INTERESSES DO AMOR AFFAIRS OF STATE
Jennifer Lewis
Realeza americana. Como se não bastasse descobrir que é a filha secreta do presidente dos Estados Unidos, Ariella Winthrop ainda se apaixona por um príncipe inglês. A vida não poderia ficar mais complicada... Ou poderia? Divertir-se com Simon Worth em encontros apaixonados, ainda que secretos, é uma coisa. Mas um relacionamento sério? A monarquia britânica definitivamente não quer ver um dos seus amados príncipes envolvidos com uma americana rodeada de escândalos. No entanto, tudo muda quando Ariella descobre que espera um bebê de sangue azul. Agora, ela não terá mais como disfarçar... Disponibilização: Projeto Revisoras Revisão: Carmita
Jennifer Lewis - [Filhas do Poder 6] - Interesses do Amor (Desejo Dueto 44.2)
HARLEQUIN 2014 Tradução Leandro Santos PUBLICADO SOB ACORDO COM HARLEQUIN ENTERPRISES II B.V./S.à.r.l. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: A VERY EXCLUSIVE ENGAGEMENT Copyright © 2013 by Harlequin Books S.A. Originalmente publicado em 2013 por Harlequin Desire Título original: AFFAIRS OF STATE Copyright © 2013 by Harlequin Books S.A. Originalmente publicado em 2013 por Harlequin Desire Projeto gráfico de capa: Nucleo i designers associados Arte-final de capa: Ô de Casa Editoração eletrônica: EDITORIARTE Impressão: RR DONNELLEY www.rrdonnelley.com.br Distribuição para bancas de jornais e revistas de todo o Brasil: FC Comercial Distribuidora S.A. Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171,4° andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380 Contato: virginia.rivera@harlequinbooks.com.br
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CAPÍTULO UM
– O príncipe está olhando para você. – Talvez a taça dele esteja vazia. – Ariella Winthrop enviou uma mensagem de texto pedindo outra rodada de salmão e caviar. O evento de gala que planejara era para arrecadar fundos para um hospital, e havia quase 600 convidados no salão. – Vou mandar um garçom até ele. – Você nem o olhou. – Francesca Crowe, uma glamourosa amiga dela, era uma das convidadas da festa e se encaixava perfeitamente na multidão de bilionários. Costumava ser constrangedor quando as amigas de Ariella iam aos eventos dela e queriam conversar e ficar por perto enquanto ela precisava cuidar dos detalhes. Felizmente, podia ser franca com Francesca. – Estou ocupada trabalhando. E tenho certeza de que você está imaginando coisas. – Ela sequer olhou para o príncipe. Com sorte, ele já parara de olhá-la; estava começando a ficar envergonhada. – Talvez ele esteja intrigado com a misteriosa filha do presidente dos Estados Unidos. – Vou fingir que não ouvi isso. E não quero mais saber da ideia de conhecer o presidente Morrow na rede de TV do seu marido. – Francesca sabia que ela estava brincando, mas o coração de Ariella se apertou ao pensar naquilo. Todos estavam falando dela e de seu famoso pai, e ela sequer fora apresentada ao homem. – Dê uma olhada. Ele é lindo. Contra a própria vontade, Ariella ergueu o olhar. Seus olhos se fixaram num homem alto. O cabelo loiro-escuro cortado curto contrastava com o smoking preto. Uma rajada de energia foi disparada pelo ar quando ele começou a caminhar na direção dela. – Oh-oh, ele está vindo para cá. – Eu disse que ele estava olhando para você. – O que será que há de errado? – A pulsação de Ariella disparou, e ela plantou no rosto o sorriso mais solícito que conseguiu enquanto ele se aproximava. Nunca era fácil saber se ela devia se apresentar naquelas situações. Afinal, estava trabalhando; não era uma das convidadas. Antes que Ariella pudesse organizar seus pensamentos, ele já estava diante dela, estendendo a mão. Então ela a apertou. A pegada dele era previsivelmente firme e autoritária. – Srta. Winthrop, Simon Worth. Ele sabia o nome dela? Provavelmente lera na imprensa, como todas as outras pessoas. – É um prazer conhecê-lo. – Os olhos dele se fixaram nos dela intensamente. De um tom cor de mel escuro, eles pareciam enxergar diretamente através da fachada profissional dela, vendo a mulher por trás de tudo.
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– Estou impressionado. – A voz dele era grave e fez algo despertar dentro dela. Ah, céus. Não havia nada de bom em se sentir atraída por um convidado da realeza. – Ah, obrigada. É muita gentileza. – Era infrequente que convidados agradecessem pessoalmente à planejadora do evento. Ou sequer percebessem que ela existia. – Gostamos muito de organizar eventos beneficentes. Ele soltara a mão dela, mas seu olhar ainda a fixava. O humor surgiu em seus olhos. – Apesar de não ter me referido à sua capacidade de planejar eventos, tenho certeza de que ela também é impressionante. Admiro a bela forma como você lidou com os holofotes da mídia sobre a sua vida pessoal. – Ah. – Ariella sentiu seu rosto corar, o que era algo incomum. Aquele homem estava tendo um perturbador efeito sobre ela. – Acho que o fato de eu não ter muita vida social ajuda. Trabalho o tempo inteiro. Então os repórteres não tiveram muita coisa para explorar. E é fácil ignorar quando, na maior parte do tempo, não faço ideia do que eles estão falando. – Sei como você se sente. – Ele sorriu. – Tenho câmeras na minha cara desde que aprendi a falar. Acabei percebendo que, se não houver uma boa matéria, eles simplesmente inventam uma e torcem para que você caia na armadilha fazendo alarde por causa dela. Ela também sorriu. – Então é melhor tapar os ouvidos e torcer para que os repórteres sumam? – Basicamente. – Ele tinha uma sexy covinha na bochecha esquerda. Era mais alto do que ela esperara. E mais deslumbrante. Seu smoking se esticava pelos largos ombros, e a elegante camisa branca emoldurava o robusto pescoço, que parecia de um atleta. – Viajar bastante ajuda a deixá-los para trás. Agora que sou ex-militar, viajo muito para a África. É bem fácil despistar fotógrafos no meio da savana. Ela riu ao pensar na imagem. – O que você faz na África? – Administro uma organização chamada World Connect, que leva tecnologia e educação para regiões afastadas. A equipe é toda local. Por isso passamos muito tempo recrutando nos vilarejos e ajudando a dar início às coisas. – Deve ser gratificante. – Deus, como ele era adorável. Um príncipe que se importava com algo além de se divertir? – Achei que eu não fosse saber o que fazer depois que saísse das Forças Armadas, mas estou mais ocupado e mais feliz do que nunca. Espero conseguir algumas doações nesta visita a D.C. É outro desafio que me mantém ativo. Talvez você possa me ajudar com isso. – Planejando um evento beneficente? – Scarlet, sócia dela, ficaria empolgadíssima se Ariella conseguisse outro membro da realeza para a lista de clientes delas. – Por que não? Gostaria de tomar chá comigo amanhã? O cérebro dela ficou paralisado. Algo na linguagem corporal dele lhe dizia que ele queria mais do que chá. Seu charme era famoso, e, ainda que Ariella não conseguisse se recordar de ter lido sobre nenhum escândalo romântico nos jornais, a última coisa de que ela precisava era dar aos tabloides mais combustível para as fofocas. – Infelizmente, tenho um compromisso amanhã. – Ela recuou levemente. 4
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Em vez de parecer irritado ou incomodado, ele inclinou a cabeça e sorriu. – Claro. Você é uma mulher ocupada. Que tal no café da manhã? Deve ser a refeição mais tranquila para uma planejadora de eventos. Ariella engoliu em seco. Tudo lhe dizia para fugir gritando dali. Ele era perigosamente lindo e devia ter anos de experiência em sedução de mulheres em estados muito menos vulneráveis do que o dela. Contudo, ele era um príncipe, e, em sua profissão, ela não podia se dar o luxo de ofendê-lo. Planejar um evento beneficente para ele seria ótimo para a DC Affairs. E o que poderia acontecer durante o café da manhã? – Estaria ótimo. – Meu motorista irá buscá-la em sua casa. Será discreto, confie em mim. – Ah. – Por algum motivo, aquilo soara mais preocupante do que nunca. Se o encontro seria para falar apenas de negócios, por que eles precisariam de discrição? Mas ela conseguiu sorrir tremulamente. – Meu endereço é… – Não se preocupe. Ele vai encontrar. – Ele fez um curto movimento de cabeça e recuou, desaparecendo em meio à multidão. Ariella teve vontade de desabar de alívio contra uma parede. – Ora, ora. – A voz de Francesca a assustou. – Eu tinha esquecido que você estava aí. – Percebi. Você se esqueceu de me apresentar ao seu amigo nobre. Muito bonito. E eu achava que, supostamente, o bonito fosse o irmão mais velho dele. – O irmão mais velho dele é o herdeiro do trono. – Pense só, se os Estados Unidos fossem uma monarquia, você seria a próxima na linha de sucessão. Seu pai é o presidente, e você é a única filha dele. – Que ele sequer sabia que existia até algumas semanas atrás. E ainda não o conheci pessoalmente. – Aquilo doía cada vez mais. – Liam está negociando com a assessoria de imprensa da Casa Branca uma data para o programa especial do encontro. Ted Morrow aceitou fazer. Tenho certeza de que ele também quer conhecer você. – Ou não. Afinal, fui um acidente. E não devíamos falar disso aqui. Alguém pode estar ouvindo. Eu devia estar trabalhando. Você não tem que se socializar com os ricaços? – Essa é a função do meu marido. Quem me dera ser uma mosquinha nos croissants de amanhã de manhã… – Não consegui encontrar uma desculpa para não ir. – O coração dela acelerou com a ideia de encontrar o príncipe Simon para o café. – Está louca? Ele é totalmente delicioso. – Seria mais fácil se não fosse. A última coisa de que preciso é embarcar num caso escandaloso com um príncipe. – Ariella suspirou ao sentir um frio na barriga. – Não que ele esteja interessado, claro, mas, justamente quando penso que as coisas não poderiam ficar mais loucas, elas ficam. – Hã… acho que tem alguém vomitando nos lírios dourados. – Francesca gesticulou discretamente para uma jovem curvada sobre um vaso de flores. Ariella pegou o telefone. 5
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– Entendeu o que eu disse?
O motorista uniformizado que tocou a campainha dela parecia ter vindo de outra era. Ariella correu para o banco de trás, torcendo para que não houvesse fotógrafos à espreita. Ela não perguntou para onde eles estavam indo, e o motorista não disse nada. Sendo assim, ela observou com surpresa, e, em seguida, alarmada, enquanto o carro a levava para fora da cidade, para um verdejante subúrbio. Quando o subúrbio deu lugar a grandes haras, ela se curvou à frente e fez a pergunta que deveria ter feito antes de entrar no carro. – Aonde você está me levando? – Sutter’s Way, senhorita. Já estamos quase lá. Ela engoliu em seco e se recostou. Sutter’s Way era uma linda e antiga mansão, construída pela família Hearst no auge de sua fortuna e influência. O carro passou pelo alto portão de ferro forjado, percorreu uma pista de cascalho e estacionou diante da elegante casa. Quando Ariella saiu, seus saltos afundaram no cascalho, e ela alisou a saia do recatado e nada sexy vestido azul-marinho escolhido para a ocasião. Simon desceu os degraus e foi na direção dela. – Desculpe pela distância, mas achei que você gostaria da privacidade. – Ela se preparou para um abraço ou um beijo, mas censurou a si mesma quando ele lhe deu um firme aperto de mão. A cabeça dela devia estar nas nuvens se ela esperava que um membro da realeza a beijasse. Ele estava ainda mais bonito de camisa de gola aberta e calça cáqui. Sua pele era bronzeada, e seu cabelo parecia bagunçado pelo vento. Não que aquilo fizesse diferença para ela. Ele era apenas um cliente em potencial, e um muito influente. – Tenho ficado meio paranoica com a imprensa. Eles parecem surgir nos lugares mais inesperados. Não sei o que esperam me flagrar fazendo. – Beijando um príncipe britânico, talvez. Ele gesticulou para que ela entrasse. – Aprendi do pior jeito que fotógrafos seguem mesmo você a todos os lugares. Então é melhor se ater a atividades que não se importe de ver estampadas nos jornais. – O sorriso dele era contagiante. – Mas, pelo que vi, você lida com tudo isso como se fosse profissional. – Deve estar no sangue. – Ultimamente, ela vinha pensando muito em seu pai biológico. Ele encontrava a imprensa todos os dias com bom humor e jamais parecia abalado. – Sem dúvida. Tenho certeza de que seu pai está muito impressionado. – Meu pai é… era um bom homem chamado Dale Winthrop. Foi o pai que me criou. Ainda não consigo me acostumar com as pessoas se referindo ao presidente Morrow como meu pai. Se não fosse por aqueles inescrupulosos jornalistas violando a lei em busca de uma matéria, ele sequer saberia que eu existo.
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Eles entraram num ensolarado cômodo, onde havia um elegante café da manhã, com um cheiro delicioso, disposto sobre uma toalha de mesa cor de creme. Ele puxou a cadeira para ela, o que deu a Ariella uma estranha sensação de estar sendo… cuidada. – Fique à vontade. Por ora, a casa é nossa. Dispensei até os funcionários para que você não se preocupe. – Fantástico. – Ela pegou um bolinho, sem saber mais o que fazer. – Então você tem que agradecer à imprensa por saber quem é seu pai. Talvez ela não seja tão ruim assim. – Não? Tem sido um pesadelo. Eu era uma pessoa tranquila que tinha uma vida pacata… pontilhada por festas espetaculares… antes de tudo isso explodir. – Estou impressionado por você não ter aceitado um contrato para fazerem um filme ou contado tudo numa biografia secreta. – Talvez eu contasse tudo se eu soubesse de algo. – Ela riu. Como podia ser tão fácil conversar com um príncipe estrangeiro? Ela se sentia mais relaxada discutindo aquela situação com Simon do que com suas amigas. – Fiquei tão surpresa quanto todas as outras pessoas. Eu sempre soube que era adotada, mas nunca tive nenhum interesse em encontrar meus pais biológicos. – O que seus pais adotivos acham disso tudo? – Eles morreram há quatro anos. Um acidente de avião. – Ela ainda não conseguia falar daquilo sem ficar emocionada. – Sinto muito. – A preocupação dominou o lindo rosto dele. – Você acha que eles iriam querer que você conhecesse seus pais biológicos? Ela o olhou fixamente. – Sabe de uma coisa? Acho que sim. – Ela suspirou. – Se ao menos eles ainda estivessem aqui… Então eu poderia pedir conselhos a eles. Minha mãe sempre sabia o certo a fazer numa situação complicada. – Parece um bom momento para acolher pais novos em sua vida. Não para substituir os que criaram você, claro, mas para ajudar a preencher o vazio que eles deixaram. A compaixão dele a tocou. E Ariella sabia que a mãe dele morrera de forma súbita e trágica quando ele era menino. Sendo assim, ele não estava simplesmente inventando. – É muito meigo você pensar isso, mas, até agora, nenhum deles parece querer um relacionamento comigo. – Você ainda não os conheceu? – Ele pareceu chocado. Ela balançou a cabeça. – O gabinete do presidente nem deu nenhuma declaração oficial a meu respeito, mas parou de negar que eu podia ser filha dele quando o resultado do teste de DNA veio a público. – Ela suspirou fortemente. – E a minha mãe… Você jura guardar segredo? – Claro. – Minha mãe verdadeira se recusa a aparecer. Ela escreveu uma carta para mim, e fico agradecida por isso, mas, no geral, foi para dizer que não queria se manifestar com relação à situação. Ela está morando na Irlanda. – É mesmo? – Ele se animou. – Você precisa vir para o nosso lado do Atlântico fazer uma visita. 7
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– Obviamente, ela não me convidou. – O bolinho estava esfriando na mão dela. Seu apetite parecia ter desaparecido. – E não posso culpá-la. Quem iria se meter numa confusão dessa? – Ela não tem como se safar. Teve um relacionamento com o presidente. Se bem que ele não era presidente na época. – Não, era só um alto e lindo atleta do último ano do colégio. Vi fotos nas notícias. – Ela sorriu tristemente. – Na carta, ela me disse que manteve a gravidez em segredo porque ele iria fazer faculdade, e ela não queria estragar o que seria uma carreira brilhante. – Talvez ela precise de tempo para se acostumar à situação. Aposto que ela está morrendo de vontade de conhecer você. – Estou aprendendo a não criar expectativas. Quando você menos espera, elas acabam não sendo correspondidas. – Mas você não pode ficar paranoica. Isso não adianta. Tento partir do princípio de que todos têm as melhores intenções, até que provem o contrário. Ariella não sabia o que pensar das intenções de Simon. Estava com uma forte sensação de que ele não a convidara para ir até ali para planejar uma festa, mas seria impossível perguntar diretamente. – Quer dizer que devo tentar considerar todos como amigos em potencial, mesmo se estiverem tentando tirar uma foto minha comprando pão? – Se você conseguir. No mínimo, eles não vão tirar uma foto ruim sua. – Ele conseguiu ser malicioso e profundamente sério ao mesmo tempo. – Desde que o seu irmão mais velho se casou, os jornais não param de especular sobre a sua vida amorosa, mas ainda não vi nenhuma matéria concreta. Como você consegue manter a vida particular fora dos jornais? – Oh-oh, ela estava perguntando a respeito da vida amorosa dele, de um jeito cheio de rodeios. Ariella se arrependeu da pergunta, mas estava fervendo de curiosidade. Ele estaria envolvido com alguém? – Tenho privacidade. – Ele gesticulou para o elegante ambiente. – Só preciso ter a sagacidade de consegui-la. Aquele era o Simon que o público não conhecia, e ele a convidara para o exclusivo mundo dele. A respiração dela havia acelerado, e Ariella percebeu que ainda estava com o bolinho na mão. Ela o pôs no prato e bebeu um gole de suco de laranja. – Acho que preciso ser mais sagaz também. Deve ajudar ter amigos que têm mansões imensas. – Ela sorriu. – Ela parece ter um lindo jardim. – Quer dar uma olhada? Estou vendo que você não está com muita fome. – Eu adoraria dar um passeio. – Adrenalina e alívio a percorreram. Qualquer coisa para dissipar a nervosa tensão que se acumulava em seus músculos. – Talvez eu tenha mais fome depois de um pouco de ar puro. – Já corri hoje de manhã. Só eu e dois agentes do Serviço Secreto nas ruas. – Ele ficou de pé e puxou a cadeira para que ela se levantasse. – Onde os agentes estão agora? – Lá fora, verificando o perímetro. Vão manter uma distância discreta de nós.
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– Ah. – Ela olhou à volta, quase esperando ver um deles à espreita. Simon abriu uma porta, e eles saíram para um pátio com vista para um formal jardim de rosas. – Você escolheu o momento perfeito para me convidar. Estão todas desabrochando. – Estamos em junho. O momento mágico. Ele sorriu, e eles desceram alguns degraus até as rosas. Ariella se deleitou com o perfume delas. – Que lindas! Deve ser necessário um exército de jardineiros para mantê-las tão perfeitas. – Sem dúvida. Ela o olhou, lembrando-se imediatamente de como ele era alto. No mínimo, 1,90m. Seus ombros largos forçaram o tecido da camisa quando ele se curvou sobre as rosas. Simon tirou algo do bolso e cortou um dos caules, tirando os espinhos em seguida. – Você anda com um canivete? – Treinamento de escoteiro. – Ele ofereceu a flor a ela. Os dedos se tocaram, e Ariella sentiu a energia passar entre eles. Como ela podia se sentir atraída justamente por um príncipe britânico? Sua vida já não era suficientemente louca? – Você está muito quieta. – Pensando demais, como sempre. – Ela o olhou. O sol da manhã brincava com os planos rígidos do rosto dele. – Isso nem sempre é uma boa ideia. – Um sorriso repuxou o canto da boca dele. – Talvez seja melhor continuarmos andando. – A mão dele tocou a base das costas dela, fazendo um calafrio de excitação percorrer todo o corpo de Ariella. – Acho que tenho trabalhado demais. – Devia ser por isso que o simples toque de um homem lindo a enlouquecia. – Então precisa descansar. – Ele fazia aquilo parecer tão fácil. – Não posso simplesmente largar tudo e passar algumas semanas de férias. – Não sem a imprensa inteira atrás de você. – O irônico olhar dele a fez rir. – Você precisa ser astuta quando estiver em público. Não vai querer ser flagrada fazendo topless em Vegas. Ela gargalhou. – Acho que não existe muito risco de isso acontecer. E nunca fui a Vegas. – Não teve casamentos-relâmpago? – Não, felizmente. Ou seria meu ex-marido quem estaria preparando minha biografia secreta. – Isso é um risco? Tem pessoas no seu passado que poderiam revelar coisas que você não quer que venham a público? – Ele estava perguntando sutilmente a respeito do passado romântico dela? – Não – respondeu Ariella, de forma rápida e alta. – Acho que preciso ser grata por isso. Meu passado é bem comum. Já me envergonhei de a minha vida ter sido tão pacata até agora, mas, no momento, é um grande alívio. – Mas um pouco entediante. – Ela o olhou quando ele ergueu uma das sobrancelhas, como se quisesse tentá-la. – Às vezes, é bom ser entediante. 9
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– Mesmo no mercado de planejamento de eventos? – Ah, sim. Acredite, ajuda muito ser entediante e de bom gosto, especialmente quando há escândalos à sua volta. – Hum. Isso me parece um desperdício. Se for para fazer uma festa, é melhor que ela seja animada. Acho que penso o mesmo da vida. Às vezes, enlouqueço a minha família por não ficar por aí inaugurando supermercados e batizando navios, mas preciso escalar montanhas e atravessar desertos. Transformar minhas aventuras em atividades beneficentes dá a elas um ar de legitimidade, mas, francamente, eu as faria de qualquer forma, simplesmente porque gosto. Talvez você precise de uma aventura. – Ah, não. – A adrenalina a percorreu. – Não. Definitivamente, aventura é a última coisa de que preciso. É sério, sou uma pessoa entediante, chata. Fico mais feliz com uma xícara de chá e uma revista. – Aquilo devia fazê-lo parar. E talvez ela estivesse tentando convencer a si mesma de que não estava sentindo um surto de empolgação só por andar tão perto daquele homem. – Não acredito. – Ele tocou novamente a base das costas dela enquanto eles desciam um curto lance de degraus de pedra. Novamente, a pele dela se arrepiou, como se ele a tivesse tocado por baixo das roupas. Ariella não sentia aquilo fazia muito tempo. – Acredite – pediu ela, enquanto seu corpo ameaçava sucumbir a muito mais excitação do que ela precisava. – Só preciso mesmo recuperar minha vida comum e tranquila. – Bem. – Ele parou e pegou as mãos dela. Os dedos de Ariella formigaram, o ar ficou preso em seus pulmões. – Isso, definitivamente, não vai acontecer.
