Käthe Kollwitz: mães e rebeliões
Capa: A Marcha dos TecelĂľes, 1897
Exposição de maquetes da
VI Pequena Exposição de Arte Moderna apresenta
Käthe Kollwitz: mães e rebeliões Curadoria: Aline Zimmer Data: 03 de Agosto de 2017 Local: Ateliê Um História da Arte V | Profª Drª Daniela Kern
mães e rebeliões
Käthe Kollwitz:
Käthe Kollwitz (1867-1945) nasceu na província prussiana de Königsberg, hoje território russo. Vinda de uma família de classe média, em que o pai e o avô lideraram a primeira comunidade religiosa livre da Alemanha, destacou-se em sua produção artística, obtendo renome ainda em vida e legando trabalhos em diversas técnicas como desenho, gravura em metal, água-forte, nanquim, xilogravura, carvão e escultura. Vivendo num período marcado pelas consequências da industrialização e convivendo diretamente com mães, pais e crianças que frequentavam o consultório médico de seu marido no bairro operário de Prezlauerberg, em Berlim, onde morou por mais de 50 anos, ao longo de toda sua obra demonstrou preocupação com as condições de vida daquelas pessoas, marcadas pela miséria e pelas consequências da guerra. Apesar de nunca ter atuado diretamente como militante ou mesmo se filiado a alguma corrente específica da esquerda, seus trabalhos causavam incômodo ao regime imperial de Guilherme II, o mesmo que perseguiu a comunidade religiosa livre de seu avô e de seu pai. Durante a República de Weimar, foi a primeira mulher a ser eleita membro da Academia de Belas Artes de Berlim, assumindo a cátedra de gravura - cargo do qual foi expulsa após a ascensão da extrema-direita nazista a partir de 1933, assim como teve obras retiradas de museus e galerias, sendo intimidada pela Gestapo e proibida de trabalhar. Kollwitz teve trabalhos expostos no Brasil na década de 1930 e também na Exposição de arte condenada pelo III Reich, da Galeria Askanasy, no Rio de Janeiro, em 1945. No Brasil, o trabalho de Kollwitz influenciou a produção de artistas como Lívio Abramo, Carlos Scliar e Renina Katz, tanto pela técnica quanto pela temática. Esta exposição tem como recorte principal as obras que retratam a classe trabalhadora em seu cotidiano e nas diversas revoltas protagonizadas por ela, que marcaram o período da industrialização alemã. Também destaca as mães, retratadas por Kollwitz como mulheres fortes, em suas expressões que demonstram um misto de afeto e preocupação com a sobrevivência de seus pequeninos. Dos quase 130 autorretratos produzidos pela artista, optou-se por dois, datados de diferentes épocas de sua vida, em que Kollwitz retratou-se em seu ofício artístico.
Autorretrato desenhando em meio-perfil para a direita, 1891-1892 Caneta sobre papel | 20,4 x 14,1 cm
Verso: estudo de mĂŁo
Autorretrato desenhando, 1933 Desenho a carvão | 47,9 x 63,3 cm
A partir de 1933, com a eleição de Hitler para chanceler da Alemanha, Kollwitz é expulsa da Academia de Belas-Artes
ciclo 1897-1898
A Revolta dos Tecelões
Käthe Kollwitz assistiu à peça Os tecelões, de Gerhart Hauptmann, dramaturgo alemão e um dos grandes nomes do naturalismo. A peça foi escrita em 1892 e retrata um fato histórico: a revolta dos tecelões da região prussiana de Silésia, em julho de 1844. A crescente industrialização e o uso cada vez mais frequente de máquinas nas fábricas fez com que se dispensasse trabalhadores, gerando assim desemprego. Karl Marx escreveu sobre a revolta em agosto do mesmo ano para o jornal Vorwärts!, considerando a revolta como a primeira grande ação de classe dos trabalhadores contra a burguesia. Inspirada na peça de Hauptmann, Kollwitz produziu uma série com seis gravuras, utilizando técnicas como litogravura e água-forte. Numa narrativa ascendente, retrata a insegurança e a dificuldade dos trabalhadores da Silésia diante do desemprego, até à articulação de uma revolta, culminando na ocupação da fábrica dos Zwanziger Brothers. Alguns aspectos plásticos importantes na obra de Kollwitz é a semelhança com a pintura tonal, ou seja, a forma como a artista transforma uma mesma cor em diversas gradações tonais. Além da tensão presente nos rostos das pessoas em cada cena, uma figura emerge em quase todas elas: é a mulher, mãe e trabalhadora, junto ao leito do filho, não só preocupada com sua saúde e bem estar, mas também levando-o às costas durante a marcha. É a mulher presente no conflito em frente aos portões da casa patronal e presente no desfecho da revolta. Com essa obra, Kollwitz foi premiada na Grande Exposição de Berlim no ano de 1898, sendo indicada para a Pequena Medalha de Ouro - prêmio negado pelo Imperador Guilherme II.
