e t s . a e r t t n n e o d c n e m c U trans
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Alessandra Wormsbecker Pereira e Lellis Costa Mello NOVEMBRO DE 2016
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ EDITORAÇÃO ELETRÔNICA APLICADA DESIGN GRÁFICO - 4º PERÍODO
PESQUISA ALESSANDRA WORMSBECKER PEREIRA ADAPTAÇÃO DE TEXTO LELLIS COSTA MELLO ILUSTRAÇÕES GUSTAVE DORÉ DIAGRAMAÇÃO ALESSANDRA WORMSBECKER PEREIRA LELLIS COSTA MELLO CAPA ALESSANDRA WORMSBECKER PEREIRA CONTATO: alessandraworms@gmail.com | lellis.cmello@gmail.com
Aos professores Leandro e Raquel, que nos incentivam tanto nos nossos trabalhos.
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O imaginário popular
As ilusões de Doré
Gravado no passado
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Um contraste transcendente
Um olhar incomum de um tempo distante
Os encantos de suas obras
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As marcas de uma vida
Uma breve síntese
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Sumá rio
Referências
As Ilusões de Doré Um dos mais prolíficos e bem sucedidos ilustradores do século XIX, Gustave Doré produziu desenhos para uma série de clássicos literários. Era profissional já aos quinze anos de idade. Polivalente, Gustave enveredou nas mais diversas formas das artes plásticas, indo do desenho às esculturas com total desenvoltura, se valendo deste arcabouço para extravasar sua criatividade genuína em belíssimas obras, recheadas de ingredientes barrocos e enigmáticos, desfilando muito virtuosismo. Esses desenhos foram impressos com o método de gravura em madeira. Surpreendentemente, suas ilustrações variam de imagens surrealistas à alegres e humorados sketches. O francês Gustave Doré era também pintor e escultor, mas suas pinturas e esculturas não tiveram o mesmo sucesso que suas ilustrações de obras famosas como A Divina Comédia de Dante, Gargantua de Rabelais, Contos de Balzac, Dom Quixote de Cervantes, Paraíso Perdido de Milton, O Corvo de Edgar Allan Poe e a Bíblia. Ilustrou mais de 120 obras. Doré trabalhava de forma intensa e veloz. Geralmente esboçava os desenhos diretamente na madeira e contava com vários auxiliares para terminar de gravá-las. Chegou a empregar em torno de 40 gravadores competentes para trabalhar nas suas ilustrações, entre eles Pisan, Pannemaker e Jonnard se destacam (e co-assinam) grande parte de suas obras. Doré teve uma vida próspera e pode usufruir do seu sucesso. Por volta de 1864 já conhecia pessoalmente de Napoleão III e era amigo pessoal de diversos nomes da cultura francesa da época, como Alexandre Dumas, Teophile Gautier, Rossini e Liszt. Sua fama na Inglaterra era ainda maior e no ano de 1868, Gustave Doré se dirige para Londres, onde institui sua Doré Gallery. Neste período apresenta uma grande versatilidade no mais diversos campos das artes plásticas, produzindo esculturas e viajando para a Escócia e Versalhes. Na sua biografia, Dan Malan fala dos seus romances com as mulheres mais famosas do século 19, como a atriz Sarah Bernhardt e a cantora de ópera Adelina Patti. Doré morreu em janeiro de 1883, deixando incompletas suas ilustrações para uma edição de Shakespeare.
Um ol h ar i n comum de um tempo distante Gustave Doré viveu no período do auge do Realismo francês, porém atendia as expectativas da burguesia que cultuava a estética romântica. Ilustrou o livro Dom Quixote de la Mancha, no qual seu objetivo com suas ilustrações era documentar com precisão “a quase totalidade de informações que a obra literária fornece” (LINARDI, 2007, p. 358). Além disso, conseguiu “imprimir uma atmosfera quase sobrenatural por meio de jogos fascinantes de luz e de sombra” (p. 358). Esse ilustrador estava acordado com a tradição da ilustração de sua época, que “estabelece um paralelismo semântico e estrutural entre imagem e texto” (LINARDI, 2007, p. 358). O texto literário, portanto, deveria ser recontado de maneira quase que fiel através das imagens: “Como o artista almejava realizar uma síntese da obra em imagens, da maneira como ele a ilustrou podemos fazer uma leitura somente através delas, como se fossem parte de um story-board que antecipa a filmagem de uma sequência cinematográfica” (p. 358). Essa escolha por uma ilustração mais realista pode ser percebida em algumas ilustrações que representam as imaginações de d. Quixote. Doré estava tão preocupado em representar fielmente o texto através de suas gravuras que representou os moinhos de vento não como gigantes, como o d. Quixote os vê, mas pelo o que de fato são: “Doré tratou Dom Quixote como personagem real, nos deu seu retrato e documentou suas aventuras” (LINARDI, 2007, p. 360). Por sua filiação romântica, Doré também evitou representar o d. Quixote de forma cômica ou burlesca. Preferiu dar-lhe um tom elegante. Retrata essa personagem como um herói romântico, de maneira idealista. O grotesco, no sentido satírico, aparece principalmente nas representações do escudeiro Sancho Pança. O camponês não recebe muito destaque nas ilustrações de Doré, aparecendo muitas vezes de cabeça baixa ou de costas nas ilustrações. Compreendemos, assim, que as ilustrações de Doré podem ser consideradas um tipo de orientação de leitura do texto literário, visto que o objetivo do ilustrador parece ser o de representar um d. Quixote heroico, idealizado, diferente da representação feita por Cervantes, pois “no texto de Cervantes, o que é grotesco vem exatamente das situações em que a grandeza e a dignidade são anuladas: o heróico cavaleiro é, na verdade, um pobre desdentado” (LINARDI, 2007, p. 359).