CAPÍTULO DOIS
Foi necessário todo o autocontrole de Simon para que ele não levasse seus lábios aos de Ariella. Mas ele conseguiu. Não queria estragar tudo. Espantá-la. Algo lhe dizia que Ariella Winthrop não era uma mulher comum. Havia algo nela que fazia a excitação percorrer o corpo dele. Simon tinha a intuição de que conhecê-la mudaria todo o curso da vida dele. Relutantemente, ele conseguiu soltar as mãos dela e se virar. – A realidade é que a sua vida já mudou para sempre. – Ele a olhou novamente. – Goste disso ou não, agora você é uma pessoa pública. – Aquilo o fazia se sentir mais próximo dela. Eles compartilhavam um vínculo, e os anos de experiência dele poderiam ajudá-la a atravessar o campo minado que era uma vida estampada nos jornais. – Mas continuo sendo a mesma de antes. – E, ao mesmo tempo, não. Você não sabia que o presidente era seu pai. – Fiquei surpresa com isso. Jamais teria imaginado. Agora as pessoas até dizem que me pareço com ele. Parece loucura. Não me sinto nem um pouco ligada a ele. 10
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Simon observou o belo rosto dela. Ariella tinha feições elegantes, clássicas, destacadas pelo calor de sua personalidade. – Você se parece mesmo com ele. Ela suspirou. – Você só está imaginando coisas. Ou tentando fazer com que eu me sinta melhor. Sim, eu gostaria de conhecê-lo, mas tenho certeza de que jamais vou ter por ele os mesmos sentimentos que tenho pelo homem que me criou. – Claro que não. Ninguém espera isso de você. – Sinto que esperam. Os jornalistas falam comigo como se eu devesse estar feliz por ter o presidente Morrow como pai. Ele é tão popular e bem-sucedido que devo estar louca de vontade de fazer parte da reverenciada família dele. Mas não dou a mínima. Eu preferiria ser filha de um bom homem que eu pudesse conhecer de fato, não uma figura todo-poderosa à qual todos se curvam. – Talvez ele não seja uma figura tão imponente quanto você pensa. Às vezes, as pessoas esperam que os membros da família real se comportem como estátuas, mas, acredite, também temos sentimentos. E isso pode ser muito inconveniente. – Como naquele momento, quando ele desejava tomar aquela atormentada e adorável mulher nos braços e lhe dar um grande abraço. Novamente, ele se conteve. Aprendera a ser uma estátua quando a ocasião exigia. – Acho que a imprensa não quer que eu seja uma estátua. Acho que quer me ver desmoronar. Pela forma como os repórteres vêm me cercando e me bombardeando com perguntas, parece que estão esperando que eu diga algo errado ou que comece a chorar. A brisa da manhã fez o vestido ficar colado ao corpo dela, delineando contornos que deixariam um homem mais fraco de joelhos. Se, ao menos, ele não fosse um cavalheiro… – E por que estamos falando de mim? É o assunto mais chato de todos. – Os olhos dela faiscaram com algo que o avisava. – Você não me convidou para planejarmos uma festa? Simon franziu o cenho. Ele usara aquilo como desculpa? Simplesmente quisera conhecê-la melhor. Mas era uma boa ideia. Gostaria de mostrar aos Estados Unidos a World Connect e conseguir novos doadores. – Acha que poderia me ajudar a montar um evento beneficente para a World Connect? Nunca fizemos um deste lado do Atlântico. – Claro. – O rosto dela se iluminou. – Organizamos eventos de gala o tempo todo. Podemos praticamente imprimir uma lista de pessoas que gostariam de apoiar causas nobres. – Parece ideal. E eu também não recusaria pessoas que quisessem doar para ter incentivos fiscais. Ela sorriu. – Esses costumam ser os mais generosos. Que tipo de local você tem em mente? Ele tentou fingir pensar naquilo. – Algum lugar… grande. – Era difícil pensar com aqueles grandes olhos verdes a olhá-lo com tanta esperança. – Tenho certeza de que você consegue pensar num bom lugar. 11
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– Há muitas possibilidades. Posso dar alguns telefonemas depois que você escolher a data. – A data? – Ele inspirou fundo. – O que você sugeriria? – Talvez fosse melhor uma data mais distante, para que ele tivesse muitas desculpas para se reunir com ela para planejar. – Verões não são o ideal, porque muita gente viaja para lugares de praia. Eu recomendaria outono ou inverno. – Sendo assim, novembro ou dezembro. Você pode escolher uma data que fique boa para o local. – Perfeito. Cinco ou seis meses de encontros com Ariella deviam ser suficientes para… Para o quê? Tudo o que ele sabia era que queria ficar perto dela. Ouvir sua voz. Tocá-la… – Minha sócia, Scarlet, tem uma lista principal de locais e se comunica com as pessoas que os administram. É melhor falarmos com ela. Também é importante descobrirmos o que mais vai acontecer nessa semana. Não é bom ter dois eventos semelhantes na mesma noite. – Claro. – Ele puxou sua mão, que já estava indo na direção dela. Precisava se conter, ou Ariella enviaria sua sócia em seu lugar. – Vou contar totalmente com seu conhecimento. Normalmente, consigo doadores para nossas ações telefonando para as pessoas. – Isso funciona bem? – Surpreendentemente, sim. – Parece muito mais barato que fazer festas. – Mas pense na diversão que vou perder. E quase ninguém ouviu falar da World Connect nos Estados Unidos. Então preciso espalhar a informação. Ela parou de andar. – Tenho uma ideia. – Sim? – O que acha de um show ao ar livre? – Em pleno inverno? – Não! – Ariella riu. – Você pode fazer em setembro ou outubro. Teríamos um público muito maior e mais diversificado e conseguiríamos o mesmo dinheiro vendendo mais ingressos. – Adorei. A ideia da World Connect é incluir. Então, quanto mais pessoas ficarem sabendo, melhor. – Se as bandas ficarem bem empolgadas, podem até tocar sem cobrar. – Ele conseguia ver Ariella ficando empolgada, o que teve um estranho efeito sobre sua própria adrenalina. – Tenho uma amiga que é agente musical. Tenho certeza de que ela pode me pôr em contato com artistas interessantes. – O que acha de alguns músicos da África? Eu poderia falar com alguns amigos de lá. Já estamos conseguindo pensar em tudo. Estou muito feliz por ter convencido você a vir aqui. – Os dedos dele formigavam para segurar os dela, e Simon os enfiou nos bolsos. Eles haviam saído para o gramado que circundava a quadra de tênis. – Mal consigo acreditar que tive a sorte de conhecer você. 12
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– Não foi sorte. – Ela sorriu de forma brincalhona, o que fez Simon sentir calor na porção inferior de seu abdômen. – Você veio diretamente até mim. – Gosto de fazer as coisas acontecerem. – Acho que é o melhor jeito de viver a vida. Vou adotar essa atitude daqui em diante. – Você tem que ser você mesma, mas não exibir todos os seus aspectos. É um equilíbrio delicado, mas já vi que você é mais do que capaz de fazer isso. Ela deu de ombros. – Não tenho muita escolha. – De certa forma, isso facilita. – Ele deslizou o braço em torno dos ombros dela, o que enviou uma deliciosa sensação de calor pelo torso dele. Simon se arrependeu instantaneamente de sua ação quando ela acelerou à frente. Frustrado, ele balançou a cabeça para si mesmo. Conseguia ver que, por baixo do comportamento calmo e controlado dela, havia nervosismo. O perfume dela encheu as narinas dele. – Um jardim é o pano de fundo perfeito para você. – A luz do sol reluzia no cabelo escuro dela e iluminava seus olhos. – Não sei por quê. Nunca passei muito tempo em jardins. – Você foi criada na cidade grande? – Não, numa cidadezinha em Montana, mas meus pais não tinham um jardim assim. Era um gramado com uma cerca. – O presidente é de Montana, não? – Sim. Foi assim que os jornalistas me encontraram. Eles foram até lá fazer uma matéria sobre a infância dele e resolveram instalar uma escuta no telefone de uma antiga camareira da Casa Branca que morava na cidade dele. Sem saber, ela revelou que a minha mãe… a namorada dele na época do colégio… tinha engravidado sem nunca ter contado a ele. A raiva cresceu dentro dele. Simon já conhecia a história. Ela incendiava as manchetes fazia meses. E, como ele estava ali para assinar um acordo entre os Estados Unidos e o Reino Unido para punir aqueles que usavam tecnologia para violar a privacidade alheia, ele precisava saber dos detalhes. – Você tem acompanhado a história na imprensa? Angelica Pierce, a jornalista do ANS que fez as escutas ilegais, vai ser presa, pelo que fiquei sabendo. De dois a cinco anos. – Eu sei. Todos acham que eu devia estar empolgada com isso, mas tenho pena dela. Na realidade, Graham Boyle, o antigo chefe do ANS, era o pai biológico dela e se negava a assumi-la fazia anos. Não sei se ela estava tentando impressioná-lo ou arruinálo com aquelas peripécias ilegais, mas, definitivamente, era um pedido de ajuda. Ouvi dizer que ela e o pai começaram a escrever um para o outro, agora que os dois estão presos. – Essa é uma situação familiar que faz qualquer outra parecer normal, até mesmo a descoberta de que seu pai é o presidente. – Tem razão. E eu tive uma infância ridiculamente normal. – Você gostou de ter sido criada em Montana? 13
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– Claro. Eu não conhecia nada diferente. Achava que todo mundo podia ir de bicicleta até a loja com o cachorro na cestinha ou passar o domingo inteiro pescando. Às vezes, sinto falta da vida simples. – Sério? – Ela estava relaxando um pouco. – Mas só por um momento. Adoro o agito de D.C. Acho que me dou melhor lidando com pessoas do que fazendo caminhadas pela mata. – Por que não pode fazer as duas coisas? – Acho que posso. Mas, nos últimos três ou quatro anos, tenho estado tão ocupada que mal consigo dormir nos finais de semana. – Administrar seu tempo é uma parte importante da vida sob os holofotes. – Eu me recuso a acreditar que vou passar o resto da vida assim. – Quem sabe? Talvez elejam outro presidente daqui a três anos e todos esqueçam você. – Ei, você está falando do meu pai! Ele riu. – Viu? Você já se sente apegada a ele. – Admito que tenho pensado muito em conhecê-lo. E também a minha mãe. Mas fico nervosa. – O que você tem a perder? – E se eu odiá-los? – Se odiar, odiou. Não é pior do que sequer conhecê-los. – Será? – Ela inspirou fundo e começou a atravessar o gramado. Ele a acompanhou, tentando desviar o olhar dos esbeltos quadris dela. Ariella se virou para ele. – E se eu adorá-los, e eles não gostarem de mim? – Isso jamais aconteceria. – Como você sabe? – Porque você é do tipo de filha que qualquer pai adoraria ter. Parece que o destino os está empurrando na sua direção. Arrisque, viva perigosamente. – Isso parece mais o seu lema, não o meu. Passo minha vida reduzindo as chances de que algo possa dar errado, tentando ter o máximo de cautela e preparo possível. – Então é hora de mudar. – Ela se preocupava demais com sua reputação, com a mídia e o futuro. Simon adoraria voltar o foco dela para coisas muito mais interessantes, como a sensação dos lábios deles se tocando, as mãos na pele um do outro. A vontade de beijá-la crescia a cada segundo. Contudo, a maneira como ela saltara para longe dele o avisava para ir devagar. – Talvez você tenha razão. – As palavras dela o surpreenderam. – Você vai conhecê-los? – Marquei um “reencontro” televisionado com meu pai no ANS, mas não sei da minha mãe. Na verdade, ela está numa situação mais complexa que a minha. Ela me abandonou e não disse ao meu pai que eu existia. De certa forma, ela tem bons motivos
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para ficar escondida. – Os olhos dela faiscavam de emoção. – Tenho certeza de que muita gente criticaria as escolhas dela, independentemente do motivo que a fez tomá-las. Ariella inspirou fundo. – E o meu pai nem sabia que era pai. Devia estar feliz da vida, sem vínculos e responsabilidades, a não ser com relação ao país. Agora ele descobriu que sempre teve uma filha, mas perdeu toda a experiência. Eu me sentiria roubada se fosse ele. – Será que eles se amavam? – Simon ainda não tinha certeza de que seus próprios pais tinham se amado. Havia tantas forças que os faziam ficar juntos, apenas para separá-los novamente. – Talvez você seja capaz de reuni-los novamente. – Você é pior que os tabloides! Ou é irremediavelmente romântico. – Imagino que seja a segunda opção. Ela levantou o queixo, observando-o. Talvez concluindo que o alegado romantismo fosse apenas uma estratégia para levá-la para a cama. A infeliz reputação de conquistador que ele tinha sempre criava preconceitos. – Por que você não tem um relacionamento? Seu irmão passou a vida adulta inteira namorando a mesma mulher. Agora eles se casaram. Ele deu de ombros. – Não tive a sorte que ele teve. – Ou talvez você tenha ficado ocupado demais escalando montanhas. Simon riu. – Também. Não há muitas mulheres adoráveis e inteligentes no topo das montanhas. – Você deve estar escalando as erradas. – Ariella se virou e se afastou novamente. Desta vez, contudo, seus movimentos continham um ar de provocação. Ela queria que ele a seguisse. O desejo dele aumentou. Simon a seguiu para um jardim quadrado, com caminhos de cascalho. Quando ela se curvou para cheirar uma das plantas, ele percebeu imediatamente a maneira como o vestido abraçava a deliciosa curva do traseiro dela. Havia alarmes disparando dentro da cabeça dele. A atração sexual costumava vir acompanhada de algum tipo de perigo. Todas as mulheres que haviam recebido um beijo dele, mesmo que no rosto, tinham sido imediatamente analisadas pela mídia como futuras princesas. Fazer sexo com elas estava fora de questão, a menos que fosse mantido o máximo de sigilo. Seu histórico militar ajudava em questões de subterfúgio, mas isso não mudava o fato de que, em geral, quando Simon queria beijar ou dormir com uma linda e intrigante mulher, ele precisava dizer “não” para si mesmo. Nas raras ocasiões em que os astros se alinhavam e ele conseguia garantir privacidade total, o momento era intenso e mágico. Até conseguira ter alguns relacionamentos de fato ao longo dos anos e tivera a sorte de gostar de mulheres que tinham se mostrado totalmente discretas. E ali estava Simon novamente, no momento em que sabia exatamente o que queria fazer: escalar qualquer montanha para beijar Ariella Winthrop. Nunca era fácil assim. – Você parece mais relaxada. Ela o olhou com um brilho de flerte nos olhos. 15
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– Estou me sentindo muito melhor. Não sei bem por quê. – Por conversar comigo, claro. E respirar ar puro também ajuda. Você devia ir visitar o Castelo Whist. É minha casa na Inglaterra, aonde vou para fugir de tudo. – E o lugar perfeito para um caso secreto. Os olhos de Ariella se arregalaram. – Ah, não, eu não poderia. – Então ela riu. – Claro. Você só está sendo educado. Sempre me dizem que levo tudo a sério demais. – Definitivamente, não estou sendo educado. Teríamos muito tempo para planejar o evento da World Connect. Na verdade, talvez eu precise insistir. – E como exatamente você faria isso? – Ela cruzou os braços, o que chamou a atenção dele para a forma como os mamilos dela forçaram o tecido do vestido. – Talvez eu peça para os guardas do palácio jogarem você dentro de um avião. É primitivo e tecnológico ao mesmo tempo. – Isso pode dar certo na Europa, mas você não pode simplesmente enfiar cidadãos americanos em aviões. – Ela sorriu. – Hum… Acho que você tem razão. E, como você é a filha do presidente, vou ter que recorrer a métodos mais sagazes. Um convite escrito do próprio punho, talvez? – Sou a rainha dos convites escritos à mão. Já devo ter posto mais de um milhão deles em envelopes. Você vai precisar de muito mais do que isso para me impressionar. Simon avançou, descruzou os braços dela e pegou uma de suas mãos. – O que exatamente eu precisaria fazer? O calor pulsou entre eles. Simon viu as pupilas de Ariella se dilatarem, os lábios se entreabrirem. Então ela puxou a mão e desceu às pressas o caminho de tijolos. – Infelizmente, não tenho como ir no momento. Estou com a agenda cheia de eventos. Ela sabia que fugir só o deixava mais ávido e determinado? Simon caminhou lentamente, sabendo que precisava de tranquilidade e paciência. – Uma pena para mim. Mas entendo. Tenho certeza de que podemos planejar o evento durante almoços e jantares aqui em D.C. A propósito, o que acha de voltarmos ao café? Imagino que os brioches ainda estejam bons, e podemos preparar um bule de café juntos. – Parece perfeito.
– Onde você estava? Passei a manhã inteira tentando falar com você. – A voz de Scarlet explodiu no telefone de Ariella quando ela desabou no sofá de sua sala de estar. Acabara de chegar de sua manhã com Simon e estava muito abalada. – Precisamos decidir os pratos do jantar dos DiVosta até as 16h, para que eles possam comprar lagosta e caranguejo. – Desculpe. Acabei… perdendo a noção do tempo. Achei que eles já tivessem decidido pelo guaiamum. – Querem que a decisão final seja sua. – Então acabei de tomá-la. As toalhas de mesa já chegaram de Bali? 16
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– Sim. E valeram a espera, porque são absolutamente deslumbrantes. E encomendei as caixas de vinho para serem entregues no local. Ei, você está me ouvindo? – Hã… sim. – Os pensamentos dela não estavam cooperando. Não paravam de se encher com imagens do lindo e deliciosamente determinado rosto de Simon. E ela não podia falar de sua aventura com um nobre à pessoa com quem trabalhava todos os dias? – Acabei de tomar café com Simon Worth. – Café? São quase 15h. – Tendo sido criada na elite de D.C., era difícil impressionar Scarlet. – Tínhamos muito a conversar. – Francesca me disse que ele foi falar com você no evento de ontem. – Ela parecia intrigada. – E vocês têm muito em comum. São descendentes de chefes de Estado, perderam a mãe tragicamente jovem e continuam lamentavelmente solteiros. Conte tudo. Ela riu. – Não tem muito para contar. Você basicamente resumiu tudo. Menos a parte da solteirice. Não falamos disso. – Mas se beijaram. – Nem um selinho. – Ariella estava um pouco decepcionada com isso. Prepararase para um decoroso beijo quando o motorista dele a deixara em casa; o príncipe a acompanhara no banco de trás, mas simplesmente segurara as mãos dela por um instante, olhara em seus olhos e se despedira. – Ele quis me incentivar. Acho que vai voltar à Inglaterra mais para o final da semana. Veio a D.C. para assinar um acordo internacional para impedir que jornalistas usem meios ilegais para investigar nossas vidas. – Ele deve estar loucamente apaixonado por você. – Está louca? – A ideia de Simon desejá-la fez coisas estranhas com o corpo dela. No início, Ariella não tivera certeza, mas, quando ele a deixara em casa, ela já sentia uma química bastante inebriante. A menos que tudo aquilo estivesse apenas em sua cabeça. – Por que ele estaria interessado em mim? – Porque você é brilhante, linda e fascinante. E, agora que seu pai é um chefe de Estado, você está apta a ser uma noiva da realeza. Uau. Imagine só, o primeiro casamento da nobreza feito pela DC Affairs! Podemos fazê-lo no gramado da Casa Branca? – Estar loucamente apaixonada deve estar bagunçando com a sua cabeça, porque não tem chance de nada disso acontecer. – Tem razão. Acho que Simon precisaria se casar na Inglaterra. Uma procissão real até o Palácio de Buckingham. Você vestida com muita renda e… – Pare! – Parte de Ariella queria rir. O resto estava horrorizado com a facilidade com que ela conseguia imaginar a louca visão de Scarlet. – Acho que já tenho problemas demais sem começar um caso com um príncipe. – Não sei. – Scarlet suspirou. – Esse é o tipo de problema que a maioria das mulheres adoraria ter. – Acho que não. A realidade de ser um membro da realeza moderna é muito diferente das fantasias. Você tem que sorrir o tempo todo, ir a cerimônias de inauguração, há fotógrafos tentando tirar fotos suas em momentos nada lisonjeiros… – Infelizmente, é verdade. 17
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– Viu? É muito problemático. Quando o mandato de presidente terminar, eu vou voltar novamente ao anonimato e talvez adotar um gato para me fazer companhia. – Só faltam mais oito anos. – Ela soltou uma súbita risada. – Você não vai acreditar nisso. Ou talvez acredite. Acabou de aparecer uma manchete na minha tela. Príncipe Simon estenderá viagem para angariar fundos em D.C. Eu disse que ele estava apaixonado. Ariella se levantou. – Não está nada. Ele quer planejar um evento para a instituição beneficente dele, a World Connect. – Fabuloso! Mal posso esperar para acrescentar o nome dele à nossa lista de clientes. – Eu sabia que você diria isso. – Ela sorriu. Mas em seguida franziu o cenho. – Dei a ideia de fazer um show ao ar livre, e logo. Então vai dar muito trabalho. – Adoramos trabalho. Você combinou as datas? – Ele é flexível. Então podemos escolher uma data em que o local perfeito esteja disponível. Quanto mais publicidade, melhor. – Era tão estranho buscar publicidade no trabalho e fugir dela em casa. – Preciso ir à academia. – Por quê? Você já está perfeita. Para dispersar um pouco de adrenalina para eu não explodir em chamas. – Isso me ajuda a ter energia. E, com os negócios prosperando, preciso dela. – Bem, parabéns por ter conseguido convencer o príncipe a fazer uma festa. Vá levantar uns ferros, senhorita. Nós nos vemos no escritório amanhã. Seis meses atrás, antes de sua vida ter explodido, ela teria ido correr tranquilamente em Georgetown. Agora que havia repórteres em seu encalço, Ariella precisava suar na privacidade de uma academia de alta segurança, ao lado de políticos, só para preservar um pouco de privacidade. E agora Simon Worth decidira ficar em D.C.
CAPÍTULO TRÊS
Como um príncipe convidava uma mulher para sair? A pergunta deixou Ariella acordada até tarde naquela noite. Por e-mail? Ou um telefonema discreto seria possível naquele momento, em que escutas telefônicas estavam por toda parte? Ela se censurou. Se Simon lhe telefonasse novamente, seria apenas para uma reunião de negócios para a festa. Isso se ele ainda pretendesse fazer o evento. Talvez ele não quisesse vê-la novamente depois de ela ter recusado seu convite para visitá-lo na Inglaterra.
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Mas a pergunta de Ariella foi respondida quando ele apareceu à porta dela, sem disfarce e sem aviso. – Oi. – Ela conseguiu dizer, depois de um momento de perplexo silêncio. – Quer entrar? – Obrigado. – A silhueta alta e larga dele fazia a porta parecer pequena. Nervosa, Ariella olhou à volta. Felizmente, ela era obcecada por organização e acabara de guardar as roupas lavadas. – Sua casa é adorável. – Obrigada. Só uso o primeiro andar. Eu alugo do casal que mora no segundo. Eles têm uma entrada separada pela lateral. – Ela estava tagarelando. Simon só estava sendo educado. Aquele espaço minúsculo e cheio de coisas devia parecer algo excêntrico para ele. – Sente-se. Como sabia que eu estaria aqui? – Eu não sabia. – Ele se sentou no sofá de dois lugares. – Você mora sozinha? – Sim. Tenho horários muito loucos e preciso dormir quando consigo tempo. Já tentei morar com uma colega de quarto, mas nunca dá certo por muito tempo. – Quer dizer que todas estas coisas interessantes são suas? – Ele pegou um telescópio de bolso do século XIX. – Sim. Dá para ver que adoro colecionar bugigangas interessantes. Com perícia, ele abriu a peça e a direcionou para a janela. Então ergueu os olhos, encontrando os de Ariella. Ela perdeu o fôlego. Por que ele causava aquele efeito nela? Ela lidava com gente importante o dia inteiro, mas, por algum motivo, sentia-se tonta e sem saber o que dizer perto de Simon Worth, como uma ingênua colegial. – Vejo que você tem bom gosto. Cresci cercado por coisas belas e nunca precisei me esforçar para adquirir nenhuma delas. Parece que você fez o trabalho de três séculos de colecionadores. – Gosto de procurar pequenos tesouros. Na verdade, eu estava pensando em despistar os fotógrafos e fazer isso hoje à tarde. – Talvez pudéssemos ir juntos. – Mas, se as pessoas nos virem juntos… podem falar. – O quê? Subitamente, ela se sentiu uma idiota por sugerir que as pessoas pudessem fofocar, falando de um romance entre eles. Obviamente, aquilo existia apenas na mente dela. – Estou sendo paranoica outra vez. Devo achar que a imprensa se importa comigo muito mais do que na realidade. – Se alguém perguntar, podemos dizer que você está me ajudando a encontrar itens interessantes para um evento beneficente que estamos planejando. – O show ao ar livre? – Um chá do Chapeleiro Louco, talvez? – Uma linda covinha surgiu na bochecha esquerda dele. – Afinal, as pessoas esperam que nós, britânicos, sejamos excêntricos. Você não vai precisar de uma explicação razoável. – Bem, sendo assim, vamos lá.
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– Tem outro jeito de sair daqui? – Ele já se levantara e estava oferecendo a mão a ela. – Além da porta principal? – Infelizmente, acho que me viram quando cheguei. – O baixinho de rabo de cavalo? – Exatamente. – Argh. Ele é freelancer e já vendeu fotos minhas para ao menos três jornais diferentes. Mas não há outra saída. Acho que você vai ter que ficar aqui para sempre. A mão dela se aqueceu na dele quando ele a ajudou a se levantar. Simon não parecia ter nenhum problema com o fotógrafo ou com a ideia de passar o resto de sua vida ali. – Detesto ajudar esses canalhas. Vamos sair separados, para que não tirem fotos. Eu vou embora primeiro, no meu carro. Você sai cinco minutos depois e dá a volta no quarteirão. Vai haver um Mercedes azul esperando você na frente do restaurante Mixto. – Estou me sentindo num filme de espião. – Ele devia ter planejado aquilo, e isso a fez se sentir empolgada e alarmada. – Não se preocupe. Tenho anos de experiência em me esquivar desses sanguessugas. – O que preciso levar? – Só você. Simon saiu pela porta principal, e Ariella correu para a janela, de onde o viu entrar num utilitário esportivo prateado e ir embora. Ela levou alguns minutos arrumando o cabelo, vestiu uma blusa leve e calçou botas. Em seguida, foi na direção do pequeno restaurante. Sequer olhou para a deprimente silhueta de jaqueta verde e boné, mas sentiu os olhos fixados nela. Uma pequena sensação de triunfo a fez acelerar o passo quando ela virou a esquina e viu o carro azul. A porta de trás se abriu, e Ariella viu o reconfortante rosto de Simon. Sentindo-se uma ninja, ela entrou, e eles partiram. Seu coração martelava, e ela não sabia se era por todo aquele subterfúgio ou por estar tão perto de Simon novamente. – Ele não seguiu você. – Não. Raramente me segue. Acho que é preguiçoso demais. Só tira algumas fotos por dia e torce para que alguma matéria seja publicada para que ele possa vendê-las. De tão perto, ela conseguia ver a leve barba por fazer no maxilar dele. Imaginou como seria senti-la contra seu rosto. Ela desviou seu olhar à força para a janela. – Estamos indo na direção oposta à do mercado. – Meu motorista conhece alguns antiquários em Maryland. Vamos ter mais privacidade lá. Aquilo era um encontro? Definitivamente, parecia. Ele não mencionara o evento que eles deviam estar planejando. E também não era algo muito profissional da parte dele aparecer na casa dela sem avisar. – Você costuma levar mulheres embora nos seus carros com frequência? – Não.
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O peito de Ariella se inflou um pouco. Aquilo significava que ela era especial? Ela se perguntou se ele teria prolongado aquela viagem para encontrá-la mais vezes. Em seguida, censurou a si mesma por ter um pensamento tão vaidoso. – Falei com Scarlet dos seus planos para o evento, e ela vai começar a procurar um local. Como vão seus outros esforços para angariar fundos? – Que mudança de assunto abrupta! – Os olhos dele reluziam de humor. – Tenho que confessar que não avancei muito. Toda vez que tento falar de educação na África, as pessoas ficam entediadas e me perguntam sobre a minha mais recente expedição de alpinismo. Infelizmente, não consigo resistir a falar de alpinismo. – Você precisa deixar sua causa mais sexy. – Oh-oh. Só de ela dizer a palavra, a temperatura dentro do carro subiu um ou dois graus. Ele ergueu uma das sobrancelhas. – Sexy? Como vou fazer isso? – É só se concentrar nos elementos da sua organização que fazem as pessoas se sentirem bem com elas mesmas. Por exemplo, com o câncer de mama, fitas cor-de-rosa fazem as pessoas pensarem no triunfo, na recuperação. Isso as faz querer doar mais do que palestras sobre incríveis novas descobertas sobre o tratamento do câncer. – Quer dizer que você acha que preciso reformular a marca da minha instituição? – Não sei muito a respeito disso. Você tem alguma marca, logotipo ou imagem que seja usada com frequência? – Não. Simplesmente imprimimos o nome em azul num fundo branco. Estou começando a entender o que você quer dizer. – O que deixa você mais empolgado nas coisas que a sua organização faz? Ele franziu o cenho por um instante e olhou à frente. Em seguida, voltou-se para Ariella. – Incluir pessoas nas conversas sobre nosso futuro. Dar a elas acesso à tecnologia que as torna parte do nosso mundo, que dá a elas uma maneira de serem ouvidas. – Isso é sexy. E grandes empresas de tecnologia são um bom público-alvo para sua organização. O que acha de “entre na conversa” como lema de marketing, como se você estivesse convidando todos para fazerem parte do futuro que você imagina? Simon a olhou fixamente. – Gosto do seu jeito de pensar. – Faço esse tipo de brainstorm o tempo todo. – Eu não fazia ideia de que o planejamento de eventos fosse algo tão complexo. Achei que fosse só escolher guardanapos e imprimir convites. – Essa é a parte fácil. A difícil é fazer cada evento se destacar dentre os milhares de outros. No seu caso, as pessoas esperariam que um príncipe tivesse um jantar muito exclusivo e particular. Sendo assim, um show ao ar livre as pegará de surpresa. Também vai criar a ideia de inclusão que sua organização prega. Ele continuava a olhá-la fixamente, e Ariella praticamente conseguia ouvir o cérebro dele a mil por hora. – Onde você esteve durante toda a minha vida? Ela sorriu. 21
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– Leia os jornais. Você vai aprender mais sobre o meu passado do que eu mesma conseguiria me recordar. Ele riu. Como ela podia se sentir tão confortável conversando com aquele homem, que pertencia a uma das grandes casas reais da Europa? – Deve ter sido por isso que eu entrei na sua vida. Para ajudar você a lidar com isso. – É o destino. – Ela engoliu em seco. Acreditava mesmo que alguma motivação misteriosa do destino a pusera junto de Simon? Não. Eles simplesmente passariam uma tarde agradável olhando antiguidades. Organizariam um divertido show que faria as pessoas falarem sobre a World Connect. Depois ele voltaria à Inglaterra, e ela seguiria com sua vida. E a química entre eles? A maneira como a pele dela se aquecia quando Simon se curvava em sua direção? Ariella ignoraria isso. Simon faria o mesmo. Ninguém faria nada de que pudesse se arrepender. Eram dois adultos, sensatos demais para isso. Que alívio.
Na primeira loja, eles viram algumas antigas pinturas e gravuras, todas precisando de restauração, e admiraram uma cristaleira pintada. Na segunda, Ariella ficou deslumbrada por um grupo de minúsculas caixas de rapé. – Qual a sua preferida? – Não sei. – Ela levou o dedo aos lábios. – A prateada tem entalhes tão delicados, e adoro as cores desta esmaltada. Mas acho que gosto mais da preta. – Ela pegou uma reluzente caixa preta. Havia uma delicada pintura de uma menina de pé debaixo de uma árvore. Simon pegou a caixa de Ariella, o que a surpreendeu. Ela ficou ainda mais surpresa quando ele a entregou ao vendedor e pagou. Depois que o vendedor a embalou e a pôs numa pequena sacola de papel, Simon a devolveu a Ariella. – Para você. Ela piscou os olhos. – Não era para você ter comprado. – Eu sei. Mas eu quis. – Acho que nunca ganhei uma caixa de rapé de um homem antes. – Pelo menos você não pode me acusar de ser clichê. – Aquele contagiante sorriso novamente. Ariella percebeu sua própria boca se curvando. Certamente, não havia mal naquele presente. Não era nada terrivelmente caro; apenas um gesto meigo. – Percebi que você gosta de pinturas em miniatura. Vi várias na sua casa. – Ele abriu a porta da loja, e eles saíram para a luz do sol. – Gosto. Um microcosmo perfeito. Que só uma pessoa pode olhar e desfrutar por vez. Talvez seja o oposto das minhas festas, onde todos precisam se divertir ao mesmo tempo. 22
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– Você não para de me dar novas perspectivas sobre coisas nas quais eu nem pensava. – Ele sorriu. – Nosso motorista, David, falou que tem um parque estadual aqui perto. O que acha de fazermos um piquenique lá como almoço? – Acho ótimo. Fora uma sorte ela concordar, pois o carro já estava abarrotado com sacolas brancas de confeitaria e um recém-comprado cooler que continha bebidas geladas. David os levou ao parque e até a margem de um sinuoso rio. Simon estendeu uma toalha e desembalou as sacolas. Ariella se acomodou sobre a toalha, e Simon serviu uma borbulhante taça de champanhe para ela. – Acho que nunca fui tão mimada. – Eles comeram uma morna salada de tortellini com cenoura e beterraba cobertas por molho. – Você merece. Tem aguentado muita pressão ultimamente. Está na hora de relaxar. Ela suspirou. – Sua vida é assim todos os dias? – Quem me dera. Minha vida costuma ser muito mais prosaica. Discreto, o motorista desaparecera, e eles estavam sozinhos. – Eu costumava desejar que a minha vida voltasse ao normal, mas, se isto for o novo “normal”, então não tenho do que reclamar. – Ela o olhou e falou com uma súbita convicção: – E pretendo conhecer meus pais biológicos. – A confiança dela aumentara desde que conhecera Simon. – É uma oportunidade grande demais para deixar passar. Claro, estou com medo, mas a possível recompensa vale o risco. – Fantástico. Estou feliz por você ter chegado a essa conclusão. Já conseguiu entrar em contato com a sua mãe? – Escrevi para ela, mas ainda não recebi resposta. É tão estranho eu nem saber como ela é. – Aposto que ela está muito mais nervosa que você. – Ela tem bons motivos para ficar. É a única que foi acusada de ter feito algo errado. Ela disse que não contou ao meu pai a meu respeito porque não queria impedir que ele fosse para a faculdade, mas, sem dúvida, ele poderia ter tomado essa decisão por conta própria. – Tem razão. Eu ficaria arrasado se engravidasse uma mulher e ela não me contasse. Os olhos dela se arregalaram. Às vezes, Simon era chocantemente franco. – Você precisa se preocupar muito com isso? Quero dizer, qualquer filho seu entraria na linha de sucessão ao trono. – Acredite, já ouvi isso várias vezes. Minha avó, a rainha, preferiria que nenhum de nós sequer namorasse. Ficaríamos todos guardados em segurança com casamentos arranjados aos 20 anos. – Eles tentaram casar você com alguém? – Ah, sem parar. Vivem procurando virgens de sangue azul e as convidando para tomar chá no palácio. 23
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– Mas, até agora, nenhuma despertou seu interesse. – Várias já despertaram. – Ele riu. – Mas não do jeito que minha avó esperava. E, por sorte, também não engravidei nenhuma delas. – Você está me deixando chocada. – Por quê? Acha que um príncipe não tem sentimentos como qualquer homem? – Bem… Claro que tem, mas… – Você não acredita que estou falando disso abertamente, quando devia ser muito mais sutil e reservado? – Ele ergueu uma das sobrancelhas. – Minha família detesta a minha franqueza. Eu não aguento ficar de rodeios. Só Deus sabe que já faço isso demais quando estou em público. Então, na vida pessoal, prefiro falar o que penso. Não fique muito chocada. – Vou tentar. – Ela sorriu. O comportamento dele era revigorante, muito diferente do que ela esperara. – Por que começamos a falar de mim? Eu estava falando da sua mãe. Você não disse que ela mora na Irlanda? – Quando ela escreveu para mim, havia um endereço de uma caixa postal em Kilkenney, Irlanda. Ela deve tê-la alugado para que ninguém descobrisse onde mora. Não contei a ninguém sobre a carta, só para meus amigos mais íntimos. Disse a ela que gostaria de conhecê-la e que estou disposta a viajar para a Irlanda se for necessário. – Como você vai fazer isso sem levar o batalhão da imprensa junto? – Sou sagaz quando preciso ser. – Ela sorriu misteriosamente. – Mas como a sua mãe foi parar na Irlanda? – Não sei bem. Acho que ela conheceu um irlandês depois que me pôs para adoção. Espero descobrir os detalhes quando nos conhecermos. – Tenho certeza de que ela sente mais a sua falta do que você imagina. Ela inspirou tremulamente. – Não sei. Ela pode ter outros filhos. Ela não disse. Não falou que queria me conhecer. – Deve estar nervosa, achando que você não quer conhecê-la. Afinal, ela abandonou você. – Na carta, eu disse que não tinha ressentimento e que conhecê-la significaria muito para mim. – Ela respondeu? – Ainda não. – Ela sentiu um calafrio. – E se ela não responder? Ele sorriu. – Vai responder. – Você é vidente, é? Quem me dera ter a sua confiança. – Você tem. Só não sabe ainda. Vamos ver se a água está fria. – Simon se levantou e foi até a margem. Antes que Ariella tivesse tempo de se juntar a ele, ele já tirara os sapatos e as meias, levantara as pernas da calça social escura e deslizara os pés para dentro da água. – Fria.
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– Sério? – A tarde de verão estava totalmente agradável. Os pés dela estavam loucos para mergulhar. Ariella se sentou na margem ao lado dele e tirou os sapatos. Em seguida, deixou os pés pendurados até que a água batesse nos dedos. – Ah, isso é tão bom. Hesitantemente, ela deslizou os pés para baixo da superfície. O frio da água contrastava com o quente latejar da intimidade entre eles. O ombro de Ariella bateu levemente no dele. Então ela sentiu o braço de Simon deslizar em torno de sua cintura. Parecia tão natural quanto a límpida água em seus tornozelos. O torso dele já quase tocava o dela, e eles pareciam estar se aproximando aos poucos. O cheiro masculino dele atraía os sentidos dela. Ariella viu o brilho nos olhos dele e depois não viu mais nada, pois seus olhos se fecharam, e ela se flagrou beijando-o.
