Centro de Bioconstrução São Paulo | Alexandre N Tsutsui

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ALEXANDRE NISHIDA TSUTSUI

CENTRO DE BIOCONSTRUÇÃO SÃO PAULO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário Senac – Santo Amaro como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientadora: Profa. Dra. Valéria Cássia S. Fialho

SÃO PAULO 2018


AGRADECIMENTOS Agradeço, aos professores e funcionários, pela formação, suporte e conhecimento. Ao pessoal da Galeria, pelo aprendizado descontraído. À galera do Peter, pelos choros e risadas compartilhadas. Ao grupo mais Várzea: Domi, Jujuk, Julinha e Mairok, pela cumplicidade tão familiar. Aos amigos, de infância e adolescência, que tanto me ensinam. Às famílias “adotivas”e biológica, pelo zelo e carinho. Aos peques-gigantes: Gaia, Lulu e Theo. Por fim, aos meus pais, Arnaldo e Marina, por serem como irmãos. Obrigado pelo companheirismo e por não somente acreditar mas tornar o caminho possível. E minhas irmãs e cunhados, que como pais, “puxavam minhas orelhas” e sorriem em minhas conquistas.


Às famílias, japonesa, espanhola e brasileira. Dōmo arigatō, Muchas Gracias e Muitíssimo Obrigado!


RESUMO O trabalho aqui exposto propõe, por meio de pesquisas bibliográficas e de campo, o desenho para o projeto de um centro voltado à bioconstrução, intitulado Centro de Bioconstrução São Paulo. Lozalicado no bairro da Liberdade, considerada zona central da cidade, divide-se em espaços de fruição pública, serviços, aprendizado, contemplação, permanência e lazer. O ambiente visa promover maior visibilidade para esta vertente da arquitetura e disponibiliza estrutura para a mesma. Propõe a substituição dos materiais de construção convencionais por materiais renováveis, e releitura das técnicas tradicionais pelo panorama das tecnologias atuais. Foram analisadas estratégias como o caráter efêmero das construções e dos espaços que permeiam o tempo, e projetos que contemplem futuras transformações. Destaca a importância da transmissão de conhecimento e autonomia às pessoas. Questiona a produção arquitetônica atual e se abre como possível resposta para uma sociedade e um planeta com maior equilíbrio, eficiência e inclusão.

Palavras-chave: 1. Bioconstrução; 2. Arquitetura sustentável; 3. Materiais renováveis; 4. Centro cultural; 5. Espaço democrático.


ÍNDICE INTRODUÇÃO 8 1. Bioconstrução 12 1.1. Histórico 15 1.2. Técnicas e Materiais 18 1.2.1. Terra | Taipa 20 1.2.2. Bambu | Bambu a pique 24 1.3. Referências de projeto 28 1.3.1. Casa Jussara 28 1.3.2. Simón Vélez 32 1.3.3. Tibá 34 2.

Estudos de caso 39 2.1. Centro Max Feffer Cultura e Sustentabilidade 42 2.2. Moradias Infantis - Fazenda Canuanã 52

3. Exercício projetual 67 3.1. Contexto 70 3.1.1. Centro Cultural São Paulo 76 3.2. Memorial 82 3.3. Proposição 84 3.3.1. Edifício Maestro Cardim 93 3.3.2. Transposição Viaduto B. P. 103 3.3.1. Galpão Vergueiro 111 Considerações finais 121 Referências bibliográficas 122


INTRODUÇÃO A busca pela difusão da bioconstrução tem como objetivo questionar a relação do homem com o meio onde está inserido e suas construções, tanto físicas e espaciais como biológicas e sociais. Por meio de dados e projeções futuras de médio prazo, denuncia a situação atual da relação Homem x Natureza e, sob uma perspectiva positiva, tenta disponibilizar insumos para uma reformulação sociocultural. Tomando como premissa o tripé da sustentabilidade onde equilibram-se as esferas social, econômica e ambiental, podemos citar o juramento dos novos cidadãos atenienses, onde estes nos indicam a importância da responsabilidade de seus habitantes junto ao poder público para com suas cidades e gerações futuras: “Deixaremos esta cidade não menor, porém maior; melhor e mais bonita do que aquela que nos foi deixada” (ROGERS, 2012, p. 16)

O capítulo 1, discorre sobre a conceito de bioconstrução, seguido por um breve histórico. Posteriormente, são apresentadas algumas de suas técnicas. Caracterizando-as, disponibiliza tabelas de comparações para um melhor planejamento na escolha de seus recursos e possíveis estratégias. Ao aprofundar-se em duas técnicas, a taipa e o bambu a pique, sugere uma provável utilização e inclusão destas, na proposição da nova centralidade, localizada parcialmente sob o Viaduto Beneficência Portuguesa. E ainda neste capítulo, são expostas 3 referências projetuais diversificadas em seus programas e escalas. Já o capítulo 2, ao analisar duas obras premiadas no campo arquitetônico, as descreve mediante suas estratégias, conceitos e contextualização. São exemplificadas através de imagens e textos, que ilustram cada solução adotada na fase de projeto e como, efetivamente, foram executadas. Também, são expostos o impacto gerado e seu desempenho frente às diferentes realidades. Por fim, o projeto com seu foco na construção com novos materiais/recursos naturais e renováveis, intui que, na bioconstrução, os fins NÃO justificam os meios. O meio se faz, se constrói. É nele onde existe a troca e onde o planejamento também deve estar. Devemos nos afastar de uma arquitetura objetal e refletirmos sobre o desenho processual.


[1]


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1. Bioconstrução


1. A bioconstrução define-se como a construção que traça estratégias as quais visam o menor impacto ambiental ou impacto positivo, através de iniciativas sustentáveis, fazendo uso (preferencialmente) de materiais naturais e/ou locais. Deste modo, busca desde o planejamento, execução e utilização, o máximo aproveitamento dos recursos disponíveis com o mínimo impacto. (IPOEMA, 2017, web). Esta área, pertencente à permacultura, apoia-se no tripé: social, ambiental e econômico. A “cultura da permanência” ou permacultura compreende o conceito de origem sistêmica, desenvolvido na década de 70 pelos ecologistas Bill Mollison e David Holmgren. “Sua principal característica é o entendimento de que a necessidade de energia de um sistema deve ser provida pelo próprio sistema”. (MOLLISON apud CAMILLIS, 2017, p. 2). Traduzida como possível agente de transformação socioambiental, a bioconstrução busca, além do sustentável, ser inclusiva e levar/trazer autonomia para as comunidades. Por meio da ressignificação de técnicas ancestrais, tradicionais e vernáculas, qualifica a arquitetura. Apesar de sua clara distinção de conceitos e dinamismo, é importante ressaltar que a bioconstrução não se apresenta como uma nova disciplina nem pretende ser um novo movimento estilístico dentro do campo arquitetônico. Conforme afirma o arquiteto Tomaz Lotufo (2010, web):

[3] Tripé da sustentabilidade

[4] Bill Moliison

[...] é muito importante que o profissional da área se reconheça e seja reconhecido como Arquiteto, dado que não existe uma outra e nova profissão chamada Bioarquitetura. O objetivo de tratar sobre o tema do impacto da construção civil pelo

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foco do projeto é para evoluir a consciência da sociedade a este respeito e não de dividir (polarizar) os profissionais deste meio em dois grupos: os “Bios” e os “não Bios”, se criarmos um novo nome para este exercício profissional, corremos este risco.

Ao considerar este relato, podemos afirmar que é papel e parte integrante da arquitetura produzir ambientes mais salubres, tomando para si decisões de projeto onde potencializamos o aproveitamento de agentes externos naturais e reduzimos o consumo de recursos internos artificiais. Para tal, podemos supor em primeira instância, a natureza como nossa maior aliada. É ela que nos concede o meio e recursos vitais. Com artifícios de ventilação e iluminação naturais, estudos de insolação e até mesmo a forma da edificação, por exemplo, podemos reduzir nosso consumo energético. E ao presumirmos a utilização de insumo renovável e local, deduzimos a supressão do extrativismo de matéria finita, como os metais e minerais, e seu transporte. Cabe destacar que o meio ambiente coexiste nas escalas local e global, como indicam Jeremy Gaines e Stefan Jäger (apud HEYWOOD, 2017, p. 192), ao sugerir que a sustentabilidade significa agir localmente ao mesmo tempo que se pensa globalmente. Desai e Riddlestone (apud HEYWOOD, 2017, p. 196), por sua vez, “nos apresentam sua noção de pensar globalmente e agir localmente, evidenciando uma compreensão da interconectividade das escalas do ambiente”. Sob a ótica global, nos últimos 150 anos, o aumento da concentração de dióxido de carbono na atmosfera terrestre foi exponencial se comparada aos demais ciclos, sendo que metade do CO² provenientes de fontes humanas (antropogênicas) não é reabsorvida pelo

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ciclo de carbono. (NOBRE, 2012). Segundo o Seeg - Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (2017, p. 8), o Brasil é o 7º maior emissor no mundo. Sendo o setor da construção civil um dos que mais consome recursos naturais e utiliza energia de forma intensiva (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, web), se faz necessário e urgente a reformulação sobre o modo de operar, sendo a substituição de materiais convencionais pelos renováveis, um provável ponto de partida. A escolha destes materiais não se dá por meio de regras, é de extrema importância considerar aspectos como a saúde de seus usuários e o ciclo de seus materiais, levando em conta: manutenção; compatibilidade financeira e climática; conforto; disponibilidade de recurso e mão de obra local. (VAN LENGEN, 2008, p. 296-297). O desafio é planificar a construção, reduzindo, ou não utilizando, materiais não renováveis, e inserir, massa renovável e reutilizada, progressivamente. Todo material de construção possui energia incorporada: a energia gasta em sua extração, produção, transporte, instalação e desmontagem. Já a energia operacional ao longo da vida útil de uma moradia típica será dez vezes maior a energia incorporada. (HEYWOOD, 2017, p.58 e 60). Tendo em vista este aspecto, distâncias razoáveis devem ser previstas para a obtenção de materiais pesados não produzidos no local e, no caso de materiais leves e reaproveitados, pode ser justificável sua aquisição de fontes mais distantes1. Conforme o censo demográfico de 2000, mais de 80% da população brasileira reside na zona urbana. Gonçalves (2001, p. 174) nos expõe dados:

[5] Johan van Lengen

Referências obtidas no curso Imersão em Projetos de Bioarquitetura, facilitado por Francisco Lima, em agosto de 2017, no Sítio Humanaterra, em São Lourenço da Serra – SP. 1

De acordo com os censos do IBGE, na década de 1960, 13 milhões de pessoas trocaram o campo pela cidade; nos dez anos seguintes, esse número se elevou

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para 15,5 milhões. Tudo indica que desde 1970, quando a população rural passou a ser minoritária, até os dias de hoje, mais de 40 milhões de brasileiros migraram do campo para a zona urbana.

