Livro

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Escrito por Fรกtima Melo Projeto Grรกfico: Aline Santiago

Teresina, 09 de Abril de 2016 5


Apresentação

Este livro é um resumo da estória de duas almas que se encontraram com a missão dada por Deus, de criar e educar uma grande Família, baseada em fatos, e reproduzida sob a visão de Fátima Melo.

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Agradecimentos Agradeço a todos que colaboram e participaram dessa estória, que foi baseada em anotações feita de próprio punho por Pedro Celestino, e pelas memórias de parentes. A Aline Santiago que me ajudou a por em prática esse projeto. E a meus irmãos que me apoiaram e contribuíram com suas lembranças.

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Sumário Infância .............................. 11 Petú .............................. 17 Casa de José .............................. 21 Pedro .............................. 25 A Resposta .............................. 35 O Casamento .............................. 37 O Emprego no Estado .............................. 47 A Casa Caiu .............................. 51 O Adeus A Dilurdes .............................. 59 Amizades .............................. 63 A Cigana .............................. 69 Com A Cara e a Coragem .............................. 73 São Paulo .............................. 79

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Os Trotes .............................. 89 O Acidente .............................. 97 A Última Visita ............................. 99 Reencontro .............................. 103 Alfabetizando .............................. 107 O Pedido .............................. 111 Copa do Mundo de 1994 .............................. 115 O Sítio da Vovó .............................. 121 A Primeira Cirurgia .............................. 125 A Segunda Cirurgia .............................. 129 Metástase .............................. 133 A Passagem .............................. 141 Mensagem Final .............................. 144

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Infância

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ra madrugada, e Raimunda gemia com suas fortes dores, tentava lamenta-se sozinha, para não acordar a filha que estava na rede ao lado, mas em vão, porque a pequena Petu, com apenas 10 anos de idade, era a única a lhe socorrer, pois estava sempre atenta as necessidades da mãe. Com a luz fraquinha de uma lamparina, levantava-se, abria a porta da cozinha, ia ate o terreiro pegar gravetos, para por no fogão a lenha e fazer o fogo para o chá de ervas, pois era o único medicamento que possuía em casa. Raimunda sentia dores muito fortes, consequências de um câncer que lhe destruía por dentro. Mesmo sofrendo fazia o possível pra poupar a filha, pois era ainda muito criança, não tinha tempo nem pra brincar com sua boneca de pano que a mãe teria feito pra ela. Custódio, pai de Petu era um homem branco de cabelos e olhos claros, viajante, passava meses fora viajando a cavalo, ia sempre a Capital Teresina, para vender ou trocar as criações por mantimentos, mas as viagens duravam mais que o necessário, pois gostava de festas e mulheres, não se preocupava muito com a saúde da mulher, pra ele o mais importante era deixar o alimento em casa. O pai contratou uma professora para dar aulas em casa, apenas para ensinar a matemática para as meninas, pois teriam que aprender a tabuada para fazer contas e mais nada, pois para ele mulher não precisava de estudar, aprender a bordar e cozinhar era o que valia. Raimunda e Custódio tinham cinco filhos, Francisco,

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José, Antônia, Petronilia e Maria a caçula. Raimunda não viveu muito, pois a doença lhe consumia a cada dia, e veio logo a falecer, deixando os filhos ainda pequenos. Custódio ainda viveu bastante, morreu idoso no ano de 1947. Francisco não era o mais velho, mas sentiu-se responsável pelas irmãs, pois o pai pouco aparecia em casa. Aprendeu a tocar sozinho uma sanfona, e era chamado paras grandes festas que acontecia nos vilarejos e cidades vizinhas, Chico era conhecido também por ser bom de briga, quando um sujeito tirava uma moça pra dançar e ela recusava, ele ficava de olho nela, se fosse dançar com outro, já puxava uma briga, e Chico logo largava sua sanfona, e riscava a faca no salão, poderia entrar quem entrasse, ele derrubava todos, mas nunca matou ou sangrou ninguém, era com os pés que ele derrubava, feito um capoeira, rodava que nem pião, mas terminava botando ordem, ele era muito respeitado, e ai deles se mexesse com alguma irmã sua ou outra moça qualquer, diziam até que ele tinha pacto com o diabo, mas era só conversa do povo. Alguns anos depois José se casou e foi morar nas terras do sogro, Maria e Petu, apelido de Petronilia, foram morar na casa de suas primas, Liduina, Joselina, Maria Belim e Sabina, filhas da “ tia Rita” que viveu até os 112 anos, lá fazia de tudo para ajudar, trabalhando em troca de comida e lugar pra ficar, mas sempre visitada pelo irmão, que se preocupava muito com as duas meninas. Petu já moça feita, sempre que podia acompanhava seu irmão nas fes-

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tas, pois adorava dançar, ali no salão poderia esquecer todo seu sofrimento de infância. Numa festa dessas, conheceu a pessoa que se tornaria sua grande amiga pra vida toda, Luisa Rosa de Oliveira, Luizinha como era chamada, filha de Alfredo Gomes de Oliveira e Ana Rosa dos Anjos. Luizinha ficou órfã ainda menina, e terminou de ser criada pelos padrinhos Antônio Vitorio de Sousa ( pai toinho ) e Mariana Oliveira. Mas tarde veio a se casar com Mozart de Castro Moura e passou a se chamar Luiza Oliveira Moura. Luiza e Petu foram grandes amigas, Petu sempre que se referia a ela, usava uma expressão bem forte, ela dizia que ela e Luiza, eram como duas pedras, e quem se metia entre duas pedras, poderia se machucar. Foram comadres, Petu chegou a ser mãe de leite de seu filho Alberto. Antônia era a filha do meio, também uma menina muito bonita, pele bem clara e cabelos bem lisos e compridos, que iam abaixo da cintura, quando sentada em uma cadeira baixa, eles chegavam a tocar o chão, Antônia tinha o hábito de deitar-se na varanda após almoçar, armava uma rede, tocava o pé na parede para o balanço, um dia deitou-se e dormiu de mal jeito vindo prender o sangue das veias do pescoço, e Antônia foi dada como morta, quando a encontraram estava desacordada e o rosto bem escuro, em desacordo com o resto de seu corpo, fora retirada e colocada em cima de uma mesa para ser preparada para o velório, a urna mortuária estava sendo preparada, de dentro de casa se ouvia o som das marteladas na madeira, e as mu-

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lheres no quarto lhe preparava uma mortalha, quando já no final da tarde, uma das pessoas que estavam na sala, dobrou uma toalha e colocou embaixo do pescoço de Antônia, deixando a sua cabeça um pouco levantada, mas tarde alguém observou que a pele de seu rosto estava clareando, o sangue já estava quase sumindo, foi nesse momento que alguém foi arrumar sua cabeça e com um esforço imenso Antônia abriu os olhos e sentou na mesa. Foi uma correria de gente por todos os lados, dizem que teve alguns que até pularam uma cerca de arame farpado sem perceber, e aos poucos passado o susto, foram voltando devagar para ver o que teria acontecido, e o que aconteceu é que não foi dessa vez que Antônia morreu, ainda tinha muito chão pela frente a ser pisado. Antônia antes de completar os dezenove anos, o pai lhe arranjou um casamento com um fazendeiro bem de vida, mesmo contra a sua vontade, era um homem já maduro de pele negra, e feições rudes, sem nenhuma beleza, teve com ele um casal de filhos gêmeos, José e Maria. Jose era muito parecido com a mãe, e Maria puxou ao pai, ele branquinho e ela bem escurinha, mas tinha os cabelos lisos como uma índia, eram duas crianças muito unidas, o que um sentia atingia ao outro, sempre às tardes os dois corriam no terreiro para tanger as criações para o curral, aquilo era um divertimento para eles, Maria era afilhada de Petu, por quem tinha um enorme carinho, era muito bonito a amizade deles, mas infelizmente José adoeceu e faleceu ainda criança, com apenas sete anos de idade, a me-

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nina ficou numa tristeza de dá dó, era de cortar o coração a cena vista por outros, Maria corria no terreiro nas mesma horas que tinha costume e gritava. “Êh José” sempre chamando pelo irmão. Mariinha como era chamada hoje é casada, tem filhos e mora na Cidade de Castelo do Piaui, seus pais já falecidos. Maria, a filha caçula, acompanhava Petu, apesar de pouca diferença de idade, mas Petu tomava conta da irmã, ela era ainda muito nova pra entender todos os problemas que elas iriam enfrentar após a morte da mãe, sua preocupação naquele momento era vestir e brincar com sua boneca. Maria ainda muito jovem apaixonou-se pelo um rapaz Teófilo Ribeiro Soares, e casou-se com ele no ano de 1948, teve seis filhos, Teófilo seu marido era um homem bem relacionado, gostava de política, tornou-se funcionário público devido a suas amizades, era um orador, tinha o dom da palavra, sabia se expressar bem, mas tinha um defeito, gostava muito de beber, tornando-se com o efeito da bebida um pouco violento, numa dessas saída para beber, Teófilo passou mal na rua e veio a falecer, mas deixou seus filhos criados e uma boa pensão para Maria.

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Petú

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etu, era uma moça muito bonita, estatura mediana, cabelos pretos ate a cintura, sedosos e brilhantes, pele morena clara, lábios cheios, e olhos um pouco puxados, chamava atenção por onde andava, tinha disposição para o trabalho, sempre que precisavam dela, esta disposta a ajudar. Então, através dessas amizades, Maria Belim, conversando com Custódio, pai de Petu, falou que ela já estava na idade de casar e constituir sua própria família, dizendo conhecer um senhor viúvo, que estaria interessado em casar-se novamente. Custódio marcou uma visita com esse senhor em segredo, ficaram na sala conversando um bom tempo, Petu nos afazeres domésticos nem se deu conta que o motivo da visita seria ela. Depois que a visita se foi, Custódio chamou a filha... - Petú, você vai casar! Disse o pai em tom firme e seguro. - Eu não, nem tenho noivo, e nem pretendo ter. - Agora tem, acabou de sair, é um homem maduro, serio e tem pretensões , você vai ter sua casa, e não precisará mais viver de favor nas casas alheias, eu não posso ficar preso a vocês, preciso trabalhar. - Eu não quero. Disse isso e saiu correndo para o quarto, chorou muito, pois a mesma gostava de outro rapaz. Francisco, o rapaz de quem ela gostava, tomou conhecimento do fato, do casamento arranjado por seu pai e Maria Belim. Ele ficou pensativo e sem saber como agir, pois era muito difícil se aproximar e conversarem a sós, pois tinha

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sempre alguém por perto, contato físico somente numa dança de salão, que a mesma ia sempre, mas acompanhada do irmão e dos primos, mesmo assim se consideravam namorados, pois nesse tempo era mais difícil para uma moça solteira sair sozinha com um rapaz. - Vamos fugir, você ajeita suas coisas e eu venho pela madrugada lhe buscar. Disse Francisco numa oportunidade. Ela ficou com medo e feliz ao mesmo tempo, que não conseguiu guardar segredo, comentou com Mariazinha uma moça que morava também na casa, e sua amiga, essa mesma tinha muito inveja da Petu, apesar dela não ter quase nada para ser invejada, Mariazinha tinha uma paixão por Francisco, a mesma não perdeu a oportunidade e levou a notícia ao conhecimento de Maria Belim, que passou a noite de virgilia no quarto e não a deixou sair. E ainda mandou um recado para Francisco que Petu teria desistido dessa loucura, que ele fosse embora e não voltasse mais, que se ele gostasse mesmo dela que a deixar-se ser feliz, pois esse senhor daria a ela o que ele não poderia. Francisco não queria acreditar e ainda insistiu em falar com ela, mas Maria não permitiu Petu nunca mais conseguiu falar com Francisco, o mesmo depois de algum tempo casou-se com Mariazinha, mas nunca a fez feliz, bebia muito, passava noites na rua com outras mulheres, mas tornou-se empresário de Empresa de Ônibus em Teresina.

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Casa de JosĂŠ

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epois desse acontecido, ela continuou sua vida de trabalho e obrigações, sempre que estava sozinha gostava de cantar, canções lindas e tristes como a sua vida. Passado uns dias Jose Custódio, o irmão mais velho veio lhe buscar, para que cuidasse de sua casa , pois a mulher dele Zefinha estava em dias de descansar, ou parir e iria precisar de seus serviços. Petu trabalhava que nem escrava na casa do irmão, a cunhada não levantava nem pra tomar água, sempre gritava do quarto: - Petu vem buscar o menino, que já terminou de mamar! O filho recém-nascido ficava direto no quarto de Petu, que passava praticamente a noite em claro porque ele chorava muito, a mãe só o pegava no colo na hora de amamentar, e ainda tinha que levantar muito cedo, pra pisar o milho no pilão , pra tirar a massa do cuscuz, depois ia fazer o café, almoço, lavar roupa e todo serviço da casa, sem ganhar um centavo sequer. Passaram quase seis meses, Petu bem cedo estava varrendo o terreiro, quando aproximou-se um cavaleiro, era seu primo Emidio, que tinha vindo a mando de Liduina para lhe buscar, pois haveria uma grande festa, e Petu não poderia perder. Então Liduina para convencer o Irmão de Petu a deixa-la ir, mandou dizer que iria precisar de seus serviços. Zefinha não queria de jeito nenhum que ela fosse, mas Petu, foi logo largando a vassoura e disse: - Claro que eu vou! -Espera que vou arrumar minhas coisas. Zefinha veio logo com o menino e jogou no colo de Petu, o mesmo agarrou-

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-se em seu pescoço, pois já estava muito apegado a ela. Petu devolveu o menino pra cunhada e disse:- “Tome conta de seu filho, pra ele não pensar que eu sou a mãe, assuma.” Montou no cavalo e se foi, ao longe ainda ouvia o choro da criança, mesmo com o coração partido, não olhou pra trás , ela também gostava muito dele. A cunhada sempre a explorou, e o irmão nunca a defendeu, Jose era muito parecido com o pai, gostava de festas e mulheres, mesmo casado, e através desse costume contraiu uma doença venérea chamada Sifilis, como não foi tratado adequadamente a bactéria atingiu a estrutura ocular, o tornando cego ate os últimos dias de sua vida. Jose levava tudo na brincadeira, papo serio não era com ele, sempre fazendo piadas de sua cegueira, tornou-se invalido para o trabalho , e como o mundo dar voltas, ele e a esposa vieram futuramente a ser moradores nas terras de sua irmã Petu , que de empregada, passou a ser patroa. A casa de Liduina era muito animada, tinha bastante trabalho, mas era onde ela ainda se sentia melhor, pois era muito querida e ganhava muitos presentes, em pagamento das roupas que fazia, aprendeu a costurar ainda menina, Liduina lhe deu um corte de seda florado muito bonito. Petu na sua hora de descanso trabalhou no seu vestido, que iria usar na festa, cintura presa e saia rodada, era o que estava na moda, para o penteado se usava parte do cabelo preso no alto, como ela tinha bastante cabelo, nem precisava de acessório para parte interna, que era como deixava

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volumoso no alto da cabeça. Petu aproveitou bem esse dia como se fosse o ultimo de sua vida, dançou com os primos, e amigos, quase não sentou, para não pensar em mais nada, pois sabia que seu destino estava bem próximo de mudar.

