Uma Noite a Mais JUST ONE LAST NIGHT
Helen Brooks
Uma última noite... e uma consequência inesperada! A tentação de passar uma última noite de paixão com seu marido é grande demais para Melanie Masterson resistir... Mas na manhã seguinte ela dá um beijo de despedida na boca sexy dele e abandona o casamento, acreditando que Forde merece alguém melhor, uma mulher que possa ser uma boa esposa e mãe. Quando descobre que Melanie está grávida, Forde fica chocado. Ele promete reivindicar sua esposa e filho, mesmo que tenha que jogar sujo... Com uma sedução tão envolvente que ela não vai querer sair de seus braços nunca mais!
Digitalização: Simone R. Revisão: Samuka
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks
Querida leitora, Em Paixões Inesperadas somos apresentadas ao modo como o destino trama seus desfechos. Melanie Masterton não se achava digna de seu marido. Por isso decide abandonar Forde após uma noite de paixão. Contudo, ela não contava com a possibilidade de ter engravidado. E agora Forde fará de tudo para reaver sua mulher e seu filho! Confira essa e outras reviravoltas em Uma noite a mais, de Helen Brooks. Já em Uma boa safra, de Jennifer Hayward, Quinn Davis tem que sabei quem é o verdadeiro Matteo DeCampo, Afinal, ele precisava de uma segunda chance na vida, mas isso não poderia acontecer à custa do coração de Quinn! Boa leitura! Equipe Editorial Harlequin Books
Tradução Maurício Araripe HARLEQUIN 2014 PUBLICADO MEDIANTE ACORDO COM HARLEQUIN BOOKS S.A. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: JUST ONE LAST NIGHT Copyright © 2012 by Helen Brooks Originalmente publicado em 2012 por Mills & Boon Modern Romance Título original: THE TRUTH ABOUT DE CAMPO Copyright © 2014 by Jennifer Drogell Originalmente publicado em 2014 por Mills & Boon Modern Romance Projeto gráfico de capa: Núcleo i designers associados Arte-final de capa: Isabelle Paiva Editoração Eletrônica: ABREU'S SYSTEM Impressão: RR DONNELLEY www.rrdonnelley.com.br Distribuição para bancas de jornais e revistas de todo o Brasil: FC Comercial Distribuidora S.A. Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171,4° andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380 Contato: virginia.rivera@harlequinbooks.com.br
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Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks
Capítulo 1
Melanie fitou a carta nas mãos. Incapaz de acreditar no que o seu cérebro estava lhe dizendo, ela teve de piscar os olhos algumas vezes antes de relê-la. Será que Forde não entendia que isto era impossível? Completamente ridículo? Reconhecera a sua letra assim que pegara a correspondência, e o seu coração se apertara, contudo, imaginava que ele estivesse escrevendo com relação a alguma coisa do divórcio deles. Em vez disso... Melanie inspirou fundo, procurando se acalmar. Em vez disso, Forde escrevera para lhe pedir que considerasse fazer alguns trabalhos para ele. Bem, não para ele exatamente, ela teve de admitir. Para a mãe dele. Mas era praticamente a mesma coisa. Há meses que não se falavam e, então, como se nada houvesse acontecido, ele escreve para ela. Só mesmo Forde Masterson para ser espetacularmente ultrajante. Ele era inacreditável. Ela jogou a carta sobre a mesa e começou a abrir o resto da correspondência, terminando o seu café com torradas. A pequena sala de jantar também servia de escritório para ela, algo que atrapalhava quando queria receber amigos para o jantar. Não que tivesse mais tempo para uma vida social. Desde que deixara Forde, algumas semanas após o ano-novo, investira toda a sua energia na construção da empresa de paisagismo que começara doze meses após eles se casarem, logo após... Uma cortina fechou-se em seus pensamentos, tão inflexível como o mais puro aço. Aquela época era um lugar onde ela não revisitava, não desde que deixara Forde. Era melhor assim. Encerrando com a correspondência, Melanie terminou o seu café e subiu para o banheiro para tomar uma ducha e se vestir, antes de ligar para James, o seu competente assistente, para repassar as exigências do dia. James era um grande funcionário, cheio de entusiasmo e incansável, contudo, seu corpo musculoso e a boa aparência atraíam as mulheres como abelhas para o mel. Mas não deixava que isso interferisse no trabalho, de modo que Melanie não tinha do que se queixar. Usando jeans e uma blusa, seu uniforme de trabalho, Melanie prendeu os vastos cabelos louros, cortados à altura dos ombros, em um rabo de cavalo, e aplicou um bocado de protetor solar à pálida pele inglesa, tão sensível ao sol. Antes de descer, abriu as janelas e deixou o agradável perfume das rosas vindo lá de fora tomar conta do quarto. O chalé era pequenino, com apenas o seu quarto e um banheiro independente no andar de cima, e as minúsculas sala de estar e jantar no andar de baixo, de onde emergia a nova extensão que abrigava a cozinha, que dava vista para o pequeno quintal. Mas Melanie o adorava. À noite, era um prazer ter as refeições na mesinha do quintal, ao ar livre. Não era exagero afirmar que este pequeno chalé lhe salvara a sanidade nos primeiros dias excruciantemente dolorosos depois de Melanie ter deixado o palácio que compartilhava com Forde. O chalé ficava no meio de uma fileira de dez casas, todas ocupadas por casais ou pessoas solteiras, e metade delas usadas como casas de final de semana, por endinheirados de Londres que querem uma folga da capital para aproveitar o estilo de vida mais tranquilo de cidadezinhas que ainda retém o charme do passado. Também ficava a noventa quilômetros da casa de Forde em Kingston, o que era uma distância aceitável para Melanie. Apesar de suas dúvidas quanto à sobrevivência do seu negócio de paisagismo quando se mudou, este, na realidade, prosperara o suficiente para ela contratar James 3
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks cerca de um mês ou dois após deixar a cidade. Às vezes, ela e James trabalhavam com uma equipe de pessoas, incluindo arquitetos, planejadores urbanísticos e engenheiros civis. Em outros projetos, trabalhavam isolados em jardins ou em propriedades particulares. Sem dúvida, o serviço de escritório fazia parte do trabalho, assim como visitas aos locais para verificar o progresso do serviço. Dando as costas para a janela, Melanie concentrou-se na agenda do dia. James estava escalado para supervisionar a demolição de vários chiqueiros antigos, que o proprietário queria ver transformado em um jardim de flores silvestres. Melanie sugerira um efeito campina, criado com uma profusão de flores silvestres, crescendo em gramado num solo de baixa fertilidade. Em contraste, estava a caminho de dar os últimos retoques em um jardim formal no qual ela e James vinham trabalhando há três semanas. Era um lugar de tranquila ordem, expressada num detalhado tratamento, cuidadosamente balanceando espaço e simetria. O gerente de banco aposentado e a esposa que haviam comprado recentemente a propriedade em uma pequena cidade do interior ficaram extasiados com o plano inicial de um belo gramado com áreas pavimentadas intercaladas, e seus arbustos podados. Ela adorava o seu trabalho. Melanie sussurrou uma prece de agradecimento. Desenvolver uma criação personalizada para cada cliente individual era tão satisfatório. Nem sempre era fácil reconciliar as ideias dos clientes com o potencial prático do terreno disponível, ainda mais quando os clientes haviam visto o seu “jardim perfeito” em uma revista ou em um anúncio, o que, invariavelmente, significava um terreno maior ou menor do que o espaço disponível. Mas isso fazia parte do desafio e da diversão. Meio que sorrindo para si mesma, ao lembrar-se de vários clientes do tipo, Melanie seguiu para o andar de baixo, detendo-se na porta da sala de jantar. Foi só então que se deu conta de que desde que lera a carta de Forde, cada palavra vinha ardendo em seus pensamentos. Querida Melanie, Estou lhe escrevendo para pedir um favor, não para mim, mas para Isabelle. Era típico de Forde, pensou, o coração batendo forte ao olhar para a carta sobre a mesa. Nada de “Como vai você?” nem qualquer outra pergunta social. Simplesmente ia direto ao ponto. Ela não vem se sentindo bem recentemente, e o jardim em Hillview é demais para ela, não que jamais fosse admitir. Precisa ser completamente modificado, visando a uma manutenção fácil, agora que ela já está com quase oitenta anos. O problema é que, considerando que ela sequer permite o acesso de um jardineiro à propriedade, não tenho a menor chance de convencê-la a aceitar que desconhecidos remodelem tudo. Mas ela confiaria em você. Pense a respeito, e me ligue para dar uma resposta. Forde Pense a respeito! Melanie sacudiu a cabeça. Não precisava pensar a respeito de nada para saber o que ia fazer, e também de jeito nenhum ia ligar para Forde. Ela havia insistido para que não houvesse contato entre eles, e isso ainda estava valendo. Caminhando até a mesa, pegou a carta e a rasgou em pedacinhos, jogando-os no lixo. Pronto. Fim de papo. Já tinha mais do que o suficiente para fazer hoje, sem pensar em Forde e no seu pedido ridículo. Ficou parada ali por mais um instante, fitando o infinito. O que ele quis dizer quando falou que Isabelle não vinha se sentindo bem? A imagem da mãe, com o rosto simpático, de Forde apareceu em seus pensamentos, e ela sentiu um aperto no coração. Deixar a vida de Isabelle fora quase tão difícil quanto deixar a de Forde, meses atrás, mas Melanie sabia que todos os seus vínculos com Forde precisavam ser rompidos para que ela tivesse alguma chance de sobreviver. Escrevera um breve bilhete para a sogra, deixando claro que, apesar de não esperar que Isabelle entendesse, tivera bons motivos para fazer o que fizera e que isso em nada alterava o amor e o respeito sinceros que tinha 4
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks por ela. Pedira para Isabelle não responder. Quando esta o fizera, Melanie devolveu a carta sem abrir. Partiu-lhe o coração ao meio fazer isso, mas jamais duvidara ter sido a escolha certa. Não queria colocar Isabelle em uma posição delicada, dividida entre os dois. Isabelle adorava o filho único, Forde, e os dois eram muito chegados, haja vista que o pai de Forde, William, morrera quando este ainda era adolescente. O toque do celular a despertou de seus pensamentos. Era James. Havia acontecido uma batida feia bem na frente dele, e estava preso em um engarrafamento que se estendia por quilômetros, de modo que se atrasaria para chegar ao local. Será que ela poderia dar um pulo até lá para detalhar aos operários exatamente o que precisava ser feito, antes de seguir para o próprio serviço? Melanie concordou. Suspirando, mentalmente reviu a própria manhã, resolvendo sair no mesmo instante, e poucos minutos mais tarde, estava seguindo para a fazenda na sua antiga caminhonete. Seria um dia movimentado, mas isto era bom. Pelo menos não teria tempo para pensar na carta de Forde. E foi um dia movimentado. Melanie chegou a casa ao anoitecer com um cheque gordo no bolso, do casal de aposentados que adorara o resultado no seu jardim Estacionou a caminhonete e, ao longo da trilha estreita nos fundos do chalé, chegou à entrada do seu pequenino jardim. Destrancando a porta, ela adentrou em seu próprio pedacinho do paraíso, inspirando o delicioso perfume dos brotos de rosa que adornavam as paredes. Estava em casa, e tudo o que queria era um banho demorado para relaxar os músculos doloridos. Estivera determinada a terminar de trabalhar no horário hoje, e sequer parara para almoçar. Trancando o portão do quintal, adentrou a casa pela cozinha, como fazia na maior parte dos dias, tirando as botas pesadas que costumava usar para trabalhar e deixandoas sobre o capacho. Descalça, seguiu para o andar superior, abrindo a janela do banheiro, permitindo a entrada dos perfumes do jardim. Deixou a banheira enchendo antes de seguir para o quarto de dormir, onde tirou as roupas. Dois minutos mais tarde, estava deitada na água quente e repleta de bolhas, fitando o céu escuro, onde as primeiras estrelas começavam a surgir. Com a banheira estrategicamente posicionada sob a janela, Melanie jamais fechava as cortinas até estar pronta para sair do banho, e, em ocasiões como aquela, em que estava cansada e dolorida, era uma bênção ficar ali deitada no escuro, sem pensar em nada. Embora hoje não estivesse conseguindo esvaziar a mente e relaxar por completo. Franziu a testa, admitindo que Forde havia passado o dia inteiro persistentemente batendo na porta de sua consciência, contudo, ela tentara ignorá-lo. E como tentara. Não queria qualquer contato com ele, por mais superficial que fosse. Não o queria invadindo os seus pensamentos e a desconsertando. Ele, e Isabelle, para falar a verdade, eram parte do passado. Não havia lugar para eles no presente, quanto mais no futuro. Isto era uma questão de autossobrevivência. Escutou o telefone tocando no andar de baixo, mas deixou que a secretária eletrônica atendesse. Forçando os músculos tensos a relaxarem, afundou ainda mais na água quente, fechando os olhos. Após alguns minutos, o celular começou a tocar no bolso do seu jeans no quarto. Devia ser James, relatando o seu dia, mas Melanie sequer se mexeu. Era a hora dela, o resto do mundo podia ir passear por algum tempo. Só saiu da banheira depois de mais meia hora, e a secretária eletrônica da casa já havia gravado mais dois recados. Depois de enrolar o cabelo em uma toalha, ela vestiu o roupão de banho. A barriga lembrou-lhe de que não comera nada desde as duas fatias de torrada do café da manhã, e decidindo que comida era uma prioridade, Melanie sequer se deu ao trabalho de se vestir antes de descer. Havia acabado de chegar ao pé da escada quando uma batida forte à porta a sobressaltou.
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Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks O que era agora? Fechou os olhos por um instante. Só podia ser James relatando algum desastre após não conseguir falar com ela por telefone. Procurando apagar a irritação do rosto, e forçando um sorriso, ela apertou a faixa do roupão e abriu a porta. O bonitão de um metro e noventa postado diante da sua porta não era James. Melanie gelou. — Oi. — Forde não sorriu. — Interrompo alguma coisa? — O quê? Ela o fitava abobadamente. Ele estava lindo. Camisa branca, jeans preto, uma torre musculosa de contemplativa masculinidade. Os olhos azul-claros se voltaram para o seu roupão de banho, antes de retornarem para o rosto estupefato de Melanie. — Está... com companhia? Dando-se conta do que as palavras dele estavam sugerindo, ela sentiu-se enrubescer, e uma onda de adrenalina percorreu-lhe o corpo. Sua expressão tornou-se glacial, e ela falou lentamente: — O que foi que você disse? Forde relaxou ligeiramente. Tudo bem. Então entendera errado. Mas passara o dia inteiro aguardando uma resposta para a sua carta, que jamais viera, e, após ligar várias vezes esta noite, decidira vir ver se ela o estava ignorando ou se não estava em casa. As luzes do andar de cima estavam acesas, e ela aparecera na porta vestida daquele jeito, ou melhor, despida daquele jeito. O que ele deveria ter pensado? — Achei que estivesse com visitas — falou, cuidadosamente, pronto para usar o ombro na porta, caso ela tentasse batê-la na sua cara. — Não estava atendendo o telefone. — Cheguei tarde do trabalho e estava tomando um banho... — Ela interrompeu-se abruptamente. — Por que estou lhe dando explicações? — acrescentou, tomada de fúria. — Como ousa sugerir que eu estivesse com um homem aqui? — Foi a resposta mais óbvia. — Talvez para você, mas não deveria julgar todo mundo pelos seus padrões. — Sinto-me devidamente insultado. O ar zombeteiro foi a gota d’água. Forde sempre fora a única pessoa no mundo capaz de deixá-la tão furiosa que a fachada tranquila atrás da qual ela costumava se esconder derretia ante o ardor. Tendo sido criada em uma sucessão de lares adotivos, Melanie aprendera desde cedo a manter seus sentimentos ocultos, mas isso jamais funcionara com Forde. — Será que pode ir embora? — ela falou, fechando a porta e se deparando com o ombro dele no caminho. — Recebeu a minha carta? Em contraste com a fúria de Melanie, ele parecia calmo e controlado, até mesmo relaxado. Isso a irritou tanto quanto a sua presunção de que ela pudesse estar com um homem na sua cama. Melanie assentiu, desistindo de fechar a porta. — E? — ele insistiu. — E o quê? Ele a estudou com aqueles olhos prateados que pareciam ser capazes de lhe enxergar a alma. — Não finja que não se importa. Por um instante, chegou a pensar que ele estivesse se referindo a si mesmo, depois, se deu conta de que Forde estava falando de sua preocupação com a mãe dele. Ela procurou se acalmar. Baixinho, perguntou: — Como está Isabelle? Ele deu de ombros. 6
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks — Como sempre, teimosa como uma mula. Melanie chegou quase a sorrir. A mãe de Forde era uma versão mais feminina e suave do filho enérgico e implacável, contudo, igualmente determinada. Mesmo assim, Isabelle sempre fora muito carinhosa com ela, a mãe que Melanie jamais tivera. — Disse que ela não vinha se sentindo bem? — Ela caiu e fraturou o quadril naquele maldito jardim dela, e teve algumas complicações cardíacas durante a cirurgia. Os olhos castanho-escuros de Melanie se arregalaram. Jamais imaginara algo tão sério. Uma operação... Isabelle poderia ter morrido e ela jamais saberia. Com o coração batendo forte, murmurou: — Eu... lamento. — Não lamenta tanto quanto eu — Forde retrucou, com o rosto sério. — Ela se recusa a fazer o que mandam, e parece determinada a dar um jeito de acabar internada novamente. Recusa-se a vir morar comigo ou a ficar relaxando em uma casa de saúde. Quis voltar para casa assim que recebeu alta, contra as indicações do médico, eu devo dizer. A única concessão que fez foi permitir que eu contratasse uma acompanhante em tempo integral para ela até ter recuperado a mobilidade, e, mesmo assim, sob protesto. Ela é impossível. Melanie tinha certeza que, nas mesmas circunstâncias, Forde teria sido igualzinho. Além de impossível, era facilmente o homem mais sexy do planeta. O último pensamento fez com que ela apertasse um pouco mais o roupão ao redor do corpo. Não permita que ele veja como a sua presença a afeta. Sabe que está tudo acabado. Seja forte. — Lamento — repetiu —, porém, deve ver como é ridículo eu fazer algum trabalho para a sua mãe, Forde. Estamos no meio de um divórcio. — Nós estamos. Decerto, isso não deveria afetar o seu relacionamento com Isabelle? A propósito, ela ficou muito magoada quando devolveu a carta dela sem ler. Golpe baixo. Mas Forde era assim mesmo. — Foi melhor assim. — Melhor para quem? — Não vou ficar aqui batendo boca com você. Ela estremeceu involuntariamente, embora o ar noturno estivesse quente. — Você está com frio. — Ele abriu a porta com um empurrão, fazendo com que ela instintivamente recuasse para dentro de casa. — Vamos entrar para conversar. — Com licença? — Ela se recompôs o suficiente para barrar-lhe o caminho. — Não me recordo de tê-lo convidado. — Melanie, fomos casados por dois anos, e, a não ser que tenha fingido muito bem, sei que gosta de minha mãe. Estou pedindo a sua ajuda para ela, está bem? Vai mesmo recusar? Dois anos, quatro meses e cinco dias, para ser mais exata. E os primeiros onze meses haviam sido o paraíso. Depois disso... — Por favor — sussurrou. — Nossos advogados não iriam gostar disso. — Para o inferno com os advogados. — Segurando-a pelo braço, ele a afastou o bastante para poder fechar a porta atrás de si. — São todos uns parasitas. O que importa é que preciso falar com você. Ele estava próximo, tão próximo que o seu perfume delicioso a estava envolvendo, despertando lembranças sedutoramente íntimas. Seu coração bateu mais forte no interior do peito. Forde era o único homem que já amara, e, mesmo agora, seu poder sobre ela era fascinante. — Por favor, vá embora — falou, com firmeza.
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Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks — Olha, prepare um pouco de café e me escute, está bem? — ele sussurrou. — É tudo que estou pedindo. Por Isabelle. — Isto não é uma boa ideia, Forde. — Muito pelo contrário, é uma excelente ideia. Sabia que ele não aceitaria um “não” como resposta. E considerando que ele tinha quase um metro e noventa e era puro músculo, ela com seu esbelto um metro e setenta e cinco jamais conseguiria empurrá-lo para fora da casa. Virando-se, falou por sobre o ombro: — Parece que não tenho muita escolha, não é? Conduziu-o até a minúscula sala de estar. Admirando-se de sua entrada ter sido autorizada com tão pouca resistência, Forde preferiu não contar vantagem. A primeira batalha podia ter sido vencida, mas a guerra estava longe de terminar. — Sente-se. Vou buscar o café. Ela apontou para o sofá antes de deixar a sala, pelo caminho libertando o cabelo da toalha. Forde não aceitou o convite, preferindo segui-la até a cozinha. Ao contrário da impecável sala, onde ele não notara fotos e nem qualquer sinal de nada pessoal, sobre a mesa da cozinha ele pôde ver várias pastas e documentos, e no escorredor da pia havia poucas travessas e pratos, mostrando que ela passava trabalhando a maior parte do tempo em casa. Notando o olhar dele na direção da pia, Melanie apressou-se em dizer: — Não tive tempo de lavar a louça hoje de manhã, antes de sair, e cheguei cansada demais ontem à noite. Forde puxou uma das cadeiras da mesa e virando-a, sentou-se nela ao contrário, apoiando os braços no seu encosto. — Não precisa se desculpar. — Eu não estava me desculpando. Estava explicando. Ignorando o tom hostil, ele sorriu. — Belo lugarzinho você tem aqui. — Obrigada — ela falou, baixinho. — Eu gosto. — A propósito, Janet manda lembranças. Janet era a competente faxineira e cozinheira de Forde, que vinha uma vez por semana para lavar, passar e cozinhar. Era uma alma alegre, apesar do marido que jamais tivera um dia de trabalho honesto em toda a vida e dos três filhos adolescentes que só faziam comer. Melanie gostava muito dela. Janet estivera com ela no dia do acidente e ficara com ela até a ambulância chegar... Não pense nisso. Agora não. Empertigando-se, ela disse: — Diga que eu mandei um oi. — Inspirando fundo, e decidindo que precisaria de algo mais forte do que café, ela abriu a geladeira. — Tem um pouco de vinho gelado, se você preferir uma taça em vez do café. — Ótimo. Obrigado. — Ficando de pé, ele caminhou até a porta que levava ao quintal, abrindo-a. — Que agradável. Que tal bebermos aqui fora? Melanie estava se esforçando, e muito, para se esquecer do fato de que estava nua sob o roupão, o que era difícil com o seu corpo respondendo ao dele como sempre fazia. Forde precisava apenas olhar para ela para o seu sangue ferver nas veias e ela começar a se derreter toda. Era o tipo de homem que possuía um magnetismo natural e que irradiava masculinidade. Estava no seu andar, no seu sorriso, em cada movimento que fazia. E aquele rosto duro e forte, capaz de agradar a mulheres dos dezesseis aos noventa anos, com aqueles penetrantes olhos prateados, era, ao mesmo tempo, sexy e cínico. 8
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks Dinamite. Fora o que uma das amigas dela o chamara quando começaram a sair, e tinha toda a razão. Mas a dinamite era poderosa e perigosa. Quando saiu para o quintal escuro, com uma garrafa e duas taças nas mãos. Forde já estava sentado ao redor da mesinha, com as pernas compridas esticadas diante de si, e a cabeça jogada para trás enquanto olhava para a roseira que subia pelos fundos da casa. A noite estava quente, contudo, daqui a um mês o clima começaria a esfriar e o frio do outono chegaria. Estivera nevando no dia em que ela deixara Forde. Sete meses haviam se passado. Sete meses sem Forde na sua vida, na sua cama... Ela sentou-se cuidadosamente após pousar a taça sobre a mesa, puxando as bordas do roupão ao redor das pernas, e lamentando não ter tirado alguns instantes para subir e trocar de roupas. Mas isso poderia dar a impressão de que esperava que ele fosse ficar, quando, na realidade, queria que Forde fosse embora o mais rápido possível. O pensamento zombou dela, e teve de se forçar a fechar os olhos para não se deliciar com a visão dele. Desde a separação, ele vinha ocupando os seus sonhos, muitas vezes até perdendo o sono devido à intensidade de alguma fantasia erótica em especial. — Como você está? A voz profunda e rouca trouxe os seus olhos de volta para o rosto dele. Ela tomou um demorado gole do vinho antes de responder: — Bem. E você? — Ótimo. — A voz estava carregada de sarcasmo. — Minha mulher me abandona alegando diferenças irreconciliáveis, e ameaça obter uma medida cautelar quando tento fazê-la enxergar a razão... — Você me ligava inúmeras vezes por dia, e aparecia em tudo quanto era lugar. Estava se tornando uma obsessão. — E o que você esperava? Sei que as coisas mudaram após o acidente, mas... — Não. — Desta vez, ela o interrompeu arregalando os olhos e ficando de pé. — Não quero discutir isso, Forde. Se foi por isso que veio, pode ir embora agora mesmo. — Droga, Nell. — Ele passou a mão pelo cabelo, visivelmente inspirando fundo, enquanto se esforçava para manter as emoções sobre controle. — Sente-se e tome o seu vinho. Vim aqui para conversar com você sobre assumir o jardim em Hillview, facilitando para a minha mãe cuidar dele. Mais nada. — Acho melhor você ir. — Que pena. Ele a fitou sardonicamente, sua boca se retorcendo. — Você realmente é o homem mais arrogante do mundo. E, infelizmente, o mais atraente. Forde deu de ombros. — Posso conviver com isso... é um mundo pequeno. — Ele tomou um gole de vinho. — Sente-se — voltou a dizer —, e pare de se comportar como a heroína vitoriana de um filme ruim Deixe-me explicar em que pé andam as coisas com mamãe, antes que tome qualquer decisão. Ela sentou-se, não porque quisesse, mas porque, no fundo, não havia mais nada que pudesse fazer. — Além do quadril danificado, ela está com um problema de coração, Nell, mas o verdadeiro problema é a própria Isabelle. Ela escapole para fora da casa sempre que a enfermeira está ocupada. Já ofereci para contratar um jardineiro ou para eu mesmo me encarregar do serviço, mas ela se recusa a aceitar, embora, quando pressionada, admite que o jardim está ficando mal cuidado é que isso a aborrece. Pode apostar que quando a acompanhante tiver ido embora, em mais algumas semanas, ela vai estar por aí fazendo sabe Deus lá o quê. Um dia eu chegarei para encontrá-la desfalecida, ou coisa pior. O terreno é grande demais para ela. 9
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks Forde estava realmente preocupado. Melanie o fitou, mordendo o lábio inferior. E ela sabia como Isabelle gostava dos lindos jardins que lhe rodeavam a casa antiga. Mas o que fora fácil para Isabelle administrar vinte ou trinta anos atrás, era diferente agora. Um planejamento completamente novo precisava ser feito para o jardim, com ênfase em manutenção fácil. — É óbvio que terei de fazer uma devida avaliação do local, mas, pensando no futuro, James, o jovem que trabalha comigo, é muito bem-apessoado. Todas as senhoras o adoram. — As senhoritas também. — Se Isabelle o conhecesse, talvez concordasse em recebê-lo uma ou duas vezes por mês para fazer a manutenção do novo jardim, que eu projetaria visando a um mínimo de cuidados. — Você o fará, então? — Forde falou, baixinho. — Aceitará o trabalho? Melanie fitou-lhe o rosto. Algo no seu olhar lhe dizia que ela estava brincando com fogo, como se isso fosse novidade. Tratou de resguardar a expressão do próprio rosto. — Sob certas condições. Ele ergueu uma das sobrancelhas. — Eu deveria ter imaginado. Nada é simples com você. Muito bem, quais são as condições? Nada por demais oneroso, eu acredito? Era íntimo demais, os muros do jardim enclausurando-os no seu próprio mundinho perfumado, o corpo musculoso de Forde a poucos centímetros de distância e a sua própria nudez sob o roupão. Esse tipo de situação era exatamente o motivo de ter tentado evitar vê-lo ao longo dos últimos meses torturantes. Não deveria tê-lo deixado entrar. Engoliu o restante do vinho em busca de um pouco de coragem A taça de Forde estava pela metade, mas ele cobriu a boca desta com a mão quando Melanie fez menção de completá-la. — Dirigindo. — Recostando-se na cadeira, ele cruzou as pernas. — Diga as suas exigências. Não seja tímida. O sarcasmo ajudou. Empertigando-se, sentiu como se estivesse na beirada de um precipício. Um simples passo em falso, e tudo estaria perdido. — Contudo, antes que as faça... — Ele moveu-se com rapidez, tomando-lhe a mão antes mesmo que ela tivesse tempo de recuá-la, e apertando-a entre os dedos fortes, ao mesmo tempo em que inclinou-se por sobre a mesa. — Você ainda me ama, Nell?
