Diplomacia do amor [filhas do poder 2]

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DIPLOMACIA DO AMOR BEDROOM DIPLOMACY

Michelle Celmer

FILHAS DO PODER: A CAPITAL 2/6 Um escândalo prestes a estourar. Depois que seu último namorado partiu seu coração e a engravidou, Rowena Tate desistiu de se expor demais na sociedade. Mas não ficou imune ao charme britânico de Colin Middlebury, cujas habilidades excediam seus conhecimentos sobre política.Como diplomata, Colin precisa lidar com uma série de exigências, mas nenhuma se assemelha ao pedido do senador Tate: cortejar sua filha e trazê-la de volta a vida social. Colin precisa do apoio do senador, e se aproximar da bela Rowena não será um sacrifício. Afinal, além de internacionais, as relações também podem ser íntimas... Digitalização: Simone R. Revisão: Carmita


Michelle Celmer - [Filhas do Poder 2] - Diplomacia Do Amor (Desejo Dueto 42.2)

Tradução Leandro Santos HARLEQUIN 2013 PUBLICADO SOB ACORDO COM HARLEQUIN ENTERPRISES II B.V./S.à.r.l. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: A CONFLICT OF INTEREST Copyright © 2013 by Harlequin Books S.A. Originalmente publicado em 2013 por Harlequin Desire Título original: BEDROOM DIPLOMACY Copyright © 2013 by Harlequin Books S.A. Originalmente publicado em 2013 por Harlequin Desire Projeto gráfico de capa: Nucleo i designers associados Arte-final de capa: Ô de Casa Editoração eletrônica: EDITORIARTE Impressão: RR DONNELLEY www.rrdonnelley.com.br Distribuição para bancas de jornais e revistas de todo o Brasil: FC Comercial Distribuidora S.A. Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171,4° andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380 Contato: virginia.rivera@harlequinbooks.com.br

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CAPÍTULO UM

Rowena Tate se apegou ao pouco de paciência que ainda lhe restava quando a assistente pessoal de seu pai, Margaret Wellington, avisou: – Ele mandou dizer que está vindo. – E…? – perguntou Rowena. – Só isso – falou Margaret, mas, pela voz dela, Rowena soube que estava escondendo alguma coisa. – Você mente pior do que eu. Margaret suspirou. – Ele me mandou pedir para você se comportar. Rowena respirou fundo para se acalmar. Naquela manhã, seu pai lhe informara por e-mail que levaria um convidado para conhecer a creche. Ele exigira – não pedira, pois o grande senador Tate jamais pedia nada – que tudo estivesse em ordem. Insinuara, não pela primeira vez desde que ela assumira a administração daquele projeto pessoal dele, que Rowena ainda era impulsiva, irresponsável e inepta. Ela olhou pela janela de sua sala para as crianças no playground. O céu estava ensolarado, e a temperatura estava a uns agradáveis 20 graus, basicamente o normal para o sul da Califórnia em fevereiro. Rowena podia estar com o pior humor do mundo, mas ver as crianças brincando sempre a fazia sorrir. Antes de ter seu filho, Dylan, ela não se interessara muito por crianças. Agora, já não conseguia mais imaginar uma profissão mais gratificante. E sabia que, se não tomasse cuidado, seu pai também lhe privaria daquilo. – Ele nunca vai confiar em mim, vai? – Ele deixou você no comando. – Sim, mas, depois de três meses, continua me vigiando atentamente. Às vezes, acho que ele quer que eu fracasse, só para poder dizer “eu avisei”. – Não é verdade. Ele ama você, Row. Só não sabe como demonstrar. Tendo sido assistente do pai dela por 15 anos, Margaret era como um parente e uma das poucas pessoas que compreendiam o complicado relacionamento entre Rowena e o pai. Margaret já trabalhava com eles desde antes de a mãe de Rowena, Amelia, causar um incrível escândalo ao fugir com o protegido do senador. E as pessoas ainda se perguntavam por que Rowena era tão estranha… Era, lembrou Rowena a si mesma. – Quem é desta vez? – perguntou a Margaret. – Um diplomata britânico. Só sei que ele quer que seu pai apoie um acordo tecnológico com o Reino Unido. E acho que tem algum título de nobreza. O senador devia ter adorado aquilo. – Obrigada pelo aviso. 3


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– Boa sorte, querida. A campainha tocou, anunciando a chegada do pai dela. Com um suspiro, Rowena foi até o playground abrir o portão para encontrar seu pai, vestido para jogar golfe e usando seu artificial sorriso de político. Então, os olhos dela se voltaram para o homem ao lado dele. Uau. Quando Margaret dissera que era um diplomata britânico, Rowena imaginara um elitista conservador, quase careca e com seus cerca de 40 anos. Aquele homem, porém, era da idade dela, e não havia nada de conservador nele. Seu cabelo era da cor do trigo, cortado curto e arrepiado de maneira estilosa. Seus olhos tinham um penetrante tom de azul que só poderia ser criado por lentes de contato. E, ainda que ele fosse um nobre por seu título, a sombra da barba loira cortada de forma rente e uma pequena cicatriz dividindo sua sobrancelha esquerda lhe davam um ar perigoso. Ele era vários centímetros mais alto que o senador; provavelmente, 1,90m. Sendo esbelto, devia ter uma aparência esticada. Em vez disso, suas proporções eram perfeitas. A rebelde dentro dela disse “Venha para a mamãe”. Contudo, a Rowena lógica, adulta e madura sabia por experiência própria que homens poderosos e pecaminosamente atraentes eram o pior tipo de encrenca. E, infelizmente, o melhor tipo de diversão. Até conseguirem o que queriam e seguirem para campos mais verdejantes. Ou, como acontecera com o pai de Dylan, filho dela, até engravidá-la e, em seguida, abandoná-la. Ela abriu o portão. – Querida, quero que conheça Colin Middlebury – disse o senador, “querida” sendo um termo que ele usava apenas quando estava tentando passar a imagem de homem de família. – Colin, esta é minha filha, Rowena. O homem fixou aqueles incríveis olhos nela, abrindo um sorriso que fez o coração de Rowena disparar. – Srta. Tate – disse ele com uma voz suave como seda. – É um prazer conhecê-la. Ah, o prazer é todo meu, acredite. – Sr. Middlebury, bem-vindo a Los Angeles – disse ela. – Pode me chamar de Colin, por favor. – Quando ele apertou a mão dela, Rowena sentiu um pequeno formigamento. Fazia muito tempo desde a última vez em que um homem lhe causara formigamentos. A maioria dos homens que o pai dela lhe apresentava eram políticos velhos com mãos pegajosas, olhos ávidos e sorrisos gananciosos. Do tipo que achava que seu poder político o tornava irresistível para qualquer coisa que tivesse um par de seios. – Colin ficará na mansão enquanto resolvemos os detalhes de um acordo que estou preparando – disse o pai dela. – Duas ou três semanas. Aquela costumava ser a pior parte de ser filha de um político, ter que bancar a educada anfitriã. Entretanto, quando seu hóspede era alguém como Colin Middlebury, ele poderia ser o maior idiota do mundo, mas ao menos a vista seria ótima. – Onde está meu neto? – Está lá em cima, com a fonoaudióloga – respondeu ela. O primeiro andar do edifício servia como creche, ao passo que o segundo fora transformado para acomodar uma variedade de equipamentos de fisioterapia, 4


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fonoaudiologia e terapia ocupacional. Assim, Dylan poderia receber toda a terapia de que precisava, e Rowena poderia administrar a creche sem interrupções. Ideia do pai dela, claro. Apenas o melhor para o neto dele. – Quando ele termina? Quero que Colin o conheça. – Só daqui a uns 30 minutos. E ele não devia ser incomodado. – Pode ser em outro momento – disse Colin. Ele perguntou a Rowena: – Vai se juntar a nós para o jantar no Estavez hoje à noite? Lógico que sim. Ela adoraria. Mas um olhar severo de seu pai deixou mais do que óbvia a resposta correta àquela pergunta. – Talvez em um outro momento – respondeu ela. – Colin, vou levá-lo para conhecer o interior. – Fantástico – disse Colin, soando verdadeiramente empolgado. – Dei início a este projeto há dois anos – falou orgulhosamente o senador, sem mencionar, como sempre, que a ideia inicial fora de Rowena. – Ei, Row! Rowena olhou para onde Patricia Adams, a diretora-assistente e também sua melhor amiga, estava tomando conta das crianças. Ela abanou o rosto e, apenas com o movimento da boca, disse uau. Poucos minutos depois, o pai dela e Colin saíram do edifício, e Rowena percebeu que seu pai estava irritado com alguma coisa. – Parece que alguém deixou tinta na beira de uma das mesas e sujou a calça de Colin – disse ele, e, apesar de seu tom estar razoável, seu maxilar estava contraído, e os olhos pareciam que iriam saltar. Colin, em contraste, parecia inabalado, apesar de uma mancha magenta um tanto quanto grande em sua perna esquerda. – Não tem problema – disse ele. – É tinta solúvel, dá para lavar – falou Rowena. – Tenho certeza de que Betty, nossa governanta, consegue resolver isso para você. Mas, se não der, eu compro uma nova. – Definitivamente, não será necessário – disse Colin. – Vamos deixar você retornar ao trabalho – falou o pai dela, abrindo seu sorriso treinado. – Colin, pode me dar licença com minha filha um instante? Lá vamos nós. – Claro. Rowena seguiu seu pai para dentro do edifício. Ele se virou para ela. – Rowena, tudo que peço quando trago um convidado é que você esteja com o centro limpo e apresentável. Seria pedir demais que você limpasse a tinta derramada? Colin é da realeza, um conde e também um herói de guerra. Que motivo você teria para ser tão mal-educada? Se ele era herói de guerra, coisas muito piores já deviam ter sido derramadas na calça dele, pensou Rowena. Mas, como tantas vezes antes, ela engoliu seu orgulho. – Desculpe. Provavelmente, não vimos quando limpamos. 5


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– Se você não consegue fazer algo simples como limpar tinta, como posso esperar que cuide adequadamente de crianças? – Desculpe. – Depois de tudo que fiz por você e por Dylan… – Ele balançou a cabeça e saiu. Rowena desabou contra a parede, irritada, frustrada e, sim, magoada. Contudo, não derrotada. Ele poderia continuar a derrubá-la, pois ela continuaria a se reerguer. – Row? Tricia estava na porta, parecendo preocupada. – Tudo bem? Rowena inspirou fundo. – Não foi nada. – Ouvi o que ele falou da tinta. Foi culpa minha. Pedi a April para limpar as mesas e me esqueci de ver se estava tudo em ordem. Sei como ele é detalhista quando traz alguém. Desculpe. – Tricia, se não fosse a tinta, seria outra coisa. Você sabe que ele sempre encontra algo. – Não é certo o jeito como ele trata você. Você mudou, Row, ajustou sua vida. – Mas eu não teria conseguido sem a ajuda dele. Não posso negar que ele fez muito por mim e por Dylan. – É o que ele quer que você pense. Mas isso não torna certo ele tratar você como uma criada. Você teria ficado bem sozinha. Rowena queria acreditar naquilo, mas, na última vez em que ela ficara sozinha, estragara tudo em sua vida. – Você sabe que a proposta ainda está de pé. Se você e Dylan quiserem passar um tempo comigo… E, no instante em que ela fosse embora, seu pai não apenas a deserdaria, mas também deserdaria Dylan. E, sem dinheiro para pagar pelos cuidados médicos dele, o pai de Rowena teria tudo para tirá-lo dela. Rowena vinha ouvindo aquela ameaça desde que Dylan nascera. – Não posso, Tricia, mas amo você por oferecer. Sua irresponsabilidade e falta de cuidado a tinham posto naquela encrenca, e ela era a única que poderia resolver tudo.

Colin nunca dera ouvidos a boatos. Fora por isso que, quando ouvira as especulações a respeito da filha do senador, por justiça e respeito, ele não a julgara. E talvez ele estivesse deixando algo passar, mas não via nada de errado nela. Aquela era a primeira missão de Colin como diplomata, algo muito diferente do que ele desejava para sua vida, mas ele estava dando o melhor de si. Havia muitas escutas telefônicas e invasões virtuais ocorrendo com pessoas de cargos importantes no Reino Unido e nos Estados Unidos. O acordo tecnológico daria às autoridades internacionais as ferramentas para garantir que os culpados fossem levados à justiça.

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Devido a uma invasão virtual, o presidente Morrow fora acusado pela imprensa de ter uma filha ilegítima em seu baile inaugural, diante da família, de amigos e de celebridades. Os Estados Unidos estavam finalmente dispostos a negociar. Dependia de Colin conseguir o acordo. Ele já percorrera metade da trilha feita de tijolos até a mansão quando o senador Tate o alcançou, dizendo: – Novamente, peço desculpas. – Como eu disse, não há problema. – Não é segredo que Rowena já teve problemas no passado. Ela se esforçou para superá-los. Ainda assim, o senador parecia controlá-la com rédeas curtas. Era bobagem se incomodar com algo simples como tinta derramada. – Acho que todos já fizemos coisas das quais não nos orgulhamos. O senador ficou em silêncio por vários segundos. Então, parecendo incomodado, falou: – Posso ser franco com você, Colin? – Claro. – Soube que você tem uma certa reputação de ser conquistador. – Tenho? – Não estou dizendo que culpo você por isso. Sua vida não é da minha conta. Colin não negaria que já tivera uma bela quantidade de mulheres, mas não era nenhum aproveitador. Jamais saíra com uma sem primeiro deixar claro que ele não estava com pressa para se estabelecer e nunca prometera exclusividade. – Essa tal reputação que tenho me parece um pouco exagerada. – Você é jovem, está no auge. Em circunstâncias normais, eu nem falaria disso, mas acolhi você em minha casa para uma estada longa e preciso deixar claro que existem determinadas regras. Regras? – Minha filha pode ser muito… impulsiva e já foi vítima de homens inescrupulosos que achavam que podiam usá-la para me conquistar. Ou simplesmente usá-la. – Senhor, eu lhe garanto que… Ele levantou a mão para impedi-lo. – Não é uma acusação. Ainda assim, preciso insistir para que, enquanto você ficar na minha casa, deva considerar minha filha fora dos limites. Posso contar com você para fazer a coisa certa, filho? – Claro – disse Colin, sem saber se devia se sentir ofendido, se achava graça ou se devia sentir pena do senador. – Vim para trabalhar no acordo. – Pois bem. Vamos ao trabalho.

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CAPÍTULO DOIS

Depois de um longo e encorajadoramente produtivo dia de trabalho com o senador, Colin encontrou um canto tranquilo e escuro perto da piscina para relaxar. Ele precisava daquele tempo sozinho. Esticou-se numa cadeira e olhou para o céu estrelado enquanto tomava um copo do melhor uísque do senador. Quando seu telefone tocou, ele ficou surpreso por ver o número de sua irmã na tela. Eram apenas 5h30 da manhã em Londres. – Acordou cedo – disse ele. – Mamãe está tendo uma noite difícil. Então, eu estava acordada, vendo televisão. Queria saber o que você está achando daí. – Está sendo… interessante. Ele contou a respeito do aviso do senador. – O pai dela chegou a dizer para você que ela está fora dos limites? – Nessas palavras. – Inacreditavelmente rude e mal-educado! – Aparentemente, tenho uma reputação com as mulheres. Com o cabelo vermelho como o fogo e os olhos verdes de Rowena, ele não podia negar que, em outras circunstâncias, teria ficado muito interessado. Mas ele era capaz de resistir a uma bela mulher. – Talvez seja bom você voltar – disse Matty. Ela falava de Londres, claro. E, ainda que ele tivesse passado a maior parte de sua recuperação lá, continuava não considerando o lugar seu lar. Para Colin, seu lar fora o internato e, depois, qualquer país onde ele estivesse trabalhando. – Você passou por tanta coisa e ainda está se recuperando – insistiu Matilda. Vinte anos mais velha que ele, ela sempre parecera mais uma mãe do que uma irmã. Ainda mais depois do acidente de helicóptero. Sim, ele tinha sorte de estar vivo, mas pensar no passado não servia de nada. Os piores de seus ferimentos já haviam se curado, e ele precisava seguir com sua vida. Não que ele fosse conseguir ou querer esquecer tudo completamente. Tinha orgulho de seu serviço, tinha a honra de ter defendido seu país. No fundo, sempre seria um guerreiro. – Sei que você está fazendo isso pela nossa família – disse Matilda –, mas política, Colin? Isso está tão… abaixo de você. Tendo passado a maior parte de sua vida longe da família e isolada do mundo real, Matilda não conseguia entender a necessidade do acordo. – Preciso fazer isso. A privacidade da família foi violada diversas vezes, nossa reputação foi abalada. Isso precisa parar. – Só estou preocupada com você. Eles conversaram por mais alguns minutos, e Matilda começou a bocejar. 8


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– Você devia tentar dormir mais – disse ele. – Prometa que vai se cuidar. – Prometo. Amo você, Matty. Dê lembranças à mamãe. – Também amo você. Ele desligou e fechou os olhos, repassando em sua mente tudo que eles tinham feito naquela tarde e a grande quantidade de trabalho que ainda restava. Seria um processo lento e agoniante. E o mesmo aconteceria no Reino Unido antes de algo ser definido de vez. Em algum momento, ele devia ter adormecido, pois foi despertado por um som alto de água espirrando. Levantou-se de súbito na cadeira, alheio ao ambiente. Vivera em tantos lugares que, às vezes, todos se juntavam num borrão. A mansão do senador. Deque da piscina. É isso. Ele teria ouvido mesmo o som de alguém mergulhando, ou teria sido apenas um sonho? Colin percebeu um movimento na água na ponta mais afastada da piscina. Iluminada pelo brilho que emanava do fundo, uma silhueta indiscernível atravessava a água. Então, subiu para tomar ar, e Colin teve um inconfundível vislumbre do cabelo vermelho. Rowena mergulhou novamente e emergiu ao chegar à borda oposta, a menos de três metros de onde ele estava. Ela fez a virada e continuou a nadar. Ele ficou parado ali, hipnotizado pelo gracioso deslizar do corpo dela, as braçadas treinadas que a levavam de um lado ao outro da piscina. Aquilo continuou por um tempo até que Rowena finalmente parou na outra ponta e se agarrou à borda, aparentemente exausta e arfante. Contudo, não descansou sequer por um minuto antes de retomar o processo. Depois de mais algumas voltas, ele começou a pensar no senador e em suas regras ridículas, e em como ele poderia ser mal interpretado por estar ali observando Rowena. Ele poderia sair dali às escondidas. Se alguém o visse, porém, isso definitivamente daria a impressão de que ele tinha algo a esconder. Ao não ir embora no instante em que ela mergulhara, Colin criara um dilema. Àquela altura, parecia que a coisa mais sábia a se fazer seria anunciar educadamente sua presença e, em seguida, dar o fora dali.

Ainda tomada de raiva devido à bronca que recebera do pai naquele dia quando ele vira que ela estourara em 30 dólares o orçamento mensal de suprimentos de arte, Rowena descontou sua frustração em si mesma, nadando até que seus braços, pernas e ombros doessem. Três anos, dois meses e seis dias de sobriedade, e o senador continuava esperando que ela fracassasse. E, embora Rowena não negasse que cometera muitos erros, ela já pagara por todos eles. Fizera tudo que seu pai lhe pedira, mas isso não era suficiente. Talvez nunca fosse para ele. Ela sempre seria a ovelha negra, sempre buscando o amor dele, tentando agradá-lo, mas nunca conseguindo. Ao terminar de nadar, ela estava tão exausta que mal teve forças para se erguer para fora da água. 9


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– Foi um exercício e tanto – disse uma voz desconhecida de algum ponto atrás dela, na escuridão. Assustada, Rowena se virou, vendo apenas a sombra de alguém muito grande e intimidador. Seu coração disparou, imaginando primeiramente que fosse um estuprador ou um assassino em série. Seu cérebro disse corra, e ela recuou instintivamente… para a beira da piscina. Sentiu que caía para trás e pensou Certo, e agora?, mas a mão surgiu da escuridão e se fechou firmemente em torno do punho dela, puxando-a para cima. Rowena puxou o braço, esperando que ele a soltasse. Em vez disso, tudo que ela conseguiu foi derrubar a si mesma e a seu suposto agressor na piscina. A voz que ela ouvira começou a se repetir como um gravador em sua mente, porém, soando vagamente familiar dessa vez. Ela ouviu o sotaque, o tom suave. E, quando ele emergiu ao lado dela, cuspindo água e soltando palavrões, tudo que Rowena conseguiu pensar foi que seu pai a mataria. Se Colin não fizesse isso primeiro. – Por que diabos você fez isso? – disse ele, boiando. – Eu sinto muito – falou ela. Ele se segurou na borda da piscina e se ergueu. Entretanto, o fato de que ela não estava prestes a ser assassinada a deixou tão fraca de alívio que, quando Rowena tentou sair para o deque, seus braços cederam, e ela deslizou de volta para a água. – Permita-me – disse ele, estendendo a mão para ajudá-la. Quando ela hesitou, ele falou numa voz irritada: – Por favor, simplesmente pegue a minha mão. Rowena segurou a mão dele e, sem o menor esforço, ele a tirou da água. Colin era forte, o que a fez perguntar a si mesma como conseguira puxá-lo para dentro da água. Talvez a adrenalina tivesse lhe conferido força sobre-humana. Agora, ela sentia fraqueza e frio. Colin pegou a toalha dela, mas, em vez de usá-la em si mesmo, envolveu os ombros de Rowena com ela. O modesto maiô dela não poderia ser descrito como algo revelador. Ainda assim, ela não conseguiu evitar se sentir exposta. O casaco e a calça ensopados dele eram uma boa indicação de que ele não fora até ali para nadar. A menos que estivesse planejando nadar nu. Rowena não teria achado nada ruim ver isso. Ele retirou um celular de aparência cara do bolso de sua calça. Ela fez uma expressão de dor quando ele o balançou, apertou o botão algumas vezes e nada aconteceu. Se Colin contasse aquilo ao pai dela, Rowena ficaria encrencada. – Sinto muito. Não sabia que tinha mais alguém aqui. Costumo ficar sozinha na piscina. – Não foi minha intenção assustar você – disse ele. – Eu estava sentado à beira da piscina e devo ter pegado no sono. Acordei quando você mergulhou. – Seu telefone… dá para ser recuperado? – Duvido. – Eu sinto muito mesmo, Colin. Primeiro, a sua calça. Agora, isto.

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– Pode me emprestar uma toalha? – Claro! – Onde estavam os bons modos dela? Era o mínimo que ela poderia fazer, já que, ao tentar não ser assassinada, ela acabara com o telefone dele e, pelo jeito, o casaco… e aqueles eram sapatos de couro? – Elas ficam na casa da piscina. Ele a seguiu, as solas guinchando contra o piso de cerâmica. Ao entrarem, ela ligou as luzes. Apesar de ser apenas uma casa de piscina, o lugar tinha o tamanho e os recursos de um apartamento. Colin tirou os sapatos e entrou com ela. Rowena foi para o banheiro e pegou uma toalha de praia na prateleira. Retornou no instante em que Colin estava tirando seu casaco molhado, revelando um peito e um abdômen que eram a prova de anos de exercícios, definidos e musculosos. Quadris estreitos e braços fortes davam proporção ao que, por baixo do tecido molhado da calça, pareciam pernas compridas e musculosas. Então, ele se virou para jogar a peça destruída porta afora, e Rowena inspirou fundo. Havia cicatrizes de queimaduras que haviam se curado por completo, ainda que algumas parecessem dolorosamente recentes, logo abaixo dos ombros dele, descendo por todas as costas e desaparecendo debaixo da cintura da calça. Ela apagou a surpresa de seu rosto quando ele se virou novamente. A não ser pelas cicatrizes, seria impossível o corpo dele ser mais perfeito. Colin estendeu a mão. – Toalha? Ela lhe entregou. – Desculpe. – Está perdoada. Agora, pode, por favor, parar de pedir desculpas? – Descul… Ele a olhou fixamente. Rowena deu de ombros. – Força do hábito. Ao vê-lo secar seus peitorais magnificamente tonificados e seus braços fortes, ela começou a ficar excitada em lugares que não ficavam assim fazia muito tempo. E essa era a última coisa em que ela deveria estar pensando naquele momento. Ele parecia ser um homem bastante razoável. Então, Rowena arriscou: – Tem alguma possibilidade de não contarmos isso ao meu pai? Colin abriu um de seus adoráveis sorrisos. – Será nosso segredinho. A ideia de ter um segredo com ele, grande ou pequeno, fez o coração dela palpitar. – O senador exige perfeição? – perguntou Colin. Perfeição era pouco para descrever. – Ele tem níveis de exigência bem altos. – Se isso vale de alguma coisa, fiquei impressionado com a creche. – Obrigada. – E, por algum motivo idiota, ela se ouviu dizendo: – Foi ideia minha. Em vez de ignorar o comentário ou olhá-la de forma duvidosa, Colin pareceu 11


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verdadeiramente interessado. – Foi mesmo? Ela devia encerrar por ali, já que tudo dera certo, mas não conseguiu fazer sua boca parar de se mexer. – Meu pai sempre se candidatou usando a imagem do homem de família americano. – Irônico, levando-se em consideração o pai negligente que ele era na realidade. O trabalho sempre vinha em primeiro lugar. – Entre outras, uma das causas dele tem sido a criação de creches baratas para famílias de trabalhadores. Então, abrir uma creche para os filhos dos próprios funcionários dele me pareceu uma solução lógica. – Quer dizer que o projeto é tanto seu quanto dele? Oh-oh. Ela balançou a cabeça, rindo nervosamente. – Não, não, de forma alguma. Sem dúvida, o projeto é dele. Mas me diverti ajudando com os planos, vendo tudo se realizar. Visitei creches por toda a cidade e procurei ideias na internet. Parecendo confuso, ele perguntou: – Sendo assim, como você pode dizer que o projeto não é seu? Rowena precisava muito parar de falar. – Não sou eu quem financia. – Financiar é a parte fácil. Parece que foi você quem fez a difícil. O trabalho de verdade. Se o senador ficasse sabendo que ela estava recebendo crédito pela creche, ele ficaria louco. – Não fiz nada, é sério. – Para nada, você parece bem orgulhosa do que fez. E deveria estar. Mas não valia a pena se aquilo significasse irritar o pai dela. – Você parece nervosa. – Às vezes, minha boca funciona de forma independente do meu cérebro, e digo coisas que não devia. – Ajudaria se eu dissesse que o que você e eu discutirmos em particular nunca vai chegar aos ouvidos do senador? Ela suspirou, aliviada. – Eu agradeceria muito. – Mas é uma pena que você ache que precisa esconder suas realizações. Era um instinto de sobrevivência. – Meu pai e eu… nosso relacionamento é… complicado. É mais fácil para todos se eu não causar nenhum incômodo. – Acho que entendo. Ele entendia? Sério? Ela olhou o relógio. – Uau, não percebi que já era tão tarde. Preciso entrar, ou Betty vai achar que me afoguei. 12


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– A governanta? Rowena assentiu. – Ela cuida de Dylan enquanto nado. Geralmente, fico 40 minutos… – Ela parou, calculando o tempo. – Você disse que acordou quando mergulhei? – O barulho me assustou. No entanto, ele não dissera nada até depois de ela ter completado o exercício. Sendo assim, o que ele tinha ficado fazendo durante todo aquele tempo? – Sim – disse ele, como se estivesse lendo a mente dela. – Eu estava vendo você nadar. Minha única desculpa, por mais tosca que seja, é que eu estava hipnotizado. – Ele pegou a mão dela e… falando em formigamentos… – Espero que aceite meu pedido de desculpas. Ele era bom. Rowena cometeu o erro de olhar nos olhos dele e se sentiu sugada para suas extraordinárias profundezas azuis. Sem parar de olhá-la, ele falou: – Por que, quando uma coisa é proibida, você acaba querendo-a ainda mais? Venha me pegar, quis dizer ela. Então, lembrou a si mesma que ele era um político e que, por mais que parecesse e soasse sincero, ele tinha a capacidade de mentir descaradamente. E convincentemente. Mas um flerte inocente não faria mal. Certo? Os olhos de Colin analisando os dela desceram, fixando-se na boca de Rowena, o que, obviamente, fez com que ela observasse a boca de Colin. E tudo que Rowena conseguiu pensar foi em como ela queria beijá-la. Ele levou a mão dela para seus lábios, dando um leve beijo no dorso, e ela flutuou. Fazia um longo tempo desde a última vez em que os lábios de um homem tinham tocado qualquer parte do seu corpo. – Foi um prazer conversar com você – disse ele. – Talvez possamos repetir. – Talvez – disse ele, soltando a mão dela lentamente, os dedos deslizando sobre os dela. Não vá, pensou Rowena. Ela viu em silêncio Colin desaparecer na escuridão, desejando que eles pudessem mesmo repetir aquilo, mas sabendo que seria melhor se isso não acontecesse.

