Andrea laurence [filhas do poder 5] noivado exclusivo (desejo dueto 44 1)

NOIVADO EXCLUSIVO A VERY EXCLUSIVE ENGAGEMENT

Andrea Laurence

"O que acontece no elevador não sai do elevador, certo?"

Preso entre dois andares com sua funcionária temperamental, o magnata da mídia Liam Crowe não consegue resistir à quimíca entre eles. Primeiro, Francesca Orr xingou seu novo chefe na sala de reuniões. Depois, o beijou! Liam então, oferece um novo cargo: noiva dele. A única maneira que ele tem de controlar a rede de notícias que acabou de adquirir é se casando. E Francesca é perfeita para o papel de noiva de fachada. Ela concorda com o plano, mas logo a relação se torna bem real, pois não há nada de falso em Francesca...

Disponibilização: Projeto Revisoras Revisão: Carmita

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HARLEQUIN 2014 Tradução Leandro Santos PUBLICADO SOB ACORDO COM HARLEQUIN ENTERPRISES II B.V./S.à.r.l.

Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte.

Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência.

Título original: A VERY EXCLUSIVE ENGAGEMENT Copyright © 2013 by Harlequin Books S.A. Originalmente publicado em 2013 por Harlequin Desire Título original: AFFAIRS OF STATE Copyright © 2013 by Harlequin Books S.A. Originalmente publicado em 2013 por Harlequin Desire Projeto gráfico de capa: Nucleo i designers associados Arte-final de capa: Ô de Casa Editoração eletrônica: EDITORIARTE Impressão: RR DONNELLEY www.rrdonnelley.com.br Distribuição para bancas de jornais e revistas de todo o Brasil: FC Comercial Distribuidora S.A. Editora HR Ltda.

Rua Argentina, 171,4° andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380 Contato: virginia.rivera@harlequinbooks.com.br

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CAPÍTULO UM

Figlio di un allevatore di maiali.

Liam Crowe não falava italiano. O novo proprietário da rede de notícias American News Service mal sabia pedir comida italiana e tinha quase certeza de que sua vicepresidente executiva de relações comunitárias sabia disso.

Francesca Orr resmungara aquelas palavras durante a reunião de emergência da diretoria naquele dia. Ele as anotara para poder pesquisar depois. As palavras tinham saído dos lábios dela de forma sedutora.

Contudo, Liam tinha a distinta impressão de que não iria gostar do que ela lhe dissera.

Ele não esperara que fosse fácil assumir o comando da empresa que fora de Graham Boyle. O ex-proprietário e vários funcionários estavam na cadeia, depois de um escândalo com escutas telefônicas que atingira o presidente dos Estados Unidos.

Liam estava em meio a um caos corporativo e político, mas fora justamente por isso que conseguira se tornar acionista majoritário da empresa. Ele sempre quisera o ANS, a menina dos olhos da imprensa.

Sendo assim, eles tinham um grande escândalo a superar e uma reputação a reconstruir. Nada era fácil na vida, e Liam gostava de desafios. No entanto, certamente esperara que os funcionários do ANS, especialmente a diretoria, fossem lhe dar apoio.

Desde o zelador da noite até o diretor financeiro, todos os empregos estavam em risco. A maioria das pessoas com quem ele conversara estava empolgada com a chegada dele.

Mas não Francesca. Aquilo não fazia sentido. Sim, seu pai era um rico e famoso produtor cinematográfico que a sustentaria se ela perdesse o emprego no ANS, mas a caridade era o trabalho dela. Sem dúvida, ela se importava tanto com os funcionários quanto com órfãos e pacientes de câncer.

Entretanto, não era o que parecia. Francesca se sentara à mesa de conferência com seu terninho vermelho justo e se transformara no diabo. Liam fora avisado de que ela era uma mulher fervorosa e teimosa, mas não estava pronto para aquilo. Com a simples menção ao racionamento do orçamento da empresa para ajudar a absorver os prejuízos, ela se enfurecera. Mas simplesmente não podiam investir milhões em causas beneficentes se eles próprios estavam numa posição financeira complicada.

Suspirando, Liam saiu da sala de conferência para almoçar. Planejara ir com alguns dos diretores, mas todos tinham se dispersado depois que a constrangedora reunião se encerrara.

Estranhamente, a única coisa que tornara aquilo tolerável para ele fora observar a própria Francesca. Numa sala cheia de executivas mais velhas e homens de ternos escuros, Francesca era uma explosão de cor e vida. Mesmo quando ela não estava falando, o olhar de Liam não parava de buscá-la.

Seu cabelo era como ébano, fluindo sobre os ombros, descendo em ondas pelas costas. Seus olhos tinham um tom castanho-escuro e eram intrigantes. Quando ela discutira com ele, a cor subira ao seu rosto, dando a sua imaculada pele bronzeada um tom rosado.

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Liam costumava ter um fraco por mulheres ardorosas e exóticas. E Francesca, se não estivesse tentando arruinar o dia dele e talvez até o ano, seria exatamente do tipo de mulher que ele convidaria para sair.

Ele estava feliz pelo fato de a sede corporativa do ANS ficar em Nova York. Apesar de adorar sua casa em D.C., gostava de voltar para sua cidade natal. Os melhores restaurantes do mundo, lugares privilegiados para assistir ao seu time de beisebol favorito… o clima de Manhattan era muito diferente.

Ele iria até lá de tempos em tempos, a trabalho. Na verdade, Liam queria que fosse o tempo inteiro. No entanto, como precisava se envolver na política, que era o foco principal do ANS, Washington era onde precisava estar.

Ele foi ao seu escritório antes de sair para almoçar. Pôs a pasta sobre a mesa e copiou as palavras de Francesca de seu bloco de notas para um pedaço de papel adesivo. Levou-o consigo, parando diante da mesa de sua assistente antes de sair.

– Jessica, finalmente acabou. A sra. Banks vai trazer para você a documentação para processarmos a suspensão da srta. Pierce. O pessoal dos Recursos Humanos precisa resolver isso imediatamente. Agora que toda essa confusão já ficou no passado, acho que vou almoçar. – Ele lhe entregou o papel com a frase em italiano. – Pode traduzir isso para mim enquanto eu estiver fora? É italiano.

Jessica sorriu e assentiu. Provavelmente, já fizera aquilo antes, como assistente de Graham Boyle.

– Vou cuidar disso. O site já está nos favoritos do meu navegador. – Baixando os olhos para o papel amarelo, ela balançou a cabeça. – Estou vendo que a srta. Orr lhe deu boas-vindas especiais à empresa. Nunca tinha visto isso antes.

– Devo me sentir honrado?

– Ainda não sei. Aviso assim que pesquisar.

Liam riu, virando-se para sair, mas logo parando.

– Só por curiosidade, do que ela chamava Graham?

– O preferido dela era stronzo.

– O que significa?

– Tem várias traduções, e não me sinto confortável para dizer nenhuma delas em voz alta. – Ela as escreveu no verso do papel que ele lhe entregara.

– Uau – disse Liam. – Definitivamente, não é um apelido carinhoso. Vou precisar resolver o problema com a srta. Orr antes que isso fuja do controle.

Um borrão vermelho passou por ele, e Liam ergueu o olhar para ver Francesca rumando às pressas para os elevadores.

– É a minha chance.

– Boa sorte – disse Jessica enquanto ele se afastava.

Uma das portas acabara de se abrir, e Liam viu Francesca entrar e se virar. Ela viu que ele estava chegando. Os olhares deles se encontraram por um instante. Então Francesca apertou o botão, para fechar a porta mais rapidamente. Ótimo.

Liam pôs o braço entre os painéis deslizantes, e eles se abriram novamente.

Francesca não pareceu nada feliz com a invasão. Olhou-o durante um instante e enrugou seu delicado nariz, como se ele fedesse a peixe podre. Quando as portas se fecharam 4

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novamente, ela foi para o canto mais distante do elevador, apesar de eles estarem sozinhos ali.

– Precisamos conversar – disse Liam quando começaram a descer.

Os olhos de Francesca se arregalaram, e sua boca se apertou.

– Sobre o quê? – perguntou ela inocentemente.

– Sobre a sua atitude. Entendo que você defenda fervorosamente o seu trabalho.

Mas, goste ou não, sou eu quem está no comando desta empresa e vou fazer o que for necessário para salvá-la da confusão em que foi metida. Não vou admitir que você me faça de idiota na frente de…

As palavras de Liam foram interrompidas quando o elevador parou abruptamente e as luzes se apagaram.

Aquilo não podia estar acontecendo. Ela não estava presa num elevador parado com Liam Crowe. O teimoso e ridiculamente lindo Liam Crowe. Mas devia ter imaginado que algo de ruim aconteceria. Treze pessoas estavam sentadas à mesa durante a reunião da diretoria. Era um mau agouro.

Nervosamente, ela segurou seu pingente de ouro e fez uma silenciosa prece para ter boa sorte.

– O que houve? – perguntou ela.

– Não sei. – Eles ficaram um instante no escuro, antes de as luzes de emergência serem ativadas, banhando-os de vermelho. Liam foi até o painel e pegou o interfone que fazia a ligação com a sala de máquinas. Desligou logo em seguida. Depois apertou o botão de emergência, mas nada aconteceu.

– E então?

– Acho que acabou a energia. O telefone de emergência está mudo. – Ele pegou o celular e olhou a tela. – Seu telefone está com sinal? O meu não está.

– Nada.

– Droga. Não acredito nisso.

– O que vamos fazer?

Liam desabou contra a parede.

– Esperar. Se a falta de energia for geral, ninguém pode fazer nada.

– Vamos simplesmente ficar parados aqui?

– Tem alguma ideia melhor? Você tinha várias hoje de manhã.

Francesca cruzou os braços e deu as costas a ele. Olhou para a escotilha de emergência no teto. Eles poderiam tentar passar por ali, mas em que andar estariam?

Tinham saído do 52º andar e não haviam descido muito até o elevador parar. Talvez estivessem entre um andar e outro. Ou a energia poderia voltar enquanto eles estivessem no fosso do elevador, e eles acabariam feridos.

– É melhor esperar – concordou ela relutantemente.

– Achei que fosse impossível concordarmos em alguma coisa, depois daquela reunião e do ataque que você deu.

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Francesca se virou para ele.

– Não dei nenhum ataque. Só não fui dócil o suficiente para ficar quieta como os outros, deixando você fazer más escolhas para a empresa. Eles têm medo de se mexer.

– Eles têm medo de que a empresa não consiga se recuperar do escândalo. E não disseram nada porque sabem que tenho razão. Precisamos ter responsabilidade fiscal se quisermos…

– Responsabilidade fiscal? E a responsabilidade social? O ANS patrocina o Baile da Juventude em Crise há sete anos. Não podemos simplesmente resolver não fazer isso este ano. Faltam só duas semanas. Eles estão contando com esse dinheiro para criar programas para adolescentes em risco.

Liam franziu o cenho.

– Acha que não me importo com crianças carentes?

– Não o conheço bem o suficiente para saber.

– Eu me importo sim – disparou ele. – Fui pessoalmente ao evento nos últimos dois anos e fiz um generoso cheque em ambos. Mas a questão é que precisamos cortar despesas para manter a empresa funcionando até podermos reconstruir nossa imagem.

– Não, é exatamente o contrário. Você precisa de eventos beneficentes para reconstruir sua imagem, para que a empresa continue funcionando. Isso diz ao público que algumas pessoas ruins fizeram coisas ruins aqui, mas que o resto de nós está comprometido a consertar tudo. Os anunciantes vão voltar correndo.

– Seu argumento teria sido muito mais eficaz se você não tivesse berrado e me xingado em italiano.

Francesca franziu o cenho. Não fora sua intenção perder a calma, mas não conseguira evitar. Herdara a rápida língua italiana de sua mãe e o pavio curto de seu pai.

Uma combinação explosiva.

– Sou meio temperamental – disse ela. – Puxei ao meu pai.

Qualquer um que já tivesse trabalhado no set de um filme de Victor Orr sabia o que poderia acontecer quando as coisas não estavam dando certo. O grande irlandês tinha um péssimo temperamento, e a única coisa que o acalmava era a mãe de Francesca.

– Ele também xinga em italiano?

– Não, ele não sabe nada de italiano, e minha mãe prefere que continue assim. Ela foi criada na Sicília e conheceu meu pai quando ele estava fazendo um filme lá. Passei muitos verões com minha avó na Itália e aprendi bastante italiano. Na minha adolescência, percebi que eu podia xingar em italiano, que o meu pai não saberia o que estava dizendo. Desde então, isso se tornou um mau hábito. Desculpe por ter gritado. Eu simplesmente me importo demais. Sempre me importei.

Victor Orr viera de um passado pobre e criara suas duas filhas não apenas para serem gratas pelo que tinham, mas também para dar aos menos afortunados. Francesca sempre participara de ações de caridade.

Contudo, o problema sempre acabava sendo o dinheiro. Quando a situação ficava apertada, aquele era sempre o primeiro orçamento a ser cortado. Por que não eliminavam alguns dos fartos benefícios corporativos? Talvez reduzir o orçamento de viagens, forçar as pessoas a fazerem mais teleconferências.

– Não quero prejudicar seu departamento – disse Liam. – O que você faz é importante para o ANS e para a comunidade. Mas precisamos de um meio-termo. Todos 6

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precisam conter os gastos. Não apenas você. Vou fazer tudo o que puder para levar esta rede de volta ao topo, mas preciso do apoio de todos.

Francesca ouvia a sinceridade nas palavras dele. Liam se importava mesmo com a empresa e com seus funcionários. Ela poderia convencê-lo a enxergar a realidade eventualmente. Seria necessário tempo e talvez um pouco mais de delicadeza do que ela usara com Graham, mas ao menos Liam parecia razoável.

– Certo.

Eles ficaram em silêncio por um instante, antes de Liam começar a tirar o paletó de seu terno preto. Jogou a cara peça no chão, fazendo o mesmo com a gravata de seda.

Desabotoou a gola e inspirou fundo.

– Estou feliz por termos conseguido uma trégua, porque está quente demais aqui dentro para continuar brigando. Claro que isto tinha que acontecer num dos dias mais quentes do ano.

Ele tinha razão. O ar-condicionado estava desligado, e fazia mais de 32 graus, algo incomum para o início de maio.

Seguindo o exemplo dele, Francesca tirou seu blazer, ficando de blusa de seda preta e saia.

Tirando os sapatos de salto, ela estendeu o blazer no chão e se sentou sobre ele.

Se eles iam passar algum tempo presos ali, ela preferiria ficar confortável.

– Isso podia ter acontecido depois do almoço.

Francesca entendia exatamente o que ele queria dizer. Ela não comia desde aquela manhã. Normalmente, almoçava tarde. Sendo assim, por sorte, estava com alguns petiscos em sua bolsa.

Usando a luz do celular, ela encontrou uma barra de granola, um pacote de biscoitos e uma garrafa de água.

– Trouxe alguns lanches. A questão é se comemos agora ou se os guardamos para mais tarde. Podemos ficar horas aqui, se for um apagão geral.

– Agora. Sem dúvida agora.

– Você não duraria dez minutos num daqueles reality shows de sobrevivência.

– É por isso que eu os produzo, não participo deles. O que você tem?

– Uma barra de granola e biscoitos italianos. Podemos dividir a água.

– O que você prefere?

– Gosto dos biscoitos. São do tipo que a minha avó costumava me dar no café da manhã. Na Itália, eles não comem ovos ou carne no café, como os americanos. Era uma das melhores coisas de visitá-la: bolo e biscoitos no café.

Liam sorriu, e Francesca percebeu que era a primeira vez que ela o via sorrir. Uma pena. Ele tinha um sorriso tão bonito! Parecia mais natural que a expressão séria dele, como se fosse um homem mais do tipo relaxado e despreocupado. A pressão de ter comprado o ANS o devia estar afetando. Ele falara muito sério naquela manhã, e o comportamento dela certamente não ajudara.

Agora ele estava estressado, com fome e irritado por estar preso num elevador.

Francesca ficou feliz por fazê-lo sorrir. Ela fez uma anotação mental para tentar ser mais cordial no futuro.

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– Bolo no café da manhã parece algo ótimo. Assim como verões na Itália. Quando terminei o colégio, passei uma semana em Roma, mas foi só isso. Não visitei muito além dos lugares mais importantes, como o Coliseu e o Parthenon. – Ele olhou para as embalagens na mão dela. – Vou ficar com a barra de granola, já que você prefere os biscoitos. Obrigado por dividir.

– É melhor do que ouvir seu estômago roncar durante uma hora. – Ela jogou a barra para ele e deu um conservador gole na garrafa de água.

Antes mesmo de Francesca pôr o primeiro biscoito na boca, Liam já terminara seu lanche. Ela riu enquanto comia, percebendo que ele a olhava como um tigre faminto, então jogou delicadamente o pacote para ele.

– Tome – disse ela. – Não aguento você me olhando assim.

– Tem certeza?

– Sim. Mas você vai ficar em dívida comigo.

– Certo – disse ele, pondo o primeiro de vários biscoitos na boca.

Francesca imaginou que seria necessária muita comida para manter um homem do tamanho de Liam satisfeito. Ele tinha mais de 1,80m, uma constituição sólida, mas era mais do tipo esbelto, como se fosse um corredor. Ela o imaginou correndo de short. Sem camisa. O suor descendo pelos músculos rígidos de seu peito.

Falando em suor… ela já sentia as gotas em sua testa. Sentia-se pegajosa, mas não havia mais muito a tirar, a menos que ela planejasse se tornar muito mais íntima de Liam do que o pretendido.

Se bem que isso não seria tão ruim assim…

Fazia algum tempo desde a última vez que Francesca saíra com alguém. Sua carreira a mantinha ocupada, mas ela sempre ficava de olhos abertos para as possibilidades. Havia bastante tempo que não surgia nada que valesse a pena.

Recentemente, porém, todas as amigas dela pareciam estar comprometidas. E ela temia ser a última.

Não que Liam Crowe fosse do tipo de homem afeito a compromisso. Ele era simplesmente sexy, algo para um caso passageiro. Ela normalmente não se entregava ao prazer sem potencial. Contudo, ao ver aqueles largos ombros forçando a camisa dele, percebeu que talvez fosse justamente de algo como ele que ela precisava. Algo para aliviar a pressão e lhe dar forças para esperar “o certo”.

Francesca prendeu seu cabelo com uma presilha. Aquilo ajudou, mas apenas por um momento. Sua justa saia parecia uma pesada e molhada manta sobre suas pernas. E sua blusa, ainda que folgada, estava começando a ficar úmida e a colar em sua pele.

Se eles não saíssem logo daquele elevador, algo iria precisar sair. Bebendo outro gole de água, ela apoiou a cabeça na parede e se considerou sortuda por, ao menos, estar usando um conjunto íntimo bonito. Tinha a sensação de que Liam gostaria disso.

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CAPÍTULO DOIS

– Deus do céu, como está quente! – exclamou Liam, ficando de pé. Sentia-se abafado por sua camisa. Ele abriu os botões da frente e a tirou com um suspiro de alívio.

– Desculpe se isso deixa você desconfortável, mas preciso fazer.

Francesca estava sentada em silêncio, no canto, e mal o ouviu, ainda que ele a tivesse visto abrir os olhos levemente para vê-lo sem camisa. Um instante depois, ela desviou o olhar, mas aquilo foi suficiente para mostrar a ele que ela estava curiosa.

Interessante.

Ele vira um lado diferente dela nas últimas duas horas. Já a compreendia melhor, entendia o que era importante para ela. Com sorte, ao saírem daquele elevador, eles poderiam trabalhar juntos sem animosidade. E talvez pudessem ser algo mais. Depois que ela parara de gritar, Liam gostara dela. Talvez mais do que deveria, considerando-se que ela trabalhava para ele.

– Francesca, tire logo essa roupa. Sei que você está morrendo de calor.

Ela balançou a cabeça determinadamente, mas ele via as gotas de suor escorrendo para o vale entre os seios dela.

– Não, estou bem.

– Não está nada. Está tão mal quanto eu. Essa blusa que você está usando parece cobrir o suficiente para proteger a sua honra. A saia está totalmente grudada. Tire. É sério. Daqui a dez minutos, vou tirar a calça. Então acho melhor você largar de vez o que resta de modéstia entre nós.

Francesca arregalou os olhos.

– A calça? – perguntou engolindo em seco. Seu olhar desceu pelo peito nu dele, para o cinto e mais abaixo.

– Sim. Está um forno aqui. Você não precisa olhar para mim, mas eu preciso fazer isso. Acho melhor você também fazer.

Com um suspiro de resignação, Francesca se levantou e começou a mexer no fecho atrás de sua saia.

– Não consigo abrir o fecho. Ele trava às vezes.

– Eu ajudo. – Francesca se virou de costas para ele, e Liam se agachou ao lado dela para ver melhor o zíper. Ali, tão perto, ele conseguia sentir o perfume da pele quente dela misturado à leve fragrância de rosas. Ele o inspirou. Era inebriante.

Liam segurou os dois lados do fecho, ignorando a excitação que o dominou quando as pontas de seus dedos roçaram na pele nua debaixo dela. Com alguns firmes puxões e torcidas, ele a soltou. Ele segurou o zíper e o baixou alguns centímetros, deleitando-se com a parte de trás da calcinha de cetim vermelho que ela usava.

– Pronto – disse ele com os dentes cerrados, levantando-se e se afastando antes que fizesse algo idiota, como tocá-la mais do que o necessário.

– Obrigada – agradeceu ela delicadamente, seus olhos observando-o enquanto ela voltava para seu canto.

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Quando Francesca começou a baixar a saia pelos quadris, Liam se virou de costas, ainda que fosse necessária toda a sua força de vontade. Ela era tudo de que ele gostava numa mulher. Espirituosa. Exótica. Voluptuosa. E, por baixo de tudo, tinha uma alma caridosa. Não era uma daquelas mulheres ricas que se envolviam com ações beneficentes por não ter nada melhor para fazer. Francesca se importava de verdade.

– Grazie, signore – disse ela com um suspiro. – Está mesmo melhor assim.

Pelo canto do olho, ele a viu se acomodar novamente no chão.

Liam se virou. Ela baixara a blusa para cobrir praticamente até o alto das coxas, mas agora havia um pedaço do sutiã vermelho à mostra. Com as curvas dela, seria difícil manter tudo coberto.

– Acho melhor você tirar logo a calça.

Liam riu e balançou a cabeça.

– Provavelmente, essa não é uma boa ideia no momento.

A testa dela se enrugou, confusa.

– Por que… – começou, mas parou. – Ah. Liam fechou os olhos e tentou conter mentalmente sua ereção, mas tudo o que lhe vinha à cabeça eram imagens daquela calcinha vermelha.

– Esse é o desafio de ficar preso num espaço pequeno com uma mulher bonita e seminua.

– Você me acha bonita?

– Sim. – Eu não esperava por essa.

– Por que não? Acho que, para um homem não achar você desejável, ele não pode ter sangue correndo nas veias.

– Fui criada em Beverly Hills – disse ela, dando de ombros. – Não estou dizendo que nunca namorei na escola, mas os garotos davam preferência às loiras bronzeadas com piercing no umbigo e corpos de meninos de 12 anos. Ao menos até elas completarem 18 anos e conseguir dinheiro suficiente para comprar um belo par de seios.

– As pessoas de Hollywood são loucas. Não tinha nada nem remotamente erótico em mim quando tinha 12 anos. Em você, por outro lado… – Liam balançou a cabeça.

Seus pensamentos nas delicadas curvas dela contra suas mãos faziam sua pele formigar de expectativa. Ele cerrou os punhos. – Preciso de todas as minhas forças para não tocar em você quando a vejo assim.

Houve um longo silêncio. Então a voz dela soou novamente: – Por que não toca?

O maxilar de Liam se contraiu, junto com todo o corpo, enquanto tentava conter o crescente desejo por ela.

– Achei que não fosse uma boa ideia. Sou seu chefe. Precisamos trabalhar juntos.

As coisas ficariam estranhas. Não ficariam?

Por favor, diga que não.

– Acho que não – disse ela ficando de joelhos lentamente. – Nós dois somos adultos. Sabemos o que isto é e o que significa. – Francesca engatinhou lentamente pelo

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chão do elevador, parando diante dele. As mãos dela foram para a fivela do cinto de Liam, enquanto ela o olhava. – O que acontece no elevador não sai do elevador, certo?

Liam não sabia o que dizer. Mal conseguia formar palavras ao ver as mãos dela abrindo seu cinto e o zíper da calça. Mas ele não a impediu. Ah, não. Desejava-a demais para permitir que o bom senso interferisse. Além do mais, eles precisavam passar o tempo, certo?

A calça dele deslizou para o chão, e Liam tirou os sapatos, chutando tudo para longe. Agachando para ficar na altura dela, ele tirou a blusa de Francesca. Ela soltou o cabelo, fazendo as pesadas e sedosas mechas pretas caírem em torno de seus ombros.

Ver o corpo dela coberto apenas pela roupa íntima vermelha foi como um soco no estômago dele. Francesca era uma das mulheres mais sexies que ele já vira… e estava praticamente nua, ajoelhada diante dele.

Incapaz de se conter, ele se curvou para beijá-la. Eles colidiram, num encontro de lábios e pele nua. Francesca envolveu o pescoço dele com os braços, pondo seu corpo junto ao de Liam. Seus seios pressionaram urgentemente contra a rígida muralha do peito dele.

O contato foi elétrico. Liam quis devorá-la, sua língua invadindo a boca de Francesca e exigindo tudo o que ela poderia lhe dar. Ela agiu da mesma forma, cravando as unhas freneticamente nas costas dele.

Liam envolveu as costas dela com o braço e a baixou lentamente para o chão.

Encontrou rapidamente o local entre as coxas dela, mergulhando para dar atenção aos seios que quase saltavam do sutiã. Não demorou muito para que ele deslizasse as alças dos ombros dela, baixando o sutiã até a cintura. Suas mãos se moveram rapidamente para ocupar o lugar da peça. Ele provocou os mamilos, transformando-os em firmes picos antes de capturar um deles na boca.

Francesca gemeu e se arqueou na direção dele, seus dedos adentrando o farto cabelo castanho ondulado dele. Puxou Liam de volta para sua boca e o beijou novamente.

Quando Liam sentiu os dedos dela deslizando por seu abdômen, passando por baixo da cintura de sua cueca e envolvendo a pulsante extensão de sua ereção, ele deixou todo o resto de lado.

Francesca não sabia ao certo o que dera nela, mas estava desfrutando de cada minuto daquele despudorado arroubo. Havia algo especial em Liam. Claro, ele era lindo e rico, mas ela já vira vários homens assim em Washington, D.C. Havia algo na intensidade dele, na maneira como ele estava lidando com a empresa e até na maneira como estava lidando com ela. Ela vinha resistindo à atração por ele desde que o vira pela primeira vez.

Então ele tirara a camisa para revelar um peito largo e um abdômen esculpido cobertos por alguns pelos, e ela perdera todos os motivos para resistir.

Quando ele lhe dissera que ela era bonita, uma parte dela a urgira a aproveitar a inesperada oportunidade. A ceder à atração, por mais inadequada que fosse, e criar uma sensual lembrança daquela louca tarde.

Ela continuava querendo um relacionamento sólido e duradouro, como o de seus pais, casados havia 30 anos. Contudo, ter um divertido encontro sexual num elevador se encaixava numa categoria totalmente diferente. Liam jamais teria um relacionamento

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sério, e ela sabia disso. Sendo assim, não havia mal nenhum. Aquilo era uma liberação.

Um jeito divertido de passar o tempo até a energia voltar.

– Quero tanto você – sussurrou ele. Passou a mão pela curva da cintura dela, descendo para o quadril, onde segurou a mão dela e a afastou. – Se continuar fazendo isso, não vou ter oportunidade de fazer tudo o que quero com você.

Uma maldosa ideia passou pela mente dela. Com a outra mão, Francesca pegou a garrafa de água.

– Vou esfriar você então – disse ela derramando o que restava no alto da cabeça dele. A água fria encharcou o cabelo dele, descendo por seu rosto, pelo pescoço, para cair sobre a pele nua dela. Foi refrescante e divertido, fazendo Francesca se arrepiar.

– Isso foi bom – disse Liam, passando a mão por seu cabelo molhado enquanto usava a outra para se apoiar. – Mas não quero desperdiçar a água. – Ele baixou a cabeça para lamber as gotas do peito dela, passando novamente a língua pelos mamilos de Francesca, fazendo-a latejar na expectativa.

Os dedos dele buscaram a borda da calcinha dela, deslizando por baixo. Um deles abriu o ponto mais sensível dela, acariciando-a delicadamente. Francesca não conseguiu conter o gemido de prazer. Quando ele deslizou o dedo ainda mais para dentro do corpo dela, ela quase perdeu o controle.

– Liam – sussurrou ela, mas ele não parou. Seus dedos se moveram de forma mais frenética, mergulhando e levando Francesca ao clímax.

Ela gritou, seus gemidos de prazer ecoando pelas paredes do pequeno elevador.

Os quadris dela se curvaram contra a mão dele, todo o seu corpo estremecendo com a sensação que a dominava.

Ela sequer tinha conseguido recuperar o fôlego, quando, subitamente, ouviu-se um barulho metálico. O silêncio foi interrompido pelo som dos motores e das unidades de ventilação sendo ligados, e as luzes se acenderam novamente.

– Só pode ser brincadeira – grunhiu Liam.

Então, com ele ainda entre as coxas dela e as roupas espalhadas pelo chão, o elevador começou a descer. Francesca olhou rapidamente para a tela na parede. Eles estavam no 33º andar.

– Ah, não – disse ela empurrando freneticamente o peito dele até que Liam recuasse.

Ela ficou de pé, vestindo a saia e pondo o sutiã de volta no lugar. Não se deu o trabalho de pôr a camisa para dentro da saia, mas vestiu o blazer. Liam fez o mesmo, vestindo a calça e a camisa. Enfiou a gravata no bolso da calça e pendurou o paletó no braço.

