Ecologia e política (2)

Page 1

Educar para a vida


Muitas vezes achamos que, para respeitar o meio ambiente, basta conhecer bastante sobre ciências, geografia, plantas e bichos. Mas não é bem assim. Não é por falta de conhecimento que o meio ambiente é destruído. Mas porque faltam valores éticos e espiritualidade. Nós somos partes do planeta. Não podemos fazer com ele o que quisermos, pois, no fim, nossa espécie é que acaba sendo prejudicada. O planeta não e um armazém de recursos naturais infinitos ou uma enorme lixeira que possa suportar indefinidamente nosso modelo predatório de desenvolvimento. Não somos donos da natureza. A natureza e que é dona de nós. Se continuarmos poluindo e destruindo tudo, será a nós próprios que estaremos destruindo. Por isso deve haver limites para o crescimento humano. Mas que limites são esses? Não sabemos e descobri-los é nosso desafio e das gerações futuras. Mas não basta só mudar nossa relação com o planeta, com as plantas e com os bichos. Precisamos mudar nossas relações entre nós próprios, pois, se vivemos num sistema baseado na exploração de um pelo outro, como compreender uma relação mais harmônica entre nossa espécie e as outras, consideradas "inferiores"? Também precisamos rever nossos valores pessoais. Nossa idéia de felicidade é mais baseada no ter do que no ser. Confundimos felicidade com a posse de bens materiais, fama, poder, e isso gera mais e mais necessidade de recursos naturais para produzir esses bens e relações humanas cada vez mais baseadas na competição e domínio de uns sobre os outros, gerando destruição ambiental e infelicidade nas relações humanas. “BICHO TEM ALMA?” foi escrito para crianças e jovens que se preocupam com questões como estas. Não me proponho apresentar respostas prontas, mas estimular o pensamento, a reflexão, a criatividade diante de um mundo cada vez mais complexo e desigual. A busca de um mundo melhor; mais fraterno e ecológico, exige decisões e mudanças a partir do indivíduo assim como do governo. Precisamos estar preparados para viver e influir neste mundo. Vilmar Berna

Por que o mar não transborda e invade a terra?


O sol aquece as águas. Elas evaporam e sobem para o céu, formando as nuvens. Os ventos sopram as nuvens para a terra, onde, encontrando o ar mais frio, deixam cair as águas em forma de chuva. Na terra elas escorrem e voltam para os rios, lagos, lençóis subterrâneos, indo novamente para o mar, onde tudo se repete. A água nunca se esgota, ela apenas muda de lugar, transformandose de um estado líquido para gasoso — e vice-versa —, por isso, o mar não transborda, pois ora enche, ora esvazia. A água é fundamental em nossa vida. O ar que respiramos possui duas vezes mais água, em forma ele umidade, que oxigênio. Nosso corpo também é formado por mais da metade de água. Apesar de toda essa importância, o ser humano se agride retirando a umidade do ar com aparelhos de ar condicionado o que provoca ressecamento da pele e das mucosas, além de outros problemas. Isso sem falar na poluição lançada nos rios, lagos e oceanos. As águas, quando evaporam, levam junto os venenos. Em muitos lugares, quando chove, cai ácido das nuvens em vez de água. 2 É Deus quem sopra o vento? Durante o dia o sol aquece a terra e o mar. Só que a terra esquenta mais rápido que a água. O ar que estava na terra esquenta e sobe para o céu, fazendo com que o ar frio do mar venha para a terra, ocupando o lugar do outro ar que subiu. O vento se forma quando o ar se movimenta assim, de um lugar para outro. Deus não precisa ficar soprando para fazer vento! 3 Foi Deus quem plantou as florestas? Ao comer um frutinho qualquer, o passarinho engole também a semente. Quando ele fizer coco, a semente vai cair no chão. Se o solo daquele lugar for bom, pode nascer ali uma plantinha. Este é apenas um exemplo de como nascem as florestas. As sementes são muito espertas e descobriram mil maneiras de ser transportadas de um lugar para outro. Umas são levadas pelo vento, outras vão grudadas nos pêlos dos animais, caindo quando secam, ou viajam nas patas dos insetos que pousam em suas flores para beber o néctar. Com tantos jardineiros, Deus nem precisa preocupar-se em plantar florestas, a própria natureza se encarrega disso. Nada existe isoladamente na natureza, tudo está interligado. Se um animal ou planta desaparecem, aqueles que dependiam deles desaparecerão também. Uma árvores, por exemplo, abriga um verdadeiro ecossistema de insetos, pássaros e outros animais, além de haver a relação com o solo e com o ar.


4 As plantas comem o quê? Sem o sol a vida não existiria, pois todos os seres se alimentam, direta ou indiretamente, da sua energia. Quando comemos um legume, por exemplo, é a energia do sol que está naquele legume que estamos comendo! A não ser por uns poucos tipos de cogumelos, as plantas são os únicos seres vivos do planeta que conseguem comer a energia do sol diretamente, através do processo conhecido como fotossíntese. Os animais que comem plantas recebem essa energia e, por sua vez, transferem a energia do sol para outros animais quando são comidos por eles. Assim como a água, a energia do sol não acaba nem diminui, apenas muda de lugar. Quando um animal morre, a energia do sol a qual havia nele será comida por outros animais visíveis e invisíveis. A energia será novamente absorvida pelas plantas, reiniciando todo o ciclo. 5 Plantas também têm nariz? Claro que sim, só que não é igual ao nosso, mas elas também respiram. Todos os seres vivos, quando respiram, colocam ar bom para dentro, chamado oxigênio, e ar venenoso para fora, chamado gás carbônico. As plantas fazem o contrário. Elas respiram o gás carbônico e jogam fora o oxigênio! Quem mais contribui com o oxigênio que respiramos são as algas do mar, afinal, nosso planeta é composto de duas vezes mais água do que terra. Ao jogar lixo e óleo no mar, matamos as algas. Daqui a pouco pode faltar oxigênio! 6 Por que as flores são coloridas? A natureza não fez as flores coloridas e perfumadas apenas por capricho ou vaidade. Elas têm uma importância muito grande para o equilíbrio da vida no planeta. O perfume atrai certos insetos, como abelhas, por exemplo, indicando onde está o néctar, substância muito doce sem nenhuma serventia para as flores a não ser alimentar os insetos. Só que, ao alimentarem-se do néctar, os insetos carregam o pólen nas patinhas sem saber. O pólen é a sementinha das plantas, e assim os insetos ajudam a garantir a sobrevivência delas, e elas a dos insetos. Se alguém mata os insetos, nascerão menos flores e, conseqüentemente, existirão menos frutos.


As flores não existem para ser úteis ou para servir aos insetos, nem os insetos existem para garantir a sobrevivência das plantas, apenas cada um cumpre sua natureza de flor ou de inseto, realizando bem o que sabem fazer. A mangueira, por exemplo, não se esforça para dar laranjas. O ser humano é o único animal que tenta ser o que não é, esquecendo-se de sua natureza humana. Passa sua vida tentando acumular bens materiais, fama ou poder, dedicando sua existência ao ter; em vez do ser. 7 Bicho tem alma? Os cientistas, depois de estudarem os animais em laboratórios, descobrem que eles têm tudo o que o ser humano tem: ossos, músculos, nervos, cérebro, hormônios, indicando que os animais também sentem dor e, assim como nós, têm sentimentos! Os cientistas também fazem testes com os animais para ver se eles pensam. Os animais não entendem o que queremos, nem respondem como nós achamos que deveriam responder, então concluímos que os animais não pensam. Será? Ou será que os animais pensam, só que de maneira diferente da nossa? Os golfinhos, por exemplo, têm mais de 20 mil tipos diferentes de sinais para se comunica enquanto o ser humano possui apenas cerca de 4 mil. Ou seja, eles entendem-se tão bem por sinais que nem precisam inventar palavras como nós! E quem disseque bicho não tem alma? Será que Deus resolveu dar alma apenas a nós, humanos? Será que os animais são tão cruéis, maus e indignos a ponto de não merecer também esta dádiva? Ou será que nós, acostumados a afirmar que os animais não pensam nem têm sentimentos, resolvemos também destituir os bichos de ter alma? 8 Existem outros planetas iguais ao nosso? Até a metade do século passado, os humanos pensavam que a terra fosse o centro do universo. Depois Copérnico comprovou que não era nada disso, nosso planeta não passava de grãozinho de poeira perdido no espaço, comparado com o tamanho dos outros astros. Claro que isso não quer dizer que somos os únicos no universo, apenas significa que as distâncias são muito grandes e, enquanto não descobrirmos outra maneira de nos comunicar fora da Terra, continuaremos isolados aqui. Descobrir que a Terra é tão pequena não é motivo para ficarmos tristes ou nos sentir insignificantes. Devemos, ao contrário, nos orgulhar de participar da Criação, com o privilégio de estai conscientes dela. isso, no entanto, aumenta nossa responsabilidade


com relação ao planeta, pois sabemos que ele é nossa única morada e, se for destruído, nossa sobrevivência também estará ameaçada! 9 Para onde vão as estrelas durante o dia? Continuam no mesmo lugar, só que a luz do sol impede que a gente as enxergue. No entanto, elas estão lá, e são milhares. Nunca ninguém conseguiu contar todas as estrelas do céu, nem mesmo com os instrumentos poderosos. Existem mais estrelas que grãos de areia numa praia! As estrelas parecem pequenas vistas da Terra por causa da distância, mas elas são enormes, muito, mas muito maiores que nosso planeta. Quando olhamos as estrelas, não são elas que vemos, mas apenas o brilho delas! Isso dá uma idéia da enorme distância que estão de nós. A luz de uma estrela pode viajar milhares de anos no espaço até chegar aqui e, muitas vezes, quando chega, a estrela já nem existe mais. 10 Nós estamos parados no espaço? Nosso planeta, junto com oito outros planetas do sistema solar, gira em torno do Sol. Os nove planetas não caem no Sol devido à força da gravidade. Não percebemos a velocidade da Terra porque estamos dentro dela. É como se dois ônibus estivessem correndo juntos e nós dentro de um deles. Olhando para o outro ônibus parece que está tudo parado! A velocidade do nosso planeta em torno do Sol é de aproximadamente 1.800 quilômetros por hora! Mas não é só a Terra que está em velocidade. O Sol também, só que em torno do centro de nossa galáxia. Aliás, nossa galáxia também está em velocidade com o centro do universo. Tudo gira e se move em incrível velocidade, desde o macrocosmo (estrelas, planetas, etc.) até o microcosmo (núcleo do átomo, elétron). 11 Por que não é assassínio matar animais? O ser humano desespiritualizou a natureza à medida que se afastou dela. Desespiritualizar é uma forma de não conhecer valor espiritual, dignidade, direito à vida e à qualidade de vida. No passado afirmouse que os índios e negros não tinham alma. Era uma desculpa para explorá-los melhor sem se sentir culpados ou responsáveis. Hoje, fazemos isso com a natureza. Agora podemos olhar uma montanha e pensar em quanto de minério podemos extrair dali. Vemos uma floresta e imaginamos quantas tábuas poderão ser conseguidas. A natureza foi transformada num tipo de depósito de recursos naturais


e matérias-primas. E tanto faz se uma floresta for destruída, animais sacrificados, meio ambiente poluído se tudo isso resultar em progresso para nossa espécie, como se tivéssemos o direito de usar tudo e todos. Essa desespiritualização tem resultado numa relação muito destruidora entre nós e a natureza, como se nossa espécie não fizesse parte dela. A desespiritualização atingiu a nós próprios. Matar outro semelhante numa guerra não é assassínio, mas heroísmo e autodefesa, se o outro for inimigo. Ou melhor, nem precisa ser na guerra, pois na paz existem as execuções em nome da “Justiça”. Para isso, basta ter um argumento qualquer que sirva para desespiritualizar o outro, como se o criminoso fosse um “desalmado”. Com um relacionamento assim entre os indivíduos de nossa própria espécie, não é de estranhar o que acontece com os seres das outras espécies, consideradas “inferiores” pelo homem, como as plantas e os bichos. 12 Adão foi o primeiro homem? Há cerca de 90 mil anos a espécie humana, como é conhecida hoje, surgiu no planeta. Se foi Deus que a criou ou se foi a natureza, criada por Deus, tanto faz. A imagem bíblica de um primeiro homem, chamado Adão, é uma parábola, das muitas que existiam naquela época para explicar alguma coisa. Uma técnica de ensino ainda hoje utilizada. O importante não parece ser a existência ou não de um Adão, mas de Deus e sua relação com a criação de tudo o que existe. E, sobre isso, não restam dúvidas. Afinal, quem seria capaz de criar tudo o que existe sem um plano ordenado? A idéia da harmonia nascendo do caos é uma impropriedade intelectual tão absurda quanto a idéia de um deus pessoal criando um homem com saliva e pó. 13 Quem é o dono de tudo? Não existe um dono de tudo. A espécie humana considera-se proprietária do planeta, com amplos direitos para explorá-lo ainda que isso o destrua. Esquecem que, na verdade, não é o planeta que pertence a nós, nós é que pertencemos ao planeta, pois o que fizermos a ele estaremos fazendo igualmente a nós próprios. Se poluirmos os rios, beberemos água envenenada. Se arrancarmos as árvores, esquentaremos o clima, provocaremos a erosão do solo, mataremos os animais. Entretanto o ser humano parece que nunca importou-se muito com isso, pois a natureza, mal ou bem, sempre conseguiu recuperar-se, enquanto a destruição era em escala artesanal. Depois da invenção das máquinas e da adoção de uma política desenvolvimentista voltada para o lucro e não para os benefícios da humanidade, a coisa mudou de figura.


Se antes apenas as outras espécies do planeta é que viviam ameaçadas de extinção, hoje esta ameaça paira também sobre a espécie humana. Injustamente uma minoria muito rica detém a posse do planeta e o destrói em nome do progresso. Acumula poder e riqueza impressionantes e investe o dinheiro que poderia ser destinado a eliminar a miséria do mundo em mais e mais armas, como se já não fosse suficiente destruir o planeta mais de 40 vezes! 14 A árvore é boa porque é útil? A árvore não existe só para dar sombra ou frutos, faz isso por ser esta a sua natureza. A grama não existe para amortecer a queda de jogadores ou para alimentar cavalos. Os animais não foram criados para devorarem-se uns aos outros. Essa noção de utilidade, que demos aos seres vivos e até a suas próprias atividades, é baseada num conceito falso, como se o direito à vida só fosse digno para aqueles que têm alguma utilidade. Assim os seres humanos decidem, por exemplo, destruir uma floresta viva, para plantar em seu lugar florestas homogêneas ou pastagens, apenas por serem mais úteis. Ninguém nasceu para ser útil, mas são úteis por que cumprem sua natureza, uns sendo árvores, outros grama, outros cavalos. Apenas o ser humano abandonou a sua natureza e prefere viver segundo regras antinaturais, como beber sem sede, trabalhar além do suficiente para suprir sua sobrevivência, não misturar trabalho com lazer ou lazer com trabalho e, ao final de tudo, o resultado é uma triste figura de robô, bem distante da vida em abundância que Deus desejou para nós. 15 Por que Deus fez as pragas? Quem fabricou as fabricas fomos nós próprios. Pela exterminação, pela caça e pelos produtos químicos. Por exemplo, hoje há rato em demasia. Eles só se tornaram a temível praga da atualidade após a morte, sem controle, de seus predadores — as aves de rapina, cobras e outros inimigos naturais. Com o extermínio dos predadores, cresce os indivíduos da espécie que servia de alimento a eles. Aconteceu com os ratos, moscas, mosquitos, e tantas outras pragas, sobretudo as das lavouras. E não adianta tentar combatê-las usando venenos. O único resultado é que as pragas adquirem resistência ao tipo e à quantidade de veneno utilizados. Isso nos obriga a aumentar a dose do produto ou mudar de marca, desequilibrando e contaminando ainda mais o meio ambiente e a saúde dos trabalhadores rurais e dos consumidores de produtos com venenos. Para a felicidade dos fabricantes e infelicidade do solo, rios e atmosfera contaminados, sem falar nas intoxicações dos alimentos e da morte de quem aplica tais venenos, esse quadro permanecerá


enquanto continuar a visão predatória de que as leis humanas são mais importantes que as leis da natureza. Atualmente existem pessoas que se preocupam em plantar de maneira ecológica. Não usam produtos químicos nas lavouras, procuram interferir o menos possível nos ecossistemas, até os recuperando para resgatar o equilíbrio natural. É em pequena escala, ainda, mas demonstra que existem outras alternativas, menos agressivas, de plantar e produzir alimentos. 16 Por que o homem destrói a natureza? Acusar a humanidade inteira de responsável pela destruição do planeta é cometer o erro de generalizar demais, colocando para ocultar e manter impunes os verdadeiros agressores. O poder de decisão não está distribuído de maneira igual, portanto também não pode ser igual a responsabilidade pelo seu mau uso. A poluição, por exemplo, não decidiu que os governos deveriam deixar de investir na erradicação da miséria, para fabricar armas. O povo seguramente iria preferir investimentos que garantissem mais casa, comida, educação, saúde e trabalho à fabricação de armas para matar outras pessoas. Acusar a humanidade por uma decisão como esta é manter impunes as pessoas que decidiram, em nome do povo, muitas vezes enganando e induzindo a opinião pública. Uma minoria está tomando decisões pela grande maioria e, o que é pior, estas decisões nem ao menos são justas, pois não visam a beneficiar o povo do planeta, e sim prová-lo ainda mais de sua dignidade, segurança e qualidade de vida, apenas para que uns poucos possam continuar mantendo seus privilégios de riqueza e poder. 17 Por que o Estado não acaba com a poluição? Não é por falta de leis que a natureza é destruída, mas pela falta de vontade política dos governos, para executar tais leis. E isso tem um motivo muito simples: o Estado não é neutro! Ele é uma entidade abstrata, composta, na verdade, por pessoas com interesses quase sempre conflitantes. A política é a arte de harmonizar esses interesses, pois a ela cabe a função de olhar para o futuro, adotando políticas que não sejam imediatistas, resolvendo um problema agora, mas causando outro depois. Mas quem faz a política? Uma eleição custa muito dinheiro, por isso os políticos que almejam ser eleitos comprometem-se, às vezes inescrupulosamente, como o poder econômico. O resultado é que os políticos — e isso inclui o Estado e suas instituições — ficam engajados e comprometidos com o poder econômico, ou por fazerem parte dele, ou por serem


financiados por ele. Desse modo como agir contra ele? É como colocar a raposa para tomar conta do galinheiro. Uma vez no poder, o político eleito nestas condições vai tratar, naturalmente, dos interesses daqueles que o financiaram, impedindo que qualquer coisa os atrapalhe, como greves ou lutas pela preservação do meio ambiente. Claro que existem exceções. Pobres e trabalhadores também se elegem, mas são minoria. Basta olhar para os políticos da atualidade e verificar se representam efetivamente o povo que os elegeu. 18 O capitalismo é contra a natureza? Se o capitalismo é responsável pela poluição e degradação ambiental, então nos países de regime diferente essas coisas não aconteceriam. A realidade é que acontecem. Nos países comunistas e socialistas, onde se adotou o mesmo modelo industrial de desenvolvimento, o meio ambiente sofre os mesmos tipos de agressões. O mais grave ainda é quando se combina um modelo predatório de desenvolvimento com falta de democracia. Muita gente acha que as questões ecológicas são muito importantes, mas secundárias, diante da grande luta por uma sociedade sem classes, onde os trabalhadores estarão no poder. Isso seria verdadeiro se, nos países onde isso já aconteceu, não continuasse a existir a poluição ou exploração ilimitada dos recursos limitados do planeta. Isso não quer dizer que seja secundária a luta pela distribuição de renda ou pela justiça social, mas apenas que as duas devem andar juntas, pois não se pode viver a justiça num planeta devastado. 19 Trabalhador também deve lutar pela ecologia? Existem pessoas que pensam que o trabalhador não deve envolver-se em luta ecológica, pois esta questão diz respeito apenas a quem não precisa mais lutar por emprego, comida, moradia. Esquecem que os maiores prejudicados com a poluição são exatamente os pobres, que não podem optar por morar em bairros melhores, arborizados, com água e esgoto e bem longe da poluição das fábricas e principalmente os próprios trabalhadores que se contaminam no meio ambiente das fábricas poluidoras. O modelo predatório de desenvolvimento se importa com lucros rápidos e imediatos, por isso fabrica o que dá mais lucro. Para esse modelo tanto faz produzir canhões ou manteiga, produtos preparados para dar defeito ou tão fracos que logo o consumidor precise comprar outro, poluentes ou não, ou que sejam descartáveis após o uso.


20 Lutar pela ecologia é só defender a natureza? Lutar apenas contra a destruição do meio ambiente é atuar sobre os efeitos sem mexer nas causas, como se adiantasse colocar um balde embaixo da goteira sem consertar o telhado! As causas não são originalmente econômicas ou políticas, mas espirituais. A destruição do momento em que o ser humano, e isso inclui ricos e pobres, deixou de considerar-se parte dela. A luta ecológica deve ser capaz de aliar-se aos movimentos populares que reivindicam mais liberdade, menos exploração, o combate a qualquer tipo de discriminação, pois a humanidade jamais compreenderá o que é ter um relacionamento mais harmônico com a natureza, enquanto o relacionamento do ser humano com os outros indivíduos de sua própria espécie for baseado na exploração de um pelo outro. Ou seja, como poderá compreender a desespiritualização se sofre a desumanização? 21 Os ecologistas são contra o progresso? Há alguns anos, países desenvolvidos, assustados com a destruição dos recursos naturais não-renováveis, defenderam a tese de que a economia devia congelar seu crescimento nos níveis em que se encontrava. Logo à primeira hora pareceu a solução para os problemas ambientais, e até mesmo alguns ecologistas chegaram a aderir. Infelizmente, entretanto, o que motivava os países desenvolvidos, autores da idéia, não era nenhum sentimento de culpa ecológica tardio pelo que fizeram ao planeta, mas a destruição da natureza nos países pobres, seus tradicionais fornecedores de matérias-primas baratas. Por outro lado, impedir o progresso dos países em desenvolvimento sob o argumento de que destrói o planeta é uma forma de afastar as atenções sobre um tipo de progresso, promovido nos países ricos que, efetivamente, é o responsável pela destruição. Os problemas ambientais não serão solucionados com os países parando de crescer, mas modificando a maneira de crescer. É importante frisar bem que os ecologistas não são contra o progresso, mas contra um tipo de progresso que não leva em conta o meio ambiente e a saúde da população. O que não se quer é a fabricação de produtos inúteis, poluentes, perigosos ou supérfluos apenas gerando lucros para uns poucos, em vez de benefícios para a maioria. 22 Ecologista não deve meter-se em política? Certas pessoas ainda acham que é possível tapar o sol com a peneira, ou seja, lutar pela ecologia defendendo apenas os animais ou sítios


especiais ameaçados, mantendo relações cooperativas com o poder econômico responsável pela destruição, como se, de um dia para o outro, ele fosse se sensibilizar com a causa da natureza. É claro que ecologista tem de “se meter” em política, pois é através dela que vai conquistar aliados nos outros movimentos populares, aumentando sua força. Mas é preciso não confundir política com partido político. Isso também não significa que partidos políticos não devam se meter em ecologia, apenas que a ecologia não deve ser bandeira de luta de um único partido. Deve estar presente em todos eles. O que não impede, porém, a um partido político dedicar-se mais profundamente à causa ecológica. O importante é que todas as pessoas com sensibilidade — sejam políticas, militantes, apolíticas — lutem pela defesa da ecologia à sua maneira, procurando aliados em todos os outros segmentos da sociedade, pois não basta uma reivindicação ser justa para garantir a sua vitória. É preciso que tenha força. 23 A luta em defesa da natureza é mesmo urgente? Sim, porque, uma vez destruída ou poluída, recuperar a natureza custa muito mais caro. Se as indústrias e o próprio governo recusa-se a estimular tecnologias antipoluentes, porque as acham caras, imagine quando tiverem de gastar muito mais para recuperar o meio ambiente degradado. Além disso, o ritmo da destruição está-se acelerando assustadoramente e seus efeitos já se fazem sentir em todo o planeta. Se continuar por mais alguns anos, tudo o que for conquistado, seja em bens materiais, seja em justiça social, não poderá ser usufruído por ninguém! Por outro lado é preciso estar atendo à armadilha que representa o uso da tecnologia antipoluente. Na verdade o modelo predatório de desenvolvimento descobriu uma maneira de lucrar mais uma vez: fabrica máquinas antipoluentes e, ao mesmo tempo, afasta a crítica de ser insensível diante dos problemas ambientais, passando a falsa impressão de que não existe nada de errado com o atual modelo de desenvolvimento, baseado na exploração ilimitada de recursos naturais limitados e adeptos de lucros crescentes e imediatos. A tecnologia de despoluição é importante apenas enquanto se efetua a transformação da economia, saindo de um modelo predatório para um modelo ecológico, mas não exclui a necessidade de uma posterior reformulação. 24 A luta ecológica é um modismo?


