FRONTEIRAS URBANAS CONJUNTO HABITACIONAL ZEZINHO MAGALHÃES PRADO PA R Q U E C E C A P - G U A R U L H O S
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
ALINE MARIA FRANCA CRUZ NOGUEIRA
FRONTEIRAS URBANAS: CONJUNTO HABITACIONAL ZEZINHO MAGALHÃES PRADO E PARQUE CECAP GUARULHOS.
Trabalho Final de Graduação apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie para obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientadora: Profª. Drª. Denise Antonucci
SÃO PAULO DEZEMBRO DE 2016
AGRADECIMENTOS
Devo agradecer primeiramente a meus familiares por todas as oportunidades que me proporcionaram, pela compreensão, as fontes de amor e carinho que tive durante todos esses anos. Às grandes amizades que construí durante esses cinco anos, pelo apoio que deram, pelo companheirismo, e pelos bons momentos vividos dentro e fora da faculdade, certamente pessoas que quero ter por perto por muitos anos. À minha orientadora professora Denise Antonucci pelo apoio e pelas críticas construtivas que me ajudaram a seguir sempre em frente com o desenvolvimento do trabalho. Ao meu orientador professor Sami Bussab pelo incrível carinho, paciência e compreensão durante esse ano. Certamente uma amizade que permanecerá fora da sala de aula.
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GLOSSÁRIO SIGLAS E TERMOS
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BNH: BANCO NACIONAL DA HABITAÇÃO CECAP: COMPANHIA ESTADUAL DE CASAS PARA O POVO FCP: FUNDAÇÃO DA CASA POPULAR FGTS: FUNDO DE GARANTIA POR TEMPO DE SERVIÇO SFH: SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO
SUMÁRIO
1. Introdução 2. Políticas Habitacionais 2.1. Contexto Histórico – Questão Habitacional e a Política Habitacional no Brasil 2.2. Banco Nacional da Habitação (BNH) e o Sistema Financeiro da Habitação (SFH) 2.3. Companhia Estadual de Casas para o Povo (CECAP) 3. Parque CECAP e o Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado 3.1.Guarulhos e o crescimento populacional 3.2.A Proposta do Conjunto Habitacional e a execução da Obra 4. Pós Ocupação e Fronteiras 4.1. Projeto Original vs. Situação Atual 4.2. Fronteiras 4.3. Identidade e Pontos Nodais no Parque CECAP 5. Proposta – Intervenção e Requalificação 5.1. Sítio 5.2. Programa 5.3. Partido e Concepção 5.4. Soluções e Estratégias 6. Projeto 7. Considerações Finais 8. Levantamento Fotográfico 9. Bibliografia ANEXO I. Lei de Zoneamento e Plano Diretor de Guarulhos aplicados ao Parque CECAP. ANEXO II.
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1 INTRODUÇÃO
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Esse trabalho teve como inspiração a situação atual do bairro Parque CECAP na cidade de Guarulhos. Bairro esse que teve início com a realização da implantação do projeto urbano e arquitetônico do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado, entre as décadas 1960 e 1970. Atualmente a região apresenta-se quase que inalterada desde a paralização das obras do conjunto habitacional, as grandes áreas residuais, não construídas, apresentam-se como uma fronteira entre a zona central da cidade e os demais bairros. O objetivo desse trabalho foi estabelecer uma linha de pensamento para auxiliar na compreensão do contexto histórico e econômico, tanto do país como também do estado de São Paulo, sob quais foram lançadas as políticas públicas e habitacional. Buscou-se a analisar desde os primórdios das políticas habitacionais até o recorte da construção do Zezinho Magalhães Prado, foi realizada uma análise histórica da cidade de Guarulhos, e a descrição da proposta para o conjunto habitacional. Por fim foram tratadas também das diversas relações existentes com o bairro e a cidade, no caso as fronteiras, e do bairro com seus habitantes, a identidade coletiva no CECAP. Em associação com a pesquisa é apresentada a proposta de arquitetura desenvolvida, o Complexo Educacional e de Lazer Parque CECAP, um programa amplo, com a finalidade de contribuição para o desenvolvimento, a criação de uma nova centralidade no bairro, uma intervenção que respeita a relação com as edificações preexistentes e o seu entorno.
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POLÍTICAS H A B I TAC I O N A I S
2 POLÍTICAS H A B I TAC I O N A I S
2.1. Contexto Histórico – Questão Habitacional e a Política Habitacional no Brasil O fim das oligarquias e a inclusão das “massas populares”, após a Revolução de 1930, marcam o início de políticas sociais no Brasil. Até a década de 30 não existiam quaisquer medidas tomadas pelo governo em relação à habitação popular, as ações tomadas até então eram, de certa forma, o “isolamento” dos habitantes de cortiços, favelas e bairros periféricos. Em um primeiro momento as manifestações do governo, na questão da política social, tinham como fundamento apresentar à população de baixa renda que a atenção estava voltada para as suas dificuldades. Durante a década de 1930 foram criadas instituições que investiam na construção em larga escala de moradias populares, todavia suas ações eram desmembradas, e atendiam uma pequena parcela da população entre bancários, comerciantes e industriários. (AZEVEDO, 1988). Foi com a criação da Fundação da Casa Popular (FCP), em maio de 1946 no decurso do governo de Gaspar Dutra, que é institucionalizada uma política habitacional, buscando respaldo às classes de baixa renda para a construção de moradias populares. Uma taxa era cobrada sobre o processo de venda das moradias, onde o montante era recolhido pelos estados e por fim transferido para a instituição para subsídio de suas atividades exercidas. A FCP ia mais além do encargo do financiamento de moradias populares, era concedida à instituição também para a construção de infraestruturas e saneamento, apoiar o desenvolvimento de atividades relacionadas à construção dessas moradias – apoio à indústria da construção civil, a pesquisas e ao desenvolvimento de materiais e técnicas construtivas a fim de alcançar uma melhor aplicação e economia de seus recursos ao financiar as obras habitacionais, desse modo a expandir cada vez mais para as classes de baixa renda a obtenção dos financiamento. A Fundação teve seu fim devido à sua dependência total das verbas do governo federal, uma vez que as taxas, inicialmente propostas, não foram liquidadas pelos estados, o que explica seu simplório desenvolvimento quantitativo da produção de habitações populares. Algumas das ideias existentes para a Fundação foram retomadas na formação do Banco Nacional de Habitação (BNH).
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2.2. Banco Nacional da Habitação (BNH) e o Sistema Financeiro da Habitação (SFH) A questão política foi o fator crucial que impulsionou a criação do Banco Nacional de Habitação (BNH), de forma que, a partir da manipulação das políticas de habitação, na prática, o governo militar se aproximasse e passasse a ter a aceitação das classes de baixa renda, após a queda do governo populista, através da promoção da ideia de “casa própria” como um dos valores/ideais do proletário. “ (...) durante o regime militar, os períodos de maior investimento em habitação para as camadas de menor renda e de maior sensibilidade aos problemas das casas populares foram justamente aqueles em que o governo pretendia expandir sua legitimidade política.” (AZEVEDO, 1988, P. 113)
Eram previstas com a institucionalização do Banco Nacional de Habitação (BNH), repercussões construtivas no âmbito econômico, e que com a sua expansão passou a atuar como um banco de desenvolvimento urbano1 e não como uma instituição governamental apenas. Devido à amplitude de suas ações, se tinha em uma só instituição a reunião dos objetivos econômicos e sociais propostos pelo governo. Segundo Sérgio de Azevedo, algumas de suas atividades eram: emissão de títulos imobiliários; incitação para a realização de poupanças; desenvolvimento da indústria e da construção civil no país; maior absorção pelo mercado de trabalho de mão de obra não-qualificada; modalização de atividades relacionadas à construção civil – permitiu o desenvolvimento de incorporadoras, imobiliárias, escritórios de engenharia e arquitetura, e pesquisas voltadas a novas técnicas e materiais (AZEVEDO, 1988). Foi criado, para atuar em conjunto com o BNH: o Sistema Financeiro de Habitação (SFH)2 , o qual utilizava de recursos obtidos a partir de poupanças obrigatória e facultativa, ou seja, a partir do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS)3 e de contas de poupança respectivamente, para financiar a construção de casas populares; e o Serviço Federal de Habitação e do Urbanismo (Serfhau), instituição responsável por fornecer assistência, tanto financeira e técnica, para os Estados e Municípios intendentes de planos e/ou projetos de habitações, e também encarregado pela distribuição de créditos de financiamento de modo a privilegiar as famílias desabastadas. Desde a criação do BNH eram decretadas diversas ações que busca-
1 SACHS, Céline. São Paulo: Políticas Públicas e Habitação Popular. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1999, p. 130. 2 O Banco Nacional de Habitação (BNH) e o Sistema Financeiro de Habitação (SFH) foram instituídos em 21 de Agosto de 1964 pela Lei Federal nº. 4.380.
