EM TEMPO - 30 de março de 2014

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1964

ANO XXVI – N.º 8.309 – DOMINGO, 30 DE MARÇO DE 2014 – PRESIDENTE: OTÁVIO RAMAN NEVES – DIRETOR EXECUTIVO: JOÃO BOSCO ARAÚJO

O GOLPE 50 ANOS DEPOIS

O GOLPE QUE INSTAUROU O REGIME MILITAR NO BRASIL COMPLETA 50 ANOS AMANHÃ. DURANTE 21 ANOS, O PAÍS FICOU MERGULHADO NA DITADURA, QUE PERSEGUIU POLÍTICOS, JORNALISTAS E QUALQUER OUTRO CIDADÃO QUE SE OPUNHA AO SISTEMA DE GOVERNO DOS MILITARES. A REPRESSÃO MANCHOU DE SANGUE A HISTÓRIA DE UM PAÍS QUE LUTAVA PELA LIBERDADE DE EXPRESSÃO E O DIREITO DE IR E VIR. ENQUANTO ISSO, SOLDADOS ARMADOS ERAM TREINADOS PARA “MORRER PELA PÁTRIA E VIVER SEM RAZÃO”. NAS PRÓXIMAS PÁGINAS, PERSONAGENS E HISTÓRIAS CONTAM O QUE A DITADURA FEZ COM O BRASIL E COMO O PAÍS SOBREVIVEU A ELA, DE MANAUS ATÉ OS CONFINS DO ARAGUAIA. POLÍTICA, ECONOMIA, PAÍS, DIA A DIA, PLATEIA E ESPECIAL ARAGUAIA

Uma das novidades no vasto mundo da tecnologia é o Samsung Galaxy S5, que chega ao mercado em abril.

Irã é um dos menos adversos às mulheres, mas ainda discrimina em termos culturais, jurídicos e financeiros (foto). Prefeito Arthur e a primeira-dama Goreth depositaram flores no local

FLORES EM HOMENAGEM No dia seguinte ao acidente com a linha 825, no qual um micro-ônibus foi atingido por uma caçamba, o número de mortos chegava a 16. Flores foram depositadas no local da tragédia. Última Hora A2

Refrescantes, os sucos são ótimas opções, pois ajudam a emagrecer, além de manter a boa forma e a vitalidade.

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Última Hora

MANAUS, DOMINGO, 30 DE MARÇO DE 2014

Morre mais uma vítima do acidente da linha 825

O marceneiro Domingos Messias, 60, não resistiu. Hemoam faz campanha para doação de sangue para ajudar vítimas ALBERTO CÉSAR ARAÚJO

TRAGÉDIA DO ÔNIBUS

825 IVE RYLO Equipe EM TEMPO

S

ubiu para 16 o número de mortos no acidente entre um micro-ônibus executivo e uma caçamba, na avenida Djalma Batista, Zona Centro- Sul, na noite da última sexta-feira. A última morte confirmada, na manhã de ontem, pela Secretaria de Estado da Saúde (Susam), foi do passageiro Domingos Messias de Souza, 60. Outras 17 pessoas, que ficaram feridas, foram distribuídas entre os hospitais e prontos-socorros 28 de Agosto, Zona Centro-Sul, João Lúcio, Zona Leste, e os Serviços de Pronto Atendimento do São Raimundo, Alvorada e Redenção, Zona Oeste e CentroOeste, respectivamente. De acordo com a Susam, com traumatismo cranioencefálico, Domingos Messias

foi levado ao pronto-socorro João Lúcio Pereira Machado, na Zona Leste, mas não resistiu às múltiplas lesões. Segundo boletim médico divulgado no fim da manhã de ontem, dos 17 pacientes, oito já receberam alta; um permanece internado na Unidade de Terapia Intensiva no HPS 28 de Agosto, em estado grave; três permanecem internados no HPS Dr. João Lúcio Pereira Machado, com quadro estável no momento;

LAUDO

Em 30 dias deverá ser divulgado o laudo técnico dos dois veículos envolvidos no acidente, de acordo com informações da PC. Foram mobilizados 45 PMs, 40 bombeiros, 12 PCs e 15 ambulâncias do Samu uma está em observação no SPA São Raimundo e uma paciente foi removida para um hospital da rede particular, a pedido da família. Durante todo sábado, os corpos das vítimas do acidente foram velados nas igrejas, funerárias e casas de parentes em vários bairros da cidade. Por volta das 10h30 de ontem, os corpos do casal Rosangela Cardoso Costa, 39, e Carlos Alberto da Silva Silveira, 50, começa-

ram a ser velados na Igreja Nossa Senhora do Carmo, no conjunto Beija-Flor 2, bairro Flores, Zona Norte. Segundo informações repassadas por familiares, o casal ia para casa, no conjunto Ajuricaba, depois de um dia de trabalho. Os dois trabalhavam como vendedores ambulantes e possuíam uma barraca na avenida Epaminondas, próximo ao colégio Militar de Manaus. “Somos oito irmãos e nos juntamos para dar a notícia para nossa mãe que ficou muito abalada. Foi um choque, ainda não consegui chorar, mas meu coração esta apertado. O Carlos era um homem alegre, só gostava de trabalhar, não ficava parado. Ele morou muito tempo nos Estados Unidos e quando voltou conheceu a Rosangela e foram trabalhar no Centro”, afirmou o irmão de Carlos, o ajudante de pedreiro Amadeu Duarte, 34. De acordo com familiares, Carlos Alberto tinha quatro filhos adultos do primeiro casamento. E Rosangela também tinha quatro filhos, de 17, 10, 9 e 7 anos de idade, que moravam com o casal. Na quarta-feira passada, a família de Rosangela perdeu um tio. “Ficamos impressionados com a mobilização da comunidade, não somente dos parentes do casal, em acompanhar todo o processo. Ontem eles foram em peso para o IML”, afirmou uma amiga da vítima, que pediu anonimato.

Arthur Neto presta assistência Após a visita às vítimas nas unidades hospitalares, o prefeito Arthur Neto foi até o local do acidente, na avenida Djalma Batista. No ponto, onde a caçamba atravessou a pista, Arthur Neto e a primeira-dama do município Goreth Ribeiro depositaram flores – gesto repetido por algumas pessoas, que passavam pelo local. “Não acredito em tomar apenas medidas repressivas, mas também acredito na prevenção. Precisamos ser uma sociedade que tenha, no trânsito, a mesma cordialidade que ela tem depois que sai do carro. A cabeça das pessoas é que

tem que mudar”, declarou o prefeito. Sobre os motivos que causaram o acidente, ele afirmou que vai aguardar os laudos técnicos. “O IML vai fazer o exame toxicológico do motorista da caçamba, mas já informaram que não sentiram cheiro (de álcool) nenhum. No entanto, não precisa estar bêbado para fazer loucura”, completou. A perícia na caçamba também será feita e, como medida preventiva, de acordo com o titular da Seminfh, Luis Borges, a área onde aconteceu a tragédia receberá um guard rail (uma mureta metálica de proteção), que geralmente

aparece nas margens de pistas de automobilismo e em muitas estradas públicas. “Avaliamos que esse é um dos pontos mais vulneráveis da Djalma Batista. Dormiu, o cara vai para cá (pista contrária). Por isso que achamos melhor instalar a defesa”, informou Arthur. “E, com o desnível, o risco aumenta mais. Com a altura, o impacto da caçamba foi maior. O guard rail é apenas uma proteção mínima, que além de absorver o impacto, evita essa transposição de quem está no nível superior da pista com quem está no inferior – pois quem está embaixo é que leva a pior”.

Local do acidente começa a receber flores, em homenagens às vítimas desta grave tragédia

Nomes das vítimas fatais Até as 13h de ontem, foram confirmadas 16 mortes do acidente entre um micro-ônibus e um caçamba. Adriane da Silva Fernandes, 20 Carlos Alberto da Silva Silveira, 50 Clarice Gomes Pires, 58 Davi (bebê que nasceu morto) Domingos Messias de Souza, 60 Gabriela Teles Messias, 26 João Jorge Duarte Pires, 56 Lincoln Oliveira de Souza, 21 Luís Miguel Guedes de Souza, de 1 ano e 6 meses Ozaias Costa de Almeida, 36, - o condutor da caçamba Quézia Guedes de Souza, 24 Ricardo Oliveira dos Santos, 34 Rosangela Cardoso Costa, 39 Robert da Cunha Moraes, 26, - o condutor do micro-ônibus Sebastião Alves de Araújo, 50 Tânia Maria da Rocha, 50

Corpos são enviados para o Acre Na funerária Almir Neves, no Centro, o corpo da vendedora e estudante de psicologia Gabriela Teles Messias, 26, e do bebê dela Davi foram velados por amigos, na manhã de ontem. Por volta das 11h, os corpos foram transladados para o município de Cruzeiro do Sul, no Estado do Acre. Gabriela estava grávida de oito meses de Davi. Durante o socorro, os bombeiros tentaram fazer o parto, mas a criança já estava morta. O desespero pela morte prematura da estudante e do bebê levou as lágrimas os amigos de Gabriela, que se reuniram ao redor do caixão e cantaram músicas preferidas da moça, como “Aos olhos do pai”. Um dos amigos da estudante, o músico Neemias Barros, 31, explicou que ela vinha da Faculdade Metropolitana de Manaus (Fametro), na Djalma Batista, e ia para casa no conjunto Ajuricaba. “Ela estava para se formar em psicologia. Estava há uns 5 anos em Manaus, onde veio para estudar e trabalhar. Gabriela era ótima, extrovertida, muito estudiosa e muito amiga. Frequentávamos a mesma igreja. Fomos todos pegos de surpresa, foi um choque”, afirmou.


Opinião

MANAUS, DOMINGO, 30 DE MARÇO DE 2014

Contexto 3090-1017/8115-1149

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Editorial

marioadolfo@emtempo.com.br

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A cobra vai fumar A Comissão Nacional da Verdade, criada em 2009, mas somente sancionada pela presidente Dilma Rousseff em 2011 e instalada em 2012, para investigar violações de direitos humanos no país, de 1946 a 1988, com foco nos crimes de Estado, tem revelado indícios de que não somente as ações dos militares compõem o seu elenco de preocupações. Segundo a agência EFE divulgou neste fim de semana, “o apoio logístico e financeiro de empresários à ditadura, que começou a governar o Brasil no dia 1º de abril de 1964, se transformou em objeto de estudo da Comissão Nacional da Verdade e de acadêmicos empenhados em identificar os cúmplices dos militares 50 anos depois do golpe de Estado”. Na esteira dessa nova perspectiva, um grupo de acadêmicos de diferentes universidades, centros de estudos e organizações sociais lançou, nesta semana, no Rio de Janeiro, o grupo de pesquisas “Mais Verdade” a fim de investigar o papel de grupos econômicos na preparação e condução do golpe. Uma das integrantes da Comissão Nacional, a advogada criminalista, Rosa Maria Cardoso, acenou com a possibilidade de “no final de março” divulgar um primeiro comunicado sobre isso. “As empresas apoiaram o golpe, mas também apoiaram o processo repressivo com dinheiro, armas, carros, gasolina”. Os primeiros estudos em direção à participação de empresários no golpe datam dos anos 80, informa a EFE, com a identificação de entidades empresariais, que financiaram uma campanha contra o presidente João Goulart, derrubado por supostas “inclinações comunistas”. Os empresários ainda podem ser responsabilizados por suas ações de apoio à ditadura. Documentos da ONU dizem que as empresas “têm uma responsabilidade criminal” se foram cúmplices de ditaduras. A ditadura está virando empresarial-militar. Agora, sim, a cobra vai fumar.

Nejmi Aziz cotada para vice O próximo governador, José Melo, tem sido bombardeado de perguntas sobre quem será seu vive na candidatura à reeleição. A todos, o ainda vice-governador responde que ainda não tem nomes. Mas, como sempre, os “pitaqueiros” de plantão já estão de posse de informações, que nem José Melo tem. Alguns juram de pés juntos que a primeira-dama Nejmi Aziz é um dos nomes mais fortes para assumir o desafio. Mas isso ainda está na base do disse me disse. José Melo não confirma nada.

Reforço feminino Uma coisa é certa. Se a primeira-dama topar, será um grande reforço à campanha de José Melo. Nejmi é carismática, ousada e tem lugar especial no coração do povo. Frisson Isso ficou comprovado na visita da presidente Dilma a Manaus, quando a primeiradama causou um frisson na plateia. Guerra civil Do prefeito Arthur Neto, ao avaliar os horrores da tragédia do ônibus 825, onde morreram 15 pessoas. — O trânsito da cidade parece uma guerra civil. Não existe um respeito entre as pessoas. E uma das grandes preocupações é a mistura de álcool e direção. Arma perigosa O prefeito também disse que é inadmissível, que em uma única noite, nós tenhamos tantas mortes. — Precisamos mostrar para a população que o carro não pode ser visto como uma arma. Saiu do avião Arthur estava a caminho da Suíça para divulgar a cidade no país, que terá um dos jogos na Arena da Amazônia, durante a Copa do Mundo.

Mas, ao saber da tragédia, cancelou a viagem e retornou a Manaus. Antes tarde... O engenheiro Gerônimo Maranhão, candidato a prefeito na última eleição pelo PMN, enviou torpedo ontem. Com o atraso de um ano, queria agradecer à reportagem publicada no caderno de Eleições 2012, do EM TEMPO.

— Nunca é tarde para efetuar um agradecimento, mais esta foi a única entrevista honesta e correta que encontrei no meu caminho em 2012 – disse Maranhão. Candidato a nada De quebra, Jerônimo Maranhão avisa que não é candidato a nada. — Mas agradeço a reportagem efetuada feita na campanha. Obrigado. Robério patrono O secretário de Estado de Cultura, Robério Braga, continua prestigiado. Principalmente por segmentos da cultura. Foi o patrono da primeira turma de teatro da UEA, que colou grau na última sexta. Confetes Durante a cerimônia de

APLAUSOS

regi@emtempo.com.br

formatura, Robério Braga recebeu elogios de alunos, do reitor Cleinaldo de Almeida Costa, e até mesmo do paraninfo da turma, o teatrólogo Márcio Souza, conhecido crítico de políticas públicas culturais. Braga e o trânsito Projeto de Lei (PL 13/2014), de autoria do senador Eduardo Braga (PMDB-AM), defende que o monitoramento eletrônico e outras tecnologias podem melhorar a situação do trânsito nas grandes cidades. Burocracia Já o senador Alfredo Nascimento (PR-AM) quer diminuir a burocracia nos processos administrativos por meio do PL 14/2014. Outra do Alfredo Outra iniciativa do senador Alfredo Nascimento, o PL 15/2014 pretende diminuir a tributação do óleo diesel usado nos transportes fluviais de cargas. Tem muito projeto interessante tramitando no Senado. Êh, êh, êh camará! Outros, nem tanto, veja, por exemplo, essa ideia do senador Gim Argello (PTBDF). Ele quer incentivar a valorização e ensinamento da capoeira em instituições de ensino públicas e privadas.

VAIAS

Solidariedade

Regi

Veículos perigosos ALBERTO CÉSAR ARAÚJO

ARQUIVO EM TEMPO

Para quem atendeu ao apelo dramático do Hemoam e foi doar sangue, na manhã de ontem. Um gesto de humanidade e solidariedade para as pessoas feridas na tragédia do ônibus 825.

Para empresas que trabalham com carretas, contêineres e tanques, que continuam circulando, na hora do rush, colocando a vida das pessoas em risco. Quantas pessoas terão que morrer para se perceber que isso está errado?

João Bosco Araújo opiniao@emtempo.com.br

Verdades e mentiras Há conceitos, ou melhor, rótulos, que são apostos a situações, a pessoas, ou até a sociedades, que de tanto serem repetidos e alardeados, acabam por ganhar status de verdades, sem que nenhuma verificação ou investigação os sustente. Bem percebeu isso o ministro da Propaganda do Terceiro Reich, o competente doutor Joseph Goebbels, que, além de outros enunciados importantes, afirmava que, se repetida insistentemente, uma mentira ganharia a condição de verdade. Não sei de quem ou de onde partiu, mas cresci ouvindo dizer e lendo em várias fontes, numa repetição exaustiva, que “o brasileiro” é pacífico, simpático e hospitaleiro como nenhum outro povo do planeta. Hoje, quando cresceu a eficiência dos meios de comunicação de massa entre nós, inclusive pelas vias digitais, o que se lê e ouve nos jornais, rádios, TVs e internet é uma enxurrada de notícias que revelam uma sociedade extremamente violenta, que mata, rouba, estupra e depreda com a maior das facilidades e as estatísticas policiais nos colocam numa posição que poucos países alcançam nesse triste ranking. Em raros países do mundo há tanto, tão fácil e farto material para quem resolver editar um jornal que se nutra e preencha suas páginas exclusivamente com fatos policiais. As bancas confirmam diariamente as altas vendas desses periódicos, que superam de longe os jornais mais qualificados, o que atesta que não faltam as ocorrências e que o público leitor realmente “se amarra” na temática da violência e do crime. Em pelo menos todas as capitais dos Estados brasileiros, o mercado de diários é amplamente dominado pelos tabloides que se nutrem de sangue e violência. E não se pense que vendem tanto porque

têm um preço menor do que os jornais tradicionais. Mesmo mantido o baixo preço, se o conteúdo não for o que é, as vendas não se sustentarão. Na Inglaterra, os tabloides também superam até a venda do “Time”, mas lá são as “fofocas” que constituem o atrativo. Esse interesse do povo brasileiro pela violência e pelo crime, como prática ou como gosto, seria por acaso fruto de um atavismo inscrito no nosso DNA? Claro que não. As sociedades que mais se afastaram da criminalidade, em cujas cidades podemos circular despreocupados, são precisamente aquelas que mais investiram em educação e mais se empenharam nas soluções dos problemas sociais. Outro mito engendrado e repetido incessantemente diz que o esporte, na sua prática, na sua divulgação e na sua estimulação funciona como uma vacina eficaz para manter as pessoas, especialmente os jovens, afastados das práticas delituosas. Isso é, entretanto, uma meia-verdade, ou seja, uma meia-mentira. As atividades esportivas podem ajudar na busca desse objetivo, se precedidas dos investimentos que levam à qualificação da sociedade, com destaque para as ações educacionais. Não fosse assim, os estádios de futebol, esporte mais difundido e querido dos brasileiros, não seriam, como hoje são, verdadeiras arenas de torcidas que se empenham em matar os que não rezam pela mesma cartilha, ou seja, que pecam porque preferem outro time. No mesmo sentido há as modalidades ditas esportivas que claramente conclamam os jovens à prática da violência sem limites, como soem ser as lutas corporais que povoam as arenas e as TVs, cujos efeitos são tão mais deletérios, quanto menor o nível da educação do povo.

João Bosco Araújo Diretor Executivo do Amazonas EM TEMPO

As sociedades que mais se afastaram da criminalidade, em cujas cidades podemos circular despreocupados, são precisamente aquelas que mais investiram em educação e mais se empenharam nas soluções dos problemas sociais”


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Opinião

MANAUS, DOMINGO, 30 DE MARÇO DE 2014

Frase

Painel VERA MAGALHÃES

Quando a Copa passar

A crise começou nos países avançados. Emergentes só reduziram o ritmo de crescimento, mas tiveram recuperação rápida. Depois, tivemos outra recaída com a crise nos bancos europeus. Agora, em 2014, a economia mundial deverá crescer mais que em 2013, por isso digo que estamos saindo da crise. Existe luz no fim do túnel

Em avaliações reservadas, auxiliares de Dilma Rousseff defendem que as viagens de pré-campanha que Lula planeja fazer pelo país a partir de abril deveriam ficar para depois. Petistas e o Palácio do Planalto temem que a superexposição do ex-presidente antes da convenção que confirmará a candidatura de Dilma à reeleição turbine as especulações sobre a possível volta de Lula no momento em que ela enfrenta a crise da CPI da Petrobras e queda nas pesquisas de avaliação. Divisão... As pesquisas do PT já identificaram as três marcas que são associadas à gestão de Dilma e serão os carros-chefes de sua campanha: Mais Médicos, Pronatec e Minha Casa, Minha Vida. ... de bens A ideia é ampliar a exposição desses programas, assim como o ex-presidente explorou o PAC, o ProUni e o Bolsa Família. RSVP Para assustar o PSDB, petistas defendem que o primeiro convocado da CPI da Petrobras seja o conselheiro do Tribunal de Contas de São Paulo Robson Marinho, caso o escopo seja ampliado. Histórico Marinho, que foi chefe da Casa Civil no governo Mário Covas, é acusado de ter recebido US$ 1,1 milhão da multinacional francesa Alstom, investigada por superfaturamento em contrato de energia no Estado. Memórias... Não é só a prisão do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa que inquieta petistas e peemedebistas. O doleiro Alberto Youssef, também preso na operação Lava a Jato, é considerado outro homem-bomba.

... do cárcere Segundo um parlamentar que entende de financiamento de campanha, Youssef teve contato com todos os tesoureiros recentes dos partidos da base. Eu, não Depois da prisão dos mensaleiros, sobretudo de Marcos Valério, políticos acreditam que operadores não vão topar mais assumir sozinhos a responsabilidade quando flagrados. O cara Romero Jucá (PMDBRR), ex-líder de FHC, Lula e Dilma, é o relator dos sonhos do Planalto para a CPI. Questionado sobre a empreitada, o senador diz que já deu sua contribuição ao governo. Qualquer governo. Sem vácuo O PT de São Paulo definiu que o deputado estadual Luiz Cláudio Marcolino será candidato à Câmara dos Deputados para tentar herdar o eleitorado dos bancários, base eleitoral de Ricardo Berzoini, novo ministro da articulação política. Fui Responsável pelo arcabouço do Mais Médicos e preterido por Dilma para o Ministério da Saúde, o secretário de

Guido Mantega, ministro da Economia, avalia que a economia brasileira deve crescer, em média, 4% ao ano entre 2014 e 2022. No que ele chamou de “novo ciclo da economia”, os investimentos devem crescer 7% ao ano, e o PIB per capita, 33,2% no mesmo período. Mantega está há 8 anos no cargo.

Gestão em Saúde Mozart Sales deixa a pasta, nesta semana, para se candidatar a deputado federal pelo PT-PE. Gargarejo Ao final de aula magna para alunos da FGV, Guido Mantega (Fazenda) foi surpreendido com uma pergunta por escrito sobre se governo vai implementar a renda básica da cidadania. Só entendeu quando avistou o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) no auditório.

Olho da Rua opiniao@emtempo.com.br DIEGO JANATÃ

Devagar O texto da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) para a MP 630, que libera geral o RDC (Regime Diferenciado de Contratações), deve enfrentar turbulência na Câmara. “O governo quer acabar com a Lei de Licitações”, protesta um deputado da base. Não vai ter... Apesar do acordo para implantação de infraestrutura de telefonia celular no Itaquerão, analistas do governo federal ainda se preocupam com o impasse nos planos para instalar o sistema de wi-fi no estádio. ... selfie A rede sem fio ajudaria a desafogar a banda 3G durante os jogos.

Tiroteio

A criança estende o olhar para o horizonte, que é pura água até perder de vista. O lixo também compõe o seu cotidiano de criança e de ribeirinho. Não demorará muito e estará adulto, esse menino, e se tudo dê certo, escapará das águas e do lixo, que ameaçam os barrancos, os ribeirinhos, as crianças e os adultos

Dom Sérgio Eduardo Castriani opiniao@emtempo.com.br

É mais fácil encontrar o avião da Malaysia Airlines que achar o Lula para explicar a compra da refinaria de Pasadena.

Desaparecidos

DO DEPUTADO JÚLIO DELGADO (PSB-MG),, sobre o ex-presidente não ter falado depois que Dilma declarou que parecer “falho” embasou o negócio, em 2006.

A história é real e se passou num dos rios da Amazônia. Dois meninos saíram para caçar. Eram acostumados a isto, levando consigo a arma habitual e sendo acompanhados pelo fiel cão de caça. Eram conhecedores da mata com seus caminhos, igapós e igarapés. Ninguém se preocupou quando saíram. Mas quando não voltaram toda a comunidade se mobilizou para procurá-los. Foi tudo em vão. Não foram encontrados, nem eles, nem as armas, nem o cachorro. Os dias se passaram e começaram a levantar hipóteses. Foi o mapinguari, foi o curupira, viraram visagens. Apareceu um rezador prometendo achá-los, fez-se presente um pastor vendo a ação do diabo na história. A solução é claro, é seguir Jesus, deixar a igreja, pagar o dízimo. A comunidade se dividiu, alguns decidiram ir embora, muitos perderam a fé. Passei por lá uns meses depois, ouvi as histórias e as interpretações, senti o drama, mas só conseguia pensar em uma coisa: por que não avisaram a polícia, por que ninguém levantou a possibilidade de fuga ou sequestro? Estes dois desaparecimentos acontecidos no fundo da Amazônia, território nacional, parte do Brasil, sob a soberania do Estado brasileiro provavelmente não entraram nas estatísticas dos desaparecidos. Não contam como cidadãos. Neste tempo de Campanha da Fraternidade lembrei-me dos meninos, de suas famílias, da comunidade machucada e explorada. Não quero afirmar, mas apenas pensar na possibilidade de que aqueles meninos tenham sido traficados. Deveriam ter avisado a polícia. A ela cabe investigar, detectar

Contraponto

Carona salva-vidas O prefeito de Rinópolis (SP), Valentim Trevisan (PSDB), elogiou em conversa com Alexandre Padilha, pré-candidato do PT a governador, o envio de caminhões do PAC 2 para a cidade. O político, de 59 anos, contou que apostara com dois dirigentes do PT que a cidade não receberia os veículos, pelo fato de ele ser da oposição. – Se chegarem esses caminhões, carrego vocês dois no ombro – disse para João Grandão, do diretório petista, e para o vereador Lesão, ambos maiores que ele. A entrega ocorreu, e o tucano propôs rever o arranjo: – Que tal se eu carregar vocês dois no caminhão? Publicado simultaneamente com o jornal “Folha de S.Paulo”

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redes criminosas e reprimir o tráfico de pessoas. Não sei se a polícia daquele município estava preparada para tanto. Um dos objetivos da Campanha da Fraternidade é exatamente este: abrirmos os olhos, desconfiarmos de situações aparentemente normais, não apelar para causas sobrenaturais de imediato. Criminosos contam com a impunidade, com a incapacidade do Estado de exercer plenamente e com competência o seu papel e o seu dever de polícia em favor dos direitos humanos, sobretudo dos desprotegidos e excluídos. Mas contam também com a ignorância, a superstição, o charlatanismo. Se a campanha nos ajudar a fazer perguntas já terá ajudado muito. Não se trata de criminalizar tudo, mas sim de estar atento para situações inusitadas como foi o desaparecimento destes meninos, que viviam num lugar aparentemente isolado, mas rota conhecida de traficantes. Aqui e acolá me lembro deles e faço uma prece na qual incluo todos que desaparecem sem deixar rastos. Tenho certeza que Deus está com eles, quer estejam vivos ou mortos. Rezo também para que eu e todos os grupos e instituições aos quais pertenço entre elas a minha igreja e o meu país, não sejamos omissos e coniventes, nem mesmo por ignorância, com o tráfico humano. Oxalá, consigamos fazer a nossa parte, por pequena que seja no desmantelamento destas redes criminosas. Uma só vida salva e libertada já justificaria todo o esforço e movimentação da campanha. Quem viu a dor das mães de filhos desaparecidos não pode permanecer indiferente.

