Conflito de desejos [filhas do poder 1]

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CONFLITO DE DESEJOS A CONFLICT OF INTEREST

Barbara Dunlop

FILHAS DO PODER: A CAPITAL 1/6 Ela tentou ficar longe dele... Cara Cranshaw, relações públicas da Casa Branca, desconfia que o repórter Max Gray a quer só porque não pode tê-la.O trabalho deles torna um relacionamento bastante complicado e, agora que o presidente tomou posse, impossível. Para Max, o que eles têm é apenas um caso. Talvez ela seja mais uma em sua longa lista de conquistas. Mas para Cara é algo diferente. Ela já entregou seu coração para ele. E logo terá seu filho... Digitalização: Simone R. Revisão: Carmita


Barbara Dunlop - [Filhas do Poder 1] - Conflito de Desejos (Desejo Dueto 42.1)

Tradução Leandro Santos HARLEQUIN 2013 PUBLICADO SOB ACORDO COM HARLEQUIN ENTERPRISES II B.V./S.à.r.l. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: A CONFLICT OF INTEREST Copyright © 2013 by Harlequin Books S.A. Originalmente publicado em 2013 por Harlequin Desire Título original: BEDROOM DIPLOMACY Copyright © 2013 by Harlequin Books S.A. Originalmente publicado em 2013 por Harlequin Desire Projeto gráfico de capa: Nucleo i designers associados Arte-final de capa: Ô de Casa Editoração eletrônica: EDITORIARTE Impressão: RR DONNELLEY www.rrdonnelley.com.br Distribuição para bancas de jornais e revistas de todo o Brasil: FC Comercial Distribuidora S.A. Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171,4° andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380 Contato: virginia.rivera@harlequinbooks.com.br

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CAPÍTULO UM

Era noite de inauguração em Washington D.C., e Cara Cranshaw precisava escolher entre seu presidente e seu amante. Um entrava triunfantemente no salão de festas, ovacionado pelos 800 convidados. O segundo olhava ousadamente para ela do outro lado do recinto, seu farto e indomável cabelo escuro caindo sobre a testa, a gravataborboleta levemente torta, e seus olhos telegrafando a mensagem de que ele a queria nua. Por ora, era o repórter investigativo Max Gray que prendia a atenção dela. Apesar de estar determinada a deixar para trás o relacionamento deles, ela não conseguia parar de olhá-lo, nem impedir que sua mão fosse automaticamente para o abdômen dele. Max, contudo, estava fora dos limites agora que Ted Morrow assumira a presidência. – Senhoras e senhores – falou o mestre de cerimônias ao microfone. – O presidente dos Estados Unidos. A ovação se transformou num rugido. A banda tocou mais alto, e a multidão abriu caminho para o presidente Morrow. Cara controlou sua expressão, lutando para ser determinada. Não poderia permitir que Max visse a confusão e o alarme que ela vinha sentindo desde que fora a uma consulta médica naquela tarde. – Ele está atrasado! – O grito de Sandy Haniford soou agudo no ouvido de Cara. Sandy era recém-contratada da assessoria de imprensa da Casa Branca, onde Cara trabalhava como relações-públicas. – Só alguns minutos – respondeu Cara, ainda olhando para Max. Determinação, disse a si mesma. A gravidez inesperada podia ter virado seu mundo de ponta-cabeça, mas não mudava seu trabalho naquela noite. Nem sua responsabilidade em relação ao presidente. – Eu estava esperando que o presidente fosse chegar um pouco cedo – continuou Sandy. – Temos um orador para acrescentar. Cara virou a cabeça. – Como é? – Outro orador. – Você não pode fazer isso. – Já fiz – disse Sandy. – Desfaça. Os oradores, especialmente em eventos realizados por organizações não muito amistosas ao presidente, tinham sido vetados com semanas de antecedência. O American News Service não apoiava o presidente Morrow, mas o baile da rede de TV a cabo era uma tradição. Então, ele não tivera escolha a não ser aparecer ali. Seriam apenas 30 minutos. O baile dos militares viria em seguida, e o presidente deixara claro que queria chegar a tempo de saudar as tropas. 3


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– O que quer que eu faça? – perguntou Sandy. – Que eu dê uma rasteira no cara quando ele chegar ao microfone? – Você devia ter resolvido o problema antes de chegar a esse ponto. – Cara pegou o telefone para falar com sua chefe, a secretária de imprensa da Casa Branca, Lynn Larson. – Acha que não tentei? – Obviamente, não o bastante. – Eles não me perguntaram – ressaltou Sandy, franzindo o cenho. – Graham Boyle pôs Mitch Davis no cronograma para fazer um brinde. Disse que seriam dois minutos, no máximo. Mitch Davis era o principal repórter do ANS. Graham Boyle podia ser o bilionário dono da rede e patrocinador daquele baile, mas nem mesmo ele podia dar ordens ao presidente. Cara não conseguiu evitar olhar de esguelha para Max. Sendo o repórter investigativo mais popular da rival do ANS, a National Cable News, ele próprio mandava bastante. Talvez tivesse alguma ideia do que estava acontecendo. Cara, porém, não poderia lhe perguntar isso e nem a respeito de nada que tivesse a ver com seu trabalho. Nunca mais. Ela apertou o botão para telefonar para sua chefe. A ligação entrou no correio de voz. Ela desligou. Tentou novamente. Percebeu que o presidente chegara à mesa principal, logo abaixo do palco. Ele estava sendo parabenizado pelos convidados. O mestre de cerimônias, o popular entrevistador do ANS, David Batten, voltou ao microfone. Deu boas-vindas e parabéns ao presidente antes de passar o microfone a Graham Boyle. De acordo com a programação, Graham teria três minutos para falar. Depois, o presidente dançaria com a presidente de um hospital beneficente local e com Shelley Michaels, outra celebridade popular do ANS. Em seguida, passaria sete minutos em sua mesa com diretores do ANS antes de partir. Cara desistiu do celular e começou a rumar para o palco. Havia uma escada de cada lado. Ela, então, soube que teria 50 por cento de chance de impedir Mitch Davis antes que ele chegasse ao microfone. Uma pena ela não ser um pouco maior, mais forte e talvez mais máscula. Novamente, seus pensamentos se voltaram para Max. O homem se esquivava de balas em cidades dominadas pela guerra, escalava montanhas para chegar a acampamentos de rebeldes e lutava contra crocodilos e hipopótamos para relatar as dificuldades de povos indígenas. Se Max Gray não quisesse alguém no palco, essa pessoa não subiria ao palco. Uma pena ela não poder alistar a ajuda dele. Cara escolheu a escada da direita enquanto Graham Boyle falava do papel do ANS na eleição presidencial. Ela desejou ser mais alta e se arrependeu de ter escolhido o confortável sapato de salto baixo, já que isso a impedia de enxergar se Mitch estava esperando para subir do lado direito. – Aonde você está indo? – Era a voz de Max em seu ouvido. – Não é da sua conta – devolveu ela, tentando acelerar para se afastar. – Está com uma expressão determinada. 4


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– Vá embora. Ele se posicionou ao lado dela. – Talvez eu possa ajudar. – Agora não, Max. – Imagino que não seja um segredo de Estado o lugar para onde você está indo. – Estou tentando chegar ao palco. Feliz agora? – Venha comigo. – Ele avançou à frente dela. Seus 1,88m e ombros largos o tornavam uma imponente figura. Cara pensou que o fato de ele ser famoso também ajudava. No mês anterior, Max fora eleito um dos dez homens mais desejados de Washington. Mesmo com ele abrindo caminho, eles acabaram ficando presos atrás de uma multidão. – Por que você quer chegar ao palco? – Ele se virou para ela. – Só para você saber, não sei nenhum segredo de Estado. Meu trabalho não é esse. – E, como não sou um espião estrangeiro, devíamos poder ter uma conversa sem comprometer a segurança nacional. Uma inconfundível voz veio pelo sistema de som. – Boa noite, senhor presidente – falou Mitch Davis. Um murmúrio de surpresa percorreu o recinto, já que Mitch era um conhecido opositor ao presidente Morrow. – Primeiro, permitam-me dar, em nome do American News Service, parabéns pela eleição como presidente dos Estados Unidos. Os aplausos vieram, mas não tão fortes quanto de costume. – Seus amigos – continuou Mitch –, seus defensores e seus pais devem estar muito orgulhosos. Cara se esforçou para ver a expressão do presidente, perguntando a si mesma se ele estaria com raiva ou apenas incomodado com o desvio da programação. Contudo, não havia como enxergar através da densa multidão. – O presidente está sorrindo – falou Max. – Mas parece um pouco forçado. – Davis não estava na programação. – Não diga – disse Max, como se apenas um idiota fosse pensar o contrário. Ela olhou, irritada. Então, passou por ela, manobrando em meio à multidão, rumo à mesa do presidente. Lynn Larson ficaria furiosa. Não era exatamente a responsabilidade de Cara garantir que aquela festa corresse bem, mas ela trabalhara com a equipe, coordenando tudo. Em parte, ela era culpada por aquilo. Felizmente, Max não a seguiu. – Imagino que ninguém esteja mais orgulhoso que a sua filha – disse Mitch no instante em que Cara chegou a um local de onde conseguia vê-lo no palco. Houve um silêncio confuso no salão, pois o presidente era solteiro e não tinha filhos. Também confusa, Cara parou a pouco mais de um metro de Lynn, à mesa do 5


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presidente. – Sua filha desaparecida há muito, Ariella Winthrop, que está aqui conosco esta noite para a comemoração. A multidão levou uma fração de segundo para reagir. Talvez estivesse tentando entender se era uma brincadeira doentia. Cara certamente estava. Contudo, ela percebeu rapidamente que era algo muito mais sinistro que uma brincadeira, e seu olhar se dirigiu ao canto do palco, onde ela vira sua amiga Ariella, cuja empresa de planejamento de eventos fora contratada para fazer a festa. Quando Cara visualizou Ariella, seu estômago desabou como uma pedra. Soubera durante anos que Ariella era adotada e não conhecia seus pais biológicos. Os murmúrios da multidão aumentaram, todos perguntando uns aos outros o que sabiam, o que tinham ouvido falar. Cara deu um passo na direção de Ariella, mas a mulher deu meia-volta, desaparecendo atrás do palco. Havia ao menos uma dúzia de portas lá atrás, a maioria isolada pela segurança. Com sorte, Ariella conseguiria escapar rapidamente. Mitch levantou sua taça. – Ao presidente. Todos o ignoraram. Cara foi na direção de Lynn enquanto as perguntas da multidão se transformavam em gritos e a imprensa chegava à mesa. – Podem fazer todas as perguntas a mim – gritou Lynn, levantando-se e desviando, ao menos por ora, a atenção dos repórteres do presidente Morrow. O homem parecia chocado. – Obviamente, levamos uma acusação dessa natureza muito a sério – começou Lynn. Ela olhou para Cara, fazendo um movimento sutil de cabeça na direção do palco. Cara reagiu imediatamente, indo até o microfone do palco. Logo percebeu que alguns seguranças tinham cercado o presidente, levando-o para a saída mais próxima. Ela não fazia ideia se a acusação era verdadeira ou se Mitch Davis simplesmente explorara a semelhança entre Ariella e o presidente. Mas não importava. As mensagens de texto, tweets e postagens em blogs já deviam ter alcançado o mundo àquela altura. Cara olhou fixamente para Mitch Davis enquanto ia ao microfone. Ele o largou, tendo claramente cumprido seu objetivo. O olhar de Mitch se voltou para a multidão. Sua expressão confiante vacilou, e Cara viu Max, com olhos trovejantes, indo até onde Mitch desceria a escada do palco. – Senhoras e senhores – começou ela, improvisando um discurso. – A Casa Branca gostaria de agradecer a todos por terem vindo comemorar com o presidente. Ele aprecia o apoio e convida todos vocês a se divertir durante o restante da festa. Para a imprensa, forneceremos um comunicado e responderemos às perguntas na coletiva de amanhã. Ela gesticulou para que a banda voltasse a tocar e, com a cobertura da música, saiu do palco. Max estava ao pé da escada, esperando, mas o olhar de aviso de Cara o manteve afastado. Então, ele disse, apenas com o movimento dos lábios: 6


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– Depois. E ela soube que as coisas ainda não haviam terminado.

Havia momentos em que ser uma celebridade era frustrante e inconveniente. Para Max Gray, contudo, aquela noite não era um deles. Ele só fora ao apartamento de Cara algumas vezes, mas o porteiro se lembrou dele de seu programa de notícias em rede nacional e o deixou ir diretamente ao elevador sem interfonar para pedir a permissão de Cara. O desastre no baile do ANS fora um fortíssimo golpe na Casa Branca, especialmente na assessoria de imprensa. Cara e Lynn tinham lidado profissionalmente com aquilo, mas até Cara devia estar abalada. E devia estar preocupada com o que viria a seguir. Max precisava ver por conta própria se ela estava bem. Ao sair do antigo elevador, Max se lembrou da última vez que estivera ali, em meados de dezembro. Cara o vinha mantendo a distância depois que Ted Morrow vencera a eleição em novembro. Contudo, ele comprara um presente para ela durante sua viagem à Austrália, brincos de diamantes rosa. Ele próprio escolhera as pedras, mandara que fossem cortadas e incrustadas em ouro 18 quilates, especialmente para ela. Ela abrira a porta para ele naquela noite, e eles haviam feito amor pela última vez. Cara fora irredutível ao dizer que precisariam ficar afastados, já que ele era o apresentador de um programa de notícias e ela fazia parte da equipe do presidente. Max estremeceu ao pensar naquilo. Não queria esperar quatro anos para tê-la novamente em seus braços. Ele bateu à porta e esperou. Ouviu Cara parar atrás da porta e soube que ela estava olhando pelo olho mágico. – Vá embora – disse ela do outro lado da porta. – Muito improvável – respondeu ele. – Não tenho nada a dizer a você. Ele se aproximou da porta para não ter que falar mais alto e alertar os vizinhos. – Você está bem, Cara? – Melhor, impossível. – Preciso falar com você. Ela não respondeu. – Quer mesmo que eu fale daqui de fora? – Eu quero é que você vá embora. – Só depois que eu tiver certeza de que você está bem. – Já sou adulta, Max. Sei cuidar de mim mesma. – Eu sei disso. – Então, por que está aqui? – Se abrir, eu digo. – Valeu pela tentativa. 7


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– Cinco minutos – pediu ele. Ela não respondeu. – Dez, se eu precisar ficar aqui no corredor. Alguns segundos depois, ele ouviu a tranca ser aberta. A porta recuou para revelar Cara com uma camisa cinza folgada e uma calça preta de ginástica. Estava descalça, seu cabelo, ligeiramente bagunçado, e seu rosto, isento de maquiagem, revelando as leves sardas que a deixavam ainda mais bonita. – Oi – disse ele, resistindo ao ímpeto de tocá-la. – Estou bem, de verdade – disse ela com os lábios apertados, a mão apertando a porta com força. Ele assentiu ao entrar e fechar a porta. Olhou para a escadaria em espiral. – Cinco minutos – repetiu ela. – Consigo beber uma cerveja em menos de cinco minutos. Ela balançou a cabeça, mas subiu a escadaria mesmo assim. Max a seguiu, resistindo novamente à vontade de tocá-la. Houvera uma época em que ele tivera liberdade para fazer isso. Max tirou o paletó de seu smoking e soltou a gravata-borboleta enquanto Cara ia até a cozinha. Ele foi até um agrupamento de móveis com dois sofás de couro, duas poltronas e mesas baixas com abajures. Cara retornou com uma lata de cerveja para ele e um refrigerante para ela. Entregou a lata a Max e se aconchegou numa das poltronas. – Quatro minutos – avisou a ele. Max abriu a cerveja e se acomodou no canto de um sofá. Tirou o relógio de pulso e o pôs na mesa de centro, voltado para cima, de modo que pudesse enxergá-lo. Percebeu o leve e involuntário sorriso de Cara com o gesto. – Você está bem? – perguntou ele em voz baixa. – Estou ótima – garantiu ela outra vez. – Você sabia? – Você sabe que não posso responder isso. – É – concordou ele. – Eu estava pensando em interpretar a sua expressão. Ela ergueu as sobrancelhas. – E conseguiu? – Você continua indecifrável como sempre. – Obrigada. Isso ajuda no meu emprego. – Você sabe que vou ter que investigar a história. – Eu sei. – Não quero prejudicar você. E respeito demais esse presidente. Mas uma filha secreta? – Não temos certeza de se ela é filha dele. 8


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Max ficou paralisado. Estava surpreso com a revelação de Cara. – Logo saberemos. Ela assentiu. – Você falou com Ariella? – Ele sabia que as duas eram amigas. Cara o apresentara casualmente a Ariella num evento beneficente pouco antes da eleição. – Acha mesmo que isso faria bem a alguém? – Isso não é resposta. A expressão de Cara permaneceu completamente neutra. – Você é muito boa – admitiu ele. – Sei que você tem que investigar isso, Max. Mas pode ao menos ser justo? Pode, por favor, levar em consideração todos os fatos antes de aumentar a histeria do público? Max se curvou à frente, deixando-os próximos o suficiente para que ele sentisse a fraca respiração dela, inspirasse o perfume de coco do xampu, perto o suficiente para que fosse difícil evitar beijá-la. – Sempre levo todos os fatos em consideração. – Você entendeu o que eu quis dizer. Ele pegou a mão dela. Contudo, ao mais leve toque dele, Cara a puxou. – As coisas vão ficar feias. Ele sabia que “feias” seria pouco. A imprensa e a oposição já estavam se movimentando para dar o bote. – Vai voltar ao trabalho hoje? – Lynn assumiu o turno da noite. Eu a substituo amanhã de manhã. – Isso vai demorar a passar – ressaltou Max, desejando que houvesse algo que ele pudesse fazer para ajudá-la. Contudo, seu emprego era muito diferente do de Cara e, sem dúvida, conflitante com o dela. – Vai mesmo. – Ela já soava cansada. – Vou ser justo, Cara. – Obrigada. – Havia um toque de melancolia na voz dela. Por um instante, seus olhos azuis amoleceram, e sua expressão ficou menos resguardada. Ele pegou novamente a mão dela. Desta vez, apertando antes que ela pudesse retirá-la. Cara olhou para as mãos unidas. Sua voz se tornou um sussurro tenso. – Você sabe todos os motivos. – Discordo de todos eles. – Não posso namorar você, Max. – E eu não consigo parar de desejá-la, Cara. Ela levantou seus longos cílios, voltando seus olhos azul-cristal diretamente para os dele. – Tente, Max. Use um pouco da sua famosa resistência e tente. 9


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Ele não conseguiu evitar sorrir. – Não estou aqui para conseguir informações privilegiadas. Estava preocupado de verdade com você. – Como eu disse… – Você está bem. Já entendi. Era o que ela dizia, e Cara, certamente, não se contradiria. Sua pele era clara e lisa, seus lábios, escuros e macios, e estavam entreabertos. Ele imaginou a sensação deles, o sabor dela, o perfume, e o instinto assumiu o controle. Ele inclinou a cabeça, aproximando-se. Cara, entretanto, recuou abruptamente, virando-se e baixando a cabeça antes que ele pudesse beijá-la. – Acabaram seus cinco minutos. Ele suspirou, desistindo. – É, acho que sim.

Max deixara seu relógio no apartamento de Cara. Ela não tinha como saber se ele fizera isso de propósito. Parecia caríssimo. Ser uma celebridade da TV tinha suas vantagens. Quando ela fora para a cama, pusera o relógio na mesa de cabeceira. Usara o alarme como reserva, já que precisava acordar às 3h30. Então, ela o pusera em sua bolsa antes de ir para o escritório na ala oeste da Casa Branca. Se Max ligasse perguntando, ela o deixaria na casa dele no caminho de volta. Não tinha intenção alguma de permitir que ele o usasse como desculpa para voltar ao apartamento dela. À medida que ela se aproximou do escritório da assessoria, a movimentação aumentou. O pessoal da mudança estava levando móveis e caixas para as salas recémdesignadas. – Bom dia, Cara. – Sua chefe, Lynn, chegou para acompanhá-la. – Conseguiu falar com o presidente? Lynn balançou a cabeça. – O Serviço Secreto passou uma hora com ele. Depois, Barry entrou. E, em seguida, ele voltou para a residência. – É verdade? – Não sabemos – disse Lynn, abrindo a porta do escritório. Cara entrou com ela. – Barry não perguntou a ele? Barry Westmore, o chefe da equipe, conhecia o presidente melhor que ninguém. Como ela era a secretária de imprensa, o escritório de Lynn era o maior da seção da assessoria. Ele abrigava uma mesa larga de carvalho, um arquivo comprido, o sofá cor de creme e três televisões fixas na parede, exibindo telejornais de três países diferentes. 10


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Em inglês, alemão e russo, repórteres especulavam a respeito da vida privada do presidente. Lynn desabou em sua cadeira. – Mesmo se for verdade, o presidente não sabia que tinha uma filha. – Isso é bom. – Do ponto de vista da assessoria de imprensa, aquilo seria crucial. Lynn não parecia tão aliviada quanto Cara se sentia. – Tem mais de uma mulher entre as possíveis. As sobrancelhas de Cara se ergueram. – Barry e eu fizemos os cálculos – disse Lynn – levando em consideração possíveis variações no período de gestação. Como o bebê pode ter sido prematuro, existem três possíveis mães. – Três? – Apesar da gravidade da situação, Cara se flagrou contendo um sorriso. – O presidente não descansou. Lynn franziu a testa com a impertinência dela. – Ele estava no último ano do colégio. E o homem era um astro do futebol americano. – Desculpe – disse Cara rapidamente, sentando-se numa das cadeiras diante da mesa. – Ele não quer nos dizer os nomes. – Ele precisa dizer. – Primeiro, ele quer saber se Ariella é filha dele. Só vamos poder analisar as exnamoradas se a paternidade for confirmada. – A imprensa vai encontrá-las primeiro – avisou Cara, sua mente se voltando para Max. Os canais de TV e os jornais iriam com tudo atrás da mãe de Ariella. Não esperariam um teste de DNA. – Vai, sim. Mas o presidente não quer destruir as vidas de pessoas inocentes. Na opinião de Cara, as vidas das mulheres já estavam arruinadas. Qualquer uma que tivesse tido o azar de ter dormido com o presidente Morrow no colégio estaria na mira. Ela seria caçada e bombardeada com perguntas. – É sempre aquilo que você não prevê. E sempre sexo. Da próxima vez, não se esqueça de me falar para apoiar um candidato mais intelectual. Talvez o presidente do clube de xadrez ou algo assim. – Intelectuais estão em alta – ressaltou Cara. – Porque as mulheres acham que eles vão ficar ricos. – É por isso que fico no cibercafé procurando um namorado. Lynn sorriu, dando um pouco de vida à sua expressão exausta. – Eu devia ter me casado com um nerd. – Em vez de um comandante bonitão da marinha? Lynn deu de ombros, mas seus olhos reluziram de modo confidente. – Eu estava em plenas férias de primavera. E ele ficava muito bem com aquele uniforme branco. 11


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– Você nem olhou para os nerds – acusou Cara. – Quando os hormônios mandam, não dá para negar. O cérebro de Cara conjurou uma imagem de Max, mas ela a deixou de lado rapidamente. – Já falou com Ariella? – Ninguém consegue encontrá-la. – Não podemos culpá-la por isso. – Se fosse Cara em seu lugar, ela já teria fugido para o Canadá àquela altura. – Acha que consegue encontrá-la? – perguntou Lynn. Cara adoraria encontrar Ariella e ter certeza de que ela estava bem. Contudo, ela não abandonaria Lynn para dar início a uma busca infrutífera. – Você precisa de mim aqui. – Conseguimos sobreviver sem você. – O que toda mulher quer ouvir. Você vai fazer um pronunciamento à imprensa hoje. E precisa que eu o escreva. Você precisa dormir. Cara desejou que ela tivesse tido mais do que três horas de sono. Sabia que precisava dar mais atenção à sua alimentação e ao seu sono agora que estava grávida. Contudo, era difícil conseguir tempo para dormir e preparar refeições nutritivas trabalhando para o presidente. Especialmente durante aquela crise. – Vou dormir um pouco – concordou Lynn. – Barry está trabalhando num pronunciamento, e vamos afastar a imprensa até a tarde. Acha que consegue encontrar Ariella? Cara se levantou. – Posso tentar. – Então, vá. Dê o fora daqui. Se ela conseguisse encontrar Ariella, no mínimo, Cara poderia lhe oferecer a proteção do Serviço Secreto. Se a história fosse verdadeira, Ariella precisaria de proteção pelo resto de sua vida, e isso seria apenas o começo do caos. Se apenas fazer parte da equipe da Casa Branca já virara a vida de Cara de ponta-cabeça, ela mal podia imaginar o que Ariella devia estar passando.

CAPÍTULO DOIS

Depois de vasculhar a cidade por incontáveis horas tentando encontrar Ariella, Cara desistiu. Já eram quase 21h, e ela deixara dezenas de mensagens pedindo a todos que pudessem saber de alguma coisa. Estava exausta quando finalmente entrou no elevador de seu prédio.

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Assim que entrou em seu apartamento, soube que algo estava errado. Havia uma luz acesa no segundo andar e música tocando. Sua mão foi automaticamente para a bolsa, onde ela guardara o relógio de Max. Se ele o tivesse usado como desculpa para voltar ali, teria que se ver com ela. Max podia ser uma celebridade da TV, dono da confiança e da admiração da maior parte da população de Washington, mas isso não lhe dava o direito de enganar o zelador para que ele o deixasse entrar no apartamento dela. Cara jogou o casaco e o cachecol num banco que ficava no vestíbulo e tirou as botas. Subiu a escadaria em espiral, acumulando sua ira, planejando atacá-lo com tudo antes que Max tivesse oportunidade de começar com seus galanteios. Então, ela sentiu o cheiro de algo assando. Chegou ao topo da escadaria e ficou paralisada. Ariella estava no centro de sua cozinha, envolta por um caos de farinha. Usava uma das camisas de Cara por cima de seu curto vestido e luvas de forno. Entre o forno e a bancada, ela segurava uma bandeja de bolinhos de chocolate. – Espero que não se importe. Eu não sabia mais para onde ir. – Claro que não me importo. Eu estava procurando você. Ariella baixou a bandeja. – Estão de tocaia na minha casa e no clube. Não ousei ir para um hotel e fiquei com medo do aeroporto. O porteiro se lembrou de mim, e fingi ter perdido a sua chave reserva. – Você fez bem em vir. – Cara a abraçou de um jeito torto, esquivando-se da farinha. Então, olhou para as bandejas com lindos bolinhos. – Está com fome? – perguntou a Ariella, brincando. – É puro nervosismo. – Talvez possamos levá-los para o escritório ou vendê-los para ajudar alguma instituição. – Já devia haver cerca de 60. Ariella tirou as luvas e desligou a música. Em seguida, tirou a camisa, revelando um simples vestido cinza. Ela desabou numa poltrona, pondo os pés debaixo do corpo. – Como você está? – perguntou Cara. – Como você imagina que estou? – Eu estaria surtando. – Eu estou surtando. – Será que é verdade? – perguntou Cara. – Você sabe algo sobre seus pais biológicos? Ariella balançou a cabeça. – Nada. – Então, ela riu, um pouco envergonhada. – Eles eram caucasianos. Acho que americanos. Um deles talvez tenha se tornado presidente. – Eu sempre soube que você tinha uma herança genética excelente. Ariella se levantou, indo até um espelho no topo da escadaria. – Acha que eu me pareço com ele? 13


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Cara achava. – Um pouco – disse ela, postando-se atrás de Ariella. – Tudo bem. Bastante. – Suficiente para… – Sim – sussurrou Cara, apertando os ombros de Ariella. Ariella fechou os olhos durante um longo tempo. – Preciso fugir para algum lugar onde isso não seja um escândalo tão grande. – Você devia ficar em Washington. Podemos protegê-la. O Serviço Secreto… – Não. – Os olhos de Ariella se arregalaram. – Eles vão cuidar bem de você. Sabem o que fazem. – Tenho certeza de que sim. Mas preciso sair de Washington por um tempo. – Entendo. – Cara queria ser solidária. Acima de tudo, Ariella era sua amiga. – É coisa demais para absorver. – Nem me fale. Os olhos delas se encontraram no espelho. – Você precisa fazer um teste de DNA – falou Cara. Mas Ariella balançou a cabeça. – Não saber não é uma opção – ressaltou Cara delicadamente. – Ainda não. Suspeitar é uma coisa, mas saber com certeza é outra. Entende? Cara achava que entendia. – Deixe que ajudemos você. Vá ao escritório comigo e converse com Lynn. – Preciso de tempo, Cara. – Você precisa de ajuda, Ari. Ariella se virou. – Preciso de alguns dias sozinha antes de encarar a mídia. Está bem? Cara hesitou. Não sabia como diria à sua chefe que encontrara Ariella e a deixara ir embora novamente. Contudo, ela devia ser leal também à sua amiga. – Certo – concordou ela, por fim. – Vou fazer o teste, mas não agora. Acho que eu não conseguiria aguentar se desse positivo. – Aonde você vai? – Não posso dizer. – Mas você precisa falar a verdade quando disser a todos que não sabe. – Posso mentir. – Não, não pode. Não para a sua chefe e, definitivamente, não para o presidente. Cara sabia que Ariella tinha razão. – Como posso entrar em contato com você? – Eu procuro você. – Ariella. 14


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– Precisa ser assim. – Não precisa, não. Podemos ajudá-la, protegê-la, descobrir a verdade. – Tem de ser assim para mim, Cara. Só por enquanto. Sei que é melhor para o presidente se eu ficar, melhor para você se eu ficar e encarar tudo. Mas não consigo. – Nada disso é culpa sua – disse Cara, envolvendo os ombros de Ariella com o braço. Ariella assentiu. – Ele é um homem muito bom. – Não tenho dúvida disso. Mas é o presidente. E isso significa… – A voz de Ariella desapareceu. – Sim. – Aquilo significava que o escândalo jamais terminaria. O celular dela tocou, dizendo a Cara que uma mensagem de texto de Lynn chegara. Ela se afastou e leu a mensagem, que lhe pedia para ligar a TV no ANS. – O que foi? – perguntou Ariella, observando a expressão de Cara. – É de Lynn. Tem algo acontecendo. Está no noticiário. – Cara foi até a sala e pôs no ANS. Ariella foi até o lado dela. – Estou com um mau pressentimento. Havia uma repórter falando. Ela especulava a respeito de Ariella e de seu parentesco com o presidente, dizendo algo a respeito de uma mulher chamada Eleanor Albert, da cidade natal do presidente, Fields, Montana. Então, fotos antigas de um anuário do presidente e de Eleanor Albert surgiram lado a lado na tela. Com um dramático floreio musical, uma imagem de Ariella se interpôs entre elas. Os olhos de Cara se arregalaram. Ariella inspirou fundo. – Não – arfou. Cara abraçou sua amiga. Não havia como não perceber a semelhança. Cara já nem sabia mais se eles precisariam de um teste de DNA.

