A produção arquitetônica residencial vertical em são paulo 1910 2016 alessandra naomi anno

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A PRODUÇÃO ARQUITETÔNICA RESIDENCIAL VERTICAL PRIVADA EM SÃO PAULO 1910 – 2017

Alessandra Naomi Anno Mas

São Paulo 2017 1


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ALESSANDRA NAOMI ANNO MAS

A PRODUÇÃO ARQUITETÔNICA RESIDENCIAL VERTICAL PRIVADA EM SÃO PAULO. 1910 - 2017

Trabalho Final de Graduação apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito à obtenção do grau de bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

Orientador Geral: Prof. Dr. Alessandro José Castroviejo Ribeiro Orientador de Projeto: Prof. Dr. Marcelo Barbosa

SÃO PAULO 2017 3


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Sumário Resumo ............................................................................................................... 7 Introdução ........................................................................................................... 9 Surgimento dos Edifícios Residenciais Verticais .............................................. 13 Habitações Coletivas na Europa Medieval ................................................... 15 Origem da palavra apartamento e o hotel particulier .................................... 16 Apartamento Haussmanianno ...................................................................... 20 A transposição do padrão francês para o Brasil ........................................... 25 A casa colonial paulista ............................................................................ 26 O palacete paulistano ............................................................................... 28 O Apartamento paulistano ................................................................................ 31 1910 - 1920................................................................................................... 33 1930 - 1940................................................................................................... 38 Programa e Plantas .................................................................................. 42 Edifícios Notáveis ..................................................................................... 50 Consagração do Modelo Modernista........................................................ 62 Incorporação de Apartamentos para venda ............................................. 65 1950 - 1960................................................................................................... 75 American Way of Life ............................................................................... 75 A Cozinha de Frankfurt............................................................................. 77 O apartamento americanizado ................................................................. 80 A Produção de Apartamentos .................................................................. 81 2.2.4. 1970 ............................................................................................... 85 1980 .............................................................................................................. 91 5


Anos Recentes – 1990 - 2010 ...................................................................... 96 ANÁLISE DO CENÁRIO ATUAL - .................................................................. 103 TENDÊNCIA ................................................................................................... 103 Fator Econômico ........................................................................................ 105 Diretrizes Políticas...................................................................................... 108 Fator Social ................................................................................................ 110 Apartamentos Compactos – Análise Tipológica ......................................... 112 Projeto Residencial Vertical – Praça Rebouças ............................................. 117 Considerações Finais ..................................................................................... 135 Referências Bibliográficas .............................................................................. 138

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Resumo Esse trabalho estuda a produção arquitetônica residencial vertical realizada pelo mercado imobiliário em São Paulo, desde seu surgimento, no início do século XX até a atualidade. Para isso, é feito um breve histórico sobre o surgimento dos edifícios residenciais verticais na Europa e sua influência nos edifícios da capital paulista. A seguir, discorre-se, década a década, sobre as principais características tipológicas e programáticas dos edifícios e suas modificações no decorrer do tempo. Por fim, é feita uma análise do cenário atual do mercado imobiliário paulistano, na qual são apresentados os principais fatores que levam a alterações nas plantas e programas dos edifícios.

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Introdução A velocidade das transformações econômicas, tecnológicas, sociais e culturais no Brasil é cada vez mais rápida e contribui para a crescente dinamização do modo de habitar de sua população, notadamente nas principais metrópoles do país, que são as primeiras a absorver as novas tendências culturais e as que mais sofrem com os diferentes cenários econômicos vividos nos anos recentes. A arquitetura residencial verticalizada configura o principal modo de habitação na metrópole, com tendências de crescimento em relação à arquitetura horizontal. É de extrema importância que os arquitetos que atuam nesse setor conheçam a produção já realizada e os principais aspectos que levam a mudanças nos edifícios residenciais e suas tipologias ao longo do tempo. Somente munido de tais informações e atento às tendências econômicas, legais e culturais que as cidades e o país sofrem é que o arquiteto será capaz de moldar seus projetos residenciais aos novos hábitos populacionais. Dessa forma, faz-se necessário um estudo da evolução dos edifícios residenciais paulistanos a fim de projetar melhores moradias para a metrópole paulista. Esse trabalho estuda a evolução da produção arquitetônica no mercado residencial privado paulistano, identificando os fatores que levam às transições entre as diferentes tipologias observadas ao longo dos anos. Em um primeiro momento, as tipologias residenciais verticais em muito se assemelhavam aos apartamentos haussmanianos e aos sobrados paulistas. Com o passar do tempo, e evolução tecnológica permitiu construir edifícios mais altos. Na década de 1950, a padronização dos edifícios já era comum. Nos anos 1980 e começo dos anos 1990, a hiperinflação levou ao surgimento da despensa nas tipologias residenciais. A área de serviço, sua localização, 9


surgimento e desaparecimento das tipologias residenciais está relacionada ao modo de vida dos habitantes dos apartamentos. A utilização de vários serviçais no começo do século XX é substituída por empregadas domésticas ou donas de casa e depois por diaristas e serviços pay-per-use. O aparecimento da varanda gourmet relaciona-se à legislação paulista e os condomínios clube com as demandas da população aliadas ao elevado preço de se morar na metrópole. Além disso, segundo ONUKI (2013, pg. 12) é importante estudar as mudanças no núcleo familiar brasileiro, já que a produção de apartamentos residenciais no mercado imobiliário segue, entre outros fatores, as características do núcleo familiar brasileiro, ainda que permaneça um resquício da matriz envelhecida tradicional. QUEIROZ (2009, pg. 7) traz um estudo interessante do mercado imobiliário paulistano, comparando a quantidade de dormitórios e a metragem dos apartamentos através do tempo. De acordo com sua pesquisa, é possível notar que a metragem dos apartamentos com mais dormitórios tem diminuído e a metragem das áreas comuns têm crescido, justamente para suprir a perda de espaço de convivência desses apartamentos. O autor ainda nota a crescente participação dos apartamentos de alto padrão em relação aos apartamentos de dois e três dormitórios, o que pode ser explicado pela alta no preço dos imóveis que obrigou famílias, que antes morariam em casas, a se mudarem para condomínios verticais. Além disso, o autor nota também o crescimento das moradias individuais, que deixam de ser vistas como habitações baratas, tendo, de fato, o maior valor por metro quadrado em comparação com unidades habitacionais maiores.

Estes são alguns dos inúmeros exemplos de

transformações causadas por fatores econômicos, políticos e culturais nas 10


habitações verticais paulistas. Compreender como tais aspectos afetam a concepção projetual é de extrema importância para o arquiteto e para as empresas que trabalham neste setor, que está cada vez mais competitivo e exigente. O trabalho se desenvolveu em três etapas. A primeira foi a coleta de dados em livros, teses, artigos, dissertações e revistas acerca dos diferentes edifícios residenciais que se instalaram na cidade de São Paulo, desde a década de 1910 até o ano de 2017. A segunda parte foi a coleta de dados do cenário político, econômico, demográfico e cultural atual e da produção recente do mercado residencial vertical. Ela foi feita com base em publicações e dados de institutos como IBGE, Sempla, Secovi e EMPLASA. Na terceira parte, os dados coletados foram analisados de forma a sugerir as tendências projetuais para os edifícios residenciais verticais. Concomitantemente ao trabalho teórico, foi desenvolvido o projeto de um edifício residencial que incorporou as principais características do cenário político, econômico, cultural e social atual.

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Surgimento dos EdifĂ­cios Residenciais Verticais 13


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Habitações Coletivas na Europa Medieval Até meados do século XVII, as habitações coletivas semelhantes as da atualidade não existiam. Na Europa medieval, os nobres viviam encastelados, os burgueses em mansões e os pobres em casebres. Segundo RYBCZYNSKI (2002, pg 59) a casa era um lugar público, e não privado. Os cômodos eram multifuncionais, onde se misturavam trabalho e moradia. A quantidades de ocupantes das casas era grande e não se limitava a parentes consanguíneos, mas incluíam também agregados e serviçais. Observa-se também que os cômodos possuíam poucos móveis e estes tinham várias funções, sendo, portanto, portáteis e desmontáveis1. A partir do fim do século XVII até o início do século XIX, há um grande movimento migratório na Europa em direção às cidades. Para absorver esse excedente populacional, os donos das casas urbanas típicas começam a alugar os cômodos vazios de suas casas. Isso só é possível pela forte transição que as residências parisienses sofrem nessa época: deixam de ser um espaço público que era utilizado não só como habitação de diversas pessoas, mas também como espaço de trabalho e passaram a ser espaços mais privados. Além disso, o núcleo familiar do proprietário passa de 20 pessoas para 8 pessoas. Dessa forma, ele consegue alugar os cômodos remanescentes de sua casa. Os andares mais altos eram destinados aos mais pobres e os andares inferiores ficavam com os que tinham melhores condições – é Atualmente, com a proliferação dos apartamentos compactos, os móveis voltaram a assumir esse papel multifuncional. No entanto, se antigamente os espaços eram amplos e os móveis escassos, atualmente são os pequenos espaços que fazem surgir a necessidade de móveis multifuncionais. 1

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importante observar que não havia elevadores nessa época e morar mais alta significava subir mais escadas. O térreo, usualmente, era o local do comércio e da própria residência do proprietário da casa. Nota-se que tais cômodos não foram projetados como moradias independentes. Assim, o quarto de um inquilino, muitas vezes, possuía conexão com o quarto de outros inquilinos. Observa-se também que os cômodos alugados por um inquilino, muitas vezes, não eram adjacentes, podendo até mesmo ficar em andares diferentes, o que indicava as condições de vida precárias dos residentes.

Origem da palavra apartamento e o hotel particulier Segundo VILLA, a origem do termo apartamento com significado mais próximo ao atual é dada por D’Aviler no fim do século XVI: “ Sequência de cômodos necessário para tornar uma habitação completa, que deve ser composta de pelo menos uma ante-câmara, um quarto, um gabinete e um quarto de vestir”. Já no século X, na Abadia de Cluny, a palavra apartamento era utilizada para designar os aposentos do senhor, que se situavam “à parte” das áreas de uso público do edifício. Ainda segundo VILLA, a conexão entre esses dois significados foi feita com os palazzos romanos. Na Itália do século XVI, a palavra apartamento passou a designar um espaço maior segmentado em células ou apartamentos: “O palazzo romano dos séculos XVI e XVII ilustra essa organização espacial multipartida[...] a unidade básica da planta do palazzo romano era o apartamento, um conjunto de salas para uso de um único e importante residente” (VILLA, 2002, pg. 17). Também nos palazzos romanos, com o passar do tempo, notou-se uma maior necessidade de privacidade 16


quando os aposentos dos criados e das crianças passaram a ficar em alas diferentes dos aposentos dos senhores. Porém, é no hotel particulier parisiense que se inicia uma nova forma de habitar que será referência para os apartamentos burgueses que irão aparecer no final do século XVIII. No início do século XVII, os cômodos dos hotels ainda não possuíam funções específicas e alguns ainda não existiam. Até então, fazia-se de tudo no mesmo cômodo: comer, dormir, trabalhar. Já no início do século XVIII, o hotel particulier passa por algumas transformações: os cômodos passam a ter funções específicas e os móveis ganham maior destaque. É também no hotel particulier que as dependências de serviço – cozinha e anexos - são incorporadas à casa principal. Essas áreas menos nobres da casa costumavam ficar localizadas nos subsolos ou nas partes laterais da casa. Assim, com a incorporação desses aposentos à casa, nasce a ideia de tripartição da habitação: ala de serviços, ala íntima e ala de convívio. Como vimos, os serviços situam-se nos locais menos nobres. Os quartos e dependências de uso privado situam-se no andar superior. No térreo, considerado o andar nobre situava-se o acesso principal da casa e as áreas de convívio social. Segundo RYBCZYNSKI (2002, pg. 55), o termo salle a manger (sala de jantar) foi usado pela primeira vez em 1634. É também nesse século que a noção de privacidade se dissemina. Dessa forma, os espaços público e privado são delimitados, os cômodos ganham funções especificas e a unidade familiar se torna mais compacta. Os criados são vistos como intrusos na vida familiar e suas dependências são mantidas isoladas do resto da casa. Ainda segundo o autor, os apartamentos burgueses parisienses do século XVIII possuem cinco ou seis cômodos principais. Já havia uma separação entre sala de jantar, salão 17


Figura 1. Planta do Hôtel Particulier da Rue de Lota, 82 2

Disponível em VILLA (2002, pg. 22).

