Crônicas da Minhas Cidade

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Crônicas e Relatos sobre Minha Cidade UMA HOMENAGEM A JABOTICABAL PELOS SEUS 192 ANOS

9º Ano – Ensino Fundamental II Orientação: Prof.ª Rosane Michelin Toni e Prof. Kauan Puga COLÉGIO SANTO ANDRÉ – UNIDADE JABOTICABAL 2020


“Jabuticabeira” – Monalisa Nogueira de Oliveira (6º Ano II)

Este livro é dedicado a todos os familiares que sensibilizaram os alunos com seus relatos e os inspiraram a escrever...


Campo de Futebol e suas Lembranças Amanda Forneli Morais

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inha bisavó Isabel conta que em 1925, Jaboticabal era bem diferente; a praça Dom Assis, por exemplo, era um campo de futebol. Nesse local, as pessoas que tinham a sua idade (em

torno dos 16 e 17 anos) se juntavam quase todos os dias para jogar ou fazer outros tipos de brincadeiras. “Era sempre assim! Todos os dias nós nos divertíamos e contávamos histórias nesse campo. Além de tudo isso, foi lá que conheci seu falecido bisavô...” — contou-me minha avó. Senti a saudade e a tristeza no olhar dela, então comecei a fazer perguntas e me interessar mais ainda pelo romance que ela tivera, para que ela pudesse se recordar das coisas boas que havia vivido. Ela disse, com os olhos brilhando, que era lá que eles se encontravam, pois seu falecido pai não aprovava o namoro. Ela deu uma leve olhada para mim, vendo se eu estava prestando atenção e continuou: “Eu e seu bisavô nos divertíamos muito naquele campo de futebol e foi justo lá que ele me pediu em casamento, então aquele lugar se tornou parte de nós, pois nossa história se desenvolveu lá. Porém, com o tempo foram transformando o local em uma praça e agora, o que me resta, são as lembranças e a saudade.”

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Minha Infância em Jaboticabal Ana Júlia De Almeida Alexandre

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uando eu era pequena, morava em um sítio na cidade de Jaboticabal, com os meus pais e meus irmãos. O meu avô tinha um sítio pertinho do nosso e, nos fins de semana, meus irmãos

e eu íamos para lá, pois era um lugar onde nós brincávamos e andávamos de carro de boi. Meu tio sempre me levava, junto com os meus primos, para entregar a cana no engenho que fabricava pinga e rapadura, e também neste passeio nós passávamos por um monjolo de água o qual, com a força da água moía o milho e fazia o fubá. Lá no sítio, nas horas vagas, eles também produziam queijo e mel para vender. Essa era uma diversão para toda a família, pois todos ajudavam na produção dos queijos e no armazenamento do mel. Aos sábados, eles iam para

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a cidade vender os produtos e, aos domingos, eles também vendiam nas saídas da igreja. Tinham uma capelinha perto da sede do sítio e para lavá-la, precisava carregar água do poço e a lavagem na capela sempre tinha um motivo: vir a chuva. Tudo isso era algo muito importante para nós, pois a chuva significava e ainda significa, para nós, rios cheios e plantações férteis. A colheita do mel era feita apenas pelo meu avô, pois era algo delicado e perigoso. Certo dia ele foi fazer a colheita e algo inesperado aconteceu: ele foi atacado por um enxame de abelhas e, para livrar-se delas, ele subiu no cavalo, mas como o cavalo estava acelerado, ele perdeu o controle, caiu direto em um rio e acabou falecendo por conta das quantidades de picadas de abelha. Foi um acontecimento extremamente triste e que marcou minha vida!

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Essa Cidade tem Nome de Fruta Bruna Hidalgo

17 de abril de 1963

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utra vez tivemos que parar, meu pai está cansado e ele merece um descanso. Até porque estamos viajando desde lá de Goiás e já paramos em várias cidades. Mas acho que esta será a última parada até Pitangueiras. Meu pai é muito aventureiro, ele vai pra qualquer canto do mundo atrás de dinheiro. Antes de escurecer totalmente, eu, meu pai e quatro dos meus seis irmãos, estávamos dando uma volta de caminhão pela cidade. Sendo sincera, nada muito de surpreendente chamoume a atenção aqui, a não ser o nome da cidade: — Ô pai, qual o nome dessa cidade aqui? — Jaboticabal, filha. — Jabuticaba??? – disse para mim mesma. Não podia acreditar. Como é que uma pessoa nomeia uma cidade com o nome de uma fruta? Só porque viu uma jabuticabeira ali perto e pronto? Mas que falta de criatividade, Jesus! Já estou com sono, vou dormir. Vou dormir do lado da minha irmãzinha Oscalina, ela ocupa menos espaço. Até! P.S. Agora que percebi, Pitangueiras é o nome dá árvore que dá a pitanga. Agora sim, estou perdida!

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Como a Vida Era Diferente! Brenda Mary Carvalho

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egundo minha avó, há mais ou menos uns trinta anos, a vida e a rotina de qualquer morador de Jaboticabal era algo completamente diferente do que é hoje, pois as pessoas tinham outro modo de viver e de pensar. Para minha avó, os trens eram os meios de locomoção mais interessantes, e também o mais utilizado por toda a população. Ela disse que praticamente vivia na estação, pois ia lá todos os dias para buscar meu avô, que hoje já é falecido. Ela ia buscá-lo e matar a saudade...

