O Espaço da Mulher na Cidade

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Centro Universitário Senac Santo Amaro Arquitetura e Urbanismo

Amanda Sampaio de Oliveira

O Espaço da Mulher na Cidade

São Paulo 2021

Orientador: Prof. Dr. Ricardo Luis Silva Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário Senac - Santo Amaro como exigência para obtenção do grau de bacharel em Arquitetura e Urbanismo. 3


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para todas as manequins da periferia de são paulo.

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obrigada a todos que sempre me apoiaram e acreditaram em minhas lutas, sejam família, amigos e colegas. Todos vocês serviram de inspiração em algum momento e me deram forças para que esse trabalho fosse concluído.

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. AS CIDADES E O DESEJO

Naquela direção, após seis dias e sete noites, alcança-se Zobeide,

cidade branca, bem exposta à luz, com ruas que giram em torno de si mesmas como um novelo. Eis o que se conta a respeito de sua fundação: homens de diferentes nações tiveram o mesmo sonho - viram uma mulher correr de noite numa cidade desconhecida, de costas, com longos cabelos e nua. Sonharam que a perseguiam. Corriam de um lado para o outro, mas ela os despistava. Após o sonho, partiram em busca daquela cidade; não a encontraram, mas encontraram uns aos outros; decidiram construir uma cidade como a do sonho. Na disposição das ruas, cada um refez o percurso de sua perseguição; no ponto em que havia perdido os traços da fugitiva, dispôs os espaços e a muralha diferentemente do que no sonho a fim de que desta vez ela não pudesse escapar.

A cidade era Zobeide, onde se instalaram na esperança de que uma

noite a cena se repetisse. Nenhum deles, nem durante o sono nem acordados, reviu a mulher. As ruas da cidade eram aquelas que os levavam para o trabalho todas as manhãs, sem qualquer relação com a perseguição do sonho. Que, por sua vez, tinha sido esquecido havia muito tempo.

Chegaram novos homens de outros países, que haviam tido um sonho

como o deles, e na cidade de Zobeide reconheciam algo das ruas do sonho, e mudavam de lugar pórticos e escadas para que o percurso ficasse mais parecido com o da mulher perseguida e para que no ponto em que ela desaparecera não lhe restasse escapatória.

Os recém-chegados não compreendiam o que atraía essas pessoas a

Zobeide, uma cidade feia, uma armadilha. As Cidades Invisíveis. Italo Calvino. 2003. Página 21.

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Este conto reflete claramente a posição das mulheres na cidade: esquecidas, um sonho, uma boneca, um manequim. Somos somente enfeites na contemporânea selva de pedra. Somos somente mais um número. Somos somente uma decoração para a cidade, vestidas de traumas. E por isso vamos lutar para que isso mude. E está mudando.

A seguir, um álbum fotográfico de algumas mulheres, desconhecidas, mas que fazem a diferença no nosso cotidiano.

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INTRODUÇÃO

As cidades em que vivemos são bastantes diversas quanto às

pessoas que a utilizam. Conforme ela foi se desenvolvendo, muitos aspectos foram mudando, outros nem tanto. Hoje, com estudos e análises mais aprofundadas podemos chegar à conclusão que na cidade não há equidade nos espaços públicos. E o que isso quer dizer? Isto representa que a cidade não está atendendo as pessoas de forma igualitária perante ao gênero.

Dito isto, podemos afirmar que homens e mulheres possuem

experiências diferenciadas quanto ao passeio e acesso aos mais diversos locais da cidade, como trabalho, lazer e serviços, justamente pela cautela que é preciso ter, principalmente à noite e em espaços desconhecidos. O perigo pode estar em qualquer lugar e a formação do modelo de cidade que temos hoje, como foi dito, colabora com este tipo de precaução. A mobilidade urbana vigente também deveria prevenir qualquer tipo de situação e proteger todos os cidadãos e cidadãs.

As mulheres possuem medo de sair na rua e é preciso ser

feito precauções antes de sair de casa. Qual roupa vestir, como arrumar o cabelo e qual bolsa usar. Tudo isso acaba sendo levado em conta antes de ir para o trabalho, faculdade, escola ou até mesmo buscar os filhos. Os dados são alarmantes perante à violência da mulher e isso será apresentado de forma bastante concisa e para embasamento de uma proposta de projeto urbano 27


que pode ajudar diversas mulheres.

Neste trabalho, será colocado em pauta principalmente as

mulheres periféricas e como o fato de estar nas bordas da cidade e longe dos locais formais de emprego e educação, podem contribuir com os perigos nas ruas e também o sentimento de impotência ao não conseguir suprir todas as expectativas que a sociedade impõe para as mulheres. A pandemia do Covid-19 também entrará em pauta por impactar diretamente no fluxo dessas mulheres e os abusos que elas podem sofrer. Além de dados, relatos pessoais serão inseridos para reforçar o que uma mulher pode passar nas ruas e no transporte público.

Em conjunto com este primeiro estudo há um vídeo, no local

de estudo e de ação, para deixar claro as dificuldades do simples fato de ser mulher e transeunte. E como esta junção pode ser perigosa se não houver uma enorme cautela.

Confira o vídeo clicando aqui. Ou se preferir, aponte a

câmera no QR Code abaixo.

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Não me parece ao acaso que Delacroix, ao retratar a Revolução de Julho, pintou uma mulher jovem e atraente e semidesnuda com a bandeira tricolor na mão direita e um fuzil na esquerda, comandando todas as categorias de homens, jovens e velhos, burgueses e camponeses. (DAMATTA, 2011, posição 1588).


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PÓS INTRODUÇÃO

A partir do início das pesquisas e elaboração do projeto

urbano proposto, algumas questões puderam ser levantadas e questionadas. A partir de qual momento algo tão empírico e reflexivo como a discussão do espaço da mulher na cidade pode ser transformado em algo totalmente concreto como um projeto urbano? Como juntar esses pontos considerados tão distintos?

É com esta reflexão que proponho analisar o trabalho

como uma forma de experimento, especulação e utopia, já que não temos projetos específicos construídos com base em uma ideologia de gênero para haver uma comparação ativa, devemos levar em conta o princípio inicial de equidade que a maioria dos projetos invoca, porém sabemos que não é a primordial solução para tal problema enfrentado na cidade em que vivemos. Por outro lado, essa questão será abordada com maior profundidade ao longo dos capítulos aqui inseridos e dará maior embasamento na discussão da proposta de intervenção.

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2.1 CONTEXTO HISTÓRICO

A partir da segunda metade do século XVIII, a Revolução

Industrial se dissipou pela Inglaterra e, posteriormente, para todas as cidades do mundo. Todas elas sofreram com os grandes impactos vindos desse marco histórico: novas indústrias, êxodo rural e a necessidade de deslocamentos. As cidades estavam um caos com todas essas mudanças e alguma atitude era preciso ser tomada. A partir deste ponto o pensamento estratégico atrelado à necessidade de haver um planejamento urbano para as cidades começou a ganhar relevância. Esses estudos para o melhoramento das cidades foi se aperfeiçoando conforme as prioridades de cada local.

De acordo com Choay (2013), o pensador político Engels

evidenciava: […]A higiene física deplorável das grandes cidades industriais: o habitat insalubre do trabalhador, frequentemente comparado com covis, as grandes distâncias que separam o local de trabalho do de habitação, os lixões fétidos amontoados e a ausência de jardins públicos nos bairros populares. (CHOAY, 2013, p. 5).

Com este marco na história, estudiosos começaram a propor

modelos urbanísticos que suprissem as necessidades de cada local e de acordo com os conhecimentos urbanísticos da época, como é o caso de Ebenezer Howard e seu plano das cidades jardins. Estes primeiros planos eram munidos de grandes avanços mas também inúmeras falhas, que, com o tempo, foram aprimoradas. 35


Um aspecto importante que devemos recordar é o seguinte:

esses planos urbanos dividiam drasticamente o ambiente da casa e o ambiente de trabalho. Isto era inclusive baseado em um sistema patriarcal e de família padrão, em que o homem, chefe de família, saía para trabalhar e a mulher ficava em casa cuidando dos filhos e dos afazeres domésticos. Com isso, os homens tinham maior participação no espaço público e acabavam desfrutando mais deles, ao passo que as mulheres somente ficavam ao redor da vizinhança. E isso perdurou por muitos anos. Até momentos atuais deste século.