O órgão gestor do FGTS era o Banco Nacional da Habitação (BNH). Eram utilizadas “linhas de crédito sub-remuneradas para dinamizar a produção habitacional, e quem tinha acesso a esse crédito correspondia a totalidade de assalariados que dispunham de “poupança compulsória”. Em contrapartida eram os assalariados com rendimentos maiores, ou seja, aqueles que recebiam mais, que subsidiavam de fato aqueles que recebiam o crédito (classe de baixa renda). O Banco, apesar das diversas tentativas em sua trajetória, não compreendeu o suficiente as classes de baixa renda através dos seus programas; a sua clientela, em sua maior parte, correspondia a população de classe média – renda mensal de até três salários mínimos – devido ao peso das prestações das habitações. (AZEVEDO, Sérgio de. Vinte e dois anos de política de habitação popular (196486): criação, trajetória e extinção do BNH. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v.4, nº. 22, p. 107-119, out-dez, 1988.) 3
vam priorizar e viabilizar a aquisição de moradia para população de baixa renda. Anteriormente a existência do Banco, as poucas instituições existentes no mercado habitacional direcionadas para a produção de moradias beneficiaram uma pequena parcela da população. “(...) a criação do BNH contribuiu de forma decisiva, pelo volume de obras financiadas, para o nascimento de uma grande indústria da construção civil e de materiais de construção e para a forte concentração de capitais nacionais no setor.” (SACHS, 1999, p. 123)
A questão da habitação em São Paulo entre as décadas de 1960 e 1980 foi trabalhada quase que integralmente pelo Banco. A proximidade das datas de construção e paralização das obras do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado com as datas do comando do BNH sobre a produção de habitações e infraestruturas não são apenas uma mera coincidência. Durante o seu funcionamento, o BNH enfrentou diversas crises, e em decorrência da soma desses eventos com a situação econômica do país, a população de baixa renda foi a mais afetada devido ao aumento das parcelas do financiamento fornecido pelo Banco que se tornou conflitante com a remuneração das famílias. Em média, as famílias mutuarias do BNH tinham uma renda mensal de até três salários mínimos; desse modo a mostrar que a política habitacional não conseguiria equacionar questões econômicas e questões sociais, de modo a sempre tender para um dos lados, na maior parte do tempo, para o econômico em detrimento do social. Com o fim do Regime Militar e a instauração da Nova República, em 1985, buscaram-se medidas para a reforma do BNH/SFH tendo em vista a sua crise. Por se tratar de uma questão complexa, o governo então decretou o fim do Banco Nacional da Habitação e as suas atividades foram englobadas pela Caixa Econômica Federal; sendo assim uma das principais perdas com a extinção do BNH é justamente uma setorização dos objetivos nas questões habitacionais e urbanas, já que essas passaram a depender de instituições (não federais) para serem trabalhadas. “Qualquer que seja o encaminhamento futuro, é importante tentar resgatar a experiência institucional anteriormente adquirida, de modo que se possa partir de um patamar mais alto, sem repetir exemplos negativos do passado” (AZEVEDO, 1988, p. 119).
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2.3. Companhia Estadual de Casas para o Povo (CECAP) Fundada em 1949, a Caixa Estadual de Casas para o Povo (CECAP) foi uma instituição para auxiliar o governo estadual na produção e venda de casas populares – “era um órgão da administração pública com certa autonomia financeira”. Alguns parâmetros eram definidos para quem seriam destinadas as moradias com o objetivo de priorizar as famílias que mais necessitavam de uma moradia digna. Eram alguns dos parâmetros: a menor remuneração, o período de sindicalização, qual o período que vive em São Paulo, quantidade de filhos pequenos, entre outros. (CERÁVOLO, 2007, p.63). Após vinte e seis anos, em dezembro de 1975, é alterado o nome da companhia para Companhia Estadual de Casas Populares. É declarado seu fim após cinco anos, suas atividades foram passadas para a Companhia do Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), que permanece até hoje. Foi no contexto do BNH e SFH e através da CECAP que o Conjunto habitacional Zezinho Magalhães Prado foi realizado.
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PA R Q U E C E C A P E O C O N J U N TO H A B I TAC I O N A L ZEZINHO M AG A L H Ã E S PRADO
3 PA R Q U E C E C A P E O C O N J U N TO H A B I TAC I O N A L ZEZINHO M AG A L H Ã E S PRADO
Há dois importantes eixos rodoviários que passam por Guarulhos. A Rodovia Presidente Dutra (BR116), inaugurada em janeiro de 1951, conecta os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, e a Rodovia Fernão Dias (BR-381), inaugurada em 1961 no trecho paulista, e interliga São Paulo a Minas Gerais. A construção dessas conexões foram de demasiada importância para a Guarulhos, uma vez que passaram a marcar “uma institucionalidade jurídica e existência política para o município” (BORGES; OMAR, 2002, p.18). 4
Assim como o historiador Thiago Cavalcante Guerra faz em seu livro “CECAP Guarulhos: histórias, identidades e memórias”, o termo modernização é utilizado como um conceito que se refere a um parâmetro evolutivo. 5
Uma vez que a grande parte da população não disponibiliza de renda suficiente para investir em moradias em áreas com infraestrutura, desse modo, se veem obrigados a seguir em direção a áreas mais afastadas dos centros, dado que são nessas áreas que existem maiores chances de conseguirem instituir suas moradias, devido aos terrenos mais baratos e aos custos mínimos de construção. Tal processo é reconhecido por urbanistas como padrão periférico de crescimento urbano. 6
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3.1. Guarulhos e o Crescimento Populacional
As mudanças na cidade de Guarulhos foram grandes no período entre as décadas de 1950 e 1960, momento correspondente a internacionalização da economia e ao aumento do fluxo migratório de diversas regiões do país para a o Sudeste. População 1400000 1200000 1000000 800000 600000 400000 200000 0
1874
1886
1900
1912
1920
1933
1940
1950
1953
1960
1970
1980
1991
1996
2000
2007
Figura 1: Gráfico de Crescimento Populacional
A partir do gráfico (Figura 1) é possível verificar em que momento se estabelece o processo do aumento demográfico, e consequente processo de desenvolvimento econômico, pelo qual o município passou após os anos 50. De 35 523 habitantes em 1950, houve um aumento para 101 270 em 1960, ou seja, no intervalo de dez anos a taxa percentual de crescimento foi de 185,08%. A soma dos fatores como abertura da economia brasileira, construção de infraestruturas viárias4, a chegada de indústrias devido aos incentivos fiscais cedidos pela prefeitura e o crescimento populacional, resultou, em Guarulhos, no aumento do ritmo da vida urbana e na transfiguração do espaço urbano; tais mudanças foram consideradas oportunas para o município e seus habitantes. Entretanto é apropriado mencionar que é nesse momento de modernização5 , de desenvolvimento da cidade, o qual passa a ser marcado um padrão de crescimento seguindo pela periferia6 de Guarulhos, e até os dias atuais são nítidas as consequências desse processo, são elas tanto espaciais, ambientais, como também sociais.
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A implantação do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado se encontra entre as medidas de uma política habitacional, bem como também entre os seguimentos de um padrão periférico de crescimento. A construção do CECAP7 ocorreu justamente em uma região periférica da cidade na época, desta forma, consistia em uma grande área afastada dos bairros até então consolidados, desprovida de quaisquer estruturas necessárias para a futura população. E assim que a ocupação dos primeiros blocos foi iniciada, esses moradores permaneceram por diversos anos sem estruturas básicas como ruas pavimentadas, iluminação pública, comércio, transporte, escola e hospital, até que houvesse o planejamento, regulamentação e finalmente a instituição dessas por parte da prefeitura do município. Apesar das questões comentadas anteriormente, o conjunto Zezinho Magalhães Prado além de simbolizar, de certo modo, a arquitetura moderna paulista, e também ao investimento do Estado em promoções de políticas habitacionais, carrega em si a memória de um momento de “trunfo”, da cidade, como dito pelo historiador Thiago Cavalcante Guerra em seu livro sobre a história e memórias no Parque CECAP Guarulhos - “símbolo desse processo de modernização da cidade” (GUERRA, 2010, p. 26).
7 Designa-se o termo CECAP para corresponder ao Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado apesar da existência de demais obras realizadas pela CECAP (Caixa Estadual de Casas Para o Povo). A utilização desse termo é frequente em Guarulhos, bem como também aos profissionais de arquitetura devido a primazia do projeto.
