Um Aniversário Com Você

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“Elogiar é ter atitudes previsíveis, surpreender é ter atitudes imprevisíveis.” — AUGUSTO CURY


Dedicado a todos os leitores que, assim como eu, sĂŁo apaixonados por Zane e Kizzie. Espero que vocĂŞs gostem dessa supresa!


Well, I found a woman Stronger than anyone I know She shares my dreams I hope that someday I'll share her home I found a lover To carry more than just my secrets To carry love, to carry children of our own — Ed Sheeran, “Perfect”.

Zane

Hoje era o aniversário da minha Kizzie. Cara, o que eu ia fazer? Tinha que preparar um jantar, alguma coisa parecida. Não era bom com surpresas, não de última hora. O dia foi muito punk, tanto para a banda, quanto para Keziah. Ela ainda estava em uma reunião tardia, se fodendo para conseguir um patrocionador épico pra banda em uma próxima turnê. Caralho, como eu ia resolver isso? Decidi pegar o telefone, com as mãos sujas de orégano mesmo porque estava temperando a carne, e ligar para o Yan. Ele poderia preparar alguma coisa, poderia vir para o meu apartamento e salvar a minha bunda. — Yan? — Fala, Zane. — Levanta a bunda dessa cadeira, cara. — Minha voz saiu urgente. — Preciso de ajuda. — Pra quê? — Sua voz estava sonolenta. Não acredito que o cara estava dormindo às seis da tarde, porra. — Aniversário da Kizzie. Vem cozinhar pra mim alguma coisa. Achei uma carne na geladeira, acho que dá pra fazer assada, sei lá. Eu temperei e acho que fiz certo.


— Você acha que fez certo? — Eu acho. Coloquei orégano. E óleo. — Que porra, Zane! Sai de cima dessa carne agora. Tô indo praí. Rindo, mas de desespero, desliguei o telefone. Lavei as mãos e liguei para o Carter. Ele atendeu, sua voz ofegante. — Se você estiver fazendo sexo, não quero saber. Para tudo que tá fazendo e vem pro meu apartamento. Ele soltou uma risada. — O que foi que você fez dessa vez? — Aniversário da Kizzie. Preciso de ajuda. — Tenho uns balões aqui, da última surpresa que fiz pra Erin. Quer que eu leve? — Não sei, cara. Isso é brega? — Quando a gente ama, a gente é brega mesmo, Zane. Suspirei fundo. — Ah, foda-se. Traz tudo que você tem. — Me dá mais dez minutos. — Para de transar e vem logo — ordenei. — Ah, e liga pro Shane. Em menos de meia hora, os caras estavam espalhados pelo meu apartamento, enchendo bexigas vermelhas em formato de coração, e Yan estava tentando salvar a carne na cozinha. Se alguém dissesse para mim que um monte de homem tatuado estaria pendurando corações no teto – e que esses caras éramos nós –, eu começaria a rir. Se dissessem que a surpresa era para uma mulher por quem eu estava apaixonado, provavelmente a gargalhada seria escutada em todo o bairro. Mas é. A vida tem dessas coisas. Voltas e mais voltas. Acabei sorrindo, pensando na cara que Kizzie ia fazer.


— Meu, eu nunca vou me relacionar com ninguém — reclamou Shane, amarrando os balões. — Se isso significa ter esse trabalho do caralho pra fazer uma surpresa… adeus, compromisso sério, foi um imenso prazer. Carter riu e Yan também soltou uma risada da cozinha. — Você faz coisa pior pra Roxanne, Shane — acusei. — Não seja idiota. — Eu? — Aquele dia que você encheu a casa dela de anjos e piscas-piscas? Shane virou o olhar furioso pra cima de mim. — E me arrependo amargamente. — Só porque o namorado dela apareceu? — provoquei. Ele bufou. — Vai se foder, Zane. Ri. — Isso tudo é amor, eu sei — instiguei. — Por mim e por uma loirinha… — Cala a boca! E eu calei. Yan saiu da cozinha e o cheiro estava bom, exceto por sua expressão, que estava desgastada. — Cara, juro que tentei salvar a carne, mas óleo e orégano, do jeito que você jogou… é sério? Fodeu tudo. — Não fodeu, não. Tem que dar certo. Não posso ir no mercado agora, com chance de a Kizzie chegar — falei. — Shane vai — Yan mandou. — Shane, vem aqui, vou te passar uma lista. Preciso de vinho branco, frango, páprica, alecrim… Shane revirou os olhos. — Por que eu?


