“Um acordo em favor dos bons tratos” Campanha de vacinação contra os maus-tratos de crianças e adolescentes Programa Claves - Juventude para Cristo, Uruguai
por Lic.Ps. Alberto Vázquez
Como é a campanha? Trata-se de uma campanha de sensibilização pública sobre as situações de violência cotidiana que crianças e adolescentes sofrem, em que elas(es) mesmas(os) promoverão atitudes e condutas respeitando sua dignidade e integridade. Eles entregarão – em forma simbólica – a quem quiser participar: um certificado de vacinação contra maus-tratos e uma bala, como vacina, simbolizando bons tratos; além de um adesivo com o logotipo da campanha “Um trato pelos bons tratos”, buscando reforçar e perpetuar a mensagem sensibilizadora da campanha. É uma campanha na qual os adolescentes e jovens “vacinam” a pessoas de sua idade e a adultos, convidando-os a se unirem à promoção de uma cultura de bons tratos. Cada adolescente que vai vacinar (com seu equipamento de vacinação: certificado, adesivo e bala) aborda um adulto perguntando se já recebeu a vacina “antipegánica” (vacina contra os maus-tratos). O adulto geralmente responde que “não” e pergunta de que se trata, então o jovem explica que nesses dias está sendo feita a campanha de vacinação contra os maus-tratos contra crianças e adolescentes; pergunta se ele está disposto a ser vacinado contra os maus-tratos. Explica que é de graça, e que os relacionamentos podem sempre ser melhorados (não é necessário ser uma pessoa que maltrate para ser vacinada). Se o adulto concorda em ser vacinado, então o jovem começa a ler a parte da frente do certificado, onde anota o nome do adulto, a data da vacinação e a data de vencimento da mesma, ou seja, a data quando o adulto pensa que vai de novo tratar mal alguém. Depois lê o verso do certificado, no qual o convida a se comprometer com a cultura de bons tratos através de ações concretas como: abraçar ao filho(a) e dizer o quanto o(a) ama, cozinhar com ele(a), plantar uma flor num vaso ou no jardim, ler para ele(a) uma história antes de dormir, dedicar um tempo para escutar o adolescente, levar em consideração as suas opiniões. Quando o adulto expressa seu compromisso com essas ações, o jovem dá a ele o certificado, e dá de presente um adesivo, para
relembrar a mensagem. Por último, o convida a tomar a dose oral da vacina, que é uma bala de mel, símbolo da doçura necessária nos gestos cotidianos. Depois de entregar os materiais, agradece a boa vontade e o convida para que divulgue a experiência com as pessoas com quem ele convive.
Antes do início da campanha, os(as) adolescentes participam de oficinas de capacitação sobre a temática dos maus-tratos e promoção de bons tratos e de arte de rua, dados pelo programa Claves.
Para que fazer a Campanha? Tornar visíveis as condutas descritas através de uma campanha nacional constitui o primeiro passo no fortalecimento da responsabilidade que como adultos temos na proteção da infância e adolescência em nosso país. A autora argentina Ravazzola sugere em relação a isso que: “Se como atores contextuais conseguirmos introduzir um questionamento das ideias, uma alternativa e freio nas ações ou nas emoções, estamos introduzindo uma possibilidade de mudança do sistema. Por exemplo, registrar o mal-estar poderia levar às pessoas envolvidas nos circuitos de violência a tentar alguma reação diferente e, por isso, possibilitar a interrupção do ciclo violento” (C. Ravazzola, 1997).
A proposta busca também promover condutas, atitudes individuais e comunitárias de “bons tratos”, e fortalecer e desenvolver fatores de proteção nas próprias crianças e fundamentalmente nos(as) adolescentes e jovens que participarão como protagonistas em todas as etapas da campanha. Desta maneira se tornam visíveis os temas de maus-tratos e de relacionamentos desiguais, assim como o tema da infância e adolescência (que geralmente é analisado a partir de suas carências e dificuldades) de uma perspectiva positiva e de esperança, que é visualizada através de uma “festa”: as iniciativas de vacinação nas ruas, terminais de ônibus, praças e centros de estudos.