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Pedro

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edro Celestino Santiago, filho de BENEVENUTO JOSE SANTIAGO E RAIMUNDA MARIA DA CONCEIÇÃO, ambos de Alto Longá. Seu Benvindo, como era conhecido era um pequeno fazendeiro, proprietário da Fazenda Santa Paz, lugar de areias brancas, não era muito boa para o cultivo, mas tinha bastante pequizeiro e bacurizeiros. A casa era bem grande e ficava em frente a um pequeno morro em forma de cela de montar, assim chamado pelos moradores do lugar de MORRO CELADO. A família SANTIAGO, veio de Portugal, mas de origem Castelhana, na época de D. João VI, muitos emigraram nessa época para o Brasil. No Piaui, vieram do lado do Ceará, precisamente da atual Crateús, inicialmente espalharam-se por Marvão, hoje chamado de Castelo do Piaui e Alto Longá, terra natal de Pedro. Pedro tinha quatro irmãos, Cicero o mais velho, João, Antônia e Ana Rosa a mais nova. Ficaram órfãos muito cedo. Pedro e Antônia foram morar com seu padrinho, O Coronel RAIMUNDO PEREIRA, comerciante e fazendeiro em Alto longá, casado com D. Jánuária, não tinham filhos, a mesma era alcoólatra. Depois do falecimento do coronel, D.Januária expulsou Antônia e o irmão de casa, que foram morar em casa de amigos. Pedro, foi casado três vezes, ficando viúvo por duas vezes, a primeira esposa chamava-se Maria Francisca de Moraes, ela viúva, casaram-se em 1921, tiveram a primeira

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filha em 3 de Julho de 1922, que faleceu no mesmo dia, foi batizada em casa com o nome de MARIA. Em 3 de Março de 1925, pelas 5 horas da tarde, num lugar chamado Retiro Velho, município de Alto Longá, nasce o segundo filho do casal, JOSE OMAR SANTIAGO, e faleceu em 2004. José casou-se três vezes, a primeira mulher dele tinha recursos, gado e muitas terras, mas José não conseguiu manter, era péssimo para os negócios, ele conseguia as coisas, mas não segurava, ele e sua irmã Guiomar receberam a herança de sua mãe, quando seu pai casou-se pela segunda vez, mas Jose conseguiu perder tudo em pouco tempo. GUIOMAR ROSA SANTIAGO, terceira filha, nasce numa quarta-feira, pelas 16 horas do dia 26 de agosto de 1926, batizada em Beneditinos, pelo Monsenhor Fernando Lopes, em 21 de outubro de 1927, apadrinhada por Lourenço Barbosa e Raimunda Alves de Moraes, e crismada em 1932 por Maria Hermelinda Melo. Guiomar casou-se com Jose Vicente de Sousa, teve cinco filhos. Ficou vi-

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úva muito cedo, e faleceu em Junho de 2016 com 90 anos. Guiomar dos filhos de Pedro era a que mais deu trabalho a mesma não se dava com as madrastas, pois se sentia a dona da casa nas duas vezes que o pai ficou viúvo, chegando ate judiar dos irmãos menores, para que as pessoas pensassem mal das esposas de Pedro, e sempre repreendida pelo irmão Omar, principalmente com Petronilia, pois tinham quase a mesma idade, com diferença de apenas três anos. Depois de nascer o primeiro filho, Guiomar vivia adoentada, e o marido sempre a trazia para a casa do pai em Teresina, deixava e voltava para o interior, Petu a acompanhava no medico, mas Guiomar sempre muito fraquinha, e teve uma vida muito sofrida devido aos seus problemas de saúde, perdeu uma filha que era a sua companhia, uma menina deficiente auditiva, mas muito esperta, sempre que a mãe vinha a Teresina, Lindalva a acompanhava. Fátima e Lindalva eram muito amigas, sempre quando ela chegava na casa do avô, abraçava Fátima e levantava, fazendo sinal que era muito forte e Fátima era fraquinha. Zuza era o apelido de seu marido, ele não deixava a mulher se preocupar com nada, sempre ele tomava a frente de tudo, quando a mesma ficou viúva não conhecia o valor do dinheiro, e teve que contar com ajuda de suas amigas da Igreja, que a ensinaram a ir ao mercado para comprar os alimentos, e assim foi aprendendo a andar com as próprias pernas. Zuza era um homem alto, forte e com muita saúde, ele nunca imaginaria que iria morrer antes da mulher que tinha uma saúde tão frágil.

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MARIA FRANCISCA DE MORAES, a mãe de Jose Omar e Guiomar, faleceu em 17 de Setembro de 1927, com a idade de 35 anos, tendo dado a luz no dia anterior a sua quarta filha que já nasceu sem vida, e lhe foi dada o nome de Maria.

Segundo Casamento de Pedro Após 4 anos de viúvo, Pedro casa-se novamente com MARTINHA ALVES LIMA, nascida em 19 de Junho de 1913 filha de PEDRO RIBEIRO DO NASCIMENTO e CASIMIRA ALVES DE LIMA, que órfã tornou-se filha adotiva de ANTONIO VITORIO DE SOUSA e MARIANA OLIVEIRA. O casamento foi no dia 11 de Outubro de 1931, ela com 18 anos de idade e ele com 33 anos.

Filiação de Pedro e Martinha Numa terça-feira do dia 23 de Agosto de 1932, as duas horas da tarde, nasce o primeiro filho do casal, batizado em casa pela madrinha Mariana Oliveira com o nome de BENICIO, Falecendo em Março do ano seguinte.

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MARIA DE LOURDES SANTIAGO, a segunda filha nasce Em 19 de Janeiro de 1934, as 0horas do dia, numa sexta-feira, batizada em 23 de Junho de 1934, padrinhos Cicero Marcos Santiago e Francisca Rosa de Moraes, padre Acelino Portela. Nascimento do terceiro filho desse casal, MANUEL, no dia 6 de Março de 1935, as 20 horas de quarta-feira, e falece quatro horas depois, sendo batizado por seu irmão Jose Omar Santiago. MARIA DE JESUS SANTIAGO, quarta filha nasce no dia 5 de abril de 1936, num domingo pelas 22 horas , foi batizada pelo Padre Fernando Lopes, da freguesia de Castelo, na Goiabeira a 10 de Setembro de 1936, seus padrinhos foram Adrião Ferreira Melo e Rosa Avelina de Paiva. Aos 16 anos de ida-

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de foi morar com seus tios Antônia e Zeca Santiago, onde permaneceu ate os dias de hoje, os dois faleceram e hoje em companhia da prima Ana Luzia Frazao , filha de Atonia e Zeca. RAIMUNDA MARIA SANTIAGO (Dica) a quinta filha nasceu no dia 10 de Agosto de 1937 as 22 horas. Foi batizada pelo Padre Jose Alencar, seus padrinhos foram Cicero Francisco da Silva e Liduina Hermelinda Melo, no Município de Castelo do Piaui. Desde nova demonstrou vocação pela vida religiosa, o pai satisfazendo seu desejo , trouxe a Teresina, para ser encaminhada a Fortaleza, e torna-se noviça, para amadurecer a sua vocação e ter a certeza do que desejava. Tornou-se freira, e neste ano de 2016 estará completando 53 anos de vida religiosa.

FRANCISCO, o sexto filho, nasceu no dia 8 de Outubro de 1938, e faleceu no mesmo dia, batizado em casa pelo Sr. Antônio Vitorio e Francisca Gomes de Moraes.

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BENEVINUTO NETO SANTIAGO (BENA) O sétimo filho nasceu a 15 de Janeiro de 1940, as 4 horas do dia, seus padrinhos foram Vicente Marques e Ana Campelo. Casou-se com Francisca Rosa Da Fonseca, no dia 27 de Julho de 1960, com ela teve 8 filhos, morou por três anos num lugar chamado Bom Principio, mas com a vinda do pai em 1964 para Teresina, voltou para Novo Santo Antônio, para cuidar da casa e das criações que ficaram, colocando um comercio para seu sustento, permaneceu também um antigo morador que já estava idoso o Sr. Raimundo Rodrigues, um velho contador de prosas. RAIMUNDO ALVES SANTIAGO, o oitavo filho do casal nasceu no dia 12 de Maio de 1941, às 9 horas do dia, e só foi registrado a beneficio de estudos em 1943. Seus padrinhos Inácio Pessoa Cabral e Luiza Oliveira.

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SEBASTIÃO, O nono filho nasceu em 21 de Janeiro de 1943 as 9 horas do dia , numa quinta-feira e faleceu no dia 30 de abril do mesmo ano, seus padrinhos foram Jose Piaui e sua mulher Marcinha.

Em consequência desse parto , após dar a luz, MARTINHA ALVES LIMA, vem a falecer cincos horas depois, as 14 horas, com apenas 30 anos de idade

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A Resposta

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etu, estava na sala de costura na casa de Liduina, quando recebeu a visita do irmão Francisco, ou Chico Custódio como era chamado. - Petu , vim te pedir uma coisa, quero que me escute ate o fim, depois você pensa e me responde. Você quer viver nessa vida pra sempre? Não pensa em ter uma casa sua, construir uma família, deixar de trabalhar pros outros de graça em troca de quase nada. - Claro que não, o que posso fazer? - Então aceita esse casamento com o Pedro, ele é viúvo, comerciante e Marceneiro, tem uma terrinha, algumas criações e é um homem serio. Enquanto você não tiver sua vida encaminhada, eu não posso encaminhar a minha, me sinto preso, eu quero viajar, trabalhar, mas não vou ficar sossegado enquanto não te ver bem. -Há, então sou eu que estou te atrapalhando? Pode ir, não preciso de babá. -Não é isso, você sabe o que eu quero dizer. Depois de uns dias, Petu mandou o recado paro o irmão que tudo bem ela aceitava, podiam fazer o casamento, mesmo tendo visto o futuro marido de longe e poucas vezes. Essa noticia deixou o irmão e o pai muito feliz. Maria Belim tratou logo de providenciar tudo.

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O Casamento

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ETRONILIA HERMELINDA MELO, nascida no dia 23 de abril de 1923, filha legitima de Custódio Jose de Melo e de Raimunda Soares, entra na igreja com lagrimas escorrendo pelo rosto, seu pranto chamou atenção do padre Josino, que lhe disse que não faria o casamento de uma noiva chorando. Petu lhe disse para continuar, que suas lágrimas eram emoções . -Continue, pode fazer o casamento. E assim no dia 25 de Dezembro de 1944, realizou-se o terceiro casamento de PEDRO CELESTINO SANTIAGO. Ela com 21 anos, e já na época considerada com idade avançada para casar, e ele viúvo duas vezes com 46 anos de idade. Após o casamento, foram para a festa, e lá surpreendendo-se com tantos filhos do viúvo, pois a mesma não teria ideia do que a esperava. Saiu para o quintal e lá encostou-se com os braços debruçados sobre o chiqueiro dos porcos e começou a chorar. A filha caçula de Pedro com apenas sete anos, vendo a madrasta chorar, inocentemente falou: “A mulher do papai é gulosa, com tanta comida lá dentro e ela chorando pelo porco no chiqueiro”. Petu até riu, então resolveu entrar e olhar direito aqueles rostinhos tão carentes, e foi isso que lhe deu ânimo para enfrentar mais uma batalha. As crianças logo se apegaram a ela, era uma maneira que ela achou de conhecer bem os enteados e também de ficar menos tempo possível perto daquele homem, que para ela ainda era um estranho.

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Filiação de Pedro e Petú O casal Pedro e Petu, tiveram onze filhos, A primeira nasceu nove meses depois do casamento. LUCILIA, nasceu no dia 30 de Outubro de 1945, batizada em Novo Santo Antônio, pelo Padre Josino, e seus padrinhos foram Francisco Ferreira Melo e Sabina Ferreira Melo e Maria Hermelinda Melo, e crismada por Mariana Oliveira, foi um parto difícil, em casa com ajuda de uma parteira, sofreu o dia todo, e já não aguentava mais, a parteira não sabia mais o que fazer, pois a passagem através dos excasos, 13 centímetros do canal de nascimento é uma das viagens mais perigosas feitas por seres humanos. Na verdade, o risco de morte durante o parto era muito grande naqueles tempos. Petu tinha esse arco quase fechado, e o osso não dilatava para a passagem da cabeça da criança, vendo esse sofrimento todo, Pedro não se conteve, invadiu o quarto, lavou bem as mãos e pediu pra Petu ficar de cócora, e que a parteira a sustentasse por trás, mandou ela abrir bem as pernas e fazer força, colocou a mão por dentro e forçou o osso a dilatar, imediatamente a criança nasceu aliviada. Petu exausta e sem forças, disse que nunca mais iria parir, Mas como antigamente não tinha como evitar, ela engravida da segunda filha.

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MARIA, nasceu no dia 31 de Janeiro de 1947, as três horas do dia. Foi batizada em Novo Santo Antônio pelo Padre Josino, seus padrinhos foram Pociano e Maria Belim. Maria teve dois filhos, do primeiro casamento nasceu sua primeira filha Annyeli, e Douglas Kridi filho de Emad Kridi, um Libanês que Maria conheceu em Saõ Paulo, morou alguns anos nesta Cidade e voltou tempos depois para sua Terra Natal Teresina, onde vive até hoje com sua família e mais dois netinhos filhos de Annyeli.

NARCISA, a terceira filha nasceu em 21 de Maio de 1948, e foi batizada a 22 de Julho do mesmo ano, seus padrinhos foram Júlio Reis e Júlia Santiago (Julinha) e procuração Júlio Matos e Maria Barros, pelo Padre Josino.