Desde então o Urbanismo começou a ganhar relevância e

ser um campo de estudo importante e inclusive de pauta política.

Durante os séculos XIX e XX, houve uma onda de rompimento

do padrão familiar que era, anteriormente, bastante difundido. Famílias passaram a ter estruturas diferentes e, ao mesmo tempo, o padrão patriarcal de estrutura familiar foi sendo rompido, e mais chefes de família mulheres ganhavam espaço nas ruas, na indústria e no comércio para garantir o sustento de suas famílias.

Com esta quebra de padrão, as mulheres saíam mais de

casa, começavam a arranjar seus empregos, levar seus filhos na escola e participar adequadamente da vida pública. O que antes, era feito única e exclusivamente por homens. Entretanto, esses espaços não tinham estruturas para garantir segurança para essas mulheres. Nestas cidades, as mulheres que saíssem desacompanhadas, poderiam ser, inclusive, mal vistas pela sociedade e ter sua “reputação” rebaixada. Em casa somos todos, conforme tenho dito, ‘supercidadãos’. Mas

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e na rua? Bem aqui passamos sempre por indivíduos anônimos e desgarrados, somos quase sempre maltratados pelas chamadas ‘autoridades’ e não temos nem paz, nem voz. (DAMATTA, 2011, posição 145).

Ao longo dos anos, as cidades e seus responsáveis

elencaram questões importantes e pontos de melhoria para agregar alguns grupos que, historicamente, foram minimizados em detrimento de outros. Como por exemplo, discussões de cor e raça, poder aquisitivo, aparência e gênero. Todas essas questões são relevantes e moldam o espaço e visão das pessoas para com o planejamento urbano. Neste espaço, será contextualizado a questão de gênero no urbanismo, em pontos sociais e políticos, já que não há equidade, principalmente no espaço público, até os dias atuais.

Segundo um artigo do Archdaily publicado em março de

2021, escrito por Christele Harrouk, temos a seguinte linha de raciocínio: Desde a mais tenra infância o homem costuma dominar os espaços públicos que ocupa. A partir da idade de oito anos, em 80% dos espaços públicos analisados, meninas e jovens mulheres experimentam sensações de exclusão e insegurança. (HARROUK, 2021)

Com este pensamento, podemos já observar como a

presença masculina é forte nos espaços e como isso remete à falta de poder em algumas mulheres, que, a cada dia, tentam ocupar com mais intensidades os espaços urbanos.

Para ressaltar a falta de equidade na vida pública entre

homens e mulheres, há uma frase dita por Péricles na Grécia 37


Antiga que nos expõe o seguinte pensamento: Recomendando que silenciassem, ele prosseguiu afirmando: ‘(...) a maior glória de uma mulher está em evitar comentários por parte dos homens, seja de crítica ou elogio” . Ao retornar às suas casas, as mulheres deviam mergulhar nas sombras. (SENNETT, 2003, p.61).

Nos capítulos a seguir, serão apresentados dados atuais

perante às mulheres e crimes cometidos contra elas e também uma análise profunda quanto à perspectiva de gênero no planejamento urbano. Tópico importante e amplamente discutido já nas câmaras por mulheres ativistas e feministas, e que há também a pauta em nossa política de planejamento.

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2.2 DADOS ATUAIS

A partir do raciocínio feito em detrimento das informações

históricas, há alguns dados referentes à pesquisa para ressaltar a importância dessa discussão e como os números refletem, e muito, a questão das mulheres tanto na rua, quanto em casa. Essa comparação de casa e rua é bastante presente pelo seguinte motivo: ambos apresentam perigos para as mulheres. Ambos mulheres foram e ainda são mortas. Ambos refletem diretamente no modelo de cidade que temos hoje.

2.2.1 crimes contra a mulher

Dentro de casa, mulheres são ameaçadas, maltratadas

e mortas pelos seus companheiros. Na rua, são ameaçadas, maltratadas e mortas pelos outros homens. Não há motivo, não há um alvo em específico. Simplesmente por ser mulher. Ser um “alvo fácil”. E, enfatizando o que já foi dito, a cidade contribui para este fato. Ruas e calçadas mal iluminadas, becos, terrenos totalmente murados, carros passando em alta velocidade.

Dito isto, a seguir, serão apresentados gráficos com alguns

crimes ocorridos em meses específicos de 2019, 2020 e 2021. Esses dados mostram como a pandemia do Covid-19 impactou diretamente nas denúncias e boletins de ocorrência para com estes crimes. 41


Este primeiro gráfico são dados do portal oficial do Governo

do Estado de São Paulo e os boletins de ocorrência registrados. Os números se referem ao estado todo de São Paulo. Ao observálo, podemos ver números elevados no ano de 2019, uma certa baixa nos meses de início de pandemia no ano de 2020 e aumento quase que exponencial, em alguns crimes, no início do ano de 2021 seguido de estabilidade ao longo dos meses.

Essas variações podem ser interpretadas da seguinte forma:

No ano de 2019, os números de casos destes crimes, em específico, estavam dentro do “normal”, o que, é claro, não deveria ser, já que mulheres não deveriam sofrer diversos crimes por motivo algum. Mas ao longo dos outros meses, a variação numérica é, de certa forma, dentro da média. No ano de 2020, principalmente nos meses listados, foi o período de mais alto isolamento por 42


conta da pandemia do novo coronavírus e com isso, houve uma queda relevante nos crimes listados. Isso porque, essas mulheres passaram a ficar em casa com seus companheiros e o medo de denunciar e expor essa pessoa, que está ao lado delas 24 horas por dia, não seria a melhor decisão a ser tomada.

Já nos primeiros meses de 2021, é possível observar esse

aumento de casos denunciados, já que mais mulheres estão voltando para as ruas, seja para trabalhar, levar os filhos que puderam retornar à escola, ou até mesmo aquelas que tiveram a oportunidade de voltar para os seus estudos. Essas mulheres começaram a denunciar de forma mais firme o que passam ou passaram.

Este gráfico também possui dados retirados do portal oficial 43


do Governo do Estado de São Paulo. A diferença é que, neste caso, está sendo analisada somente a região metropolitana do estado. A análise para esta porção de território é a mesma em relação ao estado todo, a queda durante os meses de início da pandemia devido ao contato direto com o parceiro dessas mulheres dentro de casa, em isolamento. O que também podemos observar, é que, com a volta progressiva das atividades no ano de 2021, e mais pessoas saindo na rua, voltando às suas atividades, os números de crimes não aumentaram de forma tão colossal. Pelo gráfico, vemos que com o retorno de algumas atividades, as médias “normais” também foram estabilizadas.

Uma explicação para isso pode ser que, na região

metropolitana, apesar da volta de alguns setores, ainda houveram muitas restrições para as atividades comerciais e o sistema de teletrabalho permaneceu em muitas empresas. Locais em que o isolamento não está mais tão restritivo, como em cidades do interior do estado, em que estão nas fases de isolamento definidas pelo Governo de São Paulo amarela ou até verde, praticadas por cada uma delas, mais mulheres saem na rua para realizar suas atividades do dia a dia, submetendo-se a maiores riscos de protagonizar alguns destes crimes.

Uma outra análise que podemos fazer, é categorizar

esses crimes de forma que sejam vistos como casa e rua, ponto importante mencionado no capítulo anterior. Esse tipo de comparação é importante para justamente observarmos quais crimes a rua pode expor a as mulheres e quais são expostas em casa com o companheiro ou com a família. 44


Não há dúvida de que fica cada dia mais complicado viver numa sociedade onde se tem uma cidadania em casa, uma outra no centro religioso e outra ainda - essa tremendamente negativa - na rua. (DAMATTA, 2011, posição 161).