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(Sala de estar), cozinha e quartos de dormir. É nesse século também que surge o quarto de banheiras - um para se lavar e um para se enxaguar - e outro cômodo chamado “compartimento inglês” onde ficava o vaso sanitário. Até então, não havia banheiro nos apartamentos parisienses, pois não havia a noção de banho relacionada à higiene e o cômodo da latrina era associado à pobreza. Nessa época, as pessoas de maior poder aquisitivo utilizavam uma “cadeira de retraite”, uma cadeira com uma abertura central onde havia uma gaveta com um urinol. Outra forma de se segmentar o apartamento foi feita por Jacques François Blondel. Para ele, os cômodos dos apartamentos eram divididos em três categorias: cômodos de cerimônia, cômodos de recepção formal e cômodos de uso privado (RYBCZYNSKI, 2002, pg. 100). Esse arquiteto faz uma comparação entre os tipos de móveis de cada um dos cômodos. Os cômodos de uso privado possuíam móveis mais simples, sem ornamentação. Já os demais cômodos, como os boudoirs e fumoirs, onde, respectivamente, mulheres e homens recepcionavam seus convidados, possuíam uma maior formalidade e ornamentação dos móveis. Os cômodos de uso privado também eram menores e eram os únicos que tinham lareiras. Somente em 1720, quando começam a construir lareiras com chaminés para eliminar a fumaça, é que os cômodos maiores e mais luxuosos passam a contar com esses aparatos.

Ainda segundo o autor, nessa época, os cômodos deixam a

configuração enfilade – dispostos em fila – e já não é mais necessário atravessar um cômodo para se chegar ao outro.

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Apartamento Haussmanianno A partir do fim do século XVIII, há uma grande transformação em Paris, decorrente da revolução industrial e das ações do barão de Haussmann, nomeado por Napoleão III como o responsável pela reestruturação da cidade de Paris. Com Haussmann, há uma segregação da cidade em zonas ricas e zonas pobres. Assim, os imóveis mistos que anteriormente eram ocupados por pessoas ricas e pobres desaparecem. A distinção de riqueza não é mais feita baseada no andar da sua moradia, mas sim pela localização da sua moradia em áreas periféricas (pobres) ou centrais (ricas). Esses imóveis mistos foram paulatinamente desaparecendo de todas as cidades francesas durante o período pós revolução industrial. Segundo TRAMONTANO (1998, pg. 68), o boulevard se torna a principal estratégia haussmanianna de estruturação da cidade. Ele consiste em “uma avenida larga, cujas calçadas, igualmente largas e destinadas ao passeio, são sombreadas por uma fileira de árvores e contêm diversas peças de mobiliário urbano”. Juntamente com os boulevards, que foram utilizados massivamente para estruturar as regiões centrais de Paris, Haussmann determina uma rígida legislação a ser respeitada na área central intramuros da cidade de Paris. Assim, “nos boulevards com mais de 20 metros de largura, a altura da cornija dos edifícios pode chegar a 20 metros de altura, contanto que o imóvel não tenha mais que cinco pavimentos”. No século XVIII, há três tipos de imóveis disponíveis para locação pela burguesia. O primeiro tipo, para a burguesia mais abastada, consistia em: 20


“Edifícios, de no máximo quatro pavimentos, tem dupla orientação, sendo um lado para o pátio e o outro para a rua. Seu térreo mais elevado ergue-se sobre adegas e porão. Os apartamentos dos três primeiros andares são servidos por uma escada de pedra, imponente. Já o último andar, que abriga as famílias menos abastadas ou amigos e filhos das famílias alojadas nos pavimentos inferiores, possui uma escada menos imponente – construída, em geral, de madeira. Seu acesso se dá pelo pátio ou por uma entrada oculta, independente do vestíbulo, que liga os andares pelas cozinhas e serve ao sótão, onde dorme a criadagem. Os primeiros andares são servidos por aquecimento através de uma caldeira decorada, instalada no porão, ramificando-se pelos ambientes, menos nos quartos. ”

GUERRAND (1992, pg.330) O segundo tipo de imóvel, disponível para a burguesia de classe média, comportava um pavimento a mais que no primeiro caso, com os dois primeiros andares ocupados por lojas. Havia dois apartamentos por andar e escadas de serviço e social separadas. Já o terceiro tipo de imóvel, para as camadas inferiores da burguesia, possuíam cinco andares e somente uma escada de madeira, sem pátio. É interessante notar a presença do zelador nesses imóveis, responsável por recolhimento de alugueis e manutenção das dependências comuns dos prédios. Segundo VILLA (2002, pg. 40), o apartamento haussmaniano é dividido em zonas de rejeição (zonas de serviço como cozinha, banheiro e quartos dos criados), zonas íntimas (quartos) e zonas de prestígio (salas de estar, de fumo e de jantar). Ou seja, é possível observar que os apartamentos haussmannianos herdam certas características dos hotels particuliers, como essa tripartição dos apartamentos e o posicionamento das aberturas das áreas 21


de prestigio nas faces nobres do edifício – no caso dos apartamentos haussmannianos, as faces nobres são aquelas voltadas para os boulevards. A tripartição agora não é feita mais por andares, mas horizontalmente, “excetuando-se os quartos dos empregados, localizados sempre no último andar, sob o telhado” (VILLA, 2002, pg. 34). Além disso, há uma hierarquia de circulação, evitando a comunicação entre patrão e empregado. O acesso ao apartamento haussmanniano sempre era feito a partir de uma grande escada, assim como no hotel particulier. A distribuição para os cômodos dos apartamentos era feita a partir das galeries (espécie de corredor). Havia uma galerie maior, que dava acesso aos espaços de prestigio, como o salon, petit salon e salle à manger. E havia uma galerie íntima que dava acessos aos quartos. É no apartamento haussmanniano também que aparecem equipamentos sanitários, embora sua aceitação e larga utilização aconteçam somente no século XIX. Ainda segundo VILLA, o appartement de bains é o ponto de partida para a evolução do banheiro. Quando estes existiam nos apartamentos, faziam parte das zonas de rejeição. No entanto, diferentemente das outras zonas de rejeição, não havia necessidade de deixá-lo afastado das zonas íntimas e de prestigio, já que seu uso era esporádico. Havia um outro cômodo denominado cabinet de toilette, que se situava do lado do quarto principal da casa. Sua utilização era predominantemente feminina e, com o tempo, esse cômodo foi perdendo espaço. Ele fundiu-se a salle de bains e, posteriormente, tornou-se o móvel penteadeira.

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Figura 2: Exemplo de apartamento haussmaninano - Avenue Alphand, arquiteto J. Hermant, 19043.

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DisponĂ­vel em VILLA (2002, pg. 36).

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As cozinhas do final do século XIX, foram descritas por GUADET (1902, pg. 118, apud VILLA, 2002, pg. 38): “[...] deve estar próxima da sala de jantar sem ser-lhe contígua: em todo caso deve estar dela separadas por circulações fáceis e não por longos corredores escuros e tortuosos como vemos em muitos exemplos; ela deve ser acessível pela escada de serviço, e dela próxima o bastante para que os empregados não tenham que atravessar qualquer parte do apartamento.; deve estar em comunicação fácil com o hall de entrada para atender a porta; enfim, deve estar isolada o suficiente para que os odores de cozinha não se espalhem por todo o apartamento.” A partir da primeira guerra mundial, há uma escassez de mão de obra doméstica que resulta em menos empregados e, consequentemente, apartamentos com menos quartos de empregados. Assim, a cozinha passa a ser frequentada pela dona de casa, o que faz com que haja uma preocupação com a salubridade do local e com a atividade de cozinhar. Novos equipamentos, novos revestimentos e uma otimização do ato de cozinhar são desenvolvidos para esse ambiente. A cozinha passa a ter dois ambientes contíguo: a sala de refeições e o office (copa). Este ambiente, ao contrário do que ocorria nos hotel particuliers, passa a servir como uma despensa: local para armazenamento de baixelas e mantimentos. É interessante notar como a despensa é um cômodo que surge sempre em épocas de incerteza e insegurança. Aqui, ela surge no período entre guerras, onde se fazia necessário estocar alimentos em caso de guerra. Será discutido adiante sua disseminação na época da hiperinflação, na década de 80, no Brasil. 24


Um outro cômodo que desperta interesse no apartamento haussmanniano é o quarto da Madame. Até o século XIX, esse quarto localizava-se ao lado do grand salon, e fazia parte da área de prestigio, sendo um local onde a mulher recebia convidados após os jantares. Portanto, era, muitas vezes, o local mais requintado da casa. A partir do século XIX, esse quarto passa a fazer parte da zona íntima da casa e, portanto, não é mais aceitável que esse espaço seja aberto aos convidados. Observamos, nesse período, vários cômodos ligados ao vestuário. Assim, há as lingeries (cômodos destinados a guardar as roupas íntimas), garde robes (cômodos destinados a guardar as roupas em geral), as roberies (cômodos destinados a guardar os casacos e pertences dos convidados), além de quartos de vestir. É importante notar que o vestuário daquela época, principalmente o feminino, era volumoso e composto por várias camadas. Portanto é natural perceber que o uso de tais vestimentas complexas demandava mais espaço do que posteriormente, quando roupas mais leves permitiram que tais cômodos fossem substituídos por móveis.

A transposição do padrão francês para o Brasil O padrão haussmaniano de urbanização e de habitação foi transportado para o Brasil no final do século XIX. Essa importação de padrões europeus, deu-se principalmente na capital brasileira da época, o Rio de Janeiro. Nessa cidade, os edifícios verticais precisaram transpor os preconceitos relacionados aos cortiços para se afirmarem como habitações luxuosas. Por isso, suas fachadas seguiam o estilo clássico francês. Em São Paulo, a casa colonial, construída no alinhamento das vias públicas deu lugar aos palacetes com grandes jardins, 25


construídos em lotes regulares e recuados das vias públicas. Algumas características dos sobrados permaneceram e se misturaram ao modelo tripartido do hotel particulier. Para melhor compreensão desse novo modelo, é importante compreender a distribuição da casa colonial paulista.

A casa colonial paulista Segundo REIS (2000, pg. 24), havia uma grande padronização nas casas paulistas, com certas características fixadas em cartas régias ou posturas municipais. Basicamente, as casas coloniais se dividiam em dois tipos. Uma versão mais simples de terra socada e madeira e a outra construída em taipa de pilão. Ambas eram térreas e desprovidas de corredor. Era a partir do salão que era feita a distribuição para os outros cômodos, que se dividiam em alcovas e salas. As alcovas localizavam-se na parte mais central da edificação e, portanto, não recebiam luz natural. É importante lembrar que as paredes laterais das casas eram construídas nos limites do lote, encostadas umas nas outras. Ou seja, tal configuração permitia a entrada de luz somente nos cômodos que davam para a frente ou para os fundos da casa. Nos fundos da casa encontrava-se a varanda ou sala de viver. Esse ambiente era bem iluminado e tinha um caráter de uso múltiplo, onde todos se reuniam para fazer suas atividades, inclusive os escravos. O banheiro só apareceria na casa colonial no final do século XIX. Até então, utilizavam-se fossas localizadas nos fundos do terreno e os banhos eram tomados em tinas no interior das casas. Já a cozinha localizava-se em edificação a parte, normalmente adjacente à

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Figura 3: Exemplo de Sobrado Colonial Paulista4

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DisponĂ­vel em HOMEM (1996).

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varanda. A cozinha, nessa época, era um local frequentado somente por escravos, que realizavam as atividades domésticas. Havia uma outra modalidade de habitação em São Paulo naquela época: os sobrados. O térreo era composto por comércio e habitações para escravos. Era, portanto, mais simples, de terra batida. Já o andar superior possuía a mesma configuração da casa colonial térrea. VILLA (2002, pg. 60) observa que o sobrado era significado de riqueza, enquanto a casa térrea era significado de pobreza. Nesse sentido, é interessante notar que, desde aquela época até a atualidade, a riqueza de uma pessoa pode ser medida através da quantidade de cômodos de sua casa. É importante notar que esse padrão de casa paulista teve como modelo a casa portuguesa. Até então, os portugueses eram os principais imigrantes no Brasil. Somente no final do século XIX, com as novas ondas migratórias, esse padrão de casa paulista sofrera uma ruptura.

O palacete paulistano Segundo FAUSTO (2009, pg. 155), uma das mudanças socioeconômicas mais importantes ocorridas no Brasil do final do século XIX foram as ondas migratórias dos países europeus com destino ao Brasil, notadamente, São Paulo, que necessitava de trabalhadores para a produção cafeeira. A presença desses imigrantes contribuiu para a europeização dos costumes na capital paulista que, em 1890, já abrigava a quinta maior população brasileira e no começo do século XX, já era a segunda maior cidade brasileira, com uma população de quase 600.000 habitantes. 28


Nem todos os imigrantes que chegavam, dedicavam-se à produção agrícola. Engenheiros, arquitetos e mestres com formação europeia passaram a construir edificações à maneira francesa, ao estilo haussmanniano. Assim, as casas térreas coloniais deram lugar aos palacetes. Estes já não eram construídos nos limites dos lotes. A circulação era feita a partir do vestíbulo, ao invés do grande salão. As salas e alcovas deram lugar a diferentes cômodos, cada um com uma função especifica. HOMEM (1996, pg. 14), define o palacete como: “[...] um tipo de casa unifamiliar que ostentava apuro estilístico, rodeada por jardins, geralmente afastada das divisas do lote, possuindo porão, dotada de um ou mais andares, área de serviços e edícula nos fundos. Como seu modelo francês – o hotel particulier -, a casa era dividida em três grandes zonas: de recepção, de serviços e íntima. “

A economia cafeeira paulista também fez de São Paulo o centro importador do Brasil: a grande maioria dos produtos importados que entravam no país, o faziam pelo porto de Santos. Isso acentuou ainda mais a europeização da elite paulista, que importava todo tipo de produtos, desde vestuário até móveis para suas novas casas.