Capítulo 2
Isso era tão típico de Forde Masterson! Deveria estar esperando que, mais cedo ou mais tarde, ele fosse pegá-la com a guarda baixa. Fora essa veia implacável que o levara a erguer em apenas dezesseis anos um império multimilionário no ramo de desenvolvimento imobiliário. — Eu disse que não vamos discutir sobre nós dois, Forde. — Não pedi uma discussão. Um simples sim ou não bastará. Ela libertou a mão. — Isto é inútil. Está acabado. Nós estamos acabados. Aceite e siga em frente. Foi o que eu fiz. Mentirosa. — Ainda não respondeu a minha pergunta. — E nem preciso. Esta é a minha casa, esqueceu? Eu faço as regras. 10
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks — O problema é que você jamais acreditou em finais felizes, não é, Nell? Suas palavras tinham um quê de verdade, e estremecendo, ela resguardou a expressão do rosto. Melanie sempre fora capaz de fazer isso, esconder o que estava pensando e adotar um ar distante, mas nove a cada dez vezes, Forde fora capaz de superar o mecanismo de defesa que ela usava para manter as pessoas a distância. Forde sabia que a infância dela fora dura. Órfã aos três anos de idade, ela não conseguia se lembrar dos pais. A avó materna inicialmente a acolhera, contudo, quando ela também morrera, tragicamente, um ano mais tarde, nenhum dos outros parentes de Melanie se oferecera para assumi-la. O resultado foi um lar adotivo após o outro, e a própria Melanie admitira que ela não fora fácil. Quando Forde se apaixonara por ela, quisera compensá-la por tudo aquilo. E ainda queria. O único obstáculo era a própria Melanie. Um obstáculo e tanto. — Desde o dia em que nos conhecemos você estava aguardando que desmoronássemos — ele prosseguiu, no mesmo tom tranquilo. — Aguardando que tudo desse errado. Só recentemente me dei conta disso. Não sei porquê. Sinais é que não faltaram. — Não sei do que está falando — ela alegou, por entre os dentes cerrados. Ele a estudou pensativamente, enquanto ela terminava a segunda taça de vinho. Por trás daquela formidável fachada de mulher de negócios forte e capaz que apresentava para o mundo, Melanie tinha medo. Dele. Forde tinha de aceitar isso, ao mesmo tempo em que chegava à conclusão de que ela jamais acreditara que os dois fossem envelhecer juntos. Sabia que ela o amara, e confiara nele, mas Forde também sabia que tais sentimentos a haviam feito sentir-se vulnerável e amedrontada. Após passar a vida inteira por conta própria emocionalmente, permitira a entrada dele. Mas não o suficiente, ou não estariam naquela confusão agora. Dando continuidade ao raciocínio, ele disse: — A princípio, eu me culpei após o acidente, pela distância entre nós, você sabe, pelo modo como todas as conversas acabavam em briga. É tolice, mas eu não sabia que você havia tomado a decisão de me excluir, e nada poderia ter mudado as coisas. Ela não disse uma palavra. — O acidente... — Pare de falar sobre o acidente — ela falou, embora houvesse sido ela a insistir que o chamassem assim. — Foi um aborto espontâneo. Fui tola o bastante para rolar as escadas e matar o nosso filho. — Nell... — Não. — Ela ergueu a mão, a palma virada para ele. — Vamos encarar os fatos. Foi o que aconteceu, Forde. Ele nasceu cedo demais e não puderam salvá-lo. Mais algumas semanas e tudo poderia ter ficado bem, contudo, com apenas vinte e duas semanas, ele não teve a menor chance. Era para eu protegê-lo, mas eu falhei. De certo modo, sentia-se grato por ela estar falando a respeito. Recusara-se a fazê-lo no passado, trancafiando as emoções no seu íntimo, escondendo-as dele e de todo mundo. Por outro lado, não podia deixar de ficar assustado como agora, dezesseis meses mais tarde, ela ainda se culpava por tudo. Acordara um pouco zonza naquele dia, permanecendo na cama após ele sair para trabalhar, e rolara as escadas ao tentar descer para devolver à cozinha a bandeja de café da manhã que Janet lhe trouxera. Fora um acidente. Um acidente trágico e devastador, contudo, ainda assim, um acidente. Mas quando o filho fora trazido ao mundo morto, algumas horas mais tarde, Melanie retraiu-se para dentro de si mesma. Ele não fora capaz de confortá-la, na realidade ela mal permitira que ele chegasse perto e, às vezes, Forde chegara a ter quase certeza de que ela o odiava, provavelmente porque servia de lembrete do que os dois haviam perdido. De modo que trataram de seguir adiante, mês após miserável mês, 11
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks Melanie enterrando-se no negócio que começara e trabalhando até altas horas, chegando a ponto de Forde sentir-se afortunado quando a via por mais de uma hora a cada noite. Fora um inferno. Pensando bem, ele ainda estava no inferno. Ficando de pé, tomou-lhe o corpo rijo nos braços. — Se pudesse, você teria dado a própria vida em troca da dele — falou, baixinho. — Ninguém a considera responsável pelo ocorrido, Nell, será que não vê isso? Melanie inspirou tremulamente. — Por favor, vá embora agora. Ela parecia frágil nos seus braços. Estava magra demais, e parecia que iria desmaiar a qualquer instante. — O que foi? — Fitou-lhe o rosto pálido. — Não está se sentindo bem? Quando ela o fitou, Forde se deu conta de que ela estava buscando apoio nele. — A-acho que estou um pouco zonza — ela murmurou. — Não almocei e nem comi ainda, com mais duas taças de vinho... Daí ela ter falado sobre a perda do bebê, mas, diabos, se fosse necessário mantêla em um estado permanente de intoxicação para penetrar-lhe as defesas, era o que faria. Suavizou a voz ao dizer: — Vamos lá para dentro. Eu lhe preparo alguma coisa. — Não, eu me viro. Li-ligo para você. De modo algum ele iria embora agora, não quando estavam conversando, conversando de verdade, pela primeira vez desde a morte de Matthew. Apesar da dor provocada pela lembrança do filho, ele não disse nada ao conduzi-la para a casa e sentá-la em uma das cadeiras da sala de jantar. Ela não protestou quando ele seguiu para a cozinha. Antes de virar-se para ela, Forde viu o que tinha na geladeira. — Muito bem, dá para preparar uma omelete de queijo passável... Ele interrompeu-se abruptamente. Lágrimas rolavam pelo rosto dela. Murmurando uma imprecação, adiantou-se até ela, puxando-a para si, e murmurou todas as coisas que há meses vinha querendo dizer. Que a amava, que ela era tudo para ele, que a vida não era nada sem ela, e que o acidente não fora culpa dela... Melanie agarrou-se a ele, todas as defesas caindo por terra, absorvendo a sua força, a sua masculinidade rija, o seu perfume familiar, precisando de Forde como jamais precisara antes. Jamais amara outra pessoa, e sabia que jamais amaria. Forde era tudo que sempre quisera e muito mais. No fundo, sabia que havia um motivo pelo qual deveria se afastar, contudo, não conseguia pensar em qual agora que estava nos braços dele, após meses separados. — Beije-me. — Sua voz foi um sussurro ao erguer a cabeça, fitando-lhe o rosto bonito. — Mostre que me ama. Ele abaixou a boca até a dela, roçando os lábios nos dela, em um beijo suave, mas, quando ela descaradamente pediu mais, retribuindo apaixonadamente o beijo, sua boca se abrindo para ele, o ritmo mudou. Ela o escutou gemer, sentiu todo o seu comedimento desaparecer, e Forde passou a beijá-la como um homem afogando-se, pilhando-lhe a boca com a agonia do desejo. Quando ele a ergueu do chão, puxando-a de encontro ao peito, sem que sua boca deixasse a dela, Melanie entregou-se por completo, sem qualquer pensamento de fuga lhe passar pela cabeça. Sempre foram maravilhosos fazendo amor, e há tanto tempo que estava sem ele, Melanie pensou, zonzamente. Precisava prová-lo novamente, experimentar-lhe as mãos e a boca no corpo, sentilo dentro de si...
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Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks Mal notou que Forde estava subindo as escadas carregando-a, e, antes que se desse conta, estava deitada sobre o linho perfumado dos lençóis de sua cama, e ele estava ao seu lado, a escuridão rompida apenas pela luz fraca vinda da janela. Ele continuou a beijá-la, enquanto arrancava as próprias roupas com uma pressa frenética, acariciando-lhe a lateral do pescoço, as orelhas, com os lábios ardentes, antes de apossar-se novamente de sua boca com um beijo incendiador que a fez gemer de tanto desejo que sentia por ele. O roupão dela se abriu por completo, e Forde tratou de tirá-lo de vez, com sua voz, quase um rosnado, ao murmurar: — Minha linda, meu amor incomparável... Não havia pensamento coerente na sua cabeça, apenas uma necessidade de proximidade ainda maior. Eles se tocavam e se provavam com uma doce violência que fez com que ambos se contorcessem e se agarrassem como se fossem consumir um ao outro, e quando Forde arremeteu para dentro dela, Melanie gritou-lhe o nome, as convulsões de seu corpo sintonizadas com as do dele. O alívio foi tão selvagem e feroz quanto o sexo, onda após onda de prazer insuportável levando-os além do limite para um mundo de pura sensação, onde não havia passado e nem futuro, apenas o ardor e a luz estonteante do presente. Forde continuou a abraçá-la enquanto o bater frenético dos seus corações se desacelerava, murmurando palavras de amor enquanto suas respirações se acalmavam Com os olhos fechados, ela se acomodou mais confortavelmente no círculo dos seus braços, como fizera tantas vezes no passado após terem feito amor. Em questão de instantes, ela estava dormindo profundamente, o sono da completa exaustão. Os olhos de Forde já haviam se acostumado às sombras profundas, e, agora, ele se apoiava em um dos cotovelos, lhe admirando as feições. A pele era leitosa e rosada, os lábios fartos e sensuais. Ele cuidadosamente acariciou um fio do cabelo louro e sedoso, afastando-o da testa de Melanie, incapaz de acreditar que o que acontecera na última hora fora verdade. Já tivera outras mulheres antes de conhecer Melanie, e quando a vira pela primeira vez, no casamento de um amigo em comum, pensara que tudo que queria era possuí-la como as outras, aproveitando a relação sem compromissos enquanto esta durasse. Ao final do primeiro encontro já se apaixonara perdidamente, e se encontrara em um lugar onde jamais estivera antes. Três meses mais tarde, se casaram no vigésimo sexto aniversário dela, e haviam tido uma longa e mágica lua de mel no Caribe. Seu corpo enrijeceu-se ao lembrar-se das noites passadas um nos braços do outro. Pela primeira vez, entendera a diferença entre sexo e fazer amor e soubera que jamais iria querer ficar novamente sem aquela mulher, por um instante que fosse. Após retornarem para a Inglaterra, não demorou muito para Melanie querer tentar ter filhos, e, conhecendo a sua história, o fato de que jamais tivera uma família ou um lar para chamar de seus, e entendendo como era importante para ela ter seus próprios filhos, frutos do amor deles, Forde não se opôs. Ele franziu a testa na escuridão, ainda estudando-lhe o rosto adormecido. O que ele não entendera então é que a pressa para começar uma família era motivada mais pelo medo do que qualquer outra coisa. Ela era como uma criança faminta em uma loja de doces, entupindo a boca com tudo que encontrava pela frente, pois não sabia quando voltaria a se ver novamente trancada do lado de fora. E então veio o aborto. E tudo mudara. Melanie mudara. Forde sentia como se houvesse perdido a esposa no mesmo dia em que perdera o filho. A princípio, não tivera dúvidas de que, amando-a como a amava, ele conseguiria chegar até ela, mas as semanas e os meses se passaram, e a muralha que ela erguera ao redor de si permanecera impenetrável. Quase não ficara surpreso ao retornar para casa certa noite, e
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Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks não encontrá-la, nem suas roupas, sapatos e itens pessoais. Apenas um bilhete afirmando que ela queria o divórcio o aguardava. Ficara tão zangado naquela noite. Zangado por se dar conta de que ela era capaz de abandoná-lo, quando não havia força no planeta capaz de fazê-lo abandoná-la. Melanie estremeceu ligeiramente antes de se aninhar ainda mais perto dele. Seus braços se apertaram ao redor dela. Parecia tão frágil, tão jovem, mas isso não era inteiramente verdade. Melanie o abandonara e construíra uma vida nova para si mesma ao longo dos últimos meses, virando-se muito bem sem Forde. A ponto que ele... Simplesmente vinha subsistindo. Não estava esperando isto hoje à noite. Será que ela se arrependeria quando a manhã chegasse? Teria de dar um jeito de garantir que ela não se arrependesse. Dera-lhe todo o tempo e espaço que achava que Melanie precisava. Mas agora chega. Hoje à noite provava que ela ainda o queria fisicamente, independente do que pudesse pensar a respeito do casamento deles, e isso era um começo. A mente astuta trabalhando sem parar, Forde apenas adormeceu quando o céu começou a se iluminar lá fora da janela, com Melanie ainda apertada de encontro ao seu coração.
Capítulo 3
O sol já estava alto quando os olhos de Melanie se abriram após a primeira boa noite de sono que tivera desde que abandonara Forde. Dormira tão profundamente que, por um instante, ficou apenas semiconsciente, e, em seguida, as lembranças da noite anterior se apossaram de sua mente, no mesmo instante em que se deu conta de que estava aninhada à origem da sua satisfação. Forde. Ficou paralisada de terror, petrificada ante a possibilidade de Forde abrir seus olhos, mas a vibração constante sob a sua face não se interrompeu, e, após um instante, ela cautelosamente ergueu a cabeça. Ele estava dormindo profundamente. Com cuidado, Melanie tratou de se soltar dele, detendo-se para lhe fitar o rosto tão familiar. Como pôde ter sido tão inacreditavelmente tola a ponto de dormir novamente com ele? Sua respiração ficou presa na garganta e sentiu o estômago se retorcendo. E não adiantava culpar o vinho. Ela o quisera na noite passada. Ansiara por ele desde o momento em que se separaram, para falar a verdade. Mas procurou se convencer de que não precisava dele. Provara isso. Afinal, não vivera sem ele durante sete meses? E estava se virando muito bem. Mal sobrevivera à perda de Matthew. Tudo que quisera fora morrer, pois a tristeza e a culpa eram atormentadoras. Sequer queria se ver em situação onde algo parecido pudesse acontecer de novo. Recusava-se a se colocar novamente em tal situação. Com cuidado, deslizou para fora da cama, o tremor iniciado no seu âmago espalhando-se para os membros. Tinha de sair de casa antes que Forde acordasse. Era uma atitude covarde, egoísta e cruel, mas era o que precisava fazer. Amava-o demais para dar-lhe esperanças de que pudessem retomar o casamento. Este estava acabado, morto e enterrado, sem chance de ser ressuscitado. Falecera no instante em que ela começara a rolar a escada. 14
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks Mas ele teria esperanças, uma vozinha no fundo de sua cabeça implacavelmente lhe dizia, ao começar a recolher as roupas do chão, silenciosa como um camundongo. Claro que teria. Em se tratando de sinais conflitantes, este era o suprassumo. Chegando à cozinha, ela tratou de se vestir rapidamente, receando que, a qualquer instante, pudesse haver ruídos vindos lá de cima. Depois, escreveu-lhe um bilhete, odiando-se pela própria crueldade, mas sabendo que, se o encarasse hoje de manhã, se debulharia em lágrimas e só faria piorar as coisas. Forde, não sei o que dizer além de que lamento mais do que sou capaz de expressar por ter me portado como me portei na noite passada. Sei que a culpa foi toda minha, e que foi indesculpável. Melanie interrompeu-se, um tremendo nó na boca do seu estômago ao considerar as suas próximas palavras. Mas não havia modo gentil de dizer isso. Não sou mais capaz de fazer essa coisa de ficar junto, o que nada tem a ver com você. Mais uma vez, a culpa é toda minha, mas acho que tenho de deixar claro que não mudei de ideia quanto ao divórcio. Se quiser, eu ainda trabalharei para Isabelle. Ligue para conversarmos a respeito hoje à noite. Mas chega de visitas. Esta é a primeira condição. Mais uma vez, hesitou. Como terminar um bilhete daquele? Ainda mais após tudo o que compartilharam na noite anterior. Lágrimas ardiam no fundo dos seus olhos, mas ela as conteve com determinação. Depois, simplesmente escreveu: Espero que, em algum momento do futuro, você possa me perdoar. Nell Ela no mínimo lhe devia a intimidade do apelido. Sentia-se a mais vil e desprezível das criaturas. Quando entraram na casa, ontem à noite, Forde estivera tentando confortála, e Melanie praticamente implorara para que ele fizesse amor com ela. Sabia muito bem que fora ela a provocar tudo. Esgueirando-se até o andar de cima, colocou o bilhete sobre a pilha de roupas que ele descartara tão freneticamente, na noite anterior. Não olhou para ele. Não suportaria fazê-lo. Foi só quando estava dirigindo para longe da casa que as lágrimas puderam fluir livremente. Encostando o carro, desligou o motor. Tomada de tristeza intensificada pela culpa e remorso que se apossavam dela, Melanie chorou até não restarem mais lágrimas. Depois, enxugou os olhos e desceu do carro, procurando recompor-se com a ajuda do ar puro. A fragrância de Forde ainda se agarrava à sua pele, o seu gosto aos seus lábios. Envolvendo-se com os próprios braços, ela lembrou-se da sensação de tê-lo novamente dentro de si, levando-a até os céus. Adormecer com a cabeça no seu peito, próxima ao bater constante do seu coração, parecera um retorno ao lar, e fora tão prazeroso quanto fazer amor com ele. Ela empertigou-se, cerrando os lábios. Recusava-se a pensar naquilo. Era cedo demais para chegar à fazenda onde ela e James estariam trabalhando pela próxima semana, mas havia uma lanchonete no caminho que deveria estar aberta. Poderia parar lá para tomar o café da manhã. A lanchonete possuía apenas um único outro ocupante quando ela chegou, um motorista de caminhão que estava lendo o jornal enquanto comia. Após pedir um sanduíche de bacon e um chá, Melanie seguiu para o banheiro, trancando a porta atrás de si. O aposento pequeno possuía um bidê antigo ao lado da pia, acima da qual havia um espelho. Saíra de casa com tanta pressa que sequer tivera tempo de tomar uma ducha ou escovar os dentes. Despindo-se, lavou-se com o sabonete, antes de se enxugar com várias toalhas de papel. Vestindo-se rapidamente, escovou o cabelo e o prendeu em um rabo de cavalo, 15
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks antes de aplicar o protetor solar que sempre trazia na bolsa. A escovação dos dentes teria de esperar. Estava prestes a deixar o banheiro quando avistou o seu reflexo no espelho. A tristeza nos próprios olhos a desconcertou. Seria isso que Forde enxergara? Pior, teria sido por isso que ele ficara e fizera amor com ela? Ele deixara bem claro que o único motivo para ter vindo vê-la havia sido para discutir o trabalho que queria que ela fizesse para Isabelle. Teria sentido pena dela? Ele realmente a deixara em paz desde a ocasião em que Melanie ameaçara providenciar uma medida cautelar. Talvez estivesse saindo com alguma outra mulher agora? Sentindo-se emocionalmente esgotada, ela deixou o toalete e seguiu para o salão principal da lanchonete. O motorista havia ido embora, mas havia uma turma de fanáticos por motocicletas agrupada ao redor de três mesas, conversando e rindo. Ela notou os olhares em sua direção, contudo, manteve a cabeça baixa. Usando roupas de couro e com tatuagens recobrindo a maior parte da pele exposta, os homens eram um pouco intimidadores. A garçonete trouxe-lhe o sanduíche e o chá assim que ela sentou. Sabendo que os olhos ainda estavam inchados de tanto chorar, Melanie devorou a comida o mais rápido que pôde, e bebeu uma xícara de chá antes de levantar-se para ir embora. Havia acabado de chegar à porta quando alguém lhe cutucou o ombro. Ao virar-se, Melanie deparou-se com um enorme motoqueiro barbudo postado atrás dela. — Sua bolsa, meu bem — ele falou, estendendo-lhe a bolsa de mão, que ela se deu conta de que deixara na cadeira, as chaves do carro estando no seu bolso. Estreitando os olhos, ele acrescentou: — Está tudo bem? — E-está, o-obrigada — gaguejou, sentindo-se um tanto quanto ridícula. — Tem certeza? Os olhos azuis eram gentis sob as espessas sobrancelhas, e, recompondo-se, Melanie esboçou um sorriso. — Estou bem, e obrigada por ter notado a bolsa — ela retrucou, silenciosamente, reconhecendo que precisava aprender a lição de não julgar as pessoas pelas aparências. Ele sorriu. — Sou bem treinado, meu bem. Minha namorada é igualzinha. Esqueceria a cabeça se não estivesse presa ao pescoço. Quando estava novamente na estrada, Melanie repreendeu a si mesma. O motoqueiro perguntou se estava tudo bem, e a resposta sincera teria sido não. Duvidava que algum dia tudo estaria “bem” novamente, e a culpa disso era toda dela. Deveria ter sabido que casar-se com Forde e tentar ser como todo mundo não era uma boa ideia. Ela não era igual a todo mundo. Ela passou por uma jovem mãe empurrando um carrinho de bebê e mordeu o lábio inferior. Ainda era doloroso ver outras mães com os seus bebês. Ao longo de sua vida, todas as pessoas que amara haviam sido tiradas dela da pior maneira possível. Primeiro os pais, depois a avó, até mesmo Pam, a melhor amiga na escola, sua única amiga, considerando que jamais fora a mais sociável das crianças, morrera afogada em uma viagem de férias com os pais. Se não houvesse se casado com Forde, e desejado um filho com ele, Matthew não teria morrido. Pensara que poderia escapar do destino inevitável, e, por causa disso, o coração de Forde fora partido junto com o dela. Jamais esqueceria a expressão do rosto dele quando ele segurara o corpinho pequenino nas palmas das mãos. Fora aquele o instante em que soubera que precisaria abrir mão dele, deixá-lo livre para encontrar a felicidade em algum outro lugar. Na noite passada, Forde dissera que, se pudesse, ela teria dado a própria vida por Matthew e ele tinha toda a razão, mas ela não pudera fazêlo. Contudo, poderia proteger Forde de mais sofrimento ao deixá-lo seguir com a vida dele. Assim que o divórcio saísse, ela se mudaria novamente, para bem longe, talvez até 16
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks para outro país, e, com o tempo, Forde acabaria encontrando outra pessoa. As mulheres disputavam a atenção dele, pois era um homem muito passional e físico. Independentemente do custo no presente, era a coisa certa a se fazer pelo futuro. E não poderia haver mais incidentes como o de ontem à noite. Tomada a decisão irrevogável, Melanie sentiu-se um pouco melhor. Teria de ser cruel para ser gentil. Era o único jeito. Forde acordou subitamente, com o pressentimento de que havia algo de errado. Ao virar-se, viu que a cama ao seu lado estava vazia. A casa estava em silêncio. Nenhum som vinha do banheiro nem lá de baixo. Olhando para o relógio, viu que já passava das nove, e praguejou baixinho, amaldiçoando o fato de não ter acordado antes dela. Girou os pés para fora da cama e passou a mão pelos cabelos. Droga, era exatamente o que ele queria evitar. Mas talvez ela estivesse tomando o desjejum na mesa do pequenino quintal, ao redor da qual haviam se sentado na noite anterior? Tão nu quanto no dia em que veio ao mundo, ele desceu as escadas, contudo, antes mesmo de abrir a porta e olhar para o quintal iluminado pelo sol, já sabia que Melanie não estava lá. Não podia sentir a sua presença no pequenino chalé. Era como se o coração deste estivesse faltando. Praguejando mais um pouco, voltou para o quarto, e, assim que o adentrou, notou o bilhete sobre as suas roupas, que ela deixara dobradas para ele. Sentando-se na cama, Forde começou a lê-lo. Sentiu um aperto no coração. Nada mudara. Depois de tudo que haviam compartilhado na noite anterior, ela ainda estava determinada a divorciar-se. Amassando o papel, ele jogou a bolinha para o outro lado do quarto antes de levantar-se e pegar as roupas. Precisava dar o fora dali rápido, antes que cedesse a tentação insana de quebrar alguma coisa. Assim que voltou ao andar de baixo, trancou novamente a porta dos fundos e saiu pela da frente, que possuía uma fechadura que só podia ser destrancada por fora com a chave, batendo-a com força. Seu Aston Martin o estava aguardando diante da casa, e, após deslizar para dentro do carro, ficou sentado com a porta aberta e as mãos no volante. Para onde iria agora? A manhã fora um repeteco de tantas outras manhãs, quando acordara de sonhos eróticos de fazer amor com ela para se deparar com a realidade da cama vazia. A única diferença de hoje é que a noite passada fora real. Por mais maravilhoso que pudesse ter sido fazer amor com ela, não era apenas o corpo que ardia por ela. Ele a queria, a sua Nell. Queria acordar com ela nos finais de semana e compartilhar a leitura matinal do jornal de domingo na cama, enquanto comiam croissants e bebiam café, ou assistir TV com uma taça de vinho enquanto o jantar não ficava pronto, ou ir ao cinema, ou simplesmente passear de mãos dadas. No início do relacionamento, fizeram todas essas coisas, e conversaram sobre tudo... Pelo menos foi o que ele pensara. Agora se dava conta de que havia uma grande parte de si que Melanie escondera dele. É claro que sabia que a sua vida passada havia deixado marcas. Apenas subestimara a extensão do estrago, o que fora fatal. Talvez o seu ego o houvesse levado a ignorar quaisquer preocupações que pudesse ter tido, convencendo-o de que poderia lidar com todas as dificuldades no futuro. Perdido em pensamentos, arrancou com o carro poderoso e seguiu para a estrada adiante. De uma coisa tinha certeza, ela não teria reagido a ele como reagiu na noite anterior se, no fundo, ainda não sentisse alguma coisa por ele. E, quando perguntara se ela o amava, Melanie não dissera não. Tudo bem que também não dissera sim.. 17
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks Como sugerido, ligaria para ela à noite. No seu íntimo, queria retornar ali e bater na porta até que ela o deixasse entrar, quando a convenceria do quanto a amava. Mas algo lhe dizia que isso não o levaria a lugar algum. Fizera o jogo de espera durante meses, não fizera? Poderia fazê-lo por mais um tempinho. Contudo, desta vez, sob os seus termos. Melanie não voltaria atrás na palavra, trabalharia em Hillview, e ele sabia o quanto ela gostava da mãe dele. Foi por isso que fizera a sugestão em primeiro lugar. Bem, não a única razão, admitiu. Era verdade que a mãe não se recuperara direito da operação do quadril, mas ela não vinha sendo exatamente tão... difícil no tocante ao jardim quanto levara Melanie a acreditar. Mas os jardins de Hillview realmente precisavam de uma reestruturação completa e a mãe, com um olhar sugestivo para a foto do casamento de Forde e Melanie, que ainda mantinha o seu lugar de orgulho sobre a lareira da sala de estar, afirmara que não permitiria que nenhum estranho fizesse o trabalho. Sabia que a mãe estava cem por cento do seu lado. Amava Melanie como uma filha, e sentia diariamente a sua falta. Voltaria para casa, tomaria uma ducha e trocaria de roupas, e retornaria para o escritório após tomar um pouco de café preto e forte. Ligaria para Melanie à noite. Não pretendia se iludir achando que o caminho para reconquistá-la seria fácil, apenas sabia que era um caminho que teria de continuar trilhando. Fim de papo.
Capítulo 4 Não fora um dia particularmente exaustivo, não comparado a outros, mas Melanie estava exausta quando chegou em casa naquela noite. Forde não lhe saíra da cabeça o dia inteiro. James cansara de lhe perguntar se ela estava bem. O que o competente assistente diria se ela lhe dissesse que estava à beira de um ataque de nervos. Teria rido, provavelmente, achando que ela não estava falando sério. James a considerava o protótipo da mulher moderna, calma e controlada. Todo mundo considerava. Apenas Forde realmente já a entendera de verdade. Mentalmente se esbofeteou por pensar assim. Se pretendia dar continuidade novamente à sua vida, tinha de manter seus pensamentos sobre controle. Só que não era tão simples assim Ligando a torneira da banheira para esquentar a água, seguiu para o quarto, onde, com um aperto no coração, retirou os lençóis da cama, colocando-os para lavar. Seria a sua imaginação, ou será que ainda conseguia sentir o perfume único de Forde no ar? Abriu a janela. Quando estava tirando o jeans é que notou a bolinha de papel amassado no canto do quarto. Seu bilhete. Ah, Forde, Forde... Era melhor nem pensar no que ele sentira ao ler aquilo. Cruzando o quarto, tomada de vergonha, curvou-se e pegou o papel. Chorou durante todo o banho, mas depois de se secar, recompôs-se. Chega de choro. Vestiu um confortável par de pijamas de algodão antes de descer até a cozinha para preparar algo para comer, apesar de não estar com fome. A ligação de Forde veio às oito da noite. — Oi. — A voz dele era calma e controlada. Melanie estava esperando ao menos uma menção da sua fuga vergonhosa antes que ele acordasse naquela manhã, mas Forde, sendo Forde, jamais fazia o que esperavam dele. — Precisamos acertar os detalhes de seu trabalho em Hillview. Disse que tinha algumas condições. 18
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks — É. Mas, antes que eu comece, tem certeza de que Isabelle vai me querer por perto depois... depois de tudo? — Quer dizer depois de você ter ido embora exigindo o divórcio? — O tom de voz tranquilo não condizia com o conteúdo de suas palavras. — Certeza absoluta. Minha mãe sempre considerou o que acontece entre um casal ser apenas da conta deste. Sabe como ela é. Agora, as suas condições? — Primeiro, apesar do que acaba de dizer, preciso ver Isabelle, e discutir se ela quer que eu faça o serviço. Se ela quiser, eu o aceitarei, mas tratarei diretamente com a sua mãe. Não quero você envolvido. Não posso impedir que visite a sua mãe — ela esclareceu —, mas suponho que seria melhor se evitasse de fazê-lo enquanto eu estiver por lá. — Entendido. — É claro que, se houver uma crise de algum tipo com a saúde de Isabelle... — Será permitido o meu acesso ao local. Droga, estava sendo pior do que ela imaginara. — Escute, Forde... — Próxima condição — Ele falou, polidamente. Melanie inspirou fundo. — James e eu estamos no meio de um serviço agora, e temos outro alinhado logo depois, mas ele não deve demorar. Temos outro projeto para começar em setembro, mas o casal ficará feliz em começar apenas na primavera pois... — Ela hesitou. Tarde demais, arrependeu-se de ter começado a frase. — Pois a moça está esperando um bebê para o final de outubro e não tem se sentido muito bem. O marido acha que seria melhor para ela aguardar. Sendo assim, se Isabelle quiser, podemos encaixá-la. — Pelo jeito os negócios andam de vento em popa. — Andam mesmo. — Uma coisa que quero deixar clara, e não quero que minha mãe saiba. Pretendo pagar pelo trabalho. Será o meu presente de Natal para ela. Como sei que é orgulhosa, só mencionarei ao final de tudo. Tendo isso em mente, não se preocupe em usar apenas os melhores materiais, mesmo que repasse para ela um preço substancialmente mais baixo. Quando tiver me dado o orçamento, tem a minha palavra que eu pagarei na íntegra quando for melhor para você. Estamos entendidos? Ela pigarreou. — Estamos. Mas prefiro que o material seja pago à medida que for sendo requerido pelo serviço. — Tudo bem Quando poderá falar com ela? — Amanhã à noite? Melhor acabar logo com isso. — Ótimo, eu avisarei que sugeri o trabalho para você e que aceitou dependendo de uma avaliação deste, e que entrará em contato com ela amanhã, está bem? Mais alguma coisa? O objetivo tom de voz profissional a estava deixando com vontade de gritar. Procurando imitar-lhe a impessoalidade, disse: — Acho que não. — Boa noite, então. E a linha ficou muda. Melanie fitou atonitamente o aparelho. — Porco. Pelo menos a vontade de chorar passara. Sentia vontade de quebrar alguma coisa, mas não de chorar.