Quando o elevador chegou ao primeiro andar e as portas se abriram, Francesca e Liam já estavam totalmente vestidos, ainda que um pouco desgrenhados.

Eles saíram para o saguão, onde os engenheiros e seguranças do edifício os aguardavam.

– Você dois estão… – começou a perguntar um dos homens, parando ao ver o estado deles – bem?

Liam olhou para Francesca, e ela sentiu suas faces corando de vergonha.

– Estamos – respondeu ele. – Só com calor, com fome e felizes por finalmente sairmos dali. O que aconteceu?

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– Não sei bem. Toda a ilha ficou sem energia. Pode ter sido o calor, com tanta gente ligando o ar-condicionado ao mesmo tempo. Vocês têm certeza de que não podemos fazer nada por vocês? Três horas ali dentro deve ter sido um inferno.

– Estou bem – insistiu Francesca. A expressão do engenheiro a despertara de seu torpor apaixonado. Ela quase fizera sexo com seu chefe. Seu novo chefe. No primeiro dia dele, depois de terem passado a manhã brigando como gato e rato.

Agora tudo o que ela queria era pegar um táxi e voltar para seu hotel. Assim poderia trocar de roupa e tomar banho para tirar o cheiro de Liam de sua pele.

– Só preciso que alguém chame um táxi para me levar de volta ao hotel.

O engenheiro chamou um dos porteiros.

– Claro. Pode demorar um pouco, porque os semáforos estavam apagados e está tudo engarrafado há horas.

Sem olhar para Liam, Francesca foi para a porta, saindo para esperar o carro na calçada.

– Que hora para sermos interrompidos – disse Liam por cima do ombro dela, depois de segui-la até o lado de fora.

– O destino tem um jeito estranho de impedir que você faça o que não devia fazer.

Liam estava do lado dela, mas Francesca não queria se virar para olhá-lo. Não conseguia. Seus joelhos ficariam fracos, e sua determinação de ir embora amoleceria.

– Prefiro pensar nisso como uma breve interrupção. Para aumentar a expectativa para depois. Aonde você vai?

– Aonde eu estava indo antes de o dia enlouquecer: de volta ao hotel. Tomar banho e trabalhar. Sozinha.

– Tem planos para o jantar?

– Tenho sim. – Ela não tinha. Mas sair para jantar com Liam a poria novamente na mesma tentadora situação. Ela cedera à tentação uma vez e fora salva de sua péssima decisão. Não faria aquilo novamente.

Liam a observou durante um minuto. Francesca sentiu os olhos dele a analisando, mas manteve os seus nos carros que passavam.

– Você disse que as coisas não ficariam estranhas. Que o que acontecesse no elevador não sairia de lá.

Francesca finalmente se virou para ele. Tentou não olhar diretamente nos olhos azul-safira que a observavam.

– Exatamente. Não vai sair. É por isso que não quero jantar com você. Deixamos o elevador para trás, e a oportunidade veio e passou. Aprecie o momento pelo que foi.

– Foi inacabado. Quero mudar isso.

– Nem todos os projetos são concluídos. – Francesca viu um táxi parar no meio-fio.

Felizmente, estava livre.

– Vamos, Francesca. Deixe que eu leve você para jantar hoje. Nem que seja para agradecer pela barra de granola. Como amigos. Você está em dívida comigo, lembra?

Francesca não acreditou naquela baboseira de amizade. Eles jantariam, tomariam um caro vinho em algum lugar caro, e, antes que ela se desse conta, estaria nua novamente. Por mais que ela gostasse de Liam, precisava se manter objetiva com ele.

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Ele era o novo proprietário do ANS, e ela não podia deixar que pensamentos improdutivos a respeito dele a atrapalhassem. Eles tinham chegado a uma trégua, mas não tinham resolvido totalmente suas divergências com relação ao orçamento dela e o futuro da empresa.

O porteiro abriu a porta do táxi para ela.

– Espere – chamou Liam, chegando novamente ao lado dela. – Se você vai me largar assim, podia ao menos me dizer do que você me chamou hoje na reunião.

Francesca sorriu.

– Certo – aceitou ela. Entrou no táxi e baixou o vidro. – Chamei você de figlio di un allevatore de maiali. Isso significa “filho de um criador de porcos”. Não tem o mesmo impacto que tem em italiano.

Liam franziu o cenho e recuou. A distância a incomodou, apesar de terem sido as próprias palavras dela que o tinham afastado.

– Eu diria que tem o suficiente.

Francesca ignorou o tom ligeiramente ofendido da voz dele. Ele não faria com que ela se sentisse culpada. Merecera ser xingado naquele momento.

– Tem uma boa-noite, sr. Crowe – disse ela antes de o táxi desaparecer em meio ao trânsito.

CAPÍTULO TRÊS

Liam acabara de sair do chuveiro, quando ouviu seu celular tocando.

Ele enrolou a toalha na cintura e correu para o quarto. As palavras “Rainha Beatrice” piscavam na tela. Beatrice, a tia-avó dele, não acharia nada divertido se descobrisse como o resto da família a chamava.

Com um suspiro, ele atendeu.

– Alô?

– Liam – respondeu a tia dele, com seu arrogante sotaque do Upper East Side. – Está tudo bem com você? Fiquei sabendo que você ficou preso num elevador a tarde inteira.

– Estou bem. Só com fome, mas já vou…

– Excelente. Sendo assim, você jantará comigo. Há um importante assunto que preciso discutir com você.

Liam conteve um grunhido. Detestava comer na casa de tia Beatrice. Em geral, por ter que ouvi-la falar sem parar sobre a família e a irresponsabilidade de todos. Porém, ainda assim, ela gostava mais dos outros parentes do que de Liam, pois todos a bajulavam. E isso era algo muito inteligente. Ela era dona de uma fortuna de mais de 2 bilhões de dólares e não tinha filhos para herdá-la. Todos estavam querendo uma fatia.

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Todos menos Liam. Ele era educado e distante. Não precisava do dinheiro dela. Ao menos não precisara até surgir a possibilidade de compra do ANS, sem que ele tivesse ativo líquido suficiente para comprar rapidamente ações majoritárias. Havia outras pessoas interessadas na empresa, incluindo sanguessugas como Ron Wheeler, especialista em destruir empresas para lucrar. Para agir rápido, Liam precisara engolir seu orgulho e pedir a sua tia para que investisse nas ações restantes do ANS que ele não conseguira comprar. Juntos, eles tinham participação controladora na empresa, e, ao ceder seu poder de voto para ele, tia Beatrice pusera Liam no comando.

Ele tinha total intenção de comprar a parte dela, mas demoraria até poder fazer isso. Então, finalmente, tia Beatrice tinha algo com o que manipulá-lo.

– O jantar é às 18h – disse ela.

– Sim, tia Beatrice. Vejo você às 18h.

Depois que ele desligou, olhou para o relógio e percebeu que não lhe restava muito tempo para chegar até a mansão dela na hora do rush. Seria melhor ir a pé.

Talvez tivesse sido melhor que Francesca tivesse recusado o convite para jantar.

Assim ele não precisaria cancelar. Aquilo teria sido terrivelmente difícil.

Ele escolheu um terno cinza com uma camisa social roxoclaro, sem gravata. Liam detestava gravatas e as usava apenas quando era absolutamente necessário.

E, sabendo que isso irritaria tia Beatrice, ele optou por não usar uma. Ela gostava que todos se vestissem de maneira formal para o jantar. Era o adequado. Deixar de lado a gravata seria uma rebeldia pequena, mas perceptível. Liam não queria que ela achasse que tinha controle total sobre ele.

Ele só foi se lembrar de que ela falara de um assunto importante a ser discutido quando tocou a campainha. Mal conseguia imaginar o que poderia ser, mas esperava sinceramente que não envolvesse um pedido para que ele saísse com a filha de alguém.

Tia Beatrice era determinada em sua missão de fazer Liam se casar e ter uma família.

– Boa noite, sr. Crowe – disse o velho mordomo dela, Henry, ao abrir a porta.

Henry passara a vida de Liam inteira trabalhando para a tia dele, e um pouco mais.

O homem já tinha mais de 70 anos, mas continuava ágil como nunca.

– Boa noite, Henry. Como ela está hoje? – perguntou Liam, curvando-se para perto do homem e baixando a voz.

– Ela andou encucada com algo a tarde inteira, senhor. Deu vários telefonemas depois que a energia voltou.

Liam franziu o cenho.

– Alguma ideia do que seja?

– Não. Mas imagino que envolva o senhor, pois foi o único convidado para jantar aqui esta noite.

Aquilo era estranho. Geralmente, tia Beatrice convidava ao menos dois parentes.

Quando todos os outros familiares da geração dela haviam morrido, ela assumira como matriarca.

Henry o levou até a sala de jantar formal. Tia Beatrice já estava em seu lugar, na ponta da comprida mesa de carvalho, com a aparência nobre de sempre. Seu cabelo grisalho estava perfeitamente enrolado, seu vestido de chiffon cor-de-rosa, complementado perfeitamente pelo colar e pelos brincos de safira rosa. Ela não sorriu quando

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ele entrou. Em vez disso, avaliou-o da cabeça aos pés, contraindo os lábios ao perceber que Liam não estava de gravata.

– Boa noite, tia Beatrice – cumprimentou ele com um largo sorriso para combater a expressão fechada dela. Deu-lhe um beijo no rosto antes de se sentar no lugar à direita dela.

– Liam – disse ela, recebendo-o sem nenhuma ternura. Era por isso que ele sempre a considerara uma rainha. Rígida, formal, adequada. Não conseguia imaginar o que ela teria se tornado se tivesse se casado e tido filhos. Filhos exigiriam risadas e sujeira, duas coisas impensáveis naquela casa.

Henry serviu uma taça de vinho para cada um deles e voltou à cozinha para pegar o primeiro prato. Liam detestava ver o velho servindo-o. Ele devia estar numa poltrona, vendo televisão e desfrutando da aposentadoria, não servindo refeições para pessoas privilegiadas capazes de fazer aquilo por conta própria. O homem nunca se casara. Não tinha vida própria fora daquela mansão.

– Quando vai permitir que Henry se aposente? – perguntou ele. – O coitado merece uma folga antes que caia morto na sua sala.

Tia Beatrice se irritou com a sugestão.

– Ele adora ficar aqui. Jamais pensaria em me deixar. E, além do mais, Henry nunca morreria na sala. Ele sabe como aquele tapete é caro.

Liam suspirou e deixou o assunto de lado. Henry pôs tigelas de sopa diante dos dois e se retirou novamente.

– Então, o que temos a discutir hoje? – Era melhor acabar com aquilo de uma vez.

– Recebi um telefonema hoje de um homem chamado Ron Wheeler.

Liam enrijeceu. Ron Wheeler costumava comprar empresas com dificuldades, demitir metade dos funcionários e acabar com os benefícios dos que permaneciam. Em seguida, dividia a empresa em fatias menores e as vendia por um preço maior que o todo.

Ninguém gostava de ouvir o nome dele.

– E o que ele tinha a dizer?

– Ele ficou sabendo que comprei uma grande parte das ações do ANS de Graham Boyle. Fez uma proposta extremamente generosa para comprá-las de mim.

– Tia Beatrice, sua carteira de ações é maior que a minha. Se vender para ele, ele vai se tornar acionista majoritário da empresa. A rede vai ficar em risco.

Ela assentiu.

– Sei disso. E sei como a empresa é importante para você. Mas também quero que você saiba como a família é importante para mim. Não vou viver para sempre, Liam. A família precisa de alguém forte e inteligente para comandá-la. É desnecessário dizer que a maioria de nossos parentes é composta por idiotas. Minhas duas irmãs nunca tiveram bom senso, nem os filhos dela. Meu pai também sabia disso, e foi por esse motivo que ele deixou a maior parte do dinheiro da família para mim e para seu avô. Ele sabia que todos iriam à falência sem alguém sensato no comando.

– Por que está me dizendo isso? O que isso tem a ver com Ron Wheeler?

– Porque acho que você é a pessoa certa para comandar a família depois que eu partir.

– Não fale assim. Você ainda tem muitos anos de vida.

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Os olhos azuis dela se fixaram nele, um inesperado toque de emoção lampejando neles por um efêmero segundo antes de ela descartar aquela declaração.

– Todos morrem, Liam. É melhor estar preparada para isso. Quero que você assuma meu lugar e seja o patriarca da família. Assim você herdaria tudo o que é meu e atuaria como detentor dos investimentos da família.

Liam empalideceu. Não queria aquela responsabilidade. Dois bilhões de dólares e uma família cheia de bajuladores gananciosos perseguindo-o?

– Não quero seu dinheiro, tia Beatrice. Você sabe disso.

– Exatamente. Mas sei o que quer de fato. O ANS. E, enquanto eu tiver minhas ações, você não o terá de verdade. Posso vendê-las a qualquer momento para Ron Wheeler ou qualquer outra pessoa que me faça uma boa proposta.

Liam deu um grande gole no vinho para acalmar seus nervos. Tia Beatrice nunca o chantageara com nada. Não podia, pois, até então, ele não precisara dela ou do dinheiro dela, e ela sabia disso. Contudo, ele cometera um erro crítico. Jamais devia ter feito aquele acordo com ela pelas ações.

– Por que você faria isso? Eu disse que ia comprar suas ações pelo preço que você tinha pagado ou pelos valores corrigidos se eles aumentarem.

– Porque quero que você se estabeleça. Não posso permitir que você comande essa família brincando de jornalista e correndo atrás de mulheres por D.C. Quero que se case. Fique estável. Pronto para liderar a família Crowe.

– Só tenho 28 anos.

– A idade perfeita. Seu pai se casou aos 28, assim como seu avô. Você já se formou, está bem de vida. Será um prêmio para qualquer mulher de sorte que escolher.

– Tia Beatrice, não estou pronto para…

– Você se casará em menos de um ano – disse ela, seu tom sério como um decreto real que ele não ousava contrariar. – No seu primeiro aniversário de casamento, como presente, eu lhe darei minhas ações do ANS e porei você como meu único herdeiro.

Assim ficará tranquilo, sabendo que sua rede está em segurança, e eu saberei que a família será bem cuidada quando eu partir.

– Não pode me forçar a me casar.

– Tem razão. Você é adulto e toma as próprias decisões. Sendo assim, a escolha é totalmente sua. Ou se casa e recebe a empresa que tanto quer e mais dinheiro do que a maioria das pessoas sonha ter… ou não faz nada disso, e eu vendo minhas ações para Ron Wheeler. Uma escolha difícil, eu compreendo. – Ao dizer aquilo, ela retornou à sua sopa, como se eles estivessem discutindo o tempo lá fora.

Liam não sabia o que dizer. Não estava acostumado a ter alguém mandando em sua vida. Contudo, ele próprio criara aquela vulnerabilidade que ela vinha esperando para explorar.

– Se você não conhece nenhuma moça adequada, posso fazer algumas recomendações.

– Acho que consigo me virar com essa parte, obrigado. Venho saindo com uma pessoa – disse ele rapidamente, torcendo para que ela não pedisse mais detalhes sobre a mulher fictícia.

Tia Beatrice deixou de lado o tom amargurado em sua voz.

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– Então é hora de tornar as coisas mais sérias. Lembre-se, a contar de hoje, você tem um ano para se casar. Mas, se eu fosse você, não demoraria. Quanto mais cedo você se casar, mais cedo o ANS será seu.

Francesca evitara deliberadamente Liam desde que eles tinham retornado a D.C., mas não tinha mais como adiar uma conversa com ele. Precisava saber se eles patrocinariam o Baile da Juventude em Crise ou não. Faltava uma semana e meia. Já era tarde demais para recusar, mas, se ele fosse insistir na ideia de que não patrocinariam, ela precisava saber imediatamente.

Ela acenou ao passar pela mesa da assistente dele.

– Boa tarde, Jessica.

– Acho melhor você não entrar aí.

– Por quê?

– Ele está de mau humor desde que voltamos de Nova York. Não sei bem o que aconteceu. Algo na família, eu acho.

– Estão todos bem?

– Ele não me pediu para mandar flores para ninguém. Então imagino que sim. Mas não está atendendo ligações. Passou a manhã inteira sentado à mesa, folheando a agenda telefônica e resmungando.

Interessante.

– Bem, detesto fazer isso, mas preciso falar com ele.

– Como quiser. – Jessica apertou o botão do telefone. – Sr. Crowe, a srta. Orr está aqui para vê-lo.

– Agora não – berrou a voz dele na linha. Então depois de uma rápida pausa: – Esqueça. Pode mandá-la entrar.

Jessica deu de ombros.

– Não entendi nada, mas pode entrar.

Francesca inspirou fundo antes de abrir a porta. Estava com seu terno mais impressionante e se sentia confiante de que sairia do escritório dele com o que queria. O paletó e a calça verde-esmeralda eram deslumbrantes e benfeitos. O cabelo preto dela estava preso num coque, e ela estava com um lenço de seda em torno do pescoço. Não apenas se sentia bem com aquela roupa, mas também bastante coberta. Liam já vira demais o corpo dela.

Ao entrar, ela viu Liam sentado à mesa, exatamente como Jessica dissera. Ele fechou a agenda.

– Bom dia, srta. Orr. – A voz dele estava muito mais formal e educada do que da última vez. Claro, naquela ocasião, eles tinham ficado nus juntos.

– Sr. Crowe. Queria falar sobre o Baile da Juventude em Crise. Não temos muito tempo para…

– Sente-se, Francesca.

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Ela parou, surpresa com a interrupção. Sem saber o que fazer, foi se sentar na cadeira diante da mesa dele. Antes que ela pudesse fazer isso, ele se levantou e apontou para uma área menos formal, do outro lado do escritório.

– Aqui, por favor. Não gosto de falar com as pessoas do outro lado da mesa. É estranho.

Francesca se sentou na fofa poltrona de couro cinza que ele indicara. Atenta, viu Liam ir até o frigobar.

– Quer algo para beber?

– Não bebo no trabalho.

Liam se virou para ela de cenho franzido e uma garrafa de refrigerante na mão.

– Nada? Só tenho água e refrigerante. Também não bebo no trabalho, apesar da minha vontade de estar totalmente entorpecido pela bebida neste momento. – Ele pegou uma garrafa de água e entregou a ela. – Para compensar a que nós… usamos no elevador.

Francesca estendeu a mão para a garrafa, mas ficou paralisada com a lembrança da água se derramando sobre a cabeça dele, caindo no peito nu dela. Droga, ele dissera aquilo de propósito, para abalá-la. Recompondo-se, ela pegou a garrafa e a pôs sobre uma mesa de centro.

Liam se sentou num sofá próximo, com sua garrafa de refrigerante.

– Tenho uma proposta para você.

– Já disse que eu não estou interessada em jantar.

– Não estou pedindo que jante comigo. Estou pedindo que se case comigo.

Francesca ficou imediatamente ereta na poltrona e o olhou fixamente.

– Casar com você? Ficou louco?

– Shhh… – disse ele, pondo sua bebida sobre a mesa. – Não quero que ninguém ouça nossa discussão. É muito importante. E estou falando sério. Quero que você seja minha noiva. Ao menos por alguns meses.

– Por que eu? O que está havendo?

Liam suspirou.

– Acabei ficando numa posição vulnerável para comprar a empresa. Não tinha dinheiro para todas as ações de Graham Boyle. Por isso, quem tem a maior parte do ANS é minha tia, não eu. Ela está ameaçando vender para Ron Wheeler se eu não me casar daqui a, no máximo, um ano.

Ron Wheeler. Aquele era um nome que fazia o sangue dela gelar. Ele não dava a mínima para caridade. Francesca, sua equipe e todo o departamento seriam demitidos assim que a venda fosse concluída. E seriam apenas os primeiros a sair.

– Por que ela faria isso?

– Ela quer que eu me case, que eu me estabeleça. Quer que eu seja o patriarca forte da família quando ela morrer e acha que minha vida de playboy não é adequada. Na verdade, acho que ela está blefando. Estou torcendo para que, se eu ficar noivo, isso seja suficiente para satisfazê-la. Enquanto isso, vou trabalhar com meu contador e assessor financeiro para ver se consigo uma linha de crédito para comprar a parte dela. Não espero que nós precisemos nos casar de verdade.

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– Espero mesmo que não – disparou ela. Francesca tinha uma firme ideia do que constituía um bom casamento, e chantagem não era o começo ideal. – Você não tem mais ninguém a quem pedir? Nós nos conhecemos há menos de uma semana.

– Já olhei todas as mulheres da minha agenda, e não tem nenhuma candidata adequada. Todas elas veriam nisso uma oportunidade romântica, não um acordo de negócios. É por isso que você é a escolha ideal.

Um acordo de negócios? Exatamente o que toda mulher queria ouvir.

– Então, se é só um acordo de negócio para você, isso significa que não tem intenção de me levar para a cama, certo?

Liam se aproximou dela, e um malicioso sorriso se espalhou por seu rosto.

– Eu não disse isso, mas, na realidade, essa não é a prioridade. Estou pedindo isso a você por vários motivos. Primeiro, gosto de você. Passar tempo com você não deve ser difícil. Minha tia vai esperar que o relacionamento pareça autêntico e vai descobrir a verdade se achar que estamos fingindo. Depois dos nossos momentos no elevador, acho que temos química suficiente para tornar a coisa realista. E segundo, sei que posso contar com você, porque você quer algo de mim.

– O Baile da Juventude em Crise?

Ele assentiu.

– Se Ron Wheeler assumir o comando desta empresa, tudo pelo que você trabalhou vai ser destruído. A única coisa que posso fazer para proteger a empresa e os funcionários é ficar noivo o mais rapidamente possível. Pela sua ajuda, ofereço apoio financeiro total do ANS ao Baile Beneficente da Juventude em Crise. Até me comprometo a fazer a maior doação particular com meu dinheiro. Vejo isso como um investimento no futuro da rede. E tudo o que você precisa fazer é pôr um lindo anel de diamante no dedo e tolerar minha companhia até a minha tia desistir.

Parecia um trato com o diabo, e devia haver algum “porém”.

– Você disse que precisaria parecer autêntico. Defina autêntico.

– Ninguém vai nos ver dentro do quarto, Francesca, e não vou fazer nada que você não queira. Mas tudo o que pudermos fazer para convencer as pessoas de que somos um casal apaixonado vai ajudar.

Ela balançou a cabeça e baixou o olhar para o colo. Aquilo era tão repentino. A ideia de ser noiva de Liam, ainda que apenas temporariamente, não era tão ruim. Ela estaria mentindo se dissesse que não pensava nos momentos deles no elevador todas as noites, na cama, sozinha. Mas noiva dele? Publicamente? O que ela diria à sua família?

Não poderia contar a verdade. E aos seus amigos? Ela precisaria mentir para todos.

A alternativa, contudo, era impensável. Ela se importava demais com o ANS e seus funcionários para permitir que a empresa caísse nas mãos de Ron Wheeler. Concordar com o plano de Liam protegeria a empresa e faria com que ela conseguisse o baile beneficente que tanto queria. Quando o acordo não fosse mais necessário, os amigos e parentes dela simplesmente teriam que acreditar que as coisas não tinham dado certo entre eles.

Francesca ergueu o olhar a tempo de ver Liam deslizar do sofá, ficando de joelhos aos pés dela. Ele estava muito bonito de terno azul-marinho, seus lindos olhos azuis voltados para ela. Ele pegou as mãos dela, acariciando levemente com os polegares.

Com ele tocando-a daquele jeito, ela concordaria com qualquer coisa.

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– Francesca Orr – disse ele com um radiante e encantador sorriso. – Sei que sou apenas um humilde filho de um criador de porcos, mas você me daria a honra de ser seu noivo temporário?

CAPÍTULO QUATRO

Liam observou a expressão de terror de Francesca, e esperou a resposta dela. Via a batalha sendo travada dentro da mente dela. Ele também precisaria fazer sacrifícios pela empresa e pelo que queria. Sentia-se culpado por envolvê-la naquela confusão, mas Francesca era mesmo a escolha perfeita. Se ela conseguira sair daquele elevador como se nada tivesse acontecido, poderia fazer o mesmo com aquele noivado.

Os olhos castanho-escuros dela se fixaram nele por um instante, e se desviaram para o ombro dele. A expressão de preocupação se abrandou, e ela ficou boquiaberta, surpresa.

Confuso, Liam se virou para olhar seu ombro. Empoleirada ali, havia uma solitária joaninha.

Francesca soltou suas mãos e pegou a joaninha do ombro dele. Levantou-se e foi até a janela. Abrindo-a, estendeu a palma e observou o inseto voar para o jardim que havia do lado de fora do edifício da rede.

Passou vários minutos olhando pela janela. Liam continuava ajoelhado, perguntando a si mesmo que, diabos, acabara de acontecer.

– Sim, eu aceito ser sua noiva temporária.

Ele ficou de pé e acabou com a distância entre eles com três passos.

– Sério?

Ela se virou para ele, sua expressão calma e resoluta. Estava verdadeiramente linda naquele momento. Serena. E isso fez Liam ter vontade de soltar os grampos do cabelo dela e deixá-lo cair sobre os ombros. Gostava mais assim.

– Sim. É a resposta certa para todos.

Liam estava empolgado com a resposta dela, mas confuso, sem saber o que mudara. Houvera um momento em que ele tivera absoluta certeza de que ela recusaria.

– O que ajudou você a decidir?

– A joaninha. É um sinal de boa sorte. O fato de uma pousar em você significa que você é uma alma abençoada. Foi um sinal de que eu devia aceitar sua proposta.

Liam sabia que não devia questionar as superstições dela, já que estavam agindo em seu favor.

– Preciso me lembrar de agradecer à próxima joaninha que encontrar. Agora vou levar minha noiva para almoçar e deixar que ela escolha o anel de noivado.

– Já?

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– Sim. Quanto antes minha tia ficar sabendo disso, melhor. Isso significa que vamos escolher os anéis, fazer um anúncio no jornal daqui e no de Nova York e aparecer juntos em público.

Os olhos dela se arregalaram. Ainda não estava totalmente de acordo com aquilo, com ou sem joaninha.

– Antes que isso chegue aos jornais, preciso dar alguns telefonemas. Não quero que a minha família fique sabendo por outros meios.

Liam assentiu. Ele também tinha alguns telefonemas a dar. Primeiro, para sua mãe e sua irmã mais nova, que moravam em Manhattan.

A família dele era péssima em manter contato, mas aquela era uma notícia grande o suficiente para fazer com que ele as procurasse. Os pais dele tinham sido muito extrovertidos e viajado bastante, mas isso mudara depois da morte do pai de Liam, três anos atrás. Desde então, a mãe dele não saía mais muito de casa, tornando-se quase uma reclusa. A irmã dele fora morar com ela para ficar de olho na situação, mas aquilo também não ajudara.

Quando Liam falava com elas, era porque ele tomara a iniciativa. Talvez a notícia do noivado as empolgasse. Ele se sentia mal por mentir para sua mãe a respeito de algo assim, mas, se aquilo a animasse e a tirasse do apartamento, ele não se importava.

Frequentemente, Liam se perguntava como as coisas seriam se seu pai não tivesse sofrido o acidente. Talvez tia Beatrice quisesse entregar a ele o comando da família, e Liam não estivesse metido naquela confusão.

Era uma fantasia sem sentido, mas aquilo fez Liam se lembrar do próximo telefonema. Depois que falasse com sua mãe, ele precisaria dar a tia Beatrice a “feliz” notícia. Ele não tinha muita gente a quem contar, mas, pela expressão de Francesca, percebeu que o caso dela era o oposto.

– Sei que isso é algo grande. E nada do que você estava esperando quando entrou aqui hoje. Mas tudo vai dar certo. – Ele se aproximou dela e envolveu levemente a cintura dela com os braços. Relutantemente, Francesca aceitou o abraço dele, pondo as mãos nas lapelas do paletó e olhando nos olhos dele. – Eu prometo.

Os olhos escuros que o observavam não tinham tanta certeza. Ele precisava reconfortá-la. Deixá-la mais à vontade com aquela nova situação e provar que eles eram suficientemente compatíveis para conseguir. E ele só conhecia uma forma de confortar uma mulher. Lentamente, Liam baixou os lábios para os dela, dando-lhe tempo para recuar se fosse necessário. Francesca não recuou. Levou os próprios lábios aos dele.

O beijo não foi como o do elevador. Foi leve, delicado e reconfortante. Ela fez um leve som de prazer, que fez o calor percorrer o corpo dele. Aquilo fez Liam se lembrar dos gemidos que ela soltara debaixo dele naquele primeiro dia. Isso o incentivou a explorar mais, mas ele não ousou exagerar. Ela poderia mudar de ideia.

Ele não poderia arriscar perdê-la. Os dois precisavam que aquele falso noivado desse certo. E, se desse, ele eventualmente teria sua chance de tocá-la novamente. Esse pensamento lhe deu forças para recuar.

Francesca inspirou fundo para se recompor e deu um passo atrás.

– Bem – disse ela com uma nervosa risada –, a questão da autenticidade não vai ser problema.

Liam sorriu.

– De jeito nenhum. Está com fome?

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Ela endireitou seu blazer e deu de ombros.

– Um pouco.

– Então vamos escolher os anéis primeiro. Depois, se esbarrarmos com alguém no almoço, vamos estar com eles e daremos a notícia como um casal feliz daria.

– Preciso pegar minha bolsa no escritório antes de sairmos. Encontro você no… – A voz dela desapareceu.

– Elevador? – disse ele com um sorriso malicioso.

Francesca corou.

– Sim. Encontro você no elevador.

Duas horas depois, eles saíam da joalheria, e Francesca estava exausta. Quem diria que comprar joias podia ser tão cansativo?

Eles tinham passado as duas últimas horas discutindo. Ela estava preocupada, achando que Liam ia gastar demais, especialmente sendo um noivado falso. Liam insistia que Francesca precisava escolher um anel grande o suficiente para que as pessoas o vissem de longe. Falso ou não, o noivado precisaria ser espalhafatoso a ponto de as pessoas, como a tia dele, perceberem.

