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destinados à cultura
Espaços culturais vem de uma evolução ao longo da história, as civilizações humanas sempre reservaram áreas para trocar e armazenar ideias, museus, bibliotecas e teatros foram sempre conhecidos como Centros de Cultura. A ideia de centro cultural propriamente dita surge a partir do modelo estabelecido pela França, com o Centro Pompidou, em 1977, que serviu de modelo para o resto do mundo. A reunião desses programas em um só lugar tem por objetivo, instigar o interesse e curiosidade de obter mais informações, experiências e trocas, tanto artísticas e culturais, quanto intelectuais e pessoais.
Fornecer condições para atividades diversas e assim incentivar a participação da comunidade, desenvolver a capacidade criativa dos seus membros, permitindo o acesso simultâneo a diferentes formas de cultura e acesso a informação, de diferentes grupos sociais simultaneamente.
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Um projeto de centro cultural faz parte de um elemento significante do desenho da própria cidade, bem como um pólo catalisador e revitalizador urbano, integrando espaços e modificando a vida urbana, bem como fazem as praças, parques, rampas, escadas, mobiliários urbanos, pátios, jardins, todos esses agregam a configuração de lugares proveitosos e de permanência na cidade, quando falamos de um programa ainda maior e mais complexo, que pode contar com várias das dessas configurações, espera-se uma mudança signifi- cativa para a vida da zona urbana onde está inserida. inevitável não associar a Urbanidade de Brasília com a forma que os equipamentos culturais estão distribuídos pela cidade, há uma maior concentração e um maior investimento da cultura próximo ao Plano Piloto.
Um exemplo disso foi a concepção do Centro Cultural São Paulo, que foi baseada em uma extensa pesquisa para entender o que significava o acesso à informação e a implantação de um espaço tão significativo para o desenho da cidade em um país como o Brasil. A intenção do centro cultural que nascia era a de agregar essa população heterogênea, promover, incentivar e documentar as criações culturais e artísticas, fornecendo um espaço e infraestrutura para que todos tivessem acesso aos mais variados gêneros culturais.
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Por meio de uma visita da autora, nota-se que desde então esse uso do lugar e presença de pessoas de diferentes grupos permanece frequentando ali, por meio de uma pluralidade de funções que o projeto proporciona, para além dos usos programados que são as salas de estudo, anfiteatro e galerias, nota-se também um grande uso espontâneo das áreas livres onde os frequentadores usam para oficinas de dança, ensaios, rodas de conversas, tempo de relaxamento, leituras e etc.
No contexto brasileiro é importante ressaltar como os espaços e equipamentos culturais têm um especial potencial na democratização da arte e cultura, por meio da criação de ambientes agradáveis e convidativos, fazendo com que as pessoas se sintam bem de permanecer nas cidades, e que elas e os espaços públicos proporcionam encontros e tempo de qualidade na áreas em comum para seus habitantes e visitantes.
Além disso, o desenho de Brasília, a dimensão dos espaços, o forte caráter monumental, as barreiras físicas criadas por isso e a distância entre as cidades satélites ao Plano Piloto, todos esses são fatores que influenciam a forma como as pessoas utilizam a cidade e os equipamentos públicos, com um desenho urbano que muitas vezes, limita lugares importantes à um grupo social, uma vez, que o acesso é dificultado pela falta de veículo particular, mobilidade urbana ou até mesmo conhecimento do mesmo.
Nas referências trazidas neste trabalho citamos Centros Culturais que estão muito inseridos na malha urbana, e nelas a arquitetura convida o mesmo a participar daquele espaço, de forma diferente do que acontece no CCBB Brasília, por exemplo.
Esses fatores sobre o desenho da cidade faz com que não aconteçam encontros espontâneos por ela, pela falta de conexão entre os espaços públicos da cidade, de forma que, os encontros e eventos devem ser programados e planejados pelo usuários, o que torna necessário o prévio conhecimento da existência do lugar/do evento para que haja o consumo cultural, muitas vezes a divulgação e conhecimento de certos eventos se mantém limitada a certos tipos de grupos, muitos moradores de cidades satélites deixam de consumir e conhecer espaços, eventos culturais, exposições, sendo um grande fator para a contínua segregação social existente na cidade.
