Parque de reciclagem Jardim Gramacho, um novo ciclo

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Parque de reciclagem

Jardim Gramacho,

um novo ciclo


“A city is a machine with innumerable parts made by the accumulation of human gestures, a colossal organism forever dying and being born, an ongoing conflict between memory and erasure, a center for capital and for attacks on capital, a rapture, a misery, a mystery, a conspiracy, a destination and point of origin, a labyrinth in which some are lost and some find what they’re looking for, an argument about how to live, and evidence that differences don’t always have to be resolved, though they may grace and grind against each other for centuries.” - Rebecca Solnit & Joshua Jelly-Schapiro


Parque de Reciclagem

Jardim Gramacho,

um novo ciclo

Trabalho Final de Graduação Universidade Estácio de Sá Curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo Rio de Janeiro, RJ - Dezembro/2016 Aluna: Amanda Maia Orientador: Luciano de Topin Ribeiro Professora: Helena Karpouzas



Agradecimentos Agradeço ao professor luciano pelo incentivo, paciência, confiança e constante dedicação a ensinar através de um gesto: o desenho. Agradeço a professora helena pela compreensão, apoio e pelo anseio que tenho hoje de aprender e ouvir sobre a arquitetura e o urbanismo. à querida amiga, Camila Barroso, pela motivação, apoio e carinho diários, nos últimos 5 anos. Aos amigos André Matsumura e Pedro Dutra pelo apoio, cuidado, paciência e sugestões, À querida amiga, Camila Jordan, suas dicas, cuidados e abraços. Ao amigo João Gravino pelo carinho, apoio e incentivo. À querida amiga Tayná Carneiro pelas generosas dicas e sugestões. Ao Alexandre e ao Humberto, que me ensinaram muito além da arquitetura e da engenharia. À mércia, minha mãe, a pessoa que mais me incentiva e faz acreditar. Aos moradores e amigos que Jardim Gramacho e o TETO me proporcionaram. A esses moradores e amigos, minha eterna gratidão por todo o convívio e aprendizado até aqui.


Dedicatรณria


Este trabalho é dedicado à Mércia, minha mãe, melhor amiga e pessoa mais generosa que já conheci. Ao Lucas, meu irmão, que não sabe, mas me ensina sobre amor e cuidado desde que nasceu. À Márcia, minha dinda, que me inspira, ensina e tanto apoia. À Adélia, minha avó, que sempre pensou à frente do seu tempo. Ao Juca, meu avô, dono dos beijos e abraços mais carinhosos que recebo. Ao Márcio, meu dindo, a primeira pessoa a me incentivar a valorizar a criatividade. Ao Pedro, meu pai, que me mostra a cada dia a importância da família. À Iaia e Taminho, que me ensinaram e ainda ensinam sobre amor e sobre valores. À Patrícia, ao Loirinho, ao Tom e a todos os ex-catadores e moradores de Jardim Gramacho.



Resumo

Abstract

O presente trabalho discorre sobre o bairro de Jardim Gramacho, localizado em Duque de caxias, município do Estado do Rio de Janeiro.

This work puts Jardim Gramacho neighborhood, located in Duque de Caxias municipality, in the greater Rio de Janeiro at the center of the discussion.

Tendo como objeto de análise a sua relação com o lixo e o crescimento desordenado de habitações, procurou-se estudar como modificar positivamente o sub-bairro, por meio de intervenções projetuais que, em diversos níveis, fossem capazes de valorizar as características e os potenciais de Jardim Gramacho. Para tal, após um estudo aprofundado do local e da gestão de resíduos, são apresentadas propostas, de diferentes escalas, que têm o objetivo de materializar as soluções discutidas ao longo do trabalho e minimizar as problemáticas presentes em Jardim Gramacho.

The object of study in this project is the neighborhood's inhabitants relation with the garbage, as well as the disorganized housing growth. Moreover, the ways in which this space could be positively modified is analysed, through projects interventions, which, in many levels, would be able to enhance the specificities and potentials of Jardim Gramacho. In order to bring up these proposals, a vast research was made, regarding especially the neighborhood and the local waste management. These proposals intend to materialize the solutions discussed through the current work, which has, as its goal, the minimization of the problems experienced in Jardim Gramacho.



Índice Introdução

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1. Duque de Caxias

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1.1. História e economia 1.2. Mobilidade Urbana 1.3. Aspectos ambientais

2. Jardim Gramacho 2.1. 2.2. 2.3. 2.4. 2.5. 2.6.

História e cronologia O lixão Subdivisões e suas características A População e a dinâmica da comunidade Crescimento populacional Pontos de referência e fluxos

21 23 29 33 35 37 39

3. A problemática do lixo no mundo e no Brasil

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4. Referências

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5. Masterplan e Diretrizes

55 57 59 61

5.1. Primeira etapa 5.2. Segunda etapa 5.3. Terceira etapa

6. Parque de reciclagem Jardim Gramacho, Um novo ciclo 6.1. Memória de cálculo e programa 6.2. Fluxo do lixo 6.3. Partido

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7. Considerações finais

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8. Bibliografia | Créditos de imagens

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Introdução Há décadas, o bairro de Jardim Gramacho é negligenciado, assim como outras parcelas das cidades, através da problemática do lixo. um assunto que gera segregação social e urbana. Após 34 anos de expansão urbana desordenada e permeada pela dinâmica do lixo, como incentivar a reinserção dessa parcela da cidade, através da arquitetura e do urbanismo?