Eles finalmente chegaram a um meio-termo quando ela se cansou de discutir e se permitiu escolher o anel que iria querer se aquele fosse um relacionamento de verdade.

Quando tudo terminou, Francesca era a feliz proprietária de um solitário de diamante de 2 quilates com esmeraldas num anel de platina. Uma peça deslumbrante, e, enquanto eles caminhavam até o restaurante no qual tinham feito reservas para o almoço, ela quase não conseguia acreditar que estava em seu dedo.

Francesca sonhara a vida inteira com o dia em que um homem lhe daria um anel como aquele. O anel era o certo. Mas todo o resto estava tão errado…

– Já está com fome? – perguntou ele enquanto se aproximavam do bistrô com área ao ar livre, perfeito para um almoço no início de maio.

Ela ainda não estava sentindo muita fome. Seu estômago ainda não absorvera os acontecimentos do dia. Entretanto, precisava comer, ou passaria tarde inteira comendo biscoitos.

– Acho que consigo comer.

Eles foram levados a uma mesa para dois no pátio. Por melhor que fosse ficar ao ar livre, Francesca esperara que a mesa deles fosse na área interna. A rua estava tão cheia de pessoas que era quase certo que ela encontraria alguém conhecido. Claro, também seria provável que ela encontrasse alguém lá dentro. Ela e Liam conheciam muitas pessoas naquela cidade, e Francesca ainda não tinha certeza de que estava pronta para bancar a felicíssima nova noiva.

Liam puxou a cadeira para ela antes de se sentar.

– Estou morrendo de fome – disse ele, pegando o cardápio.

– Não tomou café?

Ele balançou a cabeça.

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– Não comi muita coisa desde o jantar na casa da minha tia. Aquilo matou meu apetite, sabe?

– Sei. – Nada no cardápio parecia atraente. Sendo assim, ela escolheu uma salada de espinafre com frango. Ao menos, seria algo que não a faria engordar.

Afinal, ela precisaria caber num vestido de noiva.

O pensamento penetrou o cérebro dela, assustando-a. De onde aquilo viera?

– Você está bem? – perguntou Liam.

– Sim. Só me lembrei de uma coisa que preciso fazer quando voltarmos ao escritório.

Liam assentiu e voltou a olhar o cardápio. Francesca balançou a cabeça e fechou os olhos. Não haveria casamento nem vestido, por mais reais que os beijos deles parecessem ou por mais que o corpo dela reagisse ao toque de Liam. Eles não estavam noivos de verdade. Era um acordo de negócios, nada mais.

O garçom anotou os pedidos deles e saiu. Constrangida, Francesca bebeu sua água e observou o anel. Não sabia o que dizer ao seu novo noivo.

– Agora que a história do noivado está resolvida, quero falar com você sobre outra coisa.

Ela o olhou, uma sensação de pânico crescendo em seu estômago.

– Não, Liam. Não vou ter um bebê seu para deixar sua tia feliz.

Ele riu, balançando a cabeça.

– Nada de bebês, prometo. É estritamente relacionado ao trabalho. Venho pensando nessa ideia faz alguns dias, mas as bobagens da minha tia me fizeram perder o raciocínio. Queria fazer uma pergunta… Você é amiga de Ariella Winthrop, não?

Francesca suspirou. Sua amiga Ariella fora o Santo Graal da mídia desde o baile da posse presidencial em janeiro, quando fora revelado que a bem-sucedida planejadora de eventos era a filha ilegítima do presidente recém-eleito. Tanta gente já lhe perguntara sobre Ariella desde o escândalo! Sim, elas eram amigas fazia vários anos. Isso não significava que ela teria algo de útil a dizer à imprensa, ainda que estivesse disposta a contar… e não estava. Ariella era adotada. Sequer soubera com certeza quem era seu pai biológico até os resultados do teste de DNA terem saído, pouco mais de um mês atrás.

– Sou – respondeu ela com um tom cauteloso.

– Eu estava pensando se você não poderia falar com ela por mim. Tenho uma ideia pela qual acho que ela pode se interessar, mas quero saber sua opinião primeiro. Sei que repórteres e a antiga gerência do ANS foram os responsáveis por toda a confusão com o presidente Morrow e ela. Eu estava pensando em fazermos uma espécie de compensação para os dois.

– Uma cesta de frutas?

– Um reencontro televisionado com Ariella e o presidente.

Francesca grunhiu. Era uma ideia horrível.

– Prefira a cesta de frutas. Estou falando sério.

Liam levantou a mão.

– Sei que tem muitos boatos rodando por outras redes, especialmente porque nenhuma das pessoas envolvidas está falando com a imprensa. Obviamente, o ANS se 24

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manteve fora do caso depois de tudo o que aconteceu. Quero oferecer a eles a oportunidade de esclarecer tudo publicamente. Dar a chance de se encontrarem e acabar com toda a tensão sem nenhuma mentira ou ponto de vista dramático.

– Isso tem toda a cara de sensacionalismo.

– E é por isso que quero dar a você o controle total sobre o programa. Você é amiga dela, e ela confia em você. Você poderia trabalhar diretamente com a secretária de imprensa da Casa Branca e garantir que ninguém se sinta nem um pouco desconfortável.

Nenhuma outra rede vai oferecer a eles uma oportunidade como essa, eu garanto.

Francesca franziu o cenho. Não gostava de como aquilo soava. Se as coisas dessem errado e o ANS acabasse com a reputação ainda mais manchada, não haveria volta, e Ariella jamais a perdoaria.

– Não sei, Liam.

– É vantajoso para todos os envolvidos. Ariella e o presidente vão poder contar a história deles, do jeito deles. O ANS vai ter exclusividade sobre a entrevista, e isso vai nos ajudar a compensar o escândalo das escutas telefônicas. Não tem como dar errado. Você mesma vai garantir que isso não se transforme num circo. É perfeito.

Perfeito para a audiência. Mas Francesca não tinha tanta certeza de que a televisão seria o ambiente certo para sua amiga se reencontrar com seu famoso pai biológico. Era um momento importante para os dois. Um momento particular.

– Só prometa que você vai perguntar a ela. Se ela não quiser, esqueço tudo.

O garçom chegou com o almoço deles, colocando-o sobre a mesa e interrompendo brevemente a conversa.

– Vou falar com ela – concordou Francesca, depois que o garçom se retirou. – Mas não posso prometer nada. A não ser pelo curto pronunciado que ela deu à imprensa, ela recusou todos os pedidos de entrevista que recebeu.

– É tudo o que peço. Obrigado.

Francesca espetou um pedaço de frango e espinafre com o garfo.

– Finalmente, a suja verdade vem à tona. Você só quer se casar comigo por causa das minhas conexões políticas.

– Uma acusação completamente infundada – disse ele com um malicioso sorriso. – Quero me casar com você por causa desse corpo maravilhoso.

Francesca olhou nos olhos dele, esperando ver humor neles. Em vez disso, encontrou um calor de apreciação pelo que ele via.

Ela também foi dominada por um calor, fazendo-a se remexer desconfortavelmente ao se lembrar de quando estavam no elevador. Ela o desejara tanto naquele momento e, se fosse honesta consigo mesma, admitiria que continuava desejando. Ceder ao seu desejo seria algo bom ou ruim, agora que eles estavam “noivos”?

– Eu… bem… hã…

Uma voz chamou da calçada.

– Francesca, o que é isso que estou vendo na sua mão?

E lá se ia a esperança de não encontrar ninguém conhecido. Do outro lado da grade de ferro forjado que separava o bistrô da calçada estava Scarlet Anders, amiga dela. A esbelta ruiva era sócia de Ariella numa empresa de planejamento de eventos especializada em casamentos e festas.

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– Scarlet! – disse Francesca, plantando um sorriso no rosto e torcendo para que a amiga não percebesse que era falso. – Como está se sentindo? – perguntou ela para desviar a atenção do anel. Sua amiga sofrera uma contusão na cabeça mais para o início do ano e perdera temporariamente a memória.

Scarlet enrugou o nariz.

– Estou bem. Os médicos disseram que meu acidente não deixou nenhum efeito duradouro. Agora pare de se preocupar comigo e de enrolar e me deixe ver essa mão.

Relutantemente, Francesca estendeu a mão, permitindo que o perfeito diamante reluzisse ao sol. Scarlet olhou o anel. Em seguida, olhou para Liam e de volta para ela.

– Você está noiva de Liam Crowe. Liam Crowe. Quando Daniel me pediu em casamento, eu contei a você e a Ariella quase na mesma hora.

Era verdade, pensou Francesca, sentindo-se culpada. E, em outras circunstâncias, ela teria feito o mesmo. Mas não era um noivado real.

– Foi agora – insistiu ela, sorrindo para seu noivo com uma fingida empolgação. – Acabamos de escolher o anel.

Scarlet sorriu.

– É lindo. Vocês dois são tão sorrateiros. Eu nem sabia que estavam namorando.

Como isso aconteceu?

– Nós… hã…

– Começamos a sair juntos há um tempo, quando eu ainda estava pensando em comprar o ANS – interveio Liam. – Com tudo o que estava acontecendo, preferimos manter em segredo por um tempo. Mas, depois de ter ficado preso naquele elevador com Francesca, eu soube que teria passar o resto da minha vida com ela.

Scarlet suspirou.

– Que meigo! Vocês ficam lindos juntos. Quando vai ser a festa de noivado? Você tem que deixar Ariella e eu organizarmos para você.

– Não – insistiu Francesca. – Vocês ficaram tão ocupadas com o casamento de Cara e Max e agora estão com o seu. – O ex-âncora e a relações-públicas da Casa Branca tinham se casado no fim de março. O amado de Scarlet, Daniel, pedira a mão dela em casamento durante a festa. – Não se preocupe conosco. Provavelmente, não vamos…

– Bobagem – disse Scarlet. – Eu insisto. Estou indo para o escritório. Vou contar a novidade a Ariella, e vamos começar a pensar nisso. Quando vocês gostariam de fazer?

– Logo – interveio Liam. – Neste final de semana, se possível. Mal podemos esperar para compartilhar nossa empolgação com todos os nossos amigos e parentes.

Os olhos de Scarlet se arregalaram, mas ela assentiu rapidamente. Estava acostumada a lidar com exigências nada razoáveis de poderosos casais de D.C. – Tenho certeza de que vamos conseguir fazer. Pode ser difícil encontrar um local, mas tem algumas pessoas me devendo favores. Para vocês, estou pensando numa festa num jardim à tarde. Algo ao ar livre. Petiscos leves, champanhe… Talvez um estande de sorvete. O que acham?

– Parece lindo – disse Francesca. E era verdade. Exatamente o que ela teria escolhido para sua festa de noivado. Sua amiga a conhecia bem.

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Scarlet estava empolgadíssima. Ela fazia tudo com um glamour estiloso que era famoso em meio à elite de D.C. – Ligo para você amanhã para definirmos alguns detalhes – falou ela, e desapareceu pela calçada, andando animadamente.

Francesca desejou ter todo aquele entusiasmo. E precisaria ter se eles realmente fossem fazer aquilo. Porque iria mesmo acontecer. Iria acontecer de verdade.

O que ela fora fazer?

CAPÍTULO CINCO

Liam não planejara jantar com Francesca naquela noite, mas vê-la com Scarlet tornara isso absolutamente necessário. Eles não sabiam nada um a respeito do outro.

Quando a notícia do noivado fosse dada, as pessoas começariam a fazer perguntas, e eles precisariam combinar tudo.

Depois que o garçom anotou os pedidos deles, Liam olhou para sua noiva. Sabia que ela era linda, espirituosa, carinhosa e excitante. Sabia que ele a desejava mais do que já desejara qualquer mulher. Contudo, não sabia quase nada sobre quem ela era, de onde viera.

– Fale de você, Francesca. Preciso saber tudo para convencer todos de que estamos juntos de verdade.

Ela deu um gole no vinho enquanto tentava pensar por onde começar.

– Fui criada em Beverly Hills. Meu pai é produtor cinematográfico, como você sabe.

Ele conheceu minha mãe num set de filmagem na Sicília, e os dois se casaram às escondidas menos de um mês depois de terem se conhecido.

– Então eles não podem reclamar do nosso noivado rápido?

– De jeito nenhum. – Ela sorriu. – Mas isso não impediu meu pai de me passar um sermão no telefone hoje à tarde. Tive que garantir a ele que o noivado duraria algum tempo, para impedir que ele pegasse um avião e viesse conversar com você.

– O noivado mais longo da história.

– Meus pais são meu modelo de como deve ser um casamento. Eles têm o que sempre esperei ter quando me casasse.

Liam gravou aquilo. Francesca queria o pacote completo. Provavelmente, aquilo não era como ela imaginara que seu noivado seria. Ele se sentiu mal por isso. Entretanto, ela ainda teria chance de ter seu conto de fadas com o próximo homem que surgisse.

Aquele era um acordo temporário.

– Tenho uma irmã mais nova, Therése – continuou ela –, que mora em São Francisco. É fotógrafa de moda. Eu me mudei para D.C. depois do colégio e fui estudar em Georgetown.

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– Também estudei em Georgetown. Talvez tenhamos frequentado na mesma época. – Francesca disse os anos, e, felizmente, batiam parcialmente com os dele, que se formara dois anos antes dela. – Excelente. Acho que, se dissermos às pessoas que namoramos na faculdade e nos encontramos novamente este ano, isso vai tornar a velocidade do relacionamento mais plausível. O que você estudou?

– Recebi um diploma em Comunicação, com especialização em Ciência Política.

Eu queria ser comentarista política.

– Uma pena não ter sido. Eu teria adorado ver você na minha tela todas as noites. É estranho nunca termos assistido a nenhuma aula juntos. Também fiz algumas matérias de Comunicação.

Francesca deu de ombros.

– Talvez isso tenha acontecido. As turmas eram muito grandes.

Liam balançou a cabeça.

– Eu teria notado você. Tenho certeza.

Francesca corou e começou a mexer no pingente de ouro que ficava em seu pescoço, algo parecido com um tipo de chifre. Ela estava com um vestido tomara que caia grená, com um decote em “V” muito generoso. Liam já percebera o cordão, mas toda vez que ele pensara em perguntar a respeito, distraíra-se ao ver os seios dela.

– O que quer dizer esse cordão? Você o usa o tempo inteiro.

Ela o estendeu para que Liam o visse melhor.

– É um corno porta fortuna. Minha avó me deu. É uma tradição italiana usá-lo para afastar mau olhado. Eu uso para ter boa sorte.

Definitivamente, a maneira como o chifre repousava no vale entre os seios dela era algo de sorte para ele. Aquilo lhe dava uma desculpa para olhar os firmes seios de cuja sensação em suas mãos ele ainda se lembrava.

– No elevador, você falou que passava os verões na Itália com a sua avó.

– Sim, passei todos os verões na Sicília desde quando eu tinha uns 5 anos até me formar no colégio. Minha mãe ia comigo quando eu era mais nova, mas, quando comecei no colégio, passei a poder ir sozinha. Minha mãe sempre dizia que era importante eu manter contato com a minha cultura. Minha avó me ensinava autênticas receitas italianas e me contava histórias da família. Minha irmã e eu aprendemos bastante italiano ao longo dos anos. Mas já não me lembro de tanto.

– Você se lembra de todos os xingamentos.

– Claro. – Ela riu.

– As suas superstições também são de lá?

– Sim. Os italianos são um povo muito supersticioso. Minha avó disse que só me ensinou algumas delas. É incrível. Minha mãe nunca se importou muito com isso, mas era algo especial que eu compartilhava com minha avó. Ela morreu no ano passado, mas as superstições a mantêm viva na minha mente.

– Felizmente, ela contou a você sobre a das joaninhas, ou eu estaria muito encrencado agora. Algum mau agouro no qual eu deva prestar atenção?

– Hum… – disse Francesca pensativa. – Tem os mais conhecidos; espelhos quebrados e tal. Nunca deixar seu chapéu em cima da cama. Nunca pôr o pão de cabeça para baixo na mesa. Pássaros ou penas dentro de casa dão azar. Se você derramar sal, 28

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precisa jogar um pouco por cima do ombro. O número mais azarado é 17. Nunca se casar numa sexta-feira. Tem milhões delas.

– Uau. Já devo estar totalmente amaldiçoado e nunca soube.

Francesca sorriu, recostando-se na cadeira para deixar o garçom pôr a comida na mesa.

– Acho que você se saiu bem sem saber.

Era verdade. Ele construíra um nome e tanto para si mesmo nos meios de comunicação. Só tinha 28 anos. Quem podia saber o que mais ele conseguiria no futuro de sua carreira? Fechar o acordo com sua tia e assumir controle total do ANS poderia ser o trampolim para coisas maiores e melhores. Especialmente se ele recebesse a herança de 2 bilhões de dólares.

O cérebro dele sequer conseguia compreender o que era ter tanto dinheiro. No momento, estava concentrado apenas em comprar totalmente o ANS. Com sorte, tudo daria certo. Entretanto, era difícil até mesmo se concentrar em suas preocupações com uma mulher tão linda sentada diante dele.

– O que acha de mais algumas curiosidades aleatórias sobre você? Do que você gosta e não gosta? – perguntou Liam.

– Minha cor preferida é vermelho. Adoro chocolate amargo. Sou alérgica a gatos.

Sei cozinhar, mas não cozinho. Detesto cenoura. Meu nome do meio é irlandês, impossível de soletrar ou pronunciar.

– Espere. Qual é?

– Meu nome? O jeito de pronunciar é cuí-vâ, que é bonita em gaélico. Infelizmente, em inglês, ele é pronunciado de um jeito totalmente diferente de como se escreve. C-A-OI-M-H-E – soletrou ela, dando novamente a pronúncia. – Tente explicar isso na hora de fazer algum cadastro.

Liam riu, sem confiar em si mesmo para repetir o nome sem assassiná-lo.

– Meu nome do meio é Douglas. Não muito empolgante nem difícil de soletrar.

– Tenho inveja de você.

– E a família do seu pai? Você não falou muito dele.

– Meu pai não é tão próximo da família assim, o que é estranho, já que eles moram em Malibu, a menos de 50 quilômetros de Beverly Hills. Só vejo meus avós em datas comemorativas e aniversários. Sou muito mais próxima do lado da minha mãe.

– Parece a minha família. Quase nunca os vejo. Fale mais de você.

– O que mais? Nunca faço exercícios; detesto suar. E adoro luxuosos banhos de espuma e longas caminhadas pela praia. – Ela riu. – Isso está parecendo um anúncio pessoal tosco num site de relacionamentos.

– Não é tosco. Se eu o lesse, mandaria uma mensagem imediatamente para você.

– Obrigada. Mas chega de falar de mim. E você? É sua vez de me contar tudo sobre Liam Crowe.

O jantar fora muito bom. A conversa fluíra facilmente, e Francesca precisava admitir que se divertira. Gostava de passar tempo com Liam. Honestamente, ela gostava 29

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dele. Ele era bonito, inteligente, engraçado e de conversa fácil. Fora bom ouvi-lo falar sobre sua família e seu trabalho. Ele era tão apaixonado pela carreira… Aquilo a fez entender como o sucesso do ANS era importante para ele. Uma parte de Francesca desejou que ela o tivesse conhecido na faculdade. Quem poderia dizer o que teria acontecido?

Bem, não era verdade. Ela sabia o que teria acontecido. Eles teriam namorado, ela teria se apaixonado por ele, e ele teria terminado o namoro em algum momento, partindo o coração dela. Liam não era do tipo de homem que tinha relacionamentos duradouros.

Apesar disso, ele parecia estar aceitando muito bem a história do noivado. Na verdade, fora muito educado com ela, prestando atenção sempre que ela falava e a observando de forma apreciativa.

Liam parou seu conversível diante da casa de Francesca e desligou o motor. Virouse para ela, com um tímido sorriso curvando seus lábios. Não falou nada quando viu Francesca pegar a bolsa e o casaco, mas também não fez nada para permitir que ela saísse do carro.

Subitamente, o jantar pareceu um encontro romântico, e isso a deixou um pouco nervosa. Bobagem, e não apenas porque ele já a vira nua, mas também pelo fato de eles estarem noivos. Teoricamente.

– Eu me diverti muito hoje – disse ela, sentindo-se idiota no instante em que as palavras saíram.

– Eu também. Eu… hã… queria agradecer novamente por fazer isso por mim. Eu me sinto como se tivesse roubado todo o seu tempo hoje.

– Tenho certeza de que eu não tinha nada importante planejado.

– Tem tempo na sua agenda para tirarmos algumas fotos de noivado? Eu queria uma para pôr junto do anúncio no jornal.

– Acho que sim. Peça para Jessica dar uma olhada na minha agenda de manhã.

Preciso usar alguma roupa especial ou fazer cabelo e maquiagem?

– Você está perfeita assim mesmo. Eu não poderia querer uma noiva mais bonita.

Francesca corou. Não conseguiu evitar. Alguém que o ouvisse acharia que ela era a mulher mais linda do mundo. Era ridículo. Ela era bonita, mas nada de especial. Mas Liam tinha uma maneira de fazer com que ela se sentisse especial.

– Você só está me bajulando para que eu não mude de ideia.

– Totalmente – admitiu ele. – Mas é fácil quando é verdade. Você não faz ideia de como pensei em você depois daquela tarde que passamos juntos. Agora, passando um dia inteiro com você, precisei resistir. Passei as últimas três horas tentando não beijar você. Não sei se aguento muito mais.

Francesca não conseguiu evitar arfar de surpresa com a forma tão honesta como ele falava de seu desejo por ela. Antes que ela conseguisse pensar em algo inteligente a dizer, ele se curvou e levou seus lábios aos dela.

Não era o primeiro beijo deles. Nem mesmo o segundo. Mas era como se fosse.

Não tinha o calor da primeira vez no elevador nem era reconfortante como o beijo daquela manhã. Era mais como um beijo de um romance que florescia.

A boca dele era exigente, mas não exageradamente, convencendo-a a se abrir para ele, a ceder ao prazer que ela prometia. Francesca se sentiu dominada pelo toque

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dele. Era tão fácil se deixar levar. Parecia natural permitir que sua língua deslizasse junto da dele, que seus dedos vagassem pelo cabelo dele.

Os lábios de Liam abandonaram os dela, descendo para o pescoço. A sensação lançou uma onda de desejo por todo o corpo dela. Quando a mão dele segurou o seio dela através do tecido do vestido, ela se curvou na direção do toque, gemendo levemente.

Francesca só voltou a si quando abriu os olhos e viu o imenso diamante em sua mão. Aquele relacionamento era apenas de fachada. Como Liam dissera, ninguém os veria dentro do quarto. Por algum motivo, Francesca soube que, se ultrapasse esse limite, seria difícil manter sua perspectiva com relação àquele relacionamento.

Liam era seu noivo, mas jamais seria seu marido. Não estava apaixonado por ela, e ela não estava apaixonada por ele. O sexo simplesmente confundiria as coisas.

Ela empurrou levemente os ombros dele. Liam se afastou, observando-a com olhos cheios de desejo. Ele arfava. Fora um beijo e tanto. E pedia uma noite juntos. Francesca percebeu que ele pretendia entrar. Um jantar delicioso, vinho, boa conversa, um beijo… agora ela devia convidá-lo para entrar, tomar café e tirar o vestido dela. Era demais, cedo demais, por mais que ela o desejasse.

Francesca pôs a mão na maçaneta.

– Boa noite, Liam.

– Espere. Boa noite?

Ela assentiu, segurando a bolsa contra o peito, como uma barreira.

– Foi um longo dia, cheio de emoções. Você se transformou do meu chefe no meu noivo há poucas horas. Acho que acrescentar “amante” à lista hoje é uma má ideia.

Liam suspirou, mas não tentou argumentar. Abriu sua porta e contornou o carro para ajudá-la a sair. Acompanhou-a até a porta.

Francesca parou. Certo ou errado, não conseguiu evitar se curvar para ele e lhe dar um rápido, mas firme, beijo nos lábios.

– Vejo você amanhã no escritório.

– Sim, estou noivo. – Liam se recostou em sua cadeira e olhou para a recémemoldurada foto dele com Francesca no canto de sua mesa. Eles a tinham tirado para o anúncio no jornal, e Liam não conseguiu resistir a enviar uma cópia para a Rainha Beatrice. Quando o telefone tocara na tarde seguinte, ele não ficara surpreso.

– Parabéns para vocês dois. Não esperava que agisse tão rápido para aceitar minha proposta – ressaltou ela com um tom direto. Obviamente, achava que Liam estava tentando enganá-la. Ela não deixava nada passar. – Eu lhe dei um ano, não uma semana para ficar noivo.

– Bem, eu disse que já vinha saindo com uma pessoa. Você me ajudou a perceber que eu precisava levar meu relacionamento adiante. Francesca e eu somos perfeitos um para o outro. Obrigado pelo incentivo.

– Isso é maravilhoso, Liam. A foto de vocês dois está adorável. Pedi que Henry a levasse para ser emoldurada. Ela é uma jovem muito bela. Onde a conheceu?

Ela estava querendo detalhes. Felizmente, eles tinham resolvido tudo isso no jantar.

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– Nós nos conhecemos na faculdade e namoramos por um tempo. Quando comecei a pensar em comprar o ANS, nós nos encontramos num evento de mídia. Ela trabalha criando programas de relações comunitárias, e começamos a sair juntos novamente.

Liam não tinha dúvidas de que sua tia estava fazendo anotações e pediria para que alguém averiguasse se eles tinham frequentado a mesma faculdade na mesma época.

– Que adorável coincidência vocês se reencontrarem. Deve ser o destino.

– Acho que sim.

– Espero que vocês sejam muito felizes juntos. Mal posso esperar para conhecê-la.

Na verdade, vou a D.C. mais para o fim do mês para falar com o Congresso. Eu adoraria se nós três pudéssemos jantar juntos para comemorar.

Liam franziu o cenho. Nunca soubera que sua tia tinha envolvimento na política. Se ela iria a D.C., seria para observá-lo. Não confiava nem um pouco nele, e com razão. Ele e Francesca precisariam aperfeiçoar a farsa dos apaixonados antes que ela chegasse.

Francamente, Francesca tivera uma péssima atuação quando eles tinham encontrado Scarlet.

Apesar da hesitação dela de embarcar num relacionamento físico na outra noite, depois do jantar, algo precisaria ser feito a respeito. Ela precisava de uma inspiração romântica verdadeira, pois não conseguia fingir. Liam ficaria feliz em lhe dar isso.

Ele dissera a Francesca que não a escolhera com a intenção de seduzi-la, e era verdade. Se eles se tornassem mesmo amantes, seria apenas um agradável bônus para uma situação potencialmente desagradável.

Como ele a desejava! Toda vez que fechava os olhos, Liam a via no elevador. A calcinha vermelha. As faces coradas. Gemidos apaixonados de prazer. Sim, ele não precisava de um envolvimento romântico para complicar aquele acordo, mas estaria mentindo se dissesse que não queria continuar de onde haviam parado.

O sexo não seria um problema, contanto que os dois soubessem que seria apenas isso. Ele só precisava convencê-la a aceitar novamente.

Apertando o fone, Liam se esforçou para recordar o que sua tia acabara de dizer. Jantar. Tia Beatrice iria até D.C. e queria jantar.

– É claro – disse ele. – Francesca está muito empolgada para conhecer você.

– Tenho certeza de que está. Espero que vocês tenham uma adorável festa de noivado hoje. Vou deixar você desligar. Preciso ligar para Ron Wheeler e avisar que recusarei a proposta dele. Por ora – acrescentou ela.

– Foi bom falar com você – disse ele, por entre os dentes cerrados. – Nós nos veremos em breve.

Desligando, ele olhou para sua foto com Francesca. Sua tia o enlouquecia. Porém, se o plano pusesse aquela voluptuosa forma feminina novamente em seus braços, talvez ele precisasse mandar um cartão de agradecimento para a Rainha Beatrice.

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CAPÍTULO SEIS

Francesca estava pondo o último brinco quando a campainha tocou. Com uma última olhada no espelho, ela ficou satisfeita com sua roupa. Comprara algo novo para a festa de noivado, um vestido turquesa sem alças, que ia até logo abaixo do joelho. Na cintura, havia uma faixa creme, com um xale de crochê também creme para manter seus ombros aquecidos quando o sol se pusesse.

Ela optara por prender parcialmente o cabelo, com a frente presa num estiloso coque e o resto solto em longas ondas.

Francesca desceu a escadaria até a porta principal. Pelo olho mágico, viu Liam esperando pacientemente. Ele estava muito bonito de terno cinza-claro, camisa cor de marfim e gravata turquesa, combinando com a roupa dela.

Liam ainda não entrara na casa dela. Eles tinham concluído que ele deveria buscála e conhecer a casa em que ela morava, só para o caso de alguém perguntar.

– Oi – disse ela ao abrir a porta. – Pode entrar. Esta é a minha casa.

– Muito bonita – elogiou ele andando pela sala e admirando o ambiente.

Francesca sempre gostara de sua casa. Comprara a pequena construção geminada feita de tijolos quando ainda estava na faculdade. Tinha apenas dois quartos, mas os cômodos eram bem amplos, e o pátio era um oásis perfeito onde se esconder do mundo.

Ela o levou para a sala de dois andares, para que Liam pudesse ver o pequeno jardim e a cozinha maravilhosamente remodelada que ela raramente usava.

– Não é muito grande, mas é ótima para mim. Adoro a localização, bem na frente do parque.

– Você remodelou bastante este lugar. Parece muito confortável. Exatamente o que eu esperaria de você. Minha casa ainda parece um modelo de showroom.

– Fui eu mesma que decorei. Não podia deixar que outra pessoa decorasse a minha casa. É pessoal demais.

– Você é boa nisso. Talvez, durante o nosso noivado, eu deixe você decorar a minha.

Ela se virou sem responder e foi pegar sua bolsa. Não gostava nem um pouco de como aquilo soava. Ela não se mudaria para a casa dele. Não precisaria dar seu toque pessoal àquele espaço nem deixar nada seu para trás depois que tudo aquilo terminasse.