Em razão a este fenômeno social, seria pertinente salientar que inserir a bioconstrução nas cidades torna-se, gradativamente, imprescindível. Carlos Bratke (1985, p. 14-15), ao falar sobre o processo de confirmação do modernismo no Brasil, comenta em entrevista: “É muito difícil, falar de uma nova estética sem que se ofereçam vantagens práticas. Meu pai costuma dizer que a arquitetura moderna só foi aceita quando provou ser também a mais econômica”. Nesta mesma linha de pensamento, acredita-se que a bioconstrução em nível nacional posiciona-se como tema a se consolidar. Podemos, entretanto, tomar a máxima do permacultor australiano e discípulo de Mollison, Peter Webb, que afirma que, antes de trilharmos o caminho do convencimento, devemos trabalhar em direção ao encanto2.

[6] Peter Webb Conselho dado por Peter Webb, no curso Bioconstrução e Introdução à Permacultura, dezembro de 2016, no Sítio Saramandala, em Sarapuí – SP. Webb discute a relação profissional-cliente, onde em grande parte do tempo há um “jogo” de convencimento, ao seu ver, desnecessário. 2

1.1. Histórico Como já sabemos a bioconstrução, pode ser considerada vertente da permacultura, mas ao mencioná-la, de maneira quase intrínseca, debruçamo-nos sobre a arquitetura vernácula ou vernacular. Segundo Teixeira (2017, web), [...] definimos a arquitetura vernacular como “uma arquitetura tradicional, resultante do desenvolvimento histórico de um determinado povo. Ela prescin-

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de tanto do arquiteto como do projeto, na sua concepção contemporânea. Não cabe nas classificações estilísticas da arquitetura convencional. Origina-se ou é mais frequente em área rural. Respeita e se adapta bem às diversas limitações tecnológicas e físico-ambientais. A tecnologia é autóctone, primitiva, rudimentar, quando comparada à tecnologia formal. Ela permite variações ao nível da língua, mas não da palavra. A arquitetura vernacular é fundamentalmente a expressão de um povo, e, portanto, um ato cultural”.

A este respeito, Stroeter (1986, p. 92) nos aponta a “fragilidade” deste termo incutido em sua etimologia, onde a palavra “vernae”, oriunda do latim, era utilizado para identificar a linguagem vulgar no Império Romano. Já Hassan Fathy (1980, p. 40-41) ao comentar sobre a relevância da tradição na arquitetura, afirma que a arquitetura ainda é uma das artes mais tradicionais. Um trabalho de arquitetura é feito para ser utilizado, sua forma é em grande parte determinada pelos seus antecedentes [...] o arquiteto deveria respeitar a obra de seus antecessores e a sensibilidade das pessoas não usando sua arquitetura como um meio de propaganda pessoal. Na verdade, nenhum arquiteto pode deixar de utilizar o trabalho dos arquitetos que o precederam; por mais que ele se esforce para ser original, a maior parte de seu trabalho existe em alguma tradição.

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Em seu livro, Minke (2015, p. 10 e seg.) nos oferece um conjunto de obras que datam de 9000 anos até projetos mais recentes. Dentre eles, destacamos projetos de diferentes âmbitos e realizados com o aporte de distintas técnicas como: uma cidade de terra no vale de Draa, em Marrocos, erigida no século XVIII; a Torre da mesquita de Tarim, construída com adobe; a Grande Muralha da China, originalmente erguida de taipa com uma cobertura, e posteriormente pedras e tijolos; e o bazar de Sirdjan, no Irã cobertos por cúpulas e abóbodas de tijolos de barro. Seria de grande valia mencionar, também, a casa de Oswaldo Cruz, construída em 1834, no município de São Luiz do Paraitinga - SP, como um exemplar construtivo em taipa de pilão e paredes internas em pau a pique.

[7] Torre emTarim Nesta casa, em 1872, nasceu Oswaldo Cruz, conceituado médico sanitarista. Em 1938, o governo do Estado, novo proprietário, instalou uma escola e centro de saúde na antiga residência e, desde 1972, abriga o Museu Oswaldo Cruz. A obra tombada pelo IPHAN e CONDEPHAAT, recebeu restauro em 1992 e 2014. u

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[8] Casa Oswaldo Cruz

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1.2.

Técnicas e Materiais

Após desenvolvido o tema sobre “como escolher e por quais materiais optar”, diante de diferentes contextualizações, as tabelas a seguir podem ser retratadas como uma primeira base para investigações e experiências de cunho empírico, sendo de grande auxílio tanto para arquitetos e estudantes de arquitetura como para pessoas que queiram construir com suas próprias mãos.

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[9] Tabelas Bioconstrução

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1.2.1. Terra | Taipa Ainda hoje, destaca-se que um terço da população habita em casas de terra. Em regiões de climas quentes, áridos ou temperados, a terra perdura como material de construção. (MINKE, 2015, p. 13). Condizente ao tema, o mesmo autor eleva a terra como o material de construção mais importante, afirmando ser esta, abundante e disponível em grande parte das regiões do mundo. Deste modo, menciona novas técnicas que, desenvolvidas recentemente, buscam evidenciar o seu valor não só na autoconstrução, mas também na construção em larga escala. Ao pensar em manusear e trabalhar com “novos” materiais, primeiro devemos salientar e conhecer suas respectivas propriedades. O barro por derivar da mistura de argila, silte (areia muito fina), areia e agregados maiores (cascalho ou pedras), não é considerado um material estandardizado, já que dependendo do local de sua obtenção, será composto por quantidades e tipos díspares de seus componentes, por conseguinte, diferindo seu preparo. Outras particularidades são atribuídas ao barro como sua contração ao secar3. Considerando a evaporação da água utilizada e devido à sua permeabilidade, deve ser protegido por beirais, revestimentos (adequados) etc.

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Esta retração pode ser controlada por meio da redução da quantidade de água e argila, otimizando a composição granulométrica, ou mediante o emprego de aditivos. (MINKE, 2015, p. 16). 3

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Os autores do livro The Whole Building Handbook afirmam que 90% dos problemas de umidade, que são prejudiciais à saúde humana e às edificações, são causados por falhas na construção. (BOKALDERS; BLOCK apud HEYWOOD, 2017, p. 213). 4

[10] Casa de barro, Sítio Saramandala

Em contrapartida, de acordo com Minke (2015, p. 17-18), o barro leva vantagem em muitas das comparações em relação aos materiais de construção industrializados e convencionais, dentre elas:

- Capacidade de regular a umidade do ambiente4 Ao absorvê-la e liberá-la, equilibra, também, a temperatura interna; - Armazenar calor Estratégia aplicada em zonas climáticas que apresentem amplas diferenças de temperatura, sendo propício o armazenamento de calor solar por meios passivos; - Economicamente viável Poupa energia incorporada à produção, transporte e manuseio (1% em relação à tijolos cozidos e concreto armado). Em muitas das vezes encontrado no próprio terreno, reduz e abrevia gastos com materiais e o custo de seu transporte. E por fim, dispensa ferramentas e máquinas de alto custo, tornando-se ideal para a autoconstrução. (No projeto do Sítio Saramandala, em Sarapuí - SP, foram utilizadas 160 toneladas de terra do próprio terreno). A terra batida, tapial (espanhol), terré pisé (francês) ou rammed earth (inglês), é uma técnica de construção tradicional conhecida a séculos. Paredes de terra batida, encontradas na Síria, datam de 5000 a.C. A técnica consiste em preencher cofragens ou taipais com camadas de terra, compactando-as. Esta tradição, hoje, se faz mais presente em países em vias de desenvolvimento. Minke (2015, p. 61 e seg.) denota que sistemas de cofragem mais sofisticados mediante o uso de soquetes elétricos ou pneumáticos suprimem os custos da mão de obra e defende que

[11] Uarazate, Marrocos

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a mão de obra, nas técnicas tradicionais de terra batida, executada manualmente, inclui a preparação, o transporte e a construção, são de 20 a 30 h/m³. Otimizando o sistema de cofragem e utilizando compactadores elétricos de vibração, a mão de obra diminui para 10 h/m³. Com técnicas altamente mecanizadas, em que o transporte e o preenchimento são executados por pequenos tratores e a compactação mediante pesados compactadores pneumáticos, a mão de obra pode reduzir-se a 2 h/m³, valor que é só 10% do necessário para as técnicas tradicionais, e é significantemente a menor das técnicas de alvenaria.

Método desenvolvido no Oriente Médio, perpassa pelos continentes africano e europeu, até chegar pelas mãos dos portugueses em nosso país. Hoje, após aproximadamente 150 anos desde a “vila de taipa”5, podemos dizer que possuímos alta tecnologia atuante. A empresa piracicabana TAIPAL, membro do Green Building Council Brasil, há mais de 15 anos no mercado propicia obras que empregam materiais sustentáveis, sem desperdício e inteiramente recicláveis.