Max sabia que a desculpa de ter esquecido seu relógio no apartamento de Cara era tosca. Contudo, fora o melhor em que ele conseguira pensar. Ela estava em casa. Ele percebia isso pelas luzes acesas. Max acabara de ver as fotos do presidente, de Ariella e de Eleanor num site de notícias em seu tablet. O caos estava prestes a dominar a Casa Branca, e seria provável que ele não conseguisse ver Cara nas próximas semanas. Ele foi até a entrada do edifício e se deparou com Ariella Winthrop. Os dois ficaram paralisados. – Ariella? – Max olhou rapidamente para os lados, para ver se havia mais alguém na rua escura. – Oi, Max.

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Ele se aproximou, pegando o braço dela para afastá-la dali. – O que está fazendo? Não pode ficar na rua. – Ele só a vira algumas vezes, mas gostara muito dela. Era amiga de Cara, e Max parecia ser muito protetor com tudo ligado a Cara. – O porteiro chamou um táxi. – Táxi? Você não viu o noticiário? Sua foto está estampada nele. – Eu vi. – Eu levo você para casa. – Imediatamente, ele percebeu que era uma sugestão ridícula. – Para um hotel. Para onde você precisar ir. Mas você não pode ficar aqui sozinha esperando um táxi. Ele fez menção de ir na direção do próprio carro, mas ela se manteve firme, puxando o braço. – Max. Relutantemente, ele parou e se virou. – Você é um dos caras que estou evitando, lembra? – No momento, não sou repórter. – Você é sempre um repórter. – Você não precisa falar. Não diga nada. – Ele parou. – Mas posso fazer uma pergunta só? Ela o olhou impacientemente. Max fez a pergunta mesmo assim: – Foi você quem vazou a informação para o ANS? – Eu nunca tinha ouvido falar de Eleanor Albert até hoje. E as fotos não provam nada. Continuo sem ter certeza. Ele percebeu que ela estava na fase da negação. – O resto do mundo tem – disse ele suavemente. – Vou levar você à Casa Branca. – Não! – Vai ser mais seguro lá. – E talvez isso fizesse Max conseguir alguns pontos com o governo, talvez até com Cara. Cara. Por que Cara estava deixando Ariella sair sozinha do apartamento dela? – Você conversou com Cara? Ela deixou você ir embora? – Sou adulta, Max. – E é filha do presidente. – Até que provem, não sou. Uma nova ideia lhe ocorreu. E, se fosse a verdade, não seria nada ruim. – Você vai se esconder? O silêncio dela confirmou as suspeitas dele. – Posso ajudar. Ariella revirou os olhos. 16


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– Não vou estar escondida se um repórter da NCN souber onde estou. Você já vai publicar toda a nossa conversa. Max estava acostumado a andar na corda bamba da ética. Não podia mentir para sua rede, mas poderia escolher que informações compartilhar e a ordem na qual revelálas. – Quem decide como montar a matéria sou eu. – Como assim? – O que você quer que eu diga? Ela hesitou. Então, pareceu concluir que não tinha muito a perder. – Que não sei nada sobre meus pais biológicos e que fui embora de Washington. – Combinado. – Você faria isso por mim? – Sim – disse Max, com sinceridade. – Obrigada, Max. – Ao menos me deixe levá-la para Potomac. Lá você poderá pegar um voo fretado para onde quiser. Se precisar de dinheiro… – Não preciso de dinheiro. – Se precisar de qualquer coisa, Ariella. – Como você pode me levar para Potomac e não dizer isso numa matéria? Ele fez sua melhor voz de locutor: – Olhou em volta ante de continuar. – Fontes próximas a Ariella Winthrop revelaram que ela deixou a região de Washington, provavelmente, num avião particular saindo de Potomac. Nada se sabe do destino, da aeronave e do piloto. Você pode se disfarçar, Ariella. Os pilotos não falam a respeito dos passageiros. Ele sentiu a hesitação dela. – Tem uma ideia melhor? – perguntou Max. – O que você ganha com isso? – Simpatia. A sua. Eventualmente, a da Casa Branca e a do presidente. Além do mais, sou um cara legal. – Você é da imprensa. – Continuo sendo legal. E não resisto a uma donzela em apuros. Aquilo a fez sorrir. – Pode me levar para Potomac.

– Duas coisas – disse Lynn a Cara atrás de sua mesa. Eram 10h da manhã seguinte, e Lynn acabara de falar com repórteres na sala de imprensa pelo segundo dia seguido. Até então, o presidente Morrow não tinha aparecido, sua agenda restrita a pequenos e reservados eventos cuja lista de convidados a Casa Branca podia controlar. 17


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– Eleanor Albert é uma prioridade clara. Quem é ela? Onde ela está? É mesmo a mãe de Ariella? E o que ela dirá publicamente a respeito do presidente? Depois precisamos descobrir o que as pessoas de Fields, Montana, sabem e o que vão dizer publicamente. Então, o olhar de Lynn se fixou num ponto atrás de Cara. – Aí está você. Entre logo. Cara se virou, surpreendendo-se ao ficar frente a frente com Max. Ele estava de jeans e uma camisa branca com a gola desabotoada por baixo de seu blazer escuro. Seu cabelo perpetuamente bagunçado, seus ombros largos e sua aparência rústica o cobriam com um manto de puro poder, ainda que ele fosse apenas um visitante na ala oeste. Ele a olhou com uma expressão neutra. Mesmo com Lynn ali, Cara teve dificuldade de controlar sua irritação. Max aparecera em rede nacional na noite anterior, revelando o que sabia do paradeiro de Ariella. Ela não sabia quem fora a fonte dele, mas Max descobrira tudo, lançando Ariella e a Casa Branca aos lobos para conseguir audiência. – Sente-se. – Lynn apontou para a cadeira ao lado da de Cara. Max obedeceu. – Quem é a sua fonte? – disparou Lynn sem preâmbulos. – Está falando sério? – perguntou Max. – Como ficou sabendo de Ariella? Cara também estava curiosa. Nem ela soubera que Ariella iria para Potomac. – Você sabe perfeitamente bem que não posso revelar minhas fontes – disse Max a Lynn, também lançando um olhar para Cara. – Quando é questão de segurança, pode – rebateu Lynn. – Talvez até segurança nacional. Max se recostou na cadeira. – É mesmo? Continue. – Se ela for sequestrada. Se uma entidade estrangeira ou, que Deus nos ajude, se um terrorista puser as mãos na filha do presidente, será uma situação de segurança nacional. – Você não sabe se ela é filha dele. – Acha que os terroristas se importam? Aquelas fotos me convenceram. E tenho certeza de que convenceram a nação também. Acha que o presidente vai arriscar? – Então, você está dizendo que o presidente dormiu com Eleanor Albert. O rosto de Lynn empalideceu. – Não estou dizendo nada disso. Max, porém, aproveitou-se do deslize dela. – Se ele não tivesse dormido com ela, seria impossível que isso fosse uma questão de segurança nacional. Lynn ficou sem palavras. Cara interveio: 18


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– Quem contou a você que Ariella ia para Potomac? Max a olhou com olhos frios, sua expressão sendo uma perfeita máscara profissional. Cara o pressionou: – Vamos, Max. Assim como nós, você não quer que nada de ruim aconteça a Ariella. Ela é inocente. Precisa da proteção do Serviço Secreto. – Não diga. E você falou isso para ela ontem à noite? Cara piscou os olhos, seu estômago se contraindo. Ele continuou: – Disse a ela que precisava do Serviço Secreto? Só havia um jeito de ele ter ficado sabendo que Ariella procurara Cara. – Claro que sim. Implorei para que ela me deixasse ajudar. Max se virou para Lynn. – Quer saber quem é a minha fonte? Ariella. Sei que ela foi para Potomac porque eu a levei de carro até lá. Ela já foi embora, Lynn. Lynn se curvou à frente. – Por que diabos você não a impediu? – Porque o poder da imprensa não cobre sequestro e confinamento forçado. Ela é adulta e tem liberdade para ir e vir. – Ela ainda está no país? – perguntou Cara. – Ela me disse que estava com o passaporte. – Você não noticiou nada disso ontem à noite. Ele se virou lentamente para Cara com uma expressão de reprovação. – Não mesmo, não é? – Quer pontos por isso? – Seria ótimo. Um pouco de crédito, consideração. Talvez um ou outro furo de notícia. Esbarrei com Ariella. Ofereci ajuda. E pus a segurança dela e o bem do meu país acima dos meus interesses. Cara se flagrou assentindo. O comportamento de Lynn mudou. – A Casa Branca agradece o seu esforço – disse a Max. – Imagino que sim. – Ele se levantou. – Não sou o bandido aqui. Mas tenho um trabalho a fazer. Quando ele saiu do escritório, o telefone de Lynn tocou. Cara aproveitou a oportunidade para seguir Max. – Max? – Ela correu pelo corredor. Ele parou e se virou, e Cara inclinou a cabeça na direção de seu escritório. Ele a seguiu até lá dentro, e Cara fechou a porta. Ele fizera a coisa certa, mas ainda não estava completamente perdoado.

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– Onde você encontrou Ariella? – Logan Circle. – Meu apartamento. – Sim. – Você a seguiu. Ele foi na direção de Cara, fazendo o coração dela disparar automaticamente. Parecia não importar o quanto ela resistisse; sua atração por Max Gray era compulsiva. – Está falando sério? – A distância entre eles estava curta demais. – É isso que você pensa? Que eu estava de tocaia no seu prédio? Cara admitiu que a probabilidade daquilo não era muito alta. Ela recuou um passo, batendo na beira da mesa. Os olhos de Max reluziram quando ele se moveu novamente, aproximando-se. – Não consegue pensar em outro motivo? – Eu disse que não, Max. – Eu tinha ido buscar meu relógio. – Nós dois sabemos que isso era uma desculpa. – É. Sabemos. Mas você não me deixou ser sincero, Cara. Não tive opção. – Sua opção é ficar longe. – Isso não serve para mim. Ouviu-se um grito no corredor e o som de duas pessoas passarem correndo. – Não podemos fazer isso aqui – disse ela. – Quando e onde? – Nunca e em lugar nenhum. – Resposta errada. – É a única resposta que vou dar. Tenho que trabalhar, Max. Caso não tenha lido os jornais, estamos numa crise. O tom dele ficou repentinamente suave. – Sinto muito por isso. De verdade. – Mas você tem um trabalho a fazer. – E é melhor eu ir fazê-lo. Ele tocou a mão dela, lançando uma flecha de desejo por todo o corpo de Cara. Antes que ela pudesse protestar, Max se fora. Ela desabou na cadeira. Olhou para a tela do computador, sabendo que um milhão de coisas precisavam da atenção dela. Sua mão baixou para sua barriga e ficou ali. Ficara grávida fazia pouco tempo. Se não fosse por seu ciclo ultrarregular e os testes supersensíveis vendidos em farmácia, ela ainda nem saberia. O bebê de Max deixaria a situação ainda mais complexa do que já era. Max era um dos dez homens mais desejados de Washington. Cara não precisava de uma revista para 20


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saber disso. Ele também era inteligente, engraçado, inovador e ousado. Ele a desejava. Isso estava claro. Contudo, o que ele não queria, o que jamais quisera e jamais iria querer seria um lar, uma família. Contara a Cara a respeito de sua mãe solteira, de como seu pai os abandonara, e dissera que não tinha planos de perpetuar seu questionável legado genético. E Max já tinha tudo que queria da vida. Ela tentara ficar longe dele desde o início. Com suas carreiras, um relacionamento seria um risco durante a campanha, uma idiotice durante a contagem dos votos e uma impossibilidade agora que o presidente tomara posse. Em mais de uma ocasião, ocorrera a Cara que Max poderia desejá-la apenas porque não poderia tê-la. E, por vezes, na calada de noite, ela fantasiava consigo mesma se entregando a ele. Ela se perguntou quantos dias ou semanas ele levaria para enjoar dela. Também se perguntou qual seria a reação de Max se soubesse o que ela sentia por ele. Para Max, aquele era apenas outro caso, outra mulher numa longa fila. Para Cara, entretanto, era diferente. Ela quase lhe entregara seu coração. Agora, teria o bebê dele. Cara sorriu tristemente e riu de seus pensamentos. Na calada da noite, quando ela fantasiava com Max, eram aqueles dias e semanas iniciais que ocupavam seus pensamentos. Ela não pensava na parte em que ele ia embora, partindo seu coração. Em alguns dias, ela até achava que pudesse valer a pena.

CAPÍTULO TRÊS

Max aguentava muitas coisas em seu emprego. Selvas, serpentes, escorpiões. Até lutara com um crocodilo certa vez. Contudo, nada o preparara para aquilo. Ele estava na porção montanhosa de Fields, Montana, em meio a 500 crianças que berravam com seus esquis e snowboards. O cinegrafista de Max, Jake Dobson, lançou salpicos de neve ao parar seu snowboard ao lado dele. A primeira vez que os dois tinham trabalhado juntos fora numa pequena estação local em Maryland. Quando Max recebera o convite de se juntar à equipe da NCN, deixara claro que uma das condições do contrato seria Jake ir junto com ele. Jake era o herói incógnito de cada uma das matérias de Max. – Outra rodada? – perguntou Jake. – Acho que não – disse Max, olhando para o monte de crianças na encosta. – Quase morri de medo. Jake riu. – Elas são inofensivas. – Não estou preocupado com a possibilidade de elas me machucarem. Mas é como desviar de estacas que se mexem. Estacas que machucam facilmente. Não quero 21


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ter na consciência o peso de ter atropelado uma menininha de 8 anos. E, de qualquer forma, temos trabalho a fazer. Max levantou seu snowboard, tirando o capacete e os óculos. Os dois homens passaram a manhã na parte mais antiga de Fields, conversando com o pessoal dos ranchos. Até então, haviam encontrado várias pessoas que tinham conhecido o presidente quando adolescente. Infelizmente, nenhuma delas estava disposta a falar para a câmera. E nenhuma admitia saber algo a respeito de Eleanor. – Acho que todos os fazendeiros já voltaram para casa – observou Jake. – Dormir cedo para acordar cedo. – Talvez. Mas os filhos e netos deles vão estar nas boates, dançando com os turistas. Quem sabe que tipo de história foi passada de pai para filho a respeito dos Morrow? – Vai bancar o turista? – Por que não? – Max ficara agradavelmente surpreso com o respeito que as pessoas de Fields pareciam ter. Ficara claro que muitas delas o tinham reconhecido, mas, em geral, elas simplesmente sorriam, faziam um movimento de cabeça e passavam longe. Poucas pediam autógrafos, muito diferente de Washington, Nova York e Los Angeles. – Podemos comer um sanduíche antes? Estou morrendo de fome. – Por mim, tudo bem. – Max começou a voltar para o alojamento. – Esses fedelhos vão passar mesmo a semana inteira aqui? Os quartos dele e de Jake ficavam desconfortavelmente perto do complexo de natação coberto. Houvera um constante fluxo de crianças barulhentas subindo e descendo pelo corredor deles tanto na noite anterior quanto naquela manhã. – Vão, sim. – Maravilha – disse Max lentamente. Ele não era muito chegado a crianças. Algumas pessoas pareciam não se importar com o barulho, a bagunça, o cheiro e a irracionalidade dos adoráveis pirralhos. Max admirava essas pessoas. Ele preferia a racionalidade. Ou ao menos a irracionalidade previsível. Se havia uma coisa que ele aprendera a respeito dos adultos era que eles sempre agiam em nome dos próprios interesses. – Pedi para o gerente do hotel nos trocar de quarto – disse Jake. Max se animou. – Mesmo? – Eu resolvo tudo para você, amigo. – Jake lhe deu um soco no ombro. – Cada um de nós vai ficar numa villa com um quarto na lateral da montanha. Só para adultos. – Amo você, cara. Jake riu. – Foram as piscinas aquecidas que me fizeram ter essa ideia. Bem, isso e o fato de Jessica ter ido embora semana passada. Não quero passar meu primeiro trabalho como solteiro cercado por crianças. – Jessica foi embora? – Ela vai voltar. Mas, até lá, não tenho obrigação de ser fiel. 22


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– Ela sabe disso? Eles foram até os armários de equipamento. – Estou solteiro. Ela está solteira. Ela pode sair com metade de Washington enquanto isso. Não ligo. – Imagino que você não a considera sua alma gêmea. – É cedo demais para saber. – Acredite, Jake. Se ela fosse, você mataria qualquer cara que a olhasse, ainda mais se dormisse com ela. – Você é especialista nisso? – zombou Jake. – Disso, eu sei. Max sequer era namorado de Cara, mas ainda assim já não suportava pensar nela com outro homem. Em tese, os dois eram solteiros. Contudo, isso era apenas um detalhe técnico, com base nas circunstâncias atuais. Não significava que ele ficasse de olho em outras mulheres. Eles guardaram o equipamento, trocaram de roupa e foram para o Alpine Grill, na rua da frente. Max ainda pensava no status de solteiro dele e de Cara quando a garçonete chegou com uma caneca de cerveja para cada um. Um grupo de pessoas logo começou a cantar animadamente “Parabéns pra você”. Evidentemente, alguém chamada Amy tinha completado mais um ano. – Aviso que é seu aniversário? – perguntou Jake. – Seria maravilhoso – respondeu Max, secamente. Ele deu um gole em sua cerveja. Fizera 30 anos naquele dia. Algumas pessoas considerariam isso um marco. Max não via dessa forma. No dia anterior, ele tivera 29 anos e 364 dias. Os 30 anos, na realidade, significavam apenas um dia a mais na idade dele. – Deus do céu! Deram velas faiscantes para as crianças. Max se virou para olhar. Ao fazê-lo, não foi o potencial risco de incêndio que chamou sua atenção. Foi Cara. Ela estava na entrada do restaurante, adorável, trajando uma jaqueta azul-turquesa, um jeans justo e botas pretas que iam até o tornozelo. O coração dele se apertou. Max se levantou. – Não tem ninguém pegando fogo – ressaltou Jake. – Ainda. Max não respondeu. Sua atenção estava fixa em Cara enquanto ele passava pelas outras mesas. Os berros das crianças, o cheiro da carne grelhando, o arco-íris das roupas de esqui desapareceram de sua percepção. – Oi, Cara. – Ele abriu um sorriso amistoso. Os olhos dela se arregalaram. – Max. Você está em Fields. – Estou. Ela balançou a cabeça, como se estivesse tentando despertar de um sonho. – Mesa para dois? – perguntou a jovem recepcionista. 23


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– Só para um – disse Cara. – Fique conosco – falou Max. – Jake está aqui. Cara encontrara Jake algumas vezes nos últimos meses. Para Jake, ela era simplesmente uma conhecida de Max, nada diferente das centenas de outras pessoas na sua vida de repórter. Cara hesitou, olhou para Jake. Então, concluiu que recusar a proposta dele geraria mais curiosidade do que aceitá-la. – Claro – disse ela. – Por que não? Max agradeceu à recepcionista e levou Cara à mesa deles. Quando chegaram, Max a apresentou: – Você se lembra de Cara Cranshaw. Jake se levantou. Seu sorriso estava terno, e seus olhos se iluminaram quando ele apertou a mão dela. – É um grande prazer vê-la novamente. Max percebeu instantaneamente seu erro. Jake e Cara eram solteiros. Claro, como Max, Jake estava no ramo do jornalismo. Mas um cinegrafista seria, para Cara, uma escolha muito mais segura que um repórter. E, sem dúvida, Jake atraía mulheres. Era alto, estava em forma, tinha o queixo quadrado e olhos acinzentados. – Cara não namora jornalistas – anunciou Max. Cara o olhou, assustada. Mas Jake riu descontraidamente. – Tenho certeza de que ela pode abrir uma exceção. Ela empalideceu. E Max percebeu que ela concluíra que Jake sabia do relacionamento deles. – Jake está falando de ele mesmo ser a exceção – ressaltou Max. – O que me diz? – perguntou Jake. – Minha namorada acabou de me largar. Estou magoado e carente. Cara pareceu se recuperar rapidamente do choque. Sentou-se e olhou para Jake. – Infelizmente, não saio com homens por pena. Jake levou a mão ao peito como se tivesse sido apunhalado. – É melhor você ficar longe das inteligentes mesmo – disse Max. – Você é um cínico – censurou Cara. – Porque acho que Jake não consegue sair com uma mulher que tenha um QI acima de cem? – Porque acha que há muitas mulheres com um QI baixo. – Ui – disse Jake. – Não quis ofender seu gênero – disse Max. – O que só piora tudo – falou ela. – Continue cavando a própria cova, amigo – disse Jake. E perguntou: – Posso 24


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pedir uma bebida para você? Max xingou a si mesmo por ter sido tão lento para entender. – Obrigada – respondeu Cara com um sorriso. – Um refrigerante, por favor. Jake se levantou e foi ao bar. – Ele é um cavalheiro – disse Cara num tom reprovador. – Está flertando com você. Ela revirou os olhos. – É mesmo, Max? Obrigada por esclarecer isso, já que, como muitas mulheres, sou burra e não perceberia sozinha. Max contraiu o maxilar, resistindo à vontade de se defender. Em vez disso, os olhares deles se encontraram, e uma instantânea onda de desejo o dominou. Cara interrompeu o contato visual primeiro. – Então, o que está fazendo em Fields? – O mesmo que você. – Duvido. – Nós dois estamos aqui querendo uma matéria. – Não. Você está aqui querendo a matéria. Eu vim procurar a verdade. – Não dê uma de rainha da integridade. Não é uma qualidade atraente. – Acha que quero ser atraente? Para você? – perguntou ela, irritada. Ele baixou a voz e, como Cara, curvou-se à frente: – É impossível evitar, querida. A chegada de Jake interrompeu o momento: – Seu refrigerante, senhorita. Cara se virou para ele e sorriu. – Obrigada, senhor. – É um prazer ajudar. Max segurou sua caneca de cerveja, lutando para não se engasgar com o líquido. – Não acredito. – Você sabia que é aniversário de Max? – perguntou Jake a Cara numa voz animada, ainda que levemente maliciosa. – Não. – Ela abriu um sorriso exageradamente meigo para Max. – Parabéns. – Acho que devíamos chamar os garçons para cantar. Max fitou Jake com irritação. – Acho que a pancadaria que se seguiria entre nós não seria boa para a imagem da NCN. Jake gargalhou. – Aqui é o paraíso das crianças e o inferno dos adultos – resmungou Max. Cara o olhou de um jeito estranho. Contudo, seu celular tocou. 25


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– Desculpe – disse ela antes de atender a ligação. – Oi, Lynn. Claro. Pode deixar. Amanhã? – Ela ficou em silêncio. – Entendi. Obrigada. – Ela desligou e guardou o telefone. – Gostaria de nos contar o que era? – perguntou Max. Ela abriu um sorriso que fez a virilha de Max se contrair. – Nos seus sonhos – provocou Cara. – Acho que ela está à nossa frente – brincou Jake. Aquilo não era novidade para Max. Cara sempre estivera à frente dele, desde o instante em que haviam se conhecido.

Mais tarde, naquele dia, Cara já começara sua busca. Era bem fácil encontrar os colegas de classe do presidente e de Eleanor Albert. Os que ela encontrara até então não se recordavam do suficiente para ajudar a imprensa com a história. Isso era bom. Contanto que eles continuassem dizendo que não sabiam nada e Eleanor não aparecesse, não haveria muito para pôr nas matérias. Apesar da incentivadora notícia, ao fim do primeiro dia Cara voltou exausta para o hotel. Estava preocupada com a possibilidade de esbarrar novamente com Max, e sabia que haveria outros repórteres na cidade. Então, resolveu usar o serviço de quarto. Ela pediu uma refeição nutritiva e também marcou uma consulta obstétrica para o fim do mês. Ainda não estava na hora de comprar livros sobre bebês, mas Cara deu uma olhada em alguns sites. Descobriu que não precisaria entrar em pânico com sua dieta, os exercícios e as mudanças pelas quais seu corpo passaria. No entanto, quando pensava no bebê de fato, ficava tonta e arfante. Como naquele momento. Ao ver uma foto de um bebê angelical sorrindo, ela rapidamente fechou o navegador em seu celular e ficou de olhos cerrados até a sensação passar. Sabia que precisava aceitar aquilo. Para isso, Cara precisava de alguém para fazer as vezes de confidente, e só havia uma pessoa no mundo inteiro que se adequava ao trabalho. Ela apertou o botão de discagem rápida em seu celular. Depois de alguns toques, a voz de sua irmã, Gillian, surgiu na linha. – Oi, Cara. – Oi. – Como vão as coisas em Washington? – Caóticas. E em Seattle? – Também. Vamos abrir um novo escritório de vendas em Pequim no mês que vem. Você não vai acreditar na burocracia. – A voz de Gillian ficou abafada por um instante. Então, ela retornou à ligação. – Desculpe. – Ainda está no trabalho? – Ainda são 7h da manhã neste lado do país. Você está em casa? – Você está… Quero dizer, sei que você está sempre ocupada, mas… está pior do que o normal? – Não especialmente. Ei, Sam, avise a eles que eu aprovo, mas só se for menos de 26


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um milhão… Desculpe de novo. Cara não conseguiu evitar sorrir ao se lembrar do ritmo de vida de Gillian. Sua irmã era diretora-executiva de sua própria empresa de tecnologia. Conseguira penetrar no mercado da saúde três anos antes, com dispositivos de GPS que rastreavam e organizavam tudo, desde a limpeza até a distribuição de remédios, e nunca mais trabalhara em outra coisa. – Sem problema – disse Cara. – Sou eu que peço desculpas por incomodar. – Você não incomoda. Então, o que está havendo? Cara não sabia como responder. Gillian voltou a falar: – Quero dizer, li a respeito da filha secreta e tudo o mais. Imagino que isso esteja ocupando a maior parte do seu tempo. – Está mesmo. – Ele sabia? Quero dizer… Certo, não é seguro falar por esta linha, e, mesmo que fosse… Sei que você não daria informações confidenciais sobre o presidente à sua irmã. Sendo assim, todo mundo do FBI que estiver me ouvindo pode desistir. Cara riu. Apreciava a cautela de sua irmã, mas não era necessária. O FBI não estava escutando os telefonemas dela. A voz de Gillian ficou terna novamente: – Então, do que você está precisando, irmãzinha? Ainda que elas tivessem só 14 meses de diferença nas idades, Gillian passara a vida inteira provocando Cara com aquele termo. – Alguma chance de você fazer uma viagem até Montana? – Montana? Por que diabos eu iria a Montana? – Fields, Montana. – Aaahhhh – disse Gillian lentamente. – Onde tudo começou. Por quê? Quer que eu suborne alguém? – Se o FBI estivesse mesmo ouvindo, você acabaria com a minha carreira com um simples telefonema. – Eu falei subornar? Quis dizer encontrar. Quer que eu encontre alguém? – Quero que venha me encontrar. Houve uma pausa de uma fração de segundo. – Você está em Montana. – Sim. – Agora? – Agora. – É menos de uma hora de viagem. O avião pode ficar pronto antes das 8h. Cara se permitiu ter esperança. – Você pode vir? – Tem algo de errado? 27


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– Não. Nada de mais. Novamente, Gillian hesitou quase imperceptivelmente. – Mas tem alguma coisa. É o trabalho? – Nada a ver com trabalho. O que você está vendo no noticiário é basicamente tudo até agora. – Então, é pessoal? – Você pode vir? – Você está doente? – Não. – Cometeu algum crime? – Gillian! – Precisa de dinheiro? Tem um vício secreto no jogo? A máfia está perseguindo você? – Não preciso de dinheiro. – Certo. Então, o que está havendo? Você está grávida? Cara ficou paralisada. Sabia que devia falar algo bobo para desviar Gillian da verdade, mas não conseguia pensar em nada. – Cara? – Simplesmente venha, por favor. – Já estou indo.

