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2 017
Aline Nami dos Santos
Turtle City A criação de uma cidade utópica
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo, do Centro Universitário Moura Lacerda como requisito à obtenção do título de Arquiteta e Urbanista Prof.a Ms. Rita de Cássia Fantini de Lima
Centro Universitário Moura Lacerda Ribeirão Preto
2017
AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus avós, Hilda e Antonio, Irma e Christiano, pela base sólida de nossa família, sem a qual, eu nada seria. Agradeço aos meus pais, Gerson e Regina, por terem me ensinado a importância do estudo. Agradeço a minha irmã Amanda pelo companheirismo e apoio incondicionais. Agradeço aos meus queridos mestres, Rita Fantini e César Elias por terem acreditado no meu sonho e tornado esse trabalho possível.
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RESUMO O presente trabalho de conclusão de curso foi elaborado a partir da preocupação com o derretimento das geleiras, que tem se mostrado em ritmo acelerado, despejanto anualmente toneladas de água nos oceanos, e com isso, elevando o nível médio do mar. O projeto Turtle City é um estudo utópico que indica um dos caminhos possíveis de sobrevivência das cidades litorâneas, que serão atingidas por esse processo de derretimento em um futuro não muito distante.
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SUMÁRIO
Introdução
Capítulo 1 As Utopias
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Capítulo 2
Arquitetura, Urbanismo e Utopia
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2.1. Arquitetos Visionários – Boullée, Ledoux e Lequeu 2.2. Antonio Sant’Elia e a Arquitetura Futurista 2.3. Yona Friedman e a Cidade sobre a Cidade 2.4. Archigram
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Capítulo 3
49 agradecimentos
As Representações Das Utopias
3.1. Ficção Científica – Tron e Blade Runner 3.2. Arquitetura em Quadrinhos 3.3. O Desenho
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Capítulo 4
O Projeto 4.1. Referência
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4.2. Memorial 4.3. Turtle City
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bibliografia Referências Bibliográficas
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u รง d รฃ o o r t in
“Não há nada como o sonho para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã.” (HUGO, Victor. Les Misérables, p. 192)
As utopias são construídas pelos medos, anseios e desejos de uma sociedade, muitas vezes, oriunda de uma guerra, crise ou acidentes naturais. Elas são como experimentos sociais que simulam uma sociedade futura ou inexistente. A vontade de mudança sempre esteve presente no ser humano e, por trás da ficção de toda utopia, é possível revelar o mapeamento de uma cidade e o esplendor da imaginação utópica. O tema sempre trouxe fascínio e teve grande influência nos trabalhos de arquitetura, principalmente por seu potencial de imaginar o novo, uma realidade alternativa e uma ideia de futuro. Esse fascínio é sempre associado a uma frustação ou decepção das realidades urbanas, tais como: conflitos sociais, crises econômicas, degradações ambientais etc. Diante desse cenário, o arquiteto tem como resposta analisar os problemas dessa sociedade e criar sob ela a sua própria sociedade “impossível”. A utopia não é necessariamente a construção de um tempo melhor, mas sim a insatisfação e impossibilidade de continuar vivendo no atual. Embora o termo utopia tenha sido popularmente associada a ideia de paraíso, em suas raízes, ela significa qualquer lugar inexistente. As sociedades utópicas estão presentes na arte, na literatura e em elementos de discursos políticos, servindo como base para sustentar as mudanças em relação a paradigmas sociais, econômicos e políticos que supostamente, deveriam se aproximar desses modelos.
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Ao longo da história, vários arquitetos buscaram por diversas utopias, de acordo com as situações que estavam enfrentando, foi o caso de Boullée, Ledoux, Lequeu, Herron e o próprio Friedman, com suas utopias sociais. Até nos dias de hoje podese dizer que ainda estamos buscando por essas idealizações. O projeto arquitetônico é uma utopia, é um desejo de construir algo, e enquanto permanece no papel, ele é apenas um sonho. Nesse sentido, como um exercício de projeto, o objetivo desse trabalho é criar uma cidade utópica, que é consequência das ações humanas e naturais no planeta. Ela será projetada para um futuro onde várias cidades litorâneas serão submersas pelas águas do mar e deixarão de existir. O projeto tem grande inspiração na Walking City de Ron Herron e objetiva a ideia da cidade móvel, sem lugar fixo. Essa cidade possuiria uma estrutura capaz de abrigar os habitantes que estariam nas áreas litorâneas predestinadas a sumir.
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capítulo 1
o p i t a u s s a
A palavra utopia, do grego utopos, em sua essência significa o não-lugar ou lugar-inexistente, ou seja, a prática de criação, na qual estão presentes imagens de lugares que não existem, sejam elas desenhadas, filmadas ou projetadas. Como citado no livro de Teixeira Coelho, a imaginação utópica é muito exigente, pois é capaz de levar o real existente em direção ao futuro inexistente das possibilidades. Ela antecipa o futuro como uma projeção de um presente, partindo de algo passível de ser transformado e melhorado. “(...) a imaginação utópica é um pro-jeto, algo que o homem lança a sua frente para, a seguir, partir em busca de uma consecução” (COELHO, 1999, p.10)
Diante disso, pode-se pensar o projeto arquitetônico como fundamentalmente utópico, uma vez que sua representação no papel é um desejo lançado a frente para se buscar a materialização, criando assim, a transição do campo das ideias para o espaço. 15
Essa imaginação utópica é uma função própria e constante do homem, não é derivada de outros tipos de manifestações como as alucinatórias ou ocasionais, mas é continua em sua vida, procurando sempre uma mudança para o que está incomodo. Há uma necessidade e direito de se ter esse pensamento para que seja possível aplicar apelos e exigências sob a realidade. “A imaginação utópica é, assim, inerente ao homem; sua presença nas sociedades históricas uma constante.” (COELHO, 1999, p.14)
Esse desejo de mudança sempre esteve presente, mesmo que apenas em forma de um excedente utópico, que nunca aparece ao alcance do homem, e se por ventura vier a estar a sua altura, imediatamente deixa de ser utópico e passa a parecer outro complemento para a teoria, um suplemento que está faltando. Nos primórdios da civilização, nas chamadas sociedades históricas, a religião era uma das bases para servir de veículo as primeiras imaginações utópicas. O paraíso a se alcançar no futuro ou o paraíso que foi perdido, de onde o homem foi expulso no passado, ambos são formas de demonstrar a vontade utópica dentro da religião, realçando como o homem sempre esteve atento a essas questões. Ao longo da história, a fome, as guerras e as epidemias levaram o homem a buscar meios de escapar dessa realidade, e deste modo, foram criadas várias utopias. No início suas formas de
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representação se davam pela literatura e religião, nas quais se idealizava a sociedade pretendida, conduzida por leis diferentes das da época. Essas utopias partiam de uma reflexão pessimista da cidade, enquanto o futuro lhes era mostrado como belo e repleto de esperanças. A visão utópica continuou sendo praticada com o passar dos séculos, e consequentemente, adequando-se a sua época, trazendo novas propostas de mudanças. Por conseguinte, mesmo os arquitetos e filósofos contemporâneos continuam a busca pelas melhoras do modo de vida do homem. Segundo o filósofo Michel Foucault, a utopia é um modo de representação coletivo, que procura mudar a ordem social existente, em busca do desenvolvimento de um modelo ideal. Para ele toda cidade parece uma utopia no sentido de organização espacial, infraestrutura material e cultural. O próprio ato de projetar já é uma utopia, pois a princípio não há garantia da execução da obra, o importante é a vontade de ruptura que existe presente quanto se cria o projeto, sendo este um meio do arquiteto tornar o espaço melhor. Neste capitulo serão apresentadas três visões de cidades ideais: A Ilha de “Utopia” de Thomas More, sendo a primeira a receber o nome “utopia”; a Nova Atenas de Platão, que foi a primeira a organizar os desejos do homem de morar em um lugar melhor; e as Utopias realizáveis de Yona Friedman, que levam em consideração inúmeros conceitos para que o projeto se torne realidade.