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1. Duque de Caxias 1.1. História e economia

Duque de Caxias é um município do estado do Rio de Janeiro, que faz divisa com a capital do estado, o município do Rio de Janeiro. É o segundo município mais rico do estado, ficando atrás apenas da capital. Possui 467,620 km² ¹ e população estimada de 886.917 habitantes², sendo o terceiro município mais populoso do estado. A primeira atividade econômica da região de Duque de Caxias e arredores, no século XVI, foi o cultivo de cana de açúcar, predominantemente. Milho, feijão e arroz também eram cultivados. A região onde hoje se localiza o município era chamada de Meriti e teve grande importância estratégica, por ser cercada por rios e canais e integrada à Baía de Guanabara. Nos séculos XVII e XVIII, através de seus rios e canais eram transportadas as valiosas cargas vindas de Minas Gerais. Entretanto, a devastação ambiental gerou a obstrução destes rios e consequentemente as suas cheias, que favoreceram para a formação de pântanos. Este fenômeno fez com que as terras, antes férteis, fossem substituídas por vegetação própria de mangues. Destas águas paradas, surgiram mosquitos e, assim, epidemias. Como consequência disto, no século XIX, a região começou a ser abandonada pela população e permaneceu assim por décadas.

1. Fonte: IBGE 2. Fonte: IBGE, 2106

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Ainda no século XIX, com a implantação do transporte ferroviário, a estrada de Ferro D. Pedro II, que ligou o Rio de Janeiro ao atual município de Queimados, os rios e portos foram perdendo mais importância e deixando, progressivamente, de serem utilizados e a região entrou em decadência.

Com a má situação econômica, saúde e saneamento básico continuaram a ser negligenciados. Apenas em 1924 foi instalada a primeira rede elétrica no município e, na era Vargas, a região da Baixada Fluminense começou a avançar, quando muitas empresas compraram terrenos na região devido à proximidade com o município do Rio de Janeiro. O grande crescimento pelo qual a região passava, levou a criação do Distrito de Caxias, em 1931 e, em 1943, foi elevado à categoria de município, recebendo o nome de Duque de Caxias. Com a emancipação, o município recebeu grande incentivo em sua economia. Várias pessoas oriundas, principalmente, da Região Nordeste do Brasil, que chegavam ao Rio de Janeiro em busca de trabalho, estabeleciam residência em Duque de Caxias. Até 1945, mais de 6.000km de rios foram limpos, deixando de serem criadouros de mosquito, diminuindo o número de doenças.

Hoje, Duque de Caxias possui o segundo maior PIB do estado e sua economia é, predominantemente, industrial, sendo o maior parque industrial do estado. Os principais segmentos industriais são: químico, petroquímico, metalúrgico, gás, plástico, mobiliário e têxtil. Localiza-se, no município, uma das maiores refinarias da Petrobras e a segunda maior do país, a REDUC, um polo gás-químico e uma usina termelétrica, dentre várias importantes empresas. No centro da cidade, há intenso comércio popular. A maioria concentrado nas ruas José de Alvarenga e Nilo Peçanha.

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Miguel Pereira Região Metropolitana do Estado do RJ Baixada Fluminense Duque de Caxias Paracambi Japeri Nova Iguaçu Queimados

Belford Roxo

Seropédica

S. J.de Meriti

Mesquita Nilópolis Itaguaí

Mangaratiba

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Rio de Janeiro

P


1.2 Mobilidade Urbana

Petrópolis

O município tem proximidade com algumas das principais rodovias do estado e do país: RJ-071 (Linha Vermelha), BR-116 (Rodovia Presidente Dutra), BR-040 e, RJ-101, RJ-085, RJ-105, RJ-107 e o Arco Metropolitano, dentre outras RJs e BRs, além da proximidade com o Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim, no Rio de Janeiro. Caracterizando-se, assim, até hoje, como travessia entre estados e centros consumidores, como: São Paulo, Minas Gerais e a Região Sul do Brasil.

Guapimirim Magé

Baía de Guanabára

Duque de Caxias é conhecido pelos longos engarrafamentos, por ser um município de travessias, tendo intenso fluxo de veículos de grande porte e vias com baixa infra-estrutura.

Itaboraí Tanguá

O sistema de transporte público também é deficiente, com ônibus precários e linhas insuficientes, além da linha ferroviária de apenas 31,34 km de extensão.

São Gonçalo

Niterói

RJ-101 RJ-071 BR 040 Ferrovia Arco Metropolitano RJ-085 RJ-105 RJ-107 BR-116

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1.3 Aspectos ambientais Duque de Caxias possui clima variado, por causa da sua extensão. Dos seus quatro distritos, Campos Elíseos e Duque de Caxias, que são ao sul, possuem clima mais quente, enquanto Xerém e Imbariê, ao norte, possuem clima mais ameno, em virtude da extensa área verde e geografia da região. O município e seus distritos são delimitados por alguns rios. O Rio Meriti separa Duque de Caxias da cidade do Rio de Janeiro, enquanto o rio Iguaçu delimita Duque de Caxias do município de Nova Iguaçu. Já o rio Sarapuí delimita o distrito de Duque de Caxias do distrito de Campos Elíseos e o rio Saracuruna delimita o distrito de Imbariê do distrito de Xerém. O potencial pluvial do município é alto, porém, hoje, seus rios e canais são altamente poluídos, chegando a ser obstruídos em várias áreas, o que provoca frequentes alagamentos no município. Ao norte as altitudes são mais elevadas e as matas preservadas, o que já não acontece em Campos Elíseos e Duque de Caxias, distritos demograficamente mais densos, onde se localiza o polo industrial e, com isso, maiores índices de poluição e desmatamento.

Foto: INEA RJ

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Xerém Campo Encosta degradada

Imbariê

Vegetação em regeneração Mata de encosta Rocha Altitude

Mangue Mangue degradado

Até 25m

Várzea

Até 50m

Área agrícola

Até 200m

Rios e lagos principais

Até 500m

Área inundável

Até 800m

Baía de Guanabára

Área urbana de baixa densidade Área urbana de média dendisade

Até 1.200m

Campos Elíseos

Duque de Caxias

Baía de Guanabára

Lagos, lagoas e cursos d’água

Grandes construções

Rio de Janeiro

Rio de Janeiro

20


21


2


1. Jardim Gramacho 2.1. História e Cronologia Jardim Gramacho é um bairro do distrito de Duque de Caxias, teve início na década de 1970 e se desenvolveu em torno da dinâmica do lixo, por consequência do lixão ali instalado. Hoje, o bairro possui ainda grande demanda de infra-estrutura urbana.

