Penny Jordan
Mestre do Prazer
Mestre do Prazer (Penny Jordan)
Título original: Master Of Pleasure PUBLICADO SOB ACORDO COM HARLEQUIN ENTERPRISES II B.V./S.à.r.l. Copyright © 2006 by Penny Jordan Originalmente publicado em 2006 por Mills & Boon Modern Romance
Digitalização: Polyana Revisão: Marelizpe
Resumo: Levada para a cama pelo milionário do Mediterrâneo por vingança! Primeiro, o poder... O sexy milionário Gabriel Calbrini jamais perdoou Sasha por tê-lo abandonado para se casar com outro homem. Ao ficar viúva, Sasha tem uma grande surpresa: Gabriel foi nomeado herdeiro da fortuna de seu falecido marido, e tutor de seus dois filhos. Agora, ela está inteiramente em suas mãos! Depois, a posse... Não importava o quanto ele insista, Sasha está decidida a não ceder a suas inúmeras investidas. Há muito mais em jogo do que o orgulho ferido de Gabriel... Especialmente a única coisa que ele jamais deverá saber... 1
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CAPITULO UM Sasha virou a cabeça para olhar seus gêmeos de nove anos. Estavam brincando na praia como filhotes de foca, correndo em ziguezague, lutando, pulando as ondas que suavemente quebravam na isolada costa da Sardenha. — Tomem cuidado vocês dois! — avisou, dizendo ao mais velho: — Sam, não seja tão bruto. — Estamos brincando de bandidos. — Ele defendeu-se do golpe violento do irmão gêmeo. Brincar de bandido havia se tornado a brincadeira favorita nesse verão desde que Giuseppe, irmão de Maria, empregada da cozinha do hotel do falecido marido de Sasha, lhes contara histórias sobre a ilha e seus lendários bandidos. Os cabelos dos meninos eram negros, grossos e sedosos, eles possuíam a pele oliva do pai. Só a cor dos olhos era dela, pensou, denunciando a dupla nacionalidade — olhos da cor do mar, que mudavam do azul para o verde, dependendo da luz. — Eu disse que ia conseguir me libertar — riu Nico quando se livrou com destreza do golpe de Sam. — Cuidado. Prestem atenção nas pedras — ela advertiu, quando Sam derrubou Nico na areia, fazendo com que os dois rissem e rolassem juntos. — Sam, olha! Uma estrela-do-mar! — gritou Nico, e um segundo depois estavam agachados, lado a lado, olhando uma pequenina piscina formada pelas rochas. — Mãe, vem olhar! — gritou Nico. Ela foi ao encontro deles, agachando-se e abraçando os dois. — Ei, eu sou o rei dos bandidos, lembre-se. — Sam obrigou Nico a se levantar, já cansado da piscininha e da estrela-do-mar. Meninos, pensou Sasha. Mas o coração estava repleto de amor e orgulho ao vêlos sair correndo para brincar numa área mais segura da areia. Virou-se para olhar o hotel no topo da rocha, enquanto mantinha a antena maternal alerta. Esse hotel era, em sua opinião, o mais bonito de todos os de seu falecido marido. Como presente de casamento, ele a autorizara a se encarregar da reforma e decoração. Valera cada centavo gasto, pois os hóspedes sempre elogiavam as idéias inovadoras e a determinação de manter o hotel exclusivo. Mas, com a morte de Carlo, viera o choque: descobrir que os outros hotéis da rede não tinham alcançado o sucesso financeiro desse. Sem lhe contar, Carlo contraíra empréstimos consideráveis para manter o negócio com os hotéis em hipoteca. Decisões erradas foram tomadas, talvez devido ao estado de saúde de Carlo. Ele era um homem gentil, generoso e carinhoso, mas não a tratava como igual, sua confidente, em se tratando de assuntos financeiros e comerciais. Para ele, ela devia ser protegida e mimada. 2
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Tinham se conhecido no Caribe, onde Carlo investigava a possibilidade de comprar um novo hotel para acrescentar aos de sua propriedade. Agora, além de lidar com a dor da perda, Sasha precisava enfrentar o fato de ter se tornado, da noite para o dia, da esposa mimada de um homem rico em uma viúva pobre. Menos de uma semana após a morte do marido, o contador informara que Carlo devia grandes somas de dinheiro, milhões, a um investidor desconhecido que o ajudara. Dera os hotéis como garantia. E embora ela tivesse implorado aos consultores para encontrarem uma maneira de manter esse hotel, eles avisaram que o investidor informara não estar disposto, em nenhuma hipótese, a atender a solicitação. Ela olhou novamente os filhos. Eles sentiriam falta da Sardenha e dos maravilhosos verões ali passados, mas sentiriam ainda mais falta de Carlo. Embora fosse um pai idoso, incapaz de participar das brincadeiras de dois garotos cheios de energia, ele adorava os filhos, e era correspondido. Agora Carlo partira, e suas últimas palavras foram um pedido: prometer que sempre reconheceria a importância da herança sardenha dos gêmeos. — Lembre-se de que tudo que fiz foi por amor, por você e por eles. Ela devia tanto a Carlo! Ele lhe dera tanto! Tinha curado todos os males da jovem sofrida e carente que fora um dia, com amor e apoio. Os presentes que recebera não tinham preço: respeito por si mesma, independência emocional, capacidade de dar e receber amor de uma forma saudável e livre da dependência destrutiva. Ele tinha sido mais que um simples marido. Os olhos, firmemente determinados, assumiram um tom esmeralda-escuro. Já havia sido pobre — e sobrevivera. Mas, naquela época, não tinha dois filhos para preocupá-la. Hoje pela manhã recebera um e-mail gentil da escola, advertindo que o prazo para pagamento das taxas para o novo semestre logo venceria. A última coisa que queria era provocar mais tumulto em suas jovens vidas, tirando-os da escola que adoravam. Olhou para os anéis de diamante. Nunca sonhara com jóias caras. Carlo é quem insistia em comprá-las. Já decidira vendê-las. Pelo menos tinham um teto durante as férias de verão dos meninos. Seu orgulho ficara ferido ao pedir aos advogados de Carlo que tentassem conseguir a aprovação para ali permanecerem até o início do novo semestre, em setembro. Sentira-se grata quando o pedido foi atendido. Sua própria infância fora tão sem amor e segurança que ao descobrir estar grávida fizera um juramento: seu filho nunca sofreria como ela. E por esse motivo... Virou a cabeça para olhar os filhos. Sim, Carlo a havia curado, mas ainda assim restara uma coisa. Uma insistente ferida permanecia aberta. A preocupação dos últimos meses a deixara, segundo sua própria opinião, magra demais. O relógio estava frouxo no punho quando ela afastou a massa pesada do cabelo queimado de sol do rosto e o prendeu com a mão. Tinha 18 anos quando se casou e 19 quando os meninos nasceram; era uma 3
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menina sem instrução, mas esperta, que ficara muito feliz em aceitar a proposta de casamento apesar da diferença de idade. O casamento havia lhe proporcionado tudo que nunca tivera; não apenas em termos de segurança financeira. Carlo tinha dado estabilidade à sua vida e ela florescera no ambiente seguro proporcionado por ele. Estava determinada a fazer tudo para pagar a gentileza de Carlo. Ao observar o olhar no rosto dele, a primeira vez que a vira com os gêmeos, no hospital particular, soube que tinha lhe dado um inestimável presente. — Olha, mãe. — Ela obedeceu ao pedido de Sam, enquanto ele e Nico viravam cambalhotas. Logo iriam pedir para não olhá-los tão atentamente. Ainda não tinham percebido como ela os olhava. Algumas vezes, com dois garotos tão inteligentes e cheios de energia, era difícil não ser superprotetora — o tipo de mãe que via perigo onde eles só viam aventura. Seus próprios pensamentos sufocaram a expressão de "Tomem cuidado!" que brotava dos seus lábios. — Muito bem — elogiou-os. — Olha, podemos andar em cima das mãos também — gabou-se Sam. Eles eram ágeis, altos para a idade e fortes. — Você me deu filhos fortes, Sasha — Carlo sempre agradecia. Ela sorriu ao lembrar. O casamento proporcionara tempo e espaço para ela deixar de ser a menina frágil do passado e se transformar na mulher do presente. O sol brilhou na fina aliança de casamento ao virar-se para olhar o hotel nos rochedos. Tinha viajado o mundo inteiro com o falecido marido, visitando sua cadeia de hotéis exclusivos, mas o da Sardenha era o seu preferido. Originalmente uma casa de um primo de Carlo, a propriedade fora herdada com a morte do proprietário, e ele jurara nunca vendê-la. Gabriel, parado na sombra formada pelas rochas, olhou a praia. A boca se retorceu de desprezo, raiva e algo mais. Como ela se sentia agora, sabendo que o destino lhe pregara uma peça e a segurança comprada com o corpo não era, afinal, eterna? Como se sentira ao saber que não teria urna viuvez cercada de dinheiro e conforto? Culpara o homem com quem se casara ou a si própria? E os filhos? Algo sombrio e perigoso o feriu como uma lâmina afiada. Só de olhá-los reviveu a própria infância na Sardenha. Como poderia esquecer a infância cruel, dura, que enfrentara? Quando era da idade desses dois garotos, era forçado a trabalhar por migalhas. Pontapés e xingamentos lhe ensinaram a se afastar do caminho dos adultos. Tinha sido um filho indesejado, uma criança rejeitada pelos ricos parentes maternos, abandonada pelo pai e criado por pais adotivos. Quando menino, reconhecia com amargura, passara mais noites dormindo do lado de fora com os animais da fazenda que dentro de casa, com a 4
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família adotiva, que aprendera com os parentes da mãe a desprezá-lo. Gabriel acreditava que tal experiência fortalecia ou enfraquecia o espírito humano. Em seu caso, endurecera-o a ponto de transformá-lo em puro aço. Jamais permitira nem permitiria que ninguém o afastasse do caminho escolhido ou se interpusesse entre ele e a determinação de se colocar acima dos que o menosprezaram. O avô materno era o chefe de uma das mais ricas e poderosas famílias da Sardenha. O passado da família Calbrini estava intimamente interligado ao da Sardenha. Era lima família dividida em feudos de sangue, traição e vingança, e impregnada de orgulho. A mãe era filha única. Tinha 18 anos quando fugira de casa para escapar de um casamento arranjado e se casar com um jovem fazendeiro pobre, mas bonito, por quem acreditava estar apaixonada. Mimada e de temperamento forte, demorara menos de um ano para perceber o erro cometido, e passou a desprezar o marido e a pobreza imposta pelo casamento. Na ocasião, já dera à luz Gabriel. Recorreu ao pai, implorando perdão e permissão para voltar. Ele concordou, sob a condição de se divorciar e deixar a criança com o pai. De acordo com as histórias ouvidas em criança, a mãe não pensara duas vezes. O avô dera uma grande soma de dinheiro ao pai de Gabriel como pagamento, absolvendo a família Calbrini de qualquer responsabilidade quanto ao filho do casamento fracassado. Com mais dinheiro do que jamais tivera no bolso, o pai deixou o filho de três meses e foi para Roma, prometendo ao primo com quem deixara Gabriel mandar dinheiro para manter a criança. Mas, ao chegar em Roma, encontrara a mulher que se tornou sua segunda esposa. Ela não via motivo para assumir uma criança que não era sua, nem em gastar o dinheiro do marido com isso. Os pais adotivos de Gabriel recorreram ao avô dele. Eram pobres e não conseguiam alimentar uma criança faminta. Giorgio Calbrini recusou-se a ajudar. A criança não representava nada para ele. A filha também voltara a se casar — dessa vez com um homem escolhido por ele, — e ele esperava ter, o mais breve possível, um neto com a linhagem exigida pelo orgulho. Só que isso não aconteceu, e, quando Gabriel tinha 10 anos, a mãe e o segundo marido morreram num acidente de helicóptero. Giorgio Calbrini não teve outra alternativa além de procurar obter o melhor do seu único herdeiro: Gabriel. Tinha sido uma vida austera e sem amor para um garoto, ele recordou, ao lado de um avô que não o amava e desprezava o sangue herdado do pai. Mas, pelo menos, sob o teto do avô era alimentado adequadamente. O avô o mandara para as melhores escolas — e se assegurou que lhe ensinassem tudo que precisaria quando chegasse a hora de sucedê-lo como chefe da casa Calbrini. Não que o avô nutrisse grandes esperanças de que ele fosse capaz de fazê-lo, como deixara claro mais de uma vez 5
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para Gabriel. — Não tenho escolha, pois você é meu único neto — dizia a Gabriel sem cessar de maneira agressiva. Entretanto, Gabriel decidiu provar que ele estava errado. Não para obter o amor do avô. Gabriel não acreditava em amor. Não, quis provar ser o melhor homem, o mais forte. E foi o que fez. No início, o avô se recusara a acreditar nos tutores quando eles elogiavam sua facilidade em termos de compreensão de política financeira e todas as complexidades envolvidas. Mas, quando tinha 20 anos, Gabriel havia quadruplicado o pequeno capital dado pelo avô no seu aniversário de 18 anos. Três semanas após de ter completado 21 anos, o avô morreu, inesperadamente, e Gabriel herdou a imensa fortuna e a posição. Aqueles que prediziam que ele jamais se igualaria ao avô foram forçados a engolir as palavras. Gabriel era um verdadeiro Calbrini, e possuía um instinto ainda mais aguçado para ganhar dinheiro que o avô. Mas a vida não era só ganhar dinheiro. Tinha necessidade de.se tornar emocionalmente invulnerável. E era isso exatamente o que ele era, refletiu. Não permitiria a nenhuma mulher repetir a rejeição da mãe sem ser punida. Especialmente não essa mulher. O vento trazia o som da voz de Sasha, mas não as palavras. Sasha! Quando Gabriel tinha 25 anos, já era bilionário. Não confiava em ninguém e tratava as mulheres como parceiras de cama e nada mais. As regras estabelecidas para seus relacionamentos eram simples e não passíveis de negociação. Nenhuma conversa sobre amor, futuro ou compromisso. Absoluta fidelidade a ele enquanto estivessem juntos. Sexo seguro e nada de bebês. E, apenas para ficar claro que essa última regra não fosse quebrada "por acaso de propósito", Gabriel sempre se precaveu, Ao longo dos anos enfrentara cenas de raiva e amargura, com mulheres chorosas que acreditaram ser capazes de mudar as regras e tinham percebido seu erro. Como num passe de mágica, as lágrimas secavam imediatamente, tão logo lhes era oferecido um generoso presente de adeus. A boca se contorceu, de um modo cínico. Era tão absurdo pressupor por que ele se tornara um homem descrente de todos e, sobretudo, que desprezava as mulheres? Segundo ele, não havia uma mulher no mundo que não pudesse ser comprada. A mãe dele tinha demonstrado isso, e todas as outras com quem tivera contato só haviam confirmado o que ela lhe ensinara, abandonando-o por dinheiro. Não que ele não curtisse a companhia de mulheres ou não sentisse prazer com seus corpos. Herdara a boa aparência do pai, e encontrar uma parceira para satisfazer seu desejo sexual nunca fora problema. — Sam, não vá muito longe. Fique onde eu possa vê-los. — As palavras de Sasha 6
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chegaram até ele, pois ela levantara a voz para se fazer ouvir pelos filhos. Uma mãe afetuosa? Sasha? Como a amargura, o passado não o abandonava. Estava ali presente, apertando-o tão forte que causava dor. Depois da morte do avô, tinha abandonado sua isolada e desconfortável casa na Sardenha e comprado um iate. Com interesse financeiro e profissional em propriedades, fazia sentido viajar, buscando aquisições novas tanto materiais quanto sexuais. E se uma mulher se oferecesse para satisfazer seus instintos sexuais, por que não? Desde que ela compreendesse que, uma vez o apetite saciado, não haveria lugar para ela em sua vida. Quando tinha 25 anos, já tomara a decisão de pagar uma mulher para lhe dar um herdeiro quando chegasse a hora. Uma criança sobre a qual ele teria direitos exclusivos. Gabriel olhou Sasha com frio desdém. Seis semanas atrás, logo após ter completado 35 anos, estava ao lado do leito de morte do primo em segundo grau — a família Calbrini era enorme... — escutando Carlo implorar que ajudasse os dois filhos que amava mais que tudo. A mesma brisa quente que brincava sensualmente com o cabelo comprido de Sasha afastava o cabelo grosso e escuro de Gabriel, revelando a estrutura óssea característica dos oriundos da Sardenha. A linha reta do nariz romano, um detalhe específico dos traços masculinos ressaltado nos trabalhos de Da Vinci e Michelangelo, e a musculatura de um homem em seu apogeu. Havia séculos os sarracenos tinham invadido a Sardenha, deixando marcas em sua história e em seus habitantes através das mulheres que haviam possuído e engravidado. Tinha sido Carlo quem lhe contara a lenda de que os filhos nascidos dessas mulheres eram conhecidos por possuir a resistência física e a crueldade legendária dos homens que os geraram. Gabriel sabia ter sangue sarraceno na sua família, e sabia também que isso era demonstrado em suas atitudes. Não tinha piedade em relação àqueles que o traíam. Olhos observadores e atentos como os de uma águia estudavam os dois meninos. Privilegiados, venerados por um pai idoso. Uma infância tão diferente da dele! A luz do sol fez cintilar sua pele, num tom mais dourado que oliva. Pensou na promessa feita às súplicas de Carlo, como algo sagrado, uma confissão do primo, sem precisar expô-la em palavras, de que confiava os filhos aos cuidados de Gabriel por não confiar na mãe deles. No leito de morte, finalmente admitia não ser ela merecedora de confiança. Mesmo assim, as últimas palavras de Carlo tinham sido a respeito dela. — Sasha — dissera a Gabriel. — Você precisa entender... Estava fraco para prosseguir, mas não havia necessidade. Gabriel sabia tudo que precisava sobre Sasha. Como a mãe, ela o tinha abandonado. A lembrança disso era como um constante grão de areia arranhando-lhe o orgulho, exacerbando a escuridão 7
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dentro dele. Ela era um assunto não resolvido, um golpe em seu orgulho, motivo pelo qual ele havia bancado a dívida e os juros — que agora estava ali para cobrar. Um urro de protesto de um dos gêmeos fez Sasha virar-se num lampejo maternal e gritar: — Parem de brigar, os dois. Algo — não, alguém tinha se movido entre ela e o sol. Imediatamente cobriu os olhos com a mão para ver quem era. Havia momentos na vida ao mesmo tempo tão rápidos e lentos, que jamais podiam ser ignorados ou esquecidos. Sasha sentiu o coração parar, depois a sensação de incredulidade, misturada ao medo e pânico — e algo mais, tão doloroso que se recusou a dar vida ou nome ao sentimento. Ouviu a batida pesada do coração como se pertencesse a outra mulher, consciente do sangue correndo em suas veias, mantendo-a fisicamente estável enquanto emocionalmente cada nervo parecia exposto. Apenas uma palavra saiu-lhe da garganta. — Gabriel!
CAPITULO DOIS Apenas uma palavra, mas tão cheia de raiva, choque e medo que parecia reverberar entre eles. O pânico na base do pescoço. Resistiu à vontade de cobri-lo com a mão. — O que está fazendo aqui? O que quer? — Foi um erro perguntar isso. Ele seria capaz de perceber o pânico e ver como ela precisava lutar para controlar o medo. A boca retorcida de Gabriel, aquele sorriso cruel e satisfeito do qual tanto se lembrava, estava diante dela agora. — O que você acha que eu quero? A voz era tão baixa e gentil que bem podia ser o toque carinhoso de um amante contra sua pele ou o roçar das asas de um anjo. Por um segundo o corpo reagiu às lembranças que surgiram. Voltava a ter 17 anos: uma menininha carente escondida sob uma camada de insolência. O corpo já sem a saia curta e a miniblusa, o cabelo comprido de mechas louras ainda úmido do banho que Gabriel insistira que ela tomasse. Ele a olhava, e ela, dominada pela atração, sentia um impulso atravessando-a, reconhecendo, pela primeira vez, o que significava sentir desejo sexual. E ela o queria, queria muito. Uma porta do passado se abrira. Não queria ver o que se ocultava por trás, mas já era tarde. Lembrou-se de como ficara impaciente esperando que ele fosse a seu encontro e correra para ele. Ele a tinha segurado com os braços estendidos enquanto 8
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examinava seu corpo nu. A carne demonstrava estar pronta para ele, os seios firmes erguendo-se enquanto imaginava Gabriel tocando-os. Mas, quando ele o fez, percebeu que sua imaginação não conseguira demonstrar como seria o toque ou o que lhe causaria. As pontas dos dedos dele eram duras e ligeiramente ásperas, mãos de um trabalhador, não de um intelectual. Ela havia estremecido, possuída por uma delícia incontrolável quando ele explorou lentamente a forma de seus seios. O toque erótico aumentara-lhe a excitação — tanto que de repente se conscientizara não apenas do quanto o desejava, mas de como estava excitada, de como seu corpo estava pronto para ele, como aquela sua parte íntima estava quente, molhada. Como se ele também sentisse isso, Gabriel percorreu-lhe o corpo com as mãos, com determinação. Quando elas pararam nos quadris, cobrindo o osso levemente protuberante, ela foi tomada pelo impulso e pela necessidade de senti-lo acariciando-a mais intimamente. Ela havia se aproximado mais, abrindo as pernas. Ou fora ele quem a puxara para perto, movendo a mão para sua coxa? Não se lembrava. Mas recordava a sensação de quando ele curvou a cabeça para beijar-lhe o pescoço ao mesmo tempo em que acariciava os lábios inchados de seu sexo e mergulhava os dedos na caverna à sua espera. Quase atingiu o orgasmo naquele instante. Um arrepio a percorreu. O que estava fazendo, pensando nisso agora? Podia sentir a pressão das próprias emoções. Medo? Culpa? Desejo? Não, nunca mais! A garota do passado já não existia, assim como as emoções que sentira. Sasha olhou para a praia, para o local onde seus filhos ainda brincavam, sem saber o que acontecia. Afastou rapidamente o olhar, por instinto, não querendo contaminá-los com o que sentia. Sua prioridade era protegê-los, não a si mesma. Deu um passo para o lado, como para chamar a atenção de Gabriel para ela e não para as vulneráveis crianças. Faria qualquer coisa para proteger os filhos. Qualquer coisa! Gabriel percebeu o movimento involuntário que ela fez para desviar-lhe a atenção dos meninos. Carlo tinha afirmado que ela era uma mãe protetora, mas é claro que se comportaria assim enquanto acreditasse que Carlo era rico e que seu papel como mãe lhe garantiria acesso ilimitado à fortuna. Carlo, como vários pais mais velhos, venerava o sangue de seu sangue, evidência de sua potência. Seus herdeiros... Agora herdeiros de literalmente nada. O olhar de tigre de Gabriel ateve-se à evidência do estilo de vida cosmopolita e privilegiado deles — roupas caras italianas, dentes saudáveis americanos, sotaque da classe alta inglesa, carne e ossos de crianças bem alimentadas e nutridas desde o nascimento. Na idade deles, ele usava trapos, o corpo era magro e ossudo. Desviou o olhar para a mulher parada à sua frente. Tinha dentes bem cuidados, dentes caros — pagos, é claro, por seu generoso marido. Seu generoso e falecido marido. O cabelo estava cortado em estilo informal, mas que, como Gabriel sabia, custava uma fortuna para manter. O vestido "simples" de linho, de corte elegante, sem dúvida era de algum estilista famoso, assim como as mãos e os pés, sem esmalte, mas 9
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cuidados, denotavam uma mulher segura graças à posição e ao dinheiro. Mas não por muito tempo. O que sentira ao saber da morte de Carlo? Alívio diante da idéia de que não mais precisaria dormir com o velho? Prazer mesquinho acreditando que passaria a ser rica? Bem, teria um desses dois sentimentos para manter, pensou brutalmente, embora não por muito tempo. Devia estar perto dos 30 anos, e se quisesse encontrar outro homem rico para sustentá-la teria de competir com mulheres mais jovens e descompromissadas. O tipo de mulher que o rondava onde ele estivesse. Uma de suas amantes tinha dito que aquela natureza sombria e perigosa, tão temida pelos inimigos e amada pelas mulheres, era herança dos ancestrais sarracenos. Ele acreditava que qualquer criança com seu histórico — indesejada, maltratada tanto física quanto emocionalmente — aprenderia com rapidez a pagar na mesma moeda. Uma criança que precisou, literalmente, brigar com os cachorros por um pedaço de pão, tinha que desenvolver uma dura couraça para proteger tanto a carne quanto a alma. Um sorriso inesperado desenhou uma cova em seu queixo enquanto via Sasha engolir em seco e os olhos escurecerem, mas não havia calor no sorriso. — É, deve ter sido difícil para você deixar um velho obter prazer com seu corpo sem ser capaz de lhe dar prazer. Mas, afinal, o dinheiro compensa tudo, não é? — Não casei com Carlo por dinheiro. — Não? Então por quê? Ah, agora a pegara. Ouvia a respiração irregular saindo-lhe dos pulmões. Como conhecia bem aquela necessidade violenta de se proteger. Infelizmente, para Sasha era tarde demais. Não havia proteção para ela. — Certamente, não foi por amor — provocou-a, indelicado. — Eu o vi um pouco antes de morrer. Estava no hospital em Milão. Você, acredito, estava em Nova York fazendo compras. Muito conveniente ter colocado os filhos num internato, para ficar livre. O rosto dela ficou lívido. Furioso, Gabriel reconheceu que, mesmo assim, quase sem sangue ou vida, ela ainda conseguia ser linda. Sasha ficou aterrorizada, achou que ia desmaiar tamanha a intensidade da raiva. Tinha ido a Nova York encontrar outro especialista na tentativa de salvar Carlo. Podia não ter amado o marido como mulher, mas era agradecida por tudo que ele fizera a ela e aos gêmeos. A decisão de propor o internato foi tomada depois de muita reflexão. Para ela, a segurança emocional dos meninos era sempre prioritária, mas todos tinham um débito em relação a Carlo. Que tipo de pessoa seria se não tentasse o impossível para proporcionar ao marido mais tempo com eles? Não seria possível viajar para Nova York com os meninos para buscar uma segunda opinião. Além disso, havia a preocupação extra de saber o quanto ver Carlo morrer lentamente afetaria os 10
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meninos. Precisava estar disponível para as visitas ao hospital duas ou três vezes por dia. Carlo quis morrer na Itália, não em Londres, onde os filhos estudavam. Na ocasião, julgava não ter outra opção, mas agora Gabriel estava cutucando a culpa que ainda a atormentava por ter deixado os meninos no internato por um semestre. — Você sabe, é claro, que os negócios estão arruinados e que tudo que ele deixou foram dívidas? — Sim, sei. — Não fazia sentido tentar esconder a realidade da situação financeira para ele ou tentar explicar como se sentia em relação a Carlo. Ele não compreenderia, pois era incapaz disso. A experiência compartilhada de uma infância sofrida, em vez de ter criado laços de mútua compaixão, os tinha transformado em inimigos. Ele nunca compreenderia por que ela o trocara por Carlo, e ela jamais lhe diria, pois simplesmente não fazia sentido. — Suponho que deva me sentir honrada por você ter vindo se regozijar com minha dor pessoalmente. Afinal, não compareceu ao funeral. — Para ver você chorar lágrimas de crocodilo? Nem meu estômago é forte o suficiente para tais cenas. — Mas é forte o suficiente para vir aqui e me agredir verbalmente. Já se passaram mais de dez anos, Gabriel. Não é hora... — Hora para quê? Para eu cobrar a dívida e os juros que tem comigo? Sou um homem que gosta de pagamentos à vista, Sasha. Carlo sabia disso. Algo — talvez o famoso sexto sentido feminino — causou-lhe um frio na espinha que queria, mas não podia ignorar. — O que quer dizer? O que Carlo sabia? — Ao me pedir um empréstimo, sabia que precisaria me pagar. — Você emprestou dinheiro a Carlo? Gabriel inclinou a cabeça. — Para cobrir as dívidas dos hotéis. Ele estava em maus lençóis. Eu avisei, mas ele achou que podia sair da encrenca, e já que somos parentes, não podia deixar de ajudá-lo. Infelizmente, não conseguiu colocar os negócios em dia. Felizmente para mim, o débito foi saldado pelos bens. Meus bens agora. Incluindo este lugar, é claro. Sasha o encarou. — Seu? Quer dizer que você é o dono deste hotel? — Deste hotel — confirmou, — e dos outros. De sua casa, do dinheiro no banco, das roupas que usa. Tudo me pertence, Sasha. Tudo. A dívida de Carlo foi paga — disse baixinho, — mas a sua ainda está pendente. Você achou que tinha sido esquecida? Que eu não me daria ao trabalho de me vingar? Ela queria desesperadamente olhar os filhos, tranqüilizar-se que eles estavam ali, inteiros e seguros, e que nada iria atingi-los ou ferí-los. Mas temeu que olhá-los 11
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chamaria a atenção de Gabriel para a vulnerabilidade deles. Em vez disso, respirou fundo e perguntou: — Você quer se vingar de mim? No nosso relacionamento eu fui a vítima. Foi você quem... — Foi você quem se vendeu para quem dava a melhor oferta. Ela se obrigou a olhá-lo. — Você me deixou sem opção — disse, serena. Afinal, era verdade. Ela havia buscado nele tudo que nunca tivera, ainda capaz de acreditar em milagres, mesmo para garotas como ela, e que todos os erros em sua vida podiam ser corrigidos. Ainda acreditava em sonhos, naquela época. Sentiu pena da garota que fora. Estava feliz por ela ter desaparecido, e ainda mais feliz pela mulher que ocupara seu lugar. Antes que Gabriel pudesse dizer mais alguma coisa, perguntou: — O que exatamente você quer? Acredito que não tenha perdido seu precioso tempo vindo até aqui apenas para rir da minha desgraça. Ou achou que seria mais divertido nos expulsar pessoalmente? Bem, vou lhe poupar o aborrecimento. Não levaremos muito tempo fazendo as malas. — De todos os luxos de que se desfaria, era desse que mais sentiria falta. O luxo do orgulho. Porque sabia muito bem o luxo que era. — Ainda não terminei — disse ele. — Ainda tem mais? O quê? Certamente não dá para ser pior. — Antes de morrer, Carlo me nomeou como tutor legal dos filhos. Era uma brincadeira. Uma tentativa deliberada e cruel de assustá-la. Uma vingança. Mas, é claro, não podia ser verdade. — Algo errado? — ouviu Gabriel perguntar baixinho quando a viu tentar disfarçar a respiração alterada e o olhar incrédulo. — Com certeza Carlo lhe disse que pretendia me nomear como tutor da família, de acordo com a tradição da Sardenha... Ele sabia, é claro, que não tinha feito isso, pois o primo lhe contara. — É melhor assim — sussurrou dolorosamente Carlo para Gabriel. — Embora saiba que Sasha, a princípio, não vai entender. Certamente não o fez, reconheceu Gabriel. Os olhos de Sasha estavam arregalados de descrença, e ela sacudia a cabeça em negação. Isso não podia estar acontecendo, pensou, histérica. Era o pior dos pesadelos. A traição máxima. O medo, como uma faca afiada em seu coração, a deixava paralisava. — Não! — disse a ele, o choque tirando a cor do seu rosto, apertando as mãos e os punhos, angustiada. — Não acredito em você. 12