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Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks Na noite seguinte, Isabelle atendeu o telefone no segundo toque, e foi gentil e cortês como sempre. Sendo assim, às duas da tarde do domingo seguinte, Melanie apresentou-se na casa vitoriana da mãe de Forde. Estava tão nervosa que tremia ao tocar a campainha, mas foi a enfermeira uniformizada quem atendeu a porta no lugar de Isabelle. A mulher a conduziu até a confortável sala de estar. — Olá minha querida. — A mãe de Forde estava sentada em um sofá próximo à lareira acesa, e ergueu o rosto para Melanie beijá-la, antes de indicar o assento ao seu lado. — Sente-se. Não contei para a enfermeira Bannister quem você era. Ela é xereta, e está sempre metendo o nariz onde não é chamada. Ainda bem que ela vai embora ao final da semana. Não vejo a hora de ter a minha casa só para mim novamente. De algum modo, esperava encontrar a mãe de Forde com uma aparência pálida e debilitada, mas tanto Isabelle quanto a sala estavam iguaizinhas a sete meses atrás. Inspirou fundo. — Como está, Isabelle? Forde me contou que esteve internada recentemente. Isabelle sorriu. — Fiz a tolice de quebrar o quadril e, depois, o meu coração deu um susto, mas o que poderia se esperar na minha idade? E como está você, minha querida? — Muito bem, obrigada. Isabelle, quando devolvi a sua carta, não foi porque não queria manter contato, mas porque... porque não podia. Os olhos prateados, parecidos com os de Forde sorriram. — Sei disso, minha querida. Para poder seguir em frente, precisou cortar de vez o passado da sua vida. Gostávamos demais uma da outra para ser diferente. Melanie sentiu vontade de chorar. Quis deitar a cabeça no colo de Isabelle e chorar sem parar, como fizera da primeira vez que viu a sogra após a perda de Matthew. Isabelle também chorara na ocasião, dizendo que ela jamais esqueceria Matthew, mas que haveria outros bebês para suavizarem a dor da perda. Assustada com o que estava sentindo, Melanie recuou. — Soube que quer replanejar o jardim. Isabelle aceitou a mudança de assunto com a graça costumeira. — Querer não é bem a palavra. Está mais para precisar. — E não quer ter de chamar um jardineiro para cuidar das coisas? — De vez em quando, mas não todo dia. Ainda consigo fazer um pouquinho, mas não tudo que é exigido. — Assim que tivermos tudo sob controle, meu assistente vindo alguns dias por mês não seria muito incômodo? Prometo que vai adorar James. — Tenho certeza que sim. A enfermeira Bannister vai nos trazer uma xícara de chá, e, depois, pensei em darmos uma olhada juntas no jardim? Melanie assentiu. Na realidade, tudo que queria era dar o fora daquela sala o mais rápido possível. Notara imediatamente que Isabelle mantivera a foto emoldurada do casamento deles no mesmo lugar de destaque onde sempre estivera, e fizera de tudo para evitar olhar em sua direção. O homem alto e sorridente e a sua noiva radiante poderiam muito bem ter sido duas pessoas diferentes, considerando o quanto ela se sentia distante da jovem na fotografia. Quando deixou Hillview, três horas mais tarde, Melanie já fazia uma boa ideia do que Isabelle gostaria e não gostaria no seu novo jardim Concordaram em deixar em paz tudo que pudessem e todas as árvores maduras permaneceriam, mas Melanie convencera Isabelle a encarar o terreno como uma série de compartimentos que formavam um todo ao redor do lago central, facilitando assim a manutenção, o que era a preocupação principal. Isabelle escutara atentamente as suas sugestões, gostando da ideia de trilhas sinuosas levando aos caramanchões e aos dois ou três pátios, assim como a de vários 20
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks gramados de camomila, cujo aroma perene contrastaria com a textura de outras áreas do jardim. E, ao contrário do gramado verde, a camomila só precisaria ser aparada esporadicamente, algo do qual James poderia se encarregar. Arbustos perfumados, plantas amantes do sol, com suas flores coloridas, cercas vivas e esculturas verdejantes... Melanie sugerira de tudo, e Isabelle mostrou-se notavelmente aberta às mudanças. Concordaram que Melanie faria desenhos em escalas das novas mudanças propostas assim como das características atuais do jardim, para que Isabelle pudesse comparar as opções e ter certeza de que estava completamente satisfeita. Assim que Isabelle tivesse certeza das mudanças que queria, Melanie se encarregaria de providenciar plantas detalhadas do plantio nas áreas em particular, assim como ilustrações de outras características específicas como o lago, os caramanchões, além da topiaria e de outras sugestões discutidas. Nada era definitivo, e Melanie deixara bem claro que Isabelle tinha o direito de mudar de ideia quantas vezes quisesse. Despediram-se com um beijo e um abraço, Isabelle demorara um pouco mais do que o necessário para soltá-la. Melanie estava emocionada ao ir embora dirigindo. Fora tão bom estar novamente com Isabelle, mas preferiu não considerar seus sentimentos, optando por concentrar-se nos desenhos que faria de suas anotações, e em novas ideias, enquanto dirigia. Queria que o jardim de Isabelle continuasse a ser um santuário para a mulher idosa aproveitar, um retiro, e, com isso em mente, planejava trilhas que ligavam uma área à outra, além de cantos em que os arbustos e as árvores proporcionassem agradáveis sombras e outros locais iluminados pelo sol, como, por exemplo, o lago. E muitos bancos e lugares para sentar. As mudanças custariam um bocado de dinheiro, mas não havia motivos para que, no final de tudo, o jardim de alta manutenção de Isabelle, que sempre fora mantido em um estado de perfeição pela dedicada jardineira que ela era, não pudesse ser transformado em algo igualmente lindo, contudo, exigindo consideravelmente menos trabalho. Assim que chegou a casa, Melanie preparou um bule de chá e pôs-se a trabalhar na mesa de jantar. Estava concentrada em transferir as medidas que tirara naquela tarde para o esboço inicial da sua planta quando o telefone tocou. — Alô, Melanie Masterson — falou automaticamente, ainda distraída. — Olá, Melanie Masterson. Aqui é Forde Masterson. Sentiu o coração disparar dentro do peito. De algum modo, arrumou forças para falar com naturalidade. — Ah, oi, Forde. Eu estava trabalhando. — Não quero atrapalhar. Estou ligando apenas para agradecer pelo modo como tratou a minha mãe. Ela me ligou ainda há pouco e, apesar de inicialmente apreensiva quanto a ver o seu amado jardim retalhado, como ela mesma já disse, me pareceu genuinamente animada com as mudanças que você sugeriu. Obrigado, Nell. A simples menção do apelido já fazia com que o desejo se apossasse do seu corpo. Relutantemente, teve de reconhecer que o poder de Forde sobre ela era absoluto. Nada mudara. Só escutar-lhe a voz a fazia desejá-lo tanto que chegava a tremer. — Nell? Ainda está aí? — Sim, estou — tratou de responder, recompondo-se. — E não precisa me agradecer. Você sabe que, se fizermos a coisa direito, vai sair bem caro. — É claro. — Houve uma pausa. — Seria muita grosseria salientar que dinheiro não é problema? Só quero vê-la satisfeita ao final de tudo. — Ela ficará. — Melanie se deu conta de que não queria que a conversa terminasse. Queria continuar falando com ele, escutando aquele tom de voz grave. Jamais deveria ter aceitado o trabalho. Era loucura. Estava procurando sarna para se coçar. — Ela vai adorar, Forde. Eu prometo.
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Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks — Não duvido nem por um instante — ele retrucou, baixinho. — Confio em você, Nell. Sempre confiei. O pânico lhe deu forças para dizer: — Preciso ir, agora. Entrarei em contato assim que Isabelle decidir o que ela quer, e eu tiver orçamentado tudo. Adeus, Forde. — Boa noite, meu bem. Bons sonhos. Ela desligou o telefone antes de, atordoada, processar as suas palavras. Meu bem? E bons sonhos? Que fim levou as condições dela? Deu-se conta de que a sua concentração estava arruinada. Por fim, tomou uma aspirina para a dor de cabeça de rachar que aparecera na última hora e seguiu para a cama, onde rolou de um lado para o outro por metade da noite, a outra metade sendo preenchida por sonhos eróticos estrelados por Forde. Mesmo assim, ao acordar na manhã seguinte, sentiu a sua determinação renovada. Nada a impediria de levar até o fim o divórcio. Nada. Era a única maneira pela qual conseguiria recuperar um pouco a paz de espírito.
Capítulo 5
Ao contrário do que Melanie estava esperando após a ligação de Forde no dia em que ela visitara a mãe dele, as próximas quatro semanas se passaram sem qualquer outro contato com ele. Visitou Isabelle mais duas vezes durante o tempo em que estava terminando outros contratos e as duas chegaram a um acordo mais detalhado quanto ao que agradava a ambas. Na sua segunda visita, Melanie levou James consigo. Ele estava bem a par da situação, mas sendo como era, James agiu como se fosse a coisa mais natural do mundo para uma mulher separada buscando o divórcio aceitar fazer um grande serviço para a sogra. Melanie pôde ver que Isabelle ficou um pouco surpresa ao conhecer James. Ele era uma espécie de Adônis com um sorriso capaz de conquistar qualquer um, mas para que a sogra não tirasse conclusões erradas, Melanie tratou de puxá-la para o canto e deixar bem claro que o relacionamento dos dois era estritamente profissional. Ao final da tarde, James, com a sua costumeira jovialidade, já estava com Isabelle, comendo na palma da sua mão, o que era um bom sinal para o futuro. Na noite anterior a começarem o serviço em Hillview, Melanie não dormiu direito. A onda de calor de agosto continuou, tornando setembro ainda mais quente. O solo estava seco em tudo quanto era lugar, e, embora fosse ligeiramente preferível a trabalhar debaixo de chuva e na lama, não eram as condições ideais. Mas não fora o trabalho que lhe tirara o sono às quatro da madrugada. Fora Forde. Desde a noite em que haviam dormido juntos, não houvera um minuto em que ele estivera longe de seus pensamentos. Mesmo quando adormecia, lá estava ele, escavando o seu lugar no subconsciente de Melanie. E não tivera notícias dele. Nem mesmo uma palavra. Como ele solicitara, a estimativa que apresentara para Isabelle fora ridiculamente baixa, e enviara o orçamento realista para o escritório dele, em vez de para a sua casa, enfatizando assim a natureza profissional do relacionamento. A secretária ligara no dia seguinte para informar que o sr. Masterson aprovara o orçamento. 22
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks Era evidente que ele finalmente decidira tirar o time de campo. Aquela última situação ridícula, na qual ela praticamente implorou para ele fazer amor com ela, e depois deu um gelo nele no dia seguinte, evidentemente fora a gota d’água. Não que pudesse culpá-lo. Quem é que iria querer aturar uma maluca como ela? E era o que ela estava querendo, então, por que se sentia como se o coração houvesse sido arrancado do peito? Suspirou pesadamente, erguendo a cabeça para o céu negro salpicado de estrelas do seu quintal, onde estava tomando uma xícara de café. Precisava se recompor. Seu sonho de um final feliz fora destroçado há vários meses, sendo assim, por que insistia em revisitar o passado? Não era como as outras pessoas. Era isso que Forde não entendia. E não era culpa dele ter se casado com uma mulher que trazia azar. Mas ela jamais se permitiria chegar novamente perto de alguém. Desse modo, ninguém mais se machucaria, inclusive ela. Terminando o café, continuou sentada ali, enquanto o dia ia chegando e o céu clareando. Não conseguira mais dormir direito desde que Forde retornara para a sua vida, não que ele algum dia a deixara, para ser sincera. Talvez não tivesse falado com ele, nem o visto durante os sete meses antes de Forde escrever para ela, mas, mesmo assim, ele sempre estivera nos seus pensamentos. Isto precisava ficar mais fácil. Não poderia passar o resto da vida sentindo-se daquele jeito. Sua tristeza e a culpa por Matthew sempre a acompanhariam. Já aceitara isso. Mas a sensação de perda por conta de Forde era diferente, e muito mais complicada. Pare de analisar as coisas. Fechou os olhos. Sentia-se tão cansada, física, mental e emocionalmente, mas precisava seguir em frente. Havia gente muito pior do que ela. Pessoas com doenças fatais ou sérios problemas de saúde. Pelo menos ela era jovem e saudável. Sentiu-se revigorada o suficiente para ficar de pé. Deixou a xícara de café na cozinha e subiu para tomar banho e trocar de roupas. Às sete da manhã, já estava na rua. Após pegar James, seguiu para Hillview, chegando à casa de Isabelle logo após as oito. A primeira coisa que notou foi o Aston Martin de Forde estacionado diante da casa. Sentiu um frio na barriga, mas James já estava descendo da caminhonete, para começar a descarregá-la. Quando juntou-se a ele, já havia se recomposto, mas estava zangada. Forde prometera que ficaria longe enquanto ela estivesse por ali, e nem por um instante Melanie acreditava que ele não soubesse que os trabalhos começariam hoje. Escutou a porta da frente se abrir, e algum sexto sentido lhe alertou de que Forde estava postado ali, mas ela não olhou, continuando a ajudar James a descarregar as coisas. — Bom dia — Forde cumprimentou, avançando até onde eles estavam; Sua voz era fria e brusca, e, ao olhar para ele, Melanie notou frieza nos olhos azulclaros, e que ele não estava sorrindo. Sua raiva aumentou mais um pouco. Como ele ousava olhar para ela daquele jeito quando não deveria estar aqui? Procurando imitar-lhe o tom de voz, disse: — Bom dia, Forde. Será que esqueceu que eu ia começar a trabalhar no jardim hoje? — Não, não esqueci — ele respondeu calmamente, estendendo a mão para cumprimentar James. — Sou Forde Masterson, o marido de Melanie. Suponho que seja James? Ela se esquecera de que apenas contratara James depois de ter deixado Forde, e de que os dois homens jamais haviam sido apresentados. James hesitantemente lhe apertou a mão. Não que ela pudesse culpá-lo. Forde estava com cara de poucos amigos. Após murmurar um cumprimento, James pediu licença e foi levar o que descarregara para os fundos da casa. 23
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks — Falou de seu assistente como se ele fosse um jovem inexperiente, recém-saído da escola — Forde comentou, acusadoramente. — É um homem adulto de o quê, vinte e quatro, vinte e cinco anos de idade? — O quê? Por que ele estava falando de James quando sabia muito bem que não deveria estar ali? — E me parece saber muito bem o que está fazendo — ele acrescentou, em tom severo. — Em todos os sentidos. — James viajou o mundo de mochila nas costas por três ou quatro anos após deixar a universidade, e jamais sugeri que ele fosse um jovem rapaz. — Melanie olhou furiosamente para Forde. — Não que seja da sua conta. E, de qualquer modo, por que está aqui hoje de manhã? — Então eu tinha razão? Ele tem vinte e quatro, vinte e cinco anos de idade? — Ele tem vinte e seis, e, eu repito, por que está aqui? — Atendendo a um chamado da minha mãe, pois ela pensou que houvesse um pássaro na chaminé. E, antes que pergunte, não, não havia pássaro algum. Desde um incidente há alguns anos quando um pombo caíra pela chaminé e ficara preso a alguns metros da lareira, arrulhando desesperadamente até Forde chegar para retirá-lo, houvera vários chamados infrutíferos por parte de Isabelle, que tinha pavor de acender a lareira e acabar incinerando vivo algum pobre pássaro, embora Forde houvesse repetidamente afirmado que isso era impossível, devido à grade de proteção que ele havia instalado no topo da chaminé justamente para impedir esse tipo de catástrofe. — Ah. Melanie assentiu, sentindo-se culpada por suas suspeitas e, embora preferisse morrer a admitir, um pouco desapontada que a presença dele ali nada tivesse a ver com sua vontade de vê-la. — Quer dizer que esse é James? — Forde passou a mão impacientemente pelo cabelo. — É casado? Tem namorada? O quê? Ele estava com ciúmes. Melanie o fitou atônita. Não sabia se devia levar como um elogio ou uma ofensa que ele achasse que um jovem atraente como James fosse perder tempo com uma mulher casada, dois anos mais velha do que ele e com bagagem emocional o suficiente para encher vários estádios de futebol. Optou pela segunda opção. — A vida pessoal de James não é da minha conta — falou, em tom gelado. — Ele trabalha para mim, Forde, mais nada. Entendeu? Ele não parecia convencido. — Ele gosta de morenas deslumbrantes que gostam de jogar tão bem quanto ele tênis e squash e todos os outros esportes que ele adora, e que gostam de passar a noite dançando para depois sair velejando após o café da manhã. Mesmo que eu fizesse o tipo dele, e ele o meu, ainda assim não seria uma opção. Sou a patroa dele, e James é meu funcionário. Fim de papo. A resposta veio em um tom de voz baixo e intenso. — Este deveria ser o momento em que digo que sinto muito e que não tenho o direito de perguntar, só que não sinto e tenho todo o direito de perguntar. Você é minha esposa. — Está acabado, Forde — ela falou, esforçando-se terrivelmente para fitá-lo nos olhos. — Jamais estará acabado. Não foi um pedaço de papel que nos uniu, Nell, nem um homem de bata com duas alianças dizendo algumas palavras. Você é minha, de corpo, alma e espírito. Amo você, e sei que me ama. Ele observava-lhe o rosto enquanto falava, mas todas as barreiras dela estavam erguidas, e não conseguiu ver nada. 24
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks — Não podemos voltar ao passado como era — ela falou, baixinho. — Não, não podemos. Tivemos um filho juntos e ele morreu, e ele será para sempre parte de nós. Mas nós dois somos uma coisa à parte. Essa história de se punir por algo que não foi culpa sua tem de acabar. — O quê? — É o que você está fazendo, Nell, quer admita ou não. E também está me punindo. — Você não entende nada. Ele estremeceu visivelmente, lutando para manter a calma. Como ela podia dizer uma coisa dessas, quando, desde a morte de Matthew, tudo que ele fizera fora entender? — Não se trata apenas de você, já pensou nisso? — Podia escutar o maldito assistente dela retornando, assoviando, e sentiu uma vontade irracional de esmurrá-lo. — Eu também amava Matthew. — Mas não provocou a morte dele. — Nem você, pelo amor de Deus. Não tivera a intenção de gritar, mas pelo menos o assovio cessou. Ela virou-lhe as costas. — Tenho trabalho a fazer. — Melanie olhou para onde James estava parado, evidentemente sem saber se deveria se aproximar do que era com certeza uma zona de perigo. — James, venha me ajudar com o restante das coisas. Sabendo que se não fosse logo embora, com certeza diria algo de que se arrependeria, Forde girou nos calcanhares e voltou para o interior da casa. A mãe o aguardava logo após a porta de entrada. — Escutei você gritar. A voz de Isabelle era gentilmente acusatória. Forde amava a mãe. Era uma alma forte e generosa, com um ligeiro charme do mundo antigo e a dignidade de sua geração. Por esse motivo, conteve a imprecação na ponta da língua e disse apenas: — Deve dar graças por ter sido apenas o grito. Os olhos de Isabelle se arregalaram. Ela abriu a boca para dizer algo antes de claramente mudar de ideia. — Estou indo. — Forde curvou-se e beijou-lhe a testa. — Eu ligo mais tarde. Quando deixou novamente a casa, não avistou Melanie e James em lugar algum, embora pudesse escutar suas vozes vindo dos jardins nos fundos da casa. Decidindo que despedir-se não adiantaria muito, seguiu para o Aston Martin, abriu a sua porta e deslizou para dentro dele, dando a partida e arrancando com o veículo. Isso não saíra como planejado, pensou, agarrando com força o volante. Não esperava que o assistente dela parecesse um jovem e musculoso George Clooney, nem que Melanie fosse ser tão... Não conseguia encontrar uma palavra que fosse satisfatória em descrever a sua mistura de distanciamento frio com desconfiança, de modo que desistiu. Ao chegar a casa, ficou andando de um lado para o outro, em vez de se arrumar para trabalhar. Para tudo quanto era lugar que olhava, havia lembranças de Melanie. Seguiu para a cozinha onde se sentou à mesa. Ainda estava perdido em seus pensamentos quando Janet chegou, por volta das dez. — Sr. Masterson, o que está fazendo aqui a esta hora da manhã? Está se sentindo mal? Ele ergueu os olhos tristes para a pequena mulher que era sua amiga e confidente, tanto quanto sua faxineira e cozinheira. — Vi Melanie hoje de manhã. Não foi um... encontro amigável. — Ah, minha nossa. — Janet tratou de ligar a cafeteira. — O senhor já comeu? 25
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks Ele sacudiu a cabeça. Após uma xícara de café quente e um prato de ovos com bacon, ele estava se sentindo melhor. Servindo uma xícara para si, e outra para ele, Janet sentou-se diante dele, no outro extremo da mesa. — E então? O que aconteceu? Ele contou-lhe uma versão resumida da conversa, e Janet escutou atentamente. Após um instante, ela falou: — Quer dizer que acha que a sra. Masterson está tendo um caso com o assistente? Forde empertigou-se, como se houvesse acabado de levar um choque elétrico. — Claro que não. — Mas, ainda assim, vai desistir dela? — Claro que não. Você me conhece melhor do que isso, Janet. — Se é assim, por que está sentado aqui, se lastimando? Forde sorriu timidamente. — Tem razão. — Quando ela foi embora, eu lhe disse que ia ser um serviço demorado, e que você precisaria ser paciente e persistente, não disse? O modo como ela ficou naquele dia, antes de a ambulância chegar, foi mais do que o choque e desespero normais que alguém pudesse sentir sob as mesmas circunstâncias. A sra. Masterson realmente acredita que atrai o azar para aqueles perto dela. Janet já mencionara isso antes, mas Forde não lhe dera muito crédito, achando Melanie sensata demais para acreditar nesse tipo de bobagens. — Mas isso é um absurdo. — Eu sei disso, e o senhor também, mas a sra. Masterson... — Ela é uma mulher inteligente e esclarecida, pelo amor de Deus. Não acho que... — É uma jovem esposa que perdeu o primeiro filho em um terrível acidente, pelo qual se culpa plenamente. Some a isso o que sabe sobre os pais dela, a avó e até mesmo sobre a coleguinha de escola dela, todas pessoas que ela perdeu, e talvez queira reconsiderar, sr. Masterson. Além do mais, não se esqueça de que é um homem Seu sexo funciona à base de lógica e bom senso. — Deixe-me ver se entendi direito. Está dizendo que ela acha que, se tivesse ficado comigo, algo teria me acontecido? — A sra. Masterson provavelmente não teria sido capaz de expressar isso em palavras, mas, sim, é o que eu acho. E não se esqueça de também levar em conta o elemento da punição, a síndrome do “por que eu deveria ser feliz depois do que eu fiz.” — Janet deu de ombros. — De certo modo, é perfeitamente compreensível. Forde a fitou estupefato. — Diabos. — É. Sendo assim, pode salvá-la de si mesma. — E exatamente como eu faço isso, Janet? Ela ficou de pé para tirar a mesa. — Isso eu não sei, mas, amando-a como a ama, imagino que encontrará uma maneira. Forde sorriu tristemente. — E eu achando que tivesse todas as respostas. — Ela o ama muito, sr. Masterson. Não pode se esquecer disso. É o calcanhar de aquiles dela. — Acha mesmo que ela me ama? Janet sorriu para o homem que considerava um filho. Por maior e mais durão que fosse, o sr. Masterson tinha o coração mole, e ela gostava disso nele. Alguns homens
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Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks com o dinheiro dele se considerariam um presente de Deus para as mulheres, mas não o sr. Masterson. — Claro que ela o ama — disse baixinho. — Como o senhor a ama. E o amor sempre dá um jeito. Forde levantou-se, com seus olhos prateados calorosos. — Você é um tesouro, Janet. O que eu faria sem você? — É o que o meu marido sempre fala quando chega do bar depois de tomar umas e outras, normalmente, depois de revirar a minha bolsa. — Sabe que é boa demais para ele, não sabe? Janet sorriu para ele quando Forde deixou a cozinha. Não discordava da opinião de Forde sobre o seu Geoff, mas ela sempre achara o sr. e a sra. Masterson um par perfeito. Seu sorriso desapareceu. Só torcia para que fossem capazes de resolver os seus problemas. Apesar das suas palavras encorajadoras para o sr. Masterson, tinha receio de que fosse necessário um milagre para fazer a sra. Masterson voltar para casa.
Capítulo 6
Estavam no meio do mês de novembro. Um novembro ameno, até agora, sem neve ou temperaturas glaciais, mas Melanie não estava pensando no clima ao deixar o consultório do médico. Seguiu para a sua caminhonete no estacionamento, contudo, assim que se sentou em seu interior, não deu partida no motor. Simplesmente ficou olhando fixo através do para-brisa. Não vira Forde desde o dia em que começara a trabalhar para Isabelle, embora ele houvesse ligado várias vezes, supostamente para tratar de questões sobre o jardim da mãe. Ao saber pelo advogado que Forde estava demorando em assinar alguns documentos pertinentes ao divórcio dos dois, ela ligou para a casa dele, duas noites atrás. Recostou-se no assento gasto da caminhonete e fechou os olhos. Forde animadamente se desculpara pelo atraso, dando alguma desculpa sobre pressões do trabalho, mas o que realmente a deixou irritada foi a voz feminina ao fundo enquanto conversava com ele. Não perguntara com quem ele estava. Não tinha esse direito. Mas doera mais do que imaginara ser possível pensar em outra mulher na casa deles. Idiota. Abrindo os olhos, inspirou fundo. Forde era livre para viver com quem bem entendesse. Ainda assim, ela não conseguira dormir naquela noite. Chegara no dia seguinte ao trabalho sentindo-se mal, e James ficara assustado quando ela desmaiou em meio ao serviço. Pobre James. Se ela não estivesse tão chocada e zonza ante o que o médico descobriu, poderia até ter sorrido. Ele ficara fora de si, dizendo que ela poderia desmaiar novamente dirigindo para casa, ou enquanto manuseava algum equipamento pesado. No final, apenas para tranquilizá-lo, prometeu ir ao médico. Adentrou o consultório do Dr. Chisholm afirmando saber que todos os seus sintomas poderiam ser explicados pelo estresse, e que ela ficaria bem se ao menos ele pudesse receitar alguns comprimidos para isso. Lembrando-lhe de que ele era o médico, o doutor fez um exame detalhado e inúmeras perguntas. 27
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks Com a mão trêmula, forçou-se a dar partida no motor. Tinha de voltar ao trabalho. Tinham de aproveitar o bom tempo para adiantar o serviço. Mas descobriu que não conseguia dirigir. Estava tremendo demais. Ficou sentada ali, enquanto começava a processar a realidade. Estava esperando um filho de Forde. Aquela única noite em agosto tivera repercussões que jamais esperara. Pensando bem, fora ridículo ela não desconfiar que a ausência do seu período, o cansaço e os enjoos pudessem ser algo além de estresse. Talvez tivesse apagado de sua mente a possibilidade de poder estar grávida, mas não havia como errar agora. Estava grávida de treze semanas. Desmaiara algumas vezes quando estava grávida de Matthew. Matthew. Ah, Matthew, Matthew... Começou a chorar compulsivamente. — Eu sinto muito, meu precioso bebê — murmurou, tomada por uma sensação de impotência. — Eu jamais quis que isso acontecesse. Amo você. Sempre amarei você. Sabe disso, não sabe? Não sabia dizer quanto tempo ficaria ali sentada. Só despertou quando a porta do motorista foi subitamente aberta e Forde agachou-se ao lado dela, a voz agoniada ao perguntar: — Nell? Nell, o que foi? Qual é o problema? Ele era a única pessoa que ela queria ver, e, no entanto, a última, mas era incapaz de explicar isso, inclusive para si mesma. Desesperadamente tentando se controlar, gaguejou: — Q-que está fazendo aqui? Antes que ela se desse conta, ele fechou a porta e deu a volta no carro, sentandose no banco do carona, e tomando-a nos braços. — Minha mãe perguntou por você, e James informou que você havia ido ao médico, que ele estava preocupado com você. Droga, Nell, sou o seu marido. Se alguém tem o direito de se preocupar com você sou eu. O que há de errado? Ela não tivera tempo de pensar no que diria para ele, se é que diria algo. Mas tinha de lhe dizer algo. Forde era o pai. O pai. Ah, Deus, isto não podia estar acontecendo. No entanto, seus instintos maternos vieram à tona com força total. Pensou em todo o trabalho pesado que fizera nas últimas semanas, e agradeceu aliviada por não ter perdido aquela pessoinha no seu íntimo. Agora estava apavorada que algo pudesse acontecer com o bebê por causa dela. — Nell? Seja lá o que estiver errado, nós superaremos, está bem? Suas palavras serviram como uma injeção de adrenalina. Ela libertou-se dos seus braços e endireitou-se, enxugando os olhos com as costas da mão. — Estou grávida. Forde escutou as palavras, contudo, por um instante, elas não registraram. Desde que a mãe ligara avisando que Melanie estava no médico porque vinha se sentindo mal há semanas, ele imaginara que ela pudesse estar sofrendo de tudo quanto era doença terminal. Dirigira como um louco até o endereço do médico que James dera para a sua mãe. Estava esperando que ela já tivesse ido embora quando chegou ao estacionamento, e respirou aliviado ao avistar a caminhonete, até se dar conta de que ela estava curvada sobre o volante, com a cabeça nas mãos. Foi tomado de pânico. — O que foi que disse? — perguntou, atordoado. — Estou... estou esperando um bebê. — Reunindo todas as suas forças, ela prosseguiu. — Aconteceu em agosto, na noite que você veio ao meu chalé. Estou grávida de treze semanas. Ele passou a mão pelos cabelos. — Mas você está na pílula. — Depois que parti, não havia mais necessidade de tomar.