1973

Foi assinado o contrato entre o INCRA (Instituto de Colonização e Reforma Agrária), a FUNDREM (Fundação para o desenvolvimento da Região Metropolitana e a COMLURB (Companhia de Limpeza Urbana do RJ), que ganhou o terreno, transformando-o em depósito de lixo. Este contrato desrespeitou o Código Florestal Brasileiro, que preconiza, em um dos seus artigos, que os manguezais são áreas de preservação permanente.

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1978

O lixão de Jardim Gramacho teve início. O bairro começou a ser estabelecido, com a COHAB (Companhia Estadual de Habitação) - hoje CEHAB e com barracos (casas de madeira), onde catadores moravam apenas durante a semana, para trabalharem no lixão e voltar no fim de semana para suas moradias fixas.

1996

O lixão, conhecido como "rampa" pelos moradores (devido ao m é t o d o d e aterramento), passou a ser um aterro controlado.


Início do talão verde (taxa para descarga no aterro), provocando o surgimento de lixões clandestinos; O terreno do aterro atingiu o que acreditava ser sua capacidade máxima; Resíduos chegaram a alcançar 80 metros de altura;

2006

60% da população sobrevivia da reciclagem; Mesmo acreditando que houvesse atingido sua capacidade máxima, o aterro continuou aberto e o acúmulo de lixo provocou três acidentes geotécnicos, em 2006, 2007 e 2008; Em 2008, uma vistoria da FEEMA (Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente) encontrou rachaduras no solo que indicaram a possibilidade de vazamento de milhares de litros de chorume na Baía de Guanabara e nos rios arredores; Em 2009, é inaugurada a usina de biogás, que capta e queima o gás produzido pela decomposição da matéria orgânica.

Em janeiro de 2015, foi inaugurada a ATT (Área de Transbordo e Triagem), para resíduos da construção civil, de Jardim Gramacho; Hoje o bairro possui cerca de 35.000 habitantes e 40% vivendo em situação de extrema pobreza;

2012

2015

2016

O aterro controlado foi desativado. Este recebia 80% dos resíduos produzidos no Rio de Janeiro (equivalente a cerca de 7 mil toneladas diárias), mais 1,5 mil toneladas de resíduos produzidos diariamente por Caxias, Nilópolis, Meriti e Queimados. 3.000 catadores trabalhavam no aterro, apenas a metade dos trabalhadores foi indenizada. O Estado se limitou ao pagamento de R$13.800 como indenização. 24


Jardim Gramacho

Centro de Duque de Caxias

Rio de Janeiro

25


Jardim Gramacho fica a 10 km do centro de Duque de Caxias e a 26 km do centro da cidade do Rio de Janeiro.

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Localização de Jardim Gramacho, bairro do 1º distrito do município de Duque de Caxias.

Centro

Limite do município de Duque de Caxias

Rodovia Washington Luíz BR-040

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Jardim Gramacho

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2.2. O lixão O antigo lixão já chegou a ser o maior da América Latina em área e o maior do mundo em volume de lixo. O terreno possui 770.000m² e mesmo tendo sido desativado em 2012, influencia a cultura e os hábitos da população que ainda habita Jardim Gramacho. Diferença entre lixão, aterro controlado e aterro sanitário:

Poluição

Lixão

CHORUME

Lençol freático

é uma área de disposição final de resíduos sólidos, a céu aberto, sem nenhuma preparação anterior do solo nem sistema de tratamento de efluentes líquidos (chorume). o solo e o lençol freático são contaminados por e animais convivem com o lixo lixo. As triagens e coletas nos lixões são feitas por catadores, geralmente, sem qualquer vínculo com o governo.

Captação e queima de gás

Aterro controlado Cobertura diária

Cobertura

Manta CHORUME

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Lençol freático

Em geral, é caracterizado como uma segunda etapa de lixão, recebendo uma cobertura de argila e grama (selada com manta ou outro material impermeável para proteger a pilha de lixo já existente da água da chuva) e então os impactos ambientais são amenizados pela cobertura diária de pilhas de lixo com terra, saibro ou outros tipos de forração. Nele, há também recirculação do chorume, que É coletado e levado para cima da pilha de lixo, tornando possível o tratamento de efluentes e reutilização dos gases.


Captação e queima de gás

Tratamento do chorume

Cobertura diária Manta Não há contaminação do Lençol freático

Aterro Sanitário recebe preparo prévio do solo com nivelamento de terra e selagem com argila e mantas. o solo e o lençol freático não são contaminados pelo chorume e, assim como no aterro controlado, há a cobertura diária do lixo e a coleta do chorume através de drenos que o encaminha para um poço de acumulação, de onde, nos próximos seis primeiros meses, é recirculado sobre a massa de lixo aterrada. Após esses seis meses, quando a vazão e os parâmetros já são adequados para tratamento, o chorume é encaminhado para uma estação de tratamento de efluentes e é feita a reutilização de gases.

Os aterros sanitários são planejados e construídos, na maioria das vezes, em locais distantes dos centros urbanos, em função do mau cheiro e das consequências ambientais e sociais - mesmo com todas as medidas, ainda há a possibilidade de contaminação do solo e do lençol freático.