Cara era a última pessoa que Max esperava ver entrar no pequeno aeroporto de Fields tão tarde naquela noite. No momento, o local estava deserto. Ele saiu da alcova onde se sentara, indo na direção de Cara. Ao ouvir os passos dele, ela se virou. Assim como acontecera no Alpine Grill, ela parecia assustada e nada feliz. – Você está mesmo me seguindo – acusou ela. – Eu ia acusar você da mesma coisa. – Vim encontrar uma pessoa. – Não tem nenhum voo a esta hora. – É um avião particular. – Sei. – Ele observou a expressão dela, tentando adivinhar suas intenções. Se ela tivesse descoberto com quem Max se encontraria, talvez ela o tivesse seguido por causa disso. Cara permaneceu indecifrável. – E você? – Também vou encontrar uma pessoa. – Ele revelaria apenas aquilo a ela. – Quem? 28


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Ele balançou a cabeça. – Nada disso. Ela cruzou os braços. – Não acredito em você. – Acredite no que quiser. – Você prometeu que não se aproveitaria do nosso relacionamento. – Que relacionamento? – Se eles estavam tendo algum relacionamento, Max adoraria saber. – Você entendeu. Não pode… – Cara olhou à volta. – Não é justo… – Ela pareceu se forçar a organizar os pensamentos. – Não pode simplesmente ir embora? Não é nada. Prometo que não é nada. – Preciso lembrar que estamos num aeroporto público num país livre? Ela o deixara curioso. Se não o seguira até ali, havia a possibilidade de que Cara estivesse escondendo algo. Talvez ele tivesse se deparado com algo importante. – Cara! – gritou uma mulher do outro lado do salão. Cara saiu imediatamente de perto de Max, correndo ao encontro da mulher que saíra de uma porta. As duas se encontraram no centro do recinto. A mulher largou a bolsa de viagem, e elas se abraçaram. Foi então que Max percebeu como se pareciam. O cabelo era semelhante, no corte curto e na cor castanho-claro. Os olhos, narizes e bocas eram quase cópias idênticas. A outra mulher era ligeiramente mais alta, e Cara, um pouco mais magra. Max foi automaticamente na direção delas. – Max Gray. – Ele estendeu a mão para a outra mulher. – Sério? – disse a mulher, olhando de relance para Cara ao interromper o abraço. – Então, você deve ser… – Ele é um repórter – disse Cara, rapidamente. – E precisamos ter muito cuidado com o que dizemos perto dele. – Apresento um programa de notícias investigativas – corrigiu Max. – Ele se chama After Dark, na NCN. – Ele não se importava muito com a diferença, mas não queria que a mulher achasse que ele fosse algum tipo de abutre de um tabloide. – Sou Gillian Cranshaw, irmã de Cara. – Sem dúvida, há uma semelhança. – Precisamos ir agora. – Cara deu o braço a Gillian, pegou a bolsa de viagem dela e praticamente a arrastou rumo à saída. – Deixe comigo. – Max estendeu a mão para pegar a bolsa. – Não precisa – disse Cara, apertando o passo. Algo claramente a deixara abalada. – Falamos com você depois – disse Gillian, por cima do ombro. Antes que Max pudesse pensar de fato no comportamento bizarro de Cara, um homem saiu da mesma porta de onde Gillian saíra. Cara o olhou de relance, mas não lhe deu muita atenção.

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Certamente, havia algum tipo de drama familiar sobreposto ao drama político. Do contrário, Cara talvez tivesse parado e se perguntado quem Max encontraria quase às 22h ali. – Liam Fisher? – perguntou Max, quando o homem se aproximou. – Oi, Max. Reconheci você pelo seu programa. – Obrigado por ter vindo. – Agradeça à NCN por ter pensado em mim. Os dois homens apertaram as mãos. Desde que chegara a Fields, Max ficara sabendo de duas coisas: a primeira dizia respeito à lealdade da cidade ao presidente. E a segunda era que Eleanor Albert nunca chamara muita atenção – poucas pessoas se recordavam dela ou a associavam a Ted Morrow. Juntos, esses dois detalhes tinham dito a Max algo muito importante. Meios convencionais não seriam capazes de desenterrar a história de Ariella. Liam Fisher era um antigo funcionário do ANS. Ele fora embora numa situação altamente sigilosa e depois de ter se desentendido com o atual proprietário, Graham Boyle. Os instintos de Max lhe diziam que a verdadeira matéria não estava em Eleanor Albert, e sim no ANS e na forma como a rede descobrira a respeito de Eleanor Albert.

CAPÍTULO QUATRO

Cara levou sua irmã para o estacionamento do aeroporto. – Por um instante, achei que ele fosse o pai – disse Gillian. – Ele é repórter – respondeu Cara. – E acho que está me seguindo. – Acho que ele estava esperando o homem que chegou no Cessna. Eles pousaram logo depois de nós. – Reforços. Este lugar está cheio de repórteres. – Li a respeito. Você conhece a tal Ariella, não? Não foi ela quem fez o bufê naquele Dia de Ação de Graças, quando o cantor caiu dentro do bolo? – Ela mesma. Elas chegaram até o utilitário esportivo alugado de Cara. – Parece que ela é bem-humorada – observou Gillian. – Assim como o presidente. – Então, você acha que é verdade? – Como assim? – Você acabou de comparar o senso de humor de Ariella ao do presidente. Deve 30


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achar que ela é filha dele. Ou você sabe que é? – Não tenho certeza de nada. Mas você deve ter visto as fotos deles na TV. – Não. – Bem, Ariella se parece muito com eles. Uma combinação perfeita dos genes. – Cara abriu a porta e jogou a bolsa de viagem de sua irmã dentro do carro. – Então, deve ser verdade. – Se eu tivesse que apostar – disse Cara – apostaria no sim, sem dúvida. – Mas vão fazer o teste de DNA. – Sim. – O presidente deve conseguir apressar tudo. Elas entraram no carro. – Você não assiste muito à televisão, assiste? O celular de Gillian tocou. – No geral, só tenho prestado atenção nas notícias de tecnologia da China e da Índia. – Ela levou o telefone à orelha. – Alô? Enquanto Gillian falava ao telefone, Cara deu ré para sair da vaga e foi até a saída do estacionamento. Quando ela desligou o telefone, elas já estavam quase de volta à cidade. – Seria um grande prêmio genético – disse Gillian, guardando o celular. – Para Ariella? – Não. O tal Max, o repórter. Alto, bonito, parecia atlético. E, para ser apresentador de um programa de notícias, ele deve precisar de jogo de cintura. Então, deve ser inteligente. Cara não tinha tanta certeza. – Ele faz muitos trabalhos de campo perigosos. Selvas, zonas de guerra, montanhas… – É corajoso também? – Quis dizer que a testosterona dele parece abafar o intelecto. Quer parar para tomarmos alguma coisa? – Por impulso, Cara entrou no estacionamento do Pine Tree Lounge, uma recente construção de toras nos arredores de Fields, com luzes amarelas convidativas numa varanda com pilares de madeira de pinheiro. – Claro. Quero algo alcoólico. Cara foi para uma mesa afastada, perto dos fundos, observando se os outros clientes poderiam ouvi-las. A garçonete chegou imediatamente, com copos de água gelada. Gillian olhou de passagem a carta de vinhos e simplesmente pediu um sauvignon “muito bom”. – Então – disse Gillian, suspirando ao pegar o pote de castanhas no centro da mesa. – É ele. Gillian olhou para os dois lados, por cima do ombro. 31


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– Ele o quê? – Max. Ele é o pai. – Então, por que… – Ele não sabe. Não pode saber. Não é certo… Ele é repórter, e eu trabalho na assessoria de imprensa da Casa Branca. – Mas você dormiu com ele mesmo assim? – Foi antes da eleição. E, certo, também depois da contagem dos votos, mas foi tudo antes da posse. Foi um erro. – Oops. – Foi basicamente o que eu disse. E ele… E eu… Então… – Cara gesticulou. – Você entendeu. Gillian conteve um sorriso. – Eu entenderia se você terminasse as suas frases. Cara baixou a cabeça e a balançou. – Eu quis dizer que estou ferrada. Gillian esperou até que Cara levantasse o olhar. Seus olhos reluziam com o que parecia alegria. – Você não está ferrada. Vai ter um bebê. Nós vamos ter um bebê. – Ela pegou a mão de Cara. – Não precisa se preocupar com nada. Não importa como tenha acontecido. Foi ótimo. Bebês nunca são má notícia. Especialmente o seu. – Ele não quer filhos. Nunca quis. Quer buscar matérias em lugares perigosos ao redor do mundo e não ter que se preocupar com mais ninguém. – Uma pena para ele. – E, mesmo se ele quisesse, não podemos nem pensar num relacionamento normal. É um conflito de interesses. Não faz nem uma semana que o presidente tomou posse, e eu já tenho esse problema. – Está dizendo que não seria bom para você contar a ele? – De jeito nenhum. – Nunca? – Não consigo imaginar. – Sendo assim, você precisa dormir com outra pessoa. – O quê?! – Não estou falando literalmente. Quero dizer, tem que deixar claro para Max que você não foi só dele. Quando ele descobrir que você está grávida, pode insistir num teste de DNA. Mas, se ele não quiser ser pai, pode deixar o assunto para lá. Cara digeriu as palavras de sua irmã. – Você é muito cínica. Então, ela tentou imaginar uma conversa na qual ela informasse causalmente a Max que dormira com outros homens durante o namoro deles. Não, nada de namoro. Isso já seria exagerado. Durante o tempo em que eles tinham tentado, e não conseguido, não se agarrar. 32


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– Já vivi muito mais do que você! – rebateu Gillian. – Catorze meses? – Já rodei mais pelo mundo. A garçonete chegou, abrindo a garrafa e servindo uma taça para Gillian. Cara recusou e pediu um chocolate quente. – Então, você acha que não tem problema eu não contar a ele? Quero dizer, falando eticamente? Gillian deu de ombros. – Por que teria? Cara se recostou, já mais confortável. – Não era o que eu esperava que você dissesse. – Achou que eu mandaria você correr até ele, confessar tudo e ver se ele iria querer criar uma família tradicional? Cara detestava admitir, mas fora basicamente aquilo que ela pensara. Não que sua irmã fosse concordar, mas teria sido bom ter um apoio moral para sua fantasia. – Ah, Cara. – O rosto de Gillian assumiu uma expressão de pena. – Isso não é bom. – Não, eu não pensei nisso – mentiu Cara. – E não é o que eu quero. A última coisa de que preciso é de um mártir na minha casa, cortando a grama, limpando a churrasqueira e me culpando por ter arruinado a brilhante carreira dele. – Bem, você quase me convenceu. Mas talvez seja melhor praticar mais a sua atuação. – Como é? – Você protestou demais. Cara detestava admitir, mas Gillian tinha razão. Ela sabia que Max jamais iria querer que eles se tornassem uma família. Mas, às vezes, ela simplesmente não conseguia evitar desejar aquilo.

Max e Jake ouviam com total atenção enquanto Liam Fisher descrevia algumas das táticas desleais que o ANS usara no passado para conseguir grandes matérias. Os três estavam no Apex Lounge, na parada mais alta do teleférico. Era horário de almoço, e o local enchia rapidamente de famílias e crianças. – A coisa piorou muito quando a produtora Marnie Salloway chegou – dizia Liam. – Aquela mulher não tem consciência. – Algum exemplo? – perguntou Max. Marnie era a ex-chefe dele, e Max era perfeitamente capaz de acreditar naquilo. Ele e Jake vinham trabalhando em Fields já fazia três dias. Fizeram incontáveis entrevistas, todas elas praticamente inúteis. Tinham horas e mais horas de gravações com as pessoas da cidade elogiando o presidente e parecendo confusas quando lhes era feita uma pergunta a respeito de Eleanor Albert. – Ia além da manipulação – disse Liam. – Era coerção. Nunca cheguei a entregar um envelope cheio de dinheiro, mas, sem dúvida, levei algumas pessoas para jantar, um resort cinco estrelas por um fim de semana inteiro, uma garrafa de vinho de 300 dólares 33


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e, então, uma pergunta feita cuidadosamente para que os editores pudessem recortar exatamente o que queria. – Isso não é ilegal – ressaltou Max. – Mas foi o que me fez ir embora. Marnie queria que eu escondesse um microfone na casa de uma vítima. Um adolescente que estava sendo intimidado por uma equipe esportiva. Ela estava convencida de que ele tinha exagerado ao falar do problema e queria expor o que ela considerava ser uma conspiração contra um popular técnico. Jake fez um som de desgosto, enquanto Max parecia absolutamente chocado. – Só pode ser brincadeira – disparou Max. – Foi quando pedi demissão. Ou quando fui demitido por insubordinação, dependendo da versão da história em que você quiser acreditar. Risadas agudas soaram, e Max ergueu o olhar para ver uma multidão de crianças chegando. – Como alguém consegue pensar com um barulho desse? – reclamou Max. Jake riu. – Calma, Max. Só estão se divertindo. – Então, ele voltou sua atenção para Liam, ficando novamente sério. – Você tem alguma prova disso? – Só a minha palavra contra a deles. Mas não cheguei a investigar muito a fundo. Quando saí de lá, segui com minha vida. Então, nunca se sabe o que poderemos encontrar se procurarmos. – Por onde começamos? – perguntou Max, enquanto a garçonete tirava os pratos. Ele entregou o cartão de crédito a ela. – Tenho alguns favores que estão me devendo – disse Liam. – Ainda não terminamos em Fields – disse Max. – Mas podemos encontrar você em Washington. Liam assentiu. Ao saírem, enquanto Liam esperava o próximo carro do teleférico para descer a montanha, Max e Jake foram buscar seus snowboards. O caminho de Max foi bloqueado por um menino de uns 11 anos que não estava conseguindo fechar as presilhas. Suspirando por causa do atraso, Max se agachou. – Precisa de ajuda? – perguntou, mascarando sua frustração com um tom amistoso. Não conseguiu evitar perguntar a si mesmo onde estariam os pais do garoto. – Está agarrado – choramingou o menino, puxando a fivela com os dedos. Max olhou o rosto dele e percebeu que o garoto continha as lágrimas. – Não se preocupe. Podemos dar um jeito. Tirando as luvas, Max endireitou a fivela de um dos mecanismos. Em seguida, passou a alça por dentro, apertando até ficar bem fixa. – O que acha? – perguntou Max ao menino. – Está bom. – Ele fungou. Max se levantou quando Jake chegou. Ao pegar seu snowboard, ele notou que o 34


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menino olhava à volta, preocupado. – Você está com seus pais? – Meus amigos. – Ah. Sabe onde eles estão? – Já foram. – O garoto apontou para uma descida de dificuldade média. – Por ali. – Deixaram você para trás? – Belos amigos. O menino assentiu, parecendo tanto envergonhado quanto irritado. Aquilo não era da conta dele, mas Max não podia deixar o coitado abandonado à própria sorte. – Qual é seu nome? – perguntou ele ao garoto. – Ethan. – Bem, Ethan. – Max pôs seus óculos de esqui e verificou rapidamente se o equipamento de Ethan estava adequado. – Acho que é melhor você descer conosco. O garoto se animou. – Eu sou Max, e este é Jake. Tenho certeza de que vamos conseguir encontrar seus amigos lá embaixo. Ao descerem, logo ficou claro que o entusiasmo de Ethan era muito maior do que sua habilidade. Max reduziu a velocidade, ficando atrás do menino, fazendo cara feia ao ver sua técnica desastrada e seu equilíbrio precário. Ethan tentou corajosamente alguns saltos pequenos, mas caía por incontáveis vezes. Finalmente, Max não conseguiu mais aguentar. Parou ao lado de Ethan e o ajudou a se levantar. – Dobre os joelhos – instruiu. – Tente se apoiar nos calcanhares, mas não se equilibre demais quando encostar de volta no chão. Estenda os braços assim. Ethan observou atentamente, assentindo com determinação. – Quer me ver fazer uma vez antes? – perguntou Max. – É. Seria bom. – Certo. – Max apontou para um pequeno monte mais abaixo. – Aquele ali. Ele foi lentamente, pulando apenas o suficiente para planar um pouco no ar, exagerando na hora de fazer os movimentos para se equilibrar. Ethan tentou. Surpreendentemente, ele conseguiu não cair ao tocar o chão. Sorriu com seu sucesso, dando um soco de comemoração no ar. Max escolheu outro salto pequeno, e Ethan o seguiu. Foi a descida mais longa da vida de Max. Mas, quando eles chegaram ao ponto de descanso no meio do caminho, Ethan deu o salto mais impressionante, conseguindo se manter de pé ao retornar ao chão. Max se flagrou comemorando com um grito. Um som de vibração explodiu ao seu lado, e Max se virou para ver um grupo de seis garotos parabenizando Ethan. – Bela manobra! – gritou um. 35


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– Demais – falou outro. – Como conseguiu ficar tão bom de uma hora para a outra? – perguntou um terceiro, aproximando-se. De cabeça erguida, Ethan apontou para Max. – Esse cara sabe tudo. Um dos meninos o olhou. – Você não é aquele Max sei lá o quê? O cara que lutou com o crocodilo na TV? O interesse do grupo se voltou para Max. – Eu mesmo. – Ele tirou a luva para apertar as mãos dos garotos. – Max Gray. – Legal – sussurrou alguém. Um dos meninos cutucou Ethan com o cotovelo. – Ethan, como você conheceu Max Gray? Ethan pareceu um tanto quanto deslumbrado por um momento. – Nós nos conhecemos lá no topo – disse Max. – Descemos juntos. Ethan encontrou sua voz. – Pode nos ensinar mais alguma coisa? Max olhou de relance para Jake, que estava claramente resistindo para não rir do destino que aguardava Max. – Claro – concordou Max. Parte de seu trabalho era ser gentil com os telespectadores. Embora seu público fosse, em geral, bem mais velho que aquele. Ele desceu o restante da montanha, parando e continuando, com sete meninos em seu encalço, todos se esforçando para executar as instruções dele. Max precisou admitir que não era de todo ruim. Os garotos eram amistosos e educados, e a maioria conseguiu melhorar ao longo da descida. Ao fim, eles se encontraram com um grupo maior. Alguém conseguiu uma caneta, e Max autografou os capacetes de todos os meninos. Jake, claro, filmou tudo, e Max soube que aquilo jamais seria esquecido.

– Ouvi algumas crianças falando dele hoje de manhã no saguão – disse Gillian enquanto andava com Cara pela calçada. Passava do meio-dia, e elas estavam olhando os restaurantes. – Disseram que ele os ensinou a andar de snowboard ontem. Coisa de herói mesmo. – Tem certeza de que eram crianças? – Sei a diferença entre pessoas de 10 e 20 anos. Ele autografou os capacetes. Não consigo imaginá-lo detestando crianças tanto assim. – Não parece Max. – Talvez você tenha se enganado a respeito dele. – Ele mesmo me disse que não gostava de crianças. – Não havia ambiguidade na opinião de Max com relação a ter uma família. Gillian parou e apontou para a porta do restaurante Big Sky. 36


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– Aqui? O sofisticado restaurante familiar anunciava excelentes sanduíches, e Cara estava morrendo de fome. – Por mim, está ótimo. Elas entraram, e Gillian se sentou numa das cabines. O interesse de Cara logo foi dominado pelas fotos de hambúrgueres e batatas fritas no cardápio. – Você vai ter um novo público de fãs depois de hoje – disse uma conhecida voz ao lado da mesa delas. Cara ergueu o olhar para encontrar os olhos surpresos de Jake. – Cara – disse ele com um sorriso. Então, olhou para Gillian, abrindo ainda mais seu sorriso. – E… uma amiga. Vocês se importam se nos juntarmos a vocês? – Por favor – respondeu Gillian antes que Cara conseguisse encontrar sua voz. – Olá, Cara. – Max fez um leve movimento de cabeça para ela. – Novo público de fãs? – perguntou Gillian quando Jake se sentou ao lado dela. – Jovens entusiastas de snowboard – respondeu Jake, estendendo a mão para Gillian. – Jake Dobson, cinegrafista de Max. – Gillian Cranshaw, irmã de Cara. – Não é difícil perceber que vocês são parentes – falou Jake, olhando de uma para a outra. Max pareceu se sentar bastante relutantemente ao lado de Cara. – Tem certeza de que não se importa? – perguntou ele. – Sem problema. – Ela conseguiria. Obrigaria a si mesma a ser fria, casual, nada emotiva. Ela voltou sua atenção para o cardápio. – Acho que vou tomar um milk-shake – refletiu, seu desejo por doces a arrebatando. – De chocolate. – Cara sempre fez loucuras na hora do almoço – brincou Gillian. – E você? – perguntou Jake a Gillian. – Costuma fazer loucuras? – O tom íntimo dele chamou a atenção de Cara. A apreciação pela beleza de Gillian estava clara nos olhos dele. Cara já vira centenas de vezes aquele olhar nos homens. Embora ela fosse muito parecida com Gillian, sua irmã sempre fora mais glamorosa, um pouco mais de maquiagem, mais joias, luzes no cabelo, roupas de grife e uma habilidade para escolher acessórios que Cara admirava. Gillian revirou os olhos ao sentir o interesse de Jake. Então, voltou rapidamente sua atenção para Max. – É bom ver você novamente, Max. Todas as crianças estavam falando de você no saguão hoje. – Nenhuma boa ação fica sem recompensa – falou Max. – Consegui umas belas imagens ontem. Acho que podemos editar para transformar 37


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numa bela história de interesse humano. – Jake fechou o cardápio. – Não estamos conseguindo nada a respeito do presidente mesmo. Cara olhou para Max, curiosa. – É mesmo? – Não revele nossas informações – disse Max a Jake. – Não está conseguindo o furo de reportagem? – continuou Cara. – Estou ocupado demais ensinando crianças a praticar snowboard. E você? – Não tenho ensinado nada a crianças. – Ela percebeu seu braço descer automaticamente para o colo. Então, Gillian sorriu inocentemente para Max. – Você tem filhos? – perguntou. Cara quase engasgou. Sua irmã teria enlouquecido? Jake soltou uma gargalhada. – Max, não. Ao menos não que ele saiba. Cara se sentiu tonta. – Sem filhos – disse Max com a voz firme. – E você? – Também – respondeu Gillian. – E sem marido. Sem namorado. – É mesmo? – Jake inclinou seu corpo na direção dela. – Calma, menino – falou Gillian, baixando seu olhar para o cardápio aberto. – Acho que quero um milk-shake de morango. – Fiquei solteiro recentemente – disse Jake. – Pare de dar em cima da irmã de Cara – falou Max. – Não tem problema – disse Gillian com um sorriso malicioso que dizia que ela lidava com aquilo o tempo todo. – Acha que isso é dar em cima? – perguntou Jake num tom falsamente magoado. – Claramente, você nunca me viu em ação. – Já vi você em ação em todos os cantos do mundo – respondeu Max. – Gosto de Cara, e não quero que você se meta com a família dela. Gillian olhou nos olhos de Cara. Ele gosta de você, disse numa mensagem silenciosa. Não importa, respondeu Cara. Ela e Max rumavam em direções completamente diferentes. Por mais que um gostasse do outro, nada mudaria isso.

CAPÍTULO CINCO

Eles precisaram encerrar o almoço antecipadamente. A notícia de que Max estava 38


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em Fields se espalhara pela cidade, e a atenção dispensada a ele continuava a crescer. Cara percebia que isso o frustrava. E, depois do décimo, ainda que intrusivo, pedido de autógrafo, eles pediram a refeição para viagem. – Devíamos ir para um dos quartos – sugeriu Jake. – Estou num cubículo – respondeu Cara. – A assessoria de imprensa não pode fazer loucuras com dinheiro público. – Eu estou numa suíte no último andar – falou Gillian. – Vamos nos esconder? – Acho que não vou ter paz. – Max franziu o cenho. – Mas vocês podem fazer o que quiserem. Cara balançou a cabeça. – Está tentando ser um mártir? – Como estou me saindo? – Muito mal. – Não vamos abandonar você – interveio Gillian. Cara desejou que sua irmã não tivesse dito aquilo. Passar tempo com Max parecia lançá-la numa montanha-russa emocional. – Vamos para a villa de Max – sugeriu Jake. – É maior que a minha e a mais alta de todas. Tem uma excelente vista, e, se vocês quiserem fazer a digestão dos milkshakes, tem uma trilha que leva até as piscinas termais. – Por mim, está ótimo – disse Gillian animadamente. Cara olhou de esguelha para sua irmã. Torcia para que Gillian não estivesse tentando juntá-la com Max na esperança de algo se avivar entre eles. Se estivesse, o plano dela fracassaria, sem dúvida. – Acho que não é nenhum segredo eu dizer que não estamos conseguindo nada com as entrevistas – falou Max quando eles já estavam no carro, a caminho do hotel. Cara estava no banco da frente, ao lado dele. – O que está dando errado? – perguntou ela. Para ela, estava tudo maravilhoso. Não desenterrara nenhuma bomba-relógio que afetaria o presidente. – Boa gente dizendo boas coisas a respeito do bom menino que o presidente foi quando adolescente não gera uma matéria muito interessante. – Como eu suspeitava. – Cara não conseguiu evitar sorrir de forma convencida. – Você procura as histórias apimentadas. Adoraria encontrar um escândalo. Por mais que isso seja ruim para o seu país ou para as pessoas. Você só quer audiência, Max. – Meu produtor quer audiência – respondeu Max. – Eu quero saber a respeito de Eleanor Albert. – Apenas para satisfazer sua busca por conhecimento, imagino. – Bem, eu não vou esconder nada. Aquilo foi como uma declaração de guerra para Cara. – Está insinuando que eu vou fazer isso? – Estou insinuando que você deve sua lealdade ao presidente. – Tem razão. – Passar tempo com Max fora uma ideia ainda pior do que ela imaginara. – Você devia nos levar de volta para o nosso hotel. 39


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– Não. – Como é? – Os sanduíches já estão frios, e os milk-shakes, quentes. E já chegamos. – Ele parou o utilitário esportivo. – Talvez possamos concordar numa trégua – sugeriu Gillian do banco de trás. – Ele não tem jeito – disparou Cara. – Só está fazendo o trabalho dele – respondeu Gillian. Cara olhou irritadamente para sua irmã. Como ela ousava ficar do lado de Max? Ela abriu a boca para discutir, mas parou. Max estava mesmo fazendo o trabalho dele. E ela, o dela. O conflito entre eles não se resolveria, e Gillian logo perceberia isso. – Certo – concordou Cara. – Trégua. Max não respondeu. Saiu do veículo e pegou a embalagem com os sanduíches. Gillian subiu os degraus de pedra até a porta da frente da villa. – Está tentando criar uma profecia que se realize por conta própria? – sussurrou ela no ouvido de Cara. – Como assim? – Você conhece o jeito como você costuma ficar. Ele é um cara perfeitamente decente. – É um repórter que odeia crianças. – Claro. Estou surpresa por ele não ter empurrado aqueles meninos montanha abaixo. – Certo, certo. Já entendi. Ele foi legal com eles, apesar de não gostar. – Só estou dizendo para ser gentil com o herói dos garotos em nome deles. Consegue fazer isso? Cara conseguia. Faria isso. Era uma profissional. Então, as outras palavras de Gillian ecoaram em sua mente. – O que você quis dizer com “o jeito como eu costumo ficar”? Gillian, porém, saltou os últimos degraus para entrar na villa. Max segurou a porta aberta enquanto Cara entrava atrás de sua irmã. O lugar era magnífico. Localizado na encosta, tinha janelas que iam do chão ao teto, com uma área de estar e jantar de dois andares. Uma arcada levava até a cozinha. Uma escadaria levava a um corredor aberto no segundo andar. E, atrás da área de estar, havia uma sala de entretenimento e biblioteca. – Claramente, você não está usando dinheiro público – resmungou Cara. – Eu ouvi isso – falou Max enquanto Jake e Gillian se afastavam para um passeio pelo local. – Desculpe – respondeu Cara, percebendo que Gillian tinha razão. Sem dúvida, ela estava sendo mais mal-humorada que de costume. – Vamos comer – sugeriu ele secamente, indo até a mesa de jantar de oito lugares. – Quantos quartos? – perguntou ela, obrigando-se a ser agradável. Seguiu-o e se 40


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sentou numa cadeira de frente para a janela. – Só um – disse Max. – As villas são só para adultos. Acho que eles tentam atrair casais em lua de mel, em busca de finais de semana românticos. Jake nos colocou aqui em cima quando descobriu a bagunça que estava acontecendo lá embaixo. – Deve ser bom e tranquilo. – Muito tranquilo. – Max sorriu. – E muito bom. Cara quis protestar, dizer que crianças não eram tão ruins assim. Em vez disso, ela abriu a embalagem de seu cheeseburger. Max deu uma mordida grande no dele. – Muito bom. Cara provou o próprio sanduíche e concordou. Morno ou não, estava delicioso. Ela deu um gole em seu milk-shake de chocolate. – Vai voltar para Washington logo? – perguntou Max. – Provavelmente, amanhã. – Eu, também. Acho que a matéria não está em Fields, e precisamos começar a preparar o trabalho para a América do Sul. – América do Sul? – Vamos subir os Andes, ver o impacto dos preços globais de minério na exploração e no povo nativo. – Os olhos verde-jade de Max ficaram mais intensos à medida que ele falava. – Estou especialmente interessado na influência da China sobre os governos locais, leis trabalhistas e imigração. Ela ficou perplexa, como costumava ficar, com a profundidade do conhecimento dele. Max era mesmo um jornalista comprometido e ético. Cara se sentiu novamente culpada por algumas das acusações que ela lhe fizera. – Você é um homem muito inteligente, não? – O que me falta em intelecto eu compenso em curiosidade. Adoro um enigma. Cara não achava que faltava inteligência alguma a Max. Estava começando a concordar com sua irmã. O bebê dela talvez tivesse tirado a sorte grande por ter um pai como Max. – E o mistério da paternidade presidencial? Isso não deixa você curioso? Para surpresa dela, Max deu de ombros. – Não muito. Ou Ariella é filha dele, ou não é. Ou ele sabia, ou não sabia. Nenhuma das duas possibilidades vai mudar a política nacional. E, honestamente, não acho que o foco das matérias deva ser Ariella. Aquilo surpreendeu Cara. E também a deixou preocupada. – E qual deve ser o foco da matéria? – Você sabe que não posso dizer. Ela sabia. O relacionamento deles sempre tivera como ponto central a ideia de evitar conflitos de interesses. Sendo jornalista, Max não podia contar à assessoria de imprensa da Casa Branca os vieses de suas matérias. – Desculpe por ter perguntado.

