremum diem primus tulitp (Ao ilustre Professor e mui presado Amigo. Sr. Dr. Augvsto Nobre, em memória do

seu malogrado irmão António.)

Nascer para viver, Viver para sofrer, Sofrer para morrer. . . . .. Melhor fora niio nascer !

O homem nasce e, desde o seu nascer, Adora a vida com alacridade, Sonha-a tão longa como a eternidade, Sem dar-se conta que há-de, enfim. morrer. Náo pensa, em jovem. ,no que venha a ser

O mal que fere toda a humanidade. O infortúnio, a dor, a enfermidade, Que um dia a porta lhe virão bater. Lamenta o poeta o seu fatal tormento Carpindo em verso verso mui sentido A sua sorte, a dor e desalento.

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Sem esperança de vencer. vencido, Exclama exausto pelo sofrimento: Melhor seria nunca ter nascido!

aAvé gratia plena^ (Ante a imponentissima manifestação de Fé do povo da Madeira a Virgem N. S. de Fhtima, realizada em 10 L Abril de 1 948).

Náo espero, ó Virgem Santa, para amar-Te, Que o milagre de curar-me Tu me faças, Nem é o medo de castigos e ameacas Que me incita a ter desejo de aclamar-Te.


Os prodígios que tens feito em toda a parte Concedendo, generosa. tantas graças Por humildes lugarejos onde passas, Bem me bastam para muito venerar-Te. Nada peço nie concedas, pois conheço Que a impureza da minha alma é tanta. tanta, Que o favor das Tuas graças não mereqo. Abatido pela dor que me suplanta. Suportando os mil tormentos que padeço, Assim mesmo, Te amarei, o Virgem Santa !


Eulália Águeda Nunes Paquete (*@a)

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1886 1947

Nasceu na freguesia de São Pedro, desta cidade, a 5 de Fevereiro de 1886 e faleceu, no Hospital dos Marineleiros, a 8 de Abril de 1947. Era filha do consagrado Charadista João Augusto Nunes Diabinho e de D. Carolina Adelaide Abreu Nunes e esposa do conceituado industrial e proprietário, Eduardo Simões Dias Paquete. Dedicou-se ii arte de Édipo, tendo publicado inigmas figurados no <<NovoAlmanaque de Lembranças Luso-Brasileiro*. *Almanaque de Lembran~asMadeirensea e versos no @DiárioPopular*, diário da Madeiran, *Diário de Noticias* e uAlmanaque Ilustrado do diário da Madeiran. Assinava algumas das suas produções, com o pseudónimo de Agda.

Velas Sulcando o mar, vão serenas, As frágeis. lindas barquinhas, Nestas tardes tão amenas, Co'as velas todas branquinhas! Lembram das pombas, as asas. Quando debandam no ar. Vendo-as assim quase rasas Singrando no azul do mar ! . . . Velas brancas ! . . . Lá vão elas Guiadas p'los pescadores. . . Pequeninas caravelas Onde cantam seus amores !

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À tarde beija-as o sol Quando vão todas juntinhas Mar em fora, sem farol, Tão airosas, tão branquinhas.. .


Alexandre Eurico Sarsfield Pereira (Miug) 1886 - 1956 Nasceu na Rua dos Ilhéus, freguesia de São Pedro, desta cidade, a 1 de Agosto de 1886 e faleceu a 17 de Abril de 1956. Era filho do Coronel de Infantaria, Bernardino Rodrigues Pereira e de D. Emília Carmen Sarsfield. O seu nome familiar era ~Guimn,nome que a si mesmo pôs, quando de tenra idade. Tirou o 7.0 ano dos Liceus e cursou, em Lisboa, a aFJscola Politécnican, tendo desistido da vida militar. em cumprimento de veementes pedidos de seu pai, que conhecia, em demasia. os espinhos de tal carreira. Concorreu, a seguir. para as Alfândegas, tendo alcançado o 2.0 lugar das classificações, com que foi aprovado. Desta vez, porém, foi prejudicado nos seus anseios, pela queda da Monarquia, quando esperava a sua nomeação. Dois anos após o seu casamento com D. Maria Regina Bettencourt da Câmara, a inspiradora da maior parte dos seus trabalhos poéticos, foi mobilizado. na Grande Guerra de 1914 e partiu para exercícios militares, como Alferes miliciano. Ao regressar à sua terra, seguiu a vida comercial, tendo durante 18 anos consecutivos, exercido o lugar de guarda-livros da Casa aReid Castro 6 C . ~ Dcom , competência e honestidade, donde saiu por extinção desta firma, servindo, entao. o funcionalismo público, exercendo a sua actividade na Secretaria da Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal, até que a morte o surpreendeu na categoria de 3.0 oficial. Assinou alguns dos seus versos com o pseudónimo de Miug, palavra composta pela inversão do seu nome familiar.

O Que eu vi! Sai um dia a contemplar o mundo, Por ver quanto há de belo e quanto brilha Na múltipla e gloriosa maravilha Que anda suspensa em o azul profundo! Vi montes, vales, árvores e flores, Límpidas águas, múrmuras correu tes, Do grande mar as músicas plangentes, Dos Céus sem fim, os trémulos fulgores. Trouxe os olhos tão ricos de beleza, O coração tão cheio de harmonia De quanto havia em terra, mar e céus, Que interpetrando, a sós, a Natureza, Dentro de mim, esplendido. fulgia, Num círculo de luz, teu nome, o h Deus!


Pe. José Bibiano da Paixão

Nasceu na freguesia de São Pedro, desta cidade, a 2 de Dezembro de 1886 e faleceu, nesta cidade, a 1 de Março de 1925. Era filho de José da Paixão e de D. Castorina Rodrigues da Paixão. Recebeu ordens de Presbitero, a 24 de Novembro de 1912, em Proença-a-Nova (Portugal). Foi nomeado Capelão da Sé do Funchal, a 20 de Abril 1914; Cura do Porto Santo, a 20 de Junho de 1918; Pároco do Arco de São Jorge, a 23 de Março de 1919 e Sub-Chantrr da Sé, desta Diocese, a 14 de Agosto de 1922. Paroquiou; acidentalmente, em Santa Cruz. Santa Luzia, São Roque e Sé, na ausincia dos respectivos Párocos. Notabilizou-se como Barítono e Compositor de Músicas Sacras, tendo composto as seguintes músicas. que foram publicadas na Revista *Esperanqan, quando era aluno do Seminário Diocesano do Funchal, em 1908: uAi, ain, *Bem haja$, uLira Devotar, r 0 Madeireaser, contemplando o Céu*, *Segredo*.a 0 que eu vejo*, uPreguiqosan, suores Friosa, ~Guitarrãdasr.aloas ao Menino Jesus*, *Boa Noite* e ~Tristezasn. Foi sócio fundador da $Juventude Católica do Funchal* e autor dum folheto. publicado nesta cidade, depois da sua morte, intitulado uVersos do P.e José Bibiano da. Paixão. (Para serem cantados com Música da sÚa autoria)*.

Não ter mãe ... Oh, como é triste Viver sem mãe. . . Não ter ninguém Que nos benquiste Sem ter amor Que suavisar E amenizar A nossa dor ! Oh! sempre em pranto Triste viver, Então morrer E' nosso .encanto !

Pecador arrependido Eu pequei, meu bom Jesus. Fugindo do teu amor. A teus pês aqui me tens. Perdão para o pecador.


(CORO)

Do teu amor, meu Jesus, Eu espero compaixão; Por mim sofreste na Cruz. Ao pecador dai perdão. Eu pequei. meu bom Jesus. Mas Vós sois meu Salvador: A teus pés aqui me tens, Perdão para o pecador. Eu pequei. meu bom Jesus, Valha-me o teu grande amor; A teus pés aqui me tens, Perdão para o pecador.


Maria Amélia de Menezes Vaz (Amélia Vaz) 1886

- 1958

Nasceu na freguesia de Santa Cruz, a 3 de Dezembro de 1886 e faleceu, e m Setubal, a 30 de Março de 1958. Era filha do Poeta. António Joaquim da Cruz Vaz, natural de Valença do Minho, Secretário da Câmara Municipal de Sant'Ana, e de D. Maria Matilde Pereira de Menezes Vaz, natural da vila de Santa Cruz, e irmã do falecido Geneologista, Cónego Fernando Carlos de Menezes Vaz e tia de D. Maria Matilde de Spinola Barreto de Menezes Vaz, em religião, Irmã do Imaculado Coração de Maria, Superiora do Colégio de Nanamaacha. em Lourenqo Marques, e de D. Fernando de Menezes Vaz, em religião, Beato Nunes. Em 1925, partiu para França, onde fez o noviciado e após a sua profissão, voltou à Madeira. Maria Amélia de Menezes Vaz, em religião, Irmã da Eucaristia, pertenceu a Congregação da Apresentacão de Maria e foi, Superiora da Casa da sua Congregação, na freguesia dos Prazeres e Professora do ~Lactário~, de 1928 a 1939 e do rcolégio da Apresentação de Marian, que ajudou a fundar, de 1934 a 1945. Embarcou para África, onde foi nomeada Assistente dum Colégio Católico e, em 1954. foi nomeada Superiora Geral do Colégio uD.António Barroson, regressando à Metrópole, por motivo de doença em 19571 Dedicou-se à poesia, na mocidade, tendo colaborado no aDiário da Madeirar, .Almanaque Ilustrado do %Diárioda madeira^, .Heraldo da Madeiras, etc.

Primavera Salvé, Primavera, deusa gentil, Rainha das belas, vens perfumada ! Trazes a vara de lendária fada Que transforma a Terra em mimo gracil. Tens graves hinos. ternas melodias. De alados cantores, lá pelas florestas. Riem-se as rosas, enfloram giestas De ouro listrando longas serranias. Para que passes no prado se estende Um tapiz de relva aonde rescende A violeta oculta em verde folhagem. Nascem margaridas, abrem boninas E do lírio as pétalas alabastrinas Candidamente prestam-te homenagem.


Oswaldo Augusto da Silva ?

Nasceu na Madeira, em data que desconhecemos. Esteve algum tempo ausente da Madeira. sendo as suas poesias, dedicadas à sua terra natal, repassadas de uma profunda nostalgia. Colaborou no diário Popular*, donde reprodu7imos este soneto:

Soneto Soltai aves nocturnas rouco canto, Gemei altos ciprestes da campina, Gemei a minha dor, gente benina, Soltai veigas saudosas vosso pranto. Pende triste a corola alabastrina, Jasmim cheio de graças e de encanto, Noite, oh! noite, com teu céruleo manto Prantea esta saudade que se fina. Dura mágoa meu peito dilacera, Dalma as cordas partidas já são todas.. . Nem uma luz a mente reverbera. Já ouço além o arrulhar das rolas A lagem do sepulcro já rangera. . . -Eia, malditos vermes, eia.. . 6s bodas!


Pe. António da Silva. Figueira (Silva Figueira) 1887

Nasceu na freguesia do Arco da Calheta, a 13 de Junho de 1887. É filho de João da Silva Figueira e de D. Antónia do Rosário Ferreira de Lima Figueira. Cursou o Seminário do Funcbal e ordenou-se de Presbitero no Bispddo de Portalegre, em Novembro de 1912 e exerceu as funções paroquiais em algumas freguesias da Madeira. Foi Director da oEsperançan, revista isogra fada, cientifico-li terária, orgão dos alunos do Seminário do Funchal, em 1907-1910 e colaborou no <Diário da Madeira*, *Diario de Noticiaso, «Jornal da Madeira*, *Eco do Funchalr, oRevista Portuguesao, uAlmanaque de Lembranças Madeirensen, *Novo Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiron, uAlmamque Bertrand*. etc. Encontra-se internado na uCasa de Saúde de São João de Deusn (Trapiche). desde 7 de Outubro de 1954. Publicou duas obras poéticas, intituladas, ~Columbário*.Funchal, 1914, de 89 págs. e poemas de Vidagoo, Lisboa. 1954, de 2 págs. aEspirito muito esclarecido e ilustrado - disse o Poeta Baptista Santos - alma artística de rara receptividade, com intenso poder de emoção, sabendo traduzir os sentimentos mais complexos, o padre Silva Figueira fez do seu uColumbário~uma verdadeira epopeia de fé, d'amor e de saudade, sentidamente cantada em estrofes mais leves e diáfaoas que revoadas de pombas mansas a esvoaçar. . . o

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A Hera Subiu as barbacans desmanteladas Do secular castelo. E sorridente Num gosto de piedade, bom, clemente, As tristes amparou abandonadas. Assim juntas viveram abraçadas, Como irmãs a beijar-se infantilmente, Como velho arrimado ao inocente, Por longas, esquecidas temporadas. Mais rijo o vendaval foi uma noite! Zurziu, desnaturado, como açoite De carrasco que mata sem chorar.

O castelo tremeu e disse h hora: eVai, a sorte não tenhas que me espera ! B

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E ela sempre seus braços a apertar. ..


Pe. Eduardo Clemente Nunes Pereira (Eduardo Pereira)

Nasceu na freguesia de Câmara de Lobos, a 2 3 de Novembro de 1887. É filho de João Nunes Pereira e de D. Virginia Cândida Hortência Pereira. Frequentou o Seminário do Funchal e o Liceu desta mesma cidade e foi ordenado de Presbitero, na igreja dos Inglesinhos, em Lisboa, em 1913. Durante o período em que a Revolução Republicana de 5 de Outubro de 1910 encerrou o Seminário do Funchal, de colaboração com o Dr. Manuel Sardinha, garantiu a abertura de um Colégio, no antigo Seminário da actual Rua deste nome, para formação de seminaristas, sendo Professores de Ciências Naturais do mesmo. Foi Professor provisório do Liceu de Jaime Moniz, durante 18 anos consecutivos e Professor do *Colégio do Bom Jesus* e é. actualmente, Director do *Colégio Lisbonensen. Paroquiou a freguesia do Campanário e, simultaneamente, a da Quinta Grande, no impedimento dos respectivos Párocos. Desde muito novo dedicou-se ao jornalismo, tendo-se estreiado na Revista 4Esperançan, órgão dos alunos do Seminário do Funchal. Foi Chefe de Redacção da *Quinzena Religiosa*, uMadeirensen e *Boa Nova*, estes dois últimos. novas séries do primeiro periódico, *Quinzena Religiosa*. Colaborou em *O Jornal da Madeiran, órgão Monárquico, de que foi, em 1929 Redactor Principal e foi Redactor do *Comércio da Madeira*. Colaborou, também, no *Diário de Notíciase, *Diário da Madeiran, revista. &DasArtes e da História da Madeiran, rAlmaoaque de Lembranças Madeirensen, etc. «Tem sido realmente intenso o labor intelectual deste Escritor madeirense-diz a critica-que. na sua mocidade, deu às belas-letras um sugestivo livro de versos, uGolpesr. promessa iniludivel dum rotusto talento e duma sensibilidade de fina água: depois afirmou-se como ensaista de penetrante espírito critico: ainda mais tarde o jornalismo absorveu-o na sua imensa rede tentacular-em que as sagradas energias da inteligência se queimam inglòriamente; e nos últimos anos, foi tentado pelos estudos da história local-consagrando a eles beneditinos trabalhos de investigação>. Foi premiado num concurso de amadores de fotografia, realizado em França, pela Sociedade Francesa rAgfa-Photo*, tendo obti lo a 53.a classificação, sendo o seu trabalho exposto ao público durante o mês de Noveiiibro de 1936, num Salão de Paris, com as 100 fotografias mais classificadas, Percence ao uInstituto Português de Arquelogia, História e Etnografian, e foi distinguido com o diploma de Sócio de Honra da «Academia.das Ciências, Letras e Artes., de São Fernando, cidade de Cadiz, Espanha. com o voto unânime dos seus membros, em 1955. (versos). , Funchal, 1914; Publicou rDelenda est Cartago. Funchal. 1913: ~ G o l p e s ~ *Como se Vence*, Funchal, 1916; dlhas de Zarcon, Porto, 1939 e 1958; 4História do Arquipélago*. Lenda-Histórica (Piratas e Corsários das Ilhas). Funchal, 1955 e possui as seguintes obras ainda inéditas : rlntimosr, *Espiritualidade na Arte., eJobn, *Terra-Materr, e uMadeixan, entre-acto dramático.


Longo Abraço (Ao glorioso voo do ~Litsitdnia*)

A Pátria-mãe ao peito o acalentava

E estremecia no seu doido amor. Ele era infante-e à Pátria foi traidor Quem lhe roubou o filho que adorava. Mas nunca o esqueceu: e mais o amava Na ausência -que a saudade faz maior-. -Se a sua alma tinha e o seu ardor; E a mesma língua ainda que falava !Queria vê-lo.. . -E sempre ela a esperar Da vida numa luta sem vitória !Saudosa de estreitá-lo, de o beijar, O s braços ergueu ao céu,-não há memóriaTraçando em longo abraço, pelo ar, O arco triunfal da sua glória.

Desgarradas Outubro frio; as andorinhas Abandonaram o casal ! ... Aonde irão desgarradinhas. Azul em fora, as andorinhas, da Catedral ? . . . Batendo asas lá vão elas., . -Nuvem do Céu, deixai passar Cantam lá cima, tagarelas. . . E peito ao vento. iá vão elas . .. por sobre o mar ! Levam saudades! Do seu ninho. Levam saudades ! . .. Voltarão A formar outro casalinho, Na doce alfombra do seu ninho, outro verão ! . . .

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E azul em fora, as andorinhas, Vão a sumir-se pelos céus! Adeus, sorriso das campinas, Adeus, alegres andorinhas, adeus ! adeus !

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Lenda de um Pinheiro Eu bem me lembro. Vi-o. . . Já velho, esguio,

A balançar-se na montanha !

Caía a tarde. Desdobrava A noite num manto de estamanha!

E toda a gente que passava Nos ~orcícolosdo caminho. Esse pinheiro-avô saudava, A1to e magrinho ! . . . . Ali, - oh ! santa devoção ! Em outros tempos, que lá -vão.. . Diz o bom povo do lugar : Lá reza ainda a tradição -

Ouvio cantar Esta canção : Guardai, pastores, a lousa, Guardai, pastores, a terra, Aonde o corpo repousa De uma pastora da serra ! . . .


José Cruz Baptista Santos (J. Claro) 1887

- 1959

Nasceu no Funchal a 24 de Novembro de 1887 e faleceu, subitamente, na casa

de sua residência, a Rua de Júlio Diniz, a 30 de Março de 1959. Era filho de Francisco Baptista Ferreira Santos e de D. Helena Amélia Ferreira Santos. irmão de Francisco Aquino Baptista Santos e pai do Jornalista, Emidio da Conceição Baptista Santos. Foi funcionário da Junta Geral do Distrito, desde 1919, onde tinha o posto de 2.0 oficial. Fundou, em 1907, com o Dr. Elmano Vieira e Visconde do Porto da Cruz, o rPrimeiro de Dezembro* e foi Editor e Redactor Principal do uDiário da Madeira*. cuja Redacção chefiou durante cerca de 30 anos. Os seus versos. perfumados de um lirismo enternecido. são simples e harmoniosos, tendo, por vezes, um delicado sabor regional. uHá quem celebre os golpes de audácia, - disse Jaime Câmara - a revolta que se esconde no asfalto das ruas ou no acidentado das serranias. Baptista Santos preferiu cantar a paz luminosa da sua vida, onde, como nas telas de Rafael de Sanzio, uma figura santificada de mulher se revê nas inocências do filho. Há quem exalte o esforço humano, e m suas assombrosas manifestaçóes, sirvam-nos de referência o aéroplano, as rupturas dos istmos, a electricidade, as máquinas locomotoras. Baptista Santos esmalta o seu verso de flores espontaneas -jasmins noivos que se enlaçam em pilares de granito, rosas entreabertas às claridades do amorn. Colaborou no uHeraldo da Madeira*. *Diário de Notícias*, <DiárioPopular*, «Diário da Madeiran, *Alma Académican, <Comérciodo Funchal,}, &Ecodo Funchaln, <OPovo%, UA Cruzr revistas eAçores Madeira*-«Viagem*. uPérola do Atlântico*, +Almanaque de Lembranças Madeirense*, etc. e foi o coordenador do <Almanaque Ilustrado do <Diário da Madeiran. Publicou os seguintes livros: *Horas de lnspiraçãoa. Funchal, 1906: <Rosas e Jasmins*. Funchal, 1913; uRosas de Abril*. Funchal, 1923, etc. .Foi co-autor do livro uUma Tragédia na Madeira*, escreveu o prefácio do livro *Vaga da Morte*, de Pulquério Fernandes e deixou inéditas as seguintes obras: uBaladasa, uPapoilas da Serra* e <Memórias da minha vida de estudantes. Foi Delegado na Madeira da rAssociação Brasileira da Imprensan, pertenceu A associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porton e foi condecorado com as insignias de sócio do uInstituto de Coimbran, em I de Janeiro de 1937 e pela França, com as *Palmas Académicasn e o grau de oficial de Instrução Pública.

-

Espelho partido Sentei-me, há pouco, em frente dum espelho E dum retrato meu, de há muitos-anos . . . Depois fiz o confronto

- e achei-me velho,


Calvo. enrugado, Patente em meu rosto os desenganos! Mas não desanimei. . . Porque, afinal. As rugas não fazem mal E o. cabelo nenhuma falta faz. . . N o entanto, quebrei o meu espelho, Para meus olhos não me verem mais! Depois. fitando. novamente. o meu retrato, Confesso que fiquei abstrato Ao ver na minha frente, em vez dum velho, O vulto airoso dum rapaz!

Que loucura a minha. 0' meu fiel espelho. Ao arrojar-te, há dias, a tardinha, Contra o chão. Só por revelares que eu estava velho, Em tua franca e limpida expressão! Estilhaçado, tu. que, em tantos anos. Todos os dias, Reflectiste os meus desenganos E traduziste as minhas alegrias?! . . . Despedaqado, tu, iniquamente, Quando, com lealdade, Foste tu quem, unicamente, Me falou a verdade ?!

0' meu saudoso, meu fiel espelho. Vítima inocente Da minha altivez, Relava a diabrura deste velho, Perdoa a minha insensatez!


Maria Isabel de Brito Nóbrega (Isabel de Brito Nóbrega)

Nasceujna Madeira, a 22 de Janeiro.de 1888 ? É filha do Escritor e Jornalista Ciriaco de Brito Nóbrega (antigo Redactor do diário de Noticias*, desta cidade e autor dos livros: uA Visita de S. S. Magestades os Reis de Portugal ao arquipélago Madeirensen, 9;O Perdão do Maridon e *Um Marinheiro* do Século XV*) e de D. Maria Cândida Mesquita Spranger de Brito Nóbrega. É uma inspirada Poetisa. Colaborou no *Diário da Madeira? e *Diário de Noticiaso, dolide reproduzitnos os seguintes sonetos. Vive, actualmente, em Valpaços, no Continente.

A dor A meu irmão Fernando de Brito Nóbrega.

Conheci que jamais a dor cruel se cansa E em nossos coragões por natureza habita; Se dorme as vezes, como nas selvas dormita A fera, ao sol magnânimo. repleta e mansa; Como a fera depois, se transforma e se lança Rugindo de volhpia, sobre a presa aflita. E esmaga e dilacera a carne que palpita E o delírio do goso em seu furor alcança ! . . . Conheci que, através do mais formoso aspecto, Marque o sol. do mais alto, a hora mais dourada, E embora o nosso olhar logo recue inquieto,-

A dor, a sombra vil, a espia detestada Nos mira triunfante, e um abalo secreto Lhe fendo do covil a tiémula portada. Valpaços, Janeiro, 1937.

A maior dor Por fim, pendeu sem vida a fronte pura

E então, do lenho infame, O libertaram.. . E o filho amado, sobre a fraga dura, Ainda os braços tristes enlaçaram.


Mal cerrada, porém, a sepultura, Nela, os escuros olhos se fixaram: Em nebuloso sonho, a Mãe procura A luz que de seus olhos apartaram! Ó dor, das sete dores, a maior, Em ti, se vai cumprir a profecia: És a espada fatídica de dor.

A primeira saudade ! . . . O gume que há-de Atravessar o peito de Maria, Nos augustos humbrais da Soledade ! .. . Madeira, 1937.

Coração de pai (Trinia anos depois)

Naquela escura tarde em que partia Sereno, as mãos em cruz, como a rezar, Com ele se apartou, foi a enterrar A luz que neste mundo incerto eu via. Não quís a terra-mãe, que tudo cria E consome e transforma sem cessar, O coração paterno aniquilar; O seu amor me alenta ainda e guia; E, como outrora, a terna mão querida -Bênção, asa do ignoto além descidaNa minha fronte cai, vive, palpita.

A terra rejeitou o indestrutível! E um coração, mundo, átomo invisível, Eis que, de outro ao redor, pulsa e gravita. Valpaços, Maio de 1958.


Armida C. Figueira de Sousa 1888 - 1931

Nasceu na freguesia de Câmara de Lobos, a 17 de Março de 1888 e faleceu, na sua residência, à Rua do Comércio, desta cidade, vítima da tuberculose, a 17 de Maio de 1931. Era filha de Miguel Figueira de Sousa e de D. Matilde A. Oliveira de Sousa e sobrinha do Poeta e Charadista Simão Figueira de Sousa (Picio). Possuia o curso da Escola Normal e do Liceu. Exerceu o Magistério, nesta cidade, nomeadamente no colégio Alexandre Herculanon, dirigido pela Professora D. Maria Bela Te10 de Caires. Foi dotada de invulgar inteligência e possuia uma grande cultura literária, tendo composto belas poesias, tendo-as, porém, destruido, por excessiva modéstia, pouco tempo antes de ter falecido. As poesias que reproduzimos do uDiário de Notíciasn e @Almanaqueda Madeira*, únicas que conseguimos obter, foram compostas na sua mocidade, as primeiras em Lisboa, em 1913 e 1914, no uHospital de Santa.Marta~,onde se encontrava em tratamento e que sáo, talvez, as suas primeíras produções poéticas. e a última, nesta cidade, em 1924. Colaborou, também, no uAlmanaque de Lembranças Madeirensen e *Novo Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiror, com algumas interessantes charadas.

Momentos de ilusão (Longe da minha família).

Pensando, estando acordada, Ou sonhando adormecida, Sou em ilusão transportada A minha terra tão querida ! . . . Vejo um céu azul, tão lindo ! Vejo montanhas e flores : Vejo a natura sorrindo Nesta ilha dos amores.. .

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Vejo os meus. . . Oiço-os falar ! .. . Aperto-os ao coração ! .. . . . . . . . . . . . . .. . , . . . . . . . . Mas depois fico a chorar, Ao conhecer a ilusao ! . ...


Súplica (No leito dum hospital). Voam as sombras que envolvem a noite E vem o dia com sua luz imensa? Só a minha alma continua sempre Tão mergulhada numa dor intensa ! . . . Dos meus tão longe!. . . que saudade atroz!.. Com ansiedade os desejo ver ! .. . Mas a incerteza a segredar-me sempre: avais melhorar$... vais aqui perecer ! . . . Meu Deus, vos peço: me conserves inda Essa ilusão que minha dor acalma: Para que mesmo a distância enorme Os veja sempre com os olhos d'alma! Que afectos puros, desses entes queridos. Pelos quais sòmente, eu viver desejo!. . . Permite ao menos que inda possa vê-los E depois morrer. Nada mais almejo!

Num cartão de Boas Festas (Aos meus queridos alunos Manucla c Pcdro Pires H. de Freitas).

Eis a Festa do Natal Do Jesus das criancinhas. Que disse sorrindo ao vê-las; -aVinde a mim, sois todas minhas, Haveis de formar meus céus, Sois obra do próprio Deus ! o

E, p'ra guardar tais tesouros, Pôs no peito maternal, Um amor tão puro e santo, Um afecto sem igual. Crianças a vossa Mãe, Amai-A, amai-A bem! Se sois pedaços de Céu, Que Jesus guarda na terra, E' de Deus o santo amor Que um seio de Mãe encerra. Meigos, submissos e bons.. . Conservai n'alma esses dons.


Sois vois sorrisos divinos, Para vossa Mãe tão Querida, E; Ela o astro fulgente, Que ilumina a vossa vida. Quem nos filhos vê os céus. Não pode descrer que há Deus! Nesta festa que é tão vossa, Do Jesus das criancinhas, Aceitai, vos peço agora. As sinceras preces minhas: Boas Festas rogo a Deus. Para vós. alunos meus.


José Teixeira Júnior (Teixeira Júnior ) 1889

Nasceu na freguesia de São Pedro, a 17 de Março de 1889. É filho de José Emídio Teixeira e de D. Emília da Conceição Teixeira. É 1.0 ajudante dos serviços farmacêuticos dos Hospitais Civis de Lisboa e Poeta .e Jornalista de mérito. Anunciou a publicação de um romance, intitulado, uRessurreiçãor, versando diversos princípios políticos, religiosos e sociais, prefaciado pelo Poeta Eugénio Vieira. Tem várias obras publicadas, entre elas. uEm Lisboah (Impressões da Capital), dado a estampa em 1909 e inéditas: aMulheres não procreeisn, *Ninho de Amor*, (Referências 2 Madeira) e uO Perfume do Passado)>,(Referências 2 Ilha da Madeira). Foi Redactor Principal do jornal uHumanidaden, em 1914 e Proprietário do jornal uA Acção, em 1912, e colaborou no *Diário da Madeira*, uEco do Funchab, uComércio do Funchal*, &Trabalho e Uniãon, uDiário de Coimbra~,aGazeta d o Suln, a 0 Trabalho*. uGerminalo, &Vozdo Operário*, Correio das Ilhas*, etc. Foi condecorado por serviços prestados aos feridos da Revolução e epidemias, com as medalhas de Prata e de ouro.

Uma paixão Ao poeta Baptista Santos.

Quando passas altiva, sorridente, Por entre a multidão que te namora, Eu sinto dentro em mim a chama ardente Do ciume feroz que me devora. Eu sinto dentro em mim, profundamente. Uma vontade cruel de maltratar Toda essa multidão que, reverente, Se acotovela p'ra te ver passar. Porém, se o teu olhar em mim se pousa. Se os teus lábios sorriem para mim, Toda essa fera raiva -estranha cousa ! Se converte em paixão damor sem fim!

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Maria Florinda Trindade Mota (Maria do Funchal)

Nasceu na Madeira, a 16 de Junho de 1889? É prima do Poeta Rogério Oscar da Mota Correia (Trevo do Vale). co-Autor da* colectânea ~Arquipélagone autor do opúsculo uVisão do Céun. Foi Professora da *Escola de Artes e Ofíciosn, desta cidade e a ensaiadora dos alunos que tomaram parte em espectáculos teatrais, realizados nesta instituição de carida-de, tendo para esse fim, escrito e adaptado vários monólogos e outros recitativos. Tomou parte, com D. Adelaide Ascenção Maciel, D. Maria Fausta Maciel e D. Maria José Santana, na representação do entre-acto dramático, da autoria do consagrado Escritor, Rev. P.e Eduardo Clemente Nunes Pereira, intitulado uMadeixan, levado à cena na residência do falecido Dr. António Feliciano Rodrigues (Castilho). no aniversário natalício deste Poeta. Concorreu ao uconcurso de Quadras Popularesn, realizado pelo jornal *Eco doFunchab, em 1948, sob o pseudónimo de Maria do Funchal. Do uEco do Funchals, reproduzimos as seguintes quadras, de sabor popular. Anda cá, minha Maria, Dá-me um bocado de pão Com manteiga, bem fresquinha, Feita pela tua mão. Dizer mal desta manteiga, Não há ninguém que se afoite. Foi feita no alguidar De lavar os pés à noite.


Júlio G. Viterbo Rodrigues Dias (Viterbo Dias) 1889-1956

Nasceu na freguesia de São Pedro, desta cidade, a 4 de Setembro de 1889 e faleceu a 2 8 de Janeiro de 1956. Era filho de Manuel Rodrigues Dias e de D. Augusta da Câmara. Foi Professor, Jornalista, Orador e Poeta de cultura religiosa. Cursou o Seminário do Funchal e foi Pastor Evangélico. Dirigiu o jornal <Madeira Evangélica* e colaborou no <Diário de Noticias), <Jornal da Madejra~, .Madeira Novan, .O Congresson, .Diário da Madeiran, aVoz da Madeira*, .Revista Esperançan. uEco do Funchal* e em jornais Continentais e Brasileiros e foi correspondente. na Madeira, do <Diário de Coimbran. Foi laureado com um Primeiro Prémio, nos Jogos Florais da Madeira, de 1946. na modalidade Poema. Publicou um opúsculo em verso, dedicado a Salazar, inritulado, ~Portugal Maiorn e tem inéditas as seguintes obras*: <Poentes da Vida.. . Mortalha da Saudaden, ~Avé-Maria*,uO Povorelo de Asisn, uDebruçado sobre Pompeian.. . uContos para CriaoCaso, 4Cântico de Solr. uTragédia das Rosasn e usacrificio de Dinahn. Usou os pseudonimos: Samuel Deniz, Vidi e Gil de Alorna. Eis duas poesias da sua lavra:

A Vida Da vida as ilusões são limbos desmaiados, exangues e mirrados, joguetes do tufão, cairam ao chegar o triste outono, rolando ao abandono, esparsos pelo chão.. . Tudo isto é breve sonho .. . é sombra fugidia de rápida agonia, brumosos os caminhos, Do berço a sepultura a vida é um momento, de mágoas, de tormentos, sob uma cruz de espinhos ! E' dura esta jornada-assombro de loucurabebe-se a água impura no lodo e no prazer, depois.. . rasga o remorso a paz, a calma, apunhalando a alma cansada de sofrer !


Quis descansar um pouco a beira desta estrada. minh' alma fatigada, errante a soluçar. Julguei haver na terra u m eden de ventura, eterna, sempre pura, viver.. . sorrir.. . sonhar. Mas.. . ai! eu acordei.. . e a minha aspiração foi mais uma ilusão, foi cinza, foi poeira ! E, assim, a caminhar envolto em densos véus por entre os escarcéus, eu desço esta ladeira.

Lampejo Divino

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Agitam-se nos céus,-quantos milhares! Sistemas admiráveis, soes, estrelas. De infinito são as sentinelas, Do vasto firmamento luminares.

AO universo imenso, à terra, aos mares, A lua e às esferas, todas elas, Eu quero ir cantando canções belas, Caliope que inspire os seus cantares! No homem há também um universo Inda mais sublime, em mistério imerso, Defini-lo quem pode? Eu não o tento! Também tem vastidão, tem luz, tem chama, E' sol que ilumina, aquece, inflama. De Deus esse Iampejo. O Pensamento!


Alfredo António de Castro Teles de Menezes de Freitas Branco (Visconde do Porio da Cruz) 1890

Nasceu na freguesia da Se, desta cidade. a 1 de Janeiro de 1890. E' filho do Comendador Luis Vicente de Freitas-Branco e de D. Ana Augusta de Castro Leal Teles de Menezes de Freitas-Branco e irmão de Luís de Freitas Branco. Frequentou a Escola do Hospício e foi aluno interno do colégiod de Campolide*, na Capital e do uLiceu do Funchaln. Tomou parte na Guerra Civil, tendo ficado ferido no Combate de Chaves, em 8 de Julho de 1912. Viveu algum tempo, exilado, em Paris, tendo-se matriculado, após a anistia. na rFaculdade de Direito da Universidade de Lisboa,, tendo concorrido, depois, para a uEscola de Guerra$. Estreou-se no jornal Continental, uA Naçãoo, em 1905 e colaborou na imprensa Continental, Madeirense, Brasileira e Alemã, em vários idíomas. Fundou, em 1907, com o Dr. Elmano Vieira e Baptista Santos, o uPrimeiro de Dezembron, de que foi Director e hindou, em 1914 com Ranion C. Rodrigues, uO Realista~,de que foi também o Director. Em 1918, fundou dirigiu, em Lisboa, a Revista Literária e Política, *Tradição", em 1920, com Ascânio Pessoa e Aragão Paiva, fundou o Semanário, uO Combaten. Em 1928, fundou, na Madeira, o Semanário, ulndependências e, em 1932, a &evista Portuguesan, que ainda dirige, e fundou, em Lisboa, em 1946, o Semanário uVisor*, defensor dos Artistas Portugueses. Lutou contra o comunismo, na Alemanha e na Espanha. E' autor das seguintes obras literárias: uRes Lusitanao, *O Destinon, .Ana Claran, *Charcos)>,*No Exílion, ucontosn, *A Acção do Estado nas suas relações com a Igreja Católica% uAuto da Primavera,, @Madrinha de Guerra*, *Confidêncian, *A Canção de Salveign, aEsboçnsn, *Lendas do Arquipélago da Madeiras. <Crendices e superstições madeirenseso, paixão e Morte de Sidónion, uTrova,s 6 Cantigas Madeirenses*, rum Escanda10 Eleganteo, uA Revolução literaria de Ibsenn, *Aspectos Agrícolas e Industriais da Madeira*, *Os Primos Teixeirasn, uA Viagem aventurosa de Suferino Boliface a Zeistruffszn, uA Madeira nos ~Lusíadasn.uO Turismo na Madeira*, uA Fauna Terrestre do Arquipélago da Madeiran, *A Flora Madeirense na Medicina Popularn, uO Traje regional madeirensen, uEstudo da Familia Teve ou Teiven, uA Fauna Marítima do Arquipélago da Madeira*. uA Culinária popular na Madeiras. 4 0 Arquipélago da Madeira no Testamento do Infante*, uO Romance de Ana Claran, uDanças Madeirenses*, *Como vi o Fim da Guerra na Alemanha~,uHistória Literária da Madeira*, uO Mistério de João Cristóváon, uNo Mundo dos Bichosn, *Fantoches*, uPolítica Social na lição da História*, *Revolta*, *Olhando o Passado.. . *Considerando o Futuro*, uContos Vividos na Guerras, etc. Assina vários dos seus trabalhos jornalísticos com as letras V. P. C. e alguns pseudónimos, entre eles Porchá e Alfredo Ilhéu. Pertence a ~Associacçãodos Arqueólogos Portugueseso, usociedade de História, Arqueologia e Etnografia~, sociedade de Intelectualismo Espanholr, oAssociação dos Es-

e


critores e Homens de Letras do Portos, <Academia Brasileira de Ciências Sociais e Politicaso, *Academia Francesa de I'Ordre de Bevainn, asocièté Humanistica. de Paris., aSociedade Portuguesa de Escritores* etc. E' Cavaleiro da Union Cava1heiresca. Em 1941-1942, concorreu aos Jogos Florais da Madeira, organizados pelo *Eco do Funchaln, com a seguinte poesia, assinada com a letra V.

Criança Sinto-me alegre ao pensar Nessa criança adorada. . . -Fugiu toda corada, Quando me viu passar.

E ao recordar a ventura Que a minha alma sentiu, Julgo vê-la na verdura, Onde uma vem me sorriu.. . Mas ilusão era apenas.. . N o seu jardim que eu olhava. Só vi murchas açucenas E de si ... nem sombra estava.

E fiquei-me olhando o mar, Sem nada ver, descuidado. . . Tinha mais longe o pensar. No peito dela fechado.. .


José Teodoro Correia (Teodoro Correia) 1890-1955

Nasceu na freguesia da Sé, desta cidade, a 20 de Janeiro de 1890 e faleceu, a 8 de Junho de 1955. Era filho de José António Correia e de D. Augusta Baptista de Freitas Correia e pai de Carlos Alberto Correia, funcionário do uBanco Blandy Brothersn, e António Virgílio de Abreu Correia e Fernando José Vieira Pinto Correia, Foi Redactor do extinto aDiário da Madeira*, durante cerca de 30 anos, sendo, a data da sua morte, 2.0 oficial de finanças, aposentado. Foi um excelente Novelista, Jornalista de Mérito e impressionável espírito de Poeta lírico. As suas poesias, de sabor clássico, cheias de beleza, possuem harmonia, inspiração e sentimento. <Terra Mater* e os sonetos que reproduzimos. são uma demonstração do estro admirável do apreciado autor de aNimbosn, ~Miragensn,aRosas do Meu Canteiro*, $Ciclo das cara velas^ e drroion, este último ainda inédito. Foi laureado em vários Jogos Florais, na Madeira e no Continente. Usou o pseudónimo de João Mistério. Colaborou no uPrimeiro de Dezembro». diar rio da Madeira*, 4Diário de Noticias~,&Comérciodo Funchaln, uHeraldo da Madeira*, uEco do Punchal~,dlustração Madeirensen, Amanaque Bertrandn, etc.

(Excerto) Ó Ilha i leal de eterna primavera, Abençoada terra, onde eu nasci E onde a beleza em toda a parte impera Com a graça fascinante de uma huri, Enches o meu olhar de maravilha Quando eu, embevecido na miragem Dos teus encantos. fito a luz que brilha Na inefável doçura da paisagem.

De San Lourenqo à Ponta do Tristão, Desde o Funchal, aos campos de Sant'Ana, Ergues ao céu, como divino uhossana* Um hino triunfal de Promissão:


-Promessas de c01heitas abundantes De vinho, açucar, pão, tanta cultura Que brota de teus seios fecundantes, Plenos de seiva e plenos de fartura! Da magestade augusta das montanhas -Ninhos de águias toucados de neblinasAté ao verde plaino das campinas. Em graça, em cor, e m luz te desentranhas ! Fascinas sempre, ungida de beleza, Desde a planície ao alcantil medonho! Bendita sejas tu, ó Natureza, Que povoas de encantos o meu sonho! Glória a Deus que te fez assim tão linda. Terra de encantamento, feiticeira, Que outra mais loucã não vi ainda, Ó Ilha da Madeira!

Em louvor das coisas pequeninas Ó homem, ama as coisas pequeninas, Rodei-as de carinho e de cuidados, Que há nelas relicários ignorados. De amor e de belezas peregrinas.

Tu não pressentes, t u não imaginas Quanto há de anceios ternos, delicados. Em cada ninho oculto nos silvados.. . -Quanta vida palpita nas campinas!

O pequenino calix duma flor Em si guarda cioso u m criador Mundo em germinaçáo. potente e vário! Na sua essência íntima e divina, Encerra Deus assim tão pequenina A hóstia branca e pura do sacrário.

-


José Mário de Sousa Henriques (Zé Ilhéu) 1890

-1952?

Nasceu na freguesia de São Roque, desta cidade, por 1890 e faleceu, em Lisboa, por 1952 ? Era filho de Manuel de Sousa Henriques e de D. Ascensão de Sousa Henriques e cunhado do Poeta e Jornalista Pedro Gonçalves preto, Director do trimensário *Reg -nhau-nhau*. Exerceu a profissão de alfaiate e dedicou-se ao teatro de amadores, tendo tomado parte em vários espectáculos. em agremiações desportivas e musicais, nomeadamente no *Grupo Musical União da Mocidade* e no Grupo de Amadores da <Banda Ristrital do ~Lnchaln. Compôs cançonetas e monólogos, para várias revistas teatrais, de amadores, , e colaborou. em prosa e verso. principalmente Gazetilhas, nos jornais aRe-nhau-nhau*, *Voz do Povo* e 4 0 Povo*. donde reproduzimos o seguinte soneto, composto em 1911. Deixou um livro de poesias, ainda inédito, intitulado, *Poema de Amarguras*.

Um crime Ao meu amigo b i s de Ag~riar

A noite estava bela e magestosa Que par'cia falar ao coraçiio, A lua lá no teu, silenciosa. Cobria-nos co' estrema mansidão. Lá muito ao longe a voz mui caprichosa

Dum galo resoava na amplidão. E o mar trazendo vaga procelosa Vinha beijar a praia co' afeigão.

A brisa deslisava ternamente. Arrastando consigo, alegremente. O perfume das flores, por gracejo.

.............................. Querida! Foi nesta noite t ã o sublime Que eu fiz, louco de amor, o grande crime, Roubando do teu rosto um puro beijo.


Albino Esperidião Te10 de Menezes (Albino de Menezes)

Nasceu na freguesia de Sant'Ana. a 18 de Dezembro de 1890 e faleceu. nesta cidade, no uHospita1 dos Marmeleirosn, a 26 de Abril de 1949. Era filho de Cecílio Joaquim Bento Te10 de Menezes, (que descendia de antigas famílias de Sant'Ana) e de D. Maria da Glória Xavier de Menezes. Cursou o Liceu do Funchal e formou-se em Direito na @Universidadede Coimbrao, sendo à data da sua morte, Conservador aposentado, do Registo Civil de Sant'Ana. Possuidor de um brilhante. sugestivo e personalizado estilo, com certos tons d'anunzianos, voluptuosos e rítmicos. Albino de Menezes foi um grande Escritor que a loucura arrebatou às Letras Madeirenses. <C? talento pujante de Albino de Menezes - disse o Escritor Horácio Bento esbanjou-se, a jorros, através das gazetas e nelas se mumificou. Por 1920, nos ambientes literários de Lisboa e Coimbia, alcançara o nosso conterrâneo invulgar consagração, em seus méritos de estilista. E a prova de haver grangeado renome é que. no @InquéritoLiterário*, de Boavida Portugal. ele emparceira ao lado de Hernani Cidade, Teixeira de Pascoais, Gomes Leal. Visconde de Vila-Moura, Henrique Lopes de Mendonça, Augiisto de Castro, Antero de Figueiredo. Carlos Malheiro Dias, Júlio Dan tas, etc.n Náo reuniu, em volume, as suas produções literárias, embora chegasse, por 1918, a ter no prelo da Livraria Teixeiran, uma obra que. por razões ignoradas, se imprimiu apenas algumas páginas. Deixou uma novela inédita, intitulada, ~Calechésen e colaborou no livro, 6Uma Tragédia na Madeiras. publicado nesta cidade, em 1910 e nas publicações: uDiário de Notícias~,uDiário da Madeiran, *Primeiro de Janeiros, uAlmanaque de Lembranças Madeirense* e noutros períodicos madeirenses e continentais. Além de ser o *Príncipe da Prosa Helénican -como lhe chamou o Poeta Octávio. de Marialva- foi, tambéni, um bom Poeta, como se vê nos versos que reproduzimos.

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Margarida Vejo em volta e mais não vejo Que uma saudade vivida: Veio a lembrança dum beijo, Nos olhos de Margarida. O s olhos de Margarida. Perderam todo o desejo: São olhos da minha vida, Sob a lembran~adum beijo.


Ando triste. Eu sou assim. Por não mais a ver sorrir, A minha dor não tem fim. Que seja só para mim É quanto quero pedir, A noite, junto ao lardim.

Esposa morta Soneto lapidado em bronze e oferecido ao poeta Teodoro Correia, ainigo da minha primeira juventude, na ocasião em que a sua Bem-Amada cerrou para as coisas mortais os olhos divinos.

Ó Poeta: a Esp0s.a é morta! Abre teu peito A dor da viuve7. Faze-te santo, E chora com tristeza. Que o teu pranto Inunde a Bem-Amada no seu leito.

A Morta será tua. Amor-Perfeito É flor que não se extingue: é bela tanto Que tanto mais se adora, num encanto, Quanto menos a vemos junto ao peito. Morreu para ser mais linda. A mocidade Inda e mais bela após a morte. O céu Tem mais um anjo. A terra mais saudade. Eleva a Deus a voz, e diz: -*Senhor! Cega-me bem a sombra do Teu véu: Não quero ver no mundo mais amor!*

Noite de Verbena Helena abre até mim os braços nús: São de marfim. A noite é de verbena. Em braços nús um beijo é bracelete. Por isso a minha boca é só de Helena. Descem lírios do céu por sobre a terra. Da terra ascendo ao céu, na luz serena D o teu goso. Levanta-me nas mãos. Meu corpo é como um corpo de assucena.


Quero cantar não sei! A minha voz Perdeu-se num prazer. Junto de nós. Mulheres quase nuas, em corpos lassos.

Deixemos o tumulto; e sendo sós, Sua voz fala mais a minha voz : Helena é quem me beija nos meus braços.


João Bernardo Ribeiro

Nasceu no Funchal. a 20 de Agosto de 1891 e faleceu, na casa de sua residência, situada ao Caminho do Lazareto, desta cidade, a 3 de Setembro de 1932. Era filho de João Gomes Ribeiro e de D. Maria 1,uiza Ribeiro e irmão do Poeta e Jornalista José Gomes Ribeiro e tio de José Camacho, empregado da Companhia de Seguros <Aliança Madeirensen, e de Raul Camacho, Gabriel Camacho e Jorge Camacho. Foi um espirito culto e carácter da melhor têmpera. Depois de alguns anos de permanência em África, regressou à Madeira, com a saúde muito abalada. *Nunca Bernardo Ribeiro odiou os que viviam melhor do que ele, -disse o Jornalista José Teixeira Júnior- nem quis mal aos ricos, pelo facto de serem ricos; nunca insultou os mais afortunados do que ele; o seu sentimento bondoso e os primores do seu espirito não o levaram a esses extremos. E se combatia a desigualdade e a injustiqa, era por amor dos pobres, dos pequeninos e dos infortunados, nunca por interesse pessoal. As suas anibições eram iguais aos seus sonhos, o que demonstrava um perfeito equilíbrio entre o pensamento e o sentimento, o que se deseja e o que se é, o que se quere para si e se deseja para os outros. A sua actividade foi a de um moço, na mais alta acepção desta palavra. Bernardo Ribeiro trabalhava com entusiasmo pela Rèpublica, instruindo-se para bem a servir, fazia propaganda, espalhava ideia e irradiava sinceridade doutrinal. Para ele não havia obstáculos nem repouso. A sua actividade era constante, de todos os dias, de todas as horas, de todos os momentos. Era uma actividade ardente, que lhe andava, talvez, a consumir a Vida. mas a erguer muito alto o seu sonho e o seu nome. Alma excelsa e generosa, no meio dos entusiasmos políticos-sociais da sua mocidade, Beriiardo Ribeiro soube sempre manter bondade e elegância intelectual notáveis, qualidades estas que lhe deram autêntica supremacia entre os rapazes do seu tempo e o impuseram como um espírito superior. Amava o mar, essé mar misterioso e infindo, que envolve a Ilha da Madeira, num abraço sôfrego de amor e nos deixa. a nós, que o sentimos, tantas vezes mergulhados, por um influxo irresistivel. em profunda e sonhadora contemplação. Era modesto e simples. como todos os que são grandes e bons. Grande e excelente conjunto de qualidades a exornar uma vida, um moço e um caracter*. Colaborou em vários jornais desta cidade, nos quais deixou, em prosa e verso, produções de mérito, que eram pedaços da sua alma sonhadora. Eis uns versos da sua autoria, em que patenteia o amor que votava a sua terra natal.

Minha terra Minha Terra é a mais linda De quantas no mundo existe. Sua beleza nos guinda, -Torna alegre a alma triste!


Longe de ti, pátria minha, Uma funda nostalgia. Dentro em minh'alma se aninha Afugentanto a alegria.. . Meu sorridente Funchal, Minha encantada Madeira, Terra linda, sem rival Onde eu vi a luz primeira, Espero, um dia voltar, A respirar teus odores. . . -Jardim de mimosas flores, Plantado a meio d o mar! Minha terra é a mais linda,

De quantas no mundo existe. Sua beleza nos guinda, -Torna alegre a alma triste!


Adriano Filipe de Freitas 1891- 1947 Nasceu na freguesia de Santa Maria Maior, a 23 de Agosto de 1891 e faleceu, nesta cidade. a 16 de Julho de 1947. Era filho de Raimundo de Freitas e de D. Isabel de Freitas e pai de Rómulo de Freitas. Foi empresário do extinto 4Teatro Circo, desta cidade, sendo à data da sua morte, empregado na &asa Leacockn. Colaborou no uJornal da Madeiran e na revista uA Madeira Novan. donde reproduzimos a seguinte poesia, composta em Dezembro de 1942.

Natal Natal ! Natal ! A noite clara e fria. Vinha da Igreja o povo em multidão, Buscando a casa e o tépido clarão Da lareira ridente de alegria. Vestida de farrapos e sombria, Levando uma crianga pela mão, Ferindo os pés descalços pelo chão, Após os mais, uma mulher saia.

E' mãe e filho, sós, a tiritar, Num velho pardieiro a desabar, Abrigaram-se, enfim, sem pão, sem luz. Sobre palha, num canto, os dois deitados, Naquela noite, assim abandonados, Tiveram cama igual à de JESUS!


Eduardo Antonino Pestana 1891

Nasceu na vila de Câmara de Lobos. a 5 de Setembro de 1891. É filho de António Pestana e de D . Carolina Faria Pestana. irmão.do Dr. Sebastiáo Abel Pestana, Escritor, Professor de Filologia e funcionário superior do Ministério da Educação Nacional, e de Jaime Ferdinando Pestana, funcionário da <<JuntaGera1,Autónoma do Distrito do Funchal*, e de D. Inês Pestana drAbreu. Cursou o Seminijrio desta cidade, de 1902 a 1911 e o ((Liceu de Jaime Monizn, de 1911 a 1912. Tem os cursos da 4Faculdade de Letras da Universidade de Lisboaa (1912-1917). da uEscola Normal Superior* (1917-1919) e da .Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa*. (1913-1919). Exerceu, simultâneamente, o magistério liceal e a advocacia: de 1920 a 1926, no Funchal: em 1927, na cidade da Horta (Ilha do Faial, Açores); de 1927 a 1930, na de Faro; e desde 1934, em Lisboa, onde foi Professor no @Liceude Gil Vicente* e é no de Pedro Nunes. De 1930 a 1934, quando Ministro da Instrução o Prof. Gustavo Cordeiro Ramos, foi Director dos Serviços do Ensino Secundário, tendo colaborado na reforma deste grau de Ensino, decretado em 1932, na fundação dos Liceus Normais de Lisboa e de Coimbra, na organizaçso da Direcção Geral da Saude Escolar. dos Orfeões Liceais e Refeitórios Liceais. Foi combatente das primeiras linhas da Juventude Católica do Funchal e aa de Lisboa. Colaborou largamente na imprensa do Funchal e do Continente, tendo silo Director do uDiário da Manhã$, em 1931. Publicou. entre outros, os seguintes trabalhos: .A Igreja Católica e os Operários%. (Conferência). Lisboa, 1916: uCiência de Linguagem*. (Conferência). Lisboa, 1917; @Do Ensino-da sua reforma geral e da nova metodologia do Latimn. Lisboa, 1919. (Tese de licenciatura); canto Antigo e Canto Novon. (Conferência). Funchal, 1928 ; *A procedência obrigatória do registo civil e a celebração do casamento religiosoa.'(Minuta de recurso para a Relacáo de Lisboa). Lisboa, 1930; uLrEtat Nouveau Portugais~.(Conferência no rlnstituto Maintenon*. Casa Branca, Marrocos, 1938): oA Questão da Pessoa Humana*. (Conferência). Lisboa. 1940: .Folclore Madeirense* (a parte religiosa) e estudo da linguagem madeirense, (Vol. 36 da «Revista Lusitana*); '«O Dialecto Madeirensea. (Revista oA Língua Portuguesa*); 4 0 Natal Madeirense num auto de Gil Vicente. (Conferência). Lisboa : uO Sermão de Gil Vicente em Abrantesn. (Conferência). Lisboa : uunidade Nacional*. (Conferência, em Sá da Bandeira, Angola), e. de colaboração com António J. Sá Oliveira, vários livros de didáctica latina. Também se dedicou A poesia e à música polifónica, tendo composto algumas peças que tem sido cantadas por vários orfeões do País.


Orfã

Vi-a um dia a chorar, como uma fonte Era um anjo sem culpa; todavia, No olhar tinha a expressão de quem sofria E a dor d'alma a turbar-lhe a paz da fronte Era tarde. No mádido horizonte, Em leito de carmim, o sol morria; E vinha, como vem ao fim do dia, Chorar a voz dum sino além do monte.. -4Frut0 d'amor incesto!$ a sós eu disse; E olhava-me a tristinha com meiguice. Em paga duma frase de desdém. Mas em bando as lenheiras a passar, Na prece que iam todas a rezar: -<Coitada a Helena que ficou sem mãe*.

Crescera a pobre Helena. Em formosura Nem a de Tyndaro vencia a palma E o sol do vício lhe crestara n'alma Virgineo lírio- o lirio da candura. Sorria dos salões à luz impura. Ia queimando as lindas flores d'alma, Com toda a paz do crime, toda a calma, Sem ter na fronte um rictus d'amargura. -*Qual

uma santa, linda !h a sós eu disse;

E em paga dessa frase de meiguice, Lhe vi no olhar um gesto de desdém. Mas em bando as lenheiras a passar, N o pranto que iam todas a chorar: -«Ai pobre Helena, se tivesses mãe ! . . . o


O Tempo Ao Amigo e Mestre insigne, Dr Santana Dionisio.

Quero datar a carta e não me atrevo. Qual o mês em que estou? Já não me lembro. Se olho a folhinha, o mês de Maio escrevo; Se olho a janela, escrevo o de Dezembro. Vou pedir ao Dionísio Santana Sobre o tempo me dê sua sentença. Responde-me o filósofo : uOh ! Pestana, dsso é mais complicado do que pensa. acheguei um dia a pôr essa questão @AoFilósofo máximo, ao Platão, uE vi que ele ficou de cara a banda.

uQue posso dizer eu, soldado razo ?! desde então nunca mais pensei no caso, xSó sei que ninguém sabe a quantas anda!* Lisboa, 29-5-959. Inédito


Daniel Vasco da Costa (Daniel da Costa) 1892

Nasceu no sitio da Madalena, freguesia de Santo António, a 2 8 de Janeiro de 1892. É filho de Joaquim Augusto da Costa e de D. Maria Augusta Correia da Costa. Cursou o Liceu do Funchal e frequentou o 1.0 ano de Medicina, na Faculdade de Coimbra. Exerce, actualmente, funções públicas, em Lisboa. aDanie1 da Costa, nas suas poesias líricas, é-no dizer de Gonçalves Preto-um Poeta que pode ombrear com os melhores Poetas portugueses. Nos versos humorísticos e satíricos, nenhum outro Poeta em Portugal, pode igualar. Mestre Daniel da Costa, que é quanto a nós, o maior de todos quantos até hoje têm escrito sátira em verso)). É co-autor do livro, uCá está o Visconden. publicado, nesta cidade, em 1929 e publicou. em 1950, uma nova obra, intitulada, $Asas Quebradas)>. Colaborou no oDiário de Notíciasn, uRe-nhau-nhaun, uDiário Popularn, dmparcialn, aA Mocidade*, <Diário da Madeira*, etc.

Soneto A minha lavadeira ontem morreu. Que vida de trabalho e de canceira! Todo o esforço que tinha, às pedras, deu -Àquelas duras pedras da ribeira.

De joelhos. curvada, envelheceu. Como se fosse reza a vida inteira: Amanheceu-lhe o dia e anoiteceu, Sempre a lavar, a minha lavadeira.

Só vós sabeis, só vós correntes águas. Suas fundas tristezas, suas mágoas, E o que penou ao vento, ao frio, à calma. Ninguém tão alva a roupa inda tornou, Mas ontem, ao morrer, a Deus levou, Mais alva do que a roupa,.a sua alma.

Assassinado ! Ante a ameaça de morte, Que recebi numa carta, Como um cidadão de Sparta,


Sinto o corpo e a alma forte. Ninguém me anime ou conforte. Julgando isto uma desgraça, Pois acho até imensa graça, Que na mais bela das ilhas, Por escrever gazetilhas, A um poeta se dê caça. Morro sem deixar Venéras, Porque aqui. em Portugal, Quem passar dum metro e tal, É homem lançado às feras. -Se eu cantasse as primaverasAS estrelas, as auroras, E acrósticos às Senhoras Fizesse de vez em quando. Viriam comigo. em bando, Medalhas, todas as horas.

A Torre espada teria, A Cruz de guerra também. E palmas de França. às cem, Certamente empalmaria : -Entrava na Academia, E a imprensa, a todo o momento,. Cheia de enternecimento, Num inconfundivel goso. Chamava-me o mavioso Poeta do Sentimento. Mas eu sou irreverente, Não me curvo ante o Prestígio: Ponho-lhe um barrete frígio Diante de toda a gente! -Surge um Senhor imponente, Cujo orgulho e vaidade é Uma arca de Noé?! Sobre ele, numa rajada, Passa a minha gargalhada. .. Resta um fantoche de pé!

Os tímidos antiquários, Com medo de prejuizo, Expulsaram o meu riso Do fundo dos seus armários: -Fecham-me a porta os diários,


Quando às suas portas entro, E por isso me concentro Nesta afirmação sonora : Q u e deve Jicar de fora. Quem já não cabe lá dentro! uPresunção e água-benta, Cada um toma a que quer!* Brada-me um vate qualquer, Que a minha rima apoquenta. -Ele também se lamenta Da ingratidão do pais, Mas com direito o maldiz, Pois tendo uma só comenda, Tantos livros tem a venda, Que a pêso já os vender quís! Voltando à carta outra vez, Aqui peço ao seu autor, O grande, o enorme favor De assassinar-me este mês. Ninguém saberá. talvez, A rizáo do meu pedido. . . -É que o vate referido, Para impor-se a mim também, Vai ler-me, no mês que vem, Tudo o que tem produzido !


César Gomes Vieira 1892

Nasceu na Madeira a 8 de Abril de 1892. É proprietário da &GuitarrariaVieiran e Prègador Adventista. É u m inspirado Poeta, que merece honroso lugar entre os Vates Madeireuses. Tem um livro inédito, intitulado, uRimas Dispersas* e colaborou no uEco do Funchaln, uJornal da Madeiran, rev,ista <rMare Nostrums, etc. Eis uns interessarites versos da sua autoria.

Ilha encan cada Ao Exmo. Comandante Inocèncio Camacho de Freitas, ilustre Governador do Funchal.

Portugal! Minha Pátria muito amada. Berço de heróis, fieis batalhadores. E's o jardim da Europa devastada, Onde teus filhos cantam seus amores.

De ti partiu a invencivel armada Dos Gamas, imortais navegadores. Que desprezando o perigo da jornada, De grandes feitos; foram os maiores. Novos mundos, ao Mundo apresentaste. E de tão grande Império que formaste. Minha terra de todas é a primeira. Brilhante jóia desse novo império, Não tem rival em todo o hemisfério, A minha bela Ilha da Madeira.

Quadras A minha esperança abalou Nas asas da mocidade, Tudo o que tinha levou, Só me deixou a saudade.

Nos braços da minha cruz, Suspeoso, sigo na vida, A minha esperança perdida, Como a sombra segue a luz,


Augusto Elmano Vieira (E. Feio)

Nasceu na freguesia cle São Pedro, a 2 de Outubro de 1892. E' filho de Manuel Augusto Vieira. contabilista, e de D. Maria Joana Camacho Vieira, irmão de João Evangelista Vieira. falecido em África, em 1914 e pai do estudante universitário Luigi d'Arco Vieira. Cursou o Liceu desta cidade e matriculou-se na Faculdade de Direito da «Universidade de Lisboan, onde se licenciou. a 7 de Novembro de 1920, e frequentou o 1.0 ario do rlnstituto Superior do Córnercio*, de Lisboa. Desde niuito novo dedicou-se a literatura. Quando ainda estudante liceal, fundou, de colaboração com Baptista Saritos e o Visconde do Porto da Cruz, o semanário 4Primeiro de Dezembro)) e fundou e dirigiu uA Academia*, jornal dos estudantes do nosso Liceu. Fez parte da Redacção do extiiito *Diário da Madeiran, e colaborou no $Amanaque de Lembranças Madeirensen e uAlmanaque0 Ilustrado* do <Diário da Madeiran. Escreveu, então, de colaboração com Júlio do Amara], a Revista Teatral, aA Madeira por dentro,, levada à cena no Teatro Municipal desta cidade e a opereta regional. uAs Meninas dos Bordados$, com música do maestro Capitão-Chefe da Banda, Manuel Ribeiro. levada i cena no extinto <<PavilhãoParis$, em 1015. Neste mesmo ano escreveu o episódio dramático, uA Última Bênção* que foi representado nesta cidade, por artistas do Teatro da República, de Lisboa. Durante o seu curso universitário, colaborou, largamente, na imprensa continental, nomeadamente no uDtário de Noticiasx. 4 0 Séculon, <O Tempo*. uDiário Nacional* e $Diário da Tarde)).Fundou, em 1918, com Zaga10 Fernandes, o semanário uAcademiar. órgão dos estudantes da uuniversidade de Lisboan. Foi Presidente da uAssociacão Académica da Faculdade de Direiton e' Delegado da mesma Associação a <<FederaçãoAcadémica de Lisboan. Em 1820, regressou a Madeira. onde se dedicou à Advocacia e ao jornalismo. Chefiou a Redação do uDiário de Noticiasn, desta cidade. em 1921 e colaborei? em jornais da Madeira e Lisboa. Em 1925-27, exerceu as funções d e Vice-presidente da Câmara Municipal do Funchal, tendo depois servido de Presidente, por o respectivo titular ter abandonado o seu cargo. Em 16 de Dezembro de 1935. fundou e dirigiu o semanário regionalista, *A Ilhan. De colaboração com Teodoro Silva, escreveu uma Revista Teatral intitulada, aFlores da Madeiran, que foi levada à cena no Teatro Municipal do ~ u n c h a t a, 5 de Abril de 1945, desempenhada por alunos da <<EscolaIndustrial e comercial de ~Ant6nio Augusto de Aguiars. Em Janeiro de 1946 foi nomeado Professor Provisório da <<EscolaIndustrial e Comercialn, desta cidade, cargo que exerceu durante muitos anos. Foi Presidente do $Clube de Futebol Uniãoa, por várias vezes o seu Presidente Honorário em 1957. Foi por diversas vezes Presidente da Direcção da uAssociação de Futebol do Funchal* e Presidente da extinta *Liga Madeirense de Desportos Náuticosn. Foi fundador e membro da Direcqão da antiga 4Associação dos Jornalistas da Madeiran e Delegado do asindicato Nacional dos Jornalistas>)e Presidente do *Instituto Cultural da Madeiran.


É sócio-correspondente do .Instituto Genealógico de São Paulo* (Brasil) e da usociedade Histórica da Independência de Portugal* e foi Secretário e Presidente da Delegaqso desta Sociedade. na Madeira e Presidente da Delegacão no Funchal, dos ~rlrnigos de Olivençan. Em 1946, foi laureado com o 1.0 Prémio, nos Jogos Florais da Madeira, promouidos pelo ~AteneuComercial do Funchaln com o seu conto uA Última Luz da Candeia de Três Bicos*. Publicou os seguintes livros: oA Última Bênçáon. Funchal, 1917: ÇO Presidente Carmona na Madeira*. Funchal, 1942; uO Meu Album de Postais da Ilha das Sete Cidades*. Funchal, 1950 e livro Azuln. Funchal, 1959. Usa os pseudónimos de E. Feio e Manuel dos Cunhas.

Conto Moiro Ao Frartcisco Bento

Num tamborete de setim bordado De cores vivas e de fios de oiro, Ouvia a moirinha, com ar velado, A escrava desfiar um corito moiro. Das paredes tapeçarias persas Caíam frouxas, em tons amortecidos, Dando ao retiro as sombras mais diversas, Aos alfanges reflexos mais delidos. -Assim morreu talvez aquela Dor, Quando o levou Allah e ao seu Amor.. . -Dizia a escrava e mal ouvi dizê-las.. .

