Sol da meia noite cap 13 à 19

Page 1

[FIC] Midnight Sun Ruby

13 - Mais complicações Cheguei em casa e fui direto ao piano. Enquanto tocava a melodia que havia feito para Bella, minha mente estava livre para pensar no dia que passara. Todas as perguntas que ela havia feito, e todas as respostas que havia dado... Contei a ela todas as coisas que um monstro como eu fazia, como nos alimentávamos. E não vi o medo passar pelo seu rosto. Ela deveria realmente ser louca... Pensei no seu desastre em Educação Física, batendo a raquete no ombro de Mike Newton, e comecei a rir. Não havia como não rir da imagem! Não por causa de Bella. De certa maneira, já havia me acostumado com sua habilidade incrível de se machucar com coisas mínimas. Mas a cara de Mike Newton ao apanhar dela, isso nenhuma outra imagem conseguiria apagar! “Deu pra rir sozinho agora... Eu, hein!” Esse foi o pensamento de Emmett, enquanto descia as escadas. - Não se preocupe – respondi, incapaz de parar de rir. – Ainda não estou ficando louco. “Ainda...” – Ele completou meus pensamentos por mim. Ainda... Concordei com ele. Mas Bella estava conseguindo esse feito. - Tudo bem, eu fiquei curioso. Dá pra me contar do que você estava rindo? – disse Emmett, com os olhos como o de uma criança com vontade de rasgar logo o embrulho do presente. Contei a ele sobre o incidente com Mike Newton. O resultado foi que tive que agüentar, pelo resto do dia, as diversas imagens em sua mente, com direito a caras e bocas do garoto Newton. Algumas imagens violentas, outras um tanto cômicas. Poderia intitulálas de “Como bater em Mike Newton, por Emmett Cullen”. Na mesma noite, fui vê-la dormir, como sempre fazia. Algumas vezes me odiava por isso, pensava estar invadindo sua privacidade. Mas era tão bom vê-la dormir, dizer meu nome. Sim, eu era uma criatura extremamente egoísta. Ela acordou várias vezes durante a noite, me sobressaltando e obrigando-me a me esconder para que ela não me visse. Seu sono foi inquieto, mas ainda assim disse meu nome. Várias vezes. Então, apesar de tudo, ela ainda sonhava comigo... Infelizmente, o sol começou a nascer. Saí de seu quarto, ansioso para vê-la de novo, apesar de ter passado a noite inteira com ela. Fui para casa trocar de roupa e me lembrei que hoje eu faria as perguntas. Seria interessante perguntar de cada detalhe de sua vida, já que eu não podia saber deles pelos seus pensamentos, como eu faria se fosse com outra pessoa qualquer. Mas Bella não era uma pessoa qualquer, eu devia saber disso. Fiquei esperando na rua de sua casa, enquanto Charlie não saia para o trabalho. Assim que saiu, estacionei o Volvo na entrada de carros. Vi Bella olhando pela janela. Quando me viu, seu rosto passou de ansioso a aliviado. Talvez ela estivesse se certificando se eu estaria realmente lá... Será que ela não entendia que nunca conseguiria me afastar dela? Ouvi o barulho de seus pés na escada enquanto ela corria apressada. Sorri ao imaginar o quanto aflitiva ela ficava para me ver. E, estranhamente, me senti bem com isso. Bella passou pela porta sem trancá-la. Percebi que estava vestida com um suéter marrom e uma calça jeans. Simples, mas ainda linda... - Bom dia – eu disse, assim que ela entrou no carro. Lembrei-me da noite de ontem e acrescentei – Como está hoje?


Não creio que ela tenha percebido a intenção por trás de minha pergunta, mas me respondeu: - Bem, obrigada. Ela parecia cansada. Havia olheiras sob seus olhos, resultado da noite mal dormida. - Parece cansada. - Não consegui dormir. – Ela disse isso espalhando os cabelos sobre os ombros para esconder o rosto. Seu cheiro inundou meu carro. Incrível como estava me acostumando com isso. - Nem eu – disse brincando, enquanto ligava o motor. Ela riu. - Acho que tem razão. – Ela entrou na brincadeira. – Imagino que tenha dormido um pouco mais que você. - Pode apostar que dormiu – respondi. Sentia-me extremamente bem, agora que não precisava esconder dela quem eu realmente era. O que me deixava melhor é que ela me aceitava como eu era: um monstro. Eu estava me tornando terrivelmente dependente desta criatura adorável. - Então o que fez na noite passada? Não, não. Ela estava tentando, mas não permitiria isso. Hoje o interrogatório seria meu. - Sem chances. É o meu dia de fazer as perguntas - Ah, é verdade. O que quer saber? – ela me perguntou, com um tom de quem não sabia o que esperar de minhas perguntas. Repassei mentalmente todas as perguntas que tinha que fazer. Decidi começar pelas mais fáceis. - Qual é a sua cor preferida? Ela revirou os olhos. Provavelmente estava esperando coisas mais complicadas para responder. Não se preocupe, Bella, pensei, as perguntas difíceis virão. - Muda de um dia para o outro – Ela respondeu. Uau... E essa era a primeira das mais fáceis. Imaginei quais seriam as respostas das perguntas difíceis... Continuei: - Qual sua cor preferida hoje? - Talvez marrom. Ela estava falando sério? Olhei seu rosto para me certificar se estava brincando ou não. Ela estava falando sério. Lembrei-me de que seu suéter era marrom, então provavelmente devia ser verdade. - Marrom? – perguntei, sem conseguir esconder a surpresa. - Claro. Marrom é quente. Eu sinto falta do marrom. Tudo o que deve ser marrom... Troncos de árvores, pedras, terra... Fica o tempo todo coberto por uma coisa verde e mole por aqui – Ela disse em tom de reclamação. Estava admirado com isso. Mas, pensando bem, ela tinha certa razão. Para quem estava acostumada com um lugar quente, vir para uma região chuvosa não deveria ser exatamente confortável. E quente... Olhei seu suéter. Ela tinha razão sobre marrom ser quente. Enquanto tirava seu cabelo do ombro, para que pudesse ver melhor seu rosto, eu disse: - Tem razão. Marrom é quente. – Ela não percebeu a intenção por trás de minha resposta. Havíamos chegado à escola. Parei na vaga costumeira do estacionamento, pensando em qual seria a próxima pergunta. Lembrei-me de que, há umas semanas, descobri que ela gostava de Debussy. Seu gosto musical devia ser muito bom. - Que música está em seu CD player agora?


Reconheci a banda que ela disse. Abri o compartimento sob o CD player onde guardava meus CD’s e tirei o da tal banda... Não era muito boa. Não havia melodia em suas músicas, apenas barulho. Até as letras se perdiam no som da bateria e das guitarras. Isso não era música de verdade. Olhei pra ela com uma expressão indignada enquanto erguia a capa do CD. - De Debussy a isto? Ela olhou para baixo com uma cara de quem se desculpava. Consegui refrear o riso: era difícil imaginar Bella pedindo desculpas a mim... Saímos do estacionamento, e continuei com o interrogatório pelo resto do dia. Em todos os momentos possíveis eu estava com ela: nas saídas das aulas, no intervalo entre aula e outra, sempre fazendo perguntas, ouvindo atentamente suas respostas e tentando descobrir um pouco mais sobre ela. E quanto mais conversávamos, mas curioso ficava para saber mais sobre a sua vida. Percebi que conseguia fazê-la corar em algumas questões, e, confesso, essas eram as minhas favoritas. Às vezes fazia-o imperceptivelmente, como quando a perguntei sobre sua pedra preciosa favorita. Ela respondeu topázio, e corou quase instantaneamente. Apesar de saber o porquê, ainda assim perguntei, tentando fazê-la falar, porém sem sucesso. Ela não olhava em meus olhos, fugindo do meu “poder de deslumbrar”, como ela dizia. Nessas horas eu percebia o lado bom do meu eu vampiro: é horrível ter que perguntar a alguém para se obter respostas. Por que esse meu lado bom tinha que ser defeituoso justamente com ela? Estava quase impaciente quando ela concordou em responder. - É a cor dos seus olhos hoje – disse, enquanto corava mais uma vez. – Acho que se você tivesse me feito essa pergunta há duas semanas eu teria dito ônix. Repassei a figura das duas pedras em minha mente: topázio, cor dourada, quase um ouro derretido. Ônix, pedra negra, escura como breu. Ambas lindas, de tirar o fôlego de qualquer pessoa. Ponto pra mim. Eu estava certo de novo. Continuei com o interrogatório por dois motivos: primeiro, para não deixá-la mais tão constrangida; segundo, para não abusar do meu autocontrole com o crescente rubor em sua face. O dia se arrastava lentamente quando não estava com ela. As aulas já não tinham importância – não que algum dia tivessem sido realmente importantes –, passava o restante do tempo lendo cada mente em torno dela, tentando captar algo que tivesse escapado das minhas observações... - Edward... Edward! – Emmett me deu um cutucão nas costelas, suficientemente forte para esmagá-las, se eu fosse um humano. Li a resposta na mente do professor. - Romeu e Julieta, quando Romeu diz que a rosa, mesmo se chamada por outro nome, teria o mesmo perfume. Certo, Sr. Mason? - Ahn... – Ele parecia desconcertado. – Certo, Edward. Obrigado. “Eu podia jurar que ele estava distraído! Mal se mexia na cadeira... Mas não posso me queixar, ele é meu melhor aluno de inglês.” Legal, eu tinha esquecido de me mexer. “Respire, Ben... Respire. Afinal, não pode ser tão difícil assim, não é? É apenas um baile... Fique calmo, fique calmo. Você é melhor que Edward Cullen. Pelo menos, é o que ela acha.” Não consegui refrear minha risada. Por sorte, apenas Emmett escutou. Contei pra ele o pensamento de Ben, numa velocidade e num tom que apenas nós poderíamos escutar. - Pelo menos ele está decidido. – respondeu Emmett.


- Quase. Ele está em dúvidas se não vai realmente levar um fora de Ângela. Talvez eu devesse... - Hey, cupido! Já chega. Preocupe-se com a sua garota agora. Deixe que o Ben faça a parte dele. Então, quais seus palpites pra aula de Educação Física? Acha que hoje vai ter sangue, ou apenas um braço quebrado? - Por parte de quem? – brinquei, imaginando o que Bella diria se ouvisse isso. - Mike Newton, claro. – ele hesitou, e eu fechei a cara para seu pensamento, mas ele insistiu em dizer – Ou prefere que seja Bella? Um pouquinho de sangue afetaria você? Olhei para o relógio. Faltavam alguns segundos pro sinal. - Salvo pelo gongo, espertinho. Espere até chegar em casa e eu vou te mostrar o que é destruição. – disse, e pude ver em sua mente a imagem de um Edward caído no chão, todo quebrado, e um Emmett cantando vitória pra quem quisesse ouvir. Saí antes do resto da turma, ansioso por me encontrar com Bella. O intervalo passou com as mesmas interrogações, e seguimos para nossa próxima aula. Era incrível o poder que essa garota tinha sobre mim. Enquanto ouvia sua voz suave contando-me de sua vida, meu corpo seguia o dela automaticamente, como se ele soubesse o meu maior desejo, como se também desejasse a garota que estava ao meu lado, não apenas o seu sangue. Somente quando chegamos à porta da sala foi que percebi o que viria a seguir. Aula de Biologia, filme, luzes apagadas. Controle-se, Edward, controle-se. Não faça nenhuma besteira. Na última aula de Biologia, eu estive perto demais. Consegui sentir seu calor em minha pele, as ondas de eletricidade que passavam entre nossos corpos. Mal consegui refrear o impulso de tocá-la, de sentir sua pele na minha... Não. Eu não podia me dar a esse luxo hoje. Eu teria que me afastar dela. Sentamos na mesa de sempre, e afastei minha cadeira o máximo que pude da sua, tentando me controlar para o que viria a seguir. O Sr. Banner apagou as luzes, e as ondas de eletricidade me atingiram quase instantaneamente, com tal força que tive que me agarrar outra vez à mesa para impedir de tocá-la. Cada parte de seu corpo me chamava: sua pele, fina e macia como seda, o rubor em sua face, seus olhares de esguelha para ver se eu estava olhando, seus movimentos constantes e, ainda assim, graciosos na cadeira... E seu cheiro. Ah, seu cheiro. Ele praticamente cantava para os meus sentidos, me convidando a ir mais além... Eu havia aprendido a me acostumar com ele, mas não o suficiente para me manter tão perto. E eu não conseguia desgrudar os olhos dela. A onda de eletricidade era crescente. Bella debruçou na mesa, provavelmente se segurando para não me tocar... Ou isso era o que eu queria ver. O tempo se arrastava. Eu queria ficar ali pra sempre, experimentando essa nova forma de prazer... O Sr. Banner acendeu as luzes. Ela me olhou, e sorriu. Se meu coração pudesse acelerar, ele teria acelerado. O sol da minha constante meia-noite, o calor capaz de fazer meu coração pulsar... Seu sorriso era o que me mantinha consciente, vivo, por assim dizer. Pela primeira vez no dia, seguimos em silêncio, ainda absorvendo toda aquela energia emanada de nossas peles no breve momento em que estivemos perto um do outro. Não consegui parar meus instintos quando chegamos à sua próxima aula. Toquei seu rosto com as costas de minha mão, sentindo em cada parte de minha mão fria o calor que saia de sua pele. Como ontem, senti seu sangue correr por baixo de sua pele fina, e imaginei milhares de maneiras diferentes de tocá-la... Imaginei quão maravilhoso seria tê-la em meus braços, sentir não apenas seu rosto, mas seus braços, seu pescoço, seu corpo.


“Edward”. Tudo bem, já era hora de parar. Consegui, não sem um enorme esforço, afastar-me dela. Enquanto ia em direção ao carro, ouvi seus passos apressados pra dentro do ginásio. Entrei em meu carro, parado no estacionamento, e resolvi experimentar o CD que Bella havia me mostrado. Apesar de tê-lo em meu carro, nunca havia realmente tentado apreciar a música. Quem sabe agora... Me arrependi no momento em que escutei a primeira música. Como ela conseguia ouvir isso? Desliguei o som, e coloquei uma música qualquer, porém boa para ouvidos sensíveis. Encontrei Bella na saída da aula, e fomos direto para sua casa. Eu estava ansioso por mais detalhes da sua vida, por isso mudei o rumo das perguntas, pedindo por detalhes do seu relacionamento com os pais, sua cidade natal, coisas assim. Deixei-a falar livremente, imaginando tudo que ela me dizia. Quando ela parou de falar, estava perdido em pensamentos. - Já acabou? – perguntou ela de repente. - Nem perto – calculei rapidamente o tempo que passamos no carro – mas seu pai vai chegar daqui a pouco. - Charlie! – ela disse, como se tivesse acabado de se lembrar que tinha um pai. – Que horas são? Com essa pergunta, olhei para o céu. Não havia mais sol, mas ainda não estava escuro. - É a hora do crepúsculo. Fim do dia. O fim... O dia sempre acaba, por mais que tenha sido perfeito. E eu não queria que ele acabasse. Mas eu sabia agora que, quando meu dia acabasse, quando chegasse a meia-noite, eu teria o meu sol pra me iluminar, pra me guiar. Era a hora do dia em que eu não precisava me esconder, eu podia ser quem eu realmente era, fosse em casa ou caçando. - É a hora do dia mas segura para nós – continuei em minha linha de pensamento –, a hora mais fácil. Mas também a mais difícil, de certa forma... o fim de outro dia, o retorno da noite... A escuridão é tão imprevisível, você não acha? - Eu gosto da noite. Sem a escuridão não poderíamos ver as estrelas. E ela estava certa, novamente. Meu sol... Minha razão de existência! Sem a minha escuridão, sem o breu em que eu estava, sem a minha meia-noite, eu nunca teria sido capaz de encontrá-la, meu bem maior, minha estrela, meu sol! - Não que elas apareçam muito por aqui... – ela continuou. Sorri diante de sua colocação. “Pra que elas iriam?”, pensei, “Com o sol por perto, não há necessidade de estrelas...”. - Charlie chegará daqui a alguns minutos – eu disse. – Então, a não ser que você queira dizer pra ele que estará comigo no sábado... Uau... Sábado. Tinha me esquecido que passaria um dia inteiro com ela... Meu corpo reagiu diante da perspectiva de ficarmos tão próximos. - Obrigada, mas não, obrigada – Ela disse, pegando suas coisas para sair do carro. Eu não queria que ela fosse embora! – Amanhã é minha vez, então? - Certamente não! Eu disse que ainda não tinha acabado, não disse? – Como assim, ela queria fugir das minhas perguntas? Eu estava sendo tão importuno assim? - O que é que ainda falta? - Você vai saber amanhã. Me inclinei para abrir a porta pra ela, e senti seu coração acelerar com minha aproximação. Porém, outra coisa chamou minha atenção naquele momento.


“Espero que Bells tenha feito o jantar... Nunca estive tão faminto!” Charlie estava chegando, e Bella não queria que ele nos visse aqui. Mas isso era de menor importância, pois o que mais me incomodou estava vindo em sentido contrário ao meu. Ao longe, consegui distinguir um diálogo entre duas pessoas que se aproximavam. Obviamente, só eu consegui ouvi-los. Pai e filho estavam numa espécie de discussão. - Qual é o problema – perguntou Billy Black, com uma risada – se ela é mais velha? Talvez Charlie não ligue... - Pai, por favor! – respondeu o garoto, provavelmente Jacob Black – Bella é apenas uma amiga, só isso. - O que foi? – Bella me perguntou, provavelmente reparando na demora pra abrir a porta. - Complicações. – Voltei a minha posição inicial – Charlie está na esquina. – lancei um olhar pelo retrovisor pra ver se ele já estava à vista. Ainda não. Bella saiu apressada do carro, e saí o mais rápido que podia com o Volvo. No momento em que passei pelo carro dos Black, meus olhos encontraram os de Billy e senti o medo e a indignação passarem por seu olhar. “Um Cullen? Metido com Isabella Swan? Sam precisa saber disso...” “Esse não é aquele garoto Cullen? Só espero que meu pai... Ah, não, tarde demais...” Enquanto me afastava da casa de Bella, podia ouvir Jacob Black repreendendo o pai, mas não consegui conter a frustração e o ódio crescerem dentro de mim. - Pai, por favor, controle-se! Bella não vai acreditar em nenhuma de suas histórias e Charlie já lhe disse que... Ei, Bella! Não importava quantos tratos nós fizéssemos, lobisomens nunca seriam amigos de vampiros, e eu podia sentir isso em cada palavra e em cada olhar de Billy Black. Se ele falar alguma coisa pra Bella... Acelerei meu carro, tentando não ouvir mais nada do que estava acontecendo. Por que, Edward, por quê? Justo a garota que tem amigos lobisomens? Consegui me distrair por cinco minutos, o suficiente para entrarem em casa. A curiosidade me pegou antes que pudesse me conter. Eu tinha que saber até que ponto Billy Black podia influenciar Bella e, aparentemente, seu filho. 14 – Uma questão de tempo Estacionei meu carro algumas quadras de distância, longe da casa de Bella e fora do caminho dos Black. Enquanto eu seguia correndo para sua casa – por sorte estava chovendo, e não havia humanos da rua –, a raiva por Billy Black foi crescendo dentro de mim. Eu deveria me controlar, afinal eu não havia quebrado o trato. Tecnicamente, seu filho Jacob já o havia quebrado, mesmo sem saber. Era com o seu lado que Billy precisava se preocupar, não com o nosso. Porém, quanto mais eu pensava nisso, mais culpado eu me sentia. Eu estava sendo tentado a quebrar o trato. O pior de tudo: tentado pela garota que eu mais amava em minha existência. Quando fizemos o trato com Ephraim Black, eu estava certo de que era mais fácil a corda arrebentar do lado dos Quileutes do que no lado dos Cullens. Afinal, os Cullens nunca mais fariam mal a humanos. Mas agora, analisando todas as circunstâncias, percebi que o lado mais fraco na corda era o meu. Se algo desse errado... Pare, Edward, pare com isso! Nada vai dar errado... Você é forte o suficiente pra agüentar, ela não merece um monstro! Eu havia chegado à casa dela. Me aproximei o mais silenciosamente que pude, ouvindo o som de televisão e as conversas das pessoas dentro da casa. Distingui a voz de Charlie e Billy Black, na sala de estar, assistindo a um jogo.


- Uau, essa foi uma bela jogada! Mas não o suficiente, seu time terminará em último no campeonato, Billy! - Já me acostumei com isso, Charlie... Já me acostumei. – Billy não estava prestando atenção no jogo. Estava procurando uma oportunidade para contar a Charlie que os Cullens não eram boa companhia. Ignorando a raiva que estava quase acordando monstro dentro de mim, ouvi o pensamento do garoto Black, enquanto conversava com Bella na cozinha. “Por favor, me diga que a caminhonete quebrou e você não tinha mais ninguém pra te dar carona, por favor!” - É um cilindro mestre. – ele suspirou, provavelmente tomando coragem pra perguntar. – Tem alguma coisa errada com a sua caminhonete? Eu me perguntei por que você não estava dirigindo ela... - Eu peguei uma carona com um amigo. – Bella corou, mas Jacob não percebeu. “Ufa... amigo. E tem um belo carro, vamos ser sinceros... Eu preciso conversar com meu pai, eles são apenas amigos, afinal. E o que o garoto Cullen poderia fazer pra Bella? Billy e suas histórias...” - Bela carona – ele sorriu. – Contudo eu não reconheci o motorista. Achei que conhecia a maioria das pessoas daqui. Meu pai pareceu reconhecê-lo de algum lugar. Boa jogada, Jacob Black. Você é um ótimo ator. - Jacob, você poderia pegar uns pratos? Estão no armário em cima da pia.” “Parabéns, Jacob Black! Ela está fugindo das suas perguntas... Será que ela acha que eu vou discutir com quem ela deve ou não andar?” - Então, quem era? – ele insistiu. Bella suspirou, vencida. - Edward Cullen. “Claro... Preciso falar com Billy ao chegar em casa. Bella percebeu a atitude daquele velho supersticioso! Se ele continuar assim, posso perder uma amiga.” - Acho que isso explica então – ele respondeu, rindo. – Estava me perguntando por que Billy estava agindo daquele jeito. - É mesmo. Ele não gosta dos Cullens, não é? - Velho supersticioso. Bom, ao menos Jacob Black não acreditava nas histórias de vampiro que Papai Black contava, mas era apenas uma questão de tempo. Resolvi dar outra olhada em Billy e Charlie. E se Billy contasse a Charlie que Bella estava andando com um Cullen, como Charlie reagiria? Bella seguiria as ordens do pai e se afastaria de mim? Parte de mim queria que isso acontecesse, seria o melhor pra ela... A outra parte estava em conflito com a primeira, desejando esse amor impossível mais do que qualquer outra coisa no mundo... Quem eu deveria ouvir? Bella já sabia dos meus segredos, dos meus pensamentos, já era parte de minha vida... Não, ela era minha vida. Eu seria forte o suficiente pra me afastar dela? Definitivamente não. Ela era a única coisa que fazia valer a pena minha permanência nesse lugar. - Hmm... Charlie – Billy começou – Como Bella está indo na escola? Já se enturmou com alguém? Ele estava mesmo decidido a contar pra Charlie. O jeito era esperar e torcer... Torcer pra que? Eu não queria que Bella se enturmasse com vampiros, mas também não queria me afastar dela... - Ela fez alguns amigos, sim. Creio que está começando a se enturmar... Ela tem falado muito com a Jessica, filha dos Stanley, e com o garoto dos Newton. Bons garotos, eles.