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— Meus advogados têm toda a documentação. Isso não podia ser algum tipo de brincadeira perversa, reconheceu Sasha, apática. Era real. A cabeça doía, as perguntas sem resposta martelando. Estava muito confusa para manter a distância protetora do desinteresse. — Não compreendo. Por que Carlo faria algo assim? Gabriel deu de ombros, um pequeno movimento dos ombros largos. Sentindo-se mal, a cena saiu de foco e ela visualizava outra: Gabriel, jovem, a água escorrendo naqueles ombros bronzeados quando saía do mar para o deque do iate, o corpo nu e despudoradamente pronto para ela. E o dela estava igualmente pronto para ele. E ela estava sempre pronta para ele! Pronta, faminta, esperando. Faminta pela intimidade que o trouxesse para perto e ali o mantivesse. Não tinha inibições e suspeitava que ele não permitiria ter nenhuma. Com a privacidade garantida, não ficou inibida em vestir uma das camisas dele, sem nada por baixo, disponível para o toque dele. Como amante, ele lhe abrira os olhos para um mundo novo de prazer e tinha deixado marcas em seu corpo de uma maneira que jamais conseguiria esquecer. Desfrutaram inúmeras horas de intimidade: ele a mantinha na cama, acariciando e beijando cada pedacinho dela: a curva do pescoço, a carne macia da parte interna do braço, os dedos. Se ela fechasse os olhos, sabia ser capaz de sentir a língua molhada desenhando devagar figuras em toda a extensão de seu corpo. Excitada ao máximo, invariavelmente esquecia a ordem de permanecer parada e o buscava, curvando as costas, abrindo as pernas, gemendo de prazer quando ele cuidadosamente afastava os lábios de seu sexo e passava a ponta da língua neles. O orgasmo começava antes de ser penetrada, e quando ele estava dentro dela, uma parte ansiava por senti-lo sem a barreira da camisinha, que ele sempre insistira em usar. De repente Sasha percebeu o perigo que corria. Não! A negação silenciosa e torturada reverberou no cérebro dela. O que estava acontecendo? Como ele podia fazê-la lembrar-se de tudo hoje? — Não é óbvio? — ouviu Gabriel dizer, frio. — Carlo conhecia sua situação financeira. Pediu que eu fizesse tudo a meu alcance para proteger os filhos e o futuro deles. Obviamente, tornando-me o tutor, acreditava que eu me sentiria obrigado moralmente a mantê-los financeiramente. — Não, ele não faria isso — protestou. Mas mesmo ao dizer as palavras sabia estar enganada. Era exatamente o tipo de coisa que Carlo teria feito, pelo melhor dos motivos. Trazia o senso de família enraizado. Tinha orgulho de ser um Calbrini, orgulho de os gêmeos carregarem seu nome. Havia se preocupado com ela e a protegido da dor de amar Gabriel e ser por ele rejeitada, mas os meninos tinham o sangue dos Calbrini nas veias e, no final, isso importava mais do que ela. Sasha tentava permanecer forte, concentrar-se no que Gabriel dizia, em vez de mergulhar no passado, mas as memórias a dominavam perigosamente e a faziam se sentir assustadoramente fraca. Como era possível que ficar ao lado dele despertasse 13
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tantos pensamentos eróticos que ela acreditava terem sido deixados para trás? — Para cuidar deles financeiramente — repetiu Gabriel, acrescentando lentamente como se lhe enfiasse uma faca através das costelas até alcançar-lhe o coração. — E para protegê-los da mãe. O cérebro demorou muitos minutos para absorver o que ouvira e muitos outros mais para reagir diante da injustiça das palavras. — Eles não precisam se proteger de mim nem precisam de você. — Carlo, obviamente, não concordava com você, nem a lei. Sou o tutor. Eles são meus pupilos. Esse foi o último desejo do pai. — Mas sou a mãe deles. — O tipo de mãe que podem supor que seria melhor não ter. — Você não tem o direito de dizer isso. Não sabe nada de meu relacionamento com meus filhos. — Conheço você. Você se entregou a Carlo porque ele estava preparado para lhe dar o que eu não lhe daria. Agora ele está morto e em breve você estará procurando outro homem para substituí-lo. Sem dúvida, Carlo temia que se você voltasse a se casar, seu novo marido pudesse não se interessar pelos filhos dele, e queria protegêlos. — Eu nunca me casaria com um homem se achasse que não iria amá-los como se fossem seus. — Não mesmo? Sasha suspeitou saber o que ele pensava. — Você ainda não perdoou sua mãe, não é? Bem, não sou igual a ela, Gabriel. Amo meus filhos... — Chega! Isso não tem nada a ver com minha mãe. Sasha não ia discutir com ele. Qual o sentido daquilo? Seria como tentar quebrar granito com as mãos. Mas sabia ter razão. Gabriel julgava as mulheres pelo fracasso da mãe, e condenava todas. Queria acreditar que todas as mulheres eram capazes de abandonar os filhos por dinheiro, porque precisava acreditar nisso; pois pensar direito significava aceitar que a própria mãe o abandonara devido à sua incapacidade de merecer o amor maternal. Ele falava sobre suas convicções como se fossem verdades escritas em pedra, e Sasha sabia que em sua cabeça, em seu coração, elas eram. A seus olhos, ela já estava condenada, e permaneceria condenada. O que ele acreditava não podia ser alterado, porque ele assim o desejava. Tinha aprendido em sua muitas vezes difícil e dolorosa jornada de amadurecimento e aceitação do próprio passado... E, acima de tudo, aprendera que era impossível trilhar para outro a jornada de auto-conhecimento e cicatrizar as feridas 14
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em seu lugar. Gabriel havia decidido sacrificar a habilidade de amar e ser amado usando como proteção um orgulho amargo que não permitia que ele percebesse o desejo sexual feminino motivado por nada além da mais sórdida forma de interesse. Carlo podia ter acreditado estar agindo corretamente, mas Sasha desejava que ele não tivesse trazido Gabriel de volta à sua vida — e, mais importante, à vida dos filhos. Eles eram tudo para ela. Não havia nada que não fizesse para protegê-los, nenhum sacrifício. — Você não precisava concordar com o pedido de Carlo — forçou-se a dizer. — Por que o fez? Meus filhos não significam nada para você. Gabriel podia perceber a hostilidade na voz dela. Olhou para os dois meninos. Sasha tinha razão, é claro: eles não significavam nada além do sangue dos Calbrini correndo em suas veias. A reação inicial, ao ouvir a intenção de Carlo, fora recusar. Por que assumiria o peso da responsabilidade dos filhos do primo, principalmente quando sabia o tipo de mãe que tinham? Era óbvio o que Carlo tentava fazer. Estava falido, cheio de dívidas, os filhos eram muito crianças para se defenderem e não podiam contar com a mãe para protegê-los. Ela se venderia para o primeiro homem que pudesse sustentá-la. Tudo isso deve ter passado pela cabeça de Carlo, como passara na sua. Então, Carlo o procurara, em nome dos filhos, sabendo que, moralmente, Gabriel não poderia rejeitar o apelo do sangue dos Calbrini. Desde então, entretanto, Gabriel tivera mais tempo para refletir sobre a situação. Havia se convencido de que ao aceitar o papel de tutor podia livrar-se da obrigação de produzir herdeiros com todos os inconvenientes legais envolvidos. Os filhos de Carlo eram Calbrini. Tinha decidido passar um tempo com os meninos para avaliar se valia a pena criá-los como seus herdeiros. Se valesse, então, como tutor, os educaria exatamente como faria com os próprios filhos, para se tornarem herdeiros do vasto império e fortuna. Quanto a Sasha... Ele podia sentir a ferida ardendo como se estivesse aberta. A história deles era uma página da vida que ele nunca fora capaz de virar. As mulheres anteriores e as posteriores nunca conseguiram deixar marcas. No balanço de contas de sua vida, ela constava como um débito. O destino agora lhe dava a oportunidade de saldar o orgulho ferido. Uma vez recebido o capital e os juros do débito que ela tinha com ele, uma vez revertido o passado e a forçado à posição em que ele a abandonaria — pois nada mais salvaria seu orgulho, — então deixaria claro que não havia lugar para ela na vida dos filhos e, certamente, na dele. Gabriel não previa nenhum problema real. Conhecia Sasha. Ela era hedonista e voluptuosa, só desejava sexo e dinheiro. Não era tolo de acreditar que podia simplesmente obrigá-la a fazer o que ele queria. No minuto em que desconfiasse dos planos, se agarraria aos meninos, determinada a não deixar escapar o passaporte para sua fortuna. Precisava ser sutil e ardiloso. 15
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E se ela recusasse abrir mão dos filhos...? Se fosse tão tola, cedo perceberia o erro cometido. — Não, mas isso significava muito para Carlo — respondeu Gabriel, com frieza, à pergunta de Sasha. — E minha palavra significa muito para mim. Levando em conta que lhe prometi agir como se fossem meus, isso é exatamente o que pretendo fazer. O quê? Como se fossem dele? O choque deixou Sasha fora de si. Por que não previra isso? Sabia o quanto Carlo amara os filhos, assim como sabia como as raízes da Sardenha, a importância da família e a honra estavam entranhadas. Se Carlo tivesse contado o que planejava, poderia ter feito algo, qualquer coisa — não importava o quê. Pedir, implorar, exigir que não agisse assim. Ele sabia dos sentimentos de Gabriel em relação a ela, o quanto a desprezava. E também sabia... Respirou fundo. Não pensava a respeito disso há anos. Não se permitira, desde que deixara furtivamente a cama de Gabriel na pálida luz do alvorecer, enquanto ele dormia sem conhecer suas intenções. Não levara nada com ela ao deixar o iate — nem as roupas caras nem as jóias, só o passaporte. E dinheiro suficiente para chegar ao hotel onde Carlo estava hospedado, para entregar seu futuro nas mãos dele. Tinha 18 anos e Carlo mais de 60. Não era de admirar que um mês depois, quando eles se casaram, tivessem pensado que ele era seu pai. Entretanto, não se importara. Tudo que lhe importava era estar protegida. Viu Gabriel olhar os meninos e reagiu imediatamente ao que o instinto maternal interpretou como uma ameaça. Estendeu a mão, na tentativa de impedi-lo de se aproximar deles. Mas, antes que pudesse tocá-lo, Gabriel virou-se, segurando-a pelo punho. O corpo dele estava tenso como o de um caçador, um predador, esperando que ela tentasse escapar para destruí-la. Um arrepio a percorreu ao reconhecer os sinais familiares da própria excitação. Como isso podia estar acontecendo? Já tinham se passado dez anos desde a última vez que Gabriel a tocara. O nascimento dos gêmeos havia inundado seus sentidos e emoções com outro tipo de amor, fazendo-a esquecer tudo que sentira por Gabriel. Ou assim pensava. Como podia um simples toque surtir tal efeito? Como ele podia fazê-la sentir-se assim — o frio no estômago, o tremor das pernas, o suor escorrendo pelos cabelos e a adrenalina espalhando-se pelas veias? Era uma cilada de sua imaginação, só isso. Não o desejava. Como poderia? Mas o desejo carnal crescia e distorcia seu raciocínio. Excitação e raiva, atração e aversão, toda a alquimia sexual doce e selvagem do passado compartilhado a invadiu. Ela se sentira assim da primeira vez que o vira. Só que naquela época a erupção em suas entranhas não tinha sido encoberta pela dor ou pelo conhecimento. A atração física a deixara encantada mesmo antes dele tocá-la, e quando ele a tocara... Fechou os olhos, não querendo se lembrar, mas era tarde. Podia ouvir a própria voz gritando o nome dele, enredada no próprio intenso prazer, os olhos arregalados de surpresa enquanto ele se curvava na cabine principal do iate, olhando-a ao mesmo tempo em que 16
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o toque experiente dos dedos a levava ao orgasmo. Seu primeiro orgasmo! Ele tinha esperado até o tremor de seu corpo cessar antes de lançar-lhe um olhar de triunfo que se tornaria tão familiar, e dizer lacônico: — Talvez seja a hora ideal para dizer seu nome... Ela abriu os olhos rapidamente. O rosto queimava com as lembranças do seu comportamento. Tinha apenas 17 anos, lembrou-se, trêmula. Uma criança cuja cabeça estava cheia de sonhos. Acreditava saber tudo que precisava. Agora tinha 28 anos, uma mulher que sabia o suficiente para se dar conta de como o passado havia sido perigoso, e a sorte que tivera de escapar dele e de Gabriel. Estava livre disso. Disso, dele e de tudo que ele despertara nela. Sentiu a intensidade do olhar de Gabriel concentrado nela, fazendo-a tremer. Ele não podia adivinhar seus pensamentos, o que estava revivendo. Era madura o suficiente para não se trair. Entretanto, o anseio dentro dela se recusava a esmorecer. Não podia se controlar, nem ao olhar, atraído pelo corpo dele, pelo pescoço, pela pele bronzeada sob a camisa pólo. O torso musculoso, o pêlo escuro descendo até a barriga. Seu olhar acompanhou seus pensamentos parando onde a mão e os lábios repousavam de forma tão íntima e agradável no passado. Ainda podia se lembrar da carne masculina rija e sedosa, o movimento suave respondendo a seu toque ávido... O que estava fazendo? Afastou as recordações. Queria engolir em seco, umedecer os lábios, mas tinha medo de fazê-lo caso... caso o quê? Caso Gabriel adivinhasse seus pensamentos e a sujeitasse ao tipo de possessão sexual selvagem que no passado ela julgava tão excitante? Ali, com os filhos a menos de dez metros de distância? — Solte-me! — ela tentou se desvencilhar. — Tem certeza de que é isso que quer? Antigamente você implorava pelo meu toque. Lembra-se? Não podia evitar. Estremeceu com violência. — É, estou vendo que sim — ele a provocou, soltando-a. A pele ficou fria longe do contato. Não devia se permitir pensar nisso. — Deixe-me avisá-la, Sasha, caso tenha esquecido. Conheço você. — Ele estudou-lhe o corpo com um desprezo que ela sentiu vontade de esbofeteá-lo. — Sou a mãe dos gêmeos e é só assim que você deve me conhecer de hoje em diante — retrucou. Estas palavras se dirigiam a ele ou a ela? Ele soltou o braço tão rápido que ela quase perdeu o equilíbrio, e depois virou de costas. Ela estremeceu. Como podia ter sido tola a ponto de amá-lo? Mas o amara. Desesperada e incondicionalmente, torcendo para que ele correspondesse a seus sentimentos, acreditando poder trocar sexo por amor. Que idiota! Mas não era mais 17
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assim.
CAPITULO TRÊS Ainda sob o efeito do choque, viu Gabriel olhar para os meninos. Não conseguia deixar de pensar na atrocidade cometida por Carlo. Mas os homens da Sardenha eram diferentes dos outros. Viviam sob um diferente código: numa sociedade paternalista em que o direito de comandar as vidas das famílias era absoluto. Quando Carlo contou a história da mãe de Gabriel, percebera que ele não compartilhava de seu espanto e achava natural o avô de Gabriel ter tentando casar a filha à força com alguém escolhido por ele. — Não me admira ela ter fugido — comentara. Carlo ficou zangado. — Ela teve sorte de ser perdoada pelo pai e por ele ser poderoso e ter persuadido Luigi a se casar com ela, apesar da humilhação a que ela o submetera. — Mas obrigá-la a casar com um homem que não amava... — Era seu direito como pai. — E forçá-la a abandonar o bebê? Não pode achar isso certo, Carlo. — Não, certo não, mas Giorgio era um homem orgulhoso e o chefe de nossa família. A pureza da linha de sangue Calbrini era uma questão de honra para ele e aceitar como neto uma criança cujo sangue... — Mas ele acabou aceitando Gabriel... Carlo inclinou a cabeça, aceitando seu argumento, mas Sasha reconheceu que ele era tão antiquado quanto o avô. Suspeitava que ele só tivesse contado a história do nascimento de Gabriel porque, apesar do que ele fizera com ela, Carlo ainda sentia o dever de apoiar o primo em segundo grau. Ele podia ter lhe dado proteção, dinheiro e seu nome, mas ainda era um Calbrini. Assim como os filhos. Carlo nunca se esquecera disso, nem ela deveria — embora por diferentes razões. Gabriel ainda estava olhando os meninos. — Não faz sentido apresentá-lo a eles. Afinal, você não vai representar um papel digno na vida deles, certo? — desafiou-o. — Pelo contrário, pretendo dar prioridade às minhas obrigações como tutor, motivo pelo qual estou aqui. Quem sabe como podem ser afetados pelas circunstâncias da vida? Tinha respondido sem mesmo fitá-la. — Eles sentem falta de Carlo, mas a morte dele não os afetou... 18
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Gabriel virou-se para encará-la. — O dano ao qual me refiro não é causado pela morte do pai, mas pela vida da mãe. Ficou gelada. — Não tem o direito de dizer isso. — Tenho todo o direito. Eles são meus pupilos. É meu dever legal e moral protegê-los. — De mim? Sou a mãe deles! — Fechou os punhos com tanta força que as unhas machucavam-lhe as palmas das mãos. Ele virou lentamente para encará-la, os olhos de águia tão impassíveis quanto pedras. — Você pode ser mãe, mas também é uma mulher que adora o estilo de vida que só um homem muito rico pode proporcionar. Quando esse tipo de homem paga para usar seu corpo, não vai querer ser interrompido pelas necessidades de dois garotos de 9 anos. Aos olhos da maioria das cortes de Justiça, uma mãe dessas seria considerada negligente e não mereceria esse nome. Ela quase podia sentir o veneno nas palavras. — Só porque sua mãe o abandonou... — Não fale dela. Sasha nunca se sentiu mais zangada ou mais amedrontada. — Decidi que para o bem de meus pupilos eles devem permanecer aqui, na ilha que era a casa do pai, até resolver o que é melhor para o futuro deles. — Você não tem esse direito. Sasha estava com medo e lutava para não demonstrá-lo, reconheceu Gabriel. As veias do pescoço latejavam como um pássaro preso lutando para se libertar. Ele quase podia sentir as ondas de pânico e medo passando-lhe pelo corpo. E, certamente, reconhecia o horror nos olhos. — Eles são meus filhos — insistiu. — Meus filhos. — E meus pupilos, de acordo com a lei tradicional da Sardenha. Essa é uma sociedade patriarcal, como bem sabe. Sasha sacudia a cabeça. — Não pode fazer isso. Não vou permitir. — Não pode me impedir. — Ele deu um sorriso frio. — Não tem como contratar um advogado. Não tem dinheiro. Carlo está morto e você precisa encontrar outro homem para sustentá-la. Um que, como Carlo, seja cego e não veja o que você é. Não tente negar — disse, antes que ela pudesse protestar. — Afinal, foi por isso que se 19
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aproximou de mim... e por isso se afastou. Não é mesmo? Ele lançou a pergunta de forma quase casual, mas Sasha não se iludiu. Nada que Gabriel fazia era casual ou sem objetivo. Mesmo sabendo, não conseguiu impedir de trair a agitação quando lhe respondeu: — Foi tudo um erro. — Seu erro — concordou. — Não, não foi... Faz muito tempo. — O que ela estava fazendo? Não precisava dar explicações e sim se proteger contra o desprezo que ele sempre sentira por ela. Gabriel era perigoso: sempre fora, sempre seria, e agora ela tinha as duas melhores razões do mundo para não voltar ao passado como uma mosca atraída pela luz que acabaria por destruí-la. — Nem tanto. Faz pouco mais de dez anos que peguei você na rua, onde seu examante a abandonara. Lembra? Você me contou terem lhe oferecido o papel principal num filme pornô, mas que podia ser a estrela de um filme exclusivo. Suas palavras, não minhas! — Ele se afastou em direção aos filhos dela. — Ninguém muda. — Aonde vai? — perguntou histérica, embora já soubesse a resposta. O sorriso que ele lhe deu a fez morder com força o lábio inferior para se impedir de tremer de medo. — Vou me apresentar a meus pupilos. Por alguns segundos Sasha estava tão enredada nas próprias emoções e no passado trazido à tona que não pôde se mover, mas de alguma forma conseguiu se libertar e correu atrás dele, gritando, impetuosa: — Deixe-os em paz! Não ouse tocar em minhas crianças. Entrar numa nova década tinha lhe acrescentado beleza em vez de tirá-la, admitiu Gabriel, relutante, quando a viu correr em sua direção. Os seios subiam e desciam, por baixo do tecido fino do vestido, devido ao esforço, quando finalmente o alcançou. Olhá-la e sentir a necessidade de agarrá-la o deixou fora de si. Ela sempre tivera seios bonitos — firmes e eroticamente reais, a pele com gosto de mulher, sol e sexo, os mamilos marrom-escuros sempre famintos por seus dedos e por sua língua. Ainda conseguia imaginá-la totalmente nua no deque do iate, a cabeça jogada para trás, a brisa do mar desarrumando-lhe os cabelos, os lábios curvados num sorriso maldoso, um prazer sensual intenso quando se oferecia para ele. Agora, como no passado — embora por motivos diferentes, — ela estava parada bem na sua frente, entre ele e as crianças, e era impossível não encará-la. A maternidade tinha lhe tornado os seios mais fartos, o que lhe caía bem, mas não tinha lhe tirado a cintura fina nem a sensualidade de um corpo feito para o prazer. Um corpo que ele conhecia tão intimamente quanto o dele — talvez ainda mais. Como amante, Sasha era uma incomparável mistura de impetuosa paixão sexual e habilidade 20
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feminina de se entregar completamente ao ato, como se desse cada pedacinho de si para atingirem o prazer mútuo. Mas é claro que não tinha sido o único homem a gozar da sexualidade de Sasha e, certamente, não fora o primeiro a pagar por isso — se não em dinheiro, mas oferecendo as vantagens do estilo de vida de um amante rico. Ela praticamente admitira isso na noite em que a pegou. Fechou a cara carrancudo, irritado com o poder que ela ainda exercia sobre ele, embora o desejo incontrolável por ela, que fazia seu cérebro e seu corpo arderem, já não fosse o mesmo. Ela havia penetrado nele e ainda o perturbava, dez anos depois, mesmo que a excitação selvagem que antes ameaçava consumi-lo tivesse se apagado. Sozinha ou expulsa por ele? E que importância tinha? Ele soubera, desde a primeira vez que a levara para a cama, que a intensidade de seu apetite por ela era algo que não queria para sua vida. Se ajudara a destruí-la, tinha agido sabiamente, movido pela auto-preservação. O que sentia era simplesmente o eco de um sentimento há muito tempo morto. Mas não tão morto, pois as brasas ardiam com o calor do desejo. Já tinha sido ruim o suficiente ela tê-lo abandonado para casar com Carlo. Mas o fato de Carlo ser o orgulhoso pai dos dois filhos dela o atingira dolorosamente, como a ferida cuidadosamente guardada deixada pela infelicidade de sua infância. Para ele — um homem que nunca recebera amor, compaixão nem afeto, — ser convidado a assumir a responsabilidade de proteger a infância dessas crianças era ou um ato de grande ousadia ou de grande confiança. Certamente tinha sido um ato de desespero. Não que Gabriel fosse punir duas vidas inocentes pelos pecados da mãe — não depois de tudo que sofrera. Foi informado da morte de Carlo poucas horas depois de tê-lo visto. Só, sem Sasha ao lado, porque ela estava fazendo compras. Sasha! Ele queria esquecer o passado, mas este se recusava a ser posto de lado. Lembrava-se dela como se aquele dia fosse a noite em que se conheceram. Os cabelos mais compridos do que agora, desgrenhados devido ao calor, as mechas malfeitas. Usava uma saia curta barata e uma camiseta que mais revelava do que escondia os seios, fazendo-a parecer exatamente o que era, parada na estrada em Saint Tropez. Ele nem consideraria parar se ela não tivesse se atirado na frente do carro. Garotas bonitas, disponíveis e famintas como Sasha se encontravam aos montes em Saint Tropez durante o verão, pulando de amante para amante, alpinistas sociais tentando conseguir o troféu máximo: um homem tolo e rico para lhe oferecer mais que uma noite de sexo em troca de uma bolada de euros. Sasha carregava uma cesta grande de palha na qual, segundo disse com um dar de ombros, estavam todos os seus pertences. — Precisei ir embora rápido, então só trouxe o que podia — ele falou, de modo tranqüilizador quando entrou na Ferrari sem ser convidada. Isso fora em maio. Do pouco que contara sobre sua vida, ele deduzira que o homem que a abandonara fazia parte da escória que perambulava pela cidade durante do Festival de Cannes: um "produtor" buscando carne jovem para satisfazer seu apetite e os dos seres humanos nojentos para quem vendia os filmes. Mas Gabriel não 21
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quisera perder tempo ouvindo a conversa quando tinha outros planos para aqueles lábios carnudos. Sasha era prática, como todas as cortesãs bem-sucedidas. Ela rapidamente deduziu que satisfazer apenas um homem traria uma parcela maior de custo/benefício do que se arriscar a passar de mão em mão entre o produtor e seus amigos. É, sem dúvida, ela era muito calculista. Em um ano, tinha feito planos para subir na vida — não apenas para a cama de outro homem, mas para ocupá-la por toda a vida. Como esposa! E esse homem fora o primo em segundo grau dele, Carlo — um homem com idade para ser pai dele, quanto mais dela. Era impensável imaginar que ela deixaria Gabriel. Era ele quem estava no comando, não ela. Ele pagava as contas e ditava as regras. Ela estava à disposição para o que ele exigisse. Mas ela o tinha abandonado, deixando uma dívida pendente com o orgulho dele. Uma dívida que o destino agora lhe dava a oportunidade de cobrar em dobro. Sasha viu o sorriso cruel familiar curvar os cantos da boca de Gabriel. Quantas vezes ele tinha zombado dela com esse sorriso, antes de ceder às suas súplicas e satisfazer o desejo que ele mesmo despertara? Ao encontrar Gabriel, julgava saber tudo sobre sexo e sobre o próprio corpo. A verdade era que não sabia nada sobre prazer e muito menos sobre desejo carnal. Quando Carlo lhe ofereceu um caminho para escapar de Gabriel e da vida que levava antes dele, se convenceu que a única forma de se salvar era agarrar a chance com unhas e dentes, sem nunca olhar para trás. E assim fizera. Embora nunca tivesse conscientemente olhado para trás, voltara várias vezes em sonhos, experimentando uma dor lancinante. Ela estremeceu, piscando. Nos anos que se seguiram após a concepção dos filhos, aprendera a andar empertigada e ter orgulho deles e de si mesma. Nunca negaria o passado, mas acreditava ter aprendido com ele, crescido graças a ele, e quando chegasse a hora e os filhos perguntassem, não mentiria. Por enquanto, entretanto, eram jovens demais para serem expostos a seus erros e por eles castigados. Ela brigaria até a morte, se preciso, para protegê-los e mantêlos a salvo. A única maneira de Gabriel tirá-los dela seria passando por cima de seu cadáver. — Não vou a lugar algum sem meus filhos. — E eles vão ficar aqui. Comigo. — Com você? Na Sardenha? Onde? Você não mora aqui. — Eu não morava, é verdade, mas agora que sou dono do hotel pretendo transformá-lo em minha casa. Os meninos vão morar aqui quando não estiverem na escola, para que possam crescer segundo a cultura do pai, em sua antiga casa. Aparentemente, era um plano sensível e bondoso, mas bondade não era uma 22
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qualidade que passasse pelo radar defensivo de Gabriel. Havia algo que ele estava ocultando. Algum motivo secreto o motivava. Ela olhou para os filhos, o coração palpitando de apreensão. Era fácil ver a herança Calbrini na aparência dos meninos, mesmo sendo eles jovens demais para desenvolverem o perfil predatório da Sardenha, compartilhado tanto por Carlo quanto por Gabriel. Carlo sempre dissera, com orgulho, serem eles verdadeiros Calbrini e tinha prometido a ela... Enfiou as unhas com força nas palmas das mãos. Carlo tinha sido um homem de palavra, tranqüilizou-se. Não quebraria a promessa feita antes do nascimento dos meninos. — Os meninos vão voltar para a escola em Londres em setembro — avisou. — Estamos em julho. Têm o verão inteiro para se divertirem aqui e se acostumarem com meu papel em suas vidas. — Você está planejando passar o verão aqui? — Por que não? Sardenha é meu lar, afinal. Faz sentido ficar aqui para supervisionar a transformação do hotel em casa e conviver com meus pupilos. Ela levantou o queixo. — Você se dá conta de que eu vou ficar com eles? — Pretende ficar para dar umas escapulidas até Port Cervo e encontrar um substituto para Carlo? Outro velho rico para se vender? Ou talvez dessa vez esteja planejando encontrar um jovem rico? Não crie muitas expectativas. Você está envelhecendo e há um bocado de competição. Além do mais, não é qualquer homem que vai querer se incomodar com os filhos de outro homem. Mas, é claro, eu estava esquecendo, esse problema é facilmente resolvido, não é? Basta colocá-los num colégio interno e viver a vida sem eles, como fez quando Carlo estava morrendo. — Você não tem o direito — começou Sasha, mas era tarde demais. Gabriel a ignorou, passando por ela e caminhando determinado na direção dos meninos. Ela começou a correr nas pedras escorregadias, instintivamente querendo se interpor entre ele e os filhos, parando quando escorregou e uma das pedras pontiagudas cortou-lhe a perna. Como se tivessem percebido sua ansiedade, os meninos pararam de brincar e olharam os dois adultos se aproximando. Ambos correram imediatamente para Sasha e ficaram um de cada lado, de um jeito que normalmente a teria feito sorrir por causa de seus instintos masculinos. Os meninos eram idênticos, tanto que mesmo ela, às vezes, quase se enganava quando eles pregavam peças nas pessoas e fingiam trocar de identidade. Havia, entretanto, sutis diferenças entre eles, que só uma mãe poderia notar. Ela estava magnífica, admitiu Gabriel. Uma tigresa guardada pelos filhotes, ignorando o sangue escorrendo-lhe na perna e a tira arrebentada do sapato. Por nada, emoções primitivas, cruas e indesejadas o devastaram. 23
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As hierarquias e os patriarcas da família Sardenha tinham memória longa e a história da ilha estava cheia de relatos de amargura e vingança travados entre famílias rivais, Ele herdara dessas pessoas a crença na regra de "olho por olho", embora nos tempos modernos eles cumprissem o estabelecido pelas leis modernas, mas ele carregava em si essa herança ancestral. Ele tinha acreditado que Sasha era dele, e que assim permaneceria até não ter mais uso. Que ele é quem dominava o relacionamento e, portanto, ela. Essa tinha sido a principal lei não escrita a governar o relacionamento deles. Mas ela havia desrespeitado a lei, e ao fazer isso, ofendera-lhe o orgulho. Nunca poderia perdoar o que a mãe lhe fizera, como tinha escolhido rejeitar a falta que ele sentia dela. Quando se tornou adulto, disse a si mesmo que nunca teria seu poder, ou segurança emocional, desafiado ou ameaçado por nenhuma outra mulher. Nos relacionamentos com as mulheres, era sempre ele a romper. Tinha planejado pôr fim ao relacionamento com Sasha. Mas ela havia ido embora antes que ele o fizesse. E pior, nos braços de outro homem. Seu primo! Ah, Sasha devia pagar — e ele pretendia saborear o doce gosto da vingança.