E da alma da moirinha, borbotavam Puros cristais, lágrimas, que rolavam Com o rebrilho singular destrelas !

Nasceram nossas a1,mas e m Janeiro Para um suave e tímido noivado.. . -No meu destino incerto, aventureiro, Foste a primeira estrela sem pecado.

E foi tão grande e santa essa alegria, Que a minha voz, humilde. que não canta. Por obra e graça do Amor, fremia Ondas. cristais de beijos na garganta!


Então, olhámos o Futuro. a arfar.. . Baixaste sobre mim o teu olhar Translúcido de limpidás esp'ranças . . .

E apontaste, num doce gesto vago, No céu, tranquilo e azul, como um lago, -Um par risonho de alvas pombas mansas.

Rogo Esta ventura e devoção que eu tenho Que embala e entontece os meus sentidos, -Trás-me crucificado em doce lenho. . . -Trás sombras musicais aos meus ouvidos.. . Ventura que me sagra e ilumina, Devoção perfeita. magoada prece. -Aleluias sãs, sombras de neblinas. Dum amor fecundo que em mim floresce.

Vê: por isso eu rogo à divina calma Da imensa bondade da tua alma A desdobrar-se em luz, em asas flavas,

Em brilho comovido, em resplendor: -Que o teu amor alente o meu amor ! . . . . . . O Sol também alenta as rosas bravas.. .

Fragilidades Aquela linda taça que me destes De procelana e oiro do Oriente -Tendo em relevo mandarins celestes Sob um velário rosa transparente,Partiu-se num gesto dos meus braços: E, toda ela, fina, cJelicada, Desfazendo-se em muitos estilaços. É horrorosa, agora. mutilada.

E à vista dos restos fragmentados Do precioso objecto do Império, Lembro-me do amor dos namorados. Que, à sombra fugidia dos revezes, Quebra-se como torres de mistério Ou como frágil taça de chinezes.


Fortunato de Sá Neves 1892

Nasceu na freguesia de Gaula, a 3 de Dezembro de 1892. É filho de Manuel da Mata de Sá Neves e de D. Augusta César Correia, pai d o Dr. Joáo Fortunato de Gouveia Neves, clínico nesta cidade e tio de João Emiliano Neves de Vasconcelos, correspondente do <Eco do Funchal*. e m Santa Cruz. Possue o 2.0 grau da instrução primária. Com cerca de 20 anos de idade, embarcou para os Estados Unidos da América do Norte, onde esteve alguns anos. De regresso à Madeira, casou em Santa Cruz e estabeleceu-se com a casa-de-chá, uSummer House Hotel*, sendo ao mesmo tempo Proposto de Finanqas, nesta freguesia. É, presentemente, Tesoureiro da Fazenda Pública, em Santana, cargo que vem exercendo, há cerca de 30 anos. Dedicou-se a poesia, na mocidade, tendo publicado no uDiário da Madeiran, em 1912, os seguintes versos, de despedida a sua terra natal.

Adeus a Madeira (Trovas a guitarra) Adeus, Madeira d'encantos ! Adeus. minha pátria qu'rida ! Recebe, entre meus prantos, O adeus de despedida !

Oh ! minha guitarra, chora ! Que en também, estou a chorar, Ao partir pelo mar fora, Dizendo adeus ao meu lar ! Mais uma vez vou partir Deíxando os encantos teus. . . Mais uma dor vem ferir Meu peito, ao dizer-te adeus !

Oh ! minha guitarra, chora ! Que eu também estou a chorar, Ao partir pelo mar fora. Dizendo adeus ao meu lar!


Percorri belas cidades, Grandes monumentos vi, Mas sempre a sentir saudades Da terrinha onde nasci.

Oh! minha guitarra, chora, Que eu também estou a chorar. Ao partir pelo mar fora. Dizendo adeus ao meu lar.! Adeus, minha pobre aldeia. Tens não sei quê. de bendita, Pois embora agreste e feia És p'ra mim sempre bonita.

Oh ! minha guitarra, chora ! Que eu tambcm estou a chorar. Ao partir pelo mar fora, Dizendo adeus ao meu lar! Adeus. igreja matriz ! . . . Adeus. vales. montes. prados. Onde na quadra feliz Passei dias descuidados. Oh! minha guitarra, chora, Que eu também estou a chorar. Ao partii pelo mar fora, Dizendo adeus ao meu lar! Meus bondosos pais. adeus, Se parto agora a chorar, Tenho firme fé em Deus D'alegre um dia voltar. O h ! minha guitarra. chora ! Que eu também estou a chorar. Ao partir pelo mar fora. Dizendo adeus ao meu lar!


Júlio Silvestre Figueira 1893

Nasceu na freguesia de São Martinho, desta cidade, a 2 de Fevereiro de 1893. É filho de José Rodrigues Figueira e de D. Maria do Nascimento Figueira. Foi durante muitos anos Pastor Evangélico da ulgreja Evangélica de Portugal* e Ministro da $Igreja Presbiteriana Independente*. É, também, Industrial de Bordados da Madeira. Escreveu e publicou um opúsculo, intitulado *A importância do domínio próprios. Funchal, 1942, e uma obra, em três volumes, intitulada uEsboços de Sermões*. Funchal. 1946. Este trabalho é prefaciado pelo Dr. Anselmo Figueira Chaves. Colaborou nos jornais Evangélicos: uA Voz da Madeira*, uPortuga1 Novon e rA Madeira Novan, donde reproduzimos os seguintes versos: '

Tem Fé Ao irmão e amigo ]oáo Bruno de Sousa

Ergue os olhos aos céus e, suplica! Se para o coração ambicionas paz. Àquele que tem fé o céu mais perto fica Suplica! tem fé ! e tudo alcançarás !

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A angústia que a tua alma mortifica, A acerba dor que o teu sorrir desfaz, Breve de ti se hão-de apartar, e rica De novas ilusões, tua alma sentirás!

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Carlos Maria dos Santos (Carlos Santos)

Nasceu na freguesia da Sé, desta cidade. a 22 de Julho de 1893 e faleceu, nesta mesma cidade, a 6 de Outubro de 1955. Era filho de João Pontes dos Santos e de D. Maria Teodora dos Santos e pai de D. Maria Haydé dos Santos e das Professoras, D. Rayra Leonissa da Silva Santos. D. Herydé Ruybertina da Silva Santos e do Jornalista e Escritor, Ruy Galtério dos Santos. funcionário da uComissão Administrativa dos Aproveitamentos Hidráulicos da Madeira*, Foi Musicólogo. Escritor, Jornalista, Folclorista, Etnógrafo e Poeta. Cursou a *Escola Industrial e Comercial do Funchaln, em 1908. quando exercia a profissão de empregado na Indústria dos Bordados, e dedicou-se ao estudo de diversas matérias, em especial a música. Fundou, em 1913, o uGrupo Carlos Santos*. orquestra de bandolins, que dirigiu até 1918, data em que passou a dirigir o círculo Bandolinístico da Madeiran, orquestra similar. Em 1927, entrou para o antigo 6 0 Jornal* (hoje uJornal da Madeiran), como Redactor, tendo passado a Chefe de Redacção, em 1931. Em 2 de Fevereiro de 1929. obteve o 1.0 Prémio num certame de grupo de palheta, realizado no Teatro Municipal do Funchal, sob a presidencia do Maestro e Musicólogo Francisco de Lacerda. Nesse mesmo ano. foi em tornée aos Açores, onde colheu as melhores referências da crítica. Em 11 de Julho de 1939, fez uma conferência sobre o Folclore Madeirense, no uCentro de Estudos Nacionais uAires de Ornelasa e nesse mesmo ano, fundou o uGrupo Folclórico Carlos Santos*, que apresentou nas Festas dos Centenários, em 30 de Novembro de 1940, que interpretou a peca da sua autoria, intitulada, @VisãoLírico Folclórica da Ilha da Madeiran. Em 1949, tomou a direcção do uGrupo Folclórico, da uCasa do Povo, da Camachan, que apresentou no $Grande Concurso Internacional de Danças e Cançõeso, realizado em Madrid, nesse mesmo ano, onde obteve o 2.0 Prémio. De volta i Madeira, apresentou este Grupo Folclórico, em Lisboa, no Ginásio do uLiceu de Camõesn, na &asa da Madeiran, e numa sessão em honra de Pierre de Gaule, que teve lugar junto da Igreja de Santo Estevãio. Em Abril de 1951, levou este Grupo Folclórico ao Grande Festival Internacional de Folclore, realizado em Bianitz, e aproveitou esta digressão, para se exibir em Saragoça, Madrid e Lisboa. Em 27 de Fevereiro de 1953, fez uma exposição de embutidos, nas salas da Biblioteca Municipal de Angra do Heroismo, Açores. @Dasmais notáveis manifestações de grandes qualidades artísticas que adornam o Jornalista madeirense. Sr. Carlos Santos. -diz a @RevistaPortuguesan é nos seus assombrosos trabalhos de *embutidos*, com que se entretem, nas suas horas de descanço. O *Embutidoa, ou seja o umosaicor com pedacinhos de madeiras de diversas colorações. constitui uma verdadeira Arte. Carlos Santos conseguiu reproduzir quadros e crear figu-

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ras. com vida. com movimento, com tamanho interesse, que deu aos ~embutidosnmadeirenses, uma alta categoria*. Publicou os seguintes livros: *Tocares e Cantares da Ilhan. Funchal. 1937, uTrovas c Bailados da Ilha*. Funchal, 1942, editado pela uDelegação de Turismo. da Madeira* e #O Traje Regional da Madeira*. Funchal, 1952, editado pela uJunta Geral do Distrito do Funchal*. e deixou inéditas duas obras, intituladas, uDicionário Universal da Música)) que, em 1935. anunciou a sua publicação em fasciculos e que ficou incompleta devido à sua morte e rvisão-lírico-corográfica da Ilha da Madeira*. Colaborou em vários jornais e nas revistas: uviagem., uPérola do Atlântico*, uRevista Portuguesan e $Das Artes e da História da Madeira* e uAlbum Barrinhasn. Foi sócio do ulnstituto Português de Arqueologia, História e Etnografian e da sociedade Brasileira de Folcloren e d o *Centro de Cultura Musical*, do Rio Grande do Norte-Brasil. Deixou, também, um livro inédito de poesias, intitulado uversosn, compostas em 1913, de que teve a gentileza de nos enviar os seguintes sonetos:

Soneto aos teus olhos Sáo gotas de luar cristalizadas, Na escuridão da noite os olhos teus; São beijos que a alvorada envia aos céus, Em auréolas de luzes matizadas. SPOlágrimas de dor, rezas magoadas Que a branca lua esconde em ténues véus, P'ras condensar em vis pecados meus, Vertendo-os na minh'alma. em orvalhadas. Teus olhos têm das rolas a meiguice, Dos cisnes a candura e a pureza E a ardencia duma pira sempre acesa. Pérolas reverberantes de ledice : Tem teu fulgor. p'ra mim, o duro efeito De mil punhais cravados no meu peito.

Colóquio com as minhas flores

Vão-se nas asas do vento Duas pétalas caídas; São duas preces perdidas No ermo do sentimento.


Da alma são dois pedaços Que um suspiro arrancou E um riso mau sepultou, Em vibrações nos espaços. Rendilhando na procela

Do amor que deu a alguém, Uma dor que bem revela Quão profunda é a negra ferida Que o alfange d o desdém Rasgou, numa acometida !


Heliodoro Hermenigildo José de Sousa (Heliodoro de Sousa)

Nasceu na freguesia do Porto do Moniz, a 12 de Março de 1894. É f i h de João José de Sousa e de D. Isabel Eulália de Gouveia e Sousa. Frequentou os Seminários uDo Bom Despacho* e da uEncarnaçãoo e o Liceu de rfaime Monizo, desta cidade e os Liceus de uCamõesn e uPassos Manuelo, de Lisboa. Em 1916, matriculou-se na Faculdade de Direito da <Universidade de Coimbrab, donde em 1918, transitou para a de Lisboa e onde se formou, em 14 de Julho de 1921. Foi oficial do Registo Civil, do Concelho de São Vicente, tendo pedido a exoneração deste cargo, em Junho de 1925. Exerce a Advocacia nesta cidade e colaborou na imprensa local, nomeadamente no uDiário da Madeira,, donde reproduzimos a seguinte poesia:

A vida, os anos e a morte Ao meu querido amigo Vieira. da Luz

u . . . Outro mundo mais perfeito na santa paz de Jesus !. . . . . . . . . . . OS anos que nos trazem ? Desenganos que fazem a gente velho. . .

joÃo DE DEUS Mais um ano, mais um passo na curta estrada da vida ! . . . Cuidado: Mais um pedaço 'stás no fim, fica vencida !

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Devagar, vai de mansinho que quem corre também cansa. e é melhor morrer velhinho que ir p'ra cova inda em criança ! . . .

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Nessa idade -rósea aurora que encanto a vida nos traz! mas quanto pobrinho agora recorda que foi rapaz ! . . .

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Tudo passa, tudo esquece: O mal, a dor, o sofrer porém, a mim me parece que o bem dura até morrer.. .

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Quvi um velho cantar. . . -quanta graça àquilo achei. que cousa tão singular ! . . . E o bom do homem não sei se cantava por sentir lembranças do tempo andado, se visava a impedir que o tempo andasse apressado.. .

A vida é curta, é ligeira, dura um momento, um sorriso, se a Morte lhe vem na esteira.. . Às vezes 'té de improviso a gente lhe cai nas mãos! Anda um homem escorreito, sem moléstia, os membros sãos, quando ela o prostra no leito ! . . . Que pena não se encontrar um ferro que mate a Morte, uma pá p'ra a enterrar ! . . . Que pena ! quem dera a sorte ! . . .

E já então não haveria, como hoje acontece haver, nas garras do monstro-harpia tanta vida. . . sem viver ! . . . Jàmais nos lábios de rosa da mulher que me quer bem e em cuja boca amorosa como a boca duma Mãe encontra alivio o meu mal, eu deixaria de ter num sorriso auroreal, almo alento e almo prazer! Assim quizera que fora ! . .. E oh ! se assim acontecera, Mãe de Deus, Nossa Senhoia, quanta graça aos Céus erguera ! . . . Lisbca, Agosto, 1920.


Manuel Pestana Reis

Nasceu na fre;uesia dos Canhas, a 1 de Abril de 1894. É filho de José Pestana Reis e de D. Maria da Silva Gaspar. Frequentou o Seminário desta cidade, em 1908 e matriculou-se na Faculdade de Direito da *Universidade de Coimbrah. transitando, depois, para a Faculdade de Direito da *Universidade de Lisboa*, onde se licenciou. Quando estudante cultivou a poesia, tendo publicado, em 1913, um livro de versos. intitulado, tlanções de Tristes*. Publicou, também. uconsciência nacional e consciência polítican, 'Nas palestras de comentário.. . proferidas ao microfone da Emissora Nacional*. Lisboa, 1944, e uPor Portugal*, (Conferência). Lisboa, 1945 e anunciou a publicaçáo de dois volumes de versos, intitulados, ucanções da Ilha* e ~Avòzinha,. Em 1 de Fevereiro de 1923, realizou uma conferência, intitulada, uUm ano de Guerra a quatro anos de distancian, no uInstituto de Ensino Secundário e Comercial do Funchal*, que foi inserta no .Diário da Madeira,, de 7 desse mesmo mês e ano. Foi Deputado, pelo círculo do Funchal, de 1935 a 1942; Provedor adjunto da *Casa Pia%,de Lisboa, de 1949 a 1953: Director da Secção de Pina Manique, da mesma Casa, em 1945 e Alferes Miliciano do Corpo Expedicionário Português, em 1917. Dirigiu o jornal continental, *Diário da Manhã%,cargo que assumiu em Abril de 1936 e colaborou, largamente, na imprensa de Coimbra, Lisboa e Funchal, nomeadamente no uAlmanaque de Lembranças Madeirense*, alman na que Ilustrado do %Diárioda Madeira*. Revista Esperança*, *Diário de Notícias*. uDiário da Madeiras e 4 0 Imparcial*. oA forma do verso de Pestana Reis é simples e bonita-disse o Poeta Baptista Santos-sem o palavráo &o e artificioso que perverte quase sempre a ideia, corrompend* r inspiração,.

Lenda Falem por mim as árvores antigas

E os castelos de rocha à beira-mar. Todos quantos me viram ao luar, Erguer a voz em místicas cantigas. . . Falem por mim as pálidas mendigas, -Espectros dalmas. as crenças sem altar: Falem. mandando beijos pelo ar, As bocas sensuais das raparigas . . Cantem todos a lenda dos amores Daquela ingkzinha que entre flores, Levantou o palácio da Ilusáo:

-A loira e fina encarnação dum sonho Que teve outrora um cavaleiro tristonho, De que já foi, talvez, meu coração.. .


José M. Gomes Ribeiro

Nasceu na Madeira, por 1894? e faleceu, por 1941. Era filho de João Gomes Ribeiro e de D. Ana de Encarnação Ribeiro e irmão do Poeta e Jornalista, João Bernardo Ribeiro. Embarcou para o Brasil, tendo residido na cidade de Petrópoles. Em 1940, a quando das festas do Duplo Centenário, realizou uma conferência, nessa cidade, intitulada, uDois Centeriários~,em que narrou. em prosa e verso. o nascimento de Portugal. Essa Conferência, foi publicada. em opúsculo, pelo nosso conterrâneo, Mário de Noronha, então Consul de Portugal em Petrópoles. Colaborou no uAnuário do Jornal do Brasilr, donde reproduzimos esta primeira poesia :

Ao Brasil Quem não conhece o Brasil, Pomar de eterna verdura, Onde Maio sempre dura, Vergel em perfume Abril ! ? Onde no cerro e no val Retoiça a brisa co'as flores. Perfumando-se de olores, Cantando no palmeiral ! Onde em verdes espirais Às núvens se arroja o monte, Toucando-lhe elas a fronte Com auri-róseos sendais. Terra virgem dos sertões, Mãe dos condores nos ares, Dos albatrozes nos mares, Das profundas emoções ! Não há cáu de cor azul, Não há céu de igual pureza, Nem, sol que tenha a beleza Deste do meu pátrio Sul.


Só neste eden os ouvi Os cânticos da floresta ; Não tem hinos como esta Nem a pátria onde eu nasci! O canto do sabiá Tem u m suspiro celeste! Onde a avezinha se veste, Como a avezinha de cá ? Cada rio é grande mar, As fontes veias de prata Ou sonorosa cascata, Dia e noite a sussurrar.

E se despiedosa mão Rasga o seio desta flora, Chora balsamo, se chora, Seu ferido coração. Não há pais como o teu, Ó pátria da imensidade, Segredo que a divindade

No grande ,mar escondeu !

4Aparecimento de Por tugals (Trechos deste poema, inwrto no opúsculo, <Dois Centenários*).

Na terra que hoje é nossa, e foi de mouros, Nasceu, de Henriques Afonso, herói de lei, Que em cem batalhas se coroou de louros, Que fez uma nação, que o fez rei.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Seguiram mais àvante, ao som dos ventos, Cantavam melopéias sobre as ondas, Buscando, em caravelas silenciosas, O rumo das Ofires e Golcondas.

Dos oceanos indómitos. profundos, Abrolham, com risos de corais, A India feiticeira, novos mundos, Fascinações de contos orientais,


Luís de Ornelas de Nóbrega Quintal (Nóbrega-Quintal)

Nasceu no Funchal, a 18 de Junho de 1894. É filho de Francisco de Nóbrega Quintal e de D. Elisa de Ornelas Pjnto Coelho e neto do Poeta Luís de Ornelas Pinto Coelho. Cursou o Liceu do Funchal. Foi Ministro da Instrução. Deputado pela India, em 1919 e no mesmo ano foi nomeado Chefe da 3.1 Repartição da Direcção Geral da Administração Civil do Ministério das Colónias. Foi, também, Governador do Distrito de Quanza do Sul, Angola, em 1921. O Dr. Nóbrega Quintal é um Jornalista e Poeta de feição romântica, possuidor de uma linguagem harmoniosa e sentimental. Tem três livros de poesias, em preparação, intitulados : ~Alvoradasn,*Luar de Sonho* e <Novas alvoradas*. Foi Director do periódico <Gente Nova$ e colaborou n o *Almanaque de Lembranças Madeirensen e nos jornais: uO Povon. aA Voz do Povoa, &Diáriode Notíciasn, uHeraldo da Madeiran, <<Diárioda Madeira* e no jornal continental uRepúblican, de que foi um dos seus redactores.

Noivados Fora assim numa tarde, ao vir das sombras, Ele dissera, -linda ! -e mais e mais. . . -Iam aves cantando p'las alfombrasE ela ia a rir a rir, soltando ais. . . Agora a mesma brisa no espaço.. . Já vélhinhos os dois, olhos no céu !

Ele dizia, -linda ! -ao dar-lhe o braço E ela sonhava-se outra vez de v é u . . .

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Vinha a cair a noite, Avé-Maria Santa palavra ! Lembras-te 2 . . . - dizia Era o nosso noivado, dia santo. . .

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E como outrora, ela ainda aos ais. . . Outro noivado agora, - um beijo. . . e mais . . . Fora assim numa tarde, havia tanto.


Contraste Morena e bela no seu fato azul Eu via-a assim passar num dia lindo. Como passam as auras lá do sul Assim ela passou, um véu cingindo. . . Morena e bela, triste o belo rosto Eu via-a assim passar, num dia escuro. Como as sombras que choram no sol posto Segui-a meditando no futuro. Pensava alguém ao vê-la assim um dia Toda luz, toda amor, toda alegria. Cheia de brilho e face sorridente, Que ia cair a sombra duma agrura, Que ia tombar a noite da tristura Na limpidez d'aquele olhar ardente?!

Excerto dum Poemeto Teem saudade os roseirais em flor, -Sabem lá muitos que uma rosa fala E que tem alma a pétala onde cala Às vezes uma mágoa, até uma dor.. . Rosas da minha terra, em nossa sala, Da Senhora do Monte em seu andor. Rosas que p6e no seio o meu amor, -Essa tristeza oculta ando a sonhá-Ia.

E vejo a folha branca, abrindo, abrindo.. . Evocar, é cantar um verso lindo, -Contos luarisados, legendários. Freiras de Santa Clara em suas celas, Ana drArfet, as donas, caravelas, Guiomar, castelãs, os donatários.


João Pestana Júnior (Pestana Júnior)

Nasceu na freguesia da Ponta do Pargo, em Julho de 1894 e faleceu, em Coimbra, vitima de gripe pneumónica, a 18 de Outubro de 1918. Era filho de João Pestana e de D. Maria Rosalina Gouveia Pestana e irmão de Vasco da Gama Pestana e do Jornalista e Escritor César Augusto Pestana (Pausânias). Foi estudante da Faculdade de Direito da &Universidadede Coimbra*. Publicou, em Coimbra, em 1916, na &EditorialMaura Marques*, um livro de versos, intitulado, &Névoade Lágrimasn e deixou um livro de versos, manuscrito, intitulado, &Floresda Alman. Colaborou no &Diário Popularn, uDiário da Madeira*, uDiário de Noticiasa e noutros jornais. Assinava as suas composições com a rubrica de Pestana Júnior e J. Pestana Júnior. Eis três composições deste inspirado Poeta, precocemente arrebatado à vida.

Amei-te um dia tanto, e tive medo De não poder conter já tanto amor; Mas o teu puro olhar, quase em segredo, Me evaporou da alma esse pavor. Amei-te, meu primeiro amor, bem cedo.

E sempre doidamente com ardor, Mas bafejado num sorriso ledo Desses teus lábios minha casta flor. Amei, mas fui damor recompensado, E assim, o nosso amor entrelaçado, Vivia um século se preciso fosse! Que melhor prazer, que melhor ventura. Poderei eu ter, minha virgem pura, Do que amar-te: e se o amor é tão doce!

Partida Eu vou partir, enfim, saudoso e triste! Da pátria amada, dentre os meus eu vou. Amigos, v6s sabeis tudo o que existe Na ideia- *Dentro em breve aqui não estou?*


Eu vou partir, enfim, saudoso e triste Dos prados, dos vergeis da minha terra. E voz oculta brada - <(Tufugiste Do Eden. que a ventura toda encerra>). Da pátria amada, dentre os meus eu vou, Nauta errante do mar das ilusões, E o coração talvez aqui ficou Bradando.-& matador de corações>). Amigos, vós sabeis tudo o que existe No abandorlo cruel, premeditado E tendo dentro nalma uni uTu feriste Un teu sincero amigo. dedicado.. . R

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Na ideia-.Dentro em breve aqui não estou$ Que tormento e tristezas, quanto engano ! ? . . . A esperança dos espinhos lá brotou -Eu volto aos vossos braços dentre um ano.

Além No deleitoso campo, à beira mar, Entre fragosas rochas escarpadas, Se estende um paraíso, onde ao luar, Entoei canções ao som das guitarradas. Nesse eden, só damor, suavisa o ar

O perfume das flores matisadas,

E a mais inebriante com seu olhar Me enlevou em visão a um céu de fadas. Entre recordações, que são imensas. Sinto no fundo da minh'alma intensas Saudades desse campo tão divino. E lá, onde meus sonhos foram tantos, Entre sorrisos mil e mil encantos Deixei o coração preso ao destino.


José Raimundo de Castro 1894

Nasceu na vila de Machico. a 31 de Agosto de 1894. E' filho de Felisbeito de Castro e de D. Mónica de Castro. Foi, durante muitos anos, empregado na Iridustria dos Bordados da Madeira e encontra-se, actualmente. empregado no instituto de Assistência a Famílias, desta cidade. Colaborou, em prosa e verso, no extinto periódico u A Lanterna*, onde fez a sua estreia literária e seguidamente no <(Ecodo Funchaln, diário de Notícias> e ufornal da Madeira)).

Recordando Aos bons amigos e visinhos, Srs Diogo FTazáo Sardinha, já falecido e Carlos Frazão Sardinha, Capitão de Engenharia.

Correm os tempos, tudo esquece, é assim a vida; - Salvo frivolidadesRecordo o poço da fazenda, a grande lida, -Como tenho saudades ! ... Três: enquanto u m cavava, outro amassava barro P'ra fazermos pastores. Galinhos, porcos, viloa a fonte, com jarro. Eramos uns doutores.. . A espingarda do papá ainda a estou vendo Deitada na gaveta: acarlinhos. puxava o gatilho e eu, tremendo, Fazia uma careta.. . Foguetes de 5 reis que os Nunes vendiam Estalavam no ar; Da velha figueira, figos pecos caiam, O Papá a ralhar: Quem está ai dando foguetes, ah já sei! Oh Carlos, Oh Diogo. Oh menino José, eu já vos avisei. Aqui, não quero fogo ! ! ! Poucos momentos depois, grandes matracadas. Sons ensurdecedores. Era um pobre piano, em dissonâncias. tocadas Por démor tocadores.


Até parece que foi ontem, no mar mau

Estava uma barquin ha ; Muito tabuado a enxugar no calhau. As botas não as tinha. Ou cãozinho ou cadelinha ao ombro levando Para a Mamã fugia: E eu. sempre atraz, muito rouquinho, chamando: uCarlinbosn, não vigia ? ! . . . Assim foram as horas de sonho doirado De que tenho saudade ! . . Já no declinio, invernos0 e nevado, Só sinto uma vontade: Remudar, sempre, escombros dos degraus da vida Das lindas primaveras, E com a s ingénuas brincadeiras, na lida, Gosar, mais, as quimeras. . . Inédito.

Oferta nupcial Fidos sempre aos juramentos P'ra eternas felicidades, Não haja arrependimentos, P'ra que .náo haja maldades. . .

As trombetas do céu soem Os hinários sem cessar. Divindades abençoem Para sempre o novo lar. Inédito.

Finados Tangem os sinos Profundamente. Eles são hinos De som pungente : Vão peregrinos, Mui tristemente, P'ra os seus destinos, A voz dolente l

Inédito.


Carlos Alberto Supico

Nasceu no Funchal, em data que desconhecemos. É sobrinho do distinto Poeta e Jornalista Francisco Maria Supico, falecido na cidade de Ponta Delgada (Açores), onde viveu durante muitos anos e onde gosou de grande nomeada e preponderância, sendo o seu maior titulo de glória o jornal uPersuaçãos, que publicou, durante alguns anos, naquela cidade. Carlos Alberto Supico, dedicou-se ao teatro, como amador, tendo tomado parte em festas de beneficência, no uPavilhão Parisn, desta cidade, no Continente e na América do Norte, onde foi um dos fundadores do K l u b Madeirensen e um dos mais dedicados obreiros da filantrópica Instituição de Madeirenses que mourejam em terras do novo mundo, conhecida pela designaçáo de uDia Madeirensen. Foi Presidente da Comissão Executiva desta Instituição, em Bedford, em 1939 ; Secretário-correspondente, em 1951 e Vice-presidente, em 1955, desta mesma Instituição. Em 1927. foi empregado dos escritórios da *Metro Goldwing Meyern e tradutor da revista arte uFllmesn. Iniciou a sua vida literária no 4 0 Povo*, do Dr. Manuel Augusto Martins, uDiário de Notíciasn, e *Trabalho e Uniãon. Enquanto residiu em Lisboa, escreveu para o oIntransigenten, de Machado dos Santos, *A Batalha*, de Pedro Muralha e ~Humanidaden, de Manuel Bravo. Na América. onde reside desde 1918, c~laborounos extintos jornais, uPé de Ventoo, &Jornaldo Povos, uO Popular*, e e 0 Colonialn. Publicou o jornal %APátria* e foi Redactor do uIndependente~e do Diário de Notícias*, Excepto os seus artigos liter& rios e de critica, todoses outros têm saido como matéria de redacção ou com pseudónimos. Esteve na Madeira, de Dezembro de 1951 a Março de 1952, em missão do dia Madeirensen e escreveu e publicou no (ECO do Funchaln, desde 20 de Outubro a 12 de Dezembro de 1954, um bem elaborado Relatório da actividade desta Instituição, desde o seu início, intitulado, $Dia Madeirensen (1934-1954). Eis alguns versos da sua lavra, que teve a gentileza de nos enviar:

Estoícismo Escuta: Não fales assim d'amor Teu coração traíu. Acredita Que te conheço bem. E se te fita O meu olhar, então és bem pior. A tua máscara é tal a minha dor. Um riso que não sentes. Ou contrita Desilusiio do que já foste. Aflita Minh'alma triste assim te vê melhor,


Não fales dum amor que me não sentes. Se queres ser amada, p'ra que mentes

Ao pobre coraçao que já sofreu?. . . Mentir é dom de quem é falso. Pois Mentir ao nosso amor, entre nós dois Aquele que mais mente então sou eu.

Aquele ~Nãon Depois de leres os meus versos q'ridos, Que bem te falam ao teu coração, Disseste, triste, haver ali um enãou, Que ponha em movimento teus sentidos. Perguntas : De nós dois destituidos D'amor qual seja com ou sem razão . . . E e u que te conheço o coração Respondo ser o unãoh dos teus sentidos.

E tu que há muito q'rias confessar O teu estranho, o teu oculto amar, Achaste nisso a razão emfim,

E assomando um beijo à tua boca Cortaste o má09 da minha ideia louca E declaraste o teu amor por mim.. . Inédito.

Paradoxo Quando meu olhar triste junto ao teu Vai descançar de breve, descansar. . . Não tens nesses teus olhos teu olhar, Mas sim em teu olhar o olhar meu. Quando juntas teu peito ao peito meu, Não tens teu coração a suspirar, Mas sim meu coração a palpitar Nesse teu seio que já não é teu.

E quando, as vezes, minha mão sem graça Em tua mão formosa lá se enlaça Furtivamente entregue à comoção, Imaginas, talvez, ter's entre os dedos,

A minha mão repleta de segredos, Quando tens, afinal, meu cora$o. . .


Henrique da Conceição Pereira (José Pascoal) 1894 -1959

Nasceu na freguesia da Sé, desta cidade, a 8 de Dezembro de 1894 e faleceu a 29 de Março de 1959. Era filho de Augusto Pereira e de L>. Maria Amélia Pereira e cunhado do Poeta Dr. Manuel Silverio Pereira (Rio Silve), co-autor do uArquipélagoh. Foi Guarda-livros da aEmpresa Madeirense de Tabacosn, Professor de Linguas e Contabilidade e Redactor do &Diáriode Notíciasn, desta cidade, desde Abril de 1931. Foi Poeta e Jornalista de merecimento. Os seus versos, de lírica inspiração, são impregnados de uma suave filosofia. Colaborou no uDiário de Notícias*, 4C! POVO*,uDiário da Madeira%,uIlustração Portuguesa*, ullustração Madeirensen, aRevista Portuguesa*, *Eco do Funchal*, uRevista Madeirensen e noutras publicações, assinando alguns dos seus trabalbos poéticos, com os pseudónimos de José Pascoal, Carlos Henriques e ~ o r n a zde Alencar Júnior. Publicou uma plaquette. intitulada, avelhos Apontamentos~.Funchal, 1953. De 4 págs. (H. C. P.) Vejamos estes seus interessantes sonetos, dos quais, os dois primeiros, foram premiados nos Jogos Florais da Madeira, de 1941-42 e 1945-46.

O Super-Homem Aqui tendes esta alma que me deste, Senhor ! Ei-Ia a teus pés, confiante e pura : Procurei elevá-la a toda a altura Vinda de tuas mãos, qual bem celeste. Nem do pecado impuro o vento agreste, Nem do lodoso vício a lama escura, Lhe macularam a impoluta alvura Que de brilhos de estrela se reveste. Mas, no meu manto, pulcro. de virtudes, Não posso olhar-te, sem angústias rudes, Sem que violentas dúvidas me tomem: É que esta alma de graqas soberanas, Por não mostrar imperfeições humanas, Nso sendo alma de um Deus-não é a de um Homem!


Hora romântica Jorra o luar do céu todo turqueza, Sobre o jardim, florido e aliciante: De onde o repuxo eleva a voz cantante De um fio de água que murmura e reza. Esta hora indizível de beleza, Este supremo e venturoso instante. Só eu o sinto, assim, alucinante, Ou é obra e primor da Natureza? Vive o mundo a beldade capitosa Desta noite sem par, esplendorosa, Noite maga, de amor e de ventura?

Ou este encanto, para mim tão grande. Vem do feitiço que o teu ser expande E a própria Natureza transfigura?

Exame de consciência Em certas horas tenho por conselho E guia ao meu pensar e ao meu gesto O espírito dum santo-e sou honesto, A minha alma dos bons é limpo espelho. Em outras, não sei como, eu assemelho Dos maus o consciente ser -funesto, E ao pecado e ao vicio corro presto. Aos seus lábios pintados de vermelho. Reflexiono, depois. . . Ao anoitecer Esta dualidade do meu ser Ruge-me na alma um indignado espanto! Tê-las sempre, em descanço, quem pudera ! Não conhecer o bem ser uma fera, O u conhecê-lo, entso, -mas sendo um Santo

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Manuel Zacarias Teixeira Cabral (Zacarias Cabral) 1895

Nasceu no Funchal, a 15 de Março de 1895. É filho de António Cabral, proprietário e de D. Júlia Lídia Teixeira Cabral e irmão do consagrado Caricaturista António Teixeira Cabral. Reside, com a sua família, no Continente. Quando residiu na Madeira, dedicou-se ao teatro de amadores, escrevendo e tomando parte em várias revistas teatrais, entre elas uma intitulada, nAh cão, vai-te p'ra Argélian, levada a cena com grande sucesso, no Salão-Tea tro da .Banda Municipal do Funchaln, (Artistas Madeirenses). Foi. em 1927, laureado num Concurso Literário, realizado no Parque Mayer, em que, de 2000 quadras, foram escolhidas apenas 12, entre elas 2 da sua autoria. Essas quadras foram recitadas no uTeatro Variedades*, pela &CompanhiaMaria Matosn. Também, foi laureado, num Concurso Literário, promovido pelo @Diáriode Lisboan, no qual entraram 3500 quadras. Apenas 35 foram escolhidas para prémios e 35 para diplomados. Zacarias Cabral foi um dos diplomados, deste Concurso. Colaborou no diário da Madeira*, <<Diáriode Notícias*, e $0Povo%,de Lisboa, etc. Usou o pseudónimo de Baldraque. Anunciou a publicação de um livro, intitulado, uGotas de Água?, que, ao que nos parece, nunca deu à estampa.

Quadras Os nossos lábios unidos -bem rimados com calor são quatro versos de beijos na trova d o nosso amor.

A mão que fez as estrelas fez os teus olhos também, -metendo neles a Luz dos olhos da Virgem-Mãe!

Vê pouco quem quer ver muito no Mar, na Terra e nos Céus: -O pouco pertence às almas; o muito pertence a Deus! Dizes que amando é que vives.. . -Não te compreendo assim : Se já disseste que estavas bem morta d'amor por mim !


Eu qu'ria ser jardineiro, Para depois do sol-posto, regar-sòmente com beijos as rosas desse teu rosto.

Pobre d'arnor ! pus na Esp'ra~iça. minha Fé tua amisade. Quem espera sempre alcança E não passa a Caridade !. . .

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Nigel Drury Power (Nigel Power)

Nasceu na freguesia de Santa Luzia. a 8 de Setembro de 1895. E' filho de Charles Osborne Lubbock Power e de Gertrude Frances Power e irmão do Escritor Charles Alexander Le Poer Power e de Sheila Mary Power. (Madre Teresa). Exerceu o professorado de língua inglesa. desde 1926 a 1950, sendo considerado o melhor Professor de inglês comercial, nesta Ilha. Foi Director e Professor do uColégio Britânico*. Este Colégio possuia 300 alunos e 18 Professores e foi visitado pelo Governador do Distrito. Dr. Teixeira Dias e esposa, a 26 de Novembro de 1941. E' Pastor da uIgreja Evangélica de Portugala, desde 1938 e organista e autor de vários hinos religiosos. Colaborou no semanário rA Madeira Novao e noutros jornais Evangélicos.

Na noite em que Jesus nasceu Na noite em que Jesus nasceu E a nós o Pai Seu Filho deu. Divina Luz resplandeceu. A Jesus dando glória. CORO

A Jesus dai glória ! Sim, mntemos glória ! A Jesus dai g16ria ! Nas alturas gldria ! Nos montes da feliz Belém Pastores com espanto vêm Anjos do céu descendo além. A Jesus dando glória. Jesus vem todos a salvar. Vem ensinar-nos a amar : Vede o Menino Rei sem par ! A Jesus demos glória.

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0' vinde todos dar louvor Àquele que é de tudo Senhor, Cristo, divino Salvador. A Jesus demos gl6rb.


Carlos Marinho da Conceição Lopes (Carlos do Mar)

Nasceu na freguesia de São Pedro, desta cidade, a 3 de Março de 1896 e faleceu a 12 de Maio de 1930. Era filho de Manuel Joaquim Camacho Lopes e de D. Matilde Firmina Lopes e sogro do Professor Cristiano Fernando de Castro. Foi Professor do Ensino Primário, diplomado pela Escola de Habilitação para o Magistério Primário, em 1 de Agosto de 1919 e possuia exames de quinta classe dos Liceus, de inglês e português. Leciooou nas freguesias da Tabua, de 1923 a 1924, Santa Maria Maior, em 1931, Serra de Água, de 1931 a 1934. Camacha, em 1934, Rheira Brava, em 1927 e Santa Cruz, em 1935. Foi. também, Professor de Inglês. Francês, Escrituração e Contabilidade, tendo fundado o *Colégio Marinho Lopes*, de que foi Director e Professor. Em 1927, foi louvado pela Câmara Municipal da Ribeira Brava, pelo número de alunos apresentados a exame e, em 1935. pela Câmara Municipal de Santa Cruz, por ter fundado um Museu e Biblioteca, naquela freguesia. ~rPossuidorduma curiosa sensibilidade, de sabor estético diz a Crítica com modernidade vibrante. A poesia tentou-o, na verdade fez versos com certa originalidade e audácia, que reuniu no seu livro *Galeras, publicado nesta cidade em 1927. Mas como prosador, Marinho Lopes foi mais longe : as suas páginas do jornalismo que espalhou abundantemente pela imprensa local- tinham cor, ideias que se erguiam numa ânsia de ineditismo, e uma exuberância de expressão verbal que documentivam um espírito imaginoso, cativado de inquietantes motivos de beleza$. Pertenceu a uma Tertulia, formada por Octávio de Marialva, Dr. Albino de Menezes, Dr. Manuel Fernandes Rosa, Abel de Abreu Nunes, etc. Foi o Director da uGazeta Infantil)), do $Diário da Madeira)), iniciada em 13 de Janeiro de 1928 e colaborou no uDiário da Madeira)). uDiário de Noticias)), e noutros jornais locais. Usou os pseudónimos de Carlos do Mar, Principe Carlos e Principe Carlop e publicou os livros: *Triunfo*. Funchal, 1927; uGaleran, Funchal, 1927 e upensamentos e Blagues*. Funchal, 1927 e deixou inéditos os seguintes trabalhos: íFlaman (Novela sintética), <Transviado*,uClaridadesh e uCarta do Além*. Proferiu uma conferência, iotitulada. a 0 Teatron, na uEscola de Arte de Representar~,de que foi Director, que foi publicada no uDiário da Madeira., de 2 4 e 31 de Outubro e 7, 2 2 e 26 de Novembro e 5 de Dezembro de 1928.

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Sócrates Pelas ruas de Atesas, ecpavam E detinham as turbas comoyidas As palavras profundas, eqc,olhidas, Que a bondade suprema proçlamayam:


-A Bondade é o fim único das vidas. A Ciência consiste em discernir O Bem do Mal. fager por descobrir As verdades em nós sempre escondidas. Meditar é subir à profundeza Luminosa das almas e trazer Ao nosso pensamento essa grandeza Da Essência divina. Meditar É a nobre ocupação de resolver O segredo das coisas e voar. . .

Salão de Inverno N o salão, azul sobem aspirais De fumo dos charutos saborosos. Fala-se de corridas de fogosos Cavalos em concursos mundiais. Depois, lembra o Marquês os matagais De África nos momentos perigosos Em que fazia frente a temerosos Ursos e tigres e outros animais. Vai descrevendo as selvas, o homenzinho, Imita a voz do leão e da pantera: Com talento e calor tudo relata.. . Mas, na porta, a Marquesa diz baixinho: - uQueria vê-lo à frente de uma fera, Meu marido que teme uma barata !.. .n


Álvaro Rogério Manso de Sousa (Álvaro Manso) 1896 - 1953

Nasceu na freguesia de Santa Luzia. a 13 de Março de 1896 e faleceu na freguesia de São Pedro, a 24 de Janeiro de 1953. Era filho do notário Joaquim Manso de Sousa e de D. Corina Violeta Manso de Sousa, e irmão do industrial de Bordados da Madeira, Adriano Manso de Sousa. <Verdadeiro temperamento de artista,-diz a crítica-desde muito novo mostrou vincada predilecç~opela música, tocando piano e órgão, e compondo por Vocação e puro autodidatismo. As suas composições saíam dos moldes corriqueiros que são habituais em amadores. Sobressaiam pela audácia das harmonias e pela sua vigorosa concepção. Em todo o caso, poucos conseguiram apreciar esta modalidade do seu temperamento, pois restringia as suas audições a um número restrito de amigos. Poeta, versejou com beleza nos seus tempos de adolescente. Impressionado pela poesia de Eugénio de Castro -mago dessa época - os versos de Alvaro Manso tinham também a sumptuosidade que se notava predominantemente no lirismo do grande vate de Coimbra. A idade. -o abandono dos sonhos - fê-lo depois um distinto escritor, de prosa máscula e colorida, fimbriada de curiosa e sugestiva originalidade. A sua entrada para o *Arquivo Distrital do Funchal~,lancou-o no rmare-magnumr dos velhos manuscritos e infólios. Inteligente paleógrafo, ràpidamente se familiarisou com a escrita antiga, causando admiração a facilidade com que decifrava a linguagem arcaica, que para outros constituia autênticos hieroglifos. Em resultado das suas bem orientadas investigações, publicou na Imprensa deliciosas páginas, muito admiradas pelos apreciadores de boa literatura. Tinha, em manuscrito, dois trabalhos literários, para publicar em volume, mas nunca chegou a conclui-los. devido ao seu feitio noilchalante e ao seu desapego da publicidade~. Usou nos seus escritos os seguintes pseudónimos: Ismael de Bô. João Caiado, Dorotria de Neve. Ymario Koman, Manuel de Lins, Rogério Lahusen e João Barreira. Publicou os seguintes trabalhos: +Auto de voto feito pela Cidade do Funchal ao Apóstolo Sáo Tiago, Auto de Milagre do Bem-Aventurado Apóstolo São Tiagon Funchal 1942 e 1958 e 60s Cómicos Panizasn. Foi Redactor de $0 Seringan, em 1918 e colaborou na *Gente Novar, *Diário de Notícias*, *Revista Portuguesan, revista *Pérola do Atlântico*, @ArquivoHistórico da Madeira*, revista *Das Artes e da História da Madeiran, uAlmanaque de Lembranças Madeirensen e uDiário da Madeiran, onde publicou uma colectânea de poesias, intitulada, aPorcelanasn, em 1918, sob a rubrica de Dorotêa de Neve.

Mãos As suas mãos tao leves como a espuma, tão brancas como a fria e branca neve, possuem essa graça que descreve, o baile lento e longo duma pluma.


São mãos de curva, mãos de alvinha bruma, são mãos aduncas, essas que de leve, se fecharam crendo abrir-se; e tão de leve se movem, que se cuida ser só uma. Eu sinto aquelas mãos fremirem medos, e sinto o pulso lento e sem compasso, ao tê-las entre as minhas mãos doentes: E sinto o tacto frio dos seus dedos, nas minhas mãos movendo como aço.. . -Mas logo fogem, num instante quentes.

Soneto No velho parque o fauno pensativo, Tem o ar do mais vivo sofrimento: A sua boca a rir é-lhe um tormento, Tornou-se o seu olhar quase agressivo. Talvez que pense no bailado esquivo Das brancas ninfas, leves como o vento. Oh ! quanta mágoa nesse pensamento Que pôs em dor seu riso primitivo!

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Passa breve um instante em que parece Acreditar que chegam os que espera. -NO seu íntimo, então, ri e estremece. Vê-las bailar a derradeira dansa Deseja, mas, subindo, os ramos de hera, Querem tirar-lhe a última esperança.


Vasco Portugal Pires (Joáo de Abril) 1896 ?

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Nasceu na Madeira, por 1896? e faleceu, no Continente, em data que desconhecemos. Era 1.0 Sargento do Regimento de Infantaria n.0 13, em 1927, sendo demitido do Exército por ter tomado parte na Revolta da Madeira. em 1931. Foi um Poeta de índole revolucionária. Os seus versos. impregnados duma leve filosofia. possuem elevação, harmonia e sentimento. Compôs. *bem, versos humorísticos, com muita graça, que foram publicados no extinto jornal uO Povon, desta cidade. Usou, em alguns dos seus trabalhos literários, o pseudónimo de Jodo de Abril. Colaborou, também, no semanário 4A Madeira Nova*.

Antítese Como era lindo e brando o gesto de Jesus Quando, à tarde. no lago, à proa dum bate], Ou por entre os casais. na sombra dum vergel, Ia mostrando a turba aquela grande Luz!. . .

Sua palavra encanta. o seu olhar seduz, As almas ilumina, ainda a mais revel; Que terna aquela voz, mais doce do que o mel, Sempre serena e calma-até mesmo na cruz! Hoje-que trovejar de frases e de gritos Em nome do Rabi, ressoa pelas naves Das grandes catedrais!Que extraordinários ritos Vieram transformar as coisas tão suaves Prègadas pelo Mestre, aos corações aflitos. P'las campinas em flor e sob o voo das aves !


Abel Marques Caldeira (Júpiter) 1896

Nasceu na freguesia da Sé, desta cidade, a 23 de Maio de 1896. É filho de António Marques Caldeira e de D. Maria Joaquina de Jesus e pai dor Jornalistas Alberto Angelo Marques Caldeira e Rogério António Marques Caldeira. Foi Redactor do %Jornalda Madeira*, durante muitos anos, encontrando-se, actualmente. aposentado. Foi o iniciador da excursão familiar aos Açores, em Agosto de 1932 e editou, nessa data, um folheto de 8 páginas, intitulado. uIntercâmbio Insularn, no qual colaboraram os Jornalistas: Gonçalves Preto, João Fernandes Rosa. César Pestana. Baptista Santos, Dr. Álvaro Reis Gomes. Elmano Alves e Gon~alode Ornelas. É Editor e Coordenador do *Almanaque Madeirenscn e colaborou no uDiário da Madeira*, uDiário de Notícias$, %Comérciodo Funchaln, %Trabalhoe União», oC) Fixe*, uA Ilha*. uO Norten, uA Tribunas, olndependêncian. ocorreio Desportivon, uO Luzitano*, madeira* de Venezuela, oAlmanaque Madeirensen, ucorreio dos Açoresn, açoriano Orientalo, a A Pátrian, de New Bedford Mass. U. S. A., revistas uMadeira-Açoresn, uTertúlia sem Títulon, etc. Usa, em alguns dos seus trabalhos, os pseudónimos de Marcal e Júpiter. É autor do opúsculo. rPor Terras de Portugaln. editado pelo *Açoriano Oriental*, em 1960 e tem inédito um livro. intitulado, dicionário da Linguagem Popular Madeirensen.

A mendiga A. M.1le. S. C.

Já cançada e tão velhinha

A apoiar-se ao seu .bordão, Vai a pobre. coitadinha, P'lo mundo estendendo a mão. . . Toda a hora, sem cessar, De porta em porta. pedindo, Recebe a esmola a rezar E agradece-a sorrindo... Ou então, com a netinha, Corre a aldeia todo o dia ... Mas. à noite. a pobresinha Volta ao lar sem alegria !


Pouca esmola é recebida, Não tem ela que comer, E diz p'ra neta querida: -u Só Deus nos pode valer ! n E foram ambas dormir Com olhos fitos nos céus : A velhinha sem sentir, Elevou a alma a Deus. . .

A minha estrela Como é linda a minha estrela Incandescente, brilhante. É minha, desejo vê-la Perto de mim, ngo distante. . . Não sei o que vejo nela: Qualquer coisa de flagrante . . Que me prende e quero tê-la NB vista a todo o instante.

Esse astro que me fascina Que me guia e ilumina Que me detém, me seduz Quer de noite, quer de dia. Contempla-lo sempre queria, Encher rninh'alma de luz.


Gabriela Helena da Câmara Leme Escórcio Gouveia de Bettencour t 1896

Nasceu no Funchal. a 13 de Agosto de 1896. E' filha de João da Conceição Drumond Rodrigues de Gouveia e de D. Maria Alda da Câmara Leme Escórcio Drumond de Gouveia (que também figura neste Espicilégio) e mãe do Escritor e Poeta Carlos Cristovão da Câmara Leme Escórcio de Bettencourt. autor dos livros, <(Entreas Ondas e Vale* e 6 0 Livro de São Cristbvão~e co-autor da colectânea de poesias, 4Arquipélagon. Como sua mãe e seu filho, dedicou-se à poesia, tendo composiçóes interessantes. como este soneto inédito, intitulado

O Pico do Facho Defronte da janela, aquele pico Ergue-se altivo, rude e solitário, E eu contemplo-o nos dias em que fico Triste. n o leito. a cumprir meu fadário. Subindo ãquele monte de Machico, Vê-se o mar azul, esse mar lendário... Em vegetaçáo não é muito rico. Mas lembra um paciente dromedário. Fico-me a olhar para ele e, dessa altura E' tesmunha muda das tristezas Que me pungem nos dias de amargura.

E o monte meu amigo nem murmura Da minha vida a dor, as incertezas Àqueles que inda sonham cota ventura. . .


Manuel Rosário de Gouveia 1896

Nasceu na freguesia da Serra de Água, Conselho da Ribeira Brava, a 4 de Outubro de 1896. E' filho de Amaro Pereira de Gouveia e de D. Inês da Corte e Silva. Iniciou o seu Curso no uHospício de D. Maria Amélian, desta cidade e matriculou-se, depois, no Seminário de Coimbra, onde concluiu o Curso de Teologia. Foi Professor de Matemática e Filosofia e leccionou Música e Canto, no Seminário Diocesano do Funchal. Encontra-se, actualmente, internado na *Casa de Saúde dos Irmãos de São João de Deus (Trapiche), onde compôs a letra e música de algumas Avé-Marias e um hino a São Joaquim, Santo onomástico do Director daquela Casa de Saude. Eis a sua primeira composição poética:

Sonetilho

lua

Alvo Céu na noite pura, Donde vem o teu alvor ? Vem do astro tão brilhante Que me inspira casto amor Amor não da Natureza, Mas d1Aqueleque a criou, Que, p'ra cúmulo de Beleza. Até as nuvens dissipou. Se até mesmo para o mar Nos voltamos ansiosos, Nos reflecte ele o luar

E nos montes alterosos, Nós podemos contemplar Aspectos novos, curiosos.


João Vieira da Luz 1896

Nasceu no sitio da Lombada, freguesia da Ponta do Sol, a 14 de Novembro de 1896.

E' filho de Manuel Vieira da Luz e de D. Ana da Silva Vieira da Luz e pai de John Vieira da Luz Júnior. Professor do Liceu de Dortmouth, Mass. Encontra-se na América do Norte, há cerca de 40 anos, onde é industrial, na1 cidade de New Bedford, Estado de Massachusets. Dedicou-se a música, tendo estado, em 1935, a frente de uma importante filarmónica, em West Warwich. E' um dos pioneiros do movimento de caridade cristã, denominado *Dia Madeirensen, de que foi um dos fundadores e Presidente da Comissão Central, em 1949 e onde desempenha, desde a primeira hora, o cargo de 1.0 Secretário da respectiva Comissão. E' também, o. organizador e editor do uAnuário do uDia Madeirensen, função que tem a seu cargo. desde 1942, e foi o coordenador do folheto, intitulado, ~Mensagemn,ilustrado com as fotografias de João Gonçalves Zarco, Dr. João de Bianchi, Dr. Alexandre da Cunha Teles, João Teixeira de Gouveia, Manuel Veira da Luz, António Fernandes, João Vieira da Luz e de criangas da oEscola de Artes e Oficioss, <Auxilio Maternaln e @Asilode Mendicidade e Orfãos do Funchaln. Tem visitado a Madeira, por várias vezes, para matar saudades dos que lhes são queridos e em missão do uDia Madeirensen, sendo a última, em 14 de Julho de 1954. Colaborou nos extintos jornais. a 0 Progressoa, uA Voz de Portugala e oImprensaa, tendo neste último pi~blicadoalgumas sátiras. Colaborou. também no uDiário de Notíciasn, desta cidade: Eis um soneto da sua lavra.

Madeira.. . <Jardim de Flores» Tantas saudades eu matei ao chegar Ao meu torrão natal por excelência, Que Deus quis tornasse a ver e a pisar Depois de longos trinta anos de ausência. Quando avistei o farol, puz-me a rezar Com devoção à Divina Providência, Por ter ocasião de contemplar O meu solo outra vez com reverência. Idólatra até me tornei, julgando Ver um cantinho do Céu Divinal, Comovido com lágrimas... chorando, Saudei a bela cidade do - Funchal Que o mar e a poesia vêm embalando Com amor terno, tio seu litoral.


Júlia Graça de França e Sousa (Uma Mulher)

Nasceu na freguesia de Santo António, do Funchal. a 9 de Janeiro de 1897. E' filha de João Maria França e Sousa e de D. Isabel Glória de França e Sousa. Exerce o Magistério na freguesia de Gaula. E' Escritora, Jornalista, Conferencista e Poetisa de mérito. Publicou os seguintes livros t uNoivado de 1)uas Almass (Romance de apolog t i c a da doutrina católica e da moral cristã). Funchal, 1940; uA' Luz do Candeeiros. (Romance). Funchal, 1943; @Abrios olhos, oh Mães*, (Conferêocia). Funchal, 1950; uAs pedras mudaram-se em rosas.. . no retalho do meu romance*. (Conferência). Funchal, 1953; rumo a o Largos. Funchal, 1955 e oUm Arrojos. Funchal, 1958. Colaborou no uDiário da Madeiras, dorna1 da Madeira,, revista uA Mocidade*, revista rEsperan~ase nos jornais da 4Ac~áoCatólica*, 9 0 ~árócone o oProfessors e é a orientadora de uma publicação da <Liga Escolar Católicas, intitulada, &ANossa Escola*. No Continente colaborou em vários jornais católicos, .nomeadamente n' uA Voz*, em 1933, onde escreveu uma série de artigos, descrevendo uma viagem a Roma e na oPágina Femininas de <IASNovidades*, de 1935 a 1938, onde publicou os artigos, uA Madeira vestida de Noiva*, uA Madeira a ardera e o poema, uTens pena de partir*. Usa, nalguns dos seus trabalhos, o psedónimo de Uma Mulher.

O Rouxinol Não canta, o nosso rouxinol ? De pássaros um bando preguntava, Numa algazarra doida que encantava, Em hora em que dormia há muito o sol.

A eira da lisura dum lençol, Do passa1 uns minutos afastada, Servia de palco a alegre revoada, Que, descansando, esperava o arebol.

E o infeliz em tão muda aflição, Gotejando-lhe sangue o coraçiío, Lesto. os golpes, oculta com um véu. Soluçando, Ievanta a-meiga voz, Cantando brando a sua mágoa atroz, O sacrifício belo oferece ao céu.


Luís Antão Rodrigues Nunes (Lurones)

Nasceu na freguesia de São Pedro. a 17 de Janeiro de 1897. E' filho de Francisco Rodrigues Nunes e de D. Isabel dos Santos Nunes. E' comerciante. Poeta e Jornalista. Colaborou no extinto *Diário da Madeiran, sob o pseudónimo de Lurones, por 1927. Da sua colecgão de poesias, ainda inédita, intitulada, ~Devaneios~, reproduzimos as seguiutes composi~ões:

Arací Num ginete veloz. em doida galopada Passa como uma flecha uma gentil donzela. Beija-lhe o rosto lindo a brisa perfumada. Brinca u m sorriso ideal nos lábios d'ela.

O céu é todo azul. O sol, um sol ardente, Espalha sobre a terra a sua intensa luz. Arrulham juritís numa canção dolente. Rescendem com delícia os niveos guajerús Nas comas do arvoredo, os seus ternos amores Celebra com delícia o lindo crajuá. E o múrmuro irerê suspira entre as flores Que enchem de graca e viço o esbelto manacti. Mas eis que d'entre a ubaia um gamo saltitante Vem sôfrego beber a água cristalina Que brilha na igaçaba à qual o caminhante Vem muita vez saciar a sede que o domina. Fulgem com mais ardor os olhos de Arací, A exímia caçadora atira com firmeza E o gamo vai morrer ao pé de um taquatí Onde ia procurar a última defeza. Flor bela do sertcio, na curva deliciosa Da perna esbelta tras vermelha jarreteira. - E' que o corpo gentil da virgem donairosa Possue inda o candor da flor da amendoeira.

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Porém nos olhos seus, veladcs de ternura, Brilham promessas mil de acrisolado amor: Dentro em seu coração floresce a chama pura Pelo que ela elegeu seu rei e seu senhor. Por isso imersa a alma em edénico goso Corre a virgem febril, com graqa feiticeira. Aos braços do guerreiro ousado e valoroso Que lhe há de desatar a rubra jarreteira.

E surge ao longe, ao longe, entre arrebois doirados, Cheios de encanto e luz. de sonho e de ilusão. Uma taba florida onde os dois namorados Se juram mutuamente uma eterna paixão. Floresce o manacá ao sol forte, estival, Depõe. afadigada, o mel, a jatai, A arara e o sabiá, num hino triunfal, Celebram com fervor as núpcias de Araci.

O assalto A noite é fria e triste. A' luz das almenaras Referve intensa a luta, é duro o pelejar. Dos crentes do Alcorão as multidões ignaras Bramindo ferozmente, avançam sem cessar. O almogaure audaz, de alfange faiscante, Defende com bravura a imensa barbacan E ao vigil atalaia o indómito semblante Refulge ao trucidar a multidão pagã. Soa a trombeta aguda entre o tinir do ferro.

-E' o brado para avançar sobre o agareno peno Que o velho alcacer quer ao godo arrebatar.

E ao longo do adarve, esculcas e besteiros Na sua ânsia atroz de bárbaros guerreiros. Vão semeando a morte ao pálido luar.

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João Cabral do Nascimento (Cabral do Nascimento) 1897

Nasceu no Funchal, a 22 de Março de 1897. É filho de João Crawford do Nascimento e de D. Palmira Cabral do Nascimento e marido da Escritora D. Maria Franco Machado do Nascimento, sobrinha do Escultor Francisco Franco e do Pintor de Arte, Henrique Franco. Cursou o Liceu do Funchal e matriculou-se, em 1915, na Faculdade de Direito da *Universidade de Lisboa>, onde permaneceu até 1919, transitando, depois, para a Faculdade de Direito da <Universidade de Coimbran, tendo concluido a sua formatura, em 1922. Foi o organizador do <Arquivo Distrital do Funchaln, de que foi Director, de 1931 até 1955 e o fundador e Director do uArquivo 'Histórico da Madeira*, de que foi publicado oito volumes. É, Professor de Ensino Técnico Profissional, Historiador e notável Poeta Lírico. *Sofre- no dizer de António Sardinha o aristocratismo irrequieto do original, do imprevisto. Os seus nervos têm sedes profundas de tudo o que seja ritmo e de tudo o que seja mistérios. Foi, em Coimbra, Redactor da nRestauraçãon e um dos fundadores da revista 41caros e colaborou em vários jornais e revistas Madeirenses e Continentais. Publicou as seguintes obras : *As três princesas morta s num Palácio em ruinas*. Lisboa, 1916; uAlém-Marn. Lisboa, 1917; *Hora de Noan. Lisboa, 1917; <(AlgunsSonetos*. Lisboa 1924; uDescaminhoo. Lisboa. 1926; uApontamentos para a História Insular*. Funchal, 1927; aArrabaldea. Coimbra, 1928; uGeneologia da família Medina.. .*. Lisboa, 1930; ulitoraln. Funchal, 1932; #Estampas Antigas da Madeiran. Porto, 1935: .Poesias Escolhidasr. Lisboa, 1936; uA Restauraqão de Portugal e o Convento da Encarnaçãor. Lisboa, 1940; 433 Poesias>).Lisboa, 1941; &Gentedas Ilhas nas Guerras da Restauracão*. Lisboa, 1942;. alancioneiroo. Lisboa, 1943; uConfidênciao. Lisboa, 1945; *Líricas Portuguesass. Lisboa, 1946; @Mestresdo conto Policial* Lisboa, S. d, Os Pedreiros-Livres da Inquisiçáo . . .r. Lisboa, 1949; alugares Selectos de Autores Portugueses que escreveram sobre o Arquipélago da Madeiran. Lisboa, 1949; <<PoemasNarrativos Portugueses*. Lisboa, 1949, etc. Traduziu, também, para português, muitas obras da Literatura estrangeira, algumas delas de colaboração com sua esposa e é autor dalguns artigos da eGrande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira*, entre os quais residência de Colombo na Madeira*. Pertence à %AcademiaPortuguesa de História*, desde 1938. Eis uns sonetos da sua autoria:

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Dorme Pierrot, de noite, em sua cama, quando acorda, de súbito. clamando: uOuvi meu nome! Alguém me esta chamando! Mas quem será, pensava, que me chama?* Eis que outra vez a mesma voz exclama: aPierrot! Pierrot!~E o triste, em na escutando, em Colombina então fica pensando. e o coração depressa se lhe inflama.


Adormece depois. Com ela sonha. Mas, de repente. a mesma voz tristonha o faz gritar, surpreso: &Quem chamou?^

E nada. Tudo o mesmo. unicamente numa gaiola, misteriosamente, a voz das rolas a arrulhar: aPierrotn.

Neste jardim vasio, que tristeza. Que fatigado e triste desmazelo! Cobriu-se o parque inteiro de amarelo, O ouro das folhas enche-o de grandeza. Nos pinheiros. ao longe, o vento reza.

A lenda velha e heróica do castelo, Onde, a espera do noivo e para vê-lo.

Um século dormiu uma princesa. As aranhas comentam o abandono Desse jardim. no decorrer do Outono, Em suas teias, fios de bretanha, Com vagas reticências prateadas, Irdnicas, sinistras, desenhadas Como hieroglifos duma língua estranha.

Neste sonho constante que me embala, neste encantado e extático retiro, vai-se-me o dia, assim, como um suspiro e a noite o dia inteiramente iguala. Sinto-a junto de mim, ouço-lhe a fala, de seus cabelos o perfume aspiro, hoje como ontem, no sereno giro do tempo,-aroma que o silêncio exala! Nas suas maos depus a vida e o mundo. o ceu distante e azul e o mar profundo, glórias, desejos, ambições doiradas. -Meu bem, não abras ! Amanhã como hoje, igual a noite o dia chega e foge.. . Deixa ficar as tuas mãos fechadas.


João da Costa Miranda (Joam da Costa Miranda)

Nasceu na freguesia de Machico, a 28 de Setembro de 1897. É filho de João da Costa Miranda. proprietário e comerciante em Machico, já falecido e de D. Maria Leocádia da Costa e irmão de António da Conceição Costa Miranda, funcionário da Câmara Municipal de Machico e de José da Costa Miranda, funcionário da Repartição de Finanças e chefe da Banda Municipal, desta mesma freguesia. Matriculou-se, em 1908, no Seminário Diocesano do Funchal, onde estudou os preparatórios, até filosofia. Ingressou, depois, no useminário dos Olivais*, em Cojmbra, onde estudou teologia, durante três anos e concluiu o curso do Seminário. em 1919. Em 1920, frequentou o Liceu do Funchal, durante alguns meses apenas, onde completou o curso liceal. Como tivesse terminado muito cedo o curso do Seminário, esperou um ano para ser ordenado de Presbitero, porém. por motivos ignorados, desistiu da vida eclesiástica, ingressando na vida comercial, em cujo sector ainda exerce a sua actividade. Em toda a fase do seu estudo, desde a escola primária ao último ano do curso do Seminário, nunca perdeu um único ano. passando sempre com brilhantes notas. Esteve em Bedford, América do Norte, em 1939 e foi eleito para fazer parte da Mesa da uSanta Casa do Misericórdia do Funchal*, para o triénio de 1956-58, no dia 14 de Dezembro de 1955. É Poeta e Prosador, tendo colaborado no uDiário da Madeiran, uDiário de Notícias~,uO Imparcial*, uO Jornal* e revista Esperança*. Tem u m livro de poesias, ainda inédito, intitulado, a 0 Livro das Ilusõesn. Do uDiário da Madeirao, de 11 de Março e 18 de Abril de 1920, reproduzimos as seguintes poesias da sua lavra:

O teu retrato No dia funeral em que eu morrer viras, pé- entre-pé, 2 cam'ra ardente e, com medo da morte. docemente, abrirás o caixão em que eu jazer. Depois.. . com teus deditos ... a gemer, erguerás a mortalha. castamente e um beijo pousarás sereno e quente na minha boca a rir, santa mulher. Então, ness'hora lenta de agonia levanta as minhas pálpebras, Maria. mansinho.. . não desperte o coração. . .