CAPÍTULO QUATRO
Simon precisou se obrigar a parar de beijar Ariella, e o sabor dela ficou em sua língua, proibido e delicioso. Ela estava insuportavelmente linda, sentada ali na margem. – Não devíamos ter feito isso. – A voz dela mal passava de um sussurro. – Discordo. – Todo o corpo dele urrava para que fizesse muito mais com aquela adorável mulher. Ele permitiu que sua mão vagasse para o comprido e escuro cabelo dela. – Simon, não acho mesmo que isso seja sensato. – Por quê? – Hã… porque a sua avó ficaria horrorizada. – Bobagem. – Ele acariciou o cabelo dela. – Tenho certeza de que ela adoraria você. Ariella sentiu um leve calafrio quando a expectativa ficou no ar. Se ela não quisesse beijá-lo, poderia ter se levantado e voltado às pressas para o carro. Mas não fizera isso. Simon esperou que ela fosse até ele, e Ariella o fez. Sua boca subiu para encontrar a dele, e eles afundaram profundamente em outro beijo sensual. – Oh-oh. – As faces dela estavam coradas. – Não consegui evitar. – Viu? Às vezes, simplesmente não há escolha. Ele acariciou a pele sedosa do braço dela, desejando poder desnudar outras de suas partes. – Às vezes, você precisa confiar que existem forças mais poderosas que as de um simples humano. – Você não é um simples humano; é um príncipe.
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– Até a realeza está sujeita a caprichos da paixão. – Ele percorreu o rosto dela com o polegar. – Espero que não tenha nenhum fotógrafo escondido nos arbustos. – Aprendi a ir a lugares que jamais ocorreriam a eles. Por que um homem com uma grande propriedade rural iria a um parque estadual público? – Por causa deste riacho fresco com flores amarelas crescendo nas margens. – Foi por isso que vim, mas eles não pensam assim. Esperam que eu vá a restaurantes caros e reuniões exclusivas. Claro que também faço isso, mas me tornei muito bom em fazer o inesperado quando não estou trabalhando. – Simon queria fazer várias coisas nada sensatas, especialmente sendo com uma mulher que já estava na mira da imprensa e não se encaixava nas exclusivas definições que a rainha tinha de uma pretendente adequada. Mas ninguém, nem mesmo a rainha, impediria que ele levasse a adorável Ariella para a cama. – É melhor eu voltar para D.C. Tenho que me planejar para uma semana cheia. Novamente, Simon sentiu Ariella se afastando dele. Ele levantou-se e a ajudou a fazer o mesmo. Um beijo na linda boca de Ariella era emoção suficiente para o dia. Os momentos deles juntos apenas haviam confirmado a intuição dele de que ela não era uma mulher comum. Ele poderia esperar o momento certo de reivindicar seu prêmio. – Também preciso fazer alguns planos. Agora que vou passar mais um tempo em D.C., quero aproveitar ao máximo a oportunidade. – Eles voltaram até a bela clareira onde tinham feito o piquenique. – É melhor eu pensar em quem vou querer levar para jantar enquanto estiver aqui… além de você, claro. Ela mordeu o lábio enquanto eles juntavam os restos do almoço nas sacolas. Simon percebia que ela ainda não tinha certeza a respeito do beijo. Eles voltaram para o carro, e Ariella foi deixada discretamente a dois quarteirões de sua casa. Dali, ela caminhou sozinha, o queixo empinado numa doce petulância contra qualquer um que quisesse saber da vida dela. Simon afundou contra o encosto do assento do carro e suspirou. Ariella Winthrop. Algo nela o fisgara fortemente. Ele tentou se distrair pegando o celular no bolso. Deixarao desligado o dia inteiro. Uma mensagem de seu irmão mais novo, Henry, pareceu a distração perfeita. Então Simon digitou o número dele. – Vai mesmo passar mais uma semana aí? – A incrédula voz de seu irmão o fez sorrir. – No mínimo, e por um bom motivo. – Vou adivinhar. O motivo tem pernas longas e um sorriso dentuço americano. – Ela não é nada dentuça. – Eu sabia. – Não sabia nada. Vim aqui para divulgar a World Connect. Tenho grandes planos. Vamos organizar um show ao ar livre aqui em D.C. – Ótimo. Mas vou adivinhar outra vez. Ela está envolvida. – Talvez. – Ele era tão previsível assim? Henry riu.
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– Não deixe vovó descobrir. – Por que não? – Ela teria um ataque se soubesse que você está saindo com alguém inadequada para se casar com você. Lembre-se do último sermão que ela lhe passou, dizendo que estava na hora de se estabelecer. – Não vou me casar com ninguém. – Cedo ou tarde, vai ter que se casar. Você é o próximo. – Por que você não se preocupa com a sua própria vida amorosa? Acho que tenho sorte de os seus casos escandalosos desviarem a atenção de mim. – É por isso que preciso que você se case e tire os holofotes de cima de mim por um tempo. – Henry fora fotografado em situações comprometedoras várias vezes ao longo do último ano. – Talvez isso seja possível. Conheci uma pessoa que pode ser a certa. – Não está falando sério. – Costumo brincar? – Toda hora. – Então fique achando que estou brincando. – Uma americana? – Ninguém menos do que a filha recém-descoberta do presidente, Ariella. Uma mulher e tanto. – Nem pense nisso. – Infelizmente, já nem consigo mais pensar. – Ele sorriu quando a lembrança do beijo deles aqueceu seu sangue. – Vovó vai precisar ser sedada. Você consegue imaginar a reação de tio Derek? – Vou tentar não imaginar. – Ele balançou a cabeça. O irmão da mãe deles se interessava muito por se meter em suas vidas, colocando obstáculos. – Se, ao menos, ele tivesse nascido na realeza, não precisaria se esforçar tanto para parecer mais nobre do que o resto de nós. – Você sabe que não pode se casar com uma americana. – Por que não? Antigamente, nós quase sempre nos casávamos com pessoas de famílias reais de outros países. – Exatamente. Famílias reais. Você precisa de uma bela princesa sueca, ou de Mônaco, Espanha… – Considero a filha do presidente parte da realeza americana. Henry gargalhou. – Durante quatro anos, talvez oito, mas acho que nossa avó não vai enxergar desse jeito. – Tenho certeza de que ela vai adorar Ariella quando conhecê-la. – Ah, céus, parece que você está falando perigosamente sério. E sei como você é cabeça-dura quando cisma com alguma coisa. – Não sou cabeça-dura; simplesmente faço o que considero certo. 27
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– Faz mesmo. Só espero que a pobre Ariella saiba no que se meteu.
Ariella estava verificando as mensagens em seu celular quando viu sete seguidas de Scarlet, que deviam ter chegado enquanto ela estava na academia. Ela digitou o número da amiga. – Você não vai acreditar nisso. – Scarlet estava arfante de tanta empolgação. – Tente. – Ariella mal conseguia acreditar no que vinha acontecendo com ela ultimamente. Toda vez que pensava naquele beijo, era dominada por uma onda de excitação e uma explosão de arrependimento. O que eles haviam começado? – Recebemos um pedido para fazer uma proposta para o casamento do duque de Buckingham. Na Inglaterra! – Que ótimo. – A mente de Ariella começou imediatamente a planejar uma viagem extra para a Irlanda, para encontrar sua mãe. – Dá para ficar mais empolgada? – Eu estou. É sério. – Você sabe que vínhamos tentando nos expandir para a Europa. Será nossa quinta festa lá. E, agora que você tem intimidade com a realeza, temos uma excelente chance de sermos escolhidas para planejar o evento. – Você não vai falar de mim, vai? – Por quê? Tem algo secreto acontecendo? Ariella seria capaz de mentir para Scarlet, sua amiga mais íntima e sócia nos negócios? Ela inspirou fundo. – Eu o beijei. – Ai meu Deus. Você beijou o príncipe Simon? – Ainda não acredito que tenha acontecido, mas aconteceu. Você jura guardar segredo? – Minha boca é um túmulo. Quer dizer que vocês estão tendo um… uma coisa? – Não sei o que temos, mas vou encontrá-lo para jantar amanhã. – O coração de Ariella já palpitava de expectativa… e medo de aonde aquilo os levaria. – Você está namorando um príncipe. Uau. É uma pena eu não poder divulgar isso num release publicitário. Dá para imaginar como poderíamos aumentar nossos preços se as pessoas soubessem que você é praticamente uma princesa? – Quer parar? Não sou praticamente nada. – Definitivamente, você vai a Londres brigar por essa festa. – Certo. Podemos conversar quando eu chegar aí? – Ah, claro. Você quer me fazer esperar para saber dos detalhes. Quanta crueldade. Vejo você daqui a pouco. Quando Ariella desligou, o telefone tocou novamente. E agora? Ainda não eram nem 8h15! Ela olhou o número. Privado. Franzindo o cenho, atendeu. 28
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– Alô. – É Ariella? – Ela não reconheceu a voz. Soava tão distante. – Sim, sou eu. – Ah, olá. – Quem é? – É a sua… É Eleanor. Eleanor Daly. A mãe dela. Ariella perdeu o fôlego. – Estou tão feliz por você ter ligado. Muito obrigada por ter escrito para mim. Você não faz ideia de quanto aquela carta significou. Havia tantos pensamentos se desenrolando dentro da mente dela que Ariella tentou não entrar em pânico. – A agência achou que não seria uma boa ideia eu entrar em contato quando você ainda era criança. Não quiseram me dizer quem tinha adotado você. Nunca deixei de pensar em você. Nunca. A emoção na voz da mãe dela fez o peito de Ariella se apertar. – Sempre quis conhecer você. Podemos nos encontrar? – Ela falava rapidamente, com medo de que a ligação caísse a qualquer momento e ela perdesse a frágil nova conexão. – Eu moro na Irlanda. O cérebro de Ariella estava a mil por hora enquanto ela tentava organizar mentalmente o tão aguardado encontro com sua mãe biológica. – Preciso ir à Inglaterra a trabalho em breve. Teria problema se eu passasse na Irlanda para fazer uma visita? – As palavras saíram de uma vez, e, subitamente, Ariella ficou aterrorizada com a possibilidade de Eleanor dizer “não”. Por que pensava nela como Eleanor, e não como sua mãe? Claro, Ariella não a chamaria de “mamãe”. Esse título seria eternamente da mulher que a criara. Depois de uma longa pausa, Eleanor falou novamente: – Moro numa área rural afastada. Talvez eu possa ir à Inglaterra visitar você quando você chegar lá. – Eu adoraria. – A empolgação a dominava, suas mãos haviam começado a tremer. – Mas ainda não sei as datas exatas. Quando você poderia? – Ah, a qualquer hora, na verdade. Sou viúva agora e trabalho às vezes como babá para ganhar algum dinheiro. Sendo assim, não tenho nenhum compromisso sério. – Eleanor já parecia mais relaxada. – Mal posso esperar para conhecer você. Não é justo eu nem saber como você é, enquanto tem fotos minhas no jornal o tempo inteiro. Ela riu. – Infelizmente, não sou muito glamourosa. Provavelmente, pareço uma típica dona de casa irlandesa. Vim morar na Irlanda um ano depois que… tive você. Nunca mais voltei aos Estados Unidos. Eu estava me esforçando tanto para fugir de tudo. De você, de Ted e de toda a confusão em que eu tinha me metido. – Estou tão feliz por você ter escrito para mim. 29
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– Foi difícil. Eu sabia que precisava procurar você, mas não sabia como. Tive medo. Ainda tenho. Sei que todos acham que tomei as decisões erradas, e eu… – Você tomou as decisões que precisou tomar. – Não houve sequer um dia em que eu não pensasse em você e me perguntasse o que você estaria fazendo naquele momento. – Tive uma ótima infância. – Fico muito feliz por saber disso. – Ariella conseguia ouvir as lágrimas na voz de sua mãe. – Fiquei preocupada. Tentava imaginar se você estava sendo bem-cuidada, se estava feliz. – Posso mostrar fotos para você. – Eu adoraria. Senti tanto a sua falta. Nunca tive outro filho. Você é a única. Ariella não conseguia acreditar que estava mesmo falando com sua mãe depois de todos aqueles anos. Tantas perguntas enchiam sua mente! Coisas que ela sempre quisera saber. – Você tem cabelo castanho? – Tenho, mas admito que o pinto para cobrir os fios grisalhos. E já vi que você tem meus olhos verdes. – Eles vieram de você? As pessoas sempre me perguntaram. Que outras características temos em comum? Ah, quem me dera poder ir para o aeroporto agora mesmo. – Estou tão feliz por ter finalmente conhecido você depois de todos esses anos! Sinto uma culpa terrível pelo que aconteceu. O coitado do Ted passou aquele tempo todo sem saber que tinha uma filha linda. Acho que nunca vou me perdoar por isso. Vocês dois se tornaram próximos? Ela hesitou. – Na verdade, ainda não o conheci. Como ele é o presidente, está cercado por todo o tipo de segurança, e ninguém acreditou que eu fosse filha dele antes de os resultados do teste de DNA saírem. Acho que a Casa Branca não sabe bem o que fazer comigo. – Ah, eu achei que, como vocês dois estão em Washington… – Vamos nos conhecer muito em breve. O ANS está preparando um especial para a televisão, e vamos aparecer juntos na filmagem. – Mas você não vai contar a ninguém que vamos nos encontrar, certo? – A voz de Eleanor encolhera novamente. – Prometo que não conto a ninguém. Teria problema se eu telefonasse para você em algum momento? – Ariella já anotara o número, com medo de que ele fosse acidentalmente apagado de seu telefone. – Eu adoraria. Elas encerraram a ligação com muita empolgação pelo encontro planejado. Cheia de adrenalina no sangue, Ariella conseguiu tomar um rápido café e disparar para o trabalho antes de seu primeiro compromisso. A recepcionista lhe entregou uma mensagem, que dizia que Francesca queria conversar sobre o especial do ANS. – Tenho sorte de funcionar bem sob pressão – resmungou ela para si mesma, ao abrir a porta do escritório. Tinha milhões de telefonemas a dar, e agora sua mente estava dividida entre a ideia de conhecer sua mãe, participar de um programa de TV com seu pai 30
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e, claro, ver Simon novamente. Havia coisas demais acontecendo ao mesmo tempo para que tudo desse perfeitamente certo. Qual seria a primeira a dar errado?
Na noite de seu encontro com Simon, ela saiu cedo do trabalho, para ter tempo de tomar banho. Estava prestes a entrar no boxe, quando se lembrou de que o condicionador acabara. Ótimo. Cabelo com frizz para seu jantar com um príncipe. Ela precisaria ir até o mercado da esquina para comprar. Ariella entrou na loja, pegou um vidro de condicionador e foi até o caixa. Uma revista atrás do balcão, especializada em membros da realeza, lhe chamou a atenção. O lindo rosto de Simon preenchia quase totalmente a capa. O resto, infelizmente, estava ocupado pelo reluzente e exageradamente maquiado rosto de uma jovem loira que pressionava o rosto junto ao dele. Uma jovem que, definitivamente, não era Ariella Winthrop. – Vou levar aquela revista também – disse ela ao caixa, com a voz rouca. – Pesquisa para o trabalho. – Pois, obviamente, ela compraria a revista para ver se havia alguma informação a respeito do que o duque de Buckingham poderia querer para a decoração de seu casamento. Sim. Só para isso. Ariella voltou às pressas para seu apartamento. Ao entrar, foi lentamente até a bancada da cozinha, quase com medo de olhar novamente a capa da revista. Estaria com ciúme? Acabara de conhecer Simon. Ele devia ter um histórico imenso de romances que nada tinham a ver com seus sentimentos por ela. Ela arriscou outra olhada para a mulher da capa. Olhos azuis com um pesado lápis. O texto sobre a foto dizia Príncipe Simon fica noivo! Ela franziu o cenho. Ele não podia estar apaixonado por alguém e, ainda assim, têla beijado… podia? Ariella folheou a revista até o “artigo”, que consistia em dois parágrafos acompanhados por várias outras fotos. Todas pareciam ser do mesmo evento, algum tipo de corrida de cavalos. O artigo dizia que a lady Sophia Alnwick e o príncipe Simon haviam contado a seus amigos mais próximos a respeito do plano de ficarem noivos e que a rainha estava empolgadíssima por dar boas-vindas à sua nova nora à família. Como ela não vira nada daquilo na imprensa geral? O príncipe Simon não era uma figura tão pública quanto seu irmão mais velho, herdeiro ao trono, mas a imprensa de entretenimento costumava publicar muitas matérias sobre ele. Poderia ter sido tudo inventado? A não ser pela foto da capa, na qual eles apareciam de rosto colado, eles não pareciam tão íntimos. Ainda assim… Ariella tomou banho e se vestiu com uma empolgação muito menor e uma hesitação maior do que sentira antes de ter visto a revista. Como ela poderia abordar aquele assunto sem parecer uma megera ciumenta? Por outro lado, jamais iria querer beijar um homem que estivesse noivo. Trinta minutos depois, quando o motorista de Simon abriu a porta de trás do carro, Ariella ficou surpresa por encontrar o banco vazio. Ela esperava mesmo que um príncipe europeu fosse buscá-la pessoalmente? Estava se achando demais mesmo.
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O carro logo parou diante de uma fachada clássica. O motorista abriu a porta, e ela saiu. Ariella foi até os degraus da entrada, e um homem de terno abriu a porta, murmurando: – Boa noite. E ainda não havia sinal de Simon. – Ariella. – A profunda voz dele a chamou da outra ponta de um corredor de mármore. O corpo dela se aqueceu imediatamente. Simon foi até ela e lhe deu um leve beijo nos lábios. Quem é Sophia Alnwick?, ela quis perguntar, mas não era o momento. A boca de Ariella vibrou sob o beijo dele, e ela quis aprofundá-lo, mas o homem que abrira a porta devia estar por perto, e talvez outras pessoas também. – Que lugar é este? – Um anexo não oficial ao consulado. Não há ninguém aqui à noite. Então pedi para usá-lo para poder receber você em casa, por assim dizer. Só vamos precisar fingir que estamos no Castelo de Whist, já que você não quer me dar a honra de me visitar na minha verdadeira casa. A falsa expressão de mágoa dele a fez rir. Simon sempre conseguia acabar com a tensão da situação e fazê-la sentir como se eles fossem simplesmente duas pessoas que se davam muito bem. – Na verdade, talvez eu vá planejar uma festa na Inglaterra em breve. Ele pegou a mão dela e a beijou, o que fez os dedos de Ariella formigarem de prazer. – Sendo assim, talvez eu mande uns capangas interceptarem você e levá-la para Whist. – Você não faria isso. – Não? – Uma das sobrancelhas dele se ergueu. – É impossível saber o que você faria numa determinada situação até que ela aconteça. Aprendi isso durante meu tempo nas Forças Armadas. Você só pode torcer para que faça o que sabe ser o certo. – Falando nisso, você tem compromisso? – Pronto, ela perguntara. – Está perguntando se estou ocupado? – Ele gesticulou para que ela entrasse numa sala. Ariella obedeceu, feliz por sair do corredor, cheio de eco. Agora eles estavam numa grande sala de estar. – Não, se está noivo. – Ela conseguiu ficar consideravelmente calma enquanto esperava a resposta. Ele negaria? – Certamente não. Ele negara. – Vi uma manchete de uma revista dizendo que você estava. Simon não pareceu nem um pouco abalado. – Você acredita em tudo o que lê? – Não. Especialmente se for a meu respeito. – Ariella sentiu um sorriso dominando seu rosto. – Eu devia ter imaginado que não era verdade.
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– Mas, ainda assim, precisou perguntar. – O olhar dele a desafiava. – Sim. – Ela empinou o queixo. – Não beijo homens que pertençam a outra pessoa. – Fico aliviado por saber disso. E adorei o fato de você ter sido franca e perguntado de uma vez. Não aguento pessoas que fazem rodeios. – Quer dizer que a rainha não está empolgadíssima porque você vai se casar com Sophia Alnwick, como afirmou a revista? Ele deu de ombros. – Imagino que a rainha fosse ficar mais do que empolgada se eu me casasse com Sophia. Eu, por outro lado, penso de forma diferente. Ela riu. Adorava o humor seco dele. – Então o palácio está tentando arranjar um casamento para você com ela por ela ser uma noiva da realeza e adequada? – Isso. – Ele suspirou. – Prefiro mulheres inteligentes, ainda que isso as torne mais complicadas. – Um sorriso repuxou o canto da boca dele. – Não devo ser tão inteligente, ou não passaria tempo com você quando estou tentando evitar a atenção da imprensa. Acho que talvez você seja o solteiro mais cobiçado do mundo. – Deveriam encontrar algo mais interessante sobre o que escrever. Aquecimento global, por exemplo. – Não. Sério demais. É mais divertido ler sobre príncipes lindos. Especialmente quando eles estão beijando a mulher errada. Ele fechara a porta e estava diante dela. Sua expressão estava séria, pensativa. – Prefiro beijar a mulher certa. Oh-oh. Um alarme interno disparou dentro de Ariella. Está ficando sério demais. O fixo olhar dele a prendeu como uma prensa. Ela sentiu sua própria respiração acelerando, seu corpo se aquecendo. Sua boca estava louca para beijá-lo. Não fora para isso que ela fora até ali? Onde aquilo iria parar? Claramente, era algum tipo de caso passageiro para Simon, e ele voltaria à Inglaterra para namorar inglesas novamente antes do fim do mês. Ariella não costumava embarcar em nenhum tipo de relacionamento a menos que enxergasse algum futuro nele, o que talvez explicasse por que ela costumava estar disponível para trabalhar em eventos nas noites de sábado. O corpo dela não se moveu, apesar de seus pensamentos estarem a mil por hora. O rosto de Simon se aproximou até que seus lábios tocassem os dela. Um fulgor de desejo a percorreu, e seus olhos se fecharam com força quando eles se beijaram. Faíscas voaram dentro dela, dançando em seus dedos enquanto a química os dominava. O que estava acontecendo com ela? Era a mulher sensata que levava suas amigas mais loucas de carro para casa na volta das festas. Não se envolvia com as celebridades convidadas dos eventos nem tinha nada de comprometedor no passado. As mãos de Simon seguraram a blusa dela enquanto o beijo se aprofundava. Os dedos de Ariella vagaram para o cabelo dele. A pele áspera de seu rosto e seu simples perfume masculino fizeram crescer a excitação dentro dela. A ereção dele engrossara a ponto de Ariella já conseguir senti-la contra sua barriga. Uma pulsação de forte e complicado desejo latejava e a urgia a abraçá-lo com mais força. 33
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Até que uma batida na porta os separou. Corada e arfante, ela alisou a blusa enquanto Simon ia até a porta. Ele a abriu alguns centímetros e murmurou que preferiria não ser incomodado. A pessoa do outro lado falou algo a respeito de um telefonema urgente de Sua Majestade. Simon se virou para ela. – Infelizmente, preciso atender. Volto num instante. A porta se fechou, e ela foi deixada sozinha na desconhecida sala de estar. A ausência de Simon não ajudou a reduzir a excitação dela em nada. Ariella queria abraçálo novamente. Beijá-lo. Arrancar as roupas dele e fazer um ardente e louco amor com ele no sofá. Ela levou a mão ao cabelo e descobriu que estava embaraçado pela ação dos dedos de Simon. Estava alisando-o freneticamente, quando a porta se abriu novamente e Simon reapareceu. – Onde estávamos? – Os olhos dele reluziam, entretidos e cheios de desejo. Uma chama se acendeu dentro dela. Ariella não se recordava de já ter sentido uma atração tão forte. Todo o seu corpo parecia gravitar na direção dele. Mesmo com seu cérebro lhe avisando que aquele relacionamento não teria futuro e, provavelmente, terminaria num desastre, os dedos dela adentraram o cabelo na nuca de Simon quando os lábios deles começaram a brincar juntos. – O que estamos fazendo? – perguntou ela, quando os dois pararam para respirar. – Não sei bem, mas acho que estou gostando. – Ele mordiscou delicadamente a orelha dela, o que fez Ariella estremecer de prazer. – Não acha que devíamos ser sensatos? – Ela inspirou o perfume da pele dele, e seus dedos pressionaram os músculos das costas de Simon. – O que é ser sensato? – Os olhos dele estavam fechados, e seus lábios percorreram o rosto dela. A pele de Ariella vibrava sob o toque dele, fazendo-a desejar ficar mais perto de Simon do que nunca. – Já nem sei mais. – Ela expirou, desejando se desapegar de suas dúvidas e se perder novamente em Simon. Ele projetava tamanha confiança que era difícil não fazer simplesmente o que ele dizia. – Mas minha vida está muito louca no momento, e tenho medo de piorá-la ainda mais. Ele criou uma trilha de beijos pelo pescoço dela, o que causou um assustador efeito sobre a libido de Ariella. – Estou piorando as coisas? – Sem dúvida – arfou ela. – Não pare. Ele riu. Então beijou-a plena e firmemente na boca, abraçando-a com uma carícia que misturava poder e força com a máxima ternura. Tantas emoções e sensações a dominavam que Ariella teve vontade de chorar. Quando eles finalmente pararam de se beijar e se afastaram, uma profunda tristeza a atingiu. A minúscula separação era um presságio do momento em que eles se despediriam pela última vez, pois aquele relacionamento não tinha futuro. – Se precisamos manter em segredo, só pode ser errado. – A voz dela soava fina e triste. Ele abriu os olhos e a olhou fixamente. – Sendo assim, não vamos manter em segredo. 34
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CAPÍTULO CINCO
Ariella andava de um lado para o outro em sua casa. Seu celular passara a manhã inteira tocando. Ela não podia ignorar, pois cada telefonema poderia ser de um cliente importante, mas estava ficando bastante cautelosa para escolher que ligações atender. Um jornal publicara uma série de fotos dela e de Simon passeando por Georgetown na tarde anterior. Ela olhou para o conhecido número. – Oi, Francesca. – Ariella, você não para de acertar em cheio. – Sei que você não está falando da minha mira. – Não, estou falando da sua capacidade de conseguir uma publicidade incrível para o especial da TV. Liam disse que vai ter a maior audiência do ano. – Ah, sim. Isso. – Ela estava dividida entre o arrependimento por ter concordado em fazer o especial e a vontade de acabar logo com aquilo. – Vão confirmar finalmente a data da filmagem? – Ainda estão tentando conseguir um compromisso certo com a Casa Branca. O que acha de levar seu novo namorado da realeza? – De jeito nenhum. – Ela enfiou a mão no cabelo. – Além do mais, ele precisa voltar para a Inglaterra. Ariella sentiu um aperto no estômago. Ele lhe telefonara meia hora antes para dizer que pegaria um avião de volta naquela tarde, para resolver um assunto de família urgente. Quanto tempo ele passaria lá? Afinal, era a casa dele. Talvez ele nem voltasse mais, e ela ficaria sozinha para resolver mais um escândalo por conta própria. – Ele não é como você esperaria – disse Ariella. – Não é nada pretensioso e é muito verdadeiro. – E incrivelmente sexy. – Sim. Isso também. – Simon parecia ficar mais bonito toda vez que ela o via. Ou seria pelo fato de ela estar se apaixonando por ele? Os pensamentos de Ariella ficaram congelados. Ela não poderia se apaixonar de jeito nenhum com tamanha rapidez. O amor era algo grande, longo e duradouro que precisava ser cuidadosamente planejado para que ninguém saísse de coração partido. – Vocês não imaginaram que os fotógrafos veriam vocês juntos? Eles tinham imaginado. Na verdade, a ocasião da foto fora planejada. Eles queriam acabar logo com aquilo, para poderem parar de se encontrar apenas em cantos escuros e reservados, cercados por guardas armados.
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– Ultimamente, os fotógrafos têm visto tudo o que eu faço. – Era um alívio ter deixado o sigilo de lado, mas também era alarmante dar mais combustível para as fofocas. – Bem, estou muito impressionada por você estar lidando tão tranquilamente com isso tudo. – Acho que sou como um pato. Acima da água, tudo parece calmo e tranquilo, mas, por baixo, estou me debatendo loucamente. – Ela precisava ir à academia para poder gastar parte da energia acumulada. – Você não é nenhum pato, Ari. É um cisne. Um cisne real. – Não tem nada da realeza em mim. Espero que a família de Simon não esteja pirando agora que a história foi publicada na imprensa de lá. – Como eles poderiam não gostar de você?
Simon chegou a Cardiff para poder ir de carro diretamente para o Castelo Dysart. A propriedade era a sede de seu tio Derek, o duque de Aylesbury. Fora Derek quem insistira fortemente para que ele retornasse à Inglaterra e confrontasse os “terríveis” boatos sobre seu caso com uma plebeia americana. – Ah, você veio – observou Derek, ao entrar na sala de visitas. Como sempre, o mestre do óbvio. – Você disse que era urgente. Derek o olhou por baixo de suas grossas sobrancelhas grisalhas. – Sua Majestade está horrorizada com as terríveis invenções que apareceram nos jornais de ontem. – Não são invenções. Ariella e eu nos tornamos muito próximos. – E ele estava ansioso para que ficassem ainda mais. – Então é melhor você se distanciar imediatamente. É o segundo na linha de sucessão ao trono. Não pode beijar qualquer garota que apareça na sua frente com um sorriso bonito. Simon enrijeceu. – Ariella não é uma qualquer. É inteligente, charmosa e tem mais compostura do que a maioria de nós, nobres, juntos. – Não seja ridículo. Ela é americana. Você se lembra do que aconteceu da última vez que um membro de nossa família se envolveu com uma americana? Abriu mão do trono da Inglaterra! Loucura. Termine imediatamente o relacionamento com ela e reze para que ela não faça um escândalo na mídia. – Ariella jamais faria isso. E, definitivamente, não vou terminar meu relacionamento com ela. O rosto de Derek ficou ainda mais vermelho. – Pensei que seus dias de irresponsabilidade tivessem ficado para trás. Seu irmão mais velho está casado com uma adorável mulher, totalmente adequada. Espelhe-se no exemplo dele.