CAPITULO QUATRO Sasha não ia ser separada dos filhos nem por um minuto — mesmo que isso significasse ter que conviver com Gabriel. Por sorte, seria por pouco tempo. Nem mesmo Gabriel poderia retardar o início do novo ano letivo. O que a lembrou... Olhou para os anéis nos dedos. Graças à sua aplicação e determinação, agora tinha um curso universitário e um MBA. E graças à generosidade de Carlo, a venda das jóias permitiria que ela comprasse uma casa simples em Londres, próximo da escola dos meninos, pagar as mensalidades e colocar algum dinheiro no banco, para qualquer emergência. — Venha — ordenou Gabriel, autoritário, estendendo a mão para o menino mais próximo. Sasha viu Sam olhá-la em dúvida. Seria tão fácil fazê-los se voltar contra Gabriel, encher as cabecinhas ingênuas com pensamentos de ressentimento e aflição, destilar veneno para que eles temessem e odiassem o homem apontado pelo pai como tutor... Mas, independente do que sentia, não podia fazer isso com eles. Não iria prejudicá-los dessa forma. Eles vinham em primeiro lugar em sua vida e em seu coração. Forçando um sorriso, empurrou Sam e Nico, com delicadeza, na direção de Gabriel. — Seu pai escolheu Gabriel como tutor e isso quer dizer que podemos passar 24
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todo o verão na Sardenha — disse da maneira mais descontraída possível. Era melhor manter tudo simples para eles aceitarem e compreenderem. Ambos adoravam a Sardenha, e por que não deveriam? Esse país era, afinal, parte deles e da história da família. Tinham passado todos os verões ali, desde o nascimento. Foi estranho receber apertos de mão formais dessas duas pequenas miniaturas dos genes da família misturados com os da mãe em vez de abraçá-los, como era hábito na Sardenha. Mas o pai era um homem idoso, criado no estilo antigo e educado na Inglaterra, portanto era natural que suas maneiras refletissem isso. — Como vamos chamar o senhor? — perguntou Sam envergonhado. — Gabriel é primo em segundo grau de seu pai — explicou Sasha, sem querer dar a Gabriel a oportunidade de assumir o controle, mesmo num assunto tão simples. — Então, talvez devam chamá-lo de primo Gabriel. — Primo Gabriel — murmurou Sam. Ele era o mais sério e por vezes o mais irrequieto dos dois, enquanto Nico tinha a tendência a imitar o irmão gêmeo. — Eu gosto — anunciou, sensato. — Ótimo. Fico contente — disse Gabriel, cordial, assumindo as rédeas da conversa. — Eu costumava chamar seu pai de primo Carlo quando o conheci. Ah, muito esperto, reconheceu Sasha, quando viu como os filhos começavam a relaxar e chegar mais perto dele. De homem para homem, os meninos voltaram-se por instinto para essa nova figura em suas vidas. Carlo os amara profundamente, mas quando ficou doente não conseguia conviver com duas crianças cheias de energia por mais que alguns minutos. Então, ela havia se colocado como pára-raios entre os filhos e o marido, desejando proteger ambos da dor emocional por parte dos filhos e física por parte do marido frágil. — Podemos pescar hoje à tarde? — perguntou Nico ansioso. Pescar era uma nova paixão e quase todos os dias os três passavam um tempo sentados nas pedras, esperando os peixes morderem a isca que Sasha lhes ensinara a colocar no anzol. Mas Gabriel respondeu antes dela, calmo: — Há alguns assuntos a discutir com a mãe de vocês, então precisamos voltar para o hotel. Mas talvez essa tarde eu possa mostrar o melhor lugar para pescar. Ele estava seduzindo os filhos com a mesma facilidade com que a seduzira, reconheceu Sasha, enquanto os gêmeos pulavam de alegria ao lado dele, esquecendo-se dela quando voltaram para o hotel. — Você sabe jogar futebol? — ouviu Nico perguntar, encabulado, a Gabriel. Imediatamente Gabriel parou de andar e olhou o rosto sério voltado para o seu. — Peixes nadam? — provocou, acrescentando com um sacudir de ombros: — Sou 25
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italiano, não sou? — Sam torce pelo Chelsea, mas meu time é o A. C. Milão — disse Nico. — Eu torço pelo Chelsea porque somos metade ingleses — informou Sam, sério. — Qual o problema? Seus filhos estavam tão envolvidos na conversa sobre futebol com Gabriel que parecia que ela não estava ali, pensou magoada. — Você precisa limpar essa perna. — Eles tinham chegado ao hotel e a ordem sucinta de Gabriel fez com que Sasha comprimisse os lábios. — Ah, por favor. — A voz destilava sarcasmo. — Não tente fingir estar preocupado. Gestos bondosos não combinam com você, Gabriel. Além disso, ambos sabemos que você não tem compaixão pelo sexo feminino em geral, e por mim em particular. Virou-se para olhar os filhos que vinham correndo atrás deles, mas não os tinham alcançado. — Meninos, entrem e vão se lavar, por favor. Depois, para a cozinha, almoçar. Sasha acreditava em criar os filhos com amor, mas com rigidez. Ela valorizava a importância de boas maneiras, mas isso, em sua opinião, era uma pista de mão dupla. Se esperava bom comportamento dos filhos, e que compreendessem a importância das boas maneiras, também mereciam ser tratados da mesma forma. Até agora — com o respaldo, felizmente, da escola, — eles estavam desenvolvendo um satisfatório uso de "Por favor" e "Obrigado", automaticamente acompanhado pelo comportamento natural de meninos e ocasionais esquecimentos. — Que belo exemplo de mãe zelosa! — disse Gabriel, logo que os meninos subiram e não podiam ouvi-los. — Você é bem esperta em não gastar todo o tempo cuidando desses dois. Carlo jamais teria concordado com isso, como ambos sabemos, mas você, obviamente, deixou claro que não queria muita responsabilidade com os cuidados diários. — Só porque eles lhe fizeram algumas perguntas sobre futebol não me torna uma mãe relapsa ou desinteressada — disse Sasha debochada. — Não me referia a isso e sim ao fato de que você os está mandando para a cozinha comer enquanto, sem dúvida, vai almoçar em algum lugar mais elegante, sem a presença deles. Se pudesse seguir seus próprios instintos, provavelmente também se encontraria com um amante, possivelmente o mesmo com quem foi vista jantando em Nova York. Sasha o fitou furiosa. Estava excessivamente zangada para cogitar em responder. Não lhe devia satisfações. Não devia nada. E não ia dar legitimidade a suas acusações tentando se defender. Por que o faria? — E uma pena que essa sua visão distorcida da realidade não lhe traga 26
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benefícios, Gabriel. Para sua informação, a pessoa que pagou para me espionar não mereceu o salário. Se tivessem feito o trabalho corretamente, saberiam que o único homem com quem estive em Nova York foi o oncologista que fui consultar. Está vendo, diferente de você, não quis ficar sentada esperando Carlo morrer quando havia uma remota chance de alguma droga ou tratamento que lhe desse alguma sobrevida — disse a ele com desdém, antes de girar nos calcanhares e seguir os filhos. Ele não a deixou ir longe, os dedos algemando-lhe o pulso e girando-a para encará-lo antes de ter subido mais de dois degraus. — Muito convincente, se eu não conhecesse você tão bem. Por acaso lhe ocorreu que Carlo podia estar preparado para morrer? Que preferia morrer em paz na própria cama e não ter a vida prolongada alguns meses, dias ou semanas, para que você pudesse continuar a tirar vantagem dele? Enquanto estava vivo, ele era seu passaporte para a vida que sempre quis, a vida pela qual vendeu seu corpo. Ele estava enfeitiçado por você e você sabia, tanto que me implorou para lhe emprestar mais dinheiro, não importa a que taxa de juros, apenas para poder satisfazer sua ambição. — Isso não é verdade! O rosto dela estava branco como o mármore do hall e da escadaria. Os olhos estavam cheios de lágrimas, que lhe turvaram a visão, distorcendo as feições de Gabriel. — Foi por orgulho que pediu dinheiro emprestado, não por mim. Eu nem tinha conhecimento do que ele estava fazendo. — Mentirosa. Ele ainda segurava o pulso dela, e quando ela o olhou, lembrou-se de outra época, de outra escadaria de mármore, na qual havia ficado parada e olhado para o rosto dele — rido, na verdade, com prazer e provocação. As escadas eram de um ateliê exclusivo, onde ele a levara para experimentar o vestido que ela exibia para ele, camadas de seda preta que se colavam à sua pele quando andava. Ela havia se recostado nele, lembrava-se, sem se importar que a seda estivesse escorregando. Na verdade, adorando o fato de que o olhar dele acariciasse seu corpo seminu e que a mão dele segurasse seu seio desnudo. Na época, ainda acreditava que ele mentia ao dizer que amor e emoção não tinham lugar em sua vida. Estava tão perdidamente apaixonada por ele que acreditava que a força de seu amor o faria corresponder. Antigamente. Mas era outro tempo. Separada do passado por um oceano de lágrimas derramadas e pelo muro protetor erguido. Esse muro era impenetrável; reforçado pela amarga realidade, a força de sua raiva e das lágrimas. — Odeio tanto você — disse, a emoção escurecendo-lhe os olhos. Podia sentir a respiração arfante de Gabriel contra sua pele quando foi tomado de raiva e a puxou contra ele. Ela estava de pé, sem jeito, na escada, no meio de um degrau, e o movimento a 27
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fez perder o equilíbrio e apoiar-se nele. — Isso é o que você diz. Mas aposto que ainda iria para a cama comigo, dependendo do preço. A dor foi instantânea e brutal, fazendo-a recuar e tentar escapar, as narinas dilatadas e os músculos da garganta contraídos. — Foi você quem me ensinou a separar as emoções, tratar sexo como uma atividade física sem ligação com qualquer sentimento emocional. Então, ouso dizer que se quisesse fazer sexo com você teria que deixar de lado o desprezo que lhe dedico para conseguir ir para a cama — concordou incisiva. — Mas não quero, nem preciso usar meu corpo como moeda de troca. — Por quê? Encontrou outro homem para substituir Carlo antes que o corpo dele esfriasse? Que dor cortante, dilacerante, era essa? Ele não a queria, tinha cessado de desejá-la quando ela começou a pedir, sem sucesso, um papel permanente na vida dele. Ele se lembrava da voz macia, com uma falsa emoção, repetindo: — Eu amo você Gabriel e você sabe que me ama, embora recuse dizer. — Você está enganada — respondera, e estava sendo sincero. — Não amo ninguém. A capacidade e o desejo de amar foram expulsos de mim por meus pais adotivos. Os mesmos pais adotivos que passaram a dizer que me amavam quando eu fiquei rico. Você diz me amar, mas o que realmente quer é que eu a mantenha permanentemente em minha vida porque sou rico e você é pobre. O que você ama é o que lhe dou. nela.
— Não é verdade — protestara. Mas, é claro, ele sabia que não devia acreditar Ele a olhava agora quando ela dizia, orgulhosa:
— Não. Ao contrário de você, eu me desvencilhei do passado. — Levantou a cabeça com altivez. — Sou formada e tenho um MBA. Tenho qualificações para conseguir um trabalho e um salário para manter a mim e meus filhos. — Só rezava para que isso fosse verdade. Gabriel teve que lutar contra o sentimento que se apoderava dele. Por que estava tão zangado e ressentido com o pensamento dela trabalhar para se sustentar e ser independente dele? — Você não pode me enganar com sua suposta dedicação maternal — retaliou. — Se fosse a mãe que pretende ser, Carlo acharia necessário me designar como tutor dos filhos? É óbvio que no final ele reconheceu exatamente o que você é e quis proteger os meninos. Sasha levantou a mão sem raciocinar, mas ele reagiu rápido, segurando-lhe o braço. Antes que ela pudesse adivinhar o que ele planejava fazer, ele a puxou para os 28
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braços e a beijou, como se a punisse. A pressão da boca na sua feriu-lhe a suavidade dos lábios quando lutou contra a dominação. Mas foi a mordida que lhe deu no lábio inferior que a fez sentir o gosto de sangue na língua. Ele a empurrou com tanta força que ela quase caiu, os olhos cruéis como os de um assassino enquanto passava as costas da mão no lábio cortado. — Vagabunda! — disse brutalmente, virando-se e descendo as escadas, deixando-a de pé olhando-o, numa mistura de gelo e fogo, medo e vontade, ódio e... E o quê? O contrário de ódio era amor, e ela não o amava. Cobriu os olhos com as costas das mãos, chocada ao ver que voltavam encharcadas de lágrimas. Parte do charme do hotel era ser ainda, de várias maneiras, uma casa particular, admitiu Sasha no quarto da suíte do último andar que Carlo insistira em manter separada do hotel e não ser ocupada por mais ninguém. No andar de baixo, havia outra suíte espaçosa e três menores. Os outros quartos do hotel ficavam onde originalmente era o estábulo da casa. As salas de recepção eram decoradas e mobiliadas como quartos de uma casa particular. Nos fundos da casa, construíram uma sala de jantar e um terraço no qual ficava a piscina. Seria muito fácil para um homem com a fortuna de Gabriel transformá-lo novamente em uma casa particular. E, certamente, seria bem mais confortável do que a semifortaleza nas montanhas, antiga residência do avô. Ela e Carlo ocuparam quartos separados durante todo o casamento. O dela dava para o mar e era decorado em cores muito suaves: azul e verde-água, e tecidos naturais. Precisava falar com Maria sobre o almoço. Pegou o telefone. Completada a ligação, despiu o vestido de linho e foi para o banheiro limpar o corte na perna. O tempo que passara com os meninos ao ar livre começava a lhe dar um tom bronzeado, substituindo a palidez adquirida pelas infindáveis horas à beira do leito de Carlo. Mal olhou para o espelho. A cabeça começara a doer em conseqüência da tensão e pressão da manhã. Por que, por que Carlo tinha feito aquilo? Ele devia saber o que lhe causaria. Sempre prometera que nunca iria... Mas é claro que ela sabia o motivo de ele ter agido daquela maneira. Fora o jeito encontrado para garantir o futuro de Sam e Nico. E quanto a ela? Ele realmente achara que ela se submeteria a ser sustentada por Gabriel? Acreditara que Gabriel o faria? Vai saber os pensamentos que passavam pela cabeça de um homem à beira da morte. Automaticamente, limpou o pequeno corte, mas a cabeça estava em outro lugar. O vestido estava com uma leve mancha de sangue seco. Foi até o quarto de vestir e pegou uma calça jeans e uma camiseta no closet. Adoraria tomar um banho, mas os meninos deviam estar famintos. 29
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Lá embaixo, na cozinha, os meninos e Maria, que cozinhava para eles durante a estada no hotel, estavam reunidos em volta de uma mesa grande, arrumada e limpa. — Olha, mamãe, Maria vai fazer um bolo com esses ovos de Flossie e Bessi — anunciou Sam orgulhoso. Flossie e Bessie eram as galinhas dos meninos — outro fundamento da determinação de Sasha de criar os filhos de uma maneira prática. Esse fundamento em especial envolvia participação ativa em terem consciência do que era uma boa alimentação, de onde vinha e como devia ser cozida. — Vamos fazer brownies de chocolate depois do almoço. — Boa idéia — anunciou uma voz masculina inesperada e, no que lhe dizia respeito, indesejada. Involuntariamente, o olhar voou para sua boca. O lábio parara de sangrar, mas estava inchado. — Brownies de chocolate? Uma de minhas sobremesas favoritas. O que estava acontecendo com ela? Por que não conseguia parar de olhar para a boca de Gabriel? Se não parasse, ele notaria, e aí... Será que Maria e os meninos podiam sentir sua tensão, a antipatia e a desconfiança com que ela e Gabriel enchiam o aposento? Ficou surpresa por reagir à presença dele desse jeito. Já tinha 28 anos, ora bolas, não 17, e não era tão vulnerável a ponto de estar totalmente subjugada à sexualidade dele e à sua própria imaturidade. Mas o fogo interno estava presente. Podia ser disfarçado, mas não podia escondê-lo de si mesma. Raiva, rejeição, pânico, correram-lhe pelas veias como as lavas de um vulcão. Por que isso estava acontecendo? Tinha vivido dez anos sem ele. Anos durante os quais vivera feliz e segura. Anos nos quais celebrara em segredo a libertação das emoções e desejos destrutivos que a ligaram a ele — sentimentos que não pudera controlar, mas ele sim, usando-os para mantê-la escravizada. Não havia nada que não fizesse para agradá-lo, nenhum prazer mais intenso do que o prazer de agradá-lo. Mas esse anseio agora era uma lembrança indesejada, de que assim como ele sabia como excitá-la, também sabia como satisfazê-la. O sexo entre eles tinha sido desarvorado e quase compulsivo. Como um homem podia ter o poder de afetá-la assim? Não era possível. Tentou se concentrar na mesa. Uma alimentação saudável proporcionava uma boa digestão, e isso requeria contentamento. Seu apetite já traía seu estado de ansiedade diante da presença de Gabriel. O que ele estava fazendo na cozinha? Ela já havia ligado para Maria para alertála que teriam um convidado inesperado para o almoço e ela respondera que Gabriel já tinha ido à cozinha se apresentar e explicar que ficaria no hotel. O hotel estava oficialmente fechado desde antes da morte de Carlo, depois da descoberta do quão próximo estava da falência. O chef renomado, assim como o imponente maitre e a elegante recepcionista encontraram um emprego mais seguro. 30
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Apenas uns poucos membros da equipe, incluindo Maria e alguns membros de sua família, permaneceram no hotel. Sasha dirigiu-se a Maria no dialeto local para perguntar se Gabriel tinha pedido almoço. Gabriel, fluente em várias línguas, sempre falara com ela em inglês, como fizera na praia. Fazia o mesmo agora. — Maria se ofereceu para servir meu almoço no terraço, mas quando descobri que ela estava sozinha na cozinha, dispensei-a da obrigação. Afinal ela não é mais jovem e o terraço fica a uma boa distância. Sasha percebeu a desaprovação na voz e soube, de imediato, ser dirigida a ela. — Na verdade, eu é quem vou lhe servir o almoço, não Maria — corrigiu-o. Não ia dizer que ela prepararia o almoço dele, não porque Maria fosse incapaz de fazê-lo, mas porque, ao contrário do que Gabriel parecia pensar, ela não precisava que ele lhe dissesse que o reumatismo da senhora idosa tornava difícil e desconfortável para ela assumir muitas tarefas. Maria, o marido e a enorme família dependiam do hotel não apenas por causa do salário, mas também pelo teto, e Sasha já estava usando suas parcas economias para garantir que eles não sofressem qualquer privação. Não que ela pretendesse contar alguma coisa a Gabriel. No momento, o que mais queria era tê-lo fora de sua vida ou, pelo menos, fora da cozinha. Incapaz de se arriscar a olhar diretamente para ele, disse, dispensando-o: — Tenho certeza que você pode voltar para o terraço. — Onde você vai comer? Um frio no estômago, misto de rejeição e excitação, a deixou rígida. Ele não ia sugerir que ela almoçasse com ele, numa reprise da noite em que se encontraram, ia? Era como ser agarrada e jogada das alturas num caldeirão de emoções aterrorizantes, poderosas. Emoções pertencentes ao passado, sem lugar ali, tentou se convencer. — Mamãe sempre come aqui na cozinha conosco — respondeu Sam, a voz infantil como um lembrete de realidade e sanidade. — Como sabe, o hotel está fechado. É claro que ele sabia. Sabia tudo que era preciso sobre a atual situação do negócio porque era o dono agora. Ela continuava não se arriscando a olhá-lo. Ele, é claro, estava acostumado ao melhor e a um chef à disposição 24 horas por dia. — Os meninos e eu fazemos refeições simples. Talvez fosse melhor você ir a Port Cervo. Há um monte de restaurantes lá. — O que vocês vão comer? — perguntou Gabriel aos meninos, ignorando-a. — Peixe — Sam respondeu, acrescentando entusiasmado: — Nós mesmos escolhemos no mercado hoje de manhã. Mamãe odeia quando eles ainda estão se 31
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debatendo, mas é assim que a gente sabe que eles são frescos. Pietro disse — informou com ar importante. — Algumas vezes ele deixa a gente ir no barco dele e ver os peixes na rede. Podemos perguntar a ele se você também pode ir, se quiser — acrescentou, generoso. Ouvir e ver os filhos encheu Sasha de orgulho e amor. Lágrimas brotaram-lhe dos olhos, mas as enxugou. Meninos não gostavam de demonstrações sentimentais. — Você acha que tem peixe suficiente para mim? — perguntou a Sam, tratandoo como igual e não como criança, o que, é claro, devia agradar aos meninos e fazer com que aceitassem Gabriel de imediato. E ele também sabia. Ela podia ver pelo olhar de triunfo que lhe lançava por cima das cabeças dos meninos. — Se você prefere carne a peixe, temos carneiro. Só vai demorar um pouquinho mais para cozinhar — disse, fria, deliberadamente sem encará-lo. — Eu recomendo: é preparado como kebab com pimentas plantadas aqui, cebolas, cogumelos e arroz selvagem. É uma receita local... — Cresci aqui, como sabe — cortou-a Gabriel — Também quero o peixe. — Mamãe está nos ensinando como fatiá-los — disse Nico, sério. — Você está planejando transformá-los em chefs de cozinha? — perguntou Gabriel baixo, numa voz levemente grosseira. — Não. Estou ensinando meus filhos a serem independentes e terem conhecimento do meio ambiente e do prazer das coisas simples e boas que a vida nos oferece — corrigiu-o. — Meus filhos... — E meus pupilos — a interrompeu, gentil. Sasha sentiu um frio percorrer-lhe a espinha. Seu relacionamento com os filhos não era o que esperava, admitiu Gabriel. Ela não era o que ele esperava. Ele tinha imaginado uma falsa preocupação maternal excessiva só para exibição, como estava acostumado a ver nas mulheres dos amigos. Mulheres cujos filhos eram acessórios para fotos de celebridade, mas cujo cuidado diário era responsabilidade de outros no minuto em que as câmeras desapareciam. Mas, não importa o quanto quisesse, não podia fingir que não via amor nos olhos de Sasha sempre que olhava os gêmeos. Sabia — é claro! — que a descoberta de estar sem um tostão tinha reduzido Sasha a viver sem os luxos a que estava acostumada, mas presumira que, embora seu estilo de vida tivesse sofrido alterações, ela continuava a agir como se ainda tivesse dinheiro. A mulher que olhava agora, entretanto, parecia perfeitamente à vontade nessa cozinha e no papel de mãe que põe a mão na massa. Ele observou o ambiente acolhedor, os sorrisos confiantes nos rostos dos dois meninos que eram agora sua responsabilidade. Ele raramente tinha autorização para entrar na cozinha da fazenda dos pais adotivos. Não possuía o calor e a limpeza, a segurança que podia ver e sentir naquele aposento. Como ele, era sujo e largado, maculado com a miséria, a pobreza emocional e o medo. Por que aqui neste aposento 32
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havia amor? Amor? Automaticamente, levantou a mão para apertar os dedos contra a dor no tórax. Ele não acreditava em amor. Amor não existia. E se não existia, então o fato de que quando criança não o tivesse recebido não importava e não podia ferí-lo. Esse era seu mantra secreto. No final todos comeram peixe juntos na mesa da cozinha. Não que Sasha conseguisse comer direito. Embora tivesse se sentado num lugar em que não visse Gabriel, ainda estava consciente da presença dele. Se ele insistira em comer com eles apenas para atormentá-la, alcançara êxito. Ainda podia se lembrar da primeira refeição feita juntos. Tinha sido a bordo do iate, onde a levara depois de tê-la encontrado era Saint Tropez. Na época, não tivera problema em comer. Não fazia uma refeição decente havia dias, e estava faminta. Ele tinha levantado ligeiramente as sobrancelhas quando ela limpou o prato em segundos, olhando do prato para o rosto dela e depois para o corpo. Ela achava que tinha sido esperta. Ela o tinha espiado a semana toda, fantasiando, alimentando sonhos idiotas que consistiam na história implausível de Cinderela e final feliz, como só uma jovem de 17 anos, desesperadamente carente de amor, poderia alimentar. Ela o havia visto na praia e, ingênua, imaginara ser empregado de um dos enormes iates ancorados no cais. Como ele andava de jeans e camiseta, não lhe ocorrera que ele podia ser dono de um deles. Ele era o tipo de homem com quem uma garota como ela sonhava: alto, moreno e incrivelmente bonito, o tipo de homem que tinha tudo para deixar uma garota com a cabeça nas nuvens, e fazê-la segui-lo. A verdade é que havia fantasiado estar apaixonada por ele antes mesmo de conhecê-lo. E ela estava muito desesperada por amor. A mãe morrera no parto e o pai tinha sido aconselhado a dá-la para adoção. Tinha 4 anos quando ele voltou a se casar, e embora ele e a nova esposa tivessem tentado acomodá-la em suas vidas, sua imensa necessidade de amor a levara a enfrentar problemas — principalmente quando a madrasta ficou grávida. Foi mandada para um abrigo, lá permanecendo até completar 16 anos, ansiando por amor, mas consciente de não ter como se encaixar em uma família normal. O serviço social a ajudou a encontrar um emprego e acomodação. Os gentis donos da loja onde trabalhava ficaram constrangidos quando ela tentou fazer parte da família, querendo desesperadamente que eles ocupassem o lugar do pai e da mãe que nunca tivera. Foi enviada para um psicólogo e repreendida por sua "inapropriada tentativa de criar vínculos", mas de que adiantava acompanhamento psicológico quando tudo que queria era ser amada? As assistentes sociais encontraram um outro emprego para ela, dessa vez num supermercado, e quando ela e mais outras seis garotas ganharam um dinheiro na loteria decidiram tirar umas férias em Saint Tropez. 33
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Uma dessas garotas, atraente e com 20 anos, fizera contato com o cafajeste "diretor de cinema" que sugerira usar as garotas em um dos filmes, alegando estar em Cannes para o Festival de Cinema. Isso gerou uma discussão acirrada entre as garotas que não queriam se envolver com o que chamavam de "mercado pornô nojento" e as outras, que queriam fama a qualquer preço. Sasha foi pressionada por Doreen, a loura turbinada, para compartilhar com ela a fama de estrela pornô. Enquanto as garotas discutiam entre si, Sasha estava ocupada sonhando com Gabriel, imaginando uma vida de contos de fadas para os dois na qual ele ficaria de quatro por ela e viveriam felizes para sempre. Embora, é claro, ainda nem soubesse o nome dele. Agora sabia que as fantasias que ela mesma criara, primeiro, fazer parte de uma família bem estruturada com pais amorosos e, depois, o desejo de Gabriel se apaixonar por ela, tinham sido o jeito de dar a si mesma o amor que não recebera quando criança. Sonhando acordada, podia criar o mundo pelo qual sempre ansiara. Mas, na realidade, isso era impossível. Nenhum relacionamento real podia suportar o peso de suas expectativas. Na noite anterior à viagem de volta para a Inglaterra, Sasha viu a chance de despertar a atenção de Gabriel. Que instinto autodestrutivo a levara a se encantar com um homem tão fraco emocionalmente quanto ela? O relacionamento deles estava fadado ao fracasso — se é que se podia usar a palavra "relacionamento" para descrever o que havia entre eles. Tinha sido um vício perigoso, uma compulsão sexual aliada a uma igualmente perigosa dependência emocional da parte dela e uma rejeição absoluta de intimidade emocional por parte de Gabriel. Se tivesse, deliberadamente, pretendido isso, não podia ter encontrado alguém menos capaz de atender a suas expectativas. Uma pessoa mais esperta teria percebido. Mas tudo que vira fora a fantasia que criara. Naquela primeira noite, realmente acreditara que o elemento mais desafiador para conseguir realizar seu sonho tinha sido a coragem de se jogar na frente do carro dele com uma estudada imprudência, imitando as garotas mais experientes. Miraculosamente, funcionou. Planejara entrar no carro e dali seguir para a cama dele. Mas o que não sabia é que não teria acesso ao coração dele... Os meninos tinham terminado o almoço e estavam loucos para sair, trazendo Sasha de volta ao presente. Hoje deve ter sido o pior e mais longo dia de minha vida, refletiu Sasha cansada, várias horas depois. Os meninos estavam na cama, mas, exausta física e mentalmente, Sasha se sentia muito agitada para dormir. Precisava dormir. Os meninos sempre acordavam cedo. 34
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Gabriel tinha ido para a suíte escolhida horas atrás, dizendo precisar trabalhar e se despedindo dos meninos. Ficou boquiaberta por ele poder identificá-los — nem Carlo era capaz disso. Gabriel Ainda se recusava a acreditar no que estava acontecendo. Ele estava ali, admitiu a caminho do banheiro para a cama. Gabriel acordou no escuro do quarto estranho tão desorientado entre o passado e o presente que antes que pudesse se impedir esticava a mão, esperando encontrar Sasha, a mão já preparada para segurar-lhe o seio quente e macio e esfregar a ponta do dedo no mamilo numa carícia que ela lhe dissera tantas vezes ser incapaz de resistir. Ele nunca conhecera uma mulher tão sensível a seu toque, que reagisse de forma tão incontrolável e imediata. Mas ele também não se lembrava de jamais ter se sentido tão cheio de energia. Havia vezes em que o desejo por ela o levara a analisar a possibilidade de dispensar a tripulação do iate e ele mesmo pilotá-lo só para poder possuí-la quando e onde quisesse. A princípio, ela havia hesitado quando ele sugeriu que ela usasse uma de suas camisas por cima de uma roupa de banho sensual que comprara para ela em vez de usar a saída de praia. Mas quando ele lhe disse, explicitamente, que a queria nua e pronta para ele por baixo daquela camisa, o olhar tinha sido de pura excitação, não de recusa. Gabriel não era o tipo de se excitar com outros presenciando sua intimidade — pelo contrário, — mas precisava saber que ela estava ali e que podia se servir da doçura de todos os frutos sem obstáculo. Diferente de sua juventude, quando as necessidades básicas da vida lhe eram negadas. Adorava saber que bastava enfiar a mão por baixo da camisa e subi-la pela coxa para que ela ficasse ruborizada. Muito antes de os dedos separarem os lábios de seu sexo ela já se debruçava sobre ele, os olhos fechados, o corpo tremendo violentamente. Houve vezes em que lhe dava mais satisfação vê-la atingir o orgasmo com o toque de seus dedos e saber que ela era escrava do desejo que sentia por ele do que sentir o próprio corpo alcançando o clímax dentro dela. Algumas vezes. Mas a própria carne não conseguia se conter sem sentir os músculos firmes quando ele a penetrava, quando se acariciavam e ela o impelia mais fundo, tão fundo que, às vezes, o ato de possuí-la dava a sensação de que ela fazia parte dele. Gabriel franziu a testa: a maciez da carne de Sasha não estava ao alcance das mãos. Debaixo da mão a cama era fria e vazia. De repente, estava desperto e ainda mais consciente. Maldisse a si mesmo e o rosto ficou vermelho de uma irada determinação. O orgulho não ficaria satisfeito até levar Sasha a implorar-lhe que a possuísse, quando nada mais importasse exceto ser possuída, quando seria ele quem a abandonaria. Há anos não acordava de noite. Só podia ser porque seu subconsciente sentia que ele estava próximo de punir Sasha pelo que ela lhe fizera. Só isso. Nada mais. Como podia haver algo mais? 35
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Ele foi para o meio da cama e, decidido, fechou os olhos. Só quando seu orgulho fosse satisfeito seria capaz de encarregar-se da responsabilidade perante os filhos de Carlo e protegê-los do mal que ter Sasha como mãe poderia lhes causar.