Verás em cada lúgubre pupila como em alvo cristal, ó maravilha, o teu retrato - pálida visão.

Impossível Ao dr. Aritonitio Pestaria.

&Pormim tudo esqueci Mas, por ti, não perdôon. Gomes Leal Aquele amor imenso que eu te dera negaste-o como Judas negou Cristo, e por trinta dinheiros dum Calisto vendeste o coração a uma fera! Mas quando entardeceu a primavera do teu corpo de jaspe-olha bem isto : foi-se embora, a arrotar, o tal Calisto, cançado dos teus beijos-a pantera !

E vieste a chorar (de raiva ou dor?. . .) recordar-me o passado. o nosso amor, o Cristo perdoando ao bom ladrão.. .

. . .O Cristo perdoou porque era Deus. Se ele amasse como eu-te amei, ó Céus!

-Mulher. -Tu morrerias sem perdão !


João Vieira

Nasceu na freguesia de Santo António da Serra, por 1897. É filho do conhecido curandeiro, conhecido nesta Ilha, pela alcunha de,

UO Fèiticeiro~. Veio, com seu pai, residir para o Funchal, quando tinha 7 anos de idade. Frequentou a Escola Primária, até os 14 anos. Embarcou, para a América. em companhia de seu pai, no dia 15 de Maio de 1911 e regressou à Madeira, poucos meses depois de ter embarcado. Voltou, novamente, para a América. em 1912, donde nunca mais regressou. É um Poeta popular e publicou um livro de versos, intitulado, *A vida e história de João Vieira, contada por ele mesmo, desde o seu nascimento até agora ao presenter. Este livro foi escrito em Crockett, ~alifórnia,em 20 de Abril de 1920 e contém 577 quadras populares. Eis um trecho, para amostra: Madeira. ilha querida, Pátria que eu sempre amei, Eis-me em viagem à América, Deus sabe quando voltarei. Já era noite cerrada

Nós iamos em mar largo. Às nove e meia da noite Passámos à Ponta do Pargo. Dai a poucos momentos. Já de terra nada via. Começou a cerração, Juntamente a ventania.

O mar foi-se assanhando

E o barco a balancear. Era uma zunida nos mastros Que era mesmo de assustar. Desci logo ao beliche A ver se conseguia dormir, Era tanto percevejo De cima a baixo a cair.


Manuel Dionísio de Freiras 1897

Nasceu na freguesia da Sé, desta cidade. a 9 de Outubro de 1897. É filho de João de Freitas e de D. Maria Amália de Freitas e primo do Poeta Francisco da Silva Júnior e do Autor deste Espicilégio. Fez parte, durante muitos anos, da Corporação dos Bombeiros Municipais e foi funcionário da Câmara Municipal, desta cidade. Dedicou-se ao teatro, tendo sido caracterizador de Grupos de amadores -teatrais. Colaborou no extinto uDiário da Madeira*. donde reproduzimos a seguinte poesia :

Caridade A Exma. Comissão do *Bal de Tete*.

Bem haja o coração que se abre a liiz sagrada

E que, a pobreza atroz, dos miseros consola! Bem haja a alma nobre, a alma sublimada Que compreende bem o quanto vale a esmola! Dizer & viuvez: Enxuga o pranto, enxuga! Que vem surgindo alem um Sol-a Caridade; Náo tenhas mais na fronte a sombra duma ruga, Na alma o luto e a dor, no peito a anciedade. Do que há-de acontecer nos dias do futuro, Nos dias d'amanhã em que talvez a fome Esmague as afeições dum coração que é puro, Mas que a chama da sorte o devora e consome. É, senhores, missáo que a todos-nos conforta! Se há dor e luto ali, há damas virtuosas Que à fome dizem:-uVai e fecha a tua portal Que vamos transformar em pão, as belas rosas.

Oestes vossos bouquets de caros diamantes, De pérolas, de rubins. de seda e de opulência, Para enxugar ao triste os olhos lacrimantes, Para levar a luz as trevas da indigência!*


João Gomes de Sousa (Feiticeiro da Calheta) 1897 - 1956

Nasceu no Lombo do Brasil, freguesia da Calheta, a 30 de Novembro de 1897 e faleceu, por 1956. Era filho de João Gomes de Sousa, lavrador e de D. Maria Rodrigues dos Santos. Lavrador, também, como seu pai, foi o fundador, ensaiador e director do grupo folclórico, uGrupo do Feiticeiro* ou do ulombo do Doutorr, composto por 40 pessoas, dos dois sexos, que tomou parte em arraiais e Festas da Vindima, no Funchal. Tocava viola de arame e componha as trovas para o seu grupo. Obteve um Primeiro Prémio, como Trovador Popular, num concurso realizado na 1.a Festa da Vindima, em 1938. Foi considerado o maior de todos os Poetas Trovadores Populares Madeirenses, depois do famigerado *Feiticeiro do Norte$. Publicou grande quantidade de folhetos, entre eles a *Festa da Vindima*, do qual reproduzimos os seguiu tes versos :

O Sr. Governador Lá ficou muito contente

Com os versos que cantei Ca vinda do Presidente. Logo no dia seguinte, Que foi na segunda-feira, P'ra ver quem ganhava o premio, Vieram grupos da Madeira. Do Campo Almirante Reis Foram p'ra o Largo da Feira. Fomos do Largo da Feira, Vermelhinhos como um bife, Pelo lado da Ribeira A Praça de Tenerife. Já que fomos os primeiros

A quem deram, mais valor. Quero aqui agradecer Ao senhor Governador.


Também as Lindas senhoras Que eram da Comissão E as quais levo gravadas Dentro do meu coração.

E quando houver outra festa Cada um mostra o que quer. Adeus povo do Funchal, Até ao ano, se Deus quizer.


Silvano Sátiro da Silva (Silvano Silva) 1898

Nasceu no Funchal, a 12 de Janeiro de 1898. É filho de João da Silva e sobrinho do trovador Manuel da Silva. Cursou o Liceu desta cidade e frequentou a Faculdade de Direito da uuniversidade de Coimbrae, em 1918. Encontra-se há muitos anos em Luanda, onde é funcionário aduaneiro. É um Poeta repassado de ternura e nostalgia. Os seus versos são de uma cândida simplicidade. dolentes e sentimentais. É autor clos livros, uRosário de Lágrimass, 1918 e uDo Amor e da Saudader, 1943 e tem um livro inédito, intitulado, ulivro Verde*. Foi Redactor do uDiário de Noticias*, em 1918 e do jornal aA Pátrias, de Luanda. Colaborou no &Diárioda Madeiran, *Eco do Funchal*, aRe-nhau-nhaun, uO Vigilante~,uJornal da Madeiran. <<Comérciodo Funchals, uAlmanaque da Madeiran, etc.

Dor Tarde nublada e triste, tarde escura, Minha tarde inconstante de saudade, Andam meus olhos, há muito, há procura Duma nesga de sol, de felicidade. Ai! quem me dera a mim ter ilusões.. . Desconhecer o mal,' viver feliz, Poder sempre dizer aos coraqóes Aquilo que se sabe.. . e se não diz ! Não se diz porque a vida é fantasia, Tudo, tudo ilusão, alegoria, Tudo, tudo mentira e nada mais. Antes fosses alegre, tarde triste, P'ra bem da minha dor, se é que ela existe!... P'ra bem de todos nós, pobres mortais.


Álvaro de Sousa Drumond Borges (Álvaro Druges) 1898 ?

Nasceu na freguesia da Ponta do Sol, por 1898 ? É filho do Escrivão Notário da Ponta do Sol, Nicolau Francisco Borges e de D, Cândida de Sousa Drumond Borges e irmão do Dr. Carlos de Sousa Borges e Alberto de Sousa Borges. É formado em medicina pela Faculdade de Medicina da uuniversidade de Lisboa*. É especialista de doenças pulmonares. Residiu. durante 13 anos, em Lisboa, onde exerceu clínica. Regressou a Madeira, a 1 de Janeiro de 1932 e encontra-se em Moçambique, para onde foi contratado, em janeiro de 1938, para chefe da Secção de Saude da Direcção do Serviço dos Portos, Caminhos de Ferro e Tranportes de Moçambique. Realisou duas conferências nesta cidade, a 1.a no ~AteneuComercial do Funchaln, no dia 2 0 de Março de 1932, intitulada, uO Pneumothorax Artificial no Tratamento da Tuberculosen, que veio publicada no uDiário de Noticiasn e <Diário da Madeiras, de 22 de Março de 1932, e a 2.a no Teatro Municipal desta cidade, intitulada, aA Tuberculosen, no dia 15 de Maio de 1932. q u e foi publicada no uDiário de Noticiasn, de 19. 20 e 21 de Maio de 1932 e no &Diárioda Madeiran, da mesma data. Publicou, também, várias crónicas médicas, no extinto uDiário da Madeiran, em Dezembro de 1933 e tem um livro de poesias, ainda inédito, intitulado, &Pecados da Mocidaden. Eis um soneto desta obra, composto em Coimbra. em Maio de 1920 e publicado no &Diário da Madeira*, de 27 de Maio de 1920.

minha alma Sinto bem no meu íntimo o correr na vida I)e bom que foi então, tornei-me enfraquecido; Sinto até meu peito mui arrefecido, Quebrar o seu vigor ao ver chegar a ida. Conheço o meu sofrer-rninh'alma desprendida De todo, mísero e franco, já envelhecido; Qui z fugir bem cedo, deixando apodrecido, O nada que me resta da doença-a vida. Conheço que o mundo: para mim instantes É tudo isto epfim-o nada que sentiste E quero por isso, da ilusão partir : Comigo apenas levo a alegria dantes Porque o resto fica, arrefecido e triste, Jazendo em santa paz, p'ra nada mais sentir.


Mário Adrião Alves (Sevla Oiram) 1898

Nasceu na freguesia de São Pedro, desta cidade, a 1 de Março de 1898. É filho de Alexandre Alves e de D, Maria Amélia Alves e irmão de Elmano Alvcs, Director do $Correio Desportivon. É funcionário da Secursal, na Madeira, do *Banco Nacional U1tramarino)n. Poeta e Jornalista de mérito. Assina as suas composições com os nomes de Mário Alves, Adrião Alvcs e o pseudónimo de Sevla Oiram, palavra composta pelo seu nome, escrito ao contrário. Colaborou largamente, em prosa e verso, em jornais Madeirenses, nomeadamente no @Diárioda Madeiran, @Diáriode Notícias$, $Comércio do Funchaln, @Trabalhoe União*, <<CorreioDesportivo~,&Eco do Funchaln, uMocidade)>,uEsperangan, uO Jornal*, uBoletim do Marítimo*, *Voz da Madeira*, &Correiodas Ilhasn, etc. Colaborou, também, em jornais Açorianos e no jornal Continental, <<AGazeta do Sul* e tem uma selecção de 42 sonetos, num volume, intitulado, <<Altura!n.Foi laureado, com um Primeiro Prémio, nos Jogos Florais da Madeira, promovidos pelo 6Eco do Funchaln, em 1942.

Noivos Ei-10s passeando em seu jardim ridente, Trocando beijos puros como a neve. Ele o corpinho cinge-lhe ao de leve. Ela sorri-lhe encantadoramente.

Um par ideal, tão cândido que deve Só tesouros guardar no peito ardente. Um par ditoso. Como está contente! -Eis uma festa que se não descreve. Festa de dois e para dois apenas, Entre lírios e rosas e açucenas, Entre o meigo cantar dos passarinhos. Fazei Senhor. que pela vida além, Aqueles dois se queiram sempre bem, Num lar feito sòmente de carinhos.


Carlos Maria de Oliveira 1898

Nasceu na freguesia de São Pedro, desta cidade, a 5 de Maio de 1898. É filho de Joaquim Carlos de Oliveira e de D. Maria da Piedade de Oliveira. Cursou o Lice~do Funchal e a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa*, onde concluiu a sua formatura, a 25 de Maio de 1922. Exerce a Advocacia, nesta cidade, desde 1922 e é Conservador do uRegisto Comercial do Funchaln, de cujo cargo tomou posse, a 12 de Novembro de 1923. Colaborou, quando estudante, no extinto $Diário da Madeira*, desde 1917, onde publicou 20 poesias.

Primavera A Primavera é chegada. Com seu manto de verdura, Anda alegre a passarada. A chilrear na espessura.

Mas vive em noite fechada, Quem náo gosa da ventura. Passa um regato cantando, Pela formosa deveza, Docemente murmurando Um louvor àI Natureza. Mas pobre, de quem chorando, Vive imerso na tristeza!

O firmamento azulado, Cobre a terra em seu verdor, E o coração namorado, Embala sonhos d'amor.

Mas quem anda angustiado. Não tem no peito calor. Florescem lindas, viçosas, As rosas nos roseirais ; E as andorinhas formosas, Voltam ledas p'ra os beirais.


Mas muitas almas saudosas Choram quem não volta mais!

Adeus do soldado Adeus ó terra florida, Doce aldeia onde nasci: Adeus choupana querida, Onde passei leda a vida, Onde a luz primeira vi! Adeus verdes, altos montes, Incomparáveis paineis, Murmurantes, frescas fontes, Amplos, vastos horizontes, Campinas, serras, vergeis ! Adeus claras alvoradas, Tardes tocadas d'unção ; Evocadoras noitadas, Cantigas e guitarradas Da lua ao meigo clarão! Adeus bailados, folguedos, Que jamais hei-de olvidar, Adeus densos arvoredos, E damor, ternos segredos, A uma moça do lugar.. . Adeus, ó Mãe extremosa, -Vou para longe combater ! . . . Adeus donzela formosa, -Levo a esperanqa radiosa. De inda te tornar a ver! Adeus riricão lindo e santo, Abençoado de Deus ; Minha terra, meu encanto, Que tens por tecto, por manto, O formoso azul dos Céus!


Olhos de alma Pela suprema graça do Senhor, O homem pela vista, tudo alcança O céu, a terra, o mar. a pomba mansa. Da fresca rosa a sua linda cor.

Da floresta sem fim, o seu verdor, Do mar, o temporal e a bonança, O sorriso adorável da criança, O nascer e o morrer de toda a flor. Mas só. com os olhos ele não vê tudo, Porque o que o cerca é belo, mas é mudo, Se uma força interior não vê também ;

E essa força são,os olhos de alma, A quem toda a beleza em doce calma, Fala baixinho num supremo bem.

Inédito.

Luz interior O dia tem passado em meia luz, Pois o sol entre núvens se escondeu; Há um suave e doce azul no céu, Que a alma prezde, e a vista me seduz. A meditar eu quedo-me em Jesus. A pensar nas mil graças que me deu: Foge da argila a minha mente, e eu, Só sinto que o seu verbo em mim reluz.

Que importa seja ténue a claridade, Deste dia, se leva à suavidade, Druma santa e feliz meditação? Que importa que entre as núvens escondido, O sol me pareqa andar fugido. Se eu sinto um grande sol no coraçao?


Óscar José da Silva (Óscar Silva)

Nasceu na freguesia de Santa Maria Maior, a 17 de Agosto de 1898, E filho de Augusto Cândido da Silva e de D. Rosa Adelaide da Silva. Exerce a arte tipográfica. É Prosador e Poeta. Escreveu várias revistas teatrais e uma comédia intitulada, <<NamoradoInfeliz». Colaborou no uO Povoa, $Trabalho e União%,uCorreio Desportivor, ~Tribunar e noutros jornais madeirenses, sob diversos pseudónimos e sob o seu próprio nome. Da *Tribuna%,reproduzimos este seu soneto:

O velho arrais Batendo contra a rocha o mar rugia irado

E o barco a baloiçar lá ia na corrente. O vento sibilava assustadoramente, O sol desaparecera, o céu era toldado Porém o velho arrais, o homem acostumado A ver os temporais, lá ia sorridente, Empunhando o timáo, enquanto a sua gente, Remava a bom remar, com 'stilo e compassado. Aqui range o bate], além quebra-se um remo, Mas há sempre um esforco, enorme. audaz, supremo. Que desafia o céu, que zomba do inferno! Ruge meu velho mar !-dizia o velho arraisTu vento. quebra o mastro e quebra tudo o mais. O leme ? . . .-ai esse não que fico sem governo !


Gabriel Florêncio Rodrigues Alves (Gabriel Amarando Alves)

Nasceu na freguesia de São Pedro, desta cidade, a 7 de Novembro de 1898. É filho de João Gomes Alves e de D. Georgina Rodrigues Alves, e pai do Jornalista Diomar Alves Redactor do #ECOdo Funchal*. Colaborou na ~Alvoradan, comércio do Funchal)>,+ Comércio da Madeira», e <Eco do Funchaln. Tem um livro inédito. intitulado, ulágrimas da minha dor*.

Lágrimas da minha dor Gota a gota, meu pranto vai subindo. Do coração aos olhos com vigor. Minh'alma soluçando vai carpindo O doloroso travo desta dor. Gota a gota, meu pranto vai caindo De meus olhos pisados. sem valor. Orvalho santo de um sofrer infindo, Purificado por intenso amor. Amei, sofri.. . Amarga decepqão ! Prendi meu triste e pobre coração Nos braços de uma cruz, amargurado. Enquanto sopra o vento da tortura. Procuro um ninho estreito a sepultura Depois de tanto pranto ter chorado.

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Funchal, 23 de Outubro de 1957 Inédito

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Maria Isabel de Spranger Martel E. Teixeira (Maria Isabel de Spranger Teixeira)

Nasceu na freguesia de São Pedro, desta cidade, por 1899. É filha de Luis Martel E. Teixeira e de D. Maria da Assunção de Spranger Teixeira. Residiu, durante alguns anos, no recolhimento do Bom Jesus*, tendo de lá saído, por ter sido acometida de doença mental. Dedicou-se à poesia, na mocidade, tendo colaborado no extinto uDiário da Madeirao, donde reproduzimos os seguintes versos:

A Rosa Bela em sua inocência D'entre a sarqa espinhosa, Purpúrea esplende, inda em botão intacto, Na madrugada, a rosa. É da campina a virgem A puribunda flor; Em seus eflúvios da manhã a brisa Bebe o primeiro amor.

O sol inunda as veigas; Calou-se o rouxinol ; E a flor, ébria de glória, à luz fervente, Desabrochou-a o sol. O sopro matutino, N o seio seu pousara : . prostituída à luz, fugiu-lhe a brisa, Que a linda rosa amara. Bela se ostenta um dia; Saúdam-na as pastoras ; Dão-lhe mil beijos gorgeando, as aves, Voam de goro as horas. Lá vem chegando a noite,

E ela empalideceu : Incessante prazer minou-lbe a seve. A rosa emurcheceu.


Desde o tufão dos montes, Os matos sacudindo; Desfalecida a flor desprende as folhas Que o vento vai sumindo. Onde estará a iosa Do prado gala e brilho? O tufão, que espalhou seus frágeis Passou -nem deixou trilho. Da sarça a pobre filha Nasceu, gosou, e é' morta: E a qual d'esses amantes d'um momento Seu fado escuro importa? Nenhum, nenhum por ela Gosou saudoso a tarde. . Não há quem junte as derradeiras folhas, Quem amoroso as guarde. S6 de manhã o sopro, Passando no outro dia, Da rosa que adorou quando a inocência E seu botão sorria,

Junto da sarça humilde Seu curso demorando, Veio depositar perdão, saudade, Queixoso murmurando. De qiiantas és a imagem Oh desgraçada flor ! ! ! Quantos perdões, sobre um sepulcro abjecto Tem sussurrado o amor!

A Cruz da Via Sacra Se a Cruz que se ergue ante os meus olhos É o simblo da Fé e do Perdão, Eu peço-te oh Cruz. triste, a chorar, Para a minha dor - resignaçao!


Isaura Ascenção Machado Pacheco Soares de Passos Jardim (Violeta)

Nasceu na freguesia de São Gonçalo. a 10 de Maio de 1899. É filha de António Soares de Passos, Administrador do jornal uO Madeirenses, Redactor da revista aEsperan~aPe antigo proprietário da *Tipografia Camões*, desta cidade, onde foram publicados esta revista e outros periódicos, assim como algumas obras literárias), e de D. Amélia Capitolina Machado Pacheco Soares de Passos e esposa do Dr. Alberto Figueita Jardim, antigo Reitor do liceu de Jaime Monizn e antigo Governador Civil Substituto, deste Distrito, e irmã do Poeta Florival Hermenegildo de Passos. É Poetisa, Conferencista e Escritora de mérito. Usou nos seus escritos os pseudónimos de Violeta, Angela de Lucena e Beria. Publicou o livro, contos e Paisagens da Madeira*. Funchal, 1950 e tem inéditos as seguintes obras: ((Madeira.ilha de encanto* (Conferência realizada em Lisboa, a 20 de Abril de 1933, no Salão de Festas de r 0 Século*, por iniciativa da revista *Modas e Bordados*, que publicou um excerto desta conferência. r& o titulo de, uA Noite de São Silvestre~,no seu n.O de 24 de Janeiro de 1934, dedicado à Madeira); 4 0 Auxílio Maternal*, conferência realizada num Posto de Rádio do Funchal, em 15 de Novembro de 1934; o 0 Sorriso do Menino Jesus*, (contos infantis, publicados no #Diário da Madeira* e uDiário de Notícias*, entre 1929 a 1935)*: ucartas a Raparigass; uForget me notr; (Esbo$$os),publicados no *Diário da Madeira*, em 1915; e *Outonor uMotnento Poético*, poesia. Colaborou no @Diárioda Notícias*, *Diário da Madeira,, &Eco do Funchals, Revistas uModas e Bordados* e $Pérola do Atlântico,, do Porto.

Balada da chuva Chuva que fustigas as vidraças baças Da minha torre, A lavar, a lavar. . . Lavadeira-chuva que traças Riosinhos de lágrimas nas vidraças. A chorar.. . Pensamentos meus que as fizeram baças De muito sonhar, Sem dormir. . . Dolor minha que esvoaças Sobre asas lentas, lassas, Num vai-vem entre as vidraças Desta torre Sem se ouvir.


Ideal Quantos anos andei a procurar-te, quantos? Quantas vezes julguei ter-te encontrado enfim ! -Quantas desilusões ! E que fundos quebrantos, Pelos caminhos vãos que percorri assim ! . . . Meu pobre coração. de sofrimentos tantos, Dizia-me baixinho, eu bem o ouvia em mim : Desiste de soqhar, não vertas mais teus prantos, O teu ideal de luz fugir-te-há sem fim. Mas eu esperava sempre, e com meus olhos lassos Interrogava a bruma e obstinadamente . Procurava-te ao longe. ao fundo dos espaços, Que cegueira ! já tu, oh sonho meu clemente, Estavas a meu lado.. . e misteriosamente A tua alma me sorria, e me estendia os braços. . .

Penas Tão numerosas nunca eu vi as andorinhas; Tornam o céu fremente e cheio de rumores.. . São raios de luz que teem asas, são frechasinhas Que o sol dispara do seu arco de mil cores.

Oh! não as olhes tanto! eu sei que te definhas Se não voares também, na luz e nos fulgores, Longe, longe.. . (Vê como eu leio as penas minhas Escritas todas nos teus olhos sonhadores!)

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Ter penas e não voar ! Perde-las voando ! adoça De esperança o teu olhar: será um dia nossa A ventura do v60 sem penas, do partir Como andorinhas, enfim livres e contentes, Para viver de amor e gosar rubros poentes, Nas tardes calmas dos outonos que hão-de vir.


Edmundo Alberto de Bettencourt (Edmundo Bettencourt) 1899

Nasceu na freguesia da Sé, desta cidade, a 7 de Agosto de 1899. É filho do Capitão Júlio Teodoro Bettencourt e de D. Leopoldina Santana Bettencourt. Frequentou o <<Liceude Jaime Monizn. desta cidade e a Faculdade de Llireito, da <Universidade de Coimbra~.Exerce, actualmente, funções públicas. em Lisboa. E' um distinto Poeta e apreciado Tenor, conhecido em todo o Portugal, pela maneira admirável e inconfundível como canta fados e canções de Coimbra. Foi, com Branquinho da Fonseca, José Régio e Gaspar Simões, um dos fundadores da revista ~Presençan,aparecida em Coimbra. em 1927 e, foi Presidente desta revista, t m companhia de Miguel Torga e de Branquinho da Fonseca, em 16 de Junho de 1930. O seu livro, <<OMomento e a Legenda*, publicado erq Coimbra em 1930, é a obra de um Poeta da nova geração, qiie sente a vibratilidade estranha e febril da hora que passa. Colaborou no +Diário da Madeiran, *Diário de Notíciasn e noutros jornais e revistas, tais como: ~Bysâncion,*Presença$, ~Momenton.uRevista de Portugaln, *Cadernos de Poesian e *Vértice$. Figura nas seguintes Antologias: *Cancioneiro dos Independentes*. organizado por Antóoio Pedro, em 1930; *Breve Antologia da Poesia Moderna Portuguesan, organizado por Campos de Figueiredo; *Poetas de Coimbraa. organizado por João Carlos Celestino Gomes. em 1939; *Liricas Portuguesas*, organizado pelo Dr. João Cabra1 do Nascimento. Figura ainda numa colecçáo de poesias musicadas por Fernando Lopes Graça e por este publicadas com o título das marchas. danças e canções, em 1946; na homenagem a Eugénio de Castro, organizada pela revista instituto de Coimbra, em 1947: na homenagem poética a Gomes Leal, organizada por Armindo Rodrigues e José João Cochefel, em 1948: no uIn Memoriam* da declamadora Alice Falcão de Oliveira. organizado por seu.marido, Dr. Guilherme de Oliveira; na homenagem a Teixeira de Pascoais. organizada por Montessum de Carvalho, em 1951. Concedeu ao Dr. João de Brito Câmara, uma entrevista que foi por este publicada, em 1944, numa plaquette, com o título de, uO Modernismo em Portugaln. Tem ioéditos os seguintes livros de poenias: *Ligação* e <Poemas Surdos* e prepara um ensaio crítico sobre o movimento literário modernista em Portugal. Vejamos a sua musa :

Cómico O c6mico avançou. num redopio, Galvanizando o ar.. . depois cantou, Com graça, entre piruetas, recitou, E nem um riso único surgiu:


De mágoa, eu tinha lágrimas a frio. Quando uma ausência extranha despertou O espectador que eu era, e me apontou O coliseu sem público. : . vasiu . . .

A solidão macabra da plateia Bem cedo fez, na torva sombra feia, No meu olhar. altas paisagens de ouro: -Fundos

de luz onde voei. perdido,

O ano de um minuto agradecido. Para vê-la no fim rir do meu choro. . .

Paisagem verdadeira O verde tenro e vivo, de folhagem, Presépio dos meus sonhos, em menino, Pôs-me de luto a par com meu destino, Cego-me a vê-lo imagem de miragem . . . Quando, iludido. o busco na ramagem, Já com seus tons mais brandos não atino ; E nesta escuridão, s6 me ilumino Vendo-o compor-me interior paisagem : Paisagem de ouro verde, que de mim Sai alongada em foco para a terra A procurar vencer-lhe a cerração,

E aonde num crepúsculo sem fim Tonta, a esperançã, esvoaçando, erra Sobre torres de encanto e de traição.


Abel de Abreu Nunes (Abel Nunes) 1899

Nasceu na freguesia de São Pedro, a 7 de Dezembro de 1899. É filho do consagrado Charadista e Poeta, João Augusto Nunes Diabinho e de D. Carolina A. Abreu Nunes e irmão do ictiologista, Poeta, Escritor e Jornalista. Adão Abreu Nunes. É industrial de Bordados da Madeira. Poeta de merecimento, foi laureado com o Primeiro Prémio, na modalidade, Poesia obrigada a mote, nos Jogos Florais da Madeira, promovidos pelo jornal *Eco do Funchal~,em 1942. Da *Revista Portuguesao, reproduzimos este soneto da sua lavra:

Eterno tema Aquela claridade que assombrava, Sonho e fulgor de estranha bizarria, Não era o Sol nascente que raiava, Mas a visão da própria fantasia.

E aquela voz que dentro em mim falava, Segredando quimeras dum só dia, Quantas vezes, suspenso me deixava, Quantas vezes, por ela me prendia ? ! ... Tudo, por fim, se apaga ou emudece, E a alma, então, exhausta e ressentida, Até mesmo do mundo se aborrece.. . Nesta razão de ser, incomprendida, Nem a mais ténue esperança prevalece, E o desengano diz adeus à vida.. .


Margarida de Olim Marote Ramos 1899-1953

Nasceu na freguesia de Machico. a 27 de Dezembro de 1899 e faleceu na América do Norte, por 1953. Era filha de José de Olim Marote e de D. Maria de Olim Marote. Residiu nos Estados Unidos da América do Norte. onde gosou de grande prestígio. Esteve algum tempo nos Açores, tendo ai colaborado em diversos jornais e revistas. Dedicou-se à poesia e foi uma improvisadora e declamadora de mérito. Esteve na Madeira, em Agosto de 1950. de visita à sua família. Foi Presidente do Conselho, uMaria da Fonte*, da Benemérita Associação, denominada *Dia Madeirensen, dos Estados Unidos da América do Norte. Eis uns versos da sua autoria, compostos na juventude, quando partiu para a América.

Adeus Machico (Excerto) Adeus Machico, adeus, Adeus terra onde eu nasci; Adeus vou deixar-te em breve, Quem se esquecerá de ti! Adeus vila de Machico, Adeus ruas e passeios, Eu vou daqui para fora, Mas vou com os meus receios. Adeus Igreja, adeus pia, Aonde eu me baptisei, Adeus promessas que fiz Que não as aproveitei. Adeus mar, adeus calbau, Adeus fonte de São Roque, Aonde eu muitas vezes Lá fui beber o meu cope.


Isabel Severa Cipriano Marinho Lopes (Isabel Marinho Lopes)

Nasceu na Madeira, em data que desconhecemos. É filha de Luis Martinho Cipriano e de D. Isabel Silva Santos Cipriano e viuva do apreciado Escritor, Poeta e Jornalista, Professor Carlos Marinho Lopes e sogra do Professor Cristiano Fernando de Castro. Colaborou, em prosa e verso, no extinto $Diário da Madeira* e na uGazeta Infant i l ~ deste , mesmo diário. dirigida por seu marido, cujo 1.0 n.O saiu a 13 de Janeiro de 1928. Do rDiário da Madeira*, reproduzimos este seu soneto:

Onde está a ventura ! Meus lábios vagabundos procuravam nos bosques de silêncios sagrados ou nos meus próprios sonhos, mergulhados, uma vida feliz que não achavam. Nas cidades, meus olhos vagueavam, pelos vidros entravam, disfarçados, de noite, nos salões iluminados, e, invisíveis sonâmbulos, dançavam.. . Para meus olhos verem quatro beijos, por vezes contemplavam mil bocejos ! . . . Nasceste, minha filha estremecida, e porque sonhas sempre lindamente, conchegando-te a roupa brandamente, sou feliz se te vejo adormecida. . .

-

Funchal, 1934.


Octávio José dos Santos (Octávio de Marialva)

Nasceu no Funchal, a 17 de Janeiro de 1900. É filho de José Anacleto dos Santos e de D. Maria Gomes dos Santos. É formado em Teosofia pela Universidade da ~Starn,de Adyar e com o curso de Ciencias Herméticas do Oàrianumr, de Luxor e é diplomado pelo &age Institute of Science*, de Paris e pelo uScience of Thought Institutes, de Chichester, e possue o titulo de aMagister*, da @Universidadeda Ordem de aAntaresn de Trieste. Dirige. nesta cidade, trts cadeiras científicas. de Trofologia, Mentalismo e Astrognose. Viajou pelas Antilhas. Columbia, Costa Rica, Nova York, São Francisco. Galapagos. Tibet, Atenas, Cairo, Ceiláo, Lisboa e Açores. É Poeta e Prosador original, requintadamente pagão, dotado de uma sensibilidade dionisiaca. É um eterno enamorado da beleza helénica, possuidor de um estilo inconfuodível e singular. ~Octáviode Marialva-disse Ferreira de Castro-escultura alguns dos seus versos, como esses .gregos que abriam no mármore, curvas duma lírica serenidade. Conhece o ritmo das mais perturbantes sinfonias e transpô-las para o verbo é o seu maior talento. O seu livro, uvitória de Samothrácian é isto : música e escultura, unidas consorciadas na corola policroma da poesia. Creio que o tempo, que dá a evolução e a justiça, há-de apresentar Octávio de Marialva como um grande poetan. Usa,os seguintes pseudónimos: Filósofo Y , Principe d'Arcádia, Principe de Mariulvu e Givaleiro do Cisne. É autor de vários livros em prosa e das seguintes obras poéticas: @Cavalgadado Triunfo*, usalomér, uO Divino Parnasos, oVitória de Samothrácia*, etc e tem colaborado largamente na imprensa rnadeirense, continental e estrangeira, nomeadamente no eDiário da Madeira* $Diário de noticias^, comércio do Funchalu, uRe-nhau-nhau*, *Revista Portuguesas, sVamos Len, ~Prometheuss , uCivilizaçãon, uD. Casmurro*, uEl-Carnino*, uThe Baven*, tlaboristo*, uO Diabo;, uCorreio das Ilhasn, ulotus Branco*, ~Fradiquea,etc. É membro interino da 4Theosophycal Soc~e de outras organizações esotéricas e figura na rGrande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira*.

A escrava de Narciso Tu que entre os homens só a mim preferes e por mim sentes as paixões mais puras; tu que te orgulhas junto a outras mulheres de amar meu corpo e minhas formosuras; tu que me dizes sempre e também juras que a mim só amas e 'que a mim só queres; tu que és capaz de todas as loucuras para gosar comigo alguns prazeres ;


tu que me adoras em altares teus, como se adora um belo e sábio Deus por quem se morre até se fôr preciso : t u que és assim sacrificante escrava, traze as virgens que eu dantes desprezava .e as vem trocar por ti ao teu Narciso.

Jesus e Maria de Magdala Pousa ainda um pouco o teu olhar no meu. Deixa que eu fite o seu dulçor velado. após tanta a volúpia que hei gosado, agora já nem creio noutro Céu. Teu coração foi sol que renasceu. Eu sinto alfim aquele ardor sagrado que é o teu amor de filha-do-pecado. Por esse amor, meu ser é. todo teu. Ergue ainda um pouco a tua face escura e desabafa em mim toda a amargura do teu passado triste e tão fatal. Embora eu saiba os fins que te consomem, não terei o desdém de qualquer homem. pois teu amor redime bem teu mal.


Maria Elvira Gomes de Ia Mata Diniz 1900 - 1922

Nasceu no Funchal, a 26 de Março de 1900 e faleceu a 28 de Março de 1922. Era filha de António Augusto Diniz e de D. Maria da Conceição Gomes de la Mata Diniz e irmã da Professora de Instrução Primária, D. Ambrosina Gomes de la Mata Diniz Barbeito. Tinha o curso completo da extinta *Escola Normal do Funchal~,não tendo, porém, exercido o Magistério, por ter falecido. Deixou um livro de versos, ainda inédito, do qual reproduzimos os seguintes:

Quadras dispersas Minha alma enamorada Soluça, ninguém responde. . . Assim anda neste mundo Vagueando, não sei por onde.

Eu tão mendiga de amor Passei por ti. certo dia. Bemdita esmola me deste Dum olhar que endoidecia. Adeus casa, meus encantos, Onde alegrias passei, Amando um ente adorado A quem a vida entreguei. Amei um homem que encontrei na vida, Mas esse homem não tinha crença, fé. Eu não julgava que a afeição dos homens Fosse assim tão volúvel como foi e é.

Funchal, 19 de Maio de 1920


Arnaldo Coimbra Figueira 1900- 1949

Nasceu na Madeira, por 1900 e faleceu num Hospital de Lisboa. a 3 de Janeiro .de 1949, vítima de lesão cardíaca. Dedicou-se ao cinema, na sua mocidade. tendo tomado parte nos primeiros filmes realisados nesta Ilha. pelo operador e realisador cinematográfico madeirense, Manuel Luis Vieira, tais como: uA Calúnia*, *O Fauno das Montanhas*, uA Indigestão* e a 0 Solaro, onde revelou optimas qualidades para o cinema. Também se dedicou a poesia, tendo -colaborado no diário de Notíciasn, desta cidade, em 1916 e 1920, donde reproduzimos .os seguintes versos. Era à data da sua morte gerente do uGrande Hotel da Ericeirar..

Insensível A . . .

Devo esquecê-la, eu sei, e no entanto Dela é que não me esqueço um só momento, Pois não posso apagar do pensamento O seu doce perfil suave e santo. Suplício atroz! e quanto eu sofro! quanto! Só a morte põe fim a tal tormento, Que o peito meu vai lacera*do lento. E me faz derramar caudais de pranto. Sina fatal que tanto me amargura, A qual tenho minh'alma acorrentada. Errando nesta infinda noite escura. Quero esquecê-la, e isto não me é dado. Tudo tem fim na vida atribulada, Só não finda este amor tão desgraçado!

1.0 de Dezembro (A briosa Academia Punchalense)

Salvé ! dia venturoso Para toda uma nação Que, num impulso brioso. Se libertou da opressão.


Mil seiscentos e quarenta. É uma data imortal, -Luz que guia e aviventa Os filhos de Portugal. Salvé ! pois. dia feliz, Aurora da liberdade Deste formoso país. Salvé ! Salvé! Neste dia, Do Funchal, a mocidade, Saúdo na Academia.

Amigo Ao meu querido amigo B, Ramiro

Eis uma palavra-Amigoquando real. é um bem, inversamente, porém. não raras vezes perigo. Amo a Verdade, te digo. luz que fulgiu em Bethlém, e, por isso, dolos nem vilezas no peito abrigo. Assim, mesmo em pobre rima, indo com a fé que me anima, exponho com lialdade : Por ti, no meu coração. como em canteiro loução, existe a flor da Amizade.


Manuel Ferreira Rosa (Vieira Ferreira)

Nasceu na freguesia de São Gonçalo, sitio da Igreja, a 4 de Setembro de 1900. É filho de Manuel Darnião Ferreira e de D. Belmira Rosa Vieira. Em São Gonçalo cresceu e frequentou a Escola Primária. Matriculou-se, depois, na Escola do Magistério Primário do Funchal e, simultâneamente, fez como externo, o curso do Liceu, que terminou em 1921, com distinção. Foi Professor Primário da Escola Masculina da vila da Ribeiia Brava, de Outubro de 1920 a Abril de 1921. Em 1921, matriculou-se na <Universidade de Lisboa*, onde se licenciou em Direito, em 1926, e em Letras, Ciências Históricas e Geográficas. em 1928 e habilitou-se para o Magistério Liceal, na extinta $Escola Normal Superior*, de 1928 a 1930. Em Dezembro de 1930, iniciou a sua carreira de funcionário ultramarino, como Professor e Reitor do uliceu do Infante D. Henriquen, de São Vicente de Cabo Verde, seguindo daqui. para Luanda, em 1034, sendo, em Angola, Professor do Liceu e Chefe dos Serviços de Instrução. Em 1945 foi promovido a Inspector de Ensino do Ultramar, alto cargo que ainda desempenha, havendo inspecionado todos osgraus de ensino de toda a África Portuguesa. <Tardes de Letras*, era em 1925, o nome dado a algumas horas de convívio literário, entre Professores e alunos da Faculdade de Letras da ullniversidade de Lisboa*, nas quais, sob a Presidência do respectivo Director, os estudantes liam trechos de obras da sua autoria. Nas uTardes de Letras* de 7 de Fevereiro de 1925, uO Século* publicou as seguintes referências ao Dr. Manuel F. Rosa, então quartanista daquela Faculdade. <Entre os alunos que leram trabalhos, citaremos, em primeiro lugar, o Sr. Manuel Rosa, que foi incontestàvelmente, o que marcou, pela originalidade das ideias e pela interpretação das imagens. As suas poesias <Sinfonia Roxa*, *Jardim do meu tédior e uRapsbdia loucan, revelam um finíssimo temperamento de Poeta, através de modernismo, sequioso de perfeição. Na novíssima geração de literatos, o nome de Manuel Rosa. deve ficar como um belo espírito, cuja principal preocupação, consiste em afastar-se, cada vez mais, nas regiões da mais pura arter. Estreiou-se, publicando versos vacilantes, no semanário uA Verdade*, por 1918-1919 e depois colaborou n' $0Brado d' Oesten e uDiário da Madeira*, entre 1920 a 1925. Desde 1925 que deixou de poetar, interrompendo a colectânea que trazia em projecto, sob o título de *Ilha de Calipso-Este é o meu livro de bizarria e de tortura*. Referindo-se a este trabalho disse o Escritor, Dr. Horácio Bento de Gouveia: u ~ a n u e l Rosa quere atinsr o máximo de perfeição em ritmo, em imagens, em pensamentos e consegue por fim, num triunfo invulgar de um vencedor que receava a conquista no ardor de uma luta titânica com o inimigo. A forma do verso é sua absolutamente, sem resentir-se de influência de usosismon ou ~junqueirismoo, o que é raro deparar-se nos livros de poesias que aparecem pelas livrarias, sem vestígio portador de personalidade*. Foi Director do jornal académico *Os Novos* e colaborou, também. no .rDiário de Noticias*. u 0 Debater. .rRevista Portuguesar, revista Gulturar, *A. B. C.*, de Luanda, etc. e é Societario da Empresa das Edições qUltramarr. Usou os pseudónimos de *Vieira Ferreira. J. d'Alrnada Betiencourt, Ribeiro S. e E. Neves.


É autor dos seguintes trabalhos : <<ENSAIOSDE DOUTRINA POLÍTICA~ : 1.0 uO problema político e a solução do Estado-Novo Portuguêsn; 2.0 .A Revolução Começada*; 3.0 uO Significado Espiritual da revoluçãon. GENSAIOSULTRAMARINOSn!: 1.0 uNovas perspectivas de Colonizaçãon. 2.0 *Panorama de Angola*; 3 .o r ~ ~ o n t a r n e n t b sobre alguns aspectos da economia da Guiné Portuguesan: 4.0 *Quatro comunicações sobre Ensino Indigenaa, (apresentado à Conferência Internacional do Bem-estar-Rural, Lourenço Marques, 1953). oTEMAS DE ENSINO$: 1.0 GO 'Jpetrechamento Educacional da Colónia de Angolan; 2.0 <<EnsinoRudimentar (para indígenas) em Angola e na Guiné Portuguesan: 3.0 ulndicações Didácticas (para o professorado primário)), com duas edições, -1956 e 1957. ~ I N É D I T O S(Relatórios ~ oficiais): 1.0 uO livro único*, para o ensino no Ultramar: 2.0 Ensino pré-profissional e profissional para a Colónia de Angola>; 3.0 Sobre uEnsino Indígenan. em cada uma das provincias da Guiné, Angola e Moçambique; 4.0Sobre uEnsino Primárion. em cada uma das provincias da Guiné, Cabo Verde, S. Tomé e Principe, Angola e Moqambique; 5.0 Sobre *Ensino Licealh, em cada uma das províncias de Cabo Verde, Angola e Moçambique; 6,o Sobre 4Ensino Profissionaln, em cada uma das províncias -de Angola e Moçambique; 7.0 Sobre *Ensino Particular*, com exames oficializa dos^, em cada uma das provincias da Guiné Portuguesa e S. Tomé e Principe. uCRÓNICAS*: uRecordações da Ilha Maldita*. (São Vicente de Cabo Verde).

Jardim do meu tédio No meu jardim que a sombra densa espanca, num véu oleoso de mistério vago, pasmam de medo os tédios que eu esmago e num segredo uma agonia estanca.. .

E se um cisne arrepia a face ao lago, ao escorrer de manso em nódoa branca, são sons de angústia as suas curvas de anca: e de feitiqo doente o seu afago.. . Não há pavões gritando fidalguia, nem santa lua seu lirismo coa no meu jardim de pesadelo e mágoa. . .

Só um repuxo soluçante espia a indiferença altiva duma lôa, dizendo o tédio na cançáo da água .. .

Esmorzo do pinheiral Mendigos de sacola parados nas encostas, numa atitude estática onde o pavor se anegra, pinheiros do Balancal ! Sois a concentração ag6nica da treva, sois a estatuízaçao inverosímil do medo ! . . .

-


Nas noites de vendaval, uma tortura cósmica marulha, como um segredo mau. dentro de vós. . . Pinheiros do Balancal, sois a espectração de quem receia o mal.. . Devia ser assim a alma vacilante Do homem primitivo em frente ao universo: -Um doloroso terror que não cabe no verso!. .. Vossa corcunda negra, Ó velho pinheiral crispado de agonia! Lembra-me a cabeleira dum louco contra-regra da doida Companhia dos saltimbancos do medo. . .

O pavor dos abismos põe-vos grilhetas rijas, mordendo o areal traidor e fugidio: e cada raiz nova é uma ânsia de náufrago, prendendo uma areia a crispação imensa da esp'rança que renasce a cada ilusão morta!. .. Pinheiros do Balancal ! Quando a,tardinha sai da boca das quebradas e vos olho de longe as copas verde-negras, batem na minha porta, batem na minh'alma, estátuas de remorso e de tortura:

-lembranças milenárias duma agrura

que eu já senti em épocas remotas ! . . .

E, quantas vezes ? Quan tas ? em vésperas de tempestade, andam gaivotas a gritar: mágoa ! mágoa ! a soluçar a dor que vos invade ! . . . Quantas vezes ? Quantas ?

E depois, são arrepios são crispações.


SHO pesadelos.

E a dor é tanta no pio heiral. que há suicidas que se despenham. que se desgarram do areal . . . Tristes pinheiros do Balancal ! perdoai ! A minha arte é pouca p'ra dar em verso a vossa mágoa louca. e a minha voz é rouca para cantar a bacana1 da vossa agonia imensa de forçados ! . . . Pinheiros do Balancal ! perdoai a minha arte, perdoai à minha voz, perdoai !


João Nicolau Vieira de Freitas (João Nicolau)

Nasceu na freguesia de Gaula, a 17 de Outubro de 1900. É filho de Nicolau Vieira de Freitas e de D. Maria Inez Baptista e parente do

P.e Alfredo Vieira de Freitas. Tem, desde criança. uma decidida vocação para a música. especialmente instrumentos de corda. tocando Braguinha, Machete (Rajão), Viola kancesa, Viola de nove cordas, Bandolim e Flauta de cinco chaves. E Cantor Músico e Poeta. É autor das Seguintes composições musicais: uHino da Sociedade*; *Marcha 29 de Junhon; .Marcha de São Josén; *Marcha dos Caçadoresn; Mazurca de Lá Menor*; <Valsa da Noite Escura*; %Valsa dos Marinheiros; uNovo Hino da Sociedades e uMarcha dos Mistérios>>. Figurou, desde 1918 a 1922, num Quinteto de instrumentos de Corda e Sopro, que durante as primaveras destes anos, acompanhou as insígnias do Divino Espírito Santo, na sua visita aos fogos da freguesia. De 1922 a 1926. organizou um grupo recreativo e em 29 de Junho de 1927, fundou o Grupo Musical Lavrador, aFlor da Mocidades. de Gaula, do qual foi ensaiador e regente. Em 1929 e 1938 fundou dois grupos recreativos que se extinguiram alguns anos depois. Encontra-se. actualmente. no estrangeiro. Colaborou n' uO Jornals e foi correspondente do uEco do Funchalr. em Gaula.

Adeus à Santíssima Virgem Ó Doçura sem igual Senhora da Cova da Iria, Bemdita a Virgem Maria. Rainha de Portugal.

Rainha dos altos Céus, Mãe querida dos Portugueses. Bemdita, Bemdita mil vezes, É o pregão dos filhos Teus. Vais-nos deixar, por agora, W e ! Que assim vais embora Por esses mares além,

Em espírito e orações Vão os nossos corações Acompanhando-te, também.


José Maria Figueira de Jesus (Waldemar)

Nasceu nesta cidade, a 22 de Outubro de 1900 e faleceu a 23 de Novembro de 1938. Era filho de Francisco de Jesus e de D. Maria Eulália Figueira de Jesus. Nos versos deste poeta. nota-se. por vezes, a influência da poesia de António Boto, de quem foi um grande admirador e fiel discípulo. Assinava as suas produções poéticas com os nomes de José Figueira e Waldernar.. Colaborou no tlomércio do Funchal*, ~Cinéfilone revista uA Madeira Nova*.

Alucinação Sinto a escuridão envolver o meu corpo, voluptuosamente, e na angustia de todo o meu ser fecho os olhos para náo ver a escuridão. AS ruas e as casas preparam-se para adormecer. No silêncio da noite as horas escorrem viscosamente da torre da Catedral e estatelam-se na calçada, Arranhando o silêncio da noite. AS ruas e as casas parecem agora cadáveres de membros e faces inçhadas. Alucinadamente, prepassam pelo meu espírito, como num écran, pedaços de filmes de Fritz Lang e exausto, deixo-me possuir pelo terror ? Num supremo esforço abro os olhos.-No meu quarto. pé ante pé, a escuridão desaparece como um fantasma. AS ruas e as casas dormem agora serenamente.


Teodoro Clemente da Silva (Teodoro Silva)

Nasceu na freguesia de Santa Maria Maior, a 2 3 de Novembro de 1900. É filho de António Fernandes da Silva e de D. Maria Carolina Correia da Silva. É Actor de teatro e de cinema. tendo tomado parte no filme uJosé do Telhado* e realizou, nesta cidade, o filme, intitulado, a 0 Segredos, em que tomaram parte vários amadores-teatrais madeirenses. Foi Director de alguns grupos de amadores-teatrais. no Funchal, nomeadamente das <Bandas Distrital e Municipal do Funchal. Fez parte da ucompanbia Maria Matos* e escreveu as seguintes peças teatrais: aÁ Pressa*. Revista, em 2 actos, levada à cena pelo Grupo de Variedades uBeatriz Costa?, em 1935; uNariz para o Aro. Revista; GAMadeira é iston. Revista levada à cena no Teatro Municipal, pela Academia Funchalense, em 1937; 4Cá e Lá*. Revista; GAMadeira em Festa*, Revista levada a cena no Funchal e em São Miguel, em 1940; uViva a Loucuran. Revista; uBolas de Sabãoo. Revista; ((Ana Maria*. Drama em um acto. (De colaboração com D. Eugénia Rego Pereira), levada à cena no Teatro Municipal em 1943; .Tudo Louco*. (De colaboração com Adão Nunes; <Amor sem Deus*. Alta comédia em 3 actos. (De colaboração com João França); *Carnaval*. Revista. (De colaboração com Mário de Abreu); *Sentinela Alertas. Revista levada à cena no uCine Parques, desempenhada por militares do Batalhão B. 1. 19, em 1954; *Rosário de Cantigas*. Revista levada à cena no Teatro Municipal do Funchal, em 1958, etc. Colaborou no alman na que Bertrand~,&Diário de Notícias*, uEco do Funchalr, uDiário da Madeira*, *Boletim do Club Sport Marítimoa, (onde publicou Gazetilhas com o pseudónimo de Avlis) e publicou, em 1950, nesta cidade, um folheto de 4 páginas, intituládo, uVelas Brancasn. (Monólogo dedicado aos pescadores de Câmara de Lobos, ceifados pela morte implacável, na rudeza da sua luta pela vida. na noite de 5 de Abril de 1950 e recitados pelo Autor, na festa em benefício da família das vitimas, no Teatro d e Câmara de Lobos, em 23 de Abril de 1950).

Quadros campesinos Onde vais tu, camponeza Tão fresca, de saia branca? Vais à fonte. com certeza, Pois levas o pote à anca. Mas p'ra quê, tal garridice, Tanto capricho e vaidade.. . O que ontem alguém me disse Devia ser uma verdade. Que tinhas um conversado A quem davas tanto amor, Como a ovelha quer ao prado. Como a abelha quer à flor.


Seu rosto de cor de fogo

Em alegre confissão, Deixou-me conhecer logo Que já dera o coração.

Tempos depois encontrei-os Junto a fonte. num recanto, Em alegres devaneios 110 seu amor puro e santo. Ela rindo, descuidada C'os olhos postos no monte.. . Sua fresca gargalhada Parecia o cantar da fonte. Ele tímido, acanhado, Tipo de puro aldeão, Olhava todo enlevado A quem dera o coração.

Passaram tempos, depois Ao recolher da seara, Não mais encontrei os dois, Como dantes encontrara.

E soube que o conversado, Por um capricho interesseiro,

A noiva havia trocado Pela filha do moleiro.

E a camponeza do monte Tão fresca, de saia branca, Nunca mais voltou à fonte Levando o pote' na anca.. .


Joaquim do Espírito Santo Mota de Vasconcelos (Mota de Vasconcelos)

Nasceu na freguesia de Santa Maria Maior, a 17 de Maio de 1902. É filho de João de Vasconcelos e de D. Maria da Mota Vasconcelos. Escreveu, quando estudante do 3.0 ano dos liceus, *Alvoradas de Amor*. Iniciou a sua vida jornalistica em jornais proletários e fez a sua estreia no aDiário de Notícias*, do Funchal, com uma noveleta intitulada, uPaixão Fataln. Colaborou em quase rodos os jornais desta cidade. Foi Redactor de uO Fixen, Fundador e Director, de uO Nortes, Fundador e Director da revista *Açores-Madeira*, Coordenador do uAlbum Barrinhar~. Colaborou no uAlbum das Bodas de Prata da A. F. F.r, e publicou os livros: *Memória, ilustrada, da visita do Senhor Cardeal Legado, a Madeira, no dia 17 de Julho do Ano da Graça de 1944%.Funchal; 1944: uBodas Ministeriais de Salazarn. Ponta Delgada, 1953; .Memória Histórica da Visita do Presidente Craveiro Lopes ao Arquipélago da Madeiras. Funchal, 1956 e *Epopeia do Emigrante Insular>. Lisboa, 1959 e tem inéditos um uElucidário das Actividades Profissionais do Funchalo, um livro de Memórias e outro de Viagens. É um Jornalista-Polemista e Panfletário dos mais vigorosos e combativos. Escreveu e radiodifundiu no Emissor Regional dos Açores, da $Emissora Nacionais muitas palestras de impressões e esteve no estrangeiro, angariando fundos para erigir um padráo ao Emigrante Insular, nesta cidade. Figura na uGrande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira*.

Quadras soltas A minha casa é modesta, Tem janela rente ao chão E lá dentro, sempre em festa, Retoiça meu coração. Ó minha pobre mansarda! Que saudades tenho eu Daquela água-furtada Que ficava ao pé do céu.. .

Numa formosa galera Meu coração emigrou, Para as ilhas da quimera E nunca mais regressou. . . Sonho -caravela errante, Perdida no mar sem fim Voga, corre, vai distante, Mas não te alongues de mim.. .

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Horácio de Ornelas Bento d e Gouveia (Horácio Bento) 1902

Nasceu na freguesia de Ponta Delgada, a 5 de Setembro de 1902. É filho de Francisco Bento de Gouveia, primeiro Director do extinto ('Diário da Madeira*, e de D. Firmina Matilde de Ornelas Gouveia. Cursou o uliceu do Funchaln e a @Universidadede Lisboa*, onde se formou, em Letras, em 1930 e fez o exame de Estado, para o Magistério Liceal, no Liceu Normal de Lisboa, em Julho de 1937. Foi Professor do uliceu de Gil Vicente* e do uliceu de Camões*, no Continente e é, presentemente, Professor do uliceu Nacional do Funchal*. Foi Presidente da Comissão de iniciativa e da ulluião Nacional de Alcobaça*, em 1934. É Poeta, Escritor, Filólogo. Jornalista e Conferencista de nomeada, autor dos seguintes livros: &Aspectos Histórico-Geográficos da Ilha da Madeira*, (Folheto) Lisboa. 1932; $Páginas de Jornalismo%.Alcobaça. 1933; uAspectos da Moderna Literatura Brasileira*. Lisboa, 1941; $Ilhéus*. Coimbra, 1949 e 1959 e uO Homem, a Música e o ambientes Funchal, 1953 e ulágrimas Correndo Mundo*. Coimbra 1958. Colaborou nos seguinte. jornais: uDiário da Madeira*. uJornal da Madeirao. *Diário de Noticias* de que é Redactors desde 1 de Outubro de 1960, uEco do Funchal*, *Diário Popularn e uA Voz*, de Lisboa, e nas revistas: *Das Artes e da História da Madeira*, <Revista Portuguesar, etc. e no semanário $Voz da Madeira%,de que é Director, desde a sua fundação. É sócio da $Sociedade Portuguesa de Escritoresn, pertence à usociedade Histórica da Independencia de Portugal* fazendo parte dos corpos gerentes da sua Delegaç~ono Funchal e figura na 4Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira*.

Primeira entrevista Lua cheia. E a noite alta. silente amadorna os teus passos no eirado.. . Além, reza uma fonte no montado. Um grito pavorisa a noite quente. De surpresa, uma dor faz-me assombrado. A êsmo, pela rua vai gemente um fado melancólico, dormente . . . Como num sonho, sinto-me encantado. Sem sentidos, eu olho a Bem-Amada, e fito a sua fronte enluarada. Está branca, tão branca como o lírio. Quando ela. além da morte, me chamar. então, eu vou rezar.. . eu vou orar.. . Entrevista primeira meu martírio.

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Caminheiro (Para o Rocha Homem)

Versos meus, sentir forte da minha alma; parti. caminhai sobre as penedias da minha terra, ao vir de Avé-Marias quando o anoitecer saudoso for de calma. Desfiai, pela tarde, em longos dias, ao bafejo do vento quando acalma, o rosário-sorriso que se espalma. - o rosário de minhas nostalgias. . . Lindos mirtos em flor no Miradoiro, e giestais polvilhando campos de oiro . . . -são os meus versos inda no tinteiro.-

A paisagem de ricos cambiantes eu ajoelho sempre como dantes de mãos postas-mas sou um caminheiro.

No Penedo da Fajã (Para o Carlos Marinho Lopes)

Julho. Nevões ao sol-por, pela tarde.. . A Fajá do Penedo ao pé da serra, é um altar de Deus, feito na terra. O sol, no mar, envolto em chamas arde.. .

A festa vai no fim, mas sem alarde.. . Sobre o vale, ridente, o céu descerra laivos de uma cor sépia. A tarde encerra a paisagem, de minha soledade.. . Cai a noite, morrente e olorosa em afagos, e morna, silenciosa.. . O caminho deserta, sem ninguém.

De cantigas, ao longe inda há rumor. E um cantar desperta minha dor.. .

Sinto um acarinhar drAlguém- drAlém! . ..

Vale das Flamengas (Faia 1)


Jaime de Abreu Macedo (André Aalente) 1902

Nasceu na freguesia de Santa Luzia, desta cidade, a 13 de Setembro de 1902. É filho de João de Abreri Macedo e de D. Maria Augusta Sargo de Abreu Macedo. Foi o Fundador do diário republicano $0Povo* e Director do mesmo, durante três mezes; Director do semanário humorístico 4 0 Fixe*, fundado por Jaime de Macedo e Barros Teixeiya, em 15 de Janeiro de 1928; Fundador, Proprietário e Chefe de Redacção do uçomércio do Funchaln. da Direcção de Alvaro M. Teixeira, em 1934-e Fundador da usemana Literária%,do Funchal, com curta vida. Usou o pseudónimo de André Valente. Pertenceu a rAcademia dos Novosn, (tertúlia formada por Gonçalves Preto, Mota de Vasconcelos, Zacarias Cabral, António Teixeira Cabral, (caricaturista) e outros e fez parte do 1.0 Sindicato dos Jornalistas da Madeira. É, actualmente, Proprietário da Tipografia %MadeiraGráfican, desta cidade. Colaborou no rPortugal Ilustrado., em 1930 e no semanário literário Lisboeta, uEcos da Avenida*, de cujos n.Os de 20 de Fevereiro e 25 de Setembro de 1927. reproduzimos os seguintes versos :

Morena Morena, minha morena, Por que me olhas assim? Quando te vejo na eira, Contente, cantarolando, Contentt fico, meu bem ! Mas se te vejo chorar. Meu corqao de pesar Fica chorando também. Morena, minha morena, Por que me olhas assim? Tu bem sabes que te ama; Meus olhos já to disseram Naquela tarde trigueira .. . Que tarde t8o bela e pura! Não havia formosura Qpe não estivesse na eira.


Morena, minha morena, Por que me olhas assim?

Ah! Que saudades imensas Das nossas vidas suspensas Naquelas tardes de Agosto ! E era tão belo esse tempo. Que até mesmo o pensamento Me fugia p'ra teu rosto. Morena, minha morena, Não me olhes tanto assim.. . E, quando tu vais passando, Alegre, olhando para mim, Eu sinto uma coisa então : -É o ardor dos olhos teus Que me elevam até Deus, Queimando meu coração ! Morena, minha morena, Nunca me olhes assim ! . ..

O s teus olhos Teus olhos negros. profundos, São de cá ou doutros mundos? Por mim não o sei dizer.. . Só sei que muito padeço . .. E, quando os vejo, enlouqueço. Ficando todo a tremer. . . O s olhos de verde mar Também sabem encantar. O s olhos. . . sei lá sequer. .. Há tantos olhos, meu Deus ! Mas para mim só os teus! O h ! Quem mos dera beber ! . . .


António Brás da Silva Garcês (Brás Garcês) 1903

Nasceu na freguesia de Santa Luzia, a 3 de Fevereiro de 1903. É filho de Domingos José Garcês e de D. Antóoia da Silva Garcês e tio do falecido violinista Aurélio Nelson' Pestana. É Agente comercial, Jornalista e apreciado Poeta. Pertenceu à tertúlia Ritzianan, da qual faziam parte o I)r. Manuel Silvério Pereira, Dr. António Aragáo Correia. Florival de Passos. Herberto Helder de Oliveira. Rogério da Mota Correia, Rebelo de Quintal, Jorge de Freitas, etc. Usou nos seus escritos os pseudónimos de António Nada e António Terra. Foi laureado nos Jogos Florais da Madeira. promovidos pelo rAteneu Comercial do Funchal*. em 1945-46. com o 3.0 Prémio e uma Menção Honrosa. respectivamente nas modalidades, Poema Lírico e Quadra Popular. Foi também laureado. com Mençáo Honrosa. nos Jogos. Florais de Portugal, promovidos pela @PropagandaTurística Portuguesan, de Lisboa, em 1951. Foi o representante, nesta Ilha, do &entro Madeirense do Porton e da Revista upérola do Atlântico*, em 1951. Colaborou n' uO Jornal da Madeiran, aDiário da Madeira*. uEco do Funchaln, comércio do Funchab. #Diário de Notíciasn, uVoz da Madeira*, Revistas, @Pérolado Atlântico*. <Açores Madeiran, <Comércio e Exportaçãon. etc. e tem dois livros. ainda inéditos, intitulados, eTrintário de Saudades3 e *Cinzas e Labaredas*.

A tlan tina Ao Dr. João de Brito Caniara

DEUS. ao erguer o rútilo Universo, Esculpiu, risonho. sobre o mar, A Deusa que se veste de luar E a quem o mar tem feito tanto verso! Gostava de rezar-lhe um lindo-terço -Já que n80 tenho voz para cantar ! Mas. vendo bem, também não sei rezar, Nem exaltar o embalo do seu berço!

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O próprio DEUS. Senhor do imenso Espaço. Quando a viu surgir do seu regaço, Quedou-se extasiado. qual Narciso ! Desde então. essa Deusa. hospitaleira, Baptisada, na terra, por MADEIRA. Passou a ser, no Mundo, o PARAISO! !


Sargeta Boca da rua,sempre escancarada, Matas a sede a muita vida errante! E em troca dão'-te o lixo revoltante De tudo aquilo que não vale nada! Quando a chuva piedosa, abençoada, Te lava o pó do rosto.. . o teu semblante Irradia frescura semelhante Ao alvor duma fresca madrugada! Mas se é triste, ó sargeta, a condição De abafar, noite e dia. a podridão, O mau cheiro que exala um cano roto, É bem mais triste haver no mundo alguém Que, maldizendo a sua própria mãe. Da boca faca, apenas. um esgoto!!

Inédito.

Martírio Ao ilustrado Prof. José Modesto Trindade.

Se, para o Drama Divino, Ao Judas coube a missão De dar o beijo assassino -Beijo de fel e traiçãoÓ meu Deus, eu náo atino Porque sofre excomunháo Quem cumpriu o seu destino No cPlano da Redenção$? !

E se o Remorso, ó Senhor, É dos cálices dc amargor O pior p'ra alguém beber,

Qual foi o Mártir ou Santo Que sofresse tanto, tanto, Como Judas p'ra morrer ? ! !

Inédito.


Luís Santos 1903 ?

Nasceu na freguesia da Ponta do Sol. a 26 de Fevereiro de 1903? Colaborou no *Diário ne Noticiasn, desta cidade. Deste jornal, do seu número de 4 de Março de 1936. reproduzimos o seguinte soneto. Não conseguimos obter mais dados biográficos deste Poeta.

A Ponta do Sol Minha terra natal. Meu doce e lindo recanto sagrado, Onde hei-de prantear as minhas penas, Meu doce e lindo recanto amado Onde as tristezas me são mais amenas.

Tu, só tu, meu doce rincão natal, Onde as aves só cantam de mansinho, Tu terás o meu amor sem igual, O meu meigo afecto, o meu carinho!

Tu, cuja poesia nos deleita, E nos enche de intensa nostalgia! Com tua beleza, oh terra -amada, Terás o arrimo de quem te espreita De noite, mas serás terra, de dia O Santuário desta alma fanada!


Armando Santos ?

Nasceu na Madeira, em data que desconhecemos. Reside há muitos anos na Califórnia, onde é Proprietário de um Posto Emissor de Rádio. Fez parte da Comissão do 4Dia Madeirensen, na América do Norte. Os versos que reproduzimos, da sua autoria, foram publicados n' $0Jornal*, em 1949. pelo falecido P.e Daniel Nicolau de Sousa, que esteve nesse ano na Califórnia, de visita à sua família, e onde proferiu duas palestras no uPosto de Rádio*, de Armando Santos, em prol do @DiaMadeirensen e concedeu uma entrevista ao ufornal Portuguêsn, de Oakland.

-Oh! Madeira dos meus sonhosMadeira terra de encantos, Onde vegeta-m as flores Nascidas d'almas dos Santos.

Oh ! flores da minha terra -Oh ! flores belas da Madeira, Com o odor das nossas flores, Não as há na terra inteira. Aqui também há flores Que vegetam como lá, Mas com o belo das suas cores Nesta terra não as há. Rosas lindas. rubras rosas, Lírios brancos, açucenas, Vós curais as nossas dores, Aliviais nossas penas ! Violetas tão humildes, Cultivadas nos jardins, A esta terra trazidas Nas asas dos Serafins ! Mas tais flores tão lindas Que eu hoje estou a cantar, Não se encontram nas campinas, A terra não pode dar.