A humanidade viveu muito tempo com a idéia de que a natureza era um bem inesgotável, gratuito e eterno. Agora vemos que estávamos enganados. Entretanto esta constatação não está ocorrendo de maneira simultânea em todos os países; alguns governantes continuam estimulando um tipo de desenvolvimento que nos levará certamente a um fim imprevisível. Se pretendemos preservar a vida, precisamos começar a adotar uma posição contrária a tudo isso que tem sido feito contra o planeta. Nas outras épocas, principalmente no século passado, os seres humanos preocupavam-se mais com as relações humanas que com a relação homem-natureza, com resultados devastadores. As próximas gerações precisarão enfrentar o desafio de um futuro sem muita literatura ou mesmo prática sobre como é viver numa nova relação com o planeta e deverão descobrir por si mesmas estes novos caminhos. O Planeta Sobreviverá, a Questão É se Sobreviveremos com Ele. “Não é a terra que é frágil. Nós é que somos frágeis. A natureza tem resistido a catástrofes muito piores do que as que produzimos. Nada do que fazemos destruirá a natureza. Mas podemos facilmente nos destruir.” - James Lovelok Não resta a menor dúvida que nosso estilo de vida sobre o Planeta é insustentável e está avançando sobre os estoques naturais da Terra, comprometendo as gerações atuais e futuras. De acordo com Relatório Planeta Vivo 2002, elaborado pelo WWF, o ser humano usa 20% a mais do que a terra pode repor. Além disso, é preciso considerar que este avanço sobre os recursos do Planeta não se dá de maneira igual para todos. Existe um enorme desequilíbrio entre África e Ásia, que usam os recursos do Planeta em torno de 1,4 hectares por pessoa, enquanto na Europa Ocidental este uso chega a 5,0 hectares e a dos norte-americanos, a 9,6 hectares. Os brasileiros usam em média 2,3 hectares. O grito de alerta já foi dado há algum tempo e, durante a RIO 92, no Rio de Janeiro, quando estabeleceu-se uma espécie de novo pacto social que passou a incluir com real seriedade a componente ambiental. Dez anos depois, os governantes reuniram-se novamente em Johannesburgo, na África do Sul, para avaliar o que foi realmente realizado nos 10 anos e tentarem reverter algumas das tendências negativas e colocar a humanidade no caminho do desenvolvimento sustentável.


O que está em discussão é um novo modelo de valores e princípios que deverá nortear nossa ação no mundo. A grosso modo existem duas grandes visões em confronto. Uma visão economicista não solidária, que transforma tudo em mercadoria, incluindo a força de trabalho e a inteligência humana e todo o planeta junto, para o fortalecimento e enriquecimento de um pequeno grupo de nações e grandes empresas. Esta é a visão dominante, que nos trouxe até aqui. E outra visão, de uma economia solidária não só com as pessoas, exigindo melhor justiça social e distribuição de riquezas, mas também mais respeito ao Planeta e todas as suas formas de vida. Entretanto, não devemos apostar muito no triunfo de uma visão contra a outra, pois os privilegiados de sempre tenderão a fazer como os monarcas do passado: liberar alguns anéis para não perder os dedos. E isso já começou se observamos os discursos dos poderosos que incluem sempre que podem a necessidade de combate à pobreza e a preservação ambiental. Não deixa de ser irônico ver os representantes das superpotências defendendo o fim da pobreza quando são eles os representantes de uma situação de exploração dos estados-nações em desenvolvimento, via juros impagáveis de dívidas externas e apoio a administrações corruptas que contraem tais dívidas para o enriquecimento de uma minoria, além de darem abrigo a mega empresas multinacionais, que se colocam acima das nações, das pessoas e do meio ambiente em suas metas de lucros crescentes. Soa falso, diante de exemplos como o dos EUA que sozinho gasta cerca de 1 bilhão de dólares por dia em armamentos ou quando se recusam a assinar o Protocolo de Kyoto para não reduzir seus enormes índices de poluição para todo o Planeta, mostrando ao mundo que coloca seus interesses econômicos acima dos interesses coletivos de toda a Humanidade. Quando pensamos em mudanças, precisamos enfrentar um fato objetivo: de onde vem o poder dos poderosos? Da força das armas e de seus exércitos? Claro que não. Vem do povo. É o povo quem dá força aos poderosos. É o povo quem elege e deselege políticos e é quem compra ou deixa de comprar produtos e serviços que criam ou destróem as mega empresas. Só que o povo não tem a consciência dessa sua força, como um enorme elefante que permanece prisioneiro numa corrente que agora é fraquinha, mas não era quando ele era pequeno e tentava se libertar. Será que o povo deseja mesmo uma economia solidária, como se fôssemos uma enorme colméia de abelhas onde cada um faz a sua parte para o bem de todos, ou no fundo no fundo, que vença o melhor e o mais forte? O que está em discussão, é o grau de


civilidade que a Humanidade como um todo está disposta a adotar. Precisamos nos olhar diante do espelho para saber se nossas palavras, pensamentos, valores, desejos, não contradizem nossos atos. Como agimos no nosso dia a dia? Quais são os valores e princípios que nos movem em nosso cotidiano? O que sonhamos para os nossos filhos no futuro e que futuro é esse que estamos construindo para nossos filhos e netos? Enfim, qual é a nossa idéia de felicidade, para nós e para os que dependem de nossos atos aqui e agora para ter qualidade de vida no futuro? Galileu provou que a Terra não era o centro do Universo – e sofreu por pensar diferente. A ecologia veio mostrar que nossa espécie não é a mais importante da Criação, pois dependemos tanto da natureza quanto a mais comum das bactérias. Tão simples assim. Sem planeta, não há espécie humana, justiça social, riqueza, democracia. Nossa rota sobre o planeta será insustentável, enquanto nossa idéia de felicidade for baseada na posse de bens materiais e na acumulação de riquezas, enquanto ter for mais importante que ser. Então, se pretendemos que os poderosos do mundo mudem, precisamos também saber se estamos mudando a nós próprios, para não continuarmos a criar poderosos com nossos falsos sonhos e perspectivas de felicidade. 2. Desenvolvimento Insustentável É natural que aqueles que defendem o meio ambiente fiquem satisfeitos ao verem dirigentes de países desenvolvidos, ditos de ‘primeiro’ mundo, levantarem a bandeira ambiental. É como se víssemos reconhecidas nossas lutas. Mas é preciso ver o que há por trás dessa ‘conversão’ à causa ambiental. Claro, que uma parte disso é devido à pressão da opinião pública, cada vez mais consciente dos problemas ambientais, mas não é só isso. É muito conveniente para as lideranças dos países do ‘primeiro’ mundo exigirem dos países de ‘segundo’ e ‘ terceiro’ mundo que cuidem do meio ambiente. E é conveniente por diversos motivos. Passam a imagem de que estão avançados no cuidado ambiental enquanto aumentam seus lucros com a exportação de produtos para despoluição, controle e monitoramento ambiental, usam a questão ambiental como barreira comercial para sobretaxar produtos industrializados do ‘segundo’ e ‘terceiro’ mundo e, ainda lucram ao desviar a atenção da humanidade da base principal do problema: um modelo de desenvolvimento ‘vendido’ como o único possível, baseado na exploração ilimitada de recursos naturais e na super-exploração da mão de obra humana. O próprio conceito de países de primeiro, segundo e terceiro mundo já revela uma falsa ideologia, quando sugere uma corrida pelo desenvolvimento, onde os melhores chegaram primeiro e cabe aos


demais seguir os mesmos passos. Essa visão é irreal pois pressupõe que o planeta e a ciência serão capazes de fornecer matérias primas, absorver resíduos e encontrar soluções para os problemas do crescimento indefinidamente. Esconde o fato de que, na hipótese de todos alcançarem um mesmo padrão de consumo dos países chamados de ‘primeiro’ mundo serão precisos diversos planetas Terra de recursos naturais. As conseqüências dessa ‘corrida’ por um tipo de progresso insustentável não vai acabar com o planeta no futuro. Já está fazendo isso no presente. Um exemplo disso está na maciça extinção de espécies e ecossistema, efeito estufa, ‘buraco’ na camada de ozônio, mortes prematuras nas cidades devido às poluições do ar, água, solo, etc. O planeta está acabando em cada um desses lugares, onde este tipo de progresso deixa desertos atrás de si e muita miséria, fome e mortes prematuras. Aos países pobres ou em desenvolvimento não são oferecidas alternativas de desenvolvimento, muito pelo contrário. A atual corrida só legitima um processo que já os exclui pela impossibilidade de haver recursos naturais para todos no futuro, enquanto acena com uma promessa que não pode ser realizada. Concentrar o discurso na crise ambiental é uma boa estratégia para países do primeiro mundo, grandes beneficiários e divulgadores do atual modelo predatório de desenvolvimento. É como se o discurso ambiental fosse uma espécie de cortina de fumaça para despistar a atenção da opinião pública para a insustentabilidade do modelo, evitando serem acusados como vilões da humanidade. Neste cenário, está claro que os líderes, do chamado ‘primeiro’ mundo, não são os melhores porta-vozes de um novo modelo de desenvolvimento, que leve em conta não só os problemas ambientais mais também os sócio-econômicos. Neste aspecto, o papel das lideranças governamentais e não-governamentais em países pobres e em desenvolvimento assume uma dimensão desafiadora, para que não se repitam os erros cometidos até aqui. 3. Crescimento com Limites A visão ecológica é relativamente nova. Há pouco menos de três décadas poluição era sinônimo de progresso. Hoje, a opinião pública está mais consciente e crítica. Continua querendo progresso e crescimento, mas já não aceita a falta de responsabilidade ambiental, a poluição, a destruição e desperdício de recursos naturais. Um dos problemas é definir quais os limites do crescimento. Até onde uma comunidade pode usar os recursos naturais e a biodiversidade sem


comprometer a sua própria qualidade de vida ou a de seus filhos e netos? Não há respostas prontas. Percebemos que os limites devem ser colocados caso a caso, em função das características de cada lugar. Isso pressupõe embate de idéias, possível apenas num ambiente democrático, principalmente com uma imprensa livre. Nossa geração tem um papel muito importante na história da humanidade. É a geração da transição entre duas visões distintas de mundo. Não temos todas as respostas, muito menos a solução de todos os problemas, mas já somos capazes de dizer não ao progresso sem limites e dizer sim ao progresso com responsabilidade ambiental, ainda que, às vezes, não saibamos direito que caminhos são os melhores para nos levar a esse novo desafio. Apesar das diferentes visões de mundo, sempre acreditamos na possibilidade do diálogo, pois, no fundo, parece haver um objetivo comum: viver num mundo melhor, mais preservado, com maior qualidade de vida para todos. Mas não podemos ser ingênuos a ponto de acreditar que, só por que seria o melhor para todos, o sentimento do bem comum é que move os povos e os indivíduos. Pode até ser que a nível da promessa, do discurso, das intenções isso ocorra, mas nem sempre se concretizam em gestos. É preciso estar atento a discursos mentirosos e falsos que usam a linguagem da responsabilidade social e ambiental como biombo para esconder as verdadeiras intenções de lucros crescentes e a qualquer custo. 4. Gente Demais ou Crescimento Injusto? Ricos e pobres devem fazer a sua parte a fim de evitar o esgotamento do planeta. Não basta só exigir dos pobres controle populacional e maior responsabilidade na ocupação de novas áreas ambientais. É preciso exigir também dos ricos melhor distribuição de renda e um modelo de desenvolvimento menos predatório. O problema é que são os ricos quem fazem as regras, sustentam os organismos financeiros internacionais, dominam os grandes meios de comunicação mundiais. Não que o problema do crescimento populacional mundial não seja grave. Em 1.990, 51,5% da população mundial tinha menos de 25 anos, segundo a ONU. Ou seja, somos um planeta com 2,7 bilhões de jovens, todos querendo emprego, melhor qualidade de vida e, naturalmente, filhos. Até quando o planeta conseguirá suportar a demanda? O problema não está só na quantidade de indivíduos, mas na forma como esses indivíduos vêm tratando o planeta. Por exemplo, uma única pessoa vivendo em 20 mil hectares no meio da floresta amazônica, ou no Pantanal, pode causar mais danos com uso


do fogo e motoserra, que 2.000 pessoas com consciência ambiental num edifício no centro de São Paulo. Ainda, segundo a ONU, existem no planeta cerca de 1,1 bilhão de pessoas vivendo em absoluta pobreza, 1 bilhão de analfabetos e cerca de 13,5 milhões de crianças com menos de cinco anos que morrem de fome a cada ano. Dados como esses levaram a Conferência Mundial Sobre População e Desenvolvimento, realizada em setembro de 1994, no Cairo, Egito, a definir um programa para o controle da população mundial nos próximos 20 anos, como se o maior perigo para o planeta fosse a explosão demográfica nos países pobres. Mas e os países ricos? Quando serão obrigados a rever seu modelo predatório e socialmente injusto de desenvolvimento, baseado em lucros crescentes, que coloca um fardo ecológico excessivo sobre países pobres e em desenvolvimento, reduzidos à condição de meros exportadores de matérias primas e em lixeira do ‘primeiro mundo’ desenvolvido? 5. Sustentável sim, mas para quem? "Algumas pessoas podem rir de mim porque eu tentei e não consegui, mas com certeza eu rirei muito mais porque elas nunca tentaram" - Darcy Ribeiro O planeta não é um enorme armazém de recursos infinitos, por um lado, e uma enorme lixeira capaz de absorver indefinidamente os nossos restos, por outro. O atual modelo de desenvolvimento tem usado o planeta além de sua capacidade de suporte, e o colapso dos sistemas vivos e os seus sinais já são visíveis por todo o lado, como o aquecimento global, a perda maciça de florestas e biodiversidade, etc. Como um lado diferente da mesma moeda, milhões de nossos semelhantes estão condenados a uma vida de sofrimento, fome e miséria. O que se percebe é que a mesma lógica que superexplora o planeta produz também a miséria e a fome. Não basta defender um desenvolvimento ambientalmente sustentável sem perguntar: sustentável para quem? Para os ricos? É fundamental que além de ambientalmente sustentável, esse novo modelo de desenvolvimento seja também justo na distribuição da renda e qualidade de vida para todos. Por trás deste modelo insustentável não está a falta de informação ou de conhecimento científico, muito menos a exigência de atender as necessidades básicas da humanidade. Só o que se gasta em armamentos hoje no mundo seria mais do que suficiente para dar casa, comida e uma vida digna a todo ser humano neste planeta. Por trás dessa forma de vida existem valores egoístas, materialistas, mesquinhos onde o que importa é acumular mais e mais poder e lucros crescentes. E pouco adiantará exibir números sobre os


impactos negativos e as conseqüências dessa ação humana sobre o planeta, pois, ao contrário de estimular uma revisão de valores, só servirá para tornar os materialistas e egoístas ainda mais afoitos em sua corrida por acumular mais bens e poder antes que os recursos que restam se esgotem ou o meio ambiente se contamine demais. Para esse tipo de gente o mundo se divide entre vencedores por um lado e perdedores por outro, uma espécie de seleção natural da espécie, onde vencem os mais aptos. É mais ou menos como aquele sujeito que, ao ser informado sobre a necessidade de economizar água pois ela pode acabar, trata logo de beber e estocar o máximo que puder antes dos outros. Seria muito cômodo acreditar que só os donos do poder econômico e político são egoístas, materialistas e hipócritas. Na verdade, cada um de nós que coloca sua idéia de felicidade, sucesso, prestígio ou reconhecimento social no acúmulo de bens e dinheiro reforça esse modelo. Quantas vezes ouvimos pessoas medindo o sucesso e a felicidade de alguém pelo novo carro ou iate, a viagem ao exterior, a construção de uma piscina, o tamanho dos lucros num determinado período, a operação plástica, etc. Basta passarmos alguns minutos diante da televisão para ver defeitos humanos que deveríamos estar nos esforçando para combater, como inveja, orgulho, cobiça, avareza, luxúria, gula, preguiça, serem elevados à estatura de virtudes a serem alcançadas. Estas são as bases de uma sociedade materialista, consumista e individualista que gera esgotamento dos recursos naturais e poluição do planeta, por um lado, e injustiça social e concentração de renda, por outro. Por trás de nossos problemas ambientais, não estão apenas a ação de poluidores, o desmantelamento dos órgãos públicos de controle ambiental, ou a falta de consciência ambiental, mas também um tipo de atitudes e valores, que julga natural explorar ao meio ambiente e ao nossos semelhantes só para acumular lucros crescentes, só se importante a nível do discurso com as agressões ambientais e problemas sociais que gera. Logo, não basta exigir mudança de comportamento de empresas e governos. Precisamos ser capazes de enfrentar a nós próprios, pois não haverá planeta suficiente capaz de suprir as necessidades de quem acha que a felicidade e o sucesso está na posse de cada vez mais bens materiais. Também reforçamos esse modelo insustentável quando aprovamos a idéia de que o mercado será capaz de prover o bem estar e a qualidade de vida para todos e, conseqüentemente, o ideal é um tipo de governo mínimo, que interfira o mínimo possível e, melhor ainda, que esteja ao lado do mercado auxiliando no seu avanço sobre o que é de todos, transformando a água, a biodiversidade, os genes de nosso próprio corpo e dos alimentos, em mercadorias.


Para a grande maioria dos pobres e miseráveis que sonharam com o mundo de maravilhas e riquezas prometidas pelos donos do poder e do dinheiro nos países chamados desenvolvidos é muito duro descobrir que o sonho é só um sonho, que jamais será realidade, pois seriam precisos uns três Planetas Terra de recursos. Como última esperança precisamos confiar no forte instinto de sobrevivência de nossa espécie. Antes, só quem sofria eram os que não tinham acesso ao poder e à riqueza. Agora, com a destruição crescente dos sistemas vitais a nível global, os poderosos também começam a ver ameaçados as suas conquistas. Afinal, de que adiantará acumular um tesouro em bens e dinheiro, mas não ter um ar ou uma água limpa para respirar. Cada vez mais as pessoas estão percebendo que, ao contrário do planeta parecer uma laranja que podemos jogar o bagaço fora depois de chupada, o planeta é um barco, onde uns poucos privilegiados podem estar viajando na primeira classe, mas estamos todos juntos no mesmo destino. Tem gente que acha mais fácil ficar reclamando que ninguém ajuda, mas não se pergunta se está fazendo a sua parte em defesa do Planeta. Para conseguir convencer os outros a modificarem seus hábitos, precisamos modificar os nossos primeiro. Se queremos um planeta preservado, de verdade, não basta apenas lutar contra poluidores e depredadores. É preciso também nos esforçarmos para mudar nossos valores consumistas, hábitos e comportamentos que provocam poluição, atitudes predatórias com os animais, as plantas e o meio ambiente. Mas só isso não basta, pois não há coerência em quem ama os animais e as plantas mas explora, humilha, discrimina, odeia seus semelhantes. Por isso, precisamos, além de agirmos corretamente com o meio ambiente, nos esforçarmos para sermos mais fraternos, democráticos, justos e pacíficos com os nossos semelhantes. Confúcio disse, há mais de 5 mil anos, que se alguém quisesse mudar o mundo, teria de começar por si próprio, pois mudando a si próprio, sua casa mudaria. Mudando sua casa, a rua mudaria. Mudando a rua, o bairro mudaria. Mudando o bairro, mudaria o município e assim por diante, até mudar o mundo. O atual modelo predatório e injusto sobreviverá enquanto nossa idéia de felicidade for baseada na posse de bens materiais e na acumulação de riquezas, enquanto ter for mais importante que ser. Então, se pretendemos que os poderosos do mundo mudem, precisamos também saber se estamos mudando a nós próprios, para não continuarmos a criar poderosos com nossos falsos sonhos e perspectivas de felicidade.


6. A Percepção da Ecologia Não basta termos clareza do que precisa ser mudado a fim de conseguirmos uma relação mais harmônica da espécie humana com as outras espécies e o próprio planeta. É preciso sensibilizar e mobilizar a sociedade em direção a esse mundo melhor, por isso, aqueles que se comunicam com o público precisam falar uma linguagem que seja percebida por todos. Muitas vezes, de tão conscientes da importância da mensagem que pretendem transmitir, os multiplicadores de opinião não se dão conta que suas palavras, apesar da atenção da platéia, não estão sendo compreendidas como imaginam. Para a maioria, meio ambiente é cuidar das plantas e dos bichos, como se a espécie humana não fizesse parte do planeta, assim, as pessoas nem sempre percebem as questões ambientais como o outro lado da questão social, não se dão conta que as mesmas forças e mecanismos que superexploram o meio ambiente são também as mesmas forças e mecanismos que superexploram o ser humano e produzem a concentração de renda, a miséria, a fome, as guerras. Por outro lado, a população, por mais carente que seja, possui consciência ecológica, só que essa percepção é bastante romântica, associando-se mais à proteção das plantas e dos animais e menos à qualidade de vida da espécie humana, como se não fizéssemos parte da natureza. Para a maioria, lutar pelo fim das valas de esgotos e condições insalubres de trabalho nas fábricas não é fazer luta ecológica. Os ecologistas, educadores ambientais, jornalistas especializados em meio ambiente, políticos e administradores públicos e privados precisam ganhar as ruas, conquistar o povo, mas antes devem rever sua linguagem e seus conceitos. Se queremos a compreensão e a mobilização da sociedade para os temas ecológicos, devemos adaptar o ecologês às carências da nossa sociedade, partindo dos temas que a sociedade já domina e conhece para os que precisa conhecer a fim de construir uma melhor relação, mais harmônica, menos poluidora com seu meio ambiente e os outros seres vivos do planeta. Educação Ambiental 1. Educação Ambiental e Cidadania Ativa 2. As árvores não são derrubadas, a fauna sacrificada ou o meio ambiente poluído porque nossa espécie desconhece os impactos dessas ações sobre a natureza. A destruição da natureza não resulta da forma como nossa espécie se relaciona com essa


natureza, mas da maneira como se relaciona consigo mesma. Ao desmatar, queimar, poluir, utilizar ou desperdiçar recursos naturais ou energéticos, cada ser humano está reproduzindo o que aprendeu ao longo da história e cultura de seu povo, portanto, este não é um ato isolado de um ou outro indivíduo, mas reflete as relações sociais e tecnológicas de sua sociedade. Seres humanos explorados, injustiçados e desprovidos de seus direitos de cidadãos compreendem com dificuldade que é antiético fazer o mesmo com animais e plantas, considerados inferiores pelos humanos. A atual relação de nossa espécie com a natureza é apenas um reflexo do atual estágio de desenvolvimento das relações humanas entre nós próprios. Vivemos sendo explorados, achamos justo e legítimo explorar. É ilusão pretender que a educação ambiental sozinha será capaz de enfrentar estes enormes desafios. A população tem uma visão romântica da ecologia, associando-a mais em defesa do verde e, por extensão, das árvores e animais. Nessa visão, o ser humano não faz parte da natureza, por isso pode fazer com ela o que quiser. Por mais que julgue as questões ecológicas importantes, a maioria da população as considera secundárias, pois o mais importante é lutar por moradia, alimento, emprego, escola, bons salários etc. As questões ambientais são importantes também, mas inoportunas e secundárias diante dessas outras prioridades. Sabemos no entanto, que sem um meio ambiente preservado não há qualidade de vida, que os ambientes natural e humano deveriam viver em harmonia. Na verdade, as lutas por melhores condições de vida travadas por sindicatos, associações de moradores e outras entidades da sociedade civil, por exemplo, tem uma enorme relação direta com o meio ambiente. Só democratizar a informação ambiental não é suficiente sem uma articulação com a educação ambiental, afinal, não é pelo maior ou menor volume de informações que a população aprende a pensar criticamente e atuar em seu mundo pra transformá-lo, se não tiver uma cultura e uma formação que predisponha as pessoas a valorizar esta informação. Sem isso, as pessoas vão pouco a pouco tornandose insensíveis diante da informação, como se fosse mais uma espécie de poluição onde as palavras perdem o significado e importância, e tanto faz saber que derrubaram uma árvore ou uma floresta. A educação, por sua vez, não se dá ao vácuo, mas inserida em seu tempo e no contexto. Deve, portanto, saber aproveitar dos meios de comunicação seu compromisso com o contemporâneo, trazendo a realidade vivida para o processo educativo, crítico e participativo, adequado à realidade dos alunos.