Os crimes de lesão corporal dolosa e maus tratos, podem

ser facilmente interpretados como crimes “comuns” dentro da própria casa da mulher. Brigas com o companheiro ou com a família, desentendimentos ou até problemas das mais diversas esferas, como financeiros, amorosos ou até de responsabilidades.

Os crimes de calúnia/injúria e ameaça consistem em tipos

de crimes que facilmente são encontrados na rua. Assédios, “fiu fiu”, palavras consideradas “elogios”, apologia à relações sexuais são inacreditavelmente comuns. Olhares também são comuns. Mesmo quando a mulher está acompanhada, seja de um homem ou de outras mulheres.

Já os outros crimes listados, podemos classificá-los como

“casos de soleira”, ou seja, podem acontecer tanto dentro, como fora de casa. São eles: feminicídio, e estupro. Esses dois casos, não importa onde a mulher esteja, qual atividade está sendo realizada, qual roupa está vestindo, se está desacompanhada na rua, no transporte público ou em casa, esses crimes podem acontecer a qualquer momento. Esse é o nosso medo de todos os dias.

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Com estes dados fornecidos pelo portal oficial do Governo

do Estado de São Paulo, podemos comparar as quantidades com outras fontes que registram casos criminais, principalmente de violência doméstica. Os casos atendidos pela Polícia Militar possuem números assustadores quanto ao atendimento dessas ocorrências. Como podemos ver a seguir.

Alguns países tomaram atitudes para tentar conter o

aumento de violência durante a quarentena. Países como Itália, Espanha e França providenciaram abrigo em hotéis para vítimas de violência, juntamente com aplicativos e denúncias pelo whatsapp. O Brasil e os Estados Unidos, garantiram a realização da denúncia 46


online.

Essas atitudes podem ajudar muitas mulheres a denunciarem

qualquer tipo de violência que estejam sofrendo. Mas, infelizmente, ainda não muda o fato de temerem por esta decisão. Tanto por si mesmas, quanto pela sua família.

Considerando que a justiça brasileira pouco faz ou fornece

apoio às vítimas, este cenário está longe de ter algum tipo de mudança para que mulheres parem de morrer simplesmente por serem mulheres.

2.2.2 transporte e deslocamentos

Considerando que as mulheres cada dia mais participam da

vida pública, tanto quanto os homens, é de conhecimento de todos e todas que elas têm de usufruir de algum meio de transporte.

Conforme é possível observar nos gráficos abaixo,

disponibilizados pela Pesquisa Origem e Destino do Município de São Paulo, podemos ver que a participação das mulheres nos transportes públicos e também a pé é mais elevada que a dos homens. Esse número pode ser justificado por mulheres resolverem toda a sua rotina com o transporte coletivo, seja ir ao trabalho, estudar, buscar os filhos. Já os homens, podemos considerar que a rotina do uso do transporte coletivo pode resumir a ir ao trabalho ou ir a algum tipo de lazer.

Ainda sobre este gráfico, podemos perceber também que o

transporte individual é muito mais usado pelos homens. Podemos especular também diversos motivos: maior poder aquisitivo para 47


adquirir um carro, número maior de homens que possuem carteira de motorista ou até mesmo preferem e podem usar este meio de transporte para se locomover pela cidade, não necessitando de um transporte coletivo.

Neste outro gráfico, podemos observar a faixa etária de

mulheres que utilizam os meios de transporte mais comuns na capital. Ao analisarmos, é possível perceber uma variação grande entre diferentes idades de mulheres que usufruem destes meios.

O transporte coletivo, é utilizado, em disparada, pelas

mulheres da faixa etária de 18 a 29 anos. Justamente por ser a “faixa trabalhadora”: mulheres que trabalham fora de casa pelos mais diferentes motivos. 48

O transporte individual, já é mais utilizado por mulheres


mais velhas, já que, como podemos especular, já possuem alguma estabilidade financeira e possuem um veículo próprio. Juntamente com a porcentagem das crianças acompanhadas.

Já o meio de locomoção a pé é bastante utilizado por

adolescentes de 11 a 17 anos, justamente pela possibilidade de se locomoverem para suas escolas, por exemplo, desta forma.

Esse tipo de deslocamento será bastante enfatizado ao

longo dos capítulos, justamente por ser uma premissa importante para o projeto. A caminhabilidade do espaço garante uma forma de pertencimento das mulheres na cidade e que deve ser feito de forma segura. Portanto, ao olhar e analisar esta informação, é possível perceber a faixa de grupo que poderá utilizar o espaço projetado de forma mais assídua.

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Ainda

neste

raciocínio

de

meios

de

transporte

e

deslocamentos, nos mapas ao lado, é possível observar, dentro da Região Metropolitana de São Paulo, como são feitos os percursos, a cada bairro e cidade. E ainda, um comparativo entre os deslocamentos entre homens e mulheres.

Ao observá-los, vemos que a diversidade de tipos de

deslocamento entre mulheres é bastante clara, ao passo que os deslocamentos dos homens é majoritariamente feito pelo transporte individual. Com isso, é possível afirmar que em detrimento desta diversidade de usos de transportes das mulheres, elas estão sujeitas aos perigos das ruas de forma mais frequente. E, infelizmente, a infraestrutura da cidade não está garantindo a segurança destas mulheres, se compararmos estes deslocamentos com os crimes cometidos contra as mesmas.

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2.3 PERSPECTIVA DE GÊNERO NO PLANEJAMENTO URBANO

Neste capítulo, será visto a importância de uma visão mais

bem elaborada quanto ao planejamento urbano atual. Ao longo dos últimos anos, é possível perceber que as pessoas e as cidades vem mudando, crimes vem aumentando e pouca coisa vem sendo feita e discutida para que mudanças aconteçam. A cidade em si, é um local desigual quando colocamos a perspectiva de gênero como pauta desta discussão. Isto significa que, quem está fazendo os estudos, planejamento e análises do espaço urbano construído e a construir, o faz de forma geral, sem critérios e como se todas as pessoas tivessem a mesma experiência ao andar nas ruas, por exemplo.

As pessoas da cidade, possuem necessidades diferentes e

estão sujeitas a diferentes olhares perante a sociedade. Vejamos exemplos de homens e mulheres em uma situação específica: Ao caminhar de volta para o trabalho, em um percurso em que é preciso pegar integração entre metrô, trem, ônibus e percurso a pé, para acesso até o local em que se vive. A probabilidade de um homem sofrer algum tipo de assédio neste percurso é bastante baixa. Já quanto às mulheres, a situação é totalmente diferente. De acordo com o Datafolha, em 2017, 42% das entrevistadas declararam que já sofreram algum tipo de assédio no transporte público ou nas ruas. 53


Ao longo dos últimos 20 anos, as mulheres vêm tomando

novas posições de liderança, de forma ainda gradual e lenta, mas vem mudando, além de que o tecido urbano também têm mudado ao longo desses anos, com novos empreendimentos, condomínios murados, pessoas se “escondendo” nos bairros dormitórios que possuímos na contemporaneidade.

Esses pontos em conjunto com o modelo de cidade que

possuímos hoje, reforça o estereótipo de que o espaço urbano deve ser um local de apropriação masculina e que as mulheres fazem parte do ambiente privado. No atual momento em que vivemos, é inadmissível aceitar esta ideia, já que as mulheres cada dia mais tem sua independência, conquistam cargos de liderança e renome, abrem seus próprios negócios e garantem o seus espaços na cidade. Porém a cidade ainda não abriu as portas para as mulheres. [...] de acordo com o IBGE, mulheres compõem mais de 40% da força de trabalho no Brasil e possuem nível de escolaridade muitas vezes superior ao dos indivíduos do sexo masculino. Isso significa que elas se deslocam pela cidade tanto quanto os homens. No entanto, suas necessidades são muitas vezes desprezadas, a circulação acontece de maneira restrita e assim, a apropriação da cidade e a vivência do espaço público pelas mulheres são fragilizadas. (MORAIS E ÁVILA, 2016, p. 1).