[12] Cofragens de tábuas. Taipa de pilão

Vila de taipa, o modo como Benedito Lima de Toledo refere-se, em seu livro São Paulo: três cidades em um século, à uma das fases desta capital, hoje, erguida em alvenaria e concreto, muito concreto. 5

[13] Parede de taipa de pilão

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[14] Antigo Pátio do Colégio Benedito Calixto Óleo sobre tela 35.00 x 60.00 cm


1.2.2. Bambu | Bambu a pique O bambu, muitas das vezes considerado pertencente à família das árvores, é considerado uma gramínea. Sendo ele uma boa opção para a substituição das madeiras de reflorestamento, apresenta-se como material auto renovável e de rápido crescimento. O eucalipto, por exemplo, leva seis anos para ser cortado e o bambu de três a seis, dependendo do tipo (VAN LENGEN, 2014, p. 334). Além disso, não é necessário ser replantado. Em apenas 60 dias pode alcançar 18 metros de altura, enquanto espécies arbóreas demoram até 60 anos para atingir este mesmo porte, - afirma Celina Llerena, arquiteta e diretora da escola Ebiobambu (Escola de Bioarquitetura e Centro de Pesquisa e Tecnologia Experimental em Bambu), em Visconde de Mauá (RJ) -. A escola, desde 2002, objetiva disseminar técnicas construtivas que utilizem o bambu e outros materiais considerados naturais ou ecológicos. (CAPELLO, 2006, web). Van Lengen (2014, p. 334-339) registra que sua colheita deve ser realizada em seu ponto de amadurecimento total, sendo recomendável cortá-lo em meses mais frios, estes com menos incidência de insetos. Devido à grande presença de amido, o bambu torna-se um convite natural para fungos e pragas. Para garantir sua durabilidade e proteção, existem alguns tratamentos, dentre eles:

[15] Tratamento por imersão em água corrente [16] Tratamento com bórax [17] Tratamento em autoclave [18] Tratamento com maçarico [19] Técnica de bambu-a-pique

- Em água corrente Colmos já cortados e sem folhas, são submergidos dentro de riachos/ rios/mar com o auxílio de pedras, cerca de 4 semanas; - Em solução de borato de sódio (bórax) e ácido bórico Após secos e talhados em suas dimensões finais, ficam imersos em barris e/ou pequenas “piscinas”, por 40 horas;

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São as paredes internas distribuídas ao longo de todo o colmo do bambu, subjacentes aos nós. 6

Expressão recorrente à arquitetura colonial, fazendo alusão às fundações e beirais das edificações que garantiam estanqueidade diante de possíveis intempéries. 7

- Sob pressão Bambus secos podem ser tratados em autoclave (utilizada para preservação da madeira). Neste caso, os diafragmas6 devem ser perfurados para que o colmo não rache durante a fase de vácuo; - Com fogo Troncos podem ser tratados por meio de defumação. O efeito do calor e da fumaça alteram ou degradam o amido, tornando o colmo mais resistente aos insetos. Já o tratamento com maçarico julga-se suficiente para peças de menor porte e/ou ripas. A técnica conhecida como bambu a pique, revela em seu nome, relação direta com o tradicional pau a pique. Utilizada geralmente como vedações, se estrutura por meio de malhas de bambu amarradas com fibras naturais, como o sisal e rami. A terra, preferivelmente de alto teor argiloso, é preenchida entre o vazio interno e “lançada” de maneira incisiva e precisa entre as lacunas restantes, em ambos os lados. Após “preenchida”, a parede é recoberta com uma camada de reboco grosso e outra de reboco fino, ambas de terra. Por fim, se necessário, pode ser impermeabilizada com pinturas naturais a base de cal e terra, óleo de linhaça, baba de cacto ou resina da mamona. Cabe frisar que este tipo de procedimento exige, assim como já mencionado anteriormente, cautela e cuidado referente à sua proteção mecânica, onde “ter boas botas e bom chapéu”7 se faz essencial.


Atualmente, estão sendo realizadas pesquisas, vinculadas às academias, mas acredita-se que o alcance à escala comercial é vital para seu avanço. Mesmo proeminente sua participação em países como China, Japão e Índia, o bambu, hoje, ganha notoriedade em países vizinhos como a Colômbia e Equador.

Segundo Aranha, na Colômbia, por exemplo, existem programas de habitação popular com base no bambu. Para o doutor Antonio Ludovico Beraldo, professor da Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp, arquitetos e engenheiros como Simón Vélez, Oscar Hidalgo Lopez e Jörg Stamm impulsionam a fama colombiana. (CAPELLO, 2006, web).

[20] Jörg Stamm

Ainda nesta reportagem, Giuliana Capello, nos evidencia que este mercado, a nível internacional, movimenta cerca de US$ 14 bilhões por ano, segundo o INBAR (International Network for Bamboo and Rattan). Neste enquadramento, o bambu surge como solução viável e sustentável no combate ao déficit habitacional: as casas de bambu destacam-se por seu baixo custo e mínimo impacto ambiental, facilidade de construção, durabilidade, flexibilidade e resistência à tremores sísmicos.

[21] Taipa antissísmica

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[22] Stamm. Green Village Bali


1.3.

Referências de projeto

1.3.1. Casa Jussara

Através de vivências e cursos entre 2016-17, pude conhecer escritórios de arquitetura e projetos pontuais inseridos neste mercado, ainda tímido. Em meio a estes, atribuo como referência o projeto Casa de Terra, que nasce da junção entre dois escritórios: Morada Viva (arq. Marcelo Bueno) e Remo Arquitetura (arqs. Elena Caldini e Marina Matulja), ambos situados em Ubatuba – SP. O projeto consiste em residências modulares, de montagem rápida, visando uma obra limpa e de custo acessível. Sistemas verdes como captação de água de chuva para cisternas, tratamento das águas negras (providas das bacias sanitárias) por um biodigestor, telhados verdes, aquecimento solar de água e placas fotovoltaicas, são previstos e integrados. Sua estrutura em postes de eucalipto, são previamente submetidos a tratamento de autoclave, e em seus fechamentos prevalece o pau a pique com reboco natural texturizado e venezianas em ripas de bambu fabricados na região. É condicionante do projeto, elevar-se do solo, recurso que permite o posicionamento tanto da cisterna como do biodigestor semienterrados, e também o distanciamento do eucalipto resguardado sobre suas fundações, estas, em concreto. Já a sobreposição de seus telhados além de marcar o volume de sua fachada, garante a ventilação e iluminação naturais, favoráveis ao ambiente interno.

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[23] Croqui Casa Jussara


[24] Fotos Casa Jussara

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1.3.2. Simón Vélez

O arquiteto geralmente usa em suas construções o bambu da espécie Guadua angustifolia. Este bambu cresce em abundância na região andina da Colômbia, facilitando a sua utilização. Na concepção do arquiteto o bambu leva vantagens sobre a madeira e até mesmo sobre o aço em relação ao “peso x resistência”. Vélez aponta, também, os motivos pelos quais o material é muito mais sustentável do que a madeira. Enquanto as árvores demoram mais de 30 anos para se desenvolverem, o bambu brota rapidamente após o corte e a medida em que o edifício vai sendo construído, novas plantas já estão nascendo. O bambu cresce cerca de 23 centímetros por dia. A catedral de Cartagena, o Museu Nômade no centro histórico da Cidade do México, a catedral de Pereira e o Pavilhão Zeri construído em Manizales (COL) e posteriormente para a Expo Hannover em 2000, apresentam-se como projetos de referência por sua composição estrutural e estética, conferida através da utilização do bambu. Presentes nas catedrais, os pilares compostos fazem parte de um conjunto disposto em forma radial. Os mesmos apoiam-se em sóculos de concreto e ramificam em direção à cobertura, proporcionando formas arqueadas. Já seus fechamentos são concebidos por meio de tramas de bambus. No museu em Zócalo, as tesouras da cobertura sãos apoiadas em suas empenas laterais, estas estruturadas pela junção do bambu e da terra. E por fim, no Pavilhão Zeri podemos destacar o grande vão central conseguido por um sistema semelhante às estrutras de um guarda chuva.

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[25] Simón Vélez “Mi propuesta como arquitecto es hacer una arquitectura un poquito más vegetariana, no tanto concreto, pero tampoco totalmente vegetariana. Hay que tener una dieta equilibrada entre minerales y vegetales, y estamos demasiados minerales con la arquitectura”.

[26] Croqui igreja em Pereira

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[27] p Igreja em Pereira [28] { Museu Nômade em Zócalo [29] { Catedral de Cartagena [30] u Pavilhão Zeri em Hannover

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1.3.3. Tibá

[31] Croqui Tibá

O TIBÁ - Instituto de Tecnologia Intuitiva e Bioarquitetura - se intitula, acima de tudo, “um lugar de encontros”. Criado em 1987 por Rose e Johan van Lengen, na cidade de Bom Jardim - Rio de Janeiro, o espaço proporciona, em primeiro plano, a troca de experiências entre os indivíduos em busca de uma consciência ecológica. Os encontros promovidos pelo Instituto alcançam âmbitos para além das técnicas construtivas que envolvem a bioarquitetura e conceitos fundamentais da agrofloresta – que são os dois cursos oferecidos pelo TIBÁ – pois a própria convivência em coletivo no espaço, de modo colaborativo, lidando diretamente com a natureza e com o auxílio de profissionais envolvidos com o tema, proporciona uma atmosfera de extrema conexão com o grupo e o ambiente. Johan, fundador do centro e autor do livro Manual do Arquiteto Descalço – um best-seller do ensino da arquitetura - ainda reside no espaço com sua família, e supera as limitações da idade avançada para poder compartilhar seu conhecimento. O curso oferecido pelo TIBÁ une aulas teóricas e práticas que são realizadas em diversos lugares da chácara, transformando-o em um grande canteiro experimental. No final de 2017 o Instituto estava desenvolvendo o projeto de dormitórios para visitantes (ver Fig. 38), cada um deles realizado com diferentes técnicas construtivas. Nesta época, pudemos participar da construção em bambu e outra em tijolos de adobe.