Isso faria as coisas parecerem muito mais permanentes do que eram na realidade.

Contudo, Francesca não pensaria muito nisso. Eles tinham uma longa noite pela frente, o que já era preocupação suficiente.

– Está pronto?

– Totalmente.

Liam a seguiu até o lado de fora e a acompanhou ao meio-fio, onde seu conversível os esperava. Eles não precisariam percorrer um longo caminho. Scarlet e Ariella tinham organizado a festa numa das mansões históricas de Georgetown. A

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propriedade, de 200 anos, tinha imensos jardins com fontes e uma abundância de flores.

Era o lugar perfeito para uma ensolarada e feliz festa de noivado.

Quando eles estacionaram na propriedade, o manobrista abriu as portas, indicando-lhes a entrada do jardim, e foi estacionar o carro.

De pé no gramado, de frente para a comemoração de seu noivado, Francesca ficou mais nervosa do que gostaria de admitir. Seus joelhos estavam quase tremendo. Ela se saíra bem aguentando os empolgados abraços e respondendo às perguntas de seus amigos e colegas de trabalho, um de cada vez. Entretanto, a festa reuniria em um único lugar quase todas as pessoas que ela conhecia. Aquilo a deixou pensando se conseguiria mesmo fazer aquilo. Uma festa de noivado. A festa de noivado dela.

Liam percebeu a hesitação de Francesca. Pondo as mãos na parte de trás dos braços dela, ele a acariciou leve e reconfortantemente.

– Vai dar tudo certo. Você está linda. Tenho certeza de que Scarlet e Ariella fizeram um excelente trabalho. Não precisa ficar nervosa.

– Eu sei – disse ela baixando a cabeça, mas o dedo de Liam ergueu o queixo dela na direção dele.

– Você consegue. Sei que consegue. Mas preciso dizer que está faltando uma coisa.

Os olhos dela se arregalaram de pânico.

– O que eu esqueci?

– Você não está corada como uma jovem apaixonada. Mas creio que eu possa dar um jeito nisso. – Liam se curvou e tocou seus lábios nos dela.

Por mais que ela tentasse negar sua atração por Liam, seu corpo sempre a traía. O calor do toque dele a fez sentir um formigamento da cabeça aos pés. Subitamente, Francesca se sentiu corar. Seus joelhos ainda tremiam, ainda que por motivos diferentes dos de antes. Ela segurou as lapelas dele para se equilibrar e o puxou para perto.

Os beijos de Liam eram perigosos. Ela devia ter aprendido isso no primeiro dia.

Uma mulher poderia se perder em um deles se não tomasse cuidado. E, no momento, aquilo parecia a fuga perfeita de tudo. Eles não poderiam simplesmente ficar um nos braços do outro ali, no gramado? Um casal faria algo assim, certo?

Quando Liam finalmente se afastou, segurou-a para impedir que cambaleasse.

Francesca sentiu um inconfundível calor em seu rosto.

– Você já está oficialmente com o brilho de uma noiva. Vamos entrar antes que ele desapareça.

Ele deu o braço a ela e a acompanhou pelo caminho que levava até a festa no jardim.

Havia mais de 150 pessoas ali, o que era impressionante com um aviso tão em cima da hora. Alguém percebeu a chegada deles, e uma multidão chegou para abraçá-los e parabenizá-los. Fotos foram tiradas e brindes foram feitos ao novo casal. Francesca estava preocupada, achando que seria difícil manter a farsa. Contudo, depois de um pouco de prática e de champanhe, ficou cada vez mais fácil mostrar seu anel às pessoas e elogiar a beleza da festa.

Não demorou muito até que ela conseguisse se afastar de Liam e dos convidados para pegar um drinque e admirar o trabalho de suas amigas. Scarlet e Ariella tinham feito mesmo um excelente trabalho. O jardim já era lindo por si só, mas ela via os toques que 34

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elas haviam acrescentado, como lanternas de papel branco nas árvores e um arco de tecido e flores atrás do quarteto de cordas. Eram os detalhes que tornavam especial o que as amigas dela faziam.

Ao encher sua taça de ponche, ela ouviu a voz de uma mulher atrás de si.

– Tem champanhe aí, sabia?

Francesca se virou para encontrar Ariella com uma bandeja de aperitivos nas mãos.

– Não posso tomar champanhe na minha própria festa de noivado?

A amiga dela sorriu e entregou a bandeja a um dos garçons.

– Isso depende de por que você e Liam Crowe estão com tanta pressa para se casar.

– Não estou grávida – disse Francesca. Devia ter imaginado que esse boato seria um dos primeiros a circular. Ela tomou toda a taça de ponche apenas para provar que não era verdade.

– Ótimo. – Ariella encheu novamente a taça de Francesca e uma para si. Então gesticulou para algumas cadeiras. – Só entre nós, o que está havendo? – perguntou depois de se sentarem.

Francesca sabia que sua amiga lhe faria um interrogatório, ainda que não da mesma forma como tia Beatrice faria. Ela apenas queria os detalhes para poder entender e ficar feliz por Francesca. Ou preocupada. Era isso que boas amigas faziam. Mantinham sua mente no rumo certo.

– Tudo aconteceu tão rápido que mal consigo explicar. No instante em que o vi, foi como se os últimos anos que passamos separados jamais tivessem acontecido. Foi uma explosão. – Não era exatamente uma mentira.

Ariella olhou nos olhos dela, analisando seu rosto por um momento. Então sorriu e deu tapinhas no joelho de Francesca.

– Sendo assim, fico feliz por você. Só queria que tivesse nos contado o que estava acontecendo.

Francesca desejava poder contar. Seria bom ter a opinião de outra pessoa, mas Liam fora decisivo ao dizer que ninguém deveria saber a respeito do acordo deles.

Ninguém. Era difícil para Francesca, levando em consideração sua intimidade com as amigas e os parentes.

– Todo mundo tem estado tão ocupado. Só decidi manter as coisas em segredo até que houvesse algo a contar.

– Como seu pai reagiu à novidade?

– Ah. – Ela suspirou. – Você conhece o meu pai. Ele vai acabar se acostumando.

Está preocupado, achando que estamos apressando as coisas, e diz que nem faz ideia de quem seja meu noivo. Precisei lembrar a ele de que ele e a minha mãe se conheceram e se casaram em menos de um mês. Ele não quis saber disso.

Ariella sorriu.

– Imagino que não.

Querendo mudar de assunto, Francesca resolveu usar o assunto dos pais para cumprir sua primeira promessa a Liam.

– Posso perguntar uma coisa a você?

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– Claro. Qualquer coisa.

– Certo. Mas quero que você diga “não” no instante em que se sentir desconfortável com a ideia. Só prometi a Liam que perguntaria.

– Ele quer uma entrevista? – perguntou ela de um jeito cansado. Francesca sabia que os últimos meses tinham desgastado sua amiga.

– Não exatamente. Quer oferecer a você e ao presidente Morrow a oportunidade de se conhecerem e contar a história de vocês. Um reencontro num programa de televisão. Sem truques, sem perguntas capciosas. Só você e o seu pai, do jeito que você quiser. Liam até disse que me poria no comando do programa, para garantir que você se sentisse confortável. Eu disse a ele que achava…

– Está bem.

Francesca olhou fixamente para Ariella.

– Como?!

Ariella deu de ombros.

– Tudo bem. Se o presidente concordar em fazer, acho uma ótima ideia. Já passamos muito tempo sem dizer nada publicamente, e acho que isso está começando a nos prejudicar na opinião pública. Fica parecendo que temos algo a esconder.

– Mas você acha a televisão o lugar certo para reencontrar seu pai biológico? Não vai ser difícil?

– Não mais do que tudo o que já aconteceu este ano. Na verdade, eu ficaria aliviada por esclarecer tudo, para que a imprensa vá encontrar outra matéria. Diga a Liam que estou dentro.

Francesca suspirou. Todos tinham enlouquecido, com certeza.

– Certo, ótimo – disse ela, fingindo entusiasmo. – Eu aviso a Liam.

Liam precisava admitir que fora uma excelente festa de noivado. Estava cansado e bem alimentado. Se e quando ele se casasse, sua intenção era manter a DC Affairs como sua empresa de planejamento de eventos.

O sol já estava se pondo. A festa estava terminando. Ele perdera Francesca de vista um pouco antes, quando começara a falar de política com outros homens. Liam pegou sua taça de champanhe e foi procurar sua noiva.

Encontrou-a sentada sozinha numa mesa perto de uma fonte.

– Olá – disse ele ao se aproximar. – Achei que você tivesse saído correndo daqui.

Cansada, Francesca sorriu e tirou um dos sapatos de salto.

– No momento, não consigo correr nem um pouco.

– Está pronta para irmos?

– Sim. Acho que a festa terminou. E foi um sucesso. Consegui fazer várias pessoas comprarem convites para o Baile da Juventude em Crise da semana que vem.

– Não era para você fazer isso em nossa festa de noivado.

– Por que não? É o que eu faço, assim como você fala de política o tempo todo. – Ela calçou novamente o sapato e se levantou.

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Liam a viu mancar alguns passos e concluiu que a caminhada até o carro seria demais para ela.

– Pare – insistiu ele chegando ao seu lado e a erguendo nos braços.

– Ah! – gritou ela surpresa, fazendo com que alguns dos convidados restantes a olhassem. Eles sorriram imediatamente para o gesto romântico.

Francesca se segurou no pescoço dele.

– Você não precisava fazer isso – disse enquanto Liam ia até a frente da casa.

– Não preciso fazer muitas coisas, mas faço porque quero. – Ele disse a placa de seu carro ao manobrista.

– Acho que consigo seguir daqui.

– E se eu estiver fazendo isto por motivos egoístas? E se eu simplesmente gostar de segurar você assim? – E gostava. Gostava da maneira como ela se agarrava a ele. Do perfume que fazia com que ele se recordasse dos momentos deles no elevador. Seu corpo se contraiu em resposta à pressão dos seios dela contra seu peito. Liam não queria baixá-la até poder colocá-la sobre um macio colchão e fazer amor com ela durante dias.

A única reação de Francesca foi um forte suspiro ao se virar para olhar nos olhos dele. Observou o rosto de Liam com intensidade, interpretando as reações corporais dele pela expressão. Ele viu um reconhecimento nos olhos dela, algo que lhe disse que ela sentia o mesmo. Francesca abriu a boca para dizer algo, quando o carro parou ao lado deles.

Relutantemente, ele a pôs no chão, deu a volta no carro e entrou.

Eles só falaram novamente quando pararam diante da casa dela. E foi um emaranhado de palavras.

– Você quer entrar?

– Eu me diverti muito hoje.

– Eu também.

– Sim. Francesca sorriu ao ouvir um falar por cima das palavras do outro.

– Agora que já deixamos isso claro, entre, e eu faço café para nós.

Liam ficou empolgado por receber um convite para entrar. Saiu e abriu a porta do carro para ela, acompanhando-a até a porta da casa. Pôs levemente a mão na base das costas de Francesca enquanto ela soltava o trinco, sentindo-a estremecer. Ela não conseguia evitar reagir ao toque dele, ele percebeu.

Eles entraram, e Liam a seguiu até a cozinha, onde Francesca deixou a bolsa sobre a bancada e tirou os sapatos.

– Muito melhor – disse ela sorrindo. – Agora o café. – Francesca se virou para os armários e começou a pegar o que precisava.

Enquanto ela punha os grãos na máquina, Liam tirou o paletó e o pendurou num dos bancos, chegando por trás dela. Envolveu a cintura de Francesca com os braços, pressionando seu corpo por inteiro contra o dela. Jogou o cabelo de Francesca por cima do ombro e deu um cálido beijo em sua nuca.

A colher caiu na bancada quando Francesca estendeu as mãos para envolver o próprio corpo.

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– Não quer café? – sussurrou ela enquanto a boca de Liam continuava a percorrer sua pele. Ela pressionou seu corpo contra o dele.

Liam tirou o casaco pelos ombros dela.

– Café me manteria acordado. Acho que prefiro ir para a cama. – Ele empurrou o firme calor de sua ereção contra as costas dela, deixando que suas mãos vagassem pelo macio tecido do vestido. – E você?

A decisão precisava ser dela. Bancar o casal feliz seria muito mais fácil se ele não precisasse duelar com uma ereção toda vez que eles estivessem juntos. O sexo não era necessário no acordo deles, mas, droga, o fato de estarem noivos seria uma excelente desculpa para fazê-lo.

– Não – respondeu ela.

As palavras de Francesca fizeram as mãos de Liam ficarem paralisadas. Ela dissera “não” ? Droga. Ele devia estar interpretando tudo errado.

Antes que ele pudesse recuar, Francesca se virou de frente para ele, ainda em seus braços, e envolveu o pescoço dele com os dela.

– Não quero ir para a cama – explicou ela. – Quero você aqui mesmo.

Liam ficou mais do que feliz em atender o desejo dela. Com um movimento do braço, ele derrubou a bolsa dela no chão, abrindo espaço na bancada. Ergueu-a e a pôs sentada na borda arredondada da placa de granito. Suas mãos subiram pelas pernas de Francesca, empurrando a barra do vestido o suficiente para abrir as pernas dela, permitindo que ele se acomodasse entre elas.

– Está bom assim? – perguntou ele, segurando o traseiro dela e puxando-a para si.

Francesca sorriu e envolveu a cintura dele com as pernas.

– Perfetto.

Curvou-se para beijá-lo, e as comportas se abriram. No instante em que os lábios deles se encontraram, tudo o que eles haviam contido na semana anterior avançou com tudo. As mãos de um se moveram freneticamente sobre o outro, puxando zíperes e botões até exporem a pele. As línguas deslizavam uma contra a outra, provando, tentando, absorvendo tudo.

Liam não se saciava da sensação da pele dela, dos leves gemidos contra sua boca enquanto ele a tocava. Tentou ser delicado ao abrir o zíper do vestido e empurrar a barra até a cintura, mas a paciência estava se esgotando. Especialmente quando Francesca puxou o vestido por cima da cabeça e ele viu a calcinha de renda rosa e o sutiã sem alças que ela usava.

Liam recuou um passo para apreciar a vista. Por mais que ele a desejasse, não se apressaria. Francesca levou as mãos às costas para soltar o sutiã, jogando-o para longe.

Ao ver os seios fartos e redondos dela, ele quase perdeu o controle. Suas mãos estavam loucas para tocá-la.

– Toque em mim – sussurrou Francesca, percebendo a hesitação dele. – Quero que você faça isso.

– Tem certeza? Na outra noite…

– Aquilo foi antes. Agora estou pronta e não quero mais esperar.

Ele também estava pronto, mas sem pressa. Com os olhos fixos nos dela, ele tirou a gravata e a camisa. O cinto, a calça e todo o resto logo as seguiram, até que a única 38

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peça de roupa entre eles dois fosse aquela calcinha rosa. Retornando para o espaço entre as coxas dela, Liam pôs um preservativo sobre a bancada e subiu com as mãos pelas pernas dela até o quadril.

– É sua calcinha preferida? – perguntou.

Francesca balançou a cabeça. Ele ficou feliz. Já não se importava mais com a resposta. Ele encomendaria outras dez para substituir aquela. Seus dedos seguraram o tecido, puxando-o com força. Houve um alto ruído de algo se rasgando, e a calcinha cedeu em suas mãos.

Finalmente. O lindo corpo nu dela estava totalmente exposto diante dele. Dessa vez, nada os interromperia.

Liam apoiou as costas dela com seu antebraço e usou o outro braço para colocá-la deitada sobre a bancada. Curvou-se sobre Francesca, e eu seus lábios se juntaram às mãos, percorrendo os seios dela, descendo pela barriga. Sua boca deixou uma ardente trilha pelo caminho, parando na altura do quadril enquanto uma das mãos buscava o úmido calor entre as coxas dela.

Francesca arfou e se contorceu contra ele. Suas costas se arquearam da bancada.

Ela estava pronta para ele, e, por mais que Liam quisesse ir devagar, precisava possuí-la imediatamente. Eles teriam a noite inteira para saborear um ao outro.

Pondo o preservativo, Liam segurou os quadris dela e a penetrou num único e rápido movimento. Afundar no quente e acolhedor corpo dela foi um raro prazer. Um relâmpago de sensação desceu pela espinha dele, explodindo em seus braços e pernas.

Ele cerrou os dentes, mantendo-se firme, à beira de perder o controle. Em seguida, investiu profundamente para dentro dela outra vez.

Francesca se levantou, envolvendo a cintura dele com as pernas e o pescoço com os braços. Pressionando seus seios nus contra o peito dele, sussurrou, lambendo a orelha de Liam: – Quero tudo.

Segurando as costas dela, ele obedeceu. Preencheu-a por vezes sem fim, perdendo-se em Francesca até que ela gritasse de prazer. Só então ele se permitiu perder o controle. Movendo-se rapidamente, cedeu à sensação do corpo dela envolvendo-o, e fluiu para dentro de Francesca com um profundo grunhido da tão esperada satisfação.

CAPÍTULO SETE

Francesca rolou para o lado e se aconchegou no lençol, abrindo os olhos apenas quando um peso impediu que a coberta se movesse da maneira como ela queria. A luz do sol entrava pela janela do quarto, iluminando as largas e nuas costas de Liam ao lado dela.

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O que ela fizera?

Tivera uma noite de fantástico e apaixonado sexo com seu noivo falso. Desistindo do lençol, ela se deitou lentamente de costas, torcendo para não acordá-lo. Não estava pronta para enfrentar a manhã seguinte com o homem com o qual ela não se casaria.

Francesca olhou por baixo do lençol para seu corpo nu. Levando a mão à cabeça, ela conteve um grunhido. Aquela situação já era suficientemente complicada. Fingir um noivado era apenas para os que gostavam de emoções fortes. Ela ainda acrescentara sexo à mistura?

Liam era o chefe dela. Seu noivo falso. Ela não tinha nada que dormir com nenhum deles, muito menos com os dois. Contudo, sentia-se inegavelmente atraída por ele. Era inevitável.

Ele era lindo, rico, poderoso… Tinha um ótimo senso de humor e um sorriso de menino que fazia o coração dela se derreter. E, acima de tudo, ele se importava com seus funcionários. Eles tinham começado com o pé esquerdo, falando do orçamento, mas ela respeitava o que ele estava fazendo. Respeitava-o ainda mais pelo esforço que ele estava fazendo para proteger a rede.

Liam era exatamente o tipo de homem pelo qual ela poderia se apaixonar… perdidamente. O único problema era que ele não era do tipo de homem que sentiria o mesmo por ela.

Francesca levava os relacionamentos a sério. Não gostava de casos passageiros, apesar de ter perdido o bom senso no elevador, e, definitivamente, não dormia com homens quando não via a possibilidade de um relacionamento.

Queria um casamento como o de seus pais. Victor e Donatella Orr eram casados fazia 30 anos. Quando ela era mais nova, eles tinham lhe dado um bom exemplo de como deveria ser um relacionamento. Discutiam, mas chegavam a um meio-termo e nunca guardavam rancor. Eram afetuosos e compreensivos. Davam espaço um ao outro, mas sempre passavam ótimos momentos juntos, como família e casal.

Aos 27 anos, Francesca ainda não encontrara um homem com quem pudesse ter esse tipo de relacionamento. Liam era do tipo que saía com várias mulheres, jamais levando algo a sério, a não ser seu trabalho. Do tipo que, aos 50 anos, abriria os olhos e perceberia que tinha perdido a chance de ter uma família.

Apesar de ela estar noiva dele, Liam seria o último homem com quem Francesca se casaria. E era por isso que dormir com ele era um erro. Sendo uma mulher passional, ela dava o máximo de si em tudo o que fazia. Contudo, não poderia se envolver demais naquilo. Não poderia olhar para seu anel de noivado e o retrato deles juntos e imaginar que fossem algo além de uma bem montada fantasia.

Francesca se virou para Liam. O lençol caía por cima do torso dele, deixando seu peito musculoso exposto ao sol da manhã. Teve vontade de passar os dedos pelos músculos dele, enterrar as mãos nos pelos escuros de seu peitoral. De pôr as mãos debaixo das cobertas e acordá-lo da maneira mais prazerosa possível.

Definitivamente, aquilo não parecia um acordo de negócios.

Virando-se para o outro lado, ela viu seu robe pendurado na porta do closet.

Saindo silenciosamente da cama, ela pegou a peça de seda e a vestiu. Olhou novamente para Liam, ainda dormindo, e saiu do quarto.

No andar de baixo, ela respirou mais aliviada. Ao menos até ver os restos de sua calcinha cor-de-rosa no chão da cozinha. Pegou-os e os jogou na lixeira. Em seguida, prosseguiu juntando as outras peças. Jogou a pilha sobre o sofá e foi até a porta pegar o 40

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jornal. Pondo-o sobre a mesa da cozinha, ela resolveu fazer café. A cafeína a ajudaria a pensar.

As últimas gotas do café estavam caindo quando ela ouviu os passos de Liam. Um instante depois, ele apareceu na cozinha, usando apenas a calça do terno que ela acabara de pegar.

– Bom dia – disse Francesca servindo uma caneca para cada um.

– Você saiu escondida – reclamou Liam, a voz ainda rouca de sono. Passou os dedos por seu bagunçado cabelo e franziu o cenho para ela.

– Prometi café ontem à noite. Tive que descer para fazer, para que ficasse pronto quando você acordasse. Como você gosta?

– Creme e açúcar – disse ele, sentando-se à pequena mesa redonda. Abriu o jornal e começou a olhar os artigos, alheio ao nervosismo que levara Francesca à cozinha.

Ela pôs as duas canecas e um caixa de biscoitos sobre a mesa, pegando dois guardanapos.

– O café está servido.

– Obrigado. Nossa festa foi parar nas colunas sociais da edição de domingo. – Liam deslizou a seção com a foto deles pela mesa até ela. – Eu devia recortar e mandar para a rainha Beatrice.

– Tenho certeza de que ela detestou não ter estado presente. Minhas amigas fazem festas nas quais nem ela conseguiria encontrar defeitos. Ah! Eu me esqueci de dizer que Ariella concordou.

– Com o quê?

– Na festa, consegui falar com ela sobre o reencontro num programa de televisão.

Não consigo entender por que, mas ela concordou em fazer, se o presidente aceitar.

Os olhos de Liam se arregalaram, e ele dobrou novamente o jornal enquanto sorria.

– Isso é excelente. Uau. Como você se esqueceu de me contar algo assim?

Estamos juntos desde a festa.

Francesca o olhou por cima da caneca com uma das sobrancelhas arqueadas.

– Sim. Passamos a noite inteira juntos. E muito ocupados, se não se lembra.

Liam sorriu.

– Verdade. Mas foi inevitável. – Ele pegou um biscoito da caixa. – Bem, agora você vai precisar entrar em contato com o gabinete de imprensa da Casa Branca para ver se o presidente Morrow vai participar.

– Eu? – Sim. Eu disse que você ficaria no comando do evento. Isso significa que tudo depende de você.

– O Baile da Juventude em Crise é no sábado à noite. Estou ocupadíssima com isso.

– Acredito totalmente que você seja capaz de resolver tudo isso e mais.

Provavelmente, as coisas não vão andar muito antes do baile. Você só precisa conseguir que a Casa Branca aceite. Provavelmente, o programa só vai ao ar em junho.

Até junho seria um bom prazo para Francesca.

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– Vou ligar para eles na segunda de manhã – concordou ela. Parte dela torcia para que o presidente e sua equipe enxergassem que aquela era uma má ideia. Ela sabia que seria bom para a audiência e talvez melhorasse a opinião pública a respeito do ANS, mas parecia errado. Se ela tivesse sido adotada, não iria querer que os primeiros momentos do reencontro fossem transmitidos para o mundo inteiro.

– Está ótimo. – Liam deixou o jornal de lado e pegou as mãos dela. – Obrigado por ter perguntado a ela. Sei que você estava desconfortável com isso.

– A decisão é de Ariella, não minha.

– Acho que você vai se sair muito bem comandando o programa. Sei que você nunca fez algo assim na rede, mas vai fazer um excelente trabalho. Tudo tem estado tão louco desde que cheguei ao ANS, mas acredito verdadeiramente que podemos reerguer essa rede. Se tudo der certo, vou conseguir controle total das ações e poderemos encerrar o noivado falso. A exclusiva com o presidente e a filha dele vai nos render pontos de audiência e valorizar os anúncios. Sei que vou conseguir reconstruir essa rede… com a sua ajuda. Então obrigado por tudo o que você fez até agora.

– Não me agradeça ainda. – Muitas peças precisavam se encaixar para que aquela situação se realizasse. E, no fundo, Francesca se preocupava com a possibilidade de que, em algum momento, as coisas começassem a dar errado.

Na manhã de segunda, Francesca entrou no escritório de Liam sem precisar ser anunciada por Jessica. Ele ergueu o olhar da tela do computador quando ela entrou, e um largo sorriso se espalhou por seu rosto. E devia mesmo estar sorrindo depois do final de semana que eles haviam passado juntos.

– Vejo que você já está desfrutando dos privilégios de ser a noiva do proprietário.

– Acesso exclusivo, a qualquer hora – disse Francesca, sorrindo.

Liam estava feliz por vê-la relaxada e feliz. Ele sabia que Francesca tinha preocupações. Todas as emoções ficavam estampadas no rosto dela. Entretanto, depois daquele final de semana, ele tinha certeza de que os dois já tinham perspectivas mais otimistas.

Francesca pôs um copo de café para viagem e uma sacola com biscoitos italianos diante dele. Ela o viciaria naquelas delícias, e ele jamais conseguiria encontrá-las sem a ajuda dela.

Ela se curvou na direção dele, mas recuou antes que as mãos de Liam fossem longe demais. Por mais que ele ficasse incomodado por não poder tocá-la quando e onde quisesse, ele compreendia. O relacionamento deles podia ser pelo bem da empresa, mas demonstrações de afeto no escritório já eram demais. Ela se sentou numa cadeira com seu próprio copo.

– Já ligou para a Casa Branca? – perguntou ele.

– São 9h. Ainda não fui para o meu escritório.

– Certo, desculpe. Você sabe que estou empolgado para tocar esse plano para frente.

– Eu sei. Vou ligar assim que chegar à minha mesa. Com sorte, não vai demorar.

Tenho um milhão de coisas para resolver antes do baile no sábado.

Liam assentiu.

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– Falando no baile – continuou ela –, a maior parte das coisas já está preparada.

As vendas de convites foram boas, e nosso patrocínio vai garantir que este seja nosso melhor ano até agora. E você vai precisar escrever um discurso.

– Como é? – Liam franziu o cenho. Não gostava de discursar em público. Na realidade, detestava. Ele preferia ficar por trás das câmeras, não diante delas.

– Sendo o principal patrocinador do evento, é o seu trabalho fazer o discurso de boas-vindas da noite e incentivar todos a doar bastante e com frequência.

– Não me lembro de ter visto Graham fazer isso. Isso não devia ser responsabilidade do pessoal da Juventude em Crise?

Os lábios de Francesca se curvaram, mostrando que ela estava entretida. Ele devia estar com uma expressão assustada.

– Graham fazia um discurso todos os anos. E sem frescuras, diga-se de passagem.

Liam resmungou. Aquilo não estava no acordo original deles, mas ele poderia fazer. Dormir com ele também não estava no acordo, e isso dera esplendidamente certo.

– Está bem. Vou escrever um discurso. Mas você vai ter que ir jantar comigo hoje então.

– Por quê?

Liam se curvou por cima da mesa, fixando nela seu olhar mais sedutor.

– Porque vou encher você de sushi e saquê caro. E, depois que você ficar bêbada, vou… convencer você a escrever o discurso para mim.

Francesca riu.

– Não sei escrever discursos. Mas você tem vários funcionários que sabem. Sugiro que os suborne, em vez de mim.

Não era uma má ideia. Se ele conseguisse convencer um de seus âncoras também a ler o discurso…

– Isso significa que você não quer comer sushi comigo hoje?

– Quero. E vou. Mas, primeiro, tenho um presidente a convencer e um baile de caridade a preparar. – Ela se levantou e se curvou para dar um beijo de despedida em Liam.

Desta vez, como eles estavam sozinhos, ele não permitiria que ela fosse embora depois de lhe dar apenas um beijo rápido. Quando Francesca se curvou, ele puxou-a rapidamente. De salto, ela perdeu o equilíbrio e caiu no colo dele. Liam a envolveu com os braços, para que ela não pudesse fugir.

Antes que Francesca pudesse reclamar, os lábios dele encontraram os dela. Ele adorava beijá-la. Adorava beijar mulheres em geral, mas havia algo nos lábios de Francesca que o fazia retornar a eles sempre que possível. Talvez fosse a maneira como ela se agarrava a ele. Ou os leves suspiros e gemidos. Talvez fosse seu sabor. Mas ele não enjoava dela.

Francesca aceitou durante algum tempo. Depois recuou.

– Preciso trabalhar – insistiu, desvencilhando-se dos braços dele. Endireitou sua saia e ajustou sua maquiagem.

– Você está linda – garantiu Liam. E estava sempre. Vestida, nua, perfeitamente maquiada ou saída diretamente da cama. Ele gostava de todos os jeitos.

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Liam quis puxá-la novamente para seu colo, talvez fazer um bom uso de sua mesa.

Pelo que ele podia perceber, contudo, Francesca não iria aceitar. Ao menos aquele beijo passaria o dia inteiro na mente dele.

– Pode me bajular quanto quiser, mas você não vai se safar do discurso, Liam. – Ela saiu do escritório dele, fechando a porta ao passar.

Liam ficou alguns momentos sentado em sua cadeira. Inspirando fundo, ainda conseguia sentir o perfume de rosas dela. Havia algo de que ele não gostasse naquela mulher?

Ele pensou por um momento. Então balançou a cabeça. Ainda não. Sentira-se fisicamente atraído por ela desde o instante em que a vira. Conhecê-la, porém, tornara a atração muito mais forte. Ela era linda. E inteligente. E cheia de consideração.