Dom Sérgio Eduardo Castriani Arcebispo Metropolitano de Manaus

Se a campanha nos ajudar a fazer perguntas, já terá ajudado muito. Não se trata de criminalizar tudo, mas sim de estar atento para situações inusitadas como foi o desaparecimento destes meninos, que viviam num lugar aparentemente isolado, mas rota conhecida de traficantes”


Política

MANAUS, DOMINGO, 30 DE MARÇO DE 2014

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A ditadura que destruiu sonhos políticos no AM

Mandatários, parlamentares, intelectuais, esquerdistas, universitários. Todos eram vistos como “subservivos” para o regime REPRODUÇÃO

ISABELLA SIQUEIRA E RAPHAEL LOBATO Equipe EM TEMPO

‘Falta de oxigênio cívico’

D

urante 21 anos, de 1964 até 1985, a ditadura militar no país foi o símbolo da violência, do massacre, da antidemocracia, da perseguição política e da violação dos direitos humanos de todos aqueles civis que eram contrários ao regime. No Amazonas, apesar de apenas um parlamentar, o deputado estadual à época Arlindo Porto ter tido o mandato cassado, várias pessoas vistas como esquerdistas foras presas. Além de Arlindo, o ex-prefeito de Manaus, Amazonino Mendes (PDT), padre Luiz Ruas, os escritores Aldo Moraes e Campos Dantas, os comunistas Francisco Alves dos Santos, Cid Cabral da Silva, Licurgo Cavalcante, Ernesto Pinho Filho e Manoel Rodrigues também foram presos e passaram mais de quatro meses trancados em uma sala de um quartel militar no bairro São Jorge, onde hoje é o 1º Batalhão de Infantaria de Selva (BIS). Arlindo conta que até hoje não sabe o motivo real da sua prisão, mas confessa que na juventude tinha uma atração por movimentos esquerdistas. “Eu fui o único deputado estadual do país cassado, e até hoje não sei quais os motivos que fizeram eu ter o mandato cassado. Mas, hoje, eu não tenho mais nenhuma mágoa daqueles que fizeram isso comigo. Faz parte da minha história”, confessou ao EM TEMPO. Outro político amazonense que sofreu a repressão da ditadura foi o então senador Arthur Virgílio Filho, cassado em 1969, pelo Ato Institucional nº 5, e seus direitos políticos foram suspensos até a anistia, em 1979. Em 1987, no Rio de Janeiro, Artur Virgílio Filho morreu de câncer no dia 31 de março — mesma data em que, 23 anos antes, havia acontecido o golpe militar. Foi sepultado em Manaus e deixou quatro filhos, incluindo Artur Virgílio

Neto, prefeito de Manaus. Arthur Filho, líder no Senado do governo do presidente João Goulart (Jango) em 1964, em embates acirrados com os líderes udenistas, o senador do PTB do Amazonas procurava

CASSADO

O político amazonense Almino Affonso teve seu nome na primeira lista de cassações, em 10 de abril de 1964. Ficou exilado por 12 anos, vivendo na Iugoslávia, Uruguai, Chile, Peru e Argentina demonstrar que Jango não tinha inclinações comunistas, mas apenas defendia a justiça social. Eloquente, Arthur Filho procurava desmontar os argumentos das forças de oposição. Algumas vezes duramente. No ano passado, em um gesto simbólico, o Congresso Nacional devolveu o mandato ao parlamentar. Quem recebeu a homenagem foi o filho dele, Arthur Neto. Ao EM TEMPO, o prefeito de Manaus afirmou que estava no Rio de Janeiro, no dia em que foi instaurado o regime militar. “Eu era adolescente e fiquei desatinado. Meu pai em Brasília e sem comunicação. Eu estava em frente ao prédio da UNE, no Rio. Não quis ir para minha casa, que foi invadida mais tarde”, contou. REPRODUÇÃO

Fazia um ano que o regime militar havia se instalado no país quando, em 1965, o atual presidente do Conselho de Gestão Municipal, Félix Valois, se formava em direito pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Impedido de seguir na carreira pública, Valois foi preso duas vezes, viu amigos hostilizados e conviveu com um Poder Judiciário imóvel ao regime que define como “uma falta de oxigênio cívico”. “Toda vez que o ditador vinha a Manaus, havia toque de recolher, ninguém podia sair de casa. Você já pensou o que era isso? Não poder sair de casa porque o presidente estava na sua cidade? Era muito ruim. Não só pela restrição individual. Nós não sabíamos o que poderia acontecer no dia seguinte”, disse o advogado, que hoje é aposentado pelo Banco do Brasil. Félix Valois afirma que a sociedade do direito esteve, durante todo esse período, presa a uma bolha, na inércia de suas atribuições. “Não havia Justiça. Primeiro porque a maior parte do tempo uma garantia fundamental que era o habeas corpus estava suspensa. Não tínhamos como impetrar o habeas corpus por nada. Isso já é uma violência”, afirmou. Os vestígios dessa época de inatividade da Justiça, segundo ele, ainda ecoam até hoje.

Senador Arthur Filho (sentado) teve o mandato cassado. Com o pai, Arthur Neto ainda bebê

Ato de protesto pelo período Na próxima terça-feira, dia 1º, quando completa 50 anos do golpe militar, entidades estudantis e sindicais do Amazonas promoverão um ato contra este período. Segundo o vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Yann Evanovick, a proposta do evento será para

criar um resgate histórico da memória do país. “Os jovens não têm noção do que foi esse período, apenas ouvimos histórias ou lemos algo relacionado à ditadura nos livros”. Para o presidente da União Estadual dos Estudantes (UEE), Caetano Júnior, o gru-

po pretende promover uma passeata de conscientização que sairá às 16h do largo de São Sebastião até a praça Tenreiro Aranha, no Centro. “Além da caminhada, vamos realizar encenações teatrais demonstrando a repressão que os estudantes e políticos daquela época vivenciaram”.

GOLPE

Não foram apenas os militares ALDISIO FILGUEIRAS Equipe EM TEMPO

O Brasil passou 21 anos sob a intervenção militar

Os brasileiros estão à procura de uma bandeira, porque estão sem assunto ao redor da mesa e o chope está esquentando. Isto aconteceu no segundo momento do golpe de 1964, quando até as senhoras que engrossavam, contritas, as marchas da Pátria, Família e Propriedade passaram a pedir ao mesmo Deus, arrependidas, que livrasse seus filhos, estudantes da tortura que elas aplaudiram histéricas no primeiro momento da ditadura, também em nome de Jesus. Existe um enorme esforço em continuar acreditando que somente os militares são responsáveis pelo terror de 21 anos. Os civis transformaram-se todos em heróis da resistência. Os religiosos,

os banqueiros, os latifundiários (os que sonegam água ao Nordeste e os que tiram o couro dos agricultores dos Sul-Sudeste), os filhos e filhas dos pais e mães dos pobres, a mídia que costuma estar equivocada e troca o erro de ontem pela certeza errática de amanhã. Os militares das três Armas, indóceis nos quartéis a treinar para uma guerra que jamais chegava, estavam impacientes por ação. E estavam sendo provocados, por um lado, a desobediência dentro da caserna, de outro a propaganda esquizofrênica do anticomunismo da Guerra Fria. O que mais enervou a “hierarquia militar” deve ter sido descobrir que não havia comunista suficiente para combater nem que merecesse botar os tanques nas ruas. Esse mesmo truque

da Guerra Fria seria repetido muito mais tarde, quando o governo de Bush mentiu que havia armas de destruição em massa no Iraque. Bom, as tropas norte-americanas e dos aliados invadiram o Iraque. O Exército brasileiro foi a tropa de ocupação no próprio país. A ignorância mata. Reação Falta muito mais gente nesse Nuremberg. Gente que não vestia farda, para não ser reconhecida e poder fugir, caso não desse certo aquela aventura para sempre infeliz. O golpe militar e não pode não deve ser visto apenas como reação da palmatória do patriarca à rebeldia dos sargentos. O golpe militar não pode ser analisado da perspectiva de uma luta anticomunista. É burrice pensar e agir as-

sim. O golpe militar (nem os militares sabiam, pois eram uns moralistas ignorantes, defendendo a Casa Grande e seus alambiques de cachaça, adequava o Brasil para a “nova ordem mundial” econômica de um capitalismo, que trocava a exploração clássica da mão de obra pela exploração “limpa”, sustentada na combinação ciência-tecnologia-informação instantânea. O capital conseguiu o que queria: virou hermafrodita e se basta, agora. Os militares foram os laranjas dessa negociata e assumiram o negócio sujo. Onde estão os civis que mataram civis? Os brasileiros gostam de ordem e progresso, contanto que nada os impeça de mijar no poste. Enquanto isso, o país sacode o rabo com seu complexo de vira-lata.


Política

MANAUS, DOMINGO, 30 DE MARÇO DE 2014

Velho comunista foi vítima da ditadura no AM

Cláudio Humberto COM ANA PAULA LEITÃO E TERESA BARROS

www.claudiohumberto.com.br

Tolerância zero à violência contra a mulher” PRESIDENTE DILMA ROUSSEFF, sobre pesquisa indicando machismo dos brasileiros

Planalto retalia os aliados que apoiaram a CPI A pesquisa CNI/Ibope, mostrando queda brusca de 7 pontos na avaliação da presidente Dilma, deixou o governo paralisado, em estado catatônico, incapaz de impedir a oposição de obter número suficiente de adesões para criar a CPI da Petrobras. Mas não tardou a reação aos que assinaram a CPI. O Palácio do Planalto orientou os ministros a tratar como adversários os “aliados” que apoiaram a comissão. Medo de CPI Quase imune a auditorias do TCU, desde o governo Lula, a Petrobras é usada para negócios que até Deus duvida. Daí o medo da CPI. Lista negra A relação de deputados e senadores pró-CPI virou “lista negra”: todos serão tratados a pão e água, como diz Aloizio Mercadante (Casa Civil). Pressão Levantamento da Casa Civil verifica quantos cargos parlamentares pró-CPI da Petrobras têm no governo. Retiram assinatura ou vão perdê-los. Barrado Audiência do senador João Capiberibe (PSB-AP), que apoiou a CPI, foi cancelada quando ele já estava na antessala do ministro de Cidades. EUA boicotam vistos do ‘Ciência sem Fronteiras’ “Menino dos olhos” de Dilma, o programa de intercâmbio de brasileiros no exterior passa maus bocados com Barack Obama: consulados dos Estados Unidos alegam “indisponibilidade”

na agenda para entrevistas do visto “J1 Ciências sem Fronteiras,” criado por ele só para bolsistas de graduação ou pós-doutorado. Na Central de Atendimento da embaixada advertem que terá o visto negado quem omitir ser do CSF. Fronteira aberta Os atendentes não informam quando a situação dos bolsistas de Dilma será normalizada. O visto padrão “J1” para estudantes não foi afetado. Não dá ideia A sugestão já rola no Twitter: para evitar apagão, Dilma deveria pedir que os brasileiros assistam aos jogos da Copa com a TV desligada. Copia e cola Sempre quando empossa novos ministros, Dilma sempre usa as mesmas expressões para agradecer a “lealdade” dos descartados. Tá feia a coisa A linguagem dos sinais do mercado, que reagiu com entusiasmo à queda de Dilma nas pesquisas, é o que os americanos chamam de “lame duck”. No caso, patinha manca até as eleições de outubro. Vale a pena ver Em depoimento a Larissa Bortoni, da TV Senado, sobre o golpe de 1964, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDBPE) relembrou os tempos de chumbo e fez importante autocrítica: reconheceu que errou ao se recusar a participar da votação indireta que elegeu Tancredo Neves. É permitido proibir O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e o Ministério Público Eleitoral organizam audiência pública em Brasília com os partidos

PODER SEM PUDOR

Jornalista

Um dos nomes mais lembrados na luta contra a ditadura militar é o do alfaiate comunista Cid Cabral da Silva

FOTOS: REPRODUÇÃO

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para fixar regras (restrições à informação) na imprensa, no período eleitoral. Dona da bola A chanceler alemã aceitou o convite de Dilma para assistir à partida Alemanha x Portugal, no estádio Fonte Nova, em Salvador (BA), em 16 de junho. Dilma deveria ir, para sentir o gosto dos aplausos... a Merkel. Bem na foto Pesquisas internas do PMDB-RN apontam favoritismo de Henrique Eduardo Alves para governador, quatro vezes mais que a governadora atual e o dobro das intenções de votos para Robinson Faria (PSD). Chumbo trocado O advogado Paulo Fernando Melo, que responde administrativamente por solicitar a cassação do registro de José Dirceu, ameaça pedir o impeachment do presidente da OAB por “autoritarismo e perseguição”. Caixa de maquiagem A Caixa não considerou os R$ 719 milhões tungados dos correntistas a pretexto de “cadastro irregular”, para fazer comparativo de lucros entre 2013 e 2012. Com a manobra, o lucro foi inflado de 10,8% para 19,2%. Congestionado Em posse da lista de assinaturas pela CPMI da Petrobras, a liderança do PPS na Câmara tem recebido uma enxurrada de telefonemas dos líderes partidários e de senadores em busca de mais informações. Eu sei o que você fez... Seria um filme de terror no Congresso a eventual acareação de Graça Foster, presidente, com o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.

Cid Cabral foi um dos mais conceituados alfaiates do país. Ele foi preso e considerado ‘subversivo’

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o dia 14 de dezembro de 1996, Cid Cabral da Silva se despedia da vida como um dos expoentes da luta contra a ditadura militar instalada no Brasil há exatos 50 anos. Nascido em Parintins, em 11 de novembro de 1914, veio para Manaus aos 20 anos de idade trabalhar como alfaiate, profissão que lhe rendeu reconhecimento inclusive na Alemanha, anos mais tarde. Sonhava com uma sociedade sem desigualdades.Lia Marx e Engels e reunia em sua alfaiataria, na rua Joaquim Sarmento, amigos como o jornalista e então deputado estadual Arlindo Porto para discutir a situação do país e ideais nacionalistas. Por isso foi considerado “subversivo” e uma ameaça ao regime militar. Sim, o velho comunista se aliançou, como escreveu Chico da Silva na canção “Vermelho”. Na casa onde morava, na rua Lobo d’Almada, no Centro, tinha como um dos livros de cabeceira “Brasil: Nunca Mais” (1979), de dom Paulo Evaristo Arns, que reunia relatos das atrocidades aplicadas pelos militares a pessoas que discordavam do regime militar. Naquela mesma casa onde, 15 anos antes, foi abordado e preso pelos militares, na frente da mulher, Maria dos Anjos Costa da Silva, e das filhas Yolanda e Maria José, logo após o golpe militar. “Lembro

que cheguei do colégio, tinha 10 anos, e a rua estava tomada de militares. Nossa casa estava toda revirada – até o forro do teto da sala foi destruído – e minha mãe estava em estado de choque”, conta Maria José. “No momento em que foi preso segurei no braço do meu pai para que não o levassem, mas ele me acalmou e disse que iria voltar”, lembra a filha mais nova.

PRISÃO

Foram quatro meses preso no 1º Bis, ao lado de Arlindo Porto, Licurgo Cavalcante, Ernesto Pinho Filho, Luís Ruas, BelarminoMarreiro, Aldo Moraes, Letício Dantas, Manuel Rodrigues e Amazonino Mendes

128 dias Foram quatro meses preso no 1º Batalhão de Infantaria da Selva (1º BIS), ao lado de Arlindo Porto (que teve o mandato cassado), Licurgo Cavalcante, Ernesto Pinho Filho, Luís Ruas, Belarmino Marreiro, Aldo Moraes, Letício Dantas, Manuel Rodrigues e Amazonino Mendes. Estavam presos porque discordavam da “ideologia” da repressão. Por sorte, jamais

foram torturados. Mais tarde, em junho de 2000, Amazonino – já governador do Amazonas – homenageou o velho amigo dando seu nome a uma escola estadual. Na ocasião, Arlindo Porto lembrou que o velho comunista era “um dos que infundiam entre os demais a capacidade de resistir sem sintomas de fraqueza diante do opressor eventual e era em seu ombro amigo que os companheiros mais tíbios podiam encostar a cabeça para dele receber lições de esperança, sobretudo as de que o mal não se faz presente para sempre”. Esse mal, vestido de repressão e despido de qualquer noção de cidadania, que tanto perseguiu e atuou para o desaparecimento da história de nomes como Rubens Paiva, Stuart Angel Jones, Zuzu Angel, Vladimir Herzog, Carlos Marighela, Carlos Lamarca, Iara Iavelberg, perdeu força e chegou ao fim em meados da década de 1980. Cid Cabral pôde, enfim, ver seu país livre da opressão e do cerceamento da liberdade de expressão. Como cantara Geraldo Vandré em “Pra Não Dizer que Não Falei de Flores”: “Os amores na mente/As flores no chão/A certeza na frente/A história na mão/Caminhando e cantando/E seguindo a canção/Aprendendo e ensinando/Uma nova lição”. (Texto: Tricia Cabral)

Tucanos à venda O então presidente FHC falava a senadores sobre o escândalo de tráfico de influência no Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivan). O saudoso catarinense Vilson Kleinubing quis saber de sua conversa com Bill Clinton sobre o caso. - Com ele eu falei apenas sobre a venda dos Tucanos – esclareceu FHC, referindo-se ao avião de treinamento produzido na Embraer. Bate-pronto de outro catarinense, Esperidião Amin, arrancando risadas: - Mas, presidente, o senhor queria vender todos os tucanos ou só alguns?...

Quando Cid morreu, em 1996, o país já vivia as eleições diretas


Com a palavra

MANAUS, DOMINGO, 30 DE MARÇO DE 2014

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ARLINDO PORTO

‘Não GUARDO mágoa DOS MILITARES que me prenderam’ FOTOS: DIEGO JANATÃ

ISABELLA SIQUEIRA Equipe EM TEMPO

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Posso dizer que fui o único deputado estadual cassado no Brasil em decorrência da revolução, pois os militares (...) haviam encaminhado para as Assembleias Legislativas do país um aviso para que não se cassassem mais mandatos de deputados”

único deputado estadual do país cassado pelo Golpe Militar, Arlindo Porto, ainda lembra com clareza o que viveu durante 120 dias dentro de um quartel militar no bairro de São Jorge, Zona Oeste em 1964, após ter o seu mandato de parlamentar cassado na Assembleia Legislativa do Estado (Aleam). Simpatizante do movimento esquerdista, há 50 anos viveu na pele a ditadura. Arlindo conta os fatos como se fossem uma história só lida em livros. Não demonstra mágoa ou raiva dos militares que lhe prenderam e nem dos colegas parlamentares que foram favoráveis a sua cassação. Hoje, aos 85 anos, o jornalista, ex-presidente da Academia Amazonense de Letras, ex-deputado estadual e fundador do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Amazonas diz que coleciona apenas amigos e ressalta que os episódios vividos no passado são apenas experiências de vidas. Em entrevista ao EM TEMPO, ele desabafou. Falou do Golpe, da sua amizade com o ex-prefeito Amazonino Mendes e da sua devolução simbólica de mandato 49 anos depois do ocorrido. EM TEMPO – Dia 1º completa 50 anos do Golpe Militar no país. Quais as suas impressões? Arlindo Porto – Eu hoje vejo como um incidente normal para a vida de um país que tem situações de mudanças rápidas. Os militares se sentiram incomodados com os rumos que o Brasil estava tomando e partiram para tentar tomar o poder. E conseguiram com a ajuda de muitos civis. EM TEMPO – E qual era o cenário político do Amazonas naquela época? AP – Faziam parte do clã político naquela época os deputados estaduais Renato Souza Pinto, Francisco Guedes de Queiroz, o senador Arthur Virgílio Filho, o governador Gilberto Mestrinho, Abdala Sahdo, Rui Araújo, infelizmente todos já falecidos. EM TEMPO – Quais os políticos do Amazonas foram cassados?

AP – Posso dizer que fui o único deputado estadual cassado no Brasil em decorrência da revolução, pois os militares, através da Comissão Geral de Investigação, que era um órgão que comandava as medidas políticas do Golpe Militar, haviam encaminhado para as Assembleias Legislativas do país um aviso para que não se cassassem mais mandatos de deputados, mas acredito que essa recomendação demorou demais para chegar ao Amazonas, e quando chegou o meu processo de cassação já estava em andamento e a casa ficou com receio de parar. EM TEMPO –Qual era o seu envolvimento com o regime militar na época? AP – Era nenhum. A atração no meu nome para ser apresentado como castigo foi porque na mocidade tive uma admiração muito grande pelo movimento esquerdista, tudo que se dissesse a respeito de movimentações e atos esquerdistas eu estava presente. E isso levou a Assembleia Legislativa a me considerar um esquerdista. EM TEMPO – Como foi o dia da sua cassação? AP – Saí de casa para trabalhar normalmente na Assembleia, mas estava ciente de que naquele dia seriam cassados vários mandatos de parlamentares no país. Tinha convicção de que o meu mandato poderia estar no meio, não só eu, mas também o do colega parlamentar Renato Souza Pinto. Naquela época, a Assembleia funcionava na escola normal, onde hoje é o Instituto de Educação do Amazonas (IEA), no Centro, e antes de começar a sessão plenária, eu estava debruçado na janela quando vi saindo da casa de um militar com uma pasta o deputado que era o relator da minha cassação. Na mesma hora deduzi que ele carregava ali a minha cassação. Chamei imediatamente o Renato Souza Pinto e deixamos o prédio da Assembleia. Fomos nos esconder no balneário de um amigo no bairro de Flores, e dali acompanhamos pelo rádio a minha cassação. Apenas eu fui cassado. Ficamos escondidos até o início da noite, e em seguida, após preparar o meu espírito, voltei para minha casa, na época, na rua Comendador Alexandre Amorim, na Aparecida. EM TEMPO – E após a sua

cassação o que aconteceu? AP – Fui preso no mesmo dia. Minutos após ser deixado em casa pelo Renato Souza Pinto, um carro preto com quatro militares parou em frente a minha casa e disseram que estava detido. Fui levado para um quartel no Centro onde fiquei durante duas horas em uma sala incomunicável. Em seguida, fui deslocado para outro quartel, onde hoje funciona o 1º BIS, no São Jorge. Fiquei 120 dias presos, sendo que oito deles totalmente em isolamento e sem receber visitas. EM TEMPO – E a sua família. Como reagiu a isso tudo? AP – Eu era casado com a minha primeira mulher, a Guilhermina Mestrinho, irmã do Gilberto Mestrinho, e já tínhamos quatro filhos. Fui levado de casa e durante oito dias ela não conseguia obter nenhuma informação minha. Ela tentou me visitar várias vezes, mas os militares não deixavam receber visitas. Minha família não sabia se eu estava vivo ou morto. Até que o arcebispo Dom João de Souza Lima, que era muito meu amigo foi me visitar, e os militares autorizaram a visita dele. Eu aproveitei a oportunidade e fiz um bilhete para a minha família dizendo que eu estava vivo e bem. EM TEMPO – Durante o período em que o senhor esteve preso sofreu alguma tortura? AP – Não. Nunca fizeram nenhum gesto de violência contra a minha pessoa, também não passei nem fome e sede. Fiquei apenas trancado dentro de uma sala pequena, sem muito conforme e sem qualquer comunicação com o mundo exterior. Muitas vezes, minha mulher até “contrabandeava” uma comida melhor para mudar o cardápio do quartel. EM TEMPO – E quanto tempo o senhor permaneceu preso? AP – Foram 128 dias. Mas, após os oito primeiros dias eu fui transferido para outra sala no mesmo batalhão onde já estavam presos o padre Luiz Ruas, e outras pessoas. Depois chegaram também os escritores Aldo Moraes e Campos Dantas, os comunistas Francisco Alves dos Santos, Cid Cabral da Silva, Licurgo Cavalcante, Ernesto Pinho Filho, Manoel Rodrigues

e Amazonino Mendes. O tempo realmente demorou a passar. EM TEMPO – E o que aconteceu para que vocês fossem soltos? A P – Por incrível que pareça nada. De forma homeopática os militares abriam as portas das salas onde estávamos trancados e iam liberando os presos aos poucos. Fui um dos últimos a sair. EM TEMPO – Após ganhar liberdade como o senhor deu continuidade a sua vida? AP – Como eu não tinha mais o cargo de deputado corri atrás de exercer a minha outra função, ao qual sou formado, o Jornalismo. Porém, até me reerguer contei muito com a ajuda de amigos, pois o governo não liberava recursos e nem empréstimos em bancos para aqueles que foram cassados pelo golpe. Graças a Deus sempre tive muitos e bons amigos e foram eles que me ajudaram até recursos financeiros para manter minha família. A casa que construí ali ao lado do Rio Negro Clube foi com a ajuda deles. E quando eu quis pagar mais tarde, eles não quiseram receber. E foi aí que eu vi a extensão da solidariedade e da amizade que eu tinha na vida. EM TEMPO – Entrar no mercado de trabalho após ter sido preso não foi difícil? AP – Sim. Mas persisti e consegui um cargo no jornal A Notícia. Depois, dei minha colaboração no jornal A Crítica. No Rio de Janeiro, onde fiquei por 4 anos atuei no jornal O Globo, O Dia, Jornal do Brasil e Correio da Manhã. Mas minha primeira esposa, a Guilhermina faleceu, então decidi voltar para Manaus. EM TEMPO – O senhor tem mágoa dos militares que lhe prenderam ou até mesmo dos colegas parlamentares que votaram pela sua cassação? A P – Pelo contrário, eu guardo lembranças que me dão muita alegria. Foi nessa época que percebi quem eram meus amigos e irmãos camaradas. Hoje, eu reconheço que os meus colegas de parlamento fizeram aquilo pressionados pela situação que tomara conta do país. Carrego comigo uma lição de que o ódio é um veneno que antes de atingir o seu alvo já envenenou o coração de quem o sente.

Fui preso no mesmo dia. Minutos após ser deixado em casa pelo Renato Souza Pinto, um carro preto com quatro militares parou em frente da minha casa e disseram que estava detido”

Eu guardo lembranças que me dão muita alegria. Foi nessa época que percebi quem eram meus amigos e camaradas. Hoje eu reconheço que meus colegas de Parlamento sofreram pressão”


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Política

MANAUS, DOMINGO, 30 DE MARÇO DE 2014

‘Eu morro e não me aposento da política’ Aos 74 anos, o ex-prefeito Amazonino Mendes foi uma das vítimas da repressão no país. Ele passou quatro meses preso IONE MORENO

VALÉRIA COSTA Equipe EM TEMPO

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istória viva dos momentos de repressão e censura vividos no período da ditadura militar no Amazonas, o ex-prefeito Amazonino Mendes (PDT) classifica este período como tenebroso. Militante do Partido Comunista, o “partidão”, ele foi preso e respondeu inquérito como “subservivo”. Durante os 120 dias que ficou aquartelado no 1º Batalhão de Infantaria de Selva (1º BIS), no São Jorge, Zona Oeste, com outros companheiros, entre eles o então deputado estadual Arlindo Porto e o estudante Fábio Lucena, ele revelou que passou momentos de desespero em que quase renunciou à vida, principalmente quando os militares lhe ameaçavam de prender a sua esposa, a então líder estudantil Tarsila Negreiros, que à época estava grávida. “Eu não podia admitir nunca que prendessem minha mulher. Ela estava grávida do nosso primeiro filho”, disse. Conforme o ex-prefeito, nestes quatro meses em que esteve preso ele e seus companheiros não sofreram nenhum tipo de tortura física, mas “fizeram muitas barbaridades”. “Sofri tortura moral”. Recolhido, sem aparições públicas e se recusando a conceder qualquer entrevista à imprensa, Amazonino aceitou falar ao EM TEMPO sobre estes fatos. EM TEMPO – Como foi esse momento para o senhor? AMAZONINO MENDES No fundo, eu quero crer que quando Getúlio Vargas se suicidou, ele deu um grande golpe. Porque a oposição, inserida na UDN da época, onde estavam os conservadores, estavam na iminência de ganhar a eleição quando Getúlio teve aquele gesto e, com isso, ele protelou, digamos assim, estas pretensões. Mais tarde, coincidiram com os interesses americanos (está mais do que provado que o golpe foi fomentado, sobretudo pelo Departamento de Estado Americano). Essas duas forças organizaram a queda do Jango (João Goulart). O início do movimento era a queda do Jango e não entregar o governo para militares. E essa brincadeira foram 20 anos de governo ditatorial e militar. Nessa época, eu era muito jovem e fazia parte do Partido Comunista, de um grupo de estudos nacionalistas e também fazia parte de um movimento de ordem nacional, que a gente tinha contato por meio de conversas e seminários. Líamos muito. Me recordo que li toda a obra o Capital, eram três volumes à época e em espanhol porque não tinha em português. Então, a gente tinha uma certa instrução teórica, não agíamos por ouvir dizer ou por modismo, mas por convicção intelectual. Fomos surpreendidos, em tese - porque a Une colocou dias antes uma faixa no prédio na praça do Flamengo, no Rio de Janeiro dizendo que o golpe tava na rua e aqui em Manaus se realizava um seminário da Une. Eu estava nesse seminário e nós já estávamos pressentindo. O golpe foi bem urdido. EM TEMPO – Mas, à princí-

pio, a sociedade apoiou esse movimento... AM - Veja bem, num país como nosso quem menos sabe para decidir é o povo. Todo processo de informação já é naturalmente filtrado pelos interesses predominantes. Então, a população aderiu em marcha que, por sinal hoje, caricatamente, uns loucos estão preconizando a volta da ditadura. Esses caras não tem ideia do que é isso, e se tem, são verdadeiros criminosos. O povo aderiu massivamente, mas do que aderir o povo ajudou dando alianças, cordões, anéis de ouro, para ajudar a pagar a dívida do país. Meu pai morava em São Paulo. Eu fui preso. Meu pai veio me visitar e, com o filho preso, ele disse para mim: se não ajeitasse o Brasil agora, não ajeitam nunca mais. Na realidade, aquilo tudo era uma falácia, uma mentira gigantesca.

lher dele, coisa que só acontecia na idade média. Ameaçaram prender minha mulher. Eu tinha feito um esforço e mandado ela escondida para Belém. Ela era líder estudantil, brilhante, inteligente. Era de esquerda. Fiquei com medo. Eles descobriram o endereço. Mas, graças a Deus, resisti bravamente. Passei por sensações horríveis. Houve momentos de desespero que eu quis renunciar à vida. Eu não podia admitir nunca que prendesse minha mulher, ela estava grávida do nosso primeiro filho. Também nesta época estava muito influenciado com colegas que tinha em Goiás, sabia que eles estavam se organizando em guerrilhas. Mas, eu não encontrei parceria. Apesar de tudo, foi um momento bonito da minha vida, que lembro com muita honra e satisfação. Vejo que passei pela vida sem ser omisso. Dei minha contribuição.

