Susan meier entre beijos e bebes (bianca dupla 735 2)

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Entre Beijos e... Bebês! Bringing up babies

Susan Meier

Ele era alto, moreno e... perigoso! Tudo o que Lily queria era ser uma ótima babá para os adoráveis trigêmeos Brewster. Mas Chas Brewster não podia ser ignorado. Era atraente, fascinante e seu amor pelos bebês despertava em Lily instintos que ela preferiria ignorar. Mesmo sabendo que não seria sensato envolver-se com o patrão, o clima de intimidade gerado pelos cuidados com as crianças no meio da noite acabou levando a uma troca de beijos apaixonados. E ficava cada vez mais difícil para Lily lembrar-se que seu lugar não era nos braços de seu charmoso patrão... Digitalização: Silvia Revisão: Crysty


Susan Meier – [Trigêmeos Brewster 02] – Entre beijos e bebês (Bianca Dupla 735)

Querida leitora, Nesta edição de Bianca, você vai conhecer a história de dois irmãos que não querem se casar: Evan, porque não pode ter filhos, e Chas, porque se divorciou duas vezes e não acredita que o casamento possa trazer felicidade. Veja como as heroínas destas duas histórias "fizeram do limão uma limonada" e transformaram suas desilusões em esperança. Boa leitura! Copyright © 2000 by Linda Susan Meier Originalmente publicado em 2000 pela Silhouette Books, divisão da Harlequin Enterprises Limited. Título original: The baby bequest Tradução: Maria Cecília Zanlorenzi Copyright © 2000 by Linda Susan Meier Originalmente publicado em 2000 pela Silhouette Books, divisão da Harlequin Enterprises Limited. Título original: Bringing up babies Tradução: Maria Cecília Zanlorenzi Editor: Janice Florido Chefe de Arte: Ana Suely S. Dobón Paginador: Nair Fernandes da Silva Todos os direitos reservados, inclusive o direito de reprodução total ou parcial, sob qualquer forma. Esta edição é publicada através de contrato com a Harlequin Enterprises Limited, Toronto, Canadá. Silhouette, Silhouette Desire e colofão são marcas registradas da Harlequin Enterprises B.V. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas terá sido mera coincidência. EDITORA NOVA CULTURAL LTDA. Rua Paes Leme, 524 - 10º andar CEP: 05424-010 - São Paulo – Brasil Copyright para a língua portuguesa: 2000 EDITORA NOVA CULTURAL LTDA. Fotocomposição: Editora Nova Cultural Ltda. Impressão e acabamento: Gráfica Círculo

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"Chas: Você parece ter dificuldade em compreender o que diz seu coração, por isto vou lhe passar um conselho de meu próprio pai. 'Opostos sempre se atraíram.' Não apenas por ser divertido tentar descobrir como se dar bem, mas também porque opostos se complementam. Pare de procurar alguém tão inteligente quanto você ou tão determinada quanto. Comece a buscar uma pessoa que saiba relaxar e deixar que a vida a conduza ao sabor do destino. Uma mulher que possa ser feliz com pouco e com muito. E deixe que ela entre em seu coração. Não apenas lhe dê dinheiro e a promessa de posição e poder; mostre-lhe a enorme capacidade de amor que você guarda como um tesouro escondido. Sim, é um tesouro ser, ao mesmo tempo, vulnerável e forte. Uma boa mulher compreenderá e apreciará muito esta característica. Se você encontrar esta moça, não deixe que ela vá embora jamais. Com amor, Papai"

CAPITULO I

— Olá, sou Lily Andersen. Você colocou anúncio no jornal com o objetivo de contratar uma babá? Chas Brewster arregalou os olhos para a mulher a sua porta. A deslumbrante loura de olhos azuis decididamente não se parecia com as babás que ele conhecia. — Sim... Entre! Chas engoliu em seco. Com aqueles enormes olhos cor de safira e cachos exuberantes emoldurando o belo rosto, Lily Andersen tinha beleza capaz de parar o trânsito. Usava um suéter azul-claro que não fora criado para destacar os seios, mas aparentemente qualquer peça que ousasse cobrir aquelas curvas seria incapaz de

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disfarçar tanta sensualidade. A calça jeans modesta coube a missão de vestir o quadril perfeito e as longas pernas. — Queremos contratar uma babá, mas temos intenção de entrevistar muitas pessoas. Esperava assim desencorajá-la, pois não conseguia imaginar aquela mulher cuidando de bebês trigêmeos que requeriam dedicação quase ininterrupta. — Nas primeiras entrevistas eu apenas faço perguntas preliminares. Candidatas adequadas serão chamadas posteriormente para uma segunda etapa. Lily aquiesceu. Chas fez sinal para que ela passasse a sua frente. Direcionou-a pelo corredor até o escritório, durante o tempo todo agradecendo aos céus a regra de etiqueta que mandava as damas seguirem adiante dos homens. Observava o movimento suave dos quadris a cada passo e concluiu que a natureza se superara ao criar aquela mulher. — Segunda porta à direita — disse com firmeza. Ela virou-se e sorriu. — Obrigada. Chas instruiu Lily a acomodar-se em uma cadeira enquanto ele ocupava o lado oposto da escrivaninha que um dia fora de seu pai. Profissionalmente, como se já houvesse entrevistado milhares de babás, pegou a prancheta e a caneta. — Você falou que seu nome era Lily Andersen — disse enquanto escrevia a informação no topo da página. Por um instante cedeu-se o direito a um pensamento. Seria maravilhoso simplesmente olhar para aquela mulher durante vinte e quatro horas por dia. — De onde você é, Lily? — Wisconsin. — Nossa, está muito longe de casa! Ela deu de ombros. — É verdade. Eu me sentia sufocada por minha família e decidi partir. — Para a Pensilvânia? — indagou incrédulo. Lily sorriu com charme e inocência. — Por que não?

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Confuso, Chas a observou por alguns momentos. Se a moça fugira de casa, sua boa aparência devia tê-la feito escolher um lugar como Los Angeles ou Nova York. Em tais cidades poderia trabalhar como atriz ou modelo. — Eu amo a Pensilvânia — ela prosseguiu. — Há aqui lindas montanhas e árvores fabulosas. Para um Estado à beira do Atlântico, a Pensilvânia manteve grande parte de sua área rural. Eu provavelmente moraria feliz aqui para sempre. — Conte-me a respeito de sua experiência em cuidar de crianças. — Quem se importa com a experiência dela com crianças? — Grant, irmão mais velho de Chas, disse ao batente da porta do escritório. Aconchegava no colo o irmão e as duas irmãs ainda bebês, os três amparados pelos antebraços de musculatura forte. — Por alguma razão, Chas, eu tenho impressão de que você se esqueceu de que estamos desesperados. No exato momento, eu aceitaria qualquer pessoa — Grant acrescentou, entrando no escritório. — Oh, meu Deus! — Lily exclamou, levantando-se. — Mas que bebês adoráveis! As três crianças usavam macacões. Os das meninas eram cor-de-rosa com bordado de ursinhos no peito. O de Cody era cinzento tendo como adorno um trem multicolorido. Cody e Annie tinham cabelos castanho-claros e olhos verdes. Taylor, cabelos escuros e olhos castanhos. Chas procurou observar os trigêmeos de oito meses de idade conforme um estranho olharia e admitia que sim, eram adoráveis. Não deixe que a boa aparência a engane — murmurou, consciente de que se comportava como um homem que jogava água no fogo, mas também sabendo que seria melhor assim. Aquelas crianças precisavam de uma babá que não fosse temporária. — Às três horas da tarde, bem acomodados no berço, parecem adoráveis. Mas às três da manhã, famintos e querendo brincar em vez de dormir, eles são tudo, menos adoráveis.

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— Oh, não diga isto! — Lily exclamou e pegou Taylor dos braços de Grant. — Olhe só para você — murmurou, roçando o rosto contra o da menina em um gesto de completa fascinação. — Como é preciosa! — Os três são maravilhosos — Grant falou e colocou Cody e Annie no cercado que fora armado no escritório para a conveniência de Chas. — E é surpreendentemente fácil cuidar deles. Chas arregalou os olhos, atônito. — Está mentindo — murmurou sem pensar. O irmão lhe lançou um olhar gélido. — É uma alegria ter estas crianças por perto. — "Estas" crianças são nossa família — Chas falou. — E eu os amo profundamente. Mas não é uma alegria tê-los por perto. Grant fez um gesto na direção de Lily e tentou enviar uma mensagem a Chas através do olhar. — Bem, são lindas crianças — Lily falou, acariciando o rosto de Cody enquanto apoiava Taylor no quadril. — E parecem se comportar muito bem. De quem são estes bebês? Os dois irmãos adultos se entreolharam. Finalmente Chas falou: — Eram de nosso pai com nossa madrasta. Ambos morreram recentemente. Grant e eu, juntamente com nosso irmão Evan, ganhamos a custódia. — Oh, então vocês três moram nesta casa? — Lily questionou com inocência. — Não, nosso irmão Evan casou-se no último final de semana. Está em lua-de-mel. — O que os deixa como guardiões das crianças — Lily resumiu. — Não — Chas falou. — Reconhecemos que uma criança precisa de atenção individualizada e cada um de nós mais ou menos adotou um dos bebês como se fosse um filho. Os três permanecem juntos o dia todo, mas à noite eu cuido de Annie, Evan e Claire ficam com Cody e Grant toma conta de Taylor. Lily ficou com a expressão confusa, mas Chas decidiu que aquilo era bom. Podia ser doce, simpática, até mesmo possuir intenções honradas, mas ele continuava desconfiando de que estava ali apenas temporariamente.

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E Chas não contrataria alguém nessas condições. — Então o que está me dizendo é que este emprego não se resume ao período da manhã e da tarde? — Planejamos contratar uma empregada doméstica — Grant falou em tom encorajador. — Vocês simplesmente querem alguém para cuidar das crianças? — Exatamente — Grant falou, ofertando-lhe um sorriso charmoso, — Mais ou menos — Chas contradisse-o, emburrado. — Por ora, a babá terá de fazer os serviços básicos de manutenção da casa, e o horário de trabalho chegará a, no mínimo, dez horas por dia. Como você seria a principal responsável por cuidar das crianças, haverá ocasiões em que desejaremos que estenda seu trabalho até a noite. Ou algumas vezes durante a noite. Grant está em processo de mudança na construtora e precisará dormir a noite toda. Eu estou começando minha prática em advocacia. Nem sempre tenho de levantar bem cedo, mas quando isso é necessário, exige que eu tenha descansado bem na noite anterior. — Mas a babá terá um quarto no andar superior para sua conveniência no cuidado com as crianças — Grant comentou imediatamente. — Você morará aqui. Acomodações e alimentação fazem parte do pacote. Nas manhãs e tardes em que não precisarmos de seus serviços você estará de folga. Tentaremos programar com antecedência. Olhou para Chas com uma expressão que o desafiava a contestações. — Parece ser exatamente o que estou procurando! — Lily exclamou, mas Chas a conteve. — Ótimo — disse, levantando-se para dar a volta na escrivaninha. Pousou a mão nas costas de Lily e conduziu-a até a porta. — Conforme eu disse, assim que completarmos todas as entrevistas preliminares, começarei a chamar as pessoas para a segunda entrevista. Há um número de telefone para eu localizá-la, não é mesmo? — Eu estou na hospedaria da rua principal — disse Lily, estendendo Taylor a Grant. — Se quiser me entrevistar pela segunda vez, apenas telefone para Abby, eu acho. — Está bem. Ótimo. Ótimo — Chas repetiu, conduzindo-a para fora. Mal alcançavam a porta quando Grant falou:

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— Por que está falando em primeiras e segundas entrevistas? Estamos desesperados. Desesperados! Quero alguém aqui amanhã. Devo estar em Savannah na quinta-feira, e somente conseguirei se obtivermos ajuda logo! Chas tentou silenciar o irmão com um olhar gélido enquanto Lily deu um passo para afastar-se dos dois homens altos, furiosos e obviamente em discordância. Usando camisa xadrez e calça jeans, Grant era amedrontador. Chas parecia majestoso, seus cabelos castanho-claros eram lisos e curtos, de forma que nem mesmo uma mecha estava fora de lugar. Os olhos verdes eram claros e incisivos. Mesmo usando calça comprida de brim e camisa com gola modelo pólo, Chas irradiava poder. Podia ser o modo como andava. Ou talvez o fato de não se intimidar diante do irmão mais velho. Lily não estava surpresa por Chas querer dispensá-la. Vira desaprovação nos olhos verdes no instante em que ele atendera a porta. Homens invariavelmente tinham um dos seguintes pensamentos quando em sua presença: ou achavam que não era inteligente ou que não sabia comportar-se devidamente. Parecia que Chas não a julgava boa o bastante para sua família. — Grant, o que acha de deixarmos srta. Andersen partir para discutirmos este assunto em particular? — O que acha de deixarmos srta. Andersen aguardando na sala de estar enquanto eu o convenço de que é um tolo? Desta forma não teremos de ir até a cidade pedir desculpas para ela e implorarmos que aceite o emprego — Grant rapidamente rebateu. Lily já presenciara discussões como aquela muitas vezes. Por isso deu um passo adiante antes que a disputa se tomasse realmente difícil. — Está bem, olhe, eu não quero causar desentendimentos. Virou-se para Chas. — Você acha que, por ser loura, sou burra — falou, optando pela opção mais simpática das duas que normalmente fazia os homens não gostarem dela. — Como sei que não sou e tenho plena convicção de que serei uma excelente babá para seus

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irmãozinhos e você ficará satisfeito por ter me contratado, eu ficaria muito feliz em passar por um período de experiência. Lily observou Grant cruzando os braços, satisfeito, como se soubesse que o argumento vencera a batalha. Mas ela prendeu o fôlego, aguardando pela resposta de Chas. Passaria a noite na hospedaria e talvez a seguinte também. Mas, basicamente, seu dinheiro dava para isso. Precisava encontrar um emprego com urgência. Naquele mesmo dia. E como já eram quase três horas da tarde, o cargo de babá para as crianças Brewster poderia ser sua salvação. Chas suspirou. — Srta. Andersen, eu não a julgo incapaz de cuidar das crianças. Receio apenas de que você permaneça aqui por pouco tempo. Ela franziu a testa, confusa. — Como assim? — Bem, seu lar fica distante daqui. E se ficar com saudade de casa e simplesmente for embora? — Não farei isto — Lily respondeu sem hesitação. Como não houve resposta imediata, ela soube que o problema era dinheiro. Chas podia estar questionando se ficaria ou não na cidade, mas não era o motivo verdadeiro de não desejar contratá-la. Mas como Lily não podia defender a possível opinião dele acerca de sua posição social, optou por defender as próprias habilidades. — Minha irmã é dez anos mais velha do que eu e teve três filhos em três anos. Não apenas eu morava com ela após a morte de nossa mãe, como era babá enquanto minha irmã ia trabalhar. — Capturou o olhar de Chas e sustentou-o. — Posso lidar com três crianças. Já fiz isto antes. — Ela o apanhou, advogado — Grant falou, rindo. — Está bem, um período de experiência — Chas cedeu como se estivesse fazendo um supremo favor a Grant. — Mas estes bebês são muito importantes para nós. Se você não fizer um trabalho excelente, e eu realmente quero dizer excelente, estará fora daqui. Você me entendeu?

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Lily chegou na mansão Brewster cerca de duas horas mais tarde. Seu carro continha tudo o que coletara em seus vinte e três anos de vida. Segurando uma mala em uma mão e equilibrando uma caixa na outra, tocou a campainha. Foi Chas quem atendeu. — Entre, Lily — disse, mais resignado do que feliz em vê-la. Pelo menos estava sendo educado. Conduziu-a pelo saguão com piso de mármore, passaram pela cozinha imaculadamente branca e caminharam até uma porta que devia ser dos aposentos da empregada. Abriu-a para revelar um quarto que tinha duas vezes o tamanho de qualquer sala de estar em que Lily já estivera. — Oh, é lindo! — exclamou antes que pudesse conter-se. — Fico feliz por ter gostado. Entre, instale-se. Quando estiver pronta, vá até o escritório e discutiremos o valor de seu salário.

CAPITULO II

Chas empurrou Grant para fora da cozinha até o saguão. Não sabia se a conversa podia ser ouvida por Lily Andersen, que estava nos aposentos da empregada e não gostaria de correr riscos. — Não estou com medo. Para seu horror, Grant deu uma sonora gargalhada. — Oh, Chas. Com quem pensa que está falando? Eu sei que você é mais suscetível do que o restante de nós à beleza feminina. Mas desta vez não está sozinho. Também agrada-me a presença de uma moça deslumbrante como Lily. — Então não preciso me preocupar, já que você acabou de admitir que a considera bonita também. — Mas é claro que sim — Grant disse, rindo novamente. — Mas não serei eu quem estarei sozinho com ela amanhã à noite.

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Depois do jantar na noite seguinte, Chas compreendeu exatamente o que Grant quisera dizer. O irmão nem mesmo precisara se referir aos outros erros que Chas cometera na vida. Aquela situação já criava problemas suficientes. As crianças já alimentadas e felizes permitiam ao inusitado silêncio alguns minutos de reinado. O sol começara a se pôr, e lâmpadas esporádicas criavam arcos de luz amarela e sombras acolhedoras. Era um cenário tão íntimo! Chas perambulou pela sala de estar, sabendo que devia ir ao quarto das crianças para banhá-las. Mas achava que seria muito perigoso. Convenceu-se de que Lily lidaria sozinha com a tarefa, já que Grant ensinara-lhe na noite anterior a banhar um bebê por vez enquanto mantinha os outros entretidos no cercado. Suspirou e sentou-se. Estava feliz por ter se enganado acerca de Lily. Assim como Claire, a esposa de Evan, a moça tinha jeito com bebês. Claire obtivera experiência ajudando na criação dos irmãos mais novos. Lily, entretanto, não explicara de onde vinham seus conhecimentos. Apenas comentou que cuidara dos sobrinhos por uns tempos. Chas não lhe pediu para detalhar a situação, embora suspeitasse de que deveria. Seria uma pergunta normal em uma entrevista... se Grant tivesse permitido que a entrevistasse. Mas atualmente ela estava trabalhando ali. Se Chas lhe pedisse detalhes, o questionamento seria interpretado como interesse por sua vida pessoal. E não estava interessado. Feliz por tudo estar sob controle e quieto, caminhou até o escritório, abriu uma pequena garrafa de uísque e começou a folhear um caso que lhe fora enviado por uma grande firma da Filadélfia que concordara em empregá-lo a distância para escrita e pesquisa de documentos. Como precisava sustentar-se até se estabelecer como advogado e sabia que toda experiência era válida, aceitara o emprego. — Com licença, sr. Brewster... Chas? — Lily chamou, entrando timidamente no escritório.

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Frustrado com a presença inesperada, ele indagou: — Qual o problema? Algo errado com uma das crianças? — Não, não — falou, rindo. — Já dormiram. — Oh! Então, em que posso ajudá-la? — Bem, você disse que discutiríamos meu salário e suas expectativas na noite passada. Mas não chegamos a falar no assunto. Na noite anterior, depois que ela se acomodara, Grant anunciou que era hora de dar banho nas crianças e que ele mostraria a Lily o que fazer. Juntos, foram para o quarto dos bebês. Embora Chas houvesse decidido que ficaria distante, o riso chegara até ele e fez com que se apressasse escadaria acima. Fez uma careta diante da recordação. — Desculpe-me — disse Lily obviamente em resposta à expressão de seu rosto. — Se não é um bom momento, poderei voltar em outra hora. — Não. Pode ser agora — disse Chas, colocando a pequenina garrafa de uísque de volta na gaveta. Ele tinha trinta anos de idade e três relacionamentos ruins ensinaram-no lições valiosas, a principal era que um homem não devia se deixar envolver por um lindo rosto. E quase um ano se passara desde o último. Terminara a universidade, pagara a maior parte das dívidas e mantinha-se distante de problemas durante todo esse tempo. Se não podia conter-se durante uma conversa com a babá, então precisava de um bom exame mental. — Na verdade, eu devia pedir desculpas por não ter me lembrado de falar com você a esse respeito ontem à noite. — Sem problemas — Lily falou, vagarosamente dando alguns passos para dentro do escritório. Acomodou-se na cadeira defronte à escrivaninha enquanto Chas organizava os pensamentos sob o pretexto de ajeitar alguns papéis. Com calma explicou a Lily o valor do salário e as expectativas dos Brewster. Enquanto falava, Chas sentiu outra onda de atração, mas controlou-a, lembrando-se de outra lição valiosa que aprendera com Charlene: boa aparência não era tudo. Projeto Revisoras

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Assim, pensando realmente no pleno significado da lição, constatou que a conversa poderia funcionar em seu beneficio porque a usaria para fortalecer sua resolução. Sentada do outro lado da escrivaninha usando calça jeans e camisa, Lily Andersen estava ainda mais bela do que a maior parte das mulheres em vestidos de noite. — Então, Lily, eu não tive oportunidade de entrevistá-la ontem e ainda há algumas perguntas que gostaria de fazer. Ela sorriu. O rosto iluminou-se de satisfação e os olhos azuis cintilavam. Chas ficou em alerta. Não havia como um homem achar algo errado naquela mulher. — Certo. Chas deu-se alguns segundos para se controlar, buscando desesperadamente um motivo para não gostar de Lily. — Bem, você falou que chegou a cuidar das crianças de sua irmã, mas fiquei curioso a respeito de outra experiência sua em cuidado com bebês. — Não tive nem uma outra, na verdade. Chas aguardou que Lily elaborasse melhor a resposta, mas isso não aconteceu. Ela era honesta e despretensiosa e não tentou forjar experiência profissional. Era uma pessoa definitivamente do tipo "aceite-me como sou". Não havia fingimento ou artifícios. — Universidade? — Não. Nunca quis ir para a universidade. Apenas desejava casar-me e constituir família. — É mesmo? — perguntou, mexendo-se com desconforto. Finalmente achara algo desagradável nela. Nada havia de pior do que uma mulher que necessitava de um homem para se sentir completa. — É mesmo — disse Lily e sorriu novamente. — Eu me apaixonei durante o segundo grau. Everett tinha boa aparência, era inteligente e amava a família. Era tudo o que uma mulher poderia desejar em um homem. Eu estava tão enamorada que teria feito qualquer sacrifício por ele. Apenas um tolo duvidaria da sinceridade da explicação.

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Ela não precisara de um homem para se completar. Apenas se apaixonara e fora leal. Se ao menos uma das mulheres que passaram por sua vida houvesse sido leal e confiável... — E então, o que aconteceu? — Chas indagou baixinho. — Eu esperei por ele enquanto Everett ia para a universidade. Perdoei algumas indiscrições e então sofri uma humilhação pública quando ele me deixou ao altar algumas semanas atrás: com vestido branco, damas de honra, um ministro impaciente e tudo. Chas tentou imaginar a cena e não conseguiu. Não fazia sentido um homem normal deixar aquela mulher!

