"Percursos de Mim" por Ana Paula Filipe

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Prefácio Nasci de uma família humilde. Os meus pais, com uma educação muito escassa, começaram a trabalhar muito cedo, e muito cedo, concretizaram o sonho de trabalhar por conta própria e ensinaram-me que devemos sempre lutar por uma vida melhor e pelos nossos sonhos. Escrevi os meus primeiros poemas na adolescência. Conservei-os durante bastantes anos na gaveta. Estudei e formei-me em Engenharia Química. Comecei a trabalhar e casei-me. Trabalhei como Engenheira durante alguns anos até que a morte do meu primeiro filho me levou a tomar outro caminho, decidindo investir mais na vida familiar. Desisti da minha carreira para poder enfrentar uma gravidez de risco e assim 1 ano e meio depois nasceu o meu filho Ricardo e 2 anos e meio, a Joana. Com mais de 35 anos, tornou-se difícil voltar ao mercado de trabalho. Assim iniciei a minha própria atividade e trabalhei durante cerca de 6 anos como empresária. Aos 42 anos foi-me diagnosticado lúpus sistémico. Apesar dos esforços, tive de encerrar a atividade empresarial. A doença deixou-me quase imobilizada. Foram tempos difíceis. O sofrimento era enorme. Deslocava-me em passinhos muito pequenos e dormia mais de 15 horas por dia. Confesso que perdi quase a vontade de viver. Um dia, em que me senti um pouco melhor, esbocei uma trôpega corrida com o meu filho, então com 8 anos. 2


Ele parou, agarrou-se a mim e disse-me: -Que bom mãe, já não vais morrer. Desde esse dia que apenas sabia uma coisa, os meus filhos nunca me iriam ver desistir. Se alguma coisa lhes quero deixar é que na vida temos sempre de lutar. Lutar… sempre e nunca, nunca desistir. Como não podia mover-me como queria, comecei a escrever. E para vencer as imensas paragens quando passeava fora de casa, agarrei-me a outra paixão a fotografia. Assim nunca parava realmente, fotografava. Agora estou numa fase em que quase não tenho dores. A doença deixou-me marcas, uma paralisia facial que me roubou bastantes expressões faciais e mal me reconheço. Mas, sinto que conquistei muito mais do que perdi. Cada dia é um acordar novo. Amar sempre e nunca deixar de sonhar. Nada é impossível, tudo pode acontecer, só precisamos de acreditar. 3 Anos volvidos, em que dediquei toda a minha atenção a evoluir na fotografia, é hora de unir aquela que é uma necessidade, a poesia, com a minha grande paixão, a fotografia. Esbocei a ideia no meu blog e decidi concretizar mais esta aventura. É para mim o realizar de um sonho e é com enorme prazer que o partilho convosco. Convido-vos a virem comigo nestes Percursos de Mim. Ana Paula Filipe

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Passo a Passo Passo a passo Mais lento que o meu querer Evito, assim, o embaraço Do medo de me perder. Aprendi que todos os danos Da alma são mal nefasto E erros, da alma, profanos, Por minha paz, os afasto. No passado apago enganos, Das mágoas pelo que errei Na esperança de que, sem danos Apenas eu, um dia, eu serei. No quieto nevoeiro que por mim passa Descubro a luz que me alumia Por entre o fumo que se esfumaça Encontro o sol de um novo dia. Do meu passado liberta Por mim, assim, eu renasço É a alma que desperta Lentamente, passo a passo. 4


Ana Paula Filipe


Um Momento Há momentos em que tudo se concerta O mal se transforma em bem E nada de mais mal nos vem porque no tempo a vida se acerta Momento a momento Se constrói eternamente Que o eterno só é grande Porque tem muitos momentos E, neste momento tenho tudo Porque os guardo, aos momentos Eternamente e eternos serão Enquanto eu dure. E saboreio este momento prazenteiro Vendo tudo o que vivi e que amei Em que nenhum momento é derradeiro E se algum momento perdi, foi só porque não o guardei. 10