EM TEMPO – Quem eram seus companheiros nesta empreitada? AM - Eu tinha 23 anos e estava no segundo ano da faculdade de direito. Tive companheiros extraordinários. Nós tínhamos um exercício intelectual quase que permanente. Intelectual e político. Então, esse grupo era composto pelo saudoso Thomaz Meireles, na minha opinião o jovem mais brilhante que conheci na minha vida. “Thomazinho”, com 19 anos ele dava aula de Marxismo. Apesar da pouca idade, era extremamente maduro. Tinha o Moysés Nobre Leão, que hoje é sociólogo. O ex-prefeito de Eirunepé, meu primo, José Edy Montecorrado, Valdir Machado, Deodoro Botinelly e muitos outros da minha geração. Depois fez parte de forma diferenciada nesse grupo o Fábio Lucena, Félix Valois, Álvaro Nina, Paulo Figueiredo, Edgar Ribeiro. Aí fui premiado com a prisão.

EM TEMPO – E depois de solto, o que aconteceu? AM - O negócio era horrível. Sai da prisão dia 27 de agosto. Doze dias depois, nasceu meu filho. Minha família morava em São Paulo. Eu era tido e havido como um “leproso social”. Não tinha ainda a Zona Franca. Não tinha emprego, não tinha nada. Imagina a minha agonia? Como ia sustentar minha família? Me tornei vendedor. Vendia qualquer coisa, eu só voltava para casa depois de fazer alguma venda. Eu ia à noite vender títulos do Olímpico. Fui vender título no Acre, Fortaleza. A vinda de um ministro a Manaus, um dia de antecedência eu era preso. Nós sofremos. Passamos muitos momentos sendo discriminados. Perdi 2 anos de direito na faculdade. Depois que me formei é que comecei a melhorar de vida. Tudo porque fiquei rotulado em decorrência da prisão.

EM TEMPO – E como e quando foi essa prisão? AM – A Polícia Civil me prendeu para dar satisfação ao Exército. Me prenderam dia 3 de abril de 1964. Me levaram para um casarão da Marechal Deodoro e depois me soltaram. Mas no dia 20 de abril, eu ia para a faculdade, quando passei na 7 de Setembro num cruzamento com a Lobo D’Almada e um árabe chamado “Kitkat”, que me conhecia, me chamou e me disse: olha, acabaram de prender o Cid Cabral, que era um alfaiate, companheiro nosso. Percebi que ia ser preso na faculdade, me preparei. Tinha um dinheirinho, comprei cigarro e uma escova de dente. E às 17h apareceram lá e me prenderam, me levaram num jipe aberto. E daí fui sair quatro meses depois, no dia 27 de agosto. Dos jovens que sofreram prisão, foram só eu e o Fabio Lucena que não respondemos inquérito policial militar. Eu respondi mais de uns dez por subversão. Para eles, éramos perigosos. E desses que foram presos, só dois estão vivos: eu e o nosso querido Arlindo Porto. Nessa prisão fizeram muitas barbaridades, mas não bateram em ninguém. Sofri tortura moral. Mas cometeram alguns abusos inomináveis. O Francisco Alves dos Santos, um homem sério, advogado trabalhista, como fugiu, prenderam a mu-

EM TEMPO – Continuou na militância? AM - Deixei o partido. A gente só existia politicamente quando saía daqui (Manaus). Fazíamos nossos discursos no Rio de Janeiro, São Paulo. Eu fiz vários. Também promovi uma greve no Rio que durou cerca de quatro dias, contra a anuidade escolar e o preço dos ônibus e bondes. A gente lá existia politicamente. Aqui não, era mais um diletantismo intelectual. E, então, depois do golpe, eu me conscientizei. Me questionei: vou sair daqui e me integrar a uma guerrilha ou ficar e cuidar de mim e da minha família? Pensei muito e conclui em ficar e cuidar da minha família. EM TEMPO – Meio século depois, qual a reflexão que o senhor tira deste período? AM - O país sofreu muito. Fazendo uma análise honesta e criteriosa, é forçoso reconhecer que na época do Jango havia uma grande predominância política ideológica sem outras preocupações maiores com a questão da economia. Nosso pensamento era muito mais ideológico do que conquista de poder. No governo do Castelo Branco, nós tivemos muita coisa positiva: ele criou o FGTS, fez a lei de abuso de autoridade. Em que pese o Castelo Branco ter sido macomunado, ter passado para história como o organi-

zador de um golpe militar, no fundo o governo dele acertou muita coisa e os biógrafos dizem que a intenção era devolver o governo para os civis. Se ele tivesse feito isso teria sido um dos maiores brasileiros e acredito que até seria perdoado de ter participado do golpe. O país até hoje paga as consequências. Tivemos momentos de mentira gigantesca que foi o milagre econômico. E hoje o povo brasileiro é um dos mais taxados do planeta e tudo em decorrências desses erros. EM TEMPO – E, em que momento o senhor resolveu entrar para a política partidária? AM - Eu era um político, mas meu viés político era totalmente diferente da política convencional. Era minha vocação clara. Na época das minhas atividades políticas estudantis, o (Gilberto) Mestrinho era governador e ele me conheceu na campanha Lote Jânio. Eu tive oportunidade de fazer essa campanha e sem querer me “blazonar”, mobilizei a juventude da época. Ele me conheceu na oportunidade da renúncia do Jânio, comandei a resistência aqui. Ele me viu. Mas tarde, quando retornou com a redemocratização, se lembrou de mim. Fui advogado dele. Fiz 512 contrarrazões de recursos para ele, lutando contra a arena. Em razão disso, me convidou para ser prefeito e eu não aceitei. Ele insistiu e eu pedi um tempo, 24 horas, mas com dez minutos voltei e disse: topo. Tive que fazer um exercício muito grande para me adaptar, pois era completamente diferente da atividade que sempre fiz. Tanto é que até hoje, eu olho o processo político que está aí com certa reserva. Não é o que eu quis. Sempre achei esse processo político errado, baseado em coisas equivocadas. Os

acordos políticos você tem que fazer. Como você vai vencer eleições sem acordos? Vá analisar esses acordos, horríveis. Tudo que eu imaginava na minha juventude o que era processo político e de repente, processo político é outro. O bem do povo vem em último lugar. Fui para o Senado e vivi isso. Me decepcionei demais. Em primeiro lugar vem o grupo político que você pertence, depois o partido político. Em último lugar é que vem o país. E eu estou me afastando porque acredito que não tenho mais idade para essas coisas não. EM TEMPO – O senhor está se aposentado da política? AM - Eu morro e não me aposento. O que não quero é ser objeto de acordo, acertos. Não quero. Vou morrer fazendo política. Estou aqui na minha casa fazendo todo dia política. Não interessa se sou candidato. Mas, política eu faço. É minha obrigação fazer. Se o que eu sei hoje e o que eu aprendi guardar para mim e não agir eu não estou sendo correto. EM TEMPO – O senhor se tornou consultor político? AM - E sou. Para os que me procuram, externo meu pensamento. Dou conselho e atenção o tanto quanto possível. Não escondo esse lado que abomino do processo. Quando é uma pessoa jovem eu aconselho a blindagem para isso, a não serem envolvidos em armadilhas. Tem alguns jovens que aconselho. Estou cuidando da minha vida privada. Daqui a pouco eu morro e tenho família. Sinto que sacrifiquei muito a minha família. Já fiz a cirurgia cardíaca e a qualquer momento posso embarcar (risos). Não tenho saudade do poder e não aguento mais é estar engolindo sapo fazendo acordos que não

se deve fazer. EM TEMPO – Mas o senhor é candidato? AM – Não sou candidato. Mas, olha, um cargo interessante é o de deputado estadual, para ser fiscal de governo. Não sei se devo fazer isso, me candidatar. Mesmo uma candidatura simples de deputado vai me trazer muitas vinculações e aí o projeto que tenho de ficar com minha família vai ficar comprometido. EM TEMPO – E qual sua opinião sobre essa conjuntura política pré-eleitoral? AM - Não gostaria de externar minha opinião. Estou calado e tenho minhas razões. Eu posso estragar armas importantes que podem ser usadas pelo povo. Acho que no momento certo eu vou ter que abrir minha boca. Não pelo processo político, mas para dar alguma contribuição para a população. Não estou comprometido com nenhuma organização política ou político. EM TEMPO – Mas o seu partido como vai se posicionar nestas eleições? AM – O partido que eu tenho é circunstancial. Vamos ser honestos: qual a diferença entre os partidos? Eles não têm ideário programático. É uma farsa. São todos iguais. Antes tinham. Eu olhava o PT com certo respeito e inveja de não pertencer àquele partido revolucionário. E, de repente. O PCdoB? Quer uma coisa mais caricata? Virou um partido que mobiliza a juventude para enganar com emprego público. Chama-se: Partido Comunista do Brasil. É uma vergonha, é revoltante. Avilta, principalmente a nós que fomos militantes do partido, que sofremos, que temos uma história.


Caderno B

Economia MANAUS, DOMINGO, 30 DE MARÇO DE 2014

economia@emtempo.com.br

ALBERTO CÉSAR ARAÚJO

Staff de hotéis 80% preparado para Copa Economia B4

(92) 3090-1045

Filhos empreendedores fora das ‘asas’ dos pais O

índice de mortalidade de empresas familiares ao passar o comando da mesma para a terceira geração é de aproximadamente 70% no Amazonas, segundo cálculos da MB Consultoria. Um dado alarmante, se ele significasse no seu total o fim de investimentos de famílias empreendedoras em novos projetos que fomentassem o comércio, a indústria e o serviço. Ocorre que, filhos e netos herdeiros de empresas fundadas em âmbitos familiares passaram a construir o seu próprio “porto seguro”. O jovem empresário Oliver Garcia, 26, proprietário da Arko Soluções – empresa de inventário de estoque e ativo imobilizado-, é um desses casos. Enquanto o seu pai Roberto Garcia, 56, passou metade da carreira profissional trabalhando em multinacional e a outra metade como empresário, proprietário da Tallent Pool Consultoria Empresarial, trabalhando na orientação de empresas sobre negócios, o filho procurou investir na própria ideia. Oliver até que começou pelos mesmos caminhos do genitor, iniciando a sua base de formação empreendedora na iniciativa privada, após se graduar como administrador de empresas, fazer MBA em inovação de negócios e seguir com a formação em Finanças pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Na vivência prática, o jovem empresário teve sua primeira visão internacional como corretor da Bolsa de Valores. Depois para entender sobre as estruturas de empresas e como funcionam as operações de negócios Oliver trabalhou em multinacionais como a Yahama, e a Ação Investimentos, do Grupo XP, onde pôde aprender sobre a saúde financeira das empresas. “Após essas experiências, meu pai me deixou bem aberto para que eu pudesse optar por seguir o meu próprio caminho. Foi quando considerei como oportunidade no mercado amazonense o que faço hoje com a Arko, com possibilidades reais de expandir Brasil a fora”, conta Oliver. Para Roberto Garcia, que

A psicóloga Maria do Céu apoia a sua filha, a odontóloga Andréa Ribeiro, a abrir o seu próprio consultório

hoje também atua como diretor de Projetos e Desenvolvimento de Negócios da Fundação Paulo Feitosa, o que falta aos empreendedores é criar uma base onde eles possam conhecer mais sobre avaliação de risco e como atrair investidores. “Hoje todos querem abrir startups, desenvolver ideias sem ter uma base de conhecimento sobre como montar um fluxo de caixas e um plano de negócios que atraia investidores para viabilizar o produto”, salienta. Segundo o consultor de gestão empresarial Marx Gabriel, da MB Consultoria, para um filho seguir o próprio caminho, montar o próprio negócio, ele não pode tomar decisões emocionais, “infan-

A odontóloga Andréa Ribeiro, 32, seguiu o mesmo ramo profissional do pai e da mãe, na área de saúde. No entanto, apesar do sucesso que o seu genitor alcançou com o hospital Santo Alberto, em sociedade com outros amigos parceiros, ela conta que o seu espírito empreendedor a levou a buscar constituir o seu próprio negócio, uma clínica de odontologia que será inaugurada ainda neste ano. “Sempre quis ter algo próprio. Venho de família de comerciantes. Meus avôs paternos e maternos eram empreendedores, tenho isso no sangue”, sustenta. Para alcançar o objetivo, a odontóloga conta que buscou conhecimento na área empresarial e de investimentos em São Paulo e Brasília. E hoje, faz parte da Associação

O filho precisa estar desde cedo dentro desse processo (empresarial) para ele sentir que aquilo faz parte dele também Suely Quadros, consultora empresarial

tis”. “Há uma meninada que brinca de ser empresário. O pai banca a estrutura hoje, mas amanhã o filho quer fazer outra coisa e fica nesse processo de mudanças constantes, o que é bastante prejudicial para ele e para as finanças do pai”, observa. “Mas há filhos com foco, que conseguem empreender nos seus próprios negócios e passam a ter autoridade moral para voltar à empresa da família”, comp l e t a o consultor.

‘O incentivo da família é vital’

Roberto Garcia incentiva o empreendedorismo do filho Oliver

de Jovens Empreendedores do Amazonas (AJE-AM). “A associação nos dá muita orientação, conhecimento e amplia nosso networking. Somos um grupo com os mesmos pensamentos e objetivos”, afirma Andréa, que se diz preparada para assumir a posição da mãe de sócia no hospital, quando for necessário. A psicóloga Maria do Céu Ribeiro, mãe de Andréa, defende que os filhos precisam seguir o instinto, e que para isso o apoio da família na passagem dos conhecimentos empresariais é vital. “Sinto que ela está pronta e capaz, pois tem habilidades e orientação. Sempre buscou conhecimento e tenho certeza que está preparada para empreender com sua própria clínica odontológica”, aposta.

Despertar interesse na infância A consultora Suely da Silva Quadros sustenta que, para a continuidade do empreendimento familiar, por gerações, faz-se necessário despertar o interesse dos filhos sobre a empresa desde a infância. Caso contrário, a sobrevivência da empresa por uma longa história será necessário optar pelo modelo de gestão mista, formado por membros da família fundadora do negócio com executivos do mercado, contratados por conta das suas experiências.

Suely observa que, apesar de muitos filhos partirem para seus próprios negócios, há entre eles grande parcela que começa a querer entender melhor os negócios da família. Segundo ela, há em Manaus um movimento forte de filhos de famílias empresariais que começam a buscar mais capacitação e benchmarks (referências). “Há grupos que nascem para que essa geração troque ideias a fim de assumir o comando do negócio familiar”, sustenta. O consultor Mark Gabriel orienta que, para evitar o fim da empresa familiar, o seu fundador precisa implantar um conselho familiar, na busca de abrir um diálogo permanente com filhos e sócios.

ALBERTO CÉSAR ARAÚJO

EMERSON QUARESMA Equipe EM TEMPO

REPRODUÇÃO

Jovens herdeiros de negócios familiares de sucesso procuram construir o próprio “porto seguro” pela conquista pessoal


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Economia

Uma Zona Franca para

EMERSON QUARESM,A Equipe EM TEMPO

H

á 47 anos e 30 dias, sob o regime militar - instituído pelo golpe de 1964 -, acrescentava-se ao projeto Zona Franca de Manaus (ZFM) - inicialmente pensado em 1957 como um porto livre -, o direito aos incentivos fiscais por 30 anos, com o objetivo de implantar na Amazônia um polo industrial, comercial e agropecuário. Mais do que um modelo de desenvolvimento econômico à época, a proposta fazia parte da estratégia dos militares de ocupação do território amazônico que, segundo o historiador Otoni Mesquita, vivia sob uma fervorosa discussão a respeito da cobiça internacional. Segundo ele, tudo estava dentro da política nacional de “integrar para não entregar”. “A estratégia era

ocupar a região, no sentido de proteger o território do olhar internacional”, conta. O historiador Otoni Mesquita lembrou que a Zona Franca de Manaus (ZFM) nasceu a partir da política nacional de “integrar para não entregar”, implantada durante o período do golpe militar, num momento em que havia uma discussão fervorosa a respeito da cobiça internacional sobre o território da Amazônia. “A estratégia militar era de buscar a ocupação da região no sentido de proteger o território do olhar internacional”, conta Para Mesquita, a criação do modelo chegou ao Estado com os dois lados da moeda. O primeiro, porque veio como uma nova saída favorável ao desenvolvimento do Amazonas que, segundo o historiador, vivia uma estagnação econômica desde a crise da produção da borracha. Por outro lado, a maneira como a ZFM fora implantada era passível de todos os questionamentos socioeconômicos, uma vez que o modelo obrigava a cidade a se condicionar a ele. Segundo ele, a implantação do modelo promoveu na capital amazonense um crescimento desordenado de uma cidade sem infraestrutura adequada para receber milhares de famílias oriundas de municípios do interior do Amazonas, de Estados vizinhos e da Região Nordeste.

XAXAXAXAXAXAXA

Sob uma sociedade dividida, a estratégia partiu dos militares durante o regime com o discurso de “integrar para não entregar”

No princípio, uma cadeia de problemas O movimento da Zona Franca, conforme Mesquita, além de causar o desequilíbrio das famílias manauenses, prejudicou a identidade histórica da cidade. “Nos anos 1970, nós criticamos o fato das pessoas que vinham de outras localidades sem preparo algum, e que por isso iniciava uma cadeia de problemas como a prostituição, e invasões de terras organizadas por pessoas que só queriam sobreviver”, lembra Mesquita. Quando criança, o historiador lembra que acompanhava o olhar dos adultos informados por uma mídia controlada pelo militarismo, e que por isso avaliava a implantação da ZFM como positiva. “Achei que finalmente o Amazonas iria se integrar ao Brasil. Agora penso que não deveríamos ter aberto mão de muitas coisas, como as relações do ritmo da cidade”, completa.

Consolidado, o Polo Industrial de Manaus é a principal fonte de receita do Estado do Amazonas

Vitrine Tech economia@emtempo.com.br

Samsung fabricará TV de tela curva no PIM

Chromecast em Manaus a R$ 199 Lançado em julho do ano passado, o Chromecast - adaptador da Google que permite reproduzir na TV o conteúdo de um tablet, por exemplo, enquanto a pessoa está na cama ou no sofá da sala, já pode ser encontrado em Manaus. Lojas como a Hitech e a Ramsons comercializam, desde o início deste mês, o produto a um preço de R$ 199, mais que o dobro do valor cobrado nos Estados Unidos. No caso da Hitech, o primeiro lote já se esgotou. Um novo lote deve chegar a partir da primeira quinzena de abril, conforme apurou a VitrineTech.

Maratona digital

Google vigiado O Brasil é o sexto país que mais pediu dados de usuários ao Google. De acordo com o relatório de transparência da empresa divulgado no último dia 28, somente em 2013 foram solicitadas informações de 2.986 contas por meio de 2.324 processos judiciais protocolados. Porém, o Google forneceu dados de 65% das solicitações feitas no primeiro semestre de 2013, e 49% das solicitações feitas na segunda parte do ano. FOTOS: DIVULGAÇÃO

Será na próxima sexta-feira (4) a abertura do Startup Weekend, a maratona com 54 horas de programação destinada para quem quer se lançar no mundo do empreendedorismo. O evento ocorrerá na Escola Superior de Tecnologia da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), na avenida Darcy Vargas, na Zona Centro-Sul, até o dia 6 de abril. Investimentos O plano Hapvida Saúde investe, anualmente, mais de R$ 17 milhões em tecnologia para levar qualidade ao serviço que oferece, sendo R$ 15 milhões para a parte de saúde e R$ 2 milhões para a área de Odontologia. Cursos O Senac está com inscrições abertas para cursos de Informática Básica em Ambiente Windows (investimento de R$ 320) e Recursos Avançados de Word e Excel (R$ 300). Informações podem ser obtidas pelo número 3216-6190 ou pelo site www.am.senac.br. Deficiência Mesmo com a troca de pre-

sidente, a BlackBerry não conseguiu alavancar as vendas. A empresa anotou perdas de US$ 5,9 bilhões no último ano fiscal, encerrado em 2 de março, e viu sua receita cair quase pela metade. IRPF Quem for declarar o Imposto de Renda, cuidado! Criminosos usam mensagens falsas de e-mail e links para downloads de versões falsas do programa da Receita Federal para enganar os contribuintes que usam a internet para prestar contas com o Fisco. O alerta é de uma das principais empresas do ramo da segurança online - a Kaspersky -, que detectou esses golpes online.

A Samsung inovou mais uma vez. A partir de abril, a multinacional começará a fabricar no Brasil – leiase Polo Industrial de Manaus (PIM) -, a primeira TV UHD de tela curva do mundo. A empresa sul-coreana garante que o produto estará disponível no mercado ainda no 1⁰ semestre. “Nossa expectativa é que, em dois anos, essas TVs compreendam mais de 20% do mercado”, afirmou o vice-presidente executivo e chefe de negócios Visual Display da Samsung, HS Kim.

Clicks * Segundo a consultoria de segurança digital Juniper Networks, para os crackers, as senhas das contas do Twitter podem custar US$ 325, mais do que as dos cartões de crédito e débito, que chegam até US$ 40.

drives e cartões SD.

* Segundo dado divulgado pela Kaspersky, em torno de 30% das infecções de malware são espalhadas por meio de mídias removíveis como pen

* Na primeira semana no Mercado de ações, a King Digital Entertainment, que criou o Candy Crush viu suas ações despencarem 13%. Começou mal.

*A startup de análise de aplicativos Crittercism apontou que as versões da plataforma móvel da Apple (iOS) são as que trazem mais instabilidade aos apps.


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REPRODUÇÃO INTERNET

a integrar a Amazônia Movimento do Centro por conta dos incentivos ao comércio

Comércio foi o primeiro passo Assim como nos dias de hoje, quando há um trabalho forte nos bastidores na busca pela prorrogação dos incentivos fiscais da ZFM, da mesma forma aconteceu no início do Regime Militar, para que o decreto-lei nº 288, de 28 de fevereiro de 1967, fosse promulgado pelo então presidente da República, marechal Humberto de Alencar Castelo Branco. O que, segundo afirma o historiador Gaitano Antonaccio, deu início ao primeiro grande momento da ZFM, que foi o polo comercial. “O decreto-lei já vinha sendo cozinhado há muito tempo, desde quando o deputado Pereirinha (Pereira da Silva) havia criado a lei que tornava Manaus um porto livre. E um dos primeiros atos do primeiro presidente do regi-

me militar foi atender essa demanda do empresariado e intelectuais amazonenses”, conta o historiador. Segundo Antonaccio, com a importação de produtos do mundo inteiro, o polo comercial fazia de Manaus uma capital pujante, atrativa. Somente depois de 3 a 4 anos começaram a implantar as primeiras fábricas no Polo Industrial. “O enfraquecimento do comércio começou a ser sentido na década de 1970, quando a concorrência e ciumeira incentivaram o começo das restrições sobre o limite das compras com decretos, leis e portarias. Mas, o declínio definitivo veio no período (presidente Fernando) Collor, que abriu as isenções de importações para o território brasileiro”, relata.

A abertura das vias de acesso para a instalação do Distrito Industrial iniciou em Manaus uma explosão demográfica e invasões

A floresta agora sim é um argumento atual Hoje, o principal argumento de políticos e intelectuais para a manutenção dos incentivos fiscais da ZFM é a preservação da Floresta Amazônica. De acordo com Gaitano Antonaccio, na época da implantação do modelo, partia dos militares apenas a visão de um processo de desenvolvimento econômico e social. “Eles nunca pen-

saram a Zona Franca com olhar voltado também para a preservação da Amazônia, o que felizmente aconteceu em nosso favor”, salienta. Conforme o historiador, naquele momento, o homem que vinha do interior do Amazonas e que por isso trocava a agricultura pela linha de produção industrial, mostrou-se capaz de uma

adaptação rápida. “Mais rápida até que o homem do ABC paulista. Uma adaptação comprovada inclusive por estudos do próprio Exército brasileiro, na década 1970. Havia disciplina, vontade de aprender e entusiasmo. O caboclo tinha orgulho de dizer que trabalhava no Polo Industrial”, aponta. Segundo o historiador Oto-

ni Mesquita, não havia discurso sobre a preocupação com a preservação da floresta. “Mostrava-se apenas que a cidade tinha uma história e uma floresta, um exotismo, mas nada de condição de meio ambiente. Tanto que depois veio a Transamazônica derrubando a floresta. Felizmente não conseguiu derrubar tudo”, opina.


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Hotéis com staff pronto para atender em inglês

Abih afirma que foi possível preparar o pessoal da linha de frente da rede a partir de cursos promovidos pela entidade

ARQUIVO EM TEMPO/JOEL ROSA

Funcionários como mensageiros, recepcionistas e governantas da rede hoteleira de Manaus também fizeram cursos oferecidos por escolas particulares para se preparar para o momento da Copa ARQUIVO EM TEMPO/JOEL ROSA

ANDRÉ TOBIAS Especial EM TEMPO

A

74 dias da Copa do Mundo, a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih-AM), tem na conta que aproximadamente 80% dos funcionários da linha de frente da rede hoteleira de Manaus estão com pelo menos o inglês na ponta da língua para dialogar com os turistas. A afirmação é da gerente estadual da entidade Jane Almeida. Segundo ela, nesse staff estão listados colaboradores que têm o contato direto com os hóspedes como mensageiros, recepcionistas e governantas. Este nível de preparação, conforme Jane é resultado de um movimento do poder público, da rede de hotéis e principalmente de várias escolas de idiomas que vêm realizando cursos especiais para atender a demanda para o maior evento esportivo do globo. Para Jane, a rede hoteleira de Manaus é um dos principais setores onde se faz necessário o domínio de uma segunda língua. Para tanto, ela afirma que a Abih-AM também providenciou cursos para os seus colaboradores a título de especialização da categoria para melhor atender turista durante e depois da Copa do Mundo. De acordo com a gerente, o curso de língua inglesa promovido pela associação é realizado sem custo com mensalidades para os participantes em par-

ceria com o Governo do Estado, por meio do Centro de Educação Tecnológica do Amazonas (Cetam). “Alguns funcionários preferem procurar por cursos particulares, enquanto outros estão estudando pelo viés que oferecemos”, observa. Jane lembra que a especialização em idiomas vem sendo realizada desde anos anteriores. “Estamos fazendo isso há alguns anos. Vale lembrar que o curso é específico, com ênfase naquelas palavras mais usadas no ramo”, destaca. Ela acredita que o número de funcionários treinados já é o suficiente para atender a demanda da Copa. Além dos cursos da Abih, outros com o mesmo propósito já foram oferecidos pelo governo estadual, por meio da Empresa Estadual de Turismo (Amazonastur). Neste, idiomas como inglês, espanhol, francês e até mesmo mandarim foram lecionados de forma gratuita. No entanto, os formandos não chegam a representar 10% dos funcionários da rede hoteleira. Para Jane, a Copa vai sim atrair muitos turistas, mas não como está sendo anunciado. Ela aponta as datas com o maior índice de procura. “Manaus é uma cidade muito cara e ainda existem hotéis com leitos vagos. As reservas feitas até agora foram principalmente para as partidas entre Itália e Inglaterra e também entre Estados Unidos da América e Portugal. Para os outros dois não tem muitas reservas”, lamenta.

Particulares oferecem descontos

Governo do Estado ofereceu cursos até mesmo de mandarim

Bolsa Idiomas atende 6 mil A Prefeitura de Manaus lançou no ano em 2013 o programa municipal Bolsa Idiomas, destinado à concessão de bolsas de estudos integrais ou parciais em cursos de língua estrangeira como inglês ou espanhol. O programa foi desenvolvido para atender especialmente profissionais que atuam em atividades de exposição a turistas, como serviços, restaurantes e hotéis, com o foco nos jogos da Copa do Mundo de 2014.