3.2. A Proposta do Conjunto Habitacional e a Execução da Obra
O conjunto recebeu o nome do superintendente da Caixa Estadual de Casas para o Povo (CECAP) em 1966, o José “Zezinho” Magalhães de Almeida Prado, nomeação essa que foi realizada, de maneira inesperada, por Roberto de Abreu Sodré, o Governador de São Paulo na época. Foi o arquiteto Rui Gama, assessor do superintendente da CECAP, quem indicou à contratação dos exímios arquitetos João Batista Vilanova Artigas, Fábio Moura Penteado e Paulo Archias Mendes da Rocha para compor a equipe Departamento de Obras Públicas (DOP). Dentro do grupo foi Artigas e Penteado, por sua vez, os responsáveis pela coordenação do projeto e execução do conjunto habitacional da CECAP em Guarulhos. A proposta final para o conjunto é resultado da soma dos ideais do Movimento Moderno na arquitetura, das intenções urbanísticas e da experiência desses importantes arquitetos. “Nunca se tinha feito no Brasil uma obra deste tamanho, ainda mais com características da arquitetura diferenciadas, que tentava entrar na linha da modernidade desejada por nós”. (PENTEADO, Fábio. apud CUNHA, 2009, p. 76). Figura 2: Execução das obras do conjunto habitacional.
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Figura 3: Maquete da Implantação completa do Conjunto Zezinho Magalhães Prado.
O olhar ao Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado não deve se limitar apenas no espectro de ser uma proposta de habitação de interesse social. Ao se aproximar do conjunto é fácil perceber a sua complexidade e a sua relevância no estudo de arquitetura, urbanismo e também da engenharia. A produção do conjunto habitacional teve seu início a partir do Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e Banco Nacional de Habitação (BNH), organizações que nasceram da vontade de desenvolvimento das relações de produção e da economia durante o Regime Militar (1964-1985). Tinha-se como visão, com a criação do SFH e BNH, a contribuição com o desenvolvimento econômico por meio do incentivo à indústria da construção civil em conjunto com o atendimento à demanda por habitações populares, promovendo para a população das classes baixa e média o acesso à moradia digna – a conquista do “sonho da casa própria”. A grande demanda por habitações popular forçou a busca por maneiras de redução dos custos para a construções das unidades habitacionais, a solução alcançada para o problema foi justamente a racio-
nalização da produção de moradias – possível através de um grande aumento da produtividade da indústria da construção civil – somada a um “estoque de terras baratas”, terrenos localizados em regiões afastadas das cidades (PETRELLA, 2002, p. 169). Originalmente o projeto constava com a implantação de 10.560 unidades habitacionais para abrigar cerca de 55.000 pessoas, distribuídas em um terreno de 1.780.000 m², aproximadamente – terreno esse que antes pertencia a Caixa Econômica do Estado de São Paulo, e após um processo de desapropriação a CECAP que passou a ter posse (CERÁVOLO, 2007). Tal área estaria dividida em 8 freguesias, cada uma dessas compostas por 32 blocos de edifícios, com 60 apartamentos por bloco, cada um com 64 m². Constava no projeto inicial a proposta de instalação de oito centros educacionais de Primário e Ensino Fundamental, três de Ensino Médio, Escola Industrial, Hospital Geral e Ambulatório, centro de saúde, posto de puericultura (pediatria), estádio de 10.000 lugares, cinemas e teatro, igrejas, conjuntos esportivos (quadras poliesportivas e piscinas), entreposto de abastecimento, comércio local, caixa de água e gasômetro. Vista a tamanha complexidade do projeto, é significativo evidenciar o cuidado que a equipe de arquitetos teve ao conceber o espaço não apenas como um local para morar, mas também como um local de convivência – o desenho urbano do conjunto e suas adjacências buscava permitir que ali se realizassem as mais diversas atividades num mesmo espaço. O Zezinho Magalhães Prado tornou-se um projeto simbólico em razão dos seguintes aspectos: pela proposição de uma nova solução urbana em contraposição ao urbanismo tradicional; da racionalização do projeto; da industrialização da construção e seus componentes. O olhar ao conjunto habitacional não deve se limitar apenas no espectro de ser uma proposta de habitação de interesse social. Ao nos aproximarmos do conjunto é fácil perceber a sua complexidade e a sua relevância no estudo de arquitetura, urbanismo e engenharia. Tinha-se como base os preceitos da arquitetura Moderna, principalmente o conceito de “Unidade de Vizinhança”, o qual os arquitetos procuraram enaltecer uma sensibilidade urbana de moradia; houve intenso trabalho para o estudo e desenvolvimento dos requisitos imprescindíveis para, de fato, ali se propagar uma “vida cotidiana”, isto é, buscava-se a democratização dos espaços, a não delimitação entre o que é público e o que é privado, a ideia era de se manter ali as duas
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esferas unidas, acontecendo de maneira simultânea. Portanto é cabível considerar que para era proposto ao Zezinho Magalhães Prado algo que vai além da habitação social / popular, se tinha uma percepção mais ampla; o projeto foi pensado levando em consideração não só o espaço de morar – o interior da unidade – mas também o espaço público, o projeto não acaba apenas no conjunto em si. Quanto à implantação do conjunto habitacional é factível demonstrar influências de Le Corbusier bem como também ideias vinculadas a Carta de Atenas (CIAM, 1933). Identificam-se dois grandes eixos na porção central do terreno que são direcionadas a ocupações de comércios, lazer e esportes, e um eixo menor, onde se tem a ocupação de comércio local, para o qual as freguesias se voltam. Retomando a descrição de cada uma das partes do conjunto habitacional é pertinente salientar que fora efetuada uma análise macro para a posterior uma consideração micro.
Figura 4: Foto aérea durante a construção dos primeiros edifícios – Guarulhos, 1975.
8 Conceito de freguesias foi retomado no projeto, do conjunto habitacional da CECAP em Guarulhos, pelo arquiteto Vilanova Artigas, como um resgate as raízes culturais do povo brasileiro. O termo é utilizado no projeto como definição semelhante a expressão “superquadra”. Tal termo está associado a comunidades com vínculo eclesiástico, e foi traduzido pelo arquiteto como “conjunto de pessoas com interesse comunitário” (MENDONÇA M., p. 64).
O aspecto principal do CECAP é a definição de “freguesia” como unidade urbanística, que por sua vez caracteriza a morfologia do bairro; a cada 32 blocos de edifício designava-se uma freguesia8 que interligava através, de maneira acessível e independente do viário, os blocos residenciais aos equipamentos, como por exemplo: escolas, comércio, praça, ginásio de esportes, entre outros. O conjunto foi pensado de forma que os equipamentos respeitassem a distâncias limite de 400 e 500 metros dos edifícios residenciais, de forma a priorizar a circulação de pessoas a pé pelos espaços – tal ideia pode ser visto no “conceito moderno sobre o modo de alojar as massas” desenvolvido por Attílio Correia Lima. Os blocos das edificações são definidos de maneira ortogonal, em lâminas e unidos aos pares através de uma caixa de circulação vertical, a qual permite prescindir corredores no centro de cada pavimento. As edificações são definidas elevadas sobre pilotis permitindo então a permeabilidade, tanto visual como física, no pavimento térreo, com três pavimentos onde se distribuem os dez apartamentos por andar, sendo assim, cada bloco de edificação contando com 60 unidades habitacionais. A resposta dos arquitetos na organização da circulação vertical foi convenente para a liberação de um núcleo central que possibilita, desse modo, a organização das aberturas nas duas faces da edificação, favorecendo a ventilação cruzada e iluminação adequada nas unidades habitacionais; a organização dos núcleos de circulação permitiu a disposição de pátios internos entre as lâminas, desse modo a configurar maior conforto e climatização apropriada aos apartamentos. As áreas verdes, por sua vez, foram concebidas como parte primordial do projeto, correspondendo tanto ao desenho urbano como ao arquitetônico – esses espaços foram realizados concomitantemente a execução da obra. “(...) houve grande desafio para os arquitetos da equipe em angariar o grande volume de recursos que seriam necessários para sua viabilização” (CUNHA, 2009, p. 83).
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Figura 5: Primeiros blocos construídos habitados. Guarulhos, 1976.