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A Família que Só Aprontava Carla Colletes Scodiero

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uando eu tinha 7 anos, eu e meu irmão fazíamos de tudo para sair do tédio. Certa noite, nós pensamos em fazer uma apresentação de circo com meus primos, eles tinham por volta

de 10 anos, preparamos a apresentação e chamamos todas as crianças do bairro, cobrando o ingresso, claro! Tinha vários números no nosso show e um deles era meu irmão, que na época tinha nove anos, andar sobre a corda bamba e, de algum modo, pensamos que isso seria uma boa ideia. O show começou, fizemos alguns truques normais e então chegou o tão esperado o número da corda. Pegamos duas cadeiras e colocamos a corda sobre elas, meus dois primos, Randal e Gustavo, sentaram-se nas cadeiras e meu irmão começou a andar sobre a corda. Eu não preciso nem falar o que aconteceu depois disso, não é? Ele subiu na corda e levou um dos maiores tombos da vida dele, realmente não sei por que pensamos que isso daria certo.

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Outra coisa que gostávamos muito de fazer, e que fizemos inclusive por muitos anos, era descer a rua que leva da nova até a Marginal de carrinho de rolimã, já que na época não passavam muitos carros na rua, mas o grande desafio era virar na rua antes da Marginal, mas especificamente, na rua da Concha Acústica. Então, em um desses dias, eu, meu irmão e meus primos, resolvemos fazer nosso próprio Kart para descer a avenida. Mas é claro que também deu errado! Tudo corria bem, até a tão esperada virada, já que não podíamos chegar na Marginal, ao chegar na virada, evidentemente, o kart não virou e meu irmão, (que foi Nossa cobaia de teste) deu com a cara com muro da Concha Acústica. Todos sabemos que o muro da Concha Acústica não é um muro normal, lisinho; é aquele muro chapiscado e áspero. Então, quando ele bateu no muro, ralou o rosto inteiro e quase perdeu um olho. Ele levou pontos em cima da sobrancelha e logo abaixo do olho, isso tudo graças a uma santidade de Deus, mais conhecida como amiga da minha mãe, a qual estava passando pelo local e viu meu irmão sangrando e meus primos desesperados. Ela levou-o para o hospital e deu tudo certo, meu irmão só ganhou uma cicatriz e nós perdemos um Kart e uma tarde de trabalho. Eu me vivi em Jaboticabal dos 6 aos 10 anos e, nessa época, tudo ainda era bem simples, inclusive as pontes que cruzavam o rio da Marginal; elas eram feitas de madeira e tinha pedaços faltando na bendita ponte! Então, toda vez que as atravessávamos, vinha o medo de cair dentro do rio, porque os espaços entre as tábuas também não eram pequenos... Era sempre uma situação de “vida ou morte”, pelo menos para nós, que éramos crianças. Bons tempos aqueles!

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Recordações Christiana Rosa de Almeida

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a minha juventude, não tinha celular, computador e nem essas tecnologias que existem hoje; as coisas eram mais simples, não existia Google e as pesquisas eram feitas nas bibliotecas, os

trabalhos eram escritos, manualmente e as pesquisas, quase sempre, em grupos. Mas eu me lembro de que foi um tempo maravilhoso também, tudo tinha seu valor: a escola, os meus amigos... Nós nos divertíamos muito com brincadeiras na rua, como pique-esconde, queimada, bobinho, entre outras que nos faziam ficar horas do dia desfrutando. Os professores faziam o possível para ajudar seus alunos, assim como é hoje. Eu brincava de boneca ou de casinha, eu gostava muito, mas o que mais me fez criar lembranças foi, quando eu ajudava a minha mãe na cozinha; eu adorava! Sempre ficava olhando-a fazer os bolos e doces, mas hoje as coisas mudaram, tanto os meninos como as meninas estão sempre ocupados com tarefas escolares, e outras atividades extracurriculares que fazem, sobrando pouco tempo pra brincar ou passar um tempo com a família

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Medalhistas Descalços Esther Dellacorte Rodriguez

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ai, me conta uma história de quando você tinha a minha idade?

— Conto sim, filha! Inúmeras são elas, mas tem sempre as que não saem da memória. — Eu gosto muito de saber essas coisas, me desperta uma curiosidade de saber como a vida era nos anos passados. — Bem, vamos lá! Conta a lenda que nos idos dos anos 90, Jaboticabal sediava os jogos regionais no campus da Unesp e acolhia centenas e centenas de jovens atletas que disputariam provas de velocidade, resistência, futebol, dentre outros esportes. Na delegação de Guariba, havia 15 atletas, todos sedentos por vitória. E esses jovens, maravilhados com a organização do evento e com a estrutura do campus, competiram brilhantemente e alguns até foram medalhistas. Mas, o que realmente marcou para sempre aquela competição não foram as vitórias, mas sim um fato antidesportivo. Entre uma competição e outra, os atletas deixavam no vestiário roupas e tênis e, por infelicidade do destino, um meliante atleta de uma das "delegações" teve uma ideia reprovável de pegar emprestado para sempre aquele tênis de marca que era o sonho de todo jovem. Essa ideia foi replicada entre 6 jovens infratores e, mesmo os microfones implorando a devolução, até hoje o anonimato levanta um troféu inglório, que na cabeça dos infratores, foi uma vitória, mas, para as vítimas, uma grande derrota. No fundo, se o tempo voltasse ou o futuro providenciasse as identidades, seis novas medalhas trocariam de mãos e seu pai não voltaria descalço pra casa. — Nossa, pai! Como são interessantes suas simples recordações! Tenho certeza de que essas histórias serão eternamente gravadas na minha e na sua memória: "O dia em que meu pai me contou sobre a sua infância". Mas eu 11