Violetas escondidas Ninguém sabe onde elas estão. Conhecem-se pelo odor Saindo do coração. Lírios que sois de pureza, Açucenas tão mimosas, Juntai a vossa inocência Ao amor que são as rosas.

Oh! Rosas que sois tão belas, Cantai hinos ao Senhor! Que vos fez tão delicadas! Cantai-lhe um hino de Amor ! Cultivai estas flores Nascidas na vossa alma E tereis yrémio na terra E qo cCu a eterna palma. O s jardins onde se encontram São almas puras e santas. Nessas terras da Madeira Encontram-se tantas. . . tantas !


Carlos Agapito Camacho (Santiago de Melo)

Nasceu no Funchal, a 24 de Março de 1903. E' filho de Carlos Raul Camacho e de D. Leopoldina Camacho e pai do Poeta Carlos de Araújo Camacho, autor do livro de poesia, uPoemas de Antecedência*. Foi funcionário da filial do iBanco Nacional Ultramarino$, no Funchal. Carlos Agapito Camacho, uo ritmador da ironian, no dizer do Poeta Octávio de Marialva, é um Poeta de-feição modernista, possuidor dum estilo elegante e caracteiistico. Os seus versos encontram-se dispersos na imprensa periodiça da nossa terra, principalmente no semanário trabalho e União%,sob o pseudónimo de Santiago de Melo.

Insolação O chão do HaZI, alagado de sol, tinha cintilaqões bizarras na Hora gloriosa, divina e triunfal, em que a bailante bailou. Sol em bailado nos seus cabelos ruivos ! labareda em fiapos, crepitando, em brando embalo, embalando-a de afagos brandos. . .

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Em dolente volitar, seus braços. espargindo ritmos, lembram braços de ân fora . . . com vida. . .

E os seus pés, esguidos, remexentes e macios, luxuriosos, lembravam Salambô livre das anilhas.. . -Seios enristados: como punhais de carne!

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Uma volúpia doida, metálica, insolada. em doido menear, apunhalava a Hora . . . Agora, em atitudes raras, bailando, seu corpo era um torneio ritmal. quente, encharcado de Sol, esbelto e sensual, alucinado e raro ! . . .

Prestes a terminar, -serpente gentil suas danças eslavas, arqui-ébria de sol, do sol da sua Arte a bailante tombou . . .

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Anselmo Figueira Chaves 1903

Nasceu na freguesia de Santa Maria Maior, a 21 de Abril de 1903. É filho de Alfredo Figueira Chaves e de D. Maria do Monte Figueira Chaves. É Bacharel em Teologia, pela #Faculdade Evangélica de Teologia%,do Rio de Janeiro, Brasil, cujo curso completou em 12 de Novembro de 1930. Foi Ministro da uIgreja Evangélica de Portugal* e encontra-se, desde 1946, no Rio de Janeiro, onde 6 Pastor de uma Igreja que inaugurou um Templo, no valor de 5 mil contos, em Agosto de 1959. É Poeta. Escritor e Jornalista, possuidor de uma linguagem fluente e vibrante. É Autor dos livros: uO Reino de Cristo na Actualidade*. Rio de Janeiro 1930. (Discurso proferido na cerimónia de colação de grau dos bacharelangos de Teologia da Faculdade Evangélica de Teologia. no dia 12 de Novembro de 1930): uO Jovem Lutador.. Lisboa, 1924. (Novela religiosa). Prefácio do Escritor Eduardo Moreira. (1.0 Prémio num Concurso Literário) 2.. edição no Brasil e <<O que faltava o aldeão saber)).. . Funchal, 1942. 3.. edição no Brasil; uO Progresso em Marcha* (Conferência a um concurso de Juventude); <Arte de Viver* (abrangendo os temas Caracter, Suceno e Influência-Pessoal) e ucláudian, Peca teatral, em três actos). Colaborou n'uO Povo$, eVoz da Madeira*, @MadeiraNova*. etc. Usou o pseudónimo de Ignotos.

Sê forte Embora inquieto ignores o Porvír E o teu caminho seja negro e estreito, Resiste como um bravo e a sorrir Confia em Deus e faze o que é Direito. Do vendaval náo temas o rugir; Abandona a facção e o preconceito, N o peiisar, no dizer e no agir Confia em Deus e faze o que é Direito. Alguns ferinamente vão odiar-te E sem d6 perseguir-te até morrer, Que importa se alguns vão também amar-te

E com abnegação te defender ! Da Justiça -sustenta o baluarte. Olha para o Alto e cumpre o teu Dever!


Manuel Silvério Pereira (Rio Silve) 1903

Nasceu na freguesia da Sé, desta cidade, a 20 de Junho de 1903. É filho de João Rodrigues Pereira e de D. Georgina Gomes Pereira e primo doPoeta e Jornalista Henrique Perreira. Cursou o &Liceu de Jaime Monizn. do Funchal e licenciou-se emciências Económicas e Financeiras, na uuniversidade de Lisboan. Prestou serviço na Alfândega de Ponta Delgada, Açores, transitando, depois, para a Alfândega do Funchal, a 7 de Julho de 1954. usilvério Pereira-diz o poeta Florival de Passos, numa Carta Aberta, ainda inédita, dirigida a este Poeta-escuta a sua personalidade, a sua vida interior, e eleva-as ao alto. Ao escutar a Nat,ureza. canta os seus próprios sentimentos. u.. .põe em si próprio, no mais íntimo do seu ser, como parte integrante da sua alma, as almas dos outros, dos humildes, dos pobres, dos que trabalham na dura faina da vida, dos resignados, nas uCanções do Mundon. E aí vai, através do Mundo, tornado em Canções, escutar as amarguras daqueles que formam esse próprio Mundo*. Fez parte da &TertúliaRitzianan. Assina as suas produções poéticas com os pseudónimos de Rio Silve e Silva do Prado. Foi laureado com o 1.0 Prémio, nos Jogos Florais da Madeira, promovidos pelo uAteneu Comercial do Funchal*, em 1945-46, pela sua poesia, alegórica à Madeira, que reproduzimos. É co-Autor db livro, oArquipélago9, editado pela editorial Eco do Funchalo, em 1952 e tem inéditos os seguintes livros: uCurvasn, 4Pinceladasn e uCanções do Mundo*. Colaborou no @Ecodo Funchaln, oComércio do Funchaln, uDiário de Notícias*, UVOZ da Madeira,, uJornal da Madeira*. uRevista Portuguesas, Revista *Pérola do Atlântico*,. *Revista Comércio e Indústria*, *Revista Mare Nostrumo, etc.

Madeira Sonho a surgir do Mar, Beijado pela onda e pelo vento ! Eu gostaria tanto de o contar . . . Sonhos destes, nem cria o pensamento!

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É um beijo,-um eterno amanhecer ! Um sonho em pedra, feito numa ilha.

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-Não há olhos que não a queiram ver, Nem boca que não diga: Maravilha !

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Madeira ! eterno canteiro, De verdes trepadeiras, - sempre em festa ! Quedas de água! Varandas e mirantes, Quintas, jardins, ladeiras e lombadas, Altos cumes. abismos arrepiantes E casas brancas, juntas a latadas! Sonho petrificado e nunca visto! Uma horta. um pomar, uma floresta! A Madeira é o encanto de tudo isto.. . Sob um sol explendente, que nos cresta!

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Pequena, - de curto espaço, Em qualquer onda se acomoda, Tanto melhor, se a abraça. num só abraço. E num beijo, se a beija em toda a roda! É pequena como um beijo, -embora,

Ela é a jóia mais sublime.. . A arrecada de Nossa Senhora!

Foi numa noite cheia de luar, Que a Virgem. a sorrir, por entre os astros, A deixou desprender-se sobre o Mar!

E só deixou cair.. . apenas uma,

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Para que fosse a pérola, sem par, Entre a onda roliça e a branca espuma.

E Zarco, navegando e procurando. .. Foi quem primeiro. se abraçou a ela. E tanto a amou, aqui ficou orando.. . Sem mais poder desabraçar-se dela !

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E de contente, a Deus pergunta e insiste: Onde está a pérola da outra orelha? Em que altar existe. Em que águas se espelha?

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Responde o Mar, languidamente : Vai pelo espaço . . . vai por ai fora . . . Através desse imenso azul do Céu, Ao encontro de Nossa Senhora. Vai. . . não descances, - sempre de subida.. . Talvez a encontres próximo do Sol, Ou por entre as estrelas. -escondida !

A Abelha É dos inSectos a rainha eleita,

Vestida de aneis de oiro, uma quimera, Serva, de um mundo onde o trabalho impera Rainha que ao trabalho está sujeita !

E certamente vives insatisfeita Porque a vida se apressa, se acelera, E v& na f1ôr a morte que te espera, A morte que anda sempre a nossa espreita! Conta-nos o teu modo de viver, Belas coisas que a gente ainda ignora, Deixando-nos com pena de morrer! Ensina tudo, ensina o teu labor, Que talvez pela nossa vida fora, Vièssemos a saber o que era amor ! Inédito.

Inquietação Não posso conceber o que é o desejo Que enxameia todo o meu corpo em sangue, Mas sei que desejo! Não sei se é pesado como o chumbo. Ou leve como a sumaúma. Se é um sol que ajude a vestir a noite em dia, Ou mar. com ondas de'smanteladas em espuma. E a espuma embebida em marezia.

-Sei, é que desejo !


E sei até que o desejo é grande, Sem conceber como cabe dentro de mim! E por vezes. chego a estar convencido Que o verdadeiro sol não é sol, É o pálido reflexo do meu desejo contido! Como posso concebê-lo, Se é infinito como o Universo?! Se alcançasse o sol, algum dia. Outro sol desejaria. A última estrela que mais além luzisse! O desejo Lembra uma enorme boca, ardente e sequiosa, Que por mais água fria que beba, Nunca os lábios lhe ficam humedecidos! Ainda bem que ele não pode morrer, É a nossa inquietação. Se o sangue nos dá a vida, O desejo nos dá a ambição, A força, a energia de viver! É uma estrada interminavelmente comprida, Onde acaba por descançar, e por fim morrer, A nossa própria vida !

Inédito. Este poema foi traduzido para inglês. por ~ a r ~ a rAnne e t Wenner e publicado na Revisto ucomércio e Exportação,, número dedicado d Madeiro, em 1956.


Alberto Henriques de Araújo (Alberto de Araújo)

Nasceu na freguesia de São Pedro, desta cidade, a 23 de Setembro de 1903. É filho do comerciante João Isidro de Araújo Figueira e de D. Virgínia Gomes Henriques e irmão do Dr. Juvcnal Henriques de Araújo, (antigo Deputado da Nação e Advogado nos Auditórios desta Comarca), João Henriques de Araújo e Fernando Henriques de Araújo. Cursou o uliceu de Jaime Monizn, do Funchal e formou-se, em Direito na universidade de Coimbra*, em 1925. É Secretário permanente da uAssociação Comercial do Funchal*; Director do diário de Notícias*, desta cidade. para onde entrou. como Chefe de Redacção, em Outubro de 1927; Deputado à Assembleia Nacional, pelo círculo da Madeira, fazendo parte da Comissão dos Negócios Estrangeiros da Assembleia Nacional e fez parte da Delegação Portuguesa à Conferência Económica Internacional, realizada em Rye, Estados Unidos da América do ~ o r t e É . Jornalista brilhante e eloquente Orador. Foi agraciado, em 1936, pelo Governo Português, com o oficialato de Cristo e pelo Governo Francês, com as Palmas Académicas, em 13 de Maio de 1939 e, em 1955, pela mesmo Governo, com as insígnias da Legiáo de Honra. Também se dedicou à poesia, na mocidade. Eis uns versos da sua lavra, compostos quando tinha 16 anos e publicados no extinto ~Diátioda Madeira*, em 1919:

No dia que eu morrer, à hora do poente, Tu de branco virás até junto de mim E hás-de me trazer orquídeas de um jardim P'ra sob elas pousar meu corpo que não sente... Depois há-de chegar meu nome até ao Oriente

E hão-de multidões vir longas e sem fim Rezar sobre o caixão meu, feito de marfim, Enquanto que o sol morre num tom doente.

Eu do alto ouvirei as suas cantilenas E os sons que chegarão 'te mim da sua reza Como rezas e sons em tardes de novenas.. . Não verei tuas mãos transparentes e francas, Apenas ouvirei, 6 pálida princesa, O leve perpassar das tuas contas brancas.. .


Festim Como os sons ritmados de harpas Que acompanham suaves hinos, Vibram as primeiras notas As teorbas e os violinos.

De repente caem os véus Do longo salão de opala E as bailantes aparecem Dangando ao fundo da sala. No salão iluminado, Entre púrpuras e lumes E entre luzes e sedas Passam ondas de perfumes. . . Da música compassada O s seus sons, vão aumentando E as dançarinas de cera Continuam avançando.. .


Manuel Pontes de Gouveia

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1903 1951

Nasceu na freguesia da Ponta do Pargo, Concelho da Calheta. a 1 de Novembro de 1903 e faleceu no Funchal, no uHospital dos Marmeleirosn a 26 de Abril de 1951. Era filho de Álvaro Tiago de Gouveia, funcionário dos Correios, aposentado e de D. Eugénia de Pontes Gouveia e neto do Morgado Pontes de Gouveia. Frequentou o uliceu de Jaime Moniz*, do Funchal e licenciou-se em Direito na ullniversidade de Lisboa*. Escreveu dois opúsculos de versos, assinados com a letra M, intitulados, rVisão do Céu*. Funchal, 1937,de 20 págs. e usaudação a Dois Amores*. Funchal, 1940, de 16 págs. Eis uma amostra do seu estro poético :

O amor e o tempo Beijei-te. Uni ao teu meu peito ardente. Foste minha, bem minha, nesse instante. 0 amor nos levaria, e docemente, Unidos sempre. pela vida adeante . . . Sorrias nos meus bracos, provocante

E num assomo de paixão fremente Juraste, carinhosa, meiga amante, Ser minha, sempre minha eternamente. . . Eternamente.. . Foi há pouco ainda. Mas desse amor, luar da mocidade, Tudo se apagou, tudo morre e finda. . . Que mal contas o Tempo! Que saudade! Foi isso para ti.. . um breve instante. . . Foi isso para mim. . . a eternidade. . .


Jaime Vieira dos Santos (Observador)

Nasceu na freguesia de Santa Cruz, a 1 de Novembro de 1903. É filho de António Vieira Marujo e de D. Maria dos Santos Vieira. Frequentou o Seminário Diocesano desta cidade, desde 1916 a 1926, onde tirou o curso completo (Preparatórios e Teologia) e, de 1932 a 1936, a Faculdade de Letras da @Universidadede Lisboa*, onde se formou na Secção de Filologia Clássica (Latim e Grego). Foi dois anos Professor provisório do uliceu de Passos Manuel*, em Lisboa e fundou o *Colégio Madeirenser, em 1939 que. tornando-se feminino, passou a designar-se, *Colégio do Bom Jesusn, de que, actualmente, é Director e Professor. Dirigiu a uPágina Escolar* do uDiário da Madeira*, em 1937, e ultimamente, a uPágina Literária*. do @Ecodo Funchaln. Usa os pseudónimos de Armindo. Observador e Spectador. Colaborou na *Revista de Portugaln, revista uPérola do Atlântico*, revista, uDas Artes e da História da Madeira*, revista uEsperançao, uDiário da Madeira*, uDiário de Notícias*, ucomércio do Funchalr, *Eco do Funchal*, <Voz da Madeirar, uJornal da Madeira*, etc. Realizou várias conferências. nesta cidade e publicou, *Rimas de outros tempos*. Funchal, 1942; <Pérola de Portugaln. (Separata do uEco do Funchal*). Funchal, 1953, e tem inéditos: @Quadrosda Declinação e da Conjunção Latina, extraídos da Gramática Latina*, *O Ex-Seminarista* (romance) e «Provérbios de Públio Siro (Tradução do latim). Vejamos a sua musa:

O sonho do Infante Debruçado em seu mirante, sempre olhando o largo mar que se lhe estende diante, passa horas o Infante imerso em fundo cismar. use este Oceano tão vasto foi um grande continente que teve um fim ta0 nefasto, deve ter deixado um rasto do seu império potènte ! *Um mundo táo povoado com trezentas capitais. rico de minas, de gado. não pode ter afundado. sem deixar alguns sinais l *


E lê. sem interrupção o cansado pergaminho. . . Qucr descobrir em Platão uma leve indicação que o ponha no bom caminho. Na sua cama de esteira dorme o Infante a sonhar.. . E durante a noite inteira vê, nas brumas, a Madeira, muito ao longe, a cintilar ! Escutam os marinheiros, que o Infante vai falar : *Meus ousados companheiros, quem quizer ser dos primeiros há-de hoje fazer-se ao mar! 4Bem longe, do mundo ao fim, jaz escondida uma gema, um magnífico rubim, que a princesa de Arguim usava em seu diadema ! uÉ uma jóia cinzelada, pedra de toque real : dou a vida e dou a espada, só para a ver engastada na c'rôa de Portugal! .Sonhando há tempos cam ela,. náo mais a pude olvidar: na mais linda caravela, sem receio da procela. vou mandá-la procurar ! Gonçalves Zarco medita envolto no seu capuz: toda a sua alma se agita e nos seus olhos palpita um raio de estranha lu;!! -@Senhor, se fiais de mim empresa tão arrojada, embora seja o meu fim, eu vou buscar o rubirn, a pedra tão cubiçada?


Partiu, mares além, levando a esp'ranqa por norte.. . Só o Infante e mais ninguém contava findasse em bem a tentativa da sorte. . . Manhã bela, radiante, sem bandeira no convés, volta a caravela ovan te . . . Ao acordar, o Infante a jóia tinha a seus pés!

Despedida A única mulher a quem consagro amor. (30-9- 1932)

Adeus! Eu vou partir, mas brevemente Voltarei a encontrar o teu amor! Ao ver-te assim chorar tão docemente, Aumenta meu penar a tua dor. . . Por Deus, não chores mais que me entristeces! Corre o tempo veloz. . . Eu tornarei. . . Se no teu puro amor, nunca me esqueces, Também sempre de ti me lembrarei.

A tua imagem santa, carinhosa, Velará minhas noites e meus dias, Trocará minha ausência dolorosa Num rosário de infindas alegrias'! Há-de ser no trabalho o meu conforto E doce lenitivo ao meu penar.. . A luz do teu amor verei o porto P'ra onde me dirijo a navegar Enquanto viva fores, são cantigas Se vierem dizer que amei alguém ! Mas não vos iludais, 6 raparigas, Estes versos consagro a minha mãe!


João Sabino Rodrigues (João Sabino )

Nasceu na freguesia de Santa Maria Maior, a 9 de Fevereiro de 1904. É filho de João Rodrigues e de D. Henriqueta Fernandes Rodrigues e irmão de Adelino Rodrigues e Alexandre Rodrigues. Dedicou-se ao cinema e ao teatro, tendo tomado parte nos primeiros filmes realizados nesta Ilha, pelo operador cinematográfico madeirense. Manuel Luis Vieira, tais como: Jndigesaoo, Lalúniar, usolar* e uFauno das Montanhas*. Também se dedicou à poesia, tendo colaborado. em 1938, no extinto oDiário da Madeirao. Tem um livro de poesias e um de pensamentos. ainda inéditos. Encontra-se internado na *Casa de Saúde*, d o Trapiche. Eis algumas das suas poesias inéditas, compostas em Lisboa, em 1930.

Sonetilho A meu irmão Adelino :

Adelino, meu irmão : Eu bem rei que és meu amigo: E que estou sempre contigo. Bem peno do coraçáo. Se soubesses ? ! .. . Meu sentir É cruel, nao é formoso Neste mar tão tenebroso, Onde só devo mentir ! . . .

De tanta maldade ver, Têm constante sofrer, Todos que são como eu.. . E nesta vida incoerente, O homem só está contente, Quando se lembra do Céu.

Soneto Lá fora a chuva canta com dolência, Plangente, gemebunda, com tristura .'. . E O vento acerbo, freme com violência, Qual fantasma gigante em noite escura.


Scdidão . . . solidão . . . Senhor !, Senhor ! Acalma a tempestade : dá-me Luz! . . . Onde estás que não ouves meu clamor? N30 vês como é pesada a minha cruz?! . . . De súbito. -oh pavor ! -a terra treme : Um raio coruscante rasga a amplidão. Numa luta infernal, a terra geme.. . Está perto o grito rouco do trovão. Horror!. . . Ei-o, cyclópico que freme!. . . .

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De novo tudo é negro; e, solidão.. .

Soneto Que profundo sentir ! .. . que pensamento ! . .. Se apodera de mim. pobre mortal! Grande mundo de ideias ! . . . um tormento ! Constante, doloroso ! interno mal . . .

Oh sinfonia errante ! . . . potestade ! Perscruto, nesse mundo vasto, largo.. . E tudo se dilue numa saudade Tão longiqua . . , de saibo doce-amargo .,. Teu palácio encantado e edificante, Onde o mistério paira, torturante, Rasga dentro em minha alma a anciedade. Sinto, oiço, e não sei!. . . Oh fumo etéreo! Senhor de todo este grande império ! . . . Porque escondes de nós toda a verdade?!


César Augusto Pestana (Pausânias)

Nasceu na freguesia da Ponta do Pargo, a 18 de Fevereiro de 1904. É filho de João Pestana e de D. Maria Rosalina Gouveia Pestana e irmão do falecido Poeta J o ~ Pestana o Júnior e de Vasco da Gama Pestana, Chefe dos Serviços Técnicos da Estação Rádio Central dos Correios de Lourenço Marques. Cursou o *Liceu de Jaime Monizn, do Funchal e matriculou-se, na Faculdade de Direito da *Universidade de Coimbraa. Exerce. actualmente, o cargo de Gerente da Firma uManuel dos Passos Freitas 6 Ca. Lda.~. Organizou, de colaboraçao com o %Ecodo Funchaln, os primeiros Jogos Florais da Madeira, em 1941-42. É um dinâmico Jornalista e inspirado Poeta. Usa nos seus escritos os pseudónimos de Pausdnias, Alcino, e Augustus. Colaborou no uDiário da Madeira*, %Ecodo Funchal*, <Diário de Notícias*, uIntercâmbio Insular*, *Trabalho e União$, qAlbum Barrinhas,), e nas revistas, %RevistaPortuguesa*, @Viagem*,@AçoresMadeiran, *Das Artes e da História da Madeira*, %Pérolado Atlânticos. etc. Publicou os seguintes livros: ~MissDolly na Madeiras, Funchal, 1930. (Novela); *Ao Ritmo da Tentaçgoa. (Novela); Funchal. 1933; uCarta aberta ao Senhor Ministro da Educapo Nacionais. Funchal, 1945, %Coisas da Madeira. As Esquadras de Navegaçao Terrestre*. Áveiro. 1958 e tem inéditas as seguintes obras : uBelizardor, (Romance); uMotivos e Paisagem*. (Etnografia e Folclore); ~MissDolly e os intelectuais Madeirenses*. uMiss Dolly anti-núpcial* e *Academias e Tertúlias dã Madeiras.

Lá vou na onda perdida.. . Como pobre almuravide à sombra da mancenila chorando o destino atrós dum mundo que náo viveu, assim anda a minha vida, como rosa emurchecida, desprendida. na agonia, do sentir que me venceu. Quem vive ?-a melancolia, Quem marcha ?-a hipocrisia. Quem pensa ?-a anomalia. Ai ! pobre do meu sentir ! ,\i quem me dera dormir


como sultão de Agadir entre odaliscas de Ornar!

E assim. . . disperso. . . -como cacos no asfaltolá vou na onde perdida como pobre almuravide na quermesse desta vida a procura do Mar Alto ! . . .

Rosas de Gibraltar Ao tríptico gibraltino : lrene. Mabel, Doneida.

Quando a tarde. digressando Pela Avenida do Mar, Ora rindo ou conversando, Ora num doce cismar, Deslizam as três princesas. . . Tantas vezes fico a vê-las E me ponho s hesitar : Qual das três será mais bela? Qual das très a mais singela -Das rosas de Gibraltar r). . . Todas três loiras, galantes, Frescas, jóvens, elegantes, Por igual insinuantes -Esse trio de encantar.. . E ao vê-las tão donairosas, De linhas harmoniosas, Eu fico a interrogar E chego sempre a hesitar; -Qual das três a mais formosa Das rosas de Gibraltar ? . . .

III Mas ontem, ao sol-poente; Tão religiosamente Vi uma delas rezando, Como quem sente, chorando, Saudades d'Além do Mar. . . Que nHo mais pude hesitar. . . Tinha das três a candura E no olhar tanta ternura -Reunia a formosura Das rosas de Gibraltar ! . . .


Carlos Henrique de Menezes Cabral 1904

Nasceu na freguesia de São Pedro, Concelho do Funchal, a 19 de Abril de 1904. É filho de Henrique de Menezes Cabral e de D. Júlia do Nascimento de Menezes Cabral e irmão de José de Meiiezes Cabral e de Henrique Carlos de Menezes Cabral. É debuxador de bordados da Madeira, da Firma aPatrício 6 Gouveia Sucessores Lda.~.Dedicou-se ao teatro, como amador, tendo feito parte dos Grupos Dramáticos das Bandas Municipal e Distrital do Funchal e do Grupo Dramático do aPatronato de São Pedroa e foi ensaiador do grupo Dramático de São Martinho*. Tomou parte em muitas peças teatrais, entre elas a revista, a 0 que lá vai, lá vai*. original de Manuel Veloza e Carlos Silva. Foi várias vezes aos Açores, integrado em Grupos Dramáticos e fez parte da parelha de *Clons>,40s Albertinos~.Compôs monólogos e cançonetas. tais como: 6 0 gatinho da titia, aA massa de estrelinha* e cO Corneta*, com música do Capitão Edmundo Lomelino.

Acróstico Caminho há longos anos Atraz destes desenganos Rindo para as multidões. Longe da luz da verdade. Ostento sinceridade, Sempre preso as ilusões. Chamo a mim a ventura Ao pensar que é loucura Beber, com sede, a Glória. Raras vezes u m mortal Ascende a um pedestal, Lutando pela Vitória.

A massa de estrelinha (Música da cançdo. d3alança coraçdo balançar.)

A massa de estrelinha, Já tem o seu fadário, Enfeitando a orelhinha, A pulseira e o rosário, Ornamentando as damas Todas com perfeição. -Das velhas menineiras, Tolas e gaiteiras, É sua presunção. . .


ESTRIBILHO : Se 6 moda, vamos a ela, Todas usam o colar original E tiio vaidosas, vão dando à canela, Velhas e ~zovas. . . Pelas ruas do Funchal.

O caramujo e a lapa, Vão ter um largo serviço. . . -Há meninas com lata Que vão usar chouriço, Búsios e caracóis, Tudo serve p'ra o colar E o próprio tremoço, Vão pô-lo no pescoço E bolas de - bilhar. . .

ESTRISILHO : Se é moda, vcimos a ela, Todas usam o colar original E tão vaidosas, vdo dando íi canela, Velhas e novos. . . Pelas ruas do Funchal. Há menina tamanha Que não é pedante,

Canelin has de aranha E queixinhos de arenque, Que usa cada colar Que só serve de troça.. . -Quando vai passear, Com o peso do colar Anda sempre orça 1 . . .

ESTRIBILHO : Se é moda, vamos a ela, Todas usam o colar original E ta0 vaidosas, vão dando à canela, Velhas e novas . . . Pelas ruas do Funchal.


João Joaquim de Jesus 1904

Nasceu na freguesia de São Pedro, desta cidade, a 3 de Outubro de 1904. É filho de João Joaquim de Jesus de D. Pacifica Conceição de Jesus e irmão d e Américo Joaquim de Jesus, Director do Instituto uLuz nas Trevaso. Em 1907, com dois anos e meio de idade, deu entrada no tlazareto de Gonçalo Aires*, atacado pela varíola que o cegou e lhe deixou vestígios de tão cruel enfermidade. Seguiu aos 11 anos para o Continente a educar-se no uInstituto Branco Rodrigueso, em Sao Pedro do Estoril, onde permaneceu 9 anos a se intruir. Ali. além da instrução primária, concluiu o 5.0 ano singular de português e de francês e o curso de Professor Primário. com diploma passado pelo Ministro de Instrução. Exerceu, depois, o cargo de Professor. durante 3 anos, no uAsilo de Cegos de Nossa Senhora da Esperançar, em Castelo de Vide e, no Funchal, fundou o extinto Instituto para Cegos %Luznas Trevas* de que foi Professor. É Matemático, Poeta e cultor da Literatura, da Ciéncia e do Esperanto. Está a verter para este idioma internaclonal, o poema .imortal de Camões, 40s Luziadas~. Tem versos insertos na revista, clPérola do Atlântico%,aDiário da Madeirao, uDiário de Notícias%, %Eco do Funchaln, etc. 40s seus versos-disse o Professor Feliciano Soares,-sáo versos do mais alado lirismo e da mais sagrada ascenção espiritual, rápida como um vôo, bela como toda a anciedade humana aliirnada de um sopro divinon.

Fé e Esperança O Princípio do Bem, ó Foco da Verdade, Excelso Criador de tudo o que respira, Dos montes colossais, do céu cor de safira, Dos abismos do mar com sua magestade, Do cortejo de sóis que lá, na imensidade, Irradiando luz, constantemente gira, Da Alma Superior que num anceio aspira Ao supremo Ideal duma Felicidade: Creio na rectidgo da Tua Providência, Que premeia a Virtude, e estimula a Ciência No esforço de atingir o máximo esplendor. E espero que. subindo a Região etérea, Depois de subtraído ao jugo da matéria, Meus olhos hão-de abrir-se à luz do teu Amor!


Feia Não tens os dons de beleza Com que pinta a natureza Os encantos feminis; Não seduz o teu semblante, Teu olhar náo é galante, Nem tuas formas gentis ! Mas não vivas descontente, Não sejas indiferente Ao Senhor que te criou, Pois, em vez da formosura Que o tempo gasta e não dura, Com outros bens te dotou. Bem compensa a fealdade O sorriso de bondade Que descerra os lábios teus, Quando afagas as crianças, Sedutoras pombas mansas, Anjos benditos de Deus !

Em lugar duns olhos belos, Reúnes dotes singelos De virtude e de candor; Em vez duma fronte airosa, Tens uma alma generosa, Um coração bemfeitor. Só nutres bons pensamentos. E sublimes sentimentos De caridade cristã! A tua alma sonhadora É mais cândida que a aurora Duma ridente manhã! Quem possui tais predicados, Tão honestos e elevados, Não se deve lastimar; Vale mais uma alma pura Do que toda a formosura Que se pode imaginar!


Essas donzelas vaidosas De faces da cor das rosas, Que perpassam a sorrir,Suas graças atractivas. Como o raio, fugitivas, Há-de o tempo destruir ! Enquanto a gala celeste, De que o teu ser se reveste, Emite luz virginal . . . Morre a beleza que ilude, Mas o brilho da Virtude Tem duração eternal.

O mundo chama-te feia, Pois sòmente se recreia Nas externas seduções, Não vendo o nobre tesouro Nem o quilate desse ouro Que distingue os corações.. . Não inspiras simpatia A quem sòmente aprecia O passageiro fulgor, Mas não sentes essa chama, Em que meu peito se inflama, Por ti repleto de amor?. . . Não sabes quanto venero, Com o afecto mais sincero, Os dons espirituais : Essas flores tão virentes De perfumes excelentes Que se dissipam jamais ? . ..

Sim, ó rola estremecida, Que no caminho da vida Me vieste deslumbrar ; Para mim és mais formosa, Mais esbelta e donairosa Do que uma Vénus sem par!


Manuel Luciano Martin ho Correia (Luciano Correia) 1904- 1943

Nasceu no Funchal, a 11 de Novembro de 1904 e faleceu nesta cidade, a 30 de Novembro de 1943, vítima da tuberculose. Era filho de Manuel Correia, funcionário aposentado dos Correios e Telégrafos e de D. Umbelina Correia e irmão de Adão Mateus Correia, conhecido amador teatral. Foi empregado superior da Firma aB. A. Kassabn e era comerciante, à data da sua morte. Dedicou-se ao teatro de amadores, tendo escrito diversas revistas teatrais, entre elas a conhecida revista uprimavera~,de colaboração com Arnaldo Vicente de Abreu, revista que esteve no cartaz, durante cerca de dois anos, com algumas modificações, no upatronato de São Pedron. Colaborou no. diário da Madeira%e na revista madeirense, t R á d i o ~e escreveu e publicou, um livro intitulado, 4 0 Guia do Rádio Ouvinte* e um fado-canção, intitulado, aNoite de Natal>>,com música e letra da sua autoria. Este fado-cançao foi cantado inie cialmente por sua filha e pela cantadeira Maria Virginia

Noite de Natal Mãezinha já é tão tarde, Hoje é véspera de Natal E eu sem pão para comer. A fome tanto me invade, Mãezinha já é tão. tarde, Com fome é triste morrer. Noite de tanta grandeza E eu com tanta pobreza, Como isto me consome. Mãezinha, minha adorada, Dá-me beijos e mais nada, Com beijos teus mato a fome. Sinto a vida me faltar, Não chores se eu te deixar, Nunca mais tens beijos meus.. . Quanto a tua alma chora. . . Custa-me bem tanto agora Receber o último adeus.


Tuu ão vês o Deus-Menino Numas palhinhas sòzinho, Como lhe sorri a vida. Eu sei porque Ele não chora, E' que a fome não o devora Como a mim. minha mãe querida.

Tocam os sinos na ermida, Chamando os que têm vida A Missa do Deus-Menino. Nesta Noite de alegria Meu filho a morrer sorria Talvez para o Deus Divino.


Moisés Teixeira de Jesus

Nasceu na Freguesia da Camacha, a 11 de Março de 1905. E' filho de Francisco Teixeira de Jesus e de D. Maria do Rosário Teixeira. Fundou em 1929, a Juventude Católica de São Gonçalo. Colaborou, neste mesmo ano, na Revista @ReinadoSocial do Sagrado Coração de Jesus*, do Continente e fez'várias palestras nas extintas Juventudes do Monte. São Martinho, Câmara de Lobos, Santana e na Liga da Acção Católica de Santo António e na actual JOE, da Camacha. Colaborou, também, n'uO Sino de Santa Maria*, de 1 de Fevereiro de 19571 donde reproduzimos os seguintes versos:

A Rua de Santa Maria em saudosos tempos que deviam voltar.

Rua de Santa Maria Quão bela foste outrora. Rezando no fim do dia A Virgem Mãe e Senhora.

A primeira badalada, Logo as janelas se abriam: Respeitosas e curvadas Muitas cabeças se viam.

A direita, reverentes, Assim em coro saudavam: *O Anjo do Senhor A Virgem Anunciavas. Na esquerda, igualmente. Respondiam, por instantes. uE a virgem concebeu. Clbra do Espírito Santo?.

E na doce invocaçáo O diálogo se seguia; Dum lada e outro rezando *Av& e Santa Maria.


Quem nesta rua passava Batia-1he o coração. Por ver os seus habitantes Com tamanha devoção. Ao fechar suas janelas Sem um ruido fazer, Inclinavam a cabeça Para depois recolher. Para mais beleza e brio Nenhum ente se deitava; Junto ii sua cabeceira Primeiro o Terço rezava.

E assim este bom povo Tão diferente de agora. Tinha Deus no coração, Na boca Nossa Senhora.

Rua de Santa Maria Sem disfarce de ilusão Volta ao que foste um dia E reza tua Oração.


Cesário João Nunes (João Verdades)

Nasceu na freguesia de São Gonçalo, sitio do Ribeiro Sêco, a 6 de Maio de 1905. E' filho de Manuel Francisco Nunes e de D. Virgínia Cândida Gomes Nunes. E' Debuxador de Bordados da Madeira, Poeta, Jornalista e Escritor de merecimento. Foi laureado nos Jogos Florais da Madeira, organizados pelo uAteneu Comercial do Funchalr, em 1946, com as suas produções, rA Aguardente*, conto e o 0 Aparo de Ouro,), conto infantil, os quais obtiveram o 2.0 Premio. Publicou os livros, *Política Sacarina*. (Cadernos Madeirenses), Funchal, 1940, de 140 págs. e *História das Tábuas da Calheta: Um novo Machim*. Funchal, 1944, de 20 págs. Destruiu as suas obras inéditas, entre elas um romance e um livro de contos, intitulado. *Galeria*, que seria prefaciado pelo ilustre escritor Ferreira de Castro. Está escrevendo uma obra, em dois volumes, a que deu o título de *Encruziladan. Assina as suas produções literárias com as rubricas de Ene, lodo Verdades e Cosário Nunes. Foi correspondente do *Comércio do Porton .e Delegado do jornal uA Caridade*, de Lisboa. Colaborou no *Diário de Noticiasn, uEco do Funchal*, $Madeira Novan, uComírcio do Funchaln, diário da Madeira*, 4Voz da Madeira*, etc.

Conselhos à minha Filha.

Não corras, não tenhas pressa, Anda, sim, mas devagar, Quem corre, breve tropeça E tu podes tropeçar Numa curva de caminho Ou num atalho incerto, Anda sempre de mansinho, Repara, põe-te a coberto, Tem cuidado na estrada Que segue na tua frente : Como rocha alcandorada Na sombra duma vertente Oculta, mesmo ao teu pé, E que tu, fraca, inocente, Não vês, não sabes onde é E onde se encontra afinal ! Se na mão que tu apertas.


Se num olhar de cristal Ou nas afeições mais certas, Que um dia julgares sãs. Como os primeiros beijos Que dão os filhos as mães Ou os mais puros desejos Da tua pequena alma. Anda, sim, mas devagar, Não te iludas e sê calma, Olha que podes ficar Como boneca partida Que indiferente quebraste, E depois, comprometida, A tua falta choraste, Vai serena e confiante, Devagar, devagarinho, E náio percas um instante Esta luz no teu caminho. E assim talvez consigas Chegar ao fim sem cansaço. E vèlhioha, sem fadigas, Beijar Deus no seu regaço.

Lágrimas Sobre a campa, o orvalho matutino, Ungiu a saudade de quem chora. No pranto que em seus lábios aflora, A sombra negra do fatal destino.

A cruz erguida, num sofrer divino, Subiu a prece do viver de outrora, E sobre a lousa que repousa agora Cai, em silêncio, um fio cristalino. Sonhos dispersos, ilusóes perdidas. . . Murmúrio vago de orações sentidas Que em nosso peito, triste voz quebranta. Lágrimas. -Quem é, pois, que não as sente, Quando paira a visao, em nossa mente. Da saudosa memória de uma santa ? ! . . .


P e Joaquim Roque Fernandes Dantes (Roque Dantas) 1905

Nasceu na Freguesia de Câmara de Lobos, em 1905. Frequentou o Seminário do Funchal, tendo-se ordenado de Presbítero, em 1930. Foi Capelão-Cantor da Sé, desta cidade e mais tarde, organista e Sacristão-mor da mesma Sé. Exerceu, também, durante alguns anos. o cargo de Escrivão da Câmara Eclesiástica e foi Capelão da Igreja do Carmo, onde tem a sua sede a Ordem Carmelitana. de que foi Comissário, durante cerca de 15 anos. tendo representado aquela Ordem, num Congresso realizado em Valadolid. Espanha. Foi Professor de Canto do Seminário, da 4Escola Industrial e Comercial do Funchalo e do uCol6gio Lisbonense~,até 1950 e em 1951, foi nomeado Coadjutor da freguesia da Ribeira Brava, onde actualmente exerce o seu munus apostólico. Foi Director Artístico do aGrémio dos Operários Católicos do Funchals, fundado pelo falecido P.e João Evangelista Lopes. Compôs o Hino desta agremiação, que realizou uma festa no Teatro Municipal do Funchal, em 2 de Junho de 1936, na qual tomou parte o bantono, Tenente Dr. Carlos Silva e compôs, também, uns versos sobre a Madeira, intitulados. UAMadeira é a Minha Terras, que foram recitados no extinto patroaa ato de .São Pedror, em 1 de Junho de 1934. Visitou Roma, em 1954 e a América do Norte. em 1957. onde tem um primo. o Compositor e músico madeirense. Ricardo de Freitas. há muitos anos residente em New York.

A Nossa Senhora da Apresentação Nossa Senhora! Nós Vos saudamos E Vos prestamos NOSSOSlouvores, Juntos estamP'râ Vos pedir. As Vossas bençãos, Vossos favores. . . Ó Senhora Nosy ! Mãe que Vos chamais Da Apresentaç~o. . . Ouvi nossos rogos. Ouvi nossos ais !


Prestai atenção

A estes mortais! . . . Que na alegria Ou na aflição. . . Mãe! Em Vós confiam! Mãe! Em Vós esperam! Na vida ou na morte, Vos hão de chamar-te E Vos invocar, De alma e coração ! Mãe Avé-Maria . . . Dlão ! dlão ! dlão! Dlão ! Dlão !

CORO Ó Maria, Mãe de Deus, Hoje Vos vimos louvar, Ofertar o coração Para sempre Vos amar.

Nós Vos chamamos Maria. E M ã e da Apresentação. Q'remos guardar-vos na vida A mais terna devoção. Sois a Mãe dos Pecadores, Nossa advogada nos Céus, Na hora da nossa morte Apresenta-nos a Deus. Nossa Mãe, nossa Rainha, Mãe da Apresentação, Todos nós Vos guardaremos. . . Guardai nosso coração !


Noé Alberco Pestana (Enepê) 1905

Nasceu a 7 de Agosto de 1905. É filho de Franciscci Pestana e de D. Eugénia Rodrigues Pestana. É Poeta e Jornalista. Foi Redactor do Gorreio Desportivon e uEco do Funchaln

e colaborou no aDiário da Madeira,), -Re-nhau-nhau*. 4Album Barrinhash, 4Elucidário Madeirenseh, revistauMadeira-Açores*. etc. Escreveu: *Da Madeira a São Migueln (cruzeiro desportivo do C.D.Naciona1a Ponta Delgada), Funchal, 1937: uO Senhor Cardeal Patriarca na Madeira*, em 17 de Julho de 1944 (Quadras populares), Enepê; rA Gaiola do Natals (Conto), no $Eco do Funchal~,de 24 de Dezembro de 1944 e 4Mão cheia.. . de nada% (Versos). Funchal, 1947 e tem inédito um livro de poesias, intitulado, uNoite sem lua*. Foi premiado nos Jogos Florais da Madeira, organizados pelo uAteneu Comercial do Funchaln, em 1946. Usou também o pseudónimo de Ave do Paraiso.

Saudades Assim como as andorinhas que partem de vez em quando e voltam de quando em vez, também as saudades minhas as vezes partem num bando. mas voltam sempre outra vez. .. Aos bandos. em revoadas, assim como as andoyinhas. cortando os ares, voando. voltam sempre remoçadas as pobres saudades minhas. que partem de vez em quando.. Dáo-se muito bem comigo. as minhas pobres saudades.

a que quero tanto bem -não lhes zango. náo lhes brigo, porque às vezes das saudades sinto saudades também. . .


O fim da história Eu quís fazer um dia uma novela, Herói talhado à minha semelhança, E tu, meu lindo amor, serias «ela$, A dama que eu trazia na lembrança. A vida para nós seria bela, Uma casa com flores, abastança,

E um amor puro e terno dentro dela, Num céu todo azulado, de bonança. Contudo não pude ir para diante, Deixei de escrever para sonhar.. . Quando acordei. vi que era semelhante

O conto, à minha pobre vida inglória, E desisti, por fim, sem encontrar No nosso amor, o fim da minha história. . . ( M W o Honrosa, dos jogos Florais da Madeira, de 1946).

Vilancete A uma admiradora desconhecida

Não penses no que te digo Se me queres entender, O melhor do que pensamos Fica sempre por dizer.

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VOLTA Há nas voltas que nós damos Pelo mundo sem querer, Coisas que nunca pensamos Que nos possam suceder; Passadas que recordamos Com vontade de esquecer. O melhor do que pensumos Fica sempre por dizer.

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Na Tipografia Curvados, Por sobre os caixotins, Vão tirando o chumbo, De um a um, Os tipógrafos. Arrumando, empinados, Os tipos Do artigo comum.

L)e letra a letra, A notícia cresce Na galé cinzenta, E, eles, coitados, Trabalham. trabalham, Sobre os caixotins, De peitos arqueados, E não sentem, sequer, Que a dor dos seus rins Aumenta.

Há vozes na rua, Carros a passar; A vida lá fora Desfila devagar. E não se sente cá dentro, Onde todos cúrvados Vivem cançados A trabalhar. No cheiro da tinta, Cresce o jornal. A notícia da rua, A menina que morreu, O artigo de fundo Depois a noticia Dum funeral.

E eles curvados, Em quem ninguém pensa. Trabalham, trabalham, Formando, cansados, A mole tamanha, Que forma a montanha Da santa imprensa. Inédito


Francisco Gomes da Silva Júnior (Francisco Silva) 1905

Nasceu nesta cidade, a 30 de Dezembro de 1905. É filho do Poeta Francisco Gomes da Silva, funcionário do Governo Civil do Distrito e de D. Te~ezade Jesus Marques da Silva e primo do autor deste Espicilégio. É debuirador de bordados da Madeira. Francisco Silva, é o romântico e sonhador do uCéu de Nuvens*, apreciada colectânea de poesias místico-amorosas, de agradável recorte literário, impregnadas de um suave lírismo sentimental. publicada nesta cidade em 1935. É um Poeta que se lê com agrado. uTem segundo' João dos Reis Gomes - facilidade inventiva, um descritivo sintético -por toques rápidos e justos - bom movimento no quadro, e raros deslises métricoss. O seu humanismo patenteia-se nalgumas das suas mais recentes poesias, onde se nota, por vezes, a influência do estro combativo de Junqueiro. É autor dos livros inéditos: uAuto de Fé*. uTripe-trapess, uO Menestreln (Teatro) *Um Segredo*. (Novela) e uO Estevesh, (Conto). Colaborou no $Diário de Notícias*, uDiário da Madeiras, aTrabalho e União*, 4 0 Fixes, u O POVO),<ECOdo Funchaln, ucomércio do Funchalb, <Revista Madeira Nova*, crRevista Pérola do Atlântico*, do Porto uCorreio das Ilhas*, de Lisboa, $Gazeta do Sul*, de Montijo. Foi premiado em 1951, nos Jogos Florais de Portugal, organizados em Lisboa, pela ~PropagandaTurística Portuguesas. Usou os pseudónimos de Fray Sulivan, Frei Silvestre, D.Beltrdo, D. Frazao. Mo Ratao. Fidelino Sarraceno, eic.

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A Princesinha ... de gesso Eu tenho uma bonequinha, A que dou um grande apreço. Elegante, bonitinha E sorridente -de gesso. Sempre a sorrir, coitadinha, Com gracioso arremesso, E' tão linda a princesinha... Tão linda... mas é de gesso.

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Nas horas de doce calma Quando vos vejo à janela Ou quando só me aborreço, Lembro a princesa sem alma E vos comparo com ela: -Linda, linda !... mas de gesso !


Inverno Inverno. Frio. Eu só. Ninguém me escuta. Sob um lençol de neve, o povoado. Ruge o trovão e o raio desvairado Ziguezagueia e cai. Tristeza. Em luta Os vendavais no trigo já amanhado E as águas furiosas à disputa. Tombam penedos da montanha abruta. Chora o bom lavrador, desalentado.

A neve mais parece uma mortalha Cobrindo a pobre aldeia ! Deus nos valha E a fome não nos faça companhia ! Eu sufoco de neura e de tristeza! Bendito seja o sol, candeia acesa Luz divina de amor e de alegria!

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Plutocratas, deixai o leito fofo e brando -E1 sacrifício, sei, deitaste-vos tardinho! E vinde ver quem pisa a relva do caminho, A lida, campos fora, à vida demandando. .. E' um pai que vê morrer a sua prole a fome E busca muito além, um mísero salário; E' o pobre jornaleiro, o triste proletário, O rude cavador que não possue um nome

E luta, sol a sol, ora cavando a terra Para abrir um canal, ou construir um porto, Ou para transformar um pequenino horto ~ mceara ' que vai do litoral à serra. Com o suor, em baga, a aljofarar-lhe o rosto, Heróico no sofrer, faz-me lembrar Jesus: Sua vida é o Calvário, sua enxada -a Cruz, E, o fel e o vinagre, o ardente sol de Agosto.

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Vêde o esforço enorme, dinâmico, tamanho, Servindo o Bem comum ! Vêde essas miios calosas A arrancarem à terra as gemas preciosas, -O ferro-e o carvão, o cobre e o estanho !


E quantos a lutar nessa tarefa ingrata Sucumbem soterrados, ou morrem de cansaço!

E quantos, a mor parte, que foram feitos de aço,

Não morrem de acidente,-a fome é que os mata! 0' vede e meditai! E, dentro desse peito Tão dedicado à fé, se tendis coração, Correi a bendizer a quem vos dá o pão, Beijar-lhe as suas máos, dar-lhe justiça e preito !

Jesus

- veio de Deus, do Reino Seu nos veio! -brada, a beijar-lhe os pés, a areia dura, e um insecto que nectares procura, E' um lírio ! -diz, zumbindo num rodeio.. .

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Um astro. a fulgurar, canta na altura: 4Desceu do Céu e eu alumiei-o ! n E um rouxinol modula, num gorgeio: -%Onde mais santa e doce criatura??,

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AS feras, nos covís, vendo-o, não temem.. . Aquietam-se, amansam-se e, a olhá-lo, têm nos olhos brilhantes outra luz.. .

E as palmas, num colóquio triste, gemem:

-iC)s homens têm amor digno de ama-lO?n -E os homens O pregaram numa cruz!

A uma freira Já velhinha

E solteirinha, Sempre virgem, sempre pura, Sem amor; Fez-se em novinha Freirinha E nunca faltou à jura De legar à sepultura, Seu frescor.


Qual foi a razão segura Que levou esta velhinha A não ter sua casinha Com seu ninho e seu amor? Não lhe faltou formosura Nem tão pouco adulação... Foi capricho? Foi usura? Seria contradição? Isso não ... Foi outra razão segura! Alma da cor da cecém, Pensadora, reflectida, Fez um estudo da vida E nela só viu a Dor.. . Fez um estudo ao amor E nele só viu engano.. .

E com pena da criança Infeliz que ao mundo vem, Num esforço sobrehumano, Calcou no peito a esperança I)e ser mãe. Já velhinha

E solteirinha, Sempre virgem. sempre pura. Sem amor; Fez-se em novinha Freirinha E nunca faltou à jura De legar à sepultura. Seu frescor!


José de Carvalho 1906-1952

Nasceu na freguesia da Sé, desta cidade, a 19 de Maio de 1906 e faleceu, repentinamente, na sua residência, a Rua do Bom Jesus, a 25 de Dezembro de 1952. Era filho de Luís Álvaro de Carvalho e de D. Maria José Rodrigues de Sousa Carvalho. Frequentou o *Liceu de Jaime Monizn, onde concluiu o 7.0 ano de Letras e Ciências e esteve um ano na Faculdade de Direito da *Universidade de Coimbras. Foi, como seu pai, Despachante da Alfândega, desta cidade e foi considerado como um dos melhores Arbitros de Futebol da Madeira. Em 1950, escreveu duas reportagens sobre a chegada da Amália i Madeira, que se encontram inéditas e costumava traduzir em verso, pois tinha grande facilidade de improviso na sátira. factos e atitudes que lhe mereciam reparo, fazendo-o, despretenciosamente, sem qualquer espécie de preocupações. Eis, por amostra, os primeiros versos da sua sátira, intitulada, A propúsito de u m Gonçalves ( 1 . 0 Dinastia Gonçalves) e uma quadra popular.

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Foi Gonçalves Zarco, - o Descobridor, Da sua Dinastia, o Fundador, Esse que no Séc'lo XV aportou A uma bela terra que encontrou, Lá fundeando as lusas caravelas Com a Cruz de Cristo alçada em suas velas, Oh! esse sim, esse homem desbravou, Povoou, trabalhou, edificou. Para legar aos Gonçalves vindouros, Cama fôfa, para colherem louros.

Quadra E' dos tempos de Adão e Eva Que esta frase lapidar nos vem: quem parte saudades leva, Quem fica, saudades tem!...a

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Fernando Portugal Mendes (Portugal Mendes) 1907

Nasceu na freguesia de Santa Maria Maior, a 20 de Fevereiro de 1907. É filho de João Mendes e de D. Maria Tereza Pereira Mendes e tio da Poetisa Irene Lucilia Mendes Andrade e do Poeta José Alberto Reinoldi Mendes. Dedica-se ao Campismo, tendo fundado. em 1922, o primeiro grupo campista da Madeira, denominado, .Grupo Excursionista Lidadora, do qual fizeram parte, Mota de Vasconcelos, Francisco Silva, Manuel Silva, Carlos Cabral, Alberto Abreu, António Gomes da Silva. Luis Marino, Juvenal de Santa Cruz Correia, Gabriel Alves, Carlos Silva, José Pereira. etc. Foi, em 1937, Presidente da Direcqáo do .Sindicato Nacional dos Barbeiros e Cabeleireiros do Funchal., tendo nesta qualidade, confercnciado. em Lisboa, em 1937, com o Sub-Secretário de Estado das Corporações e Previdência Social. Colaborou, em prosa e verso. em 1934. nos extintos uDiário da Madeiran e semanário &ONorte)), onde, entre outros artigos, escreveu uma série de monografias sobre a visinha Ilha do Porto Santo, tendo sido uma delas reproduzida numa Revista de Cuba. Colaborou, também, no semanário Continental, uVida Socialn e na Revista &Açores-Madeiran e ~ A l b u mBarrinhasn. de Mota de Vasconcelos, publicado uesta cidade, em 1943

Adoração Ao meu distinto amigo, Ltbís R. da Silva.

Conheço o teu sentir, teu belo coração. Pulsando com nobreza e amor acrisolado ; E o teu afago sinto, quando a meu lado, Um misticismo tens ardente na oração.. .

Tu és na vida em flor, amigo, uma canção A embalar meu estro, humilde e atribulado. Quando meu peito está dorido e esfacelado, No teu intimo encontro amiga protecção. Vive em tua alma um ser formoso e pequenino

A quem eu minto quero, com ternura igual.. . (Divina aspiração e celestial destino ! ) Que devoçáo e afecto, em peito dum mortal! Relembra a adoraçao a Deus, quando menino. No Presépio, em Belém, na Noite de Natal!


Pedro Alberto Gonçalves Preto (Gonçalves de Cor Ausente) 1907

Nasceu na freguesia da Sé, a 7 de Setembro de 1907.

E' filho do Dr. Francisco M. de Freitas Gonçalves Preto, Advogado, e de D. Sofia Amélia Figueira Gonçalves Preto e pai do Poeta e Jornalista Edgar Gonçalves Preto. Cursou o 4Liceu de uJaime Monizn e frequentou durante alguns anos a uUniversidade de Coimbra*. Exerce, actualmente, o cargo de Chefe de Secção da uCaixa Sindical de Previdência do Distrito do Funchal~. Quando estudante liceal. dirigiu, com Arnaldo Barão, a folha aPiada Académicar e escreveu, de colaboração com João Santana Borges Filipe Correia, uma revista teatral, intitulada, a 0 Fim do Mundo*, num acto e 4 quadros, que foi levada à cena no Teatro Municipal, desta cidade, em 24 de Agosto de 1933. Fundou e dirigiu, com João Miguel, o trimensário uRe-nhau-nhaun, em 20 de Dezembro de 1929 e colaborou no aAlbum Barrinhasa, de Mota de Vasconcelos. (3s seus versos encontram-se disseminados pela imprensa, nomeadamente no <<Diárioda Madeira*, uA Ilha*, ulntercâmbio Insularn, e uRe-n hau-nhaur. E' um Poeta da nova escola, possuidor de um estilo próprio, original. É inspirado, emotivo e harmonioso. E' considerado também um dos nossos melhores Poetas humoristas. Publicou, nesta cidade, em 1955, um livro de versos, intitulado, uVersos de Gonqalves Preto* e tem um livro inédito, intitulado, aMemóriasr.

Soldadinhos de chumbo Quando menino Tive brinquedos Para brincar. Milagrosas caixinhas de segredos, E bonecas, Que por estranhos bruxedos Só lhes faltava falar. Tive ursos empalhados, Espadas gloriosas de latão, E arlequins com seus guizos doirados, E palhaços de corda e de cartão. Cavalos de madeira que eu montava. Agudos cornetins, um velho bumbo. Mas dos brinquedos eu só gostava Dos soldadinhos de chumbo.


Travam-se batalhas Numa carnificina singulaa. E os soldados morriam Para tornarem a ressuscitar Depois cresci

E os meus brinquedos dispersos Pelo mundo em que vivi, Transformam-se nos versos Que por meu punho escrevi.

Brinquedos desmantelados. - Perdidos Soldados esfacelados. Meus metais oxidados, Arlequins desfalecidos, Espada romba, sem gume, Meu boneco de cartão Desfeito em cinza, no lume, E em nada, Pelo ar, Confrange-se o coragáo, Quando fico a recordar. E ainda hoje, quando escuto Pancadas cavas num bumbo, Sinto a minha alma de luto Pelos soldados de chumbo. ..

-

Soneto Fossem seus olhos feitos de luar, Olhos estranhos de princesa antiga E talvez eu, ó minha doce amiga, Não vivesse por eles a penar. Porque na luz imensa desse olhar Vive embalado o som duma cantiga, Que às vezes quero que me não persiga Como num velho búzio a voz do mar. Olhos de sonho diluido em água Onde perpassa a minha imensa mágua E todo o meu tristonho encantamento ...


Contens toda a tristeza que me invade Em teu olhar de amor e de saudade Doce saudade minha e meu tormento.

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Poema Anda pela noite enorme Suas mágoas a cumprir, Uma sombra que não dorme E me não deixa dormir. Brandos deslisam seus passos Nas areias da alameda, - Gestos pausados de braços Por sobre leitos de seda. Sombra que em sombras se esconde Para melhor ir penando: Vieste de não sei onde E voltarás não sei quando. Cheia de melancolia Passa por mim, muito rente, E a chorar principia Uma canção decadente:

%O'verdes águas limosas, Saudades de que me inundo, Leva-me as penas da vida P'ra muito longe do mundo. Na superfície dum lago

A minha imagem diviso.

-Repete-se a velha história Do lindo e loiro Narciso.

O meu corpo sucumbiu Nas águas do tanque imenso, Como afundado navio E o mundo ficou suspenso!

Serena, silenciosa, Desfez-se em nada no ar, Aquela sombra brumosa E o seu estranho cantar.


-Sombra que em sombras se esconde Para melhor ir penando: Partiste não sei para onde E voltarás não sei quando!

Soneto daquela ilha menina Ilha menina de Gonçalo Velho, Noivinha triste envolta em véu de bruma, De casario branco, cor de espuma E mar que lembra a face dum espelho. Fioo a invocar-te e às vezes ajoelho Na ara do passado que se esfuma, Quando em minha saudade se avoluma O teu poente trágico e vermelho. Ilha menina de vestido novo; Linda trova de amor na voz do povo, Toada que me encanta e que me invade ... Toda de verde e oiro como a esp'rança, Andas sempre a bailar-me na lembrança. 0' minha doce imagem da saudade.


Pe. Alfredo Vieira de Freitas (Viriato) 1908

Nasceu na freguesia de Gaula, a 16 de Março de 1908. É filho de Manuel Vieira de Freitas e de D. Júlia Baptista da Concei~ãode Freitas e tio do seminarista António José Vieira de Freitas. E' Professor de Latim e Português. do *Seminário Diocesano do Funchaln, Jornalista e inspirado Poeta. laureado nos Jogos Florais da Madeira, promovidos pelo 4Ateneu Comercial do Funchal?, em 1946. Esteve em Bedford, América do Norte, em 1939 e fez uma viagem A Itália, em 1951, passando pela Espanha, Franca e Suiça. E' autor do opúsculo intitulado uMãos suplicantes>, editado pela Câmara Municipal do Funchal, em 1947 e do livro de versos, intitulado, *Céu de Estrelas*, publicado nesta cidade, em 1948. Colaborou na *Revista Portuguesan, *Diário de Noticiasr, *Diário da Madeira*, uO Jornal* (hoje *Jornal da Madeira*) e noutras publicações locais. Vejamos a sua musa:

Amando ... Amando a Deus, eu amo a natureza.. . Amo a rosa sorrindo no vergel E a abelha que a zumbir, fabrica o mel E vai de flor em flor, com singeleza. Amo o Sol, coruscante de beleza. Nas mãos do Criador, rico pincel, E o firmamento, artístico painel, Onde se ostenta a lua com tristeza. Amo as ondas marinhas, soluçantes, A embalar, noite e dia, os navegantes, Beijando a praia, as rochas de granito. Amo quanto é Bom. Verdadeiro e Belo, Quanto me eleva e pode ser um elo, A tornar-me cativo do Infinito.

A minha mãe Lembras-te, minha Mãe, daquela história, Dum monge que, na cela do convento, Um rouxinol ouvia todo atento, Esquecido da cela merencória ? . . .


Ainda tens essa lenda na memória Que a noitinha contavas ao relento, Quando a lua a pairar no firmamento Refulgia cor de opala marmórea?. .. Minha Mãe ! Minha Mãe ! Saudade intensa Desse tempo em meu peito se coodensa, Ainda julgando ouvir a tua voz, Como liuda canção que vem de longe.. . Tu sendo o rouxinol. eu sendo o monge. Na saudade pungente de ambos nós.. .

Salmo de Matinas %Creioem Vós, Senhor Omnipotente, Vossa mão tudo fez com harmonia; Fazeis nascer a aurora, a luz do dia. O Irmão Sol, jucundo e refulgente.

*E' deslumbrante o Céu magnificente, Por ele me vagueia a.fantasia, Nenhuma das estrelas se extravia, Sustém a todas vossa máo potente. 4 0 Oceano dia e noite murmurando,

A Vós, Senhor, um hino vai cantando Na Catedral imensa do universo. cSòmentc a minha voz desentoada, D e manhã, quando rompe a madrugada, Vos dirige e som frouxo deste verso%.


Manuel Câmara 1908

Nasceu na freguesia da Sé, desta cidade a 20 de Junho de 1908. É filho de José Quirino Câmara e de D. Bemvinda Ferreira Câmara. Exerceu as artes gráficas. Foi editor do jornal proletário uA Batalhan e é, actualmente, funcionário da ~ J u n ta dos Lacticínios da Madeira*. Dedica-se à arte teatral, tendo tomaclo parte em muitas representações, em diversas agremiações desportivas e musicais. Tomou parte no filme a 0 Segredon, realizado nesta cidade. pelo Actor Teodoro Silva e exibido no Teatro Municipal de Baltazar Dias. Escreveu as seguintes peças teatrais, que foram levadas a cena em vários Salões-Teatros, desta cidade: uO Fadon. *A Madrastao e a uA Regeneração*. Colaborou no jornal uA Batalha*. revista uA Madeird Nova* e noutros jornais. Da revista uA Madeira Novan, de 1 de Janeiro de 1926. reproduzimos o seguinte soneto :

Nasceu Jesus ! -Glória! Glória ! Ao soar a voz divina, Jorra. dos altos Céus, *profusa luz, Sobre os campos da antiga Palestina, A anunciar a vinda de Jesus ! Bendita noite, que aos homens trouxeste Horizontes de luz. . . belo Porvir ! -Glória ! Senhor Jesus, porque vieste O Caminho do Amor e Paz abrir! Glória ! Glória ! Por tão excelso Amor; -Doce Amor que Vos fez sofrer a dor De ser pregado, em cruz de expiação! ... Mas eis que. alfim, És Nosso Salvador, Nas trevas a fulgir, com esplendor, E a derramar, a flux, Paz e Perdão!


João França 1908

Nasceu no Funchal, a 23 de Junho de 1908

E' filho de Belchior de França e de D. Maria Jose Pacheco de França. É Jornalista, Escritor, Poeta e Dramaturgo. De 1924 a 1930, escreveu, nesta cidade. várias peças em 1 acto, para serem representadas por amadores. na &Banda Distrital do Funchal* e noutras agremiações locais, em cujo desempenho tomou parte. Algumas dessas peças, como o drama ~Mimin,a farça G O Regeneradon e &Amorsem Deus*, alta comédia em 3 actos, de colaboração com Teodoro Silva, alcançaram grande êxito. No Funchal, tràbalhou nos jornais uA Ilha*, <Comércio do Fuochaln, onde publicou as novelas, %Horad o Chá» e uOs assassinos do Amor,) e no tri-mensário humorístico 4Re-nhau-nhaun e colaborou nos periódicos: uO Povon, rlndependência*, *A Batalhar, revista ~Esperançane uDiário da Madeira*. Em Lisboa, para onde foi em 1938. fez parte das Redacções dos Jornais, *A Noite* e uJornal da Tarde*, entrando depois para G O século^. onde trabalha. Colaborou no *Diário Popular*, *Comércio das Ilhas* e na Revista *Panorama* e na secção literária da Rádio S. P. N., e há colaboraçáo sua dispersa noutros jornais e revistas, tanto em prosa como em verso. Em 7 de Fevereiro de 1944. foi estreiada. no *Teatro Avenidas, a sua opereta, r 0 Zé do Telhadon, que durante mais de 4 meses esteve no cartaz, em Lisboa e no Porto, com extraordinário sucesso, levada à sena pela Companhia Esteváo Amarante. Publicou, em 1954, o livro de' novelas, *Ribeira Brava*; em 1956, o romance, a 0 Romance de uma Corista* e em 1958, o livro de contos, histórias Cínicas*.

Eterno contraste Como em sonho de virgem iludida Na verdade quimérica do amor, Partem os magos d'alma incandecida, Tal qual da luz a estrela no fulgor. Uma esperança em oração erguida, Sobe da terra onde germina a dor. Vai nascer, na cidade prometida, Jesus, da humanidade o Redentor!

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A noite vai em meio : a estrela pára, Tem o local essa alegria rara, Mas breve da probreza condenada.

E os reis enchem de inceso, mirra e ouro, Quem na existência só teve o tesouro Duma vida de ultraje, amargurada!


Finalidade (ao Ramiro Galba)

Ultrapassei o Nirvana ! E assim achei a vida, essa vida em que se molda a eterna graça do Amor. Minha ventura é tamanha, que a própria Montanha se ergue para mim, na ânsia de saber de onde vem o caminho pelo qual o meu ser total ultrapassou o Nirvana. Olhando-a, vou dizendo, apontando um quase nada: -Montanha, eis o caminho, eis o trilho da minha caminhada, eis o Sonho, eis a Ideia, eis a Amante em cujo seio me abandono: A paz, o pão. a verdade, uma hora acompanhado e duas horas de sono. Intdito

Meu óbulo *Nós as que fazemos versos, só versos podemos oferecer*

OVIDIO. Conta a História que um dia se passou Em que a Rainha Santa Portuguesa, Enchera, com o pão da sua mesa, A abada e para as pobres caminhou. Mas o Rei, alma cheia, de avareza, Vendo-lhe a farta abada, perguntou: uQue transportais ai, que tanto pesa? -*Rosas ! uE o pão em rosas se tornou.