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Como uma medida para a problemática do lixo, o aterro controlado, hoje desativado, capta o chorume e o trata para ser reutilizado através de uma usina de biogás, porém as consequências de 34 anos de despejo de resíduos, ainda são evidentes e serão durante muitos anos. Como em outros lixões, aterros controlados e aterros sanitários, o ciclo natural de um área antes utilizada para essa finalidade, é que ao longo de décadas, seu bioma seja regenerado. O terreno do aterro de Jardim Gramacho, em específico, fica localizado em uma área de mangue, onde o solo é de argila orgânica e a beira de uma baía, o que retarda ainda mais tal regeneração. Terreno do antigo lixão 770.000m² ATT de RCD

Rodovia Washington Luíz BR-040 Av. Monte Castelo Antigo Percurso dos caminhões de lixo

Foto: CEPRO RJ, 2011

Além da usina de biogás, há alguns galpões de reciclagem pelo bairro e uma ATT (Área de Transbordo e Triagem) de RCD (Resíduo de Construção e Demolição), porém ambas medidas ainda não são suficientes. Apesar do aterro ter sido desativado, ainda há diversos lixões clandestinos no bairro, negligenciados pelo Governo. 31


Usina de biogรกs

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2.3. Subdivisões e suas características Jardim Gramacho é subdividido, de maneira informal, em algumas áreas: COHAB, Morro do Cruzeiro, Morro da Placa, Retão, Esqueleto, Parque Planetário, Chatuba, Beco da Bosta e Remanso, sendo as três primeiras mais consolidadas e urbanizadas, enquanto as demais são áreas ocupadas mais recentemente e com muito pouca, ou nenhuma, infraestrutura urbana. Das áreas menos urbanizadas, o região do Parque Planetário é a que possui mais infraestrutura e segue alguma intenção de urbanização. Seguindo, temos a região do Remanso, caracterizada por galpões abandonados e construções de grande porte, onde já houve um grande polo de reciclagem, pela proximidade com o acesso ao lixão/aterro. A região do Retão é caracterizada por uma ocupação informal e desordenada, com muitas casas de madeira (barracos), o mesmo acontece nas regiões do esqueleto, quatro rodas, beco da bosta e chatuba. No Esqueleto há bastante uso misto, pela proximidade com a Rua Tocantins e é a região que mais se expandiu nos últimos anos, além de ser próxima da área de ATT, área de constante expansão. O Quatro Rodas possui uma centralidade importante, um parquinho construído pela prefeitura, após o fechamento do aterro, e é a área que mais recebe atenção de ONGs e projetos comunitários. O Beco da Bosta se encontra em uma cota mais baixa, o que leva a região a ser alagadiça. É um importante eixo de ligação entre as regiões do Quatro Rodas, Parque Planetário e Remanso. Através das regiões do Quatro Rodas e do Remanso, chegamos na Chatuba, uma pequena região, ligada à rua de mesmo nome, pouco adensada, mas que já foi de bastante Fluxo quando o lixão/aterro existia, pois faz a conexão entre o Quatro Rodas, o Remanso e o acesso ao terreno do lixão/aterro.

Áreas mais consolidadas Retão Esqueleto Parque Planetário Quatro Rodas Beco da Bosta Remanso Chatuba

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2.4. A População e a dinâmica da comunidade

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Residencial e misto Religioso GalpĂľes Lazer Educacional Industrial Comercial Terrenos vazios Lixo

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2006

2.5. Crescimento das margens Ao longo dos anos, as regiões do Esqueleto e da Chatuba vem sofrendo frequentes expansões e alterações, devido ao fechamento do aterro a da criação da Área de transbordo e Triagem (ATT) de Resíduos da Construção Civil e Demolição (RCD). Além do crescimento em uma APA, ali se encontram cursos d’água e por esse motivo, muitos resíduos que chegam para a ATT são reaproveitados pelos moradores para aterrar e expandir ainda mais as margens do bairro. Em 10 anos houve um crescimento equivalente a 12 hectares (120.000 m²), sendo 5 hectares de RDC.

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2011

2016 Crescimento de habitações Crescimento de Resíduos

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2.6. Pontos de referência e fluxos Mesmo com o fechamento do Aterro, a Avenida Monte Castelo, uma via arterial, continua tendo grande fluxo, por ser o principal acesso do bairro. A Rua Tocantins é o principal acesso para as regiões do Esqueleto, Quatro Rodas e a ATT e a rua Caramuru é um importante fluxo de conexão e referência por possuir canteiro central.

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Igreja Nazareno

Parquinho

Rua Tocantins

Rua Caramuru

Ponto final de 3 linhas de Ă´nibus

Centralidade entre regiĂľes Escola Municipal Mauro de Castro

Avenida Monte Castelo

26 40


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3. A problemática do lixo no mundo e no Brasil

O lixo vem deixando de ser um problema mundial em países desenvolvidos, como a Suécia, o Japão e a Alemanha. Porém, em países subdesenvolvidos, ainda é um problema não resolvido e temerário, com a existência de lixões, aterros controlado e aterros sanitários. “As pessoas que trabalham em lixões/aterros sofrem de doenças crônicas e envelhecimento precoce”, explica Ricardo Schusterman, especialista em desenvolvimento social do Banco Mundial. Na Suécia a atenção do governo para a sustentabilidade faz com que o país recicle 1,5 bilhão de latas e garrafas por ano, tendo cerca de 9,6 milhões de habitantes, segundo o último censo. Cada cidadão sueco produz, em média, 461 kg de lixo por ano, contra uma média de 525 kg no resto da Europa. No país, toda zona residencial tem uma estação de reciclagem a no máximo 300 metros de distância, a população tem a separação do lixo como hábito e metade do lixo domiciliar é reutilizado para produzir bioenergia, que volta para a cidade. O governo, inclusive, importa lixo para esse fim. Além disso, investe em políticas de incentivo ao consumo consciente: através da compra de produtos de melhor qualidade e que fujam da lógica da obsolescência programada , além de incentivar a população a sempre tentar consertar seus produtos. Em Estocolmo, capital do país, 100% dos domicílios contam com coleta seletiva feita pelo sistema Envac, este sistema dispõe de lixeiras conectadas a uma rede de tubos que conduzem os resíduos a uma área de coleta. Um sensor instalado percebe quando a lixeira está cheia. Por vácuo, o lixo é sugado e transportado para o local de acumulação de resíduos, onde é realizada a coleta seletiva e reciclagem. 43


Sacos de lixo podem ser depositados, a qualquer momento, nos coletores. Por sucção, os sacos viajam a uma velocidade de 70 km/h pela rede subterrânea de tubos e ao chegarem à central, são separados e compactados em contêineres, de onde seguem para reciclagem, compostagem, incineração, etc e o ar que circula no sistema de tubos passa por filtros antes de retornar à superfície. Existem mais de 700 destes sistemas instalados em diversos países, atendendo diferentes usos: residencial, comercial, hospitalar, industrial. São muitos os benefícios: os diferentes tipos de resíduos não são misturados durante a coleta, o número de caminhões de lixo em circulação é menor, a poluição sonora e atmosférica é reduzida e há uma economia de 30% a 40% dos gastos municipais com o serviço de coleta.