gostaria de saber um pouco mais sobre esses jogos... Como eram? Funcionavam por faixa etária? — Exatamente! As etapas funcionavam por faixa etária e os vencedores seguiam para os jogos abertos. Eram muitos atletas em busca de um futuro com o esporte. — E você participou de qual esporte? — Eu, minha filha, participei da corrida dos 1.500 metros. — E como funcionava essa corrida? — Nada muito complicado; apenas todos corriam 1.500 metros em volta da pista de atletismo. — E o ganhador daquela etapa ganhava medalhas? — Sim, isso mesmo! Quem fosse classificado em todas as etapas, iria representar o Brasil no campeonato sul-americano. — E você conhece alguém que chegou na final??? — Infelizmente, não! — Ah! Mas o que vale é a intenção, não é mesmo?! — Claro, filha! Agradeço até hoje pelas oportunidades e os aprendizados que a vida me proporcionou. Espero que você também tenha muitas histórias para contar... — Obrigada, pai! Momentos como esse merecem ser eternos!

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Passeio de Carroça Filipe Martins do Nascimento

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u estava conversando com minha avó sobre os incidentes que aconteceram na vida ela, quando ela me contou um fato muito engraçado. Ela falou que toda semana, meu bisavô levava um

de seus filhos para ajudar a cortar o capim para dar aos animais. Eles iam até o sítio, cortavam o capim e voltavam. Minha avó disse que ela ficava em cima do monte de capim, a fim de pisar nele e conseguir abaixar o volume, pois assim, cabia mais capim e não seria necessário ir ao sítio mais que uma vez por semana. Um dia, quando eles estavam voltando do sítio, tinha uma valeta na estrada e, por isso, meu bisavô desceu para puxar o cavalo devagar. Mas quando o carrinho passou pela valeta, minha avó caiu de cima do capim; meu bisavô ficou muito assustado, porém minha avó não se machucou. Ele ofereceu um pouco de leite para minha avó, mas ela queria água. Então eles foram até uma mina, onde ela pôde beber água. Ela se aproveitou da situação e, quando meu bisavô perguntou se ela queria alguma coisa, ela pediu chiclete. Ao descobrir que estava sendo enganado, meu bisavô disse: — Essa menina só pode estar de brincadeira comigo! Eles se olharam e, de repente, caíram na gargalhada. Essa é uma ótima recordação de pai e filha!

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Lembranças Heloíse Thomazelli Pedro

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inha avó estava no quintal, bordando um pano, quando cheguei animada para perguntar sobre o passado dela. — Oi, Neguinha!

Minha avó sempre me cumprimenta com um apelido de infância. — Oi, vó! A senhora poderia me falar como sua vida foi no passado? Eu me sentei à sua direita e ela, com um sorriso, começou a ame contar: — Antigamente as coisas eram muito difíceis! Parei de estudar na terceira série para começar a estudar como babá. Éramos muito pobres e por isso, naquela época, começávamos a trabalhar muito cedo. Meu pai colocava a família inteira para trabalhar e o salário que recebia, eu tinha que entregar todo para ele. E, no final, ele sempre me dava uns trocados. Fiquei um pouco espantada com o que minha avó tinha acabado de falar, mas animada para continuar a ouvir o que minha avó contava, perguntei: — E as casas, vovó? Me fale sobre elas, sobre como era a cidade antigamente! Ao notar meu tom de curiosidade, minha avó logo começou a contar: — A cidade era bem diferente do que é hoje. As ruas não eram asfaltadas, nem era em todo bairro que tinha postes de luz. E as casas eram simples, dificilmente se via um casarão... Eu já morei em tantas casas, que já perdi as contas, cheguei a morar até em um porão. Mas mesmo assim, sinto saudades daquela época. Minha avó me olhou de um jeito diferente e disse: — Espera aí!

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Ela se levantou rรกpido, deixando o pano bordado em cima da mesa. Minutos depois, ela voltou com uma caixa cheia de fotos. Ficamos vendo aquelas fotos por muito tempo. Minha vรณ relembrava os velhos momentos. Fiquei feliz ao ver que ela estava feliz com aquelas lembranรงas.

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Tempos Diferentes Isabela Maria Bergamaschi Corrêa

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eus pais sempre me dizem que a infância deles foi muito diferente da minha, por diversos fatores, como por exemplo, não existia celulares e nem a tecnologia que temos hoje; um

exemplo é o Google que tem praticamente tudo o que pesquisamos. Eles disseram que antes era necessário buscar em bibliotecas, porém hoje está mais fácil e a tecnologia ocupa grande espaço no tempo das crianças e adolescentes com jogos e entre outras coisas. Então eles iam em busca de outras maneiras para se divertir com brincadeiras como bandeirinha, carrinho de rolimã, bolinha de gude, peão, casinha, subir em árvores etc. Apesar da maioria da infância e adolescência da minha mãe ser em Taiaçu e em Ribeirão Preto, ela falou que costumava muito em ir a bailes e nadar na Mascagni e ir ao bar restaurante Vivenda, em Jaboticabal. Ela ia com suas primas e amigas e todas aproveitavam muito e se divertiam bastante. Ela também contou que quando ia passar uma temporada na casa de suas primas a noite elas tocavam as campainhas e depois saiam correndo, andava de Mobilete nas calçadas e, à noite, saíam para ir tomar sorvete e se juntava para ir na casa de amigas fazer um bolo e conversar. Hoje ela diz que tem mais medo de deixar eu e minha irmã sairmos à noite para passear com amigos e ir em festas, pois está tudo mais perigoso e é necessário tomar mais cuidado.