Ele bebeu um gole do café que ela lhe trouxera. Podia ser difícil lidar com o temperamento dela, mas havia dois lados dessa passionalidade, e, sem dúvida, ele estava desfrutando da outra metade no momento.

A situação que tia Beatrice lhe impusera era infeliz. No entanto, ele não conseguia se arrepender de ter pedido a Francesca para que se tornasse sua noiva. Não fora justo envolvê-la naquele circo, mas ela era a mulher certa para o trabalho.

Liam gostava de estar com Francesca. Trabalhar com ela na semana anterior fora agradável. Ele se sentia muito confortável por tê-la por perto, e isso significava muito. Já namorara muitas mulheres, nunca durante mais do que poucos meses. Liam, porém, impunha limites. Raramente as levava para sua casa, e se fizesse isso, elas não dormiam lá. Não eram apresentadas à família dele, ou ao menos nenhum relacionamento chegara até o ponto em que ele considerasse isso adequado.

E Liam jamais as levava para seu local de trabalho. Sua vida romântica e seu trabalho eram duas vias que jamais se cruzavam. Ele não costumava sair com pessoas do trabalho. Francesca era uma notável exceção.

Ela estava mudando tudo. Aquele noivado falso estava se transformando em outra coisa aos poucos. Ele não queria apenas que Francesca fosse até sua casa; também queria que ela o ajudasse a decorá-la. Gostava de começar suas manhãs conversando com ela em seu escritório ou na mesa da cozinha dela. Ela ainda não conhecera a família dele, mas, no que dependesse de tia Beatrice, ela conheceria… e logo. Se o noivado durasse bastante tempo, talvez ele conseguisse convencer sua mãe e sua irmã a irem visitá-lo em D.C. Liam gostava da ideia de apresentá-las. Tinha certeza de que sua irmã gostaria muito de Francesca.

Todas as regras dele estavam sendo quebradas.

Normalmente, isso o desagradaria. Aquela mulher que ele trouxera para sua vida estava flexibilizando todos os limites de Liam. E ele estava gostando.

Uma leve batida na porta o fez erguer os olhos da foto de noivado.

– Sim? Jessica entrou com alguns arquivos.

– Bom dia, senhor.

– Bom dia, Jessica.

Ela sorriu ao se aproximar da mesa dele.

– Parece bem feliz hoje. O amor lhe cai bem. – Liam sorriu. – Trouxe o que o senhor me pediu. – Jessica pôs a pilha de documentos sobre a mesa dele. – Os números 44

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de audiência do mês passado, das 17h às 19h em dias de semana, o orçamento detalhado do baile deste final de semana e a cópia do guia de italiano que o senhor me pediu para comprar.

– Excelente. Obrigado, Jessica. Tenho uma reunião com o diretor financeiro hoje, certo?

– Às 16h.

Liam assentiu.

– Pode fazer reservas para mim e Francesca naquele ótimo restaurante japonês do Dupont Circle?

– Já vou resolver isso. Algo mais?

– Por ora, é só.

Quando Jessica se virou para sair, Liam pensou em algo.

– Espere. Só mais uma coisa. Eu gostaria de enviar algo para Francesca. Um presente inesperado. Alguma sugestão?

– Bem, para a maioria dos homens, eu sugeriria flores ou chocolates.

– Não sou a maioria dos homens?

– De forma alguma.

Ao menos ela era honesta.

– Sendo assim, o que você recomendaria para a minoria dos homens?

– Talvez algo para o baile do final de semana. O senhor sabe que vestido ela vai usar? Talvez algo brilhante para combinar.

Liam se recordava de Francesca ter dito que precisaria comprar um vestido. Talvez ele pudesse ajudá-la com aquilo. Tia Beatrice tinha especialistas em compras que a acompanhavam quando ela ia escolher uma roupa para um evento.

– Verifique a agenda da srta. Orr para a tarde de amanhã e mude o horário de tudo o que estiver nela. Depois telefone para a Neiman Marcus e peça para que enviem um assistente pessoal de compras.

– Vão precisar do tamanho dela, das cores e outras preferências.

Liam anotou algumas coisas num papel e entregou a ela.

– É uma ideia consideravelmente correta dos tamanhos dela, mas diga para trazerem algumas coisas maiores e algumas menores. Quero a roupa toda, até os sapatos.

– Algo mais?

– Sim. Quero que ela seja a mulher mais deslumbrante da festa. Já é linda por si só, mas quero que ela tenha um vestido quase tão lindo quanto ela mesma. E, sendo assim, pode avisar que não há limite de preço.

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CAPÍTULO OITO

Liam quisera acompanhar Francesca ao baile, mas ela insistira que precisava ir mais cedo. Ele imaginara que ela passaria a maior parte da noite correndo de um lado para o outro. Isso significava ficar sozinho. Normalmente, não se sentiria incomodado.

Ultimamente, porém, ficar longe de Francesca lhe causava um estranho aperto no peito.

Ao passar pela porta do salão de festas do hotel, Liam foi recebido pelo som de uma grande orquestra, acompanhado pelo rugido abafado de várias pessoas se socializando. A luz estava fraca, mas seus olhos se ajustaram rapidamente. Ele buscou Francesca no recinto, mas começou a achar que seria perda de tempo. Era como uma agulha em um palheiro.

Apesar de ter pagado pela roupa que ela escolhera para aquela noite, ele não fazia ideia de qual seria. Francesca ficara muito feliz com o presente e lhe agradecera de diversas formas ao longo de semana anterior.

Então ele a viu perto do bar. Não havia como confundir aquela agulha, por maior que fosse o palheiro. O assistente de compras da loja de departamentos acatara os pedidos de Liam. Francesca era a mulher mais deslumbrante do recinto. Ele sequer precisava olhar à volta para verificar. Tinha certeza.

O vestido era preto e cinza, com um design em espiral. Não tinha alças e se ajustava a cada curva, até o joelho, onde se abria numa delicada cascata de penas pretas de marabu. Os seios dela eram ressaltados com muito bom gosto pelo decote. Seu cabelo estava preso, deixando seu pescoço impossivelmente longo e pronto para os beijos dele. As únicas joias que ela usava eram um par de reluzentes brincos de diamante e um bracelete.

Liam achou o vestido majestoso e extremamente sexy. E a melhor parte era que quem o estava usando era a noiva dele.

Ele tentara não pensar muito nela assim. Isso insinuava que havia mais do que existia na realidade entre eles, mas ele sentiu um surto de territorialidade quando ela começou a falar com outro homem. Teve vontade de correr até ela, beijá-la loucamente e mostrar que ela lhe pertencia.

Então Francesca levantou a mão para mostrar seu anel de noivado e sorriu.

Finalmente, ela irradiava alegria, como uma noiva deveria irradiar. O homem disse algumas coisas e se afastou, e ela começou a andar na direção de Liam.

No instante em que os olhos dela encontraram os dele, ela parou. Com um sedutor sorriso, estendeu os braços para mostrar seu vestido e girou para que ele o visse. A parte de trás era ainda mais incrível, com um grande decote que mostrava a pele perfeitamente bronzeada dela.

Liam acabou com a distância entre eles o mais rapidamente possível.

– O que achou? Gastei seu dinheiro sabiamente?

Ele se curvou e a beijou. Não conseguiu evitar.

Quando Liam se afastou, Francesca sorriu.

– Acho que sim.

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– Incrível – disse ele.

– Obrigada por tê-lo comprado para mim. O fato de a mulher da loja de departamentos ter simplesmente aparecido com vestidos foi perfeito. Eu me senti uma atriz indicada ao Oscar.

– Hollywood ficaria muito mais linda com você.

– Ah, pare. Não tem ninguém por perto para nos ouvir. Não precisa me bajular tanto.

Liam balançou a cabeça.

– Estou falando sério. Se estivéssemos completamente sozinhos, eu diria o mesmo. Claro, eu diria enquanto tirasse o vestido de você.

Francesca sorriu e deu o braço a ele.

– Primeiro, vou mostrar a você onde vamos nos sentar. As pessoas ainda estão olhando as mesas de leilão silencioso, mas o evento logo vai começar. Você vai fazer seu discurso depois do vídeo sobre as instalações.

O discurso. Ele quase esquecera aquele peso sobre seus ombros quando a vira.

– Oba – disse ele inexpressivamente.

– Você o trouxe?

Ele deu tapinhas em sua lapela.

– Está bem aqui. E eu mesmo escrevi.

– Estou ansiosa para ouvi-lo.

Eles se aproximaram de uma mesa redonda, logo ao lado dos degraus que levavam ao palco. Sentaram-se no exato instante em que a música da orquestra aumentou de volume e as luzes do palco se movimentaram, indicando que a programação começaria.

O diretor da Juventude em Crise deu boas-vindas a todos, apresentando um curto vídeo sobre o programa deles.

A cada minuto que se passava, Liam se sentia mais nauseado com a ideia de falar diante de 300 pessoas.

Quando os créditos começaram a subir, Francesca apertou levemente a mão dele.

– Está na hora – disse, enquanto o olhava. – Você vai se sair muito bem.

Liam deu um grande gole em seu vinho e se levantou. Subiu ao palco, onde foi banhado por cegantes luzes brancas. Pegou o discurso no bolso, ajustou o microfone e tentou evitar que a multidão ouvisse as frenéticas batidas de seu coração.

– Obrigado e sejam todos bem-vindos ao Oitavo Baile Beneficente da Juventude em Crise. Como alguns de vocês sabem, comprei recentemente a rede ANS, que tem um compromisso de longa data com esta organização. É uma parceria da qual me orgulho, e muitas pessoas trabalham para torná-la possível.

Ele olhou para a fraca silhueta de Francesca diante do palco. A expressão empolgada dela lhe deu coragem para continuar.

– Primeiramente, gostaria de agradecer à vice-presidente executiva de Relações Comunitárias do ANS, organizadora do evento desta noite, minha linda noiva, Francesca Orr. Para os que não conhecem Francesca, ela se importa profundamente com essa causa. Com tudo o que aconteceu com nossa rede nos últimos meses, houve algumas 47

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incertezas com relação a se poderíamos patrocinar o evento, como fizemos nos últimos sete anos.

Ele continuou: – Bem, devo dizer que todos, menos Francesca, tiveram essas incertezas. No que dependesse dela, este baile aconteceria de qualquer maneira. Ela abriria mão do próprio salário para financiar este evento se fosse necessário. Espero que todos recompensem a determinação dela fazendo um grande e gordo cheque. Concordei em fazer uma doação igual à maior quantia desta noite, como presente de noivado. Sendo assim, podem me deixar encrencado, porque é por uma boa causa.

A plateia riu, e Liam sentiu sua confiança aumentar. Passou para a próxima página do discurso, piscou para Francesca e prosseguiu.

Francesca adorara seu vestido. Contudo, depois de uma longa noite, ela ficou feliz por trocá-lo pelo vestido simples que trouxera consigo ao hotel. Ela calçou as confortáveis sandálias rasteiras e suspirou, aliviada. O baile fora um retumbante sucesso.

O salão de festas estava quase vazio, quando Liam a encontrou juntando suas coisas.

– Doeu bastante fazer aquele cheque – disse ele. – Preciso me lembrar de dar um cascudo no noivo de Scarlet por ter doado tanto.

Ela sorriu, virando-se para ele. A gravata-borboleta estava solta, a gola, desabotoada. Ele conseguia parecer casualmente sexy, mas elegantemente refinado ao mesmo tempo.

– Daniel sabe que é por uma boa causa, assim como você. E um excelente desconto nos impostos.

– Valeu a pena para ver a sua cara quando eles anunciaram quanto conseguimos arrecadar.

– Ainda não consigo acreditar. Superamos muito as doações do ano passado. – Francesca pendurou a bolsa no ombro e deu o braço a Liam.

Eles foram para a frente do hotel onde a festa fora realizada. Liam entregou o tíquete ao manobrista.

– Estacionei ali – disse ela apontando.

– Pegamos seu carro amanhã de manhã. Quero que você vá para casa comigo hoje.

Aquilo era interessante. Liam ainda não a levara para sua casa. Francesca imaginava que fosse um refúgio pessoal para ele. Eles sempre iam para a casa dela. E, naquela noite, ela desejava que continuasse sendo assim. Não trouxera nenhuma muda de roupa.

– Não trouxe nenhuma roupa para amanhã – disse ela.

– Você não vai precisar – respondeu ele, com um malicioso sorriso quando o manobrista chegou com o carro.

Francesca desistiu de resistir. Estava esgotada demais para discutir. Eles entraram no conversível dele, e ela só se mexeu novamente quando eles chegaram à casa dele.

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Liam descrevera o local como uma casa pouco maior que a dela, mas mentira. Ao pararem diante da pista particular feita de tijolos, Francesca se flagrou olhando para uma casa com um pátio na frente. Eram dois andares de tijolos vermelhos, com a porta principal num elegante formato de arco e claraboias no telhado.

– Você disse que morava numa casa quase igual à minha.

Liam deu de ombros e entrou com o carro na garagem.

– É parecida.

Ele deu a volta no carro e abriu a porta para ela, acompanhando-a até a casa. Eles entraram pela cozinha.

Liam pegou a bolsa com as roupas dela e a pendurou no closet. Francesca pôs no chão a outra bolsa, que continha os outros itens de que ela precisara para a noite e entrou na sala de estar.

– É um lugar lindo – disse ela, indo até a escadaria com corrimão de madeira. O espaço tinha tanto potencial. Era uma casa deslumbrante. Porém, como ele dissera, não tinha um toque pessoal. Paredes brancas, pisos de madeira, pouca mobília. Não havia uma obra de arte sequer nas paredes ou objetos pessoais em prateleiras. Parecia uma casa pronta para ser vendida. – Mas precisa de um toque feminino.

– Eu disse que precisava da sua ajuda para decorar.

– Não imaginei que fosse ser uma tarefa tão grande.

Liam tirou o paletó e o pendurou no sofá.

– Não era o que estava imaginando?

– Acho que eu esperava que o lugar refletisse mais a sua personalidade. Você parecia protegê-lo tanto que achei que vir até aqui me daria uma ideia de quem você é como pessoa.

– Você não vê um reflexo meu aqui?

– Na verdade, não. Mas vejo o que eu devia ter esperado ver. A casa de alguém que é envolvido demais com o trabalho para torná-la um lar. Isso fala muito de você, eu acho.

Liam semicerrou os olhos para ela.

– Meu trabalho é mais importante que a cor das paredes.

– Meu trabalho também é importante para mim. Mas também reservo tempo para outras coisas. Quero me casar e ter uma família em breve. Quando isso acontecer, não quero apenas um homem bem-sucedido, mas também um que possa deixar o trabalho de lado para desfrutar da vida em família. Você nunca vai fazer isso.

Quando Francesca disse as palavras em voz alta, percebeu que talvez tivesse cometido um grave erro tático com Liam. Ele podia não interpretar demais o que ela acabara de dizer, mas aquilo a atingiu profundamente. Quando ela se visualizara mentalmente se casando e tendo uma família, fora com Liam. Imaginara aquele lugar cheio de cor e vida, e com crianças que se pareciam com ele.

Ela permitira que seu coração escapasse aos poucos. Acontecera tão lentamente ao longo das últimas semanas que Francesca mal percebera até que fosse tarde demais.

Liam não sabia disso, mas Francesca entregara seu coração a ele.

Ao homem que ela jamais poderia ter.

Não havia futuro para ela com alguém como Liam.

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Entretanto, Francesca já estava vendo mais coisas. O futuro deles juntos estava claro como a piscina iluminada que ela vira da janela da sala dele.

– Tem muito tempo para tudo isso – insistiu ele.

Aquele homem viciado em trabalho tinha tantas facetas que ela estava ansiosa por explorar! Francesca sabia que ele era mais do que mostrava ao mundo, pela maneira como se importava com os funcionários e como estava lidando com a entrevista com Ariella. Liam tinha uma atenção aos detalhes que ia além de simplesmente fazer um trabalho de qualidade. Ele era tão apaixonado pelo que fazia quanto ela.

Como Francesca não poderia amar essa característica dele?

Amar. Francesca engoliu em seco e se virou para olhar pela janela. Não poderia olhar nos olhos dele com aquele tipo de pensamento em sua mente. Liam perceberia. E ele jamais poderia saber. Porque jamais daria certo.

Apesar do futuro que ela conseguia vislumbrar, havia uma peça crucial faltando entre eles. Ele não a amava. Sequer estaria com ela naquele momento se não fosse pelas exigências de sua tia. Era uma amarga realidade, mas, quanto mais ela mantivesse aquilo em sua mente, menos mal ficaria quando aquele “acordo” chegasse ao fim.

– Quer conhecer o segundo andar?

Recompondo-se, Francesca se virou e assentiu, sorrindo. Liam subiu na frente, mostrando seu escritório, o quarto de hóspedes e, por fim, seu quarto.

Sabendo que eles tinham chegado ao destino final, ela tirou os sapatos e pisou no felpudo carpete. Passou a mão pela macia colcha azul enquanto ia até a janela. Viu o brilho da cidade iluminando o céu escuro e ocultando as estrelas. Numa noite como aquela, ela precisava de um sinal para ajudá-la. Algo para lhe dizer que ela estava tomando as decisões certas com Liam.

Francesca levou a mão ao corno portafortuna que ela sempre usava e percebeu que o tirara naquela noite. Estava em sua bolsa. Subitamente, sentiu-se exposta sem ele, como se algo pudesse vencer sua armadura. Baixando o olhar, ela viu um coelho parado no gramado de Liam. Antes que ela pudesse se mexer, algo o assustou, e o animal disparou pelo pátio, passando diante dela.

Um sinal da decepção que estava por vir.

Francesca inspirou fundo e aceitou o inevitável. Estava apaixonada por um homem que não poderia ter. Não precisava de um coelho para lhe dizer que a decepção estava próxima.

O calor do corpo de Liam contra as costas dela foi uma sensação ao mesmo tempo doce e amargurada. Quando a mente dela começou a resistir, seu corpo se curvou para o dele. O peito nu de Liam encontrou as costas dela, seus dedos deslizando por baixo das finas alças do vestido para tirá-las dos ombros de Francesca.

A peça caiu ao chão, deixando-a totalmente nua. As mãos de Liam vagaram pela pele exposta dela, hesitando no quadril.

– Sem calcinha? – perguntou ele.

O vestido da festa era justo demais, e ela não pudera usar. Além do mais, sabia como a noite terminaria.

– Não posso deixar você rasgar toda a minha bela lingerie.

– Muito prático. Acho isso sexy. Tudo em você me atrai. Não sei se vou conseguir me afastar algum dia.

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Francesca fechou os olhos, feliz por ainda estar de costas para ele. Às vezes, desejava que ele não falasse assim. Era bom ouvir, mas doía saber que não era verdade.

No instante em que a tia dele o deixasse em paz, aquela farsa terminaria por completo.

Ao menos agora Francesca não precisaria fingir estar de coração partido quando o noivado fosse rompido. As lágrimas que ela verteria no ombro de Ariella seriam autênticas.

– Olhe para mim – sussurrou Liam.

Ela se virou nos braços dele, tentando conter as lágrimas que haviam chegado cedo demais. Eles ainda não tinham terminado. Ela precisava aproveitar ao máximo seu tempo com ele.

Quando o olhar dela encontrou os olhos azuis dele, Francesca envolveu o pescoço de Liam com os braços e ficou nas pontas dos pés. Os lábios dele tocaram os dela, e ela cedeu por completo. A sensação das mãos de Liam em seu corpo, a pele contra a dela, era tudo um inegável prazer.

Eles se moveram juntos, ainda abraçados, enquanto iam lentamente até a cama.

As costas nuas dela tocaram a maciez da colcha um instante depois. Liam não perdeu tempo, e cobriu o corpo dela com o seu.

Quando os lábios e as mãos dele a acariciavam, Francesca percebeu uma diferença em seu toque. O frenético incêndio dos primeiros encontros se fora, substituído por uma paixão que ardia lenta e prazerosamente.

Quando ele a preencheu, todo o seu corpo entrou em contato com o dela. Liam se moveu lentamente, enterrando o rosto no pescoço de Francesca. Ela sentia a respiração quente dele em sua pele, a tensão de cada músculo do corpo dele ao se flexionar.

Quando Liam grunhiu o nome dela em seu ouvido, aquilo fez Francesca estremecer por completo.

Ela o abraçou e o puxou para si. Gostava de tê-lo perto dela. Aquilo não era nada como o encontro selvagem e apaixonado na cozinha dela. Nem como os momentos deles na semana anterior. Algo mudara, mas ela não sabia o quê. Parecia…

Parecia que eles estavam fazendo amor pela primeira vez.

Esse pensamento fez o coração de Francesca parar por um centésimo de segundo, mas ela não conseguiu pensar nisso. Os lábios de Liam encontraram a carne sensível de seu pescoço no instante em que o movimento dos quadris dele começou a criar um delicioso calor por todo o corpo dela. Francesca se agarrou a ele, aninhando os quadris de Liam entre suas coxas enquanto eles se aproximavam do êxtase.

Quando ela chegou ao limite, não gritou. Apenas arfou desesperadamente, sussurrando o nome dele com seu rosto pressionado junto ao de Liam. A liberação dele foi com um grunhido contra o pescoço dela, os intensos espasmos de seu corpo contidos quase totalmente pelo firme abraço deles.

Em vez de rolar para longe, ele ficou ali. Seu corpo relaxou, e sua cabeça repousou nos seios dela. Francesca beijou a úmida testa de Liam.

Antes de adormecerem juntos, um dos últimos pensamentos de Francesca foi o de que ela estava totalmente perdida naquele homem.

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CAPÍTULO NOVE

– Tia Beatrice – disse Liam tentando soar animado.

Depois que o maître levara Francesca e ele à mesa onde a mulher mais velha estava sentada, ela ergueu os olhos para ele e franziu o cenho.

– Liam, você nunca usa gravata?

Ele sorriu, feliz por finalmente tê-la levado ao ponto de perguntar. Virou-se para a esquerda e sorriu.

– Esta é minha noiva, Francesca Orr. Francesca, esta é minha tia-avó, Beatrice Crowe.

Francesca soltou a mão dele para apertar a da Rainha Beatrice.

– É um prazer conhecê-la.

Tia Beatrice apenas assentiu, observando a noiva dele com seu olho crítico. Liam estava prestes a interromper a inspeção, quando ela se virou para ele com a coisa mais próxima de um sorriso que conseguiria criar.

– Ela é mais bonita pessoalmente do que nas fotos, Liam.

Ele suspirou de alívio e puxou a cadeira para que Francesca se sentasse.

– Concordo plenamente – disse ele.

Os primeiros pratos foram acompanhados por conversas triviais, educadas e rígidas. A tia dele fez um leve interrogatório com Francesca, perguntando sobre a família dela, sobre seu passado. Estava tentando encontrar alguma farsa.

Provavelmente, Francesca também percebera isso.

– Então, o que a traz a D.C.? – perguntou ela mudando o foco da conversa.

Liam engoliu sua resposta, a de que ela estava ali para ver como andava o acordo deles.

– Vou discursar diante de um comitê do congresso amanhã – disse tia Beatrice, permitindo que o garçom retirasse seu prato.

Ela já falara daquilo antes, mas Liam achara que fosse apenas uma desculpa inventada.

– Sobre o quê? – indagou ele.

– É um painel sobre o financiamento federal à pesquisa do tratamento de câncer.

Liam não soube o que dizer.

– A senhora perdeu alguém por causa do câncer? – perguntou Francesca.

– Ainda não. Mas os médicos me deram de três a seis meses. Tempo suficiente para resolver meus assuntos pendentes antes de eu ficar permanentemente na cama.

A taça de vinho de Liam ficou suspensa no ar por alguns momentos antes de ele a pôr de volta na mesa.

– O quê?! – Ele não podia ter ouvido corretamente.

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– Estou morrendo, Liam. Tenho um câncer cerebral em estágio quatro, e não há nada que possam fazer. Alguns tratamentos encolheram o tumor e me deram mais tempo, mas só um pouco mais.

Incapaz de olhar nos olhos dela, Liam fixou a atenção no cabelo grisalho perfeitamente ondulado dela e percebeu, pela primeira vez, que era uma peruca. Fazia quanto tempo que aquilo estava acontecendo?

– Quando isso aconteceu? Por que não contou a ninguém?

A tia dele riu.

– Por favor, Liam. Os tubarões estão me rondando há anos. Acha mesmo que eu avisaria a eles que a hora da refeição está chegando?

Era verdade. Houvera abutres sobrevoando a mansão dela durante toda a vida de Liam. Devia ser por isso que ela insistira tanto para que ele se casasse e assumisse o comando da família. Ela sabia que seu posto precisava ser ocupado rapidamente. Dera um ano a ele, mesmo sabendo que não viveria para ver seu plano se realizar.

Ela vinha lidando em silêncio com aquilo só Deus sabia desde quando.

– Como pode aguentar isso sozinha? Você precisa de alguém com você.

– Tenho alguém comigo. Henry está ao meu lado há mais de 40 anos. Ele me apoiou durante todos os tratamentos. Ficou ao meu lado enquanto eu chorava.

Henry. Liam jamais entendera por que o mordomo dela continuava lá, mesmo com sua idade avançada. Agora talvez ele já compreendesse o motivo. Nenhum deles se casara. Tinham vivido numa época em que jamais poderiam ter ficado juntos devido ao imenso abismo social entre eles. Contudo, eram apaixonados um pelo outro. Em segredo, vivendo juntos em silêncio, sem que ninguém soubesse.

Agora Henry a perderia. Aquilo fez o peito de Liam doer pelo homem silencioso e paciente que conhecera desde que nascera.

– Não sei o que dizer, tia Beatrice. Eu sinto muito.

– Tem algo que possamos fazer? – perguntou Francesca. A mão dela pegou a dele debaixo da mesa. Liam ficou grato pelo apoio. Como durante discurso, aquilo lhe dava forças.

– Na verdade, sim. Gostaria que vocês dois se casassem neste final de semana, enquanto estarei na cidade.

Tudo, menos aquilo.

– O quê?! – perguntou Liam com um tom mais ríspido do que gostaria de usar depois de tudo o que tinham acabado de discutir.

– Sei que nosso acordo original lhe dava um ano, mas minha saúde piorou e fui forçada a alterar o prazo. Quero garantir que você faça mesmo isso, para que eu tenha tempo suficiente para resolver todas as questões jurídicas. Também quero vê-lo casado antes de ficar inválida demais para me divertir na festa.

A mão de Francesca apertou a dele. Nunca fora a intenção deles que aquilo fosse tão longe. Ele jamais esperar algo assim.

– No próximo final de semana? Mas já é noite de segunda-feira. É impossível.

– Nada é impossível quando você tem dinheiro suficiente. Falei com o gerente do hotel onde estou hospedada, e ele disse que conseguiria encaixar um casamento e uma

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festa lá na noite de sexta-feira. Eles têm um adorável terraço para a cerimônia, e o salão de festas está disponível.

Liam sentiu um embargo se formar em sua garganta. Virou-se para Francesca. O olhar dela estava fixo no prato, sua expressão, indecifrável. Ela parecia pálida.

Claramente, gostara tanto daquela novidade quanto ele.

– Não vejo motivo para você esperar mais do que o necessário – continuou a tia dele. – Afinal, já encontrou uma mulher adorável. Vocês parecem estar muito apaixonados.

O tom dela não deixava dúvida. A tia dele desvendara a farsa. Liam achara que aquilo seria suficiente para apaziguá-la até que ele conseguisse financiamento para comprar a parte dela do ANS. Contudo, ele já recebera a notícia de seu contador. A quantia necessária seria quase impossível de conseguir, especialmente com a rede numa posição tão vulnerável. Eles estavam analisando outras alternativas, mas isso demoraria.

A Rainha Beatrice desvendara o blefe deles, e havia coisas demais dependendo daquilo para que Liam admitisse a verdade.

O garçom chegou, pondo as sobremesas diante deles. A tia nunca gostara muito de doces. Entretanto, Liam percebeu um brilho de prazer nos olhos dela ao ver a sobremesa. Ele imaginou que não havia muito sentido em evitar coisas que faziam mal se você sabia que iria morrer logo mesmo.

Tia Beatrice levou uma colherada de musse de chocolate e cheesecake à boca e fechou os olhos de prazer. Liam não conseguia tocar em sua sobremesa. Perdera o apetite.

– Não cometa os meus erros, Liam. A vida é curta demais para esperar quando você já encontrou a pessoa com quem quer passar sua vida, eu lhe garanto.

Ao ouvir aquilo, Francesca puxou a mão da dele. Liam se sentiu muito sozinho sem o toque dela para apoiá-lo.

– Vamos ter que discutir isso, tia Beatrice. A família de Francesca é da Califórnia.

Tem muito mais envolvido nisso do que simplesmente reservar um salão de festas. Mas manteremos contato.

Liam se levantou da mesa, e Francesca fez o mesmo.

– Não vão terminar a sobremesa? – perguntou a tia dele.

– Temos muito a resolver. Sinto muito, mas precisamos ir.

Ela comeu outra colherada, sem se preocupar com a apressada saída deles.

– Está bem. Eu levo para o hotel. Henry vai gostar.

Liam estacionou diante da casa de Francesca, mas nenhum deles saiu. Fora um caminho silencioso desde o restaurante. Eles deviam estar em algum tipo de choque, ainda que Francesca tivesse certeza de que tinham motivos diferentes para estar mudos.

Quando tudo começara, Liam pedira a ela para que fosse sua falsa noiva. Um casamento de verdade jamais estivera nos planos. Ele próprio lhe garantira isso. Parecera algo bem seguro, embora Francesca já estivesse se apaixonando lentamente. Aquilo não daria em nada, independentemente do que sentisse. Ela queria o tipo de casamento que Liam não poderia oferecer, mas tudo o que eles tinham era um noivado.

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Casar-se com Liam era algo totalmente diferente.

Não apenas porque as coisas jamais dariam certo entre eles. Mas também porque uma parte dela queria se casar com ele. Francesca o amava. Queria ser a esposa dele.

Mas não assim. Queria se casar com um homem que a amasse.

Quando Liam desligou o motor, ela finalmente encontrou coragem para falar.

