Odó-Iyá! Iemanjá / Itacaré-BA

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Odรณ Iyรก ! Iemanjรก

Maria Amรกlia Martin



Odó-Iyá Iemanjá Itacaré/BA O Projeto tem apoio financeiro da Prefeitura Municipal de Itacaré através da Secretaria Municipal de Turismo e Cultura, contemplado no prêmio “Seu Morenito” Edital 02/2020 – Prêmios Culturais Aldir Blanc via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal. Conta também com o apoio cultural da Marimar Presentes, parceira e apoiadora de sempre, que compartilha da crença de que a Cultura é o Nosso Maior Patrimônio!

Apoio Cultural:

Apoio Financeiro:


Quanto nome tem a Rainha do Mar? Quanto nome tem a Rainha do Mar? Dandalunda, Janaína Marabô, Princesa de Aiocá Inaê, Sereia, Mucunã Maria, Dona Iemanjá! (Pedro Amorim / Sophia De Mello Breyner)

Considerada a representação mais forte da cultura africana na Bahia e no Brasil, e a orixá mais popular em nosso país, Iemanjá, é saudada dizendo-se: “Odó-Iyá!” o que significa em iorubá: “Mãe do Rio”, Mãe das Águas e dos peixes que correm para Olokun, a Senhora e Dona dos Oceanos. Chegou ao Brasil junto com o povo africano através do oceano, e aqui, ela ganha o título de A Rainha do Mar; Iemanjá, mãe de todos os orixás, que através da representação do arquétipo da Grande Mãe, faz a conexão desse povo com a mãe ancestral na terra Natal de seus filhos.

Sua representação mais conhecida no Brasil resultou do sincretismo que aconteceu como forma de garantir a continuidade do culto à orixá que era proibido e tinha que ser praticado às escondidas. Essa imagem agrega símbolos de várias culturas presentes na formação do nosso povo: as conchas do mar e o diadema em forma de estrela, que remete à espiritualidade na cultura africana; os cabelos pretos e longos, lembrando Janaína, uma figura muito presente entre nossos índios; e as semelhanças com as diversas Nossas Senhoras, que aludem à Grande Mãe dos Brasileiros, fazem de Iemanjá a mulher que concede as graças e as dádivas e consegue abraçar e acolher todos os seus filhos.


Bom lembrar que orixás não são santos e, assim como nós, vivem de forma genuína todas as emoções, ciúmes, raiva, empatia, paixões, por isso, são muitas as faces e humores dessa Orixá. Em Iemanjá, encontramos muitas vezes a guerreira, outras a mulher mais doce e calma, por vezes ela se apresenta mais velha, mais compassiva, mais mãe, avó, ou ainda como uma mulher exuberante, extremamente vaidosa e sensual. A devoção e o culto à Iemanjá extrapolam os limites das religiões de matriz africana. Ela é uma referência para pessoas de todas as religiões em todo o Brasil. E como já dizia Caymmi: Dia dois de fevereiro Dia de festa no mar... Em Itacaré não é diferente! A Festa de Iemanjá acontece anualmente no dia 2 de fevereiro e começa bem antes do dia raiar.

Durante toda a madrugada, dentro dos terreiros, os fiéis do Candomblé e da Umbanda praticam as celebrações litúrgicas com seus rituais reservados: trabalhos, sacrifícios, oferendas e muita festa! Ao raiar do dia, acontece a tradicional Alvorada de Iemanjá. Ao som de fogos de artificio que despertam toda a comunidade, os fiéis saem em procissão em direção à orla da cidade, onde depositam seus balaios e suas imagens. A cerimônia pública começa na sequência, com distribuição de mingau e toques de atabaque para saudar o dia! Ao longo de todo o dia os balaios e as imagens recebem o fiéis, que em busca da dádiva (dar, receber e retribuir) depositam suas oferendas, fazem suas preces e reverenciam Iemanjá.


No início da tarde, na orla da cidade, acontece o xirê: Pais, Mães e Filhos de Santo dançam e entoam cânticos ao som de toques de atabaques para evocar a proteção dos orixás e a abertura dos caminhos. Na sequência, povos de terreiro, membros da comunidade e turistas, que a cada ano vêm em maior número prestigiar a tradicional Festa de Iemanjá, se misturam em um lindo cortejo que percorre as ruas da cidade até o ápice da festa, que acontece na Praça do Canhão, de onde os barcos saem com os balaios. Os balaios com os presentes representam o término de uma obrigação, a finalização de um ritual que começou dentro dos terreiros e acaba com a participação popular. Eles carregam flores, lavanda, presentes diversos com a intenção de agradar a vaidosa Iemanjá. O cortejo marítimo, para alguns terreiros, começa pelo Rio de Contas, onde Oxum, a divindade das águas suaves dos rios e das nascentes, é reverenciada com seu balaio com flores amarelas. Só depois o destino é o mar, onde em suas águas azuis, são depositados os presentes para a Rainha do Mar!