Por outro lado, não há educação ambiental sem participação política. Não basta estimular a participação dos cidadãos e não garantir os instrumentos de acesso à informação, primeiramente, pois sem ela dificilmente o cidadão consegue se mobilizar, e garantir canais de participação, com comitês e conselhos paritários, e, finalmente, instrumentos que permitam aos cidadãos participarem do estabelecimento das regras do jogo. A educação ambiental é fundamentalmente uma pedagogia de ação. Não bata se tornar mais consciente dos problemas ambientais, sem se tornar também mais ativo, crítico e participativo. O comportamento dos cidadãos em relação ao seu meio ambiente, é indissociável do exercício da cidadania. 2. A Mudança Começa em Nós Todos nós desejamos viver num mundo melhor, mais pacífico, fraterno e ecológico. O problema é que as pessoas sempre esperam que esse mundo melhor comece no outro. É comum ouvirmos pessoas falando que têm boa vontade para ajudar, mas como ninguém as convida para nada, nem se organizam, então não podem contribuir como gostariam para um mutirão de limpeza da rua, por exemplo, ou para plantio de árvores. Pessoas assim acabam achando mais fácil reclamar que ninguém faz nada, ou que a culpa é do “Sistema”, dos governantes ou empresas, mas não se perguntam se estão fazendo a parte que lhes cabe. Por outro lado, é importante não ficar esperando a perfeição individual - pois isso é inatingível. O fato de adquirirmos consciência ambiental, não nos faz perfeitos. O importante é que tenhamos o compromisso de ser melhor todo dia, procurando sempre nos superarmos. Também não podemos cometer o erro de subordinar a luta em defesa da natureza às mudanças nas estruturas injustas de nossa sociedade, pois devem ser lutas interligadas e simultâneas, já que de nada adianta alcançarmos toda a riqueza do mundo, ou toda a justiça social que sonhamos, se o planeta tornar-se incapaz de sustentar a vida humana com qualidade. As questões ambientais estão inter-relacionadas também à questão da identidade cultural de uma comunidade. Ao migrar das cidades do interior para os grandes centros urbanos, além de todos os problemas que acarretam com o crescimento das cidades, as pessoas perdem muito de sua identidade cultural, sua memória. Se no interior, apesar das dificuldades, as pessoas tinham nome e sobrenome, eram conhecidas, nas cidades estão isoladas, como se fosse num mar enorme, de gente por todos os lados, mas gente desconhecida.


Sem identidade cultural, importa muito pouco saber que o patrimônio da coletividade, seja ambiental, seja arquitetônico, histórico, cultural, a própria rua, a praça, está sendo ameaçado ou destruído. À medida que essa gente não se sente dona desses espaços coletivos - que são considerados como terra de ninguém ou como pertencentes aos governos dos quais não gostam - também não se mobilizam em sua defesa. Assim, não há nenhuma sensação de perda diante de uma floresta que deixa de existir ou de um lago ou manguezal aterrado, pois a população residente, em sua maior parte, por não ter identidade cultural com o lugar em que vive, também não se sente parte dele. Esse fenômeno acontece, hoje, principalmente nas periferias das grandes cidades brasileiras, onde se concentram milhares de trabalhadores que usam as cidades apenas para dormir constituindo-se em mão-de-obra pendular casa-trabalho/trabalhocasa das grandes cidades. Existe uma grande população, mas não um grande povo. Um educador ambiental, por exemplo, precisa ter clara compreensão dessa realidade, procurando também associar-se às lutas populares pelo resgate cultural e desenvolvendo técnicas, como a memória viva, para iniciar uma formação de identidade cultural dos educandos com o lugar em que vivem. Nesse ponto retorna a questão fundamental da linguagem. É preciso partir da percepção dos educandos sobre o que são as questões ambientais, e não da dos educadores, para que os alunos assumam como suas as melhorias ambientais e a defesa de seu patrimônio ambiental, e não uma imposição dos governos ou da escola. Nesse sentido, o professor não deve pretender ser um condutor de novos conhecimentos, pois não se trata apenas de estimular o aluno a dominar maior número de informações, mas assumir o papel de estimulador, motivador, instrumento, apoio, levando os alunos a elaborarem seu próprio conhecimento sobre o que seja meio ambiente e o aluno pode fazer para evitar as agressões. A educação ambiental, à medida que se assume como educação mais política do que técnica, assume também o processo de formadora da identidade política e cultural de um povo. Nesse sentido, alinha-se a todas as lutas e movimentos da sociedade pela cidadania. O educador ambiental deve procurar colocar os alunos em situações que sejam formadoras, como por exemplo, diante de uma agressão ambiental ou de um bom exemplo de preservação ou conservação ambiental, apresentando os meios de compreensão do meio ambiente. Em termos ambientais isso não constitui dificuldades, uma vez que o meio ambiente está em toda a nossa volta. Dissociada dessa realidade, a educação ambiental não teria razão de ser. Entretanto, mais importante que dominar informações sobre um rio


ou ecossistema da região é usar o meio ambiente local como motivador, para que o aluno seja levado a compreender conceitos como, por exemplo: • Visão física: Nada vive isolado na natureza. Assim como influenciamos no meio, somos influenciados por ele. Um ser depende do outro para sobreviver. Não existem seres mais ou menos importantes para o conjunto da vida no planeta. A única coisa importante é a rede de relações que todos os seres vivos mantém entre si e com o meio em que vivem. Rompida esta "teia", ou diminuída em sua capacidade, a vida corre perigo. • Visão cultural: O meio ambiente não é constituído apenas pelo mundo natural, onde vivem as plantas e os animais, mas também pelo mundo construído pelo ser humano, suas cidades, as zonas rurais e urbanas. Estes dois mundos relacionam-se e influenciam-se reciprocamente. Somos resultado dessas duas evoluções, a natural e a cultural. • Visão político-econômica: O poder não está distribuído de maneira igual por toda a humanidade, sendo diferente, portanto, a distribuição das responsabilidades de cada um pela destruição do planeta e pela construção de um mundo melhor. Cada cidadão pode e deve fazer a sua parte, mas os empresários, políticos, administradores públicos, etc., têm uma responsabilidade muito maior. Atrás de cada agressão à natureza estão interesses sócioeconômicos e culturais de nossa espécie, que usa o planeta como se fosse uma fonte inesgotável de recursos. As relações entre a espécie humana e a natureza estão em desequilíbrio por que refletem a injustiça e desarmonia das relações entre os indivíduos de nossa própria espécie. • Visão ética: A mudança para uma relação mais harmônica e menos predatória e poluidora com o planeta e as outras espécies depende de todos, mas especialmente começa em cada um de nós, individualmente, através de dois movimentos distintos: um para dentro de nós mesmos e de nossa família, com adoção de novos hábitos, comportamentos, atitudes e valores; e outro para a sociedade em torno de nós, buscando a união com outros cidadãos para influir em políticas públicas e empresariais que levem em conta o planeta, a qualidade de vida, a justiça social. Logo, por mais que o ensino para o meio ambiente mude de lugar para lugar, em função das diferentes realidades, alguns princípios estão presentes praticamente em todas as situação, tais como: • Defina palavras e conceitos - Defender a natureza, a flora e a floresta, o meio ambiente, a ecologia. Preservar os ecossistemas e os


habitats, combater a depredação dos recursos naturais, a poluição de mananciais e do lençol freático. São palavras e conceitos que se tornaram comuns hoje em dia, mas afinal, do que se trata? É preciso definir o que se está falando, tomando o cuidado de não cair num tecnicismo que distancie o aluno da ação transformadora que ele precisa empreender como cidadão de seu tempo. • Mostre a importância - Por mais sério que seja, ninguém consegue ter a sensação de importância por uma coisa abstrata, fora de sua realidade. Antes de se importar com a sobrevivência das outras espécies, o aluno precisa estar consciente de sua própria importância, sua capacidade de interferir no meio ambiente e de agir como cidadão. Afinal, como respeitar espécies consideradas inferiores se o aluno percebe que não há respeito entre os indivíduos de sua própria espécie? • Estimule a reflexão - A cada ação deve corresponder uma reflexão, pois não é possível pretender transformar o mundo ou criar uma relação mais harmônica com a natureza ou os outros indivíduos de nossa própria espécie baseando-se apenas no academicismo, onde se acumula um volume imenso de conhecimentos e informações sem que isso reverta em melhoria das condições de vida; ou no tarefismo, onde se procura transformar o mundo pela ação direta, como se nosso esforço fosse o suficiente para contagiar a todos. O equilíbrio entre as duas forças deve ser o objetivo de uma boa educação para o meio ambiente. • Estimule a participação - Uma vez que o aluno já domina um mínimo de conhecimentos sobre palavras e conceitos e está consciente sobre a importância de seu papel como agente transformador o próximo passo é a participação. É no enfrentamento dos problemas de seu cotidiano que o aluno se formará como cidadão. Além disso, o jovem não precisa chegar à maioridade ou ter um diploma técnico para só então defender seus direitos a um meio ambiente preservado, pois cada omissão equivale à destruição de mais e mais recursos naturais, de mais e mais poluição. A mudança deve começar já, inicialmente através de novas atitudes e comportamentos, mas logo a seguir procurando engajar-se nas ações da sociedade em defesa do meio ambiente e da qualidade de vida. Para estimular os alunos, uma boa técnica é estabelecer parceiras com os grupos ecológicos comunitários do lugar, convidando-os para se integrarem ao trabalho na escola. • Interesse-se a descobrir coisas novas - Um diploma de conclusão de curso não significa o domínio total de um conhecimento. A gente continua aprendendo sempre. Interesse seus alunos pelos estudos da natureza, lendo com eles notícias recentes de jornais e revistas, comentando a última programação sobre ecologia na televisão.


Estimule cantinhos da natureza na sala de aula, museus naturais, álbum de recortes, leituras coletivas de materiais etc. • Faça junto com eles - O exemplo vale mais do que mil palavras. Os alunos são bastante impressionáveis diante da figura do professor. Ver o professor falar, falar, mas não agir conforme o que fala é desestimulante para os alunos e, ao mesmo tempo, um apelo ao nãoagir, considerar o ensino para o meio ambiente como mais uma disciplina aborrecida que deve ser estudada apenas para tirar uma boa nota. Aproveite a oportunidade e engaje-se com seus alunos na tarefa de se construir as novas relações com o planeta, afinal, essa é uma tarefa de cidadania, muito mais que um compromisso de trabalho. • Saia da sala de aula - O meio ambiente da sala de aula não é o mais adequado para ensinar sobre o mundo que está lá fora. Sair da sala de aula, entretanto, traz inúmeros problemas quando se dispõe de apenas 45 minutos para uma aula. Uma das soluções pode ser mutirão pedagógico com colegas de outras disciplinas, o que reforça o caráter interdiciplinar do ensino para o meio ambiente. Outra possibilidade é sugerir aos pais dos alunos que façam incursões em finais de semanas ou feriados para realizar estudos do meio ou investigar e fotografar um problema ambiental, levando no carro dois, três ou mais coleguinhas dos filhos. E isso nem é uma proposta absurda, já que muitos pais ajudam os filhos nos trabalhos escolares, e não deixa de ser um passeio interessante, além de promover a integração entre pais e alunos, escolas e comunidade. 3. A educação ambiental é também uma educação para a paz Não cabe, em educação ambiental, um ensino do tipo mero transmissor de conhecimentos pois os problemas ambientais de nosso mundo não resultam na falta de conhecimento ou informação, caso contrário, pessoas bem informadas não promoveriam agressões ambientais. A educação ambiental deve buscar a motivação do aluno para a mudança de atitudes, de valores, sensibilizá-lo para a transformação ambiental de sua realidade, estimular uma nova ética mais solidária e responsável tanto com nossos semelhantes quanto com os demais seres da Criação. Os alunos não são ‘páginas em branco’ sem história ou experiências ambientais anteriores, pois já trazem uma bagagem ambiental, só que essa visão é às vezes romântica, como se as questões ambientais dissessem respeito apenas às plantas e aos bichos, uma visão embrionária de cidadania, onde o mundo melhor que desejamos começa no outro, uma visão utilitarista, onde o Planeta e os outros seres não passam de recursos, justificando o seu uso e abuso em nome do desenvolvimento da espécie humana.


Os meios de comunicação, principalmente a televisão, exibem grande número de informações ambientais, no entanto, não possuem o caráter pedagógico requerido para o ensino do meio ambiente, mas isso não significa que se deva recusá-los. É mais o caso de complementá-los, lidando com as informações e conceitos veiculados para ajudar os alunos na reflexão sobre os fatos, relacionando-os com suas realidades vividas. Nesse processo, os alunos ao mesmo tempo que adquirem os instrumentos intelectuais necessários para a compreensão do mundo em que vivem, motivam-se a transformá-lo, buscando solução real para os problemas apresentados, atacando suas causas. Neste sentido, se adequadamente utilizada, os meios de comunicação podem se tornar importantes instrumentos do professor na formação do aluno, como, por exemplo, usar em sala de aula jornais, revistas, vídeos com temas ambientais. Outra idéia interessante é aproximar o aluno de seu meio ambiente através de passeios ecológicos, estudo do meio, estudo de caso, etc., que estimulem a troca de informações, visões e experiências sobre o meio ambiente na comunidade, seus problemas concretos e possibilidades de solução, seguido de debates cidadãos e trabalhos científicos, mas agora num clima de interesse pelos fenômenos naturais e os conceitos sobre a natureza, a idéia de ecossistema, as cadeias alimentares, os ciclos naturais, o profundo poder de interferência da espécie humana na modificação – para pior ou melhor – do seu meio ambiente. Os alunos estarão partindo do local para o global, da realidade que conhecem e dominam para a que não conhecem e desejam dominar. Os debates podem ser momentos muito ricos de possibilidades envolvendo o convite a ambientalistas, líderes comunitários, agentes governamentais, promotores públicos, pessoas que lidam com a problemática ambiental local preparando os alunos antes para aproveitarem bem o encontro, realizando perguntas interessantes que os motivem para a participação cidadã ambiental. Nenhuma experiência seria mais enriquecedora que a organização, com os próprios alunos de um grupo ambiental na escola, como os Clubes de Amigos do Planeta. Ao mesmo tempo em que vão tomando conhecimento sobre a problemática ambiental em seus diversos aspectos, sobre as alternativas de soluções, sobre a necessidade de mudança de valores e atitudes, também vão construindo a própria cidadania ambiental, passam a valorizar o trabalho em equipe pelo bem comum, aprendem a ser democráticos, ou seja, a discutir e negociar opiniões diferentes num ambiente pacífico sem precisar recorrer a armas ou agressões físicas. Neste sentido, a educação ambiental é também uma educação para a paz. 4. Dez Mandamentos do “Amigo do Planeta”


1 - Só Jogue Lixo no Lugar Certo É horrível quando a gente vê alguém jogando lixo no chão. As ruas, praças e qualquer logradouro público não são terra de ninguém, mas pertencem a todos. Você não jogaria lixo na casa de alguém, jogaria? Pois é, a rua pertence a todos, tem muitos donos. O lixo espalhado, além de atrair ratos, moscas, mosquitos, cria um aspecto horrível de poluição em sua cidade. E, depois, custa muito dinheiro de impostos para limpar, dinheiro que podia estar sendo usado para outras obras. Um Amigo do Planeta só joga seu lixo nos locais apropriados, ou guarda no bolso e traz para colocar na lixeira da própria casa. 2 - Poupe Água e Energia A água que você usa não sai da parede. Ela vem de algum rio ou manancial. Os rios estão sendo agredidos pela poluição e pelo desmatamento, o que torna a água potável cada vez menos disponível, o que eleva o custo de seu tratamento. Quanto à energia, existe a elétrica ou então vem de fontes como gás, petróleo, lenha e carvão. Elas vão escassear cada vez mais e algumas não são renováveis, como o petróleo, por exemplo. 3 Não Desperdice Evite consumir além do necessário. Adquira o indispensável em alimentos, objetos, roupas, brinquedos etc. As lojas e supermercados estão cheios de inutilidades que só fazem gastar mais e mais recursos naturais na fabricação. Reflita antes de comprar. Rejeite produtos descartáveis, como copos, garrafas etc. Além de poluírem e aumentarem o volume de lixo, também apressam o esgotamento dos recursos naturais. Reutilize as sacolas de compra. Prefira alimentos naturais, evitando enlatados, empacotados, refrigerantes, os alimentos industrializados, além de mais caros, podem causar alergias e outros males e, às vezes, nem têm grandes funções nutritivas. 4 - Proteja os Animais e as Plantas Cada animal ou planta é um ser vivo como você e tem tanto direito à vida, à liberdade e ao bem estar quanto nós. Embora você não perceba, sua vida está interligada com a de todos os outros seres. É essa interligação que forma a `teia da vida' que garante a sobrevivência de todos. Por ter perdido esta noção, nossa espécie vem causando tanto prejuízo e poluição à natureza, com conseqüências cada vez mais graves para a nossa qualidade de vida. Os seres humanos são os únicos com capacidade de modificar em profundidade seu meio ambiente. Nós temos usado essa capacidade


para piorar as coisas. Agora precisamos fazer o contrário, para nossa própria sobrevivência. 5 - Proteja as Árvores Para fabricar papel é preciso cortar árvores, logo, poupar papel é uma forma de defender as árvores. Utilize os dois lados da folha de papel. Leve sua sacola de compras ao supermercado. Faça coleta seletiva em sua casa. Recicle o papel, fabricando novo papel a partir do papel usado. A outra forma de ajudar é defendendo as árvores existentes e plantando novas árvores. Adote uma árvore. Cuide dela com carinho e respeito. 6 - Evite Poluir Seu Meio Ambiente Use o menos possível o automóvel, programando suas saídas. Ele provoca poluição do ar. Acostume-se a ouvir música sem aumentar muito o volume do som. Som alto provoca poluição sonora. Enfim, reveja seu dia-a-dia e tome as atitudes ecológicas que julgar mais corretas e adequadas para você. Não espere que alguém venha fazer isso por você. Faça você mesmo. 7 - Faça Coleta Seletiva do Lixo É fácil separar o lixo seco (inorgânico: papel, plástico, metal, vidro) do lixo molhado (orgânico: restos de comida, cascas de frutas etc.). Você estará contribuindo para poupar os recursos naturais, aumentar a vida útil dos depósitos públicos de lixo, diminuir a poluição. É só ter duas vasilhas diferentes a lado da pia da cozinha e um lugar para depositar o lixo seco até alcançar um volume que permita sua venda ou doação - e boa vontade. 8 - Só Use Biodegradáveis Existem certos produtos de limpeza que não se degradam na natureza, como sabões, detergentes etc. Procure certificar-se, ao comprar estes produtos, de que são biodegradáveis. Evite o uso de venenos e inseticidas. Uma casa limpa é suficiente para afastar insetos e ratos. Os inseticidas são altamente nocivos para o meio ambiente e para a saúde das pessoas. 9 - Conheça Mais a Natureza Estude e leia mais sobre a natureza, mesmo que não seja tarefa da escola. Tenha em casa livros, revistas que falem sobre a natureza. Faça um álbum de recortes com figuras de animais e plantas. Procure no dicionário palavras como saúde do trabalhador, reciclagem,


reaproveitamento, habitat, biodegradáveis etc. Quanto mais você souber, melhor poderá agir em defesa da natureza. 10 - Participe Dessa Luta Não adianta você ficar só estudando e conhecendo mais sobre a natureza. É preciso combinar estudo e reflexão com ação. Você pode agir sozinho, procurando políticos ou a imprensa, por exemplo, para denunciar ou protestar contra os abusos, poluições, depredações. Também pode agir em grupo. Crie um Clube de Amigos do Planeta em sua Escola. Quando estamos unidos, somos mais fortes e capazes de encontrar soluções para enfrentar os problemas ambientais. Cidadania Ambiental 1. O Joio e o Trigo entre as ONGs A sociedade civil ao se organizar em defesa de seus direitos, cria as chamadas ONGs, Organizações Não-Governamentais, que reúnem cidadãos quase sempre voluntários em torno de um conjunto de objetivos e princípios consolidados em estatutos, assembléias, reuniões, diretorias. Entretanto, o compromisso e a luta pelo bem comum não tornam os indivíduos necessariamente melhores. As ONGs são conduzidas por seres humanos e seres humanos erram. Um desses erros é a existência de ‘ONGs de cartório’, ou seja, instituições que existem apenas em caixa postal, cujos diretores assinam atas de reuniões que não existiram, etc. Estas falsas ONGs disputam poder de voto em igualdade de condições com outras ONGs realmente constituídas, gerando distorções no processo democrático e dificuldades na construção e fortalecimento deste segmento na sociedade, além de servirem de verdadeiros ‘laranjas’ para desvio de dinheiro público. Existem ainda empresas privadas que criam ONGs de cartório para beneficiarem-se de isenções fiscais e agregar valor às suas marcas institucionais, desvirtuando e confundindo a noção de ONGs como organizações que representam os interesses da sociedade civil. Existem ainda as ONGs ‘de combate’, cujo objetivo principal é reivindicar melhor qualidade de vida e ambiental e ‘ONGs profissionais’, que se propõem a irem além da simples reivindicação e buscam se capacitarem para a elaboração e a execução de projetos em parceria com governos e empresas ou usando recursos públicos ou privados destinados a projetos. Nem sempre a compreensão entre o trabalho de uma e de outra é bem entendido e não é raro verem-se como adversárias. As ONGs que optaram pela profissionalização argumentam que, se elas têm a vontade de defender o meio ambiente, comprometimento cidadão com a causa ambiental, a