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– Perguntar não ofende. – Fazer uma pergunta que deixa alguém numa posição constrangedora ofende, sim. – Insistira para que ele não fizesse isso com ela. Agora, estava violando sua própria regra. – Sou adulto, Cara. – A expressão dele se suavizou. – Você não me assusta. – Você me assusta bastante – murmurou ela honestamente. – Certo. Posso lhe contar uma coisa. – Não. Não conte. – Ela cobriu dramaticamente as orelhas com as mãos. A voz de Jake surgiu quando ele e Gillian retornaram ao cômodo. – O que este homem está dizendo a você agora? – Nada – disse Cara rapidamente, tirando as mãos das orelhas. – Só estávamos brincando. – Vocês dois? – Jake ergueu uma das sobrancelhas. – Acho difícil acreditar. – Então, olhou para os sanduíches e milk-shakes. – Que tristeza. – Não estão ruins – disse Max, dando sua última mordida. – Falou o homem que já comeu formigas cobertas de chocolate. – Jake olhou para Gillian. – Não confie na opinião culinária dele. – Estava muito bom – disse Cara, corroborando sua afirmação ao terminar seu sanduíche. Mas Gillian franziu o cenho para a sacola de papel. – Acho que não quero. – Vamos comer algo fresco – sugeriu Jake a ela. Cara começou a protestar, mas sua irmã já estava concordando. – Só vamos levar alguns minutos – prometeu Jake. – E a tempestade? – argumentou Cara, apontando pela janela. Sua próxima cartada seria se oferecer para ir junto com eles. – Está passando – disse Gillian. – O carro tem tração nas quatro rodas – falou Jake. Gillian falou diretamente para Cara. – Você pode ficar aqui e bancar a boazinha com Max. Cara respondeu com um olhar furioso. O plano não tão secreto assim de Gillian jamais daria certo. Por mais que Cara fosse gentil com Max, ele não teria uma epifania, percebendo que sempre quisera ser um homem de família. Ela começou a se levantar. – Não me importo de ir junto… – Não precisa – interrompeu Jake. – Relaxe. Termine seu milk-shake. Vamos voltar logo. Assim, saíram pela porta, deixando apenas o silêncio. – Acha que eles queriam ficar sozinhos? – perguntou Max. Cara se virou para ele. 42


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– Hã? – Estava bem claro. Não fora a avaliação que Cara fizera da situação. – Acha mesmo? – Para deixar mais escancarado, só usando um letreiro de néon. Desculpe por você ter ficado presa comigo – disse ele, observando atentamente a expressão dela. – Não estou presa a… Certo, ela estava, sim, presa a Max. Ocorreu a Cara que Jake e Gillian tinham saído com o único carro. Não havia como escapar da villa antes de eles retornarem. Por sorte, eles não demorariam. – Fale mais sobre a América do Sul. – Ela se obrigou a se recostar na cadeira e aceitar a situação. O telefone de Max apitou, indicando a chegada de uma mensagem de texto. – É de Jake. – Já? – Ele pediu para ligamos a TV na afiliada local da NCN. São 17h em Washington, e ele quer saber se vão passar a matéria sobre snowboard. – Você não parece muito feliz com isso. – Não gosto de baboseiras. – Achei que fosse de crianças que você não gostasse. – As palavras escaparam antes que ela pudesse pensar melhor. – Também. Cara sabia que precisava parar de sondar daquele jeito. Toda vez que ela fazia uma pergunta a respeito de crianças, Max respondia honestamente, e ela se sentia ainda mais deprimida com o futuro. Max encontrou o canal e aumentou o volume. Sentou-se num dos sofás. Cara se juntou a ele na área de estar, sentando-se numa poltrona de frente para a televisão. Eles tinham posto a matéria no ar. Jake até conseguira incluir o áudio de Max explicando os fundamentos do snowboard e das crianças incentivando umas às outras. O segmento foi curto, mas Cara ficou impressionada com a paciência de Max com os meninos. Estava claro que eles ficaram deslumbrados por terem recebido a atenção de uma celebridade e por estarem aprendendo. Quando Max autografou os capacetes de todos, Cara precisou piscar para conter uma lágrima. – Uau – disse Max, desligando a televisão. – Foi bem melodramático. A emoção de Cara se evaporou. – Eu achei legal. Você parecia que estava se divertindo. – Ela não conseguia acreditar que Max tivesse detestado aquilo. Flagrou novamente sua mão repousando sobre a barriga, e sua mente começou novamente a trilhar o perigoso caminho da análise de Max como pai. – Durante todo o tempo que passei com eles, desejei poder praticar snowboard sozinho. Mas eram telespectadores. Então, precisei me comportar. Se eu tivesse tido 43


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escolha, teria dado o fora dali. Aquilo certamente deu um fim aos pensamentos fantasiosos de Cara. – Está dizendo que foi tudo pela publicidade? – Estou dizendo que não sou o santo que o canal gostaria que eu fosse. – Então, você continua não gostando de crianças. – Há uma diferença muito grande entre gostar de crianças e ser amistoso com o telespectador. O fato de eu ter feito o meu trabalho não significa que vou virar professor de primário. O telefone dele tocou. – Oi – disse ele simplesmente. Então, fez uma pausa. – Agora? – Outra pausa. – Sim, vamos ficar aqui. Eu aviso a ela. Certo. Tchau. – Ele desligou. – O que foi? – Jake e Gillian não vão voltar imediatamente porque Gillian precisou fazer uma teleconferência. Cara sentiu um frio na barriga. – Está brincando? – Aparentemente, já é manhã na China, e o escritório chinês precisava falar com ela antes do início do expediente. O laptop está no quarto dela. Então, eles foram para lá. – Mas… eles… – Isso soa plausível para você? Porque conheço Jake muito bem, e há grandes chances de que eles possam estar… – Você está falando da minha irmã. – Ela não tem vida sexual? – Ela não vai dormir com Jake. Os dois acabaram de se conhecer. Ela tem participações empresariais importantes na China. Tenho certeza de que é exatamente o que eles disseram que era. – Certo. – Max levantou as mãos, rendendo-se. – Não estou defendendo cegamente a honra da minha irmã. – Está, sim. E isso é admirável. – Estou dizendo que ela tem negócios na China. – E eu, que Jake sente atração por ela. – Isso não significa que seja mútua. Max voltou à área de estar. – Provavelmente, jamais saberemos. – Eu já sei. – Você é linda, sabe disso? O sorriso dele fez o calor se espalhar pelo corpo de Cara. Repentinamente, ela 44


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percebeu como fora tola ao se permitir ficar sozinha com ele. – Max… – começou a protestar Cara, mas um som trovejante a distraiu. Profundo e grave, tanto vibração quanto som. Max empalideceu e soltou um palavrão. Antes que ela percebesse o que estava acontecendo, o braço dele já a envolvera, e Max a arrastava consigo. – O que foi? – perguntou ela quando o som ficou mais alto e o chão começou a tremer. Max a levou para o banheiro e a pôs dentro da grande banheira. – Fique abaixada! – ordenou, desaparecendo. Um terremoto. Cara nunca soubera que uma banheira seria um refúgio, mas ficou abaixada. Em poucos segundos, Max retornou arrastando a grande mesa de centro de formato quadrado. Deitou-se rapidamente sobre Cara e pôs a mesa com o tampo para baixo sobre a banheira. O rugido cresceu. O mundo tremia à volta deles. Cara se agarrou a ele num ato de reflexo. – Terremoto? – conseguiu perguntar. – Avalanche. – Ele a abraçou. As luzes piscaram, e o mundo ficou cinza.

– Ainda estamos vivos? – Estamos – respondeu Max. – Já acabou? – Talvez. – Talvez? – Uma avalanche pode desencadear outra. – Em sua pressa para protegê-la, Max se deitara diretamente em cima de Cara. – Estou machucando você? – Não. Quanto tempo precisamos esperar? Ele empurrou a mesa para o lado. – Acho que está tudo bem. Max saiu da banheira e se virou para oferecer a mão a Cara. Ela a pegou, e ele a puxou para fora. O celular dele tocou na sala. Com um leve tremor, Cara perguntou: – Acha que alguém se machucou? – Não sei. – Max temia pelo pior. Sua villa continuava de pé, mas ele já vivenciara avalanches. E aquela fora grande. O telefone tocou novamente. – É melhor atender – disse Cara. 45


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– Você está bem? Ela soltou a mão dele. – Estou ótima. Ela parecia pálida, mas bem. Max foi até o telefone, vendo que era o número de Jake. – Vocês estão bem? – Rapaz, como estou feliz por ouvir a sua voz – falou Jake. – Como está Cara? – Estamos bem. – Eles estão bem – informou Jake a alguém do seu lado da ligação. Max imaginou que fosse Gillian. – Deve ter passado bem perto de vocês. – Ainda não olhei lá para fora. Mas achei que a villa fosse desabar. O que você consegue ver aí embaixo? – Metade da encosta coberta de neve. A rua está cheia de gente aterrorizada. – Chegou à cidade? – Não. Nem à colina de esqui. – Graças a Deus. – Pelo que estou vendo daqui, vocês vão ter que passar a noite aí. – Imaginei – disse Max, olhando de relance para Cara. – Você consegue manter nós dois fora do noticiário? – Claro. Max tinha certeza de que Cara não queria que ninguém soubesse que eles estavam juntos. – Pode colocar Cara no telefone? Gillian quer falar com ela. – Claro. – Max foi até onde Cara estava sentada e lhe ofereceu o telefone. – Gillian. Cara pareceu se preparar. – Alô? Ela ouviu por um momento. – Estou, sim. – Outra pausa. – Nem um arranhão. – Então, riu nervosamente. – Sério? Curioso para saber o que acontecera lá fora, Max foi para a sacada. O cenário à sua volta era surreal. A maior parte do deslizamento caíra ao norte do complexo das villas. Ele e Cara não tinham sido os únicos que haviam tido uma sorte incrível. O restante das villas ficava ao sul da de Max, mais para baixo na colina, e ele percebeu que a avalanche não as atingira. – Ah, meu Deus… Ele se virou para onde Cara parara, olhando para a paisagem lunar ao lado da villa. – A estrada sumiu – declarou ela, perplexa. – Vai demorar um tempo para desenterrá-la.

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Ela foi até o lado dele no parapeito. – Estamos ilhados? – Por enquanto. Eles poderiam mandar um helicóptero, mas não devem ter tantos recursos. E os feridos são prioridade. – Claro. Gillian disse que ofereceu o avião dela. Pode ser necessário evacuar parte dos feridos para hospitais maiores e trazer mais equipes de resgate. – Logo vai escurecer. – Ele só esperava que não houvesse ninguém preso na colina de esqui em meio a tudo aquilo. – É melhor entrarmos. – O instinto dele foi o de envolver os ombros dela com seu braço. Contudo, Max evitou fazer isso. Cara fora firme ao estabelecer os limites do relacionamento deles, e ele não podia correr o risco de que eles fossem flagrados por lentes telescópicas. Quanto menos pessoas soubessem que estavam juntos, melhor seria para ela. Sem eletricidade, logo ficaria frio e escuro dentro da villa. Havia jornais, fósforos e lenha perto da grande lareira de pedra. Ele também percebera dois lampiões a óleo ali perto, e havia velas em diversos pontos do recinto. Max acendeu os lampiões e entregou os fósforos para Cara, ficando com um para si. – Quer acender algumas velas? – Claro. Enquanto Cara andava pelo cômodo, ele se ajoelhou e começou a preparar o fogo. Eles ficariam bem. Os suprimentos durariam alguns dias, se isso fosse necessário. Ele pôs fogo no jornal, vendo as chamas envolverem os pedaços menores de madeira. – Sua irmã tem um avião? – A empresa dela tem. – Ela é dona da empresa. – É mesmo. – Cara já acendera meia dúzia de velas, e o cômodo estava preenchido por um leve fulgor de luz amarela. – É uma empresa grande? – Fica maior a cada instante. – Você tem uma família muito bem-sucedida. – Acho que depende da opinião de cada um. – Uma funcionária da Casa Branca e uma empresária de TI? Quem não consideraria isso um sucesso? – O interior do Wisconsin. – Eles têm algo contra alta tecnologia? – Se dependesse dos meus pais, Gillian e eu teríamos virado fazendeiras, produzindo laticínios e netos. – Ahh. – Agora, sim, ele entendia. – Felizmente para todos, meu irmão encontrou uma maravilhosa menina da nossa cidade mesmo e se apaixonou. Ela está grávida pela terceira vez, e eles parecem 47


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perfeitamente felizes morando na fazenda. – A vida rural não é para você? Cara estremeceu. – Gillian e eu mal podíamos esperar para ir embora. Fomos embora juntas para Milwaukee. Depois de alguns anos, fui para Harvard, e ela, para o MIT. Max não conseguiu evitar observar a beleza de Cara à luz do fogo. – Você teria sido uma fazendeira linda. – Eu teria fracassado miseravelmente. – É engraçado você ter sido criada no campo e ter ido parar na cidade grande. Eu cresci no meio da cidade e acabei querendo a vida selvagem. Ela olhou à volta. – Você deve estar adorando isto aqui. Ele estava. Mas não pelos motivos que Cara imaginava. Eles passariam a noite inteira sozinhos, e a imaginação de Max estava começando a trabalhar muito, pensando no que aquilo significava.

CAPÍTULO SEIS

A luz das velas se refletia na mesa de cerejeira. O fogo estalava, criando um relaxante pano de fundo, fazendo os cristais caros e as porcelanas reluzirem. A única coisa nada sofisticada era o mingau de aveia instantâneo. Mas Cara não podia reclamar. Ainda que eles não tivessem eletricidade, Max pegara a churrasqueira na sacada. Limpara-a, acendera-a e fervera um pouco de água numa chaleira. A água quente, juntamente às poucas provisões da cozinha da villa, tinha rendido mingau e chá. Se ela estivesse sozinha, sequer teria aquilo. Jake enviara outra mensagem, dizendo que o trabalho continuaria durante toda a noite para levar o pessoal ilhado até o Apex Lounge, na parada mais alta do teleférico. Cara enviara uma mensagem de texto para sua chefe, informando a todos que ela estava em segurança e que precisaria poupar a bateria de seu celular. Ela e Max haviam desligado seus dispositivos de comunicação e estavam isolados do mundo. – Você foi mesmo um escoteiro. – Por que diz isso? – Max estava sentado de frente para ela, numa das pontas da comprida mesa. – Você acendeu o fogo. Pensou em usar a churrasqueira para ferver água. Aposto que também tem conhecimentos de primeiros socorros. – Tenho, mas não fui escoteiro. 48


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– Então, como aprendeu tudo isso? – Tentativa e erro. Em geral, erro. Quando eu estava na faculdade, fiz algumas viagens de aventura, passei vergonha, quase fiz gente morrer. Quando você é criado num apartamento que fica no subsolo sem sequer um martelo ou uma chave de fenda, muito menos equipamento para acampar ou um pai para lhe mostrar como usar tudo isso, você acaba chegando aos 18 anos um pouco prejudicado. Cara se arrependeu de ter perguntado. – Não foi minha intenção… – Não estou chateado com você. Nem com ninguém. A vida é como é. Não posso controlar a forma como fui criado. Só posso controlar o que faço daqui em diante. Ela sabia que não devia perguntar, mas não conseguiu evitar. – É por isso que você não quer uma família? Por causa das más recordações? – São muitos os motivos. Experiência, sim. Não quero que ninguém tenha a minha infância, nem a vida árdua da minha mãe. – A pobreza foi a maior responsável – ressaltou Cara. – E nem quero começar a falar de genética. Sou o fruto de um pai que abandonou mulher e filho. Acha que o mundo precisa de mais gente assim? – Você não é igual a ele. – Ah, sou, sim. Estou aqui hoje, mas, amanhã, já não vou estar mais. Posso usar um avião, em vez de um ônibus, mas vivo no meu mundo egoísta, buscando meus sonhos egoístas. – Mas não está abandonando ninguém. – Exatamente. Essa é a beleza da ideia. Não estou prejudicando ninguém. Posso levar um tiro e morrer numa zona de conflito, ou ser levado por uma cachoeira e me afogar, e isso não faria diferença. – Faria diferença, sim. – A audiência da NCN poderia cair. Mas seria temporário e… – Seus amigos sentiriam sua falta. – Ela não suportava ouvi-lo falar daquele jeito. Max era amado e respeitado por seus amigos, colegas e telespectadores. – Não estou falando de um jeito ruim. Quis dizer como uma forma de liberdade. Claro que meus amigos sentiriam minha falta. Eu também sentiria deles, se eles morressem. Mas perder um amigo não é nada comparado a perder pais ou um companheiro. Não vou ser o homem que deixa entes queridos para se virarem sozinhos. – Você está protegendo sua possível esposa e seus possíveis filhos não permitindo que eles existam? Max assentiu, pensativo. – Basicamente, sim. – Há algo de errado nisso. – Do meu ponto de vista, não. – Você não pode viver numa bolha, Max. Cara tentou dizer a si mesma que nada daquilo era uma surpresa. Sempre soubera que Max não serviria como pai. Nem num relacionamento. 49


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Nada mudara. Ainda lhe restavam alguns meses antes que ela precisasse esconder sua gravidez. Cara já tomara a decisão de perguntar a Lynn se havia algum cargo internacional disponível. Havia uma grande necessidade de suporte nas embaixadas. Ela gostaria de Londres, Sydney, ou talvez Montreal. – Não estou vivendo numa bolha. Pulo de paraquedas, escalo montanhas, atravesso rios. Até lutei com um crocodilo uma vez. – Ah, a famosa história do crocodilo. – Certo. Vou contar tudo. Mas tudo o que acontecer enquanto estivermos ilhados aqui vai ficar apenas entre nós. Ela sorriu. – Deus do céu, o que você vai contar? – Meu guia naquela viagem estava por perto, no barco. E acho… na verdade, eu sei… que ele deu uma paulada na cabeça do crocodilo com o remo antes de a luta começar. – Está me dizendo que o crocodilo estava incapacitado? – Imagino que sim. Mas Jake fez a filmagem, e todos nós meio que concordamos em fingir que tinha sido algo maior do que realmente foi. – Você lutou contra um crocodilo grogue? – E venci. – E conseguiu a reputação de aventureiro que tem hoje entre os seus inocentes, e aparentemente ludibriados, fãs. – Eu nunca afirmei ser o que não era. – Certo. Acho que não tenho direito de esnobar. Nunca lutei com crocodilo algum. – Só com os abutres da imprensa. – Ele ficou pensativo. – Não tem nada em Fields para nenhum de nós. Com relação a Eleanor. Cara levantou sua guarda. – Você sabe que não posso discutir isso com você. – Não estou pedindo informações. Só fazendo uma observação. Ninguém fala nada. Ninguém admite se lembrar de algo importante. O que significa que tem uma conspiração aqui ou que as pessoas simplesmente não se lembram. – Acho que elas não se lembram. – Concordo. E isso não faz você se perguntar como Angelica Pierce e o ANS encontraram essa história? Cara não teve como não concordar. – Você tem alguma teoria? – Vai oferecer uma troca justa de informações? – Você sabe que não posso fazer isso. – Então, não tenho nenhuma teoria. – Ele fez uma pausa. – Só que tenho, sim. E uma muito boa. – Você está blefando. – Só há um jeito de você descobrir. 50


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Havia, na realidade, dois jeitos de ela descobrir. Mas o segundo era pior que o primeiro. – Sei o que você está pensando – provocou ele. – Não sabe, não. – Você está pensando que, se tirasse a roupa, eu diria qualquer coisa a você. – Eu não vou suborná-lo com sexo. Ele pareceu pensar naquilo. – Que pena. Porque daria certo.

Max sabia que precisaria se manter ocupado pelo restante da noite. Se permitisse que sua atenção se fixasse em Cara, ele enlouqueceria. Ele lavara os pratos, abastecera a caixa de lenha e verificara se havia danos nas paredes. Agora, estava analisando metodicamente o conteúdo das gavetas e armários da área de estar, procurando algo que pudesse ser útil caso eles ficassem presos ali por alguns dias. Cara pendurara seu blazer no closet, encontrara um felpudo robe para se manter aquecida e pegara emprestado um par de meias de Max. Ela devia ter ficado ridícula, encolhida num canto do sofá com uma revista na mão. Ainda assim estava sexy. – O que você encontrou? – disse ela do outro lado do cômodo, percebendo que ele olhava apaticamente para o fundo de um armário. – Jogos de tabuleiro. – Ele pegou um aleatoriamente. – Quer jogar? – Não jogo há anos. – Quer tentar me vencer? – Achei que eu já estivesse vencendo. – Ela fechou a revista e a colocou sobre a mesa. Max entendeu aquilo como um sim. Foi até a mesa da sala de jantar, empurrando algumas velas para o lado, e abriu a antiga caixa para ver se todas as peças estavam lá. Surpreendentemente, estavam, ainda que meio amassadas e desbotadas. – Qual peça você quer usar? – perguntou Max. – O cachorro. E você? – A cartola. – Não quer o carro de corrida? – Parece ser importado. – Você é do tipo que só gosta de carros potentes americanos? – Exatamente. Não há nada como passear com um conversível na Rota 1. Max se acomodou na cadeira de frente para ela. Cara fez uma pausa, seus olhos azuis ficando sonhadores. – Parece legal. 51


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– Posso levar você quando quiser. – Você tem um conversível? – Tenho três. – Não acha exagero? Quantos carros você tem no total? Max fez um rápido cálculo. – Dezessete. Mas três estão sendo restaurados. A maioria é antiga. – Você restaura carros antigos? – Sim. – Por que eu não sabia disso? – Há muitas coisas que você não sabe a meu respeito. – Mas onde? Como? Você mora numa cobertura na Connecticut Avenue. – Também tenho uma casa no Maine. – Sério? – Por que eu inventaria isso? – Só estou surpresa. Você nunca falou nada. – Cara, nós não saímos juntos tantas vezes assim. – E a maior parte do tempo deles juntos fora passada debatendo questões políticas e acontecimentos do dia. Ou na cama. Eles passaram um bom tempo juntos na cama. O que talvez explicasse a vontade quase automática que Max tinha de beijá-la naquele instante. – O que mais eu não sei sobre você? – perguntou ela. – Muitas coisas. A maior parte é boa. Cara sorriu. – Diga as ruins. – Você primeiro. Ela recuou, fingindo estar ofendida. – Não há nada de ruim em mim. – Você se sente atraída por um repórter solitário e aventureiro. – Eu e um milhão de outras mulheres. – Obrigado pelo elogio. Mas você é diferente e sabe disso. – Não sou diferente. – Para mim, é – disse Max honestamente. – Só porque estou na sua frente agora. – Há mulheres lindas na minha frente o tempo todo. Não acho o mesmo delas. – Então, é porque você não pode me ter. Max já pensara naquilo. E muito. O fato de Cara estar fora de seus limites poderia deixá-la mais atraente? Seria possível que sua mente estivesse lhe pregando peças? – Quem me dera isso fosse verdade – respondeu ele. – Facilitaria tudo. – Se eu não tivesse uma vida pública ou política, confessasse meu eterno amor por 52


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você e dissesse que queria passar o restante da minha vida com você, casar, ter filhos… – O quê?! De onde você tirou essa ideia? Ela balançou a cabeça. – Você não me quer, Max. – Não podemos ir de um extremo ao outro em segundos. Não consigo fingir que você seja uma pessoa completamente diferente do que é. Se você fosse quem é, mas tivesse ficado na fazenda e estivesse procurando um marido caipira que se interessasse pela vida no campo e a levasse ao baile no celeiro no sábado à noite, eu não teria me apaixonado por você. – Você é tão fútil. – Mas você não é assim. Jamais seria. Gosto de você exatamente do jeito que é, Cara. Na sua vida atual. Na sua situação atual. Com seus sonhos e valores de hoje. – Sendo o fruto proibido. – É mais complicado do que isso. – Você não tem ideia. Ele pegou a mão dela. – Tenho uma ideia muito, muito boa. Você e eu estamos presos em mundos separados. Mundos incompatíveis. O olhar dela se fixou nas mãos deles. Max apertou a dela, e Cara não resistiu. – Venha aqui – disse ele suavemente. – Não. – Então, eu vou até aí. – Ele se levantou e contornou a ponta da mesa. – Max. – Ela suspirou, obviamente frustrada. Mas Max pegou novamente a mão dela, fazendo-a ficar de pé. Cara parecia confusa e vulnerável. – Tenho que me proteger de você. – Está se saindo muito bem. – Não estou, não. – Mas você não precisa ficar longe de mim hoje. – Max… – Somos só nós dois, Cara. Pela primeira vez, talvez pela única, nossas vidas além dessas paredes são irrelevantes. – Não posso… Ele levou um dedo aos lábios dela. – Não estou pedindo segredos de Estado ou nenhum outro tipo de informação. Você pode parar de falar agora e não dizer mais nada até amanhecer se quiser. Ela revirou os olhos. Max sorriu. – Você sabe que não foi isso que eu quis dizer. – Então, ele se aproximou, 53


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inspirando profundamente, permitindo que o perfume dela dominasse seus sentidos. – Apenas por ora, eu sou simplesmente Max, e você é simplesmente Cara. Isso só vai acontecer de novo daqui a pelo menos quatro anos. – Oito anos. – Pior ainda. – Não para o presidente Morrow. – Quer falar sério? – De jeito nenhum. Não aguento ficar aqui e racionalizar logicamente a ideia de dormir com você. – Está pensando demais, Cara. – É melhor que pensar de menos. Ele inclinou a cabeça na direção da dela. – Esqueça o pensamento. Vou beijar você agora. – Max – protestou ela levemente. Não era um não, disse ele a si mesmo. Talvez fosse ele quem estivesse racionalizando agora. Mas, definitivamente, ela não dissera não.

Quando os lábios de Max tocaram os dela, Cara praticamente se derreteu à luz do fogo. Os braços fortes dele a envolveram, puxando-a com força. O perfume dele era familiar, assim como a pressão de seus lábios, a provocação da língua e a forma como as mãos dele vagavam pelas costas dela. Cara prometeu a si mesma que seria apenas um minuto. Dois. Três. Mas dentro do abraço de Max era o melhor lugar do mundo para se estar. Ele era a maior fraqueza, o maior vício dela. Ele sussurrou contra a boca de Cara: – Senti tanto a sua falta. Max puxou a faixa do robe dela, seu olhar penetrando o de Cara enquanto ele tirava a peça dos ombros dela, deixando-a cair no carpete. Abriu os botões da blusa branca de Cara até revelar o sutiã de renda. Ele ficou sem fôlego quando ela soltou sua gravata e desabotoou sua camisa. O fogo reluzia no corpo bronzeado dele, ressaltando as cicatrizes que marcavam seu peito. Cara percorreu a mais comprida com o dedo, e Max inspirou fundo. – Dói? – perguntou ela delicadamente. – Nem um pouco. Ela percorreu outra. – Jacaré? – Galho de árvore. Pouso de paraquedas. – Os polegares dele percorreram o tronco dela, provocando a pele abaixo dos seios. – Você é tão macia, tão perfeita. – É porque não pulo de aviões. – Cara se esticou para outro beijo. – Nunca se machuque. 54


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Ela não sabia como responder. Então, beijou-o. – Eu não aguentaria ver você machucada. – Max aprofundou o beijo, tirando a blusa dos ombros dela, deixando-a cair no chão. Cara tirou a camisa dele, e Max tirou habilmente o sutiã dela. Então, envolveu-a novamente nos braços. Cedendo ao impulso, Cara beijou o peito dele. A mão de Max envolveu o seio dela, e um desejo pulsante dominou cada parte do corpo de Cara. Ele a pôs no chão, deitou-a delicadamente com as costas sobre o espesso robe. Max se apoiou num dos cotovelos. Seu dedo indicador percorreu uma linha do pescoço até o ombro dela, passando por cima de um dos seios, descendo até o umbigo. – Como você pode ser tão linda? Ele roçou o mamilo dela, enviando ondas de prazer, fazendo Cara se arquear automaticamente. Max repetiu a ação, e os olhos dela se fecharam. Então, ele foi para o outro seio. Arrepios surgiram na pele dela, e Cara sentiu um latejamento no ventre. Ele abriu o botão da calça dela, baixando o zíper, tirando-a rapidamente. Cada vez mais excitada, ela estendeu as mãos cegamente para ele. – Fique parada – sussurrou Max. Ela obedeceu. – Eu poderia passar a noite inteira olhando para você. – As palavras dele fizeram Cara abrir os olhos. A expressão de Max estava determinada quando suas mãos se moveram pelas coxas dela, por cima da renda branca da calcinha. Ele tinha olhos verdes lindos, um queixo forte, um nariz esculpido e lábios que eram pura magia. Toda mulher de Washington sentia atração por Max. Entretanto, ele a observava com reverência. Os dedos de Max mergulharam por baixo da calcinha, encontrando a pele lisa e sensível. Cara se arqueou novamente, fechando os olhos e cerrando os punhos involuntariamente. Sentiu a boca dele cobrir seu mamilo, sugando-o e lambendo a ponta. Ela gemeu de prazer, segurando com força o cabelo escuro de Max. As coxas de Cara se abriram, prontas para o toque dele. – Max, por favor. Ele beijou os lábios dela, mergulhando fundo com a língua. Sem interromper o beijo erótico, Max tirou a calcinha de Cara. Chutou a própria calça para longe. Então, já estava sobre ela, pressionando-a com seu peso contra o carpete. Ela massageou as costas dele, o traseiro, abrindo mais as coxas, urgindo-o a penetrá-la. Max se apoiou nos cotovelos, afastando o bagunçado cabelo do rosto, fixando seu olhar. – Não existe mais ninguém no mundo – disse ele. – Ninguém. 55


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Ele foi rápido ao pôr o preservativo. Então, beijou-a, flexionando os quadris. O corpo de Cara o acolheu. Suas pernas o envolveram. Não havia mais ninguém no mundo para ela também. Ela não conseguia imaginar aqueles sentimentos, aquela conexão surgindo mais do que uma vez numa vida inteira. Aquela noite era preciosa. Nela, Max seria dela. Cara o envolveu com seu corpo e o abraçou com força. A larga mão dele encontrou a base das costas dela, erguendo-a, segurando-a contra si, lançando ondas de prazer a cada parte do corpo de Cara. Cara berrou o nome dele, e Max a beijou com força, profundamente. O corpo dela se curvou, e seu mundo explodiu por vezes sem fim. A respiração de Max estava arfante em seu ouvido. Ele firmou sua pegada, rolando os dois cuidadosamente para que ela ficasse por cima. O fogo estalou ao lado deles. – Isso foi… – começou ela. Contudo, não soube o que dizer depois disso. – Foi – concordou Max. – Foi mesmo.