Na Alemanha, líder mundial de políticas de resíduos sólidos, o país possui os maiores índices de reciclagem e reaproveitamento do mundo - o país já não possui mais nenhum aterro sanitário. Em 2011, de acordo com o Eurostat, órgão de estatísticas da União Europeia, 63% de todos os resíduos urbanos foram reciclados na Alemanha: 46% por reciclagem, 17% por compostagem e 8 em cada 10 quilos de lixo não reaproveitado são incinerados, gerando energia. A reciclagem é uma forte cultura da população e a cadeia produtiva de resíduos emprega mais de 250 mil pessoas. Estima-se que 13% dos produtos comprados pela indústria alemã sejam feitos a partir de matérias-primas recicladas. Várias universidades oferecem formação em gestão de resíduos, além de cursos técnicos profissionalizantes. 44


No Japão, desde a década de 1960, junto com o crescimento econômico, o governo tem projetos para o desafio de encontrar um destino para os resíduos, já que a área territorial do país é pequena, comparada a densidade da população (337 hab/km²). Em 1970, entrou em vigor a Lei de Gestão de Resíduos, lembrando que lei correspondente só entrou em vigor no Brasil no ano de 2010. Desde então o país prega o conceito de reduzir, reciclar e reaproveitar. Outra lei mais recente, de 1995, incentiva a coleta seletiva e a reciclagem, o que fez o país investir em alta tecnologia, também, para o reaproveitamento de materiais. As garrafas PET são produzidas 100% a partir de resina reciclada, reduzindo em 90% o uso de novos plásticos e em 60% as emissões de dióxido de carbono. A mesma resina também é usada em materiais de construção civil, móveis, equipamentos e utensílios. Desde 1997, as emissões de dioxinas e outros poluidores de usinas de incineração foram reduzidas em 98%. São mais de 1,2 mil usinas em atividade, a maioria adaptada ao conceito de alto controle de poluição e alta eficiência energética. Uma dessas usinas, por exemplo, fica no populoso distrito de Shibuya, em Tóquio, e processa 200 toneladas diárias de lixo, gerando energia usada na própria cidade. Nessas usinas, a triagem é feita de maneira criteriosa, os produtos e peças são desmontados e suas partes separadas, manualmente, entre plástico, metal e outros.

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Na América Latina ainda há muitos lixões e aterros e muitos catadores trabalhando nesses lugares, em condições desumanas. Por isso, muitos países, como o Peru, a Argentina e o México possuem iniciativas muito interessantes, de parcerias público-privadas voltadas para o assunto. No Brasil, mesmo com a Lei nº 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), diariamente, 125,281 mil toneladas de resíduos domiciliares são descartados e 52% dos municípios brasileiros ainda dispõem seus resíduos em lixões e aterros controlado se o país ainda possui 2.906 lixões, distribuídos em 2.810 municípios e 1.310 unidades de aterros controlados, distribuídos em 1.254 municípios. Curiosidades: - O Brasil recicla cerca de 97% das latinhas de alumínio que são descartadas, 55% das garrafas PET. - A cada 50 kg de papel usado transformado em papel novo, se evita que uma árvore seja cortada - Com um quilo de vidro quebrado, se faz exatamente um quilo de vidro novo. E o vidro pode ser reciclado infinitas vezes. “Precisamos promover o emprego alternativo – seja dentro ou fora do setor de resíduos sólidos – junto à programas de apoio social em geral”, propõe John Morton, especialista em meio ambiente do Banco Mundial.

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4


4. Referências

Amager Bakke Usina de reciclagem e incineração + pista de isquí

Projeto BIG | Bjarke Ingels Group Localização Copenhague, Dinamarca Ano do projeto 2013

Referência Programa

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Impianto di compostaggio Depósito de compostagem

Projeto Studio Macci & Partners

Localização Toscana, Itália Ano do projeto 2012

Referência Áreas, morfologia e relação com o entorno

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Freshkills Park Parque público no terreno antigo aterro sanitário

Localização Nova Iorque, Estados Unidos

Referência Recuperação de área degradada

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de

um


Nanyang Technological University Universidade mídia

de

Artes,

design

e

Projeto CPG Consultants

Localização Singapura, Singapura Ano do projeto 2006

Referência Morfologia

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Sitiê Parque e área de convívio

Projeto Moradores + Estudantes de Harvard + Asfalto Localização Favela do Vidigal, Rio de Janeiro Ano 2013

Referência Regeneração de área degradada iniciativa comunitária

+

Comunidades no Rio de Janeiro e modelos sustentáveis Projetos e iniciativas comunitárias em menor escala:

Santa Margarida, Zona Oeste do Rio de Janeiro Coleta de lixo comunitária

Vale Encantado, Alto da Boa Vista Hortas comunitárias

Complexo do Alemão e Serra da Misericórdia, Zona Norte do Rio de Janeiro Projeto Verdejar, iniciativa de preservação e turismo

Babilônia, Zona Sul do Rio de Janeiro Favela Orgânica, horta comunitária e restaurante orgânico

Complexo da Penha, Zona Norte do Rio de Janeiro Mutirões de limpeza a reciclagem comunitária Rocinha, Zona Sul do Rio de Janeiro Pragradar, iniciativa de reciclagem comunitária 53