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Pobres da minha terra e meus irmãos, Que tenha agora, quem vos olha mãos Iguais as da Rainha : Milagrosas!

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E por amor, na Ilha dos Amores, Cheia de Sol, Beleza e tantas flores, Venha tornar em pão as nossas rosas.


João Correia da Silva (Tong Neuman Raztx) 1908

Nasceu na freguesia de São Pedro, desta cidade, a 30 de Agosto de 1908 e faleceu, na eCasa de Saude dos Irmãos de São João de Deusn (Trapiche), a 15 de Maio de 1958. Foi militar e exerceu o cargo de instrutor da extinta 4Brigada de Rapazesn, da *Igreja. Evangélica de Portugaln. Escreveu vários artigos no hebdomadário *A Madeira Novan. em 1931. Também se dedicou a poesia, assinando as suas composições poéticas com o pseudónimo de Tong Neuman Raztx. De GA Madeira Nova*, de 13 de Setembro de 1931, reproduzimos os seguintes versos:

As folhas do Evangelho Distende o olhar em roda. . . Não vês em tudo isto A humanidade toda A precisar de Cristo? Os povos contra povos; Na ânsia do predomínio Inventam meios novos De mais pronto extermínio.

A fome, a peste e a guerra, Em procissão funérea, Andam, por toda a terra, Cobrindo-a de miséria. P'ra desfazer intentos Tão maus do mundo velho, Vôem, aos quatro ventos, As folhas do Evangelho!


Rogério Óscar Mota Correia (Trevo do Vale)

Nasceu na freguesia de Santa Maria Maior, a 20 de Dezembro de 1908.

E' filho de António Correia e de D. Elisa E. Mota Correia. Matriculou-se no *Liceu de Jaime Monizn, onde concluiu o 4: ano. É primeiro escriturário da *Madeira Wine Association Ltdn. É um inspirado Poeta lírico. Foi laureado nos Jogos Florais da Madeira, de.1942 e 1946: foi o vencedor dos Jogos Florais. organizados pelo clube Asas do Atlânticon, do Aeroporto de Santa Maria, Açores. em 1951; foi premiado nos Jogos Florais organizados pelo uAteneu Comercial de Lisboa*. em 1952 e foi laureado. com o Primeiro Prémio, na modalidade Soneto, nos Jogos Florais organizados pelo uAteneu Comercial do Funchaln, em 1960 e compôs a letra do <Hino das Bodas de Oiro do Club Sport Marítimos, em 1960. Foi, também. o organizador da Semana do Livro Açoreano e do Livro Madeirense. na Madeira, respectivamente em 1951 e 1953. É autor do opúsculo, *Visão do Céun, publicado nesta cidade em 1949 e dos ld vros ainda inéditos. intitulados : aVi~.raisn,.Rosa dos Ventosn, %Persianas*e *Chuva de Estrelas* e tem versos insertos no livro *Arquipélago$,-colecção de poesias de oito Vates Madeirenses. publicado em 1952 e colaborou no <Diário de Notícias*, uEco do Funchaln, 4Comércio do Funchals, %Jornalda Madeira$. %Vozda Madeira*, revistas <Madeira-Açores~. %Pérolado Atlântico*. uRevista Portuguesa* e uAlmanaque Bertrandr. etc.

Luz bendita Para ti, pequenina e querida Raquel.

O Céu abriu o manto das estrelas, Olhos de oiro de um brilho divina1... E nessa noite azul e musical, Meu sonho desprendeu-se e foi com elas. Eram meus braços duas sentinelas, Erguidos na magia sideral... Orava o meu silêncio original, A luz tremeluzente das estrelas. Senhor! Que tendes tanta luz distante, Dai um farol ao meu amor errante Que seja luz doirada e maravilha.

E Deus ouviu a prece e prometeu ... E não tardou um anjo que acendeu Luz de Estrelas no olhar da minha filha! (Mensao Honrosa dos Jogos Florais dir Modeira, de 1946)


Conto de Fadas Para as crianças açorianas.

Era uma vez. .. uma Sereia bela, Colhera frescas rosas ao luar.. . E ao inclinar-se-por descuido delaDeixou cair as pétalas no mar.

O vento, dispersando-as a brincar, Transformou cada qual em caravela ; Tomaram rumo, sempre a navegar, Na esteira luminosa de uma estrela. . .

E foi assim.. . num sonho de miragem, Que as rosas destingiram na paisagem E o mar bebeu a tinta de outras cores. Desceu do Céu, num beijo, o Sol sorrindo.. . Foram do mar as rosas emergindo: -AS ILHAS ENCANTADAS DOS AÇORES(1.0

Prémio dos Jogos Florais dos Agores, de 1951).

Aquelas Mãos.. . (A minha Mae)

As tuas mãos vieram lá do Céu, Asas descidas sobre mim, bondosas ,. . Por serem santas, leves como um véu Voltam a Deus em preces fervorosas. São pétalas as mãos que Deus te deu! As tuas mãos humildes e formosas.. . Bênção de luz- como o luar do Céu Nas minhas horas tristes, duvidosas.

-

As tuas mãos são como um livro aberto Aonde o Amor escreve sempre certo.. . -Mãos como as tuas não as tem ninguém.

Se elas afagam todo o meu tormento, Assim mesmo crispadas pelo Tempo Beijo-te as mãos. .. a s tuas mãos de Mãe! (MensiIo Honrosa dos Jogos Florais do aAteneu Comercial de Lisboan, em 1952).


Rodrigo Rodrigues dos Santos (Rodrigo R. Santos)

A interessante poesia que apresentamos, deste inspirado Poeta Madeirense, foi composta, na Capital, talvez, há uns vinte e tal anos, quando o seu autor cursava a uFaculdade de Direito da ~Universidadede Lisboa* e reproduzida da revista #Açores-Madeiras, de que é mui digno Director, o Jornalista Mota de Vasconcelos. Esta Ilha formosa foi erguida Pela virgem carícia de um sorriso ! Porque falam num mundo além da Vida Quando existe na Terra um Paraíso? Já viram, porventura, terra assim

De encantos tão mimosos, peregrinos, Onde se encontra a graça de um jardim, Grinaldas estreitadas n u m abraço E o murmurar de arroios cristalinos Brotando da colina, a cada passo?! Templo, onde a natureza diz a missa, Enquanto o Sol, enamorado, espera ! Eterna Deusa; a despertar cubiqa, Só porque tem eterna a Primavera! Mas, escutai.. . Silêncio!. .. Não perturbem

O seu dóirado sonho virginal! A inveja pode erguer alguma núvem Para roubar a noiva a Portugal!


António Soares de Passos Júnior 1909

Nasceu na freguesia da Sé, desta cidade, a 8 de Janeiro de 1909. É filho de António Soares de Passos, proprietário, e de D. Amélia Capitolina Machado Pacheco Soares de Passos e irmão do apreciado Poeta, Florival de Paasos e da distinta Escritora e Poetisa, D. Isaura de Passos Jardim. Frequentou o @Liceude Jaime Monizs, desta cidade, onde concluíu o 3.0 ano. Pertenceu ao Grupo n.O 5, &InfanteD. Henrique*, do C.N.E. e foi Chefe do grupo de Escutas*, de São Gonçalo e fez parte da Direcção da *Juventude Católica*. do Funchal. Encontra-se há já alguns anos em Durban (África do Sul). Colaborou n' *O Jornal*, em 1937, onde mantinha uma secção, intitulada, *Cartas de Durbanr. Possui algumas poesias inéditas. Eis um soneto feito

Na morte dum filho Acalentando o filho nos seus braços, A mãe implora a Deus. ao Criador, Que a desfaça, sem dó, toda em pedaços, Para salvar o filho do seu amor. Sobe até ao alto a prece tão ardente.. . Mas Deus prefere o filho no seu seio. . . P'ra salvá-lo da terra maldizente, Arrebata-o à mãe em triste anseio.

E mais um anjo resplandece em brilho, Ficando aquela mãe sem o seu filho Que no Céu roga pelos pais sem luz. Hinos de amor envolvem a sua alma, Dormindo o .seu corpinho em terra calma A protecção de pequeoina Cruz!

Durban (Álrica do Sul)


Ida Corsina Delgado Faria Spínola (Adi) 1909

Nasceu na freguesia de Santa Maria Maior, a 4 de Fevereiro de 1909. É filha do falecido Escrivão de Direito, João Gualberto de Faria, que foi um entusiasta do desporto venatório e considerado um emérito caçador, e de D. Ermelinda Delgado de Faria e esposa do advogado, Dr. Damião Spínola. Frequentou o $Liceu de Jaime Monizn desta cidade, tendo tirado o curso dos Liceus, em dois anos (Letras e Ciências). Foi Professora de inglês, da uEscola Industrial e Comercial de António Augusto de Aguiar* e Professora de inglês e francês, do $Colégio . Lisbonenser e explicadora de Letras e Ciências do Ensino Liceal. Foi, também, Professora de Formação Moral e Nacionalista, da uMocidade Portuguesa Femininas. no diceu de Jaime Monizr e foi a introdutora, na Madeira, da Ginástica Rítmica. Tem um livro de poesias, inédita, intitulado, uVersos de Chtrora e de Agorao e outro de prosa. intitulado, ~Meditagão*,também ainda inédito, assinado com o pseudónimo de Adi. Assina as suas produções com as suas iniciais, I. D. F. S. e colaborou no diário de Notíciasn. *ECOdo Funchaln, $Jornal da Madeira* e na revista Contiiiental, uPérola do Atlánticon, donde reproduzimos este seu interessante soneto :

A vida Morrer! Motivo atroz de tanta dor, Razão subtil de tanta desventura. E a vida é aroma. luz, vertigem, cor, Sorriso ideal dum sol que pouco dura. Viver! Amar a Vida com ardor, Sonhar uma ilusão toda candura. E a morte chega envolta em seu horror, Roubando à Vida a última Ventura. Tudo acabou ! . .. Mas eis que à Natureza Novos tesouros surgem em seguida, Mantos de prata, enormes de beleza.

E a negra morte, por vencer, vencida, Segura a foice horrenda e, com firmeza, Cava o imenso pélago da Vida!


Luis Gomes da Silva (Luís Marino) 1909

Nasceu na freguesia Ba Sé, desta cidade, a 3 de Março de 1909. É filho de António Gomes da Silva e de D. Júlia dos Santos Silva. É empregado na Industria dos Bordados da Madeira, desde 1924. É autodidata. Fez a sua estreia literária no semanário r 0 Fixen, da Direcção de Jaime de Macedo $Desde uRevoada de Sonhosn, seu primeiro livro,-disse o Poeta e Filólogo Continental*, Dr. Francisco Alves da Costa-este escritor tem publicado várias obras em verso, que lhe conferiram uma óptima posição entre os novos batalhadores das Letras. , Nos poemas de Luís Marino, quase todos de sabor nitidamente clássico, não afloram as grandes inquietações do nosso tempo. Os seus temas preferidos são os tradicionais. De vez em quando, porém, o poeta, sente uma crispação nervosa. que lhe altera o ritmo dos nervos, tal como o perpassar do vento sobre a tranquilidade das águas. Então, a cadência poética torna-se-lhe mais animada, até atingir a altura do grito. Depois vai-se desvanecendo aos poucos e termina quase em murmúrio, como vagas que amortecem o rumor da queda nas alcatifas da praia. O s seus versos encantam o ouvido, quer pela suavidade rítmica das palavras que os expressam, quer pela sábia distribui~ãovocálica, recursos óptimos para o poeta que pretende alcançar as suas composições com harmonia e colorido*. Foi distinguido com uma Mensão Honrosa, num Concurso de Quadras Populares, realizado no Continente, em 1939, pela revista oCultura e Recreios; com três Mensões Honrosas, nos Jogos Florais da Madeira, promovidos pelo jornal aEco do Funchalo, em 1941/42; com uma Mensão Honrosa, nos Jogos Florais da Madeira, promovidos pelo uAteneu Comercial do Funchals, em 1946: com uma Mensão Honrosa, nos Jogos Florais dos Açores, promovidos pelo Club uAsas do Atlântico*, do Aeroporto de Santa Maria, em 1951 e foi laureado com o Primeiro Prémio (Zona de Além-Mar), nos Jogos Florais de Portugal, realizados no Continente, em 1951, pela %Propaganda Turística Portuguesa*, tendo sido os versos premiados, recitados no uPavilhão dos Desportosn, pelo artista João Vilaret, a 31 de Outubro de 1951. Foi Secretário e depois Redactor Principal do Semanário uA Madeira Nova>>,de 1933 a 1935 e colaborou no uFixe9, uA Voz da Madeiran, aA Ilhan, <<OPovo*, 4 0 Jornal?, «Re-nhau-nhauh, uO Bombeiro», uDiário da madeira^, &Comércio do Funchalh, uEco do Funchalo, VOZ da Madeiran, Revista <Açores Madeiras, aAlmanaque Madeirensea e no Continente, nas revistas uÀquila9. ulultura e Recreion, ~Portugal Ilustrado*, ~ C o o p e ra~ãoa,aRevista Portuguesa*, Semanário a 0 Diabo* e uAlmanaque Bertrandh e no jornal <Brado de Guerras, do Brasil. E' autor dos seguintes livros: uRevoada de Sonhosv. Funchal, 1932 ; &Cardos e Papoilasn. Funchal, 1944; uO Cego*. Funchal, 1944; uO Pobre e o Rico>>;Funchal, 1950; vvultos Bíblicos*. Funchal, 1955; &Ilha dos Amores». Funchal, 1957 e clMusa Insular)>. Tem inéditos as seguintes obras: %Asas*,60s Esquecidosn, ~Miscelâniaoe uPanorama Li-terário)>do Arquipélago da Madeiran (Dicionário bio-bibliográfico). E' sócio efectivo da usociedade Portuguesa de Escritores$.


As meninas dos meus olhos As meninas dos meus olhos, -Irmãs gémeas e rivaisDesde a beleza ao amor São ambas elas iguais. . .

De me quererem até a morte Fizeram o juramento. Não sei a qual faça a corte, Não sei a qual queira mais.. . -Pois na beleza e amor São ambas elas iguais. Andam sempre em luta acesa Por causa d o seu amor.. . - Riem com a minha alegria, Choram com a minba tristeza E sofrem com a minha dor! Eu também quero-lhes tanto. Tenho-lhes tanta afeição; -Se delas eu sou o encanto, O meu encanto elas são ! . . .

Não sei que irá suceder, Se mas roubarem, não sei. . . -Sem mim não podem viver E eu sem elas. morrerei ! . . .

Madeira (Pérola do Atlântico)

Quando Zarco te viu surgir da bruma. Qual de Vénus. o corpo deslumbrante, -Terra Virgem, a que Neptuno amante, Vinha oscular, em rendilhada espuma. ..Havia de sentir, de-certo, nesse instante, Todo o deslumbramento que ressuma Da beleza sem par que te perfuma De uma magia intensa e fascinante! Jardim de Deus a ubeira-mar plantado*, A que, Camóes, em verso celebrado, Em verdade, crismou :-ILHA DE AMORES:


D o velho Portugal, és tu. Madeira.

- Terra Maravilhosa e feiticeira A jóia que irradia mais fulgores!

-

Sonho Realidade No 1' Centen~irioda Morte do Infartte D. Henrique. Sentado sobre a rocha, olhando o mar Que, em sua frente, manso, se espraiava, O Infante D. Henrique se quedava Horas sem fim, em furido meditar.. , Um sonho deslumbrarite o fascinava,

- Sonho que não deixava de sonhar ! . . . Descobrir uma terra singular Que, em remotas paragens, se ocultava! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Singraram, mar alem, as Caravelas, -A Cruz de Cristo alçada em suas velas A procura da terra feiticeira! . . .

-

E tanto Zarco, um dia, procurou Que, entre as brumas marinhas, encontrou

A encantadora Ilha da Madeira ! Inédito.

Loucura. . . Ao presado amigo, Prof. João Luis de Gois.

Eu sou um louco bom, um louco com juizo, E a minha mansidão, provém dessa loucura. -Não vivo neste mundo -inferno e paraíso Vivo noutro melhor, numa maior altura! D o Prazer, não me tenta, o mágico sorriso, Em lúbricas promessas de falaz ventura. . . E a funesta Ambição, de fascinante friso, Não corrompe, jámais. esta minh'alma pura !

E' o ódio, para mim, sentir desconhecido. Só o Amor verdadeiro. só o Amor é querido, E a divina Justiça, excelsa, me seduz.

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Eis a minha loucura.. . eis o meu Ideal: Idolatrar o Bem e arrenegar o Mal, Doce Sonho, sem-par, que arrebatou Jesus ! . . .

-

No caminho da vida ... Ao Dr. Alfredo Maria Rodrigues.

No caminho da vida, um dia, se encontraram, Um Sábio e um Poeta, um Santo e um Lavrador E, desta sorte. os quatro, assim falaram :

-uDa pobre Humanidade - disse o Poeta Eu sou a flor Mimosa e predilecta. - A Quimera, a Esperança e a Saudade !n E disse o Sábio, eivado de ciência: -Eu sou a Persistência, A força de Vontade Que. por vezes, transforma O sonho em Realidade. . . -Da Razão sou a Luz.*

E disse o Santo :- uEu Sou o lenitivo, O balsamo da dor. Em mim vive a Bondade De que Jesus Foi norma. -O verdadeiro Amor, Um vislumbre do Céu ! . . .»

E disse o Lavrador: -<Eu vivo neste mundo, sem saber se vivo.. . De todos nós, eu sou, de certo. aquele Que tem aurido o mais amargo fel, Pois de mim, a má sorte, não tem piedade. Mas embora mais rude, humilde e pobre, Mesmo assim, Quem sabe lá se não serei mais nobre? Porque vós, se viveis, Deveis A mim!


Fernando Acácio de Gouveia ?

Nasceu na Madeira, em data que desconhecemos. Embarcou, há anos, para o Brasil, onde é locutor da uVoz da Madeira*, em São Paulo.

Em 18 de Setembro de 1959, a <Associação Cristã de Moços*, realizou na rCasa da Ilha da Madeira)), de São Paulo. de colaboração com esta última agremiação. uma homenagem a Madeira, através de uma conferência, de prbjecções de despositivos coloridos. comentados, em verso, por Fernando Acácio de Gouveia, versos que abaixo reproduzimos: exposições fotográficas da rPérola do Atlântico*; exibição do uGrupo Fololórico Madeirense do Imirimn, e fados pelo cantor Madeirense Léo Fernandes acompanhados pelos guitarristas Manuel Marques e José Cupido. Estreiou-se. nesta festa, cantando em público, F. Acácio de Gouveia, em interpretações do Cancioneiro Madeirense. Colaborou no aJornal da Madeira*. em Abril de 1956. Oh Madeira, como és linda, Teu encanto é singular. Tuas serras são um mimo, O teu clima não tem par. Madeira, ilha de sonho, De beleza sem rival, E's a terra mais bonita Que Deus deu a Portugal! São flores, urzes, verduras, Água pura, cristalina, Montanhas, ericostas, vales, E's uma obra divina. Funchal, cidade-encan to, Teus encantos nao têm fim. Na Madeira és um presépio E no mundo és um jardim. Os teus montes altaneiros São mãos erguidas aos céus, Agradecendo as belezas Que recebeste de Deus. Madeira, ilha de encantos, Orgulho dos filhos teus. Por aqui termos nascido Nós damos Graças a Deus.


Leandro de Sousa

Nasceu na Madeira, no primeiro quartel do Século XX. Esteve em Vendas Novas, Continente. Colaborou no extinto diário da Madeira>>.em 1939, donde reproduzimos os seguintes versos, e no extinto semanário uO Norte*, de Mota de Vasconcelos. Publicou um livro de versos, intitulado, +Versos dos dezoito anos,).

<< Pérola do

Atlântico »

A belissirna Ilha que ine foi berço. Baloiçando n o Atlântico Que lhe murmura aos pés, num cântico. A nossa humildade ; Adorada pelo mundo, Como uma divindade; Amada pelo Sol que a disputa ao mar E tira ao resto do universo o calor para dar. A Ela, Tão bela, Sob um céu tão azul, nobre e altaneira, Ergue-se a linda Ilha da Madeira. Ao constituí-Ia ao Criador Fez dela um primor, Dando-lhe beleza sem igual, Que são orgulho de Portugal! E como o Criador Se desvanece com o seu amor, Sem rival, Eu, da minha maneira, Sinto orgulho igual Porque nasci na Madeira !

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João de Brito Câmara

Embora não seja natural desta Ilha, pois iiasceu em Lisboa, na rua Marques da Silva, freguesia de São Jorge de Arroios. a 13 de Maio de 1909. como a maior parte da sua vida passou-a na Madeira. julgamos ser de justiça inclui-lo neste Espicilégio. É filho mais novo dos madeirenses, João Câmara e D. Matilde de Brito Figueiroa Câmara que. após 11 'atios de ausência, regressaram de Lisboa a sua terra, quando ele tinha quatro anos de idade. Fez a instrução primária e secundária no Funchal. Em 1927, quando estudante liceal, foi um dos Directores do quinzenário académico uAlma Novan. Concluido o liceu, em 1927, seguiu para Coimbra, onde se-matriculou na Faculdade de Direito da Universidade daquela cidade, onde concluiu a sua formatura, em 1932, com distinção. motivo porque foi, convidado pelos seus próprios Professores, a defender tese, a fim de conquistar as insígnias doutorais. Em Coimbra, enquanto estudante, tomou parte em várias manifestações literárias, artísticas e políticas. discursando em comícios, sessões e conferências, e colaborando, com poesia, na revista de Arte e Cultura, rPresençan, então porta-voz. em Portugal, da chamada corrente futurista. No último ano do seu curso, foi eleito Presidente da &Associação Académica de Coimbran e, nessa qualidade, além de muitos discursos, depôs no inquérito a Academia de Coimbra, levado a cabo pelo Jornalista António Lopes Ribeiro, para o &NoticiasIlustradon, e que foi publicado no número de 1 de Maio do mesmo ano. do extinto semanário. De regresso a Madeira, abriu banca de Advogado, no Funchal, onde, a par com o exercício da sua profissão, continuou as suas actividades literárias e políticas. Assim, realizou várias palestras e conferências, entre outras, em 5 de Outubro de 1932 e de 1934, no Teatro Municipal, nas sessões comemorativas daquela data: em Março de 1935, no mesmo Teatro, sobre o problema da protecção moral e jurídica à juventude, na Ilha da Madeira: em 13 de Dezembro de 1944, no uAteneu Comercialn, sobre uA Poesia Moderna e Fernando Pessoan: em 30 de Maio de 1947, na mesma colectividade, sobre uA Jovem Poesia Portuguesa* e, em 22 de Outubro de 1949, no sal80 nobre do Teatro Municipal, por ocasião do descerramento da lápide comemorativa da passagem. por aquele Teatro, do glorioso Actor. João Vilaret. Discursou, também no Teatro Municipal, em 31 de Outubro de 1945, na sessão de propaganda do rMuán: na apresentação do Orfeon Académico de Coimbra, em 2 4 de Agosto de 1949, de passagem nesta Ilha: nas sessões de propaganda da Candidatura dos Generais Norton de Matos e Humberto Delgado, à Presidência da República, em 1949 e 1958, respectivamente, e no Teatro Municipal do Funchal, a 26 de Abril, numa sessão cultural, promovida pela usociedade Portuguesa de Escritores*. Colaborou no uDiário da Madeiran, $0 Povo*, aDiário de Notícias* e uEco do Funchalr, onde em 1944, dirigiu uma página literária. de que se publicaram 22 números, três dos quais inserindo uma entrevista com o Poeta Edmundo de Bettencourt (co-fundador da ~Presençan),com o título uO Modernismo em Portugaln e que foi editada em separata, e uAlmanaque de Lembranças Luso-Brasileiro*. Representa, na Madeira, o diário da capital, uRepublican. Publicou, no Funchal, em 1927, o seu primeiro livro de versos, intitulado &Manhã*,


prefaciado pelo, então seu Professor o Poeta João Cabra1 do Nascimento: em data que desconhecemos publicou um opúsculo intitulado. <(Lei,Verdade e Justiçan; em 1942. editou em Coimbra o livro de poesia, intitulado, ((Relancen: no ano seguinte, em edição da Câmara Municipal do Funchal, o poemeto uAuto da Lenda*; em 1950. também editado em Coimbra, publicou o livro intitulado, ((Ilha>>. e em 1960, o opúsculo, <.Duma Gerência Técnica à Incompetência Absoluta.. Alegações produzidas no Tribunal do Trabalho d o Funchal. É Delegado. nesta Ilha, da sociedade Portuguesa de Escritores\).

Biblia (Ao C~ridiJoCoicileia)

Ouvi contar nos tempos de criança Que num lindo presépio de Belém, A mais limpida Virgem foi a Mãe Diim Anjo, depois Deus, feito de esperança, Ela, não querendo as jóias da abastança, Teceu sòzinha as vestes do Seu Rem; Ele, Poder e mel. como ninguém, Morreu na Cruz a derramar bonança. Ditosa Mãe que O viste assim morrer Sem um rancor na luz dos olhos teus Presos do lenho onde O pregaram n ú : Que doce a vida a quem ser Humildemente Grande como Deus, Ou grandemente Humilde como Tu !

A minha alma Alma que vais por esse mundo além. Só e curvada ao peso da tristeza: A viver uma vida de incerteza, Sem o carinho dum amor de alguém; Alma que te debates num vai-vem Na eterna busca da ideal beleza; (O belo só candura e só pureza, O puro que só há na Virgem-Mãe); Alma que vais no mundo já perdida Sem um farol, sem uma luz na vida, Abandona esta farça ingrata e crua. Porque com todo o teu sofrer profundo,

A rebuscar, a vasculhar o mundo, Não encontras a alma irmã da tua!


Miragem Volto da fonte, meu gomil vazio, Como na hora em que por lá passei, A água que nele tive, derramei: N u m desdenhoso impulso do meu brio.

O que sempre quisera, e me fugiu, Não foi a turva água que encontrei, Mas fugaz bolhinha a que me dei Enquanto a água, no gomil, subiu. E apenas p'ra isolá-la, vezes mil. Inda hoje vou enchendo meu gomil. Que volto, com ternura, a esvaziar; Mas só aumento, assim, minha secura, Que a bolhinha, sem água, não perdura, E esta é demais vil para se guarddr.. .

Inútil Pensei cantar-te em verso. companheira, Mas o verso jamais foi necessário Para o que uniu a ti o santuário Dum sonho que lhe eivou a vida inteira. P'ra quê cantar-te nessa vã maneira Daquele que se finge solitário. Se nossos corações são lampadário Que só fenece i hora derradeira. Não; dá-me antes teus olhos de veludo E deixa-me adorar-te em sonho mudo, Naquela adoração de puro asceta; Para ti. companheira apetecida, Mais do que um verso, toda a minha vida, Que é o Poema d o Maior Poeta.


Eduardo Fernandes Nunes (António Jorge) 1909-1957

Nasceu na freguesia de São Roque, a 14 de Setembro de 1909 e faleceu, ein Lisboa. no uInstituto de Oncologias, a 4 de Abril de 1957. Era filho de António Fernandes Nuries e de D. Maria Matilde Fernandes Nuries e irmão do comerciante António Maria Fernandes Nunes. Frequentou a &Escola Industrial e Comercial de António Augusto de Aguiar*, onde completou apenas o 2.0 ano do curso industrial e o 2.0 ano d o curso comercial. Como aluno externo, estudou os liceus, até o 4.0 ano. Foi, também, aluno do ulnstitutu Comercialn. que abandonou, sem ter completado qualquer cadeira. Ainda estudante, colaborou em diversos jornais madeirenses, tais como: 6Diário da Madeiran, de 1918 a 1939; uEco do Funchalh, em 1929; 60 Fixes, e <(Re-nhau-nhau*, em 1931 e publicou algumas edições do $Jornal de Anúnciosn, de que foi Director e proprietário e mais tarde, em 1943, colaborou no uçomércio do Funchala e no diário de Noticias*, de 1954 a 1957. Em 1931, publicou um magazine, intitulado instante)), revista mensal a cores e 1ustra:ta. de que apenas saiu o prim2iro :iúmero. Em 1933, ingressou no corpo redactorial do uDiário da Madeiran. de que já era colaborador. onde trabalhou até a suspensão deste jornal. Foi Redactor-correspondente de uO Primeiro de Janeiro)), desde 1938: de uO Século*, desde 1941; da revista uFlaman, desde 1950 e da extinta revista ucinematógrafo*, que se publicou na Capital, durante alguns anos, e de outras de menor duração, tendo em todas muita colaboração, principalmente, entrevistas com grandes figuras mundiais que visitaram a Madeira e, as quais, se refere no seu livro, uPorque me orgulho de ser Madeirensen. Esteve no Brasil. em 1954, onde assistiu a Inauguração das Comemorações do 1V Centenário de São Paulo e à abertura d o Parque Ibirapuera, que descreveu no $Diário de Noticias*; nas suas crónicas, intituladas, <<Impressõesd o Brasil*. Publicou: uA Virgem de Fátima na Madeiran. Funchal, 1948. De 158 págs. (Reportagem ilustrada com 52 gravuras. a maior tiragem de obras em livro até à data publicadas na Madeira. Por carta de 20 de Dezembro de 1950, da Secretaria do Estado do Vaticano. S. S. o Papa Pio XII, concedeu ao Autor a Bênção Apostólica, em reconhecimento da oferta de um exemplar desta obra, numa encadernacão de luxo. de cuja entrega se encarregou o Embaixador de Portugal, junto da Santa Sé, Dr. José Nusoline); @Porque me orgulho de ser Madeirensen. Funchal, 1951. 2.a edição, Funchal. 1954; $Levada do Norte* (Ribeira Brava-Câmara de Lobos). Reportagem ilustrada. Lisboa, 1952. D e 9 4 págs.; @Levada Central da Calhetar. (Reportagem ilustrada). Lisboa, 1953. D e 6 4 págs. ; &Central Salazarn . (Opúsculo documen tário ilustrado) 1953. De 67 págs. Publicou. também, no &Diário da Madeira*. as seguintes novelas : u O Doido do Violino*. *Dois anos depoisn, uE a vida mudou*, uO Brasileiron. uNovela de Amor*, 4 0 homem que matou a almao, uNovelas de Quinta-Feira*, e deixou inéditos os livros, intitulados, uPorto Santo-Romance da Terra e d o Marn e ~Embriaguês*(Crónicas dialogadas).


Também se dedicou à poesia. por amadorismo, assinando as suas composições, em prosa e verso, com os pseudónimos de Fernando Penalva e António Jorge.

30u pecador Poetna de António Jorge

Se é pecado amar alguém Seja plebeu ou divino -O meu pecado lá tem A marca do meu menino. Se a niarca do meu menino Já pode ser um pecado. O meu pecado é divino

Porque tem Jesus ao lado. Podem ridículos parecer As atitudes que eu faço. Quando para me entreter Brinco com ele, num braço. . .

E entretendo-me, entretenho Este amor, de braço em braço E não noto que já tenho Nos braços-cem cansaço. Mas gosto imenso de vê-lo Quando está com sono feito E já quase a adormecê-10 -Pôr-me as mãosinhas no peito.

E este poema acabado De um pai que é pecador, Seja o último pecado De quem peca por amor.

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Rendição (Aos nove meses do meu filho)

Faz hoje nove meses! É um passarinho Que fez da nossa casa vasta herdade,

Por onde a vida se tornou carinho -Sem tamanho, sem cor e sem idade.


Na grandeza dinástica de u m ninho Onde imperam amor e humanidade -Com nove meses só. este filhinho Tomou já conta desta nossa herdade.

E é bem pequena a herdade, quero crer, Que ele domina, mesmo sem saber. Tornando-a num encanto, num regalo!

E se um pedido a Deus posso fazer, Desejaria. antes de morrer. Fosse ele Imperador e eu vassalo.

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Carlos Maurício de Gouveia (Carlos de S. Maurice) 1909

Nasceu na freguesia de São'Pedro, desta cidade. a 22 de Setembro de 1909. É filho de Luis Anjos Gouveia e de D. Maria Isabel Nascimento Gouveia Ê funcionário público. Dedicou-se à poesia e à arte teatral. Foi premiado num Concurso de Quadras Populares, organizado pelo *Posto Emissor de Radiodifusão do Funchaln, em Dezembro de 1953. Colaborou no uEco do Funchal. Eis a algumas poesias inéditas, da sua lavra:

A velha Alfama e a velha Mouraria, São dois padrões de glória e tradição ; Se num geme a guitarra. noite e dia, No outro fala a voz do coração. Ali nasceu o fado, canção nobre, Que traduz bem a alma portuguesa; Quer o fadista seja rico ou pobre, No fado tem a sua realeza.

C ) ser fadista não é profissão, É sentimento mais alevantado; Para cantar o fado, é vocação Que vem do berço, e vive em nós guardado.

És tú, meu amor O céu rutilhante de lindas estrelas, Formosas, tão belas, cheias de fulgor, Possui tal magia que a todos quebranta, Mas só quem me encanta, és tu, meu amor.

E a lua de prata, brilhando na terra, Encantos encerra, para o trovador ; Mas eu a profia, procuro outra luz Que a mim me seduz. és tu, meu amor Quando o sol doirado que a todos aquece, A mim aborrece, pelo seu ardor. De tudo o mais belo da lei natural Que não tem rival, és tu. meu amor.


Soneto Quiz ver-te toda bela, sor~idente. qual fresca rosa num jardim florido, e fruir desse amor apetecido, os beijos quentes, beijos de inocente. Gosar assim, amor, eternamente, esquecendo o passado tão dorido, e sem contar o tempo decorrido. viver p'ra ti, p'ra ti, unicamente. Assim gosar a vida, nesse amor que me enleia e me torna trovador, fazendo versos ao sabor do vento.. .

E já no fim da minha caminhada, sentir no peito u m sopro de alvorada, dessa alvorada que me deu alento.

Lembrança Sáo pobres estes versos meus, deixai-os . . Indo com eles toda a minha vida. São .reflexos duma alma eu tristecida, Se deles não gostais, melhor, queimai-os. Não sendo assim, amigo meu, guardai-es Como pobre relíquia, mais querida : E' onda que se perde arrependida D o seu arrojo, e morre entre desmaios. Não é uma riqueza literária Para guardar, em rica secretária, Mas guardando-os, guardais uma esperança ! . ., Quando mais tarde, por qualquer razão, Eles vierem ter à vossa mão, Podereis ver que servem de lembrança.


Pe. Telésforo Rafael Afonso (Osnofra) 1909

Nasceu na freguesia de Santa Cruz, a 23 de Outubro de 1909. É filho de Telésforo Leandro Afonso, secretário da Administração de Machico, e de D. Georgina Vasconcelos Afonso, Professora Oficial em várias Escolas do Distrito do Funchal, já falecidos e irmão de Antero Afonso, funcionário da Polícia de Luanda; de António Lucas Afonso, funcionário da Junta Geral do Distrito ; do Alferes José Afonso e da Irmã, Teresa Afonso, residente em Lourenço Marques; sobrinho do Capitão António Avelino Afonso e primo do Dr, Boaventura Telésforo de Ornelas Afonso. Cursou o Seminário Diocesano, tendo-se ordenado de Presbítero, no dia 25 de Outubro de 1936. Exerceu as funções de Capelão da Sé Catedral e foi Vigário do Caniçal, desde 7 de Dezembro de 1936, até 2 de Outubro de 1937, transitando para Vigário do Porto do Moniz, nesse mesmo dia e ano. A 25 de Novembro de 1949, foi nomeado Cura da Ponta do Sol, onde esteve até Julho de 1956 e, a 11 de Julho de 1956, foi nomeado Pároco dos Canhas, onde tem desenvolvido uma notável actividade religiosa. Foi Capelão da Caravana do ~ C l u bSport Marítimo*, na sua digressão a Angola e Moçambique, em Novembro de 1950. tendo escrito a reportagem dessa viagem, intitulada, uCartões de Viagem*. uO que eu vi e pensei*, publicada n' uO Jornaln, de 11 de Setcmbro de 1950, a 15 de Março de 1951, sob o pseudónimo de Osnofra. Na sua juventude foi adepto do ulusitâniao, de Machico. A !i de Maio de 1953, na <Semana do Ultramar*, realizou uma conferência, no *Sindicato dos Carregadores e Descarregadores do Porto do Funchaln, subordinada ao titulo, @PortugalMissionário, do Cristo dos Descobrimentosn, que foi reproduzida no uJorna1 da Madeira* e uDiário de Notícias*, respectivamente, de 10 e 11 de Maio de 1953. De o 0 Jornal*, de 14 de Outubro de 1950, reproduzimos os seguintes versos, da sua autoria :

A Senhora da Luz (Versos compostos a bordo dum avíão da Sabena. n quatro mil metros de altitude, sobre a Rodésia d o Sul).

Virgem Senhora da Luz, Minha querida Padroeira, Abençoa a Caravana Dos rapazes da Madeira. Nesta grande altitude, Quatro mil metros de altura, Livra-nos, Virgem da Luz, Da medonha sepultura.


Na véspera da nossa festa Hoje a sete de Setembro, Senhora eu 'sou teu filho, Por isso de ti me lembro.

Eu não posso ajoelhar-me Diante do teu altar, Mas olho p'ra tua imagem E começo a rezar.

Senhora faz que voltemos A nossa querida Madeira. És mãe, Senhora e Rainha És a nossa Padroeira.


Gertrudes Marceliana Rodrigues Câmara (Germa)

Nasceu no Funchal, na freguesia de São Roque. a 6 de Abril de 1910. É filha de Eduardo Alcântara Rodrigues e de D. Elvira Bibiana Banhos Rodrigues e prima do distinto Poeta Rogério Oscar da Mota Correia. É Escritora e Poetisa. Tem dois livros, ainda inéditos, intitulados, uO Meu Pensamento*, prosa e uPáginas Diversas*, poemas. Usa o pseudónimo de Germa, palavra composta pelas primeiras letras do seu nome e pronome. Colaborou no <<Diáriode Noticiass, de 26 de Julho de 1959 (donde reproduzimos este seu soneto) e na *Voz da Madeira)), de 22 de Agosto de 1959.

Fio d'água Goteja um fio d'água cristalina No soluçar suave de uma fonte.. . Correndo, sem descanso, o verde monte E refrescando os lábios da p'regrina. Na paisagem sombria há solidão: Ao fundo, a luz. o mar. as brancas velas. .. E num silêncio ermo de oração Passam vultos de tímidas donzelas.

A água chora e há terna magia Percorrendo valados, noite e dia, No carpir triste de uma dor pungente! Quem sabe?.. . Talvez seja a voz de alguém Que chorando, baixinho, vem do Além, Perdida a vaguear por entre a gente!


Teófilo Henriques

Nasceu nesta cidade. a 24 de Julho de 1910. É filho de João Augusto Henriques e de D. Virgínia Paula Teives Heoriques. É desenhador da Comissão dos Aproveitamentos Hidráulicos da Madeira. É um Poeta de cultura religiosa que revela excelentes qualidades para versejar com arte e elegância. Possue harmonia, elevação e sentimento. Colaborou na revista madeirense, uA Madeira Nova*, de que foi durante algum tempo Redactor.

Divina Promessa Prometendo o Seu amor, O Divino Galileu, Em catadupas do céu Manifesta-o com ardor. Por maior que sey o réu, Havendo tristeza ou dor, Ele esquece o pecador P'ra ver nele um filho Seu. Todas as culpas perdoa, A rico ou pobre abençoa, Outro amor melhor não há, Basta n'Ele com fé crer,

E ouvir Sua voz dizer:

-uPedi e dar-se-vos-há*. Ao Combate. . . (A Dinarte .Pavão)

Sentindo já a ventura Que nos será dada um dia. Lutemos com energia Contra a mundana loucura: Salvando com alegria

A alma envolta em tortura, Confiando-a à ternura Do nosso altíssimo Guia;

E sem parar um só passo. Sempre a vencer, sem cansaço, Com amor vivo. profundo. Façamos Cristo reinar Com Seu exemplo sem par. No Lar, na Pátria. no Mundo.


Jaime Mota de Vasconcelos (Cházinho) 1911

Nasceu na freguesia de Santa Maria Maior, a 23 de Fevereiro de 1911. É filho de João de Vasconcelos e de D. Maria Mota de Vasconcelos e irmão do Jornalista Joaquim do Espírito Santo Mota de Vasconcelos, Director da Revista <Madeira-Açores. É um Poeta popular, tendo publicado diversos folhetos de versos, entre eles os seguintes: tragédia Marítima*, uA Festa do Barrinhrsn, *.Nossa Senhora de Fátima*, u~ saudosa memória do Exmo. Sr. Marechal Carmona*, uÁ saudosa memória do Rev. Pe, Laurindo Leal Pestanas, GA digressão do Club Sport Marítimo*, uFesta da Primaverar, rA Viagem do Marítimon, &asa dos Rapazesn, etc. É autor, também, de várias canções, entre elas a conhecida @Madeira,Jardim de Flores*, que foi cantada pela cantadeira Cristina Fernandes, na @EstaçãoRádio da Madeira*, na música de uTudo isto é fado*, e pela mesma cantadeira no documentário uPérola do Atlânticos, filme realizado, nesta Ilha, por uma Companhia Cinematográfica Inglesa. Colaborou na revista *Madeira-Açores* e no jornal <Eco do Funchal*. donde reproduzimos o seguinte soneto, feito na inauguração do busto do Rev. Pe. Lauriudo Leal Pestana :

U m busto que fala.. . No mármore, no bronze ou na madeira, A voz humana fala, na escultura De uma obra imortal e verdadeira, P'ra resgate da humilde criatura ! . . . Na morte não parou essa canceira Que foi, na vida, aberta sepultura.. . -Pois vai além da hora derradeira, A herança duma vida de ternura ! . . . Sofreu, morreu. . . e foi para o Além Descançar no regaço do Senhor, A quem t ~ obem serviu, santamente. Pela terra passou, fazendo o Bem. Foi da Messe de Deus, trabalhador,. . O busto assim nos fala, humildemente ! . .

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João San tana Borges Filipe Correia

Nasceu na freguesia de São Vicente, a 30 de Julho de 1911 e faleceu nesta cidade a 3 de Janeiro de 1938. Era filho de João Filipe Correia e de D. Eva Cristina Borges Correia. Matriculou-se no *Liceu de Jaime Monizn, desta cidade, onde concluiu o Curso dos Liceus. Era a data da sua morte. empregado comercial. Dedicou-se à poesia e escreveu, quando estudante. duas peças teatrais, intituladas, uRecepção em casa da Barôan e a 0 Fim do Mundo*. esta última, de colaboração com Gonçalves Preto. Foram levadas a cena no *Teatro de Baltazar Dias* pela Academia Funchalense. a 24 de Agosto de 1933. Eis alguns versos deste Poeta:

I Ser criada. actualmente, É um emprego tão decente Que até dá gosto servir. Eu é que mando a patroa E se a coisa não vai boa, Não me falta para onde ir. Esfregar. varrer o chão. Mas que grande trabalhão, Foi coisa que nunca quiz. E se não fica contente, Digo a patroa sdmente: -#Vá fazendo com o nariz !*

REFRAIN Ir às compras, com franqueza, É um trabalho que me agrada. Fazer camas, pôr a mesa. Não é próprio de criada. Namorados às centenas, Bonitos. jóvens. galantes . . . Mas o fraco das pequenas É namorar estudantes.

II Conheço muitos patrões Que sabem dar beliscões, Tudo em santa brincadeira.. . A gente finge gostar E acabam por nos deitar Umas notas na algibeira.


Se a patroa faz caretas, Nunca me ponho com tretas, Dou-lhe um berro nos ouvidos. Que apesar da seriedade, As senhoras da cidade, Fazem o mesmo aos maridos!

Mãe Ir ao sonoro, hoje em dia, É de grande fidalguia E uma boa distração. E por isso, actualmente, Quase toda a boa gente, Vai ver fitas ao balcão. Pai

Quando o filme é do geral Muito embora com o papá. As meninas delambidas Ouvindo o repenicado, De um beijo sincronizado. Fazem cenas atrevidas.

REFRAIN Todos Qualquer dia vamos ter Uma fita portuguesa, Mas, por certo, vai haver Quem prefira. com prazer, Cenas feitas à francesa.

O reclame já apareceu A gritar que a fita é boa, Porque a Severa morreu, Mas da tragédia nasceu Outra olanção de Lisboa».


Mãe

Todo o marido elegante Tem uma estrela brilhante Da sua predilecção. E p'ra não ser atrazada Qualquer senhora casada Tem, também, o seu galao.

Pai

Há quem o julgue falido Mas é já tão concorrido

O sonoro, em Portugal, Que, às vezes, nas bilheteiras

Nós vamos comprar cadeiras E apanhamos um geral!

REFRAIN


Luís Rufino de Freitas (Maria da Piedade) 1911

Nasceu na Madeira, a 19 de Agosto de 1911. É filho de João de Freitas e de D. Antónia Sofia de Freitas e irmão do falecido Cirurgião-Dentista João Agostinho de Freitas. Cursou o uliceu de Jaime Monizr e é, presentemente, funcionário da Caixa Sindical de Previdência do Distrito do Funchal. Dedica-se à poesia, tendo obtido o 1.0 Prémio, na modalidade, Poesia obrigada a Mote, nos Jogos Florais da Madeira, promovidos pelo uEco do Funchaln. em 1941-42. Usou os pseudónimos de, Ninguém. Maria da Piedade e Onijur. Colaborou no uEco do Funchaln, donde reproduzimos os seguintes sonetos, o primeiro dos quais assinado por Maria da Piedade:

Quimeras, sonhos, bolas. de sabão. Para Felso, o meu querido Mestre.

P'ra mim foi tudo sonho. tudo esp'rança, Vivi feliz, fui rica, fui prendada, E agora, lembro os tempos de criança, Do berço à grande casa apalaçada;

Tudo quimera foi, e, da abastança, Do luxo, dessa casa avarandada, O que é que existe ? -Só uma lembrança Viva recordação eu e .. . mais nada.

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Quimeras, Sonhos, Bolas de Sabáo, Miragem. fantasia. ilusão, Disso é que é feito o mundo em que vivemos.

Mas. oh meu Deus, oh, quem me dera estar Em toda a parte e abaixo deitar As Bolas de sabão que nós sohemos.

Soneto A minha mãe, no 1.0 aniversário da sua morte.

Meus olhos passeando, eternamente. Procuram esses sóes que o céu contém, O brilho cintilante, incandescente Daquele Sol enorme -a minha mãe.


Saturado, vencido e já doente De procurar o Sol que o Céu não tem, Os meus olhos baixaram, lentamente A terra. p'ra dizê-lo à minha mãe. Ao procurá-la, a morte tinha entrado No meu casebre e tinha já levado O Sol que eu tinha em casa, todo o dia.. .

A vós peço, portanto, amigos meus Por ela, uma oração, mandada, aos Céus: Um Padre Nosso e uma Avé-Muria.

Arco-Iris Nos arvoredos, glaucos, marchetados, Batidos pelas chuvas que caiam. Brilhavam flor's de prata, que pendiam Dos ramos contorcidos e cansados.. . A chuva foi andando. . . E, em bailados, Voltou o sol. a arder. onde aqueciam Recordações de amor, que não mentiam. Os pombos a arrulhar sobre os telhados.. .

E tanto andou a chuva, que do monte A extensão infinita do horizonte Se transformou num arco multicor. É o sinal que anuncia a toda a gente

-Ao cristão, ao ateu e a todo o crente Que a Natureza é Deus ! e Deus é Amor !


Irmã Maria Celina do Coração de Jesus Miranda (Nalice) 1911

Nasceu na freguesia da Camacha, a 19 de Novembro de 1911. É filha de Luis Feliciano Miranda e de D. Augusta Clementina Teixeira de Vasconcelos Miranda. sendo o seu nome, no século, Isabel Celina Miranda. Ingressou na Congregação das Irmãs ~rancikcanasde Nossa Senhora das Vitórias, com sede na uQuinta das Rosas*, desta cidade, em 1927. Passou toda a sua vida religiosa, na Casa-Mãe, na *Quinta das Rosas*, e em Nampula. Moçambique, onde esteve nove anos, como Professora, num Colégio de Nossa Senhora das Vitórias. É uma Poetisa de cultura religiosa. e as suas composições poéticas possuem elevação, harmonia e sentimento. Usa o pseudónimo de Nalice. Colabora na Revista uÀ Luz do Teu Olhar*, orgáo da Congregação a que pertence e no *Jornal da Madeira*, donde reproduzimos os seguintes versos:

A Jesus Menino (GLOSA)

MOTE : O meu medino Jesus Descalcinho pelo chdo, Recolhei vossos ppzinhos Dentro do meu coração.

Voltas Sois o astro mais formoso, A mais fulgurante Luz: Quem vos conhece é ditoso. Ó meu menino Jesus. Porém os astros do céu, Do alto espargem clarão; E vós andais entre nós Descalcinho pelo chdo ! Olhai, meu bem adorado, O chão tem muitos espinhos; Ao menos dentro em meu peito Recolhei vossos pezinhos.


Depois o frio é tão grande! -Esta é a mais dura estação E vós cabeis inteirinho Dentro do meu coração.

Sob o esplendor da Imaculada Maria, sem pecado original, Fulgia tanto, em sua formosura, Que quis se~vi-Latoda a criatura Que espalhou Deus p'lo mundo sideral. 0 Sol brilhou com todo o esplendor P'ra A revistir da luz mais refulgente. Ela, porém, sorrindo-lhe indulgente, Deu-lhe mais brilho, força, luz, calor!...

A circundar-lhe a fronte virginal, Para A cercar, vieram doze estrelas As quais, Ela tornou muito mais belas. Quando as olhou, bondosa e maternal. E. quando junto d'Ela, extasiada,

A Lua, astro da noite meigo e belo, Lhe veio, aos pés. formar o escabelo, A sua luz ficou mais prateada. Também, a nós, os pobres filhos seus, O esplendor da Mãe Imaculada. Fará brilhar, um dia, lá nos céus, Onde A veremos d'alma arrebatada !

Encarnação A Virgem, recolhida em oração. Suplica a Deus, com místico fervor A vinda do Messias Salvador, Que nos virá trazer a Redenção.

E eis que em sua pobre habitação Entra e lhe diz um Anjo do Senhor; -Quer encarnar em ti o Deus de Amor; Para seu sacrário quer teu coração! ... Refeita do temor que a assaltou, Escrava do Senhor se declarou Maria, a humilde esposa de José

E logo n o seu seio virginal Tombou o Verbo de Deus, carne mortal E o Céu se transferiu p'ra Nazaré !.. .


Alberto Figueira Gomes (D. Alfigo) 1912

Nasceu na frpguesia cle Santa Luzia, a 10 de Dezembro de 1912. E filho do comerciante Joaquim Silvestre Gomes e de D. Luzia Amélia Figueira Gomes, primo de José Vitorino Crispim Gomes, ajudante do Conservador do uRegisto Civil do Funchal* e tio da Professora D. Carolina Alexandre Gomes. E Poeta, Escritor e Jornalista de mérito. Publicou os seguintes livros : <<FredericoOzanamh. Porto, 1944 e 1955 : uozanamn. Na Colec~ão cem Páginasa. Lisboa. 1947; uSão Vicente de Paulon. Porto, 1954: uRimas de Francisco Álvares de Nóbregas (Camões Pequeno). Na Colecção uPoetas e Trovadores da Ilha*. Funchal, 1958 : <<Versosde Manuel Goriçalvesn (Feiticeiro do Norte). 2,o volume da Colecção <<Poetase Trovadores da Ilhan. Funchal. 1959 e tem no prelo o 3.0 volume desta Colecção, in titulado, *Trovas e Au tosa, de Baltazar Dias. É Redactor da uVoz da Madeira>).desde a fundação deste semanário e colaborou no Diário da Madeiran, uO Jornal*, rA Mocidaden, *Eco do Funchaln, ucomércio do Funchaln, uAlmanaque de Lembranças Luso-Brasileiro9 e revistas, aÀquilao, oDas Artes e da História da Madeiran, @Revista portuguesa^, etc. e realizou várias palestras e adaptações radiofónicas, no aposto de Radiodifusão do Funchaln. Usa os pseudónimos de Judex, Filho de Algo. D. Alfigo e José nhéu. É Secretário do Conselho Central das Conferências de São Vicente de Paulo no Funchal. desde 1933; Sócio efectivo da *Sociedade Portuguesa de Escritores*, desde 1957; Vogal da Mesa da Santa Casa da Misericórdia, desta cidade, desde 1958 e Vogal da Câmara Municipal do Funchal. desde 1960.

As cartas que recebo. . . O Carteiro chegou. Correspondência : envelopes azuis e nacarados, logo outros com sinetes brazonados, lá passam a esgotar-me a paciência. Termos altos: Ilustre e Excelência, -Destes termos vulgares. elevados. com que escondem os homens educados, os seus ódios, em longa reverência ! Aborrecem ! Mas, eis um pequenino mui simples envelope -talhe fino Kumilde, vem cair aos dedos meus.

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E, enlevado começo :-$Filho amado ! ora como tens tu, amor, passado? Eu, felizmente bem, graças a Deus. . .n


Descendo a encosta Já o dia começa a entardecer

N o vale não há luz. Sombras pasmadas Descem a encosta, extâticas. aladas, Como ilusões cansadas de viver. Esp'ranças e anseios de vencer, Paisagens, corações, coisas amadas -a tudo renuncio. Abandonadas, hao-de cumprir destino de morrer. Já não renova o brilho de meu rosto

onde há a nostalgia de Sol-posto -e só renova a luz, o céu, as flores. Mas graça de Deus-graça imer'cida, sinto em mim renovar-se' a própria 'vida, na vida dos meus olhos-meus amores. Inédito.

Balada das levadas (Nas Queimadas. em Saiitana - Verão de 1946)

Âguas mansas das levadas não sois como as das ribeiras, que em vindo o inverno inundam casas, vinhedos e leiras. Na santa paz da montanha, só se sente o seu cantar, sempre igual e sempre novo, num eterno caminhar. Essa voz suave encerra inigma doce e profundo.. . -Cantais promessas do céu ou chorais males do mundo?

A vossa beira se espelham hortências, musgos e flores :

-velhos loureiros murmuram loucas histórias de amores.


AS urzes encaneceram e os carvalhos ja dobraram ao peso de fartos liquenes . . . e as águas nunca pararam. Levadas da minha aldeia galgando de monte em monte, enchei de seiva esses vales. cantai nas pedras da fonte. Solitário viandante que ides em longa canseira, esta levada cantante é uma fiel companheira. Tudo seria mais triste na quietude da serra, se a vossa voz não.se ouvisse como a própria voz da terra.

As aves já aprenderam o vosso lindo cantar; -andam ensinando as flores como se deve falar.

A serra já se não lembra das geraçaes que passaram. a vida vai e renova-se . . .e as águas nunca pararam.


Maria José de Freiras bilva

Nasceu na freguesia de Santa Luzia. a 19 de Março de 1913. É filha de GabrieI Paulo de Freitas e de D. Filomena Gomes da Silva Freitas. É autodidata. tendo colaborado no extinto semanário uA Madeira Novan, donde reproduzimos as duas primeiras quadras, do seu n.O de 4 de Novembro de 1933, assinadas com a letra 2, inicial do seu nome familiar. Foi laureada com o 8.0 Prémio. num Concurso de Quadras Populares, organizad o pelo aposto de Rádiodifusão do Funchaln. em 1953.

Quadras Meu coração por ti sente A mais intensa paixão. Desde a hora em. que inocente, Te entreguei meu coração.

OS teus olhos, meu amor, São de um brilho sem igual, Deles são todo o fulgor Deste céu de Portugal.

Rifão 8.0 Prémio do Concurso de Qlradras Populares, promovido pelo *Posto de Radiodifusão do Funchal*.

<rDe vagar se vai ao longe.. . o -Tens bem longe o coração, Mas eu, com a fé de um monge, Hei-de cumprir o rifão ! . ..

Versos O amor de mãe é o mais belo De quantos o mundo tem. Não pode ter paralelo. . . Dura pela vida além.

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Se tu tens a teu favor A geral opinião. Podes fazer o que for, Que sempre terás razão.. . Inédito.


José Morna Gomes (J. Morna Gomes) 1913

Nasceu na freguesia de São Gonçalo, a 6 de Agosto de 1913. É filho de Manuel Gomes Júnior e de D. Rosa de Freitas Morna Gomes e genro do falecido Juiz de Direito, Dr. Ramiro Jácome de Castro Coutinho, natural dos Açores, e primo do Capitão de Mar e Guerra Álvaro de Freitas Morna e do Rev. Dr. Cbrlando de Freitas Morna. Professor do ((Seminário da Encarnaçãoo, desta cidade. É empregado na ucompanhia Insular de Moínhos, Lda.a. É um Poeta muito produtivo que, dia a dia, revela o aperfeiçoamento técnico dos seus versos. Referindo-se ao livro deste Poeta. recentemente dado a estampa, disse o consagrado Escritor e Poeta, P.e Eduardo Nunes Pereira: uNão chegarão estas palavras para encarecer o brilhante Colar de Pérolas que de nome e de natureza por si só se valoriza, mas a exprimir a agradável impressão recebida da leitura do seu primeiro volume de versos, Cancioneiro admirável de primícias literárias, cheio de talento, inspiração e barmonia, qualidades essenciais à consagração dum verdadeiro poeta. A sua poesia, misto de imaginação e realismo, não se confunde com a vulgarida-de lírica de sensibilidade piegas ou doentia, eco de palavras ao vento.. . mas valoriza-se por uma personalidade vincadamente original e modernista. Colar de Pérolas cai-lhe bem ao pescoço, como comenda dum poeta eleito, abonando entrada auspiciosa no cenáculo das letras insularesn. Colaborou no ucomércio do Funchals, uDiário da Madeira*, uDiário de Notícias>, uEco do Funchal*, uJornal da Madeira*. uRe-nhau-nhaur , e revistas u Açores-Madeira*, uPérola do Altânticos, uMare Nostrums e uRevista Portuguesas.

Por tela Ao Conceituado Industrial José de Soma Meneres.

Sol a nascer.. . A Penha se agiganta Como asa de águia enorme despertada.. . Aqui o Porto da Cruz dorme, qual fada: Ali o verde Faia1 acorda e canta!

O mar azul em rendas se quebranta, Pelas fragas, com ira desgrenhada -Harmonia exaltando a madrugada, É a voz que se esconde e vibra e nos encanta. Sol a nascer.. . A Penha resplandece Sobre o mar, que de neve e azul se tinge. Num lindo despertar de sombra e prece.. .


Prece que é abismo e luz é azul e Esfinge. Poema de água e terra que enternece, Um mundo para além do que nos cinge!

Sinfonia da chuva Ao distinto Poeta Dr. Ma~iilelSili~érioPereira.

A chuva canta, canta docemente -A chuva, fria e branca, vai cantando.. . Na lida de cantar que mal se sente, Vai a terra num branco véu banhando. Dir-se-ia o seu cantar hino dolente -O cantar cada vez mais suave e brando. A chuva canta, canta docemente, A chuva, fria e branca, vai cantando.

E docemente a chuva cai dos céus. . . Porque ao luar de prata diz adeus, Cantando sempre doce, sempre bem. Traz-me à lembrança a rutila alegria

Dos tempos em que alegre me sentia Ao colo embalador de minha Mãe.

Quadra Bem haja o amor verdadeiro Que não escolhe estações: Em Abril ou em Janeiro Ele aquece os corações. Inédito.


Alírio Sequeira Nunes (João Ninguém)

Nasceu na freguesia de São Pedro, a 12 de Outubro de 1913. É filho de Adolfo de Ascenção Nunes e de D. Jacinta da Conceição Sequeira Nunes. É debuxador de Bordados da Madeira e uchargistan de mérito. Ilustrou com interessantes vinhetas os livros, $Porque me orgulho de ser Madeirense*, de Eduardo Nunes, *Arquipélago da Madeiraa, de Maria Lamas e algumas páginas do *Diário da Madeira* e &e-nhau-nhaun. Colaborou n'nA Madeira Novan. e colectanea ~Areopago*.Fez parte da Comissão das Festas da Cidade, em 1955 e é ó autor das seguintes marchas.

Marcha da cidade - de 1955 Música do Capítão Edmundo Lomclino

Dizem que Zarco ao chegar

A tua alegre baía Quedou-se mudo, a pensar Se era sonho o que via. Os cinco séculos de histõria Que ostentas no teu brazão, Foi o padrão da vitória Das descobertas de entiio.

Minha Madeira És a primeira Por teus caprichos e fantasias, Pois tua flores Têm tais cores Que sempre nos dão sonhos e alegrias. Pois este mar teu amigo, Que te abraça a toda a hora, Leva os teus filhos consigo E sempre deixa quem chora. No teu livro de lembranças Tens escrito a letras d'ouro, Ai quantas, quantas esperanças, Ai quantos ramos de louro.


Marcha do Funchal-de 1955 Música do Capitão Edmundo Lumelirio. Lá porque és do Funchal Também podes dar a perna. Porque a alegria, afinal. É sempre coisa moderna.

Veste o teu fato garrido, Anda p'ra rua bailar. Mas menina tem sentido, Isto vai dar que falar.

REFRAIN

Rapazes.

I

O nosso Funchal, Como é natural, Tem ruas catitas, Pequenas bonitas. Bis (Todos) E flores garridas, Um ar importante E muito estudanu. De coisas sabidas.

São Silvestre no altar Todo enfeitado a preceito, Todos lhe pedem. a orar, Que lhe dê ano de geito. Tu p'ra cá e eu pr'a lá Num passo certo e medido, Tem cautela, vamos cá Dar ao bailado um sentido. Repete o REFRAIN.


Maria Lídia dos Passos Faria Abreu (Maria Lidia) 1913

Nasceu no Funchal, a 15 de Outubro de 1913. É filha do falecido empreiteiro e proprietário Manuel dos Passos Faria e de D. Adelina dos Passos Faria e esposa do Poeta continental António de Abreu (João Serrano) proprietário da uCasa Marílian, nos Açores. É Poetisa e Pianista Colaborou no extinto uDiário da Madeira*, em 1932, donde reproduzimos o reguinte sonetilho, dedicado a seu pai. no dia do seu aniversário natalício:

Saudação -

A meu pai - Manuel dos Passos Faria no dia do seu aniversário natalício.

Rompe a aurora. Nasce o Sol. Morre o Sol. E o dia vai.. . Assim conta mais um ano A existência de meu pai ! Por mais pequeno que seja, O florescer deste dia, No coração é táo grande Que até exalta de alegria!

AS aves, com voz bendita, N o seu trinar tão sentido, Chilreiam, pedindo a Deus Que este dia se repita! Que viva O meu pai querido, Para alegria dos seus !


Norberto José da Costa (Norberto Costa)

Nasceu na freguesia de Santa Maria Maior, a 19 de Março de 1914. É licenciado em Direito pela uuoiversidade de Lisboa* e Inspector Administrativo da Direcç~o-Geralde Administração Política e Civil, do Ministério do Interior. É possuidor de faculdades literárias, principalmente poéticas. 0 s seus versos inspirados e emotivos, demonstram que é um valor da nova geração. Escreveu, de colaboragão com o Dr. José Ramos. actual Conservador do Registo Predial do Funchal, um poema para uma revista teatral, de estudantes. que foi musicado pelo Capitão Edmundo Lomelino e levado à cena, várias vezes, no Teatro Municipal, do Funchal. Proferiu algumas conferências, entre elas uma, na &asa da Madeiran, em Lisboa, em que abordou o problema jurídico-social do ucontrato de colonian. Colaborou no uDiário da Madeiran, uRevista Àquilan e noutras publicações madeirenses e continentais, e tem em preparaçgo um livro de carácter jurídico, intitulado. *Estudo de Direito Administrativo*.

Em busca Caminham os três magos pela noite, Levados pelo brilho duma estrela, Como fantasmas, pretendendo lê-la, E sem temer do vento o fero açoite.

Um bambino mui pobre, quem o acoite

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Acha nos animais coisa tão bela ! E vêm a humilde cena, por singela, Resplandecer no escuro dessa noite.

Também, feitos de estrelas, os meus olhos Me guiam atravez destes abrolhos, Alheio à noite fria, ou sol ardente . .. Para onde vou? Em busca dessa luz, Luz que ilumina o olhar que me conduz, Olhar que vou seguindo humildemente ...


Arlindo Pulquério de Castro (Arlindo de Castro) 1914

Nasceu na freguesia de Santa Luzia, a 17 de Julho de 1914. É Comerciante, Poeta e Jornalista. Foi Presidente do $Grémio do Comércio*, da Póvoa de Varzim; membro do Conselho Municipal da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim e é Director do oClub Naval Povoensen; do uVarzim Sport Cluben; da $Cooperativa Construtora Luso-Poveirar; do *Centro Madeirense do Porton e do Gabinete de Imprensa da Póvoa de Varzim. É Redactor dos jornais &Ala Arriba* e do ~Comérciodo Porto>, estando neste último orgão da imprensa, desde 1949. Colaborou em vários jornais e revistas. entre os quais, *A Madeira Nova*, 4Propagandan, uldeia Nova*, $Terras de Portugaln, uPérola do Atlântico* e *Eco do Funchal*. Tem um livro de poesias, inédito, intitulado, oTerra Bemdita*, donde reproduzimos os seguintes versos :

As névoas Parecem galeóes,, algumas. navegando Num mar cheio de sol; outras montanhas grandes, Cordilheiras talvez mais altas que as dos Andes, Ou parceis nas águas flutuando. Com o alvor da manhã umas mais elevadas, São como flor's de neve; e à tarde outras em bando Semelham turbilhões de andorinhas voando, Ou rebanhos gentis de ovelhas socegadas. Altíssimas visões! núvens feitas de sonho! Vós sabeis dar a mão ao temporal tristonho, Ou cobrir de matis o céu mais alto e pleno ! Mas, afinal, que sois, ó névoas do ocidente!

Um fumo, uma ilusão fantástica sòmente. O orvalho da manhã, gotas do ermo oceano!

Os moinhos Na encosta a olhar o mar, ou próximos da veia Que brilha ao pôr-do sol, os moinhos brandamente


Envolvem no nordeste a vela opalescente. Ou sentem caminhar as águas pela areia.. . Eles são como nós e moram pela aldeia, Nos êrmos areais, ou junto da corrente.. . Eles são como nós, são como toda a gente. Olham o pôr- do-sol e a névoa que os rodeia. . . -Moinhos da beira-mar, habitantes da praia! Esperai a manha, olhai que o sol desmaia; Parai ; e ficareis neste areal sòsinhos.Alguém vos diz. E vós, escravos do deserto, Ergueis o vosso olhar ao céu todo encoberto, E assim adormeceis, pacíficos moinhos ! . . .

Quadras Raparigas, sois as rosas Que vemos pelos caminhos; Mas olhai, poucas roseiras Há que não tenham espinhos. Quem desdeu o seu amor, Deixe-o voar, deixe-o ir, Morre a flor numa roseira, Mas há outras por abrir. . . Com águas Deus faz um rio. Com roseiras um jardim.. . Ele anda a ver a roseira Que deve Ser para mim. . . Pedra em pedra caminhando, Meu amor aqui cheguei. . . Vou primeiro confiar-te Os tormentos que passei. . .