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– Honro e respeito meu irmão, e estou ansioso por saudá-lo como meu monarca. Acredito que ele vá gostar tanto da companhia de Ariella quanto eu gosto. – Não seja ridículo. E ela é filha do presidente. Já temos problemas suficientes para lidar com o caos da política americana sem que você se alie à filha do líder de um partido. – Ela ainda sequer conheceu o pai, e a política nada tem a ver com nosso relacionamento. – Não conheceu o próprio pai? Ah, sim. É algum tipo de bastarda indesejada que foi largada para adoção. Uma noiva perfeita para a realeza. Simon quis lembrar seu tio dos muitos “bastardos da realeza” que tinham contribuído para o crescimento do país ao longo dos séculos, mas se conteve. – Ariella e eu somos adultos, bastante capazes de administrar nossas vidas com dignidade. Não preciso de lições sobre como me comportar. – Ouça, Simon. Se você se meter em algum vergonhoso escândalo internacional, será ruim para todos nós. Monarquias estão lutando para sobreviver no século XXI. Um caso com essa garota é o mesmo que abandonar suas obrigações. O que virá em seguida? Vai se mudar para o exterior? – Jamais deixarei a Inglaterra. Conheço meus deveres para com meu país. – Da maneira como está agindo, talvez acabe sendo convidado a ir embora. – Precisariam me expulsar da família primeiro. – Nada é impossível.
O ar do início da manhã inglesa tinha um cheiro fabulosamente empolgante para Ariella, até mesmo a atmosfera cheia de fumaça em torno da fila de táxis no aeroporto de Heathrow. Sua agenda estava lotada de compromissos pelos próximos quatro dias. A maioria tinha a ver com o extravagante casamento do duque de Buckingham. Contudo, um compromisso sobrepujava todos em sua mente. Às 15h45 de quartafeira, dali a dois dias, Ariella finalmente conheceria a mulher que a dera à luz 28 anos atrás. E, claro, Simon estava ali. Ela lhe contara a respeito de sua visita, mas avisara que estaria muito ocupada. Estava ali para trabalhar, e o fato de ter beijado um príncipe não significava que ela poderia abandonar sua carreira. Suas amigas tinham lhe avisado que a imprensa britânica era muito mais agressiva e cruel que a americana. Sendo assim, ela precisava tomar cuidado. O que Eleanor pensaria do relacionamento dela com Simon? O celular de Ariella vibrou, e ela verificou o número. – Oi, Simon. – Ela não conseguiu evitar sorrir ao dizer o nome dele. – Você deve estar em solo britânico. – Estou. Para ser mais exata, num táxi. – Onde vai ficar? – No Drake. Um hotelzinho perto de Mayfair.
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– Perfeito. Perto do Palácio de St. James, onde fico quando estou na cidade. Busco você às 19h. A tentação a atingiu. Porém, seu senso de dever venceu o duelo. – Quem me dera poder, mas vou encontrar um possível cliente para tentar vender o casamento mais magnífico da história. Deve ir até tarde. – Imagino que convidar você para ir até o palácio depois do jantar não seria apropriado. Ela sorriu. – Acho que não. – Almoço amanhã no Palácio de Buckingham. Venha conhecer a rainha. Ela nunca passa muito tempo na cidade. Então é uma ótima oportunidade de vocês se conhecerem. Em pânico, Ariella apertou o telefone. – Ah, Deus, tenho compromissos o dia inteiro amanhã. – É uma pena, porque ela vai para a Escócia à tarde. Mas haverá outras oportunidades de conhecê-la. – Sinto muito por não poder ir. – Claro, se as coisas continuassem com Simon, ela acabaria tendo que conhecer a rainha, mas, no momento, tudo era novo e hesitante, e Ariella tinha a sensação de que ninguém estenderia o tapete vermelho para ela no palácio. – Eu adoraria ver você, é sério, mas… – Jantar amanhã. Meu motorista vai buscar você com uma discrição incrível. Ninguém vai saber que você está comigo. – Não posso. Tenho uma reunião no jantar. – Não vai levar a noite toda. Ela engoliu em seco e tentou rir. – Também preciso dormir. Quem me dera ter mais tempo para… me divertir, mas esta viagem é a trabalho. – Uma pausa a deixou nervosa. Ele teria se ofendido? Ariella não marcara nada para depois da visita à sua mãe, pois estava esperando passar algum tempo com ela. – Meu último compromisso é na quinta à tarde, às 15h, e meu voo só sai na manhã seguinte. – Então você pode encaixar um jantar comigo na sua agenda cheia de quinta? – Ele estava brincando ou irritado? – Sim, se não tiver problema para você. Claro, se você estiver muito ocupado, eu entendo. – Eu desmarcaria tudo imediatamente só para poder olhar para você. Certo, agora ele estava brincando. – Acho que não vai ser necessário. Vamos combinar quando estivermos mais perto de quinta-feira. Espero que não aconteça nenhuma loucura até lá, mas nunca se sabe. – Já marquei na minha agenda. – Ela ouvia a ironia na voz dele. – Ligue para mim imediatamente se precisar de algo. A nação inteira está à sua disposição. – Muito obrigada. – Ela sorriu.
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Ariella balançou a cabeça ao guardar o celular. Como sua vida mudara tanto em seis meses? Havia fotógrafos até no aeroporto. Havia tanta coisa com que se empolgar que, por vezes, ela se esquecia de que havia muito a temer. O encontro com sua reclusa mãe, talvez com seu famoso pai e agora, um romance com um homem que a fazia sorrir toda vez que pensava nele. Era fabuloso até demais. Era como andar numa corda bamba entre dois arranha-céus. Ela precisava manter a cabeça erguida, olhar para frente e avançar um passo por vez, torcendo para que, dali a seis meses, estivesse num lugar ainda melhor, onde as coisas não fossem tão estranhas e precárias.
A frustração fez Simon saltar da cadeira e andar de um lado para o outro do recinto. Como Ariella podia estar bem ali, no país dele, e ocupada demais para vê-lo? Os poucos dias de separação deles o tinham deixado numa agoniante expectativa. Agora ele precisava esperar até quinta-feira para vê-la? Simon telefonou para ela na noite de segunda, torcendo para que a reunião dela no jantar já tivesse acabado e eles pudessem planejar um encontro ao luar. Nada feito. Ela continuava em reunião com um cliente e sequer queria revelar o nome da pessoa. Simon suspeitou de que fosse seu colega de escola, Toby Buckingham, e tentou telefonar para ele, para interceptá-la por outro lado, mas Toby sequer atendeu. Na manhã de terça, ele tentou novamente, torcendo para que pudessem tomar um rápido chá, mas foi recusado educadamente. Já totalmente inquieto na tarde de quarta, ele pôs um chapéu-panamá que cobria seu rosto e resolveu caminhar a curta distância que separava o Palácio de St. James do Palácio de Buckingham. Ele estava andando velozmente, tentando expulsar de sua mente a visão da inebriante beleza de Ariella, quando uma garota que caminhava do outro lado da rua, na direção oposta, chamou sua atenção. Ela andava exatamente como Ariella. Aquela mulher, porém, tinha cabelo loiro na altura do ombro. Grandes óculos escuros ocultavam seu rosto. Simon se virou e olhou quando ela passou. Era o jeito de andar de Ariella. E aqueles eram os sapatos dela. Ao ver aquelas simples sapatilhas pretas de que ela tanto gostava, ele sentiu a adrenalina. Virou-se, seguindo-a, ainda do outro lado da rua. Por que ela estaria disfarçada? O cabelo devia ser uma peruca. A saia preta discreta não conseguia disfarçar o elegante balanço de seus quadris. Ele reconheceria aquele jeito de andar em qualquer lugar. De quem ela estaria se escondendo? Já estava acostumada a ter fotógrafos a segui-la e, em geral, costumava ignorá-los, como ele próprio vira várias vezes em D.C. Ariella estava fazendo algo que não queria que ninguém soubesse. Incluindo ele. Ela atravessou a rua para o lado dele, e Simon ralentou o passo, ficando um pouco para trás. Por que você a está seguindo? Porque quero saber aonde ela está indo. Seu instinto lhe dizia que havia algo de errado ali. Ariella tinha direito à privacidade. Na verdade, eles tinham tido várias longas discussões sobre como eles davam valor ao
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direito à privacidade, que costumava estar sob ataque. Por algum motivo, isso não o impediu. Ela virou à esquerda, descendo por uma pequena rua lateral. Hesitou e retirou o telefone do bolso. Começou a falar nele enquanto caminhava. Simon não conseguia ouvir o que ela estava dizendo, mas a risada melódica era inconfundível, confirmando o que ele já sabia. Ariella Winthrop estava andando por Mayfair disfarçada, e ele descobriria o motivo. Por que ela não lhe dissera aonde iria? Pouco depois de tê-la defendido numa discussão com sua família, Simon sentia as dúvidas adentrando sua mente. Sabia que Ariella não vazaria histórias do romance deles para a imprensa. Vazaria? Não que houvesse algo a ser contado, ainda que ele pretendesse mudar isso assim que possível. Aquilo poderia ter algo a ver com o pai dela? Eles não tinham falado muito dele. Ariella parecia considerar o assunto constrangedor, levando-se em consideração que ainda sequer o conhecera. Ou haveria outro homem na vida dela? A mente e o corpo dele rejeitaram a ideia, e Simon não acreditou naquilo por um segundo sequer. No entanto, aonde ela estava indo? Ariella virou à esquerda, e ele se apressou para acompanhar seu passo caso ela desaparecesse ao entrar num dos altos edifícios. Ariella pusera o telefone de volta na bolsa e continuava a avançar, olhando determinadamente à frente. Até que parou. Pegou um pedaço de papel e olhou para a placa do edifício. Então subiu os degraus, tocou a campainha e entrou. Simon se aproximou do edifício mais de um minuto depois e parou da forma mais discreta possível diante da porta. Clube Westchester. Ele não fazia ideia do que aquilo poderia ser, sabia apenas que queria entrar. Foi até o fim do quarteirão e pensou em suas opções.
O coração de Ariella martelava enquanto ela entrava no elevador e apertava um botão. Era um elevador do tipo antigo, com porta sanfonada, e o som do porteiro a fechála atrás de Ariella não ajudou a acalmar seu nervosismo. Sua mãe a esperava no quinto andar. Scarlet sugerira aquele clube particular para o encontro. Havia salas disponíveis para serem alugadas apenas para os grupos mais exclusivos, e Scarlet pedira a retribuição de um favor para que uma delas fosse garantida para aquela tarde, já que o local ficava perto do hotel de Ariella. Ariella tirou a tosca peruca loira que comprara para despistar os fotógrafos e soltou o cabelo do coque. O elevador parou no quinto andar. Ela abriu a porta de ferro e saiu. O corredor continha três portas altas, e ela estava se perguntando qual seria a de número 503, quando uma se abriu. – Ariella? – A hesitante voz vinha de uma bela e esbelta mulher, com cabelo castanho-claro ondulado. – Sim? – Ela queria chamar a mulher de “mãe”, mas isso parecia presunção demais. Seu coração batia tão rápido que ela mal conseguia falar. – Você deve ser Eleanor.
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As mãos de Eleanor haviam subido para cobrir sua boca, enquanto lágrimas se acumulavam em seus grandes olhos verdes. Olhos quase exatamente iguais aos de Ariella. – Você é tão bonita. Ainda mais do que nas fotos. – Você é muito gentil. E parece jovem demais para ser mãe de uma mulher de 28 anos. – Ela parecia ainda ter 30 e poucos, com pele lisa e clara e a silhueta de uma menina. – Sou jovem demais para ser mãe de uma mulher de 28 anos. – Ela deu de ombros e sorriu. – Na verdade, foi esse o problema. Engravidei quando era nova demais para estar pronta. – Lágrimas escorreram pelas faces dela. – E acabei perdendo tanta coisa… Eleanor parecia prestes a desmoronar, e Ariella queria confortá-la, mas não sabia como. Urgiu-a de volta à grande sala, que tinha vários sofás. – Vamos nos sentar? – Ah, sim. – Eleanor pegou um lenço de papel e secou seu rosto. – Desculpe por estar fazendo papel de boba. É que… esperei tanto por este momento. E nem sabia se ele chegaria. – Eu também. Mal consigo acreditar que finalmente estamos nos conhecendo. – Elas se sentaram uma ao lado da outra, e Ariella pegou as mãos de Eleanor. – Muito obrigada por ter vindo a Londres me encontrar. – Fiz isso de muito bom grado. Tenho medo demais de viajar para os Estados Unidos. Fico achando que eles saberiam quem eu sou assim que eu passasse pela segurança do aeroporto. Na verdade, sou muito tímida. Esse foi um dos motivos para eu saber que não seria boa para Ted. Ele sempre foi tão extrovertido e amistoso, e adorava estar perto das pessoas. Ariella percebeu que Ted era o homem no qual ela ainda pensava como presidente dos Estados Unidos. – Ele foi seu namorado? – Ela só sabia o que lera nos jornais, e, por experiência própria, também sabia que eles nem sempre eram uma fonte confiável. Eleanor suspirou. – Foi. Namoramos durante os dois últimos anos do colégio. Eu estava tão apaixonada! Mesmo naquela época, ele já tinha grandes planos e pretendia fazer faculdade. Sonhava com a possibilidade de estudar no exterior. Depois queria se juntar ao Corpo da Paz e viajar. Ele sempre teve ambições tão grandiosas! – Bem, ele conseguiu chegar ao cargo mais alto que um americano pode ocupar. Eleanor assentiu. Sua boca se apertou por um momento, seu lábio quase trêmulo. Ariella teve vontade de pôr seus braços em torno daquela delicada e nervosa mulher, mas não queria assustá-la. – Nunca entendi o que ele viu em mim. Ele dizia que me achava muito tranquila. – Os olhos dela reluziram com a lembrança. – Tenho certeza de que um homem enérgico e extrovertido precisa mais de tranquilidade do que qualquer outro. Eleanor sorriu para Ariella. – Talvez. Meu marido, Greg, era um homem tranquilo. Não tão empolgante quanto Ted, mas um bom homem com quem tive um casamento feliz durante 23 anos. Morreu de 41
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um ataque cardíaco. Jovem demais. – Lágrimas se acumularam novamente nos olhos dela. – Sinto muito. Eu iria querer conhecê-lo. – Você me disse que ainda não tinha conhecido Ted? Ariella engoliu em seco e balançou a cabeça. – Ainda não, mas… – Ela parou. Aquilo soava patético. Vergonhoso. Quase dois meses depois do resultado do teste de DNA e nada de contato. – Tenho certeza de que Ted quer conhecer você. Sei do fundo do meu coração. – Ela apertou as mãos de Ariella. – Deve ter gente impedindo que ele a encontre. Você precisa procurá-lo. – Tenho conversado com o ANS sobre a ideia de fazer uma reunião gravada. Deve acontecer logo. – Na televisão? – Os olhos de Eleanor se arregalaram. Ariella assentiu. – O marido da minha amiga Francesca é presidente da rede. Aparentemente, a Casa Branca já está acertando uma data. – Uma reunião em particular seria tão melhor… – Eu sei, mas o presidente não é uma pessoa particular. Não a ponto de eu poder telefonar para ele e me apresentar. Por algum motivo, pareceu mais… viável dessa forma. – Você também é extrovertida, não? – Eleanor sorriu levemente. – Acho que sou. Trabalho planejando eventos. Adoro reunir pessoas e transformar tudo em ocasiões memoráveis. – Você deve ter herdado isso de Ted. Seus olhos têm a faísca de determinação que ele sempre teve nos dele. – Acho que somos parecidas também. – Ela absorveu a preciosa imagem do rosto de sua mãe biológica. – Nossos rostos têm um formato parecido, e somos altas e magras. – Ted sempre me dizia que, um dia, um vento forte ainda ia me levar embora. Acho que, de certa forma, ele tinha razão. Esse vento me levou para a Irlanda, e não ousei olhar para trás. – Tenho certeza de que ele adoraria ver você outra vez. Os olhos de Eleanor se arregalaram, em pânico. – Ah, não. Não. Tenho certeza de que ele jamais me perdoaria pelo que fiz. Achei que fosse o melhor a fazer, mas, depois de pensar, entendi que não ter contado a ele que ele tinha uma filha foi uma coisa terrível. Um ato de covardia. Jamais vou me perdoar, e não esperaria que ele perdoasse. Não conhecendo seu pai, Ariella não estava em posição para discutir aquilo. – Por que não contou a ele? – Eu sabia que ele faria a coisa certa. Não a coisa certa para ele e para a grande carreira que ele tinha sonhado, mas a coisa certa aos olhos de nossos pais, pastores e vizinhos. Ele se estabeleceria na nossa cidadezinha em Montana e viveria uma minúscula fração da vida que ele imaginara, porque seria forçado a sustentar uma família, em vez de ir desfrutar da bolsa de estudos que ele tinha conseguido para uma grande universidade. Eu jamais poderia permitir que ele desistisse do futuro assim. 42
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– Você podia ter deixado que ele mesmo tomasse essa decisão. – Eu sei. Agora sei disso. Não queria que ele me odiasse, e acabei fazendo a única coisa que poderia fazer com que ele me odiasse de verdade. Abri mão de nossa única filha e nunca contei a ele da existência dela. – Ela começou a chorar. Incapaz de se conter, Ariella envolveu os magros ombros de Eleanor com os braços, abraçando-a com força enquanto suas próprias lágrimas caíam. – Tudo acontece por um motivo. – Você é uma menina muito inteligente. Vejo isso nos seus olhos. Tem a inteligência sagaz do seu pai. Aposto que você se formou numa faculdade. Ariella assentiu. – Em História. – É uma coincidência tão grande que você e Ted tenham acabado indo morar em Washington D.C. – É estranho. Naquele momento, a porta se abriu, e as cabeças delas se viraram. Ariella arfou ao ver Simon.
CAPÍTULO SEIS
– Ariella. – Simon estava com um chapéu na mão e uma expressão curiosamente intensa no rosto. – O que está fazendo aqui? – A voz de Ariella soava séria. – Eu… – Uma expressão envergonhada dominou as lindas feições dele. – Confesso que vi você na rua e resolvi segui-la. – O quê? – A raiva explodiu dentro dela, duelando com uma forte pontada de atração. – O que fez você pensar que poderia me seguir até um encontro particular? Ele deu de ombros. – Fico envergonhado por dizer que não analisei muito bem meus motivos. – Ele olhou para Eleanor, como se estivesse esperando ser apresentado. – Você precisa ir embora. – Ariella se levantou. Conseguia sentir Eleanor, desesperada para preservar sua privacidade, recolhendo-se de volta à concha da qual começara a emergir. – Você pode ser um príncipe, mas isso não significa que possa entrar em qualquer lugar assim. – Você tem toda a razão, claro. Minhas mais sinceras desculpas. – Ele fez um movimento de cabeça para Ariella, curvou-se para Eleanor e começou a recuar pela porta.
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– Espere! – Ela não podia simplesmente deixá-lo ir. Droga. Por mais irritada que estivesse, queria muito vê-lo. Virou-se para Eleanor. – Este é o meu… namorado. – Era como um desafio para que Simon questionasse a escolha da palavra. – Tem problema se eu apresentar você? Eleanor engoliu em seco, mas assentiu. – Simon Worth, esta é Eleanor Daly. Minha mãe. – A garganta de Ariella ficou embargada de emoção. Eleanor o olhou fixamente. – O príncipe Simon Worth? Simon se curvou. – Ao seu dispor. É uma honra conhecê-la, sra. Daly. – Ele pegou a mão dela e a apertou ternamente, enquanto ela o olhava, chocada. – Sei que Ariella estava ansiosa por isto. – Deus do céu. – Eleanor olhou de um para o outro. – Simon me incentivou a encontrar você. Eu não sabia se você iria querer. – Estou tão feliz por vocês duas terem finalmente se encontrado. – Simon esbanjava confiança e bom humor, como sempre. Eleanor ainda parecia chocada. – Vi uma manchete sobre vocês dois e pensei que fosse só mais uma invenção. – Às vezes, tem um pouco de verdade nas histórias loucas que a imprensa inventa. – Simon sorriu. – Fico feliz por confirmar que este é um desses casos. – Então vocês dois estão mesmo… namorando? – Não sabemos bem o que estamos fazendo – interveio Ariella, sem querer que Simon fosse posto numa situação difícil. – Gostamos da companhia um do outro. – Ah. – A testa de Eleanor se enrugou de preocupação. Ariella teve a sensação de que ela adoraria dar alguns sérios avisos, mas era educada demais. Provavelmente, não estava feliz com o fato de sua recém-descoberta filha estar embarcando num relacionamento que, provavelmente, não terminaria num glorioso “felizes para sempre”. Porque, falando sério, Ariella esperava mesmo que Simon se casasse com ela? Aquela ideia era ridiculamente prematura. Eles sequer tinham ido além de alguns beijos. Ariella olhou para Simon, cujos olhos encontraram os dela, lançando uma rajada de calor diretamente ao íntimo dela. – Vou deixar vocês duas em paz. – Simon fez um nobre movimento de cabeça para Eleanor, apertou a mão de Ariella, virou-se e desapareceu pela porta. Ariella não conseguiu pensar em nada educado para dizer. Então as duas observaram em silêncio até que a porta se fechasse. – Santo Deus. – Eleanor parecia perplexa. – A vida tem sido bem intensa este ano. – As duas se sentaram novamente no sofá. – Às vezes, fico me perguntando o que mais pode acontecer. – Não provoque o destino. Mas espero que você possa conhecer logo o seu pai. Estou tão orgulhosa dele por ter sido eleito presidente, e sei que vai fazer um excelente trabalho administrando o país. Quase me faz achar que eu deveria me mudar de volta para lá. 44
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A adrenalina foi disparada dentro de Ariella. – Devia fazer isso. Seria tão maravilhoso ter você por perto. Vá morar em D.C.! Georgetown, onde moro, é bem tranquilo. Muitas árvores e adoráveis edifícios antigos. – Você faz isso parecer muito convidativo. Talvez eu já tenha morado por tempo demais no fim do mundo e me escondendo. – Não precisa mais se esconder de ninguém. Eleanor pareceu em dúvida. – Acho que eu não conseguiria enfrentar todos aqueles repórteres como você e Ted enfrentam. Eu não saberia o que dizer e deixaria vocês dois envergonhados. – Seria impossível você envergonhar qualquer um de nós. Aposto que seria um grande alívio se apresentar e acabar com isso de uma vez. Por que não volta para os Estados Unidos comigo no final da semana? Vou embora na sexta, e acho que consigo uma passagem para você no mesmo avião. – Eu… não estou pronta para isso. – Novamente, ela sentiu sua mãe se afastando. – Mas eu gostaria muito de manter contato com você por telefone, e talvez juntar coragem gradualmente para ao menos ir visitá-la lá. Talvez uma viagem até Montana para ver todos os velhos amigos que passei tanto tempo evitando. Nunca contei a ninguém de lá a respeito da minha gravidez, e tenho certeza de que todos ficaram se perguntando o que tinha acontecido quando simplesmente desapareci. Fiquei num abrigo especial para mães solteiras fora da cidade até a hora do parto. Depois peguei todas as minhas economias e fui para Chicago. Eu não conseguiria encará-los com todos sabendo que eu tinha aberto mão da minha própria filha. A filha de Ted. Conheci Greg lá. Ele tinha chegado da Irlanda para trabalhar consertando e instalando telhados durante o verão e me conquistou. – Os tristes olhos dela reluziram quando ela falou dele. – Com ele, comecei um novo capítulo da minha vida. Sem olhar para trás. Eu achava que, se fizesse isso, seria engolida por toda a emoção que eu me esforcei tanto para não sentir durante aqueles momentos. – Os olhos dela começaram a lacrimejar novamente. – Não é bom evitar seus sentimentos verdadeiros. Cedo ou tarde, eles voltam para assombrar você. Aprendi isso depois que meus pais adotivos morreram. Toda aquela dor é assustadora, mas, quando você aceita que aconteceu, pode seguir em frente. Até lá, fica presa num lugar cheio de medo. – Você é muito sábia, Ariella. – Quem me dera. Só tento lidar com uma crise por vez. No meu trabalho, sempre tem outra chegando. Então não adianta apressar as coisas. Elas riram. Então, aproveitando a deixa da súbita intimidade, abraçou sua mãe.
Simon se recusava a deixar Ariella ir embora da Inglaterra sem visitar a casa dele. Ele prometera que não a perseguiria por Londres nem a encurralaria em salas particulares, contanto que ela concordasse em adiar o voo de volta até a manhã seguinte, para que pudesse passar o final de semana com ele no Castelo de Whist. Ela acabara aceitando. Ele pedira para que os funcionários preparassem o quarto favorito de sua mãe para Ariella, por causa da linda vista para o lago e, principalmente, por ter uma porta que levava ao quarto dele.
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O motorista dele trouxe Ariella de Londres na noite de quinta-feira. Simon tinha uma agenda completa de atividades para mantê-la entretida e lhe dar uma amostra do estilo de vida do campo inglês, e pretendia apresentá-la à família na partida de polo beneficente que ocorreria no domingo. Aquele final de semana daria a ela uma excelente ideia dos prazeres e realidades da vida na família real. As realidades, claro, poderiam assustá-la. Não havia como negar que a família dele tinha ideias bastante fixas a respeito de com quem ele deveria se casar: uma britânica, com herança aristocrática e um passado imaculado. Claro, Simon informara a eles que não se casaria a não ser por amor, mas não sabia ao certo se eles tinham lhe dado ouvidos. E não havia como negar que, provavelmente, escolher Ariella como sua noiva traria censura e reprovação. Por outro lado, não havia nenhum bom motivo para que eles se opusessem a ela. Cedo ou tarde, eles sempre acabavam enxergando a razão. Ele só esperava que não assustassem Ariella demais. O corpo de Simon latejava com a expectativa de ficar sozinho com ela. Desde o momento em que a vira pela primeira vez, no salão de festas daquele evento, ele tivera uma poderosa sensação de que ela era a mulher certa. Até então, ele conseguira combater todas as forças que se punham entre eles e agora tê-la em seus braços, nua, era algo que estava ao seu alcance. Ele foi até as janelas da frente, vendo se o carro estava chegando, resistindo à vontade de telefonar e ver se ela ainda estava longe. Então desceu praticamente correndo a escadaria quando o veículo finalmente surgiu. Ariella parecia iluminada, como sempre, com um simples vestido preto, seu cabelo comprido caindo sobre os ombros. Um sorriso se espalhou por seu belo rosto quando ela o viu, e Simon sentiu seu próprio rosto refleti-lo. – Bem-vinda ao Castelo de Whist. – É tão lindo quanto imaginei. – E você nem viu o terreno ainda. Vamos entrar. Como foi o encontro com a sua mãe? – Incrível. – Simon a viu sorrir. – Eu tinha ficado tão preocupada com a possibilidade de ela parecer uma estranha que talvez nem fôssemos nos reconhecer. Mas senti uma conexão instantânea com ela. – Isso é fantástico. Acha que vai vê-la novamente em breve? Ariella hesitou. – Não sei. Espero que sim. Ela ainda morre de medo de publicidade e das críticas que vai enfrentar por ter me posto para adoção e não ter contado a Ted Morrow a meu respeito. Acabei me empolgando e comecei a tentar convencê-la a se mudar para D.C. Ele riu. – Parece algo que eu faria. – Depois tentei convencê-la a visitar Montana comigo. Espero não tê-la assustado. – Tenho certeza de que, secretamente, ela está empolgadíssima por você estar tão feliz por tê-la conhecido e querer passar mais tempo com ela. – Espero que sim. Gostei de verdade dela. Planejo telefonar regularmente, e, com sorte, vamos construir um relacionamento.
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Simon aconselhou a si mesmo a seguir o mesmo curso de ação com Ariella. O fato de ele sentir uma profunda convicção de que eles tinham sido feitos para ficar juntos não significava que ela pensasse da mesma forma. Uma delicada persuasão e uma sedução cuidadosamente dosada seriam o caminho sensato, por mais que seus ímpetos mais primitivos lhe implorassem para que ele a tomasse nos braços e a beijasse fortemente. Simon mostrou a Ariella o quarto dela, olhando para a porta que levava ao dele, mas sem mencioná-la. Haveria um momento para isso mais tarde. Então levou-a para seu lugar preferido, o salão que já fora a sala do trono de um saxão e abrigara muitos turbulentos jantares festivos. Em seguida, eles foram para a parte mais antiga da construção, que continha uma galeria de pinturas colecionadas ao longo de séculos. Ariella ficou devidamente impressionada. – Acho que você tem uma coleção melhor que a maioria dos museus. – Eu sei. Eu as empresto a museus de tempos em tempos, para que elas não fiquem totalmente ocultas aqui. – Já pintaram seu retrato? – Ela olhou para um majestoso retrato de um jovem Charles II. – Nunca. Eles precisariam me pregar para me manter suficientemente imóvel. – Uma pena. Eu adoraria poder olhar para uma magnífica pintura sua. – Por que, se você pode olhar para o verdadeiro? – Eles tinham observado um o outro despudoradamente desde que ela chegara. Os dias de distância tinham criado uma forte tensão sexual. – Que tipo de pano de fundo combinaria com você? – Ela o olhou de cima a baixo. A pele de Simon se aqueceu quando o olhar dela vagou de seu rosto para seu torso, indo ainda mais baixo… – Definitivamente, algo ao ar livre. Talvez pendurado numa montanha. – Ótima ideia. E, atualmente, podem tirar uma foto sua para usar como base. Então você só vai precisar ficar parado por um segundo. Pense em todos aqueles artistas famintos que adorariam virar o pintor da Corte. Acho que é seu dever ser patrono das artes. – Não tinha pensado por esse ponto de vista. Ariella desceu pelo corredor, e Simon hesitou por um instante para desfrutar o balanço dos quadris dela.