- Claro... “Vamos lá, Billy... Não vale a pena perder uma amizade por causa de um Cullen. Charlie já lhe disse coisas suficientes da última vez para você ter aprendido a lição: ele nunca acreditará nessa história. Mas Isabella terá de me ouvir. E ela irá me ouvir, mais cedo ou mais tarde.” Eu precisava fazer alguma coisa. Eu não podia permitir isso! Eu não iria deixar que ninguém influenciasse a opinião de Bella em relação a mim, ninguém! Corri para meu carro, e em alta velocidade voltei para casa. Eu precisava encontrar Carlisle, explicar o que tinha acontecido! Não me importava mais o trato, uma vez que um Quileute já havia quebrado as regras. Eu iria atrás desse Billy Black se fosse possível, diria a ele para deixar Bella em paz, para nos deixar em paz! Cheguei em casa, e nem me dei o trabalho de estacionar o Volvo na garagem. - E aí, cupido? Estava fazendo o que até agora, enterrando pedaços de Mike Newton ou acompanhando Bella ao hospital? – disse Emmett, querendo me provocar, mas eu não estava com um bom humor. - Não é hora pra brincadeiras, Emmett. Onde está Carlisle? - No escritório, Sr. Estressadinho... – ele voltou sua atenção para o jogo na televisão. “Garagens são feitas para estacionarmos os carros, não sei se você sabia disso...” Atirei minha chave nas mãos de Rosalie, com um olhar que a fez ficar quieta. Não estava com paciência para agüentar seu mau-humor, não agora que eu estava nervoso. Subi até o escritório de Carlisle. Ele estava sentado em sua mesa, lendo um livro, como sempre. Pela minha expressão, ele já sabia que viria alguma coisa. Contei a ele sobre o breve encontro com Billy Black, e como ele estava tentando influenciar as opiniões de Bella, seja através dele mesmo ou de seu filho. - Edward, você não deve perder a cabeça. – ele me respondeu calmamente, o que me deixou ainda mais nervoso – É óbvio que Billy Black está preocupado, ele é descendente direto de Ephraim Black, conhece o trato... Ele está cumprindo as ordens de seu antepassado, protegendo o povo de Forks contra a ameaça, mantendo o pacto... - Mas o filho dele, Jacob Black, já quebrou o pacto, Carlisle... - Sem saber... -... ele pode contar a Charlie, pode fazê-la se afastar de mim! - E o que é melhor, Edward? Considere os dois lados, o nosso e o dela... O que é melhor? Você conseguirá se controlar, Edward? - Por favor, Carlisle, nós já discutimos isso... - Eu sei. Só estou querendo te lembrar que está em suas mãos o destino de Isabella. Se algo der errado, e não posso descartar essa possibilidade, você não estará fazendo mal apenas para ela ou para Charlie... Você estará fazendo mal aos Quileutes e, indiretamente, a nós mesmos. Billy Black sabe o que está fazendo. Ele não irá contar a Charlie. Já tentou uma vez e não deu certo... ...E se você confiou que Bella não contaria nosso segredo a ninguém, confie nela agora. Saí da sala me sentindo pior do que eu já estava. Eu havia perdido o controle, eu não consegui me controlar diante da possibilidade de perder Bella... Eu sabia que podia confiar nela, mas não sabia se Jacob era digno de confiança. Um dia ele iria acreditar nas histórias de Billy. Será que ele, sendo amigo de Bella, poderia influenciá-la a ficar do lado dos Quileutes? Ela finalmente me veria como eu realmente era, um monstro? E se algum dia ela tivesse que escolher entre o lobo e o vampiro, quem ela escolheria?


De repente, algo passou pela minha mente... Como eu não havia pensado nisso antes? Mas será que era possível, depois de ter pulado Billy Black? Voltei ao escritório de Carlisle, talvez ele pudesse me responder... - Pois não, Edward? - Ahn... Estive pensando, Carlisle – eu não sabia por onde começar. – Lembra-se da primeira vez que estivemos aqui, o que aconteceu com Ephraim Black? - Claro que me lembro. Por quê? - Essa tradição... Esse gene... Bom, parece que ele não se manifestou em Billy. É possível que, com a nossa volta, o garoto Jacob... - Não só Jacob, Edward. Mas todos os garotos da reserva que são descendentes diretos da antiga matilha. - Mas isso é possível? - Receio que sim. - Devemos nos preocupar? - Enquanto mantivermos o pacto, não. E nós vamos manter o pacto, não vamos? - Claro... Obrigado, Carlisle. Desci as escadas e fui para o fundo da casa, perto da floresta. Carlisle confiava em mim, e eu não iria desapontá-lo. Não havia por que me preocupar, por enquanto... Ele dissera que a matilha poderia se formar novamente, apesar de eu ter achado que isso era impossível, achava que o gene se extinguira quando pulou uma geração. Eles estavam apenas seguindo o trato, protegendo as pessoas da verdadeira ameaça que rondava suas terras. E eu não iria dar-lhes motivos para começar uma guerra. “O pequeno Edward está sozinho, coitadinho... Bella o abandonou...!” Antes que pudesse xingar Emmett, algo duro como pedra me atingiu nas costas e me jogou nas árvores com tal força que derrubei duas delas. Mal tive tempo de me levantar, e ele me acertou de novo, dessa vez nas costelas, e senti o chão molhado em meu rosto. - Vamos lá, Senhor Estressadinho! Mostre-me a destruição! Não pude conter o riso... Então ele queria brincar? Antes que ele pudesse ver o que eu estava fazendo, derrubei-o no chão e ameacei arrancar sua cabeça. Com um sorriso malicioso, atirei-o contra as árvores, derrubando mais algumas delas. “Sorte a sua que está trovejando, cupido!” Ficamos nesse jogo por um bom tempo, talvez até umas 2h ou 3h da manhã. Ele podia ser mais forte, mas eu era mais rápido e descobria seus movimentos antes que ele os executasse. Quando eu disse que iria ver Bella, ele começou a cantar vitória. - Ah, pare de fingir! Pode dizer que você está com medinho desses músculos! – disse Emmett, beijando seus dois braços. - Narcisista... E não, eu não estou com medo dos seus músculos! Eu acabei com você, seja honesto! - O máximo que você destruiu, cupido, foram 17 árvores e minha camiseta novinha! Era presente da Rose! Ela vai me matar... E é tudo culpa sua! Segui para a casa de Bella rindo da situação em que tinha colocado Emmett, e fiquei lá até a hora em que ela acordou. Voltei pra casa e encontrei Alice me esperando em frente a porta de entrada. - Edward, tem certeza que irá com Bella no sábado? Por que se for, você precisa se preparar... Que tal caçarmos hoje? Aceitei a idéia sem pensar, afinal Alice estava certa. Ela gostava de Bella tanto quanto eu. Tudo bem, um pouco menos. E de um jeito diferente. - Já voltou, Edward? Achei que ia passar o dia lá... – Rosalie estava sentada no sofá, olhando uma revista de vestidos de casamento.


- Voltei por que senti saudades do seu ótimo humor de manhã, Rose... Onde está Emmett? - Costurando a camiseta que ele rasgou naquele joguinho infantil de vocês noite passada... Espero que ele aprenda a nunca mais estragar os meus presentes. Ah, não... Essa eu não poderia perder nunca! Entrei no quarto de Rosalie e deparei com Emmett sentado numa mesinha, com agulha e linha, tentando – sem sucesso – costurar a camiseta que havia ganhado de Rosalie. - Não... diga... nenhuma... palavra... ok? – ele frisou cada palavra, colocando nelas todo ódio possível. Diante disso, eu só pude rir. Segui novamente para a casa de Bella, dessa vez para pegá-la e irmos pra escola. O caminho inteiro foi preenchido pelas imagens de Emmett costurando a camiseta. Nessas horas eu gostava de Rose. Assim que entrei em sua rua, vi Charlie se afastando com o carro. Ele estava ocupado demais com o som da viatura para olhar pelo retrovisor. Parei em frente sua casa e, assim que desliguei o motor, Bella apareceu, sorrindo pra mim do jeito que eu mais amava... Era por esse sorriso que eu esperava todas as manhãs. Ela entrou no lado do passageiro e eu devolvi seu sorriso. - Como você dormiu? – perguntei. - Bem. Como foi sua noite? Pensei em Emmett lutando comigo, sua blusa rasgada e ele tendo que costurá-la... - Prazerosa. – Não consegui segurar meu sorriso. - Posso perguntar o que você fez? - Não. Hoje ainda é meu dia... E continuei com o interrogatório difícil pelo resto do primeiro tempo, perguntando sobre Renée, o que ela fazia, sobre seus amigos, seus antigos namorados... - Então você nunca encontrou ninguém que quisesse? – Perguntei. Já estávamos no intervalo pro almoço. Incrível como o tempo passava rápido quando estava com ela. - Não em Phoenix. – ela me respondeu, corando. Bom sinal? Ela me queria... De um jeito totalmente perigoso pra ela, mas me queria. Eu estava certo quando disse que ela conseguia atrair os perigos para si. Ela era um imã pro perigo. Ela era um imã do qual eu não conseguia me desviar. “Edward”, a voz irritante de Alice gritava na minha cabeça, se sobrepondo aos outros zumbidos que eu ignorava. “Ela já sabe que você vai sair depois do almoço?” Balancei minha cabeça de um modo imperceptível para olhos humanos. “Posso contar pra ela então?” Senti a euforia dela, era como uma criança prestes a conhecer Papai Noel. Lancei-lhe um olhar de “fique-onde-você-está” e voltei minha atenção para Bella. - Eu devia ter deixado você vir sozinha hoje. - Por quê? – A expressão dela era de alguém que acabava de receber a notícia de que seu melhor amigo ia embora da cidade. - Eu vou embora com Alice depois do almoço. - Oh... Está tudo bem. Não é uma caminhada muito longa daqui até em casa. – Ela me respondeu, parecendo desapontada. Eu não ia deixá-la ir sozinha pra casa! - Eu não vou fazer você andar até sua casa. Nós vamos pegar a sua caminhonete e vamos deixá-la aqui pra você. – Alice já estava cuidando disso. - Eu não trouxe as minhas chaves. – Ela suspirou. – Eu realmente não me importo de ir andando. Balancei a cabeça, discordando. - Sua caminhonete estará aqui, e a chave estará na ignição - a não ser que você tenha medo que alguém vá roubá-la. – Quem iria querer roubar aquela caminhonete? Sem querer ofender, seria prejuízo e perda de tempo.


- Tudo bem. – Ela se rendeu, mas havia um tom de desafio na sua voz. Ela realmente achava que eu não ia conseguir? “Lavanderia. No bolso de uma calça jeans clara, embaixo de várias blusas, no canto direito, perto da máquina de lavar.” A voz de Alice surgiu em minha mente outra vez, dessa vez com uma informação útil. “Você vai conseguir pegá-la, trazer a caminhonete a tempo e ainda arrumar a lavanderia! Queria estar lá pra ver isso...” Dei um sorrisinho malicioso para Alice, agradecendo a informação. - Então, pra onde vocês vão? – Bella perguntou. Não era fácil adivinhar? - Caçar. Se eu vou estar sozinho com você amanhã, eu vou tomar todas as precauções que puder. – Não vou permitir nenhum erro. Mas já estava cometendo um: acompanhando-a para um lugar deserto. – Você ainda pode cancelar, se quiser... Olhei pra ela, tentando captar qualquer emoção que fosse, mas ela não retribuiu meu olhar. - Não. Eu não posso. – ela sussurrou. - Talvez você esteja certa. Ela me olhava agora. Não sabia se o que eu via através de seus olhos era medo. Senti ódio de mim mesmo por fazê-la passar por tudo isso, por fazê-la conviver com um monstro. - Que horas eu te vejo amanhã? – Ela tentou mudar o assunto. - Depende... é sábado, você não quer dormir até mais tarde? - Não. – Ela respondeu prontamente, talvez temendo que eu desistisse da idéia. Bella bobinha... - A mesma hora de sempre, então. Charlie vai estar em casa? Essa era uma coisa que eu precisava saber. Se ele estivesse, eu deveria ter outro plano em mente. - Não, ele vai pescar amanhã. – ela respondeu, parecendo aliviada com isso. - E se você não voltar pra casa, o que é que ele vai pensar? - Eu não tenho idéia. Ele sabe que eu estava querendo lavar as roupas. Talvez ele ache que eu caí dentro da máquina. Como ela podia brincar com isso? A questão era séria. Ela estava entregando a segurança dela em minhas mãos, não era motivo para piadas. Fechei a cara pra ela, e ela tentou me imitar. No final, eu venci. - O que você vai caçar hoje? – Ela perguntou. Soava engraçado quando ela se referia desse jeito casual a minha maneira de me alimentar. - Qualquer coisa que encontrarmos no parque. Nós não vamos muito longe. – Se dependesse de Alice, isso seria rápido. - Porque você está indo com Alice? – Por essa eu não esperava. - Alice é a mais... – Irritante? Insistente? Chata? Hmm... melhor procurar outro adjetivo... – encorajadora. “Estou lisonjeada! Achei que você escolheria outro adjetivo um pouco menos gentil...” a voz irritante gritou novamente. - E os outros? O que eles são? Senti três pares de olhos me fitando. “Pense bem no que vai falar... Ela pode entender mal”, me disse Jasper. “Vamos ver se você tem coragem de dizer... Diga o que acha de mim! Essa humana é melhor que qualquer um de nós, claro...”, Rosalie... “Forte, lindo, sarado... E impaciente com essa conversa tola...” Emmett, ainda bravo comigo, com certeza. - Incrédulos, em grande parte. – Respondi finalmente, e pelo canto do olho os vi retomando suas posições.


- Eles não gostam de mim. - Não é isso... – tentei disfarçar. “É sim!”, ouvi Rose pensando. – Eles só não entendem porque eu não consigo te deixar sozinha. - Eu também não, por falar nisso. - Eu já disse, você não se vê com muita clareza. Você não é como ninguém que já tenha conhecido. Você me fascina. – tentei colocar nas palavras tudo aquilo que ela representava pra mim, como ela me encantava... Claro, não foram suficientes. Nem Shakespeare conseguiria descrever isso. – Tendo as vantagens que eu tenho – toquei minha testa para que ela entendesse – eu tenho uma compreensão melhor da mente humana. As pessoas são previsíveis. Mas você... você nunca faz o que eu espero. Você sempre me pega de surpresa. Ela desviou os olhos e passou a olhar para os quatro vampiros sentados na mesa mais distante do refeitório. - Essa parte é fácil de explicar. Mas tem mais... e isso não é fácil de explicar com palavras... Comecei a falar de como ela fazia eu me sentir único, especial, com um propósito que não era apenas matar... Ela me fazia sentir alguém. Ela me ensinou a amar, me deu forças pra suportar todas as provações a que eu estava sujeito... “Humana tola... Então ela não tem medo de encarar o bicho-papão? Veremos se ela terá coragem de me olhar nos olhos no dia em que eu perder minha paciência e enterrar meus dentes nesse pescoço...” - Rosalie. Eu disse tão baixo que nem Bella poderia escutar. Olhei para Rosalie e instintivamente um rosnado surgiu da minha garganta. Na mesma hora ela desviou o rosto dos olhos amedrontados de Bella. “Edward, isso vai acabar mal, escute o que estou te dizendo!”, ela continuou. “Me deixe acabar com isso de uma vez. Se você não está preocupado com a nossa segurança, eu estou!” - Eu sinto muito sobre isso. – me dirigi a Bella, ignorando os pensamentos de Rosalie. – Ela só está preocupada. Entenda... não é perigoso apenas pra mim se, depois de passar tanto tempo publicamente perto de você... Não consegui continuar. Eu não conseguia admitir que havia uma falha, e que havia uma grande possibilidade de falhar. - Se? – ela me encorajou. - Se isso acabar... mal. Todo o medo que eu estava lutando para manter escondido veio a tona. Medo de perdêla, medo de colocar minha família em risco. Medo de voltar a ser o que era antes, de decepcionar Carlisle... Bella parecia sentir minha dor. Vi-a estender a mão, e deixá-la cair no meio do caminho. Então, como que pra mudar o assunto, ela disse: - E você tem que ir agora? - Sim – Isso não ajudou muito... Eu não queria me afastar dela. – Provavelmente é o melhor a fazer. Nós ainda temos quinze minutos daquele filme inacabado de Biologia eu não acho que poderia agüentar mais. – Estava sendo sincero. Mais uma onda de eletricidade, e agarraria ela no meio da aula... Eu ri com esse pensamento. “Finalmente!” Ah, não... A voz irritante de Alice estava perto demais. Não me diga que... - Alice. – eu disse, sem desviar os olhos de Bella. - Edward. – “Está ficando bom nisso, hein? Deixe de ser mal educado e me apresente à Bella.”.


- Alice, Bella - Bella, Alice – eu respondi. A cena era cômica. - Olá, Bella! É bom finalmente te conhecer. Ah, faça-me o favor, Alice! Não comece... Lancei a ela um olhar sombrio, que eu tive certeza que ela ignorou. - Oi, Alice. – Bella respondeu, timidamente. - Já está pronto? – agora ela se dirigia a mim. - Quase. Eu te encontro no carro. Ela saiu. “Não demore.”. Irritante... - Eu devo dizer “divirta-se” eu seria o sentimento errado? – Bella perguntou, chamando minha atenção. - Não. “Divirta-se” funciona tão bem quanto qualquer outra palavra. – Eu sorri, pensando que talvez eu pudesse fazer um joguinho com Alice. - Divirta-se, então. – havia uma pontada de decepção em sua voz. - Eu vou tentar. E você tente se manter em segurança, por favor. – Eu estava sendo sincero. - Ficar segura em Forks - que desafio. – Ela brincou. - Pra você isso é um desafio. Prometa. - Eu prometo tentar ficar em segurança. – Ela disse, brincando. – Eu vou lavar roupa hoje á noite. Isso não deve oferecer nenhum perigo. - Não caia! – zombei. - Eu farei meu melhor. Me levantei para ir, e ela me acompanhou. - Te vejo amanhã. – ela suspirou. - Parece tempo demais pra você, não parece? – Eu disse, pensando que também seria tempo demais pra mim. Ela confirmou. - Eu estarei lá pela manhã. – Prometi e, depois de tocar seu rosto com minhas mãos e me esforçar para deixá-la, saí para encontrar Alice no estacionamento. Percebi que minha mão ficara quente no lugar em que eu havia tocado seu rosto. Era uma sensação ótima. Encontrar as chaves de Bella foi fácil. O chato foi arrumar a lavanderia para deixá-la no estado que eu tinha encontrado. Deixei o carro dela no estacionamento com um bilhete zombeteiro, mas ao mesmo tempo sincero: “Fique segura.” Encontrei Alice novamente em casa, os outros ainda não haviam chegado. Partimos logo, antes que eu pudesse me encontrar com Rosalie e discutir outra vez com ela. - Então, Alice, alguma previsão pra amanhã? – perguntei, assim que chegamos a um lugar bom para caçar. - Hmm... Tempo bom. Ensolarado, sem nuvens... – Engraçadinha... - Você sabe do que estou falando. - E você já sabe o que vai acontecer, Edward. Tudo vai correr bem. Você não confia em si mesmo? Pra ser sincero? Não. - Só queria tomar todas as precauções possíveis. Eu quero que ela fique bem. - E eu quero isso tanto quanto você. Alimente-se hoje mais do que o suficiente pra não sentir sede. Nada vai acontecer amanhã. “Não amanhã”, ela pensou, e me olhou com uma cara de quem se desculpa. Depois disso, ela perdeu o controle de seus pensamentos e me mostrou imagens que eu não queria ver. Bella deitada no chão, imóvel, sem vida, e eu ao lado do seu corpo, arrependido de ter perdido o controle... Depois, um Edward em pé, parado, mas cheio de


vida e com um sorriso enorme no rosto, enroscado em uma Bella de pele branca, olhos vermelhos, dura como pedra, linda de tirar o fôlego... - Não, Alice... Isso não pode... - Nós já sabemos o que vai acontecer, Edward. Pode não ser agora, mas vai acontecer. Mais cedo ou mais tarde. Empurrei o medo o mais fundo possível na minha mente e transferi toda a raiva que eu sentia de mim mesmo para minhas armas, cravando fundo meus dentes no pescoço de um cervo que passava por mim na hora errada. As coisas não seriam daquele jeito. Não se dependessem de mim.

15 – Preocupações. Alice e eu voltamos da caçada ainda de madrugada. Seguimos correndo pela floresta que ladeava Forks e, antes de ir para casa, resolvi fazer uma parada na casa de Bella. - Sessão diária de droga? – Alice me perguntou, zombando de mim, mas sem repreender meu ato. - E espero que nunca se esgote. Te vejo em casa? - Claro. Espere um pouco. Ela fechou os olhos e ficou imóvel por um momento, enquanto eu esperava embaixo da árvore que me daria acesso ao quarto de Bella. De repente ela abriu os olhos, e me olhou com profundo desapontamento, me repreendendo por algo que eu faria. - Por favor, melhore seu humor! Rose não está nada receptiva, depois de você ter defendido Bella. E se você continuar tão “estressadinho”, a parede dos fundos da casa vai ao chão, e Esme não ficará nada feliz... - Tudo bem, Alice! – eu respondi, rindo com a perspectiva de uma boa briga com Rose. – Prometo que irei melhorar meu humor. Até daqui a pouco. Virei-me para tomar impulso e subir até a janela do quarto de Bella. Entrei silenciosamente e a encontrei dormindo profundamente. Não sei quanto tempo fiquei ali, observando-a. Como Alice havia dito, ela era meu vício, algo sem o qual eu não sobreviveria. Corri os olhos pelo quarto procurando algum sinal de ataduras, pomada para queimadura, álcool ou algo do tipo, mas felizmente não encontrei nada. Ela havia seguido corretamente minhas instruções. Voltei para casa um pouco antes do amanhecer, assim que ouvi movimentos de Charlie no quarto ao lado do de Bella. Dentro de alguns instantes eu estaria com ela outra vez. Só nós dois. E eu poderia mostrar a ela como eu realmente era, não precisaria me esconder. Essa vontade de estar logo com ela me tomou por completo: eu corria cada vez mais rápido em direção a casa. E, como havia prometido a Alice, tinha melhorado meu humor. Nada de brigas com Rose hoje. Hoje. Assim que passei pela porta, vi Esme descendo as escadas e me abrindo um enorme sorriso acolhedor. Emmett estava nos fundos da casa, pelo que pude perceber dos barulhos de árvores sendo arrastadas pelo chão. Carlisle e Jasper estavam entretidos num jogo de xadrez. Nenhum dos dois se mexia: as únicas coisas que se moviam eram os lábios e as mãos de Alice, prevendo movimentos de Carlisle, e os olhos de Jasper pegando rapidamente todas as informações que Alice passava. Rosalie estava esparramada no sofá. Quando me viu, pulou rapidamente dele e foi se juntar a Emmett nos fundos da casa. Todos os olhares a seguiram e depois me fitaram. Alice disse, dando de ombros, para quebrar o clima: - Mau humor matinal.