— Se eu sair, vou ser reconhecido — Carter se pronunciou, em cima do meu sofá e descalço, amarrando os balões. — Você também pode ser, Shane. Mas é mais fácil de disfarçar. — Tá bom — falou, se aproximando do Yan. — Anota em um papel tudo isso, porque, na boa, vou esquecer. Yan pegou uma das minhas canetas e começou a rabiscar. Foi então que me dei conta de que não daria tempo de Yan cozinhar, sem eu saber que horas Kizzie ia chegar. Miska passou pelas minhas pernas, lembrando-me de sua dona. Peguei-a no colo, dei um beijo no topo da sua cabeça e comecei a acariciar seu pelo. — Será que sua mãe vai chegar tarde? Ela me respondeu com um miado. — Yan, não acho que vá dar tempo de você cozinhar. — O frango fica pronto rápido — desconversou, anotando ainda o pedido. — Traz dois vinhos. Um para eles tomarem e o outro para eu jogar como tempero. Ah, melhor. Um vinho e uma manteiga caseira. — Tá bom. — Shane pegou o papel, enfiou o boné mais fundo na cabeça e saiu. — Ei, Zane — Carter me chamou, amarrando por fim o último balão. Minha sala estava toda com corações em volta e no teto. Que ridículo, meu Deus! — Independente se der tempo ou não, se Kizzie chegar e ver esse monte de homem aqui arrumando balões, ela vai perceber que se esforçou para surpreendê-la, ainda que a gente tenha passado o dia inteiro no estúdio. Ela vai perceber que, mesmo cansado, você teve um tempo para pensar nela. E isso vai ser um presente por si só. Meu coração apertou com a perspectiva de sequer ter comprado um presente. — Você acha? Eu queria comprar alguma coisa para ela, mas não tive tempo. Cara, eu nunca tive que me preocupar muito com as pessoas. Sou novo nisso. — Um bom jantar, um momento a dois, o vinho que Yan escolheu… Vai por mim, ela não precisa mais do que isso — garantiu Carter, sorrindo torto.


— Esses presentes significam mais do que uma joia que você possa dar a ela — completou Yan. — Mais do que qualquer presente caro que poderia ter resolvido comprar. Uma viagem, um carro, um celular novo, um relógio que ela queria… são objetos e claro que ela usaria, claro que adoraria, mas isso aqui vai ficar na memória, Zane. — Apontou para os balões. — Que seja especial, que você possa surpreender ela e que possa dizer coisas que ela queira ouvir. — Talvez você possa tocar pra Kizzie — Carter sugeriu. — É — pensei alto, lembrando-me do momento em que já tinha feito isso, aqui mesmo nesta sala. — Ou talvez eu possa simplesmente dizer várias coisas bonitas. — Você tem um suporte de microfone aqui, né? — Yan falou, buscando com o olhar. — Tenho. — Me ajuda a montar, Zane. Yan vai limpar a cozinha e prepar as coisas para o jantar. — Vou começar pelo macarrão — Yan disse. — Pelo menos isso tem aqui, né? O que acontece na sua geladeira, Zane? — Ah, a gente quase nunca come em casa. Nem sei o que tem lá. Yan riu, balançando a cabeça em negativa e me chamando de louco sem dizer nada.