De acordo com o diretor executivo da Escola de Serviço Público Municipal (ESPI) - órgão que executa o programa -, Daniel Rocha, mais de seis mil alunos já foram contemplados com as bolsas nas duas primeiras edições do programa, que é direcionado a estudantes que tenham idade a partir de 16 anos, cursem ou já tenham concluído o ensino médio, morem em Manaus e tenham uma renda per capita de até um salário mínimo e meio.

Quem está aproveitando o efeito “Copa do Mundo” para aumentar o faturamento e lucrar com a necessidade do mercado em oferecer um bom atendimento aos estrangeiros são as escolas de idiomas particulares. Uma delas é a Skill Idiomas, que aproveitou para lançar promoções para abertura de turmas com descontos que podem chegar até 30% na mensalidade. Idiomas como inglês, espanhol, francês, alemão ou italiano são as opções oferecidas para quem desejar aprender outra língua. Não bastasse o desconto, para atrair ainda mais o interesse das pessoas, a Skill está oferecendo aulas com horários e flexíveis e conte-

údos personalizados. Segundo a assessoria da empresa, as vantagens oferecidas são para quem “deseja investir em um segundo idioma e aproveitar as oportunidades geradas pelo maior evento esportivo do mundo”. De acordo com a Skill, os cursos são oferecidos para crianças, adolescentes, jovens e intensivos para adultos. Localizada em seis pontos diferentes da cidade, a escola de idiomas oferece como diferencial, uma estrutura de ensino que segue com fortes bases metodológicas e que busca valorizar o ensino de um segundo idioma em contextos sociais específicos, respeitando a particularidade de cada aluno. SEMCOM

Bolsa Idiomas serviu para estudantes a partir de 16 anos


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50 anos do golpe militar no Brasil: repressão e tortura Personalidades lembram os dias de agonia e pavor vividos nos porões do DOI-Codi em plena era da repressão militar que tentou, de todas as formas e artimanhas, calar a voz de um país

“É

como se eles c o rr o m p e s sem sua alma, destruindo o que você tem de bom (...). Eles querem, por meio do massacre, da desumanidade, que você traia, que você rompa todos os vínculos que tem, como no caso que eu vi, de uma menina que entregou o próprio pai”. O trecho acima faz parte de uma longa entrevista concedida por Maria do Carmo Serra Azul à “Adital”. Cacau, como é conhecida pelos amigos, é uma ex-presa política, que foi torturada nos porões do DOI-Codi, um dos órgãos repressores da ditadura militar brasileira. Presos políticos, como Cacau e tantos outros, são pessoas que encarceradas pelas autoridades de um país por exprimir, em palavras ou atos, a sua discordância com o regime político em vigor. Vale ressaltar que a existência desse preso, está, em regra, associada a regimes políticos ditatoriais, ou seja, geralmente, não há

presos políticos se não há ditadura. As torturas, as quais eram submetidos os presos políticos, levaram ao surgimento de outro termo: desaparecidos políticos, pessoas que simplesmente sumiram após serem detidas pela polícia. O site www.acervoditadura.rs.gov.br revela que existem mais de 200 mortes oficiais no período da ditadura, contudo esse número deve ser bem maior, tendo em vista que muitos mortos foram simplesmente “desovados”, para utilizar um termo que os próprios opressores usavam. Outro número oficial, que, na realidade, também deve ser bem maior, é o de desaparecidos. O site www.desaparecidospoliticos.org.br lista 379 nomes de pessoas, que sumiram desde que foram presas durante o regime militar. Esse número é baixo se levarmos em conta que muitas famílias não relataram o sumiço de seus entes por medo de sofrerem represálias por parte dos militares.

MÉTODOS DE TORTURA “Eles faziam um morde e assopra, me afogavam e depois me faziam respirar, como se eu houvesse me afogado na praia, isso me deixava maluca”, desabafa Cacau ao lembrar-se dos 15 dias que passou sendo torturada. Antes de falarmos dos órgãos de repressão, é necessário explicar os métodos de tortura utilizados, que, muitas vezes, eram tão cruéis, levando à morte dos torturados ou deixando-os loucos.

A tomada do forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, foi um dos marcos do avanço dos militares em abril de 1964

GELADEIRA Os presos eram obrigados a ficar nus dentro de uma cela pequena o suficiente para impedi-los de ficarem de pé, após isso os torturadores acionavam um dispositivo que, controlado por eles, alternava a temperatura da cela entre extremamente baixa e alta o suficiente para enlouquecer alguém. Somado a isso, alto-falantes reproduziam sons extremamente irritantes. Os presos chegavam a passar dias nessas celas, sem água e comida.

CADEIRA DO DRAGÃO

Existem vários tipos de “soros da verdade”, o utilizado pelo regime militar era o pentotal sódico. Uma droga que provoca na vítima um estado de sonolência e reduz as barreiras inibitórias. Sob seu efeito, a pessoa pode falar coisas que normalmente não falaria (daí o nome de soro da verdade). O problema é que o efeito desse soro é pouco confiável, já que a vítima pode ter alucinações e fantasiar coisas que não são necessariamente verdadeiras. Além disso, em alguns casos, a droga pode levar à morte.

ESPANCAMENTOS

“Me amarraram na cadeira do dragão, nua, e me deram choque no ânus, na vagina, no umbigo, no seio, na boca, no ouvido”. (Maria Amélia Teles, ex-militante do Partido Comunista do Brasil) - Era uma espécie de cadeira elétrica revestida de zinco e ligada a terminais elétricos, onde os presos sentavam pelados. Quando ligado, o aparelho transmitia choques em todo o corpo do torturado. Além disso, muitas vezes, os torturadores colocavam um balde de metal na cabeça da vítima, onde também eram aplicados choques.

“Eles giravam os presos dentro das celas e os jogavam contra a parede, deixando marcas de sangue por todos os lados, meu marido tem uma cicatriz na cabeça até hoje por conta disso” (Cacau) - Como o próprio nome já diz, era literalmente um espancamento. O preso recebia agressões físicas de todas as maneiras possíveis, entre as mais violentas estava o “telefone”, onde o torturador batia com as duas mãos, em forma de concha, ao mesmo tempo nos ouvidos do preso. Essa técnica deixava o torturado zonzo e podia até estourar os tímpanos, causando surdez permanente.

PAU-DE-ARARA “Fui para o pau-de-arara várias vezes. De tanta porrada, uma vez meu corpo ficou todo tremendo, eu estrebuchava no chão”. (Maria do Socorro Diógenes, ex-militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), O pau-de-arara era uma das formas mais antigas de tortura, utilizada no Brasil desde a época da escravidão. Os torturadores colocavam uma barra de ferro atravessando os punhos e os joelhos do preso, que ficava pelado. A vítima era pendurada a cerca de 20 centímetros do chão, numa posição que causava dores lancinantes e não parava por aí. Depois de pendurado, o torturado sofria com choques elétricos, pancadas e queimaduras com cigarros.

SORO DA VERDADE

ABUSOS SEXUAIS

O pau-de-arara foi um dos métodos usados para torturar presos

“Eles usavam e abusavam. Só nos interrogavam totalmente nuas, juntando a dor da tortura física à humilhação da tortura sexual”. (Gilse Cosenza, ex-militante da Ação Popular, AP). Uma forma cruel de tortura, afeta tanto o físico quanto o psicológico. Esses abusos eram somados aos espancamentos, xingamentos e muita submissão, muitas vezes além do estupro, homens e mulheres tinham objetos introduzidos em seus corpos.

TORTURA PSICOLÓGICA “Com certeza a pior tortura foi ver meus filhos entrando na sala quando eu estava na cadeira do dragão. Eu estava nua, toda urinada por conta dos choques. Quando me viu, a Janaína perguntou: ‘Mãe, por que você está azul e o pai verde?’. O Edson disse: ‘Ah, mãe, aqui a gente fica azul, né?’. Eles também me diziam que iam matar as crianças. Chegaram a falar que a Janaína já estava morta dentro de um caixão”. - Considerada por muitos como a forma mais cruel de tortura. Ia desde a humilhação do preso até ameaças de violência contra seus familiares. Mulheres grávidas ou que tinham filhos recém-nascidos, muitas vezes ouviam dos torturadores que nunca mais os veriam. Há também relatos de homens que eram obrigados a assistir a abusos sexuais contra suas mulheres.

AFOGAMENTOS “Os caras me enfiavam de capuz num tanque de água suja, fedida, nojenta. Quando retiravam a minha cabeça, eu não conseguia respirar, porque aquele pano grudava no nariz.” (Maria do Socorro Diógenes, ex-militante PCBR) - Nesse método, os torturadores tapavam as narinas do preso e colocavam uma mangueira dentro da boca da vítima, obrigando-o a engolir água. Outro método de afogamento era o de imergir a cabeça do torturado em um tanque de água, forçando sua nuca para baixo até o limite do afogamento. Muitas vezes o preso desmaiava, o que não significava o fim da tortura. Batalha da Maria Antonia reuniu estudantes da USP e Mackenzie


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‘Conheça a sucursal do infe Locais dedicados aos mais intensos interrogatórios e, consequente sessões de torturas, sempre protagonizados pelos militares eram conhecidos como “sucursal do inferno”

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ocê, agora, vai conhecer a sucursal do inferno”. (Palavras proferidas por um oficial do Exército a Frei Tito, quando este era levado para o interrogatório e, consequentemente, para as torturas) “Diziam que a tortura não era institucional, eu me entreguei na 10º Legião militar e saí de lá encapuzada e sofrendo agressões, então é tudo uma grande mentira, havia sim o conhecimento do que acontecia com os presos políticos (...). No próprio quartel, havia uma placa com a sigla DOI-CODI”, lembra Cacau, sobre o dia em que se entregou à polícia. Os órgãos de repressão da ditadura militar brasileira eram vários, mas vamos nos ater aos mais importantes e temidos, como o DOICODI. Foram nos porões desse órgão onde a maioria dos presos políticos foi torturada, humilhada e muitas vezes morta. O DOI-CODI, que era chefiado pelo, então, Capitão Carlos Alberto Brilhante Ustra, era formado por dois órgãos distintos, o Destacamento de Operações e de Informações (DOI), responsável pelas ações práticas

de busca, apreensão e interrogatório de suspeitos, e o Centro de Operações de Defesa Interna (CODI), cujas funções abrangiam a análise de informações, a coordenação dos diversos órgãos militares e o planejamento estratégico do combate aos grupos de esquerda. Embora fossem dois órgãos distintos, eram frequentemente associados na sigla DOI-CODI, o que refletia o

PORÕES

Os órgãos de repressão da ditadura militar brasileira eram vários, mas vamos nos ater aos mais importantes e temidos, como o DOICODI onde em seus porões a maioria dos presos foram torturados caráter complementar dos dois órgãos. Ustra, em 2008, se tornou o primeiro militar a ser reconhecido pela Justiça brasileira como torturador no período da ditadura. Durante uma sessão da Comissão da Verdade, em 2013, o exsargento do Exército Marival Fernandes testemunhou que

o ex-comandante, era o “senhor da vida e da morte” do DOI-CODI e “escolhia quem ia viver e morrer”. Outro braço importante da repressão e que causava calafrios nos presos era o Esquadrão da Morte, liderado pelo delegado Sérgio Fleury. O Esquadrão, que surgiu na década de 1960 em São Paulo, era um grupo paramilitar cujo objetivo era perseguir e matar supostos criminosos tidos como perigosos para a sociedade. Crueldade Seu comandante, Fleury, era um dos mais cruéis interrogadores, frequentemente os presos interrogados por ele morriam durante as torturas. “Ele frequentemente contava vantagens afirmando ter sido a pessoa que matou o Marighella”, conta Cacau. Maria do Carmo foi uma das pessoas que enfrentou o interrogatório de Fleury e sobreviveu. Ela conta que todos os interrogatórios feitos por ele eram alternados entre torturas e conversas. “Ele me perguntava: você está gostando? Você quer que eu repita? Aí eu dizia: não. E ele retrucava, pois então fale. E eu respondia: mas eu não sei”.

A “Marcha dos 100 mil” foi como ficou conhecida a manifestação no Rio de Janeiro que reuniu jo

Censura e o controle cultural Além da repressão violenta, havia também a censura. Durante a ditadura, foi enorme a censura sob as produ-

ções culturais que contrariavam as doutrinas militares. O órgão responsável por ela, durante o regime, era a Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP). Para aprovar a letra de uma música, por exemplo, era necessário enviá-la para o DCDP e se não fosse liberada pelo órgão, a gravadora poderia abrir um recurso a ser julgado pelos censores, que ficavam em Brasília. Eles analisavam como eram tratados os bons costumes e a crítica política contra o regime militar. “Eles se achavam onipotentes, inalcançáveis, o que não era tão verdade assim. Eu ainda tinha o controle sobre o que eu faria. O que eles queriam, eu sabia, e só diria se eu quisesse”, ressalta Cacau.

Uma das fotos emblemáticas do fotógrafo Evandro Teixeira em registro sobre a perseguição dos militares


País

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ferno’

Razões para não ter saudades da ditadura »

Tortura e ausência de direitos humanos As torturas e assassinatos foram a marca mais violenta do período da ditadura. Pensar em direitos humanos era apenas um sonho. Havia até um manual de como os militares deveriam torturar para extrair confissões, com práticas como choques, afogamentos e sufocamentos. Os direitos humanos não prosperavam, já que tudo ocorria nos porões das unidades do Exército. “As restrições às liberdades e à participação política reduziram a capacidade cidadã de atuar na esfera pública e empobreceram a circulação de ideias no país”, diz o diretor-executivo da Anistia Internacional Brasil, Atila Roque. Sem os direitos humanos, as torturas contra os opositores ao regime prosperaram. Até hoje a Comissão Nacional de Verdade busca dados e números exatos de vítimas do regime. “Os agentes da ditadura perpetraram crimes contra a humanidade –tortura, estupro, assassinato, desaparecimento– que vitimaram opositores do regime e implantaram um clima de terror que marcou profundamente a geração que viveu o período mais duro do regime militar”, afirma.

ovens, artistas, jornalistas e políticos contra a ditadura militar

O que poucas pessoas sabem Alguns fatos curiosos ocorreram na época da censura, coisas que poucas pessoas sabem, vejamos: » Gilberto Gil fez a composição da música “Aquele Abraço” após ter sido preso em um camburão. Ele acreditava que seria morto; » Chico Buarque, quando escreveu a canção “Apesar de você” o fez pelo descontentamento com a falta de liberdade durante a ditadura. O cantor externou seu desapontamento na canção, onde a crítica era disfarçada como uma briga entre namorados. Ao

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enviar a canção para o departamento de censura, ele imaginou que a letra seria vetada, mas acabou sendo liberada; Após a gravação de “Apesar de você”, os censores se tornaram bastante rígidos com Chico Buarque, que, então, passou a utilizar também o heterônimo Julinho de Adelaide, para fugir da censura. Após a descoberta de que Julinho de Adelaide e Chico eram a mesma pessoa, os censores passaram a exigir cópias de RG e CPF dos artistas.

da TV: ‘Geisel chega a Maceió; Ratos invadem a Pajuçara’. Telefonaram da polícia para o Pedro Collor [então diretor do grupo] e ele nos chamou na sala dele e tivemos que engolir o afastamento do jornalista Joaquim Alves, que havia feito a matéria dos ratos”, conta o jornalista Iremar Marinho, citando que as redações eram visitadas quase que diariamente por policiais federais. Para cercear o direito dos jornalistas, foi criada, em 1967, a Lei de Imprensa. Ela previa multas pesadas e até fechamento de veículos e prisão para os profissionais. A lei só foi revogada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em 2009. Muitos jornalistas sofreram processos com base na lei mesmo após a redemocratização. “Fui processado em 1999 porque publiquei declaração de Fulano contra Beltrano. A Lei de Imprensa da Ditadura permitia isso: punir o mensageiro, que é o jornalista”, conta o jornalista e blogueiro do UOL, Mário Magalhães.

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Amazônia e índios sob risco No governo militar, teve início um processo amplo de

pelo menos uma foi bombardeada com gás letal por homens do Exército”, afirma.

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Censura tinha o objetivo de silenciar as produções culturais Cens

Ato contra a ditadura acabou em pancadaria na Cinelândia, no Rio

Baixa representação política e sindical Um dos primeiros direitos outorgados aos militares na ditadura foi a possibilidade do governo suspender os direitos políticos do cidadão. Em outubro de 1965, o Ato Institucional número 2 acabou com o multipartidarismo e autorizou a existência de apenas dois: a arena, dos governistas, e o MDB, da oposição. O problema é que existiam diversas siglas, que tiveram de ser aglutinadas em um único bloco, o que fragilizou a oposição. “Foi uma camisa-de-força que inibiu, proibiu e dificultou a expressão político-partidária. A oposição ficou muito mal acomodada, e as forças tiveram que conviver com grandes contradições”, diz o cientista político da Universidade Federal de Pernambuco, Michael Zaidan. As representações sindicais também foram duramente atingidas por serem controladas com pulso forte pelo Ministério do Trabalho. Isso gerou um enfraquecimento dos sindicatos, especialmente na primeira metade do período de repressão. “Existiam as leis trabalhistas, mas para que elas sejam cumpridas, com os reajustes, é absolutamente necessário que os sindicatos judicializem, intervenham para que os patrões

Para Roque, o Brasil ainda convive com um legado de “violência e impunidade” deixado pela militarização. “Isso persiste em algumas esferas do Estado, muito especialmente nos campos da Justiça e da segurança pública, onde tortura e execuções ainda fazem parte dos problemas graves que enfrentamos”, complementa.

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Censura e ataque à imprensa Uma das marcas mais conhecidas da ditadura foi a censura. Ela atingiu a produção artística e controlou com pulso firme a imprensa. Os militares criaram o “Conselho Superior de Censura”, que fiscalizava e enviava ao Tribunal da Censura os jornalistas e meios de comunicação que burlassem as regras. Os que não seguissem as regras e ousassem fazer críticas ao país, sofriam retaliação –cunhou-se até o slogan “Brasil, ame-o ou deixe-o.” Não são raras histórias de jornalistas que viveram problemas no período. “Numa visita do presidente (Ernesto) Geisel a Alagoas, achamos de colocar as manchetes no jornalismo

devastação da Amazônia. O general Castelo Branco disse, certa vez, que era preciso “integrar para não entregar” a Amazônia. A partir dali, começou o desmatamento e muitos dos que se opuseram morreram. “Ribeirinhos, índios e quilombolas foram duramente reprimidos tanto ou mais que os moradores das grandes cidades”, diz a jornalista paraense e pesquisadora do tema, Helena Palmquist. A ideia dos militares era que Amazônia era “terra sem homens”, e deveria ser ocupada por “homens sem terra do Nordeste.” Obras como as usinas hidrelétricas de Tucuruí e Balbina também não tiveram impactos ambientais ou sociais previamente analisados, nem houve compensação aos moradores que deixaram as áreas alagadas. Até hoje, milhares que saíram para dar lugar às usinas não foram indenizados. A luta pela terra foi sangrenta. “Os Panarás, conhecidos como índios gigantes, perderam dois terços de sua população com a construção da BR-163 –que liga Cuiabá a Santarém (PA). Dois mil Waimiri-Atroaris, do Amazonas, foram assassinados e desaparecidos pelo regime militar para as obras da BR-174. Nove aldeias desse povo desapareceram e há relatos de que

respeitem. Essas liberdades foram reprimidas à época. Os sindicatos eram compostos mais por agentes do governo que trabalhadores”, lembra Zaidan.

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Saúde pública fragilizada Se a saúde pública hoje está longe do ideal, ela ainda era mais restrita no regime militar. O Inamps (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social) era responsável pelo atendimento, com seus hospitais, mas era exclusivo aos trabalhadores formais. “A imensa maioria da população não tinha acesso”, conta o cardiologista e sindicalista Mário Fernando Lins, que atuou na época da ditadura. Surgiu então a prestação de serviço pago, com hospitais e clínicas privadas. “Somente após 1988 é que foi adotado o SUS (Sistema Único de Saúde), que hoje atende a uma parcela de 80% da população”, diz Lins. Em 1976, quase 98% das internações eram feitas em hospitais privados. Além disso, o modelo hospitalar adotado fez com a que a assistência primária fosse relegada a um segundo plano. Não existiam planos de saúde, e o saneamento básico chegava a poucas localidades. “As doenças infectocontagiosas, como tuberculose, eram fonte de constante preocupação dos médicos”, afirma Lins.


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Mundo

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Temor da URSS pós-Crimeia

Com a queda do presidente ucraniano, Victor Yanukovych uma sucessão de frequentes protestos pró-Rússia em cidades do leste da Ucrânia, especialmente Donetsk e Kharkiv têm reativado o desejo de uma reedição da extinta União Soviética

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esde que o presidente ucraniano Viktor Yanukovych foi afastado do cargo, em fevereiro, tem havido frequentes protestos pró-Rússia em cidades do leste da Ucrânia, especialmente Donetsk e Kharkiv. Ao menos uma pessoa morreu. A Rússia alega que a tensão na Ucrânia se deve a grupos de extrema direita pró-Ocidente. Tropas russas realizaram exercícios militares perto da fronteira e permanecem na região. Não seria difícil para que elas invadissem a Ucrânia. Assim, se a Rússia está considerando mais uma expansão territorial, o leste da Ucrânia provavelmente estará no topo da lista. Os custos políticos, no entanto, seriam altos: a Otan e o Ocidente advertiram contra novas medidas expansionistas. Ao mesmo tempo, uma vez que o sentimento separatista dos russos ucranianos ganhou força com o envolvimento de Moscou na Crimeia e o novo governo contrário à Rússia em Kiev, é difícil voltar a contê-lo. Moldávia As atenções também estão voltadas à Transnístria, região separatista do leste da Moldávia que já pediu para ser anexado por Moscou. A região autoproclamou sua independência em 1990, mas isso nunca foi reconhecido internacionalmente. A maioria da população da Transnístria fala em sua maioria russo, enquanto os moldavos falam uma língua própria muito parecida com o romeno. O comando da Otan na Europa advertiu que a Transnístria pode ser o novo alvo da Rússia - que já tem mil soldados no território, localizado perto da fronteira ucraniana. Mas a Moldávia está se preparando para assinar um acordo de aproximação com a União Europeia, o que desagradaria Moscou e, potencialmente, aumentaria a tensão no território. Ao mesmo tempo, no sul da Moldávia fica um território conhecido como Gagauzia, região autônoma formada por quatro enclaves, totalizando 160 mil habitantes. A população ali é de maioria cristã ortodoxa e fala um idioma de origem túrquica.

Geórgia: o surgimento de duas áreas Em 2008, a Rússia travou uma breve guerra na Geórgia, que resultou na secessão de duas áreas, a Ossétia do Sul e a Abecásia, onde parte da população tem passaporte russo e há uma forte oposição à afirmação de soberania georgiana. A Abecásia, que faz fronteira com a Rússia, já havia declarado unilateralmente sua independência, em 1999. Desde então, os dois enclaves passaram a viver em um limbo diplomático, sem reconhecimento internacional. A Ossétia do Sul faz fronteira com a república russa da Ossétia do Norte, e seus suprimentos vêm da Rússia por meio de um túnel sob as montanhas do Cáucaso.


Caderno C

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FOTOS: ALBERTO CÉSAR ARAÚJO

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Aos 69 anos, Dirce Melo conta o que viveu no município de Boca do Acre, onde enfrentou desmandos, denunciou irregularidades e sofreu várias ameaças, perseguições, além de agressões

Ditadura militar encontrou resistência no Amazonas Funcionária pública deixou cargo para combater desmandos que ocorriam no município de Boca do Acre, onde vivia IVE RYLO Equipe EM TEMPO

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á 50 anos, o presidente da República, João Goulart, foi deposto do cargo e os militares assumiram o comando do país. Os 21 anos seguintes ao golpe são lembrados pelo cerceamento da liberdade e perseguições às pessoas contrárias ao jeito autoritário adotado pela nova administração do país. Torturas, abuso de poder, repressão, tentativa de assassinato, extradições, muitas são as histórias narradas por quem viveu naquele período. A professora Dirce Melo, 69, testemunhou e se indignou com os excessos dos governantes daquele período, lutou e conseguiu sobreviver a passagem dos ditadores no poder. Foi no município de Boca do Acre - a 1.027 quilômetros da capital -, que Dirce tornou-se uma das vítimas do furor da repressão. Ela era funcionária pública do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) durante o dia, e de noite ministrava aula em uma escola estadual, e não escondia seu interesse pela política. “Quando fui para lá, ajudei

a fundar o MDB (Movimento Democrático Brasileiro), antes de ser o PMDB. Nessa época meu pai era prefeito pela Arena, e acabou aderindo ao MDB, passando para nosso lado. Depois concorri para ser vereadora e fui eleita a mais votada da história. Já tinha um trabalho com os jovens e não gastei um centavo com

APOIO

A luta de Dirce rendeu um manifesto internacional, no qual ela denunciou a ditadura no interior do Amazonas. O manifesto consta no processo de anistia da ex-funcionária pública a eleição”, relembra. Entre 1979 e 1980, para assumir a vaga na Câmara Municipal, Dirce afastou-se do Incra. No parlamento, após uma denúncia contra o instituto, ela atraiu a atenção dos censores. “Denunciei o cartório e um general do Incra que despejaram 78 famílias de agricultores da gleba Senapolis. Os militares quebraram tudo, deixaram as pessoas ao re-

lento, as crianças chorando na rua, foi horrível. Quando vi aquilo endoidei, denunciei, provei e consegui a reintegração”, conta. Ela relata que conseguiu provar que os agricultores eram donos legítimos da terra da qual foram expulsos, haviam comprado os terrenos de boa fé, e que os representantes do instituto e do cartório haviam fraudado toda a documentação dos camponeses. Na luta pelos direitos das famílias, Dirce relata ter recebido o apoio do seringueiro e ativista ambiental Chico Mendes. “Ele encheu um caminhão com jagunços e agricultores e ‘baixou’ em Boca do Acre, para defender os direitos dos agricultores. Com o apoio dele, fundamos o sindicato dos trabalhadores rurais e a colônia dos pescadores em Boca do Acre”, afirma. Ela recebeu propostas “tentadoras” para abandonar a luta a favor dos agricultores e desistir das terras, como por exemplo, a vaga no conselho do extinto Banco do Estado do Amazonas (BEA), uma Brasília, - que era o carro sensação da época -, um apartamento com cobertura na avenida Paulista (SP), os quais ela recusou a todos.

Ameaças vieram após denúncias Depois de recusar os presentes, ela sofreu várias tentativas de assassinato. O que não a impediu de abraçar outra bandeira, e evitar que moradores fossem ilegalmente despejados. “Depois tive uma briga com a Marinha do Brasil, que mandou derrubar, com machado e picareta, as casas de moradores que davam para o fundo do rio. As pessoas choravam em ver as casas destruídas”, relembra. Indignada, Dirce denunciou o abuso de poder - do oficial

da Capitania dos Portos, com apoio da Marinha - a nível nacional para as lideranças do MDB na Câmara, no Senado e nos jornais de circulação nacional. “Escrevi um manifesto contando tudo que passei e recebi apoio. Meu pai pesquisava sobre a história da região, e com as pesquisas e ajuda dele, consegui provar que a Marinha não tinha direito a terra. As terras tinham sido doadas pela fazenda pública do Estado do Amazonas à Alexandre de Oliveira Lima

e, ele doou ao município para formar a sede. O comandante se retratou e pediu desculpas. Mas aí começaram as perseguições, sofri várias tentativas de assassinato, inclusive a mando do próprio prefeito, e fui para o hospital”, disse. Entre as ameaças e intimidações uma delas ocorreu enquanto caminhava com a filha nos braços, nas ruas de Boca do Acre, ocasião em que recebeu uma tijolada na cabeça e dentro de uma agência do Banco do Brasil.

Para deixar de lado a luta pelos agricultores, Dirce chegou a receber propostas “tentadoras”


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Dia a dia

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Artesã é a única mulher Após tratamento para se livrar dos traumas vividos durante a ditadura, Dirce Melo afirma ter vida tranquila IVE RYLO Equipe EM TEMPO

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odas as vezes em que denunciava corrupção da administração municipal de Boca do Acre, o prefeito da época, com o apoio dos militares, dava ordens para a professora Dirce Melo. “Quem mais me ajudou neste período foi Mário Frota, Fábio Lucena, Arthur Virgílio e o Gilberto Mestrinho. Eles não se dobravam, porque viam que minha luta era justa. Mário Frota me deu tanto apoio que chegou a ir sozinho em Boca do Acre, e fez ato público em minha homenagem”, ressalta. A luta de Dirce rendeu um manifesto internacional, no qual denuncia os percalços pelos quais passou durante a ditadura no Amazonas. “O manifesto está no meu processo de anistia. Tenho moção honrosa pela luta que travei em Boca do Acre, concedida pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro”, destaca. Dos 65 mil pedidos de anistia em todo o país, somente cinco mil foram atendidos e ela foi a única mulher amazonense a receber na época. Ela conta que por muito tempo teve que recorrer a tratamento psiquiátrico para se livrar dos traumas. “Os polícias rondavam minha casa, fiquei com muito trauma, medo da minha filha ser agredida também. Entrei em depressão, passei três anos em tratamento. Mas hoje em dia estou calma, tranquila, voltei a trabalhar, sou artesã, com muita honra, faço semijoias com pedras brasileiras”, disse.