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Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks Ele a fitou com intensidade. Não que houvesse necessidade antes de ela partir. Melanie mal deixara que ele se aproximasse dela, até mesmo para beijá-la. Ela se retraíra por completo. E, agora, estava grávida. Grávida do filho deles. Notando o rosto dele se iluminando, Melanie recuou. — Não — murmurou. — Não quero isto. Será que não vê? Isso não muda nada entre nós. — Está maluca? É claro que muda. — Dando-se conta das palavras dela, ele arregalou os olhos. — Não está considerando um aborto, está? Magoada por ele ser capaz de pensar uma coisa dessas dela, Melanie sentiu a raiva substituindo o pânico. — Claro que não. Não acredito que disse isso. O silêncio tomou conta do veículo, e ela viu o rosto dele mudar. — Deixe-me ver se entendi. Você quer o bebê, mas não me quer? É isso o que está tentando dizer? Com o rosto pálido, Melanie sacudiu a cabeça. — Não foi o que eu quis dizer. — Nesse caso, que diabos você quis dizer? — Sabendo que o seu tom de voz foi muito alto, e esforçando-se para recuperar a calma, Forde inspirou fundo. — Vamos sair daqui e ir a algum lugar onde possamos discutir isso. — Não. A resposta foi imediata, e, mais uma vez, havia aquela pitada de medo presente. Forde pôde sentir o autocontrole escapulindo-lhe. Ela estava fazendo-o se sentir um monstro, pelo amor de Deus. Melanie era sua esposa, e aquele era o seu bebê, no entanto, ela se recusava a falar com ele? Se Melanie se deu conta do que lhe passava pela cabeça, ele não soube dizer, mas, no instante seguinte, a viu inspirar fundo antes de falar: — Sinto muito, Forde. De verdade. Mas preciso de tempo para me acostumar com isto, e tenho de voltar ao trabalho... — Uma ova que você vai. — A expressão do rosto dele ficou sombria. — Você está grávida de treze semanas, mulher. Pense no bebê. Bebê. A simples palavra deu origem à tamanha enxurrada de emoções que chegou a ficar zonza. — Mulheres ao redor do mundo trabalham durante a gravidez — ela salientou com uma tranquilidade que estava longe de sentir. — E vou explicar a situação para James, alertando-o de que não posso carregar peso. Mas ainda preciso trabalhar, Forde. Eu quero trabalhar. — Não está bem para isso — ele insistiu, teimosamente. — Agora que sei por que venho me sentindo desse jeito, posso tratar de comer com regularidade e tentar descansar. Mas a vida continua. — Sentindo a necessidade de ceder um pouco, ela acrescentou: — Eu ligo para você hoje à noite. Prometo. — Não é o bastante. Quero me sentar com você e discutir devidamente a situação. Você está carregando o meu filho, Nell. Eu a levarei para jantar. Esteja pronta às oito. Ela realmente não queria aquilo. Para começo de conversa, o mal-estar que ela agora reconhecia como enjoo matinal costumava ser um enjoo vespertino ou noturno, e a outra coisa era que estar com Forde se tornara um lembrete doloroso de tudo o que perdera. — Não acho que... Suas palavras foram interrompidas quando a boca de Forde apossou-se da dela. O beijo foi um ataque deliberado aos seus sentidos, que ela reconheceu no instante em que ele abaixou a boca, mas ele a pegara de surpresa, e quando a razão retornou, Melanie já estava tremendo ante a doçura de suas carícias. Forde inclinara-se
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Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks sobre ela, usando uma das mãos para apoiar-se, enquanto a outra levemente acariciavalhe o seio, sua língua deslizando ao longo dos dentes, entreabrindo-lhe a boca. Por mais que pudesse querer, não ofereceu resistência quando ele lenta e voluptuosamente lhe explorou a boca. Não conseguiu oferecer. Ele precisava apenas tocá-la, sempre precisara apenas tocá-la, e ela se derretia, liquefazendo-se de desejo. Sua atração por Forde sempre fora consumidora. Por isso que tentara se distanciar dele após a morte de Matthew. Primeiro, desligando-se emocional e mentalmente, depois removendo-se fisicamente de sua órbita. Mas Forde voltara a forçar a sua presença na vida dela, com resultados desastrosos. Não, não podia pensar no seu bebê como um desastre. Com a guarda baixa e as suas defesas eliminadas, Melanie retribuiu-lhe o beijo, como fizera naquela noite fatídica em agosto. A inspiração brusca lhe disse que ele pressentia a sua rendição, mas a boca do marido era como uma droga, e não conseguiu se libertar dela. Foi outro carro aproximando-se deles que fez com que Forde recuasse de volta para o seu assento, a boca relutantemente abandonando a dela após o beijo demorado. Para a sua vergonha, Melanie soube que não teria sido capaz de demonstrar o mesmo controle, independentemente de quem pudesse estar por perto. E esse era o problema, admitiu silenciosamente enquanto ajeitava o cabelo. Desde o dia em que se conheceram, Forde sempre fora a brecha na armadura que ela usara contra o mundo. Por algum tempo, ele a fizera acreditar em “felizes para sempre”, a convencera de que o amor era o suficiente para protegê-la de tudo. Mas ele não fora capaz de impedi-la de machucar Matthew. Uma mãe com um bebê desceu do carro que estacionara ao lado do deles, claramente grávida pela segunda vez. A moça não parecia ter mais de dezoito anos com o seu comprido cabelo louro e a minúscula saia, deixando à mostra intermináveis pernas usando calças justas de lycra, o que fez Melanie sentir-se velha. Era o tipo de mulher com quem F orde deveria ter se casado, pensou, tristemente. Alguém que não trouxesse consigo tanta carga. Na verdade, alguém tão distante dela quanto a lua. Tais pensamentos deram força à sua voz quando disse: — Tenho de voltar para o trabalho, Forde. Agora. Desta vez, ele não discutiu. — Tudo bem. Mas trate de explicar direitinho para James a nova situação, Nell. Não se esqueça de que tenho uma espiã em campo que me informará se não estiver se comportando. Ela supôs que ele estivesse brincando, bem, mais ou menos brincando, mas as palavras foram como um balde de água gelada despejada sobre a sua cabeça. Isabelle. Este bebê era o seu neto. O pânico retornou com mais intensidade ainda, mas ela teve uma ideia de como um peixe deveria se sentir quando capturado na rede de um pescador sem qualquer chance de escapatória. — Hoje, às oito da noite, está bem? Ela pôde enxergar nos olhos de Forde que ele não aceitaria não como resposta. Melanie assentiu hesitantemente. Ele lhe deu um último beijo rápido, e sorriu. — Pare de fazer essa cara de que a perspectiva de jantar com o pai do seu filho é um destino pior do que a morte — murmurou, sardonicamente. — Os últimos meses já deixaram o meu ego bem abalado. Mais tarde, não conseguiu entender o que diabos a levara a dizer as palavras seguintes. Talvez tivesse sido a lembrança ainda incômoda da voz da mulher ao fundo enquanto estava falando com ele ao telefone, mais do que incômoda, para falar a verdade. Ou talvez houvesse sido a suposição de Forde de que o fato de ela estar grávida resolvia todos os problemas? Ou que ele simplesmente não entendia o tormento pelo qual 30
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks ela vinha passando desde a morte de Matthew, afinal ela sozinha era responsável pelo aborto do filho, e nada mudaria isso. — Contudo, tenho certeza de que não faltam dedos dispostos a massagear esse ego — falou com deliberado desinteresse. Ela viu os lindos olhos prateados se endurecendo até se assemelharem ao cristal. E, na mesma hora, se arrependeu da grosseria. — Isso não foi despropositado — ele falou, examinando-lhe intensamente o rosto. — Explique. Ela deu de ombros. — Nada a ser explicado. Estava apenas falando que não faltam mulheres ansiosas por lhe fazer companhia, mais nada. — E no que você baseia a sua suposição? — ele perguntou com uma calma enganadora. — Forde, sei muito bem que não tenho o direito de criticar o fato de você ter outras mulheres. É livre para fazer o que bem entende. — É mesmo? — ele rosnou. — E isto... — ele ergueu a mão esquerda com a grossa aliança de ouro — não significa nada? É isso mesmo? Bem, não se engane, meu bem. Acontece que significa um bocado para mim. A hipocrisia era mais do que ela podia suportar. — Sei que havia alguém com você na noite em que liguei para falar sobre os papéis do divórcio — ela retrucou. — O quê? — Ele franziu a testa por um instante. — É, tem razão — confirmou, tranquilamente. — Na realidade, várias pessoas estavam comigo. Eu estava dando um jantar de comemoração pelo aniversário de minha mãe. Apenas ela e várias de suas amigas. Não sei quem foi que você escutou, Melanie, mas posso lhe garantir que todas as mulheres presentes tinham mais de oitenta anos de idade. Maravilhoso, simplesmente maravilhoso. Ela não só esquecera do aniversário de Isabelle, como se revelara uma megera maliciosa e ciumenta. Reunindo o que restava de sua dignidade, ergueu o queixo e o fitou. — Entendo, mas não me deve explicações. Eu estava apenas dizendo que é livre para fazer o que bem entender. — Não, Nell, não sou. Após ter dito Melanie alguns instantes atrás, o retorno do apelido intimista a deixou com vontade de suspirar aliviada. Mas não o fez. Teimosamente, disse: — Não tenho o direito de... — Você tem todo o direito de exigir de mim a mesma fidelidade e sinceridade que eu exijo de você, Nell. E permita-me deixar uma coisa bem clara, para que não haja dúvidas. Quando fiz os meus votos matrimoniais, cada palavra foi dita de coração. E ainda estão valendo. Entendeu? — No fundo, Forde estava um tanto quanto satisfeito ante o ciúme demonstrado por ela, contudo, sabia não ser prudente insistir na questão. — E eu a buscarei às oito, hoje à noite. Ela quis protestar, mas quando olhou para ele, notou uma desconcertante mistura de preocupação e ternura em seu rosto, o que tratou de minar a sua determinação. Debilmente, ela disse: — James jamais deveria ter dito nada para a sua mãe. Não estou nada satisfeita com ele. — Pois seja tão dura quanto queira com o rapaz — Forde falou, alegremente —, mas a questão é que ele disse alguma coisa, e eu estarei na sua casa às oito. — Ele abriu a porta da caminhonete, detendo-se por um instante, antes de virar-se mais uma vez para ela. — Você ia me contar sobre o bebê, não ia? A incerteza de Forde a fez sentir como se fosse a pior pecadora da Terra. Com evidente sinceridade, ela respondeu. 31
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks — Teria sido o primeiro a saber, Forde, mesmo que não tivesse aparecido aqui. — A sinceridade a fez prosseguir. — Contudo, talvez isso não tivesse acontecido por um ou dois dias, até que eu tivesse me acostumado com a ideia. Ele a fitou. — É tão ruim assim estar grávida do nosso bebê? Era, ao mesmo tempo, a pior e a melhor coisa do mundo, mas como seria capaz de explicar isso para ele, quando sequer conseguia ser capaz de explicar para si mesma? — Tenho de ir — falou. Ele assentiu. — Dirija com segurança. — Depois, como que se lembrando, acrescentou: — O que vai dizer para a minha mãe? Ela está preocupada com você, Nell. Ela mordeu com força o lábio inferior. — A verdade, eu suponho. Mas isso seria quase tão doloroso quanto os últimos minutos com Forde. Para começo de conversa, Isabelle não entenderia por que, sob estas novas circunstâncias, eles não estavam reatando, e quem poderia culpá-la? Isto era tamanha confusão. Ela era tamanha confusão. E, nos próximos dias, quando Forde se desse conta de que não estava voltando para ele, as coisas só fariam piorar. Com fragilidade na voz, disse: — Adeus, Forde. E... E obrigada por ter vindo. Ele sorriu. — Não precisa me agradecer. Sou o seu marido, lembra? Ele ficou postado ali, observando-a arrancar com o carro, antes de ir embora, as mãos enfiadas nos bolsos das calças e os ombros ligeiramente curvados. Ele parecia grande, maciço e muito sexy, e Melanie indubitavelmente estava grávida deste homem maravilhoso que também era o seu marido. Ela deveria ter sido a mulher mais feliz na face da terra...
Capítulo 7
Isabelle devia estar postada ao lado da janela, à procura dela, pois, no instante em que estacionou a caminhonete diante da casa, a porta da frente se abriu. — Melanie, minha querida. — Isabelle estava apoiada na bengala que usava desde o seu acidente com o quadril. — Será que pode me dispensar um ou dois minutinhos antes de seguir para os jardins? — gritou, no instante em que Melanie bateu a porta da caminhonete. Era melhor acabar logo com isto, Melanie pensou, obedientemente seguindo a mãe de Forde para dentro da casa. — Eu estava preparando um bule de café e ia levar uma xícara para o querido James, junto com uma fatia do bolo que ele gosta — Isabelle falou, mostrando o caminho até a enorme cozinha. James tornara-se “o querido James” rapidinho, o que não surpreendeu nem um pouco Melanie. — Sente-se um pouco enquanto vou falar com ele, e, enquanto isso, quem sabe você mesma não queira servir-se de uma fatia de bolo e servir duas xícaras para nós?
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Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks Tomada de uma estranha vontade de irromper em lágrimas pela segunda vez na mesma manhã, Melanie não se arriscou a falar, preferindo apenas assentir e sorrir. Nos dias em que ainda estava com Forde, passara muitos dias ajudando Isabelle com algo no jardim, e o intervalo para o bolo com café das onze sempre fora algo que ela gostara. Uma hora de conversa agradável e risadas. Mas não achava que fosse haver muitas risadas hoje. O bolo de frutas de Isabelle era uma das suas especialidades, e, apesar de como estava se sentindo, Melanie descobriu que estava faminta, havendo deixado de tomar o desjejum após ter dormido demais e perdido a hora naquela manhã. Não fora a primeira vez que fizera isso após passar boa parte do início da noite virando de um lado para o outro na cama, apenas caindo em sono profundo quando a alvorada estava começando a despontar. Consequentemente, sentia-se cansada o tempo todo. Ou pelo menos foi a isso que atribuíra a exaustão que vinha sentindo o tempo todo, recentemente, pensou, colocando na boca uma grande garfada do bolo. Agora, é claro, entendia que também havia um outro fator. Também se sentira esgotada com Matthew. Isabelle retornou, sorrindo ao dizer: — Um rapaz tão agradável, o seu James, mas não acho que ele se alimente direito morando com aqueles amigos dele. Sempre devora o bolo como se estivesse morrendo de fome. — Os olhos azul-claros se fixaram em Melanie. — E quanto a você, minha querida? Está se alimentando direito? Se não se importa que eu diga, tem andado com uma aparência cansada, e James disse que foi ao médico hoje de manhã. Melanie engoliu o pedaço do bolo, e assentiu. — Não tenho me sentido muito bem, mas não há nada de errado. Não exatamente. Eu... Eu não havia me dado conta, mas... — Inspirou fundo. Era mais difícil do que estava esperando com o rosto doce e preocupado de Isabelle diante de si. — Estou esperando um filho. Um filho de Forde — tratou de acrescentar, para evitar que a sogra tirasse conclusões apressadas. O rosto de Isabelle foi o terceiro naquela manhã a registrar surpresa, mas ela se recuperou quase que imediatamente. — Bem, é maravilhoso, minha querida — falou, calorosamente, estendendo a mão para apertar a de Melanie. — Para quando é o bebê? — Para a primavera, provavelmente para maio. — Era típico de Isabelle não fazer as perguntas mais óbvias, Melanie pensou, tomada de gratidão. Contudo, sentindo-se na obrigação de explicar um pouco as coisas, ela disse: — Forde veio me ver certa noite em agosto para discutir... Bem, na verdade para discutir a possibilidade de eu fazer o trabalho aqui. E... Uma coisa levou à outra... — Bem, fico muito feliz por vocês dois — Isabelle apressou-se em falar. — Forde está sabendo? Melanie assentiu. — Ele foi até o consultório médico quando eu já estava de saída. — Em seguida, rapidamente, antes que perdesse a coragem, disse: — Isso não significa que... que vamos voltar, Isabelle. Seguiu-se um instante de silêncio. Depois, Isabelle gentilmente falou: — Devo entender que não o ama mais? — Não. Quero dizer, eu amo Forde. Claro que amo. — E sei que ele a ama. Profundamente. Sendo assim, desculpe, mas não entendo... Melanie tentou, tentou de verdade, conter as lágrimas, mas foi inútil. E não foi um choro polido e reservado. Ela pranteou com o coração partido, os olhos e o nariz parecendo corredeiras, e mesmo quando sentiu o braço de Isabelle a envolvê-la, com uma força surpreendente para a sua fragilidade, não conseguiu se recompor. Estava 33
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks chorando por Matthew, o seu menininho querido, e por Forde, pelo modo como lhe partira o coração quando perdeu o filho deles, por todos os sonhos e esperanças destroçados. E por este novo bebê, esta pessoinha que sequer pedira para existir, e que era tão vulnerável... Quando o choro tornou-se menos intenso, Isabelle foi buscar uma toalha para lhe enxugar o rosto, como se ela tivesse três anos de idade, em vez de quase trinta. Completamente exausta, Melanie permaneceu sentada, calada e dócil, sua cabeça latejando e os olhos ardendo enquanto a sogra ajeitava o café. Assim que as duas estavam com a bebida fumegante diante de si, Isabelle sentou-se à mesa da cozinha com ela e tomou as mãos de Melanie nas suas. — Converse comigo — falou, baixinho. — Ah, Isabelle, não sei como explicar. A mulher idosa suspirou. — Sabe que é a filha que eu nunca tive, não sabe? E isso jamais vai mudar, independentemente do que o futuro possa trazer. Mas essa história de se culpar por algo que não foi culpa sua precisa parar, criança. Melanie a fitou através dos olhos repletos de lágrimas. — Sinto que eu não tenho o direito de ser feliz novamente, não após perder Matthew, e estou com medo... — Do quê? — Isabelle insistiu, quando Melanie interrompeu-se. — Tenho medo de que algo possa acontecer com Forde, se eu estiver com ele, e, agora, com este bebê também. — Instintivamente, ela levou a mão protetora à barriga. — Acho que talvez o meu destino seja ficar sozinha, Isabelle. — Bobagem, minha querida. — Isabelle jamais fora de medir palavras. — Você sofreu um acidente terrível e trágico, e, além disso, a maldição dos hormônios femininos entrou em cena, influenciando o seu raciocínio e provocando a depressão da qual ainda está sofrendo. Se tivesse tomado a medicação prescrita pelo médico, talvez estivesse se sentindo melhor agora. Melanie ergueu o queixo. — Eu não queria. Matthew merecia que eu chorasse por ele. Era tudo que eu podia fazer. — Ela retraiu as mãos, enxugando os olhos e fungando antes de dizer: — Sei que a sua intenção é boa, Isabelle, mas tenho de descobrir por conta própria o que eu vou fazer. — Sim, minha querida, eu sei disso, mas será que pode fazer uma coisa por mim? Por todos nós? Veja Forde de vez em quando. Ele a ama tanto. Apenas converse com ele, explique como se sente, mesmo que não faça sentido. Não o exclua, não agora. O filho também é dele. Melanie assentiu. — Sei disso. E... Vou vê-lo esta noite mesmo. — Ótimo. Agora, beba o seu café e coma outro pedaço de bolo. Dois, se quiser. Precisa manter as forças e, não se esqueça de que está comendo por dois. Com grande esforço, Melanie respondeu à tentativa de descontrair a conversa. — Hoje em dia, os especialistas em saúde provavelmente discordariam disso. — Sem dúvida, mas eu nunca fui de dar ouvidos para o que os especialistas dizem, e não pretendo começar agora. — Isabelle riu. — É, eu sei, sou uma velha chata. Melanie sorriu com seu tom de voz suave. — Você é uma velhinha adorável — disse, com uma ternura que trouxe lágrimas aos olhos de Isabelle. Melanie comeu mais duas fatias de bolo e conversaram sobre o progresso do jardim e sobre o clima e outros assuntos, antes de ela deixar a casa e ir lá para fora dar a notícia para James. Isabelle na mesma hora pegou o telefone para ligar para Forde.
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Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks James estava ocupado trabalhando no grande lago informal que Isabelle solicitara em uma área tranquila do jardim, com seu arranjo caprichosamente aleatório das enormes pedras salientando o contorno suave. Ele olhou para ela quando Melanie se aproximou, seu olhar estudando os olhos injetados e o nariz rosado da patroa, e o seu rosto ficou ostensivamente apreensivo quando ele ficou de pé. — Estou bem, não se preocupe — Melanie falou, antes que ele pudesse dizer qualquer coisa. — Mas tem algo que tenho de lhe contar, pois não poderei erguer nem carregar nada muito pesado por algum tempo. Vou ter um bebê. James deu um passo para trás, como se ela estivesse prestes a parir ali mesmo. — O quê? Melanie não pôde deixar de rir. Sorrindo timidamente, James perguntou: — Forde? Ela assentiu. — É claro. De quem mais seria? — Quer dizer que vocês estão juntos novamente? — Não exatamente. Mas uma suposição razoável, ela diria. — Certo. Mais uma vez, Melanie agradeceu por James ser o tipo de alma tranquila que aceitava as pessoas exatamente como estas eram Já teria de explicar um bocado de coisas para um bocado de gente ao longo dos próximos meses, mas, com James, explicações não eram necessárias. — O bebê deve nascer no início de maio, e eu sei que não é a melhor das épocas. Normalmente ficamos um bocado ocupados após o inverno. — Não tem problemas. — James sorriu para ela. — Nós daremos um jeito. — Já faz algum tempo que venho pensando em trazer mais alguém a bordo. Quem sabe não seja uma boa ideia fazermos isso ao longo das próximas semanas, para que estejamos preparados para a primavera? — E, para o caso de James achar que estivesse sendo prejudicado, Melanie acrescentou: — Poderia ser o seu assistente. Ele assentiu. — Como você quiser. Ela sorriu, e começaram a adiantar o trabalho, mas a mente de Melanie estava fervilhando. James dissera: “como você quiser”, mas era aí que estava o problema, ela não sabia mais o que queria. Tudo o que sabia é que amava este bebê com cada fibra do seu ser. Àquela hora, no dia anterior, não sabia de sua existência, mas, agora, era o centro do seu universo. Durante o restante do dia, trabalhou automaticamente, sua cabeça um caldeirão fumegante de esperanças, dúvidas e receios, contudo, ao ir embora dirigindo da casa de Isabelle, sob a luz do crepúsculo de novembro, sentiu que sabia o que tinha de fazer. Talvez soubesse desde o instante em que o Dr. Chisholm lhe dissera que estava carregando o filho de Forde. Apenas ainda não havia sido capaz de admiti-lo. Já estava escuro quando estacionou o carro e caminhou cansadamente até o chalé. Assim que entrou, repassou a rotina dos dias de trabalho. Macacão e botas deixados na cozinha, um pulo até o quarto para se despir e, em seguida, um bom banho quente. Já era quase sete da noite quando deixou o banheiro, quente e corada após o demorado banho de banheira, e, assim que chegou ao quarto, soube que precisava se deitar por alguns minutos antes de começar a se aprontar para sair com Forde. Estava tão cansada que se sentia como se estivesse drogada.
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Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks Prometendo a si mesma que iria simplesmente fechar os olhos por um instante e relaxar os músculos doloridos, ela ajeitou-se sob a colcha, e adormeceu no instante em que a cabeça encostou no travesseiro.
Capítulo 8
Forde sabia que teria uma briga nas mãos. Saberia disso mesmo sem o telefonema da mãe ainda há pouco, contudo, quando ela repetira a sua conversa com Melanie, confirmara tudo sobre o que Janet falara. Ele amarrou a cara ao dirigir rumo ao chalé de Melanie. Droga. Não conseguia entendê-la. Amava Melanie mais do que a própria vida, mas a sua necessidade consumidora de punir a si mesma, e, indiretamente, ele, por algo que nenhum dos dois havia sido capaz de evitar estava além de sua compreensão. E essa sua ideia de que trazia infortúnio para aqueles de quem gostava era pura bobagem. Sua mãe estava convencida de que a ideia já se enraizara na cabeça dela antes mesmo do casamento deles devido ao passado de Melanie e o aborto dera crédito a algo que teria sumido com o tempo, encolhendo-se até desaparecer quando não encontrasse nada para sustentá-la. Mas, então, veio o acidente. Com o rosto sério, ele apertou o volante com força. E a semente desta bobagem fora regada e alimentada pela depressão de Melanie, que viera logo em seguida. Ele se deu conta de que estava tão tenso que o corpo estava retesado como uma corda de guitarra, e forçou-se conscientemente a relaxar, suspirando demoradamente ao pisar no freio. Vinha dirigindo rápido demais, bem além do limite de velocidade. O que diabos ia fazer? Como poderia convencê-la de que a vida sem ela era um vazio interminável, desprovido de qualquer verdadeira alegria ou satisfação? Na sua cabeça confusa, Melanie achava que, ao cortar os vínculos que os conectavam, ela o estava protegendo de alguma maneira. Na realidade, ela o estava matando aos pouquinhos. E, agora, havia o bebê, fruto do amor deles. Pois fora o amor a lhe dar a vida. Sem dúvida, esta criança fora gerada pela paixão dos dois, afinal, bastava Forde olhar para ela para ficar duro como pedra, mas o amor fora a base do relacionamento deles desde o primeiro encontro. Antes do primeiro encontro. Nascera esperando que Melanie aparecesse na sua vida, e logo de saída reconhecera que ela era a sua cara-metade. Fora simples assim. Sua mãe dissera que estava preocupada que Melanie fosse desmoronar por completo se algo não mudasse logo, e ele chegara quase a lhe dizer que o filho estava no mesmo barco. Sorriu para si mesmo. É claro que não dissera nada disso. A mãe já tinha o bastante com que se preocupar. De qualquer modo, teria sido um comentário banal. Não tinha qualquer intenção de se permitir ruir. Recuperaria a esposa independentemente do que tivesse de fazer para isso, e a notícia do bebê só significava que seria antes do esperado. Cansara-se da abordagem sutil, e de fingir que aceitava o divórcio. Quando ela o abandonara, ele lhe dissera que ela se divorciaria dele apenas sobre o seu cadáver, e ainda pensava assim. Forde olhou para o buquê de rosas no banco do carona, ao lado da garrafa de prosecco, sem álcool, é claro. Quando ficara grávida da outra vez, Melanie ficara obcecada no tocante a comer e beber todas as coisas certas. 36
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks Sua expressão pensativa suavizou-se. Ela comprara e lera inúmeros livros sobre bebês, bebera litros de leite, e ficara fora de si de alegria da primeira vez em que sentira a agitação na barriga que, sem dúvida, eram braçinhos se mexendo no seu íntimo. Sabia que ela seria uma mãe maravilhosa. Suas experiências quando criança a havia deixado determinada a garantir que o próprio filho teria todo o amor e segurança possíveis. Forde a lembraria disto hoje à noite, caso ela insistisse na ideia ridícula de continuar com a separação. Durante o restante da viagem, começou a listar mentalmente todos os argumentos e contra-argumentos que ofereceria a Melanie para defender a sua causa, bancando o advogado do diabo algumas vezes, até ter certeza de que ela não seria capaz de vir com nada que ele não houvesse pensado antes. Quando parou no estacionamento pertencente à fileira de chalés, estava se sentindo animado. Ela o amava, e ele a amava, isso era o mais importante a se lembrar, isso e o milagre daquela noite de amor no verão, que havia gerado uma pessoazinha que era uma união dos dois. Melanie não teria como negar isso. Na primavera, teriam provas irrefutáveis disso. Um menino, ou uma menina. A realidade viva. Sentiu uma onda tão intensa de amor por Melanie e pelo filho ainda não nascido que chegou a ficar sem fôlego. Estivera enganado quando achara que ela parcialmente o culpava pela morte de Matthew. Depois de conversar com Janet e com a mãe, Forde agora se dava conta disso. Melanie condenava-se totalmente. Quem sabe não devesse ter se recusado a permitir que ela se afastasse dele naqueles primeiros dias após a perda do bebê? Os médicos lhe disseram para lhe dar tempo, que era natural para uma mulher se retrair após o que havia acontecido, esse era o modo da natureza ajudar a mente a lidar com algo devastador demais para ser absorvido de uma vez. Mas não fora assim com Melanie. Por que diabos fora dar ouvidos a outros, quando todos os seus instintos vinham lhe dizendo para fazê-la se abrir com ele? O problema fora que tudo acontecera a uma velocidade desnorteante. Ainda estavam fascinados pela luminescência rosada de encontrar um ao outro e de se casarem, depois, a empolgação de descobrirem que ela estava grávida. A vida fora perfeita. Pensando bem, assustadoramente perfeita. E, então, em questão de segundos, o mundo deles se fragmentou. Forde ainda podia se lembrar do rosto dela quando chegara ao hospital e a encontrara em trabalho de parto... Sacudiu a cabeça na tentativa de expulsar dos pensamentos a imagem que o assombrara desde então. Descendo do carro, ele olhou na direção dos chalés. Por Forde, Melanie voltaria para casa com ele naquela noite mesmo. Quando contara sobre a coisa toda para Janet, um pouco mais cedo naquele mesmo dia, esta lhe dissera para não aceitar não como resposta. Tudo bem, só que estavam falando de Melanie. Um sorriso esboçou-se nos cantos da sua boca. Quem olhava para ela podia até acreditar que uma rajada de vento poderia derrubá-la, mas sua esposa podia ser um osso duro de roer quando enfiava alguma ideia na cabeça. Inspirando fundo, ele se preparou, sentindo-se como um soldado se preparando para a batalha. O que não deixava de ser verdade, pensou sardonicamente. E Melanie era uma adversária e tanto. Na porta da frente de Melanie, inspirou fundo novamente, mas não hesitou ao apertar a campainha. Esperava encontrar algumas luzes acesas no andar de baixo, mas o lugar parecia estar todo mergulhado na escuridão. Franziu a testa, aguardando alguns instantes antes de tocar novamente a campainha. Nada. Olhou para o relógio. Faltavam apenas alguns minutos para as oito. Será que ela saíra para evitá-lo? Não, Melanie não faria isso, pensou, envergonhando-se do pensamento. Acima de tudo, Melanie não era covarde, e nem voltava atrás na sua palavra. Ela dissera que estaria ali, então, o que dera errado? 37
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks Preocupado, ele jogou a cautela ao vento e insistentemente bateu na porta com toda a força. Os chalés vizinhos do de Melanie estavam apagados, mas havia luz em um deles, algumas portas adiante. Se fosse necessário, iria até lá em alguns minutos. A caminhonete dela estava parada no estacionamento. Forde estacionara bem ao seu lado. Não podia ter ido longe. A não ser que estivesse machucada dentro de casa. Foi tomado de alívio quando a porta se abriu com um rangido. Melanie apareceu com o roupão que usara naquela noite em agosto, os olhos pesados de sono, e o cabelo louro em desalinho. — Forde? — perguntou, a voz arrastada e rouca. — Que horas são? Eu só me deitei para descansar alguns minutinhos. — São oito da noite. Falar fora um esforço. Estivera morrendo de preocupação, mas agora, tudo que queria era deliciar-se com ela naquele seu estado de desalinho. Entregou-lhe as flores antes de curvar-se para pegar a garrafa que colocara no chão quando batera na porta, seu corpo tão rijo de desejo que foi doloroso caminhar quando ela disse: — Entre, e obrigado pelas flores. Botões de rosas são as minhas favoritas. — Eu sei. Ele sorriu, recebendo em troca um ligeiro sorriso quando ela se virou. Forde a seguiu até o interior da casa. — Sinto não estar pronta — ela falou, frustradamente, enquanto procurava um vaso para as flores nos armários. — Ainda vou demorar alguns minutos. Posso lhe oferecer algo para beber enquanto espera? Café, suco, um copo de vinho? — Um pouco de café seria ótimo. — No fundo, ele não queria nada, apenas não queria que ela saísse logo correndo lá para cima. Deixando-se levar por um impulso, disse: — Se estiver cansada, não precisamos sair para comer. Posso pedir que entreguem alguma coisa. Comida chinesa, indiana, tailandesa? O que você quiser. Pôde ver o cérebro dela funcionando enquanto olhava para ele. Sair para comer seria menos íntimo, menos aconchegante, mas a ideia de não ter de se vestir e fazer o esforço de sair era claramente tentadora. Forde ficou aguardando sem nada dizer. O aroma do café sendo passado começou a se espalhar pela cozinha. — Há um restaurante chinês próximo daqui — Melanie comentou após alguns instantes. — O folheto está ali, sob a lata de biscoitos. — Ela apontou para uma lata na bancada perto de onde ele estava. — Talvez você possa fazer o pedido enquanto eu me visto. — Não precisa se dar esse trabalho por minha conta. Ela empertigou-se toda, e Forde teve vontade de dar um chute no próprio traseiro. — Piada — tratou de falar, embora não fosse inteiramente verdade. — O que vai querer? — Qualquer coisa. Eu não ligo. — Era evidente que ela não via a hora de dar o fora dali. — Sirva-se do café. Eu não demoro — acrescentou, virando as costas. Ele sentou-se em um dos bancos da cozinha, por um instante, após Melanie ter ido embora, depois, tratou de se servir de uma xícara de café. Melanie parecia exausta, o que não era de se surpreender. Há mais de doze meses que vinha convivendo com os nervos à flor da pele. Normalmente, já era como uma gata em teto de zinco quente. Uma gata loura e meiga com grandes olhos desconfiados, mas uma gata que provavelmente não teria problemas em exibir as suas garras. Forde pegou o cardápio sob a lata de biscoitos e passou os olhos por ele. Estava decididamente faminto, e achou que não teria problemas em encarar algumas porções duplas. Após um pouco de análise, decidiu que um dos combinados para o jantar seria uma boa ideia para dar a Melanie bastante opções. Pegou o telefone e fez o pedido.
