Jean-François Quinton - Novos Animais de Estimação - Pequenos Mamíferos (Rev)

Page 1


Novos Animais de Estimação Pequenos Mamíferos

Destinado tanto ao clínico quanto ao estudante de veterinária, esta obra, completa e didática, reúne a essência dos conhecimentos necessários à recepção, consulta e acompanhamento dos Novos Animais de Estimação no ambiente veterinário. As particularidades desses animais geram conhecimentos e técnicas complementares àquelas dos animais domésticos mais comuns. Este livro é uma obra prática para o aprendizado sobre clinica e cirurgia dos Novos Animais de Estimação. Em cada uma das quatro partes (mustelídeos, lagomorfos, caviomorfos e miomorfos), os capítulos abrangem um grande leque de assuntos relativos a cada espécie: • Aspectos gerais, indispensáveis ao entendimento desses animais (histórico, características anatômicas e fisiológicas, e reprodução). • Descrições precisas de vários procedimentos técnicos, considerando as particularidades anatômicas (contenção, anestesia, cirurgia). • Realização e interpretação de exames de sangue, orientações para diagnósticos radiográficos. • Doenças freqüentemente constatadas (de origem infecciosa, parasitária ou endócrina, sem esquecer as disfunções neurológicas e cardíacas), com possíveis etiologias, sintomas, diagnóstico diferencial e tratamento.


NOVOS ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO PEQUENOS MAMÍFEROS


NOVOS ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO PEQUENOS MAMÍFEROS

Jean-François Quinton Médico Veterinário Especialista em Hematologia e Bioquímica Clínica Animal. Responsável por Consultas e Aulas sobre Novos Animais de Estimação na École Nationale Vétérinaire de Maisons-Alfort.

Prefácio de Susan A. Brown

ROCA


Traduzido do Original: Nouveaux Animaux de Compagnie: Petits Mammifères Copyright © MASSON-AFVAC, Paris, 2003 ISBN: 2-294-00993-2 Copyright © 2005 pela Editora Roca Ltda. ISBN: 85-7241-579-3 Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, guardada pelo sistema "retrieval" ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, seja este eletrônico, mecânico, de fotocópia, de gravação, ou outros, sem prévia autorização escrita da Editora. Tradução ROBERTA FERRO DE GODOY Médica Veterinária Pós-graduanda da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da UNESP - Campus Jaboticabal. Revisão Científica Prof. Dr. José Jurandir Fagliari Professor Adjunto da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da UNESP Campus Jaboticabal. CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ. Q75n Quinton, Jean-François Novos animais de estimação: pequenos mamíferos / Jean-François Quinton ; prefácio de Susan A. Brown: [tradução Roberta Ferro de Godoy ; revisão José Jurandir Fagliari]. - São Paulo : Roca, 2005 Tradução de: Nouveaux animaux de compagnie : petits mammifères Anexos Inclui bibliografia ISBN 85-7241-579-3 1.Animais de estimação. 2. Animais domésticos. 3. Veterinária. I. Título.

05-1288

CDD 636.089 CDU 619:636.96

2005 Todos os direitos para a língua portuguesa são reservados pela EDITORA ROCA LTDA. Rua Dr. Cesário Mota Jr., 73 CEP 01221-020 - São Paulo - SP Tel.: (11) 3331-4478-Fax: (11) 3331-8653 E-mail: vendas@editoraroca.com.br - www.editoraroca.com.br Impresso no Brasil Printed in Brazil


PREFÁCIO Quando iniciei minha atividade com "animais exóticos", há 25 anos, o conhecimento sobre esses animais era muito limitado. Vários veterinários acreditavam que tais animais, ainda não considerados novos animais de estimação (NAE), não poderiam desfrutar do mesmo carinho por parte dos proprietários quanto aquele propiciado aos cães e gatos, e que ninguém estaria pronto a investir dinheiro para lhes oferecer cuidados de saúde de qualidade. Os fatos nos mostraram como tudo isso era falso. Na verdade, cada um desses animais é único e procura um lugar para si no coração de seu dono, pois é capaz de criar sólido vínculo afetivo com o proprietário. Portanto, é essencial que o conhecimento desses novos animais de estimação continue a evoluir dentro da medicina veterinária, a fim de lhes oferecer cuidados de ótima qualidade. Graças à melhor compreensão de suas condições de criação e ao melhor conhecimento de suas doenças específicas, podemos lhes oferecer todas as chances de sobreviver em um ambiente saudável, familiar e confortável. Esse livro, destinado aos pequenos mamíferos, fornece uma fonte de informações indispensáveis e contribui sobremaneira para um melhor conhecimento do assunto. Encontrei o Dr. Quinton há muitos anos, em um congresso veterinário realizado nos EUA. Era evidente que ele nutria o mais vivo interesse pelos NAE e, naturalmente, convidei-o a visitar nossa Clínica de Chicago, que atende exclusivamente esses animais, desde sua criação, há 20 anos. Ao fim de uma estadia de várias semanas, sua paixão estava concretizada; ele deixou Chicago mais determinado que nunca a atender esse novo tipo de animais familiares. Tive o prazer de visitá-lo em sua clínica, em Paris, há 2 anos, e pude constatar que ele se tornou um autêntico clínico de NAE, sempre tomado pela mesma paixão. Muito atento ao bem-estar de seus pacientes, ele me parece ser a pessoa mais indicada para escrever um livro dedicado a esses pequenos mamíferos. Sinceramente, creio que todo clínico veterinário compreenderá que esse livro é muito útil, pois fornece as chaves de entrada para o mundo dos pequenos


mamíferos. O leitor navega nessa obra com grande facilidade, pois foi concebida para ser de uso prático, com clara marcação dos pontos importantes. Esse livro é consagrado, em detalhes, a todos os NAE comumente atendidos nas clínicas veterinárias: furão, coelho, cobaia, chinchila, degu, rato, camundongo e hamster. Cada um dos capítulos abrange uma grande variedade de assuntos referentes a cada espécie: sua história, suas particularidades anatômicas e fisiológicas e seu modo de reprodução, pré-requisitos indispensáveis ao atendimento desses animais. Também há conselhos técnicos: contenção, realização e interpretação de exames de sangue e dicas para diagnósticos radiográficos. Os procedimentos cirúrgicos são abordados levando em consideração as particularidades anatômicas e as contraindicações de anestésicos, inerentes a cada espécie. Por fim, encontramos uma parte bastante detalhada que aborda as doenças freqüentemente diagnosticadas em cada espécie, sejam elas de origem infecciosa, parasitária ou endócrina, sem esquecer os distúrbios neurológicos e cardíacos. Para cada uma dessas doenças, são claramente expostas as várias etiologias possíveis, os sintomas, o diagnóstico diferencial e o tratamento. Um dos aspectos mais atraentes nesse livro é a presença de quadros que conduzem o leitor à compreensão imediata de uma informação essencial. Assim, o clínico pode encontrar facilmente a informação de que necessita. Os quadros, completos, retomam as informações relacionadas à fisiologia, reprodução, hematologia e bioquímica dessas espécies. Além disso, o Dr. Quinton incluiu no final do livro uma extensa lista de medicamentos e posologias que será, tenho certeza, utilizada com muita freqüência. Sinto-me contente e honrada em redigir o prefácio deste livro, que representa um ponto de partida e deverá servir de referência para os anos que virão.

Susan A. Brown Doutora em Medicina Veterinária Midwest Bird and Exotic Animal Hospital, Westchester, EUA


ÍNDICE PREFÁCIO ..................................................................................................................6 Mustelídeos: Furão....................................................................................................21 Aspectos Gerais ........................................................................................................22 HISTÓRICO...........................................................................................................22 BIOLOGIA..............................................................................................................23 Longevidade.......................................................................................................23 Morfologia ..........................................................................................................23 Peso ...................................................................................................................23 Muda e crescimento dos pêlos...........................................................................24 CARACTERÍSTICAS ANATÔMICAS ....................................................................24 Tegumento .........................................................................................................24 Fórmula dentária ................................................................................................24 Tubo digestivo....................................................................................................25 Aparelho circulatório ..........................................................................................25 PARÂMETROS FISIOLÓGICOS ...........................................................................25 VALORES BIOLÓGICOS ......................................................................................25 Bioquímica .........................................................................................................25 Hematologia .......................................................................................................27 Urina...................................................................................................................28 CONSELHOS PARA CRIAÇÃO ............................................................................28 Ambiente ............................................................................................................28 Comportamento .................................................................................................29 Alimentação .......................................................................................................30 Higiene ...............................................................................................................32 REPRODUÇÃO .....................................................................................................32 Sexagem ............................................................................................................32 Maturidade sexual..............................................................................................33 Época de reprodução .........................................................................................33 Cópula................................................................................................................33 Gestação............................................................................................................33 Criação dos filhotes............................................................................................34 Procedimentos e Cuidados Básicos..........................................................................35 CONTENÇÃO........................................................................................................35 COLETA DE AMOSTRAS PARA EXAME .............................................................36 Amostras de sangue ..........................................................................................36 Veia cefálica.......................................................................................................36 Veia safena lateral .............................................................................................37 Veia jugular ........................................................................................................37 Veia cava cranial................................................................................................37 Amostras de urina ..............................................................................................38 HlDRATAÇÃO .......................................................................................................38 Necessidades diárias .........................................................................................38 Via subcutânea ..................................................................................................39 Via intravenosa ..................................................................................................39 Via intra-óssea ...................................................................................................39 TRANSFUSÃO DE SANGUE ................................................................................39 Radiografia ............................................................................................................40 PROFILAXIA MÉDICA...........................................................................................42


Vacinação ..............................................................................................................42 Calendário de vacinação .......................................................................................42 Cinomose ...........................................................................................................42 Raiva ..................................................................................................................42 Reação vacinal...................................................................................................43 Cinomose vacinal...............................................................................................43 Tratamento antiparasitário .....................................................................................44 Helmintos intestinais ..........................................................................................44 Pulgas ................................................................................................................44 Carrapatos .........................................................................................................45 Otodectes...........................................................................................................45 CIRURGIAS DE CONVENIÊNCIA.........................................................................46 Anestesia ...........................................................................................................46 Anestesia fixa.....................................................................................................46 Doses sedativas.................................................................................................46 Doses anestésicas .............................................................................................47 Anestesia inalatória............................................................................................47 Identificação .......................................................................................................47 Esterilização.......................................................................................................48 Castração...........................................................................................................48 Ovariectomia ......................................................................................................48 Ablação das glândulas anais..............................................................................49 Principais enfermidades ............................................................................................50 VlROLOGIA ...........................................................................................................50 Doença aleutiana ...............................................................................................50 Gripe ..................................................................................................................51 Cinomose ...........................................................................................................52 Raiva ..................................................................................................................53 Gastroenterologia...............................................................................................54 Megaesôfago .....................................................................................................54 Corpos estranhos...............................................................................................55 Úlcera gástrica ...................................................................................................55 Enterites inflamatórias e infecciosas ..................................................................56 Gastroenteríte eosinofílica .................................................................................56 Enterocolite proliferativa.....................................................................................57 Enterite catarral (diarréia verde por coronavírus)...............................................58 Enterite neonatal ................................................................................................59 Salmonelose ......................................................................................................59 Coccidiose..........................................................................................................60 Hepatopatias ......................................................................................................60 Neoplasias .........................................................................................................61 Esplenomegalia..................................................................................................61 Pneumologia..........................................................................................................62 Rinite ..................................................................................................................62 Infecções respiratórias bacterianas....................................................................63 Blastomicose......................................................................................................64 Urologia, Nefrologia e Patologia da Reprodução ...............................................64 Mastite................................................................................................................64 Urolitíase ............................................................................................................65 Cistite .................................................................................................................66


Piometra.............................................................................................................66 Hiperprostatismo ................................................................................................67 Policistose renal .................................................................................................67 Insuficiência renal ..............................................................................................68 CARDIOLOGIA......................................................................................................69 Particularidades da semiologia cardíaca ...............................................................69 Auscultação........................................................................................................69 Radiografia.........................................................................................................70 Eletrocardiograma..............................................................................................70 Ecocardiografia ..................................................................................................70 Principais cardiopatias...........................................................................................71 Cardiomiopotia dilatada .........................................................................................71 Cardiomiopatia hipertrófica ....................................................................................72 Valvopatias ............................................................................................................73 Filariose .................................................................................................................74 NEUROLOGIA.......................................................................................................75 Paresia dos membros pélvicos ..........................................................................75 Raiva ..................................................................................................................76 Cinomose ...........................................................................................................76 Criptococose ......................................................................................................76 EPILEPSIA.........................................................................................................76 DERMATOLOGIA..................................................................................................77 Alopecia .............................................................................................................77 Dermatofitose.....................................................................................................77 Demodicose .......................................................................................................78 Piodermite ..........................................................................................................78 Neoplasias .........................................................................................................78 Mastocitoma.......................................................................................................78 Adenoma das glândulas sebáceas, adenocarcinoma............................................79 Condroma ..............................................................................................................79 Fibrossarcoma .......................................................................................................79 Outros tumores ......................................................................................................80 ENDOCRINOPATIAS ............................................................................................81 HlPERESTROGENISMO ...................................................................................81 Doença da adrenal.............................................................................................84 Epidemiologia.....................................................................................................85 Sintomas ............................................................................................................85 Etiopatogenia.........................................................................................................86 Lesões das glândulas adrenais..........................................................................86 Hipóteses etiológicas .........................................................................................86 Diagnóstico ............................................................................................................87 Tratamento.........................................................................................................88 Tratamento cirúrgico ..........................................................................................88 Tratamento médico ............................................................................................90 ONCOLOGIA .........................................................................................................92 Insulinoma..........................................................................................................92 Etiologia .............................................................................................................93 Sintomas ............................................................................................................93 Diagnóstico ........................................................................................................94 Tratamento.........................................................................................................95


Tratamento higiênico..........................................................................................95 Tratamento médico ............................................................................................96 Tratamento cirúrgico ..........................................................................................96 Linfoma ..............................................................................................................97 Sintomas ............................................................................................................98 Diagnóstico ........................................................................................................99 Tratamento.........................................................................................................99 Lagomorfos: Coelho ................................................................................................102 Aspectos Gerais ......................................................................................................103 SISTEMÁTICA.....................................................................................................103 Diferentes espécies..........................................................................................103 Diferenças entre roedores e lagomorfos ..........................................................103 Histórico ...........................................................................................................104 BIOLOGIA............................................................................................................105 Morfologia ........................................................................................................105 Peso ....................................................................................................................105 Tamanho..............................................................................................................105 Constantes fisiológicas.....................................................................................105 Modo de vida....................................................................................................106 Comunicação ...................................................................................................106 Órgãos sensoriais ............................................................................................107 CARACTERÍSTICAS ANATÔMICAS ..................................................................107 Tegumento .......................................................................................................108 Relação musculoesquelética............................................................................108 Olhos e anexos ................................................................................................108 Aparelho cardiorrespiratório.................................................................................108 Aparelho digestivo ...............................................................................................108 Cavidade oral ...................................................................................................108 Órgãos digestivos ............................................................................................109 Aparelho genital ...............................................................................................110 CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS.................................................................110 Fisiologia digestiva ..............................................................................................111 Crescimento e desgaste dentário.....................................................................111 Mecanismos digestivos ....................................................................................111 Estômago .........................................................................................................112 Intestino delgado..............................................................................................112 Cólon................................................................................................................113 Ceco.................................................................................................................113 Cecótrofos........................................................................................................114 Importância das fibras ......................................................................................114 Vantagem da cecotrofia ...................................................................................115 Fisiologia respiratória .......................................................................................115 Particularidades da urina..................................................................................115 VALORES BIOLÓGICOS ....................................................................................116 Bioquímica .......................................................................................................116 Hematologia .....................................................................................................116 Urina.................................................................................................................118 CONSELHO PARA CRIAÇÃO.............................................................................118 Ambiente ..........................................................................................................118 Tamanho da gaiola ..........................................................................................119


Cama................................................................................................................120 Acessórios........................................................................................................121 Coabitação intra e interespécies..........................................................................121 Coabitação intra-espécie..................................................................................121 Coabitação com cobaia....................................................................................122 Coabitação com outros roedores .....................................................................122 Coabitação com carnívoros..............................................................................122 Comportamento ...............................................................................................122 Alimentação .....................................................................................................123 Necessidades nutricionais................................................................................123 Mistura de grãos ..............................................................................................123 Rações granuladas ..........................................................................................124 Feno .................................................................................................................125 Verduras...........................................................................................................125 Guloseimas ......................................................................................................126 Bebedouro........................................................................................................127 Cuidados particulares.......................................................................................128 REPRODUÇÃO ...................................................................................................128 Sexagem ..........................................................................................................128 Maturidade sexual............................................................................................128 Período de reprodução.....................................................................................129 Ciclo sexual......................................................................................................129 Acasalamento ..................................................................................................130 Gestação..........................................................................................................131 Parto.................................................................................................................131 Aleitamento ......................................................................................................131 Desenvolvimento dos filhotes...........................................................................132 Particularidades digestivas do filhote de coelho...............................................133 Procedimentos e Cuidados Básicos........................................................................134 EXAME CLÍNICO.................................................................................................134 Modos de contenção ........................................................................................134 Retirada do coelho da caixa de transporte.......................................................134 Contenção do coelho segurando-o contra si....................................................135 Contenção pelo dorso ......................................................................................135 Contenção com uma toalha .............................................................................135 Particularidades do exame clínico....................................................................137 CONDUTAS BÁSICAS.....................................................................................138 Aplicação de injeções.......................................................................................138 Via subcutânea ....................................................................................................138 Via intramuscular .................................................................................................138 Via intraperitoneal................................................................................................139 Via intravenosa ....................................................................................................139 Via intra-óssea.....................................................................................................139 Reidratação......................................................................................................139 Medicação oral.................................................................................................140 Irrigação do canal lacrimal ...............................................................................140 Coleta de amostras ..........................................................................................141 Coleta de sangue.................................................................................................141 Veia marginal da orelha .......................................................................................141 Veia jugular..........................................................................................................141


Veia cefálica ........................................................................................................141 Veia safena lateral ...............................................................................................141 Veia cava cranial .................................................................................................142 Coleta de urina ....................................................................................................142 RADIOGRAFIA ....................................................................................................142 PROFILAXIA MÉDICA.........................................................................................143 Vermifugação ...................................................................................................143 Vacinação ........................................................................................................144 Tratamentos antiparasitários externos .............................................................145 ANTIBIOTICOTERAPIA.......................................................................................146 ANESTESIA.........................................................................................................147 Particularidades ...............................................................................................147 Anestesia inalatória..........................................................................................148 Anestesia fixa...................................................................................................150 Monitoramento durante a anestesia.................................................................150 Esterilização ........................................................................................................151 Indicações ........................................................................................................151 Esterilização química ...........................................................................................151 Macho ..............................................................................................................151 Fêmea ..............................................................................................................151 Esterilização cirúrgica ..........................................................................................152 Castração.........................................................................................................152 Ovário-histerectomia ........................................................................................152 IDENTIFICAÇÃO .................................................................................................153 Tatuagem .........................................................................................................153 Transponder.....................................................................................................153 Principais Enfermidades..........................................................................................154 VlROLOGIA .........................................................................................................154 Mixomatose......................................................................................................154 Etiologia ...........................................................................................................155 Epidemiologia ......................................................................................................155 Sintomas..............................................................................................................156 Forma nodular clássica ....................................................................................156 Forma respiratória............................................................................................157 Diagnóstico ......................................................................................................158 Tratamento.......................................................................................................158 Profilaxia ..........................................................................................................158 Doença hemorrágica viral ....................................................................................158 Epidemiologia...................................................................................................159 Sintomas ..........................................................................................................159 Diagnóstico ......................................................................................................159 Tratamento.......................................................................................................160 Gastroenterologia ................................................................................................160 Enterites ...........................................................................................................161 Enterites relacionadas ao desequilíbrio da microbiota digestiva..........................161 Enterite colibacilar da desmama ......................................................................162 Epidemiologia...................................................................................................162 Sintomas ..........................................................................................................162 Tratamento.......................................................................................................162 Profilaxia ..........................................................................................................163


Enteropatia mucóide ........................................................................................164 Sintomas ..........................................................................................................164 Tratamento.......................................................................................................164 Enterotoxemia ..................................................................................................165 Epidemiologia...................................................................................................165 Patogenia .........................................................................................................165 Sintomas ..........................................................................................................165 Tratamento.......................................................................................................166 Fezes moles crônicas.......................................................................................166 Enterites bacterianas ...........................................................................................167 Colibacilose......................................................................................................167 Enterite por Clostridium spiroforme..................................................................167 Doença de Tyzzer ............................................................................................168 Sintomas ..........................................................................................................168 Diagnóstico ......................................................................................................168 Tratamento.......................................................................................................169 Enterites virais .....................................................................................................170 Coronavírus......................................................................................................170 Rotavírus..........................................................................................................170 Enterites parasitárias ...........................................................................................170 Helmintoses .....................................................................................................170 Coccidiose........................................................................................................171 Epidemiologia...................................................................................................171 Ciclo biológico do parasita ...............................................................................171 Sintomas ..........................................................................................................172 Diagnóstico ......................................................................................................172 Tratamento.......................................................................................................173 Estase intestinal ...............................................................................................173 Íleo.......................................................................................................................173 Íleo gástrico......................................................................................................173 Patogenia .........................................................................................................173 Sintomas ..........................................................................................................174 Diagnóstico ......................................................................................................174 Tratamento.......................................................................................................174 Íleo cecal ..........................................................................................................176 Obstrução intestinal (íleo mecânico) ................................................................177 Paralisia de ceco..............................................................................................177 Sintomas ..........................................................................................................178 Tratamento.......................................................................................................178 MÁ OCLUSÃO E ABSCESSOS DENTÁRIOS.....................................................178 MÁ OCLUSÃO.....................................................................................................179 Etiologia ...........................................................................................................179 Genética...........................................................................................................179 Traumática .......................................................................................................179 Alimentar ..........................................................................................................179 Metabólica........................................................................................................180 Patogenia .........................................................................................................181 Oclusão normal ................................................................................................181 Fator mecânico ................................................................................................181 Fator metabólico ..............................................................................................182


Conseqüências do crescimento anormal das raízes ........................................182 Infecção............................................................................................................183 Sintomas ..........................................................................................................183 Incisivos ...........................................................................................................183 Molares e pré-molares .....................................................................................183 Diagnóstico ......................................................................................................184 Exame da cavidade oral...................................................................................184 Radiografia.......................................................................................................184 Tratamento ..........................................................................................................185 Incisivos ...........................................................................................................185 Molares e pré-molares .....................................................................................185 Abscessos........................................................................................................186 PNEUMOLOGIA ..................................................................................................187 Mixomatose......................................................................................................187 Bordetelose ......................................................................................................188 Pasteurelose ....................................................................................................188 Patogenia .........................................................................................................188 Sintomas ..........................................................................................................189 Diagnóstico ......................................................................................................191 Prognostico ......................................................................................................191 Tratamento.......................................................................................................192 Profilaxia ..........................................................................................................192 Neoplasias .......................................................................................................193 UROLOGIA E NEFROLOGIA ..............................................................................194 Cistite e nefrite .................................................................................................194 Hipercalciúria ...................................................................................................195 Etiologia ...........................................................................................................195 Sintomas ..........................................................................................................195 Diagnóstico ......................................................................................................195 Tratamento.......................................................................................................196 Profilaxia ..........................................................................................................196 Urolitíase ..........................................................................................................196 Etiologia ...........................................................................................................197 Sintomas ..........................................................................................................197 Diagnóstico ......................................................................................................197 Tratamento.......................................................................................................198 Profilaxia ..........................................................................................................198 Insuficiência renal ............................................................................................198 Sintomas ..........................................................................................................198 Etiologia ...........................................................................................................198 Tratamento.......................................................................................................199 Incontinência urinaria...........................................................................................199 Sintomas ..........................................................................................................199 Etiologia ...........................................................................................................199 Diagnóstico ......................................................................................................200 Tratamento.......................................................................................................200 GINECOLOGIA....................................................................................................201 Adenocarcinoma de útero....................................................................................201 Epidemiologia...................................................................................................201 Sintomas ..........................................................................................................202


Diagnóstico ......................................................................................................202 Tratamento.......................................................................................................202 Profilaxia ..........................................................................................................202 Infecções genitais ................................................................................................203 Metrite – piometra ............................................................................................203 Orquite .............................................................................................................203 Sífilis.................................................................................................................203 Sintomas ..........................................................................................................204 Diagnóstico ......................................................................................................204 Tratamento.......................................................................................................204 Distúrbios metabólicos relacionados à reprodução .............................................204 Toxemia da prenhez ........................................................................................204 Hipocalcemia....................................................................................................205 Neurologia ...........................................................................................................206 Torcicolo (síndrome vestibular) ........................................................................206 Pasteurelose ....................................................................................................207 Encefalitozoonose............................................................................................208 Paralisia dos membros pélvicos.......................................................................209 Traumatismo ....................................................................................................209 Toxoplasmose..................................................................................................210 Estresse pelo calor...........................................................................................211 Convulsões ......................................................................................................211 DERMATOLOGIA................................................................................................212 Ectoparasitoses ...................................................................................................212 Cheiletielose.....................................................................................................212 Otodectose.......................................................................................................213 Miíases.............................................................................................................214 Carrapatos .......................................................................................................215 Outras ectoparasitoses ....................................................................................215 Dermatofitoses .................................................................................................215 Infecções bacterianas..........................................................................................216 Abscessos........................................................................................................216 Pododermatite ulcerativa..................................................................................218 Infecções virais ................................................................................................219 OFTALMOLOGIA ................................................................................................220 Uveíte...............................................................................................................221 Distrofia de córnea ...........................................................................................221 Membrana epicorneana ...................................................................................221 Conjuntivite ......................................................................................................221 Infecção do canal lacrimal (dacriocistite)..........................................................222 Patogenia .........................................................................................................222 Tratamento.......................................................................................................223 Olho de cereja..................................................................................................223 Exoftalmia ........................................................................................................224 Unilateral ..........................................................................................................224 Bilateral ............................................................................................................224 ORTOPEDIA........................................................................................................224 ZOONOSES ........................................................................................................225 Caviomorfos: Cobaia, Chinchila, Degu (ou Degu do Chile).....................................227 Aspectos Gerais ......................................................................................................228


BIOLOGIA............................................................................................................228 CARACTERÍSTICAS ANATÔMICAS ..................................................................229 Características Fisiológicas .................................................................................229 Parâmetros fisiológicos ....................................................................................229 Fisiologia digestiva ...........................................................................................230 VALORES BIOLÓGICOS ....................................................................................230 Bioquímica sangüínea......................................................................................230 Hematologia .....................................................................................................231 Urina.................................................................................................................232 CONSELHOS PARA CRIAÇÃO ..........................................................................232 Modo de vida....................................................................................................232 Alojamento .......................................................................................................233 Cobaia..............................................................................................................233 Chinchila ..........................................................................................................233 Degu.................................................................................................................234 Alimentação .........................................................................................................234 Cobaia..............................................................................................................234 Chinchila ..........................................................................................................236 Degu.................................................................................................................237 Bebedouro........................................................................................................237 REPRODUÇÃO ...................................................................................................238 Sexagem ..........................................................................................................238 Criação artificial................................................................................................239 Procedimentos e Cuidados Básicos........................................................................240 CONTENÇÃO......................................................................................................240 Cobaia..............................................................................................................240 Chinchila ..........................................................................................................240 Degu.................................................................................................................240 COLETA DE AMOSTRAS PARA EXAME ...........................................................241 ANTIBIOTICOTERAPIA.......................................................................................241 ANESTESIA.........................................................................................................241 Principais enfermidades ..........................................................................................243 COBAIA ...............................................................................................................243 Distúrbios metabólicos.........................................................................................244 Anorexia ...........................................................................................................244 Carência de vitamina C ....................................................................................244 Sintomas nos animais jovens...........................................................................244 Sintomas nos animais adultos..........................................................................245 Tratamento.......................................................................................................245 Deficiência de vitamina E .................................................................................245 Má oclusão.......................................................................................................246 Pneumologia ....................................................................................................247 Dermatologia .......................................................................................................248 Linfadenite cervical ..........................................................................................248 Inflamação labial ..............................................................................................249 Pododermatite..................................................................................................249 Alopecia ...........................................................................................................250 Dermotofitose...................................................................................................251 Ectoparasitas .......................................................................................................252 Ácaros ..............................................................................................................252


Piolhos .............................................................................................................253 Pulgas ..............................................................................................................253 Neoplasias cutâneas........................................................................................253 Otoematomas...................................................................................................253 NEUROLOGIA.....................................................................................................254 Síndrome vestibular .........................................................................................254 Meningoencefalomielite....................................................................................254 Estresse pelo calor...........................................................................................254 Oftalmologia .....................................................................................................255 GINECOLOGIA....................................................................................................255 Distocia ............................................................................................................255 Toxemia da prenhez ........................................................................................256 Abortamento.....................................................................................................257 Cistos ovarianos...............................................................................................257 Mastite..............................................................................................................258 Neoplasias mamárias.......................................................................................258 Urologia e nefrologia ........................................................................................259 Gastroenterologia.............................................................................................259 Yersiniose (pseudotuberculose).......................................................................259 Diarréia ................................................................................................................260 Meteorismo ......................................................................................................261 Estase digestiva ...............................................................................................261 Secreção perianal ............................................................................................263 CHINCHILA .........................................................................................................264 Má oclusão dentária ............................................................................................264 Sintomas ..........................................................................................................264 Diagnóstico ......................................................................................................265 Tratamento.......................................................................................................265 Enfermidades da reprodução...............................................................................266 Anéis de pêlos ao redor do pênis.....................................................................266 Distocia - retenção fetal....................................................................................266 Septicemia puerperal...........................................................................................267 Agalaxia ...........................................................................................................268 Hipocalcemia da lactação ................................................................................268 Pneumologia ....................................................................................................269 Gastroenterologia ................................................................................................269 Constipação .....................................................................................................269 Diarréia.............................................................................................................269 Ulcera estomacal .............................................................................................270 Neurologia........................................................................................................271 Dermatologia .......................................................................................................271 Dermatofitose...................................................................................................271 Ectoparasitose .................................................................................................272 Manchas no pelame.........................................................................................272 Deficiência de ácidos graxos essenciais ..........................................................273 Síndrome do pelame de algodão .....................................................................274 Doença da gordura amarela (ou das "orelhas amarelas")................................274 DEGU ..................................................................................................................275 Miomorfos: Rato, Camundongo, Hamster, Gerbil....................................................276 Aspectos Gerais ......................................................................................................277


BIOLOGIA............................................................................................................277 Fórmula dentária ..............................................................................................278 Glândulas exócrinas ............................................................................................278 Glândulas de Harder ........................................................................................278 Glândulas de marcação ...................................................................................279 Anatomia digestiva ...........................................................................................280 Glândulas adrenais ..........................................................................................280 Tecido mamário ...............................................................................................280 Secreção sebácea do rato ...............................................................................281 VALORES BIOLÓGICOS ....................................................................................281 Bioquímica sangüínea......................................................................................281 Hematologia .....................................................................................................281 CONSELHO PARA CRIAÇÃO.............................................................................282 Moradia ............................................................................................................282 Rato e camundongo .........................................................................................282 Gerbil................................................................................................................283 Hamster............................................................................................................284 Alimentação .....................................................................................................285 Rato e camundongo .........................................................................................285 Gerbil................................................................................................................286 Hamster............................................................................................................286 Reprodução......................................................................................................287 Sexagem ..........................................................................................................288 Procedimentos e Cuidados Básicos........................................................................289 CONTENÇÃO......................................................................................................289 Rato..................................................................................................................289 Camundongo....................................................................................................289 Gerbil................................................................................................................289 Hamster............................................................................................................290 APLICAÇÃO DE INJEÇÃO..................................................................................290 COLETA DE AMOSTRAS PARA EXAME ...........................................................291 ANTIBIOTICOTERAPIA.......................................................................................292 Anestesia .............................................................................................................293 Principais enfermidades ..........................................................................................295 PNEUMOLOGIA ..................................................................................................295 Micoplasmose respiratória murina ...................................................................295 Pneumonia bacteriana .....................................................................................297 Estreptococos ..................................................................................................297 Corynebacterium..............................................................................................297 Pasteurella pneumotrópica...............................................................................298 Infecção pelo vírus Sendai ...............................................................................298 GASTROENTEROLOGIA....................................................................................299 Doenças virais .....................................................................................................299 Sialodacrioadenite viral do rato ........................................................................299 Hepatite do camundongo .................................................................................300 Doenças bacterianas ...........................................................................................300 Infecção por Citrobacter em camundongos......................................................300 Doença de Tyzzer ............................................................................................300 Sintomas ..........................................................................................................301 Diagnostico ......................................................................................................301


Tratamento.......................................................................................................301 Salmonelose ....................................................................................................302 Enterites em hamster .......................................................................................302 Ileíte proliferativa..............................................................................................303 Enterotoxemia secundária ao uso inadequado de antibióticos ........................304 Parasitas intestinais .........................................................................................304 DERMATOLOGIA................................................................................................306 Dermatofitoses .................................................................................................306 Ectoparasitoses ...................................................................................................307 Sarnas..............................................................................................................307 Piolhos .............................................................................................................308 Demodicose .....................................................................................................309 Pulgas ..............................................................................................................309 Piodermite ........................................................................................................310 Inflamação das glândulas de Harder................................................................310 Varíola em ratos e camundongos ....................................................................311 Abscessos........................................................................................................312 Alopecia do hamster ........................................................................................313 Necrose da cauda do rato ................................................................................313 Doenças das glândulas anexas .......................................................................314 Linfoma cutâneo do hamster............................................................................314 NEUROLOGIA.....................................................................................................315 Coriomeningite linfocitária ................................................................................315 Epilepsia do gerbil............................................................................................316 Síndrome vestibular .........................................................................................317 Radiculoneuropatia do rato ..............................................................................317 Carência de vitamina E no hamster .................................................................317 UROLOGIA E NEFROLOGIA ..............................................................................318 Insuficiência renal ............................................................................................318 Amiloidose........................................................................................................318 GINECOLOGIA....................................................................................................319 Infertilidade.......................................................................................................319 Abscessos das glândulas prepuciais em ratos e camundongos ......................319 Cistos ovarianos...............................................................................................320 Toxemia da prenhez ........................................................................................320 Infecções uterinas ............................................................................................320 Neoplasias do aparelho genital ........................................................................320 Neoplasias mamárias.......................................................................................320 CARDIOLOGIA....................................................................................................321 ENDOCRINOPATIAS.......................................................................................322 Síndrome de Cushing no hamster da Síria ......................................................322 Hipotireoidismo ................................................................................................322 Diabetes melito ................................................................................................323 Para Saber mais......................................................................................................324 Anexos ....................................................................................................................327 ANEXO 1 .............................................................................................................328 Posologia dos medicamentos utilizados em furões..........................................328 ANEXO 2 .............................................................................................................332 Posologia dos medicamentos utilizados em lagomorfos, caviomorfos e miomorfos ........................................................................................................332


I

Mustelídeos: Furão


1

Aspectos Gerais PARA MEMORIZAR

O furão é um pequeno carnívoro cujo peso, sujeito a amplas variações sazonais, varia de 500g a 2kg.

Grande dorminhoco, ele aceita facilmente ser alojado em uma gaiola no interior de um apartamento, desde que seu proprietário lhe conceda algumas horas de liberdade e de atenção, diariamente.

Sua alimentação deve ser rica em proteínas e em lipídeos; ele não digere bem os vegetais e seus subprodutos.

A esterilização reduz seu odor corporal.

Nessa espécie, a ovulação é induzida pela cópula. Se uma fêmea no estro não é acasalada, o cio pode se prolongar por vários meses, ocasionando hiperestrogenismo, que causa aplasia medular com conseqüências fatais para a fêmea. Portanto, as fêmeas não destinadas à reprodução devem ser castradas.

HISTÓRICO Pequeno carnívoro da família dos Mustelídeos, o furão (Mustela putorius furo) é, há mais de 2.000 anos, a forma doméstica do gambá europeu. Animal de peleteria durante algum tempo, também foi muito utilizado para proteger os armazéns de cereais, tanto em terra quanto no mar, contra os roedores nocivos. Também foi utilizado pelos caçadores para desalojar os coelhos de suas tocas; pode-se facilmente utilizar sua aptidão em se infiltrar em buracos para ensiná-lo a


passar por cabos subterrâneos. Curioso, engraçado e sociável, ele tornou-se o terceiro animal de estimação preferido nos Estados Unidos, depois do gato e do cão.

BIOLOGIA Longevidade A longevidade do furão, em média de 5 a 8 anos, é curta em relação à do gato ou do cachorro.

Morfologia O furão é um animal tubular, adaptado para a caça em tocas. A coluna vertebral, bastante flexível, permite que se mova rapidamente e efetue um giro de 180°. A cabeça oblonga é dotada de um maxilar potente em relação ao seu tamanho; suas patas curtas são dotadas de garras não retrateis adaptadas para cavar o solo. O comprimento de seu corpo, incluindo a cauda, varia de 44 a 56cm.

Peso O furão atinge seu peso adulto aos seis meses de idade. O peso médio do macho (1 a 2kg) é praticamente o dobro do peso da fêmea (0,5 a 1 kg). Há ampla variação sazonal no peso dos animais adultos (20 a 40%), em virtude do acúmulo de gordura subcutânea durante o inverno. Esse acúmulo é tão importante que os animais não são submetidos à castração.


Muda e crescimento dos pêlos As mudas ocorrem na primavera e no outono; geralmente são gradativas, mas podem ser mais rápidas, com perda extraordinária de pêlos em 24h. É possível observar, após cada muda, uma variação na natureza dos pêlos, de seu comprimento ou mesmo do desenho da máscara facial. Após a tricotomia para cirurgia, deve-se informar o proprietário que os pêlos podem demorar até três meses para crescer. Logo que o pêlo emerge do folículo piloso, a pele apresenta uma coloração azul-escura característica, que pode levar o proprietário à clínica se ele não for alertado para tal.

CARACTERÍSTICAS ANATÔMICAS Tegumento A pele do furão é particularmente espessa. Tal fato deve ser considerado durante a aplicação de injeção ou a coleta de sangue.

Fórmula dentária A fórmula dentária corresponde à de um carnívoro e está detalhada na Tabela 1.1. Os pré-molares superiores 1 e 2 e os três pré-molares inferiores possuem duas raízes. O pré-molar 3, ou carniceiro, e o molar superior possuem três raízes. O segundo molar inferior é bem pequeno e possui apenas uma raiz.


Tubo digestivo O tubo digestivo é muito curto (180 a 200cm). Portanto, o trânsito digestivo é rápido (3 a 4 h, nos adultos). Anatomicamente, lembra um tubo indiferenciado. Não existe separação anatômica íleo-cólon, nem ceco, nem válvula ileocecal. O fígado possui seis lobos. Há uma vesícula biliar. Tabela 1.1 – Fórmula dentária do furão Incisivos Caninos

Pré-molares

Molares

Maxilar superior

3

1

3

1

Maxilar inferior

3

1

3

1

Aparelho circulatório A aorta dá origem a um tronco braquiocefálico de grande diâmetro, que permite a manutenção da irrigação cerebral em qualquer circunstância, mesmo quando a cabeça está girada a 180°.

PARÂMETROS FISIOLÓGICOS As constantes fisiológicas básicas estão resumidas na Tabela 1.2.

VALORES BIOLÓGICOS Bioquímica Os valores normais dos principais parâmetros bioquímicos do sangue são apresentados na Tabela 1.3. No furão, a faixa de normalidade para os valores da creatinina é mais estreita que a de cães e gatos. Qualquer elevação desse valor,


mesmo que discreta, deve ser considerada significativa, por estar associada ao aumento da uremia. A fosfatemia parece ser um bom indicador de disfunção renal. A atividade normal da alanina aminotransferase (ALT) é mais elevada que em cães e gatos. Aumento acima dos valores normais é específico de disfunção hepática. Tabela 1.2 – Constantes fisiológicos do furão Temperatura corporal (°C)

37,8 - 40

Freqüência respiratória (movimentos/min)

33-36

Freqüência cardíaca (batimentos/min)

225

Volume sangüíneo (mL/kg)

60-80

Número de cromossomos

40

Tabela 1.3 – Valores de parâmetros bioquímicos do sangue do furão Parâmetros

Valores normais

Proteína total (g/L)

51 - 74

Albumina (g/L)

26 - 42

Glicose (g/L), em jejum

0,90 - 1,25

Glicose (g/L), sem jejum

0,94 - 2,10

Uréia (g/L)

0,10 - 0,45

Creatinina (mg/L)

4-9

ALP (UI/L)

34 - 66

ALT (UI/L)

82 - 289

AST (UI/L)

28 - 120

Colesterol (g/L)

0,6 - 3

Cálcio (mg/L)

80 - 118

Sódio (mmol/L)

137 - 163

Potássio (mmol/L)

4,5 - 7,7

Cloro (mmol/L)

106 - 125

Fósforo (mg/L)

45 - 77


Hematologia Em comparação aos cães e gatos, é possível notar as seguintes particularidades (Tabela 1.4): •

O volume globular é ligeiramente mais elevado.

A contagem de leucócitos costuma ser mais baixa.

Na fórmula leucocitária, há predomínio de linfócitos.

Tabela 1.4 – Valores hematológicos do furão Parâmetros

Intervalos de referência

Volume globular (%)

0,43 - 0,55

Hemoglobina (g/dL)

12 - 18

Número de hemácias (x 106/µL)

6,7 - 12,1

Reticulócitos (%)

1 - 12

Número de leucócitos (x 103/µL)

3,5 - 7

Neutrófilos (%)

11 - 82

Linfócitos (%)

12 - 54

Monócitos (%)

0-9

Eosinófilos (%)

0-7

Basófilos (%)

0-2

Número de plaquetas (x 103/µL)

297 - 730

Tabela 1.5 - Valores da urinálise do furão Volume urinário

25 - 30mL/24h

pH urinário

6,5 - 7


Em geral, a coleta de sangue é efetuada sob sedação, lembrando que o isofluorano diminui os valores do volume globular, da contagem de hemácias e do teor de hemoglobina.

Urina Os valores normais da urinálise estão resumidos na Tabela 1.5.

CONSELHOS PARA CRIAÇÃO

Ambiente O furão se adapta muito bem à vida em apartamento desde que lhe seja fornecida uma gaiola adequada. Para o bem-estar psicológico do furão, é indispensável que se disponibilize um tecido ou uma toalha em que possa se enrolar para se esconder. Essa regra também deve ser adotada quando o animal é mantido em gaiolas de hospitalização. O furão pode ser criado sozinho ou em grupos de animais castrados. E possível criá-lo em apartamento ou ambientes externos. Ele suporta bem o frio; todavia, na maioria dos meses, a temperatura ultrapassa 30°C. Em ambientes internos, uma grande gaiola para coelhos provida de sistema de fechamento seguro pode servir para um ou dois furões. Caso o assoalho da gaiola seja de plástico, ele pode ser recoberto com jornal ou um pedaço de linóleo. Um piso telado também pode ser adequado. Coloca-se em um canto uma pequena caixa com areia semelhante à utilizada para gatos, onde o animal se habitua a fazer suas necessidades fisiológicas. A areia deve ser trocada todos os dias e a gaiola deve ser limpa e


desinfetada semanalmente. É necessário disponibilizar uma mamadeira ou um bebedouro de cerâmica pesado, pois os furões adoram brincar com água e virar os recipientes que a contêm. A gaiola deve ser colocada em um local bem ventilado.

Comportamento Grande dorminhoco, o furão tolera a permanência em uma gaiola durante grande parte do dia. É desaconselhável deixá-lo em liberdade sem vigilância, pois sua curiosidade e sua agilidade o tornam um grande candidato a acidentes domésticos. Entretanto, ele necessita de algumas horas de brincadeiras e de liberdade, diariamente. Bolas de tênis de mesa ou de golfe e tubos de PVC são brinquedos inofensivos e muito apreciados. Porém, devem-se evitar brinquedos de borracha, que são imediatamente destruídos e os pedaços ingeridos podem provocar obstrução. Nos momentos de liberdade em um apartamento, o furão tende a explorar tudo; ele pode se insinuar no primeiro buraco que alcança, penetrar em aparelhos eletrônicos, comer sobremesas na cozinha ou fazer buracos em edredons ou sofás, tornando esses locais seus numerosos esconderijos de ração. Como indica seu nome em latim, furo (ladrão), ele adora se apossar de pequenos objetos para escondê-los nos seus diversos esconderijos. Pouco agressivo, ele procura espontaneamente o contato e o carinho de seu proprietário. Quando ensinado desde os primeiros meses a conter sua tendência às mordidas, o furão pode se tornar um animal de estimação bastante agradável e cativante. Contudo, não é um animal aconselhado para crianças com menos de 8 anos de idade.


CONSELHO AOS PROPRIETÁRIOS Para adequada educação do furão, podem ser instaladas caixas de areia em todos os cantos da gaiola. O proprietário deve ser alertado no sentido de que os resultados dessa educação são variáveis. Um furão isolado em um canto, com a cauda erguida, procura um local para defecar; é o melhor momento para colocá-lo na caixa de areia.

Alimentação PARA MEMORIZAR •

Em relação aos mamíferos domésticos, as necessidades nutricionais do furão são maiores em proteínas e lipídeos: 30% de proteínas na ração de um adulto (40% para a fêmea em gestação ou para o jovem em crescimento) e 20 a 30% de lipídeos: a alimentação ideal consiste em rações especialmente preparadas para essa espécie.

O furão não digere bem fibras e proteínas de origem vegetal.

O trânsito digestivo é muito rápido: os alimentos devem ser fornecidos livremente e o jejum pré-operatório nunca deve exceder 3 às 5 h, sob risco de manifestar hipoglicemia.

Esse animal não gosta que se mude a alimentação.

O furão é um carnívoro que, em relação aos gatos e aos cães, possui um tubo digestivo muito curto e pouco diferenciado. Não há ceco e quase não se nota diferenciação entre os intestinos delgado e grosso. O trânsito digestivo rápido (3 a 4


h) incita-o a se alimentar com freqüência; desse modo, é aconselhável que sempre haja alimento à disposição. Na vida selvagem, ele se alimenta quase exclusivamente de pequenos animais; as únicas matérias vegetais que ingere são aquelas contidas nas vísceras de suas presas. O furão digere muito mal as fibras e as proteínas vegetais; portanto, sua ração deve ser constituída essencialmente de produtos de origem animal. Não existem alimentos secos específicos para os furões. Em vista disso, pode-se utilizar ração de ótima qualidade processada para filhotes de gatas (as rações para gatos adultos não apresentam quantidade suficiente de lipídeos e proteínas). Um furão adulto consome, dependendo de seu peso, 20 a 40g de ração por dia. Nesse sentido, deve-se considerar também a propensão natural do animal em guardar reservas de alimentos em todos os lugares possíveis. Em geral, carne crua e gema de ovo constituem petiscos muito apreciados. Legumes e frutas não devem ser oferecidos em quantidade superior a uma colher de café por dia. Apenas excepcionalmente devem ser oferecidos alimentos ricos em açúcar refinado, como guloseimas, pois o furão é sujeito a distúrbios da glicemia.

CONSELHO AOS PROPRIETÁRIOS Recomenda-se o fornecimento de uma preparação à base de óleo de parafina palatável, 1 a 2 vezes por semana, para prevenir obstruções por bolas de pêlos. A formação de tais estruturas é comum nesse animal que praticamente não vomita, de modo que não consegue se livrar delas por regurgitamento. O fornecimento de carne crua a um furão jovem não aumenta, de modo algum, sua agressividade.


Higiene O odor do furão, particularmente forte no macho não castrado, provém da secreção das glândulas sebáceas da pele. As glândulas anais contribuem muito pouco para esse odor. O furão não libera sua secreção a não ser que seja ameaçado. A castração reduz em 90% a ocorrência de distúrbios decorrentes do forte odor.

CONSELHO AOS PROPRIETÁRIOS Os banhos freqüentes, praticados por alguns proprietários, podem alterar a camada protetora da pele e originar prurido. Seja qual for a situação, não se recomenda lavar o furão mais que uma vez por mês.

REPRODUÇÃO PARA MEMORIZAR •

A ovulação é provocada pela cópula. Quando não acasaladas, as fêmeas podem permanecer no cio durante períodos bastante longos e desenvolver hiperestrogenismo, que induz à aplasia medular, que pode ser fatal. Portanto, é imperativo que se proceda à castração das fêmeas não destinadas à reprodução.

Sexagem A sexagem é um procedimento fácil. O macho apresenta uma abertura prepucial no ventre, como os cães, com um osso peniano facilmente palpável. Nas


fêmeas, a vulva é representada por uma pequena fenda situada na região perineal, sob o ânus, que se torna protuberante durante o cio.

Maturidade sexual Os furões se tornam púberes entre 5 e 9 meses de idade, geralmente na primavera seguinte ao seu nascimento.

Época de reprodução A época de reprodução é determinada pelo aumento da duração dos dias. Nesse período, as fêmeas e os machos manifestam aumento nítido dos odores oriundos das secreções cutâneas e da urina. No macho, a espermatogênese pode iniciar em dezembro, permanecendo ativa até os meses de julho ou agosto. Durante esse período, os testículos crescem e descem para a bolsa escrotal. Em geral, as fêmeas manifestam cio de março a agosto. São poliéstricas, com ovulação induzida 30 às 40h após a cópula.

Cópula A cópula dura, em média, 1 h. O ato sexual pode parecer brutal e chocante para o proprietário; o macho agarra a fêmea pelo pescoço, arrastando-a pelo chão. Quando está receptiva, a fêmea deixa-se levar protestando ruidosamente e o acasalamento se repete várias vezes.

Gestação O período de gestação varia de 41 a 42 dias. Caso não ocorra fecundação, pode haver indução da ovulação, resultando em pseudo-gestação que dura cerca de 40 dias.


Criação dos filhotes Os partos normalmente proporcionam 6 a 8 filhotes; no mínimo 2 e no máximo 17. Os filhotes, que pesam 6 a 12g, nascem surdos, cegos e recobertos por uma penugem branca. A partir de 3 dias do nascimento, os pêlos começam a mudar de cor, a não ser que o filhote seja albino. As principais etapas de seu desenvolvimento estão resumidas na Tabela 1.6. A mãe possui quatro pares de mamas. A composição do leite é muito semelhante ao leite de gatas: •

8% de proteínas.

10% de gordura.

3% de lactose.

A criação de furões órfãos é difícil e raramente bem-sucedida. Em geral, a fêmea manifesta um novo estro 2 a 3 semanas após a desmama. Um retorno mais rápido do cio (2 a 3 semanas após o parto) é possível. Recomenda-se o acasalamento da fêmea lactante a fim de manter a lactação. Tabela 1.6 – Desenvolvimento dos furões jovens Etapas de desenvolvimento

Idade (dias)

Nascimento dos dentes de leite e aceitação de alimentação sólida

20 – 28

Abertura dos olhos

32 – 34

Desmama

42 – 56

Erupção dos dentes definitivos

50 - 74


2

Procedimentos e Cuidados Básicos

CONTENÇÃO Um furão bem socializado costuma ser amigável e dócil e não tenta morder quando não se sente ameaçado. Entretanto, deve-se desconfiar de um furão que lambe nossa mão, pois geralmente é um presságio de mordida. Pode-se vaporizar uma substância amarga nos dedos antes de manipular um furão que apresenta esse tipo de comportamento. Esse animal ativo, sempre em movimento, tem corpo tubular que permite poucas opções de contenção. O melhor modo de imobilizá-lo para um exame é suspendê-lo segurando a pele do pescoço (Fig. 1.1), informando o proprietário que esse gesto não é uma agressão a seu animal. Assim contido, o furão é imobilizado rapidamente e, em geral, começa a bocejar. Pode-se então proceder ao exame da cavidade oral e das orelhas, à auscultação cardíaca e respiratória e à palpação abdominal. A área de auscultação cardíaca situa-se caudalmente quando comparada à de cães e gatos. Durante a realização de procedimentos desagradáveis ao animal, como aplicação de injeção ou corte de unhas, ele pode ser distraído oferecendo-lhe uma guloseima, como um gel palatável destinado à prevenção de distúrbios digestivos relacionados à formação de bolas de pêlo, que costuma ser prontamente aceito. Outra técnica de contenção alternativa consiste em posicionar o animal em decúbito dorsal, segurando-o esticado sobre seu antebraço e mantendo a base da cabeça entre os dedos da mão. É uma boa posição para


administrar medicamentos por via oral ou para examinar a cabeça mais detalhadamente.

Figura 2.1 – Contenção e local da auscultação cardíaca no furão

COLETA DE AMOSTRAS PARA EXAME Amostras de sangue A vivacidade do furão, a espessura de sua pele e a presença de gordura subcutânea tornam a coleta de sangue mais difícil que nos cães e gatos. Na maioria das vezes, é útil sedação leve, recomendando-se a utilização de isofluorano, em máscara, procedimento que permite a rápida recuperação do paciente. No entanto, é bom lembrar que, na interpretação dos resultados dos exames, deve-se considerar que esse anestésico provoca o seqüestro de hemácias no baço e, portanto, o volume globular e o número de hemácias são ligeiramente diminuídos. Existem quatro locais principais de coleta de sangue.

Veia cefálica É o vaso mais familiar ao clínico de cães, mas nem sempre é fácil de evidenciar no furão. O assistente segura o furão, como se faz com um gato, tendo o


cuidado de envolver o corpo do animal em uma toalha, a fim de facilitar sua imobilização e evitar que se suje, pois quando assim mantido é comum que o furão urine e defeque. Após um tempo de protesto, o animal se acalma e pode-se proceder à coleta de sangue. É útil a punção prévia da pele, com uma agulha de 20G; em seguida, utiliza-se uma agulha de 25G para a venipunção, acoplada a uma seringa de 1 mL. Com freqüência, ocorre colapso venoso, que limita o volume da amostra.

Veia safena lateral É facilmente visualizada. O procedimento para punção é semelhante ao da veia cefálica. Do mesmo modo, é conveniente coletar pequeno volume de sangue.