Dirce Melo é a única amazonense anistiada, da época da ditadura

Do DCE ao Congresso Aos 29 anos, o hoje vereador Mário Frota (PSDB) deixou a presidência do Diretório Central dos Estudantes (DCE) na Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e de repente se viu fazendo oposição à ditadura dentro da Câmara dos Deputados, em Brasília. “Era presidente do DCE e a liderança me levou à política. Saí da política estudantil direto para o Congresso Nacional. Participei do grupo mais agressivo contra a ditadura, o ‘grupo autêntico do Movimento Democrático Brasileiro (MDB)’”, relata. O parlamentar estava entre os mais jovens do Congresso. Mas, no início não se sentia confortável em assumir a cadeira no parlamento porque achava que o lugar era o poder consentido, em que os militares deixaram funcionando. Porém, em 1974, após pedidos do vereador Fábio Lucena, ele resolveu lançar-se candidato. “Fui falar com ele, ia apresentar uma carta que tinha feito, dizendo que não queria, mas na hora mudei de ideia e disse que era candidato. Achava que teria um fiapo de votos, um mês depois, ele entrou na TV comigo, e fui o deputado federal mais votado da eleição”, relembra. No Congresso, Mário disse ter encontrado um cenário que, mesmo sob forte ditadura do partido da Arena, ainda havia espaço às críticas do MDB. “Foi um momento muito turvo da vida nacional, vivi na oposição. Não sabia muito o que fazer no início, sem experiência parlamentar. Só com dois meses e meio que fiz meu primeiro discurso”, declara.

Único desaparecido do Amazonas Nem todos os militantes da oposição conseguiram escapar do crivo dos militares, durante o regime antidemocrático. Até hoje não se tem notícia do paradeiro do parintinense Thomas Antônio da Silva Meirelles Neto, desaparecido no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro no dia 7 de maio de 1974. O militante político ingressou no PCB, aos 16 anos. Em 1958 tornou-se secretário-geral dos secundaristas brasileiros e quatro anos depois, participou do comando da legalidade pela posse do presidente João Goulart, em Goiás, e logo depois concluiu os estudos em Moscou.

Com 37 anos de idade, ele retornou ao Brasil no dia 7 de maio de 1974 onde foi preso no Rio de Janeiro, e desapareceu. Em documentos do arquivo do Departamento de Ordem Política Social (Dops) - órgão repressor da ditatura militar -, consta que Thomaz teve decretados dois mandados de prisão em 1974. Em 1972 ele foi condenado à prisão, sendo posto em liberdade em 1973 e seu destino desde então é ignorado. Em 1979, foi beneficiado pela Lei da Anistia. O livro “Brasil Nunca Mais“ retrata a primeira prisão de Thomaz, em 1972, e o jul-

gamento que o condenou a três ano e meio como caso ilustrativo do funcionamento tragicômico da Justiça Militar naquele período. Em Manaus o ativista parintinense dá nome a uma escola municipal localizada, no bairro Petrópolis, na Zona Sul. A unidade possui 578 estudantes de 6 a 13 anos, distribuídos nos períodos matutino e vespertino. A equipe do EM TEMPO tentou contato com a esposa de Meirelles, a jornalista Miriam Malina, que vive no Rio de Janeiro, mas até o fechamento desta edição ela não se pronunciou.


Coragem ao denunciar crimes Apesar do temor, ele levou à tribuna denúncias e discursos a favor da democracia. Ele recorda ter feito uma denúncia envolvendo um contrabando de eletroeletrônicos da Zona Franca de Manaus, ocorrido na BR-319. “Um policial federal flagrou dois caminhões e ordenou que voltassem a Manaus. Os caminhões eram do Departamento Nacional de Estradas e Rodagem (DNER), que hoje é o Dnit. O motorista do caminhão disse que o policial ia se arrepender, porque o material pertencia a Ademar Ribeiro, dirigente nacional do departamento e compadre do presidente Ernesto Geisel”, relata. A denúncia do deputado amazonense foi manchete em todos os jornais de Brasília. Irritada, a bancada de Geisel pedia a cassação de Mário Frota. “O Geisel queria me cassar, mas o doutor Ademar, que era homem de bem, não queria me cassar, queria mandar apurar e provar que era inocente, porque o caminhoneiro usou o nome dele. Então, o general Geisel nomeou uma comissão que veio ao Amazonas, e 30 pessoas foram demitidas no DNER. Foi a primeira vez que a ditadura apurou uma denúncia feita pela oposição e puniu os envolvidos”, comemora. O então deputado federal também denunciou a retenção de embarcações em um igarapé. “Eles fecharam um igarapé e prenderam os barcos, um estivador controlava tudo. Tinham dívidas

Mário Frota conseguiu a proeza de fazer o governo militar investigar denúncias

tão grandes que se vendesse o barco, não pagava a dívida. Denunciei o caso em Brasília e a comissão afastou o capitão dos portos de Manaus e vários outros oficiais”, disse. Frota recorda que após a edição do Ato Institucional nº 5 (AI-5), o Congresso foi fechado por um ano, os parlamentares perderam a imunidade. “Eles rasgaram a Constituição. Empurraram os deputados com baionetas. O AI-5 foi um golpe mortal, foi a ditadura feroz. Vieram as cassações, pessoas foram

ACUSAÇÃO

Vereador denunciou caso no qual aliado do então presidente, o general Ernesto Geisel, estaria envolvido. Denúncia resultou em apuração e prisão dos culpados no Amazonas deportadas. Os jornais eram censurados e no espaço das matérias proibidas de sair, os editores colocavam a página em negrito ou receita de bolo”, recorda. Após a estreia como parlamentar, em pleno período ditatorial, Frota seguiu com a vida política e hoje tem 10 mandados. “Fui e sou contra qualquer tipo de ditadura, seja civil, militar, eclesiástica, todas são terríveis. Os direitos são cerceados e só quem tem direito é o ditador”, ressalta o vereador tucano.

Escola municipal dá nome ao único desaparecido político do Amazonas

REPRODUÇÃO

ALBERTO CÉSAR ARAÚJO

amazonense anistiada

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TIAGO CORREA/CMM

Dia a dia

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Dia a dia

Logradouros devem ter Para vereador ruas, escolas e demais locais que homenageiam figuras de ditadores precisam ser mudados ISABELLE VALOIS Equipe EM TEMPO

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ogradouros da capital que homenageiam generais que atuaram na presidência do Brasil no período da ditadura militar também entram em discussão para o processo de mudança. Assim como as escolas, hospitais ou qualquer equipamento público. Uma forma de apagar da memória o momento de tortura, assassinato e extradição vivido no referido período pelo povo brasileiro. Em Manaus algumas ruas espelhadas pela cidade, homenageiam alguns destes militares, tais como, avenida presidente Castelo Branco, localizada no bairro Cachoeirinha, Zona Sul; avenida Costa e Silva, localizada no bairro Raiz, Zona Sul; avenida general Rodrigo Otávio Jordão Ramos, que corta os bairos Coroado, Japiim e parte do Distrito Industrial, na Zona Centro-Sul; rua presidente Emílio Garrastazu, localizada no bairro de Flores, Zona CentroSul, só para citar algumas Pela passagem dos 50 anos do ‘Golpe Militar’, neste ano, o vereador Waldemir José (PT), no início de 2014, encaminhou ao prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, um expediente no qual solicitava a promoção

de debates com a sociedade, com a finalidade de discutir mudanças nos nomes de ruas, praças públicas, prédios, bairros, entre outros locais, cujos nomes homenageiam políticos e autoridades que trabalharam ou deram sustentação ao período da Ditadura Militar. Ele chama a atenção para o caso que ocorreu em Salvador (BA), no ano passado, onde os alunos, ex-alunos, pais e pro-

MILITANTE

Único desaparecido político no Amazonas, na época da ditatura militar, Thomaz Meirelles dá nome a uma rua localizada no bairro Petropólis, bem como a uma escola municipal, situada no mesmo fessores do Colégio Estadual Presidente Emílio Garrastazu Médici, votaram para que houvesse a mudança para nomes de guerrilheiros baianos. “Os vereadores acham que não é o momento oportuno por essas discussões em prática, mas há anos o fato é colocado para momentos que nunca chegam, por isso apresentei a proposta ao prefeito”, disse.


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nomes repensados FOTOS: IONE MORENO

Avenida General Rodrigo Otávio corta três bairros da cidade, além de ser acesso a Ufam

Avenida localizada no bairro Raiz homenageia o general que instituiu o AI-5, no país

Mudanças devem ser estudadas De acordo com o vereador Waldemir José, o processo deve ser realizado com a criação de uma comissão que juntamente com a sociedade vai realizar a viabilidade do estudo da mudança dos nomes - na forma de votação ou algo similar -, para que não cometam o mesmo erro que ocorreram com as mudanças anteriores. “Um exemplo é avenida Umberto Caldeiraro que desde 2010 recebeu este nome, mas o seu nome anterior conhecido como Paraíba é mais presente no logradouro do que o atual nome. Outro exemplo é a avenida Mário Ypiranga Monteiro, antiga Recife que também passa pela mesma situação. Como outras ruas, é preciso um trabalho em conjunto e não apenas uma decisão”, detalha Waldemir. Outro local que o vereador também coloca como exemplo é a avenida General Rodrigo Otávio Jordão Ramos - que passa por três bairros diferentes -, porta de entrada e saída da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), instituição que foi ponto de resistência à ditadura no Amazonas, durante os änos de “chumbo”. Estudos Para o parlamentar, a cidade não pode ter referências da ditadura e nem passar pelo mesmo processo novamente. Para iniciar a fase de mudanças, o vereador propôs o levantamento das ruas

batizadas com nomes de militares que se destacaram durante o regime militar no país. “Sabemos que a prefeitura não tem esse organograma, mas por meio do livro ‘Se essa rua fosse minha’, podemos iniciar nossas atividades, mas que não fique só nas ruas. Se estenda a outros lugares públicos que homenageiam figuras desse período”, disse Waldemir José que pretende criar uma lei para essa reformulação.

Situada na Cachoeirinha, avenida recebe o nome do militar que articulou o golpe de 1964

PROJETO

A proibição da mudança de nomes de logradouros em Manaus é tema de um Projeto de Lei (PL) do vereador Marcelo Serafim, que desde outubro tramita na Câmara Municipal Homenagens O vereador petista garante que deve estudar um planejamento de outro projeto para que a situação de homenagem não tenha a continuação como ainda ocorre na cidade, com o nome de familiares dos governantes em escolas, hospitais e outros lugares públicos. “Devemos homenagear pessoas que lutaram por aquele patrimônio ou ficaram marcados na sociedade pelo seu trabalho e não continuar a marcar a memória de uma família”, analisa.

Imposição de poder reflete as homenagens “Acredito que essas ruas ou até mesmo nomes de hospitais, escolas, entre outros que foram batizados em homenagem ao período da ditadura devem passar pelo processo de mudança, e de forma correta homenagearem as pessoas que marcaram com a liberdade em sua luta esse período”, avalia o atropólogo e professor da Ufam, Ademir Ramos. A questão das ruas de Manaus batizadas com os nomes de generais, segundo ele, passa pelo mesmo pro-

cesso verificado em cidades como Belém, Óbidos, Santarém e Alenquer (PA). As mesmas sofreram modificação no período de colonização no século 18, no qual foram retirados os nomes indígenas para dar lugar a nomes de cidades portuguesas, para incutor na mente dos povos colonizados, o poder do colonizador. Ademir traça um paralelo entre os dois casos, ao explicar que toda a escolha dos nomes – no caso das cidades -, surgiu quando os vilarejos

foram batizados por alguma figura importante que morava no local. Como exemplo o antropólogo cita a rua Barroso, no Centro, que era conhecida como beco, no qual morava um senhor Barroso que era o mais popular do local, e deu características ao lugar. Após esse processo com a constituição das comarcas, a Câmara Municipal de Manaus (CMM), começou a regular todo o sistema dos nomes de ruas, catalogando da forma como era conhecido cada logradouro.

Ramos faz um alerta às autoridades que têm o poder de mudança que não fiquem apenas com a questão militar, mas também com outros casos que relembram atos de crueldade com os povoados que aqui se formaram. Um desses casos relembrados por ele é o da rua Frei José de Lima Freitas, no centro de Manaus. “Este frei foi responsável por várias mortes de indígenas e não deve continuar sendo homenageando dessa forma”, observa.


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Novos radares entram em operação no mês de abril S

ete novos equipamentos de fiscalização eletrônica começam a funcionar em Manaus, a partir do próximo sábado (5), em diversas áreas da cidade para verificar a velocidade máxima permitida na via, o respeito à faixa de pedestres e ao semáforo. A instalação dos radares é uma das medidas adotadas pela Prefeitura de Manaus para proporcionar um trânsito mais seguro e evitar acidentes. Os equipamentos registram infrações apenas dos veículos que trafegam acima do limite de velocidade regulamentado ou que desrespeitam o sinal vermelho. Os radares foram instalados pelo Instituto Municipal de Engenharia e Fiscalização do Trânsito (Manaustrans), testados e aprovados pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). O valor da multa para quem ultrapassar a velocidade máxima permitida em até 20% é de R$ 85,13 (leve) e quatro pontos na carteira. Ultrapassar os 20% até 50% do permitido,

ALBERTO CÉSAR ARAÚJO

Os sete equipamentos instalados em locais distintos irão registrar avanço de sinal, excesso de velocidade, entre outros a multa sobe para R$ 127,69 (grave) e quatro pontos. Quem transitar em velocidade superior aos 50% sofre multa de R$ 574,62 (gravíssima) e sete pontos na habilitação. Para o condutor que avançar o

SEGURANÇA

A implantação dos novos equipamentos, de acordo com a proprosta da Prefeitura de Manaus, será para tornar o trânsito da cidade mais seguro, além de evitar a ocorrência de acidentes semáforo (infração gravíssima) a multa é de R$ 191,54); e parar sobre a faixa de pedestre é infração leve, com multa no valor de R$ 53,20. Com a instalação de mais sete radares, a cidade de Manaus totaliza 23 equipamentos de fiscalização eletrônica em funcionamento.

LOCAIS E TIPOS DE FISCALIZAÇÃO Radar para verificar velocidade máxima de 60 Km/h 1 - Avenida Ministro João Gonçalves (Distrito Industrial), trecho próximo a Fundação Nokia, sentido bairro/centro. 2- 1 - Avenida Ministro João Gonçalves (Distrito Industrial), trecho próximo a Fundação Nokia, sentido centro/bairro . 3- Avenida Professor Nilton Lins (Parque das Laranjeiras), trecho próximo ao residencial Via Veneto, sentido centro/ bairro. 4- Alameda Cosme Ferreira (Coroado), trecho próximo à fábrica de cimento Nassau, sentido centro/bairro. Avanço de sinal vermelho/parada sobre faixa de pedestre: 5 – Avenida Pedro Teixeira X Avenida Dom Pedro (Dom Pedro) 6 – Avenida Brasil X Rua Brasil (Compensa) 7 – Rua Major Gabriel X Avenida Tarumã (Praça 14 de Janeiro).

DIVULGAÇÃO

Segundo o Manaustrans, 23 tipos de equipamentos de fiscalização operam em diferentes localidades na capital amazonense

Filhote órfão de macaco guariba foi resgatado em Humaitá

HUMAITÁ

Animais caçados por diversão Macacos, preguiças, onças, entre outros animais são vítimas de caçadores que matam as mães e deixam os filhotes para morrerem ou serem vendidos no mercado negro do tráfico de animais silvestres. Na última semana, uma situação inusitada foi registrada pelo Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), do Instituto Brasileiro do Meio Ambien-

te e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), no município de Humaitá – a 965 quilômetros de Manaus. Um filhote de macaco guariba (ou bugio), foi resgatado por moradores e levado à Gerência do Ibama. Conforme informações do gerente executivo do órgão em Humaitá, Jefferson Lobato, o animal caiu dos braços da mãe por ação

de algumas crianças não identificadas que caçavam com estilingues. Para Lobato, além de punir os responsáveis por crimes ambientais, é necessário maior comprometimento das escolas com a educação ambiental. “É lamentável saber que crianças estão caçando por diversão, vamos sugerir à Secretaria Municipal de Meio

Ambiente do município e às escolas de Humaitá, a elaboração de um plano de educação ambiental”, informa. Segundo ele, será muito difícil o animal retornar para o ambiente natural. O filhote seria encaminhado para o Cetas em Porto Velho (RO) e posteriormente, destinado para um mantenedor da vida silvestre, conforme as explicações de Jefferson.


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Soſtware de gestão é implantado no Amazonas P

rimeiro município do Estado do Amazonas a adotar o soſtware de gestão Urbem, desenvolvido pela Confederação Nacional de Municípios e disponibilizado gratuitamente pela Associação Amazonense de Municípios (AAM), a Prefeitura de Presidente Figueiredo, (a 125 quilômetros de Manaus) virou o pólo do projeto piloto do sistema, desde a última sexta-feira (28). A inédita ferramenta de gestão, o Urbem, serve para modernizar as administrações públicas com a substituição dos antigos modelos e programas de controle interno por uma tecnologia mais eficiente, dinâmica e transparente. Os softwares semelhantes no mercado custam de R$ 10 milhões a R$ 22 milhões, como foi o adquirido pelo Estado do Rio de Janeiro. Adaptado a toda legislação federal e as características específicas de cada município, o software faz a integração entre as secretarias e órgãos administrativos, tributários, recursos humanos, patrimoniais e financeiros de cada cidade. Além do custo gratuito para as prefeituras e o trei-

namento para os servidores custeado pela Associação de Municípios, a implantação do sistema Urbem representa maior velocidade no acompanhamento das despesas das prefeituras e até no uso dos materiais existentes no almoxarifado de uma determinada secretaria, por exemplo. Para o presidente da AAM,

PRESENÇA

Representante do município de Silves e do próprio Tribunal de Contas do Estado (TCE/AM), o conselheiro Alípio Reis Filho também acompanhou a demonstração do software Iran Lima, a conquista é grande para toda sociedade. “Pela legislação, até o final do ano, todos os municípios do País deverão implantar o sistema e a contribuição da Associação de Municípios é a de que para o Amazonas o Urbem sairá a custo zero”, salienta. De acordo com o gerente da AAM, Beto Mafra, a escolha do município de Presiden-

te Figueiredo como pólo do Urbem foi feita pela proximidade com a capital. Diante disso, desde novembro os dados foram levantados para serem apresentados aos secretários municipais, na última sexta-feira. “A AAM tem dado continuidade nessa política de sucesso a exemplo do que também já lançou aos municípios como foi o caso do Diário Oficial Eletrônico”, disse. Presente na cerimônia, o prefeito de Maués, Padre Carlos Góes, declarou que seu município será o segundo a adotar o Urbem. Da mesma forma, o sistema foi aprovado pelo prefeito de Urucurituba, Pedro Amorim, presente ao local. Para o prefeito de Presidente Figueiredo, Neilson Cavalcente, o sistema Urbem é uma conquista, principalmente, pela redução da burocracia e melhorias nos processos organizacionais da prefeitura. “Esses valores certamente aumentarão na medida em que pudermos identificar com maior clareza e rapidez os gargalos administrativos da gestão e onde estão as principais demandas da população”, avaliou.

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Presidente Figueiredo será o município piloto do Estado a utilizar a nova ferramenta que moderniza a administração pública

Para os prefeitos amazonenses nova ferramenta dará mais agilidade na administração pública


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plateia@emtempo.com.br

Gusttavo Lima em entrevista exclusiva (92) 3090-1042

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A verdade da farsa O atentado frustrado ao Riocentro, em 1981, previa a explosão de duas bombas num show de MPB. O ato foi planejado por militares para culpar a esquerda LUIZ OTAVIO MARTINS Especial EM TEMPO

O

Dia do Trabalho de 1981 – época em que o Brasil ainda vivia sob um regime de ditadura militar, instaurado a partir do golpe de Estado de 1964 – seria comemorado, no Rio de Janeiro, com a apresentação do “Show do Primeiro de Maio”, em 30 de abril. Nada menos do que 32 artistas da Música Popular Brasileira, entre eles Gal Costa, Chico Buarque, Elba Ramalho, Fagner, Simone e Djavan, estavam confirmados para subir ao palco do Pavilhão Riocentro, na Barra da Tijuca. O evento começou às 21h e, meia hora depois, uma bomba explodiu no interior de um carro da marca Puma, que estava sendo manobrado dentro do estacionamento. No veículo estavam o sargento Guilherme Pereira do Rosário e o capitão Wilson Luís Chaves Machado. O primeiro morreu e o segundo ficou gravemente ferido. De acordo com relatos da imprensa da época, o barulho da explosão foi abafado pelos aplausos das 20 mil pessoas que participavam do evento, promovido pelo Centro Brasil Democrático (Cebrade) e pela emissora Bandeirantes, que transmitiu o show pela televisão. Dez minutos depois, outra bomba explodiu na casa de força do pavilhão, mas não chegou a cortar o fornecimento de energia. Cada artista foi informado a respeito das explosões, de forma discreta, após sua apresentação. E, perto do final do evento, o cantor Gonzaguinha foi quem contou ao público sobre as

bombas. “Durante o espetáculo explodiram – eu disse explodiram – duas bombas. Foram mais duas tentativas de acabar com essa festa que foi conseguida. Essas duas bombas representam uma luta para destruir aquilo que nós mais queremos: democracia com mais liberdade”, declarou o músico. Radicais O governo culpou imediatamente os segmentos de esquerda que se opunham ao regime militar pelo atentado. Entretanto, setores mais radicais do próprio governo, e contra o fim da ditadura, pretendiam que a então abertura política do regime – iniciada na administração do general Ernesto Geisel e que prosseguia com o então presidente da República, o também general João Figueiredo – fosse interrompida a partir de novas manifestações de repressão. Mas, um caráter de farsa sempre pairou sobre a tentativa frustrada de atentado ao Riocentro. Apurou-se que a segurança no local era escassa naquela noite, que a placa do carro era falsa e que se os dois militares estivessem realmente em “missão de informações”, teriam utilizado um veículo oficial. No ano passado, documentos do coronel Júlio Miguel Molinas Dias, morto em 2012, que comandava o Destacamento de Operações e Informações (DOIRJ), foram entregues pelo governo do Rio Grande do Sul à Comissão Nacional da Verdade (CNV) – instituída em 2012 para apurar violações dos Direitos Humanos ocorridas entre 18 de setembro de 1946 e 5 de

outubro de 1988. Um dos integrantes da comissão, Claudio Fonteles, incluiu uma análise desses documentos num dos textos da série “Exercitando o Diálogo”. Manuscrito Durante as investigações da época, chegou-se a cogitar que a bomba tivesse sido plantada no carro e acionada sem querer pelo sargento Rosário, que estava com ela no colo (a causa de sua morte foi dilaceração da parede abdominal). No entanto, as bombas seriam colocadas dentro do pavilhão pelos dois militares e a explosão no carro – durante provável manobra para plantá-las no local do show – aconteceu antes do momento planejado. De acordo com o conteúdo das correspondências divulgadas pela CNV, o sargento não tinha formação técnica para atuar com explosivos. “Wagner (é assim que Rosário é identificado num dos documentos) é técnico em explosivo? Qual o curso ou estágio que ele fez? Nenhum”, questiona Molinas, em manuscrito datado de 13 de maio de 1981. Num documento confidencial, está incluída ainda uma análise do atentado que, em nenhum momento, menciona opositores do regime como responsáveis pelo acontecimento. O texto de Claudio Fonteles conclui, a partir dos documentos do coronel Molinas, que o atentado do Riocentro foi “concebido e orquestrado para ser apresentado como ato terrorista insano a ser atribuído aos opositores do Estado Ditatorial Militar, no momento de sua execução e por falha humana”. Este e outros textos da série “Exer-

citando o Diálogo” podem ser acessados a partir do link www.cnv.gov.br/index.php/ publicacoes/177-textosde-claudio-fonteles. Denunciados No mês passado, seis pessoas foram denunciadas pelos crimes: os militares Newton Cruz, Nilton Cerqueira, Wilson Machado, Divany Carvalho Ramos e Edson Sá Rocha, além do ex-delegado Cláudio Antônio Guerra. As acusações são de homicídio doloso, associação criminosa armada e transporte de explosivo. Se o atentado do Riocentro tivesse acontecido como planejado, certamente estaria entre as maiores tragédias da história do país. A verdade sobre a autoria do ato demorou anos para vir à tona, mas o fim do regime militar não tardou tanto. A ditadura no Brasil começou a perder a força em 1979 e a democracia foi instaurada no país em março de 1985, culminando com a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil, em outubro de 1988.

Gonzaguinha (abaixo) foi quem contou ao público no Riocentro sobre as explosões das bombas. No detalhe, edição da revista “Veja” e livro da jornalista Belisa Ribeiro a respeito do atentado

FOTOS REPRODUÇÃO

Caderno D

Plateia

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Plateia Fernando Coelho Jr.

fernando.emtempo@hotmail.com - www.conteudochic.com.br

>> Objeto de desejo . A Givenchy foi buscar inspiração em seu acervo para uma nova linha de fragrâncias. L’Atelier foi inspirada nas criações da maison entre 2005 e 2011, e resultou em sete perfumes: “A ideia era realmente combinar as nossas duas heranças, a alta costura e a perfumaria”, conta Thierry Maman, presidente global da Parfums Givenchy. . A novidade terá uma venda limitada e chegará primeiro à Harrods, no Reino Unido, ainda no mês de março. Em abril a novidade chega à Sephora, em Paris; a Saks Fiſth Avenue, em Nova York; a La Rinascente, em Florença; e a GUM, em Moscou, e sairá no valor de € 170 (aproximadamente R$ 548,54).

>> Gastronomia amazônica

Iara e o aniversariante da temporada, Otávio Raman Neves, presidente do Grupo Raman Neves de Comunicação, amigo superquerido da coluna, cumprimentadíssimo pelo seu aniversário

>> Instagram . A compra do Instagram pelo Facebook em 2012 acabou se tornando um dos melhores investimentos já feitos pela companhia criada por Mark Zuckerberg. A prova disso é um novo relatório divulgado pela empresa de monitoramento digital eMarketer, segundo o qual o número de norte-americanos que usam o Instagram em smartphones já é maior do que o número de usuários do Twitter, também em smartphones. . Considerando que hoje a maior parte da receita do Facebook, que faturou mais de US$ 7 bilhões no ano passado, vem de sua plataforma para celulares, tal resultado não poderia ser mais animador para os executivos do site de relacionamentos.

>> Preciosidades

Márcia e Serginho Martins em evento descolado chic em endereço de gastronomia oriental

O anel de noivado de Grace Kelly com o príncipe Rainier 3º de Mônaco era assinado pela Cartier, uma das joalherias preferidas da princesa. E foi justamente a marca francesa a responsável pelas joias do filme “Grace: A Princesa de Mônaco”, dirigido por Olivier Dahan e estrelado por Nicole Kidman, com estreia marcada para 14 de maio, durante o festival de Cannes. . Nesta semana, foram divulgadas imagens do filme em que Nicole e Paz Vega, que interpreta Maria Callas, usam algumas das peças poderosas da Cartier. Imperdível!

MÚSICA DIVULGAÇÃO

. O bacalhau da Amazônia é uma das apostas dos chefs para a Copa do Mundo em Manaus. . Um concurso de gastronomia promovido pelo governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado da Produção Rural (Sepror), em parceria com Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), reunirá na próxima segunda-feira, 18 restaurantes que apresentarão receitas inéditas tendo como ingrediente principal o bacalhau da Amazônia. As receitas serão publicadas em um livro que será lançado durante o concurso. . O evento será realizado no auditório da Fundação Amazonas Sustentável (FAS – rua Álvaro Braga, nº 351, Parque 10), com início às 19h. O bacalhau da Amazônia é um projeto ousado e inédito no Brasil, produzido a partir do pirarucu manejado na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) de Mamirauá, no município de Maraã. Os restaurantes destaques serão premiados para apresentar o prato no Palácio do Itamaraty, em Brasília, às embaixadas dos países cujas seleções estarão jogando a Copa do Mundo, sediada no Brasil. O evento no Itamaraty deve ocorrer em abril.