– O que vamos fazer?

Quando ele se virou para ela, Francesca viu a dor esculpida no rosto dele. Liam estava enfrentando a perda de tudo pelo que trabalhara, e não era o único. Talvez ela não concordasse com os métodos de tia Beatrice, mas compreendia as ações da mulher. O desespero levava as pessoas a fazerem loucuras. Aquela era uma situação ruim para todos os envolvidos.

– Ela está apostando que estou blefando. Vou ter que fazer o mesmo. Amanhã vou dizer a ela que o noivado foi armado e que não vamos nos casar. Não acho que ela vá vender as ações para Wheeler. Não é o que ela quer. Está acostumada a ter suas vontades realizadas, mas não é vingativa. – Ele passou a mão pelo cabelo. – Ao menos eu acho que não.

Francesca franziu o cenho. Não sentira um comportamento muito materno vindo da matriarca da família Crowe. A tia dele não tinha nada a perder. Se ela estava disposta a obrigá-lo a se casar, Francesca não duvidava de que a mulher cumpriria a ameaça.

– Você não pode arriscar, Liam.

– Que escolha tenho? Não posso pedir para que você se case de verdade comigo.

Não fazia parte do acordo. Não era minha intenção que as coisas fossem tão longe.

– Quando você receberia as ações dela?

Liam suspirou.

– Não importa. Não vou fazer isso. Ela foi longe demais.

– Vamos, Liam. Diga.

– Preciso passar um ano casado. As ações do ANS seriam um presente de aniversário de casamento.

Um ano. No longo prazo, isso não seria tanto tempo. Contudo, ela conseguira se apaixonar por Liam em poucas semanas. Dali a um ano, como estaria a situação? De qualquer forma, o estrago já estava feito. Talvez um ano de casamento a curasse de seu problema romântico. Talvez lhe desse tempo de descobrir todos os defeitos dele. Era possível que ela sequer aguentasse olhar para ele dali a um ano.

E, mesmo se ela o amasse ainda mais… que escolha eles tinham? A rede seria destruída. Os dois estavam envolvidos demais com a empresa e com os funcionários para permitir que isso acontecesse. Eventualmente, o coração de Francesca se curaria. Era um preço alto a pagar, mas com uma grande recompensa.

– Precisamos nos casar – declarou ela.

Os olhos de Liam se arregalaram.

– De jeito nenhum.

Francesca sabia o que ele estava querendo dizer, mas uma parte dela se sentiu ofendida.

– A ideia de se casar comigo é tão terrível a ponto de você preferir arriscar perder a rede?

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Liam segurou o rosto dela nas mãos. Beijou-a ternamente antes de falar.

– Claro que não. Eu seria um homem de muita sorte se fosse casado com você.

Por 1 ou 20 anos. Mas não vou fazer isso com você.

– Comigo?

– Sim. Sei que você acredita no amor. Que quer um casamento como o dos seus pais. Vi seu rosto se iluminar quando você fala do relacionamento deles. Sei que não é isso que estou oferecendo. Então não vou pedir para você abrir mão do que quer nem por um ano.

Ela não poderia dizer que ele era o que ela queria. Se Liam pensasse por um só instante que o acordo deles se transformara em algo além de negócios, jamais concordaria com o casamento. Ele a escolhera por achar que ela manteria a perspectiva.

Francesca segurou as mãos de Liam e as puxou para seu colo.

– Sou adulta, Liam. Sei o que estou fazendo.

– Não posso pedir isso de você.

– Você é a pessoa certa para administrar o ANS. Ninguém mais vai conseguir levar a rede de volta ao topo como você é capaz de fazer. É melhor que Ron Wheeler destrua a empresa se você não for administrá-la, porque as portas vão se fechar em poucos meses. É só um ano. Quando você conseguir suas ações, podemos seguir cada um com sua vida.

– Mas e os seus amigos, sua família? Mentir sobre um noivado que vai ser desmanchado é uma coisa. Mas um casamento de verdade? Você consegue olhar nos olhos do seu pai e dizer a ele que me ama antes de ele levar você até mim na igreja?

Francesca engoliu em seco. Era muito próxima de seus pais. Jamais conseguira mentir para eles sem ser flagrada. Aquilo seria difícil, mas ela conseguiria, pois era verdade. Contanto que eles não perguntassem se ele a amava…

– Sim, consigo.

– E a sua casa? Você vai ter que vir morar comigo.

Aquilo doeria. Francesca amava sua casa. Não conseguia se imaginar morando em nenhum outro lugar. Contudo, via potencial na casa de Liam. Ela poderia tornar aquele lugar algo seu por uns tempos.

– Vou alugar minha casa.

– Não precisa fazer isso. O mínimo que posso fazer é cobrir suas despesas para mantê-la, mesmo sem você morar lá.

– Não acha que a sua tia acharia estranho se o lugar ficasse vazio?

– Isso vai soar meio ignorante, mas, se o que ela disse é verdade, não vai estar por perto por tempo suficiente para saber o que estamos fazendo. Provavelmente, vai pôr a estipulação do casamento no acordo das ações, mas ela não tem como ditar o que você vai fazer com seus imóveis.

– Acho que podemos nos preocupar com os detalhes depois. Então… está tudo decidido? Vamos nos casar neste final de semana?

Liam se recostou no banco. Ficou em silêncio durante vários minutos.

– Acho que sim.

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– Você vai ter que praticar esse seu entusiasmo bem rápido – ressaltou ela. – Vamos precisar contar às nossas famílias hoje, para que elas tenham tempo de se preparar para a viagem.

Ele assentiu, as mãos apertando o volante.

– Vou pedir para Jessica ligar novamente para a Neiman’s e marcar um horário para você escolher o vestido de noiva. Você pode ligar para Ariella e Scarlet amanhã?

Elas fizeram um bom trabalho na festa de noivado. Talvez consigam fazer um milagre e planejar um casamento em três dias.

– Posso. Elas vão achar que enlouquecemos.

Liam riu amarguradamente.

– Enlouquecemos mesmo. Vamos entrar.

Eles entraram na casa dela, e Francesca foi diretamente à cozinha. Precisava de algo para relaxar.

– Vinho? – perguntou ela.

– Sim, obrigado.

Ela serviu duas grandes taças. Quando entregou a dele, Liam olhou curiosamente para a mão dela por um instante antes de aceitar.

– Posso ver seu anel?

Francesca franziu o cenho, olhando para a joia antes de tirá-la.

– Tem algo errado com ele?

– Não exatamente. – Liam o olhou durante um momento antes de se ajoelhar.

Os olhos de Francesca se arregalaram.

– O que está fazendo?

– Perguntei se você queria ser minha noiva falsa. Mas não perguntei se queria se casar comigo. Acho que devo fazer isso.

– Liam, isso não é neces…

– Francesca – interrompeu ele, pegando a mão dela. – Você é uma mulher linda, solidária e passional. Sei que não era isto que nenhum de nós esperava que acontecesse.

Também sei que isto não é o que você sonhou desde criança. Mas, se você for minha esposa durante o próximo ano, prometo ser o melhor marido que puder ser. Francesca Orr, quer se casar comigo?

Ela subestimara o impacto que o pedido de Liam teria sobre ela. Não era real. Não continha as promessas cruciais de amor e dedicação por toda a vida, mas Francesca não conseguiu impedir que lágrimas chegassem aos seus olhos. Parecia real. Ela queria que fosse.

Envergonha, ela cobriu a boca com a mão e balançou a cabeça.

– Desculpe – falou. – Não ligue para mim. É que as últimas semanas foram difíceis, e acho que finalmente estou sentindo o impacto emocional.

– Não era a reação que eu estava esperando – disse ele, com um reconfortante sorriso.

Francesca inspirou fundo.

– Desculpe. Sim, quero me casar com você.

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Liam pegou o anel e o pôs de volta no dedo dela. Levantou-se, ainda segurando a mão de Francesca, e a levou aos lábios para beijá-la.

– Obrigado.

Francesca ficou surpresa por ver um leve brilho de lágrimas nos olhos dele ao lhe agradecer. Havia tantas coisas dependendo daquele casamento. Ela não tinha dúvida de que tudo o que ele dissera era verdade. Ele seria o melhor marido que conseguisse ser.

Liam a puxou para seus braços e a abraçou fortemente. Francesca repousou a cabeça debaixo do queixo dele, cedendo ao abraço. Era bom ser simplesmente abraçada pelo homem que ela amava. Como ela dissera, tinham sido semanas emocionalmente cansativas. O ano seguinte poderia ser um desafio tão grande quanto elas. Entretanto, o abraço de Liam a fazia achar que tudo poderia dar certo.

O abraço pareceu durar uma eternidade. Quando ele finalmente recuou, os dois já tinham controlado suas emoções e estavam prontos para enfrentar o que a semana seguinte lhes reservava.

CAPÍTULO DEZ

O precioso refúgio de Francesca estava uma bagunça. Sua linda casa estava um completo caos, com caixas de mudança e plástico-bolha por toda parte.

Liam pagaria as contas da casa dela. Então os móveis maiores ficariam, mas todo o resto iria para a casa dele. Provavelmente, ela precisaria dessas coisas ao longo do próximo ano.

Os pais dela haviam reagido bem e estavam se preparando para ir a Washington na tarde de quinta-feira. A mãe de Liam estava empolgadíssima. Não hesitara em dizer que estava muito animada para conhecer Francesca. A mãe e a irmã dele chegariam na manhã de sexta.

Eles tinham dito que estavam tão apaixonados que não queriam esperar mais nem um minuto para se tornar marido e mulher. Incrivelmente romântico ou inacreditavelmente idiota, dependendo do ponto de vista. Contudo, nenhum pai gostaria de não estar presente no grande dia de seu filho, independentemente do que achasse da situação.

A campainha tocou, e Francesca se desvencilhou da pilha de coisas para atender a porta. Convidara Ariella para almoçar ali, torcendo para que ela e Scarlet fossem capazes de fazer mágica com o casamento.

Quando Francesca abriu a porta, encontrou sua amiga, mas Ariella não estava com o sorriso reluzente que ela esperava. Sua testa estava franzida de preocupação, seus dentes mordiam o lábio inferior. Havia leves círculos acinzentados abaixo dos olhos dela.

E, mais estranhamente que o resto, o cabelo dela estava preso em um rabo de cavalo descuidado. Aquela não era a Ariella que Francesca conhecia.

– Você está bem?

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Os cansados olhos verdes de Ariella encontraram os de Francesca quando ela balançou a cabeça quase imperceptivelmente.

Alarmada, Francesca pegou a mão de sua amiga e a puxou para dentro, fazendo com que se sentasse numa das poltronas.

– Vou fazer chá – disse ela, virando-se para a cozinha.

– Está muito cedo para vinho? – perguntou Ariella.

Provavelmente. No entanto, se sua amiga precisava de vinho, Francesca o serviria até no café da manhã.

– De jeito nenhum. Tinto ou branco?

– Sim – respondeu Ariella rindo.

Ao menos ela ainda conseguia rir. Era um passo na direção certa. Francesca serviu rapidamente duas taças e as levou para a sala com um pacote de biscoitos.

Ariella precisou de vários minutos e goles antes de finalmente se abrir. Retirando um envelope da bolsa, ela o entregou a Francesca.

Francesca leu rapidamente a carta, sem saber ao certo se o que estava escrito era verdade.

– É da minha mãe biológica, Eleanor Albert – confirmou Ariella.

A carta não dava muitos detalhes. Era curta e meiga, basicamente perguntando se Ariella estaria disposta a lhe responder e talvez conhecê-la quando ela estivesse pronta.

Não falava nada a respeito das circunstâncias da adoção, do presidente ou de onde Eleanor passara os últimos 25 anos. Nada ali indicava autenticidade, a não ser um curioso endereço de remetente na Irlanda.

– Quando você recebeu isto?

– Chegou ontem à tarde. No meu endereço residencial, que é particular e quase ninguém sabe. A maior parte da minha correspondência vai para o escritório. Devo ter lido um milhão de vezes ontem à noite. Não consegui dormir. – Apesar da expressão cansada, havia um toque de empolgação na voz de Ariella. Ela esperara tanto tempo para saber sobre sua mãe biológica! Contudo, agora parecia hesitante em descobrir a verdade.

Francesca compreendia. A verdade nem sempre era agradável. Nem sempre as pessoas correspondiam à fantasia criada na mente das outras. Seria melhor fantasiar ou conhecer a realidade?

Depois de tudo o que acontecera nos últimos meses, Francesca passara a ser muito protetora com Ariella. Ela não ficaria nem um pouco surpresa se fosse um jornalista se fazendo passar pela mãe dela numa tentativa de conseguir detalhes para uma matéria.

Entretanto, não quis dizer isso em voz alta. Não queria estourar a pequena bolha de animação que crescia dentro de sua amiga.

– Pode falar – urgiu Ariella.

Francesca franziu o cenho e devolveu a carta.

– Estou empolgada por você. Sei que não saber nada dos seus pais biológicos foi como uma peça faltando no quebracabeça da sua vida, mesmo antes da notícia sobre o presidente. Pode ser um passo na direção certa para você. Espero que seja. Só tome cuidado com o que vai dizer até ter certeza de que é mesmo a sua mãe. E, mesmo assim, você não tem como ter certeza de que ela não vai levar essa história à mídia se alguém oferecer dinheiro.

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Ariella assentiu, guardando novamente a carta.

– Pensei a mesma coisa. Vou responder, mas, sem dúvida, com cautela.

– Tenho certeza de que a carta é real, mas não há mal em ser cuidadosa.

Ariella olhou à volta.

– O que está havendo aqui?

– Estou de mudança.

O nariz de Ariella se enrugou enquanto ela olhava as caixas empilhadas.

Provavelmente, a mente dela estivera fixa demais na carta para perceber a bagunça.

– Vai morar com Liam? Já?

– Sim. – Uau. Vocês dois não perdem tempo mesmo. Daqui a pouco, você vai me dizer que vai se casar no próximo final de semana.

Francesca mordeu o lábio, sem saber como responder.

De olhos arregalados, Ariella se virou imediatamente para Francesca.

– Diga que vocês não vão se casar daqui a uma semana e meia, Francesca.

– Não vamos. Vamos nos casar na sexta-feira.

– Mas já estamos na terça!

– Eu sei.

– Por que a pressa? Algum de vocês tem uma doença incurável?

– Estamos perfeitamente saudáveis. – Francesca não falaria da doença da tia dele.

Isso levaria a perguntas demais. – Simplesmente concluímos que não faz sentido esperar.

Estamos apaixonados e queremos nos casar assim que possível.

Suspirando, Ariella desabou novamente na poltrona.

– Scarlet vai ter um ataque. Organizar um casamento em três dias vai ser um pesadelo.

– Já temos o lugar. – Francesca adorou o fato de não precisar perguntar a sua amiga se ela faria o casamento. Já era uma conclusão certa. Francesca não ousaria pedir a mais ninguém. – Reservamos o terraço de um hotel para a cerimônia, e o salão para a festa.

Ariella assentiu, mas Francesca sabia que ela já estava planejando.

– Ótimo. Essa é a parte mais difícil numa decisão em cima da hora. Vamos ter que usar o bufê do hotel. Então preciso me reunir logo com eles para decidir o cardápio.

Vocês têm algo em mente?

Francesca teve vergonha de admitir que não. Quando criança, ela sempre tivera mais fantasias com sua vida de casada do que com o casamento em si. E, ainda que ela tivesse sonhado com um vestido de princesa e 10 mil rosas para a cerimônia, nada disso parecia adequado agora. Ela queria guardar essas ideias para seu casamento de verdade. Um que duraria mais do que um ano.

– Vamos ficar satisfeitos com qualquer coisa que você conseguir arrumar tão em cima da hora. Não podemos ser exigentes.

Ariella pegou um bloco de notas.

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– Preferências de cor ou flores?

– Na verdade, não. O que estiver prontamente disponível. Não gosto muito de laranja, mas suporto.

– Suporta? Querida, seu casamento não é algo para ser suportado, mesmo com o aviso em cima da hora. Diga o que você quer, e eu vou dar um jeito.

Francesca percebeu que Ariella não ficaria sem aquela resposta. Daria a sua amiga o casamento dos sonhos dela, por mais que Francesca resistisse. Ela deixou de lado suas ressalvas e fechou os olhos.

– Delicado e romântico – disse Francesca. – Talvez rosas brancas ou chá. Velas.

Renda. Um toque de brilho.

Ariella anotou freneticamente.

– Você gosta de gardênias? Estamos na época, e elas têm um perfume delicioso.

Combinariam bem com as rosas.

– Parece que vai ficar lindo. Obrigada.

– Como é o seu vestido? Às vezes, isso ajuda com o design do bolo.

Francesca engoliu em seco.

– Só vou ver isso amanhã de manhã.

– Você não tem vestido – disse Ariella inexpressivamente.

– Não tenho nada além de um noivo e um salão de festas, Ariella. É por isso que preciso de você.

– Preciso de informações. Sei que você confia em mim, mas também quero dar a você o que você quer.

– Vou ter que comprar algo já pronto, sem alterações. Então não vou com nada certo na cabeça, porque talvez não seja possível. Espero encontrar um vestido branco sem alças e com detalhes em renda. Talvez um toque de prateado ou brilho de cristal.

Não sei como isso poderia ajudar com o bolo. Não precisa ter um design muito complexo.

Só quero que seja gostoso.

– Alguma preferência de sabor?

– Talvez um bolo com pedaços de chocolate branco ou ao leite, com recheio de creme. Minha mãe adoraria.

– Consigo fazer isso – disse Ariella, finalmente sorrindo.

– E, falando em comida, eu convidei você para almoçar. Está com fome?

Ariella enfiou o bloco de notas na bolsa e se levantou.

– Não há tempo para comer, querida. Tenho um casamento para organizar.

Francesca a seguiu até a porta e deu um grande abraço em Ariella.

– Obrigada por toda a ajuda. Sei que peguei pesado com vocês duas.

– Você tem ideia de quantas “noivazillas” temos que aturar normalmente? Você é tranquila. De qualquer forma, é isso que amigas fazem: conseguem o impossível quando é necessário. Nada mais justo, já que você evitou que eu me empolgasse demais com essa história da minha mãe biológica. E fazer um trabalho grande assim vai me distrair, especialmente do reencontro televisionado.

O presidente já aceitara a proposta do programa de Liam.

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– Você não precisa fazer. Pode mudar de ideia.

– Não posso, não. – Ariella sorriu e saiu pela porta. – Vou mandar os planos preliminares e cardápios para você por e-mail amanhã à tarde.

Francesca assentiu e viu sua amiga ir até o carro. Tudo parecia tão surreal. Ela se casaria dali a três dias. Com um homem que conhecia fazia menos de um mês. Um homem que Francesca passara a amar, mas que ela sabia que não sentia o mesmo por ela.

Um profundo latejamento de desconforto se assentou no estômago dela. Tivera essa sensação pela primeira vez quando o choque se dissipara e ela se dera conta de que se casaria numa sexta-feira. Isso era considerado um presságio de muito azar. Os italianos jamais se casavam em sextas-feiras. Infelizmente, o hotel não estava disponível em nenhum outro dia.

Francesca não vira sequer um bom presságio desde que a joaninha pousara no ombro de Liam. Cada vez mais, casar-se com ele parecia uma má ideia. Mas já não havia nada que ela pudesse fazer.

Liam segurava um grosso envelope de documentos e uma sacola de comida tailandesa para viagem enquanto subia a escada da casa de Francesca. Encontrara-se com seu advogado naquele dia para resolver alguns detalhes do casamento. Agora ele planejava ajudar Francesca com a mudança.

– Oi! – gritou ele ao entrar pela porta.

– Estou aqui em cima! – respondeu Francesca.

Ele fechou a porta e observou as organizadas pilhas de caixas etiquetadas e lacradas na sala.

– Trouxe jantar.

– Já vou.

Francesca desceu a escadaria alguns minutos depois. Seu cabelo estava preso num rabo de cavalo. Ela usava uma blusa bastante justa e calça capri com tênis. Um visual muito causal, e Liam gostou. Gostou especialmente do leve brilho de suor no peito dela que o trabalho gerara. Aquilo o fazia se recordar do dia em que eles tinham se conhecido.

Deus, parecia ter acontecido um século antes. Teria sido mesmo poucas semanas atrás? Agora ali estava ele, ajudando Francesca a preparar a mudança e segurando um esboço do acordo prénupcial.

– Vejo que você trabalhou bastante hoje.

Ela assentiu e, envergonhada, passou as mãos no cabelo para arrumá-lo.

– Devo estar horrível.

– Impossível – disse Liam dando um rápido beijo nela. – Comprei comida tailandesa na volta do escritório do advogado.

– Advogado? – Francesca foi para a cozinha, e Liam a seguiu.

– Sim. Estou com um esboço do acordo pré-nupcial para você dar uma olhada.

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Francesca parou imediatamente. Segurando em cada mão um prato retirado do armário, ela empalideceu. Inesperada e subitamente, a mágoa surgiu nos olhos dela, que pôs rapidamente os pratos na bancada e se virou para a geladeira.

– Você está bem? – Liam franziu o cenho. Certamente, ela sabia que, com o tamanho das posses deles, eles precisariam estabelecer algumas medidas de proteção, já que tornariam o relacionamento legalmente vinculante.

– Sim, estou – respondeu Francesca, mas não o olhou. – O que quer beber?

– Tanto faz – disse ele. Liam pôs a comida e os documentos na bancada e foi até ela. – Você está chateada com isso. Por quê?

– Não estou. – Mas ele percebia que ela estava mentindo. – Só fiquei surpresa.

Não tínhamos falado disso. Mas faz sentido, claro. É um acordo de negócios, não um relacionamento amoroso.

A rispidez no tom dela ao dizer “relacionamento amoroso” gerou um alerta na mente de Liam.

Ele escolhera Francesca, em parte, por achar que ela conseguiria se manter emocionalmente distante. Depois do ocorrido no elevador, ele imaginara que ela lidaria facilmente com aquilo. Talvez tivesse se enganado. Eles vinham passando muito tempo juntos. Jantavam, conversavam durante horas, faziam amor… Parecia bastante um relacionamento de verdade. Talvez ela já tivesse sentimentos de verdade.

Francesca empurrou uma lata de refrigerante para ele. Ela deu meia-volta e começou a remexer na sacola de comida.

– Quais são os pontos principais? – perguntou ela, abrindo uma caixa com macarrão.

Ela mal o olhava. Estava evitando alguma coisa. Talvez a verdade da situação estivesse nos olhos dela, e por isso, os escondia dele. Se desenvolvera algum sentimento por ele, não queria que ele soubesse. Sendo assim, Liam resolveu não forçar o assunto no momento.

– Tudo o que é seu continua sendo seu. Tudo o que é meu continua sendo meu.

Ela assentiu, pondo um pouco de frango no prato.

– Parece bastante sensato. Algo mais?

– Meu advogado insistiu numa cláusula de elevação para você. Eu não pude dizer a ele que não era necessário, já que só planejamos ficar casados por um ano. Ele disse que sempre gosta de colocá-las nos acordos pré-nupciais. Então achei que seria melhor, para dar autenticidade.

– O que é uma cláusula de elevação?

– No seu caso, ela dá direito a uma quantia em dinheiro em nosso primeiro aniversário de casamento, e uma quantia adicional a cada ano de casados depois disso.

O dinheiro é investido num fundo para você, substituindo um acordo de pensão. Quanto mais tempo permanecermos casados, mais você recebe.

Francesca se virou para ele de cenho franzido.

– Não quero seu dinheiro, Liam. Isso não fazia parte do nosso acordo.

– Eu sei, mas quero que você receba. Você já foi muito além do que tínhamos discutido originalmente e merece isso. Estou atrapalhando demais a sua vida.

– Quanto?

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– Cinco milhões no primeiro ano. Mais 1 milhão a cada ano depois disso.

– Cinco milhões de dólares por um ano de casamento? Isso é ridículo. Não quero nada disso.

– Se tudo der certo, vou herdar todas as posses da minha tia e todas as ações do ANS dela. Isso vale em torno de 2 bilhões de dólares. Eu ficaria feliz em dar 10 milhões a você se você quisesse. Por que não aceita?

– Porque isso me faz parecer uma interesseira, Liam. Já é ruim o suficiente o fato de nos casarmos sabendo que é só de fachada, para agradar sua tia. Se descobrirem que, depois de um ano, o casamento terminou e eu recebi 5 milhões de dólares… eu simplesmente… Isso me faz parecer um tipo de prostituta.

– Ei! – disse Liam, levantando as mãos defensivamente. – Espere aí. Se fôssemos nos casar por estar apaixonados, provavelmente teríamos o mesmo acordo pré-nupcial.

Por que seria diferente nas circunstâncias atuais?

Francesca balançou a cabeça.

– Não sei. Simplesmente parece errado.

Liam pegou o prato da mão dela e o pôs sobre a bancada. Envolveu a cintura de Francesca com os braços e a puxou contra si. Quando ela continuou evitando seu olhar, ele segurou o queixo dela, obrigando-a a olhá-lo. Queria que ela ouvisse tudo o que ele tinha a dizer.

– Ninguém vai pensar que você é uma interesseira. Ao longo do próximo ano, você vai merecer cada centavo desse dinheiro. E não por dormir comigo. Sendo minha esposa, você vai ser como uma funcionária de plantão 24 horas por dia durante um ano.

Liam percebeu que sua explicação tanto ajudou quanto prejudicou sua causa.

Justificava o dinheiro, mas reduzia Francesca a uma funcionária, em vez de considerá-la sua esposa. E não era verdade. Ela era mais do que isso para ele. Porém, se ela estava tendo sentimentos confusos a respeito do relacionamento deles, dizer isso a ele não pioraria tudo?

– Não é mais simplesmente um acordo de negócios, Francesca. Vamos nos casar.

Pode não ser pelos motivos que levam outras pessoas a se casarem, mas o resultado final é o mesmo. Não precisava concordar em fazer isso por mim nem pela rede, mas escolheu fazer. Você é… importante para mim. Então quero compartilhar alguns dos benefícios. Não só porque você os merece, mas também porque quero dar o dinheiro a você. Pode doar tudo para caridade se quiser. Mas, mesmo assim, quero que o receba.

Aquilo fez a expressão de Francesca se abrandar, e ela assentiu antes de enterrar o rosto no peito dele. Liam a abraçou com força, dando um beijo no cabelo dela.

Só então ele percebeu o imenso preço que eles pagariam para salvar a rede e proteger o sonho dele. A recompensa seria imensa, mas o custo emocional seria altíssimo.

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CAPÍTULO ONZE

Liam estava na entrada do terraço onde a cerimônia aconteceria. Conforme instruído, ele estava de smoking preto com camisa social, colete de seda e gravata branca. Poucos minutos antes, Ariella prendera uma gardênia branca na lapela dele.

Além daquelas portas estava possivelmente o maior casamento já organizado em tão pouco tempo. Fileiras de cadeiras brancas delimitavam o corredor, salpicado de pétalas de rosas brancas e chá. Uma pequena plataforma fora construída na frente, para dar a todos uma vista melhor da cerimônia. Uma grande arcada de rosas brancas servia como pano de fundo, a única coisa que bloquearia a vista da cidade e o pôr do sol que iluminaria o céu no instante em que eles fizessem o juramento.

Cerca de uma hora antes, Ariella o levara para uma rápida visita ao salão de festas. Parecia haver um exército trabalhando ali, preparando tudo. Havia tecido branco cobrindo as paredes. As mesas estavam cobertas com delicadas toalhas brancas e corde-rosa bordadas. Os centros de mesa se alternavam entre candelabros de prata cheios de flores e buquês menores, mais densos. No canto, havia um bolo de casamento de seis camadas com um C cravejado de cristais brancos e rosa no topo.

Estava tudo lindo. Elegante. E seria completamente desperdiçado no casamento deles, pensou Liam com uma pontada de culpa.

Nervoso e sem um grupo de padrinhos para beber com ele no bar do hotel, ele optara por receber os convidados à medida que fossem chegando. Seriam cerca de cem convidados. Quase todos tinham confirmado presença, mesmo em cima da hora. Até então, ninguém tinha feito nenhuma pergunta de mau gosto na porta, como para quando seria o bebê, mas Liam tinha certeza de que os boatos já corriam entre os convidados.

– Dez minutos – lembrou Scarlet, ao passar por ele com seu headset e uma prancheta junto ao peito.

Liam engoliu em seco e plantou novamente seu sorriso de casamento no rosto.

Dali a menos de meia hora, ele estaria legalmente unido a Francesca. Um mês antes, ele comemorara sua compra do ANS, ansioso pela empolgação de realizar seu sonho de administrar uma grande rede. Agora estava prestes a se casar com uma quase desconhecida para impedir que o sonho se transformasse em pesadelo.

– Liam – chamou uma voz educada.

Ele se virou para ver tia Beatrice se aproximando numa cadeira de rodas empurrada por Henry. Ele sabia que ela estava doente, mas vê-la numa cadeira de rodas era assustador. Ela não conseguia mais andar? Ele pensou em todas as vezes que a vira no último mês. Ela sempre estivera sentada desde quando ele chegara. Nas últimas visitas, sequer se levantara ou andara para pegar algo na bolsa. Agora Liam percebia que isso acontecera porque ela estava incapacitada. Escondera muito bem até o momento.

– Tia Beatrice – disse ele com um sorriso, curvando-se para dar um beijo no rosto dela. – Henry – acrescentou apertando a mão do mordomo. Sentia uma renovada apreciação pelo silencioso homem, que servira e amara a tia dele durante todos aqueles anos. – Tem lugares reservados para vocês na primeira fileira à direita.

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Tia Beatrice assentiu, e Henry a levou. Não disse sequer um “parabéns” ou um “última chance de desistir”. Ela já nem se dava mais o trabalho de perguntar a respeito do relacionamento dele com Francesca.

– Liam – chamou Ariella aproximando-se dele. – Temos um problema.

Ele não ficou surpreso. Com a velocidade com que tudo precisara ser organizado, algo daria errado.