Veia jugular A punção jugular requer contenção adequada e tricotomia prévia. O vaso situa-se mais lateralmente que nos cães e gatos. A punção desse vaso permite a obtenção de maior volume como, por exemplo, aquele necessário para transfusão. O volume máximo possível corresponde a 10% do peso do animal, ou seja, 15mL para um furão de 1,5kg.

Veia cava cranial A abordagem desse vaso requer a sedação do animal, mas é uma técnica que, se bem realizada, permite a obtenção de um bom volume de sangue, independentemente da obesidade e do tamanho do animal. Posiciona-se o furão em decúbito dorsal. Um assistente segura as duas patas contra o ventre, sem estendêlas em excesso. A seguir identifica-se o manúbrio e palpa a primeira costela, do lado


oposto ao operador. Faz-se uma punção lateral ao esterno, em um ângulo de 45° em relação ao corpo do paciente. Deve-se utilizar uma agulha de 25G acoplada a uma seringa de 3mL. Uma vez introduzida a agulha, faz-se uma movimentação lenta como se fosse retirá-la, mantendo uma leve força de aspiração, até que o sangue flua para a seringa. É uma técnica "cega", mas se o animal está sedado e adequadamente imobilizado, o risco de lesão vascular é pequeno.

Amostras de urina Pode-se simplesmente utilizar a urina que geralmente é excretada durante a contenção para coleta de sangue. Quando a bexiga é facilmente palpável, realizase a cistocentese com uma agulha de 25G. A cateterização uretral é um procedimento bem mais difícil, indicado apenas em caso de obstrução do trato urinário inferior. No macho, o osso peniano dificulta a visualização do orifício uretral. Às vezes, é necessário um cateter intravenoso (sem o mandril) e a injeção de um pequeno volume de solução fisiológica na uretra, antes da introdução da sonda. Pode-se empregar uma sonda utilizada em gatos ou uma sonda urinaria siliconizada especial para furões (Cook Vet Products). Pode ser realmente difícil introduzir a sonda além da curvatura isquiática. Uma vez colocada corretamente, a sonda é tolerada por até 24h.

HlDRATAÇÃO Necessidades diárias A necessidade de fluido para manutenção é cerca de 75mL/kg/dia; esse volume pode ser maior em função do estado de desidratação. Na maioria dos casos, utiliza-se a solução de Ringer lactato. Nos furões com desnutrição grave ou anorexia, pode-se utilizar solução de glicose a 2%.


Via subcutânea A via subcutânea é indicada quando os furões apresentam desidratação discreta. O volume diário necessário é aplicado em 2 ou 3 vezes. A maioria dos furões sente desconforto quando se aplica grande volume por via subcutânea. Portanto, há necessidade de um cateter intravenoso quando a fluidoterapia se prolonga por vários dias.

Via intravenosa Essa via é indicada em caso de vômito, desidratação grave, hipoglicemia, transfusão de sangue e anestesia prolongada. A anestesia é praticamente indispensável. As vias de acesso mais fáceis incluem a veia cefálica e a veia safena lateral. A cateterização da veia jugular é possível, porém mais difícil; além disso, é mais desconfortável durante a movimentação do furão. A pele do furão é muito espessa, sendo necessário perfurá-la previamente com uma agulha. Em seguida, introduz-se um cateter de 24G.

Via intra-óssea O furão tolera melhor o cateter intra-ósseo que o cateter intravenoso. Ele pode ser introduzido no fêmur (via fossa trocantérica) ou na tíbia (via crista tibial). Utiliza-se uma agulha de punção raquidiana.

TRANSFUSÃO DE SANGUE Os furões muito anêmicos (hemorragia, sangramento gastrointestinal grave, aplasia de medula decorrente de hiperestrogenismo) podem necessitar de transfusão de sangue. A decisão é tomada em função do estado geral do animal e do valor do volume globular (< 15%).


Os furões não apresentam grupos sangüíneos detectáveis, podendo ser realizadas

transfusões

múltiplas

em

um

mesmo

animal

com

risco

de

incompatibilidade quase nulo. Quando possível, o doador deve ser um macho de tamanho grande e com boa saúde, do qual podem-se obter 6 a 10 mL de sangue, sem risco. No doador, previamente tranqüilizado, utiliza-se uma agulha de 25G ou um escalpe para coleta de sangue da veia jugular. O sangue heparinizado é administrado de imediato ao receptor, embora se possa, eventualmente, conservá-lo durante 12h. Deve-se recalcular o volume globular do receptor 2h após a transfusão. Uma injeção prévia de corticóide de ação rápida é uma precaução útil.

Radiografia O pequeno tamanho desses animais permite a obtenção de radiografias em sentidos ântero-posterior e lateral em um mesmo filme. Para se obter radiografia de boa qualidade desses animais, que estão sempre em movimento, é sempre útil sedação. A imagem radiográfica do furão é praticamente a mesma de outros carnívoros domésticos, mas algumas particularidades devem ser consideradas. A fórmula vertebral do furão é C7, T14, L6, S3. São 14 a 18 vértebras caudais. Há 14 pares de costelas. O tórax é alongado e o coração, a traquéia e os pulmões são claramente definidos (Fig. 1.2). Em uma radiografia lateral, a silhueta cardíaca pode parecer descolada em relação ao esterno (Fig. 2.2). É um sinal indicativo de pneumotórax em cães e gatos, mas é normal no furão.


Em comparação aos cães e gatos, a silhueta cardíaca é globóide, com grande ventrículo direito. No furão sadio, os gases intestinais são pouco visíveis. A presença de imagens aéreas importantes no trato digestivo pode sugerir obstrução ou íleo (por exemplo, no caso de enterite catarral). Esplenomegalia é um achado comum em furões sadios; pode ser tão evidente que o baço pode ser visto dos lados direito e esquerdo do abdome. A anestesia pode provocar aumento do tamanho do baço. É prudente avaliar o volume do baço, por palpação, antes de anestesiar o animal para radiografia. Os rins são pequenos; seu comprimento corresponde a cerca de duas vértebras lombares. O rim esquerdo situa-se na altura de L3/L4 e o rim direito, na posição L2/L3. O rim direito é mais bem definido em um exame radiográfico dorsoventral.

Figura 2.2 – Radiografia torácica lateral de um furão sadio


PROFILAXIA MÉDICA Vacinação PARA MEMORIZAR •

O furão não é suscetível à parvovirose canina.

O furão é vacinado contra cinomose e raiva.

Com freqüência, o furão desenvolve reação vacinai do tipo alérgica (em até 24h).

Nessa espécie, há risco de desenvolvimento de cinomose após a vacinação.

Calendário de vacinação Cinomose Os filhotes de furão podem ser vacinados contra cinomose a partir de 6 a 8 semanas de idade. As doses de reforço são aplicadas a cada 2 ou 3 semanas, até 14 semanas de idade. Em seguida, faz-se reforço anual. Para os animais adultos não vacinados, a primeira vacinação consiste de duas injeções com intervalo de 2 a 4 semanas.

Raiva Embora o furão pareça ser menos suscetível à raiva que muitos outros carnívoros, realiza-se a vacinação, como em cães e gatos, aos 3 meses de idade, seguida de reforços anuais.


Reação vacinal Esses animais podem desenvolver reação vacinai do tipo alérgica nas 24 h seguintes à injeção. Essa reação parece não estar relacionada à natureza da vacina, mas à associação de vários antígenos em uma mesma injeção. A fim de evitar recidiva em um furão que já desenvolveu uma reação vacinal, pode-se utilizar uma vacina contra a cinomose com o menor número possível de antígenos. Além disso, furões com antecedente de reação alérgica a vacinas não são vacinados, no mesmo dia, contra cinomose e contra raiva. É aconselhável que os animais fiquem em observação durante 30min após a vacinação, pois é nesse período que ocorre a grande maioria das reações vacinais. Os sintomas são variáveis: •

Apatia evidente e, possivelmente, febre.

Diarréia hemorrágica, vômitos, espasmos,

Estertores úmidos a auscultaçao pulmonar.

Mucosas pálidas, acinzentadas.

Recomenda-se a hospitalização do animal por algumas horas. O tratamento consiste na administração de dexametasona (2 a 4mg/kg, IV ou IM), de um anti-histamínico como a difenidramina (2mg/kg, IV ou IM) e de adrenalina (20µ µg/kg, IV ou IM).

Cinomose vacinal Na ausência de vacinas especialmente desenvolvidas para o furão, na Europa, a única maneira de proteger esse animal contra cinomose é o emprego de


uma vacina para cães (viva atenuada). Infelizmente, os filhotes podem desenvolver cinomose secundária à vacinação, principalmente após as primeiras doses. Duas causas de indução da doença foram reconhecidas: a utilização de cepas vacinais inapropriadas e a atenuação insuficiente da vacina. Portanto, o clínico deve estar atento a essas duas contra-indicações no momento da escolha de uma vacina. Uma vacina recombinante destinada ao furão foi recentemente disponibilizada nos Estados Unidos, aliando eficácia e inocuidade. Atualmente, não há previsão de sua distribuição na Europa.

Tratamento antiparasitário Helmintos intestinais Os furões podem se infectar com nematódeos e cestódeos, mas com freqüência bem menor que cães e gatos. Pouco patogênica nos animais jovens, a infestação costuma ser assintomática nos adultos. Os antiparasitários destinados aos carnívoros domésticos são utilizados em furões. Uma segunda dose de vermífugo é aplicada 10 a 15 dias após a primeira.

Pulgas Com freqüência, os furões albergam pulgas que habitualmente parasitam cães e gatos, mas parecem tolerá-las sem muito prurido. Além disso, elas parecem não causar reação alérgica. Entretanto, pode-se notar anemia muito grave em animais cronicamente infestados. Os produtos utilizados no tratamento de pulgas são os mesmos empregados em gatos. Para tratar o ambiente, pode-se administrar lufenuron, na mesma posologia utilizada na criação de gatos.


Carrapatos Ocasionalmente, os carrapatos podem parasitar o furão. Contudo, parecem não ser vetores de doenças para esse animal.

Otodectes Os sintomas habituais indicativos dessa parasitose em cães e gatos (prurido auricular e cerúmen muito escuro) não são aplicáveis ao furão, pois essa espécie costuma apresentar secreção auricular amarronzada e os animais acometidos manifestam prurido discreto. Entretanto, o Otodectes cynotis está amplamente disseminado entre os furões e quase todos os furões de fazendas de criação ou de lojas de animais estão infectados. O diagnóstico pode ser feito a partir de exame microscópico de uma amostra de cerúmen ou, mais facilmente, do exame otoscópico (parasitas em maior quantidade que em gatos e cães). Vários tratamentos eficazes estão à disposição do clínico: •

Antiparasitários tópicos propostos para cães e gatos, utilizáveis em furões.

Selamectina, na forma spot-on (6mg/kg em duas aplicações cutâneas com intervalo de 15 dias).

vermectina: - Duas injeções (0,2 a 0,4mg/kg, SC) com intervalo de 15 dias. - Duas aplicações (0,5mg/kg, metade em cada orelha) no conduto auricular com intervalo de 15 dias.


CIRURGIAS DE CONVENIÊNCIA PARA MEMORIZAR •

É a castração, e não a ablação das glândulas anais, que diminui o odor corporal de machos e fêmeas.

A ovariectomia é indispensável para a prevenção de aplasia medular secundária ao hiperestrogenismo.

Pode-se identificar um furão pela presença de um transponder eletrônico.

O furão é muito sensível ao efeito hipotensor de algumas drogas utilizadas em anestesia fixa.

Anestesia Seja qual for à técnica anestésica empregada, é necessário levar em consideração a sensibilidade do furão à hipotermia decorrente da anestesia. Recomenda-se o uso de um colchão térmico.

Anestesia fixa É possível utilizar os mesmos fármacos empregados em carnívoros domésticos tradicionais, exceto a xilazina (Rompum); o furão é particularmente sensível ao efeito hipotensor desse fármaco.

Doses sedativas Para procedimentos curtos, como exame radiográfico ou coleta de sangue, pode-se induzir sedação com diazepam, acepromazina ou cetamina (Tabela 2.1).


Tabela 2.1 – Fármacos e doses sedativas para o furão Fármaco Dose (mg/kg) Diazepam 1-2 Acepromazina Cetamina

Via IM, SC

0,1 - 0,25

IM, SC

10 - 20

IM

Doses anestésicas Para a obtenção de anestesia cirúrgica, podem-se utilizar as associações descritas na Tabela 2.2.

Anestesia inalatória É o método anestésico de escolha. Requer o uso de um anestésico (halotano, isoflurano) associado a um gás (oxigênio). A indução pode ser obtida colocando-se o animal em um recinto com gás, do tipo aquário ou gaiola de aerossol, ou aplicando-se uma máscara na cabeça do animal, contido em uma toalha. Durante a indução, a taxa de halotano ou de isoflurano é mantida a 5%. Apesar de seu pequeno tamanho, o furão é um animal que permite fácil intubação (sonda de 2 a 4mm de diâmetro). O volume de oxigênio utilizado é de 1L, com equipamento de purificação. A taxa de manutenção para a intervenção varia de 1,5 a 2,5% para o halotano e de 2 a 3% para o isoflurano.

Identificação Não se utiliza tatuagem no furão. Desde 2002, na França, pode-se inscrever um furão para a colocação de um transponder eletrônico, no sulco jugular esquerdo.


Tabela 2.2 – Fármacos e doses anestésicas para o furão Fármacos Dose (mg/kg)

Via

Cetamina + Diazepam

(25 - 35) + (2 - 3)

IM

(25 - 35) + (0,2 - 0,35)

IM

10-25*

IM, SC

Cetamina + Acepromazina Zolazepam + Tiletamina * Em partes iguais

Esterilização Indispensável na fêmea, para prevenir aplasia medular secundária ao hiperestrogenismo. Recomenda-se a esterilização de machos e fêmeas para diminuir a secreção sebácea e reduzir o odor corporal dos animais. A idade ideal para esterilização varia de 5 a 7 meses de idade.

Castração As técnicas utilizadas no gato podem ser empregadas no furão. Os testículos estão presentes na bolsa escrotal apenas durante o período de reprodução, de dezembro a julho. Fora desse período, eles se alojam na região ventrocaudal do abdome. Podem ser palpados no plano subcutâneo, fazendo-os migrar para as bolsas com simples pressão digital.

Ovariectomia A fêmea é posicionada em decúbito dorsal. A incisão inicia a cerca de 10mm do umbigo. A linha branca, muito bem definida, é fácil de ser identificada. Faz-se a incisão abdominal levando-se em conta a fina espessura da musculatura desse local. A maioria dos animais apresenta grandes depósitos de gordura na cavidade abdominal que, às vezes, dificultam a visualização de estruturas pequenas como os ovários. Os ovários situam-se atrás dos rins. Medem 4 a 5mm de


comprimento e cerca de 2mm de diâmetro. São envolvidos por uma bolsa ovariana rica em gordura. Após a visualização dos ovários, a cirurgia é semelhante à da gata. A experiência mostra que esses animais raramente tiram os fios de sutura cutânea. Pode-se dispensar o uso de bandagem.

Ablação das glândulas anais Com freqüência, o proprietário erroneamente acredita que as glândulas anais são responsáveis pelo odor característico do furão. Quando o proprietário solicita a ablação das glândulas, é necessário explicar previamente que é a esterilização que propicia a redução do odor corporal desse animal. Contudo, podese associar essa intervenção à castração, de modo que tal procedimento evite que o proprietário precise suportar o forte odor liberado por ocasião do esvaziamento das glândulas anais do furão. As glândulas situam-se na posição de 4 e de 8h do relógio, de ambos os lados do ânus. Coloca-se o animal em decúbito ventral e realizam-se duas incisões verticais de cerca de 10mm de altura, distantes 5mm do ânus. A glândula surge como um pequeno saco branco-amarelado, sob uma fáscia. Após a dissecção suave e o isolamento da glândula, liga-se o canal excretor, próximo ao seu orifício, com fio reabsorvível. O plano cutâneo é suturado (a utilização de um fio absorvível evita a retirada dos pontos). A utilização de colar é dispensável.


3

Principais enfermidades

VlROLOGIA

PARA MEMORIZAR •

As doenças virais mais observadas no furão são gripe e cinomose. A gripe é uma doença benigna, enquanto a cinomose é sistematicamente mortal.

Às vezes, os sintomas neurológicos podem ser a única manifestação clínica da cinomose.

A doença aleutiana é uma parvovirose que afeta a visão; o furão pode ser acometido mas, na maioria dos casos, é um portador assintomático.

Doença aleutiana Trata-se de uma doença debilitante cuja evolução dura meses. Geralmente fatal, infecta criações de vison. O furão é igualmente sensível ao parvovírus responsável por essa doença, porém é mais freqüentemente um portador assintomático. Há diferentes estirpes de vírus, de modo que a patogenicidade é variável. O vírus é transmitido por urina, saliva, sangue ou fezes. Essa doença se caracteriza pela formação de complexos imunes; dependendo

do

local

de

deposição

desses

imunocomplexos,

instala-se

glomerulonefrite, hepatite ou arterite. O vison morre 4 a 5 meses após a manifestação dos primeiros sinais de infecção. Os sinais de alarme incluem baixa fecundidade, perda de apetite, prejuízo à qualidade dos pêlos e emagrecimento.


No furão, a evolução da doença também dura vários meses. Os sintomas incluem letargia, inapetência, perda de peso, palidez de mucosas, melena, hepatomegalia, esplenomegalia e fraqueza de membros pélvicos. O diagnóstico é, antes de tudo, clínico. A eletroforese das proteínas do sangue revela hipergamaglobulinemia. Pode-se utilizar um teste para pesquisa de anticorpos sangüíneos, utilizado para visons, para o diagnóstico da infecção (na Europa, há laboratórios que realizam esse teste nos Países Baixos). Os furões soropositivos não se tornam obrigatoriamente doentes. Nos Estados Unidos, Susan Brown examinou cerca de 500 furões de um abrigo e encontrou 13% de animais soropositivos. Em um período de 3 anos, apenas dois deles desenvolveram a doença. Não há tratamento para a doença. No entanto, a corticoterapia pode propiciar uma melhora.

Gripe É a principal causa infecciosa dos distúrbios respiratórios. Os furões são suscetíveis aos vírus da gripe humana tipos A e B, da família dos Orthomyxovirus. A transmissão da gripe ocorre por meio de aerossóis, de seres humanos ao furão, de um furão a outro e do furão ao homem. O período de incubação é de cerca de 48h. Os primeiros sinais incluem febre, anorexia, apatia, tosse e secreções nasal e ocular serosas. Em geral, a doença é relativamente benigna nos adultos de boa saúde, mas pode ser fatal para recém-nascidos. Na forma benigna, a doença se limita às vias respiratórias superiores e a cura ocorre em uma semana. Em animais muito jovens e nos adultos fracos, é possível se instalar uma infecção bacteriana secundária no trato respiratório inferior. O tratamento é essencialmente sintomático: se necessário, o


animal deve ser alimentado e hidratado. É prudente instituir antibioticoterapia durante uma semana. A intensidade dos sintomas pode diminuir com o uso de um anti-histamínico (clorfeniramina: 1 a 2mg/kg, VO, 2 a 3 vezes ao dia). Também, pode-se utilizar um antiinflamatório não esteróide, como: •

Sulidene: 0,05 a 0,lmL/kg, SC, uma vez ao dia.

Tolfedine: 0,1mL/kg, SC, uma vez ao dia.

Aspirina: 200mg/kg, VO, duas vezes ao dia.

Cinomose Normalmente, os primeiros sintomas de cinomose são aqueles de uma infecção do trato respiratório superior. O agente responsável é um morbilivírus pertencente à família dos Paramyxovirus. Os furões são muito sensíveis a esse vírus e, geralmente, a infecção é fatal. A contaminação ocorre por meio de aerossóis de fluidos corporais ou por contato direto. O período de incubação varia de 7 a 10 dias. Um dos sintomas iniciais característicos é a secreção nasal mucopurulenta, freqüentemente associada a uma conjuntivite que não responde a tratamento algum. A seguir, instalam-se rapidamente letargia e anorexia, comumente associadas com o aparecimento de lesões crostosas características ao redor dos lábios, das narinas e na região inguinal. Os coxins podem endurecer e tornar-se espessados. Os sintomas respiratórios se caracterizam por tosse seca que rapidamente se torna abundante e produtiva quando se instala infecção bacteriana secundária. Diarréia é possível, mas inconstante. Em seguida, surgem sintomas neurológicos; no entanto, podem também se manifestar simultaneamente aos demais. É possível constatar, ainda,


torcicolo, nistagmo, mioclonia, incoordenação motora e convulsões. Os animais morrem 1 a 2 semanas após o início da doença. Não há tratamento. O diagnóstico é essencialmente clínico (Tabela 3.1) e, hoje em dia, pode ser facilmente confirmado pelas técnicas de amplificação gênica ou PCR, a partir de amostras de um órgão lesionado, sangue, secreções ou urina. A prevenção mediante vacinação é indispensável. Aplica-se a primeira dose entre 6 e 8 semanas de idade.

Sintomas

Cinomose

Gripe

Secreção ocular e nasal

+++ (mucopurulenta)

++ (serosa)

Espirro

+

+++

Tosse

+

+++

+++ (> 40ºC, persistente)

+++ (apenas no início da doença)

Hipertermia

Raiva Como todo animal de sangue quente, o furão pode ser infectado pelo vírus da raiva, embora pareça menos suscetível à infecção que os demais carnívoros domésticos. O microorganismo responsável é um Lyssavirus, da família dos Rliabdovirus. A transmissão ocorre mais freqüentemente por meio da mordida por outro animal. Os sintomas podem variar desde excitação agressiva até convulsões ou paralisia. A suspeita se baseia nos dados clínicos e epidemiológicos; como nos demais carnívoros domésticos, o diagnóstico é confirmado em amostras do animal morto.


Gastroenterologia

PARA MEMORIZAR •

São várias as patologias que acometem o sistema digestivo do furão.

As obstruções por corpo estranho são muito freqüentes em animais jovens.

Excetuando a enterite catarral, cuja manifestação é aguda, as enterites geralmente assumem uma forma crônica. Na maioria das vezes, o diagnóstico etiológico só pode ser estabelecido a partir de biópsia dos tecidos acometidos.

Em furões, a lipidose hepática é uma complicação freqüente e de instalação rápida, nos casos de anorexia.

As formas digestivas de linfoma são freqüentes.

A esplenomegalia é comum no furão e costuma estar associada à hematopoese extramedular.

Megaesôfago É uma patologia raramente descrita no furão. Supõe-se que sua origem seja genética. Os sintomas incluem letargia, inapetência, anorexia, disfagia e emagrecimento.

Podem

se

instalar

complicações

respiratórias

infecciosas

secundárias. O diagnóstico se fundamenta no quadro clínico e na evidência de dilatação de esôfago ao exame radiográfico. A conduta para a doença é similar à do cão e do gato. Os tratamentos são pouco eficazes e o prognóstico é reservado.


Corpos estranhos É uma afecção muito freqüente em jovens (brinquedos de borracha jamais devem ser oferecidos aos animais). Nos adultos, nota-se que a maioria das obstruções está relacionada à presença de bolas de pêlos. Nessa espécie, a obstrução quase nunca causa vômito. Na maioria dos casos, os sintomas incluem períodos de anorexia e de fadiga e fezes enegrecidas, anormais. Podem-se constatar sinais de náusea: hipersalivação associada ao ato de colocar as patas anteriores contra a boca. Quando o corpo estranho se instala no intestino, pode ser palpado facilmente. A radiografia pode mostrar o corpo estranho ou evidenciar sinais de dilatação gasosa do estômago ou do intestino, sempre patológica nessa espécie. A presença de uma dilatação gasosa importante requer tratamento com urgência. O tratamento é cirúrgico e os procedimentos são semelhantes aos praticados em outros carnívoros domésticos. O furão é um bom candidato à cirurgia intestinal e, em geral, o prognóstico é favorável.

Úlcera gástrica É uma patologia tradicionalmente descrita nas diversas criações, podendo também acometer furões que vivem isolados em residências. O agente infeccioso responsável pela afecção é o Helicobacter mustelae. Sua proliferação, sem dúvida, está associada ao estresse ambiental: grande concentração de animais, alimentação inadequada e exposição contínua à observação na gaiola, sem um pedaço de tecido para se esconder. Esse microorganismo coloniza apenas os epitélios gástrico e duodenal, jamais o tecido intestinal. O diagnóstico é feito por meio de biópsia realizada durante a endoscopia. O tratamento, à base de antibióticos e antiácidos, é


idêntico ao de gatos ou de cães. Por exemplo, podem-se utilizar os seguintes fármacos: •

Amoxicilina: 20mg/kg, VO, duas vezes ao dia.

Metronidazol: 20mg/kg, VO, duas vezes ao dia.

Sucralfato: ⅛ de comprimido de 1g, VO, uma vez ao dia.

Omeprazol: 0,7mg/kg, VO, uma vez ao dia.

O tratamento deve ser feito durante 3 semanas, no mínimo. A cronicidade é freqüente.

Enterites inflamatórias e infecciosas

Gastroenteríte eosinofílica É uma enfermidade pouco comum em furões. Histologicamente, corresponde a um infiltrado de eosinófilos na mucosa intestinal, com possível extensão ao fígado, ao baço e aos linfonodos mesentéricos. A etiologia é desconhecida, mas suspeita-se de reação imune contra os antígenos alimentares ou contra os parasitas intestinais. Os sintomas lembram uma doença digestiva crônica: vômitos, diarréia, anorexia, letargia, emagrecimento e fezes moles. À palpação, pode-se detectar aumento dos linfonodos mesentéricos e espessamento de porções do tubo digestivo. A eosinofilia periférica não é um achado constante, mas quando importante (10 a 35%, contra 3 a 5% em animais normais) é um sinal de valor. O diagnóstico é histológico, a partir do exame de amostras obtidas por uma biópsia efetuada durante a endoscopia ou a laparotomia.


O tratamento, como no homem ou no cão e no gato, é fundamentado na administração de corticóides durante um longo período. Utiliza-se prednisolona ou prednisona, em duas administrações orais diárias, na dose de 0,5 a 2mg/kg. O animal normalmente se estabiliza ao final de um período de 8 a 10 dias. O tratamento prossegue durante um mês antes da redução progressiva da dose. Não raro, o tratamento não pode ser interrompido e deve ser administrado durante toda a vida do animal. Uma dose injetável de 0,4mg/kg de ivermectina, seguida de nova aplicação 15 dias mais tarde, foi utilizada com êxito, sem que se conheça o mecanismo de ação.

Enterocolite proliferativa É uma doença que acomete principalmente os animais jovens, até os 18 meses de idade. O Campylobacter jejum, bactéria responsável por diarréia e enterocolite no homem e em diversas espécies animais, foi isolado em furões acometidos, mas sua inoculação jamais provocou a doença. O

patógeno

responsável

foi

finalmente

identificado

como

um

microorganismo unicelular pertencente ao gênero Desulfovibrio. A doença afeta principalmente o cólon, mas pode se estender ao intestino delgado. As porções do intestino acometidas tornam-se espessas e palpáveis com muita facilidade, em conseqüência

do

espessamento

e

da

inflamação

da

mucosa

intestinal.

Histologicamente, nota-se hiperplasia e necrose do epitélio intestinal, associadas a um infiltrado inflamatório e a abscessos nas criptas. É possível que evolua para perfuração espontânea da parede intestinal, causando peritonite fatal. Os sintomas incluem diarréia crônica com estrias de sangue e de muco esverdeado, emagrecimento

evidente,

inapetência,

espessamento

do

cólon,

defecações


dolorosas (é comum ouvir o animal gemer enquanto defeca), contaminação da região perineal com matéria fecal e eventual prolapso retal. O diagnóstico é definido pelo fragmento obtido por biópsia do cólon, no qual pode-se identificar, por meio de coloração específica, microorganismos intracelulares em forma de vírgula, na porção apical das células epiteliais. O tratamento de escolha é o cloranfenicol, na dose de 50mg/kg, VO, duas vezes ao dia, durante 2 a 3 semanas. Na falta desse, pode-se empregar 20mg/kg de metronidazol, VO, duas vezes ao dia, durante o mesmo período. Igualmente, pode-se administrar a solução injetável de gentamicina por via oral, na dose de 2mg/kg, duas vezes ao dia, durante 10 a 14 dias, mas a nefrotoxicidade do antibiótico torna sua utilização delicada no furão.

Enterite catarral (diarréia verde por coronavírus) Também chamada Green Slime Disease pelos anglo-saxões, trata-se de uma enterite contagiosa, com sintomas facilmente reconhecíveis. Um coronavírus foi identificado recentemente como o patógeno responsável. A instalação da doença geralmente ocorre durante a introdução de um novo furão no ambiente, portador sadio, oriundo de um refúgio ou de uma loja de animais. O período de incubação varia de 2 a 3 dias. A taxa de prevalência é elevada, mas a de mortalidade é baixa. Os sintomas são evidentes e parecem mais importantes quanto mais velho é o animal. Os animais acometidos apresentam apatia intensa, anorexia e desidratação grave, em função da diarréia profusa, mucóide e de coloração verde. Com freqüência, o exame radiológico revela íleo importante. Esses animais necessitam de hospitalização durante alguns dias, a fim de serem hidratados e alimentados. As necessidades básicas em fluidos são estimadas


em 75 a 100mL/kg/dia; a um furão desidratado, pode-se administrar 150mL/kg/dia de uma solução salina isotônica, pelas vias SC, IV ou IP. Em caso de anorexia, as complicações da lipidose hepática são freqüentes nessa espécie; a alimentação forçada faz parte dos cuidados necessários. Administram-se 2 a 5mL de alimento preparado (tipo Hill’s a/d ou Fortol), 3 a 4 vezes ao dia. Também se utiliza antibiótico (por exemplo, amoxicilina, 20 a 40mg/kg, VO, duas vezes ao dia, durante 8 dias) para prevenir infecção bacteriana secundária.

Enterite neonatal É uma infecção causada por um rotavírus que acomete furões entre 6 e 8 semanas de idade. Os animais enfermos manifestam diarréia amarelada e mucóide, que contamina a região perineal. As taxas de prevalência e de mortalidade são elevadas. O tratamento é idêntico ao da enterite catarral.

Salmonelose E uma doença que acomete furões de fazendas de criação alimentados com subprodutos de granja infectados por Salmonella typhimurium ou S. enteridis não submetidos a tratamento térmico. O furão de estimação alimentado com ração ou com alimentos enlatados não é contaminado por essas bactérias. Os animais infectados

apresentam

gastroenterite

aguda,

com

febre,

vômitos,

diarréia

sanguinolenta e desidratação grave. O tratamento compreende antibioticoterapia e hidratação.


Coccidiose Os furões podem ser infectados por três tipos de coccídios: Eimeria furonis, E. ictidea e Isospora laidlawi. Nessa espécie, geralmente a doença é subclínica; os jovens são mais suscetíveis. Pode causar diarréia e prolapso retal. O diagnóstico é feito mediante exame de fezes. O tratamento é o mesmo utilizado para cães e gatos: sulfadimetoxina (30 a 50mg/kg, VO, uma vez ao dia, durante 10 dias).

Hepatopatias Os distúrbios hepáticos não são raros. A histopatologia quase sempre revela infiltração por um tecido neoplásico (mais freqüentemente o linfoma) ou lipidose hepática. Também é possível notar colangioepatite secundária à colonização dos duetos biliares por patógenos intestinais. Igualmente, pode haver hepatite tóxica. Os sintomas podem ser crônicos, com episódios de diarréia, diminuição do apetite e emagrecimento, ou agudos, com início súbito de letargia, inapetência, vômitos e, finalmente, icterícia evidente. As principais alterações bioquímicas incluem aumento da atividade das enzimas ALP e ALT. Tenta-se definir a natureza do distúrbio hepático por meio de radiografia e, sobretudo, de ecografia; eventualmente, pode-se realizar uma biópsia. O tratamento compreende: •

Hospitalização, com hidratação e alimentação forçada.

Antibioticoterapia com, por exemplo: - Amoxicilina: 20 a 40mg/kg, VO, duas vezes ao dia. Ou - Metronidazol: 20mg/kg, VO, duas vezes ao dia.


O uso de corticóides é útil. Pode-se utilizar dexametasona (0,5mg/ kg, SC, uma vez ao dia) durante 3 a 5 dias e, em seguida, reforço oral com prednisona (1 a 2mg/kg/dia) durante, no mínimo, 2 semanas.

Vitamina B12 injetável (0,25mL/kg/dia).

Neoplasias Os distúrbios digestivos dependem da localização da neoplasia. A neoplasia mais freqüente em furões é o linfoma, que pode provocar uma síndrome obstrutiva. Efetua-se laparotomia exploratória, com possível exérese do tumor.

Esplenomegalia É freqüentemente observada em furões com mais de 3 anos, em geral sem sintomas associados. Na maioria dos casos, a histologia revela uma afecção benigna de hematopoese extramedular. Os sinais que indicam patologia esplênica incluem aumento súbito do tamanho do órgão ou um baço de forma irregular ou dolorido. Quando o volume do órgão ultrapassa a metade da cavidade abdominal, o funcionamento intestinal é prejudicado, sendo aconselhável a exérese. São várias as doenças que podem provocar crescimento anormal do baço: •

Linfoma.

Insulinoma.

Doença da adrenal.

Cardiomiopatia.

Doença aleutiana.

Metástase de mastocitoma.


Gastroenterite eosinofílica.

Hemangiossarcoma.

Neoplasia esplênica primária.

Pneumologia PARA MEMORIZAR •

O furão parece ser muito suscetível às rinites alérgicas.

As principais doenças respiratórias infecciosas são gripe e cinomose1.

A efusão pleural pode ser decorrente da instalação de linfoma no mediastino.

Rinite Os furões têm propensão natural a tossir e fungar fortemente. Eles exploram seu ambiente muito mais pelo seu olfato que pela visão, facilitando a inalação de pó ou de pequenas substâncias. Um furão que tosse ou espirra uma ou duas por dia não está, necessariamente, doente. Quando o animal espirra com mais freqüência sem que seu estado geral e seu comportamento estejam alterados, pode-se tratar de rinite irritativa ou alérgica. Aconselha-se ao proprietário que elimine ao máximo a poeira do ambiente, retire a cama de gato, serragem ou feno, que são fontes de micropartículas potencialmente irritantes das vias respiratórias. É necessário, também, verificar o uso de produtos de limpeza na residência, os quais podem ser nocivos à mucosa respiratória. Além

1

Ver "Virologia".


disso, deve-se verificar se a gaiola está exposta a correntes de ar e se está colocada diretamente no solo. É prudente iniciar antibioticoterapia, porém o tratamento é essencialmente sintomático: utiliza-se um anti-histamínico, clorfeniramina (1 a 2mg/kg, VO, 2 a 3 vezes ao dia), ou, se necessário, corticóide (prednisona ou prednisolona: 0,6mg/kg, VO, uma vez ao dia).

Infecções respiratórias bacterianas Podem ser primárias ou secundárias à infecção viral ou ao megaesôfago. Os patógenos mais comuns são: •

Streptococcus pneumonia e S. zooepidermicus.

Klebsiella pneumoniae.

Escherichia coli.

Bordetella bronchiseptica.

Pseudomonas aeruginosa.

Os sintomas podem incluir dispnéia, apatia, secreção nasal, febre e ruídos anormais durante a auscultação pulmonar. Em caso de pneumonia, o exame radiográfico pode mostrar áreas de densificação alveolar. O hemograma revela importante leucocitose. O tratamento deve ser imediato e consiste no uso de antibiótico de amplo espectro, como betalactâmicos, quinolonas ou sulfamidas potencializadas.


Blastomicose No furão, o Blastomyces dermatitidis pode provocar uma doença sistêmica que geralmente inicia com acometimento pulmonar. Essa doença, endêmica no sudoeste dos Estados Unidos, ainda não foi diagnosticada na França. O diagnóstico se baseia no isolamento do microorganismo. O

tratamento

requer

o

uso

de

antimicótico

sistêmico,

como

cetoconazol (10mg/kg, VO, uma vez ao dia) ou anfotericina B (0,25 a 1mg/kg, três vezes por semana, em infusão IV lenta).

Urologia, Nefrologia e Patologia da Reprodução PARA MEMORIZAR •

Nessa espécie, as infecções da glândula mamaria sempre são graves.

O hiperprostatismo, relacionado à doença adrenal, é a principal causa de obstrução uretral em machos, seguido pelos cálculos urinários.

Nos furões que apresentam sintomas de insuficiência renal, a uremia pode aumentar de maneira significativa, enquanto a elevação do teor de creatinina é relativamente baixa. Isso está relacionado a um metabolismo particular de degradação intestinal da creatinina nessa espécie.

Mastite O furão pode apresentar infecções mamárias muito graves e doloridas, com sérias conseqüências no estado geral. Há necessidade de:


Tratar a dor:

-

- Carprofeno (Rimadyl, 1 a 2mg/kg, SC ou VO, uma vez ao dia). Ou - Buprenorfina (Temgesic, 0,01 a 0,03mg/kg, SC, 2 a 3 vezes ao dia). Ou - Flunixina meglumina (Finadyne, 0,5 a 2mg/kg, VO, SC ou IV, 1 a 2 vezes ao dia). •

Reidratar.

Instituir antibioticoterapia de amplo espectro.

Tratar cirurgicamente, se necessário.

Urolitíase Essa afecção pode ser observada em furões de todas as idades, tanto machos quanto fêmeas. Pode envolver cálculos renais ou vesicais bem organizados ou na forma de um material arenoso na bexiga ou na uretra. Os sintomas são clássicos: hematúria, disúria ou estrangúria. Às vezes, pode-se palpar o cálculo na bexiga vazia; radiografia e ecografia podem ser úteis para evidenciar o cálculo ou a obstrução urinaria. Em geral, os cálculos são compostos de fosfato de amoníaco magnesiano. O fato de alimentar um furão com alimentos para gato, de má qualidade, pode favorecer o aparecimento de cálculos. Os furões são carnívoros estritos. O metabolismo da cistina e da metionina contida nas proteínas animais de sua dieta induz à formação de urina ácida normal, com pH 6. O metabolismo dos ácidos


orgânicos contidos nas proteínas de origem vegetal de uma dieta mal adaptada induz à formação de urina alcalina, fator que favorece a formação de cálculos. Em caso de bloqueio urinário importante, o tratamento costuma ser a cirurgia imediata. De fato, é difícil introduzir uma sonda uretral em um furão e há necessidade de tratamento emergencial da obstrução. Geralmente, faz-se uma cistotomia de urgência, seguida da irrigação da uretra a partir da bexiga, a fim de remover todo o sedimento residual. Instaura-se antibioticoterapia (por exemplo, sulfamida, fluoroquinolona) durante, no mínimo, 15 dias; se necessário, propicia-se o equilíbrio alimentar. Os acidificantes urinários não parecem úteis.

Cistite Tanto em machos quanto em fêmeas também pode se instalar cistite, sem cálculos. Os principais patógenos isolados são Staphylococcus sp. e Proteus sp. Os animais manifestam freqüentes tentativas doloridas de urinar. A extremidade uretral pode estar suja com urina (não confundir esse sinal com a manifestação de atividade sexual em animais não castrados). A cistite é tratada de maneira clássica, associando antibióticos, antiespasmódicos e antiinflamatórios, se necessários. Às vezes, o material purulento contido na bexiga é tão espesso que obstrui a uretra, principalmente do macho. Nesse caso, pratica-se uma cistotomia, como no caso de obstrução por cálculo urinário.

Piometra As fêmeas não castradas podem desenvolver piometra. O animal apresenta comprometimento do estado geral e pode ter secreção vulvar. O


diagnóstico se baseia na ultra-sonografia ou na radiografia. A ovário-histerectomia é o tratamento de escolha.

Hiperprostatismo Em geral, essa enfermidade se manifesta subitamente e costuma envolver obstrução uretral. Na maioria dos casos, a histologia revela metaplasia escamosa do tecido prostático. As complicações infecciosas de abscessos prostáticos secundários são bastante freqüentes. Essa hiperplasia tem origem hormonal, mas pode acometer machos castrados; nesses animais, a hiperplasia está relacionada à doença adrenal; as glândulas adrenais se desenvolvem de forma anormal e sintetizam hormônios masculinos. Os sintomas envolvem desde disúria e estrangúria até obstrução urinaria. O diagnóstico se baseia na radiografia ou na ultra-sonografia. Essa última técnica é privilegiada, pois permite examinar também as glândulas adrenais. Com freqüência, há necessidade de cistocentese de urgência. Realiza-se a castração do macho, enquanto o tratamento definitivo do macho castrado geralmente é a ablação cirúrgica da glândula adrenal hipersecretora. A próstata retorna ao seu tamanho normal em alguns dias. Pode ser necessária a extirpação dos

abscessos

prostáticos

volumosos.

Institui-se

antibioticoterapia

(fluoroquinolona, clindamicina, sulfamida-trimetoprim) de, no mínimo, 10 dias.

Policistose renal É uma doença de etiologia desconhecida geralmente observada em furões a partir de 3 anos de idade, na qual notam-se cistos líquidos no parênquima renal. O tamanho do órgão aumenta e sua superfície toma um aspecto irregular. Na maioria das vezes, é um achado fortuito durante a palpação, pois normalmente o


animal não apresenta sintoma algum. Morfologicamente, o cisto aparece como uma massa translúcida o sob a cápsula renal. A histopatologia revela fibrose e infiltração linfocitária nas áreas renais atingidas, enquanto a arquitetura normal dos glomérulos e dos túbulos permanece intacta nos espaços entre os cistos. Essa afecção parece ser benigna e não requer tratamento, exceto quando o tamanho do rim prejudica o funcionamento do organismo. Nesse caso, pode-se considerar a possibilidade de nefrectomia. Após o diagnóstico dessa nefropatia, recomenda-se a realização de dois exames radiográficos com intervalo de um mês, a fim de avaliar a rapidez do aumento do tamanho do rim. Em seguida, faz-se um exame radiográfico a cada 4 ou 6 meses. De modo geral, essa doença não evolui.

Insuficiência renal Não é comum na prática de rotina. A principal afecção é nefrite intersticial crônica. Os sintomas são semelhantes aos observados em cães e gatos: anorexia, emagrecimento, desidratação, poliúria/polidipsia, halitose característica e úlceras orais. No furão, a interpretação dos resultados da bioquímica sangüínea deve levar em consideração uma particularidade da espécie: a elevação da creatininemia não está obrigatoriamente relacionada ao aumento da uremia. Segundo Kawasaki, hipercalemia (> 6mmol/L), hiperfosfatemia (> 10mg/dL) e hipocalcemia (< 8mg/dL) são indicadores mais precisos de insuficiência renal, no furão. O tratamento é o mesmo utilizado para gatos. A maioria dos alimentos utilizados para essa espécie pode ser útil e, em geral, é facilmente aceita.


CARDIOLOGIA

PARA MEMORIZAR •

Os distúrbios cardíacos são relativamente freqüentes nos furões de idade média e avançada. Em muitos desses animais, há uma afecção intercorrente associada, como uma patologia de glândulas adrenais, insulinoma ou linfoma.

A cardiomiopatia dilatada é a principal afecção cardíaca de furões.

Nessa espécie, é necessária precaução no uso de inibidores da enzima de conversão, pois o furão é particularmente sensível ao seu efeito hipotensor.

Particularidades da semiologia cardíaca

Auscultação A área de auscultação cardíaca situa-se entre a sexta e a oitava costela, bem mais caudalmente que em cães e gatos. A freqüência cardíaca varia de 180 a 250 batimentos por minuto, podendo diminuir momentaneamente durante a auscultação, sem que seja indício de cardiopatia. O furão apresenta arritmia sinusal respiratória, que é fisiológica. Dentre os sinais patológicos, pesquisa-se sopro sistólico (particularmente à esquerda), ruído de galope ou pulso femoral fraco e irregular.


Radiografia O furão, magro e de pequeno tamanho, pode ser facilmente submetido a duas exposições (anterior e lateral) das cavidades torácicas e, abdominal em um mesmo filme, a fim de pesquisar qualquer afecção nessas áreas. Investiga-se a presença de radiotransparência entre o bordo ventral do coração e o esterno. Com freqüência, o desaparecimento desse espaço é um dos primeiros sinais de cardiomegalia; a forma do coração torna-se globóide. A evidência de derrame pleural pode ser um sinal de cardiopatia, mas pode indicar, também, linfoma ou dirofilariose. A definição do diagnóstico se baseia no exame citológico do derrame.

Eletrocardiograma Com paciência, pode-se realizar o eletrocardiograma (ECG). Previamente, é necessário forrar as pinças metálicas com pedaços de compressa, tornando-as mais toleráveis, e distrair o paciente com uma guloseima durante o procedimento. O ECG permite detectar arritmias ou distúrbios de condução. O traçado normal difere daquele do cão e do gato. A onda P é pequena, como no gato, enquanto a onda R é grande, como no cão.

Ecocardiografia Permite determinar a natureza da cardiopatia (valvar, miocárdica, parasitaria).


Principais cardiopatias Cardiomiopotia dilatada E a cardiopatia de maior ocorrência em furões. A causa é desconhecida. Susan A. Brown acredita que a deficiência de taurina pode ser uma causa predisponente, pois notou diminuição nítida na ocorrência dessa doença a partir do momento em que começou a fornecer alimentos suplementados com taurina aos furões. Os sintomas indicativos podem ser: •

Inapetência.

Letargia.

Fraqueza dos membros pélvicos.

Dispnéia.

Ritmo respiratório anormalmente elevado.

Abdome dilatado pela ascite.

Hepatomegalia e esplenomegalia.

Na ecocardiografia, nota-se aumento do tamanho das câmaras atriais e ventriculares

e

adelgaçamento

das

paredes.

Histologicamente,

constata-se

degeneração e necrose do músculo cardíaco com aparecimento de um tecido de reparação fibroso. Em geral, essa afecção se desenvolve silenciosamente até que surge um quadro súbito de angústia respiratória. A radiografia revela, com muita freqüência, derrame pleural. O tratamento é muito semelhante ao empregado para cães e gatos: •

Oxigenoterapia.


Administração de diurético: furosemida, 2 a 4mg/kg, SC ou IM, em intervalos de 8h.

Quando há grande volume de derrame pleural, há necessidade de toracocentese depois da estabilização do quadro clínico. O local de punção mais produtivo situa-se cranialmente ao coração. Pode-se efetuar exame citológico do líquido obtido, a fim de detectar eventual linfoma.

Administração de vasodilatador venoso percutâneo (na orelha ou na face interna da coxa, após tricotomia prévia) ajuda a reduzir a pré-carga. Pode-se utilizar volume correspondente a um pequeno círculo de Lenitral. Entretanto, o furão é muito sensível à hipotensão induzida por essa droga. Como tratamento de manutenção pode-se utilizar:

Digoxina (0,01mg/kg, VO, uma vez ao dia), por seu efeito inotrópico no miocárdio e sua ação reguladora da condução do nodo atrioventricular, útil no caso de taquicardia supraventricular.

Furosemida (1 a 4mg/kg, VO, 2 a 3 vezes ao dia).

Os inibidores da enzima de conversão, como enalapril, são bastante úteis, mas o furão é muito sensível ao seu efeito hipotensor. São utilizados na dose de 0,5mg/kg, VO, em intervalos de 2 dias. Quando a dose é bem tolerada, a administração torna-se diária. Ao contrário, se os efeitos secundários são evidentes, administra-se a droga a cada 3 dias.

Cardiomiopatia hipertrófica Não se conhece a causa dessa afecção, que se caracteriza pelo espessamento anormal da parede do ventrículo e do septo interventricular. Histologicamente, nota-se a invasão de tecido fibroso no miocárdio. Em geral, os sintomas são rudimentares. Muito freqüentemente ocorre morte súbita.


O tratamento se baseia na administração de diuréticos, como descrito anteriormente, e em medicamentos que melhoram a função diastólica: •

Betabloqueadores (atenolol: 6,25mg/kg, VO, uma vez ao dia).

Antagonistas do cálcio (diltiazem: 3,75 a 7,5mg/kg, VO, duas vezes ao dia) inibem a entrada transmembrana do cálcio e reduzem a quantidade de cálcio que atinge as proteínas musculares contrateis. Diminui o ritmo cardíaco, melhora o preenchimento diastólico e relaxa o miocárdio. O tratamento inicia com a dose mínima, avaliando seus efeitos colaterais no furão: arritmia, letargia, perda de apetite.

Valvopatias Essas cardiopatias podem surgir ao redor de 4 a 5 anos de idade. Os sintomas são variáveis e costumam ser discretos. À auscultação, percebe-se um sopro cardíaco regular, geralmente na região apical esquerda. A

ecocardiografia

revela

espessamento

dos

folhetos

mitrais

ou

tricúspides, dilatação dos átrios direito ou esquerdo e discreta dilatação do ventrículo correspondente.

Histologicamente,

nota-se

tecido

de

degeneração

valvar,

semelhante ao observado em cães com endocardiose valvar. No estágio de insuficiência cardíaca, o tratamento se baseia no uso de diuréticos e inibidores das enzimas de conversão, nas mesmas doses indicadas anteriormente. Pode-se utilizar digoxina nos estágios mais avançados, quando a função sistólica encontra-se alterada, ou no caso de taquicardia supraventricular.


Filariose A infestação por Dirofilaria immitis é comum nos furões que vivem no sul dos Estados Unidos. Em razão do tamanho reduzido do animal, a presença de uma única filaria adulta no coração pode ser fatal. Podem ser encontrados vermes adultos no ventrículo direito, na veia cava cranial e na artéria pulmonar principal. Apatia, tosse, dispnéia e ascite são os principais sinais. A radiografia revela, quase sempre, derrame pleural. O diagnóstico se baseia na avaliação dos sintomas, nos achados da radiografia e da ecocardiografia e na pesquisa de antígenos circulantes (os kits de detecção rápida destinados aos cães são utilizáveis em furões). O prognóstico é reservado. Em geral, o furão dificilmente suporta o tratamento, pois as tromboses são complicações comuns. Pode-se tentar o tratamento com um adulticida, como a melarsomina (Immiticide: 2,5mg/kg, IM, repetindo um mês mais tarde em duas administrações, com intervalo de 24h), associado a um anticoagulante para prevenir embolias: •

Associação de heparina (100UI, SC, uma vez ao dia, durante 3 semanas) e Aspirina (22mg/kg, VO, uma vez ao dia, durante 3 meses).

Prednisolona (2,2mg/kg, VO, uma vez ao dia, durante 3 meses).

Quando o tratamento é eficaz e bem tolerado, nota-se soronegatividade em cerca de 4 meses. A prevenção consiste na administração mensal de selamectina (spoton), ivermectina (VO) ou milbemicina (VO) nas mesmas dose utilizadas para cães.


NEUROLOGIA

PARA MEMORIZAR •

A fraqueza dos membros pélvicos é muito freqüentemente observada no furão, quando o estado geral do animal está alterado. Esse sintoma não traduz necessariamente uma lesão raquidiana.

A epilepsia é muito rara nessa espécie. O aparecimento de perdas de equilíbrio e de crises convulsivas costuma estar relacionado à hipoglicemia, normalmente associada ao desenvolvimento de um insulinoma.

Às vezes, a cinomose pode se manifestar apenas em sua forma nervosa.

Paresia dos membros pélvicos Apesar de relatos de acometimentos primitivos da coluna vertebral do furão (doença de disco, linfoma, cordoma), esse sintoma representa a manifestação mais comum de enfraquecimento geral associado com doença sistêmica. O furão perde a posição arqueada que adota quando se desloca e parece arrastar os membros pélvicos, como se estivessem desconectados da parte anterior do corpo. É um sintoma freqüentemente constatado no estágio inicial da doença aleutiana, mas pode igualmente estar associado à evolução de cardiomiopatia, insulinoma, doença adrenal, diabetes, aplasia medular, hepatopatia ou linfoma.


Raiva O furão parece ser menos suscetível à raiva que os carnívoros tradicionais1.

Cinomose Às vezes, essa doença pode se apresentar unicamente sob a forma nervosa: convulsões, paresia e epilepsia2.

Criptococose No furão, o Cryptococcus neoformans pode causar meningoencefalite aguda ou crônica. É preciso investigar o ambiente, pois esse microorganismo ubiqüitário costuma estar presente nas excreções de pombos. Pode-se tentar o tratamento com anfotericina B (0,15mg/kg, três vezes por semana em infusão IV lenta, durante 2 a 4 meses) ou com itraconazol (5mg/kg/dia).

EPILEPSIA A ocorrência de epilepsia é pouco freqüente no furão. Nas crises convulsivas, é necessário pesquisar outras causas profundas, como encefalopatias (infecciosa, hepática) ou uma queda brutal da glicemia, relacionada à evolução de um insulinoma.

1 2

Ver "Virologia" Ver "Virologia"


DERMATOLOGIA

PARA MEMORIZAR •

Em geral, no furão, a alopecia está relacionada a uma endocrinopatia (hiperestrogenismo, doença de glândulas adrenais).

As neoplasias cutâneas são freqüentes no furão idoso.

O aparecimento de coloração azulada na pele durante o crescimento do pêlo, após uma muda, é uma condição fisiológica, no furão.

Alopecia No furão, os quadros de alopecia podem estar associados a um mastocitoma

ou

ter

origem

hormonal,

em

função

da

instalação

de

hiperestrogenismo ou de doença adrenal. Essas doenças são abordadas em um capítulo particular, cuja leitura é recomendada.

Dermatofitose Embora o furão seja suscetível à infecção por Microsporum canis e por Trichophyton mentagrophytes, essas micoses são pouco freqüentes. As lesões típicas de alopecia em forma de moeda geralmente estão associadas à inflamação. O diagnóstico definitivo se baseia no isolamento do fungo. Para o tratamento, utilizam-se antifúngicos tópicos (econazol) ou sistêmicos (griseofulvina, 25mg/kg, VO, uma vez ao dia; cetoconazol, 10 a 30mg/kg, VO, duas vezes ao dia; lufenuron, 100mg/kg, VO, uma vez ao mês), até que se constate resultado negativo na cultura fúngica.