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Figura 4: Vila Horácio Sabino, 1903. Acima: planta térreo: 1. entrada, 2. vestíbulo, 3. s. visitas, 4. s. jantar, 5. jardim inverno, 6. saleta, 7. copa, 8. costura e refeição das crianças, 9. cozinha, 10. criada, 11. despensa. Abaixo: planta do 1º andar: 1. escritório, 2. dormitório, 3. q. casal, 4. q. vestir, 5. toilette, 6. banho e w.c., 7. alpendre, 8. terraço. 5

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Disponível em HOMEM (1996).

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O Apartamento paulistano 31


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1910 - 1920 Nas décadas de 1910 e 1920, os bairros centrais de São Paulo passam a receber edifícios com apartamentos haussmanianos de três a quatro andares com comércio no térreo. Ainda nessas décadas, o grande aumento populacional, a abertura de bairros e loteamentos, o uso do concreto armado como nova tecnologia e o uso dos elevadores permitiu a construção de prédios mais verticalizados, como por exemplo o Edifício Martinelli que chegou a ter 20 andares já em 1928. A grande maioria dos novos prédios verticalizados do centro eram de escritórios. Os primeiros edifícios residenciais, produzidos nas décadas de 1910 e 1920 tinham acesso feito de forma independente, ou seja, cada apartamento era acessado por uma escada individual. “Somente no final dos anos 1920 é que verificamos a tipologia francesa, com referências palladianas claras de acesso único centralizado no corpo do edifício [...] Portarias, dependências de zelador, áreas coletivas de lazer como playground e salões, geralmente localizadas no pavimento térreo, somente serão encontradas a partir da década de 1930”. (VILLA, 2002, pg. 79).

Observa-se, nessa época, que tais edifícios eram construídos para locação. Os proprietários ainda residiam nos palacetes nos bairros ricos e alugavam esses apartamentos na região central, que neste momento, não era considerada propícia para a moradia da classe alta, possivelmente devido à vocação comercial da área. O uso misto desses edifícios valorizava o empreendimento que permitia que as pessoas habitassem e trabalhassem no mesmo edifício. Quanto à distribuição interna dos apartamentos, parece haver ainda uma mescla do apartamento haussmaniano – com a tripartição das áreas íntima, 33


social e de serviços – e da casa colonial - com um programa menos extenso, excluindo biblioteca, sala de bilhar, fumoir, sala d’armas etc. Os apartamentos apresentavam sempre o conjunto sala da estar (salão ou sala de visitas) e sala de jantar. VILLA nota que a sala de jantar tem a mesma função da varanda na casa colonial. No entanto, a substituição do termo “varanda” por “sala de jantar” já demonstra uma certa europeização da planta. Os apartamentos já apresentavam toilettes entre os cômodos. Em alguns apartamentos, os dormitórios localizavam-se segregados das demais áreas. Já em outros, essa separação da área íntima das demais áreas não ocorria. Já a área de serviço (cozinha, copa e dependência de empregados) encontrava-se sempre segregada das demais áreas. Somente no final da década de 1920, áreas de serviço e dutos de evacuação de lixo começam a aparecer nas plantas. O número de dormitórios variava de um até seis dentro do mesmo edifício. Mesmo apartamentos com o mesmo número de dormitórios apresentavam diferenças em sua organização interna. Isso ocorria devido ao modo como o edifício era implantado, seguindo os contornos do lote.

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Figura 5: Edifício destinado ao comercio e habitação, Buenos Aires, 1913, arquitetos Emilio Huge e Vicente Colmegna.6

Figura 6: Edifício Conde de Pilates, 1912, rua Formosa, Arquiteto Samuel das Neves.7 6

Disponível em VILLA (2002).

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7 Figura 7: Edifício Conde de Pilates. Acima: Planta do Térreo. Abaixo: planta do 1º andar 7

Disponível em VILLA (2002).

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Figura 8: Edifício Conde de Pilates. Planta do 2º andar8

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Disponível em VILLA (2002).

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1930 - 1940 Como descrito anteriormente, os edifícios residenciais construídos visavam à renda por meio de aluguéis. Segundo BONDUKI (1983, pg. 85), nas décadas de 20 a 40, mais de 66% dos imóveis em São Paulo eram ocupados por inquilinos. Segundo o autor, esse número seria maior ainda se contabilizasse somente imóveis residenciais. Nesse momento, investir no edifício de apartamentos vertical gerava uma rentabilidade bem superior ao conjunto de habitações horizontais construídas maciçamente até então. Segundo PINHEIRO (2008, pg. 2), até meados da década de 40, cada edifício era construído por um único investidor, proprietário de todos os apartamentos. Apesar de, desde 1928, já existir um decreto que institui a figura jurídica do condomínio, somente a partir de 1942, com a promulgação da lei do Inquilinato, é que tal situação se altera. Tal lei congelava o preço dos alugueis, o que tornava menos interessante para o investidor construir novos edifícios para locação. A lei do Inquilinato surgiu durante o Estado Novo de Getúlio Vargas. Ela tinha como objetivo esvaziar o interesse do investidor dos edifícios para alugueis e atrair esse capital para o parque industrial em expansão no país. Devido à perda desse atrativo financeiro, começam a surgir então edifícios com o sistema de condomínio, no qual cada apartamento pode ter um proprietário distinto. É a partir daí, que o mercado imobiliário direciona seu foco para o mercado da casa própria e inicia então a prática da incorporação imobiliária. Enquanto nas décadas 10 e 20, os edifícios residenciais restringiram-se à região central, a partir da década de 30, os edifícios residenciais começam a ocupar os bairros vizinhos ao Centro, notadamente o bairro de Higienópolis. 38


Nesta época, muitos palacetes da região já haviam sido convertidos em pensões para a classe média. A manutenção dos palacetes também começa a se tornar cara e os terrenos por eles ocupados passam a ser dedicados à construção de edifícios verticais de apartamentos, que se encaixam nos grandes lotes e são erguidos diretamente sobre o alinhamento das calçadas. Somente a partir do final da década de 30, os novos edifícios são obrigados por legislações vigentes a obedecer a recuos frontais e laterais. A partir de meados da década de 1930, os edifícios passam por uma transformação de estilo e influência. PINHEIRO (2008, pg. 4) refere-se ao estilo predominante nesta década como Art Déco9. O Art Déco, na arquitetura, é um movimento eclético, que conjuga uma série de estilos dentro de si. É natural que em uma época de transição arquitetônica, um estilo como esse seja o predominante. Assim, os edifícios dessa época passam por uma transformação do estilo de Beaux-Arts e Art Nouveau para o Estilo Moderno. É dizer, ainda possuem certo requinte e ornamentação, mas com aspectos modernos. Em São Paulo, o Edifício Altino Arantes é um dos expoentes mais conhecidos desse estilo. “Trata-se de uma arquitetura descompromissada quanto a princípios teóricos gerais – especialmente a relação forma-função, tão cara à arquitetura moderna – e caracterizada pelo despojamento na O Art Déco foi um movimento artístico internacional que teve sua expressão cunhada devido à Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas organizada em Paris em 1925. É considerado um movimento eclético, com mistura de vários movimentos do início do século XX, como o construtivismo, o cubismo, art noveau, Bauhaus e futurismo. Associou-se a movimentos na decoração, arquitetura, desenho industrial, moda, artes plásticas, artes gráficas e cinema. Ver mais em: http://www.infoescola.com/movimentos-artisticos/art-deco/. Acesso em 13/05/2017. 9

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Figura 9: Edifício Altino Arantes10

10

Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Edif%C3%ADcio_Altino_Arantes

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ornamentação, que, entretanto, continua presente, buscando remeternos aos signos dos “tempos modernos”: a máquina e suas formas geometrizadas, a velocidade, a eletricidade etc. A esse respeito, cabe destacar que o Art déco sempre foi suscetível a influências dos acontecimentos do momento, rapidamente veiculados pelos meios de comunicação de massa disseminados no período: o cinema, as revistas ilustradas, o rádio, a propaganda, etc. Tais fontes de inspiração – bastante diversificadas, como se vê – coexistem com fortes vínculos com a tradição: além da ênfase decorativa, já destacada, deve-se mencionar a manutenção, em muitos casos, do método Beaux-Arts de composição, manifesto numa busca de simetria e axialidade na distribuição da planta. Aliás, possivelmente foi esta solução de compromisso o que lhe garantiu tão grande – e rápida – aceitação no mundo inteiro, assim como ocorreu entre nós. PINHEIRO (2008, pg. 4) Iremos observar, nos edifícios apresentados a seguir, uma tentativa de racionalização dos volumes e dos elementos de ornamentação, que se apresentam de formas mais pontuais. O art déco é marcado pelo rigor geométrico e predominância de linhas verticais, havendo a tendência de tornar, através da percepção, o edifício mais alto. Segundo SOMEKH (1194, pg. 47), de 1920 a 1930, os apartamentos produzidos seguiam padrões predominantemente europeus, com alguma influência norte-americana. É a partir do início da década de 1930 que os edifícios residenciais verticalizados paulistanos passam a ser fortemente influenciados pela arquitetura norte-americana, como, por exemplo, na forma 41


de implantação do edifício no lote, na presença de equipamentos de conforto moderno e pela presença de elevadores – nessa década, os edifícios ganham mais altura, com predominância de edifícios entre seis e dez pavimentos. Até 1929, existiam pouco mais de 50 edifícios acima de quatro andares na cidade. Esse número decuplicou depois de 1930.

Programa e Plantas Segundo PINHEIRO (2008, pg.2), os edifícios dessa época possuíam projetos que visavam estritamente sua concretização e maior retorno financeiro. Assim, a ocupação do terreno era a máxima possível, independente de fatores como orientação, insolação e ventilação. A ocupação máxima também determinava o formato dos edifícios, que seguiam os contornos irregulares dos lotes coloniais. Isso acarretava em soluções de plantas heterogêneas nos pavimentos tipo. Assim como no padrão francês, a fachada principal era a que recebia maior preocupação estética. O método Beaux-Arts de composição, que buscava simetria e axialidade na distribuição da planta, por meio do uso de eixos que se cruzavam no meio do terreno, também se encontra presente em muitos edifícios. Um artificio muito utilizado na construção desses edifícios para satisfazer as leis vigentes, era o poço de ventilação, duto emparedado que era projetado para que todos os ambientes tivessem algum tipo de abertura para o exterior. Durantes essas décadas, os prédios continuaram a manter a tradição europeia de térreo comercial. Nesse caso, a diferenciação de uso era enfatizada pela 42


Figura 10: Edifício João Alfredo, Fachada e Planta do Térreo.11

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Disponível em PINHEIRO (2008).

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Figura 11: Edifício João Alfredo, Plantas do 2º ao 6º pavimento.12

12

Disponível em PINHEIRO (2008).

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presença de marquises e pelo tratamento mais sofisticado conferido a este piso, enfatizando a entrada principal do edifício - geralmente localizada no eixo de simetria da fachada principal. Essa fachada normalmente recebia um revestimento especial, enquanto as fachadas secundárias eram revestidas com reboco simples. Aliando o desejo de aproveitamento máximo do lote com a experimentação de soluções variadas para um mercado ainda desconhecido, a grande maioria dos prédios residenciais construídos nessa época possuía diversas tipologias por andar. Diferentemente do que ocorre hoje, onde a variação tipológica costuma ocorrer juntamente com a variação no número de dormitórios, nas décadas de 30 e 40, a variação tipológica não ocorria necessariamente devido a um número maior ou menor de dormitórios. Por exemplo, existiam apartamentos de um dormitório com sala de jantar e estar, e apartamentos de dois dormitórios com apenas uma sala. Já datam dessa época apartamentos de um dormitório e até mesmo kitchenettes, que serviam como moradia para a crescente população que chegava a São Paulo em busca de emprego e que, muitas vezes, passava o dia trabalhando e precisava de apenas um lugar para dormir. Alguns apartamentos não possuíam cozinha, mas o prédio contava com serviços de hotelaria ou com restaurante no térreo. TRAMONTANO (1998, pg.89), explica que talvez haja, nesse caso, uma influência dos apartmenthotels da Nova York dos anos 1870, que eram uniam a privacidade de um apartamento com os serviços de arrumação e preparação de refeições de um hotel. Poucos edifícios dessa época foram projetados com equipamentos coletivos, como a lavanderia ou cozinhas coletivas talvez para evitar associações com lavadeiras e latrinas coletivas. Muitos apartamentos dessa 45


época também não possuíam dependência para empregadas domésticas. No caso dos apartamentos que possuíam tais dependências, verifica-se que elas se encontravam no último andar do edifício, totalmente segregadas da unidade tipológica, assim como no apartamento haussmaniano, no qual a dependência dos empregados situava-se no sótão dos edifícios. Nesse período surge também um novo componente programático em alguns edifícios: a garagem para automóveis. Apesar das primeiras fábricas automotivas no Brasil datarem da década de 30, o uso do carro disseminou-se somente após o final da segunda guerra mundial, na década de 50. Assim, as soluções mais utilizadas nessa época foram as garagens construídas em nível, nos fundos do lote, com uma cobertura simples. Alguns poucos edifícios investiram em uma solução mais sofisticada: a garagem subterrânea. Ela pode ser encontrada nos edifícios Esther, Regência e Edifício Maria Paula. Em ambas as soluções, o número de vagas disponíveis era sempre muito inferior ao número de apartamentos no edifício. A partir da década de 1930, os apartamentos passam a perder área útil, com o descarte de alguns cômodos - copa, gabinete, quarto de criada etc. - que antes existiam nos palacetes. Podemos distinguir dois tipos de edifícios de apartamentos na década de 30: apartamentos para alugar – destinados à classe média, com programa mais reduzido da casa colonial – e os apartamentos para as famílias mais ricas – com programas similares aos dos palacetes.