CAPITULO III

Um raio do brilhante sol de outono acordou Lily. Vagarosamente ela abriu os olhos para o calor dourado. Espreguiçou-se, como uma gatinha despertando de um descanso na calçada ensolarada e reconheceu que estava feliz pela primeira vez em semanas. Sabia que era porque finalmente encontrara um emprego. Então constatou que devia ter acordado no meio da noite para ajudar a cuidar dos trigêmeos e que, naquele momento, deveria estar alimentando-os. Saiu rapidamente da cama, olhou para o relógio e suprimiu um grito. Nove e meia! Estava atrasada e não podia dar-se ao luxo de ser irresponsável. Precisava muito daquele emprego. Agarrou um robe da cadeira a caminho da porta e apressou-se para o corredor. Vestiu-o quando ainda estava na alcova e entrou na cozinha. — Eu lamento — falou até mesmo antes de dizer "bom-dia". — Está tudo bem — Chas disse educadamente, limpando uma porção de aveia do queixo de Annie.

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— Mas não deve cuidar sozinho das crianças — Lily protestou, constatando que não apenas Taylor e Cody mastigavam contentes seus brinquedos como os três bebês estavam vestidos para o dia. Chas não pedira sua ajuda durante a noite. E cuidara do ritual matinal. Atualmente planejava assumir as tarefas noturnas mais uma vez. — Eu quero ajudá-lo. — E ajudará — Chas disse em tom agradável, concentrado em Annie. — Tenho uma reunião na cidade em mais ou menos uma hora e meia. Assim que eu terminar o que estou fazendo agora, as crianças serão suas. Chas partiu cerca de duas horas mais tarde. Deixou números de telefone e deu tantas instruções a Lily que ela de maneira alguma conseguiria se lembrar de todas. Particularmente quando tinha tamanha dificuldade em concentrar-se no que Chas dizia. Não lhe ocorrera que ele teria de se vestir para a reunião. Quando o avistou, descendo a escadaria, quase desmaiou. Mas foi o modo como ele beijou cada criança ao se despedir, ofertando a cada uma palavras individuais de afeto para que se sentisse especial, que realmente atingiu seu coração. Quando o som do carro de Chas finalmente foi se tornando distante, Lily suspirou aliviada. — O que há comigo? Como posso ficar perturbada com tamanha facilidade? — perguntou aos três bebês de oito meses de idade que estavam sentados no cercado, encarando-a. — Quem me visse pensaria que jamais estive diante de um homem com temo antes. Sentia-se bem em vê-los felizes e tranqüilos, porque precisava de um minuto para pensar. A despeito do que dissera às crianças, compreendia que o problema não era apenas a aparência de Chas, mas sim que ele a encantara por causa do amor que demonstrava pelas crianças. Chas confirmou aquele afeto quando, ao retomar a casa naquela tarde, mal colocou a maleta em um móvel e já se aproximou do cercado do escritório, assanhando os cabelos de Cody, dando um beijo em Annie e fazendo um gracejo para Taylor.

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Lily apoiou-se no batente e sorriu confiante de que seria capaz de se controlar, afinal, já deduzira que se sentia atraída por Chas porque ele era uma doçura com os trigêmeos. Qualquer mulher ficaria emocionada vendo um homem tão afetuoso. Grata por sua atração não ser inusitada, decidiu deixar de lado o dilema particular e ser mais maleável. Mas quando Chas se virou para fitá-la, com uma expressão masculina única, Lily soube então que, por mais adorável que ele fosse com as crianças, era também um homem viril e sensual. — Você não teve problemas durante minha ausência, não é mesmo? — Tudo correu bem. Chas não teria conseguido esconder o alívio, mesmo que quisesse. — Ótimo. Graças a Deus! Lily deu um passo para a sala de estar. — Sr. Brewster, eu sou muito competente com crianças. — Por favor não me chame de "sr. Brewster" — Chas pediu, distanciando-se dela com Annie no colo. — Parece que está se referindo a meu pai. — Desculpe-me. Chas novamente evitava estar perto dela a todo custo. Não aceitara ajuda no café da manhã e naquele momento parecia nem mesmo desejar que conversassem. Lily não sabia se era por causa de sua óbvia atração por ele e sentiu-se enrubescer. — Tentarei me lembrar de chamá-lo de Chas, mas confesso que me sinto desconfortável com isso. — Por quê? — Bem, você é meu chefe, e sempre achei que era preciso referir-se aos patrões de modo respeitoso. — Mas está agindo com respeito — Chas protestou. — Eu não preciso ser chamado de "senhor" ou qualquer outra bobagem. E se vamos morar juntos, Lily, teremos de nos habituar um ao outro. Pela primeira vez desde que o conhecera, Lily constatou que para Chas também seria difícil lidar com a proximidade.

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Contanto que tudo estivesse estabelecido claramente e com profissionalismo, Chas seria capaz de fazer o que fosse preciso. Mas no instante em que o clima se tomasse pessoal, o que acontecia com freqüência já que moravam na mesma casa, ficava silencioso, evasivo. Parecia não desejar ficar no mesmo ambiente com ela, nem queria dividir tarefas. Lily estivera tão preocupada com sua própria reação que não percebeu que Chas se sentia da mesma maneira em relação a ela. Lembrou-se novamente de que ele não a quisera contratar e que tivera a típica resposta masculina inicial a sua presença, achando-a burra e fútil. Lily considerou a hipótese de ficar brava, deixando que ele lidasse sozinho com o problema. Mas não gostaria de morar com alguém que tinha uma impressão tão terrível a seu respeito. Como parte da pessoa mais forte e poderosa que precisava tornar-se, ela optou por mudar a opinião de Chas. — Não acho que vá ser tão difícil nós nos habituarmos um ao outro. Em primeiro lugar, temos um laço muito importante. Quando Chas virou-se para fitá-la, havia uma expressão de dor em seu rosto. — E qual é? — Bem, nós dois amamos as crianças — Lily falou com cautela, rezando para não tomar a situação pior. — Eu sei que nos conhecemos há apenas dois dias. Mas seria impossível não amar bebês tão lindos. Chas sorriu. — São lindos mesmo. — E bem-comportados — Lily acrescentou, percebendo que fazia progressos. — Você e seus irmãos podem ser orgulhar do bom trabalho que estão fazendo. — Ora, estamos com eles há somente três meses — Chas falou com um sorriso modesto. — Seu pai e madrasta morreram em um acidente, não é mesmo? Ele assentiu. — Sim. Foi um choque.

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— Mas pelo menos vocês têm um ao outro. Os bebês não ficaram com estranhos. — Na verdade ficaram sim — Chas falou. Acomodou-se na cadeira atrás da escrivaninha e colocou Annie no colo. — Meus irmãos e eu nos desentendemos com nosso pai. Nem mesmo sabíamos a respeito dos trigêmeos. — Oh! — Lily exclamou, sem saber o que dizer e não querendo ser intrometida porque já havia ultrapassado os limites da informação casual. Embora estivesse ansiosa por ajudar Chas a se sentir confortável em sua presença, sabia como era ruim quando faziam perguntas indesejadas. — Está tudo bem — Chas falou. — Você ouviria as fofocas na cidade, de qualquer maneira. É bom que eu lhe conte a história antes que ouça versões um tanto mais emocionantes do que a verdadeira. — Está bem — murmurou, mais tranqüila. Normalmente as fofocas eram muito piores do que a realidade. Chas fez um gesto para que ela se acomodasse na cadeira diante da escrivaninha e, durante alguns segundos, ele nada disse. — Minha mãe morreu subitamente. Teve ataque cardíaco, e o médico falou que aconteceu tão rápido que nada poderia ter sido feito por ela. — Sinto muito. Chas assentiu, aceitando suas condolências. — Foi terrível. Todos nós sofremos muito. Grant foi quem ficou pior. Embebedou-se e fez papel de tolo na cidade. Estávamos tão preocupados com ele que mal prestamos atenção a nosso pai. A única coisa de que me lembro é de papai dizendo que a vida era curta e que sentia que desperdiçara a dele. — É uma reação muito normal — Lily confirmou com delicadeza. Chas sentia-se inquieto em discutir a situação aberta e objetivamente com alguém. Nunca havia constatado quanto precisava falar a respeito e desconfiava de que parte do motivo de estar desabafando era porque Lily era praticamente uma desconhecida. Não tinha preconceitos e não parecia dada a fazer julgamentos precipitados.

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Qualquer que fosse o motivo de conseguir conversar com Lily, sentia-se feliz por ter a oportunidade de tirar um pouco do peso daquele fardo. — Em nossa própria tristeza — prosseguiu —, mais ou menos ignoramos papai. Um dia ele chegou em casa com uma mulher de aparência espetacular. Uma ruiva alta com olhos castanhos e tristes. Desconfiamos de que fosse tentar envolvê-la com Grant. — Mas seu pai casou-se com ela — Lily palpitou baixinho quando Chas caiu em silêncio. Ele assentiu. — E tiveram os trigêmeos — tateou, cautelosa. — Não, nós tivemos uma grande briga. Em nossa rebeldia, praticamente destruímos os bares locais durante mais ou menos uma semana e depois saímos da cidade como se tivéssemos o direito de punir papai. — Você tem certeza de que não tinham? — Jamais saberemos. Não ficamos por perto tempo o bastante para escutar toda a história. Meus irmãos e eu fomos juntos para a Filadélfia, onde eu estudava, e fizemos um pacto. Nenhum de nós jamais voltaria para casa. Após uma semana e pouco, Grant foi para a residência de um amigo que deixara o distrito Brewster poucos anos antes. Hunter fundara uma construtora e tinha muito trabalho, por isto Grant passou a ajudá-lo e mudou-se para a Geórgia. Evan pegou as economias que tinha e investiu em uma empresa que compra e gerencia franquias de restaurantes. Como todo seu futuro estava em jogo, Evan colocou o coração e a alma, bem como todo seu tempo naquela empresa. — E você? — Eu baguncei minha vida. — Mas já estava cursando Direito. — Sim — Chas falou em tom de lamento. — Nesse período, também me casei duas vezes, divorciei-me duas vezes e fui para a cadeia porque minha esposa passou cheques sem fundos. Quase fui à falência. — Fez tudo isto em dois anos? — Pouco mais de um ano. Eu trabalho rapidamente.

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Lily não agüentou e riu. — Eu diria que sim. Você faz com que eu me sinta lerda e preguiçosa por ter tido apenas um relacionamento em seis anos. — Considere-se com sorte e muita inteligência por ter vivido apenas um relacionamento em seis anos. — Eu me considero, algumas vezes. Em outras, sinto-me uma tola porque não percebi que Everett perdera completamente o interesse. — Acha que foi isto que aconteceu? Ela deu de ombros. — Não sei. Sei apenas que, no dia do casamento, planejava passar o restante de minha vida com o homem que amava e, no seguinte, estava só e não tinha um futuro. — Acredite em mim — disse Chas. — Você está melhor assim. — Acha mesmo? — Tenho certeza. Seria terrível ter um relacionamento com alguém que não está comprometido. Eu passei por isto. Lily riu. — Eu me senti tolo, pareci tolo e fui à falência por causa disto — Chas falou e então riu também. Parecia estar vendo humor na situação pela primeira vez. — Eu devo parecer um ser de outro mundo — acrescentou e então subitamente parou de rir e olhou para Lily. — Oh, aposto que meus irmãos acharam que eu estava absolutamente louco. — Ou perturbado — Lily sugeriu delicadamente. Chas captou seu raciocínio como um homem que, afogando-se, agarra um colete salva-vidas. — É mesmo? — Claro — Lily falou em tom encorajador. — Ora, você perdera a mãe, depois o pai. Deixou seu lar, em seguida seus irmãos praticamente o abandonaram. Você procurava por companhia, companheirismo, talvez até mesmo uma perspectiva de futuro. Não estava louco. Nem mesmo tão solitário como provavelmente se sentia. Chas ajeitou Annie no colo e considerou o comentário.

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— Passei a maior parte do tempo tentando descobrir como seria dentro de vinte anos. Eu queria um plano. Não, queria alguém para me mostrar que tudo ficaria bem. Mas nenhuma pessoa poderia fazer isto. Lily ficou calada por tanto tempo que Chas acabou por fitá-la. Compreendeu que aguardava por sua plena atenção. — Ninguém pode nem jamais poderá. — Eu sei — ele disse. Depois que Lily deixou o escritório, Chas acomodou-se na velha cadeira de seu pai e suspirou. Ficou se perguntando se Lily seria tão doce com ele se soubesse quanto desejava levá-la para a cama. Indiretamente alertara Lily na esperança de que fosse esperta o bastante para compreender. Chas notara que ela era tão doce quanto linda e não sabia exatamente por quanto tempo mais seria capaz de esconder a atração que sentia. Embora Lily não quisesse, a explicação de Chas a respeito do passado tomava-o ainda mais atraente porque mostrava que era um homem sensível e honesto. Antes do jantar, Lily já concluía que qualquer relacionamento entre eles não daria certo porque ambos estavam feridos e cautelosos. Notara amargura na voz de Chas, e também estava magoada com a rejeição de Everett. E ela era inteligente. O denominador comum nos relacionamentos ruins de Chas era ele. Se pensava que Lily não era inteligente, devia saber o que começava a pensar a seu respeito. Mais tarde naquela noite, enquanto Lily ninava Taylor para que adormecesse, Chas entrou no quarto das crianças. — Ela não é linda? — sussurrou encantado, passando a mão nos cabelos macios da menina. Cautelosa, e também reconhecendo seu lugar como empregada, Lily falou com diplomacia: — Sim. As três crianças são lindas. — E tão diferentes. Nunca deixo de me impressionar com o esforço de Deus para tomar cada um de nós diferente. E então passamos a vida lutando para nos uniformizarmos.

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Lily lembrou-se das roupas da moda, cortes de cabelo e tintura que experimentara na época do colegial quando estava desesperada por encaixar-se no grupo. Riu e falou: — Nunca pensei nisto. — Provavelmente porque você era a pessoa que todos tentavam copiar. Falou com tamanha sinceridade que Lily espantou-se e encarou-o. Pelo modo como Chas a fitava, soube que ele não a via como uma mulher rejeitada no altar e, definitivamente, não a considerava uma loura burra. Não sabia bem o que pensava, mas o que fosse, era bom. Melhor, inclusive, do que a imagem que ela tinha de si mesma.

CAPITULO IV

— Olá, alguém em casa? Quando Lily ouviu o chamado da voz melodiosa, jogou a toalha no chão e correu para a porta frontal da residência. Não apenas os bebês dormiam como Chas estava ocupado trabalhando, e Grant encontrava-se no escritório. Não queria que fossem perturbados. Chegando ao saguão, deparou-se com uma linda mulher de cabelos escuros e um homem atraente com cabelos castanho-claros. Ambos sorriram para ela. — Posso ajudá-los? — indagou com cuidado. — Sou Evan Brewster e esta é minha esposa Claire — o homem falou, estendendo a mão para cumprimentá-la. — Prazer em conhecê-lo, sr. Brewster — Lily disse apertando-lhe a mão. — Sou Lily, a nova babá das crianças. — Oh! — Evan exclamou, obviamente surpreso. — Pensei que você fosse... — Ela é a babá — Chas falou com ênfase, saindo do escritório. — A babá. — Está bem, é a babá — Evan repetiu. — Onde estão as crianças?

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— Dormindo — Lily respondeu em um sussurro. — Fiz biscoitos amanteigados e café fresco para mantê-los ocupados na cozinha até que as crianças despertem. Grant pôs a cabeça para fora do escritório. — Biscoitos amanteigados? — Sim, e estão muito saborosos — Lily falou, conduzindo Evan Brewster, a esposa e um Chas relutante para a cozinha. — São minha especialidade. — E os meus prediletos — Grant falou, seguindo-os. — Você fez os biscoitos macios ou crocantes? — De ambos os jeitos. — Humm — Grant gemeu, fechando os olhos em êxtase. Lily riu. — Espero que apreciem — disse e ofereceu aos patrões um prato com biscoitos ainda quentes. — Alguém quer café? Após a concordância geral, Lily observou todos pegarem um ou dois biscoitos e dirigirem-se à mesa perto da janela, o local do café da manhã. Sentiu-se deliciada em servir café com creme e açúcar para o grupo. Era assim que imaginara aquele emprego, um lugar onde pudesse fazer seu trabalho e relacionar-se amigavelmente com todos. Não estava meramente tentando agradá-los, acreditava que era assim que tudo devia ser. Quanto mais os Brewster se habituassem a deixá-la assumir tarefas rotineiras, aumentava a possibilidade de que a considerassem indispensável. — Evan e Claire estavam em lua-de-mel em Nova York — Grant declarou, incluindo Lily na conversa através daquela explicação. — Você deveria aproximar-se e ouvir o relato, assim eles só terão de contar a história uma vez. — Não há histórias a contar — Evan declarou, mas riu. — Passamos a maior parte do tempo em joalharias. — Você me prometeu um diamante bem bonito se eu me casasse com você — Claire falou. — Tudo o que fiz foi obrigá-lo a cumprir a promessa. — Posso ver o anel? — Lily indagou, curiosa e feliz, embora a visão de um anel de noivado no dedo de outra mulher lhe trouxesse más recordações. Mas quando Claire estendeu a mão esquerda e mostrou o deslumbrante diamante cortejado por dois rubis, uma maravilhosa sensação feminina de alegria tomou-a. Projeto Revisoras

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— É... espetacular! — Os homens não têm gosto algum. Sempre escolha seu próprio anel — Claire provocou, mas virou-se e deu um beijo rápido nos lábios do marido. Lily reagiu àquela cena também, e teve de admitir que sentiu uma forte pontada no peito. Não de ciúme ou inveja, mas de perda. Se Everett não a houvesse abandonado no altar, também estariam retomando da luade-mel. Diferentemente de Claire e Evan que tiveram apenas poucos dias de folga, eles haviam planejado quase um mês em Aruba. — Estes biscoitos estão maravilhosos — Grant elogiou, interrompendo seus pensamentos. — Estão realmente deliciosos — Claire concordou, observando Lily com atenção como se percebesse que algo estava errado. Notando que alguns de seus pensamentos poderiam estar expressos no rosto, Lily ocupou-se em colocar mais biscoitos no prato. — Obrigada. Eu adoro cozinhar. Na época de Natal, divirto-me em pintar, decorar e cozinhar até ter biscoitos suficientes para um exército. — Espero que esteja aqui no Natal — Grant falou. Lily riu, relaxando novamente. Chas fez uma careta. Ele estava pensando que devia ter feito justamente o que Grant fizera. Por que não salvou Lily dos pensamentos dolorosos a respeito de seu noivado desfeito? O choro distinto de Taylor veio do monitor colocado atrás da mesa. — Oh, é Taylor! — Claire falou e fez menção de se levantar para pegar a menina. — Não, eu cuidarei dela — Lily insistiu. — Provavelmente está com a fralda molhada — acrescentou, olhando para o terninho de lã branco de Claire. — Prometo que a trarei para cá assim que trocá-la. Claire sorriu, grata. Grant, entretanto, afastou a cadeira e levantou-se. — Irei com você. — Não, fique e descanse — Lily falou, mas ele seguiu-a mesmo assim. Chas limitou-se a olhar para o irmão mais velho.

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— Lily, você pode estar aqui há apenas alguns dias — Grant disse enquanto se afastavam — mas sabe como é. Uma criança acorda e antes que você chegue até o quarto para silenciá-la, já despertou os irmãos também. Chas notou que Grant parecia genuinamente interessado em ajudar as crianças, por isso respirou profundamente e virou-se para Evan e Claire. — O que foi? — perguntou, indignado. Evan deu de ombros. — Lily é muito bonita. — Você só pode estar brincando — Chas murmurou, tentando parecer tranqüilo. Como se precisasse que alguém o lembrasse de que Lily era bonita. — Estou curioso. Como convenceu Grant a contratá-la? — Foi Grant quem insistiu para contratarmos esta moça. Eu não queria, mas como havia apenas dois, o voto ficou empatado e acabamos entrando em um acordo. Lily ficará aqui durante um período de experiência. — Bem, eu espero que o período de experiência cubra os feriados — Claire disse, examinando um biscoito. — Eu mal posso esperar para ver o que ela fará com gergelim e frutas cristalizadas. Antes que Chas tivesse oportunidade de reagir, Grant entrou na cozinha com Taylor no colo. Lily seguia-o com os braços vazios. — Foi tão esquisito — Grant comentou, estendendo Taylor a Claire, que sorriu deliciada. — Nem Cody nem Annie despertaram. Estão dormindo profundamente. — Em outras palavras, você não precisava ter ido ao andar superior. Chas não pôde conter o comentário. As palavras saíram antes que pudesse contê-las. Reconheceu que fora uma demonstração de ciúme quando seus dois irmãos o encararam, incrédulos. — Voltarei ao trabalho — Chas falou, encabulado. — Sim, faça isto — Grant disse com firmeza. Chas estacou. Basicamente Grant pedira que ele deixasse a cozinha e se distanciasse de Lily. Como se já não fosse ruim o bastante Grant ter praticamente babado nos biscoitos, apressando-se em confortá-la quando Lily obviamente estivera pensando no relacionamento fracassado, depois seguido-a até o quarto das crianças, naquele momento expulsava-o da cozinha!

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Não gostava do modo como seu irmão vinha se comportando. Mas nada poderia fazer sem parecer tolo. Evan e Claire ficaram para o jantar e embora as mulheres houvessem se oferecido para cozinhar, Grant de alguma maneira terminara na cozinha para fazer-lhes companhia. Chas se contorcia de raiva. Fazia o máximo para se controlar quando perto de Lily enquanto Grant seguia-a como um animal de estimação apaixonado. — Durante minha ausência, por favor telefone para Claire. Pergunte-lhe se poderá novamente encomendar o anúncio para uma empregada doméstica — Grant pediu ao dirigir-se à porta. Mais uma vez estava a caminho de Savannah. — Ora, na verdade eu não teria problema algum em providenciar o anúncio. Acho que sei de que precisamos — Lily falou. — Acho que sabe mesmo — Grant concordou alegremente. Lily ficou encantada com sua aprovação. Sabia que ele tentava resgatá-la para a terra dos vivos, agradando-a e dando-lhe tarefas que aumentariam seu senso de confiança. Apreciava tanta atenção. Após pouco mais de uma semana ali, considerava os Brewster pessoas de sua família. Sentia-se como a irmã mais nova de Grant, e o comportamento dele demonstrava que se considerava seu irmão também. Infelizmente, Chas ainda parecia desgostoso com tudo o que ela fazia e, apesar da trégua, não a tratava com normalidade. O estranho, entretanto, era que Lily preferia quando ele se mostrava antipático. Porque, do contrário, fitava-a com tamanho desejo que suas recordações de Everett se partiam como peças de um quebra-cabeça. Não conseguia lembrar-se do motivo de ter amado Everett, nem do que achava atraente nele. Sabia apenas que Chas era incrivelmente sedutor. Em alguns dias, dias realmente esquisitos, o ambiente entre os dois parecia cheio de energia e vida, como se fosse uma entidade. Mesmo assim, não deveriam envolverse de modo algum. Particularmente porque parecia que Chas tinha duas opiniões

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diametralmente opostas a respeito dela. Gostava de sua aparência, mas não da personalidade. Como para confirmar o fato, Chas falou: — Encomendar o anúncio não faz parte das atribuições de Lily... — Já que ela se ofereceu, devemos permitir que o faça — Grant falou com simplicidade. — Cuidem das crianças — disse por fim e deixou Chas e Lily sozinhos no saguão. Nenhum dos dois se mexeu ou falou por breves instantes. Foi Lily quem acabou tomando a iniciativa. — Tem alguma tarefa específica para mim agora? Chas suspirou. — Lily, você trabalha dia e noite sem parar. Não consegue tirar uma folga? Precisa se oferecer para ser secretária de Grant também? — Eu não me candidatei a ser secretária dele — rebateu, confusa. — Disse apenas que encomendaria um anúncio ao jornal. — Eu sei. Desculpe-me. Eu... vou assistir à televisão. Virou-se e deu alguns passos para escapar para a sala de jantar, mas como ela ficou parada e silenciosa no saguão, voltou-se para olhá-la. — Gostaria de vir também? — indagou com certa relutância. Lily umedeceu os lábios secos. Não havia nada para fazer nas montanhas e, assistir à televisão não era uma ameaça. — Sim, eu gostaria. — Ótimo. Ótimo. Lily duvidava de sua sinceridade. Esperou até que estivessem acomodados e ambos fingindo interesse em um noticiário antes de dizer: — Sabe, Chas, eu achei que houvéssemos feito uma trégua. Ele não desviou o olhar da tela e falou: — E firmamos. — Bem, se isto aconteceu, você está violando o acordo.