Sociedade Filarmônica Pietro Mascagni

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A Minha Gentil Cidade Julia Baaklini Petroucic

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ra um dia normal como os outros, por volta das seis da manhã, eu já estava acordada, e como de costume, meus avós me esperavam na cozinha com uma repleta mesa de café da manhã,

Comi rapidamente, pois nesse dia eu teria uma prova de matemática e precisava revisar a matéria. Com pressa, me arrumei e fui para a casa de Maria e em seguida fui à casa de Lúcia, elas eram as minhas melhores amigas, pena que com o tempo acabamos nos distanciando. Nós íamos para a escola juntas e, durante o caminho falamos a respeito da matéria; nós estávamos muito ansiosas, pois havíamos passado horas estudando. Depois de alguns minutos revisando a matéria, o assuntou mudou instantaneamente para o baile que iria acontecer no sábado. E Maria, muito curiosa, perguntou: 17


— Meninas vocês já acharam um vestido para o baile? O meu é lindo e tem mangas bufantes maravilhosas. Eu respondi: — Eu e minha mãe estamos quase terminando de fazer o meu. Ontem fui à loja e comprei lindos laços para colocar nele. E perguntei a Lúcia se ela estava bem, lembro que ela estava parecendo muito chateada. E então ela respondeu: — Eu não vou ao baile, pois estou de castigo. Lembro que não tocamos mais nesse assunto, pois Lúcia tinha beijado um menino e os seus pais descobriram e virou fofoca para Jaboticabal inteira. Depois desta tensa conversa, o silêncio reinou entre nós até chegarmos à escola. Naquele dia havia poucas meninas na minha sala, pois naquela semana teria uma exposição de trabalhos e a professora escolheu as melhores para participar. Eu nunca fui muito boa com costura, demorou um bom tempo para bordar minha primeira toalha. Fui a primeira a acabar a prova, lembro-me que tirei uma ótima nota e então caminhei sozinha para a minha casa que não era muito longe da escola. Bem na hora que fui atravessar a rua, minha perna travou e eu não conseguia sair do lugar, fiquei parada por quase um minuto e então várias pessoas vieram me ajudar, uma senhora me levou ao hospital e lá encontrei meus pais e meus avós e haviam também muitas pessoas que eu não conhecia, Levaram-me para a sala de cirurgia e quando sai, perguntei para a minha mãe quem era aquelas pessoas que eu não reconhecia, e então ela me explicou que aquelas eram as pessoas que me ajudaram a sair do meio da rua. Então, desde aquela época, eu nunca esqueci de como os cidadãos de Jaboticabal são atenciosos e se preocupam com o próximo.

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Lembranças Katherine Moretti Acorsi

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aboticabal, uma pequena cidade, mas com muitas memórias. Estava sentada no quintal quando minha doce e querida neta chegou eufórica, pedindo para eu contar mais histórias da minha

vida para ela. — Vovó, conta como a senhora chegou aqui em Jaboticabal! — minha neta disse animada. — Bom, eu morava numa pequena cidade próxima de Jaboticabal, quando meus pais decidiram mudar para Jaboticabal quando eu tinha doze anos. Meu pai comprou uma chácara na saída da cidade, a casa era antiga e a rua, sem asfalto.

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— E o que a senhora fazia durante a semana? — perguntou minha netinha super interessada. — Nós fizemos uma horta e eu ajudava plantar verduras e legumes e, nos finais de semana, ajudava na feira livre, mas também eu ia à escola a pé, pois não havia transporte escolar, e que canseira! — Vovó, do que a senhora e seus amigos brincavam? — perguntou a menina. — Essa pergunta é muito boa! Antes, Jaboticabal não tinha rua asfaltada e eu, meu irmão e meus amigos amávamos brincar de “bets” e quando a rua foi asfaltada, a brincadeira tornou-se tão legal quanto antes. — Vovó, a senhora precisa me ensinar essa brincadeira! —minha neta disse empolgada. — Te ensino sim, minha fofinha! Infelizmente, o movimento dos carros foi aumentando e as brincadeiras acabando. Minha fofinha, vou te contar uma curiosidade de antes. Antigamente, as casas não tinham muros altos e nem cercas elétricas para protegê-las, pois não era perigoso. — Nossa vovó, antes era bem legal, então! — disse a garotinha. — Era sim, minha fofinha. — Mas vovó, a senhora continuou aqui quando virou adulta? — Então, depois que me formei professora dei aulas por vinte anos aqui, mas fui para São Bernardo para aproveitar mais oportunidades. Felizmente, depois que aposentei, não resisti e voltei para Jaboticabal e consegui uma nova oportunidade de trabalhar com tapeçaria e hoje eu percebo o quanto Jaboticabal cresceu desde quando cheguei. Senti os meus olhos encherem de lágrimas de emoção por lembrar o quanto eu era feliz. — Que legal, vovó! Eu amo suas histórias! — disse a minha netinha. — Eu amo conta-la! para você, minha fofinha! 20


Algumas Lembranças Laura Ferreira da Silva Santana

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aboticabal, uma cidadezinha do interior de São Paulo, que provoca a indiferença de muitas pessoas, mas que para outras, tem um inestimável valor.