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Figura 12: Edifício André Matarazzo, rua da Consolação, 1937, Escritório Técnico Ramos de Azevedo-Severo & Villares. À esquerda: planta do 7 ao 9 pav. À direita: planta térreo.13

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Disponível em PINHEIRO (2008).

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Figura 13: Edifício Carlos Moura, rua do Arouche, Escritório Técnico de AzevedoSevero & Villares, 1937 Planta tipo.14

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Disponível em PINHEIRO (2008).

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Figura 14: Edifício Regência, planta da aobertura (acima) e dos pavimentos tipos (abaixo).15

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Disponível em PINHEIRO (20080

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Edifícios Notáveis Segundo VILLA (2002, pg. 87), em 1927 é construído o primeiro edifício modernista em São Paulo, o Edifício Angel, na Avenida Angélica. Esse edifício já apresenta certa racionalização, padronização e menos ornamentos. A fachada não trazia nenhum tipo de ornamento tradicional e era composta apenas pelos vazios das varandas das salas e pelos vãos de iluminação e ventilação das cozinhas e dos banheiros. Segundo REIS (2000, pg. 36), “os observadores menos prevenidos eram levados a julgar, na época, que aquela fachada mostrava os fundos de um prédio na outra rua”. O térreo do edifício ainda era destinado ao uso comercial. O acesso é dado por uma prumada única, que conta com uma escada e um elevador. Esse tipo de acesso se torna cada vez mais frequente na década de 30, chegando a ser utilizado massivamente na década de 1940. Havia cinco pavimentos tipo, com dois apartamentos por andar. Podemos notar nesse edifício a perda de área útil total, bem como a perda de alguns ambientes, característica dos edifícios de classe média dessa década, mencionada anteriormente nesse texto. Iremos notar que alguns edifícios destinados às camadas mais altas da população não sofreram essa supressão de ambientes. Interessante notar nos apartamentos deste edifício, que a cozinha está localizada no miolo do apartamento. Sua ventilação se dá por uma abertura para a fachada principal por cima do banheiro, que tem sua laje rebaixada (LOCILENTO, 2000, pg. 16).

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Figura 15: Edifício Angel, Avenida Angélica, 172, Júlio Abreu Júnior, 192716

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Disponível em VILLA (2002).

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Figura 16: Edifício Angel - planta do pavimento tipo.17

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Disponível em VILLA (2002).

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Figura 17: EdifĂ­cio Angel - plantas do tĂŠrreo (acima) e da cobertura (abaixo).

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Interessante notar também que os apartamentos do primeiro andar possuíam um pequeno terraço ensolarado sobre a laje do térreo, acessível por portasbalcão.

No sexto e último andar, encontravam-se as dependências de

empregadas, a casa de máquinas e um pequeno terraço com tanques para lavagem de roupas. A partir da década de 30, é possível perceber como arquitetura do estilo art déco vai paulatinamente dando lugar ao estilo modernista. Dois arquitetos foram os precursores dessa arquitetura moderna em São Paulo: Rino Levi e Gregori Warchavchik. É a partir dessa década também que os edifícios residenciais verticais se consolidam como opção de moradia. Até então, ainda havia certa resistência a esse tipo de solução de moradia. Segundo SOMEKH (1994, pg. 193), os apartamentos para aluguel dessa época não eram baratos. Assim, em um primeiro momento, esses apartamentos eram ocupados pela elite cultural disposta a aceitar os novos padrões da modernidade e por imigrantes de classe média, especialmente os orientais, que já conheciam esse tipo de moradia em seu país de origem. Para eles, os apartamentos eram uma boa opção de moradia que se situavam em localizações privilegiadas na área central, perto de empregos e de comércio. Em 1934 é inaugurado o Edifício Columbus de Rino Levi. Esse edifício possuía conceitos modernos, com simplificação de linhas e um tratamento de todas suas fachadas. Já não há uma diversidade tipológica tão grande. Há somente quatro apartamentos por andar e apenas duas tipologias: a frontal, com varandas em balanço nas quinas; a posterior.

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Figura 18: EdifĂ­cio Columbus: Rino Levi, 1930. Ao lado, planta do pavimento tipo. 18

18

DisponĂ­vel em ANELLI (1995).

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Sobre o projeto, Rino Levi escreveu: “ Nas habitações internas dos apartamentos, teve-se a preocupação de bem caracterizar suas partes componentes (serviço, social e habitação noturna), localizando-as de modo nítido e prático. Era necessário também que os inquilinos usufruíssem de vista panorâmica, magnífica em todas as direções. Isso foi realizado mediante amplos terraços localizados nos quatro ângulos dos edifícios; localização essa, que permite obter um largo campo visual. A comunicação entre terraços e salas contíguas se realiza através de uma porta de amplas dimensões, que se move por meio de fáceis processos modernos e que permitem a abertura integral, vantajosa para a estética do conjunto do edifício, enquanto se obtém a fusão dessas duas dependências num conjunto só. 19“ Observa-se, pela descrição do projeto, uma intenção em seguir a tripartição (serviço, social e íntimo) no apartamento.

Texto de apresentação do projeto para o Columbus. Original escrito em italiano. ANELLI (1995). 19

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Figura 19: Edifício Columbus: Vista Interna da Sala.20

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Disponível em ANELLI (1995).

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Figura 20: Vista interna da sala do edifĂ­cio Columbus mostrando o fechamento da varanda.21

21

DisponĂ­vel em ANELLI (1995).

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Interessante notar a fusão da sala com a varanda, característica que voltará a aparecer em projetos contemporâneos. No período pós primeira guerra mundial, surgiram alguns edifícios modernistas de apartamentos europeus que influenciaram fortemente a habitação de vários países, inclusive o Brasil. Em 1903, o edifício de Auguste Perret na Rue Franklin em Paris virou referência mundial, já que preconizava a planta livre, enunciada posteriormente por Le Corbusier, que trabalhou no escritório de Perret em 1908. Le Corbusier projetou dois edifícios na década de 1920 que também influenciaram fortemente a arquitetura residencial coletiva: o Immeuble-Villa e o Edifício de apartamentos da exposição de Weissenhof. Neste edifício, o arquiteto consegue demonstrar seus cinco pontos da arquitetura moderna22. Ele também cria um novo modo de dividir o apartamento: ao invés da tripartição em aréa íntima, social e de serviço, ele utiliza a divisão através de zonas de uso diurno e zonas de uso noturno. Alguns dos arquitetos modernistas que atuaram nessa época em São Paulo são, além dos já mencionados: Adolf Franz Heep, Álvaro Vital Brasil, Oswaldo Arthur Bratke e Abelardo de Souza. Outros escritórios que atuaram nessa época com uma linguagem diferente foram: Jacques Pilon, Ramos de Azevedo e Francisco Beck.

22

A saber: planta livre, pilotis, terraço-jardim, fachada livre e janelas em fita.

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Figura 21: Edifício de Apartamentos da Exposição de Wiessenhof, 1927.23 23

Disponível em VILLA (2002).

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Consagração do Modelo Modernista Um dos edifícios símbolo do modernismo no Brasil é o Edifício Esther, de 1938, dos arquitetos Vital Brasil e Adhemar Marinho. Foi pioneiro no uso misto – combinando comércio, corporativo e residencial no mesmo edifício – e na organização através dos cinco pontos de Le Corbusier. “Previa lojas nas quatro faces do pavimento térreo, escritórios nos três primeiros andares e unidades habitacionais de diversos tipos do 4º ao 10º andares - os dois últimos com apartamentos pela primeira vez dúplex -, além de cobertura, denominada, então, de penthouse. Suas características construtivas eram também originais: tratava-se do primeiro prédio de grande porte construído em São Paulo com estrutura independente, onde lajes contínuas permitiam a flexibilidade da planta. No terraço utilizou-se terra adubada, argila branca, feltro de amianto e impermeabilização. ” (XAVIER, 2013)24 De forma a permitir uma diversidade de usos e uma flexibilização das plantas, tanto nos pavimentos corporativos, como nos residenciais, a planta foi composta de módulos que poderiam ou não ser agrupados. A divisão dos espaços era feita através de leves divisórias de cerâmica. Observando as plantas do edifício, notamos uma variedade de tipologias de apartamento, características dos imóveis destinados à locação.

Há apartamentos sem

cozinha, contando apenas com quarto, sala e banheiro.

Artigo publicado na revista Arquitetura e Urbanismo. Disponível em: http://www.au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/236/edificio-esther-301056-1.aspx. Acesso em 17/05/2017. 24

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Figura 22: Edifício Esther. Planta do 4º pavimento. Ao lado, planta do 9º e 10º pavimentos.25

25

Disponível em VILLA (2002).

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Já outros, que possuem cozinha, também contam com banheiro e quarto de empregada – segregados, é claro, por uma entrada de serviços. Aqui podemos verificar que, apesar de haver uma clara influência dos projetos de Le Corbusier26, os apartamentos ainda obedecem a tripartição dos apartamentos haussmanianos. Diferentemente dos apartamentos contemporâneos, notamos também um modo diferente de se dispor dos ambientes nos apartamentos. Na planta do 9º andar, podemos ver um grande corredor, de onde é possível acessar os quartos (zonas íntimas), a sala (zona social) e a cozinha (zona de serviço). Atualmente, essa tripartição e distribuição se dá a partir da zona social, que se liga à zona íntima de um lado e à zona de serviços de outro. Ou seja, as zonas íntima e de serviço não mais se conectam.

Incorporação de Apartamentos para venda Em meados da década de 40, com o surgimento da lei do Inquilinato explicada anteriormente, passa-se a um modelo de incorporação de apartamentos voltados à venda para a classe média e alta. A partir de então, ocorrem algumas mudanças nos edifícios para lhes conferir modernidade: água potável encanada, espaços monofuncionais reduzidos, quarto de empregado, entrada de serviço, banheira em pelo menos um dos banheiros, perda do térreo comercial, maior complexidade dos programas e aparecimento das suítes.

Segundo VILLA (2002, pg. 109), mesmo nos projetos de Le Corbusier podemos encontrar apartamentos tripartidos. Segundo a autora, o arquiteto utilizava a divisão em zona de uso diário e noturno em suas obras destinadas ao governo. Já naquelas destinadas ao mercado, ele utilizava a tripartição clássica, de forma a não perder clientes. 26

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Figura 23: Edifício Pilotis, avenida 9 de Julho, Francisco Beck, 1948, planta tipo.27

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Disponível em VILLA (2002).

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Figura 24: EdifĂ­cio Pilotis, avenida 9 de Julho, Francisco Beck, 1948, cobertura.28

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DisponĂ­vel em VILLA (2002).

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A partir desta década também, várias tipologias podem ser encontradas nos edifícios de apartamentos, com número de dormitórios variados e até mesmo kitchenettes. Os edifícios dessa época também já possuem recuos frontais e laterais. Alguns dos edifícios mais famosos dessa época são o Prudência (1944) de Rino Levi e o Louveira de Vilanova Artigas (1946). O Prudência foi construído em sistema condomínios, onde o incorporador organizava uma cooperativa, onde os compradores se cotizavam para pagar o terreno, o projeto e a construção. Seu volume simples tem formato em U que fica suspenso sobre pilotis e afastado dos limites do lote. Possui uma garagem no subsolo, um térreo com paisagismo de Burle Marx. Possui nove pavimentos tipo e uma cobertura. Em cada pavimento, estão distribuídos quatro apartamentos. Adjacentes às fachadas internas do edifício, encontravam-se as áreas de serviço e as áreas molhadas – cozinha, copas, dependências de empregadas e banheiros. Havia uma grande área de planta livre voltada para a fachada externa do edifício, onde o morador poderia organizar e reorganizar como bem entendesse os quartos e salas e demais ambientes que quisesse desfrutar. Rino Levi, sugeriu quatro formas de disposição desse espaço. Essa alternativa não agradou muito os compradores. Somente um comprador não construiu paredes de alvenaria sobre os eixos de modulação. Um valor que perdura desde aquela época é a existência de um certo prestígio na estanqueidade dos cômodos, cada um com uma função específica. Assim, quanto mais cômodos e maior sua área total, mais luxuoso o apartamento. Segundo TRAMONTANO apud LOCILENTO (2000, pg 26), a explicação desse pensamento pode estar relacionada ao fato de que a elite não queria associar 68


Figura 25: Edifício Prudência, avenida Higienópolis, Rino Levi, 1944. Acima, planta do paimento tipo. Abaixo, possibilidades de arranjos internos para os apartamentos.29

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Disponível em ANELLI (1995).