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A palavra “utopia”, ou melhor, o conceito utopia, foi nominado no século XVI, mais precisamente em 1516, pelo inglês Thomas More. Ele publica um livro em que relata a vida levada pelos utopianos, moradores de uma ilha situada em algum lugar, a Utopia, que apresentava um cotidiano melhor do que o que britânicos viviam na época. A escolha desta palavra se deu porque Thomas More ao olhar para a Inglaterra de seu tempo, percebeu que nela não havia liberdade de expressão e de pensamento, observando que os inimigos da realização do homem são os poderes constituídos, sempre conservadores. Diante deste cenário, More cria um “não-lugar”, a Utopia, inspirando-se nos defeitos da Inglaterra de seu tempo, procurando melhorá-los. Em A Utopia, de Thomas More, é feito um relato por um viajante chamado Raphael Hitlodeu sobre o modo de vida das pessoas da ilha, localizada em algum lugar no mundo, cuja capital é Amaurotum, a “cidade dos sonhos”. Apesar de Utopia ser o nome da ilha, o que chama a atenção no livro é a cidade, que é banhada pelo Any-
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Figura 01 Pintura mostra cenas de barcos chegando na ilha de Utopia
Figura 02 Utopia de Thomas More de Nicolas Gueudeville.
drus, o rio sem água; seus cidadãos se apresentam como alaopolitas, os cidadãos sem cidade, sendo governados pelos ademus, aqueles que não tem povo e os vizinhos são os achorianos, ou homens sem país. Em meio aos trocadilhos, More demonstra um tom satírico em sua obra, que apesar de não ser o ponto principal do livro, traz grande peso na leitura e nas análises. Na ilha todos trabalham, para que possam trabalhar menos. A jornada de trabalho é de 6 horas diárias, podendo-se notar que na própria Inglaterra, até há pouco tempo, a jornada de trabalho era em torno de 12 a 16 horas diárias e hoje é de aproximadamente 8 horas. A divisão de classes é inexistente no sistema da More, embora haja a presença de escravos,
Figura 03 A imagem mostra a discussão com o viajante e filósofo Raphael Hythlodaeus e Peter Giles Woodcut.
os membros da sociedade eram todos trabalhadores. E é possível notar que a ideia de propriedade privada não é conhecida em Utopia, provendo de um sistema no qual as pessoas deveriam se mudar de dez em dez anos para uma nova casa, e a mobília seria sorteada para saber o que iria e o que ficaria. Nota-se que a ausência de propriedade privada é um conceito decorrente em várias utopias, nas quais também está presente a Nova Atenas de Platão. As cinquenta e quatro cidades são edificadas sobre o mesmo plano e possuem os mesmos estabelecimentos e edifícios públicos, modificados segundo as exigências locais. (MORE, 1516) 19
Vale lembrar que a linguagem, os hábitos, as instituições, as leis, são idênticas entre os utopianos, e o “bem” não existe em Utopia, uma vez que ninguém pratica o mal e todos pensam da mesma maneira, seria impossível tal denominação. “Uma casa é muito pouco, quando se pensa nas necessidades e nos desejos do homem de viver no meio de um grupo. E os conceitos de país e nação não passam de construções artificiais e abstratas que a força se tenta incutir nos homens, por razoes quase sempre impublicáveis (...)” (COELHO, 1999, p.21)
As utopias nascem no reino do homem e isso as torna necessariamente urbanas, sendo que este é o habitat do homem, onde ele constrói, cria e se desenvolve. Sendo assim, elas se baseiam em uma cidade, não em uma casa e muito menos em um pais ou em uma nação. Observando as localidades dessas cidades imaginárias, pode-se notar que elas se situam no interior, longe do mar, como por exemplo, a ilha de Utopia de Thomas More. Isso acontece em razão de se obter uma sociedade perfeita, que permaneceria longe do contato com as culturas “degeneradas” do mundo, e assim longe de influências exter-
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Figura 04 Utopia by Thomas More.
nas. Da mesma forma, Platão já havia pensando em sua cidade utópica, a Nova Atenas. A obra utópica de Platão, a República, foi a primeira a ser representada sob a forma de um sistema ordenado. Nela são representadas duas cidades importantes para a discussão do tema: a Nova Atenas e Atlântida. A preocupação de Platão em seus textos era, como o projeto de More, mostrar caminhos para uma vida melhor na comunidade, tendo seus escritos implicados no projeto. Em sua Nova Atenas, Platão materializa uma versão pessoal do que seria habitar a cidade perfeita, projetando como seu exato oposto a cidade de Atlântida. Figura 05 Utopia by Thomas More.
A República é um exemplo inquestionável do modo como as utopias são criadas perante um problema. A Atenas ideal surgiu diante a desintegração social causada pela guerra do Peloponeso e o enfraquecimento do sistema democrático presente desde Péricles, que tinha dado poder à maioria do povo. Motivado por estas insatisfações, Platão propõe sua sociedade ideal, na qual ele condiz que os filósofos são os que possuem conhecimento para governar. A Nova Atenas é localizada no interior, longe do mar, para que ficasse distante da influência de outras civilizações. A cidade saberia cultivar o espírito racional e democrático, e nela apareceriam uma série de medidas que até hoje existem na imaginação utópica. Nesta cidade, os homens não são agrupados pelos níveis de renda ou pela fortuna, e sim pelas ocupações que possuem. São previstas três classes sociais: a dos governantes, os auxiliares e a tercei-
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ra classe é formada pelo restante da população. Embora ainda não tivesse a ideia de comunismo, no sentido de todos terem a mesma renda, a população não aceitaria em seu meio pessoas demasiadamente ricas ou pobre e caberia aos membros da primeira classe impedir isto. Ainda acima da primeira classe haveria alguém para exercer o poder em nome de todos, materializando parte da imaginação utópica: o filósofo. Platao acreditava que com o filósofo no poder, a serviço do povo e da sabedoria, a população seria levada para o caminho certo, sendo que ele estaria digerindo-a, não por ambição ou vontade própria, mas por dever como um cidadão. Assim como More, Platão também propunha a abolição da propriedade privada, pelo menos entre as duas primeiras classes, pois, no entender de Platão, os bens pessoais eram a caída básica dos males sociais e da competição entre os homens. Nenhum governante conseguiria executar seus serviços públicos de modo apropriado se ficasse preocupado com a fortuna pessoal. Apenas a terceira classe seria permitida a propriedade privada, e mesmo assim ela seria limitada, já que ninguém deveria se tornar excessivamente rico. Em contraponto com a Atenas perfeita, Atlântida era uma cidade degenerada, onde as ambições e a injustiça reinavam. Seus impostos eram muito altos e indiscutíveis, os castigos eram cruéis e apenas aumentavam conforme a cidade crescia, sem que houvessem leis justas e aceitas pela po-
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Figura 06 Dreams of Artlantis. Apresenta obras feitas pelo artista plástico Flavio Bolla.
pulação. Este modelo foi criado como um exato oposto a Nova Atenas para demonstrar a cidade erro, tentando dar consciência para que medidas deveriam ser tomadas para se evitar este modelo. Toda essa racionalidade colocada na criação de tais ambientes urbanos pode criar monstros, isto é, nem tudo que vem proposto é necessariamente favorável ao desenvolvimento de uma vida melhor. Muitos criadores de cidades ideais, mesmo tendo boas intenções, acabam ignorando parte das necessidades humanas no desenvolvimento de seu projeto, é o caso de Platão e More, que ao criarem suas cidades perfeitas, acabaram desenvolvendo regimes totalitários. “O mundo utópico seria plano, liso, chato, sem acidentes a atrair a atenção de seus moradores – ou de seus prisioneiros, como preferem alguns.” (COELHO, 1999, p.42)
Figura 07 Ilustração de Atlântida do artista Kazumasa Uchio
Nem tudo é maravilhoso, nem mesmo com as utopias. Como observado na criação de More, há de se assinalar que existe uma constante vigilância na vida das pessoas, tanto que, em seu tempo livre, os utopianos tendem a fazer algo que é “útil” para a sociedade, já que se não o fizer, as outras pessoas podem julgá-lo. Essa vigilância deu origem ao olho que tudo vê, e serviu de inspiração para o Big Brother1, do livro 1984 de George Orwell, que observa todos através da TV. 1. Big Brother é um personagem no romance 1984 de George Orwell.
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Mesmo podendo ser encaixadas como governos totalitários, criadas por uma visão individual, a Utopia de Thomas More e a Nova Atenas de Platão, não chegam perto das sociedades de Admirável Mundo Novo, imaginada por Huxley, e 1984, descrita por George Orwell. Os conceitos que separam esses mundos são os de Eutopia, o lugar bom, e Distopia, o mau lugar, o lugar da distorção. Ao primeiro olhar, a ilha de Utopia aparenta ser uma eutopia e o “mundo novo” de Huxley, a distopia, no entanto a criação de More não cria uma cidade inteiramente perfeita, e por isso, esses títulos não devem ser dados vagamente. Quando se discute utopia, vale lembrar que tudo possui seu lado bom e ruim. A concepção de bem e mal é relativa e depende muito da pessoa ou do grupo que observa a situação. Os autores More e Platão, buscaram por um ideal de cidade de suas épocas e, apesar de resolverem muitas das situações problemáticas das sociedades de seus tempos, eles acabaram por criar um regime quase que totalitário em suas fantasias. “Muitas vezes a utopia de um século torna-se a ideia vulgar do século seguinte” (DOSSI, Carlo 1849-1910)
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Figura 08 Imagem do filme 1984, baseado no livro de George Orwell.
Figura 09 Capa do livro 1984 de George Orwell.