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MARIA CELIA, nasceu em um sábado, às 21 horas do dia 25 de Fevereiro de 1950, apadrinhada por Inácio Pessoa Cabral e sua esposa Dica.

A quinta filha do casal FRANCISCA DAS CHAGAS, nascida numa quarta-feira as 21 hora do dia 9 de Janeiro de 1952, tendo como Padrinho S. Francisco das Chagas e de procuração Antônio de Matos e madrinha sua irmã Maria de Lourdes (Dilourdes).

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Nascimento de RITA, no dia 10 de Outubro de 1953, às 22 horas, batizada em Alto Longá pelo Padre das missões, seus padrinhos foram Antônio Almeida e sua esposa Ataide Nogueira.

Enfim depois de seis filhas mulher, Petu engravida do então desejado filho homem, e no dia 24 de Outubro de 1955, nasce RAFAEL, em uma segunda-feira, às 7 horas do dia.

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Em 27 de Outubro de 1957, às 7 horas do dia de domingo, nasce o segundo filho homem do casal, que seria o oitavo na lista, iria se chamar Miguel, pois Pedro queria ter nos filhos o nome dos três Arcanjos, mas com receio de não ter mais filhos homens, achou melhor colocar seu nome , então foi batizado com o nome de PEDRO FILHO.

MARIA IMÊLDA, nascida em 18 de Janeiro de 1960, essa também foi um parto bem complicado, pois ela estava atravessada, e Petu não teria nenhuma condição de tê-la em casa, após dia de sofrimento, Pedro freta um Jeepe, e a leva pra Teresina, foi uma viagem difícil, por causa das estradas ruins, e riachos cheios, pois era época de muitas chuvas. Enfim a primeira filha e ultima a nascer em um Hospital Maternidade Dona Evangelina Rosa, numa segunda-feira às 17 horas do dia. Foi batizada na Igreja do Amparo em Teresina, seus Padrinhos foram Marcelino Laurentino e sua esposa Maria Jose, e consagração sua irmã

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Raimunda Maria (DICA). Isabel filha de Antônia Frazão, irmã de Pedro adotou esse nome de Maria Imêlda, quando era freira, e depois que se formou em medicina, largou o convento voltando a usar seu nome verdadeiro, então quando Petú veio para Teresina por conta da gravidez ela pediu que colocasse esse nome, caso sua filha fosse uma menina, pois a mesma gostava muito, então foi assim que a menina foi batizada, para atender o pedido da sobrinha. Pelas 4 horas da manhã do dia 19 de Janeiro de 1962, nasce a decima filha do casal MARIA DE FATIMA nome dado em homenagem a peregrinação de Nossa Senhora de Fatima, vindo de Portugal em 1962. Maria de Fatima foi batizada no dia 29 de Julho do mesmo ano, em Teresina, na Igreja N.sra. do Amparo, seus Padrinhos foram seus irmãos Raimundo Alves Santiago e Maria de Jesus, e consagração Lucilia Melo Santiago. Em Dezembro, dia 28 do ano de 1963, às 6 horas da manhã, nasce IRINEU, num lugar chamado Renascente, Município de Alto Longá, batizado em Novo Santo António, pelo Padre Machado, seus padrinhos foram Raimundo Soares Brito e sua esposa Antônia. Petu queria que o menino se

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chamasse Gregório, mas Pedro não gostando do nome o batizou de Irineu. Esse era o nome do empreendedor da primeira estrada de ferro no Brasil, construída em 1952, pelo Irineu Evangelista de Sousa, O Barão de Mauá, Pedro lia muito sobre esse acontecido nos jornais e simpatizava com a estória das estradas de ferro. Esses foram os onze filhos de Pedro e Petu, Pedro trabalhava de marceneiro, e tinha um pequeno comércio, Petu cuidava da casa e dos filhos e enteados, e ainda fazia algumas costuras, Pedro recebia muitas encomendas, ate urna mortuária, quando falecia alguém na redondeza era Pedro que fazia as urnas.

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O Emprego no estado

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erto dia em visita na casa de António Vitório e Mariana, Petu ouviu uma conversa na sala que lhe chamou atenção, falava-se de um funcionário corrupto que trabalhava na arrecadação dos impostos, que o mesmo António Vitório, prefeito do Município havia o posto pra fora, e estava precisando de alguém de confiança para tal cargo, Petu foi até a cozinha e pediu a D. Mariana a vaga para seu marido Pedro, ela lhe respondeu prontamente que a vaga já era dele. E assim no dia 18 de Dezembro de 1957, Pedro foi nomeado pelo Governo do Estado para o cargo de Agente da Agência Fiscal de Novo Santo Antônio, dependente da Coletoria Estadual de Alto Longá. Com alguns de seus filhos já estudando na Capital e devido a sua doença contraída através de seu trabalho, Pedro resolve vender sua propriedade e algumas criações e manda suas filhas procurar uma casa em Teresina, e assim em 1964, Pedro e família mudam-se. De vez em quando tendo muitas recaídas, tosses e muitas febres Pedro procura um medico para seu tratamento. Faz um sacrifício e paga uma consulta particular com o médico Dr. Lucídio Portela, após exames ele lhe dá o diagnóstico, era claramente que seria melhor que ele tivesse uma tuberculose, pois já existia cura pra tal doença, e ainda lhe disse, sua doença não vai lhe matar, mas sim lhe maltratar, você vai ter que conviver com ela, passou algumas vitaminas e remédios paliativos, frutas e muitas proteínas, dizendo isso, chamou sua atendente e pediu a mesma que devolvesse o valor da consulta,

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que ele comprasse os remédios com aquele dinheiro, desejou-lhe boa sorte e despediu-se, e assim Pedro conviveu com essa doença ate o final de sua vida. Pedro sempre foi um bom marido e bom pai, dedicado a família, nunca teve vícios, não fumava nem bebia, gostava de todos os finais de tarde, sentar em sua rede , com seu radinho de pilha na mão, para ouvir o noticiários e os avisos do interior, a rádio funcionava como telegrama para quem ia e vinha, mandava a noticia pelo radio, todos os dias às sete da manhã e às cinco da tarde, era obrigação as pessoas assistir a rádio nessas horas, quando o interessado não escutava por um motivo ou outro, tinha sempre alguém que ia avisar. “ olha, fulano chega amanhã , é pra ir receber com dois cavalos celados”, essa era a rotina dos interiores, telefone era só na prefeitura que tinha um aparelho.

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Pai Toinho e Tia Luiza

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A Casa Caiu

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ma noite de inverno, após quase um ano e meio da chegada em Teresina caia uma chuva muito forte, com raios e trovoadas, quando se ouvia um grande estrondo, era as paredes da casa desabando feito dominó, a casa era antiga feita de tijolo cru. Tinha duas bandas, de um lado, sala cozinha e o quarto onde dormia Pedro e Petu, do outro lado dois quartos grandes, e o banheiro era no fundo do quintal, foi essa parte que desabou, onde dormia os filhos, em redes, que ajudava a puxar as paredes, que por sorte caíram pra fora, com o barulho e o susto todos acordaram em tempo de sair, não machucando ninguém. Foi uma noite de pânico, os vizinhos socorreram pois a noite estava só começando. Pedro tinha febre, mas mesmo assim não quis abandonar a casa, passou a noite toda do lado que ainda estava de pé junto com sua companheira de todas as horas. De manhã, admirando o que realmente sobrou, e sem saber o que fazer, onde ficar com aquela família enorme. Pedro recebeu solidariedade de muitas pessoas amigas e parentes, o primeiro momento era saber alojar os filhos, Celia não estava no momento, pois a mesma desde que veio do interior morava na casa das freiras no internato do Itaperú , então levou Francisca pra ficar com ela até tudo se resolver, Jesus foi pra casa da tia, irmã de seu pai Antônia Frazão, todos se ajeitaram de uma maneira ou outra, era preciso se adaptar a essa nova situação. Pedro construíu um pequeno barraco provisório no quintal acoplado a uma latada. “ um espaço aberto coberto de palha”.

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Para levantar as paredes ele foi ao Banco do Brasil e conseguiu um pequeno empréstimo, não poderia ser muito, pois ganhava apenas dois salário de sua aposentadoria, o primeiro salário era do INSS, que ele pagou como contribuinte comerciante, o segundo era do seu emprego no Estado que estava afastado por conta de sua saúde, sua aposentadoria do Estado só veio sair no ano de 1967, que não era muito pois o mesmo aposentou-se por invalidez. Como a família era grande, então iria gastar bastante material para fazer uma casa grande, conseguiu levantar as paredes ate o teto, mas faltou dinheiro para o telhado, então ele foi procurado por um amigo seu, que tinha uma divida pra receber do dono de uma madeireira, então fez uma proposta a Pedro, que ele tirasse toda a madeira necessária nessa loja, e em vez de pagar ao dono, pagaria a ele quando pudesse, pois sabia que Pedro era um homem honrado , e assim o dono da madeireira quitaria seu débito e ainda faria a venda e ele receberia seu dinheiro que já julgava perdido e assim foi feito. E quanto as telhas ele ganhou de presente de seus compadres Marcelino e Dona Zezé, padrinhos de Imêlda, e vizinhos de sua irmã Antônia. Pedro fez o piso com tijolinhos, e a sala fez com cimento queimado vermelho, foi para o quintal e fez uma forma de madeira, para encher de cimento e fabricar seu próprio ladril para por na cozinha, fez uns quadrados amarelos e outros vermelhos, foi quando recebeu a visita de um sobrinho seu, filho de seu irmão Cicero, que também

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morava próximo, e as vezes era ate comparado com Pedro, pois eram muito parecidos como gêmeos, Cornélio vendo o tio naquela situação , velho e adoentado teve dó, saiu e voltou com algumas caixas de ladril florados de vermelho e branco, que se encaixando formavam um ramo de flor, entregou e disse para ele parar com aquele serviço, pois ali tinha o bastante para completar, Pedro agradeceu e na semana seguinte começou a por o piso , na sala de janta e na cozinha, e assim o pior já tinha passado, mas era uma vida sacrificada, mesmo com ajuda de uma parte dos filhos que já estava trabalhando, Jesus era funcionária de um cartório no centro, e depois passou a ser Tabeliã substituta, ajudava muito em casa, Lucilia também trabalhava em loja de confecção , Raimundo trabalhava em uma Empresa Metalúrgica que terceirizava seus serviços para as Empresas de Energia CEPISA e Agua AGESPISA de Teresina com a função de Torneiro Mecânico, curso que ele fez na Escola Industrial, antiga Escola Técnica de Teresina, nesta data ele namorava uma moça muito bonita da Cidade de Pedro II, tinha intenções de casar, mas se preocupava em tocar no assunto em casa, pois com seu salário ajudava bastante nas despesas doméstica, principalmente depois desse acontecido, o mesmo aproveitava quando saia do trabalho para levar sua Isabel ao Cine Rex, o cinema da Cidade que ficava na praça mais visitada do lugar, a Pça.Pedro II, era ali que os namorados se encontravam, depois do filme os casais circulavam de mãos dadas, até aproximar-se às nove horas,

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que era a hora de levá-la em casa pontualmente, enfim todos ajudavam com dinheiro ou com trabalho, pois Pedro e Petu educaram seus filhos dignamente, com honestidade e respeito, pois Pedro apesar de idoso era respeitado, sabia castigar com sua cinta na hora certa, seus filhos mais velhos sentiram na pele a força de seu braço, pois era assim o costume da época, já os mais jovens foram poupados porque o mesmo já estava cansado e deixava essa tarefa para a mãe cuidar, mas Pedro não admitia desobediência, ele por exemplo na hora do almoço não poderia faltar a fruta, pois ele adorava comer com fruta picadinha dentro do prato, essa ele fazia questão dele mesmo ir comprar, e a farinha, quando sentava à mesa e não tivesse, chamava seu filho Pedro, que era chamado de “Pedinho” e o mandava ir ao mercado. Pedinho tinha muita preguiça, por isso o pai o escolhia. O mesmo batia o pé no chão e dizia: “Puuuxa vida, só manda eu. ”O pai dizia:“ Vai logo corno” Corno e demônio eram os únicos palavrões que Pedro falava. Um dia Pedinho saiu chorando e voltou sorrindo, pois na volta do mercado teria achado no chão uma nota de dez cruzeiros, Pedro lhe disse nesse dia: “ Ta vendo? E ainda não queria ir, e deu sua risadinha, com aquela tosse no final. “Ora sim senhor”. Petu depois de uma noite em pensamentos e preocupações, levantou cedo, tomou seu café e pediu a uma das filhas pra cuidar do almoço, que ela ia sair, conversou em segredo com seu marido e saiu, levando uma peça de

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roupa feita, foi ao centro, numa loja de tecidos e confecções, chegando lá pediu para falar com Senhor Luiz, o proprietário, contou-lhe sua situação e mostrou seu trabalho naquela peça de roupa que tinha feito de encomenda, ele olhou e achou o trabalho muito bem feito, pediu a Petu que lhe fizesse uma calça de um modelo especifico da loja, pois ele também vendia roupas feitas, entregou-lhe o tecido marrom caqui, linhas e botões, Petu trouxe a encomenda, chegando em casa começou logo seu trabalho. Quando Petu voltou ao Armazém para levar a encomenda, seu Luiz ficou admirado com o acabamento, então chamou um funcionário, e mandou descer umas peças de tecidos, linhas e mais botões, pois as calças da época tinham muitos bolsos e a braguilha eram fechados com botões, mandou o motorista vir deixar a Petu e o material em casa, e assim toda semana ele mandava deixar e buscar , Petu fazia de meia dúzia de calças por semana, as filhas ajudavam na costura de mão, e assim foi por algum tempo, ate chegar as maquinas industriais, mas foi de muita ajuda na hora certa, pois com trabalho, suor e fé tudo dar certo, e graças Deus nunca lhes faltou o pão na mesa.