[32] Biblioteca

[33] Johan e Marc

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[34] v pág. 35. Roda de conversas. [35] t Técnica cascaje [36] t Blocos de adobe [37] t Gazebo de ripas de bambu [38] { Facilitadores do curso: Marc van Lengen Tomaz Lotufo Cobi Shalev [39] { Construção do gazebo [40] u Dormitório. Destaque para a técnica de hiperadobe |terra ensacada|

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Bioconstrução


Introdução + Capítulo 1 | Créditos iconográficos [1] Manos, Colagem e desenho, Eduardo Chillida. Fonte: https://br.pinterest.com/pin/54535845459484717/ [2] Conversas com Johan. Acervo pessoal [3] Tripé da sustentabilidade. Fonte: https://tcorpinc.wordpress.com/tag/economy/ [4] Bill Moliison. Fonte: https://permacultureprinciples.com/post/holmgren-farewells-bill-mollison/ [5] Johan van Lengen. Fonte: http://richardlimaarteearquitetura.blogspot.com/ [6] Peter Webb. Fonte: https://www.facebook.com/peter.webb.1428?ref=br_rs [7] Torre em Tarim. Fonte: https://br.pinterest.com/pin/826762444067887209/?lp=true [8] Casa Oswaldo Cruz. Fonte: https://vejasp.abril.com.br/cultura-lazer/ [9] Tabelas bioconstrução. Fonte: arq. Francisco Lima [10] Casa de barro, Sítio Saramandala. Fonte: https://www.facebook.com/sitiosaramandala/ [11] Cidade de Uarzazate. Acervo pessoal. Foto: arq. Helena Ruette [12] Cofragens de tábuas. Taipa de pilão. Fonte: MINKE, Gernot. Manual de construção com terra: uma arquitetura sustentável. Trad. Jorge Simões. São Paulo: B4 Ed., 2015. [13] Parede de taipa de pilão. Fonte: https://www.archdaily.com/894341/rammed-earth-construction [14] Antigo Pátio do Colégio. Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. [15] Tratamento por imersão em água corrente. Fonte: RIGHI, Luiz Antônio, 2010. [16] Tratamento com bórax. Fonte: http://materioteca.paginas.ufsc.br/bambu/ [17] Tratamento de autoclave. Fonte: https://www.casaebambu.com/tratamento-de-bambu [18] Tratamento com maçarico. Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=en_I1J1TVHY [19] Técnica de bambu-a-pique. Fonte: https://www.pinterest.es/pin/402227810464958287/ [20] Jörg Stamm. Fonte: http://correadiego-arch.blogspot.com/2015/05/ [21] Taipa antisísmica com bambu. Fonte: MINKE, Gernot. Muros de barro. Barcelona: Ed. Icaria, 2014. [22] Stamm. Green Village Bali. Fonte: https://exumag.com/william-hall-wood/ [23] Croqui Casa Jussara. Acervo pessoal. [24] Fotos Casa Jussara. Fonte: https://arquiteturaeconstrucao.abril.com.br/sustentabilidade/isto-e-bioarquitetura/ [25] Simón Vélez. Fonte: https://baku-magazine.com/art/ [26] Croqui igreja em Pereira. Fonte: https://br.pinterest.com/pin/614178467902655288/?lp=true [27] Igreja em Pereira. Fonte: https://br.pinterest.com/pin/385691155569857594/?lp=true [28] Museu Nômade em Zócalo. Fonte: https://br.pinterest.com/pin/119697302573114241/?lp=true [29] Catedral de Cartagena. Fonte: https://www.pinterest.com.au/pin/542120873866440293/ [30] Pavilhão Zeri em Hannover. Fonte: https://architizer.com/projects/zeri-pavilion-expo-hannover/ [31] Croqui Tibá. Fonte: http://www.ecoeficientes.com.br/tiba/ [32] Biblioteca. Fonte: http://www.tibario.com/lugar [33-40] Fotos do Curso Bio-Arquitetura, outubro de 2017. Acervo pessoal


2. Estudos de caso


2. Os estudos de caso apresentados neste capítulo incluem duas obras premiadas e certificadas a nível nacional e internacional. Dentre as qualificações o projeto das Moradias Estudantis no Tocantins recebe o Riba International Prize; o prêmio de Melhor Edifício de Arquitetura Educacional do mundo, da Building Of The Year, em 2018; e o American Architecture Prize 2017 na categoria habitação social. Já o projeto do Centro Cultural de Pardinho foi indicado como um dos 10 finalistas na categoria Arquitetura & Construção, na premiação GreenBest 2011 e foi avaliada com a certificação Leadership in Energy and Environmental Design – LEED Gold. E recebeu ainda uma menção honrosa na 8ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, realizada em 2009.

Cada estudo de caso está organizado da seguinte maneira:

- - - - -

descrição geral; ficha lateral com informações sobre cada edificação; objetivos do projeto; estratégias ecológicas empregadas; resultados pós-ocupação;

[1-2] q Fotos das viagens [3] u Moradias Infantis Canuanã [4] u Centro Cultural Max Feffer

Todas os dados disponibilizados foram conseguidos mediante contato com os respectivos escritórios de arquitetura, instituição e/ ou no próprio local. Apesar da distância, poder visitar e vivenciar os espaços projetados, foi de extrema relevância para o aprofundamento da análise, antes exclusivamente teórica e baseada em desenhos e partidos.

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2.1.

Centro Max Feffer de Cultura e Sustentabilidade

Apresentação do projeto e contexto Pardinho é uma pequeno município localizado a aproximadamente 193 km à noroeste de São Paulo, e praticamente cidade-vizinha de Botucatu e Avaré. Seu nome se deu por sua situação próxima as cabeceiras do rio Pardo. Em 18 de fevereiro de 1959, através da Lei Estadual nº 5285, o distrito foi elevado a categoria de município, desmembrado de Botucatu. O Centro Cultural foi criado em 2008, como iniciativa do Instituto Jatobás para desenvolver e difundir a cultura da sustentabilidade na região, por meio do espaço inclusivo, de aprendizado e vivências comunitárias. Foi construído em uma praça concedida pela Prefeitura Municipal e o projeto se relaciona diretamente com ela, não havendo, praticamente, a distinção entre os espaços público e privado. Podemos destacar o palco de apresentações que, voltado para oeste, se abre para o meio da praça Ademir Rocha da Silva. Aberto para o público durante toda a semana e após algumas reformulações, o programa prevê: 1. EPP - Escritório Público de Projetos 2. Sala de Danças 3. Sala da Comunidade 4. Sala de Computação e Impressão 5. Escritório Instituto 6. Sanitários 7. Almoxarifado e depósitos 8. Cozinha comunitária 9. Praça coberta 10. Biblioteca 11. Palco

LOCALIZAÇÃO Pardinho, São Paulo, Brasil Latitude 23º04’52” Sul Longitude 48º22’25” Oeste CLIMA Temperado Cfa quente e temperado 18.6 °C PRECIPITAÇÕES ANUAIS 1.304 mm TIPO DE EDIFICAÇÃO Cultural ÁREA 1.651 m² CONCLUSÃO 2008 EQUIPE Arquitetura: Amima - Leiko Hama Motomura, Mauricio Alito, Carolina Maihara, Thais Cunha, Marcelo Nunes e Danielle Muhle Construção: PPR Construtora Consultoria Cobertura: OMK Projetos de Instalações: HPF Engenharia

[5] u Plantas

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[6] Acesso principal


Objetivos do projeto e visão Em sua concepção, o edifício faz da sustentabilidade sua principal característica. É também um espaço de fruição pública, que permite a vivência da cidadania por meio de atividades culturais, de criação e produção artística. A ideia é aliar entretenimento, aprendizado, descoberta, inovação e bem-estar. Família Feffer

[7] Leiko Motomura

A família Feffer mantém relação intrínseca com o projeto realizado pelo escritório Amima Arquitetura. Em 1950, Max Feffer realizou pesquisas que viabilizavam o pinus como matéria para a produção de celulose. Entretanto, foi no eucalipto que encontrou resultados satisfatórios, os quais revolucionaram a fabricação de papel no Brasil e no mundo. A partir de 58 começaram a ser fabricados os primeiros lotes de papel produzidos a partir desta fibra e, em poucos anos, o Brasil passou de importador a exportador de celulose. Amante das artes, especialmente a música, Max chegou a exercer o cargo de Secretário de Estado da Cultura, Ciência e Tecnologia de São Paulo durante o governo de Paulo Egydio Martins. E em 1999, foi um dos mentores do Instituto Ecofuturo e ex-presidente do Grupo Suzano. Betty Feffer, sua filha, é a atual presidente do Instituto Jatobás e idealizadora do Centro, trabalho este, realizado em homenagem à visão de seu pai, onde influir para a ampliação da consciência e oferecer conhecimento para a construção de um caminho coletivo solidário e sustentável, torna-se vital.

[8] Betty Feffer

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Estudos de caso


Estratégias Terreno. A taxa de ocupação do terreno foi limitada a 15% desde a fase de estudo preliminar, colaborando com a permeabilidade do solo, captura e reuso das águas pluviais. Em mais de 60% de sua área total (7.130m²) foram plantadas espécies nativas e adaptadas, que ajuda a reduzir o efeito “ilha de calor”, juntamente a opção de cores claras no piso e na cobertura, que favorece o aumento da reflexão solar.

[9] Implantação

Ventilação natural. A edificação possui ventilação cruzada e controlada por meio de suas janelas de correr e maxim-ar. O fosso central, hoje sala da comunidade, trabalha como exaustor em épocas mais quentes, proporcionando conforto térmico sem a utilização do sistema de ar condicionado. Iluminação. Quase 80% da iluminação feita se dá pela luz natural e parte da iluminação artificial é feita por diodos emissores de luz (LEDs) automatizados, diminuindo seu consumo em relação às necessidades diárias e pessoais.

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Conservação de água. Foram implantados dois tipos de sistemas; de reutilização das águas pluviais, armazenadas em cisternas; e de tratamento de águas cinzas, pela “zona de raízes” (processo de filtragem física em brita, areia e bio-filtro composto por plantas. As válvulas de descarga possuem acionamento duplo e as torneiras, fechamento automático. Calefação e resfriamento. Foi executado um sistema de tubulação conectado às paredes de gabião, denominadas “paredes trombe”, posicionadas na entrada principal do edifício. E por meio de pequenas comportas se faz o controle o ar, ora insuflado, ora retirado.