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capítulo 2
t e u t i r a u q r a i s m n a o b r u e utopia Apesar de a ideia de utopia ter sido retomada por Thomas More, influenciando grande parte do pensamento ocidental utópico, ela começou a se deslocar do espaço da filosofia para os movimentos sociais. Na época, o iluminismo era uma tendência de base utópica, e é deste que se retira o lirismo e positivismo, para renega-lo. “Marx denominará depreciativamente o socialismo primitivo de “utópico”, sem advertir que suas teses comunistas também são utópicas.“ (GLUSBERG, 1995)
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As grandes utopias sociais começaram como a de More, em centros urbanos, pois a cidade, até hoje, foi a maior invenção arquitetônica e a arquitetura é uma utopia em renovação, gerando inúmeros espaços humanos, sempre visando um melhor que o existente. Desta maneira, arquitetura constitui relações com a utopia social, sendo utilizada como referência para desenvolver pensamentos de projetos urbanos. Ambas se tornam uma, sendo a arquitetura dependente da utopia e vice versa. Arquitetos são os principais influenciadores das utopias já que levam em consideração o ambiente em que elas serão possíveis. O autor Fernando Freitas Fuão mostra essa inter-relação das utopias com a arquitetura no livro “Arquiteturas Fantásticas”, onde cita que a arquitetura surge a partir da ruptura com o contínuo, introduzindo a diferença que reafirma a ideia de realidade. A arquitetura e o entorno em que ela se insere formam um conjunto e a ruptura com o “cômodo” torna a obra “fantástica”. Diante disso, mostrase como os pintores da época fizeram parte dessa arquitetura fantástica, como Desiderio Monsu e Piranesi, que continham em suas obras, grandes estuturas de estilos arquitetônicos distintos, as quais se tornam tão fantásticas quanto as pirâmides egípcias e templos hindus. Elas são comparáveis em sua estrutura com as Towers of Simon Rodia2 e
2. Torres de Simon Rodia - Conjunto de dezessete estruturas interligadas, localizadas no parque histórico Simon Rodia State, projetadas pelo
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Figura 10 Ilustração feita pelo pintor Monsu com tinta a óleo.
com os projetos do arquiteto Frei Otto.
Figura 11 Ilustração feita por Piranesi de Via Appia e Via Ardeatina, de Le Antichita Romane, 1756.
No entanto, a cidade ideal de Leonardo da Vinci, a cidade futurista de Antonio Sant’elia e as obras de Ledoux e Boullée se encontram com uma arquitetura muito distinta da dos pintores, já que estes trazem arquiteturas fantásticas totalmente influenciadas pela tecnologia, não deixando de ser provenientes de um sonho, de um sonho utópico. Demonstrar o fantástico como antecipação, e não como mistificação, é muito importante e era o que movia os arquitetos na época da ilustração, tornando esse visionários extraordinários. A história da arquitetura deveria admitir a existência do fantástico como algo inerente à própria razão arquitetônica e, portanto, existente em todo corpo da história e não simplesmente expurgá -lo ou disfarçá-lo, marginalizando-o das páginas oficiais. (FUÃO, 1999 p. 16)
2.1. Arquitetos Visionários – Boullée, Ledoux e Lequeu
Figura 12 Da coleção Imaginary Prisons, ilustração de Piranesi.
Em um contexto no qual os ideais iluministas de soberania popular descontentavam grande parte da população, tendo como consequência a Revolução Francesa, surgiram os arquitetos italiano Simon Rodia.
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revolucionários Boullée, Ledoux e Lequeu, que promoveram a utopia com seus projetos, mostrando a genialidade criativa dos arquitetos e visavam uma arquitetura fantástica. O arquiteto Claude Nicolas Ledoux, ganha destaque no trabalho por não apenas conceber uma arquitetura doméstica, mas planejar sua cidade ideal, chamada Chaux. Ledoux foi um precursor da arquitetura moderna, funcional e de finalidades sociais. Em 1773, foi encarregado de estudar a disposição das instalações das salinas da
França, tornando-se arquiteto do rei. Dessa forma ele projeta a cidade de Chaux, com um conjunto de unidades classificadas pela função dentro do ciclo de trabalho. Ele projeta a salina em uma forma semicircular, para que haja mais aproveitamento do sol e os edifícios fiquem separados, em caso de incêndio. O arquiteto se interessava em criar bons ambientes para os trabalhadores, pois dizia que “um bom ambiente faz um bom humano”.
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Figura 13 Cemitério da cidade de Chaux, projetado por Ledoux.
Figura 14 Mercado municipal da cidade de Chaux, projetado por Ledoux.
Figura 15 Implantação da cidade de Chaux, projetado por Ledoux.
Ledoux inova a representação e a concepção de cidade com o desenho de Chaux, tratando também a tridimensão no espaço urbano. O arquiteto aproximou-se, de certa forma, do imaginário dos engenheiros e da poética em suas representações, onde mostra a sua cidade e seu entorno em uma perspectiva aérea, na qual é possível visualizar todos os detalhes em um enquadramento que tende a uma representação de paisagem. Os projetos e ideais do arquiteto expressavam muito os valores do iluminismo e procuravam com buscar uma nova interpretação dentro da arquitetura, cujo ideal estético estava focado em criar emoções intensas ao ser observada. As formas geométricas elementares e
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presentes em grandiosas escalas, chamavam a atenção e inovavam os esquemas compositivos, tornando a ornamentação algo secundário.
2.2. Antonio Sant’Elia e a Arquitetura Futurista Um dos arquitetos a simbolizar a aliança duradoura entre a utopia e a arquitetura foi o italiano Antonio Sant’Elia. Em 1914, ele publica o “Manifesto da Arquitetura Futurista”, no qual ele expressa suas ideias de futuro dizendo que os elevadores não deviam se esconder nos vãos das escadas, mas deveriam fazer parte das fachadas como “serpentes de ferro e vidro”, propondo a abolição das escadas, que se tornariam inúteis com esta nova tecnologia. A rua seria escavada no solo a uma altura de vários pisos, por onde passaria o trafego da cidade e estas seriam conectadas por passarelas metálicas e faixas de circulação.
Figura 16 Implantação da cidade de Chaux, projetado por Ledoux.
Suas cidades utópicas possuíam arranhacéus gigantes com elevadores panorâmicos, ruas superpostas para diferentes veículos transitarem, estações de estradas de ferro monumentais para zepelins, ponte com torres elétricas e aeroportos imponentes. O arquiteto não conseguiu realizar nenhum desses seus projetos, mas
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Figura 17 Ilustração feita por Antonio Sant’Elia, arquiteturas futuristas.
Figura 18 A station for trains and aircraft, ilustração feita por Antonio Sant’Elia.
hoje pode-se observar as semelhanças em algumas das paisagens urbanas. A arquitetura futurista acaba com a morte de Sant’Elia, pois os seguidores de suas ideias não conseguiram superá-lo. Porém, novos arquitetos, como Yona Friedman e o grupo Archigram, viriam a discutir uma nova arquitetura que levaria em consideração as condições sociais e tecnológicas para a execução de novos projetos.
2.3. Yona Friedman e a Cidade sobre a Cidade Seguindo outra linha de raciocínio, em 1977 Yona Friedman, em seu livro Utopias realizáveis, mostra como as utopias sociais funcionam e qual a importância de uma análise bem feita para
Figura 19 Ilustração feita por Antonio Sant’Elia, arquiteturas futuristas.
Figura 20 Ilustração feita por Antonio Sant’Elia, arquiteturas futuristas.
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estas se realizarem. Ele desenvolve uma teoria das utopias, na qual é possível perceber que estas nascem de uma insatisfação coletiva, não podem aparecer senão de uma técnica ou mudança existente e é necessário o consentimento coletivo para a utopia ser realizável. Contudo mesmo se focarmos outra vez o nosso exemplo muito simples da doença e da cura, encontramos imediatamente este critério: não basta descobrir um remédio para a doença, é preciso que o doente consinta em toma-lo. (FRIEDMAN, 1977 p. 17)
Com estas afirmações Yona Friedman começa a discutir que o princípio para se realizar o projeto utópico é obter o consentimento coletivo. Ao longo do tempo, os autores das utopias não ficavam criando técnicas novas, mas tentavam aplicar técnicas e comportamentos já conhecidos, mesmo que não muito comuns. Nessa lógica, o autor cita que a utopia precede o projeto e apenas após a aprovação de todos, a técnica (o projeto) pode ser aplicada, porém, percebe-se que sem a técnica não haveria a utopia, o que torna o projeto e o consentimento duas faces de uma mesma moeda. Se as utopias literárias mais conhecidas, desde Platão até aos nossos dias, ficaram utopias propriamente ditas (e não utopias realizáveis), é porque não eram senão as criações li-
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terárias dum só e mesmo indivíduo e não a obra lentamente ralhada e assimilada por uma cadeia de indivíduos consentâneos. (FRIEDMAN, 1977 p. 17)
Na teoria fundamentada pelo autor são citados três axiomas, que trazem fundamento para a lei das utopias; o primeiro é o da insatisfação, o segundo é a técnica aplicável e o terceiro é sobre o consentimento necessário para a aplicação da técnica. Essas leis mostram que a utopia é necessariamente uma invenção coletiva, que se transformará continuamente conforme as gerações seguintes. O segundo axioma é o único que não necessita do consentimento coletivo, já que tal conhecimento deve ser obrigação apenas do técnico autor do projeto. A ideia de uma doença que é insuportável, e a vontade de ir atrás de uma cura, ou seja, a insatisfação coletiva segue em busca das utopias realizáveis. Para Yona Freidman as utopias positivas seriam aquelas que possuem uma técnica que procura eliminar a fonte da situação insatisfatória, como as utopias cientificas e contemporâneas; e as utopias negativas seriam fruto de uma técnica que permita a apreciação de uma determinada Figura 21 Esquema não-paternalista, mostrando como é necessário que as informações estejam ao alcance de todos os membros.