A alvorada tingia o céu de rosa. Na cama king size do segundo andar, Max ainda abraçava Cara. Ela estava adormecida, seu corpo nu curvado diante do dele, e ele não queria incomodá-la. Estavam bem aquecidos debaixo das cobertas. O fogo, porém, apagara-se horas antes, e a villa estava esfriando rapidamente. O frio era como a realidade. Eles podiam afastá-lo durante algum tempo, mas, eventualmente, precisariam enfrentá-lo. Cara se mexeu, o movimento lançando uma nova onda de desejo pelo corpo de Max. – Já está de manhã? – perguntou ela. – Quase. – Ele cedeu ao impulso e pressionou os lábios na nuca de Cara. – Obrigada por ontem. Por ter ficado comigo. Pelo fogo, pelo chá, pelo mingau. Por saber o que fazer e como fazer. – Ouço muito isso. O que fazer… – Ele segurou a curva do seio dela. – Como fazer. Ela prendeu a mão dele. – Eu ia dizer que você tinha sido um cavaleiro de armadura reluzente. – E você é a donzela em apuros? Eu gostaria disso. – Você está estragando tudo, sir Max. Ele se mexeu para que ela rolasse de barriga para cima e ele pudesse olhar seu rosto. – E você não poderia estar se saindo melhor, bela Cara. Ela balançou a cabeça, mas estava claramente contendo um sorriso. – Quero que me chame de sir Max outra vez. Aquilo lhe rendeu um fraco soco no ombro. Max riu e a envolveu nos braços, rolando novamente para que ela ficasse 56


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totalmente em cima dele. – Você precisa falar sério. – Sem problema. – Ele segurou o rosto dela, urgindo-a à frente, beijando-a. Ela resistiu no início, mas, em poucos segundos, estava reagindo ao beijo. Seu corpo se moldou ao dele. A paixão percorreu todo o corpo de Max, despertando-o. Suas mãos estavam ávidas para explorar e deslizaram pelos ombros dela, descendo até o traseiro, a junção das coxas e… Ela gemeou. Max ficou parado. – Cedo demais? Está sensível? – Não. Bem, sim. Mas não o suficiente para… Ele lutou para se manter imóvel enquanto Cara se decidia. Ela estava molhada, ardente e doce, e Max não conseguiria se conter por muito tempo. Cara recuou lentamente alguns centímetros. – Max? – Sim? – Você precisa me prometer uma coisa. Qualquer coisa. – Agora? – É que… Ele mexeu a mão, e Cara arfou. – Bom ou ruim? – perguntou ele. Os olhos dela se fecharam, e sua boca se abriu enquanto ela se arqueava na direção da mão dele. Max entenderia que isso queria dizer que estava bom. Seu corpo assumiu o comando, a boca e as mãos vagando por Cara. Ele se acomodou entre as pernas dela. Ela pôs a mão entre eles, as pontas dos dedos se fechando em torno de Max, guiando-o. – Preservativo – conseguiu dizer ele quando teve um pouco de sanidade. Mas ela continuou: – Está tudo bem. Está bom. Tão bom – gemeu. O calor dela o engoliu, e não havia mais volta. Ele lutou para conter seu ritmo, sua mente lhe dizendo para ir devagar, ao passo que seu corpo lutava para galopar adiante. Eles se encaixavam perfeitamente, um ritmo perfeito, e Cara sussurrava o nome dele enquanto Max beijava o pescoço dela. As costas dela se curvaram, seu pescoço se esticou, e seus quadris se ergueram na direção dele. A paixão ferveu no corpo de Max. Ele grunhiu o nome dela e sentiu o corpo ardente e úmido se contorcer em torno do dele. Max, então, atingiu o clímax. 57


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Ele inspirou fundo várias vezes, sentindo seus membros como se fossem gelatina. E concluiu que devia estar ficando velho, pois não deveria levar tanto tempo para se recuperar do ato de amor. – Max? – Estou esmagando você? Ela balançou a cabeça. – Não se mexa. – Certo. – Está bom. – Está ótimo. – Ele se sentia como se tivesse sido entorpecido de uma forma boa, de uma forma que o deixasse instantaneamente viciado. – Você precisa prometer uma coisa. Sim, ele a interrompera antes. Claramente, era algo importante. – Para o presidente? – Para mim. Max se ergueu sobre os cotovelos. – Para você? Qualquer coisa. – Ele falava sério. Ao inferno com o procedimento, com o protocolo, com as leis. Se Cara precisasse de alguma coisa dele, ele moveria o céu e a terra para realizá-la. Ela desviou o olhar. – Quando chegarem aqui… Quando fomos resgatados e voltarmos a Washington… – Não vou contar nada a ninguém – jurou ele. O que acontecera entre eles fora pessoal e particular. – Preciso que você fique longe de mim. Ele não gostou daquilo. Mas compreendia. – Sei como você se sente – começou ele. Cara, porém, levou um dedo aos lábios dele. – Estou falando sério, Max. Você precisa ficar longe de mim, completamente longe. Não tenho força suficiente para resistir a você. Você vai vencer. E isso vai ser muito ruim para mim. – Não há motivos que nos impeçam de sermos ao menos amigos. Ela baixou o olhar para os corpos nus deles. – Não podemos ser amigos, Max. Ele se sentiu como se tivesse levado um soco. Não estava pronto para dizer que esperaria quatro anos por ela. Contudo, também não estava pronto para dizer que não esperaria. – Prometa – pressionou ela, olhando nos olhos dele. – Chega de aparecer no meu apartamento, de me procurar em eventos, de esquecer seu relógio. – Não. – De jeito nenhum, impossível. Cara tinha direito a ter seu ponto de vista, mas ele tinha direito de argumentar. 58


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A umidade surgiu nos olhos dela, e Max se sentiu o maior canalha do mundo. – Você tem que me deixar tentar. – Havia um tom de súplica na voz dele. Ela piscou. – Se você tentar, vou me magoar. – Não vou magoar você, Cara. – Ele se flagrou a abraçá-la novamente, a voz tremendo de emoção. – Juro que não vou. O tom dela veio embargado: – Fique longe, Max. Se você se importa comigo, fique longe. Max sentiu um bloco de gelo se assentar dentro de seu peito. Jurara que faria qualquer coisa por Cara. E fora aquilo que ela lhe pedira. Sendo assim, seria o que ele faria. Por ela. Ainda que isso o matasse.

CAPÍTULO SETE

As motos de neve haviam chegado no meio da manhã para resgatá-los. Algumas pessoas tinham apontado para Max quando ele desmontara do veículo e tirara o capacete. Cara, no entanto, estava do outro lado do estacionamento, com outro integrante da equipe de resgate, e parecia que ninguém percebera que eles estavam juntos. Felizmente, ela logo ficara sabendo que ninguém morrera e todos os feridos se recuperariam. Ela se encontrara com Gillian no saguão do hotel e ficara sabendo que Jake levaria Max para cobrir o incidente da avalanche. Cara, por sua vez, precisava voltar a Washington. Elas, assim, fizeram as malas e foram para o aeroporto. Não havia motivo para que ela permanecesse mais tempo em Fields. Contudo, quando Cara subiu a escada para o avião de Gillian, ela se sentiu como se estivesse deixando algo precioso para trás. Sabia que sua mente estava lhe pregando peças. O que ela estava deixando ali era a fantasia de que Max seria um marido e um pai perfeitos. A realidade era muito diferente, e Cara precisaria aceitar isso. Ela entrou e inspirou o cheiro de couro novo. Os poucos assentos brancos mais pareciam poltronas de uma sala de estar do que um avião, com os pares uns de frente para os outros com uma mesa de madeira polida entre eles. Mais para o fundo, havia um sofá diante de um centro de entretenimento. Cara foi até um dos luxuosos assentos da metade anterior da cabine. O copiloto já pegara sua bagagem, e ela pôs a bolsa ao lado da poltrona ao se sentar. – Você virou bilionária sem que eu soubesse? – perguntou ela a sua irmã. Gillian sorriu da porta. – Ainda não. – Então, virou-se para falar com o piloto, a voz baixa demais para que Cara ouvisse. 59


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– Ainda? – perguntou Cara quando Gillian veio em sua direção. – Talvez um dia. Dependendo de como as coisas forem na Índia – disse ela ao se sentar diante de Cara. A porta do avião se fechou. Cara sempre considerara sua irmã um gênio. E sabia fazia tempo que a empresa de Gillian crescia desenfreadamente. – Está com sede? – perguntou Gillian. – Não muita. Cara pôs o cinto de segurança enquanto o avião começava a taxiar, indo para a pista. – Devíamos falar de Max. – Não quero falar dele. – Acho que ouvi um barulho em plena madruga. – Está falando da avalanche? – De você caindo de joelhos. – De joelhos? – Por Max. Cara gaguejou, e Gillian riu dela. – Vou entender isso como um sim. – Devia entender como choque. Pela audácia da sua pergunta. – Mas isso aconteceu, não? – Sim – admitiu Cara. – Graças a você. E não quero falar disso. – Por que não? – Porque estou tentando não pensar nisso. – Está funcionando? – Não muito. Gillian baixou a voz, sua expressão se abrandando. – Desculpe por ter deixado você lá. – Por que você me deixou? – Eu estava com fome – admitiu Gillian envergonhadamente. – Jake pareceu ser um cara decente. Eu não esperava a teleconferência. E, sem dúvida, não esperava uma avalanche. – Você achou que voltaria antes que Max conseguisse me seduzir? – Achei. Não contava com a hipótese de vocês correrem para a cama assim que saíssemos. – Não foi assim que aconteceu. – Não diga. – Eu aguentei por um tempo. Mas ele praticamente salvou a minha vida. Quero dizer, ele provavelmente teria salvado a minha vida. Se a avalanche tivesse atingido a 60


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villa e o telhado tivesse cedido. – A memória de Cara se voltou para aqueles momentos em que ela pensara que eles poderiam morrer, para a sensação do corpo de Max abrigando o dela, sua força, sua genialidade. O avião disparou pelo asfalto, decolando para, em seguida, contornar os picos das montanhas. – Como aconteceu? – perguntou Gillian. Cara franziu o cenho. – Acho que você quer que tenhamos mais intimidade do que irmãs deveriam ter. – Sempre fomos mais íntimas do que irmãs costumam ser. Era verdade. – Quer saber que posições usamos e o que ele sussurrou no meu ouvido? Gillian respondeu com um sorriso largo. – Quero saber o que você estava pensando no instante antes de dizer sim e tirar a roupa. – Eu estava pensando não, não, não, não, não. – Claramente, deu certo. – Eu estava criando um argumento racional e lógico dentro da minha cabeça para não encostar nele. – E? – E ele me disse que eu estava pensando demais. – E estava? – Sempre estou. Não tem nada de errado nisso. Geralmente, tomamos decisões muito melhores quando pensamos demais. – Então, o que aconteceu? – Ele me beijou. – Simplesmente beijou você? – Simplesmente me beijou. Não expôs um contra-argumento. – Cara estremeceu ao se lembrar. – E foi isso. Quando dei por mim, já estava nua. Gillian riu. – Desculpe. Sei que não tem graça. Mas estou adorando o fato de a minha irmã friamente lógica, contida e controlada ter sido dominada por uma paixão inadequada. Cara a olhou, irritada. – Eu não adorei nem um pouco – mentiu ela. – Foi ruim? – Não. – Cara não conseguiria mentir a respeito daquilo. – Bom? – Demais. – Nada de “os dez mais”. Max devia ser o melhor homem que existia, e o paraíso devia ser como aqueles momentos nos braços dele. – E agora?

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– Agora, nada. Acabou. – Você terminou com ele? – Não havia nada para terminar. Mas eu o fiz prometer que ficaria longe de mim. Ele tem princípios. Vai cumprir a promessa. Gillian ficou em silêncio durante um longo tempo. – Acha que isso foi uma ideia inteligente? – Brilhante. – Cara confiava mais em Max que em si mesma. – Mas o que você vai fazer quando a gravidez começar a ficar visível? Washington é uma cidade bem pequena. Max vai ficar sabendo que você está grávida. – Tenho um plano. – Ah, conte! – Vou pedir uma transferência para uma de nossas embaixadas no estrangeiro. Talvez na Austrália, no Canadá ou na Inglaterra. – Ela olhou de forma exagerada pelo interior do avião. – E você pode me visitar quando quiser. – Eles vão aceitar essa transferência? – Espero que sim. – E se não aceitarem? – Vão aceitar. – Cara… – Não preciso de outros planos. Gillian abriu a boca, mas Cara não a deixou falar. – Eu não sou você – disse ela. – E eu não estou grávida – retrucou Gillian. – Sério? Vai mesmo apelar para isso? – Só estou dizendo que você também estava esperando que os métodos contraceptivos fossem funcionar. Se a sua irmã mais velha não pode dizer a verdade a você, quem pode? – Essa não é a verdade. É a sua visão paranoica do mundo. – Se não conseguirmos entrar no mercado indiano, vamos tentar o brasileiro. – De qualquer maneira, você se torna bilionária. – Exatamente. – E essa é a sua metáfora para um bom plano de contingência? – É. Você não pode improvisar tudo. Eu já tenho funcionários na América do Sul. Tenho uma dúzia de consultores trabalhando desde o Chile até a Colômbia. Mas, para a sua situação, um bom planejamento diria que você precisa deixar Max sabendo que você não esteve só com ele. E imediatamente, antes que algum sinal da gravidez surja. – Simplesmente ligar para ele? – Ela sabia que jamais conseguiria fazer aquilo. – Pode ser um pouco mais sutil que isso. – Ele saberia que eu estaria mentindo.

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– Como? – Porque nunca consigo mentir de cara lavada. – Hmm… Certo, então, eu minto por você. Cara zombou da ideia. – Acho que já ultrapassamos outra vez os limites do que significa sermos irmãs. – Eu faria qualquer coisa por você. – Dirá a Max que eu andei dormindo com outros homens? – Por favor. Sou melhor do que isso. Não vou dizer a Max. Vou dizer a Jake. Cara piscou lentamente, perplexa. – Jake? – Ele gostou de mim. Ou ao menos se sentiu atraído por mim. Sem dúvida, estava flertando comigo. Cara não tinha dúvida daquilo. – Não acha que vai parecer suspeito se você ligar para ele para falar da minha vida sexual? – A ideia era tão absurda que Cara não sabia se ria ou se gritava. – Ele vai me ligar. – O quê? Quando? Espere. Você dormiu com Jake? – Não. Acabei de conhecer o homem. – Mas ele passou a noite na sua suíte. – Onde mais ele ficaria? Os hotéis estavam totalmente lotados, e a villa dele tinha sido atingida por uma avalanche. Cara ergueu uma das sobrancelhas. – Ouça, mocinha. – Gillian balançou o dedo, censurando-a de forma fingida. – Era uma suíte grande, e eu me comportei. – Você gostou dele? – Não sei. Acho que sim. Ele é um tanto quanto bonito e engraçado. Tem um grande senso de ironia. Fazia muito tempo que um homem ignorava completamente o meu dinheiro. – Ele não percebeu a suíte de 3 mil dólares de diária? – Se percebeu, não disse nada. Mas voltemos a você. Tudo que preciso fazer é falar para Jake que estou em Washington. Ele vai tentar me convencer a sair para um drinque e pronto. – Pronto? Entre martínis, você vai começar a falar da vida sexual da sua irmã? – Fácil, fácil. – Não – disse Cara, convicta. – Você não precisa fazer nada. – Não. – Tem certeza? – Absoluta. – Tinha mesmo. Mais ou menos, ou melhor, talvez. 63


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Ela não podia negar que seria útil Max pensar que outro homem era o pai. Contudo, Cara não queria deixar que ele pensasse que ela o traíra. Por outro lado, eles só tinham saído casualmente, nunca haviam combinado nada. Talvez ele já pensasse que ela saísse com outros homens. Talvez ele tivesse saído com outra mulher. Cara engoliu em seco. Sabia que não devia se importar. Entretanto, ela se importava muito.

– Seus instintos são os melhores. – A antiga chefe de Max, Marnie Salloway, apertou o botão no controle remoto, parando a matéria da avalanche de Fields. Max não trabalhava com a mulher fazia anos. No entanto, atendeu o pedido dela por uma reunião. Queria olhá-la nos olhos e fazer algumas perguntas. – Lugar certo, hora certa – disse Max. – Junto com as aulas de snowboarding, você parece o perfeito homem americano. – Nem um pouco. Marnie sorriu. – E fica muito bonito assim. – Está flertando comigo? Ela era ao menos dez anos mais velha que Max. Ele já fora o objeto da atenção dela e não tinha a menor vontade de repetir a experiência. E também esperava pegá-la em flagrante. Se Liam Fisher tivesse razão e o ANS estivesse violando a lei para conseguir informações do escândalo de Ariella Winthrop, Marnie estaria no centro de tudo. – De jeito nenhum. Só estou dizendo o que nós dois sabemos. Você é um astro, Max. Se bem que, agora que estamos falando disso, acho que você já chegou ao máximo que poderia chegar na NCN. Quando vai pensar em fazer parte de um canal de verdade? – A NCN está ótima para mim. – De acordo com os últimos índices de audiência, não. Mas o seu programa está indo bem. – E é com isso que eu mais me preocupo. Marnie se sentou mais à frente na cadeira, suas unhas vermelhas contrastando com seu cabelo de tonalidade um tanto quanto alaranjada. – Não estou falando de como o seu programa está agora. Estou falando do que você poderia fazer daqui em diante. Nosso orçamento é maior. Temos mais telespectadores. E estaríamos dispostos a dar a você algumas responsabilidades de produtor. Pense nisso, Max. Você poderia influenciar a direção das suas matérias e do seu programa. – Estou feliz com o orçamento e a direção do meu programa. – Quer que eu melhore a oferta? Max não respondeu, querendo saber até onde ela iria, quanto revelaria. – Tenho uma gaveta cheia de matérias quentes, coisas que mais ninguém sabe.

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– Conte mais – incentivou ele. – O que o ANS tem que outros não têm? – Habilidades investigativas superiores. – Você as usou na matéria de Ariella Winthrop, Marnie? Como exatamente conseguiram isso? A suspeita surgiu nos olhos azuis dela. – Como vou saber se você pode conseguir mais? – persistiu ele, tentando não deixá-la perceber seu objetivo. Ela ficou hesitante. – Está me dizendo que já está pronto para mudar de emissora? – Estou disposto a pensar nisso. Como você conseguiu? – Lugar certo, hora certa – disse ela levemente. Ele viu triunfo e orgulho nos olhos dela. Max apostaria que o ANS fizera algo ilegal e que Marnie estivera por trás de tudo. – Qualquer um pode dar sorte uma vez. – O ANS dá sorte muito mais do que uma vez. – E eu conseguiria me aproveitar dessa sorte? – Sem dúvida. Depois de um momento de silêncio, Max percebeu que não conseguiria ficar sabendo de mais nada naquele dia. – Pode me dar uns dias para pensar? A cautela retornou à expressão dela. – Não demore demais. Ele se levantou. – Obrigado por ter me convidado para esta reunião, Marnie. Ela também ficou de pé. – Obrigada por ter pensado no ANS. – Só tenho pensando em vocês. Marnie sorriu, e Max teve certeza de que ela não compreendia a ironia. Ele saiu do edifício, sabendo que Jake estava esperando a dois quarteirões dali, no Rene’s Café. Seu celular tocou. Era a chefe dele no NCN, a produtora Nadine Clarke. – Alô. – O que essa história que fiquei sabendo de uma reunião sua com Marnie Salloway? – Está de brincadeira? Não faz nem três minutos que isso aconteceu! – Somos uma rede de notícias. As pessoas adoram vazar informações para mim. – Estou impressionado. – Tenho algo com que me preocupar?

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– Nada. – Ótimo. Preciso que você vá a Los Angeles. O presidente está indo para a Cúpula Econômica do Pacífico daqui a dois dias, e preciso que você continue nessa matéria. Vamos fazer um programa remoto de Los Angeles, só ainda não sei como. – Eu queria falar com você a respeito disso. Não sei bem se o presidente devia ser o verdadeiro foco da matéria. – É mesmo? – Acho que devíamos procurar saber como o ANS descobriu essa história. – E eu acho que devíamos procurar saber como o NCN vai encerrar essa história. E, já que eu sou produtora, vamos tentar do meu jeito, sim? – Você nem quer saber o motivo? – Max, você já me convenceu a contratar Liam. Imagino que, um dia, ele vá nos mostrar por quê. – Liam precisa de ajuda. – Ele está indo bem por enquanto. Mas você pode me contar mais depois que voltar de Los Angeles. – Sim, chefe – disse Max lentamente. – É assim que eu gosto. – Houve uma ligeira pausa. – A menos, claro, que você esteja mesmo pensando em aceitar uma proposta do ANS. Nesse caso, vamos jantar para que eu possa massagear o seu ego e lhe oferecer um aumento. – Não precisa. – Ótimo. Seu voo sai às 9h.

Com o telefone na orelha, Lynn gesticulou para que Cara entrasse em seu escritório. – Sem novas informações, é difícil evitar as especulações – disse Lynn ao telefone. Sandy, colega de trabalho de Cara, entrou atrás dela no escritório, pondo uma pilha de papéis na mesa de Lynn. – The Morning News – disse Sandy. – The Night Show, D.C. Beat e Hello Virginia. Todos querem o presidente. Lynn desligou o telefone. – Ninguém vai tê-lo. – O pessoal do Hello Virginia prometeu ser bonzinho e deixá-lo contar a versão dele da história. – Duvido – disse Lynn a Sandy. Cara concordou com sua chefe. No instante em que o Hello Virginia conseguisse pôr o presidente diante de um microfone, eles o bombardeariam com todas as perguntas constrangedoras possíveis. – Precisamos de você na viagem, Cara – falou Lynn. – Que viagem? – perguntou Cara, sentando-se. 66


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– A Cúpula Econômica do Pacífico, em Los Angeles. Cara ficou surpresa. Era uma missão para funcionários do alto escalão. – Você não vai? Ela percebeu a expressão irritada de Sandy quando a mulher saiu da sala, mas se forçou a deixar aquilo de lado. Se fosse inveja, Sandy teria que aguentar. Quem definia o cronograma eram Barry e Lynn, mais ninguém. – Não vou – confirmou Lynn. – Barry quer que eu fique. E ficou impressionado com a maneira como você lidou com o problema no baile. – Só fiz o que você me ensinou. – Bem, você chamou a atenção de Barry, e o presidente ficou sabendo que você se saiu muito bem. – Sério? – Sim. – Sério mesmo? – Não fique tão chocada. Você vai precisar ir para Los Angeles alguns dias antes. Amanhã seria o ideal. A equipe de segurança já está lá. – Pode apostar. – Vou mandar a lista de eventos por e-mail para você. Os discursos dele estão sendo editados, mas vamos pôr alguns pontos para cobrir as perguntas de última hora. Barry vai tentar mantê-lo longe da imprensa, mas alguém talvez ponha um microfone na frente dele. – Pode deixar. – Então, é você quem vai lidar com a maioria das perguntas informais. – Eu?! – Não podemos entregar o presidente a eles. – Mas… – Você vai se sair bem. – Nunca fiz nada de improviso para o presidente. – Cara não estava pronta para aquilo. – E o que foi aquilo no baile inaugural? – Uma emergência. – E você foi ótima. – Eu… hã… fico lisonjeada, claro. – É uma oportunidade de ouro, Cara. – E se eu estragar tudo? – Eu colocaria você numa situação dessa? Com a hesitação de Cara, Lynn respondeu a própria pergunta. – Não colocaria. O presidente quer você em Los Angeles. Barry acredita em você. Eu também acredito. Não sabote a si mesma. – Não vou fazer isso – jurou Cara, e se levantou. 67


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– Ponha vestidos na mala. Vai haver algumas festas.

CAPÍTULO OITO

Às 7h da manhã, Cara corria no calçadão de Santa Monica. As ondas batiam ritmicamente na areia, enquanto o trânsito começava a aumentar. A equipe do presidente estava concentrada no hotel Jade Bay, onde as reuniões comerciais de alto nível ocorreriam. O presidente iria a três almoços, dois jantares e a uma festa final após uma declaração conjunta formal dos participantes a respeito dos resultados da reunião de cúpula. O celular de Cara tocou em sua cintura. Não era um número que ela reconhecesse. – Sim? – arfou ela. – Cara? – Ari… – Ela parou, evitando dizer o nome de Ariella por completo. – Sou eu. – Você está bem? Onde está? Não. Espere. Não responda. – Estou em Seattle. Ao se aproximar do píer, Cara passou a caminhar. – Eu disse para não responder. A voz de Ariella ficou melancólica. – Não vou ficar aqui por muito tempo. Pensei que fosse ser um lugar mais ermo. Você sabe, árvores e montanhas, talvez uma cabana de toras de madeira ao lado de um riacho. Já tendo visitado sua irmã em Seattle, Cara não conseguiu deixar de sorrir. – A cidade é imensa – disse Ariella. – Tem tanta gente! – Mais de meio milhão. Está tudo bem? – Estou ficando com medo. – De quê? – De ser encontrada, reconhecida. Passo o máximo de tempo possível no hotel. Mas, quando saio, as pessoas me olham como se me conhecessem, ainda que não consigam me identificar. – Imagino que você tenha visto as matérias na TV. – Tenho. A coisa está feia, não? – A oposição está pedindo a renúncia do presidente. Mas não há motivo para isso. O pior é que ele vem caindo nas pesquisas de popularidade. – Não estou ajudando, não é? 68


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– Não é culpa sua. – Mas quero ajudar. Admiro o presidente. O que posso fazer? – Quer que eu responda como especialista em relações públicas do presidente ou como sua amiga? – O que posso fazer para ajudar o presidente? Cara inspirou fundo, desabando num banco embaixo de uma palmeira. – O teste de DNA. Ariella ficou em silêncio por um instante. – Acho que eu sabia que essa seria a sua resposta. – É o melhor para o presidente. Vou ser honesta com você. Precisamos acabar com a incerteza. Ironicamente, seja qual for o resultado, o assunto ficaria menos polêmico. – Entendo. – Sinto muito. Ariella soltou uma risada leve. – Também não é culpa sua. Mais alguma coisa? – Como assim? – Mais algo que eu possa fazer? Achei que me esconder seria o melhor. Mas percebi que era uma ideia egoísta. Deixei todos vocês se virarem sozinhos. – Sou paga para isso. – E aquele cara? – Quem? – Max Gray. Ele me ajudou a fugir na noite depois do baile. O coração de Cara deu um salto quando ela ouviu o nome de Max. – Fiquei sabendo disso – disse ela. – Todos os canais não param de mostrar as mesmas gravações. O presidente chocado quando aquele tal Mitch, uma pessoa horrível, fez o brinde. Eu estava pensando que, se eu fosse ao programa de Max e desse uma nova declaração, isso poderia desviar um pouco a atenção do presidente. – Não é uma boa ideia, Ariella. – Max e a NCN, como qualquer rede de notícias, agiriam em nome dos próprios interesses para conseguir a matéria. – Você está falando como minha amiga, não? Cara estava. – Você deveria virar a relações-públicas do presidente por um minuto. – Ariella… – Estou perguntando à relações-públicas. Ajudaria se eu aparecesse no programa de Max? – Seria perigoso. Pode ser bom ou ruim. – Confio em Max.

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– Eu não confio. – No momento, Cara não podia se dar o luxo de confiar em ninguém da imprensa. – Fale com Lynn. Veja o que ela acha que devo fazer. Cara sabia que era exatamente o que ela precisava fazer. Não estaria fazendo seu trabalho se não informasse à sua chefe aquela oportunidade. Contudo, ela também temia o que Lynn diria a respeito da proposta. Ela aceitaria imediatamente. – Vou falar – prometeu Cara. – E também vou ligar para minha irmã. Ela está em Seattle e pode ajudar você. – Não vou ficar aqui muito tempo. – Gillian pode ajudar. A casa dela é imensa e num lugar reservado. – Certo – concordou Ariella, um traço de alívio em sua voz. Cara desligou e se levantou. O hotel Jade Bay estava logo do outro lado da rua, e ela precisava de uma linha segura para telefonar para Lynn.