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Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks Seguindo para a sala de jantar, viu que a mesa estava relativamente livre, apenas uma ou duas pastas de arquivo empilhadas em um dos cantos. Colocando-as no chão, tratou de encontrar talheres, jogos americanos, guardanapos e copos. Depois, retornou para a cozinha, e serviu-se de outra xícara de café. Por mais ridículo que pudesse ser, descobriu que estava nervoso, com um frio na barriga, como acontecera no primeiro encontro deles. Fora na noite após terem se conhecido no casamento do amigo em comum Forde não aguentara esperar mais de vinte e quatro horas para revê-la. Ele a levara para jantar em um luxuoso restaurante, botando banca de magnata rico e bem-sucedido, ao passo que, no fundo, estava o tempo todo receoso que ela não fosse querer revê-lo. Quando a deixara na sua quitinete, Melanie o convidara para subir e tomar um café, apenas um café, ela enfatizara. Conversaram por mais de três horas. Ele sorriu para si mesmo, recordando-se da ocasião. Jamais havia conversado com uma mulher daquele jeito, mas, com Melanie, parecera natural e certo não guardar nada. E com ela, parecia ser o mesmo. Ou, pelo menos, fora o que ele pensara. Irrequieto, adiantou-se até a porta dos fundos e a abriu, saindo para o pequenino quintal. A noite estava agradável, sem estar excessivamente fria. E, sob a luz vinda da casa, ele pôde ver que a pequena área fora aparada e preparada para receber o inverno. O perfume inebriante das rosas se fora, mas havia um aroma mais suave no ar, e ele viu que vários arbustos em vasos estavam dando flores. Só notou Melanie atrás de si quando ela disse: — Ainda gosto de um pouco de cor no inverno. Temos viburnos ali no canto. Bonitos, não é, com suas escuras flores rosadas? E adoro as videiras do Oregon com a folhagem que fica avermelhada no inverno. Plantei várias nos jardins de Isabelle. Ele olhou para ela, quando Melanie adiantou-se para postar-se ao seu lado. Estava usando uma blusa branca de algodão e jeans, e o cabelo louro estava preso para trás em um rabo de cavalo. Não estava usando maquiagem, e parecia ter dezesseis anos de idade, ele pensou, tomado de um amor tão intenso que precisou de um instante antes que pudesse dizer: — É delas que está vindo esse perfume? — Ah, está falando das madressilvas. — Ela apontou para o arbusto colado à parede externa da casa. — São chamadas de a Beldade do Inverno, e suas flores vão do inverno até a primavera. Lindas, não acha? — É — ele falou, sem tirar os olhos de cima dela. — Muito linda. Ela olhou para ele, e Forde notou um temor percorrer-lhe o corpo. — Você está com frio. — Tomando-lhe o braço, girou-a na direção da casa. Melanie parecia tão frágil sob os seus dedos, como se ela fosse quebrar se ele apertasse com um pouco mais de força. Sabendo que tinha de prosseguir com cautela, manteve o tom de voz tranquilo ao dizer: — Ainda resta bastante café. Devo servir-lhe uma xícara? Ela sacudiu a cabeça. — Eu adoraria, só que agora estou limitada a uma ou duas xícara de chá ou café por dia. Sabe como é, cafeína. Isso o fez lembrar do que parecera ser uma interminável lista do que podia e do que não podia quando ela ficara grávida antes, e ele voltou a pensar que havia mulheres que bebiam e comiam de tudo, que fumavam e até usavam droga, e que acabavam tendo bebês saudáveis, ao passo que Melanie... Não que Forde concordasse com uma abordagem egoísta como aquela, é claro, mas Melanie fizera tudo certinho da primeira vez. Parecia ser o cúmulo das injustiças que ela houvesse perdido Matthew como perdera. Baixinho, Forde falou: — Que tal suco, então? Ou será que quer um pouco do espumante que eu trouxe? É sem álcool, é claro. 39
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks Ao entrar na cozinha, ela colocou a bancada da copa entre eles, sugerindo que estava longe de abaixar a guarda com ele. Sua linguagem corporal foi confirmada quando disse: — Forde, concordei em recebê-lo hoje à noite, mas não quero que pense que isso significa alguma coisa além do fato de que admito que temos de conversar. Sei que este bebê é tão seu quanto meu. Já era alguma coisa. Não muita, mas melhor do que ter de convencê-la a encarar esse fato. — A questão é... — ela começou, apenas para se interromper quando ele ergueu a mão. — Não falaremos sobre a “questão” e nem sobre nada mais até que tenhamos comido um pouco. — Aquela era uma batalha que preferia travar de barriga cheia. — A comida deve estar chegando a qualquer instante, está bem? Como em resposta às suas palavras, a campainha tocou. Em menos de dois minutos a mesa repleta de uma variedade de fumegantes e fragrantes embalagens de alumínio, e um verdadeiro banquete estendia-se diante deles. Ao contrário do que Forde receava que pudesse acontecer, Melanie comeu como uma leoa faminta. Ao final da refeição muito pouca coisa sobrara nas embalagens, e, recostando-se na cadeira, Melanie suspirou saciada. — Estava delicioso. Não havia me dado conta de que estivesse tão faminta. Ele sorriu. — Está comendo por dois, meu bem. A expressão dela mudou. — Forde... — Ou talvez por três. Podem ser gêmeos. Temos gêmeos pelo lado do meu pai, lembra-se, quem sabe? Os olhos se arregalando com algo semelhante a alarme neles, Melanie disse, debilmente: — O ultrassom está marcado para o final da semana. Eu aviso se forem dois. — Seria ótimo ter gêmeos. O dobro da alegria. — E o dobro da comida, das fraldas... — Ela subitamente se interrompeu, como se houvesse sido lembrada de algo. — Forde, precisamos conversar. Agora. — Tudo bem. — Ele sorriu, como se o seu coração não houvesse se apertado ante a expressão do rosto dela. — Que tal seguirmos para a sala de estar com os nossos copos? Ela relaxara enquanto estavam comendo, chegando até a se permitir algumas risadas ante as histórias contadas por ele, contudo, agora, estava dura como um pedaço de pau ao segui-lo até a sala ao lado. Ela acomodou-se no sofá de tal modo que ele foi forçado a sentar-se no outro. — E então. — Forde estava cansado de rodeios. — O que quer dizer, Melanie? Ele a viu inspirar fundo, o que só serviu para deixá-lo ainda mais tenso. — N-Não posso ficar com este bebê quando ele nascer. Se... Se você quiser, acho que deve ficar com ele. Fosse o que fosse que Forde estivesse esperando ouvir, com certeza não fora isso. — O que você disse? — Seria melhor se ele fosse criado por um dos pais biológicos — Melanie prosseguiu, em tom monótono. — E você tem a sua mãe e uma variedade de parentes. Ele... ele teria raízes, sentiria pertencer a algum lugar, e você é rico o suficiente para contratar as melhores babás, sem falar em Janet... — Do que está falando? — Só a certeza de que aquilo não era o que ela realmente queria permitiu a Forde controlar o seu temperamento. — A melhor babá do mundo não é
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Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks substituta para a mãe de uma criança, uma mãe que, no seu caso, a amaria acima de tudo. Você nasceu para ser mãe, Nell. Sabe disso tão bem quanto eu. — Não. Não posso ficar com ele. — Por que não? Explique. Você me deve isso. Já pensou como o nosso filho ou filha vai se sentir quando descobrir que a mãe não quisera saber dele, ou dela, após o seu nascimento? Ela fechou os olhos por um instante. — Não é justo. — Uma ova que não é. Encare os fatos, mulher. — Estou encarando os fatos. A perda de controle foi tão súbita que ele se sobressaltou visivelmente quando Melanie ficou de pé. — Se eu ficar com ela, se for a mãe dessa criança, algo vai acontecer. Como aconteceu com Matthew. Ou com você. Algo vai acontecer para impedir que sejamos uma família, e será por minha causa. Será que ainda não entendeu isso? É porque a amo que tenho de ficar fora da vida dela. Ele ficou a fitá-la. Melanie estava postada com os punhos cerrados ao lado do corpo, este duro e retesado. Era evidente que ela acreditava em cada palavra do que dissera. Baixinho, ele falou: — E foi por isso que me abandonou, que desistiu do nosso casamento. — Não foi uma pergunta. — Porque já contou essa mentira para si mesma tantas vezes, que veio a acreditar nela. Forde começava a se dar conta do quanto falhara com Melanie. Deveria ter insistido para que ela procurasse aconselhamento após a morte de Matthew, forçá-la a confrontar os seus demônios, mas tivera tanto receio de lhe causar mais dor. Ou de perdê-la. Quanta ironia. — Não é mentira. — Ah, é sim — Ficando de pé, avançou até ela e a tomou nos braços. — A vida não vem em uma embalagem antisséptica e fechada a vácuo, Nell. Pessoas morrem em acidentes, de doenças, de velhice, e em abortos. Não é agradável, e não é justo, mas acontece. A morte de Matthew não foi culpa sua. Não sei por que ela aconteceu, e devo admitir que venho esbravejando e me queixando com Deus desde então por conta disso, mas sei que a culpa não foi sua. Você precisa enfiar isso na sua cabeça. — Não consigo. — Ela recuou, libertando-se dele. — E tenho de proteger este bebê, Forde. Se você ficar com ele, e eu sumir de suas vidas, tudo ficará bem. O rosto pálido e os olhos assombrados alertaram Forde de que ele a levara ao limite de sua resistência. Sua mente trabalhando febrilmente, ele manteve o tom de voz baixo e firme: — Não preciso nem dizer que eu vou ficar com o bebê, Nell. Mas acho que você lhe deve uma coisa. Quero que vá conversar sobre como se sente com alguém que seja totalmente imparcial, e que tenha experiência com o tipo de sofrimento que vem sentindo. Será que pode fazer isso? Pelo bebê? Por mim? Ela deu outro passo para trás. — Está falando de um médico? Acha que estou louca? — Nem em um milhão de anos. — Ele adiantou-se, tomando-lhe as mãos frias e impedindo que ela recuasse mais. — Mas tenho uma amiga que é treinada nesse tipo de coisa. Ela já se ofereceu há meses para conversar com você, a nível profissional. Só vocês duas e tudo dito será confidencial. Está bem? Gostará de Miriam, Nell. Eu prometo. — Não sei. — Nesse caso, confie em mim para saber, está bem? E o que você tem a perder? Amo você, Nell. Sempre amarei. Se não fizer isto por si mesma, faça por mim.
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Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks Notando a confusão no seu olhar, ele instintivamente levou a mão à sua face. Sua pele parecia seda pura e era quente como mel líquido. Aproximando-se, curvou a cabeça e a beijou, um beijo gentil, desprovido de quaisquer exigências, antes de puxá-la para si. Ficaram parados ali no silêncio da sala, sem nada falar. Ele a desejava tanto que chegava a doer, mas procurou não deixar isso transparecer, sabendo que, naquele instante, tudo o que ela queria era ser abraçada e consolada. Após um ou dois minutos, ele murmurou: — Ligarei para Miriam amanhã e pedirei para que ela a receba. É uma mulher ocupada, mas nos conhecemos há muito tempo, e tenho certeza de que dará um jeito de encaixá-la. Melanie ficou em silêncio por um instante, depois, sua voz veio abafada do peito dele. — Vocês se conhecem há muito tempo? O que quer dizer com isso? Ele notou o vestígio de ciúmes que ela estava tentando disfarçar e quase sorriu. — É mãe de um bom amigo, avó de seis, e é bem casada e feliz há quarenta anos. — Forde, isso não vai mudar nada. Sabe disso, não sabe? — Ela ergueu o olhar para ele. — Tem de encarar o inevitável. Eu encarei. — Tudo que estou pedindo é que vá vê-la — falou baixinho, antes de voltar a beijála. E, apesar de ter se convencido de que teria cuidado, o beijo foi se aprofundando, tornando-se algo além de consolo. Ela se agarrou a ele em uma resposta voraz que eliminou o que restava de seu autocontrole. Suas mãos deslizaram pelo corpo dela, tocando-a com carícias íntimas e sensuais. Depois, ergueu-a nos braços e murmurou de encontro aos seus lábios. — Quero você. Agora. Mas, se quiser que eu vá embora, eu irei. Sua resposta foi beijá-lo com um desejo inconfundível, e, com um rosnado baixinho, Forde carregou-a escadas acima, até o quarto. Ele a deitou na cama, e com uma pressa frenética, sem nada falar, eles tiraram as roupas e Forde deitou-se ao lado dela, ladeando-lhe o rosto com as mãos e beijando-a profunda e apaixonadamente. Ela sempre fora o tipo de amante que oferecia tanto quanto recebia, e sua boca e mãos agora o exploravam com voracidade semelhante a que ele a explorara, retorcendose e gemendo de prazer. Os seios pareciam mais fartos nas mãos dele, e, quando Forde tomou um dos mamilos rosados na boca, ela se arqueou com um grunhido. — Es-estão mais sensíveis agora — ela explicou, ofegantemente, e a boca de Forde retornou para a dela, a língua invadindo-a, antes de se retrair, e ele lhe mordiscar gentilmente o lábio inferior. — Você é tão linda, meu amor — ele murmurou, tremulamente. — Não acho que eu possa esperar mais. — Se é assim, não espere. Ela estava úmida e quente para ele quando Forde a penetrou. Melanie o envolveu com as pernas, erguendo os quadris, e os dois se movimentaram juntos, em perfeita sincronia, na direção do apogeu que fez os dois gritarem ao mergulhar no abismo do prazer. Ele a envolveu com os braços, uma das coxas deitadas sobre a dela, e Melanie abriu os olhos inebriados. — Não faz ideia da quantidade de duchas geladas que tomei no meio da noite recentemente — ele murmurou. Ela sorriu, mas Forde pôde notar que estava pensando novamente. — Forde, não deveríamos ter... — Sim, deveríamos. Eu queria você e você me queria. Simples assim. Não tente complicar as coisas. — Mas não... — Muda nada — completou por ela. — É, eu sei. Não se preocupe. Vá dormir. 42
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks Ele puxou a colcha para cobri-los. A expressão do rosto dela era de total confusão e remorso. — Não é justo para você — murmurou. — Nell, acredite quando digo que sou capaz de conviver com esse tipo de injustiça. Agora, vá dormir — ele repetiu, beijando-lhe a ponta do nariz, e depois a boca. — Está tudo bem. Em questão de instantes, ela estava adormecida, confortavelmente aconchegada a ele. Forde permaneceu ali deitado por um bom tempo, observando-a. Está tudo bem. Que coisa idiota para se dizer. Sua esposa acabara de lhe dizer que ia lhe entregar o bebê assim que este nascesse e depois desapareceria de suas vidas, e ele dissera que estava tudo bem. Só que não tinha a menor intenção de permitir que ela fizesse isso. De modo que, mesmo que não estivesse tudo bem, as coisas estavam mais claras para ele agora do que em um bom tempo. Deslizou os dedos de leve pela barriga dela. Podia ser a sua imaginação, mas achava que já era capaz de sentir uma leve protuberância. Seu filho já estava vivo ali dentro, e crescendo a cada dia que passava. Sentiu lágrimas ardendo nos fundos dos olhos. Havia sido uma estrada dura desde a morte de Matthew, e ainda estavam longe de chegar ao seu fim, contudo, contra todas as chances, um milagre acontecera e Melanie engravidara. Aquela única noite de amor gerara um bebê, e ele faria o que tivesse de ser feito para que fossem uma família. Se tivesse de sequestrar Melanie e o bebê e arrastá-los até algum lugar remoto no meio do nada até que ela aceitasse isso, é o que faria. Ela agitou-se no seu sono, murmurando o nome dele antes de serenar-se novamente. Foi uma coisa insignificante, contudo, animou-o, ela era sua. Fim de papo, pensou com determinação, antes de adormecer.
Capítulo 9
Melanie foi a primeira a acordar na manhã seguinte, notando que se sentia maravilhosamente quente, aconchegada e sonolenta. Em seguida, seus olhos abriram-se bruscamente. Forde. Ele estava colado às suas costas, um dos braços másculos descansando possessivamente sobre a sua barriga. Com muito cuidado, ela afastou o braço, antes de virar-se para ele. Forde dormia profundamente, a colcha na altura da cintura deixando à mostra os ombros musculosos e os pelos negros que lhe recobriam o peitoral. Ela ficou a admirá-lo por alguns instantes, antes de deslizar para fora da cama. Não pretendia fugir, como fizera da última vez, mas também não queria fingir que eram um casal como qualquer outro, acordando juntos. Reunindo as roupas nos braços, ela seguiu para o banheiro, trancando a porta atrás de si. Quando voltou a sair, completamente vestida e penteada, Forde estava sentado na cama, com as mãos atrás da cabeça, e o coração dela disparou. — Olá, meu bem — ele falou, preguiçosamente. — Terminou com o banheiro? Ela assentiu, distraidamente, descobrindo que não era capaz de desviar os olhos, quando ele afastou a colcha e ficou de pé. Melanie já o vira nu inúmeras vezes, mas duvidava que algum dia fosse se cansar de olhar para ele. A masculinidade flagrante era
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Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks inebriante e ele se movia com a graça e a beleza de um grande felino, os músculos esbeltos e trabalhados, e sem um grama de gordura no corpo rijo. Forde já estava se aproximando, quando Melanie se recompôs, mas quando fez menção de seguir para as escadas, ele a virou ao segurá-la pelo braço. O beijo foi doce e firme, mas ele não o prolongou, embora ao virar-se e caminhar para o banheiro, Melanie notou que certa parte de sua anatomia estava traindo o seu desejo por ela. Sentindo as faces arderem, ela tratou de descer as escadas. Chegando à cozinha, forçou-se a comer algumas bolachas salgadas para ajudar com a náusea que parecia acompanhá-la durante todo o dia. Antes de engravidar de Matthew, sempre achara que enjoo matinal fosse acordar, vomitar, e seguir o dia como se nada houvesse acontecido. Não era o caso. Melanie ligou a cafeteira e ficou postada com a mão na barriga, a admiração ante o pequeno ser crescia no seu íntimo, mostrando-se maior do que todas as suas preocupações e todos os seus medos. — Você saberá do seu irmãozinho, pequenino, assim que tiver idade para entender — sussurrou. — Foi o nosso primeiro filho, e foi muito amado, o que não significa que você também não será amado, por ser quem você é. Contudo, será que o bebê entenderia que ela o deixara para o seu próprio bem? Seria qualquer criança capaz de entender isso? Talvez a odiasse por isso, mas que importância teria, contanto que estivesse em segurança e levando uma boa vida? Estava fazendo a coisa certa. Não podia duvidar de si mesma. E não poderia mais haver noites como a passada. Esta separação tinha de ser para valer. O que significava que não podia mais voltar a ver Forde, pois quando ele estava ali, diante dela, toda a sua determinação ia por água abaixo. No tocante a ele, não era forte o suficiente. — O que foi? — Forde falou, repentinamente, de trás dela. Melanie virou-se para ele, as mãos afastando-se da barriga. — Nada. — Estava parada de um jeito que, por um instante, achei que estivesse com dor — ele disse, seus olhos examinando o rosto dela, como se não tivesse certeza de que ela estivesse falando a verdade. — Estou bem. — Melanie inspirou fundo. — Estava pensando em Matthew, mais nada. N-não quero que ele seja esquecido. Quero que o bebê saiba que ele tinha um irmão. — É claro. Isso é certo, Nell. — Forde, se eu concordar em ver Miriam, em conversar com ela, quero... — Ela inspirou fundo. — Quero que prometa que não voltará aqui novamente. O acordo é esse. Estou falando sério. Ela o viu dar um passo para trás, como se houvesse sido esbofeteado no rosto. — Não podemos continuar... — Ela sacudiu a cabeça. Não havia modo gentil de dizer aquilo. — Não quero você aqui. Serve apenas para complicar tudo, e para tornar a separação final ainda mais dura. Eu me viro sozinha. — E se eu não conseguir me virar sozinho? — ele retrucou com uma expressão séria. — Ou será que se trata apenas de você, em detrimento de todo o restante? Agora, Melanie se sentia como se fosse ela a ter sido esbofeteada. — Está carregando o meu filho — ele falou, com deliberado autocontrole. — Decerto, isso me dá alguns direitos. Não pode me excluir como se eu não existisse. — Não estou tentando excluí-lo, não da vida do bebê. — Ah, entendo. — Ele ergueu as sobrancelhas escuras. — Quer dizer que eu devo prometer ficar longe de você pelos próximos nove meses... — Seis. Já estou no terceiro mês de gravidez.