A partir das notícias que circulam pelo país e dos dados

apresentados no capítulo anterior, com cada dia novos casos de mortes, estupros, tentativa de ataque contra mulheres, vemos que a situação está sendo recorrente e não há medidas o suficiente que cessem estes tipos de casos. 54


[...] Sinceramente, a gente sai de casa, não sabe se volta, porque o que tá acontecendo de assalto, violência. A gente vê na TV, antigamente não era assim. Tá muito difícil a vida em São Paulo, não tem emprego. (Depoimento de Isaura em KOWARICK, 2009, p. 252).

Com isso é de extrema importância reforçar este olhar

heterogêneo para a cidade e perceber a necessidade de cada grupo. As medidas, políticas, intervenções que devem ser adotadas, devem levar em conta todos os públicos que a cidade deve atender. E isto temos em relação somente a dois grandes grupos. Sem falar da falta de pertencimento que a cidade oferece à idosos, crianças e pessoas com deficiência, por exemplo. As cidades devem ser locais acolhedores, humanos, igualitários e sem nenhum tipo de distinção entre pessoas, totalmente diferente do modelo que temos hoje.

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A partir deste exposto, os locais públicos devem acolher as mulheres e contribuir para diminuir as vítimas de violência deste grupo específico. O planejamento urbano funcional e racional, traçado a muitos anos atrás, já não tem mais espaço diante da realidade que temos hoje: mulheres livres, que têm direitos e deveres, trabalham, estudam e sustentam suas casas.

Depoimento de Rita, em “Viver em Risco”, de Lúcio Kowarick:

“[...] Foi uma felicidade quando comecei a perceber que tinha direitos e não só deveres. A gente sabe que é gente quando se vê como cidadão”. (página 265).

Diante desta reflexão, proponho também uma análise

profunda entre dois sujeitos, o espaço e a mulher, em relação à fenomenologia dos espaços. Podemos classificar os espaços, diante de uma perspectiva da mulher que utiliza o espaço como “locais seguros” e “locais que dão medo”. Os locais considerados seguros são os conhecidos, que já passamos anteriormente, bem iluminados e movimentados. Já os “locais que dão medo”, são os que há o conhecimento daquela mulher que já ocorreu crimes, ela já passou por alguma experiência negativa ou soube de alguma outra mulher que não teve uma experiência agradável. Essa última fenomenologia se dá pelo “corpo empático”, nesta reflexão se dá como a experiência de outra mulher pode afetar a minha rota para determinado local.

Com isso, meu desafio como arquiteta, urbanista e

defensora dos direitos das mulheres, é de realizar projetos de cidades amigáveis e acolhedoras para todos e todas. Devemos compreender as rotinas dessas mulheres, perceber as distinções 56


de gênero nos locais e marcar todas as sutilezas que fazem a maior diferença na hora de andar nas ruas.

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3.1 REFERÊNCIAS

No momento em que vivemos, alguns projetos ainda não

são feitos sem uma visão plena de equidade. Esses projetos podem até ter questões envolvendo segurança para todos e todas, porém, nenhum é discutido inteiramente, com a questão que estamos colocando aqui neste trabalho.

Isso significa que os projetos ainda não possuem uma

discussão plena e igualitária perante aos usuários daquele espaço. Podemos acompanhar um processo de projeto e aprovação conforme o exemplo a seguir: uma equipe de arquitetos formados e seus estagiários estão elaborando um ótimo projeto, que abrange caminhabilidade, acessibilidade de todos e também incentivo para que as pessoas possam participar deste local. A partir disso tem toda a parte de aprovação em prefeituras ou governo, sendo esta entidade, historicamente, composta por líderes majoritariamente do sexo masculino. Sendo assim, podem haver alterações neste projeto, recusa dele ou aprovação imediata, depende de cada caso. Neste ponto, devemos pensar: Onde a população consegue ter voz nessa escolha, sendo eles e elas que irão usufruir daquele espaço? Se estamos produzindo cidades para homens e mulheres, porque o público que aprova e está ligado aos projetos, são, em sua maioria, homens?

Esta questão de discussões com a população, no atual

momento

em que estamos vivendo a pandemia do novo 61


coronavírus, a Covid-19, é bem complicada. Se é feita uma reunião online para tal discussão, uma grande parcela da população pode ser excluída pois não possuem internet ou algum aparelho compatível para acessar às reuniões. Se não há consulta da população, também é realizado um projeto equivocado, sem uma proposição, uma pesquisa bem feita para tal realização de um projeto da cidade, por exemplo.

Estas questões devem sim ser questionadas. Quantos

perigos vivemos em locais que nem imaginamos estar? Em bairros nobres e com bastante movimento? Na periferia sem ninguém na rua? Ser mulher nesta grande cidade que vivemos, é estar ciente de que, qualquer lugar tem seu risco. Qualquer lugar tem problemas de planejamento e é necessário mudanças envolvendo a perspectiva de gênero entre outras práticas inclusivas.

Os projetos urbanos são feitos a partir da necessidade da

cidade e não das pessoas. Um exemplo para isto seria o seguinte: se há a necessidade de um parque, ele é feito. Mas, questões importantes são deixadas de lado, como acessibilidade, se crianças estarão seguras naquele local, se possui fácil acesso, se há caminhabilidade no entorno imediato, se há transporte público etc. Estas questões são quase que obrigatórias na hora de se projetar e muitas vezes, como foi dito, as pessoas não possuem voz para dizer o que pensar ou até mesmo se a ideia atenderá suas necessidades.

Ainda sobre este ponto, os projetos levam sempre em conta

o transporte individual motorizado e, nós arquitetos e arquitetas estamos tentando mudar isso ao redor do mundo, apesar de 62


questões como perspectiva de gênero, devem ser incluídas nestas pautas. É possível ver que esse assunto em alguns projetos já é bem desenvolvido, como por exemplo o High Line Park em Nova York, praças e parques de Amsterdã e Londres. Aqui no Brasil ainda há um processo de desenvolvimento e muita burocracia envolvida. Apesar disso, é possível perceber que pouquíssimos projetos onde vemos a prioridade do pedestre nas ruas e escritórios dispostos a fazer a diferença neste ramo.

A partir de todas as questões apontadas anteriormente,

alguns projetos ganharam destaque pelo seu olhar de equidade da cidade e, principalmente, garantindo a segurança das mulheres nas ruas. Alguns deles possuem frentes diferentes, como locais seguros para discutir, aplicativos e projetos urbanos em si. 63


3.1.1 HerCity

Um primeiro projeto, bastante interessante, é o HerCity,

desenvolvido pelo UnHabitat. Nele há discussões e atividades e está presente no mundo todo, promovendo workshops, aulas, discussões e dinâmicas que entram nas questões de gênero e planejamento da cidade. Esse projeto é aberto para crianças, mulheres, homens, idosos, qualquer um que tenha interesse e deseja participar.

Na página inicial do site, é possível ver como o método de

trabalho é importante para um futuro mais igualitário e como essas discussões possuem grandes impactos na população.

Fonte: HerCity. Acesso em 26/05/2021

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Mais abaixo da página, é possível observar um mapa

interativo do mundo todo, onde conseguimos ver os projetos que já foram realizados e sobre qual assunto cada um deles discutiu. Abaixo há um projeto desenvolvido na Roma, Itália, sobre a construção de um fórum de palestras e aulas sobre espaços públicos e outros aspectos envolvendo este assunto.

A ideia deste projeto em específico é sobre a importância dos

espaços públicos para as pessoas e também para o desenvolvimento das cidades. Neste fórum, há a junção e discussão de ideias para os espaços, incluindo aspectos como: qualidade do espaço urbano, melhoria de espaços sem uso adequado, importância de arte no espaço público, como exposições, esculturas etc.