CAPITULO CINCO Um caminho conduzia da casa até a praia. Parou no alto e viu Sasha e os filhos caminhando à beira d'água. Eles ainda não o tinham visto, dando-lhe a oportunidade de analisá-los. O sol matinal aquecia a areia e brilhava no mar. De vez em quando Sasha ou um dos meninos parava e pegava uma concha ou um seixo. Sasha parecia uma menina, não uma mulher, de camiseta com um binóculo pendurado no pescoço, bermuda jeans e rabo-de-cavalo. Podia ouvir o som da conversa, mas não as palavras. Ocasionalmente, risadas indicavam estarem se divertindo. Sasha olhou o mar e disse algo aos meninos, levando o binóculo aos olhos e depois se agachando ao lado deles. Nico — de alguma maneira Gabriel sabia quem era, sem poder explicar como e por que, recostado nela, com o braço em volta de seu pescoço e a cabeça nos ombros enquanto Sam estava parado do outro lado. Ela estendeu os binóculos para Sam e depois para Nico. Gabriel protegeu os olhos com a mão e olhou o mar. A distância, pôde vislumbrar um pequeno grupo de golfinhos. Sasha sempre se sentira atraída por esses animais. Nico devolveu a Sasha os binóculos. Ela lhe deu um beijo no topo da cabeça, um braço envolvendo Sam, o outro, Nico. Sentiu uma cólica, uma dor familiar que de repente transformou-se num espasmo dolorido. Quando criança, nunca sentira o carinho de um abraço maternal, mesmo que não fosse da mãe. Pontapés e xingamentos, sim, e depois o desprezo do avô que o tolerava por não ter escolha. Na praia, Sasha deu um último abraço nos filhos e os soltou. Essas caminhadas matinais faziam parte do ritual de férias, hoje ainda mais agradável, graças a terem avistado os golfinhos. Estava se levantando quando Sam gritou, excitado: — Olha o primo Gabriel! — e correu pela areia, seguido por Nico. Sam chegou primeiro, saltando em cima dele. Não havia motivos para preocupação: os filhos não faziam objeção à presença de Gabriel em suas vidas. Nico também estava agarrando Gabriel, os rostos levantados enquanto falavam sem parar, contando sobre a caminhada e a excitação de terem visto os golfinhos.
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— Vou escrever no meu livro da vida que vi os golfinhos — anunciou Nico. — Eu também — repetiu Sam. — Vocês podiam primeiro fazer pesquisas sobre eles — sugeriu Sasha. — Talvez eu encontre algumas fotos na Internet para vocês colarem nos livros da vida. — Eu já escrevi no meu que Gabriel vai ser nosso tutor — disse Nico a Sasha. — Talvez eu coloque uma foto dele no meu diário também. — O que é um livro da vida? — perguntou Gabriel. — É uma espécie de diário — respondeu Sasha com frieza. — Eles mantém um desde que aprenderam a escrever. Anotam as boas lembranças... — E quando ficamos tristes também, como quando papai morreu — disse Sam. — Vamos apostar uma corrida, Nico? Aparentemente, Sasha era tudo que uma boa mãe devia ser, reconheceu Gabriel. Envolvida com os filhos, preocupada, protetora, mas ao mesmo tempo encorajando-os à independência. Aparentemente. Mas a verdade é que era uma boa atriz, representando seu papel tão bem que dava a impressão de ser real. Ele sabia. Com a partida dos meninos, Sasha manteve distância de Gabriel. O corpo inteiro estava tenso, como se a respiração estivesse constantemente presa e os músculos contraídos. Mal tinha dormido nas últimas três noites, desde a chegada de Gabriel, e sabia que o sistema nervoso estava afetado pelo medo. Os gêmeos tinham corrido, loucos pelo café-da-manhã. Automaticamente, Sasha acelerou o passo, para que pudesse alcançá-los, deliberadamente mantendo o olhar focado nos meninos quando passou por Gabriel. — Está perdendo seu tempo, sabia? Não pode me enganar. Conheço você bem demais. Sei o que a motiva, o que a excita. A afirmação em voz baixa só podia ser ouvida por ela. O coração começou a palpitar em ritmo irregular, pesado. Como ele sabia o efeito sexual que lhe causava? Nem mesmo a alegria do passeio na praia com os meninos tivera o poder de apaziguar o palpitar de desejo. Como era possível sentir-se assim? Acreditava, de fato, que depois de enfrentar as longas semanas após deixá-lo, sentindo-se muito mal de saudade tanto física quanto emocional e sendo cuidada por Carlo como se fosse uma inválida, como se tivessem isolado Gabriel de sua vida para sempre. Mas e se estivesse enganada? E se, como uma viciada em drogas ou álcool, não pudesse nunca se libertar do vício? Estava livre disso, disse a si mesma. Tinha aprendido a diferença entre a natureza destrutiva de uma ligação física e emocional doentia, como seu relacionamento com Gabriel, e a que constituía um relacionamento saudável. E ela ainda o desejava fisicamente? Não! — Você pode achar que me conhece, Gabriel — retorquiu, tão calma quanto possível. — Mas a menina que conheceu não existe mais. Carlo me deu... 37
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— Carlo lhe deu o quê? — Ela recuou ao ouvir o tom da voz. — Prazer sexual? Ele a fez gemer de prazer ao tocá-la com as mãos velhas, quando a penetrava com a carne murcha, Sasha? Ou você fechava os olhos e pensava no dinheiro e na aliança no dedo? Foi isso que ele lhe deu? Em seguida, os dedos seguraram-lhe a cintura e ele a puxou para perto, uma das mãos imediatamente prendendo-lhe os punhos nas costas enquanto a outra agarrava seus cabelos, segurando-a para que ela não pudesse virar a cabeça e evitar o beijo. Os meninos tinham desaparecido dentro da casa e o som ritmado das ondas misturou-se à batida do próprio sangue correndo nas veias. Foi invadida pelo perfume familiar da pele de Gabriel: a potente masculinidade, a forma como o próprio corpo instantaneamente recebeu a perna dele entre as suas, a sensação dos seios intumescidos quando a língua dele roçou a sua numa dança lenta e erótica que demoliu suas defesas. Seu corpo já antecipando o toque da mão. O desejo a consumindo tinha se tornado avassalador. Uma gaivota cruzou o céu e imediatamente Gabriel soltou-a. — Você pode achar que pode me enganar agindo como uma viúva devotada, mas não pode. Sei que está fingindo. — A respiração de Gabriel era pesada, o peito subindo e descendo enquanto falava. Sasha notou o movimento enquanto lutava por entender o que acabara de ocorrer. Ela estava enjoada. Sentia náusea e uma culpa que a fazia desejar feri-lo, magoá-lo, como ele fizera. Levantou a cabeça e o fitou, os olhos escuros de emoção. — Sabe de uma coisa, Gabriel? — perguntou agitada. — Sinto pena de você. Você se acha muito forte, mas na verdade me causa lástima. Não compreende ser possível uma pessoa mudar porque você não pode mudar. Não compreende ser possível existir amor e respeito num relacionamento porque você nunca vivenciou isso. Tudo que pode fazer é refletir como um espelho a dor de sua infância. Graças a Carlo, aprendi a ser emocionalmente saudável. Foi esse o presente que me deu e o presente mais precioso que tenho a dar a meus filhos. Eu mudei. Não sou mais a garota que conheceu. Mantendo a cabeça elevada, passou por ele e entrou na casa. Gabriel podia sentir a raiva explodindo, a fúria o tomando. Então, Sasha tinha pena dele, não é? Bem, muito em breve ia se dar conta que podia guardar sua preciosa pena para si mesma — porque ia precisar dela. Podia sentir o tumulto das emoções o consumindo. Como ousava? Uma mulher que vivera como ela, acusá-lo de causar lástima? E quanto a ter mudado — era impossível. Mas por algum motivo uma imagem tinha se alojado em sua mente e se recusava a ser apagada: a da maneira como abraçava os filhos quando admiravam os golfinhos. Não importa o que tivesse sido, mas hoje era uma mulher com dois filhos a quem amava com uma intensidade que ele quase podia sentir e ver. Mas se aceitasse estar julgando-a erroneamente, a que isso o levaria? À dor? Ao arrependimento? A admissão de que perdera algo insubstituível, infinitamente 38
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precioso? Isso não podia acontecer. Não importavam as evidências, precisava prosseguir acreditando que Sasha não era confiável, que estava representando. Não podia esquecer que ela se envolvera com outro homem antes dele, com outros homens, dizendo abertamente que preferia o que ele tinha a lhe oferecer. E o havia abandonado pela mesma razão. Ele devia isso a Carlo e aos filhos de Carlo: estar ali no dia em que ela decidisse mudar novamente e trocar o amor por eles por um novo amor. Não importa o que dissesse, não podia confiar nela. Em breve, ela ia começar a procurar outro homem rico e tolo para ocupar o papel de Carlo em sua vida. Podia agir como mãe devotada o quanto quisesse, mas isso não ia alterar o fato de que ela colocara os filhos num colégio interno para atender às suas necessidades, para poder viajar para Nova York. Como podia ser a mãe amorosa que representava com tanto sucesso e ter agido assim? Principalmente quando o pai deles estava morrendo e eles deviam precisar dela mais do que nunca? Não era possível. Duas horas mais tarde, Gabriel afastou-se do computador e olhou pela janela da suíte principal, que usava como escritório. As exigências dos negócios eram tamanhas que não deveria dar espaço para que pensamentos a respeito de Sasha emergissem, mas, de alguma forma, isso aconteceria. Apesar da pretensa raiva e desprezo, ele sentia a resposta inconfundível do corpo. Será que tivera amantes durante o casamento? Essa sensação, com certeza, não era de dor. Era simplesmente raiva. Quando Sasha o abandonara, ele se recusava a pensar nela ou no que ela podia estar fazendo, mas agora, morando sob o mesmo teto, privando de sua presença física, isso não era possível. A presença enchia a casa, e mesmo quando não estava visível, podia senti-la por perto. Voltou a atenção para o computador. Vários e-mails tinham chego, incluindo um de seu advogado em Florença, instruído para achar um professor capaz de avaliar os pontos fracos e fortes dos meninos para que ele pudesse tomar uma decisão quanto ao futuro deles. Certamente, não ia permitir a Sasha enviá-los para um internato. E um outro, de um arquiteto, capaz de transformar o hotel em residência. Ele possuía propriedades espalhadas pelo mundo, mas nem elas nem o iate eram o ambiente adequado para dois garotos de 9 anos. Rapidamente leu os e-mails e instruiu o advogado para mandar os dois homens no topo da lista voarem para a Sardenha para serem entrevistados. Sasha, é óbvio, não aprovaria seus planos. Sem dúvida, ia preferir viver à custa dele no tipo de lugar que mais apreciava: um ambiente com lojas de grife e restaurantes sofisticados. Provavelmente, acreditava estar no controle por ele ter lhe permitido permanecer na Sardenha sendo bancada por sua fortuna, e que ele continuaria a fazê-lo. Mas não havia a menor chance de bancar seu estilo de vida. Mesmo que fosse, sem sombra de dúvida, a melhor cama que ele tivera. A melhor de todas. Tão boa que 39
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nenhuma chegara perto da intensidade da química sexual que compartilharam. Não que ele tivesse originalmente planejado fazer sexo com ela na noite em que a pegou. Mas ela deixara evidente estar disposta. E ao dar uma rápida olhada em seus braços bronzeados verificara que, ao contrário de tantas das garotas que perambulavam em lugares como Saint Tropez, na alta estação, a pele não revelava marcas de agulhadas. E não parecia ter bebido. Então a levara para o iate, observando com cinismo sua surpresa e excitação, exclamando sem fôlego: — Você quer dizer que é seu? Como se não fosse essa a razão pela qual ele tinha sido o alvo. Em geral, Gabriel não saía com garotas como ela: bonitas, vulgares, disponíveis, garotas descartáveis, dispensadas pelos homens que freqüentavam o lugar. As mulheres com quem dormia eram mais velhas e profissionais — mais experientes também. Mas ela pulara no carro e, sem pretender, acabara por convidá-la a embarcar no iate. O sorriso tinha iluminado o rosto dela, que, sem dúvida, ouvira que homens gostavam de mulheres fogosas ou agradecidas, e decidira ser as duas coisas. — Então, o que você está fazendo em Saint Tropez? — perguntou a ela. Não que não soubesse, é claro. — Vim com umas amigas. Mentalmente substituiu a palavra "amigas" por "homens", mas fez uma pergunta inocente: — Não vão se preocupar por não saber onde você está? — Acho que não — respondeu de pronto. — Não são exatamente amigas. São conhecidas. — Como o diretor de cinema? — sugeriu. Percebeu de imediato que ela não ficou à vontade com a pergunta. Brincou com a alça da bolsa e recusou-se a olhá-lo. — Ele agora não tem importância. Agora, por quê? Porque ela achava ter encontrado um negócio melhor? — Mas ele vai querer saber onde você está — insistiu. — Eu disse que não estava interessada. O brilho em seus olhos quando ela levantou a cabeça provou que ela estava interessada nele. Ele se levantou, pronto a chamar um dos membros da tripulação do iate para desembarcá-la. Estava aborrecido em Saint Tropez e já avisara o capitão que partiriam de manhã para a Itália, para a costa amalfitana. Mas, em vez disso, e para sua surpresa, ele se pegou perguntando se ela queria comer alguma coisa. 40
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Ela comeu rápido, esfomeada, mas não quis o champanhe. Quando terminou, ele perguntou se ela queria "se refrescar". Ela franziu a testa, mostrando-se confusa, antes de dizer, sem fôlego: — Ah, você quer dizer que vai para a cama comigo? Ela dissera isso? Sua falta de tato quase o fez mudar de idéia. Estava acostumado com mulheres sofisticadas o suficiente para compreender as regras do jogo. Por outro lado, elas não o teriam olhado como ela, demonstrando encantamento e expectativa. Sem dúvida, pois ela estava pensando no dinheiro que iria ganhar, riu de si mesmo. Na suíte principal do iate, encostado na porta, observou Sasha parada, deslumbrada com o luxo que a rodeava. — Não posso acreditar que isso seja um barco — exclamou. — Não é — ele a corrigiu com indiferença. — Não é um barco, é um iate. E o banheiro é por ali. Quando ela começou a andar para a porta por ele indicada, ainda segurando a pesada cesta de palha, ele disse, impaciente: — Pode deixar a bolsa aqui. — Meu passaporte e meu bilhete de avião estão dentro. — Bem, vão estar seguros aqui. Ela colocou a cesta em uma das cadeiras de espaldar alto de seda; a pobreza da cesta contrastando com o luxo da cadeira. Ele lhe deu alguns minutos antes de segui-la no banheiro. Ela estava no chuveiro, de costas para ele. Era magra, mas de corpo esguio, cintura fina, quadris arredondados, pernas finas e compridas. Ela havia lavado a cabeça, a água fazendo com que seus cabelos ficassem mais escuros, suavizando as mechas louras. Os cabelos caíam-lhe nas costas e o sabonete escorria pelo corpo nu, acariciando a perfeita maciez da pele. E, então, ela se virou e o viu, e o leve desejo que crescia ao olhá-la pela primeira vez tornou-se intenso. Ele mal se lembrava de ter tirado as roupas e entrado no chuveiro com ela, mas se lembrava da pele molhada em suas mãos. Também do que lhe despertara vê-la estremecer de prazer quando ele segurou-lhe os seios e brincou devagar com os mamilos eretos. Ela não tinha se revelado imediatamente, deixando-o sentir e ouvir a crescente excitação de um jeito único, sensual. Primeiro, não a beijara. Raramente beijava as amantes na boca, a não ser que elas pedissem. Ele preferia os estímulos táteis e visuais. Observar as reações no rosto de Sasha, enquanto ele apertava e acariciava seu corpo nu tinha sido excitante. Não apenas o rosto, mas o corpo inteiro revelava como ela se entregava. Primeiro, ele se perguntou se ela estaria fingindo, mas sabia que os tremores não podiam ser falsos. 41
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Mas o que finalmente abalara seu controle tinha sido o jeito com ela estremecera, quando ele deslizou a mão dos quadris e massageou com os dedos sua parte mais íntima, demonstrando estar à beira do orgasmo. E ele a beijou. Levado a isso por algo incapaz de ignorar. Um beijo apaixonado, possessivo, demorado, enquanto ela estremecia e se encostava nele. Ele se lembrava de ter levado as mãos dela para seu corpo, dizendo, áspero: — Agora é minha vez. Ela o olhara com olhos turvos, apavorados, até começar a ensaboar-lhe o peito com mãos trêmulas. Quando a água do chuveiro tinha feito escorrer a espuma, ela o surpreendeu, colando-se a ele e beijando-lhe o pescoço, as mãos ensaboando mais embaixo, causando-lhe uma contração de excitação no estômago. O que não tinha previsto, entretanto, foi o suave toque dos lábios no mamilo. Só de pensar nisso, o corpo inteiro se retesava. — Eu é quem deveria estar fazendo isso em você. — Ele segurou-lhe o rosto. Ela nada respondera, simplesmente ajoelhando-se à sua frente e cuidadosamente colocando o sexo dele na boca, o gesto transpassando-o com o mais intenso prazer do mundo. Ele não compreendera o motivo que a levara a deixá-lo enlouquecido de prazer, e ainda não compreendia. Algo no suave toque dos lábios, na forma como ela o envolvera e o olhara, o levara a um diferente nível de excitação. Ele a levantara e a carregara para a cama, e antes que a água tivesse secado na pele dela, já a fizera atingir o orgasmo com o toque da mão, retardando seu próprio prazer para contemplar o dela.
CAPÍTULO SEIS Ela não ia nem pensar em Gabriel, quanto mais analisar esse perturbador interlúdio no caminho da praia. Imediatamente, destruiu o próprio sistema de defesa perguntando-se, com raiva, por que estava com tanto medo de chamar aquele beijo de beijo, referindo-se a ele como "interlúdio". Gabriel a beijara. O que provava o que já sabia: os fatos ocorridos depois que ela o abandonou não foram suficientes para manter a enorme barreira que havia entre eles, Olhou sua imagem no espelho do quarto. Usava brincos de diamante que, junto com os braceletes de plástico, confeccionados pelos meninos no último Natal, eram as únicas jóias que tinham valor para ela. Carlo os tinha dado de presente após saber que ela esperava gêmeos. Um presente deles e do pai, dissera amoroso. Ela tentara protestar, pois dois diamantes de dois quilates cada eram uma fortuna, mas Carlo a convenceu, insistindo que brincos de diamantes eram essenciais para uma mulher 42
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italiana. E quando os gêmeos nasceram, cada um pesando mais de 3,5kg, ele dissera triunfante que dois quilates por brinco era um insulto para os filhos deles. Enquanto sacudia a cabeça diante da lembrança, os brincos brilharam. Não devia ficar sentada, perdendo tempo. Tinha um encontro importante em Port Cervo antes do almoço. Quanto a Gabriel — quando setembro chegasse e os meninos voltassem para a escola, — não seria obrigada a vê-lo por meses. Mas ainda faltavam quase seis semanas, e só de conviver com ele três dias já era forçada a suprimir o ardente desejo que sentia. Por ele? Como sabia ser ele a causa? Tinha 28 anos e vivera como celibatária. Uma vida celibatária apesar de ser casada. Vários homens deixaram claro que adorariam ajudá-la a quebrar os votos matrimoniais, mas simplesmente não sentira vontade. Isso era assunto encerrado. Ou assim acreditava. Podia ser coincidência a presença de Gabriel fazê-la sentir-se assim. Outro homem podia exercer sobre ela o mesmo efeito. O problema era que não tinha outro homem para testar a teoria. É claro que a outra maneira de descobrir seria ceder ao pedido do corpo e... E o quê? Pedir a Gabriel para levá-la para a cama? Ah, ele adoraria isso, pois confirmaria sua opinião sobre ela. Pegou a escova. Sabia, pelos comentários ácidos, quando vivia com ele, que sua infância fora infeliz. Sentia-se ainda mais unida a ele ao saber do abandono da mãe e de como o avô o tratara. Mas não tinha intenção de analisar a fundo o passado. Ela foi obrigada a trabalhar e superar o passado. Ficou chocada com o que Carlo lhe contara, mas embora isso a ajudasse a compreender o motivo de Gabriel rejeitar o amor que lhe dedicara, reconhecera ser preciso mais que o amor de outra pessoa para curar as feridas emocionais de Gabriel. Precisava que ele mesmo se amasse. Nenhum dinheiro ou sucesso poderia comprar isso, e tampouco ninguém poderia dar isso a ele. Mas, mesmo sabendo disso, ainda não conseguia deixar de sentir pena pela criança que Gabriel fora. Lágrimas turvaram-lhe os olhos, só de pensar na rejeição sofrida — ele era apenas um bebê, totalmente dependente da mãe quando ela o abandonara, sob a insistência do pai, para voltar à vida da qual sentia falta. Mas ele era um bebê indefeso. Agora era um homem perigoso, e ela seria uma tola se esquecesse. — Onde você vai? Sasha gelou na escadaria, ruborizada ao olhar Gabriel. Ela não tinha ouvido a porta da suíte se abrir e estava ali parada se sentindo uma garotinha malvada pega 43
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cometendo uma falta. — Por que quer saber? O olhar analítico de Gabriel a percorreu de cima a baixo. Ela estava, obviamente, vestida para sair. Um sentimento indesejado contraiu-lhe a musculatura. Droga! Por que se importava com o que ela fizesse? Só devia se preocupar com os meninos. — Se está planejando levar os meninos com você... — Não estou — interrompeu-o. Já havia combinado com Maria e com sua filha, Isabela, para que elas tomassem conta dos meninos. Isabela tinha duas filhas, mais ou menos da mesma idade dos gêmeos, e Sasha confiava nela para mantê-los sob vigilância e longe de qualquer perigo ou confusão. — Não, imagino que não — concordou Gabriel. — Chega do papel de mãe devotada. Sasha podia sentir a raiva crescer. — Estou saindo para tratar de negócios, embora isso não seja de sua conta. Por isso não vou levar os meninos. — Eu não teria permitido que os levasse. Combinei de entrevistar um tutor para eles no final da tarde e, naturalmente, ele vai querer conversar com os dois. Sasha tentou objetar, tentando ordenar as idéias. — Você não tem o direito de me proibir de sair com meus filhos — finalmente disse. — Nem eles precisam de um tutor. Estão de férias. Ela havia visto o resultado de pais ambiciosos exigirem demais das crianças. Queria ver os filhos atingirem seu potencial, é claro, mas também queria vê-los crescer aproveitando a liberdade e as alegrias da infância. — Eles são meu pupilos. Logo você pode concluir que preciso saber mais sobre eles. — Podia fazer isso conversando com eles — disse debochada. — Eles são crianças, não alguma empresa que você comprou. Não pode compreender como eles funcionam lendo um relatório preparado por alguém. Como... Como uma espécie de balanço. Que atitude tomará se o relatório determinar não serem inteligentes o suficiente para você maximizar seu investimento? Despachá-los para outra pessoa? — Não seja ridícula. Você sempre exagera. — Exagero? Eles são meus filhos — lembrou. — Não de... — Sacudiu a cabeça. Qual o sentido de discutir com Gabriel? Nenhuma palavra o faria compreender como ela se sentia simplesmente porque era incapaz de sentir qualquer coisa. — Não pode fazer isso, Gabriel — disse firme. — Não vou permitir. E os meninos? Como acha que vão se sentir? 44
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— Do jeito que fala, parece que vão ser submetidos a alguma espécie de tortura, quando na verdade você já faz o mesmo com eles. — O quê? — Com certeza eles foram submetidos a.um exame de admissão na escola. — Sasha mordeu o lábio inferior. É claro que sim, e com a típica confiança masculina, ficaram orgulhosos por terem alcançado êxito. — O professor Fennini é um educador altamente qualificado, com vários anos de experiência. Sasha lançou-lhe um olhar irado. — Você disse que entrevistaria um tutor em potencial. — Se for necessário, ele vai dar aulas aos meninos, mas, inicialmente, quero que os avalie. — Pare com isso! — explodiu Sasha. — Eles são crianças. Crianças. Entendo que você não teve uma infância normal... — Motivo pelo qual pretendo me certificar de que meus herdeiros estarão bem preparados. — Seus herdeiros? — conseguiu murmurar. — O que... o que quer dizer? — Não é óbvio? Quero dizer que já que os filhos de Carlo são meus herdeiros naturais, gostaria de ter uma idéia do quão bem preparados estarão quando forem adultos, para assumir essa responsabilidade. O alívio era quase tão intrigante quanto o medo. — Então eu estava certa. Não está falando apenas de avaliação. Bem, nem você nem o professor vão submeter meus filhos a nenhum tipo de teste psicológico. Já lhe ocorreu que eles podem não querer se envolver em seus negócios? Nada o impede de ter filhos. — Não, nada me impede, e pretendia ter filhos. Mas me parece que já que os filhos de Carlo estão aqui e têm o meu sangue, faz sentido serem meus herdeiros. E quanto aos testes psicológicos, você está deixando sua imaginação delirar. O professor vai simplesmente conversar com eles e depois me dirá o resultado da entrevista. E há uma coisa da qual pode estar certa: meus pupilos não vão para um colégio interno. Sasha ficou desesperada. Mas não ia, de jeito nenhum, ser forçada a explicar seus atos para Gabriel e não ia, também, implorar-lhe compreensão e ajuda. Suprimindo o instinto de defesa, perguntou: — Quando esse professor deve chegar? — Depois do almoço. E, ao contrário do que você parece supor, a avaliação será para benefício deles. — Vou estar de volta. Ele não vai perguntar nada a eles, nem uma simples pergunta, sem a minha presença — avisou. 45
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Ela precisava de um tempo para si mesma, para pensar. Ainda se sentia mal e tonta. Sem mais nenhuma palavra, desceu apressada a escadaria e foi para o jardim, onde Nico e Sam estavam ocupados mostrando às netas de Maria como conseguiam ficar de cabeça para baixo. — Ei, garotos — riu Isabela, demonstrando aprovação e afeto. Garotos, sem dúvida, concordou Sasha, agradecendo a Isabela por ficar de olho neles. Entrou no carro pequeno comprado por Carlo para ela. O percurso até Port Cervo, o elegante resort na costa Esmeralda, um lindo porto com hotéis sofisticados, não seria longo. Esperava estar vestida adequadamente para a ocasião. Nessa época do ano a baía de Port Cervo estaria lotada de iates caros, e mulheres bem vestidas passeariam pelas ruas fazendo compras nas butiques exclusivas. Para conseguir atingir seu objetivo era importante parecer que ainda fazia parte desse mundo. Gabriel a viu partir da janela do andar de cima, incomodado. Ela usava um vestido de linho cinza-claro, do mesmo estilo do que usava no dia em que ele chegara. Um bracelete de ouro brilhava no pulso, óculos escuros de tartaruga grandes protegiam-lhe os olhos. Quando ela se sentou no carro, ele pôde ver o tom rosado natural das unhas dos pés nas sandálias que faziam sobressair a delicadeza de seus tornozelos e pés. No calor da manhã avançada, quase podia sentir seu perfume. A casa inteira tinha o cheiro dela — os aposentos pelos quais passara, nos cabelos dos meninos. Estava em toda parte, exceto nos aposentos dele. Só havia um lugar onde pudesse ter ido vestida assim. E só uma razão. Sua boca se contraiu. Ela podia se entregar a quantos homens desejasse — quando tivesse quitado o débito com ele. Sasha estacionou o carro e atravessou as ruas elegantes, hesitando momentaneamente diante da loja, antes de tocar a campainha e esperar a porta ser aberta. O dono veio cumprimentá-la, conduzindo-a à sua elegante sala. — Gostaria de uma xícara de café? Sasha agradeceu e abriu a bolsa. Quando telefonara para ele, explicara o motivo da visita, para poupar o constrangimento pessoalmente. Como ele não demonstrou surpresa, deduziu que estava a par dos problemas financeiros de Carlo. Colocou a bolsa na mesa, retirou as caixas arrumadas cuidadosamente, abrindo-as uma a uma: o conjunto de colar e brincos de diamantes e esmeraldas que ganhara de Carlo no primeiro aniversário de casamento; o anel Cartier de esmeralda retangular cercado por diamantes que sabia ter custado mais de 250 mil euros; o imenso solitário, seu anel de noivado; o anel de diamante amarelo rodeado de pequenos diamantes brancos.