Cada unidade habitacional do conjunto possui 64 m² de área construída, determinada por meio do conceito de planta livre – característica da arquitetura Moderna – que permite numerosas formas de organização do espaço, desse modo atendendo a diversidade de famílias. Os únicos espaços que não possuem tal flexibilidade são justamente as áreas destinadas a cozinha, área de serviço e banheiro, ou seja, a prumada de água, gás e esgoto. A unidade habitacional pode ser organizada com dois ou três quartos, cozinha aberta a sala (cozinha americana), ampla sala com estar e jantar e quartos menores, entre outras diversas maneiras. No que se refere aos custos de obra a questão da racionalização continua presente tanto no sistema de infraestrutura, como a estrutura das edificações, os fechamentos e acabamentos das unidades. No projeto de infraestrutura fora determinado que o sistema de distribuição de água era centralizado para todo o conjunto, com a existência de apenas uma caixa d’água, e também nos blocos (paredes hidráulicas
– prumada). Em relação a estrutura foi detalhado o desenho de todas as peças - pilares, vigas e lajes – e, em uma das etapas de construção, o desenvolvimento, por parte de uma empresa contratada, de um sistema “mesa-parede” – paredes autoportantes de concreto que apoiam as lajes. Em relação aos fechamentos e acabamentos houve o desenvolvimento e detalhamento das paredes externas dos blocos como espaços para armários, caixilharia única, eliminação de contra piso e paredes internas de gesso (redução de carga sobre a laje) e por fim, o estudo e desenvolvimento de equipamentos próprios para as unidades habitacionais como forno, fogão, geladeira, tanque e máquina de lavar. Buscou-se no desenvolver desse projeto a padronização, a racionalização e a pré-fabricação. Todavia a pré-fabricação tornou-se polêmica, pois se tratava de um problema, pois era algo quase que experimental na construção civil na época; já haviam sido construídas obras dessa maneira, porém não em larga escala como no projeto da CECAP em Guarulhos. A nítida e intensa racionalização demonstra o objetivo dos arquitetos de proporcionar aos usuários uma moradia digna e confortável, mesmo com uma grande limitação de custo. Algumas das principais adversidades em relação ao processo de pré-fabricação, além do problema da larga escala do projeto, era também a demanda de recursos financeiros, uma vez que seria necessário criar a estrutura necessária para a execução das peças e uma incerteza vigente no momento em relação à continuidade da utilização desse modo de construção “(...) não se sabia quando seria usada novamente, devido a inexistência de um mercado que a assimilasse” (CUNHA, 2009, p. 81), além de que o BNH pressupunha que para a obra se utilizaria mão de obra não especializada, deste modo, concorrendo com a “industrialização da construção”. No entanto, as obras foram interrompidas e menos da metade da proposta foi construída de fato. Das oito freguesias idealizadas, foram realizadas apenas cinco, sendo que essas foram finalizadas em meio às dificuldades relacionadas ao sistema construtivo – o alto custo devido ao sistema construtivo adotado e a falta de mão de obra especializada necessária nos canteiros de obras somam algumas das principais razões que explicam a paralização da obra do conjunto habitacional. Deixaram de ser construídos alguns dos equipamentos e estruturas que dariam suporte às quadras habitacionais.
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Durante primeira fase de construção utilizou-se o sistema convencional de construção, se tinha como estrutura laje nervurada (8.35 cm de espessura) e pilares delgados (60 cm de largura) embutidos na alvenaria de blocos. Na segunda fase de construção houve mudança quanto ao sistema construtivo, o qual as lajes se tornaram maciças (dimensões maiores), os pilares mais robustos no térreo, adotou-se o sistema de “mesas-parede” e a mudança do elemento da circulação vertical, que nessa fase adotou-se o sistema construtivo pré-fabricado. Por fim a terceira, e última, fase de construção não houve muitas mudanças quanto a segunda fase, apenas em relação ao elemento da circulação vertical, esse também pré-fabricado, porém agora possuindo estrutura metálica – diferenciando-se pela presença de um “rasgo” no guarda corpo. A partir do momento em que os primeiros edifícios já estavam finalizados e a entrega das chaves dos apartamentos sendo realizada, era cada vez mais visível para os moradores que grande parte daquilo que lhes fora prometido não seria realizado.
Figura 6: Resquícios da paralização das obras – Guarulhos, 1993.
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Figura 7: Formação do comércio – Guarulhos, s/ data.
Desde que as obras foram paralisadas, na década de 1980, a maioria dos terrenos equivalentes à disposição dos equipamentos não construídos se encontram vazios e/ou abandonados até hoje, os que não estão vazios são equivalentes às áreas residuais que foram ocupadas através da associação dos próprios moradores, de modo que ali buscaram dispor de equipamentos que consideravam necessários para o bairro. Um exemplo nítido dessa ação conjunta entre os moradores são: o Centro Comunitário, construção onde são realizados eventos organizados pela associação dos moradores, e o comércio em “trailers” que abrigam pequenos comércios, que vão desde restaurantes, pequenas quitandas e até bancas de jornais; ambos atualmente são tidos como marcos da identidade coletiva dos habitantes do conjunto. Podendo assim afirmar que foi a partir dessa “falta” que se deu o início da vida comunitária intensamente desenvolvida durante o percorrer dos anos no bairro Parque CECAP. Os momentos de dificuldade pelos quais passaram os primeiros moradores do conjunto fizeram com que se criassem fortes laços entre as pessoas, algo remanescente até os dias de hoje; pode-se dizer que uma identidade foi construída naquele lugar. “Essas memórias vivas dos moradores nos abrigam grandes avenidas de possibilidades de se perceber essa vida comunitária” (GUERRA, 2010, p. 27).
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O conjunto Zezinho Magalhães Prado é um projeto de habitação que se destaca por estar em um momento da história que construção nacional ainda não estava completa, ou seja, estava em processo de desenvolvimento, não havia fundos, materiais, mão de obra e/ou técnica construtiva suficientemente desenvolvida para atender as inovações e propostas da arquitetura moderna as quais o projeto carregava, e deve-se notoriedade também por atender e tornar acessível à demanda das classes baixa e média baixa, habitações com qualidade – não precisa ser caro para ter qualidade. Ao conduzir-se por esses pontos, é possível considerar o conjunto como uma construção inovadora, seu projeto foi uma espécie de “oficina experimental” tanto no aspecto arquitetônico quanto construtivo, e apesar de já terem se passado quase cinco décadas desde sua concepção; projeto é até hoje tido como uma rica referência na temática da habitação social no âmbito da arquitetura.
Figura 8: Edificações Parque CECAP.Guarulhos, 1992.
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P Ó S O C U PAÇ Ã O E FRONTEIRAS
4 P Ó S O C U PAÇ Ã O E FRONTEIRAS
MEDRANO, Leandro Silva; RECAMÁN, Luís (organizadores). 1968 – Vilanova Artigas: Habitação e a cidade na modernização brasileira. Campinas, SP: Editora Unicamp, 2013. 9
Habitação e Arquitectura XIII: A apropriação e a arquitectura do habitar - António Baptista Coelho (n.º 364, 9 Out. 11, 18 págs., 10 figs.). Disponível em: <http://infohabitar. blogspot.com/2011_10_09_archive.html>
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CERÁVOLO, Fabiana. A pré-fabricação em concreto armado aplicada à conjuntos habitacionais no Brasil: o caso do conjunto habitacional Zezinho Magalhães Prado / Fabiana Cerávolo; orientador Miguel Antônio Buzzar, 2007. Dissertação (Mestrado-Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo. Área de concentração em Teoria e História da Arquitetura e do Urbanismo. Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, 2007. Disponível em: <http://www.teses. usp.br/teses/disponiveis/18/18142/ tde-15012008-175432/pt-br.php>.
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4.1. Projeto Original vs. Situação Atual
Ao se aproximar do conjunto Zezinho Magalhães Prado, ao analisar as soluções adotadas, compreende-se, a partir da racionalização do projeto e de sua construção, a vontade dos arquitetos de organizar e propor soluções cabíveis financeiramente para a população de baixa renda, mas sem abrir mão da qualidade de vida. Há autores que criticam as soluções adotadas e a forma do conjunto, marcadas pela intensa racionalização, como “estandardização social e massificadora”9, mas por mais que em um primeiro momento isso tenha ocorrido, a situação em que se encontra o conjunto, 50 anos depois de sua construção, contrapõe tais afirmações, a ocupação e a apropriação do bairro pelos seus habitantes alterou a suas características. Por mais que se estude, analise, sobre o lugar onde um projeto será implantado, nem sempre as propostas, soluções, ou os ideais do arquiteto serão seguidos efetivamente a partir do momento em que a obra passa a ser ocupada10. O uso, a circulação, o encontro, de pessoas em um determinado espaço é o que o transforma em um lugar, o uso conforma, e atribui ao espaço, significado. Apesar das críticas às idealizações dos arquitetos – apropriadas com relação exclusivamente aos aspectos formais da obra – não se pode esquecer de que o projeto foi muito mais além do que uma proposta trivial de habitação popular, foi uma ação conjunta de profissionais que buscavam colocar em prática novas formulações, ideais e técnicas construtivas, para promover a construção moradias em benefício à população de baixa renda. Como explanado previamente, a construção do Zezinho Magalhães Prado foi dada em fases, e de acordo com Fabiana Cerávolo11, foram realizadas cinco licitações no total devido às mudanças e revisões das fases anteriores, de modo a corrigir as falhas da fase antecedente. Para esse trabalho serão adotadas como apenas três grandes fases apenas, organização essa sob o prisma das modificações estruturais do projeto.
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Figura 9: Circulação vertical. Condomínio Paraná.
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Figura 10: Laje Nervurada e pilares - pavimento térreo. Condomínio Paraná.