Duas horas mais tarde. — Caralho, Shane não vai chegar. Porra! Eu vou matar aquele moleque! — vociferei. — Calma, Zane. Ele disse que tava dando um jeito — Yan tranquilizou. — Lembra do que eu te disse? Tenha paciência com o Shane. — Eu tô tentando, mas…


As portas do elevador se abriram, e quase pensei que pudesse ser Kizzie, mas respirei em alívio quando vi Shane com mil sacolas na mão. Ele parecia ter rodado a cidade inteira, porque estava exausto. — Meu Deus, cara. Eu fiquei sem paciência assim que entrei no mercado, tinha tanto tipo de frango que não sabia o que comprar. Não sei cozinhar direito, vou ver se corrijo essa merda esse ano ainda, mas… bom, eu fui pelo prático. Comprei comida pronta. — O quê? — Yan questionou, já indo para as sacolas. Começou a colocá-las em cima de uma mesa, abrindo e verificando o que tinha. — Fui em vários restaurantes, mas achei um especificamente de comida italiana, feito por uma italiana mesmo, ela até ha parlato in questo modo — Shane disse, divertido. — Era uma senhora e, não, não transei com ela. Fez uma massa caseira de quatro queijos enquanto esperava a carne recheada assar. Levei um tempo, mas tive sorte. Se ela não tivesse nada pré-pronto, levaria mais de cinco horas. — Me alivia o fato de não ter transado com a senhora italiana — zombei e me aproximei, puxando-o para um abraço. — Obrigado, moleque. — Ah, relaxa. Tudo pela sua Marrentinha, certo? — A comida é excelente — Yan disse. — Vou colocar em alguns recipientes para parecer que você preparou ou para ficar mais apresentável. — E o que é toda essa produção? — indagou Shane, vendo o microfone no meio da sala. — Vou dizer algumas coisas para ela, em meio aos balões de coração. — Ri, porque a ideia era mesmo absurda pra mim. — Há coisas que nem um D’Auvray escapa — falou Carter, apertando meu ombro e o de Shane. — Muito menos vocês dois. — Isso é o que a gente vai ver — provocou Shane, dando uma piscadela. Mas eu sabia que Shane ainda teria um destino parecido com o meu. Ainda que ele sequer sonhasse com isso ainda.


Acabei agradecendo Carter, Shane e Yan. Os caras foram meus super-heróis quando mais precisei. Talvez amizade fosse exatamente isso, estar lá por aqueles que ama, mesmo que seja nos quarenta e cinco do segundo tempo. Nunca diria em voz alta. Mas, que porra! Eu amava esses filhos da mãe.

Kizzie

Alguma coisa cheirava tão bem que, antes de abrir as portas do elevador, eu já era capaz de sentir. Meu estômago roncou de fome. O dia havia sido uma loucura, e uma dor de cabeça imensa estava latejando meu cérebro. Não sei como consegui fechar aquele patrocínio, os donos do hotel eram insuportáveis e o fato de conseguir um acordo que manteria a The M’s sem custo em qualquer turnê que fizesse, desde que houvesse o hotel na cidade, foi uma vitória. Mas os pensamentos sobre o trabalho ficaram lá fora, porque meus olhos encontraram Zane pertíssimo da entrada do seu apartamento, sem camisa, com uma calça jeans branca toda rasgada nas partes certas, os cabelos úmidos pós-banho, o sorriso no rosto… e um microfone colado na boca. — Você nasceu no dia cinco de dezembro e eu imagino a felicidade que tomou o seu pai, apesar de todas as coisas que vocês passaram depois disso. Imagino o quanto ele se sentiu orgulhoso quando seu dentinho de leite foi trocado. Imagino o quanto ficou feliz na sua primeira palavra. Imagino o tamanho que ficou o seu coração quando você disse “eu te amo, pai”, pela primeira vez. Eu faço uma ideia de tudo que enfrentou em sua vida, até chegar aqui, até ser a mulher que é. — Ah, Zane… — Suspirei, um pouco emocionada. — A mulher que você é hoje, ainda não descobri como, permite que um homem como eu divida as experiências ao lado dela. A mulher que você é hoje se