Quem participa? •
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Instituições e organizações comprometidas com a infância e adolescência do país: ONG’s, centros educativos, colégios, creches, centros juvenis, paróquias, igrejas Organismos do Estado que promovam o bem-estar de crianças e adolescentes Organismos internacionais e privados dispostos a colaborar e apoiar esta campanha População adolescente e jovem que participa em organizações sociais População adulta que participa em organizações sociais População em geral (“vacinados” e sensibilizados)
Quais são os objetivos desta campanha? Os objetivos centrais estão estruturados com base em três fundamentos: a promoção dos direitos da infância e adolescência, a participação e o protagonismo de adolescentes e jovens na defesa de seus direitos, e, finalmente, a sensibilização e a busca de compromisso da própria comunidade a fim de promover relações igualitárias entre gêneros e gerações.
Passos desta campanha O projeto, em conjunto com os seus associados, programa atividades educativas e de sensibilização pública, que favorecem a integração social, o trabalho em redes e a promoção dos direitos de crianças e adolescentes. A execução tem algumas fases com tempos determinados: 1. Convocação 2. Capacitação 3. Semana de vacinação 4. Encerramento festivo 5. Avaliação participativa Cada uma destas etapas apresenta aspectos metodológicos diferentes. A seguir apresentamos cada uma das etapas. 1 Primeira etapa: convocação Seu objetivo é que as organizações que trabalham com o tema da infância e adolescência, de diversas perspectivas, tenham informação da campanha e possam tomar uma decisão informada para participar da mesma. Para esta etapa, a organização que está convocando tem que definir a data da semana de vacinação e as datas dos treinamentos a serem dados aos grupos que participarão da campanha. Metodologicamente existem duas grandes linhas de ação: a formal e o boca a boca (comunicação entre pessoas). Formalmente se convoca através de diversas maneiras: associação de igrejas, organizações não governamentais, colégios públicos e privados, redes sociais. Também se convoca através dos meios de comunicação disponíveis nas organizações que apoiam a campanha (sites, cartazes etc.) É enviado um comunicado escrito, para que estas instituições possam divulgá-lo em seus boletins; e um folheto, com mais informação, que é enviado diretamente às instituições. Quando falamos da segunda linha de ação, pensamos no convite, que de forma espontânea, e sem formalidades, sugere a participação às organizações (e as pessoas) que participaram de eventos similares ou iguais a este. Esta última linha de ação funciona muito bem ao integrar um forte componente apologético da atividade no diálogo direto com os possíveis novos participantes. O folheto mencionado acima também serve de apoio para esta convocação.
Recomenda-se, para o grupo organizador, começar a convocação com poucos grupos, para poder realizar uma primeira experiência que não seja muito difícil na parte de logística e operacional. Em outras etapas se poderá aumentar o número de organizações parceiras. 2 Segunda etapa: capacitação Seu objetivo é dar ferramentas às organizações participantes para levar adiante a vacinação. Isso é feito através da capacitação de adolescentes e de um educador de cada uma das diferentes instituições participantes, que depois se comprometam a multiplicar estes conhecimentos em suas organizações. Basicamente, são quatro grandes componentes: 2.1 • • • • • •
Capacitação teórica sobre maus-tratos e bons tratos. Temática: Prevenção de maltrato e promoção de Bons tratos Fortalecimento de fatores de proteção Resolução não violenta de conflitos Como pedir ajuda em situações difíceis Perspectiva de gênero Comunicação assertiva
Os objetivos são: • Problematizar os conceitos – acadêmicos e presentes no imaginário social –, da fase de adolescência • Relacionar estes conceitos com os sistemas de crenças que legitimam e sustentam a vulnerabilidade dos direitos específicos de crianças e adolescentes • Proporcionar ferramentas para o primeiro apoio entre pessoas de sua idade e adultos referentes 2.2
Capacitação básica em distintas expressões artísticas que servirão como fatores de atração para os postos de vacinação.