– O que foi?

– Os seguranças viram no saguão uma pessoa que não foi convidada vindo para cá.

Liam franziu o cenho.

– Quem? Um repórter?

– Quase. Angelica Pierce. Como você acha melhor agirmos?

Ah. Sem dúvida, aquilo era motivo para um pouco de empolgação, especialmente para Ariella, pois Angelica fora suspensa por seu possível envolvimento no escândalo das escutas telefônicas que haviam revelado que Ariella era a filha secreta do presidente.

– Não façam nada. Ela vai acabar fazendo um escândalo se for convidada a se retirar. É melhor simplesmente deixá-la entrar e agir como se não fosse nada de mais.

Ariella assentiu.

– Concordo. – Virou-se e sussurrou no headset. – Cinco minutos – acrescentou, antes de entrar no quarto que servia como suíte da noiva.

Liam se ocupou recebendo outros convidados e tentou não se preocupar com Angelica. Só encontrara a mulher pessoalmente uma vez e tivera a distinta impressão de que ela era uma bajuladora que faria qualquer coisa para manter seu emprego. No momento, ela estava suspensa, aguardando o resultado da investigação de Hayden Black. Sendo assim, Liam não estava surpreso por ela ter aparecido. Fora até ali para marcar presença e bajular seu chefe e a noiva dele.

Liam torcia para que fosse só isso. Sabia que Hayden e a noiva dele, Lucy Royall, já tinham entrado. Lucy era enteada de Graham Boyle, e havia uma rixa entre ela e Angelica. Com sorte, elas se sentariam longe uma da outra e seus caminhos não se cruzariam. Mas ele não estava se sentindo com muita sorte no momento.

Foi quanto ele a viu.

– Angelica – disse com um sorriso, aceitando o abraço dela. – Que bom ver você. – Ele queria que desse tudo certo naquela noite. Então não deixaria transparecer que a presença dela era indesejada.

Angelica pareceu muito feliz com a terna recepção. Definitivamente, vestira-se para a ocasião, estando até radiante, ainda que um pouco mais pesada do que estivera algumas semanas antes. Seu rosto estava mais redondo, e seu vestido roxo, um pouco apertado. Provavelmente, um efeito do estresse da investigação de Hayden.

– Eu não perderia por nada. Adoro casamentos. E o do meu chefe é um acontecimento especialmente importante. Desejo uma grande felicidade para vocês juntos.

Liam sorriu e agradeceu, virando-se para os próximos convidados que chegavam.

Era o ex-astro da rede rival, Max Gray, e sua esposa, Cara. Eles tinham se casado em março e haviam acabado de retornar da lua de mel na Austrália. Os dois estavam 66

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praticamente explodindo de amor um pelo outro, e o vestido de Cara exibia o leve inchaço de sua gravidez. Ela passara a trabalhar como relações-públicas da DC Affairs desde que saíra da Casa Branca.

Quando eles se aproximaram da porta, pararam para esperar Angelica entrar. Max ficou de queixo caído. Sua pesquisa ajudara a desvendar o escândalo das escutas em janeiro.

– O que ela está fazendo aqui? – perguntou ele.

Liam deu de ombros.

– Tentando fazer amizades, imagino. Vocês tiveram uma boa viagem?

– Maravilhosa – respondeu Cara. – Dormimos até tarde, comemos muito bem, passeamos. Para onde você e Francesca vão na lua de mel?

Boa pergunta.

– Ainda não planejamos nada. As coisas aconteceram tão rápido, e temos estado tão ocupados no trabalho… Aparentemente, uma viagem à Austrália é uma ótima escolha. Vou precisar conversar mais com vocês sobre isso depois.

Max e Cara foram para seus lugares, e os últimos convidados a chegar fizeram o mesmo. Liam endireitou a gravata e inspirou fundo ao ver Scarlet e um homem de terno vindo em sua direção.

– Certo, hora do show. Este é o reverendo Templeton. Ele vai primeiro. Depois, você. Os pais vão se sentar e, em seguida, a noiva vai vir pelo corredor com o pai dela.

Está pronto, Liam?

Outra boa pergunta. Provavelmente, ele não ficaria mais pronto do que aquilo para um casamento corporativo e às pressas, por conveniência. A única coisa que fazia Liam se sentir melhor era o fato de que ele passaria o próximo ano com uma mulher explosiva e sexy, que fazia o sangue dele ferver de paixão e excitação.

– Estou.

Francesca estava sentada, imóvel, diante da penteadeira, deixando sua mãe prender a grande gardênia branca em seu cabelo. Ao se olhar no espelho, ela se sentiu a perfeita imagem da linda noiva em seu grande dia. Seu reluzente cabelo preto estava preso num complexo penteado para cima, com a gardênia presa na lateral. Sua maquiagem estava impecável. Ela encontrara o vestido perfeito sem nenhum problema.

Mesmo com um tempo tão apertado, tudo dera certo. Era como se o casamento fosse predestinado a acontecer.

Mas não era.

Sua persistente dor no estômago a impedira de comer bem no café e no almoço.

Aquele casamento era um erro. Ela sabia disso. No entanto, a parte dela que amava Liam e se importava com o ANS e seus funcionários dominava seu bom senso.

Francesca deu uma última olhada no espelho e inspirou fundo. Aquela não era a hora de desmoronar. Não com os pais dela a olhando de forma tão preocupada.

Desde que o pai dela entrara, ele ficara sentado no canto, de cenho franzido. A mesma expressão que tivera no dia anterior, quando ela os encontrara no hotel. Houvera um momento, quando ele a vira pela primeira vez com o vestido, em que a expressão 67

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dele se abrandara e lágrimas tinham chegado aos seus olhos, mas aquilo não durara muito.

Francesca tinha quase certeza de que sua aparência preocupada também não ajudara em nada. Contudo, não havia nada que ela pudesse fazer. Precisava poupar seus sorrisos e sua energia para o casamento e a festa.

– Você está bem, bella? – perguntou a mãe dela. Era uma versão menor de Francesca, com os mesmos olhos escuros e pele morena. Seu farto cabelo castanho estava preso num coque, com elegantes mechas grisalhas, como se fossem luzes feitas profissionalmente. Ela estava com um reluzente vestido cinza com um agasalho.

Francesca assentiu e se levantou, endireitando seu vestido. Ela encontrara um vestido branco e sem alças com um adorno de renda que ia até o chão, bordado delicadamente com contas prateadas, cristais e pérolas até a cauda. O que ela mais gostava nele era da faixa prateada em torno de sua cintura, com um enfeite de cristal no centro.

– Por que pergunta? – indagou Francesca inocentemente.

– Você simplesmente não parece feliz como eu esperava. Onde está minha linda noiva corada? – A mãe dela acariciou delicadamente o rosto de Francesca.

Francesca sorriu, pegando a mão dela.

– Sim, Mama, estou bem. Só um pouco nervosa.

– Devia estar mesmo, casando-se com um homem que você mal conhece – rosnou o pai dela do canto.

– Victor! – censurou a mãe de Francesca. – Já discutimos isso. Nós fizemos a mesma coisa, não fizemos? E você não está feliz, 30 anos depois?

Ele deu de ombros.

– Mama, pode me dar aquele espelho, para eu poder ver a parte de trás?

Donatella entregou o espelho, e Francesca o segurou para poder garantir que estivesse tudo certo. Satisfeita, colocou-o na beira da penteadeira, mas ele tombou com o peso do cabo, caindo ao chão com um estrondo.

– Ah, não – lamentou Francesca, agachando-se para pegar o espelho estilhaçado.

Desabando em sua cadeira, ela olhou o vidro quebrado e balançou a cabeça. – Sete anos de azar. Como se eu precisasse de mais um sinal.

– Bobagem – censurou a mãe dela. – Sua avó encheu sua cabeça de besteiras quando você era criança. Isso não significa nada, além do fato de que vamos ter que varrer e comprar um espelho novo. Seu casamento vai ser do jeito que você o tornar. E, se você acreditar mesmo que ele vai fracassar antes de começar, vai ter razão. Você tem que encher seu coração de alegria, não medo, bella.

Francesca esperava que sua mãe tivesse razão. Devia ignorar os sinais e tentar aproveitar ao máximo seu ano com Liam. Era tudo o que ela teria. Sendo assim, não devia perder o precioso tempo choramingando por perdê-lo.

Uma leve batida soou na porta, e Ariella pôs a cabeça para dentro.

– Sra. Orr, está na hora de ir se sentar. Volto para buscar a noiva e o pai dela num instante. – Ariella deu uma rápida piscadela de incentivo para Francesca quando saiu do quarto com a mãe dela.

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Aquele era o momento que Francesca mais temia. Cinco minutos sozinha com seu pai, sem sua mãe como intermediária. Com sorte, ela conseguiria distraí-lo com trivialidades até Ariella retornar.

– Como estou, papai?

O grande irlandês cruzou os braços e a observou por um instante antes de falar: – A noiva mais triste e mais linda que já vi.

Francesca franziu o cenho. Como ele conseguia decifrá-la tão facilmente?

– Estou sorrindo. Por que acha que estou triste?

– Algo nos seus olhos. Algo não está certo nisto tudo… consigo perceber.

– Não seja bobo, papai.

Victor foi até ela. Ajudou Francesca a se levantar e segurou firmemente a mão dela.

– Olhe nos meus olhos e me diga que você o ama.

Francesca fixou seu olhar no de seu pai. Se ela realmente quisesse desistir daquele casamento, aquela seria sua chance. Tudo o que ela precisaria fazer seria dizer, e seu pai a poria imediatamente num avião de volta à Califórnia. Mas Francesca não poderia fazer isso. Não queria.

Precisava responder honestamente, ou seu pai saberia. Ele sentia que havia um problema, mas estava procurando no lugar errado. Se queria a verdade, devia fazer aquela pergunta a Liam. Sem piscar, Francesca foi sincera com ele.

– Sim, amo Liam. Muito.

– E quer se casar com ele?

Ela queria. Fora rápido, mas ela se apaixonara loucamente por seu noivo. Sua hesitação se devia ao fato de que, independentemente do que ela sentisse por ele, o casamento terminaria dali a um ano. Como ela poderia se casar sabendo que seria inútil?

Sim, ela salvaria o ANS e deixaria feliz uma mulher que estava à beira da morte, mas a própria Francesca ficaria arrasada.

– Sim, papai. Quero me casar com Liam.

Ele analisou a expressão dela, buscando um fio solto para puxar e expor a verdade, mas não havia nada a encontrar.

Outra batida na porta, e Ariella entrou segurando o buquê de Francesca.

– É lindo – disse Francesca ao pegar as flores. Eram rosas brancas e chá.

– Você esperava algo menos que isso? – falou Ariella, com um sorriso. – Está na hora.

O pai de Francesca tomou o braço dela, e eles foram pelo corredor até o terraço.

Ao receber a deixa, Ariella abriu as portas. Eles adentraram a sacada ao som de um quarteto de cordas. Cem pessoas se levantaram de seus assentos e se viraram para olhar na direção de Francesca.

Ela já estava quase na metade do corredor, quando finalmente teve coragem de olhar para Liam.

Evitara isso, pois não queria ver a verdade nos olhos dele. Provavelmente, ele estaria nervoso. Talvez até temendo aquilo no que se metera. Não haveria lágrimas de

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amor e alegria. Ele não estaria radiante de orgulho por ver a mulher que venerava mais linda do que nunca. Francesca sabia que se decepcionaria. Mas olhou mesmo assim.

Quando seu olhar encontrou o dele, ela sentiu seu estômago saltar. Ele estava tão incrivelmente lindo! Ela já o vira de smoking antes, mas havia algo diferente naquela noite. A expressão no rosto dele. Não havia amor, mas ela via admiração ali. Uma atração incontida. Um profundo respeito. Liam sabia o tamanho do sacrifício que ela estava fazendo por ele e estava agradecido por isso. Ele simplesmente não a amava. Não como ela o amava.

Francesca precisou se lembrar de sorrir e não se perder em seus pensamentos ao darem os últimos passos até a plataforma da cerimônia.

O reverendo começou a cerimônia, e o pai dela se curvou para beijá-la antes de entregá-la a Liam. Ela não conseguiu olhar nos olhos dele. Se seu pai visse o pânico e o medo ali, ele a levaria dali, com todos observando horrorizados. Então ela fechou os olhos.

– Amo você, papai.

– Também amo você.

Ele pôs a mão dela na de Liam, e os dois avançaram juntos para se casar.

Francesca achou que ficaria bem até ter que dar o primeiro passo, e seus joelhos bambearem. Foi a firme e reconfortante pegada de Liam que a manteve de pé. Ele a levou até o reverendo.

– Não vou deixar você cair. Vamos conseguir – sussurrou ele com um sorriso e uma piscadela.

Francesca assentiu e apertou a mão dele.

A cerimônia foi como um borrão para ela. O reverendo falou, ela repetiu o juramento, eles trocaram as alianças e, quando Francesca deu por si, estava beijando seu marido diante de cem pessoas.

Os aplausos foram como um tapa no rosto, fazendo-a voltar à realidade. O reverendo os apresentou como sr. e sra. Crowe quando eles se viraram para a plateia.

Ela se agarrou ao braço de Liam enquanto voltavam juntos pelo corredor, já como marido e mulher.

Quando eles viraram para sair do terraço, Ariella estava esperando. Ela os acompanhou de volta à suíte para esperar as fotos, enquanto os convidados iam ao salão de festas.

Francesca pôs seu buquê sobre a penteadeira, ao lado do espelho quebrado, então desabou na cadeira.

Estava feito. Eles tinham se casado.

Ainda precisavam assinar a documentação oficial, mas isso chegaria a qualquer momento.

Ela quase não conseguia acreditar. Sentia-se entorpecida, como se aquilo não fosse a vida real. Fora uma linda cerimônia, mas não como ela imaginara que seria seu casamento. Por mais diferentes que tivessem sido as maneiras como ela imaginara seu grande dia, sempre houvera um elemento em comum.

Ela olhou para Liam. Ele observou as taças de champanhe por um momento antes de atravessar o quarto para pegá-las. Entregou uma a Francesca e estendeu a dele para um brinde.

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– Um dia de casamento já foi. Faltam 364.

Com um suspiro, ela deu um longo gole e fechou os olhos antes que as lágrimas ameaçassem escorrer.

Havia algo crucial faltando em relação ao casamento das fantasias dela: um homem que a amava e a venerava mais do que tudo no mundo. E essa fora a única coisa que Scarlet e Ariella não tinham conseguido lhe dar.

CAPÍTULO DOZE

Liam estava preocupado com Francesca. Quando ela viera pelo corredor em sua direção, fora realmente a noiva mais linda que ele já vira.

Por um momento, tudo se tornara real demais. Ele perdera o fôlego. Sua boca secara. Seu coração disparara a mil por hora. Francesca se tornaria a esposa dele. E, naquele instante, ele quisera que ela fosse, de todos os jeitos possíveis.

Era um sentimento estranho. Um que ele nunca tivera antes. Liam gostara de muitas mulheres ao longo dos anos. Gostava de verdade e respeitava Francesca.

Provavelmente, isso fora o mais próximo que ela chegara do “amor”. O casamento nunca tinha lhe passado pela mente. Ele imaginava que acabaria chegando a esse ponto em sua vida. A Rainha Beatrice apenas adiantara o cronograma.

Liam não sabia se tinham sido as flores ou a música. A aparência de Francesca com aquele vestido ou as lágrimas de felicidade da mãe dele. Mas ele se comprometera com o momento. Empolgara-se por se casar com Francesca. Talvez aquele ano não fosse tão ruim. Talvez… pudesse haver mais do que apenas um acordo de negócios entre eles. Um relacionamento de verdade.

Ele retornou à realidade ao ver a expressão petrificada no rosto de Francesca. Não havia felicidade. Nem lágrimas de alegria. Ou sorriso de empolgação. Ela não parecia infeliz; estava escondendo tudo muito bem, mas Liam sabia que ela estava no limite. A realidade de mentir para todos os amigos e parentes deles devia ser um grande peso para ela. Ele compreendia. Fora por isso que ele lhe dera a opção de não prosseguir com o casamento. Contudo, ela insistira. Não era do tipo de mulher que não cumpria sua palavra. Faria o que tivesse que ser feito.

Desde que eles tinham saído da suíte, ela se tornara como um robô. Sorria, fazia as coisas certas, mas seus olhos escuros estavam mortos. Liam não sabia o que aconteceria quando ela não conseguisse mais conter suas emoções. Mas sabia que não seria algo bonito.

Por sorte, eles conseguiram se perder em meio aos sorrisos, apertos de mão e abraços na fila da recepção. Depois daquilo, a festa deveria ser relativamente curta.

Apenas cerca de uma hora de socialização, o bolo, e em seguida, todos iriam embora.

Deveria ser simples sobreviver àquilo sem nenhum drama.

Os últimos convidados passaram pela fila, e Liam e Francesca puderam deixar seus postos. Ele envolveu a cintura dela com o braço e se curvou em sua direção.

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– Tudo bem com você? – sussurrou.

Os preocupados olhos dela se voltaram para ele, e ela assentiu.

– Só está sendo um pouco demais para mim.

– Quer um drinque?

– Sim – disse ela enfaticamente. – Por favor.

Liam saiu de perto dela para pegar algo para os dois no bar. Estava retornando com uma taça em cada mão, quando viu algo nada desejado pelo canto do olho. Hayden Black e Angelica Pierce estavam conversando. Não, não era essa a palavra certa. Estava discutindo, quase acaloradamente, a julgar pela postura rígida e pela boca contraída de Angelica. O que ela estava pensando ao iniciar uma conversa com o investigador cujo objetivo era provar que ela era culpada? Aquilo não terminaria bem.

Pelo que Liam sabia, Angelica não fora chamada a dar seu depoimento perante o comitê que fora formado no congresso para investigar o escândalo das escutas. Ele presumira que o motivo fora o fato de Hayden não ter consigo reunir os detalhes do envolvimento dela. Ou ao menos prová-lo. Liam não podia agir com base numa suspeita.

Ele precisava de evidências irrefutáveis para demiti-la, e, se Angelica se envolvera mesmo naquilo, ela tomara muito cuidado. Não era burra. Era uma repórter implacável e sagaz, disposta a fazer quase tudo para conseguir uma grande matéria. Ele apreciava a ambição dela. Mas não sua ética.

Secretamente, Liam torcia para que Hayden encontrasse aquilo de que precisava.

Ele se sentia nervoso administrando o ANS ainda tendo Angelica como funcionária.

Precisava de um motivo para cortar permanentemente os vínculos com ela.

A discussão estava ficando mais animada. Olhando pelo salão, Liam procurou Ariella e Scarlet, mas não as viu, e também não viu o segurança que elas haviam contratado. Talvez ele próprio tivesse que intervir na situação. O drinque de Francesca precisaria esperar.

Quando Liam se aproximou deles, conseguiu ouvir o que eles estavam dizendo.

Estavam tentando falar de forma discreta, mas o entusiasmo parecia traí-los. Ao menos o de Angelica. Hayden, como sempre, estava calmo, cheio de compostura.

– Acho digno de risada as pessoas acharem que você estava por trás de toda a história – disse Hayden. – Como se os seus neurônios oxigenados fossem capazes de planejar algo mais complexo do que o tipo de sapato para usar com esta roupa.

Um rubor de raiva subiu às faces de Angelica. Seus olhos se semicerraram para Hayden. Ela não percebeu a aproximação de Liam, pois estava concentrada demais na discussão.

– Você se acha muito inteligente, Hayden, mas não vou cair nos seus truques.

Dizer que sou uma loira burra é o melhor que você consegue fazer? Eu esperava mais.

Tudo o que os homens veem é o que as mulheres querem que eles vejam. O cabelo, a maquiagem e as roupas deixam você cego para a verdade. Mas não deixe que as aparências o enganem. Podemos ter a mesma cor de cabelo, mas não sou meiga e flexível como sua preciosa Lucy. Mereço o cargo que tenho na empresa. Não o recebi porque meu padrasto era dono da rede.

Liam esperava que Hayden se ofendesse com os insultos que Angelica direcionava à noiva dele, mas aquilo não pareceu abalá-lo.

– Sim – concordou ele –, mas Lucy tem uma coisa que você nunca terá, mesmo trabalhando duro e pisando em muitas pessoas.

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Angelica desdenhou.

– O quê? O amor de um homem como você?

– Não. O afeto eterno do pai dela. Ela é a filha linda que ele sempre quis. A que ele criou como se fosse dele. Comprou pôneis para ela e foi às apresentações de balé. Deu um conversível a ela no aniversário de 16 anos. Aposto que ele está de coração partido por estar na cadeia e não poder entregar Lucy a mim quando nos casarmos.

Angelica enrijeceu ao lado dele, mas deixou de lado as palavras dele, dando de ombros.

– E daí? O pai dela a mimou. Eu devia ter inveja por causa disso?

– Não. Mas devia ter porque ele não precisou subornar ninguém para manter Lucy em segredo. Não tinha vergonha dela.

– Não sei o que você está insinuando – disse ela lentamente, ainda que o tom de sua voz indicasse o contrário. Era frio e inexpressivo, um aviso tácito a Hayden.

Aquilo fez Liam se perguntar sobre o que eles estavam falando na realidade. Ele ouvira dizer que Lucy e Angelica não se davam bem, mas Lucy saíra do ANS para trabalhar com Hayden antes de Liam assumir o comando. Ele não sabia nada do passado de Angelica nem da família dela. Por que o relacionamento de Lucy com Graham irritava tanto Angelica?

Hayden parecia saber como atingi-la. Ele estava fazendo aquilo por diversão ou estaria tentando fazer com que ela cometesse um erro? Liam se virou para a esquerda e viu o cinegrafista do casamento, um funcionário do ANS. Perfeito. Ele gesticulou, chamando o homem.

– Muito discretamente, quero que você grave a conversa deles. Ela não pode saber que você está filmando.

O cinegrafista trabalhava em investigações do ANS e operações à paisana. Sendo assim, devia se sentir mais confortável fazendo aquilo do que gravando pessoas parabenizando os noivos. Ele se misturou à multidão, chegando por trás de Angelica, parcialmente oculto pelo alto bolo de casamento ao lado deles.

Liam viu o olhar de Hayden se voltar para a câmera por um instante e novamente para Angelica. Os dois sabiam que era a oportunidade de flagrá-la quando ela menos esperava.

– Admita, Angelica. Toda essa história dos grampos telefônicos não teve nada a ver com escândalos presidenciais ou manchetes para alavancar sua carreira. Foi só uma distração de alto nível para que você conseguisse o que queria de verdade. A verdade é que estava tentando arruiná-lo. Finalmente se vingar.

Liam prendeu o fôlego, esperando para ver aonde aquela conversaria levaria.

– Isso é uma acusação ridícula e infundada. Graham era um péssimo chefe, com uma ética questionável, mas eu não dava a mínima para ele. Tinha coisas melhores a fazer com meu tempo que tentar arruinar alguém como ele. Esse tipo de gente sempre acaba se destruindo por conta própria.

– É interessante ouvir você dizer isso. Mas tenho uma pilha de fotos que dizem o contrário. Fotos suas, alteradas para tirar o penteado sofisticado e as lentes de contato.

Elas me fizeram pensar em algo que Rowena Tate me disse. Ela falou que você lembrava muito uma menina perturbada e instável do internato onde ela estudou. A garota sempre se gabava de ter um pai rico, mas ele nunca aparecia nos finais de semana.

Simplesmente mandava um cheque pelo correio.

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– Não estudei em nenhum internato – disse Angelica, seu maxilar se contraindo mais a cada palavra.

– Pesquisei um pouco e encontrei registros escolares antigos que mostravam que as mensalidades dela eram pagas por Graham Boyle. Não é estranho? Ele sempre disse que não tinha filhos próprios. Deve ter sido difícil crescer sabendo que o seu pai não queria nada com você. Que você era só um erro que podia ser resolvido com dinheiro suficiente. Se eu estivesse no seu lugar, também iria querer me vingar.

– Cale a boca, Hayden.

– Ele nem reconheceu você quando foi trabalhar no ANS, não é? Claro, você estava diferente, mas um pai tem que ser capaz de reconhecer a própria filha, certo?

Depois foi obrigada a vê-lo bajulando Lucy, que nem era filha dele.

– Não tenho que ficar ouvindo suas sandices. Você claramente não sabe de nada.

– Ela balançou a cabeça, virando-se para deixar de lado a discussão.

– O triste é que você teve todo esse trabalho, destruiu tantas vidas e, no fim, fracassou.

Angelica parou imediatamente. Virou-se novamente para ele, os olhos arregalados e furiosos.

– Ah, é? O que faz você pensar que não foi exatamente isso que eu planejei?

Aqueles idiotas que foram presos, Brandon e Troy, vão levar a culpa pelos grampos.

Todas as evidências apontam que foi Marnie Salloway quem orquestrou tudo. Graham Boyle vai apodrecer na prisão, e a preciosa rede dele também logo será destruída. Para mim, parece até perfeito demais. Meu único arrependimento é que, no fim das contas, não consegui dar um jeito de incriminar Lucy o suficiente para mandá-la para a prisão junto com o querido pai dela.

– Mas ele não foi para a prisão porque amava e queria proteger você. Foi por pura culpa.

– Não preciso do amor dele – disparou ela. – Cheguei até onde estou sem isso. O que eu precisava mesmo era ver aquele desgraçado de joelhos. E consegui.

Hayden abriu um largo sorriso e se virou para o cinegrafista.

– Gravou isso, Tom? O cinegrafista recuou da lente e assentiu.

– Todas as palavras.

Angelica ficou boquiaberta, a pele corando de raiva.

– Seu desgraçado! – berrou ela. – Você armou para cima de mim. Se acha que vou permitir que destrua a minha carreira sem nenhuma prova concreta do meu envolvimento com as escutas telefônicas, está muito enganado. Mesmo com essa gravação, ninguém vai acreditar em você.

Hayden simplesmente balançou a cabeça.

– Não preciso destruir sua carreira. Como você mesma disse, com o tempo, as pessoas sempre acabam se destruindo. Eu simplesmente consegui capturar esse momento numa gravação. Tenho certeza de que o ANS vai demitir você quando eu mostrar a eles. E o FBI e o comitê do Congresso vão achar muito interessante. As pessoas logo vão começar a dedurar você para conseguir um acordo. Não há lealdade entre criminosos. Você logo vai usar uma roupa de presidiário igual à do seu pai.

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Graham Boyle era pai de Angelica? Liam franziu o cenho, confuso, mas foi desviado de seus pensamentos quando Angelica deu um tapa em Hayden. Ele mal reagiu ao ataque, simplesmente balançando a cabeça e olhando para ela com pena nos olhos.

– É uma pena que tenha desperdiçado sua vida inteira nisso. Sinto muito por você. Àquela altura, uma grande multidão de convidados já tinha se reunido em torno da discussão. Mais testemunhas.

– Não quero sua pena – disparou ela.

Angelica estava perdendo o controle rapidamente. Finalmente, ela estendeu a mão e, antes que pudessem impedi-la, pegou um grande punhado do bolo de casamento.

Menos de um segundo depois, arremessou-o na direção de Hayden, silenciando-o.

– O que estão olhando? – berrou ela para a multidão. Pegou mais bolo nas duas mãos e começou a arremessar nas pessoas. Elas gritaram e se dispersaram. Liam se certificou de que Francesca, tia Beatrice e a mãe dele estavam fora da linha de fogo, mas Henry não teve tanta sorte. Levou um grande pedaço de bolo na frente de seu terno.

Entretanto, ele apenas gargalhou, limpando a camisa e não se importando. Depois de 40 anos com Beatrice, um bolo voador não deveria ser nada.

Antes que Liam pudesse buscar ajuda, dois robustos seguranças passaram às pressas por ele. Os olhos de Angelica ficaram enlouquecidos quando ela os viu. Ela começou a se debater e a gritar quando eles tentaram contê-la.

– Não toquem em mim! – uivou ela. – Soltem!

Liam só conseguiu observar, perplexo, quando ela se desvencilhou dos homens, apenas para cambalear para trás, batendo diretamente na mesa do bolo. A mesa tombou, levando Angelica e o bolo junto. Angelica caiu em cheio no centro do doce, o que a fez ficar coberta de creme do cabelo ao traseiro. Ela rugiu de raiva, balançando loucamente os braços ao tentar se levantar, sem conseguir. Quando finalmente ficou de pé, foi com a ajuda dos seguranças que seguravam seus braços.

O cabelo loiro perfeitamente cacheado dela estava liso e engordurado, com pedaços brancos de glacê. Seu rosto e seu vestido roxo estavam sujos por completo. Ela bufou e resistiu nos braços de seus captores, mas foi inútil. Eles a tinham contido desta vez.

– Com essa aparência – disse Hayden –, fico surpreso por ninguém ter percebido a semelhança antes.

Angelica ficou imediatamente paralisada, e seu rosto ficou pálido como o glacê.

– Não sou nada parecida com ela.

– Ora, vamos, Madeline. Não faz mais sentido esconder quem você é de verdade.

A calma dela desapareceu imediatamente.

– Nunca me chame assim! Está me ouvindo? Nunca! Madeline Burch morreu.

Morreu! Eu sou Angelica Pierce, entendeu? Angelica Pierce! – repetiu ela, como se isso pudesse tornar a afirmação real.

Várias pessoas se surpreenderam na multidão. Cara estava paralisada, a alguns metros de distância, segurando Max de forma protetora ao seu lado.

– Eu e Rowena estudamos com Madeline – disse ela antes de se virar para Angelica. – Tínhamos razão. É mesmo você.

– Cale a boca! – disparou Angelica. – Você não sabe nada sobre mim.

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– Tem razão. Não sei – respondeu Cara.