As edificações da 1ª fase foram realizadas, entre os anos de 1968 e 1972, com técnicas construtivas tradicionais, o emprego de mão de obra não qualificada impossibilitou a utilização de componentes estruturais pré-fabricados como previsto no projeto executivo original; aqui a estrutura dos edifícios é composta por blocos de concreto, pilares estreitos, lajes e vigas moldados in loco - sistema de laje nervurada (Figura 10). Outros aspectos característicos dessa fase é a circulação vertical (Figura 9) dos blocos, onde a escada se dá em formato de “U”, tendo suas paredes também em blocos de concreto, os blocos apresentam sua fachada segmentada, devido aos balanços que eram também segmentados. Os condomínios inclusos nessa fase correspondem aos primeiros que foram construídos, sendo eles: o Condomínio São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, respectivamente. As edificações da primeira fase são as únicas construídas por completo, ou seja, assim como previsto originalmente, os edifícios habitacionais foram acompanhados também de equipamentos com Centro Comercial, Praça Parque da Vizinhança, Escola Infantil, Centro de Saúde e Campo de Futebol (popularmente conhecido no bairro como “Rachão das 7”).
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Figura 11: Blocos de concreto e fachada segmentada. Condomínio Paraná.
Figura 12: Mapa de localização dos edifícios da 1ª fase.
Já as edificações da 2ª fase, construídas entre 1972 e 1976, correspondem ao primeiro momento onde passou a ser adotada a pré-fabricação, tal fato implicou modificações significativas quanto à estrutura e também a circulação vertical dos blocos. Na fase anterior, o que dava o fechamento na fachada eram os blocos de concreto (projeção dos armários internos das unidades), nessa o fechamento passa a ser por uma viga que percorre todo o comprimento das unidades habitacionais, isso possibilitou a execução de pilares mais alongados, pouca largura e maior comprimento, além de torna fachada menos segmentada. Na questão da circulação vertical, o que antes era uma escada em “U” nessa fase passou a ter escadas pré-fabricadas (Figuras 14 e 15) dispostas paralelamente; com essa nova disposição da escada foi inserido a construção de bancos de alvenaria para compor o hall (Figura 13) – isso permitiu que se criasse uma pequena área de estar para os moradores do andar, ao visitar os condomínios evidenciou-se eventos que comprovavam que um simples banco permitia uma maior relação de convivência entre os moradores, eventos esses que vão desde crianças se reunindo para brincar até moradores compartilhando de uma pequena horta no hall. Os condomínios construídos na 2ª fase são: Rio de Janeiro e Minas Gerais. Figura 13: Banco de alvenaria no hall. Condomínio Rio de Janeiro.
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Figura 14: Circulação vertical. Condomínio Rio de Janeiro.
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Figura 15: Detalhe da escada pré-fabricada. Condomínio Rio de Janeiro.
Figura 16: Mapa de localização dos edifícios da 2ª fase.
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Figura 17: Circulação vertical. Condomínio Alagoas
Figura 18: Vista interna do hall e escadas. Condomínio Alagoas
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Figura 19: Laje maciça e pilares moldados. Condomínio Alagoas.
Por fim, a 3ª fase de construção, que ocorreu de 1978 até 1981, corresponde ao momento onde a técnica da pré-fabricação já estava estabelecida, tanto que se tornou mais barata que a técnica tradicional aplicada na primeira fase. O sistema estrutural dessa fase, assim como na anterior, era composto por lajes maciças, apoiadas sobre pilotis e paredes de concreto moldadas in loco (Figura 19). A fachada dos blocos nessa fase, se dá também a partir do fechamento dos armários em balanço, só que agora a viga que dá esse fechamento percorre todo o comprimento das lâminas, tornando, desse modo, a fachada como uma plano contínuo. Mais uma vez houve mudanças significativas em relação a circulação vertical, ainda dispostas paralelamente, as escadas passaram a ser moldadas em uma nova fôrma metálica, marcadas característico pelo guarda corpo vazado (Figuras 17 e 18). Os condomínios correspondentes à terceira, e última fase construída, são: Espírito Santo, Bahia, Alagoas e Sergipe.
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Figura 20: Mapa de localização dos edifícios da 3ª fase.
Figura 21: Galpão construído entre os blocos no Condomínio Alagoas.
Originalmente o conjunto habitacional foi projetado composto por “freguesias”, agora divididas em condomínios individualizados após o processo de fechamento das quadras durante a década de 1980. Foram nomeadas a partir dos estados Brasileiros, sendo: São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, Alagoas e Sergipe, como citado previamente. Atualmente cada condomínio possui portaria e administração própria, comumente composta por um grupo de 5 a 10 moradores que se associam em busca de organizar e preservar as edificações; tal associação tem funcionamento semelhante dos condomínios residenciais mais recentes, ou seja, há uma a equipe composta por síndico e colaboradores que é rotativa a cada poucos anos, responsável pelo gerenciamento e cobrança de taxas de segurança e manutenção das quadras. Na maioria dos condomínios, para sediar o setor administrativo optou-se por ocupar alguns apartamentos para a disposição de salas de reunião, escritórios, arquivos e zeladoria; a única exceção é o caso do Condomínio Alagoas, onde fora construído um galpão, entre os blocos, para abrigar além da administração, mas também equipamentos esportivos (quadra poliesportiva e academia) e comércios de primeira necessidade visando atender aos moradores – é válido ressaltar que é uma das freguesias que mais estão distantes do centro comercial, sendo essa a explicação dada pelos seus moradores de modo a defender a construção do pequeno centro comercial.
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Outra circunstância de destaque na questão da pós-ocupação do Zezinho Magalhães Prado é a influência do Aeroporto Internacional de São Paulo, inaugurado em janeiro de 1985, em seu contexto social. O conjunto habitacional, em seus primórdios, era ocupado majoritariamente pela população de baixa renda; após a consolidação da estrutura aeroportuária em Cumbica passa a ser notado um processo de saída dos antigos moradores, a venda e/ou aluguel das unidades habitacionais, para a população de média renda, sendo desde funcionários do Aeroporto, das companhias aéreas e até taxistas. Tais mudanças fizeram com que a característica de habitação popular fosse deixada de lado, ou seja, o bairro passou a pertencer não só a população de baixa renda, mas também à classe média. Vista a relevância arquitetônica do conjunto, bem como para a preservação das edificações, a Associação Amigos do Patrimônio e Arquivo Histórico (AAPAH) – entidade sem fins lucrativos, em Guarulhos que se dispõe para a conservação dos patrimônios da cidade, sejam eles imateriais ou materiais – esse ano deu entrada no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) para o processo de tombamento do bairro Parque CECAP. Tendo em vista tal informação, foi trabalhada a hipótese do tombamento do bairro no desenvolvimento da proposta, comentada no próximo capítulo.
4.2. Fronteiras
A partir dos estudos e propostas de análise realizados por Kevin Lynch em seu livro “A Imagem da Cidade”, que fornece diretrizes para a compreensão das cidades como elas são de fato, foi utilizado o conceito de limites desenvolvido pelo autor para trabalhar a questão das fronteiras no Parque CECAP. O autor descreve limites como uma quebra, demarcação entre duas áreas distintas, o contorno entre territórios que pode ser ou não permeável. Para Lynch limite não é estabelecido assim como as vias – “(...) para muitos esses elementos limítrofes são importantes características organizacionais, sobretudo ao seu papel de conferir unidade a áreas diferentes, como no contorno de uma cidade por água ou parede” (LYNCH, 2011, p.52). Para o caso da análise do conjunto Zezinho Magalhães Prado optou-se por utilizar o termo fronteiras urbanas ao invés de limites assim como Lynch em vista à demasiada abrangência do segundo termo, tendo a finalidade de uma melhor compreensão da atual situação do conjunto em relação com a cidade de Guarulhos. Serão trabalhadas aqui dois tipos de fronteiras: espacial e social. Figura 22: Vazios e o Parque CECAP – Guarulhos, 2016.
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Do mesmo modo que o autor de a Imagem da Cidade coloca que uma linha litorânea, o percurso de um rio, uma ferrovia, grandes estruturas e equipamentos são limites devido a sua tendência de desintegrar, a romper a continuidade, a um território, as fronteiras espaciais no Parque CECAP são dadas primordialmente pelos grandes vazios residuais da paralização das obras do conjunto habitacional, mas também devido à passagem das rodovias Presidente Dutra, que conecta São Paulo ao Rio de Janeiro, e a Hélio Smidt que percorre os bairros de Cumbica, Taboão, São João, também o Aeroporto Internacional de Guarulhos até a rodovia Ayrton Senna. Já as fronteiras sociais são tidas em uma escala menor. São também consequências dos vazios, que não permitem a relação do Parque CECAP com os bairros que lhe circundam, sendo Vila Barros, Vila Fátima e São Roque, respectivamente. Outro fato que caracteriza as fronteiras sociais no bairro é o próprio fechamento das freguesias e a sua subdivisão em condomínios, que em sua maioria, faz com que haja um certo isolamento dos moradores com as áreas de convivência.