MAURO SMITH

O querido governador Omar Aziz com o cordial sorriso de sempre! O sorriso de quem entra para a história como um dos grandes governadores do Amazonas. Omar, figura humana ímpar, assina uma administração equilibrada e coroada de sucesso. Aplausos de pé!

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MAURO SMITH

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Banda Poxa Vida, durante ensaio, é uma das atrações do evento “Escritório do Samba”

Chope liberado e futebol no Lappa Se para muitas pessoas o domingo é sinônimo de descanso, para outras o dia é a última oportunidade para aproveitar o agito do fim de semana. Para quem gosta de boa música e um ambiente agradável, o “Escritório do Samba” do Lappa Bar é a melhor opção. Realizado tradicionalmente todos os domingos, o evento traz no próximo dia 30 (domingo) os grupos Poxa Vida, Nosso Caso e Amizade do Samba. A casa abre as portas a partir das 15h. Além da música, o “Escritório” conta com uma marca dos domingos no Brasil: o futebol. Durante a tarde, serão exibidos jogos dos campeonatos carioca e paulista,

com destaque para a partida entre Vasco e Fluminense. E quem quiser acompanhar a transmissão acompanhado de uma “geladinha” vai poder aproveitar a promoção de chope, que estará liberado entre as 15h e 18h. Segundo um dos organizadores do “Escritório”, Rafhael Pina, o evento é um dos carros-chefe do Lappa. “O bar tem várias noites temáticas. No entanto, o domingo é um dia atípico e por isso ganhamos destaque na cidade com esse evento. Com isso, procuramos associar o Lappa à nossa produtora Infinity Entretenimento, que organiza os shows regionais e nacionais realizados na casa aos domingos”, destacou.

SERVIÇO ESCRITÓRIO DO SAMBA O que: Escritório do Samba com os grupos Poxa Vida, Nosso Caso e Amizade do Samba Quando: Hoje, a partir das 15h Onde: Lappa Bar (avenida Rio Mar, número 98, bairro Nossa Senhora das Graças) Entrada: R$ 25


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Gusttavo Lima lança carreira internacional Recém chegado de uma turnê fora do país, cantor prepara primeiro álbum em espanhol e faz novos planos para a carreira

Cantor e compositor Gusttavo Lima promete fazer em Manaus show dançante, mas com alguns momentos mais intimistas, incluindo a interpretação de obras apenas ao embalo de voz e viola

C

uma das principais atrações do Villa Mix, evento que nasceu em Goiânia há 5 anos e há 3 excursiona por algumas das principais capitais brasileiras. Realizado em Manaus pelo segundo ano consecutivo, o Villa Mix é tido como a principal vitrine do gênero musical na atualidade. “Para mim é uma grande alegria ser presença constante nesse festival. O Villa Mix é um festival diferenciado que tem viajado o Brasil inteiro, engrandecendo a música sertaneja. Estar no Villa Mix é sempre maravilhoso”, afirma.

rem e tocarem que eu comecei a arriscar meus primeiros acordes e ter certeza de que o que eu queria era fazer música. Cresci ouvindo Barrerito, Tião Carreiro, Milionário e José Rico e outros”, enumera Gusttavo.

SERVIÇO VILLA MIX Quando 5 de abril (sábado) Onde Centro de Convenções (Sambódromo) Quanto Pista 5º Lote – R$ 80 (meia entrada); Área Vip 3º Lote – R$ 290 (meia entrada) 3x no cartão; Área Extra Vip – R$ 450 (feminino) e R$ 500 (masculino) 3x no cartão 3303-0100 / www.fabricainInformações gressos.com

Inspiração O cantor diz encontrar inspiração para suas músicas no dia a dia e em outros artistas que admira, como Zezé Di Camargo e Luciano, que fizeram participação especial no recente álbum do cantor. “Minha maior inspiração é a minha família, sou filho e irmão de músicos. Foi vendo meu pai e os irmãos mais velhos cantaALBERTO CÉSAR ARAÚJO

om um repertório que vai do sertanejo universitário à moda de viola, o cantor Gusttavo Lima promete fazer um show inesquecível no próximo dia 5 de abril, durante o Villa Mix, no Centro de Convenções (Sambódromo), que também terá como atrações Zezé Di Camargo e Luciano, Jorge e Mateus, Matheus e Kauan e Israel Novaes. O cantor que estourou nacionalmente aos 18 anos com o sucesso “Gusttavo Lima e Você”, em 2011 (quando o primeiro álbum solo vendeu mais de 50 mil cópias) apresentará em Manaus o seu mais recente trabalho, intitulado “Do Outro Lado da Moeda”. Em entrevista concedida ao EM TEMPO, Gusttavo fala sobre trajetória musical e novo projeto. Autodidata, Gusttavo, além de cantar e compor, toca violão, viola, guitarra, bateria, baixo e sanfona. Não à toa ele se tornou um grande nome no cenário do sertanejo universitário nacional e é

O compositor de “Gusttavo Lima e Você”, “Gatinha Assanhada”, “As Mina Pira Quando a Gente Chega na Balada”, “Inventor dos Amores”, “Rosas, Versos e Vinhos, “Balada”, entre outros está longe de ficar satisfeito com o sucesso que adquiriu até o momento e para sair da “zona de conforto” já prepara o novo desafio da carreira, vai lançar um CD em espanhol e arriscar a carreira “lá fora”. Gusttavo Lima já se apresentou nos Estados Unidos, no México e em países da Europa. Ele acaba de chegar da sua décima turnê internacional. “A carreira internacional é algo que vem acontecendo naturalmente e que pretendo continuar seguindo. Neste mês de março, fiz minha décima turnê

fora do Brasil. Tenho um projeto de um CD em espanhol, que já está pronto trazendo grandes sucessos como ‘Gatinha Assanhada’, ‘Balada’, ‘Inventor dos Amo-

ESPANHOL

Depois de retornar da décima turnê em solo estrangeiro, o músico pretende se dedicar ao projeto de gravar um álbum em espanhol, para lançamento exclusivo no mercado externo

res’ e outras músicas de sucesso. A ideia é lançá-lo e trabalhar uma carreira lá fora”, adianta. Gusttavo vem se dedican-

do ainda mais intensamente a sua carreira no Brasil, excursionando com o CD “Do Outro Lado da Moeda”. Esse disco tem a diferença de ser o meu primeiro gravado totalmente em estúdio. Com relação aos novos hits temos apostado bastante na música de trabalho ‘Tô Solto na Night’ e na canção que dá título ao disco, bem romântica e apaixonada”, conta. Contando as horas para estar em Manaus, Gusttavo afirma que está preparando uma apresentação especial para o público. “Para esse show, estamos preparando um repertório que não vai deixar ninguém parado. É claro que também vamos fazer umas mais românticas e algumas modas de viola. Quero convidar todos para estarem nessa festa”, finaliza.

ESPAÇO

Café acompanhado de literatura MARIANE BARROCO Especial EM TEMPO

Doutora em letras, Ana Guerra trouxe inspiração de Paris

Trabalho internacional ‘natural’

Um bom lugar para ler um livro, tomar um café e ficar em boa companhia. Essa é a proposta do Café com Texto, espaço gourmet e literário, inaugurado há um mês em Manaus. “Nós não temos TV aqui. A intenção é que as pessoas aproveitem um lugar onde elas possam se sentar, ler um bom livro, se deliciar com comidinhas e bebidas e ver como a vida é perfeita sem o barulho de uma televisão”, explica a proprietária do espaço, Ana Guerra. Ana é doutora em letras e sempre esteve envolvida com literatura. A idéia do lugar

surgiu quando ela esteve em Paris estudando doutorado. “Durante o tempo que passei na universidade, ficava pelo menos seis horas por dia na biblioteca e sempre precisava de um tempo pra tomar café. Aí fiquei imaginando como seria bom se pudéssemos ter um café dentro de uma biblioteca ou vice – versa. Quando voltei pra Manaus em 2009, comecei a estudar a possibilidade de abrir um café”, conta. Livros e delícias O acervo do Café com Texto conta com aproximadamente 500 exemplares, com títulos em inglês, francês e espanhol. Além dos diversos tipos de cafés, também são servidas ou-

tras delícias como gratinados, crepes e sobremesas. Todos com um toque da gastronomia francesa. “Nós também temos vinho, espumantes, tudo o que eu pessoalmente gosto, então pensei, por que não dividir isso com as pessoas”, diz Ana. Decoração A decoração do café é o outro diferencial. Nas paredes é possível encontrar diversos poemas de escritores brasileiros e de outras nacionalidades. Por todos os lugares se vê arte, cultura, além das memórias das viagens que Ana Guerra já realizou. “Todas as vezes que viajo, tanto para o exterior, quanto para o interior do nosso estado, compro lembrancinhas.

E então resolvi usá-las agora para decorar o espaço. Os meus preferidos são um bule de prata que comprei em um mercadinho árabe. Um Beethovem que comprei na Alemanha e a uma pedra portuguesa que comprei em uma feira de arte no Rio de Janeiro”, diz. Segundo Guerra, o Café com Texto também está aberto para apresentações culturais. “Os artistas que tiveram interesse de usar nosso espaço para alguma apresentação, seja musical ou não, podem nos procurar. Na primeira semana que nós abrimos fizemos uma exposição e vendemos esculturas de um artista da terra. Estamos abertos a propostas. O Café é um espaço para as artes”, ressalta.

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RESENHA

de um modo que, logicamente, lhes assegurasse o poder sobre suas colônias de exploração, em especial as minas de ouro africanas. Muitas décadas atrás, em 1884, os países imperialistas, dentre os quais a França, o Reino Unido e Portugal haviam feito a partilha do continente, dividindo entre si 90% do território africano. Ao unir em um mesmo domínio etnias diferentes, além do que, basicamente, roubar-lhes a autonomia, os colonizadores viram eclodir na África levantes nacionalistas e guerras civis violentas, que deixaram um saldo de milhões de mortos. Em 1950, teve início o processo real de independência dessas colônias, o que levou a uma situação delicada no contexto político, apesar da euforia advinda da liberdade. Expulsos os invasores, quem iria governar as novas nações cujas economias estavam em frangalhos? Foi em meio a esse cenário de instabilidade que John Dramani Mahama nasceu e viveu grande parte de sua vida. Com 7 anos de idade, ele assistiu a seu primeiro golpe de Estado, ou Coup d’etat em francês. Dramani era filho de um respeitado e engajado ministro do governo de Gana. Com a deposição do presidente e herói nacional Kwame Nkrumah, os militares assumiram o poder e prenderam todos

os políticos ligados à ex-democracia, entre eles o pai de Dramani, que ficou um ano preso e perdeu tudo. Desde o golpe, em 1966, até a retomada do governo constitucional, em 1982, Gana e muitos outros países africanos viveram as chamadas “décadas perdidas”. Período nebuloso, marcado por guerras civis, disputas internas pelo poder, crises econômicas e um êxodo maciço de profissionais e intelectuais para o estrangeiro, uma verdadeira drenagem de cérebros. Dramani crescera numa família de posses e recebera uma boa educação, graças ao esforço de seu pai, um visionário político e empresário. Após a prisão do pai, no entanto, viu a estabilidade de sua família desmoronar, e com o passar dos anos a situação de seu país se tornar insustentável Dramani escreveu suas memórias desde os tempos de menino no internato de Acra. Ele conta, num estilo incrivelmente realista, como foi crescer naqueles anos perdidos que, no entanto, não foram uma completa perdição, pois no meio do caos também havia vida, cultura, pessoas lutando pela liberdade e sonhando com um futuro diferente. A saga, longe de ser uma autobiografia política, é um relato sobre um homem, o povo, o mundo pós-guerra e sua fragilidade.

INFANTIL

Atividades culturais no parque A programação deste fim de semana, no parque municipal Cidade da Criança (avenida André Araújo, s/nº, Aleixo), continua hoje, com a exibição do desenho animado “O Rei Leão”, dos estúdios Disney. As sessões serão às 17h, 18h, 19h e 20h, no espaço “Cineminha”, e a entrada é gratuita. “O Rei Leão” foi lançado em 1994 e o protagonista da história é o leãozinho Simba, filho do rei Mufasa e da rainha Sarabi. Logo que nasce, ele recebe a bênção do sábio mandril Rafiki, mas, ao crescer, é envolvido nas artimanhas de Scar, o invejoso

irmão de Mufasa, que planeja livrar-se do sobrinho para assumir o trono. Ao ser injustamente acusado pela morte de Mufasa, Simba abandona as Terras do Reino e encontra abrigo ao lado de outros dois excluídos: o javali Pumba e o suricate Timon, que lhe ensinam a filosofia do “Hakuna Matata”. Anos depois, ao ser descoberto por Nala, sua amiga de infância, Simba tem que decidir se deve assumir suas responsabilidades como rei ou seguir com seu estilo de vida despreocupado. Ainda no parque, as crianças

Desde o golpe de 1966, até a retomada do governo constitucional, em 1982, Gana e outros países africanos viveram as chamadas “décadas perdidas”, marcadas por guerras”

Líder africano reúne em livro histórias que vão além dos contextos locais

SAMBA SOCIAL DIVULGAÇÃO

“M

eu Primeiro Golpe de Estado” traz relatos apaixonantes da vida de John Dramani Mahama, atual presidente de Gana e um dos políticos mais populares da África. Ele é um dos convidados da 2ª Bienal do Livro de Brasília, que acontece de 12 a 21 em abril. Classificada como uma das narrativas mais importantes do século, “Meu primeiro golpe de Estado e outras histórias reais das décadas perdidas da África” traz um relato pessoal e reflexivo de John Dramani Mahama, que resgata suas memórias desde os tempos de menino no internato de Acra, capital de Gana, até seu despertar para a filosofia política na faculdade, caminho que o levaria no futuro, sem que ele jamais pudesse imaginar, à presidência de seu país. Mahama reúne histórias que vão além dos contextos locais e transporta o leitor à semelhança da ficção de Isaac Bashevis Singer e Nadine Gordimer a um mundo próprio, aquele que extrapola o tempo perdido e emoções humanas universais tais como o amor, medo, fé, desespero, perda, saudade e esperança, apesar de tudo. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, as potências europeias tentavam reestruturar o cenário geopolítico do mundo,

FOTOS: REPRODUÇÃO

Anos perdidos da África

poderão desfrutar de uma série de atividades das 10h às 19h. Entre as brincadeiras é possível participar da oficina que envolve pintura facial e arte em balões (10h), animação com a Turma da Aline e Tio Paulo (16h), uma oficina de dança folclórica com boi-bumbá comandada pelo professor Anderson (17h), um show de músicas infantis do cantor Serginho Queiroz (17h30) e as tradicionais tirolesa e parede de escalada (das 15h às 18h), com acompanhamento de instrutores treinados pelo Corpo de Bombeiros para garantir a segurança dos pequenos.

Banda Cuka Fresca é escalada para o “Samba Social Club”, hoje no Buteko da Piscina

Buteko receita ‘Choppterapia’ O Buteko da Piscina (rua Acre, 366, Vieiralves) traz hoje, a segunda edição dos projetos “Samba Social Club” e “Domingo Sertanejo”. Os convidados da vez serão os garotos do grupo Cuka Fresca e a banda Pegada Sertaneja. O agito começa a partir das 15h com chope liberado até as 17h30. O ingresso custa R$ 25 (individual). Aproveitando o embalo da mistura de ritmos, os alunos da terceira turma de fisioterapia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), realizam o bota-fora “Choppterapia” com a intenção de arrecadar fundos para a festa de formatura.

Quem inicia a festa é o Cuka Fresca. Com muito pagode e samba de raiz, o vocalista Jeffinho Briglia, acompanhado de Rodrigo no cavaco, Júnior Sonata na percussão e Toinho no tan-tan, apresentarão repertório com canções autorais do CD “100% Você” e músicas dos grupos Sorriso Maroto, Jeito Moleque, Pixote, Fundo de Quintal, entre outros. Mais tarde, às 20h, a banda Pegada Sertaneja entra no palco e começa o projeto “Domingo Sertanejo”, com as mais tocadas do sertanejo universitário e tradicional. Parte do dinheiro arrecadado no evento realizado pela Arrecad Produções e Eventos,

será revertido para pagamento da festa de formatura dos alunos. Outras informações e reservas podem ser feitas pelos fones: (92) 9156-6666 e 8243-4149.

SERVIÇO CHOPPTERAPIA COM SAMBA SOCIAL CLUB E DOMINGO Quando Hoje, às 15h Onde Buteko da Piscina (rua Acre, 366, Vieiralves) Ingressos R$ 25 (individual)


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MANAUS, DOMINGO, 30 DE MARÇO DE 2014

Canal 1 plateia@emtempo.com.br

TV Tudo Desgovernada Há quem entenda que Naty Graciano, a nova “CQC”, está um pouco fora de controle, misturando ousadia com falta de educação. Não é por aí. Todos percebem os seus esforços no sentindo de querer mostrar serviço, impressionar, algo natural para quem acabou de chegar. Mas existe a necessidade de procurar um ponto de equilíbrio, até para não jogar por terra o seu bom começo no programa. Resultado O SBT comemora um crescimento de audiência de 58% no horário do “Conexão Repórter”, segundo dados do Ibope na Grande São Paulo, com base nas três edições exibidas até aqui nas noites de quartafeira - seu novo dia. Isso só confirma que a mudança - antes entrava quinta-feira - não prejudicou os resultados do programa de Roberto Cabrini. Teatro Carol Mânica, da série “PSI”, exibida no HBO, divide com Fábio Assunção a produção do espetáculo

REGI

Bate-rebate

DIVULGAÇÃO

Definições

Versátil Samantha Schmutz vai atirar para todos os lados, em “Não tá fácil pra ninguém”, estreia do Multishow no dia 11, às 22 horas. No programa, além de atuar, dançar e sapatear, ela fará imitações de Carmem Miranda, Elis Regina, Roberto Carlos, Anitta, Beyoncé, Lady Gaga, Amy Winehouse e Madonna, devidamente caracterizada. Os números musicais serão acompanhados de uma banda e haverá plateia. “Dias de Vinho e Rosa”, com previsão de estreia em agosto. O espetáculo terá direção do próprio Fábio, e conta a história de um casal interiorano, Mânica e Daniel Alvim, que se conhece no aeroporto e acaba se unindo na solidão e vícios, frutos da mudança para a metrópole.

Em relação ao “Vídeo Show”, sobre as suas novidades, a Globo informa que o formato quiz show, comandado por Otaviano Costa, vai estrear em abril. Já o reality, apresentado por Zeca Camargo, no qual será revelado um ator para a novela “Boogie Woogie”, irá ao ar a partir de maio. Beijo gay Doutor Rafael em “Amor à Vida”, Rainer Cadete, agora, está malhando muito para convencer como garoto de programa no espetáculo “Cachorro Sorridente”, de Cininha de Paula, que estreia dia 10 no shopping da Gávea, Rio. No palco, ele terá cenas de beijo com Júlio Rocha, no papel de um ator. A peça, de humor acido, tem ainda Danielle Winits no elenco. Veras ao ar livre Ficou para abril a estreia de um quadro do Marcos Veras no “Encontro com Fátima Bernardes”, na Globo, com o humorista entrevistando anônimos nas ruas.

. Na “Falso Brilhante” que vem aí, substituta de “Em Família”, uma correção: José Mayer não será pai de Bruno Gagliasso, um ajudante de cozinha nordestino, mas sim do chef famoso de um restaurante. . Bruno ainda grava suas últimas cenas para “Joia Rara” e, após rápidas férias, irá se dedicar aos preparativos da próxima novela das nove. . Mel Fronckowiak causou a melhor das impressões nos primeiros testes como nova repórter de “A Liga”. . A quinta temporada de “A Liga” tem previsão de estreia para 8 de abril. . Marcos Mion tem comemorado, e muito, as vitórias do seu “Legendários” contra o SBT. Está sobrando no horário de confronto. . A propósito de sábado, o “Zorra Total”, da Globo, continua com aquele problema de sempre. Só os atores do programa conseguem rir.

Mudanças no “Extremo” A Globo finalmente se pronuncia sobre as mudanças no “Planeta Extremo”, que deixa de ser quadro no “Fantástico” e vira programa próprio este ano. A partir do segundo semestre, ainda sem data definida, terá início uma temporada de nove episódios com apresentação de Carol Barcellos e Clayton Conservani.

Flávio Ricco Colaboração: José Carlos Nery

C’est fini Depois de “Amor à Vida”, Maria Casadevall coloca o cinema e uma nova série de TV entre suas prioridades. A atriz negocia participação nesses dois projetos, e deve fechar os contratos ainda nesta semana. Então é isso. Mas amanhã tem mais. Tchau!

Márcio Braz E-mail: plateia@emtempo.com.br

Pela fé!

MÁRIO ADOLFO

GILMAL

ELVIS

Tradição é herança. Está inserida num tempo e num espaço, e ainda, numa comunidade. Tem a ver com o que você recebe de herança e o que/como você passa de herança. Logo, a herança não é estática, ela é dinâmica, e assim se forma a identidade, uma identidade que pode ser múltipla, plural. A identidade simplesmente “é”. No último dia 26, foi apresentado ao público o DVD “Fé” da Associação Folclórica Boi-Bumbá Garantido que há anos reclama uma tradição e que por vezes vem confundindo lembrança e memória com tradição. Mas isto não é algo que participa da vida social e os atores não tem direitos na dinâmica da festa. “Fé” guarda muitas qualidades mas se perde numa “herança” de defeitos. O DVD impressiona logo nos primeiros instantes pela sua cênica dirigida por Chico Cardoso, onde um poema/texto somado a singela coreografia defendem o tema que dá título ao álbum visual. Uma sequência de boas toadas em ritmo forte e presente se firmam com as interpretações arrojadas de seu levantador de toadas, Sebastião Júnior, seguidas pelo apresentador, Israel Paulain. Quando a produção começa a enfraquecer começamos a mudar a atenção da festa para os problemas, até então invisíveis justamente porque fomos tomados pela emoção. O cenário, pavoroso em concepção e realização, sequer encontra-se a altura do amor de sua torcida e do talento da equipe de produção. Um gigantesco painel impresso, mal-esticado, com uma obra insignificante típica dos clichês amazônicos, nos causava espanto logo na apresentação do primeiro plano fechado da confusa câmera. Aliás, a direção de imagens parece não ter visto nenhum ensaio

e limitou-se a panorâmicas e planos médios, e nada mais. Um roteiro de imagens parecia imprescindível. Parecia. Mas parece que esta “tradição” o DVD não carrega. Os principais problemas não são tanto de ordem conceitual mas sim, estéticas. Figurinos, adereços e a já citada cenografia não foram produzidos para um outro olhar, o da câmera, e gritam aos olhos do espectador num contínuo desconforto estético. Acrescenta-se a isso, mais uma vez, a direção de imagens que deveria revelar os detalhes da cena - alguns, já que outros deveríamos mesmo evitar. Em geral, a grande surpresa, numa primeira ouvida, é certamente as toadas. Depois da saída de David Assayag, o Boi Garantido vem amargando derrotas em seu repertório musical, e agora parece encontrar-se com sua história. Um repertório funcional, técnico, repleto de boas toadas é a prova vívida de que em fins de junho teremos noites arrebatadoras e tocadas pela emoção. Destaque especial para “O Vaqueiro”, composta por Ronaldo Barbosa Júnior e Rafael Marupiara, este último, compositor de grandes pérolas do boi da Baixa do São José. Outros nomes importantes como Júlio César Queiroz, Enéas Dias, Geandro Pantoja, Demétrios Haidos e o próprio Sebastião Júnior completam o elenco. “Fé” se mostra um tema rico em realizações. Toadas para emoldurar a cena o Garantido tem e o ritmo mostrado no DVD parece anunciar o toque a ser seguido na arena. Tradição não se resgata porque ela é viva. Se algo deixou de existir, é porque teve de ser por uma série de fatores, e pode voltar a existir, ressignificada, porque a memória permite e a história a contempla. Este é o Garantido, o Boi do Povão, para ver e ouvir, em “Fé” 2014.

Márcio Braz *ator, diretor, cientista social e membro do Conselho Municipal de Política Cultural

O Boi Garantido (...) parece encontrarse com sua história. Um repertório (...) repleto de boas toadas é a prova vívida de que em fins de junho teremos noites tocadas pela emoção”


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Programação da TV

REPRODUÇÃO

SBT 5h – Jornal da Semana 6h – Igreja Universal 7h – Brasil Caminhoneiro 7h30 – Aventura Selvagem 8h30 – Vrum 9h – Sorteio Amazonas dá Sorte 10h – Domingo Legal 14h – Eliana 18h – Roda A Roda Jequiti 18h45 – Sorteio da Telesena 19h – Programa Silvio Santos 23h – De Frente Com Gabi 0h – True Blood 1h – Chase, A Perseguição 2h – Alcatraz 3h20 – Big Bang 4h – Igreja Universal

GLOBO

Hoje, a partir de meia-noite, o SBT exibe mais um episódio do seriado “True Blood”

Horóscopo GREGÓRIO QUEIROZ ÁRIES - 21/3 a 19/4 Sua impulsividade natural está mais forte desde há alguns dias. Hoje, ela se defronta com aspectos da realidade que lhe põe freios. Considere o que deve ser melhor conformado.

6h – Festival de Desenhos 6h20 – Amazônia Rural 6h50 – Pequenas Empresas, Grandes Negócios 7h25 – Globo Rural 8h20 – Auto Esporte 8h50 – Esporte Espetacular

Cinema

12h – Temperatura Máxima 13h40 – Divertics 15h – Futebol 2014 – Fluminense X Vasco da Gama 17h – Domingão do Faustão 19h45 – Fantástico 22h05 – Big Brother Brasil 14 22h50 – Tuf – Em Busca de Campeões 23h50 – Domingo Maior – Adrenalina 2, Alta Voltagem 1h20 – Flash Big Brother Brasil 14 1h25 – Sessão de Gala 3h05 – Corujão 4h30 – Festival de Desenhos

RECORD 4h45 – Bíblia Em Foco 5h – Santo Culto Em Seu Lar 5h30 – Desenhos Bíblicos 8h30 – Record Kids 9h – Amazonas dá Sorte 10h – Transmissão Beach Soccer 11h – Domingo Show 14h15 – O Melhor Do Brasil 18h20 – Domingo Espetacular 22h15 – Spartacus 23h15 – A Nova Super Máquina 1h10 – Programação Iurd

BAND 5h – Power Ranger – Rpm 6h – Desenho 6h30 – Santa Missa No Seu Lar 7h30 – Sabadão do Baiano 8h – Desenho 9h30 – Popeye 9h45 – Infomercial – Polishop 10h15 – Power Rangers – Super Patrulha Delta 10h45 – Verdade e Vida 11h – Irmão Caminhoneiro – Boletim 11h05 – Minuto da Copa – Boletim 11h10 – Pé Na Estrada 11h35 – De Olho Na Copa – Boletim 11h40 – Só Risos 12h40 – Band Esporte Clube 14h – Gol, O Grande Momento do Futebol 14h30 – Futebol 2014 – Ao Vivo 16h50 – Terceiro Tempo 19h – Só Risos 20h – Polícia 24 Horas 21h – Pânico Na Band 0h – Canal Livre 1h – Minuto da Copa – Boletim 1h05 – Alex Deneriaz 1h40 – Show Business – Reapresentação 2h30 – Igreja Universal

Cruzadinhas

ESTREIA DIVULGAÇÃO

TOURO - 20/4 a 20/5 Antes que você se entusiasme demais e cometa ações contra alguma pessoa que lhe é próxima, veja o que lhe diz a sensibilidade dessa pessoa – e cuide de respeitá-la. GÊMEOS - 21/5 a 21/6 Seus projetos mais idealistas precisarão agora respeitar os limites da realidade mais imediata. Não há como fazer os projetos crescerem se não for no terreno de que dispõe. CÂNCER - 22/6 a 22/7 O impulso para o desenvolvimento profissional é muito intenso nestes dias, mas deve se ajustar ao que você deseja. Uma oportunidade não vale a pena se não é um desejo seu. LEÃO - 23/7 a 22/8 As necessidades familiares colocam freios ao seu gosto, neste momento, de dedicar-se aos ideais, a viagens e aos assuntos filosóficos e espirituais. Procure um equilíbrio. VIRGEM - 23/8 a 22/9 Veja quais limites você pode realmente ultrapassar na relação com as outras pessoas, em especial com a pessoa amada. Converse a respeito disso e reconheça os limites. LIBRA - 23/9 a 22/10 As condições materiais devem ser levadas em conta como fator de contenção para os impulsos que surgem pelo forte entusiasmo acionado na vida a dois. Veja o que pode. ESCORPIÃO - 23/10 a 21/11 Você próprio tenderá a refrear alguns impulsos surgidos no ambiente de trabalho. Encontrar o ritmo certo é mais importante do que acelerar de maneira desmedida. SAGITÁRIO - 22/11 a 21/12 Situações limitantes se impõem sobre seus impulsos amorosos. Você terá que respeitar esses limites, nem que precise ser forçado a isso. Encontre o ritmo certo para suas ações. CAPRICÓRNIO - 22/12 a 19/1 Os projetos de longo prazo cobram fidelidade e, com isso, limitam certos impulsos mais imediatistas. Não obstante, as relações familiares são entusiasmadas e vibrantes. AQUÁRIO - 20/1 a 18/2 As obrigações profissionais e sociais colocam freios em seu jeito de ser e na condução do cotidiano. Sua comunicação terá que ser pautada pelos compromissos que estabeleceu. PEIXES - 19/2 a 20/3 A impulsividade na lida com os bens materiais mais imediatos será refreada por uma visão de longo prazo. Procure seguir um plano mais do que seguir seu temperamento.