Quando o telefone de Max tocou, ele estava numa corrida de bicicleta com Jake no Parque Estadual Malibu Creek, evitando pedras e vegetação enquanto se abaixava para passar por baixo de um galho. Ele atravessou o riacho e parou, derrapando, soltando um palavrão. Jake apertou fortemente seus freios, mas passou por Max antes de dar meia-volta na bicicleta e parar. – O que foi? Max tirou o capacete e pegou o celular. – Nadine – disse a Jake. – Na pior hora, como sempre. – Oi, Nadine. – Tenho uma novidade excelente. – Bom saber – respondeu Max. Fosse o que fosse, ele estava contente por Nadine estar feliz. Quando ela estava feliz, todos também ficavam. – Acabei de falar com Lynn Larson. – Você conseguiu que o presidente vá no meu programa? – Não, o presidente, não. Acha que tenho superpoderes? Mas você vai ficar empolgado mesmo assim. Consegui Ariella. – Ariella Winthrop? – Sim. Existe alguma outra Ariella no mundo neste momento? – Pensei que ela tivesse saído da cidade. – Ela vai voltar. Ou melhor, vai para Los Angeles. – Como você sabe disso? – Lynn Larson? Eu já não falei? – Não entendi. 70


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A julgar pela expressão de Jake, ele estava igualmente confuso. – Não sei o que você fez, Max, mas a própria Ariella pediu para aparecer no seu programa. Há restrições, claro. Mas nada que não possamos suportar. Será um segmento curto, mas que furo de reportagem! E Caroline Cranshaw também vai. O estômago de Max se contraiu. – Cara? Nadine não pareceu ouvir. – Imagino que Caroline vá ficar controlando tudo, para não arrancarmos informações demais de Ariella, mas… – Cara Cranshaw, da Casa Branca, concordou em aparecer no meu programa? – Max olhou nos olhos de Jake, que já sabia tudo sobre o relacionamento de Max com Cara. – Ela já está em Los Angeles. Lynn vai telefonar para avisar a ela. Depois resolveremos os detalhes. Parecia que Cara ainda não sabia daquilo. Max mal podia imaginar como ela reagiria. – Só estou avisando – disse Nadine. – Agradeço. – Que horas são aí? – Quase 19h. – São 22h aqui. Provavelmente, não vou mais receber nenhuma informação hoje. Então, falo com você amanhã. – Sim, amanhã – repetiu Max, e desligou. – Quer me contar tudo? – perguntou Jake. – Por que Ariella apareceria? – refletiu Max. – Achei que você respeitaria uma certa distância com relação a Cara. – Também achei. Talvez a chefe dela ainda não tenha falado com ela. Mas teremos Cara e Ariella no programa que faremos no Grauman’s Chinese Theatre. Parece que Cara já está em Los Angeles. – E a irmã dela? – Esqueça a irmã dela. Gillian é inteligente, linda e podre de rica. Pode conseguir qualquer homem do mundo. – Eu sou um homem. E estou no mundo. Minhas chances são tão boas quanto as de qualquer outro. – Não são, não. A mulher tem um mestrado do MIT. Anda com a nata do comércio internacional. Eles têm aviões particulares, iates ancorados no sul da França, hotéis e chefes de cozinha particulares. – Não gosto de me gabar, mas me formei pela Academia de Filme Digital de Stony Hills. – Já vi seu currículo. Também vi seu apartamento, e sei sobre a sua condição. Esqueça Gillian. Volte para Jessica.

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– Jessica é passado. Já me disseram que sou bom de cama. – Quem? Mulheres que você pagou para irem até ela? – Detalhe. Max sorriu. – Quantos quilômetros até o estacionamento? – Onze – disse Jake. – Depois, amigo, é hora da cerveja. – O bar do hotel Jade Bay? Jake riu. – Você está mesmo apaixonado. – Quero ver o que me espera. – O que espera você é Cara. Ao menos já foi assim no passado. Mas não mais. Max subiu a colina de uma só vez, desejando que sua pulsação expulsasse de sua mente as lembranças. Cumprir a promessa feita a Cara já era suficientemente difícil com ela do outro lado do país. Trabalhar com ela num programa tornaria isso impossível.

Irritada e determinada, Cara avistou Max do outro lado do bar aberto do hotel. Pequenas lâmpadas brancas reluziam nas árvores, enquanto homens de terno e mulheres de vestido desfrutavam um drinque noturno. Max estava sentado no bar, de costas para ela, e os bancos de ambos os lados dele estavam vazios. Ele trajava uma camisa branca, com as mangas arregaçadas até o meio dos antebraços. Ele usava uma calça social preta e sapatos casuais. Um copo comprido e elegante de cerveja estava na bancada diante dele. Cara voltava de um jantar de negócios com seus colegas da Casa Branca num quarto particular no último andar de um hotel próximo. A orientação de Lynn fora clara: a NCN queria Ariella, e também Cara. E a Casa Branca se aproveitaria dessa oportunidade. Tomando cuidado para manter sua dignidade com seu vestido curto preto, Cara se sentou no banco do bar ao lado de Max. – É assim que você tenta contornar a promessa que me fez? – perguntou ela, sem rodeios. – Conseguindo me fazer ir ao seu programa? Max se virou, não mostrando nenhuma surpresa por vê-la em Los Angeles. – Não foi ideia minha. – Claro que não. O barman apareceu diante dela. – Suco de laranja, por favor. – Sua chefe ligou para a minha e ofereceu Ariella. O que queria que fizéssemos? – E você me acrescentou ao acordo – acusou Cara, pegando uma amêndoa do pequeno prato sobre a bancada. Apesar de ter acabado de comer peito de frango, legumes grelhados e arroz, ela sentia-se faminta. Max girou para ficar de frente para ela. – Quando eu quiser você, Cara, irei atrás de você. Não vou aparecer 72


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sorrateiramente pelas suas costas. – Não acredito em você. – Aquilo só podia ser mais do que uma coincidência. – Não? Cara não conseguiu responder. Até onde ela sabia, Max jamais mentira para ela. E estava parecendo sincero. – Não podemos fazer isso, Max. – Havia um tremor rouco na voz dela. Até aquele momento, Cara não percebera como sentira saudade dele. A vida perdera a cor desde que eles haviam se separado. Sentada ali, tão perto dele, ela sentia dificuldade de não tocá-lo, beijá-lo. – Somos profissionais – rebateu ele, seus olhos verdes escurecendo. Por um instante, ela se esqueceu de respirar. O garçom pôs um copo de suco de laranja sobre a bancada. – Oi, Cara. – A voz de Jake interrompeu o momento. Ela ergueu o olhar quando Jake se acomodou no banco do outro lado de Max. – Oi, Jake. Não sabia que você estava aqui. Jake pegou um punhado de amêndoas. – Não ouso ficar longe deste homem. Ele atrai matérias. Cara não podia discordar. Max estava a quase 5 mil km de Washington, e Ariella estava prestes a lhe ser entregue de bandeja. – Ouvi dizer que a NCN conseguiu um furo de reportagem – disse ela a Jake. Ele sorriu. – Como vai a sua irmã? Max lançou um olhar macabro para Jake. – O que foi? – perguntou Jake com uma inocência fingida. – Podemos deixar Gillian fora disso? – perguntou Max. – Ela está bem – disse Cara, vendo que sua irmã tivera razão ao dizer que Jake se interessara. – Já jantou? – perguntou Jake. Estava na ponta da língua dela admitir que sim, mas seu estômago roncou. – Eu comeria – confessou Cara. Jake se levantou. – Vamos pegar uma mesa. – Você não vai usar o jantar como desculpa para conseguir informações sobre ela – avisou Max. – Gillian vem para cá – disse Cara. Jake parou imediatamente. – Oi? Até Max pareceu interessado naquilo. – Ela vai trazer Ariella de Seattle no avião dela. 73


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– Seattle – refletiu Max. – Não é um mau lugar para se esconder. – Quando ela chega? – perguntou Jake. Max balançou a cabeça. Gesticulou para um garçom, pedindo uma mesa. – Amanhã à noite – respondeu Cara, seguindo Max pelo pátio. Jake caminhou ao lado dela. – Apoio moral? – perguntou ele. Cara o olhou curiosamente. – Como assim? – Eu sei de você e Max. Ela ficou sem palavras. – Tentando não se agarrar – concluiu Jake. – O quê?! – conseguiu dizer ela. Max parou ao lado de uma mesa redonda, virou-se e puxou uma cadeira para Cara. – Você contou a ele? – exigiu saber ela, recusando-se a se sentar. – Sou confiável – interveio Jake. – É melhor que ele nos dê cobertura do que ficar xeretando. – Você jurou que não contaria a ninguém. – Você contou a Gillian? – Sim, mas… – Era diferente. Gillian era irmã dela, intensamente leal. – É diferente. – Como? – Ela é minha irmã. – Já pus minha vida nas mãos de Jake mais de uma vez. – E eu pus a minha nas dele – falou Jake. Cara se virou para olhar para Jake. Apesar de sua raiva, ela estava triste por ter sido posta numa posição em que o insultara. Ele sempre lhe parecera um homem perfeitamente decente, e nada daquilo era culpa dele. – Pode confiar em mim – disse a ela, a sinceridade nas profundezas de seus olhos de tom acinzentado. – Você devia se sentar e comer alguma coisa. Algo dizia para Cara confiar nele. Claramente, Max confiava. Ela se sentou. Uma fração de segundo depois, o garçom reapareceu, pondo um guardanapo de linho sobre o colo dela com um floreio. Max e Jake se sentaram, um de cada lado dela. – Vinho? – perguntou Max, pegando a carta de couro verde-escuro. Outro garçom chegou com os drinques que eles haviam deixado no bar. – Acho que vou ficar com o suco mesmo – respondeu ela, erguendo o copo e dando um gole.

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– Tem medo de perder o controle perto de mim? – provocou Max. – Sim. A resposta dela pareceu pegá-lo desprevenido, e eles se entreolharam. Jake olhou de um para o outro, baixando a voz: – Só para eu saber. Vocês querem que eu acoberte o que aconteceu em Montana ou que eu impeça que aconteça novamente? – Estamos bem – disse Max, mas, no mesmo instante, seu joelho roçou no de Cara. Um tremor passou pela coxa dela, assentando-se em seu centro feminino. Ela sabia que precisava recuar, interromper a conexão. Mas não conseguia. – Tem certeza? Porque posso ficar de guarda na porta do quarto. Max franziu o cenho para seu amigo. Jake sorriu. – A menos, claro, que eu consiga progredir com Gillian. Nesse caso, vocês dois vão ter que se virar sozinhos. – Vamos falar do programa – disse Max. Seu tom ficou sério, mas seus olhos ainda estavam cálidos quando se voltaram novamente para Cara. E ele manteve o joelho pressionado contra o dela. – Claro – guinchou ela, o que lhe rendeu um olhar curioso de Jake. – Fiquei sabendo que vamos ter dois minutos com Ariella. Vai ser tudo prégravado, três perguntas combinadas, sem desvios. – “Pode falar sobre a sua infância?” – Cara estava listando as perguntas que Lynn lhe dera. – “Sabe alguma coisa sobre seus pais biológicos?” E “você suspeita que o presidente Morrow seja seu pai?”. – Estão boas para mim – disse Max. – Eu vou estar presente para garantir que você não desvie. – Ela já vira o bastante do trabalho de Max para saber que ele tentaria pegar Ariella desprevenida conversando casualmente, criando novas filmagens para explorar depois. – Vou me comportar – jurou Max, mas algo no tom dele a deixou nervosa. Max mudou de posição, e Cara logo se lembrou de que ele continuava a tocá-la. Como fora esquecer? – Também vou precisar ver a versão editada. – Nadine concordou com isso? – Max soava cético. – Acho que Lynn negocia melhor que Nadine. Jake riu. – Uau. Eu detestaria ficar frente a frente com Lynn numa negociação. – Ela é uma força da natureza – falou Cara. – É impossível lutar contra a natureza – disse Max numa suave voz. Cara tentou recuar do toque dele, mas seus membros não estavam cooperando. Ele já estava pressionado de forma mais plena contra ela, e o corpo dela absorvia pequenos pulsos de sensação. – Nadine também quer falar da cúpula por alguns minutos e alguns clipes do 75


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presidente – disse ele. – Sobre o que ele vai falar? – Energia. – Cara lutava para manter sua voz estável. – Gás natural. E tecnologia aeroespacial e aviação, em especial. – Aviação? – falou Max para Jake. – Talvez possamos ficar sabendo de algo sobre o protótipo Stram-4000. – Vocês deviam falar com Gillian – interveio Cara sem pensar. Jake ergueu imediatamente o olhar. – Ela está trabalhando num acordo de cooperação tecnológica com a China e em outro com a Índia. Tem exatamente o tipo de empresa que vai se beneficiar desse tipo de negociação. Max e Jake se entreolharam. – Ela aceitaria? – perguntou Max. – Os acordos dela são confidenciais? – perguntou Jake. Cara não pensara naquilo. – Vamos ter que perguntar a ela. – Eu faço isso – ofereceu-se rapidamente Jake. – Posso buscá-la no aeroporto. – Então, sorriu. – Mas vocês dois precisam prometer se comportar enquanto eu estiver fora. Cara não conseguiu evitar olhar de relance para Max. Ele a olhava diretamente, seus olhos ardentes com um claro desejo. E Cara sentiu todo o impacto em seu corpo.

CAPÍTULO NOVE

– Acha que é o destino? – gritou Gillian do quarto de sua suíte no hotel Jade Bay. – Acho que é carma – respondeu Cara, indo da sala de jantar até a despensa e, em seguida, espiando o tocador. – Devo ter feito algo terrível numa vida passada. Por que você se hospeda em quartos tão gigantescos? Gillian estava no 81º andar, com uma vista panorâmica do píer de Santa Monica. Cara estava no décimo, com vista para o telhado do saguão. Gillian saiu pelas portas duplas do quarto. – Não sou eu quem faz as reservas. Acho que temos um funcionário para isso. E você não pode ter feito nada de errado. É uma pessoa incrivelmente boa. – Então, por que Max está em Los Angeles? Por que Ariella se ofereceu para ir ao programa dele? E por que eu abri minha boca grande e disse a eles que você tinha negócios com a China? – Vai ser publicidade para mim. É sempre bom. 76


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– Sendo assim, você certamente foi muito boa numa vida passada. Gillian sorriu. – Eles querem gravar sua entrevista na instalação de aviação de Manning. O protótipo do avião deles é bem moderno. – Estar grávida não é um castigo, sabia? – ressaltou Gillian. – A situação parece um castigo. – Você devia contar a ele. Cara balançou a cabeça. – Talvez ele surpreenda você. – Não vai me surpreender. – Eventualmente, ele ficará sabendo. – Ela pôs delicadamente a mão na barriga de Cara. – Este menininho, ou menininha, não vai ficar escondido para sempre. – Ainda tenho algum tempo. – Se você não vai contar a Max, precisa se afastar dele. Cara soltou uma risada sofrida. – Eu atravessei o país inteiro. – Não é esse tipo de distância. Talvez encontrar um novo namorado. Deixar claro que você está com outra pessoa. Max precisa pensar que o bebê não é dele. – Eu sei – admitiu Cara. Por ora, no entanto, ela precisava parar de pensar em problemas. – Irmã querida, você já se acostumou mesmo com todo este luxo? – Geralmente, acabo recebendo reuniões de negócios e festas de última hora. Então, ter uma mesa grande é uma vantagem. – Poderíamos fazer uma festa e tanto aqui. As áreas de estar e jantar tinham espaço suficiente para umas 40 pessoas. Somando-se ao imenso deque, esse número poderia subir para 70. – Quer fazer uma festa? – perguntou Gillian. Cara balançou a cabeça. – O presidente chegará amanhã, e terei dois jantares formais seguidos. Ultimamente também tenho me sentido muito cansada. Às 22h, já estou pronta para desabar na cama. E com fome. Juro que consigo fazer cinco refeições completas por dia. – Marquei um horário para Ariella num laboratório em Washington – disse Gillian, mudando de assunto. – Ela vai voltar para casa depois do programa para fazer o teste de DNA. Cara vira Ariella rapidamente quando elas haviam chegado ao hotel. Gillian, porém, contratara seguranças particulares, que haviam levado Ariella imediatamente para o quarto dela. – Como ela está? – perguntou Cara. – Melhor do que eu esperava. É com você que estou preocupada. Quanto mais penso nisso, mais percebo que não é bom para você ficar perto de Max. 77


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Elas se sentaram uma de frente para a outra. – Tudo parece tão complicado. Sei o que tenho que fazer, o que devia sentir. Ele é tão… não sei. Quero dizer, eu não devia desejá-lo. Não devia nem gostar dele, porque ele é tão obstinado e sarcástico… Mas é inteligente, Gilly. Engraçado. E, toda vez que ele encosta em mim, meu corpo inteiro arde. – Vocês têm…? – Não. É claro que não. Foram apenas pequenas roçadas, coisas assim. – São propositais – afirmou Gillian. – Eu sei que são – admitiu Cara. – E não me afasto. É um joguinho. – Conheço esse joguinho. Ele se chama brincar com fogo. Cara não conseguiu evitar sorrir. – Acha que é por isso que é tão sexy? Por ser proibido? – O proibido sempre nos excita. – Então, talvez não seja só com Max. Talvez eu sinta isso por qualquer homem que esteja além dos meus limites. – Talvez. – Gillian, porém, pareceu duvidar. – Cara, existe alguma chance de você estar apaixonada por ele? O estômago de Cara se contraiu. – Não. Não é isso. Não poderia ser. Apaixonar-se por Max seria um erro colossal. E, de qualquer forma, ela não o conhecia tempo suficiente para ter se apaixonado. – Gosto dele – disse ela a Gillian. – Mas não o amo. Pertencemos a mundos completamente diferentes. – Isso é bom. – É ótimo – concordou Cara prontamente. Talvez, se ela repetisse com frequência, aquilo se tornasse realidade.

Como Cara conhecia Ariella muito bem, sabia que ela estava nervosa. Contudo, para alguém distraído, Ari apenas pareceria calma e linda. Max estava sentado na poltrona diante dela, e os dois estavam cercados por diversas câmeras, cabos, luzes e membros da equipe do programa. Afastada, Cara torcia por Ariella. Ela estava sendo incrivelmente corajosa ao fazer aquilo pelo presidente. O diretor deu o sinal, e todos saíram da frente das câmeras. Max se endireitou em sua poltrona, assumindo sua expressão formal de entrevistador. – Estamos em Los Angeles com Ariella Winthrop, escondida desde o surgimento do boato sobre uma possível ligação com o presidente Morrow. Ariella, bem-vinda ao programa. – Max ligou seu charme. – Todos sabemos que você foi adotada. Pode nos falar da sua infância com Berry e Frank Winthrop? – Obrigada, Max. Estou feliz por estar aqui. Os Winthrop foram pais maravilhosos. Eles me criaram em Chester, Montana. Meu pai era muito envolvido com a comunidade. 78


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Ele treinava meu time de softball. Eu não jogava muito bem, mas adorava passar os sábados com ele. Minha mãe trabalhava em casa. Então, sempre estava lá quando voltava da escola. Ela adorava confeitar. Guardei as receitas secretas dela, que se tornaram a base da empresa de bufê e planejamento de eventos que tenho hoje. – Seus pais faleceram num acidente aéreo, correto? Cara se postou no campo de visão de Max, dando-lhe um olhar de aviso por ter se desviado do roteiro. Ariella, contudo, não teve problema em responder. – Sinto falta deles todos os dias. Cara sorriu. – Você sabe algo a respeito dos seus pais biológicos? – perguntou Max. Ariella balançou a cabeça. – Sempre soube que era adotada. Minha mãe dizia que eles tinham me escolhido porque eu era o melhor bebê do mundo. Eu sabia que os registros eram sigilosos e respeitava isso. Muitas pessoas têm motivos válidos para entregar um filho para adoção. Mas eu não poderia ter tido uma infância melhor do que a que tive, Max. – Você acha que o presidente mentiu quando… – Parem a filmagem. – Cara entrou na frente da câmera, olhando furiosamente para Max. – Pare com isso. Imediatamente. Ele levantou as mãos, rendendo-se. – Desculpe. Velhos costumes. – Uma ova – resmungou ela. Ele sorriu. – Não faça de novo. – Vou tentar. Cara recuou, ficando de prontidão. – Ariella – começou Max novamente. – Antes do baile inaugural, você tinha algum motivo para suspeitar de que o presidente Morrow fosse seu pai? – Nenhum, Max. Sei que o povo americano está ansioso para descobrir. Mas preciso dizer que tenho o maior respeito pelo presidente. Acompanho as decisões dele quanto a economia, saúde e política externa. Não tenho, então, motivos para não admirálo. Cara praticamente vibrou. O diretor pediu uma pausa, e Ariella se levantou. Max também se pôs de pé. – Você fez o teste de DNA? – perguntou ele casualmente. – Não responda – interveio Cara rapidamente. – Você ainda está com o microfone. Ariella ficou em silêncio enquanto os técnicos tiravam o microfone dela e o de Max. – Não pode me culpar por ter tentado – disse Max. – Posso, sim – falou Cara. 79


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– Desculpe por não ter podido ajudar mais – disse Ariella a Max. – Espero que você esteja bem – respondeu ele, parecendo verdadeiramente preocupado. – Eu… – Ariella – avisou Cara. – Ele não está do nosso lado. – Isso não é totalmente verdade – falou Max. – Ele parece uma boa pessoa – disse Ariella a Cara. – Você devia dar uma chance a ele. Cara queria poder fazer isso. Mas não ousava.

Na instalação de aviação da Manning, Max suspeitou de que Cara estivesse se mantendo longe dele. Ela estava do outro lado do grande hangar, conversando com o vice-presidente da empresa. O segmento, que incluía uma entrevista com Gillian, já fora gravado, e Max e Jake olhavam os novos aviões que estavam sendo construídos. Os dois tinham licença para pilotar, e Max vinha pensando em trocar seu Cessna por algo um pouco maior. – Pensei em tentar outro encontro com Gillian hoje à noite – disse Jake a Max. Seu olhar não parava de vagar para onde Gillian estava, cercada por meia dúzia de funcionários da Manning, todos homens, todos claramente buscando a atenção dela. – Parece que você tem concorrentes – observou Max. – Verdade. Por outro lado, existe concorrência em todo lugar. – Está falando de Gillian? – Gillian, Cara, qualquer mulher. Max olhou para o outro lado do hangar. – Acho que aquele ali está mais interessado no presidente Morrow do que em Cara. – Não estou falando dele. – Então, de quem? – Muitos outros homens devem achar Cara atraente. – Talvez. Ele não pensava muito nisso, mas sabia que devia haver vários homens interessados em Cara. Talvez ele não gostasse de pensar nisso por não gostar do choque de ciúme que o invadia quando isso acontecia. – Vocês conversam sobre isso? – perguntou Jake. – Sobre o quê? – Outras pessoas. – Por que conversaríamos sobre isso? – A apreensão eriçou a nuca de Max. – Aonde quer chegar com isso? Jake fez uma expressão tensa. 80


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– Cara já falou sobre outra pessoa? – Com quem ela tenha saído? Teria surgido alguém do nada? Do passado dela? Essa pessoa estaria criando um problema? Se fosse esse o caso, por que Jake não simplesmente dizia de uma vez? – O que está havendo? – exigiu saber Max. – Uma coisa que Gillian me falou ontem à noite me levou a acreditar que talvez Cara não tenha ficado só com você. Tudo dentro de Max ficou imóvel, gelado. – O que Gillian disse? – Sei que basicamente vocês dois já terminaram tudo. Mas o que não entendo é… – O que Gillian disse? – Que você e Cara não tinham um relacionamento exclusivo. – Com essas palavras? Jake assentiu. – Achei estranho. Quero dizer, você disse que vocês dois sempre tinham mantido as coisas casuais, mas pensei que fosse por causa do trabalho de vocês. Cara nunca me pareceu o tipo de mulher que tem mais de um homem. Com a raiva fervendo, Max deu meia-volta para olhar para o outro lado do hangar. Ele cerrou os punhos. – Gillian disse algum nome? – Hã… – Ela disse algum nome? – Max se sentia perfeitamente capaz de cometer um assassinato. – Nenhum. – Jake tocou o braço dele. – Acho que nós devíamos… – Não encoste em mim – avisou Max. – Vamos, Max. Não achei que você fosse se… – Importar? – Ficar tão revoltado assim. – Não estou revoltado. Vou matar o desgraçado com as minhas próprias mãos, mas não estou revoltado. – Não dou a mínima para o que você faz por aí com outros homens. Mas estou um pouco preocupado com Cara. – Não se preocupe com Cara. – A raiva dele não era com ela. Certo, talvez fosse. Mas Max não estava furioso com ela. Queria uma explicação. E, depois, matar alguém. Em seguida, fazê-la esquecer todos os outros homens do planeta. – Eu estou preocupado. – Não vou machucá-la. Jake revirou os olhos. – É claro que não vai. Mas não quero que você a chateie. Não quero que grite com ela. Gillian me contou isso em segredo. 81


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Max soltou uma risada fria. – Então, você estragou tudo, amigo. Não vou fingir que não sei. Jake suspirou. – E eu não podia deixar de contar a você. Detesto estragar minhas chances com Gillian. Não vi nada de que eu não gostasse nela. Nadinha. Max soltou um palavrão. Ele odiava comprometer seu melhor amigo, mas não tinha escolha. – Preciso perguntar a ela. – Sei que precisa. – Jake parecia conformado. – Só não exagere. – Vou tentar. – Max já estava indo na direção de Cara. Ele honestamente não sabia o que faria. Quando chegou até Cara, seu cérebro girava, suas emoções estavam à flor da pele. – Desculpe – disse ele ao homem, a voz cuidadosamente controlada. – Infelizmente, estamos atrasados. Sem dar tempo de Cara reagir, Max pegou o braço dela e praticamente a arrastou dali. – O que foi? – gaguejou ela. Olhou para trás e, em seguida, para Max. – Vá devagar. – Desculpe. – Ele mediu o passo, mas continuou rumando com ela para a saída. – Aonde estamos indo? O que você está fazendo? E as outras pessoas? – Precisamos conversar. – Sobre o quê? – Aqui, não. Gillian pode voltar com Jake. Ainda havia três veículos da produção da NCN no estacionamento. Max pegaria um deles. – Eles saíram ontem à noite – disse ele a Cara. – Você sabia disso? – Sei que eles foram a uma boate depois do jantar. – Havia confusão no tom de Cara. – Aconteceu alguma coisa? Gillian disse que se divertiu. – Não aconteceu nada. – Mas havia algo terrivelmente errado. Lá fora, no estacionamento quente, Max abriu a porta de um dos utilitários esportivos. Cara se desvencilhou dele, virando-se para Max. – Por que está fazendo isso? O que há de errado? – Entre. – Não vou entrar. – Entre, Cara. Precisamos conversar. Irritada, ela o olhou durante mais um instante. Então, algo em sua expressão vacilou. Ela empalideceu, assentiu tremulamente e entrou no veículo sem discutir. Enquanto Max contornava pela frente do carro, quase arrancando a porta do 82


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motorista, uma nova onda de raiva o atingiu. Outro homem. Qual era o problema dela? Ele enfiou a chave na ignição e saiu com tudo do estacionamento, percorrendo a deserta estrada industrial que levava até a rodovia da montanha. – Max – começou Cara com uma voz trêmula. – Não – avisou ele. – Não consigo falar disso e nos manter na estrada ao mesmo tempo. Ela ficou em silêncio, levando os dedos às têmporas. Depois de subir vários metros, deixando a cidade para trás, ele entrou numa estrada estreita de terra. Levou-os até onde achou que não seriam incomodados e pisou no freio, desligou o motor e puxou o freio de mão. – Max – tentou ela novamente. Ele se virou e levantou um dedo para silenciá-la. – Quem é ele? – perguntou Max com a voz rouca. Cara piscou os olhos, aparentemente confusa. – Quem é ele? – Cada sílaba cortava a garganta dele como cacos de vidro. Cara estava se encolhendo contra a porta do carona. – De quem você está falando? – Quero matá-lo, Cara. – Max bateu com a palma no volante. – Que Deus me ajude, quero estrangulá-lo. Ela engoliu em seco. – Quem? – O tal homem. Seja quem for. O homem com quem você ficou… – Max não conseguiu dizer mais nada. Virou-se para o para-brisa, segurando o volante com força. Passaram-se longos momentos de silêncio. Ele percebeu que não conseguiria. Estava com raiva demais no momento. Fosse lá o que Cara tivesse feito, qualquer que tivesse sido sua motivação, ele precisava se acalmar antes de conversarem. Aquilo não era justo com ela. – Desculpe – conseguiu dizer ele, pegando a chave. – Max, não sei do que você está falando. – Gillian. – Ele se virou novamente para ela. Não queria piorar as coisas para Jake, mas a farça precisava acabar. – Gillian disse a Jake que você tinha ficado com outro homem. Isso me deixou com muita raiva. Raiva suficiente para que eu não consiga nem olhar para você. – Gillian? – A voz de Cara mal passava de um guinchado. – Ela contou isso a ele em segredo. Jake me revelou tudo. Achou que eu precisava saber. – Max a olhou diretamente nos olhos. – E ele tinha razão. Tenho que saber. Não sei por que você não me contou. – Ele sentiu sua raiva ferver novamente. – Droga, não sei nem por que você foi fazer isso. Os olhos de Cara ficaram marejados. 83


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– Max, eu… – Não precisa explicar. – Não fora a intenção dele fazê-la chorar. Max lutou para recuperar a calma. Seu coração estava partido, mas ele conseguiu se acalmar. – Gillian não devia ter dito aquilo. – Uma lágrima solitária escapou dos olhos azuis de Cara. Apesar de tudo, a lágrima destroçou o coração dele. Max não conseguia respirar. Mal conseguia falar. – Você não precisa me contar nada. Ela inspirou tremulamente. – Não houve outro homem. – Não minta. Por favor, não tente me enganar. Eu não aguentaria ver você mentindo para mim. – Não houve outro homem, Max. Ele não sabia o que dizer. Queria desesperadamente acreditar nela. E Cara parecia sincera. E frágil, e mais linda do que nunca. – Não houve outro homem desde que conheci você. Desde antes disso. Mais de um ano antes. A esperança lampejou dentro de Max. Cara tocou o braço dele. – Gillian se enganou. Deve ter entendido algo errado… Talvez algo que eu tenha dito. – Está falando sério? – Ninguém além de você, Max. – Ela abriu um sorriso. – Ninguém. Max não conseguiu resistir. Puxou Cara e a pôs sentada em seu colo, afastando o cabelo dela e acariciando com os polegares o rosto macio, enquanto se curvava para beijá-la. O doce sabor o invadiu enquanto o alívio o dominava. Ele abriu os lábios dela, aprofundando o beijo, provando e possuindo a essência de Cara. Inspirou o perfume dela, sentiu a maciez da pele e o leve peso do traseiro em seu colo. Ficou instantaneamente excitado e a beijou outra vez, mais profundamente. Cara reagiu ao beijo, um som ronronado se formando em sua garganta enquanto seus braços envolviam o pescoço de Max. O último vestígio de irritação desapareceu dele, substituído por uma louca necessidade de fazer amor com ela. As mãos de Max subiram pelo tronco de Cara, abrindo a blusa, envolvendo o cetim do sutiã. Ela se contorceu no colo dele. – Cara – grunhiu Max, desejando que ela protestasse ou que lhe desse um tapa, qualquer coisa que o fizesse ir mais devagar. Um desejo primitivo dominara o cérebro dele. Ela era dele, dele, dele. Max não conseguiria se conter. Cara, contudo, não estava reduzindo a velocidade. Suas mãos estavam soltando os botões da camisa dele. Entre beijos, ela arfava em busca de ar. 84