Além disso, este projeto estimula a produção de guias e ajuda

auxiliar na implementação de medidas necessárias para espaços de qualidade, desenvolvimento desses projetos e manutenção dos mesmos. Para assim, serem aplicados globalmente ou servir de inspiração para outros locais.

Fonte: HerCity. Acesso em 26/05/2021

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3.1.2 Safetipin

Outra referência para este projeto, que envolve discussões

assim como o HerCity, explicado anteriormente, é o Safetipin. Este projeto é um serviço desenvolvido a partir de aplicativos que mapeiam locais da cidade que são seguros para as mulheres. Dentro deste aplicativo há as rotas mais seguras para os trajetos serem feitos pelas mulheres, principalmente, seja ele feito a pé ou por transporte individual.

Fonte: Safetipin. Acesso em 26/05/2021

A coleta desses dados pode ser feita a partir de 3 aplicativos.

E esses dados, auxiliam na construção e reforma de espaços 66


públicos priorizando grupos com maior vulnerabilidade nas ruas, como as mulheres.

Inicialmente, o projeto foi implementado na Índia, seus

sócios e colaboradores são todos de lá. Hoje, ele possui maior abrangência na Índia, mas também em outros locais do mundo, caso haja interesse nesse projeto. O projeto funciona com uma parceria público-privada para a divulgação e acesso a esses dados. Com isso, as partes envolvidas conseguem analisar e utilizar os dados da melhor maneira possível.

3.1.3 Trabalho de Conclusão de Curso da Cândida Zigoni

Com a necessidade de projetos construídos, outros dois

trabalhos foram incluídos para auxiliar na elaboração desta proposta em uma área da periferia de São Paulo. Um deles é o Trabalho de Conclusão de Curso da arquiteta e urbanista Cândida Zigoni, da UFRJ, no ano de 2019.

Nesse trabalho, há todo um cuidado de associar as bases

teóricas com a prática de implementação no espaço urbano. Algumas diretrizes são baseadas em estudos para cidades mais igualitárias e foram usadas neste trabalho, como: alargar calçadas, visualizar e ampliar esquinas, subverter barreiras, atravessar com segurança, priorizar o caminhar, informar caminhos, conectar espaços, limitar vagas de carro, integrar recuos.

Como

podemos

observar,

estes

requisitos

também 67


estarão presentes neste trabalho. É válido mencionar que, nós como arquitetos e urbanistas, ao analisar estes aspectos, vemos que são bastante básicos. Estes geralmente são discutidos nos projetos urbanos devido a caminhabilidade de cada um deles. Então, podemos questionar, porque ainda não são executados de maneira eficiente?

Fonte: Issuu, Cândida ZIgoni. Acesso em 26/05/2021

O trabalho da Cândida é bastante completo e ilustrado, ela

explica muito bem a intenção de tais mudanças e como cada uma delas pode mudar o local em que vivemos.

Fonte: Issuu, Cândida ZIgoni. Acesso em 26/05/2021

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3.1.4 Tapete Albanês - Casanova + Hernandez Architects

Este projeto não menciona em nenhum momento a presença

de equidade de gênero no ato do projeto, mas se analisarmos a sua composição e como ele delimita o espaço, é possível perceber que ele compreende aspectos que trazem equilíbrio e igualdade a todos.

A praça é totalmente integrada na orla do Lago Shkodra,

localizado na Albânia e, pela análise e descrição do projeto, é como se estivéssemos em casa, com conforto e apreciação de uma janela voltada para o lago. A infraestrutura daquele local integra a rua e as calçadas com diferenciação do piso, para os pedestres caminharem e atravessarem com segurança, locais de permanência bem iluminados, playground aberto e livre para crianças.

Fonte: Archdaily. Acesso em 26/05/2021

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Fonte: Archdaily. Acesso em 26/05/2021

3.1.5 Praça Superilla de Sant Antoni - Leku Studio

O projeto está localizado em uma área consolidada de

Barcelona, Espanha, onde os centros estão bastante “fartos” e necessitados de requalificação para atender às novas necessidades que o público precisa.

A falta de áreas verdes em conjunto com a necessidade

de pequenos passos para superar as mudanças climáticas fazem parte das premissas desta praça e também de uma sociedade que necessita de locais mais humanos e que remetem à saúde.

Este projeto conta com uma diversidade boa de usuários

e como algo simples pode ser totalmente adaptado à rotina de quem o utiliza. Praça para as crianças, bancos para descanso e 70


também mesas para lanches. Esse projeto também não menciona exatamente uma elaboração baseada em perspectiva de gênero, mas sua concepção inclui os mais variados usuários.

Inclusive, sua organização serviu de grande inspiração na

organização do espaço do projeto apresentado e também em desenhos de piso.

Fonte: Archdaily. Acesso em 20/10/2021

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3.2 METODOLOGIA

A partir da análise das necessidades que as pessoas têm

ao usufruir da cidade, principalmente as mulheres, é possível fazer um apanhado de aspectos e diretrizes de projeto para que a segurança e pertencimento aos espaços públicos, seja devidamente alcançado para todos e todas.

A partir desse raciocínio inicial, foi estipulado algumas

questões, como por exemplo de que modo este projeto será desenvolvido. Com a análise das necessidades do espaço escolhido, no caso um trecho entre Vila dos Remédios e Vila Leopoldina, será discutido quais aspectos podem ser atribuídos em cada pedaço deste trecho e quais necessidades as pessoas possuem ao andar por este trecho. Com isso, as atividades comerciais tem relevância neste quesito, já que, com a sua atividade, é possível determinar se o fluxo daquele local é maior ou menor.

Além destes pontos, devemos analisar também até que

ponto a legislação daquele local nos permite fazer intervenções que sejam benéficas principalmente para os pedestres, já que são os mais vulneráveis nas ruas. E também, haverá a tentativa de determinar previamente como este local será utilizado pelas pessoas: espaços para caminhar, exercitar, ir ao trabalho, ir para algum tipo de lazer. Lembrando que, em tempos de pandemia do novo coronavírus, espaços de lazer abertos e próximos às residências das pessoas, passaram a ser alternativas para realizar 73


algum tipo de esporte ou prática física.

Com isso as etapas do projeto serão as seguintes:

1. Escolha do local baseado em questões como falta de uso,

além do comum; falta de caminhabilidade; perigos com carros em alta velocidade, falta de travessias seguras; calçadas sem receptividade; iluminação precária; entre outros.

2. A partir da escolha do local, analisar como ele é ocupado,

como as pessoas se comportam nele e também os seus fluxos em diferentes horários do dia.

3. Com a escolha feita, analisar a possibilidade de visita e

caminhada no local, para sentir como o próprio corpo se comporta na realização do percurso. Questões que podem ser pensadas ao longo do trajeto: O trajeto é fácil para pessoas com pouca mobilidade? Onde estão os pontos de iluminação? As pessoas respeitam as faixas de pedestre e velocidade? Há mais pessoas caminhando ou somente carros? Quais os tipos de comércio? Eles incentivam a movimentação?

4. A partir deste momento, temos informações bastante

importantes daquele local e com isso, já é possível fazer especulações de projeto para ele.

Para auxiliar nas questões de desenhos de ruas e quadras,

o livro “Guia Global de Desenho de Ruas” inclui pontos relevantes para serem seguidos no território escolhido. Pontos importantes como implementação de faixas de pedestres, refúgios de pedestres, iluminação, assentos, sinalização são incluídos ao longo da proposição Devemos lembrar que, a partir da projeção de um espaço com aspectos de segurança e caminhabilidade, é possível 74


trazer maior equidade para o espaço público, e, com isso, garantir o pertencimento das mulheres para com as ruas.

Lembrando que a preferência é a caminhabilidade de todas

as pessoas e a segurança e equidade no espaço. Quando entramos em contato com um local para solucionar um tipo de problema, outras questões podem estar sujeitas a vir à tona. Portanto é imprescindível deixar claro qual o propósito inicial deste projeto.