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seus apartamentos com as casas das classes mais baixas, que utilizavam tapumes, cortinas e armários para a divisão de seus cômodos. Portanto, a planta livre foi um dos elementos pregados por Le Corbusier que não conseguiu aderência entre os paulistanos. Nesse período, consolidou-se a presença de halls de entrada no edifício com portarias e elevadores social e de serviço. Também começaram a se difundir, ainda que timidamente, garagens, play-grounds e áreas com jardins, na tentativa de valorizar os edifícios. No final da década de 40 e início dos anos 50, começam a proliferar as kitchenettes em São Paulo. Eram apartamentos pequenos - com apenas sala, cozinha, quarto e banheiro - destinados a pessoas solteiras ou casais sem filhos, que passavam o dia no trabalho. Segundo LEMOS (1978, pg. 163), as kitchenettes atraiam tanto os antigos proprietários dos edifícios destinados à locação como também investidores do ramo hoteleiro. Existiam algumas condições impostas pela Prefeitura para regularizar as kitchenettes: a cozinha não poderia estar diretamente contígua ao banheiro e o quarto e o banheiro precisavam receber iluminação e ventilação naturais. Para driblar tais imposições, muitos projetos eram viabilizados como futuros hotéis. Com a pressão dos incorporadores imobiliários, houve um adendo na legislação, permitindo que banheiros não necessitassem mais de ventilação natural em tais apartamentos pequenos. O edifício Copan foi um dos primeiros a se beneficiar dessa mudança na legislação. O Copan, projeto de Oscar Niemeyer, previa uma série de usos no térreo – ruas comerciais, cinema, teatro – e 30 andares residenciais:

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“A área residencial, representada pelo edifício propriamente dito, compreende 1160 apartamentos divididos em 6 blocos. Bloco A: 64 apartamentos de 2 quartos, sala, cozinha, dois banheiros, área de serviço e dispensa (86m²). Bloco B: 448 quitinetes (24m²), e 192 apartamentos de 1 quarto, sala, cozinha e banheiro (36m²). Bloco C: 64 apartamentos de 3 quartos, 2 banheiros, sala, cozinha e quarto de empregada e área de serviço (140m²). Bloco D: 64 apartamentos de 3 quartos, 3 banheiros, sala com dois ambientes, cozinha, área de serviço e quarto de empregada (170m²). Os blocos E e F, que no projeto original apresentam 32 apartamentos cada (com áreas entre 230 a 250m²) de 4 quartos, 4 banheiro, salas com 2 varandas, cozinha, quarto de empregada e área de serviço, foram subdivididos em variadas áreas tornando-se kitchenettes e apartamentos de um dormitório. ” (VILLA, 2002, pg. 124)

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Figura 26: Edifício Copan, avenida Ipiranga, Oscar Niemeyer, 1951, planta tipo – projeto original30

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Disponível em VILLA (2002).

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Figura 27: EdifĂ­cio Louveira, Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi, 1946. Acima, foto da fachada. Ao lado, planta do pavimento tipo.31 31

DisponĂ­vel em VILLA (2002).

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1950 - 1960 American Way of Life Na década de 1950, o Brasil passou por grandes transformações com o Plano de Metas do governo Juscelino Kubitscheck, que tinha como slogan “50 anos em 5”. Assim, como o restante do país, São Paulo viu sua cidade crescer e prosperar. De fato, São Paulo ficou conhecida nesta época, como a cidade que mais crescia no mundo. Segundo dados da prefeitura de São Paulo 32 , sua população passou de pouco mais de 2 milhões de habitantes no começo da década de 50 para mais de 3,5 milhões no final dessa mesma década. O ritmo acelerado de suas construções contribuiu para essa imagem: a cidade não só expandia seu perímetro como também crescia verticalmente, com a presença de cada vez mais “arranha-céus”. Desde o final da primeira guerra mundial, os Estados Unidos se estabeleceram como a principal potência industrial. O país passou então a simbolizar o progresso e a modernidade e seu modelo de cidade passou a ser tido como referência para os demais países. Em São Paulo, essa influência norteamericana passou a ser mais forte na década de 50. Nessa época, foi criado todo um aparato cultural na cidade. Não só foram construídos equipamentos culturais como o MASP e o MAM, mas também foram abertas várias salas de cinema, além de grandes veículos de comunicação em massa, como a TV TUPI. O cinema foi um dos grandes veiculadores do american way of life e um

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Disponível em: http://smdu.prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/index.php

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dos grandes responsáveis pela transição entre o padrão europeu e o padrão norte americano. Segundo TRAMONTANO (1998, pg. 119), o cinema mostrava o modo de viver americano, com um pai forte de família e uma mãe que gerenciava um lar organizado e limpo e repleto de aparatos domésticos - ferro de passar roupas, chuveiro elétrico, liquidificador, batedeira, geladeira, aspirador de pó, máquina de lavar – que desembarcaram no Brasil em meados da década de 50. Foi nessa década também que o uso dos automóveis ganhou impulso, devido aos novos poços de petróleo e a expansão da indústria automobilística no país. Essas novidades que foram introduzidas nas cidades brasileiras alteraram não somente o comportamento das pessoas, mas também o modo como elas habitavam. A chegada dos shoppings centers com suas redes de fastfood, cafés, lanchonetes e restaurantes, e o surgimento dos supermercados com a praticidade das comidas enlatadas e embaladas provocaram alterações no modo de se alimentar e, consequentemente, nas cozinhas. Estas, com áreas bastante reduzidas em comparação às décadas anteriores, apresentavam a mesma configuração: uma grande bancada de trabalho com fogão, pia e geladeira ao lado. De forma a contribuir com a higienização do local, suas paredes passaram a ser revestidas com azulejos. Esse modo de configuração da cozinha em muito se assemelha à cozinha de Frankfurt, que merece uma descrição mais detalhada.

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A Cozinha de Frankfurt Logo após a Primeira Guerra Mundial, a Alemanha enfrentou um déficit habitacional muito grande e a construção de vários conjuntos habitacionais se fez necessária. De forma a gerar menos custos para o governo, foram lançados concursos relacionados à habitação mínima, que tinham como objetivo encontrar soluções de moradias pequenas, mas salubres e confortáveis. A arquiteta Grete Schutte-Lihotzky, integrante da equipe do escritório de Ernst May, projeta então uma cozinha inspirada nas cozinhas dos navios de guerra alemães, que produziam enormes quantidades de comidas em espaços relativamente pequenos. Para tanto, a arquiteta estuda também: o movimento taylorista, que estuda a racionalização dos movimentos para otimização da produtividade dos trabalhadores fabris e; o trabalho das engenheiras domésticas 33 norte-americanas, notadamente Christine Frederick e Catherine Beecker, que estudavam como algumas tarefas domésticas poderiam ser evitadas com o surgimento de novas práticas e tecnologias. A cozinha de Frankfurt devia caber em um apartamento pequeno. Ela teria então um espaço de 3,50m X1,90m e deveria ser possível realizar nela todas as tarefas domésticas. Visando a aumentar a eficiência nas atividades domésticas e ainda assim, considerando questões de salubridade, ventilação e insolação, a cozinha de Frankfurt dispôs os móveis e aparelhos de forma a

33Segundo

BARBOSA (2007, pg 10), as engenheiras domésticas visavam a diminuição dos afazeres domésticos, que neste período eram atividades totalmente femininas, para que o público feminino pudesse ter tempo para dedicar-se a profissões fora do lar. Foi um grande passo para a independência feminina norte-americana.

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diminuir a circulação entre os afazeres e otimizar a produção de refeições e outros afazares domésticos (como lavar louças e passar ferro). Podemos ver nas figuras, exemplos da otimização das tarefas na cozinha de Frankfurt: uma luminária presa a um trilho no teto da cozinha, que pode ser movida para a área que se deseja realizar a tarefa; um escorredor de louças localizado ao lado da pia, com ligeira inclinação para que a água escorra para a pia; uma tábua de passar ferro retrátil com um banquinho para ser utilizado de forma a tornar a tarefa mais confortável; o fogão e o forno localizados lado a lado no centro da cozinha de forma a permitir que com apenas um giro corporal, tudo estivesse ao alcance da dona de casa, como pratos, ingredientes e temperos.

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Figura 28: Acima: Cozinha Tradicional x Cozinha de Frankfurt. Abaixo, perspectiva da cozinha de Frankfurt.34 34

DisponĂ­vel em: https://histarq.files.wordpress.com/2013/03/31.jpg

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O apartamento americanizado Além de alterações na cozinha, notamos outras alterações no restante do apartamento. No caso dos apartamentos para a classe média, foram suprimidas também as dependências de empregados e a área de serviço teve seu tamanho diminuído. Interessante notar que a extinção das dependências de empregados nesse caso, foi um reflexo tardio da abolição da escravatura no final do século XIX. Segundo LEMOS (1978, pg. 154), é somente no final da década de 30 que a escassez de mão de obra doméstica começa a existir. Contudo, nos apartamentos destinados às classes mais altas, as dependências de empregados continuaram a existir por mais algumas décadas. Ainda segundo o autor, para contornar certas leis vigentes na época que diziam respeito a questões de salubridade, algumas plantas eram vendidas com as dependências de empregado “disfarçadas” de despensa, depósito ou rouparia. Na época, era obrigatório que todos os cômodos de dormir tivessem ventilação natural e as dependências de empregados costumavam abrir para a área de serviço. Também começa a ser reproduzido nos demais cômodos, um novo layout ideal: “O jogo de sofá de três e dois lugares ladeados por mesinhas de canto com seus abajures sobre algum tapete decorado, e o televisor, como centro das atenções, em frente ao sofá. Ao lado, a mesa de jantar. Os filmes veiculavam ideias de dormitórios com criado-mudo ao lado das camas, penteadeira no dormitório do casal e, principalmente, acessórios embutidos. A parede de banheiros e cozinhas eram, agora,

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revestidas com azulejos coloridos, as peças sanitárias de cerâmica em várias cores [...]” (VILLA, 2002, pg. 133). Também podemos perceber a americanização dos edifícios por meio dos novos nomes de ambientes – hall, closet, living room -, que passam a vir do inglês, e não mais do francês.

A Produção de Apartamentos Como vimos anteriormente, a década de 50 foi caracterizada por um grande crescimento da cidade de São Paulo, com vários edifícios novos sendo construídos. Uma das razões desse crescimento foi a legislação vigente na época. Até 1957, o coeficiente de aproveitamento do solo variava de 8 a 10 vezes a área do terreno. A partir desta data, os coeficientes foram restringidos a 6 vezes a área do terreno para uso comercial e 4, para uso residencial. A forma de organização e construção dos edifícios em condomínios, que se iniciou com as kitchenettes e com os apartamentos de um dormitório, se consolidou e foi estendido aos apartamentos maiores, com mais dormitórios. Segundo MEYER apud VILLA (2002, pg. 137), nessa época destacam-se dois tipos de produção arquitetônica: as produções assinadas por arquitetos proeminentes, que se preocupavam em oferecer soluções diferentes para os edifícios e; a produção comercial, comprometida com a aceitação segura no mercado. Tanto nos apartamentos voltados ao mercado como nos apartamentos de arquitetos famosos, a tripartição haussmaniana persistiu.

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Nessa época, destacou-se a produção de Artacho Jurado. Sua arquitetura cênica, claramente refletia o luxo hollywoodiano almejado por uma parcela significativa do mercado na época. Aliado a esse estilo, a oferta de algumas comodidades extras em seus edifícios, contribuiu para o seu sucesso no mercado imobiliário. O edifício Bretagne, de 1953, por exemplo, oferecia salão de chá, salão de esportes, salão para as crianças, piscina para adultos e crianças, vestiário, átrio coberto, terraço suspenso ajardinado, grande praça ajardinada, restaurante, garagens e lavanderia. Nos anos 60, esses equipamentos coletivos ganham mais espaço, a fim de estimular a comercialização de unidades. Tornam-se mais frequentes os salões de festa, os jardins e playgrounds. A piscina é a grande novidade, aparecendo em alguns poucos edifícios. É também nessa década que as garagens se consolidam como parte do programa dos edifícios. Temos algumas inovações também nos apartamentos, como a disseminação da suíte com closet e o surgimento de um novo ambiente, destinado ao trabalho feito no âmbito da casa: o escritório ou a biblioteca. Em muitos casos, o escritório e a biblioteca situavam-se contíguos aos demais dormitórios, indicando que também poderia ser utilizado como quarto de dormir, se necessário. LEMOS (1978, pg. 159) faz uma reflexão interessante sobre os corredores nos apartamentos paulistas. Diferentemente do modelo norte-americano e do modelo europeu da época, o apartamento paulista continua a ter corredores, que servem como uma área de segregação entre as partes íntimas e sociais das partes de serviço. Já é vista essa distinção logo na entrada dos prédios, que possuem hall social e de serviço. Nos apartamentos também há duas entradas: a social e a de serviços. 82


Figura 29: Anúncio do Edifício Bretagne35

35

Disponível em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/12.143/4318

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Figura 30: Edifício de apartamentos, alameda Rio Claro, Maurício Kogan e Samuel Szpigel, 1961, planta tipo36

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Disponível em VILLA (2002).