Apesar de Simon fazer tudo para deixá-la confortável, Ariella ainda não estava totalmente relaxada. Aquele final de semana, sem dúvida, levaria o relacionamento deles a um novo nível, de um jeito ou de outro. Ela estava no terreno dele, à mercê dele. – Eu disse aos funcionários que nós mesmos prepararíamos nosso jantar. – Simon a levou da galeria para uma sala de estar com um alto teto de madeira. – Faço um espaguete à bolonhesa sensacional. – Comida italiana? – E as pessoas costumam dizer que os americanos não se dão o trabalho de conhecer outras culturas…
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Ele iria cozinhar? Ariella diria ao seu acelerado coração para se acalmar se achasse que isso adiantaria. Vestido de calça cáqui e camisa branca, ele estava classicamente belo. E o sempre presente brilho de malícia nos olhos dele sempre fazia a pulsação dela disparar. – Para o seu governo, gosto bastante de estudar outras culturas. Ele sorriu. – Estou impressionado. Claro, eu não esperaria nada menos. Você é perturbadoramente perfeita. – Não sou. – Ariella sentiu seu rosto corar. – Tenho muitos defeitos. – Diga um. Não, espere. – Ele foi até um armário de madeira e pegou uma garrafa de vinho. – Acho que podemos tomar um excelente vinho enquanto discutimos seus defeitos. – Ele serviu duas taças. Os defeitos dela? Ela poderia ser perfeitamente honesta? Afinal, não estava tentando fazer com que Simon se apaixonasse por ela. – Um defeito? Hum… Sou péssima para escrever. Sempre preciso pedir para alguém reler documentos importantes. Sou bem capaz de escrever meu próprio nome errado. – Isso não é nada. Eu sou disléxico. – É mesmo? Eu não fazia ideia. – Sendo assim, você vai precisar de um defeito mais impressionante. – Eles se acomodaram num largo sofá de couro. Simon a olhou enquanto tomava seu vinho. – Um defeito fatal, talvez. Do contrário, vou continuar insistindo que você é perfeita. – Posso ser bem impaciente. – Bobagem. Veja só a maneira como você lidou com a imprensa. A maioria das mulheres teria dado um ataque ou outro a esta altura. Próximo! – Hum… – O que ela poderia dizer para deixá-lo chocado e acabar com aquela complacência? – Sou uma ninfomaníaca reformada. As sobrancelhas dele se ergueram levemente, mas sua expressão continuou inalterada. – Não muito reformada, espero. – Você é terrível. – Ela não conseguiu evitar rir. – A verdade é que, provavelmente, sou o oposto disso. Tensa demais. Talvez seja esse o meu defeito. – Isso pode ser resolvido. – O calor surgiu entre eles quando os olhos se encontraram em silêncio. Havia alguns botões abertos na gola da camisa dele, revelando uma tentadora faixa de peito bronzeado. Simon se aproximou dela no sofá. As coxas deles se tocaram, e Ariella se perguntou como seria a visão dele nu. Então perguntou-se se ela descobriria isso naquela noite. A ansiedade a dominou, juntamente com uma constante pulsação de desejo. Fazer sexo com um príncipe não era algo que uma mulher esqueceria facilmente. Contudo, ela precisaria fazer isso eventualmente, pois dificilmente se tornaria parte da família real. – Seu cérebro está a mil por hora. – O rosto dele se aproximou do dela. – Outro defeito. Penso demais.
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– Já eu sou famoso por agir primeiro e pensar depois. Isso já me meteu em algumas encrencas. – E tenho a sensação de que vai meter em mais uma se não pararmos de beber. – Os lábios deles estavam se aproximando. – Você pensa mesmo em tudo. – Ele pegou a taça dela e a colocou no chão. – Agora, onde tínhamos parado? Ariella não teve tempo de pensar numa resposta, pois a boca de Simon se fechou sobre a dela, e seus grandes braços a envolveram. Os dias de separação tinham sido uma tortura, tentando evitar pensar nele, evitar querê-lo. Depois comportara-se adequadamente diante dos motoristas, do mordomo e de todas as outras pessoas que estavam sempre por perto. Agora eram apenas ela e Simon. O beijo deles se aprofundou, e a língua dele tocou a dela. O latejamento no abdômen dela ficou mais urgente, seus mamilos forçaram o sutiã. Mas, certamente, devia haver alguém por perto. – Acha melhor irmos para um lugar mais reservado? – sussurrou ela. Simon não respondeu; pegou as taças deles e fez um movimento de cabeça, indicando para que ela o seguisse. Eles percorreram rapidamente a silenciosa casa. Ela o seguiu escadaria acima e o viu entrar no quarto dele. Preservativos! Seria aquele o momento de falar da necessidade de métodos anticoncepcionais? Ou seria muita presunção? Ariella olhou para a grande cama. – Hã… Tenho alguns preservativos na minha mala. Ele se virou, sorrindo. – Hum… Talvez você não tenha mentido quando falou que era uma ninfomaníaca levemente reformada. – Ou será que simplesmente estou sempre preparada para tudo? – Imagino que seja a segunda opção. E não se preocupe, comprei alguns especialmente para a ocasião. – Como um príncipe compra preservativos? Quero dizer, você não pode simplesmente entrar na farmácia e colocá-los no balcão, sorrindo. – Por que não? – Ele retirou um pacote de uma elegante cômoda de mogno. – Porque todos saberiam o que você iria fazer. – E ficariam com inveja. – Ele avançou na direção dela, tirando-lhe o fôlego com um ardente beijo. – Mas não se preocupe. Eles são comprados de forma anônima. Os dedos dele abriram o zíper na lateral do vestido dela. Então Simon pareceu frustrado. Os seios de Ariella formigavam na expectativa do toque dele. – Tenho que tirá-lo por cima da cabeça – arfou ela. – Não. Eu tenho que tirá-lo. – Simon levantou a barra, e Ariella prendeu a respiração, levantando os braços enquanto ele tirava o vestido. Simon a analisou em silêncio por um momento. Ela devia se sentir envergonhada ali, de sutiã e calcinha, mas não se sentia. Ariella tirou os sapatos e atacou os botões da camisa de Simon, enquanto ele abria o cinto e tirava a calça. Deus do céu, o peito dele era puro músculo, ressaltado por uma
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linha de pelos dourados clareados pelo sol, levando até a feroz ereção que buscava se libertar da cueca boxer. – Vou ajudar você – murmurou ela, puxando a peça pelas coxas dele. Percebeu tarde demais que estava lambendo os próprios lábios. Fazia tempo demais desde a última vez que ela fizera sexo, e todo o seu corpo fervilhava de expectativa. As pernas de Simon eram robustas, com joelhos marcados por cicatrizes de incontáveis aventuras. Antes de Ariella se levantar novamente, ele já tinha aberto o sutiã dela. Juntos, eles tiraram a calcinha dela, e os corpos se encontraram, a ereção dele se encaixando perfeitamente contra a barriga dela. Eles arfavam, a pele se aquecendo enquanto eles se beijavam levemente até não mais aguentar. Caíram na cama, e Simon ficou por cima dela, cobrindo-a com beijos, provando e testando a pele dela até que Ariella gemesse. Ele pôs o preservativo e a penetrou com cuidado. Os olhos deles se encontraram por um momento, e o olhar de preocupação no lindo rosto dele a fez sorrir. Ariella ergueu os quadris para acolhê-lo e adorou a expressão de arrebatamento quando os olhos de Simon se fecharam e ele se afundou nela. O prazer a percorreu ao sentir o grande e forte corpo dele. Ariella se moveu com ele facilmente, desfrutando do súbito e intenso alívio de toda a tensão que se acumulara entre eles desde que tinham se conhecido. – Ariella. – Ele arfou o nome dela com um toque de surpresa. Por algum motivo, aquilo a fez retornar à realidade de quem ela era. Ariella Winthrop, cuja vida fora virada de ponta-cabeça pelas escandalosas circunstâncias de sua concepção e agora por um chocante romance internacional. Ao se contorcer nos braços de Simon, ela não conseguiu evitar perguntar a si mesma se tudo aquilo seria um louco engano. Ela acordaria cheia de arrependimentos por ter aumentado a loucura que vinha sendo sua vida? Se a imprensa descobrisse que ela e Simon tinham dormido juntos, se fartaria. – Ariella – disse ele novamente. – Sim? – Eu só estava pronunciando. Celebrando. O fato de finalmente estarmos juntos. Ela riu. Então manobrou cuidadosamente até ficar por cima. – É difícil resistir a você. – Era a verdade. Era impossível dizer “não” a Simon. Ao menos, para ela. Ela se curvou à frente para beijá-lo. Os olhos de Simon se fecharam, e seu rosto assumiu uma expressão de puro deleite enquanto ela o cavalgava. As mãos dele vagaram sobre o peito dela, desfrutando das curvas dos seios, envolvendo a cintura. Então ele mudou rapidamente de posição outra vez, reassumindo o comando. Os pensamentos se esvaíram quando ele a levou para um mundo onde preocupações inexistiam. Nada importava, a não ser os corpos deles, movendo-se em sincronia, chegando cada vez mais perto do inevitável clímax. Depois do ato, eles ficaram nos braços um do outro, como incontáveis outros casais deviam ter feito ao longo dos anos naqueles mesmos aposentos. Duques, príncipes e condes, esposas, amantes e, provavelmente, algumas belas servas. – O que estamos fazendo? – Não era a primeira vez que Ariella dava voz àquele pensamento. – Sendo dominados por um apaixonado romance. 50
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– Você faz as coisas parecerem tão simples. – Geralmente, elas são simples, e as pessoas as complicam. – Mas durante quanto tempo isso pode continuar? Você mora aqui, e eu moro em D.C. É bobagem. – É maravilhoso. – Ele acariciou o cabelo dela. Ariella suspirou. – É mesmo. – Sendo assim, precisamos aproveitar nosso apaixonado romance um dia de cada vez e ver aonde ele nos leva. – Com a imprensa nos perseguindo? Ele deu de ombros. – Eles vão fazer o que quiserem. Tento ignorá-los, em geral. A menos que eu precise de publicidade para a World Connect. – Ele sorriu. – Só estão fazendo o trabalho deles. Como você já disse, é improvável que me deixem em paz por enquanto, já que o presidente é meu pai. Então é melhor eu me acostumar. – Ótimo, porque, no domingo, vamos a uma partida de polo beneficente, e haverá muitos repórteres lá. – Ele estava novamente com aquela expressão maliciosa. – Oh-oh. – Vai ser divertido. E você vai poder conhecer a minha família. A ansiedade a dominou. – Seu irmão mais velho e a esposa? – Eles estão numa viagem na Austrália, mas você vai conhecer minha avó e vários primos e tios. E meu irmão mais novo também. Ela engoliu em seco, tentando não deixar seu pânico transparecer. – Sua avó… a rainha? – Não se sinta intimidada. De longe, ela parece feroz, mas, de perto, é muito terna, de conversa fácil. Ariella suspirou. – Espero não gaguejar como uma idiota. – Você é a última pessoa que devia se sentir constrangida na presença da realeza. Especialmente por já estar dormindo com um membro dela. Ela riu. – Isso é verdade. – Então seu estômago se revirou. – A rainha sabe sobre nós? – Se ela ler os jornais, vai saber. – Simon acariciou o rosto dela. – Não se preocupe. Minha família vai adorar você. Será divertido. Divertido. Ariella duvidava disso. Intimidador, alarmante, cheio de potenciais fracassos? Sim. Divertido? Nem tanto. De qualquer forma, ela descobriria dali a dois dias.
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CAPÍTULO SETE
Ariella tentou tudo em que conseguiu pensar para não ir à partida de polo. O duque de Buckingham as contratara para fazer o casamento. Sendo assim, ela devia estar mesmo em Londres, buscando fornecedores para a festa. Mas a partida seria num domingo e, na Inglaterra, a maioria dos lugares ficava fechada aos domingos. Ela devia voltar aos Estados Unidos e… bem, continuaria sendo domingo. Então, na manhã de domingo, ela se flagrou penteando o cabelo com mãos trêmulas. Simon abriu a porta que dividia os quartos deles. Sorriu ao vê-la. – Só vim ver se você não tinha fugido pela janela. – E se todos me odiarem? – Eles vão adorar você. – Não sei nada de polo. – Não precisa saber. Bata palmas quando nosso time pontuar, e já está ótimo. – E se um repórter começar a fazer perguntas, sondando? – Ninguém vai fazer isso. É um evento muito exclusivo, e existem regras tácitas que os mantêm a uma distância respeitosa. Mas acho melhor avisar você a respeito do meu tio Derek. Provavelmente, ele já vai estar totalmente bêbado antes do meio-dia e não tem o menor pudor de se expressar. Tio Derek? Ariella nunca ouvira falar dele. A confusão devia ter surgido no rosto dela. – É irmão da minha mãe. Então não é um nobre por nascimento, mas ele se agarrou à família com tudo. Tenta ser mais tradicional do que todos. Sendo assim, é provável que ele não aprove meu relacionamento com uma americana. Ariella suspirou. – Mas não temos nada… sério. – Ela estava tentando convencer a si mesma? O final de semana deles juntos fora tão tranquilo e divertido! Ela e Simon tinham realmente se dado bem. Conseguiam conversar sobre qualquer coisa. E o sexo… – Quem disse? – Ele entrou totalmente no quarto. – Posso ser bem sério quando a ocasião exige. – Simon se postou atrás dela e deslizou os braços em torno da cintura de Ariella. Seus lábios pressionaram ardentemente o pescoço dela. – E gosto seriamente de você. Ela piscou os olhos, olhando de seu assustado rosto para o de Simon, relaxado, no espelho. – Também gosto de você, mas é uma situação estranha.
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– Minha vida inteira foi uma situação estranha pelo ponto de vista da maioria das pessoas. – Ele mordiscou a orelha dela, o que a fez arfar. – Não permito que isso me incomode. – Quando você fala desse jeito… – As palavras dela desapareceram quando os olhares se encontraram no espelho. O de Simon reluzia de diversão e desejo ao mesmo tempo. Suas mãos vagaram sobre os quadris e a barriga dela, disparando tremores de desejo. O ato de amor da noite anterior ainda reverberava na mente e no corpo dela. Se Ariella conseguisse, ao menos, sobreviver àquela tarde sem nenhum drama, eles estariam novamente na cama naquela noite. A última noite antes de seu voo de volta a D.C. Sem pensar, ela se virou e o beijou, agarrando-o num forte abraço. Se aquele fosse todo o tempo que lhes restava, seria melhor aproveitá-lo. Sem arrependimentos.
– E esta é a minha avó. – Simon sorriu para incentivá-la. Havia pessoas à volta deles na área da realeza, rindo e brindando com taças. Havia fotógrafos a uma discreta distância. A rainha parecia tão pequena de perto. Ariella começou a fazer reverência, mas a rainha estendeu a mão. E ela retribuiu o gesto. Os dedos se fecharam em torno dos dela com uma surpreendente força. – É um prazer conhecê-la, srta. Winthrop. Simon me disse que você nunca tinha ido a uma partida de polo antes. – Olhos azuis enxergavam dentro da alma dela. – Não, esta é a primeira vez. – Simon também me informou que o presidente Morrow é seu pai. – A rainha continuava segurando as mãos dela. – Hã… sim. – Ela sabia que eles ainda não se conheciam, que sequer tinham se falado? – Foi uma surpresa e tanto para nós dois. – Surpresas mantêm a vida interessante, não? – Mantêm mesmo. A rainha a bombardeou com informações sobre os diversos cavalos de polo, a linhagem, o histórico e as qualidades deles. Ela possuía uma clara habilidade de manter uma conversa inteira com pouca participação de outras pessoas. Ariella decidiu que ela própria desenvolveria essa capacidade. Parecia uma maneira segura de manter as conversas no rumo certo. Simon sorriu e assentiu, parecendo, em geral, feliz com o progresso das coisas. Ariella sorriu e também assentiu enquanto pensava: Ai, meu Deus, estou falando de cavalos com a rainha. E não sei nada de cavalos. E estou dormindo com o neto dela. Sem dúvida, ela estava pronta para uma bebida, quando um novo convidado da rainha interrompeu a conversa delas para saudar Sua Majestade. Simon lhe entregou uma grande taça com um misto de morango, maçã, laranja e pepino flutuando. Ela sabia que o sabor doce ocultava uma base de gim. Sendo assim, bebeu levemente, não querendo ficar alegre demais e acabar caindo de seus saltos, como algumas das convidadas mais jovens já corriam o risco de fazer. O irmão mais novo de Simon, Henry, estava no centro do grupo de convidados mais barulhentos, e Ariella sentiu uma apreensão quando Simon a levou para conhecê-lo. 53
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Alto como Simon, mas com cabelo mais encaracolado e brilhantes olhos azuis, o príncipe mais jovem tinha a reputação de ser um playboy que adorava festas. – Vejo que você a convenceu a entrar na confusão. – Ele fixou seus olhos nela ao beijar sua mão. – Henry, meu irmão, Ariella Winthrop – apresentou Simon. – Acho que todos do mundo civilizado sabem que é a srta. Winthrop. E ela é ainda mais adorável que nas fotos. – É um prazer conhecê-lo. – Será mesmo? Você não me conhece há tempo suficiente para saber. – Não assuste Ariella. – Simon estava sorrindo. – Ela acabou de ouvir da vovó os pedigrees de todos os cavalos da partida. – Espero que você tenha demonstrado um grau adequado de fascinação. Vovó suspeita de todos que não compartilhem da paixão dela por cavalos. – Admito que não sei praticamente nada sobre cavalos. – Achei que Montana fosse o estado dos caubóis. – Algumas partes, sim, mas não onde eu morei. – Acho que Ariella daria uma maravilhosa vaqueira. – Simon deslizou o braço em torno da cintura dela. Ariella tentou manter uma expressão neutra. Ele realmente queria fazer aquilo diante de todas aquelas pessoas? Ela sentiu olhos a perfurando por todas as direções. – Mas pretendo fazer com que ela se apaixone pela Inglaterra. Henry ergueu uma das sobrancelhas. – Ele deve estar falando sério. Geralmente, mal consegue esperar para pegar um avião e ir para outro lugar em busca de aventuras. – Ariella me faz pensar em aventuras mais próximas de casa. Ariella mal conseguia acreditar em seus ouvidos. Ele estava praticamente se declarando. Talvez aquela fosse alguma brincadeira interna entre ele e seu irmão. Ela não fazia ideia de como reagir. – Gostei muito da Inglaterra. – Felizmente. Só há uma coisa que não posso mudar a meu respeito: minha terra natal. – Simon lhe deu um leve apertão, o que lançou uma onda de emoções confusas pelo corpo de Ariella. – Não sei bem se você consegue mudar outras coisas – brincou Henry com Ariella. – Ele é muito cabeça-dura. – Não sou. – Simon o empurrou levemente. Ariella percebeu que os irmãos tinham um amistoso relacionamento de conflito, mas que gostavam muito um do outro. – Ariella teve a ideia de um show ao ar livre para angariar fundos e divulgar a World Connect. – Gostei. – Henry sorriu. – Os gramados diante do Monumento a Washington seriam um ótimo lugar. – Concordo. – Ariella também sorriu. – Não faz mal sonharmos alto.
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– Especialmente com o seu pai sendo presidente. – Henry deu uma piscadela. – Nós da realeza não somos avessos a um pouco de nepotismo quando a ocasião pede. Afinal, é assim que passamos o trono adiante. O estômago de Ariella se contraiu. Todos pareciam presumir que ela mantinha um relacionamento com seu pai. – Oh-oh, aí vem encrenca. – O movimento de cabeça de Henry fez Simon se virar. – Verdade. – Ele se virou e levou Ariella para longe de Henry e seu grupo de admiradoras na direção de um homem alto que se aproximava rapidamente. – Seu tio? – As grossas sobrancelhas do homem eram baixas sobre olhos escuros, e suas bochechas eram rosadas. – Bom e velho tio Derek. Veio criar confusões desnecessárias. Derek chegou até Simon e começou a falar sobre o time de polo, ignorando-a por completo. – Tio Derek, contenha-se por um momento para que eu possa lhe apresentar minha honorável convidada, a srta. Ariella Winthrop. Ariella, este é o irmão da minha mãe, Derek, o duque de Aylesbury. – Está apenas de visita na Inglaterra? – A arrogante voz dele dava nos nervos de Ariella. – Sim. Volto amanhã. – Ah. – Ele se virou novamente para Simon e retomou a conversa. Simon a olhou enquanto assentia e ouvia seu tio. Ariella quase desabou de alívio quando Derek finalmente encerrou seu monólogo e se afastou. – Ele é irritante, mas inofensivo. Tento ignorá-lo. Uma coisa que você aprende a fazer sendo parte da realeza é apresentar uma fachada de união. Não precisamos que o público saiba que, entre quatro paredes, às vezes, enlouquecemos uns aos outros. – Compreensível. Houve uma breve comoção quando um dos jogadores caiu e, incapaz de apoiar o corpo com um tornozelo contundido, foi levado para uma tenda médica. – Simon, precisamos de você! – Dois dos outros jogadores chamavam de cima de seus cavalos. – Hugh não pôde vir hoje, e Rupert ainda está gripado. Então estamos com um a menos. Você sabe que Dom ficaria feliz se você montasse um dos cavalos dele. Simon olhou para Ariella e novamente para eles. – Infelizmente, não posso. Seria falta de educação abandonar minha convidada. – Ah, não tem problema – disse ela. – Tenho certeza de que consigo me virar sozinha durante alguns minutos. – O jogo não estava acontecendo fazia uma eternidade. Devia estar perto de acabar. – Pode ir. – Você é um amor. – Ele deu um leve beijo no rosto dela, o que a fez arfar e olhar à volta enquanto Simon ia correndo se trocar. Ótimo. Agora ela estava à deriva em águas desconhecidas. Ariella resolveu sair em busca de outra bebida. – Ariella. – A voz a surpreendeu. Ela se virou para encontrar Derek, o tio de Simon, logo atrás de si. – Uma palavra, se não se importar. Na verdade, eu me importo. Mas ela não ousou dizer isso. 55
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– Simon é jovem e se impressiona com facilidade. – Aquelas sobrancelhas grisalhas assustadoramente grandes subiram e desceram. – Empolgado e encantador, mas não muito inteligente, infelizmente. Ariella ficou boquiaberta. – Eu o acho muito inteligente. – Tenho certeza de que sim. – Ele deu um gole em sua taça. – A coroa tem esse efeito sobre as mulheres. De qualquer forma, a associação com você pode destruir o futuro dele. – Não acho que… – Ela não sabia o que iria dizer, mas isso não fez diferença, pois Derek continuou. – Todos sabemos o que aconteceu da última vez que um membro da família real britânica ficou deslumbrado por uma americana. Ele abandonou seu país e seus deveres em nome do amor. Não porque queria, mas porque sabia que isso era absolutamente necessário. – Por quê? – Porque ele sabia que ela não conseguiria se encaixar. – Achei que fosse pelo fato de um monarca não poder se casar com uma divorciada. Em primeiro lugar, Simon não é um monarca, e dificilmente vai se tornar um. E, em segundo, não sou divorciada. – Sua própria audácia a chocou. As monstruosas sobrancelhas se levantaram. – Os tempos mudaram, mas não muito. Sua Majestade tem opiniões muito tradicionais, e todos os netos dela foram preparados desde o nascimento para seguir um caminho específico. Simon se casará com um membro da nobreza britânica e criará seus filhos aqui, para que se tornem membros da aristocracia britânica. Lady Sophia Alnwick será a futura esposa dele, e os convites do casamento já vão ser impressos. Ela estaria aqui com ele hoje, se não estivesse ao lado do leito de morte de seu estimado pai. Dentro de um ou dois dias, ela herdará todas as terras e a fortuna dele e se tornará a mulher mais rica da Inglaterra. – Não acho que Simon precise se casar por dinheiro ou prestígio. – Essas duas coisas jamais são pontos negativos. – O olhar fixo de Derek a fez estremecer. – Você é… ninguém. A filha ilegítima de um novato americano que conseguiu um cargo de poder temporário. Não se iluda pensando que pode competir com a história milenar da família Alnwick. Assim como o do irmão dele, o caminho da vida de Simon foi planejado desde o nascimento. A propriedade onde ele mora, a chamada caridade da qual ele tanto gosta, tudo faz parte da posição dele. Se você puser suas garras nele e levá-lo a fazer algo tolo, ele perderá as duas coisas. – Não acredito em você. – Não? A propriedade não é dele. Pertence a Sua Majestade. Aquela boba caridade é financiada quase totalmente pelos cofres reais. A função de Simon na família é como um emprego e depende da boa vontade de Sua Majestade, podendo ser encerrada a qualquer momento. Pense nisso quando for beijá-lo. Ele se virou e se afastou. Ariella murchou. Seria verdade? Simon seria mesmo uma marionete da realeza, cujos fios poderiam ser cortados a qualquer momento? Parte dela queria incentivá-lo a mandar todos engolirem aqueles títulos de nobreza e viverem a própria vida. Mas pensou em como ele amava seu lar no Castelo de Whist. E 56
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no orgulho que ele tinha dos sucessos da World Connect. Ela suportaria mesmo ser responsável por fazê-lo perder as duas coisas? Ariella correu para a tenda de drinques e pegou outra bebida. Depois retornou para a área reservada à realeza, fingindo assistir à partida. Vibrou loucamente de orgulho e felicidade quando Simon marcou um gol. Então olhou à volta, perguntando a si mesma se deveria ter fingido ter menos interesse. Ele estava tão lindo em cima do musculoso cavalo! – Ele é um bom jogador. – A distinta voz a surpreendeu. – Sim, Majestade. Ele claramente gosta de jogar. – Simon joga polo desde que tinha uns 11 anos. Já vinha cavalgando fazia anos àquela altura, claro. Você cavalga? – Não. Nunca sequer montei num cavalo. Acho que isso deve ser estranho, já que sou de Montana, mas morávamos na cidade, e nunca tive essa oportunidade. – Ah. O que você fazia para se divertir em Montana? Ariella engoliu em seco. Aquilo parecia perigosamente pessoal. E a culpa por ter falado de suas raízes fora dela mesma. – Meu pai nos levava para assistir a jogos de futebol americano quase todos os finais de semana. E íamos pescar no lago. – Que agradável. – Ela não parecia especialmente interessada. E por que deveria estar? – Você planeja voltar para Montana? – Tenho uma empresa em Washington D.C. Por isso não sei se vou voltar a morar em Montana algum dia. Mas é melhor nunca dizer “nunca”. – E quando você retorna a Washington? – Havia um toque de aço na voz dela. – Amanhã. – A tristeza se misturou ao alívio. Ela precisaria deixar Simon, mas não teria que se esforçar para conversar com uma monarca. – Vim a negócios. Simon ajudou a tornar esta uma viagem maravilhosa. Ela observou o rosto da rainha. Não conseguira resistir a dizer aquela última parte. – Simon me disse que você é planejadora de eventos. – Sim. Vim planejar o casamento do duque de Buckingham. – Ariella não tinha dúvidas de que a rainha e o duque eram velhos conhecidos. – Que maravilha. Estão todos tão felizes por finalmente vê-lo se casar com Nicola. São amigos quase desde o maternal. – Vou garantir que seja um evento memorável. – Tenho certeza de que sim. Simon lhe contou que logo vai se casar? Ela franziu o cenho. – Como? A rainha sorriu docemente. – Na realidade, é uma situação semelhante. Uma amiga de infância que todos amamos. Talvez ele possa conseguir algumas ideias para o casamento com você. Ariella mal conseguia respirar. A rainha estava lhe avisando para ficar longe de Simon.
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– Tenho certeza de que o casamento de Simon será um evento memorável – disse ela. – De fato. Tenha uma boa viagem de volta aos Estados Unidos. – A rainha abriu um fraco sorriso. Então virou-se e se afastou lentamente. Já era o segundo membro da família real que lhe avisava para se afastar de Simon. Eles deviam se sentir muito ameaçados por ela, o que não era nada surpreendente, já que Simon permitira que a imprensa ficasse sabendo do romance deles. Provavelmente, Sophia Alnwick também devia estar tendo um ataque se ela também estivesse fazendo parte daquele esquema para o casamento aristocrático. Parada ali, Ariella se sentia como uma solitária árvore em meio a uma tempestade, enquanto pessoas bem-vestidas e com grandes chapéus giravam em torno dela, vivendo suas glamourosas vidas. O papel dela era o de tornar aquelas vidas um pouco mais glamourosas criando extravagantes eventos para elas, não o de participar do jogo delas. Ariella contou os minutos até a partida terminar e Simon saltar de seu cavalo para correr pela grama até ela. – Espero que todos tenham cuidado bem de você. – Ah, sim. Ele estava ainda mais lindo com o cabelo bagunçado e o rosto brilhando do esforço. Uma pena que ele jamais seria realmente dela. – Viu? Eu disse que eles não mordiam. – Estou meio esgotada de toda essa emoção. Teria problema se fôssemos embora? – Claro que não. – Ele acenou para algumas pessoas e a acompanhou até o carro, como se Ariella fosse mesmo a pessoa mais importante dali. – Você não precisa se despedir da rainha? – Ela não queria se sentir culpada por ele negligenciar seus deveres reais. – Sem problema. Eu a vejo amanhã depois de levar você ao aeroporto. – Ah. – E por que ele não faria aquilo? Ela era avó dele. Provavelmente, iria querer falar do local do casamento ou discutir o anel que ele logo daria a Sophia. O coração de Ariella murchou. No caminho de volta até o Castelo de Whist, eles falaram sobre o jogo. Estava claro que Simon adorava sua vida ali. Ele nascera para aquilo. Ariella, não. Eles jantaram na sala de jantar do castelo, servidos por funcionários que, claramente, eram treinados para ignorar o fato de que uma mulher passara o final de semana ali. Ela se sentiu envergonhada por tantas pessoas saberem da vida dela. Em breve, todos cochichariam, falando dela como a última loucura de Simon. – Você parece muito pensativa hoje. – Simon falava tranquilamente. Eles ainda estavam à mesa, tomando café. – Pareço? Só estava pensando no casamento do duque de Buckingham. – Em parte, aquilo era verdade. Aquele final de semana lhe dera ideias que a ajudariam com o planejamento. – Espero não estar sendo muito entediante. – Impossível. – O terno sorriso dele foi tão incentivador que quase derreteu a ansiedade dela. – Vamos lá para cima relaxar. 58
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Ariella engoliu em seco. Como ela poderia fazer amor com ele novamente, sabendo que a família de Simon queria mantê-los separados? – Certo. – Ela sempre soubera que aquilo não seria algo duradouro. Era um relacionamento louco, algo no qual os dois tinham entrado por acidente. Simon pegou a mão dela enquanto subiam a escadaria, e a maneira como ele a olhou de esguelha, apertando delicadamente sua mão, foi tão meiga e romântica que deixou Ariella sem fôlego. Por que ele tinha que ser um príncipe? Por que não podia ser um homem comum, com um trabalho normal e uma casa no subúrbio de D.C.? – Você parece… preocupada. – Ele fechou a porta do quarto depois que eles entraram. – Eu estou. Vou sentir sua falta. – Então simplesmente vamos ter que garantir que não passemos muito tempo separados. – Ele a tomou nos braços e deu um cálido beijo em seus lábios. – Sim. – Ariella disse aquilo sem acreditar. Seria melhor para os dois se eles retornassem para suas vidas normais. Menos frenesi da mídia, menos reprovação da realeza. Menos diversão. O beijo se aprofundou até que Ariella precisasse tomar ar. As mãos de Simon foram até o zíper perto da cintura dela, e ela logo estava tirando o vestido, duelando com o cinto dele e o despindo. Apesar de todos do mundo lá fora parecerem pensar que ele logo se casaria com lady Sophia, naquele momento, Ariella sabia que Simon não estava interessado em ninguém além dela. Sozinhos naquele quarto, eles eram duas pessoas que gostavam uma da outra. Era tão bom deixar de lado a sociedade e tocar sua pele na dele! O corpo nu de Simon era tão robusto e capaz! Ela se sentia tão confiante na presença dele! Seria difícil voltar para seu apartamento em D.C., sozinha. Simon mordiscou o pescoço dela. – Não sei o que vou fazer sem você. Então ela não era a única que estava pensando nisso. Eles deslizaram juntos para baixo dos lençóis. – Vai fazer o que fazia antes de me conhecer. Escalar montanhas, pular de cachoeiras… – Talvez você tenha razão. Ao menos até a minha próxima viagem a D.C. – Ele se posicionou sobre ela, sua ereção tocando a barriga de Ariella. Ela inspirou tremulamente. – Quem sabe o que pode acontecer até lá? – Sem dúvida, os membros da realeza diriam para que ele ficasse longe dela. Se Simon tivesse bom senso, daria ouvidos a eles. Ela ficaria ocupada com os próprios dramas: conhecer seu pai em rede nacional, cumprir sua frenética agenda de trabalho, evitar fotógrafos… – Não vamos pensar no futuro. Não queremos perder nem um segundo da nossa preciosa última noite juntos. – Ele ergueu os quadris e a penetrou. O desejo e o alívio a dominaram. O puro prazer físico era uma agradável mudança com relação a todos aqueles pensamentos que ela tivera durante o dia. Os poderosos braços de Simon pareciam o lugar mais seguro do mundo. Eles se moveram juntos sem esforço, chegando à beira da loucura e retornando enquanto tentavam levar um ao outro ao ápice da paixão.