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situação insatisfatória, tornando-a desejável e satisfatória, como algumas utopias morais e religiosas costumam buscar. No livro Utopias realizáveis, Friedman faz a seguinte pergunta ao leitor: quem concebeu a utopia a princípio pertence necessariamente a essa coletividade ou não? Em função disso, ele chega a duas respostas: na primeira, o indivíduo, ou benfeitor, não se identifica fazendo parte do grupo e tenta impor suas ideias, das quais acredita que melhorará a vida dessa coletividade que considera infeliz. É o caso de utopias filantrópicas, dos colonialistas ou até mesmo, utopias que derivam de boa-fé mas são executadas por indivíduos pertencentes a uma elite que impõe suas vontades sobre os outros. Na segunda, ocorre o contrário, os mesmos conhecimentos são distribuídos ou guardados por todos que pertencem a coletividade, é o que ocorre nas utopias realizáveis de hoje, nas quais a população pertencente ao local da mudança participa, dando opiniões e observando o que é pretendido com o projeto. No caso da segunda, não há literatura, evidentemente o autor do projeto se apresenta insatisfeito, e a propaganda não é necessária para que os outros tenham a conscientização do seu projeto.
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Figura 22 Esquema mostrando as influências entre os indivíduos de uma sociedade, sendo que esta relação possui direção observável.
A ideia é que os projetos utópicos possam estar sempre com as informações ao alcance de todos os seus membros, tanto do projetista como das outras pessoas envolvidas, ou seja, a população presente no local da execução da obra. Notemos desde já que diferentes observadores verão diferentemente cada sociedade, na maior parte dos casos, será difícil encontrar dois observadores que deem a mesma importância à mesma relação: portanto, a importância destas relações não se pode observar sem erro possível, e não procuremos considera-la nos nossos cálculos. (FRIEDMAN, 1977 p. 29)
Com isso, pode-se dizer que, dependendo do projetista, o valor que ele dará para qualquer uma das problemáticas é diferente da que outros dariam e dificilmente teriam opiniões iguais, por isso, Friedman observa que a importância entre as relações pode possuir erros sendo sempre necessário analisar muito bem as dificuldades que se enfrentam. Por outro lado, a relação direta de indivíduos pertencentes a uma sociedade é observável e necessária para o perfil do projeto. Ao separar os tipos de sociedade, Yona Friedman chama a atenção para duas em especial: a igualitária e a hierárquica. Na sociedade igualitá-
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ria, todos os membros tiveram a mesma situação social, na qual as influências recebidas e exercidas são as mesmas para todos, não possuindo assim pessoas notáveis de influência. Já a sociedade hierárquica pode ser caracterizada como uma hierarquia degressiva das situações sociais, onde há uma pessoa, ou um grupo social, que possui mais influência do que outros, gerando uma hierarquia progressiva de alianças, nas quais há a dependência de membros, podendo notar que quanto mais baixo na hierarquia, menor esta dependência será. Claramente, esses dois tipos de sociedade, não existem em um estado puro, porém, não faltam utopias e organizações que não se aproximam destes modelos.
Este fenômeno do grupo critico torna-se evidente, se considerarmos que a viabilidade de qualquer organização social (portanto, a realização de qualquer utopia) depende dos limites inerentes a toda comunicação, e que o fenômeno do grupo critico é a expressão mais simples e mais rigorosa destes limites. (FRIEDMAN, 1977 p. 49)
A partir disso, pode-se extrair que qualquer grupo igualitário possui um limite de membros, ou seja, a partir do momento em que se excede a grandeza crítica, o grupo deixa de ser homogêneo e passa a ser um grupo hierárquico, já que um dos integrantes mais antigos irá se tornar um condutor
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Figura 23 Esquema mostrando as influências entre os indivíduos de uma sociedade, sendo que esta relação possui direção observável.
do grupo. Ainda estão previstas observações sobre como o grupo hierárquico, após exceder o número crítico de membros, passará a possuir subgrupos que irão se opor ao primeiro grupo. Em suma, de acordo com o arquiteto, a grandeza do grupo crítico pode variar em função da estrutura do grupo, valência especifica e capacidade de canal dos membros do grupo. Com base nessas teorias pode-se ver a importância de trabalhar o nível de representações e discussões. Criar utopias é muito importante, por mais que elas só venham a se concretizar no futuro, ou apenas chamem a atenção para os problemas que estão sendo vivenciados
Figura 24 Ville Spatiale, projetada pelo arquiteto Yona Friedman.
Yona Friedman, arquiteto húngaro-francês, ganha reconhecimento nas décadas de 50 e 60 por suas megaestruturas. Assim como outros arquitetos da sua época, vivendo nesse período de pós-guerra, Friedman buscava novas maneiras de produzir e pensar a cidade, e com seu primeiro manifesto chamado de “A Arquitetura Móvel”, ele conseguiu demonstrar sua ideologia em um projeto chamado “Ville Spatiale”, criando um espaço elevado na cidade, onde as pessoas poderiam trabalhar e viver em seus próprios designs. Com isso, ele expandiu os princípios de arquitetura móvel, juntando conceitos de mobilidade, rede, tecnologia, movimento social e o papel do arquiteto como construtor. Com essa ideia, Friedman também buscava de-
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monstrar novas abordagens de como viabilizar o crescimento das cidades e a possibilidade de restringir o uso da terra. A Ville Spatiale foi projetada em localidades reais, pois Friedman pretendia demonstrar as vantagens de sua ideia, além de reforçar que não seria necessária a demolição dos edifícios antigos da cidade para criar as moradias novas. A compactação da cidade também seria possível, trazendo inúmeros benefícios para a população, além de concentrar melhor os equipamentos públicos. As moradias foram projetadas para que seus habitantes fossem capazes de criar e posicionar o espaço que lhes fosse mais conveniente. Desta maneira, Friedman combinava muitos de seus princípios: a flexibilidade da habitação para poder aumentar o espaço de acordo com a escolha do indivíduo, o uso de múltiplas camadas de espaço na cidade e o poder de domínio dos moradores da cidade quanto ao seu ambiente. Friedman criou um grande campo para a discussão sob esse direito fundamental de expressão das pessoas sob a cidade e a inclinação de poder construir mais de maneiras e formas diferentes. Esses tópicos decorrentes apontavam para o pa-
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Figura 25 Ville Spatiale, projetada pelo arquiteto Yona Friedman.
pel do Estado, o capitalismo na área de urbanismo e principalmente a questão do arquiteto quanto a modelagem do espaço.
Figura 26 Ville Spatiale, projetada pelo arquiteto Yona Friedman.
Mais tarde, as ideias e projetos de Ville Spatiale, mesmo que não tenham sido executados, serviram para aumentar a consciência para uma abordagem não convencional, que pode trazer boas soluções para problemas de curso das cidades modernas. O arquiteto representou as cidades utópicas de seu tempo, demonstrando como elas se desdobram, marcam um ritmo em suas estruturas e buscam dentro de uma racionalidade dar um espaço claro e utilizável. Friedman tinha como uma de suas bases fazer a utilização de materiais locais na arquitetura, assim como o utilizar de tecnologias simples, buscando sempre a sustentabilidade e variabilidade. Segundo Friedman, a arquitetura não é só a arte de construir, mas a de influenciar um espaço determinado.
Figura 27 Ville Spatiale, projetada pelo arquiteto Yona Friedman.
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2.4. Archigram A sociedade da década de 60 estava passando por períodos de descobertas, nos quais estavam surgindo novas tecnologias. A arquitetura começou a quebrar com os paradigmas do pensamento racional que levaram a segunda guerra, aliando-se com as novas tecnologias que contribuíram para uma década de mudanças, que conduziram o homem à Lua. É nesse contexto que surge a revista Archigram, de cunho arquitetônico e revolucionário, formada por um grupo de jovens arquitetos, (David Greene, Warren Chalk, Peter Cook, Michael Webb, Ron Herron e Denis Crompton) que passam a fazer publicações ousadas, trazendo como temática edifícios e projetos urbanos fora da realidade, buscando não mais que o rompimento
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Figura 28 Colagem executada pelo grupo de arquitetos responsáveis pela revista Archigram
com os limites do terreno, visando uma arquitetura para o futuro, mais tangível do que em qualquer outra época. A revista que circulava entre 1961 e 1974, tinha uma estética semelhante ao do movimento artístico Pop Art3, caracterizada por cores vibrantes e aspecto massivo de ênfase publicitária. Os projetos arquitetônicos publicados eram bastante utópicos, como por exemplo as “Walking Cities4” , que consistiam em cidades robóticas providas de inteligência artificial, com recursos tecnológicos que permitiam com que elas andassem sobre os oceanos e se interligassem através de “braços”, fazendo a troca de moradores internos. Figura 29 Colagem executada pelo grupo de arquitetos responsáveis pela revista Archigram
A “Walking City”, criada por Ron Herron, foi projetada para se mover em um mundo pós-apocalíptico inabitável. Ela pretendia fornecer a seus habitantes todo o necessário para a sobrevivência, sugerindo uma “salvação” do pesadelo. Nunca foi criada para ser construída, mas sim para discutir a arquitetura nômade, mutável, interconexa e tecnológica, mostrando um modelo de arquitetura nova, no qual havia um desenho urbano tecnológico. 3. Movimento artístico que nasceu na década de 50 na Inglaterra e alcançou seu auge década de 60 nos Estados Unidos. 4. Walking City ou “cidade andante” foi um projeto pós-apocalíptico criado por Ron Herron.