Há duas formas de amor, Uma é apenas amizade. Eu conheço bem as duas Desde a minha mocidade. . .


António Egídio de Freitas 1914

Nasceu no sítio da Casa Branca. freguesia de São Martinho, a 1 de Setembro de 1914.

É filho de José Jorge de Freitas e de D Emilia da Conceição de Freitas. Frequentou o 4.' ano, da &Escola Industrial e Comercial de António Augusto de Aguiar*, desta cidade. É empregado nos escritórios da Firma aluis Gomes da Conceição*. Colaborou, em prosa e verso, nos seguintes jornais: <Eco do Funchala. uComércio do Funchaln, e <<Boletimdo Marítimo*. . . Eis um soneto da sua lavra:

O pobre N o escabroso caminho desta vida, N o seu quarto, de porta bem fechada, Num silêncio, esperança já perdida, Na inanição da luz quasi apagada; Meditando na vida de penúria, Lentamente. se vai finando o pobre. .. Sentença imposta, não por triste incúria, Humilde vive um coração tão nobre ! . . . Cansado e velho, nessa dor se encerra, Na vida assim vivida de amargura, Com lábios já sem cor e de olhar terno.. . Num suspiro final que pouco dura, Erguendo as mãos ao Céu, o corpo a terra. Roga a Deus que lhe dê descanço eterno! Agosto de 1955.


Dalila Rohena Diana dos Passos Freitas Pereira (Dalila Rohena Diana)

Nasceu na freguesia do Monte. a 16 de Novembro de 1914. E' filha do falecido desportista, Manuel Humberto dos Passos Freitas e de D. Glafira Gomes de Freitas e esposa de Mário Martiniano Pereira, Sócio-Gerente da Firma uM.Passos Freitas b Ca n. Desde a infância que tinha inclinação para a Literatura e Equitação. Esteve internada no Convento do Bom Sucesso. em Belém. da Ordem das Irmãs Dominicanas, onde permaneceu um ano. transitando. para o Colégio da Pena, em Sintra, da Ordem das Irmãs Doroteias, instalada no Palácio da Gandarinha, onde esteve cerca de oito anos. Em Inglaterra, para onde foi depois, recebeu uma esmerada educação, num dos melhores colégios daquele pais. Fala muito bem o francês e o inglês, toca piano e guitarra e tem habilidade para a pintura e para a poesia. Colaborou no eDiário da Madeiraa, *Diário de Notíciaso, uO Jornaln, ucomércio do Funchal*, revista 40s Nossos Filhos*, etc. e publicou os seguintes livros, fogo entre Cinza*, (Com prefácio do falecido jornalista João Marinho de Nóbrega e capa de D. Cândida Sarsfield Sardinha. Funcbal. 1946, (edição reservada) e uRetalhosn, Funcbal, 1949. O primeiro com o nome de Dalila Rohena Diana e o segundo com de Tereza Maria. Tem dois livros ainda inéditos, intitulados, <rPoemasSelvagens* e *Os Meus Filhos e Eun. uTereza Mana na expressão dum distinto literato com pedacinhos de inteligência e coração. escreveu os seus ~Retalhos*que são lindos vitrais, onde se vê a sua alma bondosa a mover-se num corpo de nervos rebeldes*.

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Noite de São Silvestre Pela cidade Fachos de luz ridente, Barulho. carros e gente. Na claridade difusa, A turba-multa, confusa, Tem um vago sentimento Da pertuibante incerteza . .. Nos bronzes das igrejas, Não tardarão a bater Doze sonoras badaladas, A compasso, bem marcadas. Graves monacais, mensageiras Dessas horas passageiras, Do ano menino e de outrora Tão velho e relho de agora


Passado e futuro Num abraço misterioso, Elo serpentiante, capcioso, Sabeis prender o coração. Entre ambições represas, Foguetes e surpresas, Faz-nos crianças traquinas . . . E ao nascer outra era, Traz-nos mais uma quimera.

Novela Nos passeios da Quinta O vento sopra rijo, E eu toda me aflijo Vendo o rodopiar das folhas Voando desordenadas Sendo das árvores lançadas Sobre o chão !

Uma delas, pequenina, Colorida e fresca ainda, Andava louca, a correr, A ver onde se esconder, E eu doida como ela, Para a poder apanhar, Consegui deitar-lhe a mão. Para que o vento Acabasse com o prazer Do seu tormento !

E a folha a quem eu salvei De ter da morte escapado, Logo que pôde - fugiu. E nem me disse obrigado!


Florival Hermenigildo de Passos (Florival de Passos)

Nasceu na freguesia da Sé, desta cidade. a 10 de Outubro de 1915. É filho de António Soares de Passos e de D. Amélia Capitolina Machado Pacheco Soares de Passos e cunhado do Escritor Dr. Alberto Figueira Jardim. É funcionário da Câmara Municipal do Funchal. Matriculou-se no &Liceude Jaime Moniz~,onde concluiu o 5.0 ano. *Ainda há pouco- disse o Poeta Henrique Pereira, no ~Portugal,Madeira e Açores*-um Crítico que habitualmente se mostra exigente, estilista do mais fino quilate, apontava aos leitores do &Diáriode Notícias~,do Funchal. a propósito dos uPoemas do Meu Pecado*, de Florival de Passos, como um dos mais extraordinários Poetas nascidos na Madeira*. Adaptou, para português, uns Lieder da música de Brahms, a convite da *Academia de Música da Madeiran, que foram publicados num programa do Concerto dos Professores da referida Academia, realizado no Teatro Municipal do Funchal, a 26 de Março de 1949. Publicou os seguintes livros de Poesia: <Para Alémn. Funchal, 1940-1942; uPoemas do Meu Pecadon. Funchal, 1943: uAlpendren. Funchal, 1946; uDentro do Meu Silêncio*. Funchal, 1947; uReflexos. Funchal, 1952 e tem inéditos, de Poesia; <<Cantigas*, 1929: uNévoan, 1931; *Segredo*, 1933; 4Estrela de Alvan, 1933. «Princesa Misteriosa*. 1935; oGotas de água*, 1936; uAdágioa, 1942; uRemorsor. 1943; uldeal Benditor, 1943; *Viagem Fantástica,, 1944; @PalavrasAzuis*. 1944; uEscravo*, 1945; ~Perdãon, 1953; aRebaieB, 1958; e de Teatro: *Duas rnulheresn (Peça em 3 actos) 1938; uVida Errante* (Peça em 3 actos), 1939; *Desertos (Peça em 3 actos), 1940; <Mentiras e Verdades* (Peça em 4 actos). 1942 e .ainda os livros: <Quermesse* (contos) 1956; *A Poesia d o Dr. Manuel Silvério Pereira* (Estudo-crítico), 1957; uComo eu vejo a Poesia* (Cartas) e uVersos à 1ha da Madeira*, 3 Vols. (Colectânea). Figura no volume de Poesias uArquipélago e colaborou no *Diário da Madeiran, uDiário de Notícias*, ECO do Funchaln, <Comércio do FunchalB, eVoz da Madeiran; uA VOZ%~Novidades*e &Boletim da Casa da Madeira% do Continente; e nas revistas uA Esperançar, *Revista Portuguesa*. *Pérola do Atlânticon. uSéculo Ilustrado*, etc. Usou nalgumas das suas Poesias o pseudónimo de Emanuel Jorge. Foi laureado com o 1.0 Prémio na modalidaqe de Soneto, 2.0 Prémio de Poema Lírico e Mensáo honrosa no Poema Filosófico, nos Jogos Florais da Madeira, promovidos pelo uAteneu Comercial do Funchalr, em 1946. Pertence à <Tertúlia Ritzianan; é Sócio efectivo da usociedade Portuguesa de Escritores~e figura na uGrande Enciclopédia Portuguesa e Brasileiran.

Paradoxo Não queiras o desejo que te abraza, O desejo que, um dia. em ti nasceu. Sendo pequena e humilde, toda a casa Terá mais luz, pois menos luz perdeu !

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Não queiras o que a vida não te deu. -Não vejas flores em campina rasa!Se elevares a mão. não chega ao céu.. . Voa mais. quanto mais pequena, a asa.. . Falas alto, e os teus olhos correm mundo A procura de tudo o que é profundo Numa doida ambicão, febril verieno.

E não vês que a humildade não se expande.. . -Queres subir. subir. para ser grande, Quando, as vezes, ser grande é ser pequeno! (1.0

Prémio de Soneto)

Peço-te perdão ! Pelos ideais que destrocei Como estrelas esmagadas na parede. . . Pelas febres que passaram ao meu lado, Às quais eu nunca matei a sede.. . Pelas fomes que passaste

E eu não passei.. . Pelas dores que sofreste E eu não sofri.. . Pelas terras que não passaste E eu passei. . . Pelas 'paisagens que não viste E eu vi ... Pelas noites impossiveis de dormir, Pelas horas impossiveis de viver, Pelos amores impossiveis de sentir.. . Pelo egoísmo dos meus olhos, Pelas minhas mãos fechadas, Quando era preciso viver. . . Pelas formas de arte que não conheceste.. . Pelos sonhos que sonhei E não te dei. . . Pelas tragédias que tracei a minha volta. . .

Pelo que devia ter feito E não fiz.. .


Pelo que fiz E não devia ter feito. . . Por tudo o que não te dei. Pelos gestos inúteis e dispersos Que tive a coragem De esboçar.. . Pelo abandono que te deixei, Pelo que eu sofro. Pelo que eu sinto, Pelo que não consigo dizer, E pelos meus próprios versos. Peço-te perdão

Li tania Transviados por caminhos transviados, Numa noite sem noite e sem mundo, E sem estrelas que são ondas em mares sem velas, Andam os navios do meu sonho, Longe desta noite cheia de noite e cheia de estrelas, Oprimindo os meus olhos de mistérios trespassados. Olhos que eu vejo nos meus olhos reflectidos, Diío-me loucuras de vagabundos, de amor e de miséria, De faroleiros sem farol em água de espuma negra. De desejos chicoteados por desejos sem voz Em alcovas não existentes das casas desta noite, Desta noite a entrar fundo nos meus sentidos Que se perdem no fundo Dos navios de sonho em mares não existentes.

A verdade daquilo que sonhei É tudo o que passa além da cruz deste sentir, Que não passa nesta noite de navios. Que vive na ausência da minha febre desperta. Aquilo que foi posto fora desta noite, Corpos pendidos ao longo deste sentir Como lírios resvalando em montanhas de negras vertentes. Deixarei a noite passar sobre mim. Oprimindo os meus olhos de misterios trespassados. Não vendo a outra noite sem nome e sem mundo.


Deixarei as estrelas a jogar às escondidas Atirando a lua a face uma das outras Na grande pista aérea que sufoca o meu grito, E onde as minhas mãos estão proibidas de tocar.

E os olhos que vejo nos meus olhos reflectidos, Deixo-os atirar o meu não ser e os navios do meu sonho Aos mares da outra noite, que náo vejo e que não sinto Na febre sem sentido dos meus sentidos, Transviados por caminhos transviados.

Nocturno Vai passando ao meu lado tanta gente, Gargalhadas e choros vou ouvindo. São pedaços de ideais que vou sentindo, Retalhando a minha alma lentamente. Não conheço ninguém, e ninguém sente Esta dor que o meu peito vai feriado. E perdem-se os meus olhos neste infindo Mar de ruas que grita h minha frente. Todos seguem na noite o seu caminho, E nem sequer me sentem tão sòzinho, Vaga perdida deste mar aflito. Vou virando as esquinas. sem parar. Descendo do infinito o meu olhar, Sentindo no meu peito outro infinito!


Francisco de Andrade e Freitas (Francisco de Andrade)

Nasceu na vila de Santa Cruz, a 14 de Março de 1916 e faleceu nesta mesma vila, a 6 de Maio de 1944. Era filho de Manuel de Andrade e de D. Maria da Graça Luz de Andrade. Foi Sargento Miliciano. Matriculou-se no *Seminário Diocesano do Funchaln, onde concluiu o 3.0 ano e, depois, no #Liceu de Jaime Monizn, onde concluiu o curso dos liceus. Este moço Poeta. prematuramente arrebatado a vida, que uma triste e fatal paixá0 lançou no desespero, fez do alancearnento da sua dor um poema de amargura, intitulado, aTrenos Ardentes*, donde reproduzimos a seguinte poesia. Publicou anteriormente, um opúsculo, intitulado, uLira Negran e tinha, uma obra ainda inédita, intitulada, *O Suplício* que, segundo nos informaram, se extraviou, após a sua morte. Colaborou no eRe-nhau-nhau)~e aDiário da Madeira*, em 1944.

Sempre -Ó tu ! que vens da obscuridade fria ! Que dor te esmaga ?... Que cisma ai persiste ? Porque vagueias na amplidão sombria, De fronte baixa, carregada e triste?. . .

-Ah ! tenho o peito derramando sangue, Que a mão da sorte mais cruel rasgou: Talvez que, em breve, seja um corpo exangue Que no silêncio pelo chão tombou ! -E que mistério, em mudez escondes Nessa esperança que um amor ilude ? . . . Porque ii loucura da paixão respoades, Só com teu canto solitário e rude ? . . . -É porque a forma divina1 e bela, Que trago aqui no coração ardente, Não compreendeu, ainda, que é por ela Que soa. ao *longe, rouca voz dolente!

-Não vês que passa além e não se importa Que vagues triste na aridez da vida?. . Essa forma é p'ra ti, há tanto, morta, Como a esperança que lá vai perdida ! . . .

-

É morta?!. . . Nunca morrerá!. . . Embora. Ao meu veemente palpitar não ligue: Hei-de adorá-la, sempre ! como agora, Mesmo que a dor meu corasão fustigue!


J úlio Vicen te Ferreira (Júlio Carne)

Nasceu na freguesia de Santa Maria Maior, a 31 de Outubro de 1916. É filho de Luís Vicentc Ferreira e de D. Laura da Mota Ferreira. Foi funcionário da Câmara Municipal do Funchal e é, actualmente, dactilógrafo do <Banco da Madeira*. Usa o pseudónimo de Júlio Carne. Colaborou nos Semanários, CA Madeira Nova, e ucomércio do Funchal* e na revista continental, ucultura e Recreio*. É autor dos livros. *Miragens%,(com prefácio de Luis Marino) e uCéu Nublado* crónicas, ainda inédito. Concorreu aos jogos Florais da Madeira, organizados pelo @ECO do Funchal*, em 1942, com a seguinte poesia:

A noite Lá vem a noite Sikílciosa e triste !

Findaram os bailados de poeira, nos caminhos que o Sol doirava.. .

E as sombras vão tingindo um par de pombas brancas que, num beiral distante, pareciam dois amantes. . .

E a noite tão apressada! Se retardá-la eu pudesse, com um gosto! Como um moribundo que se despede do mundo. e, num momento, o seu pensamento, evola sobre o passado e, em silêncio, lamenta melhor não ter apreciado a beleza da vida ; eu cheio de melancolia, no fim de um dia, recordo e choro o dia que passou, pois a minha adoração, quase religiosa, pela luz do Sol, niío satisfaz, nem sacia minh'alma, faminta de sonho, de fantasia.. .


Como belo seria se fosse eterno o dia! Ele dá-nos alegria a vontade de viver; enquanto a noite, sempre cheia de tristeza, cada vez mais enraiza o desejo de morrer. . . . . . . . . . . . . . . .

-

Já e noite !

Uma Noite triste e silenciosa, que nos convida ao repouso, duma sepultura. como ela escura e fria ! . . .

-

.


José Serafim Fernandes (Mifares) 1917

Nasceu na vila de Machico, a 27 de Agosto de 1917. É filho de Manuel Fernandes e de D. Augusta de Vasconcelos. Cursou a uEscola Industrial e Comercial de António Augusto de Aguiarh e, é actualmente, ajudante de preparador do ulaboratório Distritalr do Funchal. Colaborou no extinto @Diárioda Madeiran, em 1938 e tem versos insertos no *ECOdo Funchal*, assinados por Mifures, a quando dos Jogos Florais da Madeira, organizados por este jornal.

Dar de Abandonado rNao canto por bem cantar, Nem por bem cantar o digo: Canto só para espalharMágoas que trago cornigor.

GLOSA : O bom Deus, um dia, quiz O meu paizinho levar; Se canto a Sorte infeliz Não canto por bem cantar. É tão grande o meu carpir Pela perda desse amigo! Não canto para expandir Nem por bem cantar o digo.

Vivo triste e sem conforto, Nada me pode alegrar; Se canto esse amor já morto, Canto só para espalhar!. . .

Nem as horas são chegadas. Nem de algum modo consigo, Dar. de vez, por acabadas, Mágoas que trago comigo!


Rufino de Freitas 1917

Nasceu na Madeira, a 21 de Dezembro de 1917. É filho de Francisco de Freitas e de D. Francisca de Freitas. É Músico, Compositor musical e Poeta. Musicou vários números de revistas teatrais e escreveu cerca de 200 composiçaes, tendo registadas 150. Faz parte do Grupo Musical, conhecido pelo nome de ulrmãos Freitasr. Este grupo gravou alguns discos que têm sido irradiados pelo uPosto de Rádiodifusão do Funchal*, e alguns tiveram a honra de serem irradiados pela rB. B. C.,n de Londres. $Emissora Nacionalr e uRádio Clubn, de Angola. Foi, também, um dos autores da uMarcha do Club Sport Marítimo*, e da música da revista teatral, *Rosário de Cantigasr. levada à cena no Teatro Municipal, desta cidade, com grande sucesso, em 1958.

Marcha do Nacional (Homenagem ao Club Desportivo Nacional) Letra de Rufino de Freitas e música de irmãos Freitas.

Rapazes do nacional* Cantai a nossa eMarchinha*, Cantai com todo o calor, P'ra animar nossa gentinha. Defendemos nosso brio Com orgulho e altivez, Porque somos Desta raça, Deste povo Português.

REFRAIN

I

Nacional, Clube da nossa simpatia. NISSO ideal [ É lutar com galhardia.

Quando no campo entramos, Com os nossos jogadores, Vê-se vibrar nossa gente. Aclamando nossas cores. Sentimos, dentro de nós, Ter qualquer coisa de novo. Porque somos, Sem vaidade, A alma do nosso povo.

Funchal, 23 de Maio de 1954.


A ngela Maria Bettencourt da Câmara Sarsfield Pereira Quintal (Angela Maria) 1918

Nasceu na freguesia da Sé, desta cidade, a 31 de Março de 1918. E' filha de Alexandre Eurico Sarsfield Pereira e de D. Regina Betrencourt da Câmara Sarsfield Pereira e prima do Poeta Carlos Cristóvão, um dos autores da Colectânea ~Arquipélagon. Frequentou o *Liceu de Jaime Moniza, desta cidade, de 1932 a 1937, onde concluiu o Curso Geral dos Liceus. Foi Professora do Liceu (ensino particular) de Ciências e Matemática e é, actualmente, funcionária da Secretaria do Tribunal do Trabalho, no Funchal. Dedica-se à poesia. assinando as suas composições poéticas com os pseudónimos de Angela Maria e Lívia. DOseu livro inédito, uEnsaios Poéticosa, reproduzimos os seguintes versos:

Desejo Quando surgires, enfim, no meu caminho Será dia, entre todos, o maior! Rainha quero ser do teu carinho Quero ser, entre todas, a melhor !

Quero afastar de nós, devagarinho, As multidões, o mundo exterior, Para vivermos, sós, em nosso Ninho, Para sentirmos, só, o nosso Amor!

E, sempre, os dois, assim, de braço dado, Iremos, estrada fóra, lado a lado, Ao sol, à chuva, ao vento e ao luar!

Para que a nossa sombra, nos caminhos, Almas unidas. corpos bem juntinhos, Seja uma sombra só, a baloiqar ! . . .


Asas Quero subir mais alto Quero olhar paro mais longe! Goethe

Quero ter umas asas p'ra voar E no espaço poder, enfim, subir.. . Quero ter umas asas p'ra fugir Em doida correria, pelo ar! Do mundo bem depressa me afastar, De todo o sofrimento que há-de vir, Quero ter asas fortes para ir Subindo, sempre mais, sem me cansar! Chegar bem longe. . . Sim.. . Subir mais alto ! Fugir de astro em astro, e dar um salto Aonde trago fito o meu olhar.. . Prostrada, então, a Vossos pés. Senhora ! Encontrarei a paz, terei demora, Irão as minhas asas repousar! . . .

A minha Mãe Eu tenho um Santuário, o Coração, Nele ergui um altar a minha Máe, Onde prostrada, sempre em oraç80, Sua cândida Imagem me retém! Nesse meu lindo Altar, uma canção A meus lábios, de dia e noite, vem As luzes que ali brilham, duas sáo Que em seu olhar, acesas, sempre tem,

Na terra maior bem não pode haver Mais puro e santo amor aáo posso ter Nada, na vida, posso comparar, A este prazer vivo. bem profundo De viver eu, assim, longe do mundo Contigo, minha Mde. no meu Altar!


João Perpétuo Nasceu nesta ilha, no Primeiro Quartel do Século XX. Emigrou para Curaçau, na manhã do dia 18 de Março de 1944, em companhia de 1200 emigrantes madeirenses, no vapor uCuba*. A descrição desta viagem. quando os submarinos alemães sulcavam os mares, à procura da sua presa, fê-la num opúsculo, em verso intitulado, 4Memórias de um emigrante*. de que reproduzimos algumas quadras. Esta obra foi bablicada em Curaçau. em Agosto de 1945. Tem um trabalho inédito, intitulado, a 0 triste é assim*.

Subi ao convés da nave, Vi surgir a alvorada. E o Sol com sua chave Pôs a noite encarcerada. Como em tempos das Cruzadas Em que tanta gente, tanta, Com as frontes levantadas Iam ter à Terra Santa, Assim naquela manhã Em que o Sol senhor reinava. Pessoas de fé cristã A distancia os abraçava. De todo o lado ondeavam Lenços, bandeiras de dor. E os corações protestavam Esse atentado ao amor. Já minúscula se fazia

A muralha da Pontinha, E entre tantas. já não via, A minha orfã cazinha. Era um ponto a verde Ilha No horizonte a extinguir. De nuvens era a mantilha Que arranjou p'ra se cobrir.


Fernando de Melim 1918

Nasceu na freguesia de Santa Luzia, desta cidade, a 30 de Maio de 1918. É filho de Teotónio José de Melim e de D. Maria José Pereira de Melim. É 2.0 Sargento. Pertenceu ao Regimento de Infantaria n.0 19 e prestou serviço no Comando Militar da Madeira. Encontra-se, actualmente, no Q. G. do Comando Militar de Angola. Frequentou a uEscola Industrial e Comercial de uAntónio Augusto de Aguiarn, desta cidade, onde cursou o 3.0 ano comercial (inglês) e o 5.0 ano do curso comercial (desenho ornamental). Escreveu versos para alguns recitais realizados por alunos desta escola: a letra do $Arraial* de São Joãor, para a revista teatral do Dr. Elmano Vieira, %Floresda Madeira*, levada à cena no Teatro Municipal do Funchal. a 5 de Abril de 1945, desempenhada por alunos deste mesmo estabelecimento de ensiiio: a letra da uMarcha de Santo Antónior. musicada pelo Capitão Edmundo Lomelino, no Concurso de Marchas do Fim do Ano, em 1955, que abaixo reproduzimos e colaborou na revista teatral, da F. N. A. T., intitulada, oDeixa Passarn, levada a cena no Teatro Municipal, com grande sucesso, em 1959. Colaborou no uEco do Funchalr e no uBoletim do Club Sport Marítimo*, onde publicou algumas Gazetilbas.

Marcha de Santo António

Meus senhores, atenção, Santo António vai passar; Fidalgo por tradição, Peito ao alto a cantar.

Nosso Santo é popular Entre os Santos portugueses. Dá-nos forças p'ra brilhar Este ano e muitas vezes.

REFRAIN : A nossa marcha Graças ao santo ~ s t aá $marcam

I

Bis


Com sirigeleza, Temos a certeza Que vamos ganhar!

1

Bis

Viemos hoje a cidade Ao som de lindas cantigas; Confiados, sem vaidade, Na graça das raparigas,

Olhai, gente do Funchal; Pasmai, oh gente de bem : Cada par será casal, Mas só, p'ra o ano que vem.

Repete o Refra in.


João Gomes de Abreu 1918

Nasceu na freguesia de Gaula, a 5 de Novembro de 1918. É filho de Francisco Gomes de Abreu e de D. Virginia Jorge da Conceição. Possui o 5.0 ano dos Seminários. Ausentou-se da Madeira, em 9 de Novembro de 1947,'tendo-a visitado em 1955. É oficial dos Serviços de Obras Públicas e Transportes da Província de Moçambique, exercendo as funçóes de Chefe de Secretaria e Contabilidade. Possui um livro de poesias, ainda inédito, int hulado, uRevoadas de Primavera)). Eis um soneto inédito, da sua autoria, inspirado na Madeira. a uIlha-Paraíson. corno lhe chama o Autor:

Caminho de luz A fresca e doce brisa matinal, por bosques e vergeis vou caminhando, verdejantes alfombras sopeando. rumo i sã quietude dum pinhal.

Vem, do sol, brandamente, resvalando áurea luz, da colina para o vale, que alacres toutinegra e pardal saudam a trinar, de quando em quando. Sob a caruma densa dos pinheiros, em seu porte, garbosos, altaneiros, flui beleza, há paz, dimana amor.

E a Natureza, em tão plena harmonia, é temoneira firme que me guia na rota que conduz ao Criador.


João Luís de Góis (Luis de Góis) 1918

Nasceu na freguesia da Ponta Delgada, a 19 de Dezembro de 1918. É filho de António Luís de Góis e de D. Teresa Martins dos Santos Tem o curso completo do Seminário Diocesano do Funchal, onde. acabados os seus estudos, foi Professor durante alguns anos. Apesar de ter recebido ordens menores, não sentindo inclinação para o estado eclesiastico, encaminhou a vida noutro sentido. Dedica-se, actualmente, ao Ensino Liceal Particular. As suas produções poéticas mantêm-se quase totalmente inéditas. Algumas apenas foram publicadas no *Jornal da Madeiran e uEco do Funchal.. Muitas foram radiodifundidas pela Estação Rádio da Madeira, no programa ~Miscelanea*,organizado por Silvio. *Os meus Sonhoss e <<Versosda Medida Velha*, são os títulos dos livros nos quaia tenciona publicar as composiçóes que actualmente possui. Eis duas poesias inédltas da sua lavra :

O eterno Retorno Se passares,Amor, passa de largo : Não venhas iludir meu coração.. . Não venhas cá verter mais pranto amargo No meu amargo calix da Paixão !

. . .Bem sei, Amor, es meigo ! . . . Sem embargo, Foi tua a punhalada de traição.. Se passares. Traidor, passa de largo. . . . Ai ! meu amargo calix da Paixão ! ! ! Importuno ! . . . E tu passas-me cá dentro ! . . . Afagas e amordaças-me.. . E eu então Em mil contradições que não domino. Irrequieto, audaz, terrível Nume ! Não brinques, sim? Cupido, com o lume; Amor-fatal brinquedo de menino ! . . .

Inconformismo Não quero. não! Não quero assim a Vida: Aviltada. mesquinha, semi-morta.


Um viver-mendigar de porta em porta Mirrado arbusto em terra ressequida. Eu quero caminhar de fronte erguida -Galera imperial que as ondas corta. . , Além. a luta espreita-me? Que importa! Combate? *Deus o quer*. A luta é Vida.. .

Eu quero mais Espaço, mais Largura, Mais vastos horizontes; mais Altura. . .

E mais Sol e mais Luz a fulgurar. Quero, nesta ambição que não acalma, Maior o mundo, e Vida sem findar: Um mundo do tamanho da minh'Alma.. .


José Dias 1919

Nasceu na freguesia de Santa Maria Maior, a 11 de Janeiro de 1919. E' filho de João Dias e D. Maria Cândida Dias, naturais do Porto da Cruz. E' empregado na Indústria de Bordados da Madeira. Nas horas vagas, dedica-se a pesca desportiva, a pintura e a poesia, tendo composto várias poesias de índole popular. Do $Eco do Funchaln, de 3 de Outubro de 1957, reproduzimos os primeiros versos:

Prece A Senhora da Saúde Em frente à minha janela, Alveja uma Capelinha . .. -De manhã ou a tardinha Eu vou rezar dentro dela. Tem uma imagem formosa. Sobre o seu florido altar, Que possue, no meigo olhar, Uma expressão piedosa. Quando olho para ela. Parece que me sorri. -Outra igual, eu nunca vi, Como a da minha Capela ! ., . . Peço que, um dia, ao morrer. A Senhora da Saude, Me acompanhe o ataude, N o Céu me queira valer ! . . .

Quadra A Minha Mae.

Há uma coisa neste mundo q u e me alenta e me sustém. . . E o amor santo e profundo, -O amor de minha Mãe !

Inédito.


Odete Maria Fernanda Maciel Alves (Odete Alves) 1919

Nasceu na freguesia de São Gonçalo, a 30 de Maio de 1919. É filha de Jaime José Alves. antigo Despachante da Alfândega desta cidade. e de D. Adelaide Ascenção Maciel Alves. Tem o 5.0 anos dos Liceus. Dedica-se ao canto e a poesia, tendo gravado. particularmente. em Lisboa, alguns discos de canções. Tinha um livro de poesias, manuscrito. que. infelizmente. se perdeu. Obteve a 1.a Distinção. entre 30 concorrentes, num torneio poético. de Quadras, com mote dado, realizado pela Sociedade Vidanova, em 1947. (cujos versos se encontram insertos no Boletim n.O 6, da Academia Cultural, Vidanova, de Outubro de 1947. Eis alguns versos da sua autoria: Porque hão dizer esta verdade crua? Porque não contar o ardente desejo Que então senti. em minha carne nua. Quando me deste o teu primeiro beijo? Porque esconder aquilo que senti, Porque esmagar essa realidade, P'ra que fingir que não gosto de ti. E para que negar minha saudade?

(Quadra premiada, no Continente, no Concurso Poético da asociedade Vidanova). Deite amor e o coração E só me fazes sofrer. Lá diz o velho rifão: uPor bem fazer, mal haver!

-


José Rodrigues d' Abreu (Olino) 1919

Nasceu na freguesia de Santa Luzia, a 17 de Julho de 1919. É filho de Joaquim de Abreu e de D. Maria Rodrigues de Abreu. E' desenhador e frequentou o Curso Comercial da Escola Comercial e Industrial de 6António Augusto de Aguiarh. desta cidade. Colaborou no @Diáriode Noticiasn. uJornaln, ucomércio do Funchal e @Gazeta do Suln. É conhecido pelo nome de Olino. Concorreu aos Jogos Florais, promovidos pelo iAteneu Comercial do Funchaln, em 1945-1946, assinando as suas composições poéticas com o pseudónimo de Fernanpires. Eis uns versos da sua lavra:

Tributo Guardado por Deus dentro do Seu peito, Viveu Portugal, livre, nesta guerra ; Entregue a Salazar. homem da terra A quem o mundo deve, alto respeito! Salazar, foi o grande homem portentoso Que salvou Portugal, na incerta hora.. . Hora triste que todo o mundo chora, Portugal aparece :-são e airoso. Portugueses! Fazei votos ardentes Que este homem, portador de actos potentes. Nos guie sãos, numa história luz sem par.

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Quadra Minha Mãe, meu claro espelho. Em ti me quero mirar; E's a folha do Evangelho Que no Céu, hei-de beijar !


Pe. Jacinto Gonçalves de Freiras 1919 - 1954

Nasceu na freguesia de Câmara de Lobos, a 14 de Novembro de 1919 e faleceu no Hospital dos Marmeleiros, a 9 de Julho de 1954. Era filho de Jacinto Gonçalves de Freitas e de D. Constância Adelaide de Oliveira. Cursou o Seminário Diocesano, desta cidade, sendo ordenado de Presbítero, a 24 de Março de 1951. A 20 de Abril deste mesmo ano, foi nomeado Cura da freguesia dos Prazeres, cargo que ocupou até a sua nomeação para Pároco da freguesia de Água de Pena, em 13 de Janeiro de 1953. onde paroquiou até a data da sua morte. Também se dedicou a poesia, tendo publicado n' $0Jornal$, de 8 de Junho de 1948, quando ainda aluno do 2.0 ano de Teologia, o seguinte poema:

Despontar da redenção Era numa tarde sorridente e mansa . . . O sol decIinava na amplidão dos Céus, E um anjo risonho num raiar de esp'rança, Descia brilhante da mansão de Deus. Num gesto mais puro que o raiar da. aurora A Virgem falava, o embaixador divino; E às suas palavras, pelos campos fora, Reabriam lírios de odor peregrino : -*Avé ! ,. . pura Virgem de celeste alvura ! . . . És cheia de graça, beleza e sorriso!. . . Tão humilde e pobre!. . . em Ti há ventura! E Deus e contigo ! . . . És um Paraíso ! . . . No Teu seio puro, virginal e santo Todo um Céu de amor vai fazer-se luz: Tu, jardim celeste de imortal encanto. Terás por ventura, ser Mãe de Jesus. Pensamento eterno do Infinito Deus Feito homem singelo, santo e imaculado, Sua alma será um esplendor dos Céus, Seu corpo um espelho do Verbo Incriado.


Vem fundar um Reino de eterna1 beleza; Vem unir os homens, com laces de luz; Descerrar do mundo núvens de tristeza; Traçar sobre as almas o perdão da cruz; Vem florir esp'ranças de aurorais canduras Nalmas de crianças, loiras em botão; Acender estrelas luminosas. puras. Nessas noites tristes de almas na ilusão! 9

E a Virgem singela. humilde, risonha. Qual cecém florida num jardim feliz. Num divino enlevo, como de quem sonba, Baixa os olhos mansos, cruza os braços, diz: -uEis a pobre escrava de Deus, meu Senhor

A quem devo tudo quanto sou, enfim Faça-se a vontade do Divino Amor; Como Deus o -quere... pois faça-se em mim!...

O sol encobria seu áureo fulgor Por detrás dos montes em adoração.. . No seio da Virgem despontava em flor A aurora da graça.. . o sol da Redençao.


José Jorge da Felicidade de Freitas (Jorge de Freitas)

Nasceu na freguesia de Santa Maria Maior, a 10 de Julho de 1921. É filho de Mário Eusébio de Freitas e de D. Elisa Miranda de Freitas. Cursou o Liceu de *Jaime Monizo, desta cidade. de 1933 a 1941. É empregado na Agência de Navegação, de João de Freitas Martins. Pertenceu a +Tertúlia Ritzianas. É Escritor. Jornalista. Desenhista e Poeta de mérito, tendo colaborado no %Ecodo Funchalh, revista Portuguesa*, <(Boletimdo Club Sport Marítimo*, uRe-nhau-nhaun. etc. Usou vários pseudónimos entre eles o de Joé Friiz. Publicou os seguintes livros: uArquipélagon, (de colaboração com 8 Poetas Madeirenses, Funchal, 1952, uAreópago*, (de colaboração com cinco Poetas Madeirenses) Funchal. 1952; uCarta Aberta*, resposta ao <Comentário))do Senhor doutor Aragão Mendes Correia, Funchal, 1954: +Poemas Bestia~s*(de colaboração com os Poetas Madeirenses Herberto Helder e Carlos Camacho). Funchal, 1954: u Alguns Poemas Insulares$. Funchal, 1954 e uTela em Branco*, (novela) Funchal. 1958. UNHO está na ficção nem na fantasia alada, mas na miragem dos temas reais diz Mota de Vasconcelos. na revista 4Açores-Madeiras -a poesia de Jorge de Freitas. Entra dentro da sensibilidade e nela fica a fremir o comunicante impresionismo da visão deste Poeta que se encandora sobre as coisas pequeninas para torná-las grandes e nobres no enlevo e na magia do seu cinzela.

-

Soneto-Talvez de Amor A sala é vasta, transparente e pura. No que se julga o meio há um luar Suspenso duma estrela pelo-olhar Dum visionário em transe de loucura. A estrela rutilante ganha altura, Em mutações de cores pelo ar. A curva arco-irizada quebra em mar Na sala vasta, transparente e pura.

O visionário estende agora os braços Por entre a confusão astral das rosas Caídas na pureza do salao. Mas para além de todas as esperanças Paira o tempo das eras mais remotas No simples latejar de um coração.


Tristão Henrique Bettencourt da Câmara 1921

Nasceu na freguesia de Santa Luzia, desta cidade, a 22 de Julho de 1921. É filho do falecido societário da 4Fábrica do Torreãoa, Tristão Pedro Bettencourt da Câmara e de D. Eugénia Isabel de Sousa Bettencourt da Câmara e irmão de Henrique Tristão Bettencourt da Câmara. Foi industrial de Bordados da Madeira e dedicou-se a poesia. tendo sido premiado, quando estudante, nos primeiros Jogos Florais da <Mocidade Portuguesaa, no Continente, em 1941. pelo seu poema. intitulado, aPortugal*. Colaborou no extinto <Diário da Madeira,, <Eco do Funchal* e ~Presenten,revista da *Mocidade Portuguesan. desta cidade. Em 1944, publicou um livro de versos, intitulado, <Quem esn?, donde reproduzimos as seguintes poesias :

Não vale a pena Não lastimes a minha pobre sorte De não ter neste mundo o que quizera ... O meu desejo é um sonho, uma quimera, Que em mim nasceu e vai além da morte. Não ; nunca julgues que eu tracei um norte Sem ter pensado em tudo como era.. . E assim me vês eternamente a espera Sem que de esp'rar eu próprio já me importe. Nem tu sabes que em quanto desejamos Aquilo que queremos é diferente De quanto muitas vezes alcançamos.

O gozo de alcançar vai num repente.. . E tudo quanto uma só vez sonhamos E bem melhor sonhá-10 eternamente !

Aquela moça algarvia Aquela moça algarvia Mais leve que o próprio vento. . . Aquela figura esguia, Não me sai do pensamento


Não me sai do pensamento O seu andar balançado. . . Aquele andar vago e lento. Às ondas do mar, roubado. Às ondas do mar, roubado É o seu andar, com certeza.. . E o olhar aveludado, Tam negro. lembra tristeza. Tam negro. lembra tristeza Duma noite muito escura.. . Mas tem a volta a beleza Da amêndoa branquinha e pura. Da amêndoa branquinha e pura, Que é alma daquele olhar. Oiço apenas a ternura Constantemente a falar. Constantemente a falar Da mais profunda saudade Que uns olhos sabem guardar Dum amor que chegou tarde, Dum amor que chegou tarde, Tendo nascido tam cedo, Espero, enfim, que só guarde Quanto náo disse - um segredo.


An tónio Joaquim de Alencastre Telo 1921

Nasceu na freguesia de São Pedro, concelho do Funchal, a 30 de Setembro de 1921. É filho de João Maria Te10 e de D. Ermelinda da Conceição Góis Telo. Foi aluno da &Escolade Artes e Oficiosn e é hoje proprietário de uma tipografia n o Continente. Escreveu, aos 18 anos, quando pupilo da %Escolade Artes e Ofíciosn. em 1939. a novela intitulada, aUm Amor Infeliz* e, em 1941, o romance intitulado, uO Condenado Inocenten. Tem mais três obras inéditas, intituladas: uA Ilha dos Vulcões~,%Madeira, Ninho de Amor* e aprenda de Anos*. Também se dedicou à poesia, tendo versos insertos na colectânea de versos dos Jogos Florais da Madeira, organizados pelo jornal &c0 do Funchalr, em 1942. Eis alguns versos inéditos da sua autoria:

Regresso.. . Entro no Tejo mais ameno Depois de tanto lutar, Acho-o até mais pequeno, Mais calmo e mais sereno, Par'cendo querer-me abraçar. Olho o Céu, bendigo Deus, Colas lágrimas a saltitar. Mas na Doca vejo os meus De olhos p'ra mim e p'ra os C6us. Doidin hos por me abraçar. Queridos filhos. . . mãe amada, Boa mulher, meu amor.. . Nossa casa, sem ter nada, Será farta e abençoada, Na paz de Nosso Senhor. . . Uma casinha vou ter, Cheio de amor, como um ninho. Juro não mais a perder E o resto da vida ser Feliz como um passarinho.


Sátiro Silvino Sardinha 1921

Nasceu na freguesia de Santa Maria Maior, a 15 de Outubro de 1921. É filho de António Germano Sardinha, funcionário dos C. T. T.. desta cidade, e de D. Ernestina Pereira Sardinha e irmão de Sérgio Sotero Sardinha. Sub-Chefe da P. S. P. e de Sidónio Sales Sardinha, 2.0 Sargento, em serviço na India. Cursou o *Liceu de Jaime Monizo, desta cidade de 1932 a 1940 e sentou praça* como Furriel Miliciano, em 1939. Serviu na India Portuguesa. como voluntário, em 1956. Encontra-se, actualmeu te, no Continente Português. Colaborou no ~Jornalo,.Comércio do Funchaln, <Revista Portuguesa* e em jornais da India. Publicou três livros de versos, iztitulados : aPoesia Sentimental*, Funchal, 1947 ; ~ E s t r oLiricon, Funchal, 1948 e ~Ardêncian,Funchal, 1957, este último com Prefácio do Poeta Gonçalves Preto e tem no prelo, em Lisboa, um conto policial, intitulado, &Aacção de Perryo, sob o pseudónimo de Virgilio Duro. Possue. também inédito, um livro de contos, prefaciado pelo Dr. Jaime Vieira Santos, e um livro de versos. intitulado, ~Epopéiada Indiao.

Enquanto o pó existe Enquanto o pó existe, há, nele. -ardor. Enquanto existe. tem prazer e gosa: Embarca. num alado resplendor, Visiona azul o céu ou cor de rosa. Enquanto o pó existe, há sempre a dor: Algemado na senda aventurosa, Ou no ciúme sangrento dum amor, Na penumbra de lide tormentosa. Porém, sucumbe o pó, e tudo é nada. É tudo negro, escuro e tão sombrio, Nas entranhas da terra conspurcada. Triste pó que, no Mundo, não sentiu De Jesus a Odisseia atormentada, A qual. táo sacramente. bem cumpriu.


António Manuel de Sousa Aragão Mendes Correia (Aragão Correia) 1921

Nasceu na freguesia de São Vicente, a 22 de Outubro de 1921. É filho de Henrique de Aragão Mendes Correia e de D. Maria José Sousa de Aragão Mendes Correia. Aragao Correia ou António Aragao, como também assina as suas produçóes, é um Poeta, Prosador, Pintor de Arte e Escultor de mérito, premiado em Jogos Florais no Continente Português e nos Jogos Florais da Madeira, promovidos pelo uAteneu Comercial do Funchal*, em 1946, onde obteve o 2.0 Prémio, pelo seu belo conto, intitulado, uPresentimento*. uAragão Correia -no dizer do Poeta e Jornalista Gonçalves Preto - revela nos seus versos, uma personalidade forte de Poeta e um temperamergo de rara sensibilidade.. Cursou o uliceu de Jaime Moniz*, desta cidade e licenciou-se em Filosofia na uuniversidade de Lisboa* e frequentou as Belas Artes. É 2.0 Conservador do uArquivo Distrital do Funchal*; Director da Casa Museu ulésar Gomes*, na uQuinta das Cruzes*; Delegado, na Madeira da 1.a Sub-Secção (Belas Artes), da uJunta Nacional de Educação; foi Professor da Cadeira de Arte da Secçgo de Belas Artes, da $Academia de Música da Madeira* e é Director do uCine Club*, do Funchal. Realizou várias conferências, nesta cidade. e fez uma Exposiç~ode Quadros a óleo, no Salão da uAssociação Comercial do Funchal*, em 27 de Dezembro de 1946; uma Exposiç~ode Pintura e Escultura, no ~ C l u bFunchaleosea. de 21 a 26 de Maio de L956 e outra, nos Salões do Palácio da Foz, em Lisboa, em Outubro de 1959. Fez parte da *Tertúlia Ritzianar e tem versos insertos na Colectânea uArquipélagon, publicada nesta cidade, em 1952 e deu a estampa o livro, uPelourinhos da Madeira*. editado pela uJunta Geral do Distrito do Funchalr, em 1959 e tem um livro de contos. sobre a Madeira, ainda inédito e outro de poesia, também inédito. Colaborou no uDiário de Notícias*, uEco do Funchaln, uVoz da Madeira,, uRevista Portuguesar, revista uAla Arriba*, do Brasil e editou e dirigiu a revista uBúzior.

Soneto Tudo fora perfeito em tempos idos: Não havia cansaço nem saudade, o homem olhava os astros nos sentidos e os sentidos mentiam a verdade. Não havia reis nem sonhos perdidos. e o homem era o homem sem idade, sem o Tempo, sem causa, sem gemidos produto duma chama de igualdade.

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Mas depois tudo mudou certo dia. E o homem fez-se Deus, fez-se profeta, foi astro, foi saudade - já sofria. . .

E, para enfim tudo volver diverso,

houve outro barro -o barro do poeta para contar o drama feito em verso.

Canção Pálida entre a giesta . . . pálida e nua era uma festa. Foram seus gestos ramadas dum verde doido sadio e o musgo tenro da serra o seu desejo macio. Pálida quando faz frio.. . parece que lá no monte ficou a sua escultura entre a giesta pálida e nua quando partiu.


Bemvinda Correia 1922

Nasceu na freguesia de Santa Maria Maior, em 1922. É filha de José Correia, antigo jogador do «Club Sport Marítimos e D. Maria da Paixão Correia. É cantadeira e vedeta da Rádio, tendo feito a sua estreia na Estação Rádio da Madeira. É cognorninada a Amália da Madeira. uÉ na canção nacional, por excelênciasegundo a crítica - que a personalidade artística de Bemvinda Correia, fica acentuadamente vincada. Foi. neste género, que ela criou renome. cá dentro e lá fora, nomeadamente na América do Norte. e há-de ser a cantar o fado que os triunfos artísticos de Bemvinda Correia se sucederão por esse mundo. É autora de vários fados e canções, -entre eles, @Nãosei como hei-de vivera e uAdeus à Madeira*.

Adeus à Madeira Madeira 1 Terra linda sem rival, Madeira ! Orgulho de Portugal. Madeira ! Meu jardim. És tudo para mim, Madeira ! Não há outra igual. Madeira ! É certo que vou deixar-te. Madeira ! Mas hei-de sempre recordar-te, Vais no meu coraçáo, Meus olhos chorarão, Madeira ! Pátria tão querida, E nesta vida calma Irás na minha alma Madeira ! És minha vida. Madeira ! Terno berço que em criança, Madeira ! Gravei na minha lembrança, Madeira ! Foi em ti Que amei e conheci,


Madeira ! Horas de esperança. Madeira ! Querido torrão natal, Madeira ! És bela, és nobre e afinal Não sei como exprimir Todo este meu sentir. Madeira ! Só com ternura E se um dia eu regressar Em ti quero encontrar Madeira ! A sepultura.


Pe. José Ressurreição Viveiros 1923 ?

Nasceu na freguesia de Machico, por 1923? É filho de João de Viveiros e de D. Ana de Viveiros Cursou o Seminário Diocesano desta cidade. Foi Pároco da freguesia das Achadas da Cruz e é, actualmente, da freguesia de São Vicente. É um Poeta de cultura religiosa. Colaborou no *Jornal da Madeira*. donde reproduzimos este soneto, do seu n ú mero de 15 de Abril de 1960.

A Virgem das Dores Irncrsa e m dor profunda, junto a Cruz, De coração ferido pela espada. . . Eu te contemplo triste e desolada, Com cintilantes lágrimas de luz Pela mimosa face ;e debruqada Sobre o defunto Corpo de Jesus. Sublime quadro ! Como nos reluz A tua dor pungente e resignada! Na dura Cruz houvesse eu expirado Com meu Jesus Remito meu pecado, Não haveria em braços teus guarida ? ! Ah ! em teus braços morto!... Que f liz sorte! Que sono quente no gelo da morte! Que despertar da morte para a Vida! Sao Vicente, 22-4-2960.


Maria de Lourdes Alves Travassos Lopes (Maria de Lourdes Travassos) 1924

Nasceu na freguesia de Santa Maria Maior, a 31 de Janeiro de 1924.

E' filha do falecido Comendador Joaquim Quintino Travassos Lopes, Comandante da Corporação de Bombeiros Voluntários Madeirenses. e de D. Adelina Amélia Rodrigues Alves Travassos Lopes. E' Poetisa e Compositora musical, autora de muitas Marchas, Fados e Canções. entre elas a intitulada. use Deus Quizer*, que foi cantada pelo artista Artur Ribeiro, no Teatro de uBaltazar Dias*, a 19 de Junho de 1953, e a Marcha %Noite de São Silvestre*, composta em 1956-1957. e interpretada, no Brasil. pela artista Cidália Meirelles, no seu programa da T. V., dedicado à Madeira. É co-autora da Revista Teatral, uOlha para isto*. levada à cena, várias vezes, no Teatro de aBaltazar Diasn, em 1958. Neste mesmo ano. no Programa da Emissora Nacional. uviajando p'ra Madeiran. foram cantadas as suas produqões letra e música intituladas *Rapsódia Madeirensen e <Minha Madeira*. Tem discos, com letra e música da sua autoria, editados pela casa Valentim de Carvalho, Lda. em 1960, interpretados pelo artista madeirense José da Trindade e que são: uFado Funchals, uMinha Madeira$ e uvamos ao Brinco*. Eis algumas quadras da sua autoria, a penúltima das quais, classificada em 4.0 lugar. no Concurso. uUma quadra popular*. realizado pelo .Posto Emissor de Ràdiodifusão do Funchals, em Dezembro de 1953 e a *Noite de S. Silvestre*.

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Embora t u me desprezes Com esse teu vil desdém, Eu não sei, mas adivinho, Que tu vais sofrer também. Eu ando de porta, em porta, A procura do amor. Mas,por mais que o procure. Só encontro a minha dor. . . Não me sai do pensamento, Tudo quanto eu já sofri. . . - Todo o meu cruel tormento, Desde que fiquei sem ti. Saudade. é dor que nos dá. Que não doi. mas faz sofrer.. . E' vontade de lembrar, Com vontade de esquecer.


Adeus ! palavra mais triste Que os lábios podem dizer. Se a triste saudade existe, Um adeus a fez nascer. Alguém disse que a saudade Nada custa ao coração. -Esse alguém que se despeça E verá se custa ou não!

Noite de S. Silvestre Marcha

Nas Festas da Cidade. É tudo reinação. Em nós deixam saudade Bem dentro do coração. A noite vem ligeira Aguardar cheia de luz Os folguedos da Madeira A magia que nos seduz

A marcha vai contente Pelas ruas do Funchal, Na boca de toda a gente Outra assim não há igual Até o Santo festeiro Ao ouvir as vozes ao ar, Desceu a terra ligeiro E connosco veio cantar.

REFR AIN Canta, canta, canta bem, Canta toda a mocidade Que o povo canta também Alegrando a cidade. esta, marcha popular De beleza e emoção Todos dançam com seu par Cada qual com seu balão No cortejo vai passar.


Carlos Cristóvão da Câmara Leme Escórcio de Bettencourt (Carlos Cristóvão) 1924

Nasceu na freguesia de São Pedro. desta cidade, a 25 de Fevereiro de 1924.

E' filho de Francisco Pedro de Bettencourt, e de D. Gabriela Helena da Câmara Leme Escórcio Drumond Gouveia de Bettencourt. E' funcionário da Secçgo de Contabilidade da <Casa Blandy* e pertence a oTertúlia Ritzianan. Colaborou no uEco do Funchal*, uDiário de Notícias*, uVoz da Madeira*, etc, e publicou dois livros intitulados, uAs Ondas e o Valen (Coletânea de contos madeirenses, cuja acçáo se passa em SHOCristóváo, em Machico, sobre a gente que vive no vale de Çamaes Pequeno. Ambiente humano e os sítios onde passou a sua infância). Edição da Coimbra Editora. Coimbra, 1955 e uO Livro de São Cristóvãon. Funchal, 1958. Tem, também. versos insertos na Cólectânea uArquipélago*. publicada nesta cidade em 1952 e tem dois livros de versos, ainda inéditos. intitulados, uImprovisos* e .Combate sem fim*.

Natureza Morta Cravos, rosas, açucenas , orquídeas e verbenas . .. Tudo me passou à porta. Enebriou-me o seu perfume divino, mas entristeceu-me o seu destino: iam a cobrir uma mórta . ..

Nunca mais Não posso gritar alto a minha dor, não posso libertar esta agonia Para aquecer a noite que está fria. e para arrefecer o meu ardor.. . Onde posso ir buscar algum calor feito da luz do Sol e da alegria? Onde posso ver cor de sinfonia, feita dos violinos do amor?


A minha dor é um sol para ferir com as feridas rudes dos punhais, minha dor ninguém a quer sentir.. .

Não posso libertar-me só com ais, não, não posso voltar atrás, fugir, não posso ser criança nunca mais..

Inédito

Enquanto. . . E n q ~ a n t ohouver um dia de sol que dê brilho as pedras toscas da calçada. enquanto eu sentir esta fome de beijos por uma mulher muito bela e muito amada, enquanto eu divisar um sorriso nos lábios do pobre ao abandono, enquanto me tocarem músicas de Beethoven em noites longas de Outono. enquanto o luar me vier envolver na noite calma e tiver um amigo que dê conforto à minha alma, enquanto alegres pássaros cantarem nas árvores e tiver uma flor no meu jardim, enquanto sentir o mundo continuar dentro de mim, enquanto em frente duma ravina verdejante, aos pés duma montanha colossal eu sentir um anseio criador de ser humano e imortal, enquanio o por-do-sol tiver tantos tons de vermelho quantos os tons de verde que a colina tem. enquanto eu possuir o amor sem par da minha Máe, enquanto o mar for azul, os campos verdes, os telhados vermelhos e as gardénias brancas, enquanto ouvir crianças a brincar alegres em correrias loucas e gargalhadas francas. enquanto eu sentir dentro de mim um poema a nascer. .-. eu então direi : vale a pena viver !


João Emiliano Neves de Vasconcelos (Maurício de Valdivia) 1924

Nasceu na freguesia de Gaula. no sítio da Lombadinha, a 11 de Setembro de 1924É filho do comerciarite, em Santa Cruz. João Teixeira de Vasconcelos e de D. Maria César Sá Neves de Vasconcelos e irmão do piloto, Manuel Valeriano ~ & e s de Vasconcelos. Possui o curso Complementar do Comércio. da Escola Industrial e Comercial de uAntónio Augusto de Aguiara, desta cidade. Desde os tempos da escola secundária que se sentiu atraido pela literatura, tendo colaborado, em prosa e verso, quando frequentava o 4.0 ano comercial. num jornal de estudantes. Na Escola Prática de Artilharia, em Vendas Novas, compôs alguns versos para uma projectada récita que os milicianos tencionavam realizar. Esses versos foram musicados por um seu colega, de nome Fraga, natural dos Açores. Essa recita, porém, não se realizou, devido i transferência dos milicianos, para o Regimento de Costa, na Vila de Oeiras. Assina as suas produções poéticas com o pseudónimo de Maurílio de Valdivia. Possui uma colecção de poesias inéditas.. É perito do Tribunal, Avaliador das Finanqas, [)elegado de Vigilância do Ministério da Justiça, em Santa Cruz, Secretário do Club Santacruzense, etc. Colaborou na *Voz da Madeiran e é correspondente, em Santa Cruz, do eco d o Funchal~.

Sempre leal a virtude Donairosa, ias singrando Senão guando-já adianteVolveste o olhar, enfim, Para mim, só um instante. Mas-não negues- perce bi Logo em ti uma mudanqa: Tua face em vermelhão Para o chão os olhos lança.

O motivo dd tal pejo? Já prevejo que me digas

O que todos me dirão : *São assim as raparigas. . .* Embora ocultes, sòzinho Adivinho a incerteza Que sentiste. Era, creio, Um receio: não ter beleza.


Tolice ! Não penses tal ! Afinal, pode-se ainda Discutir o teu primor? Sem favor - tens graça infinda. Mas escuta uma lembrança : És criança e , amiude. Ficarás exposta ao mal; -Sê leal, sempre, a virtude!.

Sonhei contigo Sonhei contigo uma vez. Tu não crês ? Acredita, que é verdade. Pois dum soiiho assim. quem há-de Duvidar ? Dum sonho que é todo encanto.. . (Quão risonho eu me levanto Nesse dia. . .) Crê, meu Bem, toda a magia Que possas imaginar Sonhei eu. Sonhei contigo uma vez E fiquei tão radiante. Diamante, Que sonhei duas e três E vinte vezes ; pudera. Primavera. Não havia de sonhar Contigo-que és toda luz A brilhar! Que és faról que me conduz A amar! ... Crê, meu Bem. sonhei contigo E não foi uma só vez, Foram tantas quantas lês No que eu te digo. Agora resta, verbena, Saber se valerá. a pena, Na quimera. Docemente con fiar. . . Ó Deus meu. oh! Quem me dera Continuar. gerebera. A usonharn.

Inédito.


Pe. Jorge Evangelista de Jesus

Nasceu na freguesia de Santa Maria Maior. concelho do Funchal. a 7 de Janeiro

de 1925. Encontra-se, actualmente, ausente nos Estados Unidos da América do Norte. Compôs, quando ainda estudante d o Seminário Diocesano do Funchal, dois interessantes poemas, intitulados, rSonho de Portugal)>e @Roteiroda Virgem*. Estes poemas foram publicados n' uO Jornala, respectivamente em 28 de Abril de 1946 e 8 de Junho de 1948.

Sonho de Portugal (Excert o) Recitado pelo quartanista de Teologia, Abtl Augusto da Silva, na sessão solene de homenagem promovida pela Acção Católica a Sua Eminência o Cardeal Gouveia.

Portugal, Nascido à beira do mar - ousado marinheiro, Sonhador de epopeia - heróico aventureiro, Olhos no mar, extático vidente Viu de Sagres (6 visáo toda atraente!) O oceano brando, num reflorir de bonança, Beijando a Pátria num sorrir de esp'rança.

E Portugal, Num consárcio lindo Abraçou o mar sorrindo, Murmúrio de ondas a rezar.. . Viu horizontes sem fim, E para além dessa bruma Envoltas em branca espuma Ilhas de oiro e de marfim, Na imensidade a sonhar.. . -Quem fora através dos mares Vencendo o fragor das procelas, A descobrir novos mundos Em ligeiras caravelas ! ? E num sonho, sonho lindo, Portugal destemido foi abrindo Esses mares iracundos, E descobriu terras imensas Desbravou selvas extensas, Deu ao mundo novos mundos.


- Portugai das caravelas, Da fé de Cristo pioneiro, Quem te inundava de luz

Em tão magnífico roteiro? A cruz! lábero bendito Que ostentavas nas velas. Era luz, era o brado, era o grito, No turbilhão das procelas . . . Foi a sombra da cruz Em epopeia de luz, Misto de Fé e de Glória, Que Portugal escreveu A missão, que Deus lhe deu, No bronze da sua história.

Se Portugal se fez aos mares Arrostando o fragor dos escarcéus, Conquistou reinos, arroteou palmares, Prègando ao mundo a lei de Deus, Se a golpe de lança e montante. Se cobriu de glória fulgurante Nas lutas valorosas d'Além-mar . .. -Que bela missáo, nobre ideal Te fascinava, ó Portugal?

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Soldado e crente, Herói, missionário ! Em nobre ardor. Em chama ardente, Prègou a toda a gente O Poema do Amor, O Drama do Calvário. Onde se encontra erguida à luz. Num terno abraço com a cruz O Padrão da Descoberta. Ergue-se a Pátria em altar, É Portugal a rezar. . . Sentinela de Deus alerta ! E Portugal foi assim: Fez do Semo um Jardim Rincão da Pátria todo a abrir-se em flor.


Onde amanheceu em graça O nobre clarão da Raça Em epopeia de Amor. Sonho de herói! Sonho divino e belo, Dar Cristo ao mundo e convertê-lo, Tal foi o sonho De Portugal d'outrora, Lindo, risonho, Como um sorriso d'aurora.


Carlos Manuel Araújo Andrade Camacho (Carlos Araújo)

Nasceu na freguesia da Sé, desta cidade, a 15 de Fevereiro, de 1926. É filho do Poeta e Jornalista Carlos Agapito Camacho, (Santiago de Melo) e de

D. Maria Assunção Araújo Andrade Camacho. É funcionário da Filial docrBanco Nacional Ultramarino,, nesta cidade e Poeta de feicáo modernista, co-autor das obras, ~Areópagon.(Colectânea de 5 Poetas) e $Poemas Bestiaisr, (Colectânea de 3 Poetas), publicadas nesta cidade. respectivamente, em 1952 e 1954. É também autor do livro, $Alguns Poemas de Antecedência*, publicado nesta cidade em 1954. Eis alguns versos da sua autoria:

Canto Negro Que sei eu de vós, relegados da vida ? Que sei eu ? Se a ígnea fome jàmais me queimou as entranhas. . . se o álgido tempo jamais me talhou os movimentos.. . se o ímpio desafecto jàmais me vergastou as faces. . . Que sei eu de nós, relegados da messe enorme ? Nada. Só hoje sinto de mim e de meus irmãos na condição.

Intercepto Ela passou. Tal como eu a imaginei: boca de musgo e corpo do mar ondeado. . . . Sou o que estou sendo e já é olvido o que estive pensando.


António Jorge Gonçalves Can ha Jardim (António Jorge Gonçalves Canha)

Nasceu na vila do Porto do Moniz, a 11 de Abril de 1926. É filho de Tito Gonçalves Canha Jardim e de D. Maria da Encarnação Jardim. Este inspirado Poeta, foi laureado com o 1.0 Prémio dos Jogos Florais da Madeira. realizados pelo ~AteaeuComercial do Funchal*. em 1946. Usou o pseudónimo de Silva Row. Awntou-se para o Brasil, em 1946. Possue uma colecção de poesias inéditas.

Ao voltar da Escola As crianças ternas, meigas, inocentes, Jóias rescendentes, aves de voar. . . Ao voltar da Escola trazem mais beleza, Outra singeleza, graças de encantar. Lírios em cardume - ma tina1 frescura, Mimos de ternura que o Senhor nos deu, Deixai que eu as cante! astros de pureza. Fontes de riqueza do perdão do céu. Deixai que eu as cante! Ternas feiticeiras. Suas cabeleiras, soltas, a tremer, Sãio cadeias de oiro que me trazem preso Num desejo aceso de as beijar, sorver. Lagos diamantinos onde bebe a ave,

Uma luz suave cai dos olhos seus, Firmamentos verdes a fulgir de estrelas.

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Ogivais janelas onde espreita Deus. Alegria nívea! No seu meigo rosto Há manhãs de Agosto rindo buliçosas : Trazem brincos de alva presos nas orelhas E as bocas vermelhas cheiram mais que rosas. Corpos de esmeralda, com alma4 de aurora. Sem r nódoa agora. da paixão. da dor, AO voltar da Escola trazem-me lembranças De oveibinhas mansas de Jesus Pastor.


Vão depois felizes para os seus brinquedos. Virginais folguedos, sonhos de mil cores ; Vão reinar ufanas por países belos, Vão erguer castelos com luar e flores. Oh! como és formoso mundo das crianças, Onde as tardes mansas não conhecem fim; Onde o sol não desce, nunca, do poente, E no mar há sempre risos de marfim, Mundo de belezas onde não palpita A ambição maldita que esfarrapa as almas: Onde o céu não toldam núvens de cinismo, E ainda no abismo não vicejam palmas. Dava tudo. tudo p'ra habitar. ainda, Essa terra linda, mundo em que viveis, Nem coroas, glórias, nem altares erguidos. -Louros ressequidos. mantos de ouropeis. Ò princesa antiga deusa. da quimera, Virgem! quem me dera te beijar a trança.. . Ver do céu os astros, do mundo os abrolhos Através duns olhos, loiros de criança.


Secundino Teixeira (Dino) 1926

Nasceu na freguesia de Santa Luzia, desta cidade. a 1 de Julho de 1926. É filho de Guilherme João Teixeira e de D. Maria Margarida Teixeira. Possue o curso comercial, da Escola Comercial e Industrial de uAntónio Augusto de Aguiarr, desta cidade. É, actualmente, empregado Comercial. Dedica-se à poesia, desenhos à pena, pintura de aguarelas e faz curiosidades miniaturais, em escultura. Usa os pseudónimos de Dino, Dino Teixeira e Joao Ninguém. Colaborou n' 4 0 . Jornal da Madeira* e <Eco do Funchala.

Madeira Minha Terra, eu não te canto pelas tuas belezas, nem pelas tuas flores, nem por esse verde impossivel dos teus montes, nem pelo canto cristalino das tuas fontes, nem pelo azul purissimo do céu e do mar eu te respeito só. Venero sim. os meus antepassados que num sonho de há quinhentos anos. lograram criar-te sem esforqo sobrehumano e desbravar o mato, quebrar a pedra, domar o mar, os ventos e a adversidade. Gastar o sangue, os anos e a vontade, a construir poios, a aproveitar a terra, até onde os pisos altaneiros as nuvens apunhalam e a desafiar as bocarras ciolópicas e as gargantas da montanha; dominar a torrente de frágua em frágua, para com as suas lágrimas, o seu suor e essa água, pudesse existir hojeeste rincão florido, esta pérola verdadeira,

MADEIRA !


Gastão Faria Diniz (Dinizo) 1926

Nasceu na freguesia de Santa Luzia, a 14 de Agosto de 1926,

E' filho de Gastão Marcelino Diniz e de D. Maria Vera Faria Diniz. E' debuxador de Bordados da Madeira da Firma aGouveia 6 Alves, Lda.!, Possue a Carteira de Actor de Teatro Ligeiro. Tem tomado parte em vários espectáculos teatrais, romeadamente na revista teatral, uRosário de Cantigas*, levada cena no Teatro Municipal, etn 1959 e fez parte do trio uIdolos da Melodias, e tem feito várias audições de Programas Publicitários, nas Estações Emissoras de Radiodifusão. locais. Foi correspondente do uCorreio Desportivon, na Capital. Em Lisboa. publicou uma revista humorística, intitulada *Anedota* e no Funchal, um tolheto de quadras humorísticas, intitulado uQuadras Humorísticas~(recordação) dedicado 5 Caravana do Club Sport Maritimo, que se deslocou ao Império Português, em Agosto e regressou em Novembro de 1950. Usou o pseudónimo de Dinizo.

Tem Graça? (Monólogo)

A D.Graça Foi à Graça Julgando trazer de graça O que havia na Graça. Mas a D. Graça Achou graça Pois não encontrou na Graça O que sonhava trazer de graça. Portanto, a D. Graça Regressou da Graça Prometendo não voltar mais à Graça. Pois a D. Graça Concordou que na Graça Havia muita graça

E que uma D. Graça Não podia trazer de graça O que era da Graça.