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Sabia que estava sendo idealista, mas imaginava que se conversassem um pouco e Chas a conhecesse melhor, talvez pudesse gostar dela. — Agora é você que evita olhar e conversar comigo — prosseguiu cautelosa. Chas piscou algumas vezes e fitou-a de soslaio. — Lily, esta situação é muito difícil para mim. — Eu compreendo que seja estranho ter uma pessoa nova em casa, mas estou aqui para tomar sua vida mais fácil. — Pois você faz tudo, menos facilitar minha vida. Na verdade deixa minha vida tremendamente complexa — falou, finalmente fitando-a diretamente como a provar a sinceridade das palavras. — Estou tentando me tomar um advogado respeitado em uma cidade conservadora. E não é bom para minha reputação que esteja aqui, porque todos sabem que tenho fraqueza por mulheres lindas. Lily arregalou os olhos. — Então o problema não sou eu? — Sim, é você! Olhe só para você. É deslumbrante. Mais do que isso, é maravilhosa com as crianças. Muito atenciosa comigo e Grant. Você tem um coração de ouro. Falava como se fosse uma acusação, e Lily deu uma gargalhada. — Bem, obrigada. Eu acho. — De nada — murmurou, tentando obrigar-se a ficar interessado no programa de televisão. Embora Lily não insistisse no assunto, continuava a considerá-lo em pensamento. Chas poderia achar que gostava dela apenas por ser bonita, mas seus sentimentos iam além da atração física.

CAPITULO V

— Olá, sra. Pawlowski — Lily disse, ao abrir a porta. — O sr. Brewster está a sua espera.

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Pegou o casaco de Ginny e o chapéu e pendurou-os em um móvel apropriado a caminho do escritório. Conduziu-a ao escritório, anunciando sua chegada a Chas. Ele estava sentado atrás da imensa escrivaninha de mogno, bonito e sofisticado com seu paletó de tweed, camisa branca e calça comprida preta. Chas pediu que sra. Pawlowski se sentasse. Lily sorriu para ele e deixou o escritório, fechando a porta atrás de si. No corredor, suspirou. Haviam se passado duas semanas desde que constatara que ela e Chas sentiam atração um pelo outro além do nível físico. Sentia-se mais tranqüila, e sabia que nada poderia fazer em relação aos próprios sentimentos. Sabia que, se permitisse que as emoções a dominassem, Chas a magoaria. Mas também não tinha muita idéia de como se conter. Havia centenas de motivos para gostar dele, sem contar sua aparência e sensualidade. Era simpático, tentava bravamente construir seu caminho entre dois irmãos muito bem-sucedidos, além de tentar lidar com a perda dos pais e a responsabilidade por três bebês. Era perfeitamente compreensível que sentisse algo especial por ele e fizesse todo o possível para ajudá-lo. Chas gostaria de estar mais estável emocionalmente. Bastava um sorriso de Lily e já perdia o rumo dos pensamentos. Precisou de cinco minutos de conversa casual com a sra. Pawlowski antes de ser capaz de lidar com os problemas legais da cliente, que se tomava guardiã da neta. No instante em que a sra. Pawlowski partiu, Lily roubou-lhe o pensamento novamente ao lhe pedir para ajudá-la a alimentar os bebês. Naquele dia ela usava calça jeans bem justa, suéter e tênis branco sem meias. Os cabelos louros estavam presos em um rabo-de-cavalo, o que salientava a juventude e alegria de Lily. Após cerca de três semanas morando na mansão Brewster, as reservas dela cederam por completo, e, em seu lugar, havia alegria e confiança. Era maravilhoso tê-la por perto. Chas sentiu uma pontada no estômago... depois algo parecido com felicidade. Ficou apavorado. Recordava-se muito bem daquela sensação: a mesma que o levara a se casar duas vezes e que também o colocara na cadeia.

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— Alimente Taylor. Cuidarei de Annie — Lily instruiu-o, fazendo um gesto para que se acomodasse defronte à cadeira alta de Taylor. — Entre uma colherada e outra, nós dois conseguiremos alimentar Cody também. Aquele era um sistema que Chas e os irmãos haviam inventado, por isso não podia discutir. Simplesmente sentou-se, pegou a colher decorada de Taylor e olhou para o prato onde havia três porções de papinha: uma verde, outra branca e uma terceira, roxa. — Humm! — disse a Taylor, embora reconhecesse que havia falta de entusiasmo em sua voz. — É muito gostoso para eles — Lily falou alegremente, e quando o contemplou-o melhor franziu a testa. — É melhor trocar de roupa. Se ficar com manchas de ervilha ou ameixa nesta camisa branca, pode ser que eu não consiga removê-las. Chas deu uma olhada para a camisa. — Ora, estou bem. Embora Chas continuasse a alimentar Taylor enquanto fazia o relato, a menina ficou impaciente porque provavelmente notava que não era o centro de sua atenção. Gritou bem alto e bateu com o pulso na bandeja. Infelizmente, o trepidar da bandeja fez o prato voar. Chas contemplou, completamente horrorizado, o prato fazer três rotações no ar e depois cair... no peito dele. — Tire isto agora — Lily falou, levantando-se. Ela correu para a pia e umedeceu uma toalha de mão. — Se a ervilha e a ameixa secarem aí, a camisa estará arruinada. — Não estou tão preocupado com a camisa como com a jaqueta — queixou-se, tirando o paletó com facilidade. Lily imediatamente limpou as gotas que caíram na lapela. Feito esse trabalho, olhou para a camisa e resmungou: — Oh, Taylor, veja só o que fez! — Fez! — Taylor repetiu, rindo. Chas deu uma gargalhada. — Eles parecem papagaios — disse, começando a desabotoar a camisa. — Repetem pedaços de palavras e nem fazem idéia do que dizem. Projeto Revisoras

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— Você acha isto engraçado — Lily disse. — Espere só até começarem a repetir os palavrões que você diz. Lily nem mesmo tentou esconder sua reação ao vê-lo seminu. Atualmente compreendia a razão de a presença de Chas simplesmente destruir seus pensamentos sobre Everett. — Vamos dar banho nas crianças juntos? — Chas indagou ao pegar um bebê com um braço e apoiar o outro no ombro, equilibrando-o em sua grande palma. Evan e Claire haviam retomado para apanhar Cody. Vinham buscar o menino todas as noites após o trabalho, deixando Chas e Lily com apenas duas garotinhas até a manhã seguinte. — Sim — Lily balbuciou. Nunca reparara no tamanho das mãos de um homem antes. Mas Chas com apenas uma conseguia equilibrar um bebê de oito meses. Lily estremeceu. Quase podia sentir aquelas mãos gigantescas em suas costas nuas, aquecendo sua cintura ou massageando-lhe os ombros. — Certo. Então que horas será? Lily se recompôs rapidamente. — As oito? Levando as duas crianças sorridentes para a sala de estar, Chas falou: — Isto me dará uma hora inteira para trabalhar, caso você não se importe em cuidar deles. Lily esboçou um sorriso e assentiu. Assim que Chas se afastou, ela desabou em uma cadeira. As crianças estavam distraídas com ursinhos de pelúcia, mastigando brinquedos plásticos e rindo. Por isso ela fechou os olhos e mordeu o lábio inferior. Ninguém jamais exercera um efeito tão poderoso nela. Tinha a estranha sensação de que tais sentimentos ocorriam apenas uma vez na vida. Começava a suspeitar de que o que Everett lhe despertara não fora tão intenso quanto imaginara. Quando Chas retomou à sala de estar uma hora mais tarde e a fez rir com o modo como equilibrava os bebês no colo, Lily esqueceu-se de que devia monitorar as próprias reações. Projeto Revisoras

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Durante o banho das crianças, ele lhe contou da vergonha que sentira quando precisara telefonar aos irmãos para que o livrassem da cadeia. Lily riu porque ele começava se mostrar capaz de rir de si mesmo. Levaram então as crianças para o quarto para oferecer a última mamadeira, antes de irem para a cama. Chas começou a sussurrar histórias da época de faculdade, quando se sentia faminto, com frio e solitário. Chegou a despertar sua solidariedade. E quando ele colocou o último bebê no berço, beijando a testa da menina e sussurrando que tivesse bons sonhos, Lily entendeu que havia perdido a batalha com o seu coração.

CAPITULO VI

Lily sentia-se flutuar e girar. As mãos de Chas seguravam-na pelos braços, puxandoa firmemente de encontro à solidez do corpo másculo. Suas bocas estavam unidas, sôfregas e insaciáveis. Ela experimentava sensações que imaginara existirem apenas em filmes. Sentia-se hipnotizada pela masculinidade daquele corpo. Estava encantada com a força que emanava de Chas e queria corresponder plenamente. Não era como a competição em relação ao trabalho doméstico. Não, era uma força primitiva que a tomava, um instinto tão antigo quanto o tempo. Em apenas trinta segundos, Chas fazia com que se sentisse mais mulher do que Everett em seis anos! A lembrança de Everett foi como um balde de água fria jogado em sua cabeça. Embora sinceramente duvidasse de que uma sensação forte assim e tão maravilhosa pudesse ser falsa, não era tola. Sabia que não deveria envolver-se tão rapidamente após o rompimento devastador. Afastou-se. Chas imediatamente se desculpou, passando a mão na nuca. — Olhe, eu lamento. Isto não vai se repetir. — Você lamenta? — indagou, confusa.

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— Bem, é óbvio que você não queria que eu a beijasse. Lily não pôde se conter e sorriu. — Não é exatamente o que me lembro de ter sentido. — Então... o que aconteceu? — Chas, eu acabei de sair de um relacionamento de seis anos. Achava que Everett era o amor da minha vida. E agora, mesmo sabendo que não era, não posso simplesmente me envolver sem pensar um pouco mais. — E você não deveria — Chas concordou. Nunca se sentira tolo assim. Deixara as emoções tomarem as rédeas e, a menos que contivesse a situação, poderia causar um estrago permanente no relacionamento profissional deles. E precisava muito mais de ajuda com as crianças do que de um relacionamento

romântico,

embora

tivesse

de

admitir

que

ela

beijava

maravilhosamente bem. — Bem, acho que dormirei algumas horas antes que um dos bebês precise de mim. Boa noite. — Boa noite — Lily balbuciou, observando-o sair. Assim que cessou o som dos passos, ela fez uma careta, confusa. Sabia que Chas desejara beijá-la. Sentira uma paixão violenta dominando-o. Após somente um beijo dele, Lily começava a ver que a experiência sexual que imaginara possuir não era grande assim. A verdade era que podia ter imaginado a resposta dele. Como Chas praticamente fugiu de sua presença após o beijo, a conclusão lógica era que Lily interpretara-o de maneira errada. Ele não desejara beijá-la. Ou talvez beijara-a como um teste e os sentimentos que imaginara nutrir simplesmente não se confirmaram. Talvez não tenha passado na avaliação. A mágoa da rejeição era muito dolorida. Lily engoliu em seco, aprumou os ombros e foi para o quarto. Se o fato de ter sido deixada no altar não a destruíra, a rejeição após apenas um beijo não conseguiria fazer isso também.

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Passara pela situação mais humilhante que podia lhe ter acontecido. A decisão de Chas de que ela não valia a pena nada significava. Não precisava aborrecer-se com isso. O cruel veredicto podia magoar e até fazer seus olhos arderem com lágrimas inesperadas, mas recusava-se a sentir deprimida. Infelizmente, no instante em que estava atrás da porta fechada de seu quarto, as lágrimas que estivera contendo caíram em profusão. Chorou porque estava envergonhada. Chorou por sentir-se indefesa, tola e jovem. E também chorou porque não sentia falta de Everett. Nem um pouco. Se sentisse, não teria caído de amores por Chas. Na tarde do domingo seguinte, Lily resolveu dar um passeio até o restaurante. Precisava relaxar e também aceitar uma verdade desconcertante. O beijo da noite anterior não fora um evento simples como gostaria de concluir. Sabia que não era certo, mas seus sentimentos por Chas ficavam mais fortes a cada dia. — O que gostaria de pedir? Lily desviou o olhar do cardápio que lia e viu Abby, a garçonete que administrava a hospedaria em que ela ficara, e que também trabalhava no restaurante. A moça era alta, com volumosos cabelos ruivos presos por um elástico cor-de-rosa. O rosto angelical iluminava-se com um sorriso. — Na verdade não estou com muita fome. Precisava apenas de um lugar para onde ir. Abby continuou sorrindo. — Há poucos lugares para se ir no distrito Brewster — concordou, passando um pano na superfície do balcão. — Mas nas tardes de domingo muitas pessoas gostam de vir aqui saborear um pedaço de torta. É quase uma norma aqui em Brewster. De onde mesmo você disse que era? — Wisconsin — Lily respondeu. — Parti porque precisava mudar minha vida e vim para cá em busca de dinheiro — admitiu. Abby deu uma gargalhada e serviu-lhe uma xícara de café. — Pelo menos você tem uma desculpa. Alguns de nós nascemos e fomos criados aqui e nem questionamos uma mudança de rumo.

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— Oh, não é tão ruim assim — Lily apressou-se em falar, temendo ter ofendido Abby. — Querida, eu sei. Fico aqui porque gosto, é um lugar silencioso e tranqüilo. É como eu quero viver. — Eu também — Lily concordou e ajeitou-se melhor no banquinho. — Eu não cheguei a lhe contar isto quando deixei a hospedaria, mas aceitei o emprego como babá dos trigêmeos Brewster. Abby arregalou os olhos em sinal de curiosidade. — Claire falou mesmo que haviam contratado alguém. Até mencionou que a mulher era bonita. Eu devia ter desconfiado de que fosse você. Bem, já que é nova na cidade e provavelmente está comemorando seu novo emprego — acrescentou alegremente — experimente uma fatia de torta de maçã por conta da casa. — Obrigada! — Lily exclamou, tomando um gole de café enquanto Abby se afastava para buscar o pedaço de torta. — Importa-se se eu me sentar aqui? Lily virou-se e viu um homem de aproximadamente sessenta anos acomodando-se no banco a seu lado. — Fique à vontade. — Sou Arnie Garrett — o homem falou, apresentando-se e oferecendo-lhe a mão. — O advogado local. — Oh, então provavelmente conhece Chas Brewster. Um dos homens para os quais trabalho. Também é advogado. — Ora, eu conheço todos os garotos Brewster. Eu era o melhor amigo do pai deles... que Deus o tenha! Não apenas vi aqueles meninos crescerem como conheço bem os trigêmeos. Como estão as crianças, a propósito? — Bem, maravilhosas — Lily acrescentou. — Eu tive uma sorte inacreditável em conseguir esse emprego. Arnie Garrett sorriu. — Eles tiveram uma sorte incrível em contratá-la. Nem posso imaginar dois solteiros cuidando de três crianças.

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— Mas eles não cuidam de três crianças — disse Lily, tomando mais um gole de café. — Evan e Claire levam Cody para casa todas as noites. Chas e Grant apenas cuidam das meninas. — É mesmo? — Arnie falou, parecendo confuso. — Mesmo assim, aquelas meninas devem dar bastante trabalho para dois homens. — Não, eles são maravilhosos com as crianças. Eu nunca vi homens com tamanha boa vontade. Sem qualquer aviso Arnie levantou-se, colocou algumas notas sobre o balcão e disse: — Bem, foi um prazer conhecê-la. Tenho certeza de que eu a verei novamente. — Adeus — disse Lily, acenando. Quando se virou para o balcão, Abby colocava um pedaço de torta a sua frente. — Eu aqueci no forno microondas — falou com orgulho. — E acrescentei sorvete. — Obrigada. — Na verdade, a torta não é de graça — Abby falou, mas riu. — Custará a você uma informação. Precisa me contar tudo a seu respeito para que eu possa falar ao pessoal da cidade. — Se eu lhe contar tudo a meu respeito, você nunca se livrará das fofoqueiras — disse Lily e então suspirou. Não sabia bem o motivo, mas confiava em Abby. A moça, com sua expressão gentil e personalidade calorosa, deixava-a mais relaxada do que já se sentira em meses. — Algumas semanas antes de eu vir para cá, meu noivo me deixou ao altar. Abby arregalou os olhos. — Está brincando! — Eu gostaria de estar. — Oh! — Doeu mais do que pode imaginar. — Gostaria de conversar a respeito? —Abby indagou com simpatia.

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— Acho que ainda não estou preparada — Lily admitiu. — Mas voltarei para comer outro pedaço de torta — disse ao dar uma mordida e suspirar satisfeita. — Então, você provavelmente não conseguirá fazer com que eu me cale. Já no carro a caminho de casa, Lily calculou que tinha por volta de mil dólares guardados. Os Brewster não apenas eram generosos com o salário, como lhe providenciaram quarto e comida. Não sabia quanto custaria ir para a escola, nem se seria capaz de se sustentar enquanto comparecia às aulas, mas haveria bastante tempo para se preocupar com esses detalhes. Assim como havia muito tempo para tentar chegar a uma conclusão sobre as emoções fortes que Chas lhe despertava. Mais do que isso, e particularmente por saber que seus sentimentos não eram correspondidos, tinha de fazê-lo acreditar que não sentia atração por ele, o que significava que precisaria manter os hormônios sob controle. Não era uma tarefa fácil para quem conhecia as delícias do beijo de Chas. — Espero que não se importe, convidei Claire e Evan para jantar aqui esta noite — Chas disse assim que Lily entrou na cozinha. Após caminhar um pouco no ar frio de outubro, a casa aquecida a fez corar. Ela usava suéter e calça comprida grossa, mas estremeceu mesmo assim. — Gostamos de deixar os trigêmeos juntos o máximo possível e como eu estou cozinhando, não achei que seria um problema. — Eu não me importo absolutamente. Adoro companhia — disse, enfatizando a última sentença. Chas gostaria que Lily não houvesse passado uma tarde fora de casa ou estivesse apreciando a presença de mais pessoas ao jantar para proteger-se dele. — E então, onde ficou durante a tarde toda? — indagou cheio de curiosidade mas fingindo prestar mais atenção ao molho do macarrão. — Em nenhum lugar especificamente. — Ficou apenas dirigindo por aí? — indagou, tentando não ser intrometido, mas não conseguindo se conter. — Não parou em lugar algum? Não encontrou alguém?

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— Na verdade eu vi duas pessoas. Fui até o restaurante e Abby presenteou-me com um pedaço de torta de maçã. Então um cavalheiro de meia-idade sentou-se a meu lado e se apresentou. Devia ser alguém que provavelmente não resistira à tentação de ficar perto de uma moça deslumbrante, Chas pensou. — Foi esquisito — ela prosseguiu, roubando uma folha de alface da salada que Chas preparava. — O sujeito parecia ansioso por conversar, então subitamente levantouse e saiu. Diante disso, Chas franziu a testa. — Tem certeza de que não imaginou que ele estivesse querendo conversar? — Pensando bem, foi como se ele quisesse se distanciar antes que Abby voltasse. — Você tem uma mente muito desconfiada. — Experimente ser deixado no altar uma vez — Lily sugeriu. — Deixa-o com toda espécie de pensamentos estranhos e conclusões precipitadas. — Sem dúvida. Chas não queria prosseguir naquela linha de conversa, por isso retomou o assunto original. — Você disse que o homem se apresentou. Qual era seu nome? — Averie... Artie... Arnie! É isto. Arnie Gavett ou algo assim. Disse que era advogado. — Arnie Garrett. — Chas parou de mexer o molho e virou-se para fitá-la. — Aposto que ele lhe perguntou sobre os trigêmeos, não é mesmo? — Sim. Sim, perguntou. — Maravihoso! — ironizou. Lily encarou-o com curiosidade. — Qual o problema? Eu fiz algo errado? — Não, mas meus irmãos e eu sim por não a advertir a respeito de Arnie Garrett. — Ele é o perverso local?

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— Não — Chas disse, suspirando. — É o guardião da herança dos trigêmeos se meus irmãos e eu não quisermos criá-los. — Ou se vocês não puderem criá-los — Lily completou assustada. — Ele estava me pressionando em busca de informações, não é mesmo? Oh, eu lamento! — Não é culpa sua. Sabe, passaram-se quatro meses desde que assumimos a guarda das crianças, e Arnie não se manifestou nesse período. Não nos mandou papéis nem tentou tirar os trigêmeos de nós de maneira alguma e acho que nos esquecemos de sua existência. — Acha que está interessado novamente? — Acho que estará até as crianças completarem vinte e um anos. Até lá, se puder tomar-se guardião legal, não apenas terá o controle de metade da empresa como também ganhará um salário retirado do dinheiro das crianças. — Canalha! — Na verdade, é perfeitamente legal e necessário um arranjo assim para crianças que não têm um guardião. Mas as nossas possuem. Elas têm três guardiões! — Aposto que sr. Garrett não se importaria em ficar com o dinheiro, entretanto — Lily especulou, e Chas ficou pensando nesse comentário durante o restante do tempo que levou para preparar o jantar. Assim que Claire e Evan chegaram com Cody, Grant acompanhou-os à sala de jantar com as garotinhas no colo e Chas esqueceu-se do ciúme pela proximidade entre Grant e Lily. Estava preocupado demais com Arnie Garrett. A tal ponto que, depois que todos se acomodaram e o jantar estava sendo servido, disse: — Lily conheceu Arnie Garrett na cidade esta tarde. Grant pousou o garfo na beirada do prato. — É mesmo? — Sim. Abby ofereceu-me um pedaço de torta e enquanto estava na cozinha, sr. Garrett sentou-se a meu lado. — Ele fez perguntas a respeito dos trigêmeos — Evan palpitou. — Sim. Mas com a rapidez com que se sentou, foi embora.