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Outro projeto revolucionário foi a “Plug-in City”5, criada por Peter Cook, representava muito as ideologias do Archigram, sendo composta por megaestruturas em constante mutação, cujas inspirações vinham da cultura capitalista e “high-tech6” que se expandiam muito nesse momento histórico como um produto das novas gerações. Assim como Herron, Cook em seu projeto, mostrava o mesmo conceito nômade que se observava no futuro, com as estruturas transitórias, flexíveis e facilmente substituídas. A revista, ainda que mostrasse um futuro com muitas fantasias saturadas de eletrônicos, que fazem parte do cotidiano das pessoas, possuía um compromisso em dialogar sobre a realidade, mesmo que com um projeto utópico. 5. Plug-in City ou “cidade de plugar” foi projetada por Peter Cook como uma cidade em constante mutação. 6. High-tech é a tendência arquitetônica baseada na tecnologia e sua expressão visual. Focada no emprego de materiais e tecnologias avançadas nas construções.
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Figura 30 Projeto esquemático de Walking City de 1964.
Todos os projetos apresentavam alternativas de uma condição mutante, na qual deveria haver uma “reabilitação da cidade”, criticando a arquitetura moderna matemática e totalmente funcional implantada naquele momento. A utopia na revista não é totalmente voltada para a realidade, pelo contrário, ela se dá na própria realidade. Apesar disso, os projetos se mostram em um tempo futuro não muito distante de quando foram publicados.
Figura 31 Esboço do projeto Plug-in City.
O conceito de “modernidade líquida7” ,de Zygmunt Bauman, pode ser muito bem observado através dos universos ilustrados pelo grupo, contendo um mundo caótico e eficiente, evidenciando a desfragmentação de uma totalidade de estado para se transformar em um eterno remodelar. Dessa mesma maneira nota-se que os universos arquitetônicos da revista não estão satisfeitos com si mesmos, tornandose maleáveis e sempre dispostos a mudanças, tanto em sua forma estética quanto nos lugares em que se apresentam. Essa mudança é evidente principalmente na “Plug-in City”, que se mostra ligada com um conceito de arquitetura desconstrutivista, sempre buscando novos significados para os espaços e rompendo 7. Conceito de Bauman para denominar uma época de fluidez, de volatilidade e insegurança, ou seja, para representar a sociedade contemporânea, que vive momentos de incertezas quanto ao futuro.
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com barreiras sociais e físicas. O movimento arquitetônico desconstrutivista só viria a aparecer na década de 80 e apesar de trazer características distintas da revista futurista, seu conceito estava extremamente presente. Peter Cook e Ron Herron podem não ter construído nenhum edifício durante as publicações da revista, porém trouxeram obras surpreendentes, marcando a possibilidade de execução de um imaginário de forma palpável. O grupo Archigram surge para criticar os projetos da época, procurando trazer uma utopia crítica e abstrata, que criasse discussões ao seu redor. Trabalhando no contexto das ilustrações, a revista trata o desenrolar das linhas projetuais, encorajando o desenvolvimento da dialética em congressos e eventos sobre o urbano arquitetônico. Procurar pela expressão através da técnica era decorrente nos projetos do grupo e fundamental para demonstrar suas intenções. A revista influenciada pelo movimento Pop Art e pelas revistas em quadrinhos apresentava uma linguagem informal na representação dos projetos, demonstrando uma crítica aos projetos executivos, trazendo a população leiga mais perto dos projetos e das discussões sobre a composição da cidade. A utopia desenvolvida pelo Archigram é uma forma de produção arquitetônica, onde sua inviabilidade construtiva é muitas vezes levada para o campo teórico, contudo, ela representa a parte ativa do processo todo.
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Essa utopia, como as anteriormente citadas, tentam idealizar melhorias nas condições de vida, por vezes criticando o modo de agir do ser humano, nesse caso, criando alguns de seus cenários pós-apocalípticos. Um desses projetos foi o da Walking City, que critica o modo com que o homem tratava a cidade naquela época, não se preocupando com o meio ambiente, e apesar de mostrar um cenário onde seria possível a sobrevivência, é aparente como os recursos naturais se tornariam escassos.
Figura 32 Esboço do projeto Plug-in City.
A utopia não é nenhum lugar, mas também é todo o lugar, diz Reinhold, e neste período de experimentações, ocorrem muitas tentativas no intuito de traçar caminhos corretos para o futuro. Assim, pode-se concluir que as ideias teóricas e práticas não estão separadas no campo da arquitetura, elas fazem parte de uma composição de elementos, necessários à análise teórica para reinventar e melhorar o presente.
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capítulo 3
n e t s a e ç r p õ e R es s A
o t u p ias s a d
“Uma utopia é uma realidade em potência” (HERRIOT, Èdouard)
Com o passar das décadas, a palavra utopia foi associada também a fábula, na qual ela ficou conhecida por fazer parte do campo da fantasia. Claramente, toda utopia possui algo que a torna fantástica, porém, no sentido criativo, e nunca místico. Na realidade, a utopia é definida pela capacidade geradora de novas realidades e verdades. Existem vários meios que buscam caracterizar as utopias e torná-las mais visíveis. Entre esses meios estão o cinema, as ilustrações, os quadrinhos, a literatura e o próprio desenho técnico. Os
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projetos utópicos podem ser descritos de inúmeras maneiras, desde um desenho especifico, com medidas e escalas, até uma colagem esquemática, como fazia o grupo Archigram. Entre as arquiteturas desenhadas, as representações cinematográficas e as comics são as que mais possuem vínculos com o desenho arquitetônico, pois elas se baseiam na representação de uma realidade espacial e narrativa através do desenho. O gênero de ficção cientifica, tanto no cinema quanto nos quadrinhos, fortaleceu as utopias futuristas, mostrando críticas sobre a cidade e a sociedade tecnológica.
3.1. Ficção Científica – Tron e Blade Runner Pode-se observar que nas obras de gênero de ficção cientifica, três conceitos se sobressaem dos demais: verossimilhança, temporalidade e moralidade. Obras de ficção como o filme Blade Runner (1982), de Ridley Scott, e Tron O Legado, de Joseph Kosinski, são exemplos marcantes da arquitetura fictícia no cinema. 50
Figura 33 Imagem do filme Blade Runner, produzido pelo diretor Ridley Scott.
A obra de ficção Blade Runner mostra uma história passada em Los Angeles no ano de 2019 que contou com desenhistas e designers para recriar a Los Angeles do futuro, onde os detalhes espaciais, criam uma fantasia futurística verossímil.
Figura 34 Imagem do filme Blade Runner, produzido pelo diretor Ridley Scott.
Figura 35 Imagem do filme Blade Runner, produzido pelo diretor Ridley Scott.
Uma das características essenciais de toda ficção cientifica é o tempo, onde o escritor desenvolve a história, que normalmente tem como base, uma crítica de certos fenômenos da sociedade, e estipula uma data para que a situação se concretize, por exemplo, em vinte, trinta ou cem anos. A ficção cientifica, diferentemente da fantasia, possui, muitas vezes, um caráter moral, ao tentar introduzir princípios ao fenômeno social do qual ela foi construída, criticando o futuro deformado. Em Blade Runner é possível notar esta tentativa de moralização, já que a nova Los Angeles representa um conceito de megalópoles. A cidade representada nas telas de cinema é descomunal, possui uma extensão que parece infinita, composta por um grande amontoado de arranhacéus que nascem de subúrbios superpovoados. As chaminés industriais cospem fogo, retratando uma imagem parecida com a do inferno. Suas construções rementem a arquiteturas maias e incas, reinventadas para o futuro que ela propõe. Essa cidade transmite uma ideia de ruas cheias de poluição, ruídos, violência e invasão publicitária, todas características de uma metrópole caótica que retrata muito a cidade atual. O filme Tron O Legado reflete muito da época em que foi filmado, ainda que mantendo relações com a sua estética futurista. Há de se notar a presença de alguns elementos “retros”
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Figura 36 Imagem do filme Tron O Legado, produzido pelo diretor Joseph Kosinski
em contraposto com a tecnologia e luz. Tron Apresenta uma cidade moldada em geometria pura, automatizada, que nos conduz a um mundo perfeito e simétrico, onde não há espaço para imperfeições.