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Max beijou o pescoço dela, puxando a pele suculenta para o calor de sua boca. Os seios dela estavam macios em suas mãos, os mamilos se contraindo contra as palmas dele. O corpo de Max estava agindo de automaticamente, e a mão dele desceu por baixo da saia dela, puxando a calcinha, tirando-a. Ele a tocou, e ela gemeu, abrindo as pernas. Cara montou em Max, e sua saia subiu até os quadris. Ele recuou, olhando nos olhos dela. Eles arfaram em uníssono, sem dizer nada. Max abriu a própria calça até que já não houvesse barreiras entre eles. – Só você – sussurrou ela, seus olhos novamente marejados. – Ah, Cara. – Ele a penetrou. O corpo quente de Cara se fechou em torno do dele, e os quadris de Max se flexionaram. Ele abriu os dedos no cabelo dela, segurando-a para seu beijo, mergulhando fundo. As unhas de Cara se cravaram no ombro dele, e Max a puxou para si. Ele dosou o ritmo, desesperado para fazer aquilo durar. Passou a mão pela barriga dela, pelas coxas, indo até o ponto sensível atrás do joelho. Então, voltou pelo mesmo caminho, saboreando o calor de Cara. Ela arfou com o toque dele e gemeu levemente. – Você é linda – sussurrou ele, acelerando o ritmo. – Tão linda. Nada além de Cara importava. Nada jamais importaria. – Max – gritou ela, arfando repetidamente. – Sim – grunhiu ele, acelerando. O corpo de Cara se contraiu em torno do dele. – Ah, sim – arfou ele, permitindo ser lançado nas ondas infinitas do clímax. Max abriu os olhos e piscou ao sentir a forte luz do sol, esperando o belo rosto dela entrar em foco. Dentro do carro, o ar estava abafado, e Cara estava suada contra a pele dele. – Está conseguindo respirar? – perguntou ele. – Um pouco. Max girou a chave na ignição e abriu as janelas da frente. Uma maravilhosa brisa os envolveu. – Obrigada. – Ela sorriu, afastando sua franja molhada. Ele só pôde sorrir, beijando a ponta do nariz dela. – Sempre que quiser. – Não estava falando disso. – Eu sei. Os dois ficaram em silêncio, mas nenhum deles se moveu. – Não planejei isto – disse Max. Não era um pedido de desculpas. Ele não estava arrependido. Contudo, não queria que ela pensasse que ele a levara para o meio do nada para fazer amor. – Não sei o que fazer – disse ela em voz baixa. Max não entendeu muito bem. 85


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– Agora? O tom dela estava pensativo. – Sempre achei que sabia. Talvez eu não gostasse, mas eu sabia o que tinha que fazer. Ela o observou. – Mas não podemos ficar juntos. Não podemos ter um caso. – Ela soltou uma fraca risada. – E, toda vez que tentamos ficar longe um do outro… – O destino intervém? – Não acho que possamos chamar de destino. – Acho que podemos chamar de raiva – admitiu ele. Então, tocou sua testa na dela. – Eu estava com tanta raiva, Cara. Podemos não estar namorando oficialmente, mas, aparentemente, se você dormir com outro homem, eu enlouqueço. – Isso não tem acontecido. – Eu sei. – Desculpe. – Você não fez nada. Inesperadamente, os braços dela envolveram o pescoço dele. Max a abraçou com força. – Não sei o que fazer – disse Cara novamente, com a voz embargada. Ele acariciou as costas dela. – Não precisa decidir agora. Não devemos decidir agora. Não podemos. – Precisamos fazer alguma coisa. – Eu vou terminar o programa, e você, fazer o seu trabalho. – Ele recuou para olhála. – Você é incrível. – Estou acabada. – Ela soltou uma risada nervosa. O cabelo de Cara estava bagunçado, suas roupas, desgrenhadas. Seu rosto estava vermelho, e ela estava coberta pelo brilho do sol. Max já a desejava novamente. Entretanto, ele se forçou a fechar a blusa dela antes que mudasse de ideia. – Somos profissionais – disse ele. – Vamos terminar nosso trabalho aqui e voltar para Washington. E não vamos decidir nada antes de termos tempo de pensar. Ele soava muito mais confiante do que se sentia. Pois Max não conseguia enxergar uma solução para a situação, mas também não conseguia se imaginar abrindo mão de Cara.

Gillian praticamente arrastou Cara para dentro de sua suíte no hotel. – O que houve? Para onde você foi? Por que não atendeu ao telefone? – Tenho uma pergunta para você também. O que você contou a Jake? Gillian pareceu confusa.

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– Sobre o quê? – Sobre mim. Minha vida sexual. Outros homens. – Ah, isso. – Ah, isso? – Você disse que queria que eu fizesse isso. – Quando? Quando foi que eu disse algo que fosse parecido com isso? – Ontem à noite. Estávamos falando de como você começaria a contar às pessoas que está grávida. – Eu disse que não contaria a Max que estou grávida. – E eu disse que “Max precisa saber que o bebê não é dele”. Você respondeu: “Eu sei.” – E você entendeu que eu estava dizendo que você devia mentir para ele? – Entendi que você finalmente tinha compreendido o que tínhamos que fazer. E Jake me deu a oportunidade perfeita de falar. – Achei que Max soubesse que eu estava grávida. Quando ele me puxou para longe para conversar, achei que ele tivesse descoberto tudo. Quase confessei. – Mas não confessou? – Não. Gillian gesticulou para que Cara a seguisse até duas poltronas grandes diante de uma janela com vista para a cidade ensolarada. – O que ele disse? O que aconteceu? – Ele ficou furioso. – Cara se flagrou tremendo ao recordar. Gillian se sentou, e Cara a acompanhou. – Percebi que ele não sabia que eu estava grávida. Mas ele não gostou nada da ideia de eu dormir com outro homem. – Sério? – Não aja tão surpresa. – Bem, não estamos na década de 1950. – Fidelidade não sai de moda. – Você disse que vocês não tinham um acordo de exclusividade – Mas também não sou promíscua. – Não quis ofender. Cara ficou menos defensiva. – Sei que você estava tentando ajudar. Mas nunca o tinha visto daquele jeito. – Ele machucou você? – Não. Não. Nada disso. Mas ameaçou estrangular o tal homem. Depois, ele se acalmou. Acho que ele não está acostumado a perder a paciência. Aí… Gillian esperou. Cara sentiu suas bochechas esquentando. 87


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– Aí…? – perguntou Gillian, a curiosidade crescendo em seus olhos azuis. – Depois que eu jurei que não tinha tido mais ninguém… – Você jogou no lixo minha história perfeita? Por que disse a ele que não tinha tido mais ninguém? – Não consegui mentir para ele, Gilly. – Isso é ridículo. Ele é só um homem. Você sabe que, com isso, voltamos à estaca zero. – Eu adoraria voltar à estaca zero. Gillian ficou alerta. – Você dormiu com ele de novo, não dormiu? – Se, com “dormir”, você quer dizer sexo intenso no banco da frente do carro, sim. Gillian a abraçou. – Ah, Cara… – Eu sei. Estou viciada. Preciso fazer alguma coisa. Tomar uma ação drástica. Seu avião consegue levar você até a Austrália? – Era o lugar mais longe que Cara conseguia pensar em que se fala inglês, e lá ela poderia conseguir um emprego na embaixada americana. – Com uma parada no Havaí, sim. Quer ir agora? Cara se permitiu fantasiar por um momento. Infelizmente, Max apareceu no meio de sua fantasia. – Podemos falar de outra coisa? – perguntou ela a Gillian. – Claro. – Minha tristeza precisa de companhia. Por favor, diga que você comete erros. Você fez algo idiota ultimamente? – Fiz uma coisa vulgar hoje. – Ótimo. Conte. – Flertei com os pilotos do hangar. Cara não conseguiu evitar se sentir um pouco decepcionada. – E isso é vulgar por quê? Porque eram seis? Gillian riu – Está com fome? – Sempre estou com fome. – Vamos pedir o serviço de quarto. O que você quer? – Um milk-shake. – Sério? De novo? – Pode ser um sundae, então. Com calda quente, chantilly, cereja… – Você está descontrolada. – Estou. – O que você quer de verdade? 88


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Cara queria mesmo um sundae. – Peça um algum tipo de sanduíche para mim. Com uma salada. Mas quero o milkshake também. – Tem problema se eu pedir vinho? – Claro que tem, tia Gillian. Se eu não posso beber, você também não pode. Peça um milk-shake. Gillian apertou um botão no telefone. – Se minha calça não me couber mais, a culpa vai ser sua. – Faça hora extra na academia. Gillian fez o pedido e desligou. – Fale sobre seu flerte vulgar – disse Cara. Ela precisava de algo para fazê-la parar de pensar em Max, no bebê e em seu futuro obscuro. – Eu estava tentando deixar Jake com ciúme. Cara ficou confusa. – Achei que ele já estivesse interessado em você. – Acho que está. Ao menos um pouco. Ficamos dançando até tarde ontem, e foi divertido. Ele me acompanhou de volta até o hotel e se despediu no elevador. – Você queria que ele subisse? Gillian deu de ombros, envergonhada. – Queria que ele quisesse subir. – Mas você não o convidou. – Não. – Então, ele não recusou. – Por favor. Ele é homem. Cara riu. – Você ao menos sabe o que quer? – Não – admitiu Gillian. – Certo, sei. Às vezes, ele é todo amistoso e atencioso. E, logo depois, parece que nem liga. – Acho que ser bilionária bagunçou a sua cabeça. – Não sou bilionária. – Você está acostumada a ser o centro das atenções. Aposto que, quando você chega num lugar, todos os homens olham. – Só porque sou eu quem paga os salários deles. – Mas Jake não é assim, e você fica louca com isso. Gillian grunhiu, passando as mãos pelo cabelo. – Eu virei uma princesa mimada? – Os pilotos retribuíram seu flerte? – Sim. E não estavam lá por causa da entrevista. Então, não sabiam quem eu era. Sendo assim, com ou sem dinheiro, eu continuo sendo atraente. 89


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– E Jake sabe disso. – Sabe. – Ele ficou com ciúme? – Espero que sim. – Vai sair com ele de novo hoje? – Não sei. O que você vai fazer? – O presidente vai oferecer um jantar e uma festa de boas-vindas para os chefes de Estado da cúpula. É para cerca de 200 pessoas. Com sorte, sem imprensa. – Cara olhou o relógio. – Preciso estar pronta daqui a uma hora. – Quando você volta? – Para Washington? Gillian assentiu. – Amanhã à noite, depois dos discursos de encerramento. Vou pegar carona num avião da Força Aérea. E, de agora até lá, não passar um minuto desocupada. – Seria bom assim. Quanto menos tempo Cara tivesse para pensar, melhor.

CAPÍTULO DEZ

Max já retornara a Washington fazia três dias. Embora a rápida entrevista de Ariella tivesse desviado momentaneamente a atenção do presidente, ela renovara o interesse em Eleanor Albert. A chefe de Max, Nadine, estava mais determinada do que nunca a encontrar a mulher elusiva. Em pouco tempo, Liam Fisher conseguira evidências consistentes de que alguém do ANS tinha invadido um computador do comitê de campanha do presidente. – Ainda não temos um nome – falou Liam, puxando uma cadeira para se sentar ao lado de Jake na mesa oval da sala da diretoria da NCN. – Vamos conseguir – disse Max. – Ao menos sabemos que estamos no caminho certo. Ainda não havia provas para incriminar o proprietário, Graham Boyle, e também nada apontava para Marnie Salloway. Max, contudo, continuava suspeitando de sua antiga chefe. Ela fora vaga e convencida na última vez em que se falaram, e ele tinha certeza de que Marnie estava escondendo alguma coisa. Nadine entrou na sala, seguida por uma assistente. – Você foi tranquilo demais com Caroline Cranshaw em Los Angeles – acusou ela. Jake olhou de esguelha para Max, indicando silenciosamente que concordava com Nadine. – A verdadeira matéria é o ANS – disse Max. – Sabemos que eles violaram a lei. 90


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– Sabemos que alguém que, um dia, eles empregaram violou a lei – retrucou Nadine. – Mas também sabemos que o alvo deles era o presidente. Isso significa que alguém da Casa Branca sabe de algo a mais. – Não – discordou Max. – Significa que o ANS acha que alguém da Casa Branca sabe de mais alguma coisa. – E quem sabe mais a respeito do escândalo? – desafiou Nadine. Max não respondeu à pergunta retórica. – O ANS – respondeu a própria Nadine. – E eles estão buscando informações na Casa Branca. A matéria é Eleanor Albert. Encontre-a. Liam uniu as mãos sobre a mesa, com uma aparência tão digna quanto sábia. Até Nadine parou para ouvi-lo. – Se essa invasão puder ser imputada ao ANS – afirmou ele –, se encontrarmos uma conexão com os repórteres ou com Marnie Salloway ou até com Graham Boyle, a NCN terá seu próprio furo de reportagem. – Se houver essa conexão – rebateu Nadine. – E se formos capazes de prová-la. E se formos capazes de prová-la antes de mais ninguém. – Foram eles – disse Liam, convicto. – E o comitê de campanha é só a ponta do iceberg. – Eu apostaria que Marnie está envolvida – acrescentou Max. – Reconfortante – falou Nadine sarcasticamente. – Mas a matéria com Eleanor é algo certo. Se a encontrarmos, teremos um furo já pronto. – Ela olhou para Liam. – Ela foi a algum outro lugar depois de Fields. Mesmo se ela já tiver morrido, isso aconteceu em outro lugar. – Vou pesquisar – disse Liam. Nadine voltou sua atenção para Max. – Fizemos um grande favor a Lynn Larson. – Achei que tivesse sido ela a nos fazer um favor. – A assessora poderia ter oferecido a declaração de Ariella a qualquer outra emissora. – Você vai até a Casa Branca para pedir a retribuição desse favor. Max pensou imediatamente em Cara na Casa Branca. Ele suspeitava de que ela o vinha evitando desde o retorno deles de Los Angeles. Sabia que a Casa Branca estava trabalhando sem parar para impedir a queda de popularidade do presidente e as principais tarefas estavam com a assessoria de imprensa. Mesmo assim, ele deixara meia dúzia de mensagens, e ela ainda não retornara as ligações. Ele sentia mais falta dela do que jamais teria imaginado. A vantagem de ir falar com Lynn seria o fato de que ele teria uma boa chance de ver Cara. Max sentiu um aperto no peito de expectativa. – Certo – concordou ele. – O que quer que eu peça a ela? – O jornalista investigativo é você. Pense nisso. – E saiu pela porta com a assistente. Os três homens esperaram durante um minuto inteiro. – Até onde conseguimos ir investigando o ANS por conta própria? – perguntou Jake. 91


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Max respondeu: – Antes que isso se transforme em pura insubordinação? Liam sorriu. – Não teremos problemas se fizermos isso depois do expediente. – Estou dentro – concordou Max. Sabia que o melhor jeito de melhorar sua situação com Cara seria resolver o escândalo que tomava todo o tempo dela. Se eles provassem algo contra o ANS, a atenção do público se desviaria do presidente. Cara teria bastante tempo livre assim. Enquanto passasse as longas horas trabalhando, seria a essa ideia que Max se apegaria.

Cara parou no escritório de Lynn para olhar a maior das telas de TV na parede. – Numa fascinante reviravolta que fez a popularidade do presidente cair ainda mais – dizia a bela repórter loira diante da Casa Branca –, Madeline Schulenburg, uma mulher de 46 anos de Doublecreek, Montana, que fica a cerca de duas horas de Fields, a cidade natal do presidente, afirmou que Ted Morrow é o pai de seu filho de 28 anos. Cara pôs o relatório da viagem de Los Angeles na mesa de Lynn. – Acho que era só questão de tempo. – Até as loucas aparecerem? – Lynn girou na cadeira, ficando de frente para Cara. – Não há chance de isso ser verdade, certo? – Não sei mais o que é verdade. – Não pode ser. – Mas Cara achava que fosse possível. Talvez existissem dois filhos ilegítimos. Por que não três ou quatro? – Você falou com o presidente? – É o que vou fazer agora. – Lynn se levantou, pegando alguns arquivos na mesa. – Senhor presidente – resmungou ela. – Com relação à história de Madeline Schulenburg. Podemos falar sobre a vida sexual do senhor? De novo? – Quer dizer que a Casa Branca está levando isso a sério? – disse uma voz profunda vinda da porta. Lynn ergueu a cabeça, e Cara se virou para encontrar Max. – Quem deixou você entrar? – exigiu saber Lynn. Cara não conseguia encontrar sua voz. Vinha trabalhando 16 horas por dia desde a viagem, e ainda era uma luta para manter Max fora de seus pensamentos. Ela sentia falta dele e estava loucamente confusa e preocupada com o futuro. – Tenho hora marcada – disse Max. – Era para Sandy ter cancelado – murmurou Lynn. – É verdade? – perguntou Max. – Tem outro filho ilegítimo? A Casa Branca está esperando que apareçam mais? – Cara, quer, por favor, acompanhar nosso belo repórter para fora daqui? O pedido fez Cara voltar à realidade. – Sim. – Ela foi na direção de Max. – Claro. Venha comigo, por favor. – O que está havendo? – sussurrou ele no ouvido dela. 92


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– Vá – ordenou ela num baixo rosnado. Ela e Max desceram diretamente pelo corredor, enquanto Lynn entrava na Sala Oval. Antes que Cara pudesse evitar, Max entrou no escritório dela. – Max – gritou ela, seguindo-o rapidamente para proteger as informações expostas sobre sua mesa. – Converse comigo, Cara. – Não tenho nada a dizer. – Se houver mais filhos… – Não há – disse ela com convicção. – Está mentindo. – Ele a observou atentamente. Cara sentiu sua pulsação disparar. Max avançou um passo, e ela levantou a mão. – Não. Ele parou, mas perto demais para o conforto dela. – Ou você está mentindo porque o presidente tem mais filhos secretos, ou porque não sabe se é verdade. – Você precisa ir embora, Max – disse. Eles não poderiam falar do presidente, e ela não ousava ficar na companhia de Max. Mesmo ali, na ala oeste, no meio de uma crise, ela queria se atirar nos braços dele. Ele baixou a voz. – Preciso ver você. Ela balançou a cabeça. – Isso não pode acontecer. – Aqui, não – esclareceu Max. – À noite. Na sua casa. – Não. – Precisamos conversar. – Vou trabalhar hoje à noite. E também amanhã. – E todas as noites do futuro próximo. – Você tem que dormir em algum momento. – Não com… – Ela fechou a boca. Uma luz surgiu nos olhos verdes dele. – Sem dúvida, comigo seria preferível. Ela tentou recuar, mas foi bloqueada pela mesa. – Não é brincadeira. – Não estou brincando. Sinto sua falta, Cara. – Ele se aproximou ainda mais. Ela se preparou, tentando loucamente abafar seus sentimentos. Não podia desejar Max. Não podia tocá-lo, nem falar com ele, nem mesmo vê-lo.

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– Você prometeu, Max. – Só quero conversar. – Você está mentindo. – Estou. Vozes soaram no corredor, e Cara consegui pôr um pouco de distância entre eles. O olhar de Max baixou para a mesa dela. Sua franca curiosidade fez Cara ter um último surto de força emocional. – Você veio investigar – afirmou ela. – Vim – admitiu ele. – Saia do meu escritório, Max. Ou vou chamar os seguranças. Dessa vez, ele recuou um passo. – Certo. Ligo para você depois. – Não vou atender. – Eu tento mesmo assim. E ele se foi. Cara se apoiou na mesa. Inspirou fundo algumas vezes. Estava óbvio que ela não podia confiar em si mesma perto de Max. E estava igualmente óbvio que ele não ficaria longe dela. Ela se sentou e abriu a página dos recursos humanos em seu computador. Digitou no campo de busca, verificando que cargos de relações públicas estavam disponíveis em embaixadas no estrangeiro. Para sua surpresa, havia uma vaga na Austrália.

O otimismo que permanecera com Max desde que ele fizera amor com Cara em Los Angeles evaporou quando ele saiu do terreno da Casa Branca. Ela jamais daria ouvidos à razão. Jamais daria uma chance a eles. As únicas opções dele seriam seguir com sua vida ou se resignar a uma longa espera e passar os quatro anos seguintes fazendo campanha contra o presidente, para que Cara ficasse livre depois da eleição seguinte. O problema era que Max não achava que conseguiria esperar quatro anos. Ele entrou no carro e pegou o celular. Abafou os sentimentos por Cara que estavam atrapalhando seus instintos de repórter e digitou o endereço de Georgetown, que ele vira escrito no bloco de papel amarelo sobre a mesa dela. Cara se encontraria com alguém dali a menos de uma hora. Descobrindo que o endereço era de um estabelecimento médico, mais especificamente, de obstetrícia, ele achou estranho que um obstetra de Washington pudesse ter algo a ver com bebês de Montana. Mas talvez o médico tivesse se mudado. Ou talvez uma das mães tivesse ido parar em Washington. Max apertou o botão para discar para Jake. – Oi? – disse Jake, numa curta saudação.

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– Encontrei uma coisa – disse Max. – Eleanor? – Não. Talvez algo sobre ela. Mas não descarte os boatos de que há outros filhos. Lynn Larson está muito abalada com essa última história. – Do que você precisa? – Estou indo para Georgetown. Uma clínica obstétrica. Não quero assustar ninguém aparecendo com uma câmera, mas você pode ficar de prontidão por perto caso algum dos médicos esteja disposto a falar? – Claro. Estou com Liam. Mande o endereço para mim. – Vou mandar. Ele desligou, enviou o endereço para Jake e saiu do estacionamento. Levou algum tempo para percorrer as ruas com tráfego pesado, mas ele conseguiu encontrar a clínica. Procurando uma vaga, ele a encontrou a vários quarteirões de distância. Quando estava chegando, avistou Cara saindo de um táxi. Ela estava uns 15 minutos adiantada. Uma pena. Ele esperara chegar antes dela e descobrir que médico ou enfermeira poderia saber de algo. Em vez disso, ele esperou. Deu a ela tempo suficiente para percorrer os corredores e sair da sala de espera. Então, seguiu-a até o sexto andar. Ao entrar pelas portas de vidro, ele avistou três grávidas sentadas nas cadeiras, folheando revistas sobre bebês. Outras duas mulheres estavam com bebês em seus colos. Havia uma placa listando quatro médicos. Tentando não parecer suspeito, Max foi até uma enfermeira simpática. – Como posso ajudar? – Ela o olhou por cima dos óculos de leitura. Felizmente, não o reconhecera. Max hesitou, sem saber o que perguntar. Não havia como saber que médico procurar. E poderia ser outro funcionário. Não devia ser aquela enfermeira, do contrário, Cara estaria ali, conversando com ela. Então, a inspiração o atingiu. – Vim com Caroline Cranshaw. – Ele fingiu procurar algo nos bolsos. – Foi um dia bem cheio e, infelizmente, perdi o nome… – Ah, você é o pai. – A mulher sorriu como se já tivesse visto tudo aquilo antes. O cérebro de Max vacilou. – Ela está conversando com o dr. Murdoch no escritório dele. Pode ficar à vontade para ir até lá. – A enfermeira apontou. – É só descer pelo corredor azul. O nome do dr. Murdoch está na porta do consultório. Max piscou os olhos, chocado. Cara teria mentido, dizendo que estava grávida, só para entrar para conversar com um obstetra? Ela era relações-públicas, não detetive particular! Ele agradeceu à enfermeira e se virou para ir. Cara ficaria irritadíssima, mas ele precisava buscar a matéria. Ela deixara bem claro que um relacionamento entre eles seria impossível, e Max precisava pensar em sua integridade profissional. Não podia mais deixar seus sentimentos atrapalharem seu julgamento. 95


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Ele desceu pelo corredor. Olhou rapidamente a porta do consultório e, em seguida, abriu-a. O médico, de 50 e poucos anos, ergueu os olhos, surpreso, e Cara virou a cabeça ao ouvir o som. Ficou paralisada durante um longo momento. Então, seu rosto empalideceu, seus olhos quase dobrando de tamanho. – Olá, querida – disse ele, entrando e fechando a porta. – Se ela podia mentir, ele também podia. Se ele fingisse ser o pai, ela não poderia expor a mentira sem também revelar sua própria desonestidade. O médico olhou para Cara por um instante antes de concentrar sua atenção em Max. Max estendeu a mão para o médico. – Max Gray. Desculpe pelo atraso. Para complementar a cena, ele deu um beijo rápido no alto da cabeça de Cara antes de se sentar na cadeira ao lado da dela. – Max – arfou Cara. – Como você soube? Ele abriu um sorriso largo e acariciou a mão dela. – Você me falou da consulta. Sei que, às vezes, esqueço as coisas, mas isto é importante, querida. Cara piscou os olhos, claramente confusa. – Max Gray? Do After Dark? – perguntou o médico. – Sim – respondeu Max tranquilamente. – É um prazer conhecê-lo. Eu estava dizendo a Caroline que não prevejo nenhuma complicação. Ela está numa idade ótima para ter o primeiro filho. Prescrevi uma vitamina pré-natal, e faremos os exames rotineiros de sangue. Mas ela não precisa se preocupar com nada de especial nos próximos meses. Max olhou para Cara, perguntando a si mesmo quanto tempo ela continuaria com a farsa. Como ela esperava sair de uma gravidez falsa para perguntas a respeito dos filhos ilegítimos do presidente? Ela continuava a olhá-lo fixamente. – Cara? – Ele passou a mão na frente do rosto dela. Cara não reagiu. – Caroline? – O médico se levantou e pegou a mão dela. – Tem algo errado? – Como você soube? – sussurrou ela para Max. Algo nos olhos dela deixou Max transtornado. Espere. Não. Não podia ser. Entretanto, Max trabalhara como repórter investigativo por tempo demais para ignorar o que seu instinto estava lhe dizendo. Ele olhou para o médico, fazendo uma pergunta pensada com muita cautela. 96


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– Você fez um exame de gravidez aqui no consultório? – Claro – respondeu o homem. – Sempre confirmamos os resultados dos testes de farmácia. Cara estava grávida. E não dormira com mais ninguém. Ela deixara isso perfeitamente claro. Ela estava esperando um filho de Max. O chão tremeu debaixo dos pés dele, e Max quase caiu da cadeira. Conseguiu se levantar com as pernas bambas, gesticulando para a porta. – Eu vou… Vou encontrar você… – Ele lançou um olhar rápido para a expressão perplexa de Cara e saiu rapidamente do consultório. Atravessou a sala de espera. Sua mente era uma massa de emoções conflitantes. Ele invadira a privacidade de Cara de forma absolutamente imperdoável. Mas ela mentira para ele. Deixara-o completamente alheio. E ele seria pai. Ele não estava de forma alguma preparado para ser pai. E deixara isso bastante claro.