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— Porque Abby estava voltando — Chas acrescentou, lançando aos irmãos uma mensagem clara através da expressão facial. Grant suspirou. — Acha que está arquitetando algo? — Talvez — disse Chas. — Ótimo! — Grant exclamou, colocando o guardanapo na mesa. — Era a última coisa de que precisávamos agora. Não podemos poupar Evan de trabalhar na empresa. Você precisa se estabelecer — disse a Chas —, e eu estou dividido entre esta cidade e Savannah. Não há ninguém para brigar com ele. — Bem, eu estava pensando nisto — Chas falou, enrolando alguns fios de espaguete no garfo mas não o levando à boca. — Nós não teríamos de brigar se fizéssemos um acordo com Arnie. Grant encarou-o. — Jamais! Evan fez sinal negativo com a cabeça em concordância. — Também acho que não. — Ótimo — disse Chas, suspirando aliviado. — Eu apenas mencionei o acordo porque é uma opção. — Não, não é — discordou Grant. — Contanto que estejamos disponíveis para as crianças e cuidando bem delas, Arnie não terá o que alegar. E nós somos cinco agora — acrescentou, olhando ao redor da mesa. — Cinco de nós para cuidar de três crianças. Ele não terá como alegar que estamos negligenciando-as. Lily sentiu uma sensação estranha. Repassou o episódio no restaurante, lembrandose do brilho esquisito no olhar de Arnie quando ela mencionou que Claire e Evan cuidavam de Cody. Seus parcos conhecimentos a respeito de leis não a ajudavam a saber se aquilo era um problema. Sentia-se apenas culpada. Chas, Grant e Evan não queriam cuidar daquelas crianças porque possuíam metade da companhia ou por serem destinatárias de metade dos lucros da empresa, mas porque as amavam. E se perdessem os trigêmeos por causa de algo que ela dissera naquele dia, jamais se perdoaria. Projeto Revisoras

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Chas encontrou-a perambulando pela sala de jantar após as dez horas da noite. A contar pela expressão amargurada, ele soube exatamente em que Lily pensava. — Lily — falou com suavidade, capturando-lhe a atenção. — O que aconteceu com você e Arnie Garrett hoje não foi culpa sua. Se alguém podia ter pensado em advertila a respeito dele, este alguém era eu. — Sei disso. Mesmo assim, eu não devia ter dito nada. — Não devia ter dito que trabalha para nós? — Não. Refiro-me ao comentário acerca de quem cuida das crianças. Eu disse que Evan e Claire cuidavam de Cody individualmente. Se ele encontrar algo útil no que eu disse... — Arnie alegará o quê? Que nós damos atenção especial a Cody? Como ele poderá achar alguma falha nisto? — Talvez sugerindo à Corte que os trigêmeos precisem ficar juntos? — Mas estão juntos. Nós apenas os separamos para que cada um possa ter algumas horas de atenção especial e individualizada... o que, acredito eu, seja exatamente de que precisam. Eu diria isso também. — É mesmo? — Lily indagou, esperançosa. — Sim — Chas falou, sentando-se no braço do sofá enquanto a observava. — Eu não sei se há algum caso na Pensilvânia a esse respeito, mas provavelmente tudo está centrado na definição da palavra "juntos". Em nossa situação as crianças normalmente tomam café da manhã e almoçam juntas. Passam a manhã brincando e descansam também na companhia um do outro. Após o almoço brincam e descansam novamente. Se a Corte não achar que isto é o bastante, o pior cenário seria Evan e Claire mudarem-se de volta para a mansão. Então todos estariam juntos vinte e quatro horas por dia. Lily relaxou visivelmente. — Simples assim? — Lily, tudo é simples no papel. A dificuldade seria fazer os cinco adultos envolvidos com os bebês partilharem três banheiros. Mas até mesmo isto poderia ser solucionado — sugeriu alegremente. — Nós faríamos uma pequena reforma. Diante disso, ela riu.

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— Não está zombando de mim, está? — Não. Estou lhe dizendo exatamente como eu lidaria com o problema se Arnie usasse o argumento de que as crianças não estão morando juntas. Ela parou de andar e encarou-o. — E você tem tudo planejado? — Claro. Um bom advogado sempre analisa os dois lados do caso. Puxa, mas que coração mole o seu! — Acho que é minha grande fraqueza. As pessoas costumam dizer que nossa melhor qualidade também é nosso calcanhar de Aquiles. Bem, eu me importo demais com as pessoas. — Nunca mude, Lily. Falo com sinceridade — murmurou, aproximando-se. — Aquele tal de Everett pode não a ter valorizado, mas saiba que você é um tesouro verdadeiro. Pousou as mãos nas faces dela e ergueu o rosto até que o encarasse. — Eu estou muito, muito feliz por Grant ter me obrigado a contratá-la — acrescentou e beijou-a. O primeiro beijo fora repleto de paixão e desejo suprimido. Aquele, entretanto, era suave, delicado e tão abundante de emoção quanto uma chuva na primavera. Em questão de poucas semanas descobriu que encontrara uma amiga. Uma amiga de verdade, alguém a quem poderia confiar a própria vida. Uma pessoa em quem poderia depositar confiança até mais do que em seus irmãos... ou talvez de modo diferente.

CAPITULO VII

Chas não era o tipo de pessoa que se importava com rejeição. Treinado para ser advogado, aprendera que perderia causas, clientes e amigos.

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Algumas vezes tais perdas eram injustas, ele entendia, pois sabia que o mundo não era justo. Mas Lily nem sequer quisera tentar um relacionamento com ele. E isso o incomodava sobremaneira. Poucos minutos antes do alvorecer Chas descobriu a razão de estar inquieto. Sentira atração por Jennifer, desejara Gretchen de maneira forte e insaciável e amara Charlene, ainda que não chegara a conhecê-la de verdade. Entretanto, sentia que conhecia muito bem Lily. Apreciava-a, compreendia-a, gostava dela. Tinha sentimentos que atingiam a alma dele, lembrando-o das partes boas e decentes de sua natureza, bem como das porções apaixonadas de sua masculinidade. Aquela mulher verdadeiramente despertava o que havia de melhor nele. Mas parecera temerosa na noite anterior. Ele não estava descontando nada do que fora dito ou até mesmo a validade das palavras, entretanto. Tampouco

a

culpava.

Se

alguém

compreendia

os

desencontros

de

um

relacionamento, era Chas. E justamente isso o tomava ideal para Lily. Precisava apenas fazer com que ela visse que não apenas era possível que ficassem juntos, como também correto. Ela entrou no quarto das crianças quando Chas acabava de vestir Taylor. — Eu pegarei Annie — sussurrou Lily. — Leve Taylor para o térreo. Naquela manhã Lily usava seu robe cor-de-rosa sobre o pijama de flanela. Os cabelos estavam assanhados por causa da noite de sono, e ela tinha dificuldade em abrir os olhos. Mas para Chas parecia maravilhosa e perfeita. A mulher com a qual gostaria de passar o restante da vida. Debatendo se devia ou não beijá-la, apenas sorriu. — É uma boa idéia — murmurou, mas não se mexeu. Lily aproximou-se do berço de Annie e tirou-a do calor das cobertas. — Olá, pequenina. Vamos colocar uma roupa bonita e macia e providenciar algo bem gostoso para seu café da manhã?

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Annie balbuciou alguma coisa na tentativa de se comunicar, como se não estivesse exatamente encantada com a idéia de sair da cama, mas sabendo que não poderia ficar ali também. Lily virou-se para levá-la ao trocador e quase trombou em Chas. — Achei que ia para o térreo esperar por Cody. Ele deu um sorriso tolo. — E vou. Lily franziu a testa. — Então vá. Ele riu baixinho antes de sair do quarto com Taylor no colo. Ao entrar na cozinha, viu que Cody chegara e Chas acomodara Taylor e o menino em cadeiras altas enquanto preparava cereais para o café da manhã. — Como posso ajudá-lo? — indagou ao colocar Annie também em uma cadeira alta ao lado do irmão e irmã. Ele se virou, sorrindo. — Encarregue-se de Taylor e eu de Cody. E nós dois alimentaremos Annie entre uma colherada e outra. — Está bem. Assim que começaram a alimentar as crianças, deixaram de conversar porque falavam com os pequenos. Cody estava aborrecido e distante naquela manhã. Lily teve então de dar comida sozinha para as meninas. Annie e Taylor já haviam formado um laço de amizade. Freqüentemente aproximavam-se e riam como se dividindo um segredo. Naquela manhã, entretanto, pareciam estar comparando a comida uma da outra. Annie mostrava-se fascinada pelo cereal de Taylor e vice-versa. Lily desviou a atenção apenas um segundo, e uma garota pôs a mão na tigela da outra. — Taylor! Annie! — protestou. As meninas riam e lambiam a papinha entre os dedos. Chas levantou-se. — Eu lamento — falou constrangido. Projeto Revisoras

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— Não é culpa sua. Lily afastou as tigelas do alcance das meninas e limpou os dedos de Taylor com a toalha úmida que sempre estava por perto. — Não, eu não devia ter deixado que cuidasse sozinha das duas — falou ao pegar outra toalha umedecida. Cody gritou. — Na verdade, a culpa é sua — Chas falou ao garoto. — O que aconteceu com você esta manhã? Esticou a mão e provocou o menino com um afago na face, mas o rosto do bebê se contorceu como se sentisse dor, e ele começou a chorar bem alto. — Oh! — Lily exclamou, rapidamente acabando de limpar os dedos de Taylor e apressando-se para pegar Cody. Soltou o cinto de segurança da cadeira alta e tomou-o nos braços. — Qual o problema, querido? Cody chorou ainda mais alto. Chas limpava os dedos pegajosos de Annie e falou: — Deixe-o comigo. Tomou a criança dos braços de Lily, aconchegando-a contra o ombro e começou a caminhar. — Desculpe, camarada. Eu estava apenas brincando. Cody soluçou e esfregou o nariz úmido nó colarinho da camisa amarela de Chas. Lily voltou-se para as meninas, pronta para retomar a refeição. Mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, as duas, que estiveram olhando para Cody assustadas, começaram a chorar. — Sabe — Chas falou, como se nem ouvisse as irmãs berrando. — Acho que Cody está com febre. Lily não sabia qual criança atendia primeiro. — Você sempre esteve por perto quando ficaram doentes? — Apenas presenciamos o nascimento de alguns dentes. — Cody se comportava assim? — indagou esperançosa.

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— Não. Quando apareceram os dentinhos, ele parecia mais bravo do que doente. Hoje está cabisbaixo, irritadiço. — Leve-o para o andar superior — Lily instruiu-o, falando bem alto para ser ouvida apesar da gritaria das meninas. — Mas não para o quarto dos bebês. Nós poderíamos colocar um berço em algum outro quarto? Chas encarou-a. — Por quê? — Mesmo que ele tenha algo contagioso, como um resfriado, não está aqui há doze horas. Há uma chance de as meninas não terem se contaminado. Chas aquiesceu e fez menção de deixar a cozinha. — Leve o telefone sem fio com você e ligue para o pediatra — Lily acrescentou, estendendo-lhe o aparelho. — Está bem. — Senhoritas — disse Lily às meninas soluçantes —, em primeiro lugar vamos verificar se têm febre, então prepararemos outra porção de cereais. As duas deram murros nas bandejas e continuaram a chorar. — Precisarei de ajuda — murmurou, olhando para o teto em busca de um auxílio imaginário. Infelizmente ninguém veio em seu socorro. Após meia hora tornou-se óbvio que Annie também estava com febre, e as faces de Taylor ficavam rosadas. Chas telefonou para Claire e Evan, que se apressaram para casa para ajudar a levar os trigêmeos ao médico. Mesmo com quatro adultos e três bebês, a situação era difícil de ser administrada. Enquanto aguardavam sua vez na sala de espera do pediatra, as crianças iam de um adulto para outro, aparentemente em busca de um conforto que não conseguiam encontrar. Finalmente a enfermeira chamou seus nomes. Após quarenta e cinco minutos e um rápido exame de sangue, o médico lhes informou que os trigêmeos estavam com um resfriado forte.

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Prescreveu remédios que não os curariam, mas ajudariam a aliviar os sintomas. Chas, Evan e Lily colocavam novamente os agasalhos nos bebês quando dr. Raymond falou: — Sua madrasta era uma mulher e tanto. Ela e sr. Brewster foram pais maravilhosos. Quando soube que morreram, preocupei-me com os trigêmeos. Mas eu devia ter imaginado que os filhos de Norm seriam excelentes guardiões. A saída, dr. Raymond apertou a mão de Evan e depois a de Chas. — Fico feliz em ver que a situação foi resolvida da melhor maneira possível para as crianças. Durante os primeiros segundos após deixarem a sala de exames, todos ficaram silenciosos. Lily sabia que o segundo casamento de Norm Brewster gerara discórdia na família. Desconfiava de que houvesse problemas e questões não respondidas. Sentindo o clima tenso, percebeu que os comentários de dr. Raymond incomodaram Chas e Evan. Quando todos já estavam prontos para sair da ante-sala do consultório, Evan sorriu amplamente e disse: — Bem, eu e Claire não voltaremos ao trabalho hoje. — Fez uma pausa e olhou para Chas. — Onde está Grant? — Em Savannah. — Assim que levarmos as crianças para a mansão, eu irei até minha casa buscar algumas coisas. Ou Claire irá. Mesmo competentes como são — disse a Lily — eu não acho que vocês dois conseguirão lidar sozinhos com esta situação. Chas apareceu para tomar café da manhã, no dia seguinte, por volta das nove horas. Não tivera tempo para tomar banho nem se barbear, estava cansado de dividir seu tempo entre o trabalho e os trigêmeos. Achava que tinha todo direito do mundo de estar exausto. Além do mais, Lily não gostava dele. O que acontecia? — Bom dia, Chas — Evan falou, levantando os olhos do jornal matinal.

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O irmão grunhiu uma resposta incompreensível. Não achava que aquela era uma boa manhã. As crianças ainda estavam doentes, ele tinha uma montanha de trabalho a fazer e estava completamente só no mundo. Sentou-se e fez uma careta diante do brilho da luz do sol que entrava pelas persianas. — Então o que faremos hoje? — Evan indagou a Claire enquanto Chas fazia a panqueca. — Bem, precisaremos de mais roupas do que trouxemos e um de nós deverá ir ao escritório para solucionar alguma emergência com Janine. — Hmmm, tem razão — Evan concordou. — Janine é uma secretária muito competente e pode lidar com tudo, mas está tão preocupada com os trigêmeos que talvez evite relatar-nos os problemas por telefone. — E então, você quer ir ou deseja que eu vá? — Claire indagou. — Acho que você deveria ir — disse Evan. — Poderá escolher roupas melhores para nós e ficar alguns minutos longe das crianças. — E leve Lily com você — Evan acrescentou. — Um pouco de ar fresco e sol farão bem a vocês duas. Chas virou-se indignado para fitar o irmão, não havia necessidade daquela oferta generosa. Ficariam apenas dois para cuidar de três crianças doentes. Sentiu-se pior, quando se lembrou de que desde que contratara Lily nunca nem sequer pensara em lhe dar uma folga. O único descanso fora naquela tarde em que ela pedira. Intencionalmente ou não, seu irmão fizera-o sentir-se tolo mais uma vez. Chas estava a ponto de ficar furioso com Evan quando Claire se levantou, deu um beijo maravilhoso nos lábios do marido e disse: — Obrigada. Eu o amo e lhe devo esta. Vamos, Lily. Parecendo um tanto surpresa, mas também grata, Lily rapidamente se levantou. — Deixe-me pegar um agasalho. Serei rápida. Naquele segundo Chas soube que Evan não agira com intenção de aborrecê-lo. A gratidão no rosto de Lily valia muito mais do que o preço de cuidar das crianças durante a manhã. Particularmente considerando que as três dormiam durante a maior parte do tempo.

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Claire conteve-se antes de abrir a porta do restaurante e encarou Lily. — Talvez sim — disse, sorrindo calorosamente. — Estou feliz por tê-la trazido. — Eu também — Lily respondeu, rindo enquanto as duas entravam no restaurante. — Eu não teria agüentado mais um dia sem folga e com três crianças doentes. Embora um ou dois clientes ainda estivessem bebericando café ao balcão, a multidão que aparecia para o café da manhã já havia partido e todas as mesas estavam vazias. — Alguém em casa? — Claire chamou, despindo o casaco. Abby veio apressada da cozinha. Quando viu Claire, suspirou como se estivesse pronta para repreender a pessoa que ousava gritar em seu restaurante. Não ficou brava porque percebeu que Claire estivera brincando, provocando-a. — Olá. — Olá — disse Claire, sorrindo matreira. — Deve lembrar-se de Lily — acrescentou. — Sim, nós nos encontramos duas vezes — disse Abby, observando as duas acomodarem-se ao balcão. — Uma vez na hospedaria e outra quando ela veio aqui comer um pedaço de torta. — Bem, devia tê-la protegido de predadores. Enquanto você adicionava sorvete à torta, Arnie Garrett aproximou-se dela. Abby fez uma careta. — Desculpe. Eu não vi. — Está tudo bem — Lily interveio. — Pouco conversamos e Chas tem certeza de que as informações que inadvertidamente passei não terão utilidade nos tribunais. Obviamente notando algo na voz de Lily, Claire e Abby trocaram um olhar. — Como está a situação entre você e Chas? — Claire perguntou, pousando o cotovelo no balcão e o queixo na mão. Lily sentiu-se enrubescer. — Como assim? — Ouvimos dizer que ele é mulherengo — Abby falou, postando-se ao lado de Claire para que as duas pudessem interrogar Lily. — Ele já tentou beijá-la?

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Dessa vez Lily empalideceu. — Chas tentou! — Claire falou, arregalando os olhos. Abby fitou a amiga. — Por que o espanto, Claire? Ficou sozinha naquela casa com os bebês, e foi isto o que a uniu a Evan. — Evan e eu trabalhávamos juntos. Teríamos nos encontrado de uma maneira ou de outra. — Sim, talvez — Abby concordou, cética. — Mas há algo de estranho e misterioso naquelas crianças. Talvez mágico. — O que quer dizer com isto? — Lily indagou, ansiosa por mudar de assunto. — Bem, não tenho muita certeza do motivo de Norm e Ângela terem se casado — disse Abby. — Mas ouvi rumores de que planejavam o divórcio, mas desistiram porque Ângela estava grávida. Claire com relutância assentiu em consenso. — Então as crianças os mantiveram unidos — Abby acrescentou. — Acha que Ângela se casou com Norm por causa de dinheiro? — Lily indagou. — Não. Não poderia. Houve um acordo pré-nupcial tão longo quanto a Bíblia. — Então qual era o acordo? — Lily quis saber. Claire deu de ombros. — Norm nunca me disse uma palavra a respeito, apenas que amava profundamente os bebês e que estava feliz por ter se casado novamente. — As notícias que recebi vieram após o casamento. Nunca ouvi nem uma palavra sequer a respeito do começo do relacionamento deles. — É tudo tão esquisito — disse Lily. — Vejo três homens adultos com três bebês que são seus irmãos e, conforme Abby disse, sei que há algo mais ali do que as aparências mostram. — Todos dizem isto, e a maior parte das pessoas acha que o segredo morreu com Ângela. Talvez ela tenha sido deixada no altar e se casado com Norm para se consolar. Lily gargalhou. Projeto Revisoras

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— Você está zombando de mim, mas eu não ficaria surpresa. Ser deixada ao altar pode nos causar sentimentos realmente esquisitos. — Foi por isto que permitiu que Chas a beijasse? — Claire quis saber, arqueando as sobrancelhas. — Não nos beijamos! — Está certo — Abby concordou. — Ele a beijou. E você não quer nos dar detalhes.

CAPITULO VIII

Claire e Lily retornaram com sacolas de comida comprada no restaurante. Chas então soube que seu irmão era provavelmente um gênio. Não apenas as duas haviam trazido o almoço como estavam relaxadas e felizes. Evan até mesmo fora recompensado com um outro longo beijo que continha promessas com as quais Chas podia apenas sonhar. Olhou para Lily e viu que ela analisava o casal com indisfarçável olhar de inveja. Sabia que as mulheres apreciavam as atitudes de Evan, mas de alguma maneira aquilo lhe parecia falso. Infelizmente, enquanto observava Lily subir os degraus movendo os quadris e pernas perfeitamente modelados pela natureza, sua libido implorava para que mudasse de atitude. Mais adiante, naquela tarde, encontrou-a sozinha na cozinha. Observou a expressão esquisita no belo rosto quando Lily o avistou, e quase se virou para deixá-la só. Reconheceu no entanto que não poderiam morar juntos, e Lily ficar constantemente fugindo dele. Precisava fazer com que soubesse que sua rejeição não o afetara e que era capaz de tratá-la com cordialidade, como a uma amiga. Até que descobrisse uma maneira apropriada de seduzi-la. — Oi — ele disse ao entrar. — Olá — foi a resposta. Lily mantinha os olhos fixos na receita que lia.

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— Onde está Claire? — Lá fora com Evan, caminhando. Chas notou um toque de inveja em sua voz e quase suspirou. Caminhar juntos era outra atitude romântica apreciada por Evan. E uma das atividades mais agradáveis às mulheres. Algo assim faria Lily mudar seus sentimentos para com ele. Novamente então se lembrou de que não poderia tomar-se igual a Evan. Não era assim. Nunca tentara agradar uma mulher para conquistá-la. Além do mais, seria como estar trapaceando e não faria isso com Lily. Já havia descoberto que não seria possível. — O que está fazendo? Ela deu de ombros. — Dando uma olhada em receitas. Enquanto temos ajuda com as crianças, imaginei em descobrir a receita de algo inusitado porém fácil. Algo rápido de fazer para quando novamente estivermos sozinhos. — Talvez Grant volte para casa antes que Claire e Evan tenham de partir — sugeriu ele, tentando aliviar seus temores. Mesmo assim, ficava irritado. Detestava agir daquela maneira. Não era um animal. Era verdade que sentia atração por ela, mas jamais tiraria vantagem de Lily. Nunca tirara vantagem de mulher alguma, jamais precisara. — Não estou com medo de você. — É mesmo? — indagou, nem se importando em esconder o ceticismo. — É verdade sim — falou, como se exasperada. — Estou aborrecida comigo mesma por não compreender o que está ocorrendo entre nós dois. — Eu posso dizer o que está acontecendo entre nós — Chas falou, ocupando-se em pegar algumas uvas da fruteira colocada no centro da mesa a fim de não ter de olhar para Lily. — Sinto atração por você e... Fez uma pausa para fitá-la. Durante semanas estivera recebendo sinais confusos e embora Lily houvesse evitado-o, Chas recusava-se a descontar os acontecimentos bons. Afinal, uma atitude de rejeição comparada a no mínimo quatro olhares sonhadores e dois bons beijos... sim, a contagem definitivamente beneficiava as ocorrências positivas.