Muzema, Zona Oeste do Rio de Janeiro Projetos de arquitetura orgânica


Delft university library Biblioteca Projeto Mecanoo Localização Delft, Holanda Ano 1995

Referência Volumetria

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5. Masterplan e Diretrizes 5.1. Primeira etapa

- Parque de reciclagem + RCD - Cinturão de amortecimento | Contenção do crescimento das margens - Primeiras realocações | Fortalecimento do eixo

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5.2. Segunda etapa

- Cinturão de amortecimento - Início da regeneração do mangue | Plantio - Segunda etapa realocações | Fortalecimento do segundo eixo

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5.3. Terceira etapa

- ConsciĂŞncia ambiental | Parque de reciclagem com novos fluxos - CinturĂŁo de amortecimento | Colheita

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6. Parque de reciclagem Jardim Gramacho, Um novo ciclo 6.1. Memória de cálculo e programa

Cálculos para dimensionamento de compartimentos Resíduos domiciliares: 35.000 habitantes x 0,8 kg (média de lixo gerado por pessoa, por dia - considerando o baixo poder de consumo da região) = 28.000 kg de resíduos gerados, por dia, no bairro

resíduos de quarta); Sexta: 28.000 kg coletados (referentes à uma parcela dos resíduos de quarta, resíduos de quinta e uma parcela dos resíduos de sexta).

Destes 28.000 kg de resíduos, há a seguinte proporção: 50% orgânicos: 14.000 kg 30% recicláveis: 8.400 kg 20% rejeitos: 5.600 kg

Região 2 - 17.500 habitantes (estimativa) Terça: 42.000 kg coletados (referentes à uma parcela resíduos de sábado, resíduos de domingo, segunda e parcela dos resíduos de terça); Quinta: 28.000 kg coletados (referentes à uma parcela resíduos de terça, resíduos de quarta e uma parcela resíduos de quinta); Sábado: 28.000 kg coletados (referentes à uma parcela resíduos de quinta, resíduos de sexta e uma parcela resíduos de Sábado).

Considerando que a coleta será feita diariamente, porém não em todas as áreas e ruas da comunidade. Três dias da semana (segunda, quarta e sexta) a coleta será feita na região 1 e outros três dias da semana (terça, quinta e Sábado), na região 2. Com isso, é gerado um acúmulo de resíduos de cada habitante por dia + parcela de outros dias, pois as coletas serão feitas até às 18h e não ao fim do dia. Portanto:

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dos dos dos dos

Entrada de resíduos no usina (*Considerando os resíduos comerciais, é acrescida uma taxa de 10% à cada dia)

Região 1 - 17.500 habitantes (estimativa) Segunda: 42.000 kg coletados (referentes à uma parcela dos resíduos de sexta, resíduos de sábado, domingo e uma parcela dos resíduos de segunda); Quarta: 28.000 kg coletados (referentes à uma parcela dos resíduos de segunda, resíduos de terça e uma parcela dos

dos uma

Segunda: 46.200 kg Terça: 46.200 kg Quarta: 30.800 kg Quinta: 30.800 kg Sexta: 30.800 kg Sábado: 30.800 kg


Proporção de resíduos

Caminhão de maior porte - para vias arteriais e coletoras

Segunda e Terça: orgânicos: 23.100 kg recicláveis: 13.860 kg rejeitos: 9.240 kg

Dimensões (m): 9.45×2.48×2.90 Volume de lixo solto: 16m³ Capacidade de volume de lixo futura): 60 m³

De quarta à Sábado: orgânicos: 15.400 kg recicláveis: 9.240 kg rejeitos: 6.160 kg

Caminhão de menor porte - para vias locais

*À princípio, as coletas não serão feitas de forma seletiva, devido ao processo de conscientização da população. Todos os resíduos serão separados todos na usina. *Enquanto a coleta não pode ser feita de forma seletiva, não serão usados caminhões compactadores, pois isso dificulta o trabalho de triagem.

Dimensões (m): 6.47×2.05×2.56 Volume de lixo solto: 4m³ Capacidade de volume de lixo futura): 8 m³

para

para

compactar

compactar

(etapa

(etapa

Com isso, o número de viagens necessárias até a usina, através dos trajetos dos caminhões serão: (1m³ = 1.000 kg - média) Segunda e terça: 46.200 kg Caminhão grande: 3 viagens Caminhão pequeno: 7 viagens

Fluxo de caminhões nas vias: Serão utilizados dois modelos de caminhões, de portes diferentes para que vias locais possam ser acessadas.

Quarta à sábado: 30.800 kg Caminhão grande: 2 viagens Caminhão pequeno: 5 viagens

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6.2. Fluxo do lixo RCD Após os materiais recolhidos, eles são separados para que possam dar origem a artefatos de concreto, argamassa, pavimentação de estradas, controlar a erosão, preenchimento de fundações etc. Os benefícios que as usinas de reciclagem proporcionam são ambientais, econômicos e sociais. Ambientais porque transformam o que viraria lixo em novos materiais e ajudam a “economizar” os recursos naturais. Econômicos porque o uso de resíduos reciclados nas construções pode ser 80% mais barato do que o uso de materiais convencionais. E sociais porque através desses resíduos reciclados é possível levar calçamento, pavimentação e até projetos habitacionais para lugares carentes. As usinas de reciclagem produzem materiais como: areia grossa, bica corrida, pedrisco, pedregulho, pedra nº 1. Tudo em preços muito mais acessíveis do que os convencionais. Demais resíduos De acordo com a norma ANBT NBR 10004, são duas as classes de resíduos: Classe I – Perigosos São aqueles que apresentam algum tipo de periculosidade, que pode ser identificada por meio de características como a inflamabilidade, toxicidade, corrosividade, dentre outras. Classe II – Não perigosos São todos aqueles que não possuem as características de periculosidade. Subdividida em duas: Resíduos classe II A – Não inertes 69