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Outro fator levantado enquanto pesquisando acerca do tema de divulgação e promoção da cultura, é que pode haver também uma relação entre essa falta de conhecimento de eventos/movimentações culturais e consumo das áreas destinadas à cultura com o fato de que Brasília não é uma cidade turística, de forma que o setor de turismo de outras capitais do Brasil promovem muitas vezes a divulgação de certos eventos e espaços culturais. A abordagem utilizada e a promoção da cultura e dos espaços existentes destinados a isso no DF poderia ser feita de forma diferente, mais informativa e acessível.
Essa percepção e análise foi crucial para a decisão de se construir um equipamento integrado ao contexto urbano, para que o mesmo seja utilizado e encontrado de forma espontânea pela cidade, num âmbito de cidade satélite, a cidade de Taguatinga, que possibilita esses encontros pelo seu desenho urbano mais integrado e misto, e também pela descentralização dos espaços e pela conquista de novos equipamentos públicos nas satélites, aproximando e gerando interesse para os que têm pouco ou nenhum acesso aos espaços culturais que estão no centro.
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As cidades periféricas do DF tem uma cena cultural forte, mas que geralmente são promovidas e fomentadas por ações da própria comunidade, alguns exemplos são a Casa do Cantador na Ceilândia, o Complexo Cultural da Samambaia, esses espaços tem um programa bastante utilizado, eventos importantes e uma forte cena cultural com grande participação da comunidade para mantê-los funcionando. Diferentemente do Plano Piloto, que tem o incentivo e infraestrutura advindo do próprio setor cultural oficial, as cidades satélites possuem um caráter de resistência e independência para manter a cultura e a cidade vida.
Em Taguatinga não é diferente, a cena cultural é promovida principalmente por artistas de rua e circenses, o Centro Cultural que existe na cidade não é utilizado há um tempo e funcionava praticamente apenas como um auditório e é localizado num lugar de difícil acesso.
Na verdade, os espaços culturais mais importantes em Taguatinga, que promovem os maiores movimentos e eventos culturais da cidade, são compostas e promovidos pelos responsáveis das ocupações culturais existentes na cidade, por meio de iniciativa dos próprios artistas, que ocuparam de forma independente lugares ociosos da cidade para se tornarem ponto de encontro e promoção de cultura, conquistando o direito por espaços não proporcionados na cidade, seguem dois exemplos de ocupações culturais em Taguatinga:
Uma delas é o Mercado Sul VIVE em Taguatinga Sul, trata-se de um coletivo que ocupou uma área que estava ociosa em um beco da cidade, tais como lojas abandonadas, além de criar um espaço criativo e alegre com grafite, hortas, feiras e comércios locais, trazendo vida e segurança para o lugar. Atualmente, a ocupação promove cultura livre, capoeira, cinema, economia solidária, comunicação livre, rádio livre, construção móveis e utilitários ecológicos, educação e cultura popular, além de eventos e apresentações culturais.
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A segunda ocupação é o Centro Cultural RIA Taguatinga, segundo os integrantes do RIA, a ideia de ocupar o edifício surgiu da necessidade de um lugar para os artistas treinarem, bem como a falta de uma escola popular de artes na região. Os artistas ocuparam um antigo Batalhão da Polícia Militar, que estava abandonado há um tempo, e então começaram a reformar o espaço, preenchê-lo com grafites e hortas verticais. Hoje, o centro de cultura promove aulas, oficinas, grafite, permacultura, reciclagem, circo e eventos culturais.
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A falta de equipamentos públicos, áreas adequadas existentes na cidade (destinados ou não à arte e cultura) e investimento público, fazem com que artistas levem seus teatros nos braços, podemos observar por esses exemplos acima que há uma grande demanda por espaços que sirvam de apoio à arte e cultura, com infraestrutura para que possam ensaiar, se apresentar, um lugar concedido à cidade para terem acesso às manifestações culturais.