Ana Paula Filipe


Poeta Poeta sou, até à morte Não sei, se por fado ou sorte Só sei, que o coração não consente Que cale o que a alma sente. E cantando, assim de repente, Tudo o que existe em mim Não é fardo que me assente, Nem felicidade aparente Mas, pura alegria enfim, De viver eternamente, Na escrita que há em mim. Destino o meu, Tão somente, Deixar voar livremente A alma que Deus me deu. 16


Ana Paula Filipe


Bom Dia Bom Dia aos amigos e a toda a gente que o prazer de um novo dia nos deixe a todos contentes Que dia é mesmo assim não interessa se é rico ou pobre desde que nasce até ter fim não sou eu que escolhe o dia é o dia que me escolhe a mim. Há quem queira um dia bom sem mudanças de tom E, outros talvez queiram ter um dia diferente mais feliz e mais contente como os dias de outra gente. Mas, num dia tudo acontece Nascem de noite os dias Nasce o sol e amanhece E cansado de folias Vem a noite e adormece. O Bom dia e a boa noite tudo cabe num só dia E se não gostar deste dia Por cada dia que morre outro dia há de nascer E dia não é bom nem mau É o dia que eu fizer. Porque o que interessa num dia É a vontade de o viver. 22


Ana Paula Filipe


Calmaria Sempre que a tempestade passa O vento cresce e arrasa tudo o que vê estilhaça E na praia escombros vaza. Protesto contra a maldade De um vento que eu não quis Que só não levou a saudade de dias em que eu fui feliz. Tantos escombros na praia que me transtornam o olhar Tantas coisas que viveram tanta história por contar. Repouso o olhar no horizonte Imagino o que de melhor queria E do prazer faço a ponte Que me traz a calmaria. 30


Ana Paula Filipe


Vencer Queria ser tão rápida como o vento Na força do mar ter o alento E que o sol, que seca a chuva, também seque as minhas lágrimas. Quando, às vezes, fraquejar Queria ser mais eu, intensamente, Sem sombras de pesar e sem chorar. Apenas eu a viver para lutar Queria no dia a dia evoluir Na verdade me construir E nunca, nunca, me iludir. Que, para viver e crescer, É preciso vencer. Erguer a cabeça E morder as lágrimas para a vida temperar. Vencer as minhas contradições Enfrentar as ilusões E saber que lutar rima sempre com amar. E mesmo que, às vezes, eu me encolha E pareça aos outros como que um render É porque venci a ilusão que tinha de mim E sei que nem sempre sou invencível Mas sempre acabo por vencer. 42


Ana Paula Filipe


Confiar Não te vejo, estremeço Hesito se subo ou desço E fico mudo e quedo Neste medo imenso de querer e temer. Vou ou fico? Se fico esmoreço Se vou eu não sei, Nem sei se te vou ver. Fecho os olhos e é dentro que te vejo. E solto o grito em que eu te almejo Confiar no cego é o meu ensejo E eu vou. E juntos sem temer e sem nos ver. o cimo vamos conquistar e, sabemos que para lá chegar É preciso não só amar, É preciso confiar. 56


Ana Paula Filipe


Felicidade Que Mundo se disfarça No branco do nevoeiro Por certo o mesmo que assim se escassa E ao sol se mostra prazenteiro. Será certo aquilo que a gente vê Ou certo apenas pelo que a alma sente? Da vida ficam sempre alguns porquês Na coragem o sentir do que é ausente. Sorrio pelo que sinto e só parece Que a sombra de antigas mágoas só destrói. A dor da alma também se esquece E só na felicidade, a vida, se constrói. 64


Ana Paula Filipe


A poesia apareceu na minha vida um pouco por acaso e por necessidade. A fotografia uma paixĂŁo. E as duas sĂŁo Percursos de Mim. Ana Paula Filipe


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