João da Silva (Sílvio) 1927

Nasceu na freguesia de SHO Roque. concelho do Funchal, a 21 de Dezembro de 1927. É filho do comerciante José da Silva e de D. Josefina de Jesus Freitas da Silva e irmão do Dr. José Maria da Silva, Redactor da revista aEstudoso e apreciado Poeta. Concluída a instrução primária, matriculou-se no Seminário Diocesano, desta cidade. em Outubro de 1939. onde concluiu o curso da Sagrada Teologia. a 25 de Junho de 1953, mas,por não se sentir com decidida vocação para o estado clerical. não quis receber Ordens Sacras. Dedicouae h Imprensa e à rádio. quando tinha 19 anos de idade. Fez algumas palestras de carácter cultural, no Salão Nobre do Seminário de N. S. da Encarnação; no uAteneu Comercial do Funchal*; no Salão-Ginásio do Liceu Nacional do Funchal e na Acção Católica. de São Roque. do Funchal. Foi o organizador de dois programas culturais, na *Estação Rádio da Madeira*: miscelânea*. emitido tis Sextas-feiras. pelas 13 horas e uleitura da Semana*. às Quartas-feiras. pela mesma hora. Desde os tempos da adolescência e juventude. tem entrado como soprano. na coiistituiç~ode vários coros e grupos de música sacra e canto gregoriano. tendo feito parte do ~OrfeaoMadeirensea. Dedicou-se ao campismo e é um bibliógrafo apaixonado. Foi Ecónomo do Hospital da Santa Casa da Misericórdia do Funchal, em 1955 e Professor do Externato 'Nuno Alvaresa e é. actualmente, Professor do curs8 liceal, nos Colégios ~Lisbonenreae uBom Jesus*. Usa os pseudónimos de Silvio. David e Proc6pio e o anagrama J. Avlis e por vezes as iniciais J. S. e S. e também J. Silva. Colaborou em prosa e verso. n' a 0 Jornal da Madeira*. *Diário de Notícias*, uEco do Funchalo, uRe-nhau-nhauu. aA Mocidade* e nos almanaques 6Bertranda. rSanto Antónioa. ucamponeza e aAçores*.

Saudação à Cruz Para o amigo Ricardo Spínola Ave. Cruz ! que seguiste nos batéis. Lusitanos, singrando fundos mares ! . . . Ave, Cruz! encimada nos altares, Abençoando oraçks. salvando os fieis . . . Ave. Cruz! terno amor dos menestréis, Bardos que te engendraram singulares Poemetos Ave, Cruz ! pisa os lugares Deste mundo onde vivem os infiéis. . .

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Ave, Cruz! dos funéreos mausolkus Cimentados na terra, olhando os céus, Azuis e claros de esplendente luar. . . Ave, Cruz! Cruz de Cristo, nosso Deus, Cruz, lenitivo dos tormentos meus, Quando esta minha vida terminar.. .

Quadras ao gosto popular As silvas bravas da serra Têm um prazer singular. Espinham sempre os meus pés. Não me deixam caminhar. As águas claras dos montes Que correm sempre p'ra o mar, Consigo levam as lágrimas Do meu tristonho penar.

A barquinha da minha alma Anda sempre em alto mar, Mas.. . com Deus por timoneiro Nada tem que recear. As crianças inocentes Sao estrelas a brilhar Que do Céu baixam à terra P'ra aquecer o nosso lar. Lírios brancos e açucenas. Entre espinhos de silvado, Simbolizam a pureza Dos que vivem sem pecado. Coração, quando cantares, Canta, mas . . . devagarinho ! .. ? ! Não fazem assim as mães Quando embalam seu filhinho ? !

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Pe. Elias Gonçalves Vieira (Elias) 1928

Nasceu na freguesia do Arco de São Jorge, a 15 de Julho de 1928. E' filho de Manuel Herculano Vieira e de D. Virgínia Gonçalves e neto de Manuel Gonçalves de Freitas, afamado Poeta popular. conhecido pela antonomásia de *Feiticeiro do Norte*. Matriculou-se no Seminário Diocesano do Funchal, em Outubro de 1943, tendo sido ordenado Sacerdote. a 21 de Agosto de 1955. Foi nomeado Pároco da freguesia do Caniçal. em Março de 1956, pelo falecido Bispo, D. António Manuel Pereira Ribeiro. Colaborou no .Jornal da Madeira%.assinando as suas produções literárias com a rubrica de Elias. Eis uns poemas, inéditos. da sua lavra:

Acróstico Ao nosso muito estimado Professor Rev. Pe. Alfredo Vieira de Freitas

Alma que vive na santidade. Lougã e bela qual neve pura. Fazendo o bem, amando a verdade Recebe luz, semeia bondade, Escreve ofensas na areia escura. Deseja ver-se na solidão Ou ter do mundo separação. Vive entre as musas, num Céu de Estrelas, Inebriado está em vê-las, Estende o olhar vivaz e febril, Inspira o estro genial, piério: Resando vejo, seu vulto sério, Alto frontal. gesto varonil.

Do venerando e leal aspeito Espera e tem o nosso respeito. Feliz aquele que só na calma Revela os bens do seu pensamento, Escreve o poema da sua alma Intima ascese no sofrimento. Tem dos poetas a fama adquirida, Alcançou já os louros e a palma, Só modelou a canção da vida.

Seminário do Funchal, 13-12-1950


Homenagem a Camões Celebremos o nome que imortal Se tornou. pela fama e pela glória De um varão português que, seni igual. Cantara os grandes feitos e vitória E a fama dos heróis de Portugal Cujo nome se guarda na memória. E a chama de amor pátrio a arder no peito Renda aos iiossos heróis devido preito.

E vós. Grande Camóes que celebrado Vos vejo pelas musas, junto aos deuses E ninguém vos verá inolvidado Enquanto houver no mundo portugueses. Dai-me a lira de um vate bem inspirado E uma harpa que eu vibrasse muitas vezes A cantar entre povos e nações Este nome imortal Camões ! Camões !

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Vate excelso que no Olimpo luminoso Vos vejo entre Virgílio e Homero. E num cântico mais terno e mavioso Chamais Natércia co'um amor sincero. E o Pai dos deuses, todo poderoso. Volve então seu olhar, mas não severo N o seu aspeito que sorri contente Ao ver o amor puro entre a lusa gente.

E no Olimpo de estrelas as miriadas De luz celeste e sempiterno dia, O bardo português lê 40s Lusíadas* E toda a corte aplaude e se extasia. E uma c'roa gloriosa de Olimpíadas Polimia. a poetisa oferecia Ao vate lusitano excelso e nobre Que de loiros e palma a fronte cobre. Erguendo ao alto o nobre e imortal Poema Onde Camões cantara a Pátria amada, Numa epopeia olímpica, suprema. Por nenhum outro génio igualada. Eu vejo nestes Cantos um diadema E o Padrão duma Raça que é abençoada Por valor e memória imortal Dum génio bem nascido em Portugal. Sernindrio do Funchal. IOeI2-1950


Rui Lima da Câmara Gonçalves (Rui Lima) 1928

Nasceu na frequesia da Sé, desta cidade. a 30 de Agosto de 1928. É filho de Luis Borges Gonçalves e de D. Lucília da Câmara Gonçalves e irmão do Dr. Carlos Lélis da Câmara Gonçalves, Professor do %LiceuNacional do Funchaln, e de Fernando da Câmara Gonçalves. Cursou o Liceu de ufaime Moniz*, desta cidade. de 1940 a 1947, e formou-se em direito, na Universidade de Coimbra, em 1952. Quando estudante do nosso Liceu. foi Director da revista *O Primeiro de Dezembror. orgão quinzenal do Centro n.0 3 da uMocidade Portuguesa*, em 1947. Exerce a Advocacia. nesta cidade e é vogal da Câmara Municipal do Funchal. desde 1954. Assina as suas produções com as iniciais R. L. e a rubrica Rui Lima. Eis uma poesia assinada com as letras R. L. reproduzida do *Primeiro de Dezembro*. de 17 de Janeiro de 1947, que lhe é atribuida: %

Perfil ?

De letras setimanista É uma aluna benquista.

Mora perto do Liceu. Careço d'aengenho e arte* P'ra cantar por toda a parte A sorte do seu Romeu. Tem voz cantante E maviosa, Porte elegante, Toda mimosa É iat'ressante É esp'rituosa, Não é pedante. . .

. .. Pouco vaidosa. Um taato ou quanto indolente. Raras vezes está contente. E génio . . . das mais ferinas. Talvez por pensar que é chic. Ao falar tem sempre um tic: Ela abre e fecha as narinas.


Diocleciano Francisco de Assis Nunes (Assis Nunes)

Nasceu na freguesia de Santa Maria Maior, a 4 de Outubro de 1928. É filho de José Francisco Nunes, enfermeiro, e de D. Beatriz Adelaide Freitas 'Nunes. É Professor primário, pela Escola do Magistério do Funchal. Matriculou-se em 1940, no uliceu Nacional do Funchals. Possue os Diplomas de Professor particular e de Director de colégio. em terras de qualquer categoria. Exerceu o Professorado no Funchal, oficialmente, e particularmente no Curso de Férias da escola de Enfermagem de S. José de Clunyn. Encontra-se, actualmente, em Luanda, onde pertence ao quadro docente oficial, da capital de Angola e faz parte da Redacção do jornal o 0 Comércio de Angola*. Assina as suas produções com o nome de Assis Nunes e o pseudonimo de Guido de Monte Cristo. Começou a escrever na revista aPresente*, com poesias e crónicas e uma secção *Cartas para longe* e a seguir no 6Jornal da Madeira*, na rPágina dos Estudantess. de que foi um dos fundadores e n' uA Madeira Nova*, &Almanaque Madeirense*, revista aPérola do Atlântico*, revista Portuguesan, em vários jornais da colónia madeirense em New Bedford e Fall River, na América, e ultimamente, no ulntransigenter, de Benguela. uO Comercio de Angolar e na *Revista de Ensino*, de Angola. Foi um dos fundadores do programa de Rádio. uMeia Hora dos Estudantesr, do *Posto Emissor de Radiodifusão do Fuochalr, onde fez várias palestras. Publicou um estudo psico-pedagógico, uA Criança-sua revelação perante a Sociedade e a Escolar. editado. em folheto. pela *Página dos Estudantesr. depois de, por ela, publicado. e tem inéditos os seguintes livros: primeiros versosr, ucombater, #Temas incompletosr, 4Pecadosr. uAfrica*, uQuando o vento uivar dos Montes., UAOcéu subiu uma estrela*, *Invejas, <r0 Deputado* (1.0 Prémio masculino dos Jogos Florais de $0Presente*). Eis uma amostra' do seu estro :

Tributo a ilha Pela vez primeira

Te vou cantar, Madeira ! Meu canto não será bem Ode, elegia ou cançáo. O canto que eu canto É tributo ;1 Terra-Mse, A Ilha. Maravilha, Que tenho no coraç&o! Madeira ! Régio sonho de pzincesr, Jamais imaginado,


Mas que o conseguiu E viu Cristalizado ! Madeira ! Tela fantasista Que um sublime artista Desenhou ! Que Zarco sem ver Viu e advinhou ! Madeira ! A das casas caiadas, Dependuradas Da rocha alta ! A das vilas floridas. De sombras queridas Que o encanto assalta! Ilha das levadas, Da água pura da rocha, Onde ninfas perfumadas. Dentre o cristal que desabrocha, Mostram seus véus de noivadas ! Ilha que o sonho. o encanto E a fantasia Escolheram para moradia ! Quebranto ! Dormencia ! Dos crepúsculos vespertinos. Dois dias diamantinos. Das fosforescências jorradas Por noites enluaradas . . . Madeira, que minha és, Desde meu berço de criança. Ilha ! Tu que és sempre Lembrança, Onde quer que eu esteja E como seja, Também serás Saudade ! E como tal, N o teu seio sagrado Eu quero seja lançado O meu tributo afervorado E gozar a paz final Na tua Eternidade ! ! ! . ..


Maria Lise Rocha de Gouveia (Ilse Maria) 1929

Nasceu na freguesia de São Pedro, desta cidade, a 7 de Janeiro de 1929. E' filha de Henrique Mendes Rocha de Gouveia, e de D. Júlia Nascimento Alencastre de Ornelas Rocha de Gouveia. Possuindo, desde pequena, uma vocação para o desporto, dedicou-se a Natação e ao Voleibol, quando aluna da Escola Industrial e Comercial de aAntónio Augusto de Aguiaro e, mais tarde, no ucolégio do Bom Jesus*, onde cursou o Liceu. Em Lisboa, ingressou na equipa de honra, de Voleibol. do usporting Clube de Portugal~. Além dos Campeonatos Regionais, jogou contra a equipa francesa, de Bordéus e no Porto, por ocasião da Queima das Fitas e foi seleccionada para jogar contra a Selecção de Marrocos, jogos estes de que saiu vencedora a sua equipa. Em 1957. ingressou no Atletismo, onde alcançou muitas distinções. tendo obtido o 1.0 lugar, no salto em altura, com 1.25 m. e o 3.0,no salto em comprimento, com 3,99 m. É Poetisa e Contista. sendo colaboradora\do uEco do Funchal~ e doutras publicações continentais. Assina as suas composiçóas com a rúbrica de Ilse Maria e Lise. Possui um livro de poesias. ainda inédito, intitulado, uIlusões* e é autora da canção, uOs olhos que eu namoror. Foi laureada. com o 2.0 Prémio, nos Jogos Florais do *Sindicato dos Empregados d e Escritório*, de Lisboa. Foi funcionária da uPoliclinica do Bom Jesus*, no Funcbal e é. actualmente, funcionária da uCaixa de Previdencia dos Metalúrgicosn, em Lisboa.

Meu louco coração (2.0 Prêmio dos Jogos Florais do *Sindicato dos Empregados de Escritório,. de Lisboa.)

Meu coração dorido, amargurado, Sofreu angustias mil, desilusões! Num louco rodopio,' foi arrastado, Na avalanche de anseios e paixões Saltava aqui, ali. embriagado, Correndo atrás d e raras sensações. Mas em breve será amortalhado.. . Na cova ficarão a s ilusões. . .

Não sejas tolo, ri. goza a vontade. Crê que não volta mais a mocidade. Desejos que tiveste morrerão. . .


A tua volta tudo está vazio, Secou, em ti, o caudaloso rio, Podes chorar agora, coração ! Lisboa, Julho de 1957

Inédito

Soneto Veio mais cedo. este ano, a Primavera, Tamborilhar, mansinho, i minha porta, Ressuscitando uma ilusão já morta. Afagando, na sombra, outra quimera.

E todo esse passado, que eu quisera Olvidar, para sempre .-.. Não me importa ! Que venha, uma vez mais. bater-me a porta, Que esteja, novamente, à minha espera. Passará uma e muitas madrugadas, Pelos anais do tempo e da saudade E tu, -de mãos vazias e geladas.. . Náo, não queiras saber porque fugi Do amor que levarei a eternidade, Dos sonhos que sonhei e náo vivi.

Lisboa, Sct. 1957

Inédito

Poema (Primeira tentativa de pocsía livre)

O nevoeiro baixou sobre o meu peito E nele fez morada. E assim se fez noite Aos primeiros alvores da madrugada. Então olhei para dentro.. . Para o poço fundo do meu íntimo, E nada vi, Nada encontrei E os meus olhos líquidos, tristoohos, Ansiosos, famintos, Vão buscando. . . Os perdidos sonhos. Ninguém os viu passar.. .

E os sonhos não voltam, NHOquerem voltar,


Estou triste e sòzinha, Vazia de afecto, Gelada e sombria No meu desespero. Choro! . . . e não sinto as minhas lágrimas, Grito.. . e não oiço a minha voz.

E no poço fundo d o meu intimo, Distingo o espectro Dos sonhos distantes.

E o fundo, é mais fundo. . . E o nevoeiro, é mais denso. . . Lisboa, 19-6-958:

Inédito

Quadras Está tão velha, tão vèlhinha Tão curvada e sofredora, Vive tão só, tão sòzinha. Que ninguém sabe onde mora. Mas, sem sombra de vaidade, Eu creio ser a excepção, Sei onde mora a saudade, Vive no meu coraqão. Inédito

Lisboa. 1-6-95?


Helder Martins de Carvalho (Helder Martins)

Nasceu na freguesia da Sé. desta cidade, a 5 de Setembro de 1929. É filho de António Vitorino de Carvalho, comerciante, e de D. Amélia Mrrtins Cardoso. Matriculou-se no Colégio uNuno Alvaresn e depois no Liceu do Funchak, onde concluiu o respectivo curso, em 1947. É Poeta, Cantor e Pianista, possuindo algumas gravações em disco. Estreiou-se no primeiro espectáculo promovido pela F. N. A. T., na Madeira. Tinha, então, 18 anos. Serviu de locutor. apresentando todo o espectáculo e cantando duas canções. entre elas uUm Sonho que idealizei*. (que abaixo reproduzimos) com letra da sua autoria e música de Libertino Lopes. Tomou parte. nas primeiras emissões da *Estação Rádio da Madeira*. em festas particulares, no uFlamingor. etc. No Continente, actuou nos melhores teatros. em uboitesa de categoria. na rádio Peninsular*, no programa uAndam Cantigas no Ar* e num programa especial, intitulado, #Ritmos e Melodias. Passou. depois, para a «Rádio Renascença* o d a í para a A. P. A. e uEmissora Nacional*. tendo sido Director da .Orquestra Alvalader. no Restaurante Alvalude. ao Campo Grande. no uEstorilr, na uTágider, no *Hotel Embaixador*, na «Carpa*e na 4Televisão Portuguesan. Esteve em Angola, em 1954 e ultimamente na Libéria, onde se firmou em grande plano internacional. obtendo. com outras orquestras estrangeiras. o mais retumbante êxito da música ligeira portuguesa. A crítica americana qualificou-o e o seu conjunto, tão bom como os melhores e de maior renome mundial. Esteve, também, em Johanesburg. onde se estreiou no uCaritonr a 4 de Abril de 1960.

Um sonho que idealizei Feliz e sorridente, acreditei ! que era bem sincero O teu amor. encontrei-me nos teus braços, num sonho que idealizei. mas talvez fosse louco quando te amei. Bem sei que uma esperança é uma ilusão.. . Para este meu amor que não tem fim. só sei que a lembrança dos teus beijos, será um sonho cor de rosa, para mim, Inédito


Alfredo Rogério Jardim (Rogério de Montenegro)

Nasceu na freguesia de Santo António, concelho do Funchal, a 5 de Outubro de 1929. É filho de Alfredo Gomes Jardim e de D. Joaquina Rosa Jardim. Tem dois livros de versos, inéditos, intitulados, 4Pecadoso e mentiras^, com o pseudónimo de Rogério de Montenegro e colaborou na revista, ~Presenteo,orgão da uMocicidade Portuguesar, com o pseudónimo de Ourânia. Encontra-se, actualmente, em Luanda, onde e empregado comercial.

A menina que vejo passar ... Aquela menina que passa todos os dias, à mesma hora, na minha rua tortuosa, vai sempre cheia de graça com seu porte de senhora. . . Tão linda, toda airosa, gosto de vê-la passar. . . Debru~ado,na janela, fico olhando o seu andar, pensando nos lábios dela. ..

E já sentiria mágoa se ela nunca mais passasse e o coração desejasse tornar a vê-la ! ! ! . . . Aquela menina que passa todos os dias, à mesma hora, tão linda, cheia de graça, é o meu romance d'agora. Inédito

Nada Esta hora é de saudade.. . Esta hora é de sonhar. . . Hora de suavidade. . .


Momento de recordar. . . Foi numa hora assim que tu surgiste em minha vida. . . Vinhas imersa num mistério de amor. . . Eras quase utabú* . . . Eras tu. . . Eras como um perfume que persiste como uma chama de lume.. . Eras em ti um arcano. Pensei, entiio, que chegara a minha hora c enveredei-me por um sonho profano. um sonho sacrílego. para além do humano, a desejar para ti o impossível. E entreguei-me todo a esse sonho de amor.. . Sonhei, .sonhei tudo aquilo que desejei. . . E a imaginar um mundo para nós, esqueci-me de ti ! Era um mundo diferente, aquele que conaruí ardentemente. Mas quando voltei i vida p'ra levar-te. já nHo te vi ! Porque afinal eras um sonho s6 da hora e como sooho foste embora. . . Inidito


Maria de Lourdes Barbeito Cotrim (Maria de Lourdes) 1930

Nasceu na freguesia de Santa Maria Maior. a 7 de Fevereiro de 1930. É filha de Mário Severino Cotrim e de D. Maria Matilde Barbeito Cotrim. Colaborou no uJornal~.sob o pseudónimo de Maria. Do seu livro inédito. intitulado. uFarrapos d' alma.. .*. reproduzimos três sonetos. o último dos quais foi recitado no aposto Emissor de Radiodifusão do Funchalr, a quando da Semana do Livro Madeirense. exposição bibliográfica promovida. nesta cidade. pelo Poeta Rogério Oscar Correia.

A ti ... coração!!! A minha maior amiga.

Meu coração, és noite muito escura! Nem uma vaga luz se te alumia! És tu a minha negra sepultura, E sinto já no corpo a terra fria. . . Porque padeces. pobre coraçtio ? Porque nío ves a vida que sorri? Por fugir's dela. n ~ és o louco nso l Oh! sempre a mágoa viverá em ti.. . Vives na noite, vives no escuro;

E não tens medo de viver tão só, Sem essa intensa luz que em vpo procuro?! Cantarei hinos pela sua sorte. Até que estejas. finalmente. em pó. Como quem pede a Deus a própria morte.. .

Saudade A minha amiga apaixonada, a quem a morte roubou o noivo

Sinto aninhar-se, doce. docemente. Dentro em meu peito. uma saudade infinda : Saudade forte, dolorosa. . . linda ! Que faz viver meu coração doente.


Esta saudade, Amor, sinto-a por t i ; Ouço os teus passos lentos.. . que ilusão! E sinto, junto ao meu, teu coração. . . Recordo as horas que há muito perdi! Saudade, filha dum sonho desfeito, Estás comigo. . . e tanto a mim te estreito, Que lentamente me sinto morrer. . . E a minha voz soluça esmaecente, Tenta implorar, gritar. . . mas diz sòmente : -Saudade, vive, p'ra eu poder viver ! . . .

Toada Divina Caíu a Noite, lenta, lentamente Pela vidraça olhei o Mar .... onvia, Como num sonho a voz da nostalgia. Na enorme sala.. . gente, muita gente! Das finas cordas dum belo instrumento Que o arco esguio fazia vibrar, Pareceu-me ouvir, talvez, o soluçar, D'alguém que a Deus cantava o seu tormento. Olhei o Artista. . . só lhe vi a alma, (Uma alma rica de bênçãos de Deus) Fechei os olhos p'ra melhor a ver.. . Julguei-me envolta em luz ténue, calma, Em luz divina, vinda lá dos Céus! E, nessa hora, Senhor.. . eu quis morrer!. . .


Pe. Teodoro de Faria 1930

Nasceu no sitio de Boliqueme, freguesia de Santo António, a 24 de Agosto de 1930. É filho de Henrique do Faria Júnior e de D. Augusta Fernandes Pimenta de

Faria. Matriculou-se no Seminário do Funchal, a 7 de Outubro de 1942, tendo recebido ordens de Presbitero, pelo falecido Bispo D. Manuel Pereira Ribeiro, na Sé desta cidade, a 22 de Setembro de 1956. Celebrou a sua Missa Nova, na Igreja Paroquial de Santo António, a 23 de Setembro deste mesmo ano. Reside, actualmente, no ~PontificioColégio Portuguêsn, em Roma. Matriculou-se na upontificia Universidade Gregoriana* a 17 de Outubro de 1957, obtendo o grau de Licenciado em Sagrada Teologia, em Junho de 1958. A 16 de Outubro de 1959, matriculou-se no ~PontificioInstituto Bíblicm, onde actualmente estuda Sagrada Escritura. Esteve na Alemanha e na Inglaterra, em 1960. Colaborou no ufornal da Madeira*, com interessantes poesias e, ultimamente, publicou uma série de uPostais da Bavierar (Crónicas).

O Principe da Paz Poesia recitada no Salbo Ginásio do Liceu do Funchal, na sessão solene em honra da Sumo Pontísice, realizada pela A c ~ ã oCatólica do Funchal, no dia 12 de Março de 1955 e publicada no *Jornal da Madeira* de 1 3 de Marco de 1955.

A findar seu canto, de bem e de amor, Na tarde silente do seu padecer, Aos filhos amados, dissera o Senhor: Como testamento, dou-vos minha Paz ! Jámais se perturbe vosso coraçfo, Lego-vos a prenda que tanto me apraz Vou para meu Pai, mas deixo-vos a Paz !

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Na colina do Calvário Morre o Augusto Cordeiro. Mas a divina mensagem. Avassala o mundo inteiro. P'ra o reino de César poder triunfar, Defendem o Império fortes legiões. Possantes trirremes navegam no mar, E gemem escravos presos com grilhões.


E u m novo Império nascia Que por insígnia guerreira, Entrelaça a caridade Com um ramo de oliveira. A terra estremece com as iras de Nero . . . Os povos se quedam com Àtila fero Que reveste o mundo de luto e de morte. E um santo velhinho de olhos nos Céus, Sem arcos, sem flechas, tem poder mais forte. E afasta o flagelo da Igreja de Deus. Pois dizem que os anjos Terçaram a espada ! E.os chefes hostis Vão em debandada, De setas caídas E olhos de réus, Temendo os guerreiros Da casa de Deus. No decorrer das idades, Na colina Vaticana, NHOflutuou jamais Outra insígnia soberana. Mais que o Iábaro da Paz.. . Os Impérios poderosos Que lutaram caprichosos Por se tornarem mais fortes. Jazem desfeitos em pó. Apenas resta a memória Duma sombra transitória, Cheia de escombros e mortes. Tremem os eixos do mundo Com fogo e ódio profundo Nascido nos corações. Chacinas, fraudes, vingancas . . . Também virginais crianças No sulco vil das paixões. . .

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Na augusta colina Torre merencória Onde espreita Deus Acenava além Um Papa. clamando: Si quereis vitória. Terqai as espadas da e do Bem l

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Baqueiam tronos e reis. . . Apodrecem diademas. . . E a s niãos, cobertas de aneis São ornadas com algemas. Mas na cidade de Peciro Um Papa sempre domina. Uma crença, uma verdade, Sua boca sempre ensina A s almas dóceis e puras ! . . . . . . E as torres do Vaticano Indicam sempre as alturas. Enquanto o Tibre soturno Vai arrastando para o mar, As escórias denegridas De reinos para sepultar.

Hoje, também. como outrora, Ele clama :-Eis a hora Da Paz, do Amor, do Perdão! E o homem alucinado Vai responder ao seu brado Com o troar do canhão.

O mundo prepara ciladas e morte E o Papa confia num poder mais fone! Opõe à metralha a Cruz do Senhor, E tem por trincheiras o Bem e o Amor! Reveste os seus filhos de nobre libré, - A veste da graça e o escudo da fé Cinge-lhes o peito branco diadema Feito da candura da nívca açucena. Vigiam ameias, estrelas dos céus, Defendem as torres, os anjos de Deus!

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Sem forças, sem armas, vence o adversário,

E tem por granadas contas do Rosário. Vinte séculos, já rolaram Sobre a ampulheta da história! Só um reino teve a glória De sempre os sobreviver! Pois firme, como um rochedo, Jàmais há-de perecer O trono de Simão Pedro.


No meio das ruinas do Forum romano, Ou então. na colina d o seu Vaticano, Qual iris de esperança, no meio da procela. Ao mundo pergunta : Dizei-me que estrela Assim pressurosos em vão procurais? Em Céu tão nublado, não se encontra a Paz!

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Freme em ódio a terra inteira,

E só ele ergue a bandeira Da Paz, do Amor e da Fé! É como a pomba que outrora No dilúvio universal, Ao Patriarca Noé Trouxe esperança fagueira. Ostentando sobre as águas Verde ramo de oliveira !

Como em sonho de ventura, Essa cândida figura ~ica-nos mirando além. . . Parece na curva da estrada, Lenço branco. em revoada, Acenando Paz e Bem !


Herberto Helder Bernardes de Oliveira (Herberto Helder) 1930

Nasceu na freguesia de São Pedro, desta cidade, a 2 3 de Novembro de 1930. É filho de Romano Carlos de Oliveira, comerciante, e de D. Maria Ester Bernardes de Oliveira. Frequentou o colégio L i ~ b o n e n s ee~ o Liceu de ufaime Monizh, desta cidade, até o 6.0 ano de Letras. Concluiu. depois, em Lisboa, o 7.0 ano de Letras e tem a frequência, durante três anos, da Faculdade de Letras da *Universidade de Coimbran. (Curso de Línguas Românicas). Fala correctamente francês e tem conhecimentos gerais da língua inglesa. Foi funcionário da caixa Geral dos Depósitos*, em Lisboa e nesta mesma cidade exerceu actividade, numa Agência de Publicidade. Foi o fundador do quinzenário do <Colégio Lisbonense*, intitulado, ucruzeiron e o Editor de uO Juveniln, órgão do Liceu de ufaime Monizr. Colaborou na @RevistaPortuguesa*, no jornal académico <A Briosa*, *Eco do Funchal*. rcorreio Desportivo*, 4Comércio d o Funchab, neste último sob o pseudónimo de Ruy de Saint-Platz. Pertenceu a uTertúlia Ritzianas e tem versos insertos na Colectânea ~Arquipélago* e publicou, em Lisboa, em 1959, na Colecção eContraponton, um poema intitulado, *Amor em Visita*.

5 esparsos sobre o Poeta Nada que eu veja perdura. A beleza é um segundo, mas, gráo de areia no mundo, eu posso ter a loucura de conceber o eterno para além do universo. só pelo dom do inferno de poder fazer um verso.

Dentro de cada mortal fala o conselho de Deus e a sedução infernal, mas nas veias do Poeta habitam os próprios céus, e ele é que é afinal, a sombra que se projecta do desencanto e do mal.


A loucura e a faculdade de compreender a verdade da mentira que há nos mitos. ao poeta concedida. p'ra que seus olhos aflitos puderem ver no presente essa vida inexistente no futuro doutra vida,

O poeta é de tal modo o mundo que tem em volta. que só se pode achar todo perdido no mundo inteiro. Ele é a presença revolta das coisas - o verdadeiro principio - é o signo e é a sorte. e é o mistério da morte.

Quem sonha não é poeta, é sòmente sonhador; sonho é fuga, e a dilecta ocupaqão de quem canta é aproximar-se da dor e. com esse olhar que espanta. ver de tudo até o fundo. até o que é falso p'ra o mundo.


Fernão Manuel Homem d-e Gouveia Favila Vieira (Fernão M. Favila Vieira) 1930

Nasceu no Funchal a 13 de Dezembro de 1930. É filho do Dr. Fernão Henriques Perestrelo Favila Vieira, Advogado nesta cidade e de D. Dulce Cândida Homem de Gouveia Favila Vieirá e irmão do Eng.0 Francisco Manuel Homem de Gouveia Favila Vieira e sobrinho do Dr. Álvaro Henriques Perestrelo Favilí. Vieira, antigo Deputado da Nação e genro do Prof. Doutor Angelo Augusto da Silva, Reitor do Liceu do Ftinchal. Cursou o Liceu de uJaime Monizn, desta cidade, de 1941 a 1948, e concluíu a sua lincenciatura em Direito, na Faculdade de Letras da uuniversidade de Coimbra*, com 15 valores, em Julho de 1957. Colaborou na uPágina dos Estudantes*, do uforaal da Madcirar, etc.

Mais do que a beleza sem beleza.. . A MEU IRMÃO FRANCISCO

Ao seu sentir, irmão do meu sentir: ao seu anseio, irmdo do meu auseio. Mais, muito mais do que a beleza sem beleza, Sem vida interior, sem intima riqueza, Das caras bonitinhas, d'expressão vazias, Das bonecas banais, inanimadas e frias, Quero nos teus olbos u m olhar em que sorrias, D u m vivo sentir nas mil dores e alegrias. E onde se espalhe a essência cara D'alta flor do pensamento, formosa e rara: Eu quero nos teus olhos o fogo do amor, Ânsias d1Infinito e voos de condor E frémitos de asas em surtos p'r'o Senhor Além do entusiasmo, vibração, calor. . . Ah! Mães : A inquietude e a esperança E candura liriais d'ingénua criança Enflorecem os teus olhos da graça das mahhãs. Do viço, dos aromas das rosas e maçãs, Das coisas suaves da harmonia irmãs. Do perfume celeste das virtudes cristãs; Solucem e m teus olhos ruinas de quimeras, Velhos castelos ideais cobertos de heras, Saudades, torturas, hurnedeçam-no de pranto.


E sobre elas desabroche o sonhar santo Como. sobre a paisagem, arrebol d'encanto, Depois do céu verter as lágrimas do seu pranto: Espelha n'olhar Mediterrâneos azuis Toledos de mistério, Algarves de luz. Todo um mundo imenso para descobrir Esta minha alma desejosa de partir, Na caravela ideal desse teu sorrir, Que me convida a embarcar. a ir. a i r . . .


António Manuel Rebelo Pereira Rodrigues de Quental (Rebelo de Quental)

Nasceu na freguesia de Santa Maria Maior. a 18 de Janeiro de 1931. É filho do conceituado industrial de bordados. Abel Hermenigildo Ramos Rodrigues Quental e neto do Prof. Dr. António Augusto da Silva Pereirz. Cursou o Liceu desta cidade e a Faculdade de Direito da uuniversidade de Lisboa», onde se licenciou, com altas classificações, em Outubro de 1959. Foi representante da Faculdade de Direito, na Assembleia Geral da uuniversidade de Lisboan e Presidente da oAssociação Académican da mesma Faculdade. É, actualmente, Professor da eEscola Industrial e Comercial do Funchal*. Estreiou-se, quando estudante liceal, na revista apresente*. Colaborou na uPágina dos Estudantes*, do uJornal da Madeira*, uDiário de Noticiasn, revista Portuguesa*. uPrimeiro de Dezembron, uO Debate*, jornal continental e foi Director de uC1 Académicon, orgão liceal. Realizou várias palestras, nesta cidade, entre elas as seguintes: uDa Pré-História a Antiguidade Oriental-Uma Viagem Através da História*, no Liceu do Funchal, em 1946; uA Educação no Futuro da Juventuden, idem, em 1947; uA contribuição de dois Séculos XVIII e XIX para a Crise do Mundo Modernon, na sede da %Juventude Escolar Católicar, em 1949; uMestre Gil- O dos Autos de El-Rei*, no ucolégio Lisbonensen, em 1949. E um dos autores da Colectanea uArquipélagon, publicada nesta cidade, em 1952 e tem dois livros de versos ainda inéditos, intitulados uAvenidan e %Rasgono Céu*.

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A menina do lado A menina d o lado tem uma história bem diferente das histórias que conta toda a gente. Mas, que tenho eu com a menina do lado, que se levanta logo pela manha, e leva a vida entre o piano e a janela, entre o homem que passa na rua e a sombra de Chopin, que é a sombra dela. . .

Ah! A menina do lado tem uma história bem diferente das histórias que conta toda a gente. A sua vida estranha e misteriosa é paralela à minha vida. Mas eu fui além do piano e da janela ...

E a menina do lado continua esquecida.


Maria Manuela Brígida Nunes de Andrade 1931

Nasceu na freguesia de Santa Maria Maior, a 13 de Julho de 1931.

E' filha de Carlos Fe!iciano de Andrade, societário da <Loja dos Dois Amigos*, e de D. Isabel dos Santos Nunes de Andrade. Cursou o Liceu de %JaimeMonizs. desta cidade. de 1942 a 1950. onde concluiu o 7.0 Ano de Letras. E' presentemente escriturária da Direcção de Urbanização do Funchal. Está escrevendo um livro de ambiente histórico. intulado, uO Cavaleiro Negro$ e tem um livro de poesias, ainda inédito, intitulado. *Paradoxo*. Colaborou na Revista uMare Nostrum*, em 1956 e uModas e Bordados*, tendo publicado na primeira um soneto e na segunda um conto. Eis trCs sonetos, sendo os dois primeiros. compostos aos vinte e vinte e dois anos, respectivamente. Calem búzios e conchas o seu canto, Cessem as ondas e seu marulhar, Transforme-se o cantar em triste pranto, Pelo corpo que ao longe, anda a boiar.

O mar, cruelmente, em explosões de ira Submergira o barco ao pescador, E do jóvem alegre que partira Só deixara os destroços, num horror. Cale-se, pois. o mar horrendo e lindo, Deixe sonhar o pobre mutilado, Um sonho belo, distante e infindo. Cantem, sòmente, as vagas pequeninas, Um doce. . . muito doce. . . canto alado . .. Palavras meigas . . . tristes. . . cristalinas ! Inédito

Quem pudera ser lindo passarinho, Voando, livremente, p'la imensid~o, Ou a cinzenta pedra do caminho, Humilde e triste, em sua solidão. . .

0' quem me dera ser tudo o que vêem Os meus olhos cansados de chorar: Flor e fruto, ou aquela ermida além, Fulgente estrela, o céu azul e o mar.


Ser tudo isto e muito mais ainda, Que eu tanto quero e não posso explicar, Nesta minha ansiedade louca. in finda. Ser o que existe e ser o que passou, Verso que um génio não quis aproveitar, Ser tudo, tudo.. . menos o que sou!

Para te ver anseio o dia inteiro, Se tardas um minuto, desespero. E sinto fúrias dignas dum negreiro Se andas com outra, quando por ti espero. Oiço, por fim, o som dos passos teus: O meu coração bate loucamente, Rezo silenciosa, agradeço aos céus A ventura de ver-te novamente. Torço as maos, que de agitadas tremem, Sinto invadir-me intenso vermelhão, Todas as minhas fibras estremecem.

E quando surges e quero a vista erguer. Sinto em mim estranha confusão E baixo os olhos, morrendo por te ver.


Henrique Tristão Bettencourt da Câmara (Henrique Tristão)

Nasceu na freguesia de Santa Luzia. desta cidade, a 3 de Outubro de 1931. É filho do falecido Tristão Pedro Bettencourt da Câmara e de D. Eugénia Isabel de Sousa Bettencourt da Câmara e irmão do Poeta Tristão Henrique Bettencourt da Câmara, autor do livro, intitulado, &Quem És?%. Frequentou o uliceu Nacional do Funchaln onde concluiu o 4.0 ano, em 1950. Colaborou na revista apresente*, onde escreveu, entre outros. os seguintes trabalhos: uQuintas e criados madeirensesn, ~Terezinhaa,uUm Madeirensen, uUma açorda no Poiso~,uArborizaçaoa. etc. e a seguinte poesia:

Assiste-me amor ao cantar este sonho em mim nato P'ra que possa mostrar As gentes que sou poeta, que sou mais alto E sossegar este mundo d'inquietudes a que o ser poeta me condena Exprimindo a alma das glórias que me prende a penal A lua tão pura, as franças dos pinheiros,

O vento gemendo qual gigante aos ais, E Ela com uma rosa em seu cabelo É a dcasa deste mundo, e todo o meu anelo!

Oh noites frescas das chuvas passadas Com o luar iluminando as folhas caídas e molhadas! Que pisaremos de corpos e almas misturadas!

Oh dias, sacrários da vida, d'horas descuidadas ! Meus dias com que sonho pensando rimas às tiradas ! Sonhos que te devo, devendo-te -tudo, sonho e vida d'almas encarceradas.


João Maria Figueira da Silva de Pontes Leça (João de Pontes Leça) 1931

Nasceu na freguesia de São Pedro. a 13 de Outubro de 1931. E' filho do Dr. Manuel Pedro Nolasco de Pontes Leça, antigo Sub-Delegado do Procurador da República, neste Concelho, e de D. Maria Judite Figueira da Silva de Pontes Leça e irmão do Dr. Henrique Figueira da Silva de Pontes Leça e sobrinho dos Drs. Carlos Sebastião de Pontes Leça e João Trindade Pontes Leça, já falecido. Frequentou o Liceu de @JaimeMonizr. desta cidade, de 1943 a 1950. onde concluíu o 5.0 ano. Encontra-se, actualmente, no Brasil. Colaborou na revista ~Presente*.órgão n.O 3 da *Mocidade Portuguesa*, donde reproduzimos os seguintes versos :

Amar e ser amado Ah ! Que bom que e amar, Que delida ser amado,

O ver-se a realizar O que tanto foi sonhado. Mas quanta desilusão, Julgando ser verdadeiro, Sobre o nosso coração P'ro amor ser traiçoeiro. Mas então só haverá Amor falso e traiçoeiro? De outro quem encontrará? Eu! Do mais puro e verdadeiro!


Carlos Lélis da Câmara Gonçalves (Lélis) 1931

Nasceu na freguesia da Sé, desta cidade. a 31 de Outubro de 1931. E' filho de Luis Borges Gonçalves e de D. Lucilia da Câmara Gonçalves e irmão do Dr. Rui Lima da Câmara Gonçalves. Cursou o Liceu de #Jaime Moniz*, desta cidade, de 1943 a 1950. e foi, quando estudante, Capitao da equipa do qHockcy Clube da Madeirao e um dos directores da Revista presente*, órgão mensal do Centro n: 3 da Mocidade Portuguesa, donde reproduzimos a seguinte poesia. Colaborou, também, na rPágina dos Estudantes*, do #Jornal da Madeiran, e fez uma conferência no Liceu do Funchal, no dia 10 de Junho de 1957, subordinada ao titulo duiz de Camaes um aspecto da sua lírica* Cursou a Faculdade de Letras da uuniversidade de Coimbrae, tendo concluído o curso de Filologia Românica, com elevadas classifica~ões,em lulho de 1957. É, actualmente, Piofessór do uliceu Nacional do Funchaln e foi nomeado Dirigente-Assistente do Corpo Distrital da @MocidadePortuguesae, em Abril de 1960.

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Os meus versos Não são versos,

Nem baladas, Nem cantigas, São marteladas Acorrentadas A normas antigas. Todos dispersos, Meus pobres versos De formas quebradas Nem sáo cantigas, Nem são baladas. Meus versos são .. . Como são. E ninguém pode entender As lindas cantigas De normas antigas Que eu sei escrever.


Só cantarei para :mim, Porque enfim, Não vale a pena Escrever e poetar, Se não sabem compreender Aquilo que vou fazer, Aquilo que vou cantar.

Não vale a pena. Meus versos, cantai A linda cantiga Que eu vos ensinei, Quando eu escrevia E versos fazia Àquela que amei. Mal feitos, embora, Sem meio, sem fim, Cantai, pois agora Cantais para mim.

A vossa rudeza P'ra mim tem beleza. Cantai, rudemente, Sem peias, sem medo De não agradar A toda essa geate. Dizei meu segredo, Dizei que eu não minto, Cantando o que sinto Não sei poetar. Mesmo dispersos.

Eu farei meus versos, P'ra mim, Só pr'a mim. De formas quebradas. De normas antigas, Sem serem baladas, Sem serem cantigas. . . Mal feitos, embora, Sem meio, sem fim, Cantai, pois agora Cantais para mim.


João Câmara Rodrigues

Nasceu na Madeira, em data que desconhecemos. Matriculou-se no *Liceu Nacional do Funchal~,em 1948. Reside no Continente e colaborou. quando estudante liceal. na Revista apresente* e, mais tarde, no jornal continental, Korreio das Ilhas*. de que é Redactor o nosso conterrâneo, Amândio Franco Olim Marote. Do *Correio das Ilhas*, de 8 de Janeiro de 1955, reproduzimos a seguinte poesia:

Saudade Da Madeira estou saudoso, Dos amigos que deixei. Saudades de tudo tenho, Do tempo que lá passei. Sinto-me só, exilado, Longe da linda Madeira. E se triste e desolado Me sento à minha lareira, Relembrando os lindos campos Da minha terra natal, Lágrimas vêm-me nos olhos De saudade sem igual. Mas quando um dia voltar

A essa terra bendita, Hei-de risonho lembrar Esta saudade infinita,


João Luis de Ornelas Teixeira (Manuel Ruas) 1932

Nasceu nesta cidade, a 3 0 de Janeiro de 1932. E' filho de Ferdinando Natal Teixeira, funcionário da uJunta Autónoma dos Portos do Arquipélago da Madeira*, e de D. Maria Júlia de Ornelas Teixeira e sobrinho do Comandante Gabriel de Jesus Teixeira, antigo Governador Geral da Província de Moçambique e Deputado da Naçáo, pelo circulo da Madeira. Matriculou-se no Liceu de *Jaime Monizn, desta cidade. em 1943, onde concluíu o 5: ano. Colaborou, quando estudante, na @Páginados Estudantes*, do uJornal da Madeira$, e no eco do Funchal~,em 1954.

A canção do cafezeiro Planta de pais quente Ausente do seu meio Não medrou. Humilde. pequenina, Num vaso, esquecida, Ali ficou.

Um dia, porém. Foi à Terra-Mãe. Ali -no seu meio Floresceu. Pintou em núvens brancas O relvado Verde e molhado. Erecto e altivo: -O ca fezeiro, Superior. Lembrava-se de outrora : -Diziam-no menor. No seu meio floresceu.

O cafezeiro sou. . . -Planta de pais quente Ausente do seu meio Não medrou.


Francisco Manuel Homem de Gouveia Favila Vieira (Francisco M. Favila Vieira) 1932

Nasceu no Funchal, a 31 de Maio de 1932. É filho d o Dr. Fernão Henriques Perestrelo Favila Vieira, Advogado nesta cidade, e de D. Dulce Cândida Homem de Gouveia Favila Vieira e irmão do Dr. Fernao Manuel Homem de Gouveia Favila Vieira e sobrinho do Dr. Álvaro Henriques Perestrelo .Favila Vieira, antigo Deputado da Nacão. Cursou o Liceu de *Jaime Moniz~.desta cidade, de 1943 a 1951 e a Faculdade de Engenharia da ~Universidadede Lisboan. onde concluiu o seu curso, com 16 valores, em Agosto de 1959. Colaborou na *Página dos Estudantes*, do jornal da Madeirar e no unebater.

Quizera .. . Quizera minha Alma ser Como as gaivotas brancas Bater asas, voar. . . Galgar longas distâncias. Quizera minha Alma ser, Como as manhãs de Páscoa: Com seu fogo acender Os coraç6cs a quem passa. Quizera minha Alma ser Como as ondas do mar: Fazer rendas de espuma Com seu profundo pesar. Quisera minha Alma ser Como incenso, suave odor; Em espirais de fumo Ir perfumar o Senhor. Quisera minha Alma ser Como os pinheiros da serra. Que crescendo nos anos Vão fugindo da terra. Quizera minha Alma ser Como as gaivotas puras. Bater asas, voar. . . Dominar as alturas !


Luís Martinho de Góis 1932

Nasceu na freguesia de Santa Maria Maior, a 11 de Novembro de 1932. É filho de José de Góis, proprietário, e de D. Marla Mendonça de Góis. Frequentou o uliceu Nacional do Funchal*. de 1943 a 1950. onde concluíu o curso complementar dos Liceus (Letras) e a oEscola do Magistério Primário do Funchalr, por onde é diplomado. Foi autor do ~Albumdos Finalistas da Escola do Magistério Primário*. em 1952 e fez parte do uSepteto Dr. Passos de Freitas*. Foi Professor da rEscola Masculina de Santa Luziao e é, actua1mente. empregado no rBanco Blandy Brothers*, desta cidade.

Divagando Quando tu passas Sem me mirar, Fico a julgar Que não te cnpaças . .. Penso, com dor, Que não me queres E que preferes Um outro amor.

E vejo a vida Com velho manto, Sem um encanto, Entristecida. . . Fico em torpor A imaginar-me E a conformar-me Sem teu amor. . .

E entristeço E aborreço Tudo o que vejo.. . E sinto pejo Na minha- alma Outrora calma Quando fruia A alegria Do teu amor.

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Então desejo Tudo acabar, E derrubar Este tormento De te adorar. . . Depois. depois. Quero viver Para esperar P'lo teu amor. . . E aqui eu ando A mendigar Um meigo olhar . . . Desejos loucos ! Dum bom mendigo Que sabe esp'rar ! . . .

Inédito.


José Maria da Silva (José Maria) 1933

Nasceu na freguesia de São Roque. Concelho do Funchal, a 18 de Fevereiro de 1933. É filho de José da Silva, comerciante, e de D. Josefina de Jesus Freitas da Silva e irmão do Professor e Poeta João da Silva (Sílvio). Feita a i nstrução primária, matriculou-se no Seminário Diocesano, desta cidade. em Outubro de 1944. Concluiu os cursos de humanidades e de Filosofia e o 1.0 ano da Sagrada Teologia, em Junho de 1954. Como não se sentisse com verdadeira vocação para o estado eclesiástico, deixou o Seminário e matriculou-se na Faculdade de Filosofia da auniversidade Católica Pontifícia de Salamancan (Espanha). onde se licenciou. Cursa, actualmente. o 5.0 ano da Faculdade de Direito, da ullniversidade de Coimbran e prepara a sua tese de doutoramento na Faculdade de Filosofia da uuniversidade d e . Madridn, sobre o existencialismo e prepara o 2.0 ano de História, na *Universidade Católica de Salamanca*. Colaborou, em prosa e verso, no &Ecodo Funcbaln e fez parte da Redacção da revista aEstudosn, orgão da C. A. D. A. Muitas das suas produções poéticas foram radiodifundidas na uEstação Rádio da Madeira*, integradas no programa cultural miscelânea^, organizado por Sílvio.

O Infante de Sagres Ao Ricardo Spínola

Que fazes D. Infante, ai, sentado Nessa prega da rocha, junto ao mar? Passas o tempo a contemplar, calado, O oceano imenso a esbravejar. Ruge lá em baixo o mar profundo, irado, E pairam núvens negras pelo ar: O Infante olha o mundo inda ignorado, Um vulto escuro para além do mar. Ali na costa, olhando o horizonte,

Na esp'rança que uma nau ao longe aponte Quéda-se sempre mudo, sempre igual. Mas esse vulto negro do Infante Projectou-se da costa ao mar distante E por ele sesuiu Portugal.. . Inédito.


Luar da minha serra Ao RLV.Pe. Eduardo Honorio Henriqucs

Luar da minha serra Pálida claridade. . . Murmúrio dáguas ao longe, Como o rezar dalgum monge. . . Liiar da minha saudade ! . . . Luar de nostalgia E melancolia Na solidão do caminho. . . Luzeiro frio de neve, Fino e leve . . . Fino e leve como arminho . . .

Na curva do horizonte, Por detrás do calvo monte, Linda ermida num ribeiro. . . Defronte, no outro lado, Entre arvoredo cerrado, Ergue-se altivo cruzeiro. . .

E eis que tudo arrefece Sempre que a lua aparece. . . E ela fina e leve e pequenina, Sobe no céu, através da colina.. . Eu gosto da lua cheia Por noites meigas d' Abril. . . Quando o seu rosto campeia Lá no céu de claro anil. . .

Ver ao longe o cemitério, O piar triste do mocho E tudo em ar de mistério, Nas campas de luto roxo.. .

E lá em cima, Na colina, Bem rente ao céu, Um fio Macio De água, Correndo E gemendo


A luz Que reluz Da lua Sem véu. . .

E a serra morena, Em noite serena A luz do luar Fica mais airosa, Singela e formosa. Por todo o lugar.

O' lua da minha serra, Bênção de Deus sobre a terra !. . .

E pela noite adiante. Lá distante,

Numa gretinha do céu. Abraças a serra inteira E a ribeira . . . Com a luz do rosto teu. És a minha companheira, Bem fagueira, Nos' meus tormentos sem fim... E também a confidente Terna e crente, Terna e crente para mim.

Doces segredos encerra Essa fria claridade. . . A lua da minha serra, Lua da minha saudade ! . , . Inédito.


Fernandn Eurico de Sousa (F. Eurico de Sousa) 1933

Nasceu na:freguesia de São Martinho, a 17 de Maio de 1933. E' filho de Fernando de Sousa e de D. Alice Fernandes de Sousa. Frequentou o Liceu de uJaime Monizn, desta cidade, tendo concluído o curso, em 1952. Encontra-se, actualmente, em Veriezuela. onde é proprietário. Colaborou no ~Presenten,órgão dos alunos do Liceu do Furichal. de cujo oúmero deSNovembrode 1949, reproduzimos os seguintes versos:

Olhei um dia, com desdém, A dignidade de alguém. (Como sinto infinda vergonha!) Pacato, figura bisonha, Mas que afinal de inocência Talvez fosse mais do que eu. Insensato! O mesmo meu olhar; Repeti já com dobrado troçar; Olhei: e, no prisma da consciência, Vi o triste farrapo do meu eu!


José Clemente Tavares (Clemente Tavares)

Nasceu na freguesia de Gaula, sítio da Fazenda, a 23 de Novembro de 1933. É filho de João Tavares e de D. Maria Tereza de Jesus. Frequentou o Seminário Diocesano do Funchal e a uuniversidade Católica Potifícia de Salamancan (Espanha), onde se licenciou em Filosofia, em Outubro de 1958. Frequentou, depois, um curso de Filologia Hispânica e assistiu a aulas de Doutoramento. Regressou a Madeira, em 1959. Colaborou no ufornal da Madeiran, em 1952, quando ainda aluno do Seminário e publicou dois livros de poesia, intitulados, uTrezen, <Lisboa, 1956%.e a vida continua uassim*. Lisboa, 1959. Clemente Tavares ~é um poeta com um drama-disse o Escritor Alberto F. Gomes-e não se pode aceitar um poeta da nossa geração, sem algo que dizer do seu conflito interior. E justamente a obra de Clemente Tavares afirma-se pelo tom pleno de confissão que respira cada página, cada verso. Há ali ânsias de perfeição, revolta interior contra o demónio da queda na obra mais perfeita da criação.: o Homem. E' justamente este problema, que, em luta permanente, torna a existência do Poeta, fardo insustentável.$

Nasceu um menino Pelas ruas de Belém Vagueia a Virgem Maria, Tão triste, tão só, tao fria, Tão triste como ninguém ! Batera já onde o rico habita, Oride. com frio, o pobre tirita ; A porta da parentela Que em Belém tinha Ela. Responderam-lhe sòmente : - Ide ?I próxima morada, Fugi da noite inclemeote. ( A noite era fria- nevada ! ) Bateu.. .

E por não ter A Virgem vagabunda Mais onde bater,


Bateu onde a teia abunda, Numa simples caverna, Onde, nas noites de inverno, Inverna. E onde a teia abunda.

Aí nasceu o Sol. O Jesus Menino, O Divino Bambino, Do mais belo Arrebol, Da Virgem Maria Que. p'ra dar a luz o Sol, Fugia Da noite fria.

E por não ter A Virgem vagabunda Mais onde bater, Bateu onde a teia abunda.

Nasceu Jesus ! Alegria ! Pois do Céu, Por nós, mais ninguém desceu.. Alegria. Paz ! Alegria !

Almada, Dez. de 1952.

In Manus Tuas Depois do dia sei que vem a noite, e depois da noite sei que vem o dia. Depois da vida sei que vem a morte, e depois da morte . . . não sei se virá a Vida,


Pe. António Rodrigues Rebola (R. Rebola)

Nasceu na freguesia da Ponta do Sol, a 6 de Janeiro de 1934. É filho de Francisco Rodrigues Rebola e de D. Maria Rodrigues Macedo. Seminário Diocesano desta cidade e foi ordenado de Presbitero, a 15 de Ago to de 1959, tendo celebrado a sua Missa Nova, na Igreja Paroquial da Ponta do Sol, no dia seguinte ao da sua ordenação. É, actualmente, Coadjutor da freguesia de São Roque, do Funchal. Colaborou n' *O Jornal da Madeira*. donde reproduzimos os seguintes versos:

Noite de paz Glória a Deus, paz, alegria. Despontou por fim o dia, Da graça e do perdão: A terra baixou o céu! Glória ao Verbo que desceu. Duma feliz Redenção. Aleluia, glória ao Senhor Rei dos céus, Mil vezes bendito Jesus Nosso Deus..

Por soberba e por vaidade.

-Filhas negras da maldade O homem a Deus perdera; Mas um arroubo de amor, Nasce Jesus Redentor, Arauto da nova era.

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Divina1 aurora. de graça inaudita ! Cristãos alegrai-vos, grande é a vossa dita. Outra luz no céu fulgura, Desfazendo a treva escura, Espargindo paz e bem : Esse luzeiro divino, É o Verbo feito Menino, Do presépio de Belém. Mistério sublime ! Jesus por amor. Libertando o mundo pobre e pecador.


O Inferno enfurecido, Solta raivoso rugido, Contra o bem da humanidade: -Jesus Deus fez-se criança, E p'ra os homens surge a esperança, Da feliz Eternidade. Celeste epopeia da humildade tanta. Que a todos enleva, maravilha. encanta Sobre a terra pecadora. Cai uma paz salvadora, Rica de graça e de luz. Santa paz, doce harmonia! Tocam sinos de alegria, Em Belém nasceu Jesus. Salve o feliz dia risonho e brilhante! Cristãos alegrai-vos, nasceu Deus Infante.

A minha Mãe A minha querida Mãe Cantá-la sempre desejo. Chamar-lhe Santa também, Beijá-la quando eu a vejo. Porventura existe alguém Que não tivesse o ensejo De sorrir a sua mãe, Abraçá-la e dar-lhe um beijo? Essa mulher que eu adoro, E ao vê-la chorar, eu choro, E p'ra mim o maior bem.

Essa santa que eu venero, E amá-la p'ra sempre quero, E' a minha querida mãe. Ponta do Sol, 2959


Mário Lucrécio Correia (Mário Lucrécio) 1934

Nasceu na Freguesia de São Gonçalo. desta cidade, a 27 de Março de 1934. É filho de Mário João Correia e D. Carolina de Andrade Correia e irmão da Professora, D. Maria Inês Correia. Concluíu o curso liceal, no Liceu do Funchal, em 1953 e matriculou-se, em 1954, na uuniversidade de Coimbrao, onde concluiu o Curso de Preparatórios de Engenharia. É, actualmente, aluno estagiário da Faculdade de Engenharia da auniversidade do Portoo. Publicou os seus primeirús trabalhos literários, quando contava quatorze anos de idade, nos jornais e revistas locais, nomeadamente na uPágina dos Estudantes*, do *Jornal da Madeira*, sob a rubrica de Mário Lucrécio.

Bela e serena Bela e Serena te vi eu um dia, no olhar sorria a tristeza amena da face rosada. Teu olhar incerto procura bem perto a visão amada. A serenidade do teu meigo olhar, buscava ditar alguma saudade. Lasso. inocente, nem mau, nem ingrato, sòmente insensato, vago, descontente. . . Como ele era triste! e quão sonhador ! . . . Faltando amor tudo nele existe ! No meu quis pousar e inebriante poude, num instante, seu amor ditar.


Bela e serena te vi eu um dia, no olhar sorria a tristeza amena da face mimada. Leda, engraçada. te vi eu, morena.


Fernando Alberto Jasmins Pereira Rodrigues (Fernando Jasmins Pereira) 1934

Nasceu na freguesia da Sé, concelho do Funchal, a 15 de Novembro de 1934. E' filho de Miguel Tomás Rodrigues e de D. Maria Guiomar Jasmins Nunes Pereira Rodrigues. Cursou o Liceu de *Jaime Moniz*, desta cidade, de 1944 a 1951, e a Faculdade de Letras da ullniversidade de Coimbra~,onde concluíu o curso de Histórico-Filosóficos, em Julho de 1957. Foi um dos Directores da revista .Presenteo, órgão do Centro n . O 3 da uMocidade Portuguesan. Colaborou nesta revista, na uPágina dos Estudantes*, do ufornal da Madeira*, e na revísta uEstudosu, órgão do C. A. D. C. etc. Foi premiado, com menção Honrosa*, no Concurso literário, *Chama de Maion, em 1952, pela sua obra, #A Juventude e a continuação da obra do ressurgimento nacional*. Além de outros trabalhos, tem um livro de versos, inédito, intitulado, uCaisn, donde reproduzimos o seguinte poema: L

Impressionismo Aquela rapariga De cabelo enrolado Um pouco acima da nuca E pele espelhada que reflecte as cores, Tem um ar De desconhecida já vista muitas vezes.

Um dia Trazia um casaco vermelho, E o seu rosto Era da cor do casaco que vestia; Outro dia Em que trazia U m lenço verde em volta do pescoço, O seu rosto tinha o tom Risonho e moço Do lengo que trazia.

A tal rapariga Da pele rosada espelhada Em que se miram as cores Dos vestidos que trás, E' apenas uma desconhecida Que já vi muitas vezes E todavia gostava de a conhecer.


Ciríaco de Sousa

Nasceu na Madeira, em data que desconhecemos. Frequentou o Liceu de ((Jaime Monizn. desta cidade e colaborou na uPágina dos Estudantes*, do ufornal da Madeiran, em 1953, donde reproduzimos os seguintes versos:

Vais tão linda, morenita Vais tão linda, morenita, No teu andar descuidado, No teu vestido de chita, No teu casaco encarnado ! No cabelo duas tranças, Em cada trança uma fita, No olhar, quantas esperanças ? Vais tão linda, morenita ! No teu sorriso tão breve, Onde a ventura se agita, E no teu passito leve, Vais tão linda, morenita ! No teu andar descuidado, No teu vestido de chita, No teu casaco encarnado, Vais tão linda. morenita !

A vergonha Acordei extenuado Por sonhar coisa medonha. Andava já cansado, De todo em todo em cuidado, A procura da vergonha.

E vendo a minha tortura, Disse alguém que me seguia: Até parece loucura. Andar assim à procura Da vergonha, hoje em dia.

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Lembras-te Lembras-te, meu amor, Daqueles sonhos há anos, Eram tão lindos.. . E eram tantos. . . tantos, Quantos são hoje os enganos. Lembras-te, meu amor, Das palavras que dissemos? Eram tão lindas.. . E eram tantas.. . tantas, Como os sonhos que tivemos.

E hoje? Os mesmos sonhos As mesmas coisas que falamos.. . Mas, repara, meu amor, Que tudo mudou E só nós não mudamos. . . Continuamos sonhando. . . Amando., . E como se o futuro Fosse uma esp'rança vã, Continuamos vivendo E fazendo De cada engano de hoje, Mais um sonho p'ra amanhã.


Duarte Manuel Pita Ferreira 1936

Nasceu na vila da Ponta do Sol, a 31 de Maio de 1936. É filho do Escrivão Manuel Agostinho Ferreira e de D. Guiomar de Freitas Pita Ferreira. Matriculou-se no .#Liceu Nacional do Funchaln. cujo curso concluiu em 1954 e cursa o 4.0 ano da Faculdade de Direito da uuniversidade de Lisboa~. É Alferes Miliciano. prestando serviço no Ministério do Ultramar. Eis uns versos da sua autoria, compostos quando era Luzito, da rMocidade Portuguesa~e insertos na revista escolar, upresenten.

A Minha Terra A minha terra é a Madeira, Terra do meu ideal. Por ela mostro a canceira, E' minha terra natal. Vivo cá desde criança, Digo com satisfação. Jámais me sai da lembrança, Terra do meu coração.

O povo da minha terra. É povo trabalhador, Que no seu bom peito encerra Pela terra muito amor


Maria Manuela Pereira (Maria Manuela) 1936

Nasceu no Funchal, a 31 de Outubro de 1936. É filha de António Augusto Pereira e de D. Virginia Gomes Teixeira Pereira. Matriculou-se no *Liceu Nacional do Funchaln e, depois na *Escola do Magistério Primárion, onde concluíu o respectivo curso. Foi laureada, com uma Mensão Honrosa, nos Jogos Florais da Madeira, promovidos pelo 4Ateneu Comercial do Funchaln, em 1959-1960, na modalidade Poemeto alegórico a Madeira, cuji composição assinada com o pseudónimo de Nelma, abaixo reproduzimos. Colaborou no semanário gVoz da Madeira$, assinando os seus trabalhos com as rúbricas de Manuela Pereira e Maria Manueía

A Madeira Do azul, A terra desce aos saltos Até perder-se na espuma branca De outro azul. . . . . . E um mar vèlhinho, Lá no fundo, Embala com carinho O seu pequeno mundo.. . -Madeira ! um poema de cores Feito de mar, de árvores e flores. . . Do alto de cada monte, Sempre o azul do horizonte. . . -Que e isto?. . . (Ouço cantar. . .) Sim, são cânticos ao Senhor, Lá, duma igreja Rentinha ao mar. . .

. . .E além, na encosta, Uma outra alveja.

De lá também, Com a voz do vento, Sobe um louvor.. . Hoje é domingo. . . Estão na missa.. . -Não!

Aqui, todos os dias são udomingo!~


Domingo para os olhos, para a alma. Domingo. nesses abismos de verdura, Paz e ternura Que a fé acalma! Domingo ao longe -nesses penedos Que apontam. mudos, Uma maravilha ! Nessas cascatas d e vinhedos, Na cor De cada flor Que borda a ilha, Senhor ! Domingo. sempre domingo !

-

. . . No silêncio das alturas, NO mar, nos céus, Em tudo. Só uma voz: a de Deus!


Maria Teresa Vieira da Luz Varela (Maria Teresa Varela) 1937

Nasceu na freguesia da Ponta do Sol, a 16 de Fevereiro de 1937. É filha' do Dr. Virgilio Varela, antigo Presidente da Câmara Municipal da Ponta do Sol, e de D. Henriqueta Cândida Vieira da Luz Varela e prima da Poetisa Angela Maria Varela Miranda Rodrigues. Cursou o uliceu Nacional do Funchaln, onde concluíu o 2.0 ciclo liceal e curso do Magistério Primário. Foi Professora de Instrução Primária, oficial, na Ponta do Sol. Dedica-se a Literatura, tendo sido há anos laureada num Concurso Literário da *Mocidade Portuguesar. Colaborou, em prosa e verso, na *Página dos Estudanteso, do jornal da Madeira*, na <Voz da Madeiran, etc. e tem um livro de poesias, ainda inédito e um conto, na Colecção *Contistas Madeirenses*, a publicar no uEco do Funchal*.

Tenho sede O' Senhor, porque tenho esta sede Que sinto que me mata e me devora?! Há em mim um tal fogo. senão vêde Que vou tendo mais febre, d'hora a hora.

Há águas p'las fontes. Tenho sede! Há águas na nascente. Ela chora ! E eu numa brasa ardente, tenho sede! Tenho febre que aumenta d'hora a hora. Eu qu'ria que dissesses, 6 Senhor, Como apagar a lava que me queima ! ? Eu sei que podes. Mata esta dor ! Mata-me Senhor, ó por piedade, Minha chama, com tua ardente chama! E deixa embriagar-me a F'licidade.

Anseio Eu queria gritar ao mundo Que se calasse, E me deixasse Ouvir o meu silêncio ! Eu queria gritar ao mar Que se acalmasse, E deixasse Adormecer minha tormenta !


Eu queria gritar Às águas dos montes. Às fontes Que nio mais chorassem, E me deixassem Só, no meu chorar!

Eu queria gritar Às avezinhas negras. Os sonhos negros Que eu já tive. E vê-las tombar A meus pés compadecidas: Rendidas A minha mágoa.