“Não fale com ela!” Ela dirigiu seus pensamentos a mim. Ainda rindo com isso, subi as escadas e troquei de roupa. Jasper me encontrou em meu quarto minutos depois. - Hey! Emmett pediu pra te desejar boa sorte hoje. Ele queria vir pessoalmente, mas acho que Rose está mantendo ele como aliado. - Claro – respondi, rindo. – Ela não está de bom humor, não é? - Não, não está. Mas você tem que entender, Ed, ela está preocupada. Rose é a que mais se preocupa, e você sabe disso. Por favor, não deixe que nada aconteça. Não quero outra discussão aqui em casa – estremeci com essa lembrança – e não quero ter que ficar contra você outra vez. Olhei profundamente em seus olhos. Jasper, que sempre fora neutro nas discussões em relação à Bella, que sempre fez de tudo para proteger sua Alice, estava torcendo para que as coisas dessem certo. Eu não iria desapontá-lo também. - Eu não deixarei, Jazz. Eu prometo. Ele sorriu e saiu do quarto. Quase no mesmo instante, Alice apareceu, se atirando em mim e me dando um abraço forte. - Ah, Edward! – ela se desvencilhou e olhou profundamente em meus olhos; havia certa tristeza em seu olhar – Por favor, me escute! Eu sei que você não gosta dessa idéia, mas eu a amo, Edward! Eu já a amo como uma irmã... - Não, Alice, eu já lhe disse! – eu estava começando a ficar nervoso, eu realmente não gostava dessa idéia – Há outro caminho, tem que haver... - Não há como fugir, Edward! Você a ama, ela o ama... Nós já a amamos! – “Quase todos...” Ela emendou – Mantenha-a segura enquanto não chega a hora, por favor... É só o que te peço. Ela me enviou as imagens que eu havia visto há algumas horas – Bella morta e Bella vampira. - Não, Alice! Por favor, não faça isso... - Por mim, Edward. Por nós. E saiu da sala, me deixando praticamente aterrorizado. Olhei pela janela, já estava amanhecendo. Charlie já devia estar saindo pra pesca, eu estava atrasado. Desci as escadas. Carlisle e Esme estavam na sala, ambos sentados no sofá, assistindo os noticiários da TV. “Boa sorte, querido! Eu sei que vai dar tudo certo!” Esme pensou e veio em minha direção para me dar um abraço. “Eu confio em você, Edward.” Agora foi a vez de Carlisle. Eu estava feliz com os pensamentos positivos deles, mas as imagens que Alice me mostrara ainda estavam em minha mente quando atravessei a porta, corri de volta para a casa de Bella e dei uma batida leve na porta de entrada. Eu ainda estava pensando nelas quando ouvi alguém tropeçando nas escadas e se enrolando para abrir a porta. Assim que ela a abriu, todos os outros pensamentos fugiram de minha mente. Ela estava mais linda do que de costume... Cabelos lisos, vestida com um suéter, com a gola da camisa aparecendo, um jeans azul claro... Absolutamente estonteante. Mas parecia que eu já havia visto esse figurino em algum lugar... Comecei a rir quando descobri de onde. - Bom dia! – disse, ainda rindo. - Qual é o problema? – ela me perguntou, assustada, olhando pras suas roupas. - Estamos combinando. – respondi. Eu ainda a olhava, admirando-a. Ela começou a observar cada detalhe do meu corpo, passando desde meu pescoço (demorando-se um pouco mais em meu tórax) até os pés. Se eu pudesse corar, certamente coraria. Peguei um vislumbre de desapontamento


passar por seus olhos, antes que ela pudesse escondê-lo com um sorriso. Fiz alguma coisa de errado? Saí da frente da porta para que ela pudesse trancá-la e me virei para ir para a caminhonete. Ah... A caminhonete. Onde eu estava com a cabeça quando permiti que ela dirigisse essa lata-velha? Ah, claro... Estava em Bella. Parei perto da porta do passageiro, imaginando se tétano “mataria” um vampiro. Até chegarmos à clareira, já terá anoitecido. - Nós temos um acordo. – Ela me disse, passando por mim e entrando pelo lado do motorista. Entrei na caminhonete. Eu já havia experimentado a sensação de dirigi-la quando a levei para Bella na escola, mas agora era diferente. Eu estava no banco do passageiro e a motorista era uma garota que não gostava de velocidade e amava as leis de trânsito. Isso seria tortura. - Para onde? – ela perguntou, parecendo empolgada. - Coloque o cinto de segurança - eu já estou nervoso. - Para onde? – ela enfatizou mais as palavras, suspirando e me olhando feio. - Pegue a estrada um-zero-um para o norte. – Respondi. Pois é, Edward... Teremos que aceitar o martírio. Fiquei observando-a enquanto ela dirigia. Seu rosto passava de nervoso a envergonhado, e, quando isso acontecia, ela aumentava sua concentração, dobrando o cuidado na estrada. Ela não passava de 50 km/h. - Você estava planejando voltar a Forks antes do anoitecer? – eu disse, tentando provocá-la. - Esta caminhonete é velha o suficiente para ser avó do seu carro - seja paciente. Percebi que havíamos saído dos limites da cidade, mas apenas pelo canto dos olhos. Meu foco ainda era Bella. Seu cheiro se espalhava por toda a cabine da caminhonete, fazendo meu corpo reagir ao desejo. Eu era forte para agüentar o seu cheiro doce, eu sabia disso. As noites que passei em seu quarto, as horas que passávamos juntos, na escola ou no meu carro. Todos esses momentos me faziam forte. E eu ia provar pra todos – e a mim mesmo – que eu estava certo. - Vire a direita na um-dez – eu disse de repente, me tirando da distração. – Agora nós vamos até onde o asfalto termina. Depois de dizer isso, comecei a imaginar como Bella se sairia fazendo trilha. Se ela já era desastrada em um terreno plano, imagine em um lugar cheio de pedras e troncos de árvores... - E onde é que dá, quando o asfalto termina? – ela disse. - Numa trilha. - Nós vamos fazer uma caminhada? – Pude sentir uma leve pitada de preocupação em sua voz. Ah, não. Ela já havia percebido que fora um erro aceitar meu convite. O que mais eu podia esperar? Uma hora ela ia perceber quão perigoso era sair para fazer uma trilha, num lugar afastado da cidade, com um vampiro louco pelo sangue dela. Ela estava certa em sentir medo. Mas eu não queria perdê-la agora... Eu não queria perdê-la nunca! Mantenha a cabeça no lugar. Ela sabe o que é melhor pra ela... - Isso é um problema? - Não... – ela me respondeu nada convincente. - Não se preocupe. São só cinco quilômetros, e nós não estamos com pressa. Ela ficou em silêncio de repente. Sentia sua respiração irregular e seu batimento acelerado. Ela estava com medo, apesar de não demonstrar isso. Ela sabia que era loucura, e a qualquer momento ela pararia o carro e daria meia-volta. Ela entraria em


casa chorando, dizendo que nunca mais queria me ver. E nós teríamos que nos mudar outra vez, e eu sofreria com a dor de ter perdido a mulher que me ensinou a amar, antes mesmo de ter conseguido ganhá-la... Mas assim seria melhor pra ela. E se ela não desse meia-volta? E se ela fosse corajosa o suficiente pra enfrentar o monstro? As imagens de Alice invadiram minha mente outra vez, assim como suas palavras... “Pode não ser agora, mas vai acontecer. Mais cedo ou mais tarde”. Eu não conseguiria me controlar, eu era fraco! Eu preferia sofrer longe dela a fazê-la sofrer comigo. Eu não iria infligir essa vida de sofrimentos a ela, sendo que ela poderia ter uma vida melhor longe de mim... Mas e se ela não estivesse realmente com medo? E se ela realmente me amasse, assim como eu a ouvia dizer durante seu sono, assim como eu a amava? E se ela aceitasse trocar sua alma, sua vida, por uma quase vida ao meu lado? Não, eu não iria permitir isso. Olhei para ela novamente, desejando saber qual posição ela tomaria... E quanto mais desejava, mais frustrado ficava. Eu não havia me acostumado com o silêncio de sua mente. - No que está pensando? – disse finalmente, tentando esconder a frustração. - Só imaginando pra onde estamos indo – ela respondeu calmamente. Então ela ainda não queria fugir de mim. Ainda. - É um lugar pra onde eu gosto de ir quando o clima está bom – olhei pras nuvens no céu, apenas para constatar que elas estavam suaves, querendo sair de cena. Hoje faria um tempo agradável – aos humanos –, o que não era muito comum em Forks. - Charlie disse que hoje estaria morno... - E você contou ao Charlie o que ia fazer? - Não – Bom, achei que ela tivesse mudado de idéia. - Mas Jéssica acha que vamos pra Seattle juntos? – Para o bem dela, pelo menos alguém deveria saber que estávamos juntos, pro caso de alguma coisa sair errado... Não, melhor não pensar nisso. Jessica me ajudaria caso não desse certo, ela contaria para alguém, eu sofreria as conseqüências. - Não, eu disse pra ela que havíamos cancelado - o que é verdade. – ela disse de modo tranqüilo. Eu senti a raiva crescer em mim. Como ela podia fazer isso? Como ela podia ignorar a própria segurança? Eu estava fazendo um esforço enorme para mantê-la a salvo, mas quem seria louco o suficiente para confiar num monstro? - Ninguém sabe que você está comigo? - Isso depende... Eu acredito que você tenha contado pra Alice - Isso ajuda muito, Bella. – coloquei toda minha ironia possível nessa frase. Ela não respondeu. Como ela podia brincar com isso? Eu estava fazendo meu possível e – principalmente – meu impossível para mantê-la viva, para mantê-la bem, mas isso não era o suficiente! Ela devia ter um plano B, ter uma “carta na manga” caso as coisas não dessem certo. Eu não era confiável, será que ela não entendia isso? - Forks te deixa tão deprimida que agora você virou suicida? – eu não consegui conter a raiva. - Você disse que podia te causar problemas... nós sendo vistos juntos publicamente. - Então você está preocupada com o que pode acontecer comigo se você não voltar pra casa? Ela confirmou com a cabeça. - Não acredito nisso – murmurei tão baixo que ela não pode me ouvir.


Como ela podia confiar tão cegamente em mim? Eu não era um super-herói, meus poderes não eram usados para o bem! E o sangue dela... Mesmo se eu fosse um superherói, seu sangue nunca seria uma Kriptonita para mim. Ele não me destruiria, muito pelo contrário! Ele daria forças para esse monstro que vivia dentro de mim, ele alimentaria o verdadeiro Edward! Eu não era digno de sua confiança... Mas ao mesmo tempo eu precisava dela. Eu precisava saber que alguém ainda tinha esperanças em mim. E me odiava cada vez mais por isso. Em silêncio, chegamos ao fim da estrada. Eu avistei a conhecida trilha e ao lado o caminho que nos levaria até a clareira. Saí do carro, ainda com raiva de mim e um pouco de Bella, por ter confiado em mim tão cegamente. Estava mais quente agora – não que isso me incomodasse. Como ia andar pela mata, achei melhor tirar o suéter. Pelo canto do olho, vi que Bella também tinha tirado o seu. Eu não queria que ela visse o ódio em meus olhos, por isso foquei-os na floresta, procurando a entrada que nos levaria à clareira. - Por aqui – dei uma olhada por cima dos ombros, só para ter certeza de que ela estava me seguindo e entrei na floresta, ignorando a trilha. - A trilha... – sua voz tremeu com o medo. - Eu disse que tinha uma trilha no fim do caminho, não que íamos usá-la. - Sem trilha? – o desespero estava evidente em sua voz. Eu não consegui conter o riso. Ela realmente achava que eu ia deixá-la se perder? - Você não vai se perder – me virei para olhá-la, ainda sorrindo, e vi quando ela deixou escapar um suspiro. Ela estava seguindo os contornos de meu tórax e olhava constantemente para minha camisa quase aberta. Eu passei a olhá-la mais detalhadamente. Ela estava sem o suéter agora e sua camisa sem mangas marcava suavemente o contorno de seu corpo. Ela era linda... E queria ser minha. E eu a queria também. Mas estar com ela significava expô-la a perigos que ela nunca havia imaginado, e eu não era tão egoísta a ponto de deixá-la se machucar por minha causa. Ela devia estar pensando a mesma coisa, pois seu rosto expressava tortura, desespero... - Você quer voltar pra casa? – perguntei, querendo mantê-la livre do perigo que eu era, mas temendo que ela me respondesse que sim. - Não! – ela veio para meu lado. Isso mostrava que ela realmente queria ficar comigo. Bella, Bella, por que você me tortura assim? Por que eu não posso simplesmente saber o que você está pensando para tomar as decisões certas? - Então qual é o problema? – fui o mais gentil possível, tentando me redimir por ter sido tão grosseiro com ela instantes atrás no carro. - Eu não sou muito boa em caminhadas. Você vai ter que ser paciente. – era apenas isso que a incomodava? - Eu posso ser paciente... Se eu fizer um grande esforço. – sorri, tentando quebrar o clima. Ela me devolveu o sorriso, porém ele não chegou a seus olhos. Não, não era apenas isso que a incomodava. Ela, com certeza, também se preocupava em não voltar mais pra casa. Ela estava com medo, insegura, indecisa se era realmente isso que ela queria... E isso me machucou. Mas eu não podia continuar assim! Afinal, eu queria ou não que ela desistisse de mim? Eu iria lutar por seu amor ou por sua segurança? Vamos, Edward, hora de tomar uma decisão! Lembrei-me das palavras de Alice, Carlisle, Esme e Jasper: “Mantenha-a segura”, “Eu confio em você, Edward”, “Eu sei que vai dar tudo certo”, “Não deixe que nada aconteça”... Eu não iria desapontá-los. Eu iria mantê-la segura, iria mantê-la viva. Mas não deixaria de lutar por seu amor.


- Eu vou te levar pra casa – eu prometi mais a mim do que a ela. E eu iria cumprir essa promessa. - Se você quer que eu ande cinco quilômetros dentro da floresta antes que o sol se ponha, é melhor você começar a mostrar o caminho. Não consegui esconder minha curiosidade. Eu podia jurar que ela estava com medo. Se eu pudesse ao menos ler a mente dela... Eu nunca iria entendê-la plenamente, pelo jeito. Então comecei a guiá-la para dentro da floresta.Confirmei minhas suspeitas: ela era realmente desastrada. E, se é que isso era possível, ainda mais desastrada que o normal. Ocasionalmente eu tinha de segurá-la para que ela não caísse e se machucasse – eu não conseguiria me controlar se ela, de algum modo, se machucasse. Por isso evitei ao máximo que ela caísse, assim estava indiretamente zelando pela sua vida. Cada vez que eu tinha que tocá-la para evitar que ela caísse, meu corpo respondia ao toque de sua pele. Minhas mãos ficavam quentes e impregnadas com seu perfume quando eu tinha que tocá-la e eu sentia que meu coração podia voltar a bater a qualquer instante. Duas vezes pensei ter ouvido um coração acelerar e – confesso – me assustei. Depois percebi que era o coração de Bella que acelerava ao meu simples toque. Ri comigo mesmo. Para quebrar o silêncio, eu continuei com o interrogatório não terminado do decorrer da semana. Enquanto ela falava, meu corpo seguia automaticamente pelo caminho já conhecido entre as árvores. Eu pegava cada tom de sua voz e transformava em música em minha mente. Isso não era nem um pouco trabalhoso – sua própria voz era como música para mim, como tocar de sinos, como as notas mais suaves da canção que eu havia feito pra ela. Boa parte da manhã já se passara, o sol brilhava alto no céu. Eu podia ir correndo com ela, se quisesse, mas decidi começar devagar. Pensando bem, eu não sabia se brilhar no sol era começar devagar... Por sorte, as copas das árvores nos cobriam, evitando que ela corresse de mim antes de chegarmos à clareira. - Já chegamos? – ela perguntou certo momento, provavelmente impaciente com a demora. - Quase – olhei de esguelha em seu rosto. Ela estava fingindo estar brava. Ela era uma péssima atriz... – Está vendo a claridade ali na frente? Agora eu podia avistar a clareira. Faltavam apenas alguns metros... - Hmm... Eu devia? - Talvez seja cedo demais para seus olhos... – brinquei. Claro que ela não conseguia ver. - Hora de visitar o oculista. – ela entrou na brincadeira. Eu sorri, agradecendo por ela estar tão à vontade. Depois de alguns metros, eu já podia distinguir as flores da clareira e ouvir o som do rio que corria mais além. Percebi que Bella já conseguia avistar a luminosidade, pois seus batimentos aceleraram e ela saiu à frente. Eu a deixei passar. Ela estava curiosa, e eu sabia que ela não iria se decepcionar. O lugar parecia ter sido feito pra ela. Ela entrou na clareira e fiquei observando-a, encostado numa árvore, fora do alcance da luz. Ela olhava as flores, a grama e as árvores em volta com um olhar abobalhado, como os de uma criança que acaba de ganhar seu próprio jardim encantado, com direito a fadas e gnomos. Eu estava com medo de estragar essa euforia que ela havia sentido ao entrar na clareira. Eu não queria estragar seu jardim encantado com a entrada de um monstro. Parte de mim queria que ela ficasse entretida com as flores e as luzes e se esquecesse que um monstro havia prometido se revelar pra ela. A outra parte queria que ela me conhecesse a fundo, que ela soubesse mais a meu respeito, que ela me aceitasse e me dissesse que me amava, mesmo eu sendo um monstro...


De repente ela se virou, me procurando entre as sombras, com um olhar assustado. Quando me encontrou, seu olhar passou a interrogador e depois a convidativo. Eu ainda não tinha certeza se ela se acostumaria com o fato de que eu brilhava no sol, mas eu havia prometido. Ela deu um passo na minha direção, me incentivando, como se soubesse o que se passava em minha mente. Ela deu outro passo quando não respondi, sorrindo e me estendendo a mão. Era como se eu pudesse ouvi-la dizendo “Venha... não tenha medo!”. Acreditando que era realmente isso que ela queria dizer, estendi a mão pedindo para que ela ficasse onde estava. Respirei fundo pelo que me pareceu serem minutos, tomei coragem e entrei na luz do sol.

16 – A clareira. Bella não tinha ido embora, afinal. Nem havia demonstrado medo. Ao contrário, ela passou a tarde inteira me olhando com certa curiosidade. Quando me deitei na grama, ela permaneceu sentada ao meu lado, enrolada como uma bola, com a cabeça nos joelhos, sem tirar os olhos de mim. Eu não conseguia tirar os olhos dela também. Seus cabelos brilhavam no sol, assim como seus olhos, e o vento fraco soprava seu cheiro em minha direção – estava ficando mais fácil a cada instante. Eu sempre achei que aquele lugar era perfeito e que nada mais podia melhorá-lo. Eu estava errado. A clareira não era perfeita. Perto de Bella, ela não era nada. O sol batia em seus braços nus e os reflexos davam a impressão de que ela brilhava também, mas de um jeito diferente do meu. Seu brilho enchia a clareira. Quando Bella saísse dali, o vento provavelmente se acalmaria, as borboletas não mais sobrevoariam as flores e a beleza daquele lugar pareceria se extinguir, pois nada mais faria sentido se Bella não estivesse presente. Olhando sua perfeição, seus olhos, seus cabelos, sua pele macia, o vermelho que tingia levemente sua face e sua boca, a música que eu havia composto pra ela veio em minha cabeça... Eu comecei a cantá-la, baixinho, apenas pra mim, e fechei os olhos imaginando como seria se algum dia eu pudesse tê-la em meus braços. Imaginei essa mesma clareira... Eu estaria deitado no mesmo lugar, mas Bella estaria sobre meu peito, me abraçando forte. Eu iria afagar seus cabelos castanhos, sentiria seu cheiro e ele me traria um único desejo. Ela olharia pra mim, sorriria e nossos olhos se encontrariam por um momento... E no momento seguinte meus lábios encontrariam os dela e não haveria mais nada que pudesse nos separar. Seria tão bom sentir o seu toque quente em minha pele... Ela estava correndo o dedo pelas costas da minha mão. Ondas de calor invadiram minha pele, deixando um rastro de fogo por onde seu dedo passava. Não era assim que eu havia imaginado. Isso era ainda melhor. Abri meus olhos, e logo os seus também me olharam. Sorri diante da imagem de um anjo me olhando. - Eu não te assusto? – perguntei brincando, mas a curiosidade era real. - Não mais que o normal. Sorri pra ela. Não havia jeito dessa criatura perfeita e adorável ter sido feita pra mim. Ela agora passava as pontas dos dedos pelos contornos do meu braço, fazendo a sensação de fogo aumentar. Seu calor queimava a minha pele como eu nunca achei ser possível antes, e a sensação era maravilhosa... Fechei os olhos para me concentrar apenas em seu toque. - Você se incomoda? – ela perguntou hesitante. - Não – respondi, sem abrir os olhos. – Você não pode imaginar como isso me faz sentir...


Com as mãos ela contornava cada curva do meu braço, me queimando com seu calor. Logo meu corpo inteiro estaria em chamas. Imaginei que isso não seria impossível, tão grande era o calor que emanava de sua pele. Com uma de suas mãos, ela pegou a minha. Automaticamente, levantei-a querendo tocar seu rosto. Somente quando senti sua mão congelar na minha foi que percebi o que havia feito: eu não tinha controlado minha velocidade e nem minha força. Eu a tinha assustado. - Me desculpe – fechei meus olhos novamente quando ela me olhou, evitando que ela visse quão envergonhado ficara – É muito fácil ser eu mesmo quando estou com você. Ela levantou minha mão de novo e senti o calor cada vez mais forte em minha pele. Abri os olhos e a vi aproximando minha mão de seu rosto, que expressava certa curiosidade. Ela analisava cada parte de minha mão e eu analisava cada expressão em seu rosto, tentando decifrá-la, saber de onde e para que esse anjo tinha vindo me encontrar. Eu queria estender minha mão outra vez, tocar sua pele macia, ter a certeza de que ela era real. Segurando ao máximo o desejo de tocá-la, implorei: - Me diga o que está pensando – ela ergueu os olhos para mim – Ainda é estranho pra mim, não saber. - Sabe, o resto de nós se sente assim o tempo todo. – ela brincou. - É uma vida injusta – Me lembrei de suas palavras, no primeiro dia que nós conversamos: “Nunca te contaram? A vida não é justa” – Mas você ainda não me disse. - Eu estava desejando saber o que você estava pensando... – ela hesitou. - E...? - Eu estava desejando poder acreditar que você é real. E estava desejando não ter medo... Afinal de contas, ela estava com medo. Ela ouvia seus instintos, sabia que o predador estava perto e sentia medo. Ela estava certa, claro... Mas eu não queria que ela tivesse medo de mim. Eu estava sob controle agora, ela não precisava ter medo. Eu havia tomado uma decisão: eu lutaria por sua vida e por seu amor e eu queria que ela confiasse nisso, agora mais do que nunca. - Eu não quero que você sinta medo – eu disse num tom baixo, quase desejando que ela não percebesse que eu estava implorando isso a ela. - Bem, não é exatamente desse medo que eu estou falando, apesar de que isso realmente é algo em que eu devia estar pensando. Se não era medo de mim, do que era então? Da minha família, do meu mundo? Eu não podia ouvir uma mentira agora, então decidi usar meu “poder de deslumbrá-la” para obter a resposta. Num movimento rápido, sem tirar minha mão das suas, eu me apoiei no meu braço direito e me sentei. Nossos rostos estavam na mesma altura, a alguns centímetros de distância, e eu olhava profundamente em seus olhos castanhos. - Do que está com medo então? – eu sussurrei, colocando todo o doce possível na minha voz. Mas, no momento em que fiz isso, percebi que havia sido um erro. Ela tinha fechado os olhos e respirava profundamente meu hálito. Quando fez isso, ela trouxe, inconscientemente, seu rosto para mais perto do meu. Seus lábios estavam pertos, muito pertos. Eu podia sentir seu calor em meu rosto, podia sentir o gosto de sua boca na minha. Eu podia imaginar a sensação dos seus lábios nos meus. Só mais um pouco... Mais alguns centímetros e ela estaria em meus braços... Mas ela continuava se aproximando, e seu cheiro me levou a nocaute. Agora, não só meu rosto queimava, mas minha garganta também. Eu podia sentir seu gosto na minha língua, seu gosto doce, leve e que me faria tão bem. Ela não ia ver nada, iria ser rápido, eu a pegaria nos braços tão rapidamente que ela não teria como escapar. Só mais um pouco, Edward, você está


tão perto... Mais um pouco e você chegará à pele dela, tão fina e tão macia que se abrirá ao mínimo toque, e você terá o sangue dela... Afastei-me dela o mais rápido possível antes que o monstro resolvesse agir. Alguns segundos se passaram antes que ela percebesse o que tinha acontecido. Ela procurou pela clareira e me encontrou nas sombras das árvores, a alguns metros de distância dela. Ela agora sabia como eu tinha sido fraco, como eu quase quebrara a minha promessa de mantê-la segura, de levá-la pra casa! Havia dor e choque em seu rosto... Eu a tinha assustado, mais do que imaginara. - Me... desculpe... Edward – ela sussurrou. Não, eu não queria que ela colocasse a culpa em si mesma! A culpa não era dela, ela havia apenas seguido seus instintos, caído na armadilha do predador, e eu havia sido fraco! Eu mal tinha conseguido me controlar. - Me dê um momento – eu pedi. Eu precisava me acalmar antes de voltar pra perto dela. Eu não podia deixar o monstro acordado. Enquanto ele fosse sensível ao seu cheiro, eu estava suscetível a erros. Muito devagar para não assustá-la outra vez, voltei para o sol e me sentei a vários passos de distância, aonde seu cheiro ainda era fraco. O vento batia nela e trazia seu cheiro, mas isso era bom. Eu precisava me acostumar antes de chegar perto dela outra vez. Respirei fundo duas vezes antes de me desculpar. - Me desculpe – eu sorri. – Você entenderia se eu dissesse que sou apenas humano? A piada não deu muito certo. Ela estava muito assustada para rir, então apenas confirmou com a cabeça. - Eu sou o melhor predador do mundo, não sou? Tudo em mim é convidativo pra você minha voz, meu rosto, até o meu cheiro – eu podia sentir a raiva crescendo dentro de mim. Raiva de mim, de ser quem eu era, de ser uma máquina pronta para matar, de ser a maior ameaça da vida de Bella, a garota que eu mais amava! Eu senti ódio do assassino em que eu me tornara. – Como se eu precisasse disso! Coloquei-me em pé rapidamente e circulei a clareira em meio segundo, para mostrar-lhe minha velocidade. Parei um pouco longe dela, com medo que meu ódio me tomasse por completo e eu acabasse a assustando mais. - Como se você pudesse fugir de mim... Com uma das mãos, arranquei a árvore mais próxima mostrando a Bella a minha força, apesar de ela conhecê-la. Aproveitando o momento para extravasar a raiva, coloquei todo o ódio que eu podia em minha força e atirei a árvore do outro lado da clareira, acertando outra maior ainda e fazendo o chão sob nossos pés tremer. Enquanto ela observava a cena, me aproximei sem fazer nenhum barulho e disse o mais gentilmente que pude: - Como se você pudesse me vencer... Em seu rosto havia medo e, por mais estranho que parecesse, admiração. Eu sabia que a havia assustado, mas ela precisava ver o que eu era realmente. Eu precisava provar a ela que, se eu me deixasse levar pelos meus desejos, ela não teria como fugir de mim. ... Eu entenderia se ela saísse correndo, com medo de mim? Sim, eu entenderia. Mas não aceitaria perdê-la. - Não tenha medo – eu murmurei, implorando a ela que confiasse em mim – Eu prometo... – não, prometer não era o suficiente. – Eu juro que não vou te machucar. – Eu precisava me convencer disso primeiro antes de conseguir convencê-la. – Não tenha medo... Eu estava deliberadamente implorando, ela me tinha em suas mãos. O pássaro finalmente tinha controle total sobre seu predador... Eu me aproximei dela até nossos rostos estarem na mesma altura e mesma distância de antes. Senti o máximo possível de


