CIDADES VAZIAS com GENTE DENTRO_VOL_01

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CIDADES VAZIAS

COM GENTE DENTRO VOLUME 1

ADELINO MARQUES ▪ ALEXANDRE DUARTE ▪ ÂNGELO NUNES ▪ ANTÓNIO COTRIM ▪

ANTÓNIO MARTO ▪ ARIEL ARANGO ▪ ARLINDO HOMEM ▪ ARMANDO PAIVA ▪ AUGUSTO LEMOS ▪ AURÉLIO JÚNIOR ▪ BEATRIZ RODRIGUES ▪ BENJAMIM LEANDRO MEDEIROS ▪ BRUNO MARTINS ▪ CARLOS OLYVEIRA ▪ CLEBER LIMA ▪

CONCHA ANTIQUEIRA ▪ CRISTINA NUNES SANTOS ▪ CRISTINA VICENTE ▪ DRONING AROUND ▪ GERALDO STEFANO ▪ GONÇALO LOBO PINHEIRO ▪ HEIDY BASTOS ▪ HELENA ALVES ▪ HUGO FIGUEIREDO ▪ JOSÉ LUIS SANTOS ▪

IGOR CALVO ▪ J.S. CLARO DE OLIVEIRA ▪ JAVI CALVO ▪ JOÃO LAMARES ▪ JOAQUIM GALANTE ▪ JORGE MANTILLA ▪

JORGE MARQUES ▪ JORGE PINTO GUEDES ▪ JORGE SIMÃO MEIRA ▪ JOSÉ LUIZ OUBIÑA ▪ JOSÉ ANTÓNIO ARAÚJO ▪

JOSÉ CARLOS COSTA ▪ JOSÉ LUÍS GEA ARQUES ▪ JOSÉ PEDRO ALVES DA SILVA ▪ JOSÉ PEDRO MARTINS ▪ JÚLIA VILANI


CIDADES VAZIAS COM GENTE DENTRO

VOLUME 1

A U T O R E S Vários E D I T O R A Journey Spirit Lda G E R E N T E Matilde Pinto Guedes CHANCELA Almalusa / iNstantes E D I T O R Jorge Pinto Guedes C O - E D I T O R Pereira Lopes C A P A José Miguel Soares dos Reis (Fotografia, concepção e Design) www.facebook.com/zemig.gimez I L U S T R A Ç Ã O DE O F E R T A Autor: José Augusto Castro P R O D U Ç Ã O Journey Spirit Lda D A T A D E P U B L I C A Ç Ã O 1ª Edição: Junho de 2020

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administracao@almalusa.org www.issuu.com/almalusa.org © Copyright. Todos os Direitos Reservados


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m meio à crise provocada pelo coronavírus e ainda distante de uma conclusão sobre seus impactos, produtores de imagem nos quatro cantos do mundo enfrentam as paisagens da epidemia. O vazio que domina cenários urbanos suspende a narrativa que coloca o movimento incessante como fato incontornável da vida das metrópoles. Assim como as grandes estruturas viárias caíram repentinamente em desuso, os humanos confinados experimentam a imobilidade e o alargamento das distâncias. A experiência provoca ebulição nos nossos esquemas de pensamento. Em um mundo onde as infovias são promessa de comunicação, as fronteiras chegaram à nossa porta e impuseram limites aos nossos corpos. Nas privilegiadas barricadas domésticas, exercitamos um tipo inédito de solidariedade e aproveitamos a quarentena para refletir sobre antigas e novas emergências. Diante das cidades vazias, estaríamos autorizados a pensar em uma visualidade de ruína? Quando o presente aparece como vertigem e cenário do nosso declínio, a sensibilidade contemporânea é provocada a reagir. O povo

yanomami usa a expressão “xawara wakixi”, em tradução livre “epidemia-fumaça”, para designar um fenômeno de mesma origem e relaciona os desastres sanitários à exploração intensiva de recursos naturais. Diferente das ficções apocalípticas, a pandemia confirma-se como ameaça real à espécie humana, enquanto o planeta exibe céus mais luminosos e águas mais límpidas. Na sombra das ruas quietas, precisamos ler a força que traz à tona uma equação cujo ponto chave é a vida urbana. Da compreensão destas aparições depende o destino da nossa civilização, terreno mais que oportuno para fotografia. Na encruzilhada onde é preciso atenção para os processos lentos que tecem as condições de emergências dos nossos desejos, a capacidade contemplativa e reflexiva da imagem é mais que necessidade, é uma urgência. Estamos chamados a imagear a vida que queremos viver.