compreensão sobre o que é preciso para o meio ambiente, e detêm ainda a capacitação técnica e a experiência em execução de projetos, então por que têm de se limitar apenas a cobrar responsabilidade de governos e empresas. Por que as próprias ONGs não podem também capacitarem-se para executar projetos e serviços ambientais? Por que as ONGs tem de limitarem apenas a dizer o que está errado? Por que não podem também se oferecer para dar solução concreta aos problemas que as próprias ONGs apontam? O problema é quando, para forçar os governos ou empresas a contratarem seus serviços, as ONGs profissionais se comportam num primeiro momento como ‘de combate’, pressionando e criando dificuldades, e aliando-se a outras organizações de combate na sociedade, para num segundo momento, abandonarem essas alianças e negociarem suas posições em troca de um contrato para prestação de serviços ou projetos, oferecendo aos empreendedores a falsa ilusão de que estarão limpando sua imagem ambiental ou pacificando suas relações com as ONGs. Saber a diferença, separar o joio do trigo, ainda será um longo caminho. 2. O Poder dos ‘Ings’ As ONGs (Organizações Não-Governamentais) ambientalistas, enquanto espaço de participação e atuação direta da cidadania, têm despertado a atenção dos pesquisadores e cientistas sociais. Alguns autores, por saberem que a ciência não é neutra, fazem um trabalho investigativo cuidadoso, sem pressa de resultados rápidos, com visitas a campo, entrevistas com ambientalistas das diversas tendências e ideologias, etc., a fim de alcançar um resultado o mais próximo da realidade. Infelizmente, estão em minoria. O que temos visto com mais freqüência são autores que, de dentro da academia, e longe da militância, se propõem-se a falar de uma realidade que não conhecem direito. A criação do termo ‘ING’ (indivíduo nãogovernamental) é um desses exemplos. É usado pejorativamente para depreciar os cidadãos que mais se destacam dentro das lutas de sua entidade. Trata-se, na melhor das hipóteses, de um desconhecimento grosseiro da lógica pelas quais se criam e se mantêm as ONGs. Mas também pode esconder outras intenções, menos ingênuas, como fazer o jogo dos poderosos, dos poluidores, que têm seus interesses contrariados pela persistência de uns poucos “ings”, que não arredam pé da luta, mesmo quando o movimento entra em refluxo. O movimento ambientalista nunca foi uma organização de massa. Apesar dos nomes pomposos, como Institutos, Fundações, Redes, etc. As ONGs se sustentam mesmo é no trabalho de um ou outro


membro mais consciente de seu papel de cidadão e que acaba se destacando e recebendo o reconhecimento da sociedade, pela persistência com a qual enfrenta os problemas ambientais, pela capacidade de superar problemas e inventar soluções. Claro que existem líderes ambientalistas individualistas, que não sabem delegar muito menos trabalhar em equipe, nunca convocam reuniões dos associados e sempre decidem tudo sozinhos. Mas a democracia é um processo e ninguém nasce sabendo ser democrático. É nas lutas, nos embates, nas disputas internas e externas que o cidadão vai se tornando líder. Isso cria divisões internas dentro das entidades e acaba gerando novas ONGs. É um processo doloroso de crescimento, pois é meio antropofágico, mas que tem sido o principal responsável pela multiplicação de novas ONGs. Longe de serem motivos de chacotas ou conceitos depreciativos, os chamados ‘ings’ são na verdade cidadãos persistentes e conscientes, capazes de se manter numa luta pelo direito difuso de toda a sociedade, mesmo quando a própria sociedade não se dispõe a participar. O movimento popular é cíclico, com períodos de maior ou menor mobilização, por tratar-se de um trabalho voluntário. Não é qualquer cidadão, por mais consciente que seja, que pode dispor-se ao trabalho voluntário. E é em momentos assim que os ‘ings’ se destacam, pois não deixam a luta ambientalista morrer, continuam incomodando, exigindo o cumprimento das leis, denunciando as agressões. Graças a eles, muita agressão ambiental tem sido evitada. 3. O Terceiro Setor Um novo tipo de sociedade está surgindo no Brasil, principalmente a partir da década de 90, onde o Estado, o Mercado e o chamado Terceiro Setor, que reúne as organizações da Sociedade Civil, compõem cada vez com mais clareza três esferas relativamente autônomas da realidade social. Nesta nova realidade, as ONGs (organizações não-governamentais) e OSCIPs (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público) são, entre outros, agentes da sociedade civil cada vez mais capazes de assumir, em parceria com Governo e Empresas, o cuidado pelas questões de interesse do bem comum, atuando onde antes predominava o Estado. O Terceiro Setor é regulamentado, no Brasil, pela Lei 9.790/99, um primeiro passo na direção da regulamentação das relações entre Estado e Sociedade Civil no Brasil. Na prática, esta lei se propõe a distribuir o poder antes concentrado apenas no Estado, permitindo às populações, através de suas organizações, também influir nas decisões públicas e alavancar novos recursos ao processo de desenvolvimento do país. Claro, ainda há um longo caminho a


percorrer, para que o Estado, as Empresas, as instâncias organizadas da Sociedade se reconheçam como parceiros em todos os níveis. O Terceiro Setor não surge para substituir o Estado ou as Empresas em suas responsabilidades, embora possa – e deva – atuar em parceria com eles sempre que for necessário ao desenvolvimento humano e social sustentável. Entretanto, o papel do Terceiro Setor ultrapassa o papel do Estado e das Empresas, pois as organizações da sociedade civil têm a capacidade de identificar problemas, oportunidades e vantagens colaborativas, potencialidades e soluções inovadoras em lugares onde o Estado tem dificuldades. A legislação vigente aponta alguns mecanismos de incentivos a projetos do Terceiro Setor voltados a defesa do meio ambiente e ao desenvolvimento de atividades de educação ambiental. Lei nº 9.249, de 26 de dezembro de 1995 - Altera a legislação do imposto de renda das pessoas jurídicas, bem como da contribuição social sobre o lucro líquido, e dá outras providências. MEDIDA PROVISÓRIA No 2.113-32, DE 21 DE JUNHO DE 2001 Estende o benefício da lei nº 9.249/95 às entidades qualificadas como OSCIP - Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público. MEDIDA PROVISÓRIA No 2.143-33, DE 31 DE MAIO DE 2001 Assegura até cinco anos contados da data da vigência da lei 9.790/99 à manutenção simultânea das qualificações de OSCIPs e outros diplomas legais das pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos LEI 9.790, de 23 de Março de 1999 - Dispõe sobre a qualificação de pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, institui e disciplina o Termo de Parceria, e dá outras providências DECRETO 3.100, de 30 de Junho de 1999 - Regulamenta a Lei no 9.790, de 23 de março de 1999, que dispõe sobre a qualificação de pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, institui e disciplina o Termo de Parceria, e dá outras providências. PORTARIA 361, DE 27 DE JULHO DE 1999, MINISTÉRIO DA JUSTIÇA - regulamenta os procedimentos para a qualificação de pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, como Organização da Sociedade Civil de Interesse público.


LEI Nº 8.313, DE 23 DE DEZEMBRO DE 1991 - Restabelece princípios da Lei nº 7.505, de 2 de julho de 1986, institui o Programa Nacional de Apoio à Cultura - PRONAC e dá outras providências. O setor privado pode ser uma importante fonte de captação de recursos para o Terceiro Setor, com a vantagem das empresas poderem abater do Imposto de Renda até 2% do lucro operacional. É o que garante a lei nº 9.249/95, mas as entidades civis devem estar qualificadas como OSCIP, de acordo com a Medida Provisória nº 2113-32 de 21 de junho de 2001, artigos 59 e 60 (ver relação de OSCIPs no site da Secretaria Nacional de Justiça (www.mj.gov.br/snj/oscip.htm ). A lei federal de incentivo a cultura permite deduzir do imposto devido das empresas, 30% do valor do patrocínio do projeto cultural, independente dele já ter sido incentivado por outra lei cultural. No caso do valor do Projeto ser de R$ 100.000,00, a dedução permitida é de R$ 30.000,00. A regulamentação desta lei prevê que o valor desta dedução não ultrapasse 4% do total do imposto a pagar. Além disso, o total da despesa com o projeto pode ser deduzido como despesa operacional. Os recursos oriundos de doações ou prestações de serviços não duram para sempre, daí a necessidade das ONGs reservarem uma parcela para a busca do auto-sustento financeiro, por exemplo, com a comercialização de produtos e serviços, associação com administradoras de cartões de crédito para emissão de cartões de afinidade e campanhas de arrecadação de recursos junto ao público em geral, promoção de cursos, etc. Comunicação Ambiental 1. Dez Mandamentos da Comunicação Ambiental A opinião pública está cada vez mais consciente e sensível às questões ambientais e cobra das empresas, políticos e governos cada vez maior responsabilidade ambiental. O resultado são leis e multas cada vez mais rigorosas, podendo chegar facilmente a milhões de reais, além da obrigação de reparar o dano. O papel dos profissionais de comunicação e dos veículos nessa tomada de consciência foi estratégico. Ao divulgarem as tragédias e acidentes ambientais em todo o mundo, por exemplo, contribuíram para o despertar de uma consciência ambiental que cada vez é mais crescente e cuja tendência, ao contrário de diminuir de intensidade, como se fosse um modismo passageiro, é de aumentar. Às vezes, empresas e governos já mudaram de atitude e adotaram políticas ambientais sérias, mas não investiram adequadamente na


divulgação de seus resultados e continuam sendo vistos como vilãos do meio ambiente. Algumas empresas descobriram à duras penas que uma política de comunicação ambiental pode ser tão importante para o negócio quanto construir prédios ou instalar equipamentos, pois se a opinião pública estiver contra, as dificuldades para licenciamento de novas operações ou para a ampliação de instalações existentes, ou mesmo para a aceitação de produtos pelos consumidores, será cada vez maior. 1. A comunicação ambiental, como qualquer atividade humana, não é neutra - Trata-se de uma técnica, um instrumento, que tanto pode estar a serviço de grupos e pessoas empenhadas sinceramente na defesa do meio ambiente, quanto movidas por interesses individuais ou corporativos que contratam profissionais para tentar passar uma imagem de ambientalmente responsáveis. Diante da impossibilidade de neutralidade, o profissional de comunicação ambiental precisa balizar sua conduta por um código de ética ambiental, como, por exemplo, o adotado pelo Jornal do Meio Ambiente (ver em www.jornaldomeioambiente.com.br , na página Código de Ética). Código de Ética do Jornal do Meio Ambiente 1. O direito a um ambiente limpo e a um desenvolvimento sustentável é fundamental e está intimamente ligado ao direito à vida, à saúde e ao bem estar de todos. O Jornal do Meio Ambiente deve informar o público sobre as ameaças ao ambiente - se está no nível global, regional, nacional ou local. 2. Freqüentemente, a mídia é a única fonte da informação para as pessoas interessadas em meio ambiente. É dever do Jornal do Meio Ambiente aumentar a consciência destas pessoas nos noticiários que tratam do meio ambiente. O Jornal do Meio Ambiente deve esforçarse para relatar diversos aspectos e assuntos relacionados com o meio ambiente. 3. Informando o público, o Jornal do Meio Ambiente desempenha um papel vital, permitindo às pessoas recorrer à ação para proteger o meio ambiente. O dever do Jornal do Meio Ambiente está não somente em alertar as pessoas sobre os perigos que a cercam, mas também de acompanhar tais ameaças e em mantê-las informadas sobre as ações tomadas para resolver os problemas. O Jornal do Meio Ambiente deve também tentar realizar reportagens que apresentem soluções possíveis aos problemas ambientais. 4. O Jornal do Meio Ambiente não deve ser influenciado por interesses comerciais, políticos, governamentais ou não governamental. Como regra geral, o Jornal do Meio Ambiente deve


dar espaço para todos os lados envolvidos em todas as controvérsias ambientais que estiver cobrindo. 5. O Jornal do Meio Ambiente deve manter o máximo de isenção possível, citar as fontes da informação e evitar o comentário especulativo ou alarmista, bem como a reportagem tendenciosa. A verificação das informações das fontes devem ser feitas sempre através da técnica de cruzamento, seja ela uma fonte comercial, oficial ou não governamental. 6. O Jornal do Meio Ambiente deve promover a igualdade no acesso à informação e ajudar organizações e indivíduos a recebê-la. A recuperação eletrônica dos dados é uma ferramenta útil e igualitária neste ponto. 7. O Jornal do Meio Ambiente deve respeitar o direito à privacidade dos indivíduos que foram afetados por catástrofes ambientais, por desastres naturais e também quando assim desejarem, em qualquer caso. 8. O Jornal do Meio Ambiente não deve hesitar em corrigir uma informação que acreditava estar correta e na verdade estava errada, ou tentar mudar a opinião pública através de análises à luz de conhecimentos futuros. 2. Direito e dever de se comunicar - As organizações têm o direito e o dever de se comunicarem adequadamente com o público interessado, informando sobre como estão cuidando do meio ambiente. Ao fazerem isso, podem contribuir para a formação de consciência ambiental na população e mesmo dar o exemplo para outros, estimulando novos investimentos em meio ambiente, num efeito cascata. Qualquer plano ou campanha de Comunicação Ambiental deve estar baseado no desejo sincero em se comunicar francamente com seus diversos públicos. Adotar o silêncio como estratégia para se proteger de problemas, pode até dar certo em alguns casos, mas, quando não dá, pode ser tarde demais ou custar muito mais caro ter de corrigir boatos ou mentiras. Também deve-se evitar divulgar como grande mérito ambiental ações e projetos que fazem parte das obrigações legais ou de controle de poluição intrínsecos à própria atividade poluidora, ou então, dar ênfase exagerada a investimentos ambientais absolutamente desproporcionais com o que se retira da natureza ou se provoca em degradação ambiental, sob pena de não se conseguir agregar credibilidade à informação ambiental. 3. Um profissional da comunicação ambiental não precisa necessariamente ser ambientalista - Ser ambientalista é uma decisão cidadã que um profissional da comunicação ambiental pode


ter ou não. Melhor se tiver, pois o planeta não é um enorme armazém de recursos infinitos, por um lado, e uma enorme lixeira capaz de absorver indefinidamente os nossos restos, por outro. O engajamento com a causa ambiental, neste caso, não é do profissional de comunicação, mas do cidadão, e isso deve estar claro para não transformar o resultado do trabalho em panfletos ideológicos onde só importa a opinião de uma lado em detrimento de outras opiniões. 4. Os limites da comunicação Ambiental - Só democratizar a informação ambiental pode não ser suficiente para produzir as mudanças necessárias de opinião. Não é pelo maior ou menor volume de informações que a população aprende a pensar criticamente e atuar em seu mundo para transformá-lo, se não tiver uma cultura e uma formação que predisponha as pessoas a valorizar esta informação. Sem isso, as pessoas vão pouco a pouco tornando-se insensíveis diante da informação, como se fosse mais uma espécie de poluição onde as palavras perdem o significado e importância, e tanto faz saber que derrubaram uma árvore ou uma floresta. A simples veiculação de informação ambiental desassociada de um compromisso com a cidadania crítica e participativa como defende a educação ambiental, ao contrário de estimular uma revisão de valores, pode aumentar a velocidade do saque aos recursos do Planeta, uma espécie de ética distorcida, como se a seleção natural das espécies separasse o mundo em vencedores (desenvolvidos, países de primeiro mundo) e perdedores (em desenvolvimento, subdesenvolvidos, países de segundo e terceiro mundo) onde apenas os mais aptos e espertos sobrevivem, aqueles que chegaram primeiro e dispõem dos melhores meios e tecnologias para retirar e utilizar com mais eficiência e rapidez os recursos do Planeta, capitalizando lucros e socializando prejuízos. 5. Adaptar o ‘ecologês’ - Não basta ter clareza do que precisa ser mudado a fim de conseguir uma relação mais harmônica da espécie humana com as outras espécies e o próprio planeta. É preciso sensibilizar e mobilizar a sociedade em direção a esse mundo melhor, por isso, aqueles que se comunicam com o público precisam falar uma linguagem que seja percebida por todos. Se queremos a compreensão e a mobilização da sociedade para os temas ecológicos, devemos adaptar o ecologês às carências da nossa sociedade, partindo dos temas que a sociedade já domina e conhece para os que precisa conhecer a fim de construir uma melhor relação, mais harmônica, menos poluidora com seu meio ambiente e os outros seres vivos do planeta. 6. A opinião pública não é um livro em branco - Ao traçar uma política de comunicação ambiental deve-se levar em conta que a opinião pública já dispõe de informações ambientais, mas essas


informações podem ser negativas, incompletas, falsas, preconceituosas, tendenciosas. Nem toda a informação ou o melhor plano de comunicação ambiental do mundo irá convencer ou sensibilizar quem não quer ser convencido nem sensibilizado. Por isso, uma política de comunicação ambiental nunca parte do zero, mas precisa pesquisar a percepção que os diferentes públicos já possuem e, a partir daí, estabelecer uma estratégia para identificar quais os públicos são os mais prioritários, que tipo de mensagem e linguagem serão mais apropriados, que veículos deverão ser empregados, que campanhas devem ser prioritárias. A cada período, uma nova pesquisa deve ser efetivada a fim de avaliar se a política de comunicação está sendo eficaz, redefinindo prioridades e aprendendo com os erros. 7. A verdade como melhor estratégia - O melhor antídoto para a desconfiança do público é a verdade, com a circulação de documentos e informações específicas para este público e identificação de parceiros para projetos. Pode-se ainda promover visitas desse público ao empreendimento e palestras de especialistas independentes, cujas posições, apesar de críticas em relação ao empreendimento, mantêm abertas as portas ao diálogo e aprovam o empreendimento, embora com restrições e exigências, o que é melhor que posições absolutamente contrárias, que não favorecem o diálogo ou provocam um clima de confronto da comunidade com a empresa. 8. Os papéis das mídias – Ao traçar planos de mídia para a área ambiental é importante que os profissionais de comunicação compreendam o papel complementar da chamada Grande Mídia e das mídias especializadas em meio ambiente, a fim de evitar o desperdício de informação e de recursos, e obterem melhores resultados junto ao segmento da opinião pública que realmente se interessa e leva em conta a informação ambiental. A Grande Mídia precisa atender um público diferenciado que está interessado em diversos assuntos, e isso inclui muitos mais temas que só o ambiental. Já a mídia ambiental também aborda diversos temas, mas todos interligados direta ou indiretamente à questão ambiental, tornando-se uma referência natural para quem busca informações ambientais. 9. O todo em vez das partes - É importante adotar um Plano de Comunicação de forma sistêmica, ou seja, envolvendo a todos e não apenas um de seus setores, pois não adianta um setor para preservar e criar uma imagem de compromisso com o meio ambiente, se outros setores contribuem para a imagem de poluição e degradação ambiental. Por exemplo, tão importante quanto a atuação coordenada dos setores de relações públicas, assessoria de imprensa, publicidade e propaganda, é a atuação de setores como de controle e monitoramento ambiental, engenharia de produção, etc.


10. Comunicação em mão dupla – O diálogo tem a função de reconciliar posições conflitantes, sendo mais eficaz que a imposição e o controle. Ao criar canais de negociação, como Conselhos Comunitários ou Auditorias Ambientais Não-Governamentais, as organizações permitem que os tomadores de decisão se antecipem a problemas ou adotem novos procedimentos no seu gerenciamento e atividades ambientais. As análises e decisões sobre os problemas, quando tomadas em conjunto, estimulam o envolvimento e comprometimento de todos nas soluções adotadas. 2. Alguns Erros e Acertos em Comunicação Ambiental Uma política de comunicação ambiental pode ser estratégica para os negócios quando estes dependem de licenciamentos ambientais, significando mesmo a diferença entre a existência ou inexistência do negócio, sua ampliação ou estagnação, ou a perda de lucros com multas e termos de ajustes para evitar enquadramento em crimes ambientais. A questão ambiental é uma realidade que chegou definitivamente às empresas modernas. Deixou de ser um assunto de ambientalistas ‘eco-chatos’ ou de românticos, para se converter em SGA (Sistema de Gestão Ambiental), PGA (Programa de Gestão Ambiental), ISO 14.001 e outras siglas herméticas. E não se trata de um tardio despertar de consciência ecológica dos empresários e gerentes, mas uma estratégia de negócio que pode significar vantagens competitivas como promover a melhoria contínua dos resultados ambientais da Empresa, minimizar os impactos ambientais de suas atividades, tornar todas as operações tão ecologicamente corretas quanto possível. Com isso, a empresa poderá se antecipar às auditorias ambientais públicas além de promover redução de custos e riscos com a melhoria de processos e a racionalização de consumo de matérias-primas, diminuir o consumo de energia e água, reduzir riscos de multas e responsabilização por danos ambientais. Ao traçar uma política de comunicação ambiental a empresa deve levar em conta que a opinião pública já dispõe de informações sobre a empresa, mas essas informações podem ser negativas, incompletas, falsas, preconceituosas, tendenciosas, ou o público e suas lideranças podem estar motivados por outros interesses eleitorais, trabalhistas, econômicos, etc., e nem toda a informação ou o melhor plano de comunicação ambiental do mundo irá convencer ou sensibilizar quem não quer ser convencido nem sensibilizado. Os ambientalistas já perceberam que a imagem é um dos ‘pontos fracos’ dos poluidores. As informações sobre os grandes acidentes ambientais ocorridos no mundo foram determinantes para a formação de uma opinião pública sensível à questão ambiental. Segundo o


Major Hazard Incident Data Service, da Grã-Bretanha, até 1.986 ocorreram 2.500 acidentes industriais no mundo, sendo que mais da metade (1.419) em apenas cinco anos, entre 1981 e 1986. Já os grandes acidentes ambientais, que envolveram maior número de mortes e milhões de dólares de indenização, num total de 233 acidentes, ocorreram no curto período entre 1970 e 1989. A divulgação em escala mundial destes fatos não só contribuiu para sensibilizar a opinião pública, mas também para fortalecer os movimentos ambientalistas, que se multiplicaram nesse período, além de gerar um conjunto de leis ambientais e de órgãos de controle que não existiam antes de 1970. Quando os canais de diálogo com as empresas são interrompidos, inexistentes ou insuficientes, os ambientalistas procuram sensibilizar a opinião pública usando das forças que dispõem, e geralmente contam com a imprensa como forma de pressão. Um exemplo disso é a campanha da Lista Suja, da ONG Associação Mineira de Defesa do Ambiente (AMDA), de Minas Gerais, e a Sena Suja, da ONG Defensores da Terra, no Rio de Janeiro. Tem empresas que fazem ‘pouco caso’, agem como se não fosse com elas, e usam como política de comunicação o ‘nada a declarar’, o que só serve para alimentar boatos e confirmar críticas pois, ‘quem cala, consente’, ou tentam desqualificar seus críticos de alguma forma. Nem sempre funciona e a empresa só reforça uma imagem negativa diante da opinião pública. Qualquer Plano ou Campanha de Comunicação Institucional deve estar baseado no desejo sincero da empresa em se comunicar francamente com seus diversos públicos. Durante o período autoritário que vivemos no Brasil, muitas empresas adotaram o silêncio como estratégia para se proteger de problemas, o que deu certo em muitos casos. Hoje, com a abertura democrática e instrumentos de participação da sociedade como as audiências públicas, a ausência de investimentos em programas de comunicação ou, o que é pior, a não circulação da informação correta, na linguagem adequada a cada público-alvo, é a maneira mais rápida de favorecer e até estimular boatos ou notícias erradas contra o empreendimento, por maiores que sejam seus méritos ou vantagens para a comunidade. Além de favorecer lideranças políticas eleitoreiras que ficam de olho em qualquer oportunidade para aparecerem como contraponto na mídia e administradores corruptos, mestres em criar dificuldades para vender facilidades. Em outros casos, as empresas até investem em meio ambiente, e às vezes até já superaram seus principais problemas ambientais, mas não deram a mesma importância e prioridade numa política de informação ambiental que resgatasse sua imagem de poluidora junto