Demodicose Pode-se isolar o Demodex no furão. O amitraz é eficaz, na dose recomendada para os cães.

Piodermite Os furões quase nunca apresentam piodermite crônica, como acontece com os cães. Nessa espécie, as infecções cutâneas resultam mais freqüentemente de traumatismo, como aquele provocado pela mordida do macho no pescoço da fêmea, durante o acasalamento, o qual evolui para piodermite profunda localizada ou para abscesso. Os germes isolados com mais freqüência são Stapbylococcus aureus, Pasteurella sp. e Escherichia coli. O tratamento desses abscessos é semelhante ao utilizado para cães e gatos.

Neoplasias Como as neoplasias de pele são muito freqüentes no furão, não se deve hesitar em realizar um exame histológico de qualquer lesão suspeita.

Mastocitoma É um dos tumores cutâneos mais freqüentes. No furão, o mastocitoma pode surgir a partir de 3 anos de idade, independentemente da região do corpo. Classicamente, apresenta-se sob a forma de uma pápula bem delimitada, cujo tamanho pode atingir 1cm, com uma ulceração na superfície. Também existe uma forma menos característica, mais difusa e mais extensa, que pode ser confundida com uma dermatite comum. Áreas de alopecia delimitadas podem estar associadas a esse tumor, as quais desaparecem após a extirpação do tumor. O tratamento é


cirúrgico. As metástases viscerais são raras, no furão. Em geral, o prognóstico é bom.

Adenoma das glândulas sebáceas, adenocarcinoma No furão, o seu diagnóstico é regular. Pode se manifestar na forma de lesões proliferativas, eventualmente ulceradas, ou como uma massa azulada que se desenvolve na pele. Esses tumores podem atingir todo o corpo, mas se desenvolvem preferencialmente nas glândulas prepuciais do macho. O prognóstico depende do tipo histológico, determinado após a exérese. O adenoma apresenta crescimento lento e localizado, enquanto o adenocarcinoma é bem mais agressivo e pode originar metástases, rapidamente.

Condroma É um tumor benigno, cartilaginoso, que freqüentemente se localiza na extremidade da cauda de furões idosos. Em vista do importante tamanho dessas lesões e de sua capacidade de ulcerar, recomenda-se a amputação da parte da cauda atingida.

Fibrossarcoma No furão, o fibrossarcoma se desenvolve classicamente nos membros e na cavidade bucal. Faz-se a extirpação quando a localização permitir. No caso de acometimento bucal, a radiografia permite determinar eventual envolvimento ósseo antes da intervenção cirúrgica.


Outros tumores Outros tumores, como epiteliomas, histiocitomas, neurofibromas e cordomas (tumores da notocorda residual) foram descritos no furĂŁo. O linfoma, uma neoplasia muito grave nessa espĂŠcie, raramente se manifesta na pele.


ENDOCRINOPATIAS HlPERESTROGENISMO PARA MEMORIZAR •

O hiperestrogenismo é uma doença de evolução inevitável e com complicações fatais em fêmeas não castradas e naquelas não acasaladas regularmente.

Essa doença pode se manifestar após um mês de estro prolongado.

Os sintomas indicativos incluem alopecia bilateral simétrica associada a edema de vulva.

A ovariectomia curativa é realizada imediatamente ou não, dependendo do resultado do volume globular.

A ovariectomia preventiva em fêmeas não destinadas à reprodução deve ser sistemática e realizada entre 4 e 6 meses de idade.

O hiperestrogenismo é um distúrbio que se instala de forma inevitável quando a fêmea não castrada não é regularmente acasalada. Como nessa espécie a ovulação é induzida pela cópula, a fêmea não acasalada pode permanecer no cio durante vários meses. A conseqüente persistência de alta concentração de estrógenos no organismo induz aplasia medular que pode culminar com a morte do animal,

geralmente

em

decorrência

de

uma

hemorragia

secundária

à

trombocitopenia. Qualquer fêmea que permaneça no cio por mais de um mês pode desenvolver essa doença. O quadro clínico é caracterizado pela presença de um edema de vulva persistente, associado à alopecia bilateral simétrica (Fig. 3.1).


Outros sinais, como perda de apetite, letargia, fraqueza de membros pélvicos, palidez de mucosas e petéquias, costumam ser observados. O exame hematológico revela comprometimento de todas as linhagens de células do sangue, geralmente com anemia não regenerativa grave, leucopenia e trombocitopenia. O tratamento consiste em suprimir o estro e dar suporte ao organismo até que a medula volte a funcionar. A ovariectomia deve ser realizada o quanto antes, mas alguns animais muito fracos podem não suportá-la. A avaliação do volume globular auxilia na decisão sobre a cirurgia:

Figura 3.1 – Alopecia em um furão com hiperestrogenismo

Quando o volume globular é superior a 25% (normal: 40 a 50%) a ovariectomia é bem tolerada e o prognóstico é bom.

Quando o volume globular situa-se entre 15 e 20%, o prognóstico é reservado, pois esse valor tende a diminuir assim que cessa o cio. A cirurgia praticada de imediato é arriscada. Pode-se suprimir o estro com medicamentos, em um primeiro momento, aplicando gonadotropina


coriônica humana (HCG: Chorulon) na dose de 100UI, IM. A tumefação da vulva deve desaparecer 3 a 4 dias após a injeção; caso contrário, deve-se aplicar uma segunda injeção 8 dias após a primeira (o hormônio liberador de gonadotropina, GnRH, também pode ser utilizado, na dose de 20µg, IM ou SC, repetindo a dose 1 a 2 semanas mais tarde, se necessário. Contudo, essa droga não está disponível atualmente). Uma vez interrompido o estro, o animal deve se restabelecer durante algumas semanas, antes da cirurgia. Objetiva-se a melhoria do estado de saúde do animal pela normalização dos valores sangüíneos. •

Quando o volume globular é inferior a 15%, o prognóstico geralmente é desfavorável. Susan A. Brown acredita que a utilização de GnRH ou de HCG nesse estágio não é mais efetiva. É necessário recorrer à ovariectomia imediatamente, precedida e seguida por tantas transfusões de sangue quantas necessárias (os furões parecem não possuir grupos sangüíneos e, portanto, podem receber sangue de diferentes doadores).

O melhor método de prevenção dessa doença é a ovariectomia da fêmea jovem, entre 4 e 6 meses de idade. As fêmeas castradas que novamente apresentam sinais de estro costumam apresentar distúrbio de glândulas adrenais.


Doença da adrenal

PARA MEMORIZAR •

No furão, a doença da adrenal acomete animais castrados; é conseqüência da neo-secreção de hormônios sexuais por uma glândula adrenal anormal.

Trata-se de uma doença de evolução lenta, influenciando pouco a qualidade de vida do animal. Os principais sintomas incluem alopecia progressiva, começando pela base da cauda, e reaparecimento de sinais de atividade sexual.

No macho, manifesta-se freqüentemente como uma urgência prostática.

Com freqüência, essa doença evolui simultaneamente com insulinoma ou linfoma.

O diagnóstico se baseia principalmente nos sintomas e no diagnóstico por imagem.

A cirurgia é o tratamento de escolha, embora a característica da adrenal direita dificulte o procedimento cirúrgico.

O tratamento médico é paliativo e requer medicamentos dificilmente encontrados na França.

Muitas vezes definida inadequadamente como hipercorticismo do furão, a doença da adrenal é uma endocrinopatia muito comum na América (onde se estima que 25% dos furões são acometidos), mas ainda pouco descrita na Europa.


No furão castrado, a doença é conseqüência da secreção de hormônios sexuais pela glândula adrenal patológica. Essa neo-secreção induz a alterações metabólicas, cujas manifestações clínicas são: •

Cutânea: alopecia progressiva que se generaliza ao longo dos anos.

Sexual: sinais de retorno à atividade sexual.

Geral: enfraquecimento, atrofia muscular.

Epidemiologia Essa doença acomete quase exclusivamente os animais castrados. A idade média do início dos sintomas é de 3 a 5 anos. As fêmeas parecem ser um pouco mais suscetíveis que os machos.

Sintomas Em geral, a alopecia simétrica é o primeiro sinal da doença. Inicia no final do inverno e torna-se mais evidente no outono seguinte. Essa seqüência pode se repetir, ininterruptamente, 2 a 3 vezes antes do aparecimento de outros sintomas. A alopecia começa pelo membro pélvico e cauda e se estende progressivamente ao dorso, aos flancos e ao ventre, até que o animal fique quase totalmente sem pêlos, ao longo dos anos. Prurido, que em geral não responde a qualquer tratamento, pode ser notado. A pele pode perder sua espessura e tornar-se muito frouxa à palpação. Os sinais de retorno à atividade sexual são fáceis de perceber na fêmea, pois apresenta tumefação de vulva e corrimento mucoso facilmente visualizados, fazendo com que o proprietário procure o veterinário. No macho, os sinais são mais discretos: a pele pode apresentar odor almiscarado e o comportamento se torna


mais ativo. É comum o proprietário levar o animal à consulta de urgência por causa da obstrução uretral súbita em função da síndrome prostática. Os sintomas gerais são menos constantes. Lembram os sintomas da síndrome de Cushing de cães e gatos: astenia muscular, distensão abdominal, fraqueza de membros pélvicos, anemia, poliúria/polidipsia e massa palpável na região adrenal.

Etiopatogenia

Lesões das glândulas adrenais A

histologia

revela

três

tipos

de

lesão:

hiperplasia

cortical,

adenocarcinoma corticoadrenal e adenoma corticoadrenal (o mais freqüente nos Estados Unidos). Ao contrário de cães e gatos, não há comprometimento de hipófise simultâneo.

Hipóteses etiológicas Muitas hipóteses são propostas. Acredita-se que a castração muito precoce esteja envolvida no aparecimento dessa endocrinopatia. Nos Estados Unidos, os furões jovens são submetidos à gonadectomia com cerca de 6 semanas de idade, antes de saírem das fazendas de criação para a venda em lojas de animais. Acontece que, após a gonadectomia precoce e na ausência de um controle inibidor dos hormônios sexuais, os hormônios hipofisários estimulam continuamente as células indiferenciadas do córtex adrenal desses animais jovens. Essas células se tornam competentes

e

secretam

esteróides

sexuais.

Progressivamente,

instala-se


hiperplasia do córtex adrenal em decorrência de tais populações celulares, sendo possível uma evolução neoplásica. O ciclo circadiano também pode estar envolvido. De fato, os furões criados na Europa, que até há pouco tempo viviam em ambiente externo e eram utilizados essencialmente para a caça, não eram acometidos pela doença. Os furões americanos foram imediatamente considerados animais de estimação e, desse modo, vivem no interior das residências. O período de claridade nas casas sempre é maior, em qualquer período do ano; os furões não são submetidos ao menor fotoperíodo do inverno. É fato que, nos visons, a diminuição da duração do dia induz à secreção de melatonina pelo organismo. Tradicionalmente, nas criações de vison, utiliza-se essa substância para favorecer a troca de pelagem e o aparecimento da pelagem de inverno utilizada na indústria. Seu mecanismo de ação ainda não é bem entendido, mas acredita-se que ela interfira no controle da secreção de GnRH, graças aos receptores específicos na hipófise e no hipotálamo. Assim, a deficiente secreção de melatonina nos furões criados em ambiente interno causa diminuição na produção de pêlos, como conseqüência da falta de ajuste sazonal da síntese de GnRH. Também foram incriminados fatores genéticos. A criação de furões nos Estados Unidos se concentra em algumas fazendas e alguns reprodutores oriundos de várias linhagens poderiam ser geneticamente predispostos à hiperplasia ou aos tumores da adrenal.

Diagnóstico O diagnóstico é fundamentado no exame clínico, na evidência de uma adrenal anormal pela ultra-sonografia e na dosagem dos hormônios sexuais no soro


sangüíneo. A radiografia não permite visualizar as adrenais, exceto em caso de calcificação secundária. À ultra-sonografia, pesquisa-se deformação e aumento do tamanho de uma ou das duas glândulas adrenais, cuja espessura normal não deve exceder 3mm. A dosagem sérica dos hormônios sexuais é importante quando se constata elevação plasmática de ao menos um dos seguintes esteróides sexuais sintetizados na zona fasciculada da adrenal: androstenediona, estradiol, 17-hidroxiprogesterona (ENVL - École Nationale Vétérinaire de Lyon, Universidade do Tennessee). Os testes funcionais para avaliação da síntese de cortisol utilizados em cães e gatos para diagnóstico de hipercorticismo são inúteis, pois a síntese de cortisol permanece normal. Para diferenciar o cio de origem ovariana daquele de uma doença adrenal em uma fêmea, cujo único sintoma é a tumefação de vulva (Fig. 3-2), pode-se aplicar uma injeção de HCG (100UI, IM). Caso o animal não seja castrado ou haja persistência de alguma estrutura ovariana, a vulva retorna ao tamanho normal ao fim de 15 dias; quando há envolvimento da adrenal, a tumefação continua.

Tratamento É essencialmente cirúrgico; o tratamento medicamentoso é apenas paliativo.

Tratamento cirúrgico A cirurgia é o tratamento de escolha. E curativa se apenas uma das glândulas estiver acometida e sua exérese for completa, embora a glândula remanescente possa ser afetada secundariamente. Aproveita-se para examinar o restante da cavidade abdominal, investigando a presença de linfoma ou de insulinoma, pois esses tumores podem coexistir.


Figura 3.2 – Vulva de uma fêmea de furão no cio

A adrenal esquerda é a mais facilmente acessada e a mais acometida. Situa-se na gordura mesentérica, medialmente ao pólo anterior do rim esquerdo, e pode ser retirada em sua totalidade. A adrenal direita é encontrada levantando-se o lobo caudal do fígado que recobre o pólo anterior do rim direito. A proximidade dessa glândula com a veia cava caudal torna sua exérese total mais difícil, uma vez que o tecido adrenal pode invadir a luz do vaso. Quando há envolvimento das duas glândulas, remove-se a glândula esquerda e procede-se à ressecção parcial da direita, permitindo que os hormônios adrenais necessários ao organismo sejam sintetizados. Depois

da

intervenção,

aplica-se

uma

injeção

de

1mg/kg

de

dexametasona. Para os pacientes que manifestam letargia nos dias seguintes, pode-se alterná-la com a administração diária de prednisolona, na dose de 0,10mg/kg, durante 5 dias. De modo geral, a cirurgia é bem tolerada. Os sinais sexuais secundários desaparecem nas semanas que se seguem e os pêlos crescem progressivamente. É


rara a ocorrência de metástase, mas há um grau elevado de recidivas após 2 a 3 anos.

Tratamento médico Quando os proprietários recusam a cirurgia ou caso a doença reapareça em um furão já operado, há algumas alternativas médicas, lembrando que sua eficácia é limitada. Várias drogas podem ser utilizadas. O cetoconazol, utilizado no tratamento de cão com hipercorticismo de origem adrenal, não é ativo na doença da adrenal do furão. O op'DDD (mitotano) praticamente não tem eficácia alguma no furão. É discretamente

mais

efetivo

nas

hiperplasias

e

nos

adenomas

que

nos

adenocarcinomas, e a melhora é apenas transitória. É utilizado na dose de 50mg/kg, VO, durante 7 dias e, em seguida, 25 a 50mg/kg, duas vezes por semana. É possível a manifestação de efeitos secundários (distúrbios digestivos, episódios de hipoglicemia). O acetato de leuprolida (Lupron), disponível apenas nos Estados Unidos, é amplamente utilizado nos furões norte-americanos, apesar de seu custo. Trata-se de um análogo do GnRH que, em seres humanos, provoca um estímulo inicial e, em um segundo momento, a inibição da síntese de gonadotropinas hipofisárias

(hormônios

luteinizante,

LH,

e

foliculoestimulante,

FSH).

A

transformação do colesterol em esteróides sexuais depende da secreção de LH e FSH; a diminuição de sua síntese causa diminuição da esteroidogênese. Em seres humanos, esse medicamento é utilizado no tratamento do câncer de próstata ou de endometriose. Utiliza-se a forma cujo efeito que se prolonga por um mês (Lupron Depot). A dose recomendada é de 100µ µg/kg, IM, uma vez por mês, durante 3 meses e, em seguida, a cada 3 a 6 meses. Nota-se o desaparecimento dos sintomas


em 4 a 6 semanas. Dois medicamentos humanos disponíveis na França, à base de triptorrelina (Decapeptyl LP) e de leuprorrelina (Enantone LP), também análogos da GnRH, podem ter efeito similar ao acetato de leuprolida e ser utilizados no furão. Em nossa experiência, a utilização de 100µ µg/kg de Enantone propicia a regressão dos sintomas. Tradicionalmente, a melatonina é utilizada nas criações de visons para auxiliar o desencadeamento da muda da pelagem e favorecer o aparecimento de uma nova pelagem. Demonstrou-se haver redução da prolactinemia quando se administra melatonina. Acredita-se que o efeito da melatonina na pelagem do vison está relacionado com os receptores de prolactina, presentes na pele dessa espécie. Um estudo recente da Universidade de Wisconsin avaliou a eficácia da melatonina, administrada VO na dose diária de 0,5mg/kg durante um ano, em 10 furões acometidos pela doença da adrenal. Em nove desses 10 furões constatou-se melhora dos sintomas, com crescimento de pêlos e diminuição do tamanho da vulva e da próstata. A ultra-sonografia não revelou alteração significativa no tamanho das adrenais. A concentração de hormônios sexuais começou a diminuir e, ao fim dos 12 meses de estudo, notaram-se valores mais elevados que os observados no início do tratamento.

A

prolactinemia

foi

o

único

parâmetro

cujo

valor

diminuiu

significativamente durante esse período. Embora sem efeito sobre o tumor, a melatonina merece ser lembrada por provocar melhora significativa dos sintomas. Isso inclui os efeitos benéficos sobre o crescimento de pêlos nos furões doentes. Em seres humanos, a bicalutamida é utilizada no tratamento de hiperplasia de próstata. No furão, pode ser administrada na dose de 5mg/kg, VO, diariamente, até o desaparecimento dos sintomas; em seguida, é administrada em


semanas alternadas. Na França, a droga é comercializada com o nome de Casedex, na forma de comprimidos de 50mg. O anastrozol, inibidor da aromatase, enzima necessária à formação de estrógenos e utilizada no tratamento de câncer de mama de mulheres, pode ser útil para o furão. A dose é de 0,1mg/kg/dia, VO, até o desaparecimento dos sintomas; a partir daí, faz-se a administração em semanas alternadas. A droga está disponível na forma de comprimidos de 1mg, com o nome de Arimidex.

ONCOLOGIA

PARA MEMORIZAR •

O insulinoma está envolvido com a manifestação de crises de hipoglicemia. O diagnóstico é confirmado pela ultra-sonografia. Esse tipo de tumor costuma estar associado à doença da adrenal. A cirurgia permite longos períodos de remissão.

Os sintomas do linfoma são variáveis e pouco específicos. A radiografia e a ultra-sonografia permitem orientar o diagnóstico, que é estabelecido definitivamente pelo exame citológico ou pela histologia. O tratamento associa cirurgia e quimioterapia.

Insulinoma O insulinoma é um dos tumores mais disseminados no furão de meiaidade, nos Estados Unidos. Está sendo diagnosticado com mais freqüência na Europa. Machos e fêmeas são igualmente acometidos.


Um processo neoplásico que afeta as células (3 das ilhotas de Langerhans do pâncreas, em geral um carcinoma, induz uma secreção excessiva de insulina e, por conseqüência, a instalação de hipoglicemia, cujos sintomas neurológicos fazem com que o proprietário procure auxílio veterinário.

Etiologia O insulinoma e a doença da adrenal freqüentemente ocorrem ao mesmo tempo em um mesmo animal. A etiologia dessa doença é desconhecida, mas acredita-se que haja envolvimento de fatores genéticos. As células tumorais do pâncreas aumentam a secreção de insulina e não respondem ao mecanismo de feedback negativo que normalmente limita o excesso do hormônio. A hiperinsulinemia ocasiona aumento no consumo de glicose pelas células dos tecidos periféricos. A produção de glicose mediante a neoglicogênese e a glicogenólise hepática está inibida, havendo diminuição gradativa da glicemia. Quando a glicemia diminui, as células do sistema nervoso central, que não são sensíveis à insulina e nas quais a penetração de glicose se faz unicamente por difusão, estão privadas de sua fonte de energia e os sinais de neuroglicopenia aparecem: confusão mental, crises convulsivas e até mesmo coma. Caso a glicemia se

reduza

subitamente,

surgem

manifestações

adrenérgicas:

taquicardia,

nervosismo, tremores e irritabilidade.

Sintomas Os sintomas dependem da intensidade e da duração da hipoglicemia. No início do distúrbio, os sinais são intermitentes e discretos. Um furão submetido à hipoglicemia pode, às vezes, simplesmente interromper seus movimentos e, de


súbito, olhar para o vazio durante um breve instante ou apresentar paresia fugaz de membros pélvicos. Também pode haver salivação excessiva, com movimentos das patas ao redor já da boca, indicando náusea. Em um primeiro momento, os sintomas regridem de maneira espontânea; em seguida ocorrem períodos de fraqueza e letargia. Os sintomas nervosos mais evidentes, como convulsões e episódios de coma, e a morte, sobrevêm ao fim de alguns meses sem tratamento.

Diagnóstico O diagnóstico é fundamentado essencialmente na constatação de hipoglicemia 3 às 4h após o início do jejum (é arriscado manter os animais com suspeita de insulinoma em jejum por mais tempo) (Tabela 3-2). Em geral, a glicemia de furões que apresentam sinais de coma ou de fraqueza varia de 0,2 a 0,4g/L. Um furão clinicamente suspeito, cuja glicemia em jejum é inferior ou igual a 0,7g/L, quase certamente apresenta insulinoma. Caso a glicemia seja de 0,7 a 0,9g/L, podese determinar a insulinemia (o laboratório deve ter os valores de referência para o furão) (Tabela 3.3). Em um animal sadio, a glicemia de 1g/L deve corresponder à insulinemia inferior a 15mUI/L. No caso de insulinoma, os valores podem facilmente atingir 100mUI/L. Quando o furão apresenta sintomas de insulinoma, com glicemia normal durante a consulta, pode haver necessidade de hospitalização para efetuar uma curva glicêmica. A ultra-sonografia não permite visualizar os insulinomas de pequeno tamanho, mas a descoberta de nódulos pancreáticos, associados a uma hipoglicemia, permite estabelecer o diagnóstico.


Tratamento O tratamento é higiênico, médico e cirúrgico. Tabela 3.2 – Glicemia em um furão sadio Glicemia

g/L

Pós-prandial

0,9 - 2,0

Após 4h de jejum

0,9-1,2

Tabela 3.3 – Exemplo de valores normais de insulinemia no furão sadio Insulinemia mUI/L Em jejum Pós-prandial

7-9 30 - 50

Tratamento higiênico Aumenta-se a freqüência de distribuição de ração, privilegia-se o fornecimento de alimentos ricos em proteínas animais de alta digestibilidade: rações Premium para gatos ou furões, carne cozida e ovo cozido. Nos sinais iniciais de anorexia, pode-se estimular o apetite com alimentos nutritivos e apetitosos (tipo Hill’s a/d ou Fortot). Aconselha-se a introdução de fibras na dieta alimentar, as quais ajudam a limitar as variações súbitas da glicemia em carnívoros, porém apenas em quantidade limitada, porque o furão não as digere bem. Pode-se, por exemplo, adicionar à alimentação uma colher de chá por dia de cereais enriquecidos com fibras (tipo Kellogs Ali Bran). Susan A. Brown relata que o cromo contido na levedura de cerveja estabiliza a glicemia e o teor de insulina dos animais doentes. Ela aconselha o fornecimento de levedura, na quantidade de ⅛ a ¼ de uma colher das de café, todos os dias. Certamente, suprimem-se as guloseimas açucaradas, aconselhando o proprietário a ter mel ou uma solução açucarada disponível para


aplicar na gengiva do furão no caso de crise hipoglicêmica importante. Entretanto, ele deve ser informado sobre o risco de ocorrer hipoglicemia causada pela hipersecreção de insulina, conseqüente à administração de grande quantidade de açúcar.

Tratamento médico A administração de medicamentos permite controlar a doença durante vários meses. Os corticóides favorecem a neoglicogênese hepática e reduzem a afinidade das células pela insulina. Pode-se utilizar a prednisolona, na dose de 0,25mg/kg/dia, VO, em 1 ou 2 administrações diárias, e aumentar a dose quando necessário. A dose máxima é de 4mg/kg/dia. Associa-se o diazóxido (Proglycem), que inibe a secreção de insulina e favorece a neoglicogênese, na dose de 10 a 20mg/kg/dia, em duas administrações orais diárias.

Tratamento cirúrgico Embora as recidivas sejam bastante freqüentes, a ressecção cirúrgica do insulinoma continua sendo o tratamento de escolha, pois permite longos períodos de remissão. A cirurgia permite, além do mais, exploração do abdome que inclui, principalmente, a pesquisa de metástases hepática e esplênica, bem como o exame das glândulas adrenais. Os insulinomas são pequenas massas esbranquiçadas (0,5 a 2mm de diâmetro), visíveis no parênquima pancreático. Palpando suavemente, pode-se sentir que os nódulos são mais firmes que o tecido pancreático normal. A exérese desses nódulos se faz por dissecção; o sangramento pode ser controlado por compressão digital delicada durante alguns segundos. Quando as massas retiradas são pequenas, a cápsula pancreática não precisa ser suturada. Esse procedimento se limita aos casos nos quais foi preciso efetuar a ressecção de uma


parte do pâncreas. A pancreatite pós-operatória é rara; pode surgir 2 a 3 dias após a cirurgia e seu tratamento é idêntico àquele de cães e gatos. Nas 24h seguintes à intervenção, não se fornece alimento ao paciente. Administra-se, por via IV ou SC, volume de uma solução de glicose a 2,5% equivalente a 10% do peso do animal. No segundo dia, pode-se fornecer uma preparação comercial apetitosa para os animais convalescentes e administrar solução de Ringer lactato, em vez de solução glicosada. Pode-se recomeçar a alimentação habitual no terceiro dia após a cirurgia. Caso o tratamento com corticóides tenha sido iniciado antes da cirurgia, deve ser continuado durante cerca de uma semana e, em seguida, reduz-se a dose gradativamente. A glicemia, em jejum, deve ser determinada 2 semanas após a cirurgia e, em seguida, a cada 3 meses. Às vezes, nota-se um episódio de diabetes no período pós-cirúrgico, que na maioria das vezes se resolve espontaneamente em 10 dias. É interessante avaliar sistematicamente o aparecimento de glicosúria, com tiras reativas, na semana seguinte à cirurgia. Muito raramente, o furão se torna diabético e necessita de tratamento com insulina. No furão, o diabetes é tratado da mesma maneira que em cães e gatos. De acordo com Susan A. Brown, a expectativa de vida de um furão com insulinoma pode ser de 3 anos após o diagnóstico, quando se associa higiene alimentar, cirurgia e medicamentos.

Linfoma É um tumor freqüentemente diagnosticado no furão. Suspeita fortemente de uma causa viral (pesquisa-se um retrovírus típico do furão). Essa doença pode surgir em machos e fêmeas de qualquer idade; vários animais acometidos permanecem assintomáticos durante vários meses.


Sintomas Os sintomas variam em função da localização da lesão no sistema linfático. No início da doença, podem-se notar períodos de inapetência, letargia e fraqueza, alternados com períodos de normalidade. Em seguida, surgem sintomas mais permanentes, associados ou não: •

Diarréia ou vômitos crônicos.

Dispnéia mais ou menos grave.

Infecções respiratórias recorrentes.

Adenopatias periféricas.

Icterícia.

Paresia dos posteriores.

Esplenomegalia.

Hipertrofia de linfonodos mesentéricos, detectáveis à palpação.

Os parâmetros hematológicos podem se modificar com a evolução da doença. No entanto, as alterações mais freqüentes incluem leucocitose (superior a 10.000/µL), com número de linfócitos superior a 3.500/µL ou número de leucócitos normal com porcentagem de linfócitos superior a 60%. A radiografia da cavidade torácica pode revelar derrame pleural ou massa anormal na região dos linfonodos mediastínicos. A ultra-sonografia é o exame de escolha para a exploração da cavidade abdominal; investiga-se linfadenite mesentérica ou infiltração dos órgãos por tecido tumoral. A ultra-sonografia torácica também é indicada no caso de derrame pleural, a fim de permitir diagnóstico diferencial de cardiopatia.


Diagnóstico O diagnóstico definitivo pode ser estabelecido pelo exame citológico do derrame ou pelo exame histológico do fragmento obtido por biópsia de um órgão acometido. Os tecidos mais ricos em informações são os linfonodos; havendo dificuldade em realizar a biópsia de um linfonodo de difícil acesso, pode-se efetuar a exérese de um linfonodo poplíteo, mesmo de aspecto normal, pois a histologia geralmente revela um linfoma em desenvolvimento nesse linfonodo.

Tratamento O tratamento associa cirurgia e quimioterapia. A exérese cirúrgica de um tumor isolado é um fator que favorece o êxito da quimioterapia. Quando há esplenomegalia importante a ponto de o baço ocupar mais da metade da cavidade abdominal, a esplenectomia propicia conforto ao animal e aumenta a possibilidade de êxito do tratamento médico. Em alguns pacientes, a quimioterapia pode propiciar períodos de remissão de vários meses. As melhores chances de êxito envolvem pacientes nos quais a doença se desenvolve primariamente em um dos seguintes locais: mediastino, baço, pele e linfonodos periféricos (sem comprometimento de linfonodos mesentéricos). Os fatores previsíveis de resposta ineficaz à quimioterapia incluem: •

Linfoma em desenvolvimento em um ou vários órgãos abdominais.

Acometimento isolado de um linfonodo (mais freqüentemente o linfonodo mandibular).


Furões já tratados com corticóides por um período superior a várias semanas (por exemplo, no caso de insulinoma). Nesses casos, é muito freqüente uma resistência das células tumorais aos corticosteróides.

Presença de doença intercorrente.

Antes de iniciar o tratamento, é necessário avaliar as funções hepática e renal; um hemograma servirá de referência. O protocolo classicamente empregado está resumido na Tabela 3.4. A partir do dia 60º, pode-se diminuir progressivamente a dose de prednisona. A administração de vincristina é realizada estritamente por via IV, sob anestesia geral, utilizando-se um cateter introduzido na veia cefálica. Injetam-se 3mL de solução fisiológica no cateter antes e após a injeção de vincristina. Realiza-se o hemograma antes de cada aplicação de vincristina: caso o número de leucócitos seja inferior a 1.000 células/µ µL, ou o volume globular inferior a 30%, ou se houver trombocitopenia, deve-se suspender o medicamento (e de ciclofosfamida, se for o caso) durante uma semana, porém sem interromper a corticoterapia. Um novo exame de sangue será realizado uma semana depois. Os efeitos secundários descritos com mais freqüência incluem fadiga, anorexia, vômitos, enfraquecimento de membros pélvicos, queda dos bigodes, dispnéia ou, mais raramente, choque. Tabela 3.4 – Exemplo de protocolo proposto para o tratamento de linfoma em furões Droga Posologia Via Freqüência de Dias (D) de administração

administração

Prednisona

2mg/kg

VO

1 vez ao dia

D1 – D90

Vincristina

0,75mg/m²

IV

4 injeções, com intervalos

D1, D7, D14,

semanais

D21

3 vezes com intervalos de

D3, D24, D45

(0,12mg/kg) estrita Ciclofastomida

50 mg/m (10mg/kg)

VO

3 semanas


Quando o protocolo falha, ou no caso de recidiva, pode-se tentar outro tratamento à base de adriamicina, na dose de 1mg/kg, IV, em intervalos de 3 semanas, até completar cinco aplicações consecutivas. Eventualmente, pode-se associar 1mg/kg/dia, VO, de prednisona. Caso não seja possível a realização de quimioterapia ou se o proprietário se recusar a utilizá-la, a administração de 0,5mg/kg/dia de prednisona, VO, costuma propiciar melhora evidente dos sintomas durante algumas semanas até vários meses.


II

Lagomorfos: Coelho


4

Aspectos Gerais

SISTEMÁTICA Diferentes espécies O coelho doméstico, Oryctolagus cuniculus, não constitui uma espécie diferente do coelho selvagem que vive nos campos. Seu nome de gênero se origina da raiz grega Oryct, que significa fuçar ou cavar, e de lagus, que significa voluptuoso ou depravado. O nome da espécie indica que esse animal, conhecido como um cavador com comportamento sexual voluptuoso, vive dentro das cuniculi ou tocas. O coelho americano, Oryctolagus sylvilagus, ou silver cotton, vive nos bosques.

Diferenças entre roedores e lagomorfos A superordem dos Glires compreende duas ordens: os Roedores e os Lagomorfos. Algumas características distintas entre os representantes dessas duas ordens vizinhas devem ser lembradas: •

Dois incisivos superpostos em cada hemiarcada superior nos Lagomorfos; um único incisivo por hemiarcada nos Roedores.

Maxilar mais largo que a mandíbula, nos Lagomorfos (o crânio do coelho pode lembrar o de um cavalo miniatura); maxilar menos largo que a mandíbula, nos Roedores.

Movimento látero-lateral natural dos maxilares, nos Lagomorfos; movimento ântero-posterior dos maxilares, nos Roedores.


Histórico O coelho é originário da península ibérica. Ao descobrir a Espanha, os fenícios teriam visto os coelhos se proliferarem a tal ponto nessas regiões áridas que batizaram o país como I Spah Im, que significa "País dos coelhos", de onde derivou o nome "Hispania". A criação desses animais com o objetivo de consumo já era descrita no Império Romano, onde os animais eram colocados em grandes cercados nos quais podiam cavar suas tocas e se reproduzir facilmente. No século XI, provavelmente levado pelos monges que foram os idealizadores da criação de garenne (áreas fechadas onde se concentravam os animais e nas quais eles se reproduziam livremente), o coelho transpôs os Pirineus. Nessa época, os fetos dos coelhos eram particularmente apreciados, pois podiam ser consumidos na quaresma. Alimentando-se

pouco,

utilizando

pouco

espaço

e

reproduzindo

rapidamente, constituía uma reserva de carne ideal para as grandes expedições marítimas. Desde o século XVI, o coelho seguiu viagens ao longo das explorações ocidentais, se espalhando pela maior parte do mundo. Introduzido inadvertida ou intencionalmente, com freqüência ele se desenvolvia em detrimento de espécies locais, quando encontrava condições favoráveis para tal. No século XIX, com a abolição dos privilégios senhoriais (fim das criações de garenne), surgiram as "cuniculturas", que realizavam a separação por idades e sexos, permitindo a seleção consciente de diferentes raças. A partir da metade do século XIX, foram descobertas suas vantagens como animal de laboratório: notou-se que os coelhos podiam ser alimentados com beladona sem conseqüências prejudiciais e descobriu-se a atropinesterase.


Atualmente criado para produção de carne, lã (coelho angorá) e pele (coelho rex), é também um animal de laboratório muito útil. Desde 1962, existe na França um compêndio que registra os padrões de coelhos, elaborado por uma comissão técnica. Foram recenseadas mais de 32 raças de coelhos domésticos, que se distinguem por suas pelagens, suas conformações e seus pesos. O coelho anão, versão miniaturizada destinada a animal de companhia, é uma forma de utilização dessa espécie pelo homem. Eis que essa variedade apareceu há pouco mais de 20 anos e representa a imensa maioria dos coelhos submetidos à consulta individual em nossas clínicas veterinárias.

BIOLOGIA A expectativa de vida dos coelhos, em média, é de 6 a 8 anos. Os recordes de longevidade não ultrapassam 12 anos.

Morfologia Peso Um adulto de raça anã pesa 1 a 2kg, sendo a variedade anã do coelho Belier ligeiramente mais pesada (2 a 3kg). As raças gigantes (Belier, Gigante de Flandres) podem facilmente atingir 6kg.

Tamanho O comprimento do corpo de um coelho anão de raça pura deve ser inferior a 21 cm.

Constantes fisiológicas As constantes fisiológicas do coelho estão resumidas na Tabela 4.1.


Modo de vida Os coelhos são animais sociais que vivem em colônias hierárquicas. No estado natural, saem da toca para se alimentar com ervas e vegetais durante a noite, até a madrugada, e permanecem escondidos durante o dia. São animais muito ligados ao seu território; possuem glândulas odoríferas para demarcar o território e expressar seu domínio. As fêmeas também demarcam seus filhotes ao nascimento com o odor de suas glândulas. Tabela 4. 1- Constantes fisiológicas dos coelhos Temperatura corporal (°C)

38,5 - 40

Freqüência cardíaca (batimentos/min)

180 - 250

Freqüência respiratória (movimentos/min)

30-60

Volume sangüíneo total (mL/kg)

55-70

Número de cromossomos

44

O coelho de estimação tem comportamento diurno e é muito sociável com seu dono, apesar de se sentir bem melhor quando está com animais de sua espécie. As fêmeas coabitam a mesma área se, desde jovens, são acostumadas uma à outra. A coabitação de machos não castrados é mais difícil.

Comunicação O coelho é um animal relativamente silencioso; no entanto, pode emitir sopros ou grunhidos antes de um ataque. Em caso de pânico extremo ou de dor intensa, pode emitir um grito agudo de intensidade surpreendente. Ele também dispõe de posturas para se fazer compreender: em caso de inquietude, bate brutalmente os membros posteriores no solo; antes de uma agressão, projeta-se para frente com as duas patas anteriores estendidas.


Há três glândulas odoríferas: submentonianas, perianais e inguinais, situadas nas pregas cutâneas de ambos os lados do orifício genital. O tamanho dessas glândulas e a intensidade da demarcação dependem da secreção de andrógenos, sendo o poder de demarcação dos machos maior que o das fêmeas.

Órgãos sensoriais A posição lateral dos olhos do coelho lhe confere um campo de visão panorâmico importante para a percepção de um eventual predador. Porém, existe um campo cego justamente abaixo do queixo, de modo que o coelho deve confiar na sensibilidade dos lábios e dos pêlos táteis para a escolha do alimento adequado. Os corpos ciliares, pouco desenvolvidos, e o cristalino esférico propiciam deficiente capacidade de acomodação visual. O coelho enxerga bem à noite, mas distingue mal as cores. A audição e o olfato são bem desenvolvidos. As orelhas também auxiliam na termorregulação.

CARACTERÍSTICAS ANATÔMICAS PARA MEMORIZAR •

O esqueleto do coelho é frágil, mas sua massa muscular é vigorosa. Durante um exame, o coelho pode fraturar a coluna vertebral cravando violentamente seus membros posteriores na mesa.

O timo persiste por toda a vida do animal.

O coelho é monogástrico; o órgão digestivo mais volumoso é o ceco.

O útero possui dois cornos e dois colos bem distintos.

A conformação anatômica do coelho o obriga a respirar apenas pelo nariz. Um coelho que tenta respirar pela boca apresenta uma patologia respiratória cujo prognóstico é, em geral, reservado.


Tegumento As patas são desprovidas de coxins. As unhas são pontiagudas e as patas traseiras podem ocasionar arranhões graves no antebraço da pessoa que não o segura de maneira adequada.

Relação musculoesquelética O esqueleto do coelho é delicado e frágil. Representa apenas 8% do peso corporal total, contra 12% do gato. As fraturas ósseas, particularmente da tíbia, representam riscos permanentes. A massa muscular do coelho, assim como a conformação dos membros posteriores, propicia aos membros anteriores uma força considerável.

Olhos e anexos Os coelhos apresentam apenas um canal lacrimal, situado na extremidade distal da pálpebra inferior. A terceira pálpebra, bem desenvolvida, é movimentada por um músculo estriado transversal, fato que dificulta a tarsorrafia.

Aparelho cardiorrespiratório A caixa torácica é muito pequena em relação à cavidade abdominal; o coração é pequeno. O timo persiste por toda a vida do animal.

Aparelho digestivo Cavidade oral A boca é estreita, profunda e sua abertura é limitada, tornando difícil o exame oral. A fórmula dentária, descrita na Tabela 4.2, é semelhante à dos Roedores.


O segundo par de incisivos da mandíbula superior é pequeno, afuncional e situado atrás dos incisivos aparentes. Há um amplo espaço vazio entre os dentes incisivos e pré-molares, denominado diastema. É por esse espaço que se administram medicamentos ao coelho.

Órgãos digestivos O coelho é monogástrico. Seu estômago é volumoso e tem uma parede fina que freqüentemente aparece rompida durante a necropsia, em virtude da distensão gasosa decorrente da autólise. A estrutura anatômica desse órgão praticamente impossibilita o vômito. O esfíncter pilórico, bem desenvolvido, é facilmente comprimido pelo duodeno, dificultando o esvaziamento do conteúdo estomacal. O intestino delgado é muito longo (até 2,5m de comprimento). Está ligado ao ceco por uma estrutura arredondada rica em folículos linfóides, o sacculus rotondus, que é um local freqüente de obstrução. O ceco é o órgão mais volumoso do tubo digestivo. Dobrado sobre ele mesmo, ocupa um terço da cavidade abdominal. É o local de fermentação e digestão da celulose. Termina na forma de um apêndice vermiforme rico em tecido linfático. Tabela 4.2 - Fórmula dentária dos coelhos Incisivos Caninos 2/1

0/0

Pré-molares

Molares

3/3

3/2

O cólon é caracterizado pela presença de faixas longitudinais divididas em uma série de sáculos. O cólon transverso termina em uma porção espessa rica em


tecido linfóide, ofusus coli, que atua como um marca-passo, controlando as contrações que resultam na produção das fezes duras e dos cecótrofos. O fígado apresenta um pequeno lobo caudal circular, sujeito à torção.

Aparelho genital O útero possui dois cornos, cada um com seu próprio colo. A ausência de fechamento do canal inguinal permite aos testículos mobilidade entre as bolsas escrotais e a cavidade abdominal.

CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS

PARA MEMORIZAR •

A dentição do coelho é adaptada ao desgaste relacionado aos movimentos de mastigação permanentes. Todos os dentes apresentam raízes abertas, permitindo crescimento contínuo.

O coelho é um herbívoro monogástrico no qual a fermentação permite a digestão da celulose no ceco.

Para satisfazer suas necessidades metabólicas, esse herbívoro deve consumir grande quantidade diária de fibras vegetais, mas a rapidez de seu trânsito digestivo, aliada ao estômago de volume insuficiente para permitir estocagem eficiente dessas fibras, não lhe permite aproveitar todo o potencial energético. A produção de fezes características, os cecótrofos, que são reingeridos, permite-lhe melhor aproveitamento dos alimentos.

A cor da urina pode variar de amarelo a vermelho; é naturalmente pigmentada pelas porfirinas.

Nos coelhos, a calcemia não é estreitamente controlada; varia em função da quantidade de cálcio na dieta.

Nas coelhas, a ovulação é provocada pelo coito. A pseudogestação é um distúrbio freqüente nessa espécie.


Fisiologia digestiva Crescimento e desgaste dentário Quando o coelho mantém a boca em repouso, com oclusão normal, as pontas dos incisivos superiores e inferiores se tocam e as superfícies dos molares não fazem contato. Os movimentos de mastigação são laterais. A dentição do coelho é adaptada a um desgaste relacionado aos movimentos de mastigação praticamente permanente, durante todo o dia. A abrasão das mesas dentárias provocada pelo desgaste das superfícies dos dentes umas contra as outras é mais acentuada pelo efeito de abrasão dos cristais de sílica contidos nas ervas e nas folhas frescas mastigadas. Todos os dentes apresentam raízes abertas (hipsodontes) e, portanto, têm crescimento contínuo. A velocidade de crescimento dos dentes é considerável (os incisivos crescem 3 a 4mm por semana; os molares, 3 a 4mm por mês), em função da adaptação ao rápido desgaste decorrente do regime alimentar do coelho. O uso dos incisivos, um contra o outro, forma uma superfície de corte em bisel, pois a face posterior, desprovida de esmalte, desgasta-se mais rápido que a anterior. As raízes dos pré-molares e dos molares superiores tendem a se fechar sobre sua face externa, o que orienta o crescimento desses dentes em direção ao exterior. Ao contrário, os pré-molares e os molares inferiores, cujas raízes se fecham sobre a face interna, crescem em direção ao interior da cavidade oral.

Mecanismos digestivos O coelho é um herbívoro monogástrico no qual a fermentação, que permite a digestão de celulose, ocorre no ceco. Nesse animal, a fisiologia digestiva é característica, pois propicia a formação de dois tipos de fezes: as clássicas, que


normalmente são excretadas, e os cecótrofos, que os coelhos ingerem. O trânsito digestivo é muito rápido para um herbívoro: as fezes duras são excretadas 4 às 5h após a ingestão do alimento, enquanto os cecótrofos são eliminados 8 às 9h após a alimentação.

Estômago O estômago, que se dilata pouco, estoca o alimento ingerido. Funciona como um reservatório de alimentos e normalmente não fica vazio. Seu conteúdo é estéril, pois seu pH muito ácido (1,5 a 2,5) não permite a sobrevivência de microorganismos, Portanto, é inútil administrar fermentos lácticos por via oral ao coelho, pois são destruídos pelo ambiente estomacal ácido, antes de atingirem o ceco. A dieta rica em fibras favorece a formação de um bolo alimentar pouco compacto, que pode ser facilmente impregnado pela acidez do suco gástrico, favorecendo a digestibilidade do alimento e permitindo a destruição de eventuais microorganismos infecciosos.

Intestino delgado A microbiota nativa do intestino delgado é muito reduzida. A degradação do bolo alimentar, que começa no estômago, prossegue sob a ação da bile, do suco pancreático e do suco intestinal. Os glicídios simples são digeridos e absorvidos nesse local. Os movimentos peristálticos intestinais, auxiliados pelo alto teor de fibras da dieta, permitem um trânsito alimentar rápido (cerca de 1,5h). Ao alcançar a junção ileocecal, os alimentos são degradados, parte em fibras insolúveis lignificadas e parte em partículas solúveis não fibrosas, compostas de celulose, hemicelulose e polissacarídeos.


Cólon O material digestivo penetra indiferentemente no cólon e no ceco. As contrações do ceco conduzem o conteúdo em direção ao cólon proximal. O cólon é a sede de movimentos peristálticos opostos que permitem a separação das fibras e das partículas solúveis. As fibras lignificadas são levadas pelos movimentos peristálticos do cólon e rapidamente eliminadas sob a forma de fezes duras, arredondadas e secas, enquanto as partículas e os fluidos voltam pelas contrações antiperistálticas dos haustros do cólon, até penetrarem no ceco.

Ceco O ceco, com conteúdo semifluido, propicia um ambiente anaeróbico adequado à fermentação. Possui uma população bacteriana complexa, dominada por bactérias Gram-negativas anaeróbicas estritas (Bacteroides sp.). A flora aeroanaeróbica é composta, essencialmente de estreptococos (Gram-positivos). Os colibacilos estão presentes em pequena quantidade, sem dúvida em razão do pH ligeiramente ácido do ceco; os lactobacilos são raros ou ausentes. O Clostridium perfringens está presente em pequena quantidade nos adultos, ausente nos jovens e presente em grande quantidade no momento da desmama. Também se notam protozoários ciliados, semelhantes aos do gênero Isotricha, presentes nos ruminantes, bem como uma levedura específica dos coelhos, da família dos Saccharomyces:

Cyniclomydes

guttulatulus.

Todos

esses

microorganismos

sintetizam aminoácidos, ácidos graxos voláteis e vitaminas (principalmente B e K), dos quais somente uma parte é diretamente absorvida. A cecotrofia permite a exploração completa desses nutrientes pelo coelho.


Cecótrofos As contrações do ceco liberam seu conteúdo no cólon. O conteúdo cecal é, então, transformado em pequenos bolos fecais moles, envolvidos com muco, que se deslocam por meio de peristaltismo normal em direção ao reto, enquanto os movimentos antiperistálticos permanecem nulos, por um mecanismo ainda desconhecido. Por sua viscosidade particular e sua forma em espiga, os cecótrofos provocam no animal uma sensação particular que desencadeia um reflexo de recuperação oral. Eles são apanhados e engolidos diretamente no ânus, sem cair no solo. Em geral, são eliminados na forma de contas grudentas, no final da noite. O coelho ingere diariamente, ensalivando mas sem mastigar, 50 a 60g de cecótrofos. A ingestão matinal dura cerca de 3h e se renova todos os dias, seguindo um ritmo preciso. Seu conteúdo, rico em proteínas e vitaminas, é protegido da degradação estomacal pelo muco que o envolve. A absorção dos nutrientes se faz progressivamente ao longo do tubo digestivo. Assim, grande parte do alimento ingerido passa pelo trato digestivo duas vezes, em 24h.

Importância das fibras Comparado aos ruminantes ou ao cavalo, o coelho elimina as fibras ingeridas muito mais rápido e digere pior a celulose. Para tanto, é indispensável um aporte importante de fibras não digeríveis de grande tamanho, para o bom funcionamento do sistema digestivo. As fibras são indispensáveis ao peristaltismo intestinal, favorecendo a secreção digestiva e impedindo a formação de massas compactas de ingesta e de pêlos, que são fontes potenciais de obstruções do trato digestivo.


Vantagem da cecotrofia Esse comportamento particular permite ao coelho economizar água e valorizar ao máximo os alimentos que ele cicla e recicla. É possível impedir experimentalmente a cecotrofia durante vários meses em um coelho sem que se note perda de peso significativa, desde que seja alimentado à vontade. Essa adaptação é interessante nas condições de aleitamento, no jejum alimentar ou na alimentação exclusivamente à base de ervas. Também, outros Lagomorfos e muitos Roedores manifestam tal particularidade.

Fisiologia respiratória Graças à sua pequena cavidade torácica, a resistência respiratória do coelho é limitada. Ele respira essencialmente graças às contrações diafragmáticas. Uma técnica de reanimação eficaz resulta em segurar o coelho no ar, com as patas dianteiras em uma mão e as patas traseiras na outra, inclinando suavemente sua cabeça para cima e depois para baixo, em intervalos de 1 a 2s.

Particularidades da urina A coloração normal da urina varia do amarelo ao vermelho, de acordo com o tipo de alimentação. A pigmentação avermelhada ou alaranjada, às vezes observada, corresponde à presença de porfirina; essa coloração é intermitente e, em geral, dura 3 ou 4 dias. O aspecto da urina é freqüentemente turvo e sua consistência pode parecer espessa e cremosa. Isso se deve ao metabolismo do cálcio no coelho: a calcemia não é rigidamente controlada e varia em função da quantidade de cálcio da dieta. A urina, sendo a principal via de excreção do cálcio, é rica em precipitados de carbonato de cálcio, o que lhe dá esse aspecto turvo e espesso.


CONSELHO AOS PROPRIETÁRIOS

Um proprietário de coelho pode se inquietar ao verificar que há sangue na urina de seu animal; no entanto, trata-se apenas de uma pigmentação fisiológica.

VALORES BIOLÓGICOS

Bioquímica

Como mostra a Tabela 4.3, a bioquímica sangüínea do coelho difere essencialmente

daquela

de

outras

espécies,

ao

mostrar

uma

calcemia

anormalmente elevada. Nessa espécie, a absorção intestinal de cálcio não é controlada pela vitamina D e pelo hormônio da paratireóide; a calcemia é um reflexo do teor de cálcio da dieta. O coelho sintetiza pouca ou nenhuma amilase.

Hematologia Comparada à dos carnívoros, a fórmula sangüínea do coelho sadio (ilustrada na Tabela 4.4) mostra, em geral, uma porcentagem igual de linfócitos e neutrófilos.


Tabela 4.3 - Valores de parâmetros bioquímicos do sangue normais de coelhos Parâmetros Valores Uréia (g/L)

0,13 - 0,29

Creatinina (mg/L)

5 - 25

Glicose (g/L)

0,7-1,6

ALP (UI/L)

4 -16

ALT (UI/L)

48 - 80

AST (UI/L)

14 - 113

Proteína total (g/L)

54 - 80

Cálcio (mg/L)

56 - 160

Fósforo (mg/L)

40 - 69

Potássio (mEq/L)

3,6 - 6,9

Parâmetros

Valores normais

Número de hemácias (106/mm³)

3,8 - 7,9

Hemoglobina (g/dL)

9,4 - 17,4

Volume globular (%)

33 - 50

Número de leucócitos (10³/mm³)

2,6 – 12,5

Neutrófilos (%)

35 - 55

Eosinófilos (%)

0-5

Basófilos (%)

1- 7

Linfócitos (%)

25 - 85

Número de plaquetas (10³/mm³)

200 - 1.000

Em coelhos, os neutrófilos, também denominados heterófilos, têm um aspecto diferente daqueles da maioria das outras espécies. Assemelham-se aos


eosinófilos, com um grande grânulo azurofílico e um pequeno grânulo secundário de coloração avermelhada. São diferenciados dos eosinófilos por seu tamanho mais reduzido e pela presença dos grânulos típicos. O número de basófilos de coelhos é maior que em outras espécies. A leucopenia pode estar associada ao estresse emocional ou fisiológico. Em geral, nessa espécie, a infecção bacteriana não é indicada por leucocitose, mais sim pela inversão na fórmula, com neutrofilia e linfopenia. É possível notar hemácias nucleadas no início da infecção.

Urina A urina normal tem aspecto espesso e turvo. Sua coloração varia de amarelada a alaranjada ou a marrom-avermelhada. O pH é alcalino, entre 7,6 e 9. A densidade urinaria varia de 1,003 a 1,036. O volume diário excretado é cerca de 130mL/kg. A presença de cristais de carbonato de cálcio, de oxalato de cálcio e de fosfato de amônia magnesiano é normal.

