Folha de sala

Page 1

E como estrelas duplas consanguíneas luzimos de um para o outro nas trevas

Ana Mariz + Alexandra Côrte Real e Flávio Gonçalves Ana Paço + Mistério Catarina Real + André Tavares Marçal Cláudia Cibrão + Anabela Veloso Joana Patrão + Adriana Romero Jorge Pinheiro + Rita Araújo José Costa + Joana Gomes José Gomes + Pedro Cunha Rita Senra + Heeza Bahc

Opening 20.5 21:30 21.5—28.5 Barcelos



Curadoria: Alexandra João Martins, Ana Brito, Joana Patrão

Partindo do tema da 8ª edição do mARTE, cuja referência é a música “Life on Mars” (de David Bowie), convidamos um grupo de artistas a voltar à base, terramãe. Por meio de colaborações, e com aquilo que trazem na bagagem, propõemse a criar um projeto que procure explorar o nosso mundo e do outro e tudo aquilo que se forma no meio. Muito dificilmente chegaríamos a um lado só. Nem era o pretendido. A possibilidade de existência de vida em Marte continua a instigar a investigação científica e foi motivo de uma ampla criação ficcional. Esta possibilidade não confirmada, coloca ‘Marte’ numa condição de potência - um mundo (habitado) que pode ou não existir, que se torna uma máquina criativa/especulativa precisamente nessa condição. A geração do início dos anos noventa, na qual se inserem estes artistas, é sobretudo uma geração movida pelo questionamento, e jamais pela resposta, açambarcada pelas dúvidas, e não certezas. Celebramos então a utopia de uma vida noutro mundo (quando este já não parece ser-nos suficiente). Há sobretudo um movimento de refúgio para os imaginários individuais - alienação se quiserem - por vezes através de apontamentos saudosos para a infância como em lançamento ou por olho, de Anabela Veloso, ou de fabulações cósmicas acerca de mundos desconhecidos tornando a exposição num lugar de especulação, em Areia. Não-areia, de José Costa e Joana Gomes. Numa aparente calmia, passividade, estas obras não gritam, sussurram até se tornarem ensurdecedoras, assemelhando-se dessa forma a um vulcão, que se vai cozinhando, no risco eminente de se fazer explodir. Esta tensão pode sentir-se na obra de Rita Senra e Heeza Bahc. Numa tentativa de chegar a um outro mundo, foi trocada correspondência entre ambas as artistas. Um espaço vazio na sala destina-se à resposta que tarda em chegar. Neste período, com sentimento de espera, foram produzidos os trabalhos de Rita Senra, que remetem no seu processo para a uma passa(gem do)tempo. As operações minuciosas e os materiais frágeis utilizados, são uma das outras características destas obras, como podemos observar também em Monte Olimpo, de Joana Patrão e Adriana Romero, onde pequenas pedras de material estranho, iluminadas brilham e projetam sombras que criam pequenas paisagens. Aliás, todo o trabalho se desenvolve na dualidade entre o micro e o macro, e entre estas escalas cria-se uma incerteza na origem das imagens. Serão paisagem, serão encenações? Em O Tempo por dentro de Ana Isabel Mariz, Alexandra Côrte Real e Flávio Gonçalves, reside sobretudo a contemplação de pequenos elementos do quotidiano, resultando em imagens comuns, que já todos percecionamos em algum momento íntimo de evasão em que o tempo congela. Num exercício de montagem dialética, os três vídeos constituem-se por um primeiro plano algo meditativo e por um segundo plano libertador, fazendo prevalecer o choque e criando relações múltiplas entre as várias imagens de cada filme, que se encadeiam numa leitura circular que se repete infinitamente.