Quando Rowena chegou à suíte dela, Betty estava estendida no sofá. – Deve ter nadado bastante – disse ela, desligando a televisão, seus curtos cachos grisalhos pressionados contra a nuca. – Betty, eu sinto muito. Não foi minha intenção demorar tanto. – Como se eu tivesse algum compromisso muito importante. Betty se levantou lentamente, esticando suas costas acometidas pela artrite. Fazia parte da família desde que Rowena nascera. Ela lhe ensinara a assar biscoitos, ensinara como eram feitos os bebês e a levara para comprar seu primeiro sutiã, já que a mãe de 13


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Rowena não faria isso. E, quando Rowena estava lutando contra seus vícios, Betty fora a única a nunca perder a fé nela. Mas ela estava envelhecendo, reduzindo o ritmo físico, e a hora de se aposentar logo chegaria. – Dylan acordou? – Não fez nem um som. – Obrigada por ter cuidado dele – disse Rowena, abraçando Betty. – Sem problema, querida. Amanhã à noite, no mesmo horário? – Se não se importar… Ao acompanhá-la até a porta, Rowena perguntou: – O que você achou do hóspede do meu pai? – O sr. Middlebury? Ele parece amistoso e muito educado. Um tanto quanto conquistador, imagino, mas como é bonito! Se eu fosse 30 anos mais jovem… – disse ela com um sorriso. – Por que pergunta? Rowena deu de ombros. – Curiosidade. – Está interessada? – De jeito nenhum. Você sabe que não saio com políticos. – Ah, ele não é político. Só está aqui fazendo um favor à família dele. Parece que eles pensam que, por ele ser um herói de guerra, teria maior influência em Washington. Interessante. – Você parece saber bastante sobre ele – falou Rowena. – Papeamos uma ou duas vezes. Você devia conversar com ele. – Vou pensar nisso. Depois que Betty foi embora, Rowena foi ver Dylan, que estava totalmente adormecido em seu berço. Em seguida, tomou banho, vestiu o pijama e foi para a cama com seu computador, para verificar seu e-mail. Por um capricho, ela resolveu abrir o navegador da internet e digitar o nome de Colin. Em vez de colunas sociais falando de um conde mulherengo, o que Rowena encontrou foram notícias de Colin Middlebury, o herói de guerra. Uma honra que ele claramente merecera. Durante seu último período no Oriente Médio, o helicóptero em que ele estava caíra. Ele fora lançado para fora da aeronave e, com uma perna destruída, voltara rastejando e arrastara o piloto, inconsciente, para fora dos destroços. Contudo, antes que eles pudessem se afastar, o helicóptero irrompera em chamas. Os dois homens haviam sofrido queimaduras severas, e Colin passara um mês no hospital e mais oito semanas em um centro de reabilitação. Parecia que Colin tivera muita sorte. A não ser pela pequena cicatriz que atravessava sua testa, ele não tinha nenhuma marca óbvia. Quer dizer, até tirar a roupa. E a última coisa que Rowena deveria fazer era pensar em Colin sem roupa. Ela sentia falta de namorar? Às vezes. Mas não havia nada de que Rowena precisasse que ela própria não pudesse conseguir sozinha. No quarto ou fora dele. 14


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Mas isso não significava que não seria divertido.

CAPÍTULO TRÊS

O dia seguinte pareceu se arrastar. Rowena tentou se ocupar, encomendando suprimentos, planejando aulas e buscando ideias na internet. Então, no meio de uma tarefa, uma imagem de Colin de peito nu, os braços fortes, surgia em sua mente, e ela esquecia totalmente o que estava fazendo. Ele estaria novamente na piscina naquela noite? Talvez, depois de terem conversado, ele não a tivesse achado tão atraente. Rowena passou a tarde inteira nervosa e, durante o jantar, enquanto Dylan falava de seu dia, ela mal prestou atenção. E se Colin aparecesse mesmo? Ainda que ele gostasse dela, e ela gostasse dele, Colin só passaria algumas semanas ali. Seria impossível que eles pudessem ter algum tipo de relacionamento. Ela era uma adulta responsável. Uma mãe. Seus dias de casos passageiros haviam terminado no instante em que ela descobrira que estava grávida. Seria… indigno demais. Ela não devia se importar com o fato de Colin estar na piscina ou não. Sendo assim, por que, ao chegar para nadar e encontrar as cadeiras vazias, ela ficou tão decepcionada? Depois de terminar, enquanto voltava para sua suíte, Rowena pensou em fazer um rápido desvio até o quarto de Colin. Apenas para lhe dizer novamente que gostara da conversa com ele e lhe avisar que, se ele precisasse de alguma coisa, bastava pedir a ela. Rowena, ela o imaginou dizendo, eu só preciso de você. Ele estaria sem camisa, claro, e talvez recém-saído do chuveiro. Estenderia a mão, e, embora ela fosse hesitar durante vários segundos, Rowena a aceitaria. Ele a puxaria para dentro do quarto, fecharia a porta… Naquele momento, ela se obrigou a andar até chegar a sua suíte. Por mais improvável que fosse aquilo acontecer, Rowena ficava assustada ao pensar no resultado. Na manhã seguinte, ela conseguiu não pensar muito nele, até ver Colin e o advogado do pai dela sentados no pátio dos fundos. – Olá, Colin – falou ela com um sorriso. Seu coração se animou ao vê-lo, apenas para desabar pesadamente quando Colin respondeu: – Olá, srta. Tate. Ele sequer abriu um sorriso. Era o bastante. Ela endireitou os ombros e continuou andando. Não tinha motivo 15


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para se sentir irritada ou ofendida. Eles só tinham conversado uma vez. Para evitar vê-lo novamente, ela saiu pela porta da frente, dando uma grande volta para ir à creche. – Por que pegou o caminho mais longo? – perguntou Tricia. – Exercício – disse Rowena, e se enfurnou em seu escritório durante o restante da manhã, recusando-se a sentir pena de si mesma. À tarde, um endiabrado menino de 10 anos chamado Davis, cuja mãe trabalhava para o senador pedindo doações, caiu do trepa-trepa, e Rowena ficou com ele, segurando uma compressa de gelo sobre seu braço inchado até a mãe chegar a levá-lo às pressas ao pronto-socorro para fazer uma radiografia. Ela precisou ouvir um sermão de seu pai diante de Dylan, pois, naturalmente, fora culpa dela. – Dabis teve dodói hoje – disse Dylan quando ela o pôs na cama naquela noite. – Sim, mas a mamãe dele telefonou e disse que foi só um dodói pequeno. Houve um genuíno alívio nos grandes olhos cor de mel dele. Tendo passado por tanta coisa, Dylan era especialmente empático para um menino de sua idade. E, ainda que ele tivesse incapacidades físicas, era mais inteligente do que indicariam seus 2 anos e meio. – Vovô bigou com você. – Não, meu amor, ele não brigou – mentiu ela. – Só ficou preocupado com Davis. – Ela já estava cansada de inventar desculpas para o comportamento de seu pai. Dylan o venerava. Era o único avô que tinha. Mas não demoraria muito até que ele começasse a compreender o tipo de homem que seu avô era na realidade. Quando ela se curvou para lhe dar um beijo de boa-noite, Dylan fez a mesma pergunta que fazia todas as noites. – Vô ganhá cama gande? Ela suspirou e bagunçou o cabelo cacheado e ruivo dele. – Sim, querido, você logo vai ganhar uma cama de menino crescidinho. Ela se sentia culpada por privá-lo de algo que tanto queria, mas ainda não estava preparada para arriscar. No berço, sabia que ele estava em segurança. Numa cama normal, se ele tivesse um ataque epilético ou mesmo rolasse demais para o lado, poderia cair e se machucar. Aceitando a promessa dela com um sorriso esperançoso, como sempre, ele fechou os olhos. Era tão pequeno para sua idade, tão indefeso. Rowena não estava pronta para vê-lo crescer. – Amo você. Ela desligou a luz e saiu do quarto. Por mais que ela precisasse descansar ao fim do dia e ter um pouco de tempo para si, detestava deixá-lo sozinho. Até um ano antes, ela o deixava na cama consigo, mas o pediatra avisara que mimá-lo poderia inibir seu progresso. Mas era tão difícil se desapegar, abrir mão do controle. Rowena vestiu a roupa de banho, mas ainda faltavam 20 minutos para Betty chegar. Então, ligou a televisão. Estava sintonizada no American News Service, ANS, o canal a cabo que dera o furo de reportagem sobre o escândalo de paternidade presidencial, e a âncora, Angelica Pierce, relatava as últimas informações sobre o caso. E parecia estar doentiamente satisfeita ao dar os detalhes. 16


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Como também fora alvo de boatos, Rowena se solidarizou. Em seu caso, porém, os boatos haviam sido, em geral, verdadeiros. Angelica Pierce dizia algo a respeito de paternidade e exames de sangue. O diabólico brilho nos olhos dela indicava que estava adorando o escândalo. Rowena estava prestes familiaridade tão intenso que incomodara Rowena, mas ela Também sempre achara que percebeu por quê.

a trocar de canal quando foi atingida por um senso de chegou a lhe dar arrepios. Algo em Angelica sempre sempre atribuíra isso às práticas desprezíveis do ANS. a mulher parecia vagamente familiar e, subitamente,

Pegou o telefone e ligou para sua amiga da época do internato, Caroline Crenshaw, que, até recentemente, trabalhava como relações-públicas da Casa Branca. Cara mantinha Rowena atualizada a respeito de todas as melhores fofocas de Washington. Apenas quando Max, o noivo de Cara, atendeu foi que Rowena se lembrou da diferença de fuso horário e percebeu que já eram quase 23h30 lá. – Desculpe por ligar tão tarde – disse ela. – Cara ainda está acordada? – Está bem aqui – disse Max. Houve uma breve pausa, e a voz de Cara surgiu na linha. Soando preocupada, ela perguntou: – Oi, Row, está tudo bem? Depois de ter recebido incontáveis telefonemas de uma Rowena bêbada em plena madrugada, era óbvio que Cara pensaria o pior. – Está tudo bem. Queria perguntar uma coisa rápida para você e esqueci completamente o fuso horário. – Que alívio! Achei que algo tivesse acontecido com Dylan. – Dylan está são e salvo na cama. Por acaso vocês estão com a televisão ligada? – Na verdade, sim. Estamos na cama assistindo ao noticiário. – NCN? – Claro. Rowena imaginara aquilo, já que Max ficara famoso como apresentador de um programa na National Cable News. – Pode trocar para o ANS, só por um minuto? – Claro, por quê? – Você já viu Angelica Pierce? – Claro. Até já a encontrei algumas vezes. Uma mulher que sabe o que quer e faz de tudo para conseguir. Tenho pena de quem ficar no caminho dela. – Você acha que ela se parece com alguém? – Não sei. Sempre teve algo nela que me incomodou, mas acho que isso tem a ver com o fato de ela trabalhar para o ANS, que fez aquela campanha de baixo nível contra o presidente. – Dê uma boa olhada nela e tente relembrar a época do internato. – Do internato? – Pense em Madeline Burch. 17


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– Ah, meu Deus, eu tinha me esquecido dela. Que louca! Madeline fora uma menina instável, que insistia em dizer que tinha um pai rico e que sua mãe recebera uma grande quantia em dinheiro para não falar dele. O que só levava as alunas a acreditarem que ela era ainda mais louca do que parecia, um rótulo que parecera levar Madeline cada vez mais para a beira da explosão até seu comportamento ter se tornado tão errático e imprevisível que ela acabara sendo expulsa. – Então, olhe para Angelica e pense em Madeline. – Uau, você tem razão. Ela se parece mesmo um pouco com ela, mas muito mais bonita e glamorosa. – Acha que pode ser ela? – Ela teria que ter mudado a aparência e o nome. Por que faria isso? – Essa é a grande pergunta. Âncoras têm que ser objetivos, mas ela parece ter uma grande satisfação sujando o nome do presidente Morrow. Dá para ver que ela quer derrubá-lo. – Talvez ela seja simplesmente uma megera. – E se for Madeline Burch? – Ainda não sei por que ela se daria todo esse trabalho, mas não há mal em investigar. Vou ver o que consigo com meus contatos antigos. – Eu tento na internet. – Procuro você daqui a alguns dias. Depois de desligarem, Rowena se conectou para ver o que conseguia encontrar sobre Madeline, mas não havia praticamente nenhuma informação sobre ela depois do incidente na Woodlawn Academy, quando ela atacara uma aluna que a chamara de mentirosa e bizarra. Quando Rowena fez uma busca semelhante por Angelica Pierce, descobriu que a mulher parecia não ter existido até a época da faculdade. Quando Betty bateu à porta, Rowena ainda não tinha descoberto nada de útil. Enviou um e-mail breve para Cara explicando o que tinha, ou melhor, o que não tinha encontrado e foi para a piscina. Estava tão absorta em seus pensamentos que quase não percebeu a silhueta de alguém sentado numa espreguiçadeira. Seria improvável que alguém além de Colin estivesse ali àquela hora. E, apesar de sua fria saudação naquela manhã, seria falta de educação não cumprimentá-lo. À medida que ela se aproximou, percebeu que a cabeça dele estava pendendo ligeiramente para o lado e seus olhos estavam fechados. Em suas mãos, apoiada em seu colo, havia uma caneca grande com algo que parecia ser chá. Não era exatamente o melhor lugar para se pôr uma bebida quente. E se ele derramasse? Certamente, se machucaria bastante. – Colin? – disse ela suavemente, mas ele não acordou. Parecia tão em paz. Talvez ela não precisasse acordá-lo; talvez, se ela simplesmente pegasse a caneca… Rowena estendeu as mãos, jamais tendo imaginado que elas ficariam tão perto da virilha dele. Muito delicadamente, ela segurou a asa da caneca e começou a erguê-la cautelosamente. Quando ela voltou os olhos para o rosto dele, viu que seus olhos estavam abertos, a observá-la.

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Quando o chá frio encharcou sua calça, Colin percebeu que devia ter ficado de olhos fechados até que Rowena afastasse a caneca da virilha dele. Contudo, quando um homem sonhava que estava com uma mulher e abria os olhos para encontrá-la a centímetros do zíper de sua calça, era difícil não observar. E, durante vários segundos tensos, ele achara que ela não estava levando a mão à caneca. – Ai, meu Deus. Eu sinto muito – disse Rowena, sem saber se ria ou chorava. – Não acredito que fiz isso. Por favor, diga que não estava quente. – Na verdade, estava bem frio. – Eu não… danifiquei nada aí embaixo, não é? – Tudo aqui embaixo está bem. Ela lhe entregou sua toalha. – Não sei se vai adiantar muito. Colin se curvou para inspecionar a frente da calça e, em seguida, devolveu a toalha. – Acho que já não adianta mais. – Só para você saber, eu estava tirando a caneca porque achei que pudesse derramar. E, sim, percebo a ironia. – Os funcionários vão achar que sou louco. Numa noite, chego completamente encharcado. Na seguinte, pareço que urinei na calça. Ela mordeu o lábio, provavelmente para evitar rir. – Eu posso correr até o seu quarto e pegar uma calça limpa. Ou você pode pegar uma sunga emprestada. Sempre tem extras na casa da piscina. A última coisa de que Colin precisava era que o pai dela a visse entrando ou saindo da suíte dele. Ao menos na piscina ninguém poderia vê-los. – Uma sunga está ótimo. – Vamos olhar. Ela correu para a casa da piscina, abriu a porta e ligou a luz. No escuro, parecera que ela estava de vestido. Agora, Colin percebia que era um roupão, e, por baixo, ela estava de… biquíni. Ele se perguntou se ela o vestira de propósito, para o caso de ele estar novamente na piscina. Mas não importava. Ela estava fora dos limites. – Há uma prateleira no banheiro com sungas extras – disse ela. – Pode pegar o que quiser. Quando Colin se trocou e saiu do banheiro, Rowena estava na cozinha, curvada, olhando dentro da geladeira, de costas para ele. O roupão subira para revelar a curva bem lisa do traseiro dela. Deus do céu. – Encontrei – disse ele. Ela se levantou e se virou, uma lata de refrigerante na mão. Olhou rapidamente para a sunga, e seus olhos vagaram para cima. Sabendo o que ela estava pensando, ele falou: – Minha camisa também estava molhada. 19


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– É grande. A sunga, quero dizer. Quer dividir um refrigerante, ou prefere algo mais forte? O que ele queria não poderia ter. Colin precisava era de uma ducha fria. E o que devia fazer era ir embora dali. E iria, assim que terminasse a bebida. – O refrigerante está ótimo. Ela entregou o copo para ele, e, quando as pontas dos dedos deles se tocaram, Colin podia jurar que vira Rowena estremecer. Certo, já chega, disse a si mesmo. – Fiz uma busca pelo seu nome na internet – disse ela. – Fez? – Vi suas costas e fiquei curiosa. Quando meu pai disse que você era um herói de guerra, achei que estivesse exagerando, mas você é mesmo um herói. Ele deu de ombros. – Questão de opinião. – Com uma perna quebrada, você arrastou um homem para fora de um helicóptero em chamas. É muita coragem, Colin. – A verdade é que não me lembro muito do que aconteceu. Lembro que fui pego na tempestade de areia, do helicóptero caindo. Lembro que fui lançado dele e de ter olhado para trás e visto os destroços. Soube que William ainda devia estar lá dentro. Eu não conseguia me levantar, mas, com tanta adrenalina, eu nem percebi que minha perna estava destruída. Eu me arrastei de volta ao helicóptero e tateei até encontrá-lo. “Havia muita fumaça e poeira. Eu mal conseguia respirar. A explosão só aconteceu depois de eu tê-lo arrastado para uns sete metros de distância. Depois, desmaiei, mas, por sorte, William recobrou a consciência. Ele apagou o fogo das minhas costas e me arrastou para uma distância segura. Quando acordei, estava no hospital.” – Li que ele acabou com algumas queimaduras e um braço quebrado. – As queimaduras foram mais nas mãos e nos braços, de quando ele apagou o fogo em mim. – Ele tem esposa e quatro filhos. Colin assentiu, reconhecendo o sentimento não pronunciado. – Sei que as pessoas me rotularam como herói, mas não vejo assim. O que fiz por ele, qualquer outro soldado teria feito por mim. Faz parte do trabalho. – Isso não torna o ato menos heroico. Você pensa em voltar para as forças armadas? – Nunca. Com o estrago na minha perna, eu seria inútil em combate. Eles me deram duas opções. Aceitar um cargo burocrático ou me aposentar. Não consigo ficar de fora das coisas. Sou um guerreiro. Guerreiros não ficam sentados atrás de mesas. – Então, o que você vai fazer? – Tenho um amigo que trabalha com segurança particular e me ofereceu um emprego. A única coisa que me impede é a minha perna. – Ainda dói? 20


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– Às vezes. – Quase o tempo todo, mas não como antes. Logo depois da cirurgia, foi excruciante. – E as costas? – São sensíveis, mas não doem. – Posso… tocar? Ela estava brincando com fogo. O olhar de Colin vagou para a boca de Rowena, para os lábios fartos e rosados, praticamente implorando por um beijo. Então, ela os umedeceu com a língua. Deus do céu. Ele precisava acabar com aquilo imediatamente. – Rowena, precisamos conversar. – Algum problema? – Preciso pedir desculpas pela noite passada. E por hoje de manhã. – Certo. – Tomei muita… liberdade ontem. Infelizmente, talvez eu tenha lhe dado a impressão errada. – Talvez um pouco – admitiu ela. – E, hoje… bem, não há desculpas para o meu comportamento. Fui muito maleducado com você. Sinto muito por isso. – Mas? – Gosto de você, Rowena, mas não posso gostar de você. – É a minha reputação? Você está preocupado com a possibilidade de ela manchar seu nome? – Não! Nada disso. É por causa de seu pai. Ela franziu o cenho. – Como assim? – Depois que ele nos apresentou, conversou comigo. Sobre você. E me avisou que devo considerar você fora dos limites.

CAPÍTULO QUATRO

Rowena se sentiu como se tivesse levado um soco no estômago. O choque das palavras de Colin, a audácia do pai dela… Ela honestamente não sabia o que dizer. E, ainda que soubesse, sua garganta estava tão contraída de raiva que suas cordas vocais estavam paralisadas. Seu pai controlava onde ela trabalhava, onde morava, as decisões com relação aos 21


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cuidados médicos com o filho dela. Agora, ele queria controlar com quem ela poderia se misturar socialmente? Durante três anos, ela aceitara as regras dele, fazendo e dizendo tudo que era esperado dela, pagando a penitência por seus pecados. E, ainda assim, ele não queria permitir que ela vivesse sua própria vida. O que ela precisava fazer para ganhar a confiança do pai? Para que ele visse que ela mudara? Ou talvez aquilo simplesmente tivesse a ver com a sede de poder do pai dela, com o desejo de mantê-la sempre sob controle. – Acho que ele só está preocupado com você – disse Colin. Com a voz tensa, Rowena respondeu: – Acredite, Colin, não é nada disso. – Sinto muito. Sei que você está irritada. Ela inspirou fundo. – Vamos deixar uma coisa bem clara: as pessoas com quem me envolvo não são da conta do meu pai. – Também acho que não, mas não posso arriscar a possibilidade de ele retirar o apoio ao acordo. – Ele disse que faria isso? – Não diretamente, mas insinuou. Rowena se sentia tão irritada, envergonhada, humilhada e enojada… tanto com seu pai quanto consigo mesma. – Rowena? – Ele tocou o ombro dela. – Você está bem? Ela balançou a cabeça, enxugando uma lágrima de raiva com a mão. Não. Não estava bem. Seu pai passara dos limites. E ela permitira. Mas não mais. Rowena traçaria seu limite ali. Iria embora. Não sabia bem como, mas daria um jeito. Sua dignidade e seu orgulho dependiam disso. E de outra coisa. – Colin, você quer me beijar? Não tem problema se você disser que não. Só quero a verdade. – Sim, quero. Mas… – E eu quero que você faça isso. Pela primeira vez em mais de três anos, conheci alguém que eu gostaria de beijar. E não vou deixar ninguém, muito menos o meu pai, dizer que não posso. Então, se você quiser mesmo, só desta vez, pode me beijar. Ele se aproximou, o olhar fixo no dela, e deslizou a mão pelo cabelo dela, aninhando sua nuca. O coração de Rowena disparou quando ele se curvou, inclinando a cabeça… Os olhos dela se fecharam quando os lábios de Colin roçaram nos seus. Uma, duas vezes. Mais uma provocação do que qualquer outra coisa. Então, tudo terminou. Ele recuou, olhando-a fixamente. Só isso? Sério? Ela não queria apenas um beijo, queria um beijo. – Colin, sem querer ofender, mas esperei mais de três anos por isso. Por favor, diga que consegue fazer melhor do que isso. 22


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Talvez fosse todo aquele treinamento militar, ou talvez ele fosse um ninja, mas, Deus do céu, como ele se movia com velocidade! Num segundo, estava ali, olhando-a. Em seguida, Rowena piscou e já estava nos braços dele, sendo beijada. Beijada de verdade. E a espera valeu a pena. Ela deslizou os braços em torno do pescoço dele. Tudo em Colin parecia muito sólido e robusto, mas seu toque era tão suave ao aninhar o rosto dela nas mãos e acariciá-lo. Ele recuou lentamente, como se soubesse que precisava parar, ainda que não quisesse. E, quando os lábios deles finalmente se separaram, Rowena se sentiu prostrada e inebriada. – O que achou? – perguntou ele. Ela sorriu. – Obrigada. – Acho que é a primeira vez que uma mulher me agradece por beijá-la. Mas não sei se mereço. – Por que não? Os cantos da boca de Colin se levantaram. – Acho que consigo fazer melhor. Melhor que aquilo?! Contudo, se ele achava que conseguia, quem era ela para discordar?

– Certo, o que está havendo? Rowena ergueu os olhos para encontrar Tricia à porta de seu escritório. – Como assim? – Você não parou de sorrir o dia todo. – Não? – E é um sorriso bobo, apaixonado. Claramente, aconteceu algo que você não me contou. Se ela não pudesse confiar em sua melhor amiga, em quem confiaria? – Feche a porta. Tricia obedeceu e se sentou na beira da mesa de Rowena, esperando. – Então? – Você não pode contar a ninguém. – Não conto, eu juro. Você conheceu alguém? Foi para a cama com ele? – Melhor ainda. Fui beijada. E beijada, e beijada, até que ela e Colin tivessem perdido a noção de quantas vezes. – Só um beijo? – disse Tricia, decepcionada. – Sim. 23


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– Não fez mais nada? – Não. Só nos beijamos. Mas não foi só beijar. Foi tipo… no colégio. Aquele primeiro beijo perfeito no banco de trás do carro, do tipo que faz tudo à sua volta… desaparecer. Você perde a noção do tempo, do lugar e de você mesma. Foi perfeito. – Uau – falou Tricia com uma expressão sonhadora. – Quero um beijo assim. Você precisa me dizer quem é e como você o conheceu. Foi na internet? As pessoas fazem muito isso agora. Rowena riu. – Não, não foi. – Então, quem… Uma batida à porta a interrompeu. Tricia a abriu, e Rowena ficou perplexa ao ver Colin ali. Ele estava de calça de ginástica e um moletom encharcado de suor. E como aquilo lhe caía bem! O coração dela palpitou, e seu rosto ficou quente. – Colin… oi – disse ela. – Você tem um minuto? – perguntou ele. – Hã… sim, claro. Tricia, pode nos dar licença? Tricia olhou de Colin para ela, e foi tudo de que ela precisou para entender. – Claro. – Colin entrou, e Tricia saiu. E, ao passar por ele, ela se virou para Rowena e abanou o próprio rosto. Quando a porta se fechou, Rowena perguntou a Colin: – O que está fazendo aqui? E se alguém tiver visto você? – Seu pai tinha uma reunião de almoço até mais tarde, e resolvi correr. Se alguém perguntar, digo que parei aqui para tomar um copo de água. – Colin, você não pode vir aqui. Dissemos que aquela seria a única vez. – E eu não parei de pensar em você desde então. – Por favor, não diga coisas assim. – Aquilo a deixava toda mole por dentro. Como na noite anterior, quando ela precisara ir e ele não parava de dizer “Ainda não, só mais um beijo”. Quem poderia dizer não àquilo? Desta vez, contudo, era necessário. – Você só me quer porque não pode me ter. – Não é verdade. Certo, há um pouco de verdade nisso. Gosto de emoções fortes, de viver perigosamente. Tenho desejo de aventura. – Colin, se eu concordasse e nós fôssemos pegos… – Não vamos ser. – Mas, se fôssemos, eu me sentiria péssima. – Rowena… Outra batida o interrompeu, mas era mais alta, urgente. – Sou eu, Row – falou Tricia. – Precisamos de você. – Então, abra a porta. Tricia abriu, espiando lá dentro como se esperasse ver os dois seminus. 24


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– Houve um acidente no playground. Rowena se levantou instantaneamente, correndo até a porta. – Não se desespere – disse Tricia. – Foi só um pequeno acidente. – Quem? – Nada muito sério. Talvez ele precise de alguns pontos… – Tricia, quem? – Dylan, mas… Rowena já saíra. Colin a seguiu. Tendo sido treinado como médico de combate, ele poderia ser útil. – A propósito, sou Tricia Adams – disse a mulher que andava ao lado dele. – Colin Middlebury – respondeu ele enquanto eles já quase corriam atrás de Rowena. Sentada no playground, perto de uma das estruturas de madeira, havia uma garota que não devia ter mais de 18 anos. Aninhado em seu colo, estava um pequeno menino, magro, pálido e de aparência frágil, com um indomável cabelo loiro-avermelhado e grandes olhos expressivos. Se ele não soubesse que era o filho de Rowena, os olhos e o cabelo do menino teriam lhe indicado isso. A garota segurava um pano manchado de sangue contra a cabeça dele, mas ele não estava chorando e sequer parecia tenso. – O que houve? – exigiu saber Rowena, pegando seu filho dos braços da garota. Ela levantou delicadamente o pano e analisou o ferimento. – Ele tropeçou e caiu de cabeça no trepa-trepa – disse Tricia. – Estava correndo? Tricia assentiu. Rowena inclinou o queixo de seu filho para cima, olhou-o nos olhos e, num tom calmo mas firme, falou: – Dylan, o que eu falei sobre correr no playground? O lábio inferior do menino se curvou para fora, e ele deu de ombros. – É para você correr no playground? Com o lábio inferior trêmulo, ele balançou a cabeça. – E por que eu digo para você não correr? – Eu posso cair – disse ele numa voz fraca e trêmula. Colin não sabia praticamente nada a respeito de crianças, mas imaginava que o menino não devia ter muito mais de 2 anos. – Mas você correu mesmo assim. E se machucou, não foi? Ele assentiu. – Da próxima vez, vai obedecer à mamãe? Ele assentiu novamente, e Colin não conseguiu deixar de sentir pena dele. Ela ao menos poderia lhe dar um abraço, ou um beijo, ou qualquer coisa para confortá-lo. Rowena se virou para Tricia. – Parece que ele vai precisar de pontos. Você consegue cuidar de tudo enquanto 25


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eu o levo ao hospital? Quando Dylan ouviu a palavra “hospital”, os olhos dele se arregalaram, e ele começou a se contorcer nos braços da mãe, gritando: – Não! Hospital, não, mamãe! – Mas você está com um dodói grande, querido. Precisa ir ao médico. Ele começou a chorar. – Não! Médico, não! Hospital, não! Por algum motivo, o menino estava claramente aterrorizado. Colin se perguntou se o ferimento seria tão feio a ponto de precisar mesmo de pontos. – Posso dar uma olhada? – perguntou. Rowena se virou para ele, surpresa. Então, franziu o cenho e puxou Dylan para junto de si. – Por quê? – Treinei como médico de campo. Já vi todo tipo de ferimento. Talvez ele não precise de pontos. Nem ir ao hospital. Ouvindo aquilo, Dylan parou de se debater instantaneamente e ergueu os olhos para Colin, arregalados e cheios de esperança. Rowena perguntou a seu filho: – Tudo bem, querido? O sr. Middlebury pode olhar seu dodói? Dylan hesitou, mas assentiu. Colin baixou a cabeça e afastou delicadamente o cabelo emplastrado de sangue de Dylan para inspecionar o ferimento. Havia um pequeno corte logo acima de onde começava o cabelo. Apesar de o sangramento ter sido estancado, a ferida era terrivelmente profunda. – Dói? – perguntou ele a Dylan, que deu de ombros. Deixá-la aberta seria um risco de infecção. Um ponto ou dois resolveriam tudo, mas a criança já estava traumatizada. Felizmente, durante seu treinamento, Colin aprendera alguns truques. – Acho que ele não vai precisar de pontos – disse ele a Rowena, e ela o olhou como se ele tivesse enlouquecido. – Não vai ser fácil fechar com o cabelo dele na frente. Está muito… – Ela parou, censurando a si mesma. – Está f-u-n-d-o. A cabeleira de Dylan era justamente o motivo pelo qual eles conseguiriam fechar o ferimento. – Você tem um kit de primeiros socorros? – Claro, mas… – Confie um pouco em mim, Rowena. Ela abriu a boca para discutir, e Colin disse: – Quer que ele fique ainda mais traumatizado, ou vai ao menos me deixar tentar? Sem saber o que fazer, ela olhou para o filho, e, por um instante, Colin teve certeza de que ela diria não e arrastaria o menino aos berros para o posto médico mais próximo. No entanto, após vários segundos, Rowena falou: 26


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– Certo, pode tentar, contanto que não o machuque. – Primeiro, precisamos lavar. – Na pia do banheiro? Ele assentiu e seguiu Rowena para dentro do edifício. – Por que não fica com ele no colo e o abraça para mantê-lo imóvel? Ela fechou a tampa do vaso e se sentou com Dylan em seu colo. Tricia entregou o kit a Colin. Colin pôs tudo de que precisava na borda da pia e, em seguida, falou para Dylan: – Preciso limpar isso, e talvez arda um pouco. Mas, se você ficar bem quietinho, não vai precisar ir ao hospital. De olhos arregalados e cheios de alívio, Dylan ficou totalmente imóvel enquanto Colin enxaguava o corte, e, ao aplicar o antisséptico, o menino sequer fez uma expressão de dor. – Você está sendo muito corajoso – disse Rowena, dando um beijo no rosto de seu filho. – Certo. Agora, você tem que ficar parado – disse Colin a Dylan, pegando a pinça e a mergulhando no antisséptico. Com cuidado, ele a usou para separar algumas mechas de cabelo de cada lado do ferimento. Apesar de terem sido necessárias várias tentativas, ele conseguiu prender as mechas num nó firme, basicamente usando o cabelo como se fossem os pontos. Tricia riu e falou: – Isso é genial! – Mas só funciona com quem tem cabelo comprido o suficiente. Só foram necessários dois nós para fechar o ferimento. Em seguida, Colin fez um pequeno curativo para manter tudo no local e evitar a entrada de poeira e umidade. – Novinho em folha – falou para Dylan. – Doeu? Dylan posicionou o polegar e o indicador a cerca de um centímetro um do outro, indicando que doera apenas um pouco. Então, olhou para Rowena e falou, animado: – Sem hospital? Ela sorriu e disse: – Sim, bebê, sem hospital. – Você vai precisar manter isso seco durante alguns dias, dar tempo para fechar. – Ele tomou banho hoje de manhã. Então, por enquanto, não tem problema. Ou talvez ele fique só com a cabeça fedorenta – brincou ela, fazendo cócegas em Dylan. Ele riu e se contorceu no colo dela. – Cabeça fedoenta, cabeça fedoenta – cantarolou ele, como se fosse a coisa mais engraçada que já ouvira. – Vamos agradecer a Colin? – disse Rowena. – Abaço! – Dylan estendeu os braços, e Colin percebeu que ele queria abraços. Dylan envolveu o pescoço de Colin com os braços. E, quando o menino deu um beijo grande e molhado na bochecha de Colin, o coração dele se derreteu. Sem dúvida, era uma criança meiga e parecia excepcionalmente inteligente para um menino tão novo. 27


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Colin entregou Dylan de volta a Rowena, que falou: – Depois de toda essa emoção, acho que alguém precisa de uma soneca. Dylan se virou para Colin, abrindo um sorriso radiante, e disse: – Cowin, você me couoca na cama?