à opinião pública, que continua lembrando da empresa como ambientalmente irresponsável. Apesar da enorme importância que vem ganhando a cada dia, a questão ambiental ainda não é determinante para estimular nos consumidores a valorização de marcas e produtos que tenham selos de procedência ambiental ou que invistam seriamente em projetos e ações sócio-ambientais. Mas até quando? Empresas que planejam seus investimentos em horizonte de 10, 20, 30 anos não podem se dar ao luxo de apostar que o consumidor vai continuar não se importando no futuro. O surgimento de inúmeras empresas ‘ambientalmente corretas’ com produtos ‘ecologicamente corretos’ mostra que a consciência ambiental do consumidor está crescendo. Uma política de comunicação ambiental não deve partir do zero, mas fazer uma investigação da percepção que os diferentes públicos têm da empresa e, a partir daí, estabelecer uma estratégia para identificar quais os públicos mais importantes a serem contemplados, que tipo de mensagem e linguagem serão mais apropriados, que veículos deverão ser empregados, que campanhas devem ser prioritárias. A cada período, uma nova investigação deve ser efetivada a fim de avaliar se a política de comunicação está sendo eficaz, redefinindo prioridades e aprendendo com os erros. Uma política de comunicação ambiental não pode se resumir a campanhas em datas como o Dia Mundial do Meio Ambiente, mas precisa de um planejamento onde a campanha até pode desempenhar o papel de culminância dos esforços de todos numa determinada data ou situação. O problema de campanhas isoladas é que pode significar desperdício de energia e recursos ao tentar sensibilizar um público não-receptivo ou reativo às informações da empresa. Quando a empresa diz: “fiz tais investimentos ambientais”, a reação do público pode ser: “mas só isso? Comparado com o faturamento é um escândalo de tão insignificante!”. Outra reação reativa pode ser: “Não fez mais que a sua obrigação!”. Por isso, a definição prévia de públicos-alvo é garantia de eficiência e principalmente economia de esforços, energia e recursos. Apesar de distintos entre si, os diferentes públicos-alvo devem integrar uma campanha global da empresa que seja uma espécie de espinha dorsal do seu Programa de Comunicação. O primeiro público-alvo é o próprio funcionário, compreendendo desde a a Diretoria, o corpo técnico e os operários, incluindo prestadores de serviços e terceirizados, fornecedores, etc., pois são eles os primeiros a serem questionados na comunidade, em casa, no clube, na igreja, etc., sobre as atividades ambientais da empresa. O problema é que, segundo pesquisa da Symnetics, com empresas de


faturamento entre R$ 200 milhões e R$ 500 milhões, planos estratégicos da empresa, como a Política Ambiental, acaba ficando mais na cabeça da alta administração, que não consegue passar o recado para os seus subordinados. E até mesmo na alta administração das companhias, há quem não saiba traduzir a mensagem do Presidente. A pesquisa apontou que 5% da alta administração não sabe qual a visão de futuro da empresa. Descendo na estrutura hierárquica, a miopia se acentua. O estudo indica que 14% da média gerência sequer entende o planejamento da empresa e 48% tem uma compreensão mediana. No nível operacional, a situação é ainda pior. A pesquisa constatou que 38% dos operários não têm idéia de quais sejam as metas futuras da organização e 43% têm uma vaga idéia do que se trata. A solução é investir em programas de conscientização e sensibilização dos funcionários para as políticas da empresa, especialmente a ambiental, já que consciência ambiental não se dá por portaria ou de cima para baixo, mas de dentro para fora. Neste sentido, não basta implantar uma boa Política Ambiental ou obter a ISO 14.001. É preciso, antes, estimular e sensibilizar os funcionários, prestadores de serviços e fornecedores a desejarem ‘ecologizar’ o trabalho, não por que a direção da empresa quer ou determinou, mas por que a adoção de princípios ambientais pode ser uma oportunidade para que os trabalhadores possam dar uma contribuição concreta, em seu próprio ambiente de trabalho, para a melhoria das condições do Planeta. Mais que uma exigência da Direção, portanto, é uma oportunidade da qual os trabalhadores poderão se orgulhar junto a sua família e à comunidade, ao se revelarem os resultados positivos do trabalho ambiental desenvolvido na empresa. Neste sentido, vale a pena todo o esforço da Empresa para sensibilizar e mobilizar seus funcionários, tais como palestras com ambientalistas, distribuição gratuita de assinaturas de jornais especializados em meio ambiente, encontros com escritores para autógrafos a livros com tema ambiental, distribuição de boletins por intranet ou fotocópia com informações sobre a Política de Gestão Ambiental, entre outras iniciativas. Uma delas pode ser a distribuição dos Dez Mandamentos Ambientais. O segundo público-alvo da empresa são as comunidades próximas ao empreendimento. Elas costumam funcionar para a imprensa como contraponto às declarações da empresa, principalmente quando acontece algum problema, acidente, boato, etc. Não adianta adotar a política de "comprar" as lideranças da comunidade ou os políticos da região pois, com raras exceções, em momentos de crise, quando a imagem da empresa corre risco, estas lideranças tendem a ficar contra a empresa ou não se envolvem em sua defesa com receio de contrariar a opinião pública, pois temerem perder votos.


O terceiro público-alvo é o público regional, junto ao qual a empresa deve manter uma imagem positiva, de credibilidade no controle ambiental e da saúde do trabalhador, transparência de informação e canais abertos ao diálogo, ressaltando os aspectos positivos como a função sócio-ambiental do empreendimento e seu papel de ascensão da economia da região. Aqui os melhores caminhos podem ser: patrocínio a programa de rádio na região, com apelo popular; patrocínio a jornais especializados, destinados a multiplicadores de opinião; patrocínio a ações e projetos de amplo apelo comunitário e ambiental, etc. As medidas compensatórias ou reparadoras exigidas em lei ou no próprio licenciamento, podem ser objeto de parcerias com grupos ecológicos, universidades, associações de moradores, etc., com vistas ao seu planejamento e execução. Além da empresa se concentrar na sua atividade fim, ainda estabelece importantes parcerias com multiplicadores de opinião da região, que estarão diretamente envolvidos no empreendimento, constituindo-se numa espécie de avalista sobre o correto monitoramento ambiental e os cuidados e compromissos assumidos pela empresa no processo de licenciamento. Pode ser uma vantagem a mais para a empresa na negociação com o poder público, além de garantir pontos positivos numa audiência pública. E, por quarto e último, o público especializado, principalmente jornalistas e ambientalistas, devido seu alto poder de influência junto a opinião pública e de multiplicação de informação. É um público crítico, desconfiado e exigente. O melhor antídoto para esta desconfiança é a verdade e a transparência, com a circulação de documentos e informações específicas para este público e identificação de parceiros para projetos. Pode-se ainda promover visitas desse público ao empreendimento e palestras de especialistas independentes, cujas posições, apesar de críticas em relação ao empreendimento, mantêm abertas as portas ao diálogo e aprovam o empreendimento, embora com restrições e exigências, o que é melhor que posições absolutamente contrárias, que não favorecem o diálogo ou provocam um clima de confronto da comunidade com a empresa. As empresas não devem subestimar o poder dos ambientalistas junto à mídia e ao Ministério Público, tanto Estadual quanto Federal. É comum os jornalistas ouvirem os ambientalistas contrários ao empreendimento como contraponto às declarações favoráveis ao empreendimento. Se as críticas forem intensamente desfavoráveis e gerarem campanhas sistemáticas, podem influenciar a opinião pública, acabando por constranger os políticos que apóiam o projeto e até mesmo os órgãos públicos com a responsabilidade pela aprovação do empreendimento. O Ministério Público tem um importante papel


em situações de confronto. Mesmo com todas as licenças aprovadas, se o Ministério Público entender que os direitos difusos da coletividade estão sendo desrespeitados, conforme denúncia dos ambientalistas, por exemplo, pode mover ação civil pública e até obter liminar que impeça a implantação do empreendimento, iniciando uma batalha judicial que pode inviabilizar qualquer investimento. Toda essa exposição deixa a empresa vulnerável, principalmente quando ela tem um passivo poluidor ou de degradação ambiental a recuperar, ou quando já deixou a opinião pública formar uma consciência contrária ao empreendimento. Por isso, pode ser mais barato prevenir que remediar e isso significa implantar um programa de trabalho que se baseie, primeiro, em atitudes visíveis para a sociedade e sinceras da empresa com o meio ambiente, através do controle da poluição e adoção de melhores métodos e tecnologias de produção. Afinal, a mentira tem pernas curtas, e será pior para a imagem da empresa quando o público descobrir que ela prega uma coisa mas pratica outra. É aconselhável ainda que a Direção da empresa, principalmente sua Presidência, se capacite para falar de forma adequada em público e para a imprensa, compreendendo a importância de cada público-alvo, qual a melhor linguagem e informação relevante em cada caso. É importante adotar um Plano de Comunicação de forma sistêmica, ou seja, envolvendo toda a empresa e não apenas um de seus setores. Pois não adianta um setor para preservar e criar uma imagem de compromisso da empresa com o meio ambiente, se outros setores contribuem para a imagem de empresa poluidora, ou que se mantenha distante da opinião pública. Logo, tão importante quanto a atuação coordenada dos setores de relações públicas, assessoria de imprensa, publicidade e propaganda, é a atuação de setores como de controle e monitoramento ambiental, engenharia de produção, etc. 3. Comunicação Ambiental Para a Parceria Ninguém, por mais poderoso que seja, tem o poder de salvar sozinho o Planeta. As pessoas e as instituições sabem disso e cada vez mais buscam o diálogo e a parceria. Neste cenário, as instituições e multiplicadores de opinião precisam de informação correta sobre quem é quem, e o que ocorre no meio ambiente, a fim de manteremse em dia com os acontecimentos e ao mesmo tempo estabelecerem suas estratégias de ação e escolher parceiros. O problema é que, apesar de existir uma grande quantidade de informações disponíveis sobre meio ambiente, elas encontram-se dispersas e pouco sistematizadas e isso prejudica o estabelecimento de parcerias e mesmo a mobilização da cidadania ambiental. Os


diferentes atores envolvidos na tarefa de democratizar a informação ambiental, embora demonstrem grande disposição para troca de experiências, ainda têm pouco conhecimento sobre as atividades de seus pares. Daí a grande importância de ferramentas como a REBIA – Rede Brasileira de Informações Ambientais, proposta pelo autor no site www.jornaldomeioambiente.com.br para a construção de “espaços” de diálogo e trocas presenciais e virtuais, mas que também criem formas de sistematização e disponibilização dos conteúdos e informações produzidas. Entretanto, se o grande público ainda vê a questão ambiental de forma meio romântica, com se fosse um tema mais ligado às plantas e aos bichos, os multiplicadores e formadores de opinião, por outro lado, absorveram o tema de forma muito mais profunda. O divisor de águas foi a RIO 92. Antes, quem mais se dedicava ao tema ambiental eram os chamados ambientalistas, vistos quase sempre como ‘ecochatos’. Após a RIO 92, a questão ambiental foi absorvida também mais intensamente por associações de moradores, sindicatos, governos, empresas e o movimento ecológico deixou de ser uma voz solitária a pregar num deserto. Também cresceu a percepção de que a solução dos problemas ambientais e a gestão ambiental, assim como a implantação das Agendas 21 locais, os processos de licenciamentos ambientais para atividades poluidoras e a definição dos limites e modelo de crescimento locais, dependem fundamentalmente da capacidade de Governos, Empresas, Universidades estabelecerem parcerias e diálogo entre si e com as instâncias organizadas da Sociedade Civil, como as ONGs (Organizações Não-Governamentais), tanto ambientalistas quanto comunitárias, sindicais, profissionais, etc. É consenso entre todos de que só há diálogo e parcerias se houver também informação de qualidade, transparente e, sobretudo, com fluxo permanente. Este segmento da sociedade brasileira interessada nas questões ambientais dispõem de alguns poucos e heróicos veículos especializados em meio ambiente como o Jornal do Meio Ambiente, editado pelo autor, a Folha do Meio Ambiente (DF), o Jornal Terramérica (SP), as revistas JB Ecológico, Eco 21, Ecologia & Desenvolvimento, Saneamento Ambiental, Meio Ambiente Industrial, Gerenciamento Ambiental, entre outros, em sua maior parte distribuídos nacionalmente e por mala direta. Isso demonstra que, apesar de não ser em número suficiente para interessar à Grande Mídia, o público interessado nas questões ambientais no Brasil é suficientemente numeroso para admitir segmentação por área de interesse.


Entretanto, se somarmos todas as tiragens dos veículos impressos, os telespectadores e ouvintes e os internautas da mídia ambiental brasileira, por mês essa mídia deve alcançar algo em torno de 1 milhão de pessoas. Num país com 170 milhões de pessoas, não deixa de ser um esforço ainda muito pequeno diante da enormidade da tarefa de democratizar a informação ambiental no Brasil, uma tarefa que exige o esforço não só dos veículos da mídia especializada como também dos veículos da Grande Mídia, o esforço do mercado e também das ONGs e dos Governos já que sem informação não há nem formação de cidadania muito menos sua mobilização na defesa dos seus direitos a um meio ambiente ecologicamente equilibrado como garante a Constituição Brasileira. E, claro, outro setor que perde muito são as empresas e os governos que precisam de veículos fortes para divulgarem suas novas imagens ambientais. Os principais veículos da mídia especializada em meio ambiente no Brasil estão empreendendo um esforço para criar a Ecomídias – Associação Brasileira de Mídias Ambientais, a fim de enfrentar a enorme dificuldade que encontram para o financiamento de seus veículos já que todas as verbas de publicidade dos órgãos do Governo e do Mercado, costumam ser destinadas à Grande Mídia. Os jornalistas especializados em meio ambiente, por sua vez, criaram a Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental que reúne cerca de 250 profissionais. São jornalistas que produzem diariamente informações para os seus veículos seja da chamada Grande Mídia, seja da Mídia especializada, seja nas assessorias de comunicação em empresas, órgãos de governo e organizações do Terceiro Setor. Também é importante ressaltar o papel da chamada mídia institucional, como os boletins e jornais de ONGs, empresas, governos, associações, com tiragem limitada e circulação interna junto ao seu público alvo e outros interessados. São mídias importantes para garantir uma regularidade de informações junto aos associados e público-alvo sobre suas atividades, campanhas, etc já que as mídias especializadas em meio ambiente não conseguem priorizar as ações das instituições em todas as suas pautas como elas gostariam. Cada veículo novo que surge na área ambiental, cumpre uma importante função social. Não só significa aumento de postos de trabalho para profissionais especializados, como também se constitui num fator a mais de favorecimento do diálogo entre os diferentes setores da sociedade que precisam estabelecer parcerias entre si em direção a um desenvolvimento sustentável. Sem informação, não há diálogo, muito menos, parcerias. Os países membros da ONU aprovaram durante a RIO 92 a Agenda 21, como um roteiro a ser seguido em direção ao desenvolvimento


sustentável. Em seu capítulo 40, sobre Informação Para a Tomada de Decisões, os signatários recomendam que "sempre que existam impedimentos econômicos ou de outro tipo que dificultem a oferta de informação e o acesso a ela, particularmente nos países em desenvolvimento, deve-se considerar a criação de esquemas inovadores para subsidiar o acesso a essa informação ou para eliminar os impedimentos não econômicos." Os representantes dos países signatários justificam essa medida ao reconhecer que "em muitos países, a informação não é gerenciada adequadamente devido à falta de recursos financeiros e pessoal treinado, desconhecimento de seu valor e de sua disponibilidade e a outros problemas imediatos ou prementes, especialmente nos países em desenvolvimento. Mesmo em lugares em que a informação está disponível, ela pode não ser de fácil acesso devido à falta de tecnologia para um acesso eficaz ou aos custos associados, sobretudo no caso da informação que se encontra fora do país e que está disponível comercialmente." O que os países da ONU, inclusive o Brasil, perceberam claramente é que sem democratização da informação ambiental dificilmente haverá pleno desenvolvimento da cidadania ambiental, prejudicando o diálogo e o estabelecimento de parcerias entre os diferentes setores da sociedade brasileira envolvidos com a questão ambiental. Gestão Ambiental 1. Dez Mandamentos Ambientais Nossa espécie tem usado mais a capacidade de modificar o meio ambiente para piorar as coisas que para melhorar. Agora precisamos fazer o contrário, para nossa própria sobrevivência. Reveja seu dia-adia e tome as atitudes ecológicas que julgar mais corretas e adequadas. Não espere que alguém venha fazer isso por você. Faça você mesmo. 1 - ESTABELEÇA PRINCÍPIOS AMBIENTALISTAS - Estabeleça compromissos, padrões ambientais que incluam metas possíveis de serem alcançadas. 2 - FAÇA UMA INVESTIGAÇÃO DE RECURSOS E PROCESSOS Verifique os recursos utilizados e o resíduo gerado. Confira se há desperdício de matéria-prima e até mesmo de esforço humano. A meta será encontrar meios para reduzir o uso de recursos e o desperdício. 3 - ESTABELEÇA UMA POLÍTICA ECOLÓGICA DE COMPRAS - Priorize a compra de produtos ambientalmente corretos. Existem certos


produtos que não se degradam na natureza. Procure certificar-se, ao comprar estes produtos, de que são biodegradáveis. Procure por produtos que sejam mais duráveis, de melhor qualidade, recicláveis ou que possam ser reutilizáveis. Evite produtos descartáveis não reciclados como canetas, utensílios para consumo de alimentos, copos de papel, etc. 4 - INCENTIVE SEUS COLEGAS - Fale com todos a sua volta sobre a importância de agirem de forma ambientalmente correta. Sugira e participe de programas de incentivo como a nomeação periódica de um 'campeão ambiental' para aqueles que se destacam na busca de formas alternativas de combate ao desperdício e práticas poluentes. 5 - NÃO DESPERDICE - Ajude a implantar e participe da coleta seletiva de lixo. Você estará contribuindo para poupar os recursos naturais, aumentar a vida útil dos depósitos de lixo, diminuir a poluição. Investigue desperdício com energia e água. Localize e repare os vazamentos de torneiras. Desligue lâmpadas e equipamentos quando não estiver utilizando. Mantenha os filtros do sistema de ar-condicionado e ventilação sempre limpos para evitar desperdício de energia elétrica. Use os dois lados do papel, prefira o e-mail ao invés de imprimir cópias e guarde seus documentos em disquetes, substituindo o uso do papel ao máximo. Promova o uso de transporte alternativo ou solidário, como planejar um rodízio de automóveis para que as pessoas viajem juntas ou para que usem bicicletas, transporte público ou mesmo caminhem para o trabalho. Considere o trabalho à distância, quando apropriado, permitindo que funcionários trabalhem em suas casas pelo menos um dia na semana utilizando correio eletrônico, linhas extras de telefone e outras tecnologias de baixo custo para permitir que os funcionários se comuniquem de suas residências com o trabalho. 6 - EVITE POLUIR SEU MEIO AMBIENTE - Faça uma avaliação criteriosa e identifique as possibilidades de diminuir o uso de produtos tóxicos. Converse com fornecedores sobre alternativas para a substituição de solventes, tintas e outros produtos tóxicos. Faça um plano de descarte, incluindo até o que não aparenta ser prejudicial como pilhas e baterias, cartuchos de tintas de impressoras, etc. Faça a regulagem do motor dos veículos regularmente e mantenha a pressão dos pneus nos níveis recomendáveis. Assegure-se que o óleo dos veículos está sendo descartado da maneira correta pelos mecânicos. 7 – EVITE RISCOS - Verifique cuidadosamente todas as possibilidades de riscos de acidentes ambientais e tome a iniciativa ou participe do esforço para minimizar seus efeitos. Não espere acontecer um problema para só aí se preparar para resolver. Participe de treinamentos e da preparação para emergências.


8 - ANOTE SEUS RESULTADOS - Registre cuidadosamente suas metas ambientais e os resultados alcançados. Isso ajuda não só que você se mantenha estimulado como permite avaliar as vantagens das medidas ambientais adotadas. 9 – COMUNIQUE-SE - No caso de problemas que possam prejudicar seu vizinho ou outras pessoas, tome a iniciativa de informar em tempo hábil para que possam minimizar prejuízos. Busque manter uma atitude de diálogo com o outro. 10 - ARRANJE TEMPO PARA O TRABALHO VOLUNTÁRIO - Não adianta você ficar só estudando e conhecendo mais sobre a natureza. É preciso combinar estudo e reflexão com ação. Considere a possibilidade de dedicar uma parte do seu tempo, habilidade e talento para o trabalho voluntário ambiental a fim de fazer a diferença dando uma contribuição concreta e efetiva para a melhoria da vida do planeta. Você pode, por exemplo, cuidar de uma árvore, organizar e participar de mutirões ecológicos de limpeza e recuperação de ecossistemas e áreas de preservação degradados, resgatar e recuperar animais atingidos por acidentes ecológicos ou mesmo abandonados na rua, redigir um projeto que permita obter recursos para a manutenção de um parque ou mesmo para viabilizar uma solução para problema ambiental, fazer palestras em escolas, etc. Comentários de leitores sobre o artigo Dez Mandamentos Ambientais “ Tenho certeza que os empresários deste pais, em todas as áreas, têm condições de mudar os rumos da nossa qualidade de vida. O incentivo as empresas em economizar, em não provocar desperdícios é, sem dúvida, a saída já que se trata de dinheiro que serão economizados. Já pensou se os 10 MANDAMENTOS fossem adotado pela classe empresarial! Estaríamos no paraíso. - José Arudi Azevedo dos Santos ( 19/06/2003) Olá Vilmar, tudo bem? Sou membro do CTA (Consultant, trader and Adviser) e adorei seu artigo. Trabalhei por 26 anos numa multinacional e por várias vezes tentei implantar o mínimo de conscientização da diretoria e funcionários para a coleta de lixo reciclável, economia de recursos e energia e pouco consegui, pois mesmo lidando com pessoas esclarecidas, parece que o futuro somente a Deus pertence, e não a nossos filhos e seus descendentes. Obrigada e um abraço, Maria Angela Barea. (São Paulo - Capital). 21/07/2003 - Vilmar, fiquei muito contente no mestrado quando a professora encerrou a aula sobre o meio ambiente com "os dez mandamentos ambientais" que vc escreveu. Gostaria de compartilhar contigo esta noticia. Parabéns. Um abraço, Tania Suckow


2. ‘Não se Faz Omeletes Sem Quebrar Ovos’ Quantas vezes a sociedade teve de engolir em seco diante de poluidores que usam essa frase, justificando as agressões ambientais que produziram para gerar empregos, impostos, moradias, etc., como se a única maneira de gerar progresso e desenvolvimento fosse a destruição do meio ambiente da maneira em que foi feita. Nada mais falso. Que a ‘casca do ovo precisa ser quebrada’, não resta a menor dúvida, pois não pretendemos um planeta apenas para as plantas e bichos, e é a natureza quem fornece os recursos que precisamos para atender às nossas necessidades materiais. Mas se a natureza precisa ser explorada, isso deve ser feito com todo o cuidado, levando sempre em consideração, antes de tudo, uma reflexão sobre a real necessidade da atividade, se não existem outras alternativas que dispensem a necessidade da obra ou atividade impactante, e, uma vez concluindo-se que não existe outro jeito, deve-se tomar todas as providências para que o dano a ser causado tenha o menor impacto negativo possível adotando medidas mitigadoras que reduzam esse impacto, medidas reparadoras que promovam a recuperação do meio ambiente e medidas compensatórias que compensem a natureza quanto aos danos que forem impossíveis de evitar ou remediar. As decisões sobre um novo empreendimento causador de impacto ao meio ambiente não interessam apenas a uns poucos, pois afetam os direitos de todos, já que o Planeta, o meio ambiente, é patrimônio de todos e não de alguns indivíduos ou grupos. Assim, as decisões que afetem o uso de um bem comum, como o meio ambiente, devem ser cercadas de todos os cuidados, inclusive o de ouvir a sociedade através de audiências públicas e de democratizar as informações sobre o novo empreendimento. Ao Poder Público cabe conduzir este processo e exigir que ele seja transparente, democrático e ético, onde os interesses de alguns indivíduos ou grupos não se sobreponham aos interesses de toda a sociedade. O ‘preparo dos ovos’ também exigem cuidados especiais. Hoje, existem tecnologias que conseguem o mesmo e até melhor resultado que as tecnologias poluidoras, sem custar muito mais por isso. Muito pelo contrário, pois a poluição é desperdício do processo produtivo. O uso de tecnologias que não produzam resíduos e poluição, significa o fim de desperdícios e, portanto, o aumento nos lucros, além de livrar os empreendedores de multas. E, um programa de educação ambiental para funcionários, acoplado a um programa de incentivos à produtividade limpa e a criatividade na busca de solução aos problemas ambientais da empresa podem fazer verdadeiros milagres dentro de qualquer negócio!