São resíduos que não possuem os aspectos de periculosidade, podendo apresentar características como a combustilidade, a biodegradabilidade e a solubilidade em água. Em síntese, esse resíduo é classificado por exclusão: são todos aqueles que não se enquadram na classe I e na classe II B. Resíduos classe II B – Inertes São aqueles que, uma vez submetidos a testes de solubilização, não apresentam nenhum de seus constituintes solubilizados em concentrações superiores aos padrões de potabilidade da água — em síntese, a água continua potável quando em contato com esses resíduos. Filtragem física Após a primeira triagem, onde os resíduos são divididos entre Classe I (perigosos) e Classe II (não perigosos), os resíduos Classe I são incinerados, gerando bioenergia que volta para servir de abastecimento para a usina e os resíduos Classe II passam por um processo de filtragem física, que consiste em separar os resíduos inertes, não inertes/chorume. O chorume é um líquido poluente, derivado de processos biológicos, químicos e físicos da decomposição de resíduos orgânicos. A contaminação da água por chorume pode causar danos ambientais a longo prazo, além de comprometer o ciclo da água naquela área por longos anos. A filtragem física começa com os resíduos sendo separados por meio de um gradeamento. O líquido passa pelas grades separando os resíduos sólidos maiores dos menores. Depois os resíduos menores, que não ficam retidos nestas grades são encaminhados para uma nova filtragem, em um compartimento formado por grãos de areia de diferentes tamanhos onde estes resíduos menores são retidos.


Compostagem através de tanques anaeróbicos e aeróbicos: A próxima etapa é o tratamento biológico, onde o material passa por várias etapas de decantação em diferentes tanques: anaeróbico, aeróbico e de estabilização. Esse processo garante o reaproveitamento do chorume na agricultura. No tanque anaeróbico acontece a degradação orgânica pela falta de oxigênio. Esse processo dura em média sete dias. Depois, o chorume passa para o tanque aeróbico onde acontece a retirada de metais pesados por meio de oxigenação. Por último, o material restante adquire uma consistência pastosa, como um lodo, podendo já ser depositado em composteiras para posterior uso na agricultura. O lixo urbano possui cerca de 40% do seu peso em água, o que gera o chorume. Portanto, um resíduo extremamente poluidor pode ser transformado em composto orgânico com grande valor nutritivo, servindo de adubo. Além de ajudar na preservação ambiental, na saúde pública, o tratamento biológico do chorume pode gerar receita. Ciclo “do prato ao prato” Muitos restaurantes já utilizam o ciclo completo de alimentos: “do prato ao prato”, quando os restos de alimentos servem de adubo para o plantio de novos alimentos, no próprio local. O Grand Hyatt, em São Paulo é um exemplo: no térreo fica o restaurante francês do hotel “Eau French Grill” e na cobertura do hotel fica a horta onde são plantados muitos dos alimentos utilizados no restaurante. Alguns outros restaurantes em São Paulo e diversos ao redor do mundo utilizam esse ciclo completo do alimento. Resíduos inertes: Metal

A metalurgia e o processo de reciclagem se confundem, pois as sucatas são geralmente as matérias-primas mais convenientes para a fundição, não havendo também perdas de qualidade no processo. Há diversos tipos de metais para diversas finalidades: equipamentos, estruturas, embalagens e outros. Primeiro os metais passam por uma triagem, onde são separados, magneticamente, entre ferrosos e não-ferrosos, após essa primeira triagem, há uma segunda, onde são separados entre: sucatas pesadas (vigas, equipamentos, chapas, grelhas, etc), sucatas de processo (cavacos, limalhas e rebarbas) e sucatas de obsolescência (materiais descartados pós consumo). Geralmente os metais ferrosos, logo após a triagem, são direcionados para as usinas de fundição, de onde voltam a ser utilizados. O alumínio também é encaminhado para usinas, obedecendo parâmetros específicos de processamento. Os metais são 100% recicláveis. Papel Primeiro os papéis passam por uma triagem, onde são separados entre recicláveis e não recicláveis (papel carbono, papel/papelão revestidos ou impregnados com substâncias impermeáveis à água, papel/papelão laminados, tratados ou revestidos com plásticos, ou camada metálica, colas e fitas adesivas sintéticas e etc). Após, o papel vai para trituração, no “hidrapulper”, que desagrega o papel, formando uma pasta de celulose. Uma peneira abaixo do equipamento deixa passar impurezas, como fibras, pedaços de papel não desagregado, arames, plástico e outros. Em seguida, são aplicados compostos químicos para retirar possíveis tintas. Depois um processo de refinamento deixa o material mais fino e por fim, a pasta é branqueada com compostos químicos e vai para uma máquina de molde, de onde sai pronto para ser reutilizado. 70


e então os plásticos seguem para um aglutinador, que aquece e resfria o plástico, dando densidade suficiente para entrar na extrusora, que funde, homogeniza o material e o transforma em tiras, conhecidas como “spaghetti”.Por fim, essas tiras são cortadas e ensacadas para serem encaminhadas para fábricas de artefatos plásticos.