Essa demanda por ambientes adequados não se trata apenas de equipamentos culturais, mas também espaços públicos básicos de qualidade, onde essas trocas culturais vão acontecer espontaneamente, bem como praças de qualidade, parques mais integrados, mobiliários em pontos de espera/encontros. Se os mesmos já existissem, provavelmente estariam sendo utilizados pelos artistas das ocupações citadas acima, ou não estariam ocupando e reformando espaços ociosos para tais fins.
Esses artistas também se queixam da falta de lugares para apresentações de seus espetáculos, dança de rua, apresentações musicais e performances circenses.
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Após inserida em uma cidade satélite, para evitar as barreiras físicas do centro da cidade, é importante entender que a forma que se consomem espaços culturais nessa região é diferente de como consomem no Plano Piloto, por razões socioeconômicas, diferentes culturas e costumes.
Entendendo as demandas e especificidades dos moradores, o objetivo é fazer um programa interativo, convidativo e acessível, que seja facilmente reconhecido como um lugar público, que dê suporte à demanda de infraestrutura dos artistas e das pessoas que se interessam por arte.
Para isso, a pluralidade dos espaços é explorada neste trabalho, com essa abordagem e para que este equipamento cultural seja de fato utilizado e até mesmo notado pelos moradores da cidade, é pensado primeiramente como um espaço público aberto, multifuncional, com boas atividades e programas, convidativo e acessível, para que por meio dessa interação e vivência dos espaços proporcionados pelos equipamentos e atividades, as pessoas se aproximem das manifestações culturais e do bloco principal inserido naquele contexto.
A ideia é por meio dessa multifuncionalidade do lugar conectar e aproximar ainda mais os moradores à essa programação e experiência cultural.
O objetivo desse espaço cultural é dar suporte e apoio ao artistas locais que, por falta de espaços existentes, constantemente ocupam áreas ociosas na cidade para promover cultura, ensaiar e se apresentarem, além de trazer um equipamento de apoio à biblioteca da cidade, trazendo um espaço de estudos, leitura e permanência, uma vez que há um grande volume de escolas e faculdades próximo ao sítio físico.
Aliar um espaço destinado à cultura a um espaço público bem sucedido é de extrema importância uma vez que o próprio urbanismo, as praças e atividades externas, convidaria as pessoas a usufruir e conhecer o edifício, é uma forma de democratizar e facilitar acesso e conhecimento do que se é promovido e de aumentar o interesse por lugares com esses potenciais.
No contexto da cidade de Taguatinga não se identificou uma necessidade que demandaria um programa arquitetônico tão amplo como o Centro Cultural São Paulo, por exemplo, ou com uma demanda específica de se abrigar o funcionamento das Corpos Artísticos do Teatro Municipal da cidade de São Paulo, como é o caso da Praça das Artes.
O programa de necessidades interno tem como objetivo de trazer um local de apoio aos artistas da cidade, proporcionando um lugar para ensaio, dança, áreas livres para oficinas, apresentações culturais, porém com um programa mais geral e que se adequa às mais diversas possibilidades, onde o uso vai vai acontecer de acordo com suas necessidades e demandas, tem também o objetivo de dar apoio e infraestrutura para os vários usos institucionais nas proximidades, com espaços de leituras, estudos e permanência.
Além de todas as motivações que levaram à essa direção, identificou-se também uma grande potencialidade no local onde o projeto está inserido, percebido através de certos critérios urbanísticos, que são ideais para um sítio bem articulado para vivência na cidade, foram eles:
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- intersecção do edifício/do lugar com a vida pública já existente
- boa infraestrutura próxima e usos determinados em seu espaço físico
- a quantidade de usos institucionais nas proximidades
- a maioria das fachadas com olhos pro edifício, os caminhos de entrada possuem vistas claras para outras saídas do espaço público
- a possibilidade de continuar os caminhos de pedestres através da uma praça com rotas diretas e lógicas
- o fato da topografia da área possuir uma ampla visão de todo o sítio físico.