José Costa e Joana Gomes assumem como ponto de partida os contos de Italo Calvino em As Cosmicómicas, em que o escritor parte de enunciados científicos ou pseudo-científicos sobre as origens do universo e dos planetas, tendo como personagem principal e transveral o Qfwfq. Ao invés do conto tradicional, aqui cria-se um jogo mútuo no qual o escritor sugere e o leitor deduz histórias e ideias. A plasticidade e textura que os fragmentos dos elementos corriqueiros adquirem em macro assemelham-se à imagética do cosmos, mostrando que o desconhecido pode estar em todo o lado. Por sua vez, os sons retirados de arquivo e gravados em órbita coadunam-se às imagens, dadas as parecenças com os sons do vento e do mar. Percorrendo a exposição, deparamo-nos com uma constante: a simulação. Entramos no espaço através da portada que Rita Araújo e Jorge Pinheiro nos construíram, e logo nos encontramos num espaço vazio que se apresenta como uma espécie de não lugar, um lugar transitório de onde podemos seguir para as outras salas da exposição mas só depois de passarmos pelas construções da dupla que nos dão acesso a esses outros espaços enigmáticos. Numa das salas de maior dimensão, as artistas Cláudia Cibrão e Anabela Veloso, criaram um cenário de base triangular escorrido a tinta azul vibrante - filtro com que as artistas pintam esta narrativa ficcionada - que se propaga pelo espaço, quer através das paredes, quer através das próprias obras. Além desta cor comum, podemos encontrar a forma triangular como elemento formal da obras e ao mesmo tempo de relação entre as mesmas, nomeadamente, Sinonímia de Cláudia Cibrão e púcara de Anabela Veloso. Na primeira obra observamos um objeto triangular numa caixa de luz, que se transforma consoante a perspetiva do observador, justaposta com representações fotográficas de quatro das inúmeras possibilidades de perceção. Já na segunda, encontramos o triângulo como delimitação, contentor também de um carácter transformativo, neste caso, o da matéria – uma escultura de gelo azul que se deforma em água e se evapora restando o pigmento. Em Sem Identificação, de José Gomes e Pedro Cunha, olhamos uma paisagem numa espécie de panorâmica, que apresenta continuidade, mas que é desenhada parte a parte em colaboração e por isso revela diferentes traços. Um olhar mais atento consegue avistar figuras misteriosas desenhadas nas paredes, como se estivessem à procura desse lugar. Voltamos à terra. Nas peças cerâmicas de Ana Paço, em colaboração com o conhecido barcelense Mistério, a artista cria a partir dos seres belos e alienígenas aos quais o ceramista nos habituou. Vemos exaltado o pormenor e transcendido através do uso de materiais como seda e folha de ouro, transportando-nos da terra, argila, para um plano dourado, astral. Uma proposta diferente, a encerrar a exposição, parte da colaboração entre Catarina Real e André Tavares Marçal, com apresentação única dia 28 de Maio, um “evento-momento”, intitulado de Fogo Posto, na qual poderemos ouvir textos escolhidos pelos artistas, que irão criar um espaço através da voz.


6e 6c 6f

6a 6d

6b

5

8

1

9

2

3 4

7


1 — Jorge Pinheiro + Rita Araújo Sem título, 2016 Instalação com três peças em gesso cartonado Dimensões variáveis 2 — Rita Senra + Heeza Bahc Sem título, 2016 Dois desenhos de uma série, papel cristal picotado Retro-projeção, acetato colorido picotado Dimensões variáveis 3 — José Gomes + Pedro Cunha Sem 2016 Caneta, carvão e tinta da china sobre papel de bacalhau 394x34cm 4 — Ana Paço + Mistério Habitare, 2016 Assemblagem de cerâmica, cordão de seda, folha de ouro, madeira e mármore Dimensões variáveis 5 — Joana Patrão + Adriana Romero Monte olimpo, 2016 Instalação com duas projeções de slides a preto e branco, projeção de vídeo a cores, 15’, loop, 16 lamelas para microscopia com materiais desconhecidos Dimensões variáveis 6a — Cláudia Cibrão Sinonímia, 2016 Tinta sobre acrílico em suporte de madeira 25x25x7cm Série de 10x10cm


6b — Anabela Veloso quediz, 2016 Vídeo HD, 1’51’’, loop 6c — Anabela Veloso pucara, 2016 Tinta sobre gelo Dimensões variáveis 6d — Anabela Veloso possible, 2015 Som stereo, 7’ 24’’, loop 6e — Anabela Veloso lançamento, 2016 a cores 15x20cm 6f — Anabela Veloso por olho, 2016 Dente Dimensões variáveis 7 — Ana Mariz + Alexandra Côrte Real e Flávio Gonçalves O Tempo por dentro, 2016 Instalação com dois vídeos HD, 16:9, cor e vídeo miniDV, 4:3, cor 8 — José Costa + Joana Gomes Areia. Não-areia, 2016 Instalação com dupla projecção de cor, 27´ Som 2:33’40’’ (“Symphonies of the planets”, retirado de arquivo) 9 — Catarina Real + André Tavares Marçal Fogo posto, 2016 Conjunto de leituras (Apresentação única a 28 de maio)


+ info e programa completo em www.marte2016.weebly.com

mARTE — Mostra de Artes Visuais 8ªedição 20 a 28 de Maio de 2016 Escola Secundária Alcaides de Faria Casa do Vinho Barcelos


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.