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No fim dos anos 50 e começo dos 60, as kitchenettes perdem o foco do mercado, que se direciona aos edifícios com no mínimo dois dormitórios. De fato, é durante essas décadas que o padrão de apartamento com dois e três dormitórios se dissemina. Nesses apartamentos é possível perceber melhor a influência norte-americana. Nesses casos, o apartamento tem seu tamanho reduzido e o cômodo de empregados, bem como a entrada de serviço desaparece.

2.2.4. 1970 Em 1965, foi criado o Banco Nacional da Habitação, que tinha como meta combater o déficit habitacional do país. Segundo SEGAWA (1997, pg. 182), no entanto, pouco após sua criação, no período pós 1964, o BNH passou a servir de financiamento para moradias das classes média e alta, o que impulsionou as vendas de apartamentos residenciais, que já estavam consolidados como padrões de moradia. Durante essa década, houve a contínua proliferação de apartamentos com suítes, o que ocasionou em maior quantidade de banheiros por apartamento37. Esse fator ocasionou em uma mudança nos banheiros: não havia mais espaço para as banheiras, que fizeram bastante sucesso nas décadas passadas. 38 Observando as plantas dos apartamentos das décadas anteriores, podemos ver que o usual eram dois banheiros por apartamento: um de serviço e um na ala íntima da casa. Com o surgimento das suítes, os apartamentos passam a ter no mínimo três banheiros: um na suíte, uma para os demais dormitórios e um de serviço. 38 É importante notar que os apartamentos encontram-se num processo de diminuição gradual de área útil. Assim, a inclusão de um ambiente a mais pressupõe a diminuição de outro ambiente. No caso, a banheira deu espaço a outro banheiro. 37

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Elas somente perduram nos apartamentos maiores, com programas mais completos e normalmente encontram-se somente nos banheiros das suítes. Segundo VILLA (2002, pg. 152): “ Os anos 1970 ficariam marcados pelo desenvolvimento dos programas de dois, três e quatro dormitórios. As plantas que mais refletem o aumento do poder aquisitivo da sociedade, fruto do chamado milagre econômico são as dos grandes apartamentos de três e quatro dormitórios. Caracterizados pela segregação das entradas, social e de serviços, estes apartamentos apresentam, em sua maioria, também halls distintos entre social e de serviços. Com o claro intuito de resgatar a sofisticação e a generosidade espacial dos antigos palacetes, a grande maioria destes apartamentos ricos possuía copa, vestíbulo, escritório (no lugar do antigo fumoir), mais de uma sala, além da suíte. Os espaços eram realmente generosos – encontravam-se no mercado apartamentos de até 450m². Nos apartamentos de quatro dormitórios, frequente era a ocorrência de duas suítes, e pelo menos uma delas servida por closet. Os lavabos eram grandes e as áreas de serviço possuíam um número maior de cômodos – dois dormitórios de empregados, banheiros, lavanderia e, em alguns casos, despensa, além da copa e da cozinha. Outro apelo mercadológico apareceu utilizando as paredes curvas, arcos e sacadas ondulantes que marcavam o chamado estilo mediterrâneo, apregoado em várias peças publicitárias. ”

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Figura 31: Conjunto residencial Pirineus, Estrada de Itapecerica, s/ identificação do autor, 1978, planta tipo.39

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Disponível em VILLA (2002).

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Figura 32: Edifício de apartamentos, rua Barão de Capanema, s/ identificação do autor, 1972, planta tipo.40

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Disponível em VILLA (2002).

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O estilo mediterrâneo citado pela autora é bastante utilizado por Ruy Othake e, em alguns casos, por Paulo Mendes da Rocha, dois grandes expoentes da arquitetura residencial dos anos 70. Notamos nesses apartamentos maiores, destinados às classes mais altas, que a tripartição continua a aparecer. Nessa década, os cômodos da zona de serviços perdem área útil, notadamente o quarto de empregada, que termina a década com apenas 2,5m². Nessa época, esse cômodo ainda era valorizado dentro da planta. Portanto, era preferível sua redução do que sua supressão. Em alguns apartamentos, nota-se o aumento da cozinha - não mais atendendo ao padrão da cozinha de Frankfurt, ela agora incorpora a copa. Nessa década, na qual já estão consagrados os apartamentos de dois e três dormitórios, aparece a presença de um dormitório híbrido, dotado de duas portas, uma que se abre para a área de serviço e a outra que se abre para o corredor de circulação dos dormitórios. VILLA (2002, pg. 56) chama esse cômodo de terceiro reversível. Sua localização na planta indica a possibilidade dupla de uso: ou como dormitório de empregada ou como dormitório de família. Esse cômodo será bastante popular na década de 80.

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Figura 33: Plantas de apartamentos com terceiro dormitório reversível. À esquerda: edifício Maison Du Soleil, avenida Agami, 1972. À direita: edifício à avenida 9 de Julho, 1975.

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1980 Durante a década de 80, os apartamentos, com suas configurações já consolidadas começam a perder gradualmente área útil. De fato, a distinção entre os diferentes apartamentos se dá basicamente pelo número de dormitórios, excetuando-se os apartamentos com mais de quatro dormitórios, que englobam um programa mais extenso. O gráfico abaixo, feito com dados obtidos no Relatório Anual da EMBRAESP41 , mostra a evolução da metragem média dos apartamentos, divididos conforme a quantidade de dormitórios. Para melhor ilustrar tal evolução das áreas, normalizamos as curvas, partindo das metragens dos apartamentos no ano de 1985. Ou seja, as áreas dos apartamentos em 1985 foram indicadas como 100%. Todas as demais comparações, feita ano a ano, tomaram como base a metragem do ano de 1985. Assim, podemos observar que o apartamento de quatro dormitórios sofreu várias oscilações durante o período apresentado. Em 1987, por exemplo, sua metragem era 30% maior do que em 1985 42 . No entanto, em 2001, sua área era praticamente a mesma de 1985. O apartamento que mais sofre perda de área útil é o de três dormitórios. Esse apartamento nos anos 2000, possui 30% a menos de metragem que um apartamento da mesma tipologia de 1985. Os apartamentos de um e dois dormitórios sofreram perdas significativas, tendo suas áreas reduzidas em 25% e 20% respectivamente.

Dados obtidos em tabelas do Relatório Anual da EMBRAESP, São Paulo. Em 1985, os apartamentos de um, dois e três dormitórios tinham, respectivamente, 42m², 65m² e 115m². Em 2001, essas metragens passaram para32m², 53m² e 81m². 41 42

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Evolução da Área Útil dos Apartamentos 140% 130% 120% 110% 100% 90% 80% 70% 60%

1 Dormitório

2 Dormitórios

3 Dormitórios

4 Dormitórios

É interessante notar que os apartamentos de um dormitório não tiveram perda de área tão expressiva quanto os de dois e três dormitórios ao longo da década de 80. Durante esse período, ocorreu uma certa sofisticação nesses apartamentos, que tentaram se desvincular da ideia de moradias mais simples e focaram seus esforços de venda no público de jovens executivos. Segundo VILLA (2002, PG. 174), “ a maioria destes empreendimentos oferecia a seus moradores uma variada gama de serviços e entretenimentos, tais como sala de bronzeamento, academia de ginástica e forno de micro-ondas”. Pode-se dizer que aí se encontravam os primórdios de um tendência que se verifica até hoje, de aproximação dos apartamentos aos flats. É possível observar também que alguns empreendimentos já previam um espaço para o uso de computadores nos apartamentos. 92


Figura 34: Edifício Studium 77, rua Edson, s/ identificação do autor, 1982, planta tipo.43

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Disponível em VILLA (2002).

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Nos apartamentos de três dormitórios, o terceiro cômodo reversível é amplamente disseminado. Uma grande novidade da época é o surgimento das varandas nas salas, que surgiam como um diferencial de vendas e sugeriam uma ampliação visual da sala com o exterior. É possível ver em algumas plantas maiores também, suítes com closets e banheiros separados para a mulher e para o marido. É na década de 80 também que a palavra “segurança” aparece pela primeira vez nos anúncios de apartamentos. Outro item bastante frequente nas plantas dos anos 80 e 90 é a despensa. No Brasil, esse período corresponde aos anos de hiperinflação, que chegou a atingir 235% em 1985 (FAUSTO, 2009, pg 286). A hiperinflação criou o hábito da estocagem de mantimentos entre os brasileiros. Assim, logo que recebia seu salário, a população corria para os mercados a fim de abastecer sua despensa, já que se deixassem para o dia seguinte, o mesmo dinheiro desembolsado compraria menos itens. Ou seja, as pessoas faziam a compra do mês inteiro em um dia e precisavam de um local para estocar todos esses alimentos em casa. É interessante observar que a despensa já aparecia em algumas plantas brasileiras antes da época da hiperinflação. Uma possível explicação para isso, é a influência norte-americana e principalmente europeia nos programas dos edifícios. Nos países que foram assolados pelas guerras, a população já havia adquirido o hábito de estocar mantimentos, já que não se sabia quando não se poderia sair de casa devido às batalhas travadas durante a guerra.

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Figura 35: Edifício Itacuruca, rua Tupi, s/ identificação do autor, 1985.44 44

Disponível em VILLA (2002).

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Anos Recentes – 1990 - 2010 Como observamos, nos últimos 50 anos do século XX, a unidade tipológica teve seu tamanho reduzido, o que forçou a exportação de muitas atividades antes realizadas nos apartamentos para as áreas comuns do prédio. Esse movimento se dá a partir da década de 70. Apesar dos apartamentos produzidos nessa década ainda não apresentarem uma redução significativa de suas áreas, foi neste período que aumentou o número de empreendimentos com áreas coletivas de lazer como playground, salão de festas, área verde externa e piscinas. Na década de 1980, essa lista de equipamentos coletivos aumenta bastante, principalmente nos edifícios voltados ao público de alto luxo. Mas é a partir dos anos 90 que essas áreas ganham um verdadeiro destaque nos edifícios. A partir dos anos 90, tornam-se comum na paisagem urbana os condomínios murados, com duas ou mais torres residenciais. De fato, como observado anteriormente, a partir da década de 80, o fator segurança começa a favorecer os condomínios fechados em detrimento das moradias isoladas. A possibilidade de se fazer um conglomerado de torres, com praças entre elas é visto como o novo objeto de desejo da população. As praças privadas dentro dos condomínios podem ser utilizadas como espaços de lazer pela família, sem a insegurança sentida ao se andar nas praças públicas. Essa necessidade de se sentir seguro e de querer estar dentro de casa é uma das 16 tendências apontadas pelo relatório Faith Popcorn45, lançado nos Estados Unidos em 1991. Faith Popcorn é autora do Relatório Popcorn que reporta as tendências para as décadas vindouras através de estudos de marketing comportamental. Suas tendências foram amplamente utilizadas pelas empresas para prever as necessidades dos consumidores. Essas tendências estão disponíveis para consulta na página http//:www.faithpopcorn.com 45

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Chamada de encasulamento, essa preferência por fazer as coisas sem sair de casa, explica uma série de comportamentos vistos até hoje na sociedade, como: o aumento na demanda por comidas entregues em casa; o uso da internet para interações sociais; a crescente demanda por produtos de vídeo streaming; a prática de se fazer encontros com os amigos nas próprias casas. Outra tendência prevista pelo relatório faz referência a um estilo de vida mais saudável das pessoas, com a prática de exercícios físicos e atividades de relaxamento entrando em suas rotinas.

De forma a atender todos esses

anseios em uma planta cada vez menor, a solução encontrada pelas incorporadoras foi alocar esses espaços nas áreas de lazer dos prédios. Assim, áreas como churrasqueiras, salões de jogos, salões de festa, home-theater, piscina com raia semiolímpica, sauna, quadra de esportes, quadra de squash, sala de massagem, home-office, academia foram incorporadas a essas áreas de lazer. Mais recentemente, áreas destinadas às crianças e animais, como brinquedotecas e espaço pet também foram acrescentados no programa dos edifícios residenciais. Nos anos 90, os apartamentos de um dormitório ganharam algumas funcionalidades e alterações na planta para atrair um público maior. Dessa época, datam os primeiros lofts – apartamentos abertos com dois andares, onde a área social encontrava-se no andar inferior e a área íntima ficava no mezanino. Também nessa época, tais apartamentos do tipo loft ou de um dormitório disponibilizavam serviços como: lavanderia, office-boy, cozinha e transporte. Esse tipo de serviço volta a ser oferecido na década de 2010, onde certos prédios possuem concierges com serviços chamados “pay-per-use” de diaristas, personal trainers etc. 97


Figura 36: Acima: Edifício New York Condominium, planta pavimento tipo, década de 90. Abaixo, Edifício Splendid, pavimento tipo, década de 90.

