Universidade Tecnológica Federal do Paraná Disciplina: Projeto gráfico Professor orientador: Cláudia Bordin Projeto Gráfico: Aline Dantas Fotografias: Sebastião Salgado Tipografias: Big Caslon e Gotham
VIAGEM ÀS ORIGENS
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Nessas fotografias, eu conto uma história do planeta.
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No GENESIS, eu fiz uma viagem pelo planeta e também fiz uma viagem um pouco pela nossa história. Descobri que nós somos muito mais velhos do que eu imaginava. Nós temos dez mil anos, cinquenta mil anos. Eu encontrei, com essas populações que fotografei, que estão vivendo exatamente da mesma maneira que nós vivíamos há dez mil anos, cinquenta mil anos, várias coisas. O que é essencial para nós já existia. A ideia de comunidade, de solidariedade, já existiam assim, da mesma maneira. O amor já existia. Então algumas coisas que são importantíssimas, as verdadeiras coisas importantes na nossa sociedade, já existiam. Nós já tínhamos bens materiais, que nós só quantificamos, fizemos uma produção em grande escala, para o grande número que nós somos hoje. Mas já tínhamos uma série de coisas. Então, eu tenho uma GRANDE esperança que em um momento essencial qualquer, a gente arrisca ter que mudar o nosso comportamento em MUITO curto prazo e de fazer uma volta muito maior do que a gente imagina em direção ao planeta; e que possívelmente no momento, no momento essencial, no momento dramático, a gente possa compreender e fazer juntos algumas ações que possam permitir que a gente viva melhor nesse planeta ou que a gente continue a viver nesse planeta.
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O fotógrafo é um átomo e o cineasta é uma célula. Nós - os fotógrafos - somos rapidíssimos, você se integra a qualquer corpo. Você chega sozinho ou com um assistente em uma comunidade e você faz parte da comunidade, imediatamente. Alguma coisa acontece, antes de ela acontecer, você já está lá com sua câmera.
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“ ” Eu tocando essas câmeras, é uma continuidade dos meus dedos, do meu olho, da minha mão. Eu aprendi a ver através do visor.
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Na realidade, toda a minha vida de fotógrafo, foi a MINHA vida. Eu fotografei o que foi interessante para mim. O que me deu um grande prazer, o que me deu uma grande revolta; o que era inteiramente compatível com a minha maneira de pensar, com o meu código ético.
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O GENESIS não é nada mais, nada menos do que um corte, mais ou menos representativo, do que tem de triste no planeta.
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A terra era morta, completamente morta. Quando eu vi dezenas de milhares de árvores nascerem, quando eu vi dezenas de pássaros voltarem, quando eu vi a água voltar e quando eu vi naquelas árvorezinhas, que tinham setenta centímetros de altura, eu compreendi como a árvore é como um ser humano quando nasce. Você tem que proteger, tem que ensinar a andar, ensinar a falar, mas é um ser humano. E todas as reações, tudo que ele devolve na relação que você tem com ele, uma árvore é igualzinha. Eu vi que uma árvore pequenininha, já dava folha, já dava flor e que ela já recebia os insetos, já recebia os pássaros. Então quando eu vi aquela vida, de uma maneira tão elegante, tão forte, voltar, eu comecei a acreditar que a gente poderia fazer de outra forma. Que existia uma esperança. E que a esperança seguramente estava ligada ao planeta.
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Para ser fotógrafo, você precisa ser fotógrafo. Você não precisa ter um telefone, você não precisa ter uma boa câmera. Você precisa SER fotógrafo. Você precisa amar a fotografia, amar o que você faz, e viver densamente para ela.
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A fotografia, para você fazer, você tem que ter um grande prazer, um grande conforto. É um fenômeno de curiosidade, de integração com o que você está fazendo.
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Quando você olha uma fotografia branco e negro, você vai ter, instintivamente, uma tendência a colorir a imagem, porque tudo é em cor, nada é em branco e negro. Nesse momento, a imagem é um pouquinho sua também.
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Essa ligação com a natureza. A compreensão de que o debate, a discussão, não pode mais ser só sobre a distribuição de renda, sobre a pobreza. Eu acho que tinha que entrar também o lado do planeta, o lado ecológico, a proteção do meio ambiente.
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E uma fotografia é muito mais do que aquela fração de segundo. É uma história completa ali dentro, para frente e para trás. Uma fotografia é muito mais dinâmica do que apenas um segundo para frente e um segundo para trás.
“ ” Eu vivi momentos dramáticos, momentos difíceis. E vivi momentos de grande prazer.
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É um privilégio total ser fotógrafo. As oportunidades que você tem de ver, de conhecer, de participar, de, na realidade, ligar a sua vida a um momento histórico que você está vivendo, na parte alta do momento histórico. Você vive de uma maneira de paz.
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Na realidade, eu descobri com o projeto GENESIS que você tem que respeitar tudo. Para fotografar paisagem, você tem que respeitar a paisagem. Você tem que tentar compreender a dignidade da paisagem.
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No Alasca, no Brooks Range, eu tinha um aviãozinho que me colocava em um lugar e eu subia aquelas montanhas, que são muito altas, mas é muito fácil a ascensão. Eu começava uma ascensão às 3h30, 4h da manhã, porque você tem muita luz, era no mês de junho, e eu chegava lá em cima ali pelas 9h. A gente subia às vezes 1000, 1200 metros. Eu sentava em um ponto, sozinho. E tentava compreender aquela luz. Tentava compreender aquele mundo mineral. Tentava compreender aquelas marcas, aquelas erosões provocadas pelas avalanches no inverno. E olha… a partir desse momento, eu me sentia em uma unidade total com o meu planeta. Eu me sentia totalmente natureza, o planeta me dava esse roteiro de trabalho. E eu passava a ter um amor tão grande naquela relação, que eu espero que as fotografias transmitam esse estado de espírito.
“ � Minha fotografia foi minha forma de vida.