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Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks — Seis meses — ele prosseguiu, como se ela não o tivesse interrompido —, e depois? Recebo um telefonema avisando que o bebê nasceu e que posso vir buscá-lo? É isso que você tem planejado? Ela olhou para ele. Forde tinha o direito de estar zangado, a questão é que, agora, ela também estava zangada. — Eu não tinha de lhe contar que estava grávida. — Pelo que eu me lembro, foi o fato de eu dar as caras no consultório do seu médico que a forçou a revelar tudo. Não é? Não tenho como ter certeza se, tendo tido tempo, você teria me contado. Provavelmente porque ele tocara numa questão sobre a qual ela mesma tinha suas dúvidas, Melanie ficou furiosa. — Não vou mais falar sobre isso, mas gostaria que se lembrasse de que está na minha casa, e que tenho todo o direito de decidir quem entra ou não nela. Ela o fitava com chamas nos olhos e as mãos nos quadris. — Se você não estivesse grávida, eu a sacudiria até um pouco de bom senso entrar nessa sua cabeça dura — Forde falou, por entre os dentes cerrados. Melanie sabia que ele havia falado da boca para fora. Forde jamais encostaria um dedo em uma mulher movido pela raiva. Ainda assim, ela ergueu o queixo. — Você poderia até tentar — retrucou. — Só não se esqueça do que faço para viver. Sou mais forte do que pareço. — Na verdade, jamais tive dúvidas no tocante a sua força — falou, sem rodeios. — Na verdade, é a sua melhor e pior qualidade. Ajudou-a a superar os primeiros vinte e cinco anos de sua vida, até que me conheceu, só que, agora, está correndo o risco de arruinar o restante da sua vida. Você precisa me deixar ajudar, Nell. Não precisa lutar sozinha. Será que não se dá conta de que é disso que se trata o casamento? Estou ao seu lado para o melhor e para o pior, na pobreza e na riqueza, na doença e na saúde. Amo você. Você. O tipo de amor que durará para sempre. Enfie logo na sua cabeça que não vou desistir de você, independentemente do que diga ou faça. — E enfie logo na sua cabeça que não posso ser o que você quer que eu seja. Não sou boa para você, Forde. Não sou boa para ninguém. — Você é a melhor coisa que já me aconteceu — ele falou, do fundo do coração. — Pode tentar se convencer do contrário se quiser, mas agora sabe o que eu sinto. Ela o fitou boquiaberta. — Não posso fazer isso — disse, o tom monótono dando mais ênfase do que uma demonstração de emoção. — Quero que vá embora, Forde. Agora, Estou falando sério. Ela estava mesmo. Mas Forde tinha uma última coisa a dizer: — Mesmo antes do acidente, você estava esperando que a bolha fosse estourar, Nell. Foi uma profecia que você mesma tornou realidade, e é a única que pode mudar isso. Acho que não posso dizer nem fazer nada além de torcer para que tenha a coragem de ir a fundo, e enfrentar o que for preciso, pelo nosso bem e do nosso filho. Ela ergueu o queixo e disse: — Terminou? Ela lhe deu um último olhar, antes de seguir para a sala de jantar, onde o paletó ainda estava pendurado no encosto de uma das cadeiras. Após vesti-lo, deixou a casa sem dizer mais uma palavra que fosse. Melanie escutou a porta da frente bater atrás dele e não se mexeu por um minuto inteiro, simplesmente porque não era capaz. Sentia-se nauseada e terrivelmente infeliz. Mas procurou se convencer de que fizera o necessário. Após alguns instantes, foi se servir de uma xícara de café, pois jamais precisara tanto de uma. Voltou para a sala de estar e afundou em um dos sofás. Permaneceu sentada ali por algum tempo. Começara a chover lá fora, e ela estremeceu. O clima enfim estava mudando. O inverno estava chegando. 45
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Na noite seguinte, o telefone tocou, quando ela estava acabando de jantar, uma omelete de queijo com um copo de leite e uma maçã de sobremesa. Seu coração bateu forte ao atender, mas não era Forde. Em vez disso, uma voz feminina disse: — Será que eu poderia falar com a sra. Masterson, por favor? — É ela. Devia ser a mulher que Forde mencionara. — Aqui é Miriam Cotton. Forde me pediu para ligar para você. — Ah, sim. — Subitamente, Melanie sentiu-se ridiculamente nervosa. Não queria ir ver uma desconhecida e falar sobre os seus sentimentos mais íntimos, mas fizera um acordo com Forde, que ele a deixaria em paz se ela o fizesse. — Eu-eu tenho de marcar uma consulta, sra. Cotton. Estou certa de que está muito ocupada, de modo que entendo se tiver de demorar um pouco. Quando desligou o telefone, dois minutos depois, sua cabeça estava girando. Iria ver Miriam Cotton no dia seguinte, logo após o trabalho. Ainda ficou processando a informação durante uma boa hora, olhando para o endereço e o telefone que Miriam lhe dera, imaginando se não deveria ligar de volta para desmarcar a consulta. Estava apavorada. Forde dissera que teria de encontrar a coragem para ir fundo. Por que haveria de se forçar a passar por isso? E se não adiantasse de nada? E se apenas a fizesse sentirse pior? Sentiu o pânico apossando-se dela, e, em seguida, lembrou-se de mais uma coisa que Forde dissera, algo que ela tentara tirar da sua cabeça, mas que apenas fora relegado ao subconsciente. Ele dissera que Melanie estivera o tempo todo esperando que a bolha do casamento deles estourasse, que ela acabara transformando tal profecia em realidade, e que era a única que poderia mudar isso. Ficara tão furiosa que teria estrangulado-o de bom grado, e na ocasião procurara se convencer de que fora porque não era verdade e porque ele estava sendo tremendamente injusto. Ela fechou os olhos. Só que não era isso. Abrindo os olhos, ficou de pé e suspirou. Não podia mais ficar pensando nisto. Iria para a cama e amanhã de manhã decidiria o que fazer. Mas sabia que a sua decisão já havia sido tomada. Devido à outra coisa que Forde dissera. Tinha de fazer isto pelo bebê. Tinha de tentar. Talvez acabasse sendo muita dor e angústia a troco de nada, e ao revirar o passado, poderia acabar abrindo uma caixa que teria sido melhor deixar fechada. Contudo, se não tentasse, jamais saberia, não é? Estava tão cansada que sequer escovou os dentes antes de ir para a cama, mas no segundo antes de adormecer, admitiu para si mesma que não era só por causa do bebê que estava indo ver Miriam amanhã. Também era por causa de Forde. Miriam Cotton era completamente diferente do que Melanie esperara. Para começo de conversa, seu consultório era parte de sua residência. E a própria Miriam provou ser uma surpresa, com os espessos cabelos grisalhos curtos e espetados, e o corpo esbelto usando jeans e uma folgada blusa de algodão azul. Ela tinha um sorriso largo, grandes olhos azuis e rugas onde se esperaria encontrar rugas em alguém da idade dela. Melanie gostou imediatamente dela. Ao sentar-se em uma confortável poltrona ao lado da lareira artificial, em vez de no divã que passara o dia todo receando, Melanie começou a relaxar um pouco. Havia algo na mãe do amigo de Forde que lhe inspirava confiança. Miriam sorriu para ela da outra poltrona. 46
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks — Antes de prosseguirmos, quero deixar algo bem claro. Tudo sobre o que conversarmos, tudo que me contar será estritamente entre nós duas. Forde é um amigo querido, mas ele não saberá de nada que for discutido neste consultório, a não ser que você mesma queira contar para ele. Tem a minha palavra no tocante a isso. — Obrigada. Melanie assentiu, e relaxou um pouco mais. Não tinha segredos de Forde, mas era tranquilizante saber que tinha um mínimo de controle. Sentiu-se segura. — Forde me disse que está esperando outro bebê — Miriam falou, baixinho. Melanie voltou a assentir. — Para a primavera. — Ela hesitou. — Suponho que seja um dos motivos... Não, o motivo de eu estar aqui. Acho que ter outro bebê trouxe tudo à tona. — Tudo? Melanie hesitou, olhando para as fotos sobre a lareira, onde notara uma de uma garotinha em uma cadeira de rodas. A mulher sabia o que era sofrimento, pensou, mordendo o lábio inferior. Ela saberia disso mesmo sem a fotografia. Estava nos olhos de Miriam. — Q-que tal começarmos do início? — perguntou. — Da minha infância? — Seria ótimo. E não precisa se apressar. Pode vir me ver quantas vezes quiser, até que se sinta preparada para parar. Forde tem sido um amigo maravilhoso para o meu filho, e você agora é uma prioridade, está bem? Melanie deixou a casa às sete da noite, sentindo-se como um trapo velho. Chorara e se lamuriara durante as últimas duas horas, de uma maneira que a horrorizava, agora que parara para pensar. Subiu na caminhonete, e inspirou fundo algumas vezes antes de dar partida no motor. Ainda não estava convencida de que era uma boa ideia. Após toda a emoção das últimas horas, sentia-se ainda pior. Tinha de reconhecer que Miriam parecera adivinhar como ela estava se sentindo, e lhe garantira que, inicialmente, era a mesma coisa para todo mundo. De acordo com Miriam, ela tinha de insistir para emergir do outro lado do túnel escuro. Mas e se ela ficasse presa no túnel? Arrancou com o carro e seguiu para a estrada. Empertigou as costas e ergueu o queixo. Prometera para Forde cumprir a sua parte no combinado. Voltaria amanhã e em todos os dias seguintes, até que estivesse tudo acabado. Sabendo que estava exausta, Melanie dirigiu devagar e com extrema cautela. Ao chegar ao chalé, preparou uma refeição rápida antes de desabar na cama. Aquela noite serviu de modelo para as próximas semanas, mas na manhã após a sua primeira visita a Miriam, ela foi até o hospital local para o seu primeiro ultrassom. Foi um dia agridoce. Lembrou-se de como ela e Forde haviam vindo juntos para o primeiro ultrassom de Matthew, empolgados com a expectativa de ver o bebê no monitor, e ligeiramente apreensivos ante a possibilidade de tudo não estar como deveria estar. Desta vez, ficou sentada sozinha na sala de espera, que era menor do que aquela no hospital em Londres. Sua própria escolha, tratou de se lembrar, ao observar um casal saindo abraçado da sala de ultrassom, com largos sorrisos estampados nos seus rostos. Deixou o hospital com dois retratos da criança crescendo no seu útero, e com lágrimas de alívio e agradecimento escorrendo pela face. Assim que estava sentada no interior da caminhonete no estacionamento, precisou de alguns minutos para se recompor, antes de usar o celular para ligar para Forde. Ele atendeu de cara. — Nell? Alguma coisa errada? — Nada de errado. Estive no hospital para o primeiro ultrassom, e está tudo bem com o bebê. Queria apenas que você soubesse. Tenho um retrato para você. Vou deixar com Isabelle. 47
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks Um instante se passou antes que ele falasse, e sua voz estava áspera. — Graças a Deus. Ainda não dá para saber se é menino ou menina, não é? — Não. Só após a vigésima semana. Você quer saber? Não haviam querido descobrir com Matthew. — Eu não sei. Você quer? — Não tenho certeza. Eu ligo para você quando estiver chegando a próxima consulta, e poderemos discutir então. Tenho de ir trabalhar agora. Adeus, Forde. Sua voz estava rouca ao dizer: — Adeus, Nell. Ela precisou de mais dez minutos para enxugar os olhos e se recompor novamente, antes de conseguir dar a partida na caminhonete e deixar os arredores do hospital, contudo, quando chegou à casa de Isabelle, já estava no controle de si mesma. Isabelle insistiu em lhe dar uma bebida quente antes que ela fosse se juntar a James no jardim, e a sogra ficou fascinada com o retrato do seu futuro neto, ou neta. — Importa-se se eu fizer uma cópia para mim mesma antes de entregá-la para Forde, hoje à noite? — Isabelle perguntou, ao terminar o chocolate quente na mesa da cozinha. — Ele deve vir para o jantar. Não creio que você também vá querer ficar. Melanie sacudiu a cabeça. — Vou ver Miriam novamente. — Seria ser muito intrometida se eu perguntasse como foi? Melanie deu de ombros. — Claro que não. Mas não tenho uma resposta concreta para lhe dar, porque eu mesma não sei. Suponho que tenha sido... traumático. — Mas ajudou? Melanie voltou a dar de ombros. — Não sei, Isabelle. Suponho que o tempo dirá. — Ela bebeu o restinho do chocolate e ficou de pé. — É melhor eu ir ajudar James com o plantio. Lá fora, ergueu o rosto para o céu acinzentado. Se ajudou? Como algo tão doloroso poderia ser de ajuda? Não. Novembro transformou-se em dezembro em meio à neve e ao frio, mas ela e James conseguiram completar o trabalho na casa de Isabelle antes do final da primeira semana de dezembro. E Forde manteve a sua palavra. Ele não apareceu mais no chalé nem ligou para ela. Na realidade, poderia ter desaparecido da face da Terra que ela não teria sabido, Melanie pensou irritadamente, mais de uma vez, antes de censurar-se por sua inconsistência. O orgulho a impedira de mencioná-lo para Isabelle, enquanto ainda estava trabalhando na casa da sogra. Parecia o cúmulo da hipocrisia fazê-lo após tê-lo abandonado e ainda se recusar a voltar para ele. O que ela poderia dizer? Que ele estava bem? Que estava feliz? E, depois daquele dia em que a convidara para ficar para o jantar, após o ultrassom, Isabelle falara de tudo, exceto do filho. O que não era típico da mãe de Forde, e levava Melanie a desconfiar que a sogra estivesse obedecendo às ordens deste. Podia estar enganada, é claro, talvez estivesse sendo paranoica, contudo, independentemente do que fosse, não podia se queixar. Mas sentia saudades dele. Muita saudade. Já fora ruim quando o abandonara, porém, na ocasião, aceitara o fato de que o casamento deles havia acabado. Distraíra-se com o trabalho de construir o seu próprio negócio e de encontrar e montar uma nova casa, e, embora isso de modo algum houvesse compensado a ausência dele, pelo menos mantivera os seus pensamentos ocupados por algum tempo. Mas, agora... 48
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks Desde que ele achara um jeito de se forçar a ser parte da vida dela novamente, naquela noite em agosto, Forde reabrira uma porta que ela não conseguira fechar novamente. Ele invadira-lhe os pensamentos, sem falar no corpo, pensou, maliciosamente, sua mão descendo até o volume da barriga. E, contra a sua vontade, à medida que as sessões com Miriam iam progredindo, mais vontade sentia de vê-lo. Vinha se encontrando em um lugar estranho emocionalmente, à medida que seus medos e anseios mais profundos resultantes de sua infância e conturbada adolescência eram desenterrados. Teve de aceitar a verdade de que enterrara o fato de sempre ter se sentido indigna e rejeitada sob a fachada de capaz e controlada que exibia para o mundo. E, com o passar do tempo, algo começara a acontecer com a massa sólida de dor, medo e tristeza alojada em seu coração. Esta começara lentamente a se desintegrar, e, embora o processo não fosse sem a sua própria angústia e tristeza, era purificador. Gradativamente, muito gradativamente, estava começando a aceitar que a sua confusão e desespero quando era criança influenciaram a sua visão de si mesma. Não fora responsável pela morte dos pais, nem pela da avó, e nem pelo trágico acidente que matou a melhor amiga. Nada disso fora culpa sua. O aborto estava sendo mais difícil deaceitar, seu sofrimento ainda assustadoramente à flor da pele. Ajudara mais do que ela jamais seria capaz de expressar que Miriam tivesse colocado de lado a sua posição profissional e chorado com ela naquelas sessões, revelando para Melanie que ela mesma perdera um bebê aos seis meses de gravidez, e que, durante muito tempo, se culpara por isso. — É o que nós mulheres fazemos — Miriam dissera ao enxugar os olhos após uma sessão particularmente difícil. — Aceitamos a culpa, nos punimos e tentamos encontrar sentido em uma tragédia inexplicável. Mas a culpa não foi sua. Teria dado a sua vida por Matthew, assim como eu teria dado a vida pelo meu bebê. — Forde disse isso uma vez, que eu teria dado a minha vida por Matthew se eu pudesse — Melanie comentara, pensativamente. — Ele tem razão. Ele a ama muito. Muitas mulheres passam a vida inteira sem serem amadas como Forde a ama. Pode confiar nele. Sabe disso, não sabe? Mas será que podia confiar em si mesma? Ela queria confiar. Mas do que tudo, queria deixar o passado para trás e acreditar que era capaz de ser uma boa mãe e esposa, e um ser humano racional e otimista, mas como saberia se tinha a convicção para fazer isso, ou se acabaria se entregando aos velhos receios e ansiedades? Melanie estava pensando na conversa com Miriam no dia anterior à véspera do Natal. Estava encolhida em um dos sofás da sala de estar, que ela puxara para perto da lareira para distraidamente assistir a antigos filmes natalinos na TV. Havia encerrado todos os trabalhos até depois do Ano Novo. Tendo completado o serviço que pegaram após o jardim de Isabelle, James seguira para a Escócia, para passar o Natal com os pais e os parentes. Ele a convidara para acompanhá-lo, afirmando que a casa dos pais estava sempre cheia durante as festividades de final de ano, e que mais um não faria a menor diferença, mas ela recusara a oferta. Alguns amigos a haviam convidado para o almoço de Natal e tanto Isabelle quanto Miriam haviam se manifestado nesse sentido, mas Melanie polidamente recusara todos os convites. Havia proibido a única pessoa com quem queria passar o Natal de chegar perto dela, e, embora parte de si quisesse ligar para Forde apenas para escutar a sua voz, outra parte, mais forte, não parecia pronta para isso. Descansou a mão sobre o volume da barriga, sentindo em resposta uma vibração que a fez sorrir. Isso havia se repetido várias vezes durante a última semana, e sempre a deixava animada. Seu bebê, crescendo, movendo-se no seu íntimo, uma pessoazinha que teria a sua própria personalidade, seus próprios pensamentos. Sentira este bebê mover-se muito mais cedo do que Matthew, mas as amigas com filhos haviam dito que 49
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks sempre era assim com o segundo. E, com cada experiência de sentir o bebê movendo os bracinhos e as perninhas, ela se perguntava se realmente seria capaz de entregar o bebê para Forde e ir embora. Isso acabaria com ela, pensou, fechando os olhos. Mas não seria o melhor para o seu bebê? Não tinha mais certeza. Tivera certeza antes de começar a ver Miriam, contudo, agora, quanto mais entendia a si mesma, e o que a levava a pensar como pensava, mais ousava ter esperanças. Esperanças de que talvez, apenas talvez, a depressão que se apossara dela após o aborto, alimentada por suas inseguranças, a havia levado a pensar dessa forma. — Você não é diferente de ninguém, Melanie — Miriam dissera após a sua última sessão, quando estavam se despedindo. — Algumas pessoas passam pela vida sem encontrar problemas, outras parecem ter uma grande carga a levar desde o primeiro dia, contudo, por mais injusto que possa parecer, depende apenas do acaso. Não posso dizer que o restante da sua vida vá ser um mar de rosas, ninguém pode, mas posso afirmar que tem uma escolha a fazer agora. Pode olhar apenas para o lado negativo, e convencer-se de que é tudo tristeza e sofrimento, ou pode agarrar a vida pelo pescoço e assumir o controle dela. Entende o que estou dizendo? — Como Cassie e Sarah? Sarah era a menininha na cadeira de rodas na fotografia. Era linda, com cabelos castanhos encaracolados e vibrantes olhos verdes, contudo, nascera com problemas na coluna e outras complicações médicas. Cassie, a mãe, era totalmente dedicada a ela, e, no verão, Cassie fora diagnosticada com esclerose múltipla. Mas, de acordo com Miriam, a filha estava determinada a lutar contra a doença. Sarah, jovem como era, tinha o mesmo espírito, a orgulhosa avó afirmara, e era uma alegria estar com ela. Miriam admitira para Melanie que ela chorara muito pelas duas, mas jamais sonharia em permitir que a neta e nem a filha soubessem, pois nenhuma das duas era muito chegada a essa história de autopiedade. — Minha Cassie deve ter tido seus momentos de depressão por conta de Sarah, e agora essa esclerose múltipla deu as caras, contudo, tirando os dias no início, logo após o nascimento de Sarah, jamais vi Cassie ser algo que não positiva. — Miriam fitou-a nos olhos. — Você pode ser desse jeito, Melanie, eu sei disso. Uma tora de madeira em brasa partiu-se na lareira, espalhando fagulhas por tudo quanto era lado, e despertando Melanie de seus pensamentos. Ela olhou para a pequena pilha de lenha e para o balde de carvão ao lado do fogo. Precisava sair para encher o balde e trazer mais lenha para dentro antes que escurecesse, pensou, relutantemente ficando de pé. Ao abrir a porta da frente, foi recebida por um jato de ar gelado, e viu que o céu estava baixo e acinzentado, apesar de pouco passar das três da tarde. Encheu o balde até este estar com um peso que se sentisse à vontade para carregar, agora que estava grávida, e o levou para dentro, antes de voltar para buscar um pouco de lenha. Fez duas viagens, e foi só na segunda que notou algo se movendo atrás da pilha de madeira próxima à cerca. Apavorada que pudesse ser um rato, pois um ou dois vizinhos já haviam mencionado ter visto um, Melanie correu para dentro de casa, seu coração batendo como um tambor. Contudo, assim que fechou a porta, soube que tinha de voltar para ver o que era. E se algum pássaro houvesse ficado aprisionado, ou algum outro bicho estivesse machucado? Situados como os chalés eram no meio da pequena aldeia no interior, poderia ser qualquer coisa. Arrependendo-se de ter ido buscar lenha e carvão, em vez de continuar sentada assistindo TV diante da lareira, ela vestiu um casaco, antes de abrir novamente a porta. Em questão de minutos, a temperatura parecia ter caído mais alguns graus. Sem dúvida, crianças felizes ao redor de todo o país iriam ver realizados os seus desejos de um Natal com neve, pensou, avançando cuidadosamente até o local onde vira o movimento. 50
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks Agachou-se, com os músculos preparados para saltar para longe, caso um roedor de olhos esbugalhados pulasse em cima dela. Contudo, não foi um rato que olhou de volta para ela. Espremido no menor espaço possível, um gatinho tremia encolhido em seu abrigo improvisado, os olhos amarelados arregalados e o pelo todo arrepiado. — Ora, olá — Melanie sussurrou, suavemente, estendendo a mão, apenas para o gatinho se encolher o máximo que podia. — Ei, não precisa ter medo. Não vou machucálo. Venha, bichano. Após vários minutos murmurando palavras tranquilizadoras, que a deixaram tremendo tanto de frio quanto o gato, Melanie se deu conta de que não estava chegando a lugar algum. Também podia ver que o gato era pele e ossos debaixo de todos aqueles pelos, mas com a barriga volumosa, o que significava que era fêmea e estava grávida ou tinha algum tipo de tumor. Rezando para ser a primeira opção, pois já estava tomada de pena pela pobre criaturinha, ela ficou de pé e foi buscar um pedaço do frango assado na cozinha, na esperança de que a tentação da comida pudesse funcionar onde gentis encorajamentos haviam falhado. O animal estava claramente faminto, mas não faminto o suficiente para deixar o seu santuário, independentemente do frango assado. — Não posso deixá-la aqui fora. Por favor, por favor, saia — Melanie implorou, chegando quase a chorar. Estava ficando escuro a cada minuto que passava e o vento estava cortando-a como uma faca, mas a ideia de abandonar a gata para o seu destino não era uma opção. E, se ela tentasse mover a pilha de lenha atrás da qual o bichinho estava abrigado, esta poderia desabar e esmagar o pobre coitado. Tentou estender a mão, mas o seu braço não era comprido o suficiente para alcançar a gatinha. — Nell, o que diabos está fazendo aqui fora, e com quem você está falando? — perguntou a voz de Forde, vinda de trás dela. Ela virou-se, e ali estava ele. Não sabia se fora devido a estar quase congelada, ou por ter se movido rápido demais, ou até se por conta do alívio que se apossou dela ao perceber que ele estava ali para ajudá-la, mas quando se deu conta, tudo estava girando, e, de sua posição agachada, caiu de bumbum no chão, esforçando-se o máximo que podia para não desmaiar, quando a escuridão passou do céu para a sua cabeça, sobrepujando tudo mais.
Capítulo 10 No final das contas, Melanie não perdeu a consciência. Estava ciente de Forde ajoelhando-se ao seu lado e tomando-a nos braços, enquanto lhe dizia para inspirar fundo e permanecer quieta, não que ele teria sido capaz de fazer qualquer outra coisa. Também não tinha como não notar o seu maravilhoso perfume e a sensação dos seus braços fortes e musculosos ao seu redor, tão tranquilizadores. Só encontrou a própria voz quando ele tentou erguê-la nos braços, dizendo: — Vou levá-la para dentro. — Não. Não, você não pode. Tem uma gatinha, Forde. Está em apuros — murmurou, debilmente.
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Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks — Um gato? — O tom de incredulidade na sua voz teria sido cômico sob outras circunstâncias. — Do que você está falando? Está quase congelando, mulher. Vou levá-la para dentro. — Não. — Sua voz estava mais forte agora, e ela o empurrou para longe quando ele tentou tomá-la nos braços. — Tem uma gata, ali, atrás da pilha de lenha, e está doente, ou grávida, ou ambos. Olhe, vá ver por si mesmo. — Permitiu que ele a ajudasse a ficar de pé, mas recusou-se a arredar o pé, repetindo: — Olhe ali. Eu não consigo alcançá-la e está apavorada, Forde. Não podemos abandoná-la aqui fora, com esse mau tempo... — Tudo bem, tudo bem. — Devidamente irritado, contudo, um pouco menos receoso, agora que ela estava de pé, e, aparentemente, bem, Forde tentou enxergar no meio das sombras para as quais ela apontava. A princípio, achou que ela estivesse imaginado coisas, contudo, logo avistou o bichinho encolhido atrás da pilha de madeira. — É, estou vendo. Tem certeza de que não vai simplesmente sair dali de trás e voltar para casa assim que tivermos ido embora? Sua voz continha toda a paciência deliberada da qual as mulheres faziam uso quando o macho da espécie dizia algo absurdamente estúpido. — Certeza absoluta, Forde. E não acho que ela tenha uma casa para onde voltar. O que quer que tenha acontecido com ela, não é bom. A bichinha tem o maior medo de humanos, será que não vê? E está morrendo de fome. Forde estreitou os olhos, tentando enxergar em meio à escuridão cada vez mais intensa. — Pois me parece bem gordinha — falou, por fim. — É apenas barriga. O resto é só pele e ossos, pelo amor de Deus. Temos de fazer alguma coisa. — Certo. De certo modo, sentia-se grato pelo gato. Viera até ali naquela noite, porque soubera que o tempo ia virar, ficando muito pior, e era a desculpa que vinha procurando há semanas para vir vê-la. Enquanto ela estivesse indo ver Miriam, como prometido, ele não quisera fazer nada que pudesse colocar isso em risco, e as exigências dela haviam sido bem explícitas... nada de contato. Contudo, como tentara justificar para si mesmo ao vir dirigindo de Londres, ela não poderia se opor a uma visita da parte dele só para ver se ela estava bem estocada em se tratando de mantimentos, e preparada para a nevasca que fora anunciada por alguns dias. Por via das dúvidas, ele comprara metade da delicatéssen perto da sua casa, assim como alguns outros luxos cuja culpa poderia colocar nas festividades do momento. Estivera torcendo para que ela se comovesse o suficiente para convidá-lo para tomar alguma coisa, mas não esperara ser recebido de braços abertos como estava sendo, mesmo que isso fosse graças a um gato de rua. Contudo, cavalo dado não se olhava os dentes. — O que você vai fazer? — ela perguntou. — Temos de ajudá-la. Ele olhou para ela. A expectativa estava estampada nos olhos dela. Sentindo que não era todo dia que oportunidades como aquela apareciam, ele apontou na direção do chalé. — Vá abrir a porta e prepare-se para fechá-la assim que eu conseguir colocar o bicho para dentro de casa. — Mas você não vai alcançá-lo. — Eu o alcançarei. Se Deus quisesse, ele o alcançaria. Assim que Melanie se posicionou junto à porta do chalé, ele esticou a mão para dentro do buraco entre a cerca e a pilha de madeira. Escutou a gata miar antes de sentir-lhe as garras, mas, de algum modo, conseguiu segurá-la firmemente pelo cangote, antes de erguê-la. Na mesma hora se deu conta de
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Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks que Melanie tinha razão, tirando a barriga inchada, que ele supunha estar cheia de gatinhos, a pobre coitada estava definhando. Forde crescera em uma casa cheia de gatos e alguns cães, e agora segurava o bichinho de encontro à lã grossa do casaco, falando tranquilizadoramente e tentando não praguejar quando a gata voltou a usar as suas garras. Pelo menos não tentara mordê-lo, o que, nas atuais circunstâncias, já era alguma coisa. Ainda mais apavorada como ela estava. Melanie ficou sem saber o que fazer quando entraram na casa e ela fechou a porta. Forde ainda segurava a gatinha, que parecia ter se aquietado. — Nell, aqueça um pouco de leite em um pires, e também precisaremos de um pouco de comida. — Ele sentou-se em um dos bancos da copa, firme, porém gentilmente, segurando a gatinha. — Será que você tem uma caixa de papelão que possamos usar de cama para ela? Ela sacudiu a cabeça ao despejar um pouco de leite no pires e começou a fatiar um pouco de frango. — Se quiser, posso pegar um cobertor. Tenho vários no armário. — Qualquer coisa. A gata havia se acalmado, mas ainda estava tremendo. Ele afrouxou a mão o suficiente para começar a acariciá-la, e, para a sua surpresa, ela não se contorceu, nem fez menção de fugir, mas deitou-se no seu colo, como se estivesse exausta. O que provavelmente era o caso, ele pensou, tomado de pena. Há quanto tempo ela estava por conta própria ele não fazia ideia, mas, ao que tudo indicava, não estava se virando lá muito bem. Ele imaginava que ela devia ter sido um bichinho de estimação que engravidara e, como o Natal e todas as suas despesas chegando, tornara-se um peso para os “adoráveis” proprietários. Melanie trouxe o pires de leite e o estendeu diante da gata, deitada no colo de Forde. Em questão de segundos, ela tomou tudo. Com a voz carregada de emoção, Melanie disse: — Pobrezinha, Forde. Como alguém pôde abandonar um bichinho tão bonitinho? Aparentemente, ela chegara à mesma conclusão que ele. — Não faço ideia, mas adoraria ter cinco minutos a sós com quem fez isso. Experimente o frango agora. Ainda não quero largá-la, caso ela tente fugir e tenhamos de assustá-la tentando recapturá-la. O frango acabou tão rapidamente quanto o leite. Abrindo o casaco, Forde acomodou a gata de encontro ao suéter de lã e fechou as mangas do casaco ao seu redor, fazendo uma espécie de casulo. — Ela precisa ser aquecida — disse para Melanie. — E, segurá-la deste jeito enfatiza que não queremos lhe fazer mal. No momento, isso é o mais importante. — Devo ir buscar mais leite e frango? — ela perguntou, hesitantemente estendendo a mão para acariciar a cabeçinha listrada do animal. A gata retesou-se, por um instante, depois, voltou a relaxar, claramente exausta. — Não, não queremos lhe dar muito de uma vez só. Se estiver há muito tempo sem comida, ela poderia ficar doente. Aguarde uma ou duas horas, depois tentaremos de novo. Ela assentiu, abaixando a mão. Depois, fitou-o direto nos olhos e, com toda a sinceridade, disse: — Nunca fiquei tão feliz de ver alguém em toda a minha vida. Eu não fazia ideia do que fazer. Alguém, não ele especificamente. Contudo, mais uma vez, melhor do que nada. Ele sorriu.