seu cheiro, totalmente concentrado agora em não perder o controle. Não foi fácil... O monstro se mexia e revirava dentro de mim, mas eu fui mais forte. Eu estava me forçando a sentir seu cheiro para que pudesse me acostumar. Decidi ser o mais gentil possível, para que ela visse que eu podia mudar, e que ela era a razão por trás dessa mudança. - Por favor, me perdoe. Eu posso me controlar. Você me pegou de surpresa. Mas eu estou com o meu melhor comportamento agora. Ela não respondeu. O que eu tinha feito? Eu não queria assustá-la desse jeito... - Eu não estou com sede hoje, honestamente – pisquei pra ela. Ela riu, mas seu riso saiu tremendo. – Você está bem? – perguntei, e então levantei minha mão, lentamente outra vez para não assustá-la, e a coloquei sobre a sua. O calor me atingiu instantaneamente, e eu pude perceber com clareza o quão rude eu havia sido. Ela olhou para nossas mãos juntas, depois para meus olhos e novamente para minha mão, dando um sorriso tímido e voltando a acariciá-la, mandando choques por todo o meu corpo. Eu havia conquistado sua confiança. - Então, onde é que nós estávamos antes de eu me comportar tão rudemente? - Eu honestamente não me lembro... - Nós estávamos falando sobre porque você estava com medo, sem contar as razões óbvias – eu respondi ainda envergonhado de minha atitude. - Ah, certo. – ela ficou quieta. - Então? – eu pressionei. Ela ainda não respondia. Eu queria saber qual o motivo do seu medo e não queria que ela mentisse pra mim. Se eu pudesse ao menos ler sua mente, se eu soubesse exatamente do que ela tinha medo, eu saberia me controlar melhor. Eu faria qualquer coisa para mantê-la segura, para que ela não tivesse medo de mim. Mas tudo tem uma exceção... Por que a exceção tinha que ser justamente ela? - Como eu fico frustrado facilmente... – suspirei, tentando fazê-la falar. Deu certo. - Eu estava com medo... porque, bem, por razões óbvias, eu não posso ficar com você. E eu tenho medo de querer ficar com você, mais até do que eu devia. Ela estava sendo sincera comigo. Eu também devia total sinceridade a ela. - Sim... – concordei – Isso é algo pra se temer, realmente. Querer ficar comigo. Esse realmente não é o seu melhor interesse. – ela fez uma careta quando eu disse isso. – Eu já devia ter ido embora há muito tempo... Eu devia ir embora agora, mas eu não sei se consigo - Eu não quero que você vá embora. – ela retrucou. - E é exatamente por isso que eu devia ir. Mas não se preocupe. Eu sou uma pessoa essencialmente egoísta. Eu necessito demais da sua companhia para fazer o que eu devia. - Eu fico alegre. - Não fique! – retirei minha mão das suas, mais gentilmente dessa vez. – Não é apenas da sua companhia que eu necessito! Nunca se esqueça disso. Nunca se esqueça de que eu sou muito mais perigoso pra você do que pra qualquer outra pessoa. - Eu acho que não entendo o que você quis dizer... Sobre a última parte. Eu olhei para ela e sorri. Tinha me esquecido que não havia explicado pra ela como seu sangue praticamente cantava meu nome, me chamava... - Como eu vou explicar? E sem assustar você... Hmm. Resolvi brincar, tentar explicar de uma maneira diferente, mais descontraída. Eu coloquei, delicadamente, a minha mão de volta nas suas. Ela a apertou. As ondas de


eletricidade voltaram a percorrer meu corpo, juntamente com o calor. Eu respirei profundamente outra vez. Estava ficando mais fácil... - Isso é incrivelmente prazeroso, o calor... – eu disse. Pensei um pouco, tentando achar a melhor maneira de explicar. Não havia como não falar de comida. - Você sabe como as pessoas gostam de diferentes sabores? Como alguns gostam de sorvete de chocolate, outros preferem morango? – ela afirmou com a cabeça. Falar de comida não soava tão bem como eu imaginava... – Me desculpe pela analogia à comida. Eu não consegui pensar em outra forma de explicar. Ela sorriu, sem graça. Eu fiquei ainda mais sem graça que ela. Afinal, eu estava comparando-a a um sorvete... Ela era bem mais quente que isso. - Entenda, cada pessoa cheira diferente, tem uma essência diferente. Se você colocasse uma pessoa alcoólatra numa sala cheia de cerveja, ela beberia feliz. Mas ela poderia resistir, se ela quisesse, se ela fosse uma alcoólatra em reabilitação. Agora, digamos que você coloca nessa sala uma garrafa de Brandy de cem anos, o conhaque mais raro, mais fino, que enche a sala com o seu aroma - como você acha que ela reagiria? Nós ficamos em silêncio, nos olhando. Eu era o alcoólatra em reabilitação, mas que nunca experimentara o álcool. Não, esse exemplo não estava bom. Ela precisava entender que ela era minha droga, meu vício! - Talvez essa não seja a comparação certa. Talvez fosse fácil demais recusar o Brandy. Talvez o nosso alcoólico devesse ser um viciado em heroína... - Então, o que você está dizendo – ela brincou – é que sou sua marca preferida de heroína? – eu sorri. - Você é exatamente minha marca preferida de heroína. - Isso acontece sempre? Eu olhei para longe, pensando... Eu não queria contar a ela nossas experiências passadas, de como nós estávamos sujeitos a cometer erros, a ser fracos. Mas ela me pediu sinceridade e eu devia isso a ela. - Eu falei com os meus irmãos sobre isso... Pra Jasper, todos vocês são praticamente iguais. Ele foi o que se juntou á família mais recentemente. A abstinência já é difícil pra ele por si só. ... Ele ainda não teve tempo pra desenvolver o olfato, as diferenças no cheiro, no sabor. Opa. Eu não devia assustá-la. Olhei para ela, me desculpando. - Desculpe. – disse, envergonhado por me referir a ela como um simples alimento. - Eu não me importo – ela respondeu me incentivando a continuar – Por favor, não tenha medo de me ofender, ou me assustar, ou o que quer que seja. É assim que você pensa. Eu posso entender, ou pelo menos tentar. Me explique como puder. Eu respirei fundo e então continuei, com o máximo de cuidado possível. - Então Jasper não tinha certeza se já tinha cruzado com alguém tão... – procurei pela palavra certa. Como explicar como o sangue dela cantava pra mim? – atraente como você é pra mim, o que me faz acreditar que não. Emmett já está nessa há mais tempo, por assim dizer, e ele entendeu o que eu quis dizer. Ele disse que já aconteceu com ele duas vezes e, para ele, uma vez foi mais difícil que a outra. - E com você? - Nunca. Ela me olhava intensamente agora, e eu não soube interpretar o que passava pelos olhos. Curiosidade? Medo? Eu também estava com medo do que pudesse acontecer. Eu nunca havia passado por nada assim antes.


- O que Emmett fez? – ela perguntou. Eu não queria que ela perguntasse isso... Antes que pudesse controlar meus pensamentos, lembrei-me das imagens que havia visto na mente de Emmett... Cinqüenta anos atrás, uma mulher de meia idade tirava seus lençóis secos de um varal amarrado entre duas macieiras. Ele andava pela rua, totalmente distraído, para entregar um pagamento por parte de Rosalie. O cheiro de maçãs era forte no ar, assim como o cheiro da grama recém cortada no campo. Era fim de tarde, o céu estava púrpuro, laranja acima das árvores, a paisagem da perfeita harmonia. Ele teria continuado seu caminho e aquela teria sido apenas uma tarde qualquer, se a brisa não tivesse soprado os lençóis brancos e não tivesse trazido o cheiro da mulher até seu rosto... E a dor de Emmett era a mesma que a minha, a queimação em sua garganta era a mesma que eu sentia, se a minha ainda não fosse pior. Lembrei-me depois de suas palavras: “Eu sei. Eu não durei nem metade de um segundo. Eu nem pensei em resistir. Estou impressionado que você tenha resistido tanto tempo.” - Eu acho que já sei – Bella disse, quebrando o silêncio. Eu levantei meus olhos até os seus, e pude ver o reflexo de minha expressão tristonha e, ao mesmo tempo, agradecida por não precisar contar a história. - Até o mais forte de nós comete erros, não é? – eu disse. - Você está pedindo o que? Minha permissão? – sua voz tremeu levemente, provavelmente de medo. Antes que eu pudesse responder, ela disse mais calmamente – Eu quero dizer, não existem esperanças, então? Arrependi-me na mesma hora de ter falado a verdade. Ela estava discutindo a morte dela? Não era isso que eu queria dizer, eu devia ter mentido! Eu não iria matá-la. Eu estava me acostumando com seu cheiro, eu estava me tornando quase dependente dele, mas não da mesma maneira! Eu podia, com algum esforço, ignorar a queimação em minha garganta, me manter focado. - Não, não! É claro que há esperança! Digo, é claro que eu não vou... – eu tentei me redimir, explicar que eu estava me esforçando por ela, por seu amor, mas as palavras estavam enroscadas em minha garganta. Ela olhava intensamente em meus olhos – É diferente conosco. Emmett... Aqueles eram estranhos que cruzaram o nosso caminho. Foi há muito tempo e ele não tinha tanta... prática e cuidado que tem hoje. – eu fiquei observando-a enquanto ela absorvia minhas palavras. - Então, se tivéssemos nos conhecido num beco escuro ou alguma coisa assim... – sua voz ainda tremia. Ela estava pedindo minha sinceridade e eu iria dar-lhe isto. Ela devia saber como seu cheiro me afetara naquele primeiro dia, como eu tive de me segurar ao máximo para não fazer nenhuma besteira, nas milhares de maneiras de ficar sozinho com ela que passaram pela minha cabeça. Não ia ser fácil, mas eu explicaria. - Eu fiz tudo o que podia pra não pular em você no meio de uma sala cheia de crianças e... – eu precisava continuar. Respirei fundo, sentindo outra vez o seu cheiro, me forçando a resistir, e continuei. – Quando você passou por mim, eu podia ter arruinado tudo o que Carlisle construiu pra nós, lá mesmo. Se eu não tivesse renegado a minha sede pelos últimos anos, eu não teria sido capaz de me refrear. – Eu parei para respirar seu cheiro outra vez, e me veio a lembrança do primeiro dia de aula; seu rosto angelical passara de ansioso a amedrontado em poucos segundos, e ele refletia a imagem do monstro que ela via em mim. Eu ainda lembrava da queimação em minha garganta, do gosto do veneno em minha boca e o fluxo de sangue em seu rosto, que não havia me ajudado em nada... Olhei pra ela novamente – Você deve ter pensado que eu estava possuído. - Eu não conseguia entender por quê. Como você poderia me odiar tão rapidamente...


- Pra mim, era como se você fosse uma espécie de demônio, reunindo forças do meu próprio inferno pra me destruir. – eu tentei explicar sendo o mais gentil possível – A fragrância que saia da sua pele... eu pensei que ia me deixar desarranjado naquele primeiro dia. Naquela uma hora, eu pensei em milhões de formas de te tirar da sala comigo, pra que ficássemos sozinhos. E eu lutei com esses pensamentos, pensando na minha família, o que eu podia causar pra eles. Eu tive que sair correndo, pra sair de perto de você antes de te dizer as palavras que fariam você me seguir... Inconscientemente, lembrei dos meus planos de me apresentar a ela... “Olá, meu nome é Edward Cullen. Posso te acompanhar até a sua próxima aula?” Obviamente, ela seria educada o bastante para dizer sim... E eu iria guiá-la para a direção errada, para o pedaço de floresta no fundo do estacionamento, dizendo que havia esquecido meus livros no carro... Ninguém nunca reconheceria dois vultos de capa na chuva forte. Ri sem nenhum humor. - Você teria vindo. – continuei. - Sem dúvida. – ela confirmou. - E então, enquanto eu tentava refazer o meu horário numa tentativa inútil de te evitar, você estava lá, naquela sala pequena, quente, o seu cheiro era enlouquecedor. E então eu quase te ataquei lá. Só havia outra frágil humana lá, fácil de lidar... – Lembrei-me do monstro em que eu havia me tornado; por pouco não havia matado Sra. Cope e Bella, no mesmo dia... Carlisle não teria gostado nada daquilo. – Mas eu resisti. Eu não sei como. Eu me forcei a não te esperar, a não seguir você depois da escola. Foi mais fácil do lado de fora, quando eu não conseguia mais sentir o seu cheiro, eu consegui pensar claramente, tomar a decisão correta. Eu deixei os outros perto de casa, eu estava envergonhado demais pra contar pra eles o quanto eu era fraco, eles só sabiam que algo estava muito errado. Eu fui direto até Carlisle, no hospital, pra dizer pra ele que estava indo embora... Eu estava envergonhado com a minha fraqueza... Alice e Carlisle tinham me entendido, mas não queriam que eu fosse embora. Eu também não queria ir, mas eu precisava. Por mim, pela minha família, por Bella. “Você vai fazer a coisa certa”, Alice dissera. E, no fundo, eu queria fazer a coisa certa. - Eu troquei de carro com ele – continuei – o dele estava com o tanque cheio e eu não queria parar. Eu não queria ir pra casa, para enfrentar Esme. Ela não me deixaria ir sem fazer uma cena. Ela teria tentado me convencer de que não era necessário... E na manhã seguinte eu já estava no Alaska. Eu fiquei lá dois dias, com alguns conhecidos, mas fiquei com saudades de casa. Eu detestava saber que estava machucando Esme, e o resto deles, minha família adotiva. No ar puro das montanhas era difícil de acreditar que você fosse tão irresistível. – “Eu acho que você vai voltar.”, Tanya dissera, “Não importa o que seja ou quem seja que está machucando você. Você vai enfrentar isso” – Eu me convenci de que era um fraco por ter fugido. Eu lidei com a tentação antes, não nessas proporções, nem perto disso, mas eu era forte. ... Quem era você, uma garotinha insignificante pra me afastar do lugar onde eu queria estar? Então eu voltei... Eu parei para sentir seu cheiro outra vez. Respirei fundo e ele me invadiu, mas dessa vez a queimação diminuiu. Eu estava me acostumando outra vez. Respirei outra vez, sentindo o calor que descia levemente pela minha garganta, e continuei: - Eu tomei precauções, caçando, comendo mais do que o normal antes que ver você de novo. Eu tinha certeza de que era forte o suficiente pra ter tratar como qualquer outra humana. Eu estava sendo arrogante. Era inquestionavelmente uma complicação não poder simplesmente ler a sua mente pra saber o que você pensava de mim. Eu não


estava acostumado a ser tão indireto, escutando as suas palavras pelos pensamentos de Jessica... A mente dela não é muito original, e era irritante ter que me manter preso aquilo. – Se eu pudesse, eu me arrepiaria... A mente de Jessica me dava nos nervos. – E depois eu não sabia se você realmente estava pensando as coisas que estava dizendo. Tudo era extremamente irritante. Outra coisa que me irritava – o silêncio da mente de Bella. Combinado com a mente fraca de Jessica e com o pensamento de que eu era fraco pra resistir ao sangue humano, eu não estava com o humor muito bom naqueles dias. - Eu queria que você esquecesse o meu comportamento no primeiro dia, se possível, então eu tentei falar com você como eu falaria com qualquer pessoa. Eu estava ansioso na verdade, esperando decifrar os seus pensamentos. Mas você era interessante demais, eu me vi vidrado nas suas expressões... E de vez em quando você esporeava o ar com o cabelo ou com as mãos, e o cheiro me pegava de novo... Eu respirei fundo outra vez... Deus, como estava ficando mais fácil! - É claro, depois você quase foi espremida até a morte diante dos meus olhos. – eu continuei – Depois eu pensei na desculpa perfeita pra ter feito o que eu fiz naquele momento, porque se eu não tivesse te salvado, seu sangue teria se esparramado bem na minha frente, eu não acho que teria conseguido evitar e teria exposto a nós todos. Mas eu só pensei nessa desculpa depois. Naquela hora, tudo o que eu conseguia pensar era “Ela não”. Eu fechei meus olhos e respirei seu cheiro outra vez. Me veio à mente a imagem do rosto vidrado de Alice naquele dia e o seu grito de “Não!” que, se pudesse, teria congelado meu sangue... Eu tinha achado que o problema era eu, que eu iria ser o vilão da história, que eu seria fraco e iria matá-la. Mas – quem diria – a história tinha saído às avessas. Eu tinha criado um vínculo tão forte com ela que meu instinto protetor falou mais alto naquele dia. Eu tinha sido, pela primeira vez na minha existência, o herói. - No hospital? – ela perguntou, com a voz fraca. Eu não queria continuar, tinha medo de deixá-la com medo de novo. Mas encontrei forças pra continuar. - Eu estava intimidado. Eu não conseguia acreditar que tinha exposto a nós todos daquela forma, me colocado na sua mão - você entre todas as pessoas. Como se eu precisasse de outro motivo pra te matar... – Enrijeci quando a palavra saiu. – Mas teve o efeito oposto. A lembrança de nossa última briga veio em minha mente, antes que eu pudesse evitá-la. Jasper e Rosalie queriam matá-la de qualquer jeito, prometiam não deixar evidências... Emmett ficou ao lado de Rosalie quando ela disse que não queria se mudar outra vez. Carlisle ficou do meu lado, dizendo que queria que sua família continuasse digna. Esme apenas me disse para ficar, ela me apoiaria em qualquer decisão que eu tomasse. E Alice... Alice teve uma visão. Disse que eu me apaixonaria por Bella – nisso ela estava certa, eu estava mesmo apaixonado – e que ela se tornaria vampira... Eu respirei outra vez, tentando não pensar nisso. - Eu briguei com Rosalie, Emmett e Jasper quando eles sugeriram que essa era a hora... Foi a pior briga que já tivemos. Carlisle ficou do meu lado, e Alice... – era melhor não dizer nada a ela. Eu sabia que isso não ia acontecer, afinal – Esme me disse pra fazer o que eu tivesse que fazer pra ficar. “No dia seguinte eu espionei as mentes de todas as pessoas que falavam com você, chocado por você ter mantido sua palavra. Eu não entendia nem um pouco. Mas eu sabia que não podia me envolver nem mais um pouco com você. Eu fiz o que pude pra


ficar tão longe de você quanto era possível. E todos os dias o perfume da sua pele, sua respiração, seu cabelo... tudo era tão apelativo quanto no primeiro dia. Eu olhei nos seus olhos assustados agora. Eu finalmente havia enxergado a verdade. Eu não estava apenas apaixonado por ela. Eu a amava mais do que qualquer coisa no mundo. E eu não suportaria perdê-la. - E por tudo isso, eu teria feito muito melhor se eu tivesse exposto a todos nós naquele primeiro momento, do que aqui, sem testemunhas e ninguém pra me parar se eu te machucasse. - Por quê? – ela perguntou, olhando em meus olhos. - Isabella – pronunciei seu nome cuidadosamente, com todo amor que eu podia e comecei a brincar com seu cabelo com minha mão livre. Um choque correu pelo meu corpo com a aproximação de seu rosto. – Bella, eu não conseguiria viver comigo mesmo se eu te machucasse. Você não sabe como isso me torturou – desviei meus olhos dos seus, temendo que ela visse em meus olhos a veracidade do que eu diria - O pensamento de você, rígida, branca, fria... Nunca mais ver você ficar corada de novo, nunca mais ver esse flash de intuição que passa nos seus olhos quando você desvenda uma das minhas pretensões... Isso seria insuportável – levantei meus olhos agora e a olhei da maneira mais profunda que consegui, dessa vez querendo que ela visse quão verdadeira era minha declaração - Você é a coisa mais importante pra mim agora. A coisa mais importante que eu já tive. Seus olhos queimavam nos meus enquanto ela absorvia minhas palavras. De repente ela baixou seus olhos, passando a olhar para nossas mãos juntas, e disse: - Você já sabe como eu me sinto, é claro. Eu estou aqui... Que, traduzindo, significa que eu preferiria morrer do que ficar longe de você. – ela fez uma careta – Eu sou uma idiota. - Você é uma idiota. – eu concordei, e nós dois rimos com a idiotice do nosso momento perfeito. “Então o leão se apaixona pelo cordeiro... Ela baixou os olhos... Por quê? Eu queria ver sua reação, ler em seus olhos se isso era um erro ou não... - Que cordeiro idiota – ela sussurrou. - Que leão doentio e masoquista. – eu respondi, e minhas próprias palavras me trouxeram a verdade. Eu estava me machucando, me torturando, para mantê-la a salvo e ficar ao lado dela. Mas não me importava. Se eu precisava me machucar para ter seu amor, eu me machucaria quantas vezes fossem necessárias. - Por que...? – ela começou, mas parou no meio da frase. - Sim? – eu incentivei. - Me diga por que você corria de mim antes. - Você sabe porquê. – Ela não tinha entendido? - Não, eu digo, o que exatamente eu fiz de errado? Eu terei que ficar de guarda, sabe, pra aprender melhor o que eu devo fazer. Isso, por exemplo – ela alisou as costas da minha mão, enviando novas ondas de choque pelo meu corpo – parece ser normal. Eu sorri. Ela achava que era culpa dela, mas na verdade a culpa era minha. Eu tinha sido fraco... - Você não fez nada de errado, Bella. Foi minha culpa. - Mas eu quero ajudar, se puder, pra não fazer isso ser ainda pior pra você. – Meu anjo, minha vida, meu sol! Ela me surpreendia a cada segundo. - Bem... É só que você estava muito perto. A maioria dos humanos é instintivamente tímida perto de nós, são repelidos pela nossa alienação... Eu não estava esperando que


você chegasse tão perto. E o cheiro da sua garganta... – Eu parei. Ok, Edward, controlese ou vai assustá-la. - Tudo bem, então – ela disse, alegremente. – Nada de expor a garganta. Com essa eu tive que rir. Eu estava imensamente aliviado por ter contado tudo e por não tê-la feito sair correndo. - Não, de verdade, foi mais a surpresa do que qualquer outra coisa. Eu aproximei minha mão de seu pescoço, tocando-o levemente. - Viu? – eu disse – Perfeitamente normal. Por baixo de sua pele, eu podia sentir seu sangue pulsar. Ele corria em suas veias num ritmo rápido, acelerado. Respirei profundamente outra vez, forçando-me a me controlar. Ela ajudou corando instantaneamente. O monstro estava a ponto de acordar, mas eu o forcei a continuar dormindo, observando o quão adorável meu anjo ficava quando corada. O que antes seria tortura pra mim, agora era apenas uma leve distração. - As suas bochechas coradas são adoráveis... – eu disse e, por mais impossível que parecesse, ela corou ainda mais. Eu estava sob controle e sabia disso. Então resolvi me testar mais uma vez. Da última vez que fiquei perto demais de seu rosto, eu não tinha conseguido me controlar, ainda estava vulnerável. Mas dessa vez eu estava decidido, eu tinha certeza do que eu queria e do que eu iria fazer e, principalmente, do que não iria acontecer. Soltei a minha mão que ela ainda segurava e afaguei suas bochechas, delicadamente, sentindo em cada partícula de minha pele o seu calor. Imediatamente, as ondas de choque me invadiram, provocando um prazer incrível. Movi minha outra mão para seu rosto, segurando-o entre minhas mãos. - Fique bem parada – eu disse, e ela congelou imediatamente. Eu não queria cometer erros, então me aproximei o mais lentamente que eu pude, sem tirar meus olhos dos seus, respirando seu cheiro e sentindo o calor em minha garganta. Depois, aproximei meu rosto de seu pescoço e pude sentir seu sangue correndo acelerado sob sua pele. Respirei várias vezes, sentindo seu cheiro o máximo que podia. O calor de sua pele e o seu cheiro me tomaram por completo, me deixando totalmente embriagado. Com exagerada lentidão, movi minhas mãos de seu rosto a as pousei delicadamente em seu pescoço. ... Ela tremeu com o movimento, e eu congelei instantaneamente, com medo de assustá-la. Ela não se moveu, e eu continuei movendo minha mão até seu ombro. Virei meu rosto de lado e comecei a sentir o cheiro de sua clavícula, onde era mais concentrado. Depois, desci meu rosto para ouvir onde o maior fluxo de sangue corria em seu corpo: seu coração. - Ah... – suspirei. Não sei quanto tempo ficamos assim. Nem os relógios do céu poderiam ter marcado esse tempo infinito e breve. Poderiam ter sido horas, ou apenas minutos, mas isso não importava. Ela estava comigo, e eu não ligava pro resto do mundo. Sua pulsação agora estava calma e, se eu pudesse, teria dormido em seu colo e desejado passar o resto da eternidade assim. Eu estava feliz, estava bem comigo mesmo por ter conseguido resistir, por ter colocado meu amor e a proteção de Bella acima do que eu era. Eu conseguia sentir o calor em meu rosto, onde sua pele havia me tocado. Seu calor corria por todo meu corpo. Eu me levantei, querendo olhar para o seu rosto outra vez. - Não vai mais ser tão difícil – eu garanti a ela, sem conseguir esconder minha felicidade. - Foi muito difícil para você? – ela perguntou.