CAPÍTULO CINCO

Parecia que Colin fizera um novo amigo. Rowena lhe lançou um olhar questionador. Havia uma grande chance de que alguém o visse entrar com eles na casa, mas isso não atenuaria a situação? Que tipo de homem ele seria se dissesse não ao menino? – Coloco você na cama, sim – disse Colin. – Tem certeza? – perguntou Rowena. – Claro. – Então, tudo bem. – Ela se virou para Tricia. – Acho que vou passar o restante do dia fora. Você consegue aguentar sem mim? – Quatro crianças não vieram, estão gripadas. Vai ficar tudo bem. – Vá pegar sua mochila – disse Rowena, pondo Dylan no chão. Enquanto Colin o via atravessar o recinto, percebeu por que correr no playground, ou em qualquer outro lugar, era algo tão ruim. Em vez de andar como uma criança normal, Dylan mancava de forma instável, equilibrando-se nas laterais dos pés, parecendo que poderia tombar a qualquer momento. Colin sabia o que era aquilo. Passara as primeiras oito semanas depois de sua cirurgia mancando, de muletas. Contudo, como dissera o médico, ele tivera sorte de ainda ter pernas para usar. Dylan retornou, mas, quando Rowena se curvou para pegá-lo, ele falou: – Não. Cowin me leva. Rowena olhou para Colin, como se estivesse pedindo desculpas, mas, honestamente, ele não se importava. Dylan estendeu os braços, e Colin o levantou, levando-o de volta para a casa. A maior parte da mansão do senador era tão acolhedora quanto um museu e ostentosa demais para o gosto de Colin. Dourado e bege demais, excessos inúteis. Em contraste, a suíte de Rowena e Dylan era uma explosão de cores. A mobília era casual, e a cozinha, ultramoderna. Nada parecia combinar, mas tudo se encaixava perfeitamente no final das contas. E, ainda que tudo fosse muito limpo e organizado, tinha uma aparência confortável, aconchegante. Estava claro que Rowena lia muito. Estantes cheias de livros e livros circundavam uma janela com uma bela vista e um assento no parapeito, e Colin conseguiu imaginá-la aconchegada com um livro ou lendo uma história para Dylan. 28


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– O quarto de Dylan é por aqui – disse ela, e ele a seguiu pelo curto corredor de paredes totalmente cobertas por fotos do filho dela. Elas começavam no nascimento, uma época em que ele claramente tivera sérios problemas de saúde, e iam até fotos muito mais recentes. Nestas, Dylan estava sempre sorrindo, sempre parecendo feliz. Mas Colin não conseguiu deixar de notar que, em todas as fotos, faltava algo importante: o pai de Dylan. Teria sido um divórcio cheio de amargura? Uma briga? Ou ele simplesmente não fazia parte da vida do filho? Rowena o levou até onde ficava o berço de Dylan. – Sei que vou parecer um novato, mas qual é o procedimento para pôr uma criança na cama? – perguntou Colin. – Colin precisa da sua ajuda, Dylan – disse ela. – Fale o que ele tem que fazer. – Abaço! – gritou Dylan, envolvendo o pescoço de Colin com os braços e apertando firmemente. Colin não conseguia se recordar de um abraço com tamanho entusiasmo ou afeição em toda a sua vida. – Beço. Colin o baixou para o berço, e Dylan se recostou no travesseiro. – Cubeta! Cubeta? Colin olhou para Rowena, buscando uma tradução. Ela indicou uma manta que ficava pendurada na grade lateral. Coberta. Claro. Ele cobriu Dylan com a manta. – O que acha? – Bom! – disse Dylan, mas, obviamente, não bom o suficiente, pois, quando Rowena se curvou para beijá-lo, ela pôs a manta ainda mais perto do queixo dele. – O dodói está doendo? – perguntou ela, e Dylan balançou a cabeça. – Descupe, mamãe. – Tudo bem. Vá dormir. Eles saíram do quarto de Dylan, e Rowena fechou a porta. Apoiou-se nela e baixou a cabeça para as mãos, dizendo em voz baixa: – Sou uma péssima mãe.

– Você não é uma péssima mãe – disse Colin, mas Rowena se sentia como se fosse. – Meu bebê se machuca, e a primeira coisa que faço quando o vejo é dar uma bronca? – Por que não vamos para o sofá? Ela assentiu, e eles foram para a sala. Colin se sentou no sofá e indicou o lugar a seu lado. Quando Rowena se sentou, ele pegou a mão dela. Não havia nada de sugestivo ou sexual naquilo, era simplesmente muito… reconfortante. E, ainda que ela soubesse que a última coisa que Colin devia querer era ficar ali ouvindo as inseguranças bobas dela, as palavras fluíram por conta própria.

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– Morro de medo de Dylan me odiar quando ficar mais velho. – Isso não vai acontecer. Está claro que ele venera você. – Mas eu fiz com que ele se sentisse ainda pior. – Tenho certeza de que, quando ele acordar, já vai ter esquecido tudo isso. Ela balançou a cabeça. – Você não conhece Dylan. Ele se lembra de tudo. – Então, ele devia ter lembrado que não era para correr. Correr? – Ele é só um garotinho. Sei que sou rígida demais com ele às vezes. – Rowena, ouça. Você estava assustada e exagerou um pouco. Crianças são resistentes. Sei disso porque fui uma. Ser uma criança e ter uma dependendo de você para tudo eram coisas muito diferentes. E, à vezes, era difícil demais aguentar tudo sozinha. Contudo, Colin não era a pessoa para quem ela devia estar contando seus problemas. – Desculpe por ter envolvido você nisso. Ele pareceu confuso. – No quê? – Nessa confusão familiar. Sei que é a última coisa que você queria. Eu nem pretendia apresentar você a Dylan. – Por quê? Estou feliz por tê-lo conhecido. Ele parece um menino muito especial. – Obrigada pelo que você fez. – Ficou claro que Dylan detesta ir ao hospital. Pelas fotos do corredor, imagino que ele tenha passado um tempo considerável lá. – Ele nasceu com paralisia cerebral e, sim, passou muito tempo no hospital quando era bebê. Os médicos me disseram que talvez ele nunca conseguisse andar e que, provavelmente, teria debilidade mental. Não dei ouvidos a eles. Tornei minha missão de vida provar que estavam enganados. Ele já evoluiu muito desde que nasceu, mas só porque trabalho constantemente com ele. Com os problemas de fala dele, as pessoas às vezes acham que ele é lento. – Ele me pareceu excepcionalmente inteligente. – E é. Começou a montar frases de duas e três palavras antes de completar 1 ano. – Qual a idade dele agora? – Ele está com 2 anos e meio. – É muito inteligente para a idade. – Às vezes, até demais. E tenta fazer mais do que devia, tipo correr. – Bem, ele está bem agora. – Agora está, mas e da próxima vez? – Você não pode ficar pensando nisso. – Mas penso. Constantemente. Estou sempre tensa, sempre esperando que algo horrível aconteça. Ele é tão pequeno e frágil. – Não é isso que vejo quando olho para ele. 30


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Aquilo a surpreendeu. – Não? – Vejo uma criança que passou por maus bocados, mas que não deixa isso atrapalhar. Quantas crianças da idade dele cairiam e se machucariam sem nem chorar? – Ele já passou por coisas muito piores. – Exatamente. E imagino que ele simplesmente queira ser como as outras crianças, um menino normal. – Mas ele não é. – A questão não é essa. Ele estava tentando confundi-la? – E qual é? – A questão não é como você ou qualquer outra pessoa o vê. É como ele se vê. Tenho cicatrizes nas minhas costas inteiras e titânio juntando os pedaços da minha perna, e sim, isso me limitou fisicamente, mas continuo sendo eu. A pessoa que sou por dentro não mudou. – Sim, mas a saúde de Dylan tem problemas constantes. Recentemente, ele começou a ter ataques epiléticos. No início, eu ficava com medo de deixá-lo sozinho até por um segundo. Quando Tricia apareceu para me chamar, foi o que eu imaginei que tivesse acontecido. – Obviamente, não foi. – Não, o que significa que o remédio que ele está tomando parece estar funcionando. E o neurologista dele acredita que, com o tempo, isso vai parar. – Isso é incentivador. Com relação aos outros problemas dele, qual o prognóstico? – Bem, ele nunca vai conseguir se equilibrar completamente sobre os pés e vai precisar de cirurgias ocasionais para estender os tendões dos tornozelos. O sistema imune dele, que é fraco, sempre o deixará suscetível a determinadas doenças. Mas, se ele se alimentar adequadamente e se cuidar, não há motivo para que não tenha uma vida longa e produtiva. Só que nem sempre as coisas vão ser fáceis para ele. Ele vai precisar se esforçar mais do que uma pessoa comum. – Todos têm seus fardos a carregar. Todos nós temos desafios. Como eu disse, a questão é aceitar quem você é. Se você aceitar Dylan do jeito que ele é, ele vai aprender a aceitar a si mesmo. Rowena esperava que sim. – Sei que já falei isso, mas obrigada. Nem quero pensar no que eu estaria fazendo agora, no que estaria fazendo Dylan sofrer, se não fosse por você. Colin acariciou a palma dela com o polegar e se aproximou. – Sei um jeito de você demonstrar sua gratidão. – Colin… O protesto morreu na garganta de Rowena quando ele fixou aquele penetrante olhar nela, abrindo um sorriso. – Você sabe que quer. E já estamos aqui. Sozinhos. Seria uma pena desperdiçar a oportunidade.

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– Você não está jogando limpo – disse ela, mas já estava se curvando para ele, na expectativa do toque dos lábios. – Honestamente, eu pareço ser do tipo que joga limpo? – perguntou ele, puxando-a para seu colo. – Certo, mas, definitivamente, esta vai ser a última vez.

CAPÍTULO SEIS

Colin tomou o rosto de Rowena nas mãos e a beijou… e beijou… e beijou. No entanto, como na noite anterior, ele manteve suas mãos nos lugares seguros, assim como ela. Os ombros, o rosto. O centro das costas. E, agora, ela estava pensando que, se aquela fosse a última vez, talvez eles devessem se tocar um pouco mais. Nada exagerado, claro, apenas por cima das roupas. Querendo dar início à ação, ela permitiu que sua mão deslizasse muito casualmente do ombro até o peito dele. A mão de Colin, que estivera repousando nas costas dela logo acima do quadril, desapareceu repentinamente. Achando que ele tinha entendido o que ela queria, Rowena esperou, o coração martelando na expectativa, a respiração arfante… e parando abruptamente quando a mão dele retirou a dela de seu peito, colocando-a de volta no ombro. Certo, talvez ele não tivesse entendido a indireta. Ela esperou um minuto para não parecer oferecida ou desesperada demais. Desta vez, contudo, ela apenas acariciou a parte superior do peito dele antes de Colin interceptar sua mão e parar de beijá-la. Ah, droga. – Não é uma boa ideia – disse ele, segurando a mão dela. – E se eu achar que é? – Estou tendo um autocontrole incrível. É melhor você não me tentar. A expressão nos olhos dele dizia que ele não estava exagerando. Claramente, Colin queria mais, o que a deixou ainda mais louca por ele. Se ele não estava jogando limpo, Rowena também não faria isso. Olhando nos olhos dele e usando a mão livre, ela deslizou o dedo indicador pelo centro do peito dele, sobre o abdômen rígido, descendo até o cos da calça. Começou a voltar, mas mal tinha chegado à metade do caminho quando Colin a surpreendeu novamente. Num instante, ela estava no colo dele. No seguinte, já estava deitada com as costas no sofá, e Colin sorrindo sobre ela. – Eu avisei. Ela deslizou os braços em torno do pescoço dele, puxou-o para baixo e o beijou. 32


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Colin se acomodou em cima dela, ligeiramente para a esquerda. Definitivamente, não havia como negar que ele também a desejava. Rowena havia esquecido como adorava aquilo, o peso de um homem a pressionando para baixo. – Posso tirar a sua camisa? – perguntou ela. Ele sorriu. – Não sei. Pode? Ela segurou a barra da peça e a puxou para cima, e Colin a ajudou a tirá-la. – Adoro olhar para você – disse ela, abrindo as mãos contra o peito dele. – E tocar em você. – Ela puxou a cabeça dele novamente para baixo. – E beijar você. O telefone de Rowena começou a tocar, e ela ignorou. – Não é melhor atender? De jeito nenhum. Ela estava fazendo aquilo pela primeira vez depois de mais de três anos. Nada os interromperia. – Podem deixar uma mensagem. Quero um beijo. Com um sorriso, ele a beijou, e, eventualmente, o celular emudeceu. E recomeçou a tocar em seguida. Sério? Justo naquele momento? Não podiam telefonar mais tarde? – Talvez seja melhor atender. Pode ser importante. A única coisa que valeria uma interrupção seria Dylan, e ele estava dormindo em segurança em seu berço. – Podem ligar mais tarde. – Tem certeza? Ela assentiu, puxando-o de volta para baixo. – Simplesmente continue me beijando. Rowena esqueceu o telefone, bloqueou tudo a não ser Colin. A sensação da boca dele… nos lábios, no pescoço dela. Quando o maldito celular começou a tocar novamente, Colin parou de beijá-la e falou: – Acho mesmo que você deveria atender. Rowena resmungou um palavrão e pegou o telefone no bolso. Era Tricia. – Espero que alguém tenha morrido. – Desculpe incomodar. Achei melhor avisar que o senador está indo aí. – O quê? Por quê? – Ele veio aqui procurando você, e uma das meninas contou o que tinha acontecido com Dylan. Ele está indo aí ver se está tudo bem. Droga, droga, droga. – Obrigada pelo aviso. – Então – disse Tricia com um tom cheio de insinuação. – Como estão as coisas? O fato de Rowena não ter atendido o telefone devia ter dado alguma indicação.

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– Ligo para você depois. Resmungando algo nada digno de uma dama, ela desligou e empurrou Colin. – Levante, levante, levante. Ele saiu de cima dela. – O que houve? Rowena saltou do sofá. – Meu pai ficou sabendo o que aconteceu e está vindo ver Dylan. – Está falando sério? Ela pegou a camisa dele no chão e a jogou para ele. – Imagino que você não vá querer estar aqui quando ele chegar. Colin a vestiu. – De preferência, não. Eles ouviram uma batida à porta. – E agora? – perguntou Colin. – Meu quarto – disse ela, empurrando-o naquela direção. – Eu chamo quando a barra estiver limpa. O pai dela bateu novamente. No instante em que Colin fechou a porta do quarto, ela abriu a da suíte, fingindo estar surpresa por vê-lo. – Oi, pai. – Onde está Dylan? Respirou fundo. – Está dormindo. – Por que não me ligou para contar o que tinha acontecido? – Está falando do tombo de Dylan? – Ela deu de ombros. – Ele está bem. – Falaram que ele estava sangrando – disse ele, olhando à volta de forma suspeita, claramente não procurando seu neto, já que Rowena acabara de dizer que ele estava na cama. – Ele bateu a cabeça, mas está bem. – E Colin? Rowena fingiu estar confusa. – O que tem ele? – Disseram que ele veio para cá com você. – Dylan queria que ele o pusesse na cama. – E? – E… ele fez isso. – Por que ele estava na creche? – Ele estava passando por lá e parou quando ouviu Dylan chorando. Achou que pudesse ajudar. Ele disse que tinha sido médico de campo da marinha. 34


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– Do exército real – corrigiu o senador. Rowena deu de ombros. – Ele fez um curativo em Dylan e nos acompanhou até aqui. – Onde ele está? – Não sei. Assim que Dylan foi dormir, Colin foi embora. Por quê? Você estava esperando que eu fizesse companhia para ele pelo restante da tarde? – Claro que não. – Veio me pedir para chamar você quando Dylan acordar? – Vou passar a noite fora. Eu o vejo amanhã, no café. O que significava que ele estava menos preocupado com seu neto do que com a possibilidade de Colin estar no quarto dela. Bom saber. Ela o acompanhou até a porta. Quando o senador saiu, Rowena a fechou e se recostou nela. Esperou mais cerca de um minuto e falou: – Tudo limpo. Colin saiu do quarto dela. – Desculpe por isso. – Não tem problema. Eu me distraí olhando as suas coisas. Ela o olhou fixamente. – Na verdade, eu estava ouvindo atrás da porta. Rowena desabou no sofá, exausta. Colin se sentou ao lado dela, mas a uma boa distância. – Ele parecia estar suspeitando. – Bem, ele é quase sempre assim. Ao menos comigo. Se achasse mesmo que você estava aqui, teria vasculhado o apartamento inteiro. – Ela olhou para o relógio. – Dylan deve acordar daqui a pouco. Colin assentiu. – Então, acho que é isso. – Acho que sim. Provavelmente, isso vai soar meio bobo, mas obrigada. Significou muito para mim. E não de um jeito sexual. Fazia muito tempo que eu não era eu mesma. A verdade é que perdi totalmente a noção de quem sou. Mas, depois disso… já me sinto mais como eu era antigamente. Venho precisando fazer algumas mudanças na minha vida e, agora, acho que estou pronta. – Não sei bem o que fiz, mas fico feliz por ter ajudado. Rowena foi até a porta, e ele a seguiu. – Acho que nós vemos por aí. – Tenho certeza de que sim. Ela ficou nas pontas dos pés para dar um beijo no rosto dele, pois, se fosse nos lábios, mesmo que por um segundo, ela não iria querer parar. Então, Rowena abriu a porta, e Colin saiu. Simples, descomplicado e digno. Se todo fim de relacionamento 35


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pudesse ser tão fácil… Mas, depois de dois dias e alguns beijos apaixonados, o que ela esperava? Aquilo devia acontecer com Colin o tempo todo. Rowena pegou seu laptop e se sentou no sofá. Sentindo-se verdadeiramente corajosa pela primeira vez em muito tempo, ela abriu o navegador de internet e digitou o endereço da Secretaria de Saúde de Los Angeles. Aquele, decidiu ela, seria oficialmente o primeiro dia de sua nova vida.

Na manhã seguinte, Rowena deu boas-vindas a uma nova criança na creche. Matt era um adorável bebê de apenas 6 semanas, loiro e de olhos azuis, cuja mãe havia acabado de sair da licença-maternidade. Era sempre empolgante ter um novo bebê ali, especialmente um tão jovem, e, durante a primeira hora, ele fora um completo anjo. Então, começara a berrar e não passara mais do que cinco minutos quieto durante o dia todo. Todos tinham se revezado embalando, trocando, alimentando e fazendo com que ele arrotasse, mas ele não sossegava. Não era incomum que um bebê ficasse tão irritado em seu primeiro dia longe da mãe. Então, Rowena imaginava que o dia seguinte seria mais fácil. Não foi. O pobrezinho estava inconsolável, e, à tarde, todos já tinham chegado ao limite da paciência. Na hora do silêncio, quando as crianças mais velhas faziam a lição de casa e as menores dormiam, Rowena se trancou em seu escritório com Matt, para que os constantes berros não incomodassem as outras crianças. Na metade da hora do silêncio, Tricia apareceu. – Você tem uma visita. Como seu pai era a única “visita” que Rowena tinha, ela imaginou que fosse ele. Com um suspiro, falou: – Mande entrar. Ela fechou o jogo de paciência que vinha jogando em seu computador, já que se concentrar com um bebê gritando nos ouvidos seria impossível, e, quando ouviu a porta se abrir novamente, ergueu o olhar esperando o senador. – Colin? – Oi – disse ele com um sorriso que a fez se derreter instantaneamente. – Tem um minuto? Ela passara os últimos quatro dias se esforçando para não pensar nele. E não fora muito bem-sucedida. – Hã… claro. Mas feche a porta. Ele lançou um olhar questionador para ela. – Para Matt não incomodar a hora do silêncio. – Ahhh – disse ele. Então, entrou e fechou a porta. – O que está fazendo aqui? – Vim saber como estava o machucado de Dylan. – Está ótimo! Ele está contando para todo mundo que você o salvou do hospital maligno. – Como você tem estado? 36


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– Bem – respondeu Rowena, perguntando a si mesma se ela era a única que percebia como aquela conversa estava estranha. Queria mesmo que ele mantivesse distância, mas não queria ser mal-educada. – E você? – Ocupado. Progredimos bastante. Mas ainda falta muito. – Fico feliz de saber que está tudo dando certo. – Quanto antes ele voltasse para a Inglaterra, melhor seria para ela. De um jeito entediante, claro. Mas, por ora, era tudo que Rowena conseguiria aguentar. Matt soltou um berro especialmente agudo, e Colin fez uma expressão de dor. – Ele está bem? – Chegou ontem aqui, e está sentindo falta da mãe. Com sorte, ele vai se acalmar daqui a uns dias. Mas, às vezes, leva semanas. Nós nos revezamos com ele. – É a sua vez? – Só enquanto os outros estão descansando. – Seu braço estava ficando cansado. Sendo assim, Rowena trocou Matt para o outro ombro. Ouviu um arroto barulhento e, em seguida, sentiu algo quente escorrer por suas costas. Então, Matt voltou a chorar. – Parece que alguém deixou um presente para você. Ela se levantou da cadeira e se virou. – Está muito ruim? – Você tem outra blusa para vestir? Rowena tinha algumas extras guardadas, para ocasiões como aquela. Ela procurou um bom lugar onde pôr Matt temporariamente, mas não conseguiu encontrar. – Quer que eu tente enquanto você se troca? – disse ele, estendendo os braços. Ele não parecia ser do tipo que aguentaria um bebê em prantos. – Tem certeza? É de estourar os tímpanos. – Você já ouviu um morteiro detonando a curto alcance? – perguntou Colin. Belo argumento. Ela entregou Matt a ele, seus dedos roçando levemente os de Colin. Era incrível como o mais simples toque fazia sua pulsação disparar. Colin acomodou Matt desajeitadamente num dos ombros. Matt soltou mais um berro, expirou tremulamente e, em seguida, calou-se. Mas que diabos…? – O que você fez? – perguntou Rowena. Colin ficou totalmente imóvel, como se o mais leve movimento pudesse quebrar o feitiço. – Não sei. – Ele dormiu. Sendo honesta, talvez aquilo tivesse mais a ver com o arroto do que com qualquer coisa que Colin estivesse fazendo, mas já que estava funcionando… – Volto já. – Ela pegou a camisa e correu para o banheiro. Quando retornou ao escritório, alguns minutos depois, Matt continuava dormindo. – Obrigada – disse ela, pegando-o. Contudo, no instante em que o bebê voltou aos braços dela, começou a chorar. Devia ser só coincidência, mas ela pediu para Colin: – 37


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Vamos tentar de novo. Colin pegou Matt, e o choro cessou. Rowena o pegou de volta, e ele choramingou. – Acho que ele gosta de mim. – Eu também. Ele ergueu uma das sobrancelhas. – Também gosta de mim? – Eu quis dizer… – Ela balançou a cabeça e riu. – Deixe para lá. A maioria dos bebês prefere o toque de uma mulher, mas tem alguns que parecem reagir melhor a homens. – Quer que eu fique com ele um pouco? Para dar um descanso aos seus funcionários? Rowena não esperava aquilo. – Não se importaria? – Não tenho nada para fazer até o jantar. – E se o meu pai vier fazer uma visita surpresa? – Já cuidei disso. Ele me agradeceu pela ajuda, e eu falei que ia passar aqui para ver Dylan. – Quer dizer que você vem planejando isso há dias? – Não há problema algum em estar preparado. – Preciso enviar as informações da folha de pagamento até as 17h de hoje. Em tese, como você não trabalha aqui, eu não devia deixar, mas duvido que a mãe de Matt vá se importar. – Se ela o visse segurando Matt, a mulher se derreteria. Ele olhou de esguelha para o bebê. – O que eu faço? Fico parado aqui? Definitivamente, Rowena não queria Colin ali enquanto ela trabalhava. Mesmo segurando um bebê, ele irradiava testosterona demais para aquela pequena sala. – Por que não vai se sentar na cadeira de balanço da sala dos bebês? – Vou experimentar – disse ele, saindo pela porta. Rowena terminou a documentação e foi para a sala dos brinquedos. Como já se passara algum tempo, ela não se surpreenderia se descobrisse que Colin ficara entediado e entregara Matt a uma das meninas. Quando ela entrou, porém, lá estava ele, na cadeira de balanço, Matt dormindo contra seu peito. Como se isso já não fosse adorável o suficiente, Dylan estava sentado no colo dele, aconchegado tanto contra Colin quanto contra o bebê. Na mão de Colin, havia um exemplar surrado de um livro infantil, e ele o lia em voz baixa. Era uma cena tão tocante, e justamente do que Dylan precisava, que, por dois ou três minutos, Rowena simplesmente ficou ali observando, sentindo um aperto no coração. Apesar de todo amor e atenção que ela dera a Dylan, aquilo jamais compensaria o vazio que o pai deixara na vida dele. – É de derreter o coração, não é? – sussurrou Tricia de trás dela. Sem tirar os olhos deles, Rowena assentiu.

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– Dylan se apegou mesmo a Colin, e Colin é tão bom para ele. São como melhores amigos. Rowena se virou para ela. – Não faça isso. – O quê? – perguntou Tricia, dando de ombros inocentemente, sabendo perfeitamente bem o que Rowena quisera dizer. – Ele não é do tipo que se estabelece. – Estatisticamente falando, em algum momento, ele vai se assentar. Poderia ser com você. – Não quero isso no momento. E, mesmo se quisesse, seria um pesadelo de logística. Com Colin morando na Inglaterra e todos os médicos e terapeutas de Dylan aqui na Califórnia, jamais daria certo. – O que vocês estão cochichando? – perguntou Colin, sorrindo para elas. – Coisas de trabalho – mentiu Tricia. – Mamãe! – disse Dylan num sussurro barulhento. – Cowin leu para mim. – Eu vi – disse Rowena suavemente, entrando na sala. – Não lia este livro desde que era criança – falou Colin. – Era um dos meus preferidos. – Você parece estar bem ocupado. Por que não me dá Matt? Ele logo vai ter que tomar mamadeira. Quando Colin o entregou, Matt acordou e começou a chorar. Rowena o levou para a cozinha para pegar uma mamadeira, mas, quando se sentou para tentar alimentá-lo, o bebê não parava de cuspir o bico. Ela trocou a fralda dele, mas praticamente não estava molhada. Colocou-o no ombro para dar tapinhas em suas costas, e ele chorou ainda mais. Finalmente, Rowena desistiu e o levou de volta para a sala das crianças, onde ainda estavam Colin e Dylan. – Não deu sorte? – perguntou Colin. – Pode tentar segurá-lo de novo? Ele assentiu. Rowena entregou o bebê a ele, e, no instante em que Matt se acomodou nos ombros de Colin, o choro parou milagrosamente. Ela riu e balançou a cabeça. – A mãe dele deve vir buscá-lo por volta das 18h. Você pode segurá-lo por mais uns 40 minutos? – Se você puder pegar mais uns livros para nós. Era o mínimo que ela poderia fazer. Rowena foi até a outra sala e pegou alguns dos favoritos de Dylan. – Obrigado – disse ele quando ela os entregou. – Você soube que o senador viajou para o norte da Califórnia hoje? A pulsação dela disparou. Oh, não, lá vamos nós de novo. – Ele não chegou a me falar disso.