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O Adeus a Dilurdes

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m ano depois, Célia e Narcisa foram passar as férias do mês de Janeiro na casa da irmã em Bom princípio, Lourdes estava grávida, e comentou com sua irmã Narcisa que não iria ganhar o bebê na data prevista, e que a mesma iria ter complicações neste parto, e também sabia que seria uma menina, e era pra se chamar Regina Célia, o primeiro nome seria em homenagem sua prima e grande amiga Regina, filha de seu tio Cícero, e Célia em homenagem sua irmã, por quem ela tinha muito carinho. E no inicio do dia 2 de Janeiro de 1966, Lourdes começa a sentir dores, vindo a dá à luz às 11 horas do dia, foi um parto rápido e normal, deixando todos felizes por não ter acontecido nada de errado como ela havia previsto, mas Lourdes insistiu em dizer; “ Vocês estão felizes agora, mais tarde vão está em lágrimas”. E assim ao entardecer Lourdes tem febres e começa a passar mal, chama Narcisa em seu quarto e pede a ela que retire suas joias, anéis, brincos e colar, Lourdes tinha muitas joias, pois seu marido sempre que viajava lhe comprava joias e belos tecidos, pois gostava de ver a mulher sempre bem arrumada em casa, mas só em casa, a mesma não tinha permissão para sair, até para visitar um parente era complicado, Manoel tinha uma loja na Cidade, e sempre viajava para comprar mercadorias, e era por isso que Pedro não queria que Lourdes casar-se com ele, por ser cacheiro viajante, Pedro não confiava muito nele. Então depois de retirada as joias de seu corpo, ela pediu que a irmã guardasse tudo em um Baú, junto com os tecidos que o marido havia lhe dado, era pra

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fazer as roupas pras crianças, e as joias seria também para eles. Pediu ainda que ela lhe transmitisse um recado para o irmão Bena que ele a perdoasse, não que ela ou ele tivessem feito mal um ao outro, mas pelo destempero do marido, que arrumou uma inimizade com o cunhado e a proibiu de vê-lo ou visitá-lo, mesmo morando perto, Lourdes não tinha o direito de ir a casa do irmão, sendo ameaçada até de morte se assim o fizesse. Sentiu por não poder ver o pai pela última vez. Olhou para o marido que estava em pé ao lado da cama, e lhe pediu a benção, fechou os olhos, mas ficou em seus lábios aquela expressão serena e confortada com a silhueta de um sorriso. Em Teresina, as crianças brincavam na calçada, e corriam para dentro gritando: “ A Dilourdes tá chegando”, Pedro passou o dia nervoso e com um aperto no peito, com aquela sensação de angústia. Novamente as crianças tornaram a repetir: “A Dilourdes tá chegando”. Mas quem chegou foi o carteiro com um telegrama avisando o falecimento da filha. Pedro não pôde ir ao enterro, por não estar bem e a viagem ser longa, mas Petu foi à visita de sétimo dia, e lá durante a viagem de volta, Petu ouviu comentários, que Manoel já estava querendo casar com Narcisa, a mesma apavorada com a ideia, vivia fugindo dele durante a semana que ficou aguardando passar para a visita, mesmo sem saber costurar Narcisa pegou um dos tecidos preto da loja e fez um vestido de luto para ela. Vendo que Narcisa não queria ele tentou com Jesus e Lucília, na verdade ele não queria uma esposa

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e sim alguém pra cuidar da casa e dos filhos, a recém-nascida, Petu trouxe com ela para Teresina, criou a menina por alguns meses, até que Manoel casou-se novamente e veio pegar a filha, Petu a entregou contra a vontade, pois já estava apegada aquela criança.

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Amizades

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stava sentada em sua máquina de costura como sempre fazia, quando Fatima, sua caçula vinha com os livros e colocava tudo em cima da cama, às vezes sentava no chão e usava a cama como mesa, sempre gostava de estudar ao lado da mãe, intervalo e outro conversavam, Fátima gostava de ouvir as estórias de Petu, perguntava de tudo, e Petu gostava de contar, falava de sua vida, dava conselhos, pois ela era uma ótima conselheira, as moças da época, amigas de suas filhas sempre tinha um particular com Petu, e Fatima observava esse dom de sua mãe, e sempre dava um jeito de ficar por dentro do assunto, ate mesmo quando estava concentrada nos estudo, mas as “antenas” sempre ligadas. Gostava de ler em voz alta, dizia que ouvindo a própria voz, ficava mais fácil de memorizar a leitura, lia muito bem, era sempre elogiada pelos professores de literatura. Jesus Moura era uma delas, uma moça bonita, loura de lábios carnudos, mas muito tímida e insegura quando se tratava de namorados, ela se correspondia com um rapaz de outra cidade, mas a mesma era analfabeta, e sempre trazia as cartas para Petu ler para ela, e ditava a resposta e Fátima escrevia, eram sempre cartas bem recatadas, um dia Fátima fez uma brincadeira, depois de escrever o que foi ditado, Jesus pedia para ela ler em voz alta, e Fátima leu tudo bem diferente, uma carta cheia de audácias e maliciosa, Jesus pirou, “Tu é doida menina, vou mandar isso não” mas era tudo brincadeira, claro que ela pediu pra Petu ler novamente pra ter certeza. Numa ocasião ela precisou mui-

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to dos conselhos e do colo de Petu, apareceu um nódulo no seu seio direito, deixando-a triste e deprimida, Jesus teve a mama retirada, por causa disso não queria mais sair de casa, como ela tinha seios grandes, a diferença ficou nítida, Petu foi visita-la, e para ajuda-la a sair daquela depressão, trouxe um dos seus sutiãs para medida e fez um recheio no formato e tamanho do seio da moça, deixando-a feliz e agradecida, Jesus era sobrinha de uma vizinha bem próxima e sempre as tardes quando visitava a tia, passava pra conversar com Petu e tomar a bênção ao “seu Pedinho” era como ela o chamava, sentava-se ao seu lado e gostava de ouvir as estória do velho amigo, um dia ela perguntou a ele se existia outra vida depois da morte, Pedro lhe respondeu que não sabia, e fez um acordo com ela, “ Vamos fazer assim, quem morrer primeiro vem contar pro outro como é lá do outro lado, tá certo?” Ela afirmou. “tá certo, combinado” e saiu rindo. Mas tarde ela volta e ajoelha-se aos pés dele, pedindo pra desfazer o acordo. “ Sabe seu Pedinho, é que quando cheguei em casa, fui pensar, é que o senhor já tá velhinho...e fiquei com medo”. Pedro fez uma careta, então você acha que eu vou morrer primeiro? nada disso, trato é trato,” Jesus já estava quase chorando, até que Pedro aceitou seu pedido. “ Ora sim senhor, tá certo, eu prometo que não venho contar nada, mas vai ficar sem saber” e sorriu acompanhado de uma leve tosse. Isso foi antes de sua doença, pois a mesma teve que retirar a outra mama, porque o câncer já tinha se alastrado, e levou a vida daquela moça tão jovem. Mas Petu estava sem-

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pre ao lado de alguma outra moça, que vinha lhe contar seus romances e aconselhar-se com ela, como uma outra que morou muito tempo perto de sua casa e mesmo mudando-se vinha sempre lhe visitar, esta é Osana, também muito bonita, alta, pele bem clara e cabelos negros, ela também tinha um namorado já há bastante tempo, mas o mesmo nem falava em casamento, e ela já estava passando da “idade de casar” como se dizia. Osana trabalhava na Empresa de Telefonia do Piaui, a TELEPISA, e foi através dela que Petu comprou seu primeiro telefone, pois já estava cansada de incomodar o vizinho quando recebia alguma ligação. Mas não era só com as moças que Petu tinha amizades, uma das grandes amigas de Petu foi Dona Raimunda e sua mãe já bem velhinha Dona Joaquina, a mesma pegava suas costuras de mão, e ia pra casa das duas, no quintal debaixo de uma mangueira, o papo rolava enquanto trabalhava com sua linha e agulha. Dona Joaquina tinha uma afeição tão grande por petu, essa mesma faleceu com a cabeça em seu colo, mas antes do último suspiro pediu a Petu, que nas suas orações lembrasse dela, e Petu lhe prometeu que ela estaria sempre em suas lembranças .E alguns anos depois com a vinda de Rafael para Teresina, em suas várias tentações de arrumar um emprego e sem conseguir nada, que Petu lembrou de Joaquina, e ao cair da tarde na hora do terço, ela pediu a Joaquina que intercedesse por ela, Petu fez aquilo em desespero, vendo o filho sair todos os dias sem conseguir trabalho, Joaquina não era santa pra interceder por ninguém, mas ela rezou com

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tanta fé, que ao amanhecer do dia, no primeiro clarear do sol, Petu viu a imagem daquela velha amiga, pousando a mão, como que acariciando seus cabelos e uma expressão de sorriso nos lábios, não disse uma palavra, mas Petu estremeceu e entendeu o recado. Ao levantar-se disse: “Meu filho, vá com fé, você hoje vai conseguir trabalho” e nesse dia Rafael conseguiu uma vaga no Grupo Claudino, e trabalhou muito tempo como vendedor externo, viajando pelas cidades que ainda não tinhas as lojas PARAIBA. E como poderia deixar de falar de uma que se tornou uma filha, e Petu uma mãe para ela, pois a mesma sempre que apresentava a amiga dizia “ Essa é minha mãe”. Luiza Fonseca ou como se falava ao referisse a ela, Luiza da PEPISA, não era órfã, mas foi criada por outra pessoa, trabalhava numa casa de Pedras para pisos e balcões, a 50 metros da casa de Petu, no mesmo quarteirão, e na hora do cafezinho da tarde, era na cozinha e na mesa de Petu que Luiza vinha fazer seu lanchinho e aproveitar pra ficar horas conversando com a amiga, até alguém vir lhe chamar para o trabalho, Luiza ate esquecia das horas, e foi nessa ocasião que Fátima teve seu primeiro emprego, foi na PEPISA que Fátima começou a ganhar seu dinheirinho, era só na parte da tarde, porque pela manhã, ela estudava, e usava o dinheiro do seu trabalho para pagar seu curso de inglês. E assim várias outras amigas, vizinhas passaram pela vida de Petu, como Dona Maria Moura, Dona Jovita que já morava no lugar quando Petú e Pedro mudaram-se para Teresina, Dona Socorro, Mundica e Dona Jessy com seu mari-

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do Francisco, esses tinham quatro filhos, mas três deles eram deficientes, devido a um grau de parentesco muito próximo dos dois, o mais velho era surdo e mudo, assim como a irmã também, o outro tinha as pernas defeituosas, só o caçula que era perfeito. Sempre na sua velha máquina de costura, mas não faltava-lhe tempo pro cigarrinho, o café e as conversas jogadas fora e no meio de uma conversa e outra aquela gargalhada tão conhecida. Petu gostava de fumar, mas não era tão viciada, deixando esse costume quando esteve internada por três dias por conta de uma cirurgia de vesícula.

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A Cigana

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ãe, disse Fátima certa vez! -Me conta de novo aquela estória da cigana. -Ah, de novo? Já contei várias vezes. Era na época que a gente ainda morava no interior, os ciganos apareciam por lá, mas não eram tipos esses ciganos que a gente ver aqui, eram muito enfeitados, cheios de joias, ouro nos dentes, e as celas dos animais eram também muito coloridas, as mulheres muito bonitas, usavam umas saias rodadas e compridas. Eles chegavam nas Fazendas e pedia um espaço por dois dias ou três, pra armar suas tendas e repousar, depois seguiam viagem, eram andarilhos, não tinham lugar certo, andavam sem destino, de noite cantavam e dançavam, era animado, eu gostava de ver. - E aquela cigana que queria ler sua mão? - Eu estava no balcão do comercio quando ela se aproximou. - Hey Bonita! deixa eu ver teu destino? - Acredito nisso não, meu destino sou eu que traço. - Bonita, eu estava te observando, tu é uma mulher danada, fiquei curiosa pra ver as linhas da tua mão. Tu tens algum segredo que eu não possa ver? - Não tenho segredo nenhum, minha vida é um livro de paginas abertas, toma, disse isso e estirei a mão direita pra ela, nesse tempo eu ainda não tinha filhos, estava grávida do primeiro. Ela pegou minha mão, analisou, passou o dedo pelas linhas, e me olhou de olhos bem regalados. - Tu vais viver muito, apesar de tua infância sofrida, tu ainda vai passar por momentos muitos difíceis, porque teu cami-

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nho tem muitas pedras, mas não te preocupas, porque tu vais saber tira-las do teu caminho. Vai ter muitos filhos e através destes filhos, tu vais andar por lugares que tu nem imagina, vais por terras longes. - Ih! Já não estou acreditando, qualquer um pode dizer isso, eu não acredito que tudo tá escrito nessa mão tão pequena. - Não precisa acreditar agora Bonita, mas um dia tu vais lembrar de mim e destas palavras. Te desejo boa sorte , vai precisar... -Nossa! Ela acertou não é? A lucilia foi pra São Paulo, a senhora já foi la, já foi pra Minas , Ceará, Fortaleza. -Sim, ela disse mais coisas, eu não lembro mais.