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Quando o orgasmo de Ariella veio, ela quis chorar. Os sentimentos dentro dela eram fortes demais. Desejo, medo, prazer, pânico, vontade de ficar ali, no ardente e sedento abraço de Simon até que o mundo acabasse. Simon a segurava com força, como se tivesse medo de que ela desaparecesse em meio à brisa noturna. – Ah, Ariella – sussurrou, no ouvido dela. Ela adorava a maneira como ele dizia seu nome, com seu sotaque britânico formal e tamanha convicção. Ela simplesmente suspirou, agarrando-se com tudo aos preciosos momentos que lhe traziam paz antes de ser cuspida de volta ao mundo.
Pela manhã, o alarme soou, lembrando a ambos de que Ariella tinha um voo para pegar dali a pouco mais de quatro horas. – Você gostou da minha família? – A estranha pergunta de Simon surgiu do nada e a pegou desprevenida. – Eles foram muito gentis. – Menos tio Derek. – Sim, menos ele. Simon se sentou. – Ele disse algo para você? Ariella hesitou por um instante. Por que ainda não contara tudo a ele? Não quisera estragar a última noite deles juntos. E sabia que aquilo o irritaria. – Mais ou menos. Simon pegou a mão dela e olhou em seus olhos. Ariella quis fugir da expressão carinhosa dele, não ferir seus sentimentos ao lhe contar o que seu tio dissera a ela. – Preciso me aprontar. – O que ele disse? – Ah, não disse nada. – Ela tentou se levantar, mas ele segurou sua mão. – Não acredito. Vamos, palavra por palavra, ou vou ter que apelar para técnicas de tortura medievais. – Ele agiu como se fosse fazer cócegas nela. Mas nenhum dos dois riu. – Ele disse que você ia se casar com Sophia Alnwick em breve. – O que você já sabe que não é verdade. – E ele me lembrou do que aconteceu da última vez que um nobre britânico se envolveu com uma americana. – Você não é nada parecida com Wallace Simpson. – Eu disse isso a ele. Não que faça diferença, já que mal estamos namorando. Foi bobeira. Não achei que valesse a pena comentar. – Alguém mais falou alguma coisa? – Não. Mas a rainha pareceu bem interessada em saber quando eu voltaria para os Estados Unidos. Imagino que todos eles vão ficar felizes por me ver indo embora, para
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que você possa voltar a sair com inglesas adequadas. – Ariella sorriu e tentou parecer que brincava. Mas o rosto de Simon estava como pedra. – Vou ter uma conversa com eles. – Ele franziu o cenho. – Desculpe por eles terem deixado você desconfortável. – Mas eu fiquei bem. Foi divertido. Nunca tinha ido a uma partida de polo e adorei ver você jogar. – Eu não devia ter deixado você sozinha. Vou dar um jeito neles. – Não precisa, é sério! – Eles diriam a Simon o que tinham dito a ela? Que ele perderia o Castelo de Whist e sua organização beneficente se ousasse se desviar do caminho traçado pela realeza? – Preciso me vestir e guardar tudo na mala. Você tem o telefone de um táxi? – Táxi? – Ele a abraçou com força. – Sou eu quem vai levar você ao aeroporto. E vai ser um milagre se eu não fizer você perder o voo propositalmente. – Se isso acontecer, minha sócia, Scarlet, vai me matar. Ela passou a semana inteira aguentando as pontas sozinha. O alarme tocou novamente. Ariella o empurrou para longe, muito relutantemente, e pulou da cama. – O dever chama. – Tendo passado pelo Exército, sei tudo sobre isso. Sendo assim, acho que vou ter que aceitar. Eles se vestiram e tomaram um rápido café da manhã. Em seguida, Simon a levou a Heathrow. Eles se beijaram no carro, onde ninguém podia vê-los, mas ele insistiu em acompanhá-la até o terminal. Ariella viu o flash do fotógrafo pelo canto do olho enquanto eles se despediam de forma comportada. Ela se sentiu entorpecida ao despachar a mala. Simon iria mesmo a D.C. para visitá-la? Ou a rainha e tio Derek fariam com que ele desistisse e voltasse sua atenção para seus deveres reais? Ela estava indo do romance mais intenso e maravilhoso de sua vida para… nada. Talvez jamais o visse novamente, a não ser nas páginas de revistas. Ariella afundou em sua poltrona no avião, sentindo-se vazia. Até verificar seu telefone e descobrir que ela estava prestes a finalmente conhecer seu famoso pai.
CAPÍTULO OITO
Uma curta mensagem de texto de Liam Crowe, chefe do ANS, disse a ela que a gravação estava marcada para terça-feira, dali a apenas dois dias. Ariella mal chegara de 61
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volta, quando Francesca, esposa de Liam, chegou para ajudá-la a se preparar para a gravação. – Parece fútil perguntar, mas o que você acha que devo vestir? – Elas estavam sentadas à mesa da cozinha de Ariella, que estava nervosíssima. – Geralmente, uso preto, mas ouvi dizer que não fica bonito na câmera. Desaparece ou algo assim. Não quero que ele suma e me deixe nua em rede nacional. A gargalhada de Francesca encheu o recinto. – Fica um pouco sem graça, só isso. Em geral, cores dão mais certo. Vamos olhar seu guarda-roupa. Elas entraram no quarto. Ariella abriu timidamente a porta de seu closet. Francesca puxou um vestido vermelho que ia até a altura dos joelhos. – Vermelho transmite confiança. – O que não estou sentindo. Acho que eu devia ser mais discreta. – Você? Você é praticamente uma princesa. O que acha deste azul? – Não sou nada. Acredite. A família dele foi areia demais para o meu caminhãozinho. – Você conheceu a rainha? – Francesca segurou o braço dela. Ariella assentiu. – Conversamos sobre trivialidades. Foi assustador. – Ariella pegou um discreto terninho cinza. – O que acha deste? – Discreto demais. – Francesca o pôs de volta. – Não acredito que você conheceu a rainha. Eu a adoro! Ela é tão tradicional. – Exatamente. Do tipo de pessoa que fica horrorizada com a ideia de seu neto namorar uma americana. – Ariella suspirou. – Ele é fofo, mas não tenho futuro com ele. Vamos simplesmente nos concentrar em me fazer sobreviver a essa gravação. O que acha deste lilás? Francesca analisou o vestido. – Perfeito. Revigorante e jovem, mas sofisticado e mundano. – Eu vou conhecer o pres… quero dizer, meu pai antes do início da gravação? Francesca hesitou. – Liam e eu conversamos sobre isso. Ele quer que você o encontre pela primeira vez no ar, para dar o máximo de impacto dramático. Eu disse a ele que não é nenhum especial do horário nobre… bem, na verdade, é sim… mas é a sua vida real. Se você não gostar da ideia de conhecê-lo sob os holofotes, vou implorar até ele ceder. – Não se preocupe. Não me importo de conhecê-lo no ar. De certa forma, talvez isso ajude, já que vou ter que manter as emoções sob controle. – Ah, não faça isso. É ruim para a audiência. – Francesca deu uma piscadela. – Liam prefere que eu fique em prantos e o chame de papai? – Sem dúvida. Ela suspirou.
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– Isso não tem nada a ver comigo. Sou famosa por ser calma sob pressão. Infelizmente, não vou dar um programa muito bom. – Basta ser você mesma. Deixe que Liam se preocupe com a audiência.
As mãos de Ariella não paravam de tremer enquanto tentava aplicar o rímel. Dali a 17 minutos, não que estivesse contando, ela estaria sentada num estúdio com o homem que a gerara. Não estava tão nervosa assim com as câmeras nem mesmo com os milhões de espectadores que sintonizariam no canal. Estava nervosa com o que veria ao olhar nos olhos de Ted Morrow. A expressão dele a incentivaria a construir um relacionamento que poderia moldar o resto de sua vida? Ou ele estaria usando aquela máscara de genial competência que o ajudara a vencer as eleições? Ariella conhecia essa máscara. Ela própria a usava bastante. Na verdade, seu plano era usá-la naquela noite. Contudo, ela ficaria decepcionada se não terminasse aquela noite se sentindo ao menos um pouco mais próxima de seu pai. – Entramos no ar em cinco minutos! – A espevitada assistente de produção pôs a cabeça dentro do camarim. – Está pronta? – Mais do que estou não vou ficar. – Ariella se levantou com pernas trêmulas. – Pode vir se sentar na sala verde. O presidente está conversando com Liam. Sendo assim, você não vai encontrá-lo até entrarmos no ar. – Vai ser totalmente ao vivo? – Houvera algumas discussões a respeito de se o encontro seria gravado e depois editado, mas a produtora do ANS garantira a Ariella que, se fosse ao vivo, ela teria mais controle sobre o resultado final do que se a edição fosse parar nas mãos de diretores e editores. Aparentemente, o fato de ser ao vivo também ajudava na audiência. – Sim. Sem delay. Ninguém espera que vocês comecem a dizer palavrões ou façam algo que precise ser cortado antes de ir ao ar. – A assistente segurou o braço dela. – Você vai se sair muito bem. É só se lembrar de não falar rápido demais e tentar não olhar para as câmeras. – Certo. – E se ela ficasse paralisada e não conseguisse falar? E se desmaiasse? Ela seguiu a assistente para a sala, que continha dois sofás e algumas cadeiras, um jarro de água, copos e um cesto de bolinhos. Ela não estava com fome. Sentou-se num dos sofás e sorriu fracamente. A assistente olhou para uma folha de papel em sua mão. – Barbara Carey vai entrar primeiro para apresentar vocês. Depois o presidente entra. – A célebre jornalista Barbara Carey era conhecida por sua capacidade de fazer todos os seus entrevistados chorarem. Independentemente do que acontecesse, Ariella tinha certeza de que não choraria. Tudo o que precisaria fazer seria se manter calma, ser educada e sobreviver àquela provação de meia hora. Uma luz se acendeu perto da porta marcada como Estúdio C. – O programa começou? – Sim, estão gravando. Prepare-se. – Ela levou Ariella até a porta e a abriu devagar. As luzes cegaram Ariella quando ela entrou no grande estúdio com câmeras por 63
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todos os lados. Barbara Carey estava sentada num set que parecia uma sala de estar, com cadeiras macias e um vaso com uma planta. Havia uma cadeira vazia de cada lado dela. Ariella tentou manter sua respiração estável. A voz de Barbara Carey encheu o ar. – …uma jovem que foi retirada do anonimato e lançada no palco mundial pela assustadora revelação de que seu pai é ninguém menos que o presidente dos Estados Unidos. Ariella Winthrop. – A assistente a deixara imediatamente fora do campo de visão das câmeras. Então Ariella simplesmente avançou. Barbara se levantou e apertou a mão dela, que se sentou na cadeira indicada. Onde estava o presidente? Ela resistiu à vontade de olhar à volta. – Você fazia alguma ideia de que seu pai era Ted Morrow? – De perto, Ariella pôde ver que Barbara Carey estava usando uma quantidade imensa de maquiagem, incluindo cílios falsos. – Só depois que li nos jornais. – Seus pais tinham lhe contado que você era adotada? – Ela se curvou à frente, a sinceridade reluzindo em seus famosos olhos azuis. – Ah, sim, eu sempre soube que era adotada. Eles me disseram que a minha mãe era solteira e jovem demais para me sustentar e que tinha me posto para adoção para que eu pudesse ter uma vida melhor. – Seus pensamentos se voltaram para Eleanor, muito nervosa e desesperada para se esconder dos holofotes. – E você tinha esperanças de conhecer seus pais biológicos? – Não. – Provavelmente, as pessoas considerariam aquilo uma futilidade da parte dela, mas era a verdade. – Eu considerava meus pais adotivos como minha mãe e meu pai verdadeiros. – Mas eles morreram num trágico acidente. Sem dúvida, você deve ter pensado no homem e na mulher que geraram você. – Talvez eu não tenha me permitido pensar nisso. Não queria tentar substituir meus pais de jeito nenhum. – Aquilo estava parecendo mais uma entrevista do que o que Ariella esperara, e isso a estava deixando nervosa. Ela queria que trouxessem logo Ted Morrow. Provavelmente, ela não estava lhes dando o apelo emocional que eles queriam. – Mas estou feliz por ter a oportunidade de conhecer meu pai. Ninguém sabia que ela já conhecera sua mãe. Ariella jurara manter segredo e cumpriria sua promessa. – E vai conhecer. – Barbara Carey se levantou. – Quero lhe apresentar seu pai, o presidente Ted Morrow. Um silêncio recaiu sobre o recinto quando Ariella se levantou, olhando para a escuridão logo além das luzes do estúdio. O conhecido rosto do presidente surgiu, alto, bonito, sorridente. Os olhares deles se encontraram. Ariella ficou sem fôlego quando ele estendeu a mão e ela a pegou. O aperto de mão dele era firme e terno, e Ariella quis que durasse para sempre. Os olhos dele eram bondosos e estavam cheios de emoção. – Oi, Ariella. Estou muito feliz por conhecer você. – A voz dele estava grave e rouca. O coração dela batia cada vez mais forte.
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– Também é um grande prazer conhecer você. – As educadas palavras mal conseguiam expressar a forte onda de emoção que crescia dentro dela. Os claros olhos azuis dele se fixaram nos dela, e Ariella pôde ver lampejos de pensamentos por trás deles. – Ah, Deus. – O murmúrio dele quase pareceu ter saído da própria boca de Ariella. Arrebatados, ainda de mãos dadas, eles se entreolharam durante um longo tempo, que pareceu agonizantemente curto. Então ela sentiu os braços dele a envolverem. O ar escapou de seus pulmões quando ela retribuiu o abraço, apertando-o com a força de 28 anos de um desejo não expressado. Ariella sentia o peito dele subindo e descendo. Lágrimas caíram dos olhos dela sobre o terno dele. Era demais. Sentimentos que ela jamais imaginara a abalavam profundamente. Quando eles finalmente se separaram, os olhos do presidente… do pai dela… estavam cheios de lágrimas, e seu rosto ainda parecia perplexo. Ele a ajudou a se sentar numa das cadeiras. Então assumiu seu lugar na outra, do outro lado de Barbara Carey, que permanecia em silêncio, permitindo que o momento falasse por si mesmo. Finalmente, a entrevistadora inspirou. – Isso já devia ter acontecido há muito tempo. – Ela olhou de um para o outro. O pai de Ariella – já não parecia loucura que ela o chamasse assim – olhou fixamente para ela. – Eu não fazia ideia de que você existia. – A voz dele estava arfante, como se ele estivesse falando apenas para ela, e não para Barbara Carey nem para as câmeras ou para os telespectadores. – Eu sei – respondeu Ariella. – Obviamente, seus pais fizeram um maravilhoso trabalho criando você. Já fiquei sabendo de todos os seus sucessos. Ela sorriu. – Obrigada. – Devíamos ter nos encontrado antes disto, mas eu fui burro o suficiente para aceitar o conselho de estrategistas que queriam esperar até sabermos a verdade pelo teste de DNA. Fui um tolo. Só preciso olhar para você para saber que você é minha filha. E você tem os olhos da sua mãe. Aqueles olhos se encheram novamente de lágrimas, e Ariella pegou um lenço de papel numa caixa que surgira milagrosamente na mesa de centro diante deles. Subitamente, ela conseguia enxergar a si mesma na protuberância da maçã do rosto dele e na maneira engraçada como ele enrugava o nariz. Eles vinham vivendo suas vidas a poucos quarteirões de distância ali em D.C., mas talvez jamais tivessem se encontrado. – Acho que temos que agradecer a esses jornalistas enxeridos que descobriram a verdade – disse Ariella a ele. Então virou-se para Barbara Carey. – Podíamos ter passado o resto das nossas vidas sem sequer nos conhecermos. – Temos muito tempo perdido para compensar. Eu gostaria muito de conhecer você melhor. – Eu também gostaria. – O coração de Ariella se inflou até ela achar que estouraria. – Tive vontade de conhecer você desde que fiquei sabendo que era o meu pai. Não é fácil marcar uma hora com o presidente. Ele balançou a cabeça. 65
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– Também tenho estado ansioso por conhecer você. Costuma ser um erro permitir que outras pessoas lhe digam como viver sua vida, e não vou cometê-lo novamente. Tenho a estranha sensação de que vamos descobrir que temos muito em comum. Ela sorriu. – Também pensei nisso. E eu adoraria saber mais da vida em Montana. Algo surgiu rapidamente na expressão de Ted Morrow. Talvez ele estivesse relembrando seus dias de colégio, quando se envolvera com Eleanor. Ele a perdoaria por ter mantido Ariella em segredo? – Tive uma infância maravilhosa em Montana. E era muito apaixonado pela sua mãe. – Ele falava com vigor, os olhos ainda brilhando de emoção. – Tem sido uma jornada estranha desde aquela época. Quem sabe como as coisas poderiam ter sido se ela tivesse me dito que estava grávida? – Talvez você não estivesse sentado aqui como presidente dos Estados Unidos – sugeriu Barbara. – Sua vida poderia ter tomado um rumo diferente. – Provavelmente, eu teria aceitado o cargo de gerente-assistente que tinham me oferecido numa loja de ferramentas. – Ele riu. – Eles pagavam 50 por cento a mais nos finais de semana. – Mas você tinha planos maiores. – Barbara inclinou a cabeça. – Tinha acabado de aceitar uma bolsa de estudos para frequentar a Cornell University. – Eu queria sair da minha pequena poça e ver se seria capaz de nadar numa maior. – Então os olhos dele se fixaram novamente em Ariella. – Nunca foi minha intenção abandonar Ellie. Barbara Carey se curvou na direção dele. – Ellie é Eleanor Albert, sua namorada da época do colégio? – Sim. Escrevi cartas para ela, fizemos planos para passar o verão juntos. Então, um dia, ela parou de me responder. Não atendia o telefone. A mãe dela desligava na minha cara. – Ele balançou a cabeça. – Imaginei que ela tivesse conhecido outra pessoa. Eu não fazia ideia de que tinha saído da cidade para esconder uma gravidez. – E nunca mais a viu. – A famosa voz de Barbara acrescentou drama à declaração. Ele olhou diretamente para ela. – Nunca. Sem dúvida, pensei nela ao longo dos anos. Perguntei a mim mesmo onde ela estava, torci para que estivesse feliz. – Mas você nunca se casou com outra pessoa. – Acho que simplesmente não conheci ninguém que eu amasse tanto quanto Ellie. As feições dele, geralmente rígidas, estavam abrandadas pela emoção. O coração de Ariella doeu quando ela pensou que Eleanor morria de medo dele. Achava que ele ficaria com raiva e a odiaria por sua escolha de manter Ariella em segredo. Ariella jurou que, depois de conhecê-lo melhor, convenceria Eleanor a encontrá-lo pessoalmente. – Bem, temos uma surpresa para você, presidente Morrow. Ele ergueu uma das sobrancelhas. – Não sei bem se consigo aguentar mais surpresas. O ano já foi cheio delas. Barbara se levantou e olhou fixamente para a escuridão além das luzes do estúdio, e tanto Ariella quanto seu pai também se levantaram, como que por instinto. 66
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– Não foi fácil convencê-la, mas fico feliz por lhes dizer que Eleanor está aqui conosco. Ariella arfou. Tentou discernir o rosto de sua mãe, mas era muito difícil enxergar. Ela olhou para Ted Morrow, mas ele simplesmente parecia chocado. Por fim, Ariella conseguiu discernir Liam Crowe, chefe do ANS, vindo na direção deles de braços dados com Eleanor. O cabelo dela estava cuidadosamente arrumado, e ela usava um vestido grená simples, com uma aparência jovem, bonita e muito, muito nervosa. Os olhos dela estavam fixos em Ted Morrow, como se ela tivesse visto um fantasma. – Ellie. – O presidente sussurrou o nome dela, como se fosse uma prece. – É você de verdade. Piscando os olhos, ela adentrou o campo das luzes. – Oi, Ted. – A voz dela estava minúscula, quase inaudível. Ele a envolveu no mesmo abraço de urso com o qual recebera Ariella, mas havia algo… hesitante na maneira como ele abraçava Eleanor. Assistentes de palco surgiram discretamente com uma cadeira para que ela se sentasse ao lado de Ariella, que recebeu um nervoso cumprimento. Barbara se virou para Ted. – Preciso lhe dizer que foi Eleanor quem nos procurou. Tinha ficado sabendo do especial por Ariella e decidiu que era hora de encontrar você e contar o lado dela da história. Ted olhava fixamente para Eleanor, como se não conseguisse acreditar que ela estivesse mesmo ali. – Ariella e eu nos conhecemos em Londres. – Ela falava em voz baixa. – Conhecêla significou tanto para mim. Acho que eu nunca tinha percebido do que eu tinha aberto mão até ver o lindo rosto dela e conversar com ela. Depois disso, eu soube que precisaria encontrar você também, Ted. – Nunca fiquei sabendo o que tinha acontecido com você. Importunei sua mãe durante anos, mas ela não me contou. Disse que você tinha ido morar no exterior. – Era verdade. Conheci meu marido, casei com ele e me mudei para a Irlanda menos de um ano depois de ter Ariella. Parecia que seria mais fácil para todos se eu simplesmente desaparecesse. – Não foi mais fácil para mim – protestou Ted. – Por que não me contou? Você sabe que era eu quem devia ter me casado com você. Em silêncio, ela o olhou, o lábio trêmulo. – Eu sabia que isso seria o que você faria. Que desistiria de seus sonhos para fazer a coisa certa. Eu não podia permitir isso. – Ellie. – Lágrimas encheram os olhos dele. – Talvez houvesse outras coisas mais importantes para mim do que ter uma grande carreira. – Eu sinto muito. – A voz de Eleanor estava mais aguda. Ela estava começando a parecer arrependida de ter ido até ali. Ariella segurou a mão dela. – Pensando agora, vejo que cometi um erro terrível. Eu estava em pânico. Minha família dizia que o escândalo de uma gravidez sem um casamento destruiria o seu futuro. Era uma época diferente. Eu era jovem e burra, e estava sozinha. Não sabia o que fazer e segui maus conselhos.
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– O importante é que estamos todos aqui hoje. – A voz de Ted Morrow soou presidencial pela primeira vez desde que ele adentrara o set. – Todos fizemos coisas que faríamos de forma diferente se tivéssemos a oportunidade de refazê-las. Em vez de olharmos para trás e pensarmos no “se”, sugiro que aceitemos o presente. – Muito bem dito – interveio Barbara. – E nós do ANS estamos empolgadíssimos por termos feito nossa parte para reunir todos vocês novamente.
Depois da gravação, eles entraram na sala verde. Ariella estava perplexa. Eles tinham assistido a uma montagem com fotografias de infância e entrevistas e respondido a mais algumas perguntas. Ela estava aliviada por tudo ter terminado, mas também estava ansiosa para garantir que não perderia a oportunidade de conhecer melhor seus pais. Ted e Eleanor estavam juntos, num constrangedor silêncio, olhando um para o outro. Ariella se perguntou se deveria dizer algo para quebrar o gelo. Então imaginou se aquilo não poderia ser algo muito mais terno do que gelo e achou que não deveria se meter. – Você não mudou nada. – A voz do presidente estava rouca de emoção. – Nem você. Mas o cabelo grisalho perto da orelha dão um ar mais distinto. – Os olhos de Eleanor cintilavam. – Não fiquei nem um pouco surpresa quando soube que você disputaria a presidência. Até fui votar pela primeira vez, só para votar em você. Ted riu. – Foi uma disputa acirrada. Fico feliz por você ter me ajudado. – Ele parecia querer tantas coisas mais. Pegou as mãos dela. – Sei que você fez o que considerou o melhor. – Mas já não parece o melhor. – Nunca amei outra pessoa. – As palavras de Ted chocaram Ariella. Ela estava envergonhada por estar ouvindo a conversa deles, mas sabia como fora difícil armar aquele encontro, e quem poderia dizer quando ela teria outra chance de passar algum tempo com seu pai? – Acho que eu não devia dizer isso. Sei que você se casou. – Greg era um bom homem. – Ellie já não parecia mais nervosa. A presença de Ted parecia acalmá-la. – Sempre foi tão gentil comigo, e tivemos uma boa vida juntos, apesar de não termos sido abençoados com filhos. A morte dele foi repentina, inesperada. – Eles ainda seguravam as mãos um do outro, como se tivessem medo de que as circunstâncias os separassem novamente. Aquilo fez Ariella pensar em Simon. Sem dúvida, as circunstâncias tinham conspirado para mantê-los separados. Fora um divertido caso amoroso, um maravilhoso romance rápido, e agora ela precisava voltar à sua vida normal e tentar esquecê-lo. – Acha que poderíamos… jantar juntos? – perguntou Ted Morrow, com uma emocionante expressão de esperança. – Eu adoraria. – Eleanor ficou radiante. Parecia tão jovem e bonita ali com Ted. – Temos muito a pôr em dia. Subitamente, os dois pareceram se lembrar dela. – Você vai conosco, não vai? – Ted pegou a mão de Ariella, unindo os três. – Significaria tanto finalmente poder conhecer você depois de todos esses anos.
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– Seria ótimo.
O jantar foi muito emotivo. A felicidade do encontro deles foi aumentada pela tristeza de todas as coisas que eles tinham deixado de viver juntos. Ariella voltou para casa exausta. Desligara seu telefone antes da gravação e, quando finalmente o ligou novamente, viu que Simon lhe deixara uma mensagem. “Excelente notícia. Consegui marcar uma série de reuniões em D.C. para a semana que vem. Quero fazer logo o convite para que você jante comigo na terça. Ligue para mim.” O coração de Ariella se apertou, em parte pela conhecida emoção de ouvir a voz dele e, também em parte, por saber que ela precisaria começar a se desapegar dele. Sentindo-se tonta, ela se deitou no sofá. O telefone tocou. – Você não ia me ligar? – Oi, Scarlet. Estou esgotada. – Aposto que está. Foi um reencontro e tanto. Acredito que seus pais ainda estejam loucamente apaixonados. – Isso também ficou óbvio pela televisão? Eu me senti segurando vela. – Sua voz não parece muito boa. Você está bem? – Estou um pouco enjoada. Devo estar desidratada ou algo assim. Preciso de uma boa noite de sono. – Certo. Mas não esqueça que temos a reunião com os Morelli de manhã. Ariella grunhiu. Esquecera-se totalmente da reunião com o clã dos Morelli para planejar uma imensa festa de bodas. – Às 10h, verdade. – Ligue para mim se você não puder ir, está bem? Consigo resolver sozinha. – Vou ficar bem. Mas ela não estava. Quando o alarme tocou às 8h, os olhos de Ariella não queriam se abrir. – Café. Preciso de café. – Tentou convencer a si mesma. Mas, no instante em que ela conseguiu pôr os pés no chão, uma onda de náusea a atingiu. Seu celular tocou na cômoda, e Ariella foi atendê-lo. Mas seus tornozelos não pareciam capazes de suportar seu peso. Então ela se flagrou desabando novamente na cama, arfando. Depois de cinco minutos respirando fundo, ela conseguiu controlar a náusea e foi como um zumbi até o telefone. Scarlet telefonara novamente. – Sabe aquilo que você falou, sobre fazer a reunião sem mim? – Sem problema. Sua voz está péssima. – Devo ter ficado doente. Acho melhor ficar um pouco na cama. – Fique aí. Eu aviso tudo o que acontecer. 69
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Ariella passou a manhã inteira na cama. Provavelmente, aquilo era resultado de toda a tensão e ansiedade que ela sentira por causa do especial para a televisão. Ela só precisava de um ou dois dias na cama para se recuperar. Um tempo que ela não tinha. Havia telefonemas a dar, cardápios e decoração para aprovar, clientes com quem se reunir. Mas talvez ela pudesse passar alguns minutos deitada primeiro. Ariella acordou com o som de sua campainha. Uma rápida olhada para o relógio revelou que ela dormira durante quatro horas. Ela cambaleou até a porta e a abriu, encontrando Scarlet com uma expressão preocupada. – Trouxe canja de galinha. – Ela lhe entregou um recipiente do caro bistrô da esquina. – Vamos pôr em tigelas. Preciso almoçar antes da reunião com o gerente daquela nova casa de eventos perto do rio. – Já estou bem melhor. Acho que venho me esforçando demais ultimamente. – E o príncipe Simon ajudou nisso. – Scarlet ergueu uma das sobrancelhas. – Mas você teve alguns dias para se recuperar das suas loucuras britânicas antes da gravação. – Acho que não foi o suficiente. Geralmente, resisto a tudo, mas talvez esteja se acumulando. Ao menos consegui sobreviver ao reencontro na televisão. – Como ele é? – Scarlet serviu a sopa. – O presidente. – Gostei dele. Quero dizer, eu já gostava o suficiente antes para votar nele, mas ele é muito verdadeiro e despretensioso na vida real. Dá para perceber que ele ficou emocionado com a situação, e isso me tocou de verdade. – Vi que vocês estavam chorando. – E eu tinha jurado que não faria isso. Mas acabei não aguentando. Ele é meu pai. É assustador pensar que eu podia nunca tê-lo conhecido. Simon tinha razão quando disse que era uma oportunidade de uma vida para mim. – Concordo. Agora podemos planejar algumas festas para a Casa Branca. – Scarlet deu uma piscadela. – Você entendeu. Tenho dois novos pais. Eles jamais vão substituir os pais que me criaram, claro, mas vamos ter novas experiências juntos. Já fizemos planos para passar alguns dias na casa dele no Maine no outono. – Sem me consultar? – Scarlet pôs as mãos na cintura, fingindo indignação. – O fato de o seu pai ser o presidente e de você estar namorando um príncipe não significa que não sejamos mais sócias. As duas riram. Ariella balançou a cabeça. Uma onda de náusea a atingiu. Scarlet a seguiu até a sala, o cenho franzido de preocupação. – Tome um pouco da canja. – Ela ofereceu a tigela. – Você comeu alguma coisa hoje? A garganta de Ariella se fechou quando ela viu a comida. – Estou sem fome. – Talvez você esteja grávida. – Scarlet sorriu. Estava brincando. – Não faz nem uma semana que fizemos sexo. É impossível eu estar grávida. – A minha mãe disse que começou a sentir os sintomas imediatamente. Fez um teste, e deu positivo menos de duas semanas depois. 70
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– Usamos preservativos. – A náusea de Ariella estava piorando. Scarlet estava brincando, não? – Mas eles têm 5 por cento de chance de falhar! – O quê?! – É por isso que a maioria das pessoas usa outro método junto. Mesmo assim, é provável que você não esteja grávida. Simplesmente aconteceram coisas demais na sua vida ultimamente. Não se preocupe. Ariella olhou para a tigela de canja que Scarlet pusera sobre a mesa de centro. Seria impossível que ela conseguisse comer. E também era impossível que ela estivesse grávida. Impossível. Simplesmente impossível. Ou não?