Minha avó paterna é uma dessas pessoas que valorizam demais essa cidade. Ela sempre me contou muitas histórias sobre sua vida durante a minha infância, Dentre tantas vivências, ela me relatou sobre como veio parar em Jaboticabal e sobre como essa cidade era diferente. Ela disse que morava em Ouro Verde, uma cidadezinha perto de Minas Gerais. — Aos treze anos, conheci seu avô. Ele tinha vinte e um anos. Começamos a namorar, o que também era muito diferente naquela época. Os namoros de hoje são têm nada a ver com o do meu tempo. — Conta mais, vovó! — Seu avó se tornou veterinário na França, onde moramos por um ano, antes de virmos para Jaboticabal. Quando chegamos aqui, passamos a morar num lugar afastado do centro da cidade. Jaboticabal ainda estava em processo de expansão. — E depois, vó? — Bem, fomos morar no bairro Nova Aparecida, pois era um local onde moravam muitos médico e veterinários e seu avô achou que era um bom lugar. Mas como a cidade ainda era bem pequena, a rua ainda tinha pouca iluminação e havia muitos bichos e muito mato! Depois de seu relato, ela me mostrou várias fotos de sua infância e adolescência e até se emocionou, pois os sentimentos de saudades e nostalgia eram muito fortes.

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Agradecida pelo cuidado e pela paciĂŞncia que ela teve ao me mostrar toda sua histĂłria de vida, e pelos inĂşmeros ensinamentos que, indiretamente ela me passou, voltei feliz e realizada para minha casa.

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A Amarga Espera Laura Gírio Felipelli

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m uma certa manhã de uma sexta feira, na saída da aula, eu e minha amiga Claudia tínhamos sido chamadas para uma festa de uns meninos muito conhecidos na cidade. Eu estava com

medo de pedir par minha mãe, pois não sabia qual seria a resposta dela, deixei de última hora para perguntar e enquanto ela não chegava em casa, fiquei limpando e organizando tudo para quando ela chegasse, não pudesse reclamar de nada e me deixasse ir à festa. Eram quase dezoito horas e nada da minha mãe chegar em casa, a festa era às dezenove e trinta, mas todos começavam a chegar as 20:00. Mesmo assim, eu não teria tempo de me arrumar... Liguei para a Claudia ela disse que já estava pronta e que daí a pouco passaria em casa para me buscar, nem me atrevi a contar para ela que eu não tinha nem começado a me arrumar, apenas disse que estava tudo bem e desliguei para não parecer nada suspeito. Enquanto isso eu já tinha ido tomar banho e estava me arrumado bem pouquinho, para que se ela dissesse não, eu pudesse ficar em casa ou, se ela dissesse sim, eu pudesse continuar de onde parei. Era dezenove horas e nada da minha mãe. Dezenove e trinta, e nada da minha mãe... Nesse momento, comecei a ficar nervosa e com medo, pois eu não podia ligar para ela enquanto ela trabalhava e nesse exato momento começou a chover. Claudia logo me ligou dizendo que tinham cancelado a festa por conta da chuva, não sabia se ficava triste ou aliviada. Uns quinze minutos depois apertaram a campainha, não esperava ninguém além da minha mãe, mas minha mãe tinha chave então estranhei. Fui abrir o portão e era a Claudia e sua mãe, me perguntando se eu queria companhia pois já era tarde e eu não podia ficar sozinha à noite.

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Lá pelas vinte e duas horas, a Claudia estava furiosa por não ter ido à festa e eu e a tia Lúcia, mãe da Claudia, estávamos assustadas, pois minha mãe nunca demorava assim e quando demorava, dava uma satisfação. Minha mãe sempre foi muito protetora e atenciosa, até demais. Recebemos uma ligação, mas como não tinha como saber quem estava ligando na época; atendemos e era do hospital. Minha mãe estava internada, pois tinha batido o carro. Desligamos o telefone e pela nossa sorte e tia Lúcia estava lá, entramos no carro e fomos direto para o hospital. Graças a Deus, ela estava bem, não tinha acontecido muita coisa com ela. Eu, em prantos pedi desculpa por não ter ligado, ido atrás dela. Tudo estava dando certo com a minha mãe, já com a Claudia nem tanto, pois ela estava se sentindo mal por não ter ido a festa e por tudo isso ter acontecido com a minha mãe. Então eu pedi para ela se acalmar e que tudo daria certo. Passamos a noite no hospital; eu implorei para a tia Lucia ir para casa dormir na casa dela, mas ela insistiu, e todas nós passamos aquela noite chuvosa no hospital. No dia seguinte, minha mãe teve alta logo pela manhã. Havia outra festa no sábado, então minha mãe ficou sabendo como eu me dediquei para poder ir à festa e como a Claudia ficou triste por não ter ido no dia anterior. No sábado, tia Lúcia e minha mãe passaram a noite em casa juntas, conversando e colocando o papo em dia, enquanto eu e a Claudia fomos à festa felizes da vida.

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Jaboticabal Lucas Carregari Longo

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aboticabal é uma cidade conhecida por “Cidade das Rosas”, que reúne beleza, cultura e paisagens. Os lugares mais conhecidos são “O Lago Municipal”, “A Praça da fonte”, “O Museu Aloísio de

Almeida”, “O Shopping”, as igrejas etc. Houve muitas pessoas importantes para Jaboticabal, como por exemplo O fundador de Jaboticabal, João Pinto Ferreira, nasceu por volta de 1778, na Freguesia de Santo Estevão de Regadas, Conselho Celorico de Bastos, em Portugal. Um outro exemplo de pessoa é Ana Lins Guimarões Peixoto Breta, a grande poetisa conhecida como “Cora Coralina”. Ela nasceu em 1889, em Goiás Velho. Ela era filha do desembargador Francisco de Paula Lins dos Guimarães Peixoto e de Jacinta Luiza do Couto Brandão Peixoto. Mas Ana acabou se apaixonando por um homem casado chamado Cantídio Tolentino de Figueiredo Bretas e, por isso, fugiu para Jaboticabal com esse homem. Aqui nasceram os cinco filhos: Cantídio Bretas Filho, Jacintha, Guajajarina, Vicência e Paraguaçu. Cora também ajudou a criar uma das filhas do marido, gerada do relacionamento dele com uma índia goiana. Cora Coralina escreveu muitos artigos, crônicas e poemas, os quais foram publicados nos jornais da cidade, muito embora o marido não apreciasse seus dons. Em homenagem à cidade de Jaboticabal, ela escreveu este maravilhoso poema:

"Lindas jabuticabeiras enfeitavam nossa cidade João Pinto Ferreira, descobriu na Antiguidade 25


Terra boa e hospedeira, gente de muito amor e bondade Berço do artista, poeta, músico, escritor Athenas Paulista, Rosa é a nossa flor De grande conquista, povo trabalhador Estas linhas escritas são presente de um trovador A Fazenda Cachoeira, doada na ocasião Por João Pinto Ferreira, família de tradição Terras de primeira, muitos alqueires de chão Hoje moderna e altaneira, orgulho de nossa nação Uma capela foi erguida, em meio ao matagal Jabuticabeiras floridas existiam no local Era a fruta preferida pelos índios sem igual E assim foi escolhida, com o nome de Jaboticabal."

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Uma Cidade Cheia de Lembranças Maria Victória Marchi Dibelli

A

s noites mais animadas da década de 60, em Jaboticabal, sem dúvidas, eram as de Carnaval! Nós, meninas, nos reuníamos na casa de uma de nós para nos arrumarmos. Depois disso, íamos

ao clube onde se realizaria o tão esperado baile de Carnaval. Naquela época, o clube da Mascagni “bombava”, nós cantávamos e dançávamos muito. Essas noites são as que mais me marcaram... Nós vivíamos fazendo ¨footing; os meninos ficavam encostados nas paredes das lojas da rua Rui Barbosa, enquanto nós, as meninas, ficávamos passando por eles. Aquela época foi marcada por uma grande desigualdade econômica, conseguíamos diferenciar a classe social das pessoas pelas suas vestimentas. Nos finais de semana, durante o dia, íamos ao clube com os amigos, a fim de aproveitar a piscina e os esportes. Já à noite, costumávamos ir ao Cine 27


Polytheama e, às vezes, frequentávamos os tão especiais jantares dançantes. Nossa hora preferida era quando tocavam as músicas lentas, pois poderíamos dançar abraçados com nossos pares. Eu nunca irei me esquecer dos anos de ouro que vivi em Jaboticabal; ela é uma cidade mágica. Não entendo o porquê de não darem valor a essa magnifica cidade. Dela irei guardar momentos inesquecíveis, por causa dela, conheci o amor da minha vida e pude formar a minha família.

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Escola Vazia Marina Geraldo Martins Schmitz

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u sempre morei aqui em Jaboticabal, desde que nasci. Só saí pra estudar no Rio, mas não demorei a voltar. Uma vez quando eu era pequeno, devia ter uns dez anos, meus amigos decidiram

que iriam todos faltar à aula naquele dia, porque seria sexta-feira e tinha um feriado na quinta. Ninguém da minha classe iria à escola. Então eu falei com meu pai e pedi pra faltar também, já que se eu fosse, seria o único. Mas meu pai era muito rígido e levava a escola muito a sério. E como eu temia, ele não deixou. Chegou sexta e minha mãe me acordou às seis da manhã como normalmente fazia. Tomei café, escovei os dentes, coloquei o uniforme e logo meu pai me levou ao Estadão, que era aonde eu estudava na época. Imaginei que meu pai não seria o único a proibir nosso plano.

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Cheguei na sala e não tinha ninguém. Quando a professora, chegou me olhou de cima a baixo, passou os olhos pelas outras carteiras. Dava pra ver como ela estava surpresa por eu estar ali. Sorte que essa era a minha professora favorita, me lembro dela até hoje. Ela disse que como deveríamos ficar ali até a hora da saída e que me daria todo o tempo da aula para escrever uma redação, o tema seria livre. Eu, que sempre fui pouco criativo, comecei a escrever sobre minhas últimas férias. Acho que nunca me dediquei tanto a um texto. Pouco antes de acabar a aula, minha professora me chamou pra corrigir a redação. Era erro atrás de erro. Ela me ensinou a corrigir minhas redações naquele dia. Acho que foi aí que surgiu minha paixão por escrever. Nunca me esquecerei daquela professora.

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Vida de Interior Marina Oliveira Antonio

ue isso?

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— Era um estádio. — Jura? E tinha jogo?

— Claro que tinha. A gente esperava ansiosamente chegar o domingo pra vir assistir. — A cidade tinha um time? — Tinha, ué! O Jaboticabal Atlético — Era bom? — Mais ou menos — Então porque vocês gostavam? — Pela emoção, pelo clima, essas coisas... Eu fiquei bem triste quando soube que o time tinha falido e o estádio ia ser demolido. Que saudade disso aqui... 31