4.3. Identidade e Pontos Nodais no Parque CECAP
Ainda a partir de “A Imagem da Cidade”, foram utilizados alguns dos conceitos desenvolvidos pelo autor para auxiliar em um melhor entendimento das multiplicidades do bairro Parque CECAP. Os conceitos desenvolvidos por Kevin Lynch utilizados aqui são: identidade e pontos nodais. O autor define como identidade tudo aquilo sobre qual o observador constrói uma relação, seja um objeto material ou imaterial. O conceito de pontos nodais é definido como espaços de circulação, cruzamento e/ou de concentração, podem ser também espaços com algum uso específico que lhe confere também a definição de símbolo (LYNCH, 2011). No caso do Parque CECAP podemos enxergar que há identidade coletiva construída pelos próprios moradores desde o início da ocupação do bairro. Foi citado no capítulo anterior que o projeto não foi realizado em sua totalidade, e como solução os moradores passaram a se organizar para a construção de equipamentos que consideravam necessários para o bairro, é justamente nesse momento de união dos moradores que passam a ser construídos os laços entre as pessoas e o espaço que ocupavam. Cada construção, cada intervenção, passou marcou a vida de muitos habitantes, bem como esses deixaram sua “marca” no bairro, e essas podem ser vistas até hoje. Espaços como a Praça Mamonas Assassinas, o Centro Comunitário e o comércio em trailers podem ser tidos como os pontos nodais da vizinhança, são locais de concentração e de circulação que de certa maneira fazem o observador sentir que está no Parque CECAP, são lugares únicos. Por exemplo, onde estão situados os trailers é um local de concentração comercial e de circulação, em si não é um lugar bonito, mas é prazeroso de se estar, de lá é possível acompanhar as pessoas circulando pela Praça Mamonas Assassinas, jovens reunidos ouvindo música e utilizando da pista de skate, acompanhar a movimentação de crianças brincando através das grades do Condomínio Espírito Santo e ouvir motoristas cumprimentando alguns dos comerciantes. É válido ressaltar um dos recentes acontecimentos no CECAP em relação aos trailers, houve um movimento de ocupação contra a retirada dos mes-
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mos por parte da prefeitura, onde os moradores clamavam por respeito ao ícone da cultura e da identidade do bairro, e contra aos projetos que vão de encontro aos interesses meramente econômicos e da especulação imobiliária – moradores contra a gentrificação12 do CECAP. “Alguns desses pontos nodais de concentração são o foco e a síntese de um bairro, sobre qual sua influência se irradia e do qual são um símbolo” (LYNCH, 2011, p.53)
Gentrificação tem origem na expressão inglesa gentry, e corresponde a uma tradução literal de gentrification. O termo gentrification que apareceu na década de 1960 em Londres, explica a tomada dos gentriers (nobres) para bairros que até então eram ocupados pela população operária. “A gentrificação, por sua vez, se apoia nesse mesmo discurso de “obras que beneficiam a todos”, mas não motivada pelo interesse público, e sim pelo interesse privado, relacionado com especulação imobiliária” (COSTA, Emanuel. O que é gentrificação e o porquê você deveria se preocupar com isso. 2016. Disponível em: <http://www.courb.org/pt/o-que-e-gentrificacao-e-por-que-voce-deveria-se-preocupar-com-isso/>.
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Figura 23: Estátua Mamona Praça Mamonas Assassinas.
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P R O P O S TA : INTERVENÇÃO E R E Q U A L I F I C AÇ Ã O
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5.1. Sítio
A escolha do terreno para o desenvolvimento da proposta está diretamente associada aos estudos de distribuição de infraestrutura e equipamentos como escolas, comércios, hospital e áreas de lazer; de uso do solo e o projeto urbano do bairro. Outro fator da escolha foi justamente por se apresentar “centralizado” no bairro, correspondendo diretamente à ideia da criação de um ponto de irradiação da suposta requalificação do bairro. O terreno escolhido corresponde a uma das áreas remanescentes da proposta inicial do conjunto habitacional, onde não foi construído o equipamento ali proposto, no caso um centro de abastecimento. Com uma área de 36.000 m², este se encontra localizado entre as avenidas Odair Santanelli e a Perimetral CECAP, e entre os condomínios Espírito Santo e Minas Gerais. Seguindo o Plano Diretor da cidade de Guarulhos, o bairro Parque CECAP se encontra na Macrozona de Urbanização Consolidada, e terreno encontra-se em uma Zona Mista A, que define como 2,5 o coeficiente máximo de aproveitamento (Anexo I). Quanto à topografia, a área, a qual o terreno está localizado, apresenta-se predominantemente plana e com sua superfície turfosa, ou seja, apresenta um solo de origem orgânica, pois, antes da implantação do Zezinho Magalhães Prado, a área correspondia à várzea do rio Baquirivú – afluente do rio Tietê e atualmente retificado. Tal característica foi levada em conta ao se implantar a “nova” edificação.
Mapa de localização do Parque CECAP
Mapa de localização do terreno
5.2. Programa
Para o desenvolvimento dessa produção buscou-se trabalhar com dois termos para explicar com mais clareza a abrangência de cada análise. Sendo assim, utiliza-se o termo macroscópico (macro) para tudo aquilo que corresponde ao município de Guarulhos, e o termo microscópico (micro) para tudo aquilo que corresponde ao bairro onde o terreno está inserido, o Parque CECAP.
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Idem.
Visto que a construção do conjunto habitacional não aconteceu por completo, fora colocado como ponto de partida, para o desenvolvimento da nova proposta, a realização de duas análises que se complementam, sendo uma a análise do programa originalmente proposto, e uma análise das estruturas e equipamentos existentes atualmente na cidade de Guarulhos (macro13) e no bairro Parque CECAP (micro14). A partir dessas pesquisas foi possibilitado restringir que a proposta fosse voltada aos usos educacional, esportivo e de lazer; e suprindo as necessidades do bairro assim como, da cidade. Sendo assim, a proposta do projeto foi o desenvolvimento de um Complexo educacional e de lazer com um programa amplo, com a finalidade de que esse possa contribuir para o desenvolvimento e a criação de uma nova centralidade no bairro. Para a criação do programa do Complexo para o Parque CECAP foram tidas como referências diferentes instituições voltadas tanto para a educação, esportes e bem-estar, como ao lazer; é o caso de instituições como a Escola Técnica Paulista (ETEC), Faculdade Técnica Paulista (FATEC) e o SESC. Por conseguinte, a multiplicidade de usos, o programa de necessidades foi estruturado a partir de setores, que são: social, formação, lazer, comércio, gestão e apoio. O setor social deste programa engloba a todas as áreas que são abertas, para uso público e também para uso das instituições que fazem parte do Complexo, no caso o auditório para 310 pessoas (800m²), a praça de acolhimento e a biblioteca (900m²). É valido ressaltar que tanto a biblioteca como o auditório foram propostos de maneira que pudessem ser utilizados também pelas demais instituições de ensino localizadas no bairro, são espaços que darão suporte a essas – uma vez são desprovidas desses equipamentos. No setor de formação do programa é onde se organizam as Escola e Faculdade Técnica, sendo que o funcionamento da ETEC é diurno, e o da FATEC é noturno. Os cursos relevantes, seguindo a análise comentada anteriormente, para ali acontecerem são: administração, automação industrial, logística aeroportuária, gestão da tecnologia da
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informação e jogos digitais. Para que aconteçam foram dispostas além de salas de aula (90m²), mas também salas livres para oficinas (100m²) e laboratórios (160m²). No setor de lazer foram organizadas 3 quadras poliesportivas em tamanhos oficiais, sendo duas menores (16 x 27m), uma maior (24 x 40m) e uma praça que corresponde aos espaços livres e de convivência. Para dar suporte às quadras estão dispostos vestiários, arquibancada e depósito de material esportivo. O setor de comércio engloba as lojas modulares (25 a 50m²), podendo ser alimentícias ou não, e também uma incubadora de negócios (1700m²) – espaço de suporte para pequenos e microempreendedores. Esse setor acontece também de modo a dar suporte e auxiliar na promoção do desenvolvimento do bairro. Por fim, os setores de gestão e apoio são onde se organizam os espaços administrativos e suas áreas técnicas, que vão desde recepção, salas para setor financeiro, setor administrativo das instituições, salas de reuniões e secretaria geral (coordenação e diretoria), até estacionamento e bicicletário.