E quem irá avisar que o ‘ovo’ está pronto? Sem uma política de comunicação adequada, a empresa gasta às vezes verdadeiras fortunas para adotar procedimentos ambientais adequados e controlar ou eliminar sua poluição, mas se não avisa a ninguém, como quer que as pessoas descubram? Ás vezes até avisa, mas da forma errada, para o público errado. Depois reclama quando os ambientalistas, jornalistas, lideranças comunitárias, parlamentares continuam acusando a empresa de poluidora. Eles foram informados do contrário? A empresa divulgou seus investimentos nos veículos especializados em meio ambiente destinado ao público formador de opinião ambientalista? Ou sua agência de publicidade ou o departamento de comunicação da empresa preferiu gastar uma fortuna com anúncio em veículos da Grande Mídia, que estão longe de atingir o público que interessa? Concluído o preparo ‘do ovo’, não adianta deixar a cozinha toda suja e desarrumada. Coletar, tratar, reciclar, transportar e dar um destino adequado aos resíduos é hoje uma necessidade imperiosa das empresas. Sejam seus resíduos líquidos, gasosos ou sólidos. Mas melhor mesmo que ter de limpar tudo após o final do trabalho é adotar procedimentos e tecnologias menos poluentes durante o processo de produção, para não ter de gastar uma fortuna no final do processo. E quem vai comer o ‘ovo’? Quem preparou vai poder comer também? A questão ambiental se interliga com as questões econômica, social, a cultura da paz, pois a natureza vem sendo destruída há muito tempo e o meio ambiente cada vez mais poluído, ‘quebra-se muitos ovos’, sem que a humanidade tenha se beneficiado de tanta destruição ambiental. Muito da riqueza acumulada com o saque sobre o planeta não foi empregado no atendimento às necessidades materiais humanas, na superação da miséria, da fome, mas serviram para concentrar ainda mais a renda, produzir armar e guerras, privatizar o meio ambiente que deveria ser patrimônio de toda a humanidade, um bem comum de todos, e não um privilégio de uns poucos, daí a dimensão ética da questão ambiental, que ainda precisa ser levada em conta antes de se continuar permitindo que se ‘quebrem ovos e mais ovos’ a pretexto de se fazer mais e mais ‘omeletes’, que poucos irão consumir. 3. Acidente Ambientais

com

Óleo

na

Baía

de

Guanabara:

Lições

A humanidade tem aprendido com os erros ambientais. Ainda bem. Só lamentamos que este aprendizado tenha de ser sempre tão duro, tão difícil, com tantas perdas tanto para o meio ambiente quanto para os seres humanos.


Neste processo de aprendizado, a imprensa tem desempenhado um papel fundamental ao expor informações e reflexões sobre acidentes ambientais. Em 18 de janeiro de 2.000, por exemplo, a Petrobras deixou vazar 1,293 milhão de litros de óleo na Baía de Guanabara do duto PE-II, que liga a Refinaria de Duque de Caxias (REDUC) aos terminais da empresa na Ilha D´Água. Seis meses depois, em 16 de julho, novo vazamento, dessa vez quatro milhões de litros de óleo, comprometeram os rios Saldanha, Barigüi e Iguaçu, no Paraná. Na época do acidente na Baía de Guanabara, o Jornal do Meio Ambiente decidiu ir além das notícias e convocou seus leitores para atuarem no resgate e limpeza das aves cheias de óleo e mais de 200 pessoas compareceram na praia do Limão, em Magé (RJ). Seguramente, esta participação fez a diferença para diversas garças, colhereiros, mergulhões, e outros animais. Estes leitores lançaram as bases para o projeto nacional de uma rede de voluntários ambientais, dispostos a dar uma contribuição concreta pela melhoria do meio ambiente. Três anos depois, a REBVA – Rede Brasileira de Voluntários Ambientais, ancorada no site www.jornaldomeioambiente.com.br já reunia cerca de 10 mil voluntários ambientais, o que resultou na criação do IBVA – Instituto Brasileiro de Voluntários Ambientais. Ainda falta uma longa caminhada. É preciso que as empresas garantam instrumentos de participação da sociedade no controle ambiental e no acompanhamento dos projetos e ações ambientais, pois não se trata de um segredo industrial, mas de um assunto de interesse de toda a sociedade, já que os efeitos de acidentes ambientais ultrapassam os limites da empresa e atingem o meio ambiente, que é um bem comum de todos. Algumas empresas, como a própria Petrobrás, a CSN – Companhia Siderúrgica Nacional, entre outras, estão tomando a iniciativa de criar comissões para o acompanhamento de suas atividades e projetos com a participação da sociedade civil. Apesar de meritória, ainda existe um longo caminho a percorrer até que uma nova cultura de comunicação em mão dupla se instale, tanto por parte das empresas quanto da sociedade, onde os parceiros envolvidos superem desconfianças mútuas e trabalharem em conjunto, sem que isso signifique desrespeitar diferenças. No caso da CCS – Comissão de Controle Social, da Petrobras, a iniciativa acabou não avançando diante da exigência da sociedade civil que queria um instrumento independente para acompanhamento dos programas, a que foi chamado de auditoria ambiental social. O modelo já havia sido implementado com sucesso no Paraná, onde as ONGs ambientalistas foram contratadas pelo Banco Mundial para o acompanhamento das obras de saneamento básico do PROSAM, na Região Metropolitana de Curitiba. Deu tão certo que foi reconhecido como uma das 16 "práticas bem sucedidas" selecionadas pelo governo brasileiro para apresentação no Habitat II, em Istambul, em 1996.


O deputado estadual Alessandro Calazans (PV RJ) gostou da idéia e apresentou, em conjunto com deputados que compuseram a Comissão Parlamentar de Inquérito do Programa de Despoluição da Baía da Guanabara, em o Projeto de Lei de número, que cria a Auditoria Ambiental Social no Estado do Rio de Janeiro: A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DECRETA: Artigo 1º - Fica criada a Auditoria Ambiental Social – AAS no Estado do Rio de Janeiro a ser executada por no mínimo 3 (três) instituições sem fins lucrativos inscritas no Cadastro Estadual de Entidades Ambientalistas do Estado do Rio de Janeiro - C.E.E.A. – RJ, criado pela Lei nº 2.578, de 3 de julho de 1996. Parágrafo único - As instituições executoras da Auditoria Ambiental Social Social – AAS deverão comprovar a capacitação técnica e condições de cumprimento dos prazos, podendo associarem-se a outras organizações, instituições de ensino e cooperativas técnicocientíficas, desde que também sem fins lucrativos. Artigo 2º - A Auditoria Ambiental Social – AAS terá por objetivos, entre outros: I - fornecer periodicamente informações atualizadas sobre o andamento global e específico e independente de obras e empreendimentos de interesse público com foco na melhoria ambiental e da qualidade de vida da população bem como obras e projetos resultantes de termos de compromisso, ajustes de condutas e medidas compensatórias de licenciamentos; entre outras a ser definidas pelo regulamento desta Lei; II - fornecer subsídios técnico-científicos ambientalistas e de outras organizações locais;

para

a

ação

dos

III - subsidiar o desenvolvimento de indicadores para avaliação da qualidade de vida no território do Estado do Rio de Janeiro, como contribuição ao sistema de informações e monitoramento. Parágrafo único – Serão avaliados pela Auditoria Ambiental Social Social – AAS, entre outros, os seguintes itens: I. Resultados alcançados em relação ao planejamento ou projeto aprovado; II. Cumprimento das especificações técnicas e uso de materiais e serviços especificados;


II. Cumprimento de cronogramas físicos e financeiros, inclusive aditamentos; IV. Grau de divulgação do empreendimento e do envolvimento junto às comunidades beneficiadas. Artigo 3º - A aprovação pelo Poder Legislativo de diretrizes e dotações orçamentárias do Poder Executivo bem como autorização para empréstimo de obras e convênios internacionais estará condicionada à comprovação da existência de Auditoria Ambiental Social Social – AAS onde couber e à existência de previsão de recursos para sua execução. Artigo 4º - A aprovação pelo Poder Público de termos de compromisso, ajustes ou acordos de qualquer natureza visando a reparação de dano ambiental bem como de licenciamento ambiental que exija medidas compensatórias só será concedida mediante a comprovação da previsão e reserva de recursos para a contratação de Auditoria Ambiental Social Social – AAS nos termos desta Lei. Artigo 5º - A Auditoria Ambiental Social Social – AAS terá a mesma duração do projeto, incluindo o acompanhamento desde a fase do planejamento até a execução final. Artigo 6º - As entidades executoras das Auditorias Ambientais Sociais deverão garantir a máxima divulgação e o acesso público a todos os documentos e relatórios de acompanhamento, através dos meios de comunicação locais e especializados, inclusive meios digitais, resguardados os itens protegidos por legislação federal que trata do sigilo industrial. Parágrafo único - A omissão ou sonegação de informações relevantes descrendenciará os responsáveis e seus parceiros, tanto pessoas jurídicas quanto pessoas físicas membros da diretoria, para a realização de novas Auditorias Ambientais Sociais durante o prazo mínimo de 5 (cinco) anos, sendo o fato comunicado pelo órgão público responsável à Comissão de Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro e ao Ministério Público Estadual. Artigo 7º - As entidades executoras das Auditorias Ambientais Sociais realizarão audiências públicas periódicas no mínimo com a diferença de 6 (seis) meses entre uma e outra. Parágrafo 1º - As entidades executoras das Auditorias Ambientais Sociais deverão estimular a participação das comunidades locais nas audiências públicas e a participação através de comitês de bacias e outras formas de co-gestão da sociedade.


Parágrafo 2º - Durante as audiências públicas será facultada a manifestação oral e escrita dos participantes cujas contribuições e debates deverão integrar os relatórios da Auditoria Ambiental Social Social - AAS. Artigo 6º - Aos relatórios parciais de acompanhamento e do relatório final das Auditorias Ambientais Sociais serão dados ampla divulgação, inclusive por meios digitais e da publicação de resumo em veículos de comunicação locais e especializados. Parágrafo único – Cópias dos documentos e relatórios das Auditorias Ambientais Sociais deverão ser enviadas para: – A empresa contratante; I - O órgão público responsável; II – A Comissão de Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro; V – O Ministério Público Estadual. Artigo 7º - Correrão por conta do proponente de projeto todas as despesas com: a) contratação das ambientais sociais;

instituições

que

executarão

as

auditorias

b) publicações em veículos a que se refere esta Lei; c) divulgação e realização das Audiências Públicas acompanhamento d) envio de cópias de documentos conforme previstos nesta Lei.

de

Art. 8º - Aplica-se ao procedimento de Auditoria Ambiental Social Social – AAS a legislação federal referente a proteção do sigilo industrial. Parágrafo 1º - O interessado, pessoa física ou jurídica, ao apresentar o Relatório de Auditoria Ambiental Social Social deverá declarar, expressamente, os itens que entenda devam ser protegidos pela cláusula de sigilo industrial. Parágrafo 2º - Os responsáveis pela guarda da documentação submetida ao regime de sigilo industrial somente fornecerão certidão de seu conteúdo mediante determinação judicial.


Art. 9º - A apresentação dos resultados da Auditoria Ambiental Social não implica na suspensão de qualquer ação fiscalizadora ou das obrigações de realização das Auditorias Ambientais prevista na Lei nº 1.898, de 26 de novembro de 1991 e controle ambiental das atividades. Art. 10 - O Poder Executivo regulamentará a presente Lei no prazo de noventa dias contados a partir de sua publicação. Art. 11 - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. Justificativas Uma vez aprovado, este projeto de lei irá contribuir para assegurar que os recursos envolvidos em obras e projetos de interesse público, principalmente aqueles que tenham por foco a melhoria da qualidade de vida da população e do meio ambiente, atinjam realmente o destino dado por seus planejadores. Além disso, a prática da Auditoria Ambiental Social irá contribuir para capacitar a população em geral e os grupos organizados, em particular, para participarem da construção e implementação de um modelo de gestão ambiental para o Estado já que se trata de um instrumento de gestão que deve acompanhar o desenvolvimento do programa desde a sua concepção à sua implantação, avaliando seus impactos em relação aos aspectos ambientais e sociais, ao gerenciamento e ao funcionamento. O objetivo, nesse caso, não é apenas salvaguardar o meio ambiente, como também avaliar o cumprimento da legislação vigente e promover a mudança de comportamento dos técnicos e instituições envolvidas. Para sua execução, a Auditoria Ambiental Social Social recorre a um sistema de mão-dupla: reúne informações sobre a implementação do programa e os problemas da região, levantadas pelas organizações não-governamentais e pela população em geral e faz a verificação in loco, com apoio de especialistas independentes, contratados para este fim. O resultado do cotejamento dessas informações com os propósitos das obras e projetos auditados deve ser utilizado pelos gestores e executores para o controle e o ajuste permanentes de cada projeto. Meio Ambiente Urbano 1. A Gestão do Meio Ambiente nas Cidades Cada eleição municipal é uma boa hora para se repensar uma agenda ambiental para as cidades, pois sem um meio ambiente preservado,


dificilmente os lugares onde vivemos alcançarão os altos padrões de qualidade de vida que esperamos e merecemos. Logo, uma cidade ambientalmente melhor não é do interesse deste ou daquele partido ou político, mas de todos. O diagnóstico todos já conhecem. Cabe pensarmos nas soluções. Bem, aqui vão algumas contribuições. ECOLOGIZAR E MUNICIPALIZAR A GESTÃO AMBIENTAL - Preservar o meio ambiente não pode - nem deve - ser tarefa de uma secretaria ou órgão específico, mas de todos, muito menos ser tarefa apenas do poder público, mas também das empresas, ONGs, sociedade em geral. Os caminhos para essa ‘ecologização’ podem ser vários, depende mesmo é da decisão política dos dirigentes. Uma sugestão pode ser utilizar a própria estrutura ambiental existente para ampliar a discussão, promover a capacitação necessária, estimular e monitorar a evolução de uma forma de administrar, compartimentalizada, para outra, ecologizada. Os atuais Conselhos de Meio Ambiente poderiam ser o fórum ideal para o início dessa discussão, buscando envolver todos os órgãos dos poderes executivo, legislativo, judiciário e também a iniciativa privada e as ONGs nessa discussão, que pode se dar através de diversos seminários e audiências públicas. Uma outra tarefa fundamental é a capacitação e treinamento dos funcionários municipais para ecologizarem a administração. Esta capacitação já deveria levar em conta a necessidade de haver uma Reforma Ambiental que descentralize o licenciamento ambiental, cabendo aos municípios licenciar as atividades poluidoras a nível municipal, ficando para os estados o licenciamento intermunicipal e à União os licenciamentos que envolvam mais de um Estado, ficando os Estados e a União com papel supletivo sobre os municípios, no caso de haver abusos ou desvios. Os atuais órgãos e estruturas que cuidam do meio ambiente a nível municipal, por sua vez, ficariam com as funções de ação superelativa, orientativa, treinamento, capacitação, informação, dos demais órgãos do Poder Público municipal, além de prestar consultoria a cada órgão no sentido de buscar a correta adequação à questão ambiental. É só uma sugestão, mas haverão outras, de acordo com cada caso, o importante é ter a vontade de fazer. ÁGUAS - Um dos maiores problemas ambientais das cidades é a carência de um sistema de saneamento adequado, o que leva não apenas à morte e contaminação de ecossistemas inteiros, mas aumentam os casos de doenças por veiculação hídrica e a mortalidade infantil. Por isso, não dá para se pensar apenas no clássico sistema de coleta, transporte e tratamento, que exige grandes investimentos e concentra a poluição em emissários. É preciso pensar também em pequenos sistemas de fossa e filtro que as novas tecnologias têm tornado com eficiência de remoção de mais de 90% da poluição. O poder público poderia incentivar estes pequenos sistemas com abatimento na conta de água e esgoto


proporcional à poluição que o sistema conseguisse remover. Deveria ainda ser estimulado a formação de Consórcios por usuários de água por micro-bacias, para a gestão dos recursos hídricos, para garantir investimentos na recuperação dos mananciais das cidades, leia-se, investir em reflorestamento e preservação das matas existentes, pois são elas as responsáveis pelos poços e nascentes que abastecem as áreas que não recebem água encanada. RECICLAR - Lixo não existe, todos sabemos. O que chamamos de lixo é só matéria prima e recursos naturais misturados e fora do lugar. Por exemplo, se o Poder Público incentivar a Coleta Seletiva, poderá devolver ao sistema produtivo toneladas de papel, plástico, metais, vidros, além de aumentar a vida útil dos atuais aterros. Os entulhos de obras que aterram margens de rios e entopem lixões podem ser moídos e se tornar em agregados para habitações populares. Os restos de comida, cascas de frutas e legumes, dão excelente adubo para hortas a serem feitas em regime de cooperativa nos terrenos vazios e abandonados das cidades, mas tudo isso só pode se tornar realidade se for coletado separado na origem. Na minha opinião, é uma ilusão pretender coletar tudo misturado e levar para uma milagrosa usina de reciclagem para ver o que pode ser aproveitado. O Poder Público pode estimular a formação de cooperativas de reciclagem o que, além de ajudar o meio ambiente, ajuda a gerar emprego e renda para a população mais pobre e sem qualificação. ECOSSISTEMAS - O segundo maior problema ambiental das cidades, sem dúvida, é a destruição de seus ecossistemas. Além das queimadas, provocadas por balões ou pela queima do lixo não recolhido, a grande responsável pela destruição dos ecossistemas é mesmo a necessidade de moradia da população, de todas as classes sociais. Não há solução simples ou fácil neste caso, já que não dá para se decretar o fim da natalidade ou proibir o acesso das pessoas às cidades. Assim, cada novo condomínio ou loteamento precisa ser analisado com os rigores da lei, estabelecendo-se restrições que permitam o máximo de aproveitamento e preservação dos ecossistemas e das árvores, negociando medidas compensatórias, mitigadoras e reparadoras que levem no mínimo a repor em ecossistemas o dobro do que estiver sendo autorizado retirar, tudo num ambiente de transparência e da legalidade, com audiências públicas no âmbito dos Conselhos de Meio Ambiente. Nessas medidas compensatórias podem estar desde a recomposição do verde urbano quanto a obrigatoriedade dos interessados em investirem na efetiva implantação das Unidades de Conservação e criação de RPPNs (Reservas Particulares do Patrimônio Natural), para que os atuais proprietários de áreas florestadas possam ser beneficiados com abatimento de impostos além de outras vantagens.


AMIGOS AMBIENTAIS - E, finalmente, uma Agenda Ambiental precisa incluir um amplo programa de Educação Ambiental que inclua não só a conscientização da população, mas principalmente, que estimule a cidadania participativa através dos fóruns próprios. As ONGs (Organizações Não Governamentais) Ambientalistas podem exercer papel fundamental, segundo a natureza institucional de cada uma. As ONGs ditas técnicas ou profissionais, podem ser parceiras do Poder Público e empresas obrigadas a cumprir medidas compensatórias, na elaboração de projetos ambientais. As ONGs ditas de combate podem ser aliadas na fiscalização das metas, prazos e efetividade dos projetos e exigências assumidas por empresas e em projetos do próprio Poder Público, como a implantação dos serviços de água e esgoto. Estimular o voluntariado ambiental nas cidades é apenas criar canais para que o sentimento de amor e o orgulho pelas cidades, que todo morador possui potencialmente, seja transformado em energia de criatividade e ações práticas pela melhoria do meio ambiente urbano. 2. O que Chamamos de Lixo É Só Desperdício de Recursos Naturais Um dos maiores problemas ambientais nas cidades é a carência de um sistema de saneamento adequado, o que leva não apenas à morte e contaminação de ecossistemas inteiros, mas aumentam os casos de doenças e a mortalidade, especialmente de crianças e idosos, pois o lixo é a casa ideal de vetores transmissores de doenças como ratos, baratas, mosquitos, etc. No caso dos resíduos sólidos, um dos itens do saneamento, tem ainda o problema da queima do lixo não coletado, que às vezes é um dos principais fatores da perda de florestas e vegetação nas cidades quando o lixo é queimado e o fogo acaba se alastrando para o capim seco e daí atinge as árvores e florestas. Dessa forma, lixo, desmatamento e mortalidade infantil andam de mãos dadas na deterioração do meio ambiente urbano. O que chamamos de lixo é só matéria prima e recursos naturais misturados e fora do lugar. Se olharmos uma vasilha de lixo bem de perto veremos que ali estão papel, plástico, metal, vidro, pano, madeira, material orgânico, restos de obras, etc. Tudo isso, ao ser misturado, torna-se imprestável para reaproveitamento, com o agravante de que jogar lixo no meio ambiente além de revelar a falta de educação de quem pratica esta ação, é crime ambiental segundo o artigo 41 do decreto federal 3.179, de 21 de setembro de 1999, que regulamenta a Lei de Crimes Ambientais e que considera crime, punível com multa de R$ 1.000,00 a R$ 50 milhões de reais, "causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade


de animais ou a destruição significativa da flora". No inciso V, do mesmo decreto, o artigo é bem explícito: "Incorre nas mesmas multas quem lançar resíduos sólidos, líquidos ou gasosos ou detritos, óleos ou substâncias oleosas em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos". Diante do crescimento das cidades e da consciência ambiental crescente na sociedade, não há mais 'lá fora', pois tudo está dentro do planeta. Logo, não resolve mais levar o lixo lá para fora, num canto escondido qualquer. É urgente que este assunto seja adequadamente tratado, com gestão compartilhada, tecnologias adequadas e, principalmente, muita educação e comunicação ambiental, pois são se trata apenas de deficiência pura e simples nos sistemas de coleta e destino final do lixo, mas também de falta de educação de nosso povo, já que em muitos locais onde o serviço de limpeza existe, o lixo continua sendo jogado nas ruas e terrenos abandonados. As prefeituras podem criar mecanismos de incentivo para a Coleta Seletiva na Cidade, através, por exemplo, de abatimento na taxa de lixo, que seria separada do IPTU. Quem quisesse entregar seu lixo todo misturado pagaria 100% da taxa, mas quem entregasse separado, pagaria só 50%, ou até menos. Claro que deveria ser implantado junto um programa de comunicação e educação ambiental, mas o abatimento no IPTU faria uma enorme diferença no estímulo à participação da sociedade. Ainda, de quebra, os Prefeitos poderiam transformar um problema complicado numa fonte extra de geração de renda e emprego através do incentivo à formação de cooperativas de catadores e beneficiadores de materiais. Até os entulhos de obras que aterram margens de rios e entopem lixões podem ser moídos e se tornar em agregados para habitações populares. Os restos de comida, cascas de frutas e legumes, dão excelente adubo para hortas cultivadas sem agrotóxico a serem feitas em regime de cooperativa nos terrenos vazios e abandonados da cidade, cujos produtos podem contar com a garantia de compra pelas escolas da Rede Municipal para a merenda escolar. 3. Por Amor às Amendoeiras A natureza existe para nos servir, certo? Errado. Por mais importante que seja a espécie humana, não sobreviveríamos sem a natureza, logo, não podemos fazer com ela o que bem quisermos. Não é a natureza que nos pertence, nós é que pertencemos a ela. Nossas cidades seriam um lugar triste e feio sem a natureza, caso existisse apenas concreto, asfalto, automóveis. As árvores da cidade são um pouco dessa natureza. Elas enfeitam e tornam o ambiente mais