— O que mais se fazia naquela época? — O que exatamente você quer saber? — Não sei, coisas de antigamente... —Sei lá! quando eu era pequeno, eu ia no sítio do meu tio todo fim de semana, eu e meus primos aprontávamos um monte. Uma vez eu joguei um pedaço de torrão na cabeça do meu primo, porque ele não me deixou andar de bicicleta, minha mãe ficou brava e meu pai disse que eu estava certinho, mas minha mãe ficou brava com ele também. —Nossa pai, você era arteiro! — É, digamos que sim... Em uma outra oportunidade, eu dei um chutão na perna de outro primo, porque ele disse que Palmeiras era melhor que o Santos. Novamente minha mãe me deu bronca e meu pai me incentivou. — Hahahah... Só por isso? Não acredito pai! E quebrou? — Não, mas ficou sem andar por uma semana; foi com uma “Kichute”, pra aprender a não falar mal do meu time! — Kichute? O que isso? — Era tipo uma chuteira que tinha uma trava muito dura. — Deve ter doído. Que mais vocês faziam? — A gente ficava até tarde na rua. — Fazendo o que? —De tudo, jogava bola, bolinha de gude, taco, pega pega, o que desse vontade... A gente se divertia pra caramba! Tinha uns meninos que gostavam de jogar sal nos coitados dos sapos, aí eles iam lá e faziam xixi na cara deles, já vi um menino ficar cego por causa disso, foi assustador. — Credo! E qual é a sua maior lembrança?

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— Tem várias, uma peça que eu escrevi quando estudava no Simielli, de jogar futebol na Concha Acústica, de ir à Cantina, aos shows no Stéfany, de soltar pipa no Limpão... — Limpão, por que Limpão? — Porque era só um terreno limpão, entendeu, sem nada. — Você viveu numa época estranha. — É estranha, mas maravilhosa. Se você tivesse vivido nesse tempo, você ia amar também. Vamos? -Vamos!

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Uma Grande Conquista Michael Gabriel Ferreira Chioda

H

á muitos anos, quando eu ainda era um adolescente de 14 anos, eu vim para a cidade de Jaboticabal em busca de emprego, pois eu ajudava os meus pais na roça. Estudei até o segundo ano do

fundamental e depois, infelizmente, tive que parar de estudar para ajudar os meus pais. Passamos por muitas dificuldades quando eu era criança, por isso não tinha como eu poder ficar estudando, então quando tive "idade o suficiente", eu vim para Jaboticabal Então consegui trabalhar na sorveteria Íris, lá eu aprendi a fazer sorvete, atender clientes e muitas outras coisas. A maioria dos meus clientes e ''amigos'' de hoje são antigos clientes da sorveteria Iris ''que hoje não existe mais''.

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Fui funcionário de lá por muito tempo, até que decidi sair da Íris e criar a minha própria sorveteria, trabalhei muito duro pra isso, e hoje tenho a sorveteria Skala, que foi resultado de muito esforço. E hoje em dia me esforço para poder sustentar a minha família. Quando tudo voltar ao normal, quando essa pandemia acabar, pretendo fazer muitas viagens com a minha família.

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Uma Escola, Uma Saudade Raissa Miranda Garbin

E

m 1963, minha avó paterna, chamada Maria do Carmo, estudou em Jaboticabal, na Escola Estadual “Aurélio Arrobas Martins”, o Estadão. Ela disse que foi uma época muito boa em sua vida e

que ela guarda lembranças maravilhosas desse período. Nesse texto, contarei algumas dessas lembranças relatadas por ela. Minha avó contou que adorou estudar no Estadão e que tinha excelentes professores, como o professor Rosinha, que era muito inteligente e dava aula de Biologia. Ela também falou que pegava ônibus todos os dias e que ficava horas esperando que o ônibus passasse. Quando minha avó tinha 13 anos de idade, ela e sua turma fizeram uma excursão com o colégio. Os alunos foram de ônibus e seus pertences, foram transportados com um caminhão. Pegaram a estrada para Ubatuba, que naquela época ainda era de terra. Para minha avó, aquela excursão foi uma experiência inesquecível! 36


Ela diz ter uma lembrança de seu professor de Física, chamado Luís Carlos, que era muito exigente, mas mesmo assim, era um ótimo professor. Minha avó disse que elas e os colegas iam sempre tomar sorvete em uma sorveteria perto da escola e que eram muito unidos. Ela conta que aquela foi uma época especial e inesquecível e que fez amigos para a vida toda.

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Lembranças Sofia Gonçalves de Almeida

M

inha neta Marta chega da escola e pede para lhe contar como foi minha adolescência para ela fazer um trabalho, fico muito feliz em poder compartilhar isso com ela e começo a contar

Eu morava em uma rua perto do centro de Jaboticabal, em um bairro calmo que eu gostava muito, pois alguma das minhas amigas moravam perto. Minha família era muito grande, meus pais, minhas quatro irmãs e eu morávamos em uma pequena casa. Como eu era a mais velha, sempre fui a que mais ajudei em casa. Eu sempre preparava o café antes de ir para a escola e, por esse motivo e também pela escola ser longe, eu tinha que acordar muito cedo, mas com o tempo me acostumei. Sinto falta dessa época! Lembro-me que depois das aulas, eu ia brincar com minhas amigas em uma praça perto de casa até dar o horário do almoço, nós sempre tínhamos que estar todos na mesa no horário certo, não era permitido atrasos nas refeições. Eu e minhas irmãs nos dávamos muito bem e nunca brigamos, mesmo discordando em algumas coisas. Meu pai era muito rígido e sempre exigia muito de nós, mas era um bom homem e minha mãe sempre foi calma e atenciosa. Nós não tínhamos toda a tecnologia de hoje, mas eu fui muito feliz e não mudaria nada. 38


Saudade Sophia Borboni Perez

onde nós estamos indo, vovó ? —, perguntou minha

A

querida netinha.