5.3. Partido e Concepção
Adotou-se como partido arquitetônico o benefício ao bairro Parque CECAP com a implantação do equipamento e que o mesmo cumprisse uma relação com as edificações que ali estão presentes e o seu entorno, de modo a respeitá-los e não causar impactos visuais e/ou ambientais. A implantação do conjunto foi dada de maneira a acompanhar a horizontalidade marcante dada pelos blocos habitacionais distribuídos no bairro. O desenho das edificações remete a: possibilidade de uma multiplicidade de usos em um só espaço, a integração entre as partes externas e internas, público e “privado” e a preocupação com o impacto no entorno. O Complexo se desenvolve através de dois blocos, o primeiro composto por duas lâminas e que corresponde primordialmente ao setor de formação, social e gestão, e o outro que engloba também o setor de formação, mas também o de comércio (incubadora). Nos pavimentos inferiores estão localizados os espaços abertos e os equipamentos voltados ao público – praça, quadras poliesportivas, comércios, auditório e biblioteca – enquanto nos pavimentos superiores estão localizadas as salas de aula, oficinas, laboratórios e a incubadora de empresas. Ao adotar uma única cobertura e fachada envoltória, permitiu-se a união entre os edifícios, conformando desta forma, um todo. Partindo de um terreno predominantemente plano, optou-se pela concepção de dois térreos, um térreo inferior, rebaixado a 2,30 metros da cota original, que concentra sobretudo as áreas voltadas ao lazer, convivência, esportes e comércio, e um térreo elevado a 2,50 metros, que por ali se dá o acesso às edificações e o setor administrativo do Complexo. A ideia do Complexo se desenvolver em alternadas cotas se justifica na diminuição da altura total do edifício, mantendo o gabarito aproximado com o do entorno, e a conexão visual dos espaços, ou seja, permite uma maior integração entre os espaços internos e externos devido a uma maior extensão do olhar. Quando se optou por esses diferentes níveis foi necessário trabalhar os acessos, sendo assim, o acesso ao pavimento inferior se dá por meio de uma ampla praça – a extensão da praça é consequência da
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inclinação para que se alcance a cota rebaixada, enquanto o acesso ao térreo elevado se dá a partir de rampas. A localização dos acessos está diretamente ligada ao fluxo de pessoas e de veículos no entorno, em vista disso, o acesso de pedestres acontece pela Avenida Odair Santanelli, que concentra maior fluxo de pessoas e a existência de pontos de ónibus, enquanto o acesso dos veículos fora organizado pela Avenida Perimetral CECAP, por ali se encontra o maior tráfego de carros.
Primeiros estudos
habitacional comercial institucional industrial transporte
1 pavimento 2 pavimentos 3 pavimentos 4 pavimentos +5 pavimentos
comércio
seguraça
transporte
saúde
educação
5.4. Soluções e Estratégias
Como solução estrutural o Complexo educacional e de lazer contará com uma estrutura mista entre concreto e aço. Ambas as edificações são estruturadas com pilares cilíndricos de concreto e com laje nervurada (fôrma de 80x80x30cm) por permitir a execução de grandes vãos. O bloco do setor de formação, conformado por duas lâminas, foi projetado com vãos longitudinais mais econômicos de 10m, e de 15,50m na porção central de cada lâmina, onde estão localizados os núcleos de circulação vertical. Já o segundo edifício conta com vãos mais generosos de 16m no sentido longitudinal e 15m no sentido transversal devido a presença das quadras poliesportivas no pavimento inferior, desse modo a evitar que pilares “caíssem” no meio das quadras. Apenas a cobertura será por treliças metálicas, que por sua vez apenas apoiarão o peso próprio do telhado e lanternim e as cargas serão descarregadas nos pilares de concreto; optou-se por utilizar o aço objetivando a leveza devido à grande extensão da cobertura que une as edificações. Para vencer o desnível de 2,50m de altura entre a cota do terreno e a cota do térreo inferior foi prevista uma ampla praça que é parcialmente conformada como uma grande rampa com inclinação de 5,5%, que além de servir como circulação, é também um espaço que pode ser utilizado para os mais diversos eventos urbanos, do mesmo modo que está presente no Centre Georges Pompidou em Paris, na França. O que dá unidade ao Complexo é a fachada envoltória de chapa metálica, assim como a cobertura. A estrutura dessa fachada se dá a partir de peças metálicas fixadas às vigas de borda das lajes de concreto, essas que por sua vez apoiam montantes verticais metálicas, que dão suporte aos montantes horizontais metálicos onde são fixadas as chapas perfuradas. Foi pensada uma área técnica para manutenção dessa fachada, que dista 1m dos edifícios, de modo a permitir que o profissional a realizar a manutenção, caso necessário, faça-a de modo prático e seguro.
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Figura 23: DesnĂvel praça - Centre Georges Pompidou
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P R OJ E TO
T
T
T
T
IMPLANTAÇÃO E PLANTA DE COBERTURA
PLANTA PAVIMENTO INFERIOR
PLANTA PAVIMENTO TÃ&#x2030;RREO
PLANTA 2ยบ PAVIMENTO
AVENIDA
PLANTA 1ยบ PAVIMENTO
MINISTRO
EVANDRO
ODAIR
LINS
SANTAN
E
CORTE CC
CORTE BB
CORTE AA
ELEVAÇÃO 3
ELEVAÇÃO 2
ELEVAÇÃO 1
etec fatec
parque cecap
ELEVAÇÃO 4
parque cecap
etec fatec
CORTE AMPLIADO
7 C O N S I D E R AÇ Õ E S FINAIS
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O conjunto habitacional Zezinho Magalhães Prado, proposta da CECAP idealizada por alguns dos grandes nomes da arquitetura moderna brasileira, Vilanova Artigas, Fábio Penteado e Paulo Mendes da Rocha, mesmo após quase cinco décadas de sua construção ainda é tido como um grande exemplar da habitação social. Após as descrições e análises realizadas nos capítulos 3 e 4 desse trabalho, é possível refletir sobre a atual produção de moradias de interesse popular e a sua qualidade construtiva e arquitetônica, são poucos os bons exemplares e muitas as construções com pouca qualidade, e que marcam um certo retrocesso quanto à construção dessas moradias – como é possível ver claramente através do programa Minha Casa Minha Vida com a vasta construção de casas unifamiliares em terrenos afastados e desprovidos de estruturas básicas. Vimos que, em um primeiro momento, a implantação do conjunto se deu afastada das estruturas existentes na cidade, o que explicou desse modo a complexidade e a amplitude do projeto em relação a diversidade de usos e a provisão de infraestrutura e equipamentos de primeira necessidade – uma cidade dentro de uma cidade. Com uma maior aproximação no CECAP Guarulhos foi possível ter um maior entendimento sobre o funcionamento das políticas habitacionais, de que maneira se dava o financiamento das casas populares, quais foram as dificuldades durante todo esse processo, que vem desde a década de 1930, e o que pode se aproveitar dessas experiências para o questionamento, uma possível análise sobre o que acontece e a produção atual. A análise sobre o conjunto habitacional também proporcionou uma reflexão crítica mais humana sobre como se dá a produção de moradias populares e a importância e a influência do papel do arquiteto na questão da produção e qualificação dos espaços, sejam eles os espaços internos ou externos, públicos ou privados.
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L E VA N TA M E N TO F O TO G R Á F I C O
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BIBLIOGRAFIA
9 BIBLIOGRAFIA
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GITAHY, M. L. C.; PEREIRA, P. C. X. (organizadores). O complexo industrial da construção e habitação econômica moderna, 1930-1964. São Paulo: RiMa, 2002. GUERRA, Tiago Cavalcante. CECAP Guarulhos: histórias, identidades e memórias. São Paulo: Scortecci, 2010. LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011. MEDRANO, Leandro Silva; RECAMÁN, Luís (organizadores). 1968 – Vilanova Artigas: Habitação e a cidade na modernização brasileira. Campinas, SP: Editora Unicamp, 2013. RUBANO, Lizete Maria. Cultura de Projeto: um estudo das ideias e propostas para habitação coletiva / Lizete Maria Ruabno; orientador Dacio Ottoni. São Paulo, 2001. Dissertação. Universidade de São Paulo, 2001. SACHS, Céline. São Paulo: Políticas Públicas e Habitação Popular. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1999. VIOLA, Assunta. A formação da paisagem na periferia da cidade de São Paulo. Arquitextos, São Paulo, ano 08, n. 088.04, Vitruvius, set. 2007. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.088/207>
L I S TA D E FIGURAS
Figura 1: Gráfico de Crescimento Populacional. Fonte: BORGES, A. C. M., OMAR, E. E. H. (org.). Signos e Significados em Guarulhos: identidade, urbanização e exclusão. São Paulo: Navegar, 2014. IBGE: Censo Demográfico 1991, Contagem Populacional 1996, Censo Demográfico 2000, Contagem Populacional 2007 e Censo Demográfico 2010. Figura 2: Execução das obras do conjunto habitacional. Fonte: Arquivo Histórico da Cidade de Guarulhos. Figura 3: Maquete da Implantação completa do Conjunto Zezinho Magalhães Prado. Fonte: Revista Desenho Nº5, 1973. Figura 4: Foto aérea durante a construção dos primeiros edifícios – Guarulhos, 1975. Fonte: Arquivo Histórico da Cidade de Guarulhos. Figura 5: Primeiros blocos construídos habitados. Guarulhos, 1976. Fonte: Arquivo Histórico da Cidade de Guarulhos. Figura 6: Resquícios da paralização das obras – Guarulhos, 1993. Fonte: Arquivo Histórico da Cidade de Guarulhos. Figura 7: Formação do comércio – Guarulhos, s/ data. Fonte: Arquivo Histórico da Cidade de Guarulhos. Figura 8: Edificações Parque CECAP.Guarulhos, 1992. Fonte: Arquivo Histórico da Cidade de Guarulhos. Figura 9: Circulação vertical. Condomínio Paraná. Fonte: Aline Franca (Out/2016). Figura 10: Laje Nervurada e pilares - pavimento térreo. Condomínio Paraná. Fonte: Aline Franca (Out/2016). Figura 11: Blocos de concreto e fachada segmentada. Condomínio Paraná. Fonte: Aline Franca (Out/2016). Figura 12: Mapa de localização dos edifícios da 1ª fase. Fonte: produção própria do aluno.