Ao contrário disso, Doré irá suprimir esse lado grotesco do d. Quixote, e representa-o somente como um herói. As ilustrações, portanto, estão em concordância com uma visão romântica oitocentista de d. Quixote, e orientam o leitor a compreender a personagem de forma idealizada.
Essa visão idealizada é perceptível na figura acima, em que vemos d. Quixote armado cavaleiro, montado em um belo cavalo com todo donaire e elegância. Está no Campo de Montiel a caminho de sua primeira aventura como cavaleiro andante, quando parte para se armar cavaleiro, conforme ordenava a lei da cavalaria. No fundo do quadro, podemos perceber as imagens de outros cavaleiros e heróis em uma espécie de nuvem, que pode ser compreendida como o desejo de d. Quixote de se assemelhar a essas figuras lendárias. É importante notar que Doré representa d. Quixote com elegância e fielmente armado. Porém, o próprio Cervantes relata que d. Quixote, na verdade, era um indivíduo mal composto que causou riso ao chegar à estalagem, pois estava vestido de maneira desajustada. O estalajadeiro, ao ver d. Quixote, percebe-o como “figura mal conformada, armada de armas tão desiguais como eram arreios de bridão, lança, adarga e corselete” (CERVANTES, 2002, p. 70). É possível, assim, ler toda a cena do enfrentamento dos moinhos de vento através da ilustração. Notamos que Doré não se interessou em representar os moinhos de vento tal como d. Quixote os imaginou, ou seja, como gigantes, mas de maneira realista e descritiva. Notamos novamente a representação realista e descritiva em que d. Quixote ataca as ovelhas pensando ser um exército inimigo: “(...) entrou pelo meio do esquadrão das ovelhas e começou a lançá-las com tanta coragem e bravura como se deveras lançasse seus mortais inimigos” (CERVANTES, 2002, p. 238).
Referências DORÉ, Gustave. Doré spot illustrations : A treasury from His Masterworks. New York : Dover Publications, Inc. 1987 DORÉ, Gustave. The Doré bible illustrations : 241 Illustrations by Gustave Doré. New York : Dover Publications, Inc. 1982 DORÉ, Gustave. Doré’s illustrations for “DON QUIXOTE” : A selection of 190 Illustrations by Gustave Doré. New York : Dover Publications, Inc. 1982 ROCHA, Helder da. Stelle. Gustave Doré (1832-1883). Disponível em: <http://www.stelle.com.br/pt/dore.html> MATHOSO, Henrique. Desenho, Pintura e Ensaios. As Ilustrações Dramáticas de Gustave Doré. Disponível em: <https://goo.gl/LelLBh> Jornal Opção. A literatura e as gravuras do artista Gustave Doré. Disponível em: <https://goo.gl/SHWuaF> VIEIRA, Marcelo Lopes. Gaveta de Bagunça. A ARTE DE GUSTAVE DORÉ: O Prodígio que Ilustrou a Cultura Ocidental. Disponível em: <https://goo.gl/cz28RP> Artcyclopedia. Disponível em: <https://goo.gl/xLefcc> The Art Institute of Chicago. Disponível em: <https://goo.gl/VdSGSc> The Hermitage Museum. Disponível em: <https://goo.gl/Sl9GxR> Musée d’Orsay. Disponível em: <https://goo.gl/cpYDNF> Museum of Fine Arts Boston. Disponível em: <https://goo.gl/P1GWOs>