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Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks — Deixei o meu cavalo branco no estacionamento, contudo é bom saber que ainda sou capaz de acelerar o coração de uma dama. Falando nisso, há algumas coisas no carro que eu vou ter de buscar daqui a pouco. — Algumas coisas? — Eu queria me cerificar de que você estivesse bem estocada em vista da nevasca que está prevista para chegar. — Considerando como estava fazendo um bom serviço com o gato de rua, achou que podia tentar arriscar a sua sorte. — E estava torcendo para que pudéssemos compartilhar uma refeição. Antes de eu voltar para casa. Os olhos castanhos de Melanie o fitaram solenemente. — Eu adoraria — retrucou, com simplicidade. A gata escolheu aquele instante para começar a ronronar, e Forde sabia exatamente o que ela estava sentindo. Para disfarçar a sua satisfação ante as palavras dela, ele sorriu, dizendo: — Escute só. Que gatinha boazinha. Apesar de tudo que aconteceu, ainda está disposta a confiar em nós. — Vou preparar um pouco de café. Infelizmente, receio que agora tenha de ser descafeinado. — Descafeinado está ótimo. Naquele momento, terra com água teria sido ótimo. Bebeu o café com a gata ainda aninhada a ele, agora dormindo. Conversaram sobre coisas inconsequentes, ambos tateando no escuro. Do lado de fora, o vento ficou mais forte, uivando como um lobo e sacudindo as janelas. Após algum tempo, Melanie pegou um cobertor do seu armário, e eles improvisaram uma cama para a gata em um cesto plástico de lavanderia, onde a gata na mesma hora voltou a adormecer. Melanie posicionara o cesto perto do aquecedor na cozinha, de modo que ela ficou bem quentinha. — Sem dúvida nenhuma são gatinhos aí dentro — Forde comentou, enquanto olhavam para o animalzinho. — E, se não estou enganado, ela não deve demorar muito para dar à luz. — Quanto tempo? O receio de Melanie era evidente. Gostava de animais, contudo, jamais tivera muito a ver com nenhum deles enquanto estava crescendo. Quanto à teoria de uma gata parindo... — É difícil precisar. Podem ser horas, podem ser dias. — Mas tempo o suficiente para levá-la a um veterinário? — Isso poderia assustá-la. Onde fica o veterinário mais próximo? — Não faço ideia. — Muito bem, enquanto vou buscar as coisas no carro, verifique na lista telefônica e veja se encontra um veterinário. — Ele olhou para o relógio. — Já são quase cinco da tarde, mas acho que ainda devem estar abertos. Podemos ligar e ver se alguém pode atender a domicílio. Sem pensar, ela envolveu-lhe o pescoço com os braços e o beijou com vontade, tratando de recuar antes que Forde tivesse chance de responder. Ele a fitou, claramente surpreso. — Por que isso? — Por se importar. — Com uma gata de rua? — Não, não só com a gata — ela respondeu, baixinho. Algo o alertou que não era a hora de forçar a barra. — Vou buscar a comida. Encontre o número. Quando ele ligou para o consultório de um veterinário que ficava a cerca de vinte e quatro quilômetros dali, a recepcionista não se mostrou muito solícita, mas acabou 54
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks deixando que Forde falasse com uma das veterinárias de plantão. Por sorte, a mulher era jovem, recém-formada, e cheia de entusiasmo. Forde usou de todo o seu considerável charme e ainda se ofereceu para pagar em espécie qualquer custo extra que ela pudesse ter antes de deixar o chalé, além da visita, é claro. A veterinária disse que estaria com eles em menos de uma hora. Descarregando as sacolas que Forde trouxera, Melanie não conseguia acreditar na quantidade de comida que ele comprara. Presunto cozido, um pequeno peru, canapés, queijos de tudo quanto era tipo, um bolo natalino, chocolates, tortas, legumes, nozes, frutas e por aí ia. — Forde, isso dá para alimentar uma família de quatro por uma semana — ela falou, quando a última sacola estava vazia. — Sou eu sozinha. O que deu em você? — Devo ter adivinhado que você teria visitas. — Visitas? — ela perguntou, enrubescendo. Ele assentiu na direção da gata dormindo. — Ah, sim, é claro, mas ela não vai comer muito — ela falou, um pouco sem jeito, tratando de começar a guardar as coisas na geladeira para disfarçar. Por um instante pensara... Mas, não, ele não se convidaria para ficar, não após ela ter estabelecido regras. Se quisesse que Forde passasse o Natal com ela, teria de convidá-lo. Porém, será que queria isso? Ou, melhor dizendo, será que queria o que isso implicaria nos dias que se seguiriam ao Natal? Pois uma coisa era certa. Ela tinha de parar de brincar com o coração dele. Tinha de ter certeza. E não tinha, não é mesmo? — Você ficaria surpresa. Ela vai ter filhotes para alimentar, e tem muito tempo perdido para recuperar. Como se escutando que estavam falando dela, a gata acordou, espreguiçando-se ao abrir os enormes olhos amarelados e ao se levantar em meio às dobras do cobertor. Quando Forde a pegou, ela não resistiu, apenas miou. Melanie tratou de aquecer mais leite e cortar mais frango, e, desta vez, Forde pousou o animal no chão para que este pudesse comer. A gata devorou tudo, voltou a se espreguiçar, e retornou para a sua cama improvisada, onde ficou deitada olhando para eles. Melanie agachou-se ao seu lado o ficou a acariciar-lhe o pelo, sentindo cada osso sob ele. — É tão linda — murmurou. — E tão corajosa. Deve ter ficado desesperada sabendo que os bebês iam nascer e que não teria abrigo e nem comida. É um milagre ter sobrevivido durante tanto tempo. — Mas, agora, ela a encontrou — Forde disse, baixinho. — E sabe que pode confiar em você para cuidar dela. Tomada de emoções tão turbulentas quanto a tempestade lá fora, Melanie olhou para ele. — Acha que devo ficar com ela? Ele não hesitou. — Acho. Ela precisa de alguém que a ame incondicionalmente. Melanie conteve as lágrimas. — Mas é tão frágil e magrinha. Não consigo imaginá-la sobrevivendo ao parto, Forde. E quanto aos filhotes? Se a mãe estava faminta, em que estado estarão ao nascer? — Tudo ao seu tempo. Vamos encarar uma coisa de cada vez. Ela pode até surpreendê-la. Não desista dela. — Não tenho a intenção de desistir — Melanie retrucou, com um pouco de indignação. — Ótimo. — Ele sorriu. — Nesse caso, ela tem chance. O toque da campainha interrompeu a conversa. A veterinária era uma moça grande e robusta, com faces rosadas, e mãos grandes, mas provou ser a gentileza em pessoa 55
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks com a sua pequena paciente. A gata submeteu-se aos cuidados dela com surpreendente docilidade, e, ao terminar de examiná-la, a veterinária sacudiu a cabeça. — Eu me surpreenderia se ela tivesse mais do que um ano de idade. Isso não é bom por vários motivos. O parto pode ser difícil, e, no seu estado, ela não possui reservas de força física. Estando tão desnutrida, não sei se ela será capaz de produzir leite de boa qualidade para os filhotes, caso venha a sobreviver ao parto. Mas... — ela olhou para os dois —, ela é um amor, não é? — O que podemos fazer para ajudar a curto prazo? — Forde perguntou, baixinho. — Queremos que ela tenha todas as chances. — O que ela mais precisa é de descanso e comida. Tem uma boa liteira para que ela não precise sair? É muito importante mantê-la aquecida. Forde sacudiu a cabeça. — Mas posso conseguir uma. — Não a esta hora da noite. Siga-me de volta para o consultório e eu lhe darei uma das nossas, assim como alguns suplementos próprios para grávidas e lactantes. Vou lhe dar uma injeção de vitaminas agora, e, assim que ela estiver um pouco mais forte, precisará tomar várias vacinas. Acho que ela não deve demorar a dar à luz, de modo que não quero sobrecarregar o sistema imunológico dela. Se ela entrar em trabalho de parto e ficarem preocupados com alguma coisa, me liguem. Vou lhes dar o número do meu celular. — Ela sorriu. — Tendo feito isso, é bem provável que ela comece assim que eu me sentar para a minha ceia de Natal. — É muita gentileza sua — Melanie falou. — É um caso excepcional — a jovem falou. — Detesto pensar no que ela deve ter passado. Agora, façam com que ela beba e coma pouco e com grande frequência, nas próximas vinte e quatro horas. — Ela os fitou com seriedade. — Mas devo alertá-los de que as chances estão contra ela dar à luz filhotes com vida. Posso lhe dar gotas de vitaminas para colocar na comida dela, mas receio que possa ser tarde demais. Melanie assentiu. — Mesmo assim, queremos tentar. — Ótimo. Sejam bem carinhosos com ela. Na minha opinião, funciona maravilhosamente com animais que sofreram maus-tratos. A veterinária deu mais algumas instruções e, depois, ela e Forde foram embora, deixando Melanie com Tabitha, como ela decidira chamar o pequeno animal. Antes de sair, Forde carregara o leito improvisado até a sala, depositando-o diante da lareira, e, após comer mais um pouquinho, Tabitha estava dormindo profundamente. Melanie tentou assistir um pouco de TV, mas sua atenção estava toda voltada para o felino adormecido. O alívio que tomou conta dela ao escutar Forde chamá-la, quando abriu a porta com a chave que ela lhe dera, foi indescritível. Ela correu até a entrada. — Trouxe tudo? Será que já devemos tentar lhe dar um pouco dos suplementos especiais? Onde devemos colocar a liteira? Forde a fitou com uma expressão divertida no olhar. — Trouxe, sim e ao lado do cesto. Ela olhou para ele, incrivelmente sexy e confiante na sua estreita entrada. Antes que se desse conta do que estava dizendo, perguntou: — Será que pode passar a noite aqui, para o caso de alguma coisa acontecer? Ele sorriu docemente. — Eu não pretendia mesmo deixá-la sozinha, Nell. Agora, vamos providenciar um pouco mais de comida para a nossa paciente, e depois nós mesmos podemos comer alguma coisa, está bem? Ovos com presunto, algo rápido e fácil. Você tem um cobertor sobrando que eu possa usar, e quem sabe um travesseiro para o sofá? — Você nunca vai conseguir dormir nos meus sofás. — A altura de Forde era o dobro da extensão deles. — Posso ficar aqui em baixo com ela. 56
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks — Você precisa do seu descanso. — Ele olhou para o volume da barriga dela, sob o grosso vestido. — E ficarei bem. Agora, vamos ver se ela gosta desta comida, comparada ao frango. Apesar do terrível cheiro de peixe que ele tinha, Tabitha deu conta do suplemento alimentar sem aparentemente sequer parar para respirar. — Caviar de gato — Forde comentou, com secura. — É melhor que seja mesmo, considerando o preço. Lembre-me de deixar o ramo de desenvolvimento imobiliário e entrar para o mercado de comida de gato. Melanie sorriu. Era assustadoramente bom tê-lo ali. E não só por conta de Tabitha. Eles comeram a sua própria refeição na mesa da sala de jantar. O arranjo de mesa com amoras vermelhas, junto à pequenina árvore de Natal decorada na sala de estar davam a impressão de que Melanie se esforçara um pouco para criar o ambiente festivo. Contudo, na realidade, jamais tivera menos vontade de comemorar o Natal. Ou, pelo menos, assim estava se sentindo até escutar a voz de Forde. Melanie insistira em ter o cesto de Tabitha em algum lugar onde ela pudesse enxergá-lo enquanto comiam, e, após terminar a refeição, ela levou o café e os bolinhos de chocolate que Forde havia trazido até a sala de estar, para onde Forde trouxe Tabitha. A gatinha olhava serenamente da cesta que Forde colocou mais uma vez diante da lareira, ao que tudo indicava, muito feliz com todas as suas idas e vindas. Os bolinhos estavam uma delícia. Melanie comeu três, um após o outro, antes de olhar horrorizada para Forde. — Antes que este bebê nasça, vou estar do tamanho de uma casa. Agora que os enjoos foram embora, só faço pensar em comida. Mal acabo de tomar o café da manhã, e já estou pensando no almoço e no jantar, e o Natal não ajuda nada com todas as suas tentações a mais. — Nell, para mim você sempre será linda. Ele ergueu-lhe o delicado queixo, lambendo um pouco da cobertura de chocolate do canto de sua boca antes de beijá-la como se nada mais no mundo existisse. Seus lábios, suaves e quentes como vinho condimentado, moveram-se de encontro aos dele, e ela retribuiu o beijo, as mãos deslizando até os ombros dele, antes de mergulhar nos cabelos de Forde. Ele capturou-lhe na boca o gemido que brotou de sua garganta, o beijo aprofundando-se ainda mais, e a língua dando início a uma exploração insistente que trouxe à vida cada terminação nervosa do corpo de Melanie. Antes que ela se desse conta do que Forde estava fazendo, ele a erguera de modo a posicioná-la sobre o seu colo. Agora, sua boca movia-se trilhando um caminho ardente pela sua garganta, até chegar ao V do decote. Melanie arquejou, e ele ergueu a cabeça para fitar-lhe o rosto vermelho. — Quero você — murmurou, baixinho. — O tempo todo. Na minha mesa, quando estou trabalhando, em casa, quando estou jantando ou tomando uma ducha. Não há um minuto do dia em que eu não esteja pensando em você. Você está no meu sangue, sabia? Para a vida toda. Um doce vício, impossível de resistir. — Você quer resistir? — ela perguntou debilmente, seus olhos prateados hipnóticos. Sua boca retorceu-se em um sorriso agridoce. — Já houve ocasiões em que achei que seria mais fácil de lidar com a dor se eu conseguisse resistir, mas, não, não quero. Desta vez, ela o beijou, e o corpo de Forde latejou ante o contato. As mãos dele deslizaram por sobre os seios, a lã macia sob os dedos modelando-se ao redor dos volumes arredondados, e dos mamilos rijos e pontiagudos. Ela não protestou quando ele lhe puxou o vestido para cima, chegando a ajudá-lo ao erguer os braços, facilitando a passagem da peça de roupa pela cabeça. O sutiã de renda mostrou que os seios estavam 57
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks mais volumosos, e o decote mais profundo, a protuberância firme de sua barriga deixando-o sem fôlego. O corpo dela estava mudando, para melhor acomodar o filho ou a filha de Forde. A onda de amor que explodiu no seu peito dificultou a respiração. — Forde? — Você é tão linda, Nell — ele sussurrou, os olhos reluzindo com lágrimas contidas. — Tão linda. Eles lentamente despiram um ao outro, tocando e provando ao fazê-lo, até ambos estarem nus e tremendo de desejo. Depois, ela subiu nele, no sofá onde estavam, montando-o, ao abaixar-se na direção da sua impressionante ereção. O corpo dela era quente e inacreditavelmente macio e acolhedor quando o aceitou, e, quando ela começou a se mover, ele se esforçou para manter o controle a fim de que ela encontrasse a satisfação junto com ele. Podia enxergar o prazer no rosto dela, e chegava a ser quase mais erótico do que ele podia suportar, seu corpo tremendo enquanto os seus músculos se retesavam contra o alívio pelo qual este estava implorando. Ele sentiu-lhe o clímax e resolveu acompanhá-la, a sanidade de ambos estilhaçando-se em pura sensação, antes de se recompor após a embriaguez da paixão. Foram necessários alguns instantes antes que qualquer um dos dois fosse capaz de falar. — Puxa — Forde murmurou, com a voz rouca. — Diga-me que isto não é um sonho, e que daqui a um minuto não vou acordar na minha casa. — É real. Ela estremeceu ao falar, e ele estendeu a mão para pegar a manta jogada sobre o encosto do sofá, envolvendo-os quando Melanie encostou a cabeça em seu peito. Em questão de instantes, ela estava dormindo, e apenas o estalar do fogo na lareira rompendo o silêncio. Ele olhou na direção do cesto. A gata também estava dormindo em meio às dobras do cobertor, o seu pequenino corpo listrado mal se movendo ante a sua respiração. Fico lhe devendo esta, Forde lhe disse, silenciosamente. E, agora que me ajudou a chegar até aqui, não vou embora. Lá fora, o vento continuava a gemer e a uivar, e, agora, granizo atirava-se de encontro às janelas com tamanha ferocidade que a sala pareceu ficar ainda mais quente e aconchegante em comparação com a tempestade lá fora. Puxando Melanie para si, ele fechou os olhos.
Capítulo 11
Uma vibração distante despertou Melanie de um sonho agradável. Ela abriu os olhos sonolentos para descobrir que estava deitada com a face no peito de Forde, e com o corpo aconchegado ao dele, a batida do coração dele ainda ecoando no seu ouvido. Não se permitiu pensar por alguns instantes, deliciando-se com a sensação e com o perfume dele, e com o fato de que ele estava ali com ela. O bebê se mexeu, o chute mais forte que ela já sentiu, como se soubesse que o pai estava por perto. Sorrindo, Melanie ergueu cuidadosamente a cabeça para verificar Tabitha. A gata estava dormindo profundamente. A veterinária dissera que o melhor remédio para ela era comida e descanso. Se ao menos conseguissem se certificar de que ela tivesse alguns dias antes de dar à luz, os filhotes e a mãe talvez sobrevivessem. 58
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks Por favor, Deus, por favor. Permita que este seja um final feliz, ela rezou silenciosamente. Uma vez na vida, quero um final feliz. Ela é apenas uma gatinha. Não a leve embora antes que a sua vida tenha verdadeiramente começado. E os filhotes, permita que cresçam, e brinquem e sintam o sol no pelo durante o verão. Por favor. Forde dissera que Tabitha sabia que podia confiar neles para cuidar dela, que ela precisava de alguém que a amasse incondicionalmente. Deu-se conta de que Forde era assim com ela. Desde o primeiro dia, ele colocara as necessidades dela antes das suas, na cama e fora dela, e o seu amor fora ilimitado e sem reservas. Inspirou fundo, seus pensamentos mais claros do que haviam estado por vários meses. A culpa pela morte de Matthew revirara seus pensamentos e seu coração do avesso. Estivera tão convencida de sua culpa, de que era uma azarada e de que Forde estaria melhor sem ela, que jamais parara para considerar que pudesse estar errada. Envolta no próprio sofrimento, jamais levara em consideração que Forde também estivesse sofrendo. Não como deveria. Havia aprendido um bocado a respeito de si mesma ao longo das últimas semanas com Miriam, e parte do que aprendera fora difícil de engolir. Mas Forde jamais a vira como ela se via. Ele a amava. Por completo. Exatamente como ele dissera para ela amar Tabitha. Incondicionalmente. Quando ela o deixara, Forde lhe dissera que jamais abriria mão dela, que ela poderia divorciá-lo, fugir para o outro extremo do mundo, recusar-se a vê-lo ou a falar com ele, mas ainda assim ele não desistiria de tentar fazê-la recuperar o bom senso e voltar para ele. Na ocasião, ficara apavorada com isso. Mas agora... Ergueu a cabeça e fitou-lhe o rosto adormecido. Agora, sentia-se humilde e eternamente grata. Sua mão desceu até o volume na barriga, onde o seu bebê repousava. Jamais poderia abandonar o filho e o pai deste. Como fora capaz de sequer considerar tal possibilidade, mesmo que por um instante? Contudo, se voltasse para Forde, teria de ser de corpo e alma. Pedira um final feliz para Tabitha, mas tinha de acreditar que existia um para ela mesma. Acreditar que podia confiar implicitamente em Forde, oferecendo-lhe aquela parte de si que Melanie sempre guardara para ela mesma. Seria capaz de fazer isso? Escutou um barulho estranho, e ergueu a cabeça. Tabitha estava acordada e virando de um lado para o outro no cesto. Tabitha deixou escapar algo que pareceu mais um berro do que um miado, saltando para fora do cesto, e desapareceu atrás do outro sofá. Melanie ergueu-se bruscamente, acordando Forde. — O quê... Nell? — Acho que Tabitha vai ter os seus filhotes. É cedo demais, Forde. Eu queria que ela tivesse alguns dias de boa comida e descanso. O que vamos fazer? Forde sentou-se, passando as mãos pelo cabelo. — Onde está ela? — perguntou, notando o cesto vazio. — Atrás do outro sofá. A veterinária falou que ela poderia se esconder. Ele ficou de pé, nu como no dia em que nasceu, e cruzou a sala, espiando para trás do sofá. Droga, Nell tinha razão. A gata estava se comportando exatamente como a veterinária os alertara de que ela poderia. Ele virou-se, pegando as roupas do chão. — Tudo o que podemos fazer agora é ficar de olho nela. O resto depende de Tabitha. Vou mover o cesto para trás do sofá, que é onde ela quer ficar. Vista-se e vá preparar uma bebida quente para nós. Isto pode demorar. — É cedo demais — Melanie repetiu, seus antigos medos e dúvidas voltando à tona. Forde levou a mão à face dela, acariciando-a. 59
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks — Nada de pânico. Tabitha pode sentir. Animais são muito sensíveis. Quando tiver preparado as nossas bebidas, traga um pouco de leite quente e de comida para ela, está bem? Chegando à cozinha, Melanie notou que o gelo do granizo havia se transformado em neve branquinha, enquanto ela e Forde estavam dormindo, e já estava com alguns centímetros de profundidade. Se a tempestade continuasse daquele jeito, era duvidoso que a veterinária fosse capaz de vir até eles, caso precisassem dela. Tabitha bebeu o leite que colocaram para ela no seu esconderijo, mas recusou-se a tocar na comida, e os berros estavam ficando mais altos. Melanie teve de forçar-se a permanecer sentada e não andar de um lado para o outro. Forde tinha ido lá fora buscar mais lenha e carvão. De vez em quando, Forde deitava-se no chão para espiar por baixo do sofá. O primeiro filhote nasceu três horas mais tarde. Tabitha lidou com habilidade com o recémnascido, arrancando a dentadas o âmnio e lambendo-o com a língua áspera. Quando Forde viu o bichinho se contorcer, experimentou um grande alívio, mais por Melanie do que pela gata. Outro filhote nasceu logo depois, e observaram Tabitha repetir o mesmo processo que fizera com o primeiro. — Olhe só, Forde — Melanie sussurrou. — Ela vai ser uma mãe brilhante. E os filhotes estão vivos e passam bem. Ele olhou para ela, deitado ao seu lado. Estivera prestes a lhe dizer que ainda era cedo, que mil e uma coisas podiam dar errado. Havia mais filhotes para nascer, e eles poderiam não ter a mesma sorte que os dois primeiros, e a própria Tabitha poderia estar exausta demais para sobreviver a tudo aquilo. Contudo, olhou nos olhos de Melanie e algo neles o fez conter as suas palavras. Em vez disso, colocou a mão sobre a dela. A espera em seguida pareceu interminável para Forde e Melanie. Já estava quase desistindo da vigília quando um terceiro filhote resolveu aparecer, e mais uma vez, Tabitha entrou em ação. Desta vez, depois que o filhote estava limpo, ela o depositou no cesto improvisado, e, um a um, voltou para buscar os outros dois, colocando-os em um lugar que ela considerava seguro. Depois, devorou a comida e o leite fresco que Forde deslizara para baixo do sofá, e juntou-se aos filhotes após usar a liteira. — Acha que acabou? Eram apenas três? — Melanie perguntou, mais orgulhosa do que palavras poderiam descrever. — É o que parece. Forde estava tentando não demonstrar como estava aliviado por tudo ter corrido tão bem. Agradeceu o fato de a Mãe Natureza ter sido gentil a ponto de ter dado a pequena gatinha apenas três filhotes para parir. — O que faremos agora? — Melanie sentou-se e massageou o pescoço dolorido. — Não gosto da ideia de deixá-la sozinha. — Parece que Tabitha está preparada para um merecido descanso. — Ficando de pé, Forde a ajudou a se levantar. — Pode ir para a cama, que eu dormirei aqui em baixo com um olho aberto. Melanie olhou para o marido. Sabia que isto teria de partir dela. — Ou, você poderia carregar o cesto até lá em cima, e colocá-lo ao pé do aquecedor do quarto, para que possamos estar à mão para o que quer que ela possa precisar? Podemos levar um pouco de leite e comida lá para cima, para o caso de ela sentir fome durante a noite. Forde a fitou, uma profunda indagação no seu olhar. — Eu... Eu não quero dormir sozinha por mais uma noite que seja — ela sussurrou. — Eu estava errada sobre tantas coisas, Forde. Acho que, no fundo, eu sabia disso, mas
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Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks falar com Miriam permitiu que tudo viesse à tona, todas as dúvidas, todos os receios. Qquero que fiquemos juntos, não só para o Natal, mas para o restante de nossas vidas e... Ela não conseguiu ir adiante, antes de ser erguida nos braços dele. Forde a beijou como se não houvesse amanhã, e ela o beijou da mesma forma, agarrando-se a ele com tanta força que ele mal foi capaz de respirar. Pousando-a no chão após um longo minuto, ele a puxou até o sofá, e a sentou no colo. — Tem certeza? — perguntou, baixinho. — Quero dizer, que todas as dúvidas e receios foram embora? Ele merecia a verdade. Ela levou a mão ao rosto dele. — Quero ter — respondeu, com sinceridade. — E me conheço muito melhor agora, contudo, acho que, de certo modo, ainda sou um trabalho em andamento. Tive tanto medo, hoje à noite, com Tabitha. — Eu também, Nell. É natural. — Ele a beijou com intensidade. — Acompanha de mãos dadas o amor, a preocupação, e o medo de que poderá perder o ente amado. Suponho ser o outro lado da moeda. Mas o lado bom compensa ter de lidar com o ruim, entende o que quero dizer? — ele voltou a beijá-la. — E, na maioria das vezes, o lado bom se sobressai. Você teve um começo de vida duro, e desenvolveu um mecanismo de defesa para manter as pessoas afastadas, para que não pudesse ser magoada e para que não pudessem magoá-las. Entendo isso. Aí eu apareci, e tudo mudou. Mesmo que tudo houvesse corrido bem com Matthew, mais cedo ou mais tarde, você ainda teria tido de lidar com as questões que enterrou tão profundamente. Apenas teria ocorrido mais lentamente, mais naturalmente. — Mas o aborto aconteceu. Matthew morreu. Ainda era doloroso dizer isso, e ela teve de se perguntar se algum dia isso mudaria. Mas a natureza do sofrimento mudara nessas últimas semanas. Este ainda era intenso, mas suportável, pois a culpa avassaladora havia desaparecido. — É, ele morreu. E você não foi a única a se culpar. Eu sabia que você não estava bem naquele dia. Eu poderia ter ficado em casa com você. Que importância tem o trabalho comparado ao nosso filho? E Janet também tem os seus arrependimentos. Ela lamenta não ter ficado com você enquanto comia, e depois ter ela mesma descido com a bandeja, mas nenhum de nós sabia. Melanie assentiu. Quantas vezes não desejou poder voltar atrás o relógio, para que pudesse ter feito as coisas de modo diferente? Mas isso tinha de parar. Por ela, pelo novo bebê, por Forde, e até por Matthew. — Ele era tão lindo — sussurrou, por entre as lágrimas. — E tão pequenino. Ele não pesava quase nada nos meus braços — Forde afirmou, com a voz rouca. Ela encostou a testa na dele, e suas lágrimas se misturaram, contudo, pela primeira vez desde a morte de Matthew, eram lágrimas de cura. Após um longo tempo em que passaram apenas abraçados, ela disse, baixinho: — Amo você. Sempre amei, e sempre amarei. Quero que saiba disso. Você é parte de mim. A melhor parte. — Não! — Ele a beijou ferozmente. — Nunca se esqueça de que é perfeita para mim E jamais a farei sofrer, Nell. Posso até errar, posso até enlouquecê-la de vez em quando, mas jamais a machucarei. — Ele pousou a mão na sua barriga. — Teremos filhos, e netos também. E envelheceremos juntos. O que acha disso? — Muito bom — Ela sorriu para ele, e o estômago dela roncou tão alto, que Forde teve de rir. — Não dá para evitar. Há horas em que não como nada, e estou com fome de novo. — Que tal você subir e se aprontar para dormir, que eu subo com o jantar? E, amanhã, teremos um dia de preguiça. Café na cama, talvez até o almoço na cama.
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Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks Forde sorriu para ela. Enfim o pesadelo dos últimos meses havia terminado. Viera até ali naquela tarde sem expectativa de nada além de uma possível refeição antes de voltar para casa. É claro que tivera esperanças de que Miriam pudesse fazer a diferença, que com o bebê a caminho, Melanie enxergasse que ele tinha dois pais que se amavam e que não deveriam ficar separados, mas não sabia quanto tempo ela levaria para superar os seus demônios. Contudo, no final das contas, era o Natal, a época dos milagres. O jantar foi uma miscelânea da comida que Forde trouxera, que ele levou para cima numa bandeja, após ter instalado Tabitha e os filhotes no cesto ao lado do aquecedor. Aninhada a ele na cama, com a neve caindo lá fora e Tabitha e os filhotes dormindo no cesto, Melanie achou que foi a melhor refeição que ela já havia tido. Depois, satisfeitos, voltaram a fazer amor, lenta e sensualmente, sem a urgência anterior. Ela foi dormir nos braços dele, enquanto Forde a apertava de encontro ao coração, desejando que aquela noite durasse para sempre. Em poucas horas, a sua vida mudara por completo, e ela se sentia mais próxima de Forde do que nunca. Talvez por terem superado a terrível provação, e terem emergido dela mais fortes. Melanie abriu os olhos uma última vez para ver como Tabitha e os filhotes estavam, sorrindo ao ver os gatinhos mamando. Os três pareciam estar bem, embora, é claro, ainda fosse cedo para ter certeza. Eles precisavam viver, ela pensou, fechando os olhos e se aconchegando ao calor do corpo de Forde. Tabitha fora tão corajosa. Depois de tudo pelo que passara, a gatinha merecia a satisfação de criar os seus filhotes. Melanie já sabia que ia ficar com Tabitha e os três filhotes. A casa deles em Kingston tinha um enorme jardim, perfeito para os quatro gatos. Tabitha jamais voltaria a saber o que era passar fome, jurou, ao sentir o sono apossando-se dela. Nem o que era não ter amor ou ser indesejada. Não enquanto Melanie vivesse. Melanie acordou na manhã da véspera de Natal sendo beijada profunda e apaixonadamente. Abriu os olhos para um quarto iluminado e para Forde, usando apenas o seu avental de cozinha e sorrindo para ela. — Sua bandeja de café da manhã, milady. — Ele apontou para uma bandeja contendo um café da manhã inglês completo. — Há algo mais que milady possa desejar? Nem em um milhão de anos ela teria sonhado que um avental de plástico comum pudesse ser tão erótico. Lembrando-se dos acontecimentos da noite anterior, ela ergueuse nos cotovelos. — Tabitha? — Alimentada, satisfeita e novamente lá embaixo, ao lado do aquecedor da cozinha com os seus três filhotes, que estão passando muito bem. — Nesse caso, tem mais uma coisa que eu quero. O avental estava envolvendo os quadris de Forde, e o modo como os pelos do peito apontavam para o umbigo a deixou fascinada. Jamais o achara tão sexy. Abriu os braços, envolvendo-lhe o pescoço com eles, e o puxou para baixo, até ele estar ao seu lado na cama. — Amo você — murmurou, antes de beijá-lo vorazmente. — Tanto. — Palavras não conseguem descrever o que sinto por você. — Ele recuou ligeiramente, tomando o rosto dela entre as mãos, ao fitá-la nos aveludados olhos castanhos. — Sabe que jamais vou deixá-la ir embora novamente? Independentemente do que o futuro possa trazer, nós o enfrentaremos lado a lado. Quer seja um vale plano e tranquilo ou o pico acidentado de uma montanha, bons tempos ou maus, eu não sairei do seu lado, está bem? — Está bem. Ela voltou a beijá-lo. — E, após o Natal, vou levá-la de volta para casa. E não quero saber de discussões. 62
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks — Tabitha e os filhotes virão comigo. — Melanie pontuou cada palavra com um beijo. — São nossos agora. Sempre quis ter bichinhos de estimação. Só não esperava que fosse ser quatro de uma só vez. — Vamos ficar com todos? — Claro. Tabitha merece. — E eu? — Forde murmurou roucamente, puxando-a para si, de tal modo que Melanie pôde sentir cada centímetro de sua dura ereção. — O que eu mereço? — Tudo — ela sussurrou, roucamente. — Bem, nesse caso... Ele a beijou, até ela ficar latejando de desejo, levando-a à beira do precipício repetidamente, ao alisá-la e ao lhe proporcionar prazer, acariciando-a, até ela estar tremendo nos seus braços. Como conseguira subsistir estes últimos meses longos e solitários sem ele? Melanie pensou. Contudo, fora tudo que fizera. Subsistira. Aquilo é que era vida, estar perto de Forde, sentindo-o, amando-o. E não se tratava apenas de sexo, por mais fenomenal que este pudesse ser. Era o seu carinho, o cuidado que tinha para com ela, a paciência e o amor que demonstrara desde que haviam se conhecido. Mesmo quando Matthew fora tirado deles, Forde não a culpara por um instante sequer, colocando a sua própria tristeza de lado para confortá-la e ser forte. Ela o amava tanto... Ela retribuiu cada um dos beijos, cada uma das carícias, e, quando ele finalmente afastou-lhe as pernas, ela não teve vergonha de mostrar o quanto precisava dele dentro de si. Moveram-se como um, e ela o abraçou com força, o delicioso prazer físico levandoos a novas alturas. Chegaram ao clímax juntos, em perfeito uníssono, onda após onda de gratificação ardente e doce levando-os a gritar de alívio. Permaneceram deitados um nos braços do outro enquanto voltavam lentamente à realidade, os últimos vestígios do prazer levando algum tempo para se dissipar. Forde sorriu ao traçar-lhe a boca com a ponta do dedo. — O café da manhã já deve estar frio, — murmurou, beijando-a na ponta do narizinho. — Ainda vai estar gostoso. Naquele momento, qualquer coisa ficaria gostosa. Foi então que sentiu o bebê no seu íntimo mover-se mais vigorosamente do que antes, e, pegando a mão dele, pousou-a sobre a barriga. — Está sentindo? O rosto dele se iluminou. — Acho que sim. É a mais fraca das vibrações, mas, sim, eu estou sentindo. — Nosso bebê, Forde. E, ao dizer tais palavras, Melanie se deu conta de que o medo desaparecera...