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Com a cara e a Coragem

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cansaço lhe dominava o corpo, aquele corpo tão frágil e encolhido numa poltrona de um ônibus, pensamentos e devaneios vinham a sua mente, a coragem se misturava com o medo, a esperança com o desespero. O ônibus se aproximava da rodoviária, começou uma movimentação de pessoas levantando de suas poltronas, puxando bagagens, arrumando sacolas, outros preocupados com a aparência cansada de uma longa viagem, menos ela, ali quietinha, só espiava pela janela em busca de um rosto conhecido, e de repente tudo ficou em silêncio, que foi quebrado por uma voz masculina: “A moça não vai descer?” foi ai que Lucília se deu conta e se perguntou: “ Meu Deus, o que estou fazendo aqui?” - Não, não tem ninguém me esperando. - Mas eu preciso levar o ônibus pra garagem, você tem que sair. - Me leva com o senhor, prometeu pra minha mãe que ia cuidar de mim na viagem. - Não posso, a viagem termina aqui. Lucília desce e com a mala na mão, fica parada no meio daquela confusão de gente, indo e voltando, outros se abraçando ao encontrar seus parentes, e suas lágrimas caem, como que lavando sua face, quando um rapaz que a observava se aproxima, toca em seu ombro e fala: “Lucília?” Era um conhecido de Teresina, que estava esperando o irmão que vinha no mesmo ônibus que ela, a mesma nem tinha feito amizade com nenhum passageiro, era tímida e não conversava com ninguém totalmente diferente da Lucília atual. Então ela lhe

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contou que iria ficar em Campinas na casa de uma vizinha que viria lhe esperar na rodoviária, mas era madrugada e ela não apareceu. O rapaz explicou a ela que Campinas era interior de São Paulo e ficava longe, não dava pra ela ir de taxi, convidou Lucilia pra passar a noite em sua casa e de manhã a colocaria em um ônibus, e assim foi feito. Chegando em Campinas com endereço na mão ela pega um taxi, que rodou muito procurando o endereço, foi embora quase todo seu dinheiro nessa corrida, até quando parou em frente a casa, desceu, pegou a mala e bateu palmas, ao sair duas pessoas estranhas, totalmente desconhecidas e lhe diz que D. Dami, a pessoa por quem Lucilia procurava não morava mais ali e sim num sítio bem afastado. Lucília ficou paralisada, o que fazer agora? Luiz e Raimunda, esse era o nome do casal, convidou a moça pra entrar, o almoço estava na mesa, e Lucília almoçou com eles, era arroz branco com ovo, a comida era simples, mas o coração era de ouro, pessoas muito pobres, mas mesmo assim acolheram aquela desconhecida, ficou uma semana nesta casa, mas Lucilia ajudou nos alimentos, com o pouco dinheiro que tinha ainda comprava comida, ela chegou na época do calor, e aquele dinheiro de suas economias eram pra seu sustento e comprar agasalho pra quando chegasse o frio, e no final da semana eles a levaram até o sitio de Dona Dami, mas era muito longe de tudo, não tinha como ela arrumar emprego naquele lugar, depois de uma semana Luiz foi visita-la e perguntou se ela queria voltar pra casa dele, ela topou na hora e voltou. O dinheiro acabou e a mesma

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que tinha uns cabelos bem compridos foi num salão e vendeu, cortou bem curto. Em Teresina, a mãe nem imaginava o que a filha estaria passando, pois a mesma nunca contou nada para não preocupa-la, apenas sua irmã Jesus que escondido numa carta lhe envia algum dinheiro. Narcisa ligou pra seu amigo Raimundinho e deu o endereço de Lucília, o mesmo foi visita-la e ficou preocupado com a situação, ele morava numa república só para homens, lá não eram permitidas visitas femininas, conversou com Coelho, que era um rapaz que morava com ele e se correspondia com Célia. Coelho foi buscar Lucília e a colocou numa pensão em São Caetano, Raimundinho pagou a pensão e lhe deu dinheiro para ela comer até arrumar um emprego, mas Lucilia só lanchava e usava o dinheiro pra pagar condução em busca de trabalho, e conseguiu numa Fábrica, mas até chegar o final do mês, ela tinha que economizar chegando a passar o dia com um pacote de biscoito, no quarto de dormir que dividia com outra moça chamada Geny, Lucilia apertava a barriga para que a companheira não ouvisse seu estômago roncar. Já era tempo de frio e a mesma ainda não tinha agasalho, um dia Geny a vendo sair, lhe emprestou suas roupas para que ela usasse até poder comprar as suas. Após algum tempo, Lucilia foi morar com alguns amigos de Teresina, um pessoal que morou no bairro Mafuá, próximo a casa de sua mãe, era o Mágno, Madalena e Augustinho.

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São Paulo

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om dois anos Lucília que estava lá mandou buscar sua irmã Celia, que terminou seu segundo grau, e algum tempo começou a trabalhar. Lucilia foi a pensão levar uma carta para Adonias entregar a sua mãe, pois o mesmo viria de férias ao Piaui, e foi nessa viagem que Adonias conheceu Rita e apaixonou-se por ela, mas a mesma nem se dava conta, mas ele era insistente e acabou convencendo Rita a namorarem, mas logo ele voltaria e o namoro ficava por correspondência. Nelsom Pêcego trabalhava com Adonias na mesma Empresa GM, e um dia desses ele observou de longe Lucília quando ela ia visitar ou levar uma carta para que fosse entregue a sua mãe em Teresina, Nelson admirou seu comportamento, pois nenhum homem naquela pensão teria a audácia de desrespeita-la, Lucilia entregou sua encomenda e saiu sem notar a sua presença. Adonias já estava noivo de Rita e viria a Teresina para casar-se, já tinha alugado um apartamento e os amigos fizeram para ele uma despedida de solteiro, e foi nesta festa que Lucilia foi apresentada ao Nelson, e já no final, todos já cansados, Nelson lhe propôs uma aposta, um jogo de dominó, e quem perdesse pagaria uma pizza pro outro, então ele perdeu ou fingiu que tinha perdido, marcaram a pizza e foi assim que se conheceram melhor e começaram a namorar. No ano de 1972 com apenas uma semana de diferença de sua irmã Francisca, Rita casa-se com Adonias Nonato da Silva, filho da Cidade de São Joao da Serra no Piaui , morava em São Paulo e através da irmã Lucilia conheceu Rita, que

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tinha apenas 18 anos de idade, com ele teve quatro filhos, a mais velha Sheila Patrícia, que hoje mora em uma cidade nos Estados Unidos, Alan, Alex e Jessica que também este ano foi morar no exterior. Rita também separou-se, mas conheceu um novo amor. Adonias casou novamente e hoje mora em Teresina.

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Francisca casou-se Com João Vargas Dorneles no mesmo ano, o mesmo encantou-se por ela, quando sua Empresa de Eletrificações veio fazer instalações elétricas nesta Capital, o pessoal da Empresa instalaram-se nas casas de aluguel da vizinhança, e através dessa amizade, João enamorou-se de Francisca e a pediu em namoro, ela chamava atenção com sua beleza, sempre foi muito bonita. Francisca casou-se e depois foi morar em Sobral onde nasceu sua primeira filha Nelvi Tais, uma menina muito linda que se tornou o xodó do pai coruja, sempre que podia Francisca dava uma escapulida até Teresina pra ver a família, ouvia-se um comentário que ela parecia mulher de novela por estar sempre bem arrumada e elegante. A Empresa do seu marido SBE estava sempre mudando de lugar, e com ela a família, foi na Cidade de Pará de Minas que nasceu seu segundo filho Eric Giovani, muito parecido com o pai, um menino muito esperto e inteligente, Diego seu terceiro filho nasceu no Estado de São Paulo, Depois de separada Fran veio morar em Teresina com seus três filhos, por alguns anos, depois voltou para São Paulo e continua ate hoje, Joao casou-se novamente, mas continuam amigos.

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No ônibus que Célia sempre pegava, conheceu Laércio e começaram a namorar, depois foram morar juntos e constituiram sua família, Celia teve três filhos, Leandro, Kelly e Luciano.

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Narcisa foi a terceira a se mudar para São Paulo, em Agosto de 1973, trabalhou como secretária de uma escola de cursos profissionalizante, e a noite dava aulas de datilografia na mesma escola, depois foi pra algumas empresas temporárias ate chegar nas casas Bahias, e se aposentar, Narcisa não se casou e mora em seu próprio apartamento.

Raimundo também se casou, e depois de algum tempo através de seu trabalho foi morar em Cotia, interior de São Paulo. Jesus ficou morando com sua tia Antônia. E assim de um por um foi em busca de seu destino, e a família foi fi-

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cando menor fisicamente, porque espiritualmente estavam sempre juntos nas orações da mãe que sentia muitas saudades. Saudades essa aliviadas por longas cartas aos filhos queridos, que demoraram um pouco para retornar a cidade Natal.

Depois de um ano e meio de namoro, especificamente no ano de 1974, Lucilia e Nelson casam-se, ela por esta época trabalhava nas casas Bahia e ele continuava na mesma Empresa. Lucilia engravida de seu primeiro filho no ano seguinte, e no dia 13 de março de 1975, nasce Adriano. Cinco anos depois Nelsom pede demissão para montar seu próprio negócio, uma firma de ração, por esse período Lucilia

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também iria sair do emprego para ajudar o marido, passa mal e é levada ao médico, onde foi constatada a sua gravidez, mesmo menstruando regularmente, foi um período difícil, pois teria que ficar em repouso, ora por outra passava mal, e Nelsom fechava a loja para ficar com ela, e assim o negócio veio a falência, passaram um período difícil. Petu foi visita-los algumas vezes, passava ate de três meses. Foi então quando Lucilia engravidou dos trigêmeos, e no meio do ano de 1980, quando as crianças nasceram, e ficou muito difícil cuidar dos três e do outro maiorzinho, foi que chamou sua irmã Maria, para vir morar com ela, nessa época Annyely, a filhinha de Maria estava com dois aninhos de idade, numa fase muito engraçada da criança e deixou um vazio enorme em casa, principalmente paro avô que gostava de coloca-la no ombro e passear na calçada.

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As crianças de Lucilia, Bruna, Carolina e Igor, já sentiram muito cedo o que seria uma dor da perda de um ente muito amado, depois de todo seu sofrimento, Lucilia enfrentou aquela que seria a maior batalha de todas, seu marido já adoentado, tomava remédios para o coração, mas uma noite ele passa mal e foi internado, não resistindo morre no hospital, deixando Lucilia viúva muito cedo e com quatro filhos pequenos para criar, não o bastante sua sogra que era muito apegada ao filho não aguenta tamanha dor e morre no mesmo dia. Rafael e Pedro, foram trabalhar na mesma Empresa que o cunhado João, nessa época no Estado de Minas. Depois os dois foram também pra São Paulo, Rafael trabalhou em outros lugares ate chegar nas Casas Bahia como vendedor, e Pedro em alguns outros lugares até a GM-General Motors do Brasil. Rafael casou-se com uma Sergipana chamada Édna e teve dois filhos, Elaine Rafaeli e Bruno Rafael, e foi morar numa casa construída por ele mesmo na Cidade de Guarulhos, Hoje separado mora num sitio na Cidade de Altos, vive com outra pessoa e teve mais um filho. Pedro namorou com uma moça Pernambucana chamada Jane Lucia, que morava com suas irmãs e casou, vindo a ter dois filhos, Robson e David, construiu sua casa e foi morar em Guaianases, hoje separado mora num sitio próximo a Teresina.

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Os Trotes

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P

etu já aposentada, resolveu fazer um pequeno negócio para ganhar mais um dinheirinho e também passou fazendo aquilo que mais gostava, que era costurar, com um ponto de comércio na própria casa, ela começou a fazer roupas para pronta entrega, e para adicionar a sua loja, ia a Fortaleza e também trazia bastante novidades, e sempre ali ao seu lado, numa cadeira de palhinha estava Pedro com seu radinho e o jornal. Um dia o vizinho veio lhe chamar para atender uma ligação de São Paulo, Petu foi logo largando seu trabalho, e correu achando que seria uma de suas filhas, mas infelizmente a noticia não era nada boa, a pessoa do outro lado se dizia ser uma enfermeira e estaria ali para transmitir um recado de suas filhas, porque as mesmas não teria coragem de contar para a mãe o acontecido. Dizia a moça do outro lado da linha que sua filha Narcisa teria falecido depois de internada no Hospital, por conta de um acidente, e que Petu preparasse a casa para receber o corpo que já estaria embarcando e chegaria naquela mesma tarde, Petu abalada voltou para casa e com muito jeito relatou a noticia para o marido, que recebeu serenamente como era seu jeito de ser, chorando muito começou a arrumar a casa, e ligou pra sua filha Francisca no trabalho, que na época morava ao lado e trabalhava nas lojas Riachuelo, a mesma veio para casa para ajudar a mãe a esperar o corpo da filha, foi quando chegou seu filho em casa Irineu e achou estranho, porque uma enfermeira iria ligar se Narcisa tinha parentes por lá, e ele aconselhou a mãe a ligar pra sua filha

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Rita, a mesma negou a tal situação, dizendo-lhe se tratar de um trote bem de mal gosto, mas mesmo assim Petu duvidou da filha, achando que ela estava lhe enganando. Rita então ligou para Narcisa nas casas Bahias, e o seu patrão vendo a situação, falou para ela usar a sala dele e ligar para a mãe, para sossegar seu coração, e assim Petu suspirou aliviada daquela agonia, só à noite quando Fátima chegou do trabalho é que ficou sabendo de tudo, pois a mãe naquela agonia, não lembrou do telefone de seu serviço. Mas essa não foi a única maldade que fizeram com os dois, Francisca e Fátima viajaram em excursão para praia, era organizada por Luiza, uma amiga de trabalho de Fátima, uma excursão da Empresa, mas Fátima convidou a irmã pra ir junto, saíram á noite para chegarem no amanhecer do dia na Cidade de Parnaiba, iriam passar o domingo, e no final da tarde retornariam, a chegada estaria previsto pra no máximo onze horas da noite. Em casa a mãe na sua rotina de sempre, recebe um telefone, avisando que o ônibus da Empresa sofreu um acidente e Fátima teria morrido, a mãe desesperada e chorando perguntou por Francisca, a mesma pessoa não saberia que Fátima estava acompanhada da irmã e não soube responder, e mais uma vez a maldade foi feita, Petú não sabia o que fazer e nem por onde procurar, e aguardou o retorno da mesma pessoa, que a deixou sem resposta, algumas pessoas lhe alertaram que poderia ser novamente mais um trote, e o jeito foi aguardar notícias, e foi quando o ônibus parou em frente a casa, exatamente

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as onze horas, Fátima, Francisca e sua amiga Amélia, desceram e atravessaram a pista, petu correu chorando muito e abraçou sua filha, que sem entender nada perguntou? “ Isso tudo é saudades?” E no dia seguinte quando Fátima chegou ao trabalho ouviu uns comentários, Luiza contava que alguém tinha ligado pra Empresa de ônibus para avisar do tal acidente, e no caminho de volta o motorista teria comentado, porque a Agência tinha ligado pra ele, mas na hora ninguém se deu conta. Nessa época Fátima teve um desentendimento com uma funcionária. Ádna era funcionária antiga e quando Fátima foi trabalhar nesta Empresa ela já estava lá, fizeram logo amizade, Fátima fazia a escrituração fiscal das notas de saídas, e Ádna as faturava, e em seguida passava pra Fátima. Então Fátima fez logo amizades com todos, até os clientes deixava lanches pra ela dividir com as outras meninas do escritório, e antes era com Ádna que isso acontecia. A esposa do Seu Maia D. Alaíde ia sempre no final da tarde, pois ela trabalhava nos correios que ficava próximo, saia cedo e ia para voltar com o marido para casa, um dia ela chegou junto com o filho e a nora que moravam em Brasília, e Fátima ficou logo sabendo que a nora era sua prima Claudia, filha de Regina do seu tio Cícero, e dona Alaíde fez questão de dizer que as duas seriam amigas, pois além de primas eles iam morar vizinhos, na antiga casa que era do avô Cicero, e isso despertou nela uma espécie de ciúmes ou inveja. Ádna começou a esconder as notas sem repassá-las a colega de trabalho, prejudicando assim o an-