[10-11] Sistema de calefação e resfriamento

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Estudos de caso


Materiais e construção. Foram utilizados materiais reciclados, sendo eles: 80% aço reciclado e 42% de papelão reciclado incorporados nas telhas. A madeira utilizada na fase de obras é proveniente de manejo florestal responsável. Somada ao caráter renovável do bambu, juntas, conferem o traço sustentável proposto. Aplicação de colas, seladores, tintas e vernizes com baixo nível de emissão de compostos voláteis. Caixilhos de madeira de demolição; guarda corpos feitos a partir de apoios de ônibus; colunas de banheiros, na base da grande mesa externa; e portões de correr executado em chapas metálicas/sobras de usinagem. Também foram previstos e incorporados planos de prevenção de poluição causada pela obra e redirecionamento de seus resíduos de acordo com sua classificação, minimizando a quantidade enviada para aterros sanitários. O bambu, a madeira e a terra No projeto da cobertura foram utilizados 1048 bambus da espécie Guadua chacoensis, e segundo informações do Instituto Jatobás, as peças foram tratadas por meio de atividades com a participação da comunidade. A cobertura está apoiada sobre estruturas independentes. Sob a mesma, acontece o embasamento, feito de concreto e alvenaria, que abriga as áreas servidas do programa. Dos pilares e vigas de eucalipto, ramificam-se as mãos francesas de bambu – travadas pela ténica conhecida como “boca de peixe”, onde o bambu é ancorado com barra roscada, porca e arruela –, que são articuladas e conectadas por peças metálicas. Por sua vez, os bambus secundários, desempenham a função de caibros, que convergem para a cumeeira de eucalipto. Optou-se pelo uso da telha ecológica Onduline e telha translúcida, favorecendo a entrada de luz zenital do pavimento superior/praça coberta. [12] Cobertura de bambu

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[13] Detalhamento da cobertura


Desempenho A somatória de todos estes aspectos, reduzem 25,6% de consumo de energia, se comparado à construções convencionais. No projeto era prevista a instalação de aparelhos para medição de CO² nos ambientes, o que contribui para o controle da qualidade interna do ar. Entretanto, estes, não saíram de suas maletas. Devido ao número de usuários e da população flutuante, o espaço passou por alguns rearranjos desde sua abertura. Áreas pouco utilizadas foram transferidas e/ou mudaram seu uso, como foi o caso da cozinha comunitária, no presente, obsoleta. Já a sala da comunidade, atualmente, é utilizada como sala de projeção de filmes. Relatos de moradores e trabalhadores locais contam que, logo após sua construção e inauguração, o centro passou por algumas dificuldades como o tráfico de drogas e a prostituição em suas imediações. Com o passar do tempo e realizadas atividades inclusivas, a comunidade criou um sentimento de pertencimento e identidade, contornando estes e outros problemas. Fato, que nos demonstra a importância, não somente de um espaço bem projetado, mas também, a maneira como o mesmo é conduzido por sua gestão, ao longo dos anos e para as pessoas. Hoje, ponto de encontro e eventos culturais, o projeto da grande cobertura em bambu, colabora com a vitalidade do município e torna-se um pequeno polo cultural, também para a região adjacente. Tanto Leiko Motomura, como Betty Feffer ainda fazem questão de frequentar o espaço, principalmente em épocas festivas tradicionais.

[14] u Sala da comunidade

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2.2.

Moradias Estudantis Fazenda Canuanã

Apresentação do projeto e contexto Situada na região sudoeste do Tocantins, a fazenda Canuanã, mantida pela Fundação Bradesco, transforma a realidade de muitas famílias há 45 anos. São mais de 830 alunos, de 7 a 17 anos, sendo destes, aproximadamente 5% de origem indígena. Atualmente a instituição atende 147 famílias do entorno, grande parte pertencente à Ilha do Bananal. A área, vista como um grande assentamento rural, dispõe, além da escola, de: refeitório (são realizadas 5 refeições ao dia, sendo a dieta realizada por nutricionistas); unidade de saúde (oferecendo serviços médicos e odontológicos); clube de esportes; lavanderia geral (os alunos se encarregam de lavar somente roupas íntimas nas áreas de serviço previstas nos quartos, já roupas e uniformes, ficam a cargo da fundação); biblioteca; serviços de corte e costura; cabelereiro; posto de gasolina; centros de artes, dança e música; laboratório de ciências; horta, granja e setor pecuário (a maior parte da alimentação oferecida é produzida no local); estações, meteorológica e de tratamento de água; e por fim, as moradias dos funcionários e alunos. O trabalho realizado neste complexo, também oferece curso de pós-médio técnico em agronomia. Dentre os trabalhadores, hoje, 40 são ex alunos da própria fundação, inclusive o casal Antônio dos Reis e Darziler Machado, que exercem cargos no setor administrativo e corpo docente, respectivamente.

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LOCALIZAÇÃO Canuanã, Tocantins, Brasil Latitude 11º58’24” Sul Longitude 49º54’16” Oeste CLIMA Tropical Aw - quente 26.7°C PRECIPITAÇÕES ANUAIS 1.719 mm TIPO DE EDIFICAÇÃO Habitacional/Educacional ÁREA 23.344 m² CONCLUSÃO 2017 EQUIPE Arquitetura/Interiores: Aleph Zero + Rosenbaum® Construção: Inova TS Conforto Ambiental, Acústico e Sustentabilidade: Ambiental Consultoria Estrutura: ITA Construtora Gerenciamento/Coordenação: Metroll Projeto de Fundação: Meirelles Carvalho Iluminação: Lux Projetos Luminotécnicos Paisagismo: Raul Pereira Arquitetos Associados

[15] t Casal fazenda

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Objetivos do projeto e visão A Fundação Bradesco, como instituição filantrópica, compartilha da perspectiva visionária de seu fundador, Amador Aguiar, de que a educação é o meio mais efetivo para a inclusão social. Essa missão é concretizada pelo trabalho em 40 escolas, que atuam na Educação Infantil, nos Ensinos Fundamental, Médio e Profissionalizante e na Educação de Jovens e Adultos. Localizadas em todos os estados brasileiros e no Distrito Federal, proporcionam ensino gratuito e de qualidade à população em situação de vulnerabilidade socioeconômica.

[16] v pág. anterior. Foto aérea Canuanã [17] q Denise Aguiar [18] u Moradias em dia festivo

Família Aguiar Denise Aguiar, neta de Amador e atual presidente da fundação e membro do conselho de administração do Bradesco, contata o designer Marcelo Rosenbaum e os jovens arquitetos Gustavo Utrabo e Pedro Duschenes, no ano de 2016. A intenção do projeto era, aparentemente, simples e direta: proporcionar um ambiente mais acolhedor para os jovens que ali viviam (antes separados em dois galpões-dormitórios que abrigavam 40 alunos por setor). Ao receber a proposta e aceitar o desafio, os arquitetos começaram por uma estadia de dez dias no local, onde conheceram cerca de 540 estudantes e puderam sentir e entender o contexto local. Assim, se inicia a história das moradias, pelas mãos e desenho8 do futuro usuário. Via atividades e workshop, o partido surge, e “convencer os alunos e os professores de que os materiais locais – terra, tijolos e madeira – poderiam representar progresso e que ser moderno não tem de significar vidro, aço e ar condicionado” foi um dos desafios preliminares, explicou o arquiteto Gustavo.

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Do latim, Designare, possui dois significados: - marcar, traçar, notar; sentido artesanal ou manual; - planejar, imaginar ; sentido intelectual ou mental. 8

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Estratégias Terreno. O projeto conta com dois blocos (feminino e masculino) com 45 quartos cada, abrigando 6 estudantes por unidade. Em região de clima quente (seco no verão e úmido no inverno) onde coexistem três biomas – Cerrado, Pantanal e Amazônia –, o local de sua implantação, tratava-se de uma porção de área alagada. Frente a isso, a solução foi preparar um aterro com cascalho e valas drenantes em seu perímetro.

[19] t Implantação [20] p Marcelo Rosenbaum [21] p Adriana Benguela [22] p Gustavo Utrabo e Pedro Duschenes

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[23] Plantas


Ventilação natural. O engenheiro Hélio Olga, conta, em tom descontraído, que em uma de suas conversas sobre o projeto, alunos afirmavam que desejavam essencialmente um lugar mais fresco, porque no verão a temperatura chega aos 38º. Agora, por causa dos materiais usados, os alunos tem de usar lençol para se cobrir. Por se tratar de dois pavilhões com grandes coberturas e pátios ajardinados, o projeto é inteiramente arejado. Os conjuntos das habitações são ventilados naturalmente através das áreas de serviço, pelas paredes com tijolos levemente inclinados, fazendo alusão aos cobogós e muxarabis, tão discutidos na arquitetura.

[24] u Foto conexão pilar

Iluminação. São utilizados LEDs amarelos, posicionados nos pilares, dando ênfase à madeira. E parte do sistema das áreas externas é automatizado. Tratamento da água. O sistema de tratamento já pertencia à infraestrutura da fazenda. Segundo o diretor administrativo, Edson Luiz Peres, 100% da água e esgoto são tratados. O consumo médio é estimado em 270.000L/dia. Coleta de lixo e resíduos. Dentre o plano de ação da fazenda, são previstas: Coleta seletiva, que é destinada para o município de Formoso do Araguaia (54km); Composteira, para os resíduos orgânicos, que por conseguinte, produz adubo para as hortas; Coleta do lixo hospitalar, realizado por uma empresa parceira; e Incineração do lixo contaminado, que representa 5% num total de 2.000kg/dia.