CONSELHO PARA CRIAÇÃO Ambiente O coelho pode ser mantido tanto no interior quanto no exterior da residência. A grande maioria dos coelhos anãos consultados em nossas clínicas são animais de estimação que partilham o domicílio de seus donos. Deixados em liberdade em uma casa, sem vigilância, podem ocasionar estragos consideráveis ao roer móveis, rodapés, instalações elétricas, entre outros. A menos que tenham sido feitas as mudanças necessárias para manter o coelho em liberdade, sem preocupação, é preferível deixá-lo em uma gaiola quando o proprietário se ausenta do domicílio. Mesmo deixado em total liberdade, o coelho tem necessidade de uma


gaiola, como refúgio quando ele se sente assustado. Também é freqüente que, em um canto da gaiola, seja colocada a cama onde ele se habitua a fazer suas necessidades fisiológicas.

Tamanho da gaiola O tamanho da gaiola deve ser o maior possível, caso o coelho nela permanece a maior parte do tempo. Uma gaiola de 90 x 60cm, com 45cm de altura, tem dimensões adequadas para um coelho criado sozinho. Ela pode ser dividida em duas partes: uma para o repouso e outra organizada para as atividades. Geralmente encontram-se gaiolas com fundo plástico removível e uma parte telada, em cima. O fundo deve ter altura mínima de cerca de 15cm para evitar a projeção da cama para fora da gaiola. Devem-se evitar gaiolas cuja parte superior seja de plástico, pois não oferecem o arejamento suficiente. A escolha do local para instalar a gaiola é importante: é necessário evitar correntes de ar e áreas de temperatura elevada. Portanto, não é recomendado colocá-la em um corredor ou próxima à janela ou ao aquecedor. A fim de limitar o estresse, a gaiola deve ser elevada em relação ao solo e colocada em local calmo. Os coelhos suportam melhor o frio que o calor. Sua zona de conforto não ultrapassa 28°C. Acima disso, seus mecanismos de defesa à alta temperatura são falhos. As glândulas sudoríparas, localizadas ao redor dos lábios, bem como as trocas térmicas propiciadas pelas grandes orelhas muito vascularizadas, são insuficientes para controlar a temperatura interna. Eles não tendem a consumir mais água quando a temperatura se eleva; ao contrário, o calor parece inibir a ingestão de água. Quando privados de um refúgio na sombra, em substituição ao estado natural que encontram nas tocas, eles começam a ofegar, exacerbando a desidratação; caso permaneçam essas condições ambientais desfavoráveis, o animal morre.


CONSELHO AOS PROPRIETÁRIOS Muitos proprietários ignoram a sensibilidade particular desses animais ao calor e arriscam a vida de seus animais durante o transporte em carros aquecidos pelo sol, ou deixando o coelho em pleno sol, em um gramado cercado, sem disponibilidade de sombra. Do mesmo modo, nas lojas de animais, os coelhos jovens são cada vez mais colocados à venda em gaiolas de vidro iluminadas por lâmpadas, expondo-os a uma temperatura ambiente muito elevada para seu bem-estar, aumentando os riscos de desidratação.

Cama A cama deve ser confortável, absorvente, livre de poeira e não conter fonte de irritações. A serragem deve ser evitada porque produz muito pó. A maravalha pode ser utilizada desde que não seja perfumada, pois o perfume é irritante para as mucosas respiratória e ocular. As camas feitas com aglomerados de jornais propiciam uma interessante alternativa à maravalha, pois são muito absorventes e praticamente não produzem poeira. O ideal é utilizar uma camada de maravalha ou de jornal aglomerado recoberta com feno. Também, pode-se colocar em um canto uma vasilha plástica com cama absorvente para os dejetos. É necessário trocar a cama uma a duas vezes por semana; ela deve permanecer sempre seca, pois há grande risco de pododermatite nessa espécie.


CONSELHO AOS PROPRIETÁRIOS As camas para gatos geralmente são muito poeirentas e podem ocasionar distúrbios digestivos, se ingeridas. Uma boa alternativa é a cama de jornal aglomerado. A urina do coelho, naturalmente rica em cálcio, quando evapora, deixa depósitos alcalinos que se incrustam no fundo da gaiola. O uso de água com vinagre permite dissolvê-los, facilitando a limpeza.

Acessórios Deve-se optar por um comedouro pouco profundo, pesado o suficiente para que não possa ser virado. O bebedouro pode ser feito com uma mamadeira; isso evita a contaminação da água e permite o controle do consumo. Um abrigo em madeira com teto plano geralmente é apreciado; o coelho pode se refugiar em seu interior. É possível também fornecer pedaços de pedra ou de madeira para o coelho roer.

Coabitação intra e interespécies Coabitação intra-espécie Os coelhos são sociáveis, mas também muito apegados ao seu território e hierárquicos. Dois coelhos do mesmo sexo que coabitam na mesma gaiola se agridem freqüentemente; em geral, os machos e as fêmeas podem viver juntos, mas é preciso arcar com o grande número de descendentes oriundos desse tipo de convivência.


A castração permite uma coabitação mais harmoniosa entre coelhos do mesmo sexo e evita o inconveniente de grande número de descendentes, quando os coelhos são de sexos opostos.

Coabitação com cobaia Em geral, coelho e cobaia se entendem bem; um coelho macho não castrado tende a utilizar a cobaia para satisfazer sua libido. Uma coelha não castrada pode se mostrar muito agressiva contra a cobaia nos períodos de atividade sexual. O coelho normalmente alberga bactérias do gênero Bordetella, inofensivas para a espécie, mas podem causar pneumonia ou abortamento em cobaias.

Coabitação com outros roedores A coabitação com outros Roedores, com exceção da cobaia, é desaconselhada ou impossível.

Coabitação com carnívoros Com um pouco de paciência, cão e gato geralmente se entendem bem com coelhos, desde que não deixados juntos sem vigilância. Ao contrário, a coabitação com o furão é impossível; o instinto de predador do furão estressa permanentemente o coelho.

Comportamento O coelho é um animal de hábito diurno, curioso, capaz de criar um forte laço afetivo com seu dono. Quando é deixado em liberdade na casa, pode aprender facilmente a fazer suas necessidades na gaiola.


Os machos adultos não castrados (e às vezes as fêmeas) podem desenvolver um comportamento agressivo contra seu dono quando este penetra em seu território, colocando a mão no interior da gaiola. Nesse caso, eles se lançam contra a mão, direcionam as patas contra o agressor e emitem um grunhido de ameaça que, em geral, é prenuncio de mordida. Quando a agressividade se torna difícil de suportar, a castração a reduz consideravelmente.

Alimentação Nessa espécie, várias enfermidades são decorrentes de alimentação inadequada.

Necessidades nutricionais Essas necessidades foram determinadas para coelhos de criação submetidos às exigências de produção, e não para coelhos anãos de estimação. Entretanto, as necessidades desses últimos são bastante semelhantes. Elas variam em função do estado fisiológico e estão detalhadas na Tabela 4.5.

Mistura de grãos Em geral, os coelhos são ávidos por misturas de cereais e tendem a consumi-las em grande quantidade, em detrimento da ingestão de feno, que lhe é necessária para assegurar um peristaltismo correto. Com freqüência, isso evolui para a produção crônica de fezes moles.


Tabela 4.5 - Necessidades nutricionais dos coelhos Porcentagem

Manutenção

Crescimento

Gestação

Lactação

Proteínas (%)

14

16

16

18

Celulose (%)

15

14

14

11

Gordura (%)

3

3-5

3-4

4-5

Cálcio (%)

0,4

0,8

0,8

1,2

Fósforo (%)

0,3

0,4 - 0,5

0,5

0,7

Relação Ca:P

1,33

2

1,6

1,7

na dieta

No mais, quando se fornece uma mistura de grãos e ração, eles tendem a consumir apenas os grãos, alimentos pobres em cálcio e em vitamina D, em detrimento das rações, que são menos apetitosas, mas contêm esses dois elementos. Tal comportamento pode induzir a carência de cálcio, manifestada por prejuízo à qualidade dos dentes e dos ossos que os sustentam e má oclusão.

Rações granuladas As rações representam a base da alimentação dos coelhos de produção. Igualmente, podem constituir uma base equilibrada para alimentação de coelhos anãos. São compostas de alfafa, cereais, polpa de beterraba, farelo, melaço, minerais e vitaminas. É importante que se conheça a relação Ca.-P desses alimentos e o seu teor de vitamina D, pois a deficiência de cálcio pode causar osteodistrofia, enquanto o excesso do mineral pode predispor à formação de urolitíase. Um bom alimento de manutenção deve fornecer 1.000 a 1.500UI de vitamina D/kg e uma relação Ca:P de 1,2 a 1,3. A fim de prevenir o risco de


urolitíase, a proporção de alfafa não deve ultrapassar 40%. Um teor de fibras inferior a 15% provoca distúrbio digestivo; quando superior a 16%, o apetite diminui.

Feno O coelho sempre deve ter boa quantidade de feno à disposição. O feno deve ter a melhor qualidade possível, com hastes longas, sem poeira, com cor verde e odor agradável. A preferência pelo feno é determinada pelo alto consumo, que deve ser o maior possível. O feno é uma fonte de fibras necessárias ao bom funcionamento intestinal; sua mastigação quase contínua pelo coelho possibilita-lhe efetuar movimentos de mastigação indispensáveis ao desgaste correto dos dentes. Deve-se evitar o fornecimento exclusivo de feno de alfafa, muito rica em cálcio. Se o feno foi naturalmente seco ao sol, ele constitui boa fonte de vitamina D.

Verduras As verduras devem ser fornecidas diariamente. Recomenda-se sua introdução gradativa ao filhote recém-adquirido, para não causar diarréia; ao coelho adulto, pode ser fornecida quase à vontade. Além de conter importante quantidade de fibras e vitaminas, as verduras contribuem para a hidratação do conteúdo digestivo, permitindo boa fermentação do alimento no ceco e favorecendo a passagem pelo trato digestivo dos vários pêlos ingeridos durante as lambeduras. As verduras devem ser lavadas e secas antes de oferecidas. Deve-se evitar o fornecimento freqüente de legumes muito ricos em água, como alface, abobrinha e pepino. As couves, sujeitas à fermentação, devem ser oferecidas em pequenas quantidades. Alimentos potencialmente tóxicos, como abacate, batata crua e quantidade muito grande de feijão cru, devem ser evitados. Pode-se fornecer, sem preocupação:


Cenoura e talo de cenoura, nabo e rabanete. •

Endívia.

Espinafre.

Rúcula.

Brocolis.

Endro.

Aipo.

Salsinha.

Cebolinha.

Hortelã.

Dente-de-leão.

Chicória. As frutas muito açucaradas e com alto teor de água devem ser evitadas,

pois são facilmente fermentáveis. A maçã é uma fruta normalmente muito apreciada, cujo consumo moderado não é perigoso.

CONSELHO AOS PROPRIETÁRIOS Dentre as ervas que se pode colher em bosques, é preciso evitar o fornecimento de escarlate (Anagalis arvensis), tóxica para o coelho.

Guloseimas Os coelhos têm, naturalmente, um gosto evidente pelo açúcar. No comércio, existem à disposição muitas guloseimas açucaradas, sobretudo balas à


base de leite, cujo consumo regular e em grande quantidade pode provocar distúrbios digestivos. Muitos coelhos adoram chocolate. Essa guloseima deve ser fornecida apenas a título excepcional, principalmente quando se pretende administrar medicamentos.

Bebedouro Um bebedouro de água apropriado deve estar sempre à disposição. Comparado a vários outros animais, o coelho tem necessidade de consumir grande volume de água. A ingestão diária média é de 50 a 150mL de água/kg de peso corporal, o que corresponde, para um coelho de 2kg, ao consumo diário de água de um cão de 10kg. Quando os coelhos são privados de alimentos, desenvolvem um quadro de polidipsia. Se o coelho é privado de líquido, o consumo de alimentos diminui e, ao final de 3 dias, instala-se anorexia dificilmente reversível.

CONSELHO AOS PROPRIETÁRIOS A alimentação ideal de um coelho deve ser composta de: •

Ração comercial para coelhos em quantidade razoável.

Vegetais frescos.

Feno à vontade.

Água fresca à vontade.


Cuidados particulares O comportamento exploratório do coelho pode originar acidentes domésticos: •

Choque ao roer as instalações elétricas da residência.

Intoxicação ao roer as embalagens de água sanitária ou de sabão em pó.

Intoxicação por plantas.

REPRODUÇÃO Sexagem A sexagem, evidente desde que os testículos apareçam, é mais delicada nos animais jovens. À distância anogenital que permite, na maioria das vezes, diferenciar machos de fêmeas nos Roedores, é semelhante em ambos os sexos. Ao posicionar esses animais em decúbito dorsal, é possível exteriorizar os órgãos genitais, fazendo leve pressão digital em cada lado do orifício genital. O macho tem um prepúcio arredondado, a partir do qual pode-se exteriorizar o pênis, enquanto a vulva aparece como uma pequena fenda pontiaguda.

Maturidade sexual Varia de 4 a 7 meses, de acordo com o tamanho da raça; as raças pequenas atingem a puberdade mais precocemente que as grandes. Dentro de uma mesma raça, as fêmeas costumam atingir a maturidade sexual 1 a 2 meses antes que os machos. Na prática, a puberdade se manifesta quando o ganho de peso significativo que ocorre durante o crescimento se estabiliza. As principais características reprodutivas estão agrupadas na Tabela 4.6.


Período de reprodução Embora os coelhos domésticos possam se reproduzir durante todo o ano, a fertilidade é máxima na primavera, quando os dias são mais longos. Em geral, as fêmeas são férteis até aos 4 anos de idade e os machos, até 5 a 6 anos. Tabela 4.6 - Principais características reprodutivas do coelho anão Idade de maturidade sexual do macho Idade de

6 - 7 meses

maturidade sexual da fêmea

4 - 6 meses

Idade aconselhada para iniciar a reprodução

7 - 8 meses

Estação de reprodução

O ano todo

Natureza do ciclo

Poliéstrico, com ovulação induzida

Duração do ciclo

15 - 17 dias

Duração da gestação

28 - 34 dias

Tamanho da ninhada

2 - 4 (o coelho anão é pouco prolifero em relação às raças maiores)

Estado ao nascimento

Sem pêlos e cego

Peso ao nascimento

20 - 40g

Idade à desmama

Cerca de 5 semanas

Ciclo sexual Nas coelhas, a produção e a maturação dos folículos ovarianos a ponto de ovularem obedecem a intervalos regulares. O folículo maduro (folículo de Graaf) secreta estrógenos e progestágenos. Os estrógenos atuam no aparelho genital, desenvolvendo-o e tornando-o receptivo ao coito e à fecundação. Não havendo fecundação, as prostaglandinas (aparentemente de origem uterina) permitem a involução dos folículos e o início de um novo ciclo.


Quando há coito, esse provoca a ovulação 10 às 12h após o acasalamento. Após a ovulação, o restante do folículo de Graaf se transforma em corpo lúteo, que permite a manutenção da gestação. Na coelha, é possível ovulação sem coito (estímulo entre fêmeas, resposta aos carinhos do dono, transporte). Também existe a formação do corpo lúteo, que permanece funcional durante cerca de 10 dias, induzindo à pseudogestação. Esse estado é caracterizado pelo desenvolvimento do útero, como se tivesse fetos, e por modificações comportamentais, chegando a ponto de construir um ninho.

Acasalamento A fêmea não apresenta cios verdadeiros. No entanto, pode-se notar, aproximadamente a cada 15 dias, uma mudança de comportamento: a coelha parece mais agitada, demarca com freqüência a área com suas glândulas mentonianas e pode mostrar agressividade territorial. Quando se aplica a mão na região lombar, ela manifesta hiperlordose característica. A vulva avermelhada e um pouco edemaciada assinala receptividade máxima. O macho tem libido permanente. Recomenda-se colocar a fêmea na gaiola do macho, a fim de limitar os riscos de agressão. Quando não ocorre acasalamento em 10min ou se os animais se agridem mutuamente, é preciso separá-los. Para mostrar seu interesse, o macho faz círculos rápidos ao redor da fêmea. Os animais se cheiram, esfregam suas glândulas mentonianas e o macho pode espalhar jatos de urina. Se a fêmea está receptiva, ela fica imóvel e apresenta seu posterior. O acasalamento é muito breve; o macho cai para o lado e vocaliza após o coito.


Gestação A placenta de coelhas é do tipo hemocorial. A alimentação da mãe deve ser rica em proteínas e em fibras, a fim de prevenir toxemia da prenhez, freqüente nessa espécie.

Parto A coelha faz um ninho para receber seus filhotes e arranca os pêlos ao redor das mamas. O parto normalmente acontece ao amanhecer e dura, na maioria das vezes, menos de 1h. Os filhotes nascem sem pêlos, com olhos e orelhas fechados.

Aleitamento O leite de coelhas é mais rico em gordura e proteína que o leite de vaca, e mais pobre em lactose. Sua composição se altera durante a lactação; o teor de lactose diminui e o de gordura e de proteína aumenta, como mostra a Tabela 4.7. A coelha dispõe de 4 a 5 pares de mamas para aleitar seus filhotes. Ela os amamenta apenas 1 ou 2 vezes ao dia, durante alguns minutos. O reflexo de sucção é desenvolvido nos filhotes por um ferormônio produzido no sulco mamário. As fêmeas demarcam olfativamente seus filhotes com ajuda das glândulas e matam os filhotes estranhos à sua ninhada. Para que os órfãos sejam aceitos por uma nova mãe, é preciso esfregá-los aos outros coelhinhos da ninhada.


Água (%)

Proteínas (%)

Lactose (%)

Gordura (%)

Mulher

87

1,7

6,4

4,6

Vaca

87

3,5

4,8

4,0

• D0 da lactação

68

13,5

1,6

14,7

• D14 da lactação

74

13,4

1,0

9,0

• D30 da lactação

63

16,9

0,2

17,5

Coelha

A produção de leite dura cerca de 5 semanas. Pode-se tentar alimentar os filhotes órfãos com leite de vaca enriquecido com uma gema de ovo e um pouco de creme de leite fresco. Um filhote deve ingerir, por mamada, um volume de leite correspondente a 20% de seu peso corporal.

Desenvolvimento dos filhotes Os filhotes se desenvolvem rapidamente; as etapas estão resumidas na Tabela 4.8. Ao nascimento

Sem pêlos, cegos, orelhas grudadas

Com cerca de 5 - 6 dias

Início do crescimento dos pêlos

Com cerca de 9 - 10 dias

Abertura dos olhos Movimentos das orelhas

Com cerca de 15 dias

Pelagem densa Dentição definitiva Primeiras saídas do ninho

Com cerca de 3 semanas

Início do consumo de feno Deixam o ninho muito freqüentemente

Com cerca de 4 semanas

Consumo de ração de crescimento

A partir de 6 semanas

Animais desmamados, podem ser adotados

A partir de 11 semanas

Primeira muda Separar os machos das fêmeas


Particularidades digestivas do filhote de coelho O estômago dos filhotes, repleto de leite, não apresenta o pH ácido esterilizante dos adultos. Nos filhotes de outras espécies animais, o estômago e o intestino são colonizados rapidamente por uma microbiota que se prolifera no substrato lácteo digestivo, enquanto nos coelhos o desenvolvimento dessa microbiota é inibido por um ácido graxo estomacal com ação antimicrobiana. Esse ácido graxo é sintetizado no estômago por meio de uma reação enzimática induzida a partir do leite materno. Os filhotes órfãos nutridos com leite de outras espécies não desenvolvem essa proteção e são mais suscetíveis às infecções digestivas. A partir de 4 a 6 semanas de idade, os coelhos jovens perdem o privilégio dessa secreção estomacal e adquirem, gradualmente, o pH estomacal ácido protetor. É durante esse período de transição que o tubo digestivo é colonizado pelos microorganismos. Caso a alimentação seja desequilibrada, se os filhotes são submetidos ao estresse ou se a quantidade de patógenos no ambiente é elevada, a colonização microbiana pode ser anormalmente intensa a ponto de produzir enterotoxinas.


5

Procedimentos e Cuidados Básicos

EXAME CLÍNICO PARA MEMORIZAR O reflexo de defesa de um coelho estressado e privado de liberdade de movimentos, por contenção, pode levá-lo a contrair tão fortemente seus membros pélvicos que pode haver ruptura da coluna vertebral na altura das vértebras lombares,

ocasionando

paralisia

imediata,

geralmente

sem

esperança

de

recuperação.

Modos de contenção O coelho é um animal de presa cuja resposta à ameaça é a fuga. A contenção, que lhe priva dessa possibilidade, sempre é extremamente estressante ao animal. Antes de segurar e manusear um coelho, é importante aprimorar os modos de contenção, que devem ser precisos, firmes e gentis.

Retirada do coelho da caixa de transporte É pouco prático e inutilmente estressante puxar um coelho pelas orelhas. Sempre se deve tirar o coelho da caixa primeiramente pelo seu posterior, segurando as patas traseiras. Pode-se cobrir os olhos com a mão, caso o animal se debata muito. Deve-se evitar colocar o animal em superfície escorregadia; coloca-se previamente uma toalha sobre a mesa de exame. Por fim, deve-se prevenir coices das palas dianteiras, que podem ocasionar arranhões muito desagradáveis.


Contenção do coelho segurando-o contra si Essa técnica é necessária quando se deseja transferir o coelho da mesa de consulta para a de radiografia, por exemplo. Consiste em colocar o coelho sobre o antebraço, escondendo sua cabeça entre o corpo e a dobra do cotovelo e colocando a outra mão no posterior do animal.

Contenção pelo dorso Essa técnica de contenção permite o exame da região anogenital, a palpação abdominal, a auscultação cardiopulmonar, o exame de parte da cavidade oral com uso de otoscópio e o corte das unhas. A pessoa senta-se em uma cadeira, com uma toalha aberta sobre os joelhos; o coelho está seguro nos braços do proprietário ou de um assistente. A mão direita segura o coelho pela região lombar, enquanto a mão esquerda passa sob os membros torácicos do animal. Ergue-se o animal, mediante rotação, segurando firmemente o dorso, de modo a imobilizá-lo em decúbito dorsal, entre suas pernas; a cabeça é contida entre os joelhos e o posterior é mantido entre as coxas. Dobra-se a toalha sobre as patas anteriores a fim de prevenir arranhões. Em geral o coelho torna-se imóvel rapidamente.

Contenção com uma toalha Esse tipo de contenção permite exame minucioso da cavidade oral, com auxílio de otoscópio ou especulo e o exame das narinas, dos olhos e das orelhas, além da palpação da arcada mandibular e a avaliação de abscessos de face. O coelho deve ser colocado sobre uma toalha aberta, com a cabeça na direção do veterinário (Fig. 5.1). Um assistente, posicionado no outro lado da mesa, de frente para o veterinário, dobra uma parte da toalha sobre o posterior do coelho,


enquanto o veterinário mantém o animal sobre a mesa. Em seguida, dobram-se as duas laterais da toalha sobre o coelho. O assistente se inclina por cima do animal e coloca seus antebraços de cada lado dos flancos, imobilizando o posterior do animal contra seu peito (Fig. 5.2). Ele imobiliza a cabeça colocando seus polegares atrás das orelhas do coelho e ajustando seus indicadores sob o queixo; os outros dedos são cruzados para segurar as pata anteriores no interior da toalha.

Figura 5.1 - Contenção do coelho com auxílio de uma toalha: primeira fase.

Figura 5.2 - Contenção do coelho com auxílio de uma toalha: segunda fase.


Particularidades do exame clínico A auscultação cardíaca deve ser realizada antes de qualquer manuseio do animal, pois os ruídos respiratórios do coelho, quando estressado, podem dificultar a auscultação dos ruídos cardíacos. A fim de realizar uma boa avaliação clínica, é necessário ter em mente as seguintes particularidades concernentes a essa espécie: • O coelho respira obrigatoriamente pelo nariz; qualquer movimento respiratório oriundo da boca é patológico. • O estado de hidratação não se avalia pelo beliscamento da prega cutânea, mas sim pelo grau de retração do globo ocular na órbita. • Não há reflexo ocular de piscar frente a uma ameaça. • Deve-se investigar qualquer sinal indicativo de dor, como: - Postura arqueada. - Imobilidade ou relutância em se movimentar. - Ranger de dentes. - Ritmo respiratório rápido e superficial. - Cabeça erguida para frente, com expressão de olhar no vazio. - Lambedura excessiva na região dolorida.


CONDUTAS BÁSICAS

PARA MEMORIZAR • A necessidade diária para hidratação de um animal hospitalizado é 75 a 150mL/kg de solução fisiológica. • A alimentação forçada é indispensável para tais animais, nos quais pode se instalar lipidose hepática rapidamente em caso de anorexia, quase sempre fatal. • A cateterização do conduto lacrimal é uma técnica útil em coelhos que apresentam secreção ocular anormal.

Aplicação de injeções

Via subcutânea O melhor local de injeção é a região que se situa entre a escapula ou sobre o flanco. Nesses locais aplicam-se vacinas, medicamentos habituais e solução fisiológica, cujo volume pode atingir 20 a 30mL, quando há necessidade de hidratar o animal.

Via intramuscular O local de preferência são os músculos lombares. Evitam-se músculos da coxa; o risco de lesionar o nervo ciático não deve ser negligenciado. Esse tipo de injeção é dolorido e o coelho costuma reagir intensamente.


Via intraperitoneal Representa uma via de hidratação rápida, que permite a infusão de grande volume de líquido. É a via de escolha para filhotes acometidos por diarréia. Mantém-se o coelho em posição vertical, com a cabeça para cima, ou em decúbito dorsal. O local da injeção situa-se cerca de 1cm acima do umbigo.

Via intravenosa Requer o uso

de cateter intravascular.

Os

escalpes

não

são

recomendados, pois não se consegue mantê-los por muito tempo na veia; além do mais, o sangue do coelho coagula muito rápido, especialmente em agulhas metálicas. A colocação de um cateter IV requer anestesia. Dependendo do tamanho do coelho, pode-se escolher a veia cefálica, a veia safena lateral ou a veia jugular (cateter de 24G ou 26G para animais menores e de 22G para os maiores).

Via intra-óssea É uma via de urgência utilizada para animais muito debilitados, nos quais o acesso venoso é impossível. Os locais preferidos são a tíbia proximal e o trocanter maior do fêmur.

Reidratação O fluido mais utilizado é a solução de Ringer lactato; as necessidades diárias variam de 75 a 150mL/kg.


Medicação oral Como os comprimidos são de difícil administração em coelhos, dá-se preferência aos medicamentos líquidos. No entanto, pode-se tentar esconder o comprimido em um pedaço de doce, de chocolate e de banana amassada, alimentos cujo sabor costuma ser apreciado pelos coelhos. Na maioria das vezes, é indispensável à alimentação forçada naqueles animais sujeitos à lipidose hepática, freqüentemente fatal. Utilizam-se compotas, papinhas de legumes para bebês e purê de abobrinha cozida no forno de microondas. Os alimentos são administrados por meio de uma seringa. Pode-se administrar um volume de 10mL, três vezes ao dia. Caso a alimentação com seringa seja muito estressante, deve-se tentar a introdução de sonda nasoesofágica.

Irrigação do canal lacrimal As doenças oculares de coelhos são motivos freqüentes de consulta ao veterinário. O canal lacrimal muitas vezes se obstrui, causando lacrimejamento excessivo que quase sempre é notado pelo proprietário. A cateterização do canal lacrimal é uma técnica que deve ser tentada em todos os coelhos que apresentam secreção ocular anormal. Utiliza-se uma pequena sonda lacrimal de 19G. O coelho apresenta apenas um pequeno canal lacrimal, que se abre na mucosa da pálpebra inferior a 3 ou 4mm do bordo livre dessa mucosa, próximo ao ângulo oculonasal. O orifício lacrimal é uma fenda vertical de 1 a 2mm de extensão, visível quando se desloca a pálpebra inferior de modo a exteriorizar a conjuntiva. É visível sob uma prega em forma de V, desenhada pela mucosa.


Coleta de amostras Coleta de sangue O volume de sangue de um coelho corresponde a cerca de 6% de seu peso; pode-se coletar 10% desse volume, com toda segurança. Por exemplo, é possível coletar até 6mL de sangue de um coelho que pesa 1 kg. Os locais de coleta são variados.

Veia marginal da orelha O uso dessa veia permite a coleta de bom volume de sangue, mas freqüentemente causa hematoma e trombose.

Veia jugular A jugular pode ser utilizada apenas em um animal tranqüilizado. A dobra de gordura que muitas fêmeas apresentam sob o queixo pode impedir a visualização desse vaso.

Veia cefálica Facilmente visível, sua utilização é limitada por causa do pequeno tamanho do antebraço das espécies anãs e do pequeno diâmetro vascular, que geralmente não permite a coleta de volume suficiente de sangue.

Veia safena lateral Parece ser o local mais adequado. Permite a coleta de bom volume de sangue em um animal acordado. O coelho é mantido em decúbito lateral por um assistente que, ao mesmo tempo, faz uma compressão e enlaça a soldra (articulação femorotibiopatelar). O veterinário segura a pata na altura da junção


tibiotarsiana. A veia descreve um trajeto diagonal que envolve a tíbia. Pode ser puncionada com uma agulha de 25G.

Veia cava cranial Permite a coleta de grande volume de sangue. O animal deve ser tranqüilizado, utilizando-se o mesmo método descrito para furões.

Coleta de urina As amostras de urina podem ser obtidas por micção espontânea ou mediante cistocentese. Também é possível a cateterização da uretra. A pigmentação natural da urina torna duvidosa a interpretação dos resultados de exames fundamentados em fitas reagentes.

RADIOGRAFIA O tamanho reduzido do animal permite efetuar radiografias de frente e de perfil no mesmo filme. Para uma boa qualidade radiográfica, particularmente de radiografias dentárias, na maioria das vezes é necessária a tranqüilização do paciente. A interpretação das radiografias respeita os mesmos critérios utilizados para outros mamíferos. No coelho, a cavidade torácica é particularmente pequena. Nessa espécie, o limite cranial da silhueta cardíaca sempre é impreciso. A radiografia pulmonar é importante porque pode evidenciar afecções não detectáveis ao exame clínico, como pneumonias crônicas, comuns em coelhos. Permite ainda mostrar cardiopatias,

abscessos

pulmonares

ou

massas

torácicas

(ocasionalmente, nota-se neoplasia do timo, que persiste no adulto).

anormais


A cavidade abdominal é bem maior que a cavidade torácica. Pode-se identificar estômago, intestinos, ceco, bexiga, rins e fígado. Em comparação às radiografias dos carnívoros, os rins encontram-se deslocados para baixo por um grande acúmulo de gordura peritoneal. A bexiga pode ser a sede de formação de cálculos urinários, visíveis sob a forma de massas radiopacas individualizadas, ou de acúmulo de sedimentos urinários, visíveis na forma de opacidade geral do órgão. O útero sadio nunca é visível; situa-se em um ângulo compreendido entre a bexiga e o cólon. Qualquer visualização desse órgão é patológica. As doenças digestivas mais facilmente detectáveis ao exame radiográfico são as obstruções (em especial do estômago), caracterizadas por um órgão de volume aumentado, muito dilatado e repleto de líquido, e o íleo (ceco em particular), caracterizado por acúmulo de gases no intestino. A densidade óssea é menor que a observada em cães e gatos.

PROFILAXIA MÉDICA Vermifugação A infestação do coelho por helmintos digestivos ocorre essencialmente pelo contato com animais congêneres parasitados ou pela ingestão de alimentos contaminados. A prevalência de helmintose digestiva no coelho anão de estimação é muito baixa; seu modo de vida o protege das fontes de contaminação. Entre os nematódeos, os oxiúros são os mais freqüentes. O Passarulus ambiguus é um parasita comum do coelho doméstico, que pode causar diarréia, embora geralmente tal parasitose seja assintomática. Graphidium strigosum e Angiostrongylus cantonensis são estrôngilos gástricos que podem causar diarréia quando há infestação intensa. No tratamento, pode-se utilizar febendazol (Panacur,


10 a 20mg/kg/dia, VO, durante 5 dias), ivermectina (Ivomec, 500µ µg/kg, SC) ou selamectina (Stronghold, 6 a 15mg/kg, na forma spot-on). A infestação por cestódeos é mais rara. Ocorre após o consumo de ervas frescas contaminadas. O hospedeiro intermediário é um ácaro. Os parasitas adultos se alojam no intestino delgado. O praziquantel (Droncit), na dose de 5 a 10mg/kg, VO ou SC, é muito eficaz. Os coelhos também podem ser hospedeiros intermediários de Taenia pisiformis e de Taenia serialís, cujo hospedeiro definitivo é o cão. Essas parasitoses larvárias têm pouca influência na saúde do animal e costumam ser notadas durante cirurgias ou necropsia. Ocasionalmente, esses parasitas podem ser encontrados em músculos ou no mesentério. Para ótima eficiência, o protocolo de vermifugação deve ser repetido após 10 a 15 dias.

Vacinação Na rotina, vacinam-se os coelhos contra doença hemorrágica viral (VHD) e mixomatose. Tais vacinas são indicadas apenas para coelhos que têm acesso ao ambiente externo. A eficácia da imunidade vacinal dura apenas alguns meses; desse modo, os coelhos que têm acesso ao ambiente externo durante a primavera são vacinados anualmente, nessa estação. No caso de VHD, utiliza-se uma vacina inativada com adjuvante (Cunical, 0,5mL, SC). Para prevenção de mixomatose, aplica-se a vacina viva heteróloga do vírus do fibroma de Shope (Lyomyovax, 0,5mL, SC). Podem-se associar as duas vacinas, aplicadas em dois locais diferentes. Também existe uma vacina mista contra as duas doenças, injetável por via intradérmica (ID) na prega da orelha, na base do pavilhão auricular (Dercunimix, 0,2mL, ID).


A vacina contra mixomatose pode provocar o aparecimento de um nódulo fibroso no local da injeção, sobretudo no coelho anão, que parece desenvolver sensibilidade mais importante a vacinação heteróloga, Nota-se apatia pós vacinal em cerca de 25% dos animais.

Tratamentos antiparasitários externos Com freqüência, o coelho pode albergar Ctenocephalides canis e C.felis. Há uma pulga específica do coelho: Spilopsyllus cuniculi, que possivelmente atua como vetor da mixomatose nas criações. O desenvolvimento dessa pulga é extremamente dependente do ciclo hormonal da coelha, o que a torna muito específica. A maturação dos ovos dessa espécie depende do calor do ninho. Evita-se o fipronil (Frontline) no tratamento dessa parasitose, pois seu excipiente alcoólico pode provocar choque em coelhos. Pode-se pulverizar o animal com uma substância à base de carbaril, 1 a 2 vezes por semana, durante um mês. O imidacloprida (Advantage spot-on chat) é utilizado na dose de 3 a 5 gotas por animal, a cada 15 dias. O Lufenuron (Program P, 30mg/kg, mensalmente) permite controlar a multiplicação de pulgas no ambiente.


ANTIBIOTICOTERAPIA PARA MEMORIZAR • A administração de alguns antibióticos aos coelhos pode provocar enterotoxemia mortal. Via de regra, nessa espécie, a utilização de antibióticos é mais segura por via parenteral que por via oral. • Ampicilina, lincomicina e clindamicina são proibidas. • As penicilinas e as cefalosporinas podem ser administradas por via injetável; quando administradas por via oral, provocam enterotoxemia. • As fluoroquinolonas, as sulfonamidas e as tetraciclinas são bem toleradas, seja qual for sua via de administração. • As associações de antibióticos devem ser evitadas, pois a potencialização pode ser tóxica.

O antibiótico ideal para coelhos deve ser fácil de administrar, bactericida e inofensivo à flora digestiva. Os betalactâmicos são proibidos por VO; é possível utilizar 40.000 a 80.000UI/kg de penicilina, IM. A associação trimetoprim-sulfamida é empregada rotineiramente em coelhos e oferece boa margem de segurança. Em geral, utiliza-se a dose de 30mg/kg, VO, duas vezes ao dia. Como nos outros animais, os aminoglicosídeos são potencialmente nefrotóxicos. Pode-se utilizar 8 a 16mg/kg/dia de amicacina, IM ou IV. No entanto, seu baixo poder de penetração em abscessos limita seu uso nesse tipo de afecção.


As fluoroquinolonas são muito empregadas e muito úteis para coelhos, podendo ser administradas VO. Seu uso é seguro e geralmente são eficientes no tratamento de Pasteurella e de infecções por bactérias Gram-negativas. Pode-se utilizar, por exemplo, 10 a 30mg/kg/dia de enrofloxacina, IM, SC ou VO. Dentre os macrolídeos, pode-se utilizar espiramicina (50mg/kg, VO, SC ou IM, duas vezes ao dia) ou tilosina (10mg/kg, VO, SC ou IM, duas vezes ao dia), principalmente nas infecções cutâneas e respiratórias causadas por bactérias Gram-positivas. Não se utiliza lincomicina nem clindamicina. O metronidazol (20mg/kg, VO, duas vezes ao dia) é indicado no tratamento de infecções anaeróbicas. O cloranfenicol, cujo uso é proibido, também é eficaz contra anaeróbicos. É uma droga importante por seu amplo espectro e sua inocuidade aos coelhos. É utilizado nos Estados Unidos, na dose de 50mg/kg, VO, duas vezes ao dia. As tetraciclinas normalmente são bem toleradas e importantes por seu amplo espectro. Pode-se utilizar oxitetraciclina, na dose de 15mg/kg, IM, duas vezes ao dia (é tóxica na dose de 30mg/kg, IM) e na dose de 50mg/kg, VO, duas vezes ao dia. A clortetraciclina é utilizada na posologia de 50mg/kg/dia, VO.

ANESTESIA Particularidades

O piloro muito estreito não permite que o coelho vomite. Portanto, o jejum pré-operatório é dispensável. Jejum de mais de 4 ou 5h pode ser prejudicial ao retorno do trânsito intestinal. No entanto, recomenda-se a retirada da ração da gaiola


3 às 4h antes da cirurgia, para que o estômago não esteja muito repleto. Mantém-se o feno à disposição. O coelho é muito sensível à hipotermia durante a cirurgia e a recuperação. Um colchão térmico, sobre o qual se instala o paciente, pode ser usado. Na gaiola de recuperação, instala-se uma lâmpada incandescente ou colocase bolsa térmica. Muitos coelhos sintetizam naturalmente a atropinase, que os protegem contra as plantas tóxicas; portanto, nessa espécie, o efeito da atropina é variável. O coelho normalmente é refratário às anestesias fixas. Prefere-se anestesia inalatória, de melhor qualidade, mais segura e facilmente reversível. O coelho é particularmente sensível ao estresse. Um animal estressado resiste à anestesia e necessita de doses maiores, tornando mais prolongada a excreção do anestésico. Em coelhos, a utilização de analgésico no pós-operatório é muito útil; o animal que perde sua vitalidade fica anoréxico, quando em sofrimento.

Anestesia inalatória A anestesia inalatória é rápida e segura. Tem bom efeito miorrelaxante e analgésico. A intubação do coelho, cuja laringe não é visível mesmo com o uso de laringoscópio, é um procedimento particularmente difícil. Pode-se, pacientemente e com uma sonda suficientemente rígida, localizar a entrada da laringe, percebendo o ruído respiratório na extremidade da sonda. Quando se nota a presença de tal ruído pode-se entubar, às cegas. Na prática, a anestesia com máscara é um procedimento mais fácil.


A indução pode ser feita diretamente com o gás, quando se dispõe de uma caixa hermética transparente. Esse método diminui os acidentes de contenção, mas é oneroso pelo gás anestésico. A

indução

direta

com

máscara,

sem

pré-medicação

prévia,

é

desaconselhada porque é muito estressante. O coelho deve estar contido firmemente em uma toalha durante a aplicação da máscara e o risco de ruptura de coluna não pode ser negligenciado. O coelho segura a respiração quando se aplica uma máscara que contenha alto teor de gás anestésico; é aconselhado administrar oxigênio

puro

em

um

primeiro

momento,

aumentando

gradativamente

a

concentração do gás anestésico. Tabela 5.1 – Pré-medicação para coelhos Produto Dose Atropina

0,05 - 0,10mg/kg

Via de administração SC, IM

Observação

Glicopirrolato (Robinul)

0,02 - 0,04mg/kg

SC, IM

Acepromazina (Vetranquil) Diazepam (Valium)

1mg/kg

SC, IM, IP

1 - 5mg/kg

IM, IP

Sedação moderada. Evitar via SC (má difusão)

Midazolam (Hypnovel)

1 - 2mg/kg

SC, IM

Medetomidina (Domitof)

0,25mL/kg

SC, IM

Mais hidrossolúvel que o diazepam: melhor difusão Efeito reversível com Antisedan (metade do volume de Domitof)

Anticolinérgico: reduz as secreções salivar e bronquial Anticolinérgico, insensível à atropinase Sedação moderada

As substâncias utilizadas como pré-medicação de coelhos estão apresentadas na Tabela 5.1.


Anestesia fixa Em geral, no coelho, a anestesia fixa é menos satisfatória que a anestesia inalatória. Os anestésicos injetáveis utilizados nessa espécie estão apresentados na Tabela 5.2.

Monitoramento durante a anestesia O ideal é possuir um aparelho Doppler, mas há alguns parâmetros cujo monitoramento não necessita de equipamentos: • A anestesia correta do coelho induz uma respiração profunda e regular, mais lenta que a do animal acordado (cerca de 40 movimentos/minuto); • Uma anestesia muito profunda se traduz em respiração intermitente e perda dos reflexos corneal e anal. Tabela 5.2 – Anestesia fixa para coelhos Produto Dose

Via de

Observação

administração

Acepromazina +

(0,25 – 1mg/kg) +

cetamina

(20 – 40 mg/kg)

Xilazina

(3 – 5 mg/kg) +

(Rompum) +

(20 – 40 mg/kg

IM

Analgesia fraca

IM

Boa

cetamina

anestesia

e

analgesia;

porém

hipotensor

e

boa efeito

depressão

respiratória

Diazepam +

(5 – 10mg/kg) +

cetamina

(20 – 40mg/kg)

Tiletamina +

20 - 30mg/kg

IM

Anestesia pouco profunda

IM

Boa anestesia, mas possível nefrotoxicidade: evitar

zolazepam (zoletil) Medetomidina

(250 - 300µ µg/kg)

(Domitor) +

+ (20mg/kg)

cetamina

IM

Boa

anestesia.

Efeito

de

Domitor é reversível com Antisedan (injetar a metade do volume de Domitor)


Esterilização Indicações A esterilização é eficaz na medida em que permite: • Controle da atividade reprodutiva quando vivem juntos animais de sexos diferentes. • Diminuição da agressividade e da marcação de terreno pela urina, pelo macho. • Diminuição da agressividade da fêmea na época do cio. • Diminuição da agressividade intra-espécie entre os animais do mesmo sexo que coabitam. • Prevenção de doenças reprodutivas da fêmea (o adenocarcinoma de útero é muito freqüente em coelhas não castradas).

Esterilização química Macho No macho, não se pode esperar uma esterilização química ideal, mas pelo menos há diminuição da libido. Pode-se utilizar acetato de delmadinona (Tardak), na dose de 10mg/kg, SC, repetindo a dose depois de 8 dias, se necessário.

Fêmea Antes de qualquer procedimento, é necessário assegurar-se de que a fêmea não está prenhe. Pode-se utilizar proligestona (Delvosteron), na dose de 30mg/kg, SC. O efeito dura 2 a 4 meses.


Esterilização cirúrgica Castração Ao contrário dos carnívoros, o anel inguinal é aberto nos Lagomorfos e nos Roedores, o que implica risco de eventração quando não se fecha a túnica vaginal. A abordagem escrotal é a mais utilizada: • Caso se deseje deixar a túnica vaginal intacta, faz-se a cirurgia com o testículo coberto. • Caso se opte pela cirurgia, como nos carnívoros, com testículo descoberto, é importante visualizar e suturar a túnica vaginal após a retirada do testículo. • Não há necessidade de sutura da bolsa escrotal.

Ovário-histerectomia É preferível a remoção simultânea do útero durante a esterilização, para prevenir carcinoma uterino. O acesso aconselhado é a linha branca. A técnica é comparável à utilizada na gata, com algumas particularidades: • Como a pele é muito frágil, a tricotomia deve ser delicada e demorada. • É fácil exteriorizar o útero, mas ele é mais frágil que nas outras espécies. • O útero é bífido; cada corno deve ser igualmente ligado na altura do colo correspondente. • O ligamento largo está entremeado por tecido adiposo, tornando a sutura dos vasos delicada. • Nessa espécie, é comum a formação de aderências nas cirurgias abdominais; durante a cirurgia, é preciso irrigar a cavidade com solução fisiológica morna.


• Recomenda-se não colocar bandagem; a coelha pode ingeri-la, se automutilar e tornar-se incomodada. É preferível, por segurança, efetuar um padrão de sutura intradérmica com fio absorvível e, em seguida, utilizar pontos simples separados cutâneos, externamente. Em geral, o animal não toca nos pontos. Os agrafes cutâneos também costumam ser bem tolerados.

CONSELHO AOS PROPRIETÁRIOS Deve-se propor sistematicamente a ovário-histerectomia da coelha a partir de 6 meses de idade, a fim de prevenir adenocarcinoma de útero. É possível ocorrer incontinência urinaria como seqüela de castração em coelhas. O tratamento se baseia na administração de estrógenos. Após a castração, é necessário informar ao proprietário que o macho ainda pode permanecer fértil durante 48h.

IDENTIFICAÇÃO Tatuagem Um coelho que participa de exposições deve ser tatuado. O fichário de tatuagem é controlado pela Société Centrale D'aviculture de France1.

Transponder A colocação de transponder é um procedimento fácil, mas ainda não foi criado um padrão de identificação própria para o coelho.

1

34, Rue de Lille, 75007 Paris.


6

Principais Enfermidades

VlROLOGIA PARA MEMORIZAR • As principais doenças virais do coelho são mixomatose e doença hemorrágica viral (viral hemorragic disease - VHD). • Às vezes, a definição do diagnóstico clínico de mixomatose é difícil em razão das várias formas da doença. Freqüentemente associada aos artrópodes vetores, à contaminação também ocorre pelo contato com portadores sadios. O coelho anão parece menos suscetível à doença que seus congêneres de raças grandes. • A VHD é uma enfermidade recentemente diagnosticada. A doença evolui de modo agudo e a taxa de letalidade é próxima a 100%. Os animais com menos de 2 meses de idade não são acometidos. • Há uma vacina para cada uma dessas doenças.

Mixomatose Essa enfermidade foi introduzida intencionalmente na Austrália e na França por volta de 1950, como uma tentativa de controlar a proliferação de coelhos selvagens. A mixomatose é uma das doenças infecciosas mais graves de coelhos, tanto domésticos quanto selvagens. Seu diagnóstico, essencialmente clínico, às vezes é difícil de ser estabelecido em virtude das diversas formas da enfermidade. O


prognóstico

dessa doença,

geralmente fatal,

pode

variar em função

da

patogenicidade da estirpe, sendo freqüentes as formas atenuadas.

Etiologia O vírus da mixomatose é um poxvírus da família dos Leporipoxvirus. Esse vírus, de característica endêmica e de baixo risco em coelhos criados na América do Sul, se revelou muito patogênico, sendo responsável por uma taxa de mortalidade ao redor de 100% quando infecta coelhos importados da Europa. A mixomatose é altamente contagiosa devido aos seguintes fatores: • Alta capacidade infecciosa do poxvírus (um vírion é capaz de, sozinho, desencadear uma infecção). • Alta resistência do vírus ao frio e à dessecação (sobrevive vários meses na pele ou nas escamas). • Apresenta diferentes modalidades de transmissão: - Indireta, por meio de insetos (pulgas, mosquitos) ou do proprietário que manipula muitos coelhos seqüencialmente. - Direta, por simples contato do animal doente ou infectado com um animal sadio. • Os coelhos portadores representam o reservatório do vírus.

Epidemiologia A forma nodular clássica da doença se desenvolve segundo uma influência sazonal marcante: a maioria dos casos surge no verão, coincidindo com a maior população de insetos vetores, e praticamente não ocorre no inverno. Como a forma respiratória não depende de insetos vetores, sua manifestação não é sazonal.


Os meios de contaminação estão resumidos na Tabela 6.1.

Sintomas Juntamente com os casos agudos de mixomatose, várias manifestações clínicas, subagudas a crônicas, decorrentes de cepas virais mutantes, desenvolvemse pouco a pouco. Tabela 6.1 – Meios de contaminação de coelhos pelos vírus da mixomatose Forma cutânea Forma respiratória Fonte do vírus

Coelhos

de

criação

Coelhos infectados e doentes

infectados e doentes; reserva de coelhos selvagens Insetos (pulgas e mosquitos)

Meio de contaminação

Indiretos (Insetos)

Direto Indireto

(manipulação

de

agulhas)

Vias de contaminação

Cutânea-mucosa

Aérea Cutânea-mucosa

Forma nodular clássica Apresenta as seguintes características: • Período de incubação de 3 a 10 dias. • Nódulo (mixoma) no ponto de inoculação. • Edema cefálico. • Tumefação das pálpebras e dos olhos, com ou sem conjuntivite. • Generalização da doença, com aparecimento de mixomas secundários essencialmente na face, mas também na região dorsolombar e nas extremidades dos membros.


• Edema de órgãos genitais.

A forma aguda da doença se caracteriza por curto período de incubação, lesões mal delimitadas e ulceradas e grave comprometimento dos órgãos genitais. Em geral, evolui para morte ao fim de 1 a 2 semanas. No caso de formas atenuadas, que apresentam tempo de incubação mais longo, lesões pouco exsudativas e em menor quantidade, a taxa de mortalidade é inferior a 50%. O animal morre em 20 a 30 dias. Há uma forma específica da doença em coelhos angorás, também diagnosticada no coelho anão. Ela se manifesta após tricotomia. Trata-se de uma forma cutânea que se caracteriza pelo aparecimento de mixomas localizados principalmente no dorso, poupando a face e as orelhas (doença "das pápulas vermelhas").

Forma respiratória Apresenta um período de incubação mais longo (1 a 3 semanas); é possível a instalação de uma forma latente (induzida por estresse). Não se constata mixoma, mas notam-se discretas lesões cutâneas congestas, em forma de máculas, nas orelhas e na região genital. A tumefação das pálpebras e a conjuntivite purulenta, bem como a coriza, inicialmente são discretas; com o tempo, a secreção passa de serosa a mucopurulenta, em quantidade significativa. Essa

forma,

normalmente é crônica.

dificilmente

diagnosticada

pelos

métodos

clínicos,


Diagnóstico O diagnóstico é clínico. A forma clássica nodular é facilmente identificada (mixomas e edema cefálico), porém os sintomas da forma crônica respiratória são menos evidentes; as formas atenuadas podem lembrar um quadro de coriza ou de pasteurelose.

Tratamento Não há tratamento. A maioria dos animais morre. A cura espontânea é rara, mas possível. A forma respiratória pode evoluir de maneira crônica. Eventualmente, pode-se recomendar antibioticoterapia a fim de prevenir infecções bacterianas secundárias. As chances de cura são maiores quando o coelho foi previamente vacinado.

Profilaxia O vírus é pouco resistente ao calor e à luz. É sensível ao formol e à água sanitária. Recomenda-se o controle de pulgas e dos mosquitos vetores. A vacinação é efetiva (ver Cap. 5, "Profilaxia Médica").

Doença hemorrágica viral A doença hemorrágica viral (VHD), cujo agente responsável é um calicivírus que provoca hepatite, foi descrita pela primeira vez na China, em 1984; a partir daí se espalhou gradativamente pela Europa, nas décadas de 1980 e 1990. Recentemente, foi descrita em outros países, principalmente no México. O vírus é altamente patogênico; a manifestação da doença é aguda e a taxa de mortalidade é próxima a 100%. Animais com menos de 2 meses de idade não são acometidos.


Epidemiologia A contaminação é horizontal. Pode ocorrer diretamente por contato entre coelhos e por meio de fezes. Pele contaminada e cadáveres são vetores potenciais. Relata-se que os cães que consomem cadáveres contaminados podem disseminar o vírus pelas fezes e contaminar os coelhos. O vírus, presente na carne contaminada, não é destruído por congelamento.

Sintomas A doença tem evolução tão aguda que os sintomas podem passar desapercebidos; tem-se a impressão de que o coelho morre subitamente sem apresentar sintomas. O período de incubação varia de 24 às 48h. A doença inicia com um pico febril que pode se elevar até 41,5°C; no dia seguinte, instala-se hipotermia (cerca de 38°C) e o coelho manifesta dispnéia, isolamento, apatia, estiramento das patas dianteiras, cabeça permanentemente erguida e parece estar sofrendo. O animal morre logo em seguida. Em cerca de 10% dos casos nota-se sangue nas narinas e no ânus.

Diagnóstico O diagnóstico se baseia no exame clínico, nas lesões constatadas à necropsia e em exames biológicos. Durante a necropsia, nota-se que a maioria dos órgãos apresenta hemorragia intensa. O fígado mostra-se descorado e aumentado de volume. O diagnóstico é definido pelo exame imuno-histoquímico, a partir de imprints do fígado ou de um órgão congelado.


Tratamento Não há tratamento. A vacinação é o melhor método de prevenção (ver Cap. 5, "Profilaxia Médica"). CONSELHO AOS PROPRIETÁRIOS O coelho de estimação pode contrair a doença quando tem acesso a um jardim próximo às populações de coelhos selvagens e quando consome plantas contaminadas com fezes do cão da casa, ou se um membro da família é caçador e não lava as mãos após o retorno da caça, antes de acariciar o coelho. Nesses casos, recomenda-se a vacinação.

Gastroenterologia PARA MEMORIZAR • Doenças digestivas são muito freqüentes no coelho. • A origem das enterites é muito variada. Em geral, sua manifestação está relacionada a um desequilíbrio da flora cecal, evoluindo para enterotoxemia. • As coccidioses clínicas são bastante raras no coelho anão; essa variedade parece muito resistente à maioria dos coccídios. Porém, quando há manifestação da doença, notam-se sintomas graves e alta taxa de mortalidade. • A interrupção do trânsito intestinal pode ser secundária à instalação de íleo ou à obstrução. É importante realizar o exame radiográfico para estabelecer o diagnóstico diferencial; o íleo requer tratamento médico, enquanto a obstrução é uma urgência cirúrgica.