- Nem de perto foi tão difícil quanto eu imaginei que seria. E você? - Não, não foi ruim pra mim. Eu sorri. - Você sabe o que eu quero dizer. Ela sorriu de volta. Seu sorriso era maravilhoso... Ela era perfeita sob todos os aspectos. Alguém devia ter se enganado lá em cima, eu não tinha como merecê-la. - Aqui – eu disse, tomando sua mão e a colocando sobre meu rosto. Seu simples toque enviou mais ondas de eletricidade em minha pele. Meu Deus, eu nunca me acostumaria com isso? – Você sente como está quente? Ela começou a alisar meu rosto e a sensação foi ainda melhor. Eu nunca imaginei que pudesse me sentir assim. - Não se mova – ela sussurrou. Eu sorri. Agora era a vez dela. Fechei os olhos e esperei por seu toque. Ela acariciava minha bochecha, meu olhos, traçava os contornos de meu nariz. ... ... E a cada movimento eu recebia novas ondas de calor e eletricidade. Mas nenhuma se comparou a quando ela tocou meus lábios com os dedos. Eu os abri inconscientemente, imaginando como seria se, ao invés de seus dedos, eu pudesse ter seus lábios tão próximos dos meus. Eu iria me comportar devidamente, agora que eu estava sob controle? Eu queria muito tocar seus lábios, poder abraçá-la, sentir o calor que saia de sua pele... Mas antes que eu pudesse considerar essa hipótese, ela se afastou. Eu abri meus olhos e encontrei os seus me observando. Eles expressavam o mesmo prazer que eu sentia. Eu conseguia ouvir seu coração acelerando novamente. - Eu queria... – eu disse – Eu queria que você sentisse a... complexidade... a confusão... que eu sinto. Queria que você pudesse entender. Espalhei seu cabelo cuidadosamente ao redor de seu rosto, ao mesmo tempo em que a brisa me mandava seu cheiro. - Me diga – ela pediu. - Eu não acho que posso. Eu já te disse, de um lado a fome - a sede - que essa criatura deplorável que sou sente por você. E eu acho que você consegue compreender isso, de certa forma. Apesar de que – eu sorri – Como você não é viciada em nenhuma substancia ilegal, você provavelmente não pode enfatizar completamente. Mas... – eu toquei seus lábios ao falar e a senti tremer – Existem outras fomes. Fomes que eu nem sequer entendo, que são estranhas pra mim. - Eu acho que entendo isso melhor do que você imagina. - Eu não estou acostumado a me sentir tão humano. É sempre assim? - Pra mim? – ela pausou – Não, nunca. Nunca antes disso. Segurei suas mãos entre as minhas, sentindo o calor - Eu não sei como ficar perto de você. Eu não sei se consigo... Ela se aproximou, segurando meus olhos nos dela. Lentamente, ela colocou seu rosto no meu peito, ouvindo o silêncio. - Isso é suficiente – ela suspirou. Eu não consegui mais resistir. Abracei-a e apoiei meu rosto em seu cabelo. Era a primeira vez que eu a abraçava, que eu realizava um desejo a muito escondido em mim. - Você é melhor nisso do que eu pensava – ela me disse. - Eu tenho instintos humanos. Eles podem estar escondidos no fundo, mas estão lá. Ficamos abraçados assim pelo que pareceram ser horas, até que perdi a noção do tempo. Eu não me importava de ficar assim pra sempre com ela, mas eu tinha que lembrar que


ela era humana e não tinha a eternidade pela frente. O céu estava começando a escurecer, era hora dos humanos irem para casa. - Você tem que ir – eu disse. - Pensei que você não podia ler minha mente. - Ela está começando a ficar mais clara. – disse, rindo. Olhei pro céu, já estava anoitecendo. Não conseguiríamos chegar em casa a tempo. A não ser que... - Eu posso te mostrar uma coisa? – perguntei, uma idéia repentina surgindo em minha mente. Era a única coisa que ainda não havia mostrado pra ela. - Me mostrar o que? - Como eu ando pela floresta – Sua expressão era de alguém que tinha acabado de encontrar um lobisomem. Certo, essa foi uma péssima comparação – Não se preocupe, você estará segura, e chegaremos na sua caminhonete muito mais rápido. – Melhor do que torcer pra que ela não caísse e se machucasse. Afinal, eu estava sendo cuidadoso... - Você vai se transformar num morcego? – ela perguntou brincando. - Como se eu nunca tivesse ouvido essa antes! – Eu não consegui esconder meu riso. Ri mais alto do que pretendia, mas era muito fácil ser espontâneo com ela. - Claro, eu tenho certeza que você ouve isso o tempo todo... - Vamos lá, pequena covarde, suba nas minhas costas. Ela esperou, olhando pra mim com cara de quem não estava acreditando. Eu sorri diante da sua covardia. Depois de tudo que eu tinha feito, ela estava com medo de subir nas minhas costas? Eu a peguei e, instantaneamente, seu coração acelerou. Coloquei-a nas minhas costas e ela se agarrou tanta força que, se pudesse, teria me sufocado. - Eu sou um pouco mais pesada do que a sua bagagem normal – ela disse. - Hah – brinquei, revirando os olhos. ... Pra quem tinha arrancado uma árvore com raiz e tudo e atirado-a do outro lado da clareira, derrubando outra no chão, ela não pesava nada. Se eu não sentisse seu cheiro, o calor e a eletricidade saindo de sua pele, não notaria que ela estava agarrada em mim. Peguei sua mão delicadamente e respirei outra vez o seu cheiro... Ele agora fazia cócegas em minha garganta. - Cada vez fica mais fácil – eu disse, e comecei a correr pela floresta. As árvores passavam velozes por nós e o vento sibilava em meus ouvidos. Eu não conseguia mais ouvir a respiração de Bella, mas sentia seu coração batendo freneticamente contra as minhas costas. No meio da corrida, enquanto as árvores passavam por mim, eu tive uma idéia que enviou outra onda de choque por meu corpo com o simples pensamento. Se eu era forte o suficiente para tê-la tão perto, e se...? Mas logo estávamos de volta a caminhonete. Mal se passaram minutos. - Divertido, não é? – perguntei, enquanto esperava ela descer. Ela não se mexeu. - Bella? – perguntei outra vez, um pouco assustado. - Eu acho que preciso me deitar agora. – ela estava com a voz fraca, provavelmente estava tonta com a corrida. - Oh, desculpe. – eu disse, e esperei ela descer de minhas costas. Ela ainda não havia se mexido. - Eu acho que preciso de uma ajudinha... Sorri pra mim mesmo e ajudei-a a descer, deitando-a na grama. Ela não agüentava nem uma corridinha? Sensível... - Como você se sente? – perguntei, agora realmente preocupado com ela.


- Tonta, eu acho. - Ponha a cabeça entre os seus joelhos – eu disse, enquanto me sentava a seu lado. Ela fez isso, e respirava a intervalos regulares. Os segundos se passaram e minha cabeça ficou livre pra pensar. Eu era forte o suficiente. Fui forte para sentir seu cheiro em sua pele o dia todo, ouvir e sentir o fluxo de sangue correndo em alta velocidade por suas veias, tê-la em meus braços sem machucá-la... Eu era forte, afinal. Então acho que não haveria mal nenhum se eu tentasse... Olhei para ver se ela estava melhor, e ela havia levantado a cabeça, mas mantinha os olhos firmemente fechados. - Eu acho que essa não foi a melhor idéia. – disse, zombando. - Não, foi interessante. – ela respondeu, nem um pouco convincente. - Hah! Você está branca feito um fantasma! Não, você está branca que nem eu! - Eu devia ter fechado os olhos. - Lembre-se disso na próxima vez. - Próxima vez! – Ela gemeu, ainda de olhos fechados. Ri de seu medo. Eu tinha que tentar agora. Eu ia tentar. Aproximei-me dela o mais silenciosamente que pude até estar a centímetros do seu rosto. - Exibido – ela sussurrou. - Abra seus olhos, Bella. Ela abriu e seus olhos encontraram os meus. Era a hora. - Eu estava pensando, enquanto eu estava correndo... – eu parei. Eu não sabia como fazer isso. Era extremamente humano e eu não tinha esse costume. Respirei fundo para tentar outra vez, mas ela me interrompeu. - Em não bater nas árvores, espero. - Bella boba – eu disse rindo – Correr é minha segunda natureza, não há nada o que pensar. - Exibido – ela sussurrou outra vez, revirando os olhos. - Não – Vamos lá, Edward. Não deve ser tão difícil assim. – Eu estava pensando que há algo que eu quero tentar. Então, delicadamente, peguei seu rosto nas mãos. As ondas de eletricidade me atingiram com mais força, talvez por causa da intensidade do momento, ou talvez porque nossos corpos sabiam o que viria a seguir. Eu me aproximei mais dela, e então parei. Eu precisava ter certeza de que eu era forte antes de fazer isso. Respirei outra vez o ar que saia de sua boca, onde seu cheiro era mais concentrado, e de novo ele fez cócegas em minha garganta. E então, o mais suavemente que pude, pressionei meus lábios nos seus. Com certeza não havia salvação para minha espécie depois da “morte”. Carlisle estava errado, eu sempre soubera disso, e agora minhas suspeitas se confirmaram. Se realmente houvesse salvação, se houvesse o Paraíso e o Inferno, como Carlisle insistia, por que então eu estava tendo meu paraíso agora? Eu sentia que meu coração iria bater a qualquer momento, quase podia sentir sangue correndo pelas minhas veias. Todo o calor e toda eletricidade que eu sentia ao tocá-la se concentraram em nossos lábios. Eles queimavam, mas não de sede. Eu estava me controlando como nunca fizera antes, mas não era o monstro que estava fora de controle. Era meu lado humano. Esse beijo não era suficiente, eu queria sentir o seu corpo no meu, pegá-la em meus braços e dizer com toda certeza que ela era minha, pra sempre minha. O tempo passava devagar agora, mas eu não queria que passasse nunca. A sensação dos seus lábios nos meus era melhor do que eu sequer podia imaginar.


Eu já sabia que era forte para agüentar seu cheiro, mas eu era forte demais. Qualquer movimento impensado e eu a faria em pedaços. Isso não seria nada romântico. Eu estava me preparando para soltá-la quando aconteceu. Ela soltou um suspiro e agarrou meus cabelos com toda força possível, e seus lábios se abriram. Se eu não parasse naquela hora, poderia ter feito uma bobagem. Afastei seu rosto com força, mas gentilmente, do meu e olhei em seus olhos castanhos. - Ops... – ela disse, em tom de desculpa. Vi minha imagem refletida em seus olhos. Minha mandíbula fechada com força, olhos selvagens. Tentei suavizar minha expressão, mas acho que não consegui grande progresso. Ainda estava tentando me controlar para não agarrá-la outra vez. - Será que eu posso... – ela tentou se soltar de mim, mas eu não deixei. - Não, isso é intolerável. Espere um momento, por favor. – Eu ainda não estava controlado o suficiente. Respirei fundo mais uma vez e seu cheiro me ajudou a me controlar. Aos poucos fui recobrando o “juízo”. Quando estava completamente são, olhei em seus olhos castanhos e dei um sorriso travesso. – Pronto. - Tolerável? – ela perguntou. - Eu sou mais forte do que pensava – eu disse rindo – É bom saber. - Eu queria poder dizer o mesmo. Me desculpe. - Você é apenas humana, no final das contas – brinquei. - Muito obrigada. Coloquei-me em pé e estendi minha mão para ajudá-la a se levantar. Ela me olhou surpresa, mas aceitou minha ajuda. Ela se apoiou com toda força em minha mão, ainda tonta. - Você ainda está tonta pela corrida? Ou foi minha habilidade com beijos? - Eu não tenho certeza, eu ainda estou lerda. – ela respondeu, brincando também. – Porém, eu acho que é um pouco dos dois. - Talvez você devesse me deixar dirigir... - Você está louco? – ela protestou. - Eu dirijo melhor do que você nos seus melhores dias – zombei dela – Você tem reflexos muito mais lentos. - Eu tenho certeza de que é verdade, mas eu não acho que os meus nervos, ou a minha caminhonete, agüentariam. - Um pouco de confiança, Bella, por favor. Eu precisava deixá-la em casa antes que Charlie chegasse, e eu não iria deixá-la dirigir dessa maneira. Tonta como estava, no volante ela seria mais perigosa pra si mesma do que um vampiro com sede. - Não. Sem chance. Não acreditei quando ouvi aquilo, mas decidi não discutir. Ela se encaminhou para o banco do motorista e se desequilibrou no meio do caminho. Se eu não a tivesse segurado, ela teria caído no chão. - Bella, eu já gastei um bocado de esforço até esse ponto, pra manter você viva. Eu não vou deixar você ficar atrás de um volante quando você não consegue nem caminhar direito. Além do mais, amigos não deixam amigos dirigir quando estão bêbados. – eu gargalhei depois dessa. - Bêbada? – ela perguntou, num tom indignado. - Você está embriagada com a minha presença! - Eu não posso discutir com isso – ela suspirou, soltando a chave na minha mão. Eu a agarrei no ar silenciosamente e sorri com o sabor da vitória – Pegue leve. Minha caminhonete é uma cidadã idosa. - Muito sensível – eu concordei.


- E você não está nem um pouco afetado pela minha presença? – ela perguntou aborrecida. Bella bobinha... Como poderia não estar? Aproximei meu rosto do seu e passei meus lábios lentamente por sua mandíbula, desde sua orelha até o queixo. Ela tremeu. - Sem dúvida – brinquei – Eu tenho reflexos melhores. 17 – Idéias. Nós seguimos a maior parte do caminho em silêncio, mas nem eram necessárias palavras. Eu mantinha meus olhos fixos nela quase inconscientemente. Eles haviam se acostumado, tantas eram as vezes que eu a olhava. O vento soprava seus cabelos através da janela aberta e seu rosto estava mais feliz do que eu jamais havia visto. Era a imagem do perfeito anjo. Nossas mãos estavam entrelaçadas e naquele momento eu me sentia totalmente humano. Não havia monstro, não havia leitor de mentes e nem sede descontrolada por sangue. Eu quase estava agradecido por não poder ler a mente de Bella e deixar esse momento seguir seu curso natural. Eu era agora quase tão humano quanto fui quando nos beijamos. Eu já conseguia imaginar a reação de Emmett quando eu chegasse em casa e contasse o que tinha acontecido. Não que Alice não tivesse tido a oportunidade de contar a todos, pois com certeza ela sabia disso primeiro do que eu. Às vezes era bom ter uma irmã que enxergava o futuro, isso me poupava de contar algumas histórias. Eu deixaria os detalhes pra ela. Rosalie não estaria nada feliz, obviamente, ao contrário de Carlisle e Esme. Esme... Eu já podia imaginar seu sorriso quando eu chegasse... - Você gosta da música dos anos cinqüenta? – Bella perguntou me tirando de meus devaneios. Percebi que o rádio estava ligado numa estação de músicas antigas (eu havia ligado?) e eu estava cantando as músicas. - As músicas dos anos 50 eram boas – Muddy Waters e algumas de The Beatles e Elvis Presley. – Muito melhor do que as dos anos 60 e 70, urgh! – The Stooges, Village People, Led Zeppelin, o blues quase inexistente... Não gostava nem de lembrar. – As dos anos 80 eram suportáveis. – Stevie Ray, Albert King e Eric Clapton no blues, junto com Jimi Hendrix, mas não era mais a mesma coisa. - Você vai me contar quantos anos você tem? – Por essa eu realmente não esperava. Quase respondi 17. Era automático, depois de quase 100 anos respondendo a mesma coisa. - Isso importa muito? – respondi. - Não, mas eu ainda imagino... – ela fez uma careta – Nada como um mistério não resolvido pra te manter acordada de noite. - Eu me pergunto se isso vai te aborrecer. Algumas garotas gostam de caras mais velhos, para mostrar às amigas o quanto são maduras – anos de prática ouvindo pensamentos de garotas como Jessica Stanley. Frases como “Ele já está terminando a faculdade!” ou “Ele é formado e trabalha numa empresa multinacional” eram comuns entre as rodinhas de garotas. Porém, algo do tipo “Ele tem mais de 100 anos, mas aparenta ter 17” não soaria nada legal a ouvidos humanos. Não que Bella fosse do tipo de garota que participasse de uma rodinha de fofocas ou pudesse soltar uma frase como essa. Mas ela era humana, afinal. - Me teste. – ela respondeu por fim. Olhei em seus olhos. Estava tranqüilos, seu rosto estava confiante. Talvez ela estivesse esperando um vampiro de 50 ou 60 anos? - Nasci em Chicago, em 1901 – olhei novamente pra ela, preocupado de tê-la assustado muito. Seu rosto continuava tranqüilo, não demonstrava surpresa alguma. Por que eu ainda tentava adivinhar como ela se sentiria, se no final eu sabia que seria surpreendido?


– Carlisle me encontrou num hospital em 1918, eu tinha 17 anos e estava morrendo com a gripe Espanhola. Ela prendeu o fôlego e eu olhei para seus olhos. Ela havia se assustado não com a minha idade, mas com a minha quase morte. Ou melhor, com a minha quase morte total. - Eu não me lembro muito bem, já foi há muito tempo e as memórias humanas desaparecem. – Tentei tranqüilizá-la. Bem, quase todas; apenas uma fica na memória. – Eu me lembro de como eu me senti quando Carlisle me salvou. Não é uma coisa fácil, algo que você esquece. – A dor, a sensação de fogo, a queimação, não era algo fácil de esquecer. Lembro-me de ter desejado a morte, de ter implorado infantilmente a Carlisle que me matasse, antes que o fogo fizesse isso. Três dias de dor e tortura: esse é o preço da eternidade como um monstro. Não valia a pena. - Seus pais? – ela me perguntou. Elizabeth e Edward... Eu não sabia bem o porquê, mas eu me lembrava mais de minha mãe do que de meu pai. Talvez porque, segundo as memórias de Carlisle, ela agüentou o máximo que pode para ficar comigo no hospital. - Eles já tinham morrido com a doença. Eu estava sozinho. Foi por isso que ele me escolheu. Com todo aquele caos da epidemia, ninguém se deu conta de que eu tinha desaparecido. - Como foi que ele... te salvou? Não respondi de imediato. Eu estava decidindo se valeria a pena contar tudo pra Bella. Ela não precisava saber de todas as piores partes, já que algum dia ela iria pass... Não, Edward! Pare AGORA. Afastei as imagens de minha mente e decidi por ocultar parte da verdade. - Foi difícil. Nem todos de nós têm controle suficiente pra completar a transição. Mas Carlisle sempre foi o mais humano, sempre o que teve mais compaixão entre nós... Eu não acho que você encontraria outra pessoa igual a ele em toda a história – Meu pai, sempre presente, sempre tão bom, generoso e decidido a mudar nossos destinos para melhor. – Pra mim foi simplesmente muito, muito doloroso. Ela ficou quieta de repente e eu também mantive o silêncio. Ela olhava pela janela, com uma cara de quem tinha perdido algo na história. A mente dela realmente estava ficando mais clara apesar de eu ainda não poder lê-la. Eu havia contado quando, como e agora faltava o por que. - Ele agiu por causa da solidão. – expliquei, e imediatamente seus olhos brilharam de entendimento; eu estava ficando bom nisso – Geralmente essa é a razão por trás da escolha. Eu fui o primeiro da família de Carlisle, apesar de ele ter achado Esme logo depois. Ela caiu de um abismo. Eles levaram-na direto para o necrotério do hospital apesar de, de alguma forma, o coração dela ainda estar batendo. - Você precisa estar morrendo, então, pra se tornar um... – ela hesitou. Ela ainda tinha medo de pronunciar a palavra. - Não, isso é só com Carlisle. Ele nunca faria isso com alguém que tem outra escolha. – Carlisle nunca seria tão egoísta a ponto de condenar alguém a essa meia-vida por sua causa. – Contudo, ele diz que é mais fácil se o sangue estiver mais fraco. Eu parei de falar e olhei para a estrada, tentando encerrar o assunto. - E Emmett e Rosalie? – ela continuou. - Carlisle trouxe Rosalie para a nossa família logo depois. – a princesinha mimada, que queria se casar e ser rica e feliz. Rose era a que mais se sentia infeliz por ser o que era. Em seus pensamentos, era fácil perceber que daria tudo para ter uma vida e uma morte humanas. – Só muito tempo depois eu percebi que ele esperava que ela fosse pra mim o que Esme era pra ele. Ele era cuidadoso com os seus pensamentos quando estava perto de mim. Mas ela nunca foi nada além de uma irmã. Foi apenas dois anos depois que ela


encontrou Emmett. Ela estava caçando - estávamos em Appalachia nessa época - e encontrou um urso a ponto de acabar com ele. Ela carregou-o até Carlisle, andando por mais de cem quilômetros, como medo de não conseguir fazer sozinha. Só agora eu começo a imaginar como aquela jornada foi difícil pra ela. Olhei para Bella e sorri. O cheiro de sangue humano era algo quase impossível de resistir, a não ser que o caçador queira proteger sua presa. Isso aconteceu com Rosalie e acontecia comigo agora: o leão se apaixonara pelo cordeiro, o pássaro tinha a cobra sob controle. E eu não me importava em ficar sob seu domínio. Levantei nossas mãos, ainda juntas, e acariciei seu rosto. - Mas ela conseguiu – ela disse, encarando meus olhos por um momento e depois desviando-os. - Sim. Ela viu alguma coisa no rosto dele que a fez ser forte o suficiente. E eles estão juntos desde então. Às vezes eles fingem ser casados e moram separados de nós, mas quanto mais jovens fingimos ser, por mais tempo podemos ficar em um só lugar. Forks parecia ser perfeito, então todos nós entramos na escola. Eu acho que teremos que ir ao casamento deles daqui á alguns anos, de novo – eu ri. Há muito tempo não tínhamos uma cerimônia, como um casamento ou um aniversário. A última festa que fizemos foi o aniversário de Emmett em 1935. Seria interessante organizarmos uma festa. - Alice e Jasper? – ela continuou. - Alice e Jasper são duas criaturas muito raras. Os dois adquiriram a consciência, por assim dizer, sem nenhum tipo de ajuda. Jasper pertenceu a outra... família, um tipo de família muito diferente. – melhor não tocar no assunto “guerra” por enquanto. – Ele ficou muito deprimido, e então resolveu vagar sozinho. Alice o encontrou. Assim como eu, ela tem certos dons fora do comum para a nossa espécie. - Mesmo? – ela interrompeu, com a voz exaltada – Mas você disse que era o único que podia ler mentes... - Isso é verdade. Ela sabe outras coisas. Ela vê coisas - coisas que podem acontecer, coisas que estão por vir. Mas é muito subjetivo. O futuro não está gravado em uma pedra. As coisas podem mudar. Minha mandíbula travou inconscientemente. Olhei para Bella, torcendo que ela não tivesse visto minha reação. Mas ela me olhava, então desviei os olhos rapidamente. Isso levou menos de um segundo. Eu não queria pensar nas visões de Alice, não agora. Suas visões podiam ser úteis, mas algumas vezes assustavam. - Que tipo de coisas ela vê? Não fale de Bella, não fale de Bella... - Ela olhou pra Jasper e soube que ele estava procurando por ela antes que ele mesmo soubesse. Ela viu Carlisle e nossa família e os dois vieram juntos nos encontrar. Ela é sempre mais sensível com os não-humanos. Ela sempre vê, por exemplo, quando outro grupo da nossa espécie está se aproximando. E que tipo de problemas eles podem representar. - Existem muitos... da sua espécie? – ela perguntou, a voz levemente alterada, em tom de surpresa. - Não, não muitos. Mas a maioria não se firma em um só lugar. Só aqueles como nós, que desistiram de caçar pessoas – olhei em sua direção, com medo de tê-la assustado outra vez, mas ela não se assustava facilmente – podem viver perto de humanos por qualquer período de tempo. Nós só encontramos outra família como a nossa num pequeno vilarejo no Alaska. Nós vivemos juntos por algum tempo, mas éramos tantos que começou a dar nas vistas. Aqueles que são... diferentes de nós costumam formar bandos. - E os outros?