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Figura 37 Imagem do filme Tron O Legado, produzido pelo diretor Joseph Kosinski
3.2. Arquitetura em Quadrinhos Os quadrinhos são o lugar onde as palavras e sequências de imagens se encontram. Neles existe um poderoso potencial de desenvolvimento de narrativas sobre lugares espaciais e cidades. No entanto, todo esse potencial de se empregar técnicas gráficas e narrativas, nem sempre é utilizado pelos profissionais na área de arquitetura. As “HQs” oferecem formas variadas para representar a arquitetura e, se observado o espaço arquitetônico nas histórias em quadrinhos, pode-se notar que os edifícios não ocupam apenas um lugar no espaço, mas também no tempo.
Figura 38 Cidade de Gotham, presente nos quadrinhos Batman.
Ao explorar um edifício através das imagens e do tempo, percebese que não existe uma experiência única para aquele espaço, pois cada experimentação espacial se torna diferente. Um diferencial das histórias em quadrinhos é a capacidade de transmitir um sentimento profundo do espaço trabalhado que é mais difícil de ser demonstrado pela fotografia e pelo texto. As ilustrações geralmente são mais vivas por possuírem uma base conceitual para serem executadas e são filtradas pelo observador através da compreensão.
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Tanto a arquitetura como os quadrinhos possuem uma forma de expressão espacial. Nos quadrinhos, ela é representada pelas sequências e rupturas com o espaço, e na arquitetura há a virtualidade da representação espacial. Quando o arquiteto se envolve no mundo dos quadrinhos, as possibilidades de criação são ilimitadas, assim como, o surgimento de universos, contextos sociais, personalidades e personagens que farão parte desse espaço irreal. A grandeza da arquitetura de vários períodos tem sido retratada nas HQs compondo cenários, seja de forma sutil ou como elemento fundamental para o andamento da narrativa. Em Asterix, de René Goscinny e Albert Uderzo, observase a arquitetura greco-romana, fundament al para o desenvolver da história. Passando pelo modernismo em Triton, de Daniel Torres, a arquitetura nas HQs vem mostrando a criatividade de milhares de visões fantásticas do futuro, tanto em mundos de fantasia quanto nas cidades contemporâneas.
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Figura 39 Cidade de Gotham, presente nos quadrinhos Batman.
Figura 40 Ilustração de Daniel Torres
Figura 41 Ilustração de Daniel Torres.
As novas criações de obras arquitetônicas são constantes no mundo dos quadrinhos, principalmente por não dependerem da realidade para sua criação. Nestes universos, o poder de criação acontece a todo momento, mostrando novas possibilidades arquitetônicas mescladas com estilos diferentes como, por exemplo, castelos flutuantes ou estruturas extremamente pesadas sustentadas por pilares com dimensões desprezíveis. Esta falta de vínculo com o mundo real, faz das HQs uma espécie de laboratório estético, onde são realizados experimentos inéditos. O urbanismo nas histórias em quadrinhos demonstra modelos consagrados, como em Tintim, com as arquiteturas incas e astecas, em Asterix contando com Roma e muitas outras cidades já retratadas. Nesses mundos utópicos criam-se propostas para um urbanismo futuro, com visões extraordinárias, tanto em direção a um mundo pacífico e harmonioso quanto um mundo com metrópoles caóticas e melancólicas. Muitos autores costumam denunciar o caos das cidades de suas épocas, com visões pessimistas do presente, como nas obras de Miguelanxo Prado, com suas visões catastróficas sobre o futuro. Próximo a esta visão, alguns quadrinhistas mostram perspectivas diferentes, fazendo previsões sobre a ciência e a nanotecnologia. Um exemplo bem nítido encontra-se no álbum Ronin, de Frank Miller, com uma cidade distópica
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onde há uma arquitetura biomecânica, a nanotecnologia está imensamente avançada, e os edifícios dominam o espaço ao redor. Todavia, os quadrinhos não existem apenas para experimentações arquitetônicas, mas também podem ser um meio de mostrar críticas dos autores a modelos de arquitetura e urbanismo já renomados. Um desses casos é a Febre de Urbicanda, obra do roteirista Peeters e desenhista Schuiten, mostrando como uma distopia pode ser criada a partir das relações entre arquitetura e poder. A história se passa na cidade imaginaria de Urbicanda, construída nos moldes do urbanismo modernista, com seus princípios na setorização, simetria, monumentalidade e racionalidade. Os autores desta obra constroem uma crítica intensa ao urbanismo modernista sob a forma de uma HQ agradável à leitura e com fácil interpretação. Mesmo que o arquiteto tenha um objetivo claro e busque a funcionalidade na sua criação, está nos quadrinhos a possibilidade de transferir todo o seu potencial imaginativo, como por exemplo, trazer a idealização de civilizações perdidas, seja ela ambientada nos espaços urbanos atuais, ou na invenção de outros mundos. É nos quadrinhos que os limites se tornam inexistentes, tanto físicos como orçamentários, bastan-
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Figura 42 Imagem do álbum Ronin.
Figura 43 Quadrinho de Miguelanxo Prado.
do para o artista apenas possuir materiais simples, como um lápis e papel. Essa realização, sem fronteiras físicas e espaciais, leva o arquiteto a abrir outros caminhos nos meios de representação. É possível criar um mundo cada vez mais instrumental e repleto de novas possibilidades, pois o universo dos quadrinhos é repleto de utopias como, por exemplo, a cidade de Gotham (Batman, 1939), inspirada em cidades reais (Chicago e New York), porém, com uma aparência mais corrupta e totalmente distópica. Figura 44 Ilustração do quadrinho Febre de Urbicanda
Figura 45 Ilustração do quadrinho Febre de Urbicanda.
Alguns arquitetos optam por usar os quadrinhos para demonstrar seus projetos. Este é o caso de Rem Koolhaas quando propôs o edifício Euralille 80, Yona Friedman quando esquematiza o trabalho de Ville Spatiale, e Bjarke Ingels quando coloca-se nos quadrinhos explicando o próprio projeto no livro “Yes is More”. A utilização da linguagem em quadrinhos pode ser eficiente também para garantir que as pessoas, não integradas na área, compreendam a proposta e sejam capazes de identificar o projeto em seu conceito. Os quadrinhos podem vir a se tornar um perfeito e econômico banco de provas da arquitetura e das cidades, sendo ao mesmo tempo, um campo de estudo.
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Baseado neste estudo pode-se concluir que o desenho é uma forma natural da linguagem do homem, permitindo que ele se expresse e registre suas ideias para que outros sejam capazes de compreender. Para o arquiteto, o desenho ganha uma maior importância, pois é nele que acontecem os diálogos entre o campo das ideias e o papel, permitindo a reflexão do projeto. Para isso, o desenho manual se mostra muito eficiente, pois expõe o primeiro raciocínio projetual. Os croquis representam etapas intermediárias do processo de criação e concepção da obra arquitetônica, pois é o momento de definir espaços, volumes e proporções.
Figura 47 Sequência de quadros mostrando o processo de desenvolvimento da Ville Spatiale.
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Figura 46 Pictogramas de Yona Friedman do “Computer Aided Participatory Design”.
3.3. O Desenho “Desenho é projecto, desejo, libertação, registo, forma de comunicar, dúvida e descoberta, reflexo e criação, gesto contido e utopia” (SIZA, Novembro 2001)
Figura 48 Pintura rupestre na caverna, em Akakus, mostra uma cena de batalha.
Desde suas origens, o homem se comunica através de desenhos e grafismos. Suas primeiras representações conhecidas são as pinturas rupestres, nas quais ele representava não apenas o mundo que via, mas também as suas sensações, como as de alegria e medo. Ao longo da história, assim como o homem, a imagem também foi evoluindo e deu origem a duas formas de desenho: o artístico e o técnico. O desenho artístico permite comunicar ideias e sensações, possibilitando que o expectador interprete-o de inúmeras maneiras diferentes. Já o desenho técnico tem por finalidade representar objetos o mais próximo possível da realidade, permitindo o entendimento do expectador quanto as suas formas e dimensões. No campo da arquitetura, o desenho é a principal forma de expressão. Através dele se torna visível as criações e soluções arquitetônicas, representando o projeto, seja ele um espaço, um edifício ou uma ideia. O desenho apresenta-se como uma ferramenta essencial do projeto, sendo extremamente necessário na arquitetura. Ele atua como uma linguagem
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e é a principal forma de comunicação do arquiteto, para a demonstração de suas ideias. O desenho dá forma palpável a uma outra realidade e consegue transmitir a imaginação utópica com melhor eficiência e clareza do que apenas palavras. “A imaginação utópica luta pela materialização de um desejo que estivera antes, talvez no máximo, ao nível do inconsciente; “ (COELHO, 1999)
Ao desenhar, o indivíduo está continuamente concebendo algo novo, mesmo que esteja apenas reproduzindo o que vê. O ato de desenhar consiste em uma atitude contrária a de aceitar uma realidade dada, sendo assim, o desenho é indiscriminado da criação e o ato de projetar corresponde a concepção de novos mundos possíveis. É a partir da imagem que há a possibilidade de conexão entre a memória e a concepção, esta é a maneira mais rápida de se desenvolver a ideia de projeto. Para o arquiteto Álvaro Siza Vieira, desenhar é um gesto natural, como uma maneira de encontrar a forma que corresponda a função, e dela se tornar única. O desenho, para Siza é pensado como aquilo que já existe e que é qualquer coisa. Seus desenhos são tão célebres quanto sua arquitetura. Siza mostra em seus desenhos muitas surpresas, que por muitas vezes orientam futuras obras arquitetônicas, carregadas de uma beleza abstrata, que aclama e é a origem das coisas. Seu caderno está repleto de desenhos com indepen-
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dência de tempo e de lugar. O uso da sobreposição de diversas projeções, desde plantas e cortes até perspectivas cônicas torna o desenho único. Apesar da tecnologia ter mudado várias atividades do arquiteto, ela não é capaz de substituir o ato de desenhar. O desenho nunca será substituído sem que haja grandes perdas, pois ele é o meio mais rápido para a expressão, a procura de um espaço organizado, é a manifestação da memória. Assim, eles apresentam histórias e memórias, carregadas de sabedoria e do inconsciente. Ao analisar os desenhos de Álvaro Siza, notase que o traçado é, em muitos casos, gestual e está em movimento. Seu desenho é um atalho para a resposta final, que interliga o visual com o pensamento. A rapidez com que se concebe as linhas se dá, pois o desenho da cidade necessita de uma urgência na tomada do conjunto, unindo os vazios, a arquitetura, os indivíduos, as ruas, as paisagens e tudo aquilo que concentra e se mostra como espaço urbano.