Capítulo 12
Começou a nevar novamente pouco antes do almoço, mas Forde abrira passagem até o carvão e a pilha de lenha, e estavam bem aquecidos no chalé. Passaram a maior parte do dia aconchegados diante da TV, assistindo o que estava passando, um nos braços do outro, enquanto consumiam os mantimentos trazidos por Forde e observavam Tabitha com os seus filhotes. A gatinha comia como um cavalo, aparentemente 63
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks determinada a compensar o tempo perdido, e todos os três filhotes pareciam notavelmente fortes, considerando o estado em que a mãe deles estivera pouco antes do parto. No meio da tarde, quando a neve já parara e o céu havia assumido um tom de madrepérola com riscos prateados, foram surpreendidos por uma batida à porta. A veterinária estava lá, com um agasalho tão grosso que a fazia parecer ter o dobro do tamanho que realmente tinha. — Acabo de fazer uma visita a uma fazenda não muito longe daqui, de modo que pensei em dar uma passada aqui — ela falou, animadamente, como se não estivesse de pé em quase vinte centímetros de neve. — Como está a paciente? Melanie preparou-lhe uma bebida quente enquanto ela examinava a Tabitha e os filhotes, anunciando que a mãe e os bebês estavam em notável estado de boa saúde, considerando que as chances definitivamente não haviam estado em seu favor. — O ruivinho é um menino — ela comunicou, devolvendo os filhotes para Tabitha, que começou a lambê-los. — E as duas malhadas de branco e preto são fêmeas. Ela parece estar sendo uma boa mãe, de modo que, por ora, não vejo necessidade de interferirmos. Sem dúvida, as barriguinhas dos filhotes parecem estar cheias e eles não demonstram fome e nem qualquer outro tipo de desconforto. Após tomar o seu café, quando já estava saindo para a tarde fria, a veterinária comentou: — É um prazer dizer que tudo está bem quando termina bem. Forde apertou com força a mão de Melanie. — É verdade — disse, baixinho. — Tudo está bem quando termina bem Feliz Natal. Acordaram terrivelmente tarde no dia de Natal, mesmo havendo ido para a cama cedo, contudo não dormido. Entusiasmadamente fazendo amor, já eram altas horas da madrugada quando, enfim, adormeceram um nos braços do outro. O dia estava claro, a paisagem do lado de fora do chalé a de um verdadeiro Natal branco. Ao longe, podiam escutar o som débil dos sinos da igreja tocando, e o mundo parecia renascido com o seu manto branco de pureza. Forde acordou e desceu para ver como estava Tabitha e para preparar um pouco de café, que ele trouxe de volta para a cama após colocar o peru para assar, deixando Melanie com uma deliciosa sensação de preguiça. Sensação esta que foi abruptamente abalada ao avistar o pequenino embrulho na bandeja, entre o seu café e a torrada. Ela sentou-se na cama, sua voz um lamento. — Ah, Forde, você não devia. Eu não comprei nada para você. — Ah, eu deveria sim — ele respondeu com um sorriso. — Além do mais, eu tinha uma ligeira vantagem sobre você, não tinha? Eu sabia que iria vir até aqui. Pretendia deixar isso em algum lugar para você encontrar depois que eu tivesse ido embora — ele acrescentou, baixinho. — Não estava esperando que fosse se jogar no meu colo e implorar a minha ajuda, por mais maravilhoso que isso possa ter sido, eu devo acrescentar. — Foi mesmo? Ele juntou-se a ela na cama, passando-lhe a caixinha. — Veja por si mesma, mas, antes... — Tomando-a nos braços, ele a beijou apaixonadamente. — Feliz Natal, meu amor. Ela desfez o embrulho e abriu a tampa da caixinha, uma exclamação de surpresa figurou os seus lábios ao ver o broche divino no seu interior. Os dois pequeninos periquitos eram feitos de pedras preciosas e formavam um círculo com suas asas e seus minúsculos bicos, que se encontravam num beijo. Era a coisa mais linda que Melanie já vira. 64
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks — Forde. — Ergueu os olhos brilhantes para ele. — É perfeito. Onde foi que você encontrou isso? — Foi feito sob encomenda. — Ele envolveu-a com o braço e beijou-lhe a ponta do nariz. — Diz o que eu quero lhe dizer cada dia da minha vida. Eles iam ficar bem, Melanie pensou, naquele instante da mais pura alegria. Haviam atravessado a tempestade e chegado ao outro lado. Enfim podia acreditar nisso. Foi um dia de Natal perfeito. Forde preparara a ceia enquanto escutavam canções natalinas, cortesia dos CDs de Melanie. Ele não permitiu que ela erguesse um dedo que fosse, peritamente servindo a comida quando esta estava pronta e flambando o pudim com conhaque o que a fez dar um gritinho de surpresa. Tabitha deliciou-se com a sua porção do peru, além do pires de leite que Forde colocou para ela. A gatinha e a família haviam se acomodado no cesto e não saíam mais de lá. Melanie torcia para que fosse porque Tabitha sabia que estava em segurança, agora. Após o almoço, Tabitha e os filhotes apagaram no seu cesto diante da lareira da sala de estar, e Forde e Melanie montaram um boneco de neve no pequeno quintal dela, enquanto o sol começava a se pôr, pintando rios vermelhos, dourados e violetas no céu. Por um instante, uma dor aguda perfurou o coração de Melanie, quando esta se deu conta de que Matthew não estava com eles. Àquela altura, ele já estaria começando a andar, pensou, erguendo o rosto na direção do sol poente. Ele teria adorado a neve. — Está pensando nele. Sempre dá para saber. Ela não notara que Forde estivesse olhando para ela. Ele a envolveu apertadamente com os braços, e ela murmurou: — Eu teria adorado poder lhe dizer que nós o amamos, e que sempre o amaremos, independentemente de quantos outros filhos possamos vir a ter. Que ele sempre será o nosso precioso menininho, o nosso primogênito. — Você poderá lhe dizer isso um dia, e lhe dar todos os beijos e abraços que quiser, meu amor. — Acredita mesmo nisso? — Ela afastou-se ligeiramente, de modo a poder fitá-lo no rosto oculto pelas sombras. — Realmente acredita nisso? — É, acredito. — Os olhos dele brilharam para ela em meio à penumbra. — Porém, por ora, estamos aqui na Terra e temos de seguir com as nossas vidas, cuidando e amando os outros filhos que tivermos. Quando esta criança nascer, vamos ser uma família, Nell, e, embora a tristeza pela perda de Matthew jamais vá desaparecer, você aprenderá a conviver com ela, e vai parar de se sentir culpada devido ao fato de ainda ser capaz de experimentar felicidade e prazer. — Como é que sabe que eu me sinto assim de vez em quando? — ela perguntou, com os olhos arregalados de surpresa. — Porque, a princípio, era como eu me sentia — Forde admitiu, baixinho. — Acho que todos os pais devem se sentir assim após perderem um filho. Não é só uma coisa terrível, também não é natural. É a ordem errada das coisas na vida. Um pai jamais deveria viver mais do que o filho. Ela encostou-se nele, necessitando de sua força e compreensão. — Desta vez, tudo vai ficar bem, não vai? — disse baixinho. — Eu não suportaria... — Nada disso. — Ergueu-lhe o rosto com o dedo sob o queixo dela, fitando-a nos olhos. — Nós vamos ter um lindo filho, ou uma linda filha, Nell. Eu prometo. Olhe para Tabitha, e tenha fé, está bem? Ela sorriu, tremulamente. — As pessoas achariam uma estupidez acreditar que, só porque, contra todas as chances, uma gatinha sobreviveu, devemos interpretar isso como um sinal para nós.
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Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks — Não estou nem aí para o que as pessoas pensam — Ele a puxou com mais firmeza para si. — E não se esqueça de que é Natal. Uma época de milagres, e para desejos se tornarem realidade. Há alguns dias, quem teria imaginado que estaríamos postados aqui desse jeito, Nell? Mas aqui estamos. Estamos juntos, e mais fortes do que antes. E, falando em milagres... — ele levou a mão à barriga dela —, uma simples noite de amor e esta criança foi gerada. Agora, eu sei que, a longo prazo, ainda teríamos acabado juntos, pois eu jamais teria aceitado outra coisa, mas este bebê, de muitas maneiras, foi um catalisador para você. Sua voz estava tão carregada da implacável determinação e confiança que ela viera a associar ao homem que amava, que Melanie voltou a sorrir. — Está dizendo que fazemos parte do milagre do Natal? — Pode apostar que fazemos. — Ele sorriu, olhando para o céu. — Olhe só para aquilo. É especialmente para nós. Um verdadeiro espetáculo de arte moderna. Melanie riu. — Você é louco. Sabe disso, não sabe? — Por você? Sem dúvida nenhuma. — Ele a virou para o boneco de neve, um tanto quanto travestido, com um dos cachecóis de Melanie, rosa e de lantejoulas, ao redor do pescoço, e um dos seus floridos chapéus de palha de verão na cabeça. — Está terminado. — Praticamente. — Nesse caso, sugiro entrarmos e nos aquecermos. — Diante da lareira com uma caneca de chocolate quente? — Possivelmente. — Ele lançou-lhe um olhar sexy. — Contudo, não é bem o que eu tinha em mente. Estava pensando em algo mais... aconchegante. — Mais aconchegante do que chocolate quente? — ela murmurou, fingindo ignorância. — Cem por cento mais aconchegante. — Ah, bem, nesse caso... — E, não se esqueça. — Subitamente sério, ele tomou-lhe o rosto nas mãos. — Eu amo você e você me ama. Qualquer outra coisa... qualquer outra coisa.... vem em segundo lugar. Melanie assentiu. Queria acreditar nisso. Precisava acreditar nisso. E, talvez, tratava-se justamente disso: De ter um pouco de fé. Ela envolveu-lhe o pescoço com os braços. — Eu adoro o Natal. Afastando-lhe o gorro vermelho, ele beijou-a na testa. — Melhor época do ano — falou com a voz rouca. — A melhor mesmo.
Capítulo 13
Melanie estava se lembrando da magia do Natal quando Forde a levou até o hospital, na última semana de maio. O clima não poderia ter sido mais diferente. Há semanas o país vinha aproveitando dias ensolarados mais típicos do clima mediterrâneo, e James e a assistente que contratara para ajudá-lo estavam atolados de trabalho. Os negócios estavam indo de vento em popa, e a sua pequena empresa já tinha a reputação de ser de confiança e de 66
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks oferecer resultados de primeira classe, o que era um bom sinal para o futuro. Mas Melanie não estava pensando em James e nem na empresa enquanto o Aston Martin de Forde seguia para o hospital. Estava perdida no feitiço daqueles dias que ela e Forde passaram enclausurados no seu próprio mundinho particular, junto com Tabitha e os gatinhos, é claro. Os gatinhos haviam crescido fortes e saudáveis, desenvolvendo as suas próprias personalidades. Haviam batizado as duas fêmeas de Holly e Ivy, e o menino de Noel, e, ainda bem que Tabitha era uma mãe severa, pois os três gatinhos podiam ser bem levados. Mas Melanie os amava muito, e eles a amavam em troca, mesmo sendo na superior versão felina do sentimento. Todavia, sua favorita sempre seria Tabitha. A gatinha era apaixonada por Melanie, tão leal quanto um cachorro, seguindo-a pela casa e adorando ficar deitada aos seus pés ou no seu colo, sempre que possível. Era Tabitha que estava nos pensamentos de Melanie, quando ela perguntou: — Tem certeza de que os gatos estavam todos dentro de casa quando saímos? — Absoluta — Forde respondeu pacientemente. Já era a terceira vez que ela lhe perguntava a mesma coisa. — E a TV está desligada, e a porta dos fundos está trancada, está bem? Melanie sorriu para ele. Há algumas horas que entrara em trabalho de parto, mas as contrações não haviam seguido nenhum padrão específico, e nem pareciam muito intensas. Depois, de forma brusca, a surpreendera e deixara Forde em pânico, pois aumentaram dramaticamente de intensidade e passaram a vir com um intervalo muito menor entre elas. Há semanas que a mala para o pernoite estava pronta, e deixada no mesmo lugar, ao pé da cama deles, contudo, de algum modo, Forde só conseguira achá-la quando ela lhe dera uma mãozinha. Ela olhou para o velocímetro e tentando imprimir um tom de tranquilidade à voz, disse: — Estamos a oitenta em uma zona de cinquenta, Forde. — Eu sei. Sua voz estava um pouco tensa. — Temos bastante tempo. Contudo, assim que falou, uma nova contração apossou-se dela. — Tudo bem? — Forde não tirou o pé do acelerador, e o olhar que lançou para ela foi de desespero. — Eu disse que deveríamos ter saído de casa antes, Nell. — Está tudo bem. — Ela conseguiu sorrir novamente. — Três das mães das aulas de pré-natal foram enviadas para casa devido a alarmes falsos, e eu não queria que o mesmo acontecesse comigo. Só quis ter certeza. Forde gemeu. — E por acaso dar à luz no carro a convenceria? — dando-se conta da sua falta de tato, ele tratou de acrescentar: — Não que não conseguiríamos lidar com isso, caso viesse a acontecer, mas prefiro que seja no hospital. Na verdade, ela também. E estava começando a achar que saíra um pouco tarde demais, não que fosse admitir isso para Forde. Não do jeito que ele estava dirigindo. Melanie concentrou os pensamentos no seu bebê, forçando-se a acalmar-se e a recompor-se. Haviam decidido que não queriam saber o sexo do bebê no ultrassom das vinte semanas, no início do ano. Não importava. A única coisa que importava é que o bebê fosse saudável. Chegaram ao hospital sob o crepúsculo violeta, e outra contração apertou a barriga de Melanie como se fosse um torno. Ela fincou as unhas no braço de Forde, e começou a ofegar como um cachorrinho. — Vou buscar a cadeira de rodas — ele disse, olhando ao redor com uma expressão assombrada no rosto. — Fique sentada aqui no carro. Ela o segurou com toda a força, até a contração passar, e disse, com firmeza: 67
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks — Pode apostar que não vou usar cadeira de rodas, Forde Masterson. As contrações estão separadas por quatro minutos, de modo que podemos chegar à recepção antes da próxima e, depois, podemos aguardar um pouco, antes de seguir para a maternidade. Ele a fitou com grande admiração. Desde que ela retornara para casa com ele, após passarem o Natal juntos no chalé, Melanie não se deixara abater por nada. Tinha de admitir que ele mesmo vinha se portando como um gato em teto de zinco quente nas últimas semanas, esperando a chegada do bebê, mas Melanie só poderia ser descrita como serena. Haviam decorado o quarto de bebê de amarelo-claro e estava tudo pronto para receber o novo membro da família. Só faltava o bebê, agora. Não chegaram à recepção antes da próxima contração. Agora, além da ansiedade, havia também o medo. Visões do bebê nascendo no estacionamento lhe vieram à cabeça. Sabia que deveriam ter saído mais cedo. Mas Melanie podia ser tão teimosa quando queria. E linda, e maravilhosa, e fantástica. Após o que pareceu ser uma eternidade, Melanie soltou-lhe o braço, embora ele pudesse notar as gotas de suor na sua testa. — Puxa. — Ela sorriu, tremulamente. — Lembra-se do que eles nos disseram nas aulas, se o bebê chegar inesperadamente? — Nem brinque. Ele praticamente a carregou pelo restante do percurso, e assim que cruzaram as portas da recepção, a equipe de plantão do hospital se encarregou de tudo. Forde ficou aliviado. Em pouco tempo, já estavam na sala de parto. Por um instante, não pôde deixar de se lembrar da última vez em que estivera naquela unidade e sentiu um aperto no coração ao olhar para Melanie, que estava concentrada nas orientações da parteira. Ele fitou-lhe o rosto, admirando a sua expressão de concentração e de coragem, e o seu mundo retornou aos eixos. — Você está indo muito bem, meu amor — murmurou, lamentando não poder dividir a dor com ela. Durante as próximas duas horas, as contrações continuaram a intervalos de três minutos, o que pareceu uma eternidade para Forde, embora a equipe médica não parecesse alarmada. Melanie estava ficando cansada, chegando a cochilar nos poucos minutos que separavam as contrações, mas ainda lhe apertava a mão com a força de uma dúzia de mulheres, e, de vez em quando, sorria e dizia para ele que estava tudo bem. Forde sentia-se impotente. De repente, pouco após a meia-noite, as coisas começaram a acontecer. Melanie começou a empurrar, e outra parteira se juntou a eles, as mulheres se posicionando ao lado das pernas dobradas de Melanie, enquanto ele permanecia sentado ao lado da cama, segurando-lhe a mão. Jamais teria pensado que ela ainda tivesse forças para fazer o que era necessário, contudo, como sempre, Melanie provou que ele estava errado, empurrando com toda a força quando as parteiras mandavam que ela o fizesse, e ofegando novamente como um cachorrinho quando mandavam que ela parasse. Vinte minutos mais tarde, o filho deles nasceu, e, de acordo com a parteira que o colocou nos braços de Melanie, era um gigante. Forde sabia que jamais esqueceria a expressão no rosto de Melanie quando ela olhou para aquele rostinho amassado. E o bebê olhou de volta para ela com aqueles olhinhos acinzentados, como se já soubesse que aquela era a sua mãe. — Oi — ela sussurrou, baixinho, as lágrimas escorrendo pelas faces quando beijou a testa aveludada. — Sou a sua mamãe, meu querido. E este é o seu papai. Com um sorriso radiante, ela virou-se para Forde, para ver que as faces dele também estavam úmidas. 68
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks — É tão lindo. — Forde beijou-a carinhosamente, antes de oferecer o dedo para o filho, Luke Forde Masterson, que o agarrou com surpreendente força, fazendo com que ambos rissem. — Olhe só para todo esse cabelo preto. — Vai ser tão bonito quanto o pai — disse uma das parteiras, sorrindo para os dois. — E é um meninão. As parteiras deixaram a sala de parto, prometendo retornar em alguns minutos com xícaras de chá para ambos. — Como está se sentindo? — Forde perguntou, o braço ao redor dela, enquanto Melanie acariciava uma das faces pequeninas com a ponta do dedo. — Maravilhosa, e um pouco triste, mas suponho ser natural. Não significa que eu ame menos Luke, apenas que lamento que as coisas não tenham sido diferentes com Matthew. Ele assentiu, por um instante, abraçando-a com mais força. — Ele não é lindo, Forde? E já lembra você. Tem o seu nariz. Está vendo? Forde sorriu, olhando para o filho. — Prefiro que ele se pareça com você. — Ah, não. — Ela sacudiu a cabeça. — Nossas filhas podem se parecer comigo e os nossos filhos com você. Depois de tudo pelo que ela passara, Forde achava impressionante que, naquele exato momento, Melanie fosse capaz de falar em ter mais filhos. Ele a beijou nos lábios. — Amo você, sra. Masterson. — E eu amo você, sr. Masterson. Para sempre.
Epílogo
Melanie e Forde acabaram tendo a família com que tanto sonharam. Dezoito meses após o nascimento de Luke, as gêmeas, Amy Melanie e Sophie Isabelle, vieram ao mundo. Como Melanie previra, as meninas eram a cara da linda mãe. E, dois anos mais tarde, John William completou a família. Haviam deixado a casa em Kingston logo após o nascimento das gêmeas, mudando-se para uma enorme mansão elisabetana, no interior, uma propriedade de muitos hectares com jardins magníficos. Ela até veio com uma maravilhosa casa na árvore construída em um gigantesco carvalho, um pouco afastado da mansão, uma casa na árvore quase tão grande quanto o pequenino chalé de Melanie. Ela não fora capaz de vender o chalé, não com todas as lembranças que este guardava daquele maravilhoso Natal em que ela e Forde haviam reatado, e, agora, James estava morando lá. Com a família de Melanie crescendo, ele assumira um papel maior tocando o negócio, que continuava crescendo a ritmo constante. James tinha três empregados em tempo integral e dois a meio período sob o seu comando, junto com a senhora de meia-idade que assumira a maior parte da papelada envolvendo a empresa. À Tabitha e à família se juntaram dois cães resgatados, e, com o passar do tempo, as crianças foram presenteadas com dois pequeninos pôneis para que pudessem aprender a montar, além de um burrinho idoso, outro animal resgatado, que Melanie quis que vivesse os seus últimos dias confortavelmente. Era um lar feliz, contudo, quando John começou a escola, Melanie achou que já estava na hora de sugerir para Forde uma ideia que estava há muito tempo na sua 69
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks cabeça. Tendo ficado frágil demais para continuar na sua própria casa, Isabelle passara os últimos anos morando com eles, porém, infelizmente, falecera na primavera, dormindo tranquilamente na própria cama. Melanie e Forde estavam sentados ao redor da piscina que Forde mandara construir, pouco após terem se mudado para a casa. Estavam observando as crianças e alguns dos seus amigos brincando na água, antes que Forde desse início ao churrasco de almoço. Era um lindo dia de verão no início de junho. Melanie inspirou fundo e virou-se para Forde, que estava deitado na espreguiçadeira ao seu lado, usando apenas um calção de banho. Como sempre acontecia quando olhava para ele, sua pulsação acelerou-se. O corpo dele continuava tão trabalhado quanto sempre fora, e Forde exalava apelo sexual. Ela plantou-lhe um beijo na boca antes de voltar a se recostar na própria espreguiçadeira. — Preciso conversar com você. Ele sorriu, ligeiras rugas formando-se ao redor dos olhos prateados. — Não precisa marcar um horário, meu bem. Somos casados, lembra-se? — É sério, Forde. Quero que consideremos nos tornar pais adotivos, recebendo na nossa casa o tipo de criança problemática que eu fui, o tipo que ninguém está muito empolgado para receber. Forde endireitou-se na espreguiçadeira. — Agora que John começou na escola, e sua mãe se foi, acho que é a hora certa. Forde olhou para a esposa. Jamais se cansava de olhar para ela. A alegria da vida familiar parecia deixá-la mais jovem a cada ano que passava. — Tem certeza quanto a isso? — perguntou baixinho. — Significaria grandes mudanças, e, boa parte do tempo, não será fácil. As crianças também terão de fazer alguns ajustes. Melanie assentiu. — Sei disso. Acredite, não é um capricho qualquer. Quanto às crianças, sabe que eu as amo mais do que qualquer coisa, e que elas sempre virão em primeiro lugar. Mas... — Ela interrompeu-se, buscando as palavras certas. — Elas não fazem ideia da infelicidade com que certas crianças precisam conviver todos os dias, e é claro que sou grata por eles não terem de sentir isso na pele, mas compartilhar o seu lar, e nós mesmos, com esse tipo de crianças, a longo prazo, as tornará seres humanos melhores. Elas são privilegiadas, Forde, tão privilegiadas, e sou grata por isso, mas não quero que cresçam sem entender que nem todo mundo tem a sorte que eles tiveram Le-lembro como foi para mim, quando criança e quero dar algo em troca. Quero ajudar alguns pequeninos, dar-lhes a chance de sentirem-se amados e queridos. Esta é uma casa tão grande, em uma propriedade tão maravilhosa, e temos quatro quartos de hóspedes que mal usamos. Forde franziu a testa. — E quanto à pura logística de cuidar de mais quatro crianças, dando-lhes tempo e atenção adequados? Posso tentar dividir melhor o meu tempo, mas não vou poder estar aqui o tempo todo, e não quero que você se desgaste excessivamente, Nell. Vai precisar de ajuda. — Sei disso. E parte do que me levou a achar que a hora é esta foi uma conversa que tive com Janet no outro dia. Sabe que nós nos encontramos para almoçar, algumas vezes por ano? Forde assentiu. Ficara longe demais para Janet continuar trabalhando para eles quando se mudaram, e, além do mais, Melanie quisera assumir em tempo integral o papel de mãe e dona de casa, daí ela ter deixado o negócio praticamente nas mãos capazes de James. Mas ela não perdera o contato com a antiga governanta. — Bem, como você sabe, o marido dela morreu no ano passado, e dois dos filhos já estão casados e morando fora de casa. A garota que ficou é a que tem dificuldades de 70
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks aprendizado, mas é tão boa cozinhando e limpando quanto a mãe. Sei que Janet iria adorar voltar como cozinheira e governanta, com a filha ajudando-a. Nós três não teríamos problemas em dar conta da casa e das crianças. Daria certo, Forde. Eu sei que daria. Mas sei que você também tem de querer. — E onde Janet e a filha morariam? No anexo que construímos para mamãe? — Você se importaria? — Claro que não. — Ele passou a mão pelos cabelos. — Mas eu terei de pensar melhor. Nós teremos de pensar melhor. — Com certeza. — Haverá despesas, supervisão, burocracia e sabe-se lá o que mais. Significará abrir toda a nossa vida para desconhecidos, antes de sequer obtermos autorização. — Sei disso, mas também sei que valerá a pena. Eu quero tentar, Forde. Se não der certo... — Ela deu de ombros. — Que seja. Um sorriso lento apareceu no rosto dele. — Nell, eu a conheço o bastante para saber que não é bem assim. Isto é importante para você, não é? — É, mas se você não estiver de acordo, sequer nos informaremos a respeito. Ele inclinou-se para ela, levando a mão à sua face. — Se é importante para você, é importante para mim, sabe disso. Ela ladeou-lhe o rosto com as mãos e beijou-o profunda e apaixonadamente. — Quer dizer que posso começar a sondar a respeito do assunto? Levando a mão esquerda dela aos lábios, Forde plantou um beijo gentil no dedo com a aliança de casamento. — Nós faremos tudo juntos, está bem? — Está bem — Melanie sussurrou, desejando-o, amando-o. O juizado de menores os recebeu de braços abertos. Como Forde previra, a burocracia fora interminável. Contudo, quando o Natal chegou, já estavam com a documentação toda em ordem, e as duas primeiras crianças, um menino e uma menina que não eram parentes, mas haviam passado algum tempo juntos no orfanato, chegaram para passar o feriado do Natal com eles para ver como se adaptavam. O histórico das crianças era problemático, e não deixava dúvidas de que não confiavam em adultos, e o menino tinha um bocado de raiva reprimida, contudo, no instante em que Melanie viu-lhe os rostinhos desconfiados, ela apaixonou-se por eles. Chegaram à casa alguns dias antes do Natal, e, na véspera do Natal, Melanie sentou-se na cama do menino e contou a história de uma menininha que estivera sob a guarda do Estado e que se sentira abandonada e sozinha. Ele a escutou com a hostilidade no olhar, até o instante em que ela lhe disse que fora ela a menininha, claramente pegando-o de surpresa. Fora a brecha nas defesas dele que ela vinha buscando. A princípio taciturno e desconfiado, o menino começou a lhe fazer várias perguntas, o que resultou na revelação natural de boa parte de sua própria história traumática. As outras crianças já estavam dormindo, aguardando a passagem de Papai Noel, enquanto Melanie passou duas horas conversando com ele, antes que adormecesse. Quando se juntou a Forde, lá embaixo, ele estendeu a mão para ela, puxando-a na direção das portas envidraçadas do terraço, e abrindo-as. Em meio ao ar frio que os recebeu, alguns flocos de neve começavam a cair sobre a grande propriedade, recoberta por um lindo manto branco. — Um novo mundo — ele sussurrou, puxando-a para si. — É o que eu quero para essas crianças, Nell. Eu dei um pulo lá em cima, e não pude deixar de escutar a sua conversa com ele, e sei que você vai transformar a vida dele. 71
Jessica 229 – Uma Noite a Mais – Helen Brooks — Nós dois vamos — ela falou, baixinho, a emoção deixando-lhe a voz rouca. — Mas você principalmente. — Ele sorriu, beijando-a com vontade. — Vamos ter mais milagres natalinos, Nell, e nossa família vai crescer de uma maneira que eu jamais havia considerado, mas que é perfeita. E por sua causa, meu amor. Tudo por sua causa. O que fiz para merecê-la? — É o que eu penso cada vez que olho para você — ela sussurrou. — Você não me deixou ir quando eu fugi. Veio atrás de mim. Jamais poderá saber o que isso significou para mim — Também não deixaremos esses pequeninos irem — Ele olhou para o céu acinzentado, de onde mais flocos de neve caíam. — Este vai ser outro Natal maravilhoso, meu amor. E foi mesmo.
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