Sinara Sandri Doutora em Comunicação Diretora do FestFoto – Festival Internacional de Fotografia de Porto Alegre

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QUE MUNDO É ESTE EM QUE VIVEMOS? O MEDO IMPERA.

A

s estações de televisão, martelam-nos constantemente com

América, a dizer que no final de abril a pandemia já está

noticias sobre o covid-19. Os comentadores prevêem um

controlada e que uma injecção de desinfectante resolve o

futuro apocalíptico para a economia, como se fossem eles os que

problema (hoje, os EUA aproximam-se dos 100.000 mortos)! Sinto

comandam os cordelinhos do planeta. Porque não previram então,

vómitos… e não é do coronavírus.

a chegada da pandemia? Porque não previram então que países

É desta gente sem principios.

inteiros paralizassem? Em 2011, previam que o barril de petróleo iría chegar aos 200

Não há gente nas ruas das cidades, mas o mundo vai voltar à

dólares e seria uma situação sem retorno; no dia 20 de abril de

“normalidade” até que algo de “anormal” aconteça. Não

2020 o barril do crude ficou abaixo dos zero dólares na bolsa de

dominámos todas as regras deste jogo que é a vida.

Nova Iorque! Eu, só sei que nada sei… a não ser que cada vez mais, gosto Fecham-se fronteiras, limitam-se liberdades. As companhias de

de ser português.

aviação têm toda a sua frota - ou quase - em terra. O tele-trabalho chegou em força. Para entrar num banco é obrigatório o uso de máscara! Jair Bolsonaro, presidente do Brasil, a dizer que é só uma gripezinha! Donald Trump, presidente dos Estados Unidos da

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Pereira Lopes 20.maio.2020


ELES VIRAM!..

M

al tinha começado o mês de Março e os “mass-media” começavam a sua tarefa de informar, desinformar, baralhar e

tornar a dar. O medo começava a instalar-se em todos nós porque a vida, afinal, ainda é o mais importante. O medo, essa reacção

Para trás ficaram dois meses de uma experiência que ficará marcada em todos nós. Para alguns a vida nunca mais será a mesma. Foi tudo isto que os fotógrafos que participam nestes dois

natural do nosso corpo que faz parte do instinto de sobrevivência,

volumes testemunharam e registaram. Eles viram! Eles, talvez mais

instalou-se. Mais importante que o dinheiro, mais forte que o

que ninguém, sentiram o vazio e o silêncio avassalador do

poder, mais forte que tudo…

formigar silenciado das cidades, da energia do medo contida por

Portanto, a única hipótese que restou a 2/3 do globo foi o

trás das paredes das casas, onde os seus semelhantes esperavam

confinamento, voluntário ou imposto, até ver, ou até que os

o dia do desconfinamento, essa palavra/ conceito draconiano que

líderes, esses mitigadores da ansiedade popular o decretassem.

se instalou nas nossas vidas e no nosso vocabulário quotidiano.

Pela primeira vez na história da humanidade pessoas saudáveis ficaram em “prisão- domiciliária” por quase dois meses e pela

Este é o registo da tragédia humana que nos assolou. A história, num futuro próximo, encarregar-se-á de fazer luz

primeira vez pessoas saudáveis usam e usarão por tempo

sobre ela. Ou não porque a história, ao ser construida e

indeterminado máscaras, viseiras, luvas de latex e tudo o mais o

interpretada, também tem a sua grande dose de ficção.

que os líderes imponham. Em breve uma “milagrosa” vacina

Todas as fotos aqui contidas, não. Os fotógrafos viram!

aparecerá e, provavelmente, tudo será feito para que 7 Biliões de

E os seus trabalhos marcarão indelevelmente o que aconteceu.

seres humanos a tenham que tomar, todos os anos. É a nova

É este o seu e o nosso legado.

normalidade, chavão de “marketing sociológico” para acalmar as hostes e validar tudo, mesmo o que ninguém sabe se será bom ou mau para nós. Valide-se, imponha-se e depois logo se vê. Passaram os tais dois meses e nada se sabe nem nada se continua a saber: as doutíssimas opiniões dos especialistas são tantas e tão díspares que o ruído gerado já quase não faz efeito em nós:

Jorge Pinto Guedes Editor Gralheira, Maio de 2020

queremos a Liga de Futebol, desconfine-se o Ronaldo e amigos pontapeadores, venham as esplanadas e a praias, as minis e os amigos… até ver.

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