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Figura 13: Banco de alvenaria no hall. Condomínio Rio de Janeiro. Fonte: Aline Franca (Out/2016). Figura 14: Circulação vertical. Condomínio Alagoas. Fonte: Aline Franca (Out/2016). Figura 15: Detalhe da escada pré-fabricada. Condomínio Rio de Janeiro. Fonte: Aline Franca (Out/2016). Figura 16: Mapa de localização dos edifícios da 2ª fase. Fonte: produção própria do aluno. Figura 17: Circulação vertical. Condomínio Alagoas. Fonte: Aline Franca (Out/2016). Figura 18: Vista interna do hall e escadas. Condomínio Alagoas. Fonte: Aline Franca (Out/2016). Figura 19: Laje maciça e pilares moldados. Condomínio Alagoas. Fonte: Aline Franca (Out/2016). Figura 20: Mapa de localização dos edifícios da 3ª fase. Fonte: produção própria do aluno. Figura 21: Galpão construído entre os blocos no Condomínio Alagoas. Fonte: Aline Franca (Out/2016). Figura 22: Vazios e o Parque CECAP – Guarulhos, 2016. Fonte: Aline Franca (Março/2016). Figura 23: Estátua Mamona - Praça Mamonas Assassinas. Fonte: Arquivo Histórico da Cidade de Guarulhos. Levantamento Fotográfico: acervo do aluno (Março e Outubro/2016).
A
A N E XO S
ANEXO I LEI DE ZO N E A M E N TO E P L A N O D I R E TO R DE GUARULHOS A P L I C A D O S AO PA R Q U E C E C A P
Fonte: Divisão Técnica do Departamento de Assuntos Legislativos – Prefeitura de Guarulhos. Lei nº 6.055, de 30/12/2004.
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Fonte: Divisão Técnica do Departamento de Assuntos Legislativos – Prefeitura de Guarulhos. Lei nº 6.055, de 30/12/2004.
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ANEXO II R E L ATÓ R I O D A ANÁLISE DE V E N T I L AÇ Ã O D O P R OJ E TO
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Dados para o Experimento
Para a realização do experimento foi necessária a busca por dados estatísticos como direção dominante dos ventos, velocidade média dos ventos e a temperatura média na área de intervenção, de modo a alcançar uma análise mais precisa, e consequentemente, uma melhor compreensão dos impactos da implantação do projeto no entorno.
Figura 1:Tabela com informações de insolação, visibilidade, temperatura, velocidade média dos ventos, precipitação e umidade durante o período de dozes meses. Fonte: http://www.gaisma.com/en/location/guarulhos.html.
Figura 2: Tabela com dados estatísticos sobre os ventos no bairro. Fonte: https://www.windfinder.com/windstatistics/sao_paulo.
As informações contidas na Figura 1 são com dados que generalizam a cidade como um todo. Já as informações das Figuras 2 e 3 são vindas da estação meteorológica localizada no Aeroporto de Cumbica, esse que está próximo à área de intervenção, sendo assim, são dados mais específicos da região.
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Figura 3: Gráfico de Distribuição dos Ventos. Fonte: https://www.windfinder.com/windstatistics/sao_paulo.
Análise de Ventilação
Para a realização desse experimento, foi utilizado como ferramenta o software Autodesk® Flow Design em busca de uma melhor visualização e compreensão dos impactos dos ventos na edificação proposta e no entorno. Com os dados obtidos (imagens 3, 4 e 5), foi possível inseri-los corretamente no software, desse modo então para gerar os gráficos descritos abaixo.
Figura 4: Gráfico de Ventilação – o impacto da edificação no entorno
No gráfico acima é possível visualizarmos a situação a qual, os ventos predominantes estão na direção lés-nordeste (ENE) e com velocidade média de 5 m/s. Os vetores com coloração próximas ao vermelho indicam um aumento considerável na velocidade dos ventos, enquanto os vetores mais próximos a cor azul indicam a diminuição na velocidade dos ventos. A partir do experimento é possível afirmar, com a alteração da direção e cor dos vetores, que a nova edificação, apesar de respeitar a horizontalidade do entorno, tornase uma espécie de “obstáculo” em determinados momentos, ou seja, faz com que o vento dominante seja momentaneamente desviado em determinado ponto.
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Figura 5: Gráfico de Ventilação – momento em que os ventos são desviados devido a posição da edificação no lote.
Figura 6: Gráfico de Ventilação – ventilação no pavimento inferior da edificação proposta
Já nesses dois últimos gráficos (Figuras 5 e 6) percebe-se em qual ponto da edificação onde há maior impacto e a alteração de direção dos ventos. É possível com essa imagem compreender também na maior parte do tempo, nessa posição, há uma redução na velocidade dos ventos (a partir dos vetores na cor azul), o aumento das pressões no edifício, e a entrada dos ventos para dentro do edifício a partir das aberturas e do desnível no terreno – passa-se a ter uma corrente de ar na parte inferior daedificação, algo que é interessante para o projeto, uma vez que no pavimento inferior estão localizadas as áreas voltadas para esportes, lazer e convivência.
Essa alteração da velocidade, da força, dos ventos – denominada ação dos ventos – faz com que haja a movimentação do ar através dos ambientes, sendo assim,proporciona que os espaços, apesar de localizados embaixo da edificação, sejam devidamente e constantemente ventilados. (FROTA, 2001)
Figura 7: Gráfico de Pressão – pressão do vento dominante nos edifícios habitacionais do entorno e na edificação proposta.
Por fim, ao aproveitar das demais funcionalidades do software, foi gerado um gráfico de pressão do vento dominante passando tanto pelas edificações do entorno quanto pelo edifício proposto. É possível confirmar com essa imagem o fenômeno comentado anteriormente, a ventilação por ação dos ventos e distribuição das pressões. É pertinente comentar que em situações mais comuns, onde uma edificação se encontra bastante próxima aos vizinhos, o efeito da ação dos ventos passa a ser pequeno. Mas no caso, o bairro do Parque CECAP é caracterizado justamente pela horizontalidade e grandes espaços entre os blocos edificados, sendo assim, a atuação dos ventos predominantes é intensificada, pois não existem obstáculos em sua trajetória, ou seja, o efeito da ação dos ventos pode passar a ser maior.
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Conclusão
Com esse experimento foi possível alcançar uma melhor compreensão de como se dá a ventilação no edifício proposto e qual o impacto que se tem com a sua implantação no entorno. Os gráficos gerados permitiram visualizar e afirmar que ideia de soltar o edifício do solo e a composição entre cheios e vazios, além de conceber uma composição arquitetônica harmoniosa, promovem também que os ambientes sejam ventilados naturalmente – mesmo os espaços localizados no pavimento inferior são arejados. Ao fazer o experimento com ventilação, foi possível também comprovar, de certo modo, que ao trabalhar a nova edificação com um gabarito de altura próximo ao do seu entorno, os impactos na vizinhança são mínimos – atendendo desse modo uma das premissas de não criar muito impacto no entorno, uma vez que trabalhada a hipótese de tombamento do bairro para o desenvolvimento da proposta arquitetônica.
Bibliografia
FROTA, Anésia Barros. Manual de Conforto Térmico: arquitetura, urbanismo / Anésia Barros Frota, Sueli Ramos Schiffer. São Paulo: Studio Nobel, 2001. GAISMA - http://www.gaisma.com/en/location/guarulhos.html (Acessado em 25 de Agosto, 2016.) WIND FINDER, Estatísticas de Vento e Condições atmosféricas - https://www. windfinder.com/windstatistics/sao_paulo (Acessado em 25 de Agosto, 2016)
ALINE MARIA FRANCA CRUZ NOGUEIRA 2016