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– Só volta amanhã de manhã. Por que Colin estava fazendo aquilo com ela? – Acho que vai ser uma bela noite para nadar. Rowena vinha se exercitando na piscina todas as noites, torcendo e ao mesmo tempo temendo encontrá-lo lá, mas ele nunca estava. E, por mais que ela o quisesse… e como ela o queria… aquilo continuava sendo uma má ideia.

CAPÍTULO SETE

Rowena passara todo o entardecer pensando se devia ou não ir à piscina. Por um lado, ela não queria ficar tentada. Por outro, sempre se exercitava lá. Se Colin aparecesse mesmo, ela poderia dizer não. Quando Betty chegou às 9h para cuidar de Dylan, Rowena foi até a piscina dizendo a si mesma que, independentemente do que acontecesse, ela seria firme. Insistiria para que eles mantivessem o relacionamento deles platônico. Contudo, ao chegar lá, ela não o viu. Seu coração afundou. Claramente, ele pensara melhor e concluíra que seria melhor para todos se… Ela arfou quando duas mãos se acomodaram em sua cintura. Ele se curvou para tão perto que Rowena conseguia sentir a respiração dele em sua orelha. – Você não me jogou na piscina desta vez. – Colin… – Ninguém me viu sair. – Então, está tudo bem, contanto que não sejamos flagrados? – Você consegue pensar em outro motivo para não fazermos isso? Só um? Rowena abriu a boca para fazer uma lista de motivos. E não conseguiu pensar em nenhum. – Não consegue, não é? – Vai ser só mais esta vez. Não me importa se o meu pai for passar um mês na África. Quando sairmos desta piscina hoje, acabou. – Então, não vamos perder tempo – disse ele, pegando a mão dela e a levando até a casa da piscina. Rowena abriu a porta, mas, em vez de acender as luzes, ela foi buscar velas e fósforos. A luz ligada poderia chamar atenção, mas ninguém veria o fraco brilho das velas, e, além de tudo, isso seria romântico. Ela acendeu uma vela e a pôs sobre a mesa de centro. Em seguida, abriu um baú e pegou uma manta macia, estendendo-a no chão. 40


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– O sofá não vira uma cama? – perguntou Colin. – Sim, mas é terrivelmente desconfortável. – Já fez isso antes, é? – perguntou ele, parecendo entretido. Ela sorriu. – Minhas amigas costumavam chamar isto aqui de barraco do amor. À luz de velas, todo de preto, Colin estava sexy e tinha uma aparência até perigosa. Ele tirou os sapatos e foi até ela, desabotoando a própria camisa e a observando. – O que temos debaixo do roupão hoje? Ela precisaria se explicar. – Você tem que prometer não ser convencido. Ele ergueu as sobrancelhas. – O plano principal era vir até aqui, dizer a você que não poderíamos fazer isso e voltar para casa. E, se isso não desse certo, eu tinha o plano B. – Que é…? – Gastar o mínimo de tempo para chegarmos à parte interessante. – Ela segurou a barra da peça e a puxou por cima da cabeça. O som que Colin fez e o ardente desejo em seus olhos quando ele percebeu o que ela estava, ou melhor, o que não estava vestindo por baixo fizeram o sangue de Rowena ferver. – Acho que isso responde à minha próxima pergunta. – Qual era? – Até onde você estava esperando que fôssemos. – Até o fim. Os olhos dele a percorreram. – Você tem um corpo incrível. – Está com um pouco mais de curvas do que antes de eu ter tido Dylan. – É das suas curvas que eu gosto – disse ele, passando o dedo por baixo de um dos seios e, em seguida, do outro. – Prefiro mulheres que pareçam mulheres de fato. Colin tirou a camisa e a jogou no sofá. Falando em corpo incrível… Ela o tocou, subindo com as mãos pelo peito largo dele, indo até os ombros fortes. Esquecera-se completamente das cicatrizes dele até que seus dedos roçaram as costas de Colin. – Dói quando encosto aqui? Ele balançou a cabeça. – É bom. – E aqui? – Ele passou a mão pelo zíper da calça dele, apertando a ereção, sentindo-a crescer e engrossar em sua mão. Colin fechou os olhos. – Também é bom. Ela abriu e baixou a calça dele. Colin chutou a peça para longe e baixou a cabeça, provando o mamilo de Rowena com sua língua, sugando-o para dentro da boca. Ele fez o 41


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mesmo com o outro seio. Em seguida, ajoelhou-se. Ela prendeu a respiração enquanto ele descia beijando pelo corpo dela, e pensou: Por favor, por favor, por favor. Pela experiência dela, era raro um homem gostar de fazer sexo oral, e apenas poucos eram bons nisso. Contudo, quando o homem era o receptor, ela nunca conhecera um que tivesse dito: “Não, obrigado, não gosto muito.” Então, quando Colin baixou ainda mais o corpo, quando seus dedos a abriram e sua língua disparou para prová-la, a mulher negligenciada e sedenta de sexo que havia dentro de Rowena gritou: “Isso!” Num segundo, ela já estava com as costas no chão. E devia ser o dia de sorte dele, pois Colin era muito bom naquilo. O prazer a atocaiou, silencioso e furtivo, dando o bote súbita e violentamente. Quando ela abriu os olhos, Colin estava sorrindo. – Você é sempre tão fácil de agradar assim? – Faz muito tempo desde a última vez – falou Rowena, arfante. – Sendo assim, vou ter que fazer a espera ter valido a pena – disse ele, acomodando-se acima dela, abrindo seu espaço entre as coxas de Rowena. – Já valeu. Desde a primeira vez que você me beijou. – Onde você guarda os preservativos? Espere, como?! – Onde eu os guardo? É brincadeira, certo? – Eu pareço estar brincando? Não, não parecia. – Colin, aqui nos Estados Unidos, isso costuma ser responsabilidade do homem. Parecendo totalmente confuso, ele falou: – Bem, de onde eu venho, é a mulher que cuida dos métodos contraceptivos. – Sério? Um sorriso inclinou os cantos da boca dele. – Não. Ele puxou uma tira de meia dúzia de preservativos do bolso. – Não teve graça – disse ela. Ele riu. – Teve, sim. Você devia ter visto a sua cara. Se ela não estivesse tão aliviada, talvez tivesse dado um soco nele. Em vez disso, Rowena o empurrou de costas e montou nele. – Você sabe que vou me vingar disso. Quando você menos esperar. – Venha cá – disse ele, puxando-a para baixo para beijá-la. Então, tudo se moveu, e ela estava novamente com as costas na manta. Quando tentou empurrá-lo novamente, Colin segurou os punhos dela, prendendo seus braços acima da cabeça. – Aonde pensa que vai? Ele claramente preferia ser o dominante. O problema era que Rowena também preferia. 42


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– Gosto de ficar por cima – disse ela. – E eu gosto de dominar – falou ele. Com os dois brigando para conseguir a vantagem, aquilo se transformou numa luta. E, como nenhum deles estava disposto a se render, eles finalmente decretaram trégua e fizeram de pé na cozinha, as costas de Rowena pressionadas contra a porta da geladeira, suas pernas envolvendo os quadris de Colin enquanto ele investia para dentro dela. E, ainda que ele estivesse se saindo muito bem sem a ajuda dela, Rowena não conseguiu resistir a soltar uma ou outra sugestão de onde beijá-la, tocá-la, dizendo para ir mais rápido ou com mais força. Ela já estava tão louca de prazer que seus instintos mais primitivos assumiram o comando. E, quando ela atingiu o clímax, Colin a acompanhou. – Uau – disse ele, apoiando a cabeça no ombro dela, arfando. – Você é sempre tão mandona? – Mandona? Eu? Ele levantou a cabeça com um olhar que dizia você mesma. Rowena abriu a boca para discutir, mas pensou melhor. – Acho que sou. – Já falei que gosto de mulheres que sabem o que querem? Sorte a dela. – Eu estava pensando se poderíamos fazer isso outra vez. Achando graça, ele falou: – Achou que tínhamos terminado? – Eu não sabia. Quero dizer, esperava que não. – Mal começamos. E, desta vez, talvez eu até deixe você ficar por cima.

Na noite seguinte, enquanto Rowena esperava Betty, seu celular tocou, e o número que apareceu na tela foi o de Cara. Rowena imaginou que ela tivesse conseguido algum tipo de informação, mas, em vez disso, Cara falou: – Cancele todos os seus compromissos para a última semana de março. Você vem para Washington. – Vou? – Bem, achei que você não fosse querer perder o meu casamento! – Você e Max marcaram a data! Parabéns! E é claro que quero ir. Cara riu. – Como se eu tivesse pensado que você diria que não… Deve ser uma cerimônia pequena, mas espero que você traga um acompanhante. O primeiro pensamento de Rowena foi Colin, claro. Como se aquilo fosse acontecer. Eles tinham tido a noite deles e, agora, tudo estava terminado. E, apesar do que ele dissera, Colin não chegara a deixá-la ficar por cima. – Na verdade, tenho alguém em mente. 43


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– É mesmo? – falou Cara, empolgada. – Quem? – Bem, ele é muito bonito. Tem cabelo ruivo natural, olhos cor de mel, cerca de 75cm de altura… Cara soltou uma risada. – Eu estava pensando em alguém um pouco mais velho, mas adoraria que você trouxesse Dylan. Ah, e busquei informações sobre Angelica, mas, com tudo que está acontecendo aqui, não tive tempo para acompanhar o caso. – Para ser honesta, nem pensei nisso. Então, não se apresse. Rowena e Caroline conversaram durante mais alguns minutos, até que Betty chegou. – Imagino que isto seja para você – falou Betty, entregando-lhe um envelope branco. – Estava preso com fita na sua porta. Curiosa, Rowena o abriu. Dentro, havia uma folha de papel dobrada com três palavras. Casa da piscina. Eles não tinham combinado que a noite anterior seria a única? Que não valia a pena correrem o risco de serem flagrados? Ela foi até a casa da piscina, ensaiando a recusa em sua mente. O lugar estava escuro, mas a porta, destrancada. Rowena abriu e entrou. Havia uma vela acesa sobre a mesa de centro, uma manta estendida no chão, e Colin, usando apenas um jeans desbotado, estava sentado no centro dela. Rowena abriu a boca para falar, apenas para descobrir que suas desculpas cuidadosamente ensaiadas tinham desaparecido. – Jantei com seu pai hoje. – Ah. Que… bom. – Ele não estava se sentindo muito bem. Enxaqueca. Então, tomou um comprimido para dormir e foi para a cama. Imagino que não haja chance de ele acordar e vir até a piscina. Não, quando tomava um comprimido para dormir, ele geralmente passava a noite inteira apagado. – Dissemos que seria só uma vez – lembrou ela, mas suas pernas já a carregavam até a manta. – Dissemos mesmo. Então, o que nos impede de dizer mais uma vez? – Quanto mais arriscarmos, maior a chance de sermos flagrados. – É isso que torna tudo tão divertido. – Ele abriu aquele sorriso escaldante, e Rowena se rendeu. – Certo, mas esta vai ser absolutamente a última vez – disse ela, tirando o roupão. – E só com uma condição. – Pode dizer – falou ele, vendo Rowena tirar a roupa de banho e montar nele. – Desta vez, eu vou ficar por cima.

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CAPÍTULO OITO

Duas noites se transformaram em três; depois, em quatro, até que Rowena e Colin finalmente admitiram estar em um relacionamento. Um que eles concordaram em encerrar quando ele retornasse à Inglaterra. Mas Colin se sentia um pouco confuso quanto à ideia. Não que ele estivesse pensando em casamento, ou mesmo em algo de longo prazo. A verdade era que não sabia o que sentia. Talvez por ela ser algo completamente diferente das socialites mimadas com as quais ele saíra. As que aceitavam a decisão dele de manter tudo casual e, em seguida, tentavam cravar suas garras nele. Rowena não tinha garras, nem inibições, e sabia como se divertir. Embora ela tivesse cometido seus erros, eles claramente tinham dado a ela uma nova perspectiva na vida. Ela era sexy, inteligente e divertida. E durona. Falava o que pensava, mesmo que não fosse uma opinião popular. E também sabia quando não dizer nada. A menos que ele perguntasse diretamente sobre Dylan, ela não falava dele. E, quando ele perguntava, as respostas eram rápidas, muito vagas. Como se ela não quisesse misturar os dois relacionamentos. Fosse qual fosse o motivo, ele não se preocupava muito com isso, especialmente agora que teriam passe livre durante o final de semana. O pai dela iria a Washington pela manhã e só voltaria na noite de terça-feira. Colin esperava conseguir convencê-la a passarem aquelas noites na suíte dela. Ou na dele. A casa da piscina servira a seu propósito, mas o piso duro, onde estavam deitados lado a lado naquele momento, nus e saciados, já não lhe servia mais. – O que vou dizer a Betty? – perguntou Rowena. – Ela cuida de Dylan todas as noites. – Você pode passar uma hora e meia na minha suíte. Quando Betty for embora, eu vou até a sua. Contanto que eu vá embora antes de os funcionários acordarem, não teremos problemas, certo? – Está dizendo que quer dormir comigo? – Quem falou em dormir? Ele achava que as mulheres gostassem que os homens dormissem com elas. Ele próprio já recebera vários pedidos. Rowena parecia não saber o que pensar. – Só não entendo por que meu pai faria questão de exigir que você não me procurasse. Ele sempre quis que eu me casasse com um homem independentemente rico, de uma família tradicional e com bons contatos políticos. Você tem tudo isso, mais o título de nobreza. É o genro dos sonhos dele. – Sei de um bom motivo. Ele acha que sou mulherengo. – E você é? Ele zombou daquilo. – Definitivamente, não.

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– Tem certeza? – Claro. – A palavra tinha uma conotação muito negativa. Ele era um cavalheiro. Tratava as mulheres com respeito. – Para ser franco, nem sei qual a definição exata dessa palavra. – Só por curiosidade… – Ela pegou o celular. – Vamos procurar. Rowena digitou na tela. – De acordo com o dicionário do meu telefone, um mulherengo é um “homem que se envolve em diversos relacionamentos sexuais com mulheres”. – Ela o olhou. – Você faz isso? – Não pode ser. – É o que diz aqui. A verdade dói, não? – Eu não diria que sou sexualmente promíscuo. Amo as mulheres. Eu as respeito. Ela deu de ombros. – Ama e respeita várias. Colin a olhou fixamente. – Nunca dormi com uma mulher sem antes deixar claro que não passaria de algo casual. – E você acha que isso acaba com o problema? – Sou um cavalheiro. Mimo as mulheres. – Quer dizer que as compra. Ela estava deturpando as palavras dele. – Não disse isso. – Por que você se acha tão especial? Agora, sim, ela estava pondo palavras na boca dele. – Não me lembro de eu ter dito que era especial. – Vamos fazer o seguinte. Imagine a mesma situação, mas troque o homem por uma mulher. Ela dorme com vários homens, mima todos eles e quer manter tudo casual. O que isso a torna? – A mulher perfeita? Foi a vez de Rowena olhá-lo fixamente. – Isso a torna uma vadia, Colin. Sendo assim, por que o mesmo tipo de comportamento seria perfeitamente aceitável para um homem? Ele detestava admitir, mas Rowena tinha razão. Sendo assim, por definição, ele era mulherengo. – Acho que sou mesmo um vadio. Colin balançou a cabeça e riu. – Tenho uma ótima ideia – disse ela. – Se formos flagrados mesmo, poderemos simplesmente dizer ao meu pai que a culpa é minha. Que fui eu quem deu em cima de você e, ainda que você tenha resistido, eu não deixei você em paz. Então, você acabou cedendo e me deixou fazer o que quisesse com você. 46


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– Você é mesmo dominadora. – Não que ele estivesse reclamando. Sem dúvida, aquilo mantinha as coisas interessantes. – A opinião que ele tem de mim não pode piorar. Tive um filho sem me casar. Na mente dele, isso me rotula como vadia para o resto da vida. – Duvido que ele ache isso. Só está a protegendo. – Não tem nada a ver com proteção. A única pessoa que ele está protegendo é ele mesmo. Meu pai não quer você perto de mim porque acha que continuo sendo a mesma louca que fui antes de ter Dylan. Acha que vou envergonhá-lo ou, ainda pior, corromper e rebaixar você ao meu nível. – Isso é ridículo. Sei cuidar de mim mesmo. – Tente dizer isso a ele. – Ela se levantou e pegou sua roupa de banho. – Aonde vai? – Está ficando tarde. Ele verificou a hora. – Ainda temos 20 minutos. – Colin, você leva muito mais do que 20 minutos. – Então, vamos só conversar. – Estou cansada. – Ela se vestiu e se curvou para dar um rápido beijinho nele. – Temos o final de semana inteiro, certo? Ele se levantou, enrolou-se numa manta e a seguiu até a porta. – Falei algo que chateou você? – Claro que não – disse ela, mas seu sorriso não chegou aos olhos. – Ligue para mim amanhã, e decidiremos o que queremos fazer. – Tem certeza de que está tudo bem? – Tudo ótimo – respondeu Rowena, mas, ao vê-la se afastar, Colin não acreditou nela.

O que Colin queria? Por que estava ficando tão… próximo? Tão pessoal? Devia ser só sexo e, agora, ele queria conversar? Ultimamente, parecia que Rowena vinha passando muito tempo convencendo a si mesma de que Colin não era tão maravilhoso quanto ela imaginava. Ela só acabaria se magoando. Ele era bom demais para ela e, se ele não percebia isso, se estivesse mesmo desenvolvendo sentimentos por ela, alguém precisava mostrar isso a ele. Quando ela voltou ao quarto, Betty estava vendo televisão. – Nadou bastante? – Ah, sim. Como foi com Dylan? – Ele não fez um som sequer. Betty costumava ir embora no instante em que Rowena chegava. Daquela vez, contudo, ela sequer se levantou do sofá. Exausta, tanto física quanto mentalmente, Rowena desabou ao lado dela e apoiou a cabeça em seu ombro. 47


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– Sabe o que acho incrível? – perguntou Betty. – Hmm? – Que, nos últimos quatro dias, você tenha conseguido nadar durante uma hora e meia sem molhar o cabelo. Rowena perdeu o fôlego. Ah, droga. – Não precisa se culpar por isso – disse Betty, dando tapinhas no joelho dela. – Você tem estado tão feliz ultimamente que eu teria percebido que havia algo diferente de qualquer forma. Rowena endireitou o corpo. – Eu tenho estado feliz? – Mais do que em muitos anos. – Mesmo depois de Dylan? – É uma felicidade diferente. Você tem estado radiante. Aquele brilho do novo amor. – Betty, se meu pai descobrir… – Querida, ele não vai saber disso por mim, e, com relação ao restante dos funcionários, há mais deles do seu lado do que você imagina. Era bom saber daquilo. Nem todos a consideravam um fracasso. – Obrigada. Quanto à história do brilho, o amor não tem nada a ver com isso. Estamos mantendo tudo casual. – Se você diz… – Digo. – Seria tão terrível assim se permitir ser feliz? Não era tão simples. A felicidade tinha um preço, e não valia a dor e a decepção de quando Rowena fosse precisar abrir mão dela.

Depois de ver a limusine do senador ir embora na manhã seguinte, Colin foi até a creche com a caixa de livros que sua irmã lhe enviara. Livros infantis que ele pretendia doar à creche. Era uma excelente desculpa para ver Rowena, e ele não conseguia afastar a sensação de que algo a incomodara na noite anterior. E Colin queria saber o quê. – Bom dia, Colin – disse Tricia ao abrir o portão. Ele viu Dylan cavando na caixa de areia com uma garotinha que parecia ser da idade dele, mas nenhum sinal de Rowena. – Rowena está no escritório dela? – perguntou ele. – Ela ficou em casa. Está gripada. Neste emprego, é quase impossível evitar. Juro que passo 90 por cento da minha vida espirrando. – Cowin! Colin se virou para ver Dylan chegar mancando empolgadamente. Apesar de tudo pelo que o menino passara em sua curta vida, ele parecia feliz o tempo inteiro. – Ei, amigo – disse Colin, surpreso quando Dylan se lançou nas pernas dele, abraçando-as com força. 48


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Ele ergueu os olhos para Colin e franziu o cenho. – Mamãe dodói. – Eu sei. Acha que eu devia visitá-la? Os olhos de Dylan se iluminariam. – Eu também! – De jeito nenhum, garoto – disse Tricia. – Você sabe que a mamãe quer que você fique aqui comigo. Dylan fez beicinho, e Tricia o desgrudou das pernas de Colin, erguendo-o no colo. Então, sorriu para Colin e falou: – Se você pedir com educação, Colin dá um beijo na mamãe por você. – Beija mamãe! Beija mamãe! A menininha com quem Dylan estivera brincando chamou pelo nome dele, e ele se desvencilhou dos braços de Tricia, voltando para a caixa de areia. – Vocês andam nadando bastante, não? – falou Tricia. – Mas não se preocupe, minha boca é um túmulo. Fazia tempo que eu não via Rowena tão feliz. E Colin estava feliz por ser a pessoa a deixá-la feliz. – Trouxe isto para a creche – disse ele, entregando a caixa a Tricia. – São só alguns livros antigos, mas achei que as crianças poderiam gostar. – Obrigada, Colin. – Ela olhou o endereço na etiqueta. – Você os encomendou da Inglaterra? – Na verdade, são meus livros de infância. – É muita bondade sua. Tem certeza de que não quer guardá-los para quando tiver filhos? – Sim. – Ele não sabia se teria filhos algum dia. Isso exigiria que ele se assentasse. – Bem, acho melhor eu ir – disse ele, indo até o portão. – Aproveitem bastante os livros. – Colin? – falou Tricia. Ele se virou novamente para ela. – Rowena parece durona, mas, na verdade, é muito vulnerável. Ele percebera aquilo já fazia muito tempo. – Sei disso. – Nunca a vi tão feliz, mas este também é um momento muito difícil para ela. Se você se aproveitar dela ou magoá-la, nobre ou não, vou fazer você pagar por isso. Ele não se deu ao trabalho de ressaltar que duas pessoas raramente davam início a um relacionamento esperando magoar uma à outra. Contudo, isso acontecia às vezes. Ele voltou à mansão, encontrando Betty ao passar pela cozinha. – Vai subir? – perguntou ela. – Na verdade, vou. – Pode me fazer um favor? Não sei se você ficou sabendo, mas Rowena não está se sentindo bem. Pode passar na suíte dela e lhe entregar isto? – Ela largou uma pilha de lençóis limpos nos braços dele. – Com a chuva que vem aí, minha artrite piorou, especialmente subindo e descendo todas essas escadas. Você se importaria? 49


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– De forma alguma. Contanto que ela não se importe. – Nós dois sabemos que não – disse Betty com uma piscadela. – Rowena contou? Ela sorriu. – Nem precisou. E, ao mandar Colin ao quarto dela com a roupa de cama, ela lhe dera a desculpa perfeita para vê-la. – Obrigado, Betty. Ela simplesmente sorriu. – Se ela precisar de alguma coisa, mande chamar. Colin subiu a escadaria e bateu à porta. Ouviu um resmungo incoerente do outro lado e, imaginando que fosse um convite para entrar, aceitou. A televisão estava ligada, e Rowena estava encolhida no sofá, coberta e pálida, com os olhos fechados. – Pegou uma virose, foi? – perguntou ele. Os olhos dela se abriram, e, quando ela viu que era ele ali, arfou e puxou a coberta por cima da cabeça, resmungando. – O que está fazendo aqui? – Tricia me disse que você estava doente, e Betty me pediu para trazer a roupa de cama. Como está se sentindo? – Terrível, e tenho certeza de que a minha aparência também está. Nem escovei o cabelo. – Chamou um médico? Ela espirou de baixo da coberta. – É essa gripe horrível que está por aí. Vou ficar bem em um ou dois dias. E você nem deveria estar aqui. Não vai querer pegá-la. Em vez de recuar, ele se sentou ao lado dela. – Levando em consideração todo o tempo que passamos juntos, é provável que eu já tenha pegado. Já mediu a sua temperatura? Ela balançou a cabeça. – Quais são os sintomas? – Febre, calafrios, dores no corpo… Mas o remédio está ajudando. Ele pôs a mão na testa de Rowena, como sua irmã fazia quando ele ficava doente na infância. Ela parecia um pouco quente, mas nada preocupante. – Quer que eu traga alguma coisa? – Não precisa cuidar de mim. Betty vem me ver toda hora, e posso chamá-la se precisar de alguma coisa. – Bebeu água? – Um pouco, quando acordei de manhã. – Você precisa beber líquidos para se manter hidratada. Comeu alguma coisa? – Nada depois do jantar de ontem. 50


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– Quando eu era criança e ficava gripado, minha irmã, Matilda, fazia canja de galinha para mim. Bem, ela pedia para a empregada fazer. Mas sempre ficava comigo enquanto eu tomava e lia histórias até eu dormir. – Por que sua irmã e não seus pais? – Matty é 20 anos mais velha que eu, e, quando eu não estava no internato, era ela quem cuidava de mim. – Por que ela? – Quando nasci, meu pai já tinha 60 anos, minha mãe, 47. Não fui planejado, e nenhum deles parecia ter muito interesse em recomeçar, especialmente com um garotinho exigente e precoce como eu. – Exigente e precoce? Eu jamais teria imaginado. – Eu gostava de pôr fogo nas coisas. Ela arregalou os olhos. – Sério? Ele olhou pelo quarto e falou: – Está tudo coberto pelo seguro, certo? O sorriso dela foi fraco, mas genuíno. – A verdade é que meus dias de incendiário acabaram quando pus fogo no banheiro do internato. É suficiente dizer que o castigo mais do que se adequou ao crime. – Parece um pedido de atenção. – Acho que foi. – Sua irmã tem uma família própria? – Não. Ela se casou jovem, antes de eu nascer, mas o marido dela adoeceu pouco depois e morreu. Ela estava grávida, e imagino que tenha sido por isso que eles tenham se casado, mas perdeu o bebê. Não se casou novamente nem teve filhos. – Isso é tão triste. – Eu costumava fingir que meus pais eram, na realidade, meus avós, e Matty era minha mãe. Ela me amava como se fosse. Até hoje, ela ainda tenta cuidar de mim. – É possível que ela seja? Ele riu e balançou a cabeça. – Não, sem chance. Foi só uma fantasia tola de uma criança deprimida. – Seus pais ainda estão vivos? – Meu pai faleceu quando eu estava na faculdade. Minha mãe ainda está viva e mora com a minha irmã, mas não está bem. – Você a vê com frequência? – Uma ou duas vezes por ano. – Só? – Matty me implora para fazer mais visitas, mas não há nenhum vínculo emocional verdadeiro. – Quem me dera se eu só precisasse ver meu pai uma vez por ano. – Ela parou, 51


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parecendo atormentada, e falou: – Ah, não, este deveria ser nosso fim de semana. Estou estragando tudo. – Haverá outros finais de semanas. Ou talvez você se sinta melhor amanhã. Vamos esperar para ver. – Certo. – Você ficaria mais confortável na cama? – Provavelmente, mas Dylan derramou suco nos lençóis hoje de manhã, quando estava tentando levar o café da manhã para mim. – Por que não troco tudo para você? Assim, você pode se deitar. – Colin, não precisa fazer isso. – Sei que não. Mas quero. – Ele pegou a roupa de cama e a levou para o quarto de Rowena. Tirou os lençóis sujos, inspirando o perfume dela, já familiar para ele. Ele conhecia o cheiro, o sabor, cada curva do corpo de Rowena. Sabia exatamente onde tocá-la para excitá-la, ou como ir devagar para enlouquecê-la lentamente até ela implorar pelo orgasmo. Gostava do fato de que o sexo com ela não era apenas extremamente gratificante, mas também divertido. Ela não esperava ser tratada como uma princesa, nem exigia sentimentos piegas de afeição. Não falava em fazer amor. Eles faziam sexo, simples assim, e faziam muito bem. Ele arrumou a cama e ajudou Rowena a se levantar do sofá, levando-a para a cama. – Agora, vamos ver se me lembro de como fazer isso. Confusa, ela perguntou: – O quê? – Pôr você na cama. Se bem me lembro, primeiro, você se deita, o que você já fez. Depois, as cobertas, certo? – Ele puxou as cobertas até o queixo dela. – Já está bastante aquecida? Ela assentiu. – Tenho a sensação de que estou esquecendo algo. – Acho que não – falou Rowena. – Ah, lembrei… – Ele se curvou e deu um beijo na testa dela. – Tenho trabalho a fazer, mas volto daqui a pouco. Ele beijou a testa dela. – Colin, você não precisa fazer isso. Não. Entretanto, estranhamente, ele queria fazer.