Plástico O melhor modo de receber o plástico para reciclagem é com o material compactado, porém, para isso, precisa haver descarte e coleta seletivos, o que não acontecerá em um curto espaço de tempo, pois depende da cultura e consciência ambiental. Após a chegada do material, é feita uma triagem, onde os plásticos são separados por tipos. Cada tipo pode sofrer uma nova seleção (o PET, por exemplo, separado por cor, tem um maior valor de venda) e depois seguem para o processo de moagem. Ocorre a lavagem e secagem do material

depósito RCD

triagem

depósito rejeitos

Vidro Nos sistemas de reciclagem mais completos, o vidro é estocado em tambores é submetido a um eletroímã para separação dos metais

DOCA

trituração

TRIAGEM

não perigosos

peneiragem

expedição

não inertes

depósito

compostagem

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metal

depósito perigosos

incineração

inertes

papel

plástico

vidro

bioenergia


contaminantes. O material é lavado em tanque com água, que após o processo precisa ser tratada e recuperada para evitar desperdício e contaminação de cursos d’água. Depois, o material passa por uma esteira ou mesa destinada à catação de impurezas, como restos de metais, pedras, plásticos e vidros indesejáveis que não tenham sido retidos. Um triturador com motor de 2 HP

transforma as embalagens em cacos de tamanho homogêneo que são encaminhados para uma peneira vibratória. Outra esteira leva o material para um segundo eletroímã, que separa metais ainda existentes nos cacos. O vidro é armazenado em silo ou tambores para abastecimento da vidraria, que usa o material na composição de novas embalagens.

metal

papel

plástico

vidro

compostagem

triagem

triagem

triagem

tambores de triagem

tanque anaeróbico

triagem

lavagem

não ferrosos

reciclável

triagem

triagem

trituração/ hidrapulper

moagem

triagem de impurezas

estabilização

depósitos

depósitos

peneiração

lavagem e secagem

trituração

depósito

expedição

expedição

reservatório refinador

aglutinador

peneiragem

expedição

processo de clareamento

extrusora

esteira de eletroimã

corte e embalagem

armazenamento expedição

máquina de molde

não reciclável

tanque aeróbico

ferrosos

expedição

reservatório de tratamento

expedição

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6.3. Partido | Volumetria

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7. Considerações finais O planejamento urbanístico e o projeto arquitetônico, em Jardim Gramacho foram um complexo desafio, que apresentou problemáticas muito particulares de um tema muito atual, o lixo. O trabalho almejou selecioná-las a partir de planejamentos a curto, médio e longo prazo, considerando a dinâmica do lixo que permeia o bairro. O processo de criação do trabalho partiu da urgência em organizar e reaproveitar recursos abundantes no local, junto à necessidade de infraestrutura urbana que entendesse e articulace com os fluxos e referências do bairro e seus moradores. (Re)construir, (re)aproveitar e consolidar foram as principais diretrizes para este trabalho.

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8. Bibliografia | Crédito de imagens

Documentários: “O jardim da esperança”, de Laurence Guenoun “Waste Land”, de Lucy Walker e João Jardim “Estamira”, de Marcos Prado e José Padilha https://pt.wikipedia.org/wiki/Jardim_Gramacho http://www.techo.org/paises/brasil/informate/jardimgramacho-merece-mais-do-que-desculpas/ http://rioonwatch.org.br/?p=16751 https://residualogics.com/category/jardim-gramacho/ http://attdegramacho.wixsite.com/att-de-gramacho http://cm-rio-dejaneiro.jusbrasil.com.br/legislacao/901644/decreto-27397-06 http://www.duquedecaxias.rj.gov.br Lixo http://www.lixo.com.br/content/view/144/251/ http://noticias.terra.com.br/ciencia/infograficos/fim-doslixoes/ http://www.superbac.com.br/classificacao-residuosindustriais-classe-i-e-ii/ http://brasil.elpais.com/brasil/2016/03/10/ciencia/145762571 6_263331.html http://www.endswasteandbioenergy.com/article/1397473/swedenconsiders-waste-incineration-tax https://sweden.se/nature/the-swedish-recycling-revolution/ http://www.hennepin.us/your-government/facilities/hennepinenergy-recovery-center http://www.renewableenergyworld.com/articles/2011/03/garbage -to-burn-or-to-bury.html http://www.setorreciclagem.com.br/reciclagem-de-residuohospitalar/residuos-hospitalares/ http://www.ecycle.com.br/component/content/article/67/2368o-que-e-como-fazer-

81

http://www12.senado.leg.br/emdiscussao/edicoes/residuossolidos/mundo-rumo-a-4-bilhoes-de-toneladas-por-ano/comoalguns-paises-tratam-seus-residuos http://geoconceicao.blogspot.com.br/2011/03/problema-esolucoes-com-o-destino-do.html http://damaeq.ind.br/produtos/coletores/caminhao-lixo-cpdamaeq/ http://www.mma.gov.br/pol%C3%ADtica-de-res%C3%ADduoss%C3%B3lidos Programa e arquitetura http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/educacao/cont eudo_295986.shtml http://www.parquesitie.org/historia/ http://www.hypeness.com.br/2015/02/israel-transforma-antigalixeira-em-maior-central-de-reciclagem-do-mundo/ http://www.big.dk/#projects-arc http://www.hoerrschaudt.com/ http://www.coolhunting.com/food-drink/urban-farming https://divisare.com/projects/328094-studio-macci-partnersdavide-virdis-impianto-di-compostaggio-di-faltona Habitações http://www.archdaily.com.br/br/01-120522/densidade-versushabitabilidade-nas-grandes-cidades-do-mundo http://www.fau.usp.br/docentes/depprojeto/e_nobre/AUP573/aul a4.pdf Fotografias: Autoria própria; Laurence Guenoun, fotógrafa e diretora. Imagens do documentário “O Jardim da Esperança”, filmado em 2013; Evelyn, moradora de Jardim Gramacho; Yasmin, moradora de Jardim Gramacho.



Parque de reciclagem

discorre sobre o bairro de Jardim Gramacho,

localizado em duque de caxias, município do Estado do Rio de Janeiro.

Para tal, após um estudo aprofundado do local e da gestão de resíduos, são apresentadas propostas, de diferentes escalas, que têm o objetivo de materializar as soluções discutidas ao longo do trabalho e minimizar as problemáticas presentes em Jardim Gramacho.

um novo ciclo

Tendo como objeto de análise a sua relação com o lixo e o crescimento desordenado de habitações, procurou-se estudar como modificar positivamente o sub-bairro, por meio de intervenções projetuais que, em diversos níveis, fossem capazes de valorizar as características e os potenciais de Jardim Gramacho.

Jardim Gramacho,

Parque de reciclagem Jardim Gramacho, um novo ciclo


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