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Lily suspirou. — Tem razão. Não era a admissão de um amor eterno, mas para o ego ferido de Chas, tratava-se das mais linda das canções. Não precisava de belas palavras nem de declarações fortes. Na verdade de nada precisava, mas a constatação de que Lily achava-o atraente elevava seu estado de espírito. — Então vamos esfriar os ânimos por uns tempos — ele falou com casualidade, voltando a pousar a atenção nas uvas. — Vamos dar às nossas vidas a oportunidade de entrarem nos eixos. Lily voltou a olhar para as receitas no livro. — Seria uma boa idéia. — Ótimo! Chas ficou aliviado em notar que não haveria mais mal-entendidos. Naquele instante, o sol pareceu brilhar com mais intensidade, o mundo ficou mais calmo e a vida pareceu divertida novamente. Já podia respirar e pensar. Ao saber que Lily sentia algo especial por ele e provavelmente até gostava de sua pessoa, começou a acreditar que até poderia voltar ao escritório e trabalhar. E quando Evan e Claire entraram correndo na cozinha pela porta dos fundos, rindo e de mãos dadas, Chas contemplou-os sob um ângulo completamente novo. Lily ficou muito feliz com a conversa breve, porém importante que tivera com Chas naquela tarde. Na manhã seguinte os trigêmeos mostraram uma melhora importante. Deram às crianças um dia a mais para se certificarem realmente de que estavam recuperadas. Após o banho daquela noite os quatro adultos concluíram que estavam sadias. Evan e Claire decidiram ir para a cama mais cedo. Não apenas teriam de trabalhar na manhã seguinte como também precisariam acordar a tempo de ir ao apartamento pegar roupas apropriadas. Por causa disso, Lily e Chas foram deixados sozinhos após as nove horas da noite. — Cartas? Lily olhou para Chas e fez uma careta. — Acho que não. Projeto Revisoras

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— Por quê? — Ora, não sei todas aquelas regras tolas e exceções e não estou com vontade de fazer papel de boba. Chas conduziu-a à mesa redonda de cartas situada na sala de estar. — Ora, já fiz papel de bobo tantas vezes na vida e sei que sobreviverá. Além do mais, estou disposto a esquecer de todas aquelas regras e exceções para que não nos entediemos. Sob tais condições, Lily concordou. — Está bem. Combinado. Você dá as cartas. — Como quiser. Jogaram três sessões quase em silêncio completo. Lily concentrava-se tanto que nem tinha energia mental para sustentar uma conversa. Após a quarta etapa, Chas assobiou. — Você treinou? Ela riu com o prazer de um trabalho bem-feito. — Não. Mas Claire e eu jogamos na noite passada. Chas acomodou-se melhor e analisou-a. — Está tentando me impressionar? Ela sentiu-se enrubescer. — Não! — Então por que fez isso? — Porque não gosto de parecer burra. — Você é uma das pessoas mais cuidadosas e cautelosas que conheço, nem posso imaginar que tenha feito qualquer tolice na vida. — Devia ter me visto quando eu era mais nova. Chas apoiou os cotovelos na mesa e sorriu. — Eu teria gostado muito de vê-la quando era mais jovem. Pela expressão de seu rosto, Lily acreditou nas palavras, mas também constatou que Chas tinha uma imagem idealizada dela, o que se encaixava no que Abby especulara no restaurante.

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Suspirou. Não queria envolver-se em outro relacionamento. Abby e Claire pareciam acreditar que Chas não aceitaria uma negativa como resposta e não gostaria de lhe dizer "não" apenas para que ficasse mais determinado. Em vez disso, seria franca e verdadeira. Assim que Chas descobrisse que ela não era perfeita, não mais a desejaria e cada qual poderia dar prosseguimento à própria vida. — Confie em mim. Você não teria gostado de me ver quando eu era mais nova, era tola e leviana. Mudei de atitude rapidamente quando meus pais morreram em um acidente de carro, em meus dezesseis anos. — Lamento. — Não fiquei só. Fui morar com minha irmã e seu marido quase imediatamente. Chas franziu a testa. — Quase imediatamente? — Permaneci na casa de meus pais sozinha durante três semanas, tentando provar a Mary Louise e ao restante do mundo que eu podia viver bem ali. — E o Serviço Social permitiu? Lily riu. — Provavelmente não, mas Mary Louise é tão determinada quanto eu. Sabia que eu precisava de um tempo para absorver a dor e deu um jeito para que eu pudesse ficar sozinha. Pela expressão de seu rosto, Lily notou que ele comparava as próprias experiências com as dela e não parecia feliz com o resultado. — Você permaneceu completamente só durante três semanas inteiras? — Sim. Eu falei a Mary Louise que podia cuidar de mim mesma, mas na verdade eu estava de luto. — Sua irmã deve ser muito especial. — Ela e o marido tinham três filhos e muitos problemas. Não precisavam de um fardo a mais, mas aceitaram-me mesmo assim. — E foi por isto que quis ficar sozinha? Não queria se intrometer na vida deles? Lily contemplou as cartas e deu de ombros.

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— Nunca me intrometi. — Mas é também o motivo de você gostar de levar a vida a seu modo. Notou que definitivamente não se encaixava no molde de moça linda e perfeita, como as que Chas namorara e casara. Lily riu diante da expressão confusa no rosto dele. — Os homens fazem coisas assim o tempo todo, e escritores transformam isso em contos épicos. Mas basta uma mulher fazer algo fora dos padrões uma vez e pensase que há algo de errado com ela. — Não acho que haja nada errado com você — Chas discordou, mas admitia a si mesmo que não estava sendo sincero. Suas duas ex-esposas e a namorada mais recente tinham aproximadamente vinte anos e não viveriam sozinhas em hipótese alguma. Mas aos dezesseis anos Lily encarara uma das mais tristes ocorrências da vida, a perda dos pais, e suportara tudo sozinha. — Meus pais tinham uma boa apólice de seguros, o que suavizou o peso de meu sustento. Minha irmã e seu marido usaram o dinheiro para comprar uma casa e, assim que eu me senti equilibrada emocionalmente, nós chegamos a viver felizes por uns tempos. Chas aguardou que ela prosseguisse. Mas como isso não aconteceu, perguntou: — O que ocorreu depois? Ela deu de ombros como se o restante da história nem valesse a pena ser contado. — O dinheiro ficou curto, Mary Louise voltou a trabalhar e em vez de ir para a universidade eu me ofereci para ser baba de seus filhos. — Arrepende-se? — Sim — Lily respondeu com franqueza. — Mas não valeria a pena minha irmã trabalhar se também tivesse de pagar uma babá. E o casal fizera-me um favor gigantesco aceitando-me ali. — Mas... — Agora sou uma mulher de vinte e três anos de idade que não tem nada na vida. — É jovem demais para se preocupar com o fato de não possuir nada na vida.

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Diante disso Lily sorriu, hipnotizando-o. — Tomei-me adulta aos dezesseis anos. Sabia que cada prato de comida vinha da provisão de outra pessoa. Minha irmã e seu marido receberam uma boa ajuda financeira com o seguro de vida, mas não bastava para compensar os custos com minha alimentação e o teto sobre minha cabeça. Desde o dia em que meus pais morreram, eu sempre me senti um fardo. — Falando isso passou os dedos por entre os cabelos. — Sabe de uma coisa? Estou mais cansada do que pensava. Acho que vou me deitar. Muito tempo após a saída de Lily, Chas ainda olhava para o nada. Quando um homem via uma mulher bonita como aquela moça, seus pensamentos facilmente eram eróticos. Até mesmo ele presumira que Lily não seria capaz de cuidar de três crianças, nem mesmo acreditou que gostava de fazer isso. Mas a verdade é que apostaria como Lily daria o último centavo que possuía para sentir-se parte de uma família. Era o motivo de ela encaixar-se tão bem na família Brewster: precisavam dela. Ali ela se sentia aceita. Detestou o pensamento de que Lily passara um dia sem se sentir amada e querida. Não apenas porque nenhum ser humano deveria sentir dor tamanha, mas também porque tratava-se dela. A generosa, gentil e bondosa Lily merecia mais, muito mais. Foi tomado por uma emoção intensa. Em um repente, percebeu o motivo de Evan e Claire mimarem um ao outro. Cuidar de alguém não tomava a pessoa fraca ou submissa. Um homem não cuidava da mulher para garantir a perpetuação do relacionamento ou o amor da esposa, cuidava porque sentia, em seu coração, que aquela mulher merecia seus carinhos. Podia não desejar casar-se novamente, e Lily positivamente não estava interessada em um compromisso sério tão cedo, mas a menos que estivesse muito enganado, havia muito tempo que ela ansiava por uma pessoa que se importasse com seu bemestar e a confortasse.

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Na manhã seguinte Evan e Claire foram embora sem incidentes. Assim que partiram, Chas e Lily jogaram uma moeda para o alto para ver quem passaria o aspirador de pó no térreo e quem cuidaria das roupas sujas. Chas perdeu e levou cestos após cestos de roupas sujas de bebê para a lavanderia para separá-las enquanto Lily alegremente pegava o aspirador e previa que daria conta do trabalho rapidamente o bastante para ter tempo de ir à cidade. Ainda não eram dez horas, e Chas notou que as faces dela estavam muito coradas. — Você está bem? Lily deu um sorriso débil. — Sim. Estou. — O que acha de deixar que eu vá até a cidade para repor o armário de medicamentos? Lily riu. — De jeito nenhum! Eu ganhei a disputa e não cuidarei das roupas sujas. — Está bem, deixe-me lhe dizer uma coisa — Chas sugeriu. — Se deixar que eu vá até a cidade, a roupa suja aguardará até que eu volte para casa. Ela estreitou o olhar com desconfiança. — Por que está tão ansioso para ir à cidade? — Não estou. Apenas não quero que vá porque não está com boa aparência. — Estou bem — insistiu. Chas notou que ela ficava zonza e se apoiava no balcão da cozinha. — Não está! — exclamou, aproximando-se. Pousou a palma da mão na testa de Lily e, conforme suspeitara, constatou que ardia em febre. Suspirou. — Que bom! Você pegou o resfriado mais ou menos com três horas de atraso. — Eu não sabia que tínhamos uma programação — declarou com voz débil. — Não temos, mas estamos sem Evan e Claire aqui. Pois eu lhes telefonarei e pedirei que voltem — disse, fazendo com que ela se virasse e fosse para o quarto de empregada, logo ali na área de serviço.

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Ela sentou-se na cama, e Chas suspirou. — Quer alguma ajuda para colocar o pijama? — Não! — Então tire a roupa, vista uma camisola ou algo assim e deite-se. Ou farei isto por você. Lily fitou-o com a testa franzida, mas Chas apenas olhou para o relógio de pulso. — São dez e quinze da manhã. Estarei de volta em cinco minutos — murmurou, aproximando-se da porta. — Se eu fosse você, não desperdiçaria tempo. Na cozinha ele pegou o telefone para discar para a empresa, pronto para pedir a Evan e Claire que retomassem. Mas antes que apertasse o sexto dígito, conteve-se. Na noite anterior, decidira que desejava uma oportunidade para paparicar e cuidar de Lily. Pois o destino estendia-lhe a chance perfeita em uma bandeja de prata. Precisava renovar a opinião dela a seu respeito. Mas mais do que isso, sabia que Lily devia saber que alguém mudava seus planos por ela. Já que não deixaria que ninguém lhe prestasse cuidados quando estava bem de saúde, o fato de ter adoecido era a melhor coisa que poderia ter acontecido aos dois. As dez e vinte, Chas entrou no quarto de Lily e encontrou-a profundamente adormecida. Suspirou aliviado e fechou as persianas verticais da janela, fazendo o quarto mergulhar na penumbra. Então foi para a porta pé ante pé e suavemente fechou-a atrás de si. Seria uma experiência memorável.

CAPITULO 59

Chas deixou o quarto de Lily e através do monitor ouviu pelo menos dois dos bebês chorando. Lembrou-se de que já lidara com as crianças sozinho antes. Respirou fundo e galgou os degraus rumo ao andar superior.

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Annie estava sentada no berço, soluçando. Grossas lágrimas escorriam pelas faces coradas. Cody, enraivecido, estava de pé agarrado à grade do berço e choramingava. Garotinho forte, não apenas se equilibrava o bastante para se levantar sozinho como conseguia balançar as barras e estremecer o berço. E apesar de toda a confusão, Taylor dormia em paz. Chas procurou lembrar-se de que qualquer pessoa era capaz de lidar com duas crianças sem ajuda. Como Cody estava nervoso e Annie apenas triste, foi a menina quem recebeu sua atenção imediata. — Qual o problema, pequenina? Annie deu sua resposta na linguagem dos bebês e roçou o nariz úmido na camisa dele. — Eu não a culpo por estar aborrecida — Chas falou enquanto verificava a fralda. — Eu também não gostaria que minha calça comprida estivesse úmida. Cody deu um grito. — Shhh! — Chas murmurou, levando um dedo aos lábios enquanto conduzia Annie ao trocador. — Você não pode fazer tanto barulho hoje. Lily está doente. Evan e Claire foram para casa, e estou sozinho. Cody obviamente não se importava com seus problemas. Caso contrário, não teria dado outro grito estridente. — Eu estou lhe dizendo, vai acabar acordando... Antes que pudesse dizer o nome, Taylor estremeceu. E como fora acordada antes de descansar o suficiente, precisou lutar para abrir os pequeninos olhos. Não estava muito contente por ter sido despertada antes da hora. Chas observou os olhos de Taylor ficarem rasos de água e, em poucos segundos, ela já chorava em sintonia com Cody. — Turma, isto não vai funcionar — Chas disse em tom musical, trocando rapidamente a fralda de Annie e com cuidado colocando-a no cercado. Então Chas aspirou profundamente, contou até dez e lembrou-se de que tudo aquilo passaria.

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E quando passasse teria Lily totalmente para ele mais uma vez. Era verdade que estava doente, o que descaracterizava a situação romântica ideal, mas tratava-se do ambiente e situação de que Chas necessitava para mimá-la. Então se isso significava que teria de cuidar sozinho de três bebês, era o que faria. Acalmou as crianças o suficiente para poder levá-las para o andar inferior e acomodá-las na cozinha enquanto preparava o almoço. Todos estavam sentados nas cadeiras altas e a comida já sendo aquecida. Somente então Chas aspirou longamente e concluiu que devia tirar vantagem do minuto de folga para colocar uma carga de roupas sujas na máquina de lavar. Levou os três pratos com comida até as cadeiras altas, murmurando palavras tranqüilizadoras. Começou a alimentar as crianças e, antes de terminar a tarefa, sua camisa ganhara estampas coloridas. Deu um biscoito a cada criança para compensar a perda de tanta comida que estava em sua camisa e acabava de tirar Taylor da cadeira alta quando a campainha tocou. Quem poderia ser? Levando a garota consigo, foi até a porta e abriu-a. A sra. Pawlowski encarou-o. — Bom dia, sr. Brewster — murmurou com uma gentileza que não chegava ao olhar. — Sra. Pawlowski, nós tínhamos um compromisso? — Tínhamos uma audiência — respondeu, obviamente tentando ser compreensiva. — Vinte minutos atrás. O juiz tentou lhe telefonar. — Oh, não! — lamentou Chas, fazendo um gesto para que ela entrasse. — Ligarei ao juiz imediatamente e pedirei uma nova oportunidade. — Se você se refere à audiência ocorrer mais tarde, o juiz Flenner falou que não haverá problema algum — a mulher declarou, não aceitando o convite para entrar e franzindo a testa ao olhar para a decoração inusitada na camisa de Chas. — Eu preciso trabalhar, mas você deve mesmo telefonar para o juiz. Juiz Flenner ficou furioso por você ter desrespeitado o tempo dele. — Tempo dele? — Está com algum problema, sr. Brewster? — Ginny Pawlowski indagou com cautela.

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— Não. Não, tudo está bem — mentiu, pois sabia que nada poderia ser feito por aquela mulher. — Não se preocupe. Telefonarei ao juiz. Chas fechou a porta assim que a sra. Pawlowski se afastou um pouco e colocou Taylor no cercado da sala de estar. Depois correu para a cozinha para buscar Cody e Annie. Infelizmente, esquecera de tirar os pratos vazios das bandejas das cadeiras, e Annie usava o prato na cabeça como um chapéu. Cody tinha creme de cenoura no nariz. — Está bem, camaradas — Chas falou, contendo um suspiro. Pegou a toalha úmida que estava na mesa, mas naquele instante ouviu algo caindo no quarto de Lily. Largou a toalha e correu para ver o que era. Abriu a porta do quarto com um gesto brusco e escutou o baque de algum objeto contra o chão. Era um vaso leve que tombara, o que não o impediu de abrir plenamente a porta para ganhar acesso ao dormitório. Ao dar um passo adiante, seu pé afundou em uma poça d'água que se formara com a queda do vaso. — Droga! — gritou, retrocedendo, mas já era tarde demais. Sua meia estava encharcada. Então olhou para a cama e não viu Lily. Esqueceu-se da meia. Procurava apenas conter o pânico. — Lily? Não houve resposta, mas apenas sons estranhos vindos do banheiro. Chas passou a mão pelo rosto, considerando que ela provavelmente não precisava de companhia. Mas quando a ouviu gemendo correu para ver o que estava acontecendo. Abriu a porta apenas uma fresta suficiente para espiar. Lily estava deitada no chão. — Oh, meu Deus! — exclamou, ajoelhando-se a seu lado. — Escorregou o braço sob os ombros delicados para erguer-lhe a cabeça. — Estou bem... — Meu Deus! Você não está bem. Caso contrário, não estaria deitada no chão. — Está frio aqui.

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— Sim, certo — murmurou, percebendo que ela queimava em febre. — Vou pegar uma aspirina ou algo assim para você — acrescentou, levantando-se para ir até o armário de remédios. — Pegue uma toalha com água gelada para minha cabeça e vá cuidar das crianças. — Deixe-me ajudá-la a voltar para a cama — Chas falou enquanto pegava uma toalha da prateleira situada atrás da porta e umedecia-a. Lily gemeu baixinho. — Acho que preciso ficar aqui. — Não gosto da idéia de deixá-la — Chas argumentou. O som de um prato quebrando-se na cozinha chamou sua atenção e fez Lily erguer a cabeça. — Vá! — ela insistiu. — Certo. Chas saiu correndo. Chegando à cozinha, limpou o rosto das crianças, em seguida voltou ao quarto de empregada e secou a água que vertera do vaso. Em uma terceira corrida levou as três crianças para o quarto de Lily. Quando Claire encontrou-os vinte minutos mais tarde, as crianças estavam engatinhando por entre peças sujas de roupa, Lily inclinava-se sobre a pia e Chas segurava-lhe os cabelos para que não caíssem no rosto. — Eu não sei o motivo de você estar aqui, mas agradeço a Deus. Claire pegou Annie no colo. — A sra. Pawlowski me telefonou — murmurou, olhando para as manchas na camisa de Chas. — Estou feliz por ela ter feito isto. Por que não ligou? — Não houve tempo — Chas explicou, mas Lily interrompeu-o. Virando-se para Claire, ela suspirou pesadamente. — Oh, como estou feliz em vê-la. As crianças estão engatinhando livres por aí. A casa está uma bagunça. E eu me sinto muito mal — murmurou enquanto Claire abraçava-a com o robe e direcionava-a para a cama novamente. — Pegou aquele resfriado, não é? — Claire brincou. — Minha cabeça dói tanto que nem consigo pensar. Você ficará? Projeto Revisoras

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— Claro que sim. Evan estará aqui assim que encerrar algumas tarefas na empresa. — Ótimo — Lily suspirou, aconchegando-se na cama. Chas apoiou-se no batente da porta do banheiro. Estava confuso e ansioso. A primeira vista, parecia pensar que Claire não o considerava bom o bastante para cuidar das crianças. De fato, deixando toda a educação e consideração de lado, sabia muito bem que não o via como alguém capaz de tomar conta dos trigêmeos sozinho. Quanto mais de Lily! Dois dias mais tarde Lily acordou sentindo-se muito melhor. Mas culpava-se por ter deixado de realizar a própria obrigação e por Chas ter assumido tudo sozinho e também cuidado dela. Fechou os olhos. Ele inclusive a socorrera no chão do banheiro! Passou os dedos nos cabelos, os quais não lavava havia quarenta e oito horas. Foi para o chuveiro, tomou um longo banho, secou e arrumou os fios macios e brilhantes. Então colocou roupas diferentes de pijamas pela primeira vez em dias e sentiu-se renovada. Seu primeiro pensamento foi agradecer a Chas, mas quando entrou na sala de estar e viu que não apenas Claire e Evan como também Grant juntaram-se à família, não se sentiu confortável para expressar o que sentia. Limitou-se a um cumprimento geral. — Vejam só quem acordou! — Grant exclamou, levantando-se com Cody no colo. — Como está se sentindo? — A julgar por suas roupas, eu diria que muito bem — Claire respondeu por Lily. — Estou bem mesmo — falou, sorrindo. — E lamento. Retomarei todo o trabalho agora mesmo. — Não fará isto — Evan insistiu. — Descanse por mais um dia antes de fazer qualquer coisa. Talvez devesse comer alguma coisa, a propósito. — Não, obrigada, acho melhor não. Talvez eu coma uma torrada mais tarde — disse Lily. — Bem, as crianças precisam almoçar, e eu, também — Grant declarou, indo para a cozinha. — Quanto a você, trate de descansar. — Eu ajudarei com as crianças — Claire ofereceu-se, ficando de pé.

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— Eu também — disse Evan, e antes que Lily soubesse o que realmente ocorria, estava sozinha com Chas. Sentiu um frio no estômago e levou a mão à barriga. — Você está bem? — ele indagou imediatamente, notando seu gesto. — Estou. Embora envergonhada. — Envergonhada? — Chas, sei como você cuidou de mim. Ele deu de ombros. — Até Claire chegar. — Eu gostaria que soubesse como apreciei sua atitude. Chas aguardou até lhe capturar o olhar e disse: — Eu gostaria que soubesse que não foi nada demais. Lily. Gosto de você, e pessoas que gostam uma das outras fazem coisas como as que eu fiz. Lily discordou com um meneio. — Não. Ficar a meu lado no chão do banheiro está além disto. Apenas familiares fazem coisas assim. Chas encarou-a com curiosidade. — Você não se julga parte de nossa família? Ela não havia pensado a respeito até então. Considerou o assunto e concluiu que sim, fazia parte daquela família. — Acho que sim. — Pois eu tenho certeza — insistiu e aproximou-se dela. — Você é tão tola — murmurou, tocando-a no queixo e fazendo com que seus olhares se encontrassem. — Não sei o que teremos de fazer para provar que gostamos de você. Nós gostamos de você — repetiu, então inclinou a cabeça e beijou-a. O beijo foi longo, lento e intenso o bastante para Chas sentir-se queimando dos pés à cabeça. Mas ele nada apressou. Primeiramente estivera preocupado com ela. Então bravo. Depois voltara a ficar preocupado, recusando-se porém a ir até o quarto porque Lily insultara-o.