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CAPÍTULO NOVE

Rowena se revirou na cama por um tempo. Então, adormeceu profundamente. Acordou mais tarde, desorientada com o fato de já estar claro, já que costumava acordar ao raiar do dia. Quando ela se mexeu e seus músculos gritaram em protesto, ela lembrou que estava doente. Provavelmente, Colin previra a condição dela, pois havia comprimidos e um copo de água sobre a mesa de cabeceira. Ela tomou os comprimidos e acabou adormecendo novamente. Quando abriu os olhos novamente, o quarto estava escuro. Que horas eram? E quem estava cuidando de Dylan? Rowena se levantou subitamente, fraca e tonta. – Colin? Betty? Alguém? Colin apareceu na porta um instante depois. – Você acordou. – Eu dormi durante quanto tempo? Está mesmo escuro lá fora? – São 21h30. – Ele ligou o abajur. – Da noite? Onde está Dylan? Preciso fazer o jantar dele. – Dylan e eu jantamos faz horas. Ele está na cama. – Vocês jantaram juntos? – Empadão de frango feito pela Betty. Aquela mulher é um gênio na cozinha. – Acho melhor eu ir vê-lo – disse ela. Mas ao tentar se levantar, mal conseguiu se apoiar nos cotovelos. – Relaxe. Eu o tenho olhado a cada 15 minutos. Ele está bem. – Ele tem remédios para tomar… – Betty me mostrou a lista. Está tudo resolvido por hoje. – Betty sabe que você está aqui? – Tenho a sensação de que ela sabe de tudo. Imagino que você tenha falado com ela a respeito de nós. – Falei. Ela não vai nos dedurar. Rowena desabou novamente no colchão. – Sinto muito por você ter precisado fazer isso. – Não sinto. Nós nos divertimos. Dylan é um grande garoto. Um grande garoto que não deveria se apegar a um homem para perdê-lo em seguida. – Está com fome? – perguntou Colin. Ela balançou a cabeça. Sentia dor por todo o corpo. 53


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– Acho que talvez eu precise de mais remédios – disse ela. Estava tão fraca e trêmula que Colin precisou ajudá-la a se sentar, segurando o copo enquanto ela tomava os comprimidos. – Pode falar para Betty vir aqui? Quero pedir que ela fique. Se Dylan acordar de madrugada e eu estiver mal assim, não vou conseguir cuidar dele. – Ela se ofereceu para ficar, mas eu disse que não precisava. – Por quê? – Porque vou passar a noite com vocês. – Colin, você não precisa mesmo fazer isso. – Tem razão, não preciso. Mas quero. Mas por que ele arriscaria ser flagrado? Por que estava cuidando dela? Do filho dela? Era para ser apenas um caso passageiro. Apenas sexo. Rowena já estava começando a gostar de verdade dele, e Colin só estava piorando tudo. – Por que não volta a dormir? – disse ele ao dar um beijo na testa dela. – Vai se sentir melhor amanhã. Ela esperava que sim. Não conseguia se imaginar pior. E, antes que ela pudesse fazer outro protesto, ele saiu. Rowena estava tão fraca que segui-lo não era uma opção. Então, ela voltou a dormir. Despertou em plena madrugada e poderia jurar ter visto a silhueta de um corpo deitado na cama, a seu lado. Quando despertou novamente, o quarto estava iluminado. Ela ouviu os sons da manhã vindo da cozinha, a contagiante risada de Dylan. Colin se deitara mesmo na cama com ela, ou teria sido algum sonho vívido induzido pela febre? Rowena se sentou, aliviada por, apesar de ainda se sentir fraca, não sentir dores corporais. Sua barriga roncou, e o aroma de café fresco a fez sair da cama. Contudo, quando ela viu seu reflexo no espelho do banheiro, perdeu o fôlego. Seu cabelo estava horroroso. Ela não queria que Colin a visse assim de forma alguma. Primeiro, um banho. Depois, o café.

Colin vestiu, alimentou e medicou Dylan e, em seguida, acomodou-o diante da televisão, para assistir aos programas infantis da manhã de sábado. Para uma criança de 2 anos e meio e com necessidades especiais, Dylan era independente e extremamente capaz, ao menos era o que Colin achava, e era muito fácil cuidar dele. Ele esperara que Dylan ficasse chateado por sua mãe não estar por perto, mas parecia entender que ela estava doente e precisava descansar. Quando Colin saíra da cama, uma hora antes, Rowena dormia em paz. Entretanto, quando ele retornou para ver como ela estava, a cama se encontrava vazia, e ele ouviu o chuveiro ligado. O fato de ela ter energia para chegar até lá era um bom sinal. – Cowin! – chamou Dylan da sala. Quando Colin retornou, Dylan estendeu sua caneca e disse: – Dá uco? – Colin já aprendera que aquilo era um pedido do menino por suco. Ele estava ficando muito bom em traduzir a fala de Dylan. Ainda havia algumas palavras questionáveis, mas, em geral, ele conseguia entender o que o garoto queria dizer. – Suco de maçã? 54


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Dylan sorriu e assentiu vigorosamente. Colin pegou o suco dele e pôs os pratos na lavadora. Tinha acabado de limpar a cozinha quando Rowena saiu do quarto. Ela estava usando uma calça de pijama de flanela e um moletom. Estava sem maquiagem, e seu cabelo estava molhado, mas ela parecia estar se recuperando. – Bom dia. Vejo que está se sentindo melhor hoje. – Ainda meio fraca, mas já me sinto humana outra vez. Dylan ouviu a voz dela e gritou: – Mamãe! Ela sorriu. – Oi, querido. Ele foi até Rowena. Colin percebera que, embora Dylan parecesse instável de pé, ele, na realidade, tinha um bom equilíbrio e, talvez, se Rowena o deixasse mais solto, ele melhorasse ainda mais. Rowena o pegou e lhe deu um grande abraço. Dylan começou a descrever tudo que ele e Colin tinham feito enquanto ela estava doente, o que tinham comido, os livros que tinham lido antes de dormir. – Parece que você se divertiu com Colin. Dylan assentiu e falou: – É meu papai? O papai dele? Colina não esperava aquilo e, claramente, Rowena também não. Perplexa, ela olhou para Colin, e novamente para Dylan, sem saber o que dizer. Contudo, uma coisa que Colin aprendera fora que crianças eram facilmente distraídas. – Ei, Dylan, quer mostrar à mamãe o que você fez para ela na aula de artes ontem? O rosto de Dylan se iluminou, e ele se debateu para sair dos braços dela. – Eu pego! Rowena o pôs no chão, e ele correu para seu quarto. – Sinto muito por isso – disse ela a Colin, totalmente horrorizada. – Tudo bem. – Não faço ideia de onde ele tirou isso. Nunca tinha feito nada assim com ninguém. – Rowena… – Ele fica confuso. Os amigos dele falam dos pais, e, como não tenho um namorado, a exposição dele a homens é limitada. Não que eu ache que estejamos namorando. Colin tocou o braço dela. – Tudo bem. Não precisa explicar. Acho que nunca me ocorreu que ficar por perto confundiria Dylan. Se eu soubesse, não teria insistido em ficar. Desculpe por ter posto você numa situação difícil. – Ultimamente, parece que ele quer tantas coisas, coisas que eu quero dar a ele, 55


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mas não posso. Sinto que o estou decepcionando. Dylan retornou para entregar a sua mãe o desenho que ele fizera. – Ah, meu amor, adorei! Colin podia jurar que havia lágrimas na voz dela. Como Rowena poderia achar que estava decepcionando Dylan? Ele era feliz, inteligente e saudável, e, de acordo com Betty, a maior parte disso se devia à dedicação de Rowena. E estava claro que Dylan a amava loucamente. Se havia algo que ele queria mas que não tinha, Colin tinha certeza de que havia um bom motivo para isso, não era culpa dela.

Rowena mal conseguia acreditar que, depois do comentário de Dylan perguntando se Colin seria seu pai, Colin não fugira imediatamente. Ele ainda estava ali, na cozinha dela. – O que acha de comer algo? – perguntou ele. – Estou com muita fome, mas posso comer só cereal mesmo. – Bobagem. – Ele abriu a geladeira e retirou um prato de panquecas. – Guardei para você. Fui eu que fiz. – Ah, sim, claro que vou comer. Colin riu. – Não se preocupe. Estão comestíveis. – Eu nem sabia que tinha massa para panqueca. – Não tinha. Eu fiz. Sério? Ele pôs o prato no micro-ondas e serviu o café. – Açúcar? – Puro. – Ele entregou a xícara, e Rowena deu um gole, suspirando de prazer. Não havia nada como uma bela xícara de café forte para começar o dia. – Não sabia que você cozinhava. – Há muitas coisas que você não sabe a meu respeito. Seria a imaginação dela, ou ele parecia achar aquilo algo ruim? Eles estavam tendo um caso. Sexo apenas. Não eram necessárias conversas profundas. O micro-ondas apitou, e Colin pôs o prato diante dela. Rowena passou manteiga e pôs um pouco de calda doce nas panquecas e deu uma mordida. – Ai, meu Deus! Estão deliciosas! Ela as devorou. – Eu estava pensando que seria melhor, para não confundirmos Dylan, se nós só nos encontrássemos quando ele não estivesse por perto – disse Colin. – Acho que seria melhor. Temos uma semana e meia. A ideia é nos divertirmos. Não vamos complicar tudo com coisas pessoais. Só Deus sabia que a vida dela ficaria suficientemente complicada nos meses 56


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seguintes. Em seu tempo livre, Rowena vinha finalizando seus planos e, se tudo desse certo, ela logo os poria em ação. – Vou resolver algumas coisas – falou Colin. – Por que não me manda uma mensagem de texto mais tarde, depois que Dylan for dormir? Betty disse que a maior parte dos funcionários fica de folga nos finais de semana. Então, se tomarmos cuidado, sermos flagrados não será problema. Betty era incrível, e Rowena a amava por isso. – Vou fazer isso. – Sabe, ontem à noite, eu finalmente levei você para uma cama de verdade, e tudo que fizemos foi dormir. Então, fora mesmo ele. – Vejo você mais tarde – disse Colin. Olhou para Dylan, que estava hipnotizado pela TV, e, em seguida, deu um rápido beijo nos lábios dela. Rowena ficou aliviada por ter algum tempo para si mesma. Já estava em sua segunda xícara de café quando Cara telefonou. – Agora, é oficial – disse ela a Rowena. – Cheguei a um beco sem saída. Procurei na internet. Ninguém parece saber o que aconteceu com Madeline. É como se ela tivesse desaparecido. – Ou trocado o nome para Angelica Pierce, mudando completamente a aparência. Você não teria, por acaso, um anuário do colégio de antes de ela ter sido expulsa, teria? – Tenho em algum lugar. Você tem? – Acho que o meu está guardado com minhas outras coisas em Washington, mas não sei se vou conseguir procurá-lo. – Ela não estava planejando uma viagem para Washington tão cedo. – Vou ver se consigo encontrar o meu, então. – A propósito, você tem falado com Ariella? – Sim. Ela continua em choque, eu acho. Quem não ficaria ao descobrir que talvez fosse a filha ilegítima do presidente? – Ela já o encontrou? – Ainda não. Ela disse que vão esperar os resultados do teste de DNA. – Alguém teve notícias da suposta mãe biológica? – Eleanor Albert desapareceu. – Bem, mande um abraço para Ariella. – Ela vai gostar. É uma pessoa tão meiga. Não merece isso. Elas conversaram durante vários minutos a respeito das fofocas mais recentes de Washington. Então, desligaram, para que Rowena pudesse se arrumar e aprontar Dylan para sair. Dylan continuava hipnotizado pela TV. Rowena tentava limitar o tempo dele assistindo à televisão a duas horas por dia, e apenas programas educativos. Entretanto, nos finais de semana, ela fazia exceções. Rowena fechou seu laptop e chamou Dylan. – Ei, meu amor, quer ir ao playground?

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Os olhos dele se iluminaram. – Cowin também vai? Droga. Eles precisavam conversar sobre aquilo. Ela se sentou no carpete ao lado dele. – Não, Dylan, Colin não vai conosco. Ele só ficou aqui porque a mamãe estava doente e ele quis ajudar. Dylan assentiu. Então, perguntou: – Vai ser meu papai? Rowena suspirou. – Não, querido. Mas ele pode ser seu amigo. – Não tenho papai – disse ele, de forma tão casual que partiu o coração dela. – Algumas crianças não têm papai, mas isso só significa que a mamãe delas as ama ainda mais – explicou Rowena, fazendo cócegas em Dylan até que ele ficasse sem fôlego de tanto rir. – Agora, vá pegar seus sapatos e sua mochila. E você pode levar um brinquedo. – Oba! Ele foi para seu quarto, tão meigo e inocente que o coração de Rowena transbordou de amor. E, do nada, ela teve a inexplicável sensação de que, apesar de tudo pelo que ele passara e tudo que o aguardava no futuro, Dylan ficaria bem. Teria sucesso e felicidade. Ela só queria ter a mesma esperança para sua vida.

CAPÍTULO DEZ

Rowena e Dylan brincaram no playground até a hora do almoço. Então, como um presente especial, ela o levou a sua lanchonete preferida. Num futuro próximo, eles não teriam dinheiro para esses pequenos luxos. O orçamento ficaria apertado. Ela pôs Dylan na cama às 19h30, e ele dormiu imediatamente. Rowena achou que aquela noite seria uma boa ocasião para fazer algo um pouco diferente. Então, tirou a roupa e vestiu sua camisola de renda. Estava um pouco justa, mas cabia. Vestiu seu robe de seda e o fechou na cintura. Então, escovou o cabelo e passou batom. Geralmente, quando Colin e ela se encontravam na casa da piscina, ficavam tão ansiosos para ficar nus e chegarem à parte interessante que ela sequer se dava o trabalho de vestir roupas sensuais ou se maquiar. Para eles, a fase de sedução já estava obsoleta. Aquela noite seria um pouco diferente. Eles teriam a noite quase inteira, e Rowena não podia negar que estava ansiosa por fazer sexo numa cama de verdade. Em vez de digitar uma mensagem de texto, ela abriu o robe e tirou uma foto de si mesma, enviando-a em seguida. Um minuto depois, ela ouviu uma batida à porta. 58


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Quando Rowena a abriu, Colin grunhiu ao vê-la. – Isto é para mim? – perguntou ele, entrando e passando os dedos sobre a renda que cobria o abdômen dela. – Achei que seria bom variar. – Eu teria vindo de pijama de seda, mas seria difícil explicar se alguém me visse. E também não tenho um pijama de seda. – Gosto do que você está usando agora. – A calça de ginástica lhe dava um acesso muito fácil, e a camiseta exibia os extraordinários músculos peitorais dele. – Só por curiosidade, o que você costuma usar para dormir? – Nada. Ah, sim, aquilo também seria muito interessante. – Temos a noite quase inteira. Então, não precisamos nos apressar. Quer começar bebendo algo? Tenho chá gelado e refrigerante. Ou posso roubar uma garrafa de uísque lá da sala. – Acho que vou querer só água – disse ele, pressionando a parte superior do nariz com o polegar e o indicador. – Você está bem? – Só um pouco cansado. Foi uma semana atarefada. Sem dúvida, fora mesmo. – Vá se sentar. Eu pego a água. Rowena encheu dois de seus melhores copos com gelo e água, sentindo-se um pouco nervosa. Não com relação ao sexo, pois eles não tinham nenhum problema nesse aspecto, mas porque ele passaria algum tempo ali. Quando não estivessem fazendo sexo, sobre o que conversariam? O que fariam? E se, depois do sexo, eles ficassem entediados um com o outro? Ela voltou à sala e pôs os copos na mesa de centro. Colin estava sentado no sofá, sua cabeça apoiada na almofada, virada para o lado; seus olhos estavam fechados. Rowena se sentou ao lado dele e tocou seu braço. – Acorde, dorminhoco. Ele piscou os olhos. – Desculpe. Acabei pegando no sono? – Acho que sim. Ele bocejou. – Estou acabado. – Ele massageou a têmpora, fazendo uma expressão de dor. – E estou com uma dor de cabeça terrível. Ela cruzou os braços. – Essa desculpa não deveria ser minha? – Não é desculpa. Não estou me sentindo bem mesmo. Ele parecia mesmo meio pálido. Rowena levou o punho à testa dele. – Colin, você está com febre. – Droga. Eu deveria ter esperado isso. 59


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– Vamos – disse ela, oferecendo a mão. – Você vai ficar mais confortável na cama. Ele suspirou e deixou a cabeça cair novamente contra a almofada. – Pode me dar um minuto antes de me expulsar? Expulsá-lo? – Eu estava falando da minha cama, Colin. As sobrancelhas dele se levantaram. – Depois de tudo que você fez por mim, achou mesmo que eu não cuidaria de você? – Não quero dar trabalho. Ela revirou os olhos. – Por favor, não me venha com esse papo de durão. Gostando ou não, você vai ficar comigo até melhorar. Agora, levante. – E Dylan? – Vou deixar a porta do quarto trancada até sairmos para a creche. Ele nem vai saber que você veio aqui. – E os funcionários? – Se alguém perguntar, eu peço a Betty para dizer que você está na sua suíte, que não está se sentindo bem e não quer ser incomodado. E, se a sua gripe for como a minha, na terça-feira, quando o senador voltar, você já deverá estar bem. Agora, vamos. Ele pegou a mão dela e permitiu que ela o puxasse. – Eu ficaria bem mesmo sozinho. – A-hã. Claro que sim. – Homens eram reconhecidamente carentes quando ficavam doentes. Claro que, sendo um soldado, talvez ele fosse mais durão que um homem comum. Rowena puxou as cobertas da cama. – Você precisa de alguma coisa que esteja na sua suíte? Um pijama, talvez? Ele balançou a cabeça e olhou desejosamente para a cama, como se mal pudesse esperar para se deitar. – Pode ir. Vou pegar o remédio para você. Quando Rowena retornou, Colin estava sentado na beira da cama, apenas de cueca boxer preta, parecendo um anúncio publicitário de roupa íntima. – Temos um final de semana inteiro juntos, e isto acontece – disse ele. – Talvez você se sinta melhor amanhã à noite. – Ela entregou dois comprimidos a ele. Colin os engoliu e se deitou. Rowena puxou as cobertas por cima dele, sentou-se a seu lado e verificou novamente sua testa. Estava muito quente. – Já falei que você é uma excelente mãe? Ela sorriu. – Acho que tenho meus momentos. – Como quem não teve uma boa mãe, eu afirmo que Dylan tem sorte de ter você. 60


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– A minha também não foi nenhum exemplo. Ela nos abandonou para ficar com o protegido do meu pai. Ele abandonou a esposa e as filhas para ficar com ela. Tudo por um relacionamento que mal resistiu até o fim do frenesi que criou na mídia. – Você estava com que idade? – A idade bastante frágil e impressionável de 11 anos. – Ela não voltou mais? Rowena balançou a cabeça. – Conheceu um sueco rico que a levou para a Europa. Eles tiveram dois adoráveis filhos, loiros e de olhos azuis, aos quais ela deu os nomes de Blitz e Wagner, o que sempre achei que soavam como nomes de cachorro. Eu estava no colégio quando fiquei sabendo dos boatos a respeito dos outros casos dela. Aparentemente, minha mãe tinha uma reputação e tanto em Washington. E especulavam que ela só tinha se casado com meu pai porque estava grávida. – É verdade? – Não sei e não quero saber. – Você fala com ela? – De vez em quando, recebo um cartão de aniversário ou Natal. Mas não nos falamos de verdade. – Então, eram basicamente só você e o senador. – Na verdade, era basicamente só eu. Ele nunca foi um pai dedicado, mas, depois que ela foi embora, ele piorou. Eu tinha uma ideia louca de que, se eu fosse a filha perfeita, ele me daria atenção, talvez até tivesse orgulho de mim. Mas acabei percebendo que, por melhores que fossem minhas notas, nenhum comportamento exemplar ou boa ação jamais o satisfaria. Ele só precisava de mim para tirar fotos ou aparecer em eventos beneficentes. Qualquer coisa que causasse uma boa impressão para ele. A não ser por isso, eu era só ignorada ou criticada. Então, concluí: por que ser boa se ser má é muito mais divertido? E, ainda melhor, eu poderia manchar a imagem dele. – Porque má atenção é melhor do que atenção nenhuma. – Exatamente. – Funcionou? – Ah, sim, bem demais. A bebida e as drogas não só o deixaram incrivelmente irritado, mas também faziam as coisas parecerem melhores. Elas me entorpeciam. O que, claro, no final, acabou sendo algo muito ruim. – Você culpa seu pai pelos seus vícios? – Deus, não. De jeito nenhum. Sou a única responsável por minhas ações. Já era uma situação ruim, e eu a piorei. Meu único arrependimento não é o que fiz com ele, mas com relação a todas as outras pessoas que me amavam e se importavam comigo. Foram as pessoas que atingi de verdade. – Mas você já superou tudo isso. – Ainda tenho um pouco de medo. A ideia de que eu possa ter uma recaída, deixar Dylan na mão. – Todo mundo tem medo de alguma coisa. Se você não tivesse, não seria humana. – Acho que sim. 61


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Ele bocejou e fechou os olhos. Rowena verificou novamente a testa dele. Já parecia um pouco mais fria. Ao perceber que ele já adormecera, ela ficou ali por mais alguns minutos, vendo-o dormir. Ainda que fosse tentador se deitar na cama com ele, Rowena dormiu no sofá. Acordou com a sensação de alguém cutucando suas costas. Ao se virar, viu Dylan de pé ao lado do sofá. – Oi, mamãe! Ela se sentou, confusa e desorientada. – Colin já acordou? – Está domindo – disse Dylan. – Então, como você saiu da cama? Ele a olhou fixamente, cheio de orgulho. – Consegui sair. Já posso ter cama gande? O coração dela deu um salto dentro do peito. – Dylan Michael Tate, nunca mais faça isso! O orgulho desapareceu, o lábio inferior dele começou a tremer. Ele baixou o olhar para o carpete, grossas lágrimas se acumulando em seus olhos, e falou: – Decupa, mamãe. Ela se sentiu imediatamente culpada por ter gritado. Pegou-o nos braços. – Não, é a mamãe quem precisa pedir desculpa. Eu não devia ter gritado. Só fico com medo de você se machucar. Ele se aninhou contra o peito dela, tão pequeno e trêmulo. – Queo ser gande. – Eu sei, querido, e vai ser. Só precisa ter paciência. – O que não era fácil para uma criança, Rowena sabia. – Está tudo bem aí? Rowena ergueu os olhos para ver Colin na porta, descalço e sem camisa. – Cowin! – gritou Dylan, disparando pelo recinto com mais velocidade do que deveria e se enroscando nas pernas de Colin, que acariciou a cabeça dele. – Dylan saiu sozinho do berço – disse Rowena. – Eu sei – falou Colin, e ela percebeu que ele estava apoiado contra o batente da porta. – Ele entrou no quarto procurando você. – E lá se vai nosso plano… – Ele nunca tinha saído sozinho do berço antes? – perguntou Colin. Ela balançou a cabeça. – Como está se sentindo? – Como se eu tivesse lutado contra um peso-pesado. Tudo dói. – Sei como é. – Pode me dar mais comprimidos? 62


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– Claro. Volte para a cama. Eu levo para você. Colin bagunçou o cabelo de Dylan. – Vai precisar me soltar, amigão. – Dylan, querido, Colin está muito doente. – Igual à mamãe? – Isso mesmo. E Colin cuidou da mamãe. Então, a mamãe está cuidando dele. Entendeu? Ele assentiu entusiasmadamente, mas não havia como saber se compreendera de fato. – Por que não vai brincar um pouco no seu quarto? Dylan foi obedientemente para o quarto, enquanto Rowena pegava os comprimidos e água para Colin. Ele estava novamente na cama quando ela voltou ao quarto. Deixara a calça no chão e estava coberto até a cintura, sentado. – Você dormiu no sofá? Rowena se sentou na beira do colchão e lhe deu os comprimidos. – Dormi. Ele engoliu o remédio. – Não precisava. – Eu sei. – Eu me sinto egoísta, como se tivesse expulsado você da sua cama. – Não tem problema. – O que aconteceu com Dylan, afinal? – Desde que fez 2 anos, ele vem insistindo para que eu compre uma cama para ele. E, agora que ele consegue sair do berço, eu tenho que comprar. – Por quê? – Porque, agora que ele sabe que consegue, vai continuar fazendo. E, além de ele poder se machucar, só Deus sabe o que pode aprontar enquanto eu estiver dormindo. – Não tem um jeito de você trancar o quarto dele? – Acho que sim. Mas ainda tem o problema de colocá-lo numa cama de verdade. Tenho medo de ele cair e se machucar. – Não tem camas menores para crianças? – Sim, tem uma com colchão bem perto do chão. Dylan a chama de cama de bebê. Ele quer uma maior, mas se mexe tanto quando dorme que tenho medo de ele rolar para fora. – Por que não começa colocando o colchão no chão? Se Dylan não rolar para fora, você vai saber que ele está pronto para uma cama maior. Gênio! – É uma ótima ideia. Como pensou nisso? Colin deu de ombros. – Simplesmente pareceu a solução lógica. 63


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– Sem dúvida, vou tentar isso. Colin bocejou e fechou os olhos. – Cansado? – Ele assentiu. – Você quer algo para comer antes de eu descer com Dylan? – Descer? – É segunda-feira. Tenho que trabalhar. – Tinha me esquecido completamente. E não, no momento, nada. – Antes de sair, vou pedir a Betty para vir ver você de vez em quando, e vou ficar com o celular. Então, ligue se precisar de alguma coisa. – Vou ligar. Rowena começou a se levantar, mas Colin segurou a mão dela. – Obrigado. Algo na maneira como ele dissera aquilo, o tom de sua voz, a sinceridade em seus olhos, fez Rowena sentir um aperto no coração. Ela se curvou e beijou o rosto dele. – Fique bem. Ela já estava quase do lado de fora quando Colin falou: – Rowena? Ela se virou. – Falei a verdade quando disse que você era uma boa mãe. Ela tentava ser. E era bom ouvir alguém dizer aquilo. – Obrigada. Rowena sabia que isso era considerado arcaico e antiquado por muitas mulheres jovens, mas ela não tinha nenhuma grande aspiração profissional. Cuidar de Dylan, estar ao lado dele, era a única “carreira” de que ela precisava. Se ela se estabelecesse algum dia, seria com alguém que compartilhasse desses valores. Se um homem assim existisse.

CAPÍTULO ONZE

Colin não estava quando Rowena voltou do trabalho, às 18h. – Onde você está? – perguntou ela quando ele atendeu ao telefone. – Vou dormir na minha suíte hoje e achei que seria melhor para Dylan se eu não estivesse aí quando vocês voltassem. – Obrigada por ser tão compreensivo. – Ele é seu filho. Vem em primeiro lugar. Além do mais, já me sinto melhor. – Você comeu? 64


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– Betty trouxe uma bandeja. – Se precisar de mais alguma coisa, não hesite em chamar. – Pode deixar. E obrigado novamente. Restava uma noite até que o senador retornasse, e, depois disso, eles voltariam a se encontrar na casa da piscina até Colin voltar para a Inglaterra. Quando Rowena pôs Dylan para dormir, ela falou: – Adivinhe só. Mamãe encomendou uma cama de menino grande para você, e ela chega daqui a dois dias. Os olhos dele se arregalaram. – Não é cama de bebê? – Nada disso. Uma cama de verdade. – Oba! – Mas você precisa me prometer que, até lá, não vai tentar sair do berço. Pode acabar se machucando. Ele assentiu. – Pometo. Apesar da promessa, Rowena entrou no quarto dele na manhã seguinte e o encontrou sentado no chão, brincando. Ele era novo demais para entender o perigo, e, como a bronca não tinha dado certo da primeira vez, Rowena não se deu o trabalho novamente. Antes de ele ir para a cama naquela noite, ela tiraria o colchão do berço e o poria no chão. Seria mais seguro assim. Dylan não perdeu tempo e foi contar a todos da creche a respeito da nova cama que ganharia. – Então, você finalmente cedeu – disse Tricia depois do lanche da manhã, enquanto elas observavam as crianças correndo pelo playground. Rowena lhe contou a respeito do problema com o berço. – Não estou pronta para vê-lo crescer. – Pronta ou não, não há como impedir. – Eu sei. Queria que ele fosse bebê para sempre. – Você podia ter outro bebê. Falando nisso, como vai Colin? Rowena a olhou fixamente. – Não tem graça. – Ele passou a noite com você de novo? – perguntou ela, seu tom cheio de insinuação. – Não. Ele insistiu para que eu dormisse na minha cama. – E não tinha espaço para vocês dois? – E não teria sido divertido explicar isso para Dylan? – É, acho que entendo. Quer dizer vocês continuam com um relacionamento sem compromisso? – Sim. 65


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– E isso é o bastante para você? – Mesmo que eu quisesse mais, ele logo vai embora. – E se ele pedisse para você ir junto? – Ele não faria isso. – Mas e se fizesse? – Relacionamentos são difíceis, e a maioria não dura. A última coisa que quero é me desvencilhar do meu pai e acabar sendo presa por outra pessoa. Só quero ser… eu. Cuidar de mim mesma e de Dylan. Preciso saber que sou capaz. – Vai ser difícil largar a creche, não? Foi ideia sua. Lágrimas arderam nos olhos de Rowena, como sempre acontecia quando ela se imaginava indo embora dali, deixando para trás todas as incríveis crianças que ela passara a amar. Contudo, se ela quisesse ir embora, teria que largar tudo. – Vou trabalhar neste final de semana para tirar tudo do quarto extra. – Se precisar de ajuda, me avise. – Não vai ser o último final de semana de Colin aqui? – De acordo com o planejado, sim. – Então, você não prefere ficar com ele a trabalhar comigo? – Bem lembrado. – Vai acontecer, Row. Você vai conhecer um homem que ame e aprecie você, alguém que será um ótimo pai para Dylan. E vai ser feliz para sempre. Rowena não se deu o trabalho de dizer que finais de contos de fadas não aconteciam na vida real. Ao menos não na dela.