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4.1 AÇÕES EFÊMERAS

Durante as primeiras discussões deste trabalho, com

relação ao pertencimento da mulher na cidade, sua presença na rua e como as idas e vindas podem ser uma experiência nada agradável, uma ideia surgiu a partir de uma sugestão feita no grupo de orientações.

O grupo “Derivas Urbanas” estava preparando uma ação

para o dia 8 de março aqui em São Paulo, no centro da cidade. Esta ação foi feita em conjunto com as mulheres do México, o grupo “Mujeres Callejeras” e com isso, vimos uma ótima oportunidade de experimentar a cidade na forma de protesto e ação a favor dos direitos das mulheres.

O grupo é organizado no Instagram e possui temas diversos,

sempre provocativos para caminhar e experimentar a cidade. A ação feita anteriormente foi do desejo. Desejo de estar, caminhar, pertencer. E também foi feita a partir de colagem de lambes, uma forma simples e eficiente de chamar a atenção da população e provocá-las.

Antes de ir até as ruas, nos reunimos virtualmente para a

escolha de frases para confecção de lambes. Estas frases eram de empoderamento, direitos e força para as mulheres que estariam passando naqueles locais.

A ação foi feita no dia 7 de março, em um domingo na

Sé, conforme caminhávamos, passamos pelo Largo do Arouche, 79


República e seus arredores a busca de locais para colagem de lambe-lambe.

Lembrando que no dia, fomos em uma quantidade pequena

de pessoas entre homens e mulheres. Infelizmente com a pandemia e com os perigos que ainda existem para nós mulheres nas ruas, todo cuidado é pouco, por isso a diversidade de pessoas foi importante para a segurança de todos. Além da ação, fizemos diversas fotos e vídeos para registro e para fazer parte deste estudo.

Participei desta ação já com a visão de fazer a minha

própria futuramente, no meu local de estudo, para que assim eu provoque as mulheres que usam aquele espaço e auxilie em seu questionamento no pertencimento à cidade com segurança e respeito. Uma ação tão simples, que pode desencadear um tipo de reflexão totalmente diferente e provocativa em todas as pessoas.

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Foto por: Amanda Sampaio


Foto por: Kelve Coutinho

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Foto por: Kelve Coutinho


Foto por: Kelve Coutinho

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4.2 AÇÃO PROJETUAL

A partir dos estudos realizados anteriormente e todas as

discussões levantadas, há pontos importantes que devem ser levados em conta na elaboração de um projeto que tenha o foco da perspectiva de gênero.

Devemos sempre lembrar que há um conceito de paisagem

do medo envolvida no espaço, seja ele público ou privado. Muitas mulheres ainda são silenciadas e são dependentes, seja de parceiros ou dos pais, para o caso de mulheres mais novas e meninas. Isso tem um retrato bem impactante em nossa sociedade. Os interditos sobre a fala dessas mulheres estão profundamente marcados pelas assimetrias de gênero, o que fica evidente nos relatos acerca do trabalho e das atividades domésticas. Para a maioria delas o fato de contribuírem apenas parcialmente para a renda da família as coloca na posição de tuteladas, de não sujeitos, ou ainda de sujeitadas. (MACHADO e BORDIN, 2019, p.33).

Isso afeta diretamente como essas mulheres utilizam o

espaço. Seja ele para trabalhar, estudar, abastecer suas residências ou levar os filhos para a escola. Nós estamos a todo momento em perigo. Sem contar ainda o perigo dentro de casa.

Durante a pandemia do novo coronavírus, desde o início

de 2020 muitas pessoas encontraram dificuldades em manterse firme com relação a questões financeiras, emocionais e psicológicas. Desde então todo o cuidado teve de ser feito para evitar o contágio e proliferação do vírus que, no momento atual, 85


já fez mais de 611 mil vítimas no Brasil. O assunto é relevante pois inúmeras mulheres tiveram que enfrentar situações complicadas para manter a comida na mesa para elas e para a própria família. Mulheres perderam o emprego por conta de empresas que não conseguiram se sustentar. Mulheres prosseguiram enfrentando transporte público precário e lotado para conseguir um salário nada digno. Mulheres morreram para levar o básico de comida para dentro de casa. Fora o medo instalado dentro da própria casa, conforme mencionado no capítulo 2.

Dado este evento extraordinário no Brasil e no mundo,

medidas devem ser tomadas baseada nesta nossa nova realidade pós pandemia. Ensinamentos e possibilidades são trazidas à tona para nos fazer pensar as metodologias de projeto anteriores.

Pensando em diretrizes para um local adequado e seguro,

é preciso primeiramente participação com trabalho e liderança majoritariamente por mulheres. Esses aspectos são difíceis de acontecer pois a parte que aprova tais projetos, ainda há liderança masculina, em contrapartida, a tentativa é válida devido aos argumentos presentes para um espaço com equidade.

De acordo com um guia de sugestões para implementação

de parques para todos e todas, além dessa participação e liderança, de forma resumida, é preciso que o espaço forneça serviços, espaços e equipamentos de qualidade, justamente para que a população desfrute de espaços prazerosos de se conviver. Além disso, é indispensável haver mobilidade e segurança juntamente com uma linguagem e representação clara. 86

Ainda sobre recomendações, de acordo com Morte e Vida


das Grandes Cidades, de Jane Jacobs, a cidade deve ser diversa e deve haver um ambiente propício para o florescimento deste aspecto. Com locais diversos e com segurança, mulheres são encorajadas a sair, frequentar e pertencer plenamente as ruas. Com isso, os quatro pontos defendidos por Jacobs, são de grande importância neste projeto, são eles: presença de pessoas nos mais diferentes horários, quadras curtas; edifícios com idades e estados de conservação diferentes e densidade alta de pessoas, principalmente moradores.

Segundo Jane Jacobs: “Estas devem garantir a presença

de pessoas que saiam de casa em horários diferentes e estejam nos lugares por motivos diferentes, mas sejam capazes de utilizar boa parte da infraestrutura”. (JACOBS, 1961, posição 2583).

Com base nestes pontos, a grande questão enfrentada

neste trabalho seria: como fazer a mulher pertencer à cidade? Todo o conteúdo e embasamento pode estar direcionado nesta simples pergunta que, infelizmente, possui uma resposta ainda muito complexa e ainda difícil de ser aplicada em todos os lugares.

Se a grande questão é o pertencimento, devemos usar a

experiência dessas mulheres que usam o espaço urbano, como é feita sua locomoção todos os dias, quais caminhos são evitados, se há espaços de lazer e também se as mulheres se sentem seguras de estar nesses locais de lazer e até mesmo se as mulheres conseguem passear pelo próprio bairro sem sentir a sensação de segurança plena.

Em conjunto com esses argumentos e a metodologia criada

para o projeto, foi escolhida a Vila dos Remédios, local onde eu 87


moro há 9 anos. Este local faz parte do meu cotidiano e influenciou em minha escolha devido a proximidade e intimidade com ele.

Neste local, há uma diversidade boa de usos em uma

extremidade e muitas indústrias em outra, e se o espaço fosse projetado para o pedestre ou ciclista, seria possível fazer o caminho a pé.

Em contrapartida ao desejo de caminhabilidade, o local é

bem privilegiado quanto à locomoção do transporte individual. O bairro é de fácil acesso às marginais Pinheiros e Tietê, à Rodovia Anhanguera e à Rodovia Castello Branco, caminhos que podem facilitar a quem faz os percursos pela cidade de carro. Quanto ao transporte público, o local também é bem estruturado para o recebimento de diversas linhas de ônibus, indo para bairros próximos, estações, zona sul, Osasco e até mesmo Barueri.