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Minutos atrás, vendo-a bem e notando que o motivo de sua atitude fora apenas vergonha, sentiu-se tão grato que desejou abraçar o mundo. E naquele exato momento beijava os lábios mais suaves que existiam. Era um beijo longo, delicioso. Usou a língua, os dentes e os lábios como armas mortais, obrigando Lily a admitir que gostava dele também. Afinal, não parecia capaz de se conter. Chas abraçou-a mais fortemente e deixou as mãos escorregarem pelas costas estreitas, depois fez com que subissem novamente. Sentiu então as mãos dela lentamente acariciando seus braços até se encontrarem na nuca, arrepiando-o de prazer. Infelizmente, naquele instante ele ouviu Grant tossindo. Lily estacou, e Chas fechou os olhos com força. — Claire pediu para eu vir até aqui perguntar se vocês gostariam de almoçar. Chas tossiu. Lily deu um passo para trás. — Como parecem famintos — Grant acrescentou —, sugiro que me sigam agora até a cozinha.

CAPITULO X

— Alguém ficará na hospedaria esta noite? — Chas indagou a Abby. Ele estava em pé junto ao balcão do restaurante com as mãos metidas nos bolsos da calça jeans. Abby arregalou os olhos e desviou a atenção do jornal que lia. — O quê? — Há alguém hospedado no hotel neste final de semana? — Não. Por quê? — Porque estou desesperado por um pouco de privacidade. Abby sorriu. — As crianças estão acabando com você?

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Isso era verdade, por isso Chas aquiesceu. — As crianças, Claire, Evan e Grant. Especialmente Grant. Eu juro, Abby, preciso apenas de vinte e quatro horas de solidão. — Solidão? — Abby questionou confusa. — Tyler e eu moramos naquela casa. O que quer que façamos enquanto você usufrui de suas vinte e quatro horas de privacidade? — Você não tem um parente que possa visitar em algum lugar? Ela pensou a respeito. — Meu irmão vive nos convidando para conhecer sua casa em Nova York. Poderíamos fazer isto, mas... — Mas o quê? — indagou, sentindo que a luz no final do túnel era aquela e recusando-se a deixar que se apagasse. — Mas eu tenho de trabalhar neste final de semana. — Ninguém poderia ficar em seu lugar? — Bem, claro, mas eu preciso do dinheiro. Ele colocou a mão no bolso. — Aqui estão cem dólares por vinte e quatro horas na hospedaria sozinho e mais cem dólares para que deixe a cidade. Abby olhou para o dinheiro, depois para Chas. — Está brincando? — Não. Eu lhe disse, estou desesperado. — Bem, pois seu desespero é minha boa sorte — murmurou, pegando o dinheiro. — Porque eu preciso mesmo de um final de semana de folga. Duzentos dólares comprou-lhe o final de semana, querido. Você poderá cozinhar, assistir à televisão, dormir. Peço-lhe apenas que lave seus próprios pratos. — Combinado — falou e segurou-lhe a mão. Chas inclinou-se por sobre o balcão e beijou-a no rosto. — Você é o máximo! — exclamou para Abby.

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— Não, simplesmente sou pobre demais para ser orgulhosa. E preciso de um final de semana de folga. Assim como Tyler. — Obrigado — disse Chas, saindo para o dia frio de final de outubro.

Nuvens escuras passeavam pelo céu, e a temperatura parecia cair a cada minuto, mas ele não se importava. Tinha um lugar. Precisava apenas descobrir uma maneira de conduzir Lily à hospedaria. — Ela ó quê? — Acha que você pode ter deixado algo na hospedaria no dia em que ficou lá — Chas falou com descaso, embora internamente seu coração batesse em disparada. Não mentia fazia tempo e esquecera-se como era difícil. Mas dissera a si mesmo que tecnicamente não era uma mentira. Lily podia ter deixado algo na hospedaria. Abby simplesmente ainda não encontrara. — Telefonarei para ela — disse Lily, aproximando-se do telefone. Chas postou-se no caminho. — Não. Ela está ocupada no restaurante. Além disso, disse que gostaria muito que você aparecesse esta noite para visitá-la. — Oh! Que gentileza! — É mesmo muita gentileza. Acho que você vai se divertir muito. Naquela noite foram de carro para a hospedaria. Lily notou que depois que Chas tirou a chave da ignição do carro, lutou com um molho de chaves, buscando outra. Nada falou, mas franziu a testa confusa quando o viu colocando a chave na porta frontal da hospedaria, abrindo-a e fazendo menção para que entrasse primeiro. — Obrigada — murmurou ainda perplexa. Ficou ainda mais espantada ao sentir o perfume de rosas. — Oh! Abby deve ter algum admirador — falou, olhando para a sala de estar repleta de rosas de todas as variedades e cores imagináveis. — As rosas não são para Abby — Chas falou simplesmente, postando-se atrás dela e tirando-lhe o casaco. Lily engoliu em seco. — Não?

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— Não. São para você. — Para mim? — balbuciou, não compreendendo o que acontecia. Um palpite estranho lhe ocorreu, vindo parcialmente da surpresa da descoberta de que era a destinatária de centenas de rosas e também pelo modo como ele tirava com tamanha casualidade seu casaco. — Mas não moro mais aqui — falou vagarosamente. — Então quem mandaria para cá rosas destinadas a mim? — Eu. Enchi toda a sala com rosas porque sabia que a traria para cá esta noite. Queria que se sentisse especial. Chas falou com confiança, o tom grave de barítono do homem habituado a fazer tudo à própria maneira. Lily não sabia se estava em pânico ou se sentia honrada. Por fim decidiu esperar que o tempo lhe dissesse o que fazer. — Mas e quanto a meu objeto? — indagou confusa. — Que objeto? — Aquele que eu devia vir buscar. Recusava-se a se virar porque, se fizesse isso, teria de fitá-lo e ainda não se sentia preparada. — Na verdade você não deixou nada para trás. Aluguei a hospedaria para esta noite a fim de que pudéssemos ter alguma privacidade. Queria que um tempo apenas para nós. Sem crianças, telefone, Grant — falou, enfatizando o nome do irmão. — Nem mesmo contei a Abby toda a história. — Oh! — Lily exclamou, o pânico aumentando. Ao menos sabia que seu sentimento era de pânico. Estava sozinha em uma casa estranha, com um homem que conhecia havia seis semanas, e ele não apenas enchera a sala de estar com flores como preparara tudo a fim de que tivessem horas de privacidade ininterrupta. Depois do modo como a beijara no dia anterior e fora correspondido, Lily desconfiava do motivo. Chas esperava que fizessem amor. Sentiu o corpo gelar. O raciocínio estacou. Começou a sentir pontadas de indesejável excitação. Caso seu corpo pudesse opinar, ela faria amor com Chas. Mas se seu raciocínio pudesse interferir, isso não aconteceria. Ainda estática, fitou as rosas. Vinte vasos. Vinte cores

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diferentes. As variações eram tênues algumas vezes, sendo preciso alguma atenção para notar a diferença. Mas ela notava. E sabia que Chas fora cuidadoso, preciso, deliberado. Sua visão ficou nublada. Ninguém jamais fizera algo assim por ela antes. Mas também sabia que era um artifício masculino dos mais condenáveis. Chas contava com o fato de que estaria tão encantada com o gesto que simplesmente se jogaria em seus braços. O pior era que Lily sabia que essa possibilidade era muito provável. — Vamos — ele disse, tomando-lhe a mão. — Nosso jantar já deve estar pronto. Ele tirou do forno o assado de carne com batatas e cenouras. Lily sorriu. — Uma refeição completa em uma travessa só — disse ela, observando-o colocar o prato no balcão. — E uma travessa de vidro usada para assar e servir a comida. Você será responsável por lavar a louça, suponho. Chas estava ocupado em fazer com que o jantar não caísse no chão, por isso não a fitou. — É verdade. Então estava nervoso. Tão nervoso quanto ela. Dessa vez a emoção que acalentou no coração não era de medo, confusão ou até mesmo excitação. Era algo suave. Chas enchera a casa de flores e preparara uma refeição. Estava ansioso quanto à reação que ela teria. Ou talvez simplesmente por estarem a sós. Sentiu outra pontada no coração e uma vontade intensa de abraçá-lo. Chas não acendera a luz, Lily presumiu, porque estava com as mãos ocupadas. Mas assim que colocou a travessa de vidro sobre a mesa, imediatamente pôs a mão no bolso, tirou fósforos e acendeu as velas. O brilho amarelado aumentou a intimidade da atmosfera. A iluminação era suficiente para que vissem apenas a uns poucos passos adiante. — Sente-se — disse Chas, puxando uma cadeira acolchoada para acomodá-la. Lily conteve um estremecimento. Luz suave, comida que ela não teve de preparar ou aquecer, nada de crianças ou preocupações. Parecia bom demais para ser verdade. — Chas, tudo isto é muito simpático.

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Sentou-se e engoliu em seco quando mãos fortes afagaram seus ombros. Sentia-se como uma princesa ou uma noiva sendo mimada pelo marido. Parecia que eram as duas únicas pessoas no planeta. A colher que seria usada para servir a comida escapou da mão dele. O som alto contra a madeira da mesa o fez praguejar baixinho. Aliviada, Lily sorriu. Chas estava nervoso. Tão nervoso quanto ela, o que a confortava. — Chas — murmurou, sabendo que, embora seu nervosismo fosse encantador, era preciso demovê-lo de qualquer intenção de seduzi-la —, eu realmente aprecio tudo isto. Precisava de um tempo longe das crianças também, e as rosas são magníficas. Fez uma pausa proposital, pegou o copo de água e tomou um pequeno gole, então sorriu. Chas fitava-a com uma combinação de esperança e desejo. — Ora, pare com isto. Você está tentando me conquistar, e eu não quero ser conquistada! — Por que não? — Porque eu não preciso ser conquistada. Nunca tentaram me encantar antes. Everett jamais sentiu necessidade de me conquistar. Assim que disse o nome do ex-noivo arrependeu-se. Caiu um silêncio pesado na sala. O rosto de Chas ficou inexpressivo. — Erro dele. Lily aspirou longamente. — Lamento. Não era uma boa hora para eu falar de Everett. Ele brincou com a taça de vinho. — Na verdade é o momento perfeito. Sabe, nunca me contou especificamente o que ocorreu. — É porque não quero conversar a respeito. Chas aguardou até lhe capturar o olhar. — Talvez deva.

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Para um homem que tentava seduzi-la, pensou Lily, estava fazendo tudo errado. A última coisa de que gostaria era discutir o momento mais vergonhoso de sua vida. — E o que eu diria? — Lily indagou com um riso amargo. — Que eu o amei, e ele me deixou? — Há mais do que isto. Muito mais — Chas argumentou sem deixar de fitá-la. — Eu gostaria de ouvir toda a história. Lily aspirou profundamente, considerando duas hipóteses: se fizesse o que fora solicitado, ou aumentaria o clima de confiança, intimidade e sedução ou Chas perderia o interesse por ela. De uma maneira ou de outra, era preciso enfrentar o passado. Quer desejasse, quer não. — Everett era um ano mais velho do que eu. — Então o que ele ainda fazia na universidade? A pergunta fez Lily constatar que já havia contado alguma parte da história para Chas. Seria mais direta então. — Alegava fazer pós-graduação... — Como? — Everett disse que estava fazendo curso de pós-graduação, mas não estava. Simplesmente não quisera retomar para casa porque nossa cidadezinha o sufocava. Conseguiu emprego em outro município, mas em vez de me dizer que estava trabalhando, alegou que continuava seus estudos porque não se sentia pronto para se casar comigo. — Isto deveria ter sido uma pista importante de que algo estava errado. — Teria sido se eu soubesse que ele não estava fazendo pós-graduação — Lily argumentou. — Mas Everett dizia que estava estudando, e jamais questionei isto pois confiava nele. — E agora, por causa de sua confiança equivocada, não quer envolver-se com outra pessoa. Surpreendendo até a si mesma, Lily disse: — Não. Não é assim. Mas eu realmente sei que não quero ser seduzida — falou, lembrando-se de que Abby e Claire lhe haviam falado que Chas fora mimado. Projeto Revisoras

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Provavelmente estava interessado nela porque a julgava uma mulher difícil de ser conquistada. Ele a fitava com carinho, sem nada dizer. — Eu não quero ser enganada. Não quero sentir como se estivessem fingindo ou mentindo para mim. Se não pode ser honesto, sincero e direto, não quero nada com você. Chas capturou-lhe a mão e levou-a aos lábios. — Que bom! — exclamou, beijando-a na palma. Sensações maravilhosas espalharam-se da palma para todo o corpo de Lily. Aquele homem seria capaz de matá-la de desejo. Não havia absolutamente como Chas tomar-se mais doce, mais cheio de consideração ou sensual do que naquele momento. — Quer saber de uma coisa? — ele sussurrou, sustentando-lhe o olhar. Lily engoliu em seco. — O quê? — Acho que Everett era um tolo. — Talvez fosse apenas um homem muito confuso que se sentiu-se amarrado a duas mulheres. Uma que ele conhecia havia muito tempo e não suportava a idéia de perder... esta era eu. E a outra pela qual se apaixonou enquanto estava crescendo e distanciando-se de mim. Lily sorriu para si mesma. Chas enxergou a tristeza em seu olhar. — Lembra-se de quando lhe contei que ele me enviou uma carta de seis páginas, explicando que nunca mais nos veríamos porque não precisávamos ficar face a face? Chas assentiu. — Ele se casou com outra mulher e levou-a para a minha lua-de-mel. É por isto que sei que jamais voltarei a vê-lo. — Sabe, quanto mais ouço a respeito deste homem, mais acho que teve muita sorte em livrar-se dele. Lily contemplou o cristal cintilante da taça de vinho. — Eu mesma já cheguei a esta conclusão.

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— Puxa, então vamos comer antes que a comida esfrie! A súbita mudança de atitude desnorteou-a. Como poderia apreciar o jantar depois de falar sobre Everett? Como poderia mostrar-se feliz, até mesmo confortável e relaxada depois da confissão do incidente mais humilhante que já sofrera? — Estou feliz por este tempo que estamos passando juntos — Chas falou. — Eu também. Lily notou que algo incrível acabara de ocorrer. Haviam participado de um jantar a dois. Um jantar maravilhoso, romântico, repleto de tudo o que seria necessário para despertar a sensualidade. Mesmo assim, nada acontecera exceto terem se aproximado. Por isso relaxou um pouco. — Eu também — disse mais uma vez, sorrindo. — Na verdade aluguei a hospedaria por todo o final de semana — Chas declarou, o olhar provocador. — Suponho que não se ofenderá se eu pedir que fique um pouco mais. — Acho que não seria bom. — Acha que não é bom se sentir atraída por mim? Apenas um pouquinho? — Sempre senti atração por você. Ele sorriu ainda mais. — É que eu não tinha certeza. Não é muito fácil ler suas emoções. A situação não apresentava perigo, e Chas mais ou menos declarara sua intenção em seguir os desejos dela, por isso Lily não viu mal algum em ser sincera. — Acho você inacreditavelmente atraente, doce, sensual e charmoso. Não apenas aqui e agora e certamente não por causa do jantar. Mas todos os dias, em qualquer dia. Chas não cabia em si de satisfeito. — É mesmo? — Sim, mas este é o ponto mais distante a que chegaremos neste assunto em particular. Lavaremos os pratos de Abby e iremos para casa. Não é justo deixarmos Grant sozinho com as crianças. — Claire e Evan pernoitarão na mansão — alegou. — Não apenas querem que Cody passe mais tempo com as meninas como também desejam ficar perto das garotas.

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— Eles são uns doces — Lily comentou, afastando a mão que Chas ainda segurava dois segundos antes que tivesse oportunidade de beijar seus dedos novamente. Era tão estranho. Haviam retomado ao normal, rompido o encanto e pequenas atitudes eram mais sensuais do que as centenas de iniciativas inteligentes que Chas fizera para agradá-la. — Mesmo assim, não ficarei. Ela empurrou a cadeira como para levantar-se e Chas rapidamente se postou atrás, ajudando-a. — Obrigada. — De nada — ele falou e então beijou-a. Não era um beijo longo, tampouco rápido demais. A boca ávida pressionou a dela tempo suficiente para os pensamentos de Lily ficarem enevoados e ela quase abraçar Chas. Ele se distanciou. Lily arregalou os olhos e se recompôs com rapidez, porque acreditava que ficar confusa por causa de um homem era uma fraqueza. Uma fraqueza deliciosa, não havia dúvida. A tal ponto que se esquecia de tudo a não ser da suavidade daqueles lábios e do gosto da boca sedutora. Mas era justamente esse o problema. — Você lavará a louça, eu secarei — falou, determinada a superar o momento de torpor. — Está bem — Chas concordou e tomou-a nos braços. — Fique comigo esta noite — Chas sussurrou contra sua boca, as palavras em tom baixo e rouco ressoando dentro dela. Antes que pudesse dizer "eu ficarei", as luzes oscilaram e se apagaram completamente. Não fossem as velas sobre a mesa, teriam ficado na mais completa escuridão. — Você apagou as luzes? — ela indagou. A chuva torrencial continuava castigando a janela da sala de jantar. — Que luzes? — perguntou, mordiscando-lhe o pescoço. — Eu não fiz nada com as luzes.

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Lily ouviu a chuva novamente. Uma golfada de vento levou grossos pingos de encontro ao vidro da janela atrás dela. — Você percebeu que estamos no meio de uma tempestade? — Está chovendo. — Está mais do que chovendo — ela insistiu, afastando-se. — Há uma tempestade lá fora! Lily aproximou-se do vidro. Estava frio, e a água a cair parecia congelada. Ela virou-se para encará-lo. — Chas, estamos no meio de uma tempestade de neve!

CAPITULO XI

Furiosa, Lily pegou uma vela e foi até o móvel que servia como balcão para visitantes a fim de usar o telefone. — Eu juro. Não sabia que ocorreria uma tempestade de neve! — Chas exclamou, seguindo-a. — Nem mesmo suspeitou de que poderíamos ficar aprisionados aqui? — acusou-o, suspirando em desgosto diante da ausência de sinal de discagem. Chas seguiu-a novamente. — Não pode ficar brava por isso. — É mesmo? — perguntou com sarcasmo. — Por que não? — Porque é uma prova de que não confia em ninguém. Em mim em particular. — Não acredito! — Não acredita em quê? — indagou exasperado. — Nesta desculpa esfarrapada. Você não pára de dizer que não confio em ninguém. — Se confiasse em mim, não estaria brava agora. — Não estou brava, apenas me sinto enganada.

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Afastou-se mais uma vez, Chas a seus calcanhares. Ela não ficava imóvel tempo suficiente para uma conversa sensata. Chas culpava Everett por isso. Não fosse aquele homem, não estariam discutindo. Às vezes tinha a sensação de que Everett estaria entre eles para sempre, pensou frustrado. Bem, pois dessa vez não deixaria que Lily usasse o ex-noivo como escudo. — Está brava comigo ou com Everett? — Estou brava com você! — Para seu conhecimento, eu lavei as mãos no tocante a Everett com a mesma rapidez com que lavo um prato — disse ela, mergulhando outro prato na água, limpando-o e repassando. — Sabe por quê? Porque ao ser deixada no altar foi como se soasse um acorde final. Ele me deixou sozinha durante um ano inteiro. Durante um ano eu quase não o vi. Recebia um telefonema todas as semanas e uma visita mensal quando eu tinha sorte. Mas era apenas isto. Deixando minha raiva e nervosismo de lado, agora sei que o abandono ao altar foi o golpe final. — Você não o viu por um ano? Sem notar a relevância do que dissera, ela falou: — Eu o via uma vez por mês e nos feriados. Atônito, Chas observou-a secando um prato. Pudera ter pressentido que Lily não fora paparicada ou mimada durante muito tempo. Pudera ser capaz de sentir sua solidão. — Então isso muda tudo — ele disse, suspirando. — Não posso ver como. — Você está pior do que eu pensava. Lily fuzilou-o com o olhar. — Se me acusar de não ter superado o que ocorreu com Everett mais uma vez, vou lhe dar um soco. — Poupe suas forças, querida, porque a última coisa de que eu a acusaria neste momento seria de não ter superado o abandono de Everett. Ele com delicadeza colocou uma travessa na água.

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— A pessoa de quem está realmente com medo sou eu. Você simplesmente não admite porque achou que não seria possível partir de um relacionamento para outro. Mas sabe de uma coisa? Você não teve um relacionamento com Everett. Vocês romperam um ano atrás, mas não se importaram em contar um ao outro. Então você me conheceu e... Apaixonou-se perdidamente. — Está louco! — Estou certo. Mas não se preocupe, eu serei gentil. — Você não será nada. Em primeiro lugar, está enganado. Não me apaixonei por você — insistiu, mas enquanto as palavras saíam de seus lábios, sabia que mentia. Conforme Chas dissera, ela lutava arduamente para não admitir porque não achava que fosse possível, mas observando a situação da perspectiva de Chas, tinha de concluir que era verdade. Não vira Everett durante o último ano e não estava brava com ele, na verdade, ela não o amava. Então quando conheceu Chas Brewster, apaixonou-se. Precisava de algum tempo para pensar. Muito tempo. Mais do que algumas horas antes de irem para a cama. Cama! Oh! Entendia que deixara de amar Everett meses atrás e que tinha todo direito do mundo de se apaixonar por Chas. Provavelmente apaixonara-se mesmo e dormir com ele voltava a ser uma opção. — Ainda lamenta sermos forçados a passar a noite aqui? A voz dele era suave e doce. Confiante como a voz do diabo tentando um pecador. Parecia sentir que a tinha nas mãos. — Sim. — Ora, vamos! — exclamou, espirrando água para todo canto ao fazer um gesto de desconsolo. — Jamais teremos outra chance como esta. — Eu não me importo. A verdadeira questão não era se ela se apaixonara ou não, mas se fora bom que isso ocorresse. Aconselhou-se de que seria mais inteligente na próxima vez. Como não teve certeza de que deixara de amar Everett não lutou para se impedir de se apaixonar por Chas.