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Foram incorporados grafismos inspirados em pinturas corporais indĂ­genas, criando identidade para cada dormitĂłrio. u

[25-26] x Detalhes [27] u Identidade visual indĂ­gena


Materiais e construção. O projeto tem a pretensão de não se contrapor ao contexto, potencializar a beleza local seria uma das diretrizes, para o que colabora o monocromatismo encontrado na madeira e tijolos, com seus tons próximos. Optou-se pelo uso de materiais renováveis a fim de dar reconhecimento a cultura indígena e as técnicas artesanais de construção, características da região. A madeira e a terra Foram produzidos 1.000 metros cúbicos de madeira laminada colada (MLC) pela empresa ITA Construtora. A estrutura foi resolvida em eucaliptos e pinus, mas podemos encontrar outros tipos de madeira como o cedro, presente nas fachadas de cada conjunto, e os bancos externos feitos em itaúba. Aspectos como a liberdade formal, dimensão e seção variável, e a técnica disponível por parte da construtora de Hélio, conduziram a escolha desta tecnologia. O clima, por sua alternância de períodos rigorosos de seca e chuvosos, torna-se um agravante, e se faz necessária a manutenção periódica da camada de verniz que recobre a estrutura. Apesar do grande beiral, os pilares são afastados levemente do piso, por conexões metálicas e nichos em concreto. A decisão pela malha modular de 5.90 x 5.90m, com pilares quadrados de 15 centímetros de seção, parte de aspectos logísticos e pormenores de execução, estabelecidos concomitantemente por ambos os escritórios. Facilidade na montagem e transporte de peças, serviram como resposta imediata frente à solução. Foram construídos 288 pilares em cada pavilhão. O contraventamento da estrutura é realizado mediante as alvenarias dos banheiros e lajes de piso. Os tijolos de solo-cimento foram produzidos in loco e utilizou-se 12,5% de cimento em seu traço.

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Estudos de caso



Desempenho É importante frisar que em todo e qualquer projeto, a busca pela excelência, em todas as suas frentes, deve ser constante. Poder visitar esta obra tão comentada nos últimos meses e ver de fato como ela se desdobra, como funciona e como acolhe a ideia, foi realmente uma experiência enriquecedora. O projeto como objeto, por si só, demonstra pequenas desatenções em sua execução e/ou concepção, dentre elas destaco: A percepção do natural. O contato com a natureza é de fato, um dos protagonistas, entretanto, a chuva de vento em certas ocasiões do ano, talvez não tenha sido considerada, já que os beirais, devido à altura da cobertura, são insuficientes quando o quêsito for a proteção dos pilares e principalmente, quartos e áreas de estudo (onde posteriormente foram instaladas placas acrílicas, em função dos aparelhos eletrônicos disponíveis). Já as madeiras utilizadas nos beliches, fabricados fora do estado, não foram testadas na região e com a grande variação do clima, sofreram deformações que comprometaram sua estabilidade. Também em relação às características climáticas, podemos notar a diferença entre o paisagismo “inaugurado” e o atual. A vegetação proposta, não adaptando-se ao microclima, não conseguiu desenvolver-se. O querer sustentável. Ao se imaginar um projeto de expressiva dimensão, executado principalmente em madeira, podemos nos impressionar facilmente, e vislumbrados por seu desenho e solução técnica, esquecemos da máxima: Os fins não justificam os meios, o processo e toda sua logística são fundamentais. Deste modo, o eucalipto, prove-

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Estudos de caso


niente da Bahia, que parte em direção à São Paulo e tem como destino final o estado do Tocantins, não deve ser considerada sustentável. O evento também se deve devido a pouca diversidade oferecida no mercado. Talvez com o aumento da demanda e, consequentemente, da produção e propagação, o preço se tornaria mais competitivo e acessível, por meio de uma nova rede de fornecedores e empresas, consolidando esta técnica.

[28] v pág. 62. Foto externa [29] u Foto circulação

Seria inoportuno encerrar este capítulo com apenas críticas, mesmo estas baseadas em conversas e impressões extraídas no local. Portanto, e não somente devido a este fato, é imprescindível destacar a qualidade da edificação, em seus aspectos físicos, sociais e biológicos. Cabe realçar, uma vez mais, que uma boa gestão é parte substancial para o bom desempenho, funcionamento e qualificação do espaço projetado. O trabalho exercido pela Fundação Bradesco e seus funcionários, assim como as Moradias Infantis, transformam a realidade em diferentes escalas e tornam-se referência para um campo pouco explorado e de potencial latente no país.

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Capítulo 2 | Créditos iconográficos [1-2] Fotos das viagens. Acervo pessoal [3] Moradias Infantis Canuanã. Fonte: https://arcowebarquivos-us.s3.amazonaws.com/imagens/74/39 [4] Centro Cultural Max Feffer. Fonte: https://www.galeriadaarquitetura.com.br/projeto/amima_/centro-max-feffer-cultura-e-sustentabilidade/ [5] Plantas. Fonte: http://amima-arquitetura.com.br/ [6] Acesso principal. Fonte: https://www.galeriadaarquitetura.com.br/slideshow/index=4 [7] Leiko Motomura. Fonte: http://amima-arquitetura.com.br/perfil [8] Betty Feffer. Fonte: http://www.pletz.com/blog/ [9] Implantação. Fonte: http://amima-arquitetura.com.br/ [10-11] Sistema de calefação e resfriamento. Fonte: https://www.arcoweb.com.br/finestra/tecnologia/selo-leed-centro-cultural-max-feffer [12] Cobertura de bambu. Fonte: https://www.arcoweb.com.br/finestra/tecnologia/selo-leed-centro-cultural-maxfeffer [13] Detalhamento da cobertura. Fonte: https://www.arcoweb.com.br/finestra/tecnologia/selo-leed-centro-cultural -max-feffer [14] Sala da comunidade. Fonte: https://www.arcoweb.com.br/finestra/tecnologia/selo-leed-centro-cultural-maxfeffer [15] Casal Fazenda. Fonte: https://g1.globo.com/to/tocantins/noticia/2018/11/24/ [16] Foto aérea Canuanã. Fonte: Fundação Bradesco [17] Denise Aguiar. Fonte: https://glamurama.uol.com.br/galeria/ [18] Moradias em dia festivo. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/879961/moradias-infantis-rosenbaum-r-plus -aleph-zero [19] Implantação. Fonte: Rosenbaum [20] Marcelo Rosenbaum. Fonte: http://www.designbrasil.org.br/design-em-pauta/ [21] Adriana Benguela. Fonte: http://rosenbaum.com.br/a-gente/equipe/ [22] Gustavo Utrabo e Pedro Duschenes. Fonte: https://au.pini.com.br/tag/gustavo-utrabo/ [23] Plantas. Fonte: Rosenbaum [24] Foto conexão pilar. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/879961/moradias-infantis-rosenbaum-r-plus -aleph-zero [25-26] Detalhes. Fonte: Ita Construtora [27] Identidade visual indígena. Acervo pessoal [28] Foto externa. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/879961/moradias-infantis-rosenbaum-r-plus-aleph-zero [29] Foto corredor. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/879961/moradias-infantis-rosenbaum-r-plus-aleph-zero


3. ExercĂ­cio projetual


3. “[...] tenía una facilidad grande para dibujar. Un día me di cuenta de que probablemente lo que me cerraba el camino para hacer las cosas con profundidad era precisamente la facilidad de mi mano, es decir, que mi mano no solamente no me ayudaba, sino que me entorpecía.” (CHILLIDA, 2008, p.188)

Así decidí dibujar con la mano izquierda.

[1] u Jatorri



3.1. Contexto

Localização Situado no bairro da Liberdade, dentro da subprefeitura da Sé, o terreno se espalha pelo interstício e/ou na conexão entre as ruas Vergueiro e Maestro Cardim, sobre a Avenida Vinte e Três de Maio. Com sua integralidade dentro de uma ZEU (Zona eixo de estruturação da transformação urbana) possui grande perspectiva dentro do desenvolvimento da cidade, apesar desta zona incidir, em parte, sobre áreas já consolidadas do território.

[2] Mapa de zoneamento

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[3] Mapa de instrumentos

Equipamentos Neste mapa são destacados os equipamentos urbanos relevantes à dinâmica, tanto a nível de bairro, como articulador da cidade. Instituições de ensino, saúde, lazer e cultura podem ser facilmente encontradas nesta região. O Viaduto Beneficência Portuguesa, pode ser considerado um grande eixo conector entre ambos os lados da Avenida Vinte e Três de Maio, entretanto, devido à sua alta demanda gerada pelos fluxos de transeuntes, pode oferecer um percurso de baixa qualidade urbana. Se faz necessário ressaltar que, na relação de sua cota mais alta à mais baixa, o viaduto ao contradizer-se, torna-se barreira. A porção Leste caracteriza-se por seus amplos espaços abertos, já o Oeste por edificações com um menor recuo entre si e extensas áreas arborizadas com árvores de grande porte, oferecendo assim, um ambiente mais sombreado.

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Exercício projetual


Usos Como já mencionado, o entorno, é caracterizado por sua grande variedade de instituições, mas cabe destacar que as edificações, tanto mistas como comerciais, possuem alta densidade populacional, o que confere a este território grande movimentação pública, em diversos horários do dia, garantindo consequentemente, áreas mais seguras.

[4] Mapa de usos

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[5] Mapa de mobilidade

Mobilidade Atrelado intimamente à mobilidade urbana, a área oferece e se abastece mediante as linhas 1-Azul (norte-sul) e 2-Verde (leste-oeste) do Metrô, ciclovias e uma vasta gama de linhas de ônibus. Estabelece conexão direta com a Av. 23 de maio, uma das mais movimentadas avenidas do município de São Paulo. De extrema relevância para a cidade, inclui-se na ligação do Corredor Norte-Sul.

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Exercício projetual




3.1.1. Centro Cultural São Paulo O projeto, interpretado como extensão do espaço público, não tem a pretensão de comparar-se à tamanha obra-prima como o CCSP. Pode-se dizer que em uma de suas melhores interpretações, o complexo proposto, serviria de anexo para o mesmo. Para tanto uma breve análise e contemplação deste lugar, se faz essencial.