- Nômades, em grande parte. Nós todos já vivemos assim às vezes. Acaba ficando tedioso, como todo o resto. – a minha época de nômade, período “adolescente rebelde” da minha vida vampira, me cansou e rápido - Mas de vez em quando nós esbarramos uns nos outros, porque a maioria de nós prefere o Norte. - Por que isso? Nós já estávamos em frente à casa de Bella, então desliguei a caminhonete. As luzes estavam apagadas e a casa estava silenciosa. “Mais um sábado tedioso, nada de bom na TV...” “Olhe que horas são! Já era pra ele ter chegado!” “...calabresa, uma de quatro queijos e um refrigerante. O endereço é...” “Mas de novo? Não foi pênalti, não foi pênalti! Se o Chelsea fizer esse gol...” Nenhum pensamento de Charlie. Ele ainda não havia chegado. - Seus olhos estavam abertos essa tarde? – brinquei com ela, provocando-a – Você acha que eu poderia andar numa rua à luz do sol sem causar alguns acidentes de trânsito? Há uma razão pela qual escolhemos a Península de Olympic, um dos lugares com menos sol no mundo inteiro. Você não acreditaria no quanto pode se cansar da noite, depois de oitenta anos. - Então é daí que vêm as lendas? - Provavelmente. - E Alice vem de outra família, como Jasper? - Não, isso é um mistério. Alice não se lembra de absolutamente nada da sua vida humana. E ela não sabe quem a transformou. Ela acordou sozinha. Quem quer que seja que a transformou fugiu, nenhum de nós entende como, ou porque ele fez isso. Se ela não tivesse essa outra sensibilidade, se não tivesse encontrado Jasper e Carlisle e visto que poderia se tornar uma de nós, ela podia ter se transformado numa selvagem. Bella ficou quieta novamente, provavelmente tentando entender a complicação da família Cullen. De repente seu estômago roncou. Era algo tão estranho para mim, eu não estava acostumado a passar tanto tempo com humanos. Para meus ouvidos sensíveis, isso soou extremamente alto. - Me desculpe, eu estou atrapalhando o seu jantar. – eu disse, já aborrecido por ter de ir embora. - Eu estou bem, de verdade. - Eu nunca passei tanto tempo perto de uma pessoa que come comida. Eu esqueci... - Eu quero ficar com você. – ela respondeu, imediatamente. Sua voz demonstrava completa obsessão. Eu não podia culpá-la, também estava preso a ela. Eu não queria ir embora, não queria que esse dia acabasse nunca. Tudo bem, eu voltaria depois de algumas horas para vê-la dormir, mas agora era diferente. A não ser que... Outra idéia passou pela minha cabeça e não hesitei em colocá-la em prática – meu dia fora tomado por idéias boas, essa não podia ser diferente. - Eu posso entrar? – perguntei, do modo mais indiferente que consegui, ignorando as ondas de eletricidade que passaram por meu corpo. - Você quer? – ela perguntou, e seu coração acelerou automaticamente. - Sim, se estiver tudo bem. Não esperei pela resposta - eu odiaria ouvir um “Eu não sei se isso é certo”. Então, rápido demais para olhos humanos, eu tirei a chave da ignição e saí da caminhonete, indo até o lado do passageiro e abrindo a porta para ela. Quando estendi minha mão para que ela saísse do carro, ela ainda olhava a porta do motorista se fechar. Reflexos humanos eram, definitivamente, muito lentos.


- Muito humano – ela cumprimentou. - Eu estou definitivamente ressurgindo. Caminhamos em silêncio. Ou melhor, eu caminhei em silêncio. Tão quieto que Bella constantemente lançava olhares em minha direção, confirmando se eu ainda estava lá. Aproveitando a escuridão, corri até a soleira da porta e peguei a chave que estava embaixo do tapete, abri-a e aguardei que Bella chegasse. Tudo isso durou apenas um segundo. Bella parou a meio caminho da entrada. - A porta estava aberta? – perguntou, com uma expressão martirizada. Óbvio que ela não tinha visto nada. - Não. Eu usei a chave que estava embaixo do tapete. Oh oh. Ela ainda não sabia o quanto eu era obssessivo... Ela passou por mim, acendeu a luz da varanda e virou-se para me olhar, erguendo as sobrancelhas. - Eu estava curioso sobre você... – me expliquei. - Você me espionou? – não havia ultraje em sua voz. Ela parecia mais... honrada? Lisonjeada? - O que mais há pra fazer de noite? Ainda sorrindo, atravessei a sala e entrei direto no corredor na cozinha. Sentei-me em uma das cadeiras, enquanto Bella trancava a porta da frente. A cozinha tinha paredes escuras e o chão de linóleo branco. Os armários eram amarelos e davam certa luminosidade na cozinha. Eu me sentia como um garoto que sempre sonhara em conhecer a praia e que agora olhava o mar sem conseguir acreditar em como conseguira isso. Eu me imaginei na sala, um Edward corado pela vergonha, com os olhos verdes profundos encarando o rosto protetor de Charlie, e Bella sentada ao meu lado. Imaginei as palavras saindo de minha boca: “Eu tomarei conta dela, Chefe Swan. Eu a amo mais do que tudo e não deixarei que nada de ruim lhe aconteça.” E ele confiaria em mim quando olhasse em meus olhos verdes e veria a verdade expressa neles. E nada mais importaria, porque Bella seria minha namorada, minha esposa, minha companheira, minha, somente minha, e não haveria Volturis ou Quileutes para impedir que nosso amor acontecesse. Namorada... A palavra ficou vagando pelas bordas de minha consciência, sem que eu entendesse por que ela estava ali. - Com que freqüência? - Hmm? – eu respondi, não estava prestando atenção. Senti cheiro de comida no ar. Tomate e orégano, se não me engano. Urgh. - Com que freqüência você vem aqui? – ela estava de costas para mim, assistindo a comida girar no microondas. - Eu venho aqui quase todas as noites – respondi, num tom indiferente. - Por quê? – Ela se virou, aturdida. - Você é muito interessante quando dorme – Seus olhos fechados, sua respiração calma, seus cabelos espalhados pelo travesseiro, seu cheiro pelo quarto... Não, melhor não demonstrar minha obsessão – Você fala. - Não! Ela ficou ofegante de repente, seu rosto corando como eu nunca havia visto antes. Ela se agarrou ao balcão da cozinha, buscando apoio, e me olhava com certa incredulidade. Eu me preparei para agarrá-la, caso ela fizesse menção de cair. Ela estava com raiva de mim... Por quê? Durante o sono ela dizia tudo que eu mais queria ouvir! “Fique, Edward, fique. Eu te amo”. - Você está com raiva de mim? – perguntei, com medo da resposta. - Isso depende! Ela não continuou. - Do que? – perguntei.


- Do que você ouviu! – ela gemeu. Eu me levantei da cadeira e segui até ela – rápido, novamente – e implorei, olhando profundamente em seus olhos: - Não fique brava! – ela tentou desviar o olhar, envergonhada. – Você sente falta da sua mãe, você se preocupa com ela. E então tem a chuva, o barulho não te deixa dormir. Você costumava falar muito de casa, mas agora não é tão freqüente. Uma vez você disse “é muito verde”. – eu sorri com a lembrança. Olhei novamente em seus olhos, desejando não tê-la ofendido. - Algo mais? - Você disse meu nome. - Muito? – ela suspirou, como se eu tivesse acabado de descobrir que ela havia assassinado alguém. - Ahn... – hesitei - O que exatamente você quer dizer com “muito”? - Oh, não! – ela gemeu. Eu a puxei para meus braços, e então sussurrei em seu ouvido: - Não fique constrangida. Se eu pudesse sonhar, eu sonharia com você. E eu não me envergonho disso. Depois, nós dois ouvimos o som de pneus na calçada, ao mesmo tempo em que a luz passou pela janela. Ela enrijeceu em meus braços. Estava tão entretido com ela que não percebi os pensamentos de Charlie. - Seu pai deve saber que estou aqui? - Eu não tenho certeza... – ela hesitou. Claro que não. - Outra vez então. E subi as escadas, correndo outra vez. Antes de chegar ao segundo andar, escutei seu sussurro vindo da cozinha: - Edward! Eu gargalhei de seu desespero e cheguei ao segundo andar ao mesmo tempo em que Charlie abriu a porta com a chave. Entrei rapidamente na primeira porta, enquanto ele dizia: - Bella? Fechei a porta silenciosamente atrás de mim. O cheiro de Bella me atingiu instantaneamente. Eu estava em seu quarto. Era algo que eu sempre quis fazer: entrar lá pela porta, não como um intrometido ou espião, mas como um convidado (ou nesse caso, quase autorizado) a entrar em seu quarto. Diferentemente das outras vezes, seu quarto estava arrumado. Sua cama estava feita, não havia nenhum anjo sobre ela. - Eu to aqui! – Bella respondeu histericamente. Ouvi o barulho do microondas, da comida sendo colocada na mesa e de cadeiras sendo arrastadas. “Uau, que cheiro bom... Lasanha? Há quanto tempo eu não como lasanha?? Caramba, não tinha percebido que estava com tanta fome...!” Ouvi os passos de Charlie no andar de baixo. Eu ainda estava olhando o quarto de Bella. Meus olhos estavam fixos em sua cama. Se eu fosse normal, se eu fosse humano... Deitei-me, enquanto aguardava Bella subir. - Você pode pegar um pouco disso pra mim? Estou faminto. – Charlie dissera. Em sua mente giravam as imagens do dia. Havia sido bom para a pesca. Harry pegara os melhores peixes, mas ele não se importava. O importante é que conseguira das boas risadas com o amigo. Ouvi o barulho da geladeira, de um copo sendo arrastado pelo balcão – duas vezes –, de um prato sendo colocado na mesa. – Obrigado. - Como foi seu dia? – as palavras de Bella saíram rápidas.


“Será que Bella vai sair e está atrasada? Ela parece estar com pressa...” - Bom, os peixes estavam mordendo a isca... E o seu? Fez tudo o que queria fazer? – a curiosidade era real por trás de sua pergunta, não era mera educação. - Não, estava bonito demais lá fora para ficar em casa. - Foi um dia bom... – Charlie confirmou, enquanto dava a segunda garfada na lasanha. Através de seus olhos, eu podia ver como Bella estava ainda mais desastrada. Ele reparava nos seus movimentos rápidos, em suas mãos tremendo enquanto segurava o copo de leite e em como acabara de comer rapidamente. “Ela acabou com o seu pedaço enquanto eu ainda estou na segunda mordida! Ela com certeza vai sair. Não seja ciumento, Charlie, você pediu por isso! Ela precisava se enturmar. E eu precisava ser protetor, mas não exagerado.” - Com pressa? – ele perguntou, casualmente. Bella hesitou por uma fração de segundo, mas Charlie não pareceu perceber. - É, eu to cansada. Vou dormir mais cedo. “Dormir? Nessa euforia toda? Isabella Swan, o que você pretende fazer?” - Você parece bem disposta... – Charlie tentou. - Pareço? – ela respondeu rapidamente, se levantando da mesa e indo lavar os pratos na pia. - É sábado. – Charlie zombou. “Tenho certeza que ela vai sair... Mas por que ela esconderia de mim?” Bella não respondeu. - Não tem planos pra essa noite? – Charlie tentou outra vez. - Não, pai, eu só quero dormir um pouco. - Nenhum dos garotos da cidade faz o seu tipo, né? “O que esses adolescentes têm na cabeça? Eu estou autorizando ela a se divertir, e ela prefere sair escondida? Se ela tivesse arrumado um namorado, eu não acharia ruim, desde que me apresentasse a ele. Pensando bem nesse assunto, aquele garoto Newton pareceu ser bem legal.” Meu corpo começou a queimar, de uma forma humana. Eu sentia raiva dos pensamentos de Mike sobre Bella, de suas fantasias ridículas que eram quase piores que as de Jessica. Quando eles estavam juntos, conversando, eu me pegava imaginando como ele ficaria sendo arremessado contra a parede... Sim, eu estava com ciúmes. - Não, nenhum dos garotos chamou minha atenção ainda. - Eu pensei talvez que Mike Newton... você disse que ele era amigável. O ciúme tomou conta de mim novamente. Se Charlie me conhecesse, duvido que ele ainda preferiria Mike Newton. Eu era mais velho do que seu avô. Eu sabia o que agradava um pai de família, quais tradições eram seguidas. Além do mais, se por acaso eu passasse do limite, eu saberia instantaneamente. - Ele é só um amigo, pai! - Bem, de qualquer forma, você é boa demais pra eles. Espere pra entrar na faculdade antes de procurar. “Charlie, Charlie, Charlie... Dando uma de pai conselheiro. Graças a Deus Harry não me ouviu dizendo isso.” - Parece uma boa idéia pra mim. – Ouvi passos mais próximos e percebi que Bella estava subindo as escadas. - Boa noite, querida. – Charlie disse. - Te vejo de manhã, pai. “Aham... Te vejo daqui a pouco, se você ainda estiver no seu quarto...” Eu não consegui conter o riso.


Bella agora se arrastava pela escada e suspirava, tentando fingir cansaço. Tsc, tsc. Péssima atriz. De repente ela já estava abrindo a porta do quarto. Eu movi apenas minha cabeça para lhe dar um sorriso, mas ela nem sequer olhou para a cama. Ela fechou a porta mais alto que o normal e correu para a janela, que se abriu sem o menor problema. Graças ao óleo, obrigado. Ela colocou a cabeça para fora da janela e sussurrou para as árvores: - Edward? Eu sabia que iria assustá-la de qualquer jeito. Se eu me levantasse da cama e fosse até seu lado ou se eu respondesse. Eu preferi apenas responder e assistir sua reação de longe. Eu já estava imaginando-a. Não consegui conter o riso ao falar: - Sim? Ela se virou rapidamente e soltou um suspiro alto. Seus olhos pararam em mim, seu rosto estava assombrado e seu coração acelerou de repente, como se eu tivesse pulado dos 60 km/h aos 160 km/h em meio segundo com meu carro. Ela se desequilibrou e caiu no chão – típico. Havia sido mais engraçado do que eu imaginava... - Me desculpe – eu respondi, tentando parar de rir. - Me dê um segundo pra acalmar meu coração. Realmente, ele iria demorar um pouco pra se acalmar... Eu me sentei na cama lentamente, com medo que ela saísse gritando caso eu usasse minha velocidade normal. Depois me levantei, ainda devagar, e a puxei pelos braços, fazendo-a se sentar comigo na cama. - Por que você não se senta comigo? – perguntei, colocando minha mão sobre a sua e ignorando as ondas de eletricidade que percorreram meu corpo. – Como está o coração? – brinquei. - Me diga você! Com certeza você consegue ouvir melhor do que eu. Eu ri. Ficamos os dois em silêncio por um longo tempo, ouvindo o coração de Bella desacelerar. Charlie ainda estava na sala, assistindo TV, e por um momento ele havia se esquecido da suposta tentativa de fuga de Bella. Eu não conseguia acreditar na virada que o destino tinha dado. Há algumas semanas, eu era o monstro que estava louco de sede pelo sangue dela, imaginando milhares de maneiras de tê-la sozinha comigo e saciar meu desejo por seu sangue. Agora que eu conseguira, meu único desejo era protegê-la, nem que fosse de mim mesmo, e amá-la até o fim da eternidade. Eu fiquei imaginando como seria estar aqui, nesse mesmo quarto ou ainda na sala, mas sem precisar esconder nada de Charlie. Afinal, ele a queria feliz, só tinha as mesmas preocupações que qualquer pai preocupado teria. - Posso ter um minuto pra ser humana? – Ela me perguntou, depois de vários minutos em silêncio. - Certamente – eu fiz um gesto com a mão, indicando a porta, dizendo-a para ficar a vontade. Ela me olhou com uma cara séria, tentando parecer severa: - Fique. Era uma ordem. Eu teria que obedecer. - Sim, madame. Fechei os olhos, deitei e fiquei imóvel na cama, enquanto a ouvia remexer em algumas coisas no quarto, deixar a luz desligada e sair, fechando a porta. Nunca pensei que iria dizer isso um dia, me soava extremamente feminino, mas eu estava vivendo meu primeiro amor. Ou melhor, meu primeiro e único amor. Nenhuma garota na face da terra, humana ou vampira, me chamaria atenção depois de Bella. Até


porque não haveria um depois. Era ela. Alice estava certa. Eu sabia que era ela desde o início, mas não conseguia enxergar. Porém, nosso relacionamento estava errado. Haviam vários problemas a serem pensados. Eu não podia mantê-la humana se ela soubesse o nosso segredo – e ela sabia demais. Isso ocasionaria uma guerra com o “Império”. Por outro lado, se ela fosse mordida, a guerra seria mais próxima. E eu não queria isso. Eu não queria perder o rubor de sua face ou a expressão maravilhada em seus olhos quando descobrisse mais a meu respeito. Se eu ao menos fosse humano... As cenas voltaram à minha mente: Edward humano pedindo Bella em namoro ao Chefe Swan. Como eu queria que isso fosse possível. De repente, a palavra que estava vagando pela minha consciência conseguiu penetrar em minha mente. Namorada... E se... Por Deus, Edward! Seu dia está ótimo para idéias...! Bom, eu teria que obter algumas informações primeiro. 18 – Descobertas Eu ouvia enquanto Bella batia a porta do banheiro com força (“Tomando banho... Talvez ela não vá sair. Mas não custa nada me certificar...”) e ligava o chuveiro. Ela demorou no banho, e enquanto isso minha mente vagava. Namorada... Namorada? Eu a colocaria em perigo, claro. Só de falar com ela já a colocava em perigo, imagine se ela fosse minha namorada. Mas, se não fôssemos namorados, seríamos o que? Em épocas passadas, nós deveríamos estar nos casando por causa daquele beijo. Mas eu não era a melhor pessoa para falar em namoros. Até meus 17 anos, meu único desejo era ser soldado. Enquanto meus pais tentavam me arrumar pretendentes, eu fugia desse destino me importando apenas com a guerra, com as batalhas. Depois de vampiro, nunca achei ninguém que despertasse desejos tão humanos em mim. A única que conseguira fazer isso era Bella... Ela também não tinha muitas experiências em namoros. Éramos dois inexperientes no ramo. Eu ouvia a água cair do chuveiro e tocar o chão e fiquei imaginando... Não, não podia imaginar nada, nada. Isso era absolutamente impossível. “Demorando demais, demorando demais. Será que ela ligou o chuveiro apenas para me despistar? Ah, Isabella Marie Swan!!” Charlie estava se levantando do sofá quando Bella desligou o chuveiro. Ele ainda ficou aguardando algum outro sinal de que ela não fugira. Meu Deus, como Charlie estava desconfiado! Alguns minutos depois, Bella abriu a porta do banheiro e Charlie se sentou novamente, sua mente agora ocupada em fingir que assistia tranquilamente a televisão. Ela desceu as escadas e disse boa noite a ele. - Boa noite, Bella. – ele respondeu, surpreso com sua aparência. “Eu ainda irei vigiála... Sabe-se lá o que Renée deixou escapar, não é?”. Através dos olhos de Charlie eu a vi. Deus, como estava linda com os cabelos molhados! Eu já conseguia sentir o cheiro do shampoo subindo as escadas... Morangos. Ficava bem misturado com o seu cheiro doce de lavanda. Ela abriu a porta e entrou, parecendo meio sem fôlego. Ela olhou para mim e riu o meu sorriso tímido preferido. Ela estava absolutamente estonteante. Seus cabelos molhados


caíam pelos seus ombros e a blusa de seu pijama marcava sua silhueta. Se eu pudesse, teria ficado sem fôlego. Tive de me segurar para não levantar da cama e pegá-la em meus braços. - Legal... – comentei, ainda sem conseguir tirar os olhos dela. Seus olhos de chocolate derretido me prendiam. Eu parecia um garoto que acaba de ficar sozinho com a namorada e não encontra nada de interessante pra dizer... Ela fez uma careta com meu comentário. – Não, fica bem em você! - Obrigada – ela respondeu, se encaminhando para meu lado e sentando-se na cama. Eu me levantei para olhar para seu rosto. - O que foi tudo isso? – perguntei. - Charlie pensa que vou fugir no meio da noite – ela respondeu, revirando os olhos. - Oh... Por quê? – perguntei. Ela revirou os olhos. - Aparentemente, estou excitada demais. Ergui seu queixo, fingindo analisá-la, e disse: - Na verdade, você parece muito cálida... Antes que ela pudesse responder, encostei meu rosto na base de seu pescoço, sentindo-a tremer. Meu rosto queimou com a temperatura de sua pele. Era uma sensação incrível, o calor. Quando estava com ela, eu quase podia sentir o calor saindo de minha pele, o sangue correndo por minhas veias e meu coração acelerando com seu toque. Eu quase podia me sentir humano outra vez. - Mmmmmm – eu respirei, fazendo-a tremer. Eu comecei a roçar meu nariz lentamente por seu pescoço e por sua mandíbula. - Parece ser... muito mais fácil pra você, agora, ficar perto de mim. – Ela estava sem fôlego. Sem me afastar dela, respondi: - É isso que parece pra você? – afastei seu cabelo para que pudesse beijar a parte de trás de sua orelha. Eu sentia que ela estava arrepiada, sua respiração e seus batimentos, como sempre, acelerados. Eu era bom nisso, afinal. - Muito, muito mais fácil – ela respondeu, respirando com dificuldade. - Hmm... - Eu resolvi provocá-la ainda mais. Comecei passar meus dedos lentamente pela sua clavícula. - Eu estava pensando... – ela começou, mas não terminou a frase. - Sim?


- Por que... é assim? – sua voz tremia. - Não se importe – eu sorri, assoprando de leve a pele de seu pescoço. De repente, ela se inclinou para trás num movimento “rápido” e eu congelei instantaneamente. Oh oh, Edward... Parece que você não é tão bom assim... Ela me olhava com uma expressão que misturava prazer e susto. Percebi que minha mandíbula estava contraída e aos poucos fui relaxando. Oh, Edward, você passou dos limites... Ela não estava acostumada com contato, eu havia assustado-a mais uma vez, mas agora com o meu lado humano. Eu estava realmente confuso agora. Talvez eu devesse ir mais devagar com essa idéia de namoro. - Eu fiz alguma coisa errada? – perguntei, ainda assustado. - Não, pelo contrário. Você está me deixando louca. Não consegui esconder minha felicidade. Ela não estava se afastando de medo, afinal. E eu não era o único com problema de controle. - Mesmo? - Você gostaria de uma salva de palmas? – ela disse, sarcasticamente. Eu gargalhei, adorava quando ela fazia isso. - Eu só estou agradavelmente surpreso. Nos últimos cem anos mais ou menos – eu zombei, mas com uma pitada de confissão – eu nunca imaginei algo assim. Eu nunca imaginei que encontraria alguém que quisesse ficar comigo, sem contar meus irmãos e irmãs. Então eu descobri, apesar de ser novo nisso, que eu sou bom... em ficar com você. – Me deixe ser ainda melhor... - Você é bom em tudo. Eu levantei os ombros, num movimento típico de “eu sei disso” e nós dois rimos quase silenciosamente, cientes da atenção dobrada de Charlie no andar de baixo. “... tem reprise na televisão amanhã à noite, talvez eu consiga assistir... Parece que Bella finalmente dormiu, acho que vou fazer a mesma coisa... Opa, espere, jogo dos Yankees...” Tudo tranqüilo. - Mas como é que pode ser tão fácil agora? – ela perguntou – Essa tarde... - Não é tão fácil – eu interrompi. Não queria que ela ficasse se lembrando do monstro que eu tinha me tornado quando estava com ela. – Mas essa tarde eu não estava... decidido. Me desculpe por aquilo, foi imperdoável eu ter me comportado daquela forma. - Imperdoável, não – ela discordou.