Eu queria que fosse surpresa, mas acabei

contando para ela que estávamos indo a um restaurante,

o lugar onde conheci meu falecido marido. Poucos minutos depois, chegamos no local, sentamos e pedimos nossos pratos. — Onde a senhora morava? Como as casas eram? O que a senhora gostava de fazer, vovó?” Fui pega de surpresa pelas perguntas da minha neta. —Eu morava numa casa bem perto do centro, ela era pequena, porém aconchegante. Isso foi há quase meio século, então não existiam essas tecnologias de hoje, mas acho que você ia gostar dela. Respondendo a sua

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terceira pergunta, eu amava cantar, tinha até uma banda com os meus amigos — respondi enquanto lembrava dos melhores anos da minha vida. Eu conhecia minha netinha bem o suficiente para saber que ela ia fazer mais perguntas. — Vovó, o que aconteceu com a sua casa antiga? — Ela foi demolida logo após eu e seu avô nos mudarmos, construíram um prédio no lugar... — Como ele era? — perguntou a menina. Não precisava nem perguntar a quem ela estava se referindo, eu sabia, ela queria saber sobre meu marido, já que ele morreu alguns anos antes dela nascer. —Ele era um jovem charmoso, de olhos claros e tinha o cabelo quase preto, além de educado, ele era bondoso. Depois de ter dito isso, retirei uma foto dele da minha carteira e mostrei para a garota, era uma das poucas que eu tinha, por isso eu a guardava com muito carinho. Senti as lágrimas escorrerem pelo meu rosto e deixei que elas caíssem. — Não chora, vovó! Tem mais uma coisa que eu queria saber... Sorri para ela e perguntei qual era a dúvida. — Existe alguma lenda sobre Jaboticabal? Eu me lembrava de várias, mas resolvi contar a que eu mais gostava. — Sim, vou te contar sobre um cemitério. Antigamente não existia a praça 9 de Julho, naquele local tinha um cemitério, e há alguns anos construíram uma praça em cima dele. Diziam que em dias chuvosos, era possível ver os ossos dos defuntos na praça e existe até relatos de pessoas que viram fantasmas lá. Percebi a cara de espanto da menina, mas antes que ela pudesse responder alguma coisa, nosso prato chegou. Após terminarmos nossa refeição, 40


fomos embora para casa e eu senti algo no meu peito, nĂŁo era dor, e sim saudade. Saudade da minha antiga Cidade das Rosas, saudade do meu falecido marido, saudade da casa que eu morava antigamente, saudade de tudo.

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Cidade das Rosas Sophia Toledo Perticarrari

M

inha avó morava perto de uma praça na cidade de Jaboticabal. Ela adorava esta cidade não sei qual o motivo, mas como sempre me falava: “Quer vir à Cidade das Rosas?” Sempre a

perguntava onde estava e ela quase sempre respondia que estava nesta gloriosa “Cidade das Rosas”. Minha avó adorava cantar o hino da cidade todos os domingos, em uma praça que havia perto de sua casa, por isso, quando ela se foi, já que moro perto desta cidade, vou até lá todos os domingos e canto o hino para ter uma boa lembrança dela.

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Sinto falta de ver minha avó sentada, tricotando roupas para mim ou me fazendo carinho. Fico pensando se ela ainda estivesse aqui, eu seria mais feliz? Observo crianças, jovens e adultos que têm uma avó para mimá-los, a minha se foi há 7 anos, mas queria tê-la abraçado ou beijado mais, como se ela fosse a última rosa da roseira ou como se fosse a última gota d´água que quando acaba, queremos mais. Sinto falta das nossas brigas por quem colocaria a lasanha no forno ou quem ajudaria meu irmão Sérgio a estudar. Quem nos mandará regar as flores agora que os girassóis estão murchos? Quem fechará meu vestido, reclamando que está curto demais? Só você faria isso. Na verdade, nos meus pensamentos, você vive e continua fazendo isso, vovó! Estas lembranças nunca ninguém tirará de mim.

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O Incêndio de Polytheama em Jaboticabal Tales de Oliveira Marchiori

U

m belo dia de 1968, acordei e fui tomar um banho, para ir à Escola Normal Colégio Santo André. Logo no caminho da escola, fiquei sabendo pelos vizinhos que estava acontecendo

uma tragédia: falaram que estava pegando fogo em algum lugar. Depois, descobri que o ocorrido era num cine teatro, que se chamava Polytheama. Naqueles tempos, não havia internet, WhatsApp, as notícias demoravam a chegar! Era o boca a boca que valia, como se fosse o nosso jornal diário, só nós e nossos próprios olhos poderíamos saber do que se tratava... O cinema era muito importante para nossa cidade! Mas enfim, continuamos o caminho até chegar à escola. Lá, já estava um alvoroço: pessoas querendo ver o que estava acontecendo; da janela da minha sala, que era do

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terceiro ano do curso normal, dava para ver o que estava acontecendo, pois ainda não havia prédios grandes como nos dias de hoje. Logo na primeira olhada, não acreditei no que vi. Era verdade! A cidade inteira estava uma bagunça. O prédio do cine teatro era onde hoje é o Banco do Brasil. Foi uma pena isso ter acontecido! Era um prédio muito antigo e seria um patrimônio histórico da cidade. Vocês acreditam a causa do incêndio e foi um curto circuito na tela onde passava os filmes, pois a estrutura tinha falta de manutenção. Ainda bem que foi de madrugada, pois havia filmes e teatro que passavam à tarde e à noite. Ainda bem que foi em um horário que estava fechado, caso contrário, seria uma verdadeira tragédia com muitas pessoas sendo vítimas reais da catástrofe.

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W W W . C O L E G IO S A N T O A N D R E . O R G .B R


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