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Chas Brewster era frívolo, diabólico e mimado. Abby dissera isso, e Claire concordara. Mas em vez de tomar cuidado ou até mesmo ser prudente, Lily simplesmente ignorara os comentários. Ao mesmo tempo não tinha certeza absoluta de que era um erro ficarem juntos. E não estava convencida de que Abby tinha razão. Infelizmente não podia dizer que a moça estava errada também e, a menos que compreendesse exatamente o que estava ocorrendo, nada faria. — Ficarei no primeiro quarto à direita. Ele encarou-a. — O quê? — Quero o primeiro quarto à direita. É onde eu ficava antes e sei onde tudo está. — Lily, você não será capaz de ficar em quaisquer dos quartos — falou, novamente agitado. — A mobília pode estar no mesmo local, mas sem eletricidade os ambientes ficarão gelados. Teremos de dormir na sala de estar. Defronte à lareira — acrescentou, sorrindo. — Oh, está certo — ironizou. — Eu pareço uma idiota? — Não, apenas uma mulher que acabou de ter um jantar adorável e que está pronta para ir para a sala de estar apreciar as flores que ganhou enquanto se acomoda defronte à lareira. A recordação das flores conteve-a. Era difícil acreditar que um homem tão centrado em si mesmo e mimado enchesse uma sala com flores para uma mulher. Bem, se o homem era mesmo egocêntrico e mimado, poderia fazer isso para induzi-la a ter determinado comportamento. Oh, que confusão! Sua cabeça parecia girar diante de tantas hipóteses. Mais do que isso, as próprias constatações deixavam-na tensa. — Eu não quero ser pressionada, não quero ser coagida, não quero ser seduzida. Quero opções. — Estou pagando novamente pelos erros de Everett, não é mesmo? — Não. Estamos apenas jogando de acordo com minhas regras agora. Chas segurou-a pelo braço e puxou-a de encontro ao corpo. Fitou-a diretamente nos olhos. Projeto Revisoras

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— Respeitarei suas regras porque quero provar que tudo isto foi um acidente. Mas quero lhe dizer que não ficaremos aqui para sempre e que você não fará tudo sempre a sua maneira. Este relacionamento não permanecerá estagnado por muito tempo. Crescerá ou morrerá. Se deixar que morra, acho que acabará se lamentando. Se der uma chance para que cresça, ambos sabemos exatamente para onde estamos indo. A escolha é sua. Pense bastante porque se deixar que esmoreça não serei eu o culpado, e se quiser que floresça, é melhor se preparar porque não sou igual a nenhuma pessoa que você conhece. Chas deixou-a dormir no quarto porque ela insistiu. Colocou mais lenha na lareira da sala de estar que rapidamente ficava gelada. Enquanto fazia isso, xingava-se de todas as maneiras possíveis. Como fora tolo! Tirou o sapato e aconchegou-se debaixo de um acolchoado. Em minutos a brasa deixava a sala de estar a uma temperatura decente e, embora soubesse que devesse permanecer acordado e alerta para manter o fogo bem abastecido, nem mesmo tentou impedir-se de dormir. Quando as pestanas ficaram pesadas, deixou que fechassem. Por quê? Porque estava bravo. Tivera um trabalho e tanto para fazer Lily sentir-se especial e somente conseguira aborrecê-la. Bocejou e aconchegou-se mais profundamente sob as cobertas. No andar superior Lily pegava um cobertor após outro, empilhando-os sobre a cama de seu quarto gélido. Manteve a roupa que vestia, até mesmo as meias e meteu-se em seu refúgio. Os lençóis estavam gelados. Encolheu-se, tremendo. Mantinha a boca bem fechada e os olhos também. Não se jogaria nos braços de Chas. Forçou-se a pensar no céu azul polvilhado por nuvens brancas sobre um gramado no meio do verão. Ela até conseguiu acalmar-se o bastante para relaxar. Logo estava aquecida, curvada em posição fetal. Antes que tivesse chance de ficar brava novamente, caiu em um sono exausto. Mas após o que pareceram meros minutos, despertou, tremendo. O frio reinante no quarto conseguira encontrá-la, a despeito de toda sua precaução. Decidiu ignorá-lo, mas por fim teve de admitir que a mãe natureza era mais forte do

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que ela. Seus dentes tremiam. O nariz estava congelado. Se pudesse vê-los, apostaria que seus lábios estavam roxos. Tentou reunir um pouco de orgulho para se poupar, mas cada vez que afirmava um bom motivo para permanecer no quarto, o ar frio simplesmente o destruía. Praguejando, saiu da cama levando as cobertas consigo e desceu a escadaria. Encontrou Chas deitado no sofá da sala de estar. O fogo estava quase apagado. A sala parecia tão fria quanto o quarto que acabara de deixar. Irada, Lily deu um chute no pé dele. — Acorde e sente-se para que eu possa ter um espaço no sofá também. — O quê? — indagou, sem abrir os olhos. — Eu estava congelando no quarto. Preciso estar aqui e não quero sentar no chão. — Lily? — falou, sonolento abrindo os olhos. — Você devia mostrar-se capaz de me manter aquecida — acusou-o, dando-lhe outro chute no pé — mas deixou o fogo apagar e está muito frio aqui. Eu poderia muito bem ir para o andar superior novamente. O comentário o fez levantar-se. — Reacenderei o fogo — declarou e foi para a pequena pilha de madeira situada à direita. Lily acomodou-se lentamente no sofá, fitando Chas com preocupação. Ele sorriu. — Em dez minutos estaremos bem aquecidos — disse e acomodou-se a seu lado. — Ficaria mais quente se você abandonasse seu cobertor e se juntasse a mim debaixo do meu. — Posso apostar que sim. — Venha, Lily. Você sabe que gosta de mim, e ambos estamos congelando. Não deveríamos estar apenas tirando vantagem do calor um do outro, mas também das horas de privacidade. Privacidade que jamais teremos novamente — acrescentou com sinceridade. Tremendo e reconhecendo que ele estava certo, ela ajeitou as cobertas para que seus corpos pudessem ficar próximos. Chas abraçou-a de encontro ao peito sólido como rocha e embora o calor que viesse até Lily nada tivesse a ver com a temperatura do corpo, mas sim com energia sexual, ela nem se mexeu.

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Descansou a cabeça no ombro dele, fechou os olhos e saboreou a força, calor e masculinidade de Chas. Ele suspirou e pousou o queixo no topo da cabeça de Lily. — Eu realmente lamento. Sua sinceridade a confundia. Por mais que detestasse admitir, Chas estava certo quando falara que estava apaixonada por ele. Sabia que tinha uma paixão profunda por aquele homem e que duraria a vida toda. — Sei que você lamenta — ela sussurrou, mas estava com medo. Sabia que o futuro era muito frágil, intangível, e Chas um homem imprevisível. Não havia como imaginar o que ele estava pensando, sentindo e não gostaria de passar toda sua vida confusa. — Sabe que eu a amo? A pergunta sussurrada flutuou até ela. Atônita e honrada, Lily pressionou um lábio contra o outro para conter uma onda de lívida emoção. Chas a amava. Deixou que as palavras pousassem em sua alma e permitiu que curassem suas inseguranças e enganos. Deixou que lhe dessem coragem. Em seu coração sabia que era hora de esquecer o passado e todos seus enganos. Era hora de ambos fazerem isso. — Eu também o amo. Chas com leveza escorregou a mão dos ombros dela para a cintura delgada, então para os ombros novamente. — É mesmo? — ele indagou baixinho, a voz rouca. — Você disse que sabia — acusou-o suavemente, temendo se mexer, respirar, fitá-lo. — Eu tinha um palpite bem forte — admitiu, e dessa vez havia riso em sua voz. Lily relaxou um pouco. — Eu não tinha pista alguma a seu respeito. Ele afastou-a levemente até poder fitála. — Está brincando, não é mesmo? Embaraçada, ela fez sinal negativo com a cabeça. — Primeiramente você estava de mau humor...

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— Apenas tentando me proteger — corrigiu-a. — Eu já havia interpretado de maneira errada os sentimentos de um homem... Tentava não fazer isto pela segunda vez. E ouvi dizer que você é mimado, não gosta de receber um "não" como resposta e que freqüentemente persegue o que não consegue obter. — Terei uma longa conversa com Abby e Claire. Embora estivesse olhando para ela como se realmente não se importasse com o que os outros pensavam a seu respeito, Lily não deixaria que o assunto fosse abandonado sem maiores explicações. — Você persegue o que não consegue obter? — Sempre — admitiu, erguendo-lhe o queixo e beijando-a. Sem fôlego, ela afastou-se da boca quente e convidativa. — Falo sério. — Eu também. Todos parecem achar que não poderei tê-la... ou não deveria tê-la... — E você precisa provar que é capaz —- falou decepcionada. Chas cobriu-lhe a boca com a sua em um beijo longo e faminto. Quando se afastou, Lily ardia de desejo e não conseguia desviar o olhar do belo rosto. — O grande cético era eu. Já cometi três erros. Disse a mim mesmo que não poderia tê-la, que devia ficar distante e você me convenceu do contrário. O olhar tomou-se solene, questionador. — Confio em você, Lily. Mais do que já confiei em qualquer outra pessoa em minha vida. E eu a quero... mais do que já desejei qualquer outra mulher. A honestidade e vulnerabilidade diziam mais do que as palavras e deram a Lily força para erguer as mãos até o rosto dele. — Eu o quero mais do que já quis alguém em toda minha vida. E também confio em você. Assim, com o rosto dele entre suas mãos, trouxe-lhe a boca para a sua novamente. O cobertor escorregou dos ombros para o sofá. Nenhum dos dois notou ou se importou.

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O fogo já lançara um calor confortável pela sala, mas eles também não tinham consciência disso. Lily estava encantada com a verdade de como era diferente um amor maduro e verdadeiro da paixão infantil que nutrira durante anos. Chas estava imerso na euforia, finalmente tendo encontrado a mulher de seus sonhos e seu futuro. De certa maneira era triste que fora preciso uma pessoa que também sofrera decepção amorosa para compreendê-lo e amá-lo do modo como precisava ser amado. Mas a lógica era tão perfeita que se tomava poética. Os lábios de Lily prometiam-lhe eterno amor. Envolto em um manto de pura alegria, Chas a princípio não registrou o comentário de Lily. Mas então constatou que ela falava como se fossem se casar. Foi quando a alegria transformou-se em pânico, e Chas se afastou. — O que disse? — Eu perguntei como pretende informar a sua família sobre nosso casamento. Se Chas não estivesse anestesiado pelo medo e descrença, poderia ter escolhido melhor as palavras, mas sentia-se atordoado por sentimentos de desesperança, futilidade e falência. Por isso disse apenas: — Não me casarei com você. A expressão de choque no rosto dela assustou-o. — Lily, não posso acreditar que tenha considerado outro casamento. Confuso, ele levou a mão ã nuca. — Lily, querida, o casamento não foi feito para nós. Pensei que tivesse compreendido que não tenho intenção de seguir por esta estrada novamente. Eu a amarei sempre e cuidarei de você. Eu a sustentarei se achar que não consegue se manter sozinha. Serei seu, sempre. Eternamente. Mas não me casarei de novo. Nem mesmo com você.

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CAPITULO XII

— Vou parar no restaurante para tomar uma xícara de café. Lily olhou janela afora. — Está bem. — Gostaria de um pouco também? — Chas indagou. Não. O que realmente queria era fazer o relógio voltar. Naquela manhã ela experimentava a desagradável sensação de ter sido rejeitada duas vezes... no mesmo ano... quase no mesmo mês. E por quê? Por ter facilidade em confiar nas pessoas, bem como pouca experiência para saber como se guiar. Compreendia que o destino provavelmente a enviara ao distrito Brewster para lhe mostrar que seu envolvimento com Everett acabara. Mas nesse caso parecia que o remédio era pior do que a doença. O que sentia por Chas ia muito além dos sentimentos que um dia acalentara por Everett. Era uma nova dor, uma dor forte e cruel, centenas de vezes mais poderosa. Não compreendia como alguém podia amar uma pessoa mas não querer comprometer-se. Na carta Everett assumira que a amara; afinal, namoraram por seis anos! Mas simplesmente não quis se casar com ela. Atualmente Chas também dizia que a amava, mas não se casaria. Amava Chas muito mais do que um dia acreditara ser possível amar alguém. Trabalhava com ele, precisava do emprego. A equação simplesmente não tinha solução. Pior, amava os trigêmeos. Fizera amigos, como Abby e Claire. Finalmente tinha uma vida verdadeira, não uma extensão da vida de outra pessoa como na época em que morava com sua irmã. Tampouco uma existência voltada somente para o futuro, conforme fora com Everett. Não, era uma vida verdadeira. Se fugisse da dor da perda de Chas do modo como fizera diante do abandono de Everett, teria de começar tudo de novo.

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Precisava fazer uma escolha. Desistiria de tudo por que trabalhara nos últimos dois meses e encararia a cruel solidão do recomeço, ou tentaria superar o sentimento de rejeição, embora passando seus dias ao lado do homem que a amava, mas não queria se casar com ela. Não importava qual trajeto escolhesse, sofreria muito. — Na verdade, acho que preciso de café. Ou pelo menos de mais alguns minutos longe da mansão Brewster para tentar decidir o que faria. Perguntou-se se Chas, também, não buscava tempo para lidar com as conseqüências de tudo que ocorrera nas últimas vinte e quatro horas. Decidiu, entretanto, que não se importaria com ele. De qualquer maneira, precisava parar de ver semelhanças nos dois. Tinha de deixar de considerá-los parceiros, um time, para dar prosseguimento a sua vida. Ao menos ninguém sabia do ocorrido, pensou, cuidadosamente andando pela calçada cheia de gelo até a porta do restaurante. Se contassem uma história convincente para Grant, Evan e Claire, toda aquela confusão seria deixada para trás. Tornar-se-ia o pequeno segredo dela com Chas. Uma indiscrição da qual apenas os dois saberiam. Infelizmente, ao entrarem no restaurante, ele estacou como se tivesse visto um fantasma. — Abby? — falou, confuso. — O que está fazendo aqui? — Trabalho aqui — foi a resposta. — Mas você devia estar... — Fora da cidade — concordou alegremente. — E nós estávamos, por mais ou menos duas horas. Mas quando a tempestade piorou, retomamos. Passamos a noite com Fred e a esposa dele — acrescentou, indicando o cozinheiro. Lily empalideceu. Abby havia saído de casa, e a moça tivera de procurar abrigo da tempestade na residência de amigos... envolvendo, portanto, mais pessoas na pequena drama. — Oh, Abby, eu lamento — pediu desculpas, a voz trêmula de raiva e tristeza. Será que um dia poderia cometer um erro sem que o mundo todo soubesse? — Não há o que lamentar — Abby falou. — Tudo deu certo.

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— Nem tudo — Chas murmurou, acomodando-se ao balcão. — Você providenciaria dois cafés para viagem? Abby olhou de Chas para Lily, que enrubesceu envergonhada, particularmente quando a moça inclinou-se e sussurrou: — Você está bem? — Estou — respondeu constrangida, desejando fazer um buraco no chão para se esconder. Assim que Abby dedicou-se ao preparo das duas doses de café, Lily escapuliu para o sol de outubro que aquecia as mas e rapidamente derretia o gelo. Antes de conseguir alcançar a porta do carro, entretanto, Chas chegava com as xícaras de café. — Aqui está. — Obrigada. — Lily, não vai funcionar se você for para casa brava. — O que não funcionará? Você está tão perdido que nem percebeu que já não deu certo? Abby teve de passar a noite com Fred e a esposa dele e logo toda a cidade saberá que dormimos juntos! — Não dormimos juntos do modo como está insinuando. — Mas podíamos — Lily discordou, fazendo um gesto para indicar a comunidade. — Todos acharão que sim e em uma cidade deste tamanho é o que conta. — Sabe, por mais ou menos dez minutos, achei que você poderia estar aborrecida porque não fomos capazes de fazer este relacionamento funcionar, embora nós dois queiramos tanto que dê certo. Chas chutou um pedaço de gelo enquanto se dirigia à porta de motorista. Ela afundou o pé na fina camada de neve. — Agora vejo que está preocupada somente com sua reputação. Bem, pois eu lamento. Realmente lamento que já nesta tarde todos estejam sabendo que ficamos aprisionados em meio à tempestade e que estávamos sozinhos na hospedaria já que a esposa de Fred contará a todo mundo que Abby e Tyler passaram a noite em sua casa.

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Enquanto Chas terminava a última frase, Lily observava, horrorizada, Arnie Garrett se aproximando. A contar pela expressão satisfeita em seu rosto, era óbvio que ouvira quase tudo o que Chas falara. — Bem, Chas e Lily, vocês dois são um bálsamo para meus olhos. — O que quer, Arnie? — Chas perguntou com raiva. Arnie sorriu. — Agora absolutamente nada. De fato, após saber que você está dormindo com a nova babá, eu até mesmo poderei deixar de pedir um presente de Natal este ano — Fez uma pausa para rir, então prosseguiu: — Tenha um ótimo dia, advogado. Parece que o verei na Corte, afinal. Lily irrompeu no saguão da mansão Brewster e foi diretamente para os aposentos que lhe eram destinados. Caminhando mais devagar, Chas vinha logo atrás. Antes de alcançar a porta da cozinha, entretanto, Evan e Claire apareceram na escadaria. — Vocês dois estão bem? — Evan perguntou alegremente. Lily estacou. Sabendo que cabia a si responder, Chas disse: — Sim. Ficamos presos na cidade, por isto pernoitamos na hospedaria. — Imaginamos que houvesse acontecido algo assim — disse Claire em tom agradável enquanto ela e Evan desciam os degraus. — Temos boas notícias — Evan anunciou. — Grant recebeu um telefonema de uma mulher de Ohio que viu nosso anúncio no jornal. Parece que está ansiosa por se mudar para mais perto da filha, e o distrito Brewster fica a apenas uma hora de distância de carro. Virá aqui na segunda-feira para uma entrevista, mas Grant já conversou com ela por mais ou menos duas horas e acha que será uma empregada doméstica perfeita. Chas olhou para Lily. Ela retribuiu o olhar. — Você está brincando — Chas falou com incerteza. — Não estou! — Evan exclamou,juntando-se ao irmão no térreo. Chas não conseguia desviar o olhar do rosto de Lily. Viu-a analisando a situação e soube a que conclusão chegava. Sem saber ao certo o motivo de estar tomando tudo mais fácil para ela, disse:

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— Nós passamos por grandes emoções esta manhã. Encontramos Arni Garrett no restaurante. Ele acha que, porque Lily e eu ficamos na cidade juntos, também dormimos juntos. Lily acha que ele usará este argumento para ganhar a custódia das crianças. Ela lançou-lhe um olhar irado, mas Evan interveio: — Você que dizer que, apenas porque Arnie acha que estão dormindo juntos, poderá acusá-lo de incompetência? — Ou imoralidade. O que, traduzindo, seria uma influência mim sobre as crianças. — Esta é a razão de sua notícia a respeito da empregada doméstica não poder ter chegado em hora mais perfeita! — Lily exclamou, capturando o olhar de Chas novamente, como a lhe enviar o recado de que, como abrira a porta, seria por aí que ela caminharia. — Já que sr. Garrett me vê como uma espécie de influência corrupta para os trigêmeos, acho que será melhor que eu parta, assim sua munição de nada valerá. — O quê? — Claire e Evan falaram em uníssono. Lily engolia em seco, e Chas pôde ver que ela perdia a coragem. Quase interveio para contradizê-la, mas não conseguiu formular as palavras. Não porque Lily o houvesse magoado, embora isso fosse verdade, mas por estarem com propósitos diferentes. Devia ter previsto que uma mulher como ela gostaria de se casar, especialmente em se tratando de moça tão jovem. Ele a amava e estava cego de amor. Fizera de tudo para conquistá-la. Jamais admitiria que deliberadamente fora egoísta, mas assumia que suas próprias necessidades o induziram a enxergar a situação da perspectiva errada. Por isso não a contradisse, não discutiu com ela, não tentou fazer com que mudasse de idéia. Mas também não era forte a ponto de ajudá-la. Se Lily realmente queria partir, faria isso sozinha. Não era o que ela vivia dizendo que queria? Opções. Bem, pois escolheria seu destino sozinha. Quando Lily falou, sua voz estava trêmula. Chas teve de meter as mãos nos bolsos para impedir-se de reagir.

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— Acho que devo partir. Se vocês estão contratando uma empregada doméstica, realmente não precisam mais de mim. E um escândalo em minha vida já basta. Sei que meu drama aconteceu em Wisconsin e que estamos na Pensilvânia, em outra comunidade, mas eu não suportaria passar por isso novamente. Lily virou-se e disparou pela cozinha. Chas perdeu as rédeas das próprias emoções e começou a segui-la. Evan segurou-lhe o braço. — Você não a pressionou a se envolver em outro escândalo, não é mesmo? — Não! — Chas exclamou, sabendo que mais uma vez fazia o papel do "Brewster mau". O errado. Como sempre, seu irmão tirava conclusões precipitadas achando que ele fizera algo de que pudesse se envergonhar. — Não fiz nada. — Então por que Lily tem tanta certeza de que Arnie Garrett moldará a situação a favor dele? — Claire indagou baixinho. Claire olhou pela porta pela qual Lily acabara de sair, então novamente para Chas. — Você não vai atrás de Lily? — Não — ele respondeu e afastou-se. Lily pegava sua pequena mala naquela noite quando ouviu uma batida à porta. Temendo que fosse Chas e sabendo que simplesmente não seria capaz de encará-lo, perguntou quem era. — É Grant. Estou desarmado, exceto por uma garotinha de olhos escuros que está com saudade de você. Lily pressionou um lábio contra o outro e fechou os olhos. — Não deixarei que entre a menos que pretenda uma luta justa. Grant abriu a porta mesmo assim. — Lily, não quero brigar. Se eu lutar, perderei. Tive de trazer pelo menos um bebê para acalmar os ânimos. Lily tomou Taylor dos braços de Grant. — Não me fará mudar de idéia.

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— Eu gostaria, mas decidi respeitar seus desejos. Por isso o melhor que posso fazer é perguntar o que aconteceu, ver se precisa de um ombro amigo para chorar e ouvir com atenção tudo o que quiser me contar — falou com sinceridade. — Até mesmo considerei a hipótese de pedir a meu irmão para mudar-se para a Filadélfia. — Não pode separar Chas dos trigêmeos — Lily protestou com voz apática, embora internamente sensações e sentimentos fervilhassem. Chas seria um pai maravilhoso, mas não queria filhos. Ficou imaginando se ele considerara isso, então constatou que poderia ser o motivo de estar tão próximo aos trigêmeos. — Chas adora aquelas crianças, e elas o amam também. — Eu sei — Grant concordou, dando um passo adiante e inspecionando o ambiente. — É estranho. É ele quem passa mais tempo com as crianças. Justamente Chas que nós considerávamos uma pessoa sem bom senso, sem desejo por estabilidade e responsabilidade. — Ele tem muito bom senso. Quer estabilidade... mas de acordo com as próprias regras. É a pessoa mais responsável que já conheci. — Então por que vocês dois brigaram? Inesperadamente satisfeita, Lily escondeu um sorriso ao roçar os lábios nos cabelos sedosos de Taylor. — Ele não lhe contará, não é mesmo? — Até agora nada falou. Mencionou algo sobre respeitar sua privacidade. Lily sentiu-se tocada, mas conteve o impulso de perdoar Chas. — Meu último problema romântico tomou-se público demais — Lily falou. — Aprecio que ele tenha mantido este somente para si. — Chas a magoou? — indagou com a testa franzida. — Porque se isto aconteceu, ele se verá comigo! — Apenas machucou meu coração... e meu orgulho. — Eu poderia espancá-lo por isto — Grant insistiu, perambulando pelo quarto e ainda examinando os pertences dela.