agradável, abafam ruídos, retêm poeiras, contribuem para a troca do poluído gás carbônico dos automóveis pelo oxigênio que respiramos, abrigam os pássaros, etc. Elas ocupam um espaço no vazio da paisagem urbana, entre os prédios e ruas, e em nossas memórias. Aos poucos, vamos nos acostumando e até mesmo crescendo junto com as árvores da rua, praça ou fundo de quintal. Sem nos darmos conta, desenvolvemos uma espécie de afeição, quase amor, pelas árvores da cidade. Não é à toa que sentimos um certo vazio no peito quando nos deparamos com aqueles troncos nus, vítimas da eficiência de alguma empresa que recebe por árvore cortada e na outra ponta já tem negociado com alguma empresa para ganhar algum por fora em função do volume de madeira que entregar. Um verdadeiro desastre. É como se tirassem um pedaço de nossa memória, de nossa cidadania. E as maiores vítimas tem sido as amendoeiras. Trazidas da Índia, de onde são nativas, adaptaram-se tão bem ao nosso clima que crescem quase com alegria e estão presentes em quase todas as ruas. Não é sua culpa se são plantadas em lugares errados, sob fios de energia ou telefone, junto a calçadas, prédios e muros, etc. Muito menos devem ser sacrificadas por perderem as folhas com a chegada do inverno. As amendoeiras, diferente das árvores tropicais, são caducifólias, isto é, suas folhas caducam, caem, no inverno. Dão um trabalho danado para os garis, entopem bueiros, mas são uma beleza! Antes de caírem, sua folhas mudam da cor verde para diversos tons de vermelho, cor-de-abóbora, amarelo. Pouco depois de perder todas as folhas, nascem milhares de brotos, que logo viram folhas, de um verde novinho, como se a cidade se renovasse. Pena que os apressadinhos não conseguem perceber as amendoeiras. Aliás, percebem bem pouca coisa da cidade, tão preocupados em chegar a algum lugar, como se, para eles, tanto faz estar aqui ou ali, pois estão sempre de passagem. Precisamos de cidadãos que lutem por sua memória, ainda que dela faça parte as amendoeiras. Pouco importa se vieram da Índia, irritem os garis com suas folhas, dêem trabalho para pedreiros que precisam vez por outra consertar uma calçada aqui, uma rachadura ali. São nossas amendoeiras. São as árvores da nossa cidade! Problemas Ambientais 1. Água é Vida A superfície de nosso planeta é constituída por apenas 30% de terra firme. Os 70% restantes são de água. Olhando do espaço, nosso Planeta Terra mais parece um Planeta Água! Só que a maior parte dessa água, cerca de 97%, é salgada, indisponível, portanto, para


beber. Os oceanos têm outras importantes funções em nossa vida. Por exemplo, ao contrário do que muitos possam imaginar, não são as árvores que fornecem o oxigênio na quantidade suficiente para permitir a vida sobre o Planeta, mas as microscópicas algas do oceano. Das águas que existem sobre o Planeta, apenas 3% são doces e somente 0,6% está disponível na superfície, como as águas dos rios e lagos! O restante está indisponível congelada nos pólos, ou na forma de vapor d’água na atmosfera, ou em lençóis subterrâneos. Além de pouca, a água que está na superfície não é distribuída de forma igual no Planeta. O Brasil, por exemplo, possui a maior reserva de água doce superficial do mundo, cerca de 30% de toda a água disponível, mas ela está mais concentrada na Bacia Amazônica, longe portanto dos centros consumidores, como as regiões sul e sudeste. Na região nordeste, ao lado da Bacia Amazônica, as secas produzem desertos e provocam mortalidade entre as pessoas e os animais. As águas doces superficiais de nossos rios e lagos são um dos tesouros mais preciosos para a vida no Planeta. Mas, o que estamos fazendo - ou deixando que façam - com esse tesouro? A mesma água doce que serve para abastecer as casas, as empresas, é usada também para diluir e receber esgotos domésticos e industriais sem tratamento! E mais. A falta de florestas protetoras nas áreas de mananciais e nas bacias hidrográficas provoca danos enormes aos rios e lagos. Sem vegetação nos morros, as águas das chuvas, em vez de penetrarem no solo e irem alimentar os mananciais, correm rapidamente para os rios e daí para o mar, tornando-se novamente salgadas, além de carregarem junto os sedimentos que irão entupir os rios e os lagos, provocando enchentes nas cidades quando chove mais forte. As florestas agem como uma espécie de esponja que amortecem os pingos das chuvas fazendo com que penetrem no solo, indo alimentar os mananciais que abastecem os rios e lagos. O que temos de fazer é muito simples: trabalhar com a natureza e não contra ela. São várias as medidas que podemos tomar no sentido de preservar nossos rios e lagos. Pode parecer uma tarefa enorme, e aí a tendência é acharmos que o mundo melhor que desejamos começa no outro ou depende dos governos e das empresas. Entretanto, o mundo melhor que queremos começa em nós, e os grandes problemas são formados de pequenos problemas que não foram solucionados quando eram pequenos. Uma forma de enfrentar um grande problema é ir solucionando aos poucos o que está em nosso alcance.


As pessoas podem, por exemplo, escolher um dia da semana ou do mês para promover um mutirão voluntário de limpeza de um rio ou lago, plantarem mudas de árvores nativas nas margens e áreas de mananciais, podem formar grupos de vigilância dos céus acompanhando os balões para impedir que provoquem incêndios florestais em encostas, podem ajudar no monitoramento e na denúncia de poluição em rios e lagos, etc. Se fomos capazes de interferir na natureza para piorar as coisas, também somos capazes de medidas concretas para ajudar o meio ambiente, pois o planeta seguramente conseguirá sobreviver sem nós, talvez um pouco mais feio e arranhado, mas nós, seguramente, não sobreviveremos sem o planeta. 2. Biodiversidade e Cidadania Para os 1.500 cientistas e especialistas que elaboraram o relatório Avaliação Global da Biodiversidade, divulgado pelo Programa das Nações Unidas Para o Meio Ambiente (PNUMA), os seres humanos são a principal causa da perda crescente da biodiversidade mundial. Devido à mudança ou perda de habitats já ocorridas em todo o mundo, dezenas de milhares de espécies caminham para a extinção, sem possibilidade de qualquer ação preventiva. Segundo o relatório, mesmo que outras espécies ameaçadas não sejam extintas, muitas delas irão perder populações ou sofrer graves perdas do seu potencial de variabilidade genética devido ao colapso ou à perda de habitats. Desde 1700, as terras para agricultura cresceram cinco vezes, e desde 1800, as plantações irrigadas aumentaram 24 vezes. A Mata Atlântica, ecossistema que só existe no Brasil e detém a maior biodiversidade do planeta por hectare, foi reduzida a aproximadamente 8% de sua área original. Ainda segundo o relatório, a diversidade biológica da Terra é composta, hoje, de 13 a 14 milhões de espécies, das quais apenas 1,7 milhão, ou 13% encontram-se descritas cientificamente. E, mesmo desse pequeno percentual, a maioria nunca teve sua situação completamente levantada. Apesar disso, estamos destruindo a biodiversidade do planeta a taxas aceleradas e sem precedentes. De 1810 até agora, o número de espécies de mamíferos e aves extintas 112 no total - superou em quase três vezes o que se perdeu entre ao anos de 1600 e 1810 - 38 espécies. O Brasil ocupa uma posição estratégica em termos mundiais devido à sua incomparável e rica biodiversidade. Se por um lado temos uma natureza exuberante, por outro carecemos de investimentos em pesquisa e na formação de mão-de-obra e estruturas que permitam o adequado aproveitamento e até mesmo a compreensão desta riqueza, o que nos tem conduzido a um tipo de garimpo muito mais predatório que o do ouro ou qualquer outro metal. O garimpo


genético. Sem uma base legal adequada, o Brasil tem permitido que o saber dos índios e populações tradicionais sobre a biodiversidade seja apropriado por terceiros, sem que estes povos ou o próprio país receba uma contrapartida pelo uso dessa biodiversidade. O correto é que o conhecimento destes povos fosse respeitado e remunerado adequadamente e que as comunidades participassem conjuntamente dos projetos de pesquisa. Existe, hoje, no mundo, uma verdadeira guerra silenciosa dos países ricos, que detém a tecnologia contra os países pobres ou em desenvolvimento, que detém a biodiversidade. Durante a RIO 92 esse conflito ficou bem claro e os EUA simplesmente recusaram-se a assinar o tratado da Biodiversidade, enquanto não se reconhecesse sua propriedade sobre o conhecimento genético que possui de plantas e animais de outros países que, desnecessário dizer, foram retirados desses países sem seu consentimento, sem qualquer remuneração sobre as espécies ou sobre o saber dos povos tradicionais. A biodiversidade ficou assim reduzida à condição de armazém de fragmentos genéticos, transformados pelos laboratórios em mercadorias comercializáveis. Mais que a simples apropriação de uma espécie de planta ou bicho, é a apropriação privada da vida, que assume um valor monetário. Talvez o mais difícil seja compreender que nossa espécie não é a dona do planeta, não pode fazer com a natureza o que quiser. Por mais especial que nossa espécie possa parecer, ela não é mais importante que qualquer outra, já que, na natureza, tudo está interrelacionado, “o que fere a Terra, fere também os filhos da Terra”, como já afirmou o cacique Seatle, em 1855, antes de inventarem o termo ecologia. Não podemos usar e abusar do planeta, sem sofrer as conseqüências. 3. Emissão de Carbono Para a Atmosfera Ao término da Conferência das Nações Unidas Sobre Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92, foram assinados os mais importantes acordos ambientais globais da história da humanidade, a saber, as Convenções do Clima e da Biodiversidade, a Agenda 21, a Declaração do Rio Para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, e a Declaração de Princípios Para Florestas. A Convenção Climática, cujo objetivo principal, foi o de estabilizar as concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera, foi ratificada pelo Congresso Nacional em 28 de fevereiro de 1994 e entrou em vigor para o Brasil em 29 de maio do mesmo ano. Embora os países em desenvolvimento não tenham o compromisso de reduzir suas emissões de gases, o Brasil tem formulado e contribuído com algumas idéias, como o uso do álcool como substituto do petróleo, além de outras medidas.


Segundo o documento "Balanço Energético do Estado do Rio de Janeiro", como exemplo, o Estado do Rio sofreu, entre 1980 e 1996, uma considerável alteração em sua estrutura de oferta e consumo de energia, o que provocou um aumento percentual das emissões de gás carbônico. As atividades que mais se destacaram, na emissão de carbono foram o desperdício de gás natural, queimado na Bacia de Campos, o setor industrial (29,7%), cujas maiores emissões estão na área da siderurgia, e o setor de transporte (32,0%). O CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) estabeleceu que, a partir de 1997, as emissões de veículos de passeio, por exemplo, não poderão ultrapassar o máximo de 2gr/km de monóxido de carbono. Se um veículo permanecer durante um ano inteiro dentro deste padrão de emissões - o que é cientificamente impossível, dada aos conhecidos problemas de padronização do combustível e a carbonização natural dos motores -, e considerando ainda que um veículo trafega em média 20 mil quilômetros por ano, temos que cada veículo emite cerca de 40 quilos de monóxido de Carbono ao ano. Multiplicado por cerca de 2,7 milhões de veículos só da frota do Estado do Rio de Janeiro, significa que os veículos são responsáveis pelo lançamento legal, autorizado pelo CONAMA, de 108 mil toneladas de monóxido de carbono por ano na atmosfera do Estado, sendo que mais de 80% deste total de emissões são realizadas na região Metropolitana do Estado, que concentra cerca de 80% da frota. Este número é na verdade muito maior, pois nas verificações feitas pela FEEMA, é comum que mais de 50% dos veículos estejam com motores desregulados, chegando a emitir 12 gr/km de monóxido de carbono. Estudos da Coordenadoria de Programas de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe), da UFRJ, com base em levantamento feito pelo Greenpeace, mostra que em quatro áreas da Cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, o índice de dióxido de carbono já ultrapassou os limites da Organização Mundial de Saúde (OMS). Pesquisas do laboratório da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) relacionam a poluição atmosférica ao aumento da mortalidade de idosos e à morte de fetos a partir de seis meses de gestação, contaminados através do cordão umbilical e da corrente sangüínea da mãe que respira a poluição. “No sangue do cordão umbilical, já filtrado pela placenta, a presença de dióxido de carbono aumentava quando a concentração desse poluente era maior na atmosfera”, constatou o médico Luiz Alberto Amador Pereira, pesquisador da USP. Os estudos da USP também indicam que, cada vez que a concentração de particulados aumenta cem microgramas por metro cúbico, a mortalidade de pessoas com mais de 65 anos cresce 13 %. Em 1997, cerca de 40 acadêmicos e pesquisadores nacionais especialistas de muitas áreas, reunidos pela FBDS (Fundação


Brasileira Para o Desenvolvimento Sustentável) com o Instituto de Estudos Avançados da USP, através da Academia Brasileira de Ciências, reforçaram o importante papel do reflorestamento na técnica de seqüestro de gás carbônico. O Projeto FLORAM (Florestas Para o Meio Ambiente), elaborado pelo IEA-USP, no final da década de 80, foi inovador neste sentido. Preconiza a retirada biogênica do gás carbônico em excesso na atmosfera por meio da fotossíntese das árvores. Entretanto, ao contrário de estar plantando árvores ou preservando as florestas existentes, o Estado do Rio de Janeiro tem sido o campeão do desmatamento da mata atlântica, segundo medições por satélites feitas pelo INPE em convênio com as ONGs SOS Mata Atlântica e Instituto Sócioambiental. Em cinco anos, entre 1990 e 1995, o Estado do Rio perdeu 140.372 hectares de Mata Atlântica e em dois anos, entre 1995 e 1997, a perda em 40 municípios dos 91 do Estado, foi de 15.689, o equivalente a quase um campo de futebol de florestas por hora! A principal atividade depredadora das florestas nativas fluminenses, apontada pelo satélite, tem sido a prática de queimadas para ampliação ou limpeza de pastos ou como estratégia de produtores rurais empobrecidos de evitar a aquisição de adubos e fertilizantes para suas terras com baixa produtividade, recorrendo às queimadas como forma de ampliar áreas produtivas devido às cinzas da própria floresta queimada. Se tomarmos como parâmetro o modelo adotado na Costa Rica, onde para cada 1000 ha de florestas estima-se a absorção de 30.000 t C durante um período de 10 anos. Isso significa que as queimadas além de lançarem carbono na atmosfera, eliminaram, de 1990 a 1997, 156.061 hectares de florestas que antes retiravam da atmosfera, num período de 10 anos, cerca de 4,6 milhões de toneladas de carbono da atmosfera! Acredita-se que a demanda por créditos de captação de carbono vá levar à criação de um valor real de mercado que lhes caracterizará como commodities transacionáveis, nos moldes do mercado de créditos de SO2 já existente nos EUA. Neste mercado ainda insipiente, o valor atual de 1 tonelada de carbono é em torno de US$ 10/ton C. De acordo com um estudo realizado pelo UNCTAD (UN Conference on Trade and Development), a demanda por créditos de captação de CO2 durante a próxima década será em torno de US$ 20 bilhões. No entanto, a ausência de mecanismos confiáveis e formal de registro e transferência de créditos de captação de carbono tem gerado incerteza e reduzido o nível de investimento em projetos florestais por parte de companhias do setor industrial interessadas em mitigar suas emissões. Como forma de contribuir para ajudar na solução do problema, ofereci ao Deputado Estadual Carlos Minc (PT/RJ), um projeto de lei que, entre outras soluções, cria o Fundo Especial Para Combate ao


Efeito Estufa - PROFLORAR, destinando recursos para, entre outros fins, o plantio de florestas de fins econômicos e ambientais e preservação das florestas nativas existentes, significando recursos fundamentais que faltam hoje para a efetiva implantação e proteção das Unidades de Conservação localizadas no Estado do Rio Janeiro e formação de contínuos florestais, estímulo à criação e implantação de RPPNs (Reservas Particulares do Patrimônio Natural), etc., como mais uma contribuição do povo fluminense para o esforço mundial de combate ao aquecimento global. Além disso, uma vez implantado, o projeto irá testar e disseminar conhecimentos sobre seqüestro de carbono de floresta tropical para beneficiar pequenos produtores e proprietários de áreas degradadas em volta de remanescentes de mata atlântica, contribuindo para o desenvolvimento regional, a geração de emprego e renda, já que, para cada hectare plantado gera-se 4 (quatro) empregos diretos (Fonte: Fundação SOS Mata Atlântica), sendo, portanto, um projeto de amplo interesse sócio-ambiental. Se levar em conta a necessidade de se garantir o plantio anual de árvores apenas para o seqüestro de 108 mil toneladas de monóxido de carbono emitidas por ano pela frota de 2,7 milhões de veículos do Estado, haveria a necessidade se plantar em torno de 4 mil hectares anuais, durante 10 anos. Teríamos a geração de emprego, e a garantia de emprego durante 10 anos, em torno de 16 mil novos postos de trabalho. Isso pode significar a diminuição da migração campo-cidade, tornando-se em mais um atrativo para a fixação do homem no campo, para o desenvolvimento do setor agrícola, combate às queimadas como técnica agrícola e pecuária, geração de emprego para engenheiros florestais e biólogos, geração de renda e valorização de propriedades rurais, entre outros benefícios. 4. Desafios Energéticos Diante de um grande problema, devemos buscar grandes soluções, certo? Nem sempre, pois os grandes problemas podem ser a soma de pequenos problemas não resolvidos ou resolvidos de forma equivocada. Um exemplo disso é a necessidade de energia para promover o crescimento econômico e garantir a qualidade de vida das pessoas. Sabemos que a energia não brota da parede quando acionamos uma tecla ou tomada, mas vem de algum lugar da natureza. Sempre que há retomada no crescimento econômico existe a necessidade de mais uso de energia, então ressurge o fantasma do ‘apagão’ e do racionamento de energia. Nesse momento entram em campo os adeptos da energia nuclear que sempre querem mais e mais usinas, como se o lixo atômico que permanece ativo por 25 mil anos pelo menos e a impossibilidade de evacuar decentemente a população em casos da acidentes nucleares fossem riscos aceitáveis.


Opõe-se ao grupo dos pró-usinas nucleares os adeptos das grandes hidrelétricas, como a de Itaipú, na fronteira do Paraguai, ou a de Balbina, na Amazônia, por exemplo, que geram energia, mas a um custo sócio-ambiental tremendo. E não pensem que todo esse esforço de produção de energia é para melhorar o dia-a-dia do cidadão, como diz a propaganda, mas boa parte é desviada para indústrias altamente dependentes de energia. Afinal, os críticos a estes modelo energético reclamam porque gostam de reclamar? Muito pelo contrário. Eles são a favor. A favor de programas de conservação de energia, que podem economizar até 20% da capacidade já implantada de geração de energia, o que, de cara, evitaria a construção de novas hidrelétricas, usinas nucleares ou termoelétricas insustentáveis e poluidoras por um bom tempo. Também são a favor de se adotarem outras soluções energéticas, que podem não resolver no caso de grandes indústrias e de grandes centros urbanos, mas são perfeitamente viáveis para pequenas comunidades, áreas rurais, ilhas etc, como, por exemplo, a energia produzida a partir da biomassa, da energia solar, da energia eólica, bem menos poluentes e impactantes ambientalmente, além de não ser preciso gastar com grandes linhas de transmissão e permitir sobra de energia nos sistemas tradicionais, permitindo atender ao crescimento dos grandes centros consumidores. Esses críticos também são a favor das mini usinas hidrelétricas que aproveitem melhor as quedas dágua, as calha dos rios, a força das correntezas, a força das marés, etc.. Ainda em relação ao uso da energia nuclear, continuo divergindo dos seus defensores por ser uma opção energética de alto risco ambiental pela dimensão dos impactos no caso de um hipotético, mas não improvável acidente, já que não existe risco zero. Mesmo sabendo que as usinas de Angra 1 e 2 não são nenhuma potencial Chernobil, por se tratar de tecnologia diferente que, mesmo no seu pior cenário, mesmo que alguém deliberadamente pretendesse provocar um acidente, jamais lançaria para o ar, por quilômetros, seu veneno radioativo. Claro que, se fôssemos aplicar esta mesma visão catastrófica, o risco do rompimento da barragem de uma hidrelétrica, apesar de hipótetico, mas não improvável, ou da explosão de um depósito de gás natural, como o do Gasômetro do Rio de Janeiro, também causariam danos seríssimos ao meio ambiente, à vida e ao patrimônio humanos. Mas seriam danos imediatos, e não por sucessivas gerações, como no caso de um grave acidente nuclear que chegasse ao meio ambiente. Entretanto, o fato de não concordar, não significa que os críticos tenham que recusar-se ao diálogo. Por outro lado, este diálogo não


significa aceitação, mas coerência de cobrar do setor nuclear o mesmo rigor no trato da questão ambiental que se cobram das indústrias siderúrgicas, químicas, de transporte, etc. Afinal, as empresas que compõem o setor nuclear são indústrias e, como tal, devem prestar contas à sociedade da forma como tratam seus efluentes e resíduos, protegem a saúde dos trabalhadores, recuperam área degradas, monitoram o meio ambiente realizam uma política de comunicação transparente, assumem, postura de responsabilidade social e ambiental perante a sociedade, etc. 6. Favelização Planejada Em qualquer cidade do mundo, especialmente nas dos países chamados em desenvolvimento, existem bairros urbanizados e as favelas, estas implantadas contra a vontade dos governos e das leis, sem planejamento, sem saneamento básico, sem infra-estrutura urbana. Alguns governantes preferem tratar do assunto como se fosse simplesmente um caso de polícia, como se desse para ter um guarda atrás de cada árvore. Deveriam desenvolver políticas públicas de urbanismo e uso do solo que contemplassem também aqueles que precisam morar mas estão fora do mercado, isto é, não dispõem de recursos para comprar ou alugar um lugar nos bairros urbanizados. As pessoas não ocupam locais insalubres e sujeitos a deslizamentos, sem infra-estrutura, por maldade ou simples desejo de enfrentar as leis ou afrontar os governantes. Na maioria quase absoluta, fazem isso por que não têm alternativa de comprar ou alugar um lugar melhor para morar. Claro que o processo de invasão de áreas não-edificantes conta ainda com outros ‘aliados’, como especuladores imobiliários que usam a necessidade dos mais pobres como pano de fundo para ocupar essas áreas. Uma vez consolidada a posse, o especulador compra os direitos do ‘invasor’ e no lugar do casebre humilde constrói uma bela residência que vende em seguida por um bom preço. Também existem políticos e candidatos a cargos eletivos sem escrúpulos que distribuem lotes em áreas não-edificantes como se fôssem suas, em troca de votos, criando um fato social de difícil solução a não ser a legalização da invasão. E, ainda, tem o crime organizado, que cria uma espécie de área de segurança em torno de seus esconderijos e como forma de proteger suas atividades criminosas, promovem a doação de lotes em áreas não-edificantes às comunidades pobres, que se tornam eternamente agradecidas por isso, atuando como ‘olheiros’ para o caso da polícia resolver invadir o lugar. E assim a sociedade vai perdendo suas áreas de mananciais, florestas, margens de rios e lagos, costões rochosos, etc.