Enterites A síndrome "enterite" é muito freqüente em coelhos. Várias são as causas possíveis, sem que os distintos quadros clínicos evoquem uma origem particular. Em geral, o diagnóstico definitivo é realizado apenas dentro de uma criação, onde a epidemiologia é estabelecida com mais facilidade, sendo possível utilizar todos os meios de investigação justificáveis. No mais, os patógenos responsáveis pelas enterites

costumam

estar

associados

e

diferentes

causas

podem

atuar

simultaneamente. No caso de um único animal, de uma loja de animais ou de uma criação desconhecida, o veterinário deve limitar-se ao tratamento sintomático, incluindo antibioticoterapia de amplo espectro. As enterites mais comumente diagnosticadas em coelhos de estimação são: • Enterite da desmama. • Enterotoxemia. • Síndrome das fezes amolecidas.

Enterites relacionadas ao desequilíbrio da microbiota digestiva Essas enterites acometem principalmente coelhos jovens, no período de desmama, ou coelhos adultos submetidos a estresse ou desequilíbrios alimentares.


Enterite colibacilar da desmama Trata-se de uma enfermidade que surge nas semanas seguintes à desmama, em decorrência de uma proliferação aberrante de colibacilos comuns ao tubo digestivo. Essa diarréia não deve ser confundida com colibacilose, que é causada por um sorotipo patogênico particular.

Epidemiologia Vários fatores de estresse relacionados à desmama, ao transporte, à chegada em uma loja de animais e à mudança brusca de alimentação provocam alteração no equilíbrio dos ácidos graxos voláteis e no pH do ceco. Uma elevação do pH causa desequilíbrio da flora cecal, permitindo que os colibacilos, normalmente em pequena quantidade, se multipliquem. A população de colibacilos pode atingir a 100 milhões de microorganismos por grama de conteúdo cecal (ao invés de 10 mil, normalmente).

Sintomas A manifestação de diarréia muito líquida em um filhote recém-adquirido é forte indício da doença. O animal apresenta prostração, desidratação intensa, podendo morrer em 24h. Na necropsia, nota-se conteúdo cecal muito líquido e estômago praticamente vazio, mas com líquido.

Tratamento É preciso hospitalizar o animal, aquecê-lo, hidratá-lo e corrigir as perdas de eletrólitos (em geral, não é possível utilizar a via IV, de modo que se utiliza a via IP ou instala-se um cateter intra-ósseo).


Institui-se antibioticoterapia oral; com freqüência há necessidade de administração forçada com seringa, pois o animal pára de se alimentar e de beber água. Pode-se utilizar: • Neomicina (30mg/kg, VO, duas vezes ao dia). • Tetraciclina (50mg/kg, VO, duas vezes ao dia). • Metronidazol (20mg/kg, VO, duas vezes ao dia). • Associação sulfamida-trimetoprim (30mg/kg, VO, duas vezes ao dia).

A utilização de um regulador de motilidade intestinal, como a loperamida (0,1mg de Imodium/kg, VO, três vezes ao dia), pode ser útil. Não se constatou vantagem adicional com o uso oral de fermentos lácticos, como os Lactobacillus. Pode-se duvidar de sua eficácia por duas razões: • A flora digestiva normal do coelho não é constituída por Lactobacillus sp., mas sim por Bacteroides sp. • Qualquer fermento láctico administrado por via oral normalmente é destruído pelo pH muito ácido do estômago do coelho.

Entretanto, muitos proprietários acreditam que a adição de fermentos lácticos (como Rongeur Digest, por exemplo) na água fornecida aos animais melhora o estado geral. Os coelhos parecem apreciar o gosto conferido à água por esses fermentos e aumentam o consumo de água, o que pode ser favorável.

Profilaxia É necessário acidificar o conteúdo digestivo: faz-se o coelho beber água enriquecida com vinagre (1 colher de café por litro de água); em seguida, fornecemse alimentos ricos em fibras não digeríveis, os quais favorecem a motilidade do ceco


e atuam prevenindo a estase e a fermentação dos alimentos no ceco. Ademais, é importante fornecer uma alimentação com baixo teor de glicídios (pois a presença de glicose no ceco favorece a proliferação de coliformes e clostrídios). Em um grupo de coelhos formado recentemente (por exemplo, em uma loja de animais), é necessário assegurar que os animais mais fracos também tenham acesso aos alimentos.

Enteropatia mucóide A etiologia dessa enteropatia é desconhecida, mas é possível que o estresse e as mudanças alimentares súbitas contribuam para a perturbação do trânsito cecal e causem bloqueio das contrações do ceco e produção abundante de muco pelo cólon. Uma hiperacidificação do conteúdo cecal parece ser a causa do desequilíbrio

da

microbiota

observado em

animais

enfermos.

Os filhotes

desmamados têm, fisiologicamente, pH cecal mais ácido que os adultos (pH de 5,9 ao invés de 6,5). Quando o pH se reduz a um valor abaixo de 5,5 (considerado pH bactericida), nota-se o aparecimento de bactérias Gram-positivas, identificadas como Clostridium cocleatum, sempre presentes nos casos de enteropatia mucóide.

Sintomas Em geral, é uma doença que acomete animais jovens, com 2 a 3 meses de idade. O coelho manifesta apatia, perda de apetite e diarréia com abundante quantidade de muco. Na necropsia, o ceco apresenta uma parte granulosa e uma porção liqüefeita.

Tratamento É semelhante ao das enterites descritas anteriormente. Há necessidade de antibióticos de amplo espectro: espiramicina, tetraciclina ou sulfonamidas.


Enterotoxemia Ela também se altera em uma síndrome da flora cecal levando à liquefação e fermentação do conteúdo do ceco.

Epidemiologia Essa doença pode ser diagnosticada em filhotes, no período de desmama, podendo também ser observada em adultos. Normalmente, deve-se à alimentação excessiva e desbalanceada, à inadequada condição higiênica-sanitária (umidade, grande variação de temperatura, correntes de ar) e a fatores estressantes que favorecem a estase intestinal. Antibioticoterapia inapropriada, como a administração de clindamicina, lincomicina ou ampicilina, elimina as bactérias Grampositivas do ceco, desequilibrando a microbiota e permitindo a rápida multiplicação de Clostridium sp., que libera toxinas.

Patogenia A população de Clostridium perfringens, em geral presente em pequena quantidade na flora cecal, prolifera anormalmente. Às vezes, nota-se C. perfringens do tipo E, uma cepa patogênica que produz toxinas; no entanto, na maioria das vezes, a cepa isolada é do tipo A, considerada não patogênica, mas cuja multiplicação é prejudicial.

Sintomas Deve-se suspeitar da doença toda vez que ocorrer morte súbita, junto ao amolecimento das fezes e à produção de muco. O ventre torna-se distendido; o animal manifesta timpanismo agudo após a morte. Na necropsia nota-se conteúdo cecal com líquido e gases muito fétido.


Tratamento E semelhante ao descrito para as enterites colibacilares que ocorrem no período de desmama.

Fezes moles crônicas Constituem, sobretudo, uma doença do coelho de estimação adulto, cuja alimentação é pobre em fibras e muito rica em glicídios. Relata-se a ocorrência de episódios que duram vários dias, durante os quais o animal produz poucas fezes duras e apresenta um acúmulo de fezes moles na região anal. Embora possa haver perda de apetite, este costuma ser conservado. O estado geral do animal não se altera. Na verdade, o acúmulo de matéria fecal corresponde aos cecótrofos que não foram normalmente ingeridos. Várias condições podem explicar por que os coelhos não os ingerem: • Produção excessiva de cecótrofos. • Composição anormal dos cecótrofos. • Alteração na função nervosa que desencadeia sua ingestão. • Obesidade suficiente para impedir os movimentos adequados. • Dor bucal decorrente de má oclusão dentária, que impede o recolhimento adequado dos cecótrofos.

Quanto ao tratamento, a antibioticoterapia é inútil; na verdade, prejudicial. É suficiente que se alimente o coelho com feno e água durante cerca de 10 dias; em seguida, procede-se ao equilíbrio da alimentação, suprimindo pães, guloseimas e excesso de grãos, fornecendo fibras e verduras.


Enterites bacterianas Colibacilose São enterites causadas por colibacilos de sorotipos patogênicos especificamente para os coelhos. Trata-se, essencialmente, de uma patologia das criações. O modo de vida isolado dos coelhos de estimação os protege dessa infecção. O sorotipo é espécie-específico; portanto, não é transmitido de uma espécie para outra. No coelho, normalmente se isola uma cepa enteropatogênica. Os colibacilos se disseminam intensamente no ambiente. Em uma criação, a doença se caracteriza pela morte dos reprodutores, dos filhotes e, em seguida, de adultos, com diarréia. O diagnóstico se baseia no exame bacteriológico. É obtido mediante cultura de amostra de mucosa intestinal. A sorotipagem é realizada por meio de um teste de aglutinação. A histologia permite identificar a lesão e o colibacilo aderido à parede. Para esses exames, é importante utilizar animais doentes, ainda vivos. Institui-se tratamento sintomático, inclusive antibioticoterapia adequada à sensibilidade da cepa isolada.

Enterite por Clostridium spiroforme Normalmente, o C. spiroforme não é isolado no trato digestivo de coelhos. A antibioticoterapia inapropriada é um dos principais fatores desencadeantes. Esse germe sintetiza uma toxina mortal, conhecida como IOTA-like, que destrói as mucosas intestinal e cecal. O único sintoma é a manifestação súbita de intensa diarréia.


À necropsia, nota-se enterotiflite, com congestão intensa da mucosa do ceco. O diagnóstico é definido pelo isolamento da bactéria na amostra enviada ao laboratório. O tratamento consiste em acidificar o trato digestivo, administrando água misturada com vinagre (1 colher de café de vinagre para cada litro de água) associada a antibióticos, dentre os quais a espiramicina (30mg/kg, VO, duas vezes ao dia) ou enrofloxacina (10mg/kg, VO, duas vezes ao dia), durante 8 a 10 dias.

Doença de Tyzzer É uma doença comum em roedores e lagomorfos, podendo acometer outros mamíferos. É causada por uma bactéria intracelular, Clostridium piliforme, cuja forma esporulada pode resistir por mais de um ano no ambiente. Essa doença se desenvolve mais facilmente em condições higiênicas inadequadas. Acomete indivíduos com imunossupressão, como os filhotes no período de desmama, ou adultos submetidos a estresse. A contaminação se instala por via oral; os portadores sadios representam a fonte de infecção.

Sintomas Em geral, a doença se manifesta de forma aguda, com diarréia aquosa, prostração, anorexia e desidratação, resultando freqüentemente na morte do animal nas primeiras 48h, em particular dos jovens. A forma crônica é mais rara e se resume em emagrecimento e debilidade orgânica.

Diagnóstico Durante a necropsia, notam-se áreas de necrose no ceco, íleo, cólon e, com muita freqüência, no fígado e miocárdio. Os cortes histológicos (corados pela


técnica de Warthin-Starry) revelam bacilos filamentosos no interior dos hepatócitos, enterócitos e fibras musculares. É possível identificar os animais positivos mediante exames sorológicos (FC, IFI, ELISA).

Tratamento O tratamento é essencialmente sintomático, associado a medidas de higiene. Não há tratamento específico verdadeiramente eficiente; a localização intracelular da bactéria contribui para a ineficácia do medicamento. A resposta à antibioticoterapia é variável. Em geral, utiliza-se tetraciclina para evitar a disseminação da enfermidade a outros coelhos. A água sanitária é um desinfetante eficaz na eliminação da forma esporulada do germe. Salmonelose A doença é causada por uma bactéria Gram-negativa, a salmonela, que pode se desenvolver em todas as espécies animais, inclusive em seres humanos. É uma doença rara em coelhos, mas tem se notado aumento da taxa de prevalência nas

criações.

As

duas

principais

espécies

patogênicas

são

Salmonella

typhimurium e S. enteritidis. Em geral, a contaminação ocorre com o consumo de água ou de alimentos contaminados pelos animais portadores, que eliminam as bactérias. Os filhotes e

as

fêmeas

gestantes

ou

lactentes

são

mais

suscetíveis.

Os

microorganismos têm tropismo pelos tratos digestivo e genital, causando abortamento, enterite fatal em filhotes ainda no ninho ou enterite em fêmeas por ocasião do parto. Na necropsia, há sinais de septicemia, com congestão generalizada dos órgãos e petéquias disseminadas por todo o organismo. Notam-se, particularmente: • Baço enegrecido e hipertrofiado.


• Necrose hepática puntiforme. • Necrose do apêndice cecal.

O diagnóstico é definido pelo isolamento da bactéria em amostras de órgãos genitais das fêmeas ou de bile. Recomenda-se dose elevada de antibiótico. Por exemplo, pode-se utilizar marbofloxacina (5 a 10mg/kg) ou enrofloxacina (20mg/kg). O tratamento deve continuar durante, no mínimo, 15 dias.

Enterites virais Coronavírus O coronavírus pode ser responsável por enterite fatal em filhotes, ainda no ninho. Esse vírus também foi isolado em adultos sadios.

Rotavírus O envolvimento dos rotavírus como agente patogênico é discutível: 98% dos coelhos de criação apresentam anticorpos anti-rotavírus, enquanto apenas 30% dos coelhos selvagens são soropositivos. Considera-se o rotavírus realmente patogênico quando é isolado nas fezes.

Enterites parasitárias Helmintoses A alta infestação por oxiúros (Passalurus ambiguus) pode provocar diarréia. O ciclo biológico do parasita é direto, sem hospedeiro intermediário. O coelho emagrece, manifesta irritação na região anal e pode se infectar novamente.


O tratamento indicado consta no item que aborda vermifugação (ver Cap. 5, "Profilaxia Médica").

Coccidiose A coccidiose do coelho é provocada por coccídios do gênero Eimeria. Os coccídios isolados de coelhos nem sempre são patogênicos. A doença acomete apenas coelhos estressados. O coelho anão parece ser bastante resistente à coccidiose. Porém, quando a doença se manifesta, causa sintomas graves e alta taxa de mortalidade. Há duas formas da doença: coccidiose hepática e coccidiose intestinal. A coccidiose hepática constitui um achado de necropsia, pois é assintomática. A coccidiose intestinal provoca sintomas, desde uma simples perda de peso até enterite fatal; o diagnóstico é difícil.

Epidemiologia Os coccídios são protozoários cujas espécies patogênicas incluem Eimeria magna, E. irresidua (causam diarréia com baixa taxa de mortalidade) e E. piriformis, E. intestinalis e E.flavescens (causam diarréia grave e alta taxa de mortalidade).

Ciclo biológico do parasita Há duas fases: • Fase externa: há excreção fecal de oocistos não infectantes, portanto imaturos, para o meio externo. Durante um período de 30 às 60h, o oocisto esporula e torna-se infectante; ele contém 8 esporozoítos.


• Fase interna: o coelho se infecta ao ingerir os oocistos esporulados. Os esporozoítos penetram no intestino e se multiplicam de modo assexuado (esquizogonia); em seguida, iniciam uma fase sexuada na qual formam gametas e um ovo (zigoto). A união dos gametas com o zigoto origina o oocisto imaturo.

Sintomas Os sintomas são inespecíficos. Ocorre perda de peso e diarréia, que pode ser crônica e intermitente, ou mais grave, com possível presença de sangue e muco. Em geral, o animal morre em conseqüência de desidratação e infecção bacteriana secundária. Um sinal típico notado durante a necropsia é uma lesão da parede intestinal que a torna parecida com papel machê.

Diagnóstico O diagnóstico é difícil porque: • O quadro clínico é inespecífico. • Normalmente, o coelho é parasitado por várias espécies de coccídios.

Pode-se investigar possível história de estresse. A simples presença de coccídios nas fezes não é suficiente para estabelecer o diagnóstico. Também, devese proceder à identificação das estirpes e contagem de oocistos (abaixo de 5 mil oocistos por grama de fezes, considera-se que a diarréia não se deve unicamente aos coccídios). O diagnóstico definitivo se baseia no exame histológico.


Tratamento Várias drogas são eficazes; utilizam-se, principalmente: • Associação sulfamida-trimetoprim, na dose de 20 a 30mg/kg, VO, durante 15 a 20 dias. • Sulfadimetoxina (Mucoxid), 50mg/kg, VO, no primeiro dia e, em seguida, 25mg/kg nos dias posteriores, durante 15 a 20 dias. • Toltrazuril (Baycox 2,5%), 25 a 50ppm na água de beber - corresponde à diluição de 1 a 2mL do produto em 1 litro de água durante 5 a 7 dias.

Estase intestinal A estase intestinal em coelho de estimação é um motivo freqüente de consulta. Em geral, está relacionada a um desequilíbrio alimentar, embora também possa ser conseqüência indireta de má oclusão dentária. Nessa espécie, a anorexia freqüentemente está associada com essa síndrome e ocasiona muito rapidamente lipidose hepática. A estase intestinal pode decorrer de dois distúrbios distintos: a instalação de íleo e a obstrução intestinal; os tratamentos são diferentes.

Íleo Íleo gástrico Patogenia Os pêlos ingeridos durante as lambeduras se acumulam exageradamente no estômago dos coelhos. Quase nunca formam bolas de pêlos, como nos carnívoros, mas se misturam ao conteúdo do estômago. A maioria dos casos de tricobezoares diagnosticados no coelho é conseqüência do retardo do esvaziamento gástrico, em função da diminuição da motilidade estomacal, devido à dieta pobre em fibras e em verduras frescas. O conteúdo do estômago se desidrata, formando um


bloqueio. Falta de exercício, obesidade, estresse e impossibilidade do coelho vomitar são fatores predisponentes. Sintomas A doença começa com diminuição do apetite, podendo evoluir para anorexia. Polidipsia compensatória é freqüente, podendo evoluir para oligodipsia nos casos graves. As fezes são muito pequenas e secas, podendo apresentar fases de amolecimento. Pode se notar diminuição e, as vezes, interrupção da defecação. O estado geral pouco se altera. Diagnóstico O diagnóstico se baseia nos sintomas, no histórico alimentar, na palpação de um estômago firme e não comprimível e no exame radiográfico. Esse último revela um ligeiro aumento de volume do estômago, freqüentemente com um halo de ar ao redor de um grande conteúdo heterogêneo (Fig. 6.1). Em geral, o intestino se encontra repleto de gases. Tratamento Normalmente, o tratamento com medicamentos é suficiente. Os coelhos não são bons candidatos à cirurgia digestiva; a gastrotomia geralmente resulta na morte do animal. A conduta recomendada é: • Instituir fluidoterapia, a fim de melhorar o estado de hidratação do animal e hidratar o conteúdo estomacal (ver Cap. 5, "Condutas Básicas"). • Fornecer suco de abacaxi (10mL, VO, durante 3 a 4 dias): em geral, os coelhos são muito gulosos; o suco contribui para a hidratação da ingesta e as enzimas proteolíticas nele contidas podem auxiliar a digestão.


• Restabelecer a motilidade gástrica, tratando o espasmo doloroso: 250mg de paracetamol (analgésico e espasmolítico), via IM.

Figura 6.1 - Radiografia mostrando íleo gástrico em coelho. • Favorecer o esvaziamento gástrico e a motilidade digestiva: - Cisaprida (Prepulsid); 0,5mg/kg, VO, duas a três vezes ao dia. - Metoclopramida (Primperan): 0,5mg/kg, VO ou SC, duas a três vezes ao dia. • Proceder à alimentação forçada para prevenir lipidose hepática. • Tratar a hipotermia nos casos graves.

Em geral, há necessidade de hospitalização durante alguns dias para que tais procedimentos sejam realizados corretamente. A dieta alimentar deve ser reequilibrada. O prognóstico costuma ser favorável.


Íleo cecal Um desequilíbrio alimentar ou estresse pode induzir à menor motilidade do ceco e do cólon, à semelhança da fisiopatogenia do íleo gástrico. Nesse caso, a estase digestiva se instala no ceco. Os sintomas são bastante parecidos com os do íleo gástrico, mas o estado geral é mais influenciado e os espasmos digestivos parecem ocasionar mais dor; o coelho responde com prostração ou ranger de dentes. O exame radiográfico revela aumento de volume do ceco, que apresenta conteúdo heterogêneo, com líquido e gases (Fig. 6.2).

Figura 6.2 - Radiografia mostrando íleo cecal em coelho. (Foto: Karen Rosenthal.) O tratamento é muito parecido ao do íleo gástrico. É necessário sanar rapidamente a dor de um animal que parece sofrer. Pode-se utilizar, por exemplo: • Buprenorfina (Temgesic): 0,01 a 0,05mg/kg, SC ou IP, em intervalos de 8h. • Flunixina meglumina (Finadyne): 0,3 a 2mg/kg, VO ou SC, duas vezes ao dia.


Obstrução intestinal (íleo mecânico) É essencial diferenciar uma obstrução intestinal de um íleo, pois os tratamentos são diferentes; a obstrução é uma urgência cirúrgica. Normalmente, o local da obstrução é o piloro ou o duodeno. O corpo estranho pode ser uma massa de pêlos, de fibras de tecido ou fragmentos de carpete ou tapete, que os coelhos gostam de ingerir. Os critérios que permitem o diagnóstico diferencial entre íleo e obstrução intestinal estão descritos na Tabela 6.2. O tratamento é cirúrgico. É necessário aquecer o animal, hidratá-lo e tratar a dor. Caso manifeste sinais de choque, administra-se dexametasona (2mg/kg, IV ou IM). O animal morre em 24h quando não se realiza cirurgia.

Paralisia de ceco Trata-se de uma síndrome diagnosticada em criações comerciais, sobretudo nos coelhos de raça grande, que consomem grande quantidade de alimentos. A etiologia é incerta. As coelhas são particularmente suscetíveis do 10º ao 15º dia de lactação, fase que coincide com grande consumo de alimentos. Tabela 6.2 - Diagnóstico diferencial entre íleo e obstrução intestinal em coelhos Íleo Obstrução intestinal Bom estado geral Redução do Prostração Aspecto clínico apetite

Constipação ou tamanho reduzido

Aspecto radiológico

Tratamento

fezes

de

Tamanho do estômago normal ou discretamente aumentado Massa heterogênea visível no estômago, freqüentemente rodeada por um halo gasoso Médico

Anorexia Constipação grave Dor abdominal intensa Tamanho do estômago muito aumentado Grande volume de fluido Cirúrgico


Sintomas Notam-se anorexia e prostração associadas à dor abdominal intensa. Os pêlos ficam eriçados e pode haver dispnéia. A bexiga perde sua tonicidade, distende-se e parece hipertrofiada à palpação. Durante a necropsia, o ceco encontra-se obstruído, com conteúdo duro e ressecado.

Os pulmões podem

apresentar sinais de hepatização.

Tratamento O tratamento é semelhante ao do íleo.

MÁ OCLUSÃO E ABSCESSOS DENTÁRIOS

PARA MEMORIZAR • No coelho de estimação, trata-se de um motivo muito freqüente de consultas. • Os dentes incisivos, pré-molares e molares crescem continuamente em coelhos e, portanto, todos podem estar envolvidos. • A etiologia é complexa. Envolve três fatores: disposição anatômica nas raças anãs; falta de desgaste dentário em função do baixo teor cie fibras na ração; e um distúrbio na mineralização dentária e óssea, decorrente de um distúrbio no metabolismo do cálcio e da vitamina D. • O exame minucioso da cavidade bucal só pode ser realizado sob anestesia e com instrumentos adequados. • As infecções bacterianas secundárias são freqüentes; em geral, as bactérias envolvidas são anaeróbicas. • O tratamento pode ser difícil e o resultado nem sempre é satisfatório. • O proprietário deve ser advertido de que se trata de unia afecção crônica e necessita de tratamentos regulares.


MÁ OCLUSÃO Etiologia As causas são múltiplas e freqüentemente associadas. Têm origem genética, traumática, alimentar e metabólica.

Genética As raças anãs, selecionadas para redução de tamanho e em busca de uma forma arredondada de cabeça, possuem maxilares pequenos, cuja coaptação pode ser deficiente. Desse modo, o desgaste das superfícies dentárias, umas com as outras, não acontece corretamente. O prognatismo também é freqüente nessa raça.

Traumática As fraturas do maxilar cicatrizam espontaneamente no jovem em crescimento, podendo ocasionar alterações durante o crescimento dos dentes. O coelho de estimação pode cair facilmente de um móvel ou dos braços do proprietário, com o focinho para frente e, assim, fraturar a base dos incisivos.

Alimentar A dentição do coelho é adaptada à mastigação praticamente contínua de fibras vegetais. Esse movimento de mastigação causa desgaste permanente das superfícies dentárias, umas com as outras, o qual é exacerbado pela abrasão da sílica contida nos vegetais frescos, com os quais ele se alimenta no estado natural. A alimentação industrial fornecida aos coelhos é inadequada porque ocasiona: • Desgaste insuficiente dos dentes: a dieta que privilegia mistura de grãos e ração granulada, em detrimento ao feno e à verdura fresca, induz à rápida


sensação de saciedade que não incita o coelho a mastigar continuamente, como e necessário para o desgaste dos dentes. • Desgaste incorreto dos dentes: os movimentos mastigatórios efetuados para ingerir as rações são incompletos em relação aos necessários para a ingestão de alimentos fibrosos.

Metabólica Os exames radiográficos efetuados nos casos de má oclusão dentária revelam, com freqüência, desmineralização dos ossos cranianos. As alterações da forma, posição e estrutura dos dentes podem estar associadas à osteopenia, decorrente de um desequilíbrio no metabolismo do cálcio. Um estudo recente efetuado por Harcourt-Brown e Baker em coelhos de estimação acometidos por distúrbios dentários mostrou que os animais apresentavam hipocalcemia e concentração sangüínea de paratormônio significativamente maior, em relação aos coelhos de vida livre. A falta de desgaste dentário associada à alimentação pobre em fibras não seria, portanto, o único fator importante na ocorrência de doença dentária. Os coelhos que vivem em ambiente externo se alimentam de ervas, que oferecem fonte equilibrada de cálcio e fósforo para essa espécie. Ademais, esses animais se beneficiam da luz solar, permitindo a síntese de vitamina D. Embora no coelho a absorção intestinal de cálcio seja possível na ausência de vitamina D, sua presença favorece a absorção do cálcio, em especial quando o teor do mineral na dieta é baixo. Por outro lado, a vitamina D influencia a mobilização do cálcio intraósseo e o controle da excreção renal de cálcio. Portanto, a deficiência de vitamina D pode ter papel importante na instalação de doença dentária em coelhos.


Patogenia Na realidade, ela associa um fator mecânico - a falta do desgaste dentário - e um fator metabólico - a desmineralização dos dentes e dos ossos que os sustentam.

Oclusão normal No coelho, os molares dos maxilares superior e inferior não fazem contato quando a boca está em repouso. Ao contrário, os incisivos inferiores estão em contato com os pequenos incisivos superiores, característicos dos lagomorfos. Os movimentos mastigatórios são laterais para os molares e pré-molares e ântero-posteriores para os incisivos. Todos os dentes do coelho apresentam raízes abertas e, portanto, são de crescimento contínuo.

Fator mecânico Está relacionado à falta de desgaste das coroas dentárias. Os molares e pré-molares, quando não corretamente utilizados, continuam a crescer e ficam em contato com seu homólogo do maxilar correspondente quando em repouso, ocasionando fechamento inadequado da boca. Quando a boca não se fecha adequadamente, não há contato e desgaste normal dos incisivos. Segue-se uma má oclusão secundária dos incisivos (Fig. 6.3). A falta de desgaste dos molares e pré-molares favorece a formação de pontas lacerantes em direção à mucosa oral. Os dentes inferiores, que crescem em direção ao interior da cavidade, lesionam a língua, enquanto os dentes superiores, que crescem em direção ao exterior, lesionam as bochechas.


O crescimento das coroas dentárias, umas contra as outras, não pode continuar indefinidamente, pois os músculos e os ligamentos da boca se opõem a isso. Segue-se uma pressão anormal das coroas, umas sobre as outras, o que induz sua curvatura anormal. Impedido na direção das coroas, o crescimento dentário continua, apesar de tudo, e induz um crescimento anormal das raízes.

Figura 6.3 - Radiografia de perfil mostrando má oclusão dentária em um coelho.

Fator metabólico A alteração da estrutura e da rigidez dos dentes ocasiona um desgaste irregular da superfície dentária. A desmineralização da maxila ocasiona perda de consistência do osso alveolar, que contém as raízes dentárias. Estas não encontram mais resistência ao seu crescimento e se desenvolvem anormalmente.

Conseqüências do crescimento anormal das raízes As raízes podem crescer em direção ao maxilar, causando: • Protrusão das raízes nos canais lacrimais (ocasionando dacriocistite), nos espaços suborbitais (induzindo a abscessos em caso de infecção,


responsáveis pela exoftalmia), na cortical ventral do osso mandibular (formando bolsas detectáveis à palpação). • Dor durante a mastigação, pois a raiz dentária é forçada de forma dolorida contra o periósteo do osso maxilar e entra em contato com terminações nervosas do ápice dentário. Isso resulta em dor quando o coelho mastiga um alimento duro, recusando o consumo de feno e, portanto, agravando a doença dentária.

Infecção A doença periodontal, freqüente em coelhos, pode induzir a complicações infecciosas na base das raízes. A perda dos ligamentos periodontais deixa um espaço que pode ser colonizado por patógenos (geralmente bactérias anaeróbicas da microbiota digestiva, como Fusobacterium necrophorutn), causando osteomielite e formação de abscessos. Em função disso, podem se formar grandes tumefações nos maxilares ou provocar exoftalmia.

Sintomas Incisivos Os sintomas são evidentes. Os incisivos superiores se curvam em direção ao interior da cavidade bucal, enquanto os inferiores crescem para frente. A preensão dos alimentos torna-se difícil. O crescimento os incisivos para o interior da boca pode causar lesões doloridas que se infeccionam facilmente.

Molares e pré-molares No início, os sintomas são discretos. As pontas lacerantes dos dentes provocam pequenas ulcerações da mucosa oral, que ocasionam desconforto


temporário e, por fim, cicatrizam. O coelho diminui o consumo de alimentos durante alguns dias e depois volta a se alimentar normalmente quando a lesão cicatriza. À medida que essas pontas de dentes continuam a crescer, o desconforto persiste. O animal manifesta anorexia, salivação anormal e sinal de dor à palpação da arcada dentária. Pode se instalar íleo, secundariamente.

Diagnóstico O diagnóstico se baseia no exame da cavidade oral e no exame radiográfico.

Exame da cavidade oral Com o coelho contido com uma toalha, pode-se examinar uma parte da cavidade bucal com auxílio de um especulo nasal ou, na falta deste, de um otoscópio. Investiga-se a presença de pontas de dentes visíveis ou de lesões na mucosa oral. Essa técnica não permite visualizar cerca de 25% das lesões. O exame minucioso da cavidade oral requer anestesia geral e utilização de um abridor de boca específico.

Radiografia Permite: • Verificar se a má oclusão dos incisivos é secundária ao crescimento anormal das coroas dos molares • Avaliar o crescimento das raízes. As raízes dos dentes devem estar localizadas nos respectivos alvéolos. As raízes dos incisivos superiores podem crescer, curvar-se e obstruir o canal lacrimal. As raízes dos molares e dos pré-molares superiores podem se desviarem direção a órbita, e as raízes


dos dentes inferiores podem deformar o osso mandibular. Desse modo, podese determinai se há ou não necessidade de extração dentária. • Avaliar a extensão do abscesso: uma lise óssea marcante tem prognóstico desfavorável.

Tratamento Incisivos Quando a má oclusão é secundária ao crescimento excessivo dos molares, é necessário realinhá-los e, em seguida, cortar os incisivos. Caso a má oclusão dos incisivos seja primária, é possível: • Cortar os incisivos: é preferível utilizar um disco cortante adaptado a um motor dentário pequeno. Com um pouco de prática, realiza-se tal procedimento sem necessidade de tranqüilizar o animal. A utilização de um cortador de unhas não é recomendável porque: - Geralmente provoca dor no animal. - Não se consegue restabelecer a superfície em bisel do dente. - São freqüentes as fraturas de incisivos. - Expõe-se a polpa dentária às infecções. • Extrair os incisivos: freqüentemente é a melhor opção; o coelho se adapta rapidamente à falta de seus dentes que, de qualquer modo, já não lhe serviam mais.

Molares e pré-molares As pontas dos dentes são facilmente aparadas com um cortador diagonal. Seu corte proporciona alívio imediato, porém de duração muito curta. Caso se pretenda fazer um tratamento de maior duração, pode-se desgastar o conjunto de


dentes com ajuda de uma broca adaptada a um motor dentário. Deve-se informar o proprietário que o coelho irá se alimentar mal durante uma semana e que será necessário alimentá-lo com alimentos líquidos utilizando, se necessário, uma seringa. Também, pode se extrair o molar cuja raiz está muito desenvolvida.

Abscessos O

tratamento

dos abscessos

é

cirúrgico;

o

tratamento médico

isoladamente é ilusório. É necessário: • Extrair o dente envolvido com o abscesso (Fig. 6.4). • Retirar a cápsula do abscesso, onde se alojam as bactérias responsáveis.

Pode-se, em um primeiro momento, remover o abscesso e, em seguida, extrair o dente, após a cicatrização. Essa cirurgia é difícil, traumática e a recuperação é imprevisível; apesar de tudo, o abscesso pode recidivar. É conveniente esclarecer o proprietário e assegurar que ele está motivado para tal procedimento, antes de intervir. Quando a cápsula do abscesso é retirada, é preferível não suturar a ferida, deixando que ocorra cicatrização por granulação, realizando-se curativos diários. Eventualmente, pode-se fechar a ferida com a condição de manter em seu interior esferas de metacrilato embebidas com antibióticos, que se difundem e tratam in situ a osteomielite. Após a cirurgia, deve-se instituir antibioticoterapia de longa duração (no mínimo durante 3 semanas), utilizando uma droga efetiva contra anaeróbicos: por exemplo, metronidazol (20mg/kg, VO, duas vezes ao dia). Também, pode-se aplicar uma injeção diária de cefalexina (20mg/kg, SC) durante 10 dias.


Figura 6.4 - Raízes de pré-molares inclusas em abscesso mandibular.

PNEUMOLOGIA PARA MEMORIZAR • Os coelhos anãos, com seios ou sinus respiratórios curtos, são mais suscetíveis às infecções respiratórias. • O principal patógeno responsável por distúrbios respiratórios no coelho é a Pasteurella multocida. Muito freqüentemente está associada a outros microorganismos. • Em geral, as doenças respiratórias do coelho são crônicas. • Deve-se requisitar uma radiografia pulmonar antes de qualquer anestesia, a fim de detectar uma afecção assintomática das vias respiratórias inferiores.

Mixomatose A forma respiratória da mixomatose se manifesta com sintomas de infecção respiratória associados à tumefação de pálpebras e conjuntivite (ver "Virologia", anteriormente).


Bordetelose A Bordetella bronchiseptica freqüentemente é isolada em coelhos, mas não parece ser responsável por infecção respiratória nessa espécie. Esse microorganismo atua, acima de tudo, como um co-fator que favorece a instalação de pasteurelose respiratória. A Bordetella pode ser patogênica para cobaias, cães e gatos.

Pasteurelose A doença é provocada pela Pasteurella multocida, bactéria Gramnegativa, que apresenta várias estirpes de patogenicidade variável, Algumas delas secretam toxinas, sendo uma das toxinas dermonecrótica que favorece a adesão e a colonização da mucosa respiratória. É uma infecção freqüente nas criações. Alguns rebanhos apresentam, de modo quase permanente, sintomas respiratórios (coriza). As formas clínicas de pasteurelose não se limitam à forma respiratória; a bactéria pode ser responsável por inflamações supurativas em vários órgãos, inclusive nos genitais.

Patogenia Após o contato com a bactéria, de acordo com a virulência da estirpe e a condição imunológica natural, o coelho pode: • Resistir à infecção. • Tornar-se um portador assintomático. • Desenvolver uma doença aguda, ao fim da qual se cura ou evolui para uma doença crônica.


A transmissão pode ocorrer por meio de aerossol ou por contato direto. A bactéria resiste muito pouco às condições ambientais. É difícil estabelecer o período de incubação, pois vários coelhos permanecem portadores assintomáticos após a infecção. No entanto, relata-se o desenvolvimento de rinite, geralmente 1 a 2 semanas após a inoculação intranasal da bactéria em coelhos sadios. O microorganismo coloniza as narinas, ocasionando a produção de exsudato e corrimento nasal. Em seguida, a infecção atinge os tecidos vizinhos: seios respiratórios, canais lacrimais, ouvido médio por meio da tuba auditiva, traquéia, brônquios e pulmões. Algumas estirpes particularmente patogênicas podem causar septicemia, sintomas sistêmicos agudos e morte rápida.

Sintomas No coelho de estimação, a pasteurelose pode se manifestar sob quatro formas principais: • Forma respiratória aguda, mais freqüente em filhotes recém-saídos t de uma criação. • Coriza crônica do coelho adulto. • Forma pulmonar subclínica, revelada por imagens de infecção pulmonar durante o exame radiografia. • Infecção subclínica do ouvido médio, como emergência clínica súbita, sob a forma de síndrome vestibular (torcicolo), quando atinge o ouvido interno.

A forma respiratória aguda acomete as vias respiratórias superiores, ocasionando o aparecimento de rinite e sinusite. Nota-se:


• Secreção nasal serosa e, em seguida, mucopurulenta, com produção de exsudato que se adere às comissuras das narinas e a superfície interna da pata com a qual o coelho limpa o nariz. • Dispnéia e espirros. • Conjuntivite resultante de uma extensão da infecção pelo canal lacrimal até a conjuntiva.

Esses sintomas geralmente caracterizam a primeira infecção por P. multocida. A evolução espontânea à cura é possível, mas quase sempre se instala uma infecção crônica. A infecção crônica se caracteriza por coriza decorrente de erosão da mucosa nasal e do acometimento dos cornetos nasais. Essa forma e pouco passível de cura. A bactéria pode permanecer latente nos seios respiratórios ou no ouvido médio, tornando o animal um portador crônico. A infecção do ouvido médio pode ser assintomática. Pode-se suspeitar da doença em um coelho que coca a base da orelha, sem que haja evidência de parasitas. Quando a infecção atinge o ouvido interno, surgem os sinais de torcicolo, ataxia e nistagmo. O acometimento das vias respiratórias inferiores geralmente evolui para uma forma de infecção crônica assintomática; o estado clínico do coelho pode parecer normal, apesar do importante acometimento pulmonar. Os focos infecciosos provocam pleuropneumonia ou pericardite, com possível formação de abscessos no tecido pulmonar. Nesse caso, os sintomas não são específicos de doença respiratória: anorexia, emagrecimento e fadiga. No entanto, pode haver dispnéia de esforço O exame radiográfico pode revelar vários abscessos facilmente detectáveis,


áreas de maior densidade no tecido pulmonar e aumento de opacidade das paredes dos brônquios. Durante a necropsia, nota-se exsudato purulento nas serosas e nas vias respiratórias e abscessos pulmonares. Também é possível constatar abscessos no tecido conjuntivo subcutâneo, na região retrobulbar ou submandibular, que geralmente são conseqüências da infecção por P. multocida. Normalmente, são isolados e muito volumosos, mas não são patognomônicos desse tipo de infecção; outros microorganismos podem estar envolvidos na formação dos abscessos cutâneos. Em coelhas, a bactéria também pode causar infecção genital, na forma de mastite e piometra.

Diagnóstico Embora o quadro clínico seja muito evidente, o diagnóstico é confirmado pelo exame bacteriológico de amostras obtidas de lesões suspeitas. A cultura, que dura cerca de 4 dias, é trabalhosa e pode, com freqüência, fornecer resultados falsamente negativos.

Prognostico Na maioria dos casos, o prognóstico é reservado. A forma da enfermidade que acomete as vias aéreas superiores pode evoluir para cura quando se institui um tratamento precoce; no entanto, a coriza crônica geralmente não responde ao tratamento. Pode-se tentar "limpar" o animal com tratamento antibiótico durante algum tempo.


Tratamento Em geral, a P. multocida é sensível ao cloranfenicol, fluoroquinolonas, gentamicina, tetraciclinas e associação sulfamida-trimetoprim. O tratamento deve durar, no mínimo, 15 dias. Nos casos crônicos graves, sua administração durante 2 a 3 meses pode propiciar a remissão dos sintomas por vários meses. Nesse caso, é necessário escolher um antibiótico que seja bem tolerado pelo animal. O tratamento por meio de inalação pode ser tentado quando a simples administração de antibióticos não for efetiva. O aerossol pode ser mal tolerado por certos coelhos devido à possibilidade de irritação de mucosas. Pode-se utilizar, por exemplo, a seguinte mistura: • Gentamicina: 5mg. • Gomenol: 4mL. • Soro fisiológico: 4mL.

Aplicam-se 2 sessões de 20min por dia, durante 5 a 6 dias. Quando esses tratamentos não induzem à cura e caso ocorra agravamento do estado geral do animal, pode-se tentar o uso de timicosina (Micotil 10mg/kg, SC, uma vez ao dia, durante 3 dias, repetindo a dose 15 dias mais tarde). Essa droga, freqüentemente efetiva no tratamento de pasteurelose, deve ser utilizada apenas como último recurso, pois pode ocasionar morte súbita em coelhos.

Profilaxia Não há vacinas úteis contra pasteurelose para o coelho de estimação. A vacinação é utilizada apenas em coelhos de criação, quase sempre com autovacina. A autovacinação utilizada a título terapêutico pode ser uma alternativa futura para o


coelho de estimação, desde que se consiga isolar efetivamente a estirpe de pasteurela patogênica envolvida.

CONSELHO AOS PROPRIETÁRIOS É necessário verificar com o proprietário as condições de higiene, o ambiente e a qualidade da alimentação. Com freqüência, a pasteurelose se manifesta quando há falha em tais fatores. No caso de doença respiratória, a serragem da gaiola deve ser retirada porque é uma fonte de poeira que irrita as mucosas respiratórias e a conjuntiva ocular. Em geral, as recidivas são decorrentes de estresse ou de mudança brusca de temperatura. Deve-se alertar o proprietário para que fique atento às mudanças de estações do ano.

Neoplasias Os timomas são diagnosticados regularmente nessa espécie. Podem induzir taquipnéia e dispnéia, mas com freqüência o único sintoma é exoftalmia bilateral, em conseqüência a uma síndrome paraneoplásica que dilata o seio venoso, ao redor dos olhos. A suspeita pode ser confirmada por radiografia; o diagnóstico definitivo é confirmado pelo exame histológico de amostra obtida mediante punção guiada por ultra-som.


UROLOGIA E NEFROLOGIA

PARA MEMORIZAR • Em coelhos, as principais afecções do sistema urinário estão relacionadas à excreção urinaria de cálcio, que pode se traduzir no aparecimento de hipercalciúria ou na formação de urolitíase. • Nessa espécie, a insuficiência renal geralmente é secundária à nefrite intersticial causada por Encephalitozoon cuniculi.

Cistite e nefrite As infecções bacterianas do trato urinário são freqüentes em coelhos, mas muitas delas não são diagnosticadas porque os sintomas costumam ser discretos ou até mesmo inexistentes. A doença comumente assume uma forma crônica. Os sintomas, quando presentes, podem incluir emagrecimento, apatia, anorexia, hematúria, estrangúria e sujidades na região perineal com urina. As bactérias patogênicas isoladas com mais freqüência são E. coli, Klebsiella sp. e Pseudomonas sp. O diagnóstico é confirmado pela cultura e isolamento da bactéria na amostra de urina. Entre os antibióticos freqüentemente eficazes no tratamento dessas infecções, incluem-se a associação sulfonamidatrimetoprim (40/8mg/kg, VO ou SC, duas vezes ao dia) ou enrofloxacina (10 a 20mg/kg, VO ou SC, duas vezes ao dia).


Hipercalciúria Trata-se de uma afecção comumente observada no coelho de estimação. Os animais acometidos apresentam bexiga aumentada por uma mistura de urina turva e de material cristalóide amorfo á base de carbonato de cálcio.

Etiologia A presença de cálcio na urina é freqüente nessa espécie, na qual a absorção intestinal de cálcio não é controlada pela vitamina D, como acontece na maioria dos mamíferos. O cálcio contido na alimentação é absorvido diretamente e sem controle na mucosa intestinal, passa para o sangue e seu excesso é excretado pelas vias urinárias. Esse metabolismo particular do coelho origina urina naturalmente alcalina, cuja concentração de cálcio está diretamente relacionada ao teor do mineral na alimentação. Com freqüência, a hipercalciúria está associada à cistite infecciosa, mas não está claro se é a causa primária da infecção.

Sintomas Os sintomas são discretos. Enquanto o esvaziamento urinário não estiver comprometido, o coelho não apresenta sintoma evidente. A urina excretada é anormalmente espessa e cremosa. Pode-se palpar uma bexiga espessada, de consistência de "borracha", cuja pressão propicia a excreção de uma pasta urinaria característica.

Diagnóstico O diagnóstico é facilmente confirmado pela radiografia: a bexiga encontrase aumentada, com intensa radiopacidade difusa no interior do órgão.


Tratamento A descoberta acidental de uma bexiga opaca no exame radiografa o de um coelho sadio não deve conduzir obrigatoriamente ao tratamento, pois a excreção de urina rica em cálcio por esse animal é fisiológica. Recomenda-se o tratamento apenas quando o esvaziamento da bexiga parece um ato doloroso ou caso o estado geral do animal tenha se alterado. E necessário associar antibioticoterapia e diurese forçada. Podem se utilizar os antibióticos citados anteriormente para o tratamento de cistite. A diurese forçada pode ser induzida injetando-se, de manha e á noite, 40 a 50mL/kg de peso corporal de solução fisiológica, SC, durante 3 dias. Uma radiografia de controle deve ser obtida ao final de 3 dias de tratamento. Caso ainda persista radiopacidade, visível ao exame radiográfico, o tratamento deve ser prorrogado por mais 3 dias.

Profilaxia Para evitar recidiva, pode-se favorecer a diurese fornecendo ao animal menor quantidade de ração, dando-se preferência aos alimentos menos secos, como verduras frescas. É necessário, também, limitar o consumo de alfafa, naturalmente rica em cálcio; deve-se abolir o fornecimento de feno de alfafa, investigando-se o teor de alfafa das rações, de modo que não ultrapasse 40% e que a relação Ca:P seja de 1,2 a 1,3.

Urolitíase O alto teor de cálcio, normal na urina do coelho, bem como a grande quantidade de cristais, predispõe essa espécie à urolitíase.


Etiologia A etiologia não está bem determinada, mas a causa parece ser mais metabólica que infecciosa. Em geral, os coelhos que apresentam urolitíase ou hipercalciúria são obesos, sedentários, alimentados à vontade com ração e, freqüentemente, com história prévia de terem recebido suplementos vitamínicos e minerais. O uso abusivo de dieta seca muito rica em cálcio, o consumo insuficiente de água e a inflamação crônica das vias urinárias são as causas mais incriminadas na ocorrência da doença.

Sintomas Os cálculos são, em sua maioria, vesicais, embora possam ser constatados em todo o trato urinário. A urolitíase se manifesta por polaquiúria, disúria e, até mesmo, anúria. O períneo quase sempre apresenta sujidades por urina. A hematúria, em geral presente, pode ser diferenciada diurna pigmentação por porfirinas procedendo-se à sedimentação urinaria. Quando há dor, o coelho fica prostrado, inapetente, com o dorso arqueado e pode apresentar dilatação abdominal. Nos caso de obstrução uretral, pode-se palpar a esfera vesical.

Diagnóstico A radiografia é o exame de escolha e permite, de modo geral, visualizar os cálculos vesicais. Pode ser difícil distinguir entre cálculo renal, mineralização renal e nefrocalcinose. Nesse caso, a ultra-sonografia permite um diagnóstico diferencial.


Tratamento O tratamento de urolitíase é cirúrgico.

Profilaxia Devem-se considerar as mesmas recomendações alimentares listadas para a prevenção de hipercalciúria.

Insuficiência renal A insuficiência renal é rara. As lesões renais são constatadas com mais freqüência durante a necropsia de animais idosos; no entanto, na maioria das vezes, essas lesões não têm repercussão clínica.

Sintomas A insuficiência renal acomete essencialmente animais idosos. Os sintomas compreendem apatia, anorexia e poliúria-polidipsia. As alterações nos parâmetros

bioquímicos

são

similares

àquelas

observadas

em

carnívoros

domésticos, com aumento dos teores de uréia e creatinina.

Etiologia A insuficiência renal pode ser aguda, quando em conseqüência de um processo infeccioso (pielonefrite). Nesse caso, o exame bacteriológico da urina normalmente permite o diagnóstico de uma infecção por P. mullocida ou por Staphylococcus sp. A insuficiência renal crônica pode ser decorrente de: • Mineralização renal anormal: síndrome nefrocalcinose-calcificação aórtica, relacionada a um distúrbio metabólico induzido por excesso de cálcio e de


vitamina D na ração. Notam-se depósitos de cálcio desordenados na aorta e nos rins, bem como fibrose intersticial. • Degeneração gordurosa em animais obesos. • Nefrite intersticial: - Primária: infecção renal freqüentemente causada pelo protozoário E. cuniculi, mais comumente na forma crônica inaparente. - Secundária: decorrente de microlitíase renal ou de cálculos na pelve renal.

Tratamento Deve-se favorecer a diurese por meio de injeções subcutâneas regulares de solução fisiológica. Quando necessário, a infecção intercorrente deve ser tratada. Dá-se preferência a uma alimentação fresca, rica em verduras, limitando-se o aporte de alimentos secos. Em geral, o prognóstico é desfavorável para insuficiência renal crônica e reservado para insuficiência renal aguda.

Incontinência urinaria Sintomas O períneo e os membros pélvicos encontram-se contaminados com urina. A presença constante de urina sobre a pele causa, muito rapidamente, irritação e laceração cutânea, fonte de incômodo para o animal.

Etiologia A incontinência urinaria pode estar associada a várias causas, como: • Traumatismo da coluna vertebral, na região lombossacra. • Neoplasia.


• Encefalite por E. cuniculi. • Incontinência urinaria decorrente de castração, na coelha • Urolitíase ou hipercalciúria.

Diagnóstico O exame radiográfico pode revelar lesões vertebrais, tumores, litíases ou retenção urinaria; a infecção por E. cuniculi é diagnosticada mediante sorologia ou pela pesquisa dos esporos na urina. O diagnóstico de incontinência urinaria secundária à castração da coelha é terapêutico: os sintomas devem regredir após administração de 0,5mg de dietilestilbestrol, VO, uma a duas vezes por semana.

Tratamento No caso de incontinência urinaria decorrente da castração, além do uso de hormônio, devem-se adotar medidas higiênicas: recomenda se que o animal seja colocado sobre uma grade que permita o escoamento da urina e sua limpeza e desinfecção diária.


GINECOLOGIA

PARA MEMORIZAR • O adenocarcinoma de útero é uma neoplasia muito observada na coelha. Os sintomas são discretos. Os distúrbios digestivos recidivantes em uma fêmea idosa podem ser indicativos do tumor. A ovário-histerectomia de conveniência na coelha jovem é o melhor procedimento de prevenção. • As

lesões

características

da

sífilis

geralmente

permitem

identificar

clinicamente essa afecção, constatada de tempos em tempos no coelho de estimação. O tratamento de escolha é a administração parenteral de penicilina.

Adenocarcinoma de útero

Epidemiologia O adenocarcinoma de útero é uma neoplasia muito freqüente. As coelhas não castradas têm 80% de risco de desenvolver um adenocarcinoma de útero a partir de 5 anos de idade. Com o avanço da idade, a mucosa do endométrio torna-se repleta de fibras de colágeno. O desenvolvimento da neoplasia geralmente está associado a essa alteração. O adenocarcinoma é um tumor de desenvolvimento lento. As metástases (essencialmente pulmonares, hepáticas e ósseas) surgem somente após 1 ou 2 anos.


Sintomas Na ausência de critérios de infertilidade, os sintomas são discretos, em particular nas coelhas de estimação. Às vezes, pode-se notar hematúria no final da micção e corrimento vulvar sero-hemorrágico. O aparecimento de tumefações mamárias e sinais de íleo digestivo recidivante em uma fêmea com mais de 5 anos de idade podem ser indicativos da neoplasia.

Diagnóstico A palpação abdominal pode evidenciar hipertrofia do útero. O diagnóstico por imagem (radiografia, ultra-sonografia) é conclusivo. Em uma radiografia, o útero normal jamais é visível; a constatação de uma massa anormal no triângulo situado entre a bexiga e o cólon é um sinal muito provável de tumor de útero.

Tratamento A ovário-histerectomia é o tratamento de escolha. Quando o diagnóstico é definido antes de ocorrer metástase, o prognóstico geralmente é favorável.

Profilaxia A prevenção por meio de castração previne qualquer risco de desenvolvimento dessa neoplasia.

CONSELHO AOS PROPRIETÁRIOS A freqüência dessa neoplasia é tal que é importante informar o proprietário sobre a vantagem de realizar ovário-histerectomia de conveniência, a fim de prevenir a doença. A idade ideal para a intervenção é de 6 a 12 meses.


Infecções genitais

Metrite – piometra Trata-se essencialmente de uma afecção de coelhas de criações, raramente diagnosticada em coelhas de estimação. As principais bactérias isoladas são P. multocida e S. aureus. Ao contrário dos carnívoros, nos quais a doença geralmente se instala no útero, na coelha a infecção uterina normalmente é um sinal de infecção sistêmica. Em virtude disso, é necessário: • Verificar a existência de sinais de infecção cutânea ou respiratória, simultaneamente. • Realizar ovário-histerectomia. • Instituir antibioticoterapia sistêmica durante, no mínimo, 15 dias.

Orquite Orquite e epididimite podem acometer os coelhos. O testículo afetado apresenta edema, inflamação e, às vezes, abscesso. Recomenda-se castração associada à antibioticoterapia.