Colin tinha um problema, e, no momento, esse problema estava aninhado contra ele, terna, macia e sexy, com a cabeça em seu peito. Parecia que Rowena fora feita para ele, e a coisa mais perturbadora era que isso não o incomodava. Ele sempre se esforçara para evitar relacionamentos sérios. Nunca vira sentido naquilo. Por que ele se prenderia a uma mulher quando havia tantas outras opções? – Tinha me esquecido de como é bom fazer sexo numa cama – disse Rowena. – Não que não tenha sido divertido fazer apoiado na parede ou numa porta, ou no chuveiro. O celular de Colin começou a tocar. Ele o pegou na mesa de cabeceira para verificar a tela. Era o pai de Rowena, ligando do telefone de seu escritório em Washington. – Olá, senador. Pensei que já estaria num voo de volta para Los Angeles a esta altura. – Infelizmente, houve um imprevisto. Gostaria que você se reunisse comigo e com alguns colegas. Queremos discutir a formação de um comitê para investigar como o ANS está conseguindo informações pessoais dos cidadãos, incluindo o presidente, de forma 66


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ilegal. Como você tem experiência nisso e o acordo que estamos preparando é sobre esse assunto, gostaríamos da sua participação. Pode vir a Washington? – Claro. Mas por que um comitê? – Antes de eu poder apoiar totalmente esse acordo, preciso saber o tamanho do problema. Depois de todo o trabalho que eles tinham tido, o senador ainda não estava convencido? – Quando quer que eu chegue? – A reunião será às 10h. Quinta-feira, no meu gabinete. – Estarei lá. – Ele desligou. Droga, aquela era sua última semana com Rowena. Ele não queria desperdiçá-la em Washington. Rowena se espreguiçou, bocejando. – Estará onde? – Em Washington. Tenho uma reunião com o seu pai às 10h, na quinta. – Por quê? Ele explicou tudo. – Ele não precisa de um comitê, Colin. Sabe muito bem que o ANS está por trás do escândalo presidencial. Ele só está fazendo isso para manipular você, para ter controle. Você vai trabalhar como um louco para ele, e, depois, ele vai aparecer no último instante para receber o crédito. – Provavelmente. – Colin, entretanto, não tinha escolha. Além do mais, não se importava com quem receberia o crédito pelo acordo, contanto que fosse aprovado. – Você podia ir comigo. – A Washington? – Por que não? Ele esperava um não imediato, e Rowena o surpreendeu ao parecer pensativa. – Tem algumas coisas minhas que preciso buscar lá… e uma pessoa com quem gostaria de falar. Mas meu pai não pode saber, a menos que eu tenha um bom motivo para estar lá. – Minha amiga Cara vai se casar. Posso dizer que vou ser madrinha e fui ajudá-la a escolher o vestido. – E, quando chegar a hora do casamento e você não for? – Até lá, isso já não vai mais fazer diferença. E posso ver se Tricia cuidaria de Dylan. Ela já se ofereceu um milhão de vezes. E, mesmo que ela não possa, tenho certeza de que Betty ficaria com ele. Está em cima da hora, mas… Colin se sentou e entregou seu celular a Rowena. – Ligue para ela. Ele não apenas achava que seria bom para Rowena sair de lá, mas também acreditava que isso beneficiaria Dylan. Até Colin conseguia ver que o menino precisava de independência. Ela se sentou ao lado dele e pegou o telefone. Durante vários segundos, apenas olhou fixamente para o aparelho. Finalmente, digitou o número. – Oi, Tricia, queria perguntar uma coisa… O quê? Sim, estou em casa. Por quê? – 67


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Ela sorriu. – Não, estou ligando do telefone de Colin. Só estava pensando… Quero dizer, você já se ofereceu antes, e sei que está em cima da hora… – Ela fez uma expressão de dor ao esperar um não. – Colin me pediu para ir a Washington com ele na quinta, e eu estava pensando se você não poderia passar a noite com Dylan. Houve uma pausa, e os olhos de Rowena se iluminaram. – Tem certeza de que não tem problema? – Ela riu. – Certo, certo, pode deixar. Ela desligou e devolveu o telefone. – Como imagino que você tenha percebido, ela disse sim. – Fantástico. Vou providenciar as passagens. A que horas você gostaria de sair? – No início da tarde. Isso vai me dar tempo de resolver algumas coisas antes de ir. – Pensamos no restante amanhã. – Ele a puxou para a cama e a rolou para baixo de si. – Quero aproveitar nossa primeira noite numa cama de verdade. – Mas… Ele abafou o protesto dela com um beijo. Então, rolou para que ela ficasse por cima, o melhor jeito de distraí-la. Quanto mais eles se aproximavam do fim do relacionamento, menos Colin queria que tudo terminasse. No entanto, ele não estava pronto para um compromisso. Rowena pegou um preservativo e o pôs na ereção dele, daquele jeito lento e sexy que ela sabia que o enlouquecia. Colin tentou imaginar como seria jamais tocá-la novamente. Mas ela se acomodou sobre o membro dele, seu corpo o apertando, e Colin resolveu que poderia se preocupar com aquilo em algum outro momento.

Na tarde seguinte, Rowena se despediu de Tricia enquanto Colin esperava diante da creche, na limusine que ele alugara. Aquele seria o maior período de tempo que ela já teria passado longe de Dylan, e seu coração estava partido. Dylan, por outro lado, estava tão empolgado por ter a companhia de Tricia que praticamente empurrou Rowena porta afora. – Vamos ficar bem – garantiu Tricia. – Vá. Divirta-se, faça sexo. Rowena a olhou fixamente. – Pelo menos uma de nós vai fazer – disse ela. – E não se preocupe comigo e com Dylan. Se tiver algum problema, eu ligo. O motorista abriu a porta para ela, e Colin sorriu quando Rowena se sentou a seu lado. Em seguida, deu um daqueles lentos, profundos e deliciosos beijos nela. Havia um longo voo pela frente, e Rowena mal podia esperar para que eles chegassem e pudessem ficar sozinhos. – Dylan ficou chateado por você ir viajar? – Ele estava louco para que eu fosse embora. Detesto admitir, mas ele vai ficar bem sem mim. Há um ano, ele era um bebê grudento e carente. Quando foi que ele parou de depender de mim? – Ele ainda depende de você. Imagino que toda criança da idade dele precise de um certo grau de independência. É bom.

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– Sei que, nas minhas tentativas de protegê-lo, devo tê-lo sufocado um pouco. Talvez mais do que um pouco. – Mas veja só como ele é capaz e independente. Ela sorriu. – Ele é um garoto durão. Colin deu um beijo na testa dela. – Como a mãe. Rowena queria que aquilo fosse verdade, mas ela não era tão durona quanto Colin imaginava. – Aonde estamos indo? – Ao aeroporto. – Mas fica para o outro lado. – Eu reservei um voo para nós num jatinho particular. Um jatinho particular? – Isso não é caro? Colin deu de ombros e disse uma quantia que a deixou perplexa. Mas pela preocupação que ele demonstrou, era como se estivesse falando de centavos. – Sabe qual é a melhor parte de usarmos um avião particular? – perguntou ele. – Bebida liberada? Amendoim ilimitado? Ele riu. – São boas vantagens, mas eu estava pensando mais na privacidade. Não vai haver nenhum outro passageiro. Bem, sim, aquela era a ideia, não? Do contrário, o voo não seria particular. – Você já fez sexo nas alturas? Ela o olhou e riu. – Claro que não! Com um daqueles adoráveis sorrisos e os olhos reluzindo de malícia, ele perguntou: – Gostaria de fazer?

CAPÍTULO DOZE

Ainda que Rowena detestasse admitir, voltar a Washington era como voltar para casa. Tudo invocava lembranças nelas. Algumas boas; outras, nem tanto.

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Não que ela fosse querer morar ali novamente. Passara a gostar do ritmo mais lento do sul da Califórnia e também do clima mais quente. Ainda mais crucial era o fato de que os médicos e terapeutas de Dylan ficavam em Los Angeles. Então, uma mudança seria inviável. Colin pegou a mão dela. Quando ele falara sobre fazer sexo nas alturas, Rowena imaginara que fosse brincadeira. Imaginara errado. Quando a altitude se estabilizara, eles haviam ido para o banheiro. E, para um homem que jurava também nunca ter feito sexo num avião, Colin era muito criativo em espaços apertados. Rowena passara tanto tempo concentrada em ser a mãe perfeita que acabara se esquecendo de como se divertir. Não se sentia tão despreocupada, tão empolgada com a vida fazia séculos. Na limusine, no caminho do aeroporto para o hotel, ela telefonou para Tricia. – Estamos nos divertindo muito – disse a amiga dela. – Dylan tem sido um anjo, como sempre. Ele dormiu durante uma hora, e, agora, estamos preparando o jantar. Rowena esperava sentir ciúme por não estar participando de toda aquela diversão, por Dylan não precisar tanto dela quanto ela imaginava. Em vez disso, ela sentiu alívio. Poderia ser a mãe de Dylan e, ao mesmo tempo, recuperar a própria identidade, ter uma vida além da de mãe. Depois de chegarem ao hotel e Colin fazer o check-in, ele se aproximou dela e lhe entregou o cartão do quarto. – Pronta? – Pronta – respondeu Rowena, sentindo-se como uma princesa enquanto iam até o elevador, a mão de Colin repousando intimamente na base das costas dela. Ele ficava diferente em público. Tudo na postura dele, na forma como se movia, exigia atenção e respeito. Uma semana antes, Rowena teria considerado aquilo arrogância, pretensão. Agora, ela já identificava como confiança. Colin era extremamente educado com os funcionários e, depois que um deles deixou as malas deles à porta, ele lhe deu uma farta gorjeta. A suíte estava pronta para a chegada deles, com o fogo já crepitando na lareira e uma garrafa de champanhe no gelo ao lado dela… uma champanhe que Rowena não poderia beber. Contudo, ao inspecionar mais atentamente, ela percebeu que era uma garrafa de sidra não alcoólica. – Eu estava pensando em pedirmos o serviço de quarto e jantarmos aqui hoje – falou Colin. Com um sorriso, acrescentou: – A roupa é opcional, claro. – Serviço de quarto parece ótimo. – Então, vamos de serviço de quarto. – Ele tirou o casaco e ajudou Rowena a tirar o dela. – Já está com fome? – Morta. Fiquei tão ocupada me preparando para vir que não almocei. – O que você quer comer? – No momento, qualquer coisa. Depois de olharem o cardápio e decidirem, o telefone dela tocou. A primeira coisa que Rowena pensou foi que houvesse algo de errado com Dylan e, em sua mente, ela já estava formulando a maneira mais rápida de voltar. Contudo, ao ver que o telefone na tela era o de Cara, ela suspirou, aliviada. 70


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– Desculpe por não ter ligado antes – disse Cara quando Rowena atendeu. – A mensagem que você mandou dizia que tinha novidades? – Tenho. Você não imagina onde estou. – Imagino que não esteja na Califórnia. – Washington. – Sério? – guinchou ela. – Nós estamos no hotel Four Seasons. – Nós? Você e Dylan? Oops. – Hã… não. – Não é o senador. – Também não é ele. – Rowena não falara de Colin para Cara na última vez em que tinham conversado simplesmente porque não parecera algo digno de ser mencionado. Ela não tivera planos de dar início a nenhum tipo de relacionamento com ele. Então, de que serviria? Houve uma longa pausa e, em seguida, Cara arfou. – Ah, meu Deus, você está com um amigo? – Talvez. – Estou tão empolgada por você. Pode me dizer quem é? Onde o conheceu? Como ele é? Rowena riu. – O que acha de nós nos encontrarmos para conversar amanhã? Já que estou aqui, vou procurar aquele anuário. – Eu adoraria encontrar com você! O que acha de um almoço? Tudo por minha conta. – Espere um segundo. – Ela pôs o telefone no mudo e perguntou a Colin, que já servira a sidra e se acomodara no sofá: – A que horas é a sua reunião amanhã? Porque eu estava pensando em almoçar com uma velha amiga. – Às 10h. Mas não sei bem quanto tempo vai durar. – Talvez você possa nos encontrar quando terminar. – De que adiantava ter um homem rico e lindo em sua vida se ela não pudesse exibi-lo um pouco? – Por mim, tudo bem. Ela voltou a falar com Cara: – Ficaria bom para você às 11h? – Perfeito. Elas decidiram almoçar num tranquilo bistrô que ficava na rua do hotel. – Ah, e me faça um favor – disse Rowena. – Não conte a ninguém que estou aqui. Especialmente a meu pai. – Por quê? – Eu explico amanhã. 71


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Depois de desligar, ela se juntou a Colin no sofá para esperar a comida. Aninhouse junto dele, e ele lhe entregou uma taça de sidra. – Fale sobre o pai de Dylan – disse ele. O pedido a surpreendeu. – Por quê? – Só curiosidade. – Não gosto de falar disso. Os poucos meses que passei com ele foram o ponto mais baixo da minha vida. – Dylan não o vê? Ela balançou a cabeça. – Nunca o viu. – Por que não? – Meu pai ofereceu um belo cheque a ele para que desistisse dos direitos como pai. – Por que o senador faria isso? – A verdade é que eu mal conhecia Wiley. Eu o conheci num bar e, bêbada, passei só uma noite com ele. Quando descobri que estava grávida, foi um choque e tanto. Eu não estava em condições de cuidar de uma criança. Mal conseguia cuidar de mim mesma. Então, fiz o ultrassom e ouvi as pequenas batidas do coração dele. Foi como um sinal. Eu sabia que precisava mudar. Por ele. Larguei todos os vícios de uma vez só, o que foi um inferno. Cara me ajudou a superar isso. Levei meses para conseguir coragem para contar ao meu pai. Eu nem sabia onde Wiley estava, mas o senador o encontrou e pagou para que ele desaparecesse permanentemente. – E o que você acha disso? – Por um lado, detesto o fato de que Dylan jamais vá conhecer o pai verdadeiro, mas, por outro, Wiley era um fracassado e, provavelmente, não ficaria por perto mesmo. Além do mais, quem iria querer aquele tipo de exemplo masculino para o filho? Por isso, acho que foi melhor assim. – E se ele aparecesse e dissesse que queria ver Dylan? Dissesse que mudou de vida? – Se ele tivesse mesmo largado aquela vida e quisesse fazer parte da de Dylan, eu permitiria. E claro, isso também dependeria de Dylan. À medida que ele for ficando mais velho, poderá sentir curiosidade ou poderá não querer nem saber do pai. E preciso fazer o que é melhor para Dylan. – E o que é melhor para você. – Ainda estou trabalhando nessa parte. Mas está tudo se resolvendo. – Como assim? – Finalmente vou me desvencilhar do meu pai. – Desvencilhar? – Sair da mansão, ter minha própria casa, meu próprio emprego. Eu devia ter feito isso há muito tempo, mas tinha tanto medo de estragar tudo de novo. Mas não aguento mais. Quando fiquei sabendo do que ele disse a você, sobre eu estar fora dos limites, algo simplesmente… estalou. Venho fazendo planos desde então. Tendo um pai 72


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envolvido com política, eu devia saber de todos os programas de auxílio disponíveis, mas, justamente por causa do senador, eu achava que não poderia usá-los. – Por que você precisaria de auxílio? – Acabei com todos os meus recursos pagando as contas dos médicos de Dylan, e, agora, é meu pai quem paga tudo. Mas, no instante em que eu mostro um pingo de independência, ele ameaça tirar tudo. De mim e de Dylan. Já até ameaçou tirar Dylan de mim, dizendo que podia provar que eu era negligente por causa dos meus vícios. – Mas você está sóbria há mais de três anos. Como ele pode fazer isso? – Bem, ele pode tentar, mas o advogado com quem conversei disse que ele não teria sucesso. Ainda assim, ele pode nos cortar financeiramente. As contas dos tratamentos de Dylan são absurdas. Não consigo pagar tudo sozinha. Mas existem programas de auxílio por aí. Acho que tudo parecia difícil demais, complicado demais. Talvez eu não me achasse forte o suficiente. Colin ergueu o queixo dela para poder olhar em seus olhos. – Rowena, você se menospreza demais. – Estou tentando não fazer isso. É tudo muito assustador. Mas também empolgante. – Acho que já sei a resposta, mas vou dizer mesmo assim. Se você precisar de alguma coisa… – Não posso. Tenho que me virar sozinha. Mas isso não significa que eu não aprecie a oferta. – E a oferta continua de pé. Se precisar de alguma coisa, ligue para mim. Ela tocou o rosto dele, sorriu, e Colin sentiu uma estranha sensação dentro do peito. Um súbito e inesperado instinto de cuidar dela, de mantê-la em segurança. O serviço de quarto chegou, e Colin foi abrir a porta, dominado por várias emoções diferentes. Ele pediu ao garçom que deixasse a bandeja perto da porta e lhe deu uma gorjeta tão generosa que as sobrancelhas do homem se ergueram. – Obrigado, senhor! Com um simples gesto, ele fizera o homem ganhar o dia. Colin desejava haver alguma forma de poder fazer o mesmo por Rowena. Queria que ela o deixasse ajudar. Contudo, ele compreendia a motivação dela e a respeitava por finalmente ter tido coragem de tomar as rédeas de sua vida. Muitas pessoas teriam tomado o caminho mais fácil. – Acho que é melhor comermos enquanto está quente – disse Rowena de trás dele, mas Colin já não tinha mais fome. Ele a puxou para seus braços, beijou-a, ergueu-a e a carregou para o quarto. Ao deitá-la no colchão, não houve protestos, nem pedidos para que ele a deixasse ficar por cima. Ela não tentou dominá-lo enquanto ele a despia e a tocava. Colin sussurrou, dizendo que ela era linda, dizendo como ele a desejava, e lhe deu prazer por diversas vezes, mas não era o suficiente. Nada que ele pudesse fazer ou dizer jamais faria Rowena entender como ela era especial. Ao se acomodar entre as coxas dela, ele fixou o olhar de Rowena com o seu e a penetrou lentamente, ondas de pura emoção se erguendo e estourando sobre ele. Pele 73


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contra pele, os corpos deles se moviam em ritmo perfeito. O prazer o dominou. Rowena soltou um alto gemido e estremeceu debaixo dele, lançando-o rumo ao clímax. – Obrigada – disse ela, arfante, agarrada a ele como se ele fosse uma boia salvavidas. Colin a beijou, acariciou seu cabelo, abraçou-a enquanto ela adormecia. No entanto, isso ainda não era suficiente. E, ao vê-la dormir, ocorreu-lhe que aquela noite fora a primeira vez em sua vida em que ele fizera amor de verdade com uma mulher. E, ainda assim, não era suficiente.

CAPÍTULO TREZE

Cara entrou no restaurante às 11h15 da manhã seguinte. Rowena acenou da mesa, e, ao chegar, deu-lhe um abraço. – Desculpe pelo atraso – falou Cara, apertando Rowena e recuando para olhá-la em seguida. – É tão bom ver você! Você está maravilhosa! – E você está radiante. Cara sorriu e tocou o rosto dela. – É o que Max vive dizendo. – Ele tem razão. Você está deslumbrante. A gravidez combina com você. – Ter um emprego menos estressante, também. Elas se sentaram e fizeram o pedido à garçonete. – Falando em radiante – disse Cara, sorrindo –, você também está com um certo brilho. Está apaixonada? Rowena sorriu. Queria guardar o melhor para o fim. – Falaremos disso depois. Primeiro, quero lhe mostrar isto… – Ela retirou o anuário da bolsa. – Você encontrou! – Estava literalmente na última caixa em que procurei. – Você já olhou? – Não tive tempo. Precisei enviar algumas caixas para casa. – Então, vamos dar uma olhada – disse Cara, esfregando as mãos na expectativa. Elas abriram o livro e o folhearam até encontrarem a letra B. Contudo, ao procurarem entre as fotos, não acharam a de Madeline. Cara parecia perplexa. – Ela existiu, não existiu? Quero dizer, não foi só fruto da nossa imaginação. 74


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– Não. Sem dúvida, existiu. – Já sei! Olhe no Z. É onde colocam os nomes das pessoas que não foram fotografadas. Elas foram até o fim do livro, e lá estava Madeline Burch, na lista dos “sem foto”. – Droga! Ei, talvez ela esteja em alguma outra seção. Ela praticava algum esporte? Participava de alguma atividade extracurricular? – Lembro que ela era completamente solitária, a ponto de ser antissocial, mas podemos olhar. Elas olharam o livro inteiro, página a página. Depois de toda aquela busca, não encontraram nada. Cara suspirou. – Droga. Parece que você veio até aqui por nada. Não. Rowena estava feliz por ter ido. Ela e Colin precisavam daquele tempo sozinhos. – Então – falou Cara, e Rowena soube exatamente o que ela diria. – Qual o nome dele? Rowena não conseguiu conter um bobo sorriso apaixonado. – Colin Middlebury. Cara piscou. – Oh. Seria o Colin Middlebury que vem fazendo lobby para que um certo senador apoie o Acordo Tecnológico Internacional? – Não sabia que você o conhecia. – Sei quem ele é. Sei que é um conde e que é muito rico. Também sei que você já conheceu homens como ele. Homens que precisavam da ajuda do seu pai. O coração de Rowena afundou um pouco. – Ele é diferente – disse ela, o protesto soando vazio e patético. – Há quanto tempo você está com ele? Sabendo exatamente o que Cara pensaria, ela respondeu: – Umas duas semanas. – Então, o que você sabe de verdade a respeito dele? A clara suspeita de Cara abafou os sentimentos ternos da noite anterior. – Sei o que você está pensando. Mas não é isso. Nem estamos juntos de verdade. Só estamos nos divertindo. – Ah, querida. – Cara pegou as mãos dela. – Desculpe. Não quis magoar você. Só estou preocupada. Sei que você já passou por coisas ruins. Não quero ver você magoada de novo. – Quando você o conhecer, vai ver que ele é diferente. – Ele vem? – Deve vir. Está numa reunião com o meu pai agora. Aquela informação fez Cara parecer suspeitar ainda mais. Rowena, porém, sabia 75


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que ela pensaria diferente se o conhecesse. Não que isso importasse. Quando Rowena a visse novamente, seu caso com Colin já teria terminado. Elas comeram num silêncio constrangedor durante vários minutos. Então, o telefone de Rowena apitou, indicando uma mensagem de texto. Ela verificou a tela. Era de Colin, dizendo que estava preso na reunião e não conseguiria ir ao restaurante, mas que a veria no hotel mais tarde. – Ele não vai poder vir – disse Rowena, detestando o fato de que era tão fácil convencê-la a duvidar de Colin. Isso nem importava. Eles faziam sexo. Ela não tinha nenhum direito sobre ele. Jamais tinham concordado que seriam exclusivos. Até onde ela sabia, ele poderia ter outra mulher bem ali, em Washington. Ou talvez na Inglaterra. Ou até duas ou três. – Rowena, sinto muito – disse Cara. – Está claro que você gosta mesmo dele, e fiz você se sentir péssima. Mas não sei de nada. Nunca o conheci. Tenho certeza de que ele é tão maravilhoso quanto você diz. Rowena apreciou o pedido de desculpa, mas Cara já estragara o prazer dela.

Quando Rowena chegou no quarto e descobriu que Colin ainda não voltara, ela ficou ainda mais deprimida. Sabia que estava sendo ridícula. Não importava o que Cara pensava, pois ela não conhecia Colin. Talvez ele não fosse do tipo que se estabelecia, mas isso não o tornava uma má pessoa. Ele era um soldado, um herói de guerra. Contudo, dado o histórico de Rowena com homens, ela poderia culpar Cara por se preocupar? Por que ela acreditaria no que Rowena dizia? Ou talvez aquilo nada tivesse a ver com Cara. Talvez o verdadeiro problema fosse o fato de Rowena não acreditar em si mesma. Mas, sem dúvida, ela estava no caminho para resolver isso.

A reunião com o senador Tate fora exatamente o que Colin esperara: uma formalidade. E um enorme desperdício de tempo. Ele acabou recebendo a informação de que todos discutiriam um pouco mais e logo chegariam a uma decisão. E Colin sabia que, com toda a burocracia de Washington, aquilo poderia levar meses. Ele estava decepcionado, mas não surpreso. Quando Colin estava indo embora, o senador lhe deu uma lista de quase cem possíveis suspeitos que ele pretendia investigar… só por precaução. No táxi a caminho do hotel, Colin leu a lista, surpreso por ver que ela incluía todos, desde assistentes até funcionários e celebridades do ANS. Quanta paranoia! Colin precisaria tomar cuidado; a última coisa que ele queria era se envolver numa caça às bruxas. Ele estava tão absorto em seus pensamentos ao entrar no quarto do hotel que quase pisou no grosso envelope pardo que estava no carpete, logo além da porta. Ele parou e o pegou. Estava lacrado, e não havia nada escrito nele. Poderia ser algo que Rowena deixara cair? Ele fechou a porta. – Rowena, você está aí? 76


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Ela saiu do quarto um segundo depois, enrolada numa toalha, a pele rosada e o cabelo molhado. – Você chegou – disse ela, seu ávido sorriso o aquecendo de dentro para fora, e Colin sentiu o estresse da manhã, a sensação de frustração e inutilidade começarem a se esvair. Esquecendo o envelope, ele atravessou o recinto e a puxou para si, envolvendo-a com os braços. Rowena soltou um leve gemido de prazer quando os lábios de Colin cobriram os dela. Ela enroscou os braços em torno do pescoço dele, e um grunhido primitivo escapou da garganta de Colin. Toda vez que ela o tocava e ele punha as mãos nela, ele a desejava ainda mais do que na ocasião anterior. – Você sabe que precisamos pegar o avião – disse ela entre beijos. – Sei. – Ele suspirou e apoiou a testa na dela. Se não precisassem, ele já teria tirado a toalha dela, as próprias roupas, e os dois estariam na cama. – Como foi o almoço? – Divertido. E a reunião? – Nada divertida. Uma grande perda de tempo. Eles querem me arrastar para uma investigação do Congresso. Eu só vim pelo acordo. – Mas ele não vai apoiar o acordo sem a investigação. – Exatamente. – O senador consegue tudo que quer. Aquilo estava ficando muito claro. Colin levantou o envelope. – Isto é seu? Ela balançou a cabeça. – Estava no chão, perto da porta. Não estava lá quando você chegou? – Não que eu tenha percebido. – Alguém pode ter batido e você não ter ouvido? – Acho que é possível. Talvez enquanto eu estava no banho. Mas quem poderia pôr um envelope debaixo da porta do quarto deles? Não eram muitas as pessoas que sabiam que ele estava ali. Colin tateou o contorno do objeto dentro do envelope. – Parece um disco. Um CD ou DVD. – Por que você não abre? Ele abriu o envelope e retirou um único CD sem nenhuma marcação. Confuso, ele falou: – O que será? – Tem algum bilhete? Ele verificou novamente o envelope e balançou a cabeça. – Nada. Talvez tenham posto por engano e seja de outra pessoa. – Ou alguém queria que você encontrasse. 77


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– Esse tipo de coisa não acontece só nos filmes? – Colin, estamos em Washington. De onde você acha que vêm as ideias desses filmes? Naquele caso, se o CD fosse para ele ou para Rowena, a pessoa que o deslizara por baixo da porta tomara cuidado para não ser vista. – Vamos ouvir? – perguntou Rowena. – Não vejo por que não. Colin pôs o disco no aparelho de DVD, e o que eles ouviram quando o disco começou a rodar o deixou perplexo. Sem dúvida, era para ele, e estava claro por que a pessoa que o deixara ali preferira permanecer anônima. Rowena perdeu o fôlego. – Isso é o que parece? – Acho que sim. Era a gravação de uma escuta telefônica entre dois homens cujas vozes não eram familiares. Eles estavam discutindo planos para contratar hackers para gravar as atividades de determinados parentes e velhos amigos de Eleanor Albert no telefone e no computador. O ANS era mencionado várias vezes, e, quando mencionaram o nome do implacável dono da rede, Graham Boyle, os pelos da nuca de Colin se eriçaram. Quem pusera aquilo debaixo da porta dera a Colin exatamente a prova de que ele precisava para dar início a uma investigação. E, quanto mais cedo ela começasse, mais cedo ele conseguiria o apoio ao acordo. – Acha que é real? – perguntou Rowena. – Não tenho motivo para acreditar que não seja. O que não entendo é por que me deram isto. – Provavelmente, por causa do seu trabalho no acordo e da sua ligação com o meu pai. – Preciso levar este disco para ele imediatamente. – Ele retirou o CD se virou para ela. – Acho que vou pegar um voo mais tarde do que o planejado.