Este trabalho, que é um recorte de um projeto maior, apresenta registros que fiz durantes as últimas cinco edições da Festa de Iemanjá em Itacaré, celebração, que ao longo dos anos, foi ganhando visibilidade e participação popular.


Segundo Mãe Julia, hoje aos 76 anos de idade (57 deles dentro dos fundamentos da religião) e responsável pelo Terreiro de Nanã, atualmente a casa mais antiga em Itacaré, situada no Quilombo Desenvolvimento de Santo Amaro, essa festa acontece desde que ela “se conhece por gente”, embora antigamente cada casa realizasse sua própria celebração, a qual ficava restrita aos espaços dos terreiros. Mãe Julia conta que o primeiro balaio, aqui em Itacaré, foi colocado por ela, que não se lembra quando, mas desde então, outros balaios foram aparecendo. Com o passar dos anos, a festa foi ganhando as ruas, trazendo visibilidade a um culto de matriz africana que, historicamente no Brasil, foi obrigado a se manter em locais escondidos, longe dos olhares da sociedade mais ampla. É uma celebração única em Itacaré, que ocupa as ruas da cidade, reunindo pessoas de vários credos, fortalecendo a apreensão de nossa diversidade cultural e que só acontece graças aos esforços somados pelos Povos de Terreiro da cidade, que de forma persistente se responsabilizam pela organização do evento.


Para os terreiros de Itacaré abaixo e suas Ialorixás e Babalorixás: Ilê Axé Afomany - Pai Ivan; Ilê Axé Bàbá Wallamym - Mãe Rita de Oxalá; Ilê Axé Mukalembê - Pai Tiko; Ilê Axé Nzo Dandaluunda Omo Ofarojy - Mãe Nanganzi; Terreiro Gentil Tupinambá - Mãe Veinha; Terreiro de Nanã - Mãe Júlia de Nanã; Pelo axé, pela força, determinação e resistência empenhadas em preservar, difundir e presentear nossa cidade com esta festa, que é também uma referência cultural para todo o nosso povo, Eu dedico este trabalho! Axé! Maria Amália Martin Janeiro/2021 #CulturaNossoMaiorPatrimônio

Cap 1 – Art. 5º VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; Constituição Federal, 1988.













































































































Maria Amália Martin, a fotógrafa Nascida em São Paulo há 54 anos e moradora de Itacaré há 15, Amália tem na fotografia sua 3ª. área de interesse acadêmico e profissional. Vinda da sala de aula, como professora, dedicou-se também ao estudo do comportamento humano, atuando como psicoterapeuta e treinadora comportamental. Há seis anos na fotografia busca integrar suas experiências anteriores para registrar e despertar emoções com seus registros. Sua fotografia se sustenta em três pilares: o ser, o estar e o fazer. Em Itacaré, as deslumbrantes paisagens, assim como as manifestações culturais e a beleza ímpar de seu povo, estão sempre reveladas em seus trabalhos. As exposições: “Festa das Águas” (2018), intervenção urbana que cobriu 12 muros em variados bairros de Itacaré com 120 retratos de participantes dessa festa em nossa cidade, e “Caras e Caretas de Itacaré”, realizada em fevereiro de 2020, com instalação de 70 retratos dos tradicionais Caretas de nosso Carnaval na Praça São Miguel, deixam claro seu interesse pela riqueza e diversidade cultural de nosso povo.


Agradecimentos: Mãe Júlia de Nanã, Mãe Rita de Oxalá, Mãe Nanganzi, Mãe Veinha, Pai Ivan, Pai Tiko Mukalembê, Krhis Soares Kambalamdê (Tata Njibidi Kambalamdê), Genival Silva Akaibô (Babá Kekerê), Luan Santos dos Santos, Heitor Reis, Kauanne Silva Machado, Neusa Mirra, Katia Silene Souza, Lucimario Santos Belmiro, Alessandro Santos de Lima, Alcebíades da Paixão Santos (ogã), Badangue Nagô (ogã), Eloise Reis, Wilton Oliveira, Restaurante MM (Rejane), Josa´s Bar (Josafá), Asperi Itacaré, Guidomar Soledade, Jorge Lázaro S. Miguel, Diego Augusto, Marcelo Dias, Atitude Positiva, Odilon Trindade, e à Cláudia Vampré e Luís Reis, amigos e parceiros que acreditaram e escolheram estar comigo neste projeto, minha gratidão e carinho! Meu agradecimento especial a todos os retratados neste livro que, gentilmente, emprestaram seu sorriso, sua fé e sua alegria.

Odó-Iyá ! Axé!


Créditos Fotografia

Maria Amália Martin

Textos

Maria Amália Martin

Revisão de texto

Odilon Trindade

Projeto Gráfico

Cláudia Vampré


Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra por qualquer meio ou forma, seja ela eletrônica ou mecânica, fotocópia, gravação ou outro meio de produção, sem a permissão expressa da autora.

Maria Amália Martin Contato: amalia.martin@uol.com.br Facebook: Maria Amália Martin Instagram: @amaliam03 Itacaré/Bahia -Janeiro/2021



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