Sífilis A sífilis é pouco comum, porém regularmente constatada em coelhos de estimação. Essa doença é causada, como em seres humanos, pois um treponema (Treponema cuniculi), mas não é uma zoonose. A contaminação se faz por contato direto; os filhotes podem ser infectados pela mãe. Em geral, o animal doente tornase portador assintomático e desenvolve a doença apenas no caso de imunossupressão.


Sintomas Notam-se lesões vesiculares inflamatórias que evoluem para úlceras e crostas nos órgãos genitais e, secundariamente, nas narinas, lábios e ao redor dos olhos. Essas lesões normalmente são doloridas e podem ser causa de recusa ao acasalamento. Às vezes, pode-se palpar os linfonodos inguinais hipertrofiados. Na maioria dos casos, nota-se apenas fraqueza generalizada.

Diagnóstico O diagnóstico se baseia no quadro clínico, pois as lesões são características. Pode-se identificar o microorganismo patogênico no exame microscópico do raspado cutâneo. O exame histológico de amostras obtidas por biópsia cutânea permite a definição do diagnóstico. Há disponibilidade de exames sorológicos para investigar a doença em criações.

Tratamento A penicilina é muito efetiva no tratamento de sífilis. Pode-se utilizar, sem risco para o coelho, penicilina G procaína injetável, na dose de 40.000 a 80.000UI/kg/dia, em injeção IM ou SC única, durante 5 a 7 dias. A tetraciclina (50mg/kg, VO, duas vezes ao dia, durante 5 a 7 dias) e o cloranfenicol (50mg/kg, VO, duas vezes ao dia) são igualmente úteis.

Distúrbios metabólicos relacionados à reprodução Toxemia da prenhez Distúrbio bastante raro que, em geral, se manifesta na última semana de gestação ou imediatamente após o parto. As coelhas obesas são as mais suscetíveis.


Essa síndrome se instala quando as necessidades metabólicas necessárias à gestação não são supridas pela dieta alimentar. Estresse e desequilíbrio alimentar são fatores predisponentes. No final da gestação, a hipoglicemia pode induzir à gliconeogênese; a utilização de gorduras para produção de energia ocasiona acetonemia e degeneração gordurosa do fígado. A fêmea torna-se apática, inapetente e apresenta sinais de incoordenação motora, até mesmo de paraplegia. Em geral, a coelha morre em até 5 dias após o início dos sintomas. O diagnóstico se baseia no quadro clínico e na história epidemiológica. A doença é caracterizada pela produção de urina anormalmente ácida (pH 5 a 6) e muito clara, pois os cristais de carbonato de cálcio normalmente presentes são dissolvidos em função da acidez urinaria. Simultaneamente, há proteinúria e cetonúria. O tratamento quase sempre é ineficaz. Há necessidade de hospitalização, aquecimento do animal (que freqüentemente se encontra em estado de choque), hidratação, injeção de dexametasona (1 a 2mg/kg), alimentação por meio de sonda ou de seringa, e administração de protetor hepático (é possível utilizar os mesmos empregados em carnívoros). Recomenda-se a correção de eventual hipoglicemia mediante administração oral de solução glicosada.

Hipocalcemia Pode ocorrer hipocalcemia imediatamente após o parto ou durante a lactação (em particular na terceira semana, quando a produção de leite é maior). Diferentemente dos carnívoros, a hipocalcemia em coelhas quase nunca é acompanhada de crises de tetania, mas sim por prostração, anorexia e distúrbios circulatórios: pode-se notar cianose e hipotermia de nariz e orelhas. Sinais de


meteorismo digestivo podem estar associados. Sem tratamento, instala-se paraplegia de membros pélvicos e a coelha morre logo em seguida. O diagnóstico é clínico e epidemiológico, confirmado pela evidencia de hipocalcemia. Em geral, o tratamento é eficaz: administra-se 5mL (IV, IP ou SC) de solução de gluconato de cálcio a 10% e adiciona-se o mineral a dieta.

Neurologia

PARA MEMORIZAR • O motivo da consulta mais freqüente de um coelho de estimação com sintomas neurológicos é o aparecimento súbito de síndrome vestibular, decorrente de infecção de ouvido médio ou interno por Pasteurella sp. • O prognóstico dessa afecção geralmente é bom quando se institui um tratamento precocemente.

Torcicolo (síndrome vestibular) Em coelhos de estimação, a manifestação súbita de síndrome vestibular, comumente denominada torcicolo, é um motivo comum de consulta. As causas variadas estão apresentadas na Tabela 6.3, sendo a mais incriminada a complicação de otite interna por pasteurelose. Uma causa desconhecida na Europa, mas freqüentemente incriminada nos Estados Unidos, não está mencionada na Tabela 6.3. É a encefalopatia


provocada por larva migram de um nematódeo parasita do guaxinim (Baylisascaris procyonis). Os coelhos se infectam após a ingestão de feno contaminado com excrementos desses guaxinins.

Pasteurelose As otites médias geralmente são assintomáticas, até que a bactéria colonize o ouvido interno e provoque síndrome vestibular aguda, caracterizada por posicionamento inclinado da cabeça (ou torcicolo), ataxia e nistagmo. A bactéria pode colonizar o ouvido externo por ruptura do tímpano; nesse caso, após a limpeza, pode-se notar secreção purulenta esbranquiçada característica no fundo do conduto auditivo. Tabela 6.e 3 - Diferentes causas da síndrome vestibular em coelhos Causas Lesões nervosas Encephalitozoon cuniculi, protozoário Encefalite não purulenta parasita

(geralmente

assintomático;

vários portadores sadios) Pasteurella sp. (muito freqüente)

Otite média e interna Meningoencefalite purulenta

Staphylococcus sp. (rara)

Meningoencefalite purulenta

Listeria sp. (excepcional) Sarna Cuniculi

auricular

por

Psoroptes Não


A radiografia dorsoventral auxilia no diagnóstico de otite média: pode-se constatar opacificação das bolhas timpânicas em decorrência do exsudato e espessamento de suas paredes. Contudo, nem sempre as lesões são visíveis. O tratamento compreende a associação de antibióticos e corticóides injetáveis durante 3 a 4 dias e, em seguida, substituídos por fármacos de uso oral. Por exemplo, pode-se utilizar enrofloxacina (5 a 10mg/kg, SC, duas vezes ao dia), marbofloxacina (5mg/kg, SC, uma vez ao dia) ou cefalexina (20mg/kg, SC, uma vez ao dia), associadas à dexametasona (0,6 a 1mg/kg, SC, uma vez ao dia, durante 3 dias). Para a substituição da corticoterapia sistêmica, pode-se fazer uso oral de prednisolona (0,25 a 0,5mg/kg, duas vezes ao dia, durante 3 dias, seguida de uma vez ao dia, durante 3 dias e, finalmente, a cada 2 dias). O prognóstico é variável. Em geral, é bom quando o coelho reage favoravelmente às primeiras injeções. Alguns animais podem ficar com seqüelas, como o desvio permanente da cabeça. Em caso de falha do tratamento médico, pode-se tentar a curetagem cirúrgica da bolha timpânica acometida.

Encefalitozoonose Encephalitozoon cuniculi é um protozoário parasita de coelhos, que se desenvolve preferencialmente no cérebro, meninges e rins. Na maioria dos casos, a infecção é assintomática. Estima-se que cerca de 80% dos coelhos domésticos são portadores

sadios.

Poucos

animais

portadores

desenvolvem

a

doença.

Normalmente, não é transmissível aos seres humanos, salvo em caso de imunossupressão. Os coelhos se contaminam quando ingerem esporos eliminados pela urina; a transmissão placentária também foi demonstrada experimentalmente. Os esporos são excretados na urina 3 meses após a infecção e persistem no ambiente por mais de um mês. O coelho doente apresenta sinais de encefalite:


torcicolo, tremores, convulsões, mioclonia, paralisia e coma. No exame histológico, são observadas lesões específicas de encefalite granulomatosa. O diagnóstico se baseia na pesquisa de esporos na urina. Também há disponibilidade de exame sorológico. O resultado sorológico positivo indica que o coelho esteve em contato com o parasita, mas não assegura se há desenvolvimento da parasitose. Não existe tratamento eficaz. No entanto, pode-se tentar o uso de 20mg/kg de fembendazol, VO, durante 7 dias.

Paralisia dos membros pélvicos As possíveis causas dessa síndrome estão agrupadas na Tabela 6.4.

Traumatismo A fraqueza relativa da estrutura óssea do coelho, associada ao potencial da musculatura de seu membro pélvico, favorece uma vulnerabilidade particular dessa espécie aos traumatismos da coluna lombar. Trata-se de um dos principais acidentes que ocorrem durante a contenção do animal. Durante seu manuseio, o coelho estressado aciona um movimento reflexo de fuga, porém não pode se movimentar; a forte contração muscular destinada a propulsionar os membros pélvicos pode provocar a torção da junção lombossacra e a fratura da coluna nesse local. A prevenção do acidente consiste em respeitar as regras de contenção e não hesitar em tranqüilizar o coelho antes de efetuar uma manipulação muito estressante ao animal. Além da paraplegia, podem-se notar outros sintomas nervosos, como perda da sensibilidade cutânea e do controle dos esfíncteres uretral e anal. Em relação à sobrevivência, o prognóstico é favorável, mas a qualidade de vida do


animal é comprometida pelas escaras e irritação cutânea causadas por urina e fezes. A eutanásia é a opção mais recomendável. Tabela 6.4 - Causas de paralisia dos membros pélvicos em coelhos Sintomas Causas Lesões nervosas Paraplegia

Traumatismo

Compressão

ou

ruptura

da

medula espinal, causada por fratura ou luxação vertebral lombar

Intenso parasitismo intestinal

?

(coccidiose, verminose)

Paralisia

progressiva

dos

quartos posteriores

Toxoplasmose crônica

Encefalite não purulenta

Hipocalcemia da lactação

Não

Hereditária

(leucodistrofia

do

coelho anão)

Desmielinização do cérebro, medula espinal e nervos periféricos

Fraqueza

musculoesquelética

(membros em abdução)

Hereditária (gene autossômico

?

recessivo)

Toxoplasmose Doença causada pelo protozoário Toxoplasma gondii, cujos hospedeiros definitivos são os gatos e outros felídeos. O coelho representa um dos possíveis hospedeiros intermediários. Em geral, a infecção se instala quando o coelho ingere alimento contaminado com excrementos do gato parasitado. No coelho, ocorre a


multiplicação assexuada do parasita, geralmente assintomática. Às vezes, a infecção latente pode ocasionar uma doença crônica com sintomas nervosos: paralisia do membro pélvico em "posição de foca", além de miosite e adenite. O diagnóstico se baseia na sorologia. Não se deve utilizar clindamicina no tratamento de toxoplasmose em virtude da toxicidade do antibiótico para essa espécie. Por isso, o tratamento é à base de sulfonamidas.

Estresse pelo calor O coelho apresenta sensibilidade acentuada ao calor. A síndrome se manifesta em condições climáticas quentes e úmidas, em ambiente de ventilação insuficiente (por exemplo, durante o transporte em automóveis, nas férias de verão). Os sintomas incluem prostração, hipertermia, hiperpnéia, cianose e excreção de líquido sero-hemorrágico pelas narinas e boca. Com freqüência, essa síndrome evolui para colapso cardiovascular, com isquemia cerebral e morte. O tratamento consiste em resfriar o animal e administrar dexametasona, em dose utilizada no tratamento de choque (2mg/kg, SC). O prognóstico é reservado.

Convulsões Excepcionalmente, os coelhos manifestam epilepsia. As convulsões podem surgir em casos de: • Toxemia da prenhez, hipocalcemia da lactação. • Hipóxia secundária a enfisema, pneumonia e neoplasia pulmonar. • Azotemia e desequilíbrio eletrolítico decorrentes de insuficiência renal. • Encefalite associada à pasteurelose.


DERMATOLOGIA

PARA MEMORIZAR • A Cheyletiella parasitovorax é um ectoparasita comum (que provoca ou não sintomas). É uma zoonose potencial. • O verão é a estação mais favorável ao desenvolvimento de miíases cutâneas; as larvas de algumas variedades de moscas podem se desenvolver no tecido subcutâneo do coelho. • O Psoroptes cuniculi é o parasita específico da sarna auricular. • Além das ectoparasitoses, os coelhos comumente apresentam abscessos subcutâneos e pododermatite ulcerativa (de difícil tratamento).

Ectoparasitoses

Cheiletielose Cheyletiella parasitovorax é um ácaro que se nutre de descamações. Normalmente, habita a superfície cutânea, mas pode se aprofundar na camada córnea, cavando estruturas semelhantes a túneis. Pode ser um vetor da mixomatose. Em geral, os sintomas se restringem à descamação na porção dorsal do pescoço. No entanto, é possível notar crostas no dorso, que parecem pruriginosas. A pelagem pode apresentar densidade irregular de pêlos, como se a muda fosse interrompida. O parasita pode ser evidenciado em raspado de pele, scotch-test ou


pela escovação do coelho, em cima de um papel, do qual é possível recolher os parasitas e, em seguida, examiná-los em lupa. O ciclo do parasita é de 5 semanas; o período de tratamento deve ser de 6 semanas. Pode-se, por exemplo, aplicar um pó de carbaril , a 5% por todo o corpo do animal, duas vezes por semana, durante 6 semanas. A ivermectina é utilizada na dose de 0,6mg/kg, SC, a cada 2 semanas, totalizando três aplicações (a dose de 0,4mg/kg, geralmente recomendada, é eficaz por apenas 8 dias).

Otodectose Psoroptes cuniculi, que se desenvolve no conduto auditivo, é o ácaro responsável pela doença. Com suas peças bucais, ele destrói as camadas epidérmicas, provocando inflamação e exsudação do tegumento do ouvido externo. Quando há infestação com poucos parasitas, os sintomas podem ser bastante discretos ou até mesmo inaparentes. No início da doença, o animal balança freqüentemente a cabeça e pode se cocar. Em seguida, ocorre multiplicação dos parasitas e manifestação de prurido intenso. O conduto auditivo fica repleto de material mole amarelado, mistura de cerúmen, parasitas e restos epiteliais. O pavilhão auricular torna-se, progressivamente, um depósito de cerúmen e crostas dispostas na forma de folhetos. O prurido intenso induz a lesões do pavilhão auricular e até mesmo otoematoma. Os sintomas podem se estender até a base da orelha, ao pescoço e à cabeça. A doença raramente causa otite média ou interna, mas pode ser uma das causas de torcicolo. Entretanto, as infecções bacterianas secundárias (geralmente a pasteurelose) podem provocar síndrome vestibular quando há lesão do tímpano.


Fácil de ser diagnosticada ao exame físico, a sarna auricular é confirmada pela identificação microscópica do parasita. Como o Psoroptes cuniculi é grande, também pode ser visto diretamente no exame físico com auxílio de otoscópio. Quando se opta pelo tratamento tópico, há necessidade de tratar, obrigatoriamente, as duas orelhas. O ciclo biológico do parasita é de 21 dias. Podese insular 4 a 5 gotas de ivermectina a 1% nas orelhas, a cada 15 dias, até a cura. Também é possível aplicar duas injeções de 0,6mg/kg de ivermectina, SC, com intervalo de 15 dias. A selamectina (Stronghold) também é utilizada na forma spoton, na dose de 6mg/kg. Todos os coelhos que vivem no mesmo ambiente devem ser tratados, mesmo se não parecerem parasitados.

Miíases Durante o verão, as moscas podem depositar ovos nas pregas cutâneas dos coelhos que vivem livremente em jardins. Em seguida, as larvas resultantes se desenvolvem no tecido subcutâneo. Preferencialmente, os ovos são depositados em locais da epiderme lesionados, como escoriações cutâneas e inflamação da região perianal, quando freqüentemente suja com urina ou fezes. Nos Estados Unidos, existem as larvas das moscas da família Cuterebridae, que se desenvolvem no tecido subcutâneo dos coelhos formando um nódulo característico; contudo, essa doença não foi descrita na Europa. É necessário limpar e desinfetar as lesões. A ivermectina é ineficaz no tratamento de miíases cutâneas, sendo preferível empregar um inseticida tópico para destruir as larvas (carbamato, por exemplo). É necessário instaurar antibioticoterapia até a cicatrização cutânea. Alguns animais, aparentemente estabilizados, podem morrer de forma súbita alguns dias após o início do tratamento. A infecção de áreas necrosadas por Clostridium parece ser a origem do óbito. Por


isso, recomenda-se o uso de penicilina G procaína, efetiva contra essas bactérias (30.000 a 60.000UI/kg, IM, uma vez ao dia, durante 5 dias).

Carrapatos Ocasionalmente, os coelhos podem ser parasitados por carrapatos. Esses parasitas podem transmitir a tularemia.

Outras ectoparasitoses Além dos parasitas já mencionados, outras espécies podem, ocasional e raramente, infectar os coelhos. Dentre elas se incluem: • Sarcoptes scabiei e Notoedres cati, responsáveis pela sarna da cabeça, com possível extensão às partes baixas do corpo. • Demodex cuniculi (tratamento: loção de amitraz a 0,05%, uma vez por semana). • Trombicula automnalis. • Haemodipsus ventricoaus (piolho hematófago).

Dermatofitoses Com freqüência, a dermatofitose acomete coelhos jovens oriundos de uma criação ou de uma loja de animais. O Trichophyton mentagropbyles é o mais comumente isolado, mas o Microsporum canis também pode ser constatado. As lesões se localizam principalmente na cabeça, nas orelhas e nas patas. São semelhantes às lesões de alopecia notadas em animais de outras espécies acometidos por essa doença. O T. mentagrophytes não é fluorescente no exame com a lâmpada de Wood.


O tratamento pode ser: • Sistêmico: - Griseofulvina (Fulviderm): 15 a 25mg/kg/dia, VO. - Cetoconazol (Ketofungol): 10mg/kg/dia, VO. - Lufenuron (Program): 100mg/kg, VO, repetindo a dose um mês depois. • Local: - Enilconazol (Imaveral): 10mL diluídos em 0,5L de água, quatro aplicações com intervalos de 4 dias.

Devem-se tratar todos os congêneres e interromper o tratamento apenas quando o resultado da cultura para fungos for negativo.

Infecções bacterianas Abscessos Os abscessos de coelhos diferem daqueles dos carnívoros em função da origem, natureza e tratamento. Em geral, sua formação não se eleve a uma lesão infectada, como acontece nos carnívoros, mas quase sempre está relacionada a uma infecção generalizada. Os abscessos têm crescimento progressivo, são bem encapsulados e contêm secreção purulenta cremosa e espessa que não drena facilmente. Sua evolução é crônica e o tratamento é cirúrgico. Para prevenir recidivas, a exérese cirúrgica deve envolver toda a cápsula do abscesso, pois ela constitui um reservatório de bactérias. Com freqüência, a bactéria isolada na secreção desses abscessos é a P. multocida, é possível o isolamento, também, de S.aureus e Pseudomonas aeruginosa. Essas bactérias também podem ser encontradas em secreção de


abscessos faciais, mas estes são, na maioria das vezes, causados pela infecção das raízes de dentes por bactérias anaeróbicas que habitam a cavidade oral (Fusobacterium necrophorum, Bacteroides sp.). O tratamento é, primariamente, cirúrgico. A técnica é semelhante à da remoção de um tumor. Faz-se a dissecção dos tecidos ao redor da cápsula, evitando lesioná-la. Os abscessos faciais submandibulares são os mais difíceis de tratar, pois o tecido ósseo circunvizinho ao abscesso subcutâneo geralmente apresenta osteomielite, cujo foco é uma raiz de dente infectada. O ideal é realizar a extração dentária ao mesmo tempo, mas isso nem sempre é possível. Pode-se, inicialmente, remover a cápsula do abscesso e proceder à curetagem da porção óssea infectada, até atingir o tecido ósseo sadio. A lesão não deve ser suturada, pois o abscesso se reorganiza rapidamente, deixando que a cicatrização ocorra pela deposição de tecido de granulação; deve-se fazer a limpeza e desinfecção da ferida de manhã e à noite. Faz-se o exame bacteriológico da cápsula para a identificação do microorganismo (solicitam-se culturas em meio aeróbico e anaeróbico). A extração do dente é realizada 15 dias depois, quando já não há infecção. Outra técnica consiste na sutura da ferida, após a colocação de esferas de metacrilato embebidas com antibiótico, que se difundem persistentemente ao tecido ósseo infectado. Apesar de todas as tentativas terapêuticas, as recidivas dos abscessos são freqüentes. Após a cirurgia, deve-se instaurar antibioticoterapia sistêmica durante, no mínimo, 3 semanas. No caso de abscessos relacionados à doença dentária, o antibiótico de escolha deve ser ativo em relação às bactérias anaeróbicas (por exemplo, o metronidazol, 20mg/kg, VO, duas vezes ao dia).


Pododermatite ulcerativa Alguns coelhos apresentam inflamação ulcerativa, geralmente bilateral, em áreas das patas que ficam em contato com o solo. A região do metatarso é a mais freqüentemente acometida. Excesso de peso, manutenção do animal em piso com forma de grelha, cama úmida e mal assentada são fatores que podem provocar fragilidade cutânea e aparecimento dessa afecção. Entretanto, às vezes, esse tipo de lesão é constatado em coelhos de estimação, na ausência desses fatores predisponentes. Há possibilidade de envolvimento de um componente alérgico ou predisposição genética. No início, as lesões surgem na forma de pequenas áreas ovaladas alopécicas, com superfície mole, quente e avermelhada. Em seguida, pode-se notar ulceração, que favorece a infecção secundária (geralmente por Staphylococcus aureus). Às vezes, o tecido cutâneo está tão alterado que a infecção atinge o osso e provoca osteomielite. Uma vez instalada, essa afecção é difícil de curar; portanto, é importante que se inicie o tratamento adequado logo ao aparecimento dos primeiros sintomas. O procedimento terapêutico difere em função do estágio da doença: • Inflamação sem ulceração: - Friccionar as lesões, duas vezes ao dia, com álcool canforado ou solução de clorexidina (Hibitan). - Trocar a cama. - Propiciar atividade física, de modo que o animal não fique o dia todo no mesmo local, sem se movimentar.


- Readequar a dieta, fornecendo um suplemento alimentar (Tonivit, por exemplo). • Ulceração e infecção secundária: - Realizar exame radiográfico para investigar possível osteomielite. - Limpar as lesões (Hibitan). - Aplicar uma pomada anti-séptica e cicatrizante (Dermaflon, Sulmidot), duas vezes ao dia ou, se necessário, uma pomada que contenha antibiótico e corticóide (Cortanmycetine), durante 3 a 5 dias. -

Antibioticoterapia

parenteral

(enrofloxacina,

marbofloxacina,

sulfonamida-trimetoprim), durante 3 semanas. • Osteomielite: realizar curetagem e instaurar antibioticoterapia parenteral. O prognóstico é reservado.

Infecções virais A mixomatose pode provocar a formação de nódulos cutâneos. Do mesmo modo, a injeção da vacina contra essa doença pode provocar tal formação (fibroma de Shope) próximo ao local da injeção. A sífilis ocasiona lesões cutâneas proliferativas no nariz e nos lábios (ver "Virologia" e "Infecções Genitais").


OFTALMOLOGIA

PARA MEMORIZAR • A infecção por Pasteurella multocida causa várias lesões oculares em coelhos. • Essas lesões podem envolver o globo ocular e causar uveíte. • Podem, também, acometer os anexos oculares: conjuntivite, dacriocistite ou exoftalmia secundária a um abscesso retro-bulbar.

O exame do olho do coelho requer o conhecimento de algumas particularidades: • Os colírios à base de atropina costumam ser ineficientes para dilatar a pupila, pois muitos coelhos secretam naturalmente a enzima atropinase. Quando se deseja fazer exame de fundo do olho, é preferível utilizar um colírio à base de tropicamida (Mydriaticum collyre). • Durante o exame, devem-se considerar as seguintes particularidades anatômicas: - Os vasos sangüíneos da retina são notados apenas em uma faixa horizontal bastante estreita, situada ao lado do nervo óptico. - A inserção do nervo óptico forma uma zona de depressão fisiológica na retina. • O valor normal do teste de Schirmer no coelho anão é de 12mm. A pressão intra-ocular normal é 25mmHg.


Uveíte A infecção por Pasteurella multocida provoca uveíte aguda. Ao exame, nota-se acúmulo de pus na câmara anterior do olho. Na maioria das vezes, o estado geral do animal não se altera. Instaura-se um tratamento antibiótico tópico ou sistêmico, porém a lesão ocular costuma ser irreversível.

Distrofia de córnea A opacidade do globo ocular decorrente de distrofia de córnea pode indicar uveíte por Pasteurella; um exame mais minucioso revela a infiltração da córnea por cristais que correspondem a depósito de cálcio ou lipídios. A doença é progressiva e pode se desenvolver a ponto de infiltrar toda a superfície corneana. Não há tratamento. É útil readequar a alimentação, excluindo alimentos muito ricos em gorduras e cálcio.

Membrana epicorneana Trata-se de uma proliferação da conjuntiva bulbar que se desenvolve sobre o globo ocular, até obliterar grande parte da córnea. A causa é desconhecida. Uma doença semelhante, conhecida como "pterígio", é descrita no homem. Acreditase em etiologia genética. O tratamento é cirúrgico.

Conjuntivite Trata-se da afecção ocular mais comum em coelhos. Com freqüência é uma doença crônica e, em geral, há alta taxa de recidiva após o tratamento. Em coelhos de estimação, as duas principais causas são: • Infecção por Pasteurella multocida. • Obstrução do canal lacrimal por uma raiz de dente.


Há outras causas menos freqüentes, como infecção viral (mixomatose) ou bacteriana (Staphylococcus sp.), alergia (alérgenos presentes no ar), pó oriundo do feno e entrópio. O tratamento consiste na aplicação de colírio antiinflamatório e antibiótico e, em caso de pasteurelose, administração de antibióticos por via parenteral. CONSELHO AOS PROPRIETÁRIOS No caso de conjuntivite, é necessário remover qualquer cama que possa causar irritação ocular, particularmente a de serragem, madeira odorizada ou aquela que permite poeira, ou a cama para gatos. Deve-se dar preferência a uma cama à base de jornal.

Infecção do canal lacrimal (dacriocistite) Patogenia No coelho, existe uma estreita relação anatômica entre o dueto lacrimal e as raízes dos dentes maxilares. O trajeto desse dueto se inicia próximo às raízes dos pré-molares e continua em linha reta, até que no final ocorre seu desvio em forma de cotovelo, justamente sobre a raiz do incisivo superior. A dacriocistite tem origem infecciosa (pasteurelose) ou é secundária a um problema dentário, uma vez que qualquer pressão anormal das raízes (particularmente dos incisivos) causa obstrução do canal lacrimal. Assim, instala-se epífora e possível evolução para dacriocistite, quando uma infecção bacteriana secundária se desenvolve no dueto obstruído. O canal lacrimal se dilata, é preenchido com secreção purulenta e, no final, pode haver perfuração de sua parede.


Tratamento O tratamento, quase sempre frustrante, consiste em: • Irrigação do duelo lacrimal para remover a maior quantidade possível de pus (ver Cap. 5, "Condutas Básicas"). Na maioria das vezes, é preferível realizar tal procedimento com o animal anestesiado. • Instilar um colírio antiinflamatório e antibiótico. • Instaurar antibioticoterapia parenteral. • Recomendar ao proprietário que proceda massagens regulares no trajeto do dueto lacrimal, a fim de auxiliar na remoção da secreção.

A extração do dente incisivo, quando sua raiz está bloqueando o dueto, nem sempre é curativa, pois o dueto lacrimal pode estar seriamente lesionado. No entanto, vários casos de dacriocistite se curam espontaneamente ao longo do tempo quando a parede do dueto lacrimal se perfura, permitindo a drenagem da secreção purulenta diretamente para a cavidade nasal.

Olho de cereja Essa afecção corresponde ao prolapso, às vezes surpreendente, de uma glândula palpebral, normalmente localizada sob a terceira pálpebra. O prolapso pode ser bilateral. Inicialmente, o tratamento consiste na aplicação tópica de antibiótico (Ophtalon, por exemplo) porque, com freqüência, há infecção da glândula. Em caso de falha terapêutica e se a lesão é incômoda ao animal, pode-se remover cirurgicamente a glândula


Exoftalmia Unilateral Geralmente é secundária a um abscesso retrobulbar. Há necessidade de exame radiográfico das raízes dentárias. Pode-se extrair um ou mais dentes envolvidos no abscesso, deixando que a secreção purulenta drene pelo local da extração; deve-se ter cuidado para não lesionar o seio venoso situado posteriormente ao globo ocular e provocar hemorragia. No caso de fracasso desse tratamento, procede-se a enucleação.

Bilateral Pode decorrer da dilatação dos seios venosos situados na região posterior dos globos oculares, por causa da dificuldade do retorno venoso. Geralmente está associada a uma neoplasia localizada na região do mediastino (timoma, linfoma), que pode ser identificada por meio de radiografia da região pulmonar.

ORTOPEDIA Durante a manipulação em uma cirurgia óssea, deve-se considerar que os ossos do coelho são friáveis, frágeis e delicados. Em geral, as fraturas de membros inferiores podem ser adequadamente tratadas com a colocação de fixadores externos, muito bem tolerados pelo animal. As fraturas de membros superiores (fêmur, úmero) podem ser tratadas mediante colocação de um pino intramedular, juntamente com um fixador externo. A qualidade do osso do coelho torna a colocação de placas ósseas mais difícil que nos carnívoros; contudo, é um procedimento que pode ser utilizado (Fig. 6.5).


ZOONOSES PARA MEMORIZAR • Em geral, as zoonoses que os coelhos podem transmitir aos seres humanos, como as dermatofitoses, são benignas. • As pessoas imunodeprimidas proprietárias de um coelho de estimação, ou que possuem um roedor em sua companhia, devem ser informadas de que esses animais freqüentemente são portadores sadios de Pneumocystis sp. e, portanto, potencialmente perigosos para elas.

Figura 6.5 - Colocação de fixadores externos em fratura de tíbia de coelho.


Casos raros de tularemia, listeriose e pseudotuberculose foram descritos no coelho, mas a probabilidade de transmissĂŁo dessas zoonoses ao homem ĂŠ excepcional.


II

Caviomorfos: Cobaia, Chinchila, Degu (ou Degu do Chile)


7

Aspectos Gerais Cobaia (Cavia porcellus), chinchila (Chinchilla laniger ou C. brevicauda) e

degu (Octodon degus) pertencem à mesma subordem de roedores, os caviomorfos.

PARA MEMORIZAR Os caviomorfos têm em comum as seguintes características: • São espécies originárias das planícies elevadas do deserto andino. • Apresentam longo período de gestação em relação aos outros roedores. Suas crias são recobertas de pêlos e nascem com os olhos abertos. • Os dentes incisivos, molares e pré-molares têm crescimento contínuo, freqüentemente sujeitos à patologia dentária. • Praticam cecotrofia. O trânsito digestivo é mais lento que o de outros roedores.

BIOLOGIA A longevidade média desses animais, como mostra a Tabela 7.1, é mais elevada que a de outros roedores. Tabela 7.1 - Longevidade média dos caviomorfos Cobaia Chinchila Longevidade média (anos)

4–8

9 – 17

Degu 5–8 (10 anos no máximo)


CARACTERÍSTICAS ANATÔMICAS Embora pertençam à mesma família, cada espécie apresenta tamanho e comportamento particulares, como mostra a Tabela 7.2. A silhueta do degu, em particular, lembra mais a de um grande gerbil do que de uma espécie parente da cobaia. A fórmula dentária mostrada na Tabela 7.3 é a mesma para as três espécies. A cobaia tem dentes brancos, enquanto o degu e a chinchila apresentam dentes alaranjados, como todos os roedores. O nome degu (Octodon) deve-se à forma da superfície de seus molares desgastados, que parece um 8.

Características Fisiológicas Parâmetros fisiológicos Os principais parâmetros fisiológicos desses animais estão apresentados na Tabela 7.4. Tabela 7.4 – Características anatômicas da cobaia, chinchila e degu Cobaia Chinchila Degu Peso (g) Macho: 500 – 1200 Macho: 400 – 500 Macho ou fêmea: Fêmea: 700 – 900 Fêmea: 450 – 800 200 – 300 Comprimento do 20 – 25 25 – 30 13 – 20 corpo (cm) Número de dedos

4 dedos anteriores 3 dedos posteriores

5 dedos anteriores 4 dedos posteriores

5 dedos anteriores 5 dedos posteriores

Particularidades

Áreas de alopecia fisiológica atrás da orelha

Bolhas timpânicas muito desenvolvidas

Cauda que se escalpa facilmente


Tabela 7.3 – Fórmula dentária dos caviomorfos Incisivos Caninos Pré-molares 1/1

0/0

Molares

1/1

3/3

Tabela 7.4 – Alguns parâmetros fisiológicos dos caviomorfos Cobaia Chinchila Temperatura (ºC)

Degu

37,5 – 38,5

37 – 38

37,5 – 38,5

Freqüência respiratória (movimentos/min)

45 – 100

100

100 - 150

Freqüência cardíaca (batimentos/min)

150 – 380

100 – 150

150 - 300

Fisiologia digestiva Os caviomorfos são herbívoros estritos que praticam cecotrofia. Apresentam trato digestivo muito longo, comparado ao de outros roedores (cerca de 2,50m, na cobaia). O trânsito digestivo é lento (13 às 30h, em média; eventualmente pode demorar até uma semana). É adaptado à digestão de alimentos pouco energéticos e ricos em celulose. Um aporte insuficiente de celulose na alimentação desses animais causa, rapidamente, estase intestinal. O ceco, muito volumoso, é o principal órgão de digestão da celulose. A microbiota digestiva é composta principalmente por bactérias anaeróbicas Grampositivas (cocos e Lactobacillus spp.). A população de bacilos Gram-negativos, como E. coli, é muito pequena.

VALORES BIOLÓGICOS Bioquímica sangüínea Na cobaia, há discreta atividade de ALT nos hepatócitos. Portanto, essa enzima não é considerada um indicador de lesão hepática nessa espécie. Alguns


valores de parâmetros bioquímicos do sangue relativos a essas espécies são apresentados na Tabela 7.5.

Hematologia A cobaia apresenta leucócitos particulares, as células de Kurloff, que lembram os linfócitos, mas contêm inclusões ovóides. Há controvérsia em relação a sua origem (baço ou timo); a quantidade varia em função da idade e do estado fisiológico do animal: são raros em filhotes, presentes em pequena quantidade nos machos e numerosos em fêmeas prenhes. Tabela 7.5 – Alguns parâmetros bioquímicos do sangue de caviomorfos Parâmetros Cobaia Chinchila Degu Glicose (g/L)

0,60 - 1,25

0,60 - 1,20

0,80 – 1

0,1 - 0,3

0,10 - 0,25

0,5

Creatinina (mg/L)

6 – 22

4 - 13

15

ALT (UI/L)

25 – 59

10 - 35

56

AST (UI/L)

26 – 68

15 - 45

12

ALP (UI/L)

55 – 108

3 - 12

250

Proteína total (g/L)

42 – 68

50 – 60

68

Cálcio (mg/L

82 – 120

100 - 150

-

30 - 76

40 - 80

-

Uréia (g/L)

Fósforo (mg/L)

Como nos outros roedores, os constituintes do sangue dos caviomorfos (Tabela 7.6) diferem daqueles de carnívoros pela predominância da população de linfócitos.


Urina Os parâmetros urinários mais utilizados na rotina estão apresentados na Tabela 7.7. Tabela 7.6 – Parâmetros sangüíneos da cobaia, chinchila e degu Cobaia Chinchila Hematócrito (%)

Degu

32 - 50

25-54

26 – 54

Hemoglobina (g/dL)

10 - 17,2

11,7 – 13, 5

7,2-15

Hemácias (106mm3)

3,2 - 8

6,6 – 10,7

4,2 - 13,9

Leucócitos(103/mm3)

5,5 - 17,5

7,6 - 11,5

3,2 – 20

Neutrófilos (%)

22 - 48

23 - 45

22-48

Linfócitos (%)

39 - 72

51 - 73

25-75

Monócitos (%)

1 - 10

1-4

1-8

Eosinófilos (%)

0-7

0–3

0-8

Basófilos (%)

0-3

0–1

0-10

260 - 740

254 - 298

250 - 500

Plaquetas (103/mm3)

Tabela 7.7 – Parâmetros urinários normais dos caviomorfos Parâmetros Cobaia Chinchila pH Densidade

Degu

9,0

8,5

6

≥ 1,045

≥ 1,045

1,015

CONSELHOS PARA CRIAÇÃO Modo de vida É importante conhecer o modo de vida desses animais, resumido na Tabela 7.8, a fim de oferecer-lhes as melhores condições possíveis de criação.


Alojamento Cobaia Utiliza-se o mesmo tipo de gaiola e os mesmos arranjos utilizados para o coelho. É necessário providenciar um esconderijo, muito apreciado pelo animal.

Chinchila As gaiolas devem ser bastante altas para permitir que o animal escale. O piso deve ser recoberto com cama absorvente e feno. Vários acessórios são indispensáveis: • Diversas prateleiras que servem como poleiros, colocadas em diferentes alturas, • Casinha colocada no alto. • Roda de exercício de grande diâmetro.

Tabela 7.8 - Modo de vida no hábitat natural da cobaia, chinchila e degu Atividade

Cobaia

Diurna

Comportamento social

Grupos de 8 a 10 indivíduos

Ato de

Hibernação

escalar

natural

Não

Não

Sim

Não

Sim

Não

Macho dominante

Chinchila

Noturna

Grupos com dezenas de indivíduos Fêmea dominante

Degu

Diurna

Grupos com dezenas de indivíduos

• Vasilha (do tipo com bocal redondo) contendo uma areia particular parecida com cinzas vulcânicas, colocada à disposição uma vez ao dia, durante 20min. • Pode-se, também, colocar no fundo da gaiola uma raiz de madeira grossa, sobre a qual o animal gosta de se instalar.


Degu O degu tem necessidades semelhantes às da chinchila. A gaiola deve ter as mesmas particularidades. Também aprecia a roda e os banhos de areia. CONSELHO AOS PROPRIETÁRIOS A gaiola deve ser colocada em um local protegido de correntes de ar. Nenhum desses animais suporta bem o calor. A cobaia, que gosta do carinho e da companhia de pessoas, sai com muita freqüência da gaiola. As saídas da chinchila e do degu, geralmente mais rebeldes ao manuseio pelas pessoas, são menos freqüentes. Os costumes de escalar e de explorar expõem tais animais a vários acidentes domésticos, quando deixados sem vigilância.

Alimentação Cobaia PARA MEMORIZAR • A cobaia, como os seres humanos, não possui a enzima necessária para a síntese de vitamina C. • A carência de vitamina C é responsável por afecções dentárias, musculares e cutâneas. • A necessidade diária dessa vitamina varia de 15 a 20mg/kg; esse valor é o dobro no caso de doenças ou de prenhez.

Uma dieta diária adequada para uma cobaia deve conter: • 3 a 4 colheres de sopa de ração para cobaia (20% de proteínas e 16% de fibras).


• Quantidade generosa de verduras e legumes (previamente lavados e secos para prevenir contaminação pela Yersinia, presente em vegetais sujos com excrementos de aves). • Feno de boa qualidade, à vontade. • Água fresca e em quantidade apropriada (em bebedouro adaptado).

A cobaia tem necessidade de livre acesso à boa quantidade de feno, pois tem o hábito de roer continuamente. A alimentação de uma cobaia jovem deve ser a mais variada possível, pois é nessa idade que define seus hábitos alimentares, difíceis de modificar posteriormente. Os hábitos desse animal podem ser tão rígidos que ele pode parar de beber água quando o bebedouro é transferido para outro lugar. CONSELHO AOS PROPRIETÁRIOS A melhor maneira de fornecer vitamina C para a cobaia é oferecer quantidade diária adequada de legumes frescos (brócolis e couve de Bruxelas são os legumes que contêm os teores mais elevados de vitamina C). Também, pode-se fornecer espinafre, endívia, talos de cenoura e de rabanete, salsinha e cebolinha, entre outros. Normalmente, os alimentos comerciais destinados a coelhos e cobaias não contêm quantidade suficiente de vitamina C. A vitamina C contida nas rações granuladas se degrada e desaparece em 9 a 12 semanas após a abertura do pacote. A vitamina C, na formulação para uso em gotas, quando fornecida à água do bebedouro, deve ser adicionada diariamente, de modo a evitar ingestão insuficiente, em virtude de sua degradação. O fornecimento de legumes fermentados ou muito frios (de geladeira) pode desencadear distúrbios digestivos. A verdura não consumida deve ser retirada do alcance do animal depois de 1h. A cobaia ingere muita água (100 a 300mL/dia de água, para um adulto). Quando se altera o modo de fornecimento de água, é necessário verificar se o animal ingere volume adequado.


Chinchila PARA MEMORIZAR • A chinchila não é adaptada para digestão de verdura fresca. • O feno e as rações granuladas, preparadas especialmente para essa espécie, são a base de sua alimentação.

A dieta da chinchila deve conter grande quantidade de fibras grosseiras com baixo teor calórico. As rações granuladas para chinchila devem conter 15 a 20% de proteínas, 15 a 18% de fibras, e 2 a 5% de gordura. São produzidas em pequenos cilindros, ligeiramente mais compridos que os utilizados para coelhos e cobaias, tornando-as mais facilmente preensíveis, pois a chinchila tem o hábito de segurar o alimento com os dedos. O consumo diário de ração varia de 2 a 3 colheres de sopa por animal. Uma alimentação muito rica em proteínas provoca alteração do pelame da chinchila, que se torna fraco e ondulado (síndrome do pelame de algodão). É importante que sempre haja feno seco disponível para a chinchila se alimentar. É o alimento que mais se assemelha ao que ela encontra na natureza. As fibras grosseiras estimulam o peristaltismo e auxiliam na prevenção de disfunções digestivas, como amolecimento de fezes, acúmulo de tricobezoares no estômago e estase intestinal.


CONSELHO AOS PROPRIETÁRIOS Os legumes e as frutas devem ser introduzidos gradualmente, permitindo detectar eventuais intolerâncias; a quantidade diária não deve exceder 2 a 3 colheres de café. As guloseimas que podem ser fornecidas em quantidade razoável incluem frutas secas, nozes, amêndoas, avelãs e sementes de girassol.

Degu As necessidades nutricionais do degu são muito semelhantes às da chinchila. No mercado, há disponibilidade de rações granuladas especialmente produzidas para esse animal, as quais são suplementadas com feno. Pode-se fornecer verduras e ramos de aveleiras para o animal roer, duas vezes por semana. CONSELHO AOS PROPRIETÁRIOS Não se deve fornecer guloseimas açucaradas em grande quantidade porque esses animais podem desenvolver diabetes. O consumo de grãos, inclusive de amendoim, deve ser limitado porque o excesso causa sobrecarga de gordura no fígado.

Bebedouro A água deve ser deixada à disposição dos animais permanentemente. Os bebedouros são preferíveis às vasilhas colocadas no fundo da gaiola, cujo conteúdo se contamina rapidamente. A água deve ser renovada todos os dias e os bebedouros desinfetados uma vez por semana, a fim de prevenir a proliferação de microorganismos oportunistas, como Pseudomonas aeruginosa, que normalmente


está presente em pequena quantidade na flora digestiva, mas sua proliferação pode se tornar patogênica. CONSELHO AOS PROPRIETÁRIOS A água deve ser fornecida em bebedouro, ao invés de vasilha. A água deve ser obrigatoriamente trocada todos os dias e o bebedouro desinfetado uma vez por semana. Após a instalação de um novo bebedouro ou após sua mudança de lugar, é necessário verificar se o animal está ingerindo uma quantidade adequada, com atenção especial à cobaia, que é um animal facilmente perturbável por mudanças de manejo.

REPRODUÇÃO A Tabela 7.9, que agrupa as principais características reprodutivas dessa família, mostra que a chinchila é nitidamente menos prolifera que a cobaia e a fêmea degu.

Sexagem A sexagem é um procedimento difícil em animais jovens. É necessário se basear na distância entre o orifício genital e o ânus, que é quase duas vezes maior nos machos, em relação às fêmeas. A fêmea chinchila possui um clitóris muito proeminente, em forma de cone, que pode ser confundido com um pênis. Nos caviomorfos, o orifício genital da fêmea é recoberto por uma membrana, exceto durante o cio e no momento do parto.


Tabela 7.9 – Características reprodutivas dos caviomorfos Cobaia Chinchila

Degu

Maturidade sexual

Macho: 10 semanas Fêmea: 6 semanas

Macho: 9 meses Fêmea: 4-5 meses

Macho: 5-6 meses Fêmea: 3-5 meses

Época de acasalamento

O ano todo

Novembro a maio

O ano todo

Ciclo

15 - 17 dias Poliéstrica

30 - 50 dias Poliéstrica (taxa de fertilidade: 40%)

? Poliéstrica

Cio após o parto

12 às 48h após o parto

Ovulação

Espontânea

Espontânea

Espontânea

Duração da gestação

59 - 72 dias (gestação mais curta quando a ninhada é numerosa)

110-120 dias

87-93 dias

Número de crias

1 - 6 (média 3 - 4)

1 - 5 (média 2)

1 - 10 (média 5)

Peso ao nascimento

60 - 110g

30 - 60g

15g

Número de mamas

1 único par

3 pares

7 pares

Idade da desmama

2-4 semanas

3 - 6 semanas

4 - 6 semanas

Particularidades

Muito prolifera O primeiro parto deve acontecer antes dos 6 meses (depois disso a sínfise pubiana se funde) Não há agressão de filhotes por outros animais

Pouco prolifera As outras fêmeas podem ser agressivas com os filhotes O macho pode ficar com a ninhada, caso a fêmea permita

Muito prolifera Os filhotes abrem os olhos somente aos 3 dias. Separar a fêmea lactante das outras fêmeas O macho se ocupa dos filhotes

Criação artificial Pode-se alimentar as chinchilas e os degus órfãos com sucedâneo de leite para carnívoros. Para as cobaias, que produzem leite com menor teor de lipídios e proteínas, utiliza-se uma mistura de 80% de leite de vaca integral e 20% de água, adicionando-se algumas gotas de vitamina C. Pode-se utilizar uma mamadeira pequena ou um conta-gotas para a alimentação dos filhotes


8

Procedimentos e Cuidados Básicos

CONTENÇÃO Cobaia A cobaia é um animal de fácil manuseio. Raramente morde. Quando se pretende examinar a cavidade oral com um especulo, pode ser enrolada em uma toalha. A cobaia não deve ser mantida durante muito tempo em posição de decúbito dorsal, principalmente se apresentar dificuldade respiratória. O estresse pode provocar um colapso fatal.

Chinchila Jamais se deve pegar uma chinchila pela pele do dorso, pois quando se sente agredida solta os pêlos na mão de quem a manipula. O melhor que se faz é imobilizar a base da cauda entre o dedo médio e o indicador e deixar que o animal repouse as patas anteriores no antebraço de quem a segura. Em seguida, pode-se colocar a outra mão sobre o dorso do animal, mantendo o polegar sobre uma das patas anteriores e o dedo anular sobre a outra.

Degu Não se deve jamais segurar um degu pela cauda, pois com um reflexo de autodefesa ele a solta na mão de seu agressor. A contenção pela pele do pescoço é estressante para o animal, que pode se virar para morder. É preferível a contenção com auxílio de uma toalha.


COLETA DE AMOSTRAS PARA EXAME O local de coleta de sangue mais produtivo é a veia cava anterior. A coleta é realizada com o animal tranqüilizado (o ideal é uma anestesia de curta duração com isofluorano, utilizando-se uma máscara).

ANTIBIOTICOTERAPIA Esses animais têm a mesma sensibilidade aos antibióticos que os coelhos. Os medicamentos tóxicos para os coelhos são igualmente tóxicos para esses roedores.

ANESTESIA PARA MEMORIZAR • Deve-se preferir anestesia inalatória. • Para prevenir hipotermia, faz-se a cirurgia sobre um colchão térmico e se proporciona vim ambiente aquecido durante a recuperação (bolsa de água quente ou lâmpada incandescente). • Deve-se aplicar um gel oftálmico protetor durante a anestesia, pois o globo ocular saliente desses animais predispõe ao ressecamento.

Nesses pequenos animais, é preferível utilizar anestesia inalatória, que é mais segura e de efeito facilmente reversível, o que não acontece com a anestesia fixa. Seja qual for o método empregado, é indispensável minimizar a hipotermia induzida pela anestesia, utilizando um colchão térmico sobre o qual se coloca o animal adormecido.


Nos roedores, a cetamina utilizada isoladamente não provoca sedação adequada. Além disso, mesmo em dose elevada, esse fármaco não induz efeito analgésico suficiente para permitir uma cirurgia. Em geral, são utilizadas as associações apresentadas na Tabela 8.1. Tabela 8.1 - Fármacos utilizados para anestesia fixa de caviomorfos Fármacos Dose (mg/kg) Observações Acepromazina + cetamina

(0,5) + (20 - 40)

Anestesia leve

Diazepam + cetamina

(3 – 5) + (20 – 40)

Sem analgesia

Xilazina + cetamina

(3 – 5) + (20 – 40)

Anestesia cirúrgica

Metedomidina + cetamina Atipamezol (antídoto)

0,5 + 40 1

Analgesia Depressão cardiovascular (pode ser necessária uma máscara com oxigênio)

Tiletamina + zolazepam

20 + 40

Anestesia leve

NOTA – Em cobaias, há grande variação individual ao efeito da cetamina (a dose pode atingir 100 a 150mg/kg).


9

Principais enfermidades

COBAIA

PARA MEMORIZAR • A carência de vitamina C é freqüente, sobretudo no animal jovem. É prudente suplementar uma cobaia com vitamina C, sistematicamente, quando ela está doente. • Um motivo de consulta comum é a anorexia, sintoma com freqüência relacionado à má oclusão bucal ou à estase digestiva. A vida do animal corre risco a partir do momento em que ele pára de se alimentar, pois nessa condição a lipidose hepática se instala rapidamente. • As infecções pulmonares requerem tratamento de longa duração e, no caso de cobaias, o prognóstico é sempre reservado. • Com freqüência, as cobaias estão sujeitas à dermatofitose e, em geral, são parasitadas por um parasita específico, o Trixacarus caviae. • As fêmeas que parem após 6 meses de idade têm grande risco de distocia, por causa da perda da elasticidade da sínfise pubiana. • As cobaias apresentam sensibilidade particular à criptosporidiose, doença que pode causar enterite grave nesse animal.


Distúrbios metabólicos

Anorexia A inapetência é um motivo freqüente de consulta em cobaias. É um sintoma inespecífico que pode ser ocasionado por qualquer enfermidade. Quando esse sintoma persiste por mais de 2 ou 3 dias, instala-se um quadro de lipidose hepática, colocando em risco a vida do animal, especialmente daquele obeso. As cobaias parecem reagir mal à doença e têm uma maneira estranha de não lutar, de recusar os alimentos e de se depauperar, quando doentes. Portanto, é indispensável a alimentação forçada de uma cobaia com anorexia (com compotas ou purê de legumes fornecidos com seringa), ainda que o diagnóstico não tenha sido definido.

Carência de vitamina C As cobaias não sintetizam a enzima que permite a transformação de glicose em ácido ascórbico. Sem o ácido ascórbico, torna-se impossível a síntese de colágeno pelo organismo. O colágeno é indispensável para a formação e manutenção da integridade dos vasos sangüíneos. Ele participa na formação dos ligamentos das articulações e dos ligamentos que mantêm os dentes presos à gengiva. Portanto, carência de ácido ascórbico na dieta ocasiona desorganização progressiva dessas estruturas.

Sintomas nos animais jovens O quadro clínico típico envolve um animal jovem recentemente adotado, que o proprietário leva à consulta em decorrência da paralisia dos membros pélvicos.


Ao exame físico, tem-se a impressão de que a cobaia não apresenta paralisia, mas não consegue se locomover porque as articulações dos membros pélvicos encontram-se edemaciadas e doloridas. Além disso, os dentes podem amolecer e a abertura da boca pode ser dolorosa. A anamnese indica aporte insuficiente de vitamina C na alimentação (o fornecimento de uma ração com baixo teor de vitamina C durante 15 dias é suficiente para que o animal manifeste os primeiros sintomas de carência).

Sintomas nos animais adultos Os sintomas nos adultos são mais inespecíficos. É possível notar animais letárgicos, com anorexia e secreção ocular e nasal. As fezes podem estar amolecidas e fétidas em razão da deficiência de ácidos biliares. Má oclusão dentária e pododermatite também são sintomas de carência de vitamina C.

Tratamento É suficiente a administração diária de 50 a 100mg/kg de vitamina C (VO ou SC), durante 7 dias. Normalmente, a melhora ocorre muito depressa. É preciso reavaliar a dieta e a suplementação de vitaminas. A vitamina C absorvida permanece no organismo durante 4 dias.

Deficiência de vitamina E Essa carência é rara, pois os alimentos preparados para a cobaia são, em geral, corretamente suplementados com α-tocoferol (vitamina E). Deve haver 50mg/kg da vitamina de alimento. Contudo, a cobaia é muito sensível a essa carência, que se manifesta com dores musculares e distúrbios reprodutivos


(infertilidade, abortamento). O tratamento consiste na administração diária de vitamina E (5 a 10mg/kg).

Má oclusão É uma afecção muito freqüente em cobaias. Os dentes crescem e impedem o fechamento correto da boca (Fig. 9-1), fazendo com que o animal mastigue mais frouxamente os alimentos. O tratamento consiste no desgaste das coroas dentárias até a gengiva. Após a cirurgia, é necessária hospitalização porque a cobaia não conseguirá se alimentar sozinha durante alguns dias. Os músculos mastigatórios, estirados durante um longo período devido ao alongamento dos dentes, ficam doloridos durante cerca de 10 dias após o desgaste dentário. Apesar da administração de analgésicos, a cobaia ainda pode recusar o alimento durante alguns dias. A etiologia dessa afecção é multifatorial: • Predisposição genética. • Dieta com baixo teor de vitamina C. • Desgaste insuficiente dos dentes em virtude da dieta composta por muita ração e baixo teor de fibras.