apaixonou por mim, viu em mim um cara que nem eu sabia que existia. A mulher que você é hoje, tão superior a qualquer outra que eu já encontrei, me fez sentir o que era amor de verdade, ainda que nem soubesse o significado disso, ainda que sequer tivesse experimentado isso. Engoli devagar e tirei um tempo para observar tudo em volta. Balões em formato de coração vermelho foram espalhados. Em cima da mesa de jantar, um banquete tinha sido posto, com velas no centro. Uma música suave tocava ao fundo, um jazz sexy e melodioso, sendo exatamente o que eu precisava depois de um dia insano como aquele. — O que eu sei é que a mulher que você é hoje, nascida no dia cinco de dezembro, me permitiu descobri-la de maneira que nenhum outro homem poderá descobrir. Essa mulher linda, incrível, mágica, sexy, profissional, ousada, petulante, marrenta, gostosa, doce, romântica e perfeita… ela me aceitou. Cheio de defeitos, cheio de manias, todo errado, fodido em mil graus… e ela me aceitou. Kizzie, se isso não te faz uma pessoa incrível, eu não sei o que mais faria. Acabei rindo e andando alguns passos na direção dele. Zane passou as mãos pelos cabelos molhados, jogando-o para trás do rosto. Agarrou o microfone e deu uma piscadela lenta no processo. — Quero te agradecer por ter vindo parar na minha vida. Por ter me dado a chance de conhecer a mulher foda que você é. Por aceitar o meu pedido de casamento, tão súbito e louco, quanto eu. Por ter me dado a chance de ser um cara melhor para você e por você. Por desejar uma vida inteira que, prometo, não será tediosa ao meu lado. Quero agradecer pelo destino ter te colocado na minha vida. E, porra, por você ser minha! Por ser quem eu precisava, sem saber o que, na verdade, me faltava. O aniversário é seu, e vai vir aquele clichê babaca, mas quem ganhou um presente lindo fui eu. Lágrimas desceram pelo meu rosto. O dia tinha sido insano e eu não estava esperando uma surpresa dessas, palavras lindas como essas, Zane tão apaixonado por mim que não era necessário nada ser dito, eu podia ver em seu olhar.


Ele se levantou, desligou o microfone e se aproximou de mim, puxando-me pela cintura. Aquela faísca crispou entre nós, como fogo em gasolina, antes de ele depositar, lentamente, um beijo quente e úmido em minha boca. Estremeci. — Não consegui comprar um presente para você, algo físico — falou, soando levemente envergonhado. Sorri e coloquei as mãos nas laterais do seu rosto. — Mas dei um jeito. Ainda que os caras me dissessem que só essa surpresa aqui seria o bastante. — Os meninos te ajudaram? — Sim. Um monte de homem amarrando balões de coração. Dá pra acreditar nessa porra? Comecei a gargalhar. — Não é possível! — Ah, é. Acredite se quiser. — Zane, não precisava se dar ao trabalho, nem os meninos. O dia foi louco para todos nós. Em vários momentos, até esqueci que era o meu aniversário. — Mas eu não — sussurrou e puxou do bolso da calça um monte de papel amassado. — Acabei de imprimir isso na nossa impressora e, sabe, não sei se é uma coisa que queria, mas todas as mulheres têm um sonho encantado sobre esse lugar, então… Eram duas passagens ida e volta para Orlando. E ingressos de uma semana para a Disney. Fiquei perplexa, percebendo que era para passarmos a virada do ano lá. Pisquei, perdida em uma emoção nova, de Zane ter feito novamente uma coisa impulsiva, mas tão linda, que eu não poderia estar mais feliz. Abracei-o, pulando em seus braços, deixando tudo cair no chão. A bolsa, as passagens, os ingressos e o cansaço do dia. Zane me colocou em seu colo, beijandome avidamente, e me levou para o quarto. Por mais que estivéssemos exaustos, fizemos amor antes do jantar. Profunda, intensa e longamente. Quando nossas energias se esgotaram, fomos comer. Eu vestia uma de suas camisas da banda e Zane, uma boxer linda e vermelha.


Não dissemos uma palavra durante o jantar, não foi necessário. O sorriso em nossos rostos, a troca de olhares e as carícias ocasionais traziam toda a felicidade e o amor do mundo.

FIM.


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