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Finalmente, pegou os brincos de diamante e, pela primeira vez, a mão tremeu. — Quanto me dá por tudo? — perguntou baixinho ao joalheiro. Ele pegou uma lente de aumento e examinou cada item cuidadosamente. Demorou mais de meia hora para responder, e quando mencionou a quantia que estava disposto a oferecer pelas jóias, ela suspirou, aliviada. Não chegava nem perto do que devia ter custado a Carlo, mas era o suficiente para conseguir um teto e, se fosse cuidadosa, sobraria para as anuidades do colégio. Queria mantê-los na escola de que tanto gostavam. Acenou de leve, os olhos arregalados de surpresa quando o joalheiro empurrou os brincos de diamante para ela. — Fiz os cálculos sem incluir estes — disse em voz baixa. — Deve guardá-los. Tenho certeza de ser o desejo de seu falecido marido. Sasha mordeu o lábio para impedi-lo de tremer. Estava tão emocionada que custou a colocar os brincos. Dez minutos depois deixara as jóias e caminhava decidida para o banco, com o cheque na bolsa. Carlo tinha sido gentil e generoso, mas era antiquado também. Sasha nunca teve dinheiro seu. Carlo alegava ser desnecessário. Ela recebia uma mesada e possuía um cartão de crédito, cujas faturas eram mandadas para ele. Era estranho depositar uma quantia tão alta em sua conta. Agora, ela e os meninos não dependeriam de Gabriel. Se quisesse, compraria passagens no primeiro vôo para Londres. Mas os filhos ficariam desapontados em partir antes do término das férias de verão, e pelo bem deles, suportaria a presença de Gabriel — e sua caridade — por mais algumas semanas. Mas quando os meninos estivessem de volta à escola... Ela planejara tudo. Alugaria um apartamento perto da escola para levá-los de manhã e buscá-los à tarde. E, com sorte, encontraria logo um emprego. Depois, procuraria uma pequena propriedade para comprar. Não seriam ricos, mas iam se virar. E os filhos seriam felizes — ela iria se empenhar. Estava na hora de voltar para casa. Sasha fechou os olhos e pediu forças. Nunca tinha imaginado que seus caminhos se cruzariam. Gabriel e Carlo eram parentes, mas raramente se encontravam, e ela havia deixado claro para Carlo que não queria nenhum contato com Gabriel. E nunca suspeitara, nem nos piores pesadelos, que quando voltasse a vê-lo se sentiria como nesse momento. Estava quase tentada a fazer aquilo de que eleja a acusara e arranjar um amante — qualquer um — só para provar a si mesma que eram os longos anos sem sexo, aliados à presença dele, que reativavam as memórias, deixando-a insone e louca de desejo. Não era Gabriel exatamente. Sua experiência sexual não era extensa. Talvez o corpo tivesse armazenado lembranças do prazer ilimitado compartilhado por eles. E se 47
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pudesse provar isso a seu corpo, talvez ele parasse de atormentá-la tanto. Talvez devesse testar essa teoria. Sasha parou de andar e olhou para a frente. Era uma idéia maluca. Maluca e perigosa.
CAPITULO SETE — Seus filhos são meninos de sorte por terem uma mãe como a senhora — disse o professor Fennini com um sorriso caloroso. Ele chegara à tarde, logo depois do almoço que ela preparara ao voltar. Apesar de sua inicial determinação de não gostar dele, teve que admitir que ele a ganhara — e não devido aos comentários elogiosos. Os meninos aceitaram o professor imediatamente, e Sasha reconheceu sua capacidade para lidar com crianças e ensiná-las. Passara quase toda a tarde não observando, mas participando das atividades dos meninos, fazendo perguntas de maneira tão sutil que a ansiedade maternal foi logo aplacada. — Acredito que as férias escolares devem ser tratadas como descanso. Não quero que eles fiquem trancados em casa, ocupados com várias atividades. Quero que aprendam por si mesmos a gostar da vida. — Isso é óbvio pela maneira como interage com eles — o professor disse, com novo sorriso de aprovação. — Espero que tenha afastado seus medos quanto ao período em que ficaram no colégio interno — continuou, e Sasha ficou tensa. Sentira alívio em trazer o assunto à tona com ele, confidencialmente, e mais ainda quando ele lhe garantiu que ficara claro para ele que os meninos tinham gostado da novidade de ficarem internos e, certamente, isso não lhes causara sofrimento, mas ela não queria que sua vulnerabilidade e medo fossem expostos a Gabriel. Entretanto, não havia nada que pudesse fazer, com Gabriel parado a seu lado, para pedir ao professor que mudasse de assunto. — Gabriel comentou sobre a preocupação dele em relação à situação — explicou o professor. — É compreensível ambos terem tocado no assunto comigo. Posso garantir, Sasha, que tendo em vista o pai estar à beira da morte e você estar tentando conseguir uma alternativa de tratamento para ele, não tinha outra alternativa. Soube do médico que procurou em Nova York. Ele conseguiu resultados impressionantes com seu método inovador da cura do câncer. — Sim. Eu esperava.,. Mas ele explicou que o estado de Carlo estava muito avançado para que pudesse fazer algo. Hoje acho que talvez tivesse sido melhor ficar ao lado de Carlo. — Você fez o que acreditou ser o melhor para ele — tranqüilizou-a o professor. 48
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— Quanto aos gêmeos, foi bem melhor conviver com os amigos em um ambiente familiar e seguro do que testemunhar o problema que se desenrolava em casa. Calculo que muitas vezes desejou tê-los a seu lado, pois isso lhe serviria de consolo — disse numa voz gentil. Foi difícil conter as lágrimas. Era a primeira vez que alguém reconhecera o quanto ela precisara de apoio. — É verdade. Mas não quis sobrecarregá-los. — Não a vejo como o tipo de mãe que faria isso com os filhos — disse o professor, caloroso. — Todos podemos ver como eles são equilibrados e felizes. Como dizia a Gabriel — continuou, — se deseja que os meninos sejam encorajados a se interessar por política internacional e negócios, seria uma boa idéia estimulá-los a estudar história e o meio ambiente, o que você já vem fazendo. Ele era um homem alto, com modos educados e um ar professoral, ficando impossível para Sasha não corresponder a seu entusiasmo e educação. Os meninos estavam brincando do lado de fora. Sasha os olhou da janela do aposento que Gabriel transformara em escritório, enquanto esperava o professor terminar o café e concluir suas observações. Pelo barulho que faziam, a brincadeira obviamente incluía algum tipo de corrida de carro. Não viu Gabriel andar em sua direção e ficar a seu lado, olhando os meninos, mas imediatamente sentiu sua presença. Queria desesperadamente mudar de lugar e colocar mais distância entre eles, mas estava muito perto da janela. E ele, muito perto dela. — Devem estar treinando para a Fórmula 1. — O professor soava grave, mas quando Sasha o olhou viu que ele piscava o olho. — Eles me disseram que Nico vai desenhar um carro e Sam vai dirigi-lo. — A Ferrari que se cuide — disse Gabriel, seco. — Foi bom você ter permitido manterem a proximidade, ao mesmo tempo encorajando-os a desenvolver atividades diferentes e individuais — disse o professor a Sasha. — Nico pensa e Sam faz — disse Gabriel abruptamente. Sasha o encarou, incapaz de esconder o choque ao ouvi-lo descrever as personalidades dos gêmeos, conhecendo-os apenas superficialmente. Mais uma vez se sentiu desconfortável. Que ele os distinguisse fisicamente, tudo bem, mas isso? Ele sempre tinha sido uma pessoa desligada. Pelo menos no que dizia respeito ao comportamento dela. Entretanto, estava mais preocupada com os filhos do que consigo mesma naquele momento. Gabriel viu o olhar chocado que Sasha lhe lançava. — O que aconteceu? 49
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— Você percebeu as diferenças entre Sam e Nico muito rápido — admitiu relutante. Gabriel deu de ombros. Não compreendia por que era tão fácil diferenciar os dois meninos nem por que ele sabia ser necessário tratar os dois de forma ligeiramente diferente. Entretanto, sabia que eles tinham tocado em uma característica que nem ele mesmo sabia possuir. Sempre tivera boa percepção quanto às pessoas; sempre fora capaz de julgar os comportamentos de forma analítica. Como fizera com Sasha. As revelações do professor sobre o motivo de ter colocado os meninos num colégio interno haviam sido muito racionais para que ele as desconsiderasse. E ninguém conseguiria fingir a emoção que ele acabara de vê-la tentando suprimir. Quase podia sentir a alteração mental, forçando-o a admitir a possibilidade de que, deliberadamente, escolhera encarar os fatos de um ângulo adequado às próprias necessidades. Nesse exato momento, a consciência obrigava seus sentimentos a se tornarem imparciais e exigia respostas honestas a algumas perguntas. Tinha que reconhecer Sasha como uma boa mãe. Mas decidiu que não o faria. A pontada de dor ao pensar em Sasha o abalou. Pelo canto do olho viu o professor chegar perto de Sasha enquanto falava com ela. Imediatamente, Gabriel também se moveu, chegando mais perto. Sasha ficou tensa. O que ele achava que ela ia fazer? Dizer ao professor Fennini que não daria permissão para os filhos terem um tutor? Diferentemente de Gabriel, ela era flexível e podia mudar de idéia. Como o professor dissera, os filhos estavam num estágio em que pareciam esponjas, ansiosos por absorver idéias e informações e aprender novas habilidades, desde que ensinadas da forma correta. Sabia que o professor era capaz de exercer esse papel. E ela estaria presente para monitorar e intervir, se necessário. Gabriel bloqueava a visão dos meninos, então ela se afastou, o maxilar se contraindo ao ver a boca de Gabriel trincada. — Fiquei particularmente intrigado com os livros da vida — dizia o professor. — É um conceito usado com eficiência para ajudar crianças problemáticas, mas devo admitir nunca ter pensado em ser usado com crianças felizes. Sasha deu de ombros. Não ia contar ao professor sobre sua infância ou explicar que através da terapia aprendera sobre os livros da vida. — Originalmente, quis encorajar os meninos a manterem diários. E os livros da vida me pareceram um passo natural. São mais interativos e divertidos. Concordamos que teriam uma parte só deles para os pensamentos particulares e outra na qual trabalharíamos juntos. Gabriel ouvia em silêncio. Os elogios do professor sobre a educação dos meninos reforçavam o que ele já observara. Então, por que achava tão difícil abandonar a idéia 50
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preconcebida e agora insustentável de que ela não era uma boa mãe? Talvez por querer fazer parte da vida dos gêmeos? E da vida de Sasha, uma mulher que o abandonara? Bem no fundo de sua parte mais íntima e vulnerável um medo atravessava as camadas de proteção. E se a culpa por Sasha tê-lo deixado fosse dele e não dela? Essa dúvida reprimida, uma vez exposta, não podia ser ignorada. O professor despediu-se, dizendo, entusiasmado, esperar começar a trabalhar com os gêmeos na semana seguinte. Sasha deixou claro pretender passar o resto do dia com os filhos. Gabriel se surpreendeu voltando à pergunta, como um homem com dor de dente passando a língua no lugar inchado embora isso aumentasse a dor. Continuava a comparar a infância dos gêmeos com a sua. Não, reconheceu como se estivesse sendo apunhalado, porém com afeto. Lembranças reprimidas afloraram. Imagens dele quando criança, estendendo os braços para a mãe adotiva e recolhendoos, sofrido, ao ouvir palavras grosseiras e ser esbofeteado. Ouvia o avô lhe dizendo o quanto lastimava ter ele como único herdeiro, o orgulho corrosivo estampado na voz. O avô não fazia segredo do desprezo que sentia por ele. — Primo Gabriel... — Havia uma nota de adulação na voz de Sam que lhe causou um olhar triste. — Eu e Nico estávamos pensando que se mamãe perguntar o que queremos de aniversário na semana que vem, você podia dizer que precisamos de bicicletas maiores. Gabriel levou vários minutos para absorver o que Sam dizia. — O aniversário de vocês é na semana que vem? — Fez um rápido cálculo. Semana que vem... Isso significava que Sasha concebera os gêmeos enquanto ainda moravam juntos. E isso significava que ela o traíra com Carlo quando ainda eram amantes. Sentiu a fúria ferver seu sangue. Sam sacudiu a cabeça, entusiasmado, sem saber o efeito das palavras. — Vamos fazer 10 anos — disse, orgulhoso. — Mamãe diz que não podemos ter bicicletas grandes até os 11 — lembrou Nico ao irmão, mas Gabriel nem percebeu o olhar recriminador lançado por Sam. Ele precisava ver Sasha, e já. Deixando os meninos, desceu as escadas e a encontrou na sala de estar, olhando o material deixado pelo professor. — Quero discutir um assunto com você. Sasha ficou tentada a dizer não estar disposta a discutir coisa alguma com ele, mas ele já lhe apertava o braço forçando-a a subir para a suíte dele. — O que está fazendo? Não pode me manipular como se eu fosse sua propriedade, Não vou admitir. Onde estão os meninos? — Os meninos estão bem. — Parou e respirou fundo antes de dizer: — Sam acaba de me dizer que o aniversário deles é semana que vem. Sasha sentiu o medo congelante correndo-lhe pelas veias. Daria tudo para 51
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sacudir a cabeça e negar, mas não podia. — É verdade. — Então, eles foram concebidos em dezembro? O coração quase saiu pela garganta, o pânico ameaçando sufocá-la. — Surgiram complicações e nasceram prematuros. — Previu a próxima pergunta. — Quanto tempo antes? Imagino que não três meses antes... — sugeriu, sarcástico. Sasha sentiu o rosto queimar. — Foram concebidos enquanto ainda estava comigo, não é? Não havia escapatória. Temia isso há tanto tempo que até sentiu alívio. — Responda, droga. Eles foram concebidos enquanto ainda estava comigo, não é? — repetiu. Os dedos ainda lhe apertavam o braço e enquanto falava a sacudiu. Sasha estava acostumada à frieza, mas nunca o vira tão enfurecido. Estava indefesa e vulnerável, mas não podia esconder a verdade. — Sim — admitiu, esperando a inevitável acusação. Carlo a tinha avisado que isso podia acontecer, mas ela garantira que manteria a maior distância possível entre ela e Gabriel para evitar isso. Que tola! Chegou a achar que ele nunca descobriria. — Você estava vendo Carlo escondida, dormindo com ele enquanto ainda dividia minha cama, se entregando quando eu achava que só eu a possuía. Estava grávida dele, mas ainda dizia me amar! — Gabriel não conseguia mais conter a brutalidade dos sentimentos. Já tinha sido horrível ter sido abandonado sem uma palavra, mas essa traição era insuportável. Sasha o olhou, sem compreender, — Não me olhe como se não entendesse. Sabe muito bem! Estava transando com Carlo e comigo. Deixou que ele a engravidasse enquanto ainda dormia comigo. Quanto tempo dormiu com ele enquanto eu acreditava...? — Não foi isso! — protestou Sasha. — Mentira. Claro que foi! — Gabriel cobriu os olhos, como se não suportasse vêla. — Não se importou com o risco que corria, fazendo sexo sem proteção com ele? — Não foi planejado. Foi um acidente... um erro! — Repita. Carlo sabia que você dizia me amar quando já devia saber que estava carregando os bastardos? Sasha levantou a mão, mas Gabriel a deteve. — Por que dizia me amar? Posso adivinhar. — Você parece tão capaz de adivinhar tudo! 52
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— Não há adivinhação em subtrair nove meses de um ano. Na certa, planejava não me deixar até ter certeza de Carlo. E sabendo que você estava grávida, faria um bom negócio. Um homem velho sem filhos, sem herdeiros. E ali estava você, oferecendo não um, mas dois. — Não sabia que eram gêmeos. — Mamãe, Maria chegou. Rapidamente Sasha se soltou de Gabriel ao ouvir a voz de Sam. Sasha olhou pela janela, a luz da lua invadindo a escuridão do quarto. O coração palpitava e sentia a umidade das lágrimas nos cílios e no rosto. Tinha tido um sonho tão real com Gabriel que mesmo acordada a sensação ainda a acompanhava. Seu sistema nervoso estava abalado. Quando Gabriel a confrontou sobre a data de aniversário dos meninos, pensou... Ela e Carlo viveram tranqüilos durante os dois primeiros anos do casamento, em Nova York. Não anunciaram o nascimento dos gêmeos. A família Caibrini, embora numerosa, não era muito unida e ninguém nunca perguntara a data de aniversário dos meninos. Até agora. Totalmente desperta, os pensamentos a assustavam: não apenas pelo presente, mas também pelo passado. Ela e Gabriel já curtiam o sol da ilha caribenha de Saint Lúcia há várias semanas no iate quando Carlo chegou para visitar um hotel que planejava comprar. Um encontro casual no restaurante do porto levou Gabriel a apresentá-la ao primo em segundo grau e Sasha, imediatamente, percebeu a gentileza do homem idoso. Ela e Gabriel estavam juntos havia mais de um ano e para ela era frustrante e triste constatar que, apesar de Gabriel ser o amante perfeito, a mantinha à distância emocionalmente. — Por que nunca diz que me ama? — lembrava-se de ter perguntando no primeiro Natal juntos. Estavam em Paris. Ele a levara para comprar roupas caríssimas e igualmente caríssimas lingeries sexies. — Porque não a amo — respondeu, calmo. Estavam na cama da suíte do Georges V, e Sasha ainda se lembrava do enorme baque e da dor. — Mas você deve — protestou, desesperada. — Você deve, Gabriel. Você tem de me amar. — Irrompera em lágrimas, mas em vez de confortá-la Gabriel afastou as cobertas e saiu da cama. — Não gosto de cenas — disse, frio. — Não a amo porque não acredito no amor. Agradeça o que temos, pois, acredite, há um montão de mulheres que adorariam estar no seu lugar. — Ele se vestira. — Vou sair. Quando voltar, não quero mais ouvir 53
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bobagens. Não era possível ser tão brutal. Estavam juntos há meses e, ingênua, ela estava convencida de que era apenas uma questão de tempo ele confessar seu amor. Afinal, ele sabia que ela o amava. Ela sempre dizia, e ele nunca se cansava de fazer amor com ela. Gastava dinheiro e tempo com ela. Em sua cabeça, interpretava tudo como um vínculo afetivo. Em meia hora parou de chorar e se convenceu de que ele não estava sendo sincero; apenas se mostrava relutante em admitir os próprios sentimentos. Foi o que pensou em Paris, e era o que ainda pensava, meses depois, no Caribe. Ele a amava, tinha certeza. Caso contrário, por que ainda ia querer fazer amor com ela? E ele queria, não tinha dúvida. Acordava e dormia sentindo-lhe o toque, o corpo exausto de prazer. Seguiam uma rotina simples no iate. Em geral, Gabriel trabalhava de manhã e depois passava as tardes fazendo amor com ela — nem sempre na cama. Gabriel era um amante criativo; adorava brincadeiras eróticas. Ainda se lembrava da primeira vez que ficara sozinha com Carlo. Devia ter sido numa daquelas manhãs solitárias quando deixava o iate e perambulava pelas lojas caras do porto do Caribe. Adquirira o hábito de encontrar Carlo para o café e se sentira envaidecida quando ele sugerira que ela visse o hotel que planejava comprar. Logo começou a confidenciar os sentimentos nutridos por Gabriel e ouviu a terrível história da infância dele. — Oh, mas isso nos aproximará ainda mais — exclamou, com o rosto ruborizado. — Eu também fui uma criança infeliz. Pobre Gabriel. Carlo fez o possível para explicar que o trauma de Gabriel não o afetara da mesma forma que a ela, mas ela não prestou atenção, pois não era o que desejava ouvir. Ao contrário, agarrou-se à crença que Gabriel a amava. Tinha mesmo exposto isso a Gabriel, no dia de seu aniversário de 18 anos. Havia semanas deixava escapar comentários sobre o aniversário e, finalmente, na cama naquela tarde, com o corpo ainda exausto depois do prazer, Gabriel passara a mão em sua barriga, fazendo com que ficasse tensa. — Então, vamos lá. Você vem dando dicas sobre esse seu aniversário. O que você quer? Ainda visualizava a cena tantos anos depois: as sombras na cabine principal, a mobília luxuosa, a cama imensa, os lençóis jogados. O corpo nu de Gabriel, musculoso, bronzeado, o olhar de excitação escurecendo-lhe os olhos. Ele se curvara, segurandolhe o mamilo entre os dedos e acariciando-o com tanta habilidade que voltou a ficar excitada. — Quero você — disse emocionada. — Quero você, seu amor, que fiquemos 54
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juntos para sempre. Antes que pudesse completar, ele se afastou, saindo da cama, enraivecido. — Que tipo de jogo é esse, Sasha? — Não estou entendendo — respondeu, com honestidade. — Não é um jogo. Eu amo você. E agora que Carlo me contou o que aconteceu quando você era criança, isso nos aproxima ainda mais... Não pôde prosseguir. Ele a arrancara da cama. — Ainda mais? O que é isso? Só quero ficar próximo de você, como você diz, quando estamos transando. Toda essa bobajada de amor não cola. Você sabe disso, ou deveria. Nunca o tinha visto tão zangado, e começou a tremer, lançada da fantasia corde-rosa para a fria realidade. Mesmo assim implorou. — Não pode ser verdade. Você tem de me amar. — Estava tomada pelo pânico e medo, se agarrando a ele e soluçando, quando ele empurrou-lhe as mãos. — Diga que me ama, Gabriel... — Eu não tenho que dizer nada, Sasha. Nesse relacionamento é você quem tem que me satisfazer. É assim que é: você brinca e eu pago. Olha, você é fantástica na cama e sei que não sou o primeiro homem a dizer isso. Estamos nos divertindo juntos e podemos continuar, mas não quero ouvir mais uma palavra sobre amor. Algo dentro dela se quebrou ao ouvir essas palavras, mas, teimosa, ignorou a própria dor para protestar, insegura: — Mas você deve querer se casar e ter filhos. Teríamos filhos tão lindos! Ainda podia ver o olhar dele ao encará-la e dizer, direto e sem emoção: — Crianças são a última coisa que quero, e, com certeza, não com uma mulher como você. — Ele levantou e ela ficou na cama, paralisada e com muito medo de pensar. Saíram para jantar naquela noite; ela ainda estava chocada. Mal conseguiu comer, mas abriu o presente e admirou o relógio Cartier. Quando deixaram o restaurante, ele a agarrou na rua escura, descendo as alças finas do vestido, acariciando-a e lambendo-lhe o seio, beijando-a de forma tão voraz que seus lábios ficaram arranhados. Mas ela não conseguiu sentir nada. Ainda estava muito apática, quase distanciada do que acontecia. Tinham voltado para o iate. Ele arrancou-lhe a roupa na ânsia de possuí-la, encostando-a na porta da cabine no momento em que entraram, prendendo-lhe as mãos nas costas, a boca quente na carne nua. Ele a possuiu logo, mas, como sempre, colocou a camisinha e mergulhou nela, gozando quase imediatamente. — Aproveite o que tem — disse, ainda arfando. — Porque eu, certamente, vou 55
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aproveitar. E só isso que existe entre nós, e tudo que existirá. O nome é sexo. Não é amor, é sexo. Mas você sabe tão bem quanto eu que não pode viver sem isso e não pode viver sem mim. — A voz não escondia o triunfo. Entre seus braços, Sasha decidiu agir. Eram três da manhã quando entrou no hall do hotel onde Carlo se hospedava. A recepcionista se recusou a telefonar de início, mas acabou cedendo. — Disse para você subir. Carlo abriu a porta vestindo um robe de seda com monograma, parecendo cada centímetro tão velho quanto era. O contraste entre ele e Gabriel não podia ser mais cruel. Gabriel dormia nu, estava no auge do apetite sexual. Ali, na luz difusa, Sasha viu como Carlo era — mais velho do que imaginara. — Deixei Gabriel — disse chorando. Carlo a convenceu a sentar. Falando baixinho, penalizado, perguntou: — Você está grávida, não está?
CAPITULO OITO Sasha afastou as cobertas e se levantou. Não ia conseguir dormir e mesmo com a cortina fechada via o suave brilho do dia nascendo. Eram cinco da manhã. Devia estar dormindo, não de pé, em uma simples camisola que a maternidade lhe ensinara a vestir, deixando as emoções serem destroçadas como por dentes de tubarão. Ficara sem ação por Carlo descobrir seu segredo, por ter se dado conta do que Gabriel não percebera. — Queria que ele me dissesse que me amava, mas ele não disse — soluçou. — Tudo que quer de mim é sexo. Não se importa comigo. O final feliz romântico que criara tinha não apenas desabado, mas evaporado diante da reação de Gabriel a seus apelos. E não teve coragem de dizer a Carlo, um homem com idade para ser seu avô, que na primeira vez que foi tocada por Gabriel sentira desespero em vez de desejo. Ele não a amava. Nunca amaria. Mesmo assim, ela se agarrava à esperança. — Você acha que ele vai mudar de idéia? Você pode falar com ele? — Quer que eu conte sobre o bebê? A reação pode não ser a que você espera. Pode até insistir a convencê-la a... 56
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Nesse momento sentiu, pela primeira vez, o instinto maternal. Repousou a mão protetora na barriga ainda lisinha e deixou de se colocar em primeiro lugar, reconhecendo a verdade cruel e reagindo. — Não. Gabriel não deve saber nunca. Carlo tinha sido maravilhoso, cuidando de tudo, fretando um avião, casando-se com ela e insistindo que essa decisão era para o bem de todos. Afinal, era parente do filho dela. Não tinha filhos, era rico, adoraria ter sido pai e o casamento seria apenas pro forma. Não podia ser amante de Gabriel e mãe do filho dele, se convencera, ao sentir a coragem faltar. E nunca infligiria uma infância miserável como a sua ao filho. Esse bebê teria todo seu amor — todo o amor que o pai recusara. Felizmente, para o bem dos gêmeos, o médico de Nova York, um medalhão, ajudara a perceber que havia um problema com ela. A assistência psicológica e aconselhamento recebidos tanto antes quanto depois do nascimento dos gêmeos ajudaram a compreender que o tipo errado de amor podia ser tão prejudicial quanto falta dele. E isso, em sua opinião, fora o maior presente de Carlo.