Figura 49 Croqui do Museu Iberê Camargo.
As estratégias volumétricas do arquiteto em seus desenhos permitiam uma relação entre o traço e o artista. Siza se recusava a fazer uso da moldura retangular consagrada pela história da pintura, tornando a de suas obras deformadas, permitindo um prolongamento do desenho, que se expande e mostra outros olhares. Outra característica frequente é a posição em que faz o desenho, inclinando as figuras, como se procurasse acomodar o seu corpo na diagonal, permitindo a utilização da maior dimensão da folha.
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Essas ilustrações são a percepção do arquiteto em relação a arquitetura, mostrando um corpo autônomo pela quantidade e qualidade gráfica. Deste modo, ao observar as obras de Siza, pode-se perceber o arquiteto por trás delas, mostrando a sensibilidade que acompanha o olhar. Essas experiências são possibilidades da sua arquitetura e demonstram o resultado da antecipação através do desenho, para fixar uma continuidade gráfica. Essa plasticidade física é a marca registrada do autor, na qual ele também demonstra as geometrias que geram o seu pensamento arquitetônico. “O esboço é em Siza uma maneira de ser. Ele não lhe serve para representar o projecto, serve-lhe de olhar; é o desenho que contempla o espaço para mostrar ao seu autor o que deve ser. Siza não precisa de heterónimos como o poeta Fernando Pessoa, ele possui esta mão que é outro ele mesmo, ela faz-lhe companhia e diz-lhe o que pensa do seu projecto.” (BEADOUIN,2009)
Para entender projeto é necessário compreender o desenho que o representa e seu processo de criação. O projeto é formado a partir de uma utopia, ou seja um pensamento, uma ideia, contida no imaginário que ganha materialidade. A arquitetura é um cenário, que é fictício e pode se tornar real. As imagens constituem a própria arquitetura e, em muitos casos, não é necessária a concretização do projeto para ter importância histórica. Desenhar e construir são duas ações de mesmo peso, ou seja, o projeto, independente se a obra será ou não executada, possui a mesma equivalência de uma obra executada.
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Figura 50 Croqui produzido por Alvaro Siza Vieira mostra vista aérea de Macau.
Figura 51 Desenhos do projeto da reconstrução de Chiado, Lisboa, de Alvaro Siza.
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capítulo 4
o projeto 4.1 REFERÊNCIA WALKING CITY (Ron Herron) Archigram
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CONTEXTO A revista Archigram Magazine, idealizada por um grupo de jovens arquitetos, surge no inicio da década de 60, num contexto em que emergiam novos processos tecnológicos, grande influência de análise cientifica e filosófica, exploração do universo das relações entre arte, ciência, arquitetura etc. O grupo propõe uma discussão sobre a imaterialidade, onde suas ideias são as de aproximar o homem, a tecnologia e a natureza. Desta maneira, a estrutura urbana começa a se desintegrar, transformando cada elemento tecnológico em um objeto arquitetônico. A revista “desmaterializava” a arquitetura, no sentido de fazer uso de apenas fotografias e alguns conceitos vagos, permitindo que ela fosse mais fluida, pela ausência de limites, marcada pela constante mudança.
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Figura 52 Desenho mostra Walking City.
Figura 53 Desenho mostra Walking City.
O ARQUITETO Para Ron Herron, a cidade era como uma entidade arquitetônica, capaz de se transformar em resposta às necessidades de seus habitantes. Com a criação de Walking City, sua proposta era a de que as cidades não precisavam mais de todo o equipamento que a compõe para poder abrigar a função executiva de uma capital. A aglomeração de milhões de pessoas não seria mais necessária a fim ser instruído, entretido, consumir boa comida e ter uma produtividade elevada. O arquiteto propunha, em seu projeto, que a cidade poderia estar contida em um único edifício.
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O CENÁRIO O mundo no qual as Walking Cities deveriam ser utilizadas seria um pós-apocalíptico, destroçado, inabitável após de uma guerra nuclear. As cidades forneceriam tudo o que os seus habitantes precisassem para a sobrevivência. Elas proporcionariam um tipo de salvação do pesadelo, no entanto, nunca foram criadas para serem executadas, mas para serem discutidas. A proposta da Walking City enfrenta os cânones da arquitetura vitruviana, sobre a durabilidade e a estática dos edifícios, propondo uma arquitetura nômade, mutável, interconexa e tecnológica. Ela seria o modelo de uma arquitetura nova, que traria um desenho urbano tecnológico e aliado aos seres humanos.
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Figura 54 Imagem mostra Walking City.
Figura 55 Imagem mostra percurso de Walking City.
A CIDADE A cidade é uma entidade mutante que não possui um lugar determinado e responde as necessidades imediatas de seus habitantes. É considerada mutante por ser um grande elemento urbano constituído por uma organização flexível e continua. Não existe apenas um modelo de Walking City. Suas partes são compostas pela circulação, pessoas e informações, assim como os fluxos de interação de Plug-in City. A organização flexível possibilita que a cidade se mantenha em transformação, pois essa maleabilidade vai além dos arranjos físicos.
Figura 56 Desenho mostra Walking City.
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Figura 57 Desenho mostra corte de Walking City.
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Essas grandes estruturas seriam capazes de se interligar através de “braços”, e poderiam se conectar com o solo, o mar e outros elementos para formar “metrópoles ambulantes”, quando necessário.
Figura 58 Desenho mostra Walking City.
Seu formato não é aleatório, se assemelhando a uma pulga, pois o modo como trata o ambiente é como a de um parasita. A Walking City viaja em busca de matérias primas para a sobrevivência de seus habitantes e, ao encontrar, se fixa e permanece durante um período de tempo naquele local. Porém, ela faz uso de praticamente todos os recursos presentes e volta a caminhar, sem propor um reflorestamento ou um plantio de alimentos.
Figura 59 Desenho mostra Walking City.
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O crescimento da população não deveria apresentar limites devido a capacidade mutável das cidades, porém, como as megaestruturas que a compõe são fixas, é de se acreditar que haja um limite de população para a armação. A cidade é tratada como mais do que o lugar ou as estruturas espaciais, sempre em mutação, por mais que seus sistemas de movimento fossem comuns em todas as Walking Cities. Existe um aspecto de abertura, de inacabado em cada uma dessas cidades, por isso sempre há possibilidades para repercussões.
Figura 60 Desenho mostra corte de Walking City.
Figura 61 Desenho mostra corte de Walking City.
