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Revista Alimentação Animal n.º 124
SUSTENTABILIDADE – DO MUNDO VUCA AO MUNDO BANI
Hoje, quando fazemos uma análise à conjuntura económica, em múltiplas vezes ouvimos uma série de chavões globais que enchem a boca de génios e justificam a sua sabedoria. As teorias do mundo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo) ao mundo BANI (frágil, ansioso, não linear e incompreensível) justificam muito daquilo por que passámos. É claro que é certo que vivemos num mundo surpreendente e o início da década de 20 do século XXI é um exemplo de grande relevância. A velocidade dos acontecimentos é tal que, fazer análises do momento, quase nos levam ao mundo do ABD – achómetro, bitaitómetro e desenrascómetro, como me dizia um professor de marketing. Quem preveria uma pandemia e as suas consequências, ou uma invasão da Rússia à Ucrânia, todos os seus impactos e peripécias? Ninguém, digo eu. É por tudo isso que o ser humano tem de repensar atitudes e perceber que na base de uma boa convivência com o planeta está o equilíbrio e o bom senso, que é o que muitas vezes não existe quando se definem linhas mestras de desenvolvimento. De facto, os recentes acontecimentos deveriam levar os grandes decisores a perguntarem-se se as políticas que adotam são as mais adequadas para que a tão propalada sustentabilidade seja de facto uma realidade. Sustentabilidade é uma coisa demasiado séria para ser apenas uma palavra. Sustentabilidade tem de ser vista como um vetor de equilíbrio ambiental, social e económico. As decisões políticas têm de ter em conta os fatores que podem ajudar a produzir alimentos e que permitam uma redução da pegada ecológica. A base científica de nutrição de precisão tem de ser levada em conta. A proximidade da produção é outro dos fatores que também devem ser considerados e, no caso de Portugal, o incentivo à fixação da produção animal no interior do país tem de ser um desígnio para equilibrar o ambiente e evitar os desastres provocados pelos fogos devido ao abandono das terras. Evitar uma demasiada exposição às importações de alimentos só pode ser conseguida com uma agroindústria forte. Políticas excessivas e exageradas de bem-estar animal ou outras que não levem em consideração a ciência têm de ser criticadas e contestadas. Os órgãos que representam o setor têm de fazer ouvir a sua voz. O equilíbrio e a razoabilidade são fundamentais seja em Portugal ou na Europa, que parece que ainda não percebeu os riscos que corre, pela sua dependência alimentar de terceiros.
Apesar das condicionantes legais, económicas e ambientais, no nosso país vemos grupos dinâmicos a trabalharem a avicultura de carne, suinicultura e ovos e a crescerem. Vemos instituições a dar passos para incentivar, modernizar e dinamizar a produção leiteira e grupos económicos apostados na produção de carne de ovino e bovino, procurando novos nichos de mercado no país e no exterior. Outros setores como a cunicultura e ovinos de leite enfrentam mais dificuldades, mas no geral o setor agroalimentar tem sido capaz de se ajustar e reinventar, muitas vezes em contraciclo das atitudes políticas. A sustentabilidade social passa também por termos um setor dinâmico, moderno e criativo, capaz de criar riqueza e empregos, mas a produção tradicional e de interior, que está em grande declínio tem, também, de ser apoiada e incentivada para que os jovens sintam que podem apostar na produção de alimentos de origem animal e que, assim, contribuem para a tão desejada sustentabilidade ambiental, social e económica que ajudará a equilibrar a vida no planeta.
A produção de alimentos de origem animal não é apenas economia – é uma necessidade e um bem para todos e tem um grande contributo para a vida saudável no nosso planeta.
António Santana
Diretor da IACA