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Quando os gêmeos davam os primeiros passos, ela também dava seus primeiros passos emocionais. Aprenderam e cresceram juntos, ela e os filhos. O amor por eles a curara. Carlo sempre tratara os filhos como seus. Todos o fizeram. Ninguém sequer supôs que Carlo não fosse o pai verdadeiro. Nem mesmo Gabriel. Carlo contara como Gabriel o acusara de ser tolo, e isso os afastara, para alívio de Sasha. Não queria Gabriel em suas vidas, pois não confiava em si mesma se ele estivesse por perto. A última coisa que esperava quando Carlo estava à beira da morte é que chamasse Gabriel e entregasse o futuro dos gêmeos em suas mãos. Isso a deixara muito ansiosa. Gabriel se dava bem com os gêmeos. Ao ser confrontada com a data de nascimento, achou que ele adivinhara a verdade. Estava em suspense desde que ele chegara, esperando que visse os próprios traços nos rostinhos. O coração se contorcia numa tortura lenta toda vez que o via conversando com eles e quando percebia o jeito como eles retribuíam o olhar, tão inocentes, dispostos a amá-lo mesmo sem saber quem ele era. Mas o fato de ele ser o pai, obviamente, nunca lhe cruzara a mente. Como não se dera conta? Como podia não enxergar que os gêmeos eram dele? Como podia imaginar que ela — ou uma mulher qualquer — ia querer trocar um homem como ele, no auge da força sexual, por Carlo, mais velho e sexualmente debilitado? Para um homem inteligente, Gabriel era incrivelmente cego. Sim, Gabriel sempre usara preservativos e não ia imaginar que ela engravidasse, mas desde quando havia uma barreira realmente infalível quanto à concepção? Principalmente para um homem tão ativo sexualmente quanto Gabriel. Nunca cogitou ser possível, sabendo o quanto ela o amava, que os gêmeos eram dele? Que procurara Carlo para proteger a si e às crianças e não para 57
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trocar o corpo dele pelo de Carlo? Claro que não. E conhecia o motivo: a infância dele. Ele não podia querer ser o pai dos gêmeos. Sasha só percebeu estar chorando ao sentir as lágrimas caindo nas costas de suas mãos repousadas na madeira envernizada da janela. Eles eram herdeiros dele, e isso bastava para Gabriel. Na verdade, era tudo que ele queria que fossem. Não alimentava quaisquer sentimentos em relação a eles, nem por ela. Embora isso não fosse bem verdade. Ele nutria sentimentos por ela: raiva, desprezo, amargura e, acima de tudo, uma necessidade premente de puni-la por tê-lo deixado. E o que ela sentia por ele? Não tinha coragem de responder. A cabeça começou a doer. O céu clareava. Sasha abriu as cortinas. Uma caminhada na praia podia ajudar a desanuviar sua mente. Era cedo demais para alguém estar acordado e poderia caminhar de camisola pela praia deserta. Afinal, a camisola ia até o meio das coxas. Dez minutos depois, caminhava descalça: algo deliciosamente pagão e, ao mesmo tempo, infantil. Parou para contemplar as ondas quando os primeiros raios de sol surgiram. Que diabos estava acontecendo com ele? Não adiantava tentar dormir. Nem ficar deitado se atormentando com imagens de Sasha e de Carlo. Como não notara o que ela estava fazendo? Como não percebeu toda vez que a tocava? Sentia raiva por ela tê-lo abandonado, mas não fazia idéia do tamanho da traição. Estava grávida de outro homem e ele nem sabia. Fazia sexo com Carlo e com ele, e era tão experiente na arte de enganar que ele nunca suspeitara! Achava que ele era um idiota completo, usando-o enquanto esperava Carlo oferecer o que ela queria. Sentiu uma explosão de dor no peito, como labaredas de fogo e punhaladas. No meio do tumulto dos pensamentos, uma voz sussurrou perguntando como podia reconhecer que era a emoção a causadora de tanta dor. Ele não tinha emoções. Não em relação a uma mulher como Sasha. Seu relacionamento com ela havia sido puramente sexual. Ele se sentia assim porque ela compartilhara com outro os favores sexuais. Só isso. Ele a sustentava; portanto, tinha direito a exclusividade. Percebeu, de repente, que o estranho barulho era o som de seus dentes trincados. Ela sentira prazer em enganá-lo? Sentia o mesmo prazer quando ele a abraçava? Se encontrava com Carlo planejando o futuro? A cabeça dele parecia prestes a explodir, e sentiu um aperto no peito. Os olhos e a garganta ardiam. Não podia entender o que estava acontecendo, mas sabia que não podia continuar deitado, se atormentado. Afastou as cobertas e vestiu uma bermuda. Uma caminhada pela praia talvez o acalmasse.
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Gabriel viu Sasha primeiro. Ela estava parada, observando o mar, a brisa matinal colando o fino tecido da camisola em seu corpo. Via suas curvas como se estivesse nua: os seios macios contrastando com os mamilos eriçados; a cintura fina, a curva dos quadris, a espinha, a marca arredondada revelando o formato das nádegas e sua feminilidade. Imagens se formavam, derrubando as defesas. Outra época, outra praia, tão deserta quanto esta. Sasha parada, nua, usando apenas um chapéu, jogando uma rede de pescar nas piscinas formadas pelas rochas, tão envolvida que não o ouviu se aproximar por trás até que ele a puxou contra o corpo e passou-lhe a mão pelos seios, na barriga, no meio das coxas, até ela gemer. Ainda se lembrava do calor da pele sedosa dos lábios não mais lhe escondendo o sexo, mas abrindo-se ávidos ao toque. Ela chegara mais perto, tão louca de desejo quanto ele, curvando-se numa rocha à sua frente. Ele a possuiu, segurando-lhe os quadris enquanto mergulhava fundo no calor acetinado da carne, sentindo a pressão. A ereção forçando o tecido da bermuda era obra do passado, não do presente, raciocinou. Sasha não tinha o poder de excitá-lo, a não ser que ele o permitisse. De repente, Sasha virou a cabeça e o viu. Por um segundo o olhou. Rapidamente, girou nos calcanhares e correu. A reação de Gabriel foi instintiva e imediata. Sasha ouvia o barulho dos pés na areia, mais alto que as batidas de seu coração. Ele estava diminuindo a distância entre eles, mas ela continuou a correr, movida pelo instinto da presa tentando escapar do caçador. Ele a alcançou quando a respiração se tornava difícil, segurando-lhe o braço e a virando com tanta força que ela quase caiu. Ela mal conseguia respirar, o coração batia acelerado. Estava petrificada. O peito doía a ponto de impedi-la falar. Tentou soltar o braço. Quando ele a puxou para perto, levantou a mão livre com a intenção de empurrá-lo. Mas, no minuto em que tocou o calor da pele dele, seu corpo foi tomado por um tremor incontrolável. Deu um suspiro involuntário de desespero, arregalando os olhos. A cabeça de Gabriel bloqueava a luz e ele a beijou com uma paixão selvagem que a fez voltar ao passado. Indefesa, fechou os olhos e se entregou, correspondendo à fúria do beijo com sua dor, deixando-o machucar-lhe a boca enquanto ela enfiava-lhe as unhas nas costas em resposta à hostilidade mútua e ao incontrolável desejo. O pouco que lhe restava de lucidez dizia que ele se ressentia por desejá-la tanto quanto ela o desejava. Mas não o suficiente para impedi-lo de passar-lhe a mão pelo corpo como se voltasse a tomar posse do que era seu, e ela correspondeu. Do nada, algo forte demais para ser contido brotara, reconheceu Sasha, tonta. Corria-lhe pelas veias, destruindo-lhe as defesas. Fazia tanto tempo que não se sentia assim. Tempo demais. A sensação formava 59
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pensamentos semiconscientes, instruindo-lhe o corpo. Ela gemeu, curvando o pescoço para sentir a boca familiar de Gabriel na carne sensível. Cada segundo tinha a intensidade de um tormento. Podia sentir o abrir e fechar suave dos lábios de seu sexo e a ânsia de abrir as pernas e mostrar a Gabriel que estava pronta. Soltou um gemido profundo de prazer feminino, ao sentir a ereção dele. Automaticamente, desceu a mão, os dedos apertando o volume por dentro da bermuda. Tinha o mínimo de sanidade para saber não poderem ser vistos, protegidos pelas rochas, mas não se importava, percebeu, quando Gabriel acariciou-lhe o mamilo por cima da camisola. — Gabriel... — O desejo aumentou ao pronunciar o nome e o corpo colou-se ao dele. Impaciente, desceu o zíper e fechou os olhos ao enfiar a mão e perceber que ele estava sem cueca. Passou as pontas dos dedos em toda a extensão com incrível prazer. — Espere. A ordem áspera gerou um protesto angustiado. Olhando-a, Gabriel sacudiu a cabeça e pegou a barra da camisola. Sasha arregalou os olhos, a respiração presa na garganta. Levantou os braços para que ele tirasse a camisola dela. Antes que pudesse abaixar os braços, a boca já estava em seus seios, saboreando o calor familiar e perfumado, os dedos mordiscando eroticamente o mamilo escuro do jeito que ela se lembrava, enquanto a mão segurava e acariciava o outro seio. Era mais prazer do que podia agüentar. Soltou um grito e enfiou as unhas nas costas dele, murmurando seu nome. Não foi preciso dizer nada, nem Gabriel perguntar nada. Eles pareciam se mover juntos como se os movimentos fossem pré-orquestrados. Gabriel a suspendeu. Quando ela enroscou as pernas ao seu redor, ele sentiu a areia dos pés arranhando-lhe a pele, um lembrete de que intenso prazer tinha que ser combinado com uma ponta de dor. Talvez por isso estivesse tão excitado. Porque, sem ela, sua vida era um tédio. Talvez precisasse de dor para realmente sentir. Pensamentos desconectados passaram como um flash por sua cabeça e foram afastados quando Sasha o abraçou. Recostando-se na pedra atrás dele, Gabriel a penetrou. A cabeça de Sasha curvou-se para trás, um gemido de prazer saindo de sua garganta enquanto ele investia cada vez mais fundo nos músculos apertados, pele contra pele, tão perfeito que parecia ser uma coisa só. Sempre fora assim com ela; e isso era um fantasma que o perseguia em sonhos e arruinava o seu orgulho. Nenhuma outra mulher jamais o fizera se sentir assim. Nenhuma outra mulher o. fizera querer assim, levando-o a quebrar a barreira que os separava como dois diferentes seres humanos. Mas só agora, no extremo do desejo, 60
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ele se permitia admitir. Tinha esquecido como era intenso o prazer de estar com Sasha. Como conseguira viver tanto tempo sem isso, sem ela? Sasha apertou-o contra ela o mais que pôde, saboreando senti-lo dentro dela. Os músculos agarravam-no, puxando-o mais para o interior, e ela se esfregava, querendo possuí-lo todo e ser possuída integralmente. A sensação era tão deliciosa que lhe trouxe emocionadas lágrimas aos olhos. Ela acompanhou-lhe os movimentos num ritmo alucinante, beijando seu pescoço e lambendo a pele suada com gosto salgado e familiar. Ela o ouviu gritar seu nome e começou a arfar ao sentir o primeiro espasmo do próprio orgasmo. . Mudo, Gabriel soltou Sasha, respirando fundo. Só podia ser a falta de oxigênio a causar essa tonteira, como um menino após possuir a primeira mulher. Sasha não podia acreditar no que fizera. O corpo inteiro tremia tanto que ela mal conseguia se manter em pé. Sentia-se fraca e, ao mesmo tempo, triunfante e satisfeita. Olhou para Gabriel. — Você me devia essa — disse, ofegando. — Essa e mais. O sol a deixou tonta, e escondeu o rosto da luz. Pegou a camisola na areia e vestiu-a. Sentia-se como se vivesse no vazio — algo semelhante ao momento logo após um grave acidente, quando a vítima está tão traumatizada que o corpo não reconhece a gravidade dos ferimentos. Sem uma palavra, caminhou de volta para casa.
CAPÍTULO NOVE Felizmente ainda era muito cedo para alguém estar de pé, porque estava muito abalada. Atirou-se na cama, lágrimas brotando com intensidade. O que acontecera com ela? Comportara-se como... Como uma mulher que não mantinha relações sexuais havia dez anos. Ou como uma mulher que ansiara durante dez anos por estar com o único homem que amara em sua vida. Gabriel ficou imóvel debaixo da ducha quente, tentando eliminar o cheiro de Sasha da pele. Algo acontecera com ele na praia, algo tão precioso e tão revelador que queria manter para sempre a recordação. Algo fez com que quisesse segurar Sasha com carinho; segurá-la para sempre. Mas isso o assustou, pois ameaçava tudo em que 61
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acreditava, todas as bases sobre as quais construíra sua vida. Obrigou-se a pensar na realidade da situação. Embora não tivesse planejado o ocorrido na praia, serviu para provar estar certo sobre Sasha. Provou que ela não era leal a Carlo, como não fora a ele. Então, onde estava a euforia moral que devia sentir? A sensação de vitória? Por que se sentia como um ex-viciado exposto, de maneira fatal, à droga preferida e descobrindo que o prazer proporcionado era mais forte do que supusera? Só uma vez, mais uma vez, para então abandoná-la e fazê-la sofrer, repetia a si mesmo, mesmo sabendo que não seria assim. Já estava pensando na próxima vez... E na próxima. Já estava pensando em acordar no meio da noite e encontrá-la deitada a seu lado. Já estava cheio de sentimentos... Sentimentos? Mas não tinha sentimentos — especialmente por Sasha. A imensa discrepância entre o que dissera a si mesmo e o que estava acontecendo o manteve imóvel quando a verdade atravessou as barreiras erguidas, lenta mas inexoravelmente, ganhando força. A dor que sempre negara ser capaz de sentir já lhe comprimia o coração. Na praia, abraçando Sasha, completando o ciclo de intimidade naquele momento de paz suprema, após a intensidade do clímax, um pensamento suave como uma pluma tocou-lhe o coração, dizendo que ali, a sós com Sasha, residia a maior felicidade que ele poderia conhecer. Sentia estranhas dores pelo corpo, mas não eram causadas por tensão muscular. Nas últimas três horas, acompanhara Gabriel e o arquiteto encarregado de transformar o hotel numa casa. Agora os três estavam parados do lado de fora e o arquiteto dava sua opinião. — Não vejo nenhum problema — dizia entusiasmado a Gabriel. — Devo dizer — acrescentou, em tom de aprovação para Sasha — que quando converteu a casa em hotel, seu arquiteto fez um excelente trabalho. Sasha forçou a atenção. Não era desinteresse. Arquitetura e decoração de interiores eram suas paixões, mas no momento ainda sentia os efeitos da bem diferente paixão da manhã. O corpo estava saciado. A cabeça mal conseguia conter a força da auto-flagelação mental. Não adiantava se culpar. Acontecera, e tinha de agüentar as conseqüências de seu ato. E nesse momento tomou consciência: a conseqüência mais terrível era o jeito como a curta distância de Gabriel enchia-lhe o corpo de luxúria. Teria dado tudo para recusar a proposta de se juntar a ele e ao arquiteto na inspeção, mas o orgulho não permitiu tal atitude. Agora sofria; cada terminação nervosa bombardeando-lhe o corpo com mensagens perigosas e explicitamente eróticas. Gabriel podia estar vestido, em calças claras e camisa de linho branca, mas tudo que via era seu corpo nu, e isso provocava uma transpiração, e ela morria de medo de exalar o cheiro feminino de desejo. 62
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Mantivera o máximo de distância entre eles, ficando num ângulo fora de seu campo visual, caminhando ao lado do arquiteto, mas, ainda assim, tinha consciência da presença dele. — Uma coisa que gostaria de incorporar aos jardins é uma área de lajotas para os meninos. idéia.
— Para as bicicletas e skates de seus filhos? — perguntou o arquiteto. — Boa
Sasha quase engasgou esperando Gabriel corrigi-lo e dizer que Sam e Nico não eram seus filhos, mas o arquiteto continuou: — Meus filhos reclamam por não terem lugar para brincar, pois minha mulher diz que é perigoso andarem na rua. Devo dizer que invejo vocês pelo maravilhoso lugar. Estão perto de Port Cervo para aproveitar as facilidades que oferece, mas não perto demais. Além do mais, têm essa maravilhosa praia particular. — A terra pertence à família Calbrini há várias gerações — contou Gabriel enquanto Sasha era atormentada pela lembrança de como aproveitaram a privacidade da praia naquela manhã. O arquiteto estava pronto para partir. Sasha respirou aliviada e despediu-se, escapando sem perceber que Gabriel se virara para vê-la caminhar. Encontrou os meninos no terraço, conversando excitados com o professor Fennini sobre o passeio que dariam à tarde para explorar alguns locais históricos da ilha. Mesmo sem se virar, sabia que Gabriel a seguira até o terraço. As mãos tremiam tanto quando pegou a jarra que derramou um pouco d'água. Desesperada para colocar o máximo de distância entre ela e Gabriel, tentou passar por ele rápido demais e escorregou. Teria esbarrado em uma das cadeiras de ferro se Gabriel não tivesse coberto o metal com a mão para que ela esbarrasse em seus dedos. Não podia se mover. Não podia fazer nada. O corpo deliciou-se com o prazer proibido do contato físico com o dele. A mão tremia tanto que mal conseguia segurar o copo, e percebia o olhar dos meninos. O que deviam estar pensando? Eram pequenos demais para compreender o que acontecia. Mas o rosto enrubesceu de culpa. — Mamãe, você não usa mais seus anéis? — perguntou Nico curioso. O alívio inicial foi seguido de nova tensão. Olhou a fina aliança na mão esquerda. — O carro chegou, meninos, hora de irmos — anunciou o professor, jovial. Sasha os acompanhou. O motorista esperava no Mercedes com ar-condicionado alugado por Gabriel para levá-los aos lugares que o professor desejava mostrar. Abraçou-os e beijou-os. Gabriel estava dizendo algo para o professor e Sasha aproveitou a oportunidade para voltar para casa. A cabeça doía. Ainda estava chocada, incapaz de conciliar o que 63
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fizera com a realidade da verdadeira relação com Gabriel. Gabriel a desprezava. Era hostil. Apesar disso, ela permitira... Permitira? O que aconteceu naquela manhã não foi resultado de uma decisão consciente. Como uma tempestade, vinda não se sabe de onde, estava além do controle humano. — Sasha. Ela congelou, tentada a fugir, como naquela manhã. Não só o rosto, mas o corpo inteiro queimava. Forçou-se a virar e olhá-lo. — Você não respondeu a Nico. Por que não está usando os anéis? Ela respirou fundo. — Porque os vendi. As jóias eram meus únicos bens, então os levei a uma loja em Port Cervo e os vendi. Quando os meninos voltarem para a escola pretendo usar o dinheiro para comprar uma casa para nós três em Londres. Ao contrário do que possa pensar, Gabriel, não pretendo viver à sua custa. — Você vendeu suas jóias? — Um medo paralisante invadiu o corpo de Gabriel. Se ela tivesse dinheiro, não precisaria dele. E ele queria que ela precisasse dele, reconheceu de repente. — Vendi. Os meninos precisam de uma casa bem arrumada. São meus filhos e não há nada que eu não faça para lhes dar um lar. — Você podia... — O quê? — desafiou-o. — Pedir sua ajuda? — Como uma vez pedira seu amor? — Acho que ambos sabemos qual seria sua reação, não é? Estou morrendo de dor de cabeça e não estou a fim de conversar, Gabriel. O que decido fazer com minhas jóias é problema meu, de mais ninguém. — Virou-se e seguiu para a escadaria. Por alguma razão desconhecida, Gabriel sentiu como se alguém tivesse lhe atirado algo pesado no peito. Sasha estava subindo as escadas e por um segundo ficou tentado a segui-la e perguntar como ela podia conciliar o amor pelos filhos com o que fizera com ele. Ela, afinal, tinha dito a ele que o amava. Havia implorado que ele correspondesse a esse amor. Ainda se lembrava da intensidade da confusão e raiva que ela despertara, a força do desejo de rejeitar o que ela dizia. Ao mesmo tempo, as palavras o penetraram com uma sensação nada familiar — dor, mesmo que na época se recusasse a reconhecer isso. Agora essa lembrança sufocada veio à tona. Tinha um nó na garganta e o coração batia dolorido — por causa de Sasha? Por que ela era uma mãe amorosa? Tinha ciúmes desse amor? Era como se recebesse um golpe vindo do espaço contra o qual não tinha defesa. Uma das primeiras coisas que o avô fizera ao pegar Gabriel para morarem 64
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juntos fora mostrar o colar de diamantes e rubis que dera à mãe de Gabriel quando ela voltou para casa. — Por isso ela vendeu você — zombou de Gabriel, antes de proclamar com azedume: — Devia ter se casado com o marido que escolhi para ela na ocasião. Aí, talvez, eu tivesse um neto merecedor do nome Calbrini, em vez de um bastardo vagabundo como você. Depois da morte do avô, Gabriel destruiu o retrato da mãe usando os rubis que valorizava mais que ele, e havia trancado o colar numa caixa de depósito da família Calbrini no banco. Esse tempo passado com Sasha devia ter reforçado tudo que pensava e acreditava a respeito dela, e do sexo feminino em geral. Devia ter lhe dado a satisfação do débito pago. Mas, em vez disso, percebera a grande inconsistência na lógica de seu pensamento, e ele não podia mais ignorá-la. Era preciso tomar uma atitude. Saiu da casa e entrou no carro. Conhecia Port Cervo o bastante para saber qual joalheiro Sasha visitara. A princípio, o dono da loja mostrou-se relutante em dizer quanto pagara a Sasha, mas Gabriel acabou conseguindo a informação. Gabriel assinou um cheque ao qual adicionou uma soma substancial pelo "inconveniente" e recuperou as jóias de Sasha, voltando em seguida para o carro. Sasha não mentira sobre a dor de cabeça. O barulho do Mercedes anunciando a partida de Gabriel e a casa vazia a fizeram suspirar aliviada. Não precisava fingir. Não precisava se preocupar ou se proteger por algumas poucas preciosas horas. tensa.
Tirou as roupas e entrou no chuveiro, agradecendo a água fria na pele quente e Naquela manhã na praia...
Pare, avisou. Não pense nisso. Mas ela queria. Queria pensar no que acontecera e saborear cada segundo, secretamente alimentar-se das lembranças. Desligou o chuveiro e pegou a toalha, enrolando-se antes de ir para o quarto. Essa fome que a possuía não significava nada, tentou se acalmar. Era apenas desejo físico, só isso... A garota carente, desesperada pelo amor de Gabriel, deixara de existir. E a mulher que ocupara seu lugar não precisava do amor dele. Tinha os filhos, auto-estima e uma nova vida pela frente. O que não precisava era mergulhar novamente no passado, envolver-se em um relacionamento doentio. Gabriel não mudara, e deixara isso bem claro. Ele não queria mudar. Tinha construído a vida usando como base o abandono da mãe, e sem essa base... A realidade é que queria desprezá-la. Por mais potente que fosse a atração sexual entre eles, era baseada em sentimentos amargos, sombrios, e isso era destrutivo e nocivo para ambos. Tomou dois analgésicos, fechou as cortinas e enroscou-se na cama. Lágrimas 65
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encheram-lhe os olhos e escorreram pelo rosto. A dor de cabeça não era a causa, admitiu, embora não pudesse compreender por que deveria chorar por Gabriel ou por ela mesma. A casa estava vazia e silenciosa. Uma sensação como uma garra forte comprimindo-lhe e apertando-lhe o coração tomou conta do peito de Gabriel. Como uma imagem numa tela, viu-se andando na cabine escura do iate, chamando irritado por Sasha, querendo saber por que ela não estava na cama. Mas, dessa vez, ela não podia partir com Carlo. O primo estava morto e Sasha não tinha para onde ir. Era a adrenalina que fazia o pulso acelerar e o estômago revirar-se, disse a si mesmo. Olhou os aposentos do primeiro andar e encontrou-os vazios. Em seguida, subiu as escadas. O som do motor do Mercedes debaixo de sua janela despertou Sasha de sua sesta. Gabriel voltara. Puxou as cobertas, aliviada ao descobrir que a dor de cabeça diminuíra. Ouviu Gabriel batendo na porta de sua suíte, chamando seu nome com impaciência. — Estou aqui. Só um minuto — respondeu, abandonando a tentativa de se vestir ao ouvi-lo entrar e atravessar o piso de madeira até a saleta da suíte. Num minuto estaria em seu quarto. Em pânico, Sasha pegou uma toalha e se enrolou, pedindo: — Não entre, Gabriel. Não estou vestida. — Mas era tarde demais. Ele já abrira a porta e estava parado no meio do quarto, olhando para ela irritado. — O que está acontecendo? Sasha ficou assustada. Os olhos dele varriam o aposento como um amante ciumento, esperando encontrar um rival. Sua imaginação estava lhe armando peças. — Por que as cortinas estão fechadas? — Estava com dor de cabeça e decidi deitar um pouco. — Sozinha? Sasha o encarou. O que dera nele? Não era possível acreditar que ela escondera um amante ali. — Estava com dor de cabeça — repetiu. — Ir para a cama para se ver livre dela é algo que as pessoas fazem, Gabriel. Ele comprimiu os lábios, e de repente Sasha quase pôde sentir o cheiro do passado: o ar vespertino da cabine do iate exalava o cheiro da sensualidade do sexo. Sentia o coração palpitar. Sem uma palavra, só de olhá-la, Gabriel a levara de volta ao passado. — Você ainda pode ir para a cama de tarde para fazer sexo — disse Sasha, com ímpeto. — Mas eu, certamente não. 66
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Ela soava como se quisesse?, pensou Gabriel. Estava inconscientemente mandando uma mensagem subliminar de que o queria? — Por que queria falar comigo? — perguntou. — Gostaria de me vestir. Os meninos vão voltar logo. Ele colocou na mesa o grande pacote quadrado que carregava e olhou o relógio. — Ainda vão demorar umas duas ou três horas — disse, antes de pegar o pacote e entregá-lo para ela. — O que... o que é isso? — perguntou com cautela. — Por que não abre e vê? — Ele foi até a porta, mas em vez de ir embora a fechou. — Abra, Sasha — repetiu, frio. Quando ela tirou o papel de embrulho, levantou a tampa da caixa e viu o nome no papel fino, logo concluiu. As mãos tremiam ao retirar o papel, os lábios apertados ao encontrar as pequeninas caixas de jóias. Abriu a caixa de cima, uma onda de raiva tomando conta dela ao ver o anel de diamante. Fechando a caixa, olhou para Gabriel. — Melhor checar se está tudo aí — disse, seco. — O que é isso, Gabriel? — perguntou, ignorando-lhe a ordem e conseguindo, sabe-se como, manter a voz calma. — Suas jóias. O que pode ser? — Não, não são. — Sasha sacudiu a cabeça fechando com força a tampa da caixa e afastando-a. — Eu vendi minhas jóias. — E eu as comprei de volta para você. — Você não tinha o direito. Pode se dar conta do que fez? Quanto pagou por elas? Mais do que o valor pelo qual as vendi, estou certa. — O silêncio foi a resposta. A raiva queimou-lhe o rosto. — Como ousa fazer isso comigo? O motivo pelo qual vendi as jóias era poder dar uma casa para meus filhos e para mim, para que não dependêssemos de você. Não tinha o direito! — Tinha todo o direito — interrompeu-a, furioso. Não percebia como tinha sorte? Como estava sendo generoso? Ou controlador?, sugeriu uma voz interior. O quão determinado estava a mantê-la em dívida com ele? Silenciou a voz debochada. — Tenho de zelar pelo nome Calbrini. O que iam pensar de você vender as jóias dadas por Carlo? — Menos do que vão pensar de você tê-las comprado de volta — disse, sarcástica. — Todo mundo sabe que Carlo estava falido. Não tenho motivos para me envergonhar de vender minhas jóias, Gabriel. Mas agora, graças a você... — Graças a mim o quê? — perguntou, agressivo. — Você realmente precisa que eu diga? Por que as comprou de volta? Para me obrigar a sentir que estou em débito com você? Agradecida? Para que pudesse 67
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exercer controle? Ao comprar as jóias de volta está me forçando a pagar por elas novamente e ficar em dívida pelo dinheiro extra que deu ao joalheiro. Roubou minha liberdade, Gabriel — disse, pálida de raiva. — Como seu avô roubou a liberdade de sua mãe. Mas não sou sua mãe e não estou à venda. Não vou ser chantageada nem vou ser forçada a viver em débito permanente. Tremia dos pés à cabeça quando começou a perceber o que ele fizera. Pegou a caixa e a empurrou com força na direção dele. — Ande, pegue a caixa. Eu não quero. E não quero você. Não vou permitir que me force a representar o papel que escolheu para mim, Gabriel. Repito: não sou como sua mãe. Sou eu. — Pelo menos minha mãe não dormia por aí, fazendo sexo com dois homens ao mesmo tempo. Você está certa. Você não é igual a ela. Você é uma... Foi demais para seu autocontrole. A raiva fervia. Levantou a mão e esbofeteouo com força. Imediatamente, Gabriel deixou cair a caixa e a segurou. Chocada e envergonhada, Sasha tremia, sentindo desprezo por si mesma. Era isso que acontecia quando Gabriel invadia sua vida. Ele trazia lembranças de seu passado e despertava sentimentos com os quais ela não estava preparada para lidar. Mesmo agora, com raiva e vergonha, ainda o desejava, admitiu. Tinha de colocar distância entre eles. — Gabriel, me solte — implorou, retorcendo-se, esquecendo que só vestia uma toalha, que escorregou no exato momento em que Gabriel perdeu o controle e levantou-a para impedi-la de se debater. Sasha conteve um suspiro irregular ao ver o olhar dele quando as mãos encontraram a pele nua e não a toalha. Um silêncio pesado, perigoso, encheu o aposento. — Gabriel — voltou a implorar, mas era tarde. Ele já chutava a toalha e o conteúdo da caixa e a carregava para a cama. — Você tem razão — disse com voz rouca. — Está em débito comigo e pretendo exigir pagamento total, aqui e agora.