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É também na década de 90 que começam a ser comercializadas as “plantas flexíveis”, nas quais o cliente pode optar, durante a fase de construção, suprimir ou colocar algumas das paredes internas dos apartamentos. Finalmente na década de 90, a tripartição haussmaniana dá lugar a bipartição noite e dia. Já não encontramos mais dependências de empregados e corredores de circulação de serviços nesses apartamentos. Nos anos 90, já era cada vez mais raro encontrar residências com empregadas domésticas que pernoitavam. Já nos anos 2000, populariza-se o uso das diaristas. Também pode-se observar em alguns apartamentos, que as cozinhas são integradas de alguma forma às salas. A preparação das refeições não é mais feita isoladamente. Cada vez mais, cozinhar relaciona-se a momentos de lazer e convívio, a a ser feita entre amigos e familiares. Nesse sentido, é possível compreender a propagação das varandas gourmet, a partir do final da década de 90. Segundo ABREU (pg. 96): “[...] é a partir da segunda metade da década de 90 que as churrasqueiras são percebidas num número maior de plantas, frequentemente localizadas numa extensão da varanda das sala, ou em uma varanda secundária, próxima à copa ou à cozinha [...]Nos anos 2000, o mercado passou a oferecer as churrasqueiras também em varandas de apartamentos menores e nem sempre tão luxuosos. Essas varandas tornaram-se cada vez mais amplas, podendo comportar sofás e mesas para refeições, claramente relacionando o uso desse espaço ao convívio entre membros da família ou à recepção, mais informal, de convidados. É possível encontrar exemplares cujas varandas são maiores que as salas.” 99


Do ponto de vista do incorporador, a varanda gourmet é um excelente espaço a ser acrescentado aos apartamentos pois, não somente agrada os consumidores e, consequentemente, aumenta suas chances de venda, mas também não é computada no coeficiente de aproveitamento do terreno. Em São Paulo, o código de obras46 prevê que áreas de terraço aberto, com área construída máxima por pavimento que não ultrapasse 5% da área do terreno, não serão computadas. Isso explica o fato das varandas gourmet aumentarem cada vez mais de tamanho, em relação ao restante do apartamento, como mostra a figura abaixo.

46

Disponível em: https://leismunicipais.com.br/codigo-de-obras-sao-paulo-sp

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Figura 37: Apartamento TOM 1101 da SKR47

DisponĂ­vel em: http://www.cyrela.com.br/imovel/tom-1102-apartamento-campo-belozona-sul-sao-paulo-sp 47

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ANÁLISE DO CENÁRIO ATUAL TENDÊNCIA 103


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Fator Econômico O desempenho do mercado imobiliário brasileiro está intimamente ligado à disponibilidade de crédito. A partir de 2014, o Brasil tem enfrentado a pior crise econômica da história e isso tem se refletido não só nos preços e volumes dos imóveis vendidos como também no perfil de apartamentos que estão sendo lançados. Segundo dados do SECOVI 48(colocar nota de rodapé – anuário do mercado imobiliário – 2015), historicamente, as unidades de dois dormitórios sempre tiveram maior participação no mercado de lançamentos imobiliários em São Paulo, correspondendo a uma média de 40% da produção anual de apartamentos.

Em 2015, esse tipo de unidade respondeu por 56% dos

lançamentos na capital paulista, um acréscimo de 16% na média histórica e também em relação a 2014. Esse movimento pode ser explicado pelo cenário pessimista do mercado imobiliário. Em períodos de recessão, os compradores tendem a serem mais conservadores em suas compras, ou seja, estão dispostos a desembolsar menos na compra de imóveis. Assim, optam por imóveis com metragens menores, com menos dormitórios ou com uma localização pior. As incorporadoras, então, ajustam seus lançamentos ao novo perfil demandado. É possível observar, na tabela 3.1, que os apartamentos de 1 e 2 dormitórios correspondem a 82% dos lançamentos de 2015, enquanto os apartamentos com três ou mais dormitórios correspondem a apenas 18%.

Dados obtidos no Anuário Imobiliário de 2015 do SECOVI (Sindicato da Habitação). Disponível em: http://www.secovi.com.br/pesquisas-e-indices/ 48

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Tabela 1 – Unidades lançadas – Participação por tipologia – 2015 – São Paulo49

49

Fonte: Anuário do Mercado Imobiliário de 2015 - SECOVI

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Podemos observar pela tabela 2 abaixo, que os apartamentos com 3 ou mais dormitórios, que detinham mais de 60% da participação dos lançamentos residenciais em São Paulo em 2006, foram gradualmente cedendo espaço para os apartamentos menores.

Tabela 2. – Participação (%) dos lançamentos residenciais por número de dormitórios no total lançado em unidades – cidade de São Paulo 50

É importante ressaltar que até meados de 2014, o mercado estava aquecido, e o preço do m² estava em crescimento (vide gráfico 3.3.), o que gerava uma expectativa alta de retorno e fomentava a compra de imóveis por investidores.

50

Fonte: Anuário do Mercado Imobiliário de 2015 - SECOVI 107


Gráfico 3 - Preço médio do m² útil – São Paulo 51

Diretrizes Políticas Outro fator que deve influenciar a produção imobiliária no mercado de São Paulo é o Plano Diretor Estratégico de 2014. Como sua aprovação se deu ás vésperas da crise imobiliária, ainda não foram produzidos números suficientes de edifícios residenciais que sigam seu modelo. A produção imobiliária dos últimos anos se deu com base no plano diretor antigo e em terrenos que já haviam sido adquiridos pelas incorporadoras. O novo plano diretor propõe um adensamento nas áreas próximas a corredores de ônibus, metrôs e trens, de forma a facilitar a mobilidade na capital e incentivar o uso do transporte público. Assim, há um incentivo econômico em se construir nessas áreas, que são chamadas de Eixos de Estruturação e Transformação Urbana. Essas áreas possuem um coeficiente de aproveitamento 4, enquanto o resto da cidade possui um coeficiente básico de 1 a 2. Além disso, é possível construir sem subtrair área do coeficiente de aproveitamento, devido a um incentivo ao uso misto. Assim, toda área destinada a uso não residencial, em um limite de 20%

51

Fonte: Anuário do Mercado Imobiliário de 2015 - SECOVI 108


da área construída computável total do empreendimento, não será considerada no coeficiente de aproveitamento. Para estimular o uso da fachada ativa nos empreendimentos, também não será computada no coeficiente de aproveitamento, até 50% da área do lote destinada a uso não residencial, desde que haja acesso direto pela calçada, no nível da rua e que a testada seja de, no mínimo, 20m. O Plano diretor também deve contribuir para que a tendência de apartamentos compactos e apartamentos de até 2 dormitórios, continue em expansão, já que ele prevê um cálculo de cota parte nos Eixos de Estruturação e Transformação Urbana. Esse cálculo determina o número mínimo de unidades habitacionais a serem construídas no lote, vide fórmula abaixo: Tabela.4. Cálculo da Cota Parte52

52

Fonte: Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo. Lei nº 16.050, de 31 de julho de 2014. Disponível em http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br.

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Nos Eixos de Estruturação, a cota máxima de terreno (Q) a ser considerada é sempre igual a 20, o que resulta em um N muito elevado. Para alcançar um número de habitações elevado em um projeto com um limite de aproveitamento, é necessário fazer tipologias menores.

Fator Social Além do fator econômico, há também um fator social que influencia no aumento do número de apartamentos compactos ou de até dois dormitórios em São Paulo. Segundo o censo mais recente do IBGE53, o número de apartamentos com apenas um residente aumentou de 9,2% do total de moradias em 2000 para 12,1% em 2010. Esse número considera todas as moradias do país, inclusive as rurais. Para a população urbana, houve um aumento maior ainda. De fato, esse fenômeno é eminentemente urbano: 88% das residenciais unipessoais brasileiras encontram-se nas cidades. Se considerarmos somente a população urbana, o crescimento foi de 71% entre 2000 e 2010. O número de residências unipessoais em 2000 era de 3.566.332 e passou para 6.107.511 em 2010. Em países europeus, a taxa de residências unipessoais é de 27,7%, atingindo 39,6% da população de países como a Suécia.

Dados obtidos no Censo Demográfico de 2010 – Famílias e Domicílios. Disponível em http://cidades.ibge.gov.br. 53

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Gráfico 5. Distribuição Percentual de unidades domésticas em domicílios particulares segundo o tipo de unidade doméstica – Brasil – 2000/201054

Segundo o relatório da OCDE (Organisation for Economic Co-operation and Development) apud IBGE 55 , esse aumento no número de residências unipessoais se deve a uma série de fatores, tais como: jovens que deixaram a casa dos pais; pessoas que se divorciaram; viúvos e viúvas e: pessoas que optaram por viver sozinhas. De fato, mais de 70% dessas residências são compostas por pessoas com mais de 40 anos. O percentual de residências unipessoais habitadas por jovens com menos de 25 anos é de apenas 6,9%. A proporção de moradores do sexo masculino e do sexo feminino é praticamente equivalente. No entanto, entre os homens, a proporção de solteiros e divorciados chega a quase 80%, enquanto para as mulheres é de 54%. Os apartamentos compactos atendem a esse novo arranjo familiar que se Dados obtidos no Censo Demográfico de 2010 – Famílias e Domicílios. Disponível em http://cidades.ibge.gov.br. 55 Dados obtidos no Censo Demográfico de 2010 – Famílias e Domicílios. Disponível em http://cidades.ibge.gov.br. Pg. 85 54

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configura nas grandes cidades. Sobre esses apartamentos, QUEIROZ (2009) afirma: “Os números do mercado confirmam que os apartamentos desse segmento deixaram de estar associados à idéia de habitação mínima e barata, como foram as kitchenettes em décadas passadas, direcionando-se agora a um público com maior poder de compra e localizando-se, muitas vezes, nos bairros mais valorizados[…] Esses apartamentos tornaram-se de fato mais caros, sendo seu preço por metro quadrado apenas superado, na média, por unidades de 4 ou mais dormitórios. ”

Apartamentos Compactos – Análise Tipológica Não há uma definição formal para o que caracteriza um apartamento compacto. Nas principais mídias e no mercado imobiliário, considera-se um apartamento compacto aquele que possui até 45m², podendo ser do tipo studio56 ou com um dormitório. Nas figuras a seguir, pode-se observar plantas de apartamentos compactos de três diferentes incorporadoras – Even, Gafisa e Vitacon. Há alguns padrões que se repetem nas três plantas. Primeiramente, nota-se que a cozinha se resume a uma parede com uma faixa estreita de circulação. De fato, segundo QUEIROZ (2009): “O desenho da cozinha […] costuma-se resumir a uma parede equipada ligando a entrada do apartamento à área de serviço, com uma faixa estreita de circulação para permitir o uso de equipamentos. Configura o apartamento tipo studio a ausência de um cômodo específico para dormir. 56

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Então, “o desenho da cozinha, aparentemente pensado para ocupar o menor espaço possível, também pode ser verificado em muitas unidades de três ou quatro dormitórios, principalmente naquelas mais compactas e econômicas” Os sanitários, por sua vez, são reduzidos a menor metragem utilizável possível. Em muitos casos, como pode-se observar nos exemplos abaixo, o lavatório é colocado fora do ambiente em questão. Já a área de serviço, quando existente, também é reduzida a um espaço minúsculo, com espaço apenas para o tanque, uma máquina de lavar e a área de utilização. Segundo QUEIROZ (2009), “[...]a área de serviços não desaparece, mas vê-se resumida ao mínimo possível. Em muitas unidades compactas ela representa uma continuação de pequenas cozinhas, configurando corredores equipados. ” Na realidade, em alguns empreendimentos mais recentes, é possível notar que a área de serviço é suprimida do apartamento e passa a existir na área comum dos prédios, constituindo a lavanderia coletiva. Outro fato a ser destacado é não só a presença da varanda em todos os apartamentos como o seu tamanho em relação ao apartamento. Mesmo nas unidades compactas, a varanda permanece com um tamanho relativamente grande, configurando a continuação da sala de estar. É interessante notar que a varanda passa a ser protagonista do apartamento. Segundo CANDUSSO apud MORAES (2014): “O terraço neste momento deixa de ser o espaço de contemplação e passa a provocar alterações no agenciamento do apartamento, pois se torna o centro da valorização do lazer doméstico, ou seja, o terraço que até então era um elemento externo ao programa arquitetônico 113


passa a fazer parte do espaço interno que muitas vezes “é fechado e transformado em espaço interno, indo contra a legislação para resolver um problema de espaço que não se resolveu internamente [...]” Os apartamentos compactos ilustram muito bem uma tendência no mercado paulistano: a supressão de paredes para tornar os cômodos mais amplos. Apesar de serem os apartamentos com menos divisórias internas, os apartamentos de um dormitório tem a pior relação área útil/área total entre as quatro tipologias (1, 2, 3 e 4 dormitórios), como podemos observar no gráfico a seguir. Talvez isso seja explicado pela vaga de garagem, que não é contabilizada na área útil, mas entra no cálculo da área total. Essa área a mais é significativa, principalmente para apartamentos com áreas bem reduzidas. Isso talvez explique porque o valor do m² de área útil de um apartamento compacto seja maior do que os das demais tipologias.