- Obrigado. – eu sorri – Entenda... Eu não tinha certeza de que era forte o suficiente... – Eu não queria olhá-la nos olhos enquanto admitia que estivera quase a ponto de matá-la. Peguei sua mão, que estava em seu colo, e apertei contra o meu rosto, sentindo o sangue e o calor e me dando forças pra continuar falando. - E enquanto houvessem possibilidades de eu ser... superado – eu respirei o cheiro que saía do seu pulso. Muito, muito mais fácil do que antes. – Eu estava... suscetível. Até que eu me convencesse de que era forte o suficiente, não haviam possibilidades de que eu pudesse... que eu fizesse... Eu nunca havia lutado tanto para encontrar as palavras certas. Isso era tão... humano. Eu precisava admitir que havia perigo para nós, principalmente para ela, e que mesmo tentando ser o seu protetor, eu podia ser aquele que acabaria com todos os seus planos para uma vida humana e normal, mas eu não conseguia! Eu não sabia como dizer isso sem assustá-la ou sem magoá-la... Se isso acontecesse, eu teria que me afastar dela, mesmo não sendo isso o que eu queria... Afinal de contas, o que você quer, Edward? Dar a ela a eternidade ou uma vida normal sem interferência sua? Eu ainda não havia decidido isso. - Então existe uma possibilidade agora? – ela perguntou. - Veremos o que acontece – eu disse, sorrindo. Melhor deixar esse assunto para outra hora. - Uau, isso é fácil. Eu ri, ainda muito baixo para não despertar a atenção de Charlie. - Fácil pra você – brinquei, tocando seu nariz com a ponta de meus dedos. Eu nunca havia entendido a razão para se amar alguém. As coisas estavam boas do jeito que estavam para mim, eu nunca havia sentido falta de amor. Talvez porque eu nunca tivesse experimentado antes. Nossos momentos juntos eram tão perfeitos, tão humanos. Se alguém visse de fora, jamais acreditaria que era real. Ás vezes eu mesmo tenho dificuldade de acreditar se realmente é verdade. As coisas fluíam entre nós com intensidade tal que me faziam esquecer de onde nós estávamos, do por que de tudo aquilo, de quem eu era... Era tudo perfeito, sincronizado, espontâneo. Era algo que nunca sequer tinha imaginado experimentar um dia. Melhor do que qualquer jogo de baseball, sangue humano ou animal ou qualquer briga com Emmett. Se Deus existia e se sua função era fazer seus filhos felizes, ele havia acertado em cheio comigo. Mas eu não devia me preocupar apenas com o que eu achava ser bom, eu precisava me preocupar com aquilo que era certo, e expor Bella ao meu mundo não era certo. Mas a decisão não cabe apenas a você, Edward. - Eu estou tentando – sussurrei para não demonstrar a dor que eu sentia ao imaginar que pudesse ficar qualquer segundo longe dela – Se for... demais, eu tenho quase certeza que sou capaz de ir embora. – Quase. No fundo você sabe que não é capaz. Ela fez uma careta.


Eu respirei fundo, sentindo seu cheiro que me deixava quase embriagado. Era meu vício, algo sem o qual seria impossível viver. - Vai ser mais difícil amanhã – eu continuei – Eu fiquei com o seu cheiro na minha cabeça o dia inteiro e acabei perdendo a sensibilidade. Se eu me afastar de você por qualquer período de tempo, eu vou ter que começar tudo de novo. Não exatamente do início, eu acho. - Então, não vá embora – em sua voz havia mais do que um pedido. Ela estava quase implorando que eu ficasse com ela. Seus olhos castanhos se fixaram nos meus tão profundamente que eu quase perdi o controle. Eu queria abraçá-la, dizer que a amava e prometer a ela a eternidade ao meu lado! Eu queria dizer: “Sim, minha Bella, sim! Eu ficarei hoje, amanhã, depois, todos os dias! Nós teremos a eternidade juntos, meu anjo, e junto com ela eu te prometo a felicidade...”. Ah... Infelizmente as coisas não são tão fáceis. - Isso seria bom pra mim – eu respondi, sorrindo – Traga as suas algemas, eu sou seu prisioneiro – eu sorri outra vez, enquanto prendia os seus pulsos com as minhas mãos. Ela sorriu de volta, parecendo entender que ela também era minha prisioneira agora. Sentença? Prisão perpétua. - Você parece mais... otimista do que o normal. Eu nunca te vi assim antes. - Não é assim que deve ser? – eu respondi – A glória do primeiro amor, e isso tudo. Não é incrível, a diferença entre ler sobre uma coisa, ver em fotos, e experimentá-la? - Muito diferente. Mais substancial do que eu pensava. - Por exemplo – comecei a falar sobre as coisas que ela me fazia sentir. Ela havia despertado em mim tantos sentimentos novos, alguns tão desconhecidos, e eu tinha vontade de compartilhá-los com ela. – O sentimento de inveja. Eu já li sobre isso milhares de vezes, já vi atores interpretando em milhares peças e filmes diferentes. Eu achei que compreendia esse sentimento muito bem. Mas ele me chocou... – Mike Newton, principalmente. Seus pensamentos, suas fantasias, suas esperanças... Não sabia se ria de suas esperanças vãs ou ficava com raiva. – Você se lembra daquele dia que Mike te convidou para o baile? - O dia que você começou a falar comigo de novo. – Ela concordou. Então ela se lembrava daquilo. No fim da aula de biologia, logo depois de Mike Newton tê-la convidado para o baile. Imagens de Bella tinham aparecido na minha mente... O “sim”, faculdade, amor, casamento, uma vida normal. E em nenhuma delas havia Edward. Havia apenas Mike, Eric, Tyler, ou qualquer outro garoto normal. E a dor havia me queimado tão profundamente aquele dia como nunca havia feito antes. Pior do que a dor da sede, era a dor de perdê-la, de vê-la nos braços de um homem que não fosse eu. Eu ignorei o seu comentário e continuei: - Eu me surpreendo com a pontada de ressentimento, quase de fúria, que eu senti. Naquele momento eu não reconheci. Eu estava mais nervoso que o normal e eu não conseguia saber o que você estava pensando, por que você havia recusado o convite. Era simplesmente pra preservar a amizade? Era alguma outra coisa? Eu sabia que de qualquer jeito eu não tinha o direito de me importar. Eu tentei não me importar.


“E então a fila começou a se formar – eu gargalhei, me lembrando da pequena armação que havia aprontado para permitir que Tyler a convidasse. O rubor e a raiva no rosto de Bella naquele dia ainda me faziam rir. – Eu esperei, razoavelmente ansioso pra ver o que você diria pra eles, pra ver as suas expressões. Eu não conseguia negar o alívio que estava sentindo, vendo a fúria no seu rosto. Mas eu não podia ter certeza. “Aquela foi a primeira noite que vim aqui. Eu lutei a noite inteira, enquanto via você dormindo, com a brecha entre o que eu sabia que era certo, moral, ético, e o que eu queria. Eu sabia que se eu te ignorasse como devia, ou se fosse embora por alguns anos, até que você saísse de Forks, você algum dia diria sim a Mike, ou alguém como ele. Isso me deixou com raiva. “E então você falou meu nome enquanto dormia. Você falou tão claramente, que no início eu pensei que você tivesse acordado. Mas você virou para o lado e murmurou meu nome mais uma vez, e suspirou. O sentimento que passou no meu corpo nessa hora me deixou enervado, vacilante. E eu sabia que não podia mais te ignorar. Eu ouvia o ritmo do seu coração batendo normalmente em seu peito. Se eu imaginasse (e que quisesse continuar me enganando) eu conseguia ouvir seu coração dizer: Edward... Edward... Edward... Edward... “Edward... Edward... Fique. Não vá. Por favor... não vá”. Eu ainda me lembrava de suas palavras naquela noite, de como ela havia feito um coração morto bater novamente. A partir desse dia ela se tornara o sol da minha constante meia-noite, da minha escuridão sem fim. Suas palavras me fizeram perceber o quão dependente dela eu era. Ela ainda me olhava esperando que eu continuasse falando. - Mas ciúme... é um sentimento estranho. Muito mais poderoso do que eu tinha imaginado. E irracional! Agora mesmo, quando Charlie te perguntou sobre Mike Newton... – eu balancei a cabeça, tentando afastar as imagens daquele sorriso confiante do garoto Newton. - Eu devia saber que você estaria escutando. – ela gemeu. - É claro... – como se eu conseguisse ficar um segundo sem saber o que ela estava fazendo! - No entanto, aquilo te deixou com ciúmes? - Eu sou novo nisso tudo. Eu estou ressuscitando o humano que existe em mim, e tudo é mais forte porque é novo. - Mas honestamente – ela começou a falar, com um sorriso zombeteiro no rosto – Você ficou com ciúmes disso, depois que eu tive que ouvir que Rosalie - Rosalie a encarnação pura da beleza - foi feita pra ficar com você. Com Emmett ou sem Emmett, como é que posso competir com aquilo? - Não há competição.


Eu puxei delicadamente seus braços até as minhas costas, fazendo com que ela encostasse em meu peito, e a abracei. Desse jeito, ela estava deitada em meus braços e as ondas de eletricidade me atingiram novamente. Eu não conseguia pensar em mais nada quando estava com ela. O mundo poderia acabar, o céu explodir em milhões de bolas de fogo, e eu não me importaria. Desde que eu estivesse com ela. - Eu sei que não há competição. Esse é o problema. - É claro que Rosalie é linda do jeito dela, mas mesmo se ela não fosse minha irmã, mesmo se ela não estivesse com Emmett, eu não sentiria por ela nem um décimo, nem um centésimo da atração que eu sinto por você. Por quase noventa anos eu estive andando entre a minha espécie, e a sua... Todo o tempo pensando que estava bem sozinho, sem saber o que eu estava procurando. E sem encontrar nada, porque você ainda não estava viva. - Não parece muito justo... Eu não tive que esperar. Porque eu posso me safar tão facilmente? Se safar facilmente? A cada segundo ela corria o risco de ser morta por minhas mãos, a todo momento ela corria perigo. Ela ainda achava isso injusto? - Você está certa. Eu definitivamente devia tornar as coisas mais difíceis pra você. – Eu disse, sorrindo. Eu soltei uma de minhas mãos de seu pulso e alisei seu cabelo molhado que caia por suas costas e sobre meu peito. – Você só tem que arriscar a sua vida a cada segundo que passa comigo, isso com certeza não é muito. Você só tem que virar as costas para a sua natureza, a sua humanidade... Quanto isso vale? - Muito pouco. Eu não me sinto privada de nada. - Ainda não. Não, não! Não existe ainda! Nunca vai existir! Ela não seria privada de nada, não precisaria se preocupar com isso... Se dependesse de mim, sua vida seria normal, sem privações. E se por acaso eu estiver atrapalhando isso, eu sei que serei forte o suficiente para ir embora e permitir que ela tenha uma vida sem riscos. “Caramba... o sono me pegou agora. Melhor ir deitar, ainda estou quebrado da pesca! Ah, claro, preciso dar uma olhada na Bella. O quarto está silencioso...” Ela tentou puxar suas mãos das minhas, mas eu não deixei. - O que... – ela começou, mas não havia tempo para responder, qualquer barulho e Charlie ouviria. Ele havia desligado a televisão e desligado as luzes da sala. Seus passos subiam as escadas. Rapidamente eu me soltei de Bella e me escondi ao lado de sua cama, atrás do criado-mudo, onde Charlie não poderia me encontrar. O quarto estava escuro, então Bella também não conseguia me ver ali. Eu me senti em um filme de romance, onde o amante se esconde do marido ciumento, que acaba de chegar em casa. O que não faço por você, Isabella...


Eu a vi caindo no colchão e se levantando rapidamente, tentando me enxergar na escuridão. - Deite-se – eu sussurrei. Charlie estava a alguns passos da porta do quarto. Totalmente desajeitada, ela rolou para baixo do edredom e virou-se de lado, respirando profundamente, exagerando nos movimentos. Parecia que estava sofrendo de falta de ar. Charlie abriu a porta e espiou para dentro. Seus olhos caíram diretamente sobre Bella, respirando alto, e nem sequer olharam para outro lado que não fosse a cama. “Dormindo. Quem diria... Talvez eu devesse confiar mais nela, afinal... Meu Deus, que sono!” E saiu, fechando a porta atrás de si sem fazer nenhum barulho – para ouvidos humanos. Bella continuava a fingir estar dormindo. Fiquei olhando-a enquanto um bom tempo se passava. Até quando fingia, parecia ser um anjo... Dei a volta na cama e passei meu braço em torno de sua cintura, por baixo da coberta. Senti-a estremecer. - Você é uma péssima atriz – eu sussurrei em seu ouvido; ela estremeceu outra vez – Eu diria que essa carreira está totalmente vetada para você. - Droga. Eu escutava seu coração bater furiosamente em seu peito. Ele batia num ritmo compassado, leve, apesar de acelerado. Lembrei-me de sua canção de ninar e comecei a cantá-la baixinho em seu ouvido, querendo mais do que tudo que ela dormisse em meus braços aquela noite. - Será que eu devo cantar para você dormir? – eu perguntei, parando abruptamente de cantar. - Certo – ela disse sorrindo – Como se eu conseguisse dormir com você aqui! - Você faz isso o tempo todo! - Mas eu não sabia que você estava aqui...! - Então... – eu comecei, um sorriso se formando em meus lábios – Se você não quer dormir... – ela parou de respirar imediatamente. Alguns segundos se passaram antes que ela respondesse: - Se eu não quero dormir...? Em sua voz havia certa esperança. Eu gargalhei, mais para esconder o quanto eu também desejava isso. Mas isso era impossível, mais impossível do que deixá-la mudar sua vida por mim! - O que você quer fazer, então?


- Eu não tenho certeza... - Me avise quando você se decidir. Encostei meu rosto em seu pescoço e inalava seu cheiro, enquanto continuava cantando sua canção de ninar. Seu cheiro ainda me provocava “arrepios”, me deixava totalmente tonto e frágil. Eu estava sob seu controle e não havia nada no mundo que pudesse me tirar desse estado. - Eu pensei que você estivesse sem sensibilidade. – ela disse. - Só porque eu estou resistindo ao vinho, não significa que eu não posso apreciar sua fragrância... Você tem um cheiro muito floral, como lavanda... Ou frésia. É de dar água na boca – brinquei. - É. O dia fica praticamente perdido quando não tem alguém me dizendo o quanto eu sou apetitosa. Eu gargalhei mais alto do que pretendia. - Eu decidi o que quero fazer – ela falou de repente - Eu quero ouvir mais sobre você. - Me pergunte qualquer coisa. Ela pensou um pouco e depois disse: - Porque você faz isso? Eu ainda não entendo como você pode resistir tanto a quem você... é. Por favor, não entenda mal, é claro que me alegra que você faça isso. Eu só não entendo por que você se incomoda. - Essa é uma boa pergunta, e você não é primeira a fazê-la. Os outros, a maioria da nossa espécie, está contente do jeito que as coisas são pra eles. Eles também se perguntam como nós vivemos. Mas, veja, só porque nós estamos... mortos de certa forma... isso não significa que nós não possamos escolher ser melhores, tentar cruzar as barreiras do destino que nós não escolhemos. Podemos tentar reter o pouco de humanidade que ainda existe dentro de nós. Isso era resultado dos pensamentos e desejos de Carlisle. Nenhum de nós havia escolhido esse destino. Não foi nossa escolha abandonar a nossa humanidade e passar a caçar pessoas para nossa sobrevivência. Por isso nós tentávamos, de certa forma, fazer o melhor possível, o que estivesse em nosso alcance, para mudar nosso destino. Para Carlisle isso era uma forma de mantermos e alimentarmos a nossa alma, pois ele acreditava que havia um lugar melhor para nós, mas eu não acreditava nisso. Estávamos condenados ao nosso inferno e ele não esperaria nossa verdadeira “morte” para se manifestar. Nosso inferno estava aqui, neste mundo, e é nele que estamos pagando pelo que somos, pela nossa eternidade. Nossa alma já está perdida. Não há salvação para um vampiro. Se um humano tem a alma condenada ao matar pessoas, por que seria diferente com um vampiro? Por que já estamos mortos? Bella não havia falado desde que eu terminara a explicação. Sua respiração estava calma, constante e ela não se mexia. Ela finalmente havia dormido, depois de um dia


cansativo. Mas eu ainda não estava pronto para ir embora... Eu não queria ter que deixála, mas não podia ficar a noite inteira ao seu lado... - Você dormiu? – eu sussurrei, tentando não acordá-la caso estivesse dormindo. - Não. - Você só estava curiosa pra saber isso? - Não exatamente. - O que mais você quer saber? - Por que você consegue ler mentes, e só você? E Alice ver futuro? Como isso acontece? - Nós realmente não sabemos, mas Carlisle tem uma teoria. Ele acredita que todos nós tivemos alguma coisa em nossa vida humana que era muito forte, e que quando trazemos essa coisa para a nossa outra vida, ela é intensificada, como nossas mentes e os nossos sentidos. Ele acha que eu já devia ser sensível aos pensamentos das pessoas ao meu redor. E Alice tinha previsões, onde quer que ela estivesse. - O que ele trouxe para a próxima vida? E os outros? - Carlisle trouxe sua compaixão. Esme trouxe a sua capacidade de amar apaixonadamente. Emmett trouxe sua força, Rosalie a sua... tenacidade. Ou será que eu devo chamar de cabeça dura? Jasper é muito interessante. Ele era muito carismático em sua primeira vida, capaz de influencias as pessoas ao seu redor a ver as coisas da sua maneira. Agora ele é capaz de influenciar as emoções das pessoas que estão ao seu redor, acalmar uma sala cheia de pessoas raivosas, por exemplo, ou excitar uma multidão letárgica. É um dom muito súbito. Ficamos em silêncio, enquanto ela pensava sobre o que tinha dito. Se eu fosse seguir à risca as regras do meu mundo, ela não deveria nem pensar na palavra vampiro. Agora eu estava contando a ela cada detalhe de minha vida, de nossa vida. - Então, como isso tudo começou? – ela continuou – Quer dizer, Carlisle mudou você, e então ele deve ter sido mudado por alguém, e assim por diante. - Bem, de onde você veio? Evolução? Criação? Será que nós não podemos ter nos desenvolvido da mesma forma que as outras espécies, predador e presa? Ou, se você não acredita que esse mundo inteiro surgiu do nada, como eu mesmo acho difícil de acreditar, será que não dá pra você acreditar que a mesma força maior que criou o peixe anjo e o tubarão, ou o golfinho e a baleia assassina, tenha criado também nossas duas espécies? - Me deixe entender isso direito... Eu sou o golfinho, não é? - É. – Eu sorri. Por mais estranho que eu achasse, eu ainda gostava dessas comparações. Me davam a impressão de que ela aceitava bem esse fato de predador e presa – o que


não é comum para um humano normal. Me aproximei mais dela, tocando seus cabelos quase secos levemente com meus lábios, sentindo o cheiro doce de lavanda e morangos. - Você está pronta pra dormir? – perguntei – Ou você tem mais perguntas? - Só um milhão ou dois. - Nós temos amanhã, e o dia depois, e o dia depois... – Eu a lembrei. Eu sorri, eufórico com o pensamento. - Você tem certeza que não vai desaparecer de manhã? Afinal de contas, você é uma criatura mística. - Eu não vou te deixar – Eu prometo. Mesmo se eu quisesse, eu não conseguiria. - Só mais uma, então, por hoje... - O que é? Eu podia sentir a mudança de temperatura em sua pele e ouvir seu coração acelerando. Ela estava com vergonha? - Não, esqueça. Eu mudei de idéia. - Bella, você pode me perguntar qualquer coisa. Ela não respondeu. O que havia de tão ruim nessa pergunta? Deus, por que eu não posso simplesmente ouvir o que ela está pensando? Juro que estava tentando me acostumar com isso, mas era cada vez mais frustrante. - Eu fico pensando – eu disse, tentando fazê-la falar – que vai ser menos frustrante, não ouvir os seus pensamentos. Mas então fica pior e pior. - Eu me alegro que você não possa ouvir meus pensamentos. Já é ruim o suficiente que você ouve o que eu falo no sono. - Por favor? Coloquei em minha voz todo o mel que podia, usando o meu “poder de deslumbrar” através das palavras. Mas não adiantou, ela apenas balançou a cabeça negativamente. - Se você não me contar, eu vou simplesmente pensar que é muito pior do que realmente é. – Ela continuou em silêncio. Não, não, ameaças não funcionariam. – Por favor? - Bem... – Ela começou. - Sim? - Você disse que Rosalie e Emmett vão se casar logo... esse... casamento... é como é para os humanos?


- É lá que estamos chegando? – Eu ri, agora entendendo onde ela queria chegar. Ela não respondeu. – Sim, eu acredito que é a mesma coisa. Eu te disse, a maioria desses desejos humanos estão lá, só que estão escondidos por desejos muito mais fortes. - Oh. - Qual é o propósito por trás da sua curiosidade? - Bem , eu me pergunto... sobre você e eu... algum dia... Eu congelei. Eu já temia tê-la como minha namorada e ela já estava pensando em ser minha esposa? - Eu não acho que... que... seria possível pra nós. - Porque seria demais pra você, se estivéssemos tão... perto? - Isso certamente seria um problema. Mas não era nisso que eu estava pensando. É só que você é tão delicada, tão frágil. Eu tenho que controlar todas as minhas ações quando estou perto de você pra não te machucar. Eu poderia te matar tão facilmente, Bella, simplesmente por um acidente – eu toquei seu rosto levemente, tentando suavizar a verdade bruta de minhas palavras. – Se eu estivesse muito ansioso... Se por um segundo eu não estivesse prestando atenção o suficiente, eu poderia avançar, querendo tocar seu rosto, e amassar o seu crânio por engano. Você não se dá conta do quanto é quebrável. Eu não posso me dar ao luxo de perder o controle quando estou perto de você. – Eu fiquei esperando que ela ao menos comentasse, ou que dissesse outro “Oh”, no mínimo. Mas ela ficou completamente em silêncio. – Você está com medo? - Não, eu estou bem. Sua voz parecia sincera. Mas o assunto de repente me fez pensar. Eu hesitei antes de perguntar o que tinha em mente, não queria ser indelicado. - Contudo, eu estou curioso – comecei. – Você já...? – parei deliberadamente. - É claro que não! – Ela corou – Eu te disse que nunca senti isso por ninguém antes, nem perto. - Eu sei. É só que eu sei os pensamentos das outras pessoas. E amor e luxúria nem sempre andam acompanhados. - Pra mim andam. Agora, de qualquer forma, isso existe pra mim. - Isso é bom. Pelo menos, temos uma coisa em comum. - Seus instintos humanos... – Ela começou. Eu esperei. – Bem, você se sente atraído por mim, nesse sentido, de alguma forma? Eu sorri, assoprando seu cabelo levemente. Ela ainda tinha alguma dúvida? Ela, com certeza, não se via claramente.


- Eu posso não ser humano, mas eu sou homem. – respondi, e se eu pudesse, teria corado também. Para meu alívio, evitando falar dos meus desejos, ela bocejou. - Eu respondi todas as suas perguntas, agora você devia ir dormir. - Eu não tenho certeza se consigo. - Você quer que eu vá embora? - Não! – ela disse, alto demais. No quarto ao lado, eu ouvi Charlie se virar na cama e quase acordar, mas quase instantaneamente ele retornou à inconsciência, resmungando algo como “boa pesca” e “jogo dos Yankees”. Eu sorri e comecei a cantarolar sua canção de ninar. Ela se acomodou em meus braços enquanto eu continuava cantando e senti que aos poucos ela se rendia ao sono. Eu não sei quanto tempo mais fiquei em seu quarto, vendo-a dormir e ouvindo sua respiração. Eu não queria ir embora, mas eu devia. O que as pessoas pensariam se me vissem saindo de sua casa pela manhã com as mesmas roupas que cheguei? Me levantei de sua cama com o máximo de cuidado para não acordá-la e me aproximei da janela. Dei uma última olhada em meu anjo, dormindo tranquilamente, e saí para o vento fresco da madrugada 19 – Visitantes. Eu estava correndo por entre as árvores que levavam à minha casa. O vento soprava minha pele com força e fazia barulhos nos meus ouvidos. O cheiro de terra e mato invadiu minhas narinas, mas não foi suficiente para tirar o cheiro de Bella de minha cabeça.