Miséria, 1897-1898 Litografia | 15,4 x 15,3 cm
A Marcha dos Tecelões, 1897 Gravura em água-forte | 21,6 x 29,5 cm
Morte, 1897-1898 Litografia | 22,2 x 18,4 cm
Ataque, 1897 Gravura em água-forte | 23,7 x 29,5 cm
Conselho, 1898 Litografia | 27,2 x 18,4 cm
Fim, 1897-1898 Gravura em água-forte, água-tinta, ponta-seca e esmeril | 21,5 x 30,5
A Guerra dos Camponeses ciclo 1903-1908
Os aradores, 1906 Gravura em água-forte e água-tinta | 31,4 x 45,3 cm
Ataque, 1903 Gravura em água-forte e água-tinta | 50,7 x 59,2 cm
Afiando a foice, 1905 Gravura em água-forte e verniz mole | 29,8 x 29,8 cm
Pegando em armas, 1906 Gravura em água-forte e verniz mole | 49,7 x 32,9 cm
Estupro, 1907 Gravura em água-forte e verniz mole | 30,8 x 52,3 cm
Campo de batalha, 1907 Gravura em água-forte e verniz mole | 41,2 x 51,9 cm
Prisioneiros, 1908 Gravura em água-forte e verniz mole | 32,7 x 42,3 cm
socialista alemĂŁo, colaborador de Karl Marx e Friedrich Engels. Fundador, ao lado de Rosa Luxemburgo, da Liga Spartacus. Teve o assassinado encomendado em 1919 pelo partido social-democrata.
Monumento a Karl Liebknecht,
Monumento a Karl Liebknecht, 1919-1920 Xilogravura | 31,7 x 51,9 cm
Guerra nunca mais (estudo), 1924 Carvão em papel | 63,2 x 47,4 cm
Crianças alemãs estão famintas, 1930 Litografia | 48,4 x 63,6 cm
Guerra nunca mais, 1924 Litografia | 97,5 x 74,1 cm
Cartazes
Em prol da grande Berlim, 1912 Litografia | 69 x 95 cm
Guerra 1922-1923
O sacrifício, 1923 Xilogravura | 47,6 x 65,3 cm
A viúva II, 1923 Xilogravura | 47,7 x 65,9 cm
Os voluntários, 1923 Xilogravura| 47,5 x 65,4 cm
Os pais, 1923 Xilogravura | 47,3 x 65,3 cm
As mães, 1923 Xilogravura | 47,2 x 66,4 cm
A viúva I, 1923 Xilogravura | 67,2 x 48,3 cm
O povo, 1923 Litografia | 65,3 x 47,8 cm
Mães e crianças
Mães, 1919 Litografia | 43,5 x 58,5 cm
Abrigo municipal, 1926 Carvão | 58,6 x 44,7 cm
Jovem mãe com criança nos braços, 1931-1933 Carvão | 48,6 x 36,1 cm
Abrigo municipal, 1926 Litografia | 69,6 x 59,5 cm
Mãe com criança, 1933 Litografia | 40 x 27 cm
Pão!, 1924 Litografia | 35,1 x 28 cm
Morte com mulher no colo, 1921 Xilogravura | 34 x 46 cm Viena estรก morrendo! Salve suas crianรงas!, 1920 Giz e litografia | 108 x 69,5 cm
Mulher adormecida com crianรงa, 1930 Xilogravura | 29,9 x 35,7 cm