Rio 2: EUA. Livre. Em “Rio 2”, Blu e sua família embarcam em uma aventura para provar que sabem viver além da vida domesticada. Mas Nigel, nosso vilão preferido, está de volta e buscando vingança, então vai garantir que as férias em família se tornem uma jornada selvagem. Blu, Jade e todos os seus amigos irão levar o público a mais risos, a novos personagens, música, e mais ação, à medida que descobrimos que Blu é capaz de tudo para salvar sua família. Cinemark 4 – 11h05 (3D/dub/somente sábado e domingo), 13h25, 15h55, 18h25 (3D/dub/diariamente), Cinemark 5 - 12h10 (3D/dub/somente sábado e domingo), 22h (3D/dub/diariamente), Cinemark 6 – 10h40 (3D/dub/somente sábado e domingo), 13h, 15h30, 18h, 20h30 (3D/dub/diariamente), 23h (3D/dub/somente sábado), Cinemark 7 – 11h30 (3D/dub/ somente sábado e domingo), 13h50, 16h20, 18h50, 21h20 (3D/dub/diariamente), 23h50 (3D/dub/somente sábado); Cinépolis 1 – 13h05, 15h45, 18h45, 21h35 (3D/ dub/diariamente); Cinépolis 3 – 14h40, 17h50, 20h35 (dub/diariamente), Cinépolis 4 – 13h30, 16h, 18h30, 21h (3D/dub/diariamente), Cinépolis 5 – 12h (3D/dub/somente sexta-feira e sábado), 14h30, 17h, 19h30, 22h (3D/dub/diariamente), Cinépolis 8 – 14h, 16h30, 19h, 21h30 (dub/diarimente), Cinépolis 9 – 12h45, 15h15, 17h45, 20h15 (dub/diariamente), 22h40 (dub/somente sexta-feira e sábado), Cinépolis 10 – 13h, 15h30, 18h (dub/diariamente); Playarte 1 – 12h30, 14h35, 16h40, 18h50 (3D/ dub/diariamente); Playarte 5 – 12h50, 14h55, 17h, 19h10, 21h20 (dub/diariamente), 23h25 (dub/somente sexta-feira e sábado); Playarte 6 – 13h30, 15h40, 17h50, 20h (dub/diariamente), 22h10 (dub/somente sexta-feira e sábado), Playarte 7 – 13h31, 15h41, 17h51 (dub/diariamente).

CONTINUAÇÕES S.O.S. Mulheres ao Mar: BRA. 12 anos. Cinemark 8 – 11h45 (somente sábado e domingo), 14h, 16h30, 19h, 21h30 (diariamente), 0h (somente sábado); Cinépolis 2 – 16h45, 22h35 (diariamente); Cinépolis 6 – 15h, 20h (diariamente); Playarte 4 – 12h50, 14h50, 16h50, 18h50, 20h50 (diariamente), 22h50 (somente sexta-feira e sábado). Namoro ou Liberdade?: EUA. 14 anos. Cinemark 2 – 13h40, 16h, 18h15, 20h45 (dub/diariamente), 23h15 (dub/ somente sábado); Cinépolis 10 – 21h45 (leg/diariamente); Playarte 3 – 13h15, 15h15, 17h15, 19h15, 21h15 (dub/dia-

riamente), 23h15 (dub/somente sextafeira e sábado).

(leg/diariamente), 22h45 (leg/somente sexta-feira e sábado).

Alemão: BRA. 16 anos. Cinemark 3 – 17h20, 19h50, 22h20 (dub/diariamente); Cinépolis 6 – 17h30, 22h30 (diariamente); Playarte 10 – 13h55, 16h10, 18h25, 20h40 (diariamente), 22h55 (somente sexta-feira e sábado).

Tinker Bell - Fadas e Piratas: EUA. Livre. Cinemark 3 – 12h55, 15h10 (dub/ diariamente).

Need For Speed – O Filme: EUA. 12 anos. Cinemark 4 – 21h (3D/dub/diariamente); Cinépolis 2 – 13h40, 19h20 (leg/diariamente). Doze Anos de Escravidão: EUA. 14 anos. Playarte 2 – 17h30, 20h10

300 – A Ascensão do Império: EUA. 16 anos. Cinemark 1 – 11h55 (dub/somente sábado e domingo), 14h20, 16h45, 19h15, 21h45 (dub/ diariamente), 0h10 (dub/somente sábado); Cinépolis 7 – 14h45, 19h45 (dub/diariamente), 17h15, 22h15 (leg/ diariamente); Playarte 1 – 21h (3D/ dub/diariamente), 23h10 (3D/dub/somente sexta-feira e sábado), Playarte

7 – 20h05 (leg/diariamente), 22h15 (leg/somente sexta-feira e sábado), Playarte 9 – 14h, 16h10, 18h20, 20h30 (dub/diariamente), 22h40 (dub/somente sexta-feira e sábado). As Aventuras de Peabody e Sherman: EUA. Livre. Playarte 2 – 13h10, 15h15 (diariamente). Sem Escalas: EUA. Livre. Playarte 8 – 15h20, 20h20 (dub/diariamente), 22h30 (dub/somente sexta-feira e sábado). Robocop: EUA. 14 anos. Playarte 8 – 13h30, 18h (dub/diariamente).


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::::: Vaivém chique

::::: Sala de Espera

A Top Internacional transpira lançamento. Na próxima quarta-feira, das 17h às 20h, a loja do Millennium Shopping realizará coquetel de inauguração de um espaço dedicado às bolsas, carteiras, malas e mochilas de grifes internacionais como Paris Hilton, Benetton, Desigual, Fossil e Caterpillar. A ala feminina sobrenomada vai enlouquecer com a novidade.

Jander Vieira

Valesca Martins está trocando de idade hoje. Amanhã é a vez de cumprimentar Rebeca Novelleto e Eugênia Beckman, elas estarão aniversariando.

Inspiradora, perspicaz e solidária. Esses são alguns dos adjetivos – incontáveis – que fazem parte do caráter de Nejmi Jomaa Aziz, que revolucionou o título de primeira-dama. É atuante, arregaça as mangas e vai à luta. Mostrou a que veio como presidente de honra do Fundo de Promoção Social do Estado, levando boas novas a milhares de famílias em Manaus e no interior do Amazonas. Merece aplausos!

A linda Bruna Sampaio Santoro vai ganhar o festão dos sonhos, no próximo dia 25, no Diamond, dos paizões Thalita e Rogério Santoro para celebrar seus 15 aninhos. O début promete! Merci pelo convite.

HERICK PEREIRA

jandervieira@emtempo.com www.jandervieira.com.br

::::: Peçonha

É nas curvas da vida que você vê quem é “amigo e quem é de correr”. A pessoa nem bem deixa o poder e alguns que antes a bajulavam já viram as costas tecendo comentários depreciativos. É como se “o brilho do diamante” de outrora tivesse perdido a luz. Não foi a “pessoa especial” que perdeu o brilho, foi você – ser maléfico – que revelou seu corpo esguio de cobra, suas presas de víbora e seu veneno peçonhento. Deus não dorme e ele há de nos proteger de gente assim. Amém!

::::: “Rio 2”

::::: Batalha gastronômica

Eis uma obra que vale ser vista por todos os amazonenses. O filme de animação “Rio 2”, que conta a saga da ararinha azul Blue chegou às telas de cinema do Brasil e do mundo apresentando o Amazonas como quase não se vê. O filme tem início do Rio de Janeiro, mas na verdade, a obra se passa toda no Amazonas. As referências à floresta, ao Teatro Amazonas, aManaus e ao Pará são evidentes. Muito bom porque nos identifica e ainda ajuda o turismo do Estado. Aproveitem para ver, vale a pena. JANDER VIEIRA

A administração Aziz, em parceria com a Abrasel, reunirá amanhã, 18 restaurantes que apresentarão receitas inéditas tendo como ingrediente principal o bacalhau da Amazônia. As receitas serão publicadas em um livro que será lançado durante o concurso. Onde? No auditório da Fundação Amazonas Sustentável, com início às 19h. O bacalhau da Amazônia é um projeto ousado e inédito no Brasil, produzido a partir do pirarucu manejado na Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá. A iguaria é uma das apostas dos chefs para a Copa em Manaus.

No almoço concorrido do Village: a aniversariante da temporada, desembargadora Liana Mendonça, com a amiga Júlia Coelho

::::: Solidariedade As chuvas castigam o Amazonas e muitas localidades já estão debaixo d’água. Inúmeras campanhas estão sendo criadas para ajudar nossos irmãos do interior. O Comitê Israelita do Amazonas (Ciam), presidido por Anne Benchimol, está arrecadando entre a comunidade judaica roupas para doar aos desabrigados. A ação serve de exemplo para que outras entidades se mobilizem. O Ciam está de parabéns pela iniciativa.

SILVIA CASTRO

CONCURSO

Nicolly Zuazo é uma das três selecionadas para a etapa nacional da disputa infantil

Amazonenses no Minimiss Brasil Assim como nos concursos de beleza na versão adulto, o Minimiss Amazonas, ocorrido na noite do último dia 26, no Teatro La Salle, elegeu as 3 misses que vão representar o estado na etapa nacional do concurso. Melissa Campelo foi eleita na categoria “Mini”, enquanto a bela Nicolly Zuazo faturou faixa e coroa da categoria infantil. Já na categoria Juvenil, uma das mais disputadas, Beatriz Brandão desbancou outras 11 candidatas e foi eleita Minimiss Amazonas Juvenil. O concurso, organizado pelo jornalista e comunicador de TV Lucius Gonçalves e pela empresária Márcia Meirelles, os mesmos que organizam o Miss Amazonas há mais de 10 anos, teve início as 19h30

e foi apresentado pelo ator global Marcus Rigonati e pela Miss Amazonas 2014 Ytala Narjjara. Após o desfile de traje de banho, os convidados assistiram a um vídeo de aproximadamente 4 minutos com imagens do desfile de traje típico, que aconteceu um dia antes da final, na praça de eventos do Shopping Ponta Negra. O resultado foi um show de imagens com fantasias lindas e exuberantes assinadas por grandes estilistas da terra como Kaleb Aguiar, Wernher Botelho, Luizinho Andrade, Claudir Andrade, Jean Carlos, Júnior Thompson entre outros. Todas as 28 candidatas, com faixa etária entre 5 a 15 anos de idade, realizaram seu sonho e se transformaram em lindas princesas,

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com direito a príncipe e animação especial em um telão de LED de última geração. Mas o que chamou atenção mesmo foi a desenvoltura das candidatas, que usavam luxuosos vestidos assinados pelo estilista amazonense Kaleb Aguiar. Durante os intervalos, os convidados puderam acompanhar uma participação especial do cantor local Iury Andrade, um dos fortes candidatos para participar do “The Voice Brasil”. A noite contou ainda com a presença de convidados ilustres, como as bailarinas do programa “Domingão do Faustão” e Miss Amazonas Supranational Lílian Lopes e Elenita Machado, além da empresária paulista Zizi Duques.

Dona de uma beleza única, Sheila Jacob vai comandar uma das sessões parabéns mais disputadas da temporada. Trata-se do “Girl’s Party” no próximo dia 4, às 19h, no chique endereço do Itapuranga 3. O “Bazar pra Você” terá as delícias da ótima Mônica Seixas e seu ateliê Divino Doce, no próximo dia 3, no Athenas Casa de Festas. Mais de 40 lojas participarão do evento, que terá 70% de desconto. Que tal? O terceiro Tarde Down assinado pela Associação de Pais e Amigos do Down no Amazonas, conta com o incondicional apoio da Semasdh e da Manauscult, este ano. O evento da Apadam acontece hoje, a par-

tir das 17h, no Parque Cidade da Criança. Na próxima sextafeira, no Fran’s Café acontece o esperado “Bazar das Poderosas” com vaivém de grifes poderosas. Mais detalhes pelo 9287-1488. O Amazonas encerra a sua participação gloriosa hoje, em Recife, na maior feira internacional de negócios turísticos do país, a Brazil National Tourism Mart, que, neste ano, chega a sua 23ª edição. A Representação Regional Norte do Ministério da Cultura realiza, na próxima quarta-feira, das 14h às 17h, a oficina de orientação sobre o edital “Projetos Vitrines Culturais”, direcionado aos artesãos amazonenses. O workshop será ministrado no Les Artistes Café Teatro, da 7 de Setembro. O Buteko da Piscina traz neste domingo, a segunda edição dos projetos “Samba Social Club” e “Domingo Sertanejo”. Os convidados da vez serão os garotos do grupo Cuka Fresca e a banda Pegada Sertaneja. O agito começa a partir das 15h, com chope liberado até as 17h30.


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opiniao@emtempo.com.br

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(92) 3090-1010

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A miscigenação de Adriana Varejão

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Um teto todo seu

A vida das mulheres no Irã, por Samy Adghirni. Págs. 4 e 5

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Capa

As políticas dos EUA para moradores de rua. Pág. 3

Por baixo dos panos 4

ilustração de Bel Falleiros, técnica mista sobre tecido

E outras 10 indicações culturais. Pág. 2

Artistas do kitsch e da morte

Diário de Los Angeles. Pág. 6

Do arquivo de Pedro Bandeira São Paulo, 1968. Pág. 7


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Ilustríssima Semana

O MELHOR DA CULTURA EM 11 INDICAÇÕES

Diradura, 50 personagens LIVRO | MULHERES E MILITÂNCIA As pesquisadoras Ingrid Faria Gianordoli-Nascimento (UFMG), Zeidi Araujo Trindade (UFES) e Maria de Fátima de Souza Santos (UFPE) ouviram nove mulheres que viviam no Espírito Santo na juventude e que foram presas por participarem de organizações que lutavam contra a ditadura militar. Ed. UFMG | R$46 | 387págs.

LIVRO | CARLOS H. KNAPP O publicitário relata, em “Minha Vida deTerrorista”, sua experiência no exílio, distante do país e dos filhos. Knapp, que aparecia em cartazes de “terroristas procurados”, apoiava a Ação Libertadora Nacional e chegou a esconder Carlos Marighella em sua casa. Prumo | R$ 39,90 | 320 págs.

CINEMA | SILÊNCIOS HISTÓRICOS E PESSOAIS A mostra latino-americana reúne 17 documentários performativos narrados em primeira pessoa. Em três deles, filhas traçam retratos de seus pais: ‘Diário de uma Busca’,de Flavia Castro, filha do jornalista Celso Castro; ‘Os Dias com Ele’, de Maria Clara Escobar, filha de Carlos Henrique Escobar, preso e torturado no Brasil; e ‘Papai Iván’, de María Inés Roqué, cujo pai, Juan Julio ‘Iván’ Roqué, dos Montoneros, na Argentina, foi morto em 1977. Caixa Cultural São Paulo | tel. (11) 3321-4400 | grátis | até 6/4

REPRODUÇÃO

CURSO | RUY CASTRO O escritor e colunista da Folha ministra o curso ‘Ciência e Arte da Biografia’, em quatro encontros (amanhã,1/4, 7/4 e 8/4). Centro Cultural Barco | tel. (11) 3081-6986 | inscrições até amanhã das 20h às 22h | R$ 500 ou 2x R$ 300

LIVRO E EXPOSIÇÃO | ADRIANA VAREJÃO Após cinco anos sem expor trabalhos inéditos no país, a artista apresenta sua série ‘Polvo’, baseada em estudo sobre a miscigenação brasileira, ela lança o livro ‘Pérola Imperfeita: A História e as Histórias na Obra de Adriana Varejão’, em parceria com a historiadora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz. Galpão Fortes Vilaça | tel. (11) 3392-394 | abertura, sáb. (5), às15 | ter. a sex., das 10h às 19h, sáb., das 10h às 18h | grátis Cobogó e Companhia das Letras | R$ 90 | 360 págs. DIVULGAÇÃO

EXPOSIÇÃO | ALBERTO CASARI Em sua primeira individual no país, o artista conceitual peruano apresenta “Tudo Está Interconectado”, com obras de seu coletivo PPPP (Produtos Peruanos Para Pensar), e de dois de seus alter-egos: Alfredo Covarrubias e El Místico. O mineiro Celio Braga inaugura “Multicoloridos”, com seus desenhos “Ladainhas” e esculturas maleáveis “lenga lengas”. Galeria Pilar | tel. (11) 36617119 | abertura ter. (1), às 19h ter. a sex., das 11h às 19h, sáb., das 11h às 17h | grátis | até 3/5

‘Laparotomia Exploratória’ (detalhe), 1996, de Adriana Varejão

CONCERTO | URSULA OPPENS A pianista,que já foi indicada a quatro Grammys, executa as 36 variações de Frederic Rzewskipara ‘O Povo Unido Jamais Será Vencido’, canção chilena de protesto de Sergio Ortega, além de três peças de Cláudio Santoro. Sala São Paulo | tel. (11) 3367-9500 | hoje, às 21h | de R$ 20 a R$ 40

‘EM.SB.13.2’, 2013, de Alberto Casari & PPPP

ESTRANGEIRO

Ilustríssimos desta edição APU GOMES, 30, é repórter fotográfico da Folha. BEL FALLEIROS, 31, é artista plástica.

PEDRO BANDEIRA, 72, é escritor, autor de livros infantojuvenis como “A Droga da Obediência” (Moderna).

CLAUDIUS CECCON, 76, é arquiteto e cartunista.

RAUL JUSTE LORES, 38, é correspondente da Folha em Washington.

FERNANDA EZABELLA, 33, é jornalista.

SAMY ADGHIRNI, 34, é correspondente da Folha em Teerã.

FOTOGRAFIA | MICK ROCK A edição 2014 do Music Video Festival traz a instalação fotográfica ‘It’s Rock’, de Mick Rock, famoso por seus retratos de astros dos anos 1970 e 1980. São fotos, coloridas ou em preto e branco, de músicos com o Blondie, Ramones, Iggy Pop, Bowie e Freddie Mercury. MIS | tel. (11) 2117-4777 | ter. a sex., das 12h às 21h, sáb., das 11h às 21h; dom., das 11h às 20h | grátis | até 20/4

RODRIGO PROVAZI MESQUITA/FOLHAPRESS

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BRASILEIRO

POP

ERUDITO

DOCUMENTÁRIO | O BRASIL DE DARCY RIBEIRO Os filhos dos amigos de Darcy Ribeiro (1922-97) gostam de lembrar que ele falava tão rápido que confundia as crianças, mas que elas se sentiam fascinadas com sua verve. Trechos de entrevistas em que o apaixonado antropólogo dispara declarações sobre política, estudos indígenas e a formação do povo brasileiro compõem o fio narrativo da série documental ‘O Brasil de Darcy Ribeiro’, de Ana Maria Magalhães. As entrevistas com intelectuais e políticos, com o Antonio Candido, Eduardo Galeano, Fernando Henrique Cardoso e Almino Affonso, estão entre o anedótico e o convencional. Mas o documentário ganha força com as belas tomadas da geografia sentimental de Darcy: a Montes Claros de sua infância, a Montevidéu do exílio, a Brasília de sua vida política. À luz dos 50 anos do golpe, a produção localiza o papel dessa geração de intelectuais na resistência. (Sylvia Colombo) TV Brasil | estreia no dia 2,às20h (cinco capítulos, sempre às quartas)

TEATRO | VLADIMIR HERZOG A Cia. Livre e o Instituto Vladimir Herzog promovem leituras encenadas de duas peças sob direção de Cibele Forjaz. “Ponto de Partida”, escrita em 1976 por Gianfrancesco Guarnieri, gira em torno de um corpo encontrado enforcado. Suicídio ou assassinato forjado? Em “Patética”, de João Ribeiro Chaves Neto, de 1978, uma trupe circense representa a trajetória do jornalista Vlado. Teatro Tucarena | tel. (11) 3670-8455 | Ponto de partida, amanhã e qui (3) | às 21h | Patética, ter. (1) e qua. (2), às 21h | R$ 20

ILIVRO E DVD | LIGAS CAMPONESAS Em “Francisco Julião, uma Biografia”, Cláudio Aguiar recupera a trajetória de um dos fundadores das Ligas. Filho de senhor de engenho, Julião defendeu a causa da reforma agrária e foi obrigado ao exílio em 1964. O Instituto Moreira Salles lança pela primeira vez o DVD de “Cabra Marcado para Morrer”, com extras que trazem dois filmes inéditos em que Eduardo Coutinho revisita, em 2013, locais e personagens do documentário, como o Engenho Galileia (PE), onde Julião ajudou a organizar a greve camponesa. Civilização Brasileira | R$ 75 | 854 págs. | IMS e videofilmes | R$ 44,90

Folha.com LIVRO Relato do editor Raul Wassermann de como a ditadura alavancou as vendas do romance ‘Zero’ FOLHA.COM/ ILUSTRISSIMA Atualização diária da página da “Ilustríssima” no site da Folha FOTOGRAFIA Imagens de mulheres no Irã em técnica mista sobre tecido >>folha.com/ilustrissima


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MANAUS, DOMINGO, 30 DE MARÇO DE 2014

Política Social

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Minha casa, minha vida Como os EUA tratam os seus sem-teto RESUMO Governo americano e ONGs investem grandes somas em programas que dão moradia, em vez de abrigo temporário, a sem-teto. Veteranos de guerra, ex-drogados e doentes mentais recebem apoio para reintegração à vida comum, e país vê queda no número de pessoas em situação de rua, apesar da crise econômica.

RAUL JUSTE LORES

Deitado em um banco com encosto na praça Lafayette, em frente à Casa Branca, o portoriquenho Miguel, 40, não acreditou na proposta feita por uma assistente social. “Oferecemos

a você uma casa, ajudamos a pagar o aluguel, a comprar móveis e a cuidar da sua saúde”, ele ouviu em uma madrugada no mês passado, em pleno inverno, em Washington. Alcoólatra e desempregado, Miguel diz que apesar dos turistas e dos protestos, a vizinhança “é sossegada e segura à noite”. No dia seguinte, quando a assistente social voltou, Miguel não estava lá. “Pode ser medo da polícia, de não querer ir para um albergue. Às vezes levamos seis meses para ganhar a confiança dos nossos clientes”, diz Hannah Zollman, acostumada a procurar os sem-teto embaixo de pontes, em bancos ou em pontos turísticos da capital norte-americana. Ela tabula a localização dos sem-teto, identifica lideranças entre eles, usa perguntas “motivacionais” ensaiadas para quebrar a resistência e leva roupas, cobertores e sopa quente para iniciar a aproximação. E, de fato, oferece moradia permanente. Sua promessa não era exagerada. De ONGs ao governo federal americano, a política hoje dominante para atender os

sem-teto é a chamada “housing first” (primeiro, casa). Desde 2010, o Departamento de Habitação do governo americano tem investido US$ 2 bilhões (cerca de R$ 4,7 bi) por ano para patrocinar vouchers para pagamento de aluguel e programas de “habitação social de apoio permanente” organizados por centenas de ONGs pelo país. Há 300 mil pessoas atualmente vivendo com vouchers do governo e com assistência social – eles são quase a metade dos 615 mil americanos em situação vulnerável de perder o teto. “Os albergues para os semteto acabam perpetuando o problema. Sem-teto precisa de casa em primeiro lugar. De casa financiada pelo governo e assistência social e médica”, defende o psicólogo nova-iorquino Sam Tsemberis, que fundou há 20 anos a ONG Pathways e é considerado o pioneiro do “housing first”. “É muito difícil alguém com um problema de saúde mental ou com um vício recuperar a sua vida em um albergue lotado, sem privacidade ou estabilidade.”

Vulneráveis O governo comemora uma queda de 23% no número dos sem-teto no país entre 2007 e 2013, mesmo com a recessão de 2008 e 2009 e a tímida recuperação econômica desde então. Há vários graus de vulnerabilidade entre os sem-teto, de acordo com o censo realizado no ano passado. Dos 300 mil que recebem os vouchers para pagar seu aluguel, 58 mil são veteranos de guerras que, ao retornar de campanhas militares, têm dificuldades para se readaptar à família, encontrar trabalho ou acabam sofrendo com vícios ou depressão. Cerca de 215 mil moram em casas ou construções abandonadas, em bancos de praça ou embaixo de pontes. Desses, 100 mil são os chamados casos crônicos, com mais de um ano sem abrigo – é para eles que vai 50% do orçamento para habitação de “pessoas com necessidades especiais” do Departamento de Habitação. Nesse universo dos sem-teto crônicos, 60% são viciados em drogas ou álcool, 30% têm doenças mentais. Como se aluga um aparta-

mento e se coloca lá sozinho alguém com um histórico de dependência e que perdeu já há algum tempo o costume das regras e limites da vida em condomínio? “É um risco, com certeza, mas é preciso paciência. A alternativa é sempre pior”, diz Christy Respress, que dirige a Pathways em Washington. O caminho da rua para o teto permanente não é simples. Ellery Lampkin, 42, foi despejado duas vezes – atraso no aluguel é a reclamação mais comum –, e a organização Pathways Washington (de cem funcionários, entre eles cinco enfermeiros, um psiquiatra e seis ex-sem-teto) continuou a apoiá-lo. Lampkin foi parar nas ruas da cidade logo depois de ver a mãe, viciada em crack, ser assassinada com três tiros na cabeça. Ele mesmo foi preso algumas vezes pelo envolvimento com drogas. É bipolar e sofre de transtorno de estresse pós-traumático. Lampkin dormia diariamente diante da Biblioteca Pública Martin Luther King Jr., obra do arquiteto modernista Ludwig Mies van der Rohe na capital americana – sua marquise so-

bre a calçada sem grades até hoje serve de abrigo para vários sem-teto. A última década de vida do rapaz teve acompanhamento da Pathways. Ele não consome cocaína desde 2006 e vai regularmente à sede da organização dar depoimentos de sua transformação – tanto para possíveis doadores e voluntários como para pessoas que, como ele, foram encontradas na rua por assistentes sociais. Corpulento, com jaqueta de couro e calça jeans, ele lembra que por cinco anos teve um “gerente” para seu caso. Lampkin recebia visitas semanais de psiquiatra, tratamento de desintoxicação e apoio moral. “Mas meu apartamento é meu escudo”, sublinha. Sua saída da rua teve direito a uma semana em hotel pago e a busca por seus documentos até a organização alugar seu primeiro apartamento. Vários sem-teto têm direito a seguro do governo por invalidez (US$ 700 mensais) ou seguro-desemprego, mas sua situação impede que conheçam bem seus direitos. O contrato prevê que 30% da renda que obtêm seja para pagar o aluguel.


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Reportagem

3 Realidade velada

O que podem e o que não podem as mulheres do Irã RESUMO A história recente do Irã foi marcada por avanços e retrocessos na vida pública e familiar das mulheres. Entre os países islâmicos, é um dos menos adversos à população feminina, escolarizada e com acesso a diferentes setores profissionais e da política, mas ainda discriminada em termos culturais, jurídicos e financeiros.