Os sintomas podem ser discretos; o animal pode ser levado ao veterinário simplesmente porque apresenta anorexia. Com muita freqüência, nota-se secreção salivar anormal ao redor da boca. Às vezes, parece haver luxação do maxilar inferior, pois em conseqüência do alongamento das coroas dentárias ocorre deslocamento do maxilar inferior para frente (Fig. 9-1). Fisiologicamente, a cavidade bucal da cobaia contém restos de alimentos que podem dificultar a visualização dos dentes. Após a limpeza com solução


fisiológica, inspeciona-se a arcada dentária superior, investigando a formação de pontas de dentes cortantes à mucosa da bochecha, e a arcada dentária inferior, verificando possível crescimento excessivo dos molares no sentido da língua podendo, às vezes, formar uma verdadeira ponta. O tratamento requer o desgaste das coroas dentárias com um pequeno motor de uso odontológico, seguido de alguns dias de hospitalização, indispensável para a alimentação forçada do animal e sua hidratação. Os analgésicos (Temgesic, Finadyne, por exemplo) destinam-se ao alívio da dor pós-operatória e da condição dolorosa decorrente do alongamento dos músculos maxilares. Não se deve esquecer de suplementar a dieta com vitamina C e fibras.

Figura 9.1 - Radiografia lateral de uma cobaia mostrando crescimento excessivo dos dentes pré-molares e molares, ocasionando deslocamento do maxilar inferior para frente.

Pneumologia As cobaias são muito sensíveis às infecções respiratórias causadas por Bordetella bronchiseptica e Streptococcus pneumoniae. O coelho, com o qual a cobaia costuma coabitar, em geral é portador sadio da Bordetella. O prognóstico sempre é reservado; o tratamento é demorado e nem sempre é efetivo.


Os sintomas incluem anorexia, dispnéia, secreção nasal e ocular. Essas bactérias causam broncopneumonia purulenta, com colonização freqüente da bolha timpânica, responsável por torcicolo. Também pode ocorrer abortamento e metrite. Os antibióticos utilizados são oxitetraciclina (50mg/kg, VO, duas vezes ao dia), tetraciclina (10 a 20mg/kg, VO, duas vezes ao dia) - medicamentos geralmente

eficazes,

fluoroquinolonas

porém

(por

podem

exemplo,

2

induzir a

enterotoxemia

5mg/kg/dia

de

em

cobaias

-,

marbofloxacina),

sulfonamida-trimetoprim (30mg/kg, VO, duas vezes ao dia), tilosina (10mg/kg, duas vezes ao dia). O tratamento deve durar, no mínimo, 15 dias. A inalação, como indicada para coelhos, pode ser útil. As cobaias acometidas pela doença costumam apresentar anorexia e, portanto, devem ser submetidas à alimentação forçada e hidratação, até que se recuperem.

Dermatologia Linfadenite cervical A presença de um linfonodo retromandibular que contém secreção purulenta espessa é motivo freqüente de consulta de cobaias. Na maioria das vezes, a infecção é causada por Streptococcus zooepidemicus, bactéria normalmente presente nas cavidades nasais e na conjuntiva desse animal. A penetração do microorganismo é favorecida por lesões da mucosa provocadas por má oclusão dentária, alimentação muito abrasiva ou mordida. O estresse é um fator desencadeante. A infecção se estabiliza nesse estágio de abscesso, embora seja possível a instalação de septicemia. A remoção cirúrgica do linfonodo associada à antibioticoterapia sistêmica durante 8 a 10 dias é o tratamento mais efetivo.


Inflamação labial A presença de eritema e de crostas na comissura labial é um motivo de consulta regular de cobaias. Na maioria das vezes, o estado geral não se altera e o animal se alimenta normalmente. A

bactéria

mais

freqüentemente

isolada

dessas

lesões

é

o

Staphylococcus aureus, mas sua etiologia em geral é multifatorial; também, pode-se isolar um poxvírus. Os fatores predisponentes a tal afecção incluem deficiência de vitamina C, microtraumatismos da mucosa labial ocasionados por alimentação muito abrasiva, bebedouro defeituoso ou má oclusão dentária. As lesões devem ser limpas duas vezes ao dia com solução anti-séptica (Hibitan, por exemplo). Normalmente, é preciso realizar exame bacteriológico e instaurar antibioticoterapia parenteral apropriada. A má oclusão dentária, se presente, é tratada; deve-se fornecer vitamina C. O proprietário deve ser informado de que o tratamento é demorado.

Pododermatite É uma afecção muito freqüente e de difícil tratamento em cobaias. A etiologia é complexa e não está completamente elucidada. A cobaia excreta naturalmente grande volume de urina e, como nem sempre tem o reflexo de fazer suas necessidades fora de sua área de repouso, ela pode permanecer em uma cama úmida e suja durante grande parte do dia. Também são considerados fatores predisponentes as carências de vitaminas C e A, obesidade e cama inadequada. Freqüentemente, isola-se Staphylococcus aureus, mas a presença dessa bactéria parece ser secundária aos fatores anteriormente citados. A pata torna-se avermelhada e edemaciada, geralmente sensível à manipulação. O animal recusa a


se movimentar. Secundariamente, surge uma úlcera plantar, que pode evoluir em profundidade até provocar osteomielite. A forma inflamatória e não ulcerada pode ser tratada com uma pomada que associe antibióticos e corticóides (Cortanmycetine pomada, por exemplo). Pode-se instaurar antibioticoterapia parenteral (por exemplo, 10mg/kg de tilosina, VO, duas vezes ao dia), suplementar a dieta com vitaminas e rever as condições do ambiente do animal. Em caso de falha do tratamento, pode-se tentar a injeção de antibiótico diretamente na pata acometida. A forma ulcerada requer curetagem e colocação de pensos protetores, até a cicatrização. O prognóstico é reservado, em especial quando há ulceração.

Alopecia A alopecia não pruriginosa pode ter, essencialmente, duas origens: • Comportamental: - Os animais dominados são obrigados a comer os pêlos por seus congêneres dominantes. - Os filhotes não desmamados tendem a engolir os pêlos de sua mãe. - O animal ansioso pode ter um comportamento de automutilação. • Hormonal: - Alopecia transitória em fêmeas no final da gestação. - Alopecia bilateral simétrica em fêmea idosa, secundária ao hiperestrogenismo

induzido

por

cistos

ovarianos.

Indica-se

ovariectomia. Também é possível aplicar duas injeções de HCG (1.000UI, IM), com intervalo de 7 dias, ou administrar acetato de clormadinona (10mg/kg de Luteran, VO, a cada 6 meses).


Dermotofitose O Trichophyton mentagrophytes é o fungo mais incriminado; o Microsporum canis também pode ser isolado. Estima-se que 15% das cobaias são portadoras sadias. A dermatofitose é uma infecção freqüente em porquinhos-daíndia jovens mantidos em condições ambientais inadequadas. E comumente observada nas visitas em lojas de venda de animais. Em geral, as lesões iniciam na cabeça e nas orelhas, na forma de pequenas áreas de alopecia, com escamas e crostas. Complicações como hipersensibilidade e infecções bacterianas secundárias são freqüentes; nesses casos, as lesões tornam-se pruriginosas. O diagnóstico se baseia nos mesmos exames utilizados na identificação da doença em carnívoros domésticos. No tratamento, pode-se utilizar griseofulvina (25mg/kg/dia, VO, durante 3 semanas), mas o uso diário do medicamento por um longo período costuma ser difícil nesses animais; além disso, esse fármaco pode ser tóxico aos filhotes e ter efeito teratogênico em fêmeas prenhes. O lufenuron (Program) é uma alternativa interessante. Pode ser utilizado por via oral, na dose de 80 a 100mg/kg, durante 3 dias consecutivos e, em seguida, com intervalos de 15 dias. Em nossa experiência, a forma injetável desse medicamento parece igualmente efetiva e bem tolerada. Emprega-se a mesma posologia, repetindo a injeção um mês depois. Pode-se completar o tratamento com aplicações locais de enilconazol (solução a 0,2%, em intervalos de 4 dias).


Ectoparasitas Ácaros O principal causador de sarna em cobaias é o Trixacarus caviae, parasita específico dessa espécie, que cava galerias na epiderme e provoca prurido intenso. O Chirodiscoides caviae é um ácaro parasita que habita a base dos pêlos, cuja infestação pode provocar prurido mas, em geral, é assintomática. O Trixacarus caviae pode estar presente no animal durante muito tempo, sem ocasionar sintoma algum; condições de estresse podem propiciar sua multiplicação. Normalmente, os locais preferidos pelo parasita são pescoço e escapulas, também podendo ser encontrado no abdome e na parte interna das coxas. Notam-se escoriações e crostas secundárias às lesões provocadas por mordidas e unhadas em decorrência de coceira. O prurido pode ser tão intenso a ponto de a cobaia apresentar convulsões. Na ausência de tratamento, a doença evolui para a morte em algumas semanas. O diagnóstico se baseia no raspado de pele, mas os parasitas nem sempre são encontrados com facilidade, pois costumam ser pouco numerosos e se localizam profundamente na derme. O tratamento deve se prolongar durante todo o ciclo do parasita, que é de 14 dias. Utilizam-se ivermectina (Ivomec), na dose de 500µ µg/kg, SC, em três injeções com intervalo de uma semana, e selamectina (Stronghold) na forma spoton, na dose de 6 a 15mg/kg, com uma segunda aplicação 15 dias depois.


Piolhos Gliricola porcelli e Gyropus ovalis são piolhos malófagos cuja infestação, em cobaias, geralmente é assintomática. Quando em grande quantidade, podem provocar queda de pêlos e prurido. O diagnóstico se baseia na identificação dos piolhos a olho nu. Ao exame microscópico, é possível notar ovos dos parasitas aderidos aos pêlos. A transmissão desses parasitas se faz por contato direto. A ivermectina, nas mesmas doses que para a sarna, é efetiva. Pode-se utilizar também um pó à base de carbaril, duas vezes por semana, durante 3 semanas.

Pulgas A cobaia pode se infestar com pulgas de cães e gatos. Para o tratamento são utilizados os mesmos medicamentos e as mesmas posologias indicadas para os coelhos.

Neoplasias cutâneas As neoplasias cutâneas constatadas com mais freqüência em cobaias geralmente são benignas; trata-se do adenoma sebáceo e do tricofoliculoma (tumor de folículo piloso). São tumores isolados, normalmente de fácil remoção.

Otoematomas São afecções de origem desconhecida, diagnosticadas de tempos em tempos nessa espécie. Em geral, o animal não demonstra desconforto com o otoematoma, cujas características são semelhantes àquele que acomete carnívoros. O tratamento é o mesmo utilizado para cães e gatos.


NEUROLOGIA Síndrome vestibular Essa síndrome se manifesta na forma de torcicolo. A radiografia das bolhas timpânicas geralmente mostra opacificação da bolha do lado do desvio da cabeça. Na maioria das vezes, a otite corresponde à infecção por Bordetella bronchiseptica

ou

por

Streptococcus

pneumoniae.

Portanto,

recomenda-se

radiografia da área pulmonar para investigar sinais de pneumonia simultânea.

Meningoencefalomielite As cobaias podem ser infectadas por um poliovírus que provoca paralisia ascendente e evolui para a morte em 2 semanas. O sintoma inicial pode ser incontinência urinaria ou claudicação de membro posterior. Não há tratamento. A cobaia pode ser portadora sadia do vírus da coriomeningite linfocitária, que acomete principalmente o hamster e o camundongo; ela pode albergar o Encephalitozoon cuniculi sem manifestar sintoma.

Estresse pelo calor A cobaia é muito sensível ao calor. No verão, esse distúrbio é observado com muita freqüência durante o transporte do animal no carro. O animal acometido desenvolve colapso cardiovascular caracterizado por prostração, tremores ou convulsões, taquipnéia, cianose, hipertermia e exsudato nasal e oral seroso com estrias de sangue. O prognóstico é desfavorável; é preciso refrescar o animal, fornecer oxigênio e administrar dexametasona em dose para tratamento de choque (2 a 4mg/kg, SC).


Oftalmologia As afecções oculares são raras em cobaias. Ocorre principalmente conjuntivite. Em geral, a conjuntivite infecciosa está associada às infecções por Bordetella bronchiseptica e Streptococcus pneumoniae. Também pode ser causada pela infecção por Chlamydopbila caviae. Essa infecção é comumente descrita em cobaias jovens, com 2 a 8 semanas de idade. Os animais adultos quase nunca desenvolvem a doença. O período de incubação é de 2 a 4 dias; as aves representam o reservatório dos microorganismos, mas o germe pode ser enzoótico em uma criação de cobaias. A transmissão entre animais ocorre por meio de inalação e pelo contato sexual. A clamidiose se cura de forma espontânea em 3 a 4 semanas. Às vezes, o vírus da coriomeningite linfocitária pode causar conjuntivite em cobaias. Uma amostra de secreção conjuntival permite isolar o microorganismo responsável. A conjuntivite crônica da cobaia tende a evoluir para ceratite ulcerativa. Deve-se instaurar antibioticoterapia parenteral. O tratamento consiste na aplicação de uma pomada antibiótica (Ophtalon, por exemplo) de manhã e à noite, e uma gota de colírio antiinflamatório à base de flurbiprofeno (Ocufen), de manhã e à noite.

GINECOLOGIA Distocia Na cobaia fêmea, ocorre à abertura da cartilagem da sínfise pubiana durante a gestação, sob a influência de um hormônio hipofisário, a relaxina. Antes do parto, o espaçamento entre os dois ossos atinge até 3cm, facilitando a passagem dos fetos. Quando o primeiro parto da fêmea não ocorre antes de 6 a 7 meses de


idade, a sínfise tende a se ossificar e a ser menos sensível à ação da relaxina. O espaçamento insuficiente dos ossos pubianos acarreta risco de parto distócico. Quando o período de gestação da cobaia excede 72 dias, pode-se considerar que realmente há distocia. Pode-se verificar a abertura da sínfise pubiana colocando-se um dedo embaixo da pelve da fêmea. Caso o espaço seja superior a 2,5cm, pode-se suspeitar de atonia uterina e administrar ocitocina (0,2 a 3UI/kg) e gluconato de cálcio (100mg/kg, IM). Sendo o espaço inferior a 2,5cm, trata-se de ossificação da sínfise pubiana, havendo necessidade emergencial de cesariana.

CONSELHO AOS PROPRIETÁRIOS Para prevenir qualquer problema de parto, deve-se permitir que a cobaia tenha seu primeiro parto antes de completar 6 meses de idade e evitar que as fêmeas obesas reproduzam.

Toxemia da prenhez A toxemia da prenhez se manifesta no último terço da gestação. As fêmeas obesas são predispostas a tal distúrbio metabólico. Jejum, estresse e diminuição do aporte de alimentos ao final da gestação provocam intensa mobilização de lipídios e, em conseqüência, cetose. Em cobaias, também há relato de uma origem não metabólica relacionada a distúrbio circulatório: o peso e o volume exagerado dos fetos provocam deslocamento excessivo das vísceras abdominais, com compressão da artéria aorta e prejuízo ao fluxo sangüíneo ao útero, causando isquemia uteroplacentária, com liberação de tromboplastina e desenvolvimento de coagulação intravascular disseminada, secundariamente. Os sintomas são inespecíficos: apatia e anorexia. Nota-se hipoglicemia, proteinúria e


acidificação da urina (em cobaias, o pH urinário normal é 8), que tem aspecto claro. O tratamento é semelhante ao descrito para coelhas. O prognóstico é reservado.

Abortamento O estresse é uma causa freqüente de abortamento. Condições ambientais inadequadas podem estar envolvidas: uma fêmea mantida em ambiente muito quente, submetida à dieta inapropriada (por exemplo, carente em vitaminas C ou E), ou que apresente sarna crônica, pode não ter condição física necessária para levar uma gestação a termo. As doenças infecciosas que podem causar abortamento são causadas por Bordetella spp., Streptococcus spp. e Salmonella spp. Também, devese considerar que uma fêmea prenhe em companhia de outra fêmea com filhotes tende a se ocupar desses filhotes. O estímulo desse comportamento pode provocar contrações uterinas muito precoces na fêmea gestante. CONSELHO AOS PROPRIETÁRIOS A cobaia prenhe não deve ser mantida em companhia de fêmeas com filhotes, pois o comportamento materno que ela pode manifestar diante desses filhotes pode induzir a contrações uterinas muito precoces, com risco de abortamento ou de nascimento prematuro.

Cistos ovarianos Os cistos ovarianos costumam ser encontrados ocasionalmente durante a palpação: nota-se uma ou duas tumefações móveis de alguns centímetros na cavidade abdominal. A definição do diagnóstico se baseia na ultra-sonografia. Quando esses cistos são bem tolerados, como acontece com mais freqüência, podese fazer um acompanhamento clínico, pois normalmente são associados à


endometrite ou à hiperplasia do endométrio. A constatação de alopecia associada indica hiperestrogenismo, sendo necessária ovariectomia. No entanto, pode-se obter remissão transitória dos cistos por meio da injeção de HCG (1.000UI, IM, repetindose a aplicação 7 a 10 dias depois).

Mastite A cobaia é, entre os roedores, um animal muito suscetível à mastite. Cama abrasiva ou suja, lesões ocasionadas pelos filhotes ou desmama muito precoce são fatores que favorecem a infecção das glândulas mamárias. Os microorganismos mais freqüentemente isolados são Pasteurella spp., E. coli, Klebsíella spp., Staphylococcus spp., Streptococcus spp. e Pseudomonas spp. A glândula acometida pode tornar-se hiperêmica, quente e edemaciada e, às vezes, cianótica e fria. O tratamento deve ser imediato, pois a infecção pode se generalizar e causar a morte da mãe e dos filhotes. Administram-se antibióticos (por exemplo, sulfonamidas e fluoroquinolonas) e aplicam-se compressas embebidas em soro fisiológico morno no local inflamado. Pode-se reduzir a dor e a inflamação com o uso de meloxicam (0,2mg/kg/dia de Metacam, VO) ou de ácido tolfenâmico (2 a 4mg/kg/dia de Tolfedine, VO ou SC). Quando há necrose do tecido mamário, é necessária sua remoção cirúrgica.

Neoplasias mamárias Nessa espécie, as neoplasias mamárias podem ser observadas em machos e

fêmeas;

podem

ser malignas (adenocarcinomas) ou

(fibroadenomas). Indica-se a remoção cirúrgica.

benignas


Urologia e nefrologia Os cálculos urinários são freqüentes na cobaia, sobretudo em fêmeas com mais de 3 anos de idade. Podem ser: • Vesicais, retirados por cistotomia. • Uretrais, complicação muito freqüente nessa espécie. Provocam obstrução do trato urinário, acompanhada de muita dor. Inicialmente, pode-se tentar uma lavagem retrógrada da uretra, de modo que o cálculo retorne à bexiga. Caso tal procedimento falhe, realiza-se uretrostomia.

Deve-se

instituir antibioticoterapia. As

urolitíases geralmente

são

recidivantes em cobaias e, às vezes, são necessárias várias cirurgias. Não há relato de medida preventiva para essa afecção.

Gastroenterologia Yersiniose (pseudotuberculose) A Yersinia pseudotuberculosis é uma bactéria anaeróbica Gram-negativa, da família das Enterobacteriaceae, à qual a cobaia é bastante suscetível. Trata-se de uma zoonose que pode provocar distúrbios digestivos em seres humanos. A transmissão ocorre por meio de roedores selvagens ou pelo consumo de vegetais frescos contaminados com fezes de aves selvagens. A infecção pode desencadear uma septicemia fatal em animais jovens, mas em geral é subclínica nos adultos. Os sintomas são inespecíficos. Pode-se notar emagrecimento progressivo, diarréia crônica e hipertrofia de linfonodos mesentéricos à palpação abdominal, bem como linfadenite retromandibular. Geralmente, há supuração desses linfonodos.


O diagnóstico se baseia na cultura e no isolamento do microorganismo na amostra de secreção dos abscessos. Em razão da possível contaminação humana, recomenda-se a eutanásia dos animais acometidos. CONSELHO AOS PROPRIETÁRIOS Frutas e legumes frescos fornecidos às cobaias devem ser lavados e secos

cuidadosamente

para

prevenir

a

contaminação

por

Yersinia

pseudotuberculosis.

Diarréia As cobaias raramente manifestam diarréia. Na maioria das vezes, tal distúrbio deve-se à enterotoxemia decorrente do desequilíbrio da flora microbiota digestiva normal, seja após a administração de antibióticos inapropriados à espécie (deve-se obedecer às mesmas recomendações referentes à antibioticoterapia em coelhos), seja após o consumo de vegetais estragados ou oferecidos muito frios, ao serem retirados da geladeira. O equilíbrio da população bacteriana é desviado em favor do desenvolvimento de coliformes e de clostrídios toxigênicos. Outras causas menos freqüentes de diarréia são: • Salmonelose

(Salmonella

typhimurium

e

S.

enteritidis):

é

vista

essencialmente em criações e afetam os animais em estado de menor resistência (animais idosos, fêmeas prenhes, filhotes à desmama). Os animais enfermos emagrecem, se depauperam e podem apresentar lesões oculares. A diarréia é um sintoma freqüente, mas não constante. O diagnóstico se baseia na cultura bacteriológica de uma amostra fecal, permitindo a prescrição de um antibiótico adequado. Alguns animais clinicamente curados tornam-se portadores sadios.


• Doença de Tyzzer (Clostridiumpiliformis), sensível à tetraciclina. • Yersiniose (Yersinia pseudotuberculosis). • Coccidiose (Eimeria caviae); pode provocar diarréia grave em animais jovens. • Criptosporidiose: essa infecção é assintomática em coelhos e outros roedores; em cobaias, o Cryptosporidium wrairi causa enterite que pode ser fatal. Esse microorganismo não tem um hospedeiro específico, sendo encontrado em vários mamíferos (bovinos, ovinos, caprinos), inclusive em seres

humanos.

Essa

doença

se

desenvolve

apenas

quando

imunossupressão, como acontece, por exemplo, após uma condição estressante

(transporte,

desmama).

Não

tratamento.

As

cobaias

imunocompetentes se curam em 4 semanas e tornam-se resistentes à nova infecção.

O tratamento é semelhante ao da diarréia de coelhos. Pode-se utilizar os mesmos medicamentos, nas mesmas posologias.

Meteorismo Geralmente causado pelo consumo exagerado de verduras ou frutas. É necessário diminuir a quantidade de verdura fresca na alimentação e determinar qual é o alimento que originou o meteorismo.

Estase digestiva O trânsito digestivo, particularmente longo nesses animais, predispõe à estase digestiva. A causa mais freqüente desse distúrbio é dieta com baixo teor de fibras e pouco hidratada, como as misturas comerciais de grãos e flocos de cereais,


as quais a cobaia pode comer em excesso. Também é possível que o trânsito digestivo seja perturbado por uma obstrução secundária ao aumento de um linfonodo mesentérico ou de um órgão abdominal. O sintoma inicial de diminuição da velocidade do trânsito digestivo é a redução no número de defecações. As fezes apresentam aspecto desidratado e menor volume que o normal. A cobaia pára de comer progressivamente e permanece prostrada em um canto da gaiola, uma vez que a interrupção do trânsito gastrointestinal costuma ser acompanhada de espasmos dolorosos. Com a anorexia, rapidamente se instala lipidose hepática, que agrava ainda mais o quadro clínico. Gradativamente, o animal desenvolve um estado de choque e hipotermia, podendo morrer em alguns dias. O diagnóstico se baseia essencialmente no exame radiográfico: nota-se acúmulo de material no estômago ou no ceco, envolto por um halo de ar, indicando a interrupção do trânsito gastrointestinal. O tratamento deve ser rápido e enérgico, pois há risco de morte do animal: • Hospitalizar e aquecer o animal, submetendo-o a alimentação forçada com purê de legumes ou compota de frutas. • Reidratar: 50 a 100mL/kg/dia de solução de Ringer lactato morna, SC ou IP. • Provocar analgesia com, por exemplo: - Buprenorfina (0,05mg/kg de Temgesic, SC, duas a três vezes ao dia). - Flunixina meglumina (2,5 a 5mg/kg de Finadyne, SC, uma a duas vezes ao dia). - Carprofeno (4mg/kg de Rimadyl, SC, duas vezes ao dia).


• Tratar o espasmo gastrointestinal: - Metoclopramida (0,2 a 1mg/kg de Primperan, SC, IM ou VO, duas vezes ao dia). - Cisaprida (0,1 a 0,5mg/kg de Prepulsid, VO, duas vezes ao dia). • Fornecer dieta alimentar equilibrada.

Secreção perianal Os sacos perianais de alguns machos adultos podem se dilatar e acumular quantidade exagerada de secreção sebácea fétida. Essa secreção costuma ser confundida com retenção de fezes. Em geral, o motivo da consulta não se deve à alteração do estado de saúde do animal, mas sim ao odor fétido que ele exala. Na verdade, não se trata de uma doença, mas sim a expressão de uma característica sexual secundária. É preciso esvaziar e limpar regularmente as pregas anais com solução anti-séptica diluída (Hibitan, Mercryl lauryle), a fim de eliminar os odores e evitar as complicações infecciosas ou parasitárias (possível desenvolvimento de larvas de moscas durante o verão). Essa limpeza, que deve ser realizada regularmente, em geral se torna penosa tanto para a cobaia quanto para seu proprietário. Em função disso, pode-se propor a ressecção cirúrgica do saco anal, que propicia melhora definitiva.


CHINCHILA PARA MEMORIZAR • Ao contrário do que se pode imaginar, as chinchilas, com expectativa de vida longa, são animais que raramente desenvolvem neoplasias. • Esses animais são geneticamente predispostos à má oclusão. Alguns podem ser afetados em idade tão jovem quanto 6 meses. • Com freqüência, os machos apresentam constrição do pênis em decorrência da formação de um anel de pêlos. • Nessa espécie, as infecções respiratórias costumam ser graves. • A chinchila é suscetível à criptosporidiose. Embora a Giardia spp. seja um hospedeiro normal do trato digestivo desse animal, a proliferação desse protozoário pode ocasionar enterite. • Intussuscepção, vólvulo e prolapso retal são complicações freqüentes de gastroenterites ou de constipação crônica, em chinchilas. O tratamento é cirúrgico. • A ectoparasitose mais comum em chinchilas é cheiletielose.

Má oclusão dentária Sintomas As chinchilas que apresentam má oclusão apresentam alteração do estado geral, emagrecimento e pêlos opacos e eriçados. A salivação permanente, muito freqüente, provoca alopecia no queixo e na pele do pescoço. Inicialmente, o apetite é preservado, mas o animal é incapaz de mastigar corretamente o alimento,


deixando-o cair no solo. Quando uma infecção bacteriana secundária complica as lesões bucais, a saliva torna-se purulenta e fétida. Os animais manifestam desnutrição cada vez mais grave, que pode ser traduzida por convulsões decorrentes da crise de hipoglicemia; a morte é um desfecho freqüente. A coloração alaranjada dos incisivos desaparece durante a doença dental crônica.

Diagnóstico O exame minucioso da cavidade oral somente pode ser realizado em um animal tranqüilizado. Às vezes, a má oclusão é evidente quando se trata do alongamento de um dente em particular, cuja extremidade é possível ver ultrapassando o conjunto das coroas dentárias e lesionando a mucosa. Quando o alongamento se refere ao conjunto de coroas, os dentes não aparecem particularmente proeminentes ao exame, pois a gengiva cresce ao mesmo tempo e recobre as deformações. A radiografia lateral permite evidenciar o alongamento das coroas dentárias ou um alongamento anormal das raízes. A radiografia de face permite visualizar o grau de oclusão e a existência de pontas de dentes lacerantes, recobertas pela gengiva.

Tratamento Deve-se ajustar o crescimento do dente com um pequeno motor de uso odontológico. Nos casos de alongamento generalizado das coroas dentárias, é necessária a liberação prévia dos dentes, do excesso de gengiva e, em seguida, desgastá-los até que o animal possa fechar sua boca normalmente. Os cuidados pós-operatórios são delicados, pois a chinchila necessita de alimentação assistida durante alguns dias, até que possa utilizar seus dentes novamente. Caso o


alongamento envolva uma raiz, deve-se considerar a possibilidade de extração do dente, porque quando a raiz sai de seu encaixe alveolar e cresce dentro do periósteo do osso maxilar, os movimentos de mastigação podem ser suficientemente doloridos para impedir que o animal se alimente.

Enfermidades da reprodução Anéis de pêlos ao redor do pênis O acúmulo de pêlos ao redor do pênis é uma causa comum de distúrbios genitais em chinchilas machos. Os pêlos que se acumulam acabam constituindo um anel que pode causar a constrição da base do pênis, ou impedi-lo de se retrair adequadamente no prepúcio. Em casos crônicos, o pênis apresenta tumefação e dor, podendo ultrapassar 4 a 5cm do prepúcio. A retenção de urina por obstrução uretral é uma ocorrência possível. CONSELHO AOS PROPRIETÁRIOS A constrição do pênis pela formação de um anel piloso geralmente se manifesta após a cópula. Deve-se recomendar ao proprietário que examine os machos regularmente, durante os períodos de atividade sexual.

Distocia - retenção fetal Os partos distócicos são raros nessa espécie. Quando não se constata o nascimento 4h após o início das contrações, é necessário injetar ocitocina (0,2 a 3UI/kg) e, se necessário, realizar cesariana. O principal distúrbio do parto em chinchilas é a retenção fetal. Quando a fêmea não expulsa todos os fetos, ela manifesta agalaxia e negligencia seus


filhotes. A radiografia abdominal permite constatar a retenção do feto. É comum que o feto morto se mumifique, induzindo a esterilidade da fêmea. Quando não ocorre mumificação do feto, costuma instalar-se metrite ou piometra, que têm indicação cirúrgica.

CONSELHO AOS PROPRIETÁRIOS A membrana que normalmente obstrui a vagina da fêmea se abre alguns dias antes do parto e se fecha novamente pouco tempo depois. O banho de areia deve ser evitado durante esse período, pois os grãos de areia podem se alojar no interior da vagina e causar irritação grave. Após o nascimento, a fêmea pode se tornar agressiva ao macho. A separação de alguns dias é benéfica e evita novo acasalamento no cio pós-parto. É possível reintroduzir o macho 4 a 5 dias após o parto. Em geral, ele cuida dos filhotes. Os filhotes machos devem ser separados da mãe antes de 10 semanas de idade, pois alguns indivíduos podem atingir a maturidade sexual precocemente.

Septicemia puerperal A etiologia não está bem esclarecida. Até o momento, não há evidência acerca do microorganismo patogênico. Trata-se de uma infecção aguda que surge 12 às 24h após o parto. A fêmea apresenta prostração, hipotermia e secreção vaginal amarronzada. Muito rapidamente se instala um estado de choque, a hipotermia se agrava e o animal permanece em decúbito lateral.


O tratamento deve ser instituído no início da doença: antibioticoterapia parenteral, hidratação do animal e lavagem do útero com solução salina morna adicionada de um anti-séptico, por meio de uma pequena sonda.

Agalaxia O volume de leite produzido 12 às 72h após o parto é muito pequeno. Quando os filhotes se mostram agitados e vocalizam choro após esse período, é necessário avaliar as mamas da fêmea, pois algumas linhagens de chinchila podem produzir pouco leite. As fêmeas muito jovens ou muito velhas também podem apresentar distúrbios da secreção láctea. Pode-se tentar estimular a produção de leite com uma injeção de ocitocina. Em caso de falha desse tratamento, é preciso alimentar os filhotes artificialmente ou fazer com que outra fêmea, chinchila ou cobaia lactente os adote.

Hipocalcemia da lactação Esse distúrbio se caracteriza pela manifestação de convulsões, como nas crises de eclâmpsia da cadela, e pelo desenvolvimento de timpanismo estomacal agudo. Pode-se obter uma amostra de sangue para avaliar a calcemia, cujo valor normal varia de 50 a 120mg/L. Pode-se administrar gluconato de cálcio (100mg/kg, IM ou IP). Em caso de timpanismo grave, há risco de morte do animal; é necessário intervir rapidamente, introduzindo uma sonda esofagiana. Se tal procedimento não for possível, perfura-se o estômago com um trocarte.


Pneumologia As infecções respiratórias que acometem as chinchilas são causadas por Bordetetta spp., Streptococcus spp., Pasteurella spp. e Pseudomonas spp. Os sintomas clássicos das enfermidades do trato respiratório superior da chinchila incluem inflamação do nariz, que se torna hiperêmico. Espirros são freqüentes e acompanhados por secreção nasal. Nos animais jovens, esses sintomas são mais graves; a secreção nasal torna-se purulenta e notam-se crostas ao redor das narinas e dos olhos. Quando não tratada, a infecção pode alcançar o trato respiratório inferior e causar pneumonia, com prognóstico reservado. O tratamento é o mesmo descrito para cobaias.

Gastroenterologia Constipação É uma das disfunções digestivas mais comum em chinchilas. A causa mais freqüente é um distúrbio alimentar em função de dieta com alto teor de proteínas e carboidratos, e pobre em fibras. Pode-se tentar corrigir os sintomas iniciais da disfunção fornecendo, com cuidado, pequena quantidade de alimentos frescos, como maçã, cenoura ou alface e retirando guloseimas, como cereais e frutas secas. Os sintomas e o tratamento dessa afecção são semelhantes aos de cobaias.

Diarréia A causa mais freqüente da diarréia é uma alimentação inadequada, composta de muitas verduras frescas ou feno muito verde. Como nos coelhos e em


outras espécies, um tratamento inadequado com antibiótico pode provocar diarréia secundária à enterotoxemia. As diarréias infecciosas de chinchilas são causadas pelos mesmos microorganismos que acometem as cobaias: Salmonella typhimurium, S. enteritidis, Yersinia pseudotuberculosis, Clostridium perfringens e histeria monocytogenes. As diarréias parasitárias se relacionam a duas causas principais: • Criptosporidiose: assim como a cobaia, a chinchila é particularmente suscetível a essa doença, que pode provocar diarréia em ambas as espécies. • Giardíase: a Giardia sp. é freqüentemente encontrada em pequena quantidade no trato gastrointestinal da maioria das chinchilas. Estresse e manejo inadequado podem predispor à diarréia em decorrência da proliferação desses protozoários.

Esses

microorganismos

podem ser

detectados em exame de fezes (flotação). Em função do efeito hepatóxico do metronidazol, nessa espécie, prefere-se utilizar o fembendazol (25 a 30mg/kg, VO, durante 3 a 5 dias).

Ulcera estomacal É uma doença regularmente relatada em chinchilas; parece acometer principalmente os animais jovens, com cerca de um ano de idade. Incrimina-se o consumo de feno fibroso ou contaminado com fungos como fator predisponente. Normalmente, o diagnóstico é definido durante a necropsia, pois os sintomas (anorexia intermitente e regurgitamento) são discretos. Devem-se utilizar protetores gástricos e avaliar a qualidade da forrageira e da ração.


Neurologia Algumas linhagens de chinchila são predispostas a crises epileptiformes, cuja freqüência é imprevisível. Normalmente, não há necessidade de tratamento quando o intervalo entre as crises é longo. Caso o animal apresente crise convulsiva durante a consulta, pode-se administrar Valium (1 a 2mg/kg, IM ou IP). Outras possíveis causas incluem: • Hipocalcemia da lactação. • Hipoglicemia, em um animal com anorexia. • Deficiência de vitamina B1, no caso de dieta de má qualidade. • Estresse pelo calor. • Intoxicação (telas de gaiola inadequadas, contendo chumbo, zinco ou cobre). • Listeriose: a chinchila é uma espécie suscetível a Listeria monocytogenes. A transmissão pode ocorrer por via orofecal ou pelo consumo de alimento contaminado. Essa doença se instala apenas em condições precárias de higiene. Os sintomas envolvem os sistemas digestivo e nervoso. Não há tratamento efetivo. • Coriomeningite linfocitária: a chinchila é pouco suscetível a essa infecção, que acomete principalmente outros roedores, como o hamster e o camundongo. Deve-se investigar se houve contato recente com esses animais.

Dermatologia Dermatofitose A principal dermatofitose que acomete chinchilas é causada pelo Trichophyton mentagrophytes (que ocasiona a formação de pequenas áreas de


alopecia localizadas, principalmente, nas orelhas, no nariz e nas patas). O tratamento é o mesmo indicado para cobaias.

Ectoparasitose A Cheyletiella sp. é o ectoparasita mais encontrado em chinchilas. A cheiletielose pode provocar a formação de escamas sobre os pêlos, mas geralmente não são vistas no animal. O proprietário que relata o aparecimento de pequenos pontos avermelhados pruriginosos na sua própria pele, em locais que tiveram contato com a chinchila, direciona o veterinário no sentido de pesquisar a presença do ectoparasita no animal; provavelmente, o proprietário foi picado pelo parasita. O ciclo biológico do parasita dura 5 semanas; o tratamento deve ser administrado durante 6 semanas. Pode-se aplicar pó de carbaril a 5% por todo o corpo do animal, duas vezes por semana, durante 6 semanas. A ivermectina é utilizada na dose de 0,6mg/kg, em três injeções SC, com intervalos de 2 semanas.

Manchas no pelame A chinchila corta a parte superior de seus pêlos com os incisivos, deixando apenas a parte mais escura. Essas áreas depiladas (geralmente as costelas e o flanco) apresentam coloração cinza-ardósia mais intensa que o resto do pelame. São vários os fatores que predispõem a esse distúrbio de comportamento: • Ambientais: - Gaiola muito pequena. - Ambiente muito quente ou muito úmido. - Falta de tranqüilidade durante o dia (animal noturno).


• Nutricionais: - Falta de fibras na alimentação. -Alteração da qualidade do pelame devido à deficiência de vitaminas ou de ácidos graxos essenciais. - Sobrecarga de gordura no fígado. • Hormonais: as chinchilas que mastigam seus pêlos apresentam menor temperatura interna, hipertiroxinemia e hipercortisolemia. Não se sabe se é a perda da capacidade isolante térmica do pelame que provoca um estímulo das glândulas tireóide e adrenal ou se o aumento da atividade endócrina dessas glândulas é que induz a esse comportamento. • Parasitários: pulgas e Cheyletiella sp. • Estresse: - Superpopulação. - Monotonia. - Algumas linhagens de chinchilas parecem originar animais mais nervosos

e,

portanto,

mais

suscetíveis

a

esse

distúrbio

de

comportamento.

Não há relato de tratamento efetivo. Deve-se considerar a possibilidade de administrar regularmente óleo de parafina a esses animais, a fim de facilitar o trânsito da grande quantidade de pêlos ingeridos.

Deficiência de ácidos graxos essenciais As chinchilas não sintetizam os ácidos araquidônico e linoléico; uma dieta carente em tais elementos provoca redução no crescimento dos pêlos.


Os pêlos dos animais acometidos são secos e facilmente destacáveis. Surgem pequenas áreas de alopecia, que podem crescer e se unir, mostrando uma pele anormalmente fina. Às vezes, notam-se úlceras cutâneas. Em casos extremos, a chinchila pode se tornar fraca e morrer. Em geral, essa doença é descrita em criações que fornecem dieta inadequada ou alimentos armazenados em condições inadequadas, que provocam ranço, indicando que houve degradação dos ácidos graxos contidos nesses alimentos. A suplementação da dieta com ácidos graxos propicia melhora no quadro clínico a partir de 4 a 5 dias de tratamento.

Síndrome do pelame de algodão A textura do pelame de chinchilas alimentadas com ração com alto teor protéico (acima de 15%) muda progressivamente, tornando-se uma espécie de penugem que torna o pelame com aspecto de algodão. Essa síndrome desaparece quando se faz o equilíbrio dos componentes da ração.

Doença da gordura amarela (ou das "orelhas amarelas") Essa disfunção está relacionada à dieta com deficiência de vitamina E, metionina e colina, substâncias que permitem ao fígado metabolizar normalmente os pigmentos vegetais contidos nos alimentos. Quando esses pigmentos não são adequadamente metabolizados, eles se concentram na pele e no tecido adiposo, ocasionando uma coloração amarelada. Os sintomas se iniciam com discreta coloração amarela das orelhas que podem, após algum tempo, tomar uma tonalidade alaranjada. As regiões genitais e perianais, bem como o abdome, adquirem coloração amarela anormal. Em animais doentes, podem-se notar tumefações doloridas no abdome.


Essa disfunção responde bem à suplementação apropriada na dieta.

DEGU As principais doenças que acometem os degus são semelhantes àquelas de cobaias e chinchilas e requerem os mesmos tratamentos. Os motivos mais freqüentes de consulta incluem: • Distúrbios respiratórios, freqüentemente associados a timpanismo abdominal (decorrente de respiração bucal em função de obstrução nasal). • Mordidas de congêneres, múltiplas e quase sempre graves. • Cataratas, bilaterais ou unilaterais, que geralmente acometem adultos jovens (por exemplo, algumas fêmeas após o primeiro parto). Suspeita-se de predisposição genética, mas não se conhece exatamente a etiologia dessa afecção. • Diabetes melito. • Disfunções hepáticas (associadas à neoplasia, à toxemia da prenhez ou à sobrecarga de gordura no fígado). • Amputação de cauda.


II

Miomorfos: Rato, Camundongo, Hamster, Gerbil


10

Aspectos Gerais Os miomorfos mais encontrados em lojas de animais são ratos (Rattus

norvegicus), camundongos (Mus musculus), hamsters dourados da Síria (Mesocricetus auratus) e gerbis, esquilo da Mongólia ou merione (Meriones unguiculatus). Também são encontradas várias espécies de hamster menores que o hamster dourado. Dentre eles, hamster russo (Phodopus sungorus), hamster de Roborowski (Phodopus roborowskii) e hamster da China (Cricetulus griseus).

BIOLOGIA A expectativa de vida desses animais é curta (Tabela 10.1). Características Anatômicas e Fisiológicas PARA MEMORIZAR • Nos roedores, as glândulas de Harder, presentes na conjuntiva ocular, produzem secreção que contém porfirina, pigmento de cor vermelha. No rato, essa secreção pode ser facilmente confundida com hemorragia nasal ou ocular. • A conformação da orofaringe não permite que esses animais respirem normalmente pela boca. • A anatomia do estômago não permite que eles vomitem. • O tecido mamário do rato e do camundongo se estende dorsalmente até as omoplatas;

portanto,

as

neoplasias

dorsalmente nessas espécies.

mamárias

podem

se

estender


Tabela 10.1 - Algumas características biológicas de miomorfos Espécies Macho Camundongo Rato Gerbil Hamster dourado

Peso Fêmea

20 - 40 450 - 520 65 -100 85 - 130

25 - 40 250 – 300 55 – 85 95 - 150

Expectativa de vida (ano) 1,5 – 3,0 2,5 – 3,5 2,5 – 3,5 1,5 - 2

Temperatura interna

Freqüência cardíaca

Freqüência respiratória

36,5 – 38 35,9 – 37, 5 37,0 – 38,5 37 - 38

325 – 780 250 – 450 360 250 - 500

60 – 220 115 90 35 - 135

Fórmula dentária É a mesma para todos os representantes da família (Tabela 10.2). Os incisivos apresentam raízes abertas, portanto de crescimento contínuo, e os molares apresentam raízes fechadas, portanto com crescimento limitado. Desse modo, nos miomorfos, a má oclusão secundária ao crescimento anormal dos dentes se limita aos dentes incisivos. Incisivos

Caninos

Pré-molares

Molares

1/1

0/0

0/0

3/3

Glândulas exócrinas Glândulas de Harder Sua secreção exerce importante função nesses animais: • No rato, estresse ou irritação pode induzir à secreção de quantidade importante de porfirina ao redor dos olhos e das narinas, condição conhecida como cromodacriorréia, que não deve ser confundida com hemorragia. • O acúmulo de porfirina na pele, decorrente da secreção anormalmente abundante dessas glândulas, pode provocar irritação cutânea e prurido intenso.


• As glândulas de Harder do gerbil exercem função muito importante na termorregulação desse animal. Além dos pigmentos de porfirina, essas glândulas também secretam ácidos graxos, que o animal pode misturar à saliva para recobrir o corpo e se proteger do frio. Quando o animal sente calor, a secreção das glândulas de Harder diminui; o gerbil toma banhos de areia e utiliza a saliva para eliminar a película gordurosa previamente depositada no pelame.

Glândulas de marcação Deve-se conhecer sua função e localização em cada espécie: • O rato e o camundongo apresentam glândulas prepuciais, que podem supurar ou conter tumores. • O gerbil possui uma glândula ventral, mais desenvolvida no macho, que permite delimitar o território; a mãe a utiliza para marcar seus filhotes. Essa glândula é suscetível à neoplasia em animais idosos. • O hamster dourado possui glândulas odoríferas localizadas em cada lado do flanco. Com o avanço da idade, essas glândulas se tornam enegrecidas e particularmente visíveis nos machos. Quando ele está sexualmente excitado, o pelame que recobre a glândula torna-se úmido, com secreções, e o macho coça freqüentemente esse local. Nas fêmeas, essas glândulas produzem uma secreção que atrai o macho na época do cio. • O hamster russo não possui glândulas no flanco, mas apresenta uma glândula ventral.


Anatomia digestiva Os ratos não possuem vesícula biliar. O estômago do rato e do camundongo apresenta duas partes distintas: uma região proximal desprovida de glândulas digestivas e uma região distal glandular. Essa divisão é ainda mais evidente no hamster, que apresenta estômago dividido em duas partes bem distintas, individualizadas por uma parede central: • O pró-ventrículo, recoberto por uma mucosa ceratinizada. Como no rúmen, ele apresenta um pH elevado e abriga microorganismos. • O ventrículo, ou estômago glandular, recoberto por glândulas digestivas.

O hamster também se diferencia pela presença de sacos musculares malares bem desenvolvidos e de bolsas malares, nas quais prende o alimento que armazena em suas reservas. Tais bolsas, que se estendem anatomicamente até os omoplatas, podem prolapsar e necessitar de sutura.

Glândulas adrenais As glândulas adrenais do gerbil são particularmente desenvolvidas em relação às de outros roedores; seu tamanho atinge três vezes aquele do rato.

Tecido mamário As fêmeas de ratos e camundongos possuem um tecido mamário que se estende dorsalmente, por toda a extensão do tronco, até uma linha delimitada pelos omoplatas. É importante que se conheça a anatomia dessas estruturas porque são predispostas à neoplasia mamaria e, às vezes, requerem cirurgia.


Secreção sebácea do rato O rato macho pode apresentar hipersecreção sebácea na região dorsal, notada como películas na base dos pêlos. Essa ocorrência é fisiológica e está relacionada à produção de testosterona.

VALORES BIOLÓGICOS Bioquímica sangüínea Os valores normais estão apresentados na Tabela 10.3: • A glicemia média é maior no camundongo que nos outros roedores. • A colesterolemia média é naturalmente maior no hamster e no gerbil. Parâmetros Glicose (g/L)

Camundongo 1,7 – 3,3

Rato 0,85 – 1,30

Gerbil 0,5 – 1,35

Hamster 0,65 – 0,73

0,34 – 0,58

0,32 – 0,54

0,17 – 0,31

0,42 – 0,60

3–1

2–8

5 – 14

4 – 10

ALT (UI/L)

28 – 184

17 – 50

-

21 – 50

AST (UI/L)

55 – 251

39 – 92

-

53 – 124

ALP (UI/L)

28 – 94

63 – 86

-

8 – 18

Proteína total (g/L)

42 – 60

107 – 137

43 – 125

64 – 73

Cálcio (mg/L)

111 – 121

107 – 137

36 – 60

104 – 123

Fósforo (mg/L)

83 – 112

62 – 117

37 – 71

53 – 66

Colesterol (g/L)

0,49 – 0,96

0,46 – 0,92

0,90 – 1,51

1,82 – 2,37

Uréia (g/L) Creatinina (mg/L)

Hematologia Os valores hematológicos normais são mostrados na Tabela 10.4. O gerbil demonstra várias particularidades hematológicas: • Apresenta grande quantidade de reticulócitos, pois a vida curta das hemácias (cerca de 10 dias) requer renovação constante dessas células.


• Várias hemácias contêm inclusões basofílicas. • Há diferenças significativas relacionadas ao sexo, para os seguintes parâmetros: - O hematócrito é maior na fêmea que no macho. - O teor de hemoglobina, a quantidade de leucócitos e o percentual de linfócitos são maiores no macho.

Tabela 10.4 – Valores hematológicos normais dos miomorfos Parâmetros Hematócrito (%) Hemoglobina (g/dL) Hemácias (106/mm3) Leucócitos (103/mm3) Neutrófilos (%) Linfócitos (%) Monócitos (%) Eosinófilos (%) Basófilos (%) Plaquetas (103/mm3)

Camundongo 42 - 44 10,2 - 16,2 8,7-12,5 5 - 12 7 - 40 55 - 95 0,1 - 3,5 0-4 0 - 1,5 100 - 1.000

Rato 39 - 55 11,0 – 19,5 6 - 10 6 - 15 9 - 34 65 - 85 0-5 0-6 0 - 1,5 500 - 1.300

Gerbil 35 - 45 13 - 15 7,5 - 9 9 - 12 20 - 25 75 0-4 0-3 0-1 400 - 600

Hamster 45 - 50 14,5 - 18 5,5 - 8,9 6 - 10 18 - 40 56 - 80 1,4 - 2,5 0-1 0-1 300 - 500

CONSELHO PARA CRIAÇÃO Moradia As gaiolas vendidas no comércio para esses pequenos roedores geralmente são apropriadas. Deve-se evitar a criação desses animais em um aquário, local que favorece a concentração de amoníaco oriundo da urina e a predisposição a doenças respiratórias.

Rato e camundongo São animais sociais que gostam de viver em grupo. Caso não se deseje a reprodução, o ideal é agrupar algumas fêmeas. A cama pode ser composta de


pedaços de madeira, granulados de jornal aglomerado ou estopa. Aconselha-se evitar pedaços de cedro ou madeiras artificialmente perfumadas, que podem causar irritação das vias respiratórias. Esses animais adoram brincar e se esconder em rolos ou pequenas caixas de papelão. Uma roda é um acessório bem apreciado. A água deve ser colocada em um bebedouro; os potes de água colocados no fundo da gaiola não são convenientes porque seu conteúdo se suja rapidamente. Deve-se verificar regularmente se os bebedouros não estão obstruídos pela cama; os camundongos são particularmente hábeis em colocar pedaços de camas em sua abertura. Ratos e camundongos toleram melhor temperaturas mais frescas do que o calor. Não há um mecanismo fisiológico para reduzir sua temperatura corporal e a única resposta a uma elevação da temperatura é se esconder em locais mais frescos. Um aumento da temperatura ambiente inibe o consumo espontâneo de água, o que pode agravar ainda mais a desidratação. As condições ideais incluem temperatura ambiente de 18 a 22°C e umidade relativa do ar de 50%. A cama deve ser trocada ao menos uma vez por semana; a produção de amoníaco pela degradação da urina acumulada na cama é um fator que favorece a instalação de infecções respiratórias, muito comuns nesses animais.

Gerbil Os gerbis são animais sociais extremamente territoriais, cuja atividade é principalmente diurna, ao contrário de vários outros roedores As gaiolas colocadas à sua disposição devem ser suficientemente altas para lhes permitir os saltos. Sua adaptação às condições áridas do seu ambiente natural faz com que haja uma produção muito pequena de urina, permitindo que sejam mantidos, sem risco, em um aquário, no fundo do qual pode-se colocar uma


mistura de areia e palha, bem como algumas pedras, para lhe permitir o ato de cavar, como faz em seu hábitat natural. Caso o desejo seja utilizar uma gaiola clássica, deve-se disponibilizar uma cama suficientemente espessa que lhe permita cavar. A cama à base de milho deve ser evitada, pois esses animais podem consumi-la. É indispensável fornecer um recipiente com areia, que deve ser trocado com freqüência, para que ele se limpe. Dentre os acessórios, incluem-se pequenas caixas de papelão, uma roda e pedaços de canos de PVC, nos quais os animais gostam de brincar. Para construir seu ninho, os gerbis gostam de usar algodão, papel e feno. Caso o objetivo não seja a reprodução, o ideal é manter várias fêmeas juntas, às quais pode se juntar um macho castrado. Em geral, a introdução de um animal recém-chegado ao grupo induz um comportamento de agressão e expulsão. Os grupos são muito hierarquizados; em caso de superpopulação, os indivíduos dominantes atacam o topete de pêlos da extremidade da cauda dos subalternos. O ambiente natural dos gerbis expõe esses animais a grande variação de temperatura; no entanto, eles se adaptam muito bem à temperatura ambiente de 20 a 22°C. A umidade relativa do ar deve ser de 40 a 50%; umidade ambiente superior a 50% provoca alterações no pelame.

Hamster Na natureza, os hamsters são animais solitários e muito territoriais. Portanto, é difícil formar um grupo, a menos que seja formado logo após o nascimento. As fêmeas podem ser particularmente agressivas, chegando a matar um macho colocado em sua gaiola.


Esses animais necessitam de uma gaiola com fechaduras sólidas, pois são os campeões de fuga. Podem ser alojados da mesma maneira que os ratos e os camundongos. A roda é um acessório indispensável. Quando a temperatura ambiente é inferior a 4°C, o hamster pode hibernar. Caso a temperatura corporal diminua, as freqüências cardíaca e respiratória também diminuem; no entanto, podem ser facilmente acordados se colocados em nossa mão. Esses períodos normalmente duram 2 a 3 dias e são alternados por períodos nos quais o animal permanece acordado e realiza suas atividades habituais.

Alimentação Rato, camundongo e hamster são onívoros. Eles praticam coprofagia constantemente, o que lhes permite a reabsorção das vitaminas do complexo B. O gerbil só pratica coprofagia se a dieta for insuficiente. Na vida selvagem, esse animal se alimenta de grãos, folhas e raízes, durante a primavera, e sobrevive no inverno graças ao estoque de alimentos. É preferível fornecer uma dieta composta de ração granulada, especialmente preparada para esses pequenos roedores, do que uma mistura de grãos, que os animais tendem a escolher de acordo com sua preferência; esse comportamento pode induzir um desequilíbrio nutricional e deficiência de minerais e vitaminas.