CAPÍTULO DEZ Indefesa, Sasha o encarou quando a raiva transformou-se num forte arrepio de excitação e a mão que levantara para empurrá-lo enroscou-se em seu pescoço para puxá-lo para si. Por essa razão, precisava manter a distância. Porque, quando estava perto dele, 68
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só podia pensar no quanto o desejava. A menina de 17 anos que olhara Gabriel e criara um mundo fantasioso de amor para eles não tinha consciência da realidade do que sentiria por ele. Sexo para ela era algo que caminhava de mãos dadas com o amor. Um simples subproduto. Não tinha noção da energia e da urgência compulsiva, da ferocidade e intensidade do desejo. Não fazia idéia do que era capaz de sentir. Aquela garota era inocente, não podia ser culpada, mas ela, como mulher, devia ter consciência do que fazia e controlar o que sentia, reconheceu. Fechou os olhos e passou as mãos no torso de Gabriel, avidamente reaprendendo seu contorno, abrindo os botões enquanto ele a beijava, mergulhando nas profundezas do desejo para aquele lugar onde não havia razão, apenas as vozes de seus sentimentos, sussurrando que se apressasse para ter o que podia, enquanto podia, enquanto ainda havia tempo. Ela puxou-lhe a camisa, os olhos abertos vendo-o contrair os ombros, seu corpo acompanhando o dele quando ele se afastou para abrir a correia. Inclinou-se, alisou a clavícula com o dedo e em seguida deu-lhe beijinhos suaves, aspirou o cheiro másculo quando o acariciou, e começou a percorrer com os lábios o caminho que levava do pescoço até a cintura. Estava completamente perdida, isolada do mundo pelo próprio desejo. Ele soltara a correia e estava com as mãos no cós da calça. Sasha levantou as mãos e as colocou no peito dele, puxando-o para a cama e substituindo as mãos dele pelas suas na calça. Devagar e cuidadosamente, centímetro a centímetro, beijo a beijo, ela abriu o zíper, demonstrando o prazer sexual de lentamente expô-lo a seu toque e olhando a barriga na qual uma fina linha de pêlos escuros se formava. Circundou o umbigo com a ponta da língua e levantou a cabeça para olhar, solene, onde a linha fina de pêlo começava a engrossar. Por cima da roupa, apalpava a ereção. Sentiu a pulsação acelerar o próprio corpo. Puxou impaciente a calça dele, suspirando em êxtase quando ele atendeu ao seu desejo e se levantou para tirar o resto da roupa. Na praia ela não tivera tempo de olhá-lo por inteiro, mas agora podia. O coração quase lhe saía pela boca, os mamilos enrijecidos quando o intenso desejo de uma mulher, e não de uma menina, a consumiu. Isso também era algo que não conhecia aos 17 anos. Esse desejo violento, totalmente distinto da doçura da fantasia, essa necessidade de uma mulher de verdade por um homem igualmente real, da forma mais elementar. Aos 17, tudo que queria e buscava era amor sentimental, romântico. Agora, ali, na cama, estava preparada para sacrificar o amor em nome da satisfação física que ele podia lhe oferecer, decidiu Sasha. Era uma mulher, com o direito de se entregar à própria sexualidade e à luxúria. O que acontecera com eles na praia tinha trazido à tona dez anos de repressão e recusa. Mas não podia se permitir esse tipo de piedade, uma voz avisou-a. Não era livre 69
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para fazê-lo. Era mãe, assim como mulher. Uma mãe que devia priorizar os filhos e não a si mesma. Gabriel era o tutor deles e não podia lhe dar as armas para destruir a maneira inocente como os filhos a viam. Como se tivesse pressentido o que ela pensava e sentindo o distanciamento, Gabriel a pegou, dizendo de forma cruel: — Tarde demais para mudar de idéia, Sasha. Vou pegar o que me pertence. E pretendo mostrar a você do que abriu mão ao me abandonar. A suavidade da voz, cheia de promessas sensuais, quase a fez desfalecer. Ele acariciava-lhe a pele com o mais terno dos toques, passando de leve os dedos na pele, e de repente ansiou por mais. Era como se ele, deliberadamente, a provocasse, reconheceu, quando a beijou suavemente e depois se afastou, repetindo o beijo rápido de novo, e de novo, enquanto o movimento provocador das pontas dos dedos se tornou uma espécie de tormento. Desesperada, querendo mais, ela tentou puxá-lo para perto. Mas ele simplesmente segurou-lhe os braços e a manteve imóvel enquanto beijava seu pescoço, seus ombros, tão de leve que ela precisou prender a respiração para não perder a sensação. — Você me quer — sussurrou. — Não quer? Tudo que ela conseguiu foi deixar as convulsões de prazer responderem por ela e gemer sentindo-se recompensada quando os lábios roçaram seus seios, movendo-se pertinho do mamilo. Era impossível não se arrepiar ou impedir uma das mãos de se libertar e empurrar-lhe a cabeça para mais perto. O mordiscar lento e erótico dos lábios nos mamilos sempre tivera o poder de deixá-la se dissolver em meio ao prazer erótico. Mas a memória falhara em dar a verdadeira dimensão de intensidade, reconheceu Sasha quando a sensação de estímulo da língua de Gabriel circundando sua carne faminta abocanhou-lhe o seio. Choques de prazer intenso a fizeram gritar, originando seguidas ondas de crescentes orgasmos que percorriam seu corpo e a possuíam, fazendo-a flutuar. Sem que ela dissesse uma palavra, Gabriel a tocou e se certificou de que ela estava pronta para ele. A sensação dos dedos em seu sexo aumentou sua volúpia, o corpo inteiro excitado sob o calor da boca à carícia do dedo circundando a carne inchada da fonte de prazer feminino. Por poucos segundos era o suficiente. Mas o corpo guardava lembranças de outros prazeres mais profundos e pediu que a ponta do dedo esfregasse devagar toda a sua feminilidade. Não uma vez, mas sem parar, até ela estar levantando os quadris e rangendo os dentes de desespero, depois puxando Gabriel para satisfazer sua necessidade de senti-lo preencher o vazio dentro dela. — Você me quer? — Ele mudou-a de lugar, colocando-a entre as suas pernas. Sasha fez que sim e o olhou, cheia de luxúria, prendendo a respiração tomada 70
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pela excitação. As mãos dele estavam em seus quadris. Ele curvava o corpo para o seu, abaixando-a; a respiração aquecendo-lhe a barriga. Sasha soltou um gemido na defensiva e contraiu o corpo, lutando contra uma intimidade que ela achava que poderia matá-la. Não era o que esperava ou desejava. Era íntimo demais, pessoal demais, gostoso demais para liberá-la de todas as defesas e a deixar exposta. Mas era muito tarde para impedi-lo. A ponta da língua de Gabriel já lambia delicadamente a carne inchada, que se abriu em uma oferta sensual, provocando uma precipitação de delícia quente e eletrizante. A língua lambeu devagar a carne excitada. Sasha tentou, sem êxito, abafar o grito de prazer. Partiu do lugar onde as lentas lambidas tinham se tornado mais intensas, num ritmo sensual. Podia sentir o sinal evidente de que chegaria ao clímax. Era tarde demais para escapar. A cabeça curvou-se, os dedos se contraindo quando a sensação dentro dela atingiu o ponto de explosão. Sentiu Gabriel se mover, o peso por cima dela, o calor entre suas pernas quando ele levantou seus quadris e investiu com força para dentro dela. Durante as várias investidas seu corpo tremeu, prestes a atingir o clímax, os músculos vorazes com a sensação que os movimentos dele dentro dela causavam. E, depois, os profundos e envolventes espasmos de prazer se sucederam, possuindo-a quando ele se esmerou para lhe dar mais prazer ainda. Ela podia sentir o sêmen dele escorrendo dentro dela, o que acrescentou mais sensualidade, e, em seguida, a intensidade foi se extinguindo, deixando-a deitada sem defesa e completamente envolvida pelos braços de Gabriel. Por um longo tempo foi impossível falar. Tudo que ela podia fazer era permanecer deitada, ouvindo a ofegante respiração de Gabriel voltar ao normal e aceitar os espasmódicos choques que percorriam seu corpo como uma corrente elétrica. Finalmente, Gabriel se afastou. — Você jogou na minha cara todas as coisas que Carlo te deu, mas nós dois sabemos que ele nunca te deu o que acabo de dar. As palavras dele a atingiram como se ele tivesse atirando pedras no fundo da água de um lugar alto, que desapareciam, mas deixavam os ecos da existência e jamais se apagariam. — Há mais coisas na vida que sexo, Gabriel. — Pode dizer isso agora — debochou. — Mas não o faria há dez minutos. — Não posso mudar o passado, mas posso controlar meu futuro. Não vou ser usada como um objeto sexual. Tenho meus filhos para cuidar. Não há prazer na cama 71
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que compense comprometer o relacionamento com eles. — Você diz isso agora, mas ambos sabemos que posso fazê-la mudar de idéia. Sasha fechou os olhos para não vê-lo pegar as roupas, para não vê-lo sair de seu quarto. Mas acabou abrindo-os.
CAPÍTULO ONZE Ele tinha feito o que prometera. Forçara Sasha a admitir que nenhum outro homem podia satisfazê-la como ele. Então, por que não estava se sentindo vingado? Por que o triunfo era vazio? Por que a dor no peito? Por que a vontade de vê-la sorrir para ele com a mesma ternura com que sorria para os gêmeos? Por que tinha permitido que sua necessidade por ela o possuísse com tal intensidade que fizera sexo com ela não apenas uma, mas duas vezes, sem usar nenhum tipo de proteção? Por que acordava de madrugada querendo senti-la perto, querendo mais do que seu grito de prazer durante o sexo? Porém, mais o quê? O que exatamente queria dela? O coração conhecia a resposta. O coração? Ele não tinha coração; sua mãe destruíra-lhe as emoções praticamente antes de elas se formarem. Nunca tivera medo de amar alguém porque não se acreditava capaz de amar. Então, por que esse sentimento? A verdade é que Sasha era uma mulher que só um idiota não amaria. Gabriel olhava a tela do computador sem enxergar, incapaz de compreender de onde viera esse pensamento e igualmente incapaz de rejeitar a verdade que continha. A garota por quem no passado alimentara desprezo pelo dano que causara a seu orgulho havia se tornado uma mulher merecedora de respeito e agora tinha o poder de causar muito mais dor em algo bem mais vulnerável que seu orgulho. Devagar, como um homem perdido num túnel, sem uma lanterna para guiá-lo, Gabriel percorreu cauteloso o território desconhecido do novo mundo de emoções no qual entrara, acovardando-se quando um movimento negligente o despertou para uma verdade dolorosa. Isso era amor? Essa poderosa combinação de força e fragilidade, a necessidade de dar e receber, de querer proteger e possuir? Quando pensava no passado, lembrava-se de ter sentido tudo isso por ela, mesmo que negasse. Amor. Saboreou a palavra, fazendo-a encher a boca, sentindo sua forma e formato enquanto na cabeça a imagem de Sasha se formou. — Você pergunta — ouviu Sam dizer. — Não, você pergunta — insistiu Nico. 72
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Um sorriso brotou, consciente de que o objetivo dessa disputa era outra tentativa de convencê-lo a ficar do lado deles no assunto das tão desejadas bicicletas. Levantando-se, foi até a porta, abriu-a e convidou os meninos a entrarem. Os gêmeos trocaram um olhar expressivo, ficando bem juntinhos. Embora o gesto não fosse intencional, era bastante comovente. Ainda eram jovens demais para buscar conforto na presença física do outro, percebeu Gabriel ao fechar a porta e sentar. Tendo passado por uma radical transformação, só agora descobria não apenas ter um coração, mas que este era vulnerável às mais tolas demonstrações de sentimentalismo. — E então? Quem vai me pedir o que quer que seja? Trocaram outro olhar eloqüente. Uma cotovelada de Sam nas costelas de Nico parecia ser o ponto que decidiria a questão. Nico colocou-se à frente. — Eu e Sam temos pensado se você não é nosso pai de verdade. A simples pergunta desnorteou Gabriel, e quando ele não respondeu, Sam continuou, numa voz gentil: — Está bem. Antes de papai morrer ele contou para mim e para Sam que não era nosso pai verdadeiro. — É, mas ele disse também, Nico, que sempre seria nosso pai e que nos amava muito. — Eu sei disso. Mas ele não disse quem era nosso pai, disse? Sam, ansioso por se mostrar mais bem informado, deu um olhar irônico. — Não, mas isso foi porque ele disse que um dia, quando fôssemos mais velhos, mamãe explicaria tudo para a gente e que não devíamos contar a ela o que ele tinha dito. Ele disse ter orgulho de nós e que éramos verdadeiros Calbrinis — informou Sam a Gabriel, antes de dar outra cotovelada com força em Nico. Obediente, Nico fixou o olhar com cuidado nele: — Bem, eu e Sam temos pensado muito e... Gabriel viu os meninos trocarem olhares. — Nós íamos gostar de verdade se você fosse nosso pai — despejou Nico. — É, ia ser bem legal — concordou Sam. Ao tomar consciência do que acabara de ouvir, o coração de Gabriel reconheceu que esse curto espaço de tempo era suficiente para mudar sua vida. Era como se a combinação de uma mola secreta de um complexo mecanismo, travando uma fechadura, tivesse de repente se encaixado no lugar, uma série de portas se abriram em sua cabeça, permitindo que a verdade as percorresse livremente. 73
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Claro que eram filhos dele. Como não podiam ser? Não estava surpreso com a descoberta, mas sim por não ter percebido antes. Agachou-se ao lado dos meninos. Os traços familiares ficaram turvos, levando-o a piscar. — Vocês querem mesmo que eu seja seu pai? — perguntou. Era a primeira vez na vida que pensava na necessidade emocional dos outros como algo mais importante do que suas próprias necessidades. Os meninos se entreolharam e depois o fitaram, com sorrisos abertos transformando os rostinhos quando sacudiram a cabeça em uníssono. — Queremos. — Sabíamos que era você, não é Nico? — Sim. Nós dois sabíamos — disse Nico, grave, estendendo a mão, colocando-a no braço de Gabriel e recostando-se nele. Por isso Carlo quis que ele fosse o tutor, se deu conta, a emoção dando um nó em sua garganta, com uma criança — um filho — em cada braço, apertando-os. Não era de admirar que tivesse se sentido tão à vontade com eles, tão determinado a protegê-los. Era isso que Carlo tinha tentado lhe contar, mas mudara de idéia. Porque tinha medo que Gabriel pudesse rejeitar a verdade. — Acho que por enquanto, até que eu converse com sua mãe, vamos guardar esse segredo — disse Gabriel aos filhos. — Mas não demore muito. Agora que você é nosso pai, vai poder dizer a mamãe que podemos ganhar as bicicletas de aniversário. Quando tinham pensado nisso?, refletiu Gabriel, olhando os sorrisos felizes e confiantes. Segundo a lógica masculina, parecia uma troca razoável, mas Gabriel duvidava que Sasha fosse encarar o fato dessa maneira. Os meninos foram encontrar o professor, mas antes juraram manter segredo e repetiram o quanto estavam felizes por ele ser pai deles. Contra todas as possibilidades, eles possuíam uma força emocional e autoconfiança de causar inveja. Não, não era contra todas as possibilidades, mas graças à mãe. Porque ela lhes dera algo mais precioso e valioso que qualquer dinheiro ou bens materiais. Ela tinha lhes dado uma mãe e um pai, a segurança de serem amados e desejados, os laços fortes que eles tinham aprendido a respeitar e, acima de tudo, a liberdade emocional de serem eles mesmos. Não era Sasha o mais valioso presente que a vida lhes dera? E o mais importante presente que a vida lhe dera? Sasha. Precisava conversar com ela. Encontrou-a na cozinha, tirando os pratos da pia. Ela levantou o olhar quando ele 74
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entrou, para afastá-lo imediatamente. Ele queria olhar sem parar para ela, embevecido com o corpo que tinha dado vida aos filhos deles, pois ela era responsável pelo milagre da existência dos meninos. Mas não a única responsável, é claro. — Os meninos acabaram de me procurar. — Esperam que você me convença a dar as bicicletas de aniversário. — Queriam saber se sou o pai verdadeiro deles. A jarra que segurava caiu de suas mãos, despedaçando-se. O olhar em seu rosto revelou a Gabriel tudo o que ele precisava saber. — Carlo era o pai deles — sussurrou, abaixando-se para recolher os cacos. — Não, deixe. Você vai acabar se cortando — avisou Gabriel, mas já era tarde. O sangue corria da palma da mão onde um caco lhe cortara a pele. Sasha olhava desconcertada para o sangue. Sentia-se estranhamente distante do que estava acontecendo, como se uma força imensa a tivesse transferido para um lugar onde apenas se observasse à distância. — Não, ele não os concebeu. Ele mesmo contou aos meninos, Sasha, então não há como negar. Isso não podia estar acontecendo. Ela abaixou a cabeça. — Preciso limpar isso — disse. — Eu... — Eu cuido disso. Sente-se. Como ela havia ido parar na cadeira da cozinha? Olhava para Gabriel sem expressão, enquanto ele juntava os cacos e os jogava fora. — Agora vamos dar uma olhada nessa mão. Dócil, deixou Gabriel conduzi-la até a pia antes de pegar a caixa de primeiros socorros da prateleira e fazer um curativo. Ele a levou de volta à mesa e fez com que se sentasse. — Os gêmeos são meus filhos, nós dois sabemos. Mas o que não sei é o motivo de não ter me contado. O choque desanuviava sua apatia. Haveria tempo depois para se preocupar com o efeito que a revelação de Carlo devia ter produzido nos gêmeos e saber exatamente o que ele tinha contado. No momento, precisava se certificar de que Gabriel entenderia que os filhos eram dela, que não tinham nada a ver com ele. Soltou um suspiro profundo. — Você realmente precisa perguntar? Eu implorei a você que me amasse, Gabriel. Passei mal todas as manhãs durante semanas, e adivinhava o motivo, mesmo que mentisse para você e dissesse que era uma infecção intestinal. Cheguei a lhe dar a oportunidade de dizer que queria filhos. Fiz tudo para lhe dar a chance de adivinhar a verdade antes de contar. Prosseguiu: 75
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— Carlo adivinhou, e ele mal me conhecia. Carlo compreendeu como eu me sentia e como estava assustada. Você já havia me rejeitado. E se rejeitasse a criança que eu carregava, ou pior? Quando você me disse que não queria filhos, tive medo. Não por mim, por eles. Pensei que você pudesse me pressionar para interromper a gravidez. — Sasha fechou os olhos e engoliu em seco. — Tinha medo de ceder, de fazer o que você quisesse só para satisfazê-lo. Agora que começara, não conseguia parar. — Carlo me deu a chance de tomar a decisão correta. Devo a Carlo, não a você, ou a mim, ter os gêmeos hoje. Foi Carlo quem assumiu a paternidade, Gabriel. Foi Carlo quem deu a eles proteção e amor paternal. Arrependimento, vergonha e, acima de tudo, dor corriam pelas veias de Gabriel — Você devia ter me contado. — Talvez você devesse saber. Nunca vou saber o que fiz para merecer Carlo. Nunca vou deixar de ser grata pelo que ele me deu. Às vezes, penso que foi o destino quem mandou Carlo. Não para mim, mas para eles. Mas não importa qual de nós ele ajudou. Só sei que a generosidade e a compaixão dele acabaram por salvar todos nós. Sem ele eu poderia ter cedido e deixado você me persuadir a abortar, ou então acabar na rua, onde meus filhos cresceriam em piores condições do que eu mesma. Dizem que isso passa de geração a geração, não é? Que crianças que sofreram muito acabam se tornando pais que causam sofrimento aos filhos. Tive tanta sorte de ter tido a oportunidade de mudar esse padrão. — Você está dramatizando. Está certa: eu disse que não queria filhos. Mas se soubesse que você estava grávida... — Você diz isso agora, mas a verdade é que nenhum de nós estava preparado para assumir essa responsabilidade. Eu era pouco mais que uma criança carente, clamando pelo amor de um homem que não podia dá-lo. Ter meus filhos foi o que me despertou. Graças a Carlo, fui capaz de aproveitar a melhor ajuda que eles podiam me dar. Já amava meus bebês, mas precisava aprender a me amar. Precisava aprender a aceitar meu passado, mas aceitá-lo como passado, sem que interferisse no meu presente. Carlo tinha tanto orgulho dos meninos! Verdadeiros Calbrini, era assim que os chamava, A conversa tomava um rumo que Gabriel não esperava ou desejava. Sasha parecia determinada a rejeitar suas tentativas de criar um vínculo entre eles através dos filhos. As revelações que o tinham impressionado, aparentemente, não causavam impacto nela. Não era capaz de perceber que ele mudara? Que reconhecia os erros do passado e estava pronto a repará-los? — Eles são meus filhos — disse firme. Sasha sacudiu a cabeça. — Não. Seus filhos, Gabriel, seriam tão infelizes quanto você, por causa da sua 76
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infância. Um adulto não pode encontrar salvação através de uma criança. Você tem que dar, não tomar. — Cometi erros, admito. Mas não é tarde. — Não é tarde para quê? Não é tarde para nós, era o que queria dizer, mas disse: — Eu conheço você, Sasha. Ela o interrompeu imediatamente. — Não, você não me conhece. Nunca conheceu. Para você sou uma vadia que pegou na rua, um pedaço de carne para lhe dar prazer. Você acreditou que eu saía com você e com Carlo. Ele tinha cometido erros, sabia, mas não era o único culpado. As acusações o fizeram agir na defensiva. — Você me culpa? Na noite em que nos encontramos você me disse.... Sasha lançou um olhar aborrecido para ele. O que importava agora o que tinha dito? — Na noite em que nos encontramos, eu ainda era virgem. O que prova como me conhece pouco, Gabriel. — Ela ergueu a cabeça e levantou cambaleando. — Não pode ser verdade — protestou. — E o diretor de filmes pornô? Você deu a entender... Sasha deu um sorriso melancólico. — Ah, claro, certamente dei a entender, e ele existia. Tentou fazer uma proposta a uma das garotas com quem eu estava de férias. A verdade é que eu era muito jovem e muito tola. Quis que você me achasse sexy e desejável... Era ingênua demais para perceber que você me considerava usada e disponível. — Não entendo nada. Você diz que era virgem, então, por que foi para a cama comigo? Devia saber... — O quê? Que tudo que queria era transar só uma noite? — Sasha sacudiu a cabeça. — Gabriel, eu tinha 17 anos. Estive em orfanatos desde criança. Era carente. Achei que você era a resposta. Meu príncipe iria aparecer, me carregar nos braços e seríamos felizes para sempre. Era tudo o que eu queria: ser amada! Amar! Ele podia perceber a decepção na voz diante da própria tolice e ficou magoado ao vê-la magoada. — As outras garotas eram mais velhas que eu. Só fui incluída no passeio porque trabalhávamos juntas. Eu as atrapalhava, as irritava, então, passava a maior parte do tempo sozinha. Vi você no dia em que cheguei a Saint Tropez. Você passou pelo bar onde eu estava tomando uma xícara de café. Você era a imagem do meu herói. Só 77
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precisei de poucos segundos para me convencer que era amor à primeira vista e que você era o único homem que eu poderia amar, e para sempre. — Ela deu de ombros. — Para você ver até que ponto minha carência me levava. Comecei a perambular pelo porto, esperando ver você. E o vi, saindo do iate. Pensei que você trabalhava nele. Nunca me ocorreu que era seu. — Sorriu triste. — Seu dinheiro nunca representou nada para mim, Gabriel, embora, é claro, você não fosse acreditar. Fiquei apavorada quando soube como você era rico, mas aí era tarde demais. Estava profundamente apaixonada. Tão apaixonada e tão louca por você que mesmo naquela primeira vez o prazer superou a dor. Gabriel fechou os olhos. Podia se lembrar da primeira vez e de como se sentira bem, como ela se sentira bem, como os músculos eram apertados. Ele tinha suposto que era devido à sua experiência. Devia ter imaginado! E talvez no fundo soubesse, mas preferiu fingir que não. Vergonha e uma aguda sensação de perda apertaram-lhe a garganta. — E, é claro, eu tinha me convencido que você ia corresponder aos meus sentimentos — continuou Sasha. — Embora você fizesse o possível para deixar claro que não o faria. Mas o que sabia eu? Se eu tinha alguma certeza, era da minha própria carência. Nunca ninguém havia me amado. Não sabia o que era o verdadeiro amor. Tão previsível! Eu buscava amor onde nunca iria encontrá-lo. Coloquei como meta me tornar boa o suficiente para você para que me recompensasse com seu amor. É um clichê. Quanto mais você me negava seu amor, mais eu me empenhava em obtê-lo. — Eu não sabia. — E como podia? Nunca conversamos. Simplesmente fazíamos sexo, e eu elaborava minhas fantasias tolas. Mesmo quando você mencionou sua mãe e seu avô, nunca me ocorreu que esses relacionamentos refletiriam no nosso. Apenas achei maravilhoso ambos termos tido infâncias infelizes, e pensei que isso nos uniria. Estava convencida de ter a oportunidade de dar a você o amor que nunca experimentara. Concordei com você que sua mãe havia sido cruel e egoísta. Não pude argumentar que talvez ela tivesse medo e se sentisse só. Que ela podia estar sofrendo num casamento que não funcionava e podia ter sido obrigada pelo pai a voltar para casa, para descobrir depois que o preço de ser salva de um casamento infeliz era a perda do filho. Sasha pôde ver que Gabriel estava pensativo e os olhos demonstravam apatia. — Não estou dizendo que foi isso que aconteceu. Estou simplesmente ressaltando que podem existir outras explicações diferentes das que lhe contaram. Gabriel não parecia convencido. — Olha, não estou tentando reescrever sua história familiar ou defender sua mãe. Mas você era muito criança quando sua mãe partiu para saber o que ela sentia ou o porquê de sua atitude. Tudo que sabe foi contado pelos outros. 78
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Sasha deu de ombros, cansada. — Podemos recapitular nossas infâncias, constatar a dor e culpar nossos pais e, depois, podemos olhar para nossas infâncias e ver que nós também sofremos. Mas a que isso nos leva, Gabriel? Por quanto tempo vamos seguir maldizendo o mal que nos causaram? Quantos anos de nossas vidas vamos passar procurando respostas no passado e culpando os outros pelo nosso presente? Precisei me distanciar de minha infância e me recriar como a pessoa que os gêmeos precisam que eu seja. Foi a maior mudança de toda a minha vida. Isso não era inteiramente verdade. Mas Sasha não estava disposta a contar a Gabriel que mesmo agora ele era dono de seu coração e que, por mais que tentasse, não conseguia se libertar. — Então, você se reinventou e mudou a vida inteira decidindo que sua infância não era tão ruim quanto se lembrava? Infelizmente, não tenho sua imaginação. O amor por Gabriel que tentara, com tanto esforço, dizer a si mesma estar enterrado encheu o coração de Sasha. Ela sentia vontade de abraçá-lo, curar as feridas de seu passado. Podia vê-lo como criança — só, com medo e sem amor. Sofrido. Lágrimas começaram a escorrer. Queria voltar ao passado e resgatar a criança, darlhe amor. Mas sabia que não importava quanto amor tivesse, não conseguiria extrair dele a amargura. E sabia também que não podia se arriscar a deixar essa amargura interferir na vida de seus filhos. — Não tem mais nada a dizer? — perguntou Gabriel com raiva. — Esse tipo de conversa está ótimo, Sasha, mas não pode esperar que eu acredite que vá alterar a realidade. Esqueça o passado. O que precisamos discutir agora é o presente, e nossos filhos. Sasha afastou o olhar. — O que aconteceu? Ou posso adivinhar? Você preferia que eu nunca soubesse a verdade, não é? Que eu continuasse a acreditar que Carlo era o pai deles. — Preferia — admitiu baixinho. — Obrigado pelo voto de confiança. — Estou pensando nos meninos. — E o que está pensando é que não sou bom o suficiente para ser pai deles. Sasha baixou a cabeça. Tudo isso era tão difícil, tão doloroso! Podia se lembrar de como se sentira ao saber que estava grávida, a excitação por ter um filho de Gabriel. Sentia como se carregasse dentro de si o maior tesouro do mundo. A gravidez tinha sido acidental: dos dois, era ela a pessoa inexperiente. Inexperiente demais para pensar em fazer algo deliberadamente para sabotar os métodos contraceptivos de Gabriel. O fato de ter concebido, apesar das precauções tomadas por ele, a fizera acreditar que a gravidez era especial e estava destinada a acontecer. Havia ficado 79
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delirante de alegria, esperando — já que todo dia de manhã tinha enjôos — ouvir Gabriel anunciar estar a par da gravidez. Havia mesmo imaginado a cena, as palavras de amor que ele lhe diria e a reverência quando a abraçasse e dissesse como estava emocionado, o quanto a amava. Ele ia insistir em se casarem imediatamente, é claro, e viveriam felizes para sempre, com um bebê adorável. Só que não acontecera desse jeito. Agora sabia que seu sexto sentido devia ter funcionado e a alertado do que estava por vir. Caso contrário, por que mentira para Gabriel quando ele comentara os enjôos, respondendo que era uma infecção intestinal? Ela podia ter desejado que ele adivinhasse sobre a gravidez, mas algo bem no fundo lhe dizia para manter o segredo. Já estava no segundo mês quando começou a ficar impaciente com a falta de percepção de Gabriel e passou a tocar, insistentemente, no assunto "crianças" . Foi então que Gabriel lhe dissera, áspero, que muitas pessoas produziam crianças que não queriam. E ele tinha ressaltado seu ponto de vista com descrições detalhadas da própria infância. Lembrando-se disso no momento, respirou fundo. — Não acho que você esteja preparado para ser pai deles. Não quero que eles sofram as conseqüências de sua infância infeliz, Gabriel — disse, calma. Ela sentiu uma verdadeira dor física ao ver o choque nos olhos dele e o esforço para escondê-lo. — Você acha que eu iria. feri-los, abusar deles fisicamente? — explodiu. Sasha sacudiu a cabeça. — Não — disse, com sinceridade. — Vivi com você tempo suficiente para saber que você não iria feri-los dessa maneira. Mas há outras formas de ferir aqueles a quem amamos. — Então você admite que eu os amo? Sasha deu um sorriso. No instante em que tinham se conhecido, Gabriel e os gêmeos haviam criado um vínculo masculino que lhes dera mais motivos para sentir culpa e ansiedade do que gostaria de admitir. Se ele soubesse desde o início que eles eram filhos dele, Gabriel não poderia ter se comportado mais como pai, durante essas poucas semanas que passaram juntos. Ele possuía uma percepção do que funcionaria para eles e do que não funcionaria, e os tratava como seres humanos, indivíduos, em vez de vê-los apenas como "os gêmeos". Mas, acima de tudo, tinha sido a maneira como imediata e instintivamente fora capaz de reconhecê-los. Algo que até hoje só ela era capaz de fazer. Carlo nunca tinha conseguido saber quem era Sam e quem era Nico. — Sim, admito. Mas mesmo o amor pode causar danos, Gabriel. É natural querer dar a nossos filhos o melhor, tanto em termos financeiros quanto emocionais. Mas isso nem sempre é bom. 80