Oficinas de arte: • Maquilagem e acessórios em papel • Técnicas de clown e recreativas Os objetivos são: • Aprender técnicas (clown, maquiagem, recreação, trabalho em papel e comunicação) para tornar mais divertida e visível a difusão pública • Simular possíveis situações “de vacinação” aos adultos em espaços públicos • Planejar as atividades prévias e as saídas para as ruas para a “Semana de Vacinação” As ações – em sua forma de multiplicação de oficinas com pessoas da mesma idade, atividades comunitárias lúdicas e a própria vacinação - mantêm a ênfase na contextualização às realidades locais/ estaduais.
2.3
Capacitação em habilidade de comunicação, tanto para o encontro com as pessoas a serem vacinadas, como com os meios de comunicação que esperamos que se interessem pela campanha.
2.4
Capacitação no uso dos materiais preparados para a campanha, tratando de assegurar o conhecimento dos mesmos e das diferentes mídias nas quais podem ser usados (entrevistas em rádio, televisão, com autoridades locais, etc.)
Da mesma maneira se trabalhará em cada grupo o manual de educação entre pessoas da mesma idade “Mãos aos Bons tratos”, que consiste em uma guia de atividades para serem multiplicadas pelos adolescentes, com pessoas de sua idade e com os adultos. Nestas instâncias cada organização planeja uma atividade de vacinação em seu bairro ou comunidade pensando na semana escolhida para a vacinação: certificados, esquemas de vacinação, cartazes, adesivos, balas e um CD com o jingle e vinhetas da campanha, além de materiais teóricos sobre maltrato e bons tratos. Esta capacitação se caracteriza por uma abordagem participativa e vivencial. A prioridade é que os adolescentes e seus educadores, possam experimentar as diferentes técnicas artísticas, simular as diferentes situações que podem acontecer no contexto da campanha e elaborar uma reflexão sobre a temática de bons tratos. 3 Terceira etapa: Semana de vacinação Antes desta semana, ou no começo da mesma, sugere-se realizar o “lançamento da campanha”, para que os meios de comunicação possam divulgar o que acontecerá nesta semana. Para isso se escolhe um lugar estratégico para o lançamento (igreja, centro municipal, etc.) e se convida os meios de comunicação para receberem informação do que se trata a campanha. Para isso, se organiza este lançamento junto com os adolescentes, e eles apresentam esta campanha e as atividades que vão ser realizadas. Esta semana escolhida de vacinação é a atividade central da campanha, quando cada instituição sai às ruas para vacinar, com seus adolescentes, os adultos de sua comunidade. Esta atividade é realizada depois da capacitação, que é quando os grupos elaboram suas estratégias para vacinar a comunidade local. Reforçamos que a ideia é que os adolescentes vacinem os adultos, combatendo os maus-tratos ao promover os bons tratos. Os fundamentos metodológicos de participação intergeracional, inclusão social, igualdade de gênero e perspectiva positiva, assim como a promoção dos direitos de crianças e adolescentes por eles mesmos, são vivenciados ao máximo neste momento chave da campanha. Paralelamente, nestes dias de maior repercussão nos meios de comunicação, priorizamos a participação de adolescentes nas distintas entrevistas. Dando uma referência midiática à experiência da vacinação, mas tentando manter a metodologia.
Destacamos o lançamento da campanha como um momento especial, quando a convocação aos meios de comunicação em massa é reforçada em sua atração pela participação das autoridades dos distintos órgãos que apoiam a campanha: ministérios, prefeitura, organismos internacionais. Nesta ocasião, também buscamos manter o protagonismo dos adolescentes, incluindo-os através dos voluntários de nossa organização, desde o planejamento até a condução da mesma. 4 Quarta etapa: Encerramento festivo Para fechar com chave de ouro a semana de sensibilização e participação, organiza-se uma festa de música e celebração do que aconteceu. A participação dos adolescentes no planejamento e execução deste evento é muito importante. A condução por parte de um casal de adolescentes foi uma fórmula que deu certo e que repetimos nas campanhas anteriores. Um ponto alto é sempre a comunicação ao vivo, em diferentes partes do país, para recebermos informação e sermos contagiados pelo entusiasmo de outros que promoveram os bons tratos em outras cidades. A maneira e ginga próprias dos adolescentes permeiam este acontecimento potencializando o tempo de agradecimentos e reconhecimentos, que como organizadores, fazemos a todos que permitiram que esta campanha fosse implementada. 5 Quinta etapa: avaliação participativa Depois de um breve descanso para recuperar as forças, e principalmente, ter uma distância que permita um olhar mais imparcial, nos encontramos com os representantes das diferentes organizações para avaliar a campanha. A participação dos educadores é importante, mas a presença dos adolescentes é fundamental para avaliar os objetivos desta campanha. Com um enfoque lúdico, e muito recreativo levamos adiante uma jornada de reflexão e avaliação em grupo.