Seguia meu caminho de volta para casa quase automaticamente. Eu não estava prestando atenção em nada. O barulho de água correndo, os animais passando, as folhas sendo varridas pelo vento e por mim, tudo estava em segundo plano. Minha mente só tinha espaço para pensar no dia que se passara. As coisas estavam acontecendo para mim de um jeito que eu nunca pensei ser possível... Edward Cullen, o garoto que sonhava em ser soldado e brilhar na guerra, e dispensara todas as pretendentes que seus pais arrumaram, finalmente se apaixona. E pior de tudo, por uma humana... Às vezes eu achava que Rosalie estava certa. Era perigoso demais têla perto de nós, deixá-la tão a par de nosso mundo como eu tinha deixado. Não perigoso para nós, mas para Bella. Eu tinha medo que algo acontecesse com ela, que ela se assustasse com minha família ou com nossos hábitos, ou que eu não fosse capaz de manter o controle. Mas apesar desse medo, eu tinha esperanças de que nada disso acontecesse... Eu sonhava que todos os nossos dias fossem tão perfeitos quanto hoje: sem segredos, sem mentiras, sem sede e sem medo.


“Ele está chegando!” Eu continuava passando rápido pelas árvores, sem me desviar de meu caminho. Me concentrei nas palavras de Bella... “Eu não quero que você vá embora”, “Eu quero ficar com você”... Eu só podia ouvir sua voz, só conseguia sentir seu calor e seu cheiro! “Em qual direção?” Meu pensamento estava totalmente voltado a ela, fazendo planos para nós. Eu não ligava pros passos, pro vento ou pros pensamentos em minha volta... Pensamentos? Parei de repente. Antes que pudesse me virar, algo grande como um urso e duro como pedra me atingiu, me levando ao chão. - Solte ele! – ouvi Alice gritando e correndo em nossa direção. Desvencilhei-me de meu atacante por poucos segundos, mas logo ele me prendeu em outro abraço. - Edzinho, meu brother! – Emmett falava rápido demais, enquanto Alice gargalhava às minhas costas – Cara, eu tava com tanta saudade de você! Ta com sede? Quer ir caçar? Eu tava indo agorinha mesmo, Alice ia me fazer companhia, mas se você quiser ir comigo, eu juro que não ligo, eu mando a baixinha ir pra casa e... - O que você fez Emmett? – perguntei. Seus pensamentos vagavam entre bananas e Chapeuzinho Vermelho, tentando me distrair. - Não fiz nada! “Ele, Jasper e Rosalie apostaram que você não traria Bella pra casa viva...” - Como é? – eu olhava de Alice para Emmett, sem entender nada. E toda aquela conversa de “boa sorte”, “tome cuidado”? - Ed – Alice me disse, ficando entre mim e Emmett – não fique bravo... Você sabe como eles adoram apostas! Principalmente esse babaca que está tremendo de medo aí atrás... - Não acredito que você contou... Anã irritante... - Eu ouvi isso, Emmett! – Alice disse, se virando pra ele – Aliás, eu ainda não entendo como vocês conseguem apostar contra mim! Eu tenho armas, se esqueceu? – ela apontava para sua cabeça. - Ei, não começa, Projeto de Psíquica! Eu tava entediado, já te disse! – Emmett disse, emburrado. - Jogasse xadrez, brigasse com a Rosalie ou roubasse o vestido dela de novo... Mas apostar contra as minhas visões?


- Malditas visões... Você estraga qualquer aposta! Eles estavam parecendo duas crianças brigando por causa dos brinquedos. Eu preciso confessar, vendo-os brigar desse jeito, eu não conseguia sentir raiva das apostas... Estava até aliviado por terem esquecido a cena do beijo. - Falando em visões... – Alice se virou lentamente, me encarando outra vez, com um sorriso enorme no rosto. Eu e minha boca grande... – Me conte tudo o que aconteceu, Ed! - Como se você não soubesse, Alice... – eu revirei os olhos. Eu era o irmão mais novo que acabara de perder a virgindade? Era o que parecia. Mas toda essa excitação era normal quando se tratava de Alice. - Ah, é, garotão! Fiquei sabendo que você deu uns amassos na Bella... – Emmett deixou o mau-humor de lado, aproveitando a deixa para rir de mim. - Então alguém já te contou sobre isso...? – perguntei a Emmett, mas olhando pra Alice. - E você queria que eu fizesse o que? Me contivesse enquanto esperava você chegar? Você sabe que eu não sei guardar boas notícias. – ela retrucou. - Eu sabia que isso não era possível pra alguém como você... - O que? Guardar as boas notícias só para mim? - ela perguntou. - Não. Se conter! - Edward! – Ela me deu um tapa no ombro e continuamos nosso caminho para casa, rindo como três crianças. - Então, vocês estavam caçando? – perguntei – Nós não tínhamos ido caçar ontem, Alice? - Na verdade, Emmett estava tentando se esconder de você, achando que você ia ficar bravo... -... Mas aí essa anã de jardim veio atrás de mim, gritando “Ele está chegando!” e acabou com meus planos! - Eu deveria mesmo ficar bravo, Emmett – comecei – Achei que vocês estavam do meu lado. - E eu estou! – Emmett disse – Mas não dispenso uma boa aposta, você sabe. - Mesmo se for pra perder? – Alice retrucou, visivelmente ofendida. – Eu disse que Bella estava viva! Minhas visões não falham! “Escutou, Edward? Minhas visões NÃO FALHAM.”


Ignorei seu comentário. Não queria ouvir que “um dia Bella será como nós” e que “não há nada que possamos fazer, Edward!”. As coisas estavam dando certo do jeito que estavam, e continuariam assim. Nós havíamos chegado em casa. Assim que abri a porta, Esme e Carlisle estavam me esperando na sala e me receberam com um enorme sorriso. Ao fundo, pude ver Jasper perto da escada, nos olhando. Rosalie não estava em nenhum lugar a vista. - Ah, filho! – Esme se adiantou e me deu um abraço – Ainda bem que deu tudo certo! – Ela me soltou e, se pudesse, eu tenho certeza que estaria em lágrimas. Carlisle não me disse nada no primeiro momento, mas em seus olhos e em seu sorriso eu conseguia ver a felicidade e o orgulho que eu tanto ansiava ver. “Eu sabia que podia confiar em você, meu filho”. - Obrigado, Carlisle. Nada disso seria possível sem você. – eu respondi, e tomei a iniciativa do abraço. Meu pai, meu protetor, meu amigo e confidente. Eu sentia em seu abraço firme que ele estava orgulhoso de mim. E eu não iria decepcioná-lo nunca. Quando eu o soltei, Jasper logo me puxou para um rápido abraço. Não disse nada, mas seu abraço forte disse por ele. Ele também se orgulhava e se espelhava em mim. - Ainda precisamos conversar sobre a aposta, Jazz... – brinquei, fingindo estar bravo. Ele me respondeu com uma risada e se aproximou de Alice, passando o braço sobre seus ombros. - Muito bem, muito bem! – Alice começou – Todos estão muito felizes, mas nos conte sobre o beijo! Vocês estão namorando? Quando vamos conhecê-la? - Conhecê-la? – Tinha que ser Alice e suas idéias absurdas. – Alice, eu não acho que... - Edward – Esme disse, me interrompendo e sentando-se no sofá em que Jasper e Alice tinham se sentado – Eu quero conhecê-la! Por que não a convida para vir amanhã em casa? - Como é? – eu estava pasmo – Esme, eu não sei se ela vai querer... - Espere um pouco! – Alice já fechava os olhos e procurava ver o que aconteceria. - A baixinha é rápida... – Emmett brincou – Cuidado, Ed. Ela pode roubar a Bella de você... Joguei uma almofada em Emmett, fazendo-o ficar quieto. - Que ótimo – Alice respondeu mal-humorada. – Decida-se! Eu não consigo ver enquanto você não se decidir se vai chamá-la ou não!


Eu não sabia se devia chamá-la... Porém, que mal poderia haver? Ela passara o dia inteiro com um vampiro fragilizado com seu cheiro, ninguém nessa casa poderia fazer mal algum a ela. A não ser... - Jasper! – chamei-o. Ele levantou os olhos e me encarou, provavelmente sentindo minha preocupação. – Jazz, não quero ser rude, mas preciso que me prometa que vai ficar longe dela. Eu preciso tomar todas as precauções possíveis. Desculpe-me se... “Edward, eu vou ficar longe dela. Não se preocupe. Se eu sentir que não estou bem, eu sumo por um tempo, dou um jeito. Pode confiar em mim”. Eu podia sentir a sinceridade nas suas palavras. - Obrigado, Jazz. – foi só o que consegui dizer. Ele saiu da sala, indo para seu quarto. Eu odiava quando o magoava assim. Sabia que não era culpa dele o fato de ser frágil a sangue humano, mas eu não pretendia correr nenhum risco quando se tratava de Bella. “Eu não sei o que ele te respondeu” Alice falou em seus pensamentos, me encarando do sofá “Mas eu peço para que confie nele, Edward. E em mim. Se algo acontecer, eu serei a primeira a saber, e pode ter certeza de que farei de tudo para impedir.” - Eu sei do esforço dele, Alice, não ignoro este fato. Mas eu preciso tomar todas as precauções. Ela sorriu meio tristonha, mas deu um aceno afirmativo com a cabeça. Em sua mente eu pude ouvir um rápido “obrigada” carregado de tristeza e incerteza. - Hey! – Emmett chamava, acenando com as duas mãos – Não sei vocês sabiam, mas eu não sou psíquico! Dá pra agirem como pessoas normais? Odeio quando vocês conversam assim... - Me desculpe, Emmett! – Alice voltou a sorrir, revirando os olhos, e se dirigiu a mim – Voltando ao assunto inicial, você já se decidiu? Todos os rostos tinham se voltado para mim. Eu estava apreensivo por trazê-la aqui, na casa dos vampiros. Era algo totalmente estranho de se imaginar e eu não sabia o que ela iria dizer... É natural um humano se afastar se um vampiro estiver por perto, logo seria de se esperar que ela recusasse ser trazida a uma casa com sete vampiros. Mas, se tratando de Bella, era impossível ter certeza. - Sim, Alice... Eu vou convidá-la. – respondi finalmente, torcendo para ter feito a escolha certa. Esme e Alice deram gritinhos de felicidade. O som foi tão alto que eu podia jurar que todas as pessoas de Forks ouviram. - Espere, espere! – Alice voltou a falar, enquanto dava pulinhos no sofá – Eu preciso ver o que ela vai responder.


Ela ficou imóvel de repente por longos segundos, pressionando os dedos nas têmporas. Todos os vampiros na sala tinham segurado a respiração e olhavam apreensivos para Alice. Até Jasper tinha aparecido no topo da escada para ver o que aconteceria. Eu podia ver as imagens correndo rápidas em sua mente: Bella aceitando, conhecendo a família, o escritório de Carlisle, meu quarto, Alice e Jasper, casa dos Swan. Respirei aliviado quando ela abriu os olhos e gritou outra vez, sobressaltando a todos os outros. - Ela vai aceitar! Vai dar tudo certo! – Ela e Esme gritaram outra vez, dando pulinhos e se abraçando – Preciso arrumar roupas para todos nós, não quero que ela pense que somos desleixados. - Que tal meu vestido azul? – Esme perguntou. - Não, acho que branco ficaria melhor. Carlisle, você também vestirá branco. - Alice! – eu falei. Que festa era aquela? – Não é motivo para tanto! - Edward Masen Cullen! – ela se aproximou de mim com um brilho mortal nos olhos. Seu eu não conhecesse Alice, juro que estaria com medo – Ou você fecha essa matraca ou eu também vou escolher suas roupas! Bom... Ela conseguiu um jeito de me fazer ficar quieto. - Tudo bem. – eu respondi, erguendo minhas mãos em sinal de rendição. Olhei para Emmett, Carlisle e Jasper, que riam silenciosos no outro canto da sala. Ela e Esme subiram as escadas rapidamente, dizendo coisas como “a sala está uma bagunça” e “dê uma olhada no quarto do Edward”. Jasper se sentou ao meu lado, Emmett do outro e Carlisle na poltrona em frente a mim. Os três ainda riam com a cena e eu os acompanhei. Quando Alice se empenhava em alguma coisa, era impossível fazê-la mudar de idéia. - Mulheres... – Emmett suspirou – Nunca se sabe o que elas são capazes de fazer. - Pois é... – Carlisle concordou, dando risada – Sabem que, por muito tempo, senti falta disso. Eu não posso reclamar. - Eu me lembro – respondi – Quando você encontrou Esme, as coisas ficaram diferentes para nós, não é? Nós dois rimos. Eu me lembrava da história perfeitamente. Carlisle não pensava em outra coisa que não fosse ela. Esme era sua vida e tudo que ele fazia era em função dela. Ela tinha um desejo imenso de ser aceita como mãe por mim, assim como havia sido aceita como mulher por Carlisle. Eu sempre havia recriminado esse sentimento, o amor, alegando que eu estava mais do que completo para querer alguém do meu lado. Eu não sentia falta disso. Agora eu tinha minha própria vida, eu tinha alguém para cuidar, para proteger. Como Carlisle, eu tinha minha Esme. - Falando em mulheres com problemas – eu brinquei, me dirigindo a Emmett – Onde está Rose, que ainda não a vi?


- Na garagem. – ele respondeu, suspirando. – Cara, às vezes eu realmente acho que ela foi homem na sua outra vida. Como pode uma mulher passar tanto tempo com carros? Se eu fosse ela, aproveitaria esse cara lindo que ela tem do lado, e deixaria os carros pra lá. Todos nós rimos. Eu ainda estava um pouco tenso com a idéia de Bella conhecer minha família, mas nada como um ambiente desses pra me distrair. Emmett sabia, como ninguém, quebrar o clima sério dentro de uma casa. Eu me levantei do sofá e segui até a garagem, tomando fôlego para encarar a fera. Ela estava sentada ao lado da roda do jipe de Emmett. Eu sabia que não havia problema algum com nenhum dos carros, mas deixei-a continuar fingindo estar ocupada. - Ei, Rose. – cumprimentei-a, me aproximando e encostando na Mercedes. - Oi. – Ela disse seca e sarcástica – Como vai a humana? - Viva – respondi no mesmo tom. - Já ficou sabendo da aposta, então? Eu preferia ter ganhado... - Eu já sei do seu grande amor por Bella, Rose, não me precisa me lembrar disso. – eu estava começando a ficar com raiva – Não quero saber dessa aposta. - Então o que você quer, Edward? – Por que ninguém consegue me deixar em paz? - Bom, achei que você já tivesse escutado tudo, ou os gritos no mínimo. Como Alice já te contou que deu tudo certo na clareira, eu... - É, ela disse. – ela me interrompeu, ainda sem erguer os olhos – Você a beijou, estão juntos e é isso. História legal. Todas têm um final feliz. - Eu a trarei aqui para conhecer vocês. – disse, finalmente. - O quê? Ela se levantou, olhando profundamente em meus olhos. Havia raiva em seu rosto e seus pensamentos estavam bloqueados. Ela me encarou por um segundo, respirando profundamente. - Você não está indo longe demais com essa história? – ela perguntou. - Rose, eu a amo! Eu nunca deixaria que algo de ruim acontecesse a ela! - Mas você sabe, Edward, que há a possibilidade de algo acontecer, e se acontecer, a família inteira será prejudicada! Nós teremos que nos mudar outra vez e eu não quero isso! - Nada vai acontecer, Rosalie.


Ela continuava me encarando, mas sua expressão estava se suavizando agora. - Pode ser gentil com ela, Rose? Apenas uma vez? Ela ainda não tinha respondido nada, mas vacilou com seus pensamentos por um breve segundo. Ela estava se lembrando do dia em que entrou para nossa família e em como foi bem recebida e amada por nós. Seus pensamentos passaram rapidamente para o dia em que ela conheceu Emmett e no amor que havia construído para eles. Depois, a parede voltou a bloqueá-los. - Eu sabia que você entenderia como é, Rose. Você também ama, afinal. De um jeito diferente, mas é amor. Você não é a bruxa má, como eu pensei que fosse... - O problema, Edward, é que não existem vampiros em contos de fada. E se existe algum, eu tenho certeza que ele não tem um final feliz. Isso não tem como dar certo! - Por favor, Rose! – eu estava implorando agora. Eu não queria que Bella se sentisse reprimida logo na primeira vez que viesse aqui. - E-eu... Eu não vou vê-la, Edward. Sinto muito, mas não quero participar da recepção. Se você quer mesmo seguir com essa idéia ridícula, me deixe fora disso... Ela voltou para o carro e eu pude sentir que o assunto estava encerrado. Era difícil falar com Rosalie quando se tratava de Bella, mas eu a entendia. Ela ainda estava com medo do que poderia acontecer, assim como eu estava. Mas nossas formas de lidar com o medo eram diferentes: eu o enfrentava, mas Rosalie se desesperava frente a ele. Eu voltei para sala, onde Jasper, Carlisle e Emmett continuavam sentados, assistindo televisão, e sentei-me no sofá ao lado de Emmett. O céu estava escuro, ainda era madrugada. Eu queria estar ao lado de Bella o mais rápido possível, mas precisava vigiar Alice para saber o que ela estava aprontando. No fundo, eu me sentia feliz por eles terem recebido-a tão bem antes mesmo de conhecê-la, mas algo em mim me dizia que alguma coisa daria errado, que não era seguro mantê-la tão perto de nós. Pare, Edward, isso é bobagem... Jasper tinha me assegurado ficar longe, Alice manteria as coisas sob controle caso algo desse errado, e Rosalie não estaria presente para assustar Bella. Bastava contar com a sorte. Alice e Esme continuavam nos quartos conversando, arrumando tudo que viam pela frente. “Esme, você não acha essa roupa muito simples? Escolha uma peça mais clara!” “Você tem razão... Ah, estou tão contente! O que acha dessa?” “Perfeita! Vai ficar linda em você! Agora vamos arrumar a sala...” “Certo... Você acha que devemos preparar alguma coisa para ela comer?” “Não acho que ela vá se importar... O que acha desse vaso de flores na mesa de centro da sala?”


“Não, muito simples... Espere, no meu quarto tem um mais bonito...” - E então? – Emmett perguntou, me tirando dos meus devaneios. – Falou com ela? - Rose? - Sim... – ele revirou os olhos, como se dissesse “Com quem mais seria?” - Falei. Ela disse que não vai ficar para recebê-la. - Ah, cara... – ele deu um soco na perna – Isso quer dizer que eu também vou ter que ficar longe de Bella... - Mas você já a conhece! - Mas não oficialmente! Nós dois rimos. Após alguns segundos de silêncio, voltei a falar: - Ela não gosta de Bella, não é? – perguntei, sem esconder a tristeza em minha voz. - Hey, me responda você! – ele brincou – Você tem acesso direto aos planos diabólicos dela. A única coisa que venho escutando dela ultimamente é “não toque no meu vestido de novo!” Eu ri com a lembrança. Emmett correndo pela casa no aniversário de Rosalie, com seu vestido de noiva. Ele deve ter sentido falta do braço, nos três dias que ficou sem ele... - ... na mesinha do centro fica melhor, Alice. Esme e Alice estavam descendo as escadas, ainda discutindo o que precisava ser arrumado para quando Bella chegasse. - Sim, eu também acho. Mas se esse ficar aqui, então onde colocaremos aquele... Eu vi a imagem na mente de Alice antes que ela pudesse dizer alguma coisa. Me levantei do sofá correndo, encarando-a, enquanto ela derrubava o vaso de flores que tinha na mão e ficava paralisada no pé da escada. Ao meu redor, eu via a movimentação: todos correram para o lado de Alice, menos eu. As imagens em sua cabeça me prendiam no mesmo lugar. Dois homens, um de cabelos pretos brilhantes, outro de cabelos castanhos escuros, acompanhados de uma mulher de cabelos ruivos. Todos os três com olhos pretos, se aproximando de Seattle. Eles estavam longe demais para que eu pudesse ouvir seus pensamentos. Mas, de acordo com a imagem de Alice, pelo jeito com que se movimentavam tranquilamente e pelas suas vestes, não eram recém-nascidos. - O que houve, Alice? – Jasper estava ao seu lado, apoiando-a pelos braços e trazendo-a até o sofá. Toda a família a seguiu.


- Alice, o que você vê? – Carlisle estava ao lado dela também, alternando seu olhar entre ela e eu. - Visitantes – respondi, enquanto ela não voltava do choque – Estão com sede. Vão caçar nos arredores de Seattle. - Recém-nascidos? – Rosalie perguntou, passando pela porta e sentando-se ao lado de Alice. – Se forem, teremos de nos preocupar. Não queremos a visita de nenhum Volturi por aqui... - Não... – Alice voltou do transe, encarando a todos na sala. – Não são recém-nascidos. Estão de passagem. Assim que se alimentarem, pretendem ir embora. - Quanto tempo vão ficar? – Emmett perguntou. - Alguns dias – respondi. Os pensamentos de Alice ainda estavam confusos, os três nômades não tinham chegado à cidade. - Edward – Esme chamou minha atenção – Você acha que é motivo para... ... afastar Bella daqui? - Não creio que seja necessário, Esme. Bella está segura. – respondi, lançando a todos um olhar de confiança, mostrando que eu contava com a ajuda deles, caso fosse necessário afastá-la daqui por um tempo. - Mas tenha cuidado mesmo assim. – Carlisle falou. Nunca se sabe qual a verdadeira intenção deles... Você consegue ouvi-los? - Ainda não. Fique vigilante. Qualquer novidade, nos avise. - Claro. – respondi, saindo da sala e indo para meu quarto. A primeira coisa que vi ao entrar foi um antigo CD do Rolling Stones. Meio segundo depois, ele já estava do lado de fora da minha janela aberta, se espatifando em uma árvore a uns 100 metros de distância. Idiota, idiota, idiota!! Eu sabia que isso ia acontecer! Maldita sorte a minha! Eu estava sendo tolo de expor Bella assim ao meu mundo, não era certo! Eu estava sendo o contrário de protetor, eu seria o traidor que a levaria a cova dos leões! Estava fazendo tudo errado, tudo errado! Com a sorte que ela tinha, eles viriam para Forks e a encontrariam... Talvez, se ela não viesse aqui, nós ficaríamos mais atentos a qualquer mudança dos visitantes... Ah, Bella, por que seu cheiro tem de ser tão apetitoso? - Posso entrar? – Alice bateu na porta. Antes que eu pudesse responder, ela se sentou no sofá, me encarando com uma cara emburrada. – Você não vai fazer isso. Não vai desistir. Você vai chamá-la e ela virá nos conhecer. - Alice, você não perceb...


- Eles estão longe, Ed! Olhe. – ela me mandou a imagem dos visitantes na entrada de Seatlle. Não era tão longe assim. – Não há motivos para eles virem a Forks. Eu a encarei por um segundo, enxergando a total sinceridade em seu rosto. - Confie em mim... – ela suplicou. - Tudo bem, Alice... – suspirei, derrotado. - Ahhh! Eu sabia! – Ela gritou, e me deu um abraço. – Vamos, você precisa trocar de roupa e voltar pra lá. - Você prometeu que não ia escolher minhas roupas, Alice! - Tarde demais... – ela cantarolou, abrindo meu closet e atirando algumas peças em cima da cama. Era melhor não discutir... - Hey! Ouvi Emmett gritar do lado de fora da janela do meu quarto. O que ele estaria fazendo lá em baixo? Me aproximei e olhei para o jardim que ficava bem embaixo da minha janela. Emmett estava parado, com o CD que eu havia atirado pela janela nas mãos, me olhando totalmente aborrecido. - Justo o CD dos Rolling Stones? – ele gritava, acenando a capa quebrada. Eu comecei a rir descontroladamente. Perto de Emmett, as coisas ficavam tão mais fáceis...! Peguei a roupa que Alice tinha tirado do meu closet e vesti correndo. - Esme! – gritei, antes de sair – Prepare-se! Estou indo buscá-la! - Boa sorte! – a ouvi responder da cozinha. – E, por favor, não demore! Saí pela porta a fora, sentindo o ar frio da madrugada que ainda soprava. Naquele momento, me esqueci de tudo: nômades, namoro, erros e incertezas... Eu estava indo na direção daquilo que mais me importava no mundo. ------ate aqui no momento . ainda aguardando continuação.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.