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damento de serviço, tanto dela como de Luiza que fazia a escrituração das entradas de notas. Fátima ficou desanimada e chegaram até a discutir, e Fátima pediu demissão por não aguentar aquele olhar de Ádna lhe secando. O gerente tentou conversar com Fátima, ele queria que ela confirmasse o que ele já desconfiava, mas Fátima não entregou ninguém e preferiu sair. Depois de pouco tempo surgiu uma vaga de subgerente e Ádna achou que ela seria a escolhida para ocupar o cargo, devido já seu tempo de trabalho na Empresa, mas foi admitida uma outra moça que veio de fora, e novamente Ádna tentou prejudicar essa moça, chegando ao ponto de falar “ ou ela ou eu”, e foi ai que ela se deu mal, a Diretora da Empresa a demitiu, já estava cansada de tanta confusão. Então Sr. Maia, o gerente foi falar com ela, e sugeriu que ela chamasse Fátima de volta. Petú e Fátima estavam sentada no terraço, era começo de noite, quando Fátima viu aquela Belina branca tão conhecida parando em frente sua casa, desceu Sr. Maia com sua esposa. Fátima levantou, abriu o portão e foi apresentando sua mãe, que ficou sem entender o motivo de tão inesperada visita. Então ele lhe contou tudo, e ainda disse com aquela sua maneira brincalhona de sempre: “ Eita que agora lá tem uma subgerente, eita lourona pai d’egua” até sua esposa D. Alaíde sorriu. Então Fátima aceitou voltar e no dia seguinte, chegou cedo para aquela conversinha dos colegas antes de entrar para o trabalho, ficavam todos sentados no banco da praça saraiva, pois a Empresa ficava em frente, e todos que-

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riam lhe por a par dos acontecidos, e começaram a falar da “ lourona” também. E quando ela chega pra sua surpresa, era uma velha conhecida de infância, Eliane morou vizinha e estudou com sua irmã Imêlda no primário. E ai depois de todo esse acontecido, surgiu a suspeita que Ádna teria passado esse trote, pois todos os anos, quando Luiza organizava a excursão, ela era o primeiro nome da lista, e desta vez, Luiza não a aceitou, porque além dela já ter saído, Fátima iria também e ela não queria confusão no seu passeio. Mas isso ficou só na suspeita, nunca foi provado nada. Pedro apesar da idade que já lhe deixava o corpo cansado, era inocente ao confiar nas pessoas logo de cara, sempre que estava sentado em seu terraço, sua cadeira ficava bem próximo ao portão, e logo aparecia alguém pedindo água, ele logo gritava “ ei menino, traga aqui uma água”, ele mesmo nunca ia buscar, como sempre ele dizia: “Eu tenho quem mande”. E já ia logo abrindo o portão e mandando a pessoa sentar-se, um dia ele fez isso com sujeito estranho, que observou logo seu relógio de bolso, presente de sua filha Francisca, Pedro adorava de vez em quando tirar o relógio, olhava as horas e colocava de novo no bolso, estava preso por uma correntinha dourada, a corrente era sem valor, só dourada, Petu entrou pra pegar a água para o sujeito, e nesse estante ele pediu pra ver o relógio, Pedro só mostrou na própria mão, e foi ai que o sujeito avançou e puxou pela corrente e saiu correndo pra rua, Pedro gritou: “ Ei Dona, cancela a água, ele não tá com sede não, é ladrão”. Petu veio

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correndo preocupada, querendo saber o que ele tinha levado, pois não tinham muita coisa de valor, e ai Pedro lhe contou do relógio. “Eu segurei o relógio, ele puxou pela corrente, mas como era podre, arrebentou e ele saiu correndo achando que tinha levado tudo, ora sim senhor, onde já se viu, não se pode mais nem matar a sede das pessoas”.

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O Acidente

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erto dia, Pedro tinha ido ao mercado próximo comprar suas frutas de sempre, laranja, banana e limão, era seu costume comer com a fruta picadinha junto com a comida, e o limão era sua dieta de todos os dias, não passava sem essa vitamina. Caminhava com pressa apesar da idade, desceu a ponte e atravessou a Avenida, quando já próximo da calçada, olhou pro lado pra desviar de um carro, foi quando foi pego de surpresa por um ciclista que vinha na contra mão, o jogando na calçada e espalhando suas frutas pelo chão, e ainda saiu xingando o pobre velho, nem desceu pra socorrer, Pedro ficou todo machucado, alguém que ia passando o ajudou a chegar ate em casa, recusando-se a ir a um médico, teimoso como ele só, Petu cuidou dos seus ferimentos, mas em consequência da queda ficou com muitas dores no corpo e teve durante a noite febre muito alta, ficando assim de repouso por dias. E assim era a vida de Pedro, um dia doente, apenas deitado em sua rede, pois não gostava de cama de jeito nenhum, outro dia levantava, colocava seu espelhinho de moldura laranja comprado no mercado do Mafuá, dependurava num prego na janela e ele mesmo fazia sua barba, pronto estava ele novinho em folha, gostava de andar bem barbeado e sempre limpo, nunca usou bermuda nem camisa de manga curta, mesmo com o calor que fazia, preferia arregaçar as pernas da calça e dobrar os punhos da camisa, seu chinelo era sempre de couro traçado por cima.

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A Ăštima visita

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N

o Mês de Julho do ano de 1982, Rita e Adonias, com seus três filhos pequenos, vieram a passeio em Teresina, como sempre faziam no meio do ano, e estava programado para voltar com ela sua mãe Petu, pois nessa ocasião Petu teria uma missão, que seria ajudar no resguardo de sua filha Célia, que estaria grávida e iria descansar no mês de Setembro. Então Rita passou as férias de Julho e no final estavam arrumando as bagagens pois sairiam no final da semana. Por essa ocasião chega uma visita muito importante para Petu, era seu dedicado irmão Chico Custódio, que estava aposentado e fazia uns bicos tomando conta de uma casa do medico amigo seu, que teria viajado com a família, e como era perto, Chico veio fazer uma visita a irmã e saber como estava a saúde do cunhado, foi quando ficou sabendo do acidente e dos problemas de saúde de Pedro, ficou no quarto um bom tempo conversando com Pedro e depois pediu a irmã que o acompanhasse até a sala, e falou assim: - Petu, me perdoa? - Perdoar porque meu cumpadre? - Por essa tua vida, eu me sinto culpado, sei que foi pra atender meu pedido que tu se casou , sei que Pedro é um homem bom, mas você não o conhecia, eu sabia que ele tinha sete filhos e não te falei nada, e você viveu poucos momentos com ele saudável , pois logo ele ficou invalido, e eu vejo o quanto você é dedicada a família. - Chico! Disse Petu.

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- Você fez o que achou melhor pra mim, mas foi eu que decidi casar, se eu não quisesse ninguém obrigaria, não tenho nada pra perdoar, eu sou feliz, não se preocupe . - Chico Custódio abraçou a irmã e falou novamente: - Eu me sentia na obrigação de te falar isso, porque me angustia, mas agora vou em paz. Chico Custódio saiu, e Petu ficou na porta um bom tempo, ate ele sumir de sua vista, sentiu um aperto no peito, uma sensação inexplicável . Naquela mesma noite Chico Custódio teve uma parada cardíaca e faleceu sozinho na casa do médico, sendo encontrado no dia seguinte pelo filho que tinha ido levar seu café da manhã. Alguém da família veio avisar do acontecido e Petu ficou em prantos, era muita dor essa perda, ela que estava de malas prontas pra viajar no dia seguinte, desfez tudo, não podia viajar, estava difícil se ausentar naquele momento, se preparou pra o velório a filha e o genro e Fatima a acompanhou ao enterro. Imediatamente arrumaram as roupas de Fatima e a substituíram na mala de Petu, Fatima não estava muito contente com essa viagem, na verdade não queria ir, a mesma estava fazendo cursinho a noite, ia fazer seu primeiro vestibular e teve que cancelar o curso, mas foi em obediência a mãe.

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Reencontro

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A

viagem foi de carro próprio, Adonias tinha uma Caravan Marrom, era espaçosa, quase quatro dias de viagem, Adonias desviou o caminho por Salvador, foram conhecer essa linda cidade, contratou um guia turístico que os levou a vários pontos históricos, como as belas igrejas, dunas e faróis. Era a primeira vez que Fatima ia a São Paulo, fazia um frio danado, ela nunca tinha sentido nada igual, foi direto pro apartamento da Rita, recebendo na mesma noite a visita da irmã tão querida que há doze anos não a via, pra ela foi meio estranho, ela mesma abriu a porta quando tocou a campainha, a visão da irmã não tinha nada com a de sua infância , pois Celia usava cabelos compridos ate a cintura, e aquela ali na sua frente de cabelos bem curtos, mas quando sorriu e abraçou foi como se tudo voltasse no tempo, era pra ela quando criança uma verdadeira mãe, ajudava na suas lições de casa, arrumava seu cabelo cacheados, pois Fatima quando criança tinha uns cabelos cheios de cachos e não gostava muito de pentear, por isso a mãe nunca deixou crescer, usava sempre curtinho, e quando Celia foi embora ela tinha apenas oito anos de idade, foi muito triste pra ela, chorava sozinha escondida pros irmãos não chatear dela. Fatima antes de ir pra casa de Célia ainda passou uns dias na casa das outras irmãs, Narcisa, Maria, Pedro, Rafael e Jane que moravam na mesma casa, Pedro vinha só os finais de semana, pois morava em Judiai com Francisca, porque ele trabalhava por lá. No mês de Setembro Fati-

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ma foi ficar com Celia, e no final do mesmo, precisamente no dia trinta, Celia levantou cedo, dizendo que ia ao salão cortar o cabelo e fazer as unhas, desceu a rua, com aquela barriga enorme, dando preocupação, Fatima ficou com as crianças, Leandro e Kelly, mas tarde Celia volta ofegante já sentindo os sintomas do parto, mas com as unhas muito bem feitas e o cabelo bem cortado feito Joãozinho. ligou para seu marido Laércio, que a levou a maternidade dando à luz no mesmo dia do seu filho caçula Luciano. Ficou ainda na casa de Célia por uns dois meses e voltou pra casa de ônibus com seu irmão Pedro, pois já não aguentava mais de saudades de sua casa e de seus pais, pois nunca haviam se separado antes.

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Alfabetizando

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U

ma professora amiga de Petu, morando ao lado de sua casa, a convidou para estudar à noite, já que agora as coisas estavam mais calma, os filhos crescido, e era uma oportunidade da mesma aprender a ler melhor e escrever, pois o sonho de Petu era ter uma letra bonita, admirava muito isso nas pessoas que sabia desenhar uma boa letra, e ao mesmo tempo lhe fazia companhia, pois a mesma ia sozinha e voltava tarde da noite, nesta época as ruas não eram bem iluminada e a sua amiga Floripes iria gostar muito de ter alguém pra conversar durante esse trajeto . Então Petu falou com seu marido, que ficou sem jeito de dizer não, pois o mesmo tinha muito ciúmes de Petu, muitas vezes ela o viu disfarçado atrás de algum túmulo a observando enquanto ela rezava seu terço no cemitério perto de casa, era um hábito de Petu, todas as cincos horas da tarde ir ao cemitério rezar seu terço, as vezes ia só e muitas vezes na companhia de alguma vizinha. Petu fingia que não o via, terminava e voltava pra casa, ele chegando alguns minutos depois. E foi assim que Petu cursou ate a quarta serie do primário em dois anos, fez muitas amizades com as professoras e a Diretora, nos intervalos ela ficava na diretoria, confraternizando no cafezinho, mas as tarefas de casa quem fazia era Fatima, adorava ajudar a mãe , principalmente quando tinha mapas pra desenhar pois era muito boa nos desenhos. Fatima sempre foi sua companheira em tudo, mas um dia Petu teve uma grande tristeza, pois a filha havia

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lhe falado que iria embora também pra São Paulo, pois a sua irmã Francisca se sentindo sozinha, pediu que ela fosse morar com ela, a mesma pediu a mãe que deixasse ela ir, claro que Petu não queria, mas também não a impediu, e assim ela foi novamente, ficou em Jundiaí por meses, Francisca a levou para tirar sua carteira de trabalho, mas Fatima nunca conseguiu nada por lá, parece que seu destino estava mesmo em Teresina, e acabou voltando pra onde nunca deveria ter saído. Chegando não demorou e começou a trabalhar. No ano de 1986, a outra filha de Petu, Imelda casa-se no civil com Francisco, e no a mesmo ano tem sua primeira filha Amanda, e quem a batizou foi sua irmã Fatima e seu cunhado Jose Ribeiro. Imelda teve outra filha Aline, e hoje é vovó de um casal de bebês, Isabela e Theo, filhos das duas que engravidaram quase ao mesmo tempo.