Alguns políticos, urbanistas e planejadores urbanos costumam ignorar o fato que, para cada novo empreendimento de luxo que é construído, surgirá em algum ponto próximo dali uma comunidade pobre 'não planejada', onde vão morar os empregados da construção civil e as empregadas domésticas, porteiros, etc. Ou os urbanistas acham que pessoas que ganham um ou dois salários mínimos vão concordar em perder mais da metade do salário todo mês em transporte para morar longe do local de trabalho? Assim, as favelas não ocorrem por um acaso. Elas são 'fabricadas' nas pranchetas dos planejadores e administradores públicos e privados, nas leis de políticos, no momento em que dividem as cidades apenas em duas partes: áreas para o mercado e áreas não edificantes, sem prever uma terceira parte, destinada às pessoas que precisam morar, mas estão fora do mercado e precisam de terra de graça, ou a preços simbólicos. Claro, alguns poderão protestar que isso seria um tipo de socialismo e que não tem cabimento dar terra de graça para ninguém. Mas é preciso avaliar o que sai mais barato. Dar terra antes, em locais adequados, ou ter de gastar mais depois para levar infra-estrutura em comunidades de baixa renda instaladas de qualquer jeito em áreas de riscos, insalubres e de difícil acesso, como encostas íngremes, margem de lagoas, áreas de proteção ambiental ou de mananciais ou a montante destes, etc. 7. Caça Ecológica – Aberração Ética O principal argumento usado pelos caçadores, auto-intitulados ecológicos, para matar suas presas é a necessidade de evitar a superpopulação de uma determinada espécie – naturalmente a que vai ser caçada. Trata-se de uma falácia, baseada numa meia verdade, É verdade que há necessidade de se manter o controle das espécies silvestres. A superpopulação provoca falta de alimentos, doenças, desequilíbrios ecológicos ou pode prejudicar não apenas um grupo ou outro de indivíduos, mas todas a espécie. Entretanto não é verdade que a melhor forma de se efetuar esse controle populacional seja através da caça. O equilíbrio ecológico numa cadeia alimentar acontece naturalmente, primeiro, se houver vegetais, gramínias e plantas em abundância, suficiente para alimentar os seres primários, ou vegetarianos. Estes seres, como cavalos, cervos, coelhos etc., fazem as funções de agricultores e jardineiros, mantendo os vegetais sempre produtivos. Os seres vegetais, por sua vez, podem aumentar muito de número consumirem toda a vegetação, o que provocaria a morte de todas por falta de alimentos. A natureza, então, estabeleceu seu próprio esquema de controle. Para isso existem os animais carnívoros. Eles mantém as populações de seres vegetarianos sempre num


determinado equilíbrio. Exemplo desses carnívoros são a onça, a águia, cobras etc. Uma característica importante desse equilíbrio natural é que o número de indivíduos é proporcional entre si, ou seja, existe muito mais vegetais que animais vegetarianos, e muito mais animais vegetarianos que animais carnívoros, formando um tipo de pirâmide alimentar. Isso quer dizer que, ao avistarmos uma onça num determinado ecossistema, significa que naquele lugar existem muitos animais vegetarianos e muitas plantas. A onça na verdade, não é um ser isolado dentro daquele contexto, mas uma componente de uma estrutura só, formada por plantas, bichos vegetarianos, bichos carnívoros. Quando os fazendeiros queimam as florestas para plantar pastos para o gado, automaticamente destróem as possibilidades de alimentos para a onça. Com fome, este animal invadirá as fazendas. A forma de se evitar o desequilibro é assegurar a existência de ecossistemas do tamanho necessário para suportar a existência dos animais silvestres. Essa é a primeira providência se alguém quiser mesmo manter os controles populacionais dos animais naturais de uma determinada região onde esteja havendo superpopulação. Felizmente, ainda há tempo. Os caçadores podem constitui-se em aliados importantes, caso pretendam mesmo auxiliar no controle das superpopulações e contribuir na recuperação do equilíbrio ecológico. Em vez de armas de fogo, deveriam usar máquinas fotográficas, elaborar mapas minuciosas sobre a ocorrência e número de animais, a fim de se estabelecer um plano de manejo do ecossistema. Do ponto de vista esportivo, vencedor seria aquele que conseguisse identificar a melhor presa, fotografá-la, mapear sua posição fazer um diagnóstico das condições de sobrevivência e situação do seu ecossistema, sem tocar na presa, e sem ser notado por ela. E mais. Depois de tomada as medidas de manejo e reequilíbrio natural, voltar, o mesmo local e fotografar novamente a presa. De campeões da morte, estas pessoas se tornariam campeões da vida. Ecologia Interior 1. Metas Para uma Vida Melhor 2. Um velho índio descreveu certa vez em seus conflitos internos: "Dentro de mim existem dois cachorros, um deles é cruel e mau, o outro é muito bom e dócil. Os dois estão sempre brigando..." Quando então lhe perguntaram qual dos cachorros ganharia a briga, o sábio índio parou, refletiu e respondeu: "Aquele que eu alimentar" (Autor desconhecido) Quando queremos fazer alguma coisa bem feita, como cozinhar um alimento, por exemplo, precisamos nos planejar antes, ter todos os ingredientes à mão, nos assegurar do modo de fazer,


da condição do fogão, etc. Na vida não é muito diferente. A felicidade não é obra do acaso, mas depende de uma série de fatores, entre eles, ter objetivos razoáveis, possíveis de serem alcançados, compatíveis entre si, e a determinação de persegui-los de forma consciente e de coração aberto às novas possibilidades, mas sempre lembrando que não há vida perfeita, felicidade perfeita, assim, devemos considerar como natural e razoável uma certa margem de erro e de incapacidade em alcançar os objetivos. 3. Planeje o seu tempo dando espaço para vários objetivos em sua vida e realmente obrigue-se a cumprir suas metas, principalmente para não deixar que o trabalho, ou a internet, ou a televisão, por exemplo, tomem conta de todo o tempo da sua vida. Reserve um espaço para a prática de uma arte, exercício, esporte, aprender uma coisa nova, ir ao cinema, teatro, show, dançar, ler um livro, escrever um livro, pintar um quadro, pelo simples prazer de pintar ou escrever, sem se obrigar a ter fama ou fortuna. • Não espere ter um ataque cardíaco, derrame ou outro problema sério de saúde para só aí entender que os benefícios do exercício físico e de uma dieta são maiores que os prazeres da preguiça e da gula. O exercício dá energia à vida, a preguiça e a gordura excessiva entorpecem. Se não der para sentir prazer com o exercício ou com a dieta, então que seja por disciplina consciente. Trace um plano de trabalho e se empenhe em realizar e, se fraquejar, tente novamente por que você não tem de provar nada a ninguém a não ser a você mesmo. • Dê mais espaço para as suas emoções sem precisar explicar tudo o que sente, a não ser quando os sentimentos exigem uma explicação, pois o outro não tem de ser adivinho. Viva um dia de cada vez, sem ansiedade pelo futuro que você não domina nem sabe como vai ser ou culpa por um passado que você não pode mais mudar. Muito menos sinta-se tão comprometido com o outro a ponto de valorizar mais os sentimentos dele que os seus próprios sentimentos. Exercitese em ser flexível com o outro, pois são pessoas diferentes e o que deve importar não é o quanto um ou o outro têm razão, como se amar fosse uma competição para ver quem ganha, mas o quanto podem ser felizes juntos. E, quando tiver de dizer o que o incomoda no outro, faça-o no momento oportuno e sempre com ternura e palavras mansas, pois o objetivo não é ter razão, mas manter a felicidade da relação. É preciso confiar na capacidade do outro em se proteger emocionalmente até mesmo de você, afinal, quando um não quer dois não brigam - nem se amam. É um erro nos fechar para novas possibilidades e insistir numa relação onde se esgotaram as chances de felicidade conjunta. Não sinta-se tão responsável quando


um relacionamento não dá certo, pois ninguém é obrigado a gostar de ninguém, e existem tantos nãos no mundo quanto sins. • Materialize promessas em encontros, reuniões, eventos, festas, que o aproxime dos amigos, parentes e mesmo vizinhos. Tenha mais atenção com o outro, tanto no sentido de valorizar as pessoas de bem, quanto proteger-se de oportunistas, ainda que nos sejam muito próximos. Assim que puder, identifique-os e não os deixe ficar tão à vontade e sem limites em sua vida. É uma forma de protegê-los deles mesmos para que não façam estragos que venham a se lamentar mais tarde. Não existem pessoas perfeitas, relacionamentos perfeitos, família perfeita, muito menos as pessoas têm de ser como imaginamos ou queremos que sejam, e perdoá-las é uma forma de aproveitar o melhor delas e até reforçar laços de afeto, mesmo quando pensam ou agem diferente de nós. • Procure extrair qualidade de vida em cada momento, seja no cuidado com a alimentação, no respeito às horas necessárias de sono, na presença de uma boa música, em evitar engarrafamentos e barulho, no uso racional da televisão que tende a ocupar todo o nosso tempo livre e ainda gerar o entorpecimento dos sentidos e dos valores. Se esforce por manter sua casa limpa, organizada, perfumada. Torne-a um lugar para o qual você tem prazer em voltar sempre e se sentir em paz e protegido. • Busque a coerência entre o seu pensamento, seu discurso, suas emoções e sua prática, mas sobretudo, aceite-se como você é, com capacidades e limitações, como qualquer outro ser humano. Recuse estereótipos ou preconceitos sobre como um homem ou uma mulher devem agir e seja você mesmo. Nem exija de você mais do que é capaz de dar. Não se compare com outros. Você não tem que vencer sempre, você só tem que ser feliz e fazer o melhor que tiver ao seu alcance. • Realize com regularidade uma ação voluntária. Se temos a consciência de que o mundo precisa melhorar, nada mais coerente que nos empenharmos nessa melhoria, mas na medida de nossas possibilidades e limites, e não das necessidades de tudo o que precisa ser feito. Não pense que estará ajudando apenas o mundo, mas a você próprio, sentindo-se útil e valorizado. 2. Será tarde demais? Se você é dessas pessoas, como eu, que detesta reclamações, então pare de ler agora mesmo este artigo, pois meu intuito aqui é reclamar. Sei muito bem que em tudo existem vários lados, que não há nada bom nem mau completamente, por isso procuro viver


positivamente, buscando sempre nas situações e nas pessoas o que há de bom e bonito. Não se trata de rejeitar todo o mau e só pretender o bem, por que acredito sinceramente que carregamos dentro de nós igualmente a capacidade de escolher o bem ou o mal e o ideal é que cheguemos a um nível de equilíbrio entre o mau e o bem a ponto de nos tornarmos cada vez mais pessoas melhores, felizes, amorosas sem que isso signifique passar por cima dos outros, maltratar nossos semelhantes ou mesmo os que não são semelhantes, mas que, como nós, são passageiros neste frágil e diminuto planetinha que mais parece uma poeira cósmica perdida no espaço sideral. Somos, acredito, o resultado de nossas escolhas. E não escolher é o pior tipo de escolha que podemos fazer, pois estaremos permitindo que outras pessoas escolham por nós. Pode até ser mais confortável, não ter que decidir coisa alguma e seguir o bando, como ‘marias vai com as outras’. Mas, por mais ridículo que possa parecer esta idéia, é exatamente isso que estamos fazendo quando aceitamos sem questionar situações que são um atentado contra a nossa natureza humana, e que nos faz cada vez mais infelizes, impacientes uns com os outros, irritados. Então vou reclamar mais um pouco. Como deixamos que as coisas chegassem a esse ponto? Como iremos sair disso? Está cada vez mais impossível ir a qualquer lugar hoje sem ter de enfrentar engarrafamentos, agravado por um transporte público que nos obriga a andar espremidos como sardinhas em lata, ou falta de lugar para estacionar, ou flanelinhas, ou o calor insuportável das ilhas de calor em que se transformaram nossas cidades. A programação da TV aberta é um verdadeiro atentado contra a dignidade humana, onde – com raras exceções -, quase que o tempo todo é mostrado o lado feio, mau, violento, da nossa natureza, onde o egoísmo, a falta de solidariedade, a esperteza, a ambição e o pior de nós é elevado como valor a ser perseguido, onde o dinheiro parece ter transformado tudo em mercadoria e, dependendo de quanto você tem no bolso, pode comprar tudo: amor, felicidade, Deus. A falta de segurança tem feito mais mal a todos nós que o roubo de uma carteira ou carro. Nos roubou a confiança no outro. Nas grandes cidades as pessoas passam umas pelas outras sem um sorriso, como se cada um que se aproximasse fosse uma espécie de bandido em potencial, e nem adianta ser uma mulher bonita, por exemplo, ou um senhor bem vestido, pois os estelionatários são pessoas exatamente assim, muito simpáticos e envolventes. Ou seja, cada vez mais, as pessoas não são dignas de confiança, até que provem o contrário.


Os shows musicais parecem feitos para surdos. Invariavelmente o som é tão alto que mal conseguimos ouvir a voz dos artistas. Pode ser uma estratégia para que as pessoas não consigam se ouvir uma as outras, a fim de se suportarem melhor. No cinema parece que só os EUA produzem filmes no mundo, e sequer conseguem ser muito criativos, pois de uma forma ou de outras as histórias são sempre uma variação qualquer de heróis individuais lutando contra o sistema, onde sempre se dá um jeitinho de tremular uma bandeira americana em algum ponto. Como ambientalista costumo dizer que detesto ter razão, pois quando chegam a me dar razão, geralmente é por que é tarde demais. 3. O que mais podemos querer? "Há pessoas que perdem a saúde para juntar dinheiro e depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. Por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente de tal forma que acabam por nem viver no presente nem no futuro. Vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se nunca tivessem vivido" (Confúcio). A vida, em geral, nos dá muito mais do que pedimos, ou sonhamos. E mesmo quando ela nos faz sofrer, oferece-nos a oportunidade de crescer e amadurecer e nos dá a percepção otimista do quanto vale a pena viver intensamente cada minuto e nos faz aceitar com generosidade nossas cicatrizes, pois assim como as carregamos no corpo físico - e isso não nos impede de viver e ser felizes -, o mesmo ocorre com as cicatrizes que carregamos na alma. Nossa tarefa principal é, quando sentirmos aquela tristeza sem causa aparente, procurar descobrir estas cicatrizes e os sentimentos que elas provocam e não deixar que nos façam sofrer ainda mais do que os fatos que as geraram já fizeram. Nossas cicatrizes nos tornam pessoas únicas, e muitas vezes nos tornam também pessoas melhores, ou que aprenderam a tirar da dor a inspiração para a arte, por exemplo. O que mais podemos querer? Muitas vezes temos bem a nossa mão tudo o que precisamos para ser felizes, mas, insatisfeitos, sempre estamos à busca de mais alguma coisa que falta. Pessoalmente, preciso de muito pouco. Ficaria feliz e plenamente satisfeito se pudesse ler e escrever mais, comer bem, aprender definitivamente a dançar, concluir meu curso de mergulho, dormir as horas necessárias, amar e ser amado de forma completa, generosa e sem ansiedades, gozar de boa saúde física, mental e emocional, viver em maior contato com a natureza e em sintonia com a minha religiosidade.


O que mais podemos querer? Não somos uma ilha. Nossos desejos devem ser generosos e incluir os que ainda dependem de nós, mas na medida de nossas forças e possibilidades. Devemos nos esforçar sinceramente para fazer tudo o que estiver ao nosso alcance, e não tudo o que preciso ser feito, pois devemos ter a humildade de reconhecer que existem problemas que foram criados por sucessivas gerações ou por milhares de pessoas, e não será uma pessoa, por mais bem intencionada que esteja, que conseguirá assumir para si ou seu pequeno grupo, sozinha, as dores do mundo. Muito menos devemos assumir para nós, mesmo que o consigamos suportar, os fardos de outras pessoas, especialmente das que nos são próximas, pois cada um deve ser capaz de assumir os riscos e os perigos dessa vida, responsabilizando-se pelos seus atos, caso contrário só irá gerar mais sofrimento inútil e não irá adquirir o necessário aprendizado moral que forja os bons seres humanos. O que mais podemos querer? Um mundo melhor, onde a idéia de não-violência seja mais que uma promessa, mas uma possibilidade concreta. E que não seja apenas uma idéia bem aceita para os que admiramos ou conseguimos tolerar, mas inclua também – e principalmente – os que nos são indiferentes, e mais os nossos inimigos e adversários. Por mais ingênuo e arriscado que seja, e efetivamente é, é preferível viver num mundo em que coletivamente - acreditamos que todos são bons, generosos, honestos até que – individualmente – nos provem do contrário e nos obriguem a nos defender e tomar providências. E que a idéia de não-violência seja mais ampla, e inclua os que não são semelhantes, os animais e o próprio planeta. E que esses novos compromissos sejam mais que palavras, e se confirmem em atos concretos. 4. Estética e Felicidade Existem mentiras e meias verdades que o mercado apresenta como verdade e as pessoas não costumam questionar. Se isso não significasse infelicidade, tudo bem, mas o problema é que fazem as pessoas gastarem dinheiro e ainda ficam infelizes tentando ser o que não são e deixam de sentir o prazer de serem como são. Por exemplo, quem disse que gordura é sinônimo de doença? Essa é uma das mentiras que o mercado adora repetir para que as pessoas emagreçam e tentem permanecer magros, gastando rios de dinheiro em academias e laboratórios, como se ser magro fosse garantia de adoecer menos. Se isso fosse verdade, seria fácil para os donos de


farmácias, laboratórios, hospitais que teriam nos gordos seu público alvo para enriquecer. Também é mentira que os gordos tendam a morrer mais ou ficar mais doentes que os magros. É mentira que ser magro é garantia de correr menos riscos com doenças ou mortes. Não estou falando de doença, estou falando de biotipo. Claro que existe a obesidade ou a magreza patológica, aí sim, doenças que precisam ser tratadas por que impedem a vida normalmente. A indústria do emagrecimento sabe que não pode usar o argumento da saúde, pois ele não se sustenta, por isso usam o da beleza. Vendem um padrão de beleza que não existe no cotidiano, e os consumidores passam a vida sentindo-se infelizes com seus corpos, quando deveriam se sentir felizes, maravilhosos, sensuais, por que são como são, gordos ou magros, pretos ou brancos, morenos, loiros, cabelos cacheados, lisos ou enroladinho, etc. Quanto à atividade física, é uma questão de gosto. Tem gente que gosta e se sente bem, tem gente que não gosta. E mais uma vez, uma pessoa com bom condicionamento físico não significa que esteja com mais saúde, se não atletas não morreriam nem teriam problemas de saúde, ainda que se comparados em relação a quem não faz exercício. O problema, mais uma vez, é quando a falta de atividade física, ou a atividade em excesso, impedem de alguma forma que a pessoa seja feliz ou desenvolva suas atividades normalmente. O mercado, mais uma vez, vende a mentira de que o ócio, a preguiça, são pecados mortais a serem combatidos, por que precisa que as pessoas produzam excedentes para a mais-valia, e até mesmo o lazer, o ócio, têm de ser produtivos de alguma forma (ou seja, ou fazer a pessoa gastar ou ganhar dinheiro). Novas mentiras que infelizmente as pessoas tendem a assumir como verdade sem sequer questionarem, sem sequer ouvirem seu próprio organismo reclamar, ou mesmo a razão reclamar. O ideal seria que as pessoas pudessem sentir prazer em ser como são em vez de pretender padrões de beleza que não condizem com a realidade. Basta olhar à nossa volta para perceber que dificilmente se encontram tais belezas em nosso cotidiano. As pessoas são naturalmente gordas ou magras, altas e baixas, feias e bonitas, cada um de acordo com seu biotipo que herdou da natureza através de seus pais e avós. Mas, infelizmente, nos desligamos tanto da natureza e nos tornamos tão infelizes com os modelos que o mercado arranja para nós, onde só conseguimos nos adaptar não sem muito esforço, e esforço que tem de ser permanente, que são poucos os que conseguem se curtir e se sentir felizes assim mesmo, como são. E fica cada vez mais difícil encontrar um parceiro que goste da gente


exatamente por que somos assim. Mas quando a gente encontra, se apaixona para sempre. 5. Aprendendo a Amar Ninguém nasceu para viver sozinho, por isso o amor é tão importante, pois ele cria uma espécie de ponte que une diferentes personalidades. Isso não significa que duas pessoas que se amam se transformam numa só. É o contrário. Para seduzir e manter o outro a quem amamos, precisamos aperfeiçoar o que há de melhor em nós, e não se consegue isso através da anulação, mas do aperfeiçoamento de nossa própria individualidade. As pessoas aceitam naturalmente que a matemática, por exemplo, de tão importante deve ser aprendida na escola, com livros e cadernos sobre o assunto. Mas e o amor? Também é muito importante, mas ninguém nos ensina. Será que é por que acham que já nascemos sabendo amar? Por que temos de aprender sobre o amor sempre na base da tentativa e erro? A primeira coisa que descobrimos é que não basta sentir-se atraído por alguém para dar certo no amor. Desejo (ligado ao nosso cérebro primitivo, instintivo), atração física (ligada ao nosso sistema linfático) e vínculos (ligado ao cérebro racional) são como tripés que sustentam o amor. Faltando uma das pernas, o banquinho não fica em pé. Mas não existe uma ‘pessoa certa para amar’, tipo príncipe encantado. O que existem são oportunidades de descobrir afinidades no outro que valerão a pena investir no estabelecimento de vínculos permanentes, eternos enquanto durem, como já dizia nosso poeta Vinícius de Moraes. Pretender construir uma relação de amor apenas baseado no desejo ou na atração física é como colher uma flor. No início ela é linda e perfumada, mas logo depois murcha e morre. A paixão tem uma natureza efêmera por si só e cumpre o importante papel de nos fazer romper a inércia e nos impulsionar em direção ao outro. A partir daí, é preciso o esforço de construir a relação a partir das afinidades descobertas, como uma flor que precisa ser semeada e mantida com cuidados que precisam ser constantes. Existe a ilusão de imaginar que quem ama não briga. Às vezes os filhos não entendem as brigas dos pais e acham que eles não se gostam. Outras vezes, os pais escondem seus desentendimentos dos filhos. Precisamos entender que conflitos não significam desamor. Não há duas pessoas iguais no universo. Se somos diferentes uns dos outros, é natural existirem pontos de atrito e divergência, mesmo entre pessoas que se amam. Existem, entretanto, diferentes maneiras de expor nossas diferenças. A mais correta é através do diálogo, da conversa franca. A violência, seja por gestos ou palavras, nunca se justifica. Quem ama nunca agride. Mas, assim como um ambiente de permanente disputa e briga não é saudável, a ausência de conflitos também pode não ser; quando essa aparente harmonia


resulta da opressão, em que um dos dois está dominado pelo outro, a ponto de não ser capaz, ou de não ter coragem, para expressar-se livremente, de acordo com sua personalidade. Às vezes nem tudo o que gera discórdia pode ser mudado naquele momento e é preciso reencontrar o ponto de equilíbrio, onde o amor, a amizade, sejam capazes de agir para superar as diferenças. O grande desafio de quem ama é ter a sabedoria de lutar pelo que pode ser mudado e ter paciência para aceitar o outro como ele é, ajudando e criando condições favoráveis para a mudança. O amor é, sem dúvida, uma das experiências mais ricas que um ser humano pode ter. Mais que um simples sentimento, o amor é uma arte, uma habilidade. Por isso, não basta encontrar uma pessoa certa para amar. É preciso aprender a amar essa pessoa. E isso exige teoria e prática, como em toda arte, e uma grande atenção para as mudanças à nossa volta. O amor é uma arte muito especial, pois estamos sempre aprendendo, sem nunca acabar o aprendizado, pois a pessoa que amamos está em permanente mudança, assim como nós próprios e o mundo à nossa volta. Vale a pena nos dedicar a aprender essa arte e desenvolver cada vez mais nossa capacidade de amar. Ao contrário do que se pode pensar, não existe um só tipo de amor. O mais conhecido é o amor entre homem e mulher. Neste tipo de relação, um quer o outro para si não admitindo dividir com outros. Já entre pais e filhos ocorre outro tipo de amor. Os pais não desejam os filhos para si, mas esperam que cresçam para a vida. O amor à pátria, a um time de futebol, estimula o amor coletivo, a vontade de construir um país melhor ou torcer pelo time do coração. O amor à humanidade nos motiva a sermos solidários com os que sofrem, ainda que não os conheçamos. Mas de todos os tipos de amor, talvez o mais desafiante seja o amor a Deus, pois eleva nosso espírito e nos aproxima do Criador, transmitindo-nos um sentimento de plenitude, de ser parte de um todo muito maior que nossas simples existências, que nos torna tão infinitos quanto o Universo do qual fazemos parte sem nos dar conta por estamos aprisionados em nossas pequenas individualidades. Antes de trabalhar catequese ou doutrina de uma religião com os jovens deveria ser necessário despertar sua espiritualidade, sua religiosidade, sua crença num ser criador de tudo. Ao ouvirmos o canto de um pássaro, por exemplo, no meio das folhagens, apesar de não vermos a ave, pressupomos sua existência. Com Deus ocorre semelhante. Não podemos vê-lo, mas percebemos sua obra a nossa volta. A religião desempenha o importante papel de ajudar a trazer Deus para perto de nós. Mas este é um caminho de mão dupla, pois exige que também nos aproximemos de Deus, que nos tornemos dignas Dele. E como se faz isso? Buscando a Deus? Não, buscando ao


próximo. Deus se revela no amor ao próximo. Aliás, o Evangelho define de forma simples e direta: Deus é Amor. Uma pessoa que estude muito e saiba muito sobre Deus, não é necessariamente uma pessoa que esteja próxima de Deus. É o caminho do amor que nos faz dignos de Deus


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.