Então os seguranças acompanharam Angelica, ou Madeline que não parava de se debater, para fora do salão. Provavelmente, a polícia já devia estar a caminho para levá-la em custódia. Em primeiro lugar, por perturbação da ordem e agressão. E talvez também por seu envolvimento com o escândalo dos grampos telefônicos. De qualquer forma, uma situação como aquela seria causa mais do que justa para que Liam a demitisse definitivamente do ANS. – Desculpe pela confusão – disse Hayden limpando o bolo de seu rosto. – Nunca esperei que ela viesse falar comigo. Ela estava tão confiante de que tinha vencido. Eu não podia perder a oportunidade de abalar a fachada dela, só não imaginei que fosse explodir assim. Isso acabou com a sua festa. Olhe só o bolo.

Liam deu de ombros. Por algum motivo, saber que não era um casamento de verdade tornava tudo mais fácil de suportar.

– Flagrar Angelica era importante. Você precisa aproveitar todas as oportunidades que tiver.

Ele saiu do salão de festas com Hayden e encontrou alguns policiais esperando do lado de fora. Os dois responderam a algumas perguntas e deram suas informações para contato. Hayden preferiu ir com eles até a delegacia, mas Liam sabia que precisava voltar para dentro e salvar o que restava de sua festa de casamento.

Quando Liam retornou, as pessoas pareciam estar perplexas, sem saber o que fazer.

– Desculpem por aquilo, pessoal – disse ele levantando as mãos para chamar a atenção de todos. – Por favor, fiquem e aproveitem a festa. Mas, infelizmente, tenho que dizer que não vai ter bolo. – Algumas pessoas riram, e a maioria retornou a petiscar e a beber como vinham fazendo antes de a briga acontecer.

Liam percebeu que os drinques que ele buscara no bar ainda estavam intocados sobre a mesa. Ele se envolvera na confusão e se esquecera de levar o champanhe para Francesca. Ele pegou as taças novamente e se virou, procurando-a. Afinal, eles logo precisariam de outra dosa.

Mas ela não estava por ali.

Franzindo o cenho, Liam observou o salão de festas, finalmente recorrendo a uma cansada Ariella.

– Você viu a noiva? – perguntou ele.

– Não desde que eu a coloquei num táxi.

– Num táxi? – Liam franziu o cenho. – Está dizendo que ela foi embora da própria festa? Sem mim?

Ariella mordeu o lábio e assentiu.

– Há cerca de dez minutos. Mais ou menos no instante em que Angelica começou a tomar banho de bolo de casamento. Ela não aguentou ficar.

Liam olhou à volta para a bagunça que o salão se tornara. Scarlet estava informando freneticamente aos funcionários seus afazeres de limpeza. Os convidados ainda estavam por ali. Porém, apesar das palavras dele, eles pareciam não saber ao certo se deviam permanecer. Era um desastre de casamento.

Ele não culpava Francesca nem um pouco por ter ido embora.

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Francesca estava louca para tirar seu vestido de noiva. O apertado corpete a impedia de respirar. Era demais.

Inicialmente, ela ficara aliviada quando Hayden e Angelica tinham começado a confusão. Pela primeira vez naquele dia, todos os olhares do recinto não estavam voltados para ela. Fora uma abençoada folga, o primeiro momento desde que ela chegara para a cerimônia em que achara que talvez pudesse deixar de lado a fachada de alegre noiva e se recompor.

Então o bolo começara a voar.

A avó dela nunca mencionara especificamente que ver seu bolo de casamento ser arremessado pelo salão era um sinal de má sorte, mas Francesca estava pronta para tirar as próprias conclusões a respeito daquilo. A festa deles fora um desastre. A farsa daquele casamento também seria um caos, sem dúvida. Era apenas mais uma coisa, mais um brilhante letreiro em neon que tentava lhe indicar o caminho certo. Ela ignorara todos os outros presságios de azar. O destino garantira que aquele último fosse inegável.

Quando ela pedira a Ariella para chamar um táxi, sua amiga devia ter pensado que ela estava chateada por sua festa ter sido destruída. A verdade era que Francesca não conseguia mais fingir. Se ela precisasse ficar mais um minuto naquele salão de festas, teria estragado tudo para Liam e para o ANS. Agora que ela estava de volta na casa de Liam, de jeans e um leve suéter, sentiase melhor e pior ao mesmo tempo. Ainda havia caixas com as coisas dela no chão, prontas para ser incorporadas à nossa vida de Francesca com ele. Contudo, talvez fosse melhor se elas retornassem para o caminhão de mudança.

Ela se serviu de uma taça de vinho para acalmar seus nervos e subiu para o quarto principal para refazer as malas. As únicas coisas dela que tinham sido guardadas eram as roupas e pertences pessoais de cama e banho. Seria fácil juntar tudo isso, e ela pretendia fazê-lo imediatamente.

Se ela se apressasse, dormiria em sua própria cama naquela noite. Não era exatamente a noite de núpcias que todos esperavam que tivesse.

Francesca já enchera uma mala, quando ouviu a porta da frente se abrir.

– Francesca? – chamou Liam.

– Estou aqui em cima – respondeu pondo outra bolsa sobre a cama. Já estava colocando a lingerie e o pijama dentro dela quando ele entrou no quarto.

Francesca tentou não pensar em como ele estava lindo de smoking amarrotado. A gravata estava solta, a gola, desabotoada. Ela gostava dele desgrenhado. Apesar de tudo, Francesca sentiu seu corpo reagir à presença de Liam. Sua pulsação disparou, sua pele se contraiu na expectativa do toque dele. Entretanto, pensar em seu desejo por Liam não ajudaria em nada. Isso a faria querer ficar. E ela precisava ir.

– O que está fazendo? – perguntou ele sem levantar a voz, que estava baixa e cansada. Os dois tinham tido um longo dia e não precisavam de mais drama. Contudo, aquilo precisaria acontecer naquela noite.

– Estou arrumando minhas coisas para me mudar de volta para a minha casa. Não se preocupe, vou ficar quieta até tia Beatrice ir embora da cidade na segunda-feira, mas depois vou chamar a companhia de mudança para vir buscar o restante.

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Liam deu alguns passos na direção dela. Francesca conseguia sentir a atração magnética dele ficando mais forte à medida que ele se aproximava. Queria enterrar o rosto no peito dele e esquecer tudo que estava acontecendo. Mas não podia.

– Por quê?

Ela pôs o restante de suas roupas na bolsa e fechou o zíper. Olhou para a bolsa enquanto falava, para garantir que conseguiria dizer tudo.

– Sinto muito, Liam. Achei que eu fosse conseguir. Mas simplesmente não consigo.

Houve uma pausa antes de ele responder, a voz um pouco tensa.

– Você quer uma anulação do casamento?

Ela o olhou e balançou a cabeça.

– Não. Vou continuar legalmente casada com você pelo bem da rede. Espero que isso seja suficiente, porque não consigo brincar de casinha com você. É demais para… – A voz dela começou a vacilar quando as lágrimas chegaram aos seus olhos. Francesca se virou imediatamente de costas para ele antes que deixasse transparecer o que sentia de verdade. – É demais para o meu coração, Liam.

Ele avançou outro passo, mas parou antes de tocá-la.

– Como assim?

Francesca inspirou fundo.

– Quero mais.

– Mais do que 5 milhões?

Ao ouvir aquilo, Francesca ergueu a cabeça e se virou, olhando nos olhos dele.

– Você simplesmente não entende, não é? Não quero seu dinheiro. Nunca quis. Já tenho bastante. Quero as coisas que você não pode me dar. Quero amor. Uma família de verdade. Um casamento como o dos meus pais. Quero um homem que se importe mais comigo do que com qualquer outra pessoa, qualquer outra coisa.

Ela balançou a cabeça e pendurou a alça da bolsa de viagem no ombro.

– A culpa não é sua. Você tinha razão quando disse que eu acreditava no amor.

Acredito. Mas tenho mentido para mim mesma. Primeiro, disse a mim mesma que eu conseguiria ficar com você, que tudo ficaria bem. Que eu conseguiria passar o próximo ano fingindo. Mas não consigo, porque fui burra o suficiente para me apaixonar por você.

Depois tive a esperança de que talvez, apenas talvez, você se apaixonasse por mim, e isto pudesse virar mais do que um acordo de negócios. Bobagem, certo?

Liam estendeu a mão para ela, mas Francesca se esquivou.

– Não – disse ela. – Não faça isso. Sei que você não tem sentimentos por mim.

Qualquer coisa que você diga neste momento só vai piorar tudo.

Ela estendeu a alça da mala e arrastou sobre as rodas até a porta.

– Francesca, espere.

Ela parou e se virou para ele. Aquele era o momento do qual tudo dependia. Se ela estivesse enganada e ele se importasse mesmo com ela, era a hora de Liam dizer. Ela olhou nos olhos azuis dele, torcendo para ver ali o amor que queria tão desesperadamente. Esculpidos na expressão de dor dele estavam o desespero e a confusão. Ele não queria que ela fosse embora, mas não sabia como lhe pedir para ficar.

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– Liam, você teria pensado em se casar comigo se a sua tia não tivesse imposto esta situação? Quero dizer, você sequer teria me convidado para sair depois do que aconteceu entre nós no elevador? Honestamente.

Liam franziu o cenho e enfiou as mãos nos bolsos.

– Não. Provavelmente não.

Ao menos os dois estavam dizendo a verdade. Assentindo, ela se virou e levou sua bagagem escada abaixo. Era hora de voltar para casa e juntar os cacos de sua vida.

CAPÍTULO TREZE

Liam assinou a documentação da demissão de Angelica e empurrou os papéis sobre a mesa. Achara que ficaria feliz por ver aquele problema resolvido, mas não estava.

Era o recém-casado mais triste de todos os tempos.

Não via a noiva desde a noite de núpcias. Fora um final de semana longo e solitário sem ela ao seu lado. Ele se acostumara muito rápido a ter Francesca por perto. Agora sua casa parecia fria e vazia.

O escritório não estava muito melhor. Francesca já não o procurava mais assim que chegava, com um café e um beijo. Ele sequer sabia se ela fora trabalhar naquele dia.

Queria telefonar para ela, escrever um e-mail. Mas sabia que não devia. Seria mais fácil para ela se ele recuasse e lhe desse o espaço de que precisava. Ela merecia isso.

Mas Liam sentia falta de sua esposa.

Ela se tornara isso em sua mente tão rápido! Não era mais sua funcionária. Era sua esposa. Não havia diferenciação na mente dele em relação ao casamento. O noivado podia ter sido uma farsa, mas o casamento lhe parecia muito real. Assustadoramente real.

Liam nunca pensara muito em ter uma esposa e uma família. Contudo, no instante em que Francesca saíra pela porta, um buraco se formara no peito dele. Fora como se ela tivesse lhe arrancado o coração e o levado consigo. Tudo o que restava era um crônico latejamento de saudade dela.

Isso não parecia nada falso.

Sim, ele fora forçado a se casar para agradar sua tia. Precisara admitir isso para Francesca, pois era verdade. Entretanto, agora que ele estava casado com ela, parecia o certo. Natural. Já não se importava mais com o que tia Beatrice pensava do assunto.

Ele… estava apaixonado por Francesca.

– Eu amo a minha esposa – disse ele em voz alta, para seu escritório vazio. Não havia ninguém para ouvi-lo, mas dizer isso retirava um grande peso de seus ombros.

Infelizmente, admitir a verdade era apenas o primeiro passo.

Como ele poderia provar para Francesca que realmente a amava? Que aquilo nada tinha a ver com a rede ou com acordos de ações? Não havia como ela ter certeza de que ele não estivesse simplesmente agindo como fachada.

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A única maneira de convencê-la, o único caminho certeiro, seria tirar de cena o acordo das ações e os problemas de rede. Se a tia de Liam não tivesse poder de negociação sobre ele, ele só poderia permanecer casado com Francesca por vontade própria, não por ter sido obrigado.

Contudo, para fazer isso sem pôr a empresa em risco, ele precisaria de ações suficientes para controlar o ANS sem a parcela de sua tia. Isso parecia praticamente impossível. A menos que…

Liam pegou o telefone e saltou de trás da mesa. Precisava encontrar Victor Orr antes que eles retornassem à Califórnia. Francesca dissera que eles passariam alguns dias ali para visitar o Smithsonian. Sendo assim, se ele estivesse com sorte, eles ainda estariam em D.C. Foram necessários dois telefonemas e uma ida de carro até o hotel deles num péssimo trânsito, mas Liam finalmente conseguiu encontrar os pais de Francesca. Ele estava diante da porta, esperando que eles atendessem a campainha, quando percebeu que não sabia exatamente o que diria a eles. Precisaria admitir a verdade. E isso significaria a possibilidade um irlandês muito grande e irritado espancá-lo por Liam ter magoado a filha dele.

Victor abriu a porta de cenho franzido. Sem dizer nada, pareceu perceber que havia algo de errado. Por que mais seu novo genro apareceria sozinho poucos dias depois do casamento? Ele levou Liam para dentro e gesticulou para que se sentasse numa das poltronas da sala da suíte.

Observou Liam de olhos semicerrados durante alguns minutos antes que ele conseguisse coragem para falar.

– Há algumas coisas que preciso dizer – declarou Liam.

– Tenho certeza disso.

Sem saber a melhor forma de contar a história, Liam optou por começar do início.

Começou falando do acordo das ações com sua tia, deixando de lado o ocorrido no elevador, e seguiu com a exigência de Beatrice de que ele se casasse para manter o controle da rede.

– E minha filha concordou com esse noivado falso?

– Sim, senhor. Ela pareceu hesitar no início, mas, aparentemente, viu um sinal de que deveria aceitar. Uma joaninha.

Victor balançou a cabeça.

– Ela e esses malditos sinais. Ela só arruma mais problemas por isso. Casada com um homem que mal conhece por causa de uma joaninha!

– Nossa intenção nunca foi a de nos casarmos de verdade, mas minha tia exigiu que fizéssemos isso imediatamente. Ela está doente e queria garantir que isso acontecesse. Eu disse a Francesca que não precisava fazer isso, mas ela insistiu.

– Ela é teimosa como eu.

– O que nenhum de nós percebeu foi que podíamos nos apaixonar de verdade um pelo outro. Na nossa noite de núpcias, Francesca me disse que tinha sentimentos por mim e que sabia que esses sentimentos não eram mútuos. Disse que não conseguiria continuar assim.

– Você simplesmente a deixou ir embora assim?

Liam franziu o cenho e olhou para as próprias mãos.

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– Eu não soube o que dizer. Não sabia ao certo o que eu pensava a respeito de tudo. O que era real e o que era fantasia entre nós? Eu não sabia.

– E agora?

– Agora eu sei. Amo sua filha e quero pedir sua permissão para me casar com ela.

– Filho, vocês já são casados.

– Eu sei, mas as coisas estão diferentes agora. Quero me casar de verdade com ela. Quero ir até ela e dizer o que sinto, mas preciso da sua ajuda. Francesca nunca vai acreditar que nosso casamento é algo além de um acordo de negócios enquanto minha tia estiver me chantageando com as ações. Não tenho recursos para comprar a parte dela. Mas, se eu conseguisse apoio suficiente dos acionistas minoritários, talvez eu conseguisse o controle majoritário sem as ações dela.

Victor assentiu.

– Não acho que eu tenha o suficiente, mas tenho uma quantidade considerável.

Assim como meu amigo Jimmy Lang. Se nos juntarmos, talvez isso pese na balança. Vou dar um telefonema.

Quando Victor se levantou para entrar no quarto, a esperança começou a borbulhar dentro de Liam. Ele torcia de verdade para que eles conseguissem fazer aquilo. Não queria ir até Francesca e lhe dizer que a amava se houvesse qualquer suspeita com relação à sua motivação. Era o único jeito.

– Boas notícias – avisou Victor ao retornar alguns minutos depois. – Falei com Jimmy, e ele fez as contas. Se juntarmos com o que você tem, somaremos 52 por cento das ações da empresa. Bem apertado, mas conseguiríamos. Jimmy e eu estamos muito empolgados com a direção na qual você está levando a rede. Então não temos nenhum problema em delegar nosso poder de voto a você. Então – disse ele estendendo a mão para Liam – parabéns. Você vai continuar mandando nessa rede.

Liam se levantou imediatamente e apertou animadamente a mão de seu sogro.

– Muito obrigado, senhor.

Victor deu de ombros.

– Não fiz isso por você. Fiz pela minha garotinha. Tem meu consentimento para se casar com ela. Então dê o fora daqui e conserte as coisas entre vocês dois.

Os olhos de Liam se arregalaram quando ele assentiu. Não havia como discutir como Victor Orr, mesmo se ele quisesse.

– Obrigado novamente – agradeceu Liam ao se virar e sair às pressas da suíte do hotel.

Por mais que ele quisesse correr até Francesca, havia outra parada a fazer.

Felizmente, essa parada ficava naquele mesmo hotel.

Liam tocou a campainha da suíte da cobertura e esperou Henry abrir a porta. O homem chegou alguns minutos depois, recebendo Liam com o mesmo sorriso e movimento de cabeça de sempre.

– Entre, Liam. Creio que ela não esteja esperando você esta manhã. Estamos fazendo as malas para voltar a Nova York.

– Desculpe por aparecer sem avisar, Henry, mas preciso falar com a minha tia. É importante.

Henry gesticulou na direção do quarto. Liam não o esperou.

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Tia Beatrice ergueu o olhar quando ele entrou com tudo. Estava sentada em sua cadeira de rodas, dobrando roupas.

– Liam – disse ela. – Eu achei que você estivesse viajando, aproveitando a felicidade do casamento.

– Não achava não – discordou ele sentando-se na beira da cama, ao lado dela. – Estávamos fazendo um jogo muito perigoso que só poderia terminar com pessoas sendo magoadas.

Ela não se deu o trabalho de agir como se estivesse ofendida.

– Fiz o que achei melhor para a família. E para você, apesar do que você possa pensar.

– Eu sei. E vim aqui para agradecer.

Finalmente, aquilo afetou a Rainha Beatrice. Ela se endireitou na cadeira de rodas, os olhos se estreitando para ele, confusa.

– Agradecer?

– Sim. Se você não tivesse me obrigado a me casar, talvez eu tivesse deixado Francesca sair da minha vida. Eu a amo. E espero que ela passe 40 anos casada comigo.

Não pela rede nem por causa das suas exigências, mas porque quero envelhecer junto dela. Sendo assim, não vou mais permitir que você me controle. Não preciso das suas ações do ANS nem da sua chantagem. Já tenho apoio suficiente para manter o controle do ANS sem suas ações e seus bilhões. Não ligo para herança nenhuma.

Tia Beatrice ficou em silêncio durante alguns minutos, absorvendo as palavras dele. Depois de um tempo, Liam começou a se perguntar se ela estaria repassando mentalmente as alterações para seu testamento. Ele não se importava. Que ela o deixasse de fora. Que o libertasse.

– Essas – disse ela por fim – são as palavras de um homem que pode assumir o comando de nossa família. – Beatrice sorriu e pôs uma blusa dentro da mala. – Era o que eu estava esperando. Nunca tive intenção de vender minhas ações para Ron Wheeler. Só queria ver você se estabelecer, estar no controle e feliz com seu lugar na vida. Francesca é a mulher certa para você. Eu sabia disso tanto quanto sabia que vocês estavam fingindo. Imaginei que, com o tempo, as coisas fossem dar certo entre vocês. Quando vocês parassem de brigar. É uma pena que eu já não vá mais estar viva para poder ver vocês dois genuinamente felizes juntos.

– Você sabia que estávamos fingindo o relacionamento?

– Só uma pessoa inteligente e observadora pode ser chefe da nossa família. Pouca coisa me escapa, mesmo agora. Mas não tem problema. Sinto muito por ter me metido na sua vida particular. Chantagem realmente não é o meu forte, mas fiz o que achei que precisava fazer pelo seu bem e o bem da família. Vou ligar para meu corretor de ações hoje à tarde e mandar transferir as ações do ANS para você.

– O quê? Agora? – Ainda restavam anos para que ele conseguisse pagar por completo o preço daquelas ações.

– É seu presente de casamento. A maior parte das pessoas não dá redes de televisão como presente, mas vocês também não são noivos comuns.

Liam pegou a mão de sua tia. Era algo que ele raramente fazia; ela não era muito afetuosa, mas Liam estava vendo as rachaduras na armadura dela. A doença estava revelando a pessoa que havia escondida lá dentro.

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– Obrigado, tia Beatrice.

Ela virou a cabeça, deixando de lado o sentimento dele com um gesto da mão, mas Liam viu o brilho da umidade nos olhos dela.

– Será agradecimento suficiente se você salvar aquela empresa e assumir o comando daquele bando de paspalhos que são nossos parentes quando eu partir.

– Preciso mesmo ficar com todas as posses da família?

– Com certeza. E não se preocupe. Você vai acabar se acostumando com a bajulação constante.

Francesca saiu cedo do ANS. Passara o dia inteiro como prisioneira voluntária de seu escritório, com medo de encontrar Liam no corredor. Tivera alguns dias para ficar em casa sozinha, recuperando-se, mas ainda não estava pronta para vê-lo novamente.

Especialmente sabendo que todos ainda esperavam que eles fossem um feliz casal recém-casado.

Depois de ouvir Jessica dizer a alguém no telefone que Liam não estava no escritório, ela aproveitou a oportunidade para escapar.

Voltou para sua casa e, aliviada, largou a bolsa sobre a mesa de centro, tirou os sapatos e foi para a cozinha beber alguma coisa.

Quando Francesca se virou para entrar no cômodo e encontrou Liam sentado à mesa da cozinha, quase morreu de susto.

– Ah, Dio mio! – Ela deu um salto, encostando as costas na bancada e levando a mão ao peito, seu coração em disparada. – O que você está fazendo aqui, Liam? Quase me matou de susto.

Ele parecia um pouco envergonhado ao se levantar e se aproximar dela.

– Desculpe. Não foi minha intenção assustar você. Achei que você veria o meu carro na frente da casa. Como você tinha me dado a chave, pensei em esperar aqui até que você voltasse. Quando liguei para Jessica, ela me disse que você já tinha saído.

– Eu dei a chave a você quando nós iríamos ser um casal feliz. Usá-la depois de tudo o que aconteceu é meio sinistro. Afinal, por que você está aqui? Não temos nada a conversar.

Liam balançou a cabeça e se aproximou. Francesca sentiu o cheiro da colônia dele, e seu corpo começou a reagir imediatamente.

– Temos muito a conversar. E vou começar dizendo como amo você e como tenho estado triste desde que você foi embora.

Francesca começou a discutir, mas parou. Ele acabara de dizer que… Ela não podia ter ouvido direito.

– O que disse?

Liam sorriu, o que fez o coração dela flutuar. Estava usando uma camisa de gola azul-marinho, o que ressaltava o azul dos olhos dele. Ele se aproximou. Francesca percebeu algumas linhas de preocupação em torno dos olhos de Liam. Ele parecia um pouco cansado e tenso, mas ela atribuíra isso ao estresse de administrar a rede e ao fiasco do casamento deles.

Seria possível que ele estivesse sem dormir por causa dela?

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Liam parou diante dela, obrigando Francesca a erguer o olhar para ele. As mãos dele se fecharam nos braços dela, o calor indo até sua alma.

– Amo você, Francesca. Estou apaixonado por você.

Por mais que ela quisesse se derreter contra ele, não poderia permitir isso. Ela ignorou o frio em sua barriga e recuou, observando-o com olhos preocupados.

– Você não me amava na sexta-feira à noite. Podia ter me dito isso naquele momento, mas não disse. Deixou que eu fosse embora. Agora aparece aqui dizendo o contrário? O que aconteceu? Sua tia descobriu? Você está tentando uma tática diferente para ficar com a rede?

Liam engoliu em seco, um lampejo de resignação em seus olhos.

– Imaginei que você fosse dizer algo assim. Foi por isso que demorei tanto para procurar você hoje. Tive alguns negócios importantes a resolver.

Francesca cruzou os braços defensivamente, apesar de achar que isso não adiantaria. Com Liam, sua armadura fora permanentemente destruída.

– Com você, os negócios sempre vêm em primeiro lugar.

– Tem razão. Primeiro, precisei confessar para o seu pai.

Os olhos de Francesca se arregalaram com um inesperado pânico.

– Você contou ao meu pai? Por quê? Ele vai me matar. Como pôde fazer isso sem me perguntar?

– Porque eu precisava da ajuda dele. E da bênção dele para me casar com você.

– É um pouco tarde para isso.

– Nunca é tarde demais quando se tem um pai superprotetor. Ele não apenas me deu permissão, mas também se juntou com um sócio dele para usar as ações deles para me apoiar no ANS, o que me dá o comando majoritário sem precisar da minha tia.

Francesca tentou processar o que ele estava dizendo, mas não parava de pensar em que tipo de conversa ele teria tido com o pai dela.

– Você não precisa mais das ações da sua tia?

– Não.

Aquilo significava que eles não precisavam permanecer casados.

– Mas não quer anular o casamento?

– De jeito nenhum. – Liam se aproximou novamente, acabando com a distância que ela abrira entre eles. – Não tenho nenhuma intenção de deixar você ir embora da minha cama pelos próximos 40 anos.

O frio no estômago dela ficou ainda mais intenso.

– Espere. Você me ama. Quer continuar casado comigo. E isso não tem nada a ver com o ANS? Liam assentiu.

– Nadinha. Hoje de manhã, disse à minha tia que não aceitaria mais a chantagem dela. Não queria que você pensasse nem por um momento que meu amor por você não fosse totalmente sincero. Agora isto não tem nada a ver com a minha tia, nem com a rede, nem com as aparências. Só com você, comigo e com o resto de nossas vidas.

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Os braços dele envolveram a cintura dela, e, desta vez, Francesca não recuou.

Moldou seu corpo contra o dele e soltou um pequeno suspiro de contentamento com a sensação de estar novamente nos braços dele.

– Estou apaixonado por você, Francesca Crowe. Quero continuar casado com você até o dia da minha morte.

O coração dela disparou quando ele usou seu nome de casada. Ela não o ouvira nem uma vez desde o casamento.

– Também amo você.

Liam baixou a cabeça para capturar os lábios dela com os dele. Aquele beijo, o primeiro deles como duas pessoas apaixonadas, superou todos os outros anteriores. O corpo dela se iluminou com o toque dele. Francesca envolveu o pescoço de Liam com os braços para tentar ficar mais perto, mas jamais seria perto o suficiente. Ela se perdeu no abraço, permitindo que os fortes braços dele a mantivessem de pé quando seus joelhos ameaçaram ceder.

Recuando depois do que pareceu uma eternidade, ele disse, arfante: – Quero me casar com você.

Francesca enrugou o nariz e pôs a mão delicadamente no maxilar com a barba por fazer de Liam.

– Mio caro, já somos casados.

– Eu sei – disse ele, com um malicioso sorriso. – Mas quero fazer tudo de novo.

Com uma lua de mel tropical. E, desta vez, seremos só nós dois. Sem família, sem pressão e, especialmente, sem bolo voador.

EPÍLOGO

Antígua, Uma semana depois Francesca não fazia ideia de que férias poderiam ser algo tão perfeito. Com a data do reencontro televisionado de Ariella com seu pai já chegando, eles não teriam o luxo de uma lua de mel longa, mas tinham conseguido fugir para um longo final de semana no Caribe.

Eles tinham pegado sol, nadado no oceano, comido os melhores frutos do mar que ela já provara e renovado seus votos de casamento num gazebo branco particular que ficava sobre a água.

A cerimônia anterior valera do ponto de vista legal, mas fora manchada pelos esquemas da tia dele e pelo ataque de Angelica. A renovação dos votos fora apenas para os dois. Uma chance de dizer novamente as palavras, e de todo o coração. Depois eles tomaram champanhe no bangalô particular e dividiram um pequeno bolo para dois.

Para aquele dia, eles tinham planejado fazer snorkeling pela manhã, seguido por uma maratona de amor e muitos cochilos. O mergulho fora excelente. A água estava 85

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límpida, e havia um arcoíris de peixes em abundância. Eles estavam voltando para o bangalô, quando Francesca parou e puxou o braço de Liam.

– Liam, pare. Olhe – disse ela apontando para a televisão colocada acima da bancada da cantina.

Era a cobertura ao vivo da acusação formal de Madeline Burch no tribunal. Antes de eles terem partido para a viagem, o vídeo com a confissão dela fora reproduzido por diversas vezes em todos os meios de comunicação, com o ANS dando o furo de reportagem. A mídia atacara a história do envolvimento de Madeline no escândalo dos grampos telefônicos depois que Brandon Ames e Troy Hall tinham concordado em testemunhar contra ela. A notícia da vida dupla fora apenas a cereja do bolo da audiência.

Por um instante, Francesca quase se sentiu mal por Madeline. Ela estava terrível.

Laranja era uma cor que não combinava com seu tom de pele. Sem poder colorir e alisar seu cabelo, estava com raízes castanhas e mechas malcuidadas. As lentes de contato tinham sido trocadas por óculos fornecidos pela própria penitenciária, e ela engordara vários quilos desde a festa deles. Não havia mais dúvida de que Angelica era Madeline Burch.

– Uau – disse Francesca balançando a cabeça. – É tão triste. E tão sem sentido.

Quantas vidas foram destruídas apenas para que ela pudesse se vingar de Graham pela maneira como ele a tratou?

Quando ela se virou, Liam estava pegando o celular no bolso. Ele se desconectara do mundo das notícias durante a lua de mel deles. Porém, agora que a notícia fora dada, todos os seus instintos jornalísticos estavam em alerta.

Ele começou a digitar algo, mas parou. Pressionou o botão para desligar e guardou o telefone de volta no bolso.

Francesca arqueou uma das sobrancelhas, surpresa.

– Sério? – perguntou ela.

– Tenho certeza de que meus funcionários estão cuidando muito bem da situação.

E, mesmo que não estejam, estou em lua de mel. Não dou a mínima para a filha secreta de Graham Boyle.

Ele se virou para Francesca, envolveu a cintura dela com o braço e a puxou firmemente contra si. Ela se derreteu contra ele, surpresa ao sentir o firme calor do desejo de Liam pressionado contra sua barriga.

– No momento – disse ele com um malicioso sorriso –, estou mais interessado em fazer amor com a minha esposa.

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