Apesar do bairro possuir uma certa centralidade de

comércios, sendo facilmente acessados a pé, ainda há dificuldade para ir além dele. Além do chamado “lar expandido”, onde há essa facilidade para pequenas proximidades da residência das 88


mulheres. Essas mulheres trabalham fora nos mais variados locais e precisam pertencer a cidade de forma segura e igualitária

Para exemplificar e começarmos a discutir a ideia de um

projeto estruturador neste local, que potencialize o que possui de melhor e diminua os perigos para todos e todas, garantindo caminhabilidade, conforto, conexão e maior pertencimento ao bairro e, consequentemente, à cidade. O trecho selecionado foi pensado para ser totalmente reformado levando em consideração os pontos que garantam a segurança de conforto de todos e todas, porém, a fim de mostrar mais a fundo alguns detalhes deste percurso, foram selecionados pontos específicos de ampliação, além de mostrar a heterogeneidade do local que está sendo discutido. Lembrando que, este projeto é experimental e faz parte de uma utopia. As cidades e as pessoas infelizmente ainda não possuem estrutura o suficiente para garantir equidade nos espaços públicos.

O primeiro mapa, mostrado a seguir, é um grande mapa

informativo do percurso inteiro que foi analisado e reestruturado. Nele há algumas imagens em conjunto com informações ao longo do trajeto. No mapa também há uma “linha do tempo” na parte superior, indicando o tempo médio de caminhada neste percurso.

Os mapas seguintes mostram as percepções e sensações

deste lugar. Pontos com mais comércio, condomínios, casas, caos no trânsito, pontos de ônibus. Nele conseguimos analisar que, a cada ponto que observamos neste trajeto, há uma percepção diferente.

Logo após a análise destas percepções, é prudente que 89


seja analisado também os fluxos. No mapa seguinte, conseguimos ver claramente como os fluxos de pedestre, carros individuais e ônibus se comportam em cada ponto específico do trajeto.

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Confira agora os mapas.


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INTENSIDADE DE FLUXOS

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Com este levantamento inicial do percurso, foi possível

estabelecer alguns critérios para a qualificação deste espaço delimitado. Todo o percurso foi reformado em questões urbanas para garantir acessibilidade e conforto para todos e todas. Porém alguns outros elementos chave foram cruciais para a implantação deste experimento, como informações ao longo do percurso, garantia da segurança e iluminação dos trechos, além é claro, do dinamismo presente originalmente no espaço.

Desta forma temos a seguinte organização: imagem aérea

mostrando o trecho em específico (de 1 a 5), planta geral mostrando todos os trechos mostrando o “dia” e a nova iluminação “a noite”, em seguida as especificações de cada trecho e quais foram as mudanças presentes em cada um deles com seus detalhamentos específicos, como planta, corte e/ou esquemas, expondo da melhor forma as intervenções propostas. Por fim, uma colagem de cada ampliação em específico no nível do corpo dos observadores, garantindo a melhor espacialidade daquele ponto.

Confira agora os materiais e as especificações de cada

trecho.

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TRECHO 1

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TRECHO 1

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TRECHO 1

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AMPLIAÇÃO 1 Banca de jornal existente

Redução de uma faixa de veículos para ampliar a calçada

Área moderadora de tráfego que garante segurança a todos os pedestres

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Novo mobiliário que facilita a visibilidade da rua e das praças

Implantação de balisadores em pontos de tensão


O primeiro trecho é concentrado no eixo principal da Av.

dos Remédios, onde conforme mencionado anteriormente, está munido dos mais diversos comércios, serviços e residências. As praças principais foram totalmente reformadas e integradas com uma área moderadora de tráfego (“Traffic Calming”) em conjunto com a redução da velocidade dos automóveis. Esta medida garante um melhor dinamismo no local, prevenção de acidentes e garante a segurança dos pedestres. A calçada principal dos comércios foi ampliada e as vagas para carros reduzidas para somente preferenciais no local mais próximo da igreja. Conforme figura abaixo.

Além disso, a remodelação das praças em conjunto com

os novos pontos de iluminação, garante maior visibilidade para quem estiver neste local, já que antes haviam árvores de grande porte que dificultavam a passagem dos pedestres. Para ajudar nesta questão, há totens implantados em todo o percurso para auxiliar o pedestre com endereços e direções, já que a sinalização das ruas foi pensada em sua maioria para os automóveis.

Como complemento, a paginação de piso escolhida garante

a espacialidade e organização do local, assim percebemos onde é a área de tráfego moderado, calçadas e praças.

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Colagem da Ampliação 1. Autora: Amanda Sampaio

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AMPLIAÇÃO 2

Redução de uma faixa de veículos para ampliar a calçada

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Ainda no primeiro trecho, temos esta segunda ampliação,

mostrando inclusive o aumento da calçada na parte sul do mapa. Podemos perceber melhor este aumento a partir do esquema em corte a seguir.

A iluminação foi ampliada para os dois lados da rua e o

totem foi colocado logo ao lado do ponto de ônibus para auxiliar a localização dos pedestres e também dar maior conforto àqueles que aguardam, já que este ponto é pequeno e nos horários de pico, concentra uma quantidade razoável de pessoas.

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Colagem da Ampliação 2. Autora: Amanda Sampaio


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TRECHO 2

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TRECHO 2

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TRECHO 2

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AMPLIAÇÃO 3

Implantação de balisadores em pontos de tensão e lombadas elevadas para travessia

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Ampliação e reforma da calçada existente

Reforma da ciclovia existente, ampliando a iluminação e áreas verdes


No Trecho 2, temos o final da Av. dos Remédios e início

da Ponte dos Remédios, onde há uma ligação com uma ciclovia existente. O acesso para este modal é feito através de uma lombada elevada e assim é feito todo o trajeto através da ciclovia. Não foram feitas alterações de dimensão por conta do espaço limitado que há na ponte.

Sobre a iluminação o trecho ganhou diversos componentes

para tal, como iluminação das calçadas, passarela em conjunto da ponte e também iluminação balizadora para a ciclovia, garantindo segurança para todos os ciclistas. Veja no esquema a seguir.

As lombadas elevadas garantem a segurança do pedestre,

ao fazer com que o motorista reduza a velocidade. Hoje há um semáforo no local, mas sua presença não garante total cuidado dos motoristas para com os pedestres.

Na ampliação da calçada mais ao norte da planta, há o

totem com as informações e requalificação do espaço como uma praça seca para aqueles que passarem por este local.

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Colagem da Ampliação 3. Autora: Amanda Sampaio


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TRECHO 3

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TRECHO 3

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TRECHO 3

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AMPLIAÇÃO 4 Reforma da calçada e implantação de árvores

Reforma da ciclovia existente, ampliando a iluminação e áreas verdes

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Totem com informações para os pedestres

Detalhe: iluminação no piso para garantir visibilidade total para o ciclista


No Trecho 3, temos a quarta ampliação mostrando o final

da ciclovia e a chegada do outro lado da ponte de quem está com automóveis. Mais a frente deste trecho selecionado, temos da ciclovia e também as faixas de pedestres que foram ampliadas para a travessia segura (confira na planta do Trecho 3).

A calçada ao norte foi totalmente reformada e ampliada

para segurança das pessoas que moram nesse local e também alguns comerciantes que vendem pallets. Atualmente o local é bem escuro com o tamanho das árvores existentes, a proposta seria remodelar o espaço para que a segurança seja alcançada.

A iluminação foi também totalmente ampliada como dito na

ampliação anterior, com as iluminações da ciclovia, passarela e calçadas.

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Colagem da Ampliação 4. Autora: Amanda Sampaio


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TRECHO 4

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TRECHO 4

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TRECHO 4

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AMPLIAÇÃO 5 Reforma da calçada

Totem com informações para os pedestres

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No Trecho 4, temos a seguinte ampliação contemplando um

ponto de ônibus importante para o trecho, já que nele a maioria das pessoas descem em direção à estação Imperatriz Leopoldina. Devido a má iluminação, calçadas precárias e falta de informação, muitas pessoas preferem seguir até a próxima estação ou até outra mais distante para garantir a segurança.

Neste local foi feita a reforma das calçadas e aumento da

iluminação, priorizando o passeio do pedestre.