CAPÍTULO CATORZE

Rowena voltou à Califórnia naquela tarde. Entretanto, o voo de Colin, que seria mais tarde e deveria ter chegado às 20h, foi adiado para a tarde seguinte, pois outra reunião fora marcada. E, quando ainda mais evidências do escândalo de espionagem do ANS começaram a surgir, ele foi obrigado a permanecer mais um dia. E, como tudo isso o estava deixando afastado do trabalho no acordo, Colin resolveu estender sua estada em Los Angeles em mais uma semana. 78


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Ele jurou que pegaria o voo no domingo, mas acabou ligando para dizer que uma tempestade tinha atingido toda a Costa Leste e que os aviões não estavam decolando. Ainda que Rowena detestasse a si mesma por fazer isso, ela ligou a TV no canal do tempo e verificou na internet as situações dos voos de todas as companhias aéreas. Estava começando a agir como uma namorada paranoica e possessiva. E tudo por um relacionamento que não duraria. Colin finalmente conseguiu pegar um voo no fim da tarde de segunda-feira. Apesar de Rowena querer descer a escadaria correndo, encontrá-lo no foyer e abraçá-lo no instante em que ele entrasse, ela se obrigou a ficar sentada no sofá de sua suíte, esperando calmamente enquanto Colin deixava as coisas no quarto dele, trocava de roupa e ia vê-la. Tentou ignorar o ritmo frenético de seu coração, o rubor que lhe subia para o rosto. A batida firme à porta menos de um minuto depois a surpreendeu. Confusa, Rowena abriu a porta. Viu um lampejo de roupas escuras e de um cabelo loiro espetado. Então, os braços de Colin já a envolveram, os lábios dele estavam sobre os dela, o lento e profundo beijo fazendo seu cérebro entrar em curto-circuito. E, antes que ela pudesse evitar, seus braços já estavam em torno dos ombros dele. Ela não esperava aquele tipo de entusiasmo. Colin a apertou com força, enterrando o rosto no cabelo dela. – Seu cheiro é tão bom. – Ele acariciou o pescoço dela com o rosto. – Só quando o carro parou na frente da casa que fui perceber como senti sua falta. – Sério? Ele tomou o rosto dela nas mãos. – Não, mentira. Sinto sua falta desde que você foi embora de Washington. – Também senti a sua. Estou feliz porque você vai ficar durante mais uma semana. – E se mais uma semana não for suficiente? – Acho que vai ter que ser. – E se eu quiser mais? – Mais? Mais o quê? – Mais de você, mais de nós. Ela precisou de alguns segundos para absorver aquilo. Então, fez a próxima pergunta lógica: – Quanto mais? – Nunca fiquei assim antes, nunca quis dar o próximo passo. Nem sei qual é o próximo passo. Só sei que mais uma semana não vai servir. – Está dizendo que quer namorar? – Isso é loucura? – perguntou ele, parecendo honestamente não saber. – Não, mas, logisticamente, não sei bem como isso funcionaria, porque você não tem permissão para me namorar. Estou fora dos limites, lembra? E, até que você tenha o apoio total do meu pai naquele acordo, isso seria um risco imenso. Se começássemos a nos encontrar em ambientes sociais, ele iria acabar sabendo. E o que você faria? Viria morar em Los Angeles? 79


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– Eu poderia, temporariamente. – E depois? Você falou que queria trabalhar no ramo da segurança. Onde isso seria? – Meu amigo tem escritórios em Londres e Nova York. – Todos os médicos de Dylan ficam aqui. Entende como isso seria complicado? – E tudo por mais alguns meses de bom sexo, pois, quando tudo estivesse terminado, o relacionamento chegaria ao fim. Colin suspirou e se sentou no sofá. – Tem razão. Logisticamente, seria um pesadelo. – E seria ainda mais complicado esconder de Dylan. Ele já está apegado a você. Não parou de falar em você a semana inteira. – É mesmo? – Está pronto para esse tipo de responsabilidade? Pela expressão dele, Rowena via que não. Ela se sentou ao lado de Colin. – É por isso que ninguém namora mães solteiras. É bagagem demais. E eu tenho mais do que a maioria. – Eu queria estar pronto para isso, ou ao menos saber quando estaria. – Sabe, acho que, durante um tempo, quero ficar sozinha. Totalmente sozinha. Para ter tempo de me acostumar à independência, cuidar de mim mesma. – Você vai se sair muito bem. Rowena também estava começando a achar isso. E, ainda que ela quisesse mesmo ser independente, conseguia facilmente se imaginar se apaixonando por Colin. Na verdade, talvez ela já estivesse um pouco apaixonada por ele. Ele fora o único homem que realmente a entendera. Contudo, ela e Dylan eram um pacote. Se Colin lhe dissesse que a amava que estava pronto para ser pai, tudo seria diferente. Mas apenas se fosse verdade. E Rowena tinha a sensação de que Colin só dizia a verdade. – Recebi uma ligação de Hayden Black hoje. Pelo que entendi, ele é um detetive criminal bastante famoso – disse ele. – O nome me parece familiar mesmo. – Bem, parece que ele foi contratado para investigar o caso do ANS e vai entrevistar as vítimas em Montana, onde o presidente e a ex dele foram criados. Ele ficou sabendo que eu tinha interesse na investigação e achou que eu tivesse informações para dar. – E você tinha? – Nada que ele já não soubesse. Mas o senador deu o CD a ele. É um alívio saber que há um detetive profissional no caso. Com sorte, as coisas vão se resolver mais rapidamente. – As coisas ficaram bem empolgadas aqui enquanto você estava fora. – Ao ver a expressão confusa de Colin, ela gesticulou para que ele a seguisse. – Você vai ver. Eles pararam na entrada do quarto de Dylan. Havia um portão de bebê instalado na porta, e a luz que vinha do corredor lançava um brilho fraco lá dentro, o suficiente para que eles vissem Dylan encolhido em sua nova cama de “menino grande”, um colchão no 80


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chão. – Você comprou – sussurrou Colin. – Você precisava ter visto a empolgação dele. Ele adorou. Está falando para todo mundo da creche que ele é um menino grande agora. Deixei que ele escolhesse os lençóis e uma colcha. De carros de corrida, claro. – Então, está dando certo? – perguntou Colin, envolvendo os ombros dela com o braço. Rowena queria que ele não fizesse coisas assim. Parecia tão… domesticado. E o cheiro de Colin era tão bom que ela queria devorá-lo. – Perfeitamente – respondeu ela. – Vou deixar o colchão no chão durante um tempo e ver como ele fica. Depois, quando ele estiver pronto, vamos escolher uma cama. – Tem outra cama, do outro lado do corredor, que eu adoraria ver. – Ele baixou a cabeça e beijou a lateral do pescoço dela. – E também não me importaria de experimentá-la. Já estou aqui mesmo… – Quando meu pai volta? Ele mordiscou a orelha dela. – Só amanhã. E, se você parar para pensar, vai ser mais seguro eu sair de madrugada, quando todos estiverem dormindo. Ela se virou, ficando nas pontas dos pés para beijá-lo. Pelo sorriso escaldante e a expressão sedenta nos olhos de Colin quando ele a puxou para o quarto dela, Rowena teve a sensação de que seu colchão precisaria ser muito resistente.

Colin acordou na manhã seguinte com a sinistra sensação de que alguém o observava. Abriu os olhos e quase teve um ataque do coração ao ver, a poucos centímetros de seu rosto, o sorriso de Dylan ao lado da cama. – Oi, Cowin! O relógio marcava 7h30. Droga. Ele tivera a intenção de voltar para sua suíte na noite anterior, mas provavelmente acabara adormecendo. – Ei, amigo, o que está fazendo acordado? E como conseguiu sair do seu quarto? – Eu subi no portão – disse ele, orgulhoso. E lá se ia a ideia de o portão contê-lo. Colin balançou Rowena. – Houston, temos um problema. Ela resmungou e deu um tapa na mão dele. – Você precisa acordar. Rowena balançou a cabeça. – Está muito cedo. – Sim, mas temos companhia. Ela esfregou os olhos e se apoiou nos cotovelos. 81


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– Que compa… A voz de Rowena desapareceu quando ela viu Dylan. Levantou-se da cama como se os lençóis estivessem em chamas. – Dylan! Por que você não está no seu quarto? – Ele escalou o portão – disse Colin, e Dylan abriu um daqueles grandes e radiantes sorrisos. – Sou menino gande! Provavelmente, Rowena concluíra que brigar com ele seria perda de tempo. Ela, então, inspirou fundo, abriu um sorriso tenso e falou: – É mesmo, querido. Por que não vai ligar a televisão enquanto a mamãe acorda? Ele saiu do quarto, e Rowena desabou contra os travesseiros. – Droga. Droga, droga, droga. – Desculpe, Rowena. É tudo culpa minha. Estava exausto do voo e acabei dormindo. – Não podemos continuar com isso. – Eu sei. Desculpe. – De agora em diante, só vamos nos encontrar na casa da piscina. – Concordo. Está com raiva de mim? – A culpa é tão minha quanto sua. Até mais. Concordei com a ideia de você ficar. Achei que, mesmo que Dylan acordasse, ele ficaria preso no quarto. Eu devia ter me levantado para vê-lo. E precisamos tirar você daqui. – Primeiro, quero saber uma coisa… Sei que você não pode ser oficialmente minha acompanhante no sábado, mas talvez seja divertido fingirmos que não gostamos um do outro para, depois, tentarmos ficar um pouco juntos. Confusa, ela perguntou: – Espere, o que vai acontecer no sábado? – O baile anual oferecido pelo seu pai. – Ah, sim, tinha me esquecido completamente. – Você vai reservar uma dança para mim. – Eu reservaria, se fosse ao baile. – Não vai? – Vou estar viajando. O quê?! Ela não lhe dissera nada a respeito daquilo. – Aonde você vai? – Ou talvez eu esteja gripada. Gripada? Ela não acabara de ficar gripada? – Não estou entendendo. – Por conta do meu comportamento anterior nas festas dele, fui oficial e permanentemente exilada da lista de convidados. Três anos atrás, eu estava grávida e de repouso. No ano seguinte, eu estava cuidando de Dylan, que tinha pegado um resfriado 82


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terrível. No ano passado… – Ela parou, enrugando o nariz ao tentar se recordar. – Ah, lembrei. Ano passado, eu estava visitando uma amiga doente. – É coincidência o fato de todas as desculpas fazerem você parecer solidária? – É uma formalidade boba. Todos sabem por que não estou lá. Já faz tanto tempo desde a última vez que saí em público que é provável que todos ainda pensem que sou viciada. Ou, mais provavelmente, que tenham se esquecido de mim. Ao menos é isso que o senador espera. – O que ele acha que você vai fazer? – Posso contar uma piada suja, ou tropeçar num tapete e quebrar o salto do meu sapato. Posso ficar “íntima” demais do filho do embaixador na pista de dança. Ou, meu preferido, derramar martíni no vice-presidente. – Parece que você era a alegria das festas. – Eu era um exemplo de como não se comportar em ocasiões formais. Realmente não o culpo por não querer a minha presença. Colin ouviu uma batida à porta da suíte. – Deve ser Betty – disse Rowena. – Dylan vai atender. Colin ouviu a porta se abrir e uma profunda voz que não podia ser a de Betty. Dylan gritou: – Vovô voltou! De olhos arregalados, Rowena olhou para Colin e disse: – Vá se esconder.

CAPÍTULO QUINZE

– Onde? – erguntou Colin, sussurrando. – Tanto faz. – Rowena saltou da cama e vestiu o robe, tentando lembrar se eles tinham deixado algo incriminador na sala. – No banheiro, debaixo da cama. Qualquer lugar. Ao sair, ela fechou a porta do banheiro. Não conseguia imaginar nenhum motivo para que seu pai resolvesse olhar lá dentro, mas não arriscaria. Ele estava sentado no sofá com Dylan no colo. – Bom dia – disse Rowena, forçando um bocejo. – Achei que tivesse ouvido a porta. – Dylan estava me mostrando o dodói dele. Parece que está sarando bem. Foi sorte Colin estar por perto para ajudar. – Foi mesmo, não foi? – disse ela a Dylan, sorrindo. Então, o sorriso se congelou no rosto dela quando seu coração começou a martelar. Oh, não. E se Dylan tivesse 83


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contado ao avô outras coisas a respeito de Colin, se tivesse dito que o vira na cama da mamãe naquela manhã? Ela mal havia finalizado seu pensamento quando Dylan falou: – Cowin é meu papai. – Seu papai? – perguntou o pai dela, olhando para Rowena. – Dylan – disse ela, tentando soar calma e racional, e não como se estivesse prestes a ter um infarto. – Você se lembra do que conversamos? Só porque Colin cuidou do seu dodói, isso não significa que ele vá ser seu pai. – Ele dorme aqui! Droga, droga, droga. Rowena precisou pensar rápido. – Sim, querido, ele tem dormido na casa do vovô. Eles estão trabalhando juntos, lembra? Por que não vai escovar os dentes e arrumar sua cama? Depois, mamãe vai dar banho em você. – Tá, mamãe. – Ele deu um beijo no rosto do avô e foi para o quarto. – Vejo que você dormiu até tarde hoje – disse o pai dela, num tom mordaz o suficiente para deixar clara sua reprovação. – São só 7h30. – Não acha que Dylan é muito pequeno para ficar perambulando por aí sozinho? – Perambulando por aí? Você fala como se ele fosse uma ovelha. – Você entendeu. E se ele se machucasse? Rowena estava tão farta de ter que se explicar, como se o senador tivesse sido um pai atencioso. – Ele acordou há cinco minutos, e eu estava vestindo o robe quando você bateu. – Eu queria marcar uma reunião esta semana para discutirmos o cardápio da creche. – Discutir o quê? – Suas escolhas de lanches. – Tem algo de errado com elas? – Poderiam ser mais saudáveis. Mais coisas integrais, sem açúcar industrializado, leite desnatado. E algo que as crianças fossem gostar de comer? – A última coisa de que preciso num ano de eleição é de um grupo de pais protestando por darmos às crianças uma dieta deficiente. – Já conversei com você sobre adotarmos a dieta orgânica, mas você disse que era cara demais. – Sendo assim, você terá que apertar o orçamento em outras áreas. E aquilo não seria divertido? Bem, Rowena não teria que lidar com seu pai durante mais muito tempo. – Vou pedir para Margaret ligar para você e marcar uma reunião. – Certo. 84


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Depois de mais alguns insultos aleatórios, em geral, direcionados para a habilidade dela de cuidar da casa e ser mãe, ele foi embora. Por que as conversas deles sempre a deixavam esgotada e emocionalmente exposta? – Uau. Ela se virou para ver Colin saindo do quarto, usando apenas a calça da noite anterior. – Uau o quê? – Ele sempre fala assim como você? Num tom tão condescendente? – É ligeiramente diferente da forma como ele fala comigo em público, não? – Ele trata você como se você fosse uma criança. Como você consegue não mandá-lo para o inferno? – Como eu já disse, ele é meu dono. – A escravidão já não foi abolida? – Mas ele é senador. As regras não se aplicam a ele. – Quero que você faça uma coisa. Algo que acho que você precisa fazer. – O quê? Colin contou, e ela não conseguiu evitar rir. – Por que diabos eu faria isso? – Porque todos precisam ser rebeldes ocasionalmente. E porque pode ser divertido. – Com um sorriso, ele acrescentou: – E porque o senador me irritou, e eu gostaria de vê-lo constrangido. – Não acha que seria um pouco imaturo da nossa parte? – Não tem nada de errado em ser imaturo de vez em quando. Rowena não podia negar que podia ser divertido, e o fato de que o pai dela ficaria bufando era outro ponto positivo. – Certo – disse ela. – Vamos fazer isso.

Às 20h30 de sábado, Rowena estava diante do espelho, analisando seu reflexo. A maquiagem dramática, as unhas vermelhas, o penteado para cima e, por fim, o vestido longo preto que nunca saía de moda. Com as unhas dos pés pintadas e os saltos finos, o efeito geral não estava nada ruim. Seu cabelo brilhava, e a base que Tricia insistira para que ela usasse lançava um brilho quase etéreo sobre seu rosto, escondendo completamente suas sardas, o que era algo extra. Na verdade, modéstia à parte, ela estava muito sexy. Era difícil imaginar que, na última vez em que ela usara aquele vestido, Dylan sequer existia. Muito mudara desde então. Ela mudara. Rowena aplicou um último toque de brilho labial, inspirou fundo para se acalmar, pegou a bolsa e foi até a sala, onde Betty assistia televisão. – O que acha? 85


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Betty se virou para olhá-la e ficou boquiaberta. – Deus do céu! Rowena, você parece uma princesa. – Acha mesmo? – Nunca vi você tão bonita. Tem certeza de que quer fazer isso? – Colin tem razão. Preciso fazer isso. Preciso começar a afirmar minha independência, ou vou acabar enlouquecendo. Estou cansada de me sentir como o segredinho sujo do meu pai. Tenho pensado na reação de Colin quando ouviu a maneira como meu pai fala comigo. Ele ficou horrorizado. Então, tentei enxergar as coisas pela perspectiva dele, mais objetiva. – E o que encontrou? – Condescendência, desrespeito, decepção. Sou a filha dele e tenho certeza de que, no fundo, ele me ama. Mas cheguei à conclusão de que ele não gosta muito de mim. Mas sabe de uma coisa? Também não gosto dele. – Não é fácil gostar dele. – Betty se levantou e segurou o rosto de Rowena. – Você, por outro lado, é meiga, generosa e bondosa, e mais forte do que se considera. Rowena mordeu o lábio e fungou. – Se continuar falando coisas assim, vou começar a chorar e meu rímel vai escorrer. Betty lhe deu um beijo no rosto. – Amo você, querida. Divirta-se na festa. – Vou tentar. Trêmula de nervosismo, Rowena desceu cuidadosamente a escadaria. Fazia anos que ela não usava saltos, e Rowena não queria fazer seu grande retorno à sociedade despencando escada abaixo. Enquanto descia, ela procurou Colin, mas ele não estava por ali. – Rowena! – disse alguém quando ela chegou ao piso de mármore do foyer, e, então, ergueu o olhar para ver um velho amigo de seu pai. – Olá, congressista Richards – disse ela, oferecendo o rosto para um beijo. – É bom vê-lo novamente. – Você está deslumbrante. Deve ser o sol da Califórnia. – Deve ser. – Seu pai nos disse que você não estava se sentindo bem. – Já melhorei. – Lembra-se da minha esposa, Carole? – disse ele, gesticulando para chamá-la. – Claro que sim – disse ela, lançando um beijo para a esposa dele, uma mulher da qual Rowena nunca gostara muito. – É bom ver vocês. – Rowena, você está de tirar o fôlego! – disse ela. – E como vai seu filho? Já deve estar tão grande! Certo, talvez ela não fosse tão ruim assim. – Está maravilhoso, obrigada por perguntar. Ele está com 2 anos e meio. – Eles crescem tão rápido. 86


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Rápido demais. – Você se lembra da minha amiga Susie? – perguntou ela, pegando o braço de Rowena para apresentá-la. Durante os 15 minutos seguintes, ela foi passada de pessoa a pessoa. Muitas eram conhecidas, outras, novas no círculo social do senador. E o estranho era que todos pareciam verdadeiramente felizes por vê-la. Não havia desdém ou sussurros pelas costas dela. Rowena se sentiu como se, bem, como se aquele fosse o seu lugar. Contudo, a pessoa que ela desejava ver de verdade não estava ali. O foyer e o salão estavam quase lotados de políticos, atores, produtores, executivos de estúdios cinematográficos, músicos… a realeza da Califórnia. – Olá, linda – disse alguém em voz baixa de trás dela, e o coração de Rowena se alegrou tanto que ela perdeu o fôlego. Ela se virou para Colin e precisou de toda a sua força de vontade para não se lançar nos braços dele. De smoking feito sob medida, cabelo penteado e rosto recémbarbeado, ele parecia mesmo ser um conde. – Sr. Middlebury – disse ela, fazendo um educado movimento de cabeça e lhe oferecendo a mão. – Está muito bonito. Ele pegou a mão dela, mas, em vez de apertá-la, beijou o dorso, dizendo levemente: – E você está deslumbrante. – Acho que fico bem quando me arrumo. Subitamente, o ar do recinto mudou, ficando gélido, como se o fantasma do passado de Rowena a tivesse tocado, e, sem precisar olhar, ela soube que seu pai se aproximava. Ela inspirou fundo e pensou: Certo, lá vamos nós. – Rowena, querida, o que está fazendo aqui embaixo? Ela se virou para ele. A voz de seu pai estava perfeitamente agradável, mas seus olhos perguntavam: Que diabos você pensa que está fazendo? – Oi, papai – disse ela com o mesmo tom meigo que ele usara com ela. Ao menos ali, diante de todas aquelas pessoas, ele não seria capaz de perceber que era tudo uma farsa. Não que ele não fosse perceber mais tarde. – Não consegui suportar a ideia de perder mais uma das suas festas. Ela tentou não recuar quando ele beijou seu rosto. E, quando seu pai envolveu o antebraço dela com a mão, os dedos que se cravaram na carne dela foram um aviso silencioso. – Rowena, querida, você devia estar na cama. – Já estou me sentindo perfeitamente bem – disse ela, puxando delicadamente o braço, sem jamais parar de sorrir. – Acho que era só uma dor de cabeça. – Eu estava dizendo à sua filha como ela está linda hoje – disse Colin e, para dar um efeito, Rowena lançou um olhar hostil para ele. – Ao contrário do outro dia, quando eu parecia um monstro? – Rowena – disse o senador. Colin apenas riu. 87


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– Está tudo bem, senador. É um jogo que fazemos. Eu a elogio, e ela lança farpas na minha direção. É bastante divertido. Rowena lhe lançou um olhar que dizia que ela não achava nem um pouco divertido. – Gostaria de dançar, Rowena? – perguntou Colin. Antes que ela pudesse sequer abrir a boca para responder, seu pai falou: – Ela adoraria. Ele só dissera aquilo por um único motivo: porque sabia que Rowena não queria. Ou achava que ela não queria. Era apenas mais uma forma de colocá-la em seu devido lugar, mostrar quem mandava. Colin estendeu o braço, abrindo um sorriso radiante cheio de arrogância. – Vamos? Hesitantemente, Rowena pegou o braço dele quando, na realidade, ela mal podia esperar para tocá-lo, para sentir seus braços em torno dela. Não passara o dia inteiro ansiosa por aquilo? Colin a levou para a pista de dança. Rowena tentou parecer rígida e desconfortável quando ele a puxou para perto enquanto, na realidade, o que ela queria era se derreter contra Colin, envolver o pescoço dele com os braços, baixar a cabeça dele e beijá-lo. Ele se curvou para perto da orelha dela e falou: – Você é boa. Até eu estou convencido de que você me abomina. – Mas detesto me rebaixar a esse nível, fazendo o jogo dele. – Sim, mas você é muito boa nisso. – É isso que me assusta. Não quero ser como ele. – Você foi muito superior. – Até mais tarde, quando ele começar a bufar. – A pergunta é: como você se sente agora? Está se divertindo? Está feliz? – Na verdade, estou. – É tudo que importa. – Ele olhou para o braço dela, onde a mão do senador estivera, e permitiu que um lampejo de raiva ultrapassasse a fachada. – Seu braço está vermelho onde ele segurou. – Minha pele é clara. Fica vermelha com facilidade. Mas talvez eu jogue minha bebida na cara dele da próxima vez. – Você não bebe. – Refrigerante não tem o mesmo efeito? – Ela ergueu os olhos para ele e, apesar de tentar se conter, sorriu. – Você faz com que eu me sinta bem. Quando ele ergueu uma das sobrancelhas, Rowena acrescentou: – Comigo mesma. – E devia. Você é uma mulher extraordinária. Eu vejo isso. Seus amigos veem isso. Os únicos que não veem são você e o seu pai. O que acha que isso quer dizer? Que talvez ela tivesse passado tempo demais dando ouvidos ao pai. – Acha que alguém perceberia se eu mordesse a sua orelha? – perguntou ele. – Apertasse o seu bumbum? 88


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– Provavelmente, mas sei de um lugar onde ninguém perceberia. Rowena notou que despertara o interesse dele. – Aquelas portas do outro lado do salão levam à sacada. Tem um canto escuro na ponta da direita, atrás de uma planta enorme. Você me encontra lá daqui a cinco minutos. – Pode apostar.

CAPÍTULO DEZESSEIS

Quando eles se separaram, Rowena fez um movimento rígido de cabeça, como se mal conseguisse suportar ser civilizada. Colin não sabia ao certo se o pai dela estava vendo ou não, mas Rowena mantinha a farsa. O que ele achava totalmente incrível era a forma como os homens a seguiam com seus olhares, como as mulheres ardiam de inveja quando ela estava por perto, sem que Rowena percebesse nada disso. A autoestima dela estava tão surrada que Colin se perguntava se ela se recuperaria. Contudo, naquela noite, quando ela lhe disse que ele a fazia se sentir bem consigo mesma, Colin soube que ainda era possível resgatá-la. E desejou ser o homem a ajudá-la, a estar presente durante o que ele sabia que seria uma longa e dolorosa jornada. Honestamente, porém, ela merecia algo melhor. E, levando-se em consideração as recentes experiências dele com o senador e sua personalidade volúvel, Colin estava tentado a mandar o homem ao inferno. Ele sabia que o acordo era importante, mas nada que não fosse questão de vida ou morte era tão importante assim. Não o suficiente para bajular um desgraçado tão imoral e autoritário. Entretanto, ele não prejudicaria apenas sua família assim. Prejudicaria todo o seu país. Era a população que queria e que se beneficiaria do acordo. Colin foi até o bar e pediu um refrigerante. Jurara que, enquanto estivesse com Rowena, por respeito a ela, ele não beberia uma gota de álcool. Colin mal conseguia imaginar como devia ser difícil para Rowena ficar num ambiente como aquele, onde todos pareciam estar com uma bebida na mão. Colin puxou a gola de sua camisa, como se estivesse com calor. Em seguida, foi até a porta da sacada. O ar estava frio, e não havia muitas pessoas lá fora. Ele caminhou casualmente ao longo do parapeito, olhando para os jardins lá embaixo. Conseguia ver a creche no pé da colina, os fundos da casa da piscina à direita. Avançou mais até chegar à planta que Rowena mencionara, mas estava tão escuro que ele não conseguia ver se ela estava ali ou não. Então, um braço esbelto surgiu, a mão se fechando em torno do braço dele, puxando-o para trás da planta. – Alguém viu você? – perguntou Rowena. – Acho que não. – Ótimo. Ele não conseguia ver o rosto dela, mas conseguia ouvir um sorriso, sentir a urgência naquele toque quando ela envolveu seu pescoço com os braços e o beijou. 89


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Colin pôs seu refrigerante no parapeito e a tomou nos braços. Com o pai dela em casa naquela noite, o tempo deles sozinhos seria limitado, mas ele pensaria em algo. – Acho que eu não devia falar isso – murmurou ela contra os lábios dele. – Mas estou sem calcinha. Ele grunhiu e segurou o traseiro dela com as duas mãos, roçando seu corpo no dela. Definitivamente, eles precisariam encontrar um lugar para o qual escapar escondidos. – Estou interrompendo alguma coisa? – disse alguém de trás deles, e eles se afastaram imediatamente. Pela voz e pela grande silhueta, estava claro que era o senador. Colin soltou um palavrão sussurrado. – Na verdade, está – disse Rowena com uma voz e um tom que Colin mal reconheceu. – Importa-se? – De novo, não, Rowena – disse ele, a voz repleta de desdém. – Senador – disse Colin, pondo-se na luz. Claramente, eles haviam sido descobertos, e ele se recusava a permitir que o senador pensasse mal de Rowena. Aquilo fora ideia dele; uma péssima ideia. – Vou explicar… – Você não consegue fechar essa matraca – disse Rowena, e Colin ficou perplexo ao perceber que ela estava falando com ele. – Vocês ingleses são todos iguais. Muita conversa, mas nada de ação. – Ela baixou o olhar para a virilha dele. – Nada de ação mesmo. Acho que certas pessoas simplesmente não aguentam a bebida. O que diabos ela estava fazendo? – Rowena? – Eu não deveria nem ter dado atenção. Ela começou a se afastar, e o pai dela a segurou pelo punho. – Você não achou honestamente que eu permitiria que você ficasse na minha festa sem que eu pusesse alguém de olho em você, achou? Droga. Colin não previra aquilo. – Não posso dizer que estou surpreso com seu comportamento – disse o pai dela. – Pelo menos tenho consistência. Ela pegou o copo de refrigerante e começou a passar por ele, mas ele segurou o braço dela. Colin a viu fazer uma expressão de dor e soube que a pegada estava machucando. – Devo esperar outro neto ilegítimo? O nível de irritação de Colin disparou para a zona vermelha, e ele estava prestes a socar o grande senador Tate quando Rowena, muito calma e graciosamente, jogou sua bebida no rosto dele. O senador pegou um lenço em seu paletó, resmungando palavrões e olhando para trás para ver se alguém testemunhara aquela humilhação, mas, infelizmente, não havia ninguém ali. Rowena começou a se afastar. Então, parou e se virou para ele. – Caso não tenha percebido, isso foi um não.

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Quando ela foi embora, o senador se virou para Colin, balançando a cabeça. – Sinto muito por você ter tido que presenciar isso. Como pode ver, minha filha está completamente descontrolada. – Senador, eu… – Não precisa pedir desculpas. Nada disso é culpa sua. Ela é muito manipuladora. Finalmente ficara claro para Colin o que Rowena fizera. Ela tirara toda a atenção dele, atraindo-a para si, para que o senador não culpasse Colin, pondo o acordo em risco. – Senador, precisamos conversar… – Amanhã, filho – disse ele, dando tapinhas no ombro de Colin, como se fossem parceiros. O fato de ele tê-lo chamado de filho deixou Colin enojado. – Tenho convidados e preciso subir para me trocar. Conversaremos amanhã. Tenho boas notícias a respeito da investigação. Era incrível como o homem mudava de comportamento. Como ele conseguia distorcer a situação para fazer Rowena parecer a vilã. Ele era mesmo um mestre da manipulação, e Colin chegara a seu limite. Ele disparou para a suíte de Rowena e bateu à porta. Betty atendeu. – Ora, olá, Colin! Como está a festa? Ela não sabia? – Onde está Rowena? Confusa, ela disse: – Lá embaixo. Não? – Não sei bem onde ela está. Achei que ela tivesse vindo para cá. – Aconteceu alguma coisa? – Ela e o pai tiveram um certo desentendimento. Betty levou a mão ao coração. – Oh, céus… – E terminou com o pai dela fazendo acusações, e Rowena jogando um copo de refrigerante na cara dele. Aquela cara arrogante. Os olhos de Betty se arregalaram, e ela inspirou fundo. – Oh, céus. O que deu nela para fazer algo assim? Se bem que não posso negar que estou triste por não ter visto. – O senador nos flagrou numa posição comprometedora, e ela se ofereceu como bode expiatório para me salvar. Ela foi embora, e achei que tivesse vindo para cá. – Onde será que ela está? Talvez seja melhor ligar para o celular dela. – Boa ideia. – Ele pegou o celular e telefonou para Rowena, mas a ligação caiu diretamente no correio de voz. Então, um minuto depois, o telefone dele apitou, informando a chegada de uma mensagem de texto. Por favor, peça a B para cuidar de D esta noite. Obrigada. R. 91


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– Ela pediu para você cuidar de Dylan esta noite. – Claro. Colin respondeu: B disse que tudo bem. Onde você está? Conversamos de manhã. Ele enviou outra mensagem, perguntando se ela estava bem, mas Rowena não respondeu. Ele precisava falar com ela. Dizer que ela não precisava protegê-lo. Toda aquela confusão era culpa dele. Fora ele quem convencera Rowena a ir à festa. Quem achara que seria divertido manipular o senador, ainda que Rowena estivesse com medo. – Vou dormir um pouco – disse ele a Betty. Ao menos tentaria. – Se tiver notícias dela, ligue imediatamente para mim. Vou deixar meu número na geladeira. Betty assentiu, parecendo exausta. – Eu ligo. Colin voltou para sua suíte, ciente dos sons da festa lá embaixo. O senador estava lá, divertindo-se, passando tempo com seus amigos como se nada tivesse acontecido, enquanto duas outras vidas tinham sido viradas de ponta-cabeça. Colin finalmente adormeceu em algum momento depois da 1h. Seu telefone o acordou às 8h. Ele torceu para que fosse Rowena, mas era o pai dela. – Parece que vamos ter que voltar a Washington e terminar nosso trabalho no acordo lá. – Por quê? – Obrigações. Eu gostaria que você pegasse um voo hoje para nos reunirmos com o comitê amanhã bem cedo. Obrigações? Ele não podia ter dado uma explicação mais específica? Colin sabia o verdadeiro motivo. O senador estava tentando separá-los. – Vou providenciar a passagem. – Já fiz isso. Um carro irá buscá-lo daqui a uma hora. Vou mandar alguém para ajudar você a fazer as malas. Em outras palavras, adeus. Mas Colin precisava de alguns minutos para esclarecer as coisas com Rowena. – Vou estar pronto – disse ao senador. Depois de desligar, Colin foi até a suíte de Rowena, passando por Betty no corredor. – Ela já voltou? – Sinto muito – disse Betty. – Você não a encontrou por pouco. – O quê?! Como? – Ela veio aqui durante alguns minutos, tempo suficiente para pegar algumas roupas para ela e para Dylan e todos os remédios dele. – Ela disse para onde ia? – Só falou que ficaria com uma amiga. – Que amiga? Betty deu de ombros. – Sinto muito, mas não sei. Colin tinha a distinta sensação de que ela estava mentindo, mas não forçou. 92


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Parecia que, se havia uma pessoa que era irremediavelmente leal a Rowena, essa pessoa era Betty. Ele estava voltando para seu quarto para fazer as malas quando recebeu um e-mail de Rowena em seu celular. Colin, sinto muito pelo que aconteceu ontem à noite, e sei que você não deve entender por que fiz o que fiz, mas foi necessário. E não posso negar que jogar aquela bebida na cara dele foi mais produtivo que um ano de terapia. Só quero que você saiba que não me arrependo de forma alguma. Também queria agradecer. Se não fosse por você, eu não teria tido coragem de fazer o que fiz. Vou ser sempre grata por isso. No entanto, acho que é o fim da estrada para nós. Sabíamos que era inevitável. Mas me diverti muito nessas últimas semanas e vou sentir sua falta. Dylan também vai. Obrigada por ter sido um momento tão brilhante em nossas vidas e por ter me ajudado a encontrar coragem para seguir em frente. Com carinho, Row

Ele jogou o telefone na mesa. Com carinho? Ela o dispensara por e-mail, e tudo que ele ganhara fora “com carinho”? Talvez Rowena tivesse razão. Talvez aquele fosse o melhor momento para encerrar tudo, enquanto ainda era bom. Talvez ela estivesse aberta à possibilidade naquele momento, confiando em si mesma o suficiente para sair e conhecer pessoas, fazer amizades. Conhecer um homem que lhe desse tudo que Colin não podia dar.