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4.2 MEMORIAL DESCRITIVO
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AS CAMADAS DA CIDADE: Nas camadas inferiores, onde há pouca luz, estão presentes as indústrias de bens de consumo duráveis, não duráveis, academias, museus e alguns comércios, por serem áreas de pouca permanência. As habitações estão presentes nas bordas da estrutura, para terem melhor entrada de luz, já que são áreas de grande permanência. CIRCULAÇÕES: A estrutura faz uso de elevadores em suas laterais para a circulação vertical. Nos pavimentos menores, como a escala é considerada de vizinhança, não há existência da circulação horizontal, pois esta se dá pelos próprios moradores a pé. Porém, nos andares maiores existem pequenos bondes que cuidam desse deslocamento. ÁGUA: Transformação de água salgada em água doce: A estrutura da cidade possuirá maquinários que permitem a transformação de água do mar em água potável para garantir a sobrevivência de seus habitantes. No processo, cerca de um terço da água salgada se torna potável, enquanto o resto deve ser descartado na forma de salmoura (líquido com alta concentração de sais resultante da separação) em lagoas de água salobra ou de volta para o mar, pois se depositado no solo pode inibir o crescimento de plantas e em rios pode matar a vida aquática. A técnica utilizada será a de destilação, que consiste em aquecer a água do mar até atingir o ponto de ebulição e entrar no estado de vapor, sendo direcionada para um condensador e resfriada onde retorna a seu estado líquido. A água é coletada em outro recipiente e os sais permanecem no recipiente original. Na cidade existe um grande depósito de água, para que não ocorram desperdícios. ESGOTO: O esgoto da cidade foi pensado de maneira que o ambiente seja o menos agredido possível, buscando por alternativas já existentes nos grandes navios atuais. A estrutura é equipada com o sistema de tratamento de águas residuais que deixam águas cinzentas com padrões para serem reutilizadas e as águas negras para serem despejadas novamente no mar. Também são equipados separadores de água oleosa para emulsão, que realizam um processo com várias etapas para garantir que apenas a água limpa seja despejada no mar. O sistema garante minimizar ao máximo os impactos em áreas sensíveis do mar. 87
FONTES DE ENERGIA: ENERGIA SOLAR: A energia fotovoltaica é obtida através da conversão direta da luz em eletricidade, o chamado Efeito Fotovoltaico. Utiliza-se a célula fotovoltaica como um dispositivo fabricado com material semicondutor, mostrando-se uma unidade fundamental para o processo de conversão. A estrutura terá painéis solares como parte de seu revestimento externo, que serão capazes de produzir energia elétrica em corrente continua, portanto, será necessário um inversor solar para converter essa energia em corrente alternada (a responsável pela energia consumida dentro das casas e empresas). A eletricidade produzida é então levada para as redes de transmissão de energia, sendo distribuída para uso. Os espelhos utilizados serão os curvos, como se fossem grandes calhas, pois estes são capazes de direcionar seus focos a um cano que passa no meio deles. Neste sistema a geração de energia é distribuída e não concentrada. A forma de calha elimina a necessidade de um eixo de movimentação nos espelhos para acompanhar o sol durante o dia. Este modelo é eficiente, pois mostra-se capaz de funcionar à noite, em dias chuvosos e nublados. Isto ocorre porque dentro do tubo presente nos painéis, passa um outro tubo, no qual a camada externa é de um vidro que aguenta altas temperaturas, existindo um espaço de vácuo molecular entre os dois tubos, tornando a redução da perda de calor significantemente menor. No tubo da camada externa existe uma camada de sal, que quando aquecido em uma temperatura de 218.33 oC (425 F), este entra no estado líquido e permanece desta maneira durante várias horas, funcionando como uma “pilha” de energia térmica. Na camada mais interna do tubo aparece uma bomba que vai até a usina, onde é utilizado para aquecer a água, que se transforma em vapor e assim gera a energia necessária para o abastecimento da cidade. BICICLETA: A instalação de bicicletas capazes de gerar energia elétrica limpa é indispensável no projeto da cidade em questão. Em alguns andares do subsolo existem academias que possuem estas bicicletas, fixas em local adequado, gerando energia enquanto as pessoas pedalam. A utilização destas engenhosidades consegue, além de gerar energia, gerar saúde, economia e menos agressão ao meio ambiente. Com apenas uma hora pedalando, a bicicleta é capaz de gerar energia suficiente para abastecer uma casa por um dia inteiro. Este conceito de energia independente é uma
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alternativa para a energia sustentável que abastece a cidade do projeto, trabalhando uma ideia que além de entreter os moradores, sendo em sua essência pública, mantém a proposta sustentável. A energia produzida de apenas uma bicicleta chega a alcançar até 500 watts por hora, o que equivale a carga completa de 100 celulares, 10 notebooks ou 5 TVs Led de 32” funcionando durante uma hora. Cada bicicleta contém uma bateria que acumula a energia excedente gerada, garantindo que nenhuma energia seja perdida. INTERNET: A internet será transmitida através de antenas presentes nos mirantes da estrutura (as camadas mais altas), sendo capaz de transmitir seus sinais por todas as superfícies da cidade. A sede da distribuidora, que cuidará dos procedimentos estará presente nos andares do subsolo, por não necessitar abundância de luz. AGROFLORESTA: Os sistemas agroflorestais são consórcios de culturas agrícolas, contendo principalmente espécies arbóreas. Esse método se torna eficaz já que ameniza as limitações do terreno, minimiza os riscos de degradação à atividade agrícola e melhora a produtividade. Como a cidade possui um limite para este terreno, o procedimento torna mais fácil a proteção contra ataques de pragas e diminui a perda de fertilidade do solo. Nas áreas ao redor dos buracos serão plantadas as espécies arbóreas de grande porte, o que permitirá um desenvoldimento das espécies sem grandes complicações e trará uma nova qualidade para as habitações próximas. A cidade possui grandes depósitos para armazenamento de alimentos, utensílios, materiais e sementes.
89
4.2
TURTLE CITY
O FORMATO: O formato dado a cidade foi pensado de maneira pare cida com a Walking City de Ron Herron, se assemelhando com uma tartaruga, por ser um hibrido capaz de andar sobre a terra e a água. A ideia veio a partir de uma lenda existente chamada World Turtle, que descreve uma tartaruga gigantesca sustentando a Terra em seu casco. Várias versões são descritas na Índia, China e America do Norte, sendo que na última, ela é conhecida como “Ilha da Tartaruga”, criando uma imagem de um continente no casco da tartaruga. Já na Europa, ela é retratada como uma criatura tão grande que os marinheiros se enganam pensando ser uma ilha e nela repousam. LOCOMOÇÃO: EM ÁGUA: O casco e a estrutura de sustentação é feito com material metálico (aço), se assemelhando a estrutura de um navio. Na frente do casco haverá uma proa bulbosa usada para diminuir a resistência à propulsão, fazendo com que a cidade ganhe mais velocidade no momento de navegar. Os motores que ajudam no deslocamento da estrutura estão presentes na última camada do subsolo, concentrados no meio, pois estes são extremamente pesados e sua presença na frente ou atrás da estrutura poderia causar um desequilíbrio. NA TERRA: Assim como a Walking City, o projeto mostra estruturas parecidas com “patas” que auxiliam a movimentação da cidade quando em terra. Construídas com estrutura metálica, estas possuem um mecanismo de dobra que permite o seu deslocamento em terra e água. 90
Representação Gráfica do Projeto
ESTUDO DE LOCALIZAÇÃO DAS MASSAS DA CIDADE
Habitação Serviços Comércio Área Verde Institucional Indústrial Circulação Vertical Motores e Manutenção Estrutura conta com aproximadamente 2.800 moradores.
92
Torre de internet
Torre de internet
Camada
Camad
Cama
a7
da
Habitação Serviços Comércio Área Verde Institucional Indústrial Depósito Manutenção
93
6
8
94
Ensino Fundamental e Ensino Médio
Horta Coletiva
Viveiro de animais pequenos
Camad
Horta Coletiva
Cama
Cama
a 5
da
da
Habitação Serviços Comércio Área Verde Institucional Indústrial Depósito Manutenção
95
4
3
96
Viveiro de animais pequenos
Cama
Universidade Crematório
da
Área verde Espelho d’água Camad
Hospital
Té r r
Praça para reuniões e lazer (para assuntos políticos)
a 1
eo
Agrofloresta e parque
Habitação Serviços Comércio Área Verde Institucional Indústrial Depósito Manutenção
97
2
98
Cinema Academia
Subso
lo
1
Academia Museus e teatro
Subsol
Geração e distribuição de energia
o 2
Internet Subsol
o 3
Habitação Serviços Comércio Área Verde Institucional Indústrial Depósito Manutenção
99
100
Distribuição tratamento de água
Depósitos Indústrias de bens não duráveis
Subso
Distribuição de água
lo
4
Indústrias de bens duráveis Manutenção e central de comandos
Subso
Esgoto
lo
5
Destinado a tratamento de esgoto Subso
Motores
lo
Su b so
6
lo
7
Habitação Serviços Comércio Área Verde Institucional Indústrial Depósito Manutenção
101
CIRCULAÇÕES VERTICAIS
A cor laranja representa circulações verticais, ou seja, as rampas e elevadores.
SHAFT
Figura 62 Elevador Skyview
A cor marrom representa os shafts, responsáveis pela distribuição de água e esgoto da estrutura.
Co rte
BB
A
eA Cort
CORTE AA
00
25 25
50 50
100 100
150 100
200 100
Escala grรกfica 50
0 5
CORTE BB 00
25 25
50 50
100 100
150 100
200 100 Escala grรกfica
0 5
50
Lateral esquerda
Fundo
Frente Lateral direita
ELEVAÇÃO FRONTAL
ELEVAÇÃO FUNDO 0
25 25
50 50
100 100
150 100
200 100 Escala gráfica
104
0 5
50
ELEVAÇÃO LATERAL DIREITA Proa bulbosa 00
25 25
50 50
100 100
150 100
200 100
Escala gráfica 50
0 5
ELEVAÇÃO LATERAL ESQUERDA 00
25 25
50 50
100 100
150 100
200 100
Escala gráfica 0 5
50
CIDADE NA TERRA
CIDADE NA ÁGUA
106
DIMENSÕES
26
6m
500
m
PERSPECTIVA PARQUE E AGROFLORESTA
PERSPECTIVA CAMADAS
INCLINAÇÃO PAINEL SOLAR
Escala 1:75
107
108
109
110
g r o a i l fia b i b
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