Cara abriu a porta de seu apartamento para receber sua irmã, tentando valentemente fazer uma expressão de coragem. – Você não pode simplesmente pegar o seu avião e vir sempre que eu tiver um problema. – Isso é mais do que um problema. – Gillian puxou Cara para um abraço forte. – É uma catástrofe. – Ariella e Scarlet estão aqui. – Elas sabem? Cara balançou a cabeça. – Sabemos o quê? – perguntou Ariella do alto da escadaria. As duas estavam olhando lá para baixo. Scarlet era a amiga mais íntima de Cara, uma organizadora de eventos de Washington. Ninguém respondeu. – O que não sabemos? – perguntou Ariella. – Acho que é melhor contar. – Gillian fechou a porta. – São suas amigas e amam você. – Seja o que for, é melhor nos contar – disse Ariella enquanto descia a escadaria. – Eu me candidatei para um cargo na embaixada da Austrália – disse Cara, lançando para Gillian um olhar de aviso que indicava que ela não devia dizer nada mais. – Você o quê? – arfou Scarlet lá do alto. – Mas que diabos…? – falou Ariella. – Por que você faria isso? Gillian cruzou os braços. – Está bem – rendeu-se Cara. – Porque ela está grávida – interveio Gillian. 97


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– O quê?! – berrou Ariella. – Não vamos falar disso aqui. – Scarlet gesticulou para elas. – Subam e nos digam o que está havendo. Ariella se virou para subir novamente a escadaria. Cara e Gillian a seguiram. – Ele já telefonou? – perguntou Gillian. – Quem? – perguntaram Ariella e Scarlet em uníssono. Cara se virou para sua irmã. – Vai contar toda a minha vida? – Queremos ajudar – disse Ariella. – E não queremos que você vá embora de Washington – acrescentou Scarlet. Havia um tom de sinceridade nas vozes dela que atingiu o coração de Cara. Ela sabia que podia confiar em suas amigas. Talvez fosse exatamente do apoio delas que ela precisasse. – Estou grávida – admitiu Cara enquanto as mulheres iam até a sala e se acomodavam em sofás e poltronas. – Quantas semanas? – perguntou Ariella. – Sete. – O que a gravidez tem a ver com você ir embora? – perguntou Scarlet. – Ela precisa se afastar do pai – respondeu Gillian. – Ele é mau? – indagou Scarlet. – Quem é? – perguntou Ariella. – Max Gray – admitiu Cara, concluindo que era hora de abrir o jogo. – Sério? – perguntou Scarlet, um tom de surpresa na voz. Cara percebeu que Scarlet via Max apenas como uma celebridade da TV e um dos dez homens mais desejados de Washington. – Ele não é mau – interveio Ariella. – Max é uma ótima pessoa. – O maior problema é que ele não quer filhos – explicou Gillian. – E daí? – disse Ariella. – Ele vai ter um mesmo assim. – O maior problema é o conflito de interesses – corrigiu Cara. – Não posso ter um relacionamento com Max. Ele é repórter. Eu trabalho na Casa Branca. – Não entendo. Você já não tem um relacionamento com ele? – perguntou Ariella. – Não – afirmou Cara. – Então, como isso aconteceu? – Scarlet parecia buscar uma explicação. – Você é tiete dele? Cara não conseguiu evitar rir de forma um tanto quanto histérica daquela ideia. – Eles namoraram faz um tempo – explicou Gillian. – Antes da eleição. Cara se recompôs. – Mas está tudo terminado. Scarlet olhou para o círculo de amigas. 98


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– Não importa. Ele precisa assumir a responsabilidade. Cara levou a mão automaticamente à barriga. – Não vou empurrar um bebê inocente para um pai que não o quer. Nem sei como ele descobriu. – Eu sei – disse Gillian. Surpresa, Cara se virou para sua irmã. – Falei com Jake. Max foi ao consultório porque achou que você estivesse investigando alguma pista. Cara se lembrou do estranho comportamento de Max. – Ele não sabia? – Quando chegou, não. Ele só estava entrando no que achou que fosse uma encenação sua. – Até perguntar a respeito do exame. – Cara se recordou da reação de Max. Seu coração afundou. Ele descobrira que ela estava grávida no consultório mesmo e fora embora imediatamente. Aquilo confirmava tudo que ela temera. – Ele está se sentindo culpado por ter invadido a sua privacidade – falou Gillian. Cara se levantou, resistindo a um inesperado surto de mágoa e raiva. – Invadido a minha privacidade? É por isso que ele se sente culpado? Não por eu estar grávida? Por ele ter abandonado o filho dele? Por não dar a mínima para nós? – Não sei como está a cabeça dele no momento – disse Gillian. – Que ele vá para o inferno. – Cara andou pelo cômodo, tentando controlar suas emoções. Nada mais de Max. Ela lidaria sozinha com aquilo, bem longe, onde nunca mais seria tentada ou magoada por ele. – Vou embora daqui. – Você não pode nos deixar – gritou Scarlet. – Também não posso ficar. – Cara desabou novamente na poltrona, sentindo-se exausta. – Ele nunca vai mudar. – Ele também está se sentindo mal por isso – disse Gillian. – Ótimo – disparou Cara. – Se você não precisa esconder a gravidez – sugeriu Ariella racionalmente –, arrume outro emprego em Washington. – Que outro emprego? – perguntou Cara. – Qualquer emprego na Casa Branca vai ter o mesmo problema. – Trabalhe para mim – disse Gillian. – Você pode fazer o que quiser se for minha funcionária. – Muito caridoso da sua parte, Gilly. Mas sua empresa não é em Washington. – Então, trabalhe para nós – disse Scarlet. – Relações-públicas de uma organizadora de eventos? – zombou Cara. – Não seria em tempo integral, e você não precisaria ir muito ao escritório. Poderia trabalhar em casa. Ser mãe. – Ela estalou os dedos. – Abra uma firma de consultoria em relações públicas. – Nós contrataríamos você imediatamente – disse Ariella. – Você poderia fazer seu 99


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horário, fazer a maior parte do trabalho aqui, no seu apartamento. – Não sei. – Mas Cara percebia que aquilo resolveria um dos seus problemas. Bem, dois. Ela sairia da Casa Branca e teria mais tempo com seu bebê. Max, porém, continuaria em Washington. E ela continuaria sentindo uma irresistível atração por ele. E ficaria magoadíssima ao vê-lo e saber que ele não os queria. – Você está apaixonada por ele? – perguntou Scarlet delicadamente. – Não – disse Cara. – Sim – falou Gillian. Furiosa, Cara olhou fixamente para sua irmã, mas Gillian deu de ombros. – O que você acha que isso é? – Não estou apaixonada por Max – afirmou Cara com autoridade. – Só estou esperando um filho dele e lutando contra algum tipo de obsessão física por fazer sexo com ele. – Todo mundo quer dormir com ele – disse Scarlet. Três olhares se voltaram para ela. – Não estou falando de mim – explicou Scarlet rapidamente. – Estou dizendo que a maioria das americanas o deseja. – Ela tem razão – disse Ariella. – Você não pode me abandonar. Não com tudo isso acontecendo. Você sabe mais de política que todas nós, e vou precisar da sua ajuda, do seu conselho. As palavras dela ajudaram Cara a pôr seus próprios problemas em perspectiva. – Você é filha do presidente, não é? – perguntou Scarlet a Ariella. – Acho que posso ser. Cara se solidarizou com sua amiga. Apesar de ela poder se demitir da Casa Branca, Ariella fora involuntariamente envolvida por um furacão. Cara percebeu que era verdade. Ariella precisava dela. E também percebeu que suas amigas estavam em Washington. Sua vida estava em Washington. A Austrália podia ter sido uma bela fantasia, mas não seria uma boa realidade. – Vou ficar e ajudar – prometeu Cara. De alguma forma, ela invocaria forças para ficar longe de Max. Talvez seus sentimentos desaparecessem e tudo ficasse bem. Talvez Gillian estivesse enganada ao dizer que ela estava apaixonada. Gillian podia ser um gênio, mas errava às vezes. E podia estar errada a respeito daquilo.

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CAPÍTULO ONZE

Max estava sentado diante de Jake num bar de Georgetown. – Não acredito que você ainda não falou com ela – disse Jake. – Não sei o que dizer. – Já faz três dias. – Isso não é da sua conta. – Sou seu amigo. – Então, devia saber quando não se intrometer. – Um bom amigo nunca deixa de se intrometer. – O que acha que eu devo dizer? Quer que eu ofereça dinheiro a ela? – Max faria isso, claro. Financeiramente, seu filho jamais teria necessidades. – Você poderia começar com: “Vamos ter um bebê. Vamos conversar sobre o que faremos.” – E me abrir para praticamente qualquer coisa que ela possa pedir? – Max não suportava a ideia de dizer não a um pedido de Cara, de vê-la magoada e decepcionada. – Eu seria um péssimo pai – repetiu ele, pelo que já devia ser a centésima vez. – Por quê? – Não gosto de crianças. Jake pareceu pensar naquilo. – Tenho um emprego perigoso que pode me matar a qualquer momento – continuou Max. – Cara passaria metade da vida dela esperando se tornar viúva. Não tive nenhum modelo de pai. Nem faço ideia de como falar com uma criança. Não sou preparado para a paternidade. Quando as coisas apertam, os homens da família Gray desaparecem. – Tudo verdade – concordou Jake inesperadamente. – Entende o que estou dizendo? – Entendo. – Então, a conversa terminou. – Mesmo assim, você tem que falar com ela. O estômago de Max se contraiu. – E dizer o quê? – Ela sabe tudo isso que você falou, certo? Max assentiu rispidamente. – Então, ofereça dinheiro. – O tom de Jake estava cheio de condenação. – Se é tudo o que você tem, ofereça uma pensão que a ajude a criar a criança sozinha. Algo apunhalou o peito de Max. 101


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Jake ainda não terminara: – Mas olhe nos olhos dela, Max. Seja homem e diga a ela, pessoalmente, o que exatamente você vai ou não vai fazer por esse bebê. Ela não engravidou sozinha, mas parece que vai ser assim que as coisas vão ser para ela daqui em diante. Max sentiu um gosto azedo na boca. Ele percebeu um movimento pelo canto do olho, e Gillian apareceu subitamente na mesa. Max quase conseguiu um torcicolo ao olhar à volta para ver se Cara estava com ela. Não estava. – Falou com ele? – perguntou Gillian a Jake. Jake se levantou, pondo a mão na base das costas dela. – Falei. Max ficou de pé. – Você fez isso tudo por ela? – questionou ele. – Sim – respondeu Jake. – Tudo por ela, o que não torna a coisa menos legítima. – Você me passou esse sermão todo para ficar bem com Gillian? – Não – respondeu Gillian. – Ele já está bem com Gillian, e foi por isso que lhe passou esse sermão. – Ela se curvou para perto de Max. – Você vai magoar minha irmã caçula? – Já fiz isso – admitiu Max. – Desfaça – disse Gillian. Max balançou a cabeça. Não podia desfazer. Isso estava além de seu controle. – Ela se candidatou a um cargo numa embaixada na Austrália – informou Gillian. O coração de Max martelou dentro do peito. – O quê? Por quê? – Para que você não precise se incomodar com o bebê. Ela achou que seria uma boa ideia ir para bem longe. Max ficou abalado. Mas seria uma coisa boa, certo? Ele não estaria por perto para estragar nada. O bebê seria bem cuidado, e ele poderia prosseguir normalmente com sua vida. Gillian pôs o dedo no peito de Max. – Sei o que você está pensando. Não ouse tentar impedi-la. Não ouse estragar tudo. – Por que eu estragaria isso? – Impedir Cara de ir embora de Washington seria idiotice. Ela os estava separando. Era uma ideia inteligente. Max sempre soubera que ela era inteligente. – Você já estragou tudo antes. Ela queria que você pensasse que existia outro homem. Você sabia que esse era o plano dela? Se você tivesse pensado que havia outro homem, poderia dizer a si mesmo que o bebê não era seu e abandoná-la sem se preocupar. – Você mentiu? – exigiu saber Max. 102


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– E eu fui seu cúmplice? – perguntou Jake, claramente surpreso. – Desculpe – disse Gillian a Jake. – E eu me sentindo culpado por ter revelado o seu segredo. – Eu sabia que você contaria tudo a Max. Estava contando com isso. Fazia parte do plano. – Sério? – perguntou Jake, obviamente admirado. – Sério. – Você é incrível – falou Jake com um sorriso bobo. – Quando Cara vai embora? – perguntou Max. Não que ele precisasse saber disso. Ou talvez precisasse. Jake teria razão? Ele devia a Cara ao menos uma conversa? Ainda que ele não tivesse nada a não ser dinheiro a oferecer, Max deveria fazer isso pessoalmente? E ela sequer ouviria o que ele tinha a dizer se ele tentasse?

Esperando Gillian, Cara ficou chocada ao abrir a porta de seu apartamento e encontrar Max. Por mais determinada que ela tivesse ficado a seguir com sua vida depois de conversar com Gillian, Ariella e Scarlet, ela passara a maior parte da noite chorando na cama. A manhã não se mostrara muito melhor. Ele era a última pessoa que ela queria ver. Contudo, parado ali no corredor, ele parecia tão cansado e vazio quanto ela se sentia. E Cara não conseguiu conter uma onda de solidariedade. – Precisamos conversar, Cara. – Ele parecia um condenado indo para a forca. Ela se preparou, determinada a acabar rapidamente com aquilo. – Não, não precisamos conversar. Está tudo bem, Max. Não há mais nada a ser dito ou feito por você. – Você está grávida – disse ele com a voz rouca, parecendo tão assustado quanto ficara em Fields, quando a avalanche os atingira. – Estou – confirmou Cara, orgulhosa de seu tom casual. – E não tenho problema com isso. Já fiz planos. – Foi o que me disseram. – Disseram? – Aquilo surpreendeu Cara. – Gillian. – Ah. Sua querida irmã novamente. Obviamente, ela telefonara para Jake na noite anterior, o que fizera com que todas as suas palavras fossem eficientemente transmitidas a Max. – Posso entrar? Cara não conseguiu conter um suspiro de frustração. – Sério, Max, eu preferiria que você… Mas ele entrou, fazendo Cara recuar para evitar tocá-lo. 103


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– Certo, tudo bem – cedeu ela. – Entre. Ele fechou a porta, recostando-se nela. – Sinto muito – começou ele, seu olhar se voltando para a barriga dela. – Eu não sinto – respondeu Cara, determinada. Em meio à incerteza e ao caos, Cara passara a compreender uma coisa, não se arrependia de seu bebê. Ela seria uma boa mãe. – Quis dizer que sinto muito por ter invadido o consultório. Achei que você estivesse conversando sobre o presidente. – Gillian me falou. – Invadi sua privacidade. Não sei o que eu estava pensando. – Então, parte do medo e do resguardo abandonou os olhos dele. – Mas você devia ter me contado que estava grávida. – Sério? – Honestamente, ela não tinha certeza daquilo. – Não acha que seria melhor para você não saber? Tudo que isso fez foi deixar você se sentindo culpado. Saber a verdade não mudou sua opinião com relação a ser pai. Não vai mudar seu comportamento com relação ao bebê. – Você estava mesmo planejando esconder isso de mim? Para sempre? Cara deu de ombros. Aquele parecera o plano mais razoável. – Indo embora do país? – perguntou ele. – Sim. – Você simplesmente me abandonaria? – perguntou ele, sua voz assumindo um tom estranho. – Abandonar você? Como eu poderia abandonar você, Max? Nunca estivemos juntos. Você e eu estávamos fadados ao fracasso desde o início. Ela poderia pedir demissão da Casa Branca, livrar-se do conflito de interesses. Max, porém, não queria ser pai. E, como ela seria mãe sem a menor dúvida, o abismo entre eles estava maior do que nunca. Max levantou a mão. Por um minuto, Cara esperou que ele tocasse o rosto dela, como fizera centenas de vezes. Que a acariciasse e a puxasse para um beijo. Ela quase conseguiu sentir os dedos dele, seus lábios descendo sobre os dela. Entretanto, não foi o que ele fez. Max baixou a mão, e o peito dela se apertou de decepção. – O que você quer, Max? – Tenho dinheiro. – É mesmo? Ser um astro da TV paga bem, não paga? – Quis dizer que nunca vai faltar nada para você e para o bebê. Vocês nunca vão ter que se preocupar. Cara engoliu em seco para vencer o embargo em sua garganta. Jurou a si mesma que desmoronaria. Precisava acabar com aquilo o mais rápido possível sem perder sua dignidade. – Obrigada, Max – disse simplesmente.

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Ele franziu o cenho. – Talvez eu não possa estar com você, mas vou garantir que… Ela esperou, mas ele não terminou a frase. – Obrigada – repetiu ela. Max ergueu novamente a mão. Dessa vez, para passar os dedos pelo próprio cabelo. – Está falando sério? – perguntou ele. Cara não entendeu. – Essa é a sua reação? – Minha reação a quê? – Tem um idiota aqui na sua frente, oferecendo só dinheiro para que você crie sozinha o bebê dele, e você agradece? – Está com raiva de mim? – Sim! – Por quê? Ele não tinha direito de estar irritado. Cara estava facilitando ao máximo tudo para ele. Se alguém merecia estar com raiva, era ela. – Diga que não, Cara. Ou me expulse daqui. Diga que isso não é o suficiente. Bata em mim, sei lá! Diga o que você quer de mim. – Nada – garantiu ela com convicção. – Não quero nada de você, Max. Não precisamos do seu dinheiro. Não quero sua caridade. O bebê e eu vamos ficar perfeitamente bem, obrigada. – Sem mim? – Sim, sem você. A ideia de toda a conversa não era justamente aquela? – Na Austrália? – perguntou Max sarcasticamente. Cara ficou confusa. – Quem disse que vamos para a Austrália? – Acabou de me ocorrer que é exatamente isso que você quer. – Hã? – Que eu vá embora sem reclamar, que deixe você sozinha, que fique fora da sua vida e da do bebê. Cara se aproximou dele. – Max, você está ficando louco. Irritado, ele a olhou durante um longo momento. – Não me deixe fazer isso – disse ele por fim. – Você andou bebendo? – Não me deixe ir embora. – Eu não estou deixando você fazer nada. 105


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Max estava fazendo suas escolhas. Elas não tinham nada a ver com ela. Cara não poderia obrigá-lo a fazer nada, ainda que quisesse. O tom dele ficou apático de desgosto. – Se eu abandonar você, não vou ser nada diferente do meu pai. Cara perdeu toda a vontade de lutar. Ela sentiu uma grande dor em todo o corpo, e seu tom ficou totalmente inexpressivo: – Isso não é motivo para você ficar. Ela não o queria naquelas circunstâncias. Eles se entreolharam num silêncio carregado. Então, Max pegou a mão dela. Cara baixou o olhar, detestando a maneira como o toque dele fazia seu corpo despertar. – Amo você, Cara – sussurrou ele com o que parecia ser deslumbramento. – Acha que isso é motivo para eu ficar? O olhar perplexo dela se voltou para o dele. Max soltou uma risada rápida e confusa. – O que acha disso? Amo tanto você que nem consigo pensar com clareza. E sinto muito por não ter percebido isso até agora. O cérebro dela não estava registrando as palavras dele. – Max, o que você está dizendo? – Estou dizendo que não vou deixar você ir embora. Não consigo. Nunca vou conseguir. – A outra mão dele foi para a barriga dela. – E não vou abandonar nosso bebê. A mente dela começou a girar. Max se aproximou ainda mais. – Você não pode ir embora do país. – Não vou embora. Max, o que está acontecendo? – Ela tentava desesperadamente não ter esperança. Entretanto, parecia que ele estava falando de um futuro juntos. – Estou tendo uma epifania. E a sensação é maravilhosa. – Mas você não quer um bebê. – Teoricamente, não. E tenho muitos motivos racionais para isso. Mas você não é uma teoria, nosso bebê, também não. Então, mudei de ideia. – Simples assim? – Sim. – Nos últimos dois minutos? – Sim. Tente me acompanhar, Cara. Estou apaixonado por você. Já falei isso? Vou dizer outra vez. Amo você demais. – Mas… Ele passou o polegar pelos lábios dela para silenciá-la. – Fui um idiota. Mas já superei isso. Talvez tenha sido o sermão de Jake. Talvez tenha sido o fato de ver você. Ou pensar em você indo embora de Washington. – Não vou embora de Washington – repetiu ela. 106


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– Gillian disse que você ia se mudar para a Austrália. – Gillian mente bastante. – Cara precisaria ter uma conversinha com sua irmã. Max sorriu. – Vou beijar você agora. Cara lutou para aceitar a realidade das palavras dele. – Você está dizendo o que eu acho que está dizendo? – Se você acha que estou dizendo que amo você, que não vou abandonar você, que quero ter um bebê com você e que estou prestes a beijá-la, sim. Cara não conseguiu impedir que um sorriso se formasse em seu rosto. As dores se evaporaram de seu corpo, e seu coração começou a ter esperanças. – Pode me beijar, Max. Ele baixou a cabeça, sussurrando: – Quando eu terminar, acho bom você me dizer que também me ama. Os lábios dele tocaram os dela, e Cara sentiu o incontido amor dele se espalhar por todos as partes de seu corpo. Um dos braços dele envolveu a cintura dela, puxando-a para perto, enquanto a outra mão se mantinha de forma protetora sobre a barriga dela. A boca de Max se abriu, os lábios entreabrindo os dela, a língua provocando, enquanto seu calor e sua força a engoliam dos pés à cabeça. Ela envolveu o pescoço dele com os braços e se agarrou a Max enquanto o beijo se prolongava. Ele finalmente recuou. – Amo você. – Foram as palavras que explodiram de algum ponto bem no fundo do peito dela. Max sorriu. – Graças a Deus. – Ele afastou o cabelo dela. – Isso vai facilitar muito para você se casar comigo. Cara ficou impressionada. – Não tenho nenhum anel. Mas posso comprar um em dez minutos, se isso for crucial. Não sei como vamos conciliar isso com nossos empregos, mas vamos conseguir. Você é a minha maior prioridade. – Ele baixou o olhar. – Você e o bebê. – Você não gosta de bebês. – Gosto do seu bebê. Amo nosso bebê. Eu prometo, Cara, que vou amar nosso bebê cada segundo de cada dia. E não vou morrer e deixar vocês dois sozinhos. Zonas de guerra e crocodilos vão ficar no meu passado. – Você não pode virar sua vida de ponta-cabeça por um capricho, Max. – Cara estava começando a ficar nervosa. Aquilo era rápido demais. Perfeito demais. – Não é um capricho. Já passou da hora de isso acontecer. Amo tanto você, Cara. Não sou meu pai. Prometo que não vou cometer os erros dele. Nada importa para mim além de você. Cara começou a acreditar nele. – Pedi demissão – disse ela em voz baixa. – Não trabalho mais para a Casa 107


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Branca. Então, não temos mais conflitos de interesses. Ele a puxou para perto novamente, abraçando-a com força. – Nenhum conflito? – Nenhum. – Então, posso ficar aqui? – Esta noite? – Seria a melhor coisa que Cara poderia imaginar, passar a noite nos braços de Max. – Para sempre.

Três noites depois, Cara e Max estavam num evento beneficente para o distrito escolar local e a última noite de Gillian em Washington. Ela fizera uma considerável doação para o programa de tecnologia de informática, ao passo que Max fora convidado como celebridade local. Seria uma das últimas aparições de Max como apresentador do After Dark. Ele dissera a Nadine que ficaria feliz em continuar na emissora em outro cargo, mas que não viajaria mais a lugares perigosos para fazer as matérias que tinham se tornado a marca registrada do After Dark. Contente, Nadine lhe pedira para que assumisse um cargo de assessoria. Ele continuaria trabalhando tanto na história de Eleanor Albert quanto na do ANS. Nadine também lhe dissera que estava observando dois repórteres investigativos emergentes para a emissora. Os jovens eram bonitos, enérgicos e destemidos. Max também daria assessoria com relação à nova versão do After Dark. Os jovens tinham ficado empolgadíssimos. Max confessara a Cara que sua maior preocupação era impedir que eles arriscassem demais e que eles o faziam se lembrar dele próprio, quando mais novo. Lynn ficara decepcionada por perder as habilidades comunicativas de Cara. Felizmente, porém, ela era uma romântica que acreditava no poder da família e ficara muito feliz com a ideia do casamento e do bebê. Os discursos do evento beneficente tinham terminado, os pratos do jantar, retirados, e os garçons estavam servindo a musse de chocolate de três camadas. O apetite de Cara ainda estava fortíssimo, e sua boca salivou despudoradamente na expectativa daquelas delícias. Então, quando a sobremesa foi posta diante dela, ela pegou imediatamente o garfo. Max a observava, um sorriso convencido no rosto. Cara também percebeu que era o centro das atenções de Gillian e Jake, e das outras quatro pessoas da mesa redonda. Seria algo tão surpreendente assim uma mulher comer a sobremesa? Ela franziu o cenho para Max. Ele simplesmente sorriu em resposta. Resolvendo ignorá-los, ela passou o garfo pela borda do doce cremoso, cortando uma fatia. Então, algo chamou sua atenção, algo reluzente e cintilante, brilhando à luz dos lustres. 108


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Cara apertou os olhos, inclinando a cabeça para perceber que um deslumbrante anel de diamante fora posto sobre o canudo de chocolate, repousando contra um gordo morango. O anel era feito de ouros branco e amarelo entrelaçados, adornado com minúsculos diamantes e finalizado com um espetacular solitário cor-de-rosa, do mesmo tom dos brincos que Max lhe dera no Natal. Ela ficou paralisada. Então, sorriu, erguendo seu olhar amoroso para o dele. – Como você conseguiu pedras que combinavam? – Estavam me devendo um favor. Um homem que conheci numa mina. Ele retribuiu. Max retirou habilmente o anel da sobremesa. – Ainda estou comendo – informou ela com um sorriso largo. – Coma o quanto quiser. Mas, primeiro, quero que me dê a sua mão. Ela estendeu a mão esquerda, e Max deslizou o anel para o dedo dela, selando tudo com um beijo. A mesa explodiu em aplausos, e Cara sentiu as bochechas se inflamarem de vergonha. Ela estendeu a mão para admirar a cor sutil, adorando a forma como ela reluzia em seu dedo. – Gostou? – perguntou Max. – Adorei. – Ela se curvou para ele, e eles se beijaram. – Amo você – sussurrou ele no ouvido de Cara. – Também amo você – respondeu ela. Quando Cara se endireitou em sua cadeira, a conversa já recomeçara na mesa. Ao lado dela, Gillian esperava para ver o anel. – Lindo – disse ela a Max com um movimento de cabeça, aprovando. – Obrigado. – Então, ele parou. – Só não sei se vou conseguir acreditar em mais alguma coisa que você diga. – Todas as mentiras foram para o seu bem – explicou ela. – Austrália? – perguntou ele, pegando novamente a mão de Cara. – Ela havia se candidatado mesmo a um cargo novo – garantiu Gillian. – Ao menos antes de Ariella, Scarlet e eu a termos convencido a desistir. – Então, tenho que agradecer a você? Gillian deu de ombros. – Levando-se em consideração o que as minhas mentiras causaram, acho que devia agradecer muito. Max soltou uma gargalhada. – Agora, vou comer minha sobremesa – anunciou Cara. – Já está na hora de irmos? – perguntou Max, olhando para seu relógio. – Seu compromisso contratual é de ficar até as 21h – lembrou Cara. Não que ela tivesse algo contra voltar para seu apartamento. A gravidez ainda a deixava cansada cedo, e dormir nos braços de Max era ainda melhor do que a musse de chocolate. 109


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– Como é meu último trabalho como celebridade, estou disposto a violar os termos do contrato. – Quando vai ser o último programa? – perguntou Gillian. – Sexta-feira. Depois disso, volto para uma vida comum e anônima. Não que a minha vida vá ser comum tendo Cara. – Bela recuperação – disse Cara entre garfadas. – Quer saber o que eu vou fazer? – perguntou Jake a Gillian. Seu braço estava estendido sobre o encosto da cadeira dela, os dedos roçando levemente nos ombros nus dela. A banda começou a tocar a primeira música, e os outros dois casais da mesa foram para a pista de dança. – Vai fazer algo novo? – perguntou Gillian. – Max não precisa mais de um cinegrafista. – E o pessoal novo? – perguntou Cara. Não lhe ocorrera que Jake não teria o que fazer. – Eles podem encontrar seus próprios cinegrafistas. Tenho coisas a fazer, lugares aonde ir. – Que coisas? – Gillian parecia genuinamente curiosa. – Já venho economizando dinheiro faz um tempo. – Para o quê? – Para abrir minha empresa de produção. Documentários, em geral, mas talvez um pouco de drama. – Sério? – Sério. Enquanto Cara observava a interação, Max brincava distraidamente com o anel de diamante dela. – Já são quase 21h – sussurrou ele no ouvido dela. – Ainda não terminei minha sobremesa – respondeu ela. – E que lugares? – A atenção de Gillian estava totalmente voltada para Jake. – Estou procurando um bom lugar para servir de sede para a empresa. – Os dedos dele percorreram o ombro dela. – Estava pensando em Seattle. – Que coincidência. – Gillian sorriu, apontando para si mesma. – Eu moro em Seattle. – Que coincidência – ecoou Jake. Cara se curvou para Max. – Acha que devemos dar um pouco de privacidade a eles? – Podíamos ir para casa – sugeriu ele animadamente. – Se você quiser, pode ficar comigo – ofereceu Gillian. Agora, Cara estava mais do que um pouco curiosa. – Eu poderia ficar com você – concordou Jake com um cálido olhar. 110


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O sorriso de Gillian ficou ainda mais malicioso. – Tem um ótimo apartamento em cima da minha garagem. – Não vou ficar em cima da sua garagem. – Tem vista para o oceano, piscina, um adorável jardim de rosas. – Não vou ficar em cima da sua garagem – repetiu Jake. Gillian se fez de triste. – Você tem outros planos? Jake tocou o queixo dela com o dedo indicador. – Sem dúvida, tenho outros planos. Cara empurrou sua cadeira para trás, virando-se para Max. – Vamos dançar, querido? Ele se levantou rapidamente, rindo e oferecendo o braço a ela ao se afastarem da mesa. Cara se permitiu olhar para trás mais uma vez, e viu Jake se curvar para beijar Gillian. Ela olhou para Max. – Acha que eles estão… – Se não estão – respondeu ele, fazendo-a girar na pista de dança e puxando-a de volta para seus braços –, estão quase. Cara acompanhou os passos de Max, sorrindo ao ver seu novo anel. – Obrigada – disse a ele. – É absolutamente lindo. – Desculpe por eu não ter estado com ele quando fiz o pedido de casamento. – Deu a sensação de algo espontâneo. – E foi. Quando percebi como eu tinha sido idiota, não pude esperar mais nem um segundo para consertar tudo. – Estou feliz por você não ter esperado. – Já chega de esperar. Quero ser seu marido assim que possível. – Ele fez uma pausa. – A menos, claro, que você queira uma festa de casamento grande e sofisticada. – Você quer uma festa de casamento sofisticada? – Posso me casar com você na Catedral Nacional ou numa capela de Las Vegas. O importante é você ser minha esposa. – Nada de capela em Las Vegas – disse ela, rindo. – A Catedral Nacional? – Por que não deixamos Scarlet decidir? Ela é a especialista. – Podemos pedir para ela apressar tudo? – Claro. Seu bebê precisa de um pai. Quanto antes, melhor. A mão de Max aninhou delicadamente a barriga dela, e, com um tom intenso e amoroso, ele falou: – Vou dar o melhor de mim, Cara. Prometo a você. Vou ler livros, fazer cursos. 111


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– Você não precisa de cursos – disse ela, lutando para não chorar. – Você será um pai excelente, Max. Tudo o que você precisa fazer é amar nosso bebê. Ele a puxou para perto e, com a voz também embargada, falou: – Então, vai ser fácil. Porque eu já o amo.

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