CAPÍTULO DEZESSETE

Rowena estava no quarto de Dylan na manhã de segunda-feira, pondo os brinquedos dele em caixas, quando ouviu a porta de suíte se abrir. Esperou que fosse Tricia com mais caixas, mas, no espelho da cômoda de Dylan, ela viu seu pai entrar. – Por que você não está no trabalho? – disparou ele. – Olá, papai. É ótimo ver você também. Então, ele percebeu as caixas lacradas no canto. – O que é isto? – exigiu saber ele. – O que pensa que está fazendo? – Dylan e eu vamos nos mudar daqui. – É claro que não vão. – É claro que vou. Estou cansada de viver sob o seu controle, de ser tratada como lixo. Preciso assumir a responsabilidade por mim e pelo meu filho.

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– E como planeja fazer isso? – perguntou ele, tão arrogante e confiante que Rowena teve vontade de lhe dar um soco. – Como você vai conseguir dinheiro? Como vai pagar os médicos e terapeutas de Dylan? Onde vai morar? – Consegui um emprego de diretora numa creche. O salário não é alto, e eu não tenho muito dinheiro guardado. Então, vou ficar com Tricia até conseguir dar entrada no meu próprio apartamento. Quanto às despesas médicas de Dylan, minha renda vai ser baixa o suficiente para que ele possa usar a assistência pública. E já combinei um plano de pagamento com os médicos dele. – Uma filha minha não vai depender de assistência pública – afirmou ele. – Eu proíbo. – Não pode proibir. Você não é mais meu dono. Eu era uma prisioneira aqui. Agora, sou livre. Vou assumir o controle da minha vida. – Você não tem a menor ideia de como fazer isso. – Sou mais inteligente e capaz do que você pensa. Do que você jamais me consideraria. E você se esforçou ao máximo para me manter tão arrasada emocionalmente e insegura que eu nunca perceberia isso. Então, eu acabaria continuando presa aqui. – Você e Dylan precisam de mim. – Enquanto tivermos um ao outro e amigos como Tricia, não precisamos. – Você não é apta a criar esse menino sozinha. Vou me certificar de que a guarda dele seja tirada de você. – A advogada que contratei acha que não. Bem, acho que não a contratei de fato, já que ela ficou bem contente em me representar sem cobrar nada. Mas pode entrar com o pedido da guarda. Ela adoraria. Da última vez que conversei com ela, já estava escrevendo o texto para a imprensa. Algo no comportamento dele mudou, e algo que parecia apreensão lampejou na expressão dele. Rowena sequer fazia ideia de que seu pai possuía aquela emoção. – Você não é o único que tem amigos – disse ela. – Discutiremos isso quando eu voltar de Washington. – Dylan e eu não estaremos aqui. Nem sei se quero que você o veja novamente. Só depois que você mudar algumas coisas. – O quê?! – disse ele, soando revoltado. – Sou o avô dele. Você não pode mantê-lo longe de mim. – E eu sou a mãe dele. Posso criá-lo como eu achar que devo. E não considero você uma boa influência para ele. Quero que ele aprenda a respeitar as mulheres. Com você por perto, isso não vai acontecer. Você me trata com desrespeito na frente dele. Manda em mim. – Certo – disse ele, cruzando os braços. – Você venceu. O que quer? – Nada. Não quero nada. – Todos têm um preço. Quer uma mesada maior? Uma casa só para vocês? Cartões de crédito sem limites? É só dizer, e assim damos um fim nesse joguinho ridículo que você está fazendo. – Não sei bem como dizer isso de forma que você entenda. Não quero nada de você. Nada. Eu preferiria morar numa caixa de papelão e comer lixo a aceitar outro 94


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centavo seu. O pai dela ficou sem palavras. Teria finalmente percebido que suas opções tinham se esgotado? – É ruim, não é? – disse ela. – Essa sensação de impotência. Essa foi a minha vida durante mais de três anos. – É isso? Algum tipo de vingança? Você quer me ver sofrer? – Qualquer sofrimento que você sinta, foi você mesmo quem causou. Cometi muitos erros, mas já os compensei, pedi desculpas e estou em paz comigo mesma. Mas imagino que você nunca tenha pedido desculpas, nem se sentido culpado por nada de podre que já tenha feito. E, se não fizer as pazes com as pessoas que você magoou, você vai acabar virando um velho muito solitário, patético e raivoso, sem amigos e sem família. E, ainda que eu devesse odiá-lo, a verdade é que sinto pena de você. – Você vai voltar – disse ele, mas seu rosto estava pálido, e não havia convicção em suas palavras. – Acredite nisso, se faz você se sentir melhor – disse ela, levantando-se. – Mas não diga que não avisei. Antes que ela pudesse chegar até a porta, ele falou: – Rowena, espere. Ela se virou para ele. – Você não entende. Sempre foi tão independente, tão parecida com a sua mãe. – E você nunca perdeu uma oportunidade de me dizer que isso era algo ruim. – Eu a amava, mas isso não foi suficiente. Ela foi embora mesmo assim. Então, você ficou tão louca que eu sempre tinha medo de receber um telefonema de um hospital ou de uma delegacia me dizendo que você tinha se machucado, ou até que estava morta. Então, você voltou para mim. Você e Dylan… Eu só não queria perder você novamente. – Você está me sufocando. – Não sei mais o que fazer. – Sendo assim, pode me procurar quando descobrir. – Mas se eu prometer mudar… – Preciso fazer isso. Preciso ficar sozinha por um tempo, só para provar a mim mesma que consigo. – Se você precisar de alguma coisa… – Não vou ligar. Vou dar um jeito, sozinha.

Dois dias depois, Colin estava em Washington, trabalhando com um dos advogados do senador no idioma do acordo, quando sua irmã telefonou. E, pelo tom dela, ele percebeu que havia algo de errado. – É a mamãe – disse ela, a voz rouca de tanto chorar. – Ela teve um derrame ontem à noite. Está em coma, e os médicos acham que ela não tem mais do que um ou dois dias de vida. Colin soltou um palavrão em sua mente. 95


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– Chego aí o quanto antes. Ele explicou a situação ao advogado do senador e, no caminho até o hotel para fazer as malas, providenciou um avião particular para levá-lo a Londres. O voo foi longo e entediante, o que lhe deu tempo demais para pensar. Em Rowena e Dylan e na solidão que ele sentira desde que ela fora embora. Colin saíra com muitas mulheres, mas nunca desejara tanto nenhuma delas, nunca precisara dela do fundo de sua alma como precisava de Rowena. Nenhuma sequer chegara perto disso. Ele pegara seu celular para telefonar para ela ao menos uma dúzia de vezes a cada dia. Às vezes, chegava até a digitar o número, mas nunca deixava chamar. Ela estava começando sua nova vida, aprendendo a ser independente e cuidar de si mesma. Colin não tinha direito de incomodá-la até que ele soubesse exatamente o que queria. Quando ele chegou a Londres, sua mãe ainda estava resistindo e, ao entrar no quarto dela e vê-la deitada ali, tão velha e frágil, ele tentou invocar uma emoção, qualquer emoção, que o fizesse se sentir como se estivesse perdendo sua mãe. Não conseguiu. Sentia-se mal por ela estar morrendo, em grande parte, por Matty, pois ela não teria mais ninguém de quem cuidar, mas não se sentia como se estivesse perdendo uma pessoa significante em sua vida. O que apenas acentuava seus sentimentos pela pessoa significante que ele perdera. E, se Colin se permitisse pensar nisso, se reconhecesse o grande vazio em seu peito, ele temia ser engolido por inteiro. E, embora Londres fosse o último lugar onde ele desejava estar, ele permaneceu lá, o tempo todo ao lado de Matty. Eles estavam juntos ao lado da cama da mãe quando ela respirou pela última vez antes de partir. A mulher que lhe dera à luz, mas que nunca o quisera, nunca sequer o conhecera. E Colin só podia se sentir triste pelo que eles poderiam ter tido, mas que nunca tiveram. Por nenhum deles sequer ter tentado de verdade. No dia seguinte ao do funeral, ele e Matty fizeram uma curta caminhada debaixo da garoa no parque que ficava perto do edifício dela e encontraram um banco desocupado e razoavelmente seco debaixo das copas de algumas árvores. – Preciso ir embora, Matty. – Por quê? – perguntou ela, parecendo triste, solitária e velha, e isso partiu o coração dele. Também o fez perceber que não queria terminar como ela. – Ainda tenho trabalho a fazer em Washington. – Outra pessoa não pode fazer? Por que você não pode simplesmente ficar aqui em Londres comigo? Sem a mamãe, de quem vou cuidar? Era um péssimo motivo para que ele ficasse. Depois de apenas poucos dias com ela, Colin praticamente enlouquecera. Ela era tão carente e grudenta. Matty precisava mesmo era de uma vida própria. – Você já pensou que, se saísse de vez em quando, poderia conhecer alguém? Ela balançou a cabeça e soltou uma risada nervosa, como se a ideia fosse ridícula. – Estou velha demais para isso. – Você não está tão velha assim. E sei que é assustador. Mas você precisa sair para o mundo, Matty. – Quando você vai voltar para casa? Para ela, a casa era Londres. Colin, por outro lado, passara os últimos dez anos em constante movimento. Sua casa era o local onde ele estivesse morando num 96


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determinado momento. Aquela era a primeira vez em sua vida adulta em que ele pensava em fincar suas raízes. E, quando Colin pensava em onde seria sua casa, ele só conseguia pensar em Rowena. E percebeu que a questão não era onde ele fosse morar. Fosse em Londres, Washington ou Los Angeles, o lugar dele era com Rowena. – Houve uma ligeira mudança de planos – disse ele. – Vou ficar nos Estados Unidos. Matty perdeu o fôlego, erguendo a mão até seu coração partido. – Você está com problemas? – Sim e não. Estou apaixonado. – As palavras saíram com tanta facilidade dos lábios dele que Colin soube que só podiam ser verdade. Ele amava Rowena. – Por uma americana? – Sim. Ela mora na Califórnia. – Quem é? – A filha do senador, Rowena. Ela arfou novamente. – Mas… Colin… você mal a conhece. – Não espero que você entenda. Droga, nem eu sei como aconteceu, mas queria muito que você ficasse feliz por mim. – Claro que fico. É que… Bem, o acidente não foi há tanto tempo. Você ainda está no processo de cura. Tem certeza de que pensou bem nisso? Em outras palavras, ela não estava feliz por ele. Mas, provavelmente, ela faria cara feia para qualquer decisão que ele tomasse em sua vida que não a envolvesse diretamente. Matty o queria para si. Não era culpa dele ela ter construído todo o seu mundo em torno da ideia de cuidar dele, de garantir que ele não ficasse marcado pela falta de interesse dos pais em tudo que ele fazia. E Colin não podia sacrificar sua própria felicidade para preencher o vazio que essa obsessão criara na vida dela. Não que ele não se sentisse agradecido, mas ele apenas acabaria tendo ressentimento dela, e, assim, nenhum deles seria feliz. – Já pensei muito bem, e é isso que quero. – Então, é sério? – Sério o suficiente para que eu pense em pedir a mão dela em casamento. Ela ficou novamente sem fôlego. – Quando? – Logo. – Ele só precisava encontrá-la primeiro. – Mas é isso que ela quer também? E se ela disser não? – Eu peço novamente. E novamente. Vou continuar pedindo até que ela diga sim. – Você sempre foi teimoso. Quando decidia que queria uma coisa, era impossível fazer você mudar de ideia. Como aquela horrenda moto que você comprou quando tinha só 14 anos. Do jeito que ela falava, parecia que ele andava a mil por hora pela cidade numa 97


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moto gigantesca. – Matty, era uma scooter. Mal chegava a 50 por hora. Eu não corria perigo nenhum. Nem todos preferem andar por aí num Rolls-Royce com motorista. – Acho que é demais esperar que essa mulher tenha sequer uma gota de sangue nobre correndo pelas veias. Ele riu. Dentre todas as coisas que ele poderia procurar numa mulher, seus antepassados sequer ficavam entre as 50 primeiras em termos de importância. – Não que eu saiba. – Bem, se você insiste em se casar com ela, por que ela não pode se mudar para cá? – Ela tem um filho. – Ele explicou os problemas de Dylan e a necessidade de mantê-lo perto dos médicos. – Mas tenho certeza de que ela não teria nada contra fazer várias visitas por ano. E você poderia ir à Califórnia ocasionalmente. – Ah… Colin, você sabe o que acho de aviões. Às vezes, Colin se sentia como se ele fosse pai dela. – Matty, já conversamos sobre isso. Você precisa aceitar um meio-termo. Ela soltou um longo suspiro. – Eu sei. Desculpe. Só estou velha demais para mudar. – Ter 48 anos não é ser velha. – Ou talvez o centro de tudo estivesse no estado de espírito, o que deixaria Matty mais ou menos no patamar da mãe deles. – Sei que é difícil entender, mas, por favor, tente ficar feliz por mim. Quando eles retornaram ao apartamento da irmã, Colin pegou o celular e telefonou para Hayden Black, o detetive que estava trabalhando na investigação do roubo de informações. Se ele quisesse falar com Rowena, precisaria encontrá-la primeiro.

CAPÍTULO DEZOITO

Dylan estava sentado diante da televisão na minúscula sala do apartamento de Tricia, absorto em seus desenhos animados da manhã de sábado, enquanto Rowena, ainda de pijama, fazia ovos mexidos na cozinha. Tricia estava sentada à mesa, tomando café e lendo o jornal. E, apesar de Rowena estar de costas para ela, conseguia sentir o olhar fixo de Tricia. – Quer parar de ficar me olhando? – Como você faz isso? – perguntou Tricia. – É sinistro. Rowena a olhou por cima do ombro. – Quando você tem filhos, acaba ganhando olhos nas costas. – Eca, isso é nojento. 98


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Rowena dividiu os ovos em três pratos. Em seguida, acrescentou o bacon e a torrada que estavam esquentando no forno. – Dylan, café! Ele chegou correndo à mesa, e Rowena não lhe deu uma bronca nem falou para que ele fosse mais devagar. Colin tivera razão. Ela não dava crédito suficiente a seu filho. Ele só queria ser um menininho normal, e era errado da parte dela tentar contê-lo, como o pai dela a contivera. Contanto que ele não estivesse correndo nenhum perigo iminente, ela planejava deixar Dylan viver sua vida. Experimentar e se divertir. Simplesmente ser uma criança. Todos se sentaram para comer, mas Rowena apenas ficou empurrando seu café da manhã pelo prato. Ultimamente, a comida não a atraía. – Sabe, você não precisa fazer todas essas refeições elaboradas – disse Tricia. – Bacon com ovos? – Ei, normalmente, eu como cereal frio. – Não tem problema. Gosto de cozinhar. Ela estava descobrindo que havia muitas coisas que ela gostava de fazer, coisas normais do cotidiano das quais ela fora protegida. Agora, depois da conversa com seu pai, Rowena estava começando a compreender por que ele se comportara daquela forma, por que a mantinha tão afastada do mundo. Até mesmo por que ele dissera a Colin que ela estava fora dos limites. Não era uma necessidade egocêntrica de controlá-la e dominá-la. Tudo derivava do medo que ele tinha de perdê-la. Depois que ela pusesse sua vida novamente nos trilhos, em vez de deixá-la sair novamente para o mundo, ele trouxera o mundo até ela. Ter a terapia de Dylan feita na creche, insistir para que ela morasse na mansão, onde tudo era feito por ela, significara que Rowena raramente precisaria sair do terreno da mansão. Até mesmo a creche fora algo que ele criara para mantê-la por perto. Rowena mal conseguia imaginar a ameaça que Colin devia ter representado. Ele tinha o potencial para não apenas levá-la embora, mas também para levá-la a milhares de quilômetros dali. E, ironicamente, por ela ser tão protegida, tão sufocada pelas inseguranças de seu pai, Rowena se sentira ainda mais atraída por Colin. Quanto mais o pai dela tentava segurá-la, mais ele a repelia. – Cabei, mamãe! – disse Dylan, mostrando o prato a ela. Ele entrara em um surto de crescimento e, ultimamente, estava sempre com fome. Continuava sendo menor que as outras crianças de sua idade, mas estava chegando lá. – Vá se vestir e arrumar a cama – disse ela. Até que ela pudesse sustentar seu próprio apartamento, eles estavam dividindo o quarto extra de Tricia. – Acha que ele sente falta de Colin? – perguntou Tricia. – Ele fala dele. Deve se lembrar bastante. – E não é o único que sente falta dele. Ouvi você chorando novamente ontem à noite. – Acho que estou só ficando resfriada – disse ela, fungando para tentar explicar. – Por que não liga para ele? – Não posso. Se ele quiser conversar, vai ter que ligar para mim. – Mas foi você quem o dispensou. Ele deve estar pensando que você não quer que 99


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ele ligue. – Não dá para dispensar alguém com quem você nunca esteve de fato. Ela jamais voltaria rastejando para ele. Implorando para que ele a amasse. Simplesmente não podia fazer isso. Apesar de amá-lo. Amá-lo com todo o seu coração. – Acho que vou levar Dylan ao parque – disse Rowena, levantando-se e jogando seu café da manhã no lixo. – Quer vir conosco? – Não posso. Tenho uma tonelada de lições para fazer. Tricia assumira o cargo de Rowena como diretora da creche do senador e também se matriculara numa faculdade, com aulas à noite e aos finais de semana. Levaria um longo tempo, mas ela estava determinada a conseguir seu diploma em pedagogia. Rowena, por sua vez, estava amando seu novo emprego, e Dylan estava fazendo muitos amigos. Era bom sair todos os dias, conhecer novas pessoas. E um dos pais estava claramente interessado nela. Ele era divorciado, bem de vida e muito bonito. Contudo, quando ele a convidara para sair, Rowena simplesmente não conseguira dizer sim. Também havia Rick, o vizinho de Tricia. Ele era bonito, mas, com 21 anos, jovem demais e muito boêmio para o gosto de Rowena. Sempre havia alguma feira de arte, uma leitura de poemas ou um filme estrangeiro ao qual ele queria levá-la, ainda que a maioria dos filmes a que ela vinha assistindo ultimamente tivessem personagens animados como protagonistas. Eventualmente, ela começaria a sair e namorar, mas, no momento, não estava pronta. Enquanto estava no quarto, vestindo-se, Rowena ouviu uma batida à porta do apartamento. Se fosse Rick, ela esperava que Tricia o dispensasse por ela. Detestava ferir os sentimentos das pessoas. Ele não era má pessoa, simplesmente, não era o homem para ela. Um minuto depois, Tricia bateu à porta do quarto. – Tem alguém que veio ver você. Ou talvez, no final das contas, ela fosse fazer Rowena dispensá-lo. Com um suspiro, ela abriu a porta do quarto, esperando ver Rick parado na porta do apartamento. Em vez disso, viu Colin. Dylan estava enroscado nas pernas dele, abraçando-o. – Olha, mamãe! Cowin veio! – Estou vendo – disse ela, forçando um sorriso. De repente, seu coração estava martelando com tanta força que poderia escapar do peito. Rowena percebeu que estivera tão convencida de que jamais o veria novamente que sequer se dera o trabalho de pensar no que diria a ele se isso acontecesse. Mas aquilo não significava nada. Pelo que ela sabia, ele poderia simplesmente estar na cidade e ter parado para dar um rápido “oi”. Se bem que ela não sabia ao certo como ele conseguira encontrá-la… – Vamos, Dylan – disse Tricia, pegando sua mochila. – Vamos ao parque. – Queo ficar com Cowin – disse ele, fazendo beicinho. – Você pode ficar com ele mais tarde. Mamãe precisa conversar só com ele agora. – Tá – disse ele relutantemente. – Tchau, Cowin. Colin sorriu para ele. – Até mais tarde. Depois que eles saíram, Colin se virou para ela. Ele estava delicioso de jeans 100


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desbotado e camisa branca de botão, e com uma aparência tão rústica. Seu cabelo estava mais comprido do que nunca, e parecia que ele não se barbeava fazia dias. – Como soube onde eu estava? – Eu ia contratar Hayden Black. – O detetive particular? – Uau, ele devia estar mesmo querendo encontrá-la. – Mas ele estava fora do estado, trabalhando no caso do roubo de informações. Então, perguntei ao seu pai. Contei toda a verdade a ele. – Por quê? Por que você arriscaria todo o trabalho que já fez? – Porque nenhum acordo, nenhum favor à minha família vale perder a única mulher por quem já me apaixonei. Rowena perdeu o fôlego. – Como é? – Amo você, Rowena. – Ama? – Com todas as minhas forças. E acredite, tentei não amar. Tentei dizer a mim mesmo que superaria isso, mas percebi que não queria superar. Os momentos mais felizes da minha vida foram os que passei com você. Eu não sabia que era possível sentir falta de alguém como senti falta de você e de Dylan. – Você também sentiu falta de Dylan? – Não sei absolutamente nada sobre como ser um bom pai, nem mesmo um bom marido, mas quero tentar. E prometo continuar tentando, trabalhando nisso até conseguir. Parecia que a mente dela estava a um milhão de quilômetros por minutos. Aquilo estava mesmo acontecendo? O homem que ela amava estava lhe dizendo que também a amava, ou seria apenas um sonho? – Cheguei tarde demais? – perguntou ele. – Não! De jeito nenhum. Amo você, Colin. Tenho estado extremamente triste desde que você foi embora. – Não pode ter ficado tão triste quanto eu fiquei. – Ele pegou a mão dela e a puxou para si, e todo o ser de Rowena suspirou de alívio. Colin aninhou o rosto dela nas mãos e a beijou delicadamente. – Tenho me preocupado tanto com você, querendo saber se você e Dylan estavam bem. Se vocês precisavam de alguma coisa. – Para ser honesta, ficar sozinha, ser a única responsável por mim mesma e por Dylan me deixa morta de medo. Mas eu adoro. Adoro o fato de eu ter que dirigir até o trabalho, de eu estar pagando minhas próprias contas, comprando minha própria comida. Adoro ter que pagar a conta quando levo Dylan para uma consulta médica. Poder tomar decisões com relação ao tratamento dele sem perguntar primeiro ao meu pai. Gosto de ficar presa no trânsito na volta para casa e de um milhão de outras coisas às quais a maioria das pessoas não dá importância. Isso faz com que eu me sinta normal. – Parece que você está feliz. – Estou mesmo. – Tem espaço sobrando para mim? 101


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– Sim. – Ela sorriu para ele, tocou seu rosto. – Claro que tem. – Então, quero que se case comigo. – Não. Ele piscou os olhos, surpreso. – Não? – Não é um não para sempre, apenas um não no momento. Preciso ficar um pouco sozinha. Além do mais, onde moraríamos? Ainda estou me estabelecendo. Não posso ir embora da Califórnia. – E se eu dissesse que você não precisa fazer isso? Aquele meu amigo de quem falei está prestes a abrir uma filial na Costa Oeste e quer que eu fique como chefe. – Onde na Costa Oeste? – San Diego. Ela inspirou fundo. – Sério? – Eu já disse a ele que aceito. Começo no início de junho, o que deve me dar tempo bastante para finalizar o acordo. – Isso é… perfeito. – Quer dizer que, agora, você se casa comigo? Ela balançou a cabeça. – Mas namoro você. Já que ainda não tentamos isso de verdade. Vamos levar as coisas com calma, como um casal normal. – Seria estranho se o nosso primeiro encontro oficial fosse para escolhermos alianças? – Um pouco. – Mas você vai se casar comigo em algum momento? – Não vejo motivo para não fazer isso. – E vou poder adotar Dylan? Rowena sentiu lágrimas se acumulando em seus olhos. – Vai ter que perguntar a ele, mas tenho certeza de que ele vai dizer que sim. – Então, quando podemos começar essa história de namoro? Está livre para o almoço hoje? E em todos os dias pelo resto da sua vida? Ela sorriu. – Vamos começar com hoje e, depois, pensaremos no resto. O primeiro encontro deles foi um almoço. O segundo, um filme. O terceiro, um passeio até San Diego. O quarto, uma ida ao parque de diversões com Dylan. Foi no quinto encontro que eles finalmente foram procurar alianças. E, depois de encontrarem as perfeitas, Rowena finalmente disse sim. E, quando Colin perguntou a Dylan se ele queria que ele fosse seu papai, ele também respondeu que sim.

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PRÓXIMO LANÇAMENTO

CASAMENTO INESQUECÍVEL ROBYN GRADY

Anjos vivem entre nós. Aquele estava equilibrado numa escada portátil, decorando um arco com girassóis e cupidos. O cabelo avermelhado dela chamava atenção para as esmeraldas em suas orelhas, joias que homenageavam a cor de seus olhos. Juntamente com uma saia escura e uma blusa de seda coral, o pacote dizia refinada e sexy. Havia um par de sapatos de salto ao lado da escada. Cruzando os braços, Daniel McNeal chegou a uma conclusão. Um beijo daquele anjo deixaria um mortal de joelhos. Passar tempo com uma planejadora de eventos de Washington não costumava estar na lista de afazeres dele. O único motivo para Daniel estar ali era cuidar do vindouro casamento de seu melhor amigo. Quando ela terminou de pendurar o último cupido e começou a descer, ele se aproximou, ansioso pela apresentação. Uma fração de segundo depois, o pé dela escorregou. A gravidade a puxou para trás, e Daniel correu, deu um salto à frente e, felizmente, segurou-a antes que ela atingisse o chão. Com o coração a mil, ele ergueu o corpo enquanto os olhos arregalados de seu anjo se fixavam no teto, seu peito subindo e descendo de medo. Eventualmente, o olhar o encontrou. – Já subi várias vezes naquela escada – disse ela. – Nunca tinha escorregado. – Os lábios tremeram ao formar um sorriso. – Preciso mesmo agradecer a você. – Sei o jeito ideal. Jante comigo hoje. Ela soltou uma risada. Então, franziu o cenho e o olhou. – Nem sei o seu nome. – Daniel McNeal. – Daniel McNeal, famoso pela Waves, a rede social? Agora, estou reconhecendo. Você é australiano, não? Ele assentiu. – E você deve ser Scarlet Anders. Ali, na DC Affairs, ela era parceira de Ariella Winthrop, a mulher que fora recentemente rotulada como a filha secreta do presidente recém-eleito. A alegação, feita por um repórter do American News Service num baile comemorativo, deixara a nação de queixo caído. A pergunta óbvia era: Se Ariella era mesmo a filha do presidente Morrow, quem fora o responsável pelo vazamento da informação? E até onde ia a invasão de privacidade? – Veio por causa de um casamento, sr. McNeal? 103


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– Sim. Mas não do meu. O sorriso dela se alargou. Então, seus olhos se arregalaram novamente, e Scarlet se contorceu até que ele não tivesse escolha a não ser colocá-la no chão. – Muito melhor. Agora, podemos falar de negócios. – Para mim, estava ótimo falar daquele jeito. O rosto dela corou antes de Scarlet recompor sua expressão. – Então, você veio falar de um casamento? – Sou o padrinho de Max Grayson. Ela ficou empolgadíssima. – Max é noivo de uma das minhas melhores amigas, Caroline Cranshaw – disse. – Queremos que o dia de Cara seja mais do que perfeito. – Exatamente meu objetivo. – Nesse caso, é um prazer duplo conhecê-lo, sr. McNeal. Quando Scarlet ofereceu a mão, Daniel resistiu ao ímpeto de tocar os lábios na parte interna do punho dela. Em vez disso, sorriu e apertou levemente a mão de Scarlet. – Pode me chamar de Daniel. Somos todos amigos aqui, certo?

E leia também em FILHAS DO PODER 2/3, edição 43 de Desejo Dueto, Acostumado ao escândalo, de Rachel Bailey.

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