Gestão Operacional Para levar esta campanha de sensibilização adiante são propostas nove operações, entendidas como grupos de ações que têm um mesmo objetivo. a. Alianças estratégicas Objetivo: estabelecer compromissos com instituições que deem legitimidade à campanha na comunidade e permitam ter acesso a recursos que a tornem possível e a divulguem.
b. Captação de recursos Objetivo: conseguir contribuições econômicas (dinheiro ou serviços) que permitam o desenvolvimento da campanha, ou seja, cumprir com o orçamento inicial. c. Design de materiais de divulgação e comunicação Objetivo: elaborar os diferentes produtos de comunicação que vão transmitir as mensagens da campanha • • • • • • •
cartazes adesivos carteira de vacinação folheto convidando para participação camiseta da campanha vinhetas para rádio vinhetas para televisão
d. Estratégia de meios de comunicação e RR. PP. Objetivo: posicionar a semana de vacinação contra os maus-tratos no imaginário coletivo brasileiro, através dos meios de comunicação em massa e de outras ações • • • • • • • • • • • • •
Comunicação de imprensa Site atualizado semanalmente, lançamento, entrevista coletiva Mailings enviados a meios de comunicação Ligações telefônicas a meios de comunicação Notas em jornais e revistas Presença em notícias televisivas abertas e a cabo Presença em outros programas de televisão Presença em noticias de rádio Presença em outros programas de rádio Presença em sites Cartazes em transporte público (ônibus e metrô) Presença na programação televisiva com spot publicitário e sensibilizador sobre a temática Presença em programas de rádio com os spots publicitários e sensibilizadores sobre a temática
e. Comunicação com organizações envolvidas Objetivo: Que as organizações que trabalham com adolescentes e crianças participem ativamente e sintam que a campanha é deles. • • •
Convocação por telefone aos participantes Boletim eletrônico mensal com as novidades da campanha; um mês antes passa a ser semanal Reuniões de planejamento com os participantes
f. Sistematização Objetivo: Sistematizar toda a experiência, possibilitando uma transferência a terceiros interessados e a apresentação da mesma a possíveis novas fontes de financiamento. • • • • •
Arquivo de todos os materiais produzidos com ficha descritiva (objetivos, metodologia, autores, etc.) Registro fotográfico de todas as etapas Registro em vídeo de etapas fundamentais (lançamento, campanha bons tratos, vacinação e avaliação) Registro das diferentes vezes em que aparecem em meios de comunicação Relatório final
g. Capacitação Objetivo: Capacitar dois adolescentes e um educador de cada instituição para que reproduzam em seu grupo • • •
Materiais didáticos planejados para reproduzir oficinas em cada organização Registro de oficinas em fichas de avaliação (uma por organização) Registro fotográfico dessas oficinas (quando possível)
h. Coordenação da campanha Objetivo: Coordenar o desenvolvimento da campanha de vacinação em suas distintas fases, nos diferentes estados. • • • • •
Que seja cumprido o calendário proposto, como consta no relatório final. Que as distintas instituições tenham, a tempo, os vários materiais (certificados de vacinação, cartazes, adesivos, materiais de divulgação). Relatório das atividades realizadas na semana da campanha de vacinação. Registro fotográfico da vacinação.
i. Encerramento festivo Objetivo: Comemorar a realização da campanha com as pessoas que a implementaram e com as que a tornaram possível. Ter uma atividade centralizada e atraente para a divulgação nos meios de comunicação em massa, reforçando a mensagem sensibilizadora no encerramento da atividade.
Mãos Dadas Revista de Apoio aos que trabalham pela dignidade de nossas crianças e adolescentes. Caixa Postal 88 - 36.570-000 Viçosa