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— Você quer dizer que acha que eu os mimaria, dando amor e dinheiro demais por querer que eles tenham o que eu nunca tive? — Diga, com toda honestidade, que você já não escolheu mentalmente os últimos modelos de bicicletas para eles — desafiou Sasha. Ela sabia estar certa pelo jeito como Gabriel evitou seu olhar. — Não é que eu não acredite que você os ama, Gabriel, ou que duvide por um minuto sequer que você deseja o melhor para eles. É que precisei aprender que algumas vezes a melhor coisa que se pode fazer por eles é dizer não. — Então você não quer que eu faça parte da vida deles porque acha que eu vou mimá-los? — Você já faz parte da vida deles. Você é tutor e pai deles. — Sasha. — Ele estendeu a mão por cima da mesa e segurou-lhe a mão, antes que ela pudesse impedi-lo. — Compreendo o que está dizendo e concordo que desempenhar o papel de pai vai exigir de mim um longo e árduo aprendizado. Mas, e o outro lado da equação? — Que outro lado? — perguntou Sasha de forma rude. Mas já sabia. Era isso. Estava vivendo seu pior pesadelo e, ao mesmo tempo, seu mais ansiado sonho. — Você e eu compartilhamos uma história marcada pela dor e pela raiva. Eu sei disso. Mas também marcada por nossos filhos. Sei que deixei escapar a melhor coisa de minha vida por ser cego demais para dar valor ao que tinha. Nós já provamos que sexualmente não nos damos apenas bem, mas somos pura explosão. — Gabriel fez uma pausa e o olhar sedutor fez os dedos do pé de Sasha congelarem e o coração palpitar de prazer. — O melhor presente que qualquer pai pode dar a um filho é, sem dúvida, a segurança de um lar estável, onde reine o amor. Gostaria de dar isso a nossos filhos. Podia ter demorado um bocado de tempo para reconhecer o amor que sentia por Sasha. Agora estava consciente e não tinha intenção de perder mais tempo. Não havia nada que quisesse esconder dela: nem seu amor, nem a admissão de que, deliberadamente, quisera ter as opiniões mais horríveis sobre ela, nem seu pedido sincero de desculpas pelos erros cometidos — nada! Queria ter a consciência limpa, começar do zero, um novo começo para todos eles e uma vida na qual pudesse mostrar a Sasha, todos os dias, o quanto ela e os filhos deles eram importantes para ele. Você está propondo morarmos juntos, nós quatro, como uma família? — Havia uma nota de cautela na voz, o que era perfeitamente compreensível. — Quero que a gente viva junto como uma família sim, Sasha. E quero que eu e você vivamos como marido e mulher. Quero me casar com você, Sasha. Quero que nossos filhos cresçam do nosso lado. Por preciosos segundos Sasha se permitiu sonhar e acreditar, pensar o impossível. Mas só por alguns poucos segundos, pois já sabia qual seria sua resposta. — Não — disse a Gabriel baixinho. 81
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— Não? Por que não? — Não ia funcionar, Gabriel. Concordo que sexualmente nós... nos damos muito bem — concordou apressada, sem querer se deixar invadir pelos pensamentos que apenas adicionariam mais tumulto aos seus próprios pensamentos, ameaçando fazê-la mudar de decisão. — Mas você e eu... Nós dois podemos amar os meninos, mas não precisamos fingir que nos amamos. Porque nós dois sabemos que não nos amamos. Estas foram as palavras mais duras que já fora forçada a dizer. Principalmente porque mentia. Não importa o quanto houvesse tentado se convencer; durante os anos em que estiveram separados tinha plena consciência de não poder fingir que o que sentia era puramente sensual. Porém, também sabia que para o bem dos filhos não podia se arriscar a amá-lo — principalmente não num relacionamento público e num comprometimento que poderia repercutir nos meninos. Num mundo ideal, num mundo perfeito, nesse, sim, ela se atiraria em seus braços com gritos de alegria, com a certeza de que viveriam felizes por toda a eternidade. Mas a realidade não era assim. A realidade podia ser cruel e implacável. — Pelo contrário, não sei nada disso — ouviu Gabriel dizer baixinho. O coração quase perdeu o compasso. Teria ele adivinhado que ela continuava a amá-lo? Se assim fosse... — Você pode ter deixado de me amar, Sasha, mas eu amo você. Se ela pudesse acreditar no que ele dizia! A emoção de ouvir essa declaração, depois de tantos anos, a ameaçava, fazendo-a deixar de lado todas as suas dúvidas. Não podia ceder. — Você diz isso agora, Gabriel, mas como posso acreditar? Como? Há alguns dias você acreditava que eu era uma péssima mãe, uma mulher que pulava da cama de um homem para a de outro, uma mulher que buscava um homem rico para sustentá-la. Esqueceu? Gabriel não podia negar. — Eu disse todas essas coisas, sim. E, a princípio, estava convencido de que era verdade. Mas não demorei muito para perceber o quanto estava enganado, mesmo sendo teimoso demais para aceitar a verdade. Eu precisava me convencer disso, Sasha, porque meu orgulho não me deixava admitir como me senti quando você me abandonou aquele dia. Eu tinha jurado que nunca mais me permitiria amar novamente, e não podia admitir ter fracassado. Além disso, se você realmente quisesse seduzir um homem rico, poderia ter me seduzido. — Ele sorriu para ela para demonstrar estar debochando de si mesmo. — Talvez uma parte de mim esperasse isso. Sasha não se sentia segura para dizer nada. — Por que não me disse o motivo de ter colocado os meninos no colégio interno? Seria dor o que percebia na voz dele? Agora ela precisava falar. — Não vi motivos para fazê-lo. Não achei que você acreditaria em mim. Tinha a 82
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impressão de você estar determinado a pensar o pior de mim. — Você está certa. Ouvir o professor falar sobre o bom senso que demonstrara me fez sentir como se tivesse levado um soco no estômago. E se isso não fosse o bastante para me tirar da ignorância, o choque de descobrir que você vendera suas jóias certamente foi. Reconheço agora que no fundo eu sempre amei você... Sasha balançou a cabeça e o interrompeu. — Isso é fácil de dizer, Gabriel. Mas me parece que você descobriu rápido demais seu amor depois de ter descoberto que Sam e Nico são seus filhos. Gabriel admitiu que ela estava no direito de lançar-lhe essa acusação — mesmo que não fosse verdade. Se sentia maravilhado em saber que era o pai dos gêmeos. E tivera uma sensação de satisfação masculina em saber que tinha sido seu primeiro amante. Mas nenhum desses fatos poderia fazê-lo amá-la se já não a amasse. Ele sabia disso. Mas como podia explicar a ela o lento e doloroso processo pelo qual havia chegado ao reconhecimento sobre os reais sentimentos em relação a ela, naqueles momentos em que ele se debatia tentando analisá-los? Isso tudo era um novo território para ele, não mapeado, não testado, e nenhum capitão jamais se lançou num mar totalmente desconhecido. A não ser que estivesse desesperado. E era exatamente assim que se sentia. — Eu amava você antes de... — começou. — Acho difícil acreditar — disse Sasha, direta. Mas eu quero acreditar em você, o coração implorava. Quero acreditar em você mais do que já quis algo em toda a minha vida. Mais do que a própria segurança emocional dos gêmeos? Se a resposta fosse sim, então em que tipo de mãe se transformaria? Uma mãe como Gabriel acreditava ter sido a dele? Se cedesse e depois ele mudasse de idéia e descobrisse que, afinal, não a amava, quanto tempo demoraria para começar a acusá-la disso? — Estou disposto a fazer tudo que for preciso para prová-lo — continuou Gabriel. — Não faz sentido. — Faz sentido para mim. Você já me amou e eu acredito... — Não era amor. Era uma fantasia de adolescente — mentiu Sasha. — Então você deixou de me amar e mesmo assim fez sexo comigo. — Acontece — disse Sasha, de forma casual. — Com que freqüência? Ele ainda lhe segurava a mão e ela se perguntou se ele sentira o tremor que traía seus verdadeiros sentimentos. — O que quer dizer? — Ela tentou escapar. 83
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— Quero saber quantas vezes, desde que me deixou, você fez sexo com homens que não amava? — Olha, Gabriel, essa conversa não vai nos levar a lugar algum. Eu aceito que como pai dos meninos você tem um papel importante a desempenhar na vida deles. — Não houve nenhum, houve? — perguntou baixinho, anulando sua tentativa de mudar de assunto. Ah, mas ele queria tanto tomá-la nos braços e beijá-la até que ela se agarrasse a ele como fizera na cama! Algo, um instinto que não sabia possuir, lhe dizia que nunca houvera ninguém durante os anos em que ficaram separados. E isso, com certeza, significava alguma coisa. — Eu era uma mulher casada, com duas crianças e um marido. Um marido doente. Isso mal me dava tempo para ter sexo extraconjugal — mencionou. — Em outras palavras, não teve ninguém? Ele não precisava demonstrar estar tão satisfeito com isso, pensou Sasha, zangada. — E daí? Isso não significa que passei os últimos dez anos gemendo por você. — E eu disse isso? Isso prova, entretanto, que existe algo muito forte entre nós dois, ou não? A situação estava fugindo ao seu controle. Mais alguns minutos e ela estaria mergulhada num mar de contra-argumentos no qual ele a lançava. — Por isso, eu me permiti dar uma rapidinha em nome dos velhos tempos. Isso não significa nada. — Agora eu sei que você está mentindo. — Gabriel estava rindo. — E não foi apenas uma rapidinha. Foi uma completa, apaixonada e íntima sessão de sexo, e você sabe disso. Ela não conseguia mais suportar essa conversa. Suas defesas desmoronavam. — Não importa o que você diga ou o que eu sinto. Não consegue ver? — perguntou admirada. — Não se trata de nós, Gabriel; trata-se dos meninos. E se eu ceder e concordar? E se em um mês, um ano, dez anos, você ficar cansado de brincar de família feliz? E aí? Não é que eu esteja tentando negar a você o direito de participar da vida dos meninos. Você é pai e tutor deles, tem toda a liberdade de manter um vínculo com eles. Porém, não através da minha cama. Não vou fazer nada que possa levá-los a se tornar vitimas de um lar desfeito. — Eu podia fazer você mudar de idéia — alertou-a Gabriel, suavemente. — Podia pegar você nos meus braços aqui e agora e fazê-la... — E fazer o quê? Desejar você? Sim, você podia fazer isso. Mas mesmo assim isso não me faria mudar de idéia. — Muito bem. — Sasha não sabia se estava aliviada ou decepcionada quando ele 84
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soltou-lhe a mão e levantou-se. — Entendo o que está dizendo. Começava a se afastar dela e ela precisou de cada milímetro de autocontrole para não chamá-lo e dizer como realmente se sentia. — Mas vou lhe dar um aviso Sasha: não pretendo desistir. Pretendo fazer tudo que for preciso para convencê-la de que eu, você e nossos filhos temos um futuro juntos como família e que eu e você temos um futuro juntos como marido e mulher. — Não posso impedi-lo de querer isso — retrucou Sasha. — Mas o que eu quero é o melhor para os meninos. Você sugeriu que poderia tirá-los da escola. Eu quero que eles fiquem na escola. São felizes lá e estão se saindo bem. Ela o estava testando?, pensou Gabriel. Se assim fosse, ia descobrir que ele realmente cumpriria cada palavra que dissera. — Você é a mãe deles — disse firme. — Acredito no seu julgamento no que diz respeito ao melhor para eles. Minha sugestão seria que eles deviam ser encorajados a incorporar a consciência da herança italiana na vida deles. Ele estava concordando em mandar os meninos para a escola? — Mas e o professor? — lembrou-o. — Pensei... — Seu papel inicial era avaliar as necessidades educacionais dos gêmeos. Tenho certeza que ele vai compreender quando eu comunicar que eles vão continuar na escola antiga. Na verdade, estou certo de que ele vai aprovar sua decisão. — E por que você está feliz em deixá-los continuar no colégio? — Era muito estranho Gabriel ceder com tamanha facilidade. Imediatamente Gabriel meneou a cabeça. — Não preciso da experiência do professor para saber que os meninos estão felizes na escola e fazendo grandes progressos. E, apesar do que você possa pensar, não preciso de um intermediário para me dizer que eles estão bem ajustados e bem cuidados. — Não estava sugerindo isso — contestou Sasha consciente, admitindo em seguida, relutante: — Você é ótimo para eles, Gabriel. Você os compreende muito melhor do que Carlo fazia. — Como se quisesse superar a própria fraqueza, acrescentou orgulhosa: — Mas quando eles forem embora para a escola, eu vou com eles. Preciso procurar um emprego e pretendo encontrar um lugar para morar perto da escola e do meu trabalho. Foi por isso que vendi minhas jóias, para poder fazer isso. — Ótimo — concordou Gabriel, cordial. Por que ele não estava fazendo objeções, fechando a cara, discutindo com ela, implorando para que ela ficasse com ele? E por que ela estava tão desapontada com a atitude dele? — Quando nós partimos? 85
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— Nós? — Não era alívio o que sentia, mesmo que se parecesse tremendamente com isso. — Claro. Eu realmente estava dizendo a verdade, Sasha. A partir de agora, seguirei você e os gêmeos. Não me importa quanto tempo demore ou o que vou ter que fazer para convencer você. Vou provar que temos um futuro juntos. — Isso é impossível. — Nada é impossível.
CAPITULO DOZE Sasha sorriu ao ver a bonita árvore de Natal decorando a sala de estar de seu pequeno apartamento alugado. Era véspera de Natal, os meninos já tinham ido para a cama e quando tivesse colocado as meias penduradas nas cabeceiras das camas deles faria o mesmo. Já passava das dez horas e no dia seguinte ficariam todos com Gabriel, cedendo à sua insistência, já que a casa dele era bem maior que seu apartamento. E depois do Natal ele levaria os meninos para esquiar, como presente de Natal. Ele tinha tentando persuadir Sasha a acompanhá-los, mas ela recusou a oferta. Com toda a sinceridade, desde a volta às aulas dos meninos, em setembro, Gabriel tinha armado o cerco, determinado a fazê-la esquecer a recusa em aceitar que eles podiam ter um futuro juntos. Havia começado com uma inteligente jogada para que os meninos insistissem para ele ser incluído em tudo que faziam. Mesmo levar e buscar os meninos na escola. Sasha pretendia que usassem o transporte público, mas Gabriel convenceu-a a deixá-los serem conduzidos no conforto do carro Bentley de Gabriel. Quando ela objetou, Gabriel fez um olhar inocente e lembrou-a de que ela recusara sua oferta de comprar um carro para ela. Ela não podia levá-los à escola e chegar a tempo no trabalho, e já que agora ele morava em Londres, perto do apartamento deles, fazia sentido ele levar os meninos até o colégio e depois deixá-la em seu emprego de meio expediente. Sasha não conseguiu rejeitar a oferta. O poder do dinheiro era incontestável. Enquanto ela batalhava para encontrar um apartamento para alugar, Gabriel não tivera dificuldade alguma em comprar um elegante prédio em Londres, no qual vivia atualmente — comprara todos os quatro andares. Quando ela sugeriu que podia ser grande demais, ele respondera: — Que nada! É o tamanho perfeito para nós. Ele a cortejava, flertava com ela, a provocava e se tornara o herói dos meninos. E nenhuma vez ultrapassara o sinal e tentara levá-la para a cama. Por acaso isso a 86
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desapontava? Bem, com certeza a fazia se sentir frustrada, admitiu Sasha. O coração e o corpo pareciam possuídos por um ardente desejo. Entretanto, valia a pena satisfazer esse desejo e arriscar a felicidade dos filhos? Gabriel vinha se mostrando muito determinado em demolir todos os seus argumentos para não ficarem juntos. Nas férias escolares de dezembro, quis levá-los para o Caribe, onde seu iate estava ancorado, mas Sasha recusou a proposta. Em vez de discutir com ela, Gabriel tinha simplesmente — e com o maior bom humor — sugerido passarem as férias em Londres, fazendo vários programas. — Você vai sozinho com os meninos — propôs, principalmente quando ela soube que um dos locais de destino era o museu de cera de Madame Tussaud. — Não é a mesma coisa sem você, mamãe — reclamou Nico. — Não é mesmo — concordou Gabriel. E então, é claro, ela foi, e de alguma forma Gabriel conseguiu ficar sempre ao seu lado enquanto caminhavam pelas salas de exibição. Perto demais e, ao mesmo tempo, fora do alcance. Ele não tinha criado confusão quando ela recusou uma mesada. Nem tentou exercer qualquer pressão para que ela mudasse de idéia. Não ganhava bem no emprego, mas pelo menos era um emprego — mesmo que, algumas noites, estivesse tão cansada que mal conseguia se mover. Por sorte, moravam perto do Hyde Park e Gabriel podia levá-los para brincar nos finais de semana para ela poder descansar. Desde que haviam deixado a Sardenha, meses atrás, Gabriel a surpreendera, e algumas vezes a emocionara com o esforço demonstrado em provar o quanto estava disposto a fazer as pazes com o próprio passado. Ela o amava mais agora do que acreditava ser possível. Mas não podia ceder e concordar em se casar com ele. A confiança era o ponto primordial sobre o qual pretendia construir um relacionamento. Infelizmente, nesse momento havia uma barreira impedindo a confiança mútua. Seria fácil ficar com pena dela, querer que ela simplesmente colocasse seu futuro nas mãos de Gabriel e deixar que ele cuidasse dela para sempre. Mas não podia. Não agora. Estava indo pegar as meias dos meninos no quarto apertado que dividiam — tão diferente dos imensos quartos interconectados que tinham na casa de Gabriel — quando o celular tocou. — Sou eu — anunciou Gabriel, desnecessariamente, quando ela atendeu. — Estou do lado de fora. Abra a porta. Não quis tocar a campainha para não acordar os meninos. Descontrolada, Sasha foi abrir a porta. Gabriel ocupava quase todo o hall, trazendo com ele o cheiro das ruas molhadas e frias. Ele estava segurando um embrulho estreito, mas grande, retangular, embrulhado em papel de presente. — Trouxe seu presente de Natal — disse, indicando o pacote que carregava, 87
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mas sem entregá-lo. — Você podia esperar até amanhã. — Quis dá-lo hoje à noite. Sasha lhe deu um olhar desconfiado, pensando se ele estava provocante de propósito ou se ela é quem se sentia culpada por desejar que assim fosse. Era melhor não informar que ela estava a caminho da cama, decidiu. — Quer beber alguma coisa? — perguntou. Gabriel sacudiu a cabeça e entregoulhe o presente. — Obrigada. — Por que não abre agora? Parecia um calendário, e só isso era o bastante para fazer seu coração palpitar de tanta culpa. — Talvez eu beba alguma coisa — disse. — Mas eu preparo. — Falavam em voz baixa, naqueles sussurros familiares a todos os país. — Você não faz idéia do quanto quero beijá-la neste exato momento e depois levar você para casa comigo — disse Gabriel. — Levar vocês todos para ficarem perto de mim. Meu Deus, Sasha, quero tanto isso: vocês todos comigo, sob o meu teto e minha proteção. Ela percebia a emoção em sua voz e em seus olhos. Sentiu como se desmoronasse. Os olhos estavam lacrimejantes e ela não podia deixá-lo perceber. Seria tão fácil se entregar ao arrependimento e às recriminações sobre o que estava acontecendo! Mas não podia. Gabriel foi para a cozinha. — Gabriel. — Ele parou para olhá-la. Não era assim que planejara contar, mas ele estava parado, esperando, então ela respirou fundo. — Eu sei que não é isso que você quer ouvir, mas não posso me casar com você. Gabriel acenou. — Abra o presente. Vamos falar disso amanhã. Ele desapareceu na cozinha, deixando-a olhando o presente. Não adiantava. Ela teria de lhe contar. Ele chegou carregando duas canecas. — Fiz um chá de ervas para você em vez de café, está bem? — Claro. Gabriel, preciso contar uma coisa. — Não, não precisa. Eu já sei. — Gabriel. — Você está grávida. Você ficou grávida quando fizemos amor na Sardenha e você está se preocupando à toa desde que teve uma consulta com o médico. Sasha se sentou. 88
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— Você sabe? Mas como? Eu não... Ele se aproximou. — Eu amo você. Eu conheço você. Desta vez reconheci os sinais. Você tem comido abacate em todas as refeições. No Caribe, pensei que era apenas porque você gostava da fruta, mas desta vez eu adivinhei o motivo real. Você está pálida e abatida todas as manhãs. Os meninos mencionaram que você anda enjoada, você está usando roupas largas e, além do mais... — Primeiro a olhou para depois desviar o olhar. — Além do mais, o quê? — Bem, não planejei acertar na mosca duas vezes e, certamente, engravidá-la não estava nos meus planos ao deixar de tomar precauções, mas admito ter me ocorrido que se você engravidasse novamente seria mais fácil convencê-la a entrar na igreja. Mas como você não me contou... Sasha respirou fundo. — Você parece muito seguro de que o filho é seu. Gabriel a encarou. — Claro que é — disse, meigo, e pegou-lhe as mãos colocando-a de pé e aconchegada em seus braços antes que ela pudesse resistir. Com uma das mãos na parte de trás de sua cabeça e a outra pressionando suavemente a barriguinha que ela tentava esconder, disse, gentil: — Como poderia não ser meu? Eu amo você e você é a pessoa mais leal, mais fiel, mais confiável e honesta que conheço. Se houvesse outro alguém, você teria me contado e não teria ido para a cama comigo. Posso ter demorado muito para me dar conta, mas garanto que agora sei exatamente quem você é. Eu a amo — repetiu. — Temos dois filhos maravilhosos e concebemos outra nova vida. Sasha levantou o olhar. Um erro que imediatamente o levou a abaixar a cabeça e beijá-la lenta e apaixonadamente. Era impossível não retribuir. Impossível também tentar negar a palpitação do coração e a tensão tomando-lhe o corpo. Automaticamente, recostou-se nele, tremendo diante da antecipação do prazer. — Por que não me contou? — A pergunta a trouxe de volta à Terra. — Tive medo — admitiu. — Se você soubesse, ia insistirem nos casarmos... — E você não quer? — O que não quero, nunca, é que você pense que me casei com você por causa desse bebê — respondeu orgulhosa. — Não sabe com que freqüência eu desejei não ser obrigada a me calar, ter confessado que o amava quando você me perguntou na Sardenha, ter concordado na época em me casar com você, antes de saber que estava grávida. Desse jeito pelo menos você nunca poderia me acusar... — Pare por aqui. Nunca vou acusar você de nada, Sasha. Aprendi a lição. E estou em paz com meus fantasmas. Abra seu presente, por favor. 89
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Ela tremia tanto que parecia levar horas para soltar o laço e rasgar o papel de presente. Uma camada de plástico bolha, e dentro havia... Sasha ficou pasma ao ver o que segurava. Olhou para Gabriel e novamente para o presente. — Como? — perguntou, e parou de falar quando as lágrimas escorreram-lhe pelo rosto. O que ela segurava não era apenas um quadro, era seu futuro — o futuro deles — retratado por um artista: dois meninos, um homem e uma mulher e um bebê nos braços da mulher. — Consegui destrinchar parte do que você podia estar pensando enquanto esperava me contar sobre o bebê. Achei que talvez isso lhe demonstrasse como me sinto, a seu respeito, a respeito de todos nós. Eu ia dizer ao artista para colocar o bebê vestido de cor-de-rosa, mas decidi que isso podia ser um desafio ao destino. . — Gabriel! Nada a impedia de atirar-se em seus braços, sem pudor. Nem o amor em seu coração nem a alegria estampada em seus olhos. Quando ele a beijou, ela sentiu um leve tremor no corpo dele e soube que isso traía a intensidade das emoções dele. Ele a beijou apaixonadamente. E depois, lenta e suavemente, ela o beijou. Quando ele começou a se distanciar, ela ficou a princípio tensa e depois relaxou, trocando sorrisos com ele quando a porta foi aberta e os dois gêmeos surgiram, ficando claro que ele tinha percebido a iminente chegada deles antes dela. — Vocês estavam se beijando — acusou-os Sam com severidade. — É — concordou Nico. Os gêmeos se entreolharam. — Isso quer dizer que vocês vão casar e podemos morar na casa do papai, mamãe? — Você não precisava vir nos buscar. Mora a apenas três quadras de distância. Podíamos ir andando — protestou Sasha em meio à confusão dos meninos colocando as jaquetas e mostrando a Gabriel o que tinham encontrado nas meias. — Se você estivesse realmente preocupada em não me tirar da cama cedo na manhã de Natal, teria me deixado ficar com você a noite passada — provocou Gabriel num sussurro discreto. — Você se dá conta de que eram quatro da manhã quando me acordou e me mandou para casa? — Você se dá conta de que os meninos estavam de pé às cinco? — Ela riu quando Gabriel os apressou para saírem do carro. — Você colocou o peru no forno, como eu ensinei? — perguntou Sasha. — Claro. E acendi o forno — garantiu Gabriel piscando para os gêmeos quando pôs o carro em movimento. Sasha sacudiu a cabeça. 90
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A casa comprada por Gabriel era de causar inveja a qualquer um, admitiu Sasha parada em frente à lareira na sala de estar. Gabriel insistira para que ela, Sam e Nico decorassem a árvore, e embora fosse uma decoração caseira, que não combinava em nada com a sala elegante, trouxe lágrimas emocionadas aos olhos de Sasha. A inspeção ansiosa no peru confirmou que Gabriel seguira suas instruções ao pé da letra. Fora combinado que os meninos abririam os presentes na casa de Gabriel, e enquanto ouvia os gritos excitados de alegria ao destruírem o trabalho de horas embrulhando cuidadosamente os presentes, trocava olhares divertidos com Gabriel. — Com sorte vão ficar tão cansados que vão querer ir cedo para a cama. Sasha riu. — Não contaria com isso. Se os meninos não deixarem você exausto querendo andar com as bicicletas novas no parque, a irmã deles, certamente, vai me deixar exausta. — Não está na hora de você dar uma olhada no peru? Sasha se levantou, checando se os meninos estavam bem antes de ir para a cozinha, acompanhada de Gabriel. — Quando imaginei fazer minha proposta formal de casamento, com certeza, não pensei na cozinha — disse, fechando a porta e recostando-se, tomando-a nos braços. — Eu amo muito você, espero que saiba. Estes últimos meses têm sido o purgatório. Case-se comigo e me faça o homem mais feliz da Terra. — Caso — disse. — Sim, sim, sim... Ele se curvou para beijá-la e de repente parou para dizer, em tom acusatório: — Você disse nossa, filha? Ela riu. — Bem, quando fiz a ultra-som eles disseram que parecia ser uma menina. O que é ótimo. — Por quê? Ela deu um sorrisinho. — Você não olhou com muita atenção o quadro. — Quando ele fez cara de espanto, o sorriso dela espalhou-se. — O bebê está usando sapatinhos de tricô branco com fita rosa.
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EPÍLOGO
Nove meses depois Eles tinham decidido não fazer o batismo na igreja de Londres, onde tinham se casado logo depois do Natal, mas na Sardenha. As palavras pronunciadas, tanto em inglês quanto em italiano, tinham sido simples, mas comoventes, e agora eles estavam de volta ao hotel recentemente reformado e transformado em casa, onde Celestine, de cinco meses, era o centro das atenções. Os convidados estavam ao redor do bebê, fazendo comentários, enquanto os gêmeos olhavam tudo com cuidado fraternal. — Ela está mordendo a manga da roupa de novo — avisou Nico. — Acho que pode estar com fome. — Não, não está com fome. Os dentes estão nascendo — corrigiu Sam de forma zombeteira. — Ela quer sair. Não gosta de ficar deitada sem fazer nada, e é a minha vez de segurá-la no colo. — Não, não é. É a minha. — Na verdade é a minha vez — disse Gabriel firme, tirando a filha do berço e a colocando no ombro com habilidade, de forma a poder ter o outro braço livre para abraçar os gêmeos. Ao vê-los, Sasha não resistiu e pegou a máquina fotográfica. — Ela vai dominar vocês três — avisou, sorrindo amorosa para a filha e discretamente enfiando a mão no colarinho de Gabriel. — Se isso for um convite para mais tarde, aceito — murmurou baixinho. — É uma pena que tenha tanta gente na casa. lo.
— Sempre temos a praia — ela lembrou-o, provocante, inclinando-se para beijá-
A vida não podia lhe dar outro presente que rivalizasse com o que ele carregava nos braços, pensou Gabriel: Sasha, os gêmeos e, agora, a filha. — Acho que quando Carlo me fez tutor dos meninos ele queria que isso acontecesse, queria nos unir — disse para Sasha. — Concordo. Ele sabia o quanto eu o amava e talvez tenha percebido que você me amava, antes mesmo de você se dar conta. — Mas posso me dar conta agora — disse, afastando o olhar dos gêmeos e da filha e fixando-o na esposa. Ele inclinou-se para beijá-la. — Agora e para sempre, Sasha. *** 92