Rato e camundongo As rações granuladas para ratos e camundongos devem conter 20% de proteínas, embora esse percentual possa ser um pouco menor para animais que não se reproduzem. Esses animais também apreciam qualquer resto de comida que seu proprietário oferece, fato que pode causar obesidade em alguns indivíduos.


Ratos

e

camundongos

têm

necessidade

de

água

fresca

permanentemente; o consumo diário de água por um rato é, em média, 10mL para cada 100g de peso corporal; para camundongo, esse valore de 15mL/100g.

Gerbil As rações para ratos e camundongos suprem bem as necessidades nutricionais dos gerbis, mas nem sempre são apreciadas por esses animais, particularmente os jovens, que podem considerá-las muito secas. Pode-se umedecêlas para favorecer seu consumo. Em seu hábitat natural, esses animais são adaptados à situação de indisponibilidade de água fresca; eles utilizam com mais freqüência a água presente nas folhas e raízes das quais se alimenta. Há necessidade de complementação por meio da ingestão diária de grãos, frutas e vegetais frescos. Embora esses animais sejam adaptados ao ambiente de deserto, apreciam água fresca fornecida continuamente.

Hamster As rações para ratos e camundongos são um pouco mais ricas em proteínas que o percentual de 14 a 17% normalmente recomendado para hamsters. Pode-se melhorar a dieta desses animais fornecendo uma mistura composta de 75% de ração para ratos e 25% de ração para coelhos permitindo, desse modo, aporte adequado de fibras e bom equilíbrio protéico. O consumo diário de água por um hamster é de 10mL/100g de peso corporal.


Reprodução Os miomorfos possuem em comum uma grande prolificidade e maturidade sexual precoce. As principais características reprodutivas estão apresentadas na Tabela 10.5. Seus filhotes nascem sem pêlos e com os olhos fechados. A taxa de mortalidade no período de desmama é particularmente elevada para gerbis quando não se tem o cuidado de fornecer aos filhotes alimentos de fácil ingestão e acesso durante esse período: deve-se colocar ração para adulto amolecida com um pouco de água e alimentos frescos, no fundo da gaiola, quando os filhotes atingem 15 dias de idade. Tabela 10.5 - Características reprodutivas dos miomorfos Camundongo Ciclo estral (dias) Período

de

gestação

(dias)

Número de filhotes Cio pós-parto

Abertura

dos

olhos

(dias)

Desmama (dias) Maturidade sexual (semanas) Final da fecundidade (meses)

Rato

Gerbil

hamster

4-5

4-5

4-6

4

19-21

19-23

24 - 26

15- 18

10-12

6-12

4-6

4-14

24h após o

24h após o

24h após o

parto (fértil)

parto (fértil)

parto (fértil)

o parto (fértil)

10- 14

12- 17

16- 20

14 - 16

21-28

17- 21

20 - 30

20-28

5-8

6-8

10- 12

6-8

12- 18

15- 18

18- 24

14

2-18 dias após

O final do ciclo estral da fêmea hamster é caracterizado pela eliminação de secreção vaginal amarelada, que não deve ser confundida com corrimento purulento comum em caso de piometra. O canibalismo é freqüente de hamsters, particularmente de fêmeas primíparas. Há também um comportamento de proteção dos filhotes que pode induzir ao canibalismo, caso o proprietário não seja bem


informado: uma mãe que percebe seus filhotes ameaçados pode escondê-los em suas bolsas malares. Quando deixada tranqüila, ela transporta os filhotes a um local mais seguro; contudo, se o proprietário, preocupado com esse comportamento, continua a perturbá-la, ela termina por engolir os filhotes.

Sexagem Nos machos, os testículos nem sempre estão visíveis, pois a abertura do canal inguinal permite que eles se alojem na cavidade abdominal. As fêmeas apresentam um orifício urinário e um orifício vulvar distintos. Diferentemente dos caviomorfos, o orifício vulvar não é recoberto por uma membrana. Os três orifícios visíveis na região anogenital da fêmea são, por ordem de apresentação distai, os orifícios urinário, vulvar e anal (definidos como UVA, para facilitar a memorização). De modo geral, o reconhecimento do sexo pode se basear na distância entre os orifícios anal e genital. No macho, à distância anogenital é maior que na fêmea.


11

Procedimentos e Cuidados Básicos

CONTENÇÃO Rato Em geral, o rato é dócil e amigável e se deixa prender na mão facilmente; as mordidas são muito raras. Pode-se prendê-lo com uma mão ao redor das escapulas, com o ventre em direção ao veterinário, enquanto a outra mão mantém as patas para trás, pois elas podem arranhar caso o animal esteja estressado.

Camundongo Trata-se de um animal alerta e sempre em movimento, que pode facilmente pular da mão de quem o examina. O camundongo freqüentemente morde quando forçado a permanecer na mão. Pode ser apanhado na gaiola segurando-o pela base da cauda e, em seguida, na pele do pescoço presa entre três dedos (polegar, indicador e dedo médio); deve-se ter cuidado ao segurar a pele, de modo a impedi-lo de virar e morder.

Gerbil Quando bastante manipulado pelo proprietário, o gerbil se mostra bastante dócil durante o exame e pode ficar tranqüilo na palma da mão. Um gerbil assustado e pronto para morder a mão que tenta pegá-lo bate no chão da gaiola com seus membros pélvicos. Jamais se deve segurar um gerbil pela extremidade da cauda, pois um mecanismo de defesa permite que a pele desse local se solte facilmente, o que


permite ao animal escapar do predador, mas deixa ao proprietário uma má impressão do veterinário. Pode-se segurar o gerbil pela base da cauda e, em seguida, imobilizá-lo pela pele do pescoço, como é feito com o camundongo.

Hamster De modo geral, o hamster é dócil e amigável e se aconchega facilmente na palma da mão. Não se deve tentar agarrá-lo diretamente quando está enrodilhado no ninho porque seu primeiro reflexo, nesse caso, é morder. Quando se deseja contê-lo mais firmemente, é preciso segurá-lo pela pele do pescoço e do dorso, mas ele é tão flexível que é necessário utilizar todos os dedos da mão para imobilizar corretamente o animal.

APLICAÇÃO DE INJEÇÃO PARA MEMORIZAR Nesses animais de tamanho pequeno, é indispensável que os produtos administrados sejam mornos, quando o volume ultrapassa 1mL.

A injeção subcutânea pode ser aplicada entre os omoplatas, segurando o animal pela pele do pescoço ou mantendo-o contra o chão. A injeção intraperitoneal é facilmente aplicada e propicia absorção rápida do produto. Não pode se esquecer de diluir as substâncias irritantes e de amornar o produto, quando se deseja injetar um volume grande. Deve-se sempre ter em mente que o produto injetado é absorvido, inicialmente, pela circulação sangüínea do sistema porta, o que significa que, antes de se difundir pelo organismo, é submetido à biotransformação hepática que pode, eventualmente,


alterar sua eficácia. Para a aplicação de injeção intraperitoneal, deve-se manter o animal com a cabeça para baixo, de modo que as vísceras se comprimam na região proximal do abdome e deixem o ponto de injeção livre. Introduz-se a agulha em um ângulo de 20°. Em camundongos, hamsters e gerbis, a injeção é feita no quarto inferior direito do abdome, a fim de preservar o baço; no rato, aplica-se no quarto inferior esquerdo, para preservar o ceco, que se encontra à direita. As necessidades diárias de hidratação e o volume médio de solução fisiológica administrado por animal são mostrados nas Tabelas 11.1 e 11.2. Tabela 10.1 – Necessidades diárias de água dos miomorfos Necessidade diária: 4 – 8 mL/100g Camundongo (25g) Rato (400g) Gerbil (75g) 1 – 2 mL 16 – 32 mL 3 – 6 mL

Hamster (100g) 4 – 8 mL

Tabela 10.2 – Volume médio de solução fisiológica injetado em miomorfos durante a hidratação (mL)

Via SC Via IP

Camundongo (25g) 1–2 2

Rato (400g)

Gerbil (75g)

5–6 5–8

1–2 2–3

Hamster (100g) 3–4 3-4

COLETA DE AMOSTRAS PARA EXAME Dois fatores são limitantes para o exame de sangue: • O pequeno tamanho desses animais torna a coleta de sangue difícil. • O volume possível de obter, sem risco para o animal, limita a quantidade de parâmetros analisados. Não se deve coletar mais de 10% do volume sangüíneo.

Considerando essas limitações, o volume de sangue possível de se obter por espécie está indicado na Tabela 11.3.


Tabela 11.3 – Volume médio de sangue possível de obter em miomorfos Camundongo Rato Gerbil Volume de sangue total (mL/100g) 5–6 6 7–8 Volume médio de sangue coletável 0,15 1,3 0,3 (mL)

Hamster 7-8 0,6

Os possíveis locais de coleta são: • Veia cava cranial: para a coleta de sangue desse vaso, o animal deve ser anestesiado. Emprega-se a mesma técnica descrita para o furão. • Veias laterais da cauda: são utilizadas no camundongo, no rato e no gerbil. Situadas em cada lado da cauda, são bastante superficiais e visíveis em animais albinos. É possível dilatar os vasos sangüíneos submetendo o animal a calor durante alguns minutos, sob uma lâmpada de 60W posicionada 25 a 30cm acima dele. Faz-se um garrote na extremidade da cauda, antes da coleta. • Artéria medial da cauda: o animal é anestesiado e colocado em decúbito dorsal. A artéria está situada medialmente no plano profundo, imediatamente sob as vértebras. Faz-se a punção no primeiro terço da cauda, seguindo um ângulo de 20 a 30°, com o bisel da agulha voltado para cima. • Seio venoso orbital: ao introduzir um tubo de microematócrito diretamente no canto mediali do olho, o sangue escorre diretamente no tubo ao se puncionar o seio venoso. Quando essa técnica é bem realizada, torna-se um procedimento interessante porque pode propiciar bom volume de sangue e ser praticada em um animal acordado.

ANTIBIOTICOTERAPIA As mesmas normas descritas para coelhos e outros roedores devem ser observadas. No entanto, é possível o uso de penicilina em ratos e camundongos.


Porém, não se deve utilizar penicilina procaína nesses animais porque a procaína pode ser tóxica. Não se deve utilizar estreptomicina em hamsters e gerbis. No gerbil, a estreptomicina

interfere

no

metabolismo

da

acetilcolina.

Provoca

bloqueio

neuromuscular, paralisia e morte.

Anestesia A técnica mais segura é a anestesia inalatória com isoflurano. Para esses animais de pequeno tamanho que se resfriam rapidamente, é indispensável prevenir hipotermia, realizando a cirurgia com o animal sobre um colchão térmico e colocando-o em ambiente aquecido durante a recuperação da anestesia (bolsa térmica ou luz incandescente). É útil a aplicação de um gel ocular protetor durante a anestesia, pois o globo ocular proeminente desses animais facilmente se resseca. Também é possível utilizar produtos injetáveis para anestesia fixa, mas tal procedimento é mais delicado em razão das importantes variações individuais em relação aos efeitos das doses indicadas na tabela 11.4.


Tabela 11.4 – Anestesia fixa em miomorfos Produtos

Doses (mg/kg) Camundongo

Efeitos

Cetamina + acepromazina

100 + 5 IP

Contenção, anestesia

Cetamina + diazepam

100 + 5 IP

Contenção, anestesia

Cetamina + xilazina

(50 - 100) + (5 - 10) IP

Contenção, anestesia

Cetamina + medetomidina

75 + 1 IP

Contenção, anestesia

Zolazepam + tiletamina

80 IP

Contenção, anestesia

Antídoto

Atipamezol: 1mg/kg, SC

Rato Cetamina + acepromazina

75 + 2,5 IP

Anestesia superficial

Cetamina + diazepam

75 + 8 IP

Anestesia superficial

Cetamina + xilazina

(75 - 100) + (5 - 10) IP

Anestesia cirúrgica

Cetamina + medetomidina

75 + 0,5 IP

Anestesia cirúrgica

Zolazepam + tiletamina

40 IP

Anestesia superficial

Cetamina + acepromazina

75 + 3 IP

Anestesia superficial

Cetamina + diazepam

50 + 3 IP

Anestesia superficial

Cetamina + xilazina

50 + 2 IP

Cirurgia

Cetamina + medetomidina

75 + 0,5 IP

Cirurgia

Zolazepam + tiletamina + xilazina

20* + 10

Cirurgia

Cetamina + acepromazina

150 + 5 IP

Anestesia superficial

Cetamina + diazepam

70 + 2 IP

Anestesia superficial

Cetamina + xilazina

200 + 10 IP

Anestesia cirúrgica

Cetamina + medetomidina

100 + 0,3 IP

Anestesia cirúrgica

Zolazepam + tiletamina

50 + 80 IP

Anestesia cirúrgica

Atipamezol: 1mg/kg, SC

Gerbil

Hamster

Atipamezol: 1mg/kg, IP


12

Principais enfermidades

PNEUMOLOGIA PARA MEMORIZAR • As afecções respiratórias mais comuns em miomorfos são as doenças respiratórias crônicas que acometem ratos e camundongos, geralmente causadas pela associação da bactéria Mycoplasma pulmonis e do vírus Sendai. • As doenças respiratórias agudas afetam, essencialmente, ratos e hamsters, que são as espécies mais suscetíveis à pneumonia.

Micoplasmose respiratória murina O Mycoplasma pulmonis é uma bactéria ímpar, muito pequena e desprovida de membrana celular, cujas estirpes apresentam diferentes graus de patogenicidade. Esse microorganismo, ocasionalmente isolado em coelhos, cobaias e hamsters, é patogênico apenas para ratos e camundongos. Em geral, a primeira infecção é assintomática; posteriormente, surgem os sintomas gerais e respiratórios: • Espirros, secreções nasal e ocular de cor avermelhada que contêm grande quantidade de porfirina (cromodacriorréia). • Taquipnéia. • Emagrecimento, pêlos manchados, postura curvada na forma de acento circunflexo.


• Torcicolo (otite interna). A evolução da doença é muito variável em função da virulência das estirpes, das infecções concomitantes (vírus Sendai, vírus SAV), da sensibilidade do hospedeiro e das condições ambientais (um alto teor de amoníaco na gaiola é um fator agravante, pois irrita as mucosas respiratórias). Alguns ratos podem se tornar portadores sadios, outros desenvolvem distúrbios de vias respiratórias inferiores, com formação de abscessos pulmonares; entretanto, a maioria apresenta enfermidade respiratória crônica das vias aéreas superiores, que pode persistir por toda a vida sem, necessariamente, afetar a longevidade. O diagnóstico se baseia no isolamento da bactéria em um meio especial ou na sorologia. Nos ratos, pode-se notar um bacilo patogênico de forma bastante alongada que se insere na superfície ciliada das células epiteliais do trato respiratório. Trata-se do bacilo CAR (cilia-associated respiratory), que potencializa a infecção por micoplasma. O tratamento ocasiona melhora transitória, mas não erradica o agente infeccioso do organismo. Portanto, comumente ocorrem recidivas. Vários antibióticos são eficientes: tilosina (10mg/kg, duas vezes ao dia, VO ou SC, durante 15 dias, ou diluída na proporção de 0,5mg/mL na água de beber), enrofloxacina (10 a 15mg/kg, duas vezes ao dia, VO, durante 7 a 10 dias) ou hidrato de doxiciclina (5mg/kg, duas vezes ao dia, VO, durante 3 semanas).


Pneumonia bacteriana Estreptococos Ratos e hamsters, bem como as cobaias, são suscetíveis ao Streptococcus

pneumoniae.

Essa

bactéria

também

pode

ser

isolada

em

camundongos, nos quais causa apenas infecção subclínica. Normalmente, essa doença evolui sob forma aguda, sobretudo em animais jovens, os quais podem manifestar morte súbita. Os adultos são mais resistentes. A infecção pode ser caracterizada por rinite supurativa, otite média e interna, responsável por torcicolo, e pneumonia lobular. O lacrimejamento é freqüente no hamster. A morte do animal por septicemia é possível. A coloração do exsudato pelo método de Gram ou o imprint de órgãos infectados pode evidenciar os diplococos Gram-positivos. Esse achado deve ser relacionado com os sintomas, pois esses microorganismos costumam estar presentes em pequeno número em animais sadios. A antibioticoterapia ocasiona o desaparecimento dos sintomas mas, na maioria dos casos, não erradica a bactéria. Em ratos e camundongos, pode-se utilizar ampicilina (20 a 100mg/kg, duas vezes ao dia, VO ou SC) ou cefalexina (60mg/kg, duas vezes ao dia, VO).

Corynebacterium O Corynebacterium kutscheri geralmente é responsável por infecção subclínica em ratos e camundongos. Os animais acometidos podem manifestar abscessos no pulmão e, ocasionalmente, no fígado e nos rins. Nos casos crônicos, os abscessos adquirem um aspecto caseoso, daí a sinonímia pseudotuberculose conferida à doença.


O microorganismo é sensível a vários antibióticos (por exemplo, ampicilina, cloranfenicol e tetraciclinas).

Pasteurella pneumotrópica É uma bactéria oportunista que pode se desenvolver em ratos e camundongos, secundariamente à micoplasmose. Como na doença de coelhos causada pela Pasteurella multocida, pode-se notar abscesso subcutâneo, mastite e metrite.

Infecção pelo vírus Sendai Trata-se

de

um

paramixovírus

RNA,

responsável

por

infecções

respiratórias em ratos e camundongos. O hamster também pode ser acometido. Os animais enfermos manifestam rinite e dispnéia. Normalmente, em adultos, a evolução é espontânea e favorável em 1 a 2 semanas. Nas criações infectadas, os animais jovens estão protegidos pelos anticorpos maternos até 1 a 2 meses de idade, quando surge a infecção. A suspeita clínica pode ser confirmada por exame sorológico. Não há tratamento específico. CONSELHO AOS PROPRIETÁRIOS Quando há infecção respiratória, recomenda-se: • Remover a cama à base de madeira perfumada ou de cedro, pois originam micropartículas e compostos irritantes às mucosas. Pode-se utilizar camas à base de jornal ou estopa. • Evitar o acúmulo de urina, que origina vapores de amoníacos irritantes: trocar a cama freqüentemente, evitar a criação de animais em aquário ou em gaiola de acrílico, onde tais vapores podem se acumular.


GASTROENTEROLOGIA PARA MEMORIZAR • A doença de Tyzzer é observada com freqüência em miomorfos; acomete principalmente o gerbil. • É difícil o diagnóstico de salmonelose, cujos sintomas em geral se limitam ao emagrecimento progressivo. Trata-se de uma zoonose. • O hamster é muito suscetível às enterites, principalmente à ileíte proliferativa e à enterotoxemia secundária ao uso inadequado de antibióticos.

Doenças virais

Sialodacrioadenite viral do rato Trata-se de um coronavírus específico do rato, o vírus SAV (Sialo Adenovírus), que se desenvolve nas glândulas salivares e lacrimais e nos linfonodos correspondentes. Esse vírus é muito contagioso, mas a taxa de morbidade é baixa. Alguns animais infectados podem apresentar sintomas discretos, como conjuntivite e espirros, mas a maioria deles desenvolve edema de face e de pescoço, aumento de volume periorbital e hipersecreção de porfirinas pelas glândulas de Harder. Ceratite ou úlcera de córnea secundária à exoftalmia ou à diminuição da secreção lacrimal são complicações freqüentes. Em geral, o diagnóstico se baseia no quadro clínico, quando se constata o edema facial característico. Pode ser confirmado com exame sorológico. A recuperação é, em geral, espontânea em 2 a 4 semanas.


Hepatite do camundongo O vírus MHV (mouse hepatitis virus) é um coronavírus muito parecido com o SAV do rato. Seu nome é equivocado, pois o tropismo desse vírus varia em função das estirpes; algumas afetam o fígado e os órgãos digestivos, outras o trato respiratório. Esse vírus é enzoótico em muitas criações. Os sintomas são pouco específicos: pelame manchado, fotofobia e postura curvada na forma de acento circunflexo. O diagnóstico se baseia na sorologia ou no exame histopatológico. Os indivíduos saudáveis normalmente eliminam o vírus em cerca de 10 dias.

Doenças bacterianas Infecção por Citrobacter em camundongos O Citrobacter freundii é responsável pela hiperplasia de cólon em camundongos, caracterizada por emagrecimento, diarréia e, freqüentemente, prolapso retal. A taxa de mortalidade é elevada. O diagnóstico se baseia no quadro clínico, na cultura do microorganismo ou na constatação de espessamento do cólon e do ceco durante a necropsia. No tratamento, utiliza-se tetraciclina (10 a 20mg/kg, VO, duas a três vezes ao dia, ou diluída na proporção de 2 a 5mg/mL na água de beber, durante 15 dias) ou neomicina (50mg/kg, VO, uma vez ao dia, ou 2mg/mL na água para beber, durante 15 dias).

Doença de Tyzzer Doença comum aos roedores e lagomorfos, mas também pode acometer cães, gatos e macacos. Dentre os roedores, o gerbil é o mais suscetível. É causada por um microorganismo intracelular, o Clostridium piliforme, cuja forma esporulada


pode resistir durante mais de um ano no meio ambiente. Essa doença é mais prevalente em gaiolas com superpopulação, quando as condições de higiene não são adequadas.

Sintomas A enfermidade pode se manifestar na forma aguda, caracterizada por morte súbita, em especial de gerbis jovens, ou na forma crônica, na qual os animais manifestam letargia, emagrecem e podem apresentar diarréia aquosa. No gerbil, os sintomas de encefalite e de torcicolo são complicações comuns.

Diagnostico Durante a necropsia, notam-se pequenas áreas de necrose multifocal no ceco, íleo, cólon e, com muita freqüência, no fígado e miocárdio. Os cortes histológicos (corados pelo método de Warthin-Starry) revelam bacilos filamentosos no interior de hepatócitos, enterócitos e fibras musculares. Também é possível realizar um diagnóstico sorológico.

Tratamento É essencialmente sintomático, associado à adoção de medidas higiênicas. Não há tratamento específico efetivo; a localização intracelular da bactéria contribui para a ineficácia do tratamento. A resposta à antibioticoterapia é imprevisível. Em geral, utiliza-se tetraciclina na tentativa de impedir a disseminação da doença aos outros animais. A água sanitária é um desinfetante eficaz para a forma esporulada da bactéria.


Salmonelose Os roedores normalmente são suscetíveis apenas a S. enteritidis. É uma zoonose. A contaminação geralmente ocorre por meio de água, alimentos e cama contaminados e de animais portadores que excretam o microorganismo. Os sintomas são inespecíficos: no gerbil, nota-se emagrecimento progressivo, pelame manchado, distensão abdominal e, ocasionalmente, aumento de volume dos testículos. Diarréia é inconstante. Morte súbita é possível. Em geral, o diagnóstico se baseia na cultura bacteriológica, mas o microorganismo quase nunca é encontrado nas fezes, pois os animais não o excretam continuamente; ademais, as salmonelas requerem meios de cultura especiais. Durante a necropsia, pode-se obter amostras de fígado, baço e intestino para

cultura.

Histologicamente,

as

lesões

específicas

incluem

meningite

piogranulomatosa, necrose hepática e esplênica, inflamação ileocecal e focos convergentes de necrose testicular. Sendo a doença uma zoonose, recomenda-se não tratar os animais doentes, mas sim eliminá-los. No caso da recusa do proprietário, é preciso informar que os animais tratados quase nunca se curam por completo, tornando-se portadores sadios, que excretam a bactéria. Deve-se utilizar antibióticos em altas doses; por exemplo, marbofloxacina (5 a 10mg/kg) ou enrofloxacina (20mg/kg). A duração do tratamento deve ser de, no mínimo, 15 dias.

Enterites em hamster As doenças gastrointestinais são os distúrbios mais comuns em hamsters, particularmente em filhotes no período de desmama. Em geral, nota-se diarréia aquosa, que umedece a região perianal, daí a denominação anglo-saxônica wet-tail


para essa síndrome, que envolve várias condições patológicas em geral difíceis de diferenciar clinicamente.

Ileíte proliferativa Trata-se da doença gastrointestinal mais relatada em hamsters. Acomete preferencialmente os filhotes no período de desmama, entre 3 e 8 semanas de idade. Vários microorganismos têm sido incriminados, entre eles o Campylobacter jejuni. Atualmente, considera-se bem provável que o agente etiológico seja o Desulfovibrio sp. No início, os hamsters enfermos apresentam pêlos eriçados, letargia, irritação e anorexia. Em seguida, nota-se diarréia profusa acompanhada de desidratação; os animais adotam uma postura em arco, sugerindo dor abdominal. A palpação geralmente permite constatar espessamento de segmentos intestinais, que podem se complicar com prolapso ou intussuscepção. É freqüente a morte do animal em 24 às 48h. O diagnóstico se baseia na epidemiologia e no quadro clínico, quando é possível palpar as alças intestinais espessadas. As lesões observadas durante a necropsia envolvem a porção distai do íleo, o ceco e o cólon. É possível notar aderências peritoneais, inflamação e espessamento da mucosa intestinal, na qual se desenvolvem nódulos serosos. O prognóstico é reservado. Há necessidade de hospitalização do animal, alimentação forçada, hidratação e antibioticoterapia por 10 dias. O antibiótico de escolha é o cloranfenicol (50 a 200mg/kg, VO); também pode-se utilizar neomicina (100mg/kg, VO, uma vez ao dia) e tetraciclina (na proporção de 0,4mg/mL na água de beber).


Enterotoxemia secundária ao uso inadequado de antibióticos O hamster é, certamente, um dos roedores no qual o uso de antibióticos é mais delicado. Sua microbiota gastrointestinal pode ser facilmente prejudicada quando se institui antibioticoterapia inapropriada. Nesse caso, o Clostridium difficile, uma bactéria anaeróbica Gram-positiva, prolifera-se rapidamente e provoca uma infecção que induz à produção de enterotoxinas. Os sintomas (anorexia, pêlos eriçados, desidratação, diarréia) surgem alguns dias após, com evolução para morte em 4 a 10 dias. À necropsia, a lesão característica é ileocolite hemorrágica. O ceco e o cólon proximal encontram-se distendidos e repletos de gases e líquido. Em geral, o prognóstico é desfavorável. É necessário hidratar o animal. A administração oral de fezes de um animal sadio ao animal doente pode auxiliar no restabelecimento da microbiota do trato digestivo. A enterotoxemia decorrente da infecção por Clostridium difficile é tratada com êxito no homem, utilizando-se vancomicina, mas o custo desse antibiótico é alto, sendo reservado ao uso hospitalar. Como alternativa, pode-se tentar o tratamento com neomicina (na proporção de 2,6mg/mL na água de beber, durante 5 dias, seguida da metade da dose durante mais 5 dias).

Parasitas intestinais Os parasitas intestinais têm pouca importância patológica em miomorfos. A Giardia sp. é um protozoário comum do trato digestivo do hamster, e normalmente não causa doença, exceto em animais jovens no período de desmama, quando, ocasionalmente, provoca enterite. Pode ser tratada com metronidazol (90mg/kg, VO, duas vezes ao dia, durante 10 dias).


Os oxiúros são os nematódeos digestivos mais encontrados em miomorfos. Syphacia obvelata, Aspiculuris tetraptera e Syphacia muris, parasitas intestinais de camundongos e ratos, também podem infectar gerbis e hamsters. No rato, o Syphacia muris pode provocar prurido anal intenso, com automutilação da região anal e da cauda e com possibilidade de prolapso retal. O ciclo muito curto desses parasitas implica na repetição do tratamento 7 dias depois, para evitar reinfestação. Pode-se utilizar ivermectina (0,4mg/kg, SC, exceto em fêmeas gestantes), selamectina (Stronghold na forma spot-on, 6 a 15mg/kg) ou fembendazol (10 a 20mg/kg/dia, VO, durante 5 dias consecutivos). Esses animais são hospedeiros intermediários de vários cestódeos parasitas de carnívoros, mas tais parasitoses larvárias não têm incidência clínica. Os cestódeos adultos parasitas do trato digestivo dos miomorfos são Hymenolepis nana e H. diminuta. Podem provocar enterite ou, no caso de infestação intensa, obstrução. O Hymenolepis nana representa um risco de zoonose, notadamente em crianças que manipulam o hamster com freqüência. Seu ciclo reprodutivo pode ser direto ou indireto: os ovos podem eclodir e se desenvolver diretamente no trato digestivo do animal parasitado. A auto-reinfestação dos animais é freqüente, ocasionando infestação maciça pelo parasita. No tratamento, utiliza-se niclosamida (100 a 200mg/kg/dia, VO, em duas sessões de 7 dias, com intervalo de uma semana). Também é possível utilizar praziquantel (30mg/kg, VO ou SC, duas a três vezes, com intervalos de 15 dias).


DERMATOLOGIA PARA MEMORIZAR • Há ácaros parasitas específicos de miomorfos. Alguns podem induzir reações alérgicas cutâneas, complicadas com piodermite de difícil tratamento. • A hipersecreção das glândulas de Harder pode provocar irritação cutânea por acúmulo de pigmentos de porfirina. Esse distúrbio é particularmente comum na dermite exsudativa do nariz, no gerbil. • Normalmente, os abscessos de face dos ratos requerem remoção cirúrgica. • Com freqüência, o hamster pode desenvolver a forma cutânea de linfoma. Nesses animais, a alopecia costuma estar relacionada a endocrinopatias.

Dermatofitoses Os

miomorfos,

assim

como

os

outros

roedores,

manifestam

dermatofitoses. Essa afecção é causada principalmente por Trichophyton mentagrophytes e, com menor freqüência, por Microsporum canis. Muito comumente, é uma infecção assintomática, sobretudo em camundongos, nos quais há alta prevalência de portadores sadios de Trichophyton mentagrophytes. Quando há lesões, apresentam-se na forma de pequenas áreas alopécicas circunscritas, em geral eritematosas e escamosas. Essas lesões costumam se instalar na cabeça e, ocasionalmente, no dorso e nos flancos. Em geral não há prurido, exceto na forma inflamatória infectada. Como nas outras espécies animais, o diagnóstico pode ser obtido por exame microscópio direto ou por cultura no meio de Sabouraud. É preciso tratar:


• O animal infectado: com aplicações de enilconazol 0,2% diluído em água, em intervalos de 4 dias, ou com griseofulvina (20 a 25mg/kg/dia, VO), cetoconazol (10 a 40mg/kg/dia, VO) ou lufenuron (100mg/kg, VO, uma vez por mês). • O ambiente: trocar a cama e desinfetar a gaiola. • Todos os animais que tiveram contato com o animal infectado (outros roedores, cães, gatos).

Ectoparasitoses Sarnas Myobia musculi, Myocoptes musculinis e, menos comumente, Radfordia affinis são ácaros de pêlos de camundongos. Fixados no tegumento por suas peças bucais, permanecem na superfície da pele. Causam prurido e alopecia, sendo o Myobia musculi o mais patogênico. Podem, também, induzir reações alérgicas caracterizadas por prurido intenso, formação de crostas e dermatite exsudativa. Radfordia ensifera acomete principalmente ratos; quase nunca é encontrado em outros roedores. Os ratos também podem apresentar reações cutâneas alérgicas a esses parasitas. Em ratos, o Notoedres muri ocasiona formação de crostas e verrugas nas orelhas, na cauda e no nariz (Fig. 12.1). A identificação desses ácaros é possível pelo scoth-test ou por meio de raspado de pele.


Figura 12.1 – Lesões verrucosas de sarna noto´[edrica (Notoedres muri) em um rato O tratamento deve considerar o ciclo biológico desses parasitas. Vivem 8 a 23 dias e os ovos eclodem em 5 a 8 dias. Faz-se o tratamento em intervalos de 7 dias durante, no mínimo, 3 semanas. Pode-se pulverizar os animais com uma preparação à base de carbaril, ou utilizar ivermectina (0,2 a 0,5mg/kg, SC, uma vez por semana). A selamectina na forma spot-on (15mg/kg) também pode ser usada. É importante limpar a gaiola cuidadosamente e desinfetá-la uma a duas vezes por semana com pó ou solução acaricida. O Notoedres notoedres é um ácaro específico do hamster, no qual causa sarna auricular. O Sarcoptes scabiei pode, ocasionalmente, infectar a cabeça ou o corpo desse animal. O tratamento se baseia no uso de ivermectina ou de selamectina, nas doses anteriormente indicadas.

Piolhos O Polyplax serrata infecta camundongos, enquanto o Polyplax spinulosa infecta ratos. Esses piolhos se alimentam do sangue de seus hospedeiros e causam prurido. Em grande quantidade, podem induzir importante anemia. Esses piolhos são visíveis a olho nu. Passam a vida toda no hospedeiro e, portanto, sua


erradicação é bastante fácil. Vivem 26 dias; os ovos eclodem ao final de 6 dias. Para tratá-los, pode-se utilizar carbaril, ivermectina e selamectina.

Demodicose A demodicose é muito freqüente no hamster. O Demodex criceti e o Demodex aurati são duas espécies que se instalam nas glândulas sebáceas e nos folículos pilosos desse animal. São parasitas habituais do tegumento do hamster. Os sintomas

surgem

apenas

no

caso

de

imunossupressão

decorrente

de

envelhecimento ou doença intercorrente (hipercorticismo associado a tumor de adrenal). Os animais acometidos apresentam áreas alopécicas, sem prurido, localizadas principalmente no dorso, em geral com distúrbios de ceratinização. O diagnóstico se baseia no raspado de pele. Um raspado positivo deve ser confrontado com o quadro clínico porque esses parasitas costumam estar presentes em hamsters sadios. No tratamento, utilizam-se 2 ou 3 aplicações de ivermectina nas formas spot-on ou injetável, na dose de 0,5mg/kg, com intervalos de uma semana. As recidivas são freqüentes porque a patologia intercorrente responsável pela manifestação clínica de demodicose é, muitas vezes, difícil de ser identificada e tratada.

Pulgas As pulgas dos roedores, dos gêneros Xenopsylla e Nosopsylla, que antigamente eram os vetores de Yersinia pestis e Rickettsia typhus, microorganismos responsáveis pela peste e pelo tifo em seres humanos, raramente infestam os miomorfos de estimação. A única fonte de contaminação possível


desses parasitas são os roedores selvagens. Essas pulgas são hospedeiras intermediárias de vários parasitas intestinais do gênero Hymenolepis. A pulga de cães e gatos (Ctenocephalides sp.) pode infestar camundongos, ratos, gerbis e hamsters. Podem ser eliminadas com 1 ou 2 aplicações por semana de inseticida em pó à base de carbamato, durante um mês, ou com selamectina. Deve-se tratar o ambiente e todos os animais presentes na residência.

Piodermite Geralmente se instala como infecção secundária de lesões cutâneas causadas por parasitas. Na maioria dos casos, em ratos e camundongos, está associada a prurido intenso, às vezes automutilante, difícil de controlar. Normalmente a causa da infecção é o Staphylococcus aureus. O diagnóstico se baseia na suspeita clínica, em imprints cutâneos e, eventualmente, em cultura microbiológica. Em ratos e camundongos, é possível usar ampicilina (20mg/kg, VO, duas vezes ao dia) ou uma associação de amoxicilina-ácido clavulânico (25mg/kg, VO, duas vezes ao dia) durante, no mínimo, 2 semanas. O prognóstico é reservado, pois as recidivas são freqüentes.

Inflamação das glândulas de Harder A hipersecreção das glândulas de Harder pode provocar irritação cutânea localizada quando os pigmentos de porfirina se acumulam em grande quantidade. As escoriações provocadas pelo prurido favorecem a instalação de infecção secundária (geralmente por estafilococos), que pode ocasionar lesões cutâneas graves na face.


Essa condição tem importância particular no gerbil, que freqüentemente apresenta dermatite exsudativa no nariz, característica da espécie. Essa patologia está relacionada às condições do ambiente, como superpopulação ou umidade e temperatura muito elevadas. No gerbil, as glândulas de Harder têm função de termorregulação: quando a temperatura ambiente é fria, os animais ao se limparem espalham a secreção glandular, que contém lipídios, por todo o corpo. Caso a temperatura se eleve, os animais se limpam com menor freqüência e procuram o banho de areia. Não dispondo de areia e se a temperatura ambiente torna-se constantemente elevada, instala-se uma irritação nasal. As

lesões

surgem

nos

bordos

das

narinas

e

se

disseminam

progressivamente às patas dianteiras e, em seguida, ao tórax e abdome. No final, nota-se alopecia nas áreas atingidas, podendo haver eritema. O estado geral do animal se altera e a doença pode evoluir para anorexia e morte. O tratamento envolve, de início, a adoção de medidas higiênico-sanitárias: é necessário diminuir a temperatura ambiente e propiciar banhos de areia aos animais. Instaura-se antibioticoterapia (por exemplo, cloranfenicol: 50 a 200mg/kg, VO, duas vezes ao dia; tetraciclina: 10 a 20mg/kg, VO, duas vezes ao dia) durante, no mínimo, 15 dias. O prognóstico é reservado porque as recidivas são freqüentes. Na falha do tratamento, pode-se realizar a remoção cirúrgica dessas glândulas.

Varíola em ratos e camundongos É causada por um poxvírus. A varíola do camundongo, também denominada ectromelia, é uma doença bastante conhecida em animais de laboratório;

ocasiona

experimentalmente

necrose

inoculados

e com

queda

das

vírus

do

extremidades. camundongo

Os

ratos

apresentam

soroconversão, mas não exteriorizam os sintomas e eliminam rapidamente o


vírus. Há um poxvírus específico do rato, esporadicamente descrito nos países do antigo bloco soviético, responsável por lesões cutâneas e que parece ser responsável por uma zoonose cujos principais sintomas são fadiga, cefaléia, tosse e diarréia. Não há risco de transmissão do vírus do camundongo para seres humanos. A doença surge na forma de pápulas e erosões cutâneas crostosas na face e nas extremidades dos membros e da cauda. Em geral, as extremidades acometidas manifestam gangrena seca, que evolui para "amputação" espontânea. O diagnóstico é clínico, podendo ser confirmado pela evidência de corpúsculos de inclusão eosinofílicos no citoplasma das células epiteliais acometidas, pela sorologia ou pelo PCR. Geralmente, a necropsia revela necrose de fígado e baço. Não há tratamento. A evolução da doença é variável, de acordo com a virulência

da

estirpe

viral.

Alguns

animais

morrem,

outros

se

curam

espontaneamente, mas continuam portadores do vírus. Nas criações, a eutanásia dos animais acometidos é recomendada para limitar a transmissão da doença aos outros animais. Alguns laboratórios utilizam vacinas.

Abscessos Os abscessos (em particular os de face) são freqüentes em ratos e hamsters. O diagnóstico é confirmado pela punção com uma seringa acoplada a uma agulha fina; nota-se secreção purulenta. O melhor tratamento consiste na remoção cirúrgica completa, dissecando minuciosamente a cápsula do abscesso, sem lesioná-la. Os abscessos faciais de ratos quase sempre se instalam a partir de uma infecção da bolha timpânica; a drenagem cirúrgica é útil para prevenir recidivas.


Deve-se realizar cultura microbiológica para identificar o germe e nortear a antibioticoterapia.

Alopecia do hamster A rarefação de pêlos que evolui para alopecia é uma síndrome freqüentemente observada em hamsters idosos. Trata-se, em geral, de um sinal indicativo de uma patologia primária, como: • Insuficiência renal crônica. • Amiloidose. • Síndrome de Cushing de origem adrenal. • Hipotireoidismo. Quando essa síndrome acomete um animal jovem, deve-se investigar se o teor de proteínas da dieta não está muito baixo (não deve ser inferior a 16%); os hamsters alimentados com uma mistura de grãos tendem a consumir somente os grãos de que gostam e, em conseqüência, apresentar carência de alguns nutrientes. Os tratamentos da síndrome de Cushing e do hipotireoidismo são abordados na seção que trata das endocrinopatias.

Necrose da cauda do rato Os ratos mantidos em condição de umidade muito baixa (inferior a 20%) podem desenvolver gangrena de cauda, que se manifesta pelo aparecimento de um anel, que corresponde à necrose isquêmica, em uma faixa de pele ao redor da cauda. A porção da cauda distal à lesão pode cair e, em geral, o coto cicatriza espontaneamente, quando se realiza a desinfecção diária até a cura.


Doenças das glândulas anexas As secreções das glândulas do flanco do hamster e da glândula ventral do gerbil são andrógeno-dependentes. Portanto, sua disfunção acomete, acima de tudo, os machos. As glândulas do flanco do hamster geralmente representam a sede de inflamação e de infecções secundárias, particularmente em machos. Deve-se limpar, desinfetar e, eventualmente, instaurar antibioticoterapia. Quando há inflamação glandular crônica, indica-se a castração do hamster macho. A glândula ventral do gerbil também é, freqüentemente, sede de processos inflamatórios e infecciosos. Quando os animais envelhecem, não é raro notar neoplasia nessa estrutura (adenocarcinoma, com mais freqüência). A remoção cirúrgica da glândula é, então, indicada.

Linfoma cutâneo do hamster Os linfomas são comuns em hamsters. Podem se manifestar na forma digestiva ou cutânea. A epidemiologia dessa patologia no hamster sugere etiologia viral (suspeita-se do papovavírus do hamster). A forma cutânea costuma se manifestar como várias pápulas, geralmente pruriginosas, que evoluem com espessamento e inflamação geral do tegumento. O diagnóstico se baseia no exame histológico.


NEUROLOGIA PARA MEMORIZAR • A coriomeningite linfocitária, que se cura espontaneamente na maioria dos animais adultos, é uma zoonose que pode ser grave para os seres humanos. A doença pode ser transmitida às pessoas pelo hamster ou camundongo. • O gerbil tem uma predisposição genética à epilepsia. • A síndrome vestibular do rato geralmente está relacionada à infecção da bolha timpânica por micoplasma.

Coriomeningite linfocitária É causada por um vírus RNA que contém envelope e provoca infiltração linfocitária no cérebro e nas meninges, bem como no fígado, baço e pâncreas. O reservatório natural do vírus é o camundongo selvagem. Dentre os roedores de estimação, o camundongo e o hamster desenvolvem e transmitem a doença. Os outros roedores, os coelhos e os primatas podem, ocasionalmente, ser acometidos, mas não transmitem o vírus. Trata-se de uma zoonose que pode ser grave para os seres humanos. Os sintomas geralmente se limitam a uma síndrome gripal, mas é possível a evolução para meningite. A transmissão às pessoas parece ocorrer por meio de mordidas ou arranhões. Os sintomas variam de acordo com a estirpe viral e a idade do indivíduo: • Os filhotes no ninho geralmente desenvolvem uma doença aguda, caracterizada por blefarite, pelame manchado, edema de face e convulsões. Parte dos animais enfermos morre, alguns se curam espontaneamente, e outra

parte

desenvolve

uma

doença

crônica,

caracterizada

por


glomerulonefrite

causada

por

complexos

imunes,

que

se

agrava

progressivamente à medida que ocorre infiltração linfocitária em outros órgãos. A forma crônica geralmente evolui para morte; durante todo o tempo, o animal dissemina o vírus pela saliva, urina e leite. • Os hamsters adultos acometidos geralmente eliminam o vírus ao final de 4 semanas. Ao longo desse período, manifestam sintomas gerais pouco específicos.

Há exames sorológicos para o diagnóstico, mas o risco de resultado falsonegativo deve ser considerado. Não há tratamento. Recomenda-se a eutanásia quando a doença é diagnosticada, devido ao risco de zoonose. O vírus é sensível aos detergentes e à maioria dos desinfetantes.

Epilepsia do gerbil Muitos gerbis jovens apresentam crises de epilepsia com 2 a 6 meses de idade. Várias linhagens desses animais têm predisposição genética à deficiência de glutamina sintetase, enzima que catalisa a formação do glutamato, um dos aminoácidos envolvidos na excitabilidade do sistema nervoso. Em geral, essas crises desaparecem espontaneamente com o avanço da idade. Quando as crises são intensas, pode-se tratá-las com fenobarbital (10 a 20mg/kg, VO, duas vezes ao dia) ou difenilidantoína (25 a 50mg/kg, VO, duas vezes ao dia). A manipulação precoce e freqüente dos filhotes no ninho reduz sua sensibilidade à manifestação dessas crises.


Síndrome vestibular A manifestação de síndrome vestibular geralmente está relacionada à infecção do ouvido interno (infecções da bolha timpânica por micoplasma são freqüentes em ratos). Há uma síndrome particular no gerbil: com o envelhecimento, ele pode acumular cristais de colesterol na membrana timpânica, que se invagina e forma um colesteatoma no ouvido. Infecções bacterianas secundárias são freqüentes. Na síndrome vestibular, a administração de antibióticos costuma ser ineficaz. Pode-se tentar a curetagem da bolha timpânica. O prognóstico do colesteatoma do gerbil é, em geral, desfavorável.

Radiculoneuropatia do rato Pode-se diagnosticar degeneração das raízes nervosas da medula espinal de ratos com cerca de 2 anos de idade. Caracteriza-se por paresia progressiva e atrofia muscular dos membros pélvicos. A etiologia é desconhecida. Não há tratamento.

Carência de vitamina E no hamster Os animais acometidos apresentam dificuldade em se movimentar. Esses sintomas, que lembram uma enfermidade de sistema nervoso, correspondem a miopatia e degeneração muscular. As fêmeas gestantes abortam com freqüência. Os animais que se alimentam exclusivamente de grãos, ricos em gorduras, são os mais suscetíveis à doença.


UROLOGIA E NEFROLOGIA PARA MEMORIZAR A insuficiência renal é freqüente em animais idosos.

Insuficiência renal A insuficiência renal crônica decorrente da idade é uma das principais causas de morte de miomorfos, sobretudo de ratos e gerbis. A partir de 14 meses de idade, vários ratos podem apresentar proteinúria superior a 20mg/dL (o valor médio em ratos jovens é inferior a 5mg/dL). Os rins acometidos aumentam de volume, tornam-se amarelados e com superfície irregular; geralmente, a cortical está infiltrada com numerosos cistos pequenos, de 2 a 3mm de diâmetro. A histologia revela esclerose glomerular e fibrose intersticial. No gerbil, a nefrite intersticial crônica é a lesão observada com mais freqüência. Essa síndrome caracteriza-se por poliúria e polidipsia; em ratos, nota-se também hidrotórax ou ascite. A suspeita clínica é confirmada pela constatação de altos teores plasmáticos de uréia e creatinina. O fornecimento de dieta hipoprotéica pode estabilizar a função renal durante algum tempo.

Amiloidose Essa síndrome, que acomete animais idosos, é muito comum em hamsters. Também foi relatada em camundongos. Em hamsters, a doença é mais comum e mais precoce na fêmea que nos machos.


Um distúrbio no sistema imunológico ocasiona a formação e o depósito de substância amilóide em vários órgãos; especialmente rins, fígado, baço e adrenais. A disfunção renal se caracteriza por síndrome nefrótica: proteinúria, hipoproteinemia, polidipsia, ascite e edema. Não há tratamento.

GINECOLOGIA PARA MEMORIZAR • As neoplasias mamárias de ratas costumam ser benignas, mas seu tamanho rapidamente torna inválido o animal. A ovariectomia das fêmeas jovens previne o aparecimento da maioria desses tumores. • As neoplasias mamárias de camundongos geralmente estão relacionadas à infecção viral. Quase sempre são malignas.

Infertilidade As causas podem ser múltiplas: envelhecimento, superpopulação, deficiência de vitamina E, entre outras.

Abscessos das glândulas prepuciais em ratos e camundongos Os machos dessas espécies podem apresentar cistos esféricos firmes ao redor do pênis que, em geral, correspondem a abscessos decorrentes da infecção por Staphylococcus aureus ou Pasteurella pneumotropica. Quando não tratados, podem supurar e ulcerar. Deve-se realizar curetagem e debridamento, sob anestesia geral, seguido de antibioticoterapia sistêmica durante cerca de 10 dias.


Cistos ovarianos São particularmente freqüentes em gerbis fêmeas; na maioria das vezes, são assintomáticos, com exceção de distúrbio de fertilidade. Quando seu tamanho causa distensão abdominal muito evidente, recomenda-se a remoção cirúrgica.

Toxemia da prenhez Pode ser diagnosticada em hamster fêmea; a conseqüência é a isquemia uteroplacentária. Os sintomas e o tratamento são os mesmos indicados para cobaias. O prognóstico é desfavorável.

Infecções uterinas Em fêmeas de ratos e camundongos, pode-se constatar endometrite causada por Mycoplásma pulmonis. Indica-se ovário-histerectomia. As infecções uterinas são mais raramente descritas em gerbis e hamsters. Nessa última espécie, não se deve confundir secreção vulvar amarelada, que aparece durante o cio, com piometra.

Neoplasias do aparelho genital Há vários tipos de tumores que se instalam no aparelho genital desses animais: neoplasias ovarianas, pólipos no útero, leiomiomas e adenocarcinoma uterino (particularmente freqüentes no hamster da China).

Neoplasias mamárias São mais comuns em ratos e menos prevalentes em camundongos. A extensão dorsal do tecido mamário nessas espécies permite a disseminação desses tumores até os omoplatas.


As

neoplasias

mamárias

diagnosticadas

em

ratos

são

mais

freqüentemente benignas (hiperplasia lobular, fibroadenoma). Os tumores malignos (em especial os adenocarcinomas) são mais raros. Embora sejam mais freqüentes nas fêmeas, também podem acometer os machos. Em geral, surgem a partir de 18 meses de idade. Atingem muito rapidamente 10cm de diâmetro, impedindo a locomoção desses animais. A remoção cirúrgica costuma ser bem suportada, mas a taxa de recidiva é alta. A ovariectomia de fêmeas jovens previne o desenvolvimento desses tumores. A instalação de tumores mamários em camundongos geralmente deve-se à infecção por um retrovírus (vírus MTV). A natureza desses tumores é, com mais freqüência, maligna (adenocarcinoma). É comum recidiva após a remoção cirúrgica.

CARDIOLOGIA A trombose cardíaca é uma patologia recorrente no hamster da Síria; a ocorrência aumenta com a idade. As fêmeas parecem desenvolver a doença mais cedo que os machos. O diagnóstico costuma ser definido durante a necropsia; nota-se trombose atrial, na maioria dos casos do lado esquerdo, associada à fibrose valvular e degeneração do miocárdio. Os sintomas indicativos da enfermidade incluem taquicardia, taquipnéia e cianose. Não há tratamento.


ENDOCRINOPATIAS PARA MEMORIZAR As endocrinopatias são particularmente freqüentes no hamster: síndrome de Cushing e hipotireoidismo no hamster da Síria e diabetes no hamster russo e no hamster da China.

Síndrome de Cushing no hamster da Síria Essa síndrome é ocasionada por neoplasia de adrenal, um dos tumores mais freqüentes em hamsters. É constatada em animais idosos (2 a 3 anos de idade), sendo mais comum em machos. Os sintomas são os mesmos observados no cão: alopecia, poliúria-polidipsia, emagrecimento, perda da elasticidade cutânea e hiperpigmentação. A biópsia de pele pode orientar o diagnóstico. Com muita freqüência, nota-se proliferação de Demodex na pele dos animais acometidos. As alterações biológicas compreendem hipercortisolismo e aumento da atividade da enzima fosfatase alcalina. Pode-se tentar o tratamento oral com mitotano (5mg/kg/dia) ou com metirapona (8mg/kg/dia). O prognóstico é reservado.

Hipotireoidismo Trata-se de uma das possíveis causas de alopecia em hamsters. É difícil definir o diagnóstico. Em geral, limita-se à suspeita clínica. Teoricamente, é possível dosar T4, mas não há relato sobre valores normais. Quando há suspeita de hipotireoidismo, pode-se diluir 0,1mg de tiroxina em 10mL de água e, em seguida, colocar 1mL dessa solução em 30mL na água de beber. O crescimento de pêlos deve ser notado ao final de um mês.


Diabetes melito Algumas linhagens de hamsters russos e de hamsters da China são geneticamente predispostas ao desenvolvimento dessa doença. O sintoma básico é poliúria-polidipsia evidente. Pode-se obter uma amostra de sangue para constatar a hiperglicemia ou, simplesmente, pesquisar a presença de glicose na urina, utilizando fitas reagentes. Quando se confirma a doença e o proprietário mostra-se motivado, pode-se tentar controlar a glicemia com injeção diária SC de 1UI de insulina.


Para Saber mais Andreu de Lapierre E. Dictionnaire pratique de médecine des NA. Paris: MedíCom, 2001.C

Boucher S, Nouaille L. Manuel pratique: maladies des lapins. Paris: France 2 Agricole, 1996.

Boussarie D. Médecine des NAC 100 cas clinique. Paris MedíCom, 2001.s

Brown S A, Jenkins J. A practitionerís guide to rabbits and ferret. Am Anim Hosp Assoc, 1993.s

Brown S A, Rosenthal K. Self-Assessment Color Review of Small Mammals. Iowa state university press, 1997.

Carpenter J, Mashima T, Rupiper D. Exotic animal formulary. 2nd ed. Philadelphia: WB Saunders, 2001.

Fritsch C, Guittin P. Mieuxsoigner nos lapins et rongeurs de compagnie. Raizeux, Centaure publications, 1991.

Hillyer E, Quesenberry K. Ferreis, rabbits, and rodents clinical medicine and surgery. Philadelphia: WB Saunders, 1997.


Johnson-Delaney C. Exotic companion medicine handbook for veterinarians. Wingers Publishing, 1996.

Laber-Laid K, Swindle M, Flecknell P. Handbook of rodent and rabbit medicine. Pergamon, 1996.

Okerman L. Diseases of Domestic Rabbits. 2nd ed. Library of Veterinary Practice, 1988.

Richardson VCG. Diseases of domestic guinea pigs. Library of Veterinary Practice, 1992.

Storer P. Prairie dog pets. 3rd ed. Columbus: R-Zu-2-U, 1996.



Anexos


ANEXO 1 Posologia dos medicamentos utilizados em fur천es





ANEXO 2 Posologia dos medicamentos utilizados em lagomorfos, caviomorfos e miomorfos







Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.