Área Útil/ Área Total

0,7

0,6 0,5 0,4 0,3

1

2

3

4

5

6

7

8

9 10 11 12 13 14 15 16 17

114


Figura 38: Acima: Planta do apartamento tipo 45m² - Residencial Air Campo Belo – Incorporação Even57 Abaixo: Planta do apartamento Studio - Residencial Tag Decor – Incorporação Vitacon58 Disponível em: https://www.even.com.br/sp/sao-paulo/campo-belo/residencial/aircampo-belo 58 Disponível em: http://www.vitacon.com.br/empreendimentos/tag-decor 57

115


Figura 39: Planta do apartamento Studio de 34m² - Residencial Vision Paulista – Incorporação Gafisa59

59

Disponível

em:

http://www.gafisa.com.br/imoveis/sp/sao-paulo/vision-

paulista#/images-ilustracoes

116


Projeto Residencial Vertical – Praça Rebouças 117


Tendo em vista todos os fatores acima mencionados, decidiu-se idealizar o projeto de um edifício residencial que contemplasse os novos parâmetros estabelecidos pelo Plano Diretor de 2014 e estudasse como ele afetaria o mercado imobiliário. Como a aprovação do plano deu-se em meio a uma recessão econômica que afetou principalmente o mercado imobiliário, quase nenhum edifício foi projetado a partir dessa nova lei. Isso torna o projeto do Edifício Rebouças muito mais interessante, já que ele serve como um ensaio de como será a distribuição programática e tipológica dos novos edifícios residenciais. O primeiro importante fator considerado foi a localização do projeto. Optou-se por buscar um terreno que atendesse a dois requisitos: era necessário que ele se encontrasse em um dos Eixos de Estruturação Urbana previstos pelo Plano Diretor, o que permitiria estudar um projeto com um programa mais complexo; e estar dentro do vetor de crescimento Sul-Oeste de Flávio Villaça. Segundo o autor, a capital tende a crescer no sentido sul-oeste, com os investimentos fluindo cada vez mais para essa direção. De fato, essas foram as zonas que mais tiveram lançamentos imobiliários residenciais nos últimos anos. Assim, o terreno escolhido situa-se no cruzamento da Avenida Rebouças com a Alameda Franca. A Avenida Rebouças é considerada um Eixo de Estruturação Urbana devido ao corredor de ônibus que possui e está situada na zona Oeste. Atualmente, no terreno escolhido, há dois estacionamentos a céu aberto e o final da passarela que liga o Complexo Hospitalar do Hospital das Clínicas com o lado dos Jardins. Essa passarela foi modificada e incorporada ao projeto. O projeto do Edifício Rebouças ocupa uma área de 4.500m2 e possui um desnível de 7 metros ao longo da Avenida Rebouças. Isso permitiu a criação de 118


três térreos, dedicados a usos não residenciais, como comércio e corporativo. As torres residenciais abrigam várias tipologias de apartamentos tipo studio, 1 dormitório, 2 dormitórios, 3 dormitórios e 4 dormitórios, Os apartamentos se distribuem em oito pavimentos tipo e quatro andares dedicados a apartamentos tipo duplex, com variadas disposições de plantas. A parte dedicada ao comércio e ao corporativo não é computada do coeficiente de aproveitamento - já que foi feito uso da fachada ativa, com um projeto sem muros - e a área total desses usos não ultrapassa 20% da área construída. A passarela existente foi repensada de modo que pudesse se integrar melhor ao projeto. Assim, uma parte dela é na verdade a cobertura do corporativo e ela possibilita a entrada do pedestre no projeto tanto no térreo superior como no térreo intermediário. Podemos ver no projeto também, duas praças destinadas à fruição pública. A área de lazer do edifício encontra-se na cobertura, contando com piscina, salão de festa e lavanderia coletiva. A seguir, encontram-se as plantas dos edifícios e suas principais tipologias.

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Figura 40: Acima: Perspectiva do Praça Rebouças com a passarela reformada. Abaixo: perspetica da praça interna de fruição pública.

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Figura 41: Térreo 0.00

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Figura 42: Térreo 4.00

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Figura 43: Térreo 9.50 – conexão com a passarela

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Figura 44: Plantas dos apartamentos tipo Studio.

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Figura 45: Planta dos apartamentos tipo 1 dormitรณrio.

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Figura 46: Planta dos apartamentos tipo 2 dormitรณrios

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Figura 47: Planta dos apartamentos tipo 2 dormitรณrios

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Figura 48: Planta do apartamento tipo 3 dormitรณrios

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Figura 49: Planta do Apartamento duplex com quatro dormitรณrios

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Figura 50: Planta do Apartamento duplex com 3 dormitรณrios

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Figura 51: Acima: apartamento duplex 1 dormitรณrio. Abaixo: apartamento duplex com 2 dormitรณrios

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Figura 52: Planta do apartamento duplex com dois dormitรณrios

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Figura 53: Planta do apartamento duplex com dois dormitรณrios

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Figura 54: Corte

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Considerações Finais 135


Como observamos, os apartamentos paulistanos tiveram uma forte influência europeia, com o modelo tripartido (social, íntimo e serviço). Já na década de 50, os edifícios residenciais passam a sofrer uma forte influência norte-americana, mas o sistema tripartido prevalece. Somente nos anos mais recentes, esse modelo dá lugar ao sistema bipartido (dia-noite), sem a segregação da parte de serviço. Também nos últimos anos, os edifícios residenciais paulistas parecem tentar se libertar dos modelos estrangeiros e construir uma identidade própria baseada em outros fatores além dos econômicos. Fica claro, ao olhar a evolução dos edifícios, que o principal fator modificador destes é o econômico. Certamente fatores políticos e culturais também influenciaram a modificação dos edifícios residenciais ao longo do tempo, mas sempre subordinados a esse fator econômico. O preço cada vez mais elevado do m² na capital paulista contribuiu para a disseminação dos apartamentos compactos, que apesar de terem um valor maior por m², possuem um valor absoluto bem menor. Essa proliferação dos apartamentos compactos talvez sugira uma nova tendência: a entrega dos apartamentos já com móveis planejados. Assim como ocorria no século XVII, é possível que os móveis voltem a ter destaque nos apartamentos, especialmente aqueles com design inteligente e com funções diversas. Essa tendência ao encolhimento do tamanho dos apartamentos parece ser duradoura, sendo influenciada não somente pelo aspecto econômico mais também por um fator demográfico: a diminuição do número de pessoas por unidade familiar.

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O aspecto político talvez desempenhe um grande papel nos próximos anos. O novo plano diretor impõe uma série de regras urbanísticas que, na prática, limitam a liberdade especulativa do incorporador.

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Referências Bibliográficas 138


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142


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Índice de Imagens Figura 1. Planta do Hôtel Particulier da Rue de Lota, 8 .................................... 18 Figura 2: Exemplo de apartamento haussmaninano - Avenue Alphand, arquiteto J. Hermant, 1904. ............................................................................................. 23 Figura 3: Exemplo de Sobrado Colonial Paulista ............................................. 27 Figura 4: Vila Horácio Sabino, 1903. Acima: planta térreo: 1. entrada, 2. vestíbulo, 3. s. visitas, 4. s. jantar, 5. jardim inverno, 6. saleta, 7. copa, 8. costura e refeição das crianças, 9. cozinha, 10. criada, 11. despensa. Abaixo: planta do 1º andar: 1. escritório, 2. dormitório, 3. q. casal, 4. q. vestir, 5. toilette, 6. banho e w.c., 7. alpendre, 8. terraço. ........................................................... 30 Figura 5: Edifício destinado ao comercio e habitação, Buenos Aires, 1913, arquitetos Emilio Huge e Vicente Colmegna. ................................................... 35 Figura 6: Edifício Conde de Pilates, 1912, rua Formosa, Arquiteto Samuel das Neves. .............................................................................................................. 35 Figura 7: Edifício Conde de Pilates. Acima: Planta do Térreo. Abaixo: planta do 1º andar ............................................................................................................ 36 Figura 8: Edifício Conde de Pilates. Planta do 2º andar ................................... 37 Figura 9: Edifício Altino Arantes ....................................................................... 40 Figura 10: Edifício João Alfredo, Fachada e Planta do Térreo. ........................ 43 Figura 11: Edifício João Alfredo, Plantas do 2º ao 6º pavimento. ..................... 44 Figura 12: Edifício André Matarazzo, rua da Consolação, 1937, Escritório Técnico Ramos de Azevedo-Severo & Villares. À esquerda: planta do 7 ao 9 pav. À direita: planta térreo............................................................................... 47 Figura 13: Edifício Carlos Moura, rua do Arouche, Escritório Técnico de Azevedo-Severo & Villares, 1937 Planta tipo. .................................................. 48 Figura 14: Edifício Regência, planta da aobertura (acima) e dos pavimentos tipos (abaixo). ................................................................................................... 49 Figura 15: Edifício Angel, Avenida Angélica, 172, Júlio Abreu Júnior, 1927 .... 51 Figura 16: Edifício Angel - planta do pavimento tipo. ....................................... 52 Figura 17: Edifício Angel - plantas do térreo (acima) e da cobertura (abaixo).. 53 Figura 18: Edifício Columbus: Rino Levi, 1930. Ao lado, planta do pavimento tipo. .................................................................................................................. 55 144


Figura 19: Edifício Columbus: Vista Interna da Sala. ........................................ 58 Figura 20: Vista interna da sala do edifício Columbus mostrando o fechamento da varanda. ....................................................................................................... 59 Figura 21: Edifício de Apartamentos da Exposição de Wiessenhof, 1927. ....... 61 Figura 22: Edifício Esther. Planta do 4º pavimento. Ao lado, planta do 9º e 10º pavimentos. ....................................................................................................... 63 Figura 23: Edifício Pilotis, avenida 9 de Julho, Francisco Beck, 1948, planta tipo. .......................................................................................................................... 66 Figura 24: Edifício Pilotis, avenida 9 de Julho, Francisco Beck, 1948, cobertura. .......................................................................................................................... 67 Figura 25: Edifício Prudência, avenida Higienópolis, Rino Levi, 1944. Acima, planta do paimento tipo. Abaixo, possibilidades de arranjos internos para os apartamentos. ................................................................................................... 69 Figura 26: Edifício Copan, avenida Ipiranga, Oscar Niemeyer, 1951, planta tipo – projeto original................................................................................................ 72 Figura 27: Edifício Louveira, Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi, 1946. Acima, foto da fachada. Ao lado, planta do pavimento tipo. ......................................... 73 Figura 28: Acima: Cozinha Tradicional x Cozinha de Frankfurt. Abaixo, perspectiva da cozinha de Frankfurt. ................................................................ 79 Figura 29: Anúncio do Edifício Bretagne ........................................................... 83 Figura 30: Edifício de apartamentos, alameda Rio Claro, Maurício Kogan e Samuel Szpigel, 1961, planta tipo ..................................................................... 84 Figura 31: Conjunto residencial Pirineus, Estrada de Itapecerica, s/ identificação do autor, 1978, planta tipo. ............................................................................... 87 Figura 32: Edifício de apartamentos, rua Barão de Capanema, s/ identificação do autor, 1972, planta tipo. ............................................................................... 88 Figura 33: Plantas de apartamentos com terceiro dormitório reversível. À esquerda: edifício Maison Du Soleil, avenida Agami, 1972. À direita: edifício à avenida 9 de Julho, 1975. ................................................................................. 90 Figura 34: Edifício Studium 77, rua Edson, s/ identificação do autor, 1982, planta tipo.......................................................................................................... 93 Figura 35: Edifício Itacuruca, rua Tupi, s/ identificação do autor, 1985............. 95

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Figura 36: Acima: Edifício New York Condominium, planta pavimento tipo, década de 90. Abaixo, Edifício Splendid, pavimento tipo, década de 90. ........ 98 Figura 37: Apartamento TOM 1101 da SKR ................................................... 101 Figura 38: Acima: Planta do apartamento tipo 45m² - Residencial Air Campo Belo – Incorporação Even Abaixo: Planta do apartamento Studio - Residencial Tag Decor – Incorporação Vitacon ................................................................. 115 Figura 39: Planta do apartamento Studio de 34m² - Residencial Vision Paulista – Incorporação Gafisa .................................................................................... 116 Figura 40: Acima: Perspectiva do Praça Rebouças com a passarela reformada. Abaixo: perspetica da praça interna de fruição pública. ................................. 120 Figura 41: Térreo 0.00 .................................................................................... 121 Figura 42: Térreo 4.00 .................................................................................... 122 Figura 43: Térreo 9.50 – conexão com a passarela ....................................... 123 Figura 44: Plantas dos apartamentos tipo Studio. .......................................... 124 Figura 45: Planta dos apartamentos tipo 1 dormitório. ................................... 125 Figura 46: Planta dos apartamentos tipo 2 dormitórios .................................. 126 Figura 47: Planta dos apartamentos tipo 2 dormitórios .................................. 127 Figura 48: Planta do apartamento tipo 3 dormitórios ...................................... 128 Figura 49: Planta do Apartamento duplex com quatro dormitórios ................. 129 Figura 50: Planta do Apartamento duplex com 3 dormitórios ......................... 130 Figura 51: Acima: apartamento duplex 1 dormitório. Abaixo: apartamento duplex com 2 dormitórios................................................................................ 131 Figura 52: Planta do apartamento duplex com dois dormitórios ..................... 132 Figura 53: Planta do apartamento duplex com dois dormitórios ..................... 133 Figura 54: Corte .............................................................................................. 134

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