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O Pedido

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N

o ano de 1992, Fatima trabalhava numa Empresa e Indústria Mecânica, quando conheceu um rapaz , e começaram a namorar, depois de alguns dias ela o levou em casa para conhecer seus pais, nesta época já era a única filha a morar em casa, pois os que não haviam casados, tinha ido para outras cidades, e Francisca morava ao lado com seus dois filhos mais novos, e assim ela era a única companhia do casal já idosos, Fatima trabalhava e estudava á noite, se formou em professora, mas nunca exerceu a profissão. Antônio era divorciado e tinha um filho de cinco anos que morava com a avó no interior do Estado, já com quase um ano de namoro, resolveram casar, então a mesma avisou aos pais que a noite Antônio vinha lhes falar. Nervoso e meio sem jeito Antônio conversou com os sogros, e Pedro lhe fez um pedido muito especial: - Fatima, é a caçula das mulheres e a última a sair de casa, e como eu e a Dona (era assim que Pedro sempre chamava sua esposa, nunca pelo nome) já estamos de idade, gostaria muito que vocês depois de casados ficassem aqui, assim essa casa não ficaria tão vazia, e nos faria companhia, e se for pra casar que seja logo, pois estou velho, e ainda quero segurar em meus braços o filho de vocês. - Antônio não esperava, pois já tinham conversado que iriam comprar uma casinha, mas concordou, e assim aconteceu. No dia 19 de Maio de 1993, numa Igreja próxima foi realizado o casamento de Fatima e Antônio, e mesmo

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muito doente neste dia, seu pai fez questão de entrar com ela na Igreja, e como casal de honra ou daminhos, foram sua afilhada Amanda e o caçula de Francisca , Diego. Em menos de um ano de casados e Fatima ainda não conhecia a sogra nem seu enteado que se chamava Leônidas. A criança já estava com cinco anos e ainda não era registrada, Antônio havia separado e levado o menino pra avó criar, e a mãe dele era ausente, não se sabia onde encontra-la, Então Fatima falou com seus pais, se podia trazer o garoto pra ser criado por ela, antes que se tornasse rapaz, e assim Antônio foi busca-lo, mesmo sem querer vir, pois não tinha convivência com o pai, veio enganado na companhia da avó, Fátima aproveitou que seu sobrinho Diego estava morando com eles, e pediu para ele distrair o menino, enquanto a vó saia, quando ele se deu conta ela já estava longe, no começo foi difícil para ele, mas acabou gostando, pois ele tinha muita facilidade de fazer amizades, e logo se enturmou. Foi registrado como filho dos dois, e passou a se chamar Leandro Augusto, nome dado por Fatima. Foi criado e educado, hoje esta formado, e venho conhecer a mãe biológica somente no ano de 2012, quando a mesma veio lhe procurar, e assim sua família aumentou porque através dela, conheceu sua avó materna e bisavó, e ainda dois irmãos, a mesma mora em Brasilia. Leandro gostou muito dos irmãos, pois ele tinha muita vontade de deixar de ser filho único, pois Antônio e Fátima não tiveram filhos.

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Copa do Mundo de 1994

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Quartas-de-final - 9 de julho de1994 Brasil 3 x 2 Holanda Local: Cotton Bowl (Dallas) Árbitro: Rodrigo Badilla (Costa Rica) Gols: Romário 6, Bebeto 16, Bergkamp 18, Winter 30, Branco 36 do 2º tempo. BRASIL: Taffarel; Jorginho, Aldair, Márcio Santos, Branco; Mauro Silva, Dunga, Mazinho (Raí), Zinho; Bebeto, Romário. HOLANDA: De Goey; Winter, Koeman, Valckx, Wouters; Witschge, Rijkaard (Ronald de Boer), Jonk; Overmars, Bergkamp, Van Vossen (Roy).

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E

ssa era a escalação do time que iria jogar naquela tarde de sábado, naquele dia 9 de Julho de 1994. Pedro devoto de Nossa Senhora, sempre dizia a Petu quando a via preocupada por conta de sua saúde, “ Não é a hora, minha hora ainda não chegou” até parece que ele já sabia, cada dia mais doente, e mais fraco por conta de uma nova doença que lhe veio aparecer já aos 96 anos de idade, aquele probleminha na Próstata, que lhe incomodava, lhe fazendo sempre ir ao banheiro por nada, tinha dificuldades pra urinar, ate foi colocado uma bolça em sua virilha, para que ele não tivesse que sempre levanta-se. Pedro sempre altivo e dono de si, nunca admitiu ser internado ou feito algum tipo de cirurgia, era e que ele mais pedia, não queria passar o mesmo que seu irmão Cícero, quando foi internado e Pedro o viu cheio de sondas, e agulhas lhe furando as veias, ele não queria isso pra si. Independente e dono dos seus controles, fazia sua própria higiene, mesmo que o genro o ajudasse a leva-lo até o banheiro, era colocado um balde com água próximo e sabonete, gostava de ficar sozinho e mesmo tomar seu banho, isso era feito duas vezes ao dia. Naquela manhã, precisamente as cincos horas do clarear do dia, Pedro disse ter recebido a visita de Nossa Senhora, falando isso pra sua esposa que estava deitada na cama em frente a sua rede, ainda disse, esse ano em Dezembro a gente iria fazer 50 anos de casados, eu queria que meus filhos estivessem aqui para a comemoração, iria mandar rezar uma missa, mas não vou realizar esse sonho, e apontando

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para o pequeno baú feito por ele mesmo, ali está guardado minha camisa branca, e o terno que vestiu no casamento de sua filha mais nova, embaixo num saco plástico está o par de sapatos com as meias, e falou, essa roupa é para que me vistam quando chegar a hora. Petu ainda tentou argumentar, mas ele calou-se, fez o seu desjejum, e pediu o jornal do dia para lê, pois o mesmo gostava muito de lê, e nem precisava de óculos , sempre muito lúcido, tinha uma ótima memória apesar da idade, folheou o jornal e o jogou de lado dizendo: - Não tem nada que preste! Passou a manhã em seu quarto descansando, naquele dia sua respiração estava muito ofegante, conversou com sua mulher a sós no quarto por um bom tempo. Depois do almoço, precisamente às quatro da tarde começava o jogo, para que não fizesse barulho, foi colocada a TV no terraço, era um dia de sábado, e como sempre todos os finais de semana, Imêlda, vinha passar em casa dos pais, acompanhadas de suas filhas e seu marido, era o jogo do Brasil x Holanda, já no segundo tempo, Petu saiu do quarto, e chegou até o terraço e falou: - Desliguem a TV, o pai de vocês tá indo embora. No mesmo instante foi desligado tudo, e correram para o quarto, Fatima foi até o telefone e avisou pra sua irmã Jesus, que veio rapidamente, e por coincidência ia chegando seu filho Bena com a esposa, o mesmo disse sentir uma necessidade imensa de ver o pai, e ainda chegou a tempo

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de vê-lo com vida. Pedro já quase sem fala começou um terço, a seus pés estava suas filhas Fátima e Celia, que na ocasião estaria passando aquelas férias em Teresina, todos rezavam e Pedro acompanhou ate o momento de lhe faltar a voz, num esforço apontou para os pés e falou; “Câimbra”, e lhe foi feita as massagens nos pés, seu corpo foi ficando sem vida até o ultimo suspiro, Petu não suportou ficar até o final, saiu do quarto e sentou-se numa pedra no jardim da casa, Fátima vendo a mãe em desespero a seguiu e sentou junto com ela abraçadas. Até alguém vir avisar “ACABOU”. Lá fora no alto, fogos estrondavam era o final do jogo, ou seria uma grande festa que os anjos preparavam para a chegada de mais um anjo ? Pedro foi retirado da cama pelo filho e os genros Antônio e Chico, e lhe foi vestida logo a roupa, não precisou ser banhado, pois ele mesmo já teria feito seu banho, a chegada do SAMU foi só para diagnosticar a morte, e o atestado lhe dado pelo amigo de Jesus o Dr.Cezar Mendes. E essa foi o final da estória deste grande patriarca.

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O Sítio da Vovó

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I

mêlda e seu marido Chico, levaram Petù para passear em um sitio de um parente, próximo ao Município de Beneditinos , era o sitio de Sr. Ferreira, lugar esse que encantou Petú, pois lembrava seus tempos de infância, pois era próximo de suas origens, e por coincidência havia umas terrinhas à venda , e foi nesse ano de 1997, que Petú tomou posse de seu pequeno pedacinho de chão, onde mandou logo construir uma casa, servindo para passar os finais de semanas, até que ela resolveu ficar de vez, recebendo sempre a visita dos filhos. Era um sítio que não dava lucros, aliás dava mais despesas do que ganhos, mas ela adorava aquele lugar e assim os filhos respeitavam sua vontade, Fátima e Antônio iam todos os finais de semana levar mantimentos pra ela, lá ela começou uma criação de galinhas e ovelhas, mas o potencial de lá era o caju, era a única fruta que dava naquele terreno de areia branca, e por fim Petú levou a Raimunda, uma moça que trabalhava na casa de Marco, um vizinho próximo, para lhe ensinar a fazer a cajuína. Petú chegou a fazer muitas cajuínas e vendeu algumas, o mais era pra consumo. Quando seu filho Rafael voltou de São Paulo, foi ser morador de Petú, o mesmo separado de sua primeira esposa, conheceu uma outra moça e juntou-se com ela, os dois tiveram mais um filho, que se chama Rafael Junior, foi criado no sítio, mas ficaram pouco tempo, ele logo comprou umas terrinhas em Altos e mudou-se para lá. Então foi colocado outro morador para tomar conta. Imêlda e seu

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marido Chico também frequentavam bastante o lugar, eles adoravam aquilo tudo, Chico na hora que descia do carro, já era procurando o que fazer, e serviço nunca faltava. Gostavam tanto que mesmo depois que o sitio foi vendido eles compraram um pedaço de terra ao lado e estão morando por lá.

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Pequeno Pedro

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o final de Agôsto do ano 2000, estavam sentadas no terraço de casa, Petu e sua filha Fátima, quando o filho caçula de Petu entrou, sentou-se ao lado da mãe e numa expressão de felicidade tentou lhe dizer algo, mas não sabia como começar, então ele disse: - Mãe! Meu filho nasceu. -As duas se olharam numa expressão de surpresa. -Filho? Como assim? Então ele contou como surgiu a estória desse filho. E logo no dia seguinte, no começo da noite, a mãe de Pedro, ligou para casa de Petu querendo falar com Irineu, como ele não estava, Petu conversou com ela, e a mesma falou que não estava sentindo-se bem, e estava sozinha e sentindo muitas dores, Petu pediu que ela aguardassem que ia ver o que fazer, conversou com sua filha Fátima e as duas acharam melhor mandar buscá-la, e chamaram um taxista que sempre fazia corrida para seu filho, e o mesmo foi buscá-la. Imediatamente, Petu muito feliz, arrumou logo um quarto para esperar o bebê. Uma hora depois chega aquela criança bochechudinha e rosada pra encher aquela casa de alegria, Petu o pega no colo e depois o coloca na redinha amarela feita por ela mesma. E quando mais tarde quando Irineu chega sua mãe lhe diz: - Vá lá dentro que tem uma surpresinha pra você, e quando ele entra e vê aquela imagem, acocora-se diante da rede e admira seu belo garotão. E essas vinda e idas de Pepê, foram muitas devido a saúde de sua mãe, até que ele foi ficando cada dia mais aos cuidados do pai, da avó e da tia Fátima,

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que tornou-se sua segunda mãe. Logo Irineu através do seu trabalho numa agência de propaganda conheceu Maria de Lourdes “Luri” como é conhecida, que tornou-se sua companheira e a terceira mãe de Pepê, que foi morar com os dois a partir dos cincos anos de idade, logo após a morte da avó, que o amava tanto e tinha muita preocupação com aquela criança tão amada, tão esperta, que como toda criança ativa dava trabalho, mas também dava muito amor. Luri tem uma filha do seu primeiro casamento e criou Pepê que hoje está com 16 anos de idade como seu próprio filho.

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2001 A Primeira Cirurgia

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etú sempre foi uma mulher muito forte, ninguém ouvia ela se queixar de uma simples dor de cabeça, tinha muita saúde e sangue bom, como ela mesmo dizia “ Meu sangue é muito bom, eu sou O+ “, mas ela tinha um probleminha sim, que a mesma achava tão pequeno que não se dava conta, seu intestino era fraco ou solto, sempre que passava algum nervoso, ou quando ia viajar, pronto, as idas ao banheiro aumentava, mas para ela era só fazer um soro caseiro e estava resolvido, mas esse problema via se agravando sempre, e sua filha caçula resolveu marcar uma consulta com um proctologista, e Petú fez questão que fosse uma médica, pois a mesma teria vergonha de fazer o exame com um médico homem. Dra. Wirna, médica da Clinica C & C, a mesma a examinou, e pediu um exame por fora chamado de “Coagulograma Completo” e após um resultado, ela concluiu com um tratamento cirúrgico. Pétu foi internada no Hospital Santa Maria, e lá foi preparada pra cirurgia que seria às 7 da manhã, seria se a médica tivesse aparecido, em jejum e fragilizada, ninguém no Hospital conseguia localizar a Doutora, Ana Lúcia, cunhada da Imêlda, enfermeira do mesmo Hospital vendo a situação de Petu, indignada, pediu que a levasse ao quarto e lhe desse alimentação, então foi remarcado a cirurgia para o outro dia, foi quando foi feita pela mesma médica, sem dá nenhuma explicação. Depois da alta, foi para casa recupera-se, e sentiu-se melhor por algum tempo. Uma noite Petú recebeu a visita de sua única irmã

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viva, Maria, que veio acompanhada de sua filha Lucelene, como sempre Maria muito alegre, gostava de dar risadas e contar piadas, quando ela chegava reclamava logo se a TV estava ligada, ela não gostava, queria atenção só pra ela. Mas Petu percebeu algo diferente no comportamento da irmã, primeiro ela se referia como marido dela um antigo namorado. “ Que é isso Maria, ficou doida? Teu marido era o Teó”. Dizia Petu. De vez em quando no meio do papo Maria perguntava a Petu: “ O que é que tu é minha mesmo?” Petu respondia: “Vai a merda”. Então Lucelene aproveitou um estante que Maria foi ao banheiro, para contar a tia o que estava acontecendo com a mãe. “ Ela esta doente tia, mamãe está com mal de Alzheimer, é uma doença neuro-degenerativa, de início, o paciente começa a perder sua memória mais recente. Petu então começou a entender o comportamento da irmã. No começo foi muito difícil, mas todos se uniram para ajudar a mãe, Maria hoje com 90 anos, vive uma vida vegetativa, mas os filhos cuidam muito bem dela, todos tem muito carinho, filhos e netos se revezam para cuidar bem de Maria, para que não lhe falte nada.