Eu queria gritar Aos sorrisos que me cercam, Que não posso aguentar mais. E que me alentem! Eu queria gritar. gritar ! Até que surgisse alguém Cheio de luz, Que me beijasse, P'ra me calar.


Manuela José Velosa de Freitas 1937

Nasceu na freguesia de Santa Luzia. desta cidade, a 11 de Abril de 1937. É filha de Manuel Maria de Freitas e de D. Deolinda Velosa de Freitas. Matriculou-se no liceu Nacional do Funchal*. em 1949, tendo-o frequentado até O 5.0 ano. Foi funcionária da Câmara Municipal do Funchal e dos Correios e Telégrafos do Funchal. Tem um livro de versos. ainda inédito, intitulado, usetestrelon, donde reproduzimos os seguintes poemas :

O rochedo e o mar O mar, em. renda de espuma Beija o rochedo a cantar. . . E' porque ele assim costuma Com suas ondas brincar. Nasce o Sol. Já o rochedo Se tinge com a sua luz. Logo o mar, num arremedo, Num beijo assim nos traduz:

-Bom dia, meu companheiro. Ficas outro neste alvor i A noite, és um feiticeiro Que me inunda de terror.. .

Vaidoso da luz solar, O rochedo então sorrindo, Recebe o abraço do mar, Seus braços duros abrindo. . . Toda a noite, todo o dia, C ) rochedo olha para o mar... E parece fantasia Quando se banha ao luar!. . .

Luar da Ilha Lua, Magestosa e bela. Espalhas a tua claridade Pelas ruas e vielas Desta Ilha da saudade!


Lua Espelhas-te Por sobre as águas do mar, E em teus braqos acolhes, Carinhoso, Um ou outro par ! . . . Os píncaros dos montes Ficam luzentes, Deslumbrados. . . Os atalhos e as fontes, Contigo, Ficam iluminados . . .

O mar, Sereno e calmo, Fica cheio de vaidade . . . Já não é escuro e triste Com a tua claridade.. .

A tua luz encerra Um mixto de alvura E candor . . . Lua, O mar e a serra, Fazem um romance Dc amor! ,. . És o Sol da noite, Das almas o ideal! És uma deusa maviosa, Beijando a Ilha, Num beijo divina1! . . .


Rita Daniela Pontes Mota (Rita Daniela) (1937)

Nasceu na freguesia de São Gonçalo, a 23 de Maio de 1937. É filha de Gabriel T. da Mota e de D. Maria Lourdes Pontes Mota. Cursou o 4Liceu Nacional do Funchal*, de 1949 a 1955. Foi funcionária da Estação dos Correios e Telégrafos do Funchal, tendo transitad o para a Estação dos C. T. T. da Ponta do Sol, em Janeiro de 1958. Encontra-se, actualmente. n o estrangeiro. E' uma nove1 poetisa, de merecimento. Nos seus versos transparece a influência do estro de Florbela Espanca. Aprecia, no seu dizer, ua poesia quando ela está impregnada da alma das coisas e das pessoas, quando do seu todo ressalta limpidez. clareza e profundidade que acho indispensável num poema*. Colaborou no uComércio do Funchaln, desde 1957. donde reproduzimos os seguintes sonetos :

Quimera Quem me dera esquecer. ó quem me dera ! Esse sonho que o mundo arrebatou E quáo feliz seria se pudera Fazê-lo renascer do que findou. Sonhei-o toda uma Primavera Risonho e forte a vida o traqou, Crescem na ilusão de quem espera. Do pó se ergueu, e . . . nele se afundou ! Eu já não sou a mesma que antes era, Meu peito já da vida se ausentou, Reconhecer-me agora náo pudera Alguém que noutro tempo me olhou. Eu, hoje, sou apenas a quimera Do sonho que consigo me levou.

Tempestade Ouço rugir ao longe a Tempestade

E a Terra que ao Céu ergue seu clamor, Repete em ecos vindos de outra Idade. As vozes do Gigante Adamartor.


Diz-me se é de Dor ou de maldade, Que aumenta a cada instante teu furor!? Se é de Dor escuta a caridade! Se é de maldade atende a voz do Amor! Também eu sofro, e vês, não me lamento!? Apenas é mais triste meu olhar E a saudade preenche meu tormento. Mas mesmo assim eu sinto teu pesar Ao ver o mundo envolto em esquecimento Do Deus que quis morrer para Salvar.

Nostalgia Sinto vibrar em mim a nostalgia Daquilo que não fui, e quero ser. Da vida sem perfumes nem magia Que já vivi tão longe do meu querer. Desses loucos castelos de alegria Que um a um foi vendo perecer. Desse choro tão triste e que se ria Desta minha alma ardente e a morrer. Sinto vibrar em mim uma saudade Daquilo que eu anseio possuir, Umas asas de estranha claridade

Que saibam ensinar-me o que é sorrir, Me conduzam feliz à eternidade E me dêm Esperança no porvir.


Edgar Reinaldo de Sousa Gonçalves Preto (Preto & Branco Júnior)

1937

Nasceu na freguesia de São Pedro, desta cidade, a 28 de Noyembro de 1937. É filho do Poeta e Jornalista Pedro Gonçalves Preto, Director do tri-mensário, uRe-nhau-nhau9, e de D. Maria Aurora de Sousa Gonçalves Preto e neto do Dr. Francisco Mendes Gonçalves de Freitas Preto. Cursou o uliceu Nacional do Funchaln. de 1946 a 1951 e colaborou. quando estudante liceal na revista apresente>, órgão da uMocidade portuguesa^ e colabora, presentemente no tri-mensário uRe-nhau-nhaun, usando, por vezes o pseudónimo de Preto e Bronco Júnior. Vejamos uma amostra do seu estro poético: Meus olhos não conheciam, Antes de ver-te, a beleza. Meu coração não sentia, Antes de ver-te, o amor. E as minhas mãos não faziam Antes de ver-te, poesia. Antes de ver-te, a alegriaEra para mim, só tristeza. E os versos que eu escrevia Eram vasios de cor. Faltavam-lhes a harmonia Que me inspira o teu amor, E minhas mãos não sabiam Que há uma poesia melhor, Mais constante, mais real, E mais estranha também: i\ poesia do amor.


Pe. Sidónio Gomes Peixe (S. G. P.)

Nasceu na freguesia da Fajá da Ovelha. em data que desconhecemos. É filho de Manuel Gomes Peixe e de D. Maria Fernandes Gomes Peixe. Cursou o Seminário Diocesano desta cidade e recebeu ordens de Presbítero, pelo Bispo do Funchal D. David de Sousa. na Sé Catedral, a 15 de Agosto de 1960. tendo celebrado a sua Missa Nova. na Igreja Paroquial da Fajã da Ovelha, a 16 de Agosto de 1960. Colaborou no <Jornal da Madeira*.

Jesus e Maria MOTE :

A sombra duma palmeira, Jesus Menino dormia. Num bercinho de Madeira, Junto da Virgem Maria.

GLOSA : O vento corria brando Naquela tarde fagueira. Em que a Virgem ia fiando, A sombra duma palmeira. Cantando, as aves pousavam Lá no bercinho. à porfia. E, enquanto elas trinavam, Jesus Menino dormia. Era um encanto sem par Ver a linda fiandeira O seu Menino embalar Num bercinho de madeira.

E era um quadro tão lindo, TSO cheio de poesia. Ver o Menino dormindo, Junto da Virgem Maria.


Irene Lucilia Mendes de Andrade (Ilma) 1938

Nasceu na freguesia de Santo António do Funchal, a 6 de Fevereiro de 1938. É filha de Cirilo Eduardo de Andrade e de D. Maria Lucília Mendes de Andrade; sobrinha de Fernando Portugal Mendes e prima do Aspirante a Oficial, José Alberto Reynoldes Mendes. Frequentou o <<Liceu Nacional do Funchal~, onde concluiu o 6.0 ano, e cursa, actualmente. a <Academia de Música e Belas Artes da Madeiran (Secção de Música) e é Locutora do «Posto de Radiodifusão do Funchaln. Dedica-se a poesia, ao canto e ao teatro, sendo autora da letra do fado, @Amorde pai*, que foi gravado em disco e cantado pela cantadeira Cristina Fernandes. E considerada como uma das melhores Poetisas Madeirenses da actualidade. Usa nos seus escritos o pseudónimo de l h a , palavra composta com as iniciais do seu nome. Colaborou na revista «Presente$ e Mare Nostruma e nos jornais @VOZda Madeira*. uEco do Funchaln e «Jornal da Madeirao.

Na sombra Sombra que a noite trouxe ao meu caminho, Companheira da minha soledade. Se alguma vez, em horas de saudade, Bateres ao coraqão devagarinho, Verás ser recebida com carinho Tua presença escura de ansiedade; E saberás que em horas de saudade Gosto de ver a noite em meu caminho.

-

Olhá-la bem de frente a escuridão, Onde se ocultam forma, cor e luz, Contem todo o mistério do Infinito. . . É pressentir a voz da solidão; A doce luz d o dia que há-de vir, A própria vida a ressurgir num grito ! . . .

Ecos Trago dentro do peito. acautelado. Um livro sempre aberto a meu contento Onde encontrei, já quase desbotado, Um capítulo vasto -o sentimento.


Mas p'ra que o tempo em seu furor alado Não descobrisse a letra sem alento, Eu despredi-lhe as folhas, com cuidado. Depois deixei-o esvoaçar ao vento.. . Por isso a noite. enquanto a lua dorme E a noite apenas é uma massa informe Pondo sombras no mar e medo em nós, Quedo-me atenta e surpreendida quando Escuto ao longe a aragem murmurando E reconhego a minha própria voz. Inédito.

A esfinge No areal distante ressequido Recorda a esfinge o tempo que findou, Erguendo à luz seu vulto dolorido, Final de glória extinta que passou. Recorda. E o seu èorpo empedrenido Sob o poder febril que a dor deixou, Sente vibrar, num arroubo apetecido. Tudo b que a dura morte arrebatou. Sente vibrar os golpes das espadas Do mouro herói das eras afastadas Que estiolou na sombra de desgosto. Imagens que se esboçam no ausente, Saudades que revivem tristemente Na etéria nostalgia do sol posto. Inédito.


Angela Maria Varela Miranda Rodrigues (Angela

Varela Rodrigues)

Nasceu na freguesia da Camacha, a 8 de Dezembro de 1938. É filha do Dr. João Miranda Rodrigues, médico Municipal, em Sto. António, e de D. Ligia Angela Varela Rodrigues e prima da poetisa Malia Tereza Varela. Matriculou-se no *-LiceuNacional do Funchal~,em 1949 e cursa a Faculdade de

Letras da *Universidade de Coimbra~. Colaborou na página dos Estudantes*. do 4Jornal da Madeira* e na #Voz da Madeira*.

Saudade Chuva, e escuridão, sombrio rosto, Ruas escuras, desertas, alagadas, Gente nos umbrais molhados, olhos frios, Som de businas nas curvas do caminho. Patinar de carros apressados, Frio, desconforto, insipidez ! Onde estás, minhas lembrança, Minha alegria, minha entrada De sol, de luz, de encantos, Feito de incerteza, de suspiros, de sonho, De palpitações rítmicas do meu ser. Feita de escumas, de ilusões, de enlevos, De belezas mais belas que o sol posto, Por onde eu passava mansamente E sentia no rosto uma carícia Da brisa fresca, do luar de Agosto. . . ? Tudo passou.. . passou, e no passado Se encerra em cofre de vagos desejos.. . S6 eu fiquei.. . e oa chuva. Na escuridão, no desconforto. Sinto bater no peito, com saudade, Este meu triste e frio coração.. .

O despertar do sonho Música ! Queria vi ver em música, Estremecer por entre frémitos musicais, Sonhar, sofrer e subir em harmoniosa estrada.


Ao palácio encantado nas núvens. Donde caem em rosas as chuvas, Embaladas em notas melodiais ! . . . Música ! Queria viver em música. Esquecer-me de que no mundo há frio, De que há lareiras apagadas, Farrapos ondulando aos ventos E corações que não têm sentimentos.. . Mas. . . De ti apenas ficou o soluço melancolico Do violino, O eco, o bálsamo doloroso das notas Do piano A ressoar por montes e valados. A repercutir-se por todos os lados E a desfazer em mil pedagos Os cristais do meu palácio. . .

Música ! Sonho ! Ilusão perdida ! . . . Há taotas lareiras apagadas, Farrapos ondulando aos ventos, Corações que não têm sentimentos Na vida!. . .


José Alberto Reynolds Mendes (Reynolds) 1939.

Nasceu na freguesia da Sé, desta cidade, a 9 de Abril de 1939. E filho de João Gregório Mendes e de D. Cândida Assunqão Reynolds Mendes e sobrinho de Fernando Portugal Mendes e primo da Poetisa Irene Lucilia Mendes de Andrade (Ilma). E Aspirante a Oficial. Concluido o curso Complementar dos Liceus, em 1957, no uliceu Nacional do Funchalr ingressou, nesse mesmo ano, na uEscola do Exército*, actual uAcademia Militar*, onde frequentou o curso da Arma de Infantaria.. curso que concluiu, com brilhantes notas, em Outubro de 1960. Dedica-se aos Desportos Náuticos (Vela), tendo já conquistado alguns troféus. Colaborou na uPágina dos Estudantesn, d o ufornal da Madeira* e na Página ~ T o r res Erguendo*, do &Diáriode Noticias*. Assina as suas composições literárias com a rubrica de Reynolds e a letra Y.

Rompimento Quando passeava alegre, sorridente, Julgando ser a mim que certo amavas, E passaste a meu lado, indiferente, Ao lado por que antes suspiravas, Não me contive; e numa ânsia fremente, N o peito enfermo um coração em brasas. Em minha face o olhar vago, demente, Tentei saber se tu me renunciavas.

Com a alma repleta de esperanças, Lembrei-te nossos tempos d e crianças, E os desejos que a nós foram razões. Mas não te comoveu esse passadoE agora, quando passas a meu lado, És para mim um calix de ilusões. Novembro de 1955

Canção do Mar Contemplo-te muito, oh mar ! Não o sabes? Mas é assim ! E tenho a ilusão, oh mar! Que, às vezes. chamas por mim.. .


Ilusão ? Realidade ? ! Que será ? Não sei ! Enfim; Eu não te vendo, a saudade Flutua dentro de mim. De tanto te olhar, oh mar! Não tens segredos p'ra mim ! Não é verdade, oh mar! Oh ! Mar ! não será assim ? Nessa paisagem que enleva, Nesse ambiente que apraz, Nas velas que o vento leva, Nas ondas que o vento traz. Quanto mistério se encerra, Quanta amargura se faz: Saudades que o vento leva, Soluços que o vento traz! ! !

Novembro, 1955


Vasco Faustino Garcês de Atouguia (Vasco de Atouguia)

Nasceu na Madeira, a 30 de Junho de 1939. É filho do comerciante e proprietário, no Porto da Cruz, Vasco Vera Cruz de

Atouguia, correspondente de e 0 Jornal da Madeira*. e de D.Vitória de Saavedra Garcês de Atouguia e irmão do Dr. Jorge Filipe Garcês de Atouguia e primo do P.e Fernando Aguedo de Oliveira, Pároco da freguesia do Santo da Serra. Frequentou o Seminário desta cidede, transitando, depois. para o *Liceu Nacional do Funchab, onde concluiu o respectivo curso. Frequenta, actualmente. a ullniversidade de Coimbra~. Quando aluno de filosofia do Seminário Diocesano do Funchal, recitou a seguinte poesia. da sua autoria, na Academia em honra de Sto. Tomáz do Aquino, realizada no Salão Nobre do *Seminário da Eocarna~ãore publicada no *Jornal da Madeira*, de 10 de Março de 1954.

Mensagem de Sto. Tomás Um estandarte branco. alveja tremulante Do castelo da luz, na torre de menagem E ao centro da bandeira, em oiro fulgurante Rebrilha uma inscri~ão-Celestial mensagem ! Nesse pendão de paz-guia do caminheiro Duas palavras só flamejam resplendentesAmor e luz-tais são os nomes do letreiro Que São Tomás gravou com lume dos poentes.

Há sete Séculos Que tal pendão Derrama luz Na escuridão.

E um poema de amor Incendiou o mundo E derramou fulgor No mar e céu profundo. Lá vai passando o tempo em constante rodar

E a luzente inscrição brilha com mais fulgor, Vai apagando a treva qual nascente luar, E aponta a senda ingrata do pobre viajor.


Mensagem de paz ! Mensagem dos céus! Escrita na terra, Por ordem de Deus. Mensagem da amor! Mensagem de luz! Lavrada i30 mundo, A sombra da cruz. Soberbos coriféus do erro e da maldade Abriram negro véu para ofuscar o brilho Que difunde, em redor. a flama da verdade: Queriam ensinar ao mundo um novo trjlho. Mas a luz imortal da torre iluminada Norteando o olhar, guiou os passos seus: Qual brilhante farol, indicou-1hes a estrada Que nos conduz à paz, que nos transporta aos céus. Na epopeia da luz Cada flama é uma estância Que em sua fulgurância Faz cintilar a Verdade.

E o facho que tremeluz Acende n o s corações Dominando as paixões Braseiros da Caridade.

E agora, que no mundo é densa a-treva escura E o homem se debate em anelos de paz. Despedaça os grilhões, liberta-o da amargura, Aponta-lhe o caminho, 6 grande S. Tomás. Aos náufragos do mal, da pátria transviados Guia seu rumo à luz, a caridade ardente E apregoa ao mundo, em clamorosos brados Que da Verdade o sol, nunca terá poente.. .


Maria Angela Moreira de Caires Fernandes (Sofia Madeira) 1939 Nasceu nesta cidade, a 31 de Agosto de 1939. É filha de José Jacinto de Caires. Professor de Inglês e Jornalista, e de D. Maria Teresa Moreira de Caires. Matriculou-se na Escola Primaria. em 1945. tendo concluido este curso, em 1949. Em 1951. matriculou-se na Escola Industrial e Comercial de uAntónio Augusto de Aguiarr, desta cidade. tendo concluido o curso geral de Comércio, em 1956 e obtido o primeiro prémio deste estabelecimento de ensino. Publicou o seu primeiro conto. intulado *Primavera e Outonon, no jornal da *Mocidade Portuguesas, #Alvorada%,em 1955, tendo neste mesmo ano obtido o 2.0 Prémio num Concurso de contos infantis. organizado pela revista ulusitas*. da Capital. Publicou, também. diversos contos, na @Vozda Madeira*, *Jornal da Madeiras, %Ecodo Funchal* e no *Diário Ilustxado~.de Lisboa. Usa nos seus escritos o pseudónimo de Sofia Madeira. Enviou para o Concurso de Novelas Policiais, organizado, em Lisboa, pela *Agência Portuguesa de Revistas*, uma novela. intitulada, uO Segundo Homemn, que foi distinguida com o 1.0 Prémio (2.500$00). em Setembro de 1957, e publicada em volume, na ~ColecçáoNegra*, da Agência Portuguesa de Revistas, em 1957. Em 1960 foi. também, distinguida com o 1.0 Prémio, na modalidade Conto, nos Jogos Florais da Costa do Sol e do eAteneu Comercial do Funchaln. Tem mais três obras ainda inéditas, intituladas: uYolandan, romance, *Madrugada Cinzentas, género policial, escritas para a Agência Portuguesa de Revistas e o 4 0 Mistério do Leque Chinezr, novela policial radiofónica. Eis o primeiro soneto da sua autoria, intitulado;

Desprendimento Não fales! O passado não importa.. . Olha para mim; sou feliz agora ! Nem recordo esse amor -afeição morta Que morre em cada dia e a cada hora.. . Porque hás-de mendigar minha porta, Se minha alma. por ti, nunca mais chora E não volta a fingir que te suporta Ou a mentir, dizendo que te adora.. . ?! ~ N P há O nada mais morto que o amor morto!* Sou como um marinheiro: em cada porto Pressinto que me espera um novo amor.. . Náo me fales em dores já passadas Que agora, para mim, são pontos. nadas, Pois vivo, hoje, outro sonho bem maior ! . . .


António Manuel de Sousa Rocha ?

Nasceu na Madeira. em data que desconhecemos. É conhecido pela alcunha de, o Batata. Quando. como soldado, partiu para a India Portuguesa, incorporado no batalhão uVasco da Gama*, que foi prestar serviço naquela parcela do Impèrio Português. compôs. durante a viagem, a uMarcha do Soldado Madeirensen. que foi musicada pelo Furrief, Mesquita Spranger, e publicada no Semanário uVoz da Madeira*, em 6 de Novembro de 1954.

Marcha do soldado madeirense Vamos todos para a India. Mas temos fé em voltar. Se tivermos um combate Temos alguém a rezar. . . Viva a Ilha da Madeira, Rapazes todos valentes E que dão a vida inteira Sempre alegres e contentes.

CORO

Oh ! Madeirenst) DefLrde bem o teu lugdr. Para mais tarde Regressures ao teu lar. (bis)

Nós larp~mosda Madeira, Cantando com altivea, P'ra mostrar a nossa força. -A alma dum portugu6s. O Slina Cohtafttaitel É 6 dodlo pfotectot. O soldado madcirènsa, Vai aonde a Pátria for.. .

Oh ! Madeirenses, etc.

Nós vamos todos juntos; O Infante à Pátria chama,


Para podermos honrar O batalhão uVasco da Gama*, Vamos percorrer o mundo Com uma fé sem igual. Sòmente p'ra defender A Bandeira Nacional.

CORO Oh ! Madeirenses, etc.

O soldado madeirense É português cem por cento. Quer voltar ii sua casa E dá todo o seu alento. Mas disso teoho a certeza, Sendo capaz de afirndar Que o comando Que nos trouxe, Há-de tornar a voltat.

CORO Oli ! Madeiienses, etc.


José Martins Júnior 1939

Nasceu na vila de Machico, a 16 de Novembro de 1939. É filho de José Martins e de D. Maria dos Anjos Calaça. É aluno do 3.0 ano de Teologia do +Seminário de Nossa Senhora de Fátima* (Seminário Maior*. Dedica-se i poesia, assinando algumas composições poéticas com a letra M. Colaborou no ujornal da Madeira, donde reproduzimos o seguinte soneto:

Vêm, Senhor O meu Natal! . . . Natal dum mundo em pranto. Em Ansias lacrimais da luz do dia ! Quanto peito a sangrar de sede.. . ai quanto! Farrapos de almas, sempre em agonia.. . Oiço em minha alma, a lúgubre elegia,

Os troncos sepulcrais dum Campo Santo. Ai fome ! . . . Vida ! . . . Paz ! . . . Mais alegria ! . . .D Chagas de fel, gritando em cada canto.

De olhos a arder em braza, o corpo exangue, As almas choram lágrimas de sangue, Que acendem rumos de oiro p'ra o Além. -Vem, Senhor, vem.. . que o mundo estala e grita ! Apaga a, sede trágica, infinita E abre em cada alma a gruta de Belém !


Aida Maria de Brito Figueiroa Góis (Aida de Brito ~ ó i s )

Nasceu na freguesia de Machico, a 5 de Janeiro de 1941. É filha de José Teixeira Góis e de D. Maria Isabel Oldegária Brito Figueiroa Góis. É estudante do Curso Secundário.

Afecto Era ainda uma criança Quando o amor a despertou : E no seu peito, uma esp'rança, Inda em botão, aflorou ; Cresceu. Abriu em sorriso. Numa rajada, tombou ! Tombou, mas foi Paraíso Nas horas em que raiou! Por quatro vezes floriu. Por quatro vezes murchou ! Mas a Essência que emitiu Em santo escrínio guardou ! Hoje, recorda. saudosa, Esse Amor e os seus desejos. . A hora cruel, lastimosa, Da recusa dos seus beijos! E como estrela cadente A despen har-se no Espaço. .. Anda a sua Alma inocente, A mendigar-lhe um abraço ! Inédito .

.


Irene Mendonça Freitas ?

Nasceu na Madeira, em data que desconhecemos. Embora seja nossa contemporânea. não conseguimos obter os seus dados biográficos. Colaborou na ePágina dos Estudantes do Jornal da Madeira*, donde reproduzimos o seguinte poema:

Folhas de Outono Folhas de Outono ! Folhas mortas Que andais correndo a rodopiar. Folhas de ouro ! Bateis as portas Como mendigos a mendigar. . . Folhas sem cor ! Tão ressequidas Pareceis de ouro p'la estrada além. Já fostes verdes ! . . . Folhas caídas E quem vos olha ? Ninguém.. . ninguém ! Folhas tão feias !E quio bonitas Me pareceis . . . Também já vi desiludidas Almas sem sonhos Que verdades cruéis ir aram a seiva das próprias vidas.. . Folhas de Outono ! Desesperadas Sede confiantes. voai c'os ventos E espalhai pelas portadas Feliddades puras, sem tormentos. Voai serenas com o ar do Céu E não vos atormentem dúvidas atrozes. Sêde humildes, e sem escarcéu Deixai gravadas as vossas vozes E que tragam calma. pujanqa, amor, Que tragam sonhos a quem os perdeu. Que tragam alívio a cada sofredor, Que indiquem o Caminho do Céu.


Maria Manuela Drumond Araújo de Abreu (Marinela) 1941

Nasceu na freguesia do Socorro, em Lisboa, a 3 de Maio de 1941. É filha do comerciante Fernando Sancho de Abreu e da Professora liceal, Dra. D. Lília Drumond de Abreu. Como é filha de Madeirenses e veio para a Madeira, em verdes anos, achamos ser de justiça, incluí-la neste Espicilégio. Frequentou o *Colégio da Apresentação de Maria*, transitando, 'depois, para o (tLiceu Nacional do Funchab, onde concluíu o 7.0 ano de Letras, em 1960. Dedica-se à poesia, assinando as suas composições poéticas com o pseud6nimo de ,Marinela. Foi laureada com o 2.0 Prémio. num Concurso Literário. promovido pela uPágina dos Estudantesn, do @Jornalda Madeira*, em 1958, pelo seu interessante soneto, ~Castelos de Sonho*, assinado com a rubrica de Manuela. Colaborou na *Página dos Estudantes*, do #Jornal da Madeira*. donde reproduzimos o seguinte soneto:

Cinzas Eu vou chorando pela vida fora! Chorando o nosso amor, que já morreu, esse amor que era meu e era teu e do qual já só cinza resta agora. Cinzas esparsas que o vento juntou, afastando-as de ti, ripidamente, e que vendo a minha'alma. docemente uma cova, lhe abriu, e as sepultou.

E aqui jazem agora no seu peito, as cinzas desse amor que tu juraste. lembrando-me esse sonho já desfeito.

$Umgrande amor ! . . . Uma ilusão tão linda*, aquilo que, amor, tu desprezaste e que aqui na minh'alma guardo ainda !


António José Vieira de Freitas (Terêncio de Carvalho) 1941

Nasceu no sítio da Contenda, freguesia de Gaula, a 29 de Novembro de 1941. É filho de Joáo Vieira de Freitas e de D. Maria Mafalda de Freitas e sobrinho do Pe. Alfredo Vieira de Freitas, Professor do Seminá.io Diocesano do Funchal e Poeta a 5 de Outubro de 1954. de mérito. Matriculou-se no useminário da ~ncarna~ão*. uA sua poesia - disse a Crítica está na linha de Miguel Torga, motivada por um ideal combativo e necessário. As influências de Tazore nos poemas livres, é notória, cheios duma linguagem variada, imbuída dum ritmo embalador e cantante na simbiose musical da forma e do pensamento*. Foi laureado com Mensiio Honrosa, nos Jogos Florais do ~AteneuComercial do Funchal*, de 1960, na modalidade Soneto. Colaborou em viirios jornais do Funchal. nomeadamente no ujornal da Madeira* e *Voz da Madeírah e no diário de Noticias$, do Continente, e revista ~Horizonten.Tem u m livro em preparaçáo, iatitulado, *Poemas que rasguei chorando*.

-

Madeira Fale de ti quem te souber falar.. . (E cante, que eu nãio sei!) Tinha um poema de sol e de luar E das vozes caladas que há no mar.. . -Já o rasguei ! Tinha um poema de urzes e boninas (O diga quem souber !) As estrelas brilhavam peregrinas Mensageiras irissdar e divinas Só a quem ler !

-

Tinha um poema que rasguei chorando.. . (E cante, quem sentir !) Que valem os meus versos todos. quando O mais belo de todos foi rasgado -Por não servir?! O que guardei de ti é uma prece, Madeira-do-Mar, Poema em transparência, lume e ascese, O cante quem por Deus, talvez só esse Possa cantar ! Inédito


Súplica Fazei-me, Senhor, Pincel de tuas maos. Para pintar o céu e o mar, A noite e as estrelas!. . . . . .Um sorriso e uma alma, O amor de mãe, E uns olhos de criança. . . Tudo isto, Senhor, Porque tudo isto é Tua sombra . .. Possa eu deixar

Na tela Mais bela,

O divino beijo. De tuas mãos.. . (Tua mHo escorrendo Sobre a minha, Sempre humana, Mas sempre voltada Para ti !)

Noite O vento ruge em voz de tempeitade, Os montes têm gostos de quem implora; Rangem gonzos de feno e impiedade, E, satânica. a tgeva ri 1%fora.

Mas logo o Céu, desfaz-se em oiro e luz; E que luz! . . . em aaseios de disaricia. O olhar dessa criança e de alma e cniz Calvário feito berço duma infdacia.

-

O vento emudece no Céu profundo.. . Um véu de paz descai por todo o mundo.. . A terra em júbilo e o céu sorriram.. . O Menino sorri. .. já adormece. E a noite negra e vil empalidece, Enquanto, além, mil estrelas abriram. . .


Carlos Maximiliano Alves de Menezes Cabral 1942

Nasceu na freguesia de São Pedro, desta cidade, a 12 de Outubro de 1942. É filho do conhecido amador-teatral, actualmente debuxador de bordados da

Firma uPatrício & Gouveia Sucessores Ldan, desta cidade, Carlos Henriques de Menezes Cabral e de D. Serafina Alves de Menezes Cabtal. Cursa o 3.0 ano da *Escola Prática de Agricultura D. Dinizn, da Paiã, Distrito de Odivelas. Eis uma poesia da sua autoria:

É ao anoitecer.. . É ao anoitecer de muito dia tristonho, que a chuva dança com o vento, ao sou terrível, medonho, do ribombar do trovão.. .

É ao anoitecer, que, com melancolia, começa a dera parecer, a ir-se embora o dia. É ao anoitecer. que, por detrás do monte, OU sobre o aceano, na linha do horizonte, o sol se vai esconder.. .

E i ao anoitecer que a feiticeira lua, Sorrindo de prazer pelo azul flutua ! . . .


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Linha

Onde se lê

ful SOU

mastrar-te Neveau Mirgado Bezi VOS

genro Carvalhal *.Diáriodo Grão Pará,

16 I

I

38 19 12

invocati Eugénia Rego Pereira Pe. Augusto de Menezes Licurco 1926-1927 Juiz Substituto

Carlos Agrela História e Etnografia, Fevereiro de 1893 1895 Março de 18p5 movendo arebol Ca vinda te ama 7 de Julho de 1954

Leia-se

sal seu mostrar-te Noveau Morgado Real voz sogro Canavial *Diário do Grão P a r b e publicou os livros: *Harpa Madeirensev, #Falhas Dispersas, e aReacçHo e Progresso*. invocavi Maria Eugénia Rego Pereira Pe. Rufino Augusto de Menezes Linguro 1923-1927 Juiz Substituto; Professor Metodblico do Liceu de aPedro Nunes; Reitor do Liceu de a Jaime Monizv e Governador Substituto deste Distrito. Carlos Vaz História e Etografia e B *Sociedade Portuguesa de Escritores*. Fevereiro de 1893 e faleceu a 6 de Setembro de 1g60. 19023 Março de 19023 morrendo arrebol Da vinda te amo 7 de Julho de 1934


os seguintes livros: «Miss Dolly na Madeira,, Funchal 1930. Pe. Joaquim Roque Dantes minto singulaa transformam-se inceso lustrada olhos tua flores apreciado Poeta

soprano 19233 por 19233 e de D. Ana Viveiros Seminário Diocesano desta cidade

E' funcionário da Secçgo de Contabilidade

aTreze». *Lisboa, 1956», e a Vida continua * assim» Lisboa, 1959. Tazore

os seguintes trabalhos: «Miss Dolly na Madeira* (Novela) no «Trabalho e União*, em 19309 Pe. Joaquim Roque Dantas muito singular transformaram-se incenso ilustrada filhos tuas flores apreciado Poeta, e marido da Prof. D. Maria Alzira d e Brito Figueiroa da Silva. tenor a 27 de Março d e 1921 e d e D. Ana Augusta da Silva Spinola de Viveiros. Seminário Diocesano, desta cidade, onde . se matriculou em 1935, tendo-se ordenado d e Presbitero, em 22 d e Dezembro de =945* E' tesoureiro da Firma aBlandy Brothers & Ca. Lda.,. Possui o septimo ano de Letras do curso do Liceu. Em 1957, proferiu uma conferência no aAteneu Comercial do Funchal,, para comemorar o *Dia da Raça,, dissertando sobre aCamões, Cantor da Raça,, «Treze,. Lisboa, 1956 «e a Vida continua assim*. Funchal, 1959.

Tagore

NOTA - Os versos insertos na pdg. 466, publicados nzcm 'ornal, com a rubrica de Marote, níão são da autoria da Poetisa D. Margarida de Olim d a role Ramos, mas sim do seu primo, Joáo Gispim de OZim Marote, falecido no Brasil, ,para onde embarcou, há muitos anos. Este lapso foi motivado por uma informação errótoea, fornecida por um membro da familia OZim Marote.


EMENDA Pag. 553

N o 3.0 verso da 2 . a quadra do 1.0 soneto, onde está: ~ M d fugaz s bolhinha a qiie me aein deve ler-se : ((i24us a fugaz bolhiiiha o que me dei0 No último verso do 1.0 soneto, onde está: u E esta é demais vil paro se guardar. . . deve ler-se : *E esta é demais vil p'ra se guardar.. n N o último verso do 1.0 terceto do 2.0 soneto, onde está: 6 Naquela ad(~ração de puro ascetu :>) deve ler-se : ((Na quente ndoraçao de puro asceta:


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ABREU João de (?-?) . . . . . . . . . . . ABREU João Gomes de (1918) . . . . . . . . . ABREU. José Rodrigues de (1919) . . . . . . . . ABREU Maria Lidia dos Passos Faria (1913) . . . . . . ABREU. Maria Manuela Druniond Araújo de (1941) . . . . ABRIL. loão de (1896) . . . . . . . . . . . ACCIAIOLY. P.e Carlos (1845-1924) . . . . . . . . ACCIAIOLY. Gertrudes (1885-1952) . . . . . . . . AFONSO. P.e Telésforo Rafael (1909) . . . . . . . AGUEDA (1886-1947 . . . . . . . . . . . AGUIAR. Manuel Caetano Pimenta .de (1765-1832) . . . . AGUIAR. Raquel Bemvinda Correia de (1883) . . . . . ALMEIDA. Georgina Dias de (?-?) . . . . . . . . ALMEIDA. Maria Helena Jervis de Atouguia e (1847-1928) . . . . . . . . . . . ALVES. Gabriel Florêncio (1898) . . . . . . . . . ALVES. Mário Adriáo (1898) ALVES. Odete Maria Fernanda Maciel (1919) . . . . . . AMADA. Lílic (?-?). . . . . . . . . . . . ANDRADE. Francisco de (1806-1881) . . . . . . . ANDRADE Francisco de (1916-1944) . . . . . . . ANDRADE. Irene Lucilia Mendes de (1938) . . . . . . ANDRADE. Maria Isabel Camacho de (1867) . . . . . . ANDRADE. Maria Manuela Brigida S. Nunes de (1931) . . . . . . . . . . . . ANTÓNIOMário 1861-1897) ARAÚJO.Alberto Henriques de (1903) . ARAÚJO. Carlos (1926). . . . . . . . . . . ARCÁDIA. Principe da (1900) . . . . . . . . . ARTUR. .4lberto (1878-1953) . . . . . . . . . ATAYDE. Berta de (1847-1928) . . . . . . . . . . ATOUGUIA. Lino Nicolau de (?-?). . . . . . . . ATOUGUIA. Vasco Faustino Garcês de (1939) . . . . . AZEVEDO. Carlos Olavo Correia de ( ? . . . . . . BARRETO. Frederico da Silva (?-1925) . . . . . . . . . . . . . . BARROS. João Higino de (1883-1941) BENTO. Horácio (1902) . . . . . . . . . . . BERENGUER JÚNIOR. Diogo (19021) . . . . . . . .BERTA (1899) . . . . . . . . . . . .

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BETTENCOURT. Edmundo Alberto de (1899). . . . . . . BETTENCOURT. Carlos Crisrovão da Câmara Leme Escórcio de (1924) . BETTENCOURT. Gabriela Helena da Câmara Leme de Gouveia (1896) . BETTENCOURT. Jacinto Augusto de Santana e Vasconcelos Moniz de (1824-1888) BETTENCOURT. Matilde Isabel de Santana e Vasconcelos Moniz de (1805-1888) BORGES. Álvaro de Sousa Drumond (?) . . . . . . . . BRANCO Alfredo António de Freitas (1890). . . . . . . . . . BRANCO Joana A. da Piedade Velosa de Castelo (1856-1920) . . . . . . . . . . BRAZÃO. Faustino (1846-1896) . BRITO Duarte de (?-1514) . . . . . . . . . . . . CABRAL Carlos Henrique de Menezes (1904) . . . . . . . CABRAL Carlos Maximiliano Alves de Menezes (1942) . . . . . CABRAL. João (1897) . . . . . . . . . . . . . CABRAL. Manuel Zacaria Teixeira (1902) . . . . . . . . . CAETANO P.e João Vieira (1884) . . . . . . . . . . CAIRES. (Maria Angela Moreira de (1936) . . . . . . . . CALDEIRA. Abel Marques (1896) . . . . . . . . . . CALHETA. Feiticeiro da (1897-1956) . . . . . . . . . . CA MACHO Carlos Agapito (1903) . . . . . . . . . . CAMACHO. Carlos Manuel Araújo (1926) . . . . . . . . . . . . . . . . . CÂMARA. António Camilo Jardim (1884) CÂMARA.Capitão Cândido Álvarõ (1867-1936) . . . . . . . CÂMARA. Fernando Augusto (1880-1949) . . . . . . . . . . . . . . CÂMARA Gertrudes Marceliana Rodrigues (1910) CÂMARA. Henrique Tristão Bettencourt da (1931) . . . . . . . . . . . . . . . CÂMARA Jaime Sanches (1881-1946) CÂMARA.João de Brito (1909) . . . . . . . . . . . CÂMARA. Joao Gonçalves da (1414-1505) . . . . . . . . CÂMARA. Manuel (1908) . . . . . . . . . . . . CÂMARA. Mardóoio (1861-1950) . . . . . . . . . . CÂMARA. Matilde OIimpia Sauvaire da (1871-1957) . . . . . . CÂMARA Tristão Henrique Bettencourt da (1921) . . . . . . CAMARMELAS. J O ~ OFernandes de (1795-1876) . . . . . . . CAMPOS. Teodorico Augusto de (1881-1946) . . . . . . . . CANAVIAL. Visconde de (1829-1902) . . . . . . . . C ANHA António Jorge Gonçalves (1926) . . . . . . . . CARLOP. Principe (1896-1939) . . . . . . . . . . . CARVALHO Eduardo Ernesto de (?-1879) . . . . . . . . CARVALHO . Heldcr Martins de (1929) . . . . . . . . . CARVALHO. José de (1906-1954) . . . . . . . . . . CARVALHO Júlio da Silva (1821-1903) . . . . . . I . , CASTlLHO 1870-1912) . . . . . . . . . . . . . CASTRO Arlindo Pulquério de (1914) . . . . . . . . . CASTRO. Capitão-Médico Gabriel António Franco de (1836-?) . . . . CASTRO José Raimundo de (1894) . . . . . . . . . . CHAVES . Anselmo Figueira (1903) . . . . . . . . . . CISNE. Cavaleiro do (1900) . . . . . . . . . . . . CLARO. 7. (1887-1959) . . . . . . . . . S . . s

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COELHO Jacinto Pinto (1847-1927 . . . . . . . COELHO. Luis de Ornelas Pinto (1843-1920) . . . . CORREIA Antonio Manuel de Sousa Aragão Mendes (1921) . CORREIA Aragão (1921) . . . . . . . . . CORREIA. Bemvinda (1922). . . . . . . . . CORREIA. João Santana Borges Filipe (1911-1938 . . . . CORREIA . José Teodoro 1890-1955) . . . . . . . CORREIA. José Venâncio (1867) . . . . . . . CORREIA. Manuel Luciano Martinho (1904-1943) . . . CORREIA. Mário Lucrécio (1934) . . . . . . . CORREIA. Pero (?-?) . . . . . . . . . . CORREIA. Rogério Oscar da Mota (1908) . . . . . COSTA. Daniel Vasco da (1892) . . . . . . . . COSTA. Norberto José da (1914) . . . . . . . . COTRIM. Maria de Lourdes Barbeito (1930) . . . . . COUTINHO. Francisco de Vasconcelos (1665-1729) . . . CRISTO. Guido de (1929) . . . . . . . . CRISTOVAL. Carlos (1924) . . . . : . . . . CUNHA. Pedro Correia da (?-) . . . . . . . CUNHA. Troilo de Vasconcelos da (1554-1729) . . . . CURIOSO. Pertinaz (1845-1924) . . . . . . . . TRISTÃO Damas das (?-1506) . . . . . . . . DANIELA. Rita (1937) . . . . . . . . . . DANTAS. P.e Joaquim Roque Fernandes (1905) . . . . DEE. Francisco Germano (1805-1886) . . . . . . DIABINHO. Joao Augusto Nunes (1850-1927) . . . . DIANA. Dalila Roheda (1914) . . . . . . . . DIAS. Baltazar (?-2) . . . . . . . . . . . DIAS. José (1919) . . . . . . . . . . DIAS. Júlio G . Viterbo ~ b d r i ~ u e s(1889-1956) . . . . DIAS. Major Manuel da Costa (1883-1930) . . . . DIAS. Raimundo (1870-1912) . . . . . . . . . DINIZ. Gastão Faria (1926) . . . . . . . . . DINIZ Maria Elvira Gomes de la Mata (1900-1922) . . . DINIZO (1926) . . . . . . . . . . . . DINO (1926) . . . . . . . . . . . . DORIA. Vasco Thaumaturgo Teixeira (1873-1948) . . . . DRUGES. A . (?) . . . . . . . . . . . DRUMOND. Ioácio José Correia (17684830) . . . . . DRUMOND. J o ~ oPedro de Freiras Pereira (1768-1825) . . ENEPE (1905) . . . . . . . . . . . . ESCARCANHO. Jereboao Pancrácio de (1795-1876) . . . . ESCÓRCIO. Augusto Carlos (?-?) . . . . . . . ESMERALDO. António de Carvalhal (16624) . FARIA. P.e Teodoro de (1930) . . . FERNANBES. Afonso de Almeida (1884-1925) . FERNANDES. P.e César Martinho (1878-1920) . . . . FERNANDES. Maria Angela Moreira de Caires (1939) . . .

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FERNANDES. José Serafim (1917) . . . . . . . . . FERREIRA. Alípio Augusto (1837-1915) : . . . . . . . FERREIRA. Francisco António (1870-1912) . . . . . . . FERREIRA. Francisco Joaquim da Costa (?) . . . . . . . FERREIRA. Duarte Manuel Pita (1936) . . . . . . . . FERREIRA. Júlio Vicente (1916) . . . . . . . . . . FIGUEIRA. P.e António da Silva (1887) . . . . . . . . FIGUEIRA. Arnaldo Coimbra (1900-1949) . . . . . . FIGUEIRA. José (1900-1938) . . . . . . . . . . . FIGUEIRA. Júlio Silvestre (1893-1960) . . . . . . . . FIGUEIRA. Manuel Carlos (1884) . . . . . . . . . FRANÇA. Alfredo (1883) . . . . . . . . . . . FRANCA. António de (1863) . . . . . . . . . . . FRANÇA. António Pimenta de (?) . . . . . . . . . FRANÇA. P.e Caetano António de (1863) . . . . . . . FRANÇA. João (1908) . . . . . . . . . . . . FREITAS Adriano Filipe de (1891-1947) . . . . . . . . FREITAS. P.e.Alfredo Vieira de (1908) . . . . . . . . FREITAS. Alves de (?-1954) . . . . . . . . . . . FREITAS. António Egidio de (1914) . . . . . . . . . FREITAS. António José Vieira de (1941) . . . . . . . . FREITAS. Francisco de Andrade e (1916-1944) . . . . . . . FREITAS. Irene Mendonça (?) . . . . . . . . . . FREITAS P.e Jacinto Gonçalves de (1919-1954) . . . . . . FREITAS. João Alves de (?-1952) . . . . . . . . . FREITAS João Nicolau Vieira de (1900) . . . . . . . . FREITAS. José Joaquim de (1847-1937) . . . . . . . . . FREITAS José Jorge da Felicidade de (1921) . . . . . . . FREITAS. Luís António Gonçalves de (1858-1904) . . . . . FREITAS. Luís Rufino de (1911) . . . . . . . . . . FREITAS. Manuel Dionísio de (1897) . . FREITAS. Manuel Gonçalves de (1858-1927) FREITAS. Manuel Luis Viana de (1820-1861) . . . . . . . FREITAS Manuela José Velosa de (1937) . . . . . . . FREITAS Pedro Maria Gonçalves de (1836-135) . . . . . . FREITAS. Rufino de (1917) . . . . . . . . . . . . FUNCHAL. Maria do (1889 ?) . . . . . . . O . . GARCÊS. António da Silva Brás (1903) . . . . . . . . GERMA. (1910) . . . . . . . . . . . . . GÓIS. Aida Maria de Brito Figueiroa (1941) GOIS. João Luís de (1918) . . . . . . . . . . . GÓIS. Luís Martinho de (1932) . . . . . . . . . . GOMES. Aberto Figueira (1912) . . . . . . . . . . GOMES. João (?-1495) . . . . . . . . . . - . GOMES. Major ~ o ã odos Reis (1869-1950) . . . . . . . GOMES. JoséMornaGomes (1913) . . . . - . . h . GOMES. Noé Lucas (1882-1956) . . . . . . . . GOMES. Rui (?i?) . . . . . . . . . . . . .

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. . . . GONÇALVES. António Isidro (1884-1931) . . . . . . . GONÇALVES. Carlos Lélis da Câmara (1931) . . . . . . GONÇALVES. Manuel (1858-1927 . . . . . . . . GONÇALVES. Rui Lima da Câmara (1928) . . . . . . . GORJÃO. João C . Coutiuho (?-?) . . . . . . . . . GOUVEIA. Abel Rocha de (1883-1948) . . . . GOUVEIA. Amália Colares Mendes Rocha de (1867-1947) . . . . . GOUVEIA. Augusto Correia de (1880) . . . . . . . GOUVEIA. Carlos Mauricio de (1909) . . . . GOUVEIA. Fernando Acácio de ( 2 ) . . . . . . . . . . . GOUVEIA . Horácio de Ornelas Bento de (1902) . . GOUVEIA. João da Mata Camacho Pina de (1880-1947) . . . . . . . GOUVEIA. Luís Anjos de (1880-1958) . . . . . GOUVEIA . Manuel Pontes de (1903-1951) . . . . . . . GOUVEIA . Manuel Rosário de (1896) . . . . GOUVEIA. Maria Alda da Câmara Leme Escórcio Drumond de (1862-1927) . . . . GOUVEIA. Maria Lise Rocha de (1929) . . . . . . . . GRA Rui Gomes da (?-?) . . . . . . HELDER. Herberto (1930) . . . . . . . . . . . HENRIQUES. Francisco Germano de Barros (1865-1856) . . . . . HENRIQUES. Jordão Maurício (1880-1952?) . . . . . . . HENRIQUES. José Anselmo Correia (1777-1831) . . . . . HENRIQUES. José Mário de Sousa 1890-1938) . . . . HENRIQUES. Teófilo (1910). . . . . . . . . . . . HOBINIA. D . (1850-1927) . . . . . . . . . . . ILHA. Zé da (?-1946) . . . . . . . . . . . . ~ L H É U . Zé (1890-1938) . . . . . . . . . . . ILMA (1938) . . . . . . . . . . . . . . . . . . JARDIM. Alberto Figueira (1882) . . . . JARDIM. Alfredo Rogério (1929) . . . . . . . . . JARDIM. António Jorge Gonçalves Canha (1926-) . . . . . JARDIM. Isaura Ascenção Machado Pacheco Soares de Passos (1899) . . JARDIM. João Severino de Bettencourt ( ? - 2 ) . . . . . . JARDIM. José de Oliveira ( ? . . . . . . . . . . JARDIM. Luis António (1780-1825) . . . . . . . . . JARDIM. Cónego Manuel Gomes (1881-1949) . . . . . . . JARDIM E TORRE. Barão de (?-?) . . . . . . . . . JESUS. P: Jorge Evangelista de (1925) . . . . . . . JESUS. João Joaquim de (1904) . . . . . . . . . . JESUS. José Maria Figueira de (1900-1938.) . . . . . . . . JESUS. Moisés Teixeira de (1005) . . . . , . . . . . JESUS. Quírino Aveliiio de (1865-1935) . . . . . . . . JORGE. António (1909-1957) . . . . . . . . . . . . JORGE. Emanuel (1915) . . . . . . . . . . . . JONZNO (1785-1846) . . . . . . . . . . . LEÇA. João Maria Eigueira da Silva Pontes (1931) . . . . . . . fJ?'LlS (1931) . . . . . . . . . . . . . . . LEME. Joáo da Câmara (1865-?) . . . . . . . . . . . e

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LIMA. Rui (1928) . . . . . . . . . . . . . . LIVIO. Tito (1875) . . . . . . . . . . . . . . LONGIPEDE. Joao (1844-1928) . . . . . . . . . . . LOPES. Carlos Marinho da Conceição (1896-1939). . . . . . . LOPES. Isabel Severa Marinho (?) . . . . . . . . . . LOPES. Maria de Lourdes Travassos (1924) . . . . . . . . LOURDES. Maria de (1930) . . . . . . . . . . . . LUCRÉCIO Mário (1934) . . . . . . . . . . . . LURONES (1897) . . . . . . . . . . . . . . LUZ. João Vieira da (1896) . . . . . . . . . . . . MACEDO. Jaime de Abrcu (1902) . . . . . . . . . . MACHADO. Augusto Bertoldo (?-1942) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . MADEIRA. Sofia (1936) MANSO. Álvaro (1896-1953) . . . . . . . . . . . . . . . MANUEL. Maurício Carlos de Castelo Branco (1842-1910) MANUEL. Maurício José de Castelo Branco (?-1900) . . . . . . . . . . . . . . . . . MAR. Carlos do (1896-1939) MARIA Ilse (1929). . . . . . . . . . . . . . MARIALVA. Octávio de (1900) . . . . . . . . . . . . MARINELA (1941) . . . . . . . . . . . . . . MARINO Luis (1909) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . MARTINS. Domingos de Sá (1683-2) MARTINS. Helder (1929) . . . . . . . . . . . . MARTINS JÚNIOR. José (1939) . . . . . . . . . . . MAURICE Carlos de Sao (1909) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . MELIM.Sargento Fernando de (1918) MELO. Santiago de (1903) . . . . . . . . . . . . . MENDES. Fernando Portugal (1907) . . . . . . . . . . MEN DEÇ. José Alberto Reynolds (1939) . . . . . . . . . MENDONÇA. Francisco Manuel de Oliveira Mayringt (1741-1818) . . . MENDONÇA. Luís Augusto Alexandre Ribeiro de (1839-1903) . . . MENDONÇA. Marceliano Ribeiro de (1805-1866) . . . . . . MENEZES. Albino Esperdiáo Te10 de (1890-1949) . . . . . . MENEZES. João Rodrigues de Sá e (1461-1576) . . . . . . . MENEZES. Pe . Rufino Augusto de (1877) . . . . . . . . MENEZES. Sérvulo Drumond de (1802-1897) . . . . . . . MESSEIDE. Cleomenes (1820-1898) . . . . . . . . . . MIMOSO. Amadeu de Bettencourt (1881) . * . . . . . . . . . MIMOSO. Vasco Colaço de Bettencourt (1882-1952) . . . . . . MIRANDA. Arsénia de Bettencourt ?-1880) . . . . . . . . MIRANDA. Irmã Maria Celina do Coração de Jesus (1911 . . . . . MRANDA João da Costa (1897) . . . . . . . . . . MONIZ Francisco João Henriques (?-1884) . . . . . . . . MONIZ. Rui Gil (?-?) . . . . . . . . . . . . . MONIZ. Pe . Patrício (1820-1898) . . . . . . . . . . MONTENEGRO. Rogério de (1929) . . . . . . . . . . MORENO. Abrl (1883) . . . . . . . . . . . . . MOTA. Maria Florinda Trindade (1889?) . . . . . . . . . .

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MOTA Rita Daniela Pontes (1937) . . . . . . . . . MULHER . Uma (1897) . . . . . . . . . . . NASCIMENTO. João Cabra1 do (1897) . . . . . . . NETO. Diogo Berenguer de França (1812-?) . . . . . . NETO. Matilde Leopoldina Correia Henriques de França (?-1894) . NEVE . Dorotea de (1896-1953) . . . . . . . . . NEVES . Fortunato de Sá (1892) . . . . . . . . . NÓBREGA Francisco Alvares de (1772-1806) . . . . . NÓBREGA Januário Justiniano de (1824-1866) . . . . . NOBREGA. João Marinho de (1880-1954) . . . . . . NÓBREGA. Jorge Luis de (1856-?) . . . . . . . . NÓBREGA Maria Isabel de Brito (1888-?) . . . . . . NOGUEIRAS. Visconde das (1805-1888) . . . . . . NOGUEIRAS. Viscondessa das (1824-1888) . . . . . . NORONHA. Pe . Carlos Acciaioly Ferraz (1845-1924) . . . . NORONHA João Maximiano de Abreu (1875) . NORONHA. Manuel de (?-1535) . . . . . . . . NORTE. Feiticeiro do (1858-1957 . . . . . . . . . NUNES Abel de Abreu (1899) . . . . . . . . . NUNES Adão de Abreu (1885-1958 . . . . . . . . NUNES. Alirio Sequeira (1913) . . . . . . . . . NUNES. Assis (1928) . . . . . . . . . . . NUNES Cesário João (1905) . . . . . . . . . NUNES. ~i8clecianoFrancisco de Assis (1928) . . . . . NUNES Eduardo Ferngndes (1909-1957) . . . . . . . . . . . . NUNES P . e Jacinto da Canceição (1869-1954) NUNES Luís Antão Rodrigues (1897) . . . . . . . . . . . . . . NUNES. P.e Manuel (1848-1892) OBSERVADOR. (1903) . . . . . . . . . . . OLIVA. Cónego João Rodrigues de (1691-2) . . . . . . . . . . OLIVEIRA. Cónego Alfredo César de (1840-1908) OLIVEIRA. Carlos Maria de (1898) . . . . . . . . OLIVEIRA. Francisco Manuel de (1741-1818) . . . . . . OLIVEIRA. Herberto Helder Bernardes de (1930) . . . . . OLIVEIRA. João Fortunato de (1828-1878) . . . . . . OLIVEIRA. (João Nepomuceno de (1785-1846) . . . . . OLIVEIRA JÚNIOR. José Pereira de (2-2) . . . . . . ONOFRE. Manuel João ( ? . . . . . . . . . . ORNELAS. João Augusto de (1833-1886) . . . . . . OSNOFRA. (1909) . . . . . . . . . . . . PAIS (Manuel Gomes (?-1890) . . . . . . . . . PAIS. Maria Amélia de Oliveira ()-1890) . . . . . . . ~ ~ 1 x 4P.e0José . Bibiano da (1886-1925) . . . . . . PAQUETE. Eulália Agueda Nunes (1886-1947) . . . . . PASCOAL. Jose (1894-1959) . . . . . . . . . . . . . . . . PASSOS. Florival Hermenigildo de (1915) PASSOS. Francisco Xavier Carrega1 da Silva (1878-1931) . . PASSOS JÚNIOR. António Soares de (1907) . . . . . .

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PAUSÂNIAS. (1904) . . . . . . . . . . . . . PEIXE Sidónio Gomes (?-?) . . . . . . . . . . . PENALVA. Fet-nando (1909-1957). . . . PFQ UENO. Camões (1772-1830) . . . . PEREIRA. (Alexandre Eurico Rarsfield (1886-1956) . . . . . . PEREIRA. Dalila Ruena dos Passos Freitas (1914) . . . . . . . PEREIRA. P.e Eduardo Clemente Nunes (1887 . . . . . . . PEREIRA. Fernando Jasmins (1934) . . . . . . . . . . PEREIRA. Henrique da Conceição (1894-1959) . . . . . . . . . . . . . . . . PEREIRA . Luis da Costa (1818-1893) PEREIRA. Luiza da Costa (1844-?) . . . . . . . . . . PEREIRA. Manuel Silvério (1903) . . . . . . . . . . PEREIRA. Maria Eugénia Rego (1875-1947) . . . . . . . . . . . . . . . . . . PEREIRA. Maria Manuela (1936) . . . . . . . . . . . . . PERPETUO. João ( 2 ) PESTANA César Augusto (1904) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . PESTANA. Duarte de Brito ( - 5 4 ) . . . . . . . . . PESTANA. Eduardo Antónino (1891) PESTANA. Joaquim (1840-1909) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . PESTANA. Noé Alberto 1905) . . . . . . . . . PESTANA. Maria Pulquéria (1880) PESTANA JUNIOR. João (1894-1918 . . . . . . . . . P~CIO. (1860-1928) . . . . . . . . . . . . . . . . . PIEDADE. Maria da (1911) . . . . . . . . PIRES. Vasco Portugal (1896-?) . . . . . . . ; . . . PITA. César Augusto Mourão (1837-1906) . . . . . . . . PORTO D A CRUZ. Visconde do (1891) . . . . . . . . . POWER. Niger Drury (1895) . . . . . . . . . . . PRETO. Edgar Reinaldo de Ssusa Gonçalves (1937) . . . . . . PRETO. Pedro Alberto Gongalves (1907) . . . . . . . . PRINCIPE. Poeta (1900) . . . . . . . . . . . . . PROCÓPIO (1927) . . . . . . . . . . . . . . QUÈNTAL. António Manuel Rebelo Pereira Rodrigues de (1931) . . . QUENTAL. Rebelo de (1931) . . . . . . . . . . . QUINTAL. Angela Maria Bettencourt da Câmara Sarsfield Pereira (1918) . QUINTAL. Luís de Ornelas de Nóbrega (1894) . . . . . . . RAMOS. Margarida de Olim Marote (1899-1953) . . . . . . . RAZTX. Tong Neuman (1908-1958) . . . . . . . . . . REBOLA. P.e António Rodrigues (1934) . . . . . . . . . REGO. Emília Acciaioly ( ? . . . . . . . . . . . . -REGO SÉNIOR. Emilia Acciaioly (?-1787) . . . . . . . . REYNOLDS. (1939) . . . . . . . . . . . . . REIS. Manuel Pestana (1894) . . . . . . . . . . . . RIBEIRO. João Bernardo (1891-1932) . . . . . . . . . RIBEIRO. José Gomes (1894?-1941) . . . . . . . . . . RIBEIRO. Manuel (1861-1950) . . . . . . . . . . . ROCHA. António Manuel de Sousa . . . . . . . . . . RODRIGUES. Angela Maria Varela Miranda (1938) . . . . . .

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RODRIGUES. AntónioFeliciano (1870.1925) . . . . . RODRIGUES. Fernando Alberto Jasmins Pereira (1934) . . . . . RODRIGUES. Joáo Camara (?) . . RODRIGUES. João Edwiges (2-1946) . . . . . . . . . . RODRIGUES. João Sabino (1904) . RODRIGUES. Sabino Joaquim (1859-1917) . . . . ROSA. Manuel Ferreira (1900) . . . . . . . . . . . . RUAS.Manuel (1932) . . . . s .i. Capitão Joáo Augusto de Vasconcelos e (1880-1946) . sÁ. Joaquim de ( ? . . . . . . . . . . . SAMPAIO. Gertrudes C. Acciaioly de (1885-1952) SANTANA. António Gonçalves (1875-1954) . . . . SANTOS. Armando (?) . . . . . . . . . SANTOS. Carlos Maria dos (1893-1955) . . . . . SANTOS. Francisco ~ ~ u i Baptista nb (1885-1933) . . . SANTOS. Jaime Vieira dos (1903) . . . . . SANTOS. José Cruz Baptista (1887-1959) . . . . (1879-1958) . . . SANTOS. José Jorge Rodrigues dos SANTOS. Luís (?) . . . . . . . . . . SANTOS. Octávio José dos (1900) . . . . . SANTOS. Rodrigo Rodrigues dos (?). . . . . . SANTOS. Vitorino José dos (1863-1928) . . . . . SARDINHA. P.e Alfredo de Paula (1861-1897) . . . SARDINHA. Dr . Manuel (1865-1946) . . . . . SARDINHA. Sátiro Silvino (1921) . . . . . SÃO JOÃO. Visconde de (18124?) . . . . . . SÃO JOÃO. Viscondessa de (?-1894) . . . . . . SÃO MAURICE. Carlos de (1909) . . . . . . SARMENTO. Tenente-Coronel Alberto Artur (1878-1953) . SEM MEMÓRIA. Frei Jodo (1884) . . . . . SILVA António Alves da (1822-1854) . . . . . SILVA. P.e Fernando Augusto da (1863-1947): . . . SILVA. Francisco Gomes da (1865-1935) . . . . . SILVA. João da (1927) . . . . . . . . SILVA. João Correia da (1908-1958) . . . . . . SILVA. José Maria da (1933) . . . . . . . SILVA. Luís Gomes da (1909) . . . . . . . SILVA. Maria José de Freitas (1913) . . . . . . SILVA. Matias Fígueira da (1843-?) . . . . . SILVA. Oscar José da (1898) : . . . . . . SILVA. Oswaldo Augusto da (?-?) . . . . . SILVA. Rui Ueutero (1884-1931) . . . . . . SILVA. Silvano Sátiro da (1898) . . . . . . . SILVA. Teodoro Clemente da (1900) . . . . . . SILVA JÚNIOR. Francisco Gomes da (1905) . . . . RIO. Silve (1903) . . . . . . . . . . . SILVEIRA. José Marciano da (1826-1887) SILVEIRA. Luiz da 1481-1534) .

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SK\710. (1927) . . . . . . . . . . . . . SOARES. João de . Nóbrega (1831-1890) . . . . . . . . . SOUSA. Alvaro Rogério Manso de (1896-1953) . . . . . . . SOUSA António Policarpo dos Passos e (1836-1875) . . . . . SOUSA. Armida Figueira de (1888-1931) . . . . . . . . . . . SOUSA. Ciriaco de (?) . . . . . . . . . . SOUSA. Ernesto Venceslau de (1870-1913) . . . . . . . . SOUSA. Fernando Eurico de (1933) . . . . . . . . . . SOUSA. Francisco Clementino de (1846-1896) . . . . . . . . SOUSA. Heliodoro Hermenigildo José de (1894) . . . . . . . SOUSA. João Francisco de (1824-?) . . . . . . . . . . SOUSA. João Gomes de (1897-1956) . . . . . . . . . . SOUSA José Mário de (1890-1938) . . . . . . . . . . SOUSA. Julia Graça de França e (1897) . . . . . . . . . SOUSA. Leandro (?). . . . . . . . . . . . . . SOUSA Major Manuel Alexandre de (1856-1958) . . . . . . . SOUSA. Othylio de (?) . . . . . . . . . . . . . SOUSA. Rui Dias de (2-?) . . . . . . . . . . . . SOUSA Si mão Figueira de (1860-1928 . . . . . . . . . . . . . . SPINOLA. Ida Corsina Delgado Faria (1909) . . SUPICO Carlos Alberto (?). . . . . . . . . . . . TAROLO (E) (1870-1913 . . . . . . . . . . . . . TAVARES. José Clemente (1933). . . . . . . . . . . . THA DEU. (1865-1936) . . . . . . . . . . . . . THADEU. Silva (1865-1936) . . . . . . . . . . . . TEIXEIRA Dino (1926) . . . . . . . . . . . . . TEIXEIRA. João Luís de Ornelas (1932) . . . . . . . . . TEIXEIRA.JoséAntónioMonteiro (1795-1876) . . . . . . . TEIEEIRA Maria Isabel de Sprengkr Marte1 e (1899) . . . . . . . . . . . . . . . . . TEIXEIRA. ~ecundino' (1926) TEIXEIRA Tristáo (?-1506) . . . . . . . . . . . . TEIXEIRA JÚNIOR. José (1889). . . . . . . . . . . TELO. António Joaquim de Alencastre (1921 . . . . . . . . . TRANCREDO. D. (1880-1946) . . . . . . . . . . . TRANQUADA. Manuel César Rodrigues (1861-1947) . . . . . . TRAVASSOS. Maria de Lourdes (1924) . . . . . . . . . TRISTÃO. Henrique (1931) . . . . . . : . . . . . TYRTEU. (1887-1959) . . . . . . . . . . . . . VALDI VIA. Mau ri1io de (1924) . . . . . . . . . . . VALE Trevo do (1908) . . . . . . . . . . . . . . .VALENTE. André (1902) . . . . . . . . . . . . . . VARELA. Maria Tereza Vieira da Luz (1937) . . . . . . . . VASCONCELOS. (Francisco de Paula Medina e (1768-1824) . . . . VASCONCELOS. Jaime Mota de (1911) . . . . . . . . . VASCONCELOS Joaquim do Espírito Santo Mota de (1902) . . . . . VASCONCELOS. João Emiliano Neves de (1924) . . . . . . VASCONCELOS. João da Câmara Leme Homem de (182 9-1902) . . . VASCONCELOS . Miguel Manuel de Ornelas e (?-1889) . . . . .

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VAZ Maria Amélia de Menezes (1886-1958) . . . . . VAZ . Cónego Fernando Carlos de Menezes (1884-1954) . . I'ERDE . Campo (1870-1912) . . . . . . . VIEIRA António (1869-?) . . . . . . . . . VIEIRA. Augusto Elmano (1892) . . . . . . . . VIEIRA. César Gomes (1892) . . . . . . . . VIEIRA . Pe . Elias Gonqalves (1928) . . . . . . . VIEIRA Fernão Manuel Homem de Gouveia Favila (1930) . VIEIRA Francisco (1849-1889) . . . . . . . . VIEIRA Francisco Manuel Homem de Gouveia Favila (1932) . . . . VIEIRA. João (1897) . . . . . . . VIEIRÁ. João José (1884-1928) . . . . . . . . VIEIRA. Leolinda M . Jardim (?-2) . . . . . . . VIOLETA (1899) . . . . . . . . . . . VIVEIROS. Pe . José Ressurreição de (1923) . . . . . WALDEMAR . (1900-1938) . . . . . . . . . ZARCO. Joao (1880-1947) . . . . . . . . . .

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Corrigenda

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Ca@ade Máx R6mer


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