SAMY ADGHIRNI FOTOGRAFIA APU GOMES

Numa noite de agosto passado, a plateia do teatro Vahdat, no centro de Teerã, presenciou um momento único na história da República Islâmica do Irã. Pela primeira vez desde a chegada dos aiatolás ao poder, há 35 anos, uma mulher cantou sozinha em público e com a bênção do regime. No ponto culminante de uma adaptação da ópera Gianni Schicchi, de Puccini, a soprano Shiva Soroush, 28, ergueu a cabeça e estufou o peito; sua voz firme e cristalina entoou as lamúrias de sua personagem. Ao fim do solo, o frisson explodiu em gritos e aplausos. O canto solitário não durou nem meio minuto. Foi suficiente para enterrar o tabu pelo qual uma voz feminina só era lícita se acompanhada de uma masculina. Naquela noite, o presidente Hasan Rowhani, novo xodó do Ocidente, já governava o país. Mas o aval havia sido emitido, meses antes, pela equipe do conservador Mahmoud Ahmadinejad. Eu via no rosto das pessoas um misto de alegria e espanto. Eu estava em êxtase. Nunca me imaginei cantando na frente de membros do regime, recordou a moça, semanas depois, num café ocidentalizado da capital iraniana. Sinto que essa reviravolta prenuncia mais coisas boas, sorriu a cantora. Shiva nasceu e cresceu sob o regime teocrático e nunca teve dinheiro para viajar ao exterior. Mas ela faz parte da legião de iranianas, anônimas ou ilustres, que desbravam caminhos para tentar recuperar a proeminência perdida com a queda do xá Mohammad Reza Pahlavi, em 1979. Apesar de ainda viverem sob leis machistas e desiguais, as iranianas impõem-se em todas as áreas da sociedade. Três décadas e meia após a revolução, o Irã voltou a ser um dos países de maioria islâmica com ambiente mais favorável ou menos

adverso para a mulher. A comparação chega a ser especialmente embaraçosa para os vizinhos do Irã. As sauditas são atreladas por lei a um tutor irmão, pai ou marido e não podem nem dirigir. No Qatar, casas tradicionais possuem duas salas de estar, uma para receber convidados, outra para manter as cônjuges, irmãs e filhas longe das visitas. As afegãs devem abster-se de falar com homens que não sejam ligados a elas por vínculos familiares. No quesito condições de vida básicas da mulher, o Irã também se sai melhor que outras regiões de maioria muçulmana. Metade das marroquinas não sabe ler e escrever, enquanto a taxa de alfabetização das iranianas beira os 90%. A mortalidade materna no Irã é de 21 para cada 100 mil partos, dez vezes menos do que na Indonésia. Mulheres iranianas são as únicas no mundo legalmente obrigadas a cobrir cabelo e corpo. Mas elas estudam, trabalham e comandam empresas. São advogadas e juízas. Nas entrevistas coletivas, são elas que costumam incomodar os políticos com as perguntas mais certeiras. Madames poliglotas rivalizam-se à frente das mais prestigiosas galerias de arte de Teerã. No Irã, elas não só votam como são eleitas deputadas, prefeitas e vereadoras. Podem se candidatar a todos os postos para os quais haja eleições diretas, mas nunca uma mulher foi considerada qualificada para concorrer à Presidência ou à Assembleia dos Peritos, órgão consultivo que escolhe e monitora o líder supremo. O Irã tem mulheres artistas, atletas profissionais, taxistas. Nas universidades, a fatia feminina ocupa 52% das cadeiras. A poligamia está em extinção, e os casamentos arranjados, fora de moda. A mutilação genital, prática mais tribal do que religiosa, é raríssima. Setareh Nouri, 25, parte da meia dúzia de iranianas que atuam como pilotos da aviação comercial, diz sentir-se desconfortável quando viaja a países árabes. No Irã temos mais liberdade. Aqui posso trabalhar num ambiente masculino como a aviação, algo impensável no golfo Pérsico, diz a moça. A arquiteta Sahere Foruhi, 54, orgulha-se de contrariar frontalmente o clichê da iraniana submissa. Bem-sucedida, viajada e mãe divorciada, espreme sua agenda diária entre serviços para a Prefeitura de Teerã e um escritório no qual tem o ex-marido como sócio. Sahere avalia que o preconceito ocasional contra mulheres, na rua ou no mundo dos negócios, se assemelha ao da Itália, onde estudou. Na maioria dos países europeus, a situação não é tão diferente da nossa. Invejável, só a Escandinávia. Ali, sim, as mulheres estão com tudo, afirma. Na política, o debate sobre a

representação feminina voltou à tona desde que Rowhani foi eleito, em junho do ano passado, com a promessa de promover oportunidades iguais. O presidente, um clérigo xiita que se autoproclama moderado, enfrenta críticas por não ter criado até agora o Ministério para Assuntos da Mulher, anunciado na campanha. Além disso, somente homens constam na sua lista de ministros. Mas três dos 12 vicepresidentes que apontou são mulheres. A mais proeminente é Masoumeh Ebtekar, 53, responsável por temas ambientais. Ela ficou famosa no Ocidente após a Revolução Islâmica, quando, então cursando biologia, gastou seu inglês perfeito para tratar com a mídia estrangeira em nome dos estudantes que tomaram a Embaixada dos EUA em Teerã. O presidente também nomeou duas governadoras (não há eleições diretas para o posto) e escolheu a veterana diplomata Marzieh Afkham, 51, como porta-voz da Chancelaria, principal cargo de relações públicas do Estado. Prefeitas são só duas, num país com mais de mil municípios. E, fora do Executivo, a representação feminina se mantém tímida. O número de deputadas caiu de 13 para 9 no último pleito. Elas ocupam uma fila exclusiva no plenário de 290 deputados (não há senadores). Altivez O mais surpreendente para quem descobre o Irã talvez seja a altivez cotidiana das iranianas. Elas batem boca no trânsito, barganham preços implacavelmente e pedem informação na rua a quem bem entenderem. Médicas atendem homens e vice-versa. Jovens e idosas são capazes de se unir de repente para livrar da polícia moral uma mulher interceptada por carregar na maquiagem ou deixar cabelo fora do véu. A pressão e a gritaria são tamanhas que às vezes só resta aos agentes recuar da ação. Nas grandes cidades, a maioria das jovens emenda um namoro no outro. Quase ninguém se apega à virgindade antes do casamento. Mantenho uma lista com os nomes dos meus parceiros. Senão, é impossível lembrar de todos, diverte-se a tradutora M.J., 24. Enquanto ocidentais cultivam a imagem da iraniana reprimida, muitos homens em países vizinhos têm leitura oposta e enxergam a antiga Pérsia como ninho de mulheres excessivamente liberadas. Dois anos atrás, um afegão que havia sido pedreiro em Teerã disse à Folha como via as moças dos bairros nobres onde trabalhava. As iranianas bebem, estão sempre maquiadas e se entregam a homens com quem não se casam. Elas não são boas muçulmanas. No livro The Ends of the Earth (os confins da Terra, em tradu-

ção livre), de 1996, o jornalista americano Robert D. Kaplan expôs suas impressões sobre a república islâmica. Um trecho diz: As mulheres em Teerã te encaram abertamente. Seus olhos olham fundo dentro dos teus. Cairo não tem muito disso, e Istambul ainda menos. Potência laica O relativo avanço da mulher no Irã reflete as peculiaridades da história nacional. As bases do protagonismo feminino foram sedimentadas pelo xá Reza Pahlavi, fundador da dinastia homônima. Um militar linha-dura, mas pouco afeito a tradições, Pahlavi nunca escondeu a admiração por seu contemporâneo Mustafá Kemal Atatürk, o líder que pulverizou as fundações islâmicas da vizinha Turquia para transformá-la em potência laica calcada no modelo europeu. Em 1936, Pahlavi criou o movimento Despertar da Mulher, que, à revelia dos religiosos, baniu o uso do véu e incentivou a criação de uma elite feminina nas ciências, nas artes e nos negócios. Mas, quando a Segunda Guerra eclodiu, britânicos e russos incomodaram-se com o flerte entre o xá e a Alemanha nazista e o pressionaram a abdicar em favor do filho. Ao assumir o trono, em 1941, aos 21 anos, o jovem Mohammad Reza Pahlavi amenizou a restrição ao véu, mas prosseguiu o projeto de modernização do pai. Sob a ditadura de Pahlavi filho, dissidentes eram torturados até a morte nas masmorras

da Savak, a mais cruel polícia secreta daquela geração. Mas a idade mínima de casamento para meninas saltou de 13 para 18 anos, e mulheres passaram a ter o direito de pedir o divórcio e de dizer não a maridos que quisessem uma segunda esposa. Nos anos 1970, alguns bairros de Teerã haviam se transformado em édens cosmopolitas, onde se viam cabelos soltos ao vento, minissaias e moças bebendo em bares. A face mais visível do glamour iraniano era a imperatriz Farah Diba, mulher do xá, que se dividia entre a filantropia no Irã e o jet set. Revolta A narrativa ocidental, porém, tende a omitir a rejeição que essa ocidentalização na marra sofria por amplos segmentos da população. No Irã profundo e na miséria das periferias infladas pela industrialização, um sentimento de revolta e alienação fervilhava. Um dos primeiros atos públicos do aiatolá Ruhollah Khomeini, em 1963, quando era um clérigo provinciano, foi um protesto contra a lei que garantiu às mulheres o direito de votar e concorrer em pleitos municipais. Khomeini foi preso temporariamente. No ano seguinte, ele partiria para o exílio. Só retornou ao país em 1979, para comandar a revolução, dessa vez com uma base popular que incluía intelectuais, comunistas e a classe média liberal, unidos pela repulsa à autocracia do xá. Em sinal de apoio a Khomeini, mulheres seculares marchavam de véu

islâmico pelas ruas de Teerã. Todas nós participamos da revolução. Nunca imaginamos o que viria depois, suspira a médica A.K., 53. Meses após a queda do xá, Khomeini expurgou segmentos laicos da coalizão que o apoiava e pôs em prática seu projeto de implantar o governo de Deus. No afã de eliminar o que via como corrupção ocidental, anulou leis familiares da era Pahlavi e impôs um modelo de sociedade patriarcal baseado numa interpretação ultraconservadora da sharia, a lei islâmica. O limite mínimo para casamento das mulheres caiu para nove anos nessa idade, nas escolas, as meninas passam por uma cerimônia que marca a entrada na puberdade e fixa, por isso, a obrigatoriedade do véu. Na prática, porém, meninas de até 13 anos podem ser vistas com cabelos descobertos. Elas perderam acesso a várias profissões, como a de juiz, e passaram a viver sob um regime extremamente desfavorável, que as prejudica em aspectos cruciais como o direito a heranças e guarda de filhos. A propaganda transformou o cânone da esposa dócil e zelosa em pilar da ideologia oficial. A lista de atividades banidas às mulheres incluiu desde o canto até andar de bicicleta. Espaços públicos, como transporte coletivo ou escolas, se dividiram segundo o gênero. Três anos após a revolução, não somente o véu havia se tornado obrigatório como as mulheres foram proibidas de se maquiar ou andar com homens


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A dona de casa é adepta do chador (barraca, em farsi), espécie de lençol que cobre da cabeça aos pés, deixando rosto e mãos à mostra. Nos meios mais jovens e liberais predomina o mais leve hijab, que cobre cabelo e pescoço. Muitas iranianas têm visão oposta à de Mansureh e consideram que o véu constitui a mais contundente ferramenta do regime para controlar as mulheres. É um insulto à sabedoria e à personalidade da mulher. O fato de quererem decidir como me visto é terrível. Homens não vivem isso, esbraveja a jornalista Afsaneh J., 33. O véu restringe muito nossa vida. Imagine correr no parque de manhã usando isso na cabeça. Uma das mais conhecidas atrizes do cinema iraniano confidenciou, num jantar na casa de amigos em Teerã, ter recusado convites de Hollywood por causa do véu. Quero continuar no Irã. Não posso aparecer em filmes nos quais sempre pedem para tirar o lenço e fazer cenas de romance. Parissa Porouchani, 56, que fundou e comanda o maior grupo de marketing no país, lamenta que o véu tenha se tornado uma obsessão do Ocidente.Quando vou à Europa, detesto que me olhem com cara de coitada por ter de cobrir a cabeça em meu país. Ocidentais não entendem que temos problemas mais graves, como desemprego e temas políticos. Tanto Parissa como Setareh, a piloto de avião, dizem que o véu restringe o assédio. Na época do xá, homens mexiam com as mulheres nas ruas ou no transporte público, assobiando ou passando a mão. Há que reconhecer que isso é raro hoje, diz a empresária.

que não fossem da família, sob pena de se expor à chibata ou à cadeia. Apedrejamento Adultério tornou-se passível de execução por apedrejamento. A carência de dados oficiais a respeito desse tipo de pena e o fato de que ela, em muitas ocasiões, é aplicada por cortes locais (que podem agir de maneira autônoma) não permite estimar com precisão sua ocorrência. Organizações de defesa de direitos humanos fazem avaliações divergentes da situação, mas é seguro afirmar que até o início dos anos 2000 o apedrejamento havia sido imposto dezenas de vezes, incluindo aqueles contra homens. As políticas islamitas geraram uma posição extremamente desvantajosa para as mulheres ao reforçarem a dominação masculina, restringir a autonomia feminina e criar um padrão de relações entre gêneros profundamente desigual, escreveu a feminista Valentina Moghadam, radicada no Ocidente, em artigo científico produzido para o centro de estudos americano Wilson Center, em 2004. Dois acontecimentos, porém, modificaram de forma inesperada a condição feminina no Irã. O primeiro foi a disparada do número de mulheres nas universidades após a revolução. Nos tempos da monarquia, famílias conservadoras preferiam manter as filhas dentro de casa para preservá-las de ambientes vistos como promíscuos. A

adoção de rígidas leis morais tranquilizou os patriarcas, que passaram a permitir o estudo das meninas. Isso pavimentou o caminho para os altos níveis de instrução das iranianas observados hoje. O segundo fator decisivo foi a guerra deflagrada em 1980, quando tropas do ditador iraquiano Saddam Hussein atacaram e invadiram o Irã, com anuência dos EUA. Ao longo de oito anos, o conflito mobilizou, matou e mutilou centenas de milhares de homens, abrindo espaço para maior participação das mulheres no mercado. A situação da mulher continuou progredindo após o fim da guerra e a morte de Khomeini, em 1989. No plano econômico, o rastro de inflação, desemprego e escassez de recursos pósconflito compeliu o presidente Ali Akbar Hashemi Rafsanjani (1989-97) a restringir o crescimento demográfico. Graças a uma bem-sucedida política de planejamento familiar, a média de filhos por mulher despencou de 5,2 em 1986 para 1,6 em 2011. Durante o governo Rafsanjani, a polícia moral se tornou menos agressiva. Em 1992 surgiu a revista Zanan, primeira publicação local para o público feminino. A gradual abertura interna culminou com a eleição à Presidência do reformista Mohammad Khatami, em 1997. Iniciava a era dos véus coloridos, dos batons berrantes e das roupas mais justas. Plásticas no nariz e implantes de silicone viraram febre, e a idade mínima para que as mulheres se casassem

subiu para 13 anos. A época selou, ainda, o início da disseminação em larga escala das antenas parabólicas (ilegais, mas onipresentes) e da internet (acessada graças a programas que contornam os filtros do regime). Muitos recordam a euforia que contagiou setores da classe média devido à proliferação de shows, filmes e peças de teatro. A então crescente sintonia com o mundo externo ajudou a dar voz ao movimento feminista. Em 2003, a juíza e militante de direitos humanos Shirin Ebadi ganhou o Nobel da Paz. Sob Khatami, mulheres acederam ao primeiro escalão do governo e, em 1998, a cientista política Zahra Rahnavard assumiu o comando da Universidade Alzahra de Teerã, tornando-se a primeira reitora da república islâmica. Retrocesso Muitas conquistas retrocederam com a chegada de Ahmadinejad ao poder, em 2005. A guarda moral voltou a infernizar as moças. A revista Zanan foi banida. A Justiça, por sua vez, tornou a sentenciar morte por apedrejamento, no caso de Sakineh Ashtiani, acusada de adultério e cumplicidade no assassinato do marido. Sob pressão internacional, o Irã recuou da lapidação, mas manteve a mãe de dois filhos na prisão em situação indefinida. Há duas semanas, o chefe da Comissão de Direitos Humanos do Irã, Mohammad-Javad Larijani, anunciou que Sakineh havia sido libertada por bom compor-

tamento. O Comitê Internacional contra o Apedrejamento, ONG com sede na Europa, dá outra versão. A acusada teria sido solta após tentar se matar engolindo pregos. Sua morte geraria uma pressão terrível contra o regime, que preferiu se livrar do incômodo, disse à Folha uma fonte do comitê. Mas o pior legado de Ahmadinejad quanto à mulher, segundo uma ilustre feminista, foi a paralisação da luta contra aquela que continua sendo a maior injustiça às iranianas: inferioridade perante a lei. Perdemos oito anos, diz, por telefone, Sussan Tahmasebi, 47, radicada nos EUA. A exemplo de Shirin Ebadi que se exilou no Reino Unido após a controversa reeleição de Ahmadinejad, em 2009, Tahmasebi teve de sair do Irã após haver defendido mudanças na legislação.Pessoalmente, culturalmente ou socialmente, as mulheres obtiveram avanços. Mas a lei está em defasagem gritante com a realidade, lamenta Sussan. No tribunal, o testemunho feminino ainda vale metade do masculino. O preço do sangue, indenização paga pela família de um assassino a parentes da vítima, também é inferior em caso de morte de mulher. A herança dos filhos é maior que a das filhas. Homens podem pedir divórcio com mais facilidade. A mãe tem chances mínimas de obter a guarda dos filhos. Homens também são os principais beneficiados pelo sigheh, espécie de casamento temporário no qual o casal define um prazo de validade (que pode

ser revogado se houver comum acordo e que vai de algumas horas a 99 anos), para tornar lícitas relações sexuais. O pacto, que não precisa ser registrado, supõe alguma compensação financeira à mulher. Enquanto um homem pode acumular vários sighehs, a mulher precisa esperar a expiração do acordo para emendar um segundo. Na prática, o dispositivo acaba sendo um artifício para maquiar prostituição. Vulnerável nos tribunais, a iraniana carece de recursos para reagir a humilhações de todo tipo. No ano passado, a Federação Iraniana de Natação se recusou a oficializar o recorde de Elham Asghari, que, embora coberta da cabeça aos pés por um traje preto, percorreu 20 km no mar Cáspio mais rápido que qualquer pessoa no país. A marca da atleta não foi registrada sob o pretexto de as formas de seu corpo terem ficado à mostra quando ela saiu da água. Meses depois, autoridades impediram Nina Moradi de assumir a cadeira de vereadora para a qual fora eleita, no norte do país, alegando que sua beleza perturbaria o trabalho dos políticos locais. Surpresa Para surpresa de muitos ocidentais, existem iranianas favoráveis à desigualdade. Essas diferenças existem no Corão. Mulheres são seres emocionais, incapazes de tomar decisões de forma adequada, argumenta a dona de casa Mansureh H., 47, que apoia a obrigatoriedade do véu.

Respaldo Mudar o status legal da mulher exigiria respaldo concomitante de três das instâncias mais conservadoras do regime: o Poder Judiciário, o Parlamento e o Conselho de Guardiães da Revolução (grupo de 12 fiscais ideológicos). A julgar pela crescente pressão interna, a lei não mudará tão cedo. A estudante e ativista pelos direitos da mulher Maryam Shafipour, 29, foi condenada no início de março a sete anos de prisão por propaganda contra o Estado. Maryam tem problemas de circulação, e sua saúde vem piorando na cadeia, segundo relato de parentes ao site reformista Kaleme. O caso se parece ao da feminista Bahareh Hedayat, 32, presa desde 2010 pelo mesmo pretexto. O Judiciário mantémse indiferente à campanha pela libertação das ativistas que buscam direitos iguais. O cerco vai muito além da luta feminista. Execuções dispararam desde o fim do ano passado. Jornalistas voltaram a ser perseguidos. Presos políticos em liberdade condicional retornaram às celas. A guinada é vista como demonstração de força dos inimigos de Rowhani no fragmentado tabuleiro da teocracia iraniana. Obrigados a engolir as concessões do presidente ao Ocidente na área nuclear, os ultraconservadores, influentes e numerosos, manobram para deixar claro quem manda em casa inclusive na questão feminina. Enquanto seus subordinados se digladiam, o aiatolá Ali Khamenei, chefe absoluto da teocracia iraniana, cultiva a ambiguidade. Mas, no discurso do Ano Novo persa, na semana passada, Khamenei disse que cultura é mais importante que economia. Em aparente sinal de apoio às facções contrárias à liberalização da sociedade, ele pediu às autoridades que combatam brechas culturais perigosas.


G6

MANAUS, DOMINGO, 30 DE MARÇO DE 2014

Diário de Los Angeles O MAPA DA CULTURA

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Uma goleada no museu Em vídeo, seleção toma 17 gols do México

FERNANDA EZABELLA

O americano no elevador me pergunta para onde vou. Vou ver a exposição “Fútbol”, respondo. “Curioso...”, ele divaga. “É sobre ‘american football’ ou ‘soccer’?” Basta entrar na primeira sala para ver que se trata de “soccer” (futebol em português ou “fútbol” em espanhol). A obra a receber o visitante é “Maracanã”, de Nelson Leirner, único brasileiro entre os 32 artistas participantes. Mas Pelé está lá, na serigrafia de Andy Warhol de 1978. E também os gritos da torcida do Corinthians, ecoando pelos corredores, numa grande videoinstalação de Stephen Dean. O vídeo traz imagens dos fãs nas arquibancadas como se fossem pinturas abstratas em movimento. Quase metade dos habitantes de Los Angeles é de origem latino-americana, e a cidade é a única dos EUA a ter dois times na principal

liga de futebol do país, LA Galaxy e Chivas USA. “Por que ‘fútbol’? É uma exposição internacional. Então por que não chamá-la como a maioria do planeta chama o esporte?”, explica o curador Franklin Sirmans, do Los Angeles County Museum of Art. Sirmans cresceu jogando futebol e participou da escolinha do Pelé em Nova York, nos anos 1970, aos 8 anos. “Ele era um embaixador do esporte e aparecia para dar demonstrações. Era incrível”, lembra. “Domingo era dia de ver futebol. Ou de ver exposições de arte. Meu pai me levava aos dois”. Um destaque da mostra, em cartaz até julho, é um vídeo de Miguel Calderón em que o Brasil perde para o México de 17 a 0. Na vida real, L.A. foi palco da final da Copa de 1994, quando o Brasil ganhou seu quarto título sobre a Itália. Reis do mau gosto O museu The Broad só

abre em 2015, mas já tem programação com artistas de sua coleção. Em fevereiro, Jeff Koons foi entrevistado pelo diretor John Waters, num teatro lotado do centro. Na plateia, artistas ilustres como Ed Ruscha e Paul McCarthy. Koons, conhecido como o “rei do kitsch”, e Waters, o “papa do trash”, conversaram sobre inspirações e infância. Koons contou que só virou rebelde aos 16 anos, quando começou a ouvir Led Zeppelin. Disse que não sente pressão na hora de criar: “É um exercício da liberdade”, e defendeu seu estilo de produção industrial: “Tenho medo de me envolver muito fisicamente”. Waters falou pouco e arrancou risadas. “Construi minha carreira me rebelando contra regras do bom gosto”, afirmou. “Durante um tempo, fui pesquisador do instituto Gallup. Batia na porta das pessoas e ninguém me atendia porque eu parecia um louco. Então inventava tudo.

Aprendi assim a construir personagens”. Em 29 de maio, será a vez de Takashi Murakami e Pico Iyer. Os próximos convidados são Eric Fischl e Steve Martin (23/6), John Currin e James Cuno (14/9) e Kara Walker e Ava DuVernay (11/10). No rastro de Pollock Depois de 20 meses de restauração, a emblemática pintura “Mural”, de Jackson Pollock (1912-56), está em exibição no Getty Center, um museu com os jardins e vistas mais lindas da cidade. A obra de 1943, encomendada pela colecionadora Peggy Guggenheim para seu apartamento de Nova York, chegou ao Getty Center em 2002 para uma profunda pesquisa sobre os materiais usados pelo artista, que, à época da realização de “Mural”, começava a flertar com a técnica pela qual seria reconhecido, o derramamento da tinta, ou “dripping”. Em 6 de maio, o museu

organiza um simpósio sobre o trabalho. O Getty Center tem entrada gratuita e abriga diversas outras mostras, como uma nova com fotografias de Ansel Adams (1902-84). Máquina mortífera Poucos se lembram, mas o médico americano Jack Kevorkian (1928-2011) – apelidado de Doutor Morte por defender e realizar suicídio assistido em mais de cem pacientes nos anos 90 –, era também compositor, inventor, escritor e artista plástico. Doze de suas pinturas estarão à venda numa mostra a partir desta quarta, na Gallerie Sparta, em West Hollywood. Também estará à mostra uma de suas máquinas da morte, chamada “Thanatron” (mistura das palavras gregas para “morte” e “máquina”), a ser leiloada na abertura. Kevorkian passou oito anos preso após se recusar a parar seu trabalho de eutanásia.


G7 G

MANAUS, DOMINGO, 30 DE MARÇO DE 2014

Arquvio Aberto MEMÓRIAS QUE VIRAM HISTÓRIAS

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O fototeatro de Plínio Marcos São Paulo, 1968 DANIEL GUIMARÃES/FOLHAPRESS

Páginas de ‘Navalha na Carne’, na edição de Pedro Bandeira

PEDRO BANDEIRA

No final dos anos 50 e início dos 60, vivi o teatro amador em Santos, como companheiro e ator de Plínio Marcos e sob o incentivo de Pagu, a Patrícia Galvão. No final de 61, eu e Plínio mudamos para São Paulo e continuamos metidos em teatro. O Plínio escreveu uma peça para os dois atores famintos que éramos, com a intenção de sairmos de ônibus, eu e ele, mambembando pelo interior para ganhar alguns trocados. A coisa era fácil, pois a peça dispensava cenários, e os figurinos eram as mesmas roupas que nos cobriam no dia a dia. Mas eu já estava na USP e enveredava pelo jornalismo, onde o salário não era grande, mas chegava no final de cada mês, o que não ocorria no teatro. O Plínio então convidou outro amigo, e os dois encenaram a genial “Dois Perdidos numa Noite Suja”. Logo ele escreveria “Navalha na Carne”, e a peça foi ensaiada com Ruthinéia

de Moraes no papel de Neusa Sueli, Paulo Villaça fazendo Vado e Edgard Gurgel Aranha como Veludo. Mas eram os anos 1967/68, e a ditadura já endurecia, censurando a arte e impedindo os brasileiros de assistir a encenações de sua realidade para não corrermos o risco de encarar nossas próprias mazelas. Eu trabalhava numa editora e não pude me conformar com a proibição da peça: como podia uma originalidade como aquela permanecer desconhecida dos brasileiros? Ah, isso não! Resolvi publicar a peça, mas, como quase todo o teatro do Plínio Marcos, o texto era curto demais e não daria um livro com a presença que seu conteúdo merecia. Além disso, eu já havia assistido aos ensaios e me emocionado com a brutalidade do cafetão encarnado pelo Paulo Villaça, com a pobreza da prostituta de Ruthinéia e com a humanidade frágil do Veludo representado pelo Edgard. O texto era brilhante, mas interpretações como aquelas não pode-

riam se perder. Tive então a ideia de “encenar” a peça em livro, fazer teatro no papel. A editora pagou cachês para os três atores e eles iam sendo fotografados lentamente, cena a cena. Produzi então um livro em que o tamanho do corpo das letras mostrava a intensidade das falas, “berrando” em 72 pontos, quando o Vado xingava a pobre Neusa Sueli, e caindo para corpo 6, quando ela se lamentava e sussurrava para escapar da violência do cafetão. Ficou uma lindeza, e a tiragem esgotou-se em poucos dias. No entanto a maravilhosa Tônia Carrero, como era de família de generais, conseguiu que a peça fosse especialmente liberada (só para ela, pois em seguida voltou a ser proibida) e a encenou no Rio, no Teatro Maison de France. Peguei um ônibus e lá fui eu assistir à estreia. Que coisa inesquecível! O baixinho Nelson Xavier fez o Vado e parecia um gigante Adamastor

em cena, apavorando toda a plateia lotada e embasbacada. O Veludo era Emiliano Queiroz e nós tremíamos a cada fala de resistência dele à brutalidade do cafetão. Mas a Tônia Carrero... Hoje em dia ninguém acredita, mas eu garanto que ela, a mulher mais linda que o Sol já iluminou sobre a Terra, conseguiu ficar... feia! Pois é: Plínio Marcos conseguiu humanizar e pôr no palco personagens aos quais as pessoas viram o rosto quando, por acaso, passam por elas. Gente como as prostitutas de rua, seus pobres cafetões, os empregadinhos das pensões fuleiras, os mendigos, os despossuídos, os excluídos. Hoje talvez sua sensibilidade nos explicasse a humanidade que existe sob a pele desses miseráveis que perambulam sob os efeitos do crack. Mas ele já se foi, a encenar suas peças em companhia da Ruthinéia, do Paulo Villaça, do Edgard, na memória de quem os viu. Como ele, quem outro haverá?


G8

MANAUS, DOMINGO, 30 DE MARÇO DE 2014


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