CAPÍTULO NOVE
Simon parou do lado de fora do edifício onde aconteceria sua reunião e telefonou para Ariella. Ela vinha se mostrando muito elusiva desde que voltara a D.C. Se ele fosse mais sensível, poderia pensar que ela o estava evitando. – Alô. – Como você está? – Hã… bem. E você? – Ela soava estranhamente formal. – Estaria muito melhor se você estivesse aqui. – Ele olhou para a movimentada rua de Londres. – Mal posso esperar para ver você na semana que vem. – É. Eu também. – Você está bem? – Estou. – As palavras chegaram ao ouvido dela com tamanha velocidade que ele quase deu um salto. – Ótima. Muito ocupada com trabalho. Você sabe como é. – Claro. – Ele queria dizer tantas coisas a ela, mas sabia que não era o momento certo. – Acho que acabei apressando as coisas aqui. Percebi que você ficou um pouco perplexa depois da visita. Ariella riu. – Ficou tão óbvio assim? Foi areia demais para o meu caminhãozinho. – Você foi fantástica. Tenho certeza de que todos vão adorar você quando a conhecerem melhor. – Simon recebera muitas críticas por ter levado Ariella a um evento tão público sem nenhum aviso. Fotos deles tinham estampado jornais durante uma semana, suscitando muitas discussões a respeito de relacionamentos adequados e a hora de se estabelecer. 71
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Ele tentava ignorar os críticos. Era impossível ter uma discussão sensata com 1.500 anos de tradição. Assim, Simon aprendera a escolher quando travar batalhas e quando cuidar de sua própria vida. Se as pessoas queriam que ele se estabelecesse, ótimo. Mas não com Sophia Alnwick. Por que não com uma divertida, sexy e inteligente americana? – Sinto a sua falta. – Eu também sinto. – Pela primeira vez, ela parecia estar falando diretamente com ele. – Mas estou preocupada com a possibilidade de estarmos nos metendo em algo… grande demais. Ele ficou paralisado. – Impossível. – Então percebeu que estava forçando as coisas, como costumava fazer, e tentou se conter. – Estamos namorando. É uma coisa perfeitamente normal para dois adultos, não acha? – Bem, sim, mas… nós dois estamos no alvo da mídia. E acho que a sua família não… – Não se preocupe com eles. Às vezes, eles precisam ser convencidos, mas acredite, tenho anos de experiência nessa área. – Não quero que as coisas sejam apressadas demais. – Eu sei. Tenho dito a mim mesmo para ir com calma. Às vezes, sou como uma locomotiva em movimento, mas vou frear, prometo. – Ele estava atrasado para a reunião. – Quando eu chegar a Washington, vamos fazer tudo tão devagar que vai ser totalmente sensual. Ariella riu, mas, novamente, não foi a risada empolgada de costume. Ela devia estar pensando duas vezes, agora que eles estavam separados. Isso só o deixou ainda mais impaciente para chegar lá. – Tenho uma reunião agora, mas falo com você em breve. – Certo. Obrigada por ter telefonado. – Não tem por que agradecer. – Dizer a ela que ele a amava seria pressão demais, ainda que Simon soubesse que poderia ser verdade. Isso poderia esperar por um momento mais íntimo.
Ariella desligou o telefone com estômago a se revirar. Nos três dias que tinham se passado desde que Scarlet plantara a ideia em sua mente, ela ficara cada vez mais convencida de que estava grávida. Nunca prestara muita atenção em seu ciclo menstrual, mas, com base na última menstruação de que ela se recordava, já estava na hora de a próxima chegar… e não estava chegando. Falar com Simon e tentar fingir que estava tudo normal fora uma agonia. O que a esnobe família dele acharia da empolgante surpresa de uma gravidez não planejada? Isso se ela estivesse grávida, claro. Não havia como saber até fazer um teste. Scarlet levara um para Ariella no dia anterior. Ele estava na prateleira do banheiro, lacrado, provocando-a. Ela era covarde demais para descobrir a verdade? Possivelmente. Se a gravidez se confirmasse, Ariella precisaria pensar em como contar às pessoas. Scarlet primeiro. 72
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Suas economias eram suficientes para que ela tirasse um tempo de folga, mas não podia simplesmente administrar uma pequena empresa com uma sócia e, de repente, dizer que precisaria de um ano de licença-maternidade. E também havia Simon… Ela entrou lentamente no banheiro. Pegou a caixa do teste e leu as instruções. Parecia fácil. Talvez ela não estivesse grávida. Talvez a náusea fosse causada pelo estresse e o cansaço. Os mamilos dela tinham passado a ficar muito sensíveis, mas isso podia acontecer no período perto da menstruação. Assim como suas repentinas mudanças de humor. Ariella sentiu um frio na barriga ao abrir a caixa. Era adulta e capaz de lidar com as consequências de suas escolhas. Escolhera fazer sexo com Simon, e sexo podia levar à gravidez. Todos sabiam disso. Contudo, por algum motivo, aquilo sequer passara por sua mente durante aquelas ardentes noites na cama de Simon. No castelo dele. Vamos. Faça. Ela pegou o bastão e seguiu as instruções. Se estivesse grávida, apareceria uma linha. Se não estivesse, o pequeno círculo permaneceria vazio. Os olhos dela começaram a lhe pregar peças durante a agonizante espera. Então Ariella escondeu o bastão debaixo de um lenço de papel enquanto o tempo passava. Depois de cinco minutos, ela prendeu a respiração e levantou o lenço… Para ver uma grossa linha cor-de-rosa dividindo o círculo branco. – Ah! Ariella saiu correndo do cômodo, como se pudesse fugir de toda aquela situação. Aparentemente, havia um bebê crescendo dentro da barriga dela naquele exato instante. Ela olhou para seu abdômen totalmente plano. Àquela altura, o bebê não devia ter nem o tamanho de uma unha. Subitamente, ela se sentiu nauseada e correu para o sofá. Como tudo aquilo podia ter acontecido tão rápido? Ela dormira com Simon pela primeira vez não fazia nem duas semanas, e agora sua vida inteira estava prestes a mudar para sempre. Não fazia sentido. Ariella deu um salto quando o telefone tocou. Uma rápida olhada para o número revelou que era Francesca. Normalmente, Ariella contava tudo a ela. No entanto, sua amiga estava loucamente apaixonada pelo chefe da rede de televisão mais poderosa do país, e aquele poderia ser o furo de reportagem do século. E se Francesca tentasse convencê-la a fazer o anúncio no ar? Ariella deixou que a ligação fosse para o correio de voz enquanto a culpa a dominava. Mais segredos. Ela não contaria a Simon até que ele chegasse ali. Não era uma notícia que se devia dar pelo telefone, e ela o veria dali a alguns dias. Precisaria contar imediatamente a Scarlet, especialmente com a náusea indo e vindo em ondas, deixando-a sem saber se seria útil nos eventos, pois precisaria ir ao banheiro a cada intervalo de poucos minutos. E também havia os repórteres. O especial para a TV despertara novamente o interesse nela. Talvez ela pudesse fugir para a Irlanda. Aquilo dera certo para a mãe dela, apesar de ela ter tido o bebê antes de ir. A semelhança das circunstâncias atingiu Ariella com tudo. Por instinto, ela pegou o telefone e ligou para o quarto de sua mãe no hotel em D.C. Ted Morrow convencera Ellie
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a ficar ali ao menos até o fim do mês, para que eles pudessem se conhecer novamente. A já familiar voz de Ellie atendeu. – É Ariella. – Uma estranha onda de alívio a dominou, o que era loucura, pois Ariella acabara de conhecer Ellie. – Uma coisa muito estranha aconteceu. Podemos conversar pessoalmente? – Claro, querida. Quer que eu vá até a sua casa? – Ellie vinha ficando cada vez mais confiante para andar por D.C., apesar da comitiva de repórteres. – Se não tiver problema, eu vou até o hotel. Chego em 20 minutos. Ellie estava cheia de ternura ao abrir a porta, e Ariella se sentiu relaxada na presença dela, apesar da dramática notícia. Aquela pessoa saberia exatamente como ela se sentia. Elas se sentaram no sofá. – O que está havendo? Você está branca como uma vela. – Estou grávida. Ellie inspirou fundo. – Ah, não. A garganta de Ariella se fechou. Não era exatamente a reconfortante resposta que ela estava esperando. – Está tudo bem. Estou perfeitamente saudável e numa situação financeira relativamente boa para ter um bebê. – Agora era ela quem estava tentando confortar sua mãe. A ironia da situação a fez querer rir. – Você o ama? – A pergunta de Ellie a chocou. – Não sei. Só nos conhecemos há poucas semanas. É Simon, que você conheceu em Londres. – Ah, céus. Ariella pôs a mão no braço dela. – Qual é o problema? – Parece que a história está se repetindo. Por que você não podia ter engravidado de um homem comum que poderia se casar com você para terem uma confortável vida normal? – Simon é surpreendentemente comum para um príncipe. – Ela tentou sorrir. – Certo, talvez não tão comum, mas é muito carinhoso e tem os pés no chão. – Mas a família dele. Eles são totalmente presos pela tradição. – Eu me socializei com eles numa partida de polo no final de semana passado e pareceu que qualquer um deles teria ficado feliz em me levar ao aeroporto imediatamente. Ellie acariciou a mão dela, olhando delicadamente em seus olhos. – Então eles não vão ficar muitos felizes com o fato de que você vai ter o bebê dele. Ariella parou e inspirou fundo. Naquele crucial estágio do desenvolvimento, seu bebê não podia ser privado de oxigênio. Ela riu.
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– O que foi? – Os olhos de Ellie se arregalaram. – Eu estava pensando no meu bebê. Será que é um menino ou uma menina? Os olhos de Ellie se iluminaram. – Eu sempre soube que teria uma menina. – E tinha razão. Os olhos azuis de Ellie reluziram com lágrimas. – Você não vai pôr o bebê para adoção, vai? – De jeito nenhum. Tenho sorte de já ter uma carreira bem sucedida há alguns anos e algumas economias. Aguento perfeitamente bem a gravidez e, provavelmente, posso contratar uma babá depois, além de trabalhar bastante de casa. É totalmente viável. – Ela estava tentando convencer tanto a si mesma quanto a sua mãe. Ellie sorriu em meio às súbitas lágrimas. – Você é muito mais confiante e capaz do que eu era. – Então sua expressão ficou séria. – Já contou a Simon? – Ainda não contei a ninguém. Você foi a primeira. Ellie arfou, e elas se abraçaram. – É uma grande honra. – Honra? Você foi a primeira pessoa em quem consegui pensar quando precisei contar a alguém. Nem sei como expressar a felicidade de ter você de volta na minha vida. – De volta? Perdi você assim que você nasceu. Ninguém nem me deixava ver você. Disseram que seria melhor assim, mas até eu sabia que estavam enganados. – Você cuidou de mim durante os nove meses que passei crescendo dentro de você. Formamos um vínculo que jamais pode ser rompido. – Passei todos os dias desses últimos 28 anos pensando em você. – Viu? De um jeito estranho, sempre estivemos conectadas, e você voltou para a minha vida no momento em que eu mais precisava. Ariella arfou ao abraçar sua mãe com força. Tudo ficaria bem. Mas, primeiro, ela precisaria contar a Simon.
Simon não conseguia parar de assoviar. Desde que ele descera do avião em D.C., na noite anterior, estivera flutuando. Tivera alguns negócios urgentes a resolver, e agora Ariella estava no topo de suas prioridades. Ela o convidara para ir até o apartamento dela, e Simon considerara aquilo um sinal muito promissor. Ela vinha sendo fria no telefone ultimamente. De repente, queria vê-lo, e assim que possível. Aparentemente, o fato de ter conhecido a família dele não a repelira tanto assim. A maneira graciosa como Ariella lidara com a grande e intimidadora família dele apenas confirmava ainda mais que ela era a mulher perfeita para Simon, aquela que só aparecia uma vez na vida. Ele não planejava desperdiçar sua chance de ser feliz. Agora tudo o que precisava fazer era convencer Ariella de que o destino deles era ficarem juntos.
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O bolso do paletó dele estava levemente protuberante com a caixa de couro que lhe fora entregue pouco antes de ele partir para os Estados Unidos. Dentro dela, havia o anel mais bonito que ele já vira. Quando decidira fazer o pedido de casamento, ele fizera uma extensa pesquisa com suas amigas, procurando o anel perfeito. Inventara a elaborada desculpa de que estaria interessado em promover a venda de diamantes africanos para ajudar sua organização beneficente, dizendo que queria opiniões a respeito de designs. Com a ajuda e a promessa de discrição do joalheiro oficial da rainha, ele escolhera um diamante rosa-claro com uma procedência que remontava aos marajás da Índia. Juntos, eles tinham projetado uma peça de platina com minúsculos diamantes. Simon estava convencido de que era o anel perfeito para Ariella e de que ela o adoraria. Se concordasse em se tornar sua esposa. Com relação a essa parte, ele não estava tão confiante. Ariella não era do tipo que aceitaria simplesmente por ele ser um príncipe, e esse era um dos muitos motivos de ele amá-la. Sentia tanto a sua falta desde que ela retornara a D.C.! Fora uma tortura se manter calmo e não bombardeá-la com telefonemas. Ele nunca sentira sequer uma fração dessa paixão por outra mulher. O carro parou diante da casa de Ariella em Georgetown, e ele saiu. Um fervor de expectativa o percorreu. Ele pretendia prepará-la para o pedido. Criaria um romântico clima antes de fazer a pergunta de sua vida. Ele se certificaria de lhe garantir que até mesmo os membros mais intransigentes da família dele acabariam sendo sensatos. A monarquia não sobrevivera durante tantos anos sendo inflexível. Ninguém o expulsaria do país, nem o obrigaria a abrir mão de sua posição na família real por causa de seu amor. Ele a beijaria até deixar Ariella de joelhos fracos, talvez até fizesse amor com ela até ficarem esgotados, um nos braços do outro. Então faria a pergunta. O motorista lhe entregou o grande buquê de rosas que ele encomendara. Sem dúvida, qualquer repórter que estivesse por perto se fartaria, mas logo todos estariam escrevendo a matéria sobre o noivado deles. Sendo assim, especulações não importavam. Simon tocou a campainha. Ver o rosto dela depois de duas semanas de separação quase o fez gritar. Ela era indubitavelmente a mulher mais linda do mundo, com seu longo cabelo escuro caindo sobre os ombros e aqueles lindos e expressivos olhos fixos nele. Quando Simon a envolveu com os braços, ainda segurando as rosas numa das mãos, percebeu que ela parecia um pouco rígida. – É tão bom ver você novamente. – Sim. – A resposta dela não parecia um pouco entusiasmada. – Trouxe algumas rosas. Achei que elas pudessem fazer você se lembrar dos jardins da Inglaterra. Ariella sorriu. – Seu país tem mesmo os jardins mais bonitos do mundo. Eles estavam falando de jardins? Simon estava louco para pedir a mão dela em casamento e acabar logo com aquilo, pois o suspense o estava matando. Mas havia algo de errado. Ela parecia pálida. – Como você está? 76
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Ela o levou para dentro. Em silêncio, com os ombros levemente caídos, ela parecia muito tensa. – Por favor, venha se sentar. Ele franziu o cenho. – Parece que você está prestes a dar algum tipo de má notícia. Não vou desmaiar como uma velhinha. Aquele delicado sorriso surgiu na boca de Ariella novamente. – Tenho certeza de que não, mas só por precaução. – Você tem uma má notícia para dar? – A mente dele percorreu as possibilidades. O pai dela teria lhe pedido para ir morar na Casa Branca e a proibido de namorar? Ela não conseguia mais aguentar a pressão e resolvera se esconder? Alienígenas tinham invadido e… – Estou grávida.
CAPÍTULO DEZ
Ariella viu a expressão entretida de Simon se transformar num vazio. – O quê?! – Sei que é difícil acreditar, mas fiz um teste e deu positivo. – Mas só fizemos sexo há… duas semanas. É tempo suficiente para poder saber se está grávida? – Ele a olha fixamente, perplexo, confuso. – Aparentemente, sim. – Simon achava que ela havia engravidado de outra pessoa e decidira dizer que fora ele na esperança de uma grande compensação real? – Não se preocupe, não espero nada de você. Sei que o momento é terrível, e que era a última coisa que esperávamos, mas aconteceu, e pretendo criar o bebê. Estou bem financeiramente. Pode ficar tranquilo, não quero seu dinheiro. – Essa é a última coisa que me preocupa. – Ele a olhou fixamente. – Usamos preservativos. – Pode ter vazado, furado ou sabe-se lá o quê. Não são totalmente eficazes. A esta altura, já não importa. Sem dúvida, estou grávida. – Ela fizera mais dois testes. Diferentes marcas, o mesmo resultado. – Uau. – Ele se levantou e foi até ela. – Parabéns. Ariella riu. – Não precisa me dar parabéns. Nós dois sabemos que foi um grande acidente. – Mesmo assim, parece uma ocasião para se comemorar. – Ele pôs a mão no bolso e retirou algo de lá.
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Ah, não. Uma caixa de couro. O coração de Ariella disparou quando ela percebeu o que ele estava prestes a fazer. Simon se ajoelhou, confirmando os piores temores dela. – Ariella. – Os olhos dele sorriam, o que parecia totalmente estranho dadas as circunstâncias. – Quer se casar comigo? Ela mordeu o lábio, torcendo para conseguir conter as súbitas e inúteis lágrimas que ameaçavam vir. Não conseguia falar. Então simplesmente balançou a cabeça. Ele franziu o cenho. – Não? Por que não? – A indignação dele teria sido engraçada se Ariella não estivesse sentindo tamanha tristeza. Devia ser outro sinal de que o destino deles não era ficarem juntos. Não parecia ter passado pela mente dele que ela pudesse ter uma opinião própria, diferente da dele. – Jamais daria certo. – A voz dela saiu embargada e rouca. – Sua família ficaria horrorizada. Eles deixaram bem claro que pretendem que você se case com outra. – Eles vão superar isso. – Não vão. Já vi muitas reportagens sobre a sua família para saber que eles são muito inflexíveis. Não quero ser a excluída, a ovelha negra pelo resto da vida. Também não quero que a rainha tire seu amado castelo nem faça você perder sua organização de caridade. Construiu uma vida que ama, e se casar comigo destruiria tudo. Sendo assim, não vai acontecer. Ariella realmente não queria que aquilo acontecesse; nem com Simon nem com ela mesma. – Por que está falando dos outros? Quero me casar com você. Agora que você está grávida, é ainda mais um motivo para que isso aconteça, e logo. – Ele continuava ajoelhado diante do sofá onde ela estava. Eles seriam mesmo capazes de simplesmente esquecer a família dele, os repórteres, o público britânico e o pai presidencial dela e fazer o que queriam? Não. A vida não funcionava assim. Ele deu um repentino tapa na própria cabeça. – Em meio a esta conversa sobre um bebê e a minha família, acho que me esqueci de dizer o mais importante. – Ele pegou as mãos dela. – Amo você. Não sabia o que era o amor até termos nos conhecido. Passo cada minuto longe de você desejando estar perto. Quando estou com você, não quero ir embora. Quero passar o resto da vida com você, Ariella. Preciso. Amo você. Ela sentiu um aperto no peito ao vê-lo tentar pôr sentimentos tão fortes em meras palavras, e aquelas palavras a abalaram até a alma. O que mais doía era o fato de ela sentir a mesma coisa. Desde que Simon entrara em sua vida, nada mais parecia muito importante. Entretanto, a verdade era que o mundo continuava lá fora, e esperanças e sonhos não bastavam para se construir uma vida. – O amor não dura para sempre. É um brilho rápido de empolgação que faz as pessoas ficarem juntas. O resto é trabalho. Sei que meus pais… os que me criaram… trabalharam bastante para manter o casamento forte diante de todos os detalhes cansativos da vida. Claramente, meus pais biológicos não conseguiram fazer isso.
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Ela franziu o cenho e se levantou. Precisava pôr um pouco de distância entre eles para conseguir pensar com clareza. Era difícil até falar com a grande e máscula presença dele. – Sentimos uma forte atração um pelo outro. – Ela virou as costas para ele ao se afastar. Era mais fácil falar não vendo o rosto dele. – Isso me domina e me faz esquecer todo o resto quando estou com você. – Então virou-se para Simon. Ele ficara de pé. – Mas isso vai desaparecer. Você já nasceu com toda a sua vida planejada. Já é casado com sua família e seu país. Não pode abandoná-los para se casar com alguém que eles reprovam e que jamais vai se encaixar. Isso foi desastroso para o seu ancestral e vai ser desastroso para você. – Lágrimas escorreram pelo rosto dela, e Ariella não conseguiu evitar. – Será melhor para todos nós se encerrarmos tudo imediatamente. Simon suspirou. – Tem razão. Sou casado com minha família e meu país, e jamais os abandonaria. Sei que é pedir muito que você aceite essas coisas e as ame como eu amo, mas é o que estou pedindo. – Ele avançou e pegou as mãos dela. Ariella quis recuar, mas ele as segurou de maneira leve, mas firme. – Case-se comigo, Ariella. O estômago dela se revirou. Seus nervos berravam um efusivo “Sim!”, mas seu cérebro emitia barulhentos sinais de alarme. – Não quero que você se case comigo por um senso de dever, por eu estar grávida. – Não quero me casar com você porque você está grávida. Comprei o anel antes de saber da gravidez. Eu estava planejando preparar você para o pedido, enrolar de um jeito romântico antes de fazer a grande pergunta, mas a sua revelação de surpresa fez tudo isso parecer supérfluo. Quero me casar com você, grávida ou não, Ariella Winthrop, e não vou embora até dizer sim. – Está planejando me intimidar para que eu aceite? – Ela ficou rígida. Às vezes, o entusiasmo e a confiança sem limites de Simon eram atraentes e, às vezes, um pouco assustadores. Ele afrouxou a pega nas mãos dela. – Não. Já estou forçando novamente. Peço desculpas. Quero de verdade ter a sua influência moderadora sobre a minha personalidade explosiva pelo resto da vida. Ele disse aquilo de forma tão meiga que Ariella sentiu um aperto no coração. Ela acreditava nele. – Acho que ninguém seria capaz de conter você demais. – Ela riu. Pela primeira vez, ocorreu-lhe que ele também poderia querer ser parabenizado pelo bebê deles. – Tenho certeza de que você vai ser um pai maravilhoso, mesmo se não nos casarmos. – É verdade, vou ser. – Ele hesitou. Ariella quase conseguia senti-lo prestes a explodir com a necessidade de insistir para que se casassem, mas se contendo, tentando não ofendê-la. – Você é um homem maravilhoso, Simon. Estou completamente perdida no momento, com toda essa publicidade com relação ao meu pai, minha mãe e o especial da televisão. É quase ridículo pensar que conheci você ao mesmo tempo. Seria loucura aceitar um casamento não planejado sem pensar muito nas consequências. Talvez possamos discutir isso novamente no futuro e… quem sabe? – Ariella ficou sem palavras. Parte dela queria fugir gritando de Simon, do mundo inteiro, e se esconder da realidade. O resto queria se lançar nos fortes braços dele.
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– Não vou embora, se é o que está tentando insinuar. – Aquele familiar brilho de humor surgiu nos olhos dele. – Eu e meu anel vamos ficar quietinhos num canto até você ter bom senso. – Como se isso fosse possível. – Ela não conseguiu evitar sorrir. – Duvido que você consiga ficar quieto durante mais de três minutos. – Tudo isso? Talvez você tenha razão. Enquanto isso, precisa comer por dois. Então acho que precisamos sair para um farto almoço. Ela riu. – Você é impossível. – O negócio é tornar o impossível possível. Disseram que eu não conseguiria subir o Zambezi remando nem escalar a face norte do Everest. Riram quando falei em acesso à internet no Masai Mara. Provei que todos estavam errados. Se dizem que uma americana não é uma noiva adequada para um príncipe britânico, vou passar o resto da minha vida provando que estão enganados também a respeito disso. A paixão dele fez o coração dela se inchar. – Você defende muito bem suas convicções, mas parece que não está me ouvindo. – Por quê? – A expressão confusa dele a fez querer rir novamente. – Eu disse que não estou pronta para me comprometer no momento. Tive os maiores choques da minha vida nos últimos meses. A expressão dele ficou séria. – Entendido. Vou parar de pressionar. Agora o que acha daquele almoço? – Isso eu aceito. – Ariella permitiu que Simon pegasse a mão dela e a ajudasse a se levantar. A pele dela despertou, excitada, com o toque dele. Por que sua vida precisava ser tão complicada?
