"Eu Desejo", de Carlos Brandão

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Eu Desejo • Carlos Brandão • Colecção :: Fotografia e Arte Lusitana Volume VI

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Não ter emoções, não ter desejos, não ter vontades, Mas ser apenas, no ar sensível das coisas Uma consciência abstracta com asas de pensamento, Não ser desonesto nem não desonesto, separado ou junto, Nem igual a outros, nem diferente dos outros, Vivê-los em outrem, separar-se deles Como quem, distraído, se esquece de si... Álvaro de Campos

Através da capacidade da fotografia de registar memórias e de imortalizar os momentos são construídas paisagens interiores que se esforçam por criar uma harmonia com o ambiente, com a insignificância do homem e a sua adaptação à natureza. Fragmentos do real desenvolvidos com o objectivo de criar um processo de contemplação de onde nascem sentimentos de esperança, de isolamento e de serenidade. Promovem a criação de um mundo imaginado e são fruto de uma reflexão sobre a identidade do local e uma tentativa de fuga do mundo artificial. Nessa luta é necessário não perder a habilidade de sonhar. Carlos Brandão

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P refá cio : A vida moderna, com as suas infindáveis exigências, oferece ao indivíduo muitas poucas oportunidades de escape; muito poucos momentos em que possa encontrar-se realmente só — expressões essenciais para o seu estado humano natural. Pode uma pessoa remover-se da História, estando ela a documentar as paisagens próprias dessa História que pretende escapar? Creio que a fotografia do Carlos surge um pouco da necessidade de reencontrar esse corte com o mundo social. Ou, no mínimo, de o reenquadrar sobre o pano de fundo da Natureza. Estes lugares e não-lugares (que o Carlos explora, quase sempre, em longas caminhadas solitárias) oferecem as raras oportunidades para a contemplação num ambiente urbano. Quase sempre dentro de alguma fronteira metropolitana (ou muito próximo da sua periferia), mas fora do itinerário comum, em recantos onde a Natureza parece estar em guerra com a cidade para a reclamar para si: a violência do mar contra um farol; a neblina tardia sobre o parque da cidade; uma ruína já perdida para a vegetação selvagem... Exemplos da colisão entre a ordem das coisas que a civilização humana ergue e o caos a que inevitavelmente terão que regressar. É dessa tensão, parece-me, que nasce o trabalho do Carlos. Tensão essa que, apesar da promessa de violência e desagregação que encerra, inclui também a abertura de possibilidades: a libertação da pele com que a civilização nos cobre e o redescobrir de um olhar mais puro, mais humano. Por outras palavras, o recuperar de uma certa ingenuidade infantil que é a marca de todo o artista. Diogo Barros Matosinhos 2017


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Carlos

Brandão

Nasceu em São João da Madeira, local onde viveu e estudou. Desde cedo se interessou por cinema, por música e por fotografia, como forma de exprimir a sua tendência para a introspeção e crítica sobre o real. No Porto, conclui a licenciatura em Tecnologias Da Comunicação Audiovisual em 2007.Desde então tem desenvolvido a sua atividade profissional em fotografia e vídeo, tendo realizado vários documentários como forma de retratar realidades e problemáticas sociais por vezes escondidas. Inconformista por natureza encontra na arte uma forma de se ultrapassar, de quebrar a perspetiva comum sobre o mundo e procurar outras formas de o entender.


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