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Colagem da Ampliação 5. Autora: Amanda Sampaio


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AMPLIAÇÃO 6

Proposta de um edifíco cultural no local

Fechamento da rua central e criação de uma praça única

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Novo mobiliário para interação entre as pessoas


Ainda no Trecho 4, temos a sexta ampliação mostrando

uma proposta bastante divergente do que temos atualmente. Neste local havia uma rua central que possuía basicamente a mesma função da sua paralela, que no desenho, foi mantida. Com isso foi possível ter espaço para uma proposição de edifício de cunho cultural para este local. Ressalvo que, na colagem a seguir, foi utilizado o edifício Centro Cultural Univates idealizado pelo escritório brasileiro Tartan Arquitetura e Urbanismo de forma a ilustrar da melhor forma o espaço que estará disponível. A seguir, um esquema em corte do antes e depois do local.

Em conjunto com esta proposta, foram feitas duas praças

secas, seguindo o fluxo de travessia em direção da estação Imperatriz Leopoldina, assim esse espaço ganha mais um uso além do de passagem.

A iluminação e sinalização com os totens fazem parte do

local para a garantia da espacialidade segura para todos e todas.

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Colagem da Ampliação 6. Edifício modelo do Centro Cultural Univates, por Tartan Arquitetura e Urban Autora: Amanda Sampaio

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nismo

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TRECHO 5

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TRECHO 5

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TRECHO 5

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AMPLIAÇÃO 7

Novo mobiliário para interações e pausas em conjunto com o Food Truck da região

Fechamento da rua e criação de uma área moderadora de tráfego em conjunto com área exclusiva para pedestres

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Nova cobertura na saída da estação para maior conforto e segurança aos pedestres


Por fim, no trecho 5, temos a sétima ampliação, que consiste

no acesso imediato da estação Imperatriz Leopoldina pela Rua Major Paladino. Atualmente a rua é livre e há diversos caminhões e carros parados o dia todo no local. A proposta aqui é a pedestrianização na rua e fazer somente um acesso de emergência com uma área moderadora de tráfego para embarques em Uber ou caronas para pessoas que necessitam de acessibilidade. Com essa mudança, foi necessária a readequação do galpão que faz seu acesso por este local. O acesso no projeto é feito por uma entrada de estacionamento de veículos que a empressa possui. É possível ver com detalhes na planta do Trecho 5.

Com isso, o local pôde receber maior infraestrutura como

bancos, nova arborização e estruturação da área de um food truck existente no local.

Uma sugestão de cobertura também foi feita para maior

conforto de quem desembarca da estação.

No trecho anterior, como pode ser visto na planta do Trecho

5, houve um aumento nas calçadas para evitar que os carros estacionem e dê margem para perigos de quem frequenta o local. É possível ver a intervenção conforme esquema a seguir.

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Colagem da Ampliação 7. Autora: Amanda Sampaio

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Colagem da Praça da Estação Imperatriz Leopoldina. Autora: Amanda Sampaio

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Colagem da Praça da Estação Imperatriz Leopoldina. Autora: Amanda Sampaio

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4.3 AÇÃO FINAL

A partir de toda a reflexão feita no trabalho e aplicada ao

projeto desenvolvido, decidi finalizar toda a proposição com uma ação que motivasse as pessoas a pensarem sobre sua posição na cidade. Aquelas pessoas que irão passar de carro, a pé ou de ônibus e que, de certa forma, isso impacte de forma individual em cada uma delas. As frases são justamente para isso, implicar na reflexão individual para que assim ações sejam tomadas, “regras” sejam questionadas e procedimentos padrões sejam revistos.

Enquanto estava fazendo a ação em companhia com uma

prima, conversamos muito sobre o assunto, como nossas roupas ainda são um tabu, como arrumamos o cabelo ou nos maquiamos servem de margem para que sejamos julgadas. Haviam poucas pessoas nas ruas, carros também.

Quando nos aproximamos da estação, colei o último lambe

e dois homens que estavam conversando nos chamaram e um deles perguntou o seguinte: “Interessante essa frase aí que você colocou, mas o que fazemos depois? Eu concordo que tem que ser igualitário, mas aí como aplico?”. Conversamos brevemente sobre o assunto abordando justamente o que foi dito acima, em como a reflexão deve ser iniciada de forma individual para assim ser aplicada e questionada nos mais diversos ambientes em que participamos: política, trabalho, estudo, sociedade entre outros.

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Foto por: Amanda Sampaio

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Foto por: Amanda Sampaio

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Foto por: Amanda Sampaio

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Foto por: Amanda Sampaio

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Foto por: Amanda Sampaio

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Foto por: Amanda Sampaio

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com os estudos aqui apresentados, é possível entrar em

diversos debates, considerando a perspectiva da mulher periférica da cidade. Violência, amor, desemprego, vulnerabilidade. Cada uma com seus pontos a serem relevantes. Neste trabalho, a questão de mobilidade, acessos, segurança e equidade foram pontos chave para a elaboração de um projeto que consiga ter uma plena utilização e consiga amenizar problemas da cidade que envolvam gênero e acessibilidade da mulher periférica para o “mundo”.

Lembrando que na cidade, temos de enfrentar diversos

problemas todos os dias e um deles, que atualmente tem ganhado relevância, é justamente a desigualdade nos espaços perante ao gênero e localização na cidade.

Com isso, o trabalho serve de porta de entrada para que

futuramente, pautas como a que abordo neste momento, sejam questionadas e difundidas. Que os locais que temos consolidados hoje, sejam abordados por intervenções considerando todos os usuários E que essa voz que discute um projeto de tamanha importância hoje, sirva de exemplo para os futuros profissionais da área.

Inclusive, é de extrema importância que seja projetado e

explorado outros locais da cidade para aplicação dos conceitos e diretrizes para uma cidade mais igualitária para todos e todas. 175


Por fim, é importante lembrar que este trabalho foi

desenvolvido em tempos críticos de pandemia do Covid-19, o que dificultou e prejudicou muitas intenções e ideias que poderiam ser facilmente aplicadas, como entrevistas e dinâmicas.

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BIBLIOGRAFIA CALVINO, Italo. As cidades e o desejo. In: As cidades Invisíveis. São Paulo: Editora Globo Folha de São Paulo. 2003. DAMATTA., Roberto. A casa & a rua. Espaço, cidadania e morte no Brasil. Rio de Janeiro: Rocco Digital. 2011. E-book Kindle. FERREIRA, Karen; SILVA, Gleyton Robson da. Urbanismo Feminista. São Paulo: XVII Enanpur. 2017. FÓRUM REGIONAL DAS MULHERES DA ZONA NORTE; REDE MÁS; SAMPAPÉ. Mulheres Caminhantes! Auditoria de Segurança de Gênero e Caminhabilidade Terminal Santana. São Paulo: SampaPé. 2018. JACOBS, Jane. Morte e vida de Grandes Cidades. São Paulo: Martins Fontes. 2014. E-book Kindle. KOWARICK, Lúcio. Favelas: Olhares Internos e Externos. In: Viver em Risco: sobre a vulnerabilidade socioeconômica e civil. São Paulo: Editora 34. 2009. p 223-275. LANDEIRO, Cândida Zigoni de Oliveira. Mulheres e suas guerrilhas urbanas: processos de análise urbana segundo a perspectiva de 179


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SENNETT, Richard. O Manto da Escuridão. In: Carne e Pedra. Rio de Janeiro: Editora Record. 2003. p. 61-79. VIANNA, Fabíola. Mulheres na cidade: a invisibilidade e exploração da condição da mulher no espaço urbano. São Paulo: Universidade de São Paulo, Faculdade de Direito. 2014.

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Centro Universitário Senac Santo Amaro Arquitetura e Urbanismo

Amanda Sampaio de Oliveira

O Espaço da Mulher na Cidade

São Paulo 2021

Orientador: Prof. Dr. Ricardo Luis Silva Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário Senac - Santo Amaro como exigência para obtenção do grau de bacharel em Arquitetura e Urbanismo. 183


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