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2003 A Segunda Cirurgia

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A

mesma situação de anterior, os mesmo sintomas, agora acrescidos de enjoos, Petú não se sentia nada bem, pelo contrário, aquela mulher forte de antes, parece que não tinha mais forças, foi levada novamente ao mesmo Hospital, e chegou a se internar, agora atendida pelo dono do mesmo, o Libanês, Dr. Dib Tajra, um homem seco e frio, conhecido por sua sinceridade nos diagnósticos, entrou no quarto com os exames de Petu, dizendo vir para lhe dar alta, a mesma perguntou a ele, o que ela tinha, e o que ela teria que fazer para se livrar daquela dor. O mesmo, respondeu friamente diante da paciente e de sua filha Fatima; - Nada, a senhora vai ter que aprender a conviver com essa dor. As duas olharam indignadas para ele, e Petu respondeu; - Ave Maria, Dr. O alivio do doente é saber que vai ficar bom. – E foi assim que Petu saiu daquele lugar. Fátima, tentou consolar a mãe, dizendo que a mesma iria ficar boa, pois aquele médico não era Deus, e resolveu procura outro especialista, foi conversando sobre esse assunto, que Francisquinha do Bena, falou de um médico muito bom que se chamava David Carvalho, Fátima marcou uma consulta em sua clínica, levou sua mãe, e a mesma foi muito bem atendida, Dr. David, era um médico muito atencisoso, até cruzou os braços sobre a mesa para ouvir sua paciente, Petú contou tudo a ele, inclusive da cirurgia feita anteriormente, ele chamou a enfermeira e pediu que preparasse a paciente para o exame. Após esse exame local, pediu que a

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levasse para fazer outro exame mais específico, e assim foi feito, um exame muito complicado e dolorido, Fátima foi com a mãe e lá foi retirado um material, para a biópsia, que teria que ser levado imediatamente ao laboratório, como ela estava sozinha com a mãe, primeiro foi deixa-la em casa, e lá pediu ao marido que fosse com ela, pois a mesma dirigia ha pouco tempo, e ficou com receio de ir sozinha procurar o endereço do laboratório, e assim foi feito. No dia seguinte, 06/08/2003, ela recebeu o resultado e abriu o envelope com ansiedade, e o que tinha escrito era o seu maior medo: ANOSCOPIA: cicatriz cirúrgica circunferencial no canal anal; CONCLUSÃO: tumor no reto. A mesma foi direto ao consultório de Dr. David lhe mostrar o exame e conversar sem a presença da mãe, e não foi fácil saber o caminho que iriam percorrer, mas ele marcou imediatamente a cirurgia. Petú foi internada mais uma vez, agora no São Marco, Hospital do Câncer, estava preparada quando o enfermeiro veio busca-la na maca, ao sair do quarto, Maria que estava junto com Fátima, não se conteve e caiu em prantos abraçando sua mãe, o enfermeiro não gostou nenhum um pouco e pediu que a mesma se afastasse, e pediu que Fatima o acompanhasse ate a entrada do centro cirúrgico. Alguns minutos depois, quando as duas estavam arrumando as coisas para desocupar o quarto, veio um susto danado, quando Fatima olha e ver entrando o Médico, em seguinda a maca com Petu de volta ao quarto, dizendo ele não

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ter condições naquele dia para opera-la, pois a pressão da mesma subiu muito devido a emoção ao ver a filha chorando. Então no outro dia bem cedo Petu foi levada novamente, e dessa vez foi operada e colocada uma bolça de colostomia, que a mesma usou por dois meses, para que as fezes não infectasse a parte operada. Então Petu após essa cirurgia até passou um bom período bem, viajou foi pra São Paulo em 2005, passeou bastante, conheceu Aparecida, lugar onde tinha muita vontade de conhecer, foi acompanhada de sua filha Rita e Fernando, ficou uns dias na casa de Raimundo seu enteado. E como ela estava com as vista embaçada por conta de uma catarata, as filhas a levaram ao centro de Oftalmologia Tadeu Cvintal S/C. e la foi feita essa cirurgia, que melhorou bastante sua visão, isso foi no mês de Setembro de 2005. Depois Petu voltou para casa e para sua rotina.

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Metรกstase

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D

epois de três anos da primeira cirurgia, Petú volta a ter os mesmo problemas, só que agora com o agravante de dores, ela sentia umas dores tão fina, que dizia que estava sendo cortada por dentro, embora depois desse problema, ela estava fazendo sempre de seis em seis meses novos exames para acompanhar o tratamento, e nessa época que Fátima, que já havia saído do trabalho, também teve que sair do cursinho, pois a mesma estava se preparando para um vestibular, mas sua mãe precisava de atenção dobrada, sua sobrinha Juliene que estava morando em São Paulo com sua tia Rita, já havia retornado para lhe dar esse suporte, que foi como um anjo, pois sem ela Fátima não teria suportado essa batalha, a mesma estava fazendo um curso de auxiliar de enfermagem numa escola próxima de casa, financiada por Rita, sua tia, e as duas se revezavam no atendimento a Petu. Fátima tentou de tudo, até mesmo a medicina alternativa, e eram remédios muitos caros, isso foi no começo de novembro de 2005, depois começou, com a receita espiritual e florais. Antônio também foi um genro muito especial, sempre atencioso e prestativo, se tornou o próprio motorista da casa, pois a maioria das vezes Petu teria que ser internada, e começou a fazer uma radioterapia, às vezes Fátima ia sozinha, pois Antônio precisava trabalhar, mas por último não teria condições, pois a mãe já estava em cadeiras de rodas, e ficava difícil, tirar a mãe do carro, e ainda procurar estacionamento. Petu fazia radioterapia todos os dias, a primeira começou no dia 22 de de-

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zembro de 2005, o Natal desse ano Petu e Fatima passaram juntas no Hospital, onde lá foi feita uma festinha para os pacientes da radioterapia, até presentes foram distribuído, Petu ganhou dos funcionários um relógio de parede com a imagem de Nossa Senhora. Petú tinha uma boa aposentadoria, mas todas as suas consultas eram particular, mesmos as internações e as cirurgias, era o que seu plano de saúde cobria, os remédios eram muito caros, foi montado em casa um quarto especial, com cama e toda aparelhagem de Hospital, não precisou pagar enfermeira, porque tinha essa sobrinha Juliene, que foi muito especial e a ajudou muito, pois era dedicada e carinhosa com a avó. Fátima ia duas vezes por semana ao consultório pegar a tal receita azul, pois o médico só poderia por na receita no máximo três caixinhas, eram uns comprimidinhos de Tilex, que já estava ficando fraco pras dores de Petú. Um dia Fátima teve que se conter e segurar o choro diante de sua mãe, pois a mesma quase ajoelhada aos pés da filha lhe implorou dizendo: - Oh! Minha filha me dê um veneno pra aliviar essa minha dor. -Fátima levantou e foi pegar o comprimido com um copo de água, deu a mãe, que deitou na cama e colocou a cabeça no colo da filha. Fátima acariciou seus finos cabelos e cantarolou baixinho, a mesma canção que ouviu a mãe cantar diversas vezes que até decorou a letra:

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Fiz uma casinha branca Lá no pé da serra Prá nós dois morar Fica perto da barranca Do Rio Paraná A paisagem é uma beleza Eu tenho certeza Você vai gostar Fiz uma capela Bem do lado da janela Pra nós dois rezar Quando for dia de festa Você veste o seu vestido de algodão Quebro meu chapéu na testa Para arrematar as coisas do leilão Satisfeito eu vou levar Você de braço dado Atrás da procissão Vou com meu terno riscado Uma flor do lado e meu chapéu na mão...

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P

etú adormeceu sob o efeito do remédio, Fátima fez um sinal de silêncio e pegou a mãozinha de Pepê, e falou baixinho; “ Deixa a vovó dormir”. Ele era muito pequeno, mas já entedia que a vó estava dodói, um dia Fátima correu para o quarto, pois sua mãe a chamava, era Pepê que estava dando um banho com soro fisiológico na avó, quando viu a tia, olhou com os olhinhos arregalados “é pra curar a vovó, mãe”, foi até engraçado naquele momento, Pepê, era muito ativo, tinha muita energia. wSempre que Petu precisava se internar, Fátima ficava á tarde no Hospital, e revezava com Juliene, que voltava de seu estágio as seis da tarde, a mesma estava estagiando no HGV que é bem próximo do SM. Antônio ia pegar a esposa, e Fátima já trazia a roupa pra lavar quando chegava em casa á noite, de manhã fazia os serviços de casa , o almoço, pra trocar de turno com a sobrinha, que passava dias até sem ir em casa, essa rotina foi até quando as irmãs começaram a chegar para lhes dar suportes. Em Janeiro, no dia 10 chegou Fran e Célia, Fran tomou logo conta da casa, e Célia ficou mais próxima da mãe, dormia com ela no quarto, só assim Fátima voltava pra seu quarto, pois o marido dormia praticamente sozinho, mas nunca reclamou. No dia 21 do mesmo mês foi a vez de chegar a Irmã Raimundinha, também ajudou muito, não com a paciente, pois ela não tinha jeito pra isso, mas em outras coisas, como conversar e orar, e não parava de lavar louças, sempre tinha algo pra fazer. Mas o mês passou depressa, e

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chegou a hora de voltar o trabalho, dia 2 de Fevereiro, Célia e Fran foram ao quarto da mãe despedir-se, Fran ficou um bom tempo a sós com a mãe, foi uma conversa longa, mal sabia ela que seria a última. Dia 10 de Fevereiro, chega a filha mais velha de Petú, Lucília, que iluminou aquela casa com seu auto astral sempre de bem com a vida. Mas Petú não tinha mais brilho no olhar, ainda sentia um sopro de esperança, quando o Dr. David vinha lhe visitar em casa, foram tantas as visitas que a última nem cobrou mais, Petú pegou uma amizade muito grande com ele, pois ele era muito atencioso e dedicado com seus paciente, e foi num dias desses que Fátima percebeu que a mãe ignorava o seu mal, pois a mesma veio com uma pergunta inusitada” – Dr. O que é mesmo que eu tenho? Que doença é essa? Ela não tinha se dado conta, mas ele só a acalmou, nem ele , nem ninguém, nunca foi mencionado o nome da doença, ela nunca ficou sabendo ou fez de conta que não sabia. Já piorando a cada dia, O Dr. Avisou à Fátima que seria melhor avisar aos outros filhos, para que viessem vê-la com vida, e assim foi feito, Lucilia mesmo ligou para as irmãs. E assim começam a chegar os filhos e a encher a casa novamente como no inicio desta estória, chegaram num mesmo avião, no dia 17 de fevereiro, Rita e Narcisa e mais tarde em outro horário, seu neto filho de Fran, Eric e sua esposa Rosana, que ficaram uma semana. Os dois a confortaram com lindas orações e Eric ao lado da cama da avó

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leu para ela uma carta, que foi escrita por seu irmão Diego, que viveu sua infância ao lado dela, e a mesma o levou para mãe em São Paulo, o mesmo desde então nunca voltou a rever a casa onde passou um bom tempo de criança. Petú ouviu silenciosamente, uma lágrima rolou no canto de seu olho, não tinha mais força pra se expressar, os remédios aplicados pelo soro eram fortes. Todos unidos novamente por um ser que dedicou sua vida aos outros, fazendo bem pouco por si mesma.

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A Passagem

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sta estória não podia mais se prolongar, se existem mesmo vidas passadas, o que teria feito Petú, pra merecer todo esse sofrimento? Mas isso, não se deve reclamar, pois Deus só dá a Cruz conforme suas forças. Mesmo com todas as dores de sua vida, Petú foi poupada de uma, que é a dor de perder um filho, essa ela nunca sentiu, mesmo com partos difíceis, feitos por parteiras em um interior sem recursos, ela gerou e criou onze filhos perfeitos. Já não podia mais se alimentar, o médico que estava viajando, ligou para Fátima, e falou pra ela chamar uma ambulância em nome dele e a levasse até ao Hospital, que ele chegaria mais tarde para lhe colocar a sonda. Os enfermeiros tiveram dificuldades em tira-la do quarto, pois a porta ficava em um corredor estreito, mas com jeito conseguiram, e assim foi colocada e levada ao Hospital, isso aconteceu no dia 22 de fevereiro, Juliene passou essa primeira noite. No dia seguinte para reversar ficou com ela Rita e Narcisa. Neste mesmo dia 23, irmã Raimundinha que já estava mais de mês, teve que voltar pra Mossoró. E foi nessa noite do dia 23 de Fevereiro que o plantão ficou por conta de suas duas filhas, a primeira filha que Petú deu à luz, sua filha Lucilia, e sua caçula Fátima. Foi uma noite calma e silenciosa apenas quebrada pela respiração cansada e profunda de um corpo já sem movimentos. Petú dormia profundamente dopada pela morfina que pingava lentamente em suas veias. Dr. David entra no quarto, balança a cabeça e diz: “ Ela está largada”, chama a enfermei-

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ra e pede pra tirar a morfina. Eram cinco horas da manhã, Fátima despertou e procurou aquela respiração que enchia o quarto, mas só encontrou o silêncio. Petú já não estava mais ali, levantou-se, despediu-se das filhas e se foi ao encontro do seu companheiro e amigo das horas boas e difíceis, ele que já a esperava há 12 anos, aquele que ela mal conhecia, um estranho que se tornou o grande amor de sua vida, por seu caráter e honestidade, um amor construído dia a dia, com fidelidade, respeito, companheirismo e seu jeito simples de ser, então a boa convivência pode sim se tornar Amor.

Vivam em Paz! Pedro e Petu Fim.

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Mensagem Final

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Ela é um anjo... Sinto ainda todo o amor do mundo Que ela dedicava a nós. Olhando o tempo vejo anos com milhões de outros detalhes Como o sorriso sempre presente no seu rosto para todos. A cada imagem, O peito dói...o coração aperta...lágrimas caem. Que ausência tão cheia de presença. Justo quando posso retribuir mais, O anjo resolve partir. Quantas saudades!!! Mães deviam viver para sempre!!!

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esde que meus pais se foram, tive vontade de expressar num papel a minha convivência ao lado deles, quando menina eu tinha esse pensamento, mas não tinha a ideia de como fazer, comecei a fazer anotações muito cedo, prestava atenção em tudo que me minha mãe contava. Observei que meu pai anotava em uma pequena caderneta, as datas de nascimento de cada um de seus filhos, até os que não vingaram, que nasceram mortos ou viveram apenas algumas horas, e quando ele faleceu, eu guardei essas anotações, como se fossem um tesouro. Então, eu sempre conversava com minha cunhada Luri e contava algumas passagens da vida deles, e ela um dia me perguntou por que eu não escrevia um livro, então eu comecei a amadurecer esse projeto, sentei em frente ao computador e as lembranças foram surgindo e tornando-se reais. Então em homenagem a eles, eu quero oferecer aos meus irmãos as lembranças que tenho de nossos pais, para que eles mostrem aos seus filhos e netos, um resumo da trajetória de vida de Pedro e Petu, e um pouco da vida de cada um dos filhos. Como todos sabem, não sou, nem pretendo ser nenhuma escritora, e como sei que todos participaram, poderão discordar de uma coisa ou outra, mas lembrem-se, esta é a minha visão. Desejo uma boa leitura e espero muito que gostem, pois foi feito com muito carinho e emoção. Fátima Melo

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