Quando o motorista parou diante de um dos restaurantes mais exclusivos de D.C., Ariella franziu o cenho. – Vamos comer aqui? – Os bifes deles são mundialmente famosos. Você precisa de alimentos ricos em ferro. – Por que tudo o que você diz me faz rir? – Então ela olhou em volta. – Sabia que este é o restaurante preferido do presidente? – É mesmo? – Ele a ajudou a sair do carro. – Faz séculos que quero comer aqui. – Deve ser difícil conseguir uma mesa sem reserva. Ele se aproximou e sussurrou: – Não para um príncipe. Ariella riu. – Ah, sim, tinha me esquecido disso. – Seja bem-vindo, Alteza. – O maître assentiu e gesticulou. – Mesa para dois? – Obrigado. – Simon lançou um entretido olhar para ela. – Viu? 80
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Ela arqueou uma das sobrancelhas. – Não fique convencido. – Vou tentar. O maître os levou para um pátio à sombra, com vista para o rio. – Ariella. – A já conhecida voz fez Ariella se virar para encontrar o presidente atrás dela. – Ah, oi. Que bom ver você. – Ela sentiu um surto de pânico. – Simon, este é o presidente Morrow, meu… meu pai. E este é Simon Worth. – Ela devia ter dito príncipe? Felizmente, Simon não se importaria. Ted Morrow sorriu para Simon. – Vão me dar a honra de se juntar a mim na minha sala de jantar particular? – Eu… Nós… – Ela olhou para Simon. – Acho que adoraríamos. – Simon a olhou, com uma pergunta em seus olhos. – Sim. Sim, adoraríamos. – Ariella engoliu em seco. Simon e o pai dela, o presidente? Uma estranha sensação lhe dizia que aquilo era demais para ser coincidência. Eles voltaram para dentro com o presidente, indo para uma iluminada sala com janelas altas e mobília elegante. Os melhores funcionários do restaurante os atenderam, recomendando pratos e trazendo garrafas de vinhos. Ariella conseguiu recusar o vinho dizendo que não bebia durante o dia, mas aquilo fez com que ela se lembrasse de que havia uma quarta pessoa ali: o filho dela. E de Simon. Neto de Ted Morrow. Simon mantinha a conversa fluindo tranquilamente, falando de viagens e de partes da América que ele ainda não conhecera, mas pretendia conhecer. Quando eles terminaram os deliciosos aperitivos, ela já começara a relaxar, e três reluzentes bifes chegaram, acompanhados por porções de legumes. Até mesmo seu hesitante apetite de grávida reviveu ao vê-los. – Este está se revelando o ano mais extraordinário da minha vida, sem comparação com nenhum outro – disse o pai dela. – E o melhor de tudo foi descobrir que tenho uma linda filha. Ele a olhou com tamanha ternura que Ariella sentiu a emoção encher seu peito. – Realmente é maravilhoso que o frenesi da mídia esteja diminuindo e possamos finalmente nos conhecer melhor. – E, se a imprensa não tivesse encontrado você, talvez eu nunca mais tivesse visto Ellie. Eu não fazia ideia de que ela tinha se mudado para a Irlanda. – Acho que ela está pensando em se mudar de vez para cá. Ele sorriu. – Eu sei. E ela me contou que você duas têm se tornado bem íntimas. Ariella empalideceu. Ellie não contara a ele o segredo da gravidez dela, contara? Não. Ela sabia que sua mãe jamais faria isso. Ela guardara seus próprios segredos durante tanto tempo que isso a tornava alguém de confiança. Subitamente, Ariella odiou a si mesma pelo subterfúgio, mas sabia que era cedo demais para contar. Precisava esperar, ao menos, até que ela e Simon resolvessem algumas coisas. 81
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– Ainda estamos nos conhecendo, mas ela já se tornou uma das minhas pessoas favoritas no mundo. Estou tentando convencê-la a ficar na região de D.C. por enquanto, para que todos possamos compensar o tempo perdido. O presidente fez uma pausa e deu um gole em seu vinho branco. – Tenho pensado muito em compensar o tempo perdido. Amei sua mãe com todo o meu coração, Ariella. Eu jamais teria deixado que ela fosse embora. Ela simplesmente não sabia disso na época. Eu estava sendo um homem típico, não demonstrando minhas emoções. Ariella olhou para Simon. Ele não faria aquilo. Era a última pessoa que deixaria de demonstrar suas emoções. Essa era uma das coisas de que ela mais gostava nele. Não havia fingimento. – Você já disse a ela o que sentia? – Pode apostar. – Ele sorriu melancolicamente. – Foi a primeira coisa que fiz quando tivemos alguns momentos a sós. Pedi sinceras desculpas por ela ter se sentido sozinha naquela época e ter sido obrigada a fazer uma escolha da qual acabou se arrependendo. – Ele baixou o olhar para sua taça. Então ergueu-o novamente para Ariella. – Eu ainda a amo, sabe? Os olhos de Ariella se arregalaram. Acima de tudo, ela estava surpresa por ele estar falando aquilo na frente de Simon, que, pelo que ela sabia, acabara de conhecê-lo. – Você já disse isso a ela? – Sem dúvida. Acho que ela ficou mais surpresa do que feliz. – Ele sorriu. – Temos passado muito tempo juntos. – Isso é maravilhoso. – O coração de Ariella se encheu de alegria com a possibilidade de seus pais reavivarem o amor deles depois de tantos anos. Fora uma pena eles terem passado 28 anos separados. – Foi por isso que você não se casou? Ele assentiu. – Tentei me convencer a amar outras mulheres, mas nenhuma se comparava à minha Ellie, e eu jamais conseguiria me casar com uma mulher com a qual não me sentisse totalmente comprometido. – Exatamente o que penso – interveio Simon. – Acho que escolher sua companheira é a decisão mais importante da vida. – Exatamente, filho. Uma decisão a ser levada muito a sério. – Ele olhou para Ariella com toque de diversão em seu olhar. – E foi o que eu disse a este jovem quando ele exigiu falar comigo para pedir sua mão em casamento. Ariella ficou de queixo caído. Eles tinham mesmo se conhecido antes. E aquele encontro fora planejado. Simon vinha fazendo as coisas pelas costas dela. A indignação explodiu dentro dela, e ela se virou para Simon. – O que você estava pensando? – No nosso país, é uma tradição perguntar ao pai da possível noiva se ele se opõe ao casamento. Achei que eu devesse ouvir quaisquer ressalvas que ele pudesse ter. O presidente riu. – E você pode acreditar que eu as tive. – Ele pegou a mão de Ariella. – Eu disse a ele que seria melhor que ele fizesse todas as perguntas dessa natureza à pretendida, não
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a mim. Como entrei na sua vida há menos de duas semanas, acho que não tenho o direito de opinar com relação a isso. Mas ele é bem corajoso, eu admito. Simon sorriu. – Ele me mandou parar de enrolar e ir perguntar a você. E foi o que eu fiz. – Ah. – O coração de Ariella se apertou quando ela percebeu que o presidente estava esperando para ouvir a resposta que ela dera a Simon. Ted Morrow o olhou. – Pode me dar alguns instantes a sós com minha filha? – Sem dúvida. – Simon se levantou. Terminara sua refeição enquanto os dois conversavam. Ele sorriu para Ariella. – Vou esperar na sacada. A porta se fechou quando ele saiu, e Ariella franziu o cenho. Devia contar ao seu pai que ela recusara? Devia confessar a gravidez? Aquilo era demais, e o cérebro cansado e emotivo dela não era capaz de lidar com tudo. – Quem diria? Um cara de uma cidadezinha de Montana acabou de mandar um membro da realeza britânica se retirar do recinto. – E uma menina de uma cidadezinha de Montana está almoçando com o presidente dos Estados Unidos. Ele sorriu. – Acho que isso prova que somos todos apenas pessoas quando se enxerga além da pompa e das circunstâncias. – A expressão dele ficou séria. – Você o ama? Ela girou o copo de água nas mãos. – Acho que talvez. – Você não parece muito certa. – Nós… nos damos muito bem. Acho que é melhor jeito de se dizer. Eu me divirto tanto com ele e sempre me sinto relaxada, o que é muito esquisito, dadas as circunstâncias. Gosto muito, muito dele. Mas a realidade é que nos conhecemos há poucas semanas, e foram algumas das semanas mais loucas da minha vida, e não sei mais o que pensar de nada. – Bem, vou lhe dar um conselho que talvez valha exatamente o que custa. – Ele inspirou fundo. – Não fique esperando o “momento certo” em que tudo se encaixa e parece perfeito. Pela minha experiência, que já é considerável a esta altura, esse momento não chega nunca. Ariella assentiu lentamente. – Se você ama aquele jovem… e, pelo que vi nos seus olhos, acho que ama… não estrague o amor de uma vida inteira porque ele não se encaixa na sua agenda. Fui embora para a faculdade achando ingenuamente que Ellie e a vida inteira que eu tinha planejado com ela ainda estariam lá quando eu voltasse. Em vez disso, voltei e descobri que ela tinha ido embora da cidade e ninguém sabia para onde. Todo o meu futuro se evaporou da noite para o dia, simples assim. Claro, consegui me formar na faculdade que eu queria e dei início à grande carreira que eu sempre tinha almejado, mas a alma da minha vida, a parte verdadeiramente importante, tinha partido sem mim. Os olhos dele estavam cheios de lágrimas. – Senti tanta falta de Ellie naqueles primeiros anos. Depois acho que acabei ficando entorpecido ou me acostumei com a dor de viver sem ela. Quando penso nas 83
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lembranças que poderíamos ter compartilhado, fico enfurecido por saber que perdi tudo isso por culpa só minha. Devia ter me casado com ela e a levado para a faculdade comigo, em vez de insistir burramente para que esperássemos o momento certo. Sim, as coisas teriam sido difíceis, e nós teríamos precisado passar alguns apertos, mas teríamos um ao outro, e isso é o que importa. Se você ama aquele jovem, não deixe passar a oportunidade de uma vida. – Ele apertou levemente a mão dela. – Não quero que você viva com um arrependimento, como eu vivi. Ariella estava sentindo um aperto tão grande no peito que mal conseguia respirar. – Estou esperando um bebê dele. Descobri esta semana. – Ela não fazia ideia de como ele reagiria, mas sabia que não conseguiria mais guardar aquilo para si mesma. A boca dele fez um movimento esquisito, como se ele quisesse dizer algo, mas não conseguisse. – Contei a Ellie faz alguns dias, e ela me implorou para que eu não escondesse isso de Simon. Segui o conselho dela hoje. Quase parece que o passado está se repetindo, não? – Não, Ariella. O passado não está se repetindo, porque você e Simon são mais corajosos e fortes, e talvez um pouco mais cabeças-duras que Ellie e eu fomos. – Ele riu. – Simon é um rapaz e tanto. Acho que você não tem como errar ao aceitá-lo em sua vida. Ariella sorriu. – Eu sei. Ele é incrível. – Ela engoliu em seco. – Por outro lado, há a família dele. E nós teríamos que morar na Inglaterra. Ele deu de ombros. – A Inglaterra fica logo ali. Um voo curto. Simon me disse que já tinha apresentado você à família inteira. – Ele também disse que estavam todos loucos para me pôr no próximo voo de volta para D.C.? Ted franziu o cenho. – Isso ele não contou. – Ele age como se não fosse nada de mais. Acha que todos vão acabar me aceitando. Não tenho tanta certeza assim. – Bem, tendo a concordar com Simon, já que ele os conhece melhor do que você. E talvez o fato de o seu pai ocupar o cargo mais alto do maior aliado deles também ajude. – Ele deu uma piscadela. Ariella sorriu, mas seu estômago se revirou quando ela se recordou das cruéis ameaças do tio dele. – O tio dele, Derek, disse que Simon podia perder o castelo dele e a organização de caridade se não obedecesse. Ted riu. – Eu não me preocuparia com aquele velho rabugento. Ele tem problemas maiores com que se preocupar do que uma americana na família. O chefe da CIA acabou de me informar que ele esteve envolvido num acordo de venda de armas para uma ditadura sulamericana. – O quê?!
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– Sim. Acho que ele não vai mais importunar você depois que o escândalo explodir na imprensa. Ariella o olhou, sem palavras. – Ganância. Foi o que o levou a fazer isso. Aparentemente, ele não tem a renda do resto da família, mas está tentando viver como um imperador. Os inseguros geralmente são os piores. – Você fez com que eu me sentisse muito melhor. – A rainha fora severa, mas não hostil. Derek fora o único que lhe dissera para ir embora diretamente. Agora ele próprio seria o inimigo público número 1. Ela não conseguiu evitar sorrir. – Acho que consigo lidar com tio Derek. – Imagino que você consiga lidar com muito mais que um daqueles britânicos metidos. Mas acho que preciso parar de chamá-los assim, já que teremos um na família. Podemos chamá-lo de volta para a sobremesa? – Sim. – Ariella sorriu. Ted abriu a porta da sacada e chamou Simon. Ele chegou de braços dados com outra mulher, a mãe de Ariella. – Que tipo de conspiração é essa? – arfou ela. Ted Morrow deu um beijo em cada bochecha de Ellie. – Pedi a Ellie para que se juntasse a nós, porque não consigo passar mais do que alguns minutos longe dela. A mãe de Ariella estava completamente diferente da pálida e arisca mulher que ela conhecera em Londres. Um leve vestido verde-jade abraçava a jovem silhueta dela, e a luz da paixão cintilava em seus olhos verdes. – E eu sinto a mesma coisa. É vergonhoso para alguém da minha idade. – Ela corou. Ted Morrow pegou a mão dela e a levou até uma cadeira ao lado da dele. Parecia apaixonado por ela. Ariella os observou, surpresa. – Seu pai contou que ficou irritado porque eu pedi a opinião dele antes de pedir a sua? – Simon deslizou o braço em torno da cintura de Ariella. – Não. Ele me disse para não estragar o que poderia ser o amor de uma vida inteira. – Excelente conselho. Espero que você tenha dado ouvidos. – Eu dei. Alguém falou em sobremesa? – Ela pegou o cardápio. – Não, acho que ninguém falou em sobremesa, mas não queremos deixar você morrendo de fome. Peçam para que tragam o carrinho. – Simon sorriu e olhou para a barriga dela. Os olhos de Ariella se arregalaram. Ela percebeu que todos ali sabiam de seu segredo. – Você disse ao seu pai se pretende ou não se casar comigo? – Ainda não. – Ariella analisou o cardápio. Em seguida, ergueu o olhar, tentando manter sua expressão neutra, enquanto seu coração se enchia de emoção. – Mas estou quase me decidindo. – A tortura foi banida pelas Nações Unidas. – O suplicante olhar de Simon a fez querer rir, tocando-a profundamente ao mesmo tempo.
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Ariella olhou de relance para seus pais, mas desviou rapidamente o olhar quando eles se beijaram delicadamente. Tinham perdido 28 anos de felicidade juntos porque não tinham estado prontos para se comprometer. Como o momento não fora o certo, eles quase haviam perdido tudo. Ela inspirou fundo quando a convicção encheu seu coração e sua mente. – Sim, Simon Worth, quero me casar com você.
EPÍLOGO
Três meses depois Ariella acordou com a familiar visão do lindo rosto de Simon ao lado do dela, no quarto que eles compartilhavam no Castelo de Whist. Ele desdenhara da ideia de que eles deveriam fingir morar separados até o casamento, e, por algum motivo, o público britânico considerara essa honestidade e desdém por antigos costumes parte do charme dele. Já fazia um mês que ela dividia a cama com ele, desde que finalmente deixara para trás sua vida nos Estados Unidos. Eles ainda não haviam contado a ninguém a respeito do bebê. Por algum motivo, fazia sentido manter isso em segredo até a cerimônia. Sendo assim, os preparativos do casamento tinham sido apressados. Os corpos deles estavam grudados praticamente do queixo até o tornozelo. – Bom dia, linda. – A voz rouca de Simon a fez estremecer de desejo. – Bom dia para você também. – Helicópteros zumbiam lá fora, o que fez a adrenalina percorrer as veias dela. – É mesmo o dia do nosso casamento ou é só um longo e fantástico sonho? – Não sei. – Ele sorriu. – O que você acha? Ela fingiu beliscar a si mesma. – Estou deitada numa cama luxuosa, num castelo e me preparando para me casar com um príncipe. Parece um sonho. Simon se inclinou à frente e deu um leve beijo nos lábios dela. – O que acha disto? – murmurou ele. – Hum… Parece real. – Paixão e ternura se acumularam no peito dela, e Ariella o abraçou por baixo das cobertas. – Incrivelmente real. Mas espere. Você não pode me ver no dia do meu casamento! – Ela recuou, subitamente em pânico. O que mais ela faria de errado naquele dia? Simon a puxou novamente para si. – Algumas tradições precisam ser deixadas de lado. – Ele acariciou o pescoço dela com o rosto, o que a fez sorrir. – Acho que não devo fazer amor com você na manhã do seu casamento, mas, felizmente, estou me sentindo rebelde. 86
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– Não podemos. Podemos? – A excitação a dominou. – Precisamos nos preparar. – Vamos nos preparar quando isso for necessário. Você não está planejando este casamento, felizmente. Ariella entregara o comando do casamento a Scarlet e à nova sócia dela, e elas haviam feito um trabalho espetacular, criando o que prometia ser o casamento do século em menos de três meses. – É difícil não me preocupar com os detalhes. E se o bufê não conseguir atravessar a multidão para trazer a comida? – Isso não é problema nosso. – Ele deu outro beijo nos lábios dela. Ariella relaxou. – Você sabe me distrair muito bem. – Ela retribuiu o beijo, permitindo-se afundar nos braços dele. Nada preocupava Simon, ao menos não durante muito tempo. Ele era tão confiante e capaz que era difícil ficar ansiosa perto dele. As mãos dele vagaram sobre o peito dela, deixando uma trilha de excitação, e Ariella sentiu a ereção dele contra seu corpo. – Oh-oh. Vamos mesmo fazer isso? – Está começando a parecer inevitável – disse ele. – Mas tem mil convidados chegando. E nossos amigos que estão hospedados aqui já devem estar lá embaixo, tomando café. – Nós os encontramos daqui a pouco. Ele apertou o traseiro dela, e Ariella respondeu beliscando levemente o dele e rindo. – Você é uma má influência. – Amo você. – Ele disse aquilo de forma simples, e a verdade da declaração a atingiu com tudo. – Também amo você. Acho que soube disso desde a noite em que nos conhecemos, o que não faz muito sentido. – O amor não precisa fazer sentido. – Ele sorriu. – É por isso que é tão maravilhoso. O coração dela quase transbordou de alegria. – Se você não fosse o homem mais persistente e persuasivo do mundo, talvez eu nunca tivesse ousado me apaixonar por você. – A tenacidade tem suas vantagens. – Ele mordiscou a orelha dela. – Por sorte, tive seus pais para ajudar a convencer você a arriscar comigo. – E agora eles também vão se casar. – Ela sorriu, pensando na expressão arrebatada que Ellie e Ted sempre tinham no rosto quando estavam juntos. Nunca um presidente se casara durante seu mandato, e o evento, planejado para dali a um mês, seria o equivalente norte-americano de um casamento da realeza. Ariella mal podia esperar para vê-los finalmente fazer suas juras de amor um para o outro depois de tantos anos perdidos. Um longo e ardente beijo fez o sangue disparar nas veias dela, excitando-a até as pontas dos pés.
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– Venha cá. – Simon subiu em cima dela, deslizando os dedos pelo sexo quente e pronto dela. – Sim, Majestade. – Ariella já estava arqueando as costas, pronta para recebê-lo. Os dedos dela adentraram o cabelo dele quando ele a penetrou, fazendo-a arfar de prazer. A ansiedade pelo casamento desapareceu enquanto eles se moviam juntos, deleitando-se com o corpo um do outro. O doce alívio do clímax deles os deixou relaxados e prontos para qualquer coisa. – Não acredito que vamos poder fazer isso quando quisermos pelo resto das nossas vidas – arfou Simon, quando eles já estavam esgotados. – Sou o homem mais sortudo do mundo. – Nós dois somos sortudos, não? O ano começou com a chocante revelação de que eu era filha do presidente, e, daí em diante, foi um caos. Aparentemente, acabei indo parar num lugar muito bom. – Estou feliz por ter encontrado a pessoa certa a quem entregar meu coração. Uma batida na porta os assustou. – Desculpe por incomodar – disse uma hesitante voz. – Mas sua presença é necessária para ajustes urgentes no vestido de noiva. – Ah, céus – sussurrou ela. – Acho que é melhor levantarmos. – Já que não temos escolha… – A melhor parte é que esta noite estaremos juntos aqui novamente.
A cerimônia aconteceu na capela da propriedade. Como ela só tinha espaço suficiente para os familiares mais próximos, o casamento de Simon e Ariella foi transmitido tanto para os convidados reunidos nos gramados da propriedade quanto para espectadores ávidos de ambos os lados do Atlântico. Quando eles foram declarados marido e mulher, o mais novo casal real se juntou aos convidados do lado de fora, num glorioso dia de verão. Scarlet planejara e executara o casamento com habilidade e coragem. Havia mesas e cadeiras dispostas pelos gramados, todas decoradas com flores. Com o grande tamanho da propriedade e a quantidade de convidados, eles tinham concluído que uma banda não seria suficiente. Então, além da tradicional orquestra, havia um conjunto africano, uma banda country e um grupo de meninos cantores do coro da Abadia de Westminster que vagava pelo terreno, cantando para os convidados. Ariella viu Scarlet e correu até ela. – Ei, senhorita, não era para você estar trabalhando hoje. Você veio como convidada, esqueceu? Scarlet deu meia-volta, seus cachos vermelhos voando. – Velhos hábitos, mas a equipe que contratamos está fazendo um trabalho excelente. Estou surpresa por você mesma não estar andando por aí arrumando tudo. – Estou precisando usar toda a minha disciplina. – Ela sorriu. – Ainda estou chateada por você largar a DC Affairs. Podia ter aberto nossa filial britânica. – Vou ficar muito ocupada organizando os eventos do palácio. 88
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– Sorte a sua. – Scarlet suspirou. – As casas de festas mais magníficas da Inglaterra ao seu dispor. E os convidados mais cobiçados são da sua família. O que a rainha achou de Simon ter escolhido você como noiva? – Eu estava muito nervosa com isso, mas, estranhamente, ela foi um amor comigo desde o instante em que Simon disse a ela que tinha pedido minha mão em casamento. Ela disse que conseguia ver como eu era perfeita para ele e me deu boas-vindas à família. Deve ter sido a maior surpresa da minha vida. E, com ela do meu lado, todos os outros também me aceitaram. Os irmãos de Simon são tão meigos! É como se fossem meus irmãos também. – Como você os convenceu a permitir que você planejasse as festas deles? – Vi que eles precisavam de alguém com imaginação para assumir o comando. Eles continuavam fazendo as mesmas festas do racionamento pós-guerra. Eu disse a eles que poderia dar dez vezes o glamour por metade do dinheiro. Então eles me deixaram fazer o que eu quisesse. Os britânicos sabem mesmo como planejar festas quando têm oportunidade. – Já percebi. – Scarlet olhou à volta, sorrindo. – E alguns dos americanos também estão se fartando. Vi você e Daniel dançando loucamente ainda há pouco. – Definitivamente, Daniel me fez gostar mais de me divertir. Antes eu gostava de ver as outras pessoas se divertindo nos eventos. Agora percebo como é ótimo ser uma delas. Cara é igualzinha a mim. Ela devia estar só fazendo a divulgação do evento, mas veja só, está tentando arrumar o laço da toalha daquela mesa, mesmo já mal conseguindo se curvar por causa da gravidez. – Elas correram até ela. – Largue esse laço ou vamos obrigar você a tirar licença-maternidade. Recentemente, Cara deixara a assessoria de imprensa da Casa Branca, depois de ter se apaixonado por um repórter. Agora trabalhava na DC Affairs. Ela já estava com o famoso brilho maternal. – Ainda falta mais de um mês até eu ter meu bebê. Vocês deviam me deixar fazer as coisas agora, já que eu talvez não consiga fazer nada quando só estiver dormindo duas horas por noite. Max, o marido de Cara, apareceu com uma taça de champanhe na mão. – Max, querido. – Ariella deu um beijo no rosto dele. – Você precisa conter sua esposa. Ela está tentando fazer tudo outra vez. – Já conversamos a respeito disso, e Cara continua impossível. Ela nunca devia ter aceitado trabalhar na DC Affairs. Você e Scarlet são uma má influência. – Você deve estar louco da vida porque o ANS está transmitindo o casamento. – Ariella e Simon tinham decidido que o ANS deveria fazer a cobertura exclusiva do casamento como recompensa pelo reencontro dela com seus pais, algo magistralmente orquestrado. Até recentemente, Max era o popular âncora de uma rede de TV rival, e continuava trabalhando para ela por trás das câmeras. – Já superei. É bom variar podendo aproveitar um casamento da realeza, em vez de falar sobre ele numa esquina qualquer por aí. Estou vendo que Liam está ocupado, dançando com Francesca. Ele não devia estar comandando o furo de reportagem do século?
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– Não. – Ariella cruzou os braços. – Não permito que nenhum dos meus amigos trabalhe hoje, por decreto real. Quem for flagrado trabalhando vai ser jogado na masmorra. Max olhou para as muralhas do Castelo de Whist. – Hum… Parece uma experiência interessante. Talvez eu pudesse fazer uma transmissão ao vivo… – Ah, pare com isso. – Ariella riu. – Vocês viram meu marido por aí? Só estamos casados há 40 minutos, e já o perdi. Scarlet fez um movimento de cabeça na direção do bar. – Está conversando com o meu marido. Acho que Simon está tentando convencer Daniel a expandir a rede dele para a África. – Daniel era dono de uma rede social que ajudara a espalhar a notícia do show para a World Connect. – Ainda não acredito que vocês conseguiram pôr todos aqueles cantores famosos no mesmo palco. – O show foi por uma causa incrível. Então foi fácil deixar as pessoas empolgadas. – Ariella sorriu. – Vou para a África com Simon no mês que vem, para divulgar os projetos dele lá. – Cuidado, África. – Max sorriu. – Não há dúvida de que você e Simon são o casal mais popular do mundo. Eu achava que o romance do irmão mais velho dele não seria superado, mas vocês mostraram que eu estava enganado. – Pelo menos, eles não parecem me odiar. Eu não sabia como os britânicos reagiriam. Posso dizer que eles me acolheram de braços abertos. Não que eles tivessem muita escolha com Simon por perto. – De onde eles estavam, Ariella viu a rainha numa conversa aparentemente intensa com o pai dela. – Como os britânicos poderiam não amar você? – Lucy se aproximara com seu marido, Hayden, e o curioso filho dele. Ela era uma ex-repórter do ANS e, junto de Hayden, descobrira que seu próprio padrasto, então chefe da rede, aprovara escutas telefônicas ilegais que tinham revelado quem eram os pais de Ariella. Lucy ficara amiga de Scarlet e Ariella depois de contratar a DC Affairs para organizar seu casamento. – Sei que Liam assume todo o crédito por ter feito o seu reencontro com seu pai e por ter unido novamente Ted e Eleanor. – Nossas orelhas estão quentes. – Ted Morrow chegou por trás de Ariella de braços dados com Eleanor. Liam chegou logo atrás dele. – Estou tentando desavergonhadamente negociar a cobertura exclusiva do casamento do seu pai e da sua mãe. Não temos um casamento de um presidente desde 1915. Ted Morrow estava radiante. – Eu disse a este agradável jovem que estou ocupado demais aproveitando o casamento da minha filha para pensar no meu. – Ele se virou e deu um leve beijo no rosto de Ellie. – Mas admitimos que ele acontecerá ainda este ano. Temos algumas outras coisas a fazer antes. Depois desta festa, vamos para Irlanda visitar o vilarejo onde minha linda Ellie passou tanto tempo escondida. – Eles vão ficar muito felizes por conhecer Ted. – Ellie o olhou com veneração. – Depois que meu marido morreu, cinco anos trás, as pessoas começaram a me importunar, dizendo que eu devia namorar novamente, mas eu nunca quis. Acho que mudei de ideia. 90
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– Graças aos meus esforços, claro. – Liam estava felicíssimo. – Todos me disseram que você jamais apareceria diante das câmeras para o reencontro, até Ariella. Mas nunca aceitei um não como resposta. Se eu aceitasse, não teria conseguido minha própria esposa. – Ele abraçou Francesca, que sorriu. – Ela teria me dito que os astros não estavam alinhados da maneira certa ou algo do gênero. Falando em astros, aí vem o príncipe encantado. Simon chegou, acenando. – Todos vocês conhecem meu primo Colin, certo? – Ele gesticulou para o loiro alto que caminhava ao seu lado. – O diplomata que negociou o acordo de direitos à privacidade que acabou me levando aos Estados Unidos. – Onde encontrei minha esposa, Rowena. – Colin abraçou a bela mulher ao seu lado. Rowena cumprimentou todos. – Estou me divertindo muito aqui no país de Colin. Todos são tão gentis! – Ela estava de mãos dadas com seu filho pequeno. – Ah, nem sempre somos tão gentis. – Simon deu um beijo no rosto de Ariella. – Minha esposa pode lhe dizer que, às vezes, somos teimosos como mulas. – Gosto de considerar isso parte do nosso charme. – Colin sorriu. – Sem dúvida, pode ser uma vantagem quando se trata de diplomacia estrangeira. Todos riram. Simon ergueu sua taça. – Espero que todos vocês se tornem convidados regulares aqui no Castelo de Whist. Pretendemos viajar de volta aos Estados Unidos o máximo de vezes possível. Sendo assim, é justo que vocês retribuam esse favor. Ted Morrow levantou a taça dele. – Vou brindar a isso. Contanto que vocês não tentem taxar nosso chá, vamos nos dar muito bem. – Vocês, americanos, mal tomam chá – protestou Simon. – Uma vez, pedi chá num restaurante de D.C., e eles me trouxeram um copo de água suja gelada com um pedaço de limão dentro. Nada civilizado. Ted riu. – Vamos garantir que tenhamos um pouco daquela poção de bruxa de que vocês, britânicos, tanto gostam, quando você e Ariella forem passar um tempo na Casa Branca. – Não se esqueçam dos biscoitos – provocou Simon. – Mas nada daqueles gordos, cheios de manteiga, que vocês, americanos, comem. – Eu sei. – Ted sorriu. – Nós os chamamos de cookies. Como minha amada Ellie já morou dos dois lados do Atlântico, ela está me ajudando a entender as diferenças entre as duas culturas. É maravilhoso fazer parte de uma família grande e internacional. Ariella ficou cheia de orgulho quando seu lindo marido envolveu sua cintura com o forte braço dele. Em poucos meses, ela se transformara de órfã solitária numa pessoa que estava no centro de uma grande e crescente família, com pais amorosos, um marido sexy e adorável e um círculo de amigos que se estendia ao redor do mundo. – Três vivas para Vossas Altezas – disse Colin. Todos ergueram suas taças enquanto Colin invocava o coro.
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Ariella riu. Ela levaria algum tempo para se aclimatar a alguns dos antiquados costumes de seu recĂŠm-adotado paĂs, mas se divertiria muito fazendo isso e compartilhando sua vida com o homem mais carinhoso e amoroso que ela jĂĄ conhecera.
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Próximo Lançamento
ESPOSA DO ESCÂNDALO METSY HINGLE
Estar ali era um erro. Não pertencia àquele lugar, disse Lily Miller a si mesma em pé à entrada do salão de baile enquanto olhava os homens e mulheres vestidos com elegância. Pela aparência da multidão e a quantidade de diamantes em exibição, cada membro da alta sociedade de Eastwick, Connecticut, estava presente no Baile Preto e Branco. E ela certamente não era daquela classe social. Devia partir imediatamente, antes de começar a chorar e fazer de si mesma um espetáculo degradante. Mas ainda não podia… não sem falar com Bunny Baldwin. Afinal, tinha sido Bunny que insistira que Lily fosse ao baile de máscara, Bunny que lhe emprestara um vestido adequado para participar do evento de levantamento de fundos. Lily passou a mão enluvada pela saia. O vestido negro sem alças era a coisa mais linda que já havia visto. Era adequado para uma princesa, coisa que ela não era. Era uma ninguém… nem mesmo a filha de alguém. Lily lutou contra as lágrimas enquanto tentava não pensar no telefonema do detetive uma hora antes, informando-a que chegara a mais um beco sem saída na busca pela mãe dela. Aceite, Lily. Se a mulher a quisesse, jamais a teria deixado naquela igreja tantos anos atrás. É hora de parar de perder tempo e dinheiro procurando por alguém que não quer você, que jamais quis você. – Dance comigo. Lily piscou, então se viu diante dos olhos azuis de um estranho alto e moreno. Usava um smoking e uma máscara negra e, por um momento, ela se perguntou se era real. – Perdão? – Dance comigo. – E estendeu a mão. – Obrigada, mas não… – Como pode dizer não quando estão tocando nossa música? – Nossa música? Como podemos ter uma música se nem nos conhecemos? – Por que não mudamos esta situação? – Tomou-lhe a mão e a levou para a pista de dança. Lily não resistiu. E, no momento em que ele a tomou nos braços, era como se uma rede mágica a envolvesse. Toda a dor desapareceu. Tudo o que conseguia ver eram aqueles olhos azuis fixos nela como se fosse a única pessoa no mundo. Tudo o que conseguia sentir era o calor do corpo dele pressionado ao dela, o hálito quente em seu pescoço. Havia alguma coisa excitante, mas segura, sobre máscaras. Com ela, não era a Lily Miller que ninguém amava ou queria. Com a máscara, era a mulher que quisesse, uma mulher desejada, sem passado, sem futuro, vivendo apenas no agora. 93
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Uma dança se transformou em duas, em três e em quatro. E, quando ele a levou para o terraço e a beijou, ela não sentiu o frio do ar noturno, apenas a força dos braços dele, a fome em seu beijo. – É quase meia-noite, o baile vai acabar – sussurrou ele. – Eu sei. – Não quero que a noite acabe. – Nem eu. Ele a beijou de novo. Tinha gosto de champanhe e desejo, e cada nervo de seu corpo cantava com a sensação daquela boca tomando a dela. – Então não vamos permitir. – Tirou uma chave do bolso. – Vou passar a noite no hotel. Quarto 503. Vá se encontrar comigo. Nervosa, Lily estendeu a mão para o medalhão de ouro com a inicial L num dos lados e que usava quando a freira a encontrara na igreja. Mas o medalhão não estava lá. Tirara-o depois do telefonema do detetive. E, pela primeira vez na vida, não tinha o medalhão para segurar, para lembrá-la que era a confiável e sensata Lily Miller. – Você vai? – Sim. – E pegou a chave.
E leia também em A Vida Secreta de Esposas da Sociedade 1/3, edição 45 de Desejo Dueto, Esposa deserdada, de Jennifer Greene
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