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— Isto não me traria bem algum. Além do mais, acho que ele está sofrendo bastante também. Grant analisou uma peça de cerâmica e falou: — Suponho que sim — disse e, mostrando um objeto para ela, perguntou. — Foi você quem fez? — A maior parte das coisas que está vendo neste quarto fui eu quem fiz. — É muito talentosa. — Obrigada. — Trabalhará com artesanato quando se mudar? — Não. Na verdade, Chas mais ou menos me apontou o caminho que vou seguir. Confuso, porém impressionado, Grant perguntou: — É mesmo? — Ele não é tão centrado em si e egoísta. Na verdade é uma pessoa muito simpática, um homem de bom coração. Quando expliquei que eu queria fazer algo de minha vida, nós mais ou menos examinamos minhas opções, e ele achou que eu seria uma boa corretora imobiliária. Até mesmo sugeriu que eu conversasse com você a respeito de vender as casas que poderá vir a construir caso os negócios com o shopping center dêem certo. — Hunter e eu realmente pretendemos ir adiante com o projeto de construção de casas — Grant falou pensativo. — Sempre houve uma demanda latente por casas nesta região. O novo centro de compras simplesmente tomará isso mais óbvio. — E vocês precisariam de ajuda na venda das casas? — Sim — Grant falou confuso. — Você ficaria no distrito Brewster por causa disto? Lily suspirou. — Eu gostaria de permanecer aqui porque fiz amigos. Comecei uma vida nesta cidade. Conversei com Abby e nós fizemos um acordo em eu trabalhar como garçonete com ela no restaurante e ter um desconto na hospedaria enquanto consigo minha licença. Eu ainda não verifiquei em escolas ou algo assim, mas provavelmente funcionará. — Sim — Grant concordou. — Parece que sim. Mas você será feliz?

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— Não sei, Grant, mas não pelas razões que você pensa. Não sei se um dia serei feliz porque não me lembro de ter sido. Pensei ter encontrado a felicidade com seu irmão. — Ela fez uma pausa e sorriu. — Eu definitivamente encontrei a felicidade com seu irmão. Trocamos fraldas juntos. Dividimos a tristeza de nossos passados. Conversamos a respeito de lições que aprendemos. Nós tivemos um contato verdadeiro. Isto me pareceu felicidade. — Soa como sendo felicidade — Grant concordou. — E acabou. Por mais que eu ame seu irmão e saiba que seríamos muito, muito felizes juntos, acabou. Por isto, não sei se poderei ser feliz aqui. Sei apenas que gosto de ter amigos. Aprecio o propósito que estou encontrando para minha vida. Por enquanto a felicidade terá de aguardar. Sorrindo tristemente, Grant tirou Taylor dos braços de Lily. — Parece que já está tudo arranjado, não é mesmo? Assentiu, um tanto incerta. — Que bom. Bom para você, de qualquer maneira. Porque convenceu-me de que sabe o que está fazendo. E não sou pessoa de ficar no caminho de ninguém. Caminhou até a porta com Taylor no colo, mas antes de sair fitou-a por sobre o ombro. — Tem certeza de que ficará bem sem ser feliz? — Desde que meus pais morreram, sete anos atrás, eu tenho me saído muito bem sem a felicidade. Quem sabe? Talvez alguns de nós não tenham sido talhados para viver esse sentimento. Contanto que eu esteja estável e em paz, estarei bem. Quando Lily entrou na cozinha na manhã seguinte, já carregava sua mala. Evan, Claire e Grant olharam breve e acusadoramente para Chas. Ele optou por ignorá-los. — Já está indo para a hospedaria? — Claire indagou suavemente. — Grant falou que a sra. Romani poderá estar aqui amanhã. Eu quis deixar os aposentos vazios para ela. — Eu gostaria de manter o quarto disponível para você — Grant começou a falar, mas Chas interrompeu-o.

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— Nós gostaríamos de manter o quarto disponível para você, mas não vamos interromper seus planos porque parecem sólidos. Você é inteligente e forte, ficará bem. Grant encarou-o, Evan fez uma careta, e Claire quase fuzilou-o com o olhar, mas Chas ignorou isso também. — Gostaríamos que você soubesse, entretanto, que se precisar de algo, ficaremos feliz em ajudá-la. — Obrigada — disse educadamente e com uma alegria que não estava sentindo. — Acho que eu os verei na cidade, no restaurante. — Você está indo agora? — Grant perguntou, incrédulo. — Sem nem mesmo tomar café da manhã? — Evan questionou. Lily sorriu com timidez e fez um gesto afirmativo. — Eu a acompanharei até a porta — Claire ofertou, levantando-se. — Eu a acompanharei até a porta — Grant falou, quase obrigando Claire a sentar-se novamente. — Não, eu irei — disse Chas, passando por Grant. — E todos fiquem onde estão. Isto é entre nós dois. Lily sabia que não devia ter esperança. Se Chas quisesse que ficasse, não estaria carregando sua mala para o carro. Também tinha consciência de que se ele houvesse mudado de idéia a respeito do casamento, não pareceria tão triste. Mas uma esperança irracional tomava-a mesmo assim. Chas colocou a mala no banco traseiro do automóvel de Lily e então abriu a porta de motorista para ela. Em seguida, pôs as mãos nos bolsos da calça jeans, olhou adiante e disse: — Eu apenas gostaria de pedir desculpa mais uma vez. Por tudo. Furiosa, Lily perguntou: — Você não consegue parar de se desculpar? Pois não sou digna de caridade, superarei tudo isso. — Eu tenho certeza de que sim. Sinto muito. — Pare de me pedir desculpa!

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— Está bem. Está bem — repetiu e quase pediu desculpa novamente, mas pareceu capaz de conter as palavras. — Sei que ficará bem, mas gostaria que soubesse que estarei cuidando de seu bem-estar a distância. A raiva transformou-se na mais absoluta fúria. — Somente sobre meu cadáver. Eu nem mesmo quero revê-lo, Chas Brewster! A ira pareceu atingi-lo plenamente, e Chas estreitou o olhar, como se também estivesse irritado. — Sabe, você fica me acusando como se eu tivesse feito algo horrível. E não fiz. Não gosto do desentendimento que tivemos mais do que você gosta, mas a verdade é que temos intenções opostas! — Sim, você está certo — Lily falou, tentando acomodar-se atrás do volante, mas Chas impediu-a. — Está querendo bancar a mártir. — Estou tentando apenas ir embora. Chas constatou então que estava impedindo-a de partir quando na verdade devia estar fazendo o contrário. Deu um passo para trás. Depois que ela bateu a porta do carro e acomodou-se no banco, observou-a aspirando longamente. Então surpreendeu-se em vê-la baixando o vidro da janela. Mesmo diante da esperança de que Lily houvesse mudado de idéia a respeito do casamento, Chas censurou-se com aquele pensamento. Ela era jovem demais para se comprometer com alguém sem os laços do matrimônio. Chas deveria ter pensado nisso e evitado ter deixado os fatos transcorrerem daquela maneira. Nenhum dos dois estaria magoado. Estreitando os olhos por causa do sol, ela disse: — Chas, não se esqueça de telefonar para Arnie Garrett. Ele não tem mais um bom argumento, já que estou me mudando da mansão e saindo de sua vida. As palavras atingiram-no, e ele sorriu tristemente. — Sempre ocorrem coisas boas àqueles que sabem esperar.

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Ela lhe deu um sorriso triste, ligou o carro e pisou no acelerador. Chas não havia esperado que a despedida fosse fácil, mas jamais imaginara que doeria tanto vê-la partindo. Isso lhe deu a distinta impressão de que estava errado, de que estava fazendo algo errado. Não era verdade. Somente impedira-os de cometerem o maior erro de suas vidas. Ele precisaria ser forte para continuar a evitar que esse grande erro ocorresse, porque cada célula de seu corpo chamava Lily de volta.

CAPITULO XIII

Naquela noite Chas buscou um pouco de quietude e privacidade no escritório. Abriu uma garrafa de uísque que fora de seu pai e serviu-se uma boa dose com gelo. Ao tomar o primeiro gole, fechou os olhos e deixou que o calor do álcool levasse seu corpo e mente para uma viagem a um recanto de paz. Em vão. Ao abrir os olhos, ainda estava no escritório da mansão Brewster com a custódia de um bebê e a parcial de outros dois e lutando para ser um bom advogado. E estava só. — Ocupado? Ao ver Grant ao batente da porta, quase mentiu, dizendo-lhe que estava ocupado demais naquele momento. Mas como apenas abrira a garrafa de uísque na escrivaninha e tinha um copo na mão, sabia que não poderia alegar isso. — Descansando — admitiu. — Posso entrar? Chas penteou os cabelos com os dedos. — Sim, claro. Por que não? Quer uma dose? — Não — disse Grant como se uísque fosse um veneno. — Preciso cuidar de um bebê esta noite. — Claire e Evan voltarão para a cidade?

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— Sim, eu quase os obriguei a ir. São recém-casados e têm passado todo o tempo livre conosco. Pelo modo como falou, era difícil para Chas não perceber um segundo sentido no comentário. Mais do que isso, tomou consciência da dificuldade em que colocara Grant. Todos davam sua parcela de dedicação, mas era ele quem sempre estava pensando em soluções. E assim como Grant vira mais em Evan e Claire do que Chas notara, também era aquele que tomava decisões difíceis a respeito de babás, empregadas domésticas e programações de horários. Tinha mania de cuidar de tudo e todos, conforme seu pai. Na verdade, ao pensar a respeito, percebia que Grant não apenas herdara a personalidade paterna como também parecia ter adotado muitos de seus hábitos. Levantou-se da cadeira acolchoada, o lugar oficial de comando dos Brewster. Claro, Grant casualmente acomodou-se ali. Foi quando Chas percebeu como o irmão parecia cansado. — Talvez eu deva assumir o turno desta noite — Chas ofertou. Grant suspirou longamente e recusou. — É minha vez. — Então mudaremos um pouco a programação para que hoje seja minha vez. — Você está tentando dizer a seu irmão mais velho que ele não pode lidar com isto, pequenino cowboy? — Talvez — Chas falou, rindo. Fazia vinte anos desde que Grant usara o apelido pela última vez. Retomaram-lhe tantas recordações, fechou os olhos. — Para onde foi aquele tempo, Chas? — Não sei. Simplesmente não sei. — Parece que ainda ontem eu estava nesta sala brigando com papai porque eu não queria trabalhar na empresa e morar no distrito Brewster e sim viver a minha maneira. Chas riu.

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— Eu também. — E então ele me deu um sermão a respeito de família, lealdade e fidelidade aos amigos. Chas sorriu tristemente. — A mim também. — E aqui estamos nós, fazendo exatamente o que ele quis que fizéssemos quinze anos atrás. Grant abriu os olhos e fitou o irmão mais jovem. — Nós devíamos simplesmente ter lhe dado ouvidos. — Sim — Chas murmurou e sentou-se no braço do sofá. — Minha vida seria diferente agora se eu não tivesse deixado esta casa. — Nada de casamentos, ameaça de falência ou cadeia — Grant falou e sorriu. — Você tem razão. Sua vida teria sido diferente. — Fez uma pausa e acrescentou: — Eu nunca descobri o que viu naquelas mulheres. — Senti atração por todas. — Mas não viu um futuro ao lado delas. Sabendo que era verdade e que não havia motivo para negar, Chas simplesmente concordou com um gesto de cabeça. — E o que vê com Lily? — Grant perguntou. Chas deu de ombros como se não se importasse, mas a dor ricocheteava por seu corpo. Não gostaria de ficar conversando sobre aquele assunto. — Não sei. Grant não o deixaria fugir do assunto. — Claro que sabe. Posso ver, pela expressão em seu olhar, que sabe. O que viu em Lily? Chas suspirou. — Eu vi muito tempo, provavelmente a eternidade. Não sei.

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Apenas quando Chas já agradecia por suas preces terem sido atendidas, por sua família ter decidido deixá-lo em paz para que pudesse lidar com as feridas, ouviu Grant falando: — Pensa que não notamos que não se casou com Gretchen? Confuso, Chas encarou-o. — O que Gretchen tem a ver com tudo isto? — Ela é a chave — Grant falou, acomodando-se mais confortavelmente na velha poltrona de couro de Norm Brewster. — Depois de Jennifer veio Charlene. Você se casou com ambas. Aborrecido, mas sabendo que não conseguiria conviver com Grant a menos que o escutasse, Chas aquiesceu. — Mas depois de Charlene, não se casou com Gretchen. O que é a chave de toda esta história. — Acha mesmo? — ironizou Chas. — Tudo o que está fazendo é provar meu ponto de vista. Eu não me casei com Gretchen porque aprendi a lição a respeito do casamento. Com um sorriso superior, Grant balançou levemente a cabeça para a esquerda, depois direita. — Não, você aprendeu a lição sobre ter se casado com a pessoa errada. — Nunca achei que Charlene fosse a pessoa errada. Eu a amava — disse, inclinandose sobre a escrivaninha e aproximando-se de Grant. — Eu a amava, e o amor não bastou. — Talvez não neste caso. Mas você não via a eternidade com Gretchen e não se casou com ela. Aprendeu a lição, já conhece a diferença entre amor e desejo. Chas subitamente percebeu o que Grant queria dizer e começou a perambular pelo escritório. — Isto não muda o fato de que o amor não basta. — Certamente muda — Grant falou com simplicidade, discretamente colocando a garrafa de uísque de volta a seu lugar. — Você amava Charlene. Mas ela o amava também? — Claro que sim! Projeto Revisoras

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— Tem certeza? — Sim. Tenho. — Ela o amava do modo como Lily o ama? — Sim! Mas em seu coração começou a comparar as duas. Os sentimentos de Charlene certamente foram mais brandos, e Chas nunca amara alguém como a Lily. Subitamente ficou zonzo. Desejou sentar-se, mas permaneceu em pé e imóvel. — O que vocês têm não é o comum, não segue a média dos relacionamentos — Grant falou baixinho. — O que você teve com Lily foi amor... amor de verdade. Provavelmente teria durado a vida toda se as circunstâncias houvessem sido boas, mas a vida real não é consistente nem boa. Passamos por momentos difíceis e muitos desafios — acrescentou, indicando o cercado das crianças. — E é raro uma mulher que possa amá-lo, satisfazê-lo e aceitá-lo exatamente como você é. — Estou falido — Chas falou baixinho e engoliu em seco. — Divorciei-me duas vezes. Tenho a custódia de uma criança e parcialmente a de mais duas. Nada posso oferecer a Lily. — Você é um Brewster — Grant falou, parecendo-se muito com o pai. — Não apenas possui uma parte deste distrito como tem responsabilidade para com esta terra. Conhece a lei, teve bons estudos. Algum dia alcançará tudo o que almeja e mais. Entretanto, você é exatamente o que Lily quer agora. Ela não se importa se está sem dinheiro, tampouco se incomoda com seu passado. E está pronta para dividir seu futuro. Ele fez uma pausa e aguardou até que capturasse novamente o olhar de Chas. — Vai jogar tudo isto fora, meu irmão? Chas precisou pensar até as três horas da manhã para reunir coragem, e assim que se sentiu preparado soube que não haveria retrocesso. Colocou a chave na porta frontal da hospedaria, em dúvida se deveria ou não bater. Não queria perturbar Abby nem envolvê-la em sua discussão com Lily. Por isso entrou, subiu a escadaria pé ante pé e conduziu-se ao primeiro quarto à direita. Lily dormia profundamente.

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Sem pensar em protocolos ou conseqüências, esgueirou os braços por debaixo do corpo delicado e tirou-a da cama. Aconchegou-a contra o peito e, por um instante, acreditou que ela poderia dormir através do trajeto escadaria abaixo, porta afora e até a mansão Brewster. Mas como se constatando que o tecido da jaqueta de Chas não combinava com o de seu travesseiro, Lily despertou. Infelizmente, ao perceber que estava sendo carregada, deu um grito estridente. — Shh! — Chas sussurrou. — O que está fazendo? — Sim, o que pensa que está fazendo? — Abby perguntou de detrás dele. Quando se virou para fitá-la, viu que segurava um bastão de beisebol. Pelo brilho em seu olhar, soube que não hesitaria em usá-lo. — Preciso conversar com Lily. — E então resolve raptá-la? — Na verdade, eu não estava raptando-a. Confusa, Abby indagou: — Então como você chamaria isto? — Sim, como chamaria? — Lily perguntou. — Eu vim buscá-la para um encontro — explicou receoso. Abby resmungou. Lily empurrou-o. — Coloque-me no chão! — Mas conversará comigo? Diante da ansiedade contida no pedido, Lily pensou em concordar, mas Abby aproximou-se com seu bastão de beisebol. — Você quer conversar com ele? Antes que tivesse oportunidade de responder, Tyler entrou no quarto, coçando os olhos inchados de sono. — Mamãe? — Sim, querido? — Abby respondeu, imediatamente ajoelhando-se para ficar na altura da criança.

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— O que está acontecendo? — Nada — respondeu, olhando para Chas. — Vamos, vou colocá-lo novamente na cama. Como Tyler deixou o quarto a sua frente, Abby virou-se e disse: — Eu voltarei. — Não volte — Chas pediu, exasperado. — Sim, Abby, não é necessário. Eu cuidarei disto. — Tem certeza? — perguntou, indicando o bastão novamente. Lily riu. — Sim. Mas Abby, se eu fosse você, pegaria de volta a chave que deixou com ele. Sem precisar de mais encorajamento a dona da hospedaria marchou para junto de Chas com a palma estendida. Ele colocou Lily no chão, pegou um molho de chaves do bolso, retirou uma e entregou-a a Abby. — Desculpe-me. A moça limitou-se a encará-lo e deixou o quarto. — Você jamais perderá sua reputação de "Brewster mau" se continuar fazendo coisas assim. — É exatamente por isso que lhe peço: volte para casa comigo. Preciso de alguém que me mantenha na linha. Percebendo que não trocariam cordialidades e sim iriam direto ao assunto, Lily deu um passo para trás. Não poderia fraquejar. — Se você está buscando alguém para mantê-lo na linha, não precisa de mim. Tenho certeza de que Grant ficará feliz em cuidar dessa tarefa. A menção do nome do irmão, Chas ficou pensativo. — Grant gosta de você. — Eu sei. — Não, eu quero dizer que gosta de você de verdade. Ele a respeita. Desapontada, Lily apenas o fitou. — É este o motivo de ter vindo até aqui? Projeto Revisoras

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— Na verdade é — Chas falou, como se houvesse acabado de descobrir isto. — Bem, desta vez foi fácil. Eu esperava que tivesse de lutar mais para me livrar de você. Achei que tentaria me convencer a acompanhá-lo, mas se está aqui por causa de Grant, poupe seus esforços. Ainda pensativo, Chas falou: — Vim para cá por causa de Grant, sim, e não estou fingindo o contrário. Lily franziu a testa. — Você está bem, Chas? Ele riu inesperadamente. — Sim. Estou muito, muito bem. Se não fosse tão curiosa, ela poderia tê-lo expulsado do quarto naquele momento, mas Chas estava agindo como se houvesse acabado de fazer uma descoberta surpreendente. Lily então cruzou os braços e aguardou. Quando pareceu que ele chegara a uma conclusão, voltou a fitá-la, sorriu e disse: — Eu a amo, você sabe. — Sei. — E quero me casar com você. — Preste bastante atenção no que está dizendo, Chas, porque se eu não fosse uma mulher honrada, você acabaria com uma terceira esposa e seria uma pessoa triste novamente. — Você tem planos de me tomar uma pessoa triste? — Não. Não sou eu o problema. É você. — Eu não tenho problemas. — Sim, você tem — Lily afirmou. — Problemas mentais — acrescentou, segurando-o pelo braço e direcionando-o para a porta do quarto. — Vá para casa. Tenha uma boa noite de sono. Prometo que conversarei com você pela manhã. Ele virou-se e pousou as mãos nos ombros de Lily. — Mas eu não quero conversar pela manhã. Eu não pretendo conversar. Desejo me casar com você.

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— Chas, você está me pressionando e muito em breve me deixará maluca. — Eu vejo meu futuro com você, Lily. Grant fez com que eu percebesse que queria me casar com você. Também me mostrou que havia uma grande diferença entre o que temos e meus relacionamentos fracassados. Com você, vejo o futuro. Lily arregalou os olhos. — Está bem. Já basta. Posso suportar um pouco de histeria, mas está sendo injusto. Começo a acreditar em suas palavras e, amanhã, quando mudar de idéia, eu me magoarei novamente. — Não mudarei de idéia amanhã — argumentou em tom de urgência. — Era o que Grant estava tentando me mostrar. Eu não mudarei de idéia. — Emoldurou o rosto de Lily com as mãos. — Eu jamais mudarei de idéia, Lily. Eu a amo. Eu a amo — repetiu, como se fosse a primeira vez que dizia tais palavras. Ela não tentou contê-lo quando se aproximou para um beijo. Não por acreditar no que ouvira, mas porque estava hipnotizada pela convicção com que falara. Parecia mesmo que Chas proferia seu amor pela primeira vez na vida. Mais do que isso, Lily tinha a sensação que nunca recebera uma declaração antes, embora Everett houvesse dito centenas de vezes a mesma frase. Por isso quando se afastaram, ela apenas precisou confirmar no olhar de Chas o que escutara segundos antes. — Eu também o amo — ouviu-se sussurrando. Era como se estivesse ouvindo o som baixinho de uma porta de sua vida sendo fechada e o barulho suave de outra sendo aberta. — Eu também o amo — repetiu, fascinada. — Não tenho muita certeza do que aconteceu aqui — disse Chas, as mãos ainda emoldurando o lindo rosto de Lily —, mas acho que acabamos de selar um compromisso para a vida toda. Atônita, ela arregalou os olhos. — Eu também acho. Lily somente percebeu que Chas tinha dúvidas quanto ao amor que ela sentia quando viu que suspirava aliviado. Projeto Revisoras

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Susan Meier – [Trigêmeos Brewster 02] – Entre beijos e bebês (Bianca Dupla 735)

— Meu bom Deus, obrigado! — exclamou, beijando-a rapidamente. — Vamos reunir suas coisas e voltar para casa. Embora Lily genuinamente acreditasse, em seu coração, que haviam selado um compromisso, sentia-se inesperadamente tímida. Naquele quarto do andar superior de uma casa antiga, acreditou subitamente que era importante ter um tempo para si mesma. — Não voltarei com você. — O quê? Ela aspirou longamente. — Eu disse que não voltarei com você. — Mas por quê? — Porque se nós verdadeiramente temos um compromisso para toda a vida, a espera de algumas semanas para dormirmos juntos não fará diferença. — Estranhamente inspirada, olhou ao redor, parecendo buscar o que a guiava, mas sabendo que os pensamentos vinham de seu próprio coração. — Até mesmo poderá ser bom. — Esperar? — repetiu, estupefato. — Sim — disse Lily, confiante. — Esperar. Eu o amo e acho que vale a espera. Chas pareceu necessitar de um minuto inteiro para compreender o que ela dizia. Então sorriu. — Minha querida, eu também acho que vale a espera.

SUSAN MEIER já escreveu para diversas séries dos Romances Nova Cultural. Escritora em período integral, ela é colunista de um pequeno jornal e gerente de divisão de uma organização de caridade, mas sua grande alegria na vida sempre foram os filhos, que constantemente a surpreendem. Casada há vinte anos com seu deslumbrante, maravilhoso e compreensivo marido Michael, Susan aprecia o papel de mãe, esposa, irmã e amiga, e acredita que esses são os verdadeiros tesouros da vida. Considera a vida em família uma dádiva divina e tenta traduzir a beleza e importância dos relacionamentos amorosos em seus livros.

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Susan Meier – [Trigêmeos Brewster 02] – Entre beijos e bebês (Bianca Dupla 735)

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