[6] v pág. 74. Foto área [7] v pág. anterior. Colagem área [8] q Corte elaborado pela EMURB [9] y Terreno após desapropriação

Antecedentes A história do Centro Cultural São Paulo remonta ao período da construção da Estação Vergueiro. No momento de desapropriação da área para construção da nova estação, restou uma faixa de terreno sem destino, entre a Avenida 23 de Maio e a Rua Vergueiro. Na época, a Empresa Municipal de Urbanização - EMURB, tinha a responsabilidade de criar planos de reurbanização das áreas envoltórias das estações e destinou esta área a um projeto nomeado “Nova Vergueiro”. Conforme Nascimento e Teixeira (2014), o referido projeto estabelecia algumas diretrizes para possíveis intervenções na área, propondo que o espaço da Rua Vergueiro se estendesse através do nível térreo, configurando-se como uma praça-plataforma com vista para o vale da avenida. Acima do nível da praça, seriam implantadas torres que permitiriam o adensamento e abaixo se instalariam serviços e estacionamento. O projeto foi objeto de licitação lançada pela Prefeitura de São Paulo em 1974 e teve como vencedores Roger Zmekhol e Sidinei Rodrigues. No entanto, a proposta vencedora gerou uma série de discussões. Em plena Ditadura Militar, a ideia soava tanto inovadora quanto polêmica, criando conflitos entre opiniões de progressistas e

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conservadores (SERAPIÃO, 2012, p. 20). Neste cenário de tensões, a decisão do prefeito Olavo Setúbal foi anular a concorrência, determinando que parte do terreno seria doada ao Departamento de Bibliotecas Públicas do Município de São Paulo, visando a ampliação da Biblioteca Mário de Andrade. Neste contexto, Luiz Telles relata que, a equipe de arquitetos do escritório PLAE Arquitetura SC Ltda, liderada por Eurico Prado Lopes é contratada pela prefeitura para acompanhamento e finalização do relatório do Programa Funcional e para a elaboração do projeto do novo edifício. O lugar carecia, entretanto, de identidade: a condição de margem, resto ou sobra, acentuava a dúvida sobre o endereço preciso, transformando-o numa espécie de não lugar. (SERAPIÃO, 2012, pg. 16).

O Edifício, a paisagem e as pessoas A complexa configuração do lote em que se insere, torna-se condicionante. Sobre o trecho de encosta do vale do antigo córrego Itororó, apresenta geometria estreita, cercado por vias de tráfego intenso de carros e configurava-se como uma área residual em meio a bairros com identidades bem consolidadas como a Liberdade, Paraíso, Bela Vista e Aclimação. Como conta Serapião (2012), as únicas sobreviventes naquela faixa de barranco remexido eram as árvores e, logo de início, os arquitetos optaram por preservá-las. O projeto parte desta intenção de manter a massa arbórea e da ideia de se mimetizar em relação ao seu entorno, através da horizontalidade marcada na volumetria e da interpretação topográfica da área.

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A relação entre o edifício e a paisagem urbana é de integração: o edifício se acomoda ao terreno, preenchendo praticamente todo o espaço entre as duas artérias urbanas. A forma construída adapta-se à forma natural do terreno, procurando recuperar a natureza através da preservação das árvores, da recomposição dos taludes e da criação de jardins sobre laje. (TELLES, 2002, p. 265).

Conforme Nascimento e Teixeira (2014), podemos observar a ideia de conservação da paisagem na volumetria do edifício. Os primeiros estudos do projeto já previam um volume baixo, estreito e com um plano inclinado que remete a um talude. No geral, apesar de diversas alterações, o volume se manteve discreto em meio à paisagem deixando sobressair a sua cobertura como elemento principal, a qual projeta-se sobre o passeio público na Rua Vergueiro e é vista da Avenida 23 de maio demarcada por sua viga de borda. O edifício além de se caracterizar como a continuidade da paisagem, se configura também como a continuidade do passeio público. O terreno conecta-se à Estação Vergueiro do Metrô e está próximo à Av. Paulista, tendo um alto fluxo de pedestres nas proximidades. Para Serapião (2012), a resposta ao terreno e influência da escola paulista, faz com que o ambiente da cidade e o espaço público contaminem o edifício sem portas, que pode ser penetrado quase sem querer. O modo como os espaços foram pensados e articulados permitem uma grande apropriação por parte dos usuários e é essa vivência que garante vitalidade para o edifício. O espaço constitui-se como passagem e ponto de encontro ao mesmo tempo, possibilitando

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a convivência entres pessoas com diferentes interesses, idades e classes sociais e é pelo fato de tornar-se esse espaço democrático que pode ser considerado um projeto bem-sucedido. Sendo assim, percebe-se que, de certo modo, a verdadeira riqueza da obra não está exatamente em sua forma, mas sim na vitalidade das ações das pessoas que por ela passam. De maneira geral, o processo de projeto do primeiro Centro Cultural da América Latina foi marcado por muita intuição por parte dos arquitetos. Afinal, conforme Telles (2002), não existiam referências deste tipo de programa no Brasil e foi necessário antecipar o que este espaço poderia se tornar para a cidade e para seus usuários.

[10] t Níveis CCSP [11] t Grupo sentado [12] q Estrutura claraboia

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Exercício projetual


“O espaço construído permanece presente no terreno, na cidade, na vida do usuário, e transcende o projeto, a prancheta, o computador, dialogando, também e principalmente, com seus criados - quer como profissional, quer como cidadão. O objeto construído, para que haja evolução do profissional e da sociedade, será sempre motivo de reflexão e consequente realimentação para o próximo fazer - essa é a sua dimensão propositiva, sua contribuição como obra feita.” (TELLES, 2002, p.319)

[13] p Luiz Telles [14] t Croqui [15] u Rampas

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3.2. Memorial Após diagnosticados, entorno imediato e lote, por fim, chega-se à um primeiro plano programático com suas devidas áreas. A proposta visa a requalificação da área e seus espaços subutilizados; a conexão entre as diferentes cotas; sua inserção à rede de transportes públicos; proporcionar releitura da relação do homem com a cidade, por meio de novos usos. Busca flexibilidade no tempo e espaço, e repensa seus fluxos. Partido. Quanto à escolha do terreno e diretrizes, constavam: - Estar inserida em área central Visando um maior impacto, contribuição e alcance social; - Caracterizar-se em diferentes níveis ou camadas Sob hipótese, o projeto, pioneiro em seu cunho, deveria buscar um terreno que dispusesse de inúmeras visuais, tanto internas (quando concretizado) quanto externas, intrínsecas ao percurso; - Inserir-se na paisagem de modo horizontal Sendo este um aspecto determinante e direcional para o desenho; - Mínimo impacto construtivo Ao utilizar a estrutura preexistente do viaduto, busca inspiração dentro da arquitetura biomimética e parasita; - Ser modular e flexível Seguindo a lógica construtiva de Canuanã, discutida no capítulo anterior, o projeto deveria debruçar-se sob uma malha que potencialize seu método de construção. O mesmo considera o caráter efêmero de seu programa, perante à futuras mudanças, característica das grandes cidades.

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Ao atendê-las de modo funcional e prático, e após o levantamento de dados/visitas ao local, pude perceber seu real potencial, ao identificar possíveis áreas de intervenção, adjacentes ao viaduto. Uma delas o estacionamento de motos e galpão de confraternização do Hospital Beneficência Portuguesa, hoje, subutilizado (ver Fig. 16), e o outro, um terreno baldio – localizado na rua Vergueiro –, de dimensões semelhantes ao perímetro do Centro Cultural São Paulo. Desta forma atribuindo, ao projeto, traço expansivo concomitante à sua vocação transitória e plástica.

[16] p Área sob viaduto [17] y Fluxos e Intervenções [18] q Viaduto visto da Av. 23 de Maio

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Exercício projetual


3.3. Proposição

Programa Seus usos buscam evidenciar a questão da fruição pública e uma possível democracia espacial mascarada. Também exprime a ideia de transgressão acadêmica, onde sugere que o ensino, principalmente dentro das escolas de Arquitetura e Urbanismo, deve ser rearticulado em relação à responsabilidade ecológica, social e, por assim dizer, ética e moral. Dentro deste panorama, vale a pergunta: A produção arquitetônica está em prol de nossas cidades e planeta? Deste modo, foram propostas três construções que abrigam: salas de coworking; salas de aula e oficina voltadas à bioconstrução; espaço de convívio e permanência; espaços para pequenas feiras e exposições; e cozinha comunitária.

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[19] p Corte esquemático [20] u Estratégias projetuais

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I

EdifĂ­cio Maestro Cardim


3.3.1. Edifício Maestro Cardim O edifício localizado na rua Maestro Cardim, abrigará os espaços de coworking, dará suporte para os cursos de bioconstrução – prático e teórico –, e pretende incorporar a madeira laminada colada (MLC) como principal elemento estrutural. A ideia é chamar a atenção para este tipo de construção, disceminando aos poucos, esta “nova arquitetura”9, nas grandes cidades. Já os materiais não renováveis como os metais, serão utilizados com parcimônia. Conexões metálicas estão previstas em, praticamente, todas as edificações propostas. Estas junções visam conferir flexibilidade aos espaços/usos e manutenção das peças;

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Sistema centenário, patenteado, em 1911 na Alemanha. 9

[21] x Pontos de intervenção


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Em sua estrutura foram desenhados pilares e vigas de 18 x 15cm, vigotas do piso com 18 x 7,5cm, e algumas exceções como as vigas da cobertura – estreitas em suas pontas –, e as vigas-vagão na área da oficina e maquinários, prescindindo os pilares centrais do espaço. O piso em tábuas de madeira, é revestido em partes, com placas PRODUCED BYcimentícias, AN AUTODESK STUDENT VERSION nas áreas externas, e cerâmico, nos sanitários. Foram projetadas mãos francesas para a passarela de ligação do viaduto. Guarda-corpos, confeccionados em ripas de 3 x 6cm, são amarrados aos corrimãos, também de madeira. Os forros são de placas osb, na praça alta e passarela, e tábuas de madeira em todo o restante do edifício. Todos os pilares são afastados do terreno e possuem conexões metálicas, arrematados por tubulões de concreto. Já em sua cota mais baixa, vigas e pisos de madeira são dispostos sobre baldrames de concreto. O edifício incorpora a área da nova lanchonete, prevista sob o viaduto, e [22] t Croquis fluxos, soluções e visuais sua conexão se faz por meio de pequenas passarelas, rampas e escadas.

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[23] Casa Hélio Olga Jr.

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Após realizado o estudo de insolação, a edificação se abre para os fundos do lote, onde são desenhadas fachadas modulares, que alternam-se entre a utilização do painel wall e caixilharia com panos de vidro. Por sua orientação, implantação e ser escalanado, a luz da manhã penetra o edifício de forma satisfatória. E ao entardecer, somente a claridade invade o projeto. Os montantes são de madeira e para os caixilhos foram propostas: canaletas em perfil U para os vidros fixos e cantoneiras nas janelas maxim-ar. Partindo do módulo cúbico de 3.60m e agrupados aos pares, seus ambientes possuem ventilação cruzada. Assim como na casa projetada projetada pelos engenheiro Hélio Olga e arquiteto Marcos Acayaba, buscou-se reduzir os pontos de contato da construção com o terreno, preservados vegetação e solo.

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“Antes de pensar em mais ruas, ciclovias, transporte público ou mesmo na escala humana, é preciso pensar: que cidade queremos? E aí, o que importa não são os elementos do planejamento urbano, mas as coisas que nos fazem viver melhor.” (GEHL, Jan, 2013)

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II

Transposição Viaduto B. P.


3.3.2. Transposição Viaduto B. P. A área de permanência, transição e contemplação sob o viaduto Beneficência Portuguesa, se faz mediante a estrutura atirantada de bambu Guadua, com 10cm de diâmetro. O projeto, busca inspiração em esferas vizinhas como o CCSP e a Vila Itororó, onde a fusão de diferentes usos e personalidades, caracteriza a disputa harmônica por um espaço democrático e, paralelamente, caótico – reflexo da cidade de São Paulo. Sua estrutura se dá na divisão, em oito partes iguais, do vão preexistente, em seu sentido longitudinal. Deste modo, os tirantes – compostos por 6 bambus – distam aproximadamente 6.25m, de eixo a eixo. Em seu menor vão, no sentido oposto, a estrutura é segmentada em 3 partes, e visando reduzir os esforços, foram pre-

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PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION transporte e recebimento, foram projetadas apenas 3 dimensões para os bambus. Assim sendo, desenvolveu-se um sistema articulado de elevação do piso, para que os níveis sejam adaptáveis à construção e situações diversas. A montagem de todo o sistema, parte da lógica de racionalização e posicionamento dos “falsos-pórticos-invertidos”, aos pares. Toda a parte hidráulica e elétrica passa sobre o forro (em madeira), e este, por sua vez, recebe as luminárias de sobrepor e pendentes.

[24] t Croquis materiais e estratégias

Painéis pré-fabricados e abobadados com uma largura de 60 cm. Feito em plastocimento, este sistema reduz a utilização do cimento. 10

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vistos 3 pares de tirantes compostos a cada 12,5m. Já as vigas, são agrupadas e estruturadas por 3 bambus, fixados ao longo de sua extensão. Os bambus são interligados por componentes metálicos, ora articulados, ora fixos. As peças que travam a estrutura do piso e os blocos de circulação vertical acoplados em cada extremidade, contribuem para o contraventamento estrutural. As lajes ou cascajes10 cobrem um vão de 3 metros e sobre elas é preparado uma fina camada natural de terra. Para otimizar o tratamento,

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III

GalpĂŁo Vergueiro


3.3.3. Galpão Vergueiro O galpão entendido como grande cobertura desde sua concepção, disponibilizará em sua infraestrutura: espaços para pequenas feiras, exposições, mostras e cozinha comunitária – esta, busca atender ao público e principalmente a grande quantidade de investimentos do tipo loft ou estúdio, para o que apontam as tendências de mercado, na região e nos bairros centrais da cidade. A construção, opta por um mínimo impacto construtivo. Assim sendo, todas as peças são pré-fabricadas, e o piso existente é mantido e tratado. A repetição dos arcos são organizados a cada 6.00m e o vão interno possui aproximadamente 12.00m de eixo a eixo. O pé direito, em seu ponto mais alto, alcança os 7.00m, proporcionando um grande espaço interno e, ao mesmo tempo, oferecendo proporção horizontal (mesclando-se à paisagem existente e potencializando o diálogo com o Centro Cultural São Paulo, o que pode ser visto em um dos croquis preliminares).

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[25] q Estudo preliminar de gabarito [26] u Croquis fluxos, acessos, volume e espaços


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PRODUCED BY AN AUTODESK A estrutura seráSTUDENT em MLC, já VERSION comentada, e seus fechamen-

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tos em bambu e caixilhos metálicos. Também, serão incluídas paredes de taipa de pilão e fechamentos em bambu-a-pique, mencionadas no primeiro capítulo. É mediante estas paredes – tanto em seus acessos opostos, quanto no bloco de banheiros –, que é previsto seu contraventamento. Assim, pilares e arcos (em formas de catenária), são replicados, sendo sua cobertura intercalada em partes: uma com lambris de madeira, placas de vermiculita, osb e manta alwitra; outra em vidro duplo/insulado (conferindo o aspecto termoacústico necessário). A ventilação deste galpão é cruzada e por efeito-chaminé, realizado pela clarabóia e venezianas que coroam o volume. Os fluxos foram organizados com seus acessos em extremidades opostas, procurando atender à sua cota mais alta (saída da estação Vergueiro) e mais baixa que se encerra em aproximadamente um terço do lote original, espaço para futuras inserções e/ou acréscimos no projeto. Os dois grandes salões são divididos visualmente pelo bloco de banheiros, mas estão conectados internamente. Foram pensadas duas praças cobertas, em ambas as entradas, conectadas por corredores laterais externos, estes, cobertos por pergolado e policarbonato.


[27] Croquis Soluções estruturais

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“Conozco la obra antes de hacerla, pero no sé cómo va a ser y no quiero saberlo. Conozco su aroma” (CHILLIDA, 2008, p.200)


Capítulo 3 | Créditos iconográficos [1] Jatorri. Fonte: https://www.galeriajoangaspar.com/eshop/es/chillida-eduardo/ [2-5] Mapas. Acervo pessoal [6] Foto área. Fonte: Google Earth [7] Colagem área. Acervo pessoal [8] Corte elaborado pela EMURB. Fonte: http://www.forumpatrimonio.com.br/paisagem2014/artigos/pdf/281.pdf [9] Terreno após desapropriação. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/872196/classicos-da-arquitetura-centrocultural-sao-paulo-eurico-prado-lopes-e-luiz-telles [10] Níveis CCSP. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/872196/classicos-da-arquitetura-centro-cultural-sao-paulo-eurico-prado-lopes-e-luiz-telles [11] Grupo sentado. Fonte: https://spcity.com.br/pluralidade-do-centro-cultural-sao-paulo/?amp_markup=1 [12] Estrutura clarabóia. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/872196/classicos-da-arquitetura-centro-culturalsao-paulo-eurico-prado-lopes-e-luiz-telles [13] Luiz Telles. Fonte: https://vimeo.com/43268588 [14] Croqui. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/872196/classicos-da-arquitetura-centro-cultural-sao-paulo-eurico-prado-lopes-e-luiz-telles [15] Rampas. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/872196/classicos-da-arquitetura-centro-cultural-sao-paulo-eurico-prado-lopes-e-luiz-telles * A partir da figura [16], todas as imagens fazem parte do acervo e produção pessoal do aluno Alexandre Nishida Tsutsui, exceto a figura [23] Casa Hélio Olga Jr. Fonte: ITA Construtora. * Fotos aéreas_drone: Gutierre Filmes * As Isometrias e Renders foram realizados pela parceria entre o aluno e o Fábrica Arquitetos e Colmeia Lab. Para mais informações acessar: fabricaarq.com.br/ colmeialab.com/


Considerações finais Houve grande preocupação em criar relações entre o espaço projetado, a cidade e o indivíduo. Algo que se aproxima dos conceitos de fenomenologia na arquitetura, que se dá através da relação da forma arquitetônica e o modo pelo qual ela é experimentada. Esta ideia é abordada por Juhani Pallasmaa (2006), que defende o conceito de que o edifício só passa a ganhar significados a partir do momento em que é vivenciado, ou seja, a dimensão artística de uma obra não está exatamente no que é físico, mas sim na consciência das pessoas que passam pela experiência pessoal deste cosmos. Espero que objeto de estudo, possa ser um exemplo deste fato.

Equilíbrio, não está necessariamente na simetria, mas na relação harmônica entre as partes.

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Referências bibliográficas BRATKE, Carlos. Cadernos Brasileiros de Arquitetura 16, vol. 15. São Paulo: Projeto Ed., 1985. CAMILLIS, Patrícia Kinast de. Bioconstrução: a cooperação como prática. Disponível em: <http://coloquioepistemologia.com.br/site/wp-content/uploads/2017/04/ANE-1122.pdf>. Acesso em: 25 nov. 2017. CAPELLO, Giuliana. Projetos. Construções em bambu. 2006. Disponível em: <http://techne17.pini.com.br/engenharia-civil/108/artigo286055-1.aspx>. Acesso em: 10 set. 2017. CHILLIDA, Eduardo. Sobre lo que no sé. 2009. Barcelona: Ed. Planeta, 2008 GONÇALVES, Alfredo José. Migrações internas: evoluções e desafios. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ea/v15n43/v15n43a14.pdf>. Acesso em: 25 nov. 2017. FATHY, Hassan. Construindo com o povo. Arquitetura para os pobres. Rio de Janeiro: Salamandra, 1980. HEYWOOD, Huw. 101 regras básicas para edificações e cidades sustentáveis. Trad. Alexandre Salvaterra. São Paulo: Gustavo Gili, 2017. IPOEMA. Conceitos de bioconstrução. Disponível em: <http://ipoema.org. br/conceitos-de-bioconstrucao/>. Acesso em: 13 set. 2017. LOTUFO, Tomaz Amaral. Arquitetura. Disponível em: <http://www.bioarquiteto.com.br/arquitetura/>. Acesso em: 19 out. 2017. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Construção sustentável. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/urbanismo-sustentavel/ constru%C3%A7%C3%A3o-sustent%C3%A1vel>. Acesso em: 25 nov. 2017. MINKE, Gernot. Manual de construção com terra: uma arquitetura sustentável